ocorrência de peste suina clássica crônica em suinos - CRMV-RN
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ocorrência de peste suina clássica crônica em suinos - CRMV-RN
PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 OCORRÊNCIA DE PESTE SUÍNA CLÁSSICA CRÔNICA EM SUÍNOS NO RIO GRANDE DO NORTE Ana Cristina Souza Duarte1, Tânia Rosária Pereira Freitas2, Priscilla Rochelle Barrios3 RESUMO - Peste Suína Clássica (PSC) é uma enfermidade viral devastadora da família Suidae. Neste trabalho foram estudados os focos de PSC ocorridos no Rio Grande do Norte em 2009. Os dados foram obtidos durante a ação de erradicação ou eliminação dos focos, pelas equipes oficiais estaduais e federais. 12 focos de PSC, distribuídos nos Municípios de Mossoró, Jucurutu e Macaíba foram confirmados pelo diagnóstico laboratorial oficial. Na cidade de Mossoró os principais sinais clínicos nos surtos de PSC foram febre alta (>41ºC), conjuntivite, diarréia, hemorragia-cianose na pele e desordens reprodutivas. Entretanto, em Jucurutu, suínos infectados com o vírus da PSC não desenvolveram hemorragias/ cianoses na pele e os sinais clínicos foram menos severos. Os índices de morbidade e mortalidade nos rebanhos variaram de 3,6100% e 1,8-98%, respectivamente. A variabilidade nos achados de necropsia, os sinais clínicos incluindo as desordens reprodutivas em conjunto com os índices de morbidade e mortalidade nos focos de Mossoró e Jucurutu apontaram para a ocorrência de peste suína clássica em infecção subaguda e crônica, sugerindo a heterogeneidade na população viral. As características dos focos de PSC, aliada à investigação epidemiológica, sugerem o foco primário de Mossoró, como a fonte do vírus que se dispersou para o município de Jucurutu. Unitermos: Peste Suína clássica, Infecção crônica, Rio Grande do Norte. OCCURRENCE OF CLASSICAL SWINE FEVER IN PIGS IN RIO GRANDE DO NORTE ABSTRACT - Classical Swine Fever (CSF) is devastating virus disease of Suidae family. In this work, the outbreaks of PSC occurred in Rio Grande do Norte (RN) in 2009, were studied. The data were obtained during the campaign of eradication of CSF outbreaks by the State and Federal official teams. 12 CSF outbreaks distributed in Mossoró, Jucurutu and Macaíba municipalities were confirmed by official laboratory diagnoses. In Mossoró city the main clinical signs in CSF outbreaks were high fever, (>41oC), conjunctivitis, diarrhea, skin hemorrhages-cyanosis and reproductive disorders. Although, in Jucurutu municipality CSF virus infected pigs did not development skin hemorrhages-cyanosis and the CSF clinical signs were less severe. The indices of morbidity and mortality induced by CSF infection in pig herds varied of 3.6-100% and 1.8-98%, respectively. The variability of the finds of necropsy, clinical signs including reproductive disorders joint with indices of morbidity and mortality of 1 Fiscal Federal Agropecuário, Serviço de Saúde, Inspeção e Fiscalização Animal (SIFISA), Superintendência Federal de Agricultura do Rio Grande do Norte (SFA-RN), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). E-mail: [email protected] Tel. (84) 4006- 9676. 2 Pesquisadora em Ciências Exatas e da Natureza, Laboratório Nacional Agropecuário, LANAGRO-MG, MAPA. 3 Professora, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras – UFLA Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 7 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 CSF outbreaks in Mossoró and Jucurutu pointed to occurrence of CSF sub acute and chronic infection and suggested the virus population heterogeneity. The characteristics of CSF outbreaks joint epidemiological investigation in RN suggest primary CSF outbreak in Mossoró as the source of virus dispersed to Jucurutu municipalities. Key words: classical swine fever; chronic infection; Rio Grande do Norte. INTRODUÇÃO Peste Suína Clássica (PSC) é uma virose hemorrágica de suínos associada a prejuízos econômicos substanciais, tanto aos pequenos produtores como à suinocultura industrial em todo mundo, porque além dos problemas sanitários, interdita o comércio de suínos e produtos de suínos para regiões e países livres da doença. A maioria dos países produtores de suínos possui programas de controle e ou erradicação da PSC embora, a eficácia das medidas de controle variem de acordo com a economia nacional, que incluem desde medidas de prevenção a infra-estrutura laboratorial (OIE, 2008). A PSC pode se disseminar na forma epizoótica como também estabelecer infecções enzoóticas em suínos domésticos e selvagens (DAHLE e LIESS, 1992; MOENNIG, 2000). O agente etiológico da PSC, denominado vírus da peste suína clássica (VPSC) pertence ao gênero Pestivirus da família Flaviviridae (THIEL et al., 1991). O virion ou partícula viral possui cerca de 60nm de diâmetro, simetria icosaédrica, envelopado por uma membrana lipoprotéica originada da membrana celular infectada. O genoma viral é um RNA, com cerca de 12kb, fita única e com polaridade positiva, infeccioso. As glicoproteínas virais denominadas Erns, E1 e E2 estão imersas no envelope viral e se projetam como espículas, tornado-se antígenos alvo do sistema de defesa do animal infectado. A glicoproteína E2 está associada à indução de anticorpos neutralizantes pelo hospedeiro, sendo considerada uma das mais importantes no estímulo imunogênico no suíno infectado (RUMENAPF et al., 1993). Os hospedeiros naturais do VPSC são membros da família Suidae, que incluem tanto suínos domésticos como javalis. O curso clínico da PSC é variável podendo correr nas formas hiper aguda ou per aguda, aguda, subaguda, crônica e congênita e de estabelecimento tardio. O quadro clínico da PSC e a virulência do vírus causador desta enfermidade têm variado amplamente nos últimos anos e ao contrário da forma aguda clássica da doença, os recentes surtos têm sido marcados pela presença de formas subagudas e crônicas da doença (MITTELHOLZER et al., 2000). A forma de ocorrência da PSC está associada a fatores do hospedeiro, como a idade dos animais, a virulência do vírus e o momento ou tempo de infecção (pré- ou pós-natal). Suínos adultos geralmente exibem sinais menos severos de doença que animais jovens, e apresentam maior chance de sobrevivência. Em porcas prenhes o vírus pode cruzar a barreira placentária e atingir os fetos. A infecção “in-utero” pode resultar em animais imunotolerantes ou persistentemente infectados (MOENNIG e PLAGEMANN, 1992). A variabilidade dos sinais clínicos impede o diagnóstico baseado somente nos sinais clínicos e patológicos, sendo imprescindível o exame laboratorial para detecção de vírus ou anticorpos. Os sinais clínicos se manifestam em poucos animais (STEWART, 1981, KRAMER et al., 2009). A forma aguda da PSC leva ao óbito entre cinco a quatorze dias depois do início da doença, com índices de mortalidade nos animais jovens próximo a 100%. Quando a Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 8 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 PSC aparece pela primeira vez em um rebanho, somente poucos animais mostrarão sinais clínicos da doença, os primeiros sinais vão de sonolência, redução no apetite e até o estabelecimento de marcada anorexia. O surgimento de febre que pode atingir em 42.2º C (em média 41.1) e leucopenia. Descarga ocular intensa, conjuntivite, pode progredir até os olhos ficarem completamente aderentes. Constipação seguida por uma severa diarréia aquosa e amarelo-cinza também são citadas. Os porcos febris se amontoam e comumente vomitam um fluido amarelado, contendo bile. Alguns porcos apresentam convulsão seguida de morte em horas ou dias. A hiperemia da pele pode ocorrer junto com os primeiros sinais de febre (STEWART, 1981). PSC crônica pode ocorrer em 28 dias até meses após infecção (MOENNIG et al., 2003). Esta forma de PSC tem sido citada tanto em ocorrência natural como experimental. Apesar da patogênese da infecção crônica ainda ser pouco conhecida está associada a cepas de vírus de baixa virulência (MITTELHOLZER et al, 2000, FLOEGEL-NIESMANN et al, 2003; PATON e GRIESER-WILKE, 2003). Os sinais clínicos mais comuns na PSC crônica são prostração, apetite irregular, febre, diarréia. Pode ocorrer uma recuperação aparente, com recaída seguida de morte. Antes de morrer, os porcos podem apresentar sintomatologia semelhante à forma aguda. Lesões comuns encontradas são as úlceras em forma de botão próximas à válvula ileocecal e no intestino grosso, dermatite, depleção generalizada do tecido linfóide. As lesões hemorrágicas e inflamatórias comuns na forma aguda podem estar ausentes. (CHOI e CHAE, 2003; NARITA et al, 2000). No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabeleceu em 1992, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da PSC (PNCEPSC), com legislações específicas, disciplinando as ações pertinentes à vigilância e às ocorrências de suspeitas de enfermidades hemorrágicas dos suínos, no país. Atualmente, todas estas ocorrências constam do Sistema de Continental de Vigilância Epidemiológica - SivCont. O PNCEPSC buscando a manutenção e ampliação de zonas livres de doenças dividiu o país em área livre de PSC sem vacinação (Zona Livre de PSC) e área infectada (BRASIL, 1992, FREITAS et al, 2007). O Rio Grande do Norte (RN) está inserido na área infectada, com um histórico de ocorrência de um foco no município de Natal, no ano de 2001, com a manutenção da situação estável, sem ocorrência de notificações por oito anos (FREITAS et al. 2012). Em março de 2009, um foco de PSC foi detectado no município de Mossoró evoluiu para a ocorrência de um total de doze focos (World Animal Health Information System, WAHIS, www.oie.int acessado em abril de 2012). Neste trabalho, são descritos os procedimentos de atendimento à suspeita de ocorrência de doença hemorrágica, ou seja, suspeita de focos de PSC, com a realização de necrópsia e coleta de amostras, para envio ao diagnóstico laboratorial, que confirmaram a infecção pelo vírus da peste suína clássica. Além da descrição da PSC aguda, pelos achados de necrópsia, foi possível a sugestão da ocorrência da PSC em forma crônica. MATERIAL E MÉTODOS 1. Investigação e Localização de focos: As informações e os dados sobre os focos de PSC foram obtidos no sistema de informações sobre saúde animal (World Animal Health Information System - WAHIS) da Organização Mundial de Saúde Animal, antiga Office International des Epizooties Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 9 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 (OIE). Os relatórios do Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do RN (IDIARN), informações publicadas pela Divisão de Epidemiologia, do Departamento de Saúde Animal, do MAPA, e do Serviço de Sanidade Agropecuária (SEDESA), da Superintendência Federal de Agricultura (SFA-RN, conjuntamente os formulários de investigação epidemiológica (FORM-IN) e de acompanhamento (FORM-COM) dos casos, também foram investigados. Foco Primário: Os profissionais da área de saúde animal, do SEDESA, da SFA ao serem informados em março de 2009, sobre a suspeita de ocorrência de doença hemorrágica em suínos do Setor de Suinocultura, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA comunicaram ao IDIARN. Imediatamente, uma equipe formada por profissionais das duas instituições foram ao local e fundamentaram a notificação e enviaram o material coletado pelos professores para o isolamento viral. Este procedimento se repetiu em varias notificações de foco de doença hemorrágica nos municípios potiguares Mossoró, Jucurutu e Macaíba. 2. Histórico das necropsias dos suínos suspeitos 2.1 – Primeira notificação dia 21/02/2009 – Foco primário ou Mossoró 1. Um suíno do setor de suinocultura da UFERSA que apresentava sintomatologia clínica de doença hemorrágica fez óbito no dia 06/03/09, foi necropsiado pelos professores da universidade e fragmentos de tecido foram coletados, congelados. A comunicação ao SEDESA/IDIARN foi efetuada dia 09/03/2009. A equipe do IDIARN atendeu a notificação dia 10/03/2009 e interditou o Setor de Suinocultura da UFERSA. Com a chegada da equipe do SEDESA/IDIARN as amostras de tecidos, tonsilas, linfonodos, intestino delgado, fígado, baço, coração e cérebro, foram encaminhados para exame laboratorial no Laboratório Nacional Agropecuário - LANAGRO/PE dia 13/03/2009. O resultado foi obtido no dia 23/03/2009. 2.1.2 – Município de Mossoró. UFERSA. Foco Mossoró1, segunda necrópsia. A equipe do SEDESA/IDIARN realizou uma nova necrópsia dirigida e documentada em fotos, de um porco adulto com mais de 120 dias de idade com suspeita de doença vermelha, do mesmo plantel, nas instalações da suinocultura da UFERSA em 19/03/2009. Amostras de amígdalas, linfonodos e baço foram coletadas, refrigeradas, identificadas e enviadas para isolamento viral no LANAGRO/PE. 2.1.3. Município de Mossoró. Foco Mossoró2. Propriedade Vizinha ao foco primário foi alvo da investigação epidemiológica, onde foi necropsiado porco adulto jovem com idade entre 66 -120 dias de idade, apresentando sinais clínicos de apatia e caquexia total. 2.1.4. Município de Mossoró. Foco Mossoró 3 e Mossoró4 ocorridos em 22 e 15 de abril de 2009, foram investigados e atendidos nos mesmos termos dos focos anteriores. Pelo menos um suíno de cada notificação foi necropsiado e as amostras de tecido alvo do vírus foram enviadas ao laboratório para investigação virológica. 2.2. Município de Jucurutu O setor de suinocultura da UFERSA forneceu suínos para granjas localizadas no município de Jucurutu. A investigação epidemiológica que foi realizada, identificou as propriedades que receberam animais procedentes do foco primário. Em seguida, as propriedades foram visitadas atendendo as determinações da imediata vigilância e verificação de ocorrência de animais doentes. Focos de doença vermelha foram detectados. Com esses novos focos, todo o trabalho foi intensificado, uma vez que toda Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 10 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 a metodologia que estava sendo aplicada no foco primário, passou a ser desenvolvida para esses novos focos. Nos dias 08 (Jucurutu 1), 27 (Jucurutu 2)e 30 (Jucurutu 3) de março e no dia 06 (Jucurutu 4) de abril de 2009, foram realizadas necrópsias em quatro granjas de suínos do município de Jucurutu. E em maio de 2009, mais dois focos foram identificados (Jucurutu 5 e Jucurutu 6). Pelo menos um suíno de cada notificação foi necropsiado e as amostras de tecido alvo do vírus foram enviadas ao laboratório para investigação virológica. 2.3. Município de Macaíba. No município de Macaíba duas notificações de suspeita de doença vermelha foram atendidas no mês de junho de 2009, tendo sido confirmadas como PSC pelo diagnóstico laboratorial. Nestas propriedades, novamente pelo menos 1 animal por propriedade foi submetido a necrópsia e as amostras de tecido enviadas ao LANAGRO/PE, para o isolamento do vírus. 3. Amostras para diagnóstico laboratorial: isolamento viral Amostras de dois gramas de tecido alvo do vírus, principalmente amídalas, seguido de linfonodos e baço, foram coletadas, acondicionadas em embalagem própria para coleta de amostras, identificadas com nome do proprietário, data, hora, refrigeradas e enviadas para o diagnóstico laboratorial no Laboratório Nacional Agropecuário em Recife, Pernambuco – LANAGRO/PE. O isolamento viral é realizado pela inoculação de macerado do tecido suspeito previamente tratado com antibióticos, em cultivos de células de linhagem PK15, como descrito e recomendando nos manuais da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE-2008) e FREITAS et al. (2006). 4. Registro dos dados: Todos os procedimentos de atendimento a suspeita de foco de doença vermelha, incluindo a descrição do quadro clínico dos animais doentes, os dados da população de suínos, achados de necrópsia e amostras coletadas foram registrados nos Formulário de Investigação Epidemiológica, FORM-IN. O retorno às propriedades focos, foi registrado no formulário de acompanhamento, FORM-COM. RESULTADOS E DISCUSSÃO O primeiro foco de PSC ou foco primário ocorreu no dia 21 de fevereiro de 2009 foi detectado no município de Mossoró, no Setor de Suinocultura, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, nas coordenadas geográficas 05°12’43,6’’S e 37°18’40,3’’w. Este foco denominado Mossoró 1, atingiu um rebanho com efetivo de 53 porcos com índices de morbidade (45%) e mortalidade (41%) entre jovens e adultos. (Quadro1). Embora tenha havido uma variação nos índices de morbidade (animais doentes) e mortalidade entre os focos em todos os municípios afetados de 3,6-100% e 1,8-98%, respectivamente (Quadro1). No entanto, quando foram calculados os percentuais de morbidade e mortalidade em todos os rebanhos afetados estes índices não ultrapassaram 50% ((Diagrama 1). Considerando que PSC aguda e subaguda estão associadas a índices percentuais de mortalidade superior a 90% (MOENNIG, 2000), o índice percentual inferior a 50% sugere a não ocorrência de forma aguda. A sintomatologia clínica inicial que gerou a suspeita de doença vermelha, descrita pelos profissionais que atenderam o rebanho, foi em uma porca matriz após a parição de doze leitões, que fizeram óbito em seguida ao nascimento. A porca matriz após a parição desenvolveu anorexia, andar cambaleante, diarréia fétida de cor Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 11 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 esverdeada, e manchas arroxeadas em vários pontos do corpo, vindo a óbito em 14 dias após o início dos sintomas, provavelmente no dia seis de março de 2009. Os achados anatomopatológicos observados na pele do animal em exame externo foram áreas com coloração vermelho-azulada, principalmente na região dos membros, abdômen e orelhas (Figuras 1A,1B), bem como mucosas oculares, oral e vulvar cianóticas. Quanto ao exame interno, os achados anatomopatológicos encontrados foram aumento generalizado de volume dos linfonodos com coloração vermelho-escura; sufusões hemorrágicas na serosa do intestino com conteúdo de aspecto sanguinolento; hemorragias petequiais e equimóticas na cápsula do baço, fígado e rins; baço aumentado de volume e congesto; congestão do sistema venoso; hemorragias equimóticas na mucosa do estômago; pulmões com lobo apical difusamente hemorrágico, edema pulmonar e hidrotórax; coração com hemorragias equimóticas no endocárdio e hidropericárdio; cérebro intensamente congesto. A sintomatologia clínica apresentada pela porca matriz poderia ser descrita como PSC aguda ou subaguda, causada por cepas virais de alta ou moderada virulência. Esta porca veio a óbito após 14 dias do início dos sintomas clínicos, em concordância com a clássica descrição da infecção aguda (MOENNIG, 2000), contudo, as condições estressantes da própria gestação e do manejo que fora prejudicado durante o período de carnaval, conjuntamente com as informações sobre os problemas reprodutivos prévios, sugerem uma infecção por cepas de baixa virulência, com a evolução para o óbito com quadro clínico similar a forma subaguda (STEWART, 1981). O nascimento de uma leitegada seguida de óbito logo após o parto indica a ausência de anticorpos contra o VPSC, este episódio sugere uma prima com infecção com VPSC durante a gestação, quando ainda não desenvolveram imunocompetência. Infecção até segundo terço da gestação, com cepas de VPSC de baixa virulência, pode resultar em natimortos, no nascimento de animais imunotolerantes, mas sujeitos a morte pelo vírus. STEWART et al (1973) demonstrou que o porcas infectadas com cepas de VPSC de baixa virulência pode transmitir o vírus ao feto em útero e que a exposição da porca até 43 dias de gestação pode levar ao nascimento de fetos mumificados ou natimortos. A confirmação laboratorial da infecção com VPSC foi obtida pelo isolamento viral em células de linhagem PK15 que pode ocorrer em vinte quatro, quarenta e oito e setenta de duas horas após a inoculação da suspensão obtida pela maceração de amostras suspeitas. As células PK15 inoculadas são submetidas à técnica de Imunofluorescência indireta (Figura 2) para visualização da presença de partículas virais pela detecção de antígenos virais especialmente a glicoproteína E-2 (FREITAS et al, 2006; CHEN et al. 2008). O isolamento viral e confirmação do foco de PSC no caso Mossoró 1 foi obtido no dia vinte e três de março de 2009. Embora o quadro clínico fosse sugestivo de PSC, a confirmação pelo isolamento viral é imprescindível para o diagnóstico seguro da PSC devido à variabilidade dos sinais clínicos apresentados em suínos infectados (OIE, 2008). Contudo, devido à suspeita de doença hemorrágica de suínos, com forte indício para PSC, sabiamente a equipe do SEDESA/IDIARN instaurou a imediata adoção dos procedimentos legais para combater o foco e evitar a dispersão do vírus. Primeiramente a Interdição da propriedade e a formação de equipes técnicas para atuação e acompanhamento diário na propriedade foco, para verificação da evolução da doença, com registro de todos os dados no Formulário de Acompanhamento, o FORM-COM, e Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 12 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 realização de outras necrópsias e colheita de novas amostras para diagnóstico laboratorial. A equipe do SEDESA/IDIARN realizou um nova necropsia no foco Mossoró 1, em animal que apresentava sintomatologia clínica sugestiva de PSC. A necrópsia dirigida foi ocorreu há quase trinta dias após a primeira notificação, no dia 19 de março, e como toda a suinocultura estava interditada, não houve ingresso de novos animais, permitindo uma avaliação melhor da situação. O animal selecionado para necrópsia foi um porco adulto com mais de 120 dias de idade que apresentava lesões hemorrágicas na pele e nas orelhas e intensa secreção nasal e ocular sugestiva de conjuntivite (Figuras 3A, 3B, 3C). Nesta segunda necrópsia os achados anatomopatológicos observados foram as sufusões hemorrágicas na serosa do intestino com conteúdo de aspecto sanguinolento bem evidenciado na Figura 4A. Hemorragias petequiais e equimóticas na cápsula do baço, que apresentava hipertrofiado (esplenomegalia) e congesto (Figura 4B). Pontos hemorrágicos também foram observados em diversos órgãos internos entre eles rim, bexiga, coração estômago, alças intestinais, fígado, tonsilas e pulmão. O exame laboratorial resultou no isolamento vírus, confirmando o diagnóstico positivo para PSC. As lesões observadas no segundo suíno necropsiado no foco Mossoró 1, após 28 dias do início do foco da PSC remetem a forma subaguda pelas lesões encontradas e a crônica, pelo prazo mais longo para o desenvolvimento das lesões (STEWART, 1981). A baixa virulência das populações de VPSC nos focos do RN no ano de 2009 e concomitantemente a ocorrência de formas crônicas é sugerida pelos sinais clínicos e achados de necrópsia nos focos de Jucurutu, especialmente o foco Jucurutu 2, onde foram observados e descritos no FORM-IN os seguinte sinais clínicos: “Incoordenação, temperatura de 41,3º c, descarga nasal e ocular purulenta, sinais de cegueira, diarréias, apatia, decúbito lateral, anorexia, estado nutricional ruim e ausência de marcas hemorrágicas na pele”. Os achados anatomopatológicos deste surto foram “Hipertrofia dos linfonodos parotídeos, e áreas congestas e hemorrágicas no pulmão. O coração apresenta aspecto tigrado, congestão de uns vasos e enrijecimento da musculatura. Fibrose e congestão no baço e congestão e áreas amareladas no fígado. Congestão das áreas corticais e modulares dos rins”. A presença botões ulcerosos na região do ceco e colo também foi notificada. Estes descritores são sugestivos de formas crônicas da PSC causada por cepas de baixa virulência (DAHLE, J.; LIESS, 1992; MOENNIG, 2000, FLOEGEL-NIESMANN et al, 2003; KRAMER et al, 2009). Este criatório de suínos pode ser localizado pela investigação epidemiológica realizada pela equipe do IDIARN/MAPA a partir dos registros de suínos comercializados pela UFERSA. Conseqüentemente, esses suínos foram adquiridos infectados, contudo, apresentando pouco ou nenhum sinal clínico o que corrobora a evidência de cepas de PSC de baixa virulência tanto no foco de Jucurutu como em Mossoró. A forma crônica pode se apresentar em três fases clínicas: 1ª. Fase – primeiros sintomas: anorexia, depressão, febre, leucopenia 2ª. Fase – aparente melhora: retorna o apetite, melhora a aparência, a temperatura retorna a normal ou próxima ao normal. Mas, a leucopenia persiste. 3ª. Fase – terminal: anorexia, depressão, febre, Leucocitose. Patologia: úlceras em botão ou necróticas na mucosa do trato gastrintestinal, epiglotes e laringe (DAHLE, J.; LIESS, 1992; Moennig, 2000, Floegel-niesmann et al, 2003; Kramer et al, 2009. Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 13 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 PSC crônica tem sido citada tanto em ocorrência natural como experimental (NARITA et al., 2000). Apesar da patogênese da infecção crônica ainda ser pouco conhecida, é aceito que essa forma de infecção seja causada por cepas de vírus de baixa virulência, podendo levar ao óbito do animal ou a recuperação temporal Em campanhas de erradicação da PSC após a eliminação de animais com infecção aguda, podem ocorrer surtos de PSC na forma crônica. Atualmente se sugere que isso aconteça devido à presença de diferentes populações de vírus em um surto. Quando se elimina os animais infectados com cepas de alta virulência causadores da forma aguda, as cepas de baixa virulência podem se tornar evidentes. Em regiões onde a PSC é enzoótica, infecções crônicas são mais freqüentes. A resposta imune entre os animais infectados com VPSC de alta ou baixa virulência, respectivamente, gera uma distribuição diferenciada do vírus no organismo de suínos. Suínos com a forma aguda de PSC desenvolvem uma resposta de anticorpos ao vírus, ao passo que em animais infectados cronicamente, a resposta de anticorpos neutralizantes pode estar ausentes, prejudicadas, atrasadas ou só transitoriamente detectáveis. Embora, ainda não elucidado o mecanismo de evolução das cepas de baixa virulência, se postula de seja um conjunto de eventos seletivos desde as condições sanitárias e de estresse oferecidas na criação (DAHLE, J.; LIESS, 1992, FLOEGELNIESMANN et al 2003) A esse fenômeno, somam-se as diferenças entre cepas de vírus, a idade, sexo e a susceptibilidade da raça. (MOENNIG ET AL, 2003). Geralmente a forma crônica ocorrer em 28 dias após a infecção sendo citada a ocorrência em até três meses após o estabelecimento da infecção. E o vírus pode se disseminar por mais tempo que a infecção aguda. Os surtos de PSC causados por cepas de baixa virulência são mais difíceis de serem reconhecidos e isso favorece a disseminação do vírus. Suínos cronicamente infectados com o VPSC se tornam fontes de vírus e são importantes na epidemiologia da doença. CONCLUSÕES Com exceção da unidade de suinocultura da UFERSA, em Mossoró, os focos de PSC no RN ocorreram em criações rústicas em propriedades de baixo investimento tecnológico. Conjuntamente animais infectados com vírus de baixa virulência, e assintomáticos poderiam ser comercializados sem a percepção de uma infecção atípica ou crônica. Entretanto, a sintomatologia clínica dos focos de Mossoró e os dados da necrópsia sugerem uma heterogeneidade nas populações virais, indo de subaguda a crônica. A variabilidade nos achados de necrópsia, os sinais clínicos incluindo as desordens reprodutivas, em conjunto com os índices de morbidade e mortalidade As características similares dos focos de PSC ocorridos, corroboradas pela investigação epidemiológica, sugerem o foco primário de Mossoró como a fonte do vírus que se dispersou para o município de Jucurutu. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a toda equipe do IDIARN, do SEDESA/SFA/RN, da Divisão de Sanidade dos Suídeos, do Departamento de Saúde AnimalDSA/SDA/MAPA, que em conjunto trabalharam arduamente para combater os focos de PSC no RN. Este trabalho foi realizado com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 14 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NOTAS TÉCNICAS E RELATÓRIOS TÉCNICOS - Superintendência Federal de Agricultura – RN- MAPA e IDIARN IDEMA Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA), v.37, 2010. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 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O percentual de animais doentes e mortos foram inferiores a 50%. Figura 1. Suíno morto no dia 21/02/2009, na suinocultura da UFERSA apresentava manchas hemorrágicas e violáceas das pernas (1A), que se expandiam pelo abdômen (seta branca) (1B). Características de virose hemorrágica e sugestiva de PSC. (IDIARN/MAPA2009). Figura 2. Isolamento do VPSC em células de linhagem PK15 após 72 horas da inoculação da amostra suspeita. Observa-se a replicação citoplasmática do vírus e a disseminação entre as células formando de focos virais. Técnica de Imunofluorescência Indireta observada em Microscópio ótico de Imunofluorescência. Amplificação 40X. (Freitas et al, 2006). Figura 3. Suíno morto no 28º dia após o início do surto em 19/03/2009. (4A). Eritema de pele (seta), sem grandes lesões hemorrágicas. Secreção nasal acentuada (4B) e lesões hemorrágicas nas orelhas, seta (4C). Indícios do estabelecimento de PSC crônica. (IDIARN/MAPA2009). Figura 4. Necrópsia dirigida de adulto com suspeita de PSC. Foco Mossoró 1. Sufusões hemorrágicas abdominais, serosa do intestino com aspecto sanguinolento (seta) (4A). Baço hipertrofiado e com lesões hemorrágicas (4B). (IDIARN/MAPA2009). Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 17 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 Quadro 1. Focos de Peste Suína Clássica no Rio Grande do Norte no ano de 2009 Local Data Rebanho Doente (%) Mortos (%) Destruídos 21/02/2009 53 24 (45) 22 (41) 31 Mossoró 1 23/03/2009 55 02 (3,6) 01 (1,8) 54 Mossoró 2 22/04/2009 47 41 (87,2) 39 (82) 08 Mossoró 3 15/04/2009 68 34 (50) 24 (35) 44 Mossoró 4 14/03/2009 73 36 (49) 36 (49) 37 Jucurutu 1 22/03/2009 44 14 (31) 13 (29) 31 Jucurutu 2 04/04/2009 14 04 (28) 03 (21) 11 Jucurutu 3 07/04/2009 11 01 (9) 01 (09) 10 Jucurutu 4 18/05/2009 30 17 (56) 13 (43) 17 Jucurutu 5 25/05/2009 20 17 (85) 14 (70) 06 Jucurutu 6 03/06/2009 301 74 (24) 74(24) 227 Macaíba 1 04/06/2009 120 120 (100) 118 (98) 2 Macaíba 2 Total: 21/02-04/06 836 (100%) 384 (46%) 358 (43%) 478 (57%) Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 18 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 Diagrama 1 Percentual de animais afetados nso surtos de PSC no RN 70 Percentual 60 50 40 Doentes Mortos Destruídos 30 20 10 0 Mossoró Jucurutu Macaíba Municípios Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 19 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 Figura 1 1A 1B Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 20 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 Figura 2 Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 21 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 Figura 3 3A 3B Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 3C 22 PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio Grande do Norte http://www.crmvrn.gov.br Revista Centauro v.3, n.1, p07 - 23, 2012 Versão On-line ISSN 2178-7573 Figura 4 4A 4B 7 Figura 8 Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores. 23