O Portal do Dragão
Transcrição
O Portal do Dragão (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. III, pág. 281 – tradução revisada) Na China, existe uma cachoeira conhecida como Portal do Dragão. Suas águas precipitam de uma altura de trinta metros a uma velocidade superior à de uma flecha lançada por um robusto arqueiro. Inúmeras carpas reúnem-se aos pés da cachoei-ra na esperança de subi-la. Aquela que conseguir o feito vai se transformar em dragão. No entanto, nem um único peixe em cem, mil ou dez mil consegue realizar a façanha, mesmo depois de dez ou vinte anos de esforços. Alguns são arrastados pela forte correnteza, outros caem nas garras de águias, falcões, milhafres e corujas e outros são presos em redes, armadilhas, ou, ainda, são atingidos por flechas de pescadores que se enfileiram em ambas as margens do rio de dez tyo de largura. Tal é a dificuldade que uma carpa encontra para se tornar um dragão. Houve, certa vez, dois importantes clãs guerreiros no Japão – Minamoto e Taira. Eles eram como dois fiéis cães de guarda nos portões do Palácio Imperial. Eles eram tão ansiosos para proteger o imperador quanto um lenhador é para admirar a lua cheia quando esta surge detrás das montanhas. Eles maravilhavam-se com as festas elegantes dos nobres da corte e suas damas, assim como os macacos das árvores se enlevam com a visão da lua e estrelas brilhando no céu. Embora fossem de classe inferior, eles almejavam encontrar algum modo de misturarem-se nos círculos da corte. Porém, embora Sadamori do clã Taira tenha dominado a rebelião de Masakado, ainda assim não foi admitido para a corte. Nenhum de seus descendentes, incluindo o famoso Masamori, o foi. Nunca até a época do filho de Masamori, Tadamori, nenhum membro do clã Taira teve permissão para entrar para a corte. Na linhagem seguinte, Kiyomori, e seu filho Shiguemori, não somente desfrutaram a vida entre os nobres da corte, mas também se tornaram diretamente relacionados com o trono quando a filha Kiyomori casou-se com o imperador e teve um filho com ele. Atingir o estado de Buda é tão difícil quanto uma pessoa de classe baixa entrar para o círculo da nobreza ou uma carpa escalar o Portal do Dragão. Resumo e Cenário Histórico Nitiren Daishonin escreveu O Portal do Dragão em 6 de novembro de 1279 com 58 anos de idade, quando vivia no Monte Minobu. O recebedor desta carta, Nanjo Tokimitsu, um jovem de apenas 20 anos, era o administrador da Vila de Ueno. A morte prematura de seu pai, quando tinha apenas 7 anos e de seu irmão mais velho, colocaram sobre ele desde cedo uma grande carga de responsabilidade. Aos 16 anos assume a função ocupada anteriormente pelo seu pai, de administrador do distrito Ueno. Auxiliou Nikko Shonin na intensa campanha de propagação na região, obtendo assim notável sucesso. As autoridades locais sentiram-se ameaçadas, começando assim uma série de perseguições e atos violentos contra os seguidores do budismo de Daishonin, culminando com o incidente conhecido como Perseguição de Atsuhara. Nesta perseguição, vinte camponeses foram presos, sendo que três deles acabaram sendo decapitados. Observando o forte espírito dos seus discípulos, simples camponeses, de não abandonarem a fé mesmo ao custo de suas próprias vidas, Nitiren Daishonin concluiu que havia chegado o momento de perpetuar os seus ensinos para todo o futuro. Assim, em 12 de outubro de 1279, inscreveu o Daí Gohonzon, o Supremo Objeto de Devoção para a felicidade de todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei. Neste escrito, O Portal do Dragão, Daishonin transmite ao jovem discípulo que a única forma de superar todos os tipos de perseguições e de dificuldades para se alcançar a iluminação se encontra no caminho do juramento de concretizar o Kossen-rufu, o desejo do Buda. O caminho para alcançar o estado de Buda Neste trecho inicial do escrito, Nitiren Daishonin descreve o árduo caminho para se alcançar o estado de Buda, isto é, a verdadeira felicidade na existência, ilustrando-o com duas analogias bastante conhecidas em sua época: a lenda do Portal do Dragão e a história japonesa do clã Taira. A lenda do Portal do Dragão O Portal do Dragão é uma cachoeira lendária da China que diz-se situar no rio Amarelo e que as carpas que conseguissem subir a cachoeira se transformariam em dragões. Neste escrito, Nitiren Daishonin descreve a cachoeira dizendo que possui trinta metros de altura e dez tyo (mais de um quilômetro) de largura. A lenda diz que a força da correnteza era tão intensa que praticamente nenhuma carpa, por mais que tentasse, conseguia subir e chegar ao topo da cachoeira. Além dessa dificuldade, aves de rapina e pescadores ficavam à espreita em ambas as margens para apanhá-las. E, somente uma carpa que superasse tantos impedimentos e que chegasse rio acima se transformaria em dragão com o poder de controlar a chuva, os trovões e as tormentas. Em muitos países do Oriente, até hoje, emprega-se a expressão “escalar o Portal do Dragão” como sinônimo de luta contra os obstáculos ou de superação de grandes barreiras para chegar ao êxito na sociedade ou na profissão. (Leia mais na revista Terceira Civilização nº 508, dezembro de 2010, página 28) A analogia da lenda na prática da fé Do ponto de vista da nossa prática budista, escalar a forte correnteza corresponde ao desafio da prática da fé em meio às dificuldades da época atual dos Últimos Dias da Lei(1) para se atingir o estado de Buda. A força e a velocidade com que as águas precipitam, arrastando os peixes correnteza abaixo, podem se comparar com as condições de uma era maléfica, contaminada pelas cinco impurezas(2), conforme descrita pelo Sutra de Lótus. Por outro lado, as aves de rapina e os pescadores que dificultam ainda mais a escalada, corresponde aos Três Obstáculos e Quatro Maldades(3) e aos Três Poderosos Inimigos(4). O episódio do clã Taira De acordo com a história japonesa, os membros do clã Taira ou Heike começaram como humildes guardas do palácio imperial. Por gerações, foram leais em prestar serviços até conseguirem ascender ao círculo da nobreza após um período de 250 anos. Porém, a conduta despótica dos Taira fez-se notar cada vez mais e, em pouco tempo foi totalmente extinto. Assim, logo no início deste Gosho, Daishonin nos ensina o quanto é difícil conquistar até o final, qualquer que seja um grande objetivo, especialmente o de alcançar o estado de Buda. Na época, os seus seguidores se encontravam sob risco de morte, sendo perseguidos pelas autoridades. É por esta razão que Nitiren Daishonin ensina a Nanjo Tokimitsu a atitude intrépida na fé exigida, explicando em termos rigorosos que o caminho para o estado de Buda é complicado e severo. O fato de Nitiren Daishonin agir assim indica a profunda confiança e elevada expectativa que tinha pelo jovem discípulo. (Leia mais na revista Terceira Civilização nº 508, dezembro de 2010, página 32) Orientação do presidente Ikeda Em sua explanação deste escrito, o presidente Ikeda escreve: Perseverar na fé na era maléfica dos Últimos Dias da Lei é como nadar rio acima contra a poderosa correnteza. Já é bastante árduo resistir às forças insidiosas de nossos próprios desejos mundanos e da escuridão fundamental. Sakyamuni compara essas forças com uma poderosa correnteza. Nitiren Daishonin explica que isso é mais certo ainda nos Últimos Dias, quando a engenhosidade, o conhecimento e o saber aparentemente notáveis do ser humano são inundados pela maré inexorável de impulsos ilusórios alimentados pelos três venenos — avareza, ira e estupidez —, uma correnteza ainda mais impetuosa que leva à destruição como uma força do mal. Precisamente por ser tão difícil manter a fé na Lei Mística numa era assim, os laços de mestre e discípulo adquirem importância decisiva no Budismo. Do mesmo modo, torna-se indispensável a existência de uma comunidade harmoniosa de praticantes solidamente unidos por um mesmo propósito — denominada por Nitiren Daishonin “diferentes corpos, uma única mente”. (Terceira Civilização nº 508, dezembro de 2010, páginas 28 e 30) Palavras e Frases: (1) Últimos Dias da Lei: Também conhecida como a era da decadência da Lei, é o último dos três períodos de propagação – Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei - após a morte de Sakyamuni. Na era dos Últimos Dias da Lei, os ensinos de Sakyamuni perderiam o poder de conduzir as pessoas à iluminação. De acordo com os sutras, o quinto período de quinhentos anos após a morte de Sakyamuni corresponde ao início dos Últimos Dias da Lei e se caracteriza pela visão errônea e distorcida das pessoas em relação à Lei. Nitiren Daishonin surgiu exatamente no início dos Últimos Dias da Lei, revelando o Nam-myoho-rengue-kyo. (2) Cinco impurezas: As impurezas da época, do desejo, dos seres vivos, da visão (ou do pensamento) e da própria vida. São mencionadas no 2º capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”. (3) Três obstáculos e quatro maldades: Diversas obstruções e impedimentos à prática budista. Os três obstáculos são: (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma; e (3) obstáculo da retribuição. As quatro maldades são: (1) o impedimento dos cinco componentes; (2) o impedimento dos desejos mundanos; (3) o impedimento da morte; e (4) o impedimento do Rei Demônio do Sexto Céu. (4) Três poderosos inimigos: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem os que propagam o Sutra de Lótus na era maléfica posterior à morte do Buda Sakyamuni. São descritos no verso de vinte linhas do 13º capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”. O Grande Mestre Miao-lo, da China, classificou-os em três categorias: (1) leigos arrogantes; (2) sacerdotes arrogantes; e (3) sábios falsos e arrogantes.
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