Desenvolvimento da Carpa capim

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Desenvolvimento da Carpa capim
REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet
2014 Volumen 15 Nº 07 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n070714.html
REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504
Desenvolvimento da Carpa capim (Ctenopharingodon
idella) alimentadas com rações completas peletizadas a
base de capim elefante (Pennisetum purpureum) e
alfafa (Medicago sativa)
Álvaro Graeff1; Raphael de Leão Serafini2
1
Médico Veterinário CRMV SC-0704 Esp. Nutrição/EPAGRI
Estação de Piscicultura de Caçador E-mail:
[email protected]
2
Biologo CRBio 45661-03D M.Sc Aqüicultura/EPAGRI Estação
de Piscicultura de Caçador Email:[email protected]
Fone: 55 49 3561-2000 Caixa Postal 591 CEP 89500Caçador, SC BRASIL
Resumo
O experimento foi realizado no Laboratório de Nutrição e Patologias
(LaNuPP) da Unidade de Piscicultura de Caçador/EPAGRI, em 24 cestos
plásticos com capacidade para 50 l de água, abastecidos individualmente
com água proveniente de poço artesiano na vazão de 0.5 l/min. O
período experimental foi de 120 dias, sendo iniciado em 28 de fevereiro e
encerrado em 28 de junho de 2006, após 7 dias de adaptação dos
alevinos em cada parcela experimental. O delineamento experimental foi
inteiramente ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições, com 10
unidades de carpa capim (Ctenopharyngodon idella) em cada parcela
experimental. O peso médio inicial foi 4,21 ± 0.07 g e comprimento
inicial 7,20 ± 0.06 cm respectivamente para os tratamentos. As dietas
foram formuladas, dentro dos critérios, para a espécie e para o sistema
de produção com ingredientes onde a proteína bruta e a energia ficassem
estabilizadas entre 28 a 30% e 2 800 a 3 000 kcal de energia
metabolizável/kg de ração respectivamente, e oferecida na quantidade de
5% ao dia nos 2 primeiros meses passando para 3% ao dia no terceiro
mês e 1% ao dia no quarto mês do peso total do lote experimental,
reajustado a cada 30 dias na forma peletizada. Os resultados nos
permitem afirmar que a carpa capim (Ctenopharyngodon idella) se
adaptou a um balanceamento de leguminosas e gramíneas, iguais aos
animais ruminantes neste experimento. Em conjunto com a gramínea
capim elefante, a leguminosa alfafa (Medicago sativa) foi superior a
gramínea e a leguminosa isoladas. O melhor resultado foi à utilização da
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gramínea capim elefante (Pennisetum purpureum) na quantidade de 35%
mais 15% de alfafa (Medicago sativa) na composição da dieta para a
variável peso final e no comprimento final.
Palavras-chave: alfafa, alimentação, carpa capim, capim elefante
Abstract
The experiment was conducted at the Laboratory of Nutrition and
Pathology (LaNuPP) Unidade de Piscicultura de Caçador/EPAGRI in 24
plastic containers with a capacity of 50 l of water, individually supplied
with water from the artesian flow of 0.5 l / min. The experimental period
was 120 days, started on February 28 and ended on June 28, 2006, after
7 days of adaptation of the fingerlings in each experimental plot. The
experimental design was completely randomized with six treatments and
four replications, with 10 units of grass carp (Ctenopharyngodon idella) in
each experimental plot. The average initial weight was 4.21 ± 0.07 g
initial length 7.20 ± 0.06 cm respectively for the treatments. Diets were
formulated within the criteria for the species and the production system
with ingredients where crude protein and energy were kept stable
between 28 and 30% from 2800 to 3000 kcal metabolizable energy / kg
diet, respectively, and offered in the amount of 5% per day for the first 2
months to 3% a day in the third month and 1% per day in the fourth
month of the total weight of the experimental plot, adjusted every 30
days in a pelleted form. The results allow us to say that the grass carp
(Ctenopharyngodon idella) has adapted to a balance of legumes and
grasses, similar to ruminant animals in this experiment. Together with
the grass elephant grass, the legume alfalfa (Medicago sativa) was higher
than the grass and legume isolated. The best result was the use of grass
elephant grass (Pennisetum purpureum) in the amount of 35% to 15% of
alfalfa (Medicago sativa) in the composition of the diet for final weight
variable and the final length.
Key words: alfafa, elephant grass, food, grass carp
Introdução
A carpa capim (Ctenopharyngodon idella Val.) tem sido objeto de
considerável pesquisa nestes últimos anos devido sua habilidade em
controlar vegetação aquática. Na Ásia e nos países do leste europeu tem
sido incorporada aos sistemas de policultivos com outras carpas para
controlar as macrofitas (SHIREMAN JV, et al. 1977).
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Já no Brasil a carpa capim dentre as carpas chinesas esta entre as
espécies exóticas mais utilizadas em policultivo na região sul,
caracterizando-se por sua extrema rusticidade e excelente desempenho.
Geralmente as carpas chinesas são criadas em sistema de policultivo
(HAJRA, 1987), inclusive com espécies nativas, uma vez que espécies
distintas apresentam diferentes hábitos alimentares, sendo a carpa capim
herbívora, a carpa prateada (Hypophthalmichthys molitrix) fitoplantofaga,
e a carpa cabeça grande (Aristichthys nobilis) zooplantofaga
(CASTAGNOLLI,
1992).
Apresenta
crescimento
rápido,
bom
aproveitamento de plantas, e tem carne de boa qualidade (VENKATESH et
al., 1978).
A indústria de rações é um dos maiores e mais dinâmicos
segmentos do agronegócio brasileiro, responsável pelo consumo de mais
de 60% da produção de milho, 35% da produção de soja e quantidades
expressivas de outros grãos. No ano de 1990 foi produzido um total de 14
800 000 t de rações, enquanto em 1999 produziu-se 31 700 000 t. Essa
evolução de 140%, em apenas 9 anos, representa um mercado que
movimenta mais que US$ 6.3 bilhões e gera ao redor de 62 000
empregos diretos (ANFAR, 1999). Este crescimento expressivo no uso de
soja e milho faz com que se procurem novas alternativas recomendáveis
para uso animal, entre estes os peixes.
Os custos com a alimentação respondem pela maior parte das
despesas na piscicultura, uma vez que as dietas de peixes, em
comparação com as de outros animais, caracterizam-se pelo elevado
nível protéico, sendo que a maior parcela dos custos das dietas se deve à
fonte de proteína (MEER et al. 1995). Procurando aproveitar a habilidade
da carpa capim em aproveitar gramíneas e leguminosas em sua
alimentação, procuramos verificar a qualidade das mesmas através de
um balanceamento e ofertá-las.
A gramínea capim elefante (Pennisetum purpureum) é uma
gramínea de ciclo anual com reprodução por rizomas curtos mais
vigorosos ou também pelo enraizamento das bases dos colmos (BOGDAN,
1977 e HUMPHREYS, 1980). Tolera solos pobres, mas exige fertilidade
alta para boas produções e qualidade da forragem.
A leguminosa escolhida para este trabalho foi à alfafa (Medicago
sativa) rica em proteína, cálcio, fósforo e vitaminas A e C, que do ponto
de vista de nutrição, e a boa qualidade do alimento volumoso concorre
para reduzir o nível de concentrado necessário para manter as exigências
nutricionais dos peixes.
Diferente deste trabalho vários autores fizeram experimentos com a
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utilização de gramínea isoladamente como forragem verde tais como
SPONCHIADO et al. (2009) com grama boiadeira (Luziola peruviana),
COSTA et al. (2007) e BERGAMIM et al. (2007) com o capim teosinto
(Euchlaena mexicana), POUEY et al. (2007) com Azevém (Lolium
multiflorum Lam). Outros autores trabalharam com leguminosas
oferecendo como farelo tais como SOARES et al. (1998) com canola
(Brassica napus L. var. Oleifera Moench ), BERGAMIM et al. (2007) com
soja (Glycine max).
Este trabalho tem por objetivo determinar um balanceamento
gramíneo-leguminosa utilizando para isto uma gramínea (Pennisetum
purpureum) e uma leguminosa (Medicago sativa) na forma de pellets
para serem fornecidas como alimentação principal.
Material e métodos
O experimento foi realizado no Laboratório de Nutrição e Patologias
(LaNuPP) da Unidade Experimental de Piscicultura de Caçador/EPAGRI,
em 24 cestos plásticos com capacidade para 50 l de água, abastecidos
individualmente com água proveniente de poço artesiano na vazão de 0.5
l/min. O período experimental foi de 120 dias, sendo iniciado em 28 de
fevereiro e encerrado em 28 de junho de 2006, após 7 dias de adaptação
dos alevinos em cada parcela experimental. O delineamento experimental
foi inteiramente ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições, com
10 unidades de carpa capim (Ctenopharyngodon idella) em cada parcela
experimental. O peso médio inicial foi 4,21 ± 0.07 g e comprimento
médio inicial de 7,20 ± 0.06 cm respectivamente para os tratamentos
realizados. As dietas foram formuladas, dentro dos critérios, para a
espécie e para o sistema de produção com ingredientes onde a proteína
bruta e a energia ficassem estabilizadas entre 28 a 30% e 2 800 a 3 000
kcal de energia metabolizável/kg de ração respectivamente, e oferecida
na quantidade de 5% ao dia nos 2 primeiros meses passando para 3% ao
dia no terceiro mês e 1% ao dia no quarto mês do peso total do lote
experimental, reajustado a cada 30 dias na forma peletizada, conforme a
Tabela 1.
Tabela 1 - Composição percentual das dietas experimentais com
diferentes níveis de introdução de feno de alfafa e capim elefante.
Ingredientes
Farelo de soja
Milho grão
Alfafa feno
%PB
44
09
18
EB/Kcal
3.178
3.293
1.700
Tratamentos
1
2
50,0
41,0
28,1
-
3
19,5
35,0
4
11,0
15,0
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5
52,0
29,2
15,0
6
39,0
7,0
35,0
4
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Farinha de
peixe
Óleo de canola
Capim elefante
Total
PB (%)
EB/kcal
Relação PB/EB
60
2.717
6,9
15,0
20,0
29,0
3,0
10,0
09
7.745
2.000
15,0
100,0
30,0
3.002
100,0
9,0
35,0
100,0
30,2
3.108
102,9
10,5
15,0
100,0
28,2
2.871
101,8
10,0
35,0
100,0
28,0
2.867
102,4
0,8
100,0
30,0
3.013
100,4
9,0
100,0
30,1
3.034
100,8
Tratamento 1: Ração com 15% de capim elefante. Tratamento 2: Ração com 35% de capim
elefante. Tratamento 3: Ração com 15% de capim elefante + 35% de Alfafa. Tratamento 4:
Ração com 35% de capim elefante + 15% de Alfafa. Tratamento 5: Ração com 15% de Alfafa.
Tratamento 6: Ração com 35% de Alfafa
As características da água, que provém de um poço artesiano,
foram coletadas e analisadas semanalmente para as variáveis: pH com
peagâmetro marca Corning (PS-30); oxigênio dissolvido, nitrito, amônia,
dureza, alcalinidade, turbidez e gás carbônico no Laboratório de
Qualidade de Água/EPAGRI-Caçador/SC.
As avaliações dos peixes foram realizadas a cada 30 dias utilizandose 100% dos peixes estocados, quando foram tomadas as medidas de
comprimento total através de um ictiômetro e o peso individual em uma
balança eletrônica com precisão de 0.01 g marca Marte.
Para a realização destas atividades, os peixes foram sedados com
1.0 ml de quinaldina para 15 litros de água. Após 120 dias do
experimento, foram despescados os peixes e efetuadas avaliações
quantitativas, compreendendo as evoluções de crescimento em peso e
comprimento, conversão alimentar aparente e sobrevivência.
Resultados e discussão
Na avaliação da qualidade da água (Tabela 2), os parâmetros: pH,
oxigênio dissolvido, dureza total, alcalinidade, amônia total, e nitrito
estavam dentro do preconizado por vários autores (CASTAGNOLLI, 1992;
ARRIGNON, 1979, REID et al., 1976, BOYD, 1976, TAVARES, 1975,
LUKOWICZ, 1982, ORDOG et al. 1988, VINATEA, 1997), para a criação de
Carpa capim (Ctenopharyngodon idella).
O gás carbônico em alta concentração pode ser tolerado pelas
espécies aqüicolas, embora se saiba que os peixes evitam concentrações
de CO2 ainda que esteja tão baixas quanto 5,0 mg/L (BOYD, sd). Embora
o CO2 permaneceu sempre acima de 5,0 mg/L, pois a origem da água
deste experimento é de fonte artesiana o oxigênio dissolvido compensou
não havendo danos aos peixes.
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A transparência permaneceu, durante todo período experimental,
acima de 100 cm de altura conferida pelo disco de Secchi, indicando
ausência de plâncton e biomassa natural (TAVARES, 1975),
caracterizando que os tratamentos não tiveram a concorrência com
alimentação do próprio meio. A turbidez, que está diretamente
correlacionada à transparência, permaneceu em 1,40 ntu isto se deve
pela ausência de argilas coloidais, substâncias em solução, matéria
orgânica dissolvida ou mesmo do plâncton na água do experimento
(TAVARES, 1975).
Tabela 2 - Média dos parâmetros limnológicos da água nas unidades
experimentais em cada período do experimento.
Parâmetros limnológicos
pH (Potencial
hidrogeniônico)
Oxigênio dissolvido (mg/L)
Gás carbônico (mg/L)
Dureza (mg/L)
Alcalinidade (mg/L)
Amônia total (mg/L)
Nitrito (mg/L)
Turbidez (ntu)
Março
7,3
Abril
7,5
Maio
7,4
Junho
7,3
5,9
6,5
53
70
0,6
0,0
1,6
5,9
4,2
100
120
0,5
0,0
1,0
5,7
10,3
112
122
0,5
0,0
1,5
5,6
11,7
110
110
0,5
0,0
1,5
Média
7,37
5,77
8,17
93,75
105,50
0,52
0,00
1,40
Os dados de peso médio final, comprimento médio final,
sobrevivência e conversão alimentar aparente, foram submetidos à
análise de comparação de médias, pelo método de Tukey a 5% de
significância.
Na Tabela 3, encontram-se os resultados médios do comprimento
final (8,17; 8,22; 8,17; 8,37; 8,05 e 8,07 cm) respectivamente dos
tratamentos de 1 a 6, submetidos às dietas onde a composição com
gramíneas e leguminosas afetou significativamente (p<0.05). O
tratamento que melhor evidenciou o resultado para o comprimento foi
nas dietas onde a gramínea capim elefante (Pennisetum purpureum)
participou com 35 mais 15% de alfafa (Medicago sativa) da composição
da dieta mostrando que a variável foi influenciada pela participação da
gramínea em detrimento da leguminosa.
Diferente resultado (GRAEFF et al.; 2006) trabalhando com Papuã
(Brachiaria plantaginea) e também Alfafa (Medicago sativa) concluiu que
os resultados permitem afirmar que a carpa capim (Ctenopharyngodon
idella) não se adaptou a um balanceamento de leguminosas e gramíneas,
no rendimento em crescimento, iguais aos animais ruminantes.
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Diferente também, HANCZ e SALLUM (1990), que em trabalho
semelhante com a gramínea capim angola (Brachiaria mutica) e a
leguminosa siratro (Macroptilium atrapurpureum) obteve resultado
melhor com a leguminosa.
Também SALARO et al. (1994) com dietas para tilápia do Nilo com
alfafa (Medicago sativa) não obteve um bom resultado, mas recomenda
em baixa concentração por não apresentar em sua composição fatores
antinutricionais e ser uma fonte rica de fibra bruta para as espécies que a
necessitem.
Já ZONNEVELD e ZON (1985) recomendam altos teores de fibra na
dieta das carpas capim adultas, pois a sua flora microbiana intestinal
realizam a síntese de aminoácidos e peptídeos a partir da fibra dietária.
Mas como orientação não se deve adicionar mais do que 10% de fibra
bruta nas dietas para peixes não herbívoros (ESMINGER, 1980).
O ganho médio em comprimento (0,97; 1,02; 0,97; 1,17; 0,85 e
0,87 cm) respectivamente dos tratamentos de 1 a 6 na Tabela 3
novamente confirma que os tratamentos onde a gramínea capim elefante
participa com maior concentração têm melhor desempenho em
detrimento dos tratamentos com a participação das leguminosas.
Tabela 3 - Comprimento médio da carpa capim (Ctenopharyngodon
idella) em cada avaliação nos seis tratamentos.
Avaliação
Comprimento médio (cm)
Dias
1
2
3
4
5
6
Povoamento
7,20
7,20
7,20
7,20
7,20
7,20
60
7,95
7,95
7,85
8,10
7,95
8,00
90
8,17
8,17
8,17
8,30
8,05
8,05
120
8,17
8,22
8,17
8,37
8,05
8,07
bc
b
bc
a
c
Final
8,17
8,22
8,17
8,37
8,05
8,07c
bc
b
bc
a
c
Ganho médio em
0,97
1,02
0,97
1,17
0,85
0,87c
comprimento (cm)
Médias na linha seguidas de letras diferentes diferem (P<0.05), pelo teste de Tukey.
Tratamento 1: Ração com 15% de capim elefante. Tratamento 2: Ração com 35% de capim elefante.
Tratamento 3: Ração com 15% de capim elefante + 35% de Alfafa. Tratamento 4: Ração com 35%
de capim elefante + 15% de Alfafa. Tratamento 5: Ração com 15% de Alfafa. Tratamento 6: Ração
com 35% de Alfafa
Na Tabela 4, encontram-se os resultados médios dos pesos parciais
e finais (6,35; 6,76; 6,53; 6,92; 6,17 e 6,29 g) respectivamente dos
tratamentos de 1 a 6, submetidos a dietas onde a composição com
gramíneas e leguminosas também afetou significativamente (p<0,05). O
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tratamento que melhor evidenciou o resultado foi nos tratamentos 4 e 2
onde a gramínea capim elefante (Pennisetum purpureum) participou com
35 e 15% da composição da dieta mostrando que a variável foi
influenciada pela participação da gramínea em detrimento da leguminosa.
Tabela 4 - Peso médio da carpa capim (Ctenopharyngodon idella) em
cada avaliação nos seis tratamentos.
Avaliação
Dias
Povoamento
60
90
120
Final
Ganho médio em peso
(g)
Peso médio (g)
1
2
4,21
4,21
6,15
5,99
6,35
6,59
6,35
6,76
6,35
6,76
bc
2,14
2,55b
3
4,21
5,98
6,42
6,53
6,53
2,32bc
4
4,21
6,26
6,78
6,92
6,92
2,71a
5
4,21
5,75
6,13
6,17
6,17
1,96c
6
4,21
5,76
6,20
6,29
6,29
2,08bc
Médias na linha seguidas de letras diferentes diferem (P<0,05), pelo teste de Tukey.
Tratamento 1: Ração com 15% de capim elefante. Tratamento 2: Ração com 35% de capim
elefante. Tratamento 3: Ração com 15% de capim elefante + 35% de Alfafa. Tratamento 4:
Ração com 35% de capim elefante + 15% de Alfafa. Tratamento 5: Ração com 15% de Alfafa.
Tratamento 6: Ração com 35% de Alfafa
Estes resultados são inferiores aos obtidos por HANCZ e SALLUM
(1990), que observou melhor crescimento em peso da carpa capim
utilizando para isto a gramínea capim angola (Brachiaria mutica).
Diferente resultado (GRAEFF et al.; 2006) trabalhando com Papuã
(Brachiaria plantaginea) e também Alfafa (Medicago sativa) concluiu
que os resultados permitem afirmar que a carpa capim
(Ctenopharyngodon idella) não se adaptou no rendimento de peso, a
um balanceamento de leguminosas e gramíneas, iguais aos animais
ruminantes.
De modo semelhante ao ganho médio em comprimento, o ganho
médio em peso (Tabela 4) 2,14; 2,55; 2,32; 2,71; 1,96 e 2,08 g
tiveram melhor desempenho os tratamentos 4 e 2 com o uso da
gramínea capim elefante (Pennisetum purpureum) em quantidade de 35
e 15% da dieta total, novamente caracterizando que a carpa capim é
uma boa conversora de proteína bruta oriundos de materiais vegetais
mais rústicos, mas com suplementação na dieta de produtos de
qualidade protéico-energético melhores (Tabela 1). CAMARGO et al.
(2006) em trabalho com as gramíneas (milheto, teosinto, capim
elefante e papua), conclui que a alimentação somente com forragem
não atende as exigências nutricionais para criação de carpa capim,
tornando-se indispensável à utilização de ração na dieta. Cabe
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ressaltar que a carpa capim pelo seu perfil enzimático, tem grande
capacidade de aproveitamento de proteínas, e, principalmente
carboidratos. Por isso, torna-se fundamental a suplementação adequada
dos peixes com uma ração que forneça as exigências da carpa capim e
que tenha efeito aditivo em relação à forragem fornecida (DAS &
TRIPATHI, 1991)
Tabela 5 – Sobrevivência e conversão alimentar final da carpa capim
(Ctenopharyngodon idella) em cada tratamento.
Tratamentos
Sobrevivência (%)ns
Conversão alimentar
(Kg/Kg)ns
1
97,5
3,68
2
100,0
3,38
3
92,5
3,70
4
92,5
3,63
5
100,0
3,48
6
100,0
3,49
ns
Não houve diferenças significativas entre os tratamentos pelo teste de F a 5% de probabilidade
de erro
Tratamento 1: Ração com 15% de capim elefante. Tratamento 2: Ração com 35% de capim
elefante. Tratamento 3: Ração com 15% de capim elefante + 35% de Alfafa. Tratamento 4: Ração
com 35% de capim elefante + 15% de Alfafa. Tratamento 5: Ração com 15% de Alfafa. Tratamento
6: Ração com 35% de Alfafa
A conversão alimentar (Tabela 5) com exceção do tratamento 3
(3,70:1) não diferiram (p>0,05),estando dentro do esperado para um
peixe herbívoro. Diferente de um onívoro onde uma conversão acima de
2:1 é considerado insatisfatória por TEIMER et al. (1969), BOYD (1997),
SHIAU et al.(1998) onde constataram diminuição do desempenho e
piora na conversão alimentar de tilápias do Nilo alimentadas com níveis
crescentes de fibra na ração, demonstrando que esta espécie não tem
uma flora microbiana intestinal que permita realizar a síntese de
aminoácidos e peptídeos a partir da fibra dietária.
A taxa de sobrevivência obtida nos tratamentos 1 a 6 também não
foi significativo, estando dentro do esperado para os experimentos
realizados na mesma região (GRAEFF, 2006).
Conclusão
Em uso isolado a leguminosa alfafa (Medicago sativa) em
nenhuma das ofertas foi superior a gramínea capim elefante
(Pennisetum purpureum).
O melhor resultado foi à utilização da gramínea capim elefante
(Pennisetum purpureum) na quantidade de 35% mais 15% de alfafa
(Medicago sativa) da dieta para a variável peso médio final, ganho
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médio de peso, comprimento médio final e ganho médio do
comprimento.
A sobrevivência e a conversão alimentar aparente não foram
afetadas pelos tratamentos.
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