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MERCADO
Rafael Roldão
Do quintal para o mundo
Meteoro chega aos 20 anos como uma das maiores empresas de áudio do país
Certamente quando, ao lado de seus irmãos, em 1984, José Luiz
Ferreira desenvolveu em casa seu primeiro amplificador, a título de
diminuir o transtorno causado pelo som de seus alunos de música,
ele não fazia idéia de que a partir daí estava dando início a uma das
maiores empresas de amplificadores do Brasil.
M
Divulgação
úsico desde novo, Zé Luiz
dividia seu tempo entre
as aulas de música em
um conservatório em Guarulhos e as
viagens com a banda Super Grupo.
Com o tempo, as idas e vindas com o
grupo começaram a ficar cada vez mais
constantes e o músico começou a repor
as aulas perdidas pelos seus alunos
em sua própria casa. Como aprender
música requer exercícios repetitivos,
aquele som começou a incomodar sua
família, já que a sala destinada às aulas
À direita o início da Meteoro, na casa de Paulo Roberto Ferreira; à esquerda o próprio fabricando seus primeiros produtos
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era separada do resto da casa apenas
por uma cortina.
Buscando solução para o problema,
Zé Luiz procurou seu irmão, Paulo
Roberto Ferreira, que sempre se dedicou à eletrônica, para que o ajudasse a
desenvolver um amplificador minúsculo
destinado a ser colocado em um fone de
ouvido, de modo que o músico o plugasse na guitarra ou no baixo e só ele
ouvisse o som que estivesse tocando.
Um grande número de seus alunos ficou
interessado no produto e logo veio a
idéia de montar uma pequena empresa,
em sua própria casa.
Como Paulo dividia seu tempo entre
seu emprego fixo e o trabalho na pequena empresa, Zé Luiz encaminhava os
processos para que seu irmão apenas os
concluísse. A pequena empresa cresceu,
saiu da casa de Paulo e foi para uma
sala de 5m2, onde o equipamento criado
foi batizado com o nome de Meteoro
Study Phone. Foi lá que o primeiro pedido de fones, para as Casas Tommasi,
de São Paulo, foi recebido.
O estímulo que faltava para fazer algo
maior aconteceu quando Zé Luiz levou
Divulgação
o Study Phone para o ensaio de sua
banda: os colegas músicos o incentivaram a também construir amplificadores
para eles. Foi então que os sócios alugaram uma casa em Guarulhos e começaram a fabricar cubos inspirados em
amplificadores Yamaha, que eram grandes, mas no estilo dos cubos Roland,
sucesso na época. A partir daí surgiu o
Meteoro RX100, o primeiro amplificador da empresa. “Naquela época não
existia projeto. A idéia vinha à cabeça,
nós conversávamos e estava pronto o
protótipo. Testávamos e mandávamos
para a produção”, conta Zé Luiz.
O Study Phone, primeiro produto da empresa
Até hoje, os próprios irmãos têm participação direta na criação dos amplificadores, mas hoje contam, é claro,
com apoio técnico. Zé Luiz e Paulo
são os verdadeiros criadores de idéias.
O setor de engenharia, chefiado por
Henrique Mazete e Fernando Monteiro,
entra no processo de desenvolvimento e
projetos. Após essa fase, é comum que
sejam chamados endorsees para que,
junto à Meteoro, a partir de protótipos,
aperfeiçoem-se timbres, adequando-os
a gostos, necessidades e estilos que o
mercado pede.
José Luiz Ferreira, diretor da Meteoro, bem no
começo da fábrica
Embora todos os amplificadores sejam
desenvolvidos pela própria Meteoro,
alguns falantes são terceirizados da
Bravox, da Arlen e da Selenium, assim
como as válvulas Sovtek 12AX7,
6550, 6L6, também usadas em equipamentos fabricados pela empresa.
Zé Luiz conta que sempre existiu uma
inspiração em outras marcas para os
projetos, mas não se deve chamar um
amplificador de Meteoro de cópia.
“Costumo comparar um amplificador
a um carro. Da mesma forma que os
carros possuem rodas, câmbio, volante e chassi, os amplificadores devem
seguir um padrão. O grande segredo
está dentro dele, ali está a verdadeira
assinatura de uma marca”, explica o
presidente da empresa.
A entrada no mercado estrangeiro
Quando, em meados dos anos 80, a
Meteoro ainda engatinhava em sua
formação como grande empresa, o
mercado de áudio brasileiro era bastante diferente do atual. Em tempos de
moeda brasileira desvalorizada e de
mercado exterior fechado, o acesso aos
importados era muito restrito, sendo
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SEBRAE: Um grande passo
A
participação do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas) na Meteoro foi de suma importância para
a transformação da então pequena empresa em uma das grande
potências do mercado. Apesar de relutar um pouco contra a idéia de pedir
assistência ao SEBRAE, Zé Luiz conta que acabou cedendo após ter assistido ao filme Bagdá Café, a convite do atual diretor da fábrica, e seu cunhado,
João. “Eu olhava aqueles personagens do filme e identificava os meus funcionários em cada um deles. Era tanta gente na minha empresa que mal dava
para andar dentro dela”, conta o presidente da Meteoro.
Em 1994, o SEBRAE começou a prestar serviço de consultoria para a empresa e, ao contrário do que era esperado, não entraram dispostos a ensinar
a Meteoro a fazer amplificadores. Sutilmente e com “a maior propriedade”,
nas palavras de Zé Luiz, eles mostraram passo a passo para a Meteoro como
se tornar uma grande empresa, através da organização e da conscientização
dos funcionários. “Essa foi a mais árdua das tarefas”, explica o presidente.
Funcionários antigos que não conseguiram absorver de forma alguma a nova
filosofia de trabalho acabaram por ser demitidos ou até mesmo pedindo demissão, ao não conseguirem se adequar ao novo programa. Nesta nova fase,
a empresa já chegou surpreendendo o mercado com o lançamento das linhas
de amplificadores Simulator e Jaguar. Alguns dos profissionais do SEBRAE
acompanham a Meteoro até hoje, fazendo parte de palestras internas e auxiliando na consultoria quando solicitados.
possível apenas através de grandes
investimentos ou de transações ilícitas.
Desta forma, as empresas nacionais
viam seu desenvolvimento tecnológico
dificultado, mesmo com todo o esforço
para fazer os melhores produtos dentro
das limitações impostas pelo mercado.
Hoje a situação é diferente. A possibi-
lidade de maior entrada e saída – ainda que longe do ideal – de produtos,
facilita a edificação das empresas.
“O mercado externo hoje nos permite
importar componentes que são encontrados nos equipamentos dos grandes
fabricantes do mundo, com total
liberdade”, conta Zé Luiz, que em
reuniões da Amfibra – atual Abemúsica – sempre defendeu a entrada de
produtos estrangeiros no Brasil.
Percebendo que as portas do exterior
estavam se abrindo, em meados dos
anos 90 a Meteoro decidiu entrar
como expositora em feiras internacionais, depois de quatro anos freqüentando como visitante a Musikmesse,
na Alemanha, e a NAMM Show, nos
Estados Unidos. Traduziu seu site
para espanhol e inglês, confeccionou
catálogos também em duas línguas,
chamou Joca Wurth para ser seu representante internacional e foi para as
feiras, com apoio moral da Giannini,
da Apex e da Anafim com a “certeza
de que estava levando um produto
bom e competitivo para fora”, como
afirma o presidente da empresa.
O resultado foi uma boa receptividade por parte de consumidores e
distribuidores internacionais, que
possibilitou o estabelecimento de
diversos contatos, fundamentais para
o crescimento da empresa fora do
país. “A grande diferença que notei
entre o mercado de áudio nacional e
Um pouco da história de José Luiz Ferreira
Nascido no interior do Paraná, na cidade de Cornélio Procópio, José Luiz Ferreira desde novo sempre esteve ligado à musica. Filho de pai músico, já aos
nove anos integrava a banda Black Birds ao lado de seu irmão mais velho, Carlos Ferreira. Aos 12 anos, já participava profissionalmente deste grupo
de baile. Ainda em sua cidade, que, de acordo com ele, tinha uma cena musical muito forte, tocou em diversas bandas até ir para São Paulo, onde
acompanhou por anos o Super Grupo.
Um pouco mais velho, Zé Luiz já havia decidido fazer faculdade de engenharia cartográfica, curso que só existia em duas universidades no Brasil e no
período integral, fato que o fez desistir da idéia, pois se tornaria impossível conciliar a vida de músico com essa atividade. A paixão pela música falou
mais alto e o presidente da Meteoro, paralelamente ao trabalho com a banda Super Grupo, durante anos deu aulas em um conservatório em Guarulhos
e na sua própria casa. Devido ao grande número de viagens com a banda, o músico-empresário, que na época já tinha família constituída, começou
a se complicar com horários e a ter que dar mais aulas em sua própria casa. Ironicamente, o que parecia estar dando errado acabou por dar certo. O
incômodo causado pelo repetitivo som dos alunos de Zé Luiz foi a gênese da formação de uma das maiores empresas de amplificadores do país.
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Principais produtos
Nestes 20 anos a Meteoro transitou nos mais diversos segmentos do mercado musical nacional. Confira alguns exemplos.
Amplificadores para guitarra
Hoje a Meteoro conta com uma extensa linha de amplificadores totalmente valvulados, híbridos e transistorizados. A linha é composta por amplificadores
para diversos tipos de aplicações, com destaque para o amplificador nacional com o maior número de válvulas: MAK3000. O MAK3000 foi desenvolvido com
a ajuda do guitarrista do grupo Sepultura, Andreas Kisser, e possui um total de 9 válvulas, 3 × 12AX7 no pré e 6 × 6550 na potência.
Amplificadores para contrabaixo
A empresa foi referência no passado, quando fabricava o excelente cubo de baixo BX 100, amp que é usado e amado até hoje. Agora ela quer repetir o feito
ao produzir uma extensa linha de amps para contrabaixo, com destaque para o surpreendente B52. O B52 é um cabeçote totalmente valvulado, que como o
MAK3000, possui uma quantidade de válvulas nunca vista no mercado nacional: são 12 válvulas no total, 4 × 12AX7 no pré e 8 × 6550 na potência.
Caixa para órgão
Na última Expomusic, a Meteoro lançou sua caixa rotativa para órgão, a Latorre Vibrotone MVT-A.
Desenvolvida em parceria com o organista Daniel Latorre, a Vibrotone foi inspirada na célebre caixa
Leslie 122, e é equipada com corneta e defletor de graves rotativos, e amplificador valvulado de 100W.
A caixa é acompanhada de pedal pré-amplificador e controlador, que permite também seu uso com
instrumentos diferentes do órgão Hammond.
Pedais de efeitos
A Meteoro entrou de sola no mercado de pedais com o lançamento do Doctor Drive, pedal/pré-amp
valvulado, que por sinal foi outra novidade entre os fabricantes nacionais. Com isso a empresa descobriu um mercado que ansiava há muito por esse tipo de produto. Agora ela tem uma linha completa de
pedais, com destaque para o pedal de distorção para baixos Master Bass Drive.
O Vibratone, caixa para órgão da Meteoro
PA
A empresa lançou o interessante e prático sistema para PA Vertical Line System, que é um tipo de
line array compacto, muito popular nos dias de hoje em sonorizações de igrejas e lugares onde há necessidade de um equipamento discreto e potente. Este
produto também é uma novidade entre os fabricantes nacionais, porém não muito popular. O sistema é composto por duas torres, nas quais estão presentes 8
alto-falantes de 5” cada, um subwoofer e um amplificador de potência de 1600W RMS.
Os primeiros cubos da empresa, os RX-100
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o estrangeiro é que os músicos, por
terem acesso a uma gama muito maior
de equipamentos, não ficam restritos
a uma ou duas marcas apenas. Eles
querem sempre testar e ouvir o que há
de novo”, conta Zé Luiz.
Hoje, a Meteoro Amplifier possui uma
política de endorsement que conta
com muitos dos grandes músicos do
país como O Rappa, Jota Quest, Lobão, Sepultura etc., além de exportar
para Guatemala, Uruguai, Paraguai,
Argentina, República Dominicana,
México, Suíça, Croácia, Noruega,
Singapura, Bélgica e Alemanha.

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