Edição 52 - Superpedido Tecmedd

Transcrição

Edição 52 - Superpedido Tecmedd
A ciência a serviço da saúde
O preparador físico Marcio Atalla e a nutricionista Desire Coelho mostram que é possível ter
uma vida saudável sem terrorismo – e ensinam, no livro A dieta ideal, como chegar lá
Editorial
Editorial
Editorial
Sucesso sem legendas
Cinquenta tons de cinza, A culpa é das estrelas,
O senhor dos anéis, O código Da Vinci e suas
continuações – inclua-se aí Inferno, que terá
novamente Tom Hanks no papel de Robert
Langdon e deve ser lançado em 2016... Alguns
dos grandes blockbusters recentes de Hollywood
são adaptações de livros de sucesso. Obviamente,
essa não é nenhuma novidade – os estúdios norteamericanos há muito perceberam esse filão.
A questão aqui é se perguntar se a indústria
cinematográfica brasileira também não deveria
dedicar também um olhar mais generoso para a
literatura nacional. Claro, filmes oriundos de obras
como Cidade de Deus, Elite da Tropa, Nunca houve
um homem como Heleno e, mais recentemente,
Confissões de adolescente já fizeram bonito nas
bilheterias. Ainda assim, a sensação é de que o
potencial segue pouco aproveitado – especialmente
entre os mais jovens.
Por isso, a notícia da filmagem de O escaravelho
do diabo é auspiciosa. Divulgada com a força do
cinema, a trama de Lúcia Machado de Almeida
certamente fisgará multidões – e abrirá caminho
para outros best-sellers de nossa poderosa literatura
infanto-juvenil ampliarem ainda mais seu público.
Que tal ver os Irmãos Encrenca, de Stella Carr, na
telona? Ou os Karas, de Pedro Bandeira? Sem falar
nos livros de Marcos Rey, João Carlos Marinho... A
lista é grande, e sabemos que os jovens heróis da
literatura brasileira em nada ficam a dever à turma
de Harry Potter, Crepúsculo ou Jogos Vorazes.
Enfim, enquanto isso não acontece, que tal reler
esse clássicos?
Celso de Campos Jr.
Editor
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Superpedido
São Paulo
11 3505-9788
pág. 2
Cartas
Sou leitor de Guerra dos Tronos e admirador do trabalho
de George Martin. Muito interessante a entrevista com
ele publicada na edição 51. Não tinha ideia que ele era
assim uma figuraça! Aliás, Martin, que tal acelerar o
próximo livro? Um abraço a todos.
Ricardo Alves Beltrão
São Paulo-SP
O artigo de Julio Ribeiro sobre marketing de atitude
devia ser lido por todos os profissionais do mercado
livreiro. Continuem trazendo reportagens assim.
Mário Eduardo Orsini
São Paulo-SP
A equipe da revista quer ouvi-lo, leitor-livreiro!
Sugestões, críticas e idéias podem ser enviadas ao
e-mail [email protected], ou remetidas
para o endereço da redação. Mãos à obra!
Índice
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Editorial e Cartas
Zoom
Poesia
Literatura
Capa
Biografia
Papo de escritor
Gastronomia
Finanças
Ficções livrescas
Jornalismo
Psicologia
Fotografia
Negócios
Quadrinhos
Memória
História
Top 100 Editoras
Top 20 Livros
Revista Superpedido
Edição de Jan/Fev. de 2015
Ano XI - Nº52
Essa revista é uma publicação da
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Todos os direitos reservados.
Edição Celso de Campos Jr.
Produção e projeto gráfico Nathália Furlan
Nesta edição colaboraram Fernanda França, Kel Costa, Marcos Costa, Maurício
Louzada, Reinaldo Polito e Tatiana Romano
Ilustrações Estúdio Canarinho
Zoom
Zoom
Zoom
Mister Maigret
Por essa, os leitores de George Simenon não esperavam.
O comissário Jules Maigret, detetive da Brigada
Criminal de Paris e herói de dezenas e dezenas de livros
do escritor belga, será encarnado em dois longas para
a TV a serem rodados ainda neste ano por... Rowan
Atkinson, mais conhecido pelo papel de Mr. Bean.
Será a quarta adaptação de Maigret para as telinhas –
as histórias se passarão na Paris de 1950. “Há muito
tempo devoro os livros de Maigret. Estou ansioso para
interpretar esse personagem tão intrigante”, declarou
Atkinson. Da mesma forma, os fãs do detetive estarão
ansiosos para conferir a performance do britânico no
papel do comissário parisiense. Mistério...
Ruivos,
cuidado!
Em 1972, Lúcia Machado de Almeida lançava
O escaravelho do diabo, sucesso que arrebatou
milhares e milhares de leitores e se tornou um dos
maiores sucessos da coleção Vagalume, da editora
Ática. Quarenta anos e mais de 25 edições depois,
o clássico da literatura juvenil ganhará agora as
telas do cinema. Dirigido por Carlo Milani, o filme
será protagonizado por Marcos Caruso, como o
detetive Pimentel, que auxilia o garoto Alberto
(vivido por Thiago Rosseti) a desvendar a série de
assassinatos de ruivos na fictícia cidade de Vale das
Flores. O lançamento da película está previsto para
o meio deste ano, durante as férias escolares. “Essa
garotada adora o suspense do cinema americano.
Então acho que podemos acertar nesse caminho”,
afirma o diretor Carlo Milani. “Se eu tenho uma
expectativa com o filme, é deixar os cinco herdeiros
da Lúcia Machado de Almeida felizes. O livro foi
muito importante para a minha formação.”
Amazon ataca novamente
No final de 2014, a Amazon lançou no Brasil seu
serviço de assinatura de livros eletrônicos, o Kindle
Unlimited – já apelidado de “Netflix dos livros”. Por
R$ 19,90 mensais, os assinantes podem ler quantas
obras quiserem, dentro de um catálogo de seleções da
Amazon, com um máximo de 10 e-books emprestados
simultaneamente. Se por aqui o serviço ainda não
fez tanto barulho, na França o Kindle Unlimited
causou frisson – e aparentemente está com seus dias
contados. A ministra da cultura Fleur
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Poesia
Poesia
Poesia
Do guardanapo ao papel
Em turnê de lançamento do Segundo Eu me chamo Antônio, o escritor
Pedro Gabriel comenta nesta entrevista exclusiva o sucesso inesperado de suas poesias
Antes de falar do segundo, o primeiro: como você encarou
o sucesso de seu livro de estreia? De alguma forma, você
esperava que ele tomasse a proporção que tomou?
Nunca imaginei que um dia eu teria um livro publicado. Quanto mais que esse livro ficasse mais de trinta
semanas na lista dos mais vendidos (lista da Veja). Até
então eu era totalmente desconhecido e aquele era o
meu livro de estreia. As vendas e, mais importante,
o engajamento dos meus leitores superaram todas as
minhas expectativas. Até hoje a ficha parece que não
caiu (risos).
Quais as novidades do novo livro?
O segundo livro é como se fosse o caderno de ideias do
personagem Antônio. Nele, o leitor encontra muitas
ilustrações, fragmentos de textos e, claro, as tradicionais poesias desenhadas em guardanapos. Comparado
ao primeiro, que é um livro com ambientação de botequim com direito a trocadilhos e jogos de palavras espontâneos, o Segundo coloca o Antônio no mundo dos
sonhos com uma preocupação ainda maior na seleção
das palavras.
Para os leitores que chegaram agora, pode explicar a ideia
das poesias em guardanapo e do Antônio?
Meu primeiro guardanapo foi criado em outubro de
2012. Nasceu de forma espontânea, como nascem
as coisas sinceras. Eu estava voltando para casa e, no
meio do caminho, resolvi parar no Café Lamas (um bar
muito tradicional no Rio de Janeiro) para tomar um
chope. Naquele dia, eu havia esquecido meu caderno
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sa que tenha mudado é que agora eu divido com mais
gente a minha poesia, isso aumenta um pouco a minha
responsabilidade na hora de expor algum sentimento.
O fato de seus livros agora serem divulgados como “do autor do best-seller...” acaba colocando uma responsabilidade
maior em seu trabalho. Isso o influencia? Como você lida
com isso?
Sem dúvida, a responsabilidade aumenta. Mas isso não
quer dizer que eu precise moldar o meu discurso para
agradar tal ou tal faixa de leitores. Para mim, escrever
só vale a pena se for sincero. Eu vou continuar publicando livros enquanto tudo o que estiver desenhando
ou escrevendo tenha compromisso com a verdade e
faça fronteira com a espontaneidade.
O que vem por aí no horizonte de Pedro Gabriel – ou de
Antônio?
de anotações e comecei a desenhar na única plataforma que eu tinha à minha frente: os guardanapos. Eu
não escolhi os guardanapos, eles me escolheram.
Em suas poesias, quanto há de inspiração e quanto de
transpiração? Pode nos contar um pouco de seu processo
de criação?
O que se manifesta nas minhas poesias é um acúmulo
de inspiração. Tudo o que vivi, ouvi e vi até hoje me
é útil ou pode me ser útil. A inspiração é a nossa arte
prenha. A transpiração é como se fosse a parteira de
nossas ideias. Aquela forcinha a mais que a gente precisa para tirar do nosso interior tudo o que nos incomoda. Poesia é tudo o que nos incomoda. Dito de uma
forma bonita, mais sensível aos olhos, mais agradável
aos ouvidos. Mas, ainda assim, a gente só exterioriza o
que nos incomoda.
Nesses quase dois anos desde o lançamento do livro, o que
mudou em sua vida?
Eu continuo criando diariamente. Nem sempre tenho
postado as minhas criações nas redes sociais, mas estou sempre pensando em novas formas de traduzir as
coisas que acontecem no meu mundo. Continuo frequentando os mesmos lugares, visitando os mesmos
amigos, amando a mesma mulher. Talvez a única coi-
Em 2015, quero continuar divulgando meus dois primeiros livros. Quero visitar o máximo de cidades que
eu conseguir para receber ao vivo esse carinho todo que
recebo dos meus leitores pelas redes sociais. Espero ter
a oportunidade de publicar mais livros. Mas aprendi a
viver um dia de cada vez. Ou melhor, um guardanapo
de cada vez.
Literatura
Literatura
Literatura
Autógrafos,
manias, medos
e enfermarias
Por CAIO FERNANDO ABREU
Tem gente que não faz mesmo. Rubem Fonseca, por exemplo, que eu saiba nunca sentou
em livraria para autografar. E não dá entrevista nem se deixa fotografar. Lembro de certa tarde em Erlanger, interior da Alemanha,
pleno verão de 1993, durante a Interlit, encontro internacional de escritores, em que se
deixou filmar pela TV. Mas de longe, e sem dizer palavra. Caminhava no parque ao lado de
sua tradutora Karin von Schweder-Schreiner,
uma das mulheres mais bonitas que conheço.
Rubem acha, com razão, que a cara do escritor
e o que ele tem a dizer fora do livro não interessam. Interessa o livro, está tudo lá.
Dalton Trevisan também é assim, Greta Garbo perde. Já Lygia Fagundes Telles autografa,
sim, mas passa o dia da noite de autógrafos
nervosíssima, com uma fantasia obsessiva: ficar sentada sozinha ao fundo de uma livraria
deserta, sem que apareça ninguém. Sempre
aparece, claro: no caso de Lygia, multidões.
Mas no próximo lançamento, a fantasia volta.
Moacyr Scliar simplesmente esquece o nome
da pessoa para quem vai autografar, algumas
muito íntimas. Isso é frequente com escritores, daí a moda de, na hora em que o livro é
vendido, colocar um papelzinho dentro com
o nome do leitor. Mas muitos, por distração
ou por se acharem inesquecíveis, jogam fora
o tal papelzinho. Constrangimentos indizíveis – como responder com um seco “não” a
sorridente pergunta “e então, não lembra de
mim?”
Clarice Lispector apenas assinava seu nome.
Nada de “para fulano, com simpatia”, coisas
assim. E não dizia nada. Quando lançou o seu
injustamente esquecido Tanto faz num fliperama da rua Augusta, Reinaldo Moraes mandou fazer um carimbo com seu nome. Erico
Verissimo autografava, mas dizia sentir-se
constrangido como um “camelô de si mesmo”. Há autores que, de nervosos e emocionados, bebem demais no lançamento. Outros
chegam atrasados. Outros (já aconteceu) vão,
mas o livro não fica pronto. Nenhum, que eu
saiba, deu uma de João Gilberto (o cantor,
não o escritor Noll) e simplesmente não apareceu no show.
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A verdade é que noite (ou tarde, ou manhã, madrugada
talvez não) de autógrafos é chata. Que graça tem ficar
às vezes horas numa fila, estender um livro e receber
de volta um “para fulano, cordialmente”? Claro que,
se passarem décadas e o escritor ganhar o Nobel, vai
ter valido a pena. Claro que os netos ou bisnetos de
Machado de Assis (ele os teve?) devem achar ótimo ter
herdado autógrafos valiosíssimos. Mas em geral não
tem graça. Ou tem pelos reencontros, pelo coquetel,
pelo auê, não pela coisa em si. Que em vernissage a
gente olha os quadros, em pré-estreia teatral ou cinematográfica a gente vê a peça, o filme. Livro não, livro a
gente lê depois, em casa. E às vezes nem gosta.
Para o escritor autografante, a coisa é confusa. Lançamento mistura enfermarias afetivas que de outra forma não se misturariam jamais – imagine reunir numa
noite mãe, tias, psicanalista, colegas de trabalho, dentista, antigos professores, amantes ex ou não, vizinhos
de apartamento, amigos de infância desaparecidos há
30 anos, etc. O liquidificador emocional é intensíssimo. E há a solidão indivisível: em noite de autógrafos,
emoções à parte, quem menos se diverte é o escritor.
Além dos turbilhões íntimos, precisa maquinar dedicatórias estonteantes, ser simpaticíssimo e lutar contra
o impulso de sair correndo e gritando “me tira daqui!”.
Tudo isso para dizer – et voilá! – e que amanhã à noite
vou estar na Livraria Cultura, ali no Conjunto Nacional, Paulista com Augusta, coração de Sampa, autografando as minhas Ovelhas negras. Será certamente
menos chato que de costume, não por mim, sempre
feliz de voltar a Sampa e rever os melhores amigos
do mundo, mas porque vai ter também Cida Moreira
cantando divinamente como só ela. Aparece lá. Tenho
medo, pânico, como Lygia, da livraria deserta e eu
perdido feito pastor no meio de um rebanho de ovelhas desgarradas...
Em um tão louvável quanto necessário projeto, a
editora Nova Fronteira está reeditando as obras
do escritor, jornalista e dramaturgo Caio Fernando
Abreu (1948-1996). Os dragões não conhecem o
paraíso, Limite branco, Onde andará Dulce Veiga?,
Pedras de Calcutá, Morangos mofados, Teatro
Completo e as imperdíveis antologias de Caio,
com o essencial de sua produção nas décadas de
1970, 1980 e 1990, são os títulos que ganharam
novas edições. A coletânea de crônicas Pequenas
epifanias também está nessa lista – e é dele que
retiramos o texto acima, originalmente publicado
no jornal O Estado de São Paulo em 23 de julho
de 1995. “Este é um momento muito precioso
para o Caio e sua obra; pode-se dizer que a sua
literatura está realmente viva. Já há algum tempo
houve uma revitalização boa e mais do que justa
da história do autor, e tenho certeza de que este
projeto de edições novas e bem-cuidadas será
muito bem-recebido pelos leitores”, diz Márcia
de Abreu Jacintho, irmã do escritor.
Capa
Capa
Capa
SEM MÁGICA
NEM TERRORISMO
Na contramão das promessas milagrosas, Marcio Atalla e Desire Coelho
recorrem a pesquisas e estudos científicos e provam que o ajuste das necessidades
individuais e um bom planejamento é a melhor dieta para quem quer emagrecer
pág. 9
“Após duas semanas de dieta, sinto que perdi catorze
dias.” A conhecida frase de Tim Maia vai muito além
de uma simples e genial sacada do saudoso cantor:
representa o sentimento genuíno de muitos daqueles
que embarcam pelo mundo dos regimes alimentares
– uma jornada imprevisível que, para a maioria das
pessoas, acaba apenas em frustrações.
Mas, por incrível que pareça, tão difícil quanto
emagrecer é resistir à tentativa de experimentar a
última das dietas da moda. Como explicar esse ciclo
pouco virtuoso?
“Vivemos tempos paradoxais. Nunca se falou tanto
em saúde e, ao mesmo tempo, nunca tivemos uma
população tão doente, física e mentalmente. Há
um excesso alimentar associado a uma obsessão
pela prática de dietas e, apesar do grande volume de
informações sobre esses temas, as pessoas nunca
estiveram tão confusas”, explicam Marcio Atalla e
Desire Coelho logo no início de seu livro A dieta ideal,
lançamento da Paralela.
“Os índices de obesidade só aumentam, vivemos em
uma cultura na qual comida boa é comida farta e quase
todo dia surgem notícias sobre um novo método de
emagrecimento.”
Marcio, formado em Educação Física e nacionalmente
conhecido pelo quadro Medida Certa, do Fantástico,
e Desire Coelho, formada em Esporte e Nutrição
e co-coordenadora da pós-graduação em nutrição
esportiva na Universidade de São Paulo, basearam-se
na somatória de suas experiências para mostrar que
não há nada mais eficaz do que a aplicação da ciência
no cotidiano.
De acordo com eles, a solução é mais simples do que
se imagina: é possível obter resultados sem abdicar do
prazer da alimentação.
A dupla explica os fundamentos do livro em entrevista
exclusiva à Revista Superpedido – confira também,
nas páginas a seguir, algumas dicas de Marcio Atalla e
Desire Coelho, extraídas das páginas da obra.
Quando (e por que) vocês decidiram juntar forças para
escrever A dieta ideal? E como foi o processo de produção
da obra?
Nos conhecemos há quatro anos, quando o Marcio
fez a Pós-Graduação em Nutrição Esportiva na qual a
Desire é coordenadora e professora. Sempre tivemos
afinidade de pensamento sobre saúde, exercício e
nutrição e não concordamos como esses temas vem
sendo tratados hoje em dia. Começamos a trabalhar
juntos em 2014, quando veio o convite da Editora
Paralela para escrever o livro sobre dietas, que foi nossa
oportunidade de mostrar para as pessoas que para se
ter saúde não precisa extremismo. Que é possível sim
ter saúde comendo o que se gosta com muito prazer e
muito movimento.
O livro alia teoria e prática, contendo também uma série de
passos a serem seguidos pelos leitores. Podem nos contar
como funciona essa estrutura?
Nós dividimos o livro em 3 partes:
Parte 1 - Entendendo os desafios - nessa parte explicamos tudo o que a pessoa terá que enfrentar, não apenas os desafios do ambiente, mas o do próprio corpo
que não quer abrir mão da gordura corporal.
Parte 2 - Preciso e quero emagrecer, agora o que eu
faço? Nós propusemos sete passos que, se seguidos,
farão com que a pessoa tenha muito mais saúde e
satisfação com seu corpo e com a comida.
Parte 3 - Colocando em ação: o desafio dos 10 dias.
Como o próprio nome diz, a ideia é colocar em prática
tudo o que foi proposto. Neste desafio, a pessoa já se
propõe, logo de início, uma meta que não pode ser o
peso corporal, mas sim relacionada à saúde, aceitação
corporal e objetivos com a alimentação. Nós damos
dicas de como ela atingirá essa meta em apenas 10 dias.
Além disso, o livro é interativo, justamente para
que a pessoa participe e consiga apenas com a
leitura já identificar algumas questões importantes
para sua saúde.
Qual a diferença entre emagrecer e perder peso – e porque
compreender essa distinção é tão importante para quem
inicia uma dieta?
Infelizmente as pessoas colocam toda sua expectativa
em cima da balança, mas, como a gente sempre brinca,
“a balança é burra”. Ela não sabe o que está pesando. Ela
simplesmente mostra um valor. Mais importante do
que o peso corporal, porém, é a composição corporal.
Uma pessoa sedentária que inicia um programa de
atividade física terá certo ganho de massa magra
(músculo e outros componentes), e isso pesa na
balança. Naturalmente, então, depois de um mês, a
pessoa se pesa e a balança praticamente não muda. Isso
deixa a pessoa frustrada. Mas está longe de significar
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Só se perde gordura
após trinta minutos
de atividade aeróbica?
Quando iniciamos uma atividade aeróbica, com
trinta segundos já usamos gordura como fonte
de energia. Com um minuto e trinta segundos
de duração, cerca de 50% da fonte de energia
usada é gordura.
Depois de três a quatro minutos, já chega a cerca
de 80% a 85%, e após seis minutos a gordura é
a fonte de energia predominante, com 90% a
95%. Portanto, atividades que duram de vinte
a trinta minutos já são muito eficientes em
“queimar” gordura e ajudam no processo de
emagrecimento.
O treino não precisa ter mais de trinta minutos
para ser eficiente. Se a pessoa tem mais tempo,
contudo, pode fazer outros tipos de treino, mais
longos e menos intensos, por exemplo. Todos
eles promovem queima de gordura.
que ela não teve resultado algum. O mais importante
é como a pessoa se sente. Por isso, deixe a balança de
lado.
Vocês escolheram para o subtítulo a frase “sem mitos, sem
milagres, sem terrorismo”. A que vocês atribuem a grande
quantidade de fórmulas mágicas que aparecem dia após
dia, em revistas e livros?
As pessoas acreditam e compram tanto essas fórmulas
muito por uma terceirização da culpa: elas leem que
determinado alimento faz mal e pensam: “Ah, então é
por isso que eu não consigo atingir meus objetivos, esse
é verdadeiro vilão”, e pensam que, se ele for retirado,
os problemas serão solucionados. Mas isso não é
verdade. Normalmente o problema é multifatorial,
mas resumindo: comida demais, com qualidade de
menos e pouquíssimo movimento.
Muitas pessoas relatam ter conseguido emagrecer
seguindo algumas dessas dietas. A pergunta: elas são
efetivas a longo prazo? Quais os efeitos que podem ter no
organismo?
As pesquisam demonstram que as dietas restritivas
que temos hoje são efetivas no longo prazo para apenas
1 a cada 10 pessoas que se submetem à elas.
Outros dados demonstram que, daquelas que não
conseguiram seguir a dieta, mais da metade acaba
ganhando mais peso do que o que foi perdido, ou seja,
engordaram mais ainda.
Alimentos tradicionais como o leite e o pão têm virado
vilões nos dias de hoje, enquanto outros viram queridinhos
do momento, como o suco verde e quinoa, por exemplo. O
que há de verdade nessas afirmações? Como saber o que se
deve comer e o que não se deve comer?
Basta pensar que todo ano surge um novo vilão e
nenhum deles até hoje resolveu o problema. Suco
verde e quinoa são ótimos? Sim! Mas arroz integral e
feijão, salada colorida, entre outros, também são. Não
adianta cortar o leite da dieta, tomar suco verde três
vezes por dia e não se exercitar. Não existe alimento
milagroso, o que importa é o equilíbrio.
Como o aspecto emocional é ligado ao sucesso ou fracasso
de uma dieta?
Comer é mais do que nutrir o corpo, é nutrir a alma.
Algumas comidas são capazes de nos remeterem
imediatamente a alguma lembrança boa, e isso
aumenta nossa satisfação com aquela comida. A
partir do momento que aquele alimento lhe é privado,
gera-se uma série de comportamentos negativos que
levará ao insucesso. É fato: se você gosta muito de
determinado alimento, mais cedo ou mais tarde irá
consumi-lo.
levantar peso
ajuda a emagrecer?
A musculação tem o importante papel de
aumentar ou preservar a massa muscular. Ter
músculos no corpo ajuda a aumentar o ritmo
metabólico. Assim, o corpo com mais massa
magra é mais ativo e gasta mais calorias para se
manter vivo do que um corpo mais fraco. Logo,
associada às atividades aeróbicas, a musculação,
ou qualquer outro treino de força resistida, é
perfeita para auxiliar no emagrecimento.
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Vocês dizem que uma das formas de melhorar a
alimentação é “organizar o ambiente”. Podem explicar
como isso funciona?
Muitas pesquisam sugerem que comemos mais por
influência do ambiente do que pela fome propriamente
dita. E isso é fácil de ser verificado. Se você chega em
casa e tem bolo fresco, por mais que não tenha fome,
você come.
Se no seu local de trabalho sempre tem guloseimas,
aumentam as chances de você comer algo toda vez que
quiser uma pausa do trabalho. Sendo assim, nós damos
algumas dicas no livro de como mudar o ambiente a
seu favor.
Não são poucos aqueles que se dispõem a iniciar uma
sequência de atividades físicas, mas logo desistem. Na
opinião de vocês, por que isso ocorre? E quais as dicas para
ajudarem as pessoas a manter essa prática?
As pessoas desistem pois é contra a natureza do
ser humano procurar atividades que não sejam
para sobrevivência. Nossa tendência é ficar parado.
Então a dica é procurar primeiro uma atividade que
seja prazerosa. Desse modo, a pessoa vai esperar
ansiosamente por ela. Além disso, ela tem de se
encaixar bem no cotidiano daquela pessoa.
Para isso, a programação é fundamental. O exercício
precisa fazer parte da agenda senão será sempre
deixado para depois, e depois, e depois....
Quais os conselhos que vocês dariam para alguém que quer
montar um programa de atividades físicas mas não tem
orçamento suficiente para contratar um profissional ou se
matricular em uma academia?
Que a saúde pode, e deve, ser conquistada independente
de condições financeiras. O importante é encontrar algo
que a pessoa tenha prazer e
que ela se programe para
isso. A atividade tem que
fazer parte da agenda da
pessoa, como todas as
outras atividades que ela
tem. Então, sugerimos
que essa pessoa pense em
uma atividade que lhe dá
prazer, pode ser dançar,
pular corda, exercícios em
casa, caminhada, corrida,
bicicleta... As possibilidades
são inúmeras!
O estômago da sobremesa
existe?
A resposta é: sim!
Às vezes a pessoa mal consegue terminar o
prato principal de tão saciada que está, mas
quando chega a sobremesa, tudo muda...
Se você é uma daquelas pessoas que amam
uma sobremesa, já deve ter passado pela
seguinte experiência: mesmo depois de se
sentir plenamente satisfeito com a refeição
principal, quando lhe oferecem a sobremesa
parece que seu estômago (que estava cheio)
instantaneamente abre um espacinho para o
doce.
Duas hipóteses parecem atuar em conjunto
para explicar esse fenômeno: quando a pessoa vê a sobremesa, o cérebro estimula a liberação de hormônios do prazer que superam
os efeitos dos hormônios da saciedade.
Ao ver a guloseima, o estômago se expande,
criando mais espaço (pode chegar a quinhentos mililitros de aumento de volume) e permitindo, assim, que a pessoa coma mais.
Se você ama doces, aqui vai uma dica importante para que continue saboreando sua sobremesa sem exageros.
Caso faça a refeição em algum lugar no
qual você sabe que haverá sobremesa de
que gosta muito e sabe que vai saboreá-la,
coma menos no prato principal, principalmente menos carboidratos, uma vez que
praticamente todas elas são compostas
desse nutriente.
Aproveite para comer bastante salada crua
para diminuir o efeito do açúcar no organismo.
Assim você garante que naquela ocasião especial comerá o que tanto gosta, ficando satisfeito e em equilíbrio com seu corpo.
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Biografia
Biografia
Biografia
Nua e crua
Autobiografia póstuma de
Norma Bengell revela por
completo toda a vida
da polêmica artista
Na montanha russa de emoções que foi a vida de
Norma Bengell (1935-2013), uma palavra é constante:
independência. A artista jamais deixou de seguir seus
instintos, trilhando seu caminho e fazendo-se ouvir
independente de convenções ou opiniões alheias.
Essa franqueza inegociável transparece por todas as
páginas de sua autobiografia póstuma, coordenada
por Christina Caneca e recém-lançada pela nVersos.
Norma havia redigido boa parte do material entre os
anos 1970 e 1990, e retomou os escritos cerca de dois
anos antes de sua morte.
Dos dias de estrela do teatro e do cinema à luta contra a ditadura e, depois, pela retomada do cinema brasileiro, passando por efervescentes casos amorosos,
doenças, censura, prisões, toda a história da atriz que
entrou para a história como a primeira a fazer um nu
frontal no cinema brasileiro (no filme “Os Cafajestes”,
de 1962) está narrada sem censura – e de forma ricamente ilustrada, para que não haja dúvidas de que tudo
aquilo foi real.
Certa vez, fui receber uma homenagem no Grande
Prêmio do Cinema Brasileiro, em 2011, no Rio de Janeiro. Entrei no palco devagar. Quando começaram a
me aplaudir, diminuí a marcha da cadeira de rodas. E
aí os aplausos aumentaram. Foi um êxtase de carinho,
como se todos os aplausos entrassem pelos meus poros. Quando cheguei ao meio do palco, pensei como era
bom carregar comigo tudo aquilo que conquistei. Falei
algumas palavras e chorei muito. Pedi que continuassem a aplaudir, pois é disso que um artista necessita.
O artista vive a oposição do mundo vivido e do mundo
sonhado. E o que no fundo realmente nos faz viver é
saber que milhares de pessoas estão entrando em salas
de cinema de todo o mundo para nos assistir nas telas.
Todas as músicas que já ouvi passam por mim, o que
às vezes dói. Meus movimentos já não são os mesmos,
pois os gestos estão limitados pelo próprio corpo, mas
lembrem-se de que sou uma grande atriz, e alguém
pode se perguntar: “Será que ela está atuando?”.
Não, desta vez não estou. Infelizmente.
A seguir, confira um trecho da obra e uma galeria com
fotos da carreira de Norma Bengell.
O quanto de minha juventude já se perdeu?
pág. 15
Pensando melhor, nada se perdeu. Muito de minha juventude está impressa no tempo, nos celuloides, como
a beleza fixada para sempre no inconsciente de todas
as pessoas, imagem que se reproduz na infinitude da
arte, em todos os filmes que fiz.
e chorar, muito além do meu dom de fazer rir e chorar.
Sou invencivelmente frágil. Uma sobrevivente que vive
com intensidade.
Sou tão mortal quanto qualquer um, sou humana.
Muito humana, da espécie dos que têm o dom de sorrir
Não preciso me lembrar de tudo, pois prefiro imaginar
as coisas, como faria aquela mesma menina do Lido
brincando nos meus olhos, ou como a mesma musa sedutora, a rebolar em minha boca. Sou um ser humano
de verdade, dos que renascem como a fênix.
Em cena do teatro de revista, anos 1950
Foto do acervo pessoal de Norma, sem data
Estrela do Festival de Cannes, anos 1960
Na peça Vestido de Noiva, anos 1970
Não sou imortal.
Papo Papo
de escritor
de escritor
Papo de escritor
Civilização em pedaços
Eloar Guazzelli fala sobre sua graphic novel Kaputt,
adaptação do clássico livro do italiano Curzio Malaparte
Durante a Segunda Guerra Mundial, o jornalista italiano
de origem alemã Curzio Malaparte foi enviado pelo Corriere Della Sera para cobrir os conflitos no front oriental.
Durante esse período, escreveu, secretamente, um relato
sobre a guerra chamado Kaputt – palavra alemã que significa “quebrado, acabado, destroçado”. O livro é um misto
de reportagem e ficção em que todos os horrores da guerra
vêm à tona. Publicado originalmente em 1944, foi agora foi
transformado pelo quadrinista brasileiro Eloar Guazzelli
em uma graphic novel de tirar o fôlego, recém-lançada pela
WMF Martins Fontes. Confira a seguir uma entrevista
com Guazzelli – e, mais adiante, um trecho da adaptação.
Como surgiu a ideia de adaptar o Kaputt?
O Kaputt nasceu de uma reunião dos sonhos com o Alexandre Martins Fontes (diretor-executivo da WMF) e a Luciana Veit (coordenadora do Departamento Editorial e de
Novas Aquisições). O Alexandre se virou para mim e disse:
“Guazzelli, o que você quer fazer?”. Eu não esperava por
aquilo – mas parei para pensar e sabia o que queria. Desejo fazer o Kaputt desde que eu tenho 14 anos, desde que
tenho uma consciência profissional. Esse era o livro predileto do meu pai, que foi advogado de presos políticos e
se identificou muito com Malaparte, autor do livro… É um
livro forte, tem passagens terríveis mas muito poéticas, e
me marcou. É a melhor obra que li nesse quesito de lidar
com as entranhas, os perigos do mundo. Sobre um cara
que acompanha a Segunda Guerra, no lado alemão, mas é
absolutamente crítico. Foi uma grande honra e responsabilidade trabalhar com esse livro.
Qual foi seu critério para escolher os contos que entrariam no livro?
Foi uma operação desgraçada, já que o livro tem tantos contos maravilhosos. No caso do Kaputt, existe uma estrutura.
São seis contos, que ele dividiu em: os cavalos, os ratos, as
renas, os cães, os pássaros e as moscas. Foi uma ideia maravilhosa dividir em animais, que ele relaciona com a nossa crueldade humana. Ele coloca os ratos mais na questão
da perseguição aos judeus na Polônia... Não por acaso, em
Maus, que é a história do Holocausto em quadrinhos, os
judeus são ratos; os alemães
são gatos. Na minha versão,
peguei um conto de cada
animal. Sofri muito na parte dos ratos, onde há vários
jantares com o monstro que
é o governador da Polônia.
O país está na miséria e na
fome, e ali tudo é um luxo
e um esplendor. E é de um
cinismo... Os diálogos são
absolutamente perfeitos,
cruéis, atrozes.
pág. 17
Por ser o livro favorito de seu pai, como você já mencionou, sua
ligação com a obra é bastante emocional, certo?
Todo o tempo em que mexi com o Kaputt, pensei em algumas pessoas, pensei no meu pai, a quem o livro é dedicado,
de quem herdei o nome. Ele defendeu preso político, discutiu com torturador na porta da câmara de tortura; meu pai
viu horrores, e o Malaparte viu horrores. Sei que a identidade é total. Os dois sobreviveram transformando isso em
narrativa. A gente reclama de barriga cheia, muitas vezes.
“Meu Deus, nossa vida, que estresse, onde vamos parar?,
como é violento”, mas não. Ninguém sabe… Na guerra,
o mundo é virado de cabeça para baixo. Está no Kaputt: a
besta que há em praticamente todo ser humano aflora, e os
seres mais pacatos e comuns se transformam na coisa mais
horrorosa que se pode imaginar.
Por que essa ainda é uma obra necessária e atual, mais de meio
século após sua publicação?
A França vai eleger, provavelmente nos próximos anos,
uma neofascista; ou seja, o que aconteceu no passado pode
voltar de forma diferente. Por isso, Kaputt é extremamente necessário. Além do mais, a obra tem uma incrível qualidade artística. Considero o Malaparte um sujeito brilhante
– não vou falar a palavra gênio porque nós vivemos na era
dos gênios. Nunca vi o mundo ir tão mal com tanto gênio.
Gênio para lá, gênio para cá...… Mas há pessoas muito brilhantes, e ele era uma pessoa de grande coragem, que conseguiu fazer um dos livros mais cruéis e mais poéticos que
eu conheço. Uma obra que dói.
Papo Papo
de escritor
de escritor
Papo de escritor
pág. 19
Gastronomia
Gastronomia
Gastronomia
Do divã
às panelas
Tatiana Romano, autora do lançamento
Panelaterapia (Belas-Letras), conta como
passou de psicóloga a blogueira de culinária
Há dez anos eu me casei e mudei de cidade. Mudanças
nunca foram um problema para mim, gosto delas e tenho
uma grande facilidade de adaptação.
No meu primeiro ano na nova cidade, eu, que sou
formada em Psicologia e pós-graduada em Recursos
Humanos, já trabalhava na área e com o passar do tempo
fui incorporando novas atividades. Passei a ministrar
palestras em universidades, ensinando os jovens sobre
como fazer um currículo, como se comportar em uma
entrevista, e daí surgiram convites para atuar como
professora. Minha rotina então era trabalhar das 8h às
18h em uma consultoria, pegar uma hora de estrada para
chegar até a faculdade que ficava em outra cidade (isso
incluía jantar qualquer porcaria durante o trajeto), dar
aula até as 22h45min, pegar mais uma hora de estrada
e chegar em casa “morta” de cansaço! Como se não
bastasse, uma das faculdades que eu lecionava passou a
exigir uma segunda pós-graduação na área de docência e
lá se foi meu sábado “pelo ralo”.
Bem, eu ainda tinha o domingo livre! Ah, o tão esperado
domingo! Meu dia oficial de relaxar! Engana-se quem
me imaginou jogada no sofá de pijama e pantufas. No
domingo eu queria era cozinhar!
Sempre gostei da arte culinária, minha família é repleta
de bons cozinheiros e daquelas reuniões regadas a muita
comida e bebida! O fato é que antes de casar eu não
tinha tanta oportunidade de ir para a cozinha, já que
minha mãe e a Luzia, nossa querida cozinheira há vinte
anos, cumpriam essa tarefa maravilhosamente bem!
Foi somente depois de casar que eu realmente percebi
que levava jeito para a coisa. E todo domingo eu fazia as
tarefas básicas de dona de casa pela manhã e passava o
resto do dia cozinhando. Inventava, testava, errava, mas
era sempre uma delícia!
O tempo foi passando e eu me habituei à minha
rotina insana de ter apenas um dia de lazer, havia me
acostumado a viver mal (lembra da minha facilidade de
adaptação?). Fazia parte da minha vida não ter tempo,
não ter disposição, estava simplesmente “vivendo no
piloto automático”. É bem verdade que eu tinha uma
condição financeira confortável, principalmente porque
não tinha (e não tenho) filhos, mas ter dinheiro e não ter
tempo para usufruir, de que me adiantava?
No meio deste período, em 2009, eu resolvi criar um
blog, cujo nome eu escolhi com muita facilidade, o
“Panelaterapia”. Criei este espaço virtual sem nenhuma
pretensão, apenas para registrar minhas aventuras
culinárias, meu momento de ‘terapia’ junto às panelas.
Provavelmente também motivada pelo desejo inconsciente
de prolongar meus tão festejados domingos na cozinha.
Em 2010, já com mais de um ano de existência, o blog
começava a se concretizar nesse universo virtual como
pág. 21
uma fonte de pesquisa confiável para quem buscava
receitas fáceis, com ingredientes possíveis, mas com
aquele toque especial que conferia uma aparência mais
gourmet aos pratos. Nesse mesmo período eu me vi
em meio a uma uma crise existencial, na qual passei a
questionar se realmente eu queria envelhecer levando
este estilo de vida corrido, sem tempo para nada. Foi
então que eu decidi que queria ser feliz.
Confesso que não foi fácil admitir que a profissão que
demandou tanto tempo de estudo, tantos anos de trabalho,
já não me satisfazia mais. Eu não tinha desafios na carreira,
não sentia mais aquele frio na barriga que acompanha as
novidades, não tinha motivação alguma para continuar.
Eu não queria mais passar a semana como a maioria
das pessoas que eu via nas redes sociais comemorando
a sexta-feira e chorando a segunda. E assim eu fiz um
planejamento. Fui abandonando meus empregos aos
poucos e me adaptando a viver com menos. Obviamente
que esse ato de “chutar o balde” só foi possível graças ao
apoio financeiro e emocional do meu marido.
Em meados de 2010, já desempregada, eu não sabia que
rumo minha vida profissional ia tomar, por ora eu só
queria ser blogueira de gastronomia, queria continuar
fazendo e postando minhas receitas. E assim eu o fiz. O
Panelaterapia seguiu seu rumo e ocupou um lugar cada
vez maior no meu coração. Quando me dei conta, ele já
era minha nova profissão! Simplesmente aconteceu!
Com o crescente sucesso do blog, tive de aprender
fotografia, técnicas de SEO, programação em HTML,
pesquisar sobre técnicas de cozinha, novas receitas,
administrar redes sociais, enfim, como qualquer emprego,
exige aprimoramento constante. Nestes cinco anos de
existência o blog estabeleceu parcerias importantes,
atingiu números de audiência que eu jamais poderia
imaginar, possibilitou-me conhecer pessoas e lugares
incríveis, experimentar novos sabores, ou seja, não me
faltam motivos para comemorar.
Todo esse processo de me assumir como cozinheira e
blogueira fez com que eu refletisse muito sobre a relação
das emoções com a comida e culminou com o livro
Panelaterapia, que é a consolidação do meu desejo de
compartilhar receitas que são adequadas a cada uma das
situações emocionais em que podemos nos encontrar.
As receitas que sugiro são fruto muito mais da minha
percepção e meu feeling de cozinheira do que de qualquer
conhecimento técnico ou científico.
Espero que, de maneira leve e descontraída, ele cumpra o
papel de despertar a percepção de que o ato de cozinhar,
além de divertido, pode ser muito terapêutico.
LASANHA DE MACARRÃO INSTANTÂNEO
Ingredientes
200ml de água – 1 embalagem de 340ml de
molho pronto de tomate – 2 pacotes de macarrão
instantâneo de 80g cada – 120g de presunto cozido
picado – 120g de queijo mozzarela ralado – 200ml
de leite integral – 1 colher (sopa) bem generosa de
requeijão cremoso – 1 colher rasa (café) de sal – 25g
de queijo parmesão ralado
Modo de preparo
Ligue o forno em 200ºC para ir aquecendo. Misture
a água com o molho pronto. Leve ao fogo ou
micro-ondas para aquecer. Não é necessário ferver.
A intenção é obter um molho bem ralo para que
o macarrão cozinhe nele. Despeje metade desse
molho em um refratário. Separe as placas dos
pacotinhos de macarrão instantâneo (cada pacote
possui 2 placas) e acomode-as ainda cruas no
refratário sem sobrepô-las, apenas colocando-as
lado a lado. Despeje o restante do molho sobre o
macarrão. Cubra com presunto picado, em seguida
com o queijo ralado. Aqueça o leite e misture com
o requeijão e o sal. Despeje por cima de tudo de
maneira uniforme. Polvilhe parmesão ralado,
cubra com papel alumínio e leve ao forno por 25
minutos. Retire o papel alumínio e volte para o
forno por alguns minutos apenas para gratinar o
queijo. Nesse momento, ative a função grill, caso
seu forno a possua.
Dica: Se o seu refratário for fundo, você pode
sobrepor as camadas, para isso dobre a quantidade
de todos os ingredientes.
Rendimento: 3 a 4 porções
Finanças
Finanças
Finanças
O porquinho da economia
Segundo a tradição, o porco é um símbolo de
futuro e prosperidade.
De sua carne se aproveita quase tudo, e bemconservada é uma fonte de alimento que pode
durar por longas temporadas.
Os cofrinhos em forma de porquinho provém
da assimilação dos vocábulos ingleses pig
(porco) e pygg, um tipo de argila cor de laranja
que outrora era utilizada para fabricar utensílios
caseiros, entre eles panelas e jarros no qual
eram guardadas moedas. Procure alimentar seu
porquinho sempre que puder!
Poupança à moda japonesa
Chega ao Brasil o Kakebo,
a agenda de finanças pessoais
que é febre na terra do sol nascente
Kakebo é uma palavra do japonês que significa “livro de
contas para a economia doméstica”. Algo aparentemente
tão simples é um verdadeiro fenômeno no Oriente, onde
centenas de milhares de pessoas o utilizam diariamente
para manter na linha os gastos familiares e administrar até
o último centavo que entra e sai de casa. Trata-se de uma
ferramenta simples porém extremamente eficaz para organizar as finanças pessoais – e que agora chega ao Brasil
em uma prática edição da BestSeller, intitulada Kakebo –
Agenda de finanças pessoais.
Não há segredo: por meio do preenchimento de tabelas de
despesas (mensais e semanais) e de planilhas de entrada
e saída de dinheiro, o Kakebo auxilia o leitor no controle
de suas finanças, ajudando-o também a refletir a respeito
de seus hábitos de consumo – segue nesta reportagem o
exemplo de uma das páginas do livro. Mas atenção para o
ensinamento da sabedoria oriental: “O Kakebo não vai fazer milagres por você, só vai ajudá-lo no caminho. A chave
está em suas mãos. Defina seus próprios objetivos, siga as
diretrizes e mantenha o ritmo.”
pág. 23
FicçõesFicções
livrescas
livrescas
Ficções livrescas
Encontro entre escritos
Por FERNANDA FRANÇA
O seu amor pelos livros era tão grande que ele escolheu trabalhar rodeado por eles. Érico, que nasceu em uma família
que também amava as letras, já havia ajudado muita gente a
escolher o melhor livro para diversas ocasiões – havia quem
procurava um livro há anos e não se lembrava do nome, os que
desejavam ler algo e nem sabiam exatamente o quê, aqueles
que buscavam um presente e quem, sem saber, buscava um
consolo nas páginas daquela livraria. E Érico sempre sabia o
melhor livro para indicar.
Mas era a primeira vez que se encantava por um rosto atrás
de um livro.
Procurava por um título quando a viu, lá em cima, em uma
mesa quase nunca ocupada, segurando um livro com as duas
mãos enquanto lia. Seu cabelo caía sobre o rosto e seu semblante era triste. O que será que aconteceu?, pensava Érico.
Para ele, tudo tinha um motivo. A vida era quase um enredo literário. Se uma personagem aparece triste é porque algo aconteceu. Ou a leitura era dramática.
Perdeu a moça da visão quando entregou um livro a um cliente,
mas notou que no dia seguinte, no mesmo horário do almoço,
ela estava lá novamente, sentada na mesma mesa escondida,
mas dessa vez com outro livro. O semblante era o mesmo. Subiu
sem que ela percebesse que havia mais alguém por perto e se escondeu atrás de uma prateleira. Não porque era errado estar ali,
mas porque não queria que sua presença interferisse em nada.
pág. 25
Ele queria vê-la de perto como havia conhecido de longe.
E ficou ali, com o olhar perdido entre uma capa e outra,
sem ser visto, e em seu próprio livro da vida real.
O telefone tocou e ela atendeu.
Érico não devia, coisa feia, diria sua avó, escutar a conversa sem ser notado. Mas como nem sempre fazemos o
que devemos, mas o que achamos que devemos naquele
momento, ele apenas escutou. E a moça balançava a cabeça negativamente e respondia de forma lacônica com
“uhum” e “tá bem”. Mas não estava bem. No final da ligação, ela fez um pequeno discurso sobre a pessoa do
outro lado da linha não ter direito de julgá-la por ela ter
parado de falar com a irmã. “Ela abandonou a mãe justamente quando ela está doente. Ah, você acha que não?
Então como você chama isso? Dar um tempo? Refrescar
a cabeça longe da família?”.
Ele se sentiu mal por ouvir e desceu as escadas sem ser
notado. Não precisava saber o final da história. Pesquisou pelo livro certo. Ele sabia que existia, já tinha lido e
indicado. No dia seguinte, quando ela se sentou no mesmo lugar, o livro estava lá, sobre a mesa. Ela o pegou e
olhou para os lados, como fazem aqueles que acham que
estão sendo seguidos nos filmes. Abriu o livro e começou a ler. Na hora de ir embora, deixou-o ali. E assim por
mais dois dias, quando finalmente passou no caixa com
o livro debaixo do braço.
Depois de levá-lo, Érico continuou a brincadeira e deixou mais um livro sobre a mesa. O tema era outro, mas
ele sabia que ela também gostaria de ler sobre aquilo.
Não era mais um livro de ajuda, era ficção. A história
era exatamente o que ela precisava ler, foi o que pensou
quando leu o primeiro capítulo na livraria. Dessa vez, a
leitora não esperou dias para levar o livro. Decidiu comprá-lo no mesmo dia.
aquele era o quarto livro de comunicação entre os dois.
A página tinha uma frase marcada com uma caneta fluorescente amarela. Eu quero te conhecer. Ela havia tido
o cuidado de selecionar essa frase no livro e marcá-la. Ao
lado, mais um número. Ao abrir essa página sugerida,
havia um bilhete escrito em um pequeno papel de bloco.
Obrigada por me ajudar. Você soube encontrar os livros
certos. Este é um presente para você, espero que goste. O primeiro livro que eu li, ainda criança. Ganhei um
igual a este da minha mãe e fala sobre amizade. Vamos
conversar sobre ele e tomar um café? Beijos, Anna.
No dia seguinte, ela encontrou um outro livro com uma
charada parecida. Na capa estava um bilhete com a palavra SIM e embaixo o número da página. Ele não queria aparecer ali, naquele momento, para ela. A página
indicava outra e mais outra e mais outra, formando, ao
fim, o número de um telefone. Ela o adicionou, já viu
sua foto e enviou uma mensagem na hora. E, daquela
vez, sem palavras, apenas um recado com uma carinha
formada por dois pontos, traço e fecha parênteses. E ele
perguntou se ela toparia encontrá-lo na cafeteria da livraria no fim de seu expediente.
Anna respondeu que topava e que imaginava que ele trabalhava com livros, mas que era escritor.
De certa forma, eu tenho um pouco de todos eles em
mim – respondeu Érico.
E aquela foi a primeira e última vez que ele se interessou
por um rosto atrás de um livro. Pelo menos, essa era a
história que ele contava aos filhos.
A intenção de Érico, muito mais do que apenas vender
livros, era saber qual era o livro certo para cada pessoa
em cada momento. Os livros tinham esse poder mágico de trabalhar para que tudo começasse a se resolver,
como se fossem amigos calados e cada palavra se agrupasse a outras de forma a escrever o que você precisa
ler. Como se o autor, ao criar um texto, soubesse do que
cada leitor precisa.
Após o terceiro livro, Érico percebeu que naquele dia,
depois que a moça foi embora, havia um livro infantil
sobre a mesa. Ao perceber que não havia ninguém no
andar superior, ele subiu e notou um bilhete sobre o livro. Um recado que talvez só ele entendesse. O número quatro e o número de uma página. Quatro porque
Fernanda França é jornalista e escritora, pós-graduada em
Comunicação Jornalística pela Cásper Líbero. É autora de
Bolsas, Beijos e Brigadeiros, publicado pela Editora Planeta
e de Malas, Memórias e Marshmallows e 9 Minutos com
Blanda. Mantém contato com os leitores por meio de seu site
www.fernandafranca.com.br e das redes sociais.
Ficções
Ficções livrescas
livrescas
Ficções livrescas
Quando
as luzes
se apagam
Por KEL COSTA
Fernanda era uma funcionária que gostava de ser a última a sair e ser a responsável por fechar as portas da
livraria. Aquele tinha sido um dia cheio, afinal. Após
uma sessão de autógrafos de um autor famoso e uma
fila interminável de leitores, ela merecia um descanso.
Ignorando o horário tardio, Fernanda se sentou numa
das poltronas de couro que ficavam espalhadas pelo local e descalçou os sapatos.
O silêncio que reinava ali dentro era mesmo magnífico.
A livraria, pequena e aconchegante, tornara-se seu lugar
favorito. O piso estava sempre muito bem polido, as estantes de mogno, antigas e tradicionais, conservavam a
madeira belíssima.
A iluminação era intimista, mas acima de algumas poltronas, havia luminárias potentes para o visitante fazer
uma leitura. Além disso, o ar ali dentro era diferente. De
algum modo, o cheiro inebriante de café com biscoitos
amanteigados estava sempre presente, mesmo que não
houvesse nenhuma das duas coisas à venda.
Fernanda gostava de estender seu horário e ler um pouco, antes de fechar a loja. Naquele dia não foi diferente.
Depois de puxar as pernas para cima, dobrando-as sobre
a poltrona, abriu o livro escolhido do dia.
Vinte minutos depois, sobressaltou-se quando as luzes
se apagaram. Tateou em busca do celular no seu colo e
acionou a lanterna do aparelho. Decidiu que era hora de
ir para casa, mas ao se levantar, ouviu risadas que vinham dos fundos da livraria. Seu coração parou por um
instante antes de retomar as batidas.
– Quem está aí? – perguntou, virando-se para trás com a
lanterna iluminando as estantes. – Tem alguém na loja?
Sem receber resposta, Fernanda se encaminhou para a seção de literatura brasileira, que parecia ser o local de origem
da perturbação. Apontava a lanterna para os lados sempre
que passava por um corredor escuro, mas ao contornar a
estante de autoajuda, ela estacou, assombrada com a visão.
– Pois não? – perguntou ao estranho de costas para ela.
A jovem achava impossível aquele rapaz ter entrado sem
que ela percebesse. Lembrava-se muito bem de ter trancado a porta depois que o último cliente deixou a loja.
Contudo, sua experiência como vendedora solícita falou
mais alto. Ela não podia simplesmente expulsar o cliente.
– Posso ajudar em algo? – Fernanda se aproximou do
homem, que rapidamente virou-se para ela. Era lindo,
bronzeado e usava um chapéu.
pág. 27
Ele arregalou os olhos quando a luz forte da lanterna
o capturou. Fernanda pensou em se aproximar mais
e obriga-lo a se retirar, mas não conseguiu se mover
quando um garotinho sem camisa e vestindo apenas um
short vermelho saiu detrás do rapaz. Ela não sabia o que
era mais absurdo: o cachimbo na mão da criança ou o
fato dela ter somente uma perna, como se fosse um...
não! Ela se recusava a pensar nisso!
Ela nem deve saber muita coisa sobre nós. Não temos
asas, nem dentes afiados, não usamos varinhas mágicas, não nos transformamos em animais...
– Bem, sobre esta última questão, fale apenas por você.
– Não tem graça, Boto!
Fernanda soube que estava delirando. Talvez seu almoço
estivesse estragado, pois se sentiu doente. Sentou-se no
chão e apoiou as costas numa estante, para então fechar
os olhos. Ficou assim por alguns segundos, mas ao abri-los novamente, viu que as duas figuras continuavam ali.
Fernanda destapou o rosto, mas usou as mãos para
cobrir as orelhas. Talvez se ela bloqueasse aquele som,
conseguisse interromper a alucinação. Ficou cantando
uma de suas músicas favoritas enquanto mantinha os
olhos fechados. Aos poucos, o som das vozes foi diminuindo, diminuindo... e então cessou. Ela finalmente
abriu os olhos e baixou as mãos. Não precisava mais da
lanterna, pois a eletricidade tinha voltado. Agora, onde
segundos antes estavam os dois rapazes, não havia nada
além de partículas de poeira pairando pelo espaço vazio,
iluminado pela fraca luz da lua que entrava pela janela.
– Quem... quem são vocês? – perguntou e levou uma
mão à cabeça, que latejava.
– Estamos sendo esquecidos, Boto. Ninguém se importa
mais...
– Como assim quem somos nós? A senhorita trabalha
numa livraria e não sabe? – O menino parecia ter se magoado. – É tão difícil reconhecer um saci?
A voz que ela ouviu parecia estar a quilômetros de distância. Justo quando ela pensava ter se livrado da alucinação.
– Ela está falando com a gente? – o belo jovem de chapéu perguntou ao menino.
– Acho que ela pode nos ver.
– Um... – ela engasgou – o quê?
Aquele menininho que não devia ter mais de oito anos
colocou as mãos na cintura e prendeu o cachimbo entre
os dentes ao se aproximar dela. Agora parecia bem mais
velho, além de furioso.
– Saci! Preciso ser mais claro que isso? Eu não preciso de
apresentações! E não me olhe com esta cara! Se eu fosse
um lobisomem ou um anjo, você estaria radiante!
– Ou um vampiro – o rapaz de sorriso perfeito falou.
– Você é? – Fernanda, que achava estar prestes a desmaiar, não conseguiu resistir. – Um vampiro?
– Caramba, não! – Ele jogou as mãos para o alto e agachou-se perto dela, apoiando as mãos nos joelhos. – Sou
o boto, muito prazer.
A gargalhada de Fernanda foi tão alta que nem ela mesma reconheceu como sua. Depois, largou o celular no
chão e escondeu o rosto com as mãos, desejando recuperar a consciência o mais rápido possível.
– Acho que ela está em negação.
– É lógico que está! – o garotinho bufou. – Você não vê?
Fernanda se recompôs rapidamente, ansiosa para fechar a livraria e ir para sua casa. Não sabia mais o que
era fruto de sua mente e o que era real. Tinha certeza
que acordaria ainda mais confusa no dia seguinte e, para
piorar, com uma bela enxaqueca.
No entanto, quando levou alguns exemplares sobre o
folclore brasileiro para espalhar pela vitrine, sentiu-se
como se fizesse parte de alguma coisa importante. Antes de passar pela porta, achou ter escutado mais algumas risadas. É claro que depois de passar a chave pela
fechadura e virar de costas para ir embora, não viu as
duas figuras que dançavam no escuro.
Durante a faculdade de Interpretação Cênica, Kel Costa
descobriu seu amor pela escrita. Atualmente é estudante
de Letras e blogueira, por
amor à literatura. Viciada
em romance e fantasia, é
apaixonada por histórias de
vampiros. Escreveu mais de
trinta fanfics antes de dar
início à Fortaleza negra,
o primeiro de uma trilogia
publicada pela editora
Pensamento. Para falar com
Kel, basta procurá-la pelas
redes sociais ou em seu site:
www.kelcosta.com.br.
Jornalismo
Jornalismo
Jornalismo
Que bonito é...
Pioneiro do jornalismo transcultural no Brasil e ícone da
revista Trip, Arthur Veríssimo tem suas famosas crônicas
lançadas em Gonzo (Realejo Livros). A seguir, a fantástica
história do dia em que o repórter participou de uma pelada a
mais de 4 mil metros de altitude na Bolívia.
Respirava o ar puríssimo enquanto observava, da estação de esqui de Chacaltaya, a imensidão dos Andes. No
horizonte distante, onde está encravada a cidade de La
Paz. A capital da Bolívia está situada a mais de 3.600 metros de altitude e Chacaltaya está a uma altura de nada
menos que 5.350 metros; a estação se encontra no coração da cordilheira real e é a mais alta do planeta. Suas
pistas para esquiar resumem-se, atualmente, a apenas
duas linhas finas de neve. Tudo isso devido ao degelo dos
picos nevados e às mudanças climáticas.
Eu circulava pela Bolívia há mais de duas semanas, investigando a vida dos povos que habitam as bordas do lago
Titicaca e as entranhas do caldeirão de La Paz. Estava aclimatado e havia organizado algo inusitado: uma partida
de futebol com as cholas, as tradicionais indígenas aimarás que se destacam por suas tradições e por seu visual.
O desafio estava lançado. A partida seria na cidade El
Alto, que se estende na plataforma que rodeia a imensa cratera de La Paz. Estava marcada para domingo, em
uma quadra de 4.050 metros de altitude. O cenário misturava os picos nevados dos Andes com as casas de adobe dos habitantes. Aos poucos, as cholitas iam chegando
com suas bolsas, fardos e sorrisos marotos. A única condição que a dirigente havia imposto era que este repórter deveria estar trajando as roupas típicas das mulheres
andinas. Fazer o quê? Fui agraciado com a tradicional
pollera e o chapéu de coco. A tal pollera é um conjunto de
saias que são colocadas uma por cima da outra. Imagine
a cena. Este cabrón com mais de 1,85m de altura travestido de cholita aimará. Com chapéu Borsalino no topo da
minha cabeça, era uma mistura de Bat Masterson de saia
plissada com um Carlitos desidratado.
Começa a partida. Minha esquadra fazia parte de um grupo de indígenas que batem bola todos os fins de semana há
mais de oito anos. Todas são pequenas, mas com pulmões
de Cesar Cielo. No primeiro pique, senti o peso do meu
corpo como se fosse um mamute. As cholas se divertiam e
queriam dar meia lua, lençol e olé neste incauto esportista.
O chapéu coco não se firmava na calota craniana. Fiquei
na minha. Respirava com tranquilidade e, aos poucos, fui
tirando o pé do freio. A partida estava 3 a 2 para as adversárias. Depois de 30 minutos, o Borsalino encaixou na cabeça
e percebi que tinha poderes sobrenaturais.
Num dado momento, baixou o Alex, personagem do filme Laranja Mecânica, neste
precioso corpo humano. Saí em
disparada. Acreditem, marquei
dois gols. Vibração total. As
adversárias me olhavam torto. No segundo tempo, houve
até expulsão. Faltando quatro
minutos para o encerramento,
fiz um passe para Carmen, a
craque do time, que finalizou
fazendo um golaço. Final: 7 a 5
para nossa esquadra.
pág. 29
Psicologia
Psicologia
Psicologia
No livro Personagens ou Pacientes?
(editora Artmed), uma seleção de
psicólogos e psiquiatras analisam
clássicos da literatura mundial sob
a ótica da saúde mental. No texto a
seguir, algumas das patologias dos
personagens de Macbeth, de
William Shakespeare,
são desvendadas.
Diagnóstico literário
Por ZACARIA BORGE ALI RAMADAN
e TÁKI ATHANÁSSIOS CORDÁS
A dramaturgia de Shakespeare é mais divulgada e conhecida por meio de Hamlet e Romeu e Julieta em detrimento
de outras peças igualmente admiráveis. Contudo, nesta
nossa época de grandes ambições, disputas de poder, vaidades narcísicas, traições e covardias, nenhuma tragédia é
tão atual quanto Macbeth, rica de ensinamentos psicológicos e psicopatológicos – paixões humanas que nem as mais
sofisticadas culturas conseguiram sepultar.
zado com o destino de Macbeth e de sua esposa, enredados em uma trama cruel e sem saída. Além disso, a peça
registra, em um de seus atos, uma das mais intrigantes
manifestações psicopatológicas, relacionada a turvação
de consciência, onirismo, pseudoalucinações e dissociação
histérica, ilustrativa do conceito de compreensão proposto
por Karl Jaspers.
Não por acaso, a peça deu origem a duas primorosas obras
cinematográficas, a de Orson Welles, em 1948, e a de Roman Polanski, em 1971, também pouco divulgadas. Em
1957, Kurosawa dirigiu uma adaptação de Macbeth cujo
título, em português, é “Trono manchado de sangue”, considerada pelo crítico Harold Bloom a melhor adaptação cinematográfica de Macbeth.
Criada entre 1600 e 1620, segundo os historiadores, a tragédia se passa na Escócia, onde
Macbeth, primo e fiel vassalo
do rei Duncan, graças aos seus
atos de bravura, credencia-se a
sucedê-lo no trono.
Nosso tempo, relegando ao ostracismo as dúvidas e reflexões hamletianas, está, certamente, muito mais sincroni-
A caminho de seu palácio, na
companhia de Banquo, Mac-
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beth cruza com três bruxas que o saúdam como rei, vaticinando seu destino de monarca. Banquo é saudado como
pai de futuros reis. Seduzido pelos augúrios e dominado
pela ambição, Macbeth arquiteta com a esposa (Lady Macbeth) um conluio para apressar sua ascensão ao trono, por
meio do assassinato de Duncan. Em viagem, o rei, confiante em tão dedicado e fiel vassalo, resolve pernoitar no palácio de Macbeth, propiciando, assim, oportunidade para a
sinistra empreitada.
Sorrateiramente, Macbeth o apunhala durante o sono e,
para despistar, atribui o crime aos dois guardas do quarto – previamente embriagados por Lady Macbeth –, executando-os de imediato. Conforme o previsto, Macbeth
se torna rei, porém, como não tem filhos, reflete que seu
procedimento apenas facilitaria a ascensão dos herdeiros
do Banquo ao poder, conforme a predição das feiticeiras.
Ainda movido pela ambição, no intuito de obstar seus possíveis sucessores, contrata dois sicários para matar Banquo
e seus filhos; na refrega, o amigo é morto; os filhos, porém,
salvam-se do atentado.
Desenrola-se, então, o drama do casal criminoso, atormentado por medos e sentimentos de culpa, sofrendo importantes transtornos psicopatológicos. Em um banquete de
recepção aos nobres no palácio real, Macbeth alucina e vê o
fantasma de Banquo sentar-se em sua cadeira; Lady Macbeth passa a ver manchas de sangue e sentir seu cheiro, lavando as mãos obsessivamente, como a purificar-se, e vaga
pelo palácio, à noite, com uma vela acesa.
É clássica a cena em que ela perambula, e o médico observa
para uma criada:
– Veja, seus olhos estão abertos.
– Sim, diz a criada, mas os sentidos estão fechados.
Com maestria, Shakespeare vai registrando um elenco de
transtornos psicopatológicos que, embora passíveis de
compreensão (conforme postulou Karl Jaspers), permanecem ainda obscuros no que concerne aos seus mecanismos
biológicos de neurotransmissão. Questões como sonambulismo, pseudoalucinações, dissociação histérica ou estados crepusculares, enfim, numerosos problemas referentes à sensopercepção, entram nessa pauta controversa da
propedêutica psiquiátrica.
O texto suscita muitas discussões, inclusive na esfera ética, já que, na relação com o poder, todo ser humano traz,
dentro de si, um Macbeth adormecido, no confronto com
pais, chefes, diretores e outras figuras de autoridade. Sabiamente, Shakespeare não oferece nem soluções, nem fal-
sas esperanças. Quase no fim da peça, Macbeth observa:
“A vida não é senão uma sombra passageira, um pobre ator
[...]. É uma história contada por um idiota, com muito som
e fúria, que nada significa”.
O desfecho da tragédia fica reservado ao prazer da leitura e
às reflexões do leitor.
Sobre William Shakespeare
William Shakespeare nasceu em Stratford-uponAvon, em 1564, e faleceu na mesma cidade, em
1616. Tom Payne, o editor de Encyclopedia of
Great Writers, começa o verbete sobre “o bardo de
Avon” de maneira muito curiosa, afirmando que
Shakespeare pode ter sido qualquer um. Sugere
que as obras podem ter sido escritas por Francis
Bacon ou pelo Conde de Oxford ou, ainda, por
Marlowe, já que alguns afirmam que o verdadeiro
Shakespeare não tinha educação formal para
tanto o quanto escreveu. Parece que hoje, porém,
a maioria defende de maneira encarniçada que
Shakespeare realmente foi Shakespeare e escreveu
tudo o que Shakespeare escreveu, embora pouco
se conheça sobre sua vida real. Sabe-se que aos
18 anos casou-se com uma jovem local, Anne
Hathaway, tendo dessa união dois filhos. Em 1584,
aparece em Londres como autor teatral, gozando
então de fama e fortuna. Não se conhece a ordem
exata da produção de suas peças. Macbeth, aqui
analisada, foi apresentada no Globe Theatre, em
Londres, entre 1505 e 1506, sendo publicada
em 1623 pela First Folio. Sugere-se que o texto
original tenha sido parcialmente corrompido e
que alguns trechos tenham se perdido.
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Fotografia
Fotografia
Fotografia
Cachorros ao mar
(ou melhor, às piscinas)
Reunidas em livro, fotos aquáticas revelam facetas tão
inesperadas quanto divertidas dos melhores amigos do homem
À primeira vista, alguns parecem temíveis monstros,
com dentes afiados e olhar quase canibal. Mas depois de
alguns segundos de observação pode-se notar que os selvagens em questão são simpáticos cachorrinhos – apenas
clicados em poses tão inesperadas quanto improváveis.
Essa é a premissa do livro Cachorros submarinos, do
fotógrafo Seth Casteel, lançado pela Intrínseca. A original ideia surgiu quase por acaso, durante um ensaio
com Buster, um cão cavalier king charles spaniel, em
um quintal na Califórnia em 2010. A sessão deveria ser
em terra firme, mas Buster escapuliu e mergulhou na
piscina, saindo dela como um cachorro completamente
diferente. Seth tentava convencer o modelo canino a
ficar na superfície, mas o cão insistia em voltar para
a água, perseguindo freneticamente uma bola de tênis
que ele próprio tratava de arremessar. Foi quando o fotógrafo se perguntou qual seria a aparência do animal
enquanto nadava.
O resultado? Bem, a foto de abertura desta reportagem é justamente do brincalhão Buster. Depois de
capturar esse registro, Seth deu início a uma série de
ensaios fotográficos com mais de 250 cães, entre labradores, golden retrievers, boston terriers, yorkshires, pastores alemães, pugs e muitas outras raças. Por
meio de jogos e brincadeiras, Seth incentivou os cães
a adentrarem o universo aquático e registrou a divertida experiência.
Depois do sucesso na internet, o projeto virou livro,
que conta mais de 80 fotos selecionadas entre quase
300 mil – nos Estados Unidos, Cachorros submarinos foi considerado o melhor livro-presente pelas
revistas Entertainment Weekly e The Oprah Magazine. Aliás, o êxito foi tão grande que a obra ganhará
em breve uma sequência – Filhotes submarinos, a
ser publicado por aqui também pela Intrínseca ainda
neste semestre.
Negócios
Negócios
Negócios
Escreva
sua própria
história
Por MAURÍCIO LOUZADA
É verdade! O momento parece um tanto quanto conturbado! Gasolina que sobe, desemprego batendo na porta, escândalos de corrupção e uma situação econômica
instável. O cenário perfeito para entrar em desespero, e
para os mais pessimistas, esperar pelo pior!
No meio de tanto caos está o seu negócio no mercado
editorial, em um país que, sabemos, não tem a cultura
como sua principal prioridade. O que fazer? Arrancar os
cabelos?
Calma! Antes de qualquer ação impensada, convido você
a olhar a situação por um outro ponto de vista e se concentrar naquilo que realmente importa: as suas ações.
Tenho falado constantemente em minhas palestras uma
frase, que de tanto ser repetida está virando um bordão:
“VOCÊ NÃO PODE CONTROLAR O MERCADO, MAS
PODE CONTROLAR A FORMA COMO REAGE A ELE.”
Simples, direto e verdadeiro. Podemos escolher se seremos vítimas da situação ou se escreveremos nossa própria história. Se sua opção for a primeira, pode parar de
ler este artigo no próximo ponto final.
Se a sua opção for a segunda, convido você para ler algumas dicas que podem ajudar a fazer deste momento
uma grande oportunidade de crescimento:
1 – Estabeleça metas claras para sua equipe
Só podemos atingir ou superar aquilo que podemos
mensurar. É altamente recomendável que, pelo menos
uma vez por mês, você faça uma reunião com sua equipe
deixando claro quais as metas a serem atingidas e como
isso impacta na manutenção do seu negócio.
A partir do segundo mês, mostre também os resultados
do mês anterior e discuta com sua equipe os fatores que
levaram ao sucesso nas metas atingidas e o que pode ser
melhorado naquelas que não foram alcançadas. Estas
metas devem ser quantitativas (número de exemplares
vendidos, receita bruta total etc) e qualitativas (percepção do cliente quanto à qualidade no atendimento, organização da loja e disposição dos títulos etc).
Quando as pessoas sabem onde devem chegar, fica mais
fácil de engajá-las na busca por resultados – a nossa dica
número dois.
2 – Engaje sua equipe na busca por resultados
Nenhum ser humano quer ficar atrás de um balcão ou
no meio das estantes de uma loja esperando o salário
chegar. Seres humanos, por natureza, gostam e são movidos por desafios. Se estão parados, apáticos e desmoti-
vados é porque não foram verdadeiramente desafiados.
Por isso as metas devem ser, ao mesmo tempo, atingíveis e ousadas. É importante lembrar que o profissional
responsável pelo atendimento ao cliente é o único capaz
de transformar uma intenção de compra em uma venda
concretizada: portanto, não meça esforços para motivar
este profissional, reconhecer seu desempenho e estimulá-lo a alcançar metas.
Procure orientá-lo sobre a importância de seu trabalho
no dia-a-dia. Recompense a equipe de alguma maneira.
Nem sempre recompensa precisa ser dinheiro (afinal
neste momento, convenhamos, este pode ser um recurso bastante escasso), mas um café da manhã diferenciado, um almoço ou até mesmo um evento interno onde os
mais bem posicionados são reconhecidos publicamente.
Ouvir um “muito obrigado, seu trabalho foi incrível”,
muitas vezes, pode ser a maior recompensa que um profissional pode receber.
3 – Inspire as pessoas a buscarem sempre o “melhor”
Expectativas positivas geram resultados positivos. Portanto, espere o melhor das pessoas que trabalham com
você. Da mesma forma, procure oferecer o melhor de si
para seu time.
Não permita, em hipótese alguma, que frases tendenciosamente negativas invadam o ambiente. As pessoas
compartilham com facilidade pensamentos ruins. Basta
alguém falar que algo não vai dar certo para que os demais sejam contagiados por este sentimento.
Para criar um ambiente positivo, comece por você mesmo: repita quantas vezes forem necessárias, para todas
as pessoas, que você acredita plenamente na capacidade
da equipe em atingir metas, de superar momentos de
crise e de se diferenciar da concorrência pelo bom atendimento e pelo próprio espírito de união do grupo.
Busque os pontos fortes do seu negócio e compartilhe
sempre com as pessoas, dizendo em alto e bom tom: “É
isso o que nos diferencia”.
Não permita que alguns pensamentos prontos como:
“Somos pequenos, menores que a concorrência, por isso
eles têm inúmeras vantagens sobre nós” determinem o
fracasso das metas propostas. Mostre que, independentemente do tamanho e das condições externas, vocês
estão preparados para a vitória.
Conto uma história, em uma de minhas palestras, sobre
um atleta etíope chamado Abebe Bikila, que em 1960,
“
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Nenhum ser humano quer
ficar atrás de um balcão ou no
meio das estantes de uma loja
esperando o salário chegar.
Seres humanos, por natureza,
gostam e são movidos por
desafios. Se estão parados,
apáticos e desmotivados
é porque não foram
verdadeiramente desafiados
”
durante a maratona das Olímpiadas de Roma, bateu o
recorde mundial naquela modalidade.
Ele veio de um dos países mais pobres do mundo, não
era o favorito e os narradores nem sequer conheciam
seu nome. O mais impressionante é que ele venceu a
maratona completamente descalço!!! Foi motivo de chacotas e risadas na linha de largada.
Mas, ao vencer a prova, deu a resposta a todos que olhavam incrédulos e admirados. Quando perguntado por
um repórter o motivo de ele ter corrido descalço, suas
palavras foram devastadoras:
– Eu corri descalço porque queria que o mundo soubesse que na Etiópia nós vencemos com determinação
e heroísmo.
Ele havia escolhido escrever sua própria história e não
se entregar às condições que o envolviam. E você? O que
vai decidir?
Maurício Louzada
é formado em
Professional Coach
pela Bridgestone AC
(Londres) e ministra
treinamentos e palestras
motivacionais em
todo o Brasil.
Pela editora Pandorga,
publicou o livro Pra valer –
Impossível é somente
aquilo que você ainda
não tentou. Contato:
www.mauriciolouzada.com.br
Quadrinhos
Quadrinhos
Quadrinhos
PERIGO SOBRE RODAS
Em uma história em quadrinhos sem personagens, quadrinista britânico
explicita a fatal combinação entre homens e carros
O Brasil é o grande campeão mundial no ranking de mortes no trânsito. Em 2010,
tivemos 21,5 mortos para cada 100 mil habitantes – número que poderia ser maior
se as estatísticas levassem em conta as pessoas que morrem horas depois dos acidentes.
Ainda assim, nossa liderança nesse quesito está assegurada. A Argentina, por exemplo, tem 12,6 mortos por 100 mil, enquanto que a Inglaterra mal chega aos 3 mortos.
Os desastres de trânsito também são a principal causa de morte de crianças brasileiras: 43,7% das vítimas fatais, sendo que 38% das mortes de crianças por acidente
acontecem por atropelamento.
Os números são terríveis, mas o que de fato se faz a respeito disso? “Governantes se
elegem prometendo mais estradas, e as propagandas continuam a prometer carros
mais incríveis, mais velozes. Sabemos que essa é uma estrada sem saída, mas continuamos nela, velozes”, escreve o quadrinista britânico Woodrow Phoenix no posfácio da edição brasileira de seu livro Autocracia, recém-lançado pela editora Veneta.
Se outros se mexem, o escritor usou as armas que tinha a mão – lápis e papel – e criou
uma obra que é uma espécie de manifesto gráfico contra a sociedade do automóvel.
Nela, Woodrow Phoenix mistura sua experiência pessoal, estatísticas internacionais
sobre o trânsito e casos relatados na imprensa. O resultado é uma importante e inquietante reflexão sobre nossa perigosa relação com os carros e a velocidade.
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Memória
Memória
Memória
Carta a uma jovem atriz
Organizado pelo escritor Márcio Borges, parceiro
inicial de Milton Nascimento e um dos fundadores
do Clube da Esquina, o livro Cartas da Humanidade,
lançado pela Geração Editorial, traz uma seleção de
140 mensagens redigidas por políticos, artistas, religiosos e personalidades como Zaratustra, Che Guevara, Jânio Quadros e Albert Einstein. Uma leitura
surpreendente em um volume respeitabilíssimo, cuidadosamente editado e contextualizado, que abrange 5 mil anos de história. A carta a seguir, datada de
1951, foi escrita pelo cineasta Elia Kazan a Marilyn
Monroe – e os conselhos do experiente diretor à jovem atriz encontram eco ainda hoje. Confiram...
*
Recebi seu telefonema por Ogden. Então, sentei-me
e escrevi pela primeira vez em meu diário, ao que
parece em meses (de fato, duas semanas). A per-
gunta que você me fez logo antes de o trem partir –
não se pergunte aquilo de novo. Você sempre estará
comigo onde quer que eu vá. Eu sempre inventarei
um modo de nos vermos. Farei tudo que puder para
ficar tão perto de você quanto seja possível, conforme as circunstâncias. E sempre serei, espero, seu
amigo íntimo... até mesmo quando você se casar e
tiver filhos. (Sei que quando ficar verdadeiramente
livre e independente, por sua própria conta, vai conhecer alguém que será todo seu.) Você disse algo
no último dia que me fez feliz. Disse que eu lhe fiz
sentir que nunca teria que se conformar novamente com o segundo lugar. Você ficou um pouco calejada estando com homens que continuam derrubá-la. Jim não teve nenhuma utilidade real para você,
exceto para fazê-la dormir mais depressa. Você
estava completamente sozinha com ele. Fred disse
que você era comida para uma coisa só e geralmente
obtinha prazer em humilhá-la. E Johnny – de lon-
pág. 39
ge, o melhor dos três – tornou-a dele quando você
realmente não o amava – o que é uma coisa terrível para se fazer a qualquer um. Você buscou abrigo sob seu teto como um animal ferido. E atrás de
tantas dessas coisas que você costumava me dizer
– especialmente nas primeiras semanas –, há um
impressionante senso de inutilidade. Por que, por
exemplo, Art M. não devia chegar e levá-la no carro
dele – por que você devia ser “usada” indo às festas
de táxi? Não que você seja minha queridinha, mas
pelo amor de Deus, você é tão melhor que as pessoas que dão as festas! Se você é boa o bastante para
mim, tenha isso em mente, é boa o bastante para
qualquer outro! Você merece o melhor! E vai tê-lo.
Não quero que você devaneie a meu respeito ou de
Art. Eu a quero quando estiver pronta, quando você
realmente conhecer o sujeito certo para se casar
novamente e dormir todas as noites com um companheiro que ama, e tiver sua própria família e seus
próprios filhos e sua própria casa. Você pode ter todas essas coisas, e as merece. Espere por elas!!! O
primeiro passo é você se construir.
Até.
1. Trabalhe. Torne-se uma atriz profissional. Agora
você é uma criança com uma personalidade e olhares. Mais talento ingênuo, mais um bom rosto na
tela! Aprenda tudo!
2. Consiga seu próprio lugar. Viva só. Organize sua
vida. Leia umas duas horas por dia. Você vai jogar
fora muito tempo ao telefone com idiotas, sendo fotografada por idiotas etc., rodando por aí sabe deus
fazendo o quê. Tudo que você tem é o tempo... Mantenha pelo menos seis horas de cada porra de dia
para você. Fazendo o que você quiser, não fazendo o
que outras pessoas querem que você faça.
3. Corte aquele negócio de solo com Natasha. Bote
fé no que eu digo sobre isso, que ela é mortal como
sua amiga única. De mais maneiras que eu possivelmente possa lhe explicar. Sei muito mais sobre esses
tipos. Eu até gosto dela, mesmo. Realmente gosto.
Mas ela é veneno como companheira de quarto. Lute
pelo que você quer. Leve Clara com você. Você ficará
tão contente! Faça isso, logo, agora. Nunca a deixe
novamente nas fases sãs. Ela é uma amiga neurótica
ocasional interessante. Desfrute-a, não confie nela!!!
4. Não saia com Pat de C. Você nunca achará lá ninguém,
a não ser as pessoas que despreza. Saia com jovens escritores, diretores... e – se não puder evitar – atores, produtores. Em seu coração, que é honesto e muito perceptivo,
você despreza esses idiotas. É de todo um insulto a você,
e, de certo modo, a eles, saírem juntos.
5. Seja orgulhosa de si. Confie em si. Leia Ralph Waldo Emerson em Autoconfiança. Invista em si mesma.
Estude. Vá realmente à faculdade. Faça-o na semana
que vem. Não no ano que vem! Se você não começar
direito agora, acho que nunca irá. Estou sendo duro
com você de propósito, mas é o que penso.
6. Não deixe que clareiem muito seus cabelos. Não os
deixe também pôr vestidos muito de puta em você.
Fale mais alto. Seu gosto é naturalmente excelente.
Não aceite merda de qualquer um. Mas escute o ponto de vista de todo mundo.
7. Faça o que eu lhe digo.
8. Agora. Por que eu sempre acabo dissertando para
você? Não vou mais. Mas relate progressos ou eu
faço de novo! Isso é uma ameaça!
Nenhuma noite jamais será a mesma.
Elia Kazan (Constantinopla, 7 de setembro de 1909 –
Nova York, 28 de setembro de 2003) foi um cineasta
greco-americano, filho de pais gregos, que se tornou
um famoso diretor de teatro da Broadway na década
de 1940. Mais tarde desenvolveu também uma bemsucedida carreira no cinema. Em 1952, foi acusado
de denunciar colegas ao Comitê de Investigações
de Atividades Antiamericanas, em plena era do
macarthismo. Marilyn Monroe, nascida Norma Jean
Baker (Los Angeles, 1º de junho de 1926 – Los Angeles,
5 de agosto de 1962) foi uma das mais famosas estrelas
de cinema de todos os tempos e considerada um dos
maiores símbolos de sensualidade do século XX.
História
História
História
A Princesa Isabel
contra os donos
do poder
Por MARCOS COSTA
Um dos episódios mais importantes da história do país, a
abolição da escravatura é também uma chave para entender as contradições do Brasil de hoje. No artigo a seguir, o
historiador Marcos Costa, contextualiza o episódio – que
é um dos temas de seu livro O Reino que Não era deste
mundo – Crônica de uma República não-proclamada, lançamento da editora Valentina.
No início do ano de 1888, o Imperador D. Pedro II
encontra-se gravemente doente, numa viagem de tratamento pela Europa, e a Princesa Isabel está à frente
do governo do Brasil na sua Terceira Regência. Há uma
apreensão generalizada na sociedade brasileira. Do
lado da elite – fazendeiros escravocratas –, o medo era
de que o Imperador morresse e tivesse início o Terceiro Reinado. Do lado da Princesa Isabel, a apreensão se
explicava pelo fato de que, para a monarquia brasileira,
o Terceiro Reinado já havia começado – e era hora de
romper os diques e partir para o tudo ou nada.
No dia 13 de maio de 1888, numa canetada, a Princesa
fez o que o Imperador D. Pedro II não teve coragem de
fazer em quase 50 anos de reinado: pôr fim a um estado de coisas que persistia na sociedade brasileira há
quatrocentos anos. Com esse gesto singelo, diz ao que
veio e que não estava para brincadeira.
Este ato, profundamente hostil contra os donos do
poder, é revestido de extrema coragem pela Princesa
Isabel e de extrema importância para o Brasil, pois a
partir desse momento deixa de existir o principal entrave para o desenvolvimento do país e o último elo
com o passado colonial: a escravidão. Passamos a conviver, segundo Sérgio Buarque de Holanda, entre dois
mundos: um definitivamente morto e outro que lutava
por vir à luz.
Mais dia menos dia essa decisão teria que ser tomada.
A monarquia brasileira estava contemporizando com o
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problema desde os anos 1840. Foi a partir dos desdobramentos da Revolução Industrial que haviam começado as articulações da Inglaterra para acabar com a escravidão no mundo. A pressão sobre o Brasil, por meio
da lei Bill Aberdeen de 1845, foi o segundo batismo de
fogo do imperador D. Pedro II, então com 20 anos. O
primeiro foi a superação da própria resistência interna à monarquia no período das regências. No entanto, para o jovem imperador, o fim do tráfico negreiro e
da escravidão, numa canetada, representaria um risco
enorme para a monarquia que representava, visto que
as maiores fortunas da época eram oriundas justamente deste tipo de comércio. Seria um suicídio político.
A lei Eusébio de Queiroz de 1850, proibindo o tráfico
negreiro, só foi possível pois o imperador contou com
a astúcia de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de
Mauá, que soube transformar a desgraça iminente da
elite brasileira em uma oportunidade de negócio infinitamente melhor, transformando-a de traficante em
rentista. A imensa quantidade de capital que ficou
disponível para empréstimo ao setor produtivo e comercial transformou a cidade do Rio de Janeiro, com
o surgimento de novas casas comerciais, novas ruas,
iluminação pública, linhas de bonde etc. Para o imperador, ficou claro que qualquer alteração na esfera dos
negócios que envolvia os donos do poder teria que vir
acompanhada de mecanismos de compensação profundamente atrativos e compensatórios. Caso contrário, a
guilhotina estava posta.
Os fazendeiros escravocratas formavam a base de sustentação política e econômica da monarquia, e se indispor com este setor da sociedade era quase um suicídio. A solução deveria vir a longo prazo, e o imperador
projetou essa mudança para ocorrer num possível Terceiro Reinado. Sendo assim, a primeira questão a ser
resolvida era a da sucessão ao trono. Todos os filhos
homens do Imperador D. Pedro II haviam morrido ainda na infância, de modo que a Princesa Isabel tornou-se a herdeira presuntiva do trono. Dada a situação da
mulher no século XIX, numa sociedade patriarcal, era
necessário tratar do casamento da Princesa. O imperador escolheu um príncipe francês, o Conde D’Eu, cujo
pensamento liberal ia ao encontro dos seus projetos
para o Brasil.
Dois aspectos da vida da Princesa Isabel e do Conde
D’Eu demonstram claramente qual era o pensamento
de ambos a respeito dos rumos que o Brasil deveria
tomar. Nas viagens à Europa, podemos perceber como
a princesa se interessava pelos avanços que a Revolução Industrial estava proporcionando. A cada dia se
convencia mais de que o Brasil devia primeiro ir diminuindo aos poucos a sua dependência para a produção
e exportação de commodities e, em segundo lugar, se
livrar do trabalho escravo. É emblemático que no fim
da Guerra do Paraguai, em 1870, um dos primeiros
atos do Conde D’Eu seja decretar o fim da escravidão
naquele país.
“
No dia 13 de maio de 1888, numa
canetada, a Princesa fez o que o
Imperador D. Pedro II não teve
coragem de fazer em quase 50 anos
de reinado: pôr fim a um estado de
coisas que persistia na sociedade
brasileira há quatrocentos anos.
”
Não vai ser por acaso também que nas regências da
Princesa Isabel as decisões mais importantes no sentido de abolir a escravidão serão tomadas. Na primeira
regência, em 1871, ela aprova a Lei do Ventre Livre e,
depois, a Lei dos Sexagenários. Essa atitude e os fomentos à imigração, à industrialização, ao comércio
etc., deixaram os fazendeiros com a pulga atrás da
orelha. Desde a atitude do Conde D’Eu de libertar os
escravos no Paraguai, os fazendeiros já haviam percebido que o Terceiro Reinado vinha se desenhando de um
modo completamente desfavorável para a manutenção
do ruralismo, do escravismo e da monocultura do café.
As políticas progressistas da Princesa Isabel objetivavam conectar a Monarquia com outra elite, arrivista,
urbana, liberal, industrial, comerciante, que vinha ascendendo desde as mudanças operacionalizadas nos
anos 1850. Essa outra elite começava a aparelhar o Estado, com a conivência e o beneplácito da monarquia.
Não é por acaso também que logo depois de aprovada
a Lei do Ventre Livre na primeira regência da Princesa
Isabel, nasce no Brasil o movimento Republicano e em
1873, o Partido Republicano Paulista, o grande articulador do golpe de 1889.
Marcos Costa é formado em História pela
Unesp – campus de
Assis. Tornou-se Mestre
e Doutor em História
Social também pela
UNESP.
TOP 100 EDITORAS DISTRIBUÍDAS
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Nesta página, listamos, por ordem alfabética, as 100 editoras que registraram, nos meses de novembro e dezembro de
2014, o maior volume de vendas e negócios com a Superpedido. Agradecemos a parceria de todos.
ALAUDE
ALEPH
ARQUEIRO
ARTMED
ATICA
AUTENTICA
AVE MARIA
BELAS LETRAS
BICHO ESPERTO
BLU EDITORA
BRASILIENSE
BRINQUE BOOK
CAMBRIDGE
CASA DA PALAVRA
CASA LYGIA BOJUNGA
CLIO
COMPANHIA DAS LETRAS
CONTEXTO
CONTRAPONTO
CORTEZ
COSAC & NAIFY
DARKSIDE
DSOP
DVS
EDGARD BLUCHER
EDIOURO - PASSATEMPO
EDIPRO
EDITORA 34
EDITORA DCL
ELSEVIER
ESTACAO LIBERDADE
FEB
FTD
FUNDAMENTO
GEN
GENTE
GERACAO
GIRASSOL
GLOBAL
GLOBO
GMT SEXTANTE
GRYPHUS
HQM
INTRINSECA
IRMAOS VITALE
ITATIAIA
JOHN WILEY & SONS
JORGE ZAHAR
L&PM
LAFONTE
LEYA
MADRAS
MANOLE
MARTIN CLARET
MARTINS
MATRIX
MELHORAMENTOS
MODERNA
MUNDO CRISTAO
NACIONAL
NOBEL
NOSSA CULTURA
NOVA FRONTEIRA
NOVO CONCEITO
NOVO SECULO
OBJETIVA
ORIGINAL
OXFORD
PANDORGA
PANINI
PAPALEGUAS
PAPIRUS
PAULUS
PEARSON
PENSAMENTO
PERSPECTIVA
PETIT
PLANETA
POSITIVO
PUBLIFOLHA
RECORD
REVINTER
ROCCO
SAIDA DE EMERGENCIA
SARAIVA
SCIPIONE
SENAC
SPRINGER VERLAG
SUMMUS
TAYLOR & FRANCIS BOOKS
THOMAS NELSON
TODOLIVRO
UNIVERSO DOS LIVROS
VALE DAS LETRAS
VALENTINA
VENETA
VERGARA & RIBA
VIDA E CONSCIENCIA
VOZES
WMF
Para conhecer a lista completa de editoras distribuídas,
ligue para a central de vendas ou acesse o portal.
TOP 20 LIVROS MAIS VENDIDOS
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Confira na lista a seguir os livros mais vendidos na Superpedido nos meses de novembro e dezembro de 2014.
Para não perder oportunidades, mantenha o estoque de sua livraria sempre abastecido com estas obras.
SE EU FICAR - E SE VOCE
TIVESSE QUE ESCOLHER? ISBN: 9788581635415 R$ 29,90
PEQUENO PRINCIPE, O
48 ED.
ISBN: 9788522005239
R$ 19,90
11
16
CIDADES DE PAPEL
ISBN: 9788580573749
R$ 34,90
14
SANGUE DO OLIMPO, O
VOL. 5 ISBN: 9788580575958
R$ 39,90
MINIDICIONARIO AURELIO
HISTORICA 100 ANOS SEM
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