REPRESENTAÇÕES DO MUNDO CLÁSSICO E FONTES

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REPRESENTAÇÕES DO MUNDO CLÁSSICO E FONTES
Anais Eletrônicos do VI ENPOLE
VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956
Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015
REPRESENTAÇÕES DO MUNDO CLÁSSICO E FONTES HISTÓRICAS DO
BRASIL NO SÉCULO XVIII NAS CARTAS DE LUIZ DOS SANTOS VILHENA
Mayara Menezes Santos1 (BOLSISTA/PIBIC/POSGRAP/COPES/UFS)
[email protected]
INTRODUÇÃO
No Brasil, no período colonial, houveram-se tantos trabalhos investigativos
que relatam os fatos históricos e geográficos desse período. Historiadores, geógrafos e
cronistas desenvolveram estudos na terra recém-descoberta, se destaca as cartas de Luiz
dos Santos Vilhena, denominadas “Notícias Soteropolitanas e Brasílicas”, que depois de
mais de um século sem valor, foi redescoberta na Biblioteca Nacional.
Luiz dos Santos Vilhena veio ao Brasil em 1787, nomeado pela Coroa
Portuguesa como professor de grego e latim para aulas régias em Salvador até o ano de
1798, ao término do prazo de exercício como professor, pede permissão à coroa para
realizar por escrito descrições sobre a Bahia no século XVIII.
Sua obra foi escrita em forma epistolar de textos, inicialmente constituíam-se
de vinte cartas divididas em três tomos, depois, acrescidas quatro cartas, que tratam,
principalmente, da representação da história, geografia, comércio, educação, arquitetura,
política e costumes dos povos das Capitanias da Bahia de Todos os Santos.
O exemplar começou a ser estudado como fonte de curiosidade pelos
historiadores no início do século XX, sendo divulgada e publicada com os comentários
do acadêmico Braz do Amaral em 1921. Amaral relata que para encontrar subsídios da
origem biográfica e bibliográfica do autor foi necessário pesquisas em arquivos do Brasil
e de Portugal, já que a obra possivelmente foi direcionada ao Príncipe Regente, Dom João
que passou ao Conde de Linhares, posteriormente oferecida a biblioteca de
colecionadores até chegar a Biblioteca Nacional, no Brasil.
Segundo Amaral, o Sr. Capistrano de Abreu, historiador, afirma que este é “o
melhor trabalho que tem lido sobre a Bahia”, por essa razão, teria sido ele o primeiro a
observar a importância das cartas do Amador Veríssimo de Aleteya (verdade). Na época
Mayara Menezes Santos1: Graduanda do curso de Letras Português do Campus Universitário - Professor Alberto
Carvalho. Integrante da Iniciação Científica (PIBIC) da mesma instituição, trabalhando com as XXIV cartas de Luiz dos
Santos Vilhena, intituladas “Notícias Soteropolitanas e Brasílicas” (1921). Orientadora: Profª. Drª. Luciene Lages Silva.
E-mail: [email protected].
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era comum aos literários utilizar pseudônimos em suas obras, como uma forma de inibir
as censuras de sua autoria. Amaral, ainda em seus comentários, aborda a importância dos
conteúdos sobre a Bahia noticiados por Abreu e Vilhena, e ressalta as relevantes
comparações nas abordagens de ambos.
Vilhena traz algo de interessante na qualidade de suas vinte quatro cartas, pois
no momento que as ofereciam ao Filopono, Dom João, e mais tarde, ao Conde de
Linhares, Patrifilo, não obteve a mesma relevância social de qualquer outro historiador e
geógrafo da época, outro ponto importante, está no momento em que foram redescobertas,
havendo certa curiosidade sobre o conteúdo de seus textos, posteriormente percebem seu
valor historiográfico.
O interesse do estudo dessas cartas se dá pela forma única ao tratar os fatos
históricos e geográficos da Bahia de Todos os Santos, diferentemente dos historiadores.
O primeiro aspecto seria a utilização do título e a nomeação do remetente, Amador
Veríssimo de Aleteia, e destinatários, Filopono e Patrifilo, que transmitem uma
interpretação voltada a uma nomenclatura de origem grega e latina, sendo o autor
estudioso dessas áreas.
Outro ponto impecável encontra-se na contextualização desses textos. Essas
cartas trazem alusão ao mundo clássico, principalmente ligado a mitos e heróis gregolatinos, nomes e eventos romanos estabelecendo relações com o contexto brasileiro da
época, principalmente ligados a pessoas comuns e ilustres, família de Fidalgos e
Governantes da época, além de destacar os autores aludidos na obra que servem como
crítica textual. O objetivo dessas análises está em realizar uma relação na recepção
clássica sobre os usos do passado na Bahia de Todos os Santos.
Nessa estrutura de recepção, podem-se justificar os fundamentos críticos das
cartas em relação aos usos dos pseudônimos até a citação literal de Sêneca de que “o seu
trabalho deve servir a outrem”. Para confeccionar esse estudo foi necessária à leitura
minuciosa das cartas, neste caso, delimita-se aos três tomos, as dezenove primeiras cartas,
selecionar os trechos alusivos e, assim analisar as pesquisas filológicas e da literatura
comparada referentes aos trechos.
A fundamentação teórica para a concretização dessa pesquisa se baseia nos
diversos pensamentos sobre a recepção encontrada em Permanência Clássica: visões
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contemporâneas da antiguidade greco-romana, 2011, sem deixar de lado o uso de
dicionários que retomam termos da antiguidade clássica.
Dessa maneira, a estrutura disposta nesse artigo seguirá a explicações dos
usos dos trechos selecionados por alusões da antiguidade clássica, comparações
metafóricas e citações a autores com papéis de historiadores, geógrafos e cronistas,
posicionando-os quanto às “notícias soteropolitanas” do período colonial.
ALUSÕES A HERÓIS, LITERÁRIOS E OBRAS CLÁSSICAS GREGO-LATINOS
A crítica representada nos feitos da mitologia grega apresenta-se na linha da
ironia sobre a moralidade extraída de personalidades de famílias nobres. Vilhena coloca
a idealização de três heróis, Aquiles2, Heitor3 e Diomedes44.
Sobre Aquiles destaca-se a bravura heroica, como um contraponto em relação
às virtudes de um herói e a covardia nas atitudes morais de familiares fidalgos dos
Governantes na Bahia no século XVIII. A retomada a Diomedes traça sua função de
capitão valente e esperto contrapondo a concepção crítica que traz as cartas sobre o modo
de liderança dos Governantes e, da mesma maneira, se refere ao herói grego, Heitor, como
uma forma de mostrar a oposição dessa moralidade durante a colonização da Bahia de
Todos os Santos.
Em nossa caza se fazia, dizia, ou uzava, etc. aludindo equivocamente a
de seu amo, ou patrono. Se adiante destes se fala em sciencia Militar,
Laudon, Frederico e outros desta qualidade, erão em comparação deles
Achilles/Aquiles2: Herói da antiguidade clássica, considerado o maior dos guerreiros acaios que dispôs sua valentia
heroica na guerra contra os troianos, evento grego mencionado na Ilíada (1950) e na Odisséia (2001). Segundo
Spalding (1974), Aquiles é filho de Tétis e de Peleu, nasceu na cidade de Larissa às margens do rio Peneu, ao nascer
foi mergulhado nas águas do Estige para torná-lo invulnerável, no entanto sua mãe o segurava pelo calcanhar, o único
local que ficou vulnerável, morrendo ao ser atingindo no calcanhar por uma flecha, segundo uma das versões dessa
narrativa.
Referências:
NUNES, Carlos Alberto. (c. 1950). Homero: Ilíada [em verso]. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
NUNES, Carlos Alberto. Homero: Odisséia [em verso]. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
2
3 Heitor3: Segundo Spalding (1974), um patriota exemplar com a família e no comando de Tróia, o mais bravo e valente
dos guerreiros troianos com o comando do exército, filho de Príamo e Hécuba, lutou contra os mais valentes
guerreiros e capitães inimigos, mantendo a dignidade para com a cidade de Tróia. Foi morto por Aquiles que vingou
a morte de seu amigo Pátroclo.
Diomedes4: Segundo Spalding (1974), filho de Tideu e de Deífila, Rei de Etólia, destacou-se como um dos valentes e
espertos capitães na guerra e Tróia, comandando os etólios. Junto com Ulisses, em Tróia, roubou o Palácio do templo
de Minerva e os maravilhosos cavalos brancos de Reso, este foi morto por ele, além de furtar o Palácio de Dares.
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huns estúpidos; se em valentia, Heitor, Achilles, Diomedes, etc, huns
cobardes; a tempo que elles tem visto o inimigo tantas vezes e se tem
achado em pendências como eu que nunca as vi, nem briguei com
pessoa alguma. (VILHENA: 1921, p. 45)
Há outro ponto interessante, ao mostrar as condições dos sítios/terras da Bahia
em relação à costa e colinas, além destacar as ilhas do Frade e Madre de Deus que se
encontram em volta da Bahia de Todos os Santos com as embarcações a passar pelos seus
canais. O texto dialoga nessa linha de caracterização da terra baiana, aludindo aos Poetas
da antiga Grécia mencionando a arte do labirinto de Dédalo 55, em Creta no Egito e,
intercalando as características metafóricas as ilhas de Veneza, usando o montante de “Dez
Venezas” que não se comparam aos labirintos de canais das Ilhas citadas acima,
localizadas na Bahia.
Busca-se assim, uma correlação de mundo entre as terras de Creta e Veneza,
cujos governantes esforçam-se para preservar a paisagem natural e criar uma paisagem
geográfica organizada, cuidada e desenvolvida de acordo com a cultura do lugar. No
entanto, na Bahia os governantes acabam destruindo a bela paisagem que possui com
construções mal elaboradas e sem organização.
Também, há recepção entre a descrição dos uniformes do Regimento da
Tropa sob o comando do capitão Mór José Pires de Carvalho e Albuquerque, citando que
os labirintos de Creta não foram elaborados de forma tão impuros e confusos quanto os
Livros mestres dos Regimentos, pois a falta de uso por parte da S. Majestade, tornandoos desnecessários.
Essa recepção à mitologia grega é utilizada nas cartas, neste caso, como uma
maneira de criticar, registrar e informar os gastos desnecessários e inúteis, além do poder
de alienação entre empreiteiros e governos. Expressando indiretamente que priorizar uma
boa educação moral, mesmo entre culturas diferentes, é extremamente necessária para
formação de uma sociedade.
Dédalo5: Segundo Spalding (1974), é um habilidoso artista ateniense na produção de estátuas móveis, ao assassinar
Ácale, seu sobrinho, por inveja, foi exilado e acolhido por Minos em Creta, para quem construiu um labirinto famoso
que lembrava o faraó Amenemhet III e servia de refúgio ao Minotauro, produto monstruoso da relação da mulher de
Minos, Pasífae, e o touro. Esse labirinto, dentre outros construídos por Dédalo, representa apenas a centésima parte
do Egito.
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REPRESENTAÇÕES DE FILÓSOFOS, CIENTISTAS E EVENTOS GRECO ROMANOS - LATINOS
As cartas convencionam o diálogo comparativo em relação aos atos de figuras
públicas do século XVIII. Insere-se o termo Filopono, que significa amigo do trabalho,
designado a Dom João, de maneira alternada no corpo das cartas, retoma esse mesmo
personagem como Augusto.
Augustissimo Pay ou Augusto Soberano, citado para referenciar o Príncipe
Dom João, principalmente na carta oitava, na qual faz uma crítica à má remuneração dos
professores e aos gastos com os bens materiais e a estrutura de ensino, em contrapartida
o Primeiro Imperador Romano, Augusto, realizou muitas obras importantes que geraram
muitos benefícios a Roma e ao povo que ali vivia, como água corrente com linhas de
aqueduto cujas fontes vinham da montanha e o surgimento do concreto.
Essa veiculação a Augusto serve como contraponto, utilizado nessa carta para
descrever, com certa ironia, como o Filopono (Dom João) pode reduzir os gastos, além
de comparar o pagamento dos professores aos gastos dobrados com a produção de
aguardentes e carnes, especificamente o rendimento dos açougues como capital
necessário ao pagamento dos docentes. Dessa maneira, há uma crítica à desvalorização
da educação e da função docente para o povo baiano, através do uso de comparação
metafórica entre Augusto e Filopono.
Um dos eventos latinos bem trabalhados nas cartas se refere a uma
comparação metafórica que diz: “pela unha se julga um leão”, faz alusão ao primeiro dos
Doze trabalhos de Hércules, ao leão de Neméia que depois de morto por Hércules, sua
pele foi retirada com as próprias garras do bichano, dando a ideia de representação do
invulnerável ou intocável.
Na carta terceira, esse diálogo foi utilizado com o intuito de caracterizar as
atitudes dos soldados para com a população baiana, esses soldados, pela influência e
poder que lhes foram designados, deveriam proteger e organizar o local de venda de
carnes contra saqueadores, mas os mesmos faziam esta função agindo violentamente com
a população e, também com escravos, julgando-se melhores do que qualquer um deles,
intocáveis pelo poder ofertado. Por isso, o uso dessa máxima, faz o leitor refletir e
compreender a intenção do autor na crítica sobre essas atitudes grosseiras, passando a
ideia de invulnerabilidade.
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As referências de filósofos e escritores da antiguidade objetiva caracterizar a
funcionalidade e o papel que a obra de Vilhena traz em benefício à nação e a
responsabilidade do príncipe, V. Alteza Real, em governá-la, assim traça
metaforicamente as relações de Artaxerxes6, Plutarco7 e Isócrates8, com os préstimos que
devem ser ofertados a uma nação.
Ao utilizar o nome de Plutarco, Vilhena faz uma analogia da qualidade de sua
escrita com a de Plutarco, já que era um escritor que viveu no período do Império e
escrevia em grego, da mesma maneira, faz uma relação com Isócrates, um exímio orador,
maior representante do gênero epidítico que traz uma oratória de louvor ou censura na
abordagem de seu discurso, preocupado com a situação política da Grécia e a qualidade
de educador, em busca da verdade moral, com isso é considerado discípulo de Sócrates e
Platão.
Vilhena ainda acrescenta a Isócrates uma referência a Parainetica e Nicocles,
filho e sucessor de Evágoras, rei de Salamina do Chipre, incluído em um de seus
discursos, o Evágoras.
a não ter a certeza da estima que V. Alteza Real faz de ânimos sinceros,
qual o meu, animando-me mais o dizer Plutarco, que o grande
Artaxerxes não só recebera, como estimara a ténue dadiva de hum
punhado de agoa, que hum rústico, mas sincero vassalo lhe fizera; se
não lesse em Isocrates na segunda Parainetica a Nicocles, que aos
Grandes Príncipes só hé honesto, e licito offertar máximas, dictames, e
projectos de que possão colher alguma noção, para com Justiça e acerto
Artaxerxes6: filho de Xerxes, rei da Pérsia, e Amestris. Seu nome veio de fontes gregas, pois vem do persa antigo
Artaxšacā "aquele cujo reinado é através de arta (a verdade)", foi apelidado de μακρόχειρ (longímano), devido a sua
mão direita ser maior do que a sua esquerda. Conforme a descedência; tem-se Artaxerxes II, filho mais velho de Dario
II e Parisatis, elogiado por Plutarco como justo, brando e afável. No entanto, parece ter sido efeminado, e facilmente
influenciável, mas também cruel e desconfiado, sucumbido em intrigas de harém; o Artaxerxes III, Oco (babilônico
era o nome de antes de subir ao trono sendo geralmente referido como Artaxerxes III Oco, seu governo foi uma
tentativa contínua e brutal da manutenção do Império Aquemênida. Oco era o terceiro filho de Artaxerxes II Mnemon
com Estatira. Antes de subir ao trono tinha sido um sátrapa e comandante do exército de seu pai ajudando a sufocar
a Revolta dos Sátrapas (367-362); Artaxerxes IV, Arses era o filho mais novo do rei Artaxerxes III e da rainha Atossa,
seu reinado foi curto. Disponível em:
http://www.historia.templodeapolo.net/governantes_ver.asp?cod_governante=234&value=Artaxerxes%20I&civ=Ci
viliza%C3%A7%C3%A3o%20Persa&sede=Susa
6
Plutarco7: Segundo Pires, Lima e Bovkalovski, Plutarco era grego, nascido pouco antes de 50 d.C. viajou pela Grécia,
Egito e Roma buscando aperfeiçoar conhecimentos já adquiridos desde a juventude. Adquiriu cidadania romana e
conviveu com homens intelectuais e políticos, além de ter sido amigo e mesmo protetor do futuro imperador Adriano.
Suas viagens representaram o objetivo de seus escritos, que era de narrar vidas e não historias, como também em
revelar o caráter de seus biografados.
7
Isóclates8: Segundo Fonseca, discípulo de sofistas, em sua função de mestre de retórica e educador, na Grécia do
sculo IV a. C.
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regerem sabiamente os Povos, que dominão; conservar em armonia, e
obediência os Vassallos que lhes obedecem. (VILHENA: 1921, p. 06)
Já no caso da retomada de Artaxerxes, filho de Xerxes, Reis da Pérsia que
guerrearam com os gregos, há um diálogo direto entre as qualidades de descendentes do
primeiro imperador romano, Augusto, ou seja, seus sucessores, como também as
qualidades dos descendentes reis persas, Artaxerxes, o primeiro. Dessa forma, Vilhena
faz uma comparação das heranças históricas desses antigos reis com a liderança exercida
pelo Soberano príncipe.
Olhando para o Meu Soberano como para ponto central em que se achão
reunidas todas as Preclarissimas Virtudes, assim próprias, como
herdadas dos Seus Reaes Projenitores, e Augustos Ascendentes, me
persuadi senão dedignaria querer imitar nesta parte a Artaxerxes,
recebendo afavelmente, não hum punhado d'agoa, mas huma oferta
mais leve, que huma mão cheia de ar, feita por hum Vassalo não menos
sincero, e humilde, que aquelle rústico Persa. (VILHENA: 1921, p. 06
- 07)
Possivelmente, as cartas destacam a representatividade do rei Persa
Artaxerxes I, pois o trecho acima fala sobre os termos “punhado de água” e “mão cheia
de ar”, que designa ao fato de Artaxerxes I ter a sua mão direita maior que a esquerda,
ainda trazia em sua personalidade um forte domínio político externo.
REFERÊNCIAS
METAFÓRICAS
A
CULTURAS
BRASILEIRAS
E
ESTRANGEIRAS
Nas cartas são comuns às comparações metafóricas a culturas brasileiras e
estrangeiras, é uma forma de mostrar ao Príncipe Regente, destinatário dos textos, a
importância de valorizar aquilo que se conquista. De certa maneira, veicula-se uma crítica
a forma de organização política que privilegia a exploração em benefício de Portugal, o
objetivo da colonização não estava ligado a boa formação de uma sociedade em um novo
território. Assim, as cartas revelam os costumes e paisagens naturais dessa nova terra em
comparações de culturas estrangeiras que deveriam ser de conhecimento e mais
valorizadas pela corte vigente.
Para fazer referência a Pedro da Silva, um dos governadores da Bahia, foi
utilizada
uma
figura
de
linguagem
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“Antonomasia”
para
designar
uma
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característica/qualidade de Pedro da Silva, “Duro”, com o objetivo de criticar sua
personalidade e, segundo Vilhena, distinguir outro de nome idêntico ao dele. Ao mesmo
tempo em que situa o leitor, revela a qual indivíduo está se referindo. Pedro da Silva era,
segundo as cartas, Fidalgo Governador, uniu-se com o não estimado Conde Banholo para
expulsar a Artilharia Holandesa da Bahia, por esse ato tornou-se Conde de S. Lourenço.
Na carta esclarece que alguns historiadores divergem sobre qual General trouxe Pedro da
Silva.
A obra Caramurú, de Frei José de Santa Rita Durão, descreve um fato da
história do Brasil e relata os costumes de uma tribo indígena. Fala de um navio em que
se encontrava o português Diogo Alvares Correa para uma expedição, naufragado no Rio
Vermelho, na Bahia, os tripulantes morreram afogados ou serviram de alimento para os
índios Tupinambás ao chegar à beira do rio, Diogo é o único sobrevivente, pois os índios
ficaram admirados com sua aparência e vestes. Em um momento, com o que recolheu dos
restos do navio e certos objetos, assustou os índios com uma espingarda, matando um
pássaro. Os índios o chamaram de “Filho do Trovão 99”, “Caramurú”, que significa
homem de fogo.
Os filhos do trovão tem origem em uma tribo do rio Uapés, os Tárias, no
Amazonas. Diz o mito que o trovão estrondou três vezes, gotejando sangue e secando,
seguidamente, no terceiro estrondo o sangue seco que tinha virado carne, despedaçou em
milhares de pedaços, formando homens e mulheres.
Na carta primeira há um diálogo com a obra Caramurú ao falar sobre o
primeiro Donatário da Capitania da Bahia, o português Diogo Álvares Correa, fazendo
um diálogo entre a cultura indígena e europeia, relata-se que os gentios lhe deram o nome
de Caramurú e, reafirma o fato do naufrágio. Na posição e função de um historiador
ficaria restrito somente o fato mais objetivo de Diogo ser o primeiro donatário da
Capitania da Bahia, mas Vilhena vai além desse perfil e faz um traçado histórico, literário
e cultural.
Ao relatar sobre a descendência das famílias nobres e plebeias da sociedade
baiana, que por ter os Portugueses migrados ao Brasil e, já havendo aqui índios, depois
chegaram africanos, não se sabe muito quem descende de fidalgos ou plebeus.
Filho do trovão9: Mito indígena, disponível em:
http://resenhasdeumaleitora.blogspot.com.br/2014/04/lendas-do-meu-brasil-01-os-filhos-do.html
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Dessa descrição, equipara-se a outra genealogia, os hebreus10, se referindo ao
Êxedo que sofreu o Brasil, famílias em massa de europeus e africanos chegaram a costa
brasileira, modificando hábitos cotidianos na luta pela sobrevivência, pela dominação dos
portugueses. Há, nesse caso, um diálogo com a história migratória dos hebreus.
Outro diálogo cultural relaciona o Imperador da China, todo soberano
imperial da China com descendência de Dinastia, é uma relação metafórica utilizada na
carta para designar a relação entre os filhos de nobres que já possuíam bens e tinham
como ostentar esse título, primeiramente vinham ao Brasil os Pais, depois os filhos desses.
No entanto, havia aqueles que demonstravam a sociedade ter bens e título de nobres, e
não eram na verdade. O que revela certa ironia nas colocações históricas.
Vilhena também se utiliza do termo “Oxalá11”, de origem africana, que
referenda a divindade da criação dos seres humanos; soberano que tudo comanda. Nas
cartas, a palavra oxalá, geralmente é utilizada como uma forma de chamamento, de
repreensão as descrições e relatos das relações sociais de algumas classes dominadas e,
seu modo de vida, também relacionado a condição subalterna do negro escravizado, cujo
processo de miscigenação de negros e brancos deram origem a formação de uma
sociedade brasílica.
Ao tratar dos atos dos Senhores de Engenho no tratamento aos seus escravos,
compara os castigos praticados as atitudes dos Mouros12, “Eu duvido que os Mouros sejão
assim cruéis com os seus escravos.” (VILHENA: 1921, p. 188), fazendo uma interface as
concepções culturais de um povo.
Hebreus10: Os hebreus eram um povo de origem semita, composto por dois povos os hebreus e os árabes, que se
distinguiram de outros povos da antigüidade por sua crença religiosa, o judaísmo. Os hebreus viviam do outro lado
do rio Eufrates, no entanto por serem nômades viviam migrando, da Mesopotâmia a Palestina, com a seca buscaram
outros locais no Egito acabaram sendo escravizados pelos faraós, segundo critérios religiosos fugiram em massa, a
esse fato chamou-se Êxodo, e voltaram à Palestina.
11 Oxalá11: nome de origem africano.
Referência:
SOUZA, Marina de Melo e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
10
Mouros12:
os
mouros
constitui-se
uma
etnia,
cujos
povos
árabe-berbere, conquistaram a península Ibérica, vindos do Sahara, o deserto, e da Mauritânia, um país no Magrebe,
África Ocidental.
http://www.ufrgs.br/gtestudosmedievais/artigos/mouros_e_cristaos.pdf
http://www.infoescola.com/idade-media/mouros/
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Compara também belezas culturais de outros locais, tão bem almejadas, mas
que não são tão belas ou menos importantes quanto às do Brasil. O Rio Nilo, diálogo
utilizado metaforicamente para comparar a beleza baiana das cachoeiras de Paulo Afonso,
com as catadupas, quedas d’água do rio Nilo que não se igualam as de Paulo Afonso.
E, a citação do vulcão Vesúvio13, está na relação entre a erupção que deixou
Pompeia soterrada, dialogando com o relato da carta em que é explicado como são
realizadas as construções no território baiano, situação degradante para a sociedade
baiana, pois casas, templos e edifícios são construídos em terrenos não planos, como
montanhas e morros, sendo frequentes mortes e estragos por desabamentos, a carta ainda
relata que há sítios/terras vastas, de maneira que se poderia elaborar e fazer construções
mais seguras, sem danos materiais e sem causar mortes à população.
Vilhena faz usos de tantas referências metafóricas que torna sua obra um
diálogo direto entre o contexto histórico e literário. Em muitos relatos há trocas de
discursos que permeiam a impessoalidade dos fatos, que recaem sobre a objetividade
refletida nas obras de historiadores, e estratégias pessoais de convencimento do leitor
sobre a verdadeira realidade dos acontecimentos coloniais.
CRÍTICA TEXTUAL: HISTORIADORES, GEÓGRAFOS E OUTROS DADOS
REFERENCIAIS DA HISTÓRIA DA BAHIA NAS CARTAS DE VILHENA
As cartas, focadas na análise da crítica textual, trazem comparações factuais
de diversos nomes de estudiosos, cronistas e jesuítas que relataram em suas obras
descrições de fatos ocorridos na Bahia de Todos os Santos desde a paisagem natural e
geográfica em construção até ações políticas e educacionais para fixar o poder dessas
terras a Portugal. Nos textos de Vilhena esses usos objetivam confrontar as informações.
Vesúvio13: Vesúvio corresponde a um vulcão que entrou em erupção, localizado na Pompeia. As ruínas da erupção
vulcânica ficaram enterradas a metros de profundidade, com as escavações arqueólogas foi possível reconstituir a
vida na Pompeia durante a antiguidade romana. Além de Pompeia, foram soterradas as cidades Herculano e Stabia,
cidades localizadas no Golfo de Nápoles, no Sul da Itália.
Referências:
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_tragedia_de_pompeia.html
https://raivaescondida.wordpress.com/2008/05/30/pompeia-a-eterna-cidade-do-vesuvio/
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Nesse viés, Vilhena se utiliza de nomes de autores cujas obras tinham extrema
importância documental na época, inclusive muitas delas eram produzidas sob a ordem
de Portugal. Esses nomes ou obras compõem registros de crítica textual em relação aos
relatos das cartas sobre as capitanias da Bahia, os governos, vice-reis e governadoresgerais, nomeações, conquistas ou derrotas, as construções e fortificações nos portos que
serviam para garantir a dominação portuguesa e, contra as invasões de estrangeiros pela
cobiça territorial.
Geralmente, essa retomada aparece centrada no primeiro nome, sobrenome,
ou até a abreviação do mesmo, também há títulos de obras completas ou parte delas, as
vezes agregadas ao autor ou assunto tratado. Como se apresenta no trecho abaixo:
Igualmente trouxe em sua companhia o primeiro Ouvidor Geral e
Provedor da Fazenda. Mafei hist. Ind. pag. 298. Orland-Hist. societatis
p. t. Llb. 9 pag. 279. Manuscripto do Padre Yalemtim Mendes §§ 10 e
11. Vasc°s. Pita e todos os que tem escripto do Brazil. (VILHENA:
1921, p. 385)
Relata-se que até 09 de maio de 1624, Diogo de Mendonça Furtado governava
na Capital, Bahia, nessa mesma data houve a invasão Holandesa, neste fato histórico
descrito, relaciona-se a obra do português Francisco de Brito Freire1414.
Freire é citado por outros fatos, também, pelo nome “Guerra Brazílica” ou
“Nova Luzitania” que se liga diretamente a sua obra Nova Lusitania: História da Guerra
Brazílica (Lisboa: 1675), também consta a descrição do autor/obra no Catálogo dos livros
de gabinete Portuguez de Leitura do Rio de Janeiro `(Typographia Perseverença: 1874,
p. 136). Além de Freire outros escritores, cronistas e historiadores estão expostos neste
catálogo, principalmente sobre os manuscritos e crônicas de jesuítas da Companhia de
Jesus.
O texto acrescenta um manuscrito do Padre Valentim Mendes1515 como base
de informações sobre o Brasil, especificamente da vinda do primeiro Ouvidor Geral e
Providor da Fazenda, em Salvador, nome dado pelo Capitão Mór Governador a Vila
Francisco de Brito Freire14 (1625 – 1692) nasceu em Coruche, em Portugal, e morreu em Lisboa, filho de António
Fróis de Andrade e de D. Catarina Freire. Participou da Batalha do Montijo, foi Capitão de Cavalaria, Almirante da
frota da Companhia de Comércio do Brasil, Comendador da Ordem de Cristo, Governador da Praça de Juromenha no
Alentejo (1658), de Pernambuco (1661-1664) e de Beja (1665). Biografia disponível em:
http://www.genealogiafreire.com.br/bio_francisco_de_brito_freire.htm
15 Jesuíta/Padre Valentim Mendes15 (10 de abril de 1689 - 1759) nasceu na cidade de Cachoeira, na Bahia, e morreu
em Salvador. Entrou para a Companhia de Jesus em 1703, depois foi diplomado no colégio de Belém, ensinou humanidades, filosofia e teologia na Bahia, em Pernambuco e no Rio de Janeiro.
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Velha N. S. da Vitória. Não está sendo citado qualquer título da sua obra, há referência
de fatos ligados aos manuscritos somente, mas há como comprovar a relação verídica
entre as cartas e sua obra, confirmando sua função de cronista da companhia de Jesus,
como revelado no trecho da obra citada abaixo:
Sermão Panegyrico, e Parenetico no dia do nascimento da Senhora com
o titulo esclarecido da Paz, Pregado no Collegio da Bahia pelo Muito
Reverendo Padre mestre Valentim Mendes, da Companhia, de Jesus,
Lente actual da aSagrada Theologia, e Examinador Synodal do
Arcebispado da Bahia, Em 8 de Setembro de 1736 Offerecido a Virgem
Senhora da Paz pela sua devota Irmandade sita no mesmo Collegio.
Sendo Juiz Por sua Devoção o Alcaide Mór Anselmo Dias. Lisboa
Occidental: Na Officina de Manoel Fernandes da Costa, Impressor do
Santo Officio, M. DCC. XXXVIII.
Também traz os manuscritos de Padre Simão de Vasconcellos16 e comenta
sobre uma dedicatória feita por ele, especifica ao Coronel Francisco Gil de Araújo,
destaca-se os exemplares que constitui sua obra “Chronica da Companhia de Jesu do
Estado do Brasil”, que fala dos trabalhos jesuíticas realizados na terra de Santa Cruz,
incluindo o relato de trabalhos de outros jesuítas, historiadores e literários, na contracapa
faz referência as obras de Francisco de Brito Freire, Sebastião Rocha Pita.
Sebastião Rocha Pita17 é o historiador mais referenciado nas cartas com a
finalidade de reafirmar a veracidade dos fatos atribuídos ao Catálogo dos Governadores,
Vice-Reis e Governadores Gerais da Bahia na época, ligando esses fatos a sua obra
Historia da America Portugueza, desde o anno de mil e quinhentos de seu descobrimento,
até o de mil setecentos e vinte e quatro. (Lisboa: 1730). Autor e obra estão registrados no
Padre Simão de Vasconcellos16: Disponível em:
http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/biblio%3Avasconcellos-186516
chronica/vasconcellos_1865_chronica_brown_vol1.pdf
Bibliografia: http://acervo.cedaph.org/items/show/1547
Sebastião Rocha Pita17 (03/05/1660 – 02/11/1738) nasceu em Salvador, filho do capitão português João Velho
Gondim e da pernambucana Brites da Rocha Pitta. Foi um advogado, poeta e historiador baiano, fidalgo da Casa Real,
Cavaleiro da Ordem de Cristo, acadêmico da Academia Real da História Portugueza e patrono da cadeira 8 da
Academia Brasileira de Letras. Uma das suas obras mais importante sobre a História do Brasil entre 1500,
descobrimento do Brasil, e 1724, Historia da America Portugueza, desde o anno de mil e quinhentos de seu
descobrimento, até o de mil setecentos e vinte e quatro. Lisboa: 1730. Esta foi sua mais importante obra e a mais
completa sobre a História do Brasil publicada até a época. O manuscrito original chegou a Lisboa em 1725. Dados
biográficos e bibliográficos disponível em:
http://www.historia-bahia.com/bibliografia/rocha-pitta.htm
http://www.noticiasjornal.com.br/313
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Catálogo dos livros de gabinete Portuguez de Leitura do Rio de Janeiro `(Typographia
Perseverença: 1874).
Em outro momento estão as representações de Guilherme Pinson1818 e Jorge
Margrave1919 quando se relata sobre a manipulação dos medicamentos para o uso da
população baiana. Segundo os estudos de Neto (2015), chegaram ao Brasil em 1637, eram
estudiosos da comitiva de Maurício de Nassau, interessados em estudar a fauna e a flora
do litoral nordestino.
emquanto S. Magestade não hé servida mandar hábeis Naturalistas e
Chimicos peritos para indagarem, analisarem e descobrirem as virtudes
dos inumeráveis vegetaes e não poucos mineraes que ha neste
Continente e suas Ilhas, e achando-lhes virtudes análogas as dos da
europa, fazer uzo destes e não daquelles que só podem chegar aqui com
a metade das suas virtudes; para o que auxiliaria muito o que já
escreverão Guilherme Pinson e Margrave. (VILHENA: 1921, p. 164)
Outro estudioso é retomado na carta, Gaspar Barleu2020, ao falar sobre o
Conde João Maurício de Nassau que traz uma relação temática direta com sua obra
História dos feitos recentemente praticados durante os oito anos no Brasil por meio de
registros sobre a trajetória e o período em que Maurício de Nassau esteve à frente da
administração do nordeste do Brasil. Esse texto foi publicado em 1647.
Guilherme Piso18: Bibliografia:
PISO, Guilherme. História Natural e Médica das índias Ocidentais. Trad.José Honório Rodrigues. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura; Instituto Nacional do Livro: 1957.
18
Jorge Margrave19:
Bibliografia:
MARGRAVE, Jorge; PISO, Guilherme. História Natural do Brasil. 1ªed. Trad.Mons.José Procópio Guimarães. São Paulo:
Imprensa Oficial, 1942.
Acredita-se que o historiador Guilherme Pinson, na carta, seria o mesmo que Guilherme Piso, que elaborou
juntamente com Jorge Margrave, também citado no artigo e nas cartas, Historia Naturalis Brasiliae, publicada em
1648, sendo a primeira parte escrita por Piso, De Medicina Brasiliensi, e, a segunda por Margrave, Historia rerum
naturalium Brasiliae. Essa obra foi, posteriormente, revisada e publicada por Piso como, História natural e Médica da
Índia Ocidental.
19
Gaspar Barleu20: Bibliografia:
BARLEU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante os oito anos no Brasil. 2ª ed. Belo Horizonte;
São Paulo: Itatiaia; USP: 1974. Trad. Cláudio Brandão.
NETO, de Reinaldo Sudatti. A Migração do conhecimento: A visão de Gaspar Barleu sobre a fase holandesa no Brasil
e
as
obras
de
Piso
e
Margrave.
(01/2015).
Disponível
em:
http://www.sbhc.org.br/resources/anais/10/1344879948_ARQUIVO_ArtigoAMigracaodoConhecimentoTextocompl
eto.pdf
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Neto (2015) ainda afirma que, Barleu nunca esteve no Brasil. E para compor
a obra citada acima, foram também necessárias pesquisas nas obras dos estudiosos
Guilherme Piso e Jorge Margrave, Historia Naturalis Brasiliae (1648).
sobre o morro do Sul que a montanha faz, e donde a Bahia se livrou
felizmente do ataque que lhe fez o Conde João Maurício de Nasau em
1638; o que melhor podes ver nos nossos Historiadores e no panegirista
de Nasau Gaspar Barleu. (VILHENA: 1921, p. 101)
Essa pesquisa alusiva a nomes de escritores ainda é vasta na obra de Vilhena,
pois há alguns termos que devem ser minuciosamente estudados e analisados para
compreender a relação sistemática realizada para compor suas cartas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A leitura das cartas de Luiz dos Santos Vilhena não está circunscrita, somente,
a uma revelação de fatos históricos e descrições geográficas que ocorrem no período da
colonização da Bahia, com delimitação de historiadores e cronistas. Simultaneamente,
agrega-se estudos filológicos e alusivos em relação a eventos e nomes gregos, latinos,
romanos e, filosóficos, com o objetivo de revelar o quanto os dados coloniais podem se
aproximar de um exame crítico da veracidade dos acontecimentos.
Por esse motivo, revelado pouco a pouco pelo autor, é que se insere a análise
do título de sua obra e os usos de pseudônimos, cujos significados traduzem a ideia do
estudo de Vilhena.
Amador Veríssimo de Aleteya, respectivamente, originam-se das línguas
latina e, a última, grega, cuja tradução literal é “verdade”. Aleteya é aquele empenhado
em revelar a verdade na competência que dispõe para o seu trabalho. Consequentemente,
liga-se a citação literal sobre o que diz Sêneca:
a composição de huma Historia Brasílica, e então me recordei do que
Séneca diz no Livro i°. de sua—Homo in adjutorium mutum natus est
— e na Carta 45 repete que—He inútil para si o homem que não vive
para outrem—Non continuo sibi vivit qui nemine—e apezar de não
fallar comigo aquelle Sábio, pois que tenho por trinta e três anos vivido,
não tanto para mim, quanto para a Pátria, segundo as minhas forças, me
occorreo, que ainda esta minha curiosidade poderia ter algum préstimo
para utilidade da Nação. (VILHENA: 1921, p. 5 - 6)
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“É inútil para si o homem que não vive para outrem”, em uma única frase
Vilhena traduz a função primordial de todo o seu trabalho, para que este não sirva apenas
para si, mas para toda uma nação, na qual se refere a formação da sociedade brasílica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A recepção dessa minuciosa coleta de dados, com os relatos e descrições da
história e geografia da Bahia de Todos os Santos no século XVIII, acompanha uma
relação crítica de toda a origem de identidade da história do Brasil, até mesmo irônica,
sendo escrita literariamente através de alusões ao mundo clássico com comparações
metafóricas e retomadas a escritores que trazem vínculos na construção histórica do
Brasil.
Luiz dos Santos Vilhena, um professor de grego e latim, se utiliza de sua
sabedoria para mostrar a veracidade dos fatos em torno de uma dominação por poder,
com o intuito de oferecer recomendações morais aos governantes e ao Príncipe Regente
sobre maneiras eficientes de servir na formação de uma nação.
Para contribuir na conclusão desse objetivo, se utiliza de recursos estratégicos
como os que já foram apresentados, para oferecer ao leitor um leque de informações
verídicas e invisíveis à percepção de historiadores, destacando que Vilhena não faz a
função de historiador, papel social que não é desprezado em suas cartas, mas incrementa
fatos históricos com alusões que focam uma relação da formação brasílica com o
conhecimento de mundo, relativo à cultura europeizada, unindo literatura, história e mito.
Dessa maneira, Vilhena mostra como uma sociedade deve basear-se em uma
boa educação, que oriente o sujeito social a realizar verdadeiras ações morais em
benefício da coletividade, da nação. Suas cartas representam a inovação no ato da escrita
de um cronista, qualidade nomeada por alguns estudiosos como Günter Weimer, no
entanto, na linha de pesquisa apresentada nesse estudo, Vilhena dá qualidade ao papel
social da educação e fornece o diálogo literário a outros tipos de leitores que não só
subsidiam a história e a geografia da nova terra, mas aqueles que se envolvem com o
universo crítico da literatura, história e mito.
REFERÊNCIAS BIBLIOFRÁFICAS
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