A viagem do Papa Francisco a Sarajevo

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A viagem do Papa Francisco a Sarajevo
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A viagem do Papa Francisco a Sarajevo
Author : J. M. de Barros Dias - Colaborador Voluntário Sênior
Categories : EUROPA, NOTAS ANALÍTICAS, POLÍTICA INTERNACIONAL
Date : 15 de junho de 2015
O Papa Francisco realizou, no dia 6 de junho, uma viagem apostólica a Sarajevo, capital da
Federação da Bósnia e Herzegovina, país que procura a unidade para enfrentar as elevadas taxas
de desemprego, a corrupção e a polarização política. A visita papal coincidiu com o 20.º aniversário
da assinatura do Acordo de Paz de Dayton[1], que pôs termo à Guerra Civil nos Balcãs. A viagem
àquele país do sudeste da Europa teve como objetivo, nas palavras do próprio Papa, “encorajar a
convivência pacífica”[2] entre os bósnios.
Fundada pelos Otomanos em 1461, Sarajevo era, em finais do século XVII, a cidade mais
importante dos Balcãs. Ocupada pelo Império Austro-Húngaro, em 1878, Sarajevo assistiu,
algumas décadas mais tarde, em 28 de junho de 1914, ao assassinato do Arquiduque Francisco
Ferdinando e de sua mulher, a Duquesa de Hohenberg, Sofia Chotek, acontecimento que
constituiu o pretexto para o início da I Guerra Mundial. No século XX, Sarajevo foi um dos
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industriais da antiga Iugoslávia e sede dos Jogos Olímpicos de Inverno, em 1984.
A cidade mergulhou no nacionalismo extremo que envolveu os Balcãs, na sequência do colapso dos
regimes políticos marxistas-leninistas na Europa, quando foi cercada pelos sérvios da Bósnia, em 6
de abril de 1992, num conflito que se arrastou por mais de três anos e causou mais de 100 mil
mortos. Hoje, dos 800 mil fiéis católicos do período anterior à Guerra Civil, restam 400 mil, com
uma tendência contínua para o decréscimo[3].
Sábado, em sua visita de um dia a Sarajevo, o Papa Francisco teve a oportunidade de se reunir
com o Presidente de turno, Mladen Ivani?, com membros do Corpo Diplomático e, também, com
os sacerdotes, religiosas, religiosos e seminaristas, na Catedral, mantendo um encontro ecumênico
e inter-religioso no Centro Internacional Franciscano de Sarajevo.
A viagem a este país predominantemente islâmico, que assistiu a violentos motins antigovernamentais no mês de fevereiro do ano passado[4], foi a primeira efetuada pelo Papa após a
viagem à Jordânia, aos Territórios Palestinos e a Israel[5] e desde que, no Oriente Médio,
tiveram início as perseguições maciças aos cristãos[6]. Por outro lado, a ida do Sumo Pontífice a
Sarajevo também marcou o regresso de um máximo representante da Igreja Católica à capital da
Bósnia e Herzegovina, desde que, em 1997, João Paulo II, ignorando as ameaças de assassinato,
urgiu um maior diálogo entre os bósnios muçulmanos, os católicos croatas e os sérvios ortodoxos[7].
Na homilia proferida no Estádio Koševo, de Sarajevo, na presença de 65 mil pessoas, o Papa
Francisco exortou os bósnios, mas também o mundo ao desenvolvimento de um esforço coletivo
pela paz: “A guerra significa crianças, mulheres e idosos nos campos de refugiados; significa
deslocamentos forçados; significa casas, estradas, fábricas destruídas; significa sobretudo tantas
vidas destroçadas”[8]. Prosseguindo, Francisco apelou aos habitantes de Sarajevo: “Bem o sabeis
vós, que experimentastes isto mesmo precisamente aqui: quanto sofrimento, quanta destruição,
quanta tribulação! Hoje, amados irmãos e irmãs, desta cidade ergue-se mais uma vez o grito do
povo de Deus e de todos os homens e mulheres de boa vontade: Nunca mais a guerra!”[9].
Apesar de ter tido um caráter religioso, a visita papal levantou um conjunto de questões políticas. As
fortes relações do Vaticano com a Igreja Católica bósnia têm suscitado discussões em torno da
posição da Santa Sé acerca da criação de uma terceira entidade política, que represente a minoria de
croatas-bósnios[10] na Bósnia e Herzegovina[11]. Por outro lado, o anúncio do estatuto das polêmicas
aparições marianas de Medjugorje[12], que estava previsto para finais de 2014, ainda não foi
publicamente divulgado[13].
O Vaticano comunicou que a investigação havia sido concluída, estando os resultados em mãos do
Papa desde janeiro de 2014[14]. Em entrevista coletiva concedida aos jornalistas que acompanhavam
o Papa Francisco no voo de regresso a Roma, após a visita a Sarajevo, o Sumo Pontífice teve a
oportunidade de esclarecer: “nós estamos no momento de tomar decisões... e então elas serão
anunciadas... mas apenas algumas diretrizes serão dadas aos Bispos acerca das decisões que eles
irão tomar”[15].
Para lá das questões políticas e religiosas, a visita do Papa Francisco a Sarajevo teve alto
significado, contribuindo para reafirmar as ligações do Vaticano com a região. Analistas da Igreja
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na Bósnia tiveram o ensejo de enfatizar que a presença do Papa foi socialmente relevante
Católica
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no âmbito do cuidado e preocupação para com os socialmente mais desfavorecidos. A presença de
Francisco na cidade-mártir de Sarajevo constituiu, portanto, um clamor contra a apatia social e,
também, um “olhar para o futuro com esperança”[16].
----------------------------------------------------------------------------------------------Imagem “O Papa Francisco durante a missa no estádio Koševo, de Sarajevo” (Fonte):
http://static2.businessinsider.com/image/5572d275eab8eab11259c283/pope-francis-says-he-senses-anatmosphere-of-war-in-the-world.jpg
----------------------------------------------------------------------------------------------Fontes Consultadas:
[1] Ver:
http://www.ohr.int/dpa/default.asp?content_id=380
[2] Ver:
http://w2.vatican.va/content/francesco/it/messages/pont-messages/2015/documents/papafrancesco_20150602_videomessaggio-sarajevo.html
[3] Em 2013, o Bispo Auxiliar de Sarajevo, Dom Pero Sudar, “apelou aos católicos americanos para
pedirem ao Governo dos Estados Unidos para repensar o formato imposto em 1995 pelos Acordos de
Dayton. Com efeito, o entendimento de Dayton sancionou a divisão da Bósnia em duas entidades
separadas: a República Srpska, dominada pelos ortodoxos sérvios, e a Federação da Bósnia e
Herzegovina, agora sob controle dos muçulmanos bósnios. Studar afirma que a mensagem básica de
Dayton é a de que ‘há espaço no país unicamente para dois povos, não para três’ – excluindo os
católicos. O impacto foi dramático. Em 1992, existia quase 1 milhão de católicos na Bósnia e
Herzegovina [...]. Hoje, Dom Pedro Sudar afirma que sobram unicamente 460 mil, o que significa que a
presença católica foi cortada pela metade, na qual a maioria que ficou considera estratégias de saída”.
Ver:
http://ncronline.org/blogs/ncr-today/bosnian-bishop-says-us-policy-fueling-catholic-exodus
[4] Ver:
http://www.theguardian.com/world/2014/feb/07/bosnia-herzegovina-wave-violent-protests
[5] Ver:
http://www.jornal.ceiri.com.br/o-papa-na-terra-santa-visita-pastoral-com-significado-politico/
[6] Ver:
http://www.reuters.com/article/2015/02/01/us-pope-bosnia-idUSKBN0L51HD20150201
[7] Ver:
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http://www.reuters.com/article/2015/02/01/us-pope-bosnia-idUSKBN0L51HD20150201
http://www.jornal.ceiri.com.br
[8] Ver:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20150606_omeliasarajevo.html
[9] Ver:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20150606_omeliasarajevo.html
[10] “O movimento nacionalista croata emergiu na Bósnia em agosto de 1990, com a formação da União
Democrata Croata da Bósnia e Herzegovina (Hrvatska Demokratska Zajednica Bosne i Hercegovine,
HDZBiH). Na Croácia, um partido com o mesmo nome foi criado em junho de 1989, tendo ganho as
primeiras eleições multipartidárias de abril-maio de 1990; seu líder, Franjo Tudjman, se tornou o primeiro
Presidente da Croácia. As ligações entre os dois partidos eram fortes e Zagreb desempenhou,
frequentemente, um papel proativo na política interna do HDZ bósnio”. Ver:
http://pesd.princeton.edu/?q=node/241
[11] A República Croata da Herzeg-Bósnia foi uma entidade não-reconhecida na República da Bósnia
e Herzegovina, que existiu entre 1991 e 1994, durante a Guerra Civil da Bósnia. Ela foi proclamada em
18 de novembro de 1991 com o nome Comunidade Croata de Herzeg-Bósnia, alegando ser distinta
“política, cultural, econômica e territorialmente” do território da Bósnia e Herzegovina. A Herzeg-Bósnia
deixou de existir em 1994, quando foi remetida para a Federação da Bósnia e Herzegovina, após a
assinatura do Acordo de Washington pelas autoridades da Croácia e da Bósnia e Herzegovina. (Cf.
AAVV, Judgement of Julgamento de Mladen Naletilic, aka “TUTA”, And Vinko Martinovic, aka “ŠTELA”, s.
l., United Nations – International Tribunal for the Prosecution of Persons Responsible for Serious
Violations of International Humanitarian Law Commited in the Territory Former Yugoslavia Since
1991, 31.03.2003):
http://www.icty.org/x/cases/naletilic_martinovic/tjug/en/nal-tj030331-e.pdf
Ver, também, INA VUKIC, “Towards A Croatian Entity In Bosnia And Herzegovina”, Croatia, The War,
And The Future. Disponível online:
http://inavukic.com/2014/07/13/towards-a-croatian-entity-in-bosnia-and-herzegovina/
[12] Ver:
http://medjugorje.ie/files/DECLARATION-OF-THE-EX.pdf
[13] Ver:
http://www.balkanalysis.com/bosnia/2015/02/09/bosnians-await-pope-francis-june-2015-visit/
[14] Ver:
http://www.news.va/en/news/commission-to-submit-study-on-medjugorje
[15] Ver:
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http://www.catholicnewsagency.com/news/pope-talks-medjugorje-coming-encyclical-on-return-fromhttp://www.jornal.ceiri.com.br
bosnia-36240/
[16] Ver:
http://www.osservatoreromano.va/pt/news/do-confronto-ao-encontro
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