Série documentos para pesquisa vol 02 relatorio sobre a

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Série documentos para pesquisa vol 02 relatorio sobre a
INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DO TAPAJÓS
SÉRIE: DOCUMENTOS REGIONAIS PARA PESQUISA
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Presidente da
Província pelos engenheiros Julião Honorato
Corrêa de Miranda e Antônio Manuel Gonçalves
Tocantins, sobre a exploração do Rio Tapajós.
Região Oeste do Pará
ANO I – Número 02 - 2014
SÉRIE: DOCUMENTOS REGIONAIS PARA PESQUISA
Copyright by Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap
Diagramação: Cristiano Souza Marinho
Santarém – Pará – Amazônia – Brasil
Editor Responsável
João Georgios Ninos (jornalista DRT/PA 2257)
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João Georgios Ninos
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pelas opiniões contidas no presente documento. Esta série objetiva única e
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outro lucro que seja.
ESTE EXEMPLAR SERÁ DISTRIBUIDO GRATUITAMENTE
Relatório apresentado ao Exmo. Sr.
Presidente da Província pelos engenheiros
Julião Honorato Corrêa de Miranda e
Antonio Manuel Gonçalves Tocantins, sobre
a exploração do Rio Tapajós.
Ilmo. Exmo. Sr.
Em execução ao disposto na lei provincial nº 678, de 29 de
Setembro de 1871, V. Exc. se dignou mandar-nos em comissão ao
Baixo e Alto Tapajós, para onde seguimos em Novembro último,
e de cujos trabalhos temos a súbita honra de submeter à
esclarecida apreciação de V. Exc. o resultado na seguinte
exposição.
I.
No intuito de proceder a um estudo mais completo; e colher
dados mais exatos para o bom desempenho desta comissão, foi
nosso primeiro cuidado traçar a planta do Tapajós áquem e além
das cachoeiras, o que fizemos começando do lago Cury, abaixo
da Vila de Itaituba, ate a fóz do rio Jauan Xim (sic).
Percorrendo a primeira secção encachoeirada, reconhecemos que
com efeito uma estrada marginal é o único meio de estabelecer
uma comunicação regular entre os dois pontos abaixo indicados.
Pela planta, que a este acompanha, verá V. Exc. o traçado da
estrada projetada, que compreende uma extensão de 33 milhas e
meia, devendo começar abaixo do furo Pacú, nas proximidades
da primeira cachoeira.
Damos preferência a este ponto de partida pelas razões seguintes,
que nos parecem valiosas: 1ª, porque de Uxituba até o furo Pacú,
em uma extensão de 30 milhas, o Tapajós ainda é perfeitamente
navegável por barcos a vapor; ora, aproveitando-se mais esta
secção, o Baixo Tapajós compreenderá uma extensão de 210
milhas navegáveis: 2ª, porque, a partir a estrada de Uxituba, além
de ter de percorrer maior extensão, teria de atravessar vários
morros.
Entendemos, também, que ela deve de preferência terminar no
rio Jauan-Xim (sic), afluente oriental, porque desta maneira não
se afastará muito das margens do Tapajós; e, logo que seja
terminada, poderá ser utilizada não só para o transporte da
borracha, que o Alto Tapajós produz, calculada em 10.000 arrobas
anualmente, como para mercadorias importadas.
Calculamos em 1:000$000 réis por milha, o custo da abertura e
destacamento da estrada, devendo ter 4m e 50cm de largura.
O custo total será, portanto, de 33:500$000 rs. adicionando-se a
este 20% para despesas imprevistas.
A estrada projectada até Jauan-Xim salvará as cachoeiras de
Maranhãozinho, Maranhão-grande, Furnas, Coatá, Apuy, Oroá,
Tamanduá e Boburé, todas de trânsito difícil e perigoso.
Da parte superior da cachoeira de Apuy começam as barracas dos
seringueiros.
No lugar denominado Boburé, margem esquerda do rio, há um
aldeamento de Mundurucus já civilisados, que habitavam a
margem oposta, e foram obrigados a retirar-se dali por causa dos
índios Parintintins, que os perseguiam constantemente.
Deste ponto a 8 milhas está o rio Jauan-Xim, acima do qual
avista-se um vasto estirão com ricos seringais, em uma e outra
margem.
Este último rio, que tem também uma grande extensão
encachoeirada, e muitos seringais, começa a ser explorado por
trabalhadores, que ali vão estabelecer-se durante o verão.
Dizem que os índios, que pelo Jauan-Xim se vai a um outro rio
muito largo, que provavelmente será o Xingu, e que em seu curso
superior atravessa campos, onde se encontrará gado, que seria
talvez dos campos de Diamantina.
Na parte encachoeira do rio Tapajós até Apuy, encontramos
apenas duas barracas, ambas abandonadas, preferindo os
seringueiros estabelecer-se mais acima.
Atribuímos isso não a falta de seringais, que existem em toda esta
extensão, mas as dificuldades das cachoeiras.
Então estabelecido na margem do Jauan-Xim o extremo da
estrada, este ponto tornar-se-á o empório do Alto Tapajós.
Acresce ainda que pode ser um meio eficaz de evitar a emigração
que atualmente se tem dado, da população do Tapajós para os
rios Purús e Madeira, na província do Amazonas.
Por contrato, que V. Exc. ultimamente firmou com a Companhia
da Amazonas, a começar do corrente mês em diante, fica
estabelecida uma linha mensal de navegação a vapor até Itaituba,
pondo todo o Baixo Tapajós em comunicação direta com a praça
desta capital. Esta vantagem, de extrema importância para o
comércio dessas regiões, se tornará extensiva ao Alto Tapajós.
II.
No porto de Santarém, isto é, na foz do Tapajós, a diferença do
nível das águas entre a baixa-mar e a preamar é, termo médio, 5m
e 28cm.
Na cheia extraordinária de 1859 foi a diferença de 6m e 30cm.
Estas medidas tinham sido tomadas em tempo conveniente pelos
srs. Affonso Maugin Désincourt, engenheiro francês e
negociantes Silva & Souza.
Verificamos, também, que a referida cheia elevara-se de 1m e
05cm acima do preamar de 1870.
Partimos de Santarém no vapor Pará em 17 de novembro do ano
próximo passado.
O Baixo Tapajós apresenta aspectos variados, e mui alegres
horizontes.
O Volume de suas águas é imenso; suas margens elevadas e
orladas de extensas praias.
As serras e colinas, que se avista de uma e outra margem, dão ao
rio o cunho de não vulgar beleza.
A princípio não se encontra muitas ilhas; mas de Brasília Legal
em diante tornam-se mais numerosas, sucedendo-se sem
interrupção e estendendo-se em todas as direções.
São muitas as variedades de madeira de construcção: mesmo de
bordo do vapor distinguimos algumas destas árvores tão uteis.
Entre elas as de pau d’arco, que é de preço inestimável, estando
em plena florescência, destacavam-se por suas copas cobertas de
flores amarelo-vivo, cor de ouro, apresentando-se ora isoladas,
ora em grupos sobre as faldas das colinas.
Todas estas madeiras, aliás, de valor real, não têm sido
aproveitadas para o comércio.
Cerca de 25 milhas antes de Itaituba, à margem direita, passamos
perto das ilhas do Guaranazal, junto ao morro Ipá-pixuna, todo
formado de pedras calcarias (carbonato) caindo sobre a praia,
esboroado pela ação constante das águas.
Estas pedras estão sendo ultimamente exploradas por um ativo e
inteligente comerciante, que as manda vir para calcinar em fornos
construídos perto de Santarém, produzindo cal de qualidade
superior, que ele fornece para consumo de todo o Amazonas.
Acima de Itaituba, à margem ocidental, passamos também junto
a ponta conhecida pela denominação Paredão.
O Paredão, cortado a prumo pela corrente do rio, é uma extensa
barreira toda do mesmo calcário, formando uma stratificação
mais ou menos regular, distinguindo-se perfeitamente a
separação de cada camada pela diversidade de cores, que
apresenta.
Estes lugares foram por nós visitados.
O Paredão tem a altura de 5m, coberto de uma camada de terra
vegetal pouco profunda.
O calcário cai também sobre a praia em blocos enormes
incrustados de cristais de aragonita, que a ação dissolvente das
águas deixa por fim a descoberto.
Apesar do costume geral da população do Tapajós, como de todo
o interior da Província, de abandonar suas habitações para
embrenhar-se nos seringais durante o verão, encontra-se,
contudo, muitas casas a margem do rio, tratadas com esmero e
apresentando aspecto risonho e animado, com boa plantação de
árvores frutíferas e criações de animais domésticos.
O terreno cortado pelo Tapajós passa, com bom fundamento, por
um dos mais ricos do vale Amazonas, não só pela infinita
variedade e valor de seus produtos naturais, como por sua
prodigiosa fertilidade.
Todo o baixo Tapajós, além das incontestáveis riquezas nativas,
que encerra, apresenta também um quadro ameno e alegre;
quando, porém, se penetra nas suas cachoeiras aquela cena
risonha muda-se totalmente.
Não nos foi possível chegar além das do Boburé; mas pelo que
até ali vimos e experimentamos e pelo que pessoas de confiança
nos informaram podemos concluir que é impossível estabelecerse navegação regular na parte encachoeirada.
Subimos as cachoeiras em pequena igarité, de lotação de 200
arrobas, carregada apenas de mantimento necessário para o
consumo da viagem.
No limitado espaço, que ficava desembaraçado de carga,
manobravam 20 homens para, com extremo esforço, arrastar a
igarité contra a corrente.
Raras vezes a tripulação pode empregar o remo, quase sempre é
obrigada a recorrer a zingas, isto é, grandes hasteas de rija
madeira armadas de ponteira de ferro.
Aplicam esta sobre a pedra, que obstrui o leito do rio, e,
apoiando-se com o peso do corpo sobre a hastea, impelem a
canoa para diante.
Em outras ocasiões, porém, nem mesmo das zingas podem fazer
uso. Então, toda a tripulação salta a àgua e vai se agarrando, cada
um como pode, pelas pedras, equilibrando-se a custo contra a
força da corrente, estendem longas espias e por elas vão
puxando, arrastando lentamente a igarité.
Esta é a navegação nas partes intermédias das cachoeiras.
Nas cachoeiras, novas precauções e novos esforços são
necessários.
Começa-se por baldear para a terra toda a carga e depois
transporta-la a ombros por caminhos tortuosos até um ponto
superior à mesma cachoeira. Neste trabalho emprega-se às vezes
um dia inteiro e mais.
Trata-se então de fazer transpor a canoa inteiramente
descarregada.
Parte da tripulação salta à água agarrando-se aos rochedos e
trabalhando com espias; a outra parte trabalha com a zinga; o
proeiro, evitando com todo o cuidado que a proa vá de encontro
às pedras ou se desvie para o lado da corrente, e o piloto guiando
a popa.
Assim se vai arrastando a canoa até o ponto onde está a carga
depositada, que se embarca para recomeçar de novo o mesmo
trabalho, e para não fazer ás vezes mais de uma ou duas milhas
de viagem por dia.
Além de todos estes incommodos ainda sofremos chuvas
frequentes, que nos ensopavam a bagagem e que apenas davam
tempo de preparar a comida às pressas.
O estampido das cachoeiras ensurdecia-nos e um enxame de
mosquitos não nos deixava um momento de repouso, nem de dia
nem de noite. O veneno sutil destes insetos e particularmente dos
borrachudos nos fez inchar os pés, as mãos e o rosto, produzindo
uma coceira desesperadora.
Desde a cachoeira do Maranhãozinho até a de Boburé, o rio está
todo obstruído por grandes ilhas, que só deixam entre si
pequenos intervalos, formando assim um verdadeiro labirinto.
Por toda a parte se encontra pedras, que ora surgem à superfície
das águas, ora ficam submersas, produzindo grandes
redemoinhos ou rebojos.
Outras vezes as águas despenham-se sobre rochedos e rebentam
em cachões.
Convém precisar aqui o sentido da palavra – cachoeira.
Nem sempre se encontra verdadeiramente cachoeiras ou
catadupas, isto é, descarga de grande massa d’água
despenhando-se para um nível muito inferior. Quando se diz
cachoeira de Apuy ou Boburé, é porque nestes pontos a
navegação se torna mais difícil; na verdade, porém, esta maior
dificuldade provém mais da estreiteza, tortuosidade e obstrução
dos canais do que da grande e repentina diferença de nível.
Na descida do rio a navegação ainda é incontestavelmente mais
perigosa.
Pela sucinta descrição, que acabamos de dar, V. Exc. fará ideia de
quão trabalhosa e dispendiosa é a navegação do Alto Tapajós.
Entretanto, no princípio do verão quase toda a população do
Baixo Tapajós penetra pelas cachoeiras para ocupar-se da
extração da borracha.
Há famílias, que fazem viagem de dois meses e mais para chegar
ao ponto onde têm de fixar-se durante essa estação.
Quando se pensa que estas viagens só podem ser feitas em
canoas de pequena lotação; que são precisos dez, vinte e mais
homens para tripula-las; que a maior parte da carga consta
apenas de mantimento indispensável para o consumo; quando se
pensa que os artigos de primeira necessidade são por preços
elevadíssimos e que estas viagens, além de perigosas, são
demoradas; deve-se logo calcular que o lucro da borracha não
poderá cobrir tão desproporcionadas despesas, e que o comércio
aqui se acha em condições mui desvantajosas. Infelizmente esta é
a verdade!
A população, que se emprega na extração da borracha nas
cachoeiras do Tapajós, para vendê-la aos regatões, não pode obter
e nem obtém efetivamente senão um lucro puramente ilusório.
Quando regressamos de Boburé, um seringueiro veio pedir-nos
que o deixássemos vir em nossa companhia para auxilia-lo na
passagem das cachoeiras.
Relataremos este fato, porque pinta ao vivo a maneira de viver
daquela gente. Este homem vinha em uma pequena canoa
trazendo consigo toda a sua família, que se compunha da mulher,
um filho menor de 5 anos, outro de 5 e outro ainda de peito.
A mulher guiava o leme e ele a proa, e o filho maior tomava
cuidado do menor.
No fim do dia, depois de muito trabalhar, armavam a rede na
praia e dormiam tranquilamente ao relento.
Contou-nos que trabalhara todo o verão, que extraíra 10 arrobas
de borracha, mas que a entregara toda ao patrão, e restando-lhe
menos de 20$000 em dinheiro!
Era este todo o lucro, que obtivera, sofrendo rudes trabalhos,
passando privações e expondo a cada momento nas cachoeiras a
vida de sua mulher e tenros filhos.
Note-se que este homem, bom trabalhador, possui no baixo
Tapajós excelente casa, terrenos fertilíssimos, e uma boa
plantação de café.
Meia dúzia de negociantes ou lavadores mais abastados
locupletam-se com o trabalho da população índia do Tapajós, que
vive em completa ignorância de seus interesses e de seus direitos.
Assim a população de uma das mais ricas regiões do mundo,
vive quase na miséria e na desmoralização!
Os homens mais sensatos, porém, já se vão desenganando dessa
irresistível fascinação, que os arrastava para os seringais.
Vimos várias casas, cujos proprietários tinham abandonado o
tráfico da borracha, para ocupar-se da lavoura, nas quais reina a
abundância e o bem estar, o espírito de família se desenvolve; os
filhos recebem educação mais regular, e a moral reivindica o seu
direito, porque a independência, e a paz e felicidade doméstica
nunca deixam de vir coroar os esforços do lavrador.
III.
O clima do Tapajós é temperado e o calor moderado por
constante viração. O termômetro, desde 18 de novembro a 18 de
dezembro, oscilava de 25° a 29° centigrados. As febres, que em
alguns lugares da província tornam-se endêmicas, aparecem ali
poucas vezes, e isso mesmo na época em que o rio começa a
encher, a que os habitantes chamam repiquete.
As riquezas naturais contidas em seu seio são imensas; entretanto
os moradores do baixo e alto Tapajós, em geral, entregam-se à
extração da borracha e fabrico de guaraná.
A salsa existe em grande abundância e poucos são os que se
dedicam à extração deste producto.
O óleo de copaíba e a castanha, que também podiam concorrer
para a receita da província, e que se encontra em grande
quantidade, não tem quem deles se ocupe, sendo a sua
exportação quase nula.
Ricas madeiras de construcção existem nas matas virgens do
Tapajós, como o pau d’arco, murapinima e outras muitas de
grande preço em nosso mercado.
Aí também se nota extensas minas de calcário, que abragem uma
área de muitas milhas quadradas, próprias para o fabrico da cal.
O Sr. Silva, negociante em Santarém, nos informou que na
pedreira de Ipá-Pixuna tem-se encontrado mármore, e nos deu
uma amostra de gipso já calcinado, de que nos afirmou existir no
rio Cupary (sic) uma grande mina, que se estende a mais de 9
milhas.
Além da cal poderemos ter muito boa pedra de cantaria, talvez
em nada inferior a que nos vem de Portugal.
É nossa opinião que as minas calcarias, ali existentes, constituem
uma das principais riquezas do rio Tapajós.
A agricultura, porém, está em um completo atraso, como em
quase todo o Brasil, e principalmente nesta província onde a
ambição ilusória da borracha faz desprezar tudo e abandonar
casas durante o verão para depois começar uma vida nova.
No entanto, conta-se já alguns engenhos de cana para o fabrico de
cachaça e mel.
Alguns lavradores, convencidos de que é fictício o lucro
proveniente da borracha, se têm ultimamente dedicado à cultura
do café, cuja exportação anual é superior a 300 arrobas.
Além disso, fazem roças e outras plantações, como a do tabaco,
que é reputado por elevado preço, nesta praça, e que lhes deixa
bom resultado.
As terras do Tapajós, em geral, prestam-se a todo o gênero de
cultura própria desta província.
Não é raro ver-se algumas pequenas fazendas de gado. Mesmo
em algumas malocas de índios mais civilizados encontra-se
criação de carneiros, perus, patos, galinhas e algumas cabeças de
gado vacum.
Geralmente os índios Mundurucus são bastante trabalhadores, e
em suas malocas sempre ai encontra boa farinha, peixe e carne de
caça moqueados.
Não deixou de causar-nos impressão o fato que observamos, de
as mulheres trabalharem mais que os homens, o que não acontece
pelo interior, somente entre os índios. Os homens ordinariamente
dedicam-se à caça e à pesca, exercícios suaves, e mandam as
mulheres para trabalhos de roças e da colheita de suas
plantações, etc.
Os dados estatísticos, que podemos colher são mui incompletos.
Procuramos obtê-los oficial e particularmente, mas não fomos
bem sucedidos, apesar de nossos esforços. Eles seriam de
incontestável utilidade não só para o governo como para o
comércio.
A Vila de Itaituba, que está situada a 4° 19’ 25’’ de lat. S. e 12° 22’
10’’ de long. Ocidental do meridiano do Rio de Janeiro, à margem
esquerda do Tapajós, conta 33 casas, a maior parte delas cobertas
de telha e bem construídas de excelentes materiais.
A igreja Matriz está bastante velha e arruinada; achando-se
começada a construção de uma outra, que já tem as paredes da
frente e as duas laterais levantadas de pedra e cal, para cuja
conclusão já existe no arquivo da Secretaria do Governo um
plano, pelo que deixamos de entrar em maiores minuciosidades
a respeito.
Em todo o município há apenas uma escola de ensino primário
para o sexo masculino, na sede da vila, a qual foi no ano passado
frequentada somente por 7 alunos!
Segundo a nota que nos foi oficialmente fornecida pelo colector,
se conta dentro da vila de Itaituba 8 casas de comércio, sendo 4
nacionais e 4 estrangeiras; e existindo fora mais 7, e em todo o
município 19 canoas de regatões, que vão anualmente negociar
além das cachoeiras; e 7 lojas ambulantes, empregadas no
comércio do guaraná com a tribo dos Maués.
O rendimento da Coletoria, de janeiro de 1870 a junho de 1871 foi
de rs 6:630$000.
As mercadorias ali são vendidas por preços exagerados,
principalmente nas cachoeiras, onde os gêneros de primeira
necessidade são comprados a capricho do vendedor.
Assim, o preço da farinha oscilla de 5$ a 10$000 rs., e do peixe
seco, de 14$ a 18$000 e às vezes a 20$000 rs.
Os cuiabanos vem anualmente à Itaituba comprar guaraná, que é
vendido por 60$ e 80$000 rs. a arroba.
Hoje que se acha estabelecida a navegação direta para Itaituba,
tudo mudará de face.
Haverá completa revolução no sistema de vida dos habitantes do
Tapajós.
A navegação a vapor é incontestavelmente um dos elementos
mais poderosos de civilização e progresso, máximo quando
emana de um centro, onde se pode encontrar todos os recursos.
O comércio, que até hoje limitava-se à praça de Santarém, se
desenvolverá mais facilmente, e em pouco tempo tomará maior
incremento.
Com a navegação direta evita-se a baldeação das mercadorias no
porto de Santarém: ha diminuição nas despesas e tempo, e por
consequência, poderão os comerciantes em Itaituba vender suas
mercadorias por menor preço. O rio se tornará mais conhecido; a
nossa praça estará mais ao fato das ocorrências comerciais; não
faltarão especuladores, que ali se queiram estabelecer; haverá
concorrência; aparecerá talvez o espírito de associação e,
portanto, maior afluência de capitais: maior desenvolvimento de
civilização e, consequentemente, maior número de braços livres
para o trabalho. Em uma palavra, os produtos de exportação
crescerão ao triplo e serão distribuídos pelas praças de Santarém
e Pará.
O comércio ali ainda está circunscrito a um círculo mui limitado.
É, portanto, preciso a concorrência, uma das fases da liberdade,
para extinção do monopólio, sem o que não poderá haver
progresso, civilização, indústria, agricultura, nem mesmo
liberdade de ação.
A concorrência é uma potência, que dá vida e animação à
atividade social e, segundo a expressão de Montesquieu, é “a
alma e o aguilhão da indústria”.
É ela incontestavelmente o elemento principal de todo o sistema
mercantil, e debaixo de qualquer ponto de vista, que se considere,
constitui um dos principais geradores da ordem das sociedades.
A concorrência traz o estímulo, torna a indústria mais fecunda, e
se ela por si só constitui um dos elementos de prosperidade, as
associações concorrem por seu turno para a civilização e
progresso.
A falta de braços livres para o trabalho parece-nos resultar antes
do modo de viver da população.
Geralmente, cada índio do Tapajós não pode viver senão debaixo
da tutela de um patrão, a quem confia toda a sua existência;
assim como o obedece cegamente, assim também só dele espera a
alimentação, a vestimenta, etc., e dali provém a ociosidade, os
maus costumes e a completa indiferença para consigo mesmo;
desta forma o trabalho desses homens consiste apenas no
emprego da força bruta. São verdadeiros autômatos, que só
fazem o que se lhes manda e ordena.
Logo que ali penetrarem os raios da civilização, que lhes fizerem
compreender os fóros de cidadão, de homens livres e
independentes, podendo viver sobre si, tornando-se responsáveis
pelos seus atos, quando compenetrarem-se dos deveres e das
obrigações, que contraíram para com Deus e para com a
sociedade, então haverá transformação completa nos costumes e
em todo o sistema de vida, e serão eles felizes.
IV.
O Tapajós, que em seu seio encerra tanta riqueza, oferece um
vasto campo de estudo ao espírito.
Nas praias de Itaituba, além de grandes variedades de seixos
rolados de quartzo, encontramos muitos fósseis pertencentes ao
terreno carbonífero.
Espécies diferentes de spirifer e productus (sic), outros
pertencentes às famílias Nautilidoe gêneros Nautilus, Orthidoe,
gênero Orthis Rhinchonellidoe, gênero Atrypa, etc;
Só de Itaituba consta-nos que o ilustre professor Hart colecionara
uma quantidade de fósseis para enriquecer um gabinete.
No igarapé Bom Jardim colhemos muitas amostras de calcário,
algumas de quartzo e quatro zoophitos fossiliferos.
No Paredão encontramos muita variedade de grés, uns moles,
outros de grão fino e bastante duros.
Nas praias do Painim apenas achamos algumas amostras de grés
ferruginoso e quartzo ágatha.
Em uma barranca, à margem direita, três milhas acima do
Painim, encontramos pequenas pedras mui brilhantes, de
suphureto de ferro, enterradas em uma camada de schisto
bastante mole, que formava a barranca, abrangendo uma
pequena extensão.
A tripulação, que nos ouvia falar nas riquezas do rio Tapajós
julgou que fossem diamantes, e, escavando com mais afinco, fez
uma boa colheita desse mineral.
Uma milha abaixo do Painim existe uma ilha, que apresenta o
aspecto de uma fortaleza, formada quase de um só bloco de
Porphyro.
Na parte encachoeirada o rio alarga-se consideravelmente:
grande número de ilhas, semeadas aqui e ali, parecem fechar-lhe
completamente o curso.
Ali encontramos paredões de Porphyro (sic) à semelhança de
muros, como se fossem feitos pela mão do homem.
Blocos imensos de pedras com arestas mais ou menos vivas e
entre estes um, que mais chamou a nossa atenção, pela forma
regular, que afetava de uma pirâmide quadrangular.
Informaram-nos que no leito de um córrego nas proximidades
das cachoeiras de Coatá, algumas pessoas haviam tirado ouro.
Apesar de nossos bons desejos, tivemos a infelicidade de
encontrar o córrego cheio, porque o rio tinha crescido mais de 1
m e 30 cm.
O sr. Silvério de Albuquerque Aguiar Leverger, natural de Goiás
e prático na mineração do ouro, nos acompanha trazendo uma
bateia para estas pesquisas.
Asseveraram-nos que no rio S. Manuel, um dos maiores afluentes
da margem direita do Tapajós, alguns Cuiabanos têm tirado
ouro, e o sr. Leverger fez-nos o favor de mostrar uma pequena
porção, que havia comprado, trazida desse rio.
Posto que para nós a existência do ouro não seja a melhor fonte
de riqueza, contudo a ambição, que se desenvolve na população,
traz em resultado não só a afluência de trabalhadores como
também a de capitais.
Foi assim que a província de Minas Gerais tornou-se em pouco
tempo uma das mais populosas e florescentes do Brasil.
O Tapajós deságua no Amazonas por duas bocas formando um
grupo de várias ilhas.
Em todos os roteiros de viagem na província se faz
constantemente a mesma observação relativamente a todos os
outros rios.
Pode-se, pois, estabelecer como um fato geral a formação de
deltas à foz dos grandes rios do Vale do Amazonas.
Sabe-se que este nome deriva-se do arquipélago, que jaz à foz do
Nilo, porque afecta a forma triangular semelhante ao delta, 4ª
Letra do alfabeto grego.
Depois do Nilo observou-se o mesmo fenômeno na foz de todos
os grandes rios, que deságuam no mar, entre os quais citaremos o
Ganges e o Eufrates na Ásia, o Níger e o já citado Nilo na África o
Ródano e o Reno na Europa, o Mississipi, Orenoco, Amazonas e
outros muitos na América.
No vale do Amazonas, onde os rios afluentes são inumeráveis e
extensos como os maiores, que deságuam no mar, observa-se
sempre os mesmos fenômenos, como na junção do Guamá com o
Mojú, do Xingu com o Amazonas, etc.
Estas ilhas, formadas pelos depósitos sedimentários
transportados pela corrente do rio, cobrem-se, por fim, da terra
vegetal, bastante espessa para deixar espaço ao livre
desenvolvimento das árvores, que não tardam em vir sombreálas.
A primeira ilha formada desvia a corrente das águas, e outra ilha
se forma, e enfim o arquipélago pela ação incessante das mesmas
causas naturais.
V.
De Itaituba fomos até o Bom Jardim, igarapé que deságua uma
milha acima desta Vila.
Este riacho, aliás, de um curso bastante extenso, abriu o seu leito
pelo meio da mina de pedra calcaria até uma profundidade de
6m e 60cm.
O leito, as margens, o terreno adjacente, é todo formado de
excelente pedra mui própria para o fabrico da cal.
É este, pois, o terceiro ponto onde a mina aflui à flor da terra: pois
já notamos que ela se mostra também a descoberto em enormes
massas, primeiro no morro de Ipá-pixuna, à margem direita, 20
milhas abaixo de Itaituba, e depois no Paredão, à margem
esquerda, cerca de 7 milhas acima de Itaituba.
Além destes pontos, pessoas que nos merecem confiança,
informaram-nos que também se encontra à flor da terra no furo
do Caranazal, 3 milhas abaixo de Ipá-pixuna, que é todo formado
de calcário, e no morro de Camicá-peteca, que se encontra na
estrada, que vai às terras dos Maués, cerca de 4 milhas distantes
da margem esquerda do Tapajós.
Pode-se, pois, com razão supor que a área compreendida entre as
linhas, que se cortam nos pontos indicados, tenha por base rochas
calcarias.
As rochas de sedimento apresentam-se ordinariamente em
grandes massas e extensão, e é possível que aqui também a mina
se estenda além do polígono figurado, e que o próprio Tapajós
como o Bom Jardim, seu afluente, tenha aberto seu leito através
destas rochas. A mina, porém, se acha coberta em toda sua
extensão, de uma espessa camada de terra vegetal mais ou menos
profunda, e em todo o caso suficiente para a livre vegetação das
matas.
Como quer que seja, basta a parte que está a descoberto para
afirmar-se que a mina é realmente grande, profunda, de fácil
exploração por se achar á margem do rio.
Deixamos de mencionar aqui outros pontos, onde se afirma haver
a mesma substância, por não nos oferecerem muito crédito essas
alegações.
Também não nos descuidamos de procurar o mármore ao menos
sob a forma de estalactites e estalagmites como costuma haver
nas grutas formadas em terrenos desta natureza, mas por falta de
tempo, como dissemos, deixamos de prosseguir as pesquisas
mais minuciosas.
No morro de Camicá-peteca, porém, se encontrará
provavelmente grutas em que se descobre forma de estalactites e
estalagmites, mármore, conhecido na arte estatuária pela
denominação de “alabastro calcário”, e empregado de preferência
pelos antigos para fabricar grandes alampadas destinadas a dar
luz pálida e misteriosa em seus templos.
O emprego da pedra calcária para o fabrico da cal, nos parece
uma indústria de utilidade real, pois é geralmente sabido que a
cal e diversos cimentos são elementos indispensáveis para a
construção tanto de obras públicas como particulares, por
conseguinte o consumo deste artigo é muito considerável.
Levados por estas considerações submetemos ainda à esclarecida
atenção de V. Exc. algumas reflexões sobre estas matérias.
É opinião nossa que a indústria pode tirar grande partido das
minas calcárias do Tapajós, criando um novo e importante ramo
de comércio.
À margem do Igarapé Bom Jardim existem dois pequenos fornos,
construídos de adubos grosseiros e cobertos de ligeiro teto de
folha. Ambos são, pouco mais ou menos, das mesmas dimensões,
colocados sobre as camadas de pedra calcária.
Medimos um deles e achamos um diâmento de 2 m e 80 cm, e
altura de 3 m e 20 cm, o que lhe dá a insignificante capacidade de
20 metros cúbicos.
Cada um destes fornos, disseram-nos ter custado menos de
200$000 réis, e além de se achar sobre uma mina calcária
inesgotável, está também junto a extensas matas, onde se
encontra combustível em grande abundância.
Quando o forno está cheio ataca-se fogo, a combustão continua
por si, e no fim de 4 ou 5 dias a calcinação está completa.
Cada fornada tem dado regularmente 950 á 1.000 alqueires de cal
e, portanto, cada forno pode produzir anualmente 25.000
alqueires; e em Itaituba tem sido vendido à razão de 1$000 rs.
pouco mais ou menos cada alqueire.
Ora no Tapajós o jornal de um trabalhador, até aqui, nunca
atingiu a 1$000 rs. diários; supondo, porém, mesmo que seja
elevado ao dobro, podemos fazer por cada forno o cálculo
seguinte da despesa e produto anual:
Receita
25.000 alqueires de cal a 800: ... 20:000$000
Despesas
Jornal de 10 homens a 2$000 diários: 6:000$000
Diversas: ... 2:000$000
(Subtotal das Despesas): 8:000$000
Lucro anual: ... 12:000$000
Quem examinar os elementos deste cálculo verá que as despesas
são tomadas ao máximo e a receita no mínimo e não o encontrará
de certo exagerado.
Assim, o custo de produções de cada alqueire de cal vem a ser
400 réis, podendo reduzir-se a muito menos; e um capital de 8 ou
10 contos, empregado nesta indústria, pode produzir no fim do
ano o avultado lucro de 12:000$000.
Infelizmente, porém, uma produção em maior escala não acharia
consumidor no município, e teria necessariamente de
circunscrever-se a um círculo mui limitado.
A cal seria para Itaituba importante artigo de exportação; mas nas
condições atuais o frete absorveria todo o lucro.
A exploração, portanto, desta rica mina pela indústria depende
sobretudo do frete.
Compreendemos toda a importância deste problema, não
ousando aventurar nossa opinião sobre a maneira de resolve-lo.
O comércio é, sem dúvida, mais habilitado para auxiliar com sua
experiência e prática os bons desejos da administração.
Se não houver possibilidade de reduzir o frete a ponto de haver
vantagens para essa indústria, a mina calcária será um tesouro
perdido por muitos anos.
Também é nossa opinião que será mais vantajoso exportar a
pedra calcária tal qual sai da mina, para ser aplicada ao fabrico da
cal em Santarém, Belém e outros centros de maior consumo,
porque a pedra depois de reduzida a cal, no ato da caldeação,
toma um volume duas ou três vezes maior.
Calculada nestas condições esta importante indústria poderá
sustentar a concorrência com a cal exportada do exterior; e se se
desenvolvesse em condições vantajosas e em grande escala,
talvez a população do Tapajós se aplicasse de preferência a ela,
visto como a extração da borracha no meio das cachoeiras exige
sacrifícios inauditos e traz consigo o grave inconveniente de
converter populações fixas e agrícolas em hordas errantes e
desmoralizadas.
VI.
Os autores, que se tem consagrado ao estudo das tribos indígenas
do Brasil, as consideram todas oriundas de duas raças distintas,
que são a dos Tapuyos e a dos Tupys; estes procedendo de algum
ramo da raça caucásica, e aqueles da grande raça mongólica.
Os Mundurucus, por seus caracteres físicos e morais, por sua
índole e costumes, e por suas tradições e crenças, procedem
evidentemente dos Tupys, e talvez sejam hoje em todo o Vale da
Amazonas, a mais nobre relíquia dessa grande e infeliz raça.
Desde o princípio do século atual (1817) Ayres de Casal dera o
nome de Mondurucânia ao extenso e opulento território, que
medeia entre o Madeira e o Tapajós, em honra da tribo
Mondurucú (sic), que já então gozava de toda preponderância
nessas regiões.
É uma tribo industriosa e ativa; valente na guerra e indomável;
amiga fiel, mas também inimiga terrível quando provocada.
No baixo Tapajós existem as povoações de Uxituba, Cury, Santa
Cruz, etc., provenientes em grande parte desta tribo.
Entre as cachoeiras encontra-se as malocas Mundurucús,
denominadas Boburé, da Montanha, da Maloquinha, Ponta
Grossa, Rato, Curuçá, Babacal, Boa-Vista, Jacaré-canga, Iry, etc.
Fora do Tapajós esta tribo concorreu também com gente sua para
formar várias outras povoações; mas a maior parte dos
Mundurucus acha-se agora fixada na grande taba das Campinas.
Aí vivem independentes, segundo os seus antigos costumes, nus,
empregando-se na caça e pesca e em alguma indústria agrícola,
obedecendo mais a seus próprios caprichos do que às ordens de
seus Tuxauas.
A taba compõe-se de muitas malocas pequenas, colocadas à
pouca distância uma das outras e comunicando todas entre si.
Está situada à margem direita do Tapajós, um tanto distante do
rio, na linha que separa as grandes florestas amazônicas dos
campos gerais, que vão até Mato-Grosso.
Todos os anos, no verão, os guerreiros Mundurucus armam-se e
vão bater outras tribos com que não têm relações de paz e
amizade.
Antigo costume Tupy consagra maior consideração ao guerreiro,
que mais valente se mostra nos combates; além deste, porém,
outras razões principais incitam os Mundurucus a estas correrias,
– a conveniência de possuir uma certa extensão de território em
que possam caçar livremente sem encontrar inimigos nem
concorrentes; e o interesse de aprisionar os filhos e mulheres das
tribos inimigas, os quais ficam sendo tratados e considerados
como fazendo parte da própria tribo Mundurucu, que assim vai
engrossando todos os anos as suas fileiras.
A habitação dos guerreiros, nas campinas, é separada da das
mulheres. Para aqueles constroem uma espécie de quartel,
extensa casa coberta de palha, onde estendem suas redes às vezes
em número de 80 á 100, e à noite acendem uma fogueira em cada
intervalo de duas redes.
Encontramos o velho Tuxaua do Boburé gravemente doente,
deitado em uma rede em frente de outra em que estava sua
mulher, e entre eles ardia constantemente uma fogueira mesmo
durante o dia.
Este índio, de forma atléticas, tinha o peito e rosto pintado de
jenipapo, e assim também a mulher e mais gente da maloca.
Em frente dos quartéis os Mundurucus campineiros levantam
outro casarão destinado às mulheres e às filhas dos guerreiros, às
crianças de tenra idade e aos anciões decrépitos.
Logo que curumi (índio pequeno) pode manejar o arco, é
transferido da casa das mulheres para a dos guerreiros.
A crença supersticiosa do feitiço ainda se acha profundamente
arraigada no espírito destes silvícolas.
O feiticeiro, que até os fins do século passado era punido de
morte entre as nações mais cultas da Europa, ainda o é hoje entre
os Mundurucus das campinas.
Se alguma pessoa de consideração cai doente e a enfermidade se
mostra rebelde à ação dos remédios, os parentes e amigos não
tardam em suspeitar o feitiço. O curandeiro, que eles denominam
pajé, procurando afastar de si a responsabilidade do mau efeito
de seus remédios, trata de confirmar a suspeita. À força de
insistir neste pensamento, os amigos do doente chegam a
convencer-se de que algum dos desafetos é realmente a causa de
seus sofrimentos e esse é logo olhado como o feiticeiro. Então
quatro ou cinco dentre eles tomam as armas e dirigem-se para a
maloca, residência do indigitado. Em qualquer parte onde o
encontrem, em pleno dia, rodeado ou não de amigos e parentes,
chegam-se a ele e o matam.
Os próprios parentes da vítima, às vezes o pai, a mãe, ou filho,
não ousam levantar a menor reclamação nem queixa e guardam
silêncio profundo.
O cadáver é então arrastado para um campo distante, e aí
reduzido a cinzas.
Por mais singulares que nos pareçam estas aberrações do espírito
humano, não nos devem surpreender, porque nações mais
civilizadas cercavam de maior aparato, e de maiores torturas
estas atrozes execuções.
Disseram-nos que há anos os Mundurucus esperavam que os
cristãos se retirassem dos seringais para então entregar-se a estas
tristes vinganças. Agora, porém, não guardam reserva alguma,
animados pela indiferença dos regatões, que por aí vão traficar.
Quando o Mundurucu mata o inimigo, em combate, corta-lhe a
cabeça, que traz para a maloca como troféu, extrai-lhe os miolos e
os olhos e a expõe cuidadosamente ao fumeiro por dias
sucessivos.
Esta operação é feita com tal habilidade, que a cabeça conserva-se
com a cabeleira toda e quase com a cor natural.
Em lugar dos olhos colocam breu no orifício e atravessam dois
dentes de cutia, de tal sorte que a cabeça conserva certo ar
animado.
O vencedor leva este troféu de maloca em maloca, e em toda essa
marcha triunfal é recebido com distinção e proclamado valente
entre os guerreiros.
Só a muito custo desfazem-se destes troféus, e às vezes os
vendem aos regatões e aos raros viajantes, que ousam por ali
penetrar.
Se o Mundurucu é morto em combate, seus ossos são
piedosamente recolhidos e em certo e determinado dia reúnem-se
os companheiros de guerra e parentes para pranteá-lo, e
comemorar seus feitos e suas virtudes.
São os Mundurucus das campinas; intrépidos caçadores,
afeiçoados aos cristãos a quem recebem com agrado quando
penetram suas malocas.
Os negociantes do Tapajós consideram todos desta tribo como
muito bons fregueses, trabalhadores e fiéis a seus compromissos,
e nestas condições podem auxiliar eficazmente a comunicação da
Província do Pará com a de Mato-Grosso.
Tinham apenas decorrido dez anos depois que Francisco Caldeira
Castello Branco lançara os fundamentos desta cidade de Belém,
quando penetrou no rio Tapajós (1626) o mais distinto de todos
os oficiais da expedição portuguesa.
Falamos de Pedro Teixeira, o mesmo que para ir levar a
Maranhão a noticia do feliz resultado da expedição de Castello
Branco não receou embrenhar-se em ínvias matas; o mesmo que,
à frente de um pequeno destacamento e alguns índios teve a
glória de subir o Amazonas e de transpor os Andes até Quito; o
mesmo que expulsara os Holandeses do Xingu, e que se
encontrava sempre na vanguarda de todos os combates, que se
feriram para sustentar a nova e débil colônia contra as correrias e
assaltos dos Tupinambás e outros inimigos do nome português.
Baenna descreve seguindo Berredo, a entrada de Pedro Teixeira
no Tapajós pelo modo seguinte:
“Encarrega o governador e capitão general do Estado do
Maranhão e Pará (Francisco Coelho de Carvalho), ao capitão
Pedro Teixeira resgates de escravos indígenas bravios para o
trabalho material da capitania. Parte este capitão da cidade com
um religioso capucho, 26 soldados e avultado número de índios.
Chega à aldeia dos Tapuyussús: sabe que estes têm tratos com os
índios Tapajós no rio, que deles extrai o nome: endereça-se para
lá; entra nele obra de doze léguas: descobre em um sítio
alcatilado de viçosa relva, amenizado por uma nascente de água
a mais cristalina, e cercado de frondosas árvores; os Tapajós, já
noticiados desta visita pelos seus amigos Tapuyussús a quem ele
generosamente subornava.
Acha benévolo acolhimento e um trato menos bronco; o qual,
segundo as suas pesquisas, lhe pareceu verossímil terem-no
adquirido nas possessões castelhanas, onde haviam estado.
Detêm-se ali pouco tempo: aquista algumas estrivas (sic) de
palhinha e pacarás de gentil matiz, e poucos escravos, porque os
Tapajós raras vezes toleram o uso de se comutar homens por
mercadorias”.
A tribo dos Tapajós, que todos, entretanto, consideram como
valente e generosa, não conservou-se por muitos anos, e hoje
dificilmente se encontraria vestígios dela.
Em 1762 o bispo D. frei João de S. José, Monge Beneditino, em
visita pastoral na Diocese, chegou até o rio Tapajós, e fala dessa
tribo como já tendo existido, sem contudo dizer que fim levara.
Nessa época ainda os Mundurucus não tinham conquistado o
vale do Tapajós, onde hoje dominam e, portanto, é sem
fundamento a opinião, geralmente admitida, de que os Tapajós
foram por eles exterminados.
Nós cremos que os índios Tapajós chegaram a dominar somente a
foz do rio, em Santarém, hoje cidade, onde tinham sua principal
taba, e as margens do Tapajós.
Uma pequena aldeia, situada junto à cidade de Santarém, é a
última relíquia, que nos ficou dessa tribo, que deu seu nome a
todo o rio.
Ainda hoje, perguntando-se aos habitantes como se chama o rio
em língua Tupy, respondem: Tupayú-Paraná (rio dos Tapajós),
ou então Paraná-Pixuna (rio preto) e, particularmente dão o nome
de Tupayú a Santarém, porque ali existiu a principal taba.
Parece que os Mundurucus, que apareceram pela primeira vez no
rio Madeira, desceram das vertentes até a foz, passando depois
para as margens do Tapajós, e levando de vencida diante de si as
tribos, que encontravam em sua passagem, e vieram a dominar
completamente toda a extensa região, que medeia entre os dois
rios.
A tribo dos Maués, ainda numerosa, aplica-se à importante
cultura e fabrico do guaraná, e de bravia e errante que era, foi
domada, dizem, pelos Mundurucus, que à força de constantes
ataques obrigaram a fixar-se e estabelecer relações com os
cristãos.
O mesmo se diz dos Apiacás, que habitam o Alto-Tapajós, e que
são um poderoso auxiliar aos Cuiabanos, que todos os anos
descem à compra do guaraná.
Os mundurucus exterminaram a bela tribo dos Parintins, e agora
perseguem com ataques repetidos os Parintins, que andam
vagando entre o Tapajós e o Xingu.
Às vezes estes indígenas aparecem em pequenos grupos, e logo
desaparecem, sem nunca fixar-se, porque receiam encontrar
inimigos Mundurucus e não esperam encontrar amigos nem
protetores entre os cristãos.
Eram em grande número as tribos indígenas, que há um século
habitavam o Tapajós. Citaremos entre outras as de Uarupás,
Apaunuariás, Marixitás, Amanajás, Apicuricús, Morivás,
Moquiriás, Jacareuarás, Anjuariás, Apecuriás, Senecuriás,
Perequitos, Necuriás, Surinanas, Motuari, etc.
O Bispo D. João de S. José, tinha dito: “Bastaria um sertão de
qualquer rio, e não os maiores, para povoar Portugal (como está
habitado o Minho) desde Ayamonte a Tuy”.
Chegando às margens do Tapajós exclamou ele: “Reflita o leitor
se bastaria um rio para povoar Portugal, sobejariam as 60 léguas
do Arinos para ocupar as 80, que contém na sua maior longitude
o reino desde Ayamonte a Tuy”.
Os padres da Companhia de Jesus fundaram uma missão na
grande Taba de Tupayú, e Manoel da Motta Siqueira colocou à
sua custa um fortim, cujas ruínas existem ainda.
Assim dominaram os portugueses a foz do Tapajós.
O governador e capitão general, D. Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, criou a Vila de Santarém, de conformidade
com a lei de 6 de junho de 1755, que mandava elevar à categoria
de lugares ou vilas, segundo a sua importância, todas as aldeias
missionadas pelos padres da Companhia, ficando sujeitos à
jurisdicção do Ordinário. Esta lei, cuja execução foi incumbida ao
capitão general, irmão do Marquês de Pombal, já denunciava o
pensamento deste celebre ministro de expulsar essa Ordem
Religiosa, como de fato expulsou, dos domínios de Portugal e
Brasil, no ano de 1759.
Achando-se os portugueses fortificados em Santarém começaram,
como então era de costume, a invadir os sertões capturando os
índios de tribos mais fracas, e reduzindo-os à escravidão.
Já vimos que os Tapajós reprovavam esta iniquidade, quando em
suas aldeias penetrou Pedro Teixeira, que, todavia, não julgou
conveniente agredi-los.
Uma destas expedições, partindo de Santarém, subiu em 1773
todo o baixo Tapajós, penetrou pelas cachoeiras e chegou a um
rio desconhecido, que desde então até hoje ficou sendo chamado
rio das Tropas.
Os portugueses ali encontraram muitos Mundurucus a quem
propuseram a compra de escravos; porém, sendo mal recebidos,
chegaram a ponto de romper hostilidades.
Então os Mundurucus pegaram em armas e opuseram viva
resistência.
Faltando munição, depois de dois ou três dias de combate, o
comandante da expedição deu-se pressa em retirar-se. Os
Mundurucus, porém, pondo-se sem perda de tempo em
movimento, lançaram-se ao encalço de seus inimigos.
Foram então devastando todas as aldeias, massacrando seus
habitantes, que assombrados pelo terror, que o nome Mundurucu
inspirava, nem podiam defender-se.
Chegaram quase ao mesmo tempo que os portugueses em
Santarém, que puseram sítio.
A guarnição, correndo grande perigo, recolheu-se a toda pressa
ao fortim, que dominava a povoação.
Numerosos e ousados como eram, os Mundurucus não puderam,
contudo, escalar o fortim defendido por armas de fogo.
Por fim os sitiados propuseram paz, que foi aceita, e aqueles
selvagens recolheram-se a suas tabas, devastando todo o baixo
Tapajós.
Ainda existem testemunhas presenciais deste acontecimento. Em
casa do cidadão Silvério de Albuquerque Aguiar Leverger, junto
as cachoeiras, encontramos uma índia velha, cuja idade
calculamos em 120 anos.
Ela nos disse que achava-se em Alter do Chão quando os
Mundurucus desceram cortando a cabeça de todos, que
encontraram até Santarém.
Perguntamos-lhe se tinha conhecido os padres da Companhia de
Jesus: respondeu-nos que sim, que conhecera uns padres, que
andavam pelo mato, e que se diziam amigos dos índios.
Alguns índios velhos ainda sabem de cor os cânticos, que os
jesuítas composeram em língua tupy e faziam cantar nas festas
religiosas, que denominavam Sairé.
Os Mundurucus, em suas longínquas excursões, chegam até as
margens do Xingu, e entretem relações de paz e amizade com os
Jurunas.
Estes dominam no Alto Xingu, como os Mundurucus no Alto
Tapajós.
Aqui se conta desses gentios o seguinte fato curioso: No verão os
Peapaias, que habitam o centro, aparecem à margem do Xingú e,
ao som de buzinas, dão aos Jurunas um sinal convencionado.
Os tuxauas desta tribo reúnem então todos os seus guerreiros, e
atravessam a margem oposta, onde os esperam os Peapaias.
O Jurunas, que já tem relação e comércio com a população do
Baixo Xingu, vendem-lhe terçados; e, como não os tem suficientes
para todos, reduzem os que possuem a fragmentos, que os
Peapaias empregam para fazer seus arcos.
Feito este escambo, dá-se um sinal e os guerreiros das duas
tribos, empunhando seus arcos e flechas, alinham-se em arco de
círculo na praia, e entre eles tem lugar um duelo de morte.
Um guerreiro Juruna e outro Peapaia, designados pelos
respectivos tuxauas, saem a campo.
Com a mão esquerda cada um dos dois guerreiros retém pela
cabeleira o seu contrário, empunhando com a direita um curto e
rijo tacápe.
Assim ajustados, começam a dançar e cantar canções guerreiras,
descrevendo círculos sobre a praia, até que a um momento dado
os dois guerreiros descarregam simultaneamente um golpe
terrível sobre seu inimigo.
Se um dos guerreiros morre, a cabeça lhe é imediatamente
cortada e arrebatada pelos contrários.
Outro guerreiro da mesma tribo toma o seu lugar no torneio e o
combate recomeça com as mesmas formalidades.
O duelo tem lugar três vezes sucessivas, e combatentes, que
sucumbem vão sendo imediatamente substituídos por outros da
mesma tribo.
Cada um exalta sua coragem com a mesma altivez, como faziam
nas justas os antigos cavaleiros.
No fim do 3º combate os guerreiros das duas tribos dão uma
descarga de flechas sobre os inimigos, a modo de despedida;
cortam a cabeça dos mortos contrários e desaparecem.
O Juruna, que regressa à sua maloca trazendo uma cabeça de
Peapaia é tratado com distinção, durante muitos dias recolhe-se a
um lugar isolado, não pronuncia uma só palavra, toma alimentos
estritamente necessários para sustentar a vida. Ocupa-se então
em fazer flechas, e quando cada flecha é feita, o Juruna atira-a
para as costas e os outros guerreiros vêm apanha-la na crença
provavelmente de que tem mais virtude do que as outras, e que
será mais feliz em suas guerras e caçadas.
No fim do prazo determinado o vencedor é pintado com signal
particular e considerado guerreiro privilegiado da tribo.
Aqui terminamos o nosso trabalho.
Sinceramente desejamos que o resultado de nossa comissão seja
de alguma utilidade no empenho em que V. Exc. se acha, de
desenvolver as forças produtivas da província animado a lavoura
e alargando o círculo do comércio.
Em resumo diremos a V. Exc. que o vale do Tapajós é
extraordinariamente rico, mas ainda em grande atraso.
A lavoura conserva-se em embrião. A indústria é quase nula e
por consequência o comércio não pode ter grande incremento.
A população, que se embrenha pelos seringais, não pode receber
educação alguma.
A escola de instrução primária que existe em Itaituba, e que é a
única do município, só foi frequentada no ano passado por 7
alunos, como já acima dissemos.
Entretanto mesmo na Vila vivem vários meninos entregues à
ociosidade, ou distraídos em outros misteres.
A população índia, na ignorância de seus legítimos interesses e
de seus direitos, só trabalha para locupletar os patrões, de cuja
tutela não pode ou não sabe prescindir.
Havendo, como há, pouco cuidado da parte dos pais de família
em dar instrução a seus filhos, não se pode esperar que a geração
futura melhore sob este ponto de vista.
A inteligência, que é a primeira de todas as forças produtivas, e a
que deve dirigir todas as outras, fica ainda inculta como estava.
Os descendentes dos aborígenes que foram em outro tempo
aldeados e batizados, vivem no baixo Tapajós e às margens de
seus afluentes, e só passam as cachoeiras os que, durante o verão,
vão se ocupar da extração da borracha.
Os gentios vivem nas regiões encachoeiradas.
As vistas do governo, a sua ação benéfica e a regular
administração de justiça dificilmente pode chegar àquelas alturas.
É, todavia, de esperar que este estado de coisa mude pelo
impulso, que a navegação a vapor costuma imprimir em todas as
regiões por onde passa.
É justo esperar-se que a grande revolução econômica, que a
navegação tem produzido em todo o Amazonas, se estenda agora
por todo o vale do Tapajós, que é um de seus mais ricos afluentes.
A comunicação, que V. Exc. tem em vista estabelecer entre esta
praça e a província de Matto Grosso, já está assim efetiva em toda
linha fluvial do Tapajós, na extensão de cerca de 650 milhas.
A estrada, que tem de atravessar as grandes matas passando
pelos seringais do alto Tapajós, na direção de Diamantino,
chegando às regiões dos vastos campos de Matto-Grosso, poderá
se prestar desde logo ao transporte de gado.
Enfim V. Exc., que, na qualidade de Juiz de Direito da Comarca
de Santarém, bem conhece as necessidades e os recursos do
Tapajós, se dignará suprir as lacunas, que por ventura encontre
neste nosso trabalho.
Deus guarde a V. Exc.
Pará, 20 de janeiro de 1872.
Antonio Manuel Gonçalves Tocantins.
Julião Honorato Correia de Miranda.
(Permitida reprodução desde que citada a fonte.)
Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap
Diretoria Executiva Gestão 2012/2015
Pe. Sidney Augusto Canto
Presidente
Anselmo Alencar Colares
Vice-presidente
João Georgios (Jota) Ninos
1º Secretário
Paulo Henrique Lima
2º Secretário
Alenilson Antônio Mota Ribeiro
1º Tesoureiro
Antônia Terezinha Santos Amorim
2ª Tesoureira
Conselho Fiscal
Efetivos
Raimunda Nonata Monteiro
Wildson Pinto Queiróz
Iza (Tapuia) Maria Castro dos Santos
Suplentes:
Yago Estouco Rodrigues
Francisca Canindé Bezerra dos Santos
Ib Sales Tapajós
Região Oeste do Pará - 2014

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