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XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU: A ATUAÇÃO DO BLOCO FRENTE ÀS TENSÕES E CRISES NO LESTE EUROPEU Elaborado por: Caroline Cardoso Henrique Mota Mariana Braga Rio de Janeiro 2015 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 1 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU SUMÁRIO 1. Histórico do Comitê .................................................................................................... 5 1.1. A União Europeia ................................................................................................. 5 1.2. O Conselho Europeu .......................................................................................... 19 1.2.1. Processo de votação do Conselho Europeu ............................................... 22 2. A Política Externa da União Europeia ................................................................... 22 3. As relações entre União Europeia, Rússia e Ucrânia ............................................ 28 3.1. Introdução .......................................................................................................... 28 3.2. Histórico da Rússia com a Ucrânia e a Crimeia.............................................. 29 3.3. A Crise Atual ...................................................................................................... 30 3.4. A Crimeia Russa ................................................................................................ 32 3.5. A UE e a Rússia .................................................................................................. 33 3.6. A UE e a Crise .................................................................................................... 35 4. Pontos Que Uma Resolução Deve Conter............................................................... 36 5. Políticas Externas dos Estados Membros ............................................................... 37 6. Referências Bibliográficas ....................................................................................... 64 2 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Prezados delegados, É com um enorme prazer e extrema satisfação que damos as boas-vindas aos senhores e desejamos a todos uma ótima preparação e uma simulação ainda melhor. O guia que segue foi engendrado para amparar os senhores e fornecer-lhes um alicerce para a melhor compreensão dos recentes eventos acontecidos no Leste Europeu e a maneira como a União Europeia vem lidando com isso. Cabe a nós, entretanto, informálos que este guia é apenas o pilar inicial de seus estudos e cabe aos senhores obterem o máximo de informações, explorando os assuntos das mais diversas fontes a fim de alcançar o melhor entendimento possível sobre o tema abordado, otimizando, assim, o desempenho de cada um. A União Europeia é uma instituição que tem se tornado cada vez mais integrada em diversas áreas. No entanto, no que consiste ao âmbito de política externa, a convergência dos interesses dos estados membros ainda é muito pequena e tímida. A total falta de autonomia do segundo pilar constituinte da UE, denominado como “Common Foreign and Security Policy”, se traduz em um campo de cooperação, no entanto, ainda muito simbólico e limitado. Os conflitos existentes no Leste Europeu se refletem como desafios a essa política, em especial a recém-anexação dos territórios da Criméia e da base de Sebastopol pela Rússia. Sendo assim, faz-se extremamente necessário que o Conselho Europeu, consciente de sua responsabilidade para com o futuro do continente europeu, consiga superar as divergências internas dos seus membros e chegue a um consenso a respeito da política externa comum para lidar com conflitos que ameaçam sua integridade. Caso tenham dúvidas sobre qualquer ponto abordado neste documento ou durante seus estudos relacionados à conferência, por favor, não hesitem em nos contatar. Nós, Diretores, gostaríamos de agradecer a confiança depositada por parte de todo o Secretariado do XII MIRIN e parabenizar este por todo o trabalho realizado ao longo de meses, com muita eficiência e competência. Agradecemos o apoio, a atenção, a paciência e a dedicação de todos que contribuíram para mais um ano de MIRIN. Agradecemos aos senhores delegados pela predisposição e interesse na proposta do comitê, tornando-o possível. Esperamos que os debates sejam enriquecedores e XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 3 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU proveitosos, e que os senhores obtenham um aprendizado nestes cinco dias de simulação, tendo em vista que todo o projeto é em prol dos senhores. Estamos à disposição e aguardando ansiosamente pelo nosso encontro em Julho. Até breve, Caroline Cardoso Henrique Mota Mariana Braga 4 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 1. Histórico do Comitê 1.1. A União Europeia Com o fim da Segunda Guerra Mundial nasceu uma nova esperança no seio da Europa: a de que a união era uma possibilidade – ideia que surge bem antes do século XX. Vários estadistas visionários resolveram colocar um fim às disputas nacionalistas e alcançar a paz através da unidade europeia. A União Europeia (UE) de hoje é o resultado dos esforços para o compartilhamento de soberanias dos Estados que a compõe. Sua história de conquistas é vasta, mas ao invés de responder a um projeto minuciosamente planejado, o desenvolvimento da integração europeia é constituído de eventos mais ou menos aleatórios, tendo as conjunturas políticas nacionais e acontecimentos imprevistos como principais motores. A UE é a associação voluntária de Estados europeus nos domínios políticos e econômicos, a fim de garantir a manutenção da paz na Europa e garantir o progresso econômico e social. As suas bases constitutivas foram geradas através de uma série de tratados: • o Tratado de Paris, que instituiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), em 1951; • os tratados de Roma, que instituíram a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atômica (Euratom), em 1957. Os tratados fundadores foram posteriormente alterados: • pelo Ato Único Europeu (1986); • pelo Tratado da União Europeia (Maastricht, 1992); • pelo Tratado de Amsterdã (1997); • pelo Tratado de Nice (2001) e; • pelo Tratado de Lisboa (2007). XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 5 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU O primeiro impulso na política de integração da Europa foi o estabelecimento da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), em 1951, por seis países (Bélgica, República Federal da Alemanha, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos). O objetivo primordial dessa organização era assegurar a paz, associando os países em um sistema institucional comum regido pelos princípios de igualdade e cooperação (Ibid.). A CECA trazia pela primeira vez a ideia de supranacionalidade1, que incluía uma autoridade judicial suprema, uma estrutura executiva e de tomada de decisão: uma Alta Autoridade que tinha por tarefas assegurar a realização dos objetivos fixados no Tratado e agir no interesse geral da Comunidade. O Tratado de Paris criou a CECA por um período de 50 anos, portanto ela deixou de existir desde 23 de julho de 2002. A CECA era limitada ao domínio da economia e continuou assim posteriormente com a criação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) e da Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom). Estas duas comunidades foram instituídas pelos Tratados de Roma, assinados em março de 1957. A CEE estabelecia uma área de livre comércio entre os países do bloco, implementando uma Tarifa Externa Comum e dando início a um mercado comum europeu2. Não importava o lugar de entrada do produto, ele estaria sobre uma mesma base tarifária. O tratado também estabelecia uma série de medidas a fim de evitar a competição entre os membros da comunidade, além de conter uma cláusula para impulsionar as discussões não só sobre o livre movimento de bens, mas de pessoas, serviços e capital (Nugent, 2010). A Euratom visava ao desenvolvimento da energia nuclear para fins econômicos e pacíficos, garantindo a segurança da população. “A partir de 1957 passam a coexistir três comunidades distintas. As três comunidades já dispõem de instituições comuns, mas existe ainda uma 1 O significado do termo supranacional expressa um poder de mando superior aos Estados, resultando da transferência de soberania operada pelas unidades estatais em benefício da organização comunitária, permitindo-lhe a orientação e a regulação de certas matérias, sempre 2 Existem diferentes tipos ou etapas de integração, que variam segundo a intensidade da união econômica dos membros de um Bloco. Os principais são a Área de Livre Comércio, a União Aduaneira, o Mercado Comum e a União Econômica e Monetária. Uma Área de Livre Comércio é a etapa ou tipo de integração em que são eliminadas todas as barreiras ao comércio entre os membros do grupo. Por sua vez, a União Aduaneira é a etapa ou tipo de integração em que, além do livre comércio entre os países membros do grupo, existe a aplicação de uma Tarifa Externa Comum (TEC) ao comércio com terceiros países. Já no Mercado Comum, além da TEC e do livre comércio de bens, existe a livre circulação de fatores de produção (capital e trabalho) e o estabelecimento de políticas comunitárias. Finalmente, a União Econômica e Monetária é o tipo mais avançado de integração, quando, além de todas as características descritas anteriormente, os países têm a mesma moeda (Freire e Almeida, 2008). 6 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU duplicação de esforços e torna-se necessária a sua unificação. O Tratado de Bruxelas de 1965 funde os executivos das três comunidades numa só "Comissão das Comunidades Europeias" e instaura um Conselho único que substitui os Conselhos das três comunidades” (Fontaine, 2003). Mas o período de sucesso da integração europeia, principalmente por meio da CEE, acabaria por passar um período difícil. Em 1961, o presidente francês Charles de Gaulle apresentou o projeto de criação de uma ‘União de Estados’, que incorporaria a CEE em uma organização intergovernamental3 para coordenação da política externa e de defesa, mas sua proposta não foi bem sucedida (Urwin, 2010). Merece nota a disputa entre o supranacionalismo e intergovernamentalismo, que permeia a história da União Europeia. Os defensores do supranacionalismo são favoráveis à ampliação da competência e atuação dessa organização que estava em fase de criação, com os Estados abrindo mão de sua soberania cada vez mais. Já os defensores do intergovernamentalismo são favoráveis a uma organização na qual os Estados retêm maior parte do poder, retendo grande parte de sua soberania, portanto, à organização internacional por meio da qual a integração estava se dando. A partir de 1965 começariam discussões nos processos de votação do Conselho de Ministros, com o intuito de reduzir o número de assuntos sobre os quais a unanimidade fosse exigida para as decisões serem tomadas, junto com mudanças propostas para que a Comissão e o Parlamento Europeu passassem a ter autoridade supranacional. A França se retira em julho deste ano, mostrando que ainda existiam muitas dificuldades para a integração europeia e que havia grande resistência a uma “perda de autoridade” dos Estados frente às organizações (Ibid.). Durante o período de 1970 até 1985, acontecem os primeiros alargamentos das três Comunidades. A Grã-Bretanha adere às Comunidades Europeias em janeiro de 1973, juntamente com a Dinamarca e a Irlanda. Em 1981, é a vez da Grécia, seguida da Espanha e de Portugal em 1986. Com a entrada de novos membros e uma consequente 3 Organização intergovernamental (OI), também conhecida como organização governamental internacional (OGI), é uma organização composta principalmente de Estados soberanos (referido como Estados Membros), ou de outras organizações intergovernamentais. As organizações intergovernamentais são frequentemente chamados de organizações internacionais, embora esse termo pode também incluir organização não-governamental internacional, como internacional sem fins lucrativos (ONGs) ou empresas multinacionais. A diferença da OI para uma organização supranacional é o poder que esta última possui acima das autoridades estatais dos Estados Membros que a compõe. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 7 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU mudança na dinâmica comunitária, faz-se necessário tomar novas medidas para dar coerência à integração. Por exemplo, criam-se o primeiros programas estruturais destinados a reduzir as disparidades econômicas entre os membros da União, como os Programas Integrados Mediterrânicos (Fontaine, 2003). Há que se acrescentar que a entrada dos países da Europa do sul teve uma motivação fortemente política, visto que estavam em um processo de consolidação da democracia em suas sociedades. Nesse caso, o desenvolvimento econômico facilitaria esse desenvolvimento. Entretanto, o processo de integração não foi capaz de criar mecanismos que protegessem as economias mais fracas do bloco – como a Grécia, membro recente – contra as vulnerabilidades advindas das dinâmicas da economia global. Parte desta brecha institucional se justifica pelo fato de o bloco não objetivar uma única economia e, muito menos, um único governo (Sousa, 2010). Os anos 70 foram marcados pela instabilidade com duas grandes crises mundiais, a crise do dólar e as Crises do Petróleo (1973 e 1979), ocasionando em um período de grande inflação e desemprego, o que fez com que os países europeus se voltassem para políticas nacionais destinadas à recuperação. Entretanto, vale lembrar do Relatório Werner, de 1970, o qual propunha três estágios para o alcance da União Econômica e Monetária (UEM): taxas de câmbio fixas; livre circulação de bens, serviços, pessoas e capitais; e a centralização das políticas monetárias. O relatório também recomendava a criação de um sistema comunitário de banco centrais e uma nova organização para decidir sobre política econômica. O relatório infelizmente gerou sérias discordâncias e acabou não sendo posto em prática na época (Staab, 2011). Paralelamente aos trabalhos citados, a construção comunitária registra progressos concretos: • Afirmação do papel das reuniões dos Chefes de Estado e de Governo, que conduziu, a partir de 1974, à realização de "Conselhos Europeus" três vezes por ano. • Eleição do Parlamento Europeu por sufrágio direto e universal, a partir das eleições de 1979. 8 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU • Recurso ao artigo 235 do Tratado CEE para alargar os domínios de intervenção da CEE.4 • Instauração, em 1978, do Sistema Monetário Europeu (SME), que assentava na existência de uma unidade de conta comum5, o ECU (European Currency Unit), para resolver o problema da instabilidade monetária. Este sistema deu poder à Comunidade através da sua própria estrutura, a qual continha um fundo de reserva para possível intervenção no mercado além do Exchange Rate Mechanism (ERM), o qual reduzia a variabilidade das taxas de câmbio entre os países participantes, fixando as bandas cambiais em 2,25% de uma moeda em relação à outra, a fim de garantir a estabilidade monetária necessária até o alcance da moeda comum. • Tratados de 1970 e de 1975 e Decisão de 1985, relativos às disposições orçamentais e financeiras que permitem chegar a um acordo sobre o regime das finanças comunitárias (sistema dos recursos próprios e execução do orçamento). Os impactantes efeitos da “euroesclerose” dos anos 1970 levaram ao relançamento do projeto continental no decênio seguinte, algo patente, por exemplo, nos discursos e nas práticas dos presidentes da Comissão Europeia à época (Gaston Thorn e, claro, Jacques Delors). A década de 80 foi um momento de grandes mudanças para a Comunidade. Em 1986 foi assinado o Ato Único Europeu (AUE), o qual se propõe a facilitar a harmonização das legislações dentro do Conselho. O Ato estabelecia entre suas principais decisões um único Conselho e uma única Comissão ao unir as Comunidades Europeias em uma única Comunidade Europeia; procurava organizar o orçamento das instituições e passou a dar poderes orçamentários a estas; e eleições diretas para o Parlamento Europeu. O Ato Único Europeu também marcava como prazo para o estabelecimento de um mercado único europeu o dia 1º de janeiro de 1993. Este ato 4 O artigo 235 que prevê que: "se uma ação da Comunidade for considerada necessária para atingir, no curso do funcionamento do mercado comum, um dos objetivos da Comunidade, sem que o presente Tratado tenha previsto os poderes de ação necessários para o efeito, o Conselho, deliberando por unanimidade, sob proposta da Comissão, e após consulta do Parlamento Europeu, adotará as disposições adequadas". Após a Conferência de Paris de Outubro de 1972, o recurso a este artigo permitiu que a Comunidade desenvolvesse ações nos domínios das políticas ambiental, regional, social e industrial. 5 Unidade de conta (também chamado de denominador comum de valor) se refere a uma das funções que a moeda desempenha, nesse sentido, ela fornece um padrão para que as demais mercadorias expressem seus valores e forneçam um referencial para que os valores dos demais produtos sejam cotados no mercado. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 9 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU oficializou a existência do Conselho Europeu e consagrou a prática da cooperação em relação às políticas externas dos países (Fontaine, 2003). Até finais da década de 1980, as tentativas de unificar as políticas macroeconômicas dentro da Comunidade foram infrutíferas. Ao menos quatro motivos principais podem explicar esse fato. Primeiramente, havia discordâncias sobre qual deveria ser colocada como prioridade – a política econômica ou a monetária. Segundo, os mecanismos de tomada de decisão dentro da Comunidade eram tão divididos que acabavam dificultado a chegada de acordos. Terceiro, aspectos diferentes da integração econômica e monetária eram vistos com perspectivas também diferenciadas por cada um dos Estados. Por último, a possibilidade de ceder poder sobre temas chave da agenda macroeconômica interna para a Comunidade trazia à tona a questões centrais a respeito de soberania. Apesar disso, foram alcançados alguns resultados positivos na aproximação para a UEM, tanto devido a conjugação de interesses econômicos quantos políticos, pois via-se a integração como meio de fortalecimento tanto institucional como de desenvolvimento econômico (Nugent, 2010). O Tratado de Maastricht, assinado em 1992, cria a União Europeia (com este nome), constituída por três pilares: as Comunidades Europeias, a política externa e de segurança comum e a cooperação policial e judiciária em matéria penal. O pilar das Comunidades abrangia todas as Comunidades que ainda formavam o núcleo da integração europeia (Comunidade Econômica Europeia (CEE), Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom) e a Comunidade Europeia do Carvão e Aço) sendo marcado, principalmente pela supranacionalidade. Os outros dois pilares ainda eram marcados, principalmente, pelo intergovernamentalismo sendo o mecanismo de tomada de decisão baseado no consenso. Apesar de toda a qualidade de seu conteúdo nem todos o viam como viável. Os eleitores dinamarqueses rejeitaram a proposta e fato semelhante iria se repetir no futuro. As principais inovações que vieram com Maastricht foram: “(...) o lançamento da União Econômica e Monetária, posteriormente concretizada através da decisão tomada em 1998 de instaurar uma moeda única (o euro), a instituição de uma cidadania europeia, a criação de novas políticas (educação, cultura) e a aplicação do princípio da subsidiariedade no controlo do exercício das competências. Por último, um protocolo social 10 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU alarga as competências comunitárias no domínio social. No plano institucional, o papel do Parlamento Europeu é reforçado graças à instauração de um procedimento de co-decisão em certas matérias e à sua participação no processo de nomeação da Comissão. Para realizar estes progressos, foi necessário instaurar uma certa diferenciação entre os Estados-Membros. Assim, o Reino Unido não participa no protocolo social e continua a poder decidir sobre a sua participação no euro, o mesmo sucedendo com a Dinamarca.” (Fontaine, 2003). O Tratado de Maastricht estabeleceu um esquema e um prazo para o alcance da UEM. Os principais pontos desse esquema foram a coordenação crescente e a convergência das políticas econômica e monetária de todos os Estados membros. Para cumprir este projeto o Conselho Europeu criou duas instituições para acompanhar e garantir sua implementação: o Banco Central Europeu (BCE) e o Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), lembrando que este último é composto pelo BCE mais os bancos centrais de todos os países membros da então União. São funções do BCE: - Manter a estabilidade de preços na UEM sendo totalmente independente do resto das instituições europeias e dos diferentes governos nacionais. - Garantir o bom funcionamento do sistema de pagamentos através do sistema de pagamentos (TARGET). - Administrar as reservas de divisas que os países membros nele depositam. - Colaborar com as autoridades de cada país nas funções de supervisão bancária. - Emitir as notas de euro. - Estabelecer a quantidade de moedas de euro que os países membros devem cunhar para assegurar o fornecimento. São funções do SEBC: - Estabelecer e aplicar a política monetária da comunidade. - Gerir os recursos de terceiros oficiais dos países membros. - Conduzir operações cambiais. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 11 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU - Promover o bom funcionamento dos sistemas de pagamentos. - Aconselhar as autoridades nacionais nos domínios da supervisão das instituições de crédito. A União Econômica e Monetária prevê a política econômica comum, sendo que os Estados-membros se comprometem a coordenar suas políticas econômicas, o que seria vigiado multilateralmente, devendo seguir regras de disciplina fiscal e orçamentária. Em 2002 entrou em vigência a moeda única – o Euro. Em 1995 houve a expansão do bloco com a inclusão de Áustria, Finlândia e Suécia. Importante observar como se deu a entrada destes Estados, visto que durante muito tempo eles não sentiram necessidade da adesão, pois eram Estados com altos índices de qualidade de vida e não queriam perder essas conquistas em relação à melhoria desses índices. (Jesus, 2009). O Tratado de Maastricht foi seguido pelo Tratado de Amsterdã, assinado em 1997, que teve entre suas principais resoluções a inclusão do Acordo de Schengen à União Europeia (Phinnemore, 2010). O Acordo de Schengen tem a intenção de abolir as fronteiras entre os países europeus para estimular a circulação de bens, pessoas e serviços pelos países. Esse acordo foi formalizado em 1985, sendo que em 1990 foi assinado a Convenção de Implementação de Schengen. A primeira experiência de livre circulação da Europa foi o Benelux e a extensão da ideia de abrir os postos de controle se mostrou como um projeto grandioso e inovador para a integração da Europa. A fim de manter certo controle, os Estados criaram o Sistema de Informação de Schengen, além de permitir que as fronteiras fossem reintroduzidas em determinadas ocasiões em circunstancias limitadas. A partir da implementação do acordo, qualquer pessoa que estivesse em um país que faz parte da área de Schengen poderia transitar livremente pelas fronteiras para outro país pertencente à área (Uçarer, 2010). Outro documento relevante assinado em 1997 foi o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). O PEC funciona como um guia de como a convergência pode ser alcançada pelos Estados Membros que desejam participar da UEM, obedecendo a critérios de regulação das políticas econômica e monetária. Este documento obriga os Estados a praticar políticas fiscais prudentes e, mais especificamente, manter o orçamento nacional equilibrado, adotando como regra que o déficit público não pode 12 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU ultrapassar 3% do PIB anualmente e a dívida pública não pode alcançar mais do que 60% do PIB total – déficits superiores a essa margem podem levar a sanções pelo Conselho. Nos primeiros anos de aplicação do Pacto surgiram diversos pedidos de revisões estatísticas, visto que muitos países não conseguiam cumprir as recomendações orçamentais. Quando França e Alemanha foram as “vítimas” do Pacto, observou-se que era necessário reformá-lo, o que foi feito em 2005, com a aprovação pelo Conselho Europeu do documento “Melhorias na implementação do Pacto de Estabilidade e Crescimento” (Banco de Portugal, 2013). A mudança mais marcante foi o reconhecimento de circunstâncias temporárias e excepcionais em que os 3% requeridos poderiam ser ultrapassados sem o risco de uma penalidade financeira. Esse abrandamento foi muito utilizado pelos países durante a crise financeira que se instalou nos anos 2000 dentro da UE, devido à adoção pelos Estados de medidas de estímulo fiscal agressivas, que implicavam em reduções de impostos e aumento de gastos – gerando déficits públicos gigantescos. O fato de muitos Estados da UE, inclusive aqueles da zona do euro, ultrapassarem os limites colocados dentro do PEC gera preocupação tanto dentro dos órgãos tomadores de decisão (Conselho Europeu e Ecofin – Conselho dos Ministros de Economia e Finanças) quanto no órgão implementador, a Comissão Europeia. Contudo, estes órgãos têm sido mais condescendentes com os Estados que claramente demonstram estarem se esforçando para entrarem no padrão estabelecido. “O principal problema acarretado pela moeda comum é a ausência de uma política orçamentária unificada, havendo necessidades urgentes de reformas estruturais. Apesar de a UE possuir instrumentos econômicos (e.g. sanções econômicas formais), não existem mecanismos que combatam perdas financeiras e a irresponsabilidade dos Estados em termos de prestação de contas. Desta maneira, em contexto emergencial, os líderes europeus defenderam a criação de um Fundo Monetário Europeu, já que apesar do controle de política monetária feita pelo BCE, o “pacto de estabilidade” que envolve as várias economias não é respeitado. Países que não estão na zona do euro, como o Reino Unido, tomaram medidas simples diante de elevado gasto público como alteração na taxa de juros e do câmbio, com direcionamento específico para sua economia. Países da zona do euro não poderiam fazê-lo, já que apesar de controlar sua política fiscal, seguem o mesmo padrão em termos monetários” (Sousa, 2010). XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 13 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Apesar do fortalecimento na cooperação para a institucionalização de práticas comuns entre os Estados em áreas fundamentais, o escopo substantivo e as prerrogativas institucionais da União Europeia foram organizados de forma a limitar seu poder de efetividade: estabelecendo regras de decisão por supramaioria6, reduzindo a atuação de mecanismos administrativos europeus e colocando a aplicação do princípio de subsidiariedade7 como um meio de escapar do comprometimento comunitário. Desta forma, a capacidade fiscal da União torna-se irrelevante e faltam à mesma o poder coercitivo e capacidade administrativa necessários para lidar com diversas disputas entre os diferente níveis de governo e garantir o cumprimento das leis (Jesus, 2009). Foi logo após a assinatura do Tratado de Amsterdã que o processo de alargamento da União aos países da Europa Central e Oriental, a partir de 1998, teve a possibilidade de ser iniciado (Uçarer, 2010). O Tratado de Nice, assinado em 2001, traz de volta os problemas que não haviam sido solucionados completamente ou de forma viável em 1997. Foi durante a reunião para sua criação que os presidentes do Parlamento Europeu, do Conselho e da Comissão proclamaram a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. A evolução advinda da arquitetura projetada em Nice para o espaço europeu após os alargamentos levou à criação da Convenção Europeia e à elaboração da Constituição (Ibid.). Esta, oficialmente chamada Tratado Constitucional, consolidou e simplificou todos os textos de tratados anteriores, revogando-os e substituindo-os por um único Tratado em vigor, com exceção do Tratado Euratom. 6 A votação por supramaioria é aquela em que para conseguir vitória é necessário mais de 50% dos votos, sendo que pode ser instituída uma maioria qualificada para alcançar esse resultado, esta maioria exige mais votos do que a maioria simples, que é formada por 50% + 1. 7 O princípio da subsidiariedade visa determinar o nível de intervenção mais pertinente nos domínios de competências partilhadas entre a UE e os Estados-Membros. Pode ser uma ação a nível europeu, nacional ou local. Em todo o caso, a UE só pode intervir se estiver em condições de agir de forma mais eficaz do que os Estados Membros. O Protocolo relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade menciona três critérios que visam confirmar ou não a oportunidade de uma intervenção a nível europeu: 1. a ação contém aspectos transnacionais que não podem ser solucionados pelos Estados Membros? 2. uma ação nacional ou a ausência de ação seriam contrárias às exigências do Tratado? 3. a ação a nível europeu traduz-se em benefícios óbvios? O princípio da subsidiariedade visa igualmente aproximar a UE dos seus cidadãos, assegurando que uma ação seja executada a nível europeu quando necessário. No entanto, o princípio da subsidiariedade não significa que uma ação deve ser sempre executada a um nível mais próximo do cidadão. 14 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU “Para além desse trabalho de consolidação e simplificação dos textos, a Constituição introduz igualmente muitas novidades, tais como a atribuição de personalidade jurídica à União, a definição clara das competências, a possibilidade de um Estado-Membro se retirar da União, a incorporação da Carta dos Direitos Fundamentais, a simplificação dos instrumentos de acção da União, a criação do cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros europeu, a institucionalização formal do Conselho Europeu, que será presidido por um presidente eleito por um período de dois anos e meio, a definição de um novo sistema de maioria qualificada para a votação no Conselho, diversas alterações das políticas vigentes, a supressão da estrutura em pilares e a extensão do âmbito da votação por maioria qualificada no Conselho e do processo legislativo ordinário (co-decisão). O Tratado Constitucional foi assinado em Outubro de 2004 e deverá entrar em vigor em 1 de Novembro de 2006, após a respectiva ratificação por todos os Estados-Membros” (Ibid.). Em 2004 houve a entrada de Chipre, República Tcheca, Polônia, Hungria, Estônia, Lituânia, Malta, Eslováquia, Letônia e Eslovênia. E em 2007 houve a entrada da Bulgária e da Romênia. O Tratado de Constituição da União Europeia foi rejeitado pelas populações, através de referendo, dos Países Baixos e França, e, por isso, não foi implementado. O Tratado que trouxe grandes mudanças ao bloco foi o Tratado de Lisboa (2007), que além de unir todos os outros Tratados já assinados, pretende ser uma rota alternativa e vitoriosa após o fracasso na ratificação da Constituição Europeia. Entre as medidas do Tratado de Lisboa, estão (Church; Phinnemore, 2010): - O Conselho Europeu passa a fazer parte da estrutura da UE e o sistema de eleição de presidente muda. A partir de então, o tempo de presidência é de dois anos e meio e não mais seis meses, sendo que a governança não é mais feita por um chefe de Estado, mas por um político do país que faça parte da UE. A escolha deve ser feita pelo próprio Conselho, sendo que o candidato deve ser aprovado pela Comissão e, posteriormente, pelo Parlamento Europeu. - Não existem mais os pilares da União Europeia; - Os países passam a ter o direito de sair da União Europeia; XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 15 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU - Carta dos Direitos Fundamentais e dos Direitos Humanos da União passam a ter valor jurídico. Entre o fim de 2007 e o fim de 2009, a Eurozona experimentou uma das piores fases de decadência econômica desde a criação da UEM, em janeiro de 1999. Devido à crise financeira internacional que teve início nos EUA, a qual transbordou para o processo de integração europeu, as economias europeias sofreram impactos e a recuperação que se imaginava acontecer em curto prazo, na verdade, não alcançou alguns países como Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, que possuem alto déficit público, alta dívida externa e desemprego. Para que a crise não se alastrasse aos demais membros da zona do euro, ações coordenadas e novos mecanismos foram buscados, revendo aspectos da integração (Sousa, 2010). Podemos destacar dois tratados que são de suma importância para lidar com a crise naquele momento e que estão atualmente sendo implementados: o Tratado que cria o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) e o Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governança na União Econômica e Monetária (TECG), este último também conhecido como “pacto orçamental”. O Tratado que cria o MEE foi assinado em 2 de fevereiro de 2012. Na época o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, declarou que este tratado funcionaria como um mecanismo permanente contra situações de crise, contribuindo para a confiança, a solidariedade e estabilidade entre os países da zona do euro. Inicialmente assinado em julho de 2011, passa a entrar em vigor exatamente um ano depois, tendo sido alterado apenas parar garantir maior eficácia. O MEE torna-se uma instituição financeira internacional sediada em Luxemburgo e todos os membros da zona do euro farão parte do mesmo, enquanto países de fora da zona poderão participar nas operações de apoio à estabilidade. Esta instituição pode conceder empréstimos, prestar assistência financeira a título cautelar, adquirir obrigações dos Estados Membros beneficiários nos mercados primário e secundário e providenciar empréstimos destinados à recapitalização das instituições financeiras. Até a implantação do MEE a UE já conta com o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF)8 e o Mecanismo 8 Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) - Criado em maio de 2010, o FEEF é um organismo intergovernamental habilitado a conceder empréstimos de até 440 bilhões de euros aos países da área do euro que necessitem de assistência financeira. Os Estados Membros da área do euro fornecem, eles próprios, as garantias de empréstimo. Com a entrada em funcionamento do MEE, em outubro de 2012, o FEEF foi por este substituído. 16 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Europeu de Estabilidade Financeira (MEEF)9, os quais possuem um perfil parecido com a nova instituição mas contam apenas com os recursos do países da União, enquanto o MEE também inclui o apoio financeiro prestado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) (União Europeia, 2011). Mais recentemente entrou em vigor o TECG, em 1º de janeiro de 2013, cujo objetivo é reforçar a disciplina orçamental na área do euro, através da "regra de equilíbrio orçamental" e do mecanismo de correção automática. Para que entrasse em vigor, precisava ser ratificado por, no mínimo, 12 Estados Membros, o que já aconteceu desde a ratificação da Finlândia, em dezembro de 2012. O Tratado é um instrumento jurídico com poder vinculante e os Estados da UE podem aderir mesmo após sua fase inicial. A meta é incorporá-lo nos Tratados já existentes na União, com o prazo de até cinco anos. Estados Membros que já ratificaram o TECG: Alemanha, Áustria, Chipre, Dinamarca, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Portugal e Romênia. A partir do TECG os Estados Membros signatários estão obrigados a comunicar seus planos de emissão da dívida pública e as reformas que desejarem fazer em matéria de política econômica devem ser debatidas previamente com os demais membros, a fim de se alcançar uma maior coordenação entre os Estados. O TECG também exige que os orçamentos nacionais estejam em situação de equilíbrio ou superávit. Esta finalidade será considerada atingida se o déficit público estrutural anual não exceder 0,5% do PIB nominal do país – o déficit estrutural resulta da diferença entre as receitas e as despesas públicas, excluindo os efeitos temporários e conjunturais. Os signatários se comprometem a incorporar as normas do TECG no direito nacional, de preferência a nível constitucional, em até um ano após a sua entrada em vigor, ou seja, até janeiro de 2014. Além disso, o déficit também deve corresponder ao valor mínimo de referência, por país, para a sustentabilidade a longo prazo. Trata-se de um valor que é fixado pela 9 Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF) - Também criado em maio de 2010, o MEEF tem uma capacidade máxima de concessão de empréstimos de 60 bilhões de euros aos Estados Membros da área do euro que necessitem de assistência financeira. O MEEF é garantido pelo orçamento comunitário, sem ser efetivamente pago por ele. Desde outubro de 2012 que o MEEF foi também substituído pelo MEE. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 17 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU vertente preventiva do Pacto de Estabilidade e Crescimento. A trajetória de ajustamento para a consecução desse objetivo é avaliada anualmente no contexto do Semestre Europeu10. Só em circunstâncias excepcionais – por exemplo, em casos graves de contração econômica – são permitidos desvios temporários a esta "regra de equilíbrio orçamental". Se a dívida pública for significativamente inferior ao valor de referência de 60% do PIB, o limite para o déficit pode ser fixado em 1% do PIB (Conselho da UE, 2013). Se for constatado um desvio significativo desse objetivo ou da respetiva trajetória de ajustamento, prevê-se que seja automaticamente acionado um mecanismo de correção, que compreenderá a obrigação de aplicar medidas adequadas dentro de um determinado prazo. O mecanismo respeitará plenamente as prerrogativas dos parlamentos nacionais. A transposição da regra de equilíbrio orçamental pode ser fiscalizada pelo Tribunal de Justiça da UE, cujos acórdãos serão vinculativos e poderão ser acompanhados por sanções pecuniárias que podem ir até 0,1% do PIB, caso o Estado Membro em causa não lhes der execução. Esse montante deverá ser pago ao Mecanismo Europeu de Estabilidade se a moeda do país for o euro, caso contrário, deverá ser pago ao orçamento geral da UE. Os Estados Membros cujas moedas sejam o euro comprometem-se ainda a adotar as decisões do Conselho no quadro do procedimento relativo a um déficit excessivo (PRDE)11, salvo oposição por maioria qualificada (União Europeia, 2011). 10 Semestre Europeu – A partir de 2011, no primeiro semestre de cada ano, passou a ser lançada uma coordenação política intensiva entre as instituições comunitárias e os 27 Estados-Membros sobre a agenda econômica e a supervisão orçamental, o que constituirá um elemento chave da governança econômica. O semestre tem início em janeiro com a apresentação pela Comissão da Análise Anual do Crescimento, na qual são definidas as prioridades da UE em matéria de reformas econômicas e consolidação orçamental. Estas prioridades são depois debatidas e aprovadas pelo Conselho Europeu de março. Em abril, os Estados Membros apresentam à Comissão e aos seus pares os seus programas nacionais de reforma e os respetivos programas de estabilidade ou de convergência. Seguidamente, a Comissão formula recomendações sobre estes programas, a aprovar pelo Conselho Europeu de junho, que serão formalmente aprovadas em julho pelo Conselho. Na elaboração dos seus orçamentos, a apresentar normalmente aos respetivos parlamentos nacionais no segundo semestre do ano, os Estados Membros terão em conta estas orientações, assegurando que este processo contempla desde o início uma dimensão europeia. 11 Procedimento relativo aos desequilíbrios excessivos (PRDE) – Elemento chave da nova governança econômica da UE, o PRDE visa detectar e corrigir os desequilíbrios 18 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 1.2. O Conselho Europeu O Conselho Europeu (CE) é, segundo John McCornick (1999, p.113) a instituição, dentre as cinco12, mais poderosa e mais influente da União Europeia, e se define muito mais como um fórum ou um processo do que propriamente uma instituição. Criado em 1974 como resposta a um sentimento dos líderes europeus de que a Comunidade Econômica Europeia precisava de uma liderança mais clara, o Conselho é visto hoje como a estrutura que balanceia a tão difícil relação entre o supranacionalismo e o intergovernamentalismo. Inicialmente, era um mecanismo para encontro dos representantes dos países a fim de discutirem temas chave para a região, acabou sendo o local de discussão de pautas cruciais para a fundação da União Europeia, como a questão da moeda única, das fronteiras e de abertura dos mercados (Lewis, 2010). O Conselho é formado por 28 chefes de Estado, pelos seus ministros de relações exteriores, pelo presidente e vice-presidente da Comissão Europeia, e pelo próprio presidente do Conselho Europeu, que tem hoje entre suas principais funções fixar e guiar as agendas do bloco, discutir os temas de segurança e defesa, rever os acordos, discutir os interesses dos Estados, orçamentos, em suma, definir a direção da política estratégica da União. Muitas dessas pautas e assuntos são determinadas pelo Presidente do Conselho – atualmente Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia eleito em 1º de dezembro de 2014 –, que tem uma função de caráter bastante diplomático, lidando com impasse em discussões, agendas, prazos (Ibid.). Ao longo dos anos, é possível observar importante papel do Conselho no processo de integração europeu através da proposta do Sistema Monetário Europeu em 1978 e o Tratado de Maastricht em 1991. Em 2004 houve o Tratado Constitucional macroeconômicos e de competitividade, em especial na área do euro. Utilizando um conjunto de cerca de dez indicadores, a Comissão procederá à detecção de desequilíbrios emergentes em diferentes setores da economia. Com base numa recomendação da Comissão, o Conselho pode dar início a um procedimento relativo aos desequilíbrios excessivos contra um Estado Membro em que existam ou possam vir a existir desequilíbrios. Para os países da área do euro, a incapacidade de corrigir os desequilíbrios segundo o plano e os prazos estabelecidos pode conduzir à aplicação de multas no valor de 0,1 % do PIB. 12 Sendo as outras, a Comissão Europeia, o Conselho de Ministros, o Parlamento Europeu e o Tribunal de Justiça da União Europeia. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 19 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU (2004)13, que visava criar uma “Constituição” para toda a Europa, sendo porém, rejeitado na França, com o argumento de que a UE estava cada vez mais liberal economicamente, embora não houvesse nenhuma cláusula que dissesse respeito à liberalização (CINI; BORROGÁN, 2010, p.51). Este sucedeu o Tratado de Lisboa – que foi rejeitado em um primeiro momento na Irlanda, o que explica sua tardia entrada em vigor em 2009 –, que fora um marco na institucionalização deste órgão. Antes, o Conselho era “composto por um representante de cada Estado-membro em nível ministerial, com poderes para vincular o governo desse Estado-membro” e a presidência era exercida “sucessivamente, por seis meses, pelos Estados-membros, de acordo com a sequência estabelecida, por unanimidade, pelo Conselho” (Artigo 146 TCE). O Tratado de Lisboa mudou a situação ao fazer mudanças em relação aos membros do Conselho e sua presidência, no primeiro caso restringindo o acesso às discussões apenas aos chefes de Estado e de governo, fazendo com que ministros da Relações Exteriores ou outros relacionados aos temas debatidos fossem convidados; e no segundo caso mudando a presidência de rotação pelos representantes nacionais para a eleição de um representante da União dentro do Conselho, o qual terá um mandato de dois anos e meio, reelegível uma vez, e será responsável pela direção dos trabalhos do Conselho e representação externa. Em geral, as decisões do Conselho são tomadas por unanimidade, o que faz com que muitas questões sejam discutidas exaustivamente até que se chegue a um acordo, ainda que o processo decisório legal não exija, como será visto, a unanimidade em muitos casos. O ‘não’ de um Estado membro significa que uma resolução é automaticamente vetada e cai por inteiro. Além disso, o grande número de Estados membros dificulta as chances de que se chegue a um consenso e uma decisão por unanimidade. As resoluções do Conselho Europeu são levadas para a Comissão Europeia e para o Parlamento Europeu, onde entram em processo de análise e de leitura, e por fim, dependendo do tema, em votação (Ibid.). A relação do Conselho Europeu com a Comissão Europeia e os outros órgãos do bloco são diferentes e variam no tempo. A relação com a Comissão, que representa os interesses da União Europeia e não dos Estados, é muitas vezes marcada por impasses, 13 Este promove algumas mudanças que serão integradas ao TL, como o novo posto de Ministro das Relações Exteriores da União (que é futuramente aprimorada, e com o TL surge o posto de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança) e o de Presidente do Conselho Europeu. 20 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU pois não necessariamente o que os Estados pretendem aprovar é o interesse da União Europeia. A Comissão representa o elemento supranacional da UE e tem como função resguardar os Tratados e as convenções aprovadas, o que às vezes causa conflitos com os interesses dos Estados, sendo dever do representante da Comissão tentar manter um equilíbrio. A Comissão também tem um papel legislativo, em que a grande maioria das propostas de leis saem da Comissão para ao Parlamento, sendo então também do interesse do Conselho Europeu manter uma boa relação com a Comissão. A Comissão é formada por 28 comissários, um para cada Estado membro, sendo que esses comissários devem representar os interesses da União Europeia e não o interesse isolado de um Estado ou outro (Ibid.). Nas reuniões do Conselho Europeu a agenda de discussões é estabelecida no início do encontro. Alguns temas invariavelmente entram na agenda devido à sua relevância em relação aos interesses dos Estados. A discussão sobre a situação econômica geral da UE é um destes temas. A partir disso, abrem-se subtópicos que podem debater o funcionamento do mercado interno, a criação de empregos, o alargamento ou a reforma institucional da União. Obviamente o contexto em que se encontram os Estados irá influenciar que esse ou aquele tema seja colocado em pauta. As decisões são expressas ao final do encontro através das 'Conclusões do Conselho Europeu', as quais são geralmente aceitas por todos os participantes, lembrando que a unanimidade deve ser sempre aplicada quando o interesse fundamental de um ou de demais Estados membros estejam em jogo. Se até os anos 1990, as discussões a respeito de política econômica e monetária eram mais gerais e deixavam o controle sobre a economia nas mãos dos países, atualmente o cenário é diferente, apesar de ainda não haver decisões que resolvam o problema de todos os Estados. Por exemplo, diferentemente de outras dívidas soberanas, a dívida pública grega não interessa apenas aos gregos. Os efeitos da classificação de risco da economia grega afetam todos os demais Estados membros da UE ao refletir diretamente na política monetária comum (Waisberg, 2011). A crise grega é um desafio para a própria sobrevivência do Euro, sendo por isso um teste para o modelo de integração europeia (Taylor, 2010). Principalmente devido à crise financeira global e à crise econômica de 2008, é obrigação do Conselho, através dos líderes aí presentes, tomar atitudes para controlar a situação, adotando compromissos e responsabilidades, e pensando no bem estar do bloco como um todo (Nugent, 2010). XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 21 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU O Conselho Europeu, portanto, mostra-se como um dos órgãos mais importantes da União Europeia. O Conselho, mesmo que só tenha passado a fazer parte oficialmente do bloco a partir do Tratado de Lisboa, tem desde os anos 70 uma importante tarefa no direcionamento de agendas e discussões. E principalmente, por ser formado pelos chefes de Estado, sua importância é colocada em nível máximo, pois são os representantes diretos de cada país membro da União Europeia que se encontram com o objetivo de discutir o futuro da integração e do continente. 1.2.1. Processo de votação do Conselho Europeu As regras de votação no Conselho Europeu se dividem em dois blocos: unanimidade e maioria qualificada. Sob as regras de unanimidade, qualquer Estado pode bloquear uma votação simplesmente votando "não". Caso ele se oponha a determinada questão, mas não deseje bloquear a proposta, poderá se abster (LEWIS, 2010, p. 150-151). Ao longo do tempo, a redução do número de questões a ser decididas por unanimidade, no Conselho Europeu, foi fundamental para a evolução da União Europeia. Com a adoção do Ato Único Europeu, muitas áreas deixaram de estar sujeitas a regra da unanimidade e, desde o Tratado de Lisboa, apenas algumas questões sensíveis, como adesão de novos membros, política externa e de segurança comum e tributação permanecem sujeitas à unanimidade. Questões de caráter econômico estão sujeitas ao regime de votação conhecido como maioria triplamente qualificada. Sendo o presente comitê a respeito das ações do bloco europeu frente aos conflitos externos no leste do continente, uma proposta deve ser aprovada a partir da unanimidade. 2. A Política Externa da União Europeia O Tratado de Maastricht de 1991 estabeleceu formalmente uma Política Externa e de Segurança Comum (PESC) que engloba todos os Estados membros da União. Os cinco principais objetivos da PESC são: “(...) a preservação dos valores comuns, dos interesses fundamentais, da independência e da integridade da União, de acordo com o princípio da Carta das Nações Unidas; 22 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU reforçar a segurança internacional, em conformidade com os princípios da Carta das Nações Unidas (incluindo os relacionados às fronteiras externas); promover a cooperação internacional; desenvolver e consolidar a democracia e o Estado de Direito e o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.” (Cini; Borrogán, 2010, p.240).14 Esses objetivos foram melhor definidos posteriormente, apontando que esses princípios devem ser estabelecidos e implementados pelo Conselho Europeu; que as políticas comuns e ações devem ser articulados pelo Conselho para mostrar o caminho que a União deve seguir para lidar com os indivíduos e as regiões; e que o Conselho – aliado ao Alto Representante para Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança15 – deve prover uma consistência entre as diferentes áreas de ação externa (Ibid.). O primeiro esforço da União para expandir suas relações ultrapassando a responsabilidade econômica e alcançando a área de relações internacionais se deu através da “European Political Cooperation” (EPC) no relatório de Luxemburgo em 1970 e incorporado pela Comunidade Europeia anos mais tarde com o Ato Único Europeu (CINI; BORROGÁN, 2010). Foi determinado que “As Altas Partes Contratantes [os Estados-Membros], sendo membros das Comunidades Europeias, devem esforçar-se conjuntamente para formular e implementar uma política externa europeia.”16 (NUGENT, 2010). Contudo, a EPC não passou a fazer parte dos tratados. Isso pois os Estados-membros não queriam transferir à Comunidade o poder de decidir sobre suas políticas externas e com isso a EPC permaneceu mais como uma medida voluntária e não obrigatória e que não impediu que qualquer Estado-membro decidisse sua política independentemente. Durante anos a União Europeia manteve-se como um ator de grande importância econômica, ditando medidas de trocas e com grande poder de voz, porém, no campo político – mais especificamente em assuntos de segurança e 14 Tradução livre. 15 O Alto Representante é uma função criada no Tratado de Amsterdã. Ele atua como Secretário-Geral do Conselho Europeu, auxilia na elaboração da PESC e executa as decisões adotadas no âmbito do Conselho. Além disso, detém a função de representação conduzindo o diálogo político com outros países e exprimindo a posição da UE nas organizações internacionais. 16 Tradução livre. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 23 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU defesa – havia pouca ação e pouco reconhecimento. Entretanto, o início dos anos de 1990 foi repleto de eventos históricos e políticos responsáveis por uma mudança de forma geral na visão dos Estados-membros da União, enxergando que deveriam fazer mais do que dar apenas declarações e impor pequenas sanções econômicas. Era preciso instituir uma posição mais clara e mais efetiva. Entre os eventos supracitados está o fim da Guerra Fria atrelado ao colapso do comunismo e da União Soviética. Esse foi um contexto de grandes transformações nas relações internacionais, principalmente no âmbito político. Isso se reflete diretamente no continente Europeu e na União, já que decresce a importância dos poderes militares e nucleares – os quais a União Europeia dependia bastante da aliança com os Estados Unidos – e os poderes econômicos e posições geográficas passam a ganhar valor e relevância, fazendo o mundo olhar mais para os países europeus (NUGENT, 2010). Além disso, a Organização dos Tratados do Atlântico Norte (OTAN) perdeu sua razão de ser com o fim do comunismo e da URSS e passou a ser interpretada por alguns dos Estados da União como uma forma de reflexão de poder dos Estados Unidos no continente Europeu, o que precisava ser evitado. (CINI; BORROGÁN, 2010). A unificação da Alemanha foi outro evento extremamente importante que causou grande pressão na frente da política externa e de segurança da União. Isso fez com que os líderes europeus, incluindo os alemães, dessem mais importância a essa politica, dada a necessidade de vincular a Alemanha como um todo à mesma e ao interesse de controla-la através disso. Os Estados-membros atentavam para isso, pois não podiam ignorar o passado turbulento do país em questão (NUGENT, 2010). A Guerra do Golfo de 1990-91, a invasão do Iraque ao Kuwait, o desmantelamento da Yugoslavia e suas consequentes hostilidades nos Balcãs foram cruciais para que a União Europeia se preocupasse de fato com a criação de uma Política Externa Comum para os Estados-membros da instituição. Tais eventos explicitaram a falta de amplitude e de efetividade da EPC que prosseguia deixando de lado as partes de segurança e defesa (NUGENT, 2010). As respostas da Comunidade a esses eventos foram a coordenação de ações diplomáticas somadas à imposição de sanções econômicas. No entanto, a resposta militar e as contribuições 24 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU nacionais esperadas foram inapropriadas. No conjunto, a reação dos Estadosmembros a esses episódios foi mal desenvolvida, mal preparada, mal mobilizada, pouco clara e pouco consistente (Ibid.). Frente a uma sequência de fracassos políticos, vem ao início da década de 1990 o Tratado de Maastricht, responsável pela fundação do segundo pilar formado pela Política Externa e de Segurança Comum (PESC). Esse pilar tinha o objetivo de ser intergovernamental, com o poder de decisão residindo estritamente na unanimidade dos Estados-membros do Conselho – assim, todo e qualquer Estado detinha o poder de vetar alguma iniciativa ou operação proposta (CINI; BORRÓGAN, 2010). Além disso, o Conselho deteria o poder de estabelecer posições comuns17 e ações conjuntas18 (CINI; BORRÓGAN, 2010). A constituição do segundo pilar tinha como elementos-chave (NUGENT, 2010): • Identificar os objetivos gerais da PESC; • Estabelecer a cooperação entre os Estados-membros em qualquer assunto de política externa e segurança que fosse de interesse geral; • Quando necessário, o Conselho de Ministros poderá, com base na unanimidade, definir as posições comuns às quais os Estados-membros deverão aderir; • Com base em orientações gerais do Conselho Europeu, o Conselho de Ministros poderá decidir se uma questão deve ser submetida a uma ação comum; • A PESC deverá englobar questões de segurança, incluindo a inicial elaboração de uma política de defesa que, em tempo, levará a uma defesa comum da União; • A União Europeia Ocidental deverá participar de forma integral do desenvolvimento da União. O Tratado de Amsterdã de 1997 fortaleceu as provisões de Maastricht (NUGENT, 2010): instrumentos de política foram simplificados e estendidos; mais decisões passaram a ser através de maioria qualificada; adição da possibilidade de abstenção por parte dos Estados-membros no processo de votação do Conselho – o que 17 Posições Comuns: para que fossem estabelecidas, era necessário que os Estados-membros adotassem políticas nacionais que concordassem com a posição determinada pela União Europeia em um tópico específico. 18 Ação Conjunta: são ações operacionais acordadas entre os Estados-membros que ficam sob responsabilidade da União Europeia e mais especificamente da PESC. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 25 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU permitiu que alguns pudessem se ausentar de uma ação conjunta sem que a operação seja vetada para os outros (CINI; BORRÓGAN, 2010); criou o cargo do Alto Representante e criou a Unidade de Polícia. Os esforços em direção à constituição de uma identidade de defesa foram poucos (Ibid.). Em 1998 um processo teve início no Porto de Saint Malo na França. Reino Unido e França assinalaram uma convergência em suas posições a partir da proposta de uma capacidade de segurança da União Europeia que fosse clara e forte. Nessa ocasião o Reino Unido cerrou sua oposição ao processo da política de defesa e se pôs no papel de líder encorajador (Ibid.). Reuniões do Conselho Europeu foram realizadas em 1999 (Cologne e Helsinki), 2000 (Santa Maria da Feira) e 2003 (Bruxelas) que avançaram as discussões. Nelas, as propostas à Política de Segurança e Defesa Comum (PSDC) foram alteradas e adaptadas. É preciso destacar a introdução das “Tarefas de Petesburgo”19 ao Tratado da União Europeia que proporcionaram uma mudança à PSDC. São elas (CINI; BORRÓGAN, 2010): • Contribuir para a defesa coletiva na ocasião de um ataque armado contra um dos Estados-membros, auxiliando a parte atacada em conjunto e com o uso de forças armadas, se necessário, para reestabelecer e manter a segurança; • Instaurar tarefas humanitárias, de resgate e de manutenção da paz; • Tarefas de forças de combate para lidar com crises e pacificação local. Para isso, os Estados-membros devem colocar recursos e civis à disposição da União para que seja cumprido o “Headline Goal”20 focado na gama completa das tarefas de Petesburgo. O Conselho deve, então, ser capaz de tomar decisões para a prevenção de conflitos e administração de crises, dando à União a habilidade de agir de forma autônoma apoiada pelo acesso irrestrito aos diferentes tipos de recursos (NUGENT, 2010). 19 Originalmente formuladas no âmbito da OTAN. 20 O “Headline Goal” era para a criação de uma Força Europeia de Rápida Reação em que um número certo de recursos disponíveis deveria ser atingido até um determinado ano. Posteriormente, foi dividido em grupos de batalha que agiriam como parte de uma operação das Nações Unidas. 26 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU A PSDC possui órgãos exclusivamente de seu domínio: o Comitê Militar da União Europeia e o Grupo do Comitê Militar da União Europeia. O primeiro é composto pelos Chefes de Defesa dos Estados-membros e suas delegações. Tem por função aconselhar e fazer recomendações, trabalhando como órgão consultor e que preza pela cooperação entre os estados para situações de conflitos e crises. O segundo é composto pelo pessoal militar de cada Estado-membro e fazem parte do secretariado geral do Conselho. Atuam complementando o Comitê Militar dando suporte, alertando, assessorando e planejando estratégias (Ibid.). O mais recente é a Agência Europeia de Defesa com a promoção da cooperação de armamentos europeus. De forma geral, é possível observar que a União Europeia tem muitos recursos a seu favor que podem a tornar um ator de política externa poderoso e diferenciado, como um número grande de Estados-membros (28 Estados), sendo alguns deles grandes potências. Além disso, dois desses Estados, França e Reino Unido, são potências nucleares e detém assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU. Na esfera militar, possui a vantagem de imensas tropas pelo grande contingente populacional europeu. Além do mais, tem grande poder econômico e dita regras de trocas e cooperação. Esses são elementos que, em conjunto e bem explorados, tornam a União um ator excepcional. Por outro lado, existem problemas mais complexos que dificultam, como o fato de a União Europeia não ser um Estado, então não há um território claro para ser protegido e sem interesses políticos, econômicos, sociais e culturais a serem promovidos. Assim, são observadas divergências enraizadas em seus diferentes Estados-membros, que os tornam relutantes a abrirem mão e perderem controle sobre suas áreas políticas, sua influencia nacional, sua soberania, sua identidade e suas relações bilaterais fora da instituição. São observados desentendimentos com base em diferentes ideologias, o que traz a discussão a respeito da possibilidade e do desejo de se estipular uma orientação de defesa europeia – já que os Estados resistem muito em disponibilizar e compartilhar completamente seus recursos individuais (Ibid.). Portanto, a questão central é se a União Europeia será capaz de dar cada vez mais espaço às medidas supranacionais em detrimento das intergovernamentais para que se torne um ator influente em relações externas mundialmente. Os meios de tomada de decisão, supervisão e execução devem ser revisados para se adequar ao XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 27 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU supranacionalismo e dar um poder conjunto à instituição. Porém, isso passa necessariamente pela vontade dos Estados, que deve tender em prol da integração para que isso aconteça. Por fim, apesar da presença de obstáculos, os recentes avanços tanto na PESC quanto na PSDC apontam para um progresso ainda maior no futuro (Ibid.). 3. As relações entre União Europeia, Rússia e Ucrânia 3.1. Introdução As relações entre a Rússia e a União Europeia têm sido conturbadas desde a última década e atingiram um ponto crítico ao fim do ano de 2013. Os Estadosmembros da União dependem que essa relação permaneça harmoniosa por conta da cooperação existente nos campos econômico e energético, por exemplo, que garantem a segurança do continente europeu. As ações tomadas pela Rússia para com a Ucrânia no ano de 2013 foram o estopim da enfim deterioração das relações com a União Europeia (EUROPEAN UNION COMMITTEE, 2015). Uma sucessão de eventos transformadores foi causada pela Rússia nesse período. Porém, deve-se atentar para o fato de que eles devem ser entendidos com base em um contexto histórico particular e em um padrão de comportamento observado da mesma em relação aos seus vizinhos regionais, além de considerar o claro interesse russo em manter relações e exercer influência sobre o espaço pós-soviético. Este é um espaço instável e repleto de disputas étnicas e territoriais que ameaçam a soberania desses Estados e os quais a Rússia está envolvida (Ibid.). Sendo assim, a União Europeia e seus Estados-membros devem mobilizar esforços para uma cooperação na área de segurança para protegerem a si mesmos e a região de conflitos adversários. Um agravamento ainda maior das relações russoeuropeias pode culminar na disseminação de instabilidade em seus entornos regionais, além de gerar impasses em resoluções do Conselho de Segurança em questões como a da Síria, do Iran, da Coréia do Norte e do Afeganistão (Ibid.). É evidente que a instituição só pode agir onde tem competência, como no âmbito da PESC, mas a responsabilidade pela segurança nacional e defesa territorial não avançou no nível supranacional e permanece intergovernamental através dos Estados-membros. 28 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU O foco dado foi no caso ucraniano, porém sem deixar de analisar profundamente as questões da União Europeia como instituição na formulação de suas políticas e seu grau de eficiência, além de explorar as relações do bloco com a Rússia. Por fim, o objetivo é entender e verificar as causas do conflito Rússia-Ucrânia, mesmo enquanto os eventos ainda estão a acontecer. 3.2. Histórico da Rússia com a Ucrânia e a Crimeia A Ucrânia é considerada pelos russos como berço de sua civilização e sua capital Kiev como a mãe de todas as cidades da nação. Isso porque foi em torno de Kiev que se formou o primeiro Estado eslavo, sob a liderança de Oleg, o Sábio, no fim do século IX, também conhecido como ‘Rus’ (terra russa). Assim, o Reino de Rus, que abrangia boa parte do que é a Rússia hoje, foi o tronco do Estado russo e do Estado ucraniano, que teve fim no século XIII. Depois da queda do Império Mongol durante o século XIV, o que é a Ucrânia hoje ficou dividida entre a influência da Rússia, Polônia e Lituânia. Já no século XVII, quando a Polônia ameaçou dominar a Ucrânia, os russos ofereceram proteção aos ucranianos, e assinaram o Tratado de Pereyaslav (1654). O que aconteceu é que a Rússia não só ajudou a Ucrânia a se livrar do domínio polonês como anexou a Ucrânia ao seu império. A influência crescente de Moscou traduziu-se por uma russificação progressiva no local e pela subordinação da Igreja ucraniana. A Crimeia foi anexada entre 1779 e 1783, e todo o litoral norte do mar Negro ficou sob o controle russo, bem como 80% do território ucraniano. Entre 1853 e 1856 ocorreu a Guerra da Crimeia, acontecimento fundamental que teve influência direta nos eventos históricos que sucedem esse período. Em 1783 a Crimeia foi conquistada e deu acesso a Catarina Grande ao Mar Negro, além da possibilidade da Rússia de projetar poder naval mundialmente. Isso foi visto como ameaça por potências ocidentais como França e Grã Bretanha, que entram na Guerra da Crimeia em apoio aos turcos do Império Otomano (BATES, 2015). A Rússia é derrotada na Guerra da Crimeia entre 1853 e 1856. Esse evento, combinado à ocorrência das revoluções europeias de 1848, favoreceram o renascimento do nacionalismo ucraniano. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 29 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Com a Revolução Russa em 1917, a Ucrânia se torna independente, mas as relações ruins com os bolcheviques levam à invasão do país pela Rússia. Quando a Ucrânia se torna parte da URSS em 1922, ela sofre os efeitos da coletivização forçada, se rebela, e a repressão se abate sobre ela. A Ucrânia era o celeiro agrícola da URSS, e o país passa a ter suas colheitas confiscadas e seus camponeses reportados. Os fracassos da política agrícola articulada pelos sovietes conduziram a crises na produção de cereais, e a fome resultante acarretou na morte de milhões de pessoas. Em 1954, a Crimeia retorna à Ucrânia, cedida oficialmente por Nikita Kruschev, líder da URSS na época, em comemoração ao Tratado de Pereyaslav. Com a dissolução da URSS, em 1991, a Ucrânia conquista sua independência. Esse processo é visto com muita resistência pela Rússia, porque era difícil conceber a Ucrânia como um Estado estrangeiro. Com isso, é criada a CEI (Comunidade dos Estados Independentes) pela Rússia, Ucrânia e Bielo-Rússia21. A independência da Ucrânia impunha alguns problemas de ordem prática. Primeiro, a URSS foi desfeita com base na ideia de que havia coisas no território pertencentes a eles. A Ucrânia tinha armas nucleares – antes pertencentes à URSS – em seu território, e por isso, depois de idas e vindas, a Ucrânia adere ao Tratado de Não Proliferação (TNP) e as potências do Conselho de Segurança assinam o Memorando de Budapeste, que foi uma garantia formal da integridade territorial ucraniana. Em segundo, a questão da Crimeia. Na região de Sebastopol se encontrava a sede da frota russa no Mar Negro, e por isso Ucrânia e Rússia assinam um acordo autorizando a presença russa na cidade, que se tornou autônoma. 3.3. A Crise Atual Com o fim da URSS e o decorrer dos anos, antigos países da Cortina de Ferro entram para a OTAN e UE. Tais países, como Polônia, com um sentimento muito antiRússia, vão aumentar as iniciativas da Europa no território ex-soviético. Em 2007, a União Europeia começou a negociar com a Ucrânia um Acordo de Associação (AA), focada em dar suporte a reformas de base, recuperação econômica e crescimento, 21 A CEI é uma organização governamental fundada no dia 8 de dezembro de 1991, composta pelas antigas repúblicas soviéticas e, de certa forma, sucessora parcial da antiga URSS. Seus membros atuam como estados independentes, e à unidade central foi conferida uma autoridade limitada que inclui o estabelecimento de uma esfera econômica comum e a coordenação na política externa imigração, a proteção do meio ambiente e a luta contra os delitos. 30 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU governança e cooperação setorial em áreas como energia, transporte e etc. Ainda, o AA pôs grande ênfase em valores e princípios como a democracia, respeito aos direitos humanos, economia e de mercado, entre outros; e inclui o DCFTA (Deep and Comprehensive Free Trade Area)22. Quando Yanukovych é eleito em 2010 como presidente da Ucrânia, ele dá sinalizações importantes para a Rússia, mas também para a União Europeia, dando a entender que assinaria o Acordo de Associação. A partir de agosto de 2013, a Rússia assume uma política diplomática coercitiva, visando mudar os cálculos do presidente ucraniano, dificultando a entrada de produtos e bens como gás, leite, carne, queijo e até chocolate no país vizinho, a fim de fazer a Ucrânia recusar a iniciativa de integração europeia. Os primeiros sinais de problemas do lado ucraniano vieram em setembro de 2013, quando o presidente indicou que dificilmente assinaria o DCFTA e sugeriu um encontro trilateral entre Ucrânia, Rússia e EU. Em novembro desse mesmo ano, a hostilidade russa já estava clara. Yanukovych decide suspender a assinatura da AA23 e a situação econômica doméstica ucraniana se torna mais séria, parte porque os Estados Membros da EU tinham se comprometido a facilitar um empréstimo de 15 bilhões de dólares pelo FMI e este era condicionado por uma série de reformas que dificilmente aconteceriam no curto prazo. Ao mesmo tempo, a Rússia também oferece à Ucrânia um empréstimo de 15 bilhões, sem condições específicas, e que provavelmente seria acompanhado pela retirada das restrições russas ao país. É quando o povo vai às ruas protestar contra tais medidas nos movimentos de Euromaidan24 (DIUK, 2014), já que tinha se criado uma grande expectativa para a aproximação com a UE que pudesse levar a uma futura inserção no bloco. Passam a reivindicar a saída do presidente Yanukovych. O parlamento, então, vota na deposição do presidente, e o povo escolhe esta opção. Para a Rússia, a deposição de Yanukovych 22 O Deep and Comprehensive Free Trade Area (DCFTA) faz parte do Association Agreement (AA) entre a União Europeia e a Ucrânia. Previsto para começar em janeiro de 2016, o DCFTA vai oferecer à Ucrânia uma base para modernizar suas relações comerciais e desenvolvimento econômico abrindo seus mercados via a remoção progressiva de tarifas e cotas, e harmonizando leis, normas e regulações em vários setores para criar condições para o alinhamento de setoreschave da economia ucraniana ao padrão europeu. 23 Essa assinatura era de grande importância, pois seria o primeiro passo em direção ao afastamento ucraniano da Rússia depois de séculos. 24 Ganharam esse nome por terem acontecido no local da praça Maidan – ou Praça da Independência – e por serem defensores das relações ucranianas com a Europa Ocidental. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 31 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU foi inconstitucional, sendo um golpe de estado capitaneado por nazistas ucranianos, enquanto que o Ocidente via isso como uma revolução. Yanukovych foge, então, para a Rússia, e Poroshenko é eleito. 3.4. A Crimeia Russa Como já mostrado, a Crimeia sempre foi um território de disputa e muito importante na história russa, conquistada por Catarina Grande, no século XVIII. Após a série de manifestações que aconteceram por todo o território ucraniano, a Crimeia vai, em março de 2014, dia 16, tornar-se independente da Ucrânia através de um referendo com 97% de aprovação da população. No dia seguinte (17), a Crimeia se declara independente, e no dia 18 assina o Tratado em Moscou de incorporação da Crimeia e Sebastopol ao país. Enquanto a Ucrânia como um todo é significativa pra a Rússia, por sua relevância econômica, histórica e estratégica, a Crimeia em particular é de importância fundamental e estratégica. Isso porque, para muitos russos, perder a Ucrânia significaria não apenas perder parte do antigo império russo, mas perder um país que teve um papel central na formação da história, religião e identidade russas. Além disso, é a Crimeia que dá a Moscou o acesso à base naval de Sebastopol, lar da frota russa no Mar Negro. Este é um porto natural e de águas quentes, cuja infraestrutura e configuração geográfica se traduzem numa plataforma de projeção de poder no Mar Negro e além. Num discurso ao Conselho da Federação, no dia 18 de março de 2014, o Presidente Putin disse: “Nós já escutamos declarações de Kiev sobre a adesão da Ucrânia à OTAN a acontecer em breve. O que esse evento significaria para a Crimeia e para Sebastopol no futuro? Isso significaria que o poderio militar e marítimo da OTAN estariam na cidade da glória militar russa e isso representaria uma ameaça perfeitamente real e não ilusória para toda a região do sul da Rússia.”25 (Putin, Vladimir; 2013) A legitimidade do referendo realizado – que retirou a condição autônoma da Crimeia e a tornou território russo – entretanto, foi duramente criticada pela 25 Tradução livre. 32 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Comunidade Internacional, não sendo reconhecido por uma série de organizações internacionais, bem como indo de encontro com leis (internacionais). Por exemplo, com as provisões de não-intervenção da ONU; o Ato Final de Helsinki, de 1975; a Carta de Paris para uma nova Europa, de 1990; o Tratado de Amizade, Cooperação e Parceria entre Rússia e Ucrânia, de 1997; e o Memorando de Budapeste, de 1994. Além da questão da anexação da Crimeia, a partir de fevereiro no ano passado, uma série de demonstrações pró-Rússia na região de Donbas (divisões administrativas de Donetsk e Luhansk), no leste ucraniano, tomou forma. Segundo a Ucrânia, os separatistas eram financiados e mantidos pelos russos. Em agosto do mesmo ano, os russos enviaram suas tropas ao território ucraniano. Como resultado da intervenção russa no leste ucraniano, houve o aprofundamento da deterioração das relações entre a Rússia e a UE, bem como o aumento da insegurança. Isso pode ser observado na ligação dos grupos separatistas à queda do avião da Malaysia Airlines MH17, em julho/2014, matando pessoas de diversas nacionalidades. A tragédia do abatimento do avião endureceu a posição política dos Estados-membros da UE sobre a Rússia. No dia 5 de setembro de 2014, foi assinado o Protocolo de Minsk (PM) pela Ucrânia, Rússia, e representantes da República do Povo de Donetsk e República do Povo de Luhansk, determinando os termos de um cessar fogo monitorado pela OSCE (Organization for Security and Co-operation in Europe). Além disso o PM determinou a retirada mútua das tropas e armas mesadas, o monitoramento das fronteiras também pela OSCE, a descentralização do poder na Ucrânia e provisão de governança local a Donetsk e Luhansk; troca de prisioneiros; diálogo incluindo a sociedade nacional; medidas humanitárias e econômicas a serem adotadas na região de Donbas. O PM continua como base para qualquer movimento em direção à paz (EUROPEAN COUNCIL, 2015). O CE quer garantir que a agressão acabe no leste ucraniano, que a lei nacional seja respeitada, e que um processo político seja lançado na região. Entretanto, o PM não estava sendo implementado, e a situação estava piorando, principalmente por parte da Rússia e a retirada de suas tropas. 3.5. A UE e a Rússia XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 33 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Ao contrário do que se pensava, as relações entre a União Europeia e a Rússia não permaneceram pacíficas após o fim da URSS, apesar das intensas relações econômicas e da dependência energética. Isso porque, segundo Vladimir Chizhov, representante permanente da Rússia na União Europeia, a atual crise na Ucrânia é apenas um reflexo de problemas já existentes anteriormente, como a dificuldade de progresso nas discussões energéticas e de um novo acordo entre as duas partes (European Union Committee, 2015). O declínio nas relações entre a UE e a Rússia decorre de resultados de mudanças nas políticas externas e internas de ambos ocorridas ao longo dos anos 2000. Por parte da Rússia, o governo em questão teve casos de manipulação da democracia e do capitalismo, além de violações dos direitos humanos (Ibid.). Além disso, era claro que os europeus e os russos trabalhavam com base em valores e ideologias que não eram compartilhados e, assim, se tornava impossível o estabelecimento de uma parceria estratégica concreta. Uma questão essencial para a compreensão do declínio dessas relações é o fato de a Rússia e a União Europeia terem entendimentos diferentes a respeito da geopolítica da região. Isso quer dizer que há certo sentimento de mágoa, injustiça e humilhação por parte dos russos em relação aos ocidentais em geral pela forma como acabou a Guerra Fria com o fim da URSS. Há uma ideia por parte da população russa através de seu nacionalismo histórico proveniente da antiga URSS de que o Ocidente se aproveita de seu país para alcançar seus objetivos (Ibid.). Por fim, a Rússia enxerga a UE como um competidor geopolítico e ideológico, se desenvolve separadamente e isso é acentuado pela sua identidade nacionalista. A União Europeia, por sua vez, permaneceu por muito tempo com base na premissa otimista de que a Rússia estava se tornando um Estado democrático e com tendências europeias. Contudo, aos poucos os Estados-membros vêm tentando se adaptar às realidades russas atuais, mas têm tido uma dificuldade de análise das mudanças políticas, o que dificulta uma resposta autoritária em conjunto (Ibid.). A atual divisão de competências e responsabilidades no bloco europeu também é responsável pela dificuldade de estabelecimento de uma cooperação bem sucedida com a Rússia, que prefere lidar com os estados bilateralmente. 34 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Os recentes acontecimentos na Ucrânia provocaram uma reavaliação fundamental das relações entre UE, Rússia e os Estados-Membros, que têm mostrado uma iniciativa de condenar as ações russas e exigir uma resposta. No entanto, parece haver menos consenso sobre uma forma construtiva para frente. A Europa está no centro da crise na Ucrânia e das relações com a Rússia. A manipulação das relações futuras é um teste chave para a diplomacia europeia e a política externa, mas até então as divisões entre os Estados-membros têm sido o fator que impede o desenvolvimento mais importante de uma política estratégica da UE em relação à Rússia. O primeiro passo deve ser manter a solidariedade na política atual e continuar a procurar uma abordagem comum na resposta à crise. 3.6. A UE e a Crise A Europa está no centro da crise na Ucrânia e as relações com a Rússia. Como lidar com isso é uma questão chave para a diplomacia e politica externa europeias. Segundo o atual Presidente do CE, “a Rússia não é nosso parceiro estratégico, a Rússia é nosso problema estratégico”. A relação entre a UE e a Rússia por muito tempo foi baseada na premissa otimista de que a Rússia estava numa trajetória em direção a um país democrático nos moldes europeus. Entretanto, este não foi o caso. Houve uma queda na capacidade analítica dos países membros em relação à Rússia, e isso enfraqueceu sua habilidade de ver as mudanças políticas e oferecer respostas firmes. (European Union Committee, 2015). Na revisão em política para a vizinhança, a UE e os estados membros enfrentam uma questão estratégica sobre se a Europa pode continuar segura e próspera se a Rússia continuar a ser governada como está sendo hoje. Independente das reais intenções do governo russo, a governança interna russa e sua percepção de ameaças criam uma competição geopolítica na vizinhança. A capacidade da UE de influenciar políticas internas na Rússia não demonstrou um apelo para tentar. Portanto, se influenciar o futuro governo russo não está na agenda, os estados membros vão precisar então criar uma política robusta e proativa para conseguir competir com a Rússia na vizinhança compartilhada (Ibid.). A presença expansiva da OTAN em países do entorno regional russo é vista como uma hostilidade militar, apesar de sua finalidade para aliança defensiva. Assim, no XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 35 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU contexto ucraniano, é esperada não somente uma ação por parte dos Estados-membros da União Europeia, como também da OTAN (Ibid.), combinando para uma resposta efetiva e robusta. A anexação da Crimeia por parte da Rússia deu origem a uma série de protestos e movimentos pró-separatistas em território ucraniano que se estendem até hoje em uma guerra civil. Por grande parte da população residente em algumas regiões da Ucrânia ser russa e falar a língua russa, há grande apoio à ideia de anexação também dessas regiões ao território da Rússia. Essa é uma situação de grande importância para a União Europeia, pois, caso não sejam contidos os movimentos pró-Rússia, antigos conflitos em outras regiões próximas com populações de etnia russa podem reascender com base no mesmo desejo e com apoio russo, causando grande instabilidade em uma extensa fronteira com países do bloco. Além disso, deve ser analisada cuidadosamente por conta das relações econômicas e energéticas estratégias que existem entre a União Europeia e a Rússia e que dependem do abastecimento através do território ucraniano. 4. Pontos Que Uma Resolução Deve Conter • Como fazer com que as políticas externas de segurança e de defesa comum funcionem de forma efetiva nos recentes conflitos na Ucrânia e não fracassem como na década de 1990? • É possível mobilizar um exército europeu capaz de agir na Ucrânia em favor dos nativos e contra os rebeldes pró-Rússia? • Quais são as formas de conscientização dos Estados-membros a respeito da diversidade para que se chegue a uma resolução mais efetiva sobre a situação da Ucrânia e da Crimeia com a Rússia? • Como proceder para com a Rússia, a anexação ilegal e os conflitos remanescentes na Ucrânia, tendo em vista a falta de eficácia das sanções econômicas? • Como fazer com que a União Europeia como um todo avance e se torne um grande ator nos campos de política externa, de segurança e de defesa? • Como lidar com a dependência europeia em relação ao petróleo e gás russos na tomada de uma posição mais rigorosa da Europa para com a Rússia? 36 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU • É possível uma ação da União Europeia nos âmbitos de defesa e militar e que seja completamente independente da OTAN? • É possível que os tomadores de decisão deixem de lado fatores históricos, culturais e étnicos, sem deixar que os mesmos influenciem em suas ações? 5. Políticas Externas dos Estados Membros República Federal da Alemanha Com a reunificação alemã e com o fim da URSS, a República Federal da Alemanha conservou laços de amizade progressivamente mais próximos com a Federação Russa. O resultado disso foi uma integração econômica cada vez mais intensa entre essas duas nações, com a realização de projetos estratégicos conjuntos26 em diversos setores e com maiores trocas comerciais. As companhias germânicas, em especial as grandes fabricantes de carros e a indústria high tech, oferecem uma série de bens e serviços para os russos, sendo estes o 11o mercado de exportação da Alemanha, movimentando algo em torno de 37 bilhões de euros (BBC, 2014). Paralelamente, a Rússia é uma importante fornecedora de gás natural, matérias primas e de alguns bens e serviços para a Alemanha, o que a torna também uma importante parceira comercial. Além disso, a Chanceler Angela Merkel conservava uma relação amistosa com o Presidente Putin e era uma das poucas líderes europeias que desfrutava de um bom diálogo com o chefe de estado russo. No entanto, a partir de 2013, com as tensões cada vez mais crescentes no Leste Europeu, Alemanha e Rússia acabaram por entrar em rota de conflito. As diversas medidas tomadas pelos russos para impedir qualquer tipo de integração da Ucrânia à Europa Ocidental e a União Europeia enfureceram as autoridades alemãs, bem como a Anexação posterior da Crimeia provocou extrema indisposição em Berlin. Todos esses fatores tem levado a Alemanha a assumir uma postura enfática contra as ações da Federação Russa. Muito embora haja uma preocupação com a economia e com o setor energético do país, a Chanceler Angela Merkel tem sido uma importante voz no bloco 26 Maior exemplo disso é o gasoduto Nord Stream, cuja maioria das ações pertence a empresa russa de capital misto Gazprom, e que corta o Mar Báltico fornecendo gás natural aos alemães. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 37 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU europeu em prol de ações contra as ameaças constantes de Moscou. Apesar de sempre agir com cautela, a líder do país é favorável as sanções contra a Rússia e tem sido enfática na sua defesa dos direitos da Ucrânia em se associar economicamente com a União Europeia e gradualmente abraçar o bloco europeu. Recentemente, a Chanceler teve forte influência na assinatura dos Acordos de Minsk entre a Ucrânia e a Rússia, mas frequentemente tem dito que não está satisfeita com o andamento do acordo, tendo em vista os constantes desrespeitos das autoridades russas e dos grupos separatistas aos acordos de cessar-fogo. No que tange ao apoio militar aos países do Leste Europeu, Merkel é um tanto quanto mais cética e ainda mantém uma posição muito alinhada com a tradição alemã no pós-guerra, priorizando respostas diplomáticas ou econômicas, mas evitando ao máximo a ação militar. Na pauta da integração europeia, a República Federal da Alemanha está mais do que engajada em um bloco europeu mais unido. Apesar de a maior preocupação de Berlin seja com uma maior unidade econômica, fiscal e bancaria, questões como a Política de Segurança e Defesa Comum e a Política Externa e de Segurança Comum vem subindo progressivamente nas listas de prioridades do Ministérios de Assuntos Estrangeiros e o de Defesa alemão. Em fevereiro desse ano, em uma reunião da OTAN, diante dos constantes cortes de gastos que ocorreram na União Europeia e que estão atingindo as forças militares dos países, as autoridades alemães defenderam a ideia de “framework nations” pela Europa. Estas integrariam pequenas capacidades de defesa dos países menores, que hoje passam por dificuldades orçamentárias e não conseguem mais manter diversas das suas forças de segurança. A ideia tem sido bem recebida por outros países-membro, pois preservaria importantes mecanismos de defesa sem prejudicar as políticas de austeridade continentais. Ademais, a Chanceler Angela Merkel e seu governo continuam também sendo uma força importante em prol de maior unidade da União Europeia diante de certas crises internacionais e estão mais do que interessados em ver o bloco regional unido contra a Federação Russa. República Francesa A França é uma das nações mais comprometidas com o processo de integração regional europeu. Sua aliança com a Alemanha nos anos do pós-guerra, sua fugaz defesa dos processos de cooperação e colaboração entre países da Europa, seu 38 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU engajamento na elaboração dos Tratados formadores da Comunidade Europeia e posteriormente da União Europeia são provas fortíssimas de uma nação historicamente comprometida com uma Europa supranacional, ou até mesmo uma Europa Federal. Neste início de século, salvo em algumas pequenas ocasiões, o compromisso francês mantém-se ainda pulsante em favor da PESC, da PSDC e demais ações coletivas da UE em áreas econômicas, fiscais, energéticas, ambientais e humanitárias. Em face das grandes tensões no Oriente Médio, no Norte da África e no próprio Leste Europeu, a França tem sido, em especial, uma das vozes mais ativas em prol da construção de instituições de defesa únicas e centros de comando militar unificados no bloco europeu – como por exemplo a tentativa de criar um Quartel-General unificado em Bruxelas, idealizado pelo ex-Presidente, o Senhor Sarkozy. Nos últimos anos, o Presidente François Hollande e os diplomatas do país tem levado para pauta de negociações dos fóruns da UE questões consideradas fundamentais para a estabilidade do bloco: como o aumento de recursos para a segurança e a defesa, uma maior cooperação nos setores de indústria e de tecnologia bélica e o fortalecimento da integração política da União Europeia. Diante das tensões no Leste Europeu, a França se opõem fortemente às ações promovidas pela Rússia na Ucrânia e às frequentes ameaças nas fronteiras de outros países vizinhos, sendo uma das forças favoráveis as atuais sanções econômicas à Federação Russa. O Ministro dos Assuntos Estrangeiros e Desenvolvimento Internacional francês, Laurent Fabius reiterou recentemente, em um pronunciamento oficial com as autoridades polonesas e alemãs, o compromisso francês com a política europeia de não reconhecimento da anexação da Crimeia, bem como com as políticas de apoio ao governo ucraniano, que tem buscado realizar uma série de reformas modernizantes de abertura econômica, combate à corrupção e aumento da transparência. Todavia, apesar de criticar os russos em diversas situações, a França tem buscado soluções pacíficas para os atuais conflitos da região, até porque tem um grande comércio de materiais bélicos com a Federação Russa. Os diplomatas franceses foram essenciais nas negociações que levariam aos acordos de cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia, em Minsk, e prezam para que a União Europeia exerça forte influência para garantir o cumprimento desses acordos entre as partes, promovendo, assim, maior estabilidade par região. Nesse sentido, nas reuniões do Conselho Europeu, espera-se que a República Francesa busque respostas coletivas e assertivas às pressões de Vladmir XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 39 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Putin e venha defender uma cada vez mais integrada e participativa União Europeia nas questões de política externa e defesa. Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte Reeleito em maio deste ano, o primeiro-ministro David Cameron segue uma política de ambiguidade, e de certo ceticismo, para com as instituições da União Europeia. Embora acredite em diversos benefícios da participação do Reino Unido no bloco europeu, o chefe do governo britânico defende a linha de que as responsabilidades da União Europeia necessitam ser renegociadas e suas instituições redimensionadas, retornando poderes aos países-membros e aos parlamentos nacionais. Em termos práticos, o que Cameron tem buscado é a devolução de responsabilidades soberanas ao Reino Unido – como em questões de preservação ambiental, de imigração e de cunho social, por exemplo – , a redução do orçamento da União Europeia e a exclusão de seu país de um maior processo de integração regional. Além disso, para fortalecer seu posicionamento diante do público, em 2013, o primeiro ministro se comprometeu em realizar uma série de negociações com os outros países membros em prol de uma reforma da UE e prometeu organizar, após isso, independentemente dos resultados desses diálogos, um referendo (até 2017) questionando a população britânica se o país deve ou não permanecer na União Europeia, “in-out referendum”. Em linhas muito genéricas, os britânicos até desejam permanecer na UE, mas querem suas responsabilidades reduzidas. Nesse sentido, diante do Conselho Europeu, o governo do Reino Unido deve se mostrar fortemente contrário a maiores concessões de responsabilidades às instituições de Bruxelas, bem como deve buscar a redução de certo protagonismo da Comissão Europeia e demais órgãos do bloco no que tange a Política Externa e Segurança. No entanto, por mais que defenda fortemente a soberania do Reino Unido, diante das tensões no Leste Europeu, Cameron defende que certas ações multilaterais e cooperativas entre os países europeus sejam tomadas para resistir e dar uma resposta coletiva ao governo de Vladmir Putin. Mas como surgiria essa colaboração entre os países? A política de sanções – ressalvas para o setor financeiro, muito crucial para o R.U. – e de apoio econômico à Ucrânia são apoiadas pelo primeiro-ministro David 40 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Cameron. Já, no que se trata de questões particularmente militares, os britânicos são particularmente mais favoráveis a utilização da OTAN, por exemplo, como forma de gerar uma resposta conjunta às agressões e ameaças russas na Ucrânia e demais países da Europa Oriental. Diplomatas britânicos já entraram diversas vezes em conflito com outros países membros da UE acerca de tentativas de criar comandos militares unificados do bloco com base em Bruxelas, mas ainda faltam respostas a serem elaboradas pelo Reino Unido. Em que pese a experiência histórica de OTAN em lidar com situações de conflitos, a proposta de Cameron possui certas limitações já que não inclui todos os membros da UE tampouco garante maiores mecanismos genuinamente diplomáticos. Assim, o governo britânico talvez necessite buscar outras respostas conjuntas mais eficazes, talvez por via de acordos multilaterais, com o desafio adicional de preservar a soberania dos países membros e de não fortalecer as atuais políticas de integração europeia e o comando centralizado da União Europeia; uma tarefa complexa, mas factível. Comissão Europeia* Desde sua fundação, em 1958, a Comissão Europeia tem ganhado cada vez mais poderes e responsabilidades ao longo do processo de fortalecimento de integração da Comunidade Europeia e posteriormente da União Europeia. Atualmente, a Comissão Europeia controla fundamentalmente aspectos administrativos da UE – como a execução da PESC e da PSDC, por exemplo –, articula propostas de legislação e de políticas públicas para o Parlamento Europeu e para o Conselho Europeu e assegura a aplicação do direito europeu e o respeito aos tratados da UE pelos países membros. A Comissão também é muito ativa no processo de ingresso de novas nações à União e na articulação de tratados com países fronteiriços ao bloco. Na atual liderança do Presidente Jean-Claude Juncker, a Comissão continua lutando fortemente pelo processo de integração. Por mais que as prioridades tenham sido atualmente na colaboração em prol de uma maior união fiscal, bancária e dos mercados, o senhor Juncker e sua Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Federica Mogherini, tem concordado com a necessidade de uma maior cooperação entre os países membros nas áreas de política externa e de defesa. Recentemente, inclusive, Juncker pronunciou-se fortemente XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 41 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU favorável a hipótese de longo prazo de construir uma espécie de exército da UE justamente para combater a Federação. Em entrevista recente ao Die Welt, Juncker declarou que um exército conjunto de europeus mostraria ao mundo que não se deseja mais guerras no continente e “daria à Rússia a clara mesagem de que nós estamos sendo sérios quanto a defesa dos valores europeus.” (DIE WELT, 2015). Diante dos conflitos na Ucrânia e nas tensões em outros países do Leste, a Comissão, em consonância com as recentes decisões do Parlamento e do Conselho Europeu, tem se mostrando uma grande força de oposição à Federação Russa. A Comissão luta pela devida aplicação das sanções aos russos e pelo não-reconhecimento da anexação da Crimeia, bem como participa ativamente da proteção dos países do Leste diante das pressões do governo de Putin. Um exemplo disto é o papel da Comissão na condução de investigações antitruste contra a gigante Gazprom – empresa pública russa de extração de gás e petróleo – , que estaria teoricamente realizando práticas monopolistas na Europa Central e Oriental. Além disso, a Comissão tem sido um importante agente de negociação com o atual governo ucraniano, participando dos embates energéticos da Ucrânia com a Rússia, bem como promovendo o acordo de associação desse país com a UE. A integração progressiva da Ucrânia, portanto, é algo desejado pela Comissão e tem sido promovido nos últimos anos. República Italiana Depois de anos liderada pelo “eurocético” Silvio Berlusconi, a República Italiana possuiu um histórico recente muito comprometido com a integração política, diplomática e econômica da União Europeia. Essa movimentação “pró-Europa” retoma o caminho tradicional italiano, visto desde a assinatura do Tratado de Paris de 1951 e os Tratados de Roma de 1957. O governo atual do primeiro-ministro Mateo Renzi é um dos líderes mais entusiastas da UE e tem clamado diversas vezes no cenário regional para que mais mecanismos de ação conjunta sejam criados. Há, por traz dessas posturas, também um interesse, resultante de novas orientações de sua política externa, em prol de colocar novamente a Itália como uma grande potência em termos das discussões europeias. Ao longo desta reunião do Conselho Europeu, a Itália deve ser, portanto, uma grande força em favor de uma União Europeia mais unida. 42 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Ao longo da segunda metade de 2014, a Itália exerceu a presidência rotativa da UE, deixando algumas colaborações relevantes. Entre as medidas aplicadas naquela ocasião, promoveu-se um fortalecimento da PESC por meio de iniciativas como o a convocação extraordinária de um Comitê de Assuntos Estrangeiros, o qual foi utilizado, por exemplo, para garantir uma resposta rápida e eficaz às crescentes tensões no Iraque. Além disso, a equipe diplomática italiana trouxe de volta à pauta europeia questões estratégicas como a necessidade de uma maior articulação entre os países membros acerca de políticas imigratórias e, em especial, a cerca das políticas de defesa. Em prol de uma Política de Defesa e de Segurança Comum mais abrangente, a Itália produziu uma série de documentos recomendando maior colaboração na segurança do Mediterrâneo, nas indústrias de defesa nacionais, na luta contra o terrorismo e na “Cyber-defesa” do bloco, bem como se juntou ao Comando Europeu de Transporte Aéreo27, reforçando sua confiança nas instituições da UE. Diante das atuais tensões no Leste Europeu, o governo de Renzi tem se alinhado com a França e a Alemanha no que tange as ações da União Europeia contra a Federação Russa, apoiando as sanções e os acordos de cessar-fogo efetivados em Minsk. Apesar de a Itália ter laços históricos de amizade com os russos, o primeiro ministro Renzi não hesitou, em março desse ano, em mostrar simpatia ao governo de Kiev; “Estamos em um momento que todos querem que a independência e a soberania da Ucrânia sejam respeitadas” (REUTERS, 2015). É preciso lembrar, contudo, que, devido à grande dependência do gás russo e ao forte fluxo de comércio da Itália com a Rússia, o país deseja uma solução pacífica, eficaz e rápida para as grandes tensões nas fronteiras do Leste, que implique nos menores custos possíveis para uma nação que ainda se recupera da crise e que teme que sanções mais fortes prejudiquem sua economia e tenham impactos imprevisíveis no bem estar de sua população. Há, portanto, um certo temor dos custos de mais restrições econômicos à Rússia e há um desejo que, com o tempo, após uma solução negociada para as tensões que hoje ocorrem, os laços de Moscou com a Europa voltem a se tornar mais positivos, o que beneficiaria a Itália. 27 Centro de comando integrado para o controle operacional e a harmonização das regulamentações do transporte aéreo militar europeu. Bélgica, Itália, Alemanha, França, Holanda, Luxemburgo e Espanha são seus membros. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 43 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU República da Finlândia A Finlândia talvez possua uma das histórias mais interessantes de relacionamento com a Rússia. Ao longo da Guerra Fria, embora fosse uma nação capitalista, a Finlândia nutriu relações amistosas, na medida do possível, com a União Soviética e buscou, sempre que foi capaz, apaziguar possíveis desentendimentos com os vizinhos. Esse comportamento perdurou mesmo após a queda do comunismo e a Finlândia surge hoje como um possível agente de ponte, de diálogo e de compreensão entre a União Europeia e a Federação Russa. Embora sejam críticos das atuais movimentações russas no Leste Europeu, oponham-se fortemente às posturas de Putin na Ucrânia e no caso da Crimeia, e já tenham assinalado que não tolerarão desrespeitos contínuos dos vizinhos orientais aos princípios de autodeterminação dos povos, os finlandeses tem tentado alertar o restante da União Europeia sobre os grandes riscos que podem envolver continuar pressionando a Rússia. A Finlândia também tem preocupações bastante pragmáticas: seus cidadãos possuem grandes laços econômicos com os russos e a potência vizinha consome mais de 9,6% das exportações finlandesas, o que representa algo em torno de € 5,4 bilhões (THE WALL STREET JOURNAL, 2015). Não é toa, portanto, que a Finlândia alerte sobre os riscos de pressionar ainda mais pela expansão da OTAN e tema tão fortemente pela falta de entendimento entre a Rússia e a Europa Ocidental. Já, quanto as políticas de integração regional, como a PESC, pode se dizer que a Finlândia mostra-se receosa a uma grande cessão de poderes às instituições europeias. Em parte pela sua proximidade com a Rússia e em parte pelo próprio desejo de sua população em preservar sua soberania, a Finlândia é historicamente cética quanto a uma União Europeia excessivamente fortalecida e sempre considera os riscos que uma expansão da UE e da OTAN ao longo do Leste Europeu pode acabar gerando instabilidade e desentendimento com os russos. O país costuma, portanto, optar por uma diplomacia mais cautelosa, buscando sempre soluções que evitem tensões com os vizinhos do Leste e que preservem sua independência. República da Hungria 44 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU O governo da Hungria mostrou uma grande mudança de posicionamento a respeito da crise geopolítica no Leste Europeu. Ao longo das revoltas em Kiev e da ascensão do novo governo ucraniano, o primeiro-ministro Viktor Orban mostrou-se fortemente favorável à integração da Ucrânia na União Europeia e aprovou a aplicação de sanções econômicas à Federação Russa. Contudo, nos últimos meses, o governo húngaro tem tomado uma posição contrária às suas primeiras posturas. Já no final de 2014, o primeiro-ministro afirmara que as sanções haviam sido “um tiro no pé da Europa” e, ao longo deste ano, Orban já tem indicado que seguirá um novo direcionamento para a diplomacia húngara. Em um pronunciamento recente, o Senhor Orban defendeu que a Hungria, embora estreitamente conectada à União Europeia, deveria seguir uma política externa independente e nacionalista, priorizando os interesses húngaros – econômicos, em especial, e abrindo-se para o Leste e para o Sul. Em consonância com essa reorientação geopolítica, o governo da Hungria recebeu, em Fevereiro desse ano, o Presidente Vladmir Putin em Budapeste. O chefe de estado russo e o chefe de governo russo ressaltaram os laços de amizade e a cooperação econômica fundamental entre as duas nações, mostrando claramente as novas intensões do primeiro ministro Viktor Orban e gerando estardalhaço no cenário diplomático regional. Nesse sentido, espera-se que o governo húngaro se apresente no Conselho Europeu como uma importante força independente, buscando reverter de alguma maneira as atuais punições ao governo de Vladmir Putin e prevenir maiores desgastes com a Federação Russa. Há, portanto, um forte ímpeto econômico que move os húngaros, desejosos de maiores vantagens econômicas com essa grande potência regional. Além disso, justamente devido aos novos impulsos nacionalistas, a Hungria mostra-se um tanto quanto cética a maiores movimentações em prol de uma Política Externa Comum para o bloco Europeu. Com isso, esta nação não deverá ser uma entusiasta de maior perda de soberania, de poderes e de responsabilidades para Bruxelas. República Helênica XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 45 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Devido principalmente pelas severas complicações econômicas, sociais e políticas que vive, a Grécia tem gerado diversos tremores na União Europeia. A República Helênica enfrenta, desde a Crise de 2009, o difícil desafio de promover a recuperação econômica e garantir um ajuste fiscal que possa eliminar o terrível problema da dívida, a qual representa mais de 177% do PIB (BLOOMBERG, 2015). Para auxiliar a Grécia nesse desafio, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional concedeu uma série de empréstimos bilionários de emergência, exigindo, em troca, a aplicação de um rigoroso plano de austeridade e de reformas institucionais para tornar o país mais competitivo. O total do apoio financeiro deverá girar em torno de € 172 bilhões, liberados em pacotes sazonais. Ao longo dos governos do PASOK e do Partido Nova Democracia, esse projeto foi negociado com poucas ressalvas e seguido com grande compromisso. No entanto, os resultados insuficientes, o crescimento ainda muito baixo e o desemprego a níveis alarmantes levaram a uma forte reação popular contra essas medidas. Em janeiro desse ano, o eleitorado grego garantiu uma maioria parlamentar ao SYRIZA, partido socialista, levando Alexis Tsípras ao cargo de primeiro-ministro da República Helênica. Acompanhado do Ministro da Economia, Yanis Varoufakis, o atual chefe de governo grego tem se mostrado contrário às políticas de austeridade e propõe que haja uma renegociação geral das dívidas na Europa. Além disso, tem-se revertido os cortes dos ajustes fiscais e praticado uma série de políticas econômicas expansionistas, com o objetivo de recuperar a economia. Isso vem desagradando também as principais autoridades da União Europeia, do Governo Alemão, em especial, e do Fundo Monetário Internacional, apelidados de “Troika” pelas atuais lideranças gregas. Com relação as tensões do Leste Europeu, Tsipras não deixaria de ser polêmico. O líder da República Helênica tem criticado as políticas de sanções à Rússia e seu partido tem votado contra a maioria das decisões do Parlamento Europeu em prol do governo ucraniano. O governo do SYRIZA entende que a Rússia pode ser um estratégico parceiro no caso de um forte desentendimento com o bloco europeu, inclusive em uma eventual, porém trágica, saída da UE. Cabe fazer uma ressalva de que esta última possibilidade não é oficialmente reconhecida pelas autoridades gregas, que afirmam repetidamente sua intensão de se manter na Zona do Euro e na União Europeia. Em um plano de longo prazo, contudo, considerando a possibilidade de que os gregos talvez necessitem buscar outras forças de apoio a sua recuperação, a Rússia é entendida 46 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU como um negociador mais interessante do que a “Troika”, sendo uma possível fonte de gás barato, de acordos de empréstimos mais vantajosos e de investimentos no setor de turismo. Já, nas questões da Política Externa e de Segurança Comum, a República Helênica é uma outra fonte de resistência às políticas de integração. Devido as grandes desproporções econômicas, políticas e militares entre os países-membros da UE, a Grécia se mostra cética ao fortalecimento da PESC. Tsipras e seus aliados temem a dimensão gigantesca das novas instituições europeias e acreditam que estas se distanciam do próprios cidadãos do bloco, o que colocaria em dúvida inclusive o suposto caráter democrático desses órgãos regionais. É importante frisar também que o governo do SYRIZA está em coalizão com um partido fortemente nacionalista (ANEL), o que fortalece ainda mais uma posição diplomática em defesa da soberania grega e contra maiores cessões de poder à União Europeia. Reino dos Países Baixos O Reino dos Países Baixos é uma entre as seis nações fundadoras da Comunidade Econômica Europeia e foi sempre um importante agente de integração do bloco europeu. Embora tivesse suas ressalvas quanto a unificação política, temorosa da perda de poder decisório para os países maiores do bloco, essas preocupações se reduziam já que os holandeses sempre tiveram um grande ímpeto de fomentar um mercado comum no continente, seguindo sua tradição centenária de promover as trocas comerciais entre as nações. Nos últimos anos, contudo, as preocupações com a perda de poderes políticos para UE se fortaleceram e hoje há um certo ceticismo do governo holandês, liderado por Mark Rutte, em ceder mais poderes à Bruxelas. Esse sentimento para com a União tem sido crescente, tanto que, no ano de 2013, o então Ministro para Assuntoss Estrangeiros, Frank Timmermans, afirmou que, embora a Holanda acreditasse que os países membros devessem colaborar mais nas regulações financeiras, no setor energético, na área de imigração e das mudanças climáticas, o governo holandês estava “convencido de que o tempo de ‘uma cada vez mais próxima XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 47 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU união’28em todas áreas de política públicas já está atrás de nós (holandeses)” (THE ECONOMIST, 2013). Contudo, ao contrário dos Britânicos, as autoridades dos Países Baixos não tem o intento de criar “opt-outs” para sua própria nação e buscam o diálogo entre os países-membros para que haja qualquer redimensionamento da União Europeia. Cabe lembrar também que, embora a Holanda não esteja interessada em perder poderes soberanos, o país está interessado em desenvolver certas medidas de cooperação militar com os outros países membros e apoiaria certas ações colaborativas que dessem ênfase a soberania nacional. O Reino dos Países Baixos, apesar de ser uma nação de porte mediano dentro da União Europeia, tem sido uma voz importante diante das crescentes tensões no Leste Europeu. Após ter perdido 194 cidadãos em um acidente de avião da Malaysia Airlines (vôo MH17), cujas causas ainda estão sendo investigados por autoridades holandesas e que caiu próximo da região ucraniana separatista de Donetsk, o primeiro-ministro Rutte engajou-se em prol de sanções mais rígidas contra a Federação Russa, embora tenha feito esse movimento com certa cautela, visto os laços econômicos importantes entre as duas nações. Além disso, o Reino dos Países Baixos mostrou certa desconfiança com o acordo de cessar-fogo em Minsk, declarando sua preocupação de que os responsáveis pelo ataque ao MH17 sejam anistiados e defendendo que ainda seria muito cedo para reduzir as restrições econômicas impostas aos russos. Quanto a política de integração da Ucrânia na União Europeia, é importante lembrar que os holandeses são bastante pragmáticos quanto a qualquer expansão do bloco e são bastante rigorosos quanto aos critérios de aprovação dos países, defendendo que os possíveis novos membros sigam uma política fiscal sólida, estejam comprometidos com a democracia, com a defesa dos direitos humanos e com a proteção do meio ambiente, bem como sigam um rígido controle da corrupção e promovam a transparência. Apesar disso, o governo holandês, na atualidade, vê a Ucrânia com bons olhos e não tem sido uma ampla força de resistência a progressiva associação desse país do Leste Europeu. 28 Referência clara ao trecho da primeira frase do prêambulo do Tratado de Roma, document fundador da Comunidade Econômica Europeia: “Determined to lay the foundations of an evercloser union among the peoples of Europe”. 48 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Bloco do Reino da Bélgica e do Grão-ducado de Luxemburgo Essas duas pequenas monarquias da Europa Ocidental possuem longa tradição em defesa do projeto de integração europeu. Membros fundadores da Comunidade do Ferro e do Aço, bem como da Comunidade Econômica Europeia e da União Europeia, Bélgica e Luxemburgo sempre foram fortemente engajados na união dos povos europeus em torno de um projeto político, econômico e social unificado. Nesse sentido, não surpreende que essas duas nações sejam favoráveis ao fortalecimento da PESC e da PSDC, ainda que preocupem-se que a representatividade dos países menores seja devidamente respeitada. Os dois países acreditam que uma União Europeia mais integrada e colaborativa consegue reagir de forma mais eficaz às grandes crises geopolíticas, aos grandes desastres naturais, às crescente mudanças climáticas e às grandes problemática humanitárias que tem assolado o globo. Diante das crescentes agressões às leis internacionais praticadas pelo governo de Vladmir Putin no Leste Europeu, Bélgica e Luxemburgo estão sendo assertivos na sua condenação dos russos. As duas nações comprometeram-se fortemente com as sanções aplicadas à Rússia, embora os belgas apresentem certa dependência do gás russo e os luxemburgueses ofereçam serviços financeiros para essa potência euroasiática. Ademais, as duas nações tem ressaltado a importância da PESC como mecanismo fundamental para responder aos crescentes desequilíbrios no Leste Europeu, considerando crucial que os países da União Europeia cooperem entre si em prol de uma resposta coletiva unificada contra a Federação Russa. É importante destacar também que esses países veem, por enquanto, o processo de associação da Ucrânia à União Europeia de uma forma positiva e apoiam as atuais medidas de apoio financeiro e energético para essa nação, prezando sempre para que a Ucrânia siga num caminho de aumento da transparência, combate à corrupção e respeito à democracia e aos direitos humanos básicos. Escandinávia (Reino da Dinamarca e Reino da Suécia) As duas monarquias da Escandinávia que fazem parte da União Europeia, Suécia e Dinamarca, tem sido importantes players regionais nessas duas cada vez mais urgentes pautas do Conselho Europeu: as grandes tensões no Leste Europeu e as XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 49 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU políticas externas e de defesa comum do bloco. Nessa primeira questão, as duas nações tem oferecido forte apoio as nações do leste que hoje sofrem com as pressões de Moscou e apoiaram as medidas conjuntas da União Europeia, como as políticas de sanções. No entanto, cada país tem trazido suas próprias particularidades para auxiliar estes países continuadamente ameaçados pela Rússia. A Dinamarca tem reforçado seu compromisso, como membra da OTAN, de apoio militar e estratégico com o fornecimento de tropas e de ajuda técnica para a Polônia, para os países bálticos e até mesmo para a Ucrânia. Ademais, a Dinamarca tem embarcado com o R.U. e outras nações em apoio de uma proposta que investigue a propaganda russófila promovida por estatais russas na UE. Já a Suécia tem assumido uma linha diferente; embora, nos últimos meses, o governo sueco tenha prometido aumentar a cooperação militar entre seu país e a OTAN, as ações dessa nação tem sido muito mais orientadas para uma agenda econômica. Há poucos meses, em Kiev, o primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, manifestou seu apoio à integração Ucraniana e às reformas que estão ocorrendo no país. Na ocasião, o chefe de governo lembrou dos mais de € 25 milhões concedidos pela Suécia ao país, bem como ressaltou a importância das medidas que farão com que a Ucrânia seja mais transparente, socialmente igualitária, e economicamente mais próspera. De um modo geral, a Dinamarca também é favorável as medidas atualmente tomadas por Kiev que a aproximam cada vez mais os ucranianos da União Europeia. Quant a questão das políticas de maior integração da União Europeia, os países escandinavos são tradicionalmente mais receosos em ceder poderes para Bruxelas. Isso se manifesta, por exemplo, na postura de ambos em manter suas moedas nacionais, em detrimento do Euro. A Suécia, em especial, mesmo com algumas propostas de maior colaboração militar e promessas de maiores orçamentos militares, segue uma política bem diferente dos dinamarqueses nesse campo de defesa e segurança, optando por uma política de neutralidade que já existe há muitas décadas; grandes mudanças nisto não estão previstas para o curto prazo. Apesar disso, os dois países estão desejosos de ações conjuntas em questões pontuais, sendo a crise no Leste Europeu uma delas, já que eles também estão sendo ameaçados por Moscou. Nesse sentido, dentro do Conselho Europeu, os dois países não hesitarão em negociar uma solução razoável para as tensões na Europa oriental e buscam o consenso para trazer 50 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU ações que permitam melhorar as atuais pressões na região e venham a lhes trazer maior estabilidade e tranquilidade. Países dos Balcãs (Romênia, República da Bulgária e Croácia). Sendo algumas das mais novas integrantes da União Europeia, Romênia e Bulgária (inseridas em 2007), bem como Croácia (egressa em 2013), tem mudado a face do bloco político-econômico europeu, alimentando um processo de expansão dessa instituição rumo ao Leste e trazendo uma série de novas pautas para as discussões em Bruxelas. Desde a queda do Comunismo Real, Romênia, Bulgária e Croácia tem mantido relações tensas com a Rússia. Como exemplos disso, existem várias situações: a Romênia enfrenta já de muitos anos a intromissão das autoridades russas em sua relação com a Moldávia; Bulgária já chegou a expulsar diplomatas russos do país por intromissão em assuntos políticos do país; e a Croácia historicamente se coloca contra a Rússia, dada a proximidade desta com uma nação com a Sérvia, grande rival regional dos croatas. Nos últimos anos, essas tensões só vem se agravando conforme estes países se aproximam cada vez mais da Europa Ocidental e conforme o governo de Moscou toma posturas cada vez mais intervencionistas em países fronteiriços ou com uma certa proximidade. Não surpreende, portanto, que todos estes países tem sido favoráveis ao apoio à Ucrânia e se mostrado favoráveis a maiores ações da União Europeia em estratégias de defesa no Leste Europeu. A Romênia, em particular, tem uma preocupação adicional com a Ucrânia e pediu para que Kiev respeitasse as minorias étnicas locais, como alguns cidadãos de origem romena. Contudo, apesar de todos os ânimos dos governos de Bucareste, de Sofia e de Zagreb contra as medidas consideradas ilegítimas de Vladmir Putin no Leste Europeu, todos estes países possuem algum tipo de laço econômico substancial com a Federação Russa, dada a proximidade regional e a longa história de cooperação econômica desses países nos tempos do comunismo. Nesse sentido, estes países balcânicos estão particularmente preocupados com os impactos estruturais das sanções econômicas contra a Federação Russa. Embora haja apoio ao cerco financeiro à Moscou e aos separatistas ucranianos, têm-se defendido que a União Europeia tenha mais atenção às dificuldades que setores importantes, como o energético e o do agronegócio, dos Balcãs estão passando e que o bloco europeu ajude financeiramente a região a passar por esses XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 51 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU momentos difíceis. Quanto a questão da integração de defesa e da política externa, em linhas gerais, todos esses países são entusiastas que a União Europeia posso desenvolver melhores mecanismos de integração diplomática e militar e veem, na PESC e na PSDC, uma oportunidade de a UE agir de maneira conjunta contra as constantes pressões de Moscou, as quais os atormentam continuadamente. República da Eslovênia Ao contrário de outras nações dos Balcãs, a Eslovênia tem conservado uma relação muito amigável com a Federação Russa. Desde o fim da Iugoslávia, objetivando garantir um saudável crescimento econômico, o pequeno país balcânico assumiu tanto uma postura de integração com a União Europeia quanto de amizade com os governos de Moscou. Nesse sentindo, assim como a Finlândia, a Eslovênia busca ser uma ponte de diálogo dentro do Conselho Europeu, acreditando que a participação da Rússia nas decisões do Leste Europeu são mais do que essenciais para a solução dos atuais conflitos e tensões na região. Preocupada que suas exportações continuem sendo prejudicadas pelas políticas de sanções, o país acredita que a União Europeia necessita ser cautelosa na aplicação de mais medidas contra a Federação Russa e tem advogado pela intensificação de medidas que permitam uma solução rápida e pacífica pelo conflito. Todavia, cabe frisar aqui que, conquanto mantenha boas relações com Moscou, o governo esloveno reconhece as ações de intromissão russa na política interna ucraniana e a anexação da Crimeia como atos totalmente ilegais contra a lei internacional e já clamaram por diversas vezes para que o Presidente Putin e as demais autoridades russas interrompam estas atitudes o quanto antes. Além disso, a Eslovênia tem defendido a integração progressiva da Ucrânia no bloco europeu e é uma entusiasta da expansão da UE pelo Leste Europeu – nessa questão específica, em claro contraste com a opinião russa. Quanto às questões de uma política externa e defesa comum, os governos eslovenos tem se compromissado fortemente com uma cada vez maior e mais integrada União Europeia Os ingressos na OTAN e na União Europeia, em 2004, foram vistos como momentos estratégicos que permitiram a Eslovênia ter maior contato com diversos países do globo e ter maior poder de decisão em diversas questões regionais. Nesse sentido, a Eslovênia é uma grande defensora de mecanismos como a PESC e a 52 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU PSDC e acredita que até os menores países necessitam ser participativos nos diversos fóruns de discussão da UE em prol de decisões consensuais entre os países-membros. República da Polônia A República da Polônia é uma das nações mais prósperas da União Europeia no Leste Europeu e é uma nação que conseguiu superar muito bem os anos do comunismo real, sair da órbita de influência de Moscou e tornar-se um importante player da Europa Oriental. Assim como outras nações da região, os poloneses conservam uma longa história de dominação pelos russos: grandes partes do país viveram sob jugo do Império Russo desde a queda da Comunidade Polaco-Lituana em 1795 até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918; foi dividida entre o Terceiro Reich e a URSS, em 1939; e, depois, viveu mais de 40 anos sendo um “estado-satélite” da superpotência soviética. Todos estes eventos ajudaram a desenvolver um forte sentimento de hostilidade da Polônia contra a Rússia e o governo de Varsóvia, na atualidade, é um dos estadosmembros do bloco europeu mais preocupado em garantir uma resposta enfática e poderosa contra as atitudes do governo de Vladmir Putin e em auxiliar seus vizinhos e aliados. Desde os momentos iniciais de tensões na Ucrânia, a Polônia mostrou-se fortemente engajada em garantir que os membros da União Europeia no Leste Europeu estivessem protegidos das pressões de Moscou. Não a toa, o governo do primeiroministro Donald Tusk tem requisitado constantemente que bases e tropas permanentes da OTAN sejam instauradas no seu país, bem como nos países bálticos. Em abril de 2014, por exemplo, pediu-se o estabelecimento de mais de 10.000 tropas em seu território (THE TELEGRAPH, 2014). Tal ação seria uma clara quebra do RussiaOTAN Founding Act de 1997, que claramente impedia a instalação de bases nos antigos países dos bloco socialista e cujos artigos são tidos como inválidos pelas autoridades polonesas dadas as constantes violações russas do acordo. Há também planos em Varsóvia de aumentar ainda mais seu poderio militar, ampliando o treinamento de civis e investindo mais de € 33 bilhões na reestruturação de seu exército (RUSSIA TODAY, 2015). Ademais, os poloneses são favoráveis as atuais sanções da União Europeia contra o Presidente Putin e não descartariam a continuidade e até mesmo a expansão desses mecanismos de “estrangulamento” econômico. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 53 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU A Polônia também tem tentado se aproximar de maneira mais intensa da Ucrânia. Em 2005, no auge da “Revolução Laranja” que aconteceu no país vizinho, os poloneses começaram a desenvolver uma postura progressivamente mais amistosa com Kiev. Inclusive, o acordo de associação da Ucrânia com a União Europeia recebeu sempre muito cuidado das autoridades polonesas, que foram até flexíveis com o então Presidente Yanukovych para que ele assinasse o acordo o quanto antes29. Quando o acordo foi de fato assinado, em 2014, a notícia veio com muito gosto em Varsóvia. É de interesse polonês uma Ucrânia reformada, independente, economicamente próspera e próxima da União Europeia, e Varsóvia enxerga esta aproximação fundamental para encontrar mais um novo aliado contra as ações de Moscou. Busca-se também auxiliar militarmente os Ucranianos, com a venda de armas para a melhoria do equipamento bélico do vizinho. Quanto a pauta de integração da União Europeia, os poloneses veem com muito bons olhos medidas que aumentem a coordenação dos países-membros em questões militares e diplomáticas, defendendo sempre uma postura unidade do bloco diante das crises que o impactam. No Conselho Europeu, o governo da Polônia considera mais do que essencial que a PSDC e a PESC venha a tratar de maneira enfática das preocupações dos países membros do Leste, hoje pressionados pela Rússia, e deseja que o bloco possa se manter unido em prol da estabilidade regional e da manutenção da ordem e da paz nas fronteiras orientais. Países Bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia) Assim como a Polônia, as Repúblicas da Lituânia, da Letônia e da Estônia são todas nações que passaram várias décadas sob controle dos russos ao longo da história Todas foram províncias do Império Russo, independentes no entre guerras e anexadas pela URSS, em 1939, a qual fizeram parte até o colapso do bloco comunista. Desde então, os países bálticos trilharam um caminho de sólido crescimento econômico com a 29 Esta ocasião colocou Berlin e Varsóvia em posições opostas. O governo alemão demandou a libertação da antiga primeira-ministra Yulia Tymoshenko para que a Ucrânia assinasse o acordo, enquanto a Polônia não fez a mesma exigência. No meio desse impasse, o Presidente Putin acabou convencendo Yanukovych a assinar acordos estratégicos com Moscou em detrimentos daquele com a UE. Este evento levaria aos protestos nas praças de Kiev que desencadeou todo um processo de mudança no poder da Ucrânia e a todos os demais acontecimentos explicados neste guia. 54 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU abertura de suas economias, com o investimento nos setores de alta tecnologia e com a progressiva associação à União Europeia até se tornar parte dela em 2004, ano em que todas estas nações entraram em conjunto. Paralelamente, este mesmo período foi marcado por uma fuga cada vez mais intensa por parte dos países bálticos da órbita da influência de Moscou e por diversas tensões entre estes países e a Federação Russa, sobre diversas questões, desde pequenos eventos na política interna destes países até questões mais amplas como os direitos das minorias russas nesses Estados, bem como movimentações de tropas russas nas proximidades dessas nações e a importante questão do controle de fronteiras. Com a crise na Ucrânia, as tensões já existentes desde a independência desses países só alimentaram ainda mais e, hoje, as ameaças vindas do Kremlin são a maior fonte de preocupação da política externa dos Países Bálticos. A série de violações da lei internacional causadas pela Federação Russa, em especial no caso da Anexação da Crimeia, preocupa fortemente as três pequenas nações. Dentre os líderes mais vocais contra Moscou, destaca-se a Presidente Lituana Dalia Grybauskaitė; em junho do ano passado, a chefe de estado disse que “[Putin] usava a nacionalidade como pretexto para conquistar território por meio de meios militares. Isso foi exatamente o que Stalin e Hitler fizeram” (REUTERS, 2014). Muito embora as outras autoridades bálticas não tenham feito declarações tão enfáticas, todas apresentam grande temor quanto ao que a Federão Russa poderá fazer em seus países. Para alimentar o problema, todos as nações bálticas possuem uma substancial minoria de russos, que se organizam em partidos políticos, grupos de representação e que costuma ter uma visão muito favorável das medidas tomadas por Vladmir Putin. Respectivamente, 5,8%, 24,8% e 26,9% dos cidadãos da Lituânia, da Estônia e da Letônia tem origem étnica russa30. Em parte pelas pressões dessas minorias, a Letônia tem sido a mais tímida em suas críticas a Moscou. Diante de tantas tensões, portanto, os Países Bálticos tem se mobilizado dentro das estruturas da União Europeia e de outros organismos internacionais para se proteger das pressões do governo de Vladmir Putin. Dentre as medidas tomadas, destacam-se: a requisição desses países (todos membros da OTAN desde 2004) de uma maior presença de tropas dessa instituição em seus países; as tentativas conjuntas com a Dinamarca e o 30 Dados do Statistics Lithuania, do Statistics Esthonia e o Bureau Estatístico Central da Lituânia. XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 55 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU Reino Unido de combater a propaganda pró-Rússia no continente31; e a realização de uma série de exercícios militares nas fronteiras. Internamente, destaca-se o estabelecimento do serviço militar obrigatório na Lituânia, além da preocupação destas nações em manterem sólidos orçamentos de defesa.32 Os Países Bálticos também tem sido favoráveis as medidas de sanções aplicadas pela UE, mas tem feito isso com cautela, já que há uma certa dependência econômica e energética desses países em relação a Rússia. Quanto a pauta da integração da defesa e da política externa, os Países Bálticos tem grande preferencia pela utilização dos mecanismos institucionais europeus para dialogar com o mundo e acreditam que mecanismos como a PSDC e a PESC podem ser úteis para protegê-los da forte crise regional que assola o Leste Europeu provocada pelas constante ações da Federação Russa. Reino da Espanha A Espanha tem sido uma nação importante dentro do processo de integração econômico, político e social do continente europeu. Após a queda do Franquismo e com a entrada do país na Comunidade Europeia, os diversos governos que passaram por Madri tem se mostrado favoráveis ao fortalecimento das instituições supranacionais que atualmente formam a UE. Além disso, a nação fez parte da OTAN e tem participado de uma série de missões desta instituição, inclusive algumas ações dentro do próprio continente. O atual primeiro-ministro Mariano Rajoy não diverge de seus antecessores e tem lutado para uma união fiscal e bancaria maior da UE. Uma PESC e uma PSDC fortalecidas também interessam as autoridades espanholas, na medida dão maior projeção a Europa, e consequentemente a Espanha, no cenário internacional. Um tanto quanto distante da atual crise no Leste Europeu, a Espanha tem se mostrado pragmática em seus posicionamentos, não desejando se envolver fortemente no atual conflito. Tal comportamento decorre de interesses um tanto quanto opostos pelo governo espanhol. Por um lado, a Espanha vinha buscando uma aproximação com 31 A Letônia não desejou participar desta iniciativa, em particular. 32 A Estônia é o único país da Europa Continental que respeita a exigência de gastar 2% do PIB no orçamento militar, por exemplo. Já a Lituânia e a Letônia, muito embora não cumpram essa exigência, tem intensificado os investimentos nesse setor. A Letônia se comprometeu em aumentar os gastos militares, todo ano, o equivalente a 0.2% do PIB até atingir a meta da OTAN. Já a Lituânia deu um grande salto em único ano, gastava 0.78%, em 2014, e gastará, esse ano, o equivalente a 1,11% do PIB. (RAYNOVA & KEARNS, 2015). 56 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU a Rússia, que resultou em um aumento do turismo desta nação àquela e uma maior presença de investidores russos no mercado imobiliário espanhol. Por outro lado, há o interesse histórico de Madri em manter um bom relacionamento com os demais países da UE, comprometendo-se com um bloco coeso e bem protegido. Uma questão interna também coloca a Espanha em rota de colisão com a Rússia, o argumento de Putin de proteção das minorias na Anexação da Crimeia é visto como algo perigoso pelo governo espanhol que enfrenta movimentos separatistas no País Basco e na Catalunha. Como resultado disso, a Espanha tem buscado uma solução menos agressiva para as atuais tensões no Leste Europeu. O governo espanhol de fato manifestou seu apoio pela independência da Ucrânia e pelas atuais políticas de integração desta nação à União Europeia, mas não tem sido um dos mais entusiastas por maiores sanções à Federação Russa e preocupa-se com o impacto que tais medidas possam ter em alguns de seus setores econômicos. Todavia, especialista apontam que a Espanha possa até mesmo compensar os atuais custos enfrentados pelos conflitos na Europa oriental por meio da distribuição de recursos energéticos para Europa. Como importa gás de diversos países africanos e desenvolveu uma excelente infraestrutura de gasodutos para distribuição de gás liquefeito, a Espanha não depende dos combustíveis fósseis russos e pode acabar por oferecer de maneira confiável e segura esses recurso para o restante da Europa. O governo de Rajoy tem buscado formas de trazer crescimento econômico para seu país e esta pode ser uma alternativa interessante. Dessa forma, diante dessas diversas variáveis envolvidas, a Espanha deve ser bastante cautelosa no Conselho Europeu, conciliando seus interesses nacionais, seu desejo de manter-se em bom relacionamento com os russos e seu compromisso histórico com as instituições da UE e com a continuidade da integração europeia. República Portuguesa Desde sua entrada na Comunidade Europeia, Portugal é uma das nações mais comprometidas com o projeto europeu de uma união cada vez mais intensa entre os povos do continente. A população vê com bons olhos a União Europeia e, ao contrário de outros países atingidos por dificuldades econômica, o euroceticismo não tem ascendendo de maneira contundente na política europeia. Nos fóruns de discussão europeus, as autoridades em Lisboa geralmente seguem as orientações estabelecidas por XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 57 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU países maiores, como a França e a Alemanha, contudo, também prezam pela contribuição democrática dos países pequenos e pelas decisões consensuais do bloco, sempre priorizando que o bloco permaneça coeso estável. Não surpreende, portanto, que Portugal seja um grande defensor das atuais políticas de união fiscal e bancaria, tampouco é de se espantar que as lideranças do país sejam mais do que favoráveis à PESC e à PSDC. Esta última, inclusive, vista também como uma forma de economizar gastos, mas manter uma capacidade militar eficaz e forte. Recentemente, o primeiroministro Pedro Passos Coelho ressaltou a importância de uma política de segurança comum para a Europa, dizendo que os mecanismos defensivos precisam ser “reforçados” e que a “UE tem a obrigação de se defender de ameaças externas” (ONE NATION, 2015). Diante das crises no Leste Europeu e das diversas tensões promovidas pelo governo de Vladmir Putin, Lisboa tem se alinhado com os líderes em Berlin e em Paris. Neste sentido, tem sido favoráveis às atuais políticas de sanções à Rússia e ao apoio a uma progressiva integração da Ucrânia com base em reformas estruturais no país e em apoio financeiro a esta nação. Além disso, é importante lembrar que Portugal também é um ativo membro da OTAN, tendo participado de diversas missões, como em Kosovo e atualmente auxiliando na supervisão aérea dos países bálticos. As autoridades portuguesas não tem muitos interesses em jogo com os atuais problemas no Leste Europeu tampouco enfrentarão pesados custos econômicos 33 com os conflitos na Europa Oriental e com as atuais restrições à Rússia, mas compreendem a necessidade que a União Europeia haja de maneira unida contra a Federação Russa. Nesse sentido, Portugal buscará, no Conselho Europeu, uma união do bloco em torno de uma resposta eficaz as pressões de Moscou, bem como defenderá que a PESC e a PSDC sejam fortalecidas, com a maior integração entre os países. República da Áustria A República da Áustria faz parte da União Europeia desde 1995 e não é uma das maiores entusiastas do processo de integração político, diplomático e militar do 33 Com exceção do setor alimentício de Portugal. Este tem sido prejudicado no fornecimento de ovos, milho e carne devido ao aumento de custos na agricultura da Ucrânia, que tem passado por momentos difíceis em termos de logística. 58 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU bloco continental. Movida largamente por interesses de cunho econômico, a Áustria tem uma relação bastante pragmática dentro das instituições da UE. O governo de Viena é tradicionalmente avesso a grandes conflitos e busca sempre resoluções que não venham a gerar qualquer tipo de instabilidade no cenário regional ou desentendimento e tensões entre os estados-membros. Em parte por isso, a Áustria raramente toma grandes iniciativas nos fóruns de discussão europeus e geralmente segue o posicionamento de sua vizinha no Norte, a Alemanha. Além disso, a Áustria, desde o anos do pós-Guerra, segue uma política de neutralidade estabelecida em sua Constituição Federal e, por isso, não faz parte de organismos como a OTAN. Ademais, o governo atual enfrenta fortes pressões de uma oposição eurocética, que não deseja a cessão de maiores poderes à UE e que quer uma Áustria mais autônoma no cenário global moderno. Diante das tensões na Ucrânia e demais países do leste, contudo, para defender seus interesses, a Áustria tem sido obrigada a ser mais participativa nas discussões em Bruxelas, embora este não seja o costume de sua diplomacia. Em prol de interesses econômicos, o governo de Viena tem sido uma força de resistência, dentro da União Europeia, às políticas de sanções à Federação Russa Semelhante a outros países da Europa central e oriental, como a Eslovênia, a Eslováquia, a Grécia e a República Tcheca, a Áustria possui relações econômicas bastante promissoras com a Federação Russa e possui um histórico recente de relações amistosas em termos políticos. O país tem forte interesse nos projetos que a Rússia pode oferecer, como investimentos em infraestrutura e no setor energético – 70% do gás da Áustria vem da Rússia (GRESSEL, 2015). A sua estatal ÖVM tem projetos com a russa Gazprom e os dois países tem o interesso conjunto na criação do gasoduto South Stream. Ademais, os bancos austríacos possuem fortes investimentos na Rússia e dependem de um mercado estável e sem restrições para bons rendimentos. Em suma, diante do Conselho Europeu, motivadas pelos seus interesses econômicos, as autoridades austríacas resistirão às maiores pressões contra os russos e lutarão para que soluções pacíficas e o diálogo com Moscou sejam consideradas como alternativas viáveis pelas demais autoridades europeias. República do Chipre O Chipre é uma pequena nação do Mediterrâneo, com um pulsante setor de turismo e de pesca, e faz parte da União Europeia desde 2004. Ainda que antes fossem XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 59 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU engajadas na aproximação cada vez mais intensa ao bloco europeu, as autoridades cipriotas não tem conservado uma relação inteiramente positiva com Bruxelas e com outras nações maiores da UE. Tal situação decorre de uma grave crise bancária que assolou o país em 2012, depois que as renegociações nas dívidas gregas atingiram fortemente o capital dos dois principais bancos do país . O Chipre conseguiu negociar um acordo de resgate financeiro com as autoridades europeias e com o Fundo Monetário Internacional, contudo, uma série de tensões fez com que o governo de Nicósia acabasse por se aproximar da Federação Russa, cujas as ofertas de empréstimos e de apoio monetário se mostraram muito atraentes. Na atualidade, Moscou tem conservado laços muito intensos com o Chipre, apoiando projetos de infraestrutura, disponibilizando gás natural a preços razoáveis e trazendo fortes investimentos diretos. Ademais, uma minoria russa compõe um importante elemento da sociedade civil do país; magnatas migram para esta nação, atraídos pelas "frouxas" regulações financeiras e baixos impostos, e muitos trabalhadores vêm ao Chipre com as novas oportunidades de emprego e as novas demandas de especialistas e técnicos criadas pela ajuda de Moscou. Com as tensões no leste do continente, o Chipre se tornou um importante defensor das autoridades do Kremlin dentro dos inúmeros fóruns de negociação europeus. O Chipre tem se juntado a países como a Áustria, a Grécia e a Eslovênia e liderado um movimento de forte oposição às sanções mais duras contra a Rússia. Segundo as lideranças do país, setores estratégicos da economia cipriota dependem da participação russa, e restrições severas à Moscou só prejudicam diversos países do sul da União Europeia, que lutam até hoje para se recuperar da recessão de 2009 e da crise das dívidas públicas. Ademais, com os Acordos de cessar fogo em Minsk, os cipriotas, que jamais desejaram as ações contra Moscou, lutam o quanto antes para encerrá-las. Muito embora tenha se posicionado timidamente amigável à Ucrânia, quando a Crimeia foi anexada, não há uma preocupação da República da Chipre em defender Kiev das pressões russas, tampouco lhes importa que os ucranianos se aproximem da UE. Em suma, por mais que o Chipre faça parte do bloco europeu, dadas as necessidades atuais, o grande objetivo deste país é continuar sua boa relação com a Federação Russa e manter os fortes fluxos de capital vindos do Leste, que tem promovido desenvolvimento e atenuado a perda de bem estar dos últimos anos. 60 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU República da Irlanda A Irlanda é um país-membro do bloco europeu desde sua entrada na Comunidade Econômica Europeia em 1973. Desde então, o país vem se comprometendo fortemente com o projeto de integração politico-econômico-social do continente e sua população tem se mostrado muito favorável às determinações definidas pelos fóruns de discussão em Bruxelas, como foi visto pelos mais de 60% dos votos observados em um Referendo sobre o Pacto Fiscal entre as autoridades de Dublin e da União Europeia. Nesse sentido, a Irlanda segue uma linha de constante cooperação com os demais países-membros, defendendo uma PSDC e uma PESC forte que permita uma voz unida diante das diversas tensões que atinjam e afetam este bloco regional. Diante da Crise na Ucrânia, a Irlanda tem seguido caminhos semelhantes àqueles tomados por grandes nações como a Alemanha e a França, acompanhando em grande parte as decisões conjuntas destes. Apesar de ter um nível de exportar o equivalente a € 600 milhões para a Rússia e importar € 100 milhões desta, o governo irlandês tem sido bastante favorável às atuais políticas de sanções promovidas pelo Conselho Europeu, bem como tem sido favorável as políticas de integração da Ucrânia. Dublin defende a atual aproximação da União Europeia ao governo ucraniano, contundo, tem também lembrado sobre a urgência de reformas que tornem o país mais transparente, economicamente sólido e que respeite de maneira intensa os direitos das minorias. A Irlanda, contudo, não é uma nação belicista, considerada uma nação neutra em termos de defesa, e busca uma solução pacífica e diplomática para o Leste, que fortaleça os laços econômicos da Ucrânia com a UE, mas que não alimente mais conflitos. República Tcheca e República Eslovaca A República Tcheca e a Eslováquia são países membras da União Europeia desde 2004 e consideram seus laços com o bloco importantíssimos em termos diplomáticos e econômicos. Há um interesse, portanto, do fortalecimento da UE e não se deseja por parte de ambas as nações entrar em grande conflito com os posicionamentos de Bruxelas, Paris e Berlin. Sendo duas nações originárias da antiga República Socialista da Tchecoslováquia, possuem o histórico comum de estarem XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 61 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU constantemente sobre a esfera de influência de Moscou. Em 1968, por exemplo, o país sofreu uma intervenção da URSS, ao longo do momento liberalizante que passava o país na “Primavera de Praga” e isto foi um evento que marcou grande parte da população de ambas as nações. Nesse sentido, quando a Ucrânia sofreu a intervenção da Rússia na região da Crimeia, ambos os países se mostraram bastante críticos das ações determinadas pelas autoridades do Kremlin e dos separatistas russos e buscaram uma aproximação com o novo governo de Kiev. Defendeu-se fortemente o Acordo de Associação à União Europeia, bem como tem-se oferecido apoio energético, técnico e econômico aos ucranianos, que hoje tem sofrido inúmeras pressões da Federação Russa. Contudo, apesar de terem auxiliado a Ucrânia de diversas formas e de serem favoráveis a sua progressiva integração ao bloco europeu, os tchecos e os eslovacos possuem uma série de parcerias econômicas com a Federação Russa que ainda desejam ser mantida. Ademais, setores como o de aço, de armas, de alta tecnologia, da produção de frutas e de gás dependem, no caso do último, do fornecimento russo e, nas demais áreas, do mercado da Rússia para que sejam bem sucedidos. A Eslováquia, em particular, tem sido uma das grandes vozes no Conselho Europeu contra as políticas de sanções e buscam que elas venham a ser gradualmente reduzidas para preservar sua economia. A República Tcheca, por enquanto, tem seguido uma política alinhada com as grandes potencias da Europa, apoiando as sanções, mas está preocupada com os efeitos de longo prazo destas restrições econômicas e há diversos líderes importantes do país, como o próprio Presidente tcheco, que tem defendido um approach diferente para tratar das atuais tensões no Leste, com maior diálogo aos russos. Em suma, no Conselho Europeu, ambas as nações serão bastante abertas ao suporte dado aos ucranianos e a manutenção do projeto de integração político-econômico da UE, mas deverão também se preocupar fortemente que o bloco reavalie a forma como tem interagido com a Rússia, defendendo que a política externa comum seja mais orientada pelo diálogo e menos pelo conflito com o governo do Kremlin e que as sanções venham gradualmente a ser reduzidas. República de Malta Malta é uma pequena ilha mediterrânea que faz parte da União Europeia desde 2004 e tem sido uma grande apoiadora do processo de integração europeu, ainda 62 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU que, em âmbitos de segurança e defesa, se posicione como uma nação neutra. Diante das atuais tensões no Leste Europeu, a política externa do país segue algumas semelhanças com outras nações do sul da Europa, como o Chipre e a Grécia, muito embora haja uma diferença crucial: o governo em Valetta conserva ainda relações boas com as autoridades centrais da UE, bem como não costuma alimentar o conflito com Bruxelas, posição que tem sido tomada constantemente pelo governo de Atenas. A República de Malta, nesse sentido, tem buscado manter relações econômicas fortes com a Rússia, especialmente no seus setores de serviços financeiro e de turismo, e é mais uma das nações que está interessada na redução de sanções à Moscou. Além disso, o governo do país tem se preocupado com a forma como o bloco europeu tem tratado o conflito e acredita que é preciso haver mais pragmatismo na hora de se relacionar com os russos. Em entrevista ao site Debating Europe, o Ministro para Assuntos Estrangeiros, o senhor George Vella alertou que era preciso compreender a frustação em Moscou gerada por uma aproximação da Ucrânia à União Europeia, além de dizer de maneira polêmica que “a Crimeia se foi”. Na mesma entrevista, o Ministro, de forma muito semelhante às autoridades em Moscou, mostrou sua preocupação com as minorias russas dentro das fronteiras ucranianas, prezando para que o novo governo de Kiev respeite os direitos deste grupo. Dessa forma, no Conselho Europeu, o governo de Valetta defende que maior diálogo com o Kremlin faz-se necessário, que a redução das sanções à Rússia sejam discutidas e que um caminho unicamente diplomático e pacífico seja realizado para conciliar tanto os interesses da União Europeia e da Federação Russa no Leste Europeu. * = Delegação Convidada XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 63 XII MODELO INTERCOLEGIAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONSELHO EUROPEU 6. Referências Bibliográficas BATES, Rachel, FURNEAUX, Holly, and MASSIE, Alastair, Charting the Crimean War 19: Interdisciplinary Studies in the Long Nineteenth Century, 20 (2015) Disponível em: <http://dx.doi.org/10.16995/ntn.725> Acesso em: 1 de junho de 2015 BANCO DE PORTUGAL. Pacto de Estabilidade e Crescimento. Disponível em: <http://www.bportugal.pt/ptPT/OBancoeoEurosistema/SistemaEuropeudeBancosCentra is/PactodeEstabilidadeeCrescimento/Paginas/default.aspx#nota 2 >. 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