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REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE Editora da UFSC REVISTA CIÊNCIAS DA SAÚDE ISSN 0101 – 9546 Revista Ciências da Saúde Florianópolis V. 24 N. 1/2 P. 1-103 2005 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor: Lúcio José Botelho Vice-Reitor: Ariovaldo Bolzan CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Diretor: Cleo Nunes de Sousa EDITORA DA UFSC Diretor Executivo: Alcides Buss Conselho editorial Eunice Sueli Nodari (Presidente) Cornélio Celso de Brasil Camargo João Hernesto Weber Luiz Henrique de Araújo Dutra Nilcéia Lemos Pelandré Regina Carvalho Sérgio Fernando Torres de Freitas Revista Ciências da Saúde é uma revista semestral editada pelo Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina. Comissão Editorial: Tânia Silvia Fröde (Editora-chefe), Roberto Henrique Heinish, Inês Beatriz Rah, Liliane Janete Grando, Elisabeth Wazlawik, Letícia Scherer Koester, Maria Itayra Coelho de Souza Padilha. Comissão Consultiva: Cleusa Rios Martins (UFSC); Deisi Maria Vargas (FURB); Denise Guerreiro (UFSC); Denise Maria Belliard Oleiniski (UFSC); Eduardo Monguilotti Dalmarco (FURB); Elizabeth Wazlawik (UFSC); Emília Addison (UFSC); Francisco de Assis Guedes de Vasconcellos (UFSC); João Luiz Gurgel Calvet da Silveira (FURB); Letícia Koester (UFSC); Eliete Canes de Souza (UFSC); Luciane Peter Grilo (Univali); Marcos Antônio Segatto Silva (UFSC); Marlene Zanin (UFSC); Maurício Pereima (UFSC); Mercedes Gabriela Ratto Reiter (FURB); Mercedes Raiter (FURB); Miriam de Barcellos Falkenberg (UFSC); Ricardo Vieira (UFSC); Rosane Gonçalves Nitschke (UFSC); Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC); Silvio Monteiro (UFSC); Vera Tramonte (UFSC). Editoração: Flávio Fontes de Oliveira e Claudia Crespi Garcia Capa: Paulo Roberto da Silva Secretário: Luiz Vicente Vieira (Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina) Revista Ciências da Saúde / Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. -- v.1, n.1 (1982)- , - Florianópolis: Imprensa Universitária, 1982. v.: 27cm Semestral ISSN 0101-9546 1.Ciências Médicas. 2. Saúde – pesquisas I. Universidade Federal de Santa Catarina. II Centro de Ciências da Saúde. Indexada na Base de Dados LILACS Endereço: Revista Ciências da Saúde - Secretaria do Centro de Ciências da Saúde da UFSC Campus Universitário - Trindade Caixa Postal 476 88040 970 - Florianópolis - SC Telefone (0xx) 48 3721-9525 / 3721-9783 / (0xx) 48 3721-9712 ramal 211 SUMÁRIO Editorial............................................... 08 GESTANTES E SAÚDE BUCAL: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL [Pregnants and oral health: a social representation study] Mirelle Finkler; Denise Maria Belliard Oleiniski; Flávia Regina Souza Ramos.............. 10 ESTUDO COMPARATIVO DOS PERFIS DE DISSOLUÇÃO DE COMPRIMIDOS DE HIDROCLOROTIAZIDA (HCTZ) COMERCIALIZADOS NO BRASIL [Comparative study of dissolution profiles of hydrochlorothiazide tablets marketed in Brazil] Ariane Pinheiro Cruz; Talize Foppa; Patrik Oening Rodrigues; Teófilo Mazon Cardoso; Hellen Karine Stulzer; Marcos Antonio Segatto Silva.................................................... 19 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO NUTRICIONISTA EM SANTA CATARINA (1980 – 2003) [Nutritionist’s historic evolution in the state of Santa Catarina, Brazil (1980-2003)] Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos; Camila Elizandra Rossi; Mirele Costa................................................... 27 IMPORTÂNCIA ALIMENTAR DOS MOLUSCOS MARINHOS [Nutritional importance of sea molusks consumptions] Jane Parisenti; Vera Lúcia Cardoso Garcia. Tramonte........ 35 DÉFICITS DE AUTOCUIDADO DE ADULTOS COM PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS CRÔNICOS: ASMA E DPOC [Self-Care Deficiencies in Adults with Chronic Respiratory Problems: Asthma and DPOC] Sabrina da Silva de Souza; Janis Mantelli; Denise Maria Guerreiro Vieira da Silva; Miriam Süsskind Borenstein; Maria Cristina Garcia Kehring Salvador........ 42 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA O ENVELHECIMENTO: a ousadia de cumprir a lei [The daringness to comply with the law: the implementation of the Elderly Statute in the contexto of a Brazilian public health system] Ana Cristina Passarella Brêtas.................................................. 50 REFLETINDO UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA EMANCIPADORA NA ENFERMAGEM [Reflecting upon an emancipative pedagogical Nursing practice] Sabrina da Silva de Souza; Mariza Maria Serafim Mattosinho; Maria Seloi Coelho........................................ 55 PROMOÇÃO DO ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: um olhar sobre as práticas de cuidado e de promoção da saúde dos idosos rurais [Promotion of healthy aging: a look at care practices and the promotion of health for the rural elderly] Marilene Rodrigues Portella................ 62 REABILITAÇÃO DO PACIENTE GERIÁTRICO INCONTINENTE [ Rehabilitation of geriatric patient with urinary incontinence] Patrícia Fera; Maria Alice dos Santos Lelis; Regiane de Quadros Glashan........................... 70 UNIVERSIDADE ABERTA DA TERCEIRA IDADE EXTRA-MURO: PROMOVENDO O ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL [Third age outreach open university: promoting healthy aging] Edméia Campos Meira; Andréa dos Santos Souza. Alba Benemérita Alves Vilela; Edite Lago da Silva Sena......... 74 A ENFERMAGEM NO CONTEXTO DAS DEMÊNCIAS: um modelo assistencial [Nursing in the contexto of dementias: an assistance model] Ceres Eloah de Lucena Ferretti; Paulo H. F. Bertolucci............................................ 83 A. C.; Torres,G. G.; Pereira, K. G.; Borenstain, M. S................................. 92 Resumos Cuidado de enfermagem a criança e família em situação de emergência baseado na Teoria de Consecução de metas de Imogene King. Brandão,D.S.; Costa,K. R.; Vieira, M.; Farias, M. E.; Faria, A. M.......................................... 93 Assistência de Enfermagem na prevenção e controle de infecção ao paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva. Licinio Junior,N. J.; Nascimento, E. R. do.......................... 90 Promovendo autonomia para o cuidado humanizado ao portador de HIV AIDS em tratamento por anti-retro-viral fundamentada na teoria de Jean Watson. Vieira, L. C.; Tesse, K. R.; Erdmann, A. L..................................... 90 Amamentação materna: uma proposta assistencial direcionada ao serpuérpera-adolescente e sua família, fundamentada na teoria do autocuidado de Dorothea Orem. Isensee, E.; Brito, V. S.; Santos, E. K. A.............................. 90 Fortalecendo a competência do sermulher/gestante para o autocuidado: uma experiência assistencial à luz da Teoria de Orem. Silva, F. N.; Guesser,O.; Santos, E. K. A............... 91 Cuidando de gestantes e acompanhantes em busca da humanização. Buzzello, C. S.; Jesus, G.; Zampieri, M. F. M……………………... 91 Assistência à saúde da mulher: promovendo o autocuidado da mulher no climatério. Dal Ri, M.; Zolnowski S.; Coelho, E. B.S.................................... 92 O cuidado de enfermagem humanizado: uma vivência de interações enfermeira/recém-nascido/família na unidade neonatal. Bardt, A.; D’Ávila, F. S.; Zellner, M.; Oliveira, M. E.............. 92 Desmistificando a doença cardiovascular: educação em saúde como suporte para o autocuidado. Silva, A enfermagem como facilitadora da aproximação cultural da mulher-mãe, recém-nascido e família em Alojamento Conjunto, fundamentada na Teoria da diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural de Madeleine. Sebold, A.P.; Correa, F.; PettersV. R............... 93 O processo educativo de saúde como prática de enfermagem junto a um conselho local de saúde para construção do controle social no SUS. Petry, A. P.; Farias, L. C.; Verdi, M. I...................... 94 Saúde do trabalhador práxis educativa: refletindo sobre os riscos ocupacionais. Noceti, J. P.; Crispim, C. H.; Gelbcke, F. L.......................................................... 94 Assistência de enfermagem ambulatorial ao idoso em uso de medicamentos baseada na teoria de cuidado transcultural de Leininger. Souza,V. N.; Ignona,M. J. S.; Gonçalves, L. H. T.... 95 Assistência de enfermagem domiciliar a idosos e seus familiares na comunidade do Pântano do Sul/Fpólis-SC, baseada na Teoria da enfermagem Transcultural de Leininger. Vicente, C. A.; Silva, M. C. M.; Gonçalves, L. H. T........................ 95 Cada dia um novo dia: um desafio na busca da adaptação do recém-nascido portador de má formação, e sua família. Dias, A. G.; Minuzzi, A. P.; Oliveira, M. E.......................................................... 95 Condição crônica de saúde: um enfoque dialógico no cuidado transcultural. Garcia,C. C.; Martendal, M. P.; Goronzo, T. A.; Silva, D. M. G. V. da; Backes, M. S...................................... 96 Orientação pré-operatória ao cliente – uma medida preventiva aos estressores do processo cirúrgico. Souza, A. A.; Souza, Z. C.; Fenili, R......................... 96 Assistência de enfermagem préhospitalar, junto ao corpo de bombeiros, e intra-hospitalar, na unidade de emergência do hospital regional de São José “Dr. Homero de Miranda Gomes” fundamentada na Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Cunha, E. L.; Lago, L. M.; Eich, M.; Prado, M. L.; Radünz, V...................... 96 Estando com adolescentes que experienciam medida sócio-educativa de privação de liberdade. Santos, L. C.; Kretzer, M. S.; Ghiorz, A. da R.......... 97 O pai como foco central no processo de nascimento: uma proposta assistencial baseada na teoria Transcultural de Madeleine Leininger. Rossi, C. C.; Andrade, P.; Gregório, V. R. P............ 97 Um começo de vida inesperado: assistência de enfermagem na Unidade Neonatal promovendo a formação do apego entre recém-nascidos prematuros e seus pais. Franceschi Junior, A. N.; Passos, L.; Caetano, T. L.; Monticelli, M......................................................... 97 Administrando, informatizando e assistindo o cliente em condição crítica de saúde internado na UTI. Rosso, E. G.; Sifron, K. G.; Bub, M. B. C............ 98 Desenvolvendo habilidades administrativas e assistenciais de enfermagem em unidade hospitalar de cuidado ao paciente crítico. Rossetto, A.P.; Pinheiro,G. C.; Crestani, M. M.; Nascimento, E. R. P.; Gelbcke, F. L.......................................................... 98 Rumo a assistência de enfermagem informatizada em UTI – a definição de um banco de dados. Schmitz, L. M.; Klauck, M. L.; Vieira, T. T.; Bub, M. B. C......................................................... 99 Alimentos funcionais: um novo campo de trabalho para o farmacêutico. Zimmermann, J. V.; Leite, R. S.; Campos, C. M. T................................. 99 Desenvolvimentos de anamnsese estruturada para avaliar a relação do estresse com a doença cárie dental. Amante, C. J....................................... 99 Normas de Publicação...................... 101 Revista Ciências da Saúde Editorial A apresentação de uma revista ao público não é tarefa fácil, ainda mais quando a maioria dos leitores pertence ao mundo acadêmico ou são colegas da área da saúde e, certamente, com expectativas elevadas em relação aos veículos de informação. Nesta Edição procuramos enfatizar a principal mudança em relação às normas para publicação. Isto se deve a implementação e atualização das mesmas com o intuito de melhorarmos a qualidade e indexação da revista. Além disso, a decisão foi de publicar contribuições científicas originais de pesquisadores do campo da área da Saúde e não apenas dos professores do Centro de Ciências da Saúde. Outra mudança que acredito ser importante é em relação ao corpo de Avaliadores externos. Neste ano contamos com a participação de muitos Pesquisadores externos à UFSC, como por exemplo, USP-São Paulo, Univalli-Itajaí, FurbBlumenau, entre outras. Este fato denota a melhoria e o rigor na avaliação dos trabalhos publicados em nossa revista. O novo periódico nasce assim com expectativa de alcançar abrangência nacional e de granjear progressivamente o reconhecimento internacional. Esta iniciativa conjunta do corpo Editorial e da direção do Centro de Ciências da Saúde representada pelos Profs. Drs. Cleo Nunes de Souza (diretor) e Kenia.Schimitt Reibnitz (vice-diretora) UNIDA propõe construir uma forte revista científica da área da saúde brasileira, buscando inclusive sua qualificação junto aos indexadores de produção científica no país. Pretende também cumprir o objetivo de continuar apoiando a sistematização de experiências de mudança nos processos de formação e na prática dos profissionais de saúde. Este número da Revista Ciências da Saúde apresenta treze artigos científicos completos e 26 resumos representados pelas áreas de Análises Clínicas, Enfermagem, Farmácia, Nutrição e Odontologia. Estes trabalhos seguiram o trâmite normal do julgamento por pares, conduzido em caráter sigiloso sob o comando de Editores Associados. Já está se tornando uma característica regular da Revista da Saúde apresentar grande diversidade temática, de método e de vínculo institucional dos autores, distribuídos por todo o país. Outro fator importante é a de tomarmos conhecimento das pesquisas realizadas no Centro de Ciências da Saúde da UFSC para podermos interagir e assim buscarmos a interdisciplinaridade. Este é um passo importante e exigido 8 pelos órgãos de fomento que regulam os Programas de Pós-Graduações no país. Estes trabalhos incluem: artigos científicos originais da área da Odontologia, enfermagem, Análises Clínicas, Farmácia e nutrição; Trabalhos de conclusão de cursos na área da enfermagem e Farmácia; e Resumos de tese de doutorado na área de odontologia. Prezado Leitor, sinta-se bem-vindo à Revista Ciências da Saúde. Que essa leitura possa acrescentar-lhe conhecimento, acompanhado de satisfação. Sinta-se igualmente convidado a participar da construção desta Revista, enviando seus trabalhos, comentários e sugestões e divulgue-a entre seus colegas. Atenciosamente Tânia Silvia Fröde 9 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005 GESTANTES E SAÚDE BUCAL: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL1 [Pregnant women and oral health: a social representation study]1 Mirelle Finkler2 ; Denise Maria Belliard Oleiniski3 ; Flávia Regina Souza Ramos4 Resumo: Este trabalho apresenta uma das categorias obtidas em pesquisa qualitativa, no que se refere ao objetivo de compreender a representação social de gestantes sobre questões relacionadas a sua própria saúde bucal. Os resultados proporcionam uma aproximação com as experiências, valores, necessidades e expectativas das gestantes, contribuindo para a qualificação dos profissionais que lidam com a educação em saúde e favorecendo a interação e o diálogo entre os saberes científico e popular, no sentido da promoção de saúde e construção da cidadania. Palavras-chave: Saúde bucal. Assistência odontológica. Gravidez. Mulheres grávidas. Abstract: This paper presents one of the categories obtained by qualitative research, related to the objective of understanding pregnant women’s social representation about issues related to their own oral health. The results provide an approximation to the pregnant women’s experiences, values, needs and expectations, contributing to professional qualification for those who deal with health education and favoring the interaction and the dialogue between the scientific and the popular knowledge, in a sense of health promotion and citizenship. Keywords: Oral health. Dental care. Pregnancy. Pregnant women. Introdução O Brasil é um país detentor de altos índices de prevalência de doenças bucais, apesar da nova e recente tendência de declínio, pelo menos da cárie dental, nas crianças e adolescentes. A situação de saúde bucal não foge à regra da saúde de uma forma geral, que revela através da epidemiologia um país com grandes desigualdades sociais, mas é agravada pelo sistema de prestação de serviço odontológico deficiente, aliado a uma prática odontológica iatrogênico-mutiladora1-3. Modificar esta realidade, levando-se em consideração as necessidades da comunidade assistida, deve ser o propósito de todos os profissionais da Odontologia que trabalham em prol da saúde coletiva. ____________________ Almeja-se uma prática odontológica mais humana, eficiente e eficaz, que respeite democraticamente a dignidade dos indivíduos e dos grupos, dentro de seu contexto histórico, social e cultural e que consiga, dessa forma, promover a saúde geral através da saúde bucal. Para tanto, os trabalhos de promoção de saúde requerem, primeiramente, um conhecimento aprofundado sobre a população com a qual se irá trabalhar. Contudo, são poucas as pesquisas em Odontologia que propiciam esse conhecimento, considerando as pessoas e seus comportamentos a partir de sua inserção social, valores, crenças, ou seja, de seu sistema de significação4,5. Esse tipo de estudo exige uma abordagem diferente da qual a área tradicionalmente tem se utilizado. 1 Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora, intitulada “Representações sociais de gestantes sobre saúde bucal: uma referência para repensar a assistência odontológica matrno-infantil 2003. 163f. Dissertação (Mestrado em Odontologia) – Curso de Pós-Graduação em Odontologia, Universidade Federal de Santa Catarina, 2003. 2 Cirurgiã-dentista. Mestre em Odontologia. Professora Substituta do Departamento de Estomatologia / UFSC. 3 Cirurgiã-dentista. Doutora em Odontologia. Professora Adjunta II do Departamento de Estomatologia / UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Odontologia / UFSC – Orientadora. 4 Enfermeira. Doutora em Filosofia de Enfermagem. Professora Adjunta IV do Departamento de Enfermagem / UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem / UFSC – Co-orientadora A metodologia de pesquisa chamada qualitativa, enraizada na Antropologia 10 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005 Social, tem por pressuposto que o real só pode ser apreendido a partir da ordem simbólica, uma vez que a realidade é uma construção social. Neste contexto, a saúde e a doença possuem uma realidade independente de sua definição biomédica6, pois geram uma necessidade permanente de serem interpretadas no âmbito das conversações grupais. A doença ultrapassa o saber médico, abrange também o saber do cotidiano leigo, o senso comum7. Possui uma dimensão individual, presente nas experiências de adoecer, e outra social, refletida nas permanências culturais das representações8. As representações sociais, cuja teoria foi proposta por Moscovici em 1961, são formas de conhecimento que circulam na sociedade, que são parte da cultura erudita, científica e popular, que se misturam, se retroalimentam mutuamente e se apresentam como recursos sociais para que uma comunidade possa dar sentido à sua realidade e conhecer o que está acontecendo9. As representações sociais têm sido amplamente utilizadas na pesquisa social em saúde8, pois a densidade existencial intrínseca à área, a especificidade da articulação entre o conhecimento científico e os tradicionais e/ou divulgados pela mídia, favorecem a atualização de significações e de valores socialmente compartilhados, para os quais a teoria das representações sociais é particularmente apropriada10. Uma ação de saúde pode tornar-se ineficaz quando nem sequer se conhece o que pensam as pessoas ao nível de representação e quais são as informações que têm sobre sua saúde. A teoria das representações sociais contribui para a identificação dessas necessidades e oferece às práticas de saúde outras contribuições, tais como abandonar a visão do processo educativo em saúde como um simples processo de transmissão de informações e retomar o encontro do conhecimento científico com o senso comum11. Entendendo a família como um espaço primário de relacionamento social, as mulheres e mães exercem uma influência especial12, principalmente nas questões relacionadas à saúde, pois atuam como agentes produtoras de conhecimentos, informações e atitudes que visam à promoção da sua saúde e a de toda a sua família13,14. O período da gestação é considerado um momento ímpar na vida da mulher, no qual ela se encontra bastante receptiva a informações relacionadas ao futuro filho e à transformações de comportamentos pessoais e familiares. As gestantes são, por esta razão, consideradas um grupo especial para os trabalhos de educação em saúde4,13,14. Compreender suas representações sociais sobre a própria saúde bucal, objetivo desta pesquisa*, contribuiria, portanto, para a interação e o diálogo entre os saberes científico e popular, etapa fundamental para a construção de modos de trabalho capazes de se reverter em reais benefícios para a população15. Metodologia Considerando-se os aspectos éticos que envolvem as pesquisas com seres humanos, o projeto desta pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC, sendo que a concordância das gestantes em participar da pesquisa e a permissão para a sua realização nas instituições selecionadas foram obtidas através de Termos de Consentimento Livre Esclarecido. As gestantes entrevistadas foram encontradas através de dois locais de serviços de saúde pré-natais em Florianópolis, um público e outro privado, conseguindo-se, dessa forma, incluir no estudo pessoas das diferentes classes sociais que formam o senso comum. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas. Para garantir o rigor metodológico e a conseqüente qualidade da pesquisa, o questionário elaborado foi submetido à avaliação de dois especialistas e, posteriormente, testado com uma gestante. 11 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005 Procurou-se alcançar o máximo de fidedignidade possível, através do uso de um gravador eletrônico em todas as entrevistas e pela sua transcrição imediata, realizada pela própria pesquisadora. Tendo em vista que "a amostragem qualitativa necessita de um número suficiente de sujeitos para permitir certa reincidência de informações"7, ao final da décima-segunda entrevista, o critério de saturação foi considerado satisfeito, perfazendo o total de 12 entrevistas. A análise das falas transcritas foi realizada através dos processos de ordenação dos dados, categorização inicial, reordenação e análise final7,16, resultando na categoria "Odontologia na vida cotidiana", cujos principais resultados são apresentados e discutidos a seguir. As representações sociais das gestantes Dentista para quando se precisa A razão apontada pela maioria das gestantes para procurar o atendimento odontológico, mesmo antes de engravidarem, foi a necessidade sentida, que incluiu basicamente a dor e os problemas estéticos, limitando o atendimento procurado/recebido a situações pontuais: consultas emergenciais ou de revisões. O controle periódico da saúde bucal, com o intuito de se promover a saúde e prevenir doenças não emergiu do conteúdo das falas. No máximo, o controle da saúde bucal foi entendido como uma “manutenção” da higiene e uma “supervisão” profissional para se detectar problemas incipientes. Outros estudos também constataram ser a dor o estímulo necessário para a busca por atendimento odontológico por parte das gestantes14,17,18. Algumas das gestantes entrevistadas se autodenominaram “desnaturadas” ou “relaxadas” para irem em busca do atendimento, afirmando não lhes sobrar tempo para o tratamento até que a dor seja imperativa. O complicado acesso ao tratamento odontológico no SUS, com as dificuldades de marcação de consultas e esperas prolongadas interferindo no cotidiano, pode ser parte da complexa explicação para esse fato14,15,17. Segundo Martins (1993; 1999), este aparente desligamento da prevenção e a espera até o último minuto para procurar uma solução encontram justificativas nas coerções cotidianas e econômicas que dificultam ou quase impedem o acesso aos serviços de assistência odontológica19,20. Ao mesmo tempo, a representação social da prática odontológica inclui de forma marcante o medo do dentista e do atendimento odontológico associados à dor, ao instrumental, aos procedimentos e ao próprio profissional e sua equipe15,19,21. Atitudes de medo e pavor na ida ao dentista e na espera pelo atendimento, considerado uma “tortura”, têm sido relatadas17:10. Desse modo, a prática odontológica hegemônica se reflete em experiências bastante desagradáveis, especialmente quando os profissionais introjetam uma postura autoritária, como detentores do saber científico e pessoas diferenciadas socialmente, desconsiderando a carga emocional, as atitudes e medos presentes em tais atendimentos15,17. Torna-se evidente o porquê do acolhimento, atenção, paciência e capacidade de comunicação do dentista, serem citados como os principais elementos de qualificação do atendimento e do dentista ideal17,21. Sobre a imagem do cirurgiãodentista, Gerbert, Bleecker e Saub (1994) e Cruz et al. (1997) verificaram uma clara dissociação entre as representações dos dentistas de seus entrevistados e dos dentistas em geral21,22. Estes são representados de forma semelhante a vinculada pela mídia, por uma imagem bastante negativa, “como estúpidos, cruéis e incompetentes, enquanto seus próprios dentistas, graças à sorte dos pacientes (segundo seus próprios relatos), são compreensivos, amigos, delicados, dentre outros”21. Relembrando as primeiras experiências 12 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005 A maior parte das gestantes entrevistadas relataram ter ido ao dentista pela primeira vez ainda na infância e mencionaram suas experiências iniciais, de um modo geral, vinculadas a uma recordação/sentimento negativos, os quais parecem permanecer presentes. Nas décadas de 70 e 80, período em que as gestantes entrevistadas eram crianças, a prática odontológica era muito mais intervencionista e radical do que a atual. Naquela época, a idéia de que o desenvolvimento da cárie na dentição decídua não guardava nenhuma relação com a dentição permanente originou o raciocínio de que não havia necessidade de se tratar a dentição decídua23, recomendando o tratamento odontológico a partir dos três anos de idade, quando comumente as crianças já chegavam doentes nos consultórios. Além disto, os principais métodos de prevenção da cárie de alcance coletivo, a fluoretação das águas de abastecimento público e dos dentifrícios, tornaram-se obrigatórios e regulamentados somente a partir da lei n. 6050 de 24/05/74 e da portaria n. 22 de 20/12/89, respectivamente24, tendo beneficiado apenas as gestantes entrevistadas mais jovens, quando crianças. Diante desse contexto histórico e da escuta das gestantes, pode-se inferir que a experiência odontológica vivenciada por elas, tenha incluído a doença cárie e seu tratamento, aos moldes da época. Tais experiências, aliadas às opiniões e aos relatos de experiências de pessoas com as quais as gestantes convivem, colaboram para a construção de sua representação social relativa à saúde bucal, à Odontologia, ao cirurgião-dentista e ao tratamento odontológico. Ao mesmo tempo em que essas representações são construídas e reconstruídas, são também construtoras e como tal, influenciam o seu comportamento e o de todos que vivem e compartilham representações consigo, inclusive o de seus futuros filhos. Outras vivências que podem ter participado da elaboração das representações sociais das gestantes incluem a primeira ida ao dentista, já em busca de tratamento cirúrgico-restaurador. A idéia de uma rotina de acompanhamento de caráter preventivo não esteve presente na infância da maior parte das entrevistadas, fato comprovado pela descontinuidade dos tratamentos que realizam. Mesmo as gestantes que freqüentavam o consultório odontológico com periodicidade, relatavam fazê-lo por necessidade de tratar a doença. Somente duas gestantes, comentaram sobre a preocupação dos pais em levá-las para o tratamento odontológico preventivo. De outro lado, a despreocupação e/ou o desconhecimento dos pais sobre a importância do tratamento e dos cuidados com a saúde bucal, foi motivo de crítica e reflexão para algumas mulheres, atentando para o fato de que a influência familiar é esperada e quando se faz ausente ou deficiente, é sentida e cobrada. Aprendendo com os outros Dentro da família, são especialmente as mães que exercem forte influência na adoção de comportamentos e hábitos de saúde12-14,25. Neste estudo, as mães foram citadas como sendo a principal fonte de aprendizagem acerca da saúde bucal, seguidas pela escola, pelo dentista e pelos amigos, colegas de trabalho e pessoas conhecidas. A mídia também surgiu como um veículo de informações, porém, de forma muito menos consistente do que seria desejável e esperado, tendo em vista a magnitude do potencial de transformação social que alcança na sociedade, principalmente a televisão. Livros e revistas dirigidos a gestantes também foram reconhecidos como influenciadores de conhecimentos e comportamentos. Contudo, é interessante perceber que em vários momentos, as gestantes citaram conhecimentos oriundos de fontes indeterminadas, imprecisas: Ah, isso é... como é que eu vou te dizer, em conversas assim, informais. Porque alguém falou pra algum conhecido ou... sabe e esse 13 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005 conhecido passou pra outra, vai passando, vai passando até chegar na outra pessoa. (gestante 10). Tais respostas nos fazem objetificar o próprio processo de formação das representações sociais. Ao mencionarem conteúdos familiarizados desta maneira, as gestantes explicitam a validade que possuem, até então inquestionada. É válido observar também que nas representações sociais, o conteúdo é tão assumido pelos sujeitos, que a diferença entre o que se pensa e o que se ouviu dizer, parece desaparecer: [...] eu acho isso na minha opinião, né? Escutei isso aí. (gestante 2). Sobre este fato, Minayo (1999) explica que “as representações sociais não são necessariamente conscientes; perpassam o conjunto da sociedade ou determinado grupo social, como algo anterior e habitual...”7. São essas representações, cotidianamente construídas e reconstruídas, que regem práticas e comportamentos fundamentados nas conversações e experiências realizadas ao longo de suas vivências. “A única coisa que eu sei é que tem que escovar!” “Escovar sempre” e “escovar bem”, sintetizam a principal orientação que as gestantes possuem. A necessidade da higiene bucal pareceu estar muito bem arraigada em seus conhecimentos. Contudo, a tônica dos discursos colhidos foi a escovação, o que não significa dizer que as entrevistadas desconheçam a recomendação para o uso de fio-dental. Ao contrário, pode-se perceber claramente a veiculação da mensagem profissional. Contudo, foi evidente a ênfase dada à escovação em detrimento da importância do uso de fio-dental. Outro componente da representação apreendida foi a concepção da saúde como ausência de doença, ou seja, a necessidade do cuidado para a prevenção de problemas relacionados a dor, a doenças e a estética. Este achado está de acordo com o encontrado por outros estudos5,14 e é compreendido por Martins (1993; 1999) a partir das condições de tratamento a que as camadas populares se submetem, as quais não lhes permitem avançar na conceituação de 19,20 saúde/doença . Minayo (1999) chama a atenção para a percepção em nossa sociedade da saúde como uma virtude individual7. O entendimento simples e generalizado da visão médico-biológica, da saúde como ausência de doença, apresentado pelas gestantes, considera a saúde como algo endógeno e possível de ser controlado pela vontade pessoal. Tanto é que em nenhum momento nesta pesquisa, assim como no estudo de Bernd et al. (1992), as gestantes correlacionaram as doenças bucais às condições de vida, nem tampouco foi explicitada uma atribuição de responsabilidade aos serviços e à sociedade pelas más condições de saúde15. A dor de dente, além de ser um dos principais motivos para a busca do tratamento odontológico, aparece também como um sofrimento conseqüente da falta de cuidados individuais e também, do próprio tratamento. Se a saúde é uma virtude, a doença ou a dor parecem ser um castigo. Nuto (1999) também encontrou essa representação entre a população que estudou, sendo que os próprios dentistas e serviços de saúde bucal responsabilizam o indivíduo pelo seu adoecer. Desta forma, exime-se a prática odontológica e a própria sociedade de questionar o papel que desempenham na produção da doença15. Outro conhecimento relatado, apenas por metade das entrevistadas, diz respeito ao potencial malefício da sacarose. Contudo, historicamente a higiene e a alimentação são as duas “frentes” do trabalho educativopreventivo da Odontologia e por isso esperava-se que essa questão fosse mencionada com uma maior freqüência e importância. Considerando-se o processo de formação das representações sociais, uma possível explicação para esse resultado seria a influência da mídia nos conhecimentos e comportamentos que os indivíduos e grupos adquirem: reforçando à importância da 14 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005 higiene, principalmente com finalidade estética e de bem estar, veiculado nas propagandas de produtos de higiene bucal, tais como escovas, dentifrícios e 3 enxaguatórios bucais e ao mesmo tempo, estimulando o consumo de alimentos cariogênicos de forma inadvertida, por comerciais apresentados, principalmente no horário de audiência infantil26. Em relação ao consumo de alimentos cariogênicos e à dificuldade em se modificar hábitos alimentares é necessário se considerar a questão sócio-econômica (os carboidratos são alimentos financeiramente mais acessíveis) além da questão cultural, pelo significado que o doce possui em nossa sociedade, de prazer, de afeto/amor ou de compensação às frustrações12,15, ou simplesmente pelo paladar, onde “alguns encontram prazer [...] de modo a suportar os desprazeres da vida cotidiana”18. Das duas principais doenças bucais, as mais prevalentes em todo o mundo, a doença periodontal e a cárie3, somente a segunda possui uma representações social bem estabelecida5,27. Enquanto a doença cárie foi referenciada diversas vezes pelas gestantes - como cavidades nos dentes resultantes da falta de cuidados individuais e que possui uma relação com doçuras e com microorganismos - a doença periodontal pareceu ser desconhecida por quase todas as gestantes entrevistadas. Mesmo aquelas que relataram histórias de familiares possivelmente com a doença, não souberam explicar do que se tratava. A crença, já relatada na literatura, quanto ao prejuízo causado aos dentes por antibióticos17,28, tornando-os “sensíveis” ou “frágeis” e mais susceptíveis à cárie, também foi relatada neste estudo. É possível que a cariogenicidade dos xaropes, pelo teor de açúcar em suas formulações, quando empregados em alta freqüência ou o manchamento dental que as tetracliclinas – antibiótico amplamente prescrito na década de 70 – causavam, possam estar nas bases de tal crença. Práticas de autocuidado com a saúde bucal A escovação foi identificada como a prática central, quando não exclusiva, da higiene bucal das entrevistadas. A orientação para o uso rotineiro do fio-dental parece não ter obtido adesão. Já o uso de soluções enxaguatórias antissépticas e/ou fluoretadas foi mencionado por algumas gestantes como parte dos hábitos de higiene bucal. Porém pareceu haver alguma confusão no entendimento da finalidade desses produtos, vista que algumas vezes as gestantes falavam em flúor, talvez por se recordarem de tê-lo usado no período de vida escolar, mas pareciam querer fazer referência aos enxaguatórios antissépticos, freqüentemente anunciados na mídia. Algumas gestantes consideraram o tratamento odontológico parte dos cuidados que possuem com os dentes. Já o cuidado com a ingestão de sacarose e a prática de auto-exame bucal, uma forma importante e recomendável de conhecimento do corpo e de detecção precoce de alterações, foram citados por apenas uma entrevistada. Saúde bucal: um passaporte social O componente estético é um dos elementos preponderantes na construção da representação social da saúde bucal. A importância de um sorriso bonito, com dentes brancos, limpos e corretamente posicionados, perpassou todos os discursos registrados. Contribuindo para uma boa aparência, o sorriso bonito e saudável “abre portas” nos relacionamentos interpessoais, afetivos e profissionais, parte do complexo cotidiano social atual, além de ser quase uma condição para a entrada no competitivo mercado de trabalho. Outros estudos também referem o valor da saúde bucal pelo papel que os dentes desempenham na integração social e na obtenção de emprego ou promoção. A experiência do trabalho não apenas condiciona as condições de vida, pelo salário e oportunidades de consumo, mas é também uma forma de inserção na rede social, 15 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005 impondo razões para a constituição da saúde bucal enquanto valor15,19,20. Minayo (1999) afirma que em “relação à classe trabalhadora, o conceito subjacente na definição social de saúde/doença vinculado pela visão de mundo dominante é a incapacidade para trabalhar”7. Pela noção própria do sistema capitalista, do corpo do trabalhador como o seu único gerador de bens, fonte de subsistência e de reprodução, a representação da doença como sinônimo de inatividade, tem um caráter social e não natural7. Segundo Kern (1997), “se hoje a população busca tratamento (...) é porque o social em que vivem requer esse reparo (...) é o mercado de trabalho que exige uma estética perfeita, é a relação familiar que se preocupa com a saúde, é o amor próprio e a auto-estima”29:157. Retornando à questão da vida social e afetiva, a interação social ameaçada por problemas bucais remete a própria identidade depreciada, não só em si, mas também na dimensão social, pois “todo ser humano sente a necessidade de apresentar-se bem, relacionar-se bem e prosperar naquilo que busca.”29. Ferreira (2002) comprovou tal percepção em sua pesquisa, na qual a boca foi representada por sua função biológica (34,2%), mas ainda mais expressivamente por sua função psicossocial (65,8%) e considera que a imagem negativa da boca, pela ausência de dentes, desperta um sentimento de exclusão, estigmatizando as pessoas por esse traço distintivo, marcando a imagem social e as condições psíquicas dos indivíduos18. Sendo assim a importância da saúde bucal representada, o autocuidado e o tratamento odontológico são concebidos como valores. A saúde bucal também foi representada através do hálito agradável e de dentes saudáveis – “perfeitos e resistentes”, livres de doenças e de dor. Menos freqüente, mas também presente, foi o seu entendimento como parte constituinte da saúde geral das pessoas e do processo de saúde-doença em sua integralidade. Considerações finais A compreensão dos diferentes componentes que formam a representação social das gestantes sobre a própria saúde bucal proporcionam uma aproximação com os seus conhecimentos, experiências, valores, necessidades e expectativas, ou seja, com a realidade socialmente construída, com a qual se quer trabalhar para a promoção da saúde e da cidadania. Nesse sentido, conhecer, compreender e valorizar o saber popular constituem necessidades para que o diálogo entre os diferentes saberes e vivências aconteça, permitindo que nesse encontro, se produza o próprio saber popular, transformado em sua relação com o saber técnico, para o qual serve de instrumento, favorecendo a organização eficaz da população em busca de seus interesses. Referências bibliográficas 1. OLIVEIRA, A. G. R. C. Perfil Epidemiológico de Saúde Bucal no Brasil 1986-1996 1998. Disponível em: <http://planeta.terra.com.br/saude/angelonlin e/artigos/art_epid/ epi_bra.pdf>. 2. PINTO, V. G. Epidemiologia das doenças bucais no Brasil. In: KRIGER, L. (ed.). Promoção de saúde bucal: epidemiologia das doenças bucais no Brasil. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1999. p. 29-41. 3. WEYNE, S. C. In: A construção do paradigma de promoção de saúde: um desafio para as novas gerações. KRIGER, L. (ed.). Promoção de saúde bucal. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1999. p. 3-26. 4. ROCHA, M. 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Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e promovendo 17 Finkler, M. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005 saúde, Porto Alegre: Artmed, 2003. p. 117139. 25. COSTA, I. C. C., FUSCELLA, M. A. P. Educação e saúde: importância da integração dessas práticas na simplificação do saber. Ação coletiva, Brasília, v. 2, n. 3, p. 45-47, jul./set. 1999. 26. VILAÇA, E. L., PAIXÃO, H. H., PORDEUS, I. A. A mídia e as tendências de consumo de produtos contendo sacarose por crianças e adolescentes. Arquivo de Odontologia, Belo Horizonte, v. 33, n. 1, p. 15-24, jan./jun. 1997. 27. SCAVUZZI, A. I. F., ROCHA, M. C. B. S.; VIANNA, M. I. P. Percepção sobre atenção odontológica na gravidez. Jornal. Brasileiro. Odontopedia. Odontogica. Bebê, Curitiba, v. 1, n. 4, p. 43-50, out./dez. 1998. 28. SANTOS-PINTO, L. D. et al. O que as gestantes conhecem sobre saúde bucal? Jornal Brasileiro de. Odontopediatria. Odontologia. 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A semelhança entre R e S1 foi confirmada através da análise estatística da eficiência de dissolução (ED), o que corrobora a provável intercambialidade entre estas. A cinética de dissolução para as formulações ocorreu segundo um modelo de primeira ordem. Palavras-chave: Hidroclorotiazida, comprimidos, análise estatística, perfil de dissolução. Abstract: Mathematical and statistical models were used to characterize dissolution profiles of hydrochlorothiazide tablets (R, S1, S2 and S3). The difference (f1) and similarity (f2) factors demonstrated that the formulations have distinct dissolution profiles, except for R and S1. The similarity between R and S1 was confirmed through statistical analysis of dissolution efficiency (DE), probably ensuring the pharmaceutical equivalence. The dissolution kinetics of formulations follows the first order model. Keywords: Hydrochlorothiazide, tablets, statistical analysis, dissolution profile. Introdução Na última década, a evolução dos aspectos técnicos da regulamentação brasileira na área de medicamentos, tendo como base princípios científicos, é inquestionável. A implantação dos 1 medicamentos genéricos , de acordo com a Lei nº 9.787 de 10 de fevereiro de 1999, tem colaborado para o aprimoramento da fabricação e garantia da qualidade dos medicamentos no país, a partir dos conceitos de equivalência farmacêutica, biodisponibilidade e bioequivalência2. A legislação brasileira em vigor3,4 estabelece que para um medicamento ser registrado como similar ou genérico é necessário que se comprove a equivalência farmacêutica em relação ao medicamento de referência indicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), conforme o “Guia para realização do estudo e elaboração do relatório de equivalência ______________ farmacêutica e perfil de dissolução”5. Desta forma, os estudos de dissolução, aliados aos testes físicos e físico-químicos comparativos entre as formulações, fornecem bases técnicas e científicas para avaliar a intercambialidade entre o medicamento similar e sua referência2. As características inerentes ao próprio fármaco (tamanho e porosidade da partícula, dispersibilidade e solubilidade no meio de dissolução), bem como a natureza dos excipientes que compõem a formulação e as técnicas de fabricação empregadas na produção da forma farmacêutica afetam a dissolução do fármaco e, conseqüentemente, sua biodisponibilidade e bioequivalência2,6,7. Tal fato ressalta a importância da avaliação do desempenho das formas farmacêuticas sólidas, realizando testes in vitro que permitam visualizar a sua capacidade de liberar o fármaco veiculado em função do tempo6,8. 1 Alunos da Pós-graduação em Farmácia – Laboratório de Controle de Qualidade – (UFSC) Aluna da Pós-graduação em Química – (UFSC) 3 Professor orientador – (UFSC) 2 19 Cruz, A. P. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005 Estudos de dissolução in vitro possibilitam inferir qualitativamente e quantitativamente sobre uma determinada formulação, podendo ser um prognóstico da biodisponibilidade9. Os estudos de dissolução são amplamente utilizados para: (1) orientação do desenvolvimento de novas formulações, (2) avaliação da influência de1. alterações no processo de produção e/ou na formulação, (3) controle de qualidade lote a lote de uma determinada especialidade e (4) avaliação da equivalência farmacêutica entre apresentações de diferentes fabricantes. O fármaco de escolha para o estudo proposto foi a hidroclorotiazida (HCTZ) (Figura 1), eficaz em reduzir a reabsorção de eletrólitos dos túbulos renais, aumentando a excreção de sódio e de íons cloreto, e conseqüentemente de água10. Este fármaco é utilizado atualmente no tratamento de hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva, nefrolitíase e diabetes insípido nefrogênico11. A HCTZ está disponível no mercado nacional na apresentação de comprimidos (25, 50 e 100 mg) e soluções orais (10 e 100 mg mL-1), consta na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) de 2002 sob a forma de comprimidos de 25 mg12. É rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal, tendo uma biodisponibilidade de cerca de 60 a 80 %. Sua meia-vida plasmática é de 5 a 15 horas, sendo excretada principalmente na 10,13,14 urina . H N Cl O NH H2 N S O S O Figura 1: Estrutura hidroclorotiazida (HCTZ) O química da Dentro deste contexto, o presente trabalho objetivou avaliar a equivalência entre os perfis de dissolução de algumas formulações de HCTZ de 25 mg comercializadas no mercado nacional, analisando os perfis de dissolução e aplicando diferentes modelos matemáticos e estatísticos de análise. Materiais e métodos Foram avaliadas quatro apresentações de comprimidos de HCTZ comercializadas no mercado nacional, de acordo com as designações R (Referência), S1, S2 e S3 (Similares) na concentração de 25 mg. Utilizou-se como substância química de referência HCTZ SQR fornecidas pelo Laboratório Industrial Farmacêutico do Estado de Santa Catarina (LAFESC). A avaliação do perfil de dissolução dos comprimidos de HCTZ foi realizada em equipamento Nova Ética modelo 299 (Brasil). As condições experimentais foram baseadas nas preconizadas pela Farmacopéia Americana15, com uso do aparato 1 (100 rpm). Utilizou-se como meio de dissolução 900 mL de HCl 0,1N na temperatura constante de 37 ºC ( 0,5 ºC). Amostras de 10 mL foram coletadas nos tempos de 1; 5; 10; 20; 30 e 60 minutos, sendo que a cada tempo, o meio de dissolução foi reposto. As amostras foram previamente centrifugadas (4500 rpm) e analisadas em espectrofotômetro UV/VIS Perkin-Elmer (EUA) no comprimento de onda de 272 nm15. As porcentagens de fármaco dissolvido foram determinadas com o auxílio de uma curva de calibração previamente construída, garantindo linearidade no intervalo de 1-25 µg mL-1 (r2 = 0,9995). Os resultados foram avaliados de acordo com modelos independentes e dependentes de análise. Os parâmetros independentes utilizados na caracterização dos perfis de dissolução foram os fatores de diferença (f1) e similaridade (f2), eficiência de dissolução (ED), tempo de meia-vida (t1/2) e quantidade de fármaco dissolvido em 60 minutos (Q60), como preconizado pela monografia de comprimidos de HCTZ disponível na Farmacopéia Americana15. Como parâmetros 20 Cruz, A. P. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005 dependentes foram avaliados a ordem/modelo cinético de dissolução (Tabela 1), assim como a constante (k) em que esta ocorre. Para a avaliação estatística da equivalência entre os perfis de dissolução, a eficiência de dissolução foi calculada e análise de variância (ANOVA) juntamente com o pós-teste de Tukey16. Tabela 1: Ordens/modelos cinéticos de dissolução avaliados Ordem/modelo Zero ordem Primeira ordem Higuchi Hixson-Crowell Equação Qt = Q0 – K0t log Qt = (log Q0 + K1t)/2,303 Qt = KHt1/2 Qt 1/3 = Q01/3 - Kct Referência 17,18,19 17, 18, 20 17, 21, 22 17, 18 Qt é a quantidade de fármaco liberada no tempo t, Q0 a quantidade inicial de fármaco em solução e K0, K1, KH e Kc são as constantes de liberação de zero ordem, de primeira ordem, de Higuchi e que considera a relação superfície/volume, respectivamente. Os perfis de dissolução das apresentações de HCTZ estão demonstrados na Figura 2, sendo representados como a porcentagem de fármaco dissolvido em função do tempo. A formulação S3 apresentou uma lenta dissolução inicial, tendo liberado cerca de 50 % do princípio ativo em 10 minutos, enquanto que as demais apresentações liberaram acima de 70 % neste mesmo tempo. Para liberar esta mesma proporção de fármaco (50 %) a formulação de referência (R) levou menos do que 5 minutos. Cabe ressaltar a elevada quantidade de fármaco presente na formulação S1, que apresentou uma dissolução final de aproximadamente 113,5 % de HCTZ. A análise exploratória observacional permite verificar uma relativa distinção entre os perfis de dissolução apresentados pelas formulações, principalmente quanto à velocidade de dissolução e à quantidade máxima liberada após 60 minutos do teste. Todavia, faz-se necessária a aplicação de modelos de comparação específicos e fundamentados da estatística, para que se possa ter uma melhor inferência acerca dos resultados. Fármaco dissolvido (%) Resultados e Discussão 120 R S1 S2 S3 90 60 30 0 0 10 20 30 40 50 60 Tempo (min) Figura 2: Perfis de dissolução das formulações de HCTZ referência (R) e similares (S1, S2 e S3). Dessa maneira, procedeu-se à aplicação dos modelos matemáticos denominados de fatores de diferença (f1) e similaridade (f2), propostos por Moore e Flanner17, e que são indicados pelo FDA (Food and Drug Administration)18 bem como pela legislação vigente5 na comparação dos perfis de dissolução de formulações sólidas orais. Os fatores f1 e f2 são calculados de acordo com as equações 1 e 2. n n f 1 Rt Tt / Rt 100 t 1 t 1 21 Cruz, A. P. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005 0 , 5 De acordo com os resultados e com 1 n base nos critérios de Moore e Flanner17, 2 f 2 50 log 1 Rt Tt 100 n t 1 pode-se afirmar que as formulações S2 e S3 mostraram-se distintas quando comparadas onde T é o número de amostras, n é o número de com a formulação referência, uma vez que tempos de coleta, Rt e Tt são as porcentagens apresentaram valores de f1 e f2 compatíveis dissolvidas da referência e do produto teste a com amostras dessemelhantes. O valor dos fatores de diferença e semelhança da cada tempo (t), respectivamente. formulação S1 em comparação com R, Os perfis em estudo são considerados mostrou ser esta também uma formulação diferentes quando o fator f1 se apresenta dessemelhante. Entretanto, o fator f1 encontrado para esta amostra ficou muito superior a 15. Por outro lado, os perfis de próximo ao valor limite de caracterização da dissolução são considerados semelhantes semelhança, isto é, 15. Barreto e quando a comparação entre eles resultar em colaboradores19 demonstraram que a valores de f2 entre 50 e 100. Os valores de f1 robustez dos fatores f1 e f2 é falível quando e f2 calculados para as formulações S1, S2 e os valores encontrados estão próximos de 15 S3, quando comparadas com R, são e 50, respectivamente. A Tabela 3 demonstra que o fator f1 considera como semelhantes apresentados na Tabela 2. formulações que tenham no máximo 15 % de Tabela 2: Fatores de diferença (f1) e distinção entre os perfis. Já o fator f2 aceita similaridade (f2) das formulações em relação até uma diferença de 10 %. Dessa maneira, pode-se considerar que resultados à referência. compreendidos entre 10 e 15 % de diferença são passíveis de serem interpretados Grupos f1 f2 erroneamente, sendo necessário utilizar R x S1 15,53 40,04 outros métodos de comparação. R x S2 17,09 42,35 R x S3 28,70 29,82 Tabela 3: Diferenças médias das porcentagens dissolvidas para os fatores de diferença e semelhança (adaptado de Barreto et al., 2000) 19. Diferença média das % dissolvidas 2 5 10 15 20 f1 2 5 10 15 20 f2 83 65 50 41 36 A Eficiência de Dissolução (ED) vem nos últimos anos sendo utilizada como um parâmetro de confiança na avaliação da equivalência farmacêutica entre formulações20-26. A ED consiste na avaliação integral comparativa da área sob a curva (ASC) do perfil de dissolução em relação à área representada pelo tempo total do ensaio, considerando 100 % de dissolução, sendo expressa pela equação 3. T ED (%) Y dt 0 Y100 T 100 (3) onde Y é a porcentagem do fármaco liberada em função do tempo, T o tempo total de ensaio e Y100 a quantidade percentual teórica de fármaco na formulação. as Os resultados da ED calculados para formulações (Figura 3) indicam a 22 Cruz, A. P. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005 equivalência entre R (ED = 93,62 %) e S1 (ED = 94,71 %), semelhança esta não evidenciada para S2 (ED = 83,82 %) e S3 (ED = 74,70 %). Figura 3: Eficiência de Dissolução (ED) das apresentações de HCTZ. Comparando-se o F calculado, apresentado na Tabela 4 de análise de variância, com o valor crítico para F de 3 a 20 graus de liberdade (F = 3,10), obtém-se: F = 15,88 > F0,05(3-20) = 3,10. Com esta observação, conclui-se que a diferença entre as médias dos tratamentos é significante. Contudo, não indicam quais são as diferenças, entre os tratamentos, que devem ser consideradas como estatisticamente significantes. Tabela 4: Análise de variância dos resultados da eficiência de dissolução. Causas de Variação Gl* SQ** QM*** F Tratamento (entre grupos) 3 1586 528,7 15,88 Residual (dentro dos grupos) 20 665,7 33,28 Total 23 2252 * Graus de liberdade; ** Soma dos Quadrados; *** Quadrado Médio Para verificar a significância estatística da diferença entre os pares de médias utilizou-se um teste de comparação múltipla de médias, o teste de Tukey. Uma diferença entre duas médias é estatisticamente significante quando for igual ou maior que a Diferença Honestamente Significante (DHS) de Tukey, obtida através da equação 4 16. QM e DHS (4) r onde QMe é o quadrado médio do erro experimental (obtido na análise de variância) e r o número de elementos submetidos a cada tratamento (admite-se que em todas as amostras haja o mesmo número de elementos nos grupos). Logo, para os grupos obtém-se o valor de DHS: 528,7 DHS 9,387 6 De acordo com o valor obtido para o teste, verifica-se que as amostras S2 e S3 são estatisticamente diferentes de R, por apresentarem uma diferença média (DM) entre os grupos superior a 9,387 (Tabela 5). Já S1 mostrou-se equivalente a R uma vez que a DM entre as amostras foi de 1,086. O valor de p para o intervalo de confiança de 95 %, confirma a autenticidade do teste. Tabela 5: Teste DHS de Tukey aplicado ao estudo comparativo da Eficiência de Dissolução (ED). Comparações DM* Valor de p IC* 95% R x S1 1,086 P > 0,05 -9,546 a 7,374 R x S2 9,807 P < 0,05 1,347 a 18,270 R x S3 18,920 P < 0,01 10,460 a 27,380 * Diferença média. ** Intervalo de confiança das diferenças. 23 Cruz, A. P. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005 A aplicação de modelos cinéticos permite verificar o mecanismo de liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica. Dessa maneira foram aplicados modelos básicos de avaliação da cinética de liberação. Os modelos foram avaliados através da linearização dos dados de dissolução de acordo com o tempo e/ou porcentagem de fármaco liberada. Através da avaliação do coeficiente de correlação de Pearson foi realizada a escolha do modelo cinético mais adequado, aquele que mais se aproxima da perfeita linearidade. Os resultados da linearização dos perfis de dissolução, apresentados na Tabela 6, demonstram que todas as formulações seguem uma cinética de primeira ordem, a qual depende da quantidade de fármaco remanescente na formulação. A primeira ordem de liberação de fármacos é verificada em diversas formas farmacêuticas, tais como aquelas contendo fármacos solúveis incorporados em matrizes porosas22, como as utilizadas nesse estudo. Assim sendo, a cinética de dissolução mostrou-se adequada para as amostras em estudo. Tabela 6: Linearização dos perfis de dissolução das formulações de comprimidos de HCTZ. Formulação Ordem/ modelo Primeira Ordem Zero Ordem Higuchi Hixson-Crowell R 0,8841 0,9814 0,9845 0,9977 S1 0,9691 0,9814 0,9877 0,9962 S2 0,9855 0,9927 0,9979 0,9998 S3 0,9877 0,9933 0,9959 0,9976 Parâmetros como constante de liberação (k) e tempo de meia-vida (t1/2) são calculados de acordo com cada modelo cinético, sendo necessários para complementar a avaliação dos mesmos. O valor da constante k é obtido a partir da inclinação da reta utilizada na linearização, no caso, para primeira ordem. Já o t1/2 pode ser calculado a partir da constante k, da forma que t t1/2 = 0,693/k. O valor da constante k mostrou-se semelhante em todas as formulações, com exceção de S3, como resultado de uma lenta liberação do fármaco em comparação com as demais formulações (Tabela 7). O t1/2 indica diferenças na dissolução da referência e demais formulações; enquanto R libera 50 % do fármaco em 3,61 minutos, as apresentações similares liberam esta quantidade em um tempo superior a 5 minutos. Outro parâmetro utilizado para a caracterização da liberação é a quantidade liberada no tempo máximo de teste, no caso Q60min15. Conforme a Farmacopéia 15 Americana , no ensaio de dissolução não menos do que 60 % da quantidade rotulada de HCTZ deverá estar dissolvida em 60 minutos. Ao final do tempo preconizado, todas as formulações apresentaram uma quantidade de fármaco liberado acima do mínimo estipulado pelo compêndio (Tabela 7). Tabela 7: Parâmetros cinéticos de dissolução das apresentações de HCTZ: constante de liberação (k), meia-vida de dissolução (t1/2) e quantidade liberada no tempo de 60 minutos de teste (Q60min). Apresentação k (mg min-1) t1/2 (min) Q60min (%) R 0,1922 3,61 104,54 S1 0,1104 6,28 113,51 S2 0,1268 5,46 96,20 S3 0,0690 10,04 99,96 24 Cruz, A. P. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005 Conclusões Como demonstrado nos resultados, os modelos aplicados na avaliação comparativa da equivalência dos perfis de dissolução da hidroclorotiazida (HCTZ) de diferentes formulações mostraram-se adequados para o propósito. Os fatores f1 e f2 permitiram visualizar as diferenças entres as formulações R e S2, S3. Entretanto, para comparação de R com S1 os fatores não possibilitaram a inferência de assertivas. A análise estatística da eficiência de dissolução (ED) permitiu confirmar a dessemelhança entre as formulações verificadas anteriormente, e ainda, a semelhança entre R e S1. O estudo cinético de dissolução categorizou a liberação da HCTZ como um processo de primeira ordem, compatível então com formulações de pronta liberação. Em suma, os resultados da dissolução in vitro apontam que provavelmente somente a formulação similar (S1) é passível de intercambialidade com R. Já os similares S2 e S3 não apresentaram equivalência farmacêutica com a referência (R), o que denota a necessidade de uma regulamentação mais exigente por parte dos órgãos a quem competem a liberação da comercialização e vigilância farmacoepidemiológica. Referências bibliográficas 1. BRASIL. Lei nº 9787, de 10 de fevereiro de 1999. Diário Oficial da União, 11 de fevereiro de 1999. Lex: Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br. 2. STORPIRTIS, S. et al. A equivalência farmacêutica no contexto da intercambialidade entre medicamentos genéricos e de referência: bases técnicas e científicas, 2004. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/divulga/artigos/in dex.htm>. 3. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). RDC nº 133, de 29 de maio de 2003, Regulamento técnico para medicamento similar. Lex: Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br>. 4. BRASIL. Ministério da Saúde. 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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO NUTRICIONISTA EM SANTA CATARINA (1980 – 2003) [Nutritionist’s historic evolution in the state of Santa Catarina, BRAZIL (19802003)] Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos1; Camila Elizandra Rossi2; Mirele Costa2 Resumo: O artigo descreve a evolução histórica do nutricionista, em Santa Catarina, no período 1980-2003. Com base nas listagens do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-2) e dos egressos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade do Vale do Itajaí apresenta-se a distribuição dos nutricionistas segundo município; mesorregião geográfica; número de habitantes; instituição formadora e gênero. Os resultados mostram que: nos últimos 15 anos, ocorreu um aumento de 542% no número de nutricionistas; Florianópolis detém a maior concentração, seguido por Joinville, Blumenau e Balneário Camboriú; 96,5 % são do gênero feminino e 36,3 % são procedentes da UFSC. Palavras Chave: nutricionista; egressos da UFSC; perfil profissional do nutricionista. Abstract: This article describes the nutritionist’s historic evolution, in the state of Santa Catarina (South Brazil), 1980-2003 period. Nutritionist’s distribution, according to city, geographic region, number of inhabitants, university they graduated from and gender, is presented based upon the Regional Council of Nutritionists’ register (CRN – 2) and Santa Catarina University (UFSC) and Itajaí Valley University graduated lists. The results found show that an elevation of 542% in the number of nutritionists has happened in the past fifteen years; the capital of Santa Catarina contains the biggest concentration of them, followed by the cities of Joinville (North), Blumenau and Balneario Camboriu (Valley of Itajaí); 96.5% of the nutritionists are women and 36.3% are graduates from UFSC. Keywords: nutritionist; graduates from UFSC; nutritionist’s professional profile. Introdução No Brasil, o processo histórico de formação profissional do nutricionista teve seu início na década de 1940, quando foram criados os quatro primeiros cursos do país. Nas décadas de 1950 e 1960 instituíram-se mais três cursos e, assim, até o ano de 1975, existiam sete cursos para formação de nutricionistas no Brasil, oferecendo cerca de 570 vagas anuais 1, 2, 3, 4, 5. A partir de 1976, com a instituição do II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (II PRONAN), desenvolvido sob a coordenação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), autarquia vinculada ao Ministério da Saúde, verificouse um primeiro momento de expansão dos cursos para formação de nutricionistas no ________________ 1 1 país. Neste sentido, à medida que uma das diretrizes do II PRONAN consistia em estimular o processo de formação e capacitação de recursos humanos em Nutrição, no período de 1976 a 1980, expandiu-se de sete para 31 o número de Cursos de Graduação em Nutrição. Simultaneamente, observou-se um aumento de cerca de 279% nas vagas existentes, que passaram a perfazer um total de 1.592 anuais 2, 5 . Nos últimos 25 anos, sobretudo a partir de 1996, com a vigência da Lei nº 9.394 de 20/12/1996, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), verificou-se um processo de expansão dos Cursos de Nutrição muito mais intenso do que no período anterior 5, 6. Professor titular do Departamento de Nutrição/CCS/UFSC. E-mail: [email protected] Acadêmicas do Curso de Graduação em Nutrição/CCS/UFSC. 27 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005 De acordo com Calado (2000) 6, em 31 de janeiro de 2000, existiam 106 Cursos de Nutrição no país, sendo 22 públicos e 84 privados. Ou seja, observou-se uma expansão de cerca de 342% no número de cursos, um aumento exclusivamente determinado pela criação de 75 novos cursos privados. Ainda de acordo com Calado (2000) 6, a oferta do número de vagas na Graduação em Nutrição, em janeiro de 2000, correspondia a cerca de 8.000 por ano, caracterizando um aumento de 502,5% em relação ao número existente em 1980. Em janeiro de 2005, de acordo com dados do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), existiam 241 Cursos de Nutrição no Brasil 7, caracterizando um aumento de aproximadamente 227% em apenas cinco anos. Conseqüentemente, com o acelerado aumento do número de cursos e de vagas, nos últimos 25 anos, também se observou uma ampliação quantitativa de nutricionistas no país. Em 1989, existia um contingente de 11.898 nutricionistas no Brasil 8, 9. Em junho de 2000, dados do CFN indicavam um efetivo de 27.834 profissionais registrados nos sete Conselhos Regionais de Nutricionistas (CRN) do país. Naquele momento, os dez Estados brasileiros com maiores concentrações de nutricionistas, em ordem decrescente, eram: São Paulo (27,0%), Rio de Janeiro (18,4%), Rio Grande do Sul (17,9%), Bahia (5,0%), Paraná (3,7%), Distrito Federal (3,6%), Minas Gerais (3,3%), Pernambuco (3,1%), Mato Grosso (2,1%) e Santa Catarina (2,1%) 5. Em Santa Catarina, conforme já apontado em trabalhos anteriores 9, 10, 11, a história do processo de formação profissional do nutricionista é bastante recente, estando vinculada à criação do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal (UFSC). Este curso foi criado através da portaria n.º 384/Gabinete do Reitor - UFSC, de 10 de agosto de 1979, e implantado no primeiro semestre de 1980. Em 22 de fevereiro de 1985, através do Parecer 109/85 e da Portaria Ministerial 249, de 25 de março de 1985, obteve o reconhecimento pelo Ministério da Educação e Cultura. A primeira turma de egressos deste curso, composta por 20 nutricionistas, colou grau em dezembro de 1983 9, 10, 11. Até fevereiro de 2005, ao completar 25 anos de implantação, 22 turmas haviam colado grau, totalizando 509 nutricionistas egressos da UFSC. Por outro lado, é preciso ressaltar que em função das limitadas informações existentes, ainda não é possível descrever com precisão o processo histórico de emergência da atuação do nutricionista em Santa Catarina. É provável que o início deste processo tenha ocorrido de forma simultânea à própria história de emergência do nutricionista no Brasil. Uma das evidências que pode dar sustentação a essa hipótese encontra-se no fato de uma das primeiras nutricionistas do Brasil, Lieselotte Hoeschl Ornellas, catarinense, nascida em Florianópolis, ter realizado na década de 1930 o Curso de Dietistas do Instituto Nacional de Nutrição, de Buenos Aires, Argentina, sob a coordenação do pioneiro da Nutrição na América Latina, Pedro Escudero 12, 13 . O presente artigo, concernente à história do nutricionista, refere-se, pois, aos resultados de um estudo transversal descritivo que procurou traçar um perfil quantitativo dos nutricionistas cadastrados no Conselho Regional de Nutricionistas da 2ª Região (CRN-2), domiciliados no Estado de Santa Catarina, em maio de 2003. Os resultados obtidos foram comparados aos de estudo anterior 9, possibilitando a análise da trajetória histórica do nutricionista no Estado de Santa Catarina ao longo do período 19892003. Método A base empírica deste estudo foi constituída pela listagem de endereços (mala direta) dos nutricionistas inscritos no Conselho Regional de Nutricionistas (CRN2), obtida em maio de 2003; pelas listagens 28 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005 das turmas de nutricionistas formados pelo Curso de Graduação em Nutrição da UFSC no período de 1983 a 2002 e pelas listagens das turmas de nutricionistas formados pelo Curso de Graduação em Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) no período de 2000 a 2002. Recorreu-se ainda aos quadros estatísticos do efetivo de nutricionistas (pessoas físicas) do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) 8, 14, 15, aos dados de população residente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 16 e aos resultados de uma investigação realizada em 1989 sobre o perfil do nutricionista em Florianópolis, Santa Catarina 9 . Os dados foram processados e analisados no Microsoft Excel 98, sendo apresentados sob a forma de tabelas de distribuição de freqüência. Neste artigo serão apresentados os resultados relativos à evolução da distribuição do número de nutricionistas de Santa Catarina no decorrer do período de 1989 a 2003, segundo o município de residência; a mesorregião geográfica; o número de habitantes; a instituição formadora e o gênero. Resultados e discussão A tabela 1 apresenta a evolução da distribuição do número de nutricionistas de Santa Catarina, segundo os municípios de atuação, nos anos de 1989 e 2003. Ao longo dos 14 anos que separam os dois estudos observa-se um aumento de 421,4% no número de nutricionistas no Estado. Em 2003, os 809 nutricionistas existentes encontravam-se distribuídos em 90 municípios catarinenses, sendo as dez maiores concentrações verificadas, respectivamente, em Florianópolis (32,5 %), Joinville (10,0 %), Blumenau (9,4 %), Balneário Camboriú (6,7%), Criciúma (3,7 %), Jaraguá do Sul (3,5 %), São José 27 (3,3 %), Itajaí (2,7 %), Chapecó (2,5 %) e Tubarão (1,9 %). Em 1989, o município de Florianópolis concentrava cerca de 54,7 % dos nutricionistas residentes no Estado 9. Em 2003, embora Florianópolis permaneça concentrando o maior número absoluto do total de profissionais, verificou-se uma redução do seu valor relativo e maior distribuição dos nutricionistas nos outros municípios catarinenses. Provavelmente, isto deve ter ocorrido em função da maior oferta de empregos em municípios como Joinville, Blumenau, Balneário Camboriú, Criciúma, Jaraguá do Sul, Itajaí, Chapecó e Tubarão, importantes pólos econômicos do Estado. Distribuição territorial do nutricionista em Santa Catarina Tabela 1 - Evolução da distribuição do número de nutricionistas atuantes em Santa Catarina, segundo os municípios de atuação nos anos de 1989 e 2003 (1). Município Florianópolis (3) Joinville Blumenau Balneário Camboriú Criciúma Jaraguá do Sul São José Itajaí Chapecó Tubarão 1989 N 105 15 16 7 3 3 5 3 % 54,7 7,8 8,3 3,7 1,6 1,6 2,6 1,6 2003 N 263 82 76 54 30 28 27 22 20 15 % 32,5 10,0 9,4 6,7 3,7 3,5 3,3 2,7 2,5 1,9 % de crescimento (2) 250,5 546,7 475,0 428,6 933,3 733,3 400,0 500,0 29 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005 São Bento do Sul Lages Brusque Rio do Sul Caçador Itapema Xanxerê Araranguá Concórdia Imbituba Tijucas Indaial Biguaçu e outros (4) Fraiburgo (5) Videira São Miguel D’Oeste Joaçaba Capinzal e outros (6) Ibirama, Içara Anchieta e outros (7) São Joaquim, Xaxim Campos Novos e outros Total (8) 1 3 2 1 2 3 2 1 4 2 3 2 2 2 5 192 0,5 1,6 1,0 0,5 1,0 1,6 1,0 0,5 2,0 1,0 1,6 1,0 1,0 1,0 2,6 100,0 14 13 12 8 7 7 6 5 5 5 5 4 12 12 3 2 2 20 4 44 2 809 1,7 1,6 1,5 1,0 0,9 0,9 0,7 0,6 0,6 0,6 0,6 0,5 1,5 1,5 0,4 0,25 0,25 2,5 0,5 5,4 0,25 100,0 1400,0 433,3 600,0 800,0 300,0 166,7 250,0 500,0 300,0 150,0 - 66,7 0,0 200,0 0,0 421,4 Notas: (1) Tabela elabora a partir de listagens do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-2). (2) Para cálculo do percentual de crescimento entre 1989 e 2003, considerou-se 1989 como 100%. (3) No levantamento realizado em 1989 foram agrupados os nutricionistas domiciliados nos Municípios de Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu. (4) Biguaçu, Canoinhas, Rio Negrinho e Urussanga (três nutricionistas por município). (5) Fraiburgo, Mafra, São Francisco do Sul e Timbó (1 nutricionista em 1989 e três em 2003 por município). (6) Capinzal, Itapiranga, Ituporanga, Maravilha, Nova Trento, Nova Veneza, Palhoça, Pomerode, Porto União e Seara (dois nutricionistas por município). (7) Anchieta, Antônio Carlos, Apiúna, Barra Velha, Bombinhas, Braço do Norte, Capivari de Baixo, Catanduvas, Correia Pinto, Cunha Porã, Curitibanos, Descanso, Forquilhinha, Garopaba, Garuva, Herval d’Oeste, Itá, Itaiópolis, José Boiteux, Lontras, Luzerna, Meleiro, Morro da Fumaça, Navegantes, Otacílio Costa, Ouro, Papanduva, Penha, Piçarras, Porto Belo, Presidente Getúlio, Rio das Antas, Rio do Oeste, Rodeio, Salto Veloso, Sangão, Santa Cecília, Santa Helena, São Carlos, São José do Cedro, São Lourenço do Oeste, Sombrio, Trombudo Central e Vidal Ramos (um nutricionista por município). (8) Campos Novos, Guarujá do Sul, Laguna, Massaranduba, Quilombo (um nutricionista por município em 1989). A tabela 2 apresenta a distribuição dos nutricionistas segundo as mesorregiões do Estado, em maio de 2003. Observa-se que a mesorregião Grande Florianópolis concentra o maior número de nutricionistas, 303 (37,5 %), seguida pelas regiões do Vale do Itajaí com 206 (25,5 %), Norte catarinense com 141 (17,43 %), Oeste catarinense com 71 (8,7 %), Sul catarinense com 70 (8,7 %) e, por último, a Serrana com 18 profissionais (2,2 %). 30 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005 Tabela 2 - Distribuição dos nutricionistas cadastrados no CRN-2, segundo as Mesorregiões do Estado de Santa Catarina, maio de 2003. Mesorregião Grande Florianópolis Vale do Itajaí Norte Catarinense Oeste Catarinense Sul Catarinense Serrana Total N 303 206 141 71 70 18 809 Evolução do número de nutricionistas por habitantes no Brasil e em Santa Catarina A tabela 3 apresenta a evolução do total de nutricionistas e da relação número de nutricionistas por habitantes no Brasil e em Santa Catarina nos anos de 1989, 2003 e 2004. Entre 1989 e 2004, verificou-se um aumento de cerca de 305% (ou de três vezes) no total de nutricionistas existentes no Brasil. Em Santa Catarina, nesse mesmo período, o aumento verificado foi de cerca de 542% (ou % 37,5 25,5 17,4 8,7 8,7 2,2 100,0 de 5,4 vezes). Comportamento semelhante verificou-se para o índice número de nutricionistas por habitantes. Em 1989, o Brasil apresentava um nutricionista para cada 11.500 habitantes 9, enquanto que em 2004 esse índice passou a ser um nutricionista para cada 5.050 habitantes. Por outro lado, em 1989, Santa Catarina apresentava um nutricionista para cada 23.500 habitantes 9, enquanto em 2004 o índice reduziu-se para um nutricionista para cada 5.410 habitantes, praticamente igualando-se ao índice do país. Tabela 3 - Evolução da distribuição do número de nutricionistas e da relação número de nutricionistas por habitantes no Brasil e em Santa Catarina nos anos 1989, 2003 e 2004. Brasil SC 1989 Total de Nutricionis tas 11.898 (100,0%) 192 (1,6 %) Nutricionis ta / habitante 1/ 11.500 1/ 23.500 2003 Total de Nutricionis tas 33.328 (100,0%) 904 (2,7%) A contribuição do Curso de Graduação em Nutrição da UFSC no universo de nutricionistas de Santa Catarina Entre 1980 e 1996 o Curso de Graduação em Nutrição da UFSC era o único existente no Estado. Vale ressaltar que ao longo dos seus vinte e cinco anos de implantação, este curso passou por uma série de reformulações curriculares, visando à melhoria do processo de formação e Nutricionis ta / habitante 1/ 5.220 1/ 6.950 2004 Total de Nutricionis tas 36.292 (100,0%) 1.040 (2,9%) Nutricionis ta / habitante 1/ 5.050 1/ 5.410 qualificação profissional do nutricionista. Até o momento, oferece 40 vagas anuais (entrada única), é desenvolvido com uma duração de cinco anos (dez fases) e uma carga horária total de 3.870 horas/aula. Até maio de 2003, o Curso da UFSC formou um efetivo de 438 nutricionistas 10, 11 . No segundo semestre de 1996 foi implantado o Curso de Graduação em Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), o qual funciona no Campus II 31 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005 de Balneário Camboriú, oferece 44 vagas por semestre, é desenvolvido com uma duração de quatro anos (oito períodos) e uma carga horária total de 3.405 horas/aula 10, 11. O referido curso da UNIVALI formou a primeira turma no primeiro semestre de 2000, colocando no mercado 26 novos nutricionistas. Até maio de 2003 seis turmas de nutricionistas foram formadas pela UNIVALI, totalizando 182 nutricionistas egressos deste curso. Ressalta-se que em janeiro de 2005, o Estado de Santa Catarina contava com a existência de oito Cursos de Graduação em Nutrição, uma vez que entre 2002 e 2004 foram criados mais seis novos cursos, a saber: Curso de Nutrição da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) – Campus Tubarão; Curso de Nutrição da UNISUL – Campus da Grande Florianópolis; Curso de Nutrição da Universidade Regional de Blumenau (FURB); Curso de Nutrição da Universidade do Contestado (UNC) – Caçador; Curso de Nutrição da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) – Criciúma e Curso de Nutrição do Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus (IELUSC) – Joinville 7. A tabela 4 procura demonstrar a contribuição do Curso de Graduação em Nutrição da UFSC sobre o universo de nutricionistas do Estado de Santa Catarina. Observa-se que dos 809 nutricionistas cadastrados no CRN-2, em maio de 2003, 294 são egressos da UFSC, correspondendo a 36,3 % deste total. Os egressos da UNIVALI perfazem um total de 142 profissionais (17,6%). Os demais 373 nutricionistas residentes em Santa Catarina (46,1%) foram formados em outras instituições, particularmente em IES dos Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná. Levando em consideração que para o exercício legal da profissão, o nutricionista deverá, obrigatoriamente, estar inscrito no Conselho Regional de Nutricionistas de sua jurisdição, a partir dos dados da tabela 4, pode-se chegar a seguinte constatação: Do universo de 438 nutricionistas egressos da UFSC e de 182 nutricionistas egressos da UNIVALI, 144 (32,9%) e 40 (20,0%), respectivamente, não estavam exercendo a profissão no Estado de Santa Catarina, sugerindo que esses profissionais devam estar atuando em outros Estados brasileiros ou não exercendo a profissão. Tabela 4 – Distribuição dos nutricionistas cadastrados no CRN-2, segundo a instituição de ensino superior (IES) formadora, maio de 2003. Universidade UFSC UNIVALI Outras IES TOTAL A distribuição dos nutricionistas segundo o gênero Os resultados mostraram que, dos 809 nutricionistas cadastrados no CRN-2, 780 (96,5%) são do gênero feminino contra apenas 29 (3,5%) do gênero masculino. De forma semelhante, do universo de 438 nutricionistas egressos da UFSC, 416 (95,0%) são do gênero feminino contra Número 294 142 373 809 Porcentagem (%) 36,3 17,6 46,1 100,0 apenas 22 (5,0%) do gênero masculino. Do universo de 182 nutricionistas egressos da UNIVALI, 177 (97,3%) são do gênero feminino contra apenas 5 (2,7 %) do gênero masculino. Estes resultados corroboram os achados de outras investigações empíricas e de diversas análises e interpretações sobre a origem e a trajetória histórica da profissão de nutricionista no Brasil, os quais apontam a 32 Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005 hegemônica participação feminina na constituição do perfil desse profissional 11, 17, 18, 19 . Conclusão O presente estudo sobre a evolução histórica do nutricionista em Santa Catarina permitiu demonstrar que, ao longo dos 25 anos investigados, houve um expressivo aumento na quantidade de profissionais neste Estado. A criação do Curso de Nutrição da UNIVALI contribuiu positivamente para o aumento do número de profissionais, a partir de 2000. A capital Florianópolis e a mesorregião da Grande Florianópolis continuam com a maior concentração de profissionais, muito embora entre 1989 e 2003, tenha ocorrido maior distribuição dos nutricionistas em outros municípios e messoregiões do Estado. Os resultados também indicam uma sensível redução da relação nutricionista por habitante em Santa Catarina, praticamente igualando-se aos valores encontrados para o país. De forma semelhante, a distribuição dos nutricionistas segundo o gênero também corrobora a tendência histórica da hegemônica participação feminina na conformação do perfil do nutricionista brasileiro. É provável que nos próximos cinco anos, em função da criação dos novos Cursos de Nutrição e do conseqüente lançamento de um maior número de profissionais no mercado de trabalho, o quadro ora traçado apresente uma nova configuração. É possível que ocorra uma redistribuição territorial dos nutricionistas, bem como modificações no mercado de trabalho e áreas de atuação profissional. Neste sentido, investigações que possibilitem o monitoramento dessas possíveis alterações tornam-se cada vez mais imprescindíveis. Referências bibliográficas 1. ASBRAN (Associação Brasileira de Nutrição). In: Histórico do Nutricionista no Brasil - 1939 a 1989: coletânea de depoimentos e documentos. São Paulo: Ateneu, 1991. 444 p. 2. BOSI, M. L. M. In: A Face Oculta da Nutrição: Ciência e Ideologia. 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Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005 IMPORTANCIA ALIMENTAR DOS MOLUSCOS MARINHOS [Importance of sea mollusks in the human meal] Jane Parisenti1; Vera Lúcia Cardoso Garcia Tramonte2 Resumo: Os frutos do mar são alimentos fontes de proteínas, lipídios, minerais e vitaminas. Estudos recentes mostram que os moluscos marinhos apresentam lipídios benéficos à saúde, em especial ácidos graxos ômega-3 e esteróis, que exercem influência sobre o sistema cardiovascular. A produção, especialmente de ostras e mexilhões, vem aumentando em Santa Catarina, sendo atualmente importante atividade comercial e fonte de renda. Estudos com os frutos do mar de cada região são importantes pois a composição em nutrientes destes alimentos varia conforme fatores ambientais como qualidade e temperatura da água de cultivo, sexo e estágio de maturação sexual. Este artigo apresenta aspectos atuais sobre a importância destes na alimentação. Palavras-chave: moluscos marinhos, valor nutritivo, ostras, mexilhões Abstract: Seafoods are rich in proteins, lipids, minerals and vitamins. Recent studies show that sea mollusks have lipids benefic to the health, specially W-3 fatty acid and sterols, which positively influences the cardiovascular system. The production of oysters and mussels are very high in Santa Catarina state, where it represents important commercial activity. Studies about the seafood in each littoral region are very important, because the nutrient composition may be altered by water temperature and composition, sex and reproductive state. This work presents recent aspects of the importance of these mollusks in the human meal. Keywords: sea mollusks, nutritive value, oysters, mussels. Introdução Os frutos do mar apresentam importante valor nutritivo sendo ricos em nutrientes essenciais. A produção de moluscos marinhos tem grande importância comercial no Brasil, que destaca-se como principal produtor de mexilhões e ostras da América Latina1, sendo o estado de Santa Catarina o maior produtor nacional. Apesar do importante valor nutritivo e econômico/comercial para nossa região, grande parte da população desconhece o verdadeiro valor nutricional e considera esses alimentos fontes de colesterol e gorduras prejudiciais a saúde. Novos estudos mostram que alguns moluscos marinhos podem ser benéficos à saúde, em especial ao sistema cardiovascular devido as suas propriedades hipolipidêmicas. No entanto, o valor nutritivo dos moluscos depende da espécie e de vários fatores ambientais. Em geral, as tabelas de composição de alimentos apresentam dados obtidos com alimentos de outros paises ou regiões não correspondendo ao real valor nutritivo dos alimentos consumidos. Além disso, a falta do nome científico dificulta a identificação do alimento e pode causar dúvidas; a palavra mexilhão pode significar moluscos diferentes, dependendo da região. Mais pesquisas sobre a composição nutricional de frutos do mar são necessárias já que estas informações são utilizadas pela indústria alimentícia no processamento, conservação e rotulagem de produtos marinhos; por serviços médicos, em especial nutricionistas, para recomendação destes alimentos na dieta de seus pacientes e pelo público em geral. ____________________ 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição/UFSC Professora, Drª do Programa de Pós-Graduação em Nutrição/uFSC [email protected] – [email protected] 2 35 Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005 Valor nutritivo dos moluscos marinhos Os moluscos, principalmente ostras e mexilhões, são considerados alimentos saudáveis, sendo boas fontes de proteínas de alto valor biológico, ácidos graxos essenciais e reduzido valor calórico. De maneira geral contém minerais como selênio, iodo, flúor, cobre, zinco e ferro os quais parecem possuir boa biodisponibilidade. Também fornecem vitaminas em maiores concentrações que as carnes de animais terrestres e lipídios benéficos à saúde. Vários estudos mostram que a composição nutricional dos frutos do mar é influenciada por fatores como espécie, sexo, grau de maturação sexual, tamanho, metabolismo lipídico e fatores extrínsecos como temperatura da água, local de cultivo, tipo de alimentação e estação do ano. Os lipídios e a umidade são os principais constituintes afetados. O crescimento das ostras depende também da temperatura e salinidade da água, total de sólidos suspensos, concentração e composição dos alimentos consumidos. Estudos mostram que os estoques de carboidratos, lipídios e proteínas das ostras variam conforme o estágio de maturação sexual, sendo este influenciado pela temperatura da água. Estudo realizado por Tramonte et al, com moluscos coletados em Florianópolis/SC, mostrou que ostras C.gigas e C. rhizophorae coletadas na primavera apresentaram maior teor de lipídios que as coletadas no verão. Comparando as duas espécies a ostra C. gigas apresentou maior teor de lipídios. Para os mexilhões (Perna perna), os coletados na primavera apresentaram maior teor protéico que os de verão. Quanto ao sexo, mexilhões machos apresentaram maior teor de proteínas e menor de lipídios que as fêmeas. Lipídeos marinhos e saúde Estudos com animais e humanos mostram que a composição de ácidos graxos e colesterol da dieta influenciam na concentração de lipoproteínas no sangue. O consumo de ácidos graxos saturados é o principal fator que eleva o colesterol sanguíneo, pois inibem a remoção plasmática das partículas de LDL-colesterol, além de facilitar a entrada de colesterol nessas partículas. Os ácidos graxos poliinsaturados apresentam efeito hipocolesterolêmico e os monoinsaturados parecem não apresentar efeito na colesterolemia. O consumo de colesterol através da dieta eleva a taxa de colesterol total em relação à fração HDL-colesterol, aumentando o risco de doença coronariana. Novos estudos mostram que os ácidos graxos de maior interesse para a saúde do sistema cardiovascular são os ácidos graxos da série ômega-3, incluindo o ácido linolênico, encontrado em fontes vegetais como o óleo de soja, canola e linhaça, o eicosapentaenóico (EPA) e o docosahexaenóico (DHA) presentes no óleo de pescados em especial salmão e arenque e também em ostras e mexilhões. A proteção cardiovascular conferida pelos ácidos graxos EPA e DHA deve-se a capacidade desses ácidos em diminuir os triglicerídeos séricos e interferir na produção de prostaglandinas, moléculas envolvidas na cascata de coagulação sanguínea, diminuindo o risco de formação de trombos. A Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda o consumo de 4g/dia de ácidos graxos ômega-3 para auxiliar na diminuição dos triglicerídeos sanguíneos. Medeiros, em estudo realizado encontrou grande proporção de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3, principalmente EPA e DHA nos mexilhões da região de Florianópolis. No entanto também observou a presença de grande quantidade de ácido palmítico. Este mesmo estudo verificou que o consumo de mexilhões Perna perna por cobaias manteve os níveis de colesterol total, LDL-colesterol, HDL-colesterol e triglicerídeos séricos semelhantes à aquelas com consumo de carne bovina de baixo teor 36 Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005 de gordura, enquanto que o VLDL-colesterol diminuiu com o consumo de mexilhões. Novos estudos mostram que o consumo de óleo de peixe, peixe e moluscos auxiliam na redução dos triglicerídeos sanguíneos, diminui o risco de derrame cerebral, reduz o risco de infarto do miocárdio e aumenta a quantidade de ácidos graxos DHA no leite materno. Segundo Kimura et al, o extrato aquoso da ostra Crassostrea gigas diminui os níveis plasmáticos de ácidos graxos livres, triglicerídeos e colesterol hepático em ratos tratados com óleo de milho oxidado e concluem que a ostra é um alimento saudável e pode auxiliar na prevenção da hiperlipidemia. Tanaka et al em estudo com ratos, observaram que o consumo de ostras (Crassostrea gigas) diminuiu a concentração hepática e sérica de colesterol, os triglicerídeos hepáticos, aumentou a fração HDL-colesterol e a excreção fecal de esteróis. Nas ostras Crassostrea gigas, o teor de EPA e DHA corresponde a 20% do total de ácidos graxos. Linehan et al encontraram altas concentrações de ácidos graxos ômega3 e baixa concentração de ácidos graxos saturados totais, sendo o palmítico e o oléico os presentes em maior quantidade em ostras Crassostrea gigas. Frutos do mar cultivados em águas tropicais são fontes importantes de ácidos graxos poliinsaturados, incluindo ômega-6 e ômega-3. Esteróis alimentares Os esteróis são componentes alcoólicos presentes em plantas (fitoesteróis) e animais (zoosteróis). São constituintes essenciais das membranas celulares de organismos vivos. As plantas apresentam vários tipos de fitoesteróis sendo mais abundante o sitosterol. Nos animais, o principal esterol é o colesterol. Os esteróis podem apresentar-se na natureza de forma livre, esterificados com ácidos graxos ou como glicosídeos. A forma esterificada com ácidos graxos insaturados é a mais lipossolúvel. Na sua forma saturada os esteróis são chamados estanóis e apresentam a mesma eficiência na diminuição da absorção do colesterol. .De maneira geral os animais apresentam apenas colesterol na sua constituição, no entanto, estudos mostram que os moluscos marinhos apresentam outros esteróis além do colesterol, denominados “noncholesterol sterols” (NCS). As informações referentes à quantidade de colesterol apresentadas nas tabelas de composição de alimentos referem-se aos esteróis totais, não distinguindo somente o colesterol. Isso ocorre devido à similaridade estrutural dos esteróis o que dificulta a separação pelos métodos físicos, sendo necessárias técnicas como a cromatografia liquida de alta pressão ou a gasosa. Segundo Piggot e Tucker os NCS podem representar de 30 à 70% dos esteróis totais em moluscos marinhos. Assim como os fitoesteróis, o principal mecanismo de ação dos esteróis de moluscos é a diminuição da absorção do colesterol no intestino. Os esteróis de moluscos marinhos inibem ou competem com o colesterol dietético e endógeno reduzindo sua absorção. Estudos realizados por Vanston et al com hamsters recebendo esteróis por via subcutânea observaram diminuição da concentração do colesterol sanguíneo em relação ao grupo controle, demonstrando a existência de um mecanismo intrínseco de ação dos esteróis sobre o metabolismo do colesterol. Em análise dos esteróis presente em ostras, Vahouny et al encontraram 35% de colesterol e Connor & Lin 37%. Os demais esteróis identificados foram 24-metileno colesterol, brasicastero, C-29 esterol (estigmasterol e B-sitosterol), 22dehidrocolesterol e C-26 esterol. Tanaka et al8 observaram 50% de colesterol e 17% de brasicasterol e sitosterol em ostras Crassostrea gigas. 37 Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005 Estudos com humanos mostram que o consumo de fitoesteróis e fitoestanóis diminui a absorção do colesterol dietético, aumenta a síntese de colesterol endógeno e diminui a concentração de LDL-colesterol sanguíneo, em conjunto com estatinas auxilia na diminuição do colesterol total e LDLcolesterol mas também diminui a biodisponibilidade do ß-caroteno e tocoferol. Ostlund et al observaram que homens e mulheres consumindo uma dieta com óleo de milho isento de fitoesteróis apresentaram um aumento de 38% na absorção do colesterol quando comparado com o óleo de milho contendo os fitoesteróis. Estudo realizado por Ewart et al com cobaias, observaram que o consumo de fitoesteróis esterificados com ômega-3 de óleo de peixe, baixa os níveis de triglicerídeos e colesterol total, sendo uma alternativa segura as drogas hipocolesterolêmicas convencionais. O consumo de 2 gramas/dia de esteróis e estanóis diminuem os níveis de LDL-colesterol em 10%, contribuindo na diminuição do risco de doença cardiovascular em 12 -20% em cinco anos de consumo e em até 20% quando consumido por toda vida. Estudo realizado por Ntanios et al, com hamsters, mostraram que os fitoesteróis apresentam efeito de baixar o colesterol sanguíneo e inibir o desenvolvimento de aterosclerose. De maneira geral, os estudos sobre esteróis estão voltados ao desenvolvimento de produtos adicionados ou suplementos de esteróis. Segundo Ostlund, as novas pesquisas devem buscar conhecer as quantidades de esteróis nos alimentos tradicionais de consumo e elaborar tabelas para que estas informações possam contribuir para o conhecimento da quantidade real de esteróis que a população está consumindo. Conclusão Considerando os aspectos apresentados, é muito importante o conhecimento da composição nutricional dos moluscos cultivados em várias regiões do litoral brasileiro, pois o desconhecimento de seu valor nutritivo pode fazer com que parte da população deixe de consumir um alimento saudável, fonte de nutrientes. As tabelas de composição de alimentos devem trazer os nomes científicos dos moluscos, pois a mesma espécie pode receber nomes diferentes dependendo da região do país. Isto possibilitaria aos profissionais de saúde, especialmente os nutricionistas, maior segurança para recomendação destes alimentos na dieta de seus pacientes. Referências Bibliográficas 1. LIMA, F.C., ABREU, M.G., MESQUITA, E.F.M. Monitoramento histopatológico de mexilhão Perna perna da lagoa de Itaipu, Niterói, RJ. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.53, n.2, p. 1-5, abril, 2001. 2. SANTOS, F.M. 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O estudo possibilitou uma maior aproximação com a complexa problemática que envolve o viver com um problema respiratório crônico. Palavras-chave: enfermagem, autocuidado, asma, doença pulmonar obstrutiva orônica, educação em saúde. Abstract: This paper deals with an assistance convergent study, developed with people interned in a hospital. The objective of this study is to identify the self-care deficiencies in adults with the chronic respiratory problems; asthma and DPOC. The data was obtained through patient charts and nursing reports. The principle deficiencies found were: respiration, sleep and rest, social interaction, physical activity, hydration, and nutrition. The study made a greater approximation with the complex problem that involves living with a chronic respiratory problem possible. Keywords: Nursing, Self-care, DPOC, Health Education. Introdução Conviver com uma doença crônica, cuja instalação determina mudanças físicas, sociais e psicológicas, levando muitas vezes a uma hospitalização, torna-se uma realidade com a qual tanto os clientes quanto seus familiares precisam saber lidar. Assim, fazse necessário instrumentalizar clientes e famílias com o intuito de que as mesmas possam lidar com sua condição de saúde. Acreditamos que na assistência a pessoas com problemas de saúde crônicos, é fundamental a participação das mesmas, principalmente, se utilizamos como referencial para a prática a Teoria do Autocuidado, na qual o poder sobre a definição da demanda terapêutica necessária desloca-se dos profissionais de saúde, passando a ser compartilhada com as pessoas que vivenciam a situação de saúde. __________________ 1 Este estudo foi desenvolvido durante o último semestre do curso de Graduação em Enfermagem da UFSC, como trabalho de conclusão de curso. O mesmo , intitulado Educação em Saúde Centrada nos déficit de autocuidado de pessoas com Problemas Respiratórios Crônicos , cujas autoras são: MANTELLI, Janis; SOUZA, Sabrina da Silva de. 2 Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de São José. 3 Enfermeira do Hospital Municipal de Carazinho /RS. 4 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordenadora do NUCRON. 5 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 6 Enfermeira do Hospital Nereu Ramos – Secretaria de Estado da Saúde. 42 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005 A intervenção da Enfermagem faz-se necessária quando o ser humano em determinados momentos encontra-se em desequilíbrio para executar seu autocuidado. Neste caso, a Enfermagem passa a ser uma exigência, uma vez que a pessoa está vivenciando uma incapacidade ou tem limitação na provisão de autocuidar-se. Conforme proposto por Dorothea Orem, referência teórica para este estudo, percebemos que é fundamental compartilhar com o cliente portador de doença crônica, o planejamento e a implementação das ações de saúde, a fim de que ele possa superar seus déficits de autocuidado. Autocuidado é compreendido como a prática de atividades, iniciadas e executadas pelos indivíduos, em seu próprio benefício, para manutenção da vida, da saúde e do bemestar. O cuidado efetivamente executado contribui de maneira específica para a integridade da estrutura humana, para o funcionamento da pessoa e para seu desenvolvimento. Neste sentido, percebemos a importância de conhecer mais sobre o viver das pessoas com Asma e /ou DPOC, visando minimizar o tempo de internação, maximizar sua permanência domiciliar com melhor qualidade de vida e conseqüentemente, diminuir suas reinternações. Cabe destacar a importância de estudos com pessoas com doenças respiratórias crônicas, considerando que estas são a terceira causa de óbitos na Região Sul, com 16.796 mortes em 1999, correspondendo a 11,21% do total de óbitos. Sabemos que anualmente ocorrem cerca de 350.000 internações por Asma no Brasil, constituindo-se na quarta causa de hospitalização pelo SUS (2,3% do total) e sendo a terceira causa entre crianças e adultos jovens. A Asma é uma doença inflamatória crônica caracterizada por hiperresponsividade das vias aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento. DPOC é definida como: Um estado de doença no qual o fluxo de ar está obstruído pelo enfisema e/ou pela bronquite crônica. Esta obstrução do fluxo de ar é geralmente progressiva e irreversível podendo estar associada a uma hiperatividade das vias aéreas. As pessoas com estas condições crônicas de saúde necessitam de informações adequadas e suficientes, para que possam ter condições de promover e manter o equilíbrio harmônico e dinâmico de sua saúde. Condição crônica de saúde é uma intercorrência extressora, cujo impacto surge a qualquer tempo e vem para permanecer, alterando o processo de ser saudável de indivíduos ou de grupos. Este impacto determina um novo rumo ao processo de viver e ser saudável de acordo com o significado atribuído aos extressores, com a orientação de vida, com as forças e necessidades e estratégias de enfrentamento utilizadas pelos envolvidos. Neste sentido a educação para saúde pode contribuir para a compreensão da doença, prevenção ou superação de seus sintomas, através de uma participação consciente e efetiva ao regime de tratamento. Desenvolver a educação em saúde nesta perspectiva requer que os profissionais conheçam mais sobre quais os déficits de autocuidado que as pessoas com Asma e DPOC apresentam. Considerando estas necessidades é que nos propusemos a realizar um estudo que teve como objetivo: Identificar déficits de autocuidado de pessoas com doenças respiratórias crônicas: Asma e DPOC, internadas em um hospital de referência no Estado de Santa Catarina. Metodologia Tipo de Estudo: Trata-se de uma pesquisa do tipo convergente assistencial, que é uma modalidade de pesquisa desenvolvida concomitantemente à prática assistencial. Este tipo de pesquisa tem a intencionalidade 43 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005 de encontrar soluções para problemas, realizar mudanças e introduzir inovações na situação social. Valoriza o “saber pensar” e também o “saber fazer” na perspectiva de propor uma nova sistematização do fazer ao pesquisar as implicações teóricas e práticas do seu fazer. Análise dos Dados: Foi efetuada uma análise qualitativa seguindo: codificação, identificação de categorias e interpretação. Na codificação foram destacadas as informações que diziam possuir, as ações que executavam e os déficits de autocuidado. Local da Pesquisa: Foi desenvolvida em um hospital estadual que é referência em doenças pulmonares e infecto-contagiosas em Santa Catarina. O hospital possui uma área de atendimento à pessoas com problemas respiratórios, uma enfermaria mista de pneumologia com 38 leitos e uma enfermaria para tisiologia com 16 leitos. Possui serviço de ambulatório de pneumologia, com consultas médicas e de Enfermagem, com atendimento mensal a aproximadamente 250 pessoas. O estudo foi desenvolvido na Unidade de Pneumologia. Considerações Éticas: A inclusão dos sujeitos na pesquisa obedeceu a Resolução n.196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, que dispõe sobre Diretrizes e Normas regulamentares da pesquisa envolvendo Seres Humanos. O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética Médica do Hospital onde o estudo foi realizado. Com relação a autorização dos sujeitos da pesquisa, a mesma foi obtida através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi garantido a todos a liberdade de participar ou não e de desistir a qualquer momento, sem qualquer prejuízo na assistência que vinha recebendo na instituição. Também foram assegurados o sigilo e o anonimato. Os nomes que constam dos relatos são fictícios. Sujeitos da Pesquisa: Integraram o estudo dez pessoas, sendo que nove tinham uma doença respiratória crônica (Asma ou DPOC) e um familiar. Os sujeitos do estudo foram selecionados dentre aqueles que estavam internados na Unidade de Pneumologia, no período de outubro a dezembro de 2003. A escolha dos sujeitos foi intencional, sendo que fizeram parte do estudo os bons informante, acometidos por Asma e/ou DPOC e que aceitaram participar do estudo. Coleta de Dados: Os dados foram obtidos a partir dos históricos e das evoluções de enfermagem, utilizando instrumento adaptado da Teoria do Autocuidado de Orem, visando captar os déficits de autocuidado. Foram realizados de três a seis encontros com cada cliente para coleta de dados. Estes dados foram registrados logo após as visitas diárias, procurando manter a expressão fiel dos depoimentos. Resultados e discussão A partir da análise dos dados percebemos a existência alguns déficits de autocuidado. Estes déficits estavam relacionados ao Autocuidado Universal: respiração, hidratação e alimentação, sono e repouso, atividade física e interação social. No entanto, os mesmos estavam presentes em função do Desvio da saúde, ou seja, a condição crônica respiratória interferia nas necessidades de autocuidado universais, evidenciando diferença entre a necessidade de autocuidado gerada pela situação da doença e a capacidade das pessoas desenvolverem o autocuidado necessário para se manterem em equilíbrio. A percepção deste déficit é que delineia a necessidade de enfermagem, que passa a ser uma exigência para a promoção de autocuidado contínuo e eficaz. 44 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005 Déficit de autocuidado relacionado à respiração O déficit de autocuidado relacionado à respiração foi o mais evidenciado no estudo. Os demais déficits, de maneira geral, estavam relacionados a alteração respiratória, uma vez que qualquer fator que interfira na respiração normal induz, muito naturalmente, a ansiedade, depressão e alterações de comportamento. A dificuldade respiratória constante e a fadiga podem tornar o paciente irritável e apreensível a ponto de ficar em pânico. Sua inatividade forçada, a frustração de ter trabalho para respirar e a idéia de que está lidando com uma doença prolongada e incurável podem fazer com que o paciente reaja com raiva, depressão e comportamento exigente. A respiração é compreendida como um recurso vital para a continuidade da vida, para o crescimento e o desenvolvimento, bem como para o reparo dos tecidos do corpo e para o funcionamento integrado. Para manter esse autocuidado é preciso que a pessoas estabeleçam suas necessidades de ar para que seu organismo possa se ajustar aos fatores internos e externos. As pessoas apresentaram dificuldades em lidar com os sinais e sintomas decorrentes de sua condição de saúde, não encontrando sozinhas, um ajuste adequado aos fatores externos, especialmente, a realização de atividades físicas, os relacionamentos sociais, o sono e o repouso, enfim, suas habilidades para se autocuidar são menores dos que as exigidas para satisfazer um requerimento conhecido de autocuidado. Os sinais e sintomas percebidos e relatados pelos clientes que integraram este estudo são variados, dependendo do seu estado de compensação e do estágio da doença. São eles: cianose, tontura, tosse, cansaço, aperto no peito, taquicardia, falta de ar, sudorese, fraqueza, produção de catarro, dor nas costas, sensação de morte eminente, taquicardia, náusea, chiado no peito, ronquidão, perda do apetite. Isto pode ser verificado nos depoimentos a seguir. “Quando acontece uma crise, me dá uma fraqueza, tosse, falta de ar, cansaço, catarro, dor nas costas, brônquio fechado por causa do catarro e muito cansaço” (João). Estes sintomas são considerados um importante fator limitador causando sérias preocupações. A respiração é uma função vital do ser humano, e, como tal, qualquer dificuldade pode levar as pessoas a pensarem sobre a possibilidade de finitude, de morte, como podemos verificar nas seguintes falas: “Tá sendo difícil por causa do medo de ter uma crise forte e não chegar em tempo no hospital” (Oscar). “Tem de se conformar, né, já vivi muito” (Júlia). O cliente sente medo das crises respiratórias, interferindo assim na sua qualidade de vida. Desta forma evidenciamos a importância da promoção do autocuidado para superação deste déficit, através de ações que permitam às pessoas ajustarem os meios e incorporarem medidas de autocuidado, adquirindo novas habilidades para atender a demanda de autocuidado geradas pela sua condição de saúde. Outro importante aspecto relacionado ao déficit de autocuidado da respiração foi o fumo. A maioria dos sujeitos referiu ser fumante ou ter fumado por muito tempo e ter abandonado o vício após a descoberta da doença. Reconhecer o mal provocado pelo cigarro é uma tarefa que nem sempre essas pessoas conseguem vencer, pois requer grande esforço, uma vez que fumar é percebido pelas pessoas como fonte de prazer. “Já deixei o bendito (cigarro) uma vez. Mas sabe como é, meu filho fuma, aí sempre dava uma tragadinha. Agora vou deixar de verdade” (Filomena). A alteração de hábito não é um ato pontual, mas um processo com várias etapas e que pode levar um tempo prolongado. Apesar de ter sua condição de saúde fortemente associada ao fumo as pessoas 45 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005 nem sempre reconhecem ou encontram motivação para abandonar o cigarro, acreditando que é “O último prazer que me resta”! Déficit de autocuidado relacionado ao sono e repouso A qualidade de vida das pessoas muitas vezes está ligada a coisas básicas como sono e repouso. Sem o sono e repouso adequados, certas capacidades ficam prejudicadas como concentração, raciocínio e até humor. Quando uma pessoa fica adoentada, este cuidado deve ser aumentado a fim de que sua recuperação se processe de maneira mais rápida e eficiente. As pessoas que fizeram parte do estudo relataram dificuldade em ter um sono tranqüilo e contínuo, como pode ser observado nos seguintes depoimentos: “Em casa dormia bem, mas acordava por causa da falta de ar” (Oscar). “É ruim para dormir, (...) faço sonos pequenos por causa da falta de ar. Tomo remédio para dormir, mas meu sono é agitado e acordo cansada, com falta de ar. No hospital é a mesma coisa”(Júlia). Para Orem o repouso também é um processo associado com o descanso e a restauração da condição normal. Enfatiza que é necessário a pessoa conhecer os processo metabólicos para a manutenção de seu equilíbrio, de modo a atender as necessidades de repouso, respeitando as necessidades e capacidades pessoais. Nas pessoas com problema respiratório crônico, o sono está freqüentemente prejudicado devido à falta de ar e dispnéia, que se acentuam durante as crises, além disto, a posição horizontal utilizada para dormir faz com que diminua a capacidade de expansão da caixa torácica provocando ainda mais desconforto respiratório. Déficit de autocuidado relacionado à atividade física Um outro importante déficit indicado pelos participantes foi o relativo a atividade física. A maioria dos sujeitos relatou não praticar nenhum tipo de atividade física devido aos limites impostos pela condição crônica de saúde tais como: dispnéia, falta de ar, fadiga, desânimo, medo e outros. “Caminhava três vezes na semana uma hora e meia por dia, depois da doença comecei a sentir-me cansado, não conseguia mais andar, até que parei de caminhar, pois ficava cansado com facilidade”(Pedro). “Não faço nenhuma atividade física por falta de disposição, de vontade” (Maria). A experiência de estar com uma doença respiratória crônica traz consigo manifestações físicas ou mudanças corporais que podem acarretar a perda da capacidade física. Esta perda pode ser de maior ou menor intensidade, variando de indivíduo para indivíduo, podendo consistir na necessidade de um maior esforço por parte do paciente para realizar suas atividades de costume, ou em levá-lo a uma incapacidade maior, como a perda da capacidade de locomoção e de trabalho. Entendemos que quanto mais sedentário, menos vontade a pessoa tem para realizar a atividade física, formando assim um ciclo vicioso. Isto se agrava pelo fato do medo que tem da exacerbação dos sintomas respiratórios durante a atividade. O equilíbrio entre realizar atividades físicas e repousar é o grande desafio para pessoas com problemas respiratórios crônicos, uma vez que, reconhecidamente, essas pessoas possuem algumas limitações físicas. No entanto, essas limitações, geralmente, são possíveis de serem superadas ou ao menos, as pessoas passam a reconhecer seus limites, mas também suas possibilidades. Déficit de autocuidado relacionado à interação social O isolamento social e o abandono das atividades de lazer são freqüentes entre as pessoas com problemas respiratórios crônicos. A preocupação com os outros, o medo das crises, as condições climáticas e 46 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005 outros problemas causados pela doença contribuem para o isolamento social uma vez que o cliente prefere ficar no seu domicílio a participar do convívio social, como mostram os seguintes depoimentos: “Tenho poucos amigos, mas me relaciono bem. Não faço atividades de lazer porque prefiro ficar em casa por causa da doença, vou a missa às vezes, quando é mais quente” (Júlia). “Mudou muita coisa, a gente não pode sair porque fico muito cansada e daí se sente mal no lugar. No trabalho, não posso mais trabalhar” (Dalgísia). Percebemos que as primeiras atividades a serem abandonadas quando há uma progressão da doença respiratória crônica, são as atividades recreacionais, tornando a vida do cliente mais sedentária e menos satisfatória. Contribuindo assim para o isolamento social. Pessoas com Asma e DPOC têm sua interação social prejudicada. Orem destaca que há fatores que interferem na interação social, destacando as condições de vida, os fatores humanos (pessoais e interferências específicas, como por exemplo, inadequada habilidade de comunicação) e os fatores ambientais. Nas pessoas que integraram o estudo percebemos que todos esses fatores estavam presentes e a superação do déficit de autocuidado relacionado a interação social, envolveu mais do que uma disposição para tal, mas uma participação efetiva dos familiares e de amigos que nem sempre se mostraram disponíveis. Déficit de autocuidado relacionado à manutenção da ingesta suficiente de líquidos e alimentos Em relação a ingesta hídrica, a maioria dos sujeitos refere à água como o líquido mais ingerido, no entanto a quantidade desta não é a mais adequada. Alguns autores recomendam uma ingesta hídrica de seis a oito copos de água por dia para pacientes com problemas respiratórios para diminuir a viscosidade do escarro e liquefazer as secreções para melhorar a ventilação pulmonar e a troca gasosa. No entanto como pode ser observado nos depoimentos que seguem, há um déficit de autocuidado evidenciado pela baixa ingesta hídrica. “Tomo mais ou menos quatro copos de água por dia” (Júlia). “Não bebo muita água, só dois copos de água ou suco por dia” (Emília). Repor os líquidos através do consumo de água filtrada, sucos, chás ou leite é importante, principalmente para a pessoas com problema respiratório crônico, pois esta perde mais água pela eliminação de secreções respiratórias, tosse, febre, além daquela decorrente de sua necessidade de maior gasto energético. Com relação a ingesta alimentar, esta foi considerada como representando um déficit de autocuidado. Embora as pessoas com problemas respiratórios crônicos não possuam uma dieta restrita, sua alimentação é prejudicada pelos sintomas provocados pela doença que são: cansaço e falta de ar que provocam inapetência ou dificuldade na ingesta alimentar, dependendo do estado de descompensação da doença. “Não tenho muita fome, como pouco, e já me sinto cansada e com falta de ar” (Filomena). Esta situação pode requerer a ajuda de um familiar/acompanhante para que as pessoas possam se alimentar, uma vez que, muitas vezes, estão tão debilitados que não conseguem realizar este cuidado sozinhas, prejudicando desta forma o autocuidado de alimentação, pois estes não querem gerar incômodo para seus familiares. Em virtude das sucessivas internações e do tempo prolongado destas, as pessoas apresentam modificação no hábito alimentar com certa rejeição quanto a comida hospitalar uma vez que esta não atende aos seus hábitos alimentares relacionados a sua cultura. Corroboramos com Bastos, que a finalidade de uma alimentação equilibrada é proporcionar ao indivíduo os elementos nutritivos para que possa ter uma vida 47 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005 saudável e com energia suficiente para satisfazer suas necessidades humanas básicas. A água e os alimentos são essenciais para a continuidade da vida, sendo necessário que a pessoa para manter seu autocuidado, conheça e reconheça seu gasto de energia para manter seu equilíbrio, atendendo as necessidades do organismo. Considerações finais Viver com uma doença respiratória crônica: Asma e DPOC vai muito além de cuidados específicos voltados para a redução da dispnéia. É preciso empenhar-se em ações que visem diminuir o risco de complicações, é necessário o abandono do tabagismo, disposição para a realização de atividades físicas e de lazer e empenho para criar condições para a superação dos déficits de autocuidado. É essencial ter informações para que a pessoa sinta-se apta a planejar e executar seu autocuidado. Autocuidado é compreendido como a prática de atividades, iniciadas e executadas pelos indivíduos em seu próprio benefício, para manutenção da vida, da saúde e do bem estar. Para que os cuidados necessários para manter-se saudável a partir da compreensão de sua doença, é preciso o conhecimento sobre a mesma. No entanto, verificamos que a maioria dos sujeitos do estudo possui pouco ou nenhum conhecimento referente a sua condição de saúde, o que limita sua possibilidade de assumir o autocuidado, de modo a superar um novo estilo de vida, compatível com os efeitos do desvio da saúde e, mesmo, lidar com os efeitos do desvio da saúde. Os déficits de autocuidado apresentados pelos integrantes do estudo ficaram evidenciados em inúmeros aspectos, sendo que se destaca a falta de um processo de educação em saúde, uma vez que esta é parte essencial no tratamento, de modo que as pessoas possam passar a assumir seu autocuidado. A aprendizagem permite perceber novas possibilidades de conviver com seu problema de saúde. É importante que as pessoas com problemas respiratórios crônicos perceberem-se no controle de sua condição, e para isso, é preciso que estejam constantemente aprendendo como lidar com seu problema de saúde, que saibam como monitorizar sua condição e como fazer escolhas que favoreçam sua qualidade de vida. Ao implementar uma assistência de enfermagem através da educação em saúde às pessoas portadoras de Asma e DPOC, foi possível visualizar seus principais déficits de autocuidado. Com isso tivemos a possibilidade de orientar essas pessoas de modo a propor-lhes ações objetivando a superação dos déficits de autocuidado e melhoria da qualidade de vida. O estudo nos possibilitou uma maior aproximação com a complexa problemática que envolve o viver com um problema respiratório crônico. Isto nos fez refletir sobre a gama de cuidados de que necessitam os clientes respiratórios crônicos e, desta forma, poder implementar uma assistência de Enfermagem voltada para as reais necessidades dos clientes e de acordo com a realidade na qual estão inseridos. Referências Bibliográficas 1. OREM, Dorothea E. In: Nursing concepts of practice. 5 ed. St Louis: Mosby, 1995. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Morbidade Hospitalar SUS. Disponível em: http://www.datasus.gov.br 3. Consenso Brasileiro no manejo da asma, III, 2002. Jornal de pneumologia. Brasília-DF: jun/2002, v. 28. 4. SMELTZER, Suzane C.; BARE, Brenda G. In: Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 48 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005 5. TRENTINI, Mercedes; SILVA, Denise Maria G. Vieira da. Condição crônica de saúde e o processo de ser saudável. Rev. Texto e Contexto, Florianópolis, v.1,n 2, p. 76-88, jul/dez 1992. 6. TRENTINI, Mercedes., PAIM, Lygia. In: Pesquisa Convergente Assistencial: Um desenho que une o fazer e o pensar na prática assistencial em Saúde-Enfermagem.2º ed. Florianópolis: Insular,2004. 7. GEORGE, Julia B. In: Teorias de Enfermagem: os fundamentos para a prática profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. 8. SILVA, Denise Guerreiro V. da, SOUZA, Sabrina da Silva., MEIRELLES, Betina S. Qualidade de Vida na Perspectiva de Pessoas com Problemas Respiratórios Crônicos. Revista Latino Americana de Enfermagem.São Paulo.2005. 9. PAPPS, Programa de actividade de prevenção e promoção de Saúde. Lisboa: Europress, 2001.(Tradução para português: Emanuele F. Gomes de Barros Matos). 10. DORNELLES, Nídia Almeida Tavares., DUARTE, Myrna D.B., PRADO, Marta Lenise do .Atendendo as Necessidades de Cuidado Corporal, Conforto Físico, Sono e Repouso. In: Fundamentos de Enfermagem. Florianópolis: UFSC, CCS,1999. 11. SILVA, Denise Maria Guerreiro Vieira da. Desafios e Enfrentamentos: um modelo de Prática da Enfermagem para indivíduos em condição crônica de saúde. Florianópolis, 1990. (Mestrado em Enfermagem) Programa de Pós Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina. 12. BASTOS, Danira Schweigert. Cuidando de Pessoas Portadoras de Hipertensão Arterial: contribuindo para a superação dos déficits de autocuidado. Florianópolis, 2002. (Mestrado em Enfermagem) - Programa de Pós Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina. 13. MCMAHON A. Coping with chronic lung disease: maintaining quality of life. In: Miller, Judith Fitzgerald (ed.). Coping with chronic illness: overcoming powerlessness. 2 ed. Philadelphia: Davis; 1992. 49 Brêtas, A. C. P. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA O ENVELHECIMENTO: A OUSADIA DE CUMPRIR A LEI1 [The daringness to comply with the law: the implementation of the elderly statute in the context of a Brazilian public health system] Ana Cristina Passarella Brêtas2 Resumo: Esse ensaio tem por objetivo estimular a discussão sobre o processo de implementação do Estatuto do Idoso, no que tange ao seu capítulo IV – Do Direito à Saúde, no contexto histórico e político do Sistema Único de Saúde. Busca refletir sobre a necessidade da defesa dos direitos dos idosos, sem perder a visão dialógica e dialética das demais demandas de saúde realizadas por outros segmentos sociais. Palavras-chave: Idoso, política de saúde, SUS, estatuto do idoso. Abstract: This essay aims to stimulate discussion on the process of implementation of the Elderly Statue, that which concerns its chapter IV - The Right to Health, in the political and historical context of the Sistema Único de Saúde (Brazilian Public Health System). It seeks to reflect upon the need for the defense of elderly rights, without losing the dialogic and dialectic vision of the other health demands on the part of other segments of society. Keywords: Elderly, health policy, Brazilian Health System, elderly statute. Introdução O ato de escrever decorre da experiência de falar sobre idéias, que paulatinamente vão se fixando sobre o papel e sobre nós mesmos. O texto que ora torno público é fruto desta oralidade compartilhada com os palestrantes da redonda: “Políticas públicas de saúde para o envelhecimento” e demais participantes da 5ª Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica e da 28ª Jornada Catarinense de Enfermagem realizadas em 2004 na cidade de Florianópolis – SC. Esse ensaio busca retratar as reflexões elaboradas naquela ocasião sobre a “ousadia de cumprir a lei”, na perspectiva de discutir sobre a implementação das políticas públicas de saúde para o envelhecimento, tomando como referencial os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)1 e o capítulo IV – Do Direito à Saúde - do Estatuto do Idoso2. Para viabiliza-la parti da compreensão de que essas políticas públicas, no âmbito da saúde, são instrumentos capazes não apenas de promover a saúde, prevenir e tratar doenças, reabilitar doentes, mas sobretudo de redefinir os acessos e oportunidades, bem como estabelecer prioridades de oferta de serviços. O presente texto está estruturado em quatro partes: nas duas primeiras busco apresentar os princípios e diretrizes do SUS1 e do Estatuto do Idoso2, na terceira estabeleço um diálogo entre essas políticas e finalmente, na quarta teço as considerações finais. _________________ 1 Palestra proferida na mesa redonda: Políticas Públicas de Saúde para o Envelhecimento, na V Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, 8-10/09/2004 2 Enfermeira sanitarista; Profa. adjunto do Depto. de Enfermagem da Federal de São Paulo – UNIFESP; Coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre o Processo de Envelhecimento Humano (NEPPE) da UNIFESP. 50 Brêtas, A. C. P. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005 O Sistema Único de Saúde (SUS) como política de Estado e não de governo No Brasil, a Constituição de 1988 no seu artigo 196 prevê que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” 3. Visando cumprir esse comando constitucional é sancionada a Lei Orgânica da Saúde 8080/ 904 que no seu artigo 4º assegura a formação do SUS constituído pelo conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, permitindo a participação da iniciativa privada de maneira complementar. Desta forma, temos que o SUS é um sistema público, não necessariamente estatal. Outras leis, resoluções e normas operacionais básicas passam a ser criadas objetivando a sua implementação, entretanto, apesar desses aparatos legais e da parcial legitimidade social, enfrenta problemas de diversas ordens – estrutural, política, orçamentária, de capacitação profissional, de participação da comunidade, entre outras – mostrando que ainda há um longo caminho a ser percorrido. O SUS é uma conquista social, resultado de mobilização e luta de atores sociais e políticos comprometidos com os preceitos do humanismo e da solidariedade. Vem se consolidando por meio de seus princípios doutrinários da universalidade, equidade e integralidade nos serviços e ações de saúde, bem como pelos princípios operacionais da descentralização dos serviços, regionalização e hierarquização da rede e participação da comunidade. Dado a característica deste texto me deterei na apresentação apenas dos princípios doutrinários, uma vez que são os que dão sustentação ideológica ao SUS. Princípio da universalidade – visa assegurar o acesso universal aos serviços de saúde, nos diferentes níveis de assistência, cabendo ao Poder Público a sua provisão1. Princípio da eqüidade – reafirma a necessidade de redução das disparidades sociais e regionais brasileiras por meio das ações e serviços de saúde. Implica em tratar com igualdade os desiguais1. Princípio da integralidade – objetiva assegurar o direito integral à assistência, “entendida como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” 4. Estatuto do Idoso Em outubro de 2003 foi sancionada pelo presidente da República Brasileira a Lei nº 10.741 que dispõe sobre o Estatuto do Idoso2 e dá outras providências. É necessário destacar que surge após longos anos de tramitação e discussão no Congresso Nacional e é resultado de ampla mobilização do segmento dos idosos e técnicos comprometidos com a causa do envelhecimento. Não só consolida os direitos garantidos em outras legislações, entre elas a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/94, Decreto 1.948/96), Política Nacional de Saúde do Idoso e o Sistema Único de Saúde; como amplia, aprimora e define medidas de proteção às pessoas com 60 anos ou mais de idade. O capítulo IV do Estatuto do Idoso destina-se à apresentação do Direito à Saúde. O artigo 15 prevê que “é assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos” 2. 51 Brêtas, A. C. P. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005 Vale salientar que o detalhamento desse artigo define que a prevenção e a manutenção da saúde do idoso deverão ser asseguradas por meio de cadastramento da população em base territorial; atendimento geriátrico e gerontológico ambulatorial, em unidades de referência e de reabilitação; atendimento e/ou internação domiciliar. Assegura ainda que compete ao Poder Público fornecer medicamento, próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação2. A ousadia de cumprir as leis: a implementação do Estatuto do Idoso no contexto do SUS Não tenho dúvidas de que o Estatuto do Idoso é uma conquista da totalidade da sociedade brasileira. É resultado de amplas lutas sociais – portanto não foi dado, fato que amplia o seu valor enquanto política pública. Esse mérito não deve ser minimizado, ao contrário necessita ser divulgado de maneira que o Estatuto além de legal, passe a ser legitimado pela população brasileira. Para que isso ocorra, ela precisa se apropriar do teor do mesmo - conhecê-lo amplamente – no meu entendimento esse deveria ser um dos papeis dos profissionais que trabalham com adultos e idosos, ir além das técnicas laborais e introduzir a reflexão sobre cidadania na sua prática diária. No entanto, apesar de reconhecer a importância do Estatuto na lógica da Gerontologia, enquanto sanitarista tenho dificuldade de visualizar a sua real operacionalização no que tange àquilo que é assegurado como Direito à Saúde. Vejam bem, a dúvida não está no conteúdo da lei, e sim, na forma de viabilizá-la. Como vimos, o SUS prevê que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, assegurado mediante políticas sociais e econômicas. Por meio dos princípios doutrinários da universalidade, integralidade e eqüidade defende que o acesso aos serviços e ações de saúde deve ser universal (para todos os brasileiros e brasileiras), integral (em todos os níveis de assistência) e eqüânime (atender de forma igualitária os diferentes). Assim, a abrangência do SUS é maior do que a do Estatuto do Idoso. Ao primeiro compete garantir o acesso à Saúde durante todo o processo de vida das pessoas – do nascimento à morte. O segundo focaliza a atenção às pessoas com 60 anos ou mais de idade, portanto está contido no SUS e poderia ser entendido como uma legislação redundante se vista apenas pelo aspecto do Direito à Saúde. Entretanto, o Estatuto no artigo 3º prevê que: “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único – A garantia de prioridade compreende: I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; (...); VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais”. (grifo meu) 2. Partindo do pressuposto de que não temos uma velhice e sim velhices, que não devem ser vistas como uma cisão em relação à vida precedente, e sim, uma continuação da infância, da adolescência e da maturidade que podem ter sido vividas de diversas maneiras; a reflexão sobre a eqüidade cai sobre a quem priorizar, no contexto do SUS, se além da categoria idade colocarmos em discussão a classe social, o gênero, a etnia, os demais segmentos assegurados por lei 52 Brêtas, A. C. P. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005 para terem atendimento preferencial, ou seja, as crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente), as gestantes e os portadores de deficiência? Com certeza esse é um dilema ético vivido hoje pelos profissionais da saúde que atendem nos diferentes níveis de complexidade do SUS. Não tenho dúvida de que a velhice tem pressa – não pode esperar o processo de organização das políticas públicas, no entanto, outros segmentos – também vulneráveis precisam de ações imediatas no que tange à saúde. Segundo Beauvoir “aí está o crime de nossa sociedade. Sua ‘política da velhice’ é escandalosa. Mais escandaloso ainda, porém, é o tratamento que inflige à maioria dos homens na época de sua juventude e de sua maturidade. A sociedade pré-fabrica a condição mutilada e miserável que é o quinhão deles na última idade. É por culpa dela que a decadência senil começa prematuramente, que é rápida, fisicamente dolorosa, moralmente horrível porque esses indivíduos chegam a ela com as mãos vazias. Explorados, alienados, quando a força os deixa, tornam-se fatalmente ‘refugos’, ‘destroços’5.” Nesta perspectiva nos resta ampliar a luta social, por meio do estímulo à participação da comunidade nestas discussões. Não bastam leis para assegurar a saúde com qualidade, é necessária vontade política dos governantes para investir recursos na área, tratando o SUS como política de Estado, portanto maior do que o governo. A saúde pública não pode ser moeda de troca para “governabilidade”. Evitar isso implica em potencializar o controle social sobre os poderes executivo e legislativo; o SUS prevê a participação da comunidade por meio das Conferências e Conselhos de Saúde (Nacionais, Estaduais, Municipais e Locais), lembrando que esses últimos têm caráter permanente e deliberativo na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde, inclusive no que diz respeito aos aspectos econômicos6. Resta-nos, mais uma vez, informar e formar politicamente os profissionais e usuários do setor saúde para que se apropriem das leis e trabalhem no sentido de exigir o seu cumprimento. Por isso o termo “ousadia de cumprir a lei”, ou seja, a legislação está posta – por ela o direito à saúde está garantido, mas isso não basta para que seja executada. À guisa de conclusão Como vimos, a saúde no Brasil é um direito de todos os indivíduos e uma responsabilidade do Estado, cabendo a esse garantir os recursos para cobrir as demandas e as necessidades de atenção à saúde da população sem distinção e discriminação de etnia, religião, classe social, gênero e geração. Assim, a saúde do idoso é um direito do cidadão geronte e um dever do Estado, assegurada mediante a implementação do SUS. A viabilização da saúde do idoso à luz do SUS pauta-se no trabalho intersetorial e interdisciplinar, bem como nas parcerias com o conjunto da sociedade e no controle social. A consolidação desta política implica no aprofundamento de questões éticas que permitam o respeito à diversidade, onde sejamos capazes de defender os direitos dos idosos, entretanto sem perder a visão dialógica e dialética das demais demandas de saúde realizadas por outros segmentos sociais. Finalizo essa reflexão citando Beauvoir que nos provoca enquanto seres humanos mencionando que para envelhecer com qualidade não podemos deixar de manter esforços para construir uma sociedade mais justa, com menos iniqüidades sociais. Assim, “quando compreendermos o que é a condição dos velhos, não podemos contentar-nos em reivindicar uma ‘política da velhice’ mais generosa, uma elevação das pensões, habitações sadias, lazeres organizados. É todo o sistema que está em jogo, e a 53 Brêtas, A. C. P. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005 reivindicação só pode ser radical: mudar a vida” 5. Cabe-nos, enquanto profissionais transitando nas áreas da Gerontologia e da Saúde Pública, buscar formas para operacionalizar os nossos argumentos teóricos evitando a onipotência dos discursos (e talvez das leis) e a inoperância das práticas. Afinal, como diz Saramago7, a utopia move os intelectuais, mas é a necessidade que movimenta o mundo. Conseguir concretizar as nossas utopias é um dos grandes desafios postos pela sociedade de uma maneira geral e pelos idosos em particular para nós que nos colocamos (ou fomos colocados) no papel de provocadores de opiniões e subversivos de idéias. Referências bibliográficas 1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria Executiva. Sistema Único de Saúde (SUS): princípios e conquistas. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2001. 2. Brasil. Estatuto do Idoso. Íntegra da Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Brasília (DF), 2003. 3. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília (DF). 1988. 4. Ministério da Saúde (BR). Lei Orgânica da Saúde: Lei nº 8080/ 90. 2 ed. Brasília (DF): Ministério da Saúde, Assessoria de Comunicação Social. 1991. 5. Beauvoir S. A velhice: o mais importante ensaio contemporâneo sobre as condições de vida dos idosos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1990. 6. Brasil. Lei nº 8142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Brasília (DF). 1990. 7. Saramago J. Saramago e nossos moinhos de vento. Edição Renato Rovai. Revista Fórum: outro mundo em debate. nº 24. Editora Publisher Brasil. 2005. 54 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005 REFLETINDO UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA EMANCIPADORA NA ENFERMAGEM1 [Reflecting upon an emancipative pedagogical Nursing practice] Sabrina da Silva de Souza2; Mariza Maria Serafim Mattosinho3; Maria Seloi Coelho4 Resumo: Este texto apresenta a educação como prática social na enfermagem, especialmente como forma de ensino aprendizagem nas escolas de formação em saúde, destacando os aspectos teóricos e práticos da educação com possibilidade de prática social. Inclui também formas de apresentação de educação: educação libertadora e educação como prática social. Palavras chave: educação, prática social, enfermagem. Abstract: This text presents education as a social practice in Nursing, especially as a method of teaching-learning in health care schools, highlighting the theoretical and practical aspects of education with the possibility for social practice. It also includes methods of presenting education: liberation education and education as a social practice. Keywords: Education, social practice, nursing. Introdução A diversidade das capacidades humana é basicamente inata, podendo modificar-se no decorrer da vida para mais ou para menos. O empenho nas ações e atividades podem aumentá-las, assim como o desinteresse e desuso podem reduzi-las. O que também acontece no processo educativo. Portanto, a pedagogia é constituída como ciência na própria práxis educativa, na qual teoria e prática estão embricadas, se supõe e se determinam. Desta forma, o educador necessita desenvolver competências, para que possa desenvolver uma prática pedagógica problematizadora. Ao longo da história, a educação tem se delineado de acordo com a própria evolução do homem, influenciada por concepções filosóficas das mais diversas e serve de referência para a evolução das diversas abordagens pedagógicas. Ela constitui uma das grandes inquietações do homem. Sua influência no processo de humanização e de sua libertação é assunto não só de interesse de intelectuais, mas de todos os homens comprometidos com as práticas educativas. Para nós a educação é um processo de interação entre os sujeitos sociais que acarreta no desenvolvimento integral destes atores. Ela respeita as crenças, os valores, a individualidade, a cultura e todos os princípios que regem a dignidade humana, porém propicia atitudes de reflexão para transformação de uma realidade. Ressaltamos que essa nova forma de fazer e pensar educação não podem estar vinculada e dimensionada a partir de produtos, identificados por meio de resultados avaliativos, baseados em parâmetros estruturados nas formas tradicionais. _____________________ 1 Este artigo faz parte do trabalho de conclusão de curso a fim de obter o título de Especialista em Formação Pedagógica em Educação Profissional na Área de Saúde: Enfermagem. MS/FIOCRUZ. 2 Mestranda em Enfermagem pela PEN-UFSC, Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de São José/SC. Integrante do NUCRON (Núcleo de Pesquisa vinculado ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem pela 3 UFSCMestre em Enfermagem, Enfermeira da Secretaria de Estado da Saúde/SC – EFOS. Integrante do NUCRON (Núcleo de Pesquisa vinculado ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem pela UFSC). 4 Doutoranda em Enfermagem pela PEN-UFSC. Mestre em Enfermagem, Enfermeira da Secretaria de Estado da Saúde/SC-DAME. Integrante do NUCRON (Núcleo de Pesquisa vinculado ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem pela UFSC). 55 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005 Isto quer dizer que há que se substituir a lógica econômica que vem direcionando as ações educacionais, nos últimos anos, por outra que focalize a emancipação dos sujeitos históricos envolvidos no processo educativo. Essa nova postura sinaliza, também, para a delimitação de um tipo de gestão assentada em bases democráticas, em que descentralização, autonomia, transparência, participação e qualidade deixam de ser retórica e transformam-se em prática construída coletivamente. Ao indicar caminhos para uma educação que faça sentido num futuro em que a velocidade da informação, as demandas do mundo do trabalho e as necessidades sociais cada vez mais se intensificarão, torna-se importante ressaltar que só é possível compreender a prática social da educação se ela for analisada no sentido histórico e de forma contextualizada, pois os fatos sociais possuem materialidade objetiva e subjetiva, num movimento dialético que se dá na realidade. Numa antevisão do amanhã que estará prenhe do hoje, a Educação, como prática social que dá suporte à vida e à cidadania, tem como responsabilidade a construção e a socialização do conhecimento, desde a educação infantil até a superior, desvelando seu compromisso social com esses novos tempos. A educação como prática social envolve não somente o compreender os fenômenos naturais, mas o que permite que, a partir dele, os indivíduos adquiram a capacidade para assumirem a posição em face de problemas conflituais, que a realidade apresenta. Tal saber envolve conhecimentos factuais, técnicas, concepções fundamentadas em convicções políticas, religiosa e ética. Neste estudo destacaremos a educação e a educação como prática social numa perspectiva problematizadora, construída a partir de nossas vivências teórico-práticas desenvolvidas no curso de especialização em Formação Pedagógica em Educação Profissional da Área de Saúde: Enfermagem. Educação libertadora O processo educativo seja ele específico ou não, quando exercido de modo intencional pode gerar organização e ampliar as condições de cidadania da população, consequentemente mobilizando-a para seus enfrentamentos e ações no sentido de contribuir para a melhoria da qualidade de vida. Este é um processo que exige coresponsabilidade, auto determinação e participação, elementos que existem na medida em que os indivíduos possuem conhecimento da realidade que os cerca. Não se pode negar a importância da educação, mas é preciso resgatar seu real valor para a população. Romper com este processo de caráter normativo necessita de práticas educativas mais reflexivas, coerentes com as situações concretas advindas da história, da vivência do próprio homem. Isto implica na ruptura com a posição do profissional como reprodutor. Implica na renuncia à autoridade, à certeza, à imposição de ações educativas pré-definidas à clientela. O conhecimento e as disciplinas não são impostas ao aluno (a), os conteúdos são os que resultam de necessidades e interesses do grupo e não são necessária nem indispensavelmente as matérias de estudo. Nesta proposta educacional da escola libertadora, o mais importante é desenvolver uma consciência crítica e o comprometimento do educando com a prática social. A linha pedagógica da Escola Libertadora criada e difundida pelo educador Paulo Freire, acredita numa educação não formal, que valoriza o ser humano como agente de transformação de sua realidade. Desta forma, a relação entre educador e educando acontece na horizontalidade, na qual ambos são sujeitos do mesmo processo 1 . A educação, neste sentido, consiste na busca consciente, realizada por um sujeito, para ser mais, para crescer. O papel 56 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005 do educador problematizador é proporcionar, com os educandos, as condições em que se dê a superação ao nível do doxa pelo verdadeiro conhecimento, o que se dá no nível do logus 2. O papel do professor/educador não é de modelo e sim de orientador e de catalisador que se mistura no grupo para uma reflexão comum. Este não deve impor suas idéias e concepções e nem transformar o educando em objeto. O educando é um ser livre, concreto, objetivo que determina e é determinado pelo social, político, econômico, enfim, pela sua história e só aprende se estiver motivado e deseja aprender. Aprender significa desenvolver a capacidade de processar informações e lidar com estímulos do ambiente, organizando os dados disponíveis da experiência 1. A educação libertadora problematizadora, difundida por Paulo Freire, não consiste no ato de depositar ou transmitir conhecimentos, pelo contrário, consiste numa troca, num ato cogniscente entre educador e educando. Para o educador dialógico e problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição, mas a devolução organizada sistematizada e acrescentada ao “povo”, daqueles elementos que este lhe entregou de forma inestruturada 3. Nesta pedagogia o educador tem o papel de proporcionar condições para o aprendizado. O educando é autor do seu conhecimento. O papel do educador neste modelo é o de instrumentalizador, uma vez que educador e educando são sujeitos do ato do conhecimento. Nesse sentido, as idéias freireanas servem como orientação para o processo de formação docente no que se refere à reflexão crítica da prática pedagógica que implica em saber dialogar e escutar, que supõe o respeito pelo saber do educando e reconhece a identidade cultural do outro. Hoje, mais que em outras épocas, se exige do educador uma postura alicerçada num processo permanente de reflexão que leve a resultados inovadores no trato da educação. Sem dúvida que, as contribuições de Paulo Freire levam o educador a consciência de si enquanto ser histórico que continuamente se educa num movimento dialético no mundo que o cerca. Não é, pois, por acaso que as idéias freireanas se articulam com os interesses na formação do educador, pois, não se perde de vista o caráter histórico do homem associado sempre à prática social. Quando o processo desconsidera a dimensão sócio-cultural do aluno, a educação não é eficaz, uma vez que as intenções da educação divergem e desta forma não há uma interação efetiva. Assim não há troca de conhecimentos. Há sim, um déficit no processo, pois gera insatisfação, revolta, angústia e impotência do educando, pois as ações não são adequadas a sua realidade sócio, econômica e cultural. Se a educação não for voltada para a realidade concreta do indivíduo a mesma não se realiza, pois extrapola o universo da qual o indivíduo faz parte. Freire defende que ensinar exige: respeito aos saberes dos educandos, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, respeito à autonomia de ser do educando, a convicção de que a mudança é possível, disponibilidade para o diálogo, comprometimento, pesquisa, criticidade, estética e ética 4 . A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres “vazios” a quem o mundo “encha” de conteúdos; não pode basear-se numa consciência espacializada, mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo 2. Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o 57 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005 professor ou professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. A relação professor/aluno deve ser horizontal, onde ambos mantém o diálogo, posicionamse e buscam, como sujeitos, a troca de conhecimentos e superação das desigualdades 5 . O diálogo é o principal instrumento da educação crítica como forma de estabelecer relações para a problematização da realidade 1. Freire diz que não há diálogo se não houver um profundo amor ao mundo e aos homens, não há diálogo se não houver uma intensa fé nos homens, não há diálogo sem esperança, e finalmente, não há diálogo verdadeiro se não há nos seus sujeitos um pensar verdadeiro. Pensar crítico. Pensar que não aceitando a dicotomia mundo-homens, reconhece entre eles uma inquebrantável solidariedade 2. O educando é autor do seu conhecimento. O papel do educador neste modelo é o de instrumentalizador, uma vez que educador e educando são sujeitos do ato do conhecimento. Com efeito, ao enfatizar o caráter contemplativo da teoria, Paulo Freire garante a inserção do homem na realidade. Ele deixa claro que teoria é sempre a reflexão que se faz do contexto concreto, isto é, deve-se partir sempre de experiências do homem com a realidade na qual está inserido, cumprindo também a função de analisar e refletir essa realidade, no sentido de apropriar-se de um caráter crítico sobre ela. Esse caráter de transformação tem uma razão de ser, pois provém antes de tudo, da sua vivência pessoal e íntima numa realidade contrastante e opressora, influenciando fortemente todas as suas idéias. Essas idéias pedagógicas expressam as lutas sociais como força atuante de transformação do mundo. Assim, os sujeitos sociais modificam o mundo através de uma educação libertadora, conscientizadora, que se indigna com a opressão e a denúncia. No processo de formação profissional os alunos devem ser instigados a perguntar, criticar, criar para construção de um conhecimento coletivo que articule o saber popular e o saber crítico, científico, mediado pelas experiências do mundo 6. As ciências permitiram que compreendêssemos muitas certezas. No entanto, elas também ajudaram a revelar as zonas de incertezas. Dessa forma, a política pedagógica precisa converter-se em um instrumento que conduza o educando a um diálogo criativo com as dúvidas e interrogações do nosso tempo, condição necessária para um à formação cidadã. Não se pode mais ignorar a urgência de universalização da cidadania, que por sua vez, requer uma nova ética e, por conseguinte, uma escola de educação e cidadania para todos 7. Para finalizar gostaríamos de ressaltar o nosso papel enquanto educadores com as palavras de Paulo Freire “o papel de um educador conscientemente progressista é testemunhar a seus alunos, constantemente, sua competência, amorosidade, sua clareza política, a coerência entre o que diz e o que faz sua tolerância, isto é, sua capacidade de conviver com os diferentes para lutar com os antagônicos” 6. Educação como prática social O ser humano é um ser social, nasce e cresce em um ambiente que é criado e transformado pelos homens. Neste ambiente que é social dar-se-á inicio a interação ocorrendo à educação 6. Desde o nascimento já é iniciado o processo educativo, no qual a família repassa ao novo ser práticas e conhecimentos herdados da sua cultura, crenças e valores. À medida que vamos crescendo a educação vai se transformando, através das novas relações sociais oriundas das interações com amigos, escola, trabalho, entre outros, ou seja, o processo educativo está ligado/integrado ao viver/conviver de cada pessoa. Nós nos educamos com as nossas experiências e também ouvindo, trocando e observando as atitudes dos outros, que 58 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005 muitas vezes expressam mais do que palavras. No convívio estabelecido com essas redes sociais vão emergindo nas pessoas sentimentos e significados na qual eles vão se educando, se comprometendo, criando e re-criando o viver em sociedade. Assim vamos nos formando, nos educando e nos percebendo enquanto seres sociais. No processo educativo existem dois conceitos essenciais que constituem a base essencial da prática sócio educativa: a intenção e a interação. Os termos intenção e interação constituem uma unidade que expressa o modo de existir do ser humano como constitutivo da realidade. Porém, as pessoas são vistas como sujeitos que procuram à compreensão, a interpretação da realidade onde vivem, movimentando-se e fazendo parte dela interferindo para que ocorra uma transformação dessa realidade. A interação tem um significado especial na realidade social, onde os homens a constituem pela convivência. É a maneira como se dá a relação entre pessoas, grupos, sociedade, entre outros, e esta relação/interação ocorre quando algo (conceito, pessoas) está diante de outra, servindo uma de referência a outra. Como enfermeiros e educadores em saúde, temos o papel de trabalhador social, não podendo nos omitir diante do processo de nos relacionarmos no mundo, assumindo uma postura humana e de valor ao próximo. Temos o compromisso com a educação e o desenvolvimento, da percepção crítica das pessoas com quem trabalhamos. Para a educação ser uma prática social é necessário que esta prática resulte na intenção de interações para a transformação dos educandos e também para a construção de possibilidades de mudanças e transformações mais amplas na vida social, no sentido de torna-la mais humana. Quando a educação é uma prática social, a participação dos indivíduos intervém efetivamente nos processos que constituem ou modificam a sociedade na sua história, ou seja, têm parte na produção, na gestão e no usufruto dos bens da sociedade. Daí parece emergir os outros dois conceitos co-responsabilidade e autodeterminação ao quais são, respectivamente, a capacidade de responder conscientemente, em conjunto com outros agentes, pelos processos sociais e a capacidade de decidir por si mesmo. Desta forma, entendemos a educação como prática social, toda atividade educacional que se concretiza em relação pedagógica, que apresenta características históricas, implicações teóricas e compromissos políticos. Para que a educação ocorra plenamente é fundamental que as intenções sejam compartilhadas com todos os partícipes do processo para que ocorra a interação entre os mesmos. Hoje a educação abre as portas para esse novo olhar na qual educandos/educadores são vistos como sujeitos, com o compromisso de ensinoaprendizagem, inseridos num ambiente sócio-político e histórico-cultural. Esse ambiente deve ser considerado pelas pessoas envolvidas na educação, pois, os alunos e professores vêm de contexto, muitas vezes distinto. A riqueza do processo está na interação dessas experiências e construção de uma experiência e conhecimento coletivo, assim ocorre à educação. Quando não consideramos as diferenças e ambientes sócio-culturais estamos negando a construção individual desses sujeitos, que é à base da riqueza do processo. Estamos mais uma vez negandolhes uma existência prévia e não contribuindo para sua formação enquanto trabalhador social. Assim, repetimos a educação tradicional, onde todos eram vistos como objetos a serem educados. Considerando o contexto sóciocultural, passamos a perceber o educando como sujeito, com um compromisso maior sobre sua educação, como conquista no processo de conscientização. Portanto, o educador e o educando somente participam da educação se tiverem realmente a intenção, deve existir a motivação interna na busca do 59 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005 ser mais, eles devem querer participar, esse é um importante fator na educação. Freire coloca que as pessoas se educam em comunhão mediatizados pelo mundo 6. Assim, quando pensamos em educação verdadeira, não podemos deixar de lado o contexto das pessoas envolvidas. Através da intenção, elas vão buscar interagir/ trocar e aprender em conjunto, o processo de viver com o mundo e de refletir sobre a essência do ser humano. O educando que durante o processo desenvolve a consciência crítica, ao exercer sua prática profissional perceberá como essência de sua ação o ser humano, que no momento necessita mais do que cuidados, necessita ser valorizado como sujeito. Ao indicarmos caminhos para uma educação que faça sentido no futuro em que a velocidade da informação, as demandas do mundo do trabalho e as necessidades sociais cada vez mais se intensificarão, é importante ressaltar que só é possível compreender a prática social da educação se ela for analisada no sentido histórico e de forma contextualizada, pois os fatos sociais possuem materialidade objetiva e subjetiva, num movimento dialético que se dá na realidade. Esta nova forma de fazer pensar a educação não pode estar vinculada e dimensionada a partir de produtos, identificados como meio de resultados avaliativos, baseados em parâmetros estruturados nas formas tradicionais. Isto quer dizer que tem que ser substituída a lógica econômica que vem direcionando as ações educacionais nos últimos anos, por outra que focalize a emancipação das pessoas como sujeitos históricos envolvidos nos processos educativos. Considerações finais As nossas vivências constituem a nossa essência e com certeza influenciarão a nossa visão de mundo e formação profissional. Enquanto enfermeiros estamos diante de um compromisso muito maior do que realizar cuidados de enfermagem, mas sim de olhar as pessoas com as quais trabalhamos (seja na assistência ou educação) como sujeitos, com sentimentos, conhecimentos, experiências, significados, com capacidade de agir, refletir e decidir sobre seus atos, cuidados e educação. Essa capacidade faz do homem sujeito de sua história, agente de transformação do mundo. Dos relacionamentos e reflexão sobre o contexto o homem assume o papel de transformador de sua realidade, buscando um mundo mais justo e humano. A mudança de percepção, que ocorre na problematização de uma realidade conflitiva, implica em um novo enfrentamento dos indivíduos com sua realidade. Cabe ao trabalhador social trabalhar como e jamais impor, pelas pessoas a quem considera sujeitos e não objetos, incidências de sua ação 8. A escola libertadora através do poder de criação e da consciência crítica pode ser usada na área da saúde, especificamente neste caso, na educação para profissionais de enfermagem, visando uma reflexão sobre a realidade, na tentativa de compreendê-la e desenvolver a consciência do poder do ser humano para transformar situações de vida, buscando uma formação crítica e profissional mais comprometida com a sociedade e com o viver saudável. A teoria de Paulo Freire é a união da teoria e da prática, trabalhando teoricamente a realidade vivida. Freire pensa em uma pedagogia especifica, associando o estudo, a experiência vivida, o trabalho, a pedagogia e a política. Freire abre uma nova perspectiva para a educação, ao perceber e valorizar as experiências populares na formação educativa. Quando pensamos em formação profissional da saúde, não podemos deixar de nos remeter a educação libertadora de Paulo Freire, se não cairemos na educação tradicional, predominante por muitos anos, que mantinha apenas o repasse de informações sem a preocupação com o envolvimento social e político do ser humano. Essas informações 60 Souza, S. da S. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005 descontextualizadas acabam por não serem aplicadas no seu cotidiano. Ao vivenciarmos a nossa realidade social temos que nos dar conta que fazemos parte dela, somos influenciados por ela assim como a influenciamos, percebendo que a educação está relacionada com as relações políticas e culturais. Portanto temos que desenvolver nossa visão crítica, de analisar e refletir sobre essas situações, não as aceitando de forma passiva. Essa reflexão deve ser realizada em comunhão com os outros sujeitos sociais, dessa conscientização conjunta a sociedade cria forças para transformar a realidade. Como formadores de profissionais de enfermagem devemos desafiar os alunos a perceber que aprender é desvelar a realidade, assumindo curiosidade e interesse de quem quer conhecer e se sente o sujeito do seu aprendizado. È importante que nós educadores tenhamos bem claro o nosso papel enquanto formadores de profissionais e trabalhadores sociais, para que então possamos atuar como educadores críticos e conscientes de suas possibilidades de atuação no contexto social, o que nos remete a Freire: “Nenhum educador faz sua caminhada em diferente ou apesar das idéias pedagógicas de seu tempo ou de seu espaço. Pelo contrário, faz sua caminhada desafiada por essas que combate ou defende. Nega-se, afirma-se, cresce, e mobiliza-se, envelhece assim ou é sempre novo” 6:72. Referências 1. Salum NC. Educação continuada no trabalho: uma perspectiva inovadora de transformação da prática e valorização do(a) trabalhador(a) de enfermagem. 2000 Dissertação (Programa de Pós Graduação em Enfermagem) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. 2. Freire P. In: Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 3. Geremias R, Vieira SA. Orientando o autocuidado segundo Dorothea Orem: um incentivo ao cliente crônico. Florianópolis, 1996. (Relatório Final de Conclusão de curso de Graduação em Enfermagem)Universidade Federal de Santa Catarina. 4. Freire P. In: Educação como prática da liberdade. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1979. 5. Freire P. In: Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra; 1999. 6. Freire P. In: A educação na cidade. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000. 7. Morin E. In: Os sete saberes necessários à educação do futuro. 5. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO; 2002. 8. Freire P. In: Ação cultural para a liberdade: e outros escritos. 10. ed. São Paulo: Paz e Terra; 2002. 61 Portella, M. R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005 PROMOÇÃO DO ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: um olhar sobre as práticas de cuidado e de promoção da saúde dos idosos rurais1 [Promotion of healthy aging: a look at care practices and the promotion of health for the rural elderly] Marilene Rodrigues Portella² Resumo: Este artigo apresenta uma discussão sobre a promoção da saúde dos idosos da zona rural apreciando enfoques abordados na mesa redonda “Promoção do envelhecimento saudável” que aconteceu durante a 5a Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica e 28a Jornada Enfermagem Catarinense em Florianópolis, setembro de 2004. Primeiramente examina o contexto do processo de viver e envelhecer no meio rural, a seguir explora as possibilidades de promoção do envelhecer saudável nas comunidades rurais e, por fm, tece alguns considerações sobre a necessidade de se implementar estudos que investiguem o envelhecimento humano nas comunidades rurais. Palavras-chave: Saúde idoso rural, envelhecimento, promoção da saúde Abstract: This paper discusses the promotion of health for the elderly in rural areas taking a look at viewpoints approached in the round table “Promotion of healthy aging" which was held during the 5a Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica and 28a Jornada Enfermagem Catarinense (5th Brazilian Seminar of Geriatric and Gerontological Nursing and 28th Seminar of Nursing in Santa Catarina) in Florianopolis, September 2004. Firstly, it examines the context of the living and aging process in the rural environment, and then explores the possibilities for the promotion of healthy aging in rural communities and lastly, discusses some considerations regarding the need to implement studies which investigate human aging in rural communities. Keywords: Health, rural elderly, aging, health promotion. Introdução Para se falar em promoção do envelhecimento saudável considerando os idosos que vivem em zona rural é necessário que se façam algumas considerações, ainda que rápidas, sobre o modo de vida dos rurais e as possibilidades de atenção à saúde dos mesmos. O processo do envelhecimento é natural e normal, porém difere de pessoa para pessoa. No meio rural, a maneira como cada ser humano envelhece, está relacionada a sua formação cultural e o contexto sóciohistórico. Este artigo apresenta uma discussão sobre a promoção da saúde dos idosos da zona rural apreciando os dois focos abordados na mesa redonda “Promoção do envelhecimento saudável”, que aconteceu durante a 5a Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica e 28a Jornada Enfermagem Catarinense, que _________________ ocorreu em Florianópolis em setembro de 2004. Para abordar essa temática, num primeiro momento, contextualizamos o processo de viver e envelhecer no meio rural considerando os seguintes aspectos: a) urbanização intensa, expulsão da terra; b) mudança na organização familiar; c) as questões de gênero; d) a existência de municípios envelhecidos; e) os descasos para com o meio rural, por parte das políticas públicas; f) o desrespeito aos seus costumes e às suas necessidades; g) a influência da mídia sobre o mundo dos rurais e o papel da escola no meio rural. A seguir, dirigimos um olhar sobre a promoção do envelhecer saudável nas comunidades rurais e as possibilidades de atenção à saúde dos idosos adotando os enfoques: a) ambiente saudável; b) relacionamento intergeracional; c) rede de vizinhança; d) os benefícios da aposentadoria e a inserção dos idosos nos Grupos de Terceira Idade (GTIs). ¹ Palestra proferida na Mesa Redonda: Promoção do envelhecimento saudável, na V Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, SC, 08 – 10/09/2004. 2 Enfa Dra Profa. Titular do Curso de Enfermagem da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo-RS. 62 Portella, M. R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005 Por fim, pontuamos algumas considerações que destacam a necessidade de investimentos em estudo que aborde o envelhecimento rural, uma vez que a velhice, nesta perspectiva, merece ser investigada não só pela riqueza de dados, mas pelas peculiaridades específicas pertinentes às comunidades rurais. Contextualizando o processo de viver e envelhecer no meio rural Viver e envelhecer no meio rural, na atualidade, aproxima-se ao vislumbre de um paradoxo. Se, por um lado, este processo pode acontecer de modo tranqüilo devido ao ambiente favorável das comunidades rurais, longe da agitação e da violência, própria dos centros urbanos, por outro, tráz à tona a condição sofrível daqueles que diariamente lutam pela sobrevivência frente às adversidades impostas pela condição de viver neste contexto, o mundo rural. Pensar o envelhecimento rural implica em considerar os seguintes aspectos: Urbanização intensa, expulsão da terra A urbanização intensa, assim como a rápida transferência de grandes contingentes populacionais do campo para as cidades são conseqüência das migrações. Geralmente os grandes fluxos migratórios humanos têm origem em grandes problemas sociais e econômicos. Os jovens abandonam o campo em busca de melhores condições, especialmente, associadas às ilusões do mercado de trabalho. O êxodo para as cidades, ocorrido no Brasil, uma realidade que tem esvaziado o meio rural, se deve principalmente às transformações da agricultura, ou seja, o processo da mecanização agrícola, o uso de tecnologia de ponta, e uma política econômica que privilegia acima de tudo o agrobusiness, imposição de um sistema capitalista estruturado, ao meu ver, numa economia mercantilizada. 1 Em outras palavras, o Brasil, na virada do milênio, persiste no movimento de desruralização, que se caracteriza por um movimento de expulsão da terra, onde jovens e por vezes, famílias inteiras se aglomeram nas periferias urbanas formando as notórias favelas. Grande parte dos favelados deixou terras de sua propriedade ou locais onde plantavam, seja causa da mecanização ou da luta pela terra e foi para os grandes centros procurar grandes obras que não existem e, quando acontecem, poucos empregos ofertam, assim vão exercer funções mal pagas, fazer biscates e viver na pobreza que rapidamente se transforma em miséria1. Mudança na organização familiar Outro ponto a considerar na promoção do envelhecimento saudável é a família. Pensar o padrão de família na perspectiva rural significa sobretudo considerar as mudanças que vem ocorrendo na organização familiar. Acreditamos, realmente, que o processo de modernização e urbanização das sociedades, contribui significativamente, para a saída dos jovens do campo. Ora, sabemos que hoje, mais do que nunca, as transformações sócioeconômicas constroem padrões familiares bem como, determinam dinâmicas intrafamiliares. Segundo Camarano e 2 Abramovay o meio rural brasileiro, além de persistir no esvaziamento, está envelhecendo e se masculinizando. Com a saída dos jovens do meio rural, ficam lá os pais já envelhecidos. Dos jovens, o êxodo maior é feminino, a migração das mulheres é vista como um recurso necessário na organização de suas próprias vidas3. Muitas vezes, são os próprios pais que estimulam a saída das filhas mulheres do campo para estudarem na cidade, onde o estudo ocupa meio turno e nos períodos vagos podem até conseguir um emprego. Mesmo na atual conjuntura de desemprego, a cidade consiste-se numa oportunidade de melhoria de vida. 63 Portella, M. R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005 As questões de gênero As relações sociais de gênero sempre marcaram e definiram a conduta e o agir dos indivíduos na família. No meio rural, segundo Tedesco4, há uma segregação nítida em termos de gênero, até mesmo na esfera do lazer. O trabalho feminino no lar, em geral, não é valorizado. Embora se dê importância ao papel desempenhado pela mulher, como reprodutora biológica, seu serviço, freqüentemente, nem é considerado como tal. Elas próprias, quando perguntadas se trabalham, muitas vezes respondem que não, que apenas fazem as lidas da casa e cuidam dos filhos. Quando algumas delas respondem que sim, estão se referindo à sua força de trabalho, quando utilizada nas lidas da roça. De qualquer forma, mesmo quando os afazeres domésticos são considerados como trabalho, não assumem a importância atribuída ao trabalho do homem na lavoura. As mulheres rurais, no meu entendimento, são seres humanos únicos, inacabados, com crenças e valores que lhes são próprios. Cada uma vivência e experiência um momento particular, no seu processo de viver/envelhecer. Cada uma tem sua visão de mundo, uma história de vida, um corpo, uma idade, uma aparência física, mas para efeito dessa discussão, algo é comum entre todas: elas vivem e trabalham no meio rural, quer seja no lar ou na roça. Ser mulher e viver no meio rural parece constituir-se na tônica do cuidado e do viver atarefado6, 9. Com a evolução tecnológica de algumas tarefas na agricultura, quem mais usufrui de tais benefícios são os homens. Dirigir o trator, a colheitadeira, arar e gradear a terra valendo-se do maquinário agrícola é coisa de homem. A mulher do meio rural tem responsabilidade de gerar, educar e produzir. Cuidar da casa, dos filhos, fazer comida, lavar a roupa, arrumar a horta, fazer queijo, aprontar o pasto e cuidar dos pequenos animais, é coisa de mulher. Coisa de homem é o trabalho pesado, plantar, colher, ir ao Banco, na cooperativa, ou seja: as atividades fora do espaço doméstico, as quais nem sempre são tão pesadas assim. Governar a casa é coisa de mulher, administrar a lavoura é coisa de homem. A convivência no meio rural, a organização social e vivencial da família revela a profunda interação entre família, terra e trabalho definindo obrigações e regras que são seguidas e socialmente reafirmadas, independentemente do sexo ou idade. As mulheres idosas do meio rural sentem-se na obrigação de trabalhar, pois fazem parte do grupo familiar, desta forma consideram-se comprometidas em colaborar e prover o seu sustento5. A existência de municípios envelhecidos Um outro ponto a considerar no tocante ao fenômeno do envelhecimento populacional e a promoção do envelhecer saudável é a existência de municípios envelhecidos, ou seja, com percentual do total da população geral como 60 anos e mais acima dos 10%, índice considerado pela Organização Mundial da Saúde como determinante do envelhecimento populacional de um país, isso também pode se aplicar aos municípios. No Rio Grande do Sul (RS), existem vários municípios, grande parte deles, de pequeno porte, que se encontram nessa condição (IBGE, 2000), destacando-se ainda, o fato de que nestes existe uma grande concentração de população vivendo no meio rural. Os descasos para com o meio rural, por parte do poder público Em alguns estudos realizados junto a idosos, no norte do Estado do RS, dos quais tenho participado, vale destacar a indignação manifestada por este segmento da população no que se refere aos descasos para como o meio rural. O viver/envelhecer é entendido como um processo sofrível, quando se observam as reclamações em relação ao abandono ao qual ficam submetidos6-8. 64 Portella, M. R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005 São os políticos que chegam ao meio rural só nas épocas de eleições, com promessas que nunca são cumpridas, são as estradas, em precárias condições, às vezes, intransitáveis, a escassez dos recursos médicos, o que deixa a saúde no descaso. Fazendo uma alusão à célebre frase de João Guimarães Rosa “para os pobres, os lugares são mais longe”, para quem vive no meio rural, as soluções são para depois, promover um envelhecimento saudável nesta perspectiva não é tarefa fácil. Não obstante, algumas comunidades rurais reclamam de que os governantes fazem pouco caso das necessidades e da precariedade de condições em que a agricultura familiar está submetida, acusando o governo de privilegiar os grandes lavoureiros, significando, com isso, que, se, na prática, não acontece a democratização dos recursos, em nível de consciência, ela deveria estar. Existe consciência disso, e grande parte dos pequenos agricultores estão se organizando adotando táticas no sentido de reivindicarem, de serem ouvidos e neste ponto as mulheres estão mais organizadas, um exemplo disso, no sul do Brasil é o movimento de mulheres trabalhadoras rurais (MMTR), movimento ligado a um segmento da Igreja Católica e a sindicatos. Como se não bastasse o descaso das políticas públicas, o idoso rural enfrenta as discriminações e desrespeito a sua cultura. A velhice sendo associada à discriminação remete sempre à idéia de que o velho não tem valor, assim também como o seu modo de vida. O cultivo dos seus hábitos e costumes quando desrespeitados, passam indícios de que, ser velho e viver no meio rural também é sofrível quando a realidade social revela a forma indigna como os cidadãos, são considerados e tratados pelos demais Principalmente, por aqueles que dão valor ao urbano e aos jovens7. A influência da mídia sobre o mundo dos rurais Um ponto muito importante neste debate, nos remete ao papel da mídia e sua influência no mundo dos rurais. À medida que se cria a consciência de que a mídia determina padrões de comportamento, percebe-se o olhar crítico, dos idosos, sobre os meios de comunicação. Os idosos reconhecem que, se por um lado há avanços no campo devido a chegada da mídia, por outro, apontam a mídia como um dos fatores determinantes do distanciamento entre as gerações. Atribuem à mesma a introdução de novos comportamentos, os quais são facilmente assimilados pelos jovens. A crítica dos idosos envolve inclusive a influência exercida sobre a forma de entretenimento para o público infantil sobre a recreação e os brinquedos difundidos entre as crianças. Para os idosos, os meios de comunicação, principalmente a televisão, mostra aos jovens, desde a tenra idade, um mundo muito diferente do que se possa encontrar no meio rural7. O papel da escola no meio rural A Escola é rural, mas não chega aos rurais. Os idosos atribuem à escola a coresponsabilidade pelo desinteresse dos jovens e crianças em permanecer no meio rural. A escola, a medida que transmite conhecimentos, confirma o mundo mostrado pela mídia que apresenta padrões de vida e facilidades que não chega ao meio rural7. No entender dos idosos a escola não se preocupa com os problemas do interior. Embora reconheçam a necessidade dos filhos e netos estudarem, admitem que cada dia freqüentado na escola é uma oportunidade a mais para exposição ao convite de convívio na cidade. Nesta perspectiva, reforçam o parecer de que as escolas localizadas nos municípios, onde a base econômica é a agricultura familiar, deveriam incluir disciplinas complementares com conteúdos pertinentes ao contexto rural em seus currículos. 65 Portella, M. R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005 O ambiente rural é ressaltado pelos idosos como ecologicamente saudável, pois, as relações estabelecidas no dia-a-dia seguem a tradição rural, que é de solidariedade e cooperação entre os membros de uma comunidade. Embora reconheçam que existe uma sobrecarga de trabalho e, por conseqüência, desgaste físico, principalmente, para as mulheres. Todavia, percebem o ambiente rural como oferecedor de tranqüilidade e segurança, longe da violência urbana e da agitação, algo comum na cidade6. A vida no campo segue normas comunitárias e rituais diferenciadas do espaço urbano: durante a semana se trabalha “pesado nas lidas”, se dorme cedo e os finais de semana são para os encontros na capela, as festas de igreja, os bailes, o direito ao lazer, momentos destinado ao “profano e ao sagrado”. organização social rual. Essas mudanças acontecem num ritmo acelerado em consequência dos sistemas de produção agrícola e das políticas econômicas, sendo constatado, em alguns estudos, que onde há predominância das pequenas propriedades o cenário é próprio ao processo interativo intergeracional. No convívio familiar, o relacionamento afetivo entre avós, netos, sobrinhos e afilhados é um exercício prazeroso, que fica ao encargo dos mais velhos a revitalização constante7. No meio rural, o envelhecimento saudável acontece nas relações intergeracionais. A família, no passado, apesar de perene em termos de número de filhos, na qual a figura dos mais velhos, os avós, era sinônimo de respeito, não garantia uma relação de afetividade entre seus membros. Hoje, com mais liberdade e com o exercício do diálogo, o relacionamento entre as várias gerações se manifesta de maneira diferenciada, os costumes são diferentes e, como dizem alguns idosos: “os netos não pedem mais abenção, é oi vó! oi vô! tchau vô! tchau vó!, tudo é uma questão de costume, ver que as coisas mudaram”. Quando os idosos aceitam os padrões do momento estabelecidos pelos jovens, isso não se torna motivo de conflitos. O relacionamento intergeracional fica comprometido, podendo gerar conflito quando envolvem questões com dinheiro, herança, administração de bens. Por essa razão, de certo modo, as relações intergeracionais nas comunidades de pequenos agricultores são fortalecidas, a composição familiar gira em torno do trabalho de subsistência e da sobrevivência dos seus. Relacionamento intergeracional Rede de vizinhança Os relacionamentos entre as gerações no contexto familiar recebe influência direta da forma como a sociedade rural vive e se organiza. Atualmente, observa-se uma mudança nessa dinâmica em decorrência de transformações que vem ocorrendo na A dinâmica das interações nas comunidades rurais não se equivale a dos centros urbanos. As relações sociais são mais intensas no meio rural, no que diz respeito à rede de vizinhança. As tramas destas relações possuem essencialmente um fundo Promoção do envelhecer saudável nas comunidades rurais: possibilidades de atenção à saúde dos idosos Tempo de envelhecer é tempo de reconstruir. Segundo Rodrigues (2000)9, as pessoas da terceira idade têm que descobrir um novo rumo para suas vidas, algo que as entusiasme, que lhes proporcione alegria e satisfação, têm que refazer o projeto de vida. O importante é não “parar”, diz a autora, pois quem pára, adoece. Tendo por base o resultado de alguns estudos realizados no RS, no que se refere à promoção do envelhecer saudável em comunidades rurais destacamos para o debate as seguintes ponderações. Ambiente saudável 66 Portella, M. R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005 de solidariedade humana, reconhecimento da compaixão e de responsabilidade para com os vizinhos. O meio rural traz presente a solidariedade, a troca de favores e “a ajuda”, elementos constantes entre as famílias rurais. Pode haver descontentamento para com o comportamento de algum vizinho, e até motivos de discordância, porém, nas “horas de aperto”, expressão muito comum utilizada nas comunidades rurais para representar situação de dificuldade, pode-se contar com os vizinhos. Isso acontece em relação ao cuidado com os mais velhos, na atenção aos abandonados, ou no que se refere aos desprovidos de condições econômicas. Quando o suporte familiar é ineficaz no cuidado dos mais velhos, a rede de vizinhança se mostra pronta para entrar em ação, assumindo para si esse compromisso. A comunidade rural também se mobiliza para dar suporte e apoio aos menos favorecidos existentes na circunvizinhança, por entender que esse é um compromisso seu, sendo portanto, da sua competência a ajuda primeira. Os benefícios da aposentadoria A experiência de viver a aposentadoria constitui-se numa vivência com significados diferenciados para os idosos de acordo com a sua condição social, com as determinações culturais, com a história de cada um e da percepção que cada um tem da realidade que o cerca. A aposentadoria pode significar perda econômica e, consequentemente, do status social; uma vez que implica em diminuição acentuada da renda, determinando, muitas vezes, o surgimento de problemas de saúde, especialmente de ordem mental. Já, no meio rural o que se ibserva, na grande maioria, é o inverso dessa situação, pois significa um novo status adquirido7. A aposentadoria representa, para o idoso rural das pequenas propriedades, ummma forma de valorização pessoal, pois permite que este contribua com as despesas da família, sendo às vezes, a única fonte de renda, o que influencia significativamente nos relacionamentos intergeracionais. A aposentadoria, para as mulheres rurais, é a visibilidade alcançada de status social, pois com seus proventos é possível comprar um presente para o neto, adquirir utensílios domésticos e até a compra de um vestido novo. Antes da aposentadoria, a mulher contribuía com seu trabalho, mas não tinha gerência sobre o fruto dele, pois a renda era da casa e o marido administrava. A inserção nos GTIs Reunidos em grupos, os chamados grupos de terceira idade (GTIs), nos quais são realizadas atividades físicas, palestras, viagens, bailes ou mesmo momentos de conversas, os idosos rurais estão a construir uma nova identidade da velhice. Estabelecendo ações coletivas de resistência à todas formas de discriminações para com a velhice, tornam-se sujeitos ativos, participantes, buscando sua cidadania, e, nessa busca, surge uma nova forma de cuidar de si, de viver e envelhecer saudável. Participar dos GTIs é permitir-se ir ao encontro das outras pessoas, e com elas, restabelecer novos vínculos, recriar interesses que haviam se perdido, recuperar a saúde, reencontrar a amizade, algo já tão escasso. É valorizar-se e sentir-se valorizado na condição de velhice. 8. Acredito que os grupos são referências de uma condição de sujeito porque se comportam como espaços para expressar as experiências do cotidiano, ao mesmo tempo em que viabilizam mudanças sobre as experiências não satisfatórias. Nos GTIs existe uma relação de solidariedade. A solidariedade provém do apoio encontrado face aos problemas decorrentes do próprio envelhecimento, principalmente, os estados depressivos, em virtude das perdas que, na maioria das vezes, advém com esse processo. O tempo compartilhado funciona como uma terapia, mesmo sem ter esse propósito determinado. 67 Portella, M. R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005 São novas formas de sociabilidade criadas pelos idosos, reinventam valores que fortificam os laços intergeracionais.10 É a própria integração social, na perspectiva da integração de gerações. Os GTIs estão permitindo aos idosos a redescoberta de sua dignidade enquanto seres humanos envelhecentes e, a construção da sua identidade, como pessoas que vivem sua condição de velhice. É o exercício da sua cidadania. Algumas considerações Ao abordarmos a temática da promoção do envelhecimento saudável, na perspectiva da saúde do idoso rural, algumas considerações merecem ser pontuadas. Existem muitos “Brasis” rurais, porém, minhas colocações foram pautadas, principalmente, em estudos desenvolvidos em comunidades rurais do RS. Certamente que, nas demais regiões, acontecem semelhanças e diferenças, muito significativas. Os estudos sobre o envelhecimento das pessoas rurais são escassos; a realidade do meio rural carece de mais estudo, quem mais se ocupa dessa temática são os cientistas sociais. A velhice rural merece ser investigada, pois existem modos de envelhecimento diferenciado para homens e mulheres, assim como, para quem vive em espaço urbano e rural. Não podemos também nos esquecer no que se refere à promoção da saúde das pessoas, que as políticas públicas têm um “olhar vesgo” para com os rurais. Quando nos referimos aos rurais, muitas vezes não nos damos conta da multidimensionalidade do processo de viver e envelhecer nessas comunidades, o modo de produção, o sistema econômico e agrário, entre outros, que afetam a dimensão do viver cotidiano das pessoas e agem como determinante no processo de ser saudável. Referência bibliográfica 1.Estratégias de vida de los jóvenes rurales en América Latina. CEPAL, 1996, p.57-80. 2.CAMARANO, Ana Amélia e ABRAMOVAY, Ricardo - Êxodo rural, envelhecimento e masculinização no BrasilPanorama dos últimos cincoenta anos - XXI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais - ANPOCS – Anais, Caxambu, 1997. 3. DURSTON, John. Juventud rural en América Latina: Recudiendo la invisibilidad. Congresso da Associação Latino Americana de Sociologia, Anais, São Paulo, 1997. 4. TEDESCO, João Carlos. Terra, trabalho e família: racionalidade produtiva e ethos camponês. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. 5. PORTELLA, Marilene Rodrigues. Cuidar para o envelhecer saudável: a construção de um processo educativo com um grupo de mulheres rurais do município de Passo Fundo, RS. 1998. 182 f. Dissertação. (Mestrado em Assistência de Enfermagem). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998. 6. SILVESTRIN, Delva. O viver/envelhecer das mulheres rurais: representações sociais das participantes dos grupos da terceira idade do Dati. Trabalho de conclusão do Curso de Enfermagem. Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2002. 7. MISSIO, Marta. Atenção aos idosos rurais no contexto da família. Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Saúde da Família. Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2003. 8. _____. Grupos de Terceira Idade: a construção da utopia do envelhecer saudável. Passo Fundo: UPF, 2004. 9. RODRIGUES, Nara da Costa. A arte de envelhecer: o envelhecimento saudável In: SCHONS, C. R. e PALMA, L. S (ed.). Conversando com Nara Costa Rodrigues: sobre gerontologia social. Passo Fundo: UPF EDITORA, 2000a.p. 21-23. 10. HECK, Rita Maria e LANGDON, Esther Jean Matteson. Envelhecimento, relações de gênero e o papel das mulheres na 68 Portella, M. R. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005 organização da vida em uma comunidade rural. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza e COIMBRA JR, Carlos E. A. (ed.). Antropologia, saúde e envelhecimento. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002, 69 Fera, P. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 70-73, jan./dez. 2005 REABILITAÇÃO DO PACIENTE GERIÁTRICO INCONTINENTE1 [The geriatric patient rehabilitation with urinary incontinence] Patrícia Fera2; Maria Alice dos Santos Lelis3; Regiane de Quadros Glashan4 Resumo: A incontinência urinária é uma condição prevalente em idosos que traz conseqüências físicas e emocionais desfavoráveis e compromete a qualidade de vida. O tratamento adequado pode evitar essas complicações e deve ser indicado conforme o tipo e gravidade da incontinência, condições clínicas e expectativas do cliente. As modificações comportamentais com reabilitação do assoalho pélvico, cateterismo vesical intermitente e utilização de dispositivos para incontinência são opções na reabilitação do paciente geriátrico com incontinência urinária. Palavras-chave: Reabilitação, idoso, incontinência urinária Abstract: The urinary incontinence is a prevalent condition in elder people which brings about damaging emotional and physical consequences and it compromisses their life’s quality. The apropriate treatment can avoid these complications and it outht to be indicated according to type and seriousnesess of incontinence clinical conditions and client’s expectations. The behavioral modifications with pelvic floor rehabilitation, intermittent catheterization and the use of incontinence devices are options on geriatric patient rehabilitation with urinary incontinence. Keywords: Urinary incontinence; elderly; rehabilitation Introdução Incontinência urinária é a “perda involuntária de urina que acarreta situação social e higiênica desconfortável e objetivamente demonstrável”.Pode ocorrer em qualquer fase da vida embora sua prevalência aumente com a idade e é maior em mulheres que em homens na proporção de duas mulheres para um homem. Em idosos constitui uma das principais causas de institucionalização devido ao desconforto e limitação social que provoca1,2. Entre as repercussões físicas da incontinência urinária destacam-se as lesões de pele devido à umidade e uso de fraldas, propensão a úlceras de pressão, queda e infecções do trato urinário. Além disso, o idoso pode apresentar sensação de humilhação, ansiedade e culpa que culminam no isolamento social e pioram a qualidade de vida3,4. Muitas vezes a incontinência urinária é considerado um sintoma do envelhecimento normal e, portanto é pouco abordada pelos profissionais da saúde. Frente a outras manifestações decorrentes de doenças crônicas comuns nos idosos ela é interpretada como um problema de menor importância. No entanto sua abordagem e tratamento podem significar um ganho na qualidade de vida dos idosos. Classificação da Incontinência Urinária A incontinência urinária pode ser classificada de acordo com a sintomatologia, entre outras, como5,6 : Incontinência de urgência – perda urinária associada a forte desejo miccional (urgência) __________________ 1. Palestra proferida na Mesa Redonda: Incontinências e o cliente geriátrico, na V Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, SC, 08 – 10/09/2004. 2 Professora de Enfermagem na Universidade Cidade de São Paulo / Pós–Graduanda da Disciplina de Urologia da Universidade Federal de São Paulo 3 Professora de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo 4 Professora de Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo 70 Fera, P. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 70-73, jan./dez. 2005 Incontinência de esforço – perda urinária associada a esforço físico com aumento da pressão abdominal Incontinência mista – combinação de incontinência de urgência e de esforço Incontinência funcional – relacionada a deficiências crônicas da função física e ou cognitiva Incontinência por transbordamento – perda urinária associada bexiga cronicamente cheia Causas e fatores de risco Incontinência Urinária em idosos para Os idosos podem apresentar alterações no trato urinário baixo como diminuição da capacidade, da contratilidade e da habilidade de adiar a micção além de alterações no controle cerebral devido à atrofia cerebral que podem comprometer a continência urinária7,8. Fleischmann e Nitti2 consideram como principais causas de incontinência urinária as situações de hiperatividade do detrusor, cuja causa pode ser neurogênica ou não neurogênica, e insuficiência esfincteriana. Já para incontinência urinária funcional citam como principais agentes causais os estados de confusão mental e delírio, infecções do trato urinário, uso de medicamentos, excesso de produção de urina, restrição na mobilidade e impactação fecal. Os fatores de risco são muito abrangentes e podem estar associados a fatores ambientais, como barreiras ambientais que impeçam o acesso do idoso ao banheiro, e fatores fisiológicos já citados, como alterações do trato urinário e alterações do estado cognitivo. Tratamentos e Reabilitação paciente incontinente para o Os tratamentos para incontinência urinária devem ser indicados de acordo com o tipo e gravidade da incontinência, condições clínicas e expectativas do cliente. Desta forma podem ser indicados tratamentos cirúrgicos, medicamentosos, reabilitação do trato urinário através de modificações comportamentais e reabilitação do assoalho pélvico, cateterismo vesical intermitente e adaptação de dispositivos para incontinência. Devido às várias possibilidades terapêuticas a abordagem multiprofissional é importante para a individualização e otimização do tratamento. As modificações comportamentais devem ser instituídas após uma avaliação constituída de amamnese e exame físico geral e específico, avaliação cognitiva e de capacidade funcional, investigação sobre hábito miccional através do preenchimento de um diário miccional onde o idoso anota a freqüência miccional e das perdas urinárias por alguns dias, investigação sobre as características das perdas urinárias e levantamento de hábito intestinal. Ressaltase a necessidade de questionar o tipo de proteção para incontinência do qual faz uso e a freqüência de troca. Também faz parte da avaliação inicial a abordagem sobre as condições ambientais do domicílio, como barreiras ambientais e condições dos sanitários. A repercussão social e familiar da incontinência urinária também é questionada. A partir das informações levantadas um programa individualizado é instituído com duração média de seis meses e que inclui9: Micção programada – estabelecimento de horários para micção considerando o hábito inicial e as atividades diárias, Ajuste alimentar e hídrico – inclui orientações sobre a ingesta de fibras e os alimentos irritantes vesicais que devem ser evitados, entre eles café, chocolate, molhos de tomate, frutas cítricas, etc, Adaptações ambientais – orientações sobre ajustes no domicílio para facilitar a mobilidade e o acesso ao sanitário de forma segura, como a instalação de barras de apoio, Reabilitação do assoalho pélvico – o idoso é ensinado a identificar a musculatura do assoalho pélvico e a realizar exercícios de 71 Fera, P. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 70-73, jan./dez. 2005 Kegel (contração e relaxamento alternados dos músculos do assoalho pélvico) para o fortalecimento. Esses exercícios são prescritos de forma individualizada para serem realizados no domicílio. Pode-se utilizar para o ensino e acompanhamento aparelhos de biofeedback. No acompanhamento quinzenal o progresso é avaliado e as intervenções são ajustadas pelos enfermeiros. Estudos mostram a eficácia das modificações comportamentais com média de melhora da incontinência urinária superiores a 80%10. Nos casos em que o esvaziamento vesical está comprometido, o que pode ser uma causa de incontinência urinária, pode ser necessário o uso de cateterismo vesical. Neste caso uma alternativa é a realização cateterismo vesical intermitente limpo no qual o próprio paciente ou um cuidador podem ser habilitados a realizar o esvaziamento periódico da bexiga com um cateter. A freqüência de cateterismos e tipo de cateter a ser utilizado são alguns dos aspectos que devem ser individualizados. A inserção do cliente em um programa de treinamento realizado por enfermeiros especializados auxilia a adaptação e aderência ao cateterismo. Quando as demais medidas para incontinência urinária não são possíveis ou não são suficientes para impedir as perdas urinárias pode-se ainda recomendar o uso de coletores externos de urina para os homens. Os avanços tecnológicos nesta área possibilitaram a criação de uma variedade de dispositivos, como cateteres externos autoadesivos e bolsas coletoras de fixação na perna, que são mais discretos e confortáveis. Além disso, para homens e mulheres contamos com absorventes e fraldas com poder de absorção cada vez maior e com menor tamanho e espessura possibilitando maior segurança e discrição. Deve-se, no entanto, considerar a utilização de protetores de pele para evitar dermatite amoniacal. Considerações finais Existem várias opções para a reabilitação do paciente geriátrico com incontinência urinária. Todas elas, quando precisamente indicadas e instituídas, podem possibilitar melhor convívio social, prevenir as complicações físicas e emocionais da incontinência e contribuir para a melhor qualidade de vida dos idosos. Referências bibliográficas 1. INTERNATIONAL CONTINENCE SOCIETY COMMITTEE ON STANDARDISATION OF TERMINOLOGY, Scand J Urol Nephrol v.114, n.5, 1988. 2. FLEISCHMANN, N.B.; NITTI, V.W. The diagnosos, management, and treatment of geriatric urinary incontinence. In: Issues in Incontinence, Spring/Summer 2004. 3. RESNICK, N.M.; YALLA, S.V. Evaluation and Medical Management of Urinary Incontinence. In: WALSH, P.C et al. (ed.) In: Campbell’ s Urology, 6ed. Philadelphia W B Sauders; 1992. p.643-58. 4. SIMONETTI, R. et al. Incontinencia urinária em idosos: impacto social e tratamento. A terceira idade, v. 12, n. 23, p. 53-69, 2001. 5. ROCHA, L.C.A.; FARIA NETO, N.A. Incontinência Urinária – classificação. WROCLAWSKI, E. at al. (ed.) 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C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 UNIVERSIDADE ABERTA DA TERCEIRA IDADE EXTRA-MURO: PROMOVENDO O ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL¹ [Third age outreach open university: promoting healthy aging] Edméia Campos Meira2, Andréa dos Santos Souza3; Alba Benemérita Alves Vilela4; Edite Lago da Silva Sena5 Resumo: O presente trabalho apresenta o relato de uma experiência de extensão universitária, o Projeto de Universidade Aberta da Terceira Idade – UATI, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Jequié, BA. Tal experiência tem característica especial, pois, suas atividades se dão em ações extra-muros , ou seja , fora do Campus da Universidade, por meio do desenvolvimento de Grupos de Convivência na própria comunidade onde vivem os idosos. As atividades realizadas no interior dos grupos costumam ser de natureza educativa sobre questões de cuidado de - saúde e envelhecimento; de apoio sociocultural; de estimulo à prática da cidadania; visando contribuir para o bem-estar e qualidade de vida do idoso enquanto membro de uma família e sociedade. Palavras-chave: Universidade aberta da terceira idade, idoso, envelhecimento, saúde. Abstract: This paper reports on a university community project, the Third Age Open University Project (Projeto de Universidade Aberta da Terceira Idade – UATI), - of the State University of Southeast Bahia - (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB), Jequié, BA. This project has a special characteristic since it involves outreach activities, that is, off the University Campus, through the development of Community Groups within the communities where the elderly participants live. The activities carried out within the groups are generally of an educative nature regarding questions of health and aging care; sociocultural support; and encouragement to exercise citizen's rights; with a view to contributing to the well-being and quality of life of the elderly person as a member of the family and of society Keywords: Third age open university, elderly, aging, health. Introdução O presente tema tem como objetivo apresentar o contexto sócio/cultural vivenciado por uma equipe interdisciplinar junto à população idosa no município de Jequié/Bahia. A iniciativa desta equipe resultou na implementação de diversas ações através do Projeto de Extensão Continuada – Universidade Aberta com a Terceira Idade – UATI, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. A compreensão da produção sociocultural de um envelhecimento saudável, constitui-se segundo Gonçalves (1992, p. 06)1, “[...] como um resultante em ________________________ grande medida, em pessoas cujos projetos de vida incluíram e incluem a vivência de sua própria história, sua realidade cultural, a realidade sócio-política da sociedade onde vivem, em constante mudança, e o exercício da cidadania”. Assim, o Projeto UATI/UESB, com a participação sócio-cultural do voluntariado popular e da equipe executora, visualizando a construção da cidadania do idoso na cidade de Jequié/BA, tem como objetivo geral proporcionar às pessoas de qualquer nível cultural ou social que estejam em processo de envelhecimento, a oportunidade de viverem integradas na família e comunidade, visualizando a maturidade e a velhice como 1 Palestrante proferida na mesa redonda: Promoção do envelhecimento saudável, na V Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, de 8-10/09/2004 2 Professora adjuta Mestre do Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia 3 Professora assistente Mestre do Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia 4 Professora adjunta Doutora do Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia 5 Professora Assistente Mestre do Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina 74 Meira, E. C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 etapas da vida plena em crescimento biopsicosociocultural e espiritual. E como objetivos específicos: Promover práticas educativas de saúde e socioculturais em caráter interdisciplinar, relacionados com uma proposta de envelhecimento saudável, para participantes em grupos de convivência para a terceira idade. Sensibilizar e mobilizar a comunidade quanto à construção da cidadania do idoso por meio da participação voluntária dos seus integrantes. Sensibilizar e mobilizar a comunidade para as questões socioculturais do envelhecimento no intuito de romper as barreiras dos preconceitos acerca da velhice. Promover parcerias e assessorias junto a organismos governamentais e nãogovernamentais com vistas a concretização de políticas públicas para o idoso. Desenvolver ações educativas para a cidadania através de elaboração e distribuição de publicações: cadernos, folhetos, cartilhas, boletim informativo e outros. Desenvolver ações intersetoriais e interdisciplinares com vistas a Vigilância à Saúde do idoso na família e comunidade. Cuidar do idoso doente e/ou fragilizado na família através de ações preventivas, curativas e promocionais para a vida com saúde/bem-estar. Estimular e orientar o idoso para o auto cuidado, favorecendo a autonomia e independência na família e comunidade. Neste sentido, a Universidade Aberta com a Terceira Idade Extra-Muros, tem desenvolvido a promoção de um envelhecimento saudável, por meio de ações educativas permanente em saúde nos espaços sócio/culturais de Grupos de Convivência, e Família – O cuidado ao idoso. Por meio destas ações tem tido a motivação para produzir a saúde numa perspectiva social, como afirma Mendes (1999, p. 237)2 “[...] saúde é então, resultado de um processo de produção social que expressa a qualidade de vida de uma população, entendendo-se qualidade de vida como uma condição de existência dos homens no seu viver cotidiano, um “viver desimpedido”, um modo de “amar a vida”, prazeroso, seja individual, seja coletivamente. O que pressupõe nível de acesso a bens e serviços econômicos e sociais”. A implantação deste projeto emergiu do reconhecimento de que o envelhecimento populacional é uma realidade e de que era preciso criar estratégias de educação em saúde e cidadania na perspectiva do envelhecimento bem-sucedido, buscando atender as finalidades de uma instituição de ensino superior (articulação com o ensino/pesquisa/extensão); e colaborando com a efetivação da Política Nacional do Idoso referente ao setor educação – Lei nº 8.8423. Art.10º Cap. III: “estimular e apoiar a admissão do idoso na universidade, propiciando a integração intergeracional”. Entendemos que a expressiva população idosa não poderá ser excluída do processo de desenvolvimento do país, merecendo cada vez mais o interesse dos órgãos públicos construtores de políticas sociais e da sociedade em geral, visto que a tendência contemporânea é romper com o estigma da velhice como um processo contínuo de perdas biológicas, psicológicas e sociais, atribuindo novos significados a esta etapa da vida como momentos de novas conquistas caracterizadas pela busca do prazer, satisfação e autorealização. Acerca disto, Debert (1996, p. 35)4 afirma: “[...] as experiências vividas e os saberes acumulados são ganhos que propiciaram aos mais velhos oportunidades de explorar novas identidades, realizar projetos abandonados em outras etapas da vida, estabelecer relações mais profícuas com o mundo dos mais jovens e dos mais velhos”. Outro aspecto que motivou a criação da UATI/UESB foi a constatação pelo Censo de 20005. que 1,2% da população de JequiéBahia possuía idade acima de 80 anos, caracterizando-o como um município longevo e, neste caso, o Departamento de 75 Meira, E. C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 Saúde da UESB / Campus de Jequié, através da Pró-Reitoria de Extensão reconhece a sua responsabilidade, enquanto partícipe do contexto sócio-cultural do município e resolve comprometer-se com a população longeva, abrindo espaço para o desenvolvimento de ações extra-muros a partir da concepção de que a Universidade Aberta é para todos, independente dos aspectos discriminatórios e dicotomizadores característicos das sociedades capitalistas, no que concerne a classe social, crença, cor, raça, cultura e ideologia política. Nesta perspectiva, a UATI/UESB por meio das ações Extra-Muros: Grupos de Convivência para a Terceira Idade e o Cuidado ao Idoso em Domicílio tem mobilizado os seus participantes quanto a adoção de uma filosofia conscientizadora de construção de um ser cidadão capaz de reivindicar e lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, que reconheça a pessoa idosa como parte da população produtiva, capaz de cumprir com seus deveres no processo de transformação social, na busca de estratégias que favoreçam um viver e envelhecer saudável. Sobre isto afirma Demo (1995, 6 p.146) : “[...] no processo educativo é mister ocorrer a emergência do sujeito histórico, capaz de ler a realidade criticamente e de nela intervir de modo alternativo e instrumentada pelo conhecimento. Trata-se de aprender a aprender, saber pensar, para melhor intervir”. Neste sentido, a UATI/UESB tem como principais diretrizes, proporcionar às pessoas em processo de envelhecimento a oportunidade de reinserção social na perspectiva de viverem integradas no mundo e com o mundo; oportunizar a estas pessoas atividades de educação permanente, possibilitando trocas e construção de conhecimentos em um convívio intergeracional; desenvolver práticas junto ao idoso e cuidador em ambiente domiciliar que estimulem e orientem para o autocuidado; exercitar as atividades fins da Universidade: ensino, pesquisa e extensão, com enfoque nos aspectos do envelhecimento humano e promoção da qualidade de vida. Portanto, tem sido nosso desafio tentar sensibilizar as pessoas envolvidas neste contexto, para a transformação social refutando a ideologia que exclui o ser humano que envelhece, de ser pessoa, de ser cidadão e permitir valer os direitos oferecidos pelas leis, que se estabelecem através da conquista dos espaços democráticos da sociedade. Desta forma, numa relação dialógica problematizadora individual e coletiva, é que o projeto UATI/UESB reconhece o seu compromisso nas questões relacionadas com um envelhecimento saudável, por meio das ações extra-muros, implantando e implementando grupos de convivência, através do programa Educação para o Envelhecer para pessoas acima de 45 anos, e do cuidado interdisciplinar de enfermagem ao idoso e cuidador informal, em comunidades organizadas do município de Jequié. Assim, as ações desta Universidade Extra-Muros, fundamentam-se na educação permanente, nas ações de vigilância à saúde em grupo, família e comunidade, favorecendo a produção social de saúde dos integrantes, proporcionando mais instruções para o envelhecer saudável, e reconhece a importância do idoso sentir-se cidadão no contexto social, requerendo constante aprendizagem, desenvolvimento psicodinâmico e conseqüente melhoria das relações intra e interpessoais. O princípio que tem norteado as ações extra-muros, voltadas para a melhoria das condições de saúde/vida das pessoas idosas, é compreender que promover saúde junto a uma população em crescente envelhecimento, constitui-se de intervenções de Vigilância à Saúde, que segundo Teixeira (2002, p. 39)7 “[...] a vigilância à saúde, propõe a incorporação de novos sujeitos, envolvendo também a população organizada, que abarca além das determinações clínicoepidemiológicas no âmbito individual e coletivo, as determinações sociais que 76 Meira, E. C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 afetam os distintos grupos populacionais em função de suas condições de vida”. Desta forma, o enfermeiro gerontogeriátrico em equipe interdisciplinar, enquanto profissional de saúde coletiva, cumpre o papel sociopolítico, quando mobiliza a sociedade para uma reformulação de mentalidade, acerca de um envelhecimento saudável, promove a formação de grupos de convivência favorecendo o encontro para a reflexão e construção de estratégias de ações, em busca do cuidado de si mesmo, como do outro, no qual em estado de deficiência proporcionado pela doença e/ou fragilização, tem dificuldade de participação direta nos contextos de construção coletiva em prol da cidadania. Envelhecimento saudável: grupos convivência para a terceira idade de A inclusão do idoso na participação em grupos de convivência para a Terceira Idade teve início no Projeto UATI-UESB desde o ano de 1999, quando visualiza-se a necessidade de sua implantação com desenvolvimento de treinamento de líderes das comunidades organizadas e qualificação de profissionais de várias áreas: Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Educação Física e Pedagogia, com abordagens acerca do envelhecimento e orientações técnicas psicopedagógicas de como atuar junto as pessoas idosas numa perspectiva interdisciplinar, a partir da compreensão da integralidade da pessoa humana com a intenção de mobilização social para a construção da cidadania do idoso. As ações desenvolvidas nos grupos de convivência têm como objetivos: Qualificar e atualizar recursos humanos em Gerontologia para a implantação e coordenação de Grupos de Convivência. Desenvolver ações de educação permanente em saúde, visualizando o crescimento pessoal e o incentivo ao exercício da cidadania. Mobilizar a sociedade com vistas à inclusão do idoso nos diversos segmentos que a constitui. Desenvolver ações interinstitucionais por meio de parcerias, convênios, proporcionando melhoria das condições de vida do idoso. Elaborar planos estratégicos com vistas ao oferecimento de diversas ações interdisciplinares: educação, lazer, atividade física, práticas ocupacionais, cantoterapia, mobilização social e saúde (controle e prevenção de doenças crônico-degenerativas, orientação nutricional e outros). Como resultado desta implantação é relevante o fato de que o município de Jequié conta com a presença de 14 Grupos de Convivência constituídos em comunidades organizadas de bairros centrais e periféricos (cada grupo em sua comunidade e com seus líderes), que fazem parte da Associação de Amigos, Grupos de Convivência e Universidade Aberta com a Terceira Idade – AAGRUTI, uma Organização não Governamental (ONG) que tem o propósito de contribuir para a conquista da cidadania e conseqüente melhoria da qualidade de vida do idoso da cidade de Jequié/Ba. Esta entidade foi instituída em 2001 a partir da necessidade de unificar e fortalecer o trabalho voluntariado que já existia em 12 Grupos de Convivência da Terceira Idade, a qual culminou com uma passeata e distribuição de cartilhas educativas na Semana do Idoso. Esta clientela já faz um total de 800 idosos, que o corresponde aproximadamente a 4% da população idosa deste município. Teve avanços nestes últimos anos: a realização anual de mobilização social para a Cidadania do Idoso – Ano 5; a criação do Conselho Municipal do Idoso; a participação na Conferência Municipal de Saúde – PréConferência de Saúde do Idoso; a ampliação de Grupos e idosos participantes. Vale ressaltar que esta significativa parcela da população vivencia uma velhice 77 Meira, E. C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 de forma diferenciada através de sua participação em atividades lúdicoterapêuticas que são realizadas nos encontros semanais, geralmente em salas de casas paroquiais ou de outras entidades, com o oferecimento de atividades sócio-culturais e educativas. Estas tem como eixo norteador a convivência e a (re)inserção do idoso na sociedade, o exercício da prática social com compromisso de saúde como bem-estar individual e coletivo, o qual poderá favorecer um envelhecimento saudável, participando de um cenário político, resgatando culturas e papéis sociais que foram perdidos, garantindo-lhes maior autonomia e realização pessoal de forma a contribuir para a construção de uma nova mentalidade, além de possuir um efeito terapêutico, garantindolhes uma melhor percepção de suas condições de vida. Com o objetivo de conhecer e analisar as condições de vida objetivas e subjetivas vivenciadas por estes idosos desenvolveu-se um estudo descritivo, com abordagem da Pesquisa-ação, aplicando questionário estruturado a 254 idosos participantes dos Grupos e analisados em percentuais estatísticos. Por meio deste foi possível constatar que: Condição SócioEconômica: sexo feminino (93%), 60 a 70 anos (52%), viúvos (41,6%), analfabetos (49%), aposentados ou pensionistas (77%), 1 salário mínimo (66%) Convivência Familiar (83%), 1 a 3 dependentes da renda (43%) Processo Saúde/Doença: patologias crônicas (87%), independente nas atividades diárias (75%), amor e lazer condicionam bem-estar (64%), religião promove adaptação ao envelhecimento (100%) Exercício da Cidadania é o motivo de participação nos Grupos (67%), percebe-se cidadão (100%), e desconhece a legislação do idoso (48%). Conclui-se que, estes idosos mesmo com condições socioeconômicas desfavoráveis apresentam saúde/bem-estar com certa qualidade de vida. Envelhecimento saudável: o cuidado ao idoso no domicilio Dentre as várias implicações do envelhecimento humano destaca-se a suscetibilidade às doenças crônicodegenerativas, devido às perdas progressivas inerentes ao processo de viver/envelhecer, podendo gerar incapacidades e perda da autonomia e independência do idoso. Além dessa situação epidemiológica desfavorável, os idosos brasileiros agregam outros fatores de risco que comprometem a sua qualidade de vida, tais como: precárias condições sócio-econômicas, difícil acesso aos serviços de saúde, estilo de vida inadequado, rede de suporte social (formal e informal) insuficiente e atitude preconceituosa da sociedade com a faixa etária maior de 60 anos. Portanto, os idosos encontram-se vulneráveis, uma vez que são acometidos de pluripatologias, problemas psicossociais, limitações motoras, sensoriais e insegurança social e econômica. Essa realidade requer planejamento e ações de âmbito político, econômico, social e de saúde que atendam as necessidades específicas da terceira idade, fazendo cumprir a Lei 8.842 da Política Nacional do Idoso. Apesar da grande demanda de serviços exigida por esse contingente de pessoas, Jequié ainda não dispõe de serviços específicos para a Vigilância à Saúde do Idoso. A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia com o projeto Universidade Aberta com a Terceira Idade tem procurado sensibilizar a população, os gestores, os profissionais de saúde e os acadêmicos, com vistas a implementar ações que atendam as necessidades dos gerontes. No ano 2000, a UATI/UESB iniciou em caráter extensionista, ações cuidativas intersetorial e interdisciplinar ao idoso, no ambiente familiar e comunitário, através do Projeto: Núcleo de Atenção à Saúde no Envelhecimento NASEN. O NASEN propõe uma atuação gerontogeriátrica, contribuindo para a formação de recursos humanos que atuem numa visão holística junto ao idoso no seu 78 Meira, E. C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 espaço político-sócio-cultural. Entendendo o idoso como ser integral, as ações implementadas são baseadas na promoção, prevenção e reabilitação da saúde, através da estratégia de saúde da família. O Programa de Saúde da Família é um modelo proposto pelo Ministério da Saúde parapromover cuidado interdisciplinar e humanístico, levando em consideração o indivíduo inserido na família e comunidade. Cada equipe funciona com um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde, cabendo-lhes atender, no máximo 1.000 famílias, ou 4.500 habitantes (BRASIL, 1997)8. Na família temos uma identidade, nos sentimos protegidos, damos e recebemos afeto e desenvolvemos um importante papel na transmissão de informações e conhecimentos. Para Patrício (1994, p. 9798)9, a família pode ser entendida como: “[...] um sistema interpessoal formado por pessoas que interagem por variados motivos, tais como afetividade e reprodução, dentro de um processo histórico de vida, mesmo sem habitar o mesmo espaço físico [...] é uma relação social dinâmica, que em seu desenvolvimento elabora um sistema de crenças, valores e normas, podendo ser um recurso para o crescimento e desenvolvimento de seus membros ou um meio de limitação”. A família jequieense vivencia a escassez de emprego, a migração de jovens para as capitais, o controle da natalidade, a entrada da mulher no mercado de trabalho. Quanto aos idosos, esses passam a dividir o seu ambiente e aposentadoria com seus filhos, na tentativa de ajudá-los a enfrentar a situação de crise. A família nuclear vai perdendo espaço para os novos “arranjos familiares”. Dessa forma, é notória a complexidade deste campo que o NASEN desafia cuidar. Ter a família como cliente, é, pois, ver um grupo de pessoas com valores, crenças, hábitos comuns, convivendo num mesmo ambiente, e numa determinada comunidade que também os influencia. Nesse universo familiar, os fatores sócioeconômicos e culturais determinam as atitudes de seus membros, por isso, é tão importante conhecê-los, para descobrir sua repercussão no processo saúde-doença do idoso. Nas ações desenvolvidas para a Vigilância à Saúde do Idoso, a educação para o autocuidado é eleita como foco principal, estabelecendo vínculos de compromisso e de co-responsabilidade entre os profissionais de saúde e esta população. Abordamos o cuidado a partir de uma concepção antropobiológica, o que significa “[...] uma abordagem global das pessoas no seu contexto de vida, tentando compreendêlas em relação aos costumes, hábitos de vida, crenças, valores que veicula, bem como situar o impacto da doença e das limitações que lhe são inerentes em relação a esse contexto” (COLLIÈRE, 1989, p. 296)10. Ao estimular o comportamento para o autocuidado buscamos contribuir não apenas para um bom estado de saúde das pessoas idosas, mas, estimular e continuar a trajetória à completude como ser humano. Freqüentemente, os idosos apresentam graus variados de dependência, necessitando de auxílio de outros para as suas atividades básicas e instrumentais da vida diária. Quando a família/idoso dispõe de recursos, é contratado um cuidador formal (profissional da área de enfermagem). Mas, na maioria das vezes, é a própria família quem cuida, mesmo sem preparo, motivada pela necessidade e impossibilidade de contratar profissionais. Nesses casos, o NASEN tem procurado instrumentalizar o cuidador informal, planejando ações que sejam compatíveis com a realidade observada e possível de serem viabilizadas. Gonçalves, Alvarez e Santos (2000)11 destacam que essas cuidadoras, geralmente, são do sexo feminino (filhas, cônjuges, netas e irmãs do idoso), possuem forte traço de amor, solidariedade e doação e entre as atividades que desempenham, as mais comuns, são os cuidados higiênicos, e os de auxílio à locomoção e nutrição do idoso. 79 Meira, E. C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 Essas cuidadoras convivem diariamente com fatores estressantes envolvidos no desenvolvimento dessas atividades, provenientes do medo do desconhecido, a sobrecarga por ser a única cuidadora e a falta de recursos materiais. Desta forma, elucidamos a importância do projeto, uma vez que favorece a permanência do idoso no ambiente domiciliar através do apoio à família, com ênfase no seu cuidador informal, na perspectiva de redução de custos hospitalares, da desinstitucionalização do idoso e, conseqüentemente, promoção de conforto tanto para o idoso quanto para o seu cuidador. Assim, consideramos como pressupostos importantes para o cuidar/cuidado gerontogeriátrico: visualizar o idoso como cidadão, resgatando a sua valorização sócio/cultural e participação produtiva na sociedade; estabelecer parcerias com instituições governamentais e não-governamentais para viabilizar ações que atendam as necessidades sentidas e/ou percebidas pelo idoso e a família; reconhecer que a família também cuida de idosos, baseada em suas experiências, orientações formais e de outros recursos disponíveis, devendo os profissionais de saúde envolvidos apóia-la em suas atividades; manter o idoso o máximo possível independente e autônomo. Compõem a equipe executora do NASEN docentes e discentes bolsistas e voluntários dos cursos de enfermagem e fisioterapia da UESB, em parceria com as Equipes de Saúde da Família (ESF) do bairro Inocoop. Juntos, objetivam cuidar de forma interdisciplinar e intersetorial do idoso com limitações bio-psico-sócio-cultural, no ambiente familiar, através de ações preventivas e promocionais para a vida com saúde e bem-estar. Atualmente, o projeto conta com a participação de 64 idosos que foram identificados pelos 16 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), das duas ESF, alocadas na Unidade Básica de Saúde, localizados no bairro periférico do INOCOOP. Para tanto, os ACS utilizaram como critérios de inclusão ter idade igual ou superior a 60 anos, aceitar voluntariamente participar das ações desenvolvidas, necessitar de ações promocionais, preventivas e/ou de reabilitação com maior urgência. Cada idoso possui um prontuário onde são registradas as informações e os resultados obtidos com a implementação das ações propostas, em comum acordo entre a equipe, o idoso e a família. Os mesmos encontram-se guardados no Núcleo de Pesquisa e Extensão da UESB, sendo disponibilizado quando solicitado. As visitas aos domicílios ocorrem diária, semanal ou quinzenalmente, de acordo com as necessidades do idoso. Nessa ocasião os discentes de enfermagem e fisioterapia, deslocam-se para o campo, acompanhados de um docente supervisor, onde realizam cuidados básicos de higiene, cuidados com a pele, tratamento de feridas, verificação da pressão arterial, treinamento de práticas básicas com os cuidadores, avaliação dos riscos ambientais e uso de medicamentos, orientação postural, exercícios de reabilitação, entre outros. Os materiais utilizados são provenientes da UESB (soro fisiológico, tensiômetro, luvas de procedimento, gases, óleo de amêndoas, esparadrapo, curativos hidrocolóides, entre outros), da Unidade de Saúde da Família ou improvisados com os recursos disponíveis no domicílio, como muitas vezes ocorre na confecção de órteses. A atividade intra-muros inclui uma reunião semanal, na qual a equipe interdisciplinar discute os casos e avalia os resultados obtidos, solicitando os membros da ESF quando julga necessário. Fruto desta atividade, inúmeras pesquisas têm sido desenvolvidas com idosos e cuidadores desse bairro, contribuindo não só para a construção do conhecimento, mas para reorientar práticas de saúde, tornando-as mais efetivas. 80 Meira, E. C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 Os idosos são desligados do projeto em situação de mudança residencial para além da área de abrangência do PSF, melhora do quadro clínico, óbito, ou habilitação satisfatória do cuidador, sendo então cadastrados novos idosos indicados pelos ACS. O Projeto NASEN busca resgatar os princípios de humanização do cuidar. Observamos, nestes cinco anos de desenvolvimento, a satisfação dos idosos e seus cuidadores através de relatos verbais, boa receptividade à equipe e adesão as orientações que comprovam a seriedade e qualidade dos cuidados prestados, mantendo e recuperando a autonomia e independência do idoso. Essa atividade extensionista tem proporcionado, aos futuros profissionais de enfermagem e fisioterapia, a aplicação prática dos conhecimentos teóricos que perpassam o cuidado do idoso na família e comunidade. O projeto é fonte viva de ações que se concretizam de forma interdisciplinar e intersetorial, beneficiando o idoso, a família, a comunidade e a formação do profissional de enfermagem e de fisioterapia. Enfim, visualizamos o cuidado promovido pelo NASEN, como importante para a mobilização da rede de suporte informal e auxílio na construção da cidadania do idoso jequieense. Conclusão Apesar da implementação da Política Nacional do Idoso e das pesquisas e estudos realizados, ainda é incipiente o preparo para o fenômeno do envelhecimento, visto que significativo contingente da população idosa continua marginalizada socialmente, além das limitações inerentes ao envelhecimento humano. Neste sentido, a expressiva população idosa não poderá ser excluída do processo de desenvolvimento do país, merecendo cada vez mais o interesse dos órgãos públicos construtores de políticas sociais e da sociedade em geral, visto que a tendência contemporânea é romper com o estigma da velhice como um processo contínuo de perdas biológicas, psicológicas e sociais, atribuindo novos significados a esta etapa da vida como momentos de novas conquistas caracterizadas pela busca do prazer, satisfação e auto-realização. O Projeto UATI/UESB nas ações Extra-Muros busca romper com a filosofia estigmatizante da velhice, por meio de ações de educação permanente em saúde contribuindo para que o idoso conquiste sua cidadania, onde lhe é permitido viver sua própria identidade e desligar-se dos estereótipos da velhice. Constatamos que a UATI/UESB – Extra-Muros, têm contribuído significativamente para a melhoria da qualidade de vida da população idosa, quando mobiliza a sociedade para novas formas de mentalidade e inclusão do idoso nos diversos segmentos sócio/culturais (família e comunidade). Referências bibliográficas 1. MENDES, Eugênio Vilaça. Uma Agenda para a Saúde. 25. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. p. 233-300. 2. BRASIL, Ministério da Justiça. Decreto nº 1948, de 3 de julho de 1996. Regulamenta a Lei nº 8842, de 4 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, e de outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 4 de julho de 1996. Seção 1, p. 12.277. 3. DEBERT, G. G. As representações (estereótipos) do papel do idoso na sociedade atual. In: Brasília, Ministério da Previdência e Assistência Social: Secretaria da Assistência Social. Anais do I Seminário Internacional “Envelhecimento populacional: uma agenda para o final do século”, 1996. 81 Meira, E. C. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005 4. IBGE, Censo Demográfico 2000; Características da população e dos domicílios – resultados do universo – dinâmica das populações. Rio de Janeiro: IBGE, 2001. 8. PATRÍCIO, M. Z. Cenas e cenários de uma família. Elsen, I et al (ed.). In: Marcos para a prática de enfermagem com famílias. Florianópolis, Série Enfermagem – Repensul. Editora da UFSC, 1994. 5. DEMO, Pedro. In: Cidadania tutelada e cidadania assistida. São Paulo, autores associados. 1995. 9. COLLIÈRE, M. F. Promover a vida: da prática das mulheres de virtude, aos cuidados de enfermagem. 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L. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005 A ENFERMAGEM NO CONTEXTO DAS DEMÊNCIAS: UM MODELO ASSISTENCIAL¹ [Nursing in the Context of Dementias: An assistance model] Ceres Eloah de Lucena Ferretti²; Paulo H.F.Bertolucci³ Resumo: As intervenções de Enfermagem dirigidas ao portador de demência e sua família têm merecido destaque entre a comunidade científica mundial, especialmente pela sua conotação educadora. Trabalhos apresentados em encontros científicos dentro e fora do Brasil, sinalizam para a importância de uma especialidade em franca ascensão. Surgem modelos em diferentes áreas e níveis de assistência possibilitando uma perfeita interação entre pesquisa e cuidados. Em se tratando de demências, por suas características multifacetadas, faz-se necessário que a abordagem da enfermagem não seja dirigida apenas ao paciente, mas também a família e ao ambiente. Objetivos: Este artigo pretende, de forma sucinta, apresentar um modelo de assistência em demências, que vem sendo utilizado no ambulatório de Neurologia do Comportamento da UNIFESP-EPM, bem como alguns resultados obtidos através de intervenções de enfermagem nos contextos bio-psico-social de pacientes e familiares. Metodologia: Pacientes e cuidadores são encaminhados pela equipe médica do setor para consulta de enfermagem. Na avaliação são utilizados os seguintes instrumentos: 1) Protocolo de Enfermagem, 2) MEEM – Mini-Exame do Estado Mental, 3) CDR- Clinical Dementia Rating Scale, 4) Index de Katz/Pfeffer, 5) INP- Inventário Neuropsiquiátrico, 6) EDG-Escala de Depressão Geriátrica, 7) ABIPEME – Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado, 8) RSD – Relação de Segurança Doméstica, 9) Perfil Familiar. Familiares são encaminhados ao PED/PAC- Programa de Educação em Demências e Programa de Assistência ao Cuidador. Pacientes não aderentes são incluídos no Programa Visita Domiciliária. Resultados: Têm sido observados resultados positivos nas dependências para as AVDs- Atividades Básicas de Vida Diária, Alterações de Humor e Comportamento e Intenção de Institucionalização, como será mostrado neste trabalho. Palavras-chave: Demência, Enfermagem, Modelo Assistencial. Abstract: The intervention of nursing directed towards a dementia sufferer and their family, has gained attention among the world scientific community, particularly because of its educational connotation. Studies presented at scientific meetings within and outside Brazil, indicate the importance of this fast growing specialization. Models in different areas and for different levels of assistance have been put forward allowing a perfect interaction between research and care. In dealing with dementias, due to their multifaceted characteristics, the nursing approach needs to be not only directed toward the patient, but also the family and the environment. Objectives: This paper aims, in a succinct way, to present a model for assistance with dementias, which has been utilized in the Behavioral Neurology clinic of UNIFESP-EPM, along with some results obtained through the intervention of nursing in the bio-psycho-social contexts of patients and their families. Methodology: Patients and carers are sent by the medical team of the sector for a nursing consultation. In the evaluation the following tools are used: 1) Nursing Protocol 2) Mini-Exam for Mental State (MEEM – Mini-Exame do Estado Mental), 3) CDR- Clinical Dementia Rating Scale, 4) Katz/Pfeffer Index, 5) Neuropsychiatric Inventory (INP- Inventário Neuropsiquiátrico), 6) Geriatric Depression Scale (EDG-Escala de Depressão Geriátrica), 7) Brazilian Association of Market Research Institutes (ABIPEME – Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado, 8) Household Safety Index (RSD – Relação de Segurança Doméstica), 9) Family Profile. Families are sent to the Dementia Education Program and the Carer Assistance Program (PED/PAC- Programa de Educação em Demências e Programa de Assistência ao Cuidador). Non-adherent patients are included in the Home Visits Program. Results: Positive results were observed in the dependents regarding Basic Daily Activities, Changes in Mood and Behavior, and Need for Institutionalization, as will be shown in this paper. Key-words: Dementia, Nursing, Assistance model. ____________________ ¹ Palestra proferida na mesa redonda: Neuropsicogeriatria e a enfermagem, na V Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, 8-10/09/2004 ² Enfermeira, mestra e doutoranda em Neurociências pela UNIFESP-EPM; Diretora Científica da ABRAz-Regional SP. ³ Médico Neurologista, Professor Adjunto da Disciplina de Neurologia e Neurocirurgia; Chefe do Setor de Neurologia do Comportamento da UNIFESP-EPM. 83 Ferreti, C. E. de L. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005 Introdução A literatura reporta amplamente trabalhos que descrevem as demências como doenças neurodegenerativas cerebrais, que, comprometendo o cérebro de seus portadores, os levam, em fases mais tardias, a total dependência de terceiros para atividades elementares. Estes trabalhos deixam claros os critérios diagnósticos, quadro clínico, evolução e tratamentos disponíveis atualmente 1 . Em se tratando de prevalência, a Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência, sendo responsável por 50% dos casos 1. É considerada uma doença idade-dependente, sendo este um dado importante para aqueles que trabalham com idosos, na medida em que, com o aumento da expectativa de vida, e conseqüente aumento de sobrevida, a incidência da DA tende a aumentar nas próximas décadas 2. Diante desta explosão demográfica da população de idosos 3, é de suma importância que todos os profissionais que se dedicam a assistir esta camada da sociedade não meçam esforços para se aprimorarem no diagnóstico, tratamento, e controle de um grupo de doenças que continua desafiando a comunidade científica mundial. Atualmente, o tratamento específico para a DA consiste na introdução de drogas estabilizadoras, representadas pelos inibidores da acetilcolinesterase, que buscam lentificar a progressão da doença, além de outras drogas que eventualmente precisam ser introduzidas, quando em presença de alterações do humor e comportamento. Neste momento, a necessidade de um trabalho multidisciplinar é fundamental, pois se trata de uma entidade patológica de evolução lenta e gradual, que altera a cognição, a função e o comportamento de seus portadores, implicando, para as famílias, maior demanda de tempo para os cuidados, abandono de projetos de vida, inúmeros conflitos que desagregam suas estruturas, e muitas vezes são responsáveis pela intenção de institucionalização 4. O suporte dado por estes profissionais de equipe, tem demonstrado eficiência principalmente pela obtenção de aderência às orientações e melhoria de qualidade de vida para pacientes e cuidadores. O modelo de assistência de enfermagem deste artigo tem embasamento científico preconizado pela Academia Americana de Neurologia, buscando através de suas diretrizes para os cuidados com demências, executar primariamente um trabalho de educação, que visa informar as famílias acerca da doença, sua evolução e especialmente como manter satisfatoriamente estes pacientes, prevenindo comorbidades sabidamente comuns, que surgem com o processo de envelhecimento 5. Conhecedores dos diferentes níveis de abordagem ao portador de demência e sua família em sociedades como a nossa, o setor de Neurologia do Comportamento da UNIFESP-EPM, vem utilizando um modelo de assistência em Enfermagem, que busca suprir as inúmeras necessidades de pacientes e familiares acompanhados neste serviço. A Enfermagem e sua evolução Talvez, nos seja permitido hoje, filosofar sobre a evolução de uma classe de profissionais que tantas conquistas têm obtido em diferentes especialidades. Registros na literatura nos reportam a um passado distante, no qual os então chamados “enfermeiros”, nada mais eram que mães, feiticeiros, magos e pessoas de moral duvidosa, a quem eram delegadas funções que envolviam a arte do cuidar (Período PréCristão/Cristianismo). Este cuidar, envolto em receitas e poções miraculosas tinha como base toda uma prática empírica e religiosa, que pouco contribuiu para o crescimento e reconhecimento de um grupo de pessoas que se dedicavam à assistência aos enfermos. Não se pode desconsiderar a importância da grande revolução social trazida pelo advento do Cristianismo e sua contribuição na prática do cuidar. Religiosos como São Vicente de Paula, São Camilo de Lélis, São Francisco de Assis, entre outros, além de senhoras 84 Ferreti, C. E. de L. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005 pertencentes a nobreza da época, abrigavam e assistiam aqueles que sofriam, acometidos por pestes que vitimavam milhares de pessoas. Porém, o marco da Enfermagem moderna, que deu início ao que hoje se entende por ciência da Enfermagem, foi as ações de uma inglesa chamada Florence Nightingale (1820-1910) ,que, rompendo os padrões femininos de sua época, dedicou-se ao estudo e aprimoramento das técnicas utilizadas até então. Florence, homenageada em poema escrito por Longfellow como “The lady of the lamp” , teve participação importante no conflito entre França, Inglaterra e Turquia contra a Rússia, que deu origem à Guerra da Criméia (1854). Durante a guerra conseguiu reduzir a taxa de mortalidade entre os combatentes de 42.7% para 2.2% . Foi a primeira Enfermeira pesquisadora, e alguns de seus apontamentos registrados em sua obra “Notes of Nursing” (1859), ainda hoje são atuais. Fundadora da 1ª escola de enfermagem no Hospital St. Thomas (1859), foi também responsável pela introdução das prescrições médicas por escrito. Todas as escolas de enfermagem a partir de então, seguiram seu modelo de assistência. No Brasil, merece destaque a Escola de Enfermagem “Ana Nery” (1923), considerada como alto padrão de ensino. Houve grande crescimento e reconhecimento destes profissionais, especialmente entre os sanitaristas no começo e meados do século XX, devido a suas atuações frente a epidemias de doenças parasitárias e infectocontagiosas6. Hoje, sabemos que enfermeiros formados e especializados por escolas de alto nível, têm desenvolvido trabalhos respeitados e reconhecidos pela comunidade científica mundial. Atualmente, modelos teóricos como OREM e de assistência como NANDA, entre outros, permite que a prática da Enfermagem seja aplicada com rigor científico, na prevenção, reabilitação, e manutenção de diferentes doenças25. Enfermagem nas demências – Modelo Assistencial A assistência de Enfermagem em Demências, utiliza-se da Sistematização da Assistência de Enfermagem aplicada a pacientes e familiares, na tentativa de desenvolver, pelas inúmeras ações requeridas, um padrão de assistência que envolva abordagem das dificuldades do paciente, da família e do ambiente na evolução da demência. Seguindo critérios postulados por NANDA7 e CARPENITO8, o trabalho compreende: Histórico de Enfermagem (Diagnóstico) Plano de Cuidados Prescrição de Enfermagem Implementação Evolução A aplicação do Processo de Enfermagem em famílias segue o seguinte modelo9: Histórico o Identificação das fases e tarefas do desenvolvimento da família o Determinação da origem étnica, bagagem cultural, crenças e práticas o Avaliação dos aspectos positivos e dos sistemas de apoio da família o Identificação da percepção que a família tem do problema o Reconhecimento dos padrões de comunicação entre os membros da família Diagnóstico o Análise dos comportamentos familiares considerados funcionais/disfuncionais o Ajuste familiar o Comprometido o Incapacitante o Potencial de crescimento o Alterações dos processos familiares Prescrição de Enfermagem o Metas realisticas o Critérios quanto à evolução desejada o Identificação – PELA PRÓPRIA FAMÍLIA - dos recursos próprios para lidar com a situação 85 Ferreti, C. E. de L. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005 o Comunicação franca de pensamentos e sentimentos o Determinação – PELA FAMÍLIA – dos papéis e responsabilidades o Encorajamento – PELA FAMÍLIA – da autonomia individual e crescimento de cada um Implementação o O problema existe na família, é portanto, FAMILIAR o Neutralidade e objetividade o Problemas e relações focalizadas no “aqui e agora” o Comunicação verbal e não verbal congruente. o Compreensão da família de “quem é o dono do problema” e quem é o responsável pela resolução o Desenvolvimento de capacidades efetivas de comunicação – “eu” – ouvir técnicas de resolução do problema o Grupos de apoio na comunidade (ex.: ABRAz – Associação Brasileira de Alzheimer, doenças similares e idosos de alta dependência) o Avaliação da eficácia das capacidades adaptativas o Encaminhamento ao terapeuta o Fatores de risco/comorbidades o Medicação em uso o Histórico de trauma emocional anterior à doença o ISDA (considerações específicas para as ações de enfermagem – prevenção) o Exame físico geral e específico 2) Escalas de avaliação das dependências o MEEM – Mini-Exame do Estado Mental10 - breve avaliação do déficit cognitivo. o CDR – Clinical Dementia Rating 11 Scale – avaliação da gravidade da demência. o INP– Inventário Neuropsiquiátrico12– avaliação da freqüência e gravidade das alterações de comportamento. o Escala de Depressão Geriátrica13– avaliação de sinais sugestivos de depressão. o ABIPEME – Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado – avaliação do nível sócio econômico14. o RSD – Relação de Segurança Doméstica15 o Perfil Familiar9 Evolução o A família verbaliza estratégias adaptativas o Comunica-se aberta e francamente respeitando diferenças o Exibe comportamento da família funcional Os pacientes e seus familiares são encaminhados pela equipe médica do setor para a enfermagem, como se segue: Avaliação Inicial o Consulta de Enfermagem (idealmente em três níveis) o Biológico (Identificação de comorbidades, Estado geral) o Psicológico (Identificação de problemas emocionais, conflitos, para posterior encaminhamento ao psicólogo do setor) o Social16 (Identificação de problemas nas esferas sócio-econômicas) Avaliação das limitações (Grau de dependência) o Do paciente o Do cuidador Dinâmica familiar o Funcional/Disfuncional Instrumentos de Avaliação Protocolo de Enfermagem, desenvolvido especificamente para atender as necessidades da enfermagem, e dividido em duas partes – paciente e cuidador. Contêm os seguintes dados: o o Identificação Anamnese completa Queixa principal HPMA, AP, AF Metodologia 86 Ferreti, C. E. de L. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005 Avaliação do Ambiente o Riscos potenciais de acidentes o Adaptações ambientais Fluxo de Atendimento o Atendimento ambulatorial mensal para pacientes CDR=3 o Atendimento ambulatorial bimestral para pacientes CDR=2 o Atendimento ambulatorial trimestral para pacientes CDR=1 o Encaminhamento aos programas de Suporte ao Cuidador o PED/PAC – Programa de Educação em Demências e Programa de Assistência ao Cuidador. No Retorno... o Identificação de fatores que implicam na não aderência às orientações - pessoais, ambientais - se presentes, o Inclusão no Programa Visita 17 Domiciliária . Programa Visita Domiciliária (critérios de Inclusão) o Baixa aderência às orientações de enfermagem o Pacientes com dependência moderada/severa o Idade avançada do cuidador o Dificuldade no transporte Objetivos o Entendimento da dinâmica familiar o Identificação dos problemas o Maior conforto para pacientes e familiares o Avaliação da segurança pessoal/ambiental o Maior aderência às orientações de enfermagem e tratamento farmacológico. Resultados 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1ª aval. 3ª aval. 6ª aval. Alimentação Asseio ir ao banheiro mob. Externa Vestuário Banho mobil. Casa Res. Problemas Gráfico 1. Dependência para AVDs Os resultados apresentados nos gráficos 1, 2, e na tabela 1, referem-se a estudo realizado com 59 pacientes e seus familiares4. Eles demonstram que intervenções de enfermagem holísticas e individualizadas, em diferentes graus de dependência de portadores de demência, são alternativas importantes, especialmente na redução de alterações de comportamento, e melhora na autonomia daqueles pacientes que apresentam dependência funcional. Além disso, permitem maior inserção e convívio social do paciente na estrutura familiar. 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1ª avaliação . 3ª avaliação 6ª avaliação Agitação Agressividade Delírio Apatia Depressão Alucinações Ansiedade Desinibição Irritabili//Labili// Perambulação Gráfico 2. Alterações de Comportamento 87 Ferreti, C. E. de L. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005 Tabela 1. Intenção de Institucionalização FATORES DETERMINANTES Dependência para AVDs Alterações de Comportamento 1ª avaliação 3ª avaliação 6ª avaliação Fonte: Ferretti (1999). % 34 20 51 49 37 N 20 12 30 29 22 Discussão Inúmeros trabalhos têm surgido nos últimos anos, na tentativa de se encontrar um modelo ideal de assistência aos portadores de demência e suas famílias. Parece haver consenso dos profissionais, não apenas em países de primeiro mundo, como também de países em desenvolvimento, no que diz respeito à necessidade da criação de modelos embasados na educação de profissionais, e sobretudo, de cuidadores. Trabalhos interessantes, que oferecem suporte com educação, foram apresentados recentemente na 8th Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders, em Estocolmo, (2002), e todos eles tinham um ponto comum, suporte e educação para familiares18,19,20,21,22,23 . Além disso, há a preocupação dos profissionais em identificar as reais necessidades destes cuidadores, buscando mensurar suas principais dificuldades, para, a partir de então, propor novos modelos de assistência. Estudo de Aminzadeh e cols., (2002), reforça que a informação é absolutamente necessária. Em seu estudo identificou necessidades potenciais de 51 cuidadores, onde: 90% querem aprender mais sobre a doença; 78% querem receber ajuda sobre decisões que envolvem cuidados; 76% aprender como melhor manejar o paciente; 76% conhecer quais os serviços mais confiáveis na comunidade24. Nosso modelo de assistência, tenta adaptar estes trabalhos à nossa realidade. Também acredita que, apenas com informação, é possível atender satisfatoriamente estas famílias, e, por esta razão, trabalha com programas de educação e suporte17,25 buscando melhor nível de satisfação entre cuidadores e melhor qualidade de vida para todos os pacientes acompanhados em nosso serviço. Conclusão Diante dos resultados obtidos neste trabalho, é possível concluir que as abordagens não farmacológicas, oferecidas por equipe multidisciplinar, além de programas específicos de educação em demências, são alternativas extremamente viáveis e promissoras. É evidente que, no Brasil, ainda temos poucos trabalhos desenvolvidos neste assunto. É necessário, portanto, que novos estudos avaliem as dependências aqui apresentadas, mensurando intervenções de enfermagem a elas dirigidas, buscando comprovar sua eficácia. Referências Bibliográficas 1. Gauthier, S.; Clinical Diagnosis and Management of Alzheimer’s Disease, Second Edition, Martin Dunitz, London, 1999. 2. Katzman, R.; Epidemiology of Alzheimer’s Disease and Dementia: Advances and Challenges. In Alzheimer’s Disease: Advances in Etiology, Pathogenesis and Therapeutics, pp 11-21, Khalid Iqbal, New York, 2001. 3. Chaimowicz, F.; Perfil Social e Econômico dos Idosos no Brasil. In Os Idosos Brasileiros no Século XXI: Demografia Saúde e Sociedade, Postgraduate Brasil, Cap. 5 pp 63-72 e Cap 3 pp35-41, Belo Horizonte, 1998. 4. Ferretti, C.E.L; A Intervenção de Enfermagem nas Demências e o Potencial de Risco para Institucionalização Precoce, Dissertação apresentada à Disciplina de Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP- 88 Ferreti, C. E. de L. et al Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005 EPM, para obtenção do título de Mestra em Neurociências. São Paulo, 1999. 5. Jacob, W.F.; Souza, R.R.; Anatomia e Fisiologia do Envelhecimento, In Geriatria: Fundamentos, Clínica e Terapêutica. Cap 3 pp 31-39, Ed. Atheneu, SP, 1994. 6. Atkinson & Murray, Fundamentos de Enfermagem, SP, 2000. 7. NANDA, North American Nursing Diagnosis Association, USA, 1994. 8. Carpenito, L.J.; Manual dos Diagnósticos de Enfermagem, 6ª edição, Ed. Artes Médicas Sul Ltda, Porto Alegre, 1997. 9. Isaacs, A.; Modalidades Terapêuticas: Terapia de Família, In Saúde Mental e Enfermagem Psiquiátrica, 2ª edição, Guanabara-Koogan, RJ, 1998. 10. Folstein, MF; Folstein, SE; McHugh, PR; (1975) “Mini-Mental State”: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician, Journal of Psychiatric Research, 12:189-98. 11. Hughes, CP; Berg, L; Danziger, WL; Cohen, LA; Martin, RL; (1982), A new clinical scale for the staging of dementia, British Journal of Psychiatry, 140: 566-72. 12. Cummings, JL; Mega, M; Gray, K; Rosemberg-Thompson, S; Carusi, DA; Gosnbein, J; (1994), The Neuropsychiatric Inventory: Comprehensive assessment of Psychopathology in Dementia, Neurology, 44: 2308-14. 13. Yesavage, JA; et al. (1983), Development and Validation of a Geriatric Depression Screening Scale: a preliminary report, Journal of Psychiatric Research, 17: 37-49. 14. ABIPEME - Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado Classificação Sócio-Econômica. 15. RSD – Relação de Segurança Doméstica, National Safety Council 1982. 16. Vasconcelos, EM; Rosa, LCS; Pereira, ICG; Bisneto, JÁ; Saúde Mental e Serviço Social, Ed. Cortez, SP, 2000. 17. Sociedad Española de Geriatria y Gerontologia, SAD- El Servicio de Ayuda a Domicilio, 1997. 18. Horner, Margareth e cols.; Changes in Problem Behaviours Among Nursing Home Residents, University of Missouri-Kansas City, Kansas City, MO, USA, 2002. 19. Hepburn, K; Sherman, CW. The Savvy Caregiver Program: Transportable training for dementia family caregivers, Seattle, WA, USA, 2002. 20. Martinez, M; e cols.; Centros Asistenciales Torribera, Sta. Coloma Gramenet, Barcelona, Spain, 2002. 21. Wu; B. Wellesley; Zhang, XW The Case for life style interventions to reduce risk of Alzheimer’s Disease. Bewell, 2002. 22. Romero, B; Wenz, M; A Multimodal Treatment Programme for People with Dementia and Family Caregivers, Alzheimer Therapiezentrum der Neurologischen Klinik, Bad Aibling, Bavaria, Germany, 2002. 23. Markowitz, JS; Gutterman, EM; Health Data Analytics, Princeton Junction, NJ, USA; Papadoulos, G; Sadik, K; Janssen Pharmaceutic, Titusville, NJ, USA, Impact of Alzheimer’s Disease on Caregiver Employment and Related Costs, 2002. 24. Aminzadeh, F; Byszewski, A; Dalziel,W; Papahariss-Wright, S; Needs and goals of family caregivers of patients undergoing cognitive assessement for dementia, Regional Geriatric Program, Ottawa, Ont., Canada, 2002. 25. Canson, VB; Mental Health Nursing, 2 ed., Phyladelphia: WB Saunders Company, 2000. 89 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 Assistência de Enfermagem na prevenção e controle de infecção ao paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva Licinio Junior,N. J.1; Nascimento, E. R. do2 Este trabalho relata e analisa a implementação de um projeto assistencial da 8º fase curricular do curso de Graduação em Enfermagem da UFSC. Ocorreu no período de 30 de agosto a 30 de outubro de 2004 na Unidade de Terapia intensiva do Hospital Universitário, da Universidade Federal de Santa Catarina, localizado no Campus Universitário. Teve como objetivo geral assistir ao ser humano em condição crítica de saúde internado em UTI, com o propósito de prevenir e controlar infecções. As infecções hospitalares (IH) são complicações freqüentes que afetam principalmente pacientes internados em UTIs. As taxas de infecções nestas . Promovendo autonomia para o cuidado humanizado ao portador de HIV AIDS em tratamento por anti-retro-viral fundamentada na teoria de Jean Watson. Vieira, L. C1.; Tesse, K. R1.; Erdmann, A. L2. Introdução: Trata-se do relatório da Prática Assistencial da VIII Unidade Curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolvido no período de 31 de março a 4 de junho de 2004, no Ambulatório e Hospital-Dia do Hospital Nereu Ramos. Objetivo: O objetivo constituiu-se em Promover a autonomia para o cuidado humanizado ao portador de HIV/Aids em tratamento por ARVs, com enfoque na adesão ao tratamento, fundamentada na Teoria de Jean Watson. Optamos por realizar o trabalho com esse tema devido à problemática da aderência ao tratamento ARV pelos portadores de HIV/Aids. Foi operacionalizado através de entrevistas a partir de um instrumento semiestruturado, que buscou traçar o perfil dos portadores Amamentação materna: uma proposta assistencial direcionada ao ser-puérpera-adolescente e sua família, fundamentada na teoria do autocuidado de Dorothea Orem. Isensee, E.1; Brito, V. S.1; Santos, E. K. A.2 O presente trabalho relata a experiência desenvolvida pelos autores, enquanto acadêmicos de enfermagem, da disciplina Enfermagem Assistencial Aplicada da VIII Unidade Curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Teve como objetivo geral prestar assistência de enfermagem ao ser-puérpera-adolescente vivenciado o processo da lactação, envolvendo sua unidades são cinco a dez vezes maiores que nas enfermarias gerais. São consideradas como um grave problema de saúde pública que acarreta em altas taxas de morbidade e mortalidade, além de altos custos financeiros em hospitais públicos como o HU-UFSC onde os recursos já são escassos. Utilizei como marco referencial à teoria das Necessidades Humanas Básicas, de Wanda de Aguiar Horta, aliado ao modelo proposto por Benedet e Bub (2001) segundo a classificação diagnóstica de NANDA, para o desenvolvimento do processo de enfermagem. Constatei que paralelo aos avanços tecnológicos relacionados aos procedimentos invasivos que ocorrem principalmente em pacientes graves internados na UTIs, surge como desafio a elaboração e implementação de medidas de prevenção e controle de infecções visando a melhoria na qualidade da assistência de enfermagem de HIV/Aids e sua adesão ao Tratamento Antiretroviral. Realizou-se Consultas de Enfermagem e Assistência aos clientes em tratamento de infecções oportunistas no Hospital-Dia. Para a realização das entrevistas, das consultas de enfermagem e da assistência foi utilizado o referencial teórico de Jean Watson que se refere ao cuidado como foco principal da Enfermagem devendo ser realizado de uma forma humanizada, vendo o cliente holisticamente e sendo capaz de desenvolver potencial para o cuidado de si. O estudo permitiu identificar as dificuldades dos clientes possibilitando a construção de um folder educativo e um quadro visando auxiliar os profissionais na assistência. Resultados: Com o estudo foi possível concluir que a assistência fornecida ao cliente portador de HIV/Aids deve utilizar estratégias que busquem o envolvimento de familiares ou pessoas com vínculo afetivo no cuidado ao cliente e uma maior compreensão por parte do cliente/família sobre todo o contexto em que está inserido. família na Unidade de Alojamento Conjunto da Maternidade do Hospital Universitário e no domicílio. A prática assistencial foi realizada no período de março a junho de 2004. O referencial teórico adotado para direcionar a prática assistencial, foi a teoria geral do autocuidado de Dorothea Orem, no qual a teórica acredita que o profissional de enfermagem juntamente com o cliente deve identificar déficits de competência no atendimento dos requisitos individuais de autocuidado, procurando desenvolver nestes indivíduos os potenciais já existentes para a prática de ações de autocuidado. Para implementar este referencial na prática utilizou-se o processo de enfermagem, conforme preconizado por Orem e adaptado por Santos (1991), que inclui três etapas: 1 – 90 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 diagnóstico e prescrição de enfermagem (levantamento de dados); 2 – planejamento dos sistemas e da execução dos atos de enfermagem; e 3 – implementação e controle do cuidado de enfermagem. Participaram deste estudo 14 puérperas-adolescentes e suas famílias, entre as quais, descreve-se, na íntegra, dois processos de enfermagem e os relatos das visitas domiciliares de duas puérperas-adolescentes. Durante o desenvolvimento deste estudo percebeu-se que dentre os déficits de competência para o autocuidado identificados junto às puérperas-adolescentes vivenciando o processo da lactação, os mais freqüentes estavam relacionados à posição adequada do recém-nascido para proporcionar uma pega completa da aréola mamária, e portanto, uma sucção eficiente. Além disso, constatou-se a importância da visita domiciliar, revelando-se esta, um elemento fundamental para a continuidade da assistência de enfermagem prestada no âmbito hospitalar. Esta proporciona o conhecimento das reais condições de vida das puérperas-adolescentes e o meio social e familiar que está inserida, podendo esta, ser uma estratégia efetiva para a proteção, o apoio e promoção do aleitamento materno. Ao finalizar o estudo os autores ressaltam o alcance dos objetivos propostos e a importância da implementação do marco conceitual fundamentado na teoria do autocuidado de Orem para o fortalecimento da autoconfiança do ser-puérperaadolescente no processo da lactação. Fortalecendo a competência do sermulher/gestante para o autocuidado: uma experiência assistencial à luz da Teoria de Orem. de competência de autocuidado identificados; participar dos grupos de gestantes a fim de fortalecer a autoconfiança das mesmas em relação ao processo do nascimento e estimular sua interação com as demais participantes proporcionando troca de experiências sobre a gestação, o parto, o aleitamento materno e cuidados com o recém-nascido; aprofundar conhecimentos teóricos a respeito dos temas: Sistema Único de Saúde (SUS), Programa de Saúde da Família (PSF), anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino, embriologia, gestação, consultas de pré-natal, programas na área de Saúde da Mulher e Teoria do Autocuidado de Dorothea E. Orem. Durante o desenvolvimento de nossas atividades na Policlínica realizamos doze consultas de enfermagem em que aplicamos o processo proposto pela teoria utilizada; acompanhamos diversas consultas de pré-natal, puerpério e planejamento familiar com as enfermeiras que atuam no PSF da Policlínica; participamos de dois grupos de gestantes; realizamos visitas domiciliares a gestantes; acompanhamos exames de ultra-sonografia. Enfim, acompanhamos as rotinas da Policlínica Municipal de Campinas durante o período de estágio principalmente as rotinas decorrentes do PSF que, além da Saúde da Mulher, sempre foi nosso alvo de atuação. Silva, F. N.1; Guesser,O.1; Santos, E. K. A.2 Trata-se do relato de experiência de uma proposta assistencial desenvolvida em uma Policlínica Municipal de uma cidade da Grande Florianópolis, SC, por acadêmicos do último semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), formandos 2004/02. Foi desenvolvido no período de 30/08/2004 a 29/10/2004 na área da Saúde da Mulher, mais especificamente no pré-natal. Este trabalho teve como base a Teoria do Autocuidado proposta por Dorothea E. Orem, e como objetivos gerais e específicos, respectivamente: prestar assistência de enfermagem ao sermulher/gestante de baixo risco no período pré-natal, através de consultas de enfermagem, visando o fortalecimento da sua competência para o autocuidado; identificar os déficits de competência para o autocuidado apresentados pelo ser-mulher vivenciando o processo de gestação; planejar, implementar e avaliar a assistência de enfermagem prestada ao ser-mulher/gestante com base nos déficits Cuidando de gestantes e acompanhantes em busca da humanização. Buzzello,C. S.1; Jesus,G.1; Zampieri, M. F. M.2 O presente trabalho é um relato da prática assistencial desenvolvida com gestantes e acompanhantes, no Centro de Saúde da Agronômica, Florianópolis-SC, no período de 30 de agosto a 30 de outubro de 2004. Teve como principal objetivo prestar um cuidado de Enfermagem humanizado à gestante e acompanhante, em nível de Atenção Básica, fundamentado na Teoria de Josephine E. Paterson e Loretta J. Zderad. Para tanto, foram realizadas consultas de enfermagem de Pré-Natal, segundo o processo da teoria humanística; atividades do grupo de gestantes e visitas domiciliares visando conhecer o contexto, a gestante e desenvolver o processo educativo. Paralelo a estas atividades, foi implantado o grupo de gestantes no Centro de Saúde do Saco dos Limões. O marco conceitual que guiou a prática constituiu-se de pressupostos e conceitos de ser humano, saúde, enfermagem, ambiente e cuidado humanizado, sob a ótica de Paterson e Zderad. Percebemos, que a prática da Enfermagem humanística dá-se através das interações; troca de experiências e de vivências entre os seres humanos, que são influenciados pelas percepções de cada indivíduo acerca do seu cotidiano. A teoria de Paterson e Zderad contribuiu para que desenvolvêssemos os conhecimentos intuitivos, respeitando cada cliente em sua singularidade, aprendendo a detectar chamados e dar as devidas 91 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 respostas, buscando o bem estar e estar melhor, demonstrando a presença de forma genuína, estando disponíveis às gestantes e acompanhantes, alcançando um cuidado humanizado. Assistência à saúde da mulher: promovendo o autocuidado da mulher no climatério. identificar os déficits de conhecimento e competência das mulheres climatéricas, estimulando-as para o autocuidado e visando melhorar a qualidade de vida. Foram realizadas consultas de enfermagem para exame preventivo de câncer cérvico-uterino e de mamas, consultas e oficinas com abordagem sobre climatério. No desenvolvimento da prática assistencial houve participações femininas expressiva, evidenciando o interesse das mulheres em compartilhar conhecimentos e experiências sobre a fase do climatério. Foram inseridos e sedimentados espaços na rede primária de saúde, onde as mulheres puderam expressar seus sentimentos, esclarecer dúvidas, dificuldades e receber orientações sobre a fase que vivenciam para, desta forma, potencializarem sua capacidade de autocuidado. Dal Ri,M.1; Zolnowski S.1; Coelho, E. B.S.2 Introdução: Trata-se do Relatório Final do trabalho de conclusão de curso da VIII Unidade Curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Objetivo: Teve como objetivo geral prestar assistência de enfermagem às mulheres que estão vivenciando o climatério, fundamentada na Teoria do Autocuidado de Dorothea E. Orem, visando promover a saúde das mulheres que freqüentam o Centro de Saúde do Saco Grande em Florianópolis. A prática assistencial desenvolveu-se no período de 30/08/04 a 30/10/04. A Teoria de Orem norteou a assistência prestada, cuja meta foi O cuidado de enfermagem humanizado: uma vivência de interações enfermeira/recémnascido/família na unidade neonatal. Bardt, A.1; D’Ávila, F. S.1; Zellner, M.1; Oliveira, M. E.2 Trata-se de relatório da prática assistencial realizada no período de 31 de março a 04 de junho de 2004, pelas acadêmicas da VIII Unidade Curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Teve como objetivo vivenciar na Unidade Neonatal do Hospital Universitário da UFSC, uma experiência de cuidado humanizado, com recém-nascidos pré-termo, de baixo peso e suas famílias, enfocando preferencialmente o Método Mãe Canguru. O referencial teórico utilizado foi a teoria humanística de Paterson e Zderad, considerada como diálogo vivo que envolve encontro, relacionamento, presença e chamados e respostas. O processo de Enfermagem constou de quatro etapas: Desmistificando a doença cardiovascular: educação em saúde como suporte para o autocuidado Silva, A. C.1; Torres,G. G.1; Pereira, K. G.1; Borenstain, M. S.2 O presente trabalho relata nossa vivência, enquanto acadêmicas da VIII Unidade Curricular, do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, na disciplina de Enfermagem Assistencial Aplicada. Teve como principal objetivo assistir pessoas acometidas por distúrbios cardiovasculares a fim de encorajar o autocuidado e desmistificar a doença cardíaca. A prática assistencial foi desenvolvida na Unidade de Internação B, do preparação da enfermeira na busca do autoconhecimento, a enfermeira conhece o outro intuitivamente, a enfermeira conhece o outro cientificamente e a enfermeira avalia o conhecimento intuitivo e científico, e foi aplicado a seis recémnascidos e suas famílias. Vivenciar o intuitivo no cuidado de Enfermagem, mostrou a importância de ouvir o não dito, através da observação, da escuta sensível, da presença genuína, do compartilhar experiências, do colocar-se no lugar do outro, identificando chamados e respostas que se estabeleceram entre os seres humanos envolvidos. O uso da sensibilidade aliada ao conhecimento científico, favoreceu a prestação de um cuidado humanizado. Desenvolvendo este trabalho percebemos que ele contribuiu não só para o aprendizado e crescimento profissional das autoras, como também para o “ser mais” de quem cuidou e de quem foi cuidado, levando a um repensar do fazer, do sentir e do agir no cuidado de Enfermagem. Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC) no período de 30 de agosto a 30 de outubro de 2004. Utilizamos como marco teórico a Teoria do Autocuidado de Dorothea E. Orem e como conceitos norteadores: ser humano, sociedade, saúde, desvio de saúde, enfermagem, educação em saúde, mitos, família e grupo de convivência. Realizou-se durante o período de estágio sete processos de Enfermagem baseados na teoria do autocuidado, contendo as seguintes etapas: histórico, diagnóstico de Enfermagem, plano de ação e evolução; três atividades de educação em saúde com clientes, acompanhantes e profissionais de saúde; participação no Programa de Reabilitação Cardíaca, da Família e de Pré-Alta. Todos os objetivos propostos foram alcançados plenamente, pois conseguimos realizar 92 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 todas as atividades planejadas no projeto assistencial, além de outras não previstas como: elaboração de dois folderes sobre alimentação e tabagismo; cartazes educativos sobre estresse, alimentação, atividade sexual e fumo; uma atividade ao Programa “Palhoça Ativa”; participação de um treinamento sobre Assistência de Enfermagem no Quarto Terapêutico. Com este trabalho identificamos o quê leva os clientes com problemas cardiovasculares a apresentarem déficits de autocuidado é principalmente a falta de conhecimento e os mitos gerados acerca de seu problema de saúde. Percebemos que esta vivência oportunizou experiências significativas para nossa formação acadêmica e crescimento pessoal, além de contribuir para a capacitação dos clientes, tornando-os protagonistas do seu próprio cuidado. Cuidado de enfermagem a criança e família em situação de emergência baseado na Teoria de Consecução de metas de Imogene King. humano. No decorrer da prática assistencial foi desenvolvido o processo de enfermagem com a finalidade de sistematizar o cuidado prestado. O processo de enfermagem foi aplicado com nove crianças e suas famílias com idade entre 4 e 14 anos, que apresentavam como diagnóstico médico: Traumatismo Cranioencefálico, Meningite, Apendicite e Convulsão. Ao término da prática assistencial podemos afirmar que a teoria utilizada norteou a proposta de assistência foi adequada, pois permitiu a troca de informação, percepção, interação, comunicação, identificação dos estressores bem como a transação com a criança e sua família. Dentre os principais estressores observados por nós durante a prática assistencial cabe citar: medo do desconhecido, mudança de rotina, possível separação dos familiares e inserção em um ambiente estranho. Concluímos que estes sentimentos e percepções da criança e sua família necessitam ser consideradas no dia a dia pela equipe de saúde em Unidade de Emergência, pois através da interação e comunicação com a criança/família é possível identificar a dinâmica familiar e com isso amenizar a dor, o sofrimento, a angústia destes clientes diminuindo o estresse que uma unidade de emergência/urgência pode proporcionar. Brandão,D.S.1; Costa,K. R1.; Vieira,M.1; Farias,M. E1.; Faria, A. M.2 Introdução: Este trabalho trata-se da prática assistencial realizada no segundo semestre do ano de 2004, no período de 30 de setembro a 30 de outubro desenvolvido na Emergência Externa do Hospital Infantil Joana de Gusmão por acadêmicas da 8.ª fase do Curso de Graduação em Enfermagem, a fim de atender as crianças/famílias nas situações de urgência. Objetivo: O projeto teve como objetivo geral prestar assistência humanizada à criança e sua família junto à equipe multiprofissional, identificando os estressores da hospitalização durante o atendimento imediato. Buscamos também oferecer conforto, segurança e informações à criança/família através do contato freqüente; possibilitando minimizar o estresse vivenciado nas situações de emergência, bem como encorajar os pais a participarem dos cuidados à criança. Método: Optamos utilizar como embasamento teórico, a Teoria de Consecução de Metas de Imogene King, a qual preconiza que o foco da assistência de enfermagem é o cuidado ao ser A enfermagem como facilitadora da aproximação cultural da mulher-mãe, recém-nascido e família em Alojamento Conjunto, fundamentada na Teoria da diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural de Madeleine. Sebold, A.P.1; Correa, F.1; PettersV. R.2. O presente trabalho relata a experiência desenvolvida pelas autoras, enquanto acadêmicas de enfermagem, da disciplina Enfermagem Assistencial Aplicada da VIII° Unidade Curricular do Curso de Graduação em Enfermagem Da Universidade Federal de Santa Catarina. Teve como objetivo geral desenvolver junto à mulher - mãe, ao recém nascido e à família o processo de enfermagem, prestando um cuidado cultural, em alojamento conjunto, fundamentado na Teoria da Diversidade e Universalidade cultural de Madeleine Leininger. A prática assistencial foi realizada no período de agosto a outubro de 2004. O referencial teórico adotado para direcionar a prática assistencial, foi a teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural de Madeleine Leininger, no qual a teórica acredita na prestação de cuidado transcultural embasada num olhar antropológico sobre o indivíduo. A mesma trabalha com quatro níveis distintos e complementares que se dividem em: o primeiro nível que é mais geral e amplo. O nível dois que oferece conhecimento sobre os indivíduos, famílias, grupos e instituições em vários níveis de saúde e propicia significados e expressões culturalmente específicos em relação à saúde. O nível três focaliza o sistema popular, o sistema profissional e a enfermagem, permitindo a comparação de semelhanças e diferenças, ou seja, a universalidade e diversidade cultural do cuidado. O nível quatro é o nível das decisões e ações de cuidado em enfermagem e envolve a preservação/ manutenção, acomodação/negociação e repadronização/ reestruturação cultural do cuidado. Para implementar o referencial na prática utilizamos a aplicação do processo de enfermagem baseadas no 93 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 processo de SILVA (2002), que se divide em quatro fases distintas: Conhecer a situação, Refletir a situação, Planejamento e Implementação do cuidado e Avaliação do cuidado. Durante o desenvolvimento deste estudo percebeu-se a grande diversidade cultural entre as famílias atendidas no alojamento conjunto. O processo educativo de saúde como prática de enfermagem junto a um conselho local de saúde para construção do controle social no SUS Petry, A. P.1; Farias, L. C.1; Verdi, M. I.2 Trata-se do trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, requisito da Disciplina “Enfermagem Assistencial Aplicada” – VIIIa Unidade Curricular, para obtenção do grau de Enfermeiro.O presente trabalho refere-se à implementação de uma proposta educativa em saúde, realizada junto ao Conselho Local de Saúde (CLS), do bairro Saco Grande, no município de Florianópolis, com o objetivo de promover estratégias de participação popular para o fortalecimento do controle social no SUS. O estudo inicia com uma breve revisão da evolução histórica das políticas de saúde no Brasil a partir da década de 70, marco histórico do Movimento Sanitário, até chegar à década de 90, quando da regulamentação do Sistema Único de Saúde – SUS, que traz como uma de suas diretrizes, a participação popular, através do exercício do controle social sobre as atividades e os serviços públicos de saúde. Utilizamos os elementos do referencial teórico do processo de trabalho de educação em saúde de Ramos Saúde do trabalhador práxis educativa: refletindo sobre os riscos ocupacionais. Noceti, J. P.1; Crispim, C. H.1; Gelbcke, F. L.2 Este é um trabalho de conclusão de Curso da Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desenvolvido na área de Saúde do Trabalhador. A escolha dessa área se deu primeiramente pela curiosidade, movida pela falta da abordagem deste assunto na grade curricular, e pela importância que acreditamos ter a promoção da saúde para os trabalhadores. Para realizar este trabalho, optamos por fazer a prática assistencial na CM1 por ser um ambientes já conhecidos pelas acadêmicas e pelos riscos ocupacionais, aí levantados destacando-se os biológicos e ergonômicos. O objetivo geral do trabalho, foi desenvolver uma prática assistencial Essa diversidade toda veio a nos mostrar o quanto é importante o atendimento dessas famílias de forma particularizada, focalizada nas suas crenças, valores, significados e práticas de cuidado, o que favoreceu que a assistência fosse prestada de forma culturalmente congruente. Gonzaga (1992 e 1999) e a proposta metodológica do educador Paulo Freire (1987) como os eixos norteadores da nossa prática. No sentido de impulsionar a reflexão crítica acerca do controle social no SUS, propusemos o desenvolvimento dos círculos de cultura como momentos de potencialização da transformação da práxis. Paralelamente, realizamos o reconhecimento e a mobilização da comunidade durante visitas às organizações e instituições do bairro e da participação no processo de planejamento, organização e desenvolvimento do Curso de Capacitação de Conselheiros Locais de Saúde. Identificamos durante nossa experiência, algumas fragilidades e potencialidades em relação à estruturação do Conselho. A falta de participação e o desconhecimento das funções e do papel do CLS constituem-se em entraves para a consolidação do controle social no SUS. Porém, o cenário de nossa atuação apontou sujeitos que mantêm os propósitos pelos quais os Conselhos foram criados. Consideramos que ainda há um longo caminho a ser percorrido, com alguns obstáculos para ultrapassar, até que a participação popular no CLS se torne consciente e efetiva. Nossa contribuição para o controle social teve o importante papel de desencadear um processo de transformação da consciência individual para uma consciência coletiva. educativa com os trabalhadores da CM1, visando a conscientização destes sobre sua exposição aos riscos de trabalho, por meio da educação em saúde, e incentivar os funcionários a buscar uma melhor qualidade de vida no trabalho. Para tanto, realizamos estudos sobre os riscos presentes na unidade, e através de oficinas que tiveram como foco a elaboração de mapa de riscos, biossegurança e a importância das notificações dos acidentes, todas as atividades foram fundamentadas em bibliografias pertinentes a área. Apresentamos neste trabalho também, um breve histórico da evolução na Política Nacional de Saúde do Trabalhador, bem como as legislações sobre o assunto em questão. Priorizamos a educação em saúde para trabalharmos com as funcionarias da unidade por entendermos ser um importante instrumento de promoção á saúde. 94 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 Assistência de enfermagem ambulatorial ao idoso em uso de medicamentos baseada na teoria de cuidado transcultural de Leininger. Souza,V. N.1; Ignona,M. J. S.1; Gonçalves, L. H. T.2 Foi uma prática assistencial desenvolvida no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, sendo uma proposta de cuidado cultural à pessoa idosa sob uso de medicamentos. Foi fundamentada na Teoria de Cuidado Transcultural de Leininger. Seu objetivo geral era prestar assistência de enfermagem com vistas a um cuidado cultural ao idoso em uso de medicamentos e à sua família cuidadora realizando a consulta de enfermagem guiada pelo marco conceitual. Os locais da prática foram o Ambulatório do HU/UFSC e no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Assistência Gerontogeriátrica - NIPEG/HU/UFSC. A população Assistência de enfermagem domiciliar a idosos e seus familiares na comunidade do Pântano do Sul/Fpólis-SC, baseada na Teoria da enfermagem Transcultural de Leininger. Vicente, C. A.1; Silva, M. C. M.1; Gonçalves, L. H. T.2 O trabalho a seguir trata-se de um relato de experiências sobre a prática assistencial desenvolvido por duas acadêmicas durante a VIII fase curricular do curso de Graduação em Enfermagem da UFSC. O mesmo realizou-se na Unidade Básica de Saúde da Praia do Pântano do Sul, em Florianópolis-SC, no período de 01 de abril a 08 de junho de 2004. Este estudo teve como principal objetivo prestar assistência de enfermagem ao idoso e seus respectivos familiares, guiadas pelo marco conceitual baseado na Teoria do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger. A teoria de Leininger refere-se ao cuidado ligado às Cada dia um novo dia: um desafio na busca da adaptação do recém-nascido portador de má formação, e sua família. Dias, A. G.1; Minuzzi, A. P.1; Oliveira, M. E.2 Trata-se do relato de prática assistencial desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e na Unidade de Berçário, do Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis – SC. O presente estudo foi desenvolvido no período de 30 de agosto a 30 de outubro de 2004, tendo como objetivo principal prestar assistência de enfermagem a recém-nascidos portadores de malformação congênita e suas famílias, a partir da teoria de adaptação de Sister Callista Roy. A utilização da Teoria permitiu detectar os estímulos causadores de estresse, bem como, avaliar as alvo foi de idosos, de ambos os sexos, em uso de medicamentos, que possuíam consulta agendada no Ambulatório ou NIPEG, que aceitassem participar do trabalho. Realizamos consulta de enfermagem e visitas domiciliares a pessoas idosas pré-selecionadas. Foi desenvolvida educação para saúde em Sala de Espera, através de vídeos educativos, escolhidos de forma que fossem de interesse de todos na sala. Consideramos que desenvolver esta prática com uma abordagem cultural foi um grande desafio, pois durante nossa vida acadêmica trabalhamos com outras teorias de enfermagem, que apesar de vários pontos semelhantes, diferem em alguns aspectos. Desenvolver o trabalho com idosos em uso de medicamentos proporcionou-nos momentos de muita gratificação, quando víamos que nossas ações, mesmo que pequenas, surtiam algum efeito à pessoa a quem assistíamos. crenças, valores e modos de vida das pessoas. O marco conceitual envolveu os conceitos de enfermagem, ser humano, idoso e família, saúdedoença e envelhecimento, comunidade, meio ambiente e cultura. A metodologia adotada constituise de visitas domiciliares, consultas de enfermagem, e utilização de um instrumento feito por nós acadêmicas, além da aplicação do processo de enfermagem adaptado segundo referencial adotado. A vivência com idosos e familiares oportunizou a identificação das necessidades e capacidades de cuidados culturalmente congruentes, além do estabelecimento de uma relação harmoniosa entre o idoso/familiar cuidador e enfermagem favorecendo um cuidado humanizado para obter um viver saudável. Ao final este trabalho nos proporcionou um entendimento mais amplo acerca da influência que a cultura, os valores e as práticas familiares tem no aprendizado e na aplicação do cuidado. respostas adaptativas e não adaptativas dos recémnascidos e famílias diante das várias situações vivenciadas. Pudemos, no decorrer da prática, evidenciar situações de raiva, negação, negociação, depressão, afastamento, culpa e aceitação. Em todos os momentos procuramos ouvir o dito e o não dito dos recém-nascidos e familiares, proporcionando uma assistência voltada para suas necessidades. A vivência nos mostrou que o recém-nascido malformado e suas famílias são seres especiais, guerreiros, capazes de adaptar-se às situações mais inesperadas e dolorosas, e que a atuação dos profissionais de saúde podem favorecer ou prejudicar a adaptação dos mesmos. Enfim, podemos afirmar que prestar assistência a estes seres especiais e suas famílias nos impulsionou em busca de novas possibilidades e novas formas de encarar cada dia como um novo dia. 95 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 Condição crônica de saúde: um enfoque dialógico no cuidado transcultural. Garcia,C. C.1; Martendal, M. P.1; Goronzo, T. A.1; Silva, D. M. G. V. da2; Backes, V. M. S.2 Introdução: Este trabalho consiste num relato de nossa experiência, enquanto acadêmicas do curso de graduação em Enfermagem da VIII Unidade Curricular, ao cumprir a Disciplina de Enfermagem Assistencial Aplicada, da Universidade Federal de Santa Catarina. Objetivo:Teve como objetivo geral prestar cuidado a pessoas em condição crônica de saúde (HAS e DM) e, extensivamente, a suas famílias de uma comunidade da região sul catarinense, visando promover a qualidade de vida. A prática foi desenvolvida na Unidade Sanitária Campo D’Una no período compreendido entre 31 de março a 04 de junho de 2004. O marco conceitual baseou-se na Teoria Transcultural de Madelaine Leininger e no método pedagógico de Paulo Freire, envolvendo os conceitos norteadores: enfermagem, educação para saúde, educação popular em saúde, ser humano, saúde-doença e ambiente/sociedade. A prática Orientação pré-operatória ao cliente – uma medida preventiva aos estressores do processo cirúrgico. Souza, A. A.1; Souza, Z. C.1; Fenili, R.2 O presente trabalho trata do relato de uma prática assistencial, contemplando os requisitos para a conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Foi desenvolvida na Clínica Cirúrgica I do Hospital Universitário /UFSC, no período de 31 de março a 04 de junho de 2004, utilizando a teoria de Betty Assistência de enfermagem pré-hospitalar, junto ao corpo de bombeiros, e intra-hospitalar, na unidade de emergência do hospital regional de São José “Dr. Homero de Miranda Gomes” fundamentada na Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Cunha, E. L.1; Lago,L. M.1; Eich,M.1; Prado, M. L.2; Radünz, V.2 O presente texto trata do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O mesmo foi desenvolvido nas áreas de atendimento pré-hospitalar, junto ao Corpo de Bombeiros dos municípios de Florianópolis e São José, e intrahospitalar na unidade de emergência do Hospital Regional de São José – “Dr. Homero de Miranda Gomes”. Tendo como objetivo geral observar a continuidade de assistência de enfermagem do assistencial seguiu o eixo Transcultural e dialógico, confirmando que a doença crônica afeta negativamente o cotidiano do individuo/família/grupo. O fator identificado como o mais freqüente foi: mudança de hábito alimentar associado a algum prejuízo na rotina social, interferindo, conseqüentemente, na qualidade de vida. Realizou-se, durante o período de estágio, a assistência à 09 famílias com portadores de doença crônica, efetuando 09 processos de enfermagem baseados na teoria Transcultural, contendo as seguintes etapas: levantamento de dados, diagnóstico de enfermagem, plano/implementação do cuidado e avaliação do mesmo. Foram realizadas 27 visitas domiciliares com o intuito de acompanhar os usuários e obter maior contato com a sua cultura. Foram, ainda, realizadas 04 atividades educativas, em grupo, abrangendo 03 das 04 micro-áreas existentes, utilizando recursos lúdicos e adotando uma linha participativa em busca da construção coletiva do conhecimento. O trabalho empreendido permite reiterar a importância da prática cuidativa e educativa em saúde. Neuman e com contribuição e conceitos de Paulo Freire, trabalhando a educação em saúde. Teve como objetivo prevenir e minimizar os estressores do processo cirúrgico de clientes com cirurgias de Vesícula e Hérnia de Parede Abdominal. Foram utilizadas diferentes abordagens, como orientação préoperatória, atividades lúdicas e dinâmicas. Constatouse a necessidade de um maior esclarecimento e informação, de nós acadêmicas para com os clientes. Os momentos de descontração são fundamentais no fortalecimento das linhas de defesa. Acreditamos na importância da atenção prestada ao cliente pela equipe de enfermagem durante a hospitalização. ambiente pré-hospitalar para o intra-hospitalar, principalmente com relação às vítimas de trauma, traumatismo craniocefálico (TCE), parada cárdiorespiratória (PCR), acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio (IAM). Para a realização das atividades de assistência de enfermagem nos serviços de emergência de forma sistematizada propomos uma metodologia fundamentada na combinação da Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda Horta (1979) com classificação diagnóstica da NANDA, realizada por Benedet & Bub (2001) e no método mnemônico “ABCDE”, preconizado pelo programa de Suporte Avançado de Vida ao Trauma – ATLS. Para tanto, foi criado um instrumento adaptado para a assistência de enfermagem, em situações pré e intra-hospitalar. A prática assistencial vivenciada demonstrou que a competência do profissional de enfermagem nos setores de emergência pré e intra-hospitalar depende do saber científico, da sua experiência, liderança, 96 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 habilidades e criatividade, onde o conjunto destes ultima na resolutividade dos problemas identificados, mesmo que, por vezes, dentro de um contexto adverso. Estando com adolescentes que experienciam medida sócio-educativa de privação de liberdade. foi a atividade de Enfermagem utilizada para oportunizar a significação do que era vivido com relação aos seus adolescentes. Toda nossa prática foi fundamentada na tentativa da complementação da Teoria da Evolução Humana com o Interacionismo Simbólico. Concomitantemente, desenvolvemos Pesquisa Convergente-Assistencial, considerando as representações (crenças) que os adolescentes têm por experienciar medida sócio-educativa de privação de liberdade. Logo, considerando que o ser humano é o sujeito-objeto das ações de Enfermagem, qualquer cenário que ele ocupar serve de campo para a atuação desta ciência-arte. Desta maneira, centros educacionais para adolescentes que estão sofrendo uma medida sócio-educativa podem e devem ter enfermeiros. Fica a indagação: Por que o CER-SL não tem enfermeira(o)? Com nosso trabalho esperamos fortalecer a importância da existência do profissional enfermeiro no quadro permanente da instituição, enquanto do processo de construção, desconstrução e reconstrução da realidade; e assim, incentivar a participação desse profissional nas questões sócioeducativas. Santos, L. C.1; Kretzer, M. S.1; Ghiorz, A. da R.2 O presente trabalho consiste em um relato da prática assistencial da disciplina Enfermagem Assistencial Aplicada (INT 5134), alocada na VIII unidade curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Nossa prática foi desenvolvida no Centro Educacional Regional São Lucas (CER-SL), que tem por objetivo principal atender adolescentes que praticaram ato infracional. Estes adolescentes, portanto, sofrem uma medida sócio-educativa de privação de liberdade, sancionada pelo poder judiciário. No período de 30 de agosto a 29 de outubro de 2004, estivemos com os adolescentes do CER-SL, oportunizando momentos para significação das experiências vividas por eles, através de encontros em grupo (Construção de Metáforas, Dinâmicas de Grupo e Oficinas de Arte), Consultas de Enfermagem e Estando Com eles em parte de seu quotidiano. À família, Visita Domiciliar O pai como foco central no processo de nascimento: uma proposta assistencial baseada na teoria Transcultural de Madeleine Leininger. Rossi,C. C.1; Andrade ,P.1; Gregório, V. R. P.2 Este trabalho trata-se do relato da prática assistencial realizada pelas autoras na última unidade curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolvida no período de 31 de março a 04 de junho de 2004, no Centro Obstétrico da Maternidade do Hospital Universitário-UFSC, com participações no grupo de gestantes e/ou casais grávidos do HU-UFSC. Relata o cuidado desenvolvido junto aos pais acompanhantes das mulheres parturientes no centro obstétrico. Teve como objetivo conhecer como o pai vivencia o processo de nascimento e implementar cuidados ao pai, à mulher parturiente e ao recém-nascido, Um começo de vida inesperado: assistência de enfermagem na Unidade Neonatal promovendo a formação do apego entre recém-nascidos prematuros e seus pais. Franceschi Junior, A. N.1; Passos, L.1; Caetano, T. L1; Monticelli, M.2 Trata-se de um relato de experiência realizado por acadêmicos da última fase do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sobre a prática assistencial realizada utilizando como referencial a Teoria Transcultural de Madeleine Leininger. Implementaram-se cuidados de enfermagem a vinte e oito pais bem como às mulheres parturientes que cada pai acompanhava. Foram selecionados cinco pais com os quais realizou-se o processo de enfermagem, e foram escolhidos dois para descrever no trabalho. Este estudo mostra maneiras de se implementar cuidados ao pai no centro obstétrico, bem como enfatiza a importância da presença e participação do mesmo no processo de nascimento, buscando conhecer seus sentimentos, crenças e valores. Ao finalizar as autoras ressaltam que para se realizar um cuidado culturalmente congruente, deve-se respeitar e valorizar crenças e valores do pai e da mulher parturiente, oferecendo apoio, orientação, transmitindo confiança, segurança, e incentivando a participação do pai no processo de nascimento, como forma de se estabelecer um vínculo precoce entre mãe, bebê e pai. na Unidade Neonatal do Hospital Universitário da UFSC, no período de 30 de agosto de 2004 à 30 de outubro de 2004. O objetivo deste estudo foi prestar assistência de enfermagem aos recém-nascidos prétermos e seus pais, focalizando o estabelecimento/fortalecimento dos vínculos familiares. Como referencial teórico para fundamentar a prática optou-se pela associação de duas teorias: Teoria do Apego, que está relacionada ao processo de formação do vínculo que ocorre entre os pais e o bebê, e Teoria da Adaptação da enfermeira Sister Callista Roy, que aborda os processos adaptativos do 97 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 ser humano frente às situações vivenciadas. O marco conceitual, guia para a prática assistencial, teve como princípios os conceitos de ser humano, saúde/doença, ambiente, enfermagem, adaptação e formação do apego. Para implementação da prática adotou-se o processo de enfermagem, constituído por quatro fases: avaliação, diagnóstico de enfermagem, estabelecimento de metas e implementação e evolução, além de oficinas com os pais dos bebês prétermos, para reflexão coletiva sobre o tema. O convívio com as famílias na Unidade Neonatal permitiu observar como o nascimento prematuro se constitui em uma situação de crise, sendo que esta pode prejudicar a formação do apego. Percebeu-se ainda a importância do apoio dos familiares, dos outros pais e dos profissionais neste momento, respeitando o tempo dos pais e incentivando-os a permanecerem com seus filhos, participando dos cuidados, inserindo-os no cotidiano da Unidade Neonatal. Considera-se que o papel da enfermagem é fundamental no processo de formação do vínculo, uma vez que estes profissionais estão em contato mais estreito e contínuo com as famílias e com os bebês, podendo avaliar e incentivar as respostas efetivas e trabalhar as respostas ineficientes que estejam prejudicando a formação do apego. Administrando, informatizando e assistindo o cliente em condição crítica de saúde internado na UTI. assistencial foi fundamentado na proposta Benedet & Bub (2001), a qual é baseada na teoria das Necessidades Humanas Básicas (N.H.B.) de Wanda de Aguiar Horta e na lista de diagnósticos da Taxonomia I da Classificação Diagnóstica da North American Nursing Diagnosis Association – NANDA. Usamos os conceitos de: enfermagem, ser humano/indivíduo, ser humano/família, saúde, ambiente, ser enfermeiro, ser equipe de enfermagem, ser cliente/paciente, cuidado intensivo, sistema de informação em enfermagem, processo assistencial, diagnóstico de enfermagem, intervenções de enfermagem e necessidades humanas básicas. Utilizamos quatro etapas do processo de enfermagem: histórico, diagnóstico, intervenções e evolução de enfermagem. Para definir o banco de dados realizamos a construção dos diagnósticos e validamos as intervenções de enfermagem. Acreditamos que uma assistência de qualidade depende do conhecimento profissional em relação aos cuidados, a administração e ao processo de informatização da assistência. Rosso, E. G.1; Sifron, K. G.1; Bub, M. B. C.2 Trata-se de um relato de prática assistencial desenvolvido durante a VIII Unidade Curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Este trabalho foi desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Governador Celso Ramos, no período de 30 de agosto a 30 de outubro. Por meio deste estudo tivemos o propósito de prestar assistência de enfermagem ao cliente em condição grave de saúde e seus familiares; desenvolver habilidades administrativas; e, contribuir no processo de informatização na UTI. Também nos baseamos no protótipo de sistema de informática desenvolvido por Silva, Rodrigues, e Bub (2003) e no modelo de intervenções de enfermagem de Schmitz, Klauck, Vieira, e Bub (2004). O modelo assistencial que adotamos para o desenvolvimento de nossa prática Desenvolvendo habilidades administrativas e assistenciais de enfermagem em unidade hospitalar de cuidado ao paciente crítico. Rossetto, A.P.1; Pinheiro,G. C.1; Crestani, M. M.1; Nascimento, E. R. P.2; Gelbcke, F. L.2 Trata-se de um relato de prática assistencial desenvolvida durante a VIII Unidade Curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Prática essa realizada na Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Escola da Grande Florianópolis/SC, no período de 31 de março a 04 de junho de 2004. Teve como objetivo geral desenvolver habilidades administrativas e assistenciais na Unidade de Terapia Intensiva, buscando uma melhor qualidade na assistência ao indivíduo adolescente e adulto submetido aos cuidados intensivos em situação clínica ou cirúrgica. Além do desenvolvimento dessas habilidades trabalhamos, ainda, com a interação dos membros da equipe de enfermagem e com a educação continuada. Utilizamos como marco referencial para o cuidado a Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta, por ser o modelo adotado como metodologia de assistência no referido hospital, aliado ao modelo proposto por Benedet e Bub (2001) segundo a classificação diagnóstica da NANDA (North American Nursing Diagnosis Association), para o desenvolvimento do processo de enfermagem. E para subsidiar a nossa prática administrativa buscamos uma conceitualização em outros autores, entre eles Silva (2000), Marquis e Huston (1999) e Erdmann (2001). Entendemos que a busca pela melhora da condição de saúde dos pacientes, através de uma assistência qualificada, é a finalidade de uma UTI e para isso acreditamos ser essencial a união do cuidado, da administração e da educação. 98 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 Rumo a assistência de enfermagem informatizada em UTI – a definição de um banco de dados. Schmitz,L. M1.; Klauck,M. L1.; Vieira, T. T.1; Bub, M. B. C.2 Este trabalho é o relato de experiência de uma proposta assistencial ao ser humano em condição crítica de saúde, internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), associada à informatização da assistência de enfermagem por meio da definição do banco de dados. Dá continuidade ao Trabalho de Conclusão de Curso – Rumo à Assistência de Enfermagem Informatizada em UTI – a Construção de um Protótipo. È requisito da oitava fase curricular do curso de graduação em enfermagem da UFSC. As atividades assistenciais foram desenvolvidas na UTI do Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis, no período de 31 de março a 04 de junho de 2004. O marco conceitual que norteou este trabalho foi baseado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta e na proposta de diagnósticos de enfermagem de Benedet e Bub-2001, entre outros autores, de forma a adequá-lo à dinâmica da UTI. Usamos os conceitos de: ser humano, ambiente, saúde, enfermagem, cuidado Alimentos funcionais: um novo campo de trabalho para o farmacêutico Zimmermann, J. V.1; Leite, R. S.1; Campos, C. M. T.2 Os alimentos desempenham um papel importante na manutenção da vida do ser humano fornecendo os elementos nutricionais e calóricos necessários para o funcionamento do organismo. Nas últimas décadas, começou-se a observar um crescente interesse nos alimentos que apresentam componentes funcionais, aqueles que ajustam ou modulam o sistema fisiológico do organismo humano de modo a promover a saúde e prevenir doenças, além dos nutrientes. Atualmente, tem havido uma explosão do Desenvolvimento de anamnese estruturada para avaliar a relação do estresse com a doença cárie dental Amanta, C. J. Esta pesquisa trata da investigação da relação do estresse com a doença cárie dentária em pessoas. O objetivo geral foi desenvolver uma anamnese estruturada para verificar o nível de estresse decorrente das vivências pessoais nos pacientes com a doença cárie dentária. A hipótese básica foi que através de uma anamnese estruturada aplicada durante o exame clínico odontológico, o Cirurgião–Dentista poderia verificar se o nível de estresse está associado intensivo, processo assistencial e sistema de informação em enfermagem. Para prestar assistência com qualidade, nos baseamos nos princípios da bioética, código de ética da enfermagem e aspectos institucionais, além de aprofundar os nossos conhecimentos por meio da revisão de literatura e da participação do VII Simpósio Nacional de Diagnósticos de Enfermagem em Belo Horizonte, de 29 de maio a 1o de junho de 2004. Utilizamos quatro etapas do processo de enfermagem: histórico, diagnósticos, intervenções e evolução de enfermagem. Para definir o conteúdo do banco de dados, fizemos o levantamento dos diagnósticos de enfermagem dos seres humanos internados durante o período de estágio, das normas e rotinas da unidade e promovemos discussões com as enfermeiras experts. Após elaboramos uma lista de intervenções básicas de enfermagem para a unidade em questão. Além disso, aplicamos na prática o conteúdo das telas do protótipo (das etapas: histórico e evolução) e as validamos, sugerindo algumas alterações. Por fim, avaliamos o processo assistencial questionando aspectos da aplicação do marco conceitual, metodologia da assistência, viabilidade do banco de dados e da experiência pessoal. interesse dos consumidores no papel de alimentos específicos ou componentes fisiologicamente ativos. Apesar das evidências bioquímicas, clínicas e epidemiológicas crescentes, não há ainda para muitos dos alimentos funcionais, um consenso científico estabelecido, que suporte decisões no âmbito de políticas mais globais de saúde pública referente ao seu uso. Nesse cenário, o profissional farmacêutico encontra a oportunidade de se inserir de forma concreta e eficaz, pois tem uma formação que contempla à identificação de muitos desses compostos, à caracterização de sua estrutura molecular, aos mecanismos de suas ações biológicas e à elaboração de alimentos dirigidos às finalidades especiais de saúde. a doença cárie dentária. A coleta de dados foi realizada no Departamento de Estomatologia, da Universidade Federal de Santa Catarina, sendo que participaram desse estudo 121 pessoas, com idade igual ou superior a 21 anos, de ambos os sexos, sem limitações físicas ou mentais. Os sujeitos da pesquisa não possuíam doenças sistêmicas crônicas e não estavam realizando tratamento quimioterápico ou radioterápico, bem como durante o exame físico, não foi detectado o hábito de respirar pela boca ou a presença de aparelhos ortodônticos, próteses parciais fixas ou removíveis. Os dados coletados foram submetidos a análise multifatorial, sendo utilizado o programa SPAD 3.5. Após a análise, foi verificado que existe uma relação associativa entre o estresse e a 99 Resumos Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005 doença cárie dentária. Além deste achado científico, foi encontrado uma associação entre o estresse e a diminuição do fluxo salivar, a diminuição da freqüência dos hábitos de higiene bucal e o aumento da ingestão de alimentos. Recomenda-se a realização de novos estudos complementares com enfoque na transdisciplinaridade; o desenvolvimento de um referencial teórico para a prática da odontologia que possibilite a observação, interpretação e reflexão sobre a complexidade das pessoas, bem como uma recomendação especial ao Cirurgião-Dentista, para que, em sua prática, leve em consideração que as pessoas buscam neste encontro profissional, além do alívio para a dor presente no seu corpo-dental, um conforto para a sua mente. É importante também lembrar que a grande contribuição deste estudo para o Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção foi o fortalecimento de um grupo de trabalho transdisciplinar, que utilizou o seu conteúdo científico para a elaboração de um instrumento de trabalho para a prática do Cirurgião-Dentista e destinado a identificar o estresse, decorrente das vivências pessoais. 100 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 101-102, jan./dez. 2005 NORMAS EDITORIAIS CIÊNCIAS DA SAÚDE DA REVISTA 1.Serão aceitos, no máximo 2 (dois) artigos originais por autor que, destinados exclusivamente à Revista Ciências da Saúde, serão submetidos à avaliação e aprovação de uma Consultoria Científica e Comissão Editorial. 2.A Comissão Editorial assegura o anonimato do(s) autor(es) no processo de avaliação pela Consultoria Científica. 3.Um dos autores, pelo menos, deverá ser assinante(s) da Revista Ciências da Saúde. Anexar comprovante de assinatura. 4.Trabalhos apresentados em eventos (congressos, simpósios, seminários...) serão aceitos desde que não tenham sido publicados integralmente em anais e autorizados, por escrito, pela entidade organizadora do evento, quando as normas do mesmo assim o exigirem. 5.Excepcionalmente, serão aceitos trabalhos já publicados em periódicos estrangeiros, desde que autorizados pela Comissão Editorial do periódico onde o artigo tenha sido originalmente publicado. 6.A Consultoria Científica se reserva o direito de sugerir eventuais modificações de estrutura ou conteúdo do trabalho, que serão acordadas com os autores. Não serão admitidos acréscimos ou alterações após o envio para composição editorial. 7.As opiniões emitidas nos trabalhos, bem como a exatidão, adequação e procedência das citações bibliográficas, são de exclusiva responsabilidade dos autores. 8.A revista classificará os textos encaminhados de acordo com as seguintes seções: 8.1. EDITORIAL – matéria de responsabilidade da Comissão Editorial da Revista. 8.2. ARTIGOS ORIGINAIS: a) PESQUISA – constará de relatos de investigações científicas concluídas. b) REVISÃO – abrangerá revisões de literatura sobre temas específicos. c) RELATO DE EXPERIÊNCIA/CASOS CLÍNICO – incluirá descrições de atividades acadêmicas assistenciais e de extensão. d) REFLEXÃO – apresentará materiais de caráter opinativo e/ou análise de questões que possam contribuir para o aprofundamento de temas relacionados à área a que se destina a revista. 8.3 – OUTRAS SEÇÕES – a) ENTREVISTA – espaço destinado a entrevistas de autoridades/especialistas/pesquisadores. b)TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO/ DISSERTAÇÕES DE MESTRADO E TESES DE DOUTORADO – RESUMOS E ABSTRACT c) PÁGINA DO LEITOR. 9. NORMAS DE APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS 9.1 – FORMATO – O trabalho deverá ser encaminhado em 02 (duas) vias. Na digitação deverá ser utilizado espaço 1,5; com margem esquerda 3cm; margem direita (superior e inferior) 2cm; letra Times New Roman, tamanho 12, observando a ortografia oficial, editor Word For Windows. O título deverá ser em caixa alta, negrito, espaço 1,5 simples? e justificado. Os autores deverão estar abaixo do título do artigo, em negrito, espaço simples? e em caixa baixa. O texto deverá conter seus respectivos títulos, de acordo com as características do trabalho (ex. Artigo de pesquisa: Introdução, Métodos, Resultados e Discussão, etc.), formatados em caixa baixa, negrito. É obrigatório o envio de disquete ou CD-ROM na segunda etapa do trabalho quando da devolução do artigo corrigido pelo autor. 9.2 – PADRÃO DE APRESENTAÇÃO – a) ARTIGOS ORIGINAIS – redigidos de acordo com as normas da Revista do CCS devendo conter no máximo 10 laudas de texto e observar o que segue: Título do artigo em português (caixa alta) e inglês (caixa baixa) e entre colchetes. Nome(s) completo(s) do(s) autor(es). Em nota de roda pé a(s) credencial(is) e local de atividade do(s) autor(es) (espaço 1,5), email para correspondência. Resumo indicativo em português, de acordo com as normas da Revista do CCS, com até 100 palavras, em espaço 1,5. Palavras-chave - palavras ou expressões que identifiquem o artigo. Para determinação das palavras-chave consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde – DECS-LILACS”, elaborada pela BIREME e/ou “Medical Subject Heading – Comprehensive Medline”. Texto – incluindo ilustrações (quadros, fotos, modelos, mapas, desenhos, gravuras, esquemas, gráficos e tabelas), com seus respectivos títulos e fontes (quando houver). Exceto gráficos e tabelas, todas as ilustrações deverão ser designadas como figuras. As despesas com os fotolitos de figuras somente coloridas serão de responsabilidade dos autores Abstract – tradução do resumo em inglês, em espaço 1,5. Keywords – tradução dos unitermos para o inglês. Referências Bibliográficas: serão baseadas nas normas NBR 101 Normas de Publicação Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 101-102, jan./dez. 2005 6023 da ABNT 2002, ordenadas alfabeticamente pelo sobrenome do autor e numeradas em ordem crescente. As referências deverão ser inseridas no texto em ordem numérica crescente, bem como em ordem de aparecimento do(s) autor (es) e sobrescrito. No setor de referências, estas deverão aparecer apenas em ordem numérica crescente. A citação no texto obedecerá a esta numeração. EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS Livros DINA, Antonio. A fábrica automática e a organização do trabalho. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. 132 p. Dicionários AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Delta, 1980. 5 v. Jornadas/Reuniões/Conferências/Workshop JORNADA INTERNA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 18., JORNADA INTERNA DE INICIAÇÃO ARTÍSTICA E CULTURAL; 8., 1996, Rio de Janeiro. Livro de Resumos do XVIII Jornada de Iniciação Científica e VIII Jornada de Iniciação Artística e Cultural. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996. 822 p. ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN SOCIETY OF INTERNATIONAL LAW, 65., 1967, Washington. Proceedings...Washington: ASIL, 1967. 227 p. CONFERÊNCIA NACIONAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, 11., 1986, Belém. Anais…[S. l.]: OAB, [1986?]. 924 p. WORKSHOP DE DISSERTAÇÕES EM ANDAMENTO, 1., 1995, São Paulo. Anais… São Paulo: ICRS, USP, 1995. 39 p. Tese/dissertação RODRIGUES, M. V. Qualidade de vida no trabalho. 1989. 180 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1989. Trabalho apresentado em congresso PRADO, Afonso Henrique Miranda de Almeida. Interpolação de imagens médicas. In: WORKSHOP DE DISSERTAÇÕES EM ANDAMENTO, 1., 1995, São Paulo. Anais…São Paulo: IMCS, USP, 1995. p.2. Leis e Decretos BRASIL. Decreto n. 89.271, de 4 de janeiro de 1984. Dispõe sobre documentos e procedimentos para despacho de aeronave em serviço internacional. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo, v. 48, p. 3-4, jan./mar.,1. trim. 1984. Legislação Federal e marginália. BRASIL. Lei n. 9273, de 3 de maio de 1996. Torna obrigatório a inclusão de dispositivo de segurança que impeça a reutilização das seringas descartáveis. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo, v. 60, p. 1260, maio/jun., 3. trim.1996. Legislação Federal e marginália. Capítulo de Livro NOGUEIRA, D. P. Fadiga. In: FUNDACENTRO. Curso de médicos do trabalho. São Paulo, 1974. v.3, p. 807-813. Artigo de Revista com dois ou três Autores ESPOSITO, I. SAAH, G., OLIVER, T. Repercussões da fadiga psíquica no trabalho e na empresa. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 8, n. 32, p. 37-45, out./dez. 1979. Artigo de Revista com mais de três Autores ESPOSITO, I. et al. Repercussões da fadiga psíquica no trabalho e na empresa. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 8, n. 32, p. 37-45, out./dez. 1979. Outros tipos de Referência Consultar “Como fazer Referências Bibliográficas” pelo endereço eletrônico: http://www.bu.ufsc.br/ 10.O(s) autor(es) deverão encaminhar o artigo para análise acompanhado de uma carta com os seguintes dizeres: [Cidade, data] À Comissão Editorial Revista Ciências da Saúde Os autores abaixo assinados, transfere com exclusividade, os direitos de publicação, na Revista de Ciências da Saúde do artigo intitulado: (escrever o título do artigo) e garantem que o artigo é inédito e não está avaliada ou foi publicado por outro periódico. (incluir nome completo de todos os autores, endereço postal, telefone, fax e assinaturas rrespectivas) 102 103