Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e

Transcrição

Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e
Disciplina positiva na sala de aula Inclusiva e amiga da aprendizagem: um
guia para professores e formadores de professores
Banguecoque: UNESCO Bangkok, 2006
(Na versão original, vi+110 páginas)
(Adotar a diversidade: Manual Especializado 1 de Ferramentas para criar
ambientes inclusivos e amigos da aprendizagem)
1. Educação inclusiva. 2.Salas de Aula. 3.Guia para professores. 4.Castigo
corporal. 5.Disciplina positiva.
ISBN 92-9223-086-7
© UNESCO 2006
Publicado por:
UNESCO Departamento Regional para a Ásia e Pacífico
920 Sukhumvit Rd., Prakanong,
Bangkok 10110, Tailândia
Impresso na Tailândia
As designações utilizadas e a apresentação do material ao longo da publicação
não implicam, de modo algum, a expressão de qualquer opinião por parte da
UNESCO sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, cidade ou
área ou das suas autoridades ou sobre as suas fronteiras ou limites.
APL/06/OS/21-500
Texto traduzido do Inglês por Ana Cachado, Dinah Mendonça, Ana Maria
Bénard e José Vaz Pinto
Revisão e arranjo gráfico de José Vaz Pinto
Capa de Valdemar Lopes
Associação Cidadãos do Mundo – Rede Inclusão - Portugal
Ano de 2013 - Maio
Adotar a diversidade: Ferramenta para criar
ambientes inclusivos e amigos da aprendizagem
Manual Especializado 1
A Disciplina Positiva
na Sala de Aula
Inclusiva e Amiga da
Aprendizagem
Um guia para professores e formadores
de professores
“Este manual é dedicado ao
trabalho do Secretário-geral das
Nações Unidas sobre a Violência
contra as Crianças (Resolução
UNGA 57/190) que é baseado no
direito humano das crianças à
proteção face a todas as formas
de violência. O Manual pretende
promover ações que previnam e
eliminem a violência contra as
crianças nas escolas e ambientes
educativos”
Prefácio
Para as crianças de muitos países, o castigo corporal faz parte da experiência
quotidiana: é também uma forma de abuso da criança. O castigo corporal
consiste em violência deliberadamente infligida às crianças e ocorre a uma
escala gigantesca. Em muitos países do mundo ainda continuam a vigorar
prerrogativas legais para os professores que batem nas crianças. Contudo, o
castigo corporal não tem sido considerado eficaz, especialmente no longo
prazo, e provoca na criança sentimentos de vergonha, culpa, ansiedade,
agressão, falta de independência, e perda de estima pelos outros e, assim,
maiores problemas para os professores, cuidadores/auxiliares e outras
crianças.
Uma das maiores razões que faz com que persista o castigo corporal é os
professores não compreenderem que ela é diferente de “disciplina”. Enquanto
o castigo corporal procura fazer parar a criança de se comportar de
determinado modo, as técnicas da disciplina positiva podem ser utilizadas
para ensinar à criança comportamentos novos e corretos sem passar pelo
medo da violência. Outra razão importante é que os professores geralmente
não são sensibilizados para as razões das crianças se portam mal e como
podem ser disciplinados de forma positiva partindo desses comportamentos.
Muitas vezes, quando uma criança sente que as suas necessidades não estão a
ser satisfeitas, como por exemplo a necessidade de atenção, ela ou ele portase mal. A frustração que o mau comportamento provoca, e a falta de
competência para lidar com a situação, leva alguns professores a bater nas
suas crianças e a usar o castigo corporal ou formas de humilhação de punição
emocional.
Este guia para professores e formadores prolonga a publicação da UNESCO
“Adotar a Diversidade: Ferramentas para Criar Ambientes Inclusivos e
Amigos da Aprendizagem (Manuais AIAA). É um manual especializado cujo
objetivo é ajudar os professores, gestores e responsáveis pela educação a
lidar de forma correta com os alunos na sala de aula apontando caminhos não
violentos par lidar com comportamentos disruptivos de forma positiva e
proactiva. Apresenta ferramentas de disciplina positiva que serão
alternativas concretas às práticas punitivas como reguadas, palmadas,
beliscões, ameaças, discussões, subornos, gritos, prepotências, chamar
nomes, trabalhos exagerados e outras ações ainda mais humilhantes.
Este Guia é realmente um produto coletivo. Primeiro, foi feito um rascunho;
depois, este foi revisto por George Attig do Instituto de Nutrição, da
Universidade de Mahidol, que também trabalhou como consultor para a
UNESCO na inclusão educativa e o género, bem como consultor do
Departamento Regional do UNICEF para a Ásia Oriental e Pacífico (EAPRO) e
para o “Save the Children” no desenvolvimento de escolas amigas das
crianças. Este Guia beneficiou também de comentários e sugestões de
formadores de todo o mundo. A UNESCO Bangkok gostaria de agradecer a
todos eles pelas suas contribuições. O mais simples contributo foi tido em
conta e concorreu para o enriquecimento deste guia, bem como para o Manual
AIAA. Ochirkhuyag Gankhuyag coordenou o projeto na qualidade de Assessor
de Programas do Departamento Regional da UNESCO para a Ásia Oriental e
Pacífico.
Sheldon Shaeffer
Diretor, Departamento Regional de Educação da UNESCO para a Ásia e
Pacífico.
Índice
Visão global ................................................................................... 1
O NOSSO DESAFIO............................................................................................................................ 1
O QUE É UMA “SALA DE AULA INCLUSIVA E AMIGA DA APRENDIZAGEM”? ................ 2
PARA QUE SERVE ESTE DOCUMENTO ......................................................................................... 4
O QUE IRÁ APRENDER? .................................................................................................................... 5
Compreender o Castigo “versus” Disciplina ................................................. 8
PASSADO E PRESENTE DAS CRIANÇAS ..................................................................................... 8
O SIGNIFICADO DO CASTIGO (PUNIÇÃO) .............................................................................10
O SIGNIFICADO DE DISCIPLINA ...............................................................................................21
DISCIPLINA POSITIVA NA SALA DE AULA ........................................................................... 26
EVITAR O DILEMA DA DISCIPLINA ..........................................................................................31
Construindo relações positivas entre professor e aluno .................................. 34
AS BASES DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO........................................................................ 34
PORQUE SE COMPORTAM ASSIM AS CRIANÇAS ................................................................. 35
PORQUE SE PORTAM MAL AS CRIANÇAS? ............................................................................. 38
APRENDER SOBRE OS SEUS ALUNOS ...................................................................................... 42
COMPREENDER O CONTEXTO DAS VIDAS DOS SEUS ALUNOS ..................................... 45
INVESTIGAÇÃO SOBRE AS FAMÍLIAS DOS ESTUDANTES ............................................. 53
COMUNICAÇÃO PAIS-PROFESSOR ............................................................................................ 57
ESTRATÉGIAS DE APOIO ..............................................................................................................61
Criação de um Ambiente de Aprendizagem Positivo e com Apoios....................... 63
GESTÃO DA AULA NUM SIAA ..................................................................................................... 63
TORNAR O AMBIENTE DE APRENDIZAGEM CONFORTÁVEL ............................................ 64
CRIAR ROTINAS NA AULA ........................................................................................................... 67
CRIAÇÃO DE REGRAS PARA A SALA DE AULA COM OS ALUNOS E OS PAIS .............. 69
NORMAS PARA O COMPORTAMENTO E BOA GESTÃO ........................................................ 73
OFERECER REFORÇO POSITIVO ................................................................................................. 79
Lidar com alunos problemáticos ............................................................ 83
MELHORAR A EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE DISCIPLINA POSITIVA .......................... 83
DICAS DISCIPLINARES POSITIVAS ........................................................................................ 84
DICAS POSITIVAS PARA O ENSINO NA SALA DE AULA .................................................. 88
UTILIZAR CONSEQUÊNCIAS ADEQUADAS, POSITIVAS OU NEGATIVAS ................ 90
CAUTELA NO USO DA “SAÍDA DA SALA DE AULA” ..............................................................91
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ....................................................................................................... 93
ENSINO EM FUNÇÃO DA IDADE E DISCIPLINA POSITIVA ............................................ 95
APOIO A CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS ................................................... 100
Leituras aconselhadas .................................................................... 105
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
1
Visão global
O NOSSO DESAFIO
As crianças chegam a este mundo desprotegidas e incapazes de se
desenvolveram adequadamente sem a nossa intervenção. Como professores, a
nossa tarefa é criá-las e ensiná-las como viver. Não é uma tarefa fácil. Nuns
dias, as nossas aulas são excitantes, divertidas, e espaços alegres para
aprender para os nossos alunos e para nós próprios. Noutros dias, podemos
sentir-nos tensos e inseguros sobre a nossa capacidade para realizar o nosso
trabalho. Ser professor raramente é uma tarefa aborrecida; mas ser
professor é também o trabalho mais importante alguma vez feito.
Sabemos quão difícil o ensino pode ser. Também sabemos quanto se interessa
pelos seus alunos. Mas as crianças não trazem manual de instruções. Ao
contrário dos pais, você é responsável por muitas crianças ao mesmo tempo,
não apenas algumas, e todas são de algum modo únicas. Elas também nem
sempre se comportam da forma que você queria. Parece que, o que você
pensava que funcionava com dada turma, esses alunos desapareceram,
substituídos por um novo conjunto de rostos com um novo conjunto de
alegrias e desafios.
Todos os professores quererão o melhor para os seus alunos e estarão
preocupados em fomentar a confiança nas suas capacidades e aumentar a sua
autoestima. Mas quando os seus alunos não lhe prestam atenção, recusam
fazer o que lhes pede, provocam-no ou ignoram-no, é fácil ficar aborrecido e
frustrado. Quando isto acontece, ou melhor antes, volte-se para este
documento de ajuda. Ele fornece-lhe formas de lidar com este desafio de
forma positiva e proactiva, prevenindo o mau comportamento antes que ele
comece, lidando eficazmente com desafios inesperados, e encorajando os
seus alunos a ouvir e a cooperar numa sala de aula inclusiva e amiga da
aprendizagem. As ferramentas da disciplina positiva aqui apresentadas são
alternativas concretas às práticas punitivas como reguadas, palmadas,
beliscões, ameaças, discussões, subornos, gritos, prepotências, chamar
nomes, trabalhos exagerados e outras ações ainda mais humilhantes.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
2
O QUE É UMA “SALA DE AULA INCLUSIVA E AMIGA DA
APRENDIZAGEM
”?
Quando entramos nas nossas salas, vemos os rostos das crianças que estamos
a ensinar. Mas temos de nos lembrar que estas crianças poderão não ser
todas aquelas que era suposto estarem na nossa aula. Poderá haver outras
que não estão incluídas porque não são capazes de chegar até à escola.
Outras, que estão fisicamente lá, mas que se sentem como não fazendo parte
dela e realmente podem não “participar” na turma ou podem “portar-se mal”.
Uma sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem (SIAA) acolhe, apoia e
educa todas as crianças independentemente do seu género, caraterísticas
físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Poderão ser
crianças sobredotadas, ou crianças com dificuldades físicas ou de
aprendizagem. Poderão ser crianças de rua ou trabalhadoras, de minorias
étnicas ou culturais, crianças infetadas com VIH/SIDA, ou crianças oriundas
de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginalizados.1 Uma SIAA é, assim,
uma Sala de Aula na qual o professor apreende o valor desta diversidade da
turma e toma medidas para assegurar que todas as meninas e rapazes
estejam na escola.2
Mas trazer todas as crianças para as salas de aula é somente metade do
desafio. A outra metade é satisfazer todas as suas diferentes necessidades
de aprendizagem e comportamento para que eles queiram permanecer nas
nossas turmas. Todas as turmas são diferentes tanto no tipo de crianças que
ensinamos e nas formas como eles aprendem. Precisamos de ter em
consideração o que cada criança necessita de aprender, como ele ou ela
aprende melhor, e como nós - como professores - poderemos construir
relações positivas com cada criança de forma a eles quererem ativamente
aprender connosco. É igualmente importante que descubramos como pôr as
crianças a querer aprender juntas.
As crianças comportam-se e aprendem de diferentes formas devido a
fatores hereditários, ao ambiente em que vivem, ou às suas próprias
UNESCO. Apoiar a Diversidade: Manual para Criar Ambiente Inclusivos e Amigos da
Aprendizagem. Bangkok, 2004.
1
UNESCO. “Manual de Apoio 3: Conseguir que todas as crianças tenham acesso à escola e à
educação. Apoiar a Diversidade: Ferramenta para Criar Ambientes Inclusivos e Amigos da
Aprendizagem. Bangkok, 2004.
2
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
3
necessidades pessoais ou psicológicas.3 Muitas vezes, quando a criança sente
que as suas necessidades não estão a ser satisfeitas, tais como a necessidade
de atenção, ela poderá “comportar-se mal”. Assim, precisamos de
compreender porque a criança se comporta desse modo de forma a nós
podermos tentar prevenir esse “mau comportamento” antes que ele apareça e
utilizar diferentes meios para orientar o seu comportamento de uma forma
positiva. As salas de aula podem, assim, tornar-se lugares inclusivos,
acolhedores e agradáveis para todas as crianças poderem aprender e locais
em que o mau comportamento seja raro. Poderemos assim ter mais tempo
para ensinar e aprender com os nossos alunos.
No início, isto pode ser uma ideia assustadora. Muitos de vós trabalharão com
turmas numerosas, ou mesmo com alunos de anos diferentes e podem
interrogar-se, “Como posso eu utilizar métodos diferentes de ensino e
disciplina para os ajustar a cada criança em particular quando eu tenho mais
de 60 crianças na minha turma? “ Na verdade, a frustração causada por esta
situação e a nossa falta de competências para lidar com ela, pode levar alguns
de nós a bater nos nossos alunos e a recorrer a castigos de forma a conter o
mau comportamento, seja o recurso ao castigo corporal ou procedimentos
humilhantes de punição emocional. Na nossa frustração, geralmente
esquecemos que as crianças se portal mal por diversas razões. Algumas
dessas razões podem ser pessoais; outras podem ser o resultado da forma
como eles estão a ser ensinados, como no caso de eles se aborrecerem com as
lições ou as longas palestras; outras, ainda, resultam de fatores externos
associados com a família e a comunidade que podem provocar no aluno
frustração e tristeza. Além disso, em alguns casos e particularmente entre
os professores novos, um dado incidente pode ser interpretado como um
problema de disciplina quando na verdade não o é; por exemplo, quando uma
pergunta de um aluno é percebida como um desafio à nossa autoridade ou
conhecimento, mas, de facto, a criança terá simplesmente dificuldade em
apresentar a questão de forma adequada e delicada. Esta errada apreciação –
ou equívoco – geralmente origina irritação entre os alunos, que causa um real
problema de disciplina.4
3
UNESCO. “Booklet 4: Creating Inclusive, Learning-Friendly Classrooms”. Embracing
Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.
4
Know When to Discipline! Wire Side Chats.
http://www.educationworld.com/a_issues/chat/chat020.shtml [acesso online em
10/4/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
4
Em todo o caso, a tentação existe sempre para optar pela “solução mais fácil”
de utilizar uma severa punição para enfrentar e parar – mas não
necessariamente corrigir – o mau comportamento da criança. Mas
afortunadamente, o mau comportamento e o recurso ao castigo podem ser
prevenidos quando você cria um ambiente de aprendizagem bem organizado
no qual os seus alunos estão empenhados e ativos na sua aprendizagem.
O objetivo de uma sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem é
estimular os alunos: Os alunos que participam ativamente e
alegremente na aprendizagem na sala de aula têm poucos problemas
de disciplina.5 Eles querem estar lá, e eles fazem o que for
necessário para permanecer lá.
PARA QUE SERVE ESTE DOCUMENTO
O objetivo deste documento é ajudá-lo a conseguir a meta acima enunciada.
Você poderá ser um professor experimentado que quer adotar práticas de
disciplina positiva, mas que necessita de orientação sobre como o fazer. Você
poderá ser um aluno de uma instituição de formação de professores e que
está a estudar como lidar de forma eficiente com o comportamento dos
alunos. Você poderá ser um professor que trabalha na formação de outros
colegas e que está a ensinar disciplina positiva seja a futuros professores ou
na formação em serviço. Este documento será especialmente útil para aqueles
de vós que estão a trabalhar em escolas que estão a começar a evoluir para
ambientes escolares mais centrados na criança e amigos da aprendizagem. Em
muitos países, estas escolas são designadas por “Escolas Amigas das
Crianças”, escolas essas em que a inclusão de todas as crianças na escola e a
prevenção da violência para com elas são os princípios fundamentais de
orientação, mas, em muitos casos, necessitam de apoio e reforço das técnicas
para os desenvolver.
Alguns de vós poderão também trabalhar em salas de aula grandes com
turmas numerosas. Uma turma é “grande” se você a sente como tal. Embora
uma turma de mais de 50 alunos seja geralmente considerada uma turma
numerosa, para os professores que geralmente trabalhem com 25 ou menos
alunos, uma turma de 35 poderá ser considerada grande e assustadora. As
ferramentas e recursos apresentados neste documento podem
ajudá-lo
a
gerir
de
forma
eficaz
os
seus
alunos,
5
Caught in the Middle: A Perspective of Middle School Discipline.
http://people.uncw.edu/fischettij/david.htm [acesso online em 10/6/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
5
independentemente do número de alunos que tenha nas suas turmas
e da quantidade de problemas de comportamento.
Fundamentalmente, as ferramentas deste manual serão proveitosas para
aqueles de vós que estejam a viver reformas de política introduzidas pelo
Ministério da Educação e, especialmente, em países em que as políticas
tenham sido implementadas, ou estejam a sê-lo, no sentido de condenar o uso
do castigo corporal dos alunos. Em apoio destas políticas, existem muitas
publicações que defendem a proibição do castigo corporal e os benefícios daí
resultantes em termos de assegurar todos os direitos das crianças relativos
a uma educação básica de qualidade em ambientes seguros, saudáveis e
participativos, como refere a Convenção os Direitos da Criança (CDC), das
Nações Unidas. Infelizmente, porém, muitos professores têm um acesso
muito limitado aos recursos sobre como conseguir isso, ou seja, como
disciplinar as crianças de forma positiva e dispensar a violência para com elas
nas escolas e salas de aula. Para aqueles de vós envolvidos em processo de
reforma, professores em início de carreira e seus formadores, ou aqueles que
simplesmente queiram deixar de utilizar totalmente os castigos corporais,
este documento será uma ferramenta muito útil na aprendizagem sobre como
adotar uma disciplina positiva nas vossas salas de aula.
O QUE IRÁ APRENDER?
A experiência tem demonstrado que um dos maiores temas de preocupação
para os professores é o seu sentimento de inadequação na gestão do
comportamento dos alunos.6 E isto não é nada de espantar. Embora existam
muitas orientações sobre o assunto, não existe uma fórmula mágica que lhe
dê de forma automática as competências que você necessita par levar a cabo
esta importante tarefa. Estas competências são aprendidas e desenvolvidas
ao longo do tempo. Alem disso, cada professor sabe que as competências e
estratégias corretas podem fazer a diferença entre uma sala de aula calma e
uma sala de aula caótica. Os professores em SIAA (Salas de Aula Inclusivas
e Amigas da Aprendizagem) bem organizadas, nas quais todas as crianças
estão aprendendo ativamente e seguindo regras e rotinas claramente
definidas, gastam menos tempo em tarefas disciplinadoras e mais em tempo
de ensino.
6
Classroom Management, Management of Student Conduct, Effective Praise Guidelines, and
a Few Things to Know About ESOL Thrown in for Good Measure.
http://www.adprima.com/managing.htm [atualizado em Abril 3, 2005] [acesso online em
10/5/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
6
Este documento tem cinco partes principais. Cada uma apresenta
ferramentas que pode utilizar para criar um ambiente de aprendizagem ativo
e positivo para os seus alunos, no qual você orienta os seus comportamentos
eficientemente, em vez de simplesmente reagir negativamente. Estas
ferramentas foram desenvolvidas por professores e especialistas de
educação com base na experiência e têm sido utilizadas atualmente com
sucesso nos ambientes de aprendizagem tanto com alunos novos como mais
velhos. Também o incentivamos a explorar as referências citadas neste
documento para obter mais informação. Elas são recursos excelentes pelas
ideias que proporcionam e aqui lhes deixamos o nosso agradecimento.
Nesta secção você pôde aprender sobre os desafios do ensino, o que é uma
“sala de aula inclusiva e amiga da aprendizagem”, e qual é o seu objetivo. Nas
secções seguintes, você vai aprofundar o processo da disciplina positiva. Este
processo compreende quatro elementos essenciais e cada um constituirá o
tema de cada uma das secções específicas seguintes deste documento.
(a) Compreensão da diferença entre castigo e disciplina. Nesta secção,
irá aprender os verdadeiros significados de “castigo” e “disciplina”,
a natureza e consequências do castigo corporal, e o poder da
disciplina positiva.
(b) Uma relação positiva e de apoio entre o professor e o aluno, uma
base para a compreensão e empatia. Nesta secção, aprenderá
porque os alunos se comportam como tal e porque se portam mal.
Aprenderá o que são os seus alunos pela perspetiva deles, como o
contexto de que são oriundos pode afetar este comportamento e a
sua interpretação dele, bem como a importância em envolver a
família de cada criança no desenvolvimento do seu comportamento.
Também aprenderá algumas estratégias de incentivo importantes.
(c) Criação de ambiente positivo e “apoiante” para os seus alunos e para
si próprio. Devem desenvolver-se comportamentos apropriados nos
ambientes de aprendizagem da sala de aula bem organizada e gerida.
Nesta secção aprenderá sobre como gerir o ambiente físico da sua
sala de aula, de forma a ser confortável para a aprendizagem e
fomentadora de bom comportamento, mesmo se a sua turma tiver
muitos alunos. Também aprenderá a importância de estabelecer
rotinas e padrões de comportamento para os seus alunos, bem como
o envolvimento dos pais na gestão do comportamento dos seus
filhos. Uma vez que você é um modelo e exemplo importante para os
seus alunos, você também irá descobrir coisas sobre o seu estilo de
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
7
gestão e como o melhorar, bem como formas de proporcionar
reforços positivos para os seus alunos.
(d) Conhecimento de formas construtivas para parar comportamentos
inadequados quando eles aparecem, bem como maneiras de os
prevenir. Todos os alunos têm comportamentos inapropriados até
certo ponto nalguma altura da sua vida escolar. Como forma de
testar os seus limites, torna-se um elemento importante no
desenvolvimento do seu autocontrolo. Nesta secção final do
documento, você aprenderá diferentes formas de lidar com
comportamentos provocantes, bem como forma de os prevenir e
como resolver conflitos. Também aprenderá algumas técnicas
específicas de disciplina positiva em função da idade, bem como as
adequadas a crianças com necessidades especiais.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
8
Compreender o Castigo “versus”
Disciplina
O que vai aprender:
♦ O Passado e Presente das Crianças
♦ O que é o “Castigo”
♦ Os Perigos do Castigo Corporal
♦ O que é “Disciplina”
♦ Disciplina Positiva: O que é e Como Funciona
PASSADO E PRESENTE DAS CRIANÇAS
O Passado
“As crianças agora gostam do luxo, têm maus modos, desprezam a autoridade,
expressam falta de respeito pelos mais velhos, e preferem conversar em vez
de fazer exercício. As crianças agora são os tiranos, não os servidores dos
seus lares. Já não se levantam quando os mais velhos entram na sala. Elas
contradizem os seus pais, trocam mensagens em vez de conviver, devoram
guloseimas à mesa, cruzam as pernas, e tiranizam os seus professores.”
Estas afirmações foram feitas por Sócrates, um filósofo Ateniense que viveu
de 469 a 399 AC.7 Acha que, entretanto, mudou alguma coisa?
7
Classroom Management. http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-intro.html [acesso
online em 10/20/2005]
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
9
O Presente:
resente: O Caso de
d Ramon8
“Eu não vou às aulas deste homem! Eu não tenho
tenho de fazer o que dizes!”
“Eu nem deveria estar nesta turma: a minha mãe diz que eu deveria estar
numa escola de ensino especial. Eles dizem que eu tenho dificuldades de
aprendizagem e tenho PHDA, ou que isso seja.” (PHDA é Perturbação de
Hiperatividade com Défice de Atenção).
Ele corre pelo corredor batendo noutras crianças e professores, entra na
sala de aula da manhã dizendo desde logo o que não vai fazer, e grita ou corre
pela sala sempre que lhe apetece. Ele chama os seus colegas por “clube dos
burros”” e acusa outros seis colegas do sexto ano de cometerem atos de que
eu nem sequer tinha ouvido falar até ao meu 3º ano de faculdade. …
Este é o aluno da minha turma, o “Ramon”. Sinto-me
Sinto me irritado com este
comportamento. Apetece-me
Apetece
odiá-lo, mas acima de tudo,
o, estou frustrado com
ele, com a minha falta de competências, e o sistema. … Deixei a escola nesse
dia em lágrimas, mal do meu estômago por causa desta criança.
O Que Você Faria?
O caso do Ramon, embora sendo uma situação de extrema gravidade, não é
raro. Virtualmente
ualmente todos nós já nos confrontámos com alunos que desafiaram
a nossa autoridade ou que “destroçaram” as nossas aulas e perturbaram os
nossos alunos de diversas formas. O Ramon necessita desesperadamente de
disciplina, mas que alternativas existem?
Atividade de reflexão: Como foi a disciplina para SI?
SI
Pense no passado quando você estava na sua escola primária. Se você ou algum
dos seus colegas se comportava mal como o Ramon, que métodos de disciplina
teria, ou usou, o seu professor? Escreva esses métodos no quadro abaixo
apresentado. Depois, escreva como
como se sentiu sobre a utilização destes
métodos, bem como se pensou sobre se eles eram eficazes a longo prazo.
8
Este estudo de caso é adaptado do diário de Ellen Berg, uma professora de artes da
linguagem em Turner Middle School, St. Louis, Missouri, USA.
http://www.middleweb.com/msdiaries01/MSDiaryEllenB6.html [acesso
[acesso online em
10/6/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
10
Como pensa que a criança se sentiu? Observou ou sentiu uma alteração
duradoura no comportamento?
Depois, pergunte-se a si próprio, “ Se tivesse um aluno como o Ramon, o que é
que eu faria, e porquê?” Pensa que isso seria eficaz em prevenir maus
comportamentos futuros? Escreva também abaixo os seus pensamentos. Os
seus métodos são semelhantes aos dos seus professores?
Método
disciplinar
Porque foi
utilizado este
método?
O método era sempre eficaz
a longo prazo? Como se
sentiu a criança?
As ações dos seus
professores
As suas ações
Em muitos países e salas de aula, o Ramon seria fisicamente punido pelo seu
mau comportamento, provavelmente seria açoitado com uma vara ou outro
objeto do género. Que métodos teriam usado os vossos professores? E você
que métodos teria usado?
Ao preencher a coluna “Porque foi utilizado este método?” do quadro acima,
não será surpresa se muitas das vossas respostas forem “Punir a criança pelo
seu mau comportamento” ou “parar o seu mau comportamento”. De igual
forma, na última coluna em “O método era sempre eficaz a longo prazo?”
muitos de vós – se refletiram algum tempo e seriamente - provavelmente
reponderam “Não”. Mais cedo ou mais tarde, esta mesma criança repete o
mau comportamento, geralmente do mesmo modo. Porquê? A resposta reside
na diferença entre o castigo e a disciplina.
O SIGNIFICADO DO CASTIGO (PUNIÇÃO)
O castigo é uma ação (pena) que é imposta à pessoa por infringir uma regra
ou exibir uma conduta inadequada. O castigo procura controlar o
comportamento através de meios negativos. Geralmente são utilizados dois
tipos de castigo com as crianças:
1. Castigo através de repreensões e censuras verbais negativas; este tipo
de castigo é também designado por disciplina negativa.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
11
2. Castigo através da dor intensa física ou emocional, como no caso do
castigo corporal.
Infelizmente, os dois tipos de castigo centram-se no mau comportamento e
pouco ou nada podem fazer para ajudar a criança a comportar-se melhor no
futuro. Além disso, a criança aprende que o adulto é o que manda, e o uso da
força – seja verbal, física ou emocional – é aceitável, especialmente sobre as
pessoas mais novas e mais fracas. Este ensinamento pode conduzir a
ocorrências de agressão entre pares bullying e violência na escola, onde as
crianças mais velhas dominam as mais novas e forçam-nas a dar aos valentões
dinheiro, comida, trabalhos de casa, ou outros artigos de valor.
Além disso, em vez de conduzir a criança a interiorizar o controlo, estes
tipos de castigo fazem com que ela fique zangada, ressabiada e medrosa.
Também causam vergonha, culpa, ansiedade, exacerbar da agressão, perda de
independência e perda do carinho dos outros, e, assim, maiores problemas
para os professores, prestadores de apoio e para as outras crianças.9
Castigo Verbal e Lidar com a Irritação
A disciplina negativa é uma forma de castigo destinada a controlar o
comportamento do aluno, mas muitas vezes ela consiste em ordens ou
declarações verbais curtas e não se traduz numa sanção, geralmente grave,
como o ser sovado ou dolorosamente humilhado. Os professores que não
recorrem ao castigo corporal poderão em sua vez recorrer a alguns tipos de
disciplina negativa. Mas, tal como no castigo corporal, estes também pode
provocar que as crianças fiquem irritadas e agressivas ou baixem a sua
autoestima. Estas estratégias negativas compreendem:
Ordens – “Senta-te e fica quieto!” “Escreve 100 vezes, “Eu não irei
desperdiçar o meu tempo em tarefas inúteis””.
Declarações de proibição – “Não faças isso!”.
Declarações repentistas e irritadas – “Estás mais lixado do que tu
pensas”.
Declarações satirizantes – “Isto é o melhor que consegues fazer!”
9
Positive Guidance and Discipline.
http://www.ces.ncsu.edu/depts/fcs/smp9/parent_education/guidance_discipline.htm
[acesso online em 10/10/2005]
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
12
Declarações ameaçadoras – “Se não te calas, mando-te
te ao gabinete do
diretor”.
Declarações de desprezo – “Alguma vez aprenderás a escrever como
deve ser?”.
Muitas vezes, utilizamos estas estratégias negativas, bem como o castigo
corporal, quando estamos zangados ou frustrados. Porém, existem diversas
formas de lidar com a raiva e a frustração. Alguns professores dizem aos
seus alunos, “Preciso de um tempo
tempo para me acalmar; neste momento estou
muito zangada”. Outros acalmam-se
acalmam se contando até 10 ou saindo da sala por
alguns minutos. Alguns professores revelam os seus sentimentos aos seus
alunos para os ajudar a compreender o que os arrelia. As crianças, assim,
aprendem o que não devem fazer e porquê. Poderão repetir o que não devem,
mas eles são responsáveis pelas suas ações e têm de lidar com as
consequências. O que resultará melhor consigo?
Atividade: “NÃO” – Qual o meu grau de negatividade?
A maioria de nós dá ordens de “Não” aos alunos como forma de disciplina
negativa: “Não fales na aula. Não te levantes da carteira.” Poderemos não nos
aperceber da quantidade de vezes que utilizamos estas ordens negativas; elas
saem naturalmente; mas os nossos alunos sabem.
sabem. Se quiser saber quantas
vezes utiliza ordens “Não”, escolha um aluno da aula (ou peça a um outro
professor para o ajudar) e dê-lhe
dê lhe uma caixa com pedrinhas ou conchinhas e
um saco de pano ou plástico. Peça ao aluno para estar atento ao que diz ao
longo de uma semana. Peça-lhe
Peça lhe para, sempre que o aluno o ouvir dizer uma
ordem “Não”, tire uma pedrinha ou conchinha da caixa e a coloque no saco. No
final da semana, conte as pedras
pedras ou conchas do saco. Ficou surpreendido?
surpreendido
Em vez de repetir constantemente ordens “Não” (embora por vezes sejam
necessárias), aprenda a reformula-las
reformula las numa forma positiva não deixando de
expressar claramente qual o comportamento
comportamento desejado. Em vez de dizer, “Não
“
corras na sala de aula,“ por exemplo, tente dizer, “Anda na sala.” Isto define
claramente a forma como você quer que os seus alunos se comportem. Por
vezes pode acrescentar razões à regra, especialmente quando a anuncia pela
primeira vez. A explicação de uma regra poderia ser algo como: “Andem na
sala. Se correrem, poderão tropeçar numa cadeira e magoarem-se;
magoarem
depois
terão de ir ao médico.”
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
13
Castigo Corporal
Ao lidar com alunos do tipo do Ramon, muitos professores provavelmente
teriam recorrido a alguma forma de castigo severo. Existem dois tipos de
castigo severo que ocorrem separadamente ou em conjunto que são o castigo
corporal e o castigo emocional. Ambos são formas de violência infantil que
violam os seus direitos, como seres humanos, ao respeito, à dignidade,
igualdade de proteção pela lei, e proteção contra todas as formas de
violência.
O Castigo Corporal ou Físico, e o medo desse castigo, ocorre quando um
professor, pai, ou cuidador pretenda causar dor física ou desconforto a uma
criança, geralmente no intuito de parar o mau comportamento da criança,
punindo-a por fazer isso, e prevenir que esse comportamento se repita.10
Cada vez mais em todo o mundo, o castigo corporal se torna ilegal – e não
conduz a uma melhor “aprendizagem”. O que constitui castigo corporal varia
entre – e dentro – de uma dada cultura, e inclui, por exemplo:
♦ Bater na criança com a mão ou com um objeto (como uma vara, cinto,
chicote, sapato, régua, livro, etc.).
♦ Pontapear, abanar, ou empurrar a criança.
♦ Beliscar ou puxar o cabelo.
♦ Forçar a criança a permanecer em posições desconfortáveis.
♦ Forçar a criança a suportar exercício físico excessivo ou trabalho
forçado.
♦ Queimar ou qualquer outra forma de deixar “marca” à criança.
♦ Forçar a criança a comer substâncias impróprias (como sabão).
Enquanto com o castigo corporal se pretende causar dor física, com o castigo
emocional pretende-se humilhar a criança e causar-lhe dor psicológica. Algo
semelhante à punição verbal negativa, mas muito mais severa, pode consistir
em ridicularizar em público, escarnecer, ameaçar, chamar nomes, gritar e
ordenar, ou outras ações de achincalhamento, como negar à criança roupa ou
10
Durrant, Joan E. “Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child
Development,” em: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way
Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
14
comida ou força-la
la a permanecer em posições menos dignas para que outros
vejam e comentem.
Enquanto o castigo corporal é mais visível,
visível, o castigo emocional é de mais
difícil identificação. Contudo, punir uma criança mandando-a
mandando a para a rua para
ficar parada ao sol durante horas, de modo a enfraquecer a sua autoestima
através do ridículo público, ou negar a uma criança comida ou roupa é tão
prejudicial como as diferentes formas de punição corporal.
Alem disso, não existe uma linha clara de separação entre o castigo corporal
e emocional. Muitas vezes, as crianças entendem o castigo corporal como algo
humilhante ou degradante.11 Por isso, neste documento, utilizamos o termo
“castigo corporal” para englobar o castigo físico e emocional.
Atividade: Isto é Castigo Corporal?
Leia o seguinte estudo de caso verídico. Pense – e possivelmente discuta com
os seus colegas – se isto é um exemplo de castigo corporal e se a punição
usada serve realmente de lição para a criança.
Lição de Shireen
A Shireen vai à escola todos os dias e gosta da maior parte das atividades;
tudo menos as aulas de ortografia. Os dias que ela mais teme são os dias de
teste de ortografia. Por cada palavra que ela e os seus colegas escrevam de
forma incorreta, o seu professor obriga-os
obriga os a subir a um morro atrás da
escola e trazer para baixo cinco tijolostijolos Os tijolos estão a ser utilizados na
construção de um murete à volta da escola.
escola. A Shireen não compreende como
carregar tijolos a vai ajudar a aprender a escrever sem erros, mas não tem
alternativa senão fazer esse trabalho. As vezes, no final da tarefa, fica com
a roupa muito suja, e acaba também por ser admoestada em casa.
Qual a Incidência do Castigo Corporal e Porquê?
Lembre-se
se do seu tempo de escola. Você ou algum dos seus amigos foi
castigado física ou emocionalmente? O mais certo é você dizer “Sim” porque
o castigo corporal é uma prática comum por todo o mundo. Somente 15 dos
do
11
Ending Corporal Punishment of Children in Zambia. Save the Children Sweden, Regional
Office for Southern Africa, Arcadia, 2005.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
15
190 países mais ricos do mundo aboliram o castigo corporal das crianças. Nos
restantes países, pais e outros cuidadores, incluindo professores, mantêm o
“direito” de bater e humilhar as crianças.12
Embora muitos de nós condenaria a violência em geral – e a violência contra
adultos, em particular – no mundo em geral, poucas pessoas têm dado uma
empenhada atenção à violência contra as crianças. Porquê? Existem tradições
antigas e crenças culturais que perpetuam o uso de castigos corporais em
muitas sociedades. “Poupe a vara e estrague a criança” é um ditado muito
popular. Outras razões compreendem as crenças de que o castigo corporal:
(1) é eficaz; (2) previne que a criança se meta em sarilhos maiores; (3)
ensina-os a destrinçar o bem do mal; (4) Incute respeito, e (5) é diferente do
abuso físico. A investigação tem demonstrado, contudo, que o castigo
corporal não tem nada a ver com estas coisas e é, de facto, uma forma de
violência contra as crianças.13
Apresentam-se abaixo outros mitos e verdades acerca do castigo corporal.14
Já alguma vez ouviu alguém utilizar uma ou mais destas “desculpas” para
justificar o uso do castigo corporal? Já alguma vez você o fez, ou pelo menos
pensou deste modo? Seja honesto.
Mito nº 1: “Aconteceu comigo e não me fez mal nenhum.”
Realidade: Embora possam ter sentido medo, raiva, e desconfiança por terem
sido sovados pelos pais ou professores, as pessoas que recorrem a este
argumento, geralmente, fazem-no para reduzir a culpa que sentem ao
recorrer hoje em dia ao castigo corporal das crianças. Nas suas mentes, eles
estão a legitimar as suas ações violentas para com as crianças. Contudo, as
suas ações revelam que o castigo corporal lhes causou, de facto, mal: ele
continuou o ciclo de violência que eles agora infligem às crianças, e,
igualmente, estas crianças ficam mais propensas a perpetuar a violência às
12
Newell, Peter. “The Human Rights Imperative for Ending All Corporal Punishment of
Children,” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to
Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.
13
Durrant, Joan E. “Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child
Development,” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward
to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.
14
Adaptado de: From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to
Physical/Corporal Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN
Kenya Chapter, January 2005.
http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D
[acesso online em 9/29/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
16
gerações seguintes.15 Além disso, muitas coisas a que as gerações anteriores
recorreram para sobreviver deixaram de ser agora necessárias. Por exemplo,
o facto de algumas pessoas não terem sido vacinadas quando eram crianças
não significa que elas prefiram isso AGORA para os seus próprios filhos.
Mito nº 2. “Mais nada resulta!” Ou “Eles estão a pedi-las!”
Realidade: Ao contrário da disciplina positiva que exige o desenvolvimento de
uma relação de confiança e mutuamente respeitosa entre a criança e o seu ou
sua professora, infligir dor a uma criança é realmente uma solução
precipitada. É a confissão de que falhámos no que tínhamos de fazer para
ajudar a criança a aprender e interiorizar um bom comportamento. Depois de
usarmos regularmente o castigo corporal, vai levar tempo e trabalho para que
novos métodos funcionem. Se temos vindo a irritar, gritar ameaçar, ou
castigar fisicamente os nossos alunos há muito tempo, será difícil construir
uma relação eficaz e confiante com eles de um dia para o outro. Isto pode,
por seu lado, criar a sensação de que mais nada funciona, ou que as crianças
“estão mesmo a pedir” para levar pancada. Mas o problema é a abordagem
disciplinar, não o mau comportamento das crianças. Justificar que a criança
foi quem provocou a violência é realmente tentar fazer com que o provocador
se sinta menos culpado: culpar a vítima. Além disso, você bate usualmente no
seu patrão, empregado, esposo, ou melhor amigo quando se depara com a
situação de que “mais nada resulta”? Esperemos que não!
Mito nº 3: “O castigo corporal funciona otimamente. Os outros
métodos não.”
Realidade: Fazer com que os seus alunos de portem bem com base no medo do
castigo não é igual a disciplina. O castigo corporal somente parece funcionar
se o encarar superficialmente e tendo em vista o curto prazo. O castigo
corporal ensina a criança a fazer aquilo que você diz, mas somente quando
você está por perto, De facto, ensina-os a ser fingidos, bem como mentir
sobre o mau comportamento para evitar ser sovado ou punido de um outro
modo mais degradante. Ao criar um clima de desconfiança e insegurança na
criança, ele destrói a relação professor-criança. As crianças ganham aversão
por alguém que sendo suposto ensinar e cuidar deles, na verdade, o que faz é
15
Durrant, Joan E. “Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child
Development,” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward
to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
17
ameaçar, bater ou insultar. Embora um simples ato de castigo corporal possa
parecer eficaz, ele apenas intimida a criança a ser submissa.
Mito nº 4: “O castigo corporal ensina a obediência.”
Realidade: No passado, pode ter sido prática ensinar as crianças a nunca
questionar autoridade, mas os tempos mudaram. Muitos professores estão a
adotar técnicas de aprendizagem centradas-na-criança que incentivam as
crianças a investigar, a pensar por elas próprias, a levantar questões, e a
aprender o prazer de encontrar respostas como o principal processo de
aprendizagem. O castigo corporal, contudo, coíbe a criança de levantar
questões, pensar criticamente, e conquistar objetivos pessoais; mas estas são
as qualidades que adultos e crianças necessitam de forma a sobressair numa
sociedade dinâmica, competitiva e inovadora. Forçar uma obediência cega
através do medo do castigo corporal asfixia terrivelmente a iniciativa e a
criatividade das crianças (e adultos).
Mito nº 5: “Eu só o utilizo como último recurso. Não tinha
alternativas.”
Realidade: Esta desculpa é uma racionalização nossa, e ensina os nossos
alunos, que o uso da violência se justifica como último recurso. Não é, porém,
aceitável tal argumentação; por exemplo, é justificável em último recurso o
marido bater na esposa? Não será ainda mais aceitável quando nos referimos
aos nossos alunos. Além disso, é muito comum pais e professores recorrerem
à punição física como primeira instância – não como a última – e por faltas
bem pequenas.
Mito nº 6: “É a única forma de controlar os meus alunos na turma.
Tenho muitos!”
Realidade: Esta desculpa é frequente entre os professores que lidam com
turmas grandes, às vezes cerca de 100 crianças todos numa única turma.
Geralmente esta situação surge porque a turma não definiu as regras e
rotinas; as crianças não sabem o que se espera delas e quais as consequências
se se portarem mal; e o professor não terá tido o tempo suficiente para criar
uma relação positiva com as crianças para que estas sintam a necessidade de
serem bons alunos. Pode também ser o resultado do seu estilo de gestão
autoritária da sala de aula, alguém que diga, “Eu sou o professor e vamos
fazer as coisas à minha maneira!” No intuito de manter o controlo, o
professor pode recorrer ao castigo corporal não para conter o mau
comportamento de uma criança, mas para incutir medo nos espíritos das
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
18
outras crianças de modo a que, com sorte, eles não se portem mal também
(mas não resulta). Como no Mito 4 acima, forçar a uma obediência cega
através de ameaças ou violência física não estimula as crianças a aprender o
que vem do professor, porque têm medo dele. Como consequência, eles não
querem aprender, o que torna a nossa tarefa mais árdua, e eles não aprendem
com facilidade, o que se reflete negativamente no nosso desempenho como
professor.
Mito nº 7: “O castigo corporal faz parte da nossa cultura.”
Realidade: O castigo corporal é defendido algumas vezes como fazendo
parte do nosso crescimento em algumas sociedades, e a ideia de promover
alternativas a esse castigo corporal é considerada uma imposição do
“Ocidente” que não tem em consideração os valores Asiáticos. As sociedades
asiáticas dependem de hierarquias de estatuto relacionadas com a idade e a
ideia de que os novos devem respeitar, servir e obedecer aos mais velhos
incluindo os professores. Embora o castigo corporal esteja espalhado pela
Ásia, não existe uma conexão necessária entre o sistema de valores
tradicional e a violência contra as crianças através do castigo corporal. Pelo
contrário, os dois valores principais das sociedades asiáticas são o manter da
harmonia social e aprender a usar as capacidades mentais para disciplinar o
corpo, especialmente em termos de manter o autocontrolo no meio do caos. A
violência através do castigo corporal, na verdade, contraria estes valores
tradicionais asiáticos. Ela destrói a harmonia social na sala de aula em termos
de relação aluno-professor e aluno-aluno, e ameaça as relações futuras que a
criança irá ter. Ela corrói a confiança das crianças e a autoestima, e aprova a
falta de autocontrolo como forma aceitável para dominar os outros. Ao invés
de castigo corporal, os procedimentos tradicionais podem ser utilizados como
formas alternativas de disciplina quando não incluam violência.16 Por exemplo,
quando adultos respeitados exibem como modelo comportamento adequado e
não violento, o qual é depois imitado pelos seus filhos.17 Além disso, os
16
Save the Children. “How To Research the Physical and Emotional Punishment of Children.”
Bangkok: Southeast, East Asia and Pacific Region, 2004.
17
Informação fornecida por Elizabeth Protacio-de Castro, Diretora do “Programme on
Psychosocial Trauma and Human Rights, Centre for Integrative Development Studies, the
University of the Philippines”, e documentada em : Power, Clark F. and Hart, Stuart N.
“The Way Forward to Constructive Child Discipline.” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating
Corporal Punishment: The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação
UNESCO, 2005.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
19
sistemas de crenças individuais e culturais que conservam o recurso ao
castigo corporal podem ser alterados em relativamente pouco tempo.18
O Castigo Corporal dá Resultado?
Quais São as Consequências?
O castigo corporal perdura em grande parte porque os professores
acreditam que ele dá resultado: é eficaz. Mas será mesmo? Uma análise
alargada da investigação feita em duas décadas mostrou que o único
resultado positivo do castigo corporal é a submissão imediata, enquanto as
consequências negativas ultrapassam largamente este resultado.19 O recurso
ao castigo corporal raramente proporciona o efeito desejado, isto é mudança
comportamental positiva e duradoura no aluno. Pelo contrário, pode ter
consequências terríveis e negativas para a criança e para si.
♦ Quando
recorremos ao castigo corporal, os resultados são
imprevisíveis. Eles podem ser a tristeza, baixa autoestima, ira, raiva,
comportamento agressivo, desejo de vingança, pesadelos e enurese,
desrespeito pela autoridade, agudização de estados de depressão,
ansiedade, uso de drogas, abuso sexual, abuso infantil, maus-tratos dos
cônjuges, delinquência infantil, e, naturalmente, mais castigo
corporal.20
♦ No longo prazo, têm sido demonstrado que as crianças que tenham
sofrido castigos corporais têm maior propensão para desenvolver
comportamento antissocial e recorrem de imediato à violência, criando
assim um contínuo do abuso físico de uma geração para a seguinte.21
Utilizando violência, nós ensinamos violência.
♦ Como professores, somos responsáveis por melhorar o crescimento e o
desenvolvimento
dos
nossos
alunos.
O
castigo
corporal
pode
18
Durrant, Joan E. “Corporal Punishment: Prevalence, Predictors and Implications for Child
Development.” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward
to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação UNESCO, 2005.
19
Ibid.
20
Ibid.
21
From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to Physical/Corporal
Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN Kenya Chapter,
January 2005.
http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D
[acesso online em 9/29/2005].
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
20
comprometer seriamente o desenvolvimento de uma dada criança e
originar problemas de adaptação, educativos, interpessoais e
psicológicos. Por exemplo, estudos têm mostrado que algumas vítimas
de castigo corporal são forçadas a abandonar a escola devido ao medo
de serem sovados ou humilhados. Uma vez fora da escola, elas ficam
suscetíveis ao uso ou venda de drogas ou outras atividades socialmente
condenadas.22,23
♦ Mesmo quando temos sucesso em parar o comportamento indesejado
num dado momento, o uso de castigo corporal, contudo, não promove o
comportamento adequado na criança. Porquê? A criança não sabe, ou
não aprende, o que deve fazer; qual o comportamento que ele ou ela é
suposto adotar a não ser parar tão-somente de fazer aquilo que ele ou
ela estava a fazer. É semelhante a dizer-lhe a si para não utilizar o
castigo corporal, sem lhe ensinar que métodos alternativos você pode
usar.
♦ Ao recorrermos ao castigo corporal podemos, por vezes, obter efeitos
contrários aos desejados; ou seja, pode tornar-se um reforço
imprevisto. Por exemplo, o chamar a atenção dos professores e colegas
para algo que uma criança faça de inapropriado, como no caso de
Ramon, pode ser atrativo.
♦ O castigo corporal origina geralmente ressentimento e hostilidade,
tornando as boas relações e a confiança entre professor-aluno e alunoaluno difíceis de se construir no futuro. Isso conduz a que o nosso
trabalho seja mais complicado, menos compensador e enormemente
frustrante. Começamos a temer ir para a escola e ensinar. Os nossos
alunos poderão descortinar o nosso desconforto e, também, ir à escola
insatisfeitos.
♦ As crianças vítimas de castigo corporal podem apresentar ferimentos
que necessitem de cuidados médicos, deixar lesões para a vida ou
causar morte. Mesmo a ameaça do castigo corporal pode provocar
danos; por exemplo, se um professor ameaça com o uso da vara e, ao
22
23
Ibid.
Cotton, Katherine. Schoolwide and Classroom Discipline. School Improvement Research
Series. Iclose-Up #9. http://www.nwrel.org/scpd/sirs/5/cu9.html [acesso online em
10/6/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
21
lentá-la, ele ou ela, sem querer, tira um olho a um aluno. (Infelizmente,
este acidente sucedeu realmente.)
O SIGNIFICADO DE DISCIPLINA
Disciplina é geralmente uma palavra mal utilizada, especialmente quando ela é
equiparada erradamente ao castigo ou punição. Para muitos professores a
disciplina significa castigo. “Esta criança precisa de disciplina” é o mesmo que
“Esta criança precisa de umas palmadas ou umas reguadas.” Isto é ERRADO!
A disciplina é a prática de ensino ou treino de uma pessoa para
obedecer a regras ou códigos de conduta tanto para o curto como
para o longo prazo.24,25
Enquanto o castigo significa controlar o comportamento do aluno, a disciplina
significa desenvolver o comportamento da criança, particularmente nas áreas
da conduta. Ela significa ensinar a criança o autocontrolo e a confiança
focando a sua atenção naquilo que queremos que a criança aprenda e que a
criança seja capaz de o fazer. Ela é a base para orientar as crianças sobre a
forma como estar em harmonia com elas próprias e relacionarem-se com
outras pessoas. O fim supremo da disciplina é as crianças compreenderem o
seu próprio comportamento, tomarem iniciativa, ser responsáveis pelas suas
escolhas, e respeitarem-se a si próprias e aos outros. Por outras palavras,
elas interiorizam um processo positivo de pensamento e comportamento que
perdurará para a vida. Por exemplo, quando pensa numa “pessoa disciplinada,”
o que é que lhe vem à cabeça? Um ginasta olímpico, alguém que tenha deixado
um mau hábito, como fumar, alguém que mantenha a calma no meio do caos.
Todos os três casos requerem autocontrolo, que é o objetivo da disciplina.
A disciplina modela o comportamento das crianças e ajuda-as a aprender o
autocontrolo ao mesmo tempo que proporciona incentivo e não consequências
dolorosas e sem sentido. Se é pai, ou os seus amigos têm crianças, pense no
que se passou no primeiro ou nos dois primeiros anos de vida de uma criança.
Como ele ou ela a ensinava a bater as palmas, a andar ou a falar? Você ou seu
amigo provavelmente utilizaram técnicas de ensino como mostrar através do
exemplo (também conhecida por “modelação”) bem como dando elogios e
oportunidades de prática; não usavam gritos, palmadas, insultos ou ameaças.
24
Kersey, Katharine C. Don’t Jime It Out On Your Kids: A Parent’s and Teacher’s Guide to
Positive Discipline. http://www.cei.net/~rcox/dontake.html [acesso online em 10/10/2005]
25
Welker, J. Eileene. Make Lemons into Lemonade: Use Positives for Disciplining Children.
http://ohioline.osu.edu/hyg-fact/5000/5153.html [acesso online em 10/10/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
22
Este incentivo é um tipo de recompensa que estimula a criança a trabalhar, a
aprender e a conseguir coisas. Ele constrói autoestima porque a criança
aprende que ele ou ela foi diretamente responsável por ganhar os seus elogios
ou outra recompensa. As crianças podem escolher por a ganhar ou não. Isto
proporciona-lhes um sentimento de controlo sobre as suas vidas, que é um
ingrediente chave para uma saudável autoestima. De igual modo, não
proporcionar incentivo pelo mau comportamento – seja ignorando
comportamentos de chamada-de-atenção como as birras ou chegar tarde às
aulas – com o tempo, a criança aprenderá a autocontrolar-se ao verificar que
não consegue obter a atenção que procura conseguir através do seu mau
comportamento. Ela aprende que somente obtém atenção quando se comporta
calmamente ou chega a horas; ou seja, quando o apanha a “ser bonzinho”.
Voltemos mais uma vez a Ramon e como o seu professor o disciplinou e
aprendeu com ele.
Um Estudo de Caso: A Mudança de Ramon26
A nova semana começou quase da mesma forma que a anterior. O Ramon
continuava com o seu comportamento disruptivo e desregrado e estava a
deixar toda a gente fora de si. Mas eu pensei um pouco sobre o Ramon
durante o fim-de-semana. Comecei por pensar sobre como ele me fazia sentir
e as emoções que se destacavam eram a raiva e a irritação. De acordo com o
livro “Disciplina Cooperativa” a forma como nos sentimos quando um aluno se
comporta inadequadamente pode dar-nos pistas sobre os seus objetivos para
esse mau comportamento. Uma vez que compreendamos a razão pela qual o
aluno faz o que faz, é fácil descobrir caminhos adequados para lidar com
ele.27
Sentir raiva é uma pista de que o aluno está à procura de poder, e irritação é
uma pista de que o aluno procura atenção. Tal como eu pensei, compreendi que
a maior parte do comportamento irritativo do Ramon acontecia com os
colegas e adultos presentes de uma forma barulhenta e selvagem quanto
possível de forma a obter atenção. Conseguida a nossa atenção, ele procurava
o poder recusando abertamente cumprir os nossos pedidos para parar,
causando em muitos de nós uma raiva extrema. Percebi então que eu tinha
26
27
Este estudo de caso é adaptado do diário de Ellen Berg, uma professora de artes da
linguagem em Turner Middle School, St. Louis, Missouri, USA.
http://www.middleweb.com/msdiaries01/MSDiaryEllenB7.html [acesso online em
10/6/2005]
Albert, Linda and Desisto, Pete. Cooperative Discipline. American Guidance Service, 1996.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
23
dado voluntariamente ao Ramon o controlo sobre mim e a minha sala de aula.
Não o podia culpar; afinal, eu sou responsável pelas minhas ações. Comecei a
perceber que embora eu não o pudesse controlar, eu podia controlar o que
fazia e dizia. Estava criado um novo plano e uma nova atitude.
Numa manhã de quarta-feira resolvi que, fosse o que fosse que Ramon
fizesse, eu não iria dar-lhe a atenção que o seu mau comportamento exigisse.
Iria ignorá-lo. Quando chegou à aula com 10 minutos de atraso, agi como se
ele não tivesse entrado. Dei à auxiliar do professor uma folha de papel e
pedi-lhe para registar tudo o que Ramon fizesse, mas que não interferisse de
modo algum no seu comportamento.
O Ramon fez de tudo exceto pôr-se nu durante o tempo da aula. Correu acima
e abaixo pelos corredores, brincou com o cabelo de outro aluno, pôs os óculos
do auxiliar, avançou em direção à porta como se preparasse para sair, e até
subiu para a parte de trás da cadeira da auxiliar. Não dissemos nada. O resto
da turma olhava para mim como se eu estivesse maluco. Eu expliquei-lhes que
a nossas tarefas eram demasiado importantes para serem interrompidas por
aqueles que não estavam interessados em aprender, de forma que iriamos
avançar como de costume. Eu poderia ter beijado cada um daqueles alunos
que, embora ocasionalmente se rira para si, ignorou completamente suas
travessuras, mesmo quando ele ia tentar meter-se com eles.
O comportamento do Ramon agravou-se. Ao longo do período, o Ramon pediame continuamente para ir à casa de banho, para ir ao gabinete do Diretor, e
ao gabinete do guarda de segurança. Continuei a ignorá-lo.
Por fim, aconteceu uma coisa interessante. Em vez de sair, sentou-se. No
final da aula, estava eu a fazer a chamada para a saída dos alunos, ele veio
ter comigo e disse, “Posso sair também, Sra. Berg?” Ele esperou e esperou à
medida que eu fazia a chamada dos outros alunos, pedindo para sair, mas não
deixou a sala até eu lhe dar permissão.
Eu imaginava o que iria acontecer no dia seguinte. Iria acontecer alguma
mudança, ou teria de suportar uma nova rodada do horrível comportamento
do Ramon?
Na quinta-feira, o Ramon chegou a horas, com o material completo, papel,
lápis e livro. Sentou-se sossegado e levantou a mão para pôr questões. Em
todo o restante período, não saiu do seu lugar ou falou sem autorização. Ele
estava um pouco contraído, mas eu sei a dificuldade que ele sentirá para ficar
quieto. Ele não fez nenhum dos trabalhos propostos, mas penso que o controlo
do seu comportamento foi trabalho para o Ramon.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
24
O que é que eu aprendi? Não basta confiar no que “sempre fizemos”. Se eu
tivesse continuado com as mesmas estratégias que eu supunha que
funcionavam para mim no passado, reconheço que não teria havido mudança no
comportamento do Ramon. Sei que alguns professores acreditam que os
alunos simplesmente devem agir adequadamente porque nós lhes dizemos
para o fazerem, mas a realidade é que muitos não o farão. Nós somos os
adultos, e temos a responsabilidade de mudar o que fazemos para satisfazer
as necessidades de todos os alunos, e não apenas aqueles que se sentam
quietos na carteira, se comportam adequadamente ou compreendem uma ideia
logo na primeira apresentação.
O Ramon ensinou-me que eu não posso obrigar ninguém a fazer nada, mas eu
posso mudar as condições da minha aula para tentar influenciar as suas
decisões. O bibliotecário da escola disse-me uma vez que o verdadeiro ensino
começa quando um aluno manifesta problemas.
Também não podemos controlar tudo, e não conseguimos na verdade controlar
qualquer outra pessoa, mas devemos ter algum poder na sala de aula. É o
poder do que nós, como profissionais e seres humanos, decidimos fazer em
resposta a situações difíceis.
A compreensão deste ponto fez toda a diferença no mundo do Ramon.
O seguinte quadro resume algumas caraterísticas positivas da disciplina em
oposição ao que define um ambiente orientado pelo castigo ou punição.28 Que
caraterísticas utilizou a professora do Ramon para o disciplinar? Quais as
caraterísticas comuns à sua sala de aula?
A disciplina é:
O castigo é:
Dar ao aluno alternativas positivas
Ser dito apenas aquilo que NÃO deve
fazer
Reconhecer e recompensar os esforços e
o bom comportamento
Reagir asperamente ao mau
comportamento
28
From Physical Punishment to Positive Discipline: Alternatives to Physical/Corporal
Punishment in Kenya. An Advocacy Document (Draft Two) by ANPPCAN Kenya Chapter,
January 2005.
http://kenya.ms.dk/articles/advocacy%20document%20ANPPCAN.htm?udskriv+on%5D
[acedido online em 9/29/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
25
A disciplina é:
O castigo é:
Quando as crianças cumprem as regras
porque elas são discutidas e acordadas
Quando as crianças cumprem as regras
porque elas se sentem ameaçadas ou são
subornadas
Consistente, orientação firme
Controlar, envergonhar, ridicularizar
Positiva, respeitadora da criança
Negativo e ofensivo para a criança
Não violenta física e verbalmente
Violento e agressivo, física e
verbalmente
Consequências lógicas que estão
diretamente relacionadas com o mau
comportamento
Consequências que não estão
relacionadas diretamente com o mau
comportamento e são ilógicas
Quando as crianças têm que pedir
desculpa pelo comportamento que afetou
negativamente os outros
Quando as crianças são punidas pelo seu
comportamento em vez de lhes
mostrarem como podem pedir desculpa
Compreender as capacidades individuais,
necessidades, circunstâncias e níveis de
desenvolvimento
Inapropriado para os níveis de
desenvolvimento, capacidades,
circunstâncias e necessidades que não
são tidas em conta
Ensinar as crianças a interiorizar a
autodisciplina
Ensinar as crianças a portarem-se bem
só quando há risco de serem apanhadas
a portarem-se mal
Escutar e modelar
Repreender constantemente as crianças
por pequenas infrações, o que leva a que
elas “desliguem” (nos ignorem, deixem
de nos ouvir)
Utilizar os erros e oportunidades de
aprendizagem
Forçar as crianças a obedecer a regras
ilógicas só porque “ eu disse “
Dirigida ao comportamento da criança e
nunca à criança – o teu comportamento
está errado
Criticar a criança em vez do seu
comportamento – és estúpida; fazes mal
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
26
DISCIPLINA POSITIVA NA SALA DE AULA
As crianças precisam que as ensinem a compreender e a seguir regras sociais.
Mas não é necessário e pode ser muito prejudicial bater ou de qualquer outra
forma ofender a criança. A evidência mostra que tanto as meninas como os
rapazes respondem melhor a abordagens positivas incluindo a negociação, o
sistema de recompensas, do que a punições verbais, físicas ou emocionais.29
Leia as seguintes cenas de sala de aula e veja se consegue identificar as
formas positivas e negativas que o professor utiliza para lidar com o mau
comportamento de um aluno.30
Cena 1
Lek entra na sala do 4º ano para dar uma aula de matemática. Quando ela
começa a lição os alunos continuam a conversar uns com os outros e não a
escutam. Ela diz em voz alta: “Parem todos de falar, por favor. Vamos
começar a aula.” Todos se calam exceto Chai. Chai continua a conversar com o
colega do lado acerca do jogo de futebol que viu na televisão na noite
anterior. Lek grita-lhe: “Chi, porque não te calas? Vai para o canto da sala
com a cara virada para a parede. Estás metido num sarilho maior do que
pensas. Espera só que a aula acabe!” Ao passar pela sala, o Diretor pergunta:
“Queres que te mostre quem manda aqui? ”A chorar, Chai vai para o canto
onde fica a temer pelo seu destino e desejando estar longe dali. Talvez
amanhã não venha à escola.
Cena 2
Lek dirige-se à sala do 4ºano para dar uma aula de matemática. Ao entrar diz:
“Calem-se todos, por favor. Vamos começar a nossa aula de matemática e é
preciso que todos ouçam com muita atenção.” Depois de todos se calarem, Lek
ouve Chai a conversar com o colega. Lek pergunta: “Quem é que ainda está a
conversar? Parece que há aqui alguém que se esqueceu das regras”. O diretor
ao passar ouve o comentário de Lek e pergunta, zangado, se há algum
problema, porque se for esse o caso ele sabe como resolvê-lo rapidamente.
Lek agradece e diz que para já consegue lidar com a situação. Depois do
29
Save the Children How to research the Physical and Emotional Punishment of Children
Bangkok Southeast, East Asia and Pacific Region, 2004
30
Esta secção é uma adaptação de um original feito para os pais em: Doescher,S. and Burt, L.
You, Your Child, and Positive Discipline. Oregon State UniversityExtension Service, March,
1995. http://eesc.orst.edu/agcomwebfile/edmat/ec1452-e.pdf [acesso online em
10/12/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
27
diretor sair, Lek olha na direção de Chai e pergunta: “Porque será que o
diretor disse isto? Tens alguma ideia?” Sentindo-se culpado Chai responde:
“Bem, eu continuei a falar depois de a professora pedir a todos para se
calarem.” Lek pergunta: “Quando é que podemos falar sem incomodar os
outros e os prejudicar de aprender a lição?” Chai responde: “Quando a aula
acabar.” Lek anui e pergunta a Chai quanto é 100 a dividir poe 2. Chai
responde 50. Lek sorri e diz: “Muito bem”. Chai ficou muito atento durante o
resto da aula e só voltou a conversar quando a aula terminou.
Cena 3
Lek dirige-se à sala do 4ºano para dar uma aula de matemática. Ao entrar diz:
“Calem-se todos por favor. Vamos começar a nossa aula de matemática e é
preciso que todos ouçam com muita atenção.” Depois da turma se calar ouve
Chai que continua a conversar com o seu colega. Lek pega numa ficha de
registo de infrações e escreve ”Não cumpriu as regras da sala de aula” e
pede a Chai que preencha a ficha com o seu nome, nível de ensino, local,
professor e data. E diz: “Chai, vou pôr esta ficha em cima da tua carteira; se
ainda lá estiver quando a aula acabar podes deitá-la fora. Se continuares a
falar sem autorização, vou buscá-la e será entregue no gabinete do Diretor
para ele ver.”
No final da aula Chai deitou fora a ficha.
Se as técnicas de disciplina forem negativas podem desencorajar e frustrar
os alunos. Se forem positivas, pelo contrário, ajudarão os alunos a adotar e a
manter comportamentos corretos.
Nas cenas 1 e 2, podem ver-se situações negativas entre Lek e Chai.
Consegue identificá-las?
Resposta: Na Cena 1, tanto Lek como o diretor mostram-se zangados. Eles
ameaçam Chai: “Espera só que a aula acabe” e “Queres que te mostre quem
manda aqui?” Lek também usa castigos irracionais e sem sentido ao ordenar a
Chai que fique de pé ao canto da sala, com a cara virada para a parede. Na
Cena 2 Lek inferioriza Chai com sarcasmo: “Parece que há por aqui alguém que
se esqueceu das regras da sala de aula.” Como acha que Chai se sente depois
das reações de Lek e do diretor?
As Cenas 2 e 3 contudo, contêm exemplos de situações positivas entre Lek e
Chai.
Na cena 2, Lek entra na sala e pede um comportamento específico (precisam
de ouvir com muita atenção)
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
28
Como resposta ao comentário do diretor, ela pergunta, “Por que razão teria o
diretor dito isso?” Esta pergunta ajuda Chai a pensar sobre a atitude do
diretor e como o seu comportamento pode ter feito zangar o diretor, Lek e
os seus colegas. Lek também reforça o seu comportamento ao dar-lhe uma
oportunidade de responder corretamente a uma questão simples de
matemática, elogia-o e sorri. O problema tinha sido o comportamento e não
propriamente o aluno.
Na Cena 3, Lek é simpática, embora firme, ao lidar com o mau comportamento
de Chai. Dá-lhe a possibilidade de escolher as suas opções de comportamento,
o que dá a Chai oportunidade de ser responsável pelo seu próprio
comportamento e pelas suas consequências.
Sete Princípios para uma Disciplina Positiva da Criança
1. Respeite a dignidade da criança.
2. Desenvolva o comportamento pró-social, a autodisciplina e o caráter.
3. Valorize a participação ativa da criança.
4. Respeite as necessidades do desenvolvimento da criança e a sua
qualidade de vida.
5. Respeite a motivação da criança e a sua visão da vida.
6. Assegure a imparcialidade (equidade e não-discriminização) e a justiça.
7. Promova a solidariedade.
De: Power, F. Clark and Hart, Stuart N. “The Way Forward to Constructive
Child Discipline,” in: Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment:
The Way Forward to Constructive Child Discipline. Paris: Publicação
UNESCO, 2005.
Passos para a Disciplina Positiva
Enquanto o castigo é um ato singular, a disciplina positiva é um processo de
quatro fases que reconhece e recompensa o comportamento adequado da
seguinte forma:31
1. O comportamento correto é explicitado: “ Calem-se todos agora,
por favor.”
31
Adaptado de: Positive Discipline: An Approach and a Definition.
http://www.brainsarefun.com/Posdis.html [acesso online em 12/2/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
29
2. São dadas razões claras: “Nós vamos começar a nossa aula de
matemática e é preciso que todos prestem muita atenção”. Isto
significa que ao fazerem imediatamente silêncio estão a mostrar
respeito pelos outros. É um bom exemplo tratar os outros como
gostaríamos que os outros nos tratassem.
3. O reconhecimento é exigido: ”Veem como estar calado é tão
importante?” Ou no caso de Chai, “Quando é que podemos conversar
sem prejudicar os outros nem a sua oportunidade de aprender?”
4. O comportamento correto é reforçado: Contato visual, um aceno,
um sorriso, cinco minutos de recreio extra no final do dia, pontos de
crédito extra, direito a uma menção de sucesso perante a turma (o
reconhecimento social é a melhor recompensa). Quando se usam
recompensas, estas devem ser sempre imediatas, pequenas mas
gratificantes.
Este procedimento é eficaz para crianças individualmente. Para quem
trabalha com turmas grandes, também pode ser eficaz com grupos de
crianças. O “truque” é fazer sentir aos alunos que eles estão numa equipa
“vencedora” (a turma no seu todo) e elogiar os esforços feitos por cada
aluno para ser um bom membro da equipa.
Lembrem-se: Todas as vezes que encontre os alunos a atuar de forma
correta, recompense-os imediatamente. É esta a essência da disciplina
positiva.
Nota: A disciplina positiva pode falhar se:
1. O aluno, ou a turma toda, não for recompensado de forma
suficientemente imediata.
2. A ênfase for posta mais nas tarefas do que nos comportamentos. Por
exemplo, “É bom que tenhas calado a boca e parado de falar” por
oposição a “É maravilhoso que tenhas tido consideração pelos outros e
te tenhas calado logo.”
3. A ênfase continuar a estar no que o aluno está a fazer mal, em vez de
estar naquilo que faz corretamente.
Quando usar a disciplina positiva, procure não esquecer o rácio 4:1. Procure
quatro atitudes corretas por cada atitude incorreta. Seja consistente. Ao
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
30
usar este rácio de forma consistente mostra aos seus alunos que está mesmo
interessado em vê-los
los atuar corretamente e a premiar o seu bom
comportamento de imediato.32 Para ver se está a atingir este rácio, faça um
diário, e no final de cada aula ou dia, recorde quantas vezes viu os seus alunos
a portarem-se
se bem comparando com as vezes em que se portaram mal. Pode
também pedir a um aluno ou a um professor ajuda para o monitorizar até que
o elogio se torne rotina e o criticismo se torne raro.
Os professores que praticam disciplina positiva, acreditam nas capacidades
dos seus alunos e transmitem afeto e respeito pelos alunos. Quando os
professores estão dispostos a observar
observar os alunos e a reagir de forma a
encorajar comportamentos positivos, estão a ajudá-los
ajudá los a tornarem-se
tornarem
responsáveis pelo seu comportamento, e reduzem as probabilidades de
ocorrência de comportamentos desadequados.
Atividade
Positivas
de
Reflexão:
Aprender
e
Aplica
Aplicar
Lições
Todos os dias surgem na escola oportunidades para professores e alunos se
relacionarem de forma positiva. Pense numa situação recente em que se
relacionou bem com um aluno seu, talvez num momento de ensino individual.
Descreva a sua experiência
riência no espaço abaixo. Pode usar essa informação para
trabalhar melhor com outos alunos e evitar o uso de disciplina negativa.
O que fez o seu aluno?
O que é que disse ou fez?
32
Ibid.
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
31
Como reagiu o aluno?
Como se sentiu?
Como pode usar esta experiência com outras crianças?
EVITAR O DILEMA DA DISCIPLINA
Esta secção tem vindo a abordar o dilema da disciplina, que reside em decidir
se devemos controlar o comportamento do aluno para o nosso benefício ou
para melhorar o comportamento da criança, no seu próprio interesse. Este
dilema reside na ideia errada de que disciplina e castigo significam a mesma
coisa, que as ações empreendidas para cada um deles devem ser as mesmas e
que os resultados serão os mesmos. Para evitar este dilema e esclarecer a
confusão, temos vindo a aprender a distinguir entre castigo e disciplina,
di
qual
a natureza e consequências do castigo versus disciplina positiva e o processo
da disciplina
a positiva. Esperamos que tenha descoberto muitas coisas novas,
desenvolvido algumas ideias úteis e compreendido como as nossas atitudes
disciplinares afetam o comportamento das crianças e encorajam (ou
prejudicam) o seu desenvolvimento a longo prazo. A seguir está um último
exercício para testar os seus conhecimentos sobre a diferença entre
disciplina positiva e negativa.
Atividade: Disciplina Positiva ou Negativa
No quadro seguinte, quais são as ações disciplinares positivas e quais são as
negativas? Marque um (√
( ) na coluna apropriada.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
32
A seguir assinale na última coluna cada uma das ações que já usou ou podia
ter usado, para corrigir o mau comportamento de uma criança. Seja sincero!
Ação
Positiva
(√)
Negativa
(√)
Já a usou?
Sim/Não
1. Chamar a atenção dos alunos antes de
começar a aula
2. Usar instruções diretas (dizer-lhes
exatamente o que vai acontecer)
3. Fazer suposições
4. Fazer acusações sem ter provas
5. Levantar-se e andar pela sala
6. Usar a força física
7. Dar ordens
8. Agir da mesma forma que quer que as
crianças atuem (modelar)
9. Generalizar a partir da atuação do aluno
10. Comparar os alunos em público
11. Enriquecer o ambiente da sua sala
12. Antecipar problemas
13. Insistir em ter razão
14. Estabelecer e reforçar regras claras e
consistentes.
Respostas: As ações número 1,2,5,8,11,12 e 14 são positivas.33
33
McDaniel, Thomas R. “A Primer on Classroom Discipline: Principles Old and New.” Phi Delta
Kappan, September 1986. Resumo disponível em http://www.honorlevel.com/techniques.xml
[acesso online em 10/6/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
33
As ações número 3,4, 6, 7,9,10 e 13 são negativas.34 Qual foi a sua
pontuação? Quantos métodos positivos e negativos já usou?
34
Albert, Linda. A Teacher’s Guide to Cooperative Discipline. Circle Pines, Minnesota:AGS,
1989
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
Construindo relações
entre professor e aluno
34
positivas
O que vai aprender:
♦ As Bases da Relação Professor-aluno
♦ Porque se Comportam Assim as Crianças
♦ Porque se Comportam Mal
♦ Aprender sobre os Alunos a Partir de Dentro
♦ Compreender as Vidas dos Seus Alunos
♦ Conhecer as Famílias dos Seus Alunos
♦ Comunicação Pais-professor
♦ Estratégias de Encorajamento
AS BASES DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
Os professores, que praticam a disciplina positiva, respeitam, estimulam e
apoiam os seus alunos. Eles compreendem os motivos que levam a criança a
comportar-se de determinada maneira, e a forma como a criança se vê a si
própria ou vê o professor e que pode originar o mau comportamento. Eles
também têm empatia com as competências da criança e com a sua situação na
vida. As expectativas do professor são realistas, tomando a criança por
aquilo que é de facto e não pelo que deveria ser. O professor compreende que
o mau comportamento é uma ocorrência que permite uma aprendizagem
construtiva, tanto para o aluno como para o seu professor e que é parte
natural e importante do desenvolvimento da criança e não uma ameaça à
autoridade do professor.
Quando se constrói uma relação positiva com base na compreensão e na
empatia, os alunos acabam por confiar nos professores e por valorizar a sua
aprovação. Quando os alunos reagem à natureza positiva da relação e da
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
35
disciplina consistente, a incidência do mau comportamento diminui, e a
qualidade da relação melhora ainda mais. Para este objetivo os melhores
professores são os que são bons modelos e os que as crianças apreciam o
suficiente para quererem imitar e agradar.
PORQUE SE COMPORTAM ASSIM AS CRIANÇAS
Fazer escolhas
Miss Samina, professora de ciências do 4º ano, estava sempre a ter
problemas com Hari. Estavam constantemente em conflito. Sempre que Miss
Samina queria que Hari fizesse alguma coisa – como vir para a aula a horas ou
entregar os trabalhos de casa diariamente – Hari não o fazia. O que ela não
tinha percebido e que outro professor lhe fez notar, é que Miss Samina
formulava os pedidos ao Hari como perguntas; por exemplo, “Hari, poderias
vir a horas para a aula?” e ele dizia sempre “Não!” Ninguém e nenhuma
situação podem fazer uma criança comportar-se de determinada maneira.
Para Miss Samina, ela estava a convidar o Hari a adotar um comportamento
correto, mas ele rejeitava sempre o convite. Porquê? O comportamento
assenta em escolhas, e os alunos escolhem o comportamento que querem
adotar. Não se pode obrigar, é por isso que o castigo não funciona a longo
prazo. Contudo, como a professora de Ramon aprendeu na secção anterior,
você pode influenciar as decisões de um aluno sobre o seu comportamento,
mas a mudança deve começar por si, o professor. Quanto à professora de
Ramon, ela precisava aprender como interagir com Ramon – e outros alunos
seus também – de forma que ele escolhesse o comportamento adequado e
obedecesse às regras da sala de aula. Você enfrenta o mesmo desafio. O seu
papel é identificar a razão das más escolhas e desenvolver estratégias para
ajudar o aluno a fazer melhores escolhas no que respeita ao seu
comportamento.
Tal como aprendemos na primeira secção deste documento, as crianças
aprendem - e comportam-se – em resultado de fatores hereditários, do meio
onde vivem e das suas próprias necessidades pessoais e psicológicas. Não
podemos alterar a sua hereditariedade e pouco controlo podemos exercer
sobre o seu ambiente, sobretudo se não trabalharmos bem, ou não
trabalharmos de todo, com os pais e os líderes da comunidade.
Contudo, ao compreendermos que cada aluno faz as suas escolhas sobre a
forma como se comporta, estamos munidos de estratégias e de alavancagem
para os influenciar. Lembre-se: O comportamento é compreensível e
intencional. Os nossos alunos fazem o que fazem com um propósito, por muito
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
36
pouca consciência disso que tenham. Quando conseguir começar a ver o
mundo – ou apenas a sua aula - através do seu olhar, poderá reagir com
racionalidade, confiança e eficácia.
Atividade:: O mesmo aluno, diferente comportamento
Escolha um aluno da sua aula cujo comportamento o preocupe e lhe cause
frustração. Observe-o
o com regularidade durante uma semana, em especial
fora da sala de aula. Ele ou ela comporta-se
comporta se da mesma maneira nas outras
aulas, com outros professores ou com outros
outros alunos? Se o seu
comportamento é bastante diferente noutras situações na escola, porque
acha que esse aluno escolhe comportar-se
comportar se dessa forma na sua aula? Consulte
os professores que não tenham problemas com esse aluno. O que estão eles a
fazer de diferente?
ente? Estará você a formular os seus pedidos como perguntas
(como a Samina)? Castigou-o
Castigou o de tal forma que ele já não quer vir à aula?
Haverá outros professores que lhe possibilitam escolhas e lhe permitem
tornar-se
se mais responsável pelo seu comportamento?
Se
e acreditamos que cada aluno está a fazer escolhas acerca o seu
comportamento, devemos também aplicar esta abordagem às nossas reações
na aula e em outros contactos com alunos. Devemos interrogarmo-nos
interrogarmo
sobre
as escolhas que estamos a fazer e sobre as razões
razões dessas escolhas e depois
ter muito cuidado com a forma como nos expressamos, tanto no gesto como
na voz.
A Necessidade de Pertença
A finalidade última do comportamento dos alunos é satisfazer a sua
necessidade de pertença.35
Este desejo de pertença é uma necessidade fundamental, partilhada por
crianças e adultos. Cada um de nós luta, esforça-se
esforça se por encontrar e manter
um lugar significativo, um lugar de pertença. Na nossa busca selecionamos as
crenças, os sentimentos e comportamentos que nós consideramos
significativos.
ignificativos. A maioria dos alunos passa várias horas por dia na escola e
portanto a sua capacidade de encontrar o seu lugar no grupo turma e na
escola no seu todo, é da maior importância. Além de que qualquer que seja o
35
Democratic Approaches to Classroom Management.
http://www.educ.sfu.ca/courses/educ326/chapter3.htm [acesso
[acesso online em 10/6/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
37
método escolhido pelo aluno para conseguir alcançar o seu objetivo de
pertença – através do bom comportamento ou do mau comportamento – esse
método é escolhido cedo na vida e torna-se no estilo que vai caracterizar
essa pessoa. É por isso que você é um ator muito importante na ajuda a cada
criança para que escolha um método que seja socialmente aceitável. Ele vai
permanecer toda a vida.
Os alunos precisam de satisfazer três C’s para experimentarem um
sentimento de pertença.36
♦ Precisam de se sentir CAPAZES de cumprir tarefas de forma a
corresponder às necessidades da aula e da escola.
♦ Precisam de sentir que CONECTAM, se relacionam eficazmente com os
professores e os colegas.
♦ Precisam de saber que CONTRIBUEM para o grupo de forma
significativa.
Os três fatores que influenciam a capacidade dos alunos de satisfazer os
três C’s, e que exigem ação da sua parte são:
1. A qualidade da relação professor-aluno, baseada na confiança, respeito
mútuo e compreensão (não medo).
2. A dinâmica de um ambiente de sala de aula virado para o sucesso (por
exemplo, em que todas as crianças sentem que estão incluídas, que são
valorizadas e que podem trabalhar em conjunto de forma cooperativa e
com sucesso).37
3. A estruturação apropriada da sala de aula (como é gerida, como é feita
a sua gestão, tema da próxima secção deste documento).
Ao encontrar formas de cumprir estes três C’s, poderá satisfazer o
sentimento de pertença do aluno e assim evitar o mau comportamento que
pode surgir do seu desejo de satisfazer essa necessidade. Também atuará
bem ao motivar os alunos bem comportados ou mais passivos, para que
participem ativamente na sua aula. Em qualquer dos casos uma das
36
37
Albert, Linda and Desisto, Pete. Cooperative Discipline. American Guidance Service, 1996.
Muitas técnicas para melhorar o clima da sua sala de aula estão incluídos em: Embracing
Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments, Bangkok:
UNESCO, 2004.
http://www2.unescobkk.org/ips/ebooks/documents/Embracing_Diversity/index.htm
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
38
ferramentas mais fortes que tem é o encorajamento, sem o qual os alunos não
podem desenvolver as ferramentas de sucesso e alcançar o seu sentido de
pertença.
PORQUE SE PORTAM MAL AS CRIANÇAS?
Não se preocupe; não é intencionalmente que os seus alunos se portam mal.
De fato, em geral, existe sempre uma razão que leva os alunos a portarem-se
mal. Algumas das razões que se acredita que contribuem para o mau
comportamento são:
♦ A tarefa ser demasiado fácil ou demasiado difícil para o aluno.
♦ A tarefa não ser interessante e o aluno aborrece-se.
♦ Os métodos de ensino podem não estar adequados ao estilo de
aprendizagem do aluno.
♦ O aluno pode não estar preparado.
♦ As expectativas não serem claras ou razoáveis.
♦ Os alunos terem fracas competências sociais, não conseguirem
comunicar bem nem com o professor nem com os outros, ou terem uma
baixa autoestima.
Todas estas razões podem levar a que o aluno se sinta desencorajado, e
alunos desencorajados são alunos malcomportados. Assim, eles procuram
alcançar a pertença através do mau comportamento.
A somar às razões já apontadas, também se acredita que as crianças se
portam mal para atingirem quatro objetivos, nomeadamente:
1. Atenção
2. Poder
3. Vingança
4. Evitar o fracasso ou incapacidade38
38
Dreikurs, Rudolf. Children: The Challenge. New York, NY: Duell, Sloan, and Pearce, 1964.
Dreikurs, Rudolf and Soltz, Vicki. Children: The Challenge. Toronto: McClelland& Stewart,
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
39
Pense novamente num aluno cujo comportamento o preocupa ou frustra. Para
saber qual a razão que está por trás desse comportamento, pergunte a si
próprio como se sente quando esse aluno se porta mal. Por exemplo, se fica
aborrecido quando o aluno desobedece, o aluno está provavelmente a pedir
atenção (como Ramon). Fica zangado? Então o poder é o objetivo último do
aluno. Sente-se magoado pelo comportamento do aluno? Então o objetivo é a
vingança. Frustrado a ponto de querer desistir de ser professor? Então o
aluno acredita que não se adequa e comporta-se mal para confirmar esse
sentimento. Vejamos cada um destes objetivos em pormenor e o que lhe
podemos fazer.39
Chamar a atenção
Todas as crianças saudáveis exigem atenção e muito do seu mau
comportamento é devido à necessidade que a criança tem de chamar a
atenção. Um objetivo importante do ensino é dar aos alunos a atenção de que
precisam para desenvolverem uma autoestima saudável. Contudo alguns alunos
utilizam o mau comportamento para terem uma atenção extra. Eles querem
ser o centro das atenções e distraem constantemente o professor e os
colegas para terem audiência. Eles precisam de confirmar de alguma forma a
sua existência e importância:” Hei! Olhem para mim! Estou aqui e sou
importante!” Se os alunos não conseguem obter a atenção através da
realização e cooperação, então vão ter que a obter de qualquer outra forma.
Podem perturbar a aula, mas eles sabem que vão conseguir o que precisam.
Não dar atenção nestas situações, em geral faz cessar o mau comportamento,
como no caso de Ramon. Todavia, se o professor tiver constantemente que
lidar com este tipo de comportamento, ignorar pode não ser suficiente. De
facto ser ignorado pode mesmo ser à partida, a causa do problema.
Com os alunos que pedem muita atenção desnecessária, pode cair na tentação
de ralhar, fazer chantagem ou usar outras técnicas de disciplina negativa.
Mas se você se lembrar que o objetivo do aluno é chamar a atenção, é fácil
perceber que o ralhar ou chantagear só encoraja esse mau comportamento.
Na ideia da criança, ter a atenção de um professor zangado é melhor do que
não ter atenção nenhuma.
1987. Albert, Linda and Desisto, Pete. Cooperative Discipline. American Guidance Service,
1996.
39
As quatro seções seguintes sobre atenção, poder, vingança e fracasso são adaptadas de
Dealing with Behaviour. http://www.kidsgrowth.com/resources/articledetail.cfm?id=119
[acesso online em 10/12/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
40
Se reparar apenas no comportamento desadequado do aluno, o aluno vai
comportar-se mal para obter a sua atenção.
Segue-se uma lista de ações disciplinares positivas que pode ter como guia
para os alunos cujo mau comportamento é chamar a atenção.
♦ Escolha uma ocasião em que eles estejam a portar-se bem; elogie-os
quando não estiverem a chamar a atenção ou a portarem-se mal.
♦ Ignore o comportamento do aluno sempre que for possível e dê ao
aluno atenção positiva em momentos agradáveis.
♦ Ensine-os a pedir atenção (por exemplo, faça cartões “Dê-me atenção,
por favor” que eles vão levantar quando tiverem uma pergunta para
fazer).
♦ Lance um olhar severo, duro, mas não fale.
♦ Fique perto em vez de se afastar (não há necessidade de usar
comportamentos de chamada de atenção se estiver ao pé deles).
♦ Alvo–parar-atuar; ou seja, dirija-se ao aluno pelo nome, identifique o
comportamento a banir, diga ao aluno o que se espera que ele faça
nesse momento, deixe-o decidir sobre o que vai fazer a seguir e as
suas consequências; por exemplo, leia a Cena 3 entre Lek e Chai no
capítulo anterior.
♦ Faça qualquer coisa de inesperado, como apagar as luzes, tocar um som
musical, baixar o tom de voz, alterar a voz, falar virado para a parede.
♦ Distraia o aluno fazendo uma pergunta direta, ou pedindo um favor,
oferecendo escolhas, mudando de atividade.
O princípio geral de resposta para o aluno que procura chamar a atenção é:
Nunca dê atenção a pedido do aluno, mesmo que seja para um
comportamento útil. Ajude os alunos a motivarem-se. Dê-lhes atenção
de formas que eles não estão à espera. Apanhe-os a serem “bons”.
Poder
As crianças estão constantemente a tentar descobrir quanto poder possuem;
Ramon é disto um bom exemplo. Alguns alunos acham que só são parte
significativa da turma quando são eles a comandar. Os alunos que procuram o
poder acham que só são importantes enquanto desafiam a autoridade do
professor, resistem às regras e não seguem as instruções. Eles acreditam
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
41
erradamente, que só se integram na turma quando têm o controlo. Eles vão
desafiá-lo para ver até onde é que pode ser empurrado, ou farão apenas o
suficiente para o apaziguar, se sentirem que você não quer continuar a luta.
A nossa resposta mais instintiva nestas lutas pelo poder, é sentir que nos
provocam e zangarmo-nos. Temos a tentação de acabar de vez com estas
lutas usando alguma forma de castigo corporal, mas isso só vai permitir uma
breve interrupção. Durante as lutas pelo poder, você precisa de agir de
forma benévola, mas firme. Conversar não vai resolver nada e apenas servirá
para alimentar a luta pelo poder. Você precisa decidir o que vai fazer, e não o
que é que precisa que o aluno faça. O princípio geral para lidar com os alunos
que querem ter poder, é sair do conflito. Lembre-se: são precisos dois para
que haja luta. Mantenha a calma, dê oportunidades, e deixe que ocorram as
consequências do comportamento do aluno. Pode até ganhar a sua cooperação
se pedir a sua ajuda. Por exemplo: ”Ok, não queres vir para a aula a horas. Eu
compreendo. Mas poderias, por favor, ajudar-me a fazer a chamada dos
alunos à entrada da aula?” Em vez de procurar ter poder sobre o professor, o
aluno é posto numa posição de responsabilidade e é-lhe atribuído um poder
legítimo.
Vingança
Lidar com o objetivo de vingança requer paciência. Um aluno, que o ataca a si
e a outros, sente que foi agredido (quer essa agressão seja real ou
imaginária), e tem que se desforrar. Sentem-se mal tratados, vencidos e
infelizes e por isso consciente ou inconscientemente, procuram vingar-se. A
vingança pode ser feita verbalmente, fisicamente ou passivamente, pela
inatividade. Pode ser completamente silenciosa, feita através de olhares e
gestos de ódio. O aluno pode também vingar-se de forma indireta,
provocando outros alunos ou escrevendo na carteira.
Quando se permite que um aluno se vingue, estabelece-se um ciclo doloroso
de relacionamento, em que se magoa e se é magoado. Lembre-se que o aluno
que procura vingança está perturbado e profundamente desencorajado. Para
quebrar o padrão da vingança, deverá evitar sentir-se magoado, e não deverá
nunca retaliar. Não vá em busca da sua própria vingança. Em vez disso
procure construir uma relação de confiança e afeto com o aluno e ao mesmo
tempo invista na sua autoestima. Isto pode ser feito facilmente se colocar o
aluno em situações em que não pode, não vai falhar. Quando o aluno se tem em
boa conta, raramente recorre ao mau comportamento como forma de
vingança. Ensine ao aluno e a todos os seus alunos, a expressar corretamente
os seus sentimentos. Em vez de se vingar por ter sido magoado física ou
emocionalmente, ensine as crianças a “deitarem cá para fora” o que sentem, a
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
42
dizerem uns aos outros como se sentiram magoados, tentar determinar a
causa e como evitá-la no futuro.
Evitar o fracasso ou inadequação
Alguns alunos temem o fracasso ou sentem que não conseguem corresponder
às suas próprias expectativas, às dos seus pais ou dos seus professores Este
sentimento de inadequação é um escape para a criança desencorajada. Por
outras palavras, uma vez que se sentem mal, comportam-se mal. Não vão
tentar proceder bem se pensarem que são estúpidos. É muito mais fácil
desistir do que tentar e voltar a falhar. Para compensar seu sentimento de
inadequação podem optar por atitudes de demissão que os fazem parecer
incapazes: ”Eu não consigo fazer estes problemas de matemática”. “Eu não
sou bom em ciências”. “Este livro é demasiado difícil para mim.” Táticas de
disciplina negativa, tais como ridicularizar ou ser sarcástico, (“Não és capaz
de fazer melhor do que isso!”), fazem estes alunos sentirem-se ainda mais
desvalorizados. Em alternativa, os alunos que se sentem incapazes,
impopulares ou cruéis podem tornar-se gabarolas, fanfarrões ou praticantes
de bullying. Podem tornar-se ameaçadores, agressores, para que os outros
alunos sintam medo.
Se os seus alunos se sentem incapazes, você tem uma tarefa difícil pela
frente. Comece por onde eles estão (e não onde era esperado que
estivessem), desenvolva expectativas razoáveis, elimine todo o criticismo ao
seu trabalho, encoraje os esforços, mesmo que ligeiros, e, sobretudo não
mostre ter pena. Você tem que lhes restaurar a confiança em si próprios e
encorajá-los, elogiando todo e qualquer sucesso que consigam, por mais
pequeno que seja. Intencionalmente, arranje maneira de eles terem sucesso
em tarefas fáceis e encontre oportunidades de os elogiar pelo seu
comportamento e esforços positivos. Lembre-se, as crianças não são adultos
em miniatura com falta de discernimento, eles erram porque estão
permanentemente a aprender.
APRENDER SOBRE OS SEUS ALUNOS
Construir uma relação de confiança e afeto com os seus alunos, uma relação
que promova o bom comportamento e previna o mau comportamento pode ser
exigente, difícil, mas também tem as suas compensações, nomeadamente
tornar o seu ensino mais agradável e melhorar a aprendizagem dos alunos. Os
seus sucessos refletem a forma como você está a desempenhar bem a sua
tarefa e como os seus alunos o veem como um modelo.
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
43
Quer tenha muitas crianças na sua aula ou um número mais fácil de controlar,
o desafio é saber o mais possível acerca de cada um dos seus alunos. Para os
que trabalham
lham com turmas grandes, dirija inicialmente os seus esforços
es
para
aquele pequeno grupo que pode precisar de mais atenção, quer porque se
estão a portar mal, quer porque se suspeita que a sua situação familiar ou
pessoal os coloca em risco de terem mau comportamento. Dirija os seus
esforços no sentido de compreender
compreender como eles se veem a si mesmos assim
como nos fatores externos – possivelmente familiares - que podem afetar o
seu comportamento.
Lembre-se:
se: Cada aluno é um indivíduo. Cada aluno traz consigo uma
história diferente, uma maneira diferente de reagir e de aprender sobre
o mundo e um sonho diferente para o futuro. Ao disponibilizar o seu
tempo para conhecer os alunos enquanto indivíduos e as suas famílias,
está a mostrar-lhe
lhe que se preocupa com eles e que respeita a sua
individualidade.
Num ambiente em que
e há respeito, todo os alunos se sentem seguros e
valorizados. O professor tem um relacionamento amigável e aberto com os
alunos, mas o professor é sempre o adulto. Prestar uma atenção afetuosa ao
trabalho do aluno revela preocupação e respeito. Em vez de dizer apenas
“Bom trabalho,” diga ao aluno por que é que o trabalho dele está bom.
Um professor precisa tanto de conhecer os interesses e sonhos dos alunos
como o que aprendem e são capazes de fazer. É importante que desenvolva
algumas atividades para obter
obter conhecimentos sobre os seus alunos.
Aqui estão três atividades que os professores usaram com sucesso.40
Lembra-se
se de mais algumas?
Atividade: Quem sou eu?
No início do ano letivo, peça aos seus alunos para preencherem uma ficha
semelhante à que aqui apresentamos.
apresentamos. Use essa informação para conversar
com os alunos, para fazer planos de lição e criar atividades de aprendizagem.
No final do primeiro período, peça para preencherem de novo a ficha e veja
se há mudanças, particularmente no que respeita aquilo em que cada aluno
40
Classroom
sroom Management. Rapport With and Knowledge of Students.
http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm
http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-know.html
[acesso
acesso online em 10/20/2005]
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
44
pensa que é bom ou não é bom, assim como para saber quando é que eles se
sentem confortáveis ou desconfortáveis na aula. Usando essa informação,
informação que
novas atividades de aprendizagem podem os alunos fazer para aumentar a sua
confiança e tornarr a sua aula num lugar mais agradável para aprender?
Se você for um professor que acompanha os alunos
alunos por vários anos, guarde as
Nome do aluno: __________________________________________
Eu quero que me tratem por _________________________________
________________________________
Uma coisa que deve saber sobre mim é ________________________
____________________________________________________
Eu gostaria de trabalhar com ________________________________
_______________________________
Sou mesmo bom a _________________________________________
______________________ __________________
Não sou muito bom ________________________________________
_______________________________________
Sinto-me
me mais feliz na aula
a
quando ______________________
__________
_________________
______________________________________________________
_____________
Sinto-me
me desconfortável na aula quando ________________________
____________________________________________________
fichas num ficheiro e analise-as
analis
para fazer alterações. Reveja os seus planos
de aula e atividades de aprendizagem em conformidade. Se estiver numa
escola com professores que ensinam diferentes disciplinas, partilhe as suas
informações com eles e encoraje-os
encoraje
a usá-las
las na preparação das suas aulas.
Atividade: Partilhar o tempo
Reserve 10 ou 15 minutos durante o dia, ou pelo menos uma vez por semana,
para os seus alunos partilharem em pequenos grupos o que sentem, as coisas
boas
as e as más que estão a acontecer nas suas vidas. Um grupo pode optar por
partilhar com o professor ou com a turma informações que sentem ser
importantes.
tividades de partilha similares podem incluir pedir às crianças que
Outras atividades
façam um diário privado e partilhem algumas partes consigo ou com outros
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
45
alunos. Quando os ensinar a escrever composições, peça para escreverem
sobre o que de bom e de mau está a acontecer nas suas vidas.
Para os alunos que estejam a viver em circunstâncias particularmente
difíceis, tente algumas das estratégias de encorajamento mencionadas no
final deste capítulo. Elogie-os sempre que seja possível e apropriado.
Pergunte se há alguma coisa em especial que gostassem de fazer ou de
aprender.
Atividade: Preencher uma ficha
Crie um formulário ou uma ficha com espaços para preencher como esta:
“Depois da escola geralmente eu _______________________________
A minha comida preferida é __________________________________
A minha atividade preferida é _________________________________
A minha disciplina preferida na escola é __________________________
Eu quero ser como __________________________________________
Eu quero ser um/uma _____________________________ quando acabar a
escola.”
Quando o número de alunos novo na aula for muito grande, pode aproveitar
esta atividade no início do ano letivo como uma oportunidade de os alunos se
conhecerem, especialmente em turmas que têm crianças de diferentes
origens e com diferentes capacidades. Na folha de papel com esta
informação, acrescente uma coluna do lado direito que ficará em branco.
Depois de os seus alunos terem preenchido as fichas, peça-lhes para
procurarem outros alunos com as mesmas respostas em cada um dos itens e
escreverem o nome desses alunos na coluna em branco.
COMPREENDER O CONTEXTO DAS VIDAS DOS SEUS
ALUNOS
Quando se compreende por que é que os alunos se comportam mal, o que pode
ser feito através dos quatro objetivos apontados acima, é mais fácil escolher
a ferramenta de disciplina positiva que vai reduzir ou até evitar esse mau
comportamento. Contudo, os quatro objetivos que foram abordados centramse apenas na satisfação das necessidades emocionais e psicológicas da
criança. O que falta é compreender o contexto de proveniência de cada
criança.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
46
Nós não somos os únicos a influenciar o comportamento dos alunos. Cada
aluno é o produto do seu ambiente global de aprendizagem. Esse ambiente
inclui não só a sala de aula e a escola, mas também a criança, a família da
criança e a sua comunidade. Por exemplo, quantas vezes já ouviu “Ele atua
como o seu pai” ou “ele atua como o irmão mais velho”? Perceber este
ambiente alargado será provavelmente um novo desafio para muitos de vós
sobretudo para os que costumam trabalhar confinados apenas à sua aula e à
sua escola.
A forma como um aluno se comporta na sua aula pode refletir a sua
frustração consigo mesmo, com a sua vida familiar, ou o fato de ter que lidar
com outras circunstâncias difíceis dentro ou fora da escola. É preciso ter
cuidado ao interpretar o comportamento de um aluno. O que nós
consideramos que é um comportamento desadequado pode não ser, de todo,
um problema de disciplina; por exemplo, a criança pode estar a pedir uma
atenção extra porque em casa não lhe dão atenção. Pode ser a reação da
criança ou a sua frustração causada por problemas que tem em casa ou
noutro lugar e que leva para dentro da aula. Assim, não é o comportamento da
criança que é o problema, é a situação em que a criança se encontra. Esta
frustração, estimulada pelas suas causas, pode também ajudar a explicar
mudanças repentinas de comportamento em alunos que normalmente se
portam bem. Em qualquer dos casos, se corrigimos a criança pelo seu
comportamento estamos a errar o alvo. Podemos estar a culpar a criança por
coisas de que não é culpada e podemos confundir ainda mais a criança. Neste
caso o castigo não vai ser eficaz, não vai funcionar e pode prejudicar
gravemente o desenvolvimento comportamental da criança.
Para conduzir o comportamento da criança de forma positiva, precisamos de
compreender o seu ambiente e os fatores que podem afetar o seu
comportamento a nível pessoal, familiar e comunitário. Quando uma criança se
comporta mal, temos que ter estes fatores em consideração, assim como os
quatro objetivos abordados anteriormente. Precisamos de nos perguntar se a
criança está a ter dificuldades que se prendem com a aula ou se alguma coisa
fora da sala de aula e da escola pode estar a causar o problema. Finalmente, a
solução destes problemas não reside apenas em nós. Precisamos de criar
fortes parcerias com os pais, os líderes da comunidade, as organizações
locais para identificar e solucionar qualquer das condições difíceis que a
criança está a enfrentar e que se refletem no seu comportamento.
Segue-se uma lista de fatores que podem afetar a vontade dos seus alunos
para frequentarem e terem sucesso na aula ou não, e de se poderem portar
mal. Também se incluem algumas ações que podem ser empreendidas para
ultrapassar esses fatores e em especial ações que envolvem a participação
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
47
das famílias e da comunidade.41 Esta lista não é exaustiva. Converse com os
seus colegas sobre que outros fatores podem estar a afetar o
comportamento dos alunos, e que ações podem ser tomadas para os resolver
quando surgirem.
A criança
Necessidade de trabalhar. As crianças que sentem que deviam estar em
casa, ou noutro sítio qualquer, para ajudar as suas famílias a ganhar a vida,
podem não querer estar na vossa aula e podem usar o mau comportamento
como um meio de evasão. O que lhes interessa é dar às suas famílias ajuda
imediata, e não encaram a sua educação como um processo de assegurar o
futuro económico das famílias, a longo prazo. Com estas crianças é necessário
mostrar como a aprendizagem e o bom comportamento podem, de fato,
aumentar as suas perspetivas de trabalho. Também podemos dar-lhes
oportunidade de ganharem dinheiro e de aprenderem, por exemplo através de
programas de trabalho prático, na escola, em que os produtos feitos podem
ser vendidos e os lucros reverterem para os alunos. Outra boa estratégia é
convidar os pais ou membros respeitados da comunidade com conhecimentos
ou competências que possam servir de recurso na sala de aula. Podem ensinar
às crianças as suas profissões e como elas se relacionam com o que está a ser
ensinado na aula, assim como o valor da educação a longo prazo.
Além disso, algumas crianças, especialmente as meninas, podem ter muitas
tarefas para fazer em casa antes de irem para a escola, tais como cuidar dos
irmãos mais novos, limpar a casa, ir buscar combustível, preparar a comida,
tratar dos animais. Assim, podem ficar com muito pouco tempo para fazer os
trabalhos da escola, podem chegar atrasadas à escola, e podem adormecer na
aula. Estes não são problemas de comportamento, mas sim formas de
enfrentar a situação familiar. Consequentemente, a disciplina não vai corrigir
o comportamento da criança.
Outras estratégias têm que ser implementadas para procurar ajudar a
criança a trabalhar em casa e também a aprender, por exemplo, dando-lhe
atenção extra durante a aula; não dando ou dando poucos trabalhos de casa e
possibilitando-lhes que os acabem na escola; encorajando os alunos a
ajudarem-se uns aos outros a completar as tarefas (aprendizagem por pares);
dando tempo adicional para tutorias, possivelmente em casa.
41
UNESCO. “Booklet 3: Getting All Children In School and Learning,” Embracing Diversity:
Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
48
Doença e fome As crianças não aprendem se estiverem doentes, com fome
ou mal alimentadas. Em geral estas crianças vêm de famílias extremamente
pobres que lutam diariamente pela sobrevivência. A doença e a fome reduzem
os tempos de atenção e afetam drasticamente os níveis de desempenho dos
alunos. Estes baixos níveis podem levar a sentimentos de incapacidade e
fracasso, que levam a problemas de comportamento. As ações necessárias
para ajudar estas crianças vão para além da sala de aula, e até da escola, para
irem até à comunidade. A primeira iniciativa a tomar é estabelecer programas
escolares que providenciem refeições nutritivas de forma regular. As
meninas podem ser particularmente beneficiadas. Grupos de mulheres na
comunidade ou outras organizações locais podem preparar estas refeições.
Adicionalmente é necessário trabalhar com os serviços de saúde locais para
estabelecer rastreios e programas de terapia em saúde geral, dental e
nutricional.42
Medo da violência. Recear atos de violência no caminho para a escola, no
regresso a casa ou mesmo dentro da sala de aula, (na forma de castigo
corporal ou de bullying) pode levar a que alguns alunos se afastem e deixem
de participar nas aulas. Também tem custos na sua autoestima e faz
aumentar o sentimento de insatisfação. O que pode ser feito para conhecer
melhor a situação na sua escola? Ajude as crianças e a comunidade a indicar
os locais onde ocorre a violência, tanto nos espaços de recreio da escola como
na ida e regresso da escola. Também pode trabalhar com os líderes da
comunidade e com os pais para estabelecer ações de vigilância em que
professores responsáveis, pais e outros membros da comunidade vigiem áreas
de potencial ou elevada violência dentro e fora da escola. Isto pode incluir o
acompanhamento de crianças até zonas seguras quando necessário. Também
pode pedir aos seus alunos para preencherem questionários anónimos onde se
pergunta se já foram vítimas de bullying ou se foram sujeitos a castigos
corporais, e de que forma isso aconteceu43 e reforçar as políticas de
prevenção da violência contra as crianças, incluindo os castigos corporais e
códigos de conduta para professores e pessoal da escola.
Deficiência e necessidades especiais. A maioria das crianças com
deficiência ou necessidades especiais não frequenta a escola, especialmente
42
Para mais ideias, veja: UNESCO. “Booklet 6: Creating a Healthy and Protective ILFE,”
Embracing Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments.
Bangkok, 2004
43
UNESCO. “Booklet 4: Creating Inclusive, Learning-Friendly Classrooms,” Embracing
Diversity: Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok,2004.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
49
quando as nossas escolas e sistemas educativos não têm políticas nem
programas de inclusão para crianças com défices físicos, emocionais ou de
aprendizagem. Contudo, algumas destas crianças ESTÃO na escola e podem
estar na sua aula. São aquelas cuja deficiência está “escondida” como no caso
de défice de visão ou audição ou os que têm Défice de Atenção com
Hiperatividade, como o Ramon. Se estes défices não forem detetados, os
comportamentos das crianças – falta de atenção, baixo rendimento escolar ou
hiperatividade na sala de aula – podem ser erradamente encarados como
problemas de comportamento. As escolas precisam de ter programas de
rastreio para identificar esta situações atempadamente e referenciar os
alunos para serem ajudados e poderem participar e aprender plenamente nas
aulas. Os alunos podem eles próprios fazer testes simples de audição e
visão.44
A Família e a Comunidade
As famílias e as comunidades deviam estar na linha da frente de proteção e
de cuidados de uma criança, para se perceber os problemas com que ela pode
estar a confrontar-se e para atuar no sentido de lidar com esses problemas
de maneiras sustentáveis. O meio mais eficaz de prevenir a indisciplina é
através de famílias fortes, dedicadas e dinâmicas. Seguem-se algumas
considerações essenciais associadas à família e à comunidade que podem
determinar a frequência ou o comportamento dos alunos na escola. Haverá
outros fatores familiares ou da comunidade na sua região, país ou
cultura que possam afetar a assiduidade ou o comportamento na
escola?
Pobreza e valor prático da educação. Diretamente relacionada com o
fator “necessidade de trabalhar” acima referido, a pobreza afeta muitas
vezes o desempenho e o comportamento na escola. Devido à sua carga
financeira, os pais pobres são frequentemente pressionados até para
proverem às necessidades básicas da vida. Daí que as crianças tenham que
ajudar a ganhar dinheiro para a família, em detrimento da sua educação e da
sua vida futura. Isto ocorre especialmente quando as famílias não sentem o
interesse da educação para a vida quotidiana; assim, essas famílias não
compreendem por que razão os filhos precisam de frequentar a escola, nem
se interessam pelo seu comportamento (por vezes, até em casa). Também
pode acontecer que os pais achem que a educação, que a escola local
44
UNESCO. Booklet 6: Creating a Healthy and Protective ILFE. Embracing Diversity:Toolkit
for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
50
proporciona, não é de boa qualidade e que as competências que os filhos vão
adquirir em determinados empregos são mais valiosas do que as que aprendem
na sala de aula.
Como a raiz do problema é económica, as estratégias eficazes para se chegar
às crianças pobres, conseguir que frequentem a escola e ajudá-las a aprender
com interesse têm que se basear em incentivos económicos a curto e a longo
prazo, não só para a criança, mas também para a família.
Cuidados inadequados. Devido à necessidade de ganhar dinheiro, alguns
pais têm pouco tempo para cuidar dos filhos. Muitas vezes são obrigados a
emigrar temporariamente ou por longos períodos de tempo. O resultado
desta situação é que têm que entregar os filhos ao cuidado de avós idosos ou
de outras pessoas. Estes avós ou outros educadores nem sempre têm
conhecimentos, experiência ou recursos que lhes permitam proporcionar os
cuidados adequados à criança, o que pode conduzir a doenças e fome. Alguns
também não valorizam a educação especialmente quando precisam muito de
dinheiro, nem se importam com o comportamento na aula. O que se pode
fazer para ajudar os alunos?
♦ Em dias especiais convide os pais ou outros educadores para visitar a
escola. Mostre-lhes o trabalho das crianças e converse informalmente
com eles ou organize sessões em que eles participem sobre como
melhorar a saúde e o comportamento das crianças através de cuidados
mais adequados.
♦ Convide pais e outros responsáveis pela criança com conhecimentos
específicos para falar com a turma sobre o seu trabalho, para que eles
próprios também percebam a importância que os seus conhecimentos
têm para as crianças.
♦ Promova conversas entre professor-pais/outro responsável para falar
do progresso da aprendizagem das crianças e explicar até que ponto
cuidados mais adequados podem melhorar a aprendizagem, a
autoestima e o comportamento da criança.
♦ Arranje materiais de departamentos do governo e de organizações
não-governamentais, especialmente das que estão relacionadas com a
saúde e a nutrição. Use-os em programas com os alunos sobre saúde
escolar e educação da vida familiar e mande-os regularmente para casa
para que eles os leiam à família.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
51
♦ Crie programas de ensino de competências parentais de modo a que a
escola e outras organizações possam ajudar os pais e outros
educadores a melhorar as suas práticas.
♦ Desenvolva parcerias com departamentos de segurança social e indique
as crianças que se encontram em situações familiares especialmente
difíceis.
A Família e a Comunidade: Uma estratégia na Tailândia
Na Tailândia, as escolas amigas das crianças estão a usar informação sobre
processos de aprendizagem de crianças e as circunstâncias familiares em que
vivem para identificar os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, que
faltam frequentemente, que não se interessam por aprender e que o mais
provável é que venham a abandonar a escola, muitas vezes porque as famílias
têm pouco dinheiro e valorizam mais o trabalho da criança do que a sua
educação. Para estes alunos, dá-se prioridade a aptidões profissionais em
áreas como tecelagem de seda e de algodão, costura, carpintaria, produção
agrícola, dactilografia, informática e outras do mesmo género. Uma
preparação assim aumenta o rendimento familiar enquanto os alunos estão na
escola e dá-lhes competências que podem usar toda a vida. Também aumenta
a sua autoestima e a confiança em si próprios assim como contribui para que
se sintam realizados. Algumas destas crianças têm mesmo recebido prémios
nacionais e regionais pelo seu trabalho. Em certas escolas, os familiares dos
alunos servem de “professores” para lhes ensinar trabalhos artesanais, tais
como tingir fio de seda e tecê-lo em padrões tradicionais. Esta participação
valoriza a escola aos olhos dos pais e dos membros da comunidade,
aumentando as fontes de rendimento e realçando o interesse em preservar
tradições culturais importantes. Melhora também a comunicação entre pais e
filhos sobre o trabalho e o comportamento na escola., assim como sobre o que
o futuro e a educação das crianças podem significar para a família. Será
possível implementar esta estratégia no currículo da sua escola?
Conflito. Alguns pais, envolvidos na discussão sobre dinheiro ou outros
problemas (tais como alcoolismo ou abuso de drogas), descarregam nos filhos
a sua ira com violência, originando um sentimento de culpa nas crianças. Isto
pode contribuir para uma frequência irregular e para a indisciplina ou mesmo
para que fujam de casa e da escola. Durante a crise económica asiática de
1997, por exemplo, um rapaz tailandês foi apanhado no meio de uma discussão
entre os pais sobre dinheiro e sofreu maus tratos. A vida em casa era muito
pobre e ele começou a isolar-se na aula e a não querer participar. Além disso,
também não acabava os trabalhos em devido tempo, para não falar noutros
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
52
problemas. Em vez de o castigar, a professora fez com que ele falasse da sua
vida em casa e depressa descobriu a verdade sobre a sua situação. O rapaz
disse que não percebia a razão por que lhe tinham batido; ele não tinha nada a
ver com os problemas de dinheiro da família. Depois disso, a professora
passou a valorizá-lo, a dar-lhe oportunidade de brilhar e até mesmo a dar-lhe
mais carinho e atenção. Sempre que possível, também lhe pedia que a
ajudasse antes e depois da escola para evitar que passasse tanto tempo num
ambiente doméstico destrutivo. O seu comportamento mudou muito
rapidamente e começou a melhorar bastante nos estudos. Depois de terem
resolvido as suas diferenças, os pais viram que ele estava a progredir na
escola e elogiaram-no durante uma reunião com a professora.
Discriminação. As crianças provenientes de famílias que são diferentes da
comunidade em geral em termos de língua, religião, casta ou outros aspetos
culturais estão especialmente em risco de serem alvo de bullying, do ridículo,
de troça e coisas no género. Também correm risco as crianças afetadas por
VIH/SIDA. As atitudes discriminatórias e negativas em relação a estas
crianças são talvez a única grande barreira à sua inclusão na escola e à
possibilidade de participarem duma maneira equitativa, ativa e feliz no
processo de aprendizagem. Encontram-se atitudes negativas a todos os
níveis: pais, membros da comunidade, escolas e professores, representantes
do governo e mesmo entre as próprias crianças marginalizadas. Medos, tabus,
vergonha, ignorância e má informação, entre outras circunstâncias,
favorecem atitudes negativas em relação a estas crianças e às situações em
que vivem. Algumas ficam com uma baixa autoestima, isolam-se e evitam a
interação social, são indisciplinadas nas aulas e tornam-se membros invisíveis
da comunidade. Por isso, precisamos de pôr em relevo a importância de se
reduzir a discriminação e de se valorizar a diversidade.
♦ Trabalhar com pais e membros da comunidade para adaptarem os
materiais escolares às diversas culturas e línguas dos alunos. Isto
ajuda a encontrar materiais autênticos e úteis e a incentivar as
crianças a irem à escola e a trabalharem em conjunto.
♦ Utilizar histórias locais, histórias orais, lendas, canções e poemas nas
aulas.
♦ No caso de alunos que não falem a língua usada nas aulas, trabalhar
com professores bilingues ou outras pessoas que falem a língua da
criança (até mesmo familiares e membros da comunidade).
Para reduzir o bullying, deverá usar uma série de estratégias, tais como:
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
53
♦ Utilizar exercícios que ajudem a relaxar e a reduzir a tensão.
♦ Intensificar a aprendizagem cooperativa dentro da sala de aula (alunos
a ajudarem-se uns aos outros para aprenderem).
♦ Melhorar a confiança das crianças, dando-lhes mais poder, como por
exemplo, deixando-as elaborar regras para as aulas e dando-lhes
responsabilidade dentro de um grupo de trabalho de alunos.
♦ Desenvolver estratégias de criança para criança que ajudem a lidar
com conflitos. Por exemplo, ensinar competências para resolução de
conflitos, como negociação e mediação (assunto discutido abaixo).
♦ Permitir que os alunos identifiquem as medidas disciplinares que devem
ser tomadas em relação a quem persegue os colegas.
No âmbito do currículo, os professores podem usar drama ou marionetas para
determinar o grau e as causas do bullying, assim como para encontrar
soluções quando tal acontece dentro ou fora da escola. Um grupo de
professores da Guiana fez marionetas e pequenas peças de teatro para
ilustrar aspetos de bullying racial e, seguidamente, planeou os passos a dar
para ajudar as crianças que se encontravam nestas situações.
Também se pode organizar discussões ou debates sobre assuntos delicados,
assim como histórias ou role-playing para as crianças aprenderem a dizer
“Não” e encontrarem a linguagem a usar com aqueles que os intimidam e com
quem os maltratam.45
INVESTIGAÇÃO SOBRE AS FAMÍLIAS DOS ESTUDANTES
Em muitas escolas da Ásia e do Pacífico, os professores estão a fazer perfis
dos alunos como meio de colher informações sobre as famílias de que são
provenientes. Um perfil do aluno
♦ Ajuda os professores a perceber as razões que levam o estudante a
faltar à escola, a comportar-se mal na aula ou a estar em risco de
abandono escolar.
♦ Mostra a diversidade das crianças na comunicação em termos das suas
caraterísticas individuais e das caraterísticas das famílias.
UNESCO: Booklet 4. Creating Inclusive Friendly Learning Classrooms,“ Embracing
Diversity: Toolkit for Creating Inclusive Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.
45
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
54
♦ Ajuda a planear programas para ultrapassar fatores que excluem as
crianças da escola e as tornam indisciplinadas.
Pode-se criar um perfil do aluno dando os seguintes passos:
Passo 1: Em conjunto com os seus colegas, analise os principais aspetos de
mau comportamento encontrados nos vossos alunos e nos fatores dentro da
família ou da comunidade que os podem causar (como os que acima se
discutiram). Certifique-se de que incluiu todos os fatores que podem
contribuir para o absentismo ou para atraso na chegada à escola.
Passo 2: Usando estes fatores, elabore uma lista de perguntas cujas
respostas lhe possam dar uma ideia da razão do mau comportamento da
criança na aula. Segue-se o exemplo de um questionário que está a ser
aplicado em Escolas Amigas das Crianças nas Filipinas e na Tailândia para se
perceber a situação de crianças de diversas origens e capacidades que têm
dificuldades de aprendizagem e que, por vezes, se sentem desajustadas.46 O
professor pode organizar a sua lista de perguntas com base nas
barreiras que lhe parecem comuns dentro da sua comunidade.
Discriminação
♦ Qual é o sexo da criança?
♦ Que idade tem?
♦ Qual é a nacionalidade da criança e o seu grupo étnico?
♦ Que religião professa?
♦ Qual é a sua língua materna?
♦ Qual a situação da sua casa relativamente à escola (distância, tempo
de viagem)?
♦ Que meio de transporte utiliza? Será seguro?
46
Podem-se encontrar exemplos do Perfil da Criança de outros países como El Salvador e
Uganda no: “Toolkit for Assessing and Promoting Equity in the Classroom”, produzido por
Wendy Rimmer et al. Editado por Marta S. Maldonado e Ângela Aldave. Creative
Associates International Inc., USAID/EGAT/WID. Washington DC. 2003.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
55
Fatores a nível da criança
♦ A criança trabalha dentro ou fora de casa para ganhar dinheiro ou
ajuda no trabalho doméstico?
♦ Qual é o seu estado nutricional e de saúde?
♦ Tem deficiências que prejudiquem o seu acesso aos serviços da escola
ou o seu rendimento na aula?
Cuidadores: Conflitos
♦ Que idades têm os pais da criança?
♦ O pai e a mãe estão ainda vivos; caso contrário, qual é que morreu?
♦ Qual é o grau de educação de cada um dos pais?
♦ Já algum dos membros da família abandonou a escola? Porquê?
♦ Os pais ainda vivem juntos?
♦ Com quem é que a criança mora?
♦ Quantas pessoas vivem em casa?
♦ Quantas crianças há em casa (especialmente muito pequenas)?
♦ Quem é a pessoa mais responsável por essas crianças?
♦ Já algum dos pais emigrou para ir trabalhar?
Pobreza e valor prático da educação
♦ Qual é a principal ocupação de cada um dos pais da criança?
♦ A família tem algum terreno para rendimento? Se tem, qual é a sua
área?
♦ A família arrenda terreno para rendimento? Que quantidade?
♦ Qual é o rendimento mensal médio da família?
♦ A família pede dinheiro emprestado para aumentar o seu rendimento?
Nesse caso, quanto, com que frequência e em que alturas do ano?
♦ O agregado familiar participa como membro em algum grupo de
desenvolvimento da comunidade?
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
56
Passo 3: Elabore um questionário para obter respostas a estas perguntas.
Pode utilizar a lista de perguntas acima referida, anotando as respostas ou
uma ficha de Perfil do Aluno mais formal.47 Posteriormente, o questionário
pode ser: (a) remetido para casa dos alunos para ser preenchido ou enviado
para a escola pelo correio ou por um responsável da comunidade. (b)
preenchido com base nas entrevistas com as crianças ou com os próprios pais
quando as vão buscar à escola, em reuniões de pais ou durante as reuniões da
Associação de Pais com o professor.
Passo 4: Depois dos questionários estarem preenchidos e entregues, elabore
um estudo de caso descritivo para cada aluno que contemple as respostas
acima mencionadas. Este estudo de caso ajuda-o a identificar, relacionar e
analisar os fatores que podem afetar o comportamento e a aprendizagem das
crianças.
Passo 5: Depois de elaborados os estudos de caso, examine-os para ver
quais os fatores que podem estar a afetar a capacidade da criança aprender
plenamente na sala de aula e também o seu comportamento. Sublinhe-os para
os pôr em evidência e para os relacionar mais facilmente. Para o caso da Aye
abaixo descrito, podem ser diferenças culturais que a fazem sentir-se
discriminada e inferior, pode também ser a pobreza, cuidados inadequados,
falta de acesso a recursos fora da família e uma fraca situação nutricional e
de saúde. Utilize estes fatores como pontos de partida para planear ações
positivas que vão de encontro às causas do absentismo da criança ou do seu
mau comportamento. Trabalhe em conjunto com os seus colegas, direção da
escola, pais, dirigentes da comunidade e organizações locais para planear, pôr
em prática, monitorizar e avaliar cada uma das estratégias.
A Família de uma Aluna: O caso da Aye
A Aye pertence ao grupo étnico de Hmong que vive na Tailândia do Norte e
tem por volta de 9 anos. O pai morreu. A mãe tem 30 anos, não voltou a casar,
é analfabeta e a sua ocupação principal é o cultivo de arroz num pequeno
pedaço de terra. É a Avó de Aye que se encarrega dela e do seu irmão de 5
anos que não frequenta o ensino pré-escolar. A família é muito pobre, ganha
menos de 500 baht por mês. Durante a estação em que não há cultivo, a mãe
migra para Bangkok como trabalhadora manual. A família não pertence a
nenhum grupo comunitário da aldeia e não tem acesso a recursos da
comunidade. Metade das faltas da Aye à escola foi justificada porque ela
47
UNESCO.. “Booklet 3: Getting All Children In School and Learning”. Embracing Diversity:
Toolkit for Creating Inclusive, Learning-Friendly Environments. Bangkok, 2004.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
57
precisava de ajudar a mãe ou a avó, enquanto a outra metade se deveu a
doença. Ela sofre frequentemente de graves afeções respiratórias e tem uma
ligeira insuficiência de iodo. Na aula adormece e não entrega os trabalhos de
casa no devido tempo. Muitas vezes parece estar preocupada, mas não
interessada nas atividades letivas nem nos colegas.
Nota: Quem trabalhe com turmas grandes, deve começar por
elaborar Perfis dos Alunos para o pequeno número de crianças que
possam vir a precisar de atenção especial, quer seja por
dificuldades de aprendizagem, quer seja por indisciplina ou por se
suspeitar que a sua situação pessoal ou familiar os possa pôr em
risco de mau comportamento. Mais tarde, o mesmo se deve fazer
com os outros alunos.
COMUNICAÇÃO PAIS-PROFESSOR
Criar uma relação positiva entre professor e pais, uma relação que promova o
bom comportamento e previna o mau comportamento, também requer
envolver os pais na educação dos filhos. Há dois fatores que põem a criança
em risco de mau comportamento e de abandono escolar: o não envolvimento
dos pais e baixas expectativas da sua parte.48 O envolvimento dos pais tem
um efeito positivo no aproveitamento das crianças e é o fator através do qual
melhor se prevê o sucesso do aluno na escola. Alguns dos benefícios do
envolvimento familiar são:
♦ Melhores
resultados,
independentemente
do
seu
estatuto
socioeconómico, da sua origem étnica ou racial ou do nível de educação
dos pais.
♦ Maior assiduidade.
♦ Maior consistência na realização dos trabalhos de casa.
♦ Atitudes e comportamentos mais positivos.49
48
Wells, S.E. At-risk Youth: Identification, Programmes, and Recommendations. Englewood,
Colorado: Teacher Idea Press, 1990
49
Parent-Teacher Communication. Professional Development Academy.
http./www.mcps.org/iss/Portfolio/Communication/Conferences.ppt [acesso online em
12/1/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
58
Contudo, se pretende conseguir envolver os pais na educação dos filhos, tem
que mostrar muito interesse pela criança. A investigação sugere que os pais
usam o conhecimento que os professores evidenciam da personalidade ou
interesses de uma determinada criança como um meio de para a sua triagem e
avaliação. Eles estão mais interessados em escutar com interesse as
informações acerca da criança se eles sentirem que o professor conhece o
que se passa de especial com eles.50 Esta é uma das principais razões pelas
quais o conhecimento da criança e dos pais é essencial na criação de parcerias
entre os pais e o professor. Mais ainda e sobretudo com crianças que se
comportam mal na sala de aula, uma reunião de pais/professor/aluno, muitas
vezes, resolve a situação das crianças que põem a escola contra a sua casa e
os pais contra o professor.
Normalmente, convoca-se uma reunião entre pais-professor ou paisprofessor-aluno, sobretudo para uma das seguintes questões:
(a) Discutir um assunto académico específico, como por exemplo, o
rendimento na aprendizagem (bom ou mau) ou, em vez da reunião, fazse um pedido de presença dos pais na aula ou na escola.
(b) Discutir assuntos disciplinares ou relacionados com a frequência da
escola.
(c) Discutir um assunto apresentado pelos próprios pais.
(d) Concretizar uma reunião de rotina, prevista no calendário escolar.
Com o tempo, os professores experientes normalmente desenvolvem o seu
próprio estilo e maneira de atuar para fazer essas reuniões. Contudo, para
professores principiantes, é importante elaborar um plano de reunião. Esse
plano deve incluir os recursos necessários, as limitações que podem afetar o
andamento da reunião e como as ultrapassar e, além disso, a relação dos
assuntos principais, comuns a todos os alunos, e os específicos de alunos em
particular.51
Os recursos podem incluir:
♦ Quem deve estar presente na reunião e quais os horários?
♦ Qual o espaço disponível?
50
Reforming Middle Schools and School Systems. Changing Schools in Louisville, Vol. 1, Nº. 2
Spring/Summer, 1997.
51
Parent-Teacher Communication. Professional Development Academy.
http://www.mcps.org/iss/Portfolio/Communication/Conferences.ppt [acesso online em
12/1/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
59
♦ Se um pai trouxer filhos mais novos, o que se pode fazer para os
manter ocupados?
♦ Que informação dos registos de orientação ou de frequência pode ser
útil na conversa com os pais e que podem ser previamente solicitados
para a reunião? Alguns professores fazem “Diários de Incidentes
Comportamentais” para seguirem os problemas disciplinares e utilizamnos em conversas com os pais. Os referidos diários podem também ser
usados para verificar se a criança se porta mal regularmente e como.
Estas fichas contêm: (a) o nome do aluno; (b) a data e a hora do
incidente; (c) uma breve descrição do sucedido; (d) como se agiu; (e)
nome da pessoa a quem o incidente foi comunicado, assim como a hora
e o método de comunicação (escrita, verbal); (f) o nome das pessoas
que testemunharam o acontecimento; (g) o nome da pessoa que
escreveu este diário/comunicação, bem como a data; (h) fatores que
contribuíram para o incidente e/ou mudanças que possam ter
influenciado o comportamento da criança; (i) assinaturas do diretor, do
professor que testemunhou o incidente e do encarregado de educação,
assim como a data.
Limitações ou barreiras são aquelas que podem prejudicar o processo da
reunião e que deve tentar resolver antes de convocar os pais. Estas
limitações podem incluir o que consta da lista que se segue. Poderá
acrescentar mais algumas?
♦ Há alguém disponível para tomar conta da sua turma se tiver que fazer
a reunião durante o dia?
♦ Como comunicar com famílias que não têm telefone?
♦ O que fazer se pais separados se recusarem a participar na mesma
reunião?
♦ Alguns pais podem não ter transporte ou terem obrigações de
trabalho. O que fazer para os ajudar a vir à reunião ou será que pode ir
ter com eles?
Problemas difíceis podem incluir perguntas como:
♦ Até que ponto é que o aluno deve estar envolvido na reunião?
♦ Como
envolver
problemáticas?
os
pais
na
procura
de
soluções
para
áreas
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
60
♦ Qual a documentação necessária?
♦ O que discutir com os pais de um aluno sobredotado, de um aluno com
dificuldades de aprendizagem ou com problemas de comportamento?
Uma reunião bem preparada não só facilita o seu trabalho como também
mostra aos pais que é uma pessoa organizada e que se preparou para discutir
a situação do filho. Ao planear a reunião deve dar alguns passos importantes:
♦ Carta aos pais a convocá-los para a reunião. A convocatória deve ser
positiva mesmo que esteja em causa discutir o mau comportamento da
criança. (por exemplo, “O Johny é um aluno que exige muito de nós para
o ensinar. Poderá comparecer na escola em (data, hora) para troca de
impressões sobre o seu progresso?”
♦ Lista dos materiais a levar para a reunião.
♦ Lista das pessoas a convocar para a reunião (se necessário).
♦ Agenda da reunião (para cada aluno: a agenda deve ser apresentada
aos pais na altura da reunião).
♦ Ata
para registar os
acompanhamento futuro.
resultados
da
reunião
e
planear
o
♦ Plano da ação de acompanhamento futuro para cada aluno. Se possível,
este plano - ou pelo menos os seus pontos principais - deve ser
discutido com os pais do aluno, especialmente se algumas partes do
plano requererem monitorização e informação da sua parte.
Nota: As reuniões de pais/professor podem ser formais ou
informais. Para professores com turmas muito grandes, em que não
há tempo para reunir com todos os pais num só dia, fazer reuniões
formais com os pais das crianças que estão a ter dificuldades. Para
os outros alunos organizar conversas informais em horário
conveniente (tanto para si como para os pais). Estas reuniões
podem ter lugar na sala de aula ou em qualquer lugar da escola, por
exemplo, quando os pais vão buscar os filhos; em casa se fizer
visitas a casa; ou em dias de eventos especiais da escola ou da
comunidade.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
61
ESTRATÉGIAS DE APOIO
Esta secção foca a construção de uma relação positiva com os alunos, uma
relação baseada em compreensão e empatia. Seguem-se algumas condições
especialmente importantes para encorajar um comportamento positivo como
parte de um processo de construção de uma relação:52
♦ Manter um tom emocional positivo na aula. A maneira como trata e
reage aos alunos reflete-se no seu comportamento.
♦ Dar atenção ao aluno para aumentar o comportamento positivo. Para
os alunos mais velhos, a atenção inclui o conhecimento e interesse pela
sua vida familiar, pelas suas atividades na escola e por quaisquer
outras atividades de que gostem.
♦ Dar consistência ao trabalho usando rotinas regulares em atividades
e relacionamentos diários para tornar as experiências inesperadas ou
negativas menos stressantes.
a
situações
semelhantes
de
comportamento – tanto positivas como negativas – para promover
relações professor-aluno mais harmoniosas e melhores resultados dos
alunos.
♦ Reagir
consistentemente
♦ Ser flexível, especialmente com alunos mais velhos e adolescentes.
Escutar as razões que apresentam para aceitar ou não as suas
exigências ou regras da sala de aula e negociar uma solução. Isto
mostra que o professor valoriza os pontos de vista dos alunos, o que
pode reduzir futuros casos de indisciplina. Mais ainda, tem-se
verificado que o envolvimento do aluno na tomada de decisões contribui
para um aumento a longo prazo do seu julgamento moral.
♦ Errar não é problema. Diga aos seus alunos: “Só aprendemos se
cometermos erros. Eu faço erros todos os dias. Vamos fazer alguns
agora.” Isto cria uma parceria de aprendizagem com base em respeito
mútuo.
52
Adaptado de: The American Academy of Pediatrics. Guidance for Effective Discipline.
http://aappolicy.apppublications.org/cgi/content/full/pediatrics:101/4/723 [acesso online
em 12/2/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
62
♦ Favorecer a confiança. Fomentar conversas pessoais positivas. Peça
a cada um dos seus alunos que fale sobre aquilo em que se considera
bom, seja o que for. Depois utilize as suas respostas nas aulas; faça
com que os alunos fiquem envolvidos em ajudá-lo a ensinar.
♦ Dar ênfase a sucessos anteriores. No caso de um aluno com
tendência para se sentir desajustado ou para recear o insucesso,
elogie-o pela última nota no exame (seja ela qual for) e encoraje-o a
fazer melhor. Ofereça-lhe explicações especiais ou trabalho de
reforço extra, e acompanhe o evoluir da situação.
♦ Tornar a aprendizagem significativa. Altere os seus métodos de
ensino. Em vez de fazer uma exposição sobre figuras geométricas,
divida os alunos em pequenos grupos e peça-lhes que em 15 minutos
encontrem o máximo de formas diferentes na escola ou na comunidade.
O grupo que ganhar recebe um pequeno prémio!
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
63
Criação de um Ambiente
Aprendizagem Positivo e com Apoios
de
O Que Vai Aprender:
♦ A Importância da Gestão da Sala de Aula
♦ Tornar Confortável o Ambiente de Aprendizagem
♦ Criar Rotinas na Aula
♦ Elaborar Regras para a Aula e Envolver os Pais
♦ Adotar um Estilo de Gestão que Favoreça os Bons Comportamentos
♦ Oferecer Reforços Positivos
GESTÃO DA AULA NUM SIAA
Para que haja disciplina, o ambiente da sala de aula tem que ser bem gerido e
bem organizado. No que respeita à gestão da sala, muitos de nós pensamos
em controlar o comportamento do aluno ou questionamo-nos sobre como
vamos manter a ordem na aula. Numa sala de aula bem gerida, é espectável
que esta ação, sob a forma de uma técnica positiva de disciplina, não ocupe
muito tempo, que apenas quebre um pouco o andamento da aula. Para chegar a
este ponto, é preciso fazer um plano de gestão da sala de aula com vários
elementos. Alguns destes elementos já foram discutidos nos Manuais 4 e 5
das Ferramentas para Criar Salas de Aula Inclusivas e Amigas da
Aprendizagem, produzidos por UNESCO Bangkok. Vamos aqui discutir mais
alguns destes elementos.
O primeiro passo no processo de planeamento consiste em decidir o que
realmente nós entendemos por “gestão da sala de aula”. Quando usamos o
termo “gestão da sala de aula”, referimo-nos aos procedimentos, estratégias
e métodos de ensino que os professores empregam para criar um ambiente na
sala de aula que promova a aprendizagem, desenvolva e controle os
comportamentos e as atividades de aprendizagem dos alunos, individualmente
ou em grupos dentro do referido ambiente. Por conseguinte, a gestão eficaz
da sala de aula cria um ambiente que nos proporciona a possibilidade de
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
64
ensinar e que leva à melhoria da aprendizagem e do comportamento de todos
os alunos. Uma má gestão da aula muitas vezes dá origem ao caos; os nossos
alunos não sabem o que esperamos deles, não percebem como se devem
comportar ou reagir, não conhecem os limites nem as consequências que
resultam do mau comportamento. Gerir bem uma sala de aula é a competência
mais importante e a mais difícil que um novo professor deve dominar. Mesmo
os professores experientes vêem-se, muitas vezes, confrontados com um
aluno ou com uma turma pondo em causa a sua gestão de muitos anos e
forçando-os a procurar novas maneiras de lidar com algumas situações na sala
de aula. Uma sala de aula é um lugar onde os alunos se juntam para aprender.
Criar um ambiente seguro e ordenado na sala de aula é, pois, uma questão de
sobrevivência para os professores que otimizam o ambiente de aprendizagem
para todos os alunos.
TORNAR O AMBIENTE DE APRENDIZAGEM CONFORTÁVEL
Já alguma vez esteve numa sala de aula a abarrotar de alunos ou de objetos
como, por exemplo, mobiliário? A princípio, como é que se sentiu? Passado
pouco tempo essa impressão mudou? Ao entrar na sala, muitos de nós
podemos ter ficado inicialmente surpreendidos. Mas quando tivemos que
começar mesmo a trabalhar e a interagir, provavelmente começámos a ter
sentimentos negativos. Podemos ficar frustrados ou irritados ou então
retirarmo-nos para um canto para evitar os outros ou para evitar cair ou
chocar contra os muitos objetos da sala.
Em salas de aula onde o espaço físico não é bem gerido, os nossos alunos
podem reagir da mesma maneira e ter mau comportamento por se sentirem
mal ou frustrados. Por conseguinte, um espaço de aula bem planeado pode
ajudar-nos a prevenir atitudes de indisciplina e ter uma profunda influência
no rendimento da aula.
Como acontece com todos os aspetos da gestão da sala de aula, a maneira
como a sala é organizada depende das suas preferências, assim como das
preferências dos alunos. O que o faz sentir-se confortável pode não ser o
mesmo que faz os alunos sentirem-se confortáveis. No início do ano, organize
a sua sala de aula e depois pergunte aos alunos se se sentem bem. Melhor
ainda, divida-os em grupos e peça a cada grupo para olhar em volta da sala e
do que lá está dentro e depois desenhar ou fazer um mapa sobre como
gostariam que a sala estivesse organizada, especialmente se a turma tiver
muitos alunos. Aproveite ideias de todos os mapas ou desenhos para projetar
a sala de aula “personalizada” dos seus alunos. Experimente essa disposição
durante uma ou duas semanas. Depois verifique se alunos se sentem bem. Se
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
65
eles acharem que outra disposição seria melhor, mude de acordo com as
sugestões que lhe derem. Mais ainda, altere-a quando sentir que eles estão a
ficar fartos de estar ali sentados a aprender.
Seguem-se algumas orientações úteis na organização do espaço da sala de
aula.53 Esta lista não é exaustiva. Lembra-se de mais alguma coisa?
Ver toda a turma. Tem que poder ver sempre todos os alunos para
monitorizar o seu trabalho e comportamento. Também é preciso que, da sua
secretária, veja a porta. Os alunos também têm que o ver a si e ao sítio onde
estiver a dar a aula sem precisarem de se virar ou de se mexer muito.
Sentar toda a gente (evitar a sensação de sala muito cheia).
Frequentemente, em turmas com muitos alunos o espaço é um luxo. Para
aproveitar o melhor possível o espaço disponível, procure experimentar 3
estratégias principais: Primeiro, retire o mobiliário desnecessário. Use
tapetes em vez de carteiras. Arranje prateleiras fixadas às paredes e
afastadas do chão para materiais que os alunos não precisem de utilizar
regularmente. Se a sala de aula tiver um armário para guardar os pertences
dos alunos, coloque-o à saída da porta da sala. Se for possível, guarde os seus
pertences, os materiais das aulas e outras coisas que não vai usar durante a
aula na sala dos professores ou em qualquer outro sítio seguro fora da sala de
aula. Se vir que não precisa de uma secretária grande, peça uma pequena.
A segunda estratégia consiste em ser criativo no seu método de ensino e
tornar a aula interativa para minimizar a sensação de sala muito cheia de
gente. Procure expor a matéria durante um certo período de tempo, por
exemplo, 20 minutos numa hora, e focar apenas um ou dois tópicos ou
conceitos importantes (por exemplo, falar de formas geométricas), em vez de
dar muita informação ao mesmo tempo. De qualquer maneira, este é o tempo
máximo em que se consegue captar a atenção dos alunos. Depois divida as
crianças em pequenos grupos onde terão apenas que olhar para alguns rostos
e não para muitos. Sempre que possível, forme grupos com mistura de sexos,
em vez de rapazes contra as meninas. Dê a cada grupo uma atividade
complementar, por exemplo, um grupo pensa no maior número possível de
objetos redondos enquanto outro pensa no maior número possível de objetos
quadrados. Próximo do fim da aula, reúna-os de novo para cada grupo
apresentar o seu trabalho.
53
Adaptado de: Classroom Management – Managing Physical Space. Collaborative for
Excellence in Teacher Education (CETP), National Science Foundation.
http:www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-space.html [acesso online em 10/20/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
66
Do igual modo, a terceira estratégia consiste em utilizar o espaço fora da
sala de aula o maior número de vezes possível. Os pátios de recreio da escola
podem ser um valioso recurso para uma aprendizagem formal. São salas de
aula ao ar livre que podem ser exploradas pela criança como parte da sua
aprendizagem e constituem um complemento muito mais agradável a salas de
aula sobrelotadas. São locais importantes para as crianças desenvolverem
capacidades sociais e cognitivas. Os pátios de recreio dão-lhe a oportunidade
de diversificar o ambiente de aprendizagem dos alunos e de conseguir
importantes lições sobre cooperação, propriedade, pertença, respeito e
responsabilidade.54 Pode-se usar diferentes espaços dos recreios como
centros de atividade para reforço da matéria que se está a estudar na aula.
No caso das formas geométricas, por exemplo, pode-se mandar os alunos
explorarem o pátio de recreio para identificarem o maior número possível de
formas geométricas e depois sentarem-se debaixo de uma árvore para
tomarem nota do que descobriram. Monitorize este trabalho! Dez minutos
antes de terminar a aula, junte todos os alunos na sala de aula ou no pátio
para apresentarem o seu trabalho.
Mobiliário. Se a sala de aula tiver espaço suficiente, pense na hipótese de
dar diferentes disposições às carteiras, por exemplo, em círculos ou em
forma de U para debate, em quadrados para trabalho de grupo e em filas
para testes ou para trabalho individual. Pense na forma de facilitar o
movimento em qualquer destas disposições. As zonas frequentemente usadas,
assim como as “passagens” (zonas de trânsito, como corredores) devem estar
desobstruídas e facilmente acessíveis a toda a gente. Pode também usar
estantes, mesas ou tapetes para criar uma zona de utilização especial. Se for
preciso dividir a sala ou ter mais espaço de parede para expor o trabalho dos
alunos escolha opções baratas como as costas de estantes ou painéis
verticais de folhas de palmeira ou bambu feitos pelos alunos ou pelos
familiares. Estes painéis podem mesmo ser usados para separar salas de aula
em escolas onde não haja paredes divisórias.
Centros. Os centros de atividades oferecem a um só aluno ou a um pequeno
grupo de alunos a oportunidade de trabalharem em projetos ou atividades ao
seu próprio ritmo. Na sala de aula, um centro de atividades deve ter um
espaço de trabalho, um espaço para armazenar utensílios e materiais e um
espaço onde se deixem instruções. Em salas de aula com muitos alunos, os
54
Malone, Karene e Tranter, Paul. “Children’s Environmental Learning and the Use, Design
and Management of Schoolgrounds,” Children, Youth and Environments, Vol. 13, No. 2,
2003.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
67
centros de atividades podem localizar-se em diferentes sítios da escola.
Nesse caso, os alunos levam o que precisam para a atividade que vão
desenvolver no centro.
Materiais didáticos e recursos de ensino. Os livros e outros materiais
didáticos devem ser guardados num sítio de fácil acesso. Materiais como giz,
réguas, papel tinta e tesouras também se devem colocar de modo a que os
alunos os possam tirar e voltar a pôr sem perturbarem os colegas. O mesmo
deve acontecer com os materiais didáticos, os equipamentos de ensino como
quadros de giz portáteis, cavaletes, meios visuais e mesas de trabalho para
poderem ser usados sem causar confusão e, em salas muito cheias, para não
ocuparem um espaço precioso.
Trabalhos dos alunos. Recolher e guardar os trabalhos dos alunos pode
tornar-se uma tarefa difícil se não houver um plano. Alguns professores usam
dossiês que podem ser organizados para cada aluno e por cada aluno, para
cada disciplina ou para grupos de alunos. Também é necessário arranjar
espaço para exposição dos trabalhos. Este espaço pode ser na parede ou
pode-se utilizar cordas onde se penduram os trabalhos de cada aluno com
clipes, fita-cola ou mesmo com tachas. A decoração com os trabalhos dos
alunos também ajuda a tornar a sala mais atraente e mais acolhedora mesmo
que haja muitas crianças na sala.
O envolvimento dos alunos. Os alunos podem ser muito úteis no arranjo do
espaço físico da sala de aula, o que também os ajuda a desenvolver um
sentido de responsabilidade. Podem pendurar os trabalhos, montar os painéis
de informação e arrumar os materiais didáticos no fim da aula. Os alunos
podem também ser úteis na resolução de problemas de espaço. Quando
houver um problema, por exemplo, se os alunos chocarem uns contra os
outros ou não houver espaço para todos ficarem sentados, peça-lhes que
deem sugestões.
Lembre-se: é muito natural que se consiga uma boa disciplina e
comportamentos positivos dos alunos se a sala de aula e as suas
atividades forem estruturadas ou planeadas de modo a favorecerem um
comportamento cooperativo entre alunos e professor.
CRIAR ROTINAS NA AULA
Quando criamos rotinas na aula, a possibilidade de haver mau comportamento
diminui porque os alunos sabem o que se espera deles e o que se espera que
façam. Por outro lado, as rotinas também nos ajudam a evitar “enganos”, quer
dizer, a interpretar o comportamento da criança como desobediência, por
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
68
exemplo, quando a criança não sabe que deve afiar o lápis depois e não
durante a aula ou que, pelo menos, deve levantar a mão para pedir licença.
Além disso, se os alunos sabem quais são os passos necessários para fazerem
determinado trabalho, é mais provável que o façam ordenadamente. Elabore
planos para as atividades que se adaptem ao espaço físico e ao seu método de
trabalho (discutiremos este assunto mais adiante). Se uma rotina não
resultar, envolva os alunos na sua reformulação. Seguem-se exemplos de
rotinas de aula que pode planear com os seus alunos.55 Poderá acrescentar
mais alguns?
Movimento. Planeie a entrada e a saída da aula, assim como a mudança na
organização da sala de acordo com o que está a ser ensinado; por exemplo,
passar de uma arrumação para toda a turma para uma arrumação para testes
ou para pequenos grupos nas aulas de educação visual ou de ciências. Faça o
plano de modo a que vá ao encontro das necessidades individuais dos alunos,
por exemplo, quando eles precisem de afiar o lápis ou de ir buscar material
pessoal, como acontece com o material para educação visual.
Tarefas não letivas. Estas tarefas incluem atividades como ajudar a
recolher folhas de autorização ou de justificação de faltas e manter a sala
em ordem. Quando tal for permitido, os alunos podem ajudar nestas tarefas,
sobretudo os alunos que precisam de atenção especial. Também se podem
utilizar algumas destas tarefas como atividades didáticas, por exemplo,
calcular a percentagem de alunos que nesse dia assistiram à aula de
matemática.
Gestão de Materiais e Transições. Se se criarem rotinas para distribuir,
recolher e arrumar materiais de ensino e de aprendizagem, os alunos
ajudantes conseguem fazê-lo rapidamente. Se os materiais didáticos forem
preparados e organizados com antecedência, pode fazê-los transitar entre
atividades sem problemas e em pouco tempo. Deve-se registar uma lista dos
materiais necessários num horário diário para os alunos saberem aquilo de
que precisam e poderem preparar uma atividade, enquanto os materiais da
atividade anterior são guardados ou recolhidos.
Trabalho de Grupo. O trabalho de grupo favorece a aprendizagem
cooperativa. Ensina os alunos a trabalharem em conjunto, aprendendo assim a
importância do trabalho de equipa. Cada membro do grupo deve ter uma
55
Adaptado de: Classroom Management – Classroom Rountines. Collaborative for Excellence
in Teacher Education (CETP), National Science Foundation.
http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-routi.html [acesso online em 10/20/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
69
tarefa específica e oportunidade de a executar. Faça a descrição das tarefas
aos seus alunos e crie rotinas para as distribuir. O aluno pode ser moderador,
gestor do tempo, relator, a pessoa que faz a gravação, que incentiva ou que
faz perguntas, gestor dos materiais ou o responsável pela tarefa.
CRIAÇÃO DE REGRAS PARA A SALA DE AULA COM OS
ALUNOS E OS PAIS
Todas as salas de aula precisam de regras para funcionarem bem. A estas
“regras” dá-se, por vezes, o nome de “expectativas” ou “padrões de
comportamento”.
A natureza das regras e das rotinas da aula, assim como a forma de as
aplicar, variam de acordo com as ideias do professor. A maneira como
trabalhamos com os alunos na aula, incluindo o estabelecimento de regras e
de rotinas, depende principalmente do que pensamos sobre como os alunos
aprendem a comportar-se. Num extremo, alguns de nós consideramos que os
alunos são recetores passivos de conhecimentos e têm que se adaptar ao
sistema e ver nele uma verdadeira recompensa ou benefício para a sua
aprendizagem. Assim, podemos dar especial relevância a critérios firmes de
regras e rotinas regulares. No extremo oposto, alguns de nós acreditamos
que os próprios alunos são ativos, motivados e insubstituíveis na resolução de
problemas. Consequentemente, consideramos essencial dar escolhas aos
alunos.56 Quando criamos regras e rotinas de aula com o envolvimento dos
alunos, podemos optar pelo meio-termo, isto é, ser flexíveis para ir de
encontro às circunstâncias diferentes e muitas vezes variáveis das nossas
aulas.
Frequentemente, as regras que criamos são uma maneira de antecipar e
prevenir problemas ou dificuldades comportamentais que possam surgir na
gestão da aula. Seguem-se sugestões para a criação dessas regras:
♦ Elabore apenas algumas regras que foquem a importância de um
comportamento apropriado; nem o professor nem os alunos conseguem
recordar uma longa lista. Afixe essas regras na sala de aula para todos
verem.
56
Mayeski, Fran. The Metamorphosis of Classroom Management. Mid-continent Research for
Education and Learning.
http://www.mcrel.org/pdfcoversion/noteworthy/learners%5Fschooling/franmasp
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
70
♦ Para os assuntos que a seguir se indicam, pense quais as regras e quais
as expectativas a determinar para conseguir que a sua sala de aula
funcione bem: (a) o começo e o fim do período de trabalho ou do dia,
incluindo como deve decorrer a apresentação e o que os alunos podem
ou não fazer durante esse tempo; (b) utilização de materiais e de
equipamento; (c) como pedir autorização para necessidades
esporádicas (como ir à casa de banho ou afiar o lápis); (d)
procedimentos em relação a trabalho no lugar ou trabalho de grupo
independente; e (e) como os alunos devem fazer perguntas ou
responder.
♦ Escolha regras que proporcionem um ambiente ordenado na sala de aula
e favoreçam uma boa aprendizagem. Alguns comportamentos, como
mascar pastilha elástica ou não estar quieto, nem sempre impedem
significativamente a aprendizagem, a não ser que sejam barulhentos ou
que provoquem distração.
♦ Não crie regras que não tenha vontade ou não seja capaz de impor
consistentemente.
♦ Torne as regras o mais claras e compreensíveis possível. Devem
descrever comportamentos: “Sirva-se das mãos e dos pés só para si” é
uma mensagem mais clara e dá um sinal mais positivo do que “é proibido
lutar”.
♦ Selecione regras que tenham um acordo unânime e sejam aceites por
toda a gente na escola. Se os alunos aprendem que não podem
comportar-se de determinada maneira na sua aula mas podem fazê-lo
noutras aulas, vão testar os limites para verem até que ponto podem ir
e escapar.
♦ Acima de tudo, envolva os alunos na criação de regras para a sala de
aula! Pode começar com a ideia de que “podem fazer o que quiserem
nesta aula, a não ser que o que fizerem interfira com os direitos dos
outros, por exemplo, dos vossos colegas e professor.” Utilizando este
método “baseado em direitos”, peça aos alunos que identifiquem
comportamentos aceitáveis e não aceitáveis porque violam os direitos
dos outros. Crie regras que estejam de acordo com estes direitos e
penalizações para a violação das regras. Lembre-se de que estes
castigos devem ajudar a criança a aprender e ser coerentes com a
natureza do comportamento, isto é, devem corresponder ao melhor
interesse tanto da criança como da aula. Depois peça aos alunos para
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
71
elaborar uma “constituição da sala de aula” ou um “painel com a política
da sala de aula” para expor num sítio bem visível da sala. Peça-lhes para
assinar aceitando, assim, as regras e, em caso de infração,
submeterem-se às consequências. É menos provável que haja mau
comportamento se o aluno se comprometer a evitar infringir as regras
e optar por outros comportamentos mais desejáveis.
♦ Reveja as regras regularmente para verificar se há algumas que já não
são necessárias. Nesse caso, elogie os alunos e pergunte-lhes se será
preciso estabelecer outras regras.
Envolvimento dos Pais
As regras tornam-se mais eficazes quando os professores, os pais e os alunos
se comprometem igualmente a respeitá-las. Nalgumas escolas faz-se um
“contrato” entre todas estas partes. Um “contrato” é, simplesmente, um
acordo formal ou um pacto que indica claramente as responsabilidades
específicas de cada uma das partes e é assinado por todos. O texto de um
contrato como este pode tomar a forma abaixo sugerida.57 Pode ser discutido
com os pais na primeira reunião de pais/professor ou de
pais/professor/alunos. Será que pode adaptá-lo e usá-lo como meio de
envolver os alunos e os pais na promoção de um bom comportamento na sala
de aula?
Como pai-mãe/encarregado de educação, comprometo-me a:
♦ Respeitar e apoiar o meu filho(a), os professores e a escola.
♦ Arranjar um sítio de estudo sossegado e bem iluminado e supervisionar
os trabalhos de casa.
♦ Participar em reuniões formais e informais de pais/professor ou
pais/professor/alunos.
♦ Conversar todos os dias com o meu filho(a) sobre as suas atividade na
escola.
♦ Monitorizar o tempo em que vê televisão ou outras atividades que
possam prejudicar o estudo.
57
Education World. Creating a Climate for Learning: Effective Classroom Management
Techniques. http://www.education-world.com/a_curr155shtml [acesso online em
10/6/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
72
♦ Estar presente numa atividade da escola ou da turma pelo menos uma
vez por mês.
♦ Ler pelo menos dez minutos por dia com o meu filho(a) ou ouvi-lo ler.
Como aluno, comprometo-me a:
♦ Procurar fazer sempre o meu trabalho o melhor possível.
♦ Dar-me bem com os meus colegas e ajudá-los.
♦ Respeitar-me a mim, ao meu professor(a), à minha escola e às outras
pessoas.
♦ Obedecer às regras da aula e da escola.
♦ Respeitar a propriedade dos outros, não roubando nem vandalizando.
♦ Vir para a escola com os trabalhos de casa feitos e o material
necessário.
♦ Acreditar que posso e vou aprender.
♦ Gastar pelo menos cinco minutos por dia a estudar ou a ler em casa.
♦ Conversar todos os dias com os meus pais sobre as atividades da
escola.
Como professor/a, comprometo-me a:
♦ Respeitar todos os alunos e as suas famílias.
♦ Fazer uso eficiente do tempo de aprendizagem.
♦ Proporcionar um ambiente seguro e confortável que favoreça a
aprendizagem.
♦ Ajudar cada um dos alunos a desenvolver ao máximo as suas
potencialidades.
♦ Passar trabalhos de casa significativos e apropriados.
♦ Dar o apoio necessário aos pais para poderem ajudar os filhos nos
trabalhos.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
73
♦ Pôr em prática as regras da escola e da sala de aula duma maneira
justa e consistente.
♦ Comunicar aos pais e aos alunos avaliações do progresso e do trabalho
realizado.
♦ Utilizar atividades especiais na aula para tornar a aprendizagem mais
agradável.
♦ Demonstrar comportamento profissional e uma atitude positiva.
Agora podemos trabalhar juntos para pôr em prática este contrato.
Assinaturas:
Assinatura de um dos pais/data
Assinatura do aluno(a)/data
Assinatura do professor(a)/data
NORMAS PARA O COMPORTAMENTO E BOA GESTÃO
As normas da sala de aula estabelecem as regras para o comportamento dos
nossos alunos, mas nós, como professores, devemos também ter normas. Na
verdade, somos modelos importantes para os nossos alunos.
♦ Devemos dizer aos nossos alunos a forma como todos nos devemos
comportar na turma (os nossos alunos e nós próprios) e devemos
discutir regularmente estas expectativas.
♦ Devemos informar os diretores da escola, os outros professores e os
pais sobre as regras da nossa sala de aula, de modo que eles possam
ajudar a monitorizá-las e evitar conflitos sobre elas.
♦ As regras que desenvolvemos com os nossos alunos devem ser aplicadas
de forma consistente e sem favoritismo.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
74
♦ Devemos continuamente estar cientes do que se passa tanto dentro
como fora das nossas salas de aula, e o nosso controlo deve ser subtil e
preventivo.
♦ Não nos devemos zangar ou perder o autocontrolo, mas sermos
modelos para um bom comportamento e ajuda para que os nossos alunos
sigam as regras.
♦ Quando é necessário impor disciplina, deve-se focar o comportamento
dos alunos e não os próprios alunos. Deste modo é mantida a dignidade
do aluno.
♦ Devemos encorajar o aluno a controlar o seu comportamento, por
exemplo, através de um diário em que regista a sua atividade com os
outros. Devem, também, controlar, com respeito, o comportamento uns
dos outros.
♦ Na atividade de ensino, não devemos utilizar termos ambíguos ou
vagos. As atividades devem ser realizadas segundo uma sequência clara
com as mínimas interrupções possíveis.
Algumas das características que os alunos apreciam num professor, e que
devem constituir uma parte essencial do seu comportamento, são:58
Justiça. Os alunos consideram esta qualidade como a mais importante num
professor. Significa serem justos nas suas atividades tais como no marcar de
tarefas, na solução de conflitos, no prestar de apoio, na escolha dos alunos
que ficam como ajudantes ou na participação das atividades.
Humor. A capacidade de responder aos alunos despreocupadamente.
Respeito. Isto significa respeitar os direitos e os sentimentos dos alunos.
Amabilidade. Este é um outro sinal de respeito.
Abertura de espírito. Os alunos precisam de ver o professor como uma
pessoa real. O professor precisa de expor claramente os seus sentimentos e
a circunstância que os motivaram.
Ouvir com atenção. Isto significa responder quando o aluno faz perguntas.
Deve mostrar que o ouviu e que lhe vai dar oportunidade de corrigir algo que
58
Adaptado de: Important Traits for Teachers. Collaborative for Excellence in Teacher
Education (CETP), National Science Foundation.
http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/cm-trait.html [acesso online em 11/28/2005]
Disciplina Positiva
sitiva na Sala de Aula Inclusiva
Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
75
não percebeu ou interpretou mal. Deve procurar reformular o que foi dito ou
utilizar uma linguagem corporal que demonstre empatia.
empatia
Atividade.. Perfil da gestão da sala de aula? 59
O seu estilo de gestão
estão da sala de aula irá determinar
determin r da sua capacidade de
interação com os seus alunos, a sua capacidade de construir um
relacionamento positivo com eles e a forma como eles irão aprender através
da sua atuação.. Pode também influenciar o comportamento (bom ou mau) dos
seus alunos e a forma como os consegue disciplinar Ou seja, se utiliza
métodos negativos ou positivos para levar os seus alunos a terem um
comportamento adequado. Para começar a determinar o seu estilo
es
de gestão,
leia atentamente cada uma das afirmações do quadro abaixo. Em seguida,
diga se concorda ou não com as
a afirmações
ões ou, ainda melhor, se isso
corresponde ao que costuma fazer.
fazer
Característica
Concordo
oncordo
Discordo
1. Acredito que a sala de aula deve estar sossegada para
que os alunos aprendam.
aprendam
2. Acredito que devem existir lugares determinados, de
forma estruturada, (tal como filas). Isso reduz o mau
comportamento e promove a aprendizagem.
3. Não gosto
sto de ser interrompido quando estou a
ensinar.
4. Os alunos devem aprender a obedecer a ordens sem
perguntar porquê.
5. Os meus alunos raramente iniciam
in
atividades. Devem
estar concentrados naquilo que eu lhes estou a
ensinar.
59
Elaborado com base em: Teacher Talk. What is your classroom management profile?
http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/what.html [acesso
[
online em 10/6/2005]
10/6/200
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
Característica
6. Quando um aluno se porta mal castigo-o ou disciplino-o
imediatamente, sem qualquer discussão.
7. Não aceito desculpas para um mau comportamento, tal
como ter-se atrasado ou não ter feito o trabalho de
casa.
8. De acordo com o que está a ser aprendido, a minha
sala de aula pode assumir diferentes tipos de
organização.
9. Preocupo-me não só com o que os meus alunos
aprendem como com a forma como o fazem.
10. Os meus alunos sabem que podem interromper a minha
aula se têm uma questão relevante a colocar.
11. Felicito os alunos quando merecem e encorajo-os a
trabalharem melhor.
12. Apresento projetos para os meus alunos realizarem ou
peço-lhes que desenvolvem os seus próprios projetos.
Em seguida, discutimos o que aprenderam e o que
precisam de aprender mais.
13. Eu explico sempre as razões que justificam as regras
e as decisões que foram tomadas.
14. Quando um aluno se porta mal eu dou-lhe uma
reprimenda em termos corretos mas firmes. Se são
necessárias medidas disciplinares, considero
cuidadosamente as circunstâncias em que tal se
verifique.
15. Acredito que os alunos aprendem melhor quando
”podem realizar as suas próprias atividades,” ou seja,
fazem aquilo que acham que podem fazer bem.
Concordo
76
Discordo
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
Característica
16. O bem-estar emocional dos meus alunos é mais
importante do que o controlo da sala de aula. É
importante que os meus alunos me vejam como seu
amigo.
17. Alguns dos meus alunos estão motivados a aprender,
enquanto outros não revelam tal interesse.
18. Não planeio com antecedência o que irei fazer para
disciplinar um aluno. Espero, simplesmente, que isso
aconteça.
19. Não quero orientar ou repreender um aluno porque
isso poderá magoá-lo.
20. Se um aluno perturba a turma, dou-lhe uma atenção
redobrada, porque ele deve ter, certamente, algo de
importante a oferecer.
21. Se um aluno pede para sair da aula, eu aceito sempre o
seu pedido.
22. Não quero impor nenhumas regras as meus alunos.
23. Utilizo os mesmos planos de aulas ano após ano, para
não ter de preparar as aulas antecipadamente.
24. Não é possível organizar passeios de estudo e
projetos especiais. Não tenho tempo para os preparar.
25. Posso mostrar um filme ou uma série de slides em vez
de dar a aula.
26. Os meus alunos costumam olhar para o espaço em
volta e para o que se passa lá fora.
27. Se a lição termina mais cedo os alunos podem estudar
sossegadamente ou falar baixo com os colegas.
Concordo
77
Discordo
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
Característica
Concordo
78
Discordo
28. Raramente imponho disciplina aos meus alunos. Se um
aluno entrega tarde o trabalho de casa, isso não é
problema meu.
Em seguida, conte o número de “Concordo” em relação aos pontos 1-7; 8-14;
15-21 e, finalmente, 22.28. Em que conjunto de pontos obteve o maior número
de respostas de “concordo”? Este é o seu estilo de gestão, mas não se
surpreenda se também tem características de outros estilos.
No quadro acima, os pontos 1-7 refletem um estilo autoritário “eu sou o
professor e vocês têm de fazer as coisas de acordo com a minha vontade”.
Este estilo é bom para conseguir uma sala de aula bem estruturada, mas não
contribui para aumentar a motivação para o sucesso ou para o
estabelecimento de objetivos pessoais. Nesta turma, os alunos tendem a ser
relutantes em iniciar uma atividade, uma vez que tendem a sentir-se
impotentes.60 Devem obedecer ao professor à custa da sua liberdade pessoal.
Os pontos 8-14 refletem um estilo cooperativo “vamos trabalhar em
conjunto”. Embora se coloquem limites ao comportamento dos alunos. As
regras são explicadas e os alunos podem ser independentes dentro desses
limites. Um professor cooperativo encoraja os comportamentos que revelam
autoconfiança e competência social. Para além disso, encoraja os alunos a
serem motivados e a atingirem melhor os objetivos. Muitas vezes, em vez de
os orientar, encoraje os alunos a progredir nos seus projetos.61
Os pontos 15-21 revelam um estilo de “laissez-faire”. “Seja como quiserem.
”O professor laissez-faire coloca poucas exigências aos alunos e exerce
pouco controlo sobre eles. Este professor aceita os impulsos e as ações dos
alunos e não tende a controlar o seu comportamento. Procura não ferir os
sentimentos dos alunos e tem dificuldade em dizer não ou em insistir nas
regras estabelecidas. Embora este tipo de professor possa ser popular entre
os alunos, o seu estilo super indulgente está associado com a falta de
competências sociais e de autocontrolo dos alunos. É difícil que os alunos
aprendam um comportamento socialmente aceitável quando o professor é
60
http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/authoritarian.html
61
http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/authoritative.html
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
79
muito permissivo. Se lhe forem apresentadas poucas solicitações, os alunos,
têm geralmente uma baixa motivação para aprender.62
Finalmente, os pontos 22-28 revelam um estilo indiferente; “façam o que
quiserem fazer.” O professor indiferente não está envolvido com a turma.
Este professor apresenta poucas – ou mesmo nenhumas – exigências aos
alunos e apresenta-se geralmente como desinteressado. O professor
indiferente não se quer impor aos alunos. Assim, sente muitas vezes falta de
disciplina na sua turma. Neste ambiente permissivo os alunos têm poucas
oportunidades de observar ou de praticar competências de comunicação. Num
ambiente em que há poucas exigências e pouca disciplina, os alunos têm pouca
motivação para aprender e falta de autocontrolo.63
Se ainda não estão certos sobre qual destes quatro estilos de gestão da sala
de aula é o que se situa mais próximo do seu, peça a um colega, a um
professor auxiliar ou a um aluno mais velho que assista à sua aula, durante um
ou dois dias. Em seguida peça-lhes que vejam as características e estilos de
gestão acima indicados e que os ajudem a decidir quais são os que mais se
aproximam dos seus. Será que o estilo afeta o seu comportamento? Será que
afeta a forma como disciplina os seus alunos e os motiva a aprender? Pensa
que haverá lugar para algum progresso? Tente modificar o seu estilo, ou uma
das características indicadas acima e repare se os seus alunos passam a estar
mais motivados e se sente maior facilidade a ensinar. Escreva um diário com
as mudanças que realize e verifique se a gestão da sua sala é agora mais fácil
ou não e se os seus alunos têm melhores comportamentos e competências de
relacionamento interpessoal.
OFERECER REFORÇO POSITIVO
A disciplina positiva é uma forma de reduzir o mau comportamento, através
de reforços positivos. Baseia-se na premissa segundo a qual o comportamento
que é premiado tende a ser repetido. O aspeto mais importante em relação à
disciplina positiva consiste no facto de exigir que se ajudem os alunos a
aprender comportamentos que vão ao encontro das nossas expectativas
(adultas), sejam eficientes na promoção de relações sociais positivas e os
ajudem a desenvolver um sentido de autodisciplina que conduza a uma
autoestima positiva. Os comportamentos que são valorizados e que se
pretenda encorajar devem ser do conhecimento dos alunos e você necessita
62
http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/laissez.html
63
http://education.indiana.edu/cas/tt/v1i2/indifferent.html
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
80
de fazer um esforço concertado no ensino e no fortalecimento destes
comportamentos. Algumas das estratégias que pode usar para ajudar os
alunos a aprender comportamentos positivos incluem o seguinte:
Apresente medidas positivas – “Veja quantas respostas corretas tem.
Tente conseguir um resultado melhor na próxima vez!”
Ouça com atenção e ajude-os a aprender a utilizar palavras que exprimam os
seus sentimentos, em vez de ações destrutivas.
Dê aos alunos a oportunidade de fazerem escolhas e ajude-os a
aprender a avaliar as possíveis consequências das suas escolhas.
Reforce positivamente os comportamentos emergentes desejáveis
com frequentes apoios e ignorando erros menores.
Apresente modelos de comportamentos ordeiros e previsíveis, comunicações
respeitosas, e estratégias de resolução de conflitos colaborativas (assunto que
será abordado mais tarde).
Utilize uma linguagem corporal adequada - faça sinais com a cabeça,
sorria e olhe diretamente para o aluno.
Baixe-se - especialmente em relação a crianças mais pequenas, ajoelhe-se,
ou sente-se ao seu nível.
Restruture
o
ambiente – remova objetos que convidem ao mau
comportamento; por exemplo, se está a usar jogos ou brinquedos como meios
de aprendizagem, retire-os quando acabar a atividade.
Reoriente o comportamento de forma positiva – um aluno está a jogar à
bola na sala de aula. “Podes ir jogar à bola para o recreio lá fora onde há mais
espaço para brincar.”
Em resumo, esperamos que tenha aprendido bastante com esta secção e
tenha decidido experimentar algumas destas novas ideias na sua sala de aula.
Aprendemos que uma gestão eficaz da sala de aula, que cria e apoia
comportamentos positivos, é aquela em que você:
1. Sabe o que quer e o que não quer.
2. Mostra e explica aos alunos o que quer.
3. Quando consegue o que quer, mostra a sua apreciação.
4. Quando o que acontece é diferente do que pretendia, atua de forma
rápida apropriada e positiva.
Neste processo, no entanto, precisa de se certificar que:
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
81
1. As suas expectativas são claras.
2. O ensino desperta o interesse nos seus alunos.
3. Os seus alunos vêm o objetivo e a importância do que lhes é ensinado.
4. O ensino relaciona os conceitos e as competências com a sua
experiência de vida e têm significado no contexto da sua vida diária.
5. As suas estratégias de ensino são variadas. Os alunos aborrecem-se,
mesmo que os assuntos tenham interesse, se utilizar constantemente
os mesmos métodos.
Eis alguns meios que pode utilizar de forma a produzir um ambiente que
facilite comportamentos positivos nos seus alunos:64
1. Mantenha e expresse expectativas comportamentais elevadas relativas
a si próprio e aos alunos.
2. Estabeleça regras e procedimentos claros e ajude os alunos a segui-los;
especialmente, em relação às crianças do primário, proporcione-lhes
uma grande oportunidade de instrução, prática e memorização.
3. Torne bem claro aos alunos o que entende por bom e mau
comportamento.
4. Desde o primeiro dia de escola, sublinhe a importância das regras de
forma rápida, consistente e equitativa.
5. Procure desenvolver nos alunos o sentido de autodisciplina; insista no
ensino de competências autocontrolo.
6. Mantenha um ritmo educativo direto e faça transições suaves.
7. Oriente as atividades da turma e dê aos alunos feedback e reforço,
relativamente ao seu comportamento.
8. Crie oportunidades para que os seus alunos tenham sucesso na sua
aprendizagem e no seu comportamento social.
64
Cotton, Katherine. Schoolwide and Classroom Discipline. School Improvement Research
Series. Iclose-Up #9. http://www.nwrel.org/scpd/sirs/5/cu9.html [acesso online em
10/6/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
82
9. Identifique alunos que parecem ter uma baixa autoestima e tente
ajudá-los a ter sucesso e a sentirem-se mais confiantes.
10. Utilize grupos de aprendizagem cooperativa, de forma apropriada.
11. Use o humor sempre que adequado, de forma a estimular o interesse
dos alunos ou reduzir as suas tensões da turma.
12. Durante os momentos de ensino, remova os materiais que provoquem
distração.
13. Torne a sala de aula confortável, atrativa e acolhedora para os alunos,
os pais e para si próprio.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
83
Lidar com alunos problemáticos
O que vai aprender:
♦ Como Melhorar os Efeitos das Técnicas de Disciplina Positiva
♦ Dicas de Disciplina Positiva
♦ Dicas de Ensino Positivo na Sala de Aula
♦ Utilização de Consequências Adequadas, Positivas e Negativas
♦ Utilização Cuidadosa da “Saída da Sala”
♦ Resolução de Conflitos
♦ Técnicas Específicas de Disciplina Positiva, Para Determinadas Idades
♦ Apoio às Crianças com Necessidades Especiais
MELHORAR A EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DE DISCIPLINA
POSITIVA
Se um aluno se comporta mal, são necessárias técnicas positivas para reduzir
ou eliminar esses comportamentos. Tal como aprendemos, os maus
comportamentos são comportamentos indesejáveis que colocam o aluno em
perigo, que não se coadunam com as regras esperadas na sala de aula e
interferem com as interações sociais positivas e a autodisciplina. Nesta fase
final, vamos insistir na abordagem sobre as técnicas específicas que podem
ser utilizadas para reduzir o mau comportamento ou mesmo a preveni-lo.
Qualquer que seja a técnica escolhida, a sua eficácia pode ser aumentada nas
seguintes circunstâncias:65
65
American Academy of Pediatrics. Guidance for Effective Discipline.
http://aappolicy.aappublications.org/cgi/content/full/pediatrics;101/4/723 [acesso online
em 12/2/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
84
♦ Quando você e o aluno compreendem claramente o problema de
comportamento que está em causa e quais as consequências que podem
advir se tal comportamento ocorrer.
♦ Quando responde de forma imediata com uma atitude vigorosa, logo
que o comportamento ocorre pela primeira vez (se uma regra for
quebrada, procure que seja de imediato respeitada, não espere para
mais tarde).
♦ Quando, de cada vez que ocorre um comportamento problemático, você
contrapõe sistematicamente uma consequência apropriada.
♦ Quando responde com uma instrução e uma correção calma e com
empatia.
♦ Quando
der uma justificação para a consequência relativa a
determinado comportamento, de modo a que ajude o aluno a aprender o
comportamento adequado e a desenvolver a sua capacidade de
aceitação das orientações dos adultos.
DICAS DISCIPLINARES POSITIVAS
Realmente, nem sempre se verifica a necessidade de ações disciplinares. Uma
boa atitude disciplinar envolve evitar situações problemáticas ou lidar com
elas antes que fiquem fora de controlo. Como? Aqui se indicam dez dicas
valiosas. Algumas são novas, outras já foram indicadas anteriormente mas
vamos olhá-las com mais pormenor.66,67
1. Tenha confiança em si próprio; não faça uma má escolha. Tal
como foi referido acima, um autêntico mau comportamento ocorre
quando um aluno decide comportar-se de forma inapropriada. Antes
de tomar alguma atitude, interrogue-se sobre as seguintes questões.
66
Positive Discipline and Child Guidance.
http://www.kidsgrowth.com/resources/articledetail.cfm?id=1211 [acesso online em
10/12/2005]
67
Adapted from: Kelley, Laureen. The Discipline Dilemma. Parent Exchange Newsletter –
October 1995. http://www.kelleycom.com/articles/discipline.htm [acesso online em
9/29/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
85
A. Será que o aluno está a fazer alguma coisa mesmo errada? Estamos
perante um problema real ou estão simplesmente cansados e sem
paciência?
♦ Se não existe um verdadeiro problema, tente deixar de sentir o
stresse em relação ao aluno e à turma.
♦ Se existe um problema, passe à questão seguinte.
B. Pense, por um momento: será que o meu aluno será mesmo capaz de
fazer o que lhe é pedido?
♦ Se não está a ser justo, reavalie as suas expectativas.
♦ Se as suas expectativas são justas, passe para a questão seguinte.
C. Será que o seu aluno sabe, naquele momento, que está a proceder
mal?
♦ Se o aluno não sabe que está a proceder mal, ajude-o a
compreender o que espera dele e porque considera que ele pode
fazer isso. Ofereça-se para o ajudar.
♦ Se o aluno souber que o que estava fazer era errado e,
deliberadamente, agiu contra a expectativa que tinha em relação a
ele, isso significa que está a ter um comportamento incorreto.
Se o comportamento for acidental, não constitui um mau
comportamento. Se não for acidental, peça ao aluno para lhe indicar as
razões para agir dessa forma. Ouça cuidadosamente e avalie o que ele
disser antes de responder.
2. Chame a tenção para o que é positivo. Sempre que um aluno
mostra que tenta ajudar, apoiar, ou revela progressos faça com que ele
saiba que reparou nisso dizendo-lhe palavras de apreço. Por exemplo:
“Somsak, fiquei impressionado com a forma como resolveste o problema
do teu trabalho de casa.”
Mesmo no caso de um incidente, não procure unicamente a falha, mas
identifique o que correu bem e o que não correu bem. Por exemplo:
“Nath, foi muito bonito teres ajudado o teu amigo. É muito importante
ser-se um amigo leal. Porém, não posso deixar que batas nos outros.
Como poderias reagir de outra forma a esta situação?”
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
86
3. Interaja respeitosamente com os alunos. Trate-os da forma como
gostaria de ser tratado. Seja o tipo de professor de quem se lembram
com amizade Seja um guia, não um patrão. Ajude-os a portarem-se
melhor. Seja o tipo de professor de quem se lembra do seu tempo de
escola.
4. Comunique as sus expectativas aos seus alunos de forma clara e
respeitosa. Lembre-lhes, várias vezes, quais são as suas expectativas,
antes de existir um problema ou durante a sua ocorrência. Por exemplo,
no início do dia, na escola, diga aos alunos: “Quando a aula acabar, hoje
e nos restantes dias, quero que fiquem sentados até que eu chame pelo
vosso nome. Assim, todos podem sair da sala sem problemas e sem se
empurrarem uns aos outros, e eu posso aprender os vossos nomes e
conhecê-los mais depressa.“ Lembre-se disto todos os dias até que a
saída em ordem faça parte da rotina diária da escola.
5. Use humor ou motivos de distração. Nem todos os
comportamentos desajustados que os alunos cometem necessitam de
ações disciplinares. As crianças, tal como os adultos, podem estar
cansados, frustrados, ou aborrecidos. Nestas situações, as ações
disciplinares podem não funcionar. Experimente usar o humor durante
as suas aulas para manter todos interessados e não aborrecidos. Por
exemplo, durante uma aula de ciências, peça aos alunos para resolverem
uma adivinha que introduza a lição. A adivinha pode ser: “Quem é que
começa a vida usando quatro membros, vive usando dois e acaba usando
três?” A resposta é: o ser humano. Um bebé gatinha com quatro,
aprende a andar com dois e quando é velho usa, muitas vezes, a bengala
– tem três pernas. Esta adivinha pode ser uma forma interessante de
introduzir o tópico relativo à forma como o corpo humano se desenvolve
ou falar sobre o envelhecimento. Para crianças do pré-escolar, podem
usar uma distração, como por exemplo, dizer “Olhem a borboleta”. Isto
pode desviar a atenção de choraminguices, agitação ou de birras e pode
levar a ocuparem-se de outras atividades, tais como fazer desenhos de
borboletas. Use a sua imaginação!
6. Utilize uma cooperação pró-ativa. Proponha-lhes atividades que
eles gostem de realizar numa perspetiva cooperativa. Por exemplo,
diga: “Desenhem todo um I no ar”. “Maria, fizeste muito bem o I”.
“Levantem todos o dedo indicador. Agora enfiem-no no livro onde
acham que está a página 108”. Depois, peça a todos para abrirem a
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
87
página 108 e para escreverem as respostas às seis perguntas aí
propostas.68
7. Ofereça diferentes opções ou escolhas e encoraje o grupo a
tomar decisões. Muitos alunos não gostam nada de ser pressionados;
dar-lhes oportunidades de fazer escolhas ajuda-os a sentir que têm
algum controlo sobre o que fazem – embora este controlo seja limitado.
Quando chega a altura do exame, podem dizer: “Terça-feira vamos
fazer um teste de leitura. Quem é que gostava de ter um teste escrito,
e quem gostava de ter um teste oral? Podem escolher qual deles
preferem”. Isto dará às crianças a sensação de terem um controlo
sobre a situação. Se quiserem um único tipo de teste, peça-lhes para
discutirem quais as vantagens e desvantagens dos dois tipos de testes,
e depois votem naquele que preferirem. A maioria ganha. Se alguns
alunos ficarem aborrecidos porque a sua escolha não foi aceite – por
exemplo queriam um teste escrito e a turma optou por um teste oral no dia do exame inclua algumas perguntas escritas, com crédito extra.
8. Permita as consequências naturais dos seus atos, desde que
sejam seguras. Se uma criança chega frequentemente tarde à aula,
não fique zangado. A responsabilidade de chegar tarde é da criança.
Diga-lhe que se o atraso se mantiver tem de escrever uma nota para os
pais. Se continuar a chegar tarde mande a nota para os pais e deixe-o
sofrer as consequências. Ele irá compreender que é responsável pelo
seu comportamento e pelas suas consequências.
9. Não considere a desobediência intencional dos alunos como um
assunto pessoal. As crianças precisam de exprimir desobediência e
precisam de testar os limites como parte do seu desenvolvimento. Não
sinta isso como uma ameaça à sua autoridade. Reaja duma forma calma,
utilizando uma ação que desenvolva o autocontrolo. Lembra-se do caso
do Ramon apresentado atrás? No início, o professor considerou os seus
problemas de mau comportamento de forma pessoal e isso incomodou-o
muito. Mas quando mudou de atitude e compreendeu quando e porquê
ele se portava mal, conseguiu adotar uma estratégia eficaz para lidar
com ele e teve resultados positivos.
68
Giving and Getting Respect.
http://maxweber.hunter.cuny.edu/pub/eres/EDSPC715_MCINTYRE/respect_web_page_i
nsert.html [acesso online em 10/10/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
88
10. Reconheça o esforço, e não a exatidão. Se um aluno está a tentar
fazer o seu melhor, deve sentir-se feliz. Tentar é o primeiro passo de
aprender. Se um aluno não quer tentar uma tarefa difícil, fale-lhe
sobre as vezes em que o seu esforço resultou em sucesso. Encoraje-o a
voltar a esforçar-se: Lembre-se de lhe dizer que se ele se esforçar,
ficarão felizes com isso. Faça com que saiba que tem fé nas suas
capacidades.
DICAS POSITIVAS PARA O ENSINO NA SALA DE AULA
A disciplina positiva precisa de ser apoiada por um ensino positivo. Quando se
ensina há muitas maneiras de evitar um mau comportamento ou, pelo menos,
de lidar com ele de forma eficaz e sem perturbar a turma. Em seguida
indicam-se seis dicas para o conseguir.69 Lembra-se de mais algumas?
1. Prestar atenção e falar com um tom agradável. Antes de
começar a aula, certifique-se que dá atenção a todos e espere que
todos estejam quietos. Os professores experientes sabem que o seu
silêncio pode ser muito eficaz. É importante que prolongue esse silêncio
3 a 5 segundos depois de toda a turma estar completamente quieta. Os
alunos depressa compreendem que quanto mais tempo o professor
esperar pela sua atenção, menos tempo livre terão no fim da aula.
Depois de esperar um tempo, comece a sua aula usando uma voz baixa.
Em cada dez professores há um que tem uma voz baixa. Um professor
com uma voz baixa consegue turmas mais calmas do que os que têm voz
alta. Os alunos mantêm-se calados e quietos, para poderem ouvir o que
ele diz.
2. Ensino claro e preciso. A incerteza aumenta o nível de excitação na
sala de aula. Comece cada aula dizendo aos seus alunos exatamente o
que vai acontecer. Sublinhe o que vai fazer e o que os alunos vão fazer
durante esse tempo. Pode estabelecer limites de tempo para algumas
atividades. Pode combinar o seu ensino com períodos em que os alunos
se dedicam a atividades escolhidas por eles. Pode acabar a descrição
das atividades da sala de aula com: ”Penso que vão ter algum tempo no
fim da aula para falarem com os vossos amigos, irem à biblioteca ou
prepararem outras aulas.”
69
Obtido de: Discipline by Design. 11 Techniques for Better Classroom Discipline.
http://www.honorlevel.com/techniques.xml [acesso online em 10/4/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
89
3. Acompanhamento. Circule; ponha-se em pé e mova-se na sala,
especialmente quando os alunos estão a fazer trabalho escrito ou a
trabalhar em grupo. Tome nota dos seus progressos. Não interrompa
nem faça anúncios gerais a não ser que note que vários alunos estão a
ter dificuldades com alguma tarefa. Use uma voz calma e os seus alunos
irão apreciar a sua atenção pessoal.
4. Chamada de atenção não-verbal. Em algumas salas de aula os
professores têm, na sua mesa, um pequeno sino. Quando o tocam,
mesmo devagar, chamam a tenção de todos os alunos. Outros
professores têm revelado, ao longo dos anos, uma enorme capacidade
em utilizar estratégias diversas nas suas aulas para este fim. Alguns
acendem una lanterna ou usam objetos sonoros que trazem no bolso.
Outros batem com o giz ou o lápis no quadro. As chamadas de atenção
podem também ser expressões faciais ou corporais, ou sinais com as
mãos. É preciso ter cuidado na escolha destas chamadas de atenção.
Explique bem aos seus alunos o que pretende com o seu uso.
5. Partilha. De igual modo que você querer conhecer coisas dos seus
alunos, as crianças geralmente também gostam de saber algo de si e
conhecer os seus interesses. Divulgue alguns dados pessoais nas suas
aulas. Uma fotografia da família ou a colocação na sua mesa de alguns
objetos de algum passatempo ou coleção que faça podem despoletar
uma conversa pessoal com os alunos. Há medida que eles o conhecerem
melhor, irá verificar menos problemas de disciplina.
Intervenções discretas. Um bom professor terá cuidado em não gratificar
um aluno que se comporta mal, fazendo dele o centro das atenções. Deve,
antes, circular pela aula antecipando os problemas antes que eles ocorram. A
forma de enfrentar um aluno que se está a portar mal deve ser discreta. De
outro modo, os restantes alunos ficam distraídos. Por exemplo, enquanto dá
uma aula, refira os seus nomes. Se um deles está a falar e a não dar atenção
à aula, o professor pode simplesmente mencionar o seu nome, incluindo-o na
conversa, duma forma natural: “Como está ver, Chai, transportamos o 1 para a
coluna dos 10.” Chai ouve o seu nome e volta a centrar-se na tarefa. Os
outros alunos não dão por nada.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
90
UTILIZAR CONSEQUÊNCIAS ADEQUADAS, POSITIVAS OU
NEGATIVAS
Um dos fatores importantes na aprendizagem é a vivência das consequências
das nossas ações. Se estas consequências foram positivas, tenderemos a
repetir estes comportamentos. Se forem negativas, teremos menos
tendência para repeti-los.
Muitas vezes, quando estabelecemos regras, decidimos automaticamente que
medidas devemos adotar se estas regras forem quebradas. De facto, os
alunos que violam as leis devem receber sempre a consequência negativa
adequada. Mas por outro lado, os alunos que seguem as regras devem ter as
adequadas consequências positivos ou os prémios, mesmo que se trate de
alunos mais crescidos. Em seguida damos exemplos de consequências positivas
e negativas. Estas sugestões aplicam-se a um largo espectro de idades.
Alguns podem ser mais indicados para um determinado grupo do que para
outro. As consequências referidas não são indicadas por ordem de prioridade.
Todas as consequências devem ser apresentadas e a cordadas pelos
alunos e aprovadas pelo Diretor. Trabalhe com os seus colegas, alunos e pais
para escolher as consequências positivas e negativas.70
Consequências positivas. Nas salas e aula, as consequências positivas mais
comuns centram-se na satisfação do aluno e na formação da sua
autoconfiança e autoestima. Os alunos devem saber que são gratificados por
cumprirem as regras, tal como pelos seus sucessos e realizações na
aprendizagem. Há várias formas simples de gratificar um aluno tal como um
toque no ombro; dizer “estou orgulhoso de ti”; selecioná-lo para ser o chefe
de turma por um dia; selecioná-lo como “ajudante do professor” por um dia;
escolhê-lo para uma atividade de grupo ou um projeto; louvá-lo diante dos
colegas ou diante do diretor ou pedir-lhe para ajudar outros colegas. Tem
ideia de mais algumas que possam ser aplicadas na sua turma?
Consequências negativas. Tome consciência das suas atitudes, tal como das
atitudes dos seus alunos. A utilização frequente de consequências negativas
refletem uma má gestão da sala de aula e, geralmente, deveriam ser evitadas.
Acompanhe os alunos com atenção e com frequência, de modo a detetar
comportamentos negativos antes que se tornem grandes problemas e
70
Adaptado de: Consequences. Collaborative for Excellence in Teacher Education (CETP),
National Science Foundation. http://www.temple.edu/CETP/temple_teach/CMconse.html#anchor40660 [acesso online em 11/28/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
91
envolvam vários alunos. Para parar com comportamentos inapropriados sem
interromper a aula nem chamar demasiada atenção dos alunos, tente:
(a) Aproximar-se do aluno em causa, olhando-o nos olhos e fazendo-lhe um
sinal não-verbal para que ele pare com a sua atitude errada.
(b) Chame o aluno pelo seu nome ou dê-lhe uma breve instrução verbal
para ele parar com a sua atitude.
(c) Reoriente o aluno para uma atitude correta dizendo-lhe o que deveria
fazer (não lhe dê ordens dizendo “não”) e lembrando-lhe a regra que
devia seguir.
Mas, apesar dos nossos melhores esforços, algumas vezes é necessário
disciplinar o aluno. Certifique-se que qualquer que seja a ação que adote ela
deve focar-se no comportamento do aluno e não no aluno; deve tratar-se da
consequência lógica do mau comportamento e não de uma reação repentina ou
dada com rancor. De acordo com a natureza do mau comportamento,
indicamos a seguir algumas medidas a tomar. Lembra-se de outras que possam
ser adequadas à sua turma e aos seus alunos? Certifique-se que a medida não
irá humilhar o aluno perante os colegas!
♦ Perda de algum ou de todo o tempo de recreio com os colegas.
♦ Permanência durante algum tempo depois do fim das atividades
escolares para discutir o comportamento do aluno, a razão por que
teve lugar, e o que fazer para o corrigir.
♦ Levar o aluno a limpar ou arrumar o que sujou ou desarrumou.
♦ Levar o aluno a pedir desculpa àqueles que ofendeu.
♦
Mudar o lugar do aluno na sala de aula.
♦ Solicitar ao aluno que repita a regra que foi violada e como a seguir.
♦ Escrever uma notificação para os pais ou visitar os pais.
♦ Levar o aluno ao gabinete do Diretor, especialmente nos casos mais
graves, tais como lutas, interrupção contínua das aulas, roubo, bulling,
posse de drogas ou de outras substâncias proibidas e posse de armas.
CAUTELA NO USO DA “SAÍDA DA SALA DE AULA”
Uma das mais comuns e controversas medidas disciplinares é a “saída sala de
aula”. Durante essa saída, o aluno permanece sentado num local, não pode
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
92
brincar nem falar com os outros. A única distração é olhar para o relógio até
que os segundos e os minutos passem.
A saída da sala não deve ser a primeira opção, mas a última solução para um
aluno que esteja a violentar outro ou a violentar-se a si próprio. A saída da
sala se for usada por períodos curtos de tempo pode dar ao aluno
oportunidade de se acalmar e de voltar a recuperar o autocontrolo depois
duma situação frustrante. Usada frequentemente ou de forma inapropriada,
pode não ser eficaz, pode prejudicar o aluno, aumentando a sua ira e agressão
em vez de as controlar e se for usada como norma de castigo corporal pode
ter consequências emocionais graves.
Quanto tempo deve durar a saída é uma questão a ser debatida. Alguns
especialistas dizem que não deve durar mais do que dois ou três minutos,
enquanto outros acham que pode ser de um minuto por cada ano de idade do
aluno, até aos doze anos. Um minuto por idade foi estabelecido com base na
tentativa e erro. Parece ser suficiente para conseguir um bom
comportamento sem que o aluno fique ressentido.71
Antes de se expulsar o aluno certifique-se do seguinte:72
♦ Evite essa medida com alunos muito pequenos que não devem estar
isolados, nem devem ficar esquecidos sem uma estimulação adequada.
♦ A seguir ao mau comportamento do aluno devem verificar-se de
imediato as consequências. Quando os alunos experimentam
imediatamente as repercussões de ter magoado outros, compreendem
mais facilmente a razão pela qual são castigados. Sempre que possível,
devem oferecer-se aos alunos alternativas positivas às suas ações
(pedir para limpar o que sujou é mais produtivo do que afastá-lo da
área em que o facto aconteceu).
♦ A “saída da sala de aula” não deve causar humilhação, nem levar o aluno
a sentir-se ameaçado ou com medo. NÃO deve haver uma cadeira
especial ou um espaço especial para o local da saída porque isso irá
reforçara a noção de que é um castigo e poderá criar uma ansiedade
71
Goodkids: A Basic Parenting Guide. http://home.flash.net/~goodkids/ [acesso online em
10/10/2005]
72
DCFS. Bureau of Regulation and Licensing. HFS 46 Group Day Care Manual. APPENDIX O.
EARLY YEARS ARE LEARNING YEARS. Time out for “timeout”
http://www.dhfs.state.wi.us/rl_dcfs/GDC%20Manual/HFS46-Apdnx-O.pdf#search
=’DCFS%20Bureau%20of%20Regulation%20and%20Licensing%20Early%20Years%20are%
20Learning%20Years%20Time%20out%20for%20timeout’ [acesso online em 10/10/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
93
desnecessária. Não deve NUNCA fazer os alunos sentirem-se ridículos
ou isolados durante o tempo da saída.
♦ O aluno não deve ser deixado sozinho. Especialmente no caso dos mais
novos, a não ser que ele o deseje. Os alunos, especialmente os mais
novos, precisam do apoio dos adultos para gerir os seus sentimentos.
Se mostrarem aos alunos que os seus sentimentos são tidos em conta,
é mais provável que eles respeitem os sentimentos dos outros.
♦ Uma saída não deve durar mais tempo do que o necessário para o aluno
se acalmar. Depois dele se ter acalmado, expliquem-lhe o que é um
comportamento adequado e um inadequado. É preciso que ele
compreenda perfeitamente a razão por que foi castigado pois, de outro
modo, ele tenderá a repetir o comportamento indesejado.
♦ Evitem ameaças. Nunca digam “se voltares a fazer isto outra vez vais
ser expulso.” Isto é confuso para os alunos e é uma forma de castigo
negativa que raramente é eficaz.
♦ Adaptem a medida disciplinar adequada a cada aluno. As crianças
desenvolvem formas diferentes de se controlarem. Tenha em
consideração as necessidades de cada aluno envolvido. Nenhuma
técnica é adequada para todos, em todas as ocasiões. A “saída da sala
de aula” não deve ser usada como um castigo mas como uma
oportunidade para o aluno se acalmar e voltar a juntar-se ao grupo num
estado de espírito diferente. Ensine os alunos a resolver os seus
próprios problemas com afeto e apoio e a expulsão da aula pode deixar
de ser necessária.
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Apesar dos seus esforços na sala de aula e no ambiente escolar, bem como os
esforços dos seus alunos e dos pais, podem surgir muitas ocasiões
conflituosas entre os alunos e esta é uma razão para se realizarem reuniões
de pais e de professores (embora não seja esta a única razão). Estes
conflitos podem tomar a forma de insultos, provocações, lutas, e conflitos
relacionados com acesso a espaços do recreio, acesso e posse de objetos, e
até trabalho académico. Estes conflitos surgem muitas vezes em situações de
bulling e podem subir de tom rapidamente se não forem negociados ou
mediados.
Uma boa maneira de minimizar estas situações é ensinar os alunos a forma de
resolver os seus próprios conflitos. Para além de resolver os problemas de
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
94
gestão da sala de aula, esta estratégia ensina aos alunos as competências que
lhes serão úteis fora da turma.73
A investigação sobre resolução de conflitos entre alunos tornou claros os
seguinte pontos:74
(a) Os conflitos entre alunos ocorrem frequentemente nas escolas
(embora raramente se traduzam em ofensas graves).
(b) Os alunos que não tenham recebido treino, usam geralmente
estratégias de conflito que têm consequências destrutivas, e estes
alunos ignoram a importância da necessidade de manter a sua
relação com os outros.
(c) A resolução de conflitos e os programas de mediação entre pares
parecem ser eficazes no ensino de alunos da negociação integrada e
competências de mediação.
(d) Depois de treino, os alunos tendem a utilizar estas competências de
negociação de conflitos o que conduz geralmente a soluções
construtivas.
(e) O sucesso dos alunos em resolver os seus conflitos tendem a
reduzir o número de conflitos entre alunos que são sinalizados aos
professores e aos diretores, o que, por sua vez, diminui a
necessidade de usar ações disciplinares severas.
Os procedimentos básicos destinados a ensinar os alunos a tornarem-se
pacíficos consistem em três passos.
1. Ensine as crianças competências de negociação que lhes permitam:
(a) Definir o seu conflito (“sobre o que é que estamos a discutir; porque
razão e como surgiu a este desentendimento”).
(b) Apresente diferentes pontos de vista e propostas (“Penso que
deveria ter sido porque...”).
73
Classroom Management and Discipline.
http://education.calumet.purdue.edu/vockell/edps530/Chapter%2013.htm [acesso online
em 10/6/2005]
74
Johnson, D.W., Johnson, R.T., Dudley, B., and Burnett, R. “Teaching students to be peer
mediators,” Educational Leadership, 50(1), 10-13, 1992.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
95
(c) Veja a situação a partir de ambas as perspetivas (por exemplo
através de dramatização).
(d) Adote opções em que ambas as crianças fiquem a ganhar (soluções
do tipo “agora eu, agora tu”, assim como “hoje vamos tentar de
acordo contigo e amanhã de acordo comigo, para ver qual é a
melhor”).
(e) Chegue a um acordo razoável.
2. Ensine os alunos como mediar resoluções construtivas dos conflitos
entre colegas. A mediação é um processo em que se utilizam as
capacidades e serviços dos outros para ajudar a sanear uma discussão.
Para ensinar a mediação, escolha uma questão que possa surgir ou que
surgiu entre dois alunos. Peça a dois alunos que façam uma
dramatização sobre essa questão e solicite a um terceiro aluno para
ajudar os amigos a chegar a um acordo, baseando-se no conhecimento
que tem deles, da questão em causa, e do compromisso que pensa ser o
melhor para eles.
3. Após todos os alunos terem aprendido o que é a negociação e a
mediação, escolha dois alunos em cada dia (preferivelmente um rapaz e
uma menina) para servirem de mediadores oficiais (pacificadores). Faça
rodar estes papéis por toda a turma, e estes mediadores poderão
mediar os conflitos que não sejam resolvidos pelas partes envolvidas.
Como professor, o seu papel é de apoiar estes processos, ensinando, criando
modelos e oferecendo conselhos. Um programa de resolução de conflitos na
sala de aulas não só reduz o tempo necessário para resolver os conflitos
estudante-estudante; também permite que os seus alunos desenvolvam
habilidades que possam pôr em prática durante o curso das suas vidas.
Desenvolver e praticar estas competências continuamente como parte do
plano de gestão da sala de aulas resultará numa “sobre- aprendizagem”, o que
é bom. Neste caso, as competências de negociação e mediação tornamse automáticas e os alunos recorrem naturalmente a elas para resolver ou
mesmo evitar problemas.
ENSINO EM FUNÇÃO DA IDADE E DISCIPLINA POSITIVA
Compreender como as crianças se desenvolvem, ajuda a perceber o que
podemos esperar delas. As crianças mudam e desenvolvem-se
constantemente durante o crescimento. Investigadores têm vindo a
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
96
descobrir que as crianças mais novas passam por fases específicas de
desenvolvimento ao longo do seu crescimento. A ideia que está na base destas
”idades e fases” é a de que certos comportamentos são normais e
apropriadas em certas idades e não noutras. No seguinte quadro descreve-se
o desenvolvimento da criança durante determinadas idades e os métodos
disciplinares e de ensino usados para esses momentos.
As Idades e Tipos de Abordagem da Disciplina75,76
Idade
Desenvolvimento
Dicas Ensino/Disciplina
5
Anos
A criança tende a ser calma, calada
e globalmente equilibrada.
Geralmente opta por fazer só o que
ela (ou ele) já sabe, portanto
mostra-se bem adaptada. É
amigável, terna, grata, quer sempre
ajudar e portar-se bem; ainda não é
capaz de assumir a
responsabilidade dos erros
cometidos e por mais que tente não
diz sempre a verdade.
Deixe que ela perceba o que é e o
que não é adequado esperar dela.
Muitas coisas que os professores
consideram ser más, são resultado
de imaturidade. Prevenir é muito
melhor do que reagir a uma
consequência negativa. Contudo, se
o fizer, faça-o com calma. É grande
o desejo do aluno de se portar bem
e de ser bom. Com sorte devia
haver pouca necessidade para
reações negativas.
75
Adaptado de: Discipline that Works: The Ages and Stages Approach. Family Issues Facts.
The University of Maine Cooperative Extension.
http://www.umext.maine.edu/onlinepubs/pdfpubs/4140.pdf [acesso online em 10/11/2005]
76
Adaptado de: Positive Parenting/Parenting Tips.
http://xpedio02.childrenshc.org/stellent/groups/public/@xcp/@web/@parentingresource
s/documents/policyreferenceprocedure/web009299.asp?src=overture [acesso online em
10/12/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
97
Idade
Desenvolvimento
Dicas Ensino/Disciplina
6
Anos
É uma fase altamente emotiva.
Adora num minuto e odeia no
próximo. Há muita confusão e
inquietação entre si e os outros.
Pode exigir, rebelar-se, argumentar
ou lutar. Quando está de bom
humor é alegre, energético e
entusiástico. Precisa de muitos
elogios, mas o comportamento
muitas vezes merece críticas o que
só vem a piorar o seu
comportamento. Não compreende
ainda a diferença entre meu e teu.
Paciência. Ignore a recusa ou fique
indiferente quando o aluno
responder com “eu não vou” ou “eu
não posso”. Elogio - mesmo que não
seja fácil encontrar algo para
elogiar, esforce-se por fazê-lo;
evite a resistência e os confrontos;
se for possível evite assuntos
sensíveis; ceda de vez em quando,
especialmente se isso conduzir a um
comportamento melhor ou a
situações de aprendizagem.
7
Anos
Calado, mostrando antes emoções
negativas. Pode ser pensativo,
absorvido em si próprio, malhumorado, preocupado ou
desconfiado. Muito sensível em
relação às emoções dos outros.
Pode sentir que os outros não
gostam dele e que o criticam ou que
estão a fazer troça dele. Distrai-se
facilmente e tem uma memória
muito curta.
A desobediência pode ser
resultante da distração do aluno.
Para que o aluno faça uma atividade
simples, avise-o previamente e
tenha a certeza que ele ou ela ouviu
as ordens. Lembre ao aluno o que
tem a fazer antes que ele ou ela se
esqueça. Dê pequenos prémios pelos
seus sucessos.
8
Anos
Vigoroso, dramático, curioso,
impaciente e exigente. Não faz
tantas birras como aos 7, mas
continua a ser muito sensível.
Precisa de tempo, atenção e
reconhecimento; começa a pensar
de forma abstrata; interessa-se e
está preocupado com o que lhe
pertence
Dê instruções de modo que sejam
aceitáveis pelo aluno. É motivado
pelo tempo, a atenção e a
aprovação. Utilize atividades que
envolvam a solução de problemas
como meios para desenvolver o seu
pensamento abstrato. Dê pequenos
prémios pelos seus sucessos.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
98
Idade
Desenvolvimento
Dicas Ensino/Disciplina
9
Anos
É mais calmo do que aos 8 anos.
Parece ser independente,
responsável e cooperativo. Pode,
por vezes, mostrar-se
temperamental, mas basicamente, é
razoável. Aceitará as críticas com
facilidade desde que sejam
apresentadas cuidadosamente;
mostra um grande interesse na
justiça; os princípios do grupo são
mais importantes do que os dos
adultos. É muito centrado em si
próprio e por vezes pode não ouvir
quando lhe falam. Pode parecer
distraído ou indiferente. Pode
mostrar-se preocupado com os
outros
Promova a sua responsabilidade
através de tarefas combinadas ou
que foram pedidas. Utilize a
aprendizagem cooperativa, mas
acompanhe as atividades
interpessoais. Utilize aprendizagem
orientada por projetos, em vez de
lições repetitivas.
10
Anos
Geralmente bem-disposto e
contente com a vida. Mas pode ter
momentos em que mostra um
temperamento violento. Pode ser
muito afetuoso, emocional, simples,
preciso, normalmente equilibrado
emocionalmente, mas ainda infantil.
Na maior parte das vezes mostra
uma boa natureza e contente com a
vida. Mas pode ter momentos em
que revela um temperamento
violento. Pode ser muito afetuoso.
Não é uma idade preocupante,
embora se mantenham alguns
receios. Gosta do seu próprio
humor, que pode por vezes não ter
graça para os outros. É uma idade
feliz.
Recorra à capacidade dos seus
alunos em distinguir o bom do mau,
o certo do errado, a verdade da
mentira: A melhor técnica é saber o
que se pode esperar. Implique os
alunos no desenvolvimento de
comités de turma, incluindo comités
de disciplina. Utilize o humor no seu
ensino.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem
99
Idade
Desenvolvimento
Dicas Ensino/Disciplina
11-13
Anos.
Pré-adolescência, tempo de
modificações rápidas. Desenvolve a
sua própria identidade e torna-se
independente. Aumenta a sua
necessidade de privacidade e pode
ser muito sensível à troça. Amua
facilmente. Aumenta a sua
necessidade de amigos.
Faça com que o seu aluno saiba que
se interessa por ele. Organize
sessões de “partilha” ou atividades
(tal como textos) que se relacionem
com as suas experiências e os seus
sentimentos. Dê exemplos de
respeito mútuo. Limite as críticas e
as repreensões. Não permita
provocações nem tolere insultados.
14-16
Anos
O meio da adolescência. Aumento
da independência, do
desenvolvimento sexual e da
concentração. Muito consciente do
seu corpo e da sua aparência. O
pensamento é menos infantil;
apreciam os factos e podem tomar
decisões certas.
Encoraje as relações positivas
através da partilha. Para promover
a aprendizagem, dê-lhes ideias
sobre atividades criativas que pode
fazer com os seus amigos.
Estabeleça limites razoáveis e seja
consistente e justo no cumprimento
das regras. Certifique-se de que
conhecem as regras e negoceie
consequências que sejam
significativas. Recompense e
reconheça o seu comportamento
positivo e as suas realizações.
Partilhe com eles as suas próprias
crenças, preocupações e valores
sobre o mundo. Encoraje os seus
alunos a pedir ajuda a um amigo
adulto quando precisem de
conselhos. Continue a recompensálos.
17-21
Anos
Final da adolescência. Tornam-se
mais independentes, e auto
suficientes; menos influenciados
pelos colegas; desenvolvem a
capacidade de ter um pensamento
adulto. Geralmente são mais fáceis
de lidar do que os que estão na fase
inicial ou média da adolescência.
Exploram objetivos de mais longo
prazo. Podem ter opiniões sobre
tudo. A sua consciência sobre a sua
aparência diminui.
Continue as atitudes tomadas em
relação aos alunos de 14-16 anos
indicados antes. Pergunte
regularmente aos seus alunos o que
pensam e naquilo em que acreditam
Respeite a sua individualidade e
encoraje esse respeito em relação
aos outros. Encoraje a tomada de
decisões independentes. Continue a
recompensá-los.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 100
APOIO A CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS
Criar condições para alunos com perturbações emocionais e de
comportamento77
As técnicas indicadas a seguir podem revelar-se eficazes em relação a alunos
com problemas emocionais e comportamentais.
1. Ignorância propositada. Para eliminar os comportamentos que têm
por objetivo chamar a atenção e que não põe em risco a segurança da
turma, a atitude a tomar será procurar ignorá-los (tal como no caso do
Ramon). Esta técnica nunca deve ser utilizada nos casos de
comportamentos agressivos. A turma deve também aprender a reagir
deste modo, uma vez que, para alguns alunos, a atenção dos colegas
pode ter mais importância do que a atenção dos adultos.
2. Atuação através dum sinal. Se um aluno está suficientemente
calmo para responder, tem uma relação positiva com o professor e não
está sujeito a impulsos patológicos, um sinal não-verbal pode ser
suficiente para o ajudar a retomar a sua atenção. Veja a secção sobre
sinalização não-verbal apresentada acima.
3. Proximidade e controlo táctil. Para mostrar apoio numa situação
que não seja ameaçadora, pode bastar uma aproximação física ou um
toque amigável no ombro. Quando se usa esta técnica é preciso o
cuidado de não reforçar um comportamento inadequado. Comente
positivamente algo que o aluno faça de modo a mostrar apreço.
4. Aproveitar interesses. Se o aluno mostra sinais de desassossego,
mude o tempo ou a atividade ou faça-lhe uma pergunta sobre algum
assunto que o interesse e que esteja relacionado com o trabalho que
está a fazer.
5. Forte afetividade. Exprima um afeto genuíno ou apreciação sobre o
aluno, de modo a ajudá-lo a readquirir o autocontrolo.
6. Diminuir a tenção através do humor. Tal como já referimos, o
humor, se for usado na altura própria e duma forma positiva pode parar
77
Classroom Organization. Techniques for Working with Emotionally and Behaviourally
Challenged Students. http://www.teachervision.fen.com/page/7242.html [acesso online em
10/4/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 101
com um comportamento indesejável. O sarcasmo, o cinismo e a agressão
não são formas adequadas de usar o humor.
7. Ajuda a ultrapassar um obstáculo. Antes que o aluno se comece a
portar mal, ajude-o a resolver uma parte difícil da tarefa que tenha
entre mãos. Garanta-lhe estar pronto a ajudá-lo e que, em conjunto,
podem resolver o problema.
8. Reagrupamento. Mude o aluno de lugar ou a forma como o pequeno
grupo está organizado, de modo a evitar problemas específicos. Faça
isto duma forma não punitiva, e, se possível, discreta. Veja a secção no
início deste documento sobre “tornar o ambiente de aprendizagem
confortável”.
9. Restruturação. Se uma atividade não tiver sucesso, mude-a tão
depressa quanto possível. É sempre importante ter um plano B. Às
vezes é bom mudar um jogo interativo para um que não exija interação.
Isto pode ser feito duma forma não punitiva e calma quando o grupo
começa a ficar sobre-estimulado. Noutras alturas pode ser mais eficaz
propor uma escolha. Por exemplo, os alunos podem escolher lidar com a
informação oralmente através de debate, ou copiar notas dum
retroprojetor.
10. Pedido direto. Se um aluno ou um grupo tem uma relação positiva com
o professor, por vezes é suficiente pedir que parem com um dado
comportamento se ele está a criar problemas. Tal não implica nenhum
prémio nem nenhum castigo. Trata-se simplesmente dum pedido direto,
feito por uma pessoa em relação a outra.
11. Prevenção. Afaste o aluno duma situação problemática antes que
ocorram comportamentos desadequados. Por exemplo peça-lhe para o
ajudar a distribuir folhas ou ficar a tomar conta da turma. Tenha
cuidado em não premiar um aluno que esteja a instigar o problema.
12. Ajuda das rotinas. Tal como aprendemos anteriormente, as escalas e
as rotinas podem ser intervenções importantes de gestão. Saber-se o
que se vai fazer e quando fazer proporciona estrutura, segurança e
previsibilidade nas vidas dos alunos que podem não ter este tipo de
experiências noutras situações da sua vida.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 102
Formas Simples de Ajudar Crianças com “Necessidades Especiais”78
Dicas para professores
Para melhorar a atenção
♦ Sente as crianças na frente.
♦ Sente as crianças perto de outras que possam ser modelos e possam
ser “ amigos que ajudam a aprender.”
♦ Divida as tarefas em segmentos, dando ao aluno um segmento de cada
vez, (por exemplo em vez de lhe dar uma página inteira de problemas
de matemática, o que o pode desencorajar, corte o papel ao meio e
peça aluno para completar essa metade, depois dê-lhe a outra metade.
♦ Use chamadas de atenção (por exemplo mostrando-lhe um papel
colorido, fazendo um sinal na carteira, tocando-lhe no ombro).
♦ Olhe-o nos olhos antes de lhe dar as instruções.
♦ Dê instruções curtas e diretas com ajudas visuais ou tácteis, se for
possível.
Para reduzir a impulsividade
♦ Ignore comportamentos inadequados pouco relevantes.
♦ Dê imediatamente reforços positivos ou negativos.
♦ Acompanhe a transição entre turmas ou atividades.
♦ Aprove os comportamentos positivos sempre que possível.
♦ Estabeleça contratos para comportamentos que precisem de apoio.
♦ Ajude a criança a aprender técnicas de autocontrolo.
Para Lidar com a Hiperatividade
♦ Permita que o aluno fique alguns tempos em pé.
♦ Permita corridas erráticas.
78
Classroom Management Index. http://www.adda-sr.org/ClassroommanagementIndex.htm
[acesso online em 10/4/2005]
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 103
Para Promover o Sucesso Académico
♦ Dê um tempo extra para acabar o trabalho.
♦ Reduza as tarefas.
♦ Use métodos de ensino multissensoriais (visuais, orais e tácteis).
♦ Lembre ao aluno para verificar se acabou a tarefa.
♦ Faça com que o aluno aprenda técnicas para monitorizar as suas
tarefas.
♦ Use folhas de tarefas diárias.
Para promover as competências organizacionais
♦ Solicite a ajuda dos pais.
♦ Use fichas de trabalho diárias.
♦ Use um caderno de notas pormenorizado.
♦ Verifique o caderno de notas e reforce os bons cadernos.
Gestão da Turma e Modificações no Ensino
Outras técnicas úteis incluem o seguinte:
♦ Reduza ou alterne as tarefas.
♦ Amplie os tempos previstos para a conclusão das tarefas.
♦ Use materiais especiais que encorajem e desenvolvam capacidades,
tais como gráficos, marcadores de feltro, papel com linhas, etc..
♦ Use mais material visual.
♦ Leia alto o teste.
♦ Utilize testes de escolha múltipla ou falso/verdadeiro em vez de
ensaios.
♦ Peça relatórios orais (em vez dos escritos).
♦ Aceite projetos especiais em vez de relatórios.
♦ Forneça tabuadas de multiplicação e outras matrizes.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 104
♦ Forneça listas de palavras difíceis.
♦ Elabore um contrato entre os pais o professor e a criança sobre o que
se espera dela.
♦ Dê créditos pela participação na aula.
♦ Dê orientações passo a passo, curtas, e simples.
♦ Chame o aluno pelo seu nome para o/a lembrar que deve responder à
próxima pergunta.
♦ Use um código com cores que ajude o aluno a reconhecer qual o aspeto
principal da informação a reter.
♦ Mais do que tudo, use frequentemente o reforço positivo! Os seus
benefícios podem permanecer por toda a vida.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 105
Leituras aconselhadas
Além dos inúmeros recursos e publicações proporcionados pela Internet
mencionados neste texto, propomos que explore as seguintes fontes para
mais informação.
Publicações
Albert, Linda. Cooperative Discipline: Implementation Guide. American
Guidance Service, 1996.
Albert, Linda. A Teacher’s Guide to Cooperative Discipline: How to Manage
Your Classroom and Promote Self-Esteem. American Guidance Service, 1989.
Boostrom, Robert. “The Nature and Functions of Classroom Rules,”
Curriculum Inquiry, Summer 1991, 193-216.
Coloroso, Barbara. Kids Are Worth It! Giving Your Child the Gift of Inner
Discipline. Avon Books, 1995.
Curwin, Richard. Am I in Trouble: Using Discipline to Teach Young Children
Responsibility. Santa Cruz, CA: Network Publications, 1990.
Curwin, Richard and Mendler, Allen N. The Discipline Book: A Complete Guide
to School and Classroom Management. Reston, VA: Reston Pub., 1980.
Dinkmeyer, Don and Dreikurs, Rudolf. Encouraging Children to Learn . Taylor
& Francis Group, 2000.
Dreikurs, Rudolf. Maintaining Sanity in the Classroom; Classroom Management
Techniques. 2nd ed. Washington, D.C.: Accelerated Development, 1998.
Dreikus, Rudolph and Chernoff, Marvin. “Parents and Teachers: Friends or
Enemies?,” Education, Vol. 91, No. 2, 147-54, Nov.-Dec., 1970
Emmer, E.T., Evertson, C.M., Sanford, J.P., Clements, B., and Worsham, M.E.
Classroom Management for Secondary Teachers. (2nd Ed.). Englewood Cliffs,
NJ: Prentice-Hall, 1989.
Evertson, C.M., Emmer, E.T., Clements, B., Sanford, J.P., and Worsham, M.E.,
Classroom Management for Elementary Teachers. (2nd Ed.). Englewood Cliffs,
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 106
NJ: Prentice-Hall, 1989.
Fontana, David. Classroom Control: Understanding and Guiding Classroom
Behavior. London: Methuen, 1985.
Freiberg, H. Jerome. “From Tourists to Citizens in the Classroom,” in
Educational Leadership, Vol. 54, No. 1, p32-36, Sept., 1996.
Fuhr, Don. “Effective Classroom Discipline: Advice for Educators,” NASSP
Bulletin, January 1993, 82-86.
Galivan, Janice. “Discipline without Punishment,” Forum, September/October
1987, 37-40.
Ginott, Haim G. Teacher and Child: A Book for Parents and Teachers. 1st
Collier Books ed. New York: Colliers, 1993.
Golden, Diane Cordry. “Discipline of Students with Disabilities: A Decisionmaking Model for Principals,” NASSP Bulletin, February 1993, 12-20.
Gordon, Thomas. Discipline That Works: Promoting Self-Discipline in
Children. Plume, 1991.
Grossnickle, Donald R & Sesko, Frank P. Preventive Discipline for Effective
Teaching and Learning. Reston, VA: National Association of Secondary School
Principals, 1990.
Hart, Stuart N (ed.), Eliminating Corporal Punishment: The Way Forward to
Constructive Child Discipline. Paris: UNESCO Publishing, 2005.
Hill, D.J. Humor in the Classroom. Springfield, IL: Charles Thomas, 1988.
Johnson, D.W., Johnson, R.T, Dudley, B., & Burnett, R. “Teaching Students to
be Peer Mediators,” Educational Leadership, Vol. 50, No. 1, 10-13, 1992.
Jones, Fredric H. Positive Classroom Discipline. New York: McGraw Hill, 1987.
Kounin, Jacob S. Discipline and Group Management in Classrooms. Huntington,
N. Y.: R. E. Krieger, 1977.
MacKenzie, Robert J. “Setting Limits in the Classroom,” American Educator,
Vol. 21, No. 3, 32-43, Fall 1997.
Mendler, Allen N. Discipline with Dignity for Challenging Youth. National
Educational Service, 1999.
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 107
Internet Resources
Alliance for Transforming the Lives of Children (www.atlc.org)
American Academy of Pediatrics (www.aap.org)
AskDrSears.com (www.askdrsears.com)
Attachment Parenting International (www.attachmentparenting.org)
Aware Parenting Institute (www.awareparenting.com)
Behaviour UK (www.behaviouruk.com)
Center for Effective Discipline (www.stophitting.com)
Child and Family Canada (www.cfc-efc.ca)
Children are unbeatable! Alliance (www.childrenareunbeatable.org.uk)
Children’s Rights Information Network (www.crin.org)
Classroom Management Online (www.classroommanagementonline.com)
Education World (www.educationworld.com)
Empathic Parenting by the Canadian Society for the Prevention of Cruelty to
Children (www.empathicparenting.org)
Family Works Inc. (www.familyworksinc.com)
Fight Crime: Invest in Kids (www.fightcrime.org)
The Forbidden Issue (www.alice-miller.com)
Global Initiative to End All Corporal Punishment of Children
(www.endcorporalpunishment.org)
The No Spanking Page (www.neverhitachild.org)
Positive Discipline.com (www.positivediscipline.com)
The Positive Discipline Resource Center
(http://joanneaz_2.tripod.com/positivedisciplineresourcecenter)
Project No Spank (www.nospank.net)
Disciplina Positiva na Sala de Aula Inclusiva e Amiga da Aprendizagem 108
Save the Children Alliance (www.savethechildren.net/alliance/index.html)
UNESCO (www.unesco.org)
UNICEF (www.unicef.org) (www.unicef.org/teachers)