Evangelho segundo S. João 15,1-8.

Transcrição

Evangelho segundo S. João 15,1-8.
Evangelho segundo S. João 15,1-8.
«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá
fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais purificados
pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal
como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim
também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os
ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis
fazer. Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são
apanhados e lançados ao fogo, e ardem. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras
permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. Nisto se manifesta a
glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.»
Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da
Europa
A mulher e o seu destino, colectânea de seis conferências
«Eu sou a videira; vós, os ramos»
No que diz respeito à Igreja, a concepção mais acessível ao espírito humano é a de uma
comunidade de crentes. Quem crê em Jesus Cristo e no Seu evangelho, e espera o
cumprimento das Suas promessas, quem se encontra ligado a Ele por um sentimento de amor
e obedece aos Seus mandamentos, deve estar unido a todos quantos partilham o mesmo
espírito por uma profunda comunhão espiritual e uma ligação de amor. Aqueles que seguiram
o Senhor durante a Sua passagem pela terra foram os primeiros sarmentos da comunidade
cristã; foram eles que a difundiram e que transmitiram em herança, na sucessão dos tempos,
até aos nossos dias, as riquezas da fé de onde retiravam a respectiva coesão.
Mas até uma comunidade humana natural pode ser já muito mais do que uma simples
associação de indivíduos distintos; pode ser uma estreita harmonia que vai a ponto de se
tornar uma unidade orgânica; o mesmo se aplica ainda com maior verdade à comunidade
sobrenatural que é a Igreja. A união da alma com Cristo é diferente da comunhão entre duas
pessoas terrenas; esta união, iniciada no Baptismo e constantemente reforçada pelos outros
sacramentos, é uma integração e um arremesso de seiva, como nos diz o símbolo da videira e
dos ramos. Este acto de união com Cristo pressupõe uma aproximação membro a membro
entre todos os cristãos. Assim, a Igreja toma a figura do Corpo Místico de Cristo. Esse corpo é
um corpo vivo e o espírito que o anima é o Espírito de Cristo que, partindo da cabeça, se
comunica a todos os membros (Ef 5, 23.30); o espírito que emana de Cristo é o Espírito
Santo, e a Igreja é por isso templo do Espírito Santo (Ef 2, 21-22).
Somos destinados a reproduzir a imagem de Jesus Cristo, recorda o pregador do Papa
Comentário do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap., ao Evangelho dominical
ROMA, sexta-feira, 12 de maio de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário ao
Evangelho do próximo domingo, V de Páscoa, do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap.,
pregador da Casa Pontifícia.
***
V Domingo de Páscoa – B
(Atos 9, 26-31; I João 3, 18-24; João 15, 1-8)
Toda videira que dá fruto, poda-a
«Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o vinhateiro. Toda videira que em mim não
dá fruto, corta-a, e toda a que dá fruto, poda-a, para que dê mais fruto».
Em seu ensinamento Jesus parte com freqüência de coisas familiares para todos que lhe
escutam, coisas que estavam ante os olhos de todos. Desta vez nos fala com a imagem
da videira.
Jesus expõe dois casos. O primeiro, negativo: a videira está seca, não dá fruto, assim é
cortada e deixada; o segundo, positivo: a videira está ainda viva e sã, então é podada.
Já este contraste nos diz que a poda não é um ato hostil para com a videira. O
vinhateiro espera ainda muito dele, sabe que pode dar frutos, tem confiança nele. O
mesmo ocorre no plano espiritual. Quando Deus intervém em nossa vida com a cruz,
não quer dizer que esteja irritado conosco. Justamente o contrário.
Mas, por que o vinhateiro poda a videira e faz «chorar», como se costuma dizer, à
vinha? Por um motivo muito simples: se não é podada, a força da vinha se desperdiça,
dará talvez mais frutos que o devido, com a conseqüência que nem todos amadureçam
e de que descenda a graduação do vinho. Se permanece muito tempo sem ser podada, a
vinha até se assilvestra e produz só uvas silvestres.
O mesmo ocorre em nossa vida. Viver é eleger, e eleger e renunciar. A pessoa que na
vida quer fazer demasiadas coisas, ou cultiva uma infinidade de interesses e de
afeições, se dispersa; não sobressairá em nada. Deve-se ter o valor de fazer eleições, de
deixar à parte alguns interesses secundários para concentrar-se em outros primários.
Podar!
Isto é ainda mais verdadeiro na vida espiritual. A santidade se parece com a escultura.
Leonardo da Vinci definiu a escultura como «a arte de tirar». As outras artes consistem
em colocar algo: cor na tela na pintura, pedra sobre pedra na arquitetura, nota após nota
na música. Só a escultura consiste em tirar: tirar os pedaços de mármore que estão
demais para que surja a figura que se tem na mente. Também a perfeição cristã se
obtém assim, tirando, fazendo cair os pedaços inúteis, isto é, ambições, projetos e
tendências carnais que nos dispersam por todas as partes e não nos deixam acabar nada.
Um dia, Miguelangelo, passando por um jardim de Florença, viu, em uma esquina, um
bloco de mármore que surgia desde debaixo da terra, meio coberto de mato e barro.
Parou, como se tivesse visto alguém, e dirigindo-se aos amigos que estavam com ele
exclamou: «Nesse bloco de mármore está encerrado um anjo; devo tira-lo para fora». E
armado de cinzel começou a trabalhar aquele bloco até que surgiu a figura de um belo
anjo.
Também Deus nos olha e nos vê assim: como blocos de pedra ainda disformes, e diz
para si: «Aí dentro está escondida uma criatura nova e bela que espera sair à luz, mais
ainda, está escondida a imagem de meu próprio Filho Jesus Cristo [nós estamos
destinados a «reproduzir a imagem de seu Filho» (Rm 8, 29. Ndt)]; quero tira-la para
fora!». Então o que faz? Toma o cinzel, que é a cruz, e começa a trabalhar-nos; toma as
tesouras de podar e começa a fazê-lo. Não devemos pensar em quem sabe que cruzes
terríveis! Normalmente Ele não acrescenta nada ao que a vida, por si só, apresenta de
sofrimento, fadiga, tribulações; só faz que todas estas coisas sirvam para nossa
purificação. Nos ajuda a não desperdiça-las.
[Tradução realizada por Zenit]
ZP06051201
„Eu sou a videira e vós os ramos“ – Jo 15,5
1. És videira vicejante, somos nós os ramos teus, * pela graça nos enxertas, ó Jesus, no
corpo teu.
2. Da videira separado, logo, o ramo vai morrer; * sempre a Ti, Jesus, unidos, não
podemos perecer.
3. Fique em nós a tua graça, que nos traz a salvação; * viveremos nossa graça traduzida
em ação.
J. A. Santana – Cantos e orações, 127a
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermão 58 sobre o Cântico dos Cânticos
Dar fruto em abundância
Tenho de advertir cada um de vós a respeito da sua vinha; com efeito, quem cortou já em si
mesmo tudo o que é supérfluo, a ponto de poder pensar que nada mais tem a cortar? Crede no
que vos digo, aquilo que é cortado renasce, os vícios combatidos regressam, e vemos
despertar as tendências adormecidas. Não basta, pois, aparar a vinha uma vez, temos de
regressar muitas vezes à mesma tarefa, se possível constantemente. Porque, se formos
sinceros, encontramos constantemente em nós coisas a cortar. […] A virtude não consegue
crescer entre os vícios; para que ela possa desenvolver-se, temos de os impedir de aumentar.
Suprime, pois, o supérfluo, e o necessário poderá então surgir.
Para nós, irmãos, continua a ser época de cortar, uma época que se impõe permanentemente.
Com efeito, estou certo de que já saímos do Inverno, desse temor sem amor que a todos nos
introduz na sabedoria, mas que a ninguém faz desabrochar na perfeição. Quando surge, o
amor expulsa esse temor como o Verão expulsa o Inverno. […] Cessem, pois, as chuvas do
Inverno, quer dizer, as lágrimas de angústia suscitadas pela recordação dos vossos pecados e
pelo temor do julgamento. […] Se “o Inverno passou”, se “a chuva cessou” (Ct 2, 11) […], a
doçura primaveril da graça espiritual indica-nos que chegou o momento de podarmos a nossa
vinha. Que nos resta fazer, senão empenharmo-nos por completo nessa tarefa?
Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saará
Meditações sobre os Salmos, Sl 1
Dar o fruto na estação própria
“Feliz do homem que... medita na Lei dia e noite. Será como uma árvore plantada à beira das
torrentes, que dá o seu fruto na época própria” (Sl 1, 1-3). Meu Deus, vós me dizeis que eu
serei feliz, feliz de uma verdadeira felicidade, feliz no último dia..., que por mais miserável
que eu seja, sou uma palmeira plantada à beira das águas vivas da vontade divina, do amor
divino, da graça..., e que darei o meu fruto na época própria. Dignai-vos consolar-me; sintome sem fruto, sinto-me sem boas obras, digo a mim mesmo: converti-me depois de onze anos,
que fiz? Quais foram as obras dos santos e quais as minhas? Vejo-me de mãos vazias de bem.
Dignai-vos consolar-me: “Darás fruto na época própria” me dizeis vós... Qual é essa época? É
a hora do julgamento: prometei-me que se eu persistir na boa vontade e no combate, por mais
pobre que me veja, terei frutos nessa altura.
São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo
Escritos
“Sem Mim, nada podeis fazer”
Os apóstolos viram o Senhor na sua glória quando Ele se transfigurou no Monte Tabor; mais
tarde, porém, no momento da Paixão, fugiram cheios de medo. Tal é a fragilidade do homem.
Não há dúvida de que somos deste mundo; mais ainda: desta terra pecadora. Foi por isso que
o Senhor disse: “Sem Mim, nada podeis fazer”. E assim é de facto.
Quando a graça está em nós, somos verdadeiramente humildes; então, a nossa inteligência
torna-se mais viva, somos obedientes, amáveis, agradáveis a Deus e aos homens. Mas, quando
perdemos a graça, secamos como o sarmento cortado à videira. Se alguém não ama seu irmão,
por quem o Senhor morreu no meio de grandes sofrimentos, é porque está separado da
Videira. Mas aquele que luta contra o pecado será sustentado pelo Senhor, como a vara
sustenta o sarmento.
Issac d’Étoile (?- c. 1171), abade cisterciense
Sermão 16
A parábola da vinha
Guardo, sem qualquer dúvida, todo o meu respeito pela explicação fiel que vê na vinha da
parábola a igreja universal – entendendo a videira como sendo Cristo; os ramos os cristãos; o
agricultor e pai de família, o Pai celeste; o dia, toda a duração ou a vida do homem; as horas,
as idades do mundo ou da pessoa humana; a praça, a actividade do próprio mundo.
Pessoalmente, no entanto, de considerar a minha alma e também o meu corpo, isto é, toda a
minha pessoa como uma vinha. Não devo negligenciá-la, mas cavá-la e trabalhá-la para que
não venha a ser invadida por outros abrolhos ou raízes estranhas, nem prejudicada pelo
excesso dos seus rebentos naturais. Tenho de podá-la para que os tronco não engrossem em
demasia, apará-la para que dê mais frutos. Tenho de cercá-la completamente por uma sebe
para que não fique à mercê da pilhagem dos transeuntes e, sobretudo, para que o javali da
floresta não a destrua (Sl 79 [80], 14). Tenho de cultivá-la com o maior cuidado para que a
autên tica vide escolhida não degenere nem se converta numa vide estrangeira, incapaz de dar
alegria a Deus e aos homens, ou até venha a ser susceptível de contristá-los. Tenho de
protegê-la com a maior vigilância a fim de que o fruto que custou tanto trabalho e foi tão
longamente esperado não seja roubado furtivamente por aqueles que, em segredo, devoram o
pobre, e para que não desapareça repentinamente num acidente imprevisto. Também o
primeiro homem recebeu, em relação ao Paraíso, que era a sua vinha, a ordem de trabalhá-la e
de guardá-la.
João Tauler (1300-1361), dominicano
Sermão 7
Podados para produzir fruto
O vinhateiro irá cortar na sua vinha os rebentos maus. Se não o fizesse e se os deixasse no
ramo bom, a vinha só daria um vinho azedo e de má qualidade. Assim deve fazer o homem
nobre: deve podar-se a si próprio de tudo o que está desordenado, cortar pela raiz todos os
seus modos de ser e as suas inclinações, quer se trate de alegria ou de dor, quer dizer, cortar
os defeitos, e isso não importuna nem a cabeça, nem o braço, nem a perna.
Mas retém a faca até teres visto o que deves cortar. Se o vinhateiro não conhece a arte da
poda, cortará tudo, tanto o ramo bom que deve em breve dar a uva como a ramo mau, e ele
arruinará o vinhedo. Assim fazem certas pessoas. Não conhecem o ofício. Deixam os vícios,
as más inclinações no fundo da natureza, podando e cortando rente a pobre da natureza em si
mesma. A natureza em si mesma é boa e nobre: que queres tu cortar aí? No tempo da vinda
dos frutos, quer dizer, da vida divina, tu terás apenas uma natureza arruinada.
João Paulo II
Discurso no Conselho da Europa de 8/5/1988
“Tornai sempre mais viva e generosa a alma da Europa”
Se a Europa quer ser fiel a si própria, é preciso que saiba reunir as forças vivas deste
continente, respeitando o carácter original de cada região, mas reconhecendo nas suas raízes
um espírito comum. Os países membros do vosso Concelho têm consciência de não serem
toda a Europa; ao exprimir o voto ardente de ver intensificar-se a cooperação, já esboçada,
com as outras nações, particularmente do Centro e do Este, tenho o sentimento de reunir o
desejo de milhões de homens e mulheres que se sabem ligados numa história comum e que
esperam um destino de unidade e solidariedade à medida deste continente.
Ao longo dos séculos, a Europa teve uma participação considerável nas outras partes do
mundo. Devemos admitir que nem sempre pôs o melhor de si própria no seu encontro com as
outras civilizações, mas ninguém pode contestar que felizmente fez repartir muitos dos
valores que tinha longamente amadurecido. Os seus filhos tiveram uma participação essencial
na difusão da mensagem cristã. Se a Europa deseja ter hoje a sua participação, deve, na
unidade, fundar claramente a sua acção sobre o que há de mais humano e generoso na sua
herança.
Ao vir hoje perante esta Assembleia parlamentar internacional constituída no mundo, tenho
consciência de me dirigir aos representantes qualificados dos povos que, na sua fidelidade às
suas fontes vivas, quiseram reunir-se para afirmarem a sua unidade e para se abrirem às outras
nações de todos os continentes, no respeito pela verdade do homem. Posso testemunhar a
disponibilidade dos crentes para tomarem uma
Evangelho segundo S. João 15,9-17.
«Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho
guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. Manifestei-vos estas
coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. É este o meu
mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem mais amor do
que quem dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos
mando. Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu
senhor; mas a vós chamei- -vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu
Pai. Não fostes vós que me escolhes-tes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a
dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo
concederá. É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.»
São Clemente de Roma, papa, 90 a 100 aproximadamente
Primeira epístola aos Coríntios, 49
«É este o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei»
Quem possui o amor de Cristo cumpre os mandamentos de Cristo. Quem pode descrever o
«vínculo da caridade divina» (Col 3,14) ou narrá-lo? Quem pode exprimir a magnificência
da sua beleza ?
A altura a que nos leva a caridade é inexprimível. A caridade une-nos a Deus; a caridade
«cobre a multidão dos pecados» (1Pe 4,8); a caridade tudo aceita, tudo suporta com paciência
(1Co 13,7). Nada há de indigno na caridade, nada de soberbo nela. A caridade não admite
divisões, não promove discórdias, tudo realiza em perfeita harmonia. Na caridade encontram a
perfeição todos os eleitos de Deus e, sem ela, nada é agradável a Deus. Pela caridade o Mestre
atraiu-nos a Si. Pela sua caridade para connosco, Jesus Cristo nosso Senhor, segundo a
vontade divina, derramou o Seu Sangue por nós, imolou a Sua Carne para redimir a nossa
carne, deu a Sua Vida para salvar a nossa vida.
Santo Anselmo (1033-1109), monge, bispo, doutor da Igreja
Prosologion, 26
"Disse-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa"
Eu te peço, meu Deus: faz com que te conheça, que te ame, para que a minha alegria esteja
em ti. E, se isso não for plenamente possível nesta vida, faz ao menos que eu progrida todos
os dias, até atingir a plenitude. Que nesta vida o teu conhecimento cresça em mim e que ele
esteja completo no último dia; que o teu amor cresça em mim e que ele seja perfeito na vida
futura, para que a minha alegria, já grande em esperança cá na terra, seja então acabada na
realidade.
Senhor Deus, através do teu Filho deste-nos a ordem, ou melhor, aconselhaste-nos a pedir; e
prometeste que seríamos atendidos, para que a nossa alegria seja perfeita (Jo 16,24). Faço-te,
Senhor, a oração que nos segeres pela boca daquele que é o nosso "Conselheiro Admirável"
(Is 9,5). Que eu possa receber o que prometeste pela boca daquele que é a Verdade, para que a
minha alegria seja perfeita. Deus verdadeiro, faço-te esta oração; atende-me para que a minha
alegria seja perfeita.
Que doravante seja esta a meditação do meu espírito e a palavra dos meus lábios. Seja este o
amor do meu coração e o discurso da minha boca, seja a fome da minha alma, a sede da
minha carne e o desejo de todo o meu ser, até ao dia em que eu entre na alegria do Senhor (Mt
25,21), Deus único em três Pessoas, bendito pelos séculos. Amen.
Pregador do Papa: «Dever» de amar, «o mandamento mais belo e libertador do mundo»
Comentário do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap., ao Evangelho dominical
ROMA, sexta-feira, 19 de maio de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário ao
Evangelho do próximo domingo, VI de Páscoa, do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap.,
pregador da Casa Pontifícia.
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VI Domingo de Páscoa – B
(Atos 10, 25-27. 34-35.44-48; I João 4, 7-10; João 15, 9-17)
O «dever» de amar
«Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei... O que vos
mando é que vos ameis uns aos outros».
O amor, um mandamento? Pode-se fazer do amor um mandamento sem destruí-lo? Que
relação pode haver entre amor e dever, dado que um representa a espontaneidade e o outro
a obrigação?
Deve-se saber que existem dois tipos de mandamentos. Existe um mandamento ou uma
obrigação que vem do exterior, de uma vontade diferente à minha, e um mandamento ou
obrigação que vem de dentro e que nasce da mesma coisa. A pedra que se lança ao ar, ou a
maçã que cai da árvore, está «obrigada» a cair, não pode fazer outra coisa; não porque
alguém o imponha, mas porque nela há uma força interior de gravidade que a atrai para o
centro da terra.
De igual forma, há dois grandes modos segundo os quais o homem pode ser induzido a
fazer ou não determinada coisa: por constrição ou por atração. A lei e os mandamentos
ordinários o induzem do primeiro modo: por constrição, com a ameaça do castigo; o amor
o induz do segundo modo: por atração, por um impulso interior. Cada um, com efeito, é
atraído pelo que ama, sem que sofra constrição alguma desde o exterior. Mostre a uma
criança um brinquedo e a verás lançar-se para agarrá-lo. O que a impulsiona? Ninguém; é
atraída pelo objeto de seu desejo. Ensina um Bem a uma alma sedenta de verdade e se
lançará para ele. Quem o impulsiona? Ninguém; é atraída por seu desejo.
Mas se é assim --isto é, somos atraídos espontaneamente pelo bem e pela verdade que é
Deus-- que necessidade haveria de fazer deste amor um mandamento e um dever? É que,
rodeados como estamos de outros bens, corremos perigo de errar, de estender falsos bens
e perder assim o Sumo Bem. Como uma nave espacial dirigida para o sol deve seguir
certas regras para não cair na esfera da gravidade de algum planeta ou satélite
intermediário, igual a nós ao tender para Deus. Os mandamentos, começando pelo
«primeiro e maior de todos», que é o de amar a Deus, servem para isto.
Tudo isso tem um impacto direto na vida e no amor também humano. Cada vez são mais
numerosos os jovens que rejeitam a instituição do matrimônio e elegem o chamado amor
livre, ou a simples convivência. O matrimônio é uma instituição; uma vez contraído, liga,
obriga a ser fiéis e a amar o companheiro para toda a vida. Mas que necessidade tem o
amor, que é instinto, espontaneidade, impulso vital, de transformar-se em um dever?
O filósofo Kierkegaard dá uma resposta convincente: «Só quando existe o dever de amar,
só então o amor está garantido para sempre contra qualquer alteração; eternamente
liberado em feliz independência; assegurado em eterna bem-aventurança contra qualquer
desespero». Quer dizer: o homem que ama verdadeiramente quer amar para sempre. O
amor necessita ter como horizonte a eternidade; se não, não é mais que uma brincadeira,
um «amável mal-entendido» ou um «perigoso passa-tempo». Por isso, quanto mais
intensamente se ama, mais percebe com angústia o perigo que corre seu amor, perigo que
não vem de outros, mas dele mesmo. Bem sabe que é volúvel, e que amanhã, ai! Poder-seia cansar e não amar mais. E já que, agora que está no amor, vê com clareza a perda
irreparável que isto comportaria, eis aqui que se previne, «vinculando-se» a amar para
sempre. O dever subtrai o amor da volubilidade e o ancora à eternidade. Quem ama é feliz
de «dever» amar, parece-lhe o mandamento mais belo e libertador do mundo.
[Traduzido por Zenit]
ZP06051902
„Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado“ – Jo 15, 12
1. Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado.
[:Jesus Cristo é quem falou. Aleluia, aleluia:]
2. Aquele que Me ama, guardará meu mandamento.
3. O Pai também vos ama, se souberdes ser fraternos.
4.
5.
6.
7.
Não fostes vós que Me escolhestes, vosso Pai amou primeiro.
Não vos chamo servidores, sois agora meus amigos.
O Pai tem um desejo, que saibais viver unidos.
Se quereis alguma coisa, em meu nome será dada.
Cantemos ….. n° 758
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona e doutor da Igreja
Tratados sobre S. João, nº 65
"Tal como o Pai me amou, assim eu vos amei. Permanecei no meu amor"
O Senhor Jesus afirma que dá aos seus discípulos um mandamento novo, o do amor mútuo...
Será que este mandamento não existia já na lei antiga, uma vez que está escrito: "Amarás o
teu próximo como a ti mesmo"? (Lv 19,18) Porque é que o Senhor chama novo a um
mandamento que é claramente tão antigo? Será um mandamento novo porque, despojandonos do homem velho, Ele nos reveste do homem novo (Ef 2,24)? É certo que o homem que
escuta este mandamento ou, melhor, que lhe obedece não foi renovado por um amor qualquer
mas por aquele que o Senhor cuidadosamente distingue do amor natural, ao precisar: "como
eu vos amei"... Cristo deu-nos pois o mandamento novo de nos amarmos uns aos outros como
Ele nos amou; é esse amor que nos renova, que faz de nós homens novos, herdeiros da nova
aliança, cantores do "cântico novo" (Sl 95,1).
Esse amor, caríssimos irmãos, renovou mesmo os justos de outrora, os patriarcas e os
profetas, tal como mais tarde renovou os santos apóstolos. É ele que agora renova as nações
pagãs. De todo o género humano, disperso por toda a terra, esse amor suscita e reune o povo
novo, o corpo da nova Esposa do Filho de Deus.
Tertuliano (155?-220?), teólogo
De praescriptione
"Tudo o que aprendi de meu Pai, vo-lo dei a conhecer"
Entre os seus discípulos, Cristo escolheu alguns a quem se ligou mais de perto para os enviar
a pregar entre os povos. Quando um deles se afastou do seu número, Ele ordenou aos outros
onze, quando voltou ao Pai depois da Ressurreição, que fossem ensinar as nações para as
baptizarem no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
Imediatamente, os apóstolos - cujo nome significa "enviados" - tiraram à sorte Matias para
ocupar o décimo segundo lugar, em vez de Judas, nos termos da profecia contida no salmo de
David (108,8). Com a força prometida do Espírito Santo, eles receberam o dom dos milagres
e o das línguas. Primeiro na Judeia, testemunharam a sua fé em Jesus Cristo e instituiram
igrejas. A partir daí, partiram através do mundo para espalharem entre as nações o mesmo
ensinamento e a mesma fé...
Qual foi a pregação dos apóstolos? Que revelação lhes fez Jesus Cristo? Eu direi que a
maneira de o sabermos se encontra naquelas mesmas igrejas que os apóstolos pessoalmente
fundaram com a sua pregação, tanto por viva voz como com os seus escritos. Se isto é
verdade, é incontestável que toda a doutrina que estiver de acordo com estas igrejas
apostólicas, mães e fontes da nossa fé, deve ser considerada como verdadeira porque contém
o que tais
„Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado“ – Jo 15, 12
Prova de amor maior não há / que doar a vida pelo irmão.
1. Eis que Eu vos dou o meu novo mandamento: / Amai-vos uns aos outros como Eu vos
tenho amado.
2. Vós sereis os meus amigos se seguirdes meu preceito: / Amai-vos uns aos outros como
Eu vos tenho amado.
1. Como o Pai sempre Me ama, assim também Eu vos amei: / Amai-vos uns aos outros
como Eu vos tenho amado.
2. Permanei em meu amor e segui meu mandamento: / Amai-vos uns aos outros como Eu
vos tenho amado.
3. E chagando a minha Pascoa, vos amei ate o fim: / Amai-vos uns aos outros como Eu
vos tenho amado.
4. Nisto todos saberão que s sois os meus discípulos: / Amai-vos uns aos outros como Eu
vos tenho amado.
Pe. José Weber - Cantemos ….. n° 826
Vida de S. Francisco de Assis, dita do "Anónimo de Perugia"
§97
“Permanecei no meu amor”
Desde o início da sua conversão até ao dia da sua morte, o bem-aventurado Francisco foi
sempre muito duro para com o seu corpo. Mas o seu principal e supremo objectivo foi o de
possuir e conservar sempre, por dentro e por fora, a alegria espiritual. Ele afirmava que se o
servidor de Deus se esforçasse por possuir e conservar a alegria espiritual interior e exterior
que procede da pureza de coração, os demónios não poderiam fazer-lhe nenhum mal, e,
constrangidos reconheciam: “Dado que este servidor de Deus conserva a sua alegria na
tribulação como na prosperidade, não podemos encontrar nenhum meio para fazer mal à sua
alma” .
Um dia, repreendeu um dos seus companheiros que tinha ar triste e o rosto melancólico:
“Porquê manifestar assim a tristeza e a dor que sentes pelos teus pecados? É um assunto entre
ti e Deus. Reza para que te dê, pela sua bondade, a alegria e a salvação (Sl 50,14). Diante de
mim e dos outros, trata de te mostrares sempre alegre, porque não é conveniente que um
servidor de Deus apareça diante dos irmãos com uma cara triste e franzida”.
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa,
teólogo
Sermão "O jugo de Cristo"
"Permanecei no meu amor, ... para que a minha alegria habite em vós, para que a vossa
alegria seja perfeita"
Cristo já tinha partido; os apóstolos possuiam com certeza a paz e a alegria em abundância,
mais ainda do que quando Jesus estava com eles. Mas, de toda a evidência, esta não era uma
alegria "como o mundo a dá" (Jo 14, 27). Era a sua própria alegria, nascida do sofrimento e da
aflição. Foi esta alegria que Matias recebeu, quando fizeram dele um apóstolo. Os outros
tinham sido escolhidos por assim dizer na sua infância: herdeiros certos do Reino, mas ainda
"com tutores, com intendentes" (Ga 4,2). Mesmo tendo sido apóstolos, eles não
compreendiam ainda a sua vocação; alimentavam em si pensamentos de ambição humana,
desejos de riqueza; e aceitamos que tivesse sido assim durante algum tempo... S. Matias entra
em pleno na herança; desde a sua eleição, recebeu logo os poderes de apóstolo, o penhor do
apostolado. Nenhum sonho de sucesso pessoal podia aflorar a este trono que se erguia sobre a
tumba de um discípulo que tinha sido passado ao crivo e desanimado, mesmo à sombra da
cruz daquele que tinha traído.
Sim, S. Matias pode bem repetir-nos hoje as palavras de Nosso Senhor: "Tomai o meu jugo,
aprendei de mim" (Mt 11,29). Porque esse jugo, ele mesmo o carregou, duma vez só. Desde a
sua "infância apostólica", ele levou o jugo do Senhor. Embarcado de repente na sua grande
Quaresma, aí encontrou a alegria... "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo,
tome a sua cruz e siga-me. " (Mt 16,24)
Vir até Cristo é segui-lo; tomar a sua cruz, é carregar o seu jugo; se Ele nos diz que é leve é
porque é o seu próprio jugo; é Ele que o torna leve, sem contudo deixar de ser um jugo... Não
pensemos que esta vida "sob o jugo" seja privada de alegria: "O meu jugo é fácil", diz Jesus.
É a graça que o torna assim pois ele mantém-se austero: é uma cruz.
Bem aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), Fundadora das Irmãs Missionárias da
Caridade
No Greater Joy (Não há maior amor)
«Disse-vos isso para que a minha alegria seja completa em vós»
«Deus ama quem dá com alegria» (2 Co 9,7). O melhor meio de manifestar a nossa gratidão a
Deus, assim como aos outros, é aceitar tudo com alegria. Um coração alegre concilia-se
naturalmente com um coração abrasado pelo amor. Os pobres sentiam-se atraídos para Jesus
porque Ele era possuído por alguma coisa maior do que Ele. Irradiava esta força nos Seus
olhos, nas Suas mãos e em todo o Seu corpo. Todo o Seu ser manifestava o dom que Ele fazia
de Si próprio a Deus e aos homens.
Que nada possa inquietar-nos, até ao ponto de nos encher de tristeza e desencorajamento
arrebatando-nos a alegria da Ressurreição. A alegria não é uma simples questão de
temperamento quando se trata de servir a Deus e às almas; ela está sempre a receber e essa é
uma razão forte para nos esforçarmos por adquiri-la e fazê-la crescer em nossos corações.
Mesmo que tenhamos pouco para dar, não obstante ficará a alegria que brota dum coração
enamorado de Deus.
Por todo o mundo há pessoas famintas e sedentas do amor de Deus. Nós respondemos a esta
carência quando semeamos a alegria. Ela é também uma das melhores defesas contra a
tentação. Jesus não pode tomar plena posse duma alma senão quando ela se Lhe abandona
alegremente.
Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Uma Coisa Bela para Deus
“Digo-vos isto para que a Minha alegria esteja em vós”
A alegria é oração. A alegria é força. A alegria é amor. A alegria é como uma rede de amor
que prende as almas. “Deus ama o que dá com alegria” (2 Co, 9, 7). Quem dá com alegria dá
mais. Não há melhor maneira de manifestarmos a nossa gratidão a Deus e aos homens do que
tudo aceitando com alegria. Um coração ardente de amor é necessariamente um coração
alegre. Não permitais nunca que a tristeza vos invada, a ponto de vos fazer esquecer a alegria
de Cristo ressuscitado.
Todos temos um desejo ardente do céu, onde Deus se encontra. Ora, está nas mãos de todos
nós estarmos, desde já, no céu com Ele, sermos felizes com Ele já neste momento. Mas esta
felicidade imediata com Ele significa amar como Ele ama, ajudar como Ele ajuda, dar como
Ele dá, servir como Ele serve, socorrer como Ele socorre, permanecer com Ele em todas as
horas do dia, tocar o Seu próprio Ser por trás do rosto da aflição humana.
São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo
Escritos
“Como Eu vos amei”
Por que sofre o homem nesta terra? Por que suporta as dores e se sujeita aos males? Sofremos
porque não somos humildes. O Espírito Santo habita uma alma humilde, dando-lhe a
liberdade, a paz, o amor e a felicidade.
Sofremos porque não amamos os nossos irmãos. O Senhor disse: “É por isto que todos
saberão que sois Meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35). Quando
amamos um irmão, o amor de Deus vem a nós. O amor de Deus é de uma grande doçura; é
um dom do Espírito Santo, que não se conhece em plenitude senão pelo Espírito Santo. Mas
existe um amor moderado, o amor que o homem obtém quando se esforça por cumprir os
mandamentos de Cristo e receia ofender a Deus; e também esse é bom. Temos de nos esforçar
todos os dias por fazer o bem e por aprender, com todas as nossas forças, a humildade de
Cristo.
Evangelho segundo S. João 15,18-21.
«Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. Se viésseis do mundo,
o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do
meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: o
servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a
vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. Mas tudo isto vos farão
por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou.
S. Policarpo (69-155), bispo e mártir
Carta aos Filipenses, SC 10, p. 215-217, 221.
"Se me perseguiram, perseguir-vos-ão também"
Permaneçamos sem cessar, meus irmãos, agarrados à nossa esperança e ao penhor da nossa
justiça, Cristo Jesus... Sejamos imitadores da sua paciência e, se sofrermos em seu nome,
demos-lhe glória. Foi este o modelo que Ele nos apresentou em si mesmo e foi nisso que
acreditámos.
Exorto-vos a todos a obedecerem à palavra da justiça e a perseverarem na paciência que vistes
com os vossos olhos, não só nos bem-aventurados Inácio, Zósimo e Rufo, mas também
noutros que estavam convosco, e no próprio Paulo e nos outros apóstolos; acreditai que todos
esses não correram em vão, mas antes na fé e na justiça, e que estão no lugar que lhes era
devido junto do Senhor, com quem eles sofreram. Eles não amaram "o tempo presente" (1 Tm
4,10), mas sim a Cristo que morreu por nós e que Deus ressuscitou por nós...
Que Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e Ele mesmo, o sumo-sacerdote eterno, o Filho
de Deus, Jesus Cristo, vos façam crescer na fé e na verdade, em mansidão e sem cólera, em
paciência e longanimidade, fortaleza e castidade; que Ele vos faça tomar parte na herança dos
seus santos, e a nós mesmos convosco, e a todos os que estão debaixo do céu, que acreditam
em nosso Senhor Jesus Cristo e em Seu Pai que o ressuscitou de entre os mortos. Rezai por
todos os santos. Rezai também pelos reis e pelas autoridades, rezai pelos que vos perseguem e
vos odeiam, e pelos inimigos da Cruz; assim, o fruto que dareis será visível a todos e vós
sereis perfeitos n'Ele.
Orígenes (cerca de 185-253), presbítero e teólogo
Exortação ao martírio, 41-42
"Se o mundo vos odear, sabei que primeiro me odeou a mim"
Se, ao passarmos da descrença à fé, "passámos da morte à vida" (Jo 5,24), não nos
espantemos se o mundo nos odeia. Porque todos os que não passaram da morte à vida, mas
permanecem na morte, não podem amar os que passaram da morada tenebrosa da morte...
para "os edifícios feitos de pedras vivas" (1Pe 2,5) em que reina a luz da vida...
Para nós, cristãos, chegou o tempo de nos gloriarmos porque está dito: "Gloriamo-nos nas
nossas provações pois sabemos que a provação produz a perseverança, a perseverança produz
o valor experimentado, o valor experimentado produz a esperança e a esperança não engana,
porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo" (Rm 5,3-5)...
"Tal como tomámos grandemente parte nos sofrimentos de Cristo, também por Cristo somos
grandemente consolados" (2Co 1,5). Acolhamos, pois, com grande fervor os sofrimentos de
Cristo; que eles nos sejam grandemente concedidos, se queremos ser grandemente
consolados, uma vez que todos "os que choram serão consolados" (Mt 5,5)... Os que
participarem nos sofrimentos participarão também na consolação, em proporção aos
sofrimentos que os fazem participar em Cristo. Aprendei do apóstolo que disse com
confiança: "Nós o sabemos: uma vez que conheceis como nós o sofrimento, obtereis como
nós a consolação" (2Co 1,7).
S. Cipriano (c.200-258), Bispo de Cartago e mártir
Carta 56
«Não pertenceis ao mundo pois que vos escolhi...é por isso que o mundo vos odeia»
O Senhor quis que nos alegrássemos , que estremecêssemos de alegria ao sermos perseguidos
(Mt 5,12), porque quando vêm as perseguições, é então que se dão as coroas da fé (Tgo 1,12,
é então que os soldados de Cristo prestam as suas provas, é então que os céus se abrem aos
seus testemunhos. Nós não estamos alistados na milícia de Deus para só pensarmos na
tranquilidade, para nos esquivarmos ao serviço, quando o Mestre da humildade, da paciência,
do sofrimento, prestou Ele próprio, antes de nós, o mesmo serviço. Aquilo que Ele ensinou,
começou por cumpri-lo e, se nos exorta a resistir, é porque sofreu antes de nós e por nós.
Para se participar nas competições do estádio, exercitamo-nos, treinamos, e sentimo-nos
muito honrados se, diante da multidão, temos a felicidade de ganhar o prémio. De maneira
diferente, esta é uma prova nobre e espectacular, em que Deus nos vê combater, nós os seus
filhos, e em que Ele próprio nos dá a coroa celeste (1Co 9,25). Os anjos também nos olham e
Cristo assiste-nos. Armemo-nos pois com todas as nossas forças; levemos por diante o
combate com uma alma corajosa e uma fé inteira.
Sto. Afraate (? -cerca 345), monge e bispo em Ninive, perto de Mossul no actual Iraque
As exposições, nº 21
“O servo não é maior que o seu senhor” (Jo 15,20)
Jesus foi perseguido como os justos [do Antigo Testamento] foram perseguidos, a fim de que
sejam consolados os perseguidos de hoje, eles que são perseguidos por causa de Jesus
perseguido. Porque ele disse: “ Se o mundo vos odeia, ficai sabendo que primeiro me odiou a
mim. Se fosseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, porque não sois do mundo, ao
contrário, eu vos separei do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos
da palavra que vos disse: - o servo não é maior que o seu senhor. - Se me perseguiram a mim,
também vos perseguirão a vós” (Jo 15, 18-20). Com efeito, ele nos dissera antes: “O irmão
entregará o seu irmão à morte, e o pai entregará o seu filho. E levantar-se-ão os filhos contra
os pais e lhes darão a morte. E vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome”. Tinhanos também ensinado: “Mas quando vos entregarem, não vos preocupeis nem com o que
haveis de falar nem com o que haveis de dizer; nessa altura ser-vos-á inspirado o que tiverdes
de dizer. Não sereis vós a falar, é o Espírito de vosso Pai que falará por vós”.
Foi este Espírito que falou pela boca de Jacob ao seu perseguidor Esaú; o Espírito de
sabedoria que falou perante o Faraó pela boca de José perseguido; o Espírito que falou pela
boca de Moisés em todos os milagres que ele fez no Egipto…; O Espírito que cantava pela
boca de David perseguido, porque era por ele que ele cantava para aliviar do mau espírito
Saúl seu perseguidor; o Espírito que revestiu Elias, com o qual ele repreendeu Jezebel e
Achad seu perseguidor…; o Espírito que reconfortou Jeremias, e ele ergueu-se,
audaciosamente, para repreender Sedecias; o Espírito que protegeu Daniel e os companheiros
na Babilónia; esse mesmo Espírito que salvaguardou Mardoqueu e Ester no país do seu
cativeiro.
Ouve, meu amigo, os nomes dos mártires, dos confessores e dos perseguidos: Abel, Jacob,
José, Moisés, Josué, Jefté, Sansão, Gedeão e Barac, David, Samuel, Ezequias, Elias, Eliseu,
Miqueias, Jeremias, Daniel, Ananias e os seus companheiros, Judas Macabeu e os seus
companheiros… Mas o martírio de Jesus foi o maior de todos: ele ultrapassou em tribulação e
em testemunho todos estes que o antecederam e todos os que hão-de vir.
João Paulo II
Homilia durante a celebração ecuménica das testemunhas da fé do século XX, 7/5/00 (trad.
DC 2227, p. 503 © Libreria Editrice Vaticana)
"Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim."
"Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai
conservá-la para a vida eterna" (Jo 12, 25). Acabámos de escutar estas palavras de Cristo.
Trata-se de uma verdade que não raro o mundo contemporâneo rejeita e despreza, fazendo do
amor a si mesmo o supremo critério da existência. Todavia, as Testemunhas da Fé, que
inclusivamente nesta tarde nos falam com o seu exemplo, não consideraram o seu interesse
pessoal, o próprio bem-estar e a sobrevivência como os maiores valores da fidelidade ao
Evangelho. Apesar da sua debilidade, opuseram uma estrénua resistência ao mal. Na sua
fragilidade resplandeceu a força da fé e da graça do Senhor.
A herança preciosa que estas testemunhas corajosas nos transmitiram constitui um património
comum de todas as Igrejas e de cada Comunidade eclesial. Trata-se de uma herança que fala
com uma voz mais alta do que os factores de divisão. O ecumenismo dos mártires e das
Testemunhas da Fé é o mais convincente, pois indica aos cristãos do século XX a via para a
unidade. É a herança da Cruz vivida à luz da Páscoa: herança que enriquece e sustenta os
cristãos, enquanto iniciam o novo milénio.
Que a memória destes nossos irmãos e irmãs sobreviva no século e no milénio que acabam de
iniciar. Aliás, cresça! Seja transmitida de geração em geração, para que dela germine uma
profunda renovação cristã! Seja conservada como um tesouro de valor excelso para os cristãos
do novo milénio e constitua o fermento para a obtenção da plena comunhão entre todos os
discípulos de Cristo!
É com ânimo repleto de íntima comoção que exprimo estes votos. Rezo ao Senhor para que a
plêiade de testemunhas que nos circunda ajude todos nós, crentes, a expressar com igual
denodo o nosso amor a Cristo, Àquele que está sempre vivo na sua Igreja: assim como
ontem, também hoje, amanhã e para sempre!
Evangelho segundo S. João 15,26-27.16,1-4.
«Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de
enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. E vós também haveis de dar
testemunho, porque estais comigo desde o princípio.» «Dei-vos a conhecer estas coisas para
não vos perturbardes. Sereis expulsos das sinagogas; há-de chegar mesmo a hora em que
quem vos matar julgará que presta um serviço a Deus! E farão isto por não terem conhecido o
Pai nem a mim. Deixo-vos ditas estas coisas, para que, quando chegar a hora, vos lembreis de
que Eu vo-las tinha dito. Não vo-las disse, porém, desde o princípio, porque Eu estava
convosco.»
Santo António (c. 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja
Sermões para o Domingo e para as festas dos santos
«O Espírito da Verdade [...] dará testemunho a meu favor»
O Espírito Santo é «um rio de fogo» (Dn 7,10), um fogo divino. Tal como o fogo actua sobre
o ferro, também este fogo divino actua nos corações maculados, frios e duros. Em contacto
com tal fogo, a alma perde, pouco a pouco, a sua negrura, a frieza e a dureza. Transforma-se
por completo à semelhança do fogo que a inflama. Porque se o Espírito é dado ao homem, se
lhe é insuflado, é para o transformar à sua semelhança, tanto quanto for possível. Sob a acção
do fogo divino, o homem purifica-se, inflama-se, liquefaz-se, alcança o amor de Deus, tal
como diz o apóstolo Paulo : «o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito
Santo que nos foi dado» (Rm 5,5).

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