Benfica – “Clube do Regime”

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Benfica – “Clube do Regime”
Benfica – “Clube do Regime”
Desde muito cedo me ensinaram que “uma mentira dita muitas vezes passa a ser verdade.” Mas, como sempre, nunca
dei ouvidos aos mais velhos que me tentavam ensinar a viver com este e outros dizeres populares e sempre preferi
acreditar que “mais rápido se apanha um mentiroso que um coxo” ou que “mentiras têm, sempre pernas curtas”.
Todavia, fui crescendo e abrindo os olhos à minha custa, percebendo por experiência própria que, afinal, muitas vezes
a mentira vence. Percebi, principalmente, no mundo da política e do futebol onde um mal entendido bem aproveitado
por pessoas mal intencionadas consegue transformar uma mentira repetida em verdade absoluta.
Como é óbvio, tanto num campo como no outro, só se deixa levar pelas mentiras quem não gosta de pensar por si
mesmo, quem prefere enveredar por falsas verdades – feitas por outros – e que, simplesmente têm de papagear. Só
assim se explica que jovens de 20 anos ainda acreditem que o que aconteceu nos campos de concentração estalinistas
e hitlerianos não foi um genocídio e que os maldosos dos comunistas e fascistas (alternadamente) deturparam as boas
e épicas intenções dos seus gurus políticos e civilizacionais. No futebol também é assim, e só por isso se explica que
continue a imperar a lógica do: “todos roubam, por isso, pelo menos o meu rouba para mim e, como tal, eu protegê-loei para sempre.”
Os adeptos assumem a plena condição de suporte do clube e dos seus representantes e escondem a cabeça na areia
para não verem crimes evidentes e, desse modo, conseguir proteger os seus dirigentes. Por outro lado, esses
dirigentes – melhor que ninguém – promovem a ideia de que são vítimas de uma sistema ultra complexo que, em toda
e qualquer situação os quer prejudicar. E quando dizem “nos quer prejudicar” não se referem aos dirigentes, mas sim a
todo o clube e mesmo às cidades a que pertencem de forma a incendiar um sentimento bairrista do século passado e
que alimenta a vontade de os adeptos apoiarem ainda mais os seus líderes mesmo que sejam criminosos.
Por mais amor que tenha ao meu clube (e amo-o desmesuradamente) existem valores superiores como, por exemplo,
a justiça. Exigi e apoiei a saída de Vale e Azevedo do Benfica, assim como a entrada dele na cadeia, por saber que fez as
coisas de modo errado, não justo e ilegal. Ele, também ele, incentivava e incendiava os adeptos com palavras de ordem
dirigidas a outro clube. Os adeptos gostavam e como muita gente diz: "se não fosse o Jardel, talvez ainda hoje fosse
Presidente"… Felizmente, os sócios correram-no e fez-se justiça.
Toda esta conversa tem uma razão essencial: a mentira de que o Benfica era um clube protegido por salazar te sido
dita muitas vezes com o objectivo duplo de menorizar as vitórias passadas do clube e modificar a história do futebol
Português e, mesmo, de Portugal. Ainda não o fizeram porque, felizmente, não podem nem conseguem mudar e
reescrever a história do futebol e a história de Portugal, mas reconheço que já conquistaram bastantes almas e mentes
(pouco preocupadas em pensar por si) para a sua batalha de uma vida. Muitas vezes esta mentira surge para
emcaputar problemas de alguns dirigentes e clubes com a justiça ou mesmo para dissipar as suspeições que a opinião
pública lança a algumas vitórias de alguns clubes.
Quem começou a promover esta mentira foi inteligente (e maquiavélico) porque pretendeu minimizar e transformar as
vitórias claras do Benfica em algo desprezível, assim como enaltecer uma espécie de luta contínua e activa a tudo o
que diga respeito a esse clube. Actualmente, qualquer adepto menos formado ou informado não hesita em lembrar
(mesmo que não se lembre e não saiba) aos colegas Benfiquistas que outrora foram beneficiados pela ditadura de
salazar. Esse argumento é de tal maneira repetitivo e ridículo que há muitos Benfiquistas que nem sequer lhe passam
troco, assim como há adeptos de outros clubes que quando confrontados com a verdade ficam estupefactos. Perante
isso, uns informam-se e deixam de falar nisso mas a maioria faz de conta que não ouve e continua a repetir a
lengalenga como mandam os seus superiores.
Não escondo a minha paixão pelo Benfica mas também não admito que me digam que adulterei dados ou omiti
informações na pesquisa que fiz e que de seguida vos apresentarei. Não sou jornalista mas estou habituado desde
muito novo a pensar por mim mesmo e, da mesma forma, que não me deixei levar pelo bairrismo de Vale e Azevedo –
mesmo representando o meu clube – também agora não me calo perante uma tentativa vergonhosa e maliciosa em
mudar a história do Benfica e de Portugal.
O Benfica venceu mais provas nacionais sem salazar no poder do que com ele:
O Campeonato Português de futebol conta com 73 edições, 31 ganhas pelo Benfica. antónio de oliveira salazar liderou
o nosso país entre 32 e 68 deixando saudades a muitos e raiva a outros (eu estou nestes últimos). Desde a época 33/34
a 68/69 passaram 35 temporadas. Nesse tempo o Benfica venceu 14 campeonatos, contando com o de 68/69; o
Sporting venceu 12 e o Porto 8 vezes. Ora bem: de 31 títulos o Benfica conquistou 14 enquanto salazar foi presidente
do conselho e 17 com os outros todos. Agora façam o simples raciocínio: 73 edições de campeonato; 35 decorreram
sob a égide de salazar e o Benfica venceu 14; 38 decorreram sem salazar no poder e o Benfica venceu 17 vezes,
enquanto o Sporting venceu 6 vezes e o Porto 17 vezes. Ou seja o Benfica venceu tantos (ou mais, em termos
percentuais) títulos sem salazar do que com salazar.
Em 84 edições da taça de Portugal o Benfica venceu 27, 14 sem salazar e 13 com salazar. Mais uma vez: com ou sem
ele o Benfica mantém sempre a senda vitoriosa.
As participações do Benfica nas provas Europeias demonstram a grandiosidade do clube a supremacia desportiva em
relação aos adversários:
O Benfica conta com 8 finais europeias (7 na taça dos campeões europeus e uma na taça uefa) e duas meias-finais
(taça das taças). Venceu ainda a taça latina (que veio dar origem à taça dos campeões europeus) e uma edição da taça
ibérica (em 83/84). Bem, parece que não havia pai para nós naquela altura, em Portugal, no estrangeiro e pelo
caminho...
Época dourada (em termos internos) do Benfica coincide com o período mais esquerdista de Portugal, a década de
70:
Em 10 edições do campeonato, na década de 70, o Benfica limpou 6 e conseguiu fazer dois campeonatos sem perder
um único jogo. Em 74/75 o Benfica foi campeão, inclusive foi o 1º de uma sequência de 3 (tri). Conhecem algum
período da história política Portuguesa onde estivéssemos mais virados à esquerda? Quem ganhou mais nesse
período? O Benfica, claro!
Concluindo: se quiserem relacionar futebol com política terão que dizer que o Benfica foi o mais forte com salazar, sem
salazar, com marcelo caetano, com os governos provisórios, com Mário Soares, Mota Pinto, Balsemão, Freitas do
Amaral, Lurdes Pintassilgo. Já agora, continuando a relação política-futebol, com 10 de Cavaco o Benfica venceu 5 e o
Porto 5. Com Guterres o Porto fez o penta, seria justo eu dizer que Guterres favoreceu as vitórias do Porto?
Obviamente, não!
Nos 20 anos seguintes à revolução de Abril o Benfica venceu 10 campeonatos e 7 Taças de Portugal, contra 8
campeonatos e 5 taças ganhas pelo Porto e 2 campeonatos e 2 taças conquistadas pelo Sporting. Elucidativo!!!
Salazar censurou o hino do Benfica:
O Benfica era de tal forma protegido por salazar que foi obrigado a mudar o seu hino oficial pelo ditador. Quem não
conhece a história do Benfica pode pensar que o seu hino de sempre é a música de Luís Piçarra – aquela das papoilas
saltitantes – mas isso não corresponde à verdade. O hino oficial do Benfica, composto por Bermudes, chamava-se
"Avante Benfica" e foi censurado por Salazar por ser entendido como uma afronta ao seu poder. E, na verdade, poderia
ser considerado como tal, já que tanto Bermudes como outros dirigentes do clube eram, públicos, opositores de
salazar.
Até Miguel Sousa Tavares reconhece:
Miguel Sousa Tavares, adepto portista reconhecidíssimo, no seu último best seller, Rio das Flores (que li e adorei, mas
não tanto como o Equador), apresenta um excelente trabalho acerca da evolução das ditaduras de direita na primeira
metade do século XX. A ditadura de Franco, o fascismo de Hitler e Mussolini, o estado novo em Portugal e a ditadura
de direita no Brasil foram os regimes explorados pelo autor. Miguel Sousa Tavares não podia ser mais explícito, e dada
altura, refere: “Sporting era o clube do regime”. Contudo, como sempre, salazar aproveitou-se das vitórias do Benfica
para se promover e credibilizar como faria qualquer ditador. Para além de referir isso no livro (que aconselho) também
o fez na sua crónica da Bola. Não se esqueçam que para além de escritor Miguel Sousa Tavares é jornalista e um
comentador credível, como tal, não diria uma coisa destas por dizer...
Dirigentes contra poder nas direcções do Benfica:
Quem sabe um pouco do que fala bastava pensar que o Benfica foi o único clube Português que, desde sempre,
implementou o funcionamento de assembleias gerais democráticas e eleições livres para os órgãos sociais (mesmo
durante o período em que Portugal prescindia de eleições). Só esse facto abona a favor de um clube que, sempre
virado para o povo, lhe dava a possibilidade de escolher e decidir dirigentes e políticas. Contudo, não posso deixar de
referir que na história do Benfica contam-se imensos dirigentes contra poder que deitam por terra qualquer ligação do
Benfica ao fascismo de salazar. Manuel Conceição Afonso, Félix Bermudes (o autor do hino censurado), Tamagnini
Barbosa e Júlio Ribeiro são alguns desses exemplos. Mais, este último declarou publicamente que não se
recandidataria à presidência do clube porque, precisamente, sabia estar a prejudica-lo junto do poder central. Para
finalizar: José Magalhães Godinho - conhecido opositor do regime - foi o primeiro director do jornal do Benfica.
Datas e acontecimentos engraçados:
O estádio das antas foi inaugurado dia 28 de Maio (dia comemorativo da revolução que deu origem ao estado novo);
quando o Benfica foi ocupar o campo 28 de Maio (onde jogava o Sporting) muda o seu nome para, simplesmente,
estádio do Campo Grande...
É, também, curioso saber que a selecção nacional só jogou o estádio da luz 17 anos depois de ser construído, em 1971.
(Talvez a isto esteja ligado o facto de as bandeiras do Benfica terem sido empunhadas por muito como substituição das
bandeiras soviéticas) Já o tinha feito em todos os outros campos mas na Luz havia alguém que não deixava, quem
seria?
Mais um exemplo deste tipo de atrocidades cometidas pelo regime foi o facto de obrigarem o Benfica a jogar a final da
taça de Portugal em 61/62 em casa do adversário (vitória de setúbal) um dia depois de o Benfica ter vencido o
Barcelona na final da taça dos campeões europeus. Os 15 jogadores que estiveram nesse jogo estavam em viagem no
dia do jogo em Setúbal que perdemos 1-0...
Em 54/55 O Benfica apesar de campeão não foi indicado para a Taça dos Campeões Europeus porque naquela altura os
clubes eram sugeridos pelas entidades nacionais responsáveis e o Benfica, mesmo sendo campeão, foi preterido em
favor do Sporting...
Não deixar sair Eusébio foi prejudicial ao Benfica:
O provincianismo que anda de mãos dadas ao futebol faz com que muitos adeptos anti-Benfica refiram o facto de não
deixar sair Eusébio como prova de que salazar protegia o Benfica. Meus caros, Eusébio era o melhor, é o melhor e
sempre! Mas o Benfica era de tal ordem superior que mesmo sem ele continuaria a vencer. O grande problema é que a
transferência que teve para se realizar com o Inter e com a Juventus tornaria o Benfica num clube muito poderoso em
termos económicos e isso causaria problemas ao regime que sempre prejudicou o Benfica, precisamente, por ser um
clube de origem humilde e sem recursos como os clubes formados por aristocratas (Porto e Sporting, por exemplo).
Mais, se Eusébio saísse o nome do Benfica iria mais além e quando ele regressasse continuaríamos a ter nas nossas
fileiras o melhor jogador português de todos os tempos e, quem sabe, o melhor do mundo de todos os tempos. Não o
deixar sair só prejudicou o próprio e o Benfica.
Para já fico-me por aqui, foi um post que me deu imenso trabalho porque fiz questão de indicar links suficientes para
que os mais cépticos comprovem os dados e informações que aqui lhes transmito. Não sinto qualquer necessidade em
contrariar aqueles que dizem que o Benfica era o clube de salazar porque - como já disse - qualquer pessoa que pense
por si e conheça o mínimo da história de Portugal sabe que isso é...como hei-de dizer...estúpido!Mesmo assim fiz
questão de fazer este trabalho para que aqueles que entopem todos os blogs e espaços de discussão futebolística com
esta treta possam perceber (se tiverem essa capacidade) o ridículo em que caem ao fazer essa referência.
Se houver quem mais queira contribuir para este artigo estejam à vontade porque, para mim, a verdade deve
sobrepor-se a tudo, tudo mesmo.
P.S: Não se esqueçam que "cegos não são os que não vêem mas sim os que não querem ver...
Por Zé tuga a 19 Janeiro 2008 - 13:35

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