Revista Frutas e derivados - Edição 06

Transcrição

Revista Frutas e derivados - Edição 06
SUMÁRIO
CAPA
JUNHO 2007
PRODUÇÃO
PerformanceCG
FOTO
Banco de Imagens do Ibraf
07
27
14
ENTREVISTA
07 UM FREIO CHAMADO CÂMBIO
33
Pesquisador da Unicamp, Antonio Marcio Buainain,
que participou de estudo sobre cadeia de frutas,
analisa política cambial.
FRUTAS FRESCAS
14 CAMINHOS DA FRUTICULTURA
SEÇÕES
04
06
10
editorial
espaço do leitor
campo de notícias
GESTÃO DA PROPRIEDADE
12
no pomar
18 PLANEJAR PARA LUCRAR
30
Expedição faz radiografia das principais regiões
produtoras para colaborar na viabilização de pólo
frutícola em Goiás.
Panorama dos principais acontecimentos do trimestre.
A gestão da propriedade com recursos modernos
colabora na lucratividade dos fruticultores. E pode
ser um atrativo para enfrentar a problemática da
sucessão familiar.
AGROINDÚSTRIA
27 SUCO, COM PADRÃO E IDENTIDADE
Legislação brasileira segue padrões internacionais
para garantir qualidade dos sucos.
MEIO AMBIENTE
33 DOENÇAS NA ÁGUA
A água precisa ser cuidada para não se transformar
em caminho de doenças na fruticultura.
Lançamentos, dicas, normas e leis do setor.
tecnologia
Com tecnologia de produção e pós-colheita a tangerina sem
sementes chega ao mercado para seduzir os brasileiros.
36
opinião
Fernando Cantillano, pesquisador da Embrapa, faz análise
comparativa entre logísticas chilena e brasileira.
37
agenda
Acontecimentos do trimestre.
38
eventos
Produtores do Fruta Paulista conheceram tendências internacionais do mercado frutícola na Itália.
41
artigo técnico
A doença pinta preta, que ataca a maioria dos citros, afeta
exportações e mercado interno.
44
45
46
campo & cultura
produtos e serviços
fruta na mesa
Abacaxi o ano todo.
editorial
DIRETOR PRESIDENTE
Moacyr Saraiva Fernandes
PRIMEIRO VICE PRESIDENTE
Aristeu Chaves Filho
PLANEJAR PARA LUCRAR
SEGUNDO VICE PRESIDENTE
Roland Brandes
As fruteiras viçosas e carregadas enchem os olhos do produtor, pois
finalizam os cuidados diários do processo produtivo. O esforço não
valerá a pena, se a qualidade não gerar rentabilidade. A atividade
rural já torna o produtor um planejador e administrador natos. Porém,
nos dias atuais e com as exigências de mercado, é preciso lançar mão
de ferramentas da informática e contar com profissionais capacitados
para gerir a propriedade e obter maior lucro. Os modernos recursos
de administração podem atrair os filhos, que estão deixando o meio
rural para se fixar na cidade, como demonstram pesquisas. A sucessão
familiar é um problema que aflige produtores e precisa de iniciativas
como a da Cocamar, além de políticas públicas para a manutenção da
atividade - essencial à sobrevivência urbana. A falta de estímulo para
ficar no campo não atingiu os jovens integrantes da expedição
Caminhos da Fruticultura. Eles percorreram milhares de quilômetros
pelas principais regiões frutícolas a fim de entender os desafios na
lavoura e na agroindústria e os problemas logísticos que os atinge. Os
dados coletados na expedição formam a base da implantação de um
novo pólo em Goiás. Os futuros empreendedores daquela região
também terão que considerar o manejo adequado da água. Embora
abundante, a falta de cuidados na disposição de esgotos rurais e de
resíduos de criações, e na proteção de matas ciliares acaba poluindo
mananciais. Sem qualidade, a água pode ser fonte de problemas e de
doenças da produção aos packing houses, atingindo o consumidor;
este cada dia mais interessado em alimentação saudável, aumentando
o consumo de frutas e sucos. Mas na hora de comprar os sucos, ele
se depara com diversas denominações, o que pode fazê-lo comprar
“gato por lebre”. A legislação cumpre os requisitos internacionais. Cabe
aos fabricantes e ao varejo aproveitar o potencial crescente desse
mercado.
DIRETORES
Jean Paul Gayet (Diretor Tesoureiro)
Paulo Policarpo Mello Gonçalves (Diretor Secretário)
Carlos Prado (Diretor Superintendente Nordeste)
Valdecir Roberto Lazzari (Diretor Superintendente Sul)
Rogério de Marchi (Diretor Agroindustrial)
Waldyr S. Promicia e Roberto Pacca do Amaral Júnior.
CONSELHEIROS
Luiz Borges Junior (Presidente)
André Luiz Grabois Gadelha (Primeiro Vice-Presidente)
Américo Tavares, Antônio Carlos Tadiotti, Dirceu Colares, Etélio de Carvalho
Prado, Fernando Brendaglia de Almeida, Francisco Cipriano de Paula
Segundo, José Bendito de Barros, José Carlos Fachinello, Luiz Roberto
Maldonado Barcelos, Roberto Frey e Sylvio Luiz Honório.
COMITÊ TÉCNICO-CIENTÍFICO
Antônio Ambrósio Amaro (Presidente)
Admilson B. Chitarra, Alberto Carlos de Queiroz Pinto, Aldo Malavasi,
Anita Gutierrez, Carlos Ruggiero, Fernando Mendes Pereira, Geraldo
Ferreguetti, Heloísa Helena Barreto de Toledo, José Carlos Fachinello, José
Fernando Durigan, José Luiz Petri, José Rozalvo Andrigueto, Josivan
Barbosa de Menezes, Juliano Aires, Lincoln C. Neves Filho, Luiz Carlos
Donadio, Osvaldo K. Yamanishi, Rose Mary Pio e Tales Wanderley Vital.
COMITÊ DE MARKETING
Jean Paul Gayet (Presidente)
Paulo Policarpo Mendes Gonçalves, Pedro Carvalho Burnier, Waldyr S.
Promicia, Elis Simone Ferreira Fernandes, Fabio Nino, James Howard Beeny,
Angela Maria Maciel da Rocha, Sergio Abreu e Rogério de Marchi.
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Maurício de Sá Ferraz
Valeska de Oliveira
COORDENAÇÃO
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EDIÇÃO
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Boa leitura e até a próxima edição, se Deus quiser.
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A reprodução das demais matérias publicadas pela revista é permitida,
desde que citados os nomes dos autores, a fonte e a devida data de
publicação.
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“ Somos uma micro-empresa produtora
de frutas e polpa de frutas da Bahia e
gostaríamos de parabenizá-los pela excelente qualidade das matérias veiculadas na revista. É um privilégio receber e
ler tão importante conteúdo, tanto para
o produtor como para a agroindústria.
Parabéns.”
Sérgio Luis Olivieri de Barros Júnior
Polpa Mel Indústria e Comércio de
Polpa de Frutas, Jacobina – BA
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Pedro Freitas
Pesquisador EMBRAPA
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“Recebi os exemplares da revista Frutas
e Derivados e gostei muito da apresentação e de seus artigos.”
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Dênis F. Teixeira
DMN Brazil Research Marketing,
Belo Horizonte – MG
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“Sou leitor da revista Frutas e Derivados, que muito contribui para o desenvolvimento do setor. Parabéns a todos.”
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João Carlos C. Spínola
Gerente Técnico-Operacional da CEASA,
Campo Grande – MS
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“Parabéns pelo primeiro ano de vida.
Esta “criança” já nasceu com personalidade forte e já “engatinha” com
desenvoltura.”
○
ESPAÇO DO LEITOR
“ E xcelente conteúdo e informações
confiáveis, mostrando o que acontece
hoje no nosso País sobre nossas frutas e
seus derivados, ajudando todos que se
beneficiam desta cultura.”
Alberto Akira Yamasaki
Técnico de P&D na Área de Hortidfruti,
Suzano – SP
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ANTONINHO PERRI/ASCOM - UNICAMP
ENTREVISTA
ANTONIO MARCIO BUAINAIN
UM FREIO CHAMADO
CÂMBIO
Marlene Simarelli
A fruticultura e seus derivados continuarão sentindo os reflexos da atual política cambial vigente no
País e o cenário se mostra desfavorável para o segundo semestre. Essa é a análise do pesquisador
do Núcleo de Economia Agrícola da Universidade
de Campinas (Unicamp), Antonio Marcio Buainain,
para o período. Professor do Instituto de Economia, é autor e co-autor de inúmeros trabalhos sobre desenvolvimento agrícola e rural, políticas agrícolas, reforma agrária e propriedade intelectual. No
período 1989-2005, trabalhou na Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO), em Roma, Itália. Foi consultor e pesquisador de organismos internacionais, entre eles a própria FAO e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Buainain acaba de
coordenar, em parceria com o professor Mário Batalha, da Universidade Federal de São Carlos, oito
estudos de iniciativa do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento sobre cadeias produtivas
do agronegócio, entre os quais a cadeia de frutas.
Frutas e Derivados - O segundo semestre é importante para as frutas em razão do pico de colheita
de manga, uva e melão. Como a política cambial influenciará as exportações?
Antonio Marcio Buainain - Infelizmente, o cenário para o segundo semestre não é positivo. A
continuada valorização do Real prejudicará muito
as exportações brasileiras de frutas e, pior ainda, a
rentabilidade dos produtores. É duro para o produtor rural, que investe na implantação da lavoura;
aguarda, às vezes, durante anos para iniciar a produção, gasta durante todo o ano esperando a colheita e, justo na hora de vender, os preços caem
ou o dólar está desvalorizado. Todos os cálculos
econômicos e financeiros furam e os benefícios de
muito esforço acabam sendo frustrantes. Uma par7
ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO
ANTONIO MARCIO BUAINAIN
te das exportações de frutas é formada por contratos fechados com antecipação, com preços estabelecidos. Ao fecharem os contratos, os produtores/
exportadores têm um câmbio na cabeça e, com
base nele, avaliam a rentabilidade do negócio para
suas decisões. Os produtores não apostavam, no
ano passado, que o Real continuasse a trajetória de
valorização. A maioria esperava mudanças na política econômica que, pelo menos, interrompesse a
tendência. É muito provável, portanto, que tenham
errado o cálculo cambial e agora terão que honrar
contratos que, na melhor das hipóteses, não darão
nenhum lucro. Os que não fizeram hedge (proteção) cambial estarão em maus lençóis. O fato de
honrarem os contratos mascara o resultado das
exportações, mas reduz incentivos para continuar
investindo, melhorando, ampliando. No negócio de
frutas, quem pára fica logo de fora. É um produto
in natura que exige investimentos contínuos, aperfeiçoamento, novos contratos e assim por diante.
Frutas e Derivados - Na história recente, vivemos um período com dólar mais baixo do que o atual,
com impactos menores. Qual a diferença?
Frutas e Derivados - Quais medidas o fruticultor
pode tomar para driblar a baixa do dólar?
Antonio Marcio Buainain - As condições eram
diferentes. Precisamos levar em conta alguns fatores, para não incorrer no risco de minimizar o problema. No pós-Real, os exportadores contaram
com significativa desoneração tributária, o que aliviou muito o impacto da valorização. Ou seja, o
câmbio efetivo para os exportadores não era o
mesmo que para os demais. Além disso, o setor
estava em sua infância, ainda com muitas gorduras,
buscando rumos etc, permitindo direcionar investimentos para ganhar eficiência, escala e conquistar
mercados mais rentáveis. O mercado interno também se expandiu bastante, o que ajudou. De lá para
cá, as coisas só pioraram. Os custos cresceram, em
particular água e energia, dois insumos básicos para
o setor. Transporte nem se fala; mão-de-obra, idem.
Os ganhos de 10 anos atrás se dissiparam e o custo
dos ajustes é cada vez mais pesado. Não dá, portanto, para comparar as duas situações e achar que a
valorização atual não terá fortes impactos negativos.
Antonio Marcio Buainain - Não é fácil “driblar”
a baixa do dólar. Nossos produtores são competentes, mas são produtores; não são malabaristas
ou dribladores como Garrincha. Podem fazer pouco, mas vale a pena tentar. São as receitas clássicas
para enfrentar períodos de vacas magras: economizar no supérfluo, examinar onde podem ganhar
eficiência, produzir com mais qualidade para conquistar mercados especiais, que pagam melhores
preços; rediscutir contratos com fornecedores e
modernizar a logística da produção e distribuição
de frutas. A produção de frutas é cada vez mais
parte de uma cadeia de suprimento complexa, cheia
de exigências, que requer muita capacitação para
produzir e na gestão. Dá para melhorar, mas é preciso ter consciência das limitações. Uma boa parte
dos problemas está fora do alcance dos produtores. Por exemplo: o setor é intensivo em mão-deobra e sabemos o peso das contratações formais e
os riscos das contratações informais.
Frutas e Derivados - A atual política cambial
pode frear o crescimento das exportações e da produção nacional de frutas?
Frutas e Derivados - O mercado interno é a alternativa para o fruticultor?
Antonio Marcio Buainain - O mercado interno não pode ser visto como alternativa; é um erro
assumir este tipo de perspectiva. Temos um mercado interno importante, embora bastante atrofiado
pela má distribuição de renda; que vem crescendo, em ritmo muito mais lento do que o desejável.
Antonio Marcio Buainain - Acho que vai, sim,
frear as exportações e reduzir o ritmo de crescimento da produção. Algumas frutas já vêm sofrendo os efeitos combinados do preço e câmbio. As
quantidades exportadas de banana e manga, em
8
2003, foram superiores às registradas nos últimos
dois anos; as de maçã cairam, depois do volume
recorde de 2005, e as de mamão papaia têm oscilado, mas em 2004 e 2005 ficaram abaixo do nível
de 2003. O fato é que, dado o potencial, o Brasil
exporta pouca fruta. Temos recursos naturais, clima e capacidade empresarial para exportar muito
mais, e não o fazemos por deficiências sistêmicas,
agravadas pela valorização cambial. A exportação
de frutas é particular; fruta, mesmo in natura, não
pode ser tratada como uma commodity qualquer,
que o produtor vende na feira ou na bolsa de mercadorias. É uma relação contratual, de preferência
estável, exige cenários previsíveis para assumir compromissos, fazer investimentos e controlar riscos. À
exceção de alguns setores, cuja vantagem competitiva
é muito grande, em geral baseada no controle de fontes de matérias-primas, é difícil projetar grandes investimentos voltados para o mercado externo com a atual taxa de câmbio e a quantidade de deficiências nos
sistemas, que o produtor brasileiro tem que enfrentar.
ENTREVISTA
ANTONIO MARCIO BUAINAIN
O mercado interno deve ser visto como alavanca ou
plataforma para conquistar o mundo. Temos que produzir com qualidade internacional para abastecer o
mercado interno, e, com isto, melhorar nossa
competitividade externa. Hoje, o peso das exportações já é grande para muitas frutas; dificilmente o
mercado interno poderia absorver excedentes volumosos, em um cenário de queda abrupta das exportações. O cenário interno não é ruim; ao contrário, é
até positivo. Apesar da paralisia do governo federal, a
economia vai crescer um pouco, o nível de emprego
deve se manter e o perfil distributivo tende a melhorar devido à estabilidade dos preços e baixo nível de
inflação. Esse cenário favorece o consumo de frutas,
mas seria uma lástima abandonar as conquistas externas, que custaram tanto trabalho ao setor privado. Não
é fácil entrar; é fácil sair e voltar é ainda mais difícil.
Frutas e Derivados - Quais investimentos o fruticultor deve fazer para manter a rentabilidade?
Antonio Marcio Buainain - Os investimentos
para manter a rentabilidade dependem da fruta, da
área, do produtor. Cada cadeia tem que examinar
seus gargalos, onde está perdendo rentabilidade e
focar nestes nós. Logística é uma grande deficiência
nacional, mas os investimentos na área não dependem apenas dos produtores individuais; exige coordenação entre eles, articulação com governos etc. Um
fator que afeta a rentabilidade é a perda de qualidade
e de produto. Em muitos casos, é possível melhorar
bastante o controle de qualidade com gastos pequenos. O Sebrae vem trabalhando sobre isto, aparentemente com resultados interessantes.
Frutas e Derivados - Os produtos processados também sentirão os impactos da baixa cotação do dólar?
Antonio Marcio Buainain - Os efeitos do câmbio são macro e pegam todo mundo; para uns, como
os importadores, é positivo; para os exportadores é
negativo. Os exportadores de processados também
sentirão. Eles têm mais margem de manobra para ajustar. Aqueles que não são verticalizados, não esperaram 20 ou 30 meses para a fruteira crescer e podem
reduzir o processamento, comprar menos e vender
menos, podem espremer o fornecedor e reduzir o
impacto negativo do câmbio. Mas, certamente, sentirão o efeito. O câmbio é um dos medicamentos/venenos mais poderosos da economia e não deixa ninguém imune.
Frutas e Derivados - Como analisa a disponibilidade de crédito e o apoio governamental para exportação
de frutas in natura?
Antonio Marcio Buainain - A disponibilidade
de crédito é, hoje, melhor do que no passado, mas
ainda é precária, tanto em qualidade como em
quantidade. Os fruticultores e exportadores brasileiros têm que enfrentar condições de financiamento
desfavoráveis em relação aos seus competidores.
Os exportadores chilenos, por exemplo, tomam
recursos privados e pagam taxas até 1/3 da taxa
paga pelos exportadores brasileiros. O Brasil nunca conseguiu apoiar, de forma sustentável, os novos exportadores. Aliás, quem vem fazendo isto é
o setor privado, que tem colocado frutas, destacando a origem brasileira como estratégica
mercadológica. Mas ainda é tímido. Só agora, está
em processo de registro, a primeira indicação de origem geográfica para frutas. No Chile, os produtores e
exportadores contaram, e ainda contam, com enorme apoio do governo para promoção externa.
Frutas e Derivados - A análise vale também para
produtos processados?
Antonio Marcio Buainain - Sim. As grandes
empresas internacionais em operação no País têm
acesso a créditos externos, mas as que só têm acesso
ao mercado doméstico estão mal financiadas. É preciso ter claro que só vai ser resolvido quando tivermos
uma taxa de juro “civilizada”, que o produtor não fique
dependendo de programas ou taxas especiais para se
financiar. Antes disto, a situação pode até continuar melhorando, mas será sempre insatisfatória.
Frutas e Derivados - A política econômica atual
pode gerar um abandono das culturas?
Antonio Marcio Buainain - Comecei pessimista (ou realista) e, por todas as considerações
feitas, é difícil mudar o tom. Infelizmente, a política
econômica pode, sim, gerar abandono de muitos
produtores; o que já vem ocorrendo, de forma localizada e pouco intensa. Os produtores rurais e as
agroindústrias têm maior rigidez para se ajustar; não
podem mudar de ramo ou reduzir a produção de
forma abrupta. Há, portanto, uma inércia que retarda as decisões, duras, de abandonar um pomar,
deixar de tratá-lo, romper um contrato e jogar a
toalha. O produtor rural é, além disso, um portador de esperança, um otimista, sempre acha que
“depois da tempestade vem a bonança”, resistindo
mais do que os produtores em geral. As conseqüências são muitas. A principal é sobre o emprego e as economias de regiões mais pobres, com
vocação para produção de frutas, dinamizadas nos
últimos anos pelos investimentos privados para ampliar a produção e exportação.
9
CAMPO DE NOTÍCIAS
Luciana Pacheco
Instalada Frente
Parlamentar da Fruticultura
Foi instalada, em maio, a Frente
Parlamentar da Fruticultura
Brasileira na atual legislatura no
Congresso Nacional. Presidida pelo
deputado federal Afonso Hamm, já
conta com a adesão de 211
deputados e senadores.
O presidente da Frente observa
que “com o relançamento da
Frente será possível concretizar
metas e objetivos que estão sendo
estipulados e, além disso, passa a
contar com a força do Congresso
Nacional para buscar as melhores
alternativas de crescimento”. “A
mobilização dos parlamentares
convergem para um esforço na busca
da solução dos problemas vivenciados
em todos os pólos de fruticultura do
país”, enfatiza Hamm.
Entre as metas já estabelecidas se
destacam: a garantia de recursos
orçamentários para execução do
Plano Nacional de Fruticultura e o
estabelecimento de garantias para
a desoneração das cadeias
produtivas da Fruticultura, com
destaque à irrigação e a desoneração tributária para os néctares
da fruta. Estabelecer um calendário
com audiências públicas nas regiões
sul, sudeste, nordeste, centrooeste e norte do País também faz
parte das metas. Ainda será
elaborado um calendário de ações
com objetivo de estimular os pólos
de Fruticultura.
Parceria Beneficia Pequenos
e Médios Fruticultores
O setor de agroindústria de frutas
ganhou, em maio, mais um impulso
para o fortalecimento da atividade no
País, com a assinatura de um Termo
de Cooperação Técnica envolvendo
Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Instituto Brasileiro de Frutas
(Ibraf). O objetivo da parceria é promover – por meio do Plano de Desenvolvimento Setorial (PDS) de Frutas Processadas, realizado com a
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) - a consolidação
10
e o desenvolvimento do setor, em
especial no segmento de produção
de sucos e polpas, em vários pólos
de fruticultura do Brasil, envolvendo
pequenos e médios fruticultores.
Esta parceria, conforme comenta
Moacyr Fernandes, “vem para
aumentar os esforços conjuntos para
apoio ao desenvolvimento setorial das
frutas processadas, envolvendo os
empreendimentos voltados à
integração de pequenos produtores
e sua inserção no mercado
agroindustrial formal, com ênfase na
produção de sucos e polpas”.
Missão Brasileira ao
Norte da África
A fruticultura, representada pelo
Instituto Brasileiro de Frutas – Ibraf,
participou da Missão Brasileira ao
Norte da África realizada pela
Apex-Brasil (Agência de Promoção
de Exportações e Investimentos), em
parceria com a Câmara de Comércio
Árabe-Brasileira. Os países visitados
foram Marrocos, Tunísia e Egito:
mercado de aproximadamente 120
milhões de habitantes, com
possibilidades de extensão à Europa,
África e Oriente Médio.
O objetivo da viagem foi coletar
informações, visando abrir novos
mercados e promover os sucos e
frutas do Brasil junto aos possíveis
importadores. Os países em
questão têm grande potencial para
importação de frutas e de sucos e
o Brasil se destaca como um grande
supridor, visto que produz
anualmente 40 milhões de
toneladas de frutas. Em 2005, o
Marrocos importou US$ 46,8
milhões de frutas e sucos e a
Tunísia, US$ 21,7 milhões; o Egito
importou 118 milhões de litros de
sucos. A missão aconteceu entre os
dias 28 de maio e 5 de junho, tendo
sido composta por empresários de
vários setores da economia.
Maçã na Bahia
No final deste ano, a Bahia começa
a colher sua primeira safra
comercial de maçã do nordeste
do Brasil. Fruta característica de
clima temperado, a maçã baiana
está sendo cultivada pela empresa
Bagisa, numa área de 50 hectares
localizada no município de Ibicoara,
na Chapada Diamantina, onde a
temperatura pode chegar a menos
de 10º C no inverno. O foco da
produção é o mercado nordestino.
A maçã cultivada na Bahia é da
variedade Eva, que já vem sendo
plantada em São Paulo e Minas
Gerais. “A variedade não exige
tanto frio quanto as do tipo Gala
e Fuji, encontradas nas áreas mais
tradicionais de cultivo, situadas,
principalmente, no Rio Grande do
Sul e Santa Catarina”, explica o
diretor superintendente da Bagisa,
Mauro Bannach, em declaração ao
Jornal da Mídia.
As macieiras foram plantadas entre
o final de 2005 e início deste ano.
Apesar dos primeiros frutos já
começarem a ser colhidos no final
do ano, a área só estará em plena
carga após um período de quatro
anos de plantio, quando será
produzida uma média de 40
toneladas por hectare.
Pesquisa e Inovação em
Prol da Fruticultura
A fruticultura contará com um
grande apoiador para a pesquisa
e inovação a partir maio. Trata-se
da Embrapa, que assinou um
protocolo de parceria com o Ibraf
– Instituto Brasileiro de Frutas,
objetivando reunir esforços para
o apoio e desenvolvimento da
fruticultura. Para Moacyr Saraiva,
“por meio desta parceria fortaleceremos e potencializaremos as
nossas ações de apoio a todos os
segmentos funcionais da cadeia
produtiva, considerando os aspectos de produção, pós-colheita,
agroindustrialização e comercialização de frutas frescas
e processadas”.
A parceria contribuirá também
para a execução do Plano de
Desenvolvimento Setorial de
Frutas Processadas, desenvolvido
pelo Ibraf, em parceria com ABDI
– Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial, que
visa a consolidação e o
desenvolvimento do setor,
principalmente na produção de
sucos e polpas em vários pólos de
fruticultura do Brasil. Saraiva
ressalta que “é muito importante
uma sinergia como esta que
desenvolveremos com a Embrapa,
pois o futuro da fruticultura está
cada vez mais focado em dois
pilares: capital humano e gestão de
pesquisa e inovação”.
Internet a Serviço do
Agricultor
A internet se mostra cada vez mais
eficiente para auxiliar as atividades
do empresário do campo. A
Embrapa Informática Agropecuária
possui um serviço disponível na
internet para a sociedade, a
Agência de Informação Embrapa
www.agencia.cnptia.embrapa.br,
que contém informações técnicocientíficas e socioeconômicas
levantadas pela instituição. O
objetivo desta ferramenta é prover
e ampliar o acesso a informação
para os diversos segmentos da
sociedade, interessados na
produção e no negócio agrícola,
melhorando o processo de
transferência de tecnologia.
Apresenta resultados de pesquisas
e orientações sobre sistemas de
produção, insumos e processos
pós-produção, além de informações sobre tendências de
mercado. Já estão disponíveis
dados sobre cultivo de feijão,
banana, agronegócio do leite,
agricultura e meio ambiente,
bioma cerrado e espécies
arbóreas da Amazônia.
Outra tecnologia disponível é o
Agritempo www.agritempo.gov.br, um
sistema de monitoramento pela
internet das informações meteorológicas e agrometeorológicas de
diversos municípios e estados
brasileiros. Resultado de parceria
entre diversas instituições nacionais,
o Agritempo é um consórcio que
organiza e administra um conjunto
de mais de mil estações meteorológicas espalhadas pelo País. Além
dos dados meteorológicos, o
sistema gera diariamente mais de
800 mapas referentes à estiagem,
evapotranspiração, dias com chuva
para todo o Brasil, entre outros.
Moscamed Controla
Moscas-das-Frutas no
Vale do São Francisco
A Biofábrica Moscamed Brasil
(BMB) é agora a responsável pelo
monitoramento de mosca-dasfrutas no Vale do São Francisco. O
serviço deixou de ser controlado
pela Valexport, em abril. A
migração foi acordada em reunião
com representantes do Ministério
da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento do Distrito Federal,
Pernambuco e Bahia, o
Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos-(USDA/APHIS), a
Adagro (Agência de Defesa e
Fiscalização Agropecuária), Adab
(Agência de Defesa Agropecuária),
Valexport (Associação dos
Exportadores do Vale do São
Francisco), Moscamed e BGMA
(Associação dos Exportadores de
Uva do Vale do São Francisco).
“A importância desse controle é
garantir o programa de
exportação, uma vez que 93% da
manga e 98% da uva exportada
pelo Brasil são produzidas no Vale
do São Francisco”, explica o
supervisor de campo da BMB,
Rodrigo Eduardo Viana. Segundo
Viana, “espera-se que com o
programa possamos controlar as
populações de moscas-de-frutas
existentes nestes lotes, contando
com um forte apoio dos
produtores no controle cultural,
pois os frutos caídos muitas vezes
se tornam repositórios naturais das
moscas. Com esta prática
associada ao controle químico e
biológico realizado pela Biofábrica,
esperamos manter o vale do São
Francisco livre de infestações”.
Os técnicos agrícolas contratados
pela BMB realizarão as atividades
nas áreas de até 10 hectares atualmente são mais de 200 na
região de Juazeiro e Petrolina. Em
áreas superiores a 10 hectares, as
ações de controle serão efetuadas
pelos
proprietários,
sob
orientação técnica dos profissionais
da BMB. O valor do serviço de
armadilhamento e controle é de
R$11,63 por hectare. Os
interessados devem procurar
Jacira, Nilmara, Rodrigo ou Breno,
pelo telefone (74) 3612 5399.
Seguro Contra Atraso
de Navio Cobre Perdas
O seguro contra a perda de
mercadoria decorrente de atrasos
de navio é oferecido, no Brasil,
pela NavitradeShip, empresa de
seguro de cargas. Em parceria
com a Asteca Corretora de
Seguros, a empresa levantou as
necessidades e carências dos
exportadores de frutas brasileiras
ao contratar seguro de suas cargas
na exportação e na importação.
“Através
deste
estudo,
desenvolvemos
coberturas
exclusivas e inéditas”, explica o
gerente de Logística da empresa,
Daniel Gil.
Prevenir-se contra o atraso é
importante, pois, de acordo com
o gerente, “a fruta requer um
controle logístico muito rigoroso,
já que após a retirada da plantação
inicia-se o processo de
envelhecimento, ou seja, qualquer
atraso pode causar prejuízos a
exportadores e importadores.”
Segundo Gil, o seguro de carga é
a garantia de reposição do valor
do bem segurado no caso de
sinistro, desde o início da viagem
(packing house) até a entrega ao
cliente. Todos os tipos de
mercadorias
podem
ser
seguradas. “Com o seguro, o
produtor/exportador agrega valor
ao produto, o que é bem visto
pelo importador ”, observa.
Informações sobre a nova
modalidade
pelo telefone:
(11) 3318 2666 ou e-mail:
[email protected].
11
NO POMAR
Carmem Moraes
NO LIMOEIRO,
ABPEL
FLORADA PRECISA DE CUIDADOS
O limoeiro produz duas vezes ao ano. A segunda produção, no
segundo semestre, é sempre a melhor. Por isso, entre junho e
setembro, época da florada e do começo da frutificação, é preciso
cuidados com a planta. O pesquisador na área de manejo de
citros, Fernando Alves de Azevedo, do Instituto Agronômico de
Campinas (IAC), ressalta que “quanto melhor for o
desenvolvimento nessa fase, mais saborosos e saudáveis serão
os frutos do limoeiro”.
Em junho, é hora de fazer as correções do solo, que já deve ter
sido avaliado em maio. “As correções são feitas aplicando calcário
e adubo fosfatado, preparando a planta para a flor que deve se
abrir em breve”, explica. É necessário, também, ter cuidado
com a Podridão Floral, doença causada por fungo que, como o
próprio nome diz, ataca as flores do limoeiro. “Assim, se a flor
não se desenvolver, o fruto não consegue nascer”, ressalta
A flor do limoeiro deve ser bem cuidada
Azevedo. O fungo se desenvolve, principalmente, em regiões
para que os frutos se desenvolvam
muito úmidas e rebaixadas. Para combater a doença, ele
recomenda o uso de fungicidas.
Outro alerta do pesquisador é quanto à cochonilha, praga que suga a seiva da planta, atrapalhando a florada. “Ela ataca principalmente
ramos e folhas e deve ser controlada com inseticida”.
Uma boa dica para evitar doenças e pragas no inverno é fazer uma poda de limpeza, retirando das plantas os ramos doentes, que
podem trazer pragas e impedir que ramos saudáveis cresçam em seu lugar. E mesmo quando a florada começar, não é hora de
descuido. Azevedo lembra que “os frutos recém-nascidos podem ser contaminados pelo ácaro branco, que deixa as cascas com
aspecto feio. Esse transtorno pode ser controlado com acaricida”.
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A goiaba serrana Helena deverá
chegar ao mercado em 2008
JEAN-PIERRE DUCROQUET/EPAGRI-SC
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GOIABA SERRANA
NOS MERCADOS
Devem chegar ao mercado em 2008, as duas cultivares da goiaba serrana lançadas, em
abril, pela Epagri-SC. Elas já haviam sido mapeadas pelo projeto Plantas para o Futuro,
do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O lançamento teve apoio financeiro da Embrapa
e da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Depois de observar as fases de crescimento na natureza e a incidência de doenças,
pesquisadores selecionaram as melhores sementes da goiaba serrana. Segundo o líder
do projeto da Epagri, Jean-Pierre Ducroquet, “o processo é demorado, pois envolve
um trabalho multidisciplinar que, no caso da goiabeira serrana, começou há 20 anos no
Brasil”. Ele destaca que as variedades serranas, chamadas Helena e Alcântara, são
frutos saborosos com aroma delicado, do tamanho da goiaba comum.
Pouco conhecida da população, a variedade é nativa das serras da região Sul do Brasil,
daí seu nome popular ser “serrana”. Atualmente, há mudas melhoradas apenas para
plantio em pequena escala. “A propagação vegetativa ainda requer aprimoramentos
para atender a demanda de mudas a preço acessível”, explica Jean-Pierre. Apesar de
não ser produzida comercialmente no Brasil, pode ser encontrada no Uruguai e na
Nova Zelândia, onde é vendida em forma de geléias, biscoitos e outros produtos.
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NOVAS VARIEDADES DE
FOTOS WILSON BARBOSA/IAC
FRUTAS TEMPERADAS
O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) lançará no próximo mês de outubro um
“material de baixa exigência em frio, que permite produzir bem em vários locais onde
o acúmulo de horas de frio é menor do que 50 horas”, informa o pesquisador do
Centro APTA de Frutas do IAC, Edvan A. Chagas.
Com sabor doce e baixa acidez, o pêssego tipo Aurora IAC 680-13 tem plantas
vigorosas e muito produtivas, chegando a 25 a 30 ton/ha, segundo o pesquisador. Os
frutos são de tamanho médio a grande, de forma redondo-oblonga e ponta pouco
saliente. A película apresenta de 70 a 80% de vermelho-intenso sobre fundo amarelo.
A polpa é firme, amarela e aderente ao caroço.
A nectarina IAC 2680-91 é bastante aromática, adaptada às condições brasileiras,
com produção também em torno de 25 a 30 ton/ha. Os frutos têm tamanho médio e
forma arredondada, com película 80% vermelha. A polpa é firme, amarela, com sabor
doce. Devido a sua firmeza, essa nectarina é tolerante a rachadura e possui boa
resistência ao transporte, o que garante “boa durabilidade pós-colheita e ótima
comercialização”, ressalta o pesquisador.
A pêra Princesinha é a nova opção para o cultivo de pêras européias ‘D’Água’ e
‘Primorosa’ em regiões de clima subtropical, destinado ao consumo in natura. Os frutos
pesam em média 140 g e são periformes, ou seja, com “pescoço” pronunciado,
pedúnculo fino e longo. Possui película lisa, espessa e verde esbranquiçada. A polpa é branca,
firme e suculenta, de sabor doce-acidulado. Segundo Edvan A. Chagas, “apresenta bom
vigor, porte médio, com ramos frutíferos abundantes, que produzem em média 15 ton/ha”.
Os frutos verdes claro, quando imaturos, e bem amarelos, quando maduros, com
polpa branco-creme, firme e pouco suculenta, de sabor adstringente, tornam a nova
pêra Culinária ideal para a fabricação de doces. Ela produz mais do que a variedade
Princesinha, alcançando médias de 20 toneladas por hectare.
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NOVO MELÃO LONGA VIDA
CANTALOUPE
Para atender
ao mercado
exportador, a
Seminis do
Brasil lança o
híbrido PX
4048, primeiro longa vida
tipo cantaloupe americano no País.
A nova cultivar
caracteriza-se
Colheita do melão cantaloupe PX 4048 pode
por frutos com
ser feita a cada dois dias
sabor bem
adocicado (brix médio 11) e manutenção da qualidade para consumo mesmo após 20 a 30 dias de colhido. No campo, a colheita
pode ser feita a cada dois dias, ao contrário dos demais cantaloupes.
O PX 4048 tem produtividade acima de 4.300 caixas de 5 kg por
hectare, com frutos tamanho tipo 5. Os frutos são uniformes, com
polpa cor salmão intenso e textura firme. Segundo a empresa, a
nova cultivar tem boa estabilidade de brix, mesmo em condições
adversas de campo. Informações (19) 3705-9300.
SEMINIS
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Os agricultores paulistas podem plantar e explorar espécies frutíferas
nativas ou exóticas, de valor comercial, na recuperação das áreas da
Reserva Legal, por um período determinado, mediante aprovação pelo
Departamento Estadual de Reservas Naturais (DPRN). Essa
autorização foi possível com a edição de decreto estadual, de 16 de
junho de 2006. Em contrapartida, de acordo com o artigo 10, o
produtor deve plantar um sub-bosque com plantas nativas da região e
a exploração não deve atrapalhar a recuperação da mata.
A Reserva Legal já era regulada pelo Código Florestal, Lei n° 4.771,
de 1965, e é a área de 20 % de vegetação no interior de uma
propriedade rural que precisa ser preservada. Outro ponto é o artigo
12, que torna a averbação da pequena propriedade rural familiar
paulista gratuita, sendo o Poder Público o responsável pelo apoio
técnico e jurídico. No caso da inexistência de maciço florestal ou área
para recomposição que atenda ao percentual de 20% da propriedade,
o agricultor pode escolher um outro local para compensação. No
entanto, é preciso comprovar a situação por meio de laudos técnicos
e obter a aprovação do DPRN. Nesta circunstância, devem ser
escolhidas áreas que levem a formação de corredores de fauna ou
um maciço de vegetação.
Na opinião da pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Marta
Camargo Assis, “o fato de o produtor poder escolher a área de
compensação pode ser bem vantajoso para o produtor ao mesmo
tempo em que atende ao meio ambiente”.
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RESERVA LEGAL PAULISTA
PODE TER FRUTAS
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Novas variedades exigem menos
frio para produzir
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FRUTAS FRESCAS
CAMINHOS DA
FRUTICULTURA
Três jovens percorreram
os principais pólos de
fruticultura a partir do
Espírito Santo para
traçar cenário realista,
visando à implantação
de pólos frutícolas em
Goiás.
Beth Pereira
Fotos Expedição Caminhos
da Fruticultura
14
A Expedição Caminhos da Fruticultura, idealizada pelos universitários Glauber Pires Ferreira (23), Reginaldo de Carvalho Gomes (27)
e Daniel Custódio Lopes de Oliveira (23), alunos do curso de Agronomia da Universidade Rio Verde, saiu de Rio Verde (GO), com os três a
bordo de uma caminhonete, no dia 18 de dezembro do ano passado,
com um duplo propósito: fazer uma análise do setor, visando adquirir
conhecimentos verticalizados da cadeia de fruticultura brasileira e coletar informações para elaborar a monografia de conclusão de curso.
A expedição terminou no dia 22 de fevereiro e, desde março,
os alunos fazem parte da Comissão Estadual de Fruticultura do Estado de Goiás, órgão que congrega representantes de várias entidades do Estado. “Estamos apresentando o cenário do setor, com
base nos dados coletados e discutindo sobre as possibilidades de instalação de vários pólos de fruticultura em Goiás”, conta Ferreira, acrescentando que a idéia é começar organizando os produtores de citros,
uvas e, depois, ampliar para outras culturas. Atualmente, o Estado só
tem um pólo organizado, o de melancia, em Uruana, que exporta a
fruta para a Argentina.
A viagem durou 67 dias, tempo em que os estudantes percorreram 17 mil quilômetros, passando por 14 Estados, 61 empresas,
49 fazendas e 35 packing houses. O resultado foi a formação de um
grande banco de dados do setor, composto por fotos, entrevistas e
filmagens. “Conseguimos englobar todos os elos envolvidos direta
e indiretamente com a cadeia produtiva da fruticultura”, afirma
Ferreira. Ele e os outros integrantes do grupo sempre tiveram interesse na fruticultura, que é incipiente em Goiás, tanto que tiveram
FRUTAS FRESCAS
de fazer estágio fora do Estado, em órgãos de pesquisas e empresas da Bahia e de São Paulo.
O projeto contou com o apoio de prefeituras do
estado de Goiás, Universidade de Rio Verde, Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste
Goiano (Comigo) e Instituto Brasileiro de Frutas - Ibraf,
“que foi o grande intermediador da nossa entrada nas
empresas”, diz Gomes.
CENÁRIO REALISTA
No percurso, muitas paradas: em empresas e produtores de portes e perfis diferenciados, portos, aeroportos e grandes projetos de irrigação dos pólos produtores de frutas do semi-árido nordestino. “Para traçar um cenário mais realista sobre o setor, definimos,
como foco principal, grandes empresas e alguns projetos de agricultura familiar”, explica Gomes. “Com
profissionalismo e tecnologia, é possível melhorar a
produtividade e instalar novos pólos de fruticultura no
País, como em Goiás, onde a atividade é incipiente”,
observa Oliveira.
Os universitários destacaram pontos positivos, como
o potencial que a fruticultura representa para o País na
geração de divisas e como importante fonte de renda
para a agricultura familiar. Ferreira garante que o Brasil tem tudo para dominar o mercado mundial de sabores de frutas. “No mercado interno, a tendência é
de aumento de consumo de sucos de frutas, haja vista
que o consumo per capita ainda é muito baixo”, afirma,
acrescentando que todas as empresas de processamento
de frutas visitadas estavam ampliando o parque industrial,
apostando no aumento das demandas interna e externa.
“Para a exportação, há uma forte demanda por outros sabores de sucos brasileiros entre eles goiaba, manga, caju e
acerola que poucos estrangeiros conhecem.”
“Embora seja inegável o progresso que há nos
portos e aeroportos, falta muito para o setor tornarse eficiente. A burocracia e a falta de infra-estrutura
imperam na maioria dos portos”, enfatiza Ferreira.
“Nos aeroportos também há problemas de logística,
principalmente em relação à capacidade de receberem
cargueiros. Soma-se a isso, a falta de investimentos em
câmaras frias para frutas e de vôos freqüentes para Europa, Estados Unidos e Ásia”, completa Gomes. Ele
observa que a exceção é o Aeroporto de Petrolina, planejado para a cadeia de fruticultura, com câmaras frias e
vôo semanal para Europa com avião cargueiro. “Graças
aos investimentos em infra-estrutura, o volume embarcado de frutas saltou de 12 mil quilos, em 2004, para
706 mil quilos, em 2005. “De janeiro a setembro de
2006, os embarques para o Japão aumentaram 17 vezes comparado a todo ano de 2005”, ilustra Gomes.
Eles também identificaram problemas para o escoamento da produção. “Dos quatro portos visita-
dos no Nordeste, os dois localizados nas capitais (Salvador e Natal), não têm estrutura nem condição de
expandir a infra-estrutura e a eficiência em relação aos
complexos portuários de Suape (PE) e Pecém (CE),
que ficam longe dos grandes centros urbanos”, salienta Oliveira. Durante a viagem, as principais reclamações que os universitários ouviram dos produtores exportadores foram relacionadas ao câmbio desfavorável em 2006, à alta carga tributária e ao aumento dos
insumos nos últimos anos.
VOCAÇÃO PARA O MAMÃO
No Espírito Santo, os universitários visitaram indústrias de processamento de sucos e os pólos de produção de maracujá, goiaba e mamão no norte do Estado.
“Ficamos impressionados com o tamanho do pólo de
mamão capixaba, a organização e tecnologia dos produtores”, conta Ferreira. Na Sucos Mais, que só trabalha com
concentrado de frutas, os estudantes destacam a preocupação com segurança alimentar e com as certificações; na
Caliman, primeira do ranking das exportações de mamão,
o profissionalismo e a tecnologia; na Agrapex, souberam
que os contratos firmados com produtores da região garantem a demanda de exportações de mamão.
No pólo de maracujá de Sooretama, com 2 mil
hectares da fruta, onde predomina pequenas propriedades, uma queixa comum, ouvida pelos estudantes,
foi de que a pressão de população de pragas e doenças está tornando inviável o custo de produção de
maracujá na região. “Muitas lavouras foram dizimadas”,
conta Gomes.
No extremo-sul da Bahia, onde também predomina o mamão, a expedição constatou o otimismo dos
produtores com a atividade, que ganhou impulso a partir
Os jovens Glauber P. Ferreira, Reginaldo C. Gomes e Daniel C. Lopes de
Oliveira, visitaram portos e aeroportos que escoam produção
15
FRUTAS FRESCAS
de 2005, com a abertura do mercado americano para a
fruta da região. O roteiro, na região incluiu a Bello Papaya,
grande produtora de mamão; o grupo Lembrance, cujo
foco é mamão, mas também trabalha com eucalipto,
cacau e banana.
No percurso, a expedição passou por Estância (SE),
onde visitou a Tropfruit, grande distribuidora de concentrados de suco de frutas, visando às exportações
para Estados Unidos, Europa e Ásia. De lá, seguiu para
o projeto de citricultura da Itacitrus, em Inhambupe
(BA), empresa responsável por grande parte das exportações brasileiras de limão em 2006 ; para a
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das
Almas, onde conheceram pesquisas com banana, abacaxi, manga e o umbu. Mais adiante, visitaram o Sítio
Barreiras, produtor de bananas no Maranhão e no Ceará, e agora está com novo projeto em terras baianas,
com 120 hectares da fruta irrigada.
VALE TECNIFICADO
No pólo de fruticultura do Vale do São Francisco,
em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), que responde por
grande parte das divisas brasileiras com exportação de
frutas, o grupo conta que ficou impressionado com a
estrutura industrial e empresarial montada para o setor. “Há muitas empresas altamente tecnificadas e cujo
processo produtivo visa a excelência, tanto que algumas conseguem exportar a maioria da produção para
os Estados Unidos, Europa e Ásia”, diz Ferreira. O roteiro incluiu visitas à Embrapa Semi-Árido, projetos de
irrigação no Vale; Niagro, empresa japonesa que processa polpa de acerola para atender o mercado japonês; Agrobrás e Fruitfort, que produzem manga e uva
no Vale; Vinícola ViniBrasil, que está investindo bastante na vinicultura no Vale do São Francisco, em Lagoa
Grande, entre outras.
PARCERIAS E INICIATIVA
O Rio Grande do Norte, segundo apurou a expedição, conta com 13 empresas processadoras de polpa de
frutas. No Estado, os universitários visitaram algumas empresas de mamão, que antes produziam apenas no Espírito Santo, mas foram atraídas pela logística mais favorável. Entre elas, a Gaia; assentamento do MST e de agricultura familiar do governo que têm parceria com a
Caliman, que garante a compra e a distribuição do mamão produzido; o Projeto Ramada, de produção de abacaxi, voltado para a agricultura familiar; a Finobrasa, empresa voltada para a produção de manga e mamão; as
lavouras de banana da Banfrut, para exportação; os cultivos de banana Pacovan para o mercado interno no Distrito de Irrigação Baixo Assu. “Vimos muitos lotes abandonados”, conta Ferreira, acrescentando que no município há grandes investimentos da Del Monte para a pro16
dução de banana para exportação,
com impacto
na geração
de emprego,
As plantações de mamão, entre outras,
renda e no
fizeram parte do roteiro da expedição
desenvolvimento regional.
O roteiro incluiu a Procajus, que processa castanha
de caju e mel, em parceria com pequenos produtores
locais e assentados da Serra do Mel (RN); a WG, empresa produtora de melão, mamão, banana, tomate e
pimentão no Rio Grande do Norte e no Ceará, que
trabalha com contratos para a comercialização da safra. “O melão é comprado pela Intermelon, da Agrícola Famosa. Na Chapada do Apodi (CE) cultiva banana
e vende a produção para a Frutacor. Já o mamão, que
tem qualidade de exportação, é entregue para a
Caliman”, diz Oliveira.
EXEMPLO DE ORGANIZAÇÃO
O pólo de Mossoró, principal produtor de melão e
melancia para exportação do Rio Grande do Norte, é,
segundo constatou Gomes, bem organizado e focado
no mercado internacional. “As empresas possuem infraestrutura para produzir diversos tipos de melão e exportar para várias partes do mundo”, observa. “Os
contratos de exportação são, geralmente, firmados antecipadamente”, diz. “Não é por menos que o pólo de
melão tem tanta importância para a fruticultura brasileira, representando divisas de US$ 88,2 milhões, o equivalente a 18,7% do valor das exportações do ano passado, que alcançaram U$$ 472 milhões”, completa Ferreira.
Na região, a expedição visitou a fábrica de polpa
de frutas da Cervap (Cooperativa de Energia e Desenvolvimento Rural do Vale do Apodi), que produz 35
toneladas de polpas de 11 sabores para atender à demanda de Fortaleza e Natal. Visitou ainda a Potyfrutas,
cooperativa de produtores de melão e melancia, formada por engenheiros agrônomos, que exportou 1,2
milhão de caixas de melão e 1 milhão de caixas de
melancia para a Europa, em 2006. Eles conheceram
também a Nolem, maior empresa produtora de melão do Brasil; a Agropecuária Otani, produtora de melão em Baraúna (RN), além da Mini-Fábrica de Caju
de Córrego, projeto do governo federal, em parceria
com Sebrae, Embrapa e algumas fundações, para agregar valor à produção da fruta.
FRUTAS CONVENCIONAIS
E ORGÂNICAS
Os produtores de melão do Ceará têm condições
de competir e abastecer qualquer mercado mundial, se-
FRUTAS FRESCAS
gundo os integrantes da
Expedição
Caminhos
da Fruticultura, após
Os dados coletados pelos integrantes da
visita ao gruexpedição serão base para novo pólo
po Doçura,
em Quixeré (CE), que possui cerca de 300 hectares da
fruta para exportação, em parceria com produtores.
No Estado, a expedição também passou na Frutacor,
no Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi, com 600 hectares de banana e 150 hectares de mamão; na Figood,
que produz figo para exportação; na fazenda de
processamento de caju da Itaueira, no Tabuleiro de
Russas; na Agrícola Famosa, produtora de melão e
melancia; na Del Rey, em Icapuí, braço da produção
de abacaxi para exportação da Agrícola Famosa; na fábrica de sucos Jandaia, em Pacajus, onde também fica
a Flamingo, outra empresa do grupo.
“Ficamos impressionados com a fazenda da Amway
Nutrilite do Brasil, em Ubajara(CE), considerada a
maior área de acerola orgânica do mundo, com 200
hectares da fruta, além de 75 hectares de coco, 40
hectares de maracujá, 6 hectares de caju, 1,5 hectares
de goiaba, além de 2 hectares de ervas medicinais”,
relata Gomes. “Vimos a importância da sustentabilidade
ambiental no cultivo de frutas”, diz Oliveira. O interessante, segundo o trio, é que a acerola, colhida ainda verde, é
concentrada e transformada em acerola em pó e exportada para a matriz da empresa, nos Estados Unidos. A polpa
de goiaba segue também para aquele país, sendo que a
polpa ou o concentrado de maracujá destina-se à Europa.
Finalmente, a expedição chegou no Tocantins. Lá,
foi conferir o pólo de produção de abacaxi pérola destinado à exportação, onde ficam as lavouras do produtor Washington Dias. “Constatamos as dificuldades enfrentadas por Dias em relação à exportação, por causa
da logística desfavorável do Estado, que fica distante
do porto”, diz Ferreira. “A região tem características
climáticas semelhantes à realidade de Goiás”, arremata Oliveira. Agora, os alunos estão analisando os dados
apurados durante a viagem e juntamente com a Faeg
(Federação da Agricultura do Estado de Goiás) e outras entidades estão criando as bases para o desenvolvimento da fruticultura goiana.
17
PLANEJAR PARA
LUCRAR
Administrar o fluxo de caixa, envolver a família nas
atividades de gestão, usar ferramentas de computação
atuais podem ajudar o fruticultor a gerir melhor as
atividades de sua propriedade.
Beth Pereira
18
Um dos fatores que contribuem para o sucesso
da fruticultura é a gestão da propriedade, o que passa, necessariamente pelo uso de ferramentas importantes que facilitam as tarefas do dia. Para ajudar
na organização, no planejamento e no controle das
atividades, o fruticultor tem à sua disposição
softwares, contabilidade, seguro rural, entre outras.
Para ser bem-sucedido, o produtor rural deve
administrar seus negócios sob a ótica empresarial, gerindo profissionalmente as funções gerenciais
básicas da produção, da comercialização, dos recursos humanos e das finanças. Deverá também buscar sempre a inovação, estar atento às novas demandas do mercado e, sempre que possível, agregar valor
ao seu produto. A recomendação é do administrador de empresas José Benedito de Barros, diretor
da Gerencial Consultoria e Assessoria Ltda.
Na sua visão, a administração do caixa de uma
propriedade rural deve ser norteada pelos princípios
de gestão financeira de qualquer negócio organizado.
Conforme explica, isso significa que as receitas futuras
e os respectivos custos previstos devem ser cuidadosamente projetados em bases mensais, a partir de premissas realistas de produtividade, preços e custos de
produção (mão-de-obra, insumos, mecanização, irrigação, tratamentos pós-colheita, transportes, etc).
Segundo Barros, também devem ser consideradas as alternativas de financiamento das safras e
de novos investimentos, com recursos próprios ou
captados no mercado financeiro, em prazos e custos compatíveis com a atividade. “Com as projeções
financeiras consolidadas, o produtor rural poderá
tomar decisões mais adequadas à boa condução dos
seus negócios”, pondera.
O administrador recomenda um controle rígido
das despesas. “O produtor rural deverá monitorar
com rigor o seu fluxo de caixa realizado, comparando-o com o projetado mensalmente, para cada receita ou despesa”, sugere, acrescentando que eventuais receitas que não foram alcançadas deverão ser,
se possível, reprogramadas. “As despesas que excederem o orçamento deverão ser muito bem analisadas, visando à busca de alternativas que possibilitem a redução das mesmas em tempo adequado,
antes que os prejuízos sejam irreversíveis.”
De acordo com Barros, um bom critério
para esse controle é o da análise de valor, cujo fundamento diz que se devem admitir somente os custos
que agregam valor ao produto final. “No caso específico da fruticultura, o valor final do produto está diretamente ligado à aparência, à qualidade e à oportuna
disponibilidade no mercado”, explica.
Na prática, o especialista diz que o fluxo de caixa na propriedade rural, assim como o de qualquer
ARQUIVO PESSOAL
GESTÃO DA PROPRIEDADE
José Benedito: com planejamento de caixa, produtor pode
estimar compromissos tributários, evitando surpresas
organização, deve demonstrar claramente quais são
as principais fontes de receitas operacionais, de preferência por produto, bem como os principais custos e despesas típicos da atividade, também por
produto. “O montante da geração operacional de
caixa do negócio deverá ser suficiente para cobrir
todos os compromissos de financiamento e ainda
remunerar o produtor”, destaca.
Barros recomenda atenção em relação aos principais impostos que recaem sobre a propriedade
rural e sobre a produção. “Por meio de um bom
planejamento de caixa, o produtor poderá estimar
antecipadamente os seus compromissos tributários, evitando surpresas de última hora. A boa organização, arquivo e atualização dos dados financeiros do negócio como um todo, também são importantes nesse processo”, detalha. “Também deverá ser feita uma boa análise comparativa, para se
decidir sobre a operação através da pessoa física ou
transferir os negócios para uma pessoa jurídica”.
Segundo Barros, sobre a propriedade rural é
cobrado anualmente o ITR (Imposto Territorial Rural),
que depende do valor e da ocupação do imóvel rural.
Sobre a receita incide a contribuição para a seguridade
social (antigo Funrural). Já os salários, são base para a
contribuição ao INSS e ao FGTS. Ele lembra que assim como nas demais atividades, a rural também é taxada pelo Imposto de Renda e pela Contribuição Social (pessoas jurídicas), além da CPMF, do IOF, da Contribuição Sindical e de outros de menor impacto.
GESTÃO EXIGE CONTROLE
Muitas empresas oferecem cursos e treinamentos voltados para o gerenciamento de empresas
rurais. A Rehagro (Recursos Humanos no
Agronegócio), de Belo Horizonte (MG), é uma de19
REHAGRO
GESTÃO DA PROPRIEDADE
las. Embora não tenha trabalhado especificamente
com propriedades do segmento de fruticultura, o
diretor do Rehagro, Clóvis Eduardo Sidnei Corrêa
afirma que alguns conceitos são gerais e podem ser
aplicados a essa atividade.
Segundo Corrêa, a gestão moderna pressupõe
a utilização de ferramentas como os recursos da
informática, que permite coletar dados e armazenálos em um software para facilitar o acesso; o constante treinamento do pessoal; a rotina de
monitoramento das atividades e das metas e a intensa gestão do caixa. “Só acredito em uma empresa eficiente, se ela tiver gestão sobre o seu fluxo
de caixa; entendo que o gerente ou o dono do negócio precisa ter em sua mão a definição do seu
fluxo de caixa”, enfatiza o diretor da Rehagro.
Corrêa ensina que o processo de gestão começa
com a definição clara do objetivo do negócio, junto
com o dono da propriedade. A etapa seguinte é o estabelecimento dos sistemas produtivos, ou seja, o que
se vai produzir. “Isso pressupõe o diagnóstico da propriedade, de forma a se propor um sistema produtivo
adequado para a condição diagnosticada”, explica.
“Deve-se, portanto, considerar fatores como topografia, clima, solo, índice pluviométrico, entre outros fatores, que possam vir a afetar o diagnóstico”.
Produtor precisa estar atento aos
principais impostos que recaem
sobre a propriedade rural e a produção
O diagnóstico ajuda na escolha do que plantar,
da variedade, do espaçamento, da expectativa de produção, dos sistemas de colheita e armazenagem e aspectos de mercado, ou seja, o que eu vou vender e
para quem, de acordo com o especialista. “Faz parte
desse estudo a análise da viabilidade do negócio, a partir do cenário levantado, para verificar se o nível de
remuneração esperado atende à expectativa”, afirma.
Corrêa lembra que, no momento de implantar
o sistema produtivo, dois pontos importantes devem ser observados: a fidelidade ao planejamento
e a qualificação da mão-de-obra. “Muitas vezes uma
atividade de sucesso, bem planejada, não atinge os
objetivos porque as pessoas não têm qualificação
adequada”, pondera.
O especialista em gestão chama a atenção para a
importância de se estabelecer os índices que irão
nortear o monitoramento e a avaliação de cada etapa
do negócio para a correção, se for necessário. “Se uma
meta não for cumprida, é necessário entender o por20
quê”, observa.
“Se, por exemplo, a produção
projetada por
hectare não for
alcançada, é
preciso ir a campo para ver as
causas para atuar sobre elas.”
Clóvis Corrêa: gestão moderna exige
informatização, treinamentos e
administração intensa do caixa
NEGÓCIO E FAMÍLIA
Segundo o engenheiro agrônomo e consultor
da Safras & Cifras, Cilotér Borges Iribarrem, no Brasil, “a família é parte importante no negócio da propriedade rural, já que 88% das empresas desse segmento são familiares”. Porém, ele afirma que os
produtores, em sua maioria, têm um bom nível de
conhecimento tecnológico, mas não estão preparados para a gestão econômica e financeira da propriedade. “Embora muitos utilizem um bom modelo de administração em suas propriedades, é necessário muito esforço para estar de acordo com o
mundo moderno, de forma a garantir a sobrevivência e o crescimento de seus negócios”, observa.
Nesse sentido, seja na fruticultura ou em outra
atividade agrícola, o consultor alerta o produtor
sobre os riscos a que estão sujeitos em relação aos
custos, orçamento e fluxo de caixa, seja por desconhecimento do resultado do negócio; investimentos desnecessários, mal planejados ou realizados em
momentos impróprios; facilidade de endividamento;
perda de ga-nhos obtidos em produtividade ou o
aumento dos preços dos insumos, entre outros.
Segundo Iribarrem, o modelo de gestão da propriedade rural deve ser repensada em condições
de alto endividamento, descapitalização, eventos
climáticos, falta de crédito, queda acentuada da
margem de lucro, aumento de custos financeiros e
políticas governamentais. “Os produtores rurais
devem buscar informações não só de tecnologia,
mas de gestão dos negócios, recursos humanos,
mercados e planejamento tributário”, sugere. “Empresas de um homem só não sobrevivem. Para o
sucesso, divida o poder com a sua família, busque
bons profissionais e mantenha-se atualizado.”
SOFTWARE MUDA ROTINA
Embora haja muitos gargalos, é inegável o avanço da tecnologia na fruticultura, inclusive no apoio
da gestão do negócio. O engenheiro agrônomo de
Petrolina, Cesar Mashima, que trabalhou na pesquisa de uvas sem sementes, com passagens na
Valexport e Embrapa Semi-Árido, hoje utiliza uma ferramenta que,
em sua opinião, facilita o dia a dia do fruticultor. Trata-se do SRIF (Sistema de Registro Informatizado para Fruticultura), desenvolvido a pedido
do escritório do Sebrae de Petrolina (PE), pelo analista de sistemas e fruticultor daquela cidade, Euder Almeida Ribeiro.
“A ferramenta ajuda na certificação de frutas, segundo os protocolos EurepGap e PIF”, afirma Ribeiro, que já utilizava o sistema em suas
plantações de uva, manga e caju. Ele conta que a primeira versão comercial do software, o SRIF Uva, foi lançada em agosto de 2005. A
seguir, ele desenvolveu as versões SRIF Manga, Melão e Citros. O SRIF
Citros foi apresentado por Ribeiro nos dias 8 e 9 de maio, em reunião do
Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), em Salvador
(BA), com representantes da Produção Integrada de Frutas do Brasil. “Até
julho, pretendemos lançar as versões Abacaxi e Maçã”, promete.
O SRIF atende às normas EurepGap e começou a ser utilizado no
Vale do São Francisco, em Petrolina e Juazeiro. “Agora, estamos desenvolvendo versões dessa ferramenta para os pomares de mamão,
em Mossoró (RN); de citros, na Bahia; e de abacaxi, no Rio de Janeiro”, enumera Ribeiro. O diretor da certificadora OIA Brasil, Edegar de
Oliveira Rosa, considera o SRIF muito interessante. “O idealizador do
software pegou as normas EurepGap e do PIF e fez um sistema de
gerenciamento que já contempla essas normas”, observa. Como é tudo
armazenado no palm top, Rosa diz que o produtor tem sempre o controle do que está acontecendo na propriedade e a qualquer momento
pode imprimir os gráficos e os relatórios que são exigidos pela
certificação, abolindo o uso do caderno de campo. “O produtor sentese moderno e mais tecnificado. Ajuda até na auto-estima”, destaca.
O funcionamento do sistema é baseado em computação móvel. “Por
meio de um palm top – pequeno computador que armazena informações
e cabe na palma da mão –, é feita a captação dos dados no momento exato
em que estão ocorrendo no campo, o que evita a redundância e a perda
de informações, além de manter tudo organizado e sob controle”, explica.
“O programa faz o monitoramento diário das plantações, realiza
cálculos complexos que auxiliam na rotina diária do fruticultor, como
EUDER RIBEIRO
Programa faz o monitoramento diário das plantações, facilitando análise de dados
21
por exemplo, o tempo e a quantidade de água necessários para a irrigação ou, ainda, a incidência de
pragas no pomar”, detalha. De acordo com Ribeiro, depois das visitas diárias às plantações, as informações contidas no palm top são descarregadas em
um computador, tipo PC, que gera, instantaneamente, planilhas e tabelas.
O sistema controla os tratos culturais (irrigação,
pulverizações, adubações, podas), a manutenção de
máquinas e equipamentos, o uso de fitorreguladores,
as épocas de plantio e de colheita. “SRIF simplifica a
rotina dos pequenos fruticultores”, resume.
Ribeiro lembra que o SRIF substitui o caderno
de campo. “Além de servir para os registros, é um
instrumento de informação no campo porque o
produtor passa a ter os dados da atividade em tempo real, além de permitir a troca de informações
com clientes internacionais, por meio de relatórios
em formato pdf”, destaca.
A experiência no Vale do São Francisco, onde o
SRIF é utilizado por pequenos produtores, comprovou que qualquer pessoa com ensino fundamental
consegue operar o equipamento, segundo o inventor do software. “A linguagem é bem próxima do
cotidiano do fruticultor.”
Programa monitora plantações e faz
cálculos complexos que auxiliam na
rotina diária do fruticultor
Ribeiro calcula que atualmente o SRIF está instalado em mais de 80 propriedades do Nordeste.
Ele conta que há produtores de Minas Gerais, do
Rio Grande do Sul e do Tocantins interessados no
sistema. “Estivemos presentes na Fruit Logística, em
fevereiro, para apresentar o software. Graças a esses contatos, as primeiras exportações deverão
ocorrer em junho deste ano, para Bélgica, França e
Inglaterra”, conta. “Eles consideram uma iniciativa
pioneira na fruticultura.”
SEGURO REDUZ RISCOS
Produtores de maçã, uva de mesa e para vinho,
caqui, laranja, goiaba, figo e frutas de caroço (pêssego, nectarina e ameixa) podem fazer seguro das
suas lavouras contra a ocorrência de granizo e, eventualmente, de geadas. Segundo o diretor Comercial da Seguradora Brasileira Rural, Geraldo Mafra, o
preço do seguro é calculado segundo o clima da
região. “Se o risco for maior e houver ocorrência
de granizo, a taxa é maior”, explica. Ele lembra que
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BRASILEIRA RURAL SEGURADORA
GESTÃO DA PROPRIEDADE
Geraldo Mafra, taxa de seguros é maior onde há maiores riscos
este ano o granizo pegou fortemente os pomares
de maçã de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e
São Paulo. Para a maçã e para uva, a taxa varia de
6% a 12%, conforme o município.
Normalmente, o programa de seguro é subvencionado pelo governo federal. No caso de maçã e
uva, subsidia 50% do seguro, até o limite de 32 mil
reais por CPF ou CNPJ. Para outras frutas, o subsídio é de 40%, com o mesmo limite. Segundo Mafra,
os dados do produtor são enviados ao Cadin (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal), um banco de dados onde é
possível acessar os nomes de pessoas físicas e jurídicas e verificar se há débito para com órgãos e entidades federais. “Caso haja alguma restrição nesse
sentido, ele não recebe a subvenção do prêmio,
mas pode fazer o seguro particular, bancando 100%
do prêmio”, explica.
Para fazer um seguro da lavoura, o fruticultor
deve entrar em contato com uma seguradora, que
envia um técnico para fazer a vistoria da área cultivada, a emissão da proposta e da apólice. O seguro pode ser pago parcelado. Cinco empresas estão
autorizadas pelo Mapa a fazer a comercialização de
seguro rural com subvenção federal: Seguradora Brasileira Rural (SBR), Aliança do Brasil, Mapfre Seguros,
AGF Brasil Seguros e Nobre Seguradora Brasil.
Até 2006, o Programa de Subvenção ao Prêmio
do Seguro Rural, do Mapa, atendia as frutas: maçã,
uva de mesa e uva para vinho. Atualmente, a cobertura de granizo, para frutas, cobre ameixa, caqui, figo,
goiaba, maçã, nectarina, pêra, pêssego, uva de vinho
(cobre os prejuízos decorrentes da perda de qualidade) e uva de mesa (cobre as perdas da produção causadas na brotação e as perdas de qualidade nas bagas).
Segundo o deputado federal Duarte Nogueira
(PSDB), membro titular da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados,que já esteve à frente da Secretaria da Agricultura de São Paulo, a demanda maior por seguro no Estado, desde o começo da subvenção, em 2003, é para uva e caqui.
“Começamos atendendo a produtores com renda bruta anual até R$
100 mil, depois aumentamos para R$ 185 mil e, em 2006/2007, ampliamos para R$ 215 mil de renda bruta anual”.
Para o ciclo atual, de junho de 2006 a junho de 2007, ele diz que a
subvenção contempla, além das frutas mencionadas anteriormente, as
lavouras de tomate rasteiro. “Até janeiro de 2007, tínhamos 950 solicitações de subvenção, das quais 95% de produtores de uvas, caqui, ameixa e
pêssego, principalmente no circuito das frutas das regiões de Campinas e
Itapetininga, com destaque para São Miguel Arcanjo”, conta.
Nogueira acredita que a quebra do monopólio do Irbi (Instituto de
Resseguros do Brasil) vai aumentar a competitividade e baixar o preço
do seguro. “Antes, trabalhava-se com duas seguradoras e hoje, com cinco”, diz. Nogueira conta que informatizou o programa de seguro paulista,
em março do ano passado, antes de sair da Secretaria. “Por meio de um
link direto com a Caixa, conseguimos reduzir o prazo para recebimento da
subvenção de 60 dias para sete dias, em média,” destaca.
MAIOR COBERTURA EM SÃO PAULO
Fervoroso defensor do seguro rural, Nogueira conta que está convidando o Ministério da Agricultura para discutir sobre seguro em audiência pública. “Queremos esclarecimentos sobre o andamento do projeto de subvenção do seguro do governo federal”, diz ele. “Para tanto,
serão convidados representantes de seguradoras, de entidades que demandam por seguro, do governo federal e dos governos de São Paulo
e Rio Grande do Sul, que têm ações com muito êxito nessa área.”
Na opinião do vice-presidente da Cooperativa Agrícola Sul Brasil,
Roberto Furuya, a grande vantagem do seguro rural é a subvenção.
“Em São Paulo, por exemplo, além dos 50% subvencionados pelo governo federal, o governo estadual subsidia metade do valor que seria
pago pelo produtor”, explica. A Sul Brasil fica em São Miguel Arcanjo
(SP) e os cooperados, em sua maioria, são fruticultores. Ao todo, são
180 produtores de frutas, principalmente de uva, caqui, além de ameixa e nêspera, em menor quantidade. Embora seja produtor de frutas,
este ano Furuya não fez seguro. “Meu parreiral é protegido por telas”,
justifica. No entanto, ele afirma que no passado fez seguro para as
lavouras de caqui e uva.
Entretanto, na região, muitos fruticultores fazem seguro para protegeram seus pomares dos estragos causados pelo granizo. “Com o
subsídio de 50% oferecido pelo governo do Estado, ficou mais vantajoso fazer o seguro”, afirma Antonio Celso Mossin Junior, dono do Sítio
Santa Maria, com mais de 20 hectares de uva itália, rubi e benitka.
“Faço questão de segurar toda produção. O granizo já castigou bastante o parreiral, cheguei a perder 70% da produção e o seguro pagou
tudo, conforme estabelecido na apólice”, diz. Por essa razão, tem seguro até mesmo da área de uva protegida por tela.
Antonio Vieira da Silva Junior, diretor da Sudoeste Corretora de
Seguros Ltda., também de São Miguel Arcanjo, afirma que tem crescido o número de produtores interessados no seguro rural. “No ano
passado, fizemos 400 apólices, sendo 90% de uva e o restante de
caqui, além de milho, em pequena quantidade”, conta, acrescentando
que os produtores estão se conscientizando sobre a necessidade de
proteger a lavoura. “Soma-se a isso as exigências do Feap (Fundo de
Expansão da Agropecuária e da Pesca), que só libera o financiamento
após a contratação do seguro.”
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GESTÃO DA PROPRIEDADE
SUCESSÃO NO
CAMPO
A população rural está envelhecendo e os jovens estão
migrando para as cidades em busca de oportunidades, o que
compromete a sucessão nas propriedades.
A sobrevivência da propriedade rural passa, necessariamente, pela sucessão familiar e é motivo de
preocupação na fruticultura, a exemplo de outras
atividades do campo. Mesmo assim, são poucas as
iniciativas voltadas para a fixação do jovem no meio
rural e a garantia do processo sucessório.
A Cocamar, de Maringá (PR), é uma das poucas
empresas do Brasil que se preocupa com o problema, tanto que criou o Projeto Núcleo Jovem
Cocamar, voltado para filhos e netos de produtores
rurais cooperados. “A idéia é prepará-los para a sucessão e conscientizá-los em relação ao futuro da
propriedade, visando mantê-los no campo”, explica o gerente de cooperativismo de eventos da entidade, Marcelo Bergamo.
Políticas públicas para jovem na
agricultura, dando oportunidades de
profissionalização e capacitação, são
iniciativas para fixação no campo
O núcleo é formado por 30 jovens da área de
atuação da Cocamar em diversos municípios e se
reúne uma ou duas vezes por mês para participar
de cursos e palestras. “Queremos mostrar ao jovem que ele não precisa sair do campo em busca
de emprego. Investindo na propriedade, ele pode
ganhar mais do que na cidade”, argumenta. No grupo, há jovens cujos pais cultivam frutas cítricas, inclusive em integração com grãos e café.
24
“Nosso objetivo é diversificar os negócios da
pequena propriedade rural e a laranja para indústria está inserida nesse contexto, assim como a
tangerina, para venda in natura”, observa o gerente,
que considera a integração dessas culturas com o cultivo de café adensado, por exemplo, ou com outras atividades, fundamental para a sobrevivência dos pequenos produtores e para a continuidade do seu negócio.
Segundo Bergamo, a cooperativa também desenvolve um programa para as esposas dos cooperados. “Existe uma preocupação muito grande com
a questão sucessória na atividade rural, pois nem
todos os proprietários estão preparados para transferir o comando das terras aos filhos. Da mesma
forma, é importante que as mulheres e filhos participem mais, pois, em caso de perda do marido, a
atividade sobrevive”, ressalta. Nesse sentido, o Grupo de Mulheres Núcleo Feminino da Cocamar visa
aprimorar o conhecimento das mulheres na administração da propriedade e ajudar a concretizar esse
processo de sucessão.
FORÇA JOVEM
Caroline Manzotte, de 19 anos, faz parte do
Projeto Núcleo Jovem Cocamar. Ela terminou o
colegial e em julho vai prestar vestibular para agronomia. “Quero dar continuidade ao trabalho na propriedade”, diz ela referindo-se ao Sítio Alvorada,
de seis hectares, em Japurá, no noroeste do Paraná,
onde mora e ajuda o pai na colheita de laranja para
indústria. São 4 hectares com a fruta, no total, 14 mil
pés, cuja produção é entregue para a Cocamar. Parte
da área é dedicada à criação de frangos em galpões,
REHAGRO
em sistema de
integração com
uma empresa da
região. O pai tem
outro sítio, onde
cultiva goiaba.
Caroline participa dos encontros mensais do
Projeto Núcleo
Jovem Cocamar.
“Discutimos assuntos da propriedade, oportunidade para os jovens e benefícios
que a Cooperativa pode oferecer
aos cooperados e
aos seus filhos”,
conta a jovem que
depois de formada, quer tocar o sítio, que fica na
zona rural, além de prestar serviço para outras propriedades. Embora na região tenha poucos pomares de laranja, ela pretende se especializar na cultura. “Quero continuar trabalhando junto com meu
pai; gosto do sítio, sempre vivi aqui ao lado da minha família”, argumenta. Pelo menos, por enquanto, o futuro do sítio parece estar nas mãos de
Caroline, que tem duas irmãs mais novas, uma de
17, que pretende fazer odontologia, e uma de 12,
que ainda não definiu sobre o que pretende fazer.
PESQUISA APONTA
PROBLEMAS E SOLUÇÕES
Autor de dois livros e alguns trabalhos sobre
sucessão na agricultura, o engenheiro agrônomo
Milton Luiz Silvestro, da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina), tem acompanhado de perto esse problema no Estado. “Um
terço das 88 mil propriedades familiares do Oeste
Catarinense, num universo de 100 mil famílias, não
tem sucessor, não há nenhum filho morando com
pais, nem moças nem rapazes”, afirma com base
em pesquisa que vem realizando na região desde
1999. “A ausência de um sucessor pode comprometer a atividade”, sentencia.
Segundo ele, algumas propriedades pesquisadas
têm sido transformadas em sítio de lazer, enquanto
outras são vendidas para grandes produtores. Há,
porém, algumas cujos donos continuam na atividade, mas sem perspectiva. O quadro geral, explica,
é de sobrecarga de trabalho, comprometimento do
desempenho econômico, envelhecimento da po-
pulação do campo e de migração juvenil acentuada
de pessoas do sexo feminino, que saem primeiro
em busca de oportunidades na cidade, com predomínio da população masculina no campo. “As mães
estimulam as filhas a construírem o futuro fora da propriedade, até porque o sexo feminino tem pouco espaço nas decisões de gestão; a sucessão é basicamente
estruturada na figura masculina”, diz.
Silvestro conta que no passado os jovens permaneciam na agricultura, hoje, ao contrário, rejeitam a atividade, que consideram penosa e mal remunerada, razão pela qual preferem construir o
futuro fora desse setor.
Embora não tenha conseguido fazer uma
estratificação econômica nas suas pesquisas, o agrônomo constatou que a fruticultura é uma atividade
mais estável do ponto de vista de renda, por ser
menos sujeita aos riscos climáticos e econômicos.
O desafio, em qualquer segmento da agricultura,
na opinião de Silvestro, é definir o mais cedo possível o sucessor e prepará-lo para ser o novo agricultor que vai assumir a propriedade, começando a participar, no dia a dia, das decisões e dos negócios.
Dentro as iniciativas para a fixação do jovem no
campo, o agrônomo aponta a necessidade de políticas públicas para instalação do jovem na agricultura,
dando oportunidades de profissionalização e
capacitação, moradia, acesso à terra e até financiamento
a fundo perdido. Estímulo à participação do jovem nas
decisões da propriedade, criação de espaços para os
jovens discutir os seus anseios, construção de espaços
de lazer e culturais para amenizar as diferenças com o
meio urbano, são outras sugestões de Silvestro.
Caroline
Manzotte
deseja continuar
no campo, ao
contrário da
maioria dos
filhos de
agricultores
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26
AGROINDÚSTRIA
SUCO,
COM PADRÃO
E IDENTIDADE
A padronização é fundamental para se obter uniformidade e
manter as características naturais da fruta nos sucos nacionais, cuja
legislação brasileira é rigorosa e segue parâmetros internacionais.
No Brasil, os sucos de frutas são classificados e
padronizados de acordo com as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa). Para a especificação e a elaboração de
parâmetros de qualidade e identidade, o órgão leva
em consideração as normas técnicas da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Codex
Alimentarius e os padrões internacionais estabelecidos pelo FDA (Food and Drug Administration) americano e a legislação da Comunidade Européia. A
classificação é o ato de qualificar o suco dentro do
padrão de identidade e qualidade que está descrito
no Decreto 2314, de 1997 e seus normativos
complementares, como a Instrução Normativa
Mapa 01/2000, define a diretora do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal
(DIPOV/Mapa), Ângela Peres,
O Mapa é o órgão responsável pelos registros
dos estabelecimentos produtores, importadores e
exportadores. “Controlamos tudo, da produção à
exportação e importação”, afirma Ângela. Todos os
controles são fundamentados no Decreto nº 2.314/
1997, que está em processo de revisão. “Estamos
em uma ampla discussão com os setores envolvidos. Muita coisa mudou, e é necessário fazer a atualização”, observa.
Ângela afirma que os padrões de identidades de
qualidades (PIQs) são complementados pela Instrução Normativa (IN) 01/2000, que estabelece os
parâmetros para vários tipos de sucos de frutas. Há,
ÂNGELA PERES
Beth Pereira
Controlamos tudo, da produção à exportação e importação,
garante Ângela Peres, do Ministério da Agricultura
ainda a IN30/1999, que é relacionada ao Decreto
2314, sobre bebidas dietéticas e de baixa caloria.
Alguns produtos, segundo ela, podem utilizar
aditivos, desde que estejam regulamentados pela
Anvisa, em conjunto com o MAPA . “Para definir
o padrão de identidade e qualidade de qualquer
produto de origem vegetal, é considerada a
legislação da Anvisa e demais órgãos, tais como
27
AGROINDÚSTRIA
o Inmetro e Ministério da Justiça”, enfatiza. “Também fiscalizamos os estabelecimentos que elaboram e industrializam bebidas à base de frutas, segundo a IN05/2000, que estabelece os critérios para
a fabricação em relação às condições higiênico-sanitárias (boas práticas de fabricação)”, explica. A fiscalização é feita de forma rotineira e quando surge
algum tipo de denúncia, havendo autuação dos estabelecimentos, se necessário. Segundo Ângela,
Brasília coordena a execução, sendo que a fiscalização fica a cargo das Superintendências Federais
de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, presentes em cada Estado.
“No Brasil, todas as bebidas são
registradas com denominações
distintas e legais; o problema é como
são vendidas no ponto-de-venda.”
Nina Rosa
RAIM
UND
O M
O
ROR
Ó
“A legislação brasileira é bastante clara com relação à classificação e à padronização de sucos, néctares e polpas. No Brasil, todas as bebidas são
registradas com denominações distintas e legais, o
problema é como são vendidas no ponto-de-venda”, observa a Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Dafruta Indústria e Comércio S/A, Nina
Rosa Morais de Fontes. Segundo Nina, há uma grande confusão com relação à classificação de sucos,
no ponto-de-venda. “Algumas bebidas, classificadas
como energéticas e refresco, são comercializadas
como suco, em alguns supermercados”, diz. Cita,
ainda, a confusão em relação às bebidas em pó,
em cuja embalagem há a informação ‘preparado
sólido para refresco’. “As empresas colocam 1% de
polpa de fruta liofilizada e acabam vendendo esse
conceito”, diz. Segundo ela, a legislação brasileira é
específica. “Sucos concentrados ou prontos para
beber não podem usar nem corante nem aroma artificial”, exemplifica. Enquanto na legislação estrangeira, a classificação se resume a néctar ou 100% suco de frutas
– no Brasil, devido à diversidade dos frutos brasileiros, o suco pronto para beber tem as versões suco adoçado, tropical adoçado e néctar. “O Brasil
28
Raimundo Mororó (Cepec),
até 2000 processamento de
frutas não tinha padrão de
identidade e qualidade
já exporta suco tropical adoçado, que já está contemplado no mercado externo,” observa Nina.
O pesquisador Raimundo Camelo Mororó, chefe da seção de Tecnologia e Engenharia Agrícola do
Cepec (Centro de Pesquisas do Cacau), em Ilhéus
(BA), esclarece que a legislação brasileira é similar à
internacional, com algumas adaptações. “A Anvisa é muito rigorosa em qualidade sanitária, em boas práticas
de fabricação e segue os parâmetros mundiais de produção de alimentos e isso tem dado sustentação à fruticultura, principalmente do produtor pequeno.”
DA BAHIA PARA O BRASIL
Mororó trabalha com a pós-colheita do cacau e
de outros frutos da Mata Atlântica (cajá, jenipapo,
jaca), além de espécies introduzidas na região:
acerola, graviola, cupuaçu, abacaxi, serigüela,
tamarindo, mamão, melão, caju, mangaba e pitanga.
Segundo Mororó, foi na região que surgiu a polpa
de frutas congeladas, de cacau, em 1983. “Um produtor começou a fazer a polpa, a Ceplac encampou
a idéia e desenvolveu, junto com a empresa
Itametal, um equipamento para despolpar o cacau,
sem causar lesão na semente, que continua sendo
o principal produto da planta”, conta. Trata-se de
uma máquina com características apropriadas para
o cacau, velocidade muito baixa, com orifícios da
peneira de 2,3 milímetros.
“Dessa região da Bahia, que é, hoje, uma das
maiores produtoras de graviola no Brasil, a
tecnologia de processamento e congelamento expandiu-se por todo o País, para outras frutas.”
Mororó conta que, até 2000, o processamento de
frutas não tinha Padrão de Identidade e Qualidade
(PIQ). Para a criação do padrão de qualidade de
sucos e polpas, foram consideradas as experiências
de instituições e empresas que trabalhavam nesse
segmento, inclusive as do Cepec. “Com base nesses resultados, a legislação agroalimentar brasileira
padronizou as polpas quanto às características, com
os PIQs, considerando brix e acidez, por exemplo.”
“A padronização é fundamental para se obter uniformidade e manter as características naturais da fruta”, afirma e define como natural o produto que não
recebeu nenhum tipo de aditivo, apenas passou pelo
tratamento térmico. “O próprio congelamento deixa
de ser natural, mas não deixa de ser in natura”, diz.
ÁGUA DE COCO
Como em qualquer suco, na água de coco o
mais importante é manter as características e o padrão de qualidade da fruta, minimizando os efeitos
do processamento. Segundo o engenheiro de alimentos da Embrapa Agroindústria Tropical,
CNPAT EMBRAPA
A água de coco é classificada
como um suco de frutas
ENTENDA O QUE É
Suco - É a bebida não concentrada e não diluída obtida de frutas frescas, sãs e maduras.
Fernando Antonio P. Abreu, a água de coco é classificada como um suco de frutas e seus PIQ’s são
estabelecidos pela Instrução Normativa n o.39, de
29/5/2002. “O processamento da água de coco,
que se baseia nesta instrução e é fiscalizado pelo
Mapa, não afeta os fatores nutricionais do produto
in natura”, observa.
“Até se ocorrerem algumas alterações de natureza
sensorial (sabor e aroma), os nutrientes se mantêm,
mesmo depois de sofrer um processamento térmico,
pois são basicamente minerais e um pouco de açúcares”, explica. De acordo com Abreu, a água de coco
processada é semelhante ao produto in natura e
com as mesmas propriedades nutricionais. “Há algumas, com conservantes, porém dentro de
especificações rígidas e determinadas por órgãos de
responsabilidade na área de saúde humana”, diz.
Segundo Abreu, quando a água de coco está
dentro do fruto não dá para reclamar da acidez, do
sabor, se está doce ou não, no entanto, quando ela
é processada e embalada, o consumidor quer um
padrão de identidade e qualidade do produto.
“O padrão de identidade determina que a água de
coco deve ser levemente adocicada e levemente
salgada”, define. Para manter esse padrão de qualidade e identidade, o pesquisador afirma que a indústria pode fazer a padronização, ou seja, se necessário, adiciona ácidos ou açúcar (frutose comercial, em geral, extraída do milho).
“Na realidade, o que se deseja da água de coco
são os minerais, principalmente o potássio, que atua
fortemente na contração muscular e, com isso, ajuda
em atividades físicas, evitando, por exemplo, as famosas cãimbras. Abreu lembra que o controle de
qualidade dos produtos industrializados é de fundamental importância. “A água de coco possui características de acidez e presença de nutrientes em
proporções adequadas ao crescimento microbiano
muito particulares. Daí o controle de qualidade ser
de extrema importância para se evitarem doenças
do tipo toxinfecções alimentares”, observa. “A quase
ausência de proteínas e lipídeos a torna diferenciada em relação a inúmeras outras bebidas e sucos
de frutas. Um produto sintético dessa natureza pode
até existir, mas o apelo de bebida natural somente
a água de coco pode oferecer”, destaca.
Suco integral – Suco puro, produzido com a fruta, sem
a adição de água e outros ingredientes.
Néctar – É uma bebida à base de fruta, água e açúcar
(30% do produto devem ser compostos da fruta).
Suco tropical – É o suco obtido por meio de frutas
tropicais, geralmente com baixos teores de água (ex:
tamarindo), podendo ser adicionado de água na sua
elaboração. É mais concentrado do que o néctar.
Refresco – É um produto à base de polpa de fruta e água,
com ou sem açúcar. A quantidade de água pode ser maior
e varia conforme a fruta a ser utilizada.
29
TECNOLOGIA
A tangerina sem sementes se mostra cada vez mais uma cultura
com potencial para crescer e competir com as variedades
tradicionais. Com o manejo correto na produção e na póscolheita, o produtor pode agregar valor e seduzir o consumidor.
Carmem Moraes
ROSE MARY PIO/CENTRO DE CITRICULTURA
A tangerina sem sementes é um produto diferencisem sementes”. Ele participa do projeto Tangerina Sem
ado que começa agora a chegar à mesa dos brasileiSementes, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
ros. Por ser produzida com maior atenção quanto à
e recebeu as variedades da fruta por meio da parceria
apresentação e sabor, a fruta conquista o consumidor
com a instituição. “Estamos disponibilizando, em caráexigente. “Beleza é fundamental para se cair na tentater experimental, quatro variedades para plantio semição de comprar”, resume a pesquisadora Rose Mary
comercial, para os produtores que se enquadrarem
Pio, do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, do Insdentro do perfil do projeto”, explica a pesquisadora.
tituto Agronômico, em Cordeirópolis (SP). A fruta, que
O projeto agora está em fase de teste mercadológico
já é consumida em países da Europa, ganhou atenção
e o fruticultor Marques da Silva está colhendo nesse
da equipe coordenada pela pesquisadora Rose, que
ano sua primeira safra, após quatro anos de plantio.
estuda, há 15 anos, técnicas para a produção comerci“As tangerinas sem sementes exigem investimento
al da tangerina sem sementes. Os resultados aplicados
maior do que as demais cultivares cítricas”, alerta a pesdas tecnologias desenvolvidas começaram a ser colhidos
quisadora Rose. Isso acontece porque a presença de
esse ano.
sementes na tangeP r o d u t o r e s Proteção contra ventos (ao fundo) assegura qualidade das frutas
rina depende de
confirmam esse
genética e do ematrativo da tangeprego de tecnorina especial e inlogia. Uma das nevestem no pomar
cessidades é o
para produzir a
plantio de quebrafruta sem semenventos, essencial
tes. Para o frutipara a qualidade
cultor há 30 anos,
da fruta, mas que
João Luiz Maracarreta perda de
ques da Silva, “há
área. Na fazenda
uma tendência
do produtor exismundial na valoritem quebra-ventos
zação das frutas
que evitam a pro30
ROSE MARY PIO/CENTRO DE CITRICULTURA
Rose Mary Pio pesquisa tangerina sem
sementes há 15 anos
dução de sementes nas frutas. “Tomamos os devidos cuidados, para evitar uma polinização por abelhas que estivessem no local”, garante Marques da Silva. “O isolamento desses pomares ou intercalá-los com outras fruteiras ou mesmo aplicar o manejo de podas, evita a
polinização das flores dessas variedades”, assegura Rose.
Esse manejo da polinização e do contato com as
diferentes variedades da tangerina é essencial na hora
de não produzir sementes. “Os cítricos apresentam,
além de uma grande variabilidade com relação à forma, sabores e cores, comportamentos diferentes quando se leva em conta a questão das sementes”, explica
a pesquisadora. As sementes são resultado do cruzamento entre as plantas e existem diversas maneiras dele
ser realizado, pois certas plantas cítricas podem se
autopolinizar, com cruzamento entre plantas idênticas
ou mesmo fecundar a si própria antes mesmo da abertura das flores. Já outras variedades sofrem polinização
cruzada (plantas da mesma espécie ou espécies diferentes) pela ação do vento ou de insetos polinizadores,
principalmente abelhas.
Segundo Rose, existem alguns casos de formação
de frutos que não produzem sementes, como na “au-
sência de estímulo
de reprodução sexual conhecido
como partenocarpia. Outro caso é
a autoincompatibilidade, que existe
em algumas tangerinas, tangelos (híbrido entre uma tangerina e um
pomelo) e tangores (híbrido entre uma tangerina e uma
laranja), que apesar de apresentarem órgãos masculinos (anteras) e femininos (óvulos) funcionais, somente
formam sementes quando polinizadas por outras variedades. Quando há esterilidade, como é o caso da laranja Bahia e da tangerina Satsuma, também não existem sementes, devido a não produção de pólen”.
Outra tecnologia necessária para as tangerinas sem
sementes é a adoção de técnicas de raleio dos frutos
para que adquiram o tamanho adequado para o mercado. “No caso do Brasil, os consumidores gostam de
frutos grandes, assim, a produção é manipulada de acordo com a quantidade de frutos que se deixa na planta”,
afirma a pesquisadora.
31
ROSE MARY PIO/CENTRO DE CITRICULTURA
J.L.M. SILVA
POTENCIAL
PARA CRESCER
Fruticultor João Luiz Marques da Silva, comercialização da tangerina
sem sementes precisa ser diferenciada
PÓS-COLHEITA
Além do cuidado com o plantio, as técnicas empregadas na pós-colheita e na embalagem também devem ser observadas para garantir o diferencial da tangerina sem sementes. “É importante a valorização do
produto na colheita e pós-colheita”, explica o fruticultor pioneiro Marques da Silva. “Uma fruta simplesmente
arrancada da planta apresenta uma vida de prateleira
curta e isso compromete sua venda”, concorda Rose.
Outra ressalva de Rose é quanto a pós-colheita: “a
aplicação da cadeia do frio é essencial para se conservar e disponibilizar, por mais tempo, esse tipo de fruta
para o consumidor”. A atenção com a embalagem do
produto deve ser redobrada. Na opinião de João “a apresentação da fruta também tem que ser diferenciada. Não
podemos colocar essa tangerina em um saco comum de
laranja”. Rose ressalta que “o valor que se paga por essa
variedade chega a triplicar, mesmo quando há oferta da
Ponkan, a preferida dos brasileiros”. Para chegar ao mercado em época de entressafra das tangerinas tradicionais,
a pesquisadora do IAC recomenda “lançar mão da irrigação, para antecipar a florada e, por conseqüência, a colheita, ou usar fitorreguladores para atrasar a colheita”.
O local da lavoura também deve ser bem planejado, para aumentar a qualidade das frutas, “temperaturas mais amenas fazem com que a fruta tenha mais
sabor e coloração”, observa Rose, ela acrescenta que
“nos estudos, ficou bastante clara a aptidão da região
sudoeste de São Paulo para fruta cítrica de mesa”. É
nesta região, no município de Taquarivaí, que está localizada a fazenda de Marques da Silva. “Obviamente
este fato não inviabiliza outras áreas com características similares, mas essa região reúne uma série de fatores, principalmente climáticos que fazem com que a
fruta tenha uma qualidade superior”, ameniza Rose.
Os interessados em participar do projeto do IAC
precisam, necessariamente, ser fruticultores e devem
contatar os técnicos Fernando Alves de Azevedo
([email protected]), José Dagoberto De
Negri ([email protected]) e Rose
Mary Pio ([email protected]), ou o telefone: (19) 3546-1399, no Centro de Citricultura do
Instituto Agronômico.
32
Apesar de ser muito consumida no exterior, “o
brasileiro ainda não se acostumou com a tangerina sem sementes”, problematiza a pesquisadora Rose do IAC. Segundo o economista, Antônio Ambrósio Amaro, isso acontece porque “as
variedades comercializadas no Brasil, hoje, são
poucas e a maioria é importada da Espanha (em
média 600 a 700 toneladas) e do Uruguai (2000
toneladas, em média)”. O produtor de tangerinas sem sementes João Luiz Marques da Silva
criou estratégias para solucionar o problema do
desconhecimento e garantir espaço nas prateleiras. Ele conta que planeja “ações próximas
ao consumidor e junto aos gerentes dos supermercados, onde distribuiremos um material
promocional, faremos degustações e teremos um
espaço diferenciado, para que a população conheça a fruta”.
Para Amaro, apesar da produção nacional estar
começando e não existirem estatísticas, a tangerina sem sementes tem potencial para crescer entre os brasileiros com maior poder aquisitivo, “por ser um artigo de luxo”. “A tangerina sem sementes nunca vai se popularizar, nem
é sua intenção”, acrescenta. O economista explica que essa fruta não encontra competição
no mercado, porque “a Ponkan e a Murcott são
frutas consumidas pelas classes C e D e as variedades sem sementes importadas chegam ao país
entre janeiro e fevereiro e, depois, de setembro a
novembro, épocas de entressafra nacional”.
Já a exportação ainda é futuro para a tangerina
sem sementes brasileira. Para o fruticultor Marques da Silva “é preciso ainda atender às normas de exportação e a cotação atual do dólar
não favorece a venda”, porém não descarta a
possibilidade. Por outro lado, na opinião de
Amaro, “as importações de tangerina sem sementes devem aumentar nesse ano, devido à
queda do dólar”.
MEIO AMBIENTE
DOENÇAS NA
ÁGUA
A água de má qualidade interfere em todo processo produtivo
de frutas e seus efeitos podem chegar até o consumidor. Para
evitar esse transtorno, pesquisadores e produtores criam
alternativas para lavoura mais saudável.
Carmem Moraes
A qualidade da água tem papel fundamental na fruticultura.
Ela é um meio de transmissão de
doenças em todas as etapas do
processo de produção. Por isso,
o produtor deve ficar atento às
contaminações dos mananciais de
água, pois elas podem comprometer a qualidade da água usada
para irrigação e nos procedimentos pós-colheita no packing house.
“A água deve estar adequada às
condições sanitárias para não
transferir contaminantes, de origem física, química e principal-
ARQUIVO PESSOAL
José Euclides Paterniani, da Unicamp, é
especialista em qualidade de água
mente biológica (microrganismos)
às frutas. A utilização de água de
má qualidade na produção de frutas pode prejudicar tanto o seu
desenvolvimento quanto por em
risco a saúde do consumidor, especialmente nos casos de frutas
ingeridas in natura”, explica o pesquisador da Unicamp, José
Euclides Paterniani, especialista
em qualidade da água.
O produtor pode utilizar qualquer fonte de água para a irrigação. Mananciais superficiais (rios,
lagos e reservatórios) tem qualidades distintas de acordo com a
água que recebem, principalmente os rios. Já lagos e reservatórios têm geralmente uma água com
qualidade mais constante e contam com a possibilidade de sedimentação de impurezas, principalmente de origem física. São
mais suscetíveis, porém, à proliferação de algas, se houver uma
contaminação por matéria orgânica. O agricultor deve ter o cuidado de providenciar uma análise, antes de usar a água na sua
propriedade, “para conhecer as
características qualitativas e quantitativas desta fonte”, recomenda
Paterniani. Para ele, “água da tor-
neira é normalmente a de melhor
qualidade, pois passou por processo de tratamento, porém tem
um custo elevado” e a maioria
das propriedades rurais não
tem acesso à água tratada devido
a localização.
CONHECER
PARA USAR
Na zona rural, muitas vezes,
a falta de água tratada e esgoto
canalizado são grandes problemas. Os dejetos humanos são jogados diretamente nas chamadas
“fossas negras”, que não são mais
do que buracos abertos no solo.
Por isso, o manejo da água,
em qualquer cultura, deve ser
feito sempre com muito cuidado,
principalmente no que se refere
à qualidade da água, a fim de evitar ou minimizar qualquer possibilidade de transmissão de doenças vindas de um ambiente externo (água contaminada com esgoto doméstico), bem como no
próprio ambiente de cultivo (contaminação por uma planta doente). “O importante é conhecer
sempre as características qualitativas da água a ser usada e adotar
técnicas de tratamento, desinfec33
ALEUDO COELHO SANTANA
Fossas biodigestoras
protegem de contaminação
os mananciais de água da
propriedade
ção, se for o caso, como forma
de prevenção”, alerta Paterniani.
Segundo ele, lavar uma fruta no
packing house com água contaminada pode comprometer a qualidade final do produto, também
no que diz respeito a sua durabilidade. Além disso, “é sabido que
alguns microrganismos patogênicos de vida aquática podem sobreviver por cerca de trinta dias
em frutas e vegetais, podendo
transmitir doenças ao ser humano, mesmo após passar pelas prateleiras de feiras e supermercados”, acrescenta.
Produtor deve conhecer a
qualidade da água antes
do uso na produção e no
packing house
Se não houver controle, o esgoto não tratado pode resultar na
contaminação do lençol freático
e na transmissão de doenças para
as frutas e legumes e, conseqüentemente, para o ser humano. O
pesquisador da Embrapa, Antônio
Pereira Novaes, preocupado com
esse problema, criou um sistema
chamado fossa séptica biodigestora.
Essa fossa recebe o esgoto, canalizado direto do vaso sanitário e o
transforma em adubo orgânico,
pelo processo de biodigestão.
O produtor que instalar o sistema, composto por quatro caixas d’água interligadas e enterra34
das no solo, precisa apenas depositar esterco de vaca fresco,
diluído em água, uma vez ao
mês.“Esse procedimento garante
que os microorganismos do esterco digiram os restos de alimento das fezes e, desta forma, impeçam a proliferação de doenças,
já que o germe patogênico não
consegue sobreviver e se reproduzir”, explica Novaes. O que
resta deste tratamento pode ser
usado como adubo. “Impede-se,
assim, a contaminação dessa
água, que, se for usada na produção das frutas, pode infectá-las”,
resume Novaes. Com a tecnologia,
o esgoto não é despejado diretamente no solo e, sim, aproveitado,
deixando o lençol freático, as plantações e os poços caseiros livres de
microorganismos indesejados.
EXEMPLO
BEM SUCEDIDO
O manejo que o fruticultor
deve fazer na propriedade precisa atender às suas necessidades
e as da produção. O segredo,
para Paterniani, “é conseguir utilizar a água dentro da propriedade seguindo o princípio da sustentabilidade, ou seja, utilizar água de
forma racional, sem desperdício e
sem poluir ou contaminar com produtos usados durante o manejo”. É
isso o que faz o produtor de
macadâmia, em Jaboticabal (SP),
Aleudo Coelho Santana. Ele foi a
“cobaia” do sistema de fossa séptica biodigestora. “Eu já estava atrás
de uma alternativa para o esgoto da
minha fazenda, quando o pessoal
da Casa da Agricultura sugeriu que
conversasse com o pesquisador
Novaes sobre esse projeto que,
na época, ele estava desenvolvendo na Embrapa”, contou Santana.
O projeto foi instalado em caráter
experimental, em 2001, na Fazendinha Belo Horizonte e, segundo o
produtor, “deu resultados esplêndidos”. Mensalmente, ele coleta 2
mil litros de adubo, que, como ele
ressalta, não tem cheiro. “O pesquisador Novaes conseguiu uma
coisa maravilhosa, transformar um
problema em lucro”, elogia Santana.
Novaes acrescenta que “o
biodigestor produz até 4,5 toneladas de adubo por ano, gerando
uma enorme economia”. A fossa
é uma solução barata, pois o custo para implantação do sistema é
cerca de R$1 mil, segundo dados
do produtor Aleudo. Com ela, é
possível, ao mesmo tempo, ter
saneamento básico na zona rural,
adubo orgânico e efluentes isentos de germes patogênicos para
o homem. Como incentivo, as
Casas da Agricultura do Estado de
São Paulo oferecem financiamento, por meio do Programa Bacias
Hidrográficas da Cati, para os
produtores interessados em instalar a fossa séptica biodigestora
em suas propriedades.
José Euclides Paterninani lembra que há outras formas de contaminar o lençol freático e provocar alterações nas propriedades
físicas do solo, além do esgoto.
Uma delas é utilizar água em excesso, pois “pode lixiviar (lavar)
o solo e retirar desse alguns nutrientes importantes, que são le-
MEIO AMBIENTE
vados às camadas mais profundas
do solo, dificultando a absorção
por parte das plantas. Por isso, as
características do solo devem ser
conhecidas quando se pretende
fazer a irrigação”, esclarece.
Existem técnicas de tratamento de água e técnicas de conservação de mananciais e fontes.
Uma delas, recomendada por especialistas para preservação e
conservação da qualidade da
água, é plantar árvores, de preferência espécies nativas da região, próximas das suas margens,
recompondo a mata ciliar. O produtor Aleudo conta que “há mais
de 35 anos está repondo a Mata
Ciliar de sua fazenda e já se aproxima dos 20% exigidos pela Lei
de Reserva Legal”. Ele acredita
que “o meio ambiente está acima do lucro” e, para ele, “é um
grande prazer poder ver as árvores crescendo”. “Essa prática reduz a erosão das margens de mananciais, bem como o aporte de sedimentos e agroquímicos por meio
de chuvas e água de drenagem de
irrigação”, valorizou Paterniani.
Outra alternativa, sugerida
pelo pesquisador da Unicamp, é
tratar a água usada no packing
house e reutilizá-la, após tratamento adequado, no próprio
procedimento ou em outra atividade dentro da propriedade, reduzindo os custos sobre a água e
os custos indiretos sobre os possíveis danos ambientais.
Apesar de não existir um órgão que fiscalize a qualidade da
água para irrigação, há a fiscalização do produto final feita pelo PIF
(Produção Integrada de Frutas),
juntamente com o Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento e do Inmetro, que tem
como objetivo a produção e obtenção de frutas com técnicas mais
apropriadas e de melhor qualidade
para atender aos mercados cada
vez mais exigentes. Há também indicadores, por meio de parâmetros
qualitativos que, uma vez seguidos,
minimizam os riscos decorrentes do
uso de água de má qualidade. Se
tomados os devidos cuidados, o
produtor terá excelentes resultados,
que, segundo Paterniani seriam: a
“redução dos riscos de entupimento de gotejadores na irrigação localizada; redução das perdas pela
propagação de doenças específicas de cada cultura; redução da
contaminação da cultura irrigada
e/ou lavada no packing house e,
finalmente, a redução dos riscos
à saúde do consumidor”.
35
OPINIÃO
Diversos fatores de produção,
comercialização, marketing, legislações, estruturais e logística são responsáveis pelo modesto resultado da
exportação nacional de frutas, em
torno de 800 mil toneladas ao ano.
A Europa é o principal mercado, com
cerca de 79%. O Chile, com área
produtiva de frutas quase dez vezes
menor, exporta valor superior a 2
bilhões de dólares. A América do
Norte é o principal destino das frutas
chilenas, com 45,2%, seguido da
Europa, com 30,7%. O Brasil, comparado com o Chile, apresenta localização geográfica privilegiada frente aos
grandes mercados, vantagem que pode
ser perdida por problemas logísticos.
ária e redução dos custos. O custo do
transporte marítimo do porto de
Valparaíso (Chile) até Rotterdã
(Holanda) é de cerca de US$5.600 a
US$5.800 por contêiner reefer de 40
pés, para uma viagem entre 18 e 22
dias. O estabelecimento de áreas de
estacionamento de caminhões a 10
quilômetros do porto - os “anteportos”
-, com ampla infra-estrutura de apoio,
tem permitido organizar o fluxo de entrada dos caminhões, reduzindo o tempo de permanência dos navios. O custo operacional de um navio está estimado em torno de US$40 mil por dia,
significando menores custos para o exportador chileno. No Brasil, a lei no.
8.630 permitiu privatizar os serviços de
porão do navio, que é mais barato;
portos com boa logística (os navios esperam 12 horas ou menos para atracar); estradas de fácil acesso aos portos e menor distância entre região de
produção e portos; boas negociações
e preços por comercializar muita fruta
e ser fornecedor confiável.
O transporte aéreo no Chile está
bem organizado. LAN Chile Cargo é a
principal empresa do setor, assessorando clientes sobre embalagens e manuseio da fruta. O aeroporto de Miami,
Vantagem da localização geográfica pode ser perdida por causa da logística
Na logística de transportes, o Chile
conta com rodovias em boas condições
para escoar a produção. A distância
entre as principais áreas de produção
e beneficiamento e os portos chilenos
é significativamente menor do que no
Brasil. O programa de investimentos do
governo chileno prevê a continuação
da modernização, com construção de
novas estradas, para facilitar o comércio internacional. No Brasil, além da
maior distância para alcançar os principais portos, boa parte das estradas está
em condições precárias, o que encarece e dificulta o transporte. No caso
de frutas frescas, altamente perecíveis,
esse fator é essencial.
O transporte marítimo é o principal meio chileno para exportar suas frutas. A transferência da gestão portuária
à iniciativa privada, as mudanças no
modelo de gestão portuária, o estabelecimento da livre competição na estiva
da carga e as melhorias na infra-estrutura dos portos foram responsáveis
pelo aumento da produtividade portu-
36
mobilização e armazenamento de mercadorias e o arrendamento de áreas nos
portos, ganhando eficiência e reduzindo custos, mas devem continuar melhorando, principalmente no setor estatal. O custo do transporte marítimo
entre o porto de Rotterdã e Rio
Grande(RS) ou Pecém(CE) varia, mas
pode alcançar os US$3.500 ou
US$3.200 por contêiner de 40 pés, respectivamente. A viagem desde Suape
(RN) ou Pecém(CE) até Rotterdã dura
entre 10 e 12 dias. É importante que
as melhorias em infra-estrutura nos portos sejam realizadas com urgência (aumento do calado, dragagem periódica
dos canais de acesso, etc), para a entrada de navios maiores. De nada adiantará melhorar instalações nos terminais portuários, se os navios não puderem entrar neles.
A competitividade do Chile, embora com maiores distância e tempo de
viagem, deve-se a diversos fatores, entre eles, maiores escala de produção e
volume de exportação em pallet em
nos Estados Unidos, serve como hub
port para direcionar cargas a outras
regiões do país e Europa. Mas seu uso
tem diminuído devido às melhorias
tecnológicas e de logística no transporte de contêineres marítimos. Aqui, este
modal representa menos de 1% do
volume total de cargas. Seu custo aumentou e a disponibilidade de espaço
diminuiu nos últimos anos. O Chile pretende melhorar ainda mais sua logística,
para transportar com eficiência e a preços competitivos. O trabalho conjunto
entre governo chileno e setor privado
está permitindo aumentar a
competitividade das frutas chilenas. No
Brasil, essa parceria precisa aumentar.
As melhorias em infra-estrutura, principalmente em estradas e portos, devem ser realizadas com urgência, caso
contrário as frutas perderão espaço no
competitivo mercado internacional.
Fernando Flores Cantillano
Pesquisador em Fisiologia e Pós-Colheita
Embrapa Clima Temperado
13 a 16 • 14ª HORTITEC (RBB Promoções & Eventos
e Flortec Consultoria)
Recinto de Exposições de Holambra (Holambra/SP)
Info: RBB Promoções & Eventos (19) 3802-4196
[email protected] • www.hortitec.com.br
18 a 22 • Curso de Treinamento para Técnicos - Produção Integrada
de Maçãs (Embrapa Uva e Vinho)
Jockey Club (Vacaria/RS)
Info: Embrapa Uva e Vinho - Luciana (54) 3455-8086
[email protected] • www.cnpuv.embrapa.br/eventos
internacionais
jun
jun
12 a 14 • FISPAL Tecnologia (Fispal)
Pavilhão de Exposições do Anhembi (São Paulo/SP)
Info: Fispal (11) 5694-2666 • [email protected]
www.fispal.com
13 a 15 • FHC BEIJIMG (Ferias Alimentarias)
China World Trade Center (Bejimg/China)
Info: Irene Salazar - Tereza Rodrigues (54 11) 4555-0195
[email protected] • www.feriasalimentarias.com
09 a 13 • II Congresso Internacional de Fruticultura Tropical (Fundación Gente Productiva)
(Guayaquil/Ecuador)
Info: Fundación Gente Productiva (59 34) 288-0612
[email protected] • www.genteproductiva.org
ago
20 a 23 • FRUTAL Amazônia (Instituto de Desenvolvimento da
Fruticultura e Agroindústria - Frutal)
Hangar de Convenções (Belém/PR)
Info: Frutal (85) 3246-8126 • [email protected] • www.frutal.org.br
03 a 07 • AGRISHOW Semi-Árido 2007 (Abimaq, Abag, Anda, SRB
e Governo do Estado de Pernambuco)
Pavilhão Petrolina, Unidade da Embrapa (Petrolina/PE)
Info: Organização Agrishow (11) 5591-6300 • [email protected]
www.agrishow.com.br
18 a 21 • FENAGRI 2007 (Prefeitura Municipal de
Juazeiro)
Orla Nova (Juazeiro/BA)
Info: Fenagri 2007 (74) 3612-3056 • [email protected]
www.fenagri2007.com
18 a 21 • World Food Moscow (Ferias Alimentarias)
Zao Expocenter (Moscou/Russia)
Info: Irene Salazar (54 11) 4555-0195
[email protected] • www.world-food.ru
12 a 15 • PMA – Fresh Summit (IBRAF)
George R. Brown Convention Center
(Estados Unidos/Texas)
Info: Paulo Passos (55 11) 3223-8766
[email protected] • www.anuga.com
out
ago
28 a 30 • IX Seminário Brasileiro de Produção Integrada de Frutas
(Embrapa Uva e Vinho)
Hotel Dall Onder (Bento Gonçalves/RS)
Info: Embrapa Uva e Vinho (54) 3455-8000
[email protected] • www.cnpuv.embrapa.br/eventos/pif2007
22 a 25 • Simposio Internacional de la Uva de Mesa
(Inform@cción)
Hotel Las Dunas (Miraflores/Peru)
Info: Sandra Maldonado (555 11) 241-5192
[email protected] • www.informaccion.com
19 a 21 • Latin America Food Show(Ferias Alimentarias)
Cancúm Center (Cancun/México)
Info: Irene Salazar (54 11) 4555-0195
[email protected] • www.lafs.com.mx
24 a 26 • X ENFRUTE (EPAGRI, UNC, EMBRAPA, Prefeitura de
Fraiburgo)
Parque da Maçã (Fraiburgo/SC)
Info: Carlos Leomar Kreuz (49) 3561-2000 / 9981-2500
[email protected] • www.epagri.rct-sc.br
02 a 05 • V AGRIFAM (FETAESP - Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado de São Paulo )
TETRESP - Inst. Téc. e Educacional p/ Trabalhadores Rurais (Agudos/SP)
Info: Fetaesp (11) 3826.8900 • [email protected]
www.agrifam.com.br
22 a 25 • FHM 2007 (Overseas Exhibition Service)
Kuala Lumpur Convention Center (Kuala Lumpur/Malásia)
Info: Alexandra Hellyer 44 (0) 20 7840 2143
[email protected] • www.foodandhotel.com
05 a 07 • Asia Fruitlogistica (Camara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha)
Centro de Exposições de Bangcoc (Bangkok/Tailândia)
Info: Dinah Worisch Mazzo (11) 5187-5213
[email protected] • www.asiafruitlogistica.com
set
jul
05 e 06 • Mini Curso sobre Moscas-das-Frutas (Inst. Biológico / APTA)
Centro Experimental Central do Instituto Biológico (Campinas/SP)
Info: Adalton Raga (19) 3252-8342 • [email protected]
www.biologico.sp.gov.br
12 e 13 • ETECPONKAN 2007 (Prefeitura Municipal de Teresópolis
e VersãoBR Comunicação e Marketing)
Parque Municipal de Exposições(Teresópolis/RJ)
Info: Cecilia Ghiraldelli (16) 3623-8861
[email protected] • www.etecponkan.com.br
10 a 13 • FRUTAL (Instituto de Desenvolvimento
da Fruticultura e Agroindústria)
Centro de Convenções de Fortaleza (Fortaleza/CE)
Info: Instituto Frutal (85) 3246.8126 • [email protected]
www.frutal.org.br
jul
nacionais
set
AGENDA
13 a 17 • ANUGA (IBRAF)
Koelnmesse (Colônia/Alemanha)
Info: Paulo Passos (55 11) 3223-8766
[email protected] • www.anuga.com
21 e 22 • World Fruit & Vegetable Show (International Trade
Publications)
Excel Exhibition Center (Londres/Inglaterra)
Info: I.T.P. (44 17) 2485-0095 • [email protected]
www.wfmshow.com
37
EVENTOS
Produtores integrantes do projeto
Fruta Paulista conheceram de
perto as novidades do exigente
mercado consumidor europeu,
trazendo bons negócios na
bagagem de volta.
Luciana Pacheco
Fotos Ibraf
38
Oportunidade em negociar com compradores estrangeiros, novas tecnologias, inovação em embalagens, exigências do mercado europeu e novas tendências em fitossanidade foram alguns temas que 29
produtores rurais do Estado de São Paulo, a empresa Newtrade, a Associação das Indústrias
Processadoras de Frutas Tropicais –(ASTN) e a Associação dos Produtores e Exportadores de Limão
(ABPEL) conferiram durante a participação na 24º
edição da Macfrut, feira internacional realizada em
Cesena, na Itália, de 26 a 28 de abril. Os participantes realizaram 171 contatos durante o evento, o que
proporcionou a geração de US$4 milhões em negócios e previsão para mais US$5,7 milhões nos próximos 12 meses. Com isso, as empresas esperam gerar mais 126 novos postos de trabalho.
Esta foi a primeira ação internacional do Projeto
Fruta Paulista, realizado pelo Instituto Brasileiro de
Frutas (Ibraf), em parceria com o Sebrae-SP, com apoio
da Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e
Investimentos). Conforme Maurício de Sá Ferraz, gerente
da Central de Serviços de Exportação e coordenador do
projeto, “muitos dos produtores, que foram à feira, não
conheciam o mercado internacional. A ação foi
enriquecedora, pois eles puderam saber as exigências
do mercado, direto do comprador, e conhecer as
tecnologias disponíveis na Europa e no mundo”. Também foram realizadas visitas técnicas à produção de frutas temperadas, onde tiveram a oportunidade de conhecer o sistema de produção na Itália; a uma cooperativa
de produtores e distribuidores, para analisar o processo
de distribuição utilizado e a importância do
cooperativismo. Visitaram o mercado hortifrutícola
(Ceasa), onde conferiram como as frutas são
comercializadas, embaladas e acondicionadas: e verificaram ainda a participação das frutas brasileiras como: limão tahiti, manga e papaya neste canal de distribuição.
Segundo Renato Leme, representante da Cooperativa Agroindustrial Holambra, “nos mercados municipais
visitados, existe uma estrutura de apoio à comercialização,
com organização, limpeza e programas que viabilizam a
comercialização realizada por produtores rurais”. Leme
constatou que “a exigência do consumidor europeu está
muito atrelada à apresentação do produto, sua qualidade aparente, sabor e higiene”. Durante a feira, observou
a presença de empresas capacitadas a oferecer produtos
de qualidade elevada, embalagens práticas e resistentes,
além de equipamentos para processamento pós-colheita. Lourenço Nyssen, diretor da Associação de
Horticultores de Itapetininga e Região, também ficou
impressionado com a qualidade da apresentação
do produto final, utilizando embalagens bem feitas,
caixas coloridas, selos, etiquetas, rótulos, recursos
para causar uma boa impressão ao consumidor e diferenciar a marca.
Os negócios não foram efetivados no momento da
feira, mas Leme afirma que foram feitos contatos com
prováveis representantes comercias e pesquisadores do
mercado europeu para identificar oportunidades de
negócios futuros, conforme explica “para exportarmos
nossos produtos, é necessário identificar janelas de
oferta, onde seja entressafra para o atacadista europeu”.
Para Nyssen, os resultados foram positivos “fizemos
contato com compradores da Itália e Rússia, vamos
enviar algumas amostras e esperamos efetivar negócio
até o próximo ano”.
Produtores do projeto Fruta Paulista conheceram
as tendências do mercado frutícola na Macfrut
Integrantes da comitiva brasileira visitaram
mercado hortifrutícola
Apresentação das frutas é fator importante
para consumidor europeu
TENDÊNCIAS E TECNOLOGIA
Máquinas e equipamentos italianos já possuem uma
tradição mundial em termos de tecnologia e qualidade a
Macfrut apresentou num pavilhão exclusivo para a exposição de novidades nesta área. Reginaldo Vicentim, direEstande brasileiro na Macfrut: oportunidades de
negócio para fruticultura nacional39
EVENTOS
tor da Coagrosol – cooperativa de produtores em
Itápolis(SP), identificou novas tecnologias em equipamentos mais acessíveis, que, há poucos anos, seria
inviável para empresas menores. Novas tendências de
mercado também foram analisadas por Vicentim: “as
visitas técnicas foram muito interessantes para conhecer o formato de trabalho das frutas, no atacado e varejo, e as novas tendências de comercialização na Europa”. O diretor fez vários contatos com importadores da Itália e espera realizar negócios em breve.
MERCADO ITALIANO
A Itália, apesar de possuir uma produção de 5,8 milhões de toneladas de frutas, conforme dados divulgados pela Cesena Fiera - organizadora da Macfrut, ainda
precisa importar 1,4 milhões de toneladas (2006), sendo
mais da metade de frutas tropicais. O consumo familiar de
frutas, em 2006, foi de 207 quilos, um aumento de 2,7%
comparando com o ano anterior (202 quilos) e representou um gasto médio de 275,9 euros, 5,6% a mais do que
em 2005, cujo gasto foi de 262,3 euros.
SUCOS, inovação para consumo
O mercado de sucos da América Latina e as tendências
mundiais para o setor foram apresentados durante o
Juice Latin América, congresso que reuniu cerca de cem
executivos do Brasil e de países como Argentina, Chile,
Costa Rica, Espanha, Egito, Honduras, Jamaica, México, Rússia, Inglaterra, Estados Unidos e Uruguai. Atualmente, o mercado global de sucos e néctares movimenta 37,2 bilhões de litros e a América Latina participa com 2 bilhões, conforme dados da Canadean, apresentados por Axel Reinhardt, da empresa Dohler América Latina.
Vários palestrantes atentaram para a inovação para aumentar o consumo de sucos e bebidas, principalmente
em mercados tradicionais como Europa e Estados Unidos. A tendência para estes países é o aumento da demanda por matérias primas saborosas e nutricionais,
tais como as funcionais, fortificados, de frutas exóticas, energéticos, etc. Jeanette Bengtsson, gerente do
departamento de bebidas não alcoólicas do Euromonitor,
aponta, também, para o “marketing de objetivo” como uma
nova tendência. Ou seja, agregar valor ao produto estabelecendo alguma função, por exemplo: combate ao colesterol,
energético (com ginseng), combate a gripe (vitamina C),
estratégia que já vem sendo adotada por algumas empresas com bons resultados.
Para os países emergentes, a demanda tende a crescer.
De acordo com a previsão do Euromonitor, até 2011
haverá um crescimento substancial, principalmente, na
Ásia (7,7%), Leste Europeu (5,7%), África e Mediterrâneo (6,2%) e América Latina (5,7%).
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Rússia e China
A Rússia possui 144 milhões de habitantes, que vem
demandando cada vez mais sucos, devido à abertura de
mercado. Em 2000, foram consumidos 915 milhões de
litros; já em 2006 foram 2,5 bilhões, representando um
crescimento de 180% em 6 anos. A previsão de consumo para até 2010 será de 3,5 bilhões, segundo dados
da Key Factors, empresa de consultoria do mercado russo.
A média de consumo russo per capita por ano é de 16
litros, cujo valor salta para 50 litros na capital Moscou. A preferência de sabor é por maçã, seguido por
laranja, pêssego, uva e abacaxi. Os principais países
supridores são China, Holanda, Bélgica, Israel e Brasil.
Conforme Dirk Kappes, representante da Key Factors,
“a Rússia depende muito de importação e, atualmente,
a América Latina possuiu uma pequena participação,
como supridor de matéria prima”. Para ele, “ainda há
grandes oportunidades e o momento é agora, pois a
expectativa é de crescimento de 8% ao ano, nos próximos 3 anos”.
A China, com uma população de 1,3 bilhão, também é
considerado um mercado interessante. O consumo atual de sucos na China é de apenas 1 litro por pessoa,
segundo dados do China Beverage. A tendência é de
aumento da demanda devido a uma maior consciência de
vida saudável entre os chineses, além do crescimento da
renda familiar. Segundo a instituição, nos últimos 3 anos,
já houve crescimento de 30% no consumo e o cenário
deve continuar nos próximos anos.
ARTIGO TÉCNICO
A doença fúngica exige controle rigoroso para evitar
prejuízos aos produtores, que destinam sua produção para
processamento industrial, ao mercado nacional de frutas
frescas e para exportação aos países da União Européia.
Fotos Eduardo Feichtenberger/Instituto Biológico
O Estado de São Paulo responde por cerca de
80% da produção nacional dos citros, que está
ameaçada por vários problemas fitossanitários. Dentre as doenças fúngicas relatadas, a mancha preta
ou pinta preta é hoje a que mais prejuízos causa à
citricultura paulista. Os frutos afetados, em geral,
caem prematuramente, reduzindo a produtividade
das plantas. Em ataques severos, perdas de até 80%
já foram observadas. Frutos com sintomas da doença são muito depreciados no mercado nacional de
fruta fresca e são impróprios para exportação. As
perdas são maiores em limoeiros verdadeiros,
tangoreiros ‘Murcott’, mexiriqueira ‘Rio’ e
‘Montenegrina’, algumas tangerineiras e laranjeiras
doces, principalmente as de maturação tardia, como
‘Valência’, ‘Natal’, e ‘Folha Murcha’. A doença nunca foi encontrada em lima ácida Tahiti. A pinta preta já
foi relatada no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São
Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, Santa Catarina, Amazonas e Paraná. Plantas velhas e estressadas são as mais afetadas.
RESTRINGINDO EXPORTAÇÕES
A pinta preta tem restringido as exportações de
frutas cítricas brasileiras, principalmente quando
destinadas ao mercado europeu. A doença é considerada quarentenária A1 na União Européia (UE),
por não estar ainda presente em seus países membros. A tolerância em relação a frutos cítricos importados por esses países é zero. A detecção da
doença em um único fruto acarreta o rechaço de
toda a partida, que fica impedida de desembarque.
Pesquisador Eduardo Feichtenberger, pinta preta
dos citros afeta comercialização
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e os órgãos estaduais de Defesa
Agropecuária estabeleceram um programa de manejo de risco da doença para atender as exigências
dos países importadores europeus. Entre as medidas, está a exigência de cadastramento dos produtores, das unidades de produção (UP) e das casas
de embalagem. As UPs (pomares cadastrados para
a exportação) devem estar sob acompanhamento
oficial para assegurar que não apresentam a doença. Inspeções de campo são feitas nas UPs durante
41
ARTIGO TÉCNICO
SINTOMAS DA DOENÇA
Lesões de pinta preta em fruto de laranjeira Natal
Pinta preta prejudica qualidade de citros
todo o ciclo de produção. Quando a doença é detectada, a UP contaminada é excluída do processo
de exportação. Caso não seja detectada nas inspeções de campo, frutos são amostrados na pré-colheita, em 1% das plantas (1 fruto/planta), e as amostras são encaminhadas a laboratórios oficiais para
realização do teste de indução de sintomas da doença. O teste visa detectar a presença do fungo causador da doença em frutos que, embora infectados, ainda não apresentam os sintomas, pois o período de incubação da pinta preta pode ser muito elevado. Se o
resultado do teste for positivo, a UP correspondente é
também excluída do processo de exportação.
A Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de
Sorocaba, do Instituto Biológico, realiza, desde
2005, o teste de indução de sintomas da pinta preta em frutos amostrados em pomares cadastrados
para a exportação. Nos dois últimos anos, a instituição realizou teste em 16.798 frutos cítricos,
amostrados em 374 unidades de produção.
42
A pinta preta, ou mancha preta dos citros, ou
“careta”, afeta folhas, pecíolos, ramos, espinhos,
pedúnculos e, principalmente, frutos. O período de
incubação da doença, ou seja, o período entre a
infecção e a manifestação dos sintomas, é, em geral, longo, podendo, em algumas condições, ser
superior a um ano. A manifestação dos sintomas é
favorecida pela radiação solar combinada com altas
temperaturas. Portanto, os frutos mais expostos ao
sol são mais severamente afetados.
Em frutos, seis tipos principais de lesões, com
denominações diferentes, podem ocorrer:
1) manchas duras: são as mais comuns e típicas
da doença; em geral, aparecem no início da
maturação. Em frutos verdes, um halo amarelado aparece circundando as lesões. Em frutos
maduros, um halo verde aparece ao redor das
lesões, que apresentam o centro deprimido de
cor marrom-claro ou cinza-escuro, os bordos
salientes de coloração marrom-escura pequenas pontuações negras no centro;
2) manchas de falsa melanose: são lesões muito
pequenas, escuras lisas e numerosas, que em geral aparecem quando os frutos estão ainda verdes;
3) manchas trincadas: são lesões superficiais, escuras, de diferentes tamanhos e bordas não bem
definidas, que aparecem quando os frutos ainda
estão verdes, e, ao envelhecerem, formam trincas na sua superfície. Essas lesões aparecem sempre associadas ao ácaro da falsa ferrugem;
4) manchas rendilhadas: são lesões superficiais, de
bordos não bem definidos, coloração alaranjada
com o centro amarelo-marrom a marrom-escuro,
que podem tomar grandes áreas da superfície do
fruto, e em geral ocorrem em frutos verdes;
5) manchas sardentas: são lesões levemente deprimidas e avermelhadas, que em geral aparecem em frutos maduros ou frutos já colhidos.
Podem unir-se formando grandes lesões ou permanecerem pequenas e individualizadas. Sua
ocorrência é maior em frutos colhidos armazenados em temperaturas acima de 20°C;
6) manchas virulentas: lesões que em geral se
desenvolvem no final da safra, quando os frutos já
estão maduros e as temperaturas são elevadas. Resultam do crescimento ou união de lesões dos tipos mancha dura e falsa melanose, dando origem
a grandes lesões deprimidas de centro acinzentado
e bordos salientes de coloração marrom-escuro ou
vermelho-escuro. No centro dessas lesões também aparecem pontuações escuras. A casca do fruto
pode ficar completamente necrosada na área
lesionada, mas sua parte interna não é afetada.
ARTIGO TÉCNICO
Os sintomas em folhas, ramos e espinhos são
muito raros. As lesões nesses órgãos são muito semelhantes às do tipo manchas duras em frutos, apresentando o centro necrótico deprimido de cor cinza, os bordos salientes marrom-escuro, um halo
amarelado ao redor das lesões e frutificações
(picnídios) do fungo no centro das lesões.
O AGENTE CAUSAL
Guignardia citricarpa (Phyllosticta citricarpa) é o
fungo agente causal da pinta preta. Ele é específico
de plantas cítricas, podendo infectar vários órgãos
da planta. O fungo pode frutificar produzindo
esporos (unidades reprodutivas) sexuais denominados ascósporos, considerados os mais importantes
na epidemiologia da doença. Esses esporos somen-
te são produzidos em folhas infectadas em decomposição e são disseminados pelo vento.
O fungo também pode produzir esporos
assexuais denominados picnidiósporos, em lesões
de ramos, espinhos, pedúnculos, frutos e folhas vivas da planta, e também em folhas mortas em decomposição. Esses esporos somente são disseminados a curtas distâncias pela ação da água, principalmente por respingos de água. Nas nossas condições, os picnidiósporos constituem-se em importante fonte adicional de inóculo.
Eduardo Feichtenberger
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Científico
Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Sorocaba
Instituto Biológico
Tel (15) 3227-1200 • [email protected]
Controle da Pinta Preta
As medidas de controle de pinta preta devem levar em
consideração o período de suscetibilidade dos frutos, as
fontes de inóculo do fungo agente causal e as condições
ambientais. Os frutos são suscetíveis até cerca de cinco
meses após a queda das pétalas das flores. As principais
medidas de controle incluem:
a) utilizar mudas livres da doença nos plantios e
replantios, principalmente em locais onde a doença
não foi ainda constatada;
b) em áreas onde a ocorrência da doença é recente,
remover e queimar os órgãos infectados das plantas
durante o outono-inverno, antes do início do florescimento
das plantas, para reduzir as fontes de inóculo;
c) controlar o mato das linhas de plantio com herbicidas
pós-emergentes, e o mato das ruas com roçadeiras, de
modo a produzir cobertura morta (“mulching”) sobre as
folhas caídas ao solo na área de projeção da copa das
plantas, antes do início do florescimento destas, para
reduzir a produção e a dispersão de esporos do fungo nas
folhas em decomposição sobre a superfície do solo;
d) eliminar plantas em estado de depauperamento
avançado do pomar;
e) manter as plantas em boas condições de nutrição e
sanidade;
f) pulverizar as plantas com fungicidas para a proteção dos
frutos durante o seu período de maior suscetibilidade.
Fungicidas dos grupos benzimidazóis (carbendazim e
tiofanato metílico), estrobilurinas (pyraclostrobin,
azoxystrobin e trifloxystrobin), ditiocarbamatos (mancozeb
e propineb) e produtos à base de cobre (oxicloreto de cobre,
hidróxido de cobre, óxido cuproso e sulftato de cobre na
forma de calda bordalesa) estão registrados e são usados
com sucesso no controle da doença.
O controle químico da pinta preta pode variar em função
do destino da produção. Quando destina-se ao
processamento industrial, o controle pode ser realizado
com um número menor de pulverizações, pois o aspecto
externo dos frutos não é tão importante. O controle deve
ser iniciado logo após a queda das pétalas das flores e o
número de aplicações pode variar em função do histórico
da doença na área, das condições climáticas prevalecentes
durante o período de desenvolvimento do fruto, da
suscetibilidade do hospedeiro, e do nível de controle
requerido. Em pomares para exportação ou para o mercado
interno de frutas frescas, os produtos à base de cobre em
mistura com óleo podem ser usados somente nas primeiras
pulverizações. A restrição ao uso desses fungicidas nas
pulverizações subsequentes deve-se ao fato dos mesmos
poderem provocar fitotoxicidade aos frutos, e também por
eles tornarem mais evidentes manchas, lesões e injúrias
provocadas por outras causas, bióticas ou abióticas. Nas
demais pulverizações, recomenda-se utilizar benzimidazóis
ou estrobilurinas misturadas com óleo emulsionável.
Contudo, como o uso continuado e inadequado desses
fungicidas pode provocar o desenvolvimento de resistência
do fungo aos produtos, recomenda-se não realizar mais
do que duas pulverizações por safra com fungicidas de
mesmo grupo químico. Recomenda-se, também, que esses
fungicidas sejam utilizados alternadamente, ou em
misturas com produtos de contacto que apresentem baixo
risco de desenvolvimento de resistência pelo fungo, como
os ditiocarbamatos.
artigos técnicos podem ser enviados para [email protected]
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CAMPO & CULTURA
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FRUTAS DO
CERRADO
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A publicação “Frutas do
Cerrado” enfoca 58 espécies
de fruteiras nativas do
Cerrado, com informações
sobre a coleta de frutos e
sementes, formação de
mudas e plantio, além de
receitas para mostrar o
aproveitamento alimentar e agroindustrial destas frutas.
O livro é fruto do trabalho de pesquisadores da Embrapa
Cerrados, preocupados com a extinção da flora nativa do
Cerrado brasileiro. Os dados foram coletados junto às
comunidades rurais e indígenas da região, quando os autores
descobriram que muitas frutas são de vital importância regional.
De posse dos dados, avaliaram, então, o potencial econômico
destas frutas e desenvolveram técnicas de produção para garantir
a sobrevivência e perpetuação das espécies.
A obra é dividida em três grandes partes: Ambiente e Técnicas
de Produção, Fichas das Fruteiras do Cerrado e Receitas para
Aproveitamento das Frutas Nativas do Cerrado, além de fotos e
informações técnicas sobre produção de mudas e plantio.
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Autores: Dijalma B. da Silva, José A. da Silva, Nilton T. V.
Junqueira e Leide R. M.de Andrade.
Editora: Embrapa
Informações: a compra dos livros pode ser feita através do
site da Livraria Virtual da Embrapa: www.sct.embrapa.br/liv,
ou entre em contato com a Embrapa Informação Tecnológica
– Setor de Marketing & Comercialização pelos telefones
(61)3340-9999, (61)3448-4236, fax (61)3340-2753 ou
e-mail: [email protected]
Preço: 42,00
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Coordenador: Marcos Fava Neves
Autores: Vários
Editora: Atlas
Informações: e-mail: [email protected]
Site: www.editoraatlas.com.br
Telefone: 0800-171944
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O Brasil ocupa, hoje, a posição
de líder mundial na produção e
exportação em diversas cadeias
produtivas, com espetacular
capacidade de expansão de
maneira
sustentável
da
produção nacional. Para
ressaltar esta realidade, foi
desenvolvido o livro Agronegócios e Desenvolvimento
Sustentável, uma coletânea com 17 artigos, retratando a
visão do agronegócio, por meio de conceitos e exemplos,
que comprovam a perspectiva confiante e oportunidades
de desenvolvimento para o País no setor de maior
competitividade nacional. Traz um conjunto de assuntos
fundamentais na combinação de desenvolvimento, gestão,
modernidade, com desenvolvimento local e distribuição de
renda. Os temas constatam o cenário do ambiente mundial
da produção de alimentos, fibras e bioenergia e propõem
idéias e futuros projetos para o planejamento e a gestão
estratégica do agronegócio brasileiro.
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AGRONEGÓCIOS E
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
ABACAXI 500 PERGUNTAS 500 RESPOSTAS
Assuntos relacionados ao abacaxi estão na Coleção 500-Perguntas 500-Respostas da Embrapa Mandioca
e Fruticultura. Estruturado na forma de perguntas e respostas, para orientar os abacaxicultores e
profissionais da área, o livro sana as principais e diversas dúvidas sobre a cultura do abacaxi.
A publicação está dividida em 16 capítulos com 500 perguntas feitas por diversos produtores e é
resultado de mais de três décadas de pesquisa no agronegócio do abacaxi. O livro-consulta abrange
o que existe de mais atual no manejo do abacaxizeiro, analisando os aspectos climáticos, solos,
adubação, controle de plantas infestantes, irrigação, melhoramento genético de cultivares, controle
da época de produção, fitossanidade, colheita e pós-colheita/aproveitamento industrial, exploração
da soca, finalizando com rendimentos e comercialização.
Editores Técnicos: Getúlio Augusto Pinto da Cunha, Nilton Fritzons Sanches e Valdique Martins Medina.
Autores: Vários
Editora: Embrapa
Informações: a compra dos livros pode ser feita através do site da Livraria Virtual da Embrapa:
www.sct.embrapa.br/liv, ou entre em contato com a Embrapa Informação Tecnológica – Setor de
Marketing & Comercialização pelos telefones (61)3340-9999, (61)3448-4236, fax (61)3340-2753
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Preço: 25,00
PRODUTOS E SERVIÇOS
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FRUTA NA MESA
Carmem Moraes
Com aspecto rústico, aromático e sabor adocicado, o abacaxi é fruto da América. “Estudos consideram a planta originária das zonas central e sul do Brasil, do
nordeste da Argentina e do Paraguai,
onde índios Guaranis teriam difundido a
fruta, em suas incursões no Brasil,
Guianas, Venezuela, Colômbia, Paraguai,
Panamá e Antilhas”, conta o pesquisador
da Embrapa, José Renato Cabral. A Amazônia também é apontada como terra de
origem da fruta, por ser o local onde há
mais variedades. O primeiro relato histórico do abacaxi é de Cristóvão Colombo, que
teria recebido a fruta de índios, em sinal de
boas-vindas à América.
O abacaxi pode ser aproveitado desde a polpa até a casca, segundo a
nutricionista e professora da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas
(Puccamp), Lia Thieme Oikawa
Zangirolani. “A polpa pode ser usada para
sucos, sobremesa, saladas e a casca para
fazer chá”, explica. Pertencente ao grupo das frutas ácidas, é fonte de vitamina
C e rico em manganês, mineral que ajuda a combater problemas ósseos. Possui
fibras, que regulam o funcionamento intestinal e eliminam toxinas do organismo.
Essas fibras, segundo ela, previnem arteriosclerose e obstrução vascular. “Estudos dizem que o abacaxi previne até tumores”, acrescenta.
Diabéticos podem consumir a fruta
por possuir um baixo teor glicêmico, o que
significa “que o organismo absorve o açúcar
da fruta mais lentamente”, esclarece Lia.
Aqueles que estão em dieta, podem aproveitar o abacaxi também, pois quando ingerido após as refeições, produz uma sensação de maior saciedade.
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RECEITAS DO PRODUTOR
SHOJI KORIN
COMPOTA DE ABACAXI
Ingredientes: 1 quilo de abacaxi, 400g de açúcar (ou a gosto), 1
xícara de água.
Modo de preparo: Escolher abacaxi maduro e firme. Lavar,
descascar e cortar em rodelas, tirando miolo e nódulos. Levar ao
fogo. Ferver até ficar firme e brilhante. Depois de pronta, colocar
a compota em vidros quentes, esterelizados, até um centímento
abaixo da borda. Fazer rapidamente para não esfriar o doce. Introduzir espátula ou faca esterilizada para fazer desaparecer as
bolhas de ar. Juntar mais calda, se necessário. Limpar a borda do
vidro e fechar hermeticamente. Levar ao banho-maria por 20
minutos. Retirar os vidros, colocar sobre mesa de madeira e
etiquetar. Guardar em lugar fresco por até 6 meses. Se não for
armazenar, guardar em compoteira na geladeira.
GELÉIA DE ABACAXI
Ingredientes: 1 quilo de abacaxi, 500g de açúcar, 4 colheres
(sopa) de suco de limão, 2 colheres (sopa) de folhas de hortelã,
lavadas e picadas.
Modo de preparo: Escolher abacaxis maduros, lavar,descascar e
cortar. Triturar os pedaços no liquidificador. Levar ao fogo até o ponto
de fervura. Juntar o açúcar e o limão, mexendo até cozinhar em ponto de geléia. Juntar a hortelã. Guardar em vidros previamente esterilizados ainda quentes, colocando a geléia ainda quente.
Shoji Korin é produtor e presidente da Associação de Produtores de Abacaxi
de Guaraçaí (SP). Ele cultiva abacaxi há 30 anos, na fazenda onde nasceu. O
clima tropical e o solo arenoso de Guaraçaí favorecem o cultivo, o que levou a
cidade à liderança em produção da fruta no Estado. Ele conta que “o abacaxi
gera emprego o ano inteiro, pois produz o ano todo”. Outra vantagem, para
ele, é ser “uma planta rústica, de fácil manuseio, mais difícil de estragar”.
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