D. Maria Pia - Palácio Nacional da Ajuda

Transcrição

D. Maria Pia - Palácio Nacional da Ajuda
Maria Pia, Princesa de Sabóia, Rainha de Portugal
D. Maria Pia de Sabóia nasceu em Turim em 16 de Outubro de 1847. Filha de Vítor
Manuel II e da Arquiduquesa Maria Adelaide de Habsburgo Lorena, era a mais nova
dos cinco filhos do casal.
Quando da morte da Rainha Adelaide, a 20 de Janeiro de 1855. Maria Pia tinha 7 anos.
A sua infância e adolescência foram confiadas à Condessa de Villa Marina, sua aia, e a
Marquesa Paulina de Pallavicini encarregou-se da sua educação; como governantas
estavam ao serviço as senhoras Dária de Salasco e Camila de Foras.
A educação que recebeu era semelhante à das outras princesas europeias. Aprendeu
gramática, geografia, história, desenho, educação musical. Foi uma discípula razoável,
mas não se aplicava muito ao estudo. Era irrequieta, com uma personalidade forte, por
vezes caprichosa; tinha o seu lado meigo, mas a perda da mãe aos sete anos marcou-a
profundamente. Tinha jeito para o desenho e para a música, mas dificuldade na
aprendizagem de línguas estrangeiras. As cartas que iria escrever a D. Luís seriam
sempre em francês, com algumas palavras em italiano, de permeio.
Maria Pia e seus irmãos viviam no Palácio de Turim e frequentavam outros palácios
como, Moncalieri, Racconigi, Casotto e Stupinigi mal sabendo a jovem princesa que iria
acabar os seus dias em Stupinigi, num exílio forçado, após a implantação da República
em Portugal, em 1910.
Mas em Portugal a vida da Família Real corria com imensos problemas – as mortes
sucessivas de vários príncipes e do próprio rei D. Pedro V trouxeram o luto à nação
portuguesa. Estando D. Luís em Compiègne quando morreu D. Pedro V, em 11 de
Novembro de 1861, D. Fernando, seu pai, assumiu a regência até ao regresso do novo
rei. D. Luís, aos 23 anos, foi obrigado a abandonar a sua carreira marítima para se
dedicar ao reino. Mal chegou, foi ocupar o trono, jurando a constituição e confirmando
o ministério presidido pelo Marquês de Loulé. O cerimonial de inauguração do seu
reinado, visto não haver coroação, ocorreu a 22 de Dezembro de 1861.
Havendo urgência no casamento do rei com uma princesa europeia, a escolha recaiu
sobre Maria Pia de Sabóia. D. Luís anunciou publicamente a 29 de Abril, no aniversário
da outorga da carta constitucional, a sua intenção de casar, e as duas câmaras
regozijaram-se com esta decisão.
A escolha de D. Maria Pia para mulher de D. Luís não foi consensual. De um lado,
havia os conservadores – católicos e legitimistas –, que se manifestavam contra o
enlace, acusando D. Luís e seus conselheiros de seguirem uma política hostil ao
catolicismo e à Igreja de Roma, visando ainda um plano urdido por Lisboa, Turim e
Paris para expulsar os Bourbons do trono espanhol, fazendo da Península Ibérica um só
reino sob o ceptro português. Do outro lado estavam os progressistas, que apoiavam
inequivocamente o enlace, confiando no espírito liberal de D. Luís e na sua lucidez para
ter escolhido uma princesa italiana.
Fosse como fosse, o contrato de casamento foi negociado. Pela parte portuguesa, por
Luís António de Abreu e Lima, visconde e conde da Carreira e, pela parte italiana, por
Jacques Durando, Ministro dos Estrangeiros, e por Jean Nigra, senador. O contrato foi
concluído em Turim, a 9 de Agosto de 1862. A cerimónia do casamento por procuração
ocorreu em Turim, a 27 de Setembro de 1862, na capela do palácio real. D. Luís foi
então representado por Eugénio de Sabóia Carignan D. Maria Pia levava um diadema de
diamantes e um rico vestido com enfeites de renda, ofertas dos Imperadores dos
Franceses, Napoleão III e Eugénia de Montijo. A bênção nupcial foi dada pelo
Arcebispo de Génova e assistiram à cerimónia Vítor Manuel II e seus filhos, o príncipe
Napoleão, a princesa Matilde, a duquesa de Génova, os cavaleiros da Ordem da
Anunciada, os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, os ministros e os
príncipes dignitários do Estado, bem como o marquês de Loulé que se fez acompanhar
da delegação portuguesa.
No seu diário, a já Rainha de Portugal escreveu que a 27 de Setembro se casou por
procuração com Luigi Re di Portogallo, na Capela Real, fazendo ainda comentários
íntimos sobre a decisão que tomou e sobre o seu futuro, reconhecendo que tinha de
seguir o seu destino.
A 9 de Agosto de 1862, foi assinado, em Turim, o tratado matrimonial com 15 artigos:
Art. 1º – O rei Vítor Manuel II acedia ao pedido do rei D. Luís I de Portugal
concedendo-lhe a mão de sua filha, a princesa Maria Pia de Sabóia. O casamento por
procuração devia verificar-se em Turim, no mês de Setembro, e por palavras de
presente, em Lisboa, logo que aí chegasse a rainha.
Art. 2º – Depois do casamento por palavras de futuro, verificado em Turim, seria a
rainha conduzida a Génova, à custa do rei de Itália; e depois de entregue ao Comissário
de Portugal, embarcaria para Lisboa em navio de guerra português.
Art. 3º – O rei de Itália dava quinhentos mil francos de dote.
Art. 4º – A noiva conservava o direito a qualquer herança que em Itália lhe pudesse
caber de qualquer modo, podendo dispor dela como quisesse.
Art. 5º – O rei de Itália dava cem mil francos para enxoval, e jóias no valor de
duzentos e cinquenta mil francos. Tanto estes bens como os que fossem adquiridos
durante o matrimónio teriam a natureza de parafernais, houvesse ou não filhos.
Art. 6º – O dote devia ser entregue ao tesouro português, vencendo juro de cinco por
cento ao ano, pago aos trimestres, ou empregado em bens de raiz, cessando neste caso o
juro e a hipoteca.
Art. 7º – O rei de Portugal dava de hipoteca ao dote de sua esposa a parte dos
rendimentos do estado que fosse suficiente para isso.
Art. 8º – O rei de Portugal dava à rainha sua esposa uma dotação de 60.000$000 reis
anuais, na conformidade da lei de 1 de Julho de 1862.
Art. 9º – As despesas da casa da rainha, damas, criados, etc. ficavam a cargo da sua
dotação.
Art. 10º – Ficando viúva, a rainha conservava a sua dotação.
Art. 11º – Ficando viúva sem filhos, e residindo em Portugal, teria, além da dotação,
um palácio para habitar. Se, porém, fosse residir fora do reino, só teria metade da
dotação e não teria direito a indemnização alguma pela habitação que abandonasse.
Art. 12º – Ficando viúva sem filhos, residindo ou não em Portugal, podia dispor de
todos os seus bens, e ser-lhe-ia restituído o dote, vencendo cinco por cento de juro até
completo reembolso.
Art. 13º – Ficando viúva com filhos, teria, querendo, palácio de residência em
separado. Se, porém, saísse de Portugal, só teria metade da dotação e um terço dos bens;
dos outros dois terços, que pertenciam aos filhos, só gozaria usufruto na razão de cinco
por cento ao ano.
Art. 14 – Ficando o rei viúvo sem filhos, o dote e bens volveriam aos herdeiros da
rainha.
Art. 15º – Devia este tratado ser ratificado dentro de dois meses, ou antes se possível
fosse.
A notícia do enlace de D. Luís trouxe grande regozijo a Portugal e a Itália. Não
podemos esquecer que a soberania dos Sabóias data do séc. XI, ao dar ao Reino a
princesa Mafalda, que casou com D. Afonso Henriques; que, em 1521, a Infanta
Beatriz, filha de D. Manuel I, casara com o Duque de Sabóia, Carlos III, tendo o Palácio
da Ajuda uma tela da autoria de Enrico Gamba, executada em 1870, representando a sua
chegada a Vila Franca de Nice; e que, em 2 de Agosto de 1666, D. Maria Francisca
Isabel de Sabóia chegava a Lisboa para casar com D. Afonso VI. Acresce ainda que o
rei Carlos Alberto, avô de Maria Pia, escolheu a cidade do Porto para o seu exílio
voluntário, após ter sido derrotado na batalha de Novara, em 1849.
“Estes laços de família contraídos entre as duas dinastias, consolidaram alianças antigas,
contribuíram poderosamente para a prosperidade das duas nações” – palavras proferidas
pelo Visconde da Carreira ao Rei Vítor Manuel, por ocasião do pedido da mão de Maria
Pia.
A princesa mostrou, nos seus 14 anos, como já tinha sentido de responsabilidade social
quando, antes de partir, entregou ao síndico de Turim 20 mil francos para distribuir
pelos pobres. Também pediu ao pai para decretar uma amnistia para todos os presos
políticos, tendo Vítor Manuel acedido ao pedido. As virtudes da jovem Rainha cedo se
começaram a revelar – a educação recebida pela sua mãe, a rainha Adelaide, ensinoulhe o “zelo evangélico, caridade ardente e constância nas adversidades”, bem como “as
primícias de fé e de religião”, mas o seu carácter decidido, por vezes até duro, foi posto
à prova em Lisboa. Foi voluntariosa e centralizadora, defeitos que se podem tornar
qualidades quando aplicados em causas justas.
A correspondência trocada entre D. Luís iniciou-se nessa altura e a delicadeza de
sentimentos, votos de amor eterno, sempre com a bênção de Deus a protegê-los, são
uma constante nesta correspondência, tão intensa em Agosto e Setembro. Mais perto do
casamento trocaram telegramas, alguns referentes a algum “código”estabelecido entre
os dois.
D. Luís começava por pedir a Maria Pia para não o tratar por Sire e usar o tu e agradecia
o facto de ela ter aceitado o pedido de casamento que fizera ao pai.
Em 23 de Agosto, o monarca confessava o desejo de vê-la e de beijá-la. Contava-lhe
como era a vida quotidiana na corte, onde a música e o teatro tinham um papel muito
importante. Nesta carta admitia ser grande fumador, razoável caçador, apaixonado pela
música e medíocre dançarino. O fumar era o vício ao qual estava preso e pedia-lhe que
não o impedisse de fumar….o que, aliás, teria uma resposta positiva. Todas as cartas de
D. Luís insistiam no seu grande amor, em como eram sinceras as suas palavras e que
Maria Pia iria conhecer um povo que saberia amá-la, tal como ele. Em Agosto
confessava-se triste “por ser noivo e não te poder ver”. “E hoje à noite”, escrevia,
“vamos tocar a «Marcha Triunfal» que compus expressamente para o dia da tua chegada
a Lisboa. Já falo italiano”.
Dia 24 de Agosto afirmava ir ficar uns dias em Lisboa para ver os apartamentos que lhe
estavam destinados. “Vou forrar o teu quarto de azul”, escrevia.
A 5 de Setembro mostrava contentamento pois o “contrato matrimonial foi hoje
aprovado nas duas câmaras”, em Lisboa. Dia 10 regozijava-se: “falta um mês para o
nosso casamento, que o bom Deus nos proteja para que sejamos sempre felizes”.
A última carta de D. Luís, sem data, foi a que D. Augusto levou à corveta Bartolomeu
Dias, após a chegada da rainha, sendo concluída assim: “chegarei pouco tempo depois
desta carta”.
Mas Agosto e Setembro não foram só meses para a troca de cartas. Muito trabalho,
iniciado aliás em Julho, estava já a decorrer no Paço da Ajuda. Sendo necessário
despejar alguns serviços aí sediados, o Conde da Ponte, no dia 8 deste último mês,
pediu ao Visconde de Sá da Bandeira a saída do arquivo do Ministério da Guerra das
salas do pavimento baixo. E logo dois dias passados, foram dadas ordens para esse
efeito.
Também as obras na zona envolvente do Paço constituíram um projecto tão urgente
que, segundo informava José Miguel Ventura em 1862, para a terraplanagem do largo
foram utilizados 762 trabalhadores, que desfizeram uma montanha de 9 a 15 palmos de
altura, enquanto outros 200 construíram a rampa que pôs o Palácio em comunicação
com a Calçada da Ajuda.
O mesmo autor referia também, detalhadamente, alguns dos trabalhos realizados no
Paço, para a vinda da Rainha.
Assim, a Sala da Ceia, onde decorreu o banquete de casamento e que serviu também
para o baile realizado oito dias depois, é descrita com grande pormenor: “É esta a
notavel sala dos «tres estados» e hoje a mais rica que ha em Portugal. […] As suas
immensas paredes são forradas de setim branco com grandes fachas azues. As fachas
são guarnecidas com molduras douradas. A seda d’esta sala foi fabricada em Lisboa. Ha
na sala […] quatro espelhos monstros, com as molduras maiores e mais ricas que temos
visto. Ha no centro da sala tres lustres. O do centro é de 40 luzes. São todos de metal
dourado com ornatos de crystal. Na altura de um terço da sala ha uma ordem de placas,
tambem de metal e crystal. Fez-se-lhe um espaçoso coreto para a musica. Todas as
portas são douradas. O solho é de Flandres, todo novo, e feito aos quadrados de taboas
eguaes, de tres polegadas de largura. […] [O] tecto [é do] pintor Taborda.”
Também a sala contígua – hoje denominada Sala de D. Carlos –, onde foi servida a ceia
oito dias depois do banquete de casamento, é assim descrita: “As paredes estão
estucadas a lustré, e sobre o lustre ornatos a oleo. As portas são douradas. Sobre cada
porta […] ha enormes espelhos. Quatro riquissimos lustres, todos de crystal, e 20 placas
de 20 lumes cada uma, além de seiscentas luzes em castiçaes e serpentinas de prata,
distribuidas no bufete, hão-de tornar esta sala n’um perfeito paraizo. O bufete é em
fórma de meia laranja. Eleva-se no fundo da sala a toda a altura d’esta. Desde cima até
baixo hade ser guarnecido com as pratas da casa real. No centro será collocada uma
pequena baixella de ouro. Nas extremidades do grande bufete mas em toda a volta d’elle
[…] estarão as viandas”.
As aquisições para o quarto da Rainha, de que D. Luís falava nas cartas que enviava a
Maria Pia, decorreram com a colaboração do Consulado de Portugal em Londres e da
Legação de S.M.F. em França, mas foram da responsabilidade do Arquitecto da Casa
Real, Possidónio Narciso da Silva, sempre segundo as indicações de D. Luís.
Como a grande Exposição Universal de Londres decorria de Agosto a Outubro, não foi
possível encomendar uma mobília especialmente executada para o efeito, como seria
habitual.
A mobília estilo Napoleão III, adquirida em Paris, na Maison Krieger é de madeira
lacada imitando ébano ou folheada a madeira escura, com aplicações de metal
embutido, e foi montada poucos dias antes da ratificação do casamento em Lisboa:
cama com colchão, secretária com alçado, toucador, consola e espelho. A cama, posta
num patamar mais elevado, abrigava-se sob um dossel com as armas de aliança de
Portugal e Sabóia. As paredes, tal como D. Luís informara a sua noiva, foram forradas a
cetim azul com ornamentos dourados.
O fogão de parede, em mármore preto, foi adquirido em Inglaterra e tem aplicados o nó
sabaudo bem como outros motivos heráldicos. O dossel, o cortinado, passamanaria de
cordões e borlas, tudo é feito em seda. A alcatifa é aveludada. No tecto há uma pintura
antiga com o dístico “Providentia deorum quies augustorum”.
Também foram encomendadas em Paris peças decorativas para a consola, que chegaram
num vapor francês, a 25 de Agosto de 1862 duas ânforas em metal e uma taça em
alabastro.
A sala que hoje corresponde à Sala de Mármore – obra que viria a ser realizada por
Maria Pia em 1865 – foi forrada de novo, com papel azul e dourado. A actual Sala
Rosa (ex-Sala de Saxe), a primeira dos aposentos da Rainha, foi dividida em dois
espaços iguais, de planta quadrada. O primeiro destinava-se às criadas, que aguardavam
a rainha à saída do banho, que era tomado na sala adjacente, onde havia uma elegante
banheira colocada sobre um estrado e para o qual se subia por degraus forrados de
veludo carmesim. A água para o banho, tanto quente como fria, era conduzida por
encanamentos especiais com torneiras douradas. No quarto interior estavam as roupas,
toalhas e demais aprestos próprios de banho.
Dos muitos convidados para o casamento, alguns ficaram alojados no Paço e para isso
foi necessário mobilar quartos “com mais ou menos riqueza mas todos com riqueza.
Estes ocuparam uma grande galeria de quartos com janelas para o pátio; uns são para as
pessoas do sexo masculino que vem na comitiva da Rainha. Nos «busaninos», no andar
mais alto do Palácio estão os quartos para as Damas, senhoras e criadas, que devem
ficar no Paço. São ao todo 32 quartos”.
Logo que assente o consórcio de D. Luís com D.ª Maria Pia de Sabóia, em Julho de
1862, foi determinado que a condução da rainha, de Itália para Portugal, seria efectuada
a bordo da corveta «Bartolomeu Dias» – jóia da marinha de guerra portuguesa, lançada
à água quatro anos antes, em Blackwall, no Tamisa.
Este navio, de propulsão mista – à vela e a vapor –, com 63m de comprimento e
deslocando 2.377 toneladas, tinha lotação para 300 pessoas, entre tripulantes e
passageiros.
A sua escolha para capitânia da Divisão Naval constituída, juntamente com as corvetas
«Estefânia» e «Sagres», para trazer D.ª Maria Pia para Lisboa, não surpreende, vistos os
vários serviços desta natureza de que já fora incumbida anteriormente. Lembremos, a
título de exemplo, a viagem que efectuou em Maio de 1858, trazendo a bordo a rainha
D.ª Estefânia; ou a que transportou para a Alemanha, em Setembro de 1860, a infanta
D.ª Antónia e o príncipe Leopoldo de Hohenzollern Sigmaringen, após o seu casamento
em Lisboa; ou ainda a realizada em Maio de 1862, em que conduziu a infanta D.ª Isabel
Maria, de Lisboa a Civitavecchia, em Itália.
Certo é que a corveta começou a ser preparada para a missão, logo em Agosto desse ano
de 1862, com arranjos exteriores e interiores, merecendo estes últimos uma atenção
especial. Com efeito, quer D. Luís, quer o Chefe do Estado Maior da Marinha, quer
ainda o Inspector do Arsenal, estiveram a bordo no final do mês, para se inteirarem do
que era preciso fazer nas duas câmaras – a de cima e a de baixo – e darem as
competentes orientações. Estas câmaras correspondiam aos aposentos destinados a
receber a rainha. Por essa razão, foram designados para orientar os trabalhos da sua
decoração o pintor/cenógrafo Giuseppe Cinatti e o armador Gaspar. De um modo geral,
aproveitou-se o mobiliário existente, que servira as personagens régias que antes
viajaram na corveta, apenas com os restauros que se impunham. Cinatti veio logo a
bordo, acompanhado de vários operários e de um estofador para tirar medidas e, em
breve, atracaria ao navio uma lancha do Arsenal, para receber “[…] o trem da camara
[…]”:
6 cadeiras de charão;
6 cadeiras de “madeira branca”;
1 cadeira pequena de encosto;
5 cadeiras estofadas;
7 sofás;
2 “encostos de marqueza”;
1 banca pequena redonda;
4 mesas;
16 almofadas;
2 colchões de “marqueza”;
1 armação “da cama doirada”;
1 catre de lona;
2 bancos estofados;
6 cortinas de chita;
3 colchões;
2 encostos da “cama doirada”;
1 travesseiro;
2 almofadas;
1 capa de veludo da mesa da câmara;
4 cortinas de cassa;
1 armação “da costeira”;
1 reposteiro de sala;
1 mesa grande;
1 espelho da câmara;
10 candeeiros;
“[…] varios objectos de metal”.
Saíram ainda 44 peças pertencentes aos camarotes, para serem estofadas.
Assim vazias, puderam as câmaras ser ocupadas pelos operários que se ocuparam dos
arranjos na sua estrutura. Durante mais de uma semana e trabalhando de sol a sol,
acorreram a bordo pintores, estofadores, douradores e polidores.
A câmara foi “[…] forrada de novo de cor carmezi […]” e recebeu tapetes.
A 3 de Setembro, Francisco Soares Franco foi nomeado comandante da Divisão Naval,
tomando para Ajudante de Ordens o primeiro-tenente João Ribeiro Viana.
No dia 11 do mesmo mês, por decisão do Ministro da Marinha, foi ordenado que a
banda de música do Corpo de Marinheiros fizesse a viagem a bordo da corveta
Bartolomeu Dias e a charanga na corveta Estefânia.
Dois dias depois, Soares Franco recebia do Secretário de Estado dos Negócios da
Marinha e Ultramar as instruções para a viagem, em que se determinava que a esquadra
deveria largar a 14, Domingo, após ter recebido a bordo o marquês de Loulé –
previamente nomeado Comissário Plenipotenciário do rei D. Luís junto de Vítor
Manuel II – e mais comitiva. Mandava-se igualmente que rumasse ao porto de Génova,
com escala em Gibraltar, onde angariaria três especialistas em navegação no
Mediterrâneo. Estabelecia ainda a prioridade da disciplina a bordo, as diligências
necessárias para a obtenção de crédito financeiro em Génova e o extremo cuidado a ter
na navegação, quando do regresso, já com a rainha a bordo.
Aproximando-se o dia da largada, foram levados para o navio esponjas e outros
objectos de toilette, “[…] o Trem, Pratas, Roupas da Caza Real, e bagagens dos
Criados.”
Na véspera da partida, estiveram a bordo o rei D. Luís, os Ministros da Marinha e da
Fazenda, o marquês de Nisa e os condes da Ponte e de Rio Maior, entre muitas outras
pessoas.
Na manhã do dia 14 de Setembro, com todos embarcados, celebrou-se missa e pelas 11
¼ h a esquadra largou rumo a Itália.
No dia seguinte, pelas 7,30h da noite, aportou a Gibraltar, tendo recebido a bordo os
práticos de navegação do Mediterrâneo, na manhã do dia 16. Às 11h largou para
Génova, onde fundeou ao fim da tarde do dia 20. Na viagem navegou-se à vela e a
motor e ela só não foi mais rápida porque a Estefânia tinha um andamento menor. Cerca
da ½ noite, vieram de terra frutos e gelados para a gente notável que estava a bordo…
No relatório da viagem, elaborado no dia 5 de Outubro e entregue ao Ministro da
Marinha e do Ultramar, o Comandante Chefe da Divisão Naval, Francisco Soares
Franco, relata a ida a Turim no dia 23, tendo sido apresentado ao Rei Vítor Manuel a 25
e a Dª. Maria Pia na tarde de 26. Diz também que teve a honra de ter sido testemunha do
contrato nupcial, assinando imediatamente após o marquês de Loulé, e que foi
autorizado a convidar os comandantes dos navios da Divisão, para assistirem àquele
acto solene, o que se fez com grande satisfação de todos.
No dia 28, de volta a Génova, Soares Franco deu ordens para que, na ocasião em que o
comboio real passasse, os navios salvassem com 21 tiros, embandeirassem em arco e
tivessem as guarnições nas vergas; no tope grande da «Bartolomeu Dias» foram ainda
içados, a par, os estandartes de Portugal e de Itália.
No dia 29, às 10h da manhã, foram embarcados “dois caixotes e uma malla [com] as
joias e o dóte” de Sua Majestade a Rainha de Portugal. A restante bagagem chegara
umas horas antes.
Ao meio-dia e meia hora desse mesmo dia, embarcava a rainha D.ª Maria Pia. Vinha
acompanhada de seu pai, de seus irmãos e do príncipe Napoleão. Desse momento, pode
ler-se no seu diário: “O Papá, irmãos e Clotilde, o Tio e Tia acompanharam-me a bordo
da corveta «Bartolomeu Dias» portuguesa. Ouvi com atenção tudo o que o Papá me
disse. Naquela altura vi como me faltava a minha querida Mãe.”
Após o desembarque da família real, Sua Majestade a Rainha deu ordens para largar a
amarração. Eram 3h 05m da tarde. Foi o seu primeiro acto oficial, como soberana.
A Divisão Naval portuguesa iniciou assim o seu regresso, sendo acompanhada pelas
fragatas italianas «Maria Adelaide» – que levava a bordo o príncipe Humberto –,
«Itália», «Duque de Génova» e «Garibaldi», pelo vapor «Anthion», também italiano,
pelo iate francês que conduzia os príncipes Napoleão e Clotilde e por duas fragatas
russas.
Ao meio-dia do dia 30, o príncipe Humberto veio a bordo da «Bartolomeu Dias» visitar
sua irmã, o que lhe agradou muito, como ela escreveu no seu diário. Visita que se
repetiu a 3 de Outubro, quando estavam ancorados em Gibraltar. Às 6h do mesmo dia,
D.ª Maria Pia deslocou-se à fragata «Maria Adelaide», onde ficou com o irmão até às
7h. Durante essa hora – conta a rainha no diário –, pareceu-lhe “respirar de novo o ar de
Itália”. Ao regressar à «Bartolomeu Dias», escreveu que estava “muito bem arranjada”.
No dia seguinte, a esquadra largou de Gibraltar. A 5, de manhã cedo, tinham à vista o
“cabo do Espichel, Roca, Serra de Cintra”. Às 6h “Sua Magestade a Rainha veio para
cima do tombadilho”, onde permaneceu uma hora.
Antes de entrarem a barra, o príncipe Humberto veio para bordo da «Bartolomeu Dias».
Ambos os irmãos ouviram missa às 9h, ficando depois a sós, a conversar.
Pelas 11 ½ h, em Paço de Arcos, embarcaram várias personalidades para cumprimentar
a rainha, entre as quais o duque de Saldanha e o infante D. Augusto, que trazia uma
carta de D. Luís, em que, depois de informar que viria mais tarde, mandava entregar-lhe
“isto que te envia o papá [D. Fernando]”. Era um belo colar de diamantes.
Pouco depois, a esquadra fundeou frente a Belém.
“Às 4h – conta D.ª Maria Pia no diário – o Rei Luís veio visitar-me com o Rei Fernando
e a tia Isabel. Luís e eu gostaríamos de ficar a sós neste primeiro encontro, mas as
damas não saíram da sala”. D. Luís entrou e abraçou-a, mas estava muito comovido. O
pai apresentou-se e falou em italiano, o que foi bom. “Luís apresentou-me a sua corte e
à noite vi as iluminações no Tejo, que estava muito bonito”.
No dia 6 – continua a ler-se no diário – Maria Pia diz que se levantou às 6h, pôs o
vestido branco de Turim com cauda, véu e diadema que D. Luís lhe tinha mandado com
a coroa de flores de laranjeira de noiva. “Às 7h estava pronta, bem como toda a corte e
Humberto veio ter comigo”. Às 9h30 a Bartolomeu Dias fundeou em frente ao Cais do
Sodré. D. Luís saiu do Paço da Ajuda às 10h00 e no cortejo até à Praça do Comércio só
iam os coches de Estado. No rio, havia alas de embarcações, do Estado e de
particulares, para assistir ao desembarque. O inspector do Arsenal tinha ordens para a
formação das alas e para facilitar o trânsito real.
El-Rei e família embarcaram no bergantim real de sessenta remos para ir a bordo buscar
a rainha. Logo que Maria Pia pisou o solo de Portugal, repicaram os sinos, houve
foguetes e salvas de artilharia. Como se sentia muito emocionada, caminhava com
dificuldade, na sua “Pátria de adopção”. No desembarque foram recebidos debaixo do
palio da Câmara Municipal de Lisboa e conduzidos até ao pavilhão, tomando assento no
trono e, depois de ouvirem os discursos, receberam as chaves da cidade.
O pavilhão destinado a receber suas majestades tinha 350 m2 e albergava mais de
quatrocentas pessoas – corpos constituintes, corte e Câmara Municipal. Tinha 44
colunas. A cúpula, decorada com festões de flores artificiais, era rematada pela coroa
real. O pavimento era atapetado. Ao lado, as duas galerias, de 44m de comprimento e 9
m de largura, continham, cada uma, mais de 1000 pessoas. O pavilhão era iluminado
por grandes lustres dourados e de cristal, bem como as colunas, galerias, cúpula e coroa
real.
Nas janelas de toda a Praça foram colocados, alternadamente, os escudos de armas de
Portugal e da Itália. A iluminação da Praça, bem como a da fachada do Arsenal de
Marinha era feita com vidros de diversas cores, com as armas pintadas. Os arcos
triunfais, espalhados por Lisboa, foram realizados por equipas que conseguiram dar o
máximo brilho à recepção e demonstrar a alegria que este enlace trazia ao reino.
A obra do pavilhão era comparável às muitas que já se faziam noutros países, e a sua
grandiosidade mostra até que ponto foi importante a vinda de Maria Pia para dar alento
ao Rei, à corte e a todo o povo. Gastaram-se verbas muito importantes para todas as
cerimónias e nos cinco dias de gala houve oportunidade de mostrar à Rainha como
Portugal sabia receber bem e tudo fazer como as outras cortes europeias.
Acabada a cerimónia no Terreiro do Paço, formou-se um cortejo com catorze coches,
sendo o último o de Suas Majestades – um “monte de oiro…forrado de riquíssimo tissu
e cortinas de seda verde bordada a ouro e prata” –, tirado por oito cavalos emplumados,
entrançados de fitas azuis e brancas. Já o outro coche de gala – o penúltimo da ordem –
transportava D. Fernando, D. Augusto e o príncipe Humberto.
É interessante comparar as descrições de todas as cerimónias com as emoções vividas
pela Rainha e transcritas no seu diário. Estar num país desconhecido, casar com um rei
que nunca vira, ver-se admirada e observada por milhares de pessoas, foi um esforço
muito grande, para uma saúde com alguns problemas e para uma jovem de 14 anos.
A entrada de Suas Majestades em S. Domingos foi alvo de um rigoroso cerimonial,
aprovado a 29 de Setembro. Na longa lista de pessoas envolvidas na cerimónia,
destacamos as funções de:
Duque Mordomo-mor
Marquês Estribeiro-mor
Duque Comandante da Guarda Real
Conde Porteiro-mor
Marquês Reposteiro-mor
Oficiais- mores de serviço
Camareira-mor
Governador Civil
À porta da igreja os monarcas foram recebidos pelo Cardeal Patriarca, seguindo-se a
missa, finda a qual o mesmo prelado ratificou o matrimónio celebrado em Turim, no dia
27 de Setembro. O coro de cento e trinta e um músicos entoou o Te Deum
expressamente composto por Manuel Inocêncio dos Santos e dedicado a Suas
Majestades.
Maria Pia conta como em S. Domingos, ajoelhados, tiveram de dizer “O Sim” em
português: “Luís fê-lo, mas eu quase não tinha voz. O Patriarca Manuel Bento
Rodrigues abençoou-nos, de mãos dadas. Saímos da igreja quase à noite e às 8h
chegamos à Ajuda”, escreve no seu diário.
Os cinco dias de gala estabelecidos começaram com o jantar da família real a bordo da
«Bartolomeu Dias», no dia 5 de Outubro.
No 2º dia de gala – Casamento em São Domingos e entrada no Paço da Ajuda, no meio
da aclamação do povo ao longo das ruas engalanadas e iluminadas. No percurso tiveram
oportunidade de apreciar os arcos levantados em sua honra em vários sítios.
No 3º dia de gala – Foram visitar a Imperatriz D. Amélia e o Rei D. Fernando. À noite
assistiram no Teatro D. Maria II ao drama “Egas Moniz”. O Teatro tinha sido renovado
para aquela noite. O lustre, dourado de novo, iluminou a jovem rainha, que deixou
brilhar a sua juventude e beleza.
Às 10h00 da noite tomaram lugar na Tribuna Real, tendo o príncipe Humberto, D.
Fernando e D. Augusto tomado assento junto dos monarcas. Maria Pia trajava de branco
e, em vez de diadema, levava uma coroa de flores escarlates.
Tocaram-se os hinos de Portugal e de Itália. Suas Majestades saíram perto da meia noite, sempre aclamados pelo povo.
No 4º dia de gala – Receberam o Corpo Diplomático na Ajuda, bem como a corte e
tribunais. À noite foram ao Teatro de S. Carlos assistir à ópera Ernani, acompanhados
de D. Fernando, D. Augusto e do príncipe Humberto. Entusiasmo, palmas e vivas
receberam os monarcas, que agradeciam com vivo contentamento.
No 5º dia e último de gala – Toda a tropa da guarnição de Lisboa, em grande uniforme,
reuniu em parada no Campo Pequeno. Suas Majestades chegaram às cinco horas e a
jovem rainha, acompanhada da duquesa da Terceira, colocou-se defronte da tropa. ElRei D. Luís, a cavalo, acompanhado pelo príncipe Humberto, passou revista às tropas e
colocou-se ao lado da carruagem real.
Soberanos de vários países, muitos particulares e toda a Itália quiseram demonstrar à
Princesa de Sabóia a grande alegria sentida pelo seu casamento com o Rei de Portugal,
oferecendo-lhe presentes. Dos primeiros, embora desconheçamos o seu paradeiro,
destacamos:
D. Luís I - diadema com 4 mil pedras;
D. Fernando II - 3 jóias: alfinete, relógio e colar de safiras;
Rainha Vitória de Inglaterra - bracelete de um grande joalheiro de Londres;
Rainha Isabel II de Espanha – 8 cavalos andaluzes;
Imperatriz do Brasil – um colar de pérolas;
Imperatriz da França – um broche;
Papa – um álbum cravejado com pedras preciosas, com pintura de grande qualidade.
Dos oferecidos pelas cidades e comunidades italianas, hoje guardados no Palácio
Nacional da Ajuda, relevamos os seguintes:
Turim –Cómoda–oratório, oferecida pela família Martinotti;
- Mesa de ébano com as armas de aliança de Portugal e Sabóia, guardando um
álbum de aguarelas.
Milão –Catedral de Milão de Luigi Bisi;
- Vistas de Itália, óleo de Tetar van Elven.
Génova - Estojo com frascos de essências. Oferta de Steffano Frecceri, perfumista da
corte Italiana e criador da Acqua di Parma.
Florença –Taça em esmalte e pedras duras;
- Contador com pedras duras;
- Mesa de centro com tampo em pedras duras. Oferta da Cidade de Florença
- Contador.
Faenza –Mesa oval em talha dourada com embutidos;
- Mesa com pedras duras.
Ravena –Túmulo de Dante em prata.
Asti – Caixa em prata com monograma MP.
Nápoles – Diadema e Travessa de cabelo de coral;
- Escultura Resignação, de Shiginolfi.
Palermo –Escultura Ingénua, de
Colónia Italiana de Lisboa - Pasta com mensagem e desenho do monumento erigido no
Largo da Misericórdia, em Lisboa.
Mas é devido um destaque especial ao da cidade de Roma.
Na verdade, Roma foi a cidade que ofereceu o presente mais moderno para a época e o
mais valioso. É constituído por um estojo em veludo, encimado por Rómulo, Remo e a
Loba, em prata, contendo 33 peças de ourivesaria. Estas jóias, fabricadas por Castellani,
foram inspiradas nas descobertas de Herculano e Pompeia e tiveram eco nas artes
decorativas daquela época. Nas suas oficinas, não só restauraram peças antigas, mas
também as reproduziram, tornando moda a jóia de estilo arqueológico. Nesse sentido,
recuperaram as técnicas características da ourivesaria antiga, como a granulação, a
filigrana, o entalhe em pedras semipreciosas e o micro mosaico. Este conjunto consagra
a notável capacidade de execução desta famosa oficina romana e oferece a beleza e
perfeição de execução, dignas de uma princesa de Sabóia, Rainha de Portugal.
Na sua pátria de adopção, Portugal, Maria Pia foi como um raio de luz que entrou na
corte enlutada por tantas mortes sucessivas.
Durante quarenta e oito anos esteve em Portugal. Até 1889 como Rainha e após a morte
de D. Luís, como Rainha-Mãe. O seu porte, a sua figura, a sua generosidade e o seu
espírito moderno, quase vanguardista para a época, tornaram-na numa Rainha adorada
pelo povo e hoje lembrada por todos como o Anjo da Caridade.

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