do Arquivo - Vestibular Claretiano
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59 Efeito do treino de marcha em esteira em crianças com Síndrome de Down com e sem cardiopatia Carina GARCIA1 Carolina Daniel de LIMA-ALVAREZ2 Resumo: Este estudo teve como objetivo comparar a eficácia do tratamento fisioterápico e de treino de marcha em esteira em crianças com Síndrome de Down com e sem cardiopatia. O desempenho motor das crianças foi avaliado por meio da Alberta Infant Motor Scale (AIMS). Participaram deste estudo duas crianças com Síndrome de Down, sendo uma com cardiopatia e outra sem, que receberam concomitantemente atendimentos de fisioterapia convencional, integração sensorial e treino de marcha em esteira durante três meses. Os resultados revelaram que houve um ganho de habilidades motoras e aumento do interesse da criança em permanecer em pé e dar passos com apoio. Portanto, a associação dos atendimentos de fisioterapia convencional, integração sensorial e treino de marcha em esteira contribuíram para um desenvolvimento motor mais ativo nessas crianças. Palavras-chave: Síndrome de Down. Treino em Esteira. Desenvolvimento Motor. 1 Carina GARCIA. Especialista em Fisioterapia em Neurologia pelo Centro Universitário de Araraquara (UNIARA). Fisioterapeuta da APAE de Agudos (SP). E-mail: <[email protected]> 2 Carolina Daniel de LIMA-ALVAREZ. Doutora em Neuropediatria pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – onde também é Pesquisadora Associada do Departamento de Fisioterapia. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail: <[email protected]>. Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 60 Gait training on treadmills effect in children with Down Syndrome with and without heart diseases Carina GARCIA Carolina Daniel de LIMA-ALVAREZ Abstract: This study aimed at comparing the efficiency of the physiotherapeutic treatment to the gait training on treadmills on children with Down Syndrome who presented or not cardiopathies. The motor development of the children was evaluated by means of the Alberta Infant Motor Scale (AIMS). Two children with Down Syndrome took part in this study, one with a cardiopathy and another without it. They concurrently received conventional physiotherapeutic treatments, sensory integration, and gait training on a treadmill during three months. The results showed that there was an increase in motor abilities and a greater interest of the children to remain standing and take steps with support. Thus, the combination of the conventional physiotherapeutic treatments, the sensory integration, and the gait training on treadmills contribute for a more active motor development on this children. Keywords: Down Syndrome. Treadmill Training. Motor Development. Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 61 1. INTRODUÇÃO A Síndrome de Down (SD) é uma anomalia genética que apresenta alteração estrutural do cromossomo 21 (SCHWARTZMAN et al., 1999). Devido à alteração cromossômica, as crianças portadoras da Síndrome de Down apresentam características fenotípicas, que geralmente não interferem em seu desenvolvimento, e outras características que podem alterar o curso de seu desenvolvimento (hipotonia, desenvolvimento inadequado do controle postural, instabilidade atlantoaxial e coxofemoral, ausência de formação do arco plantar e frouxidão ligamentar que leva à instabilidade articular) (DALLA DÉA, 2009). Outra alteração bastante presente em indivíduos com SD são os defeitos cardíacos congênitos, que podem comprometer seriamente o desenvolvimento da criança (DALLA DÉA, 2009; SCHWARTZMAN et al., 1999). Embora as características da síndrome causem atraso no desenvolvimento motor, a fisioterapia tem se mostrado de grande importância para auxiliar o ganho de habilidades motoras grossas, oferecendo oportunidades adequadas para a criança aprender a interagir e explorar o ambiente com mais funcionalidade e independência (DALLA DÉA, 2009). O foco da fisioterapia no tratamento dessas crianças é facilitar as atividades, aumentar a ativação muscular a fim de minimizar a hipotonia, fortalecer a musculatura promovendo maior estabilização e favorecer o ganho de controle postural antigravitacional. Tais ganhos minimizam o atraso das habilidades motoras, bem como proporcionam às crianças condições de explorar o ambiente, melhor desenvolvimento cognitivo e independência. Entre as habilidades motoras que demoram a ser adquiridas em crianças com SD está a marcha, que, segundo Ângulo-Barroso, Wu e Ulrich (2008), ocorre por volta dos 18 meses nas crianças típicas e 36 meses na criança com Síndrome de Down. A marcha é uma habilidade fundamental para a exploração do ambiente, favorecendo a interação com o ambiente, o desenvolvimento motor, social e cognitivo. Entretanto, é uma habilidade que exige alta demanda de controle postural, dificuldades estas apresentadas por crianças com SD. Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 62 Diversos autores têm relatado os benefícios do treino de marcha em esteira tanto para a aquisição da marcha em crianças típicas e com Síndrome de Down, como para a aquisição de padrões de movimentos mais maduros, com maior velocidade e amplitude da passada (ULRICH et al., 2001; WU et al., 2007; ÂNGULO-BARROSO et al., 2008; LOPES; RANIERO, 2009). Thelen (1987) foi a pioneira nesse tipo de estimulação e verificou que, com o treino, os lactentes começavam a realizar passos alternados e frequentes assim que a esteira era ligada. Baseado nestes estudos, tais autores sugerem que a intervenção em esteira representa um excelente apoio à fisioterapia convencional para o desenvolvimento da marcha em crianças com Síndrome de Down (ÂNGULO-BARROSO et al. 2008; WU et al. 2007). Além disso, de acordo com Filipin et al. (2006) e Yang et al., (1998), o treino repetitivo e contextualizado da marcha podem favorecer o ganho funcional e o condicionamento físico das crianças, favorecendo, assim, a aquisição da habilidade, visto que foi observado aumento da incidência de obtenção das passadas e padrões eletromiográficos mais próximos dos padrões de um adulto. Dessa forma, este estudo se propôs a comparar o efeito do treino em esteira em duas crianças com Síndrome de Down, sendo uma delas cardiopata, a fim de verificar se o treino de marcha em esteira favorece a aquisição da marcha nas crianças com Síndrome de Down, inclusive na que apresenta cardiopatia congênita, devido aos benefícios proporcionados pelo treinamento relatado pela literatura (aumento da frequência e da amplitude da passada). 2. MATERIAIS E MÉTODOS Estudo de caso, de caráter longitudinal aplicado, com amostra de convivência. Obteve parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da UNIARA – Araraquara/SP (protocolo nº 1045/09) e foi realizado na sala de fisioterapia da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Agudos/SP. Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 63 Participantes Participaram deste estudo duas crianças com Síndrome de Down, com cariótipo de trissomia, sendo uma do sexo feminino com 18 meses de idade e com cardiopatia (C1) e uma do sexo masculino, com 15 meses de idade e sem cardiopatia (C2). Ambas estavam matriculadas no programa de estimulação precoce da APAE de Agudos, apresentavam controle de tronco e seus pais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram incluídos neste estudo os lactentes com cariótipo positivo para Síndrome de Down, que estavam matriculados no programa de estimulação precoce da APAE de Agudos e que apresentavam controle de tronco. Os lactentes foram avaliados três vezes: 1) antes do início da intervenção; 2) após 10 sessões de intervenção; 3) ao final de 20 sessões de intervenção. Tabela 1. Caracterização dos participantes do estudo – idade em cada avaliação, peso ao nascimento, idade gestacional. C1 Idade 1ª av. Idade 2ª av. Idade 3ª av. Idade gestacional Peso ao nascimento 18 meses 21 meses 23 meses 38 semanas 2650 kg C2 15 meses 18 meses 20 meses 38 semanas 2415 kg Instrumento de avaliação Foi utilizada a Alberta Infant Motor Scale (AIMS), que avalia o desenvolvimento motor grosso de lactentes de 0 a 18 meses ou até a aquisição da marcha independente. Para a aplicação fidedigna da escala e pontuação do resultado, o manual foi estudado e realizado treino de aplicação da avaliação com uma pesquisadora experiente Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 64 no emprego da escala, obtendo índice de concordância intra e interexaminadores de 92%. A escala é observacional, composta por 58 itens, e avalia quatro posturas (prono, supino, sentado e em pé). Cada item observado recebe 1 ponto. Os pontos são somados e resultam no escore total bruto. Ao término da avaliação, foi creditado um escore total (0-58 pontos) para as crianças deste estudo, não sendo utilizado o percentil oferecido pela escala, pois as crianças com Síndrome de Down apresentam desempenho motor inferior ao percentil mínimo da escala. Ademais, foi considerado como ganho de habilidades motoras o número de habilidades adquiridas entre uma avaliação e outra, tanto para o escore bruto como para subescores das posturas. Procedimentos Após conversa com os pais das crianças que preenchiam os critérios para participarem deste estudo e autorização deles, iniciaram-se o tratamento e as avaliações das crianças. As avaliações foram realizadas sempre pela mesma examinadora, e com duração aproximada de 20-30 minutos. Todas as avaliações foram filmadas para facilitar a pontuação e solucionar dúvidas que pudessem acontecer. Os lactentes foram posicionados em supino no colchonete e despidos, permanecendo somente de fralda. Nessa postura, foram estimulados com brinquedos a assumirem voluntariamente as outras posturas. Quando isso não ocorria, eram então colocados nas outras posturas pelo examinador, obedecendo-se as orientações do manual da AIMS. Ambas as crianças receberam o tratamento convencional de fisioterapia e o treino de esteira em cada sessão de tratamento. Durante o atendimento de fisioterapia convencional, com duração de 20-25 minutos, realizados duas vezes por semana, os lactentes foram estimulados com brinquedos a se locomover e realizar transferências; foi estimulado fortalecimento muscular através da escalada apoiando no corpo da terapeuta ou utilizando rolos de tamanhos pequeno, médio e grande e estimulada a transferência de sentada Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 65 para a postura ortostática apoiando no banco, além de serem incentivados a realizar a marcha com apoio das mãos. Para o treino de marcha na esteira, realizado após atendimento convencional, foi utilizada uma esteira adaptada (Figura 1), na qual os lactentes foram posicionados em pé, com descarga de peso nos membros inferiores e apoiados pela axila, para que iniciassem a marcha quando a esteira era ligada. O treino de marcha na esteira teve duração total de onze minutos e foi dividido em três fases: 1ª) três minutos de treino de marcha sem utilização das anilhas nos tornozelos; 2ª) três minutos de treino de marcha com utilização das anilhas de 500gr nos tornozelos; 3ª) três minutos de treino de marcha sem utilização das anilhas, após ter realizado o treino com a anilha. Houve intervalo de um minuto entre as fases. Uma vez por semana, os lactentes recebiam estimulação sensorial (estímulos táteis, proprioceptivos e vestibulares) na sala de integração sensorial. Para esse tipo de estimulação, foram empregados materiais de diferentes texturas como escovas, buchas, lã, bolinha cravo, amoeba, piscina de bolinhas, rolo suspenso, prancha suspensa e redes de lycra e de pescador. Figura 1. Esteira adaptada. Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 66 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2, pode-se verificar o número de sessões realizadas para cada criança durante o período deste trabalho, o qual foi muito parecido entre as duas crianças acompanhadas. Tabela 2. Número de sessões de fisioterapia convencional e esteira, integração sensorial e falta para as crianças C1 e C2 durante o período deste estudo. C1 C2 Fisioterapia convencional e esteira 22 21 Integração sensorial 8 8 Faltas 9 10 Na Tabela 3, pode-se observar que as posturas que exigem maior demanda gravitacional e de força (sentado e em pé), apresentaram subescores mais baixos nas três avaliações e menor ganho de habilidades (Tabela 4) entre as avaliações tanto para C1 quanto para a C2. Tabela 3. Itens prévios (que as crianças já realizavam antes da avaliação), itens na janela (habilidades presentes no repertório motor atual da criança), subescores em cada uma das 4 posturas observadas (prono, supino, sentado e em pé) e escore total nas três avaliações AIMS. Itens prévios 1ª avaliação Itens na janela Subescore C1 C2 C1 C2 C1 C2 Prono 9 3 2 2 11 5 Supino 8 3 1 1 9 4 Sentado 7 6 2 1 9 7 Em pé 2 2 1 2 3 4 Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 Escore Total C1 C2 32 20 67 2ª avaliação 3ª avaliação Prono 6 4 1 2 7 6 Supino 3 4 1 2 4 6 Sentado 7 7 1 2 8 9 Em pé 2 2 1 1 3 3 Prono 12 6 2 2 14 8 Supino 8 8 1 1 9 9 Sentado 11 7 1 2 12 9 Em pé 2 2 1 1 3 3 22 24 38 29 * Os destaques em cinza significam que a criança adquiriu pontuação máxima na subescala. Tabela 4. Tabela de ganho de habilidades (diferença entre o nº de habilidades apresentada na 1ª/2ª avaliação e o nº de habilidades apresentadas na 2ª/3ª avaliação) dos subescores para cada postura. 1ª para 2ª avaliação 2ª para 3ª avaliação C1 C2 Prono -3 1 Supino -5 2 Sentado -1 2 Em pé 0 -1 Prono 7 2 Supino 5 3 Sentado 4 0 Em pé 0 0 Tais resultados corroboram com os de Pereira e Tudella (2008) e Tudella et al. (2011, 2013), que constataram que o ritmo de melhora no desempenho motor ocorre em intervalos de três meses entre 3º e 12º mês em crianças típicas, enquanto em crianças com Síndrome de Down esse intervalo é de quatro meses do 3º ao 10º mês e, que após o 7º mês, é necessário um intervalo maior que Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 68 cinco meses para observar mudanças, visto que, nessa faixa etária, se concentra a aquisição de habilidades motoras de maior demanda gravitacional e maior complexidade de controle motor. Podemos ainda observar na Tabela 3 que a criança C1 apresenta pontuação máxima na subescala supino já na primeira avaliação, com idade de 18 meses, enquanto a C2 completa as aquisições somente na terceira, com idade de 20 meses. Levando em consideração a idade de cada um nessas avaliações, podemos dizer que ocorreu um atraso de dois meses da C2 em relação à C1, nas aquisições em supino. Entretanto, foi observada uma diminuição do desempenho motor da criança C1 na segunda avaliação para as subescalas prono e supino. Acreditamos que tal diminuição não represente a ausência das habilidades antes observadas, no repertório motor atual da criança, mas se deva ao fato de a criança não querer realizá-las no momento da avaliação. Nesta avaliação, a criança não se encontrava emocionalmente bem, uma vez que estava afastada do contato diário com a mãe que estava internada há uma semana. Acreditamos que esse afastamento materno possa ter “desmotivado” a criança a realizar suas habilidades no dia da avaliação, pois estudos relatam que a família é o primeiro universo de reações da criança, e que isso tem uma ação profunda sobre a personalidade de seus membros e sobre a carga emocional transmitida por estes (SILVA; DESSEN, 2002). De acordo com a Tabela 4, observamos que a criança C2 apresentou ganho de 1 habilidade em prono, 2 em supino e 2 sentado ao longo das avaliações, enquanto a C1 apresentou uma diminuição entre a primeira e a segunda avaliação para as subescalas prono (-3 habilidades) e supino (-5 habilidades) e sentado (-1 habilidade), já discutidas acima. No entanto, a criança C2 completou todas as habilidades da subescala supino, apresentando pontuação máxima de 9 pontos. Na terceira avaliação, no entanto, a criança C1 voltou a apresentar pontuação superior à da criança C2 (Tabela 3), com ganho de 7 habilidades em prono, 5 em supino e 3 em pé, enquanto a criança C2 apresentou ganho de 2 novas habilidades em prono e 3 em supino. Ainda na terceira avaliação, a criança C1 completa as Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 69 habilidades presentes na subescala sentada, apresentando a pontuação máxima de 12 pontos. Entretanto, é importante ressaltar que a criança C2 apresentou escore total na terceira avaliação mais próximo do escore total da criança C1, reduzindo a diferença entre elas, apesar daquela ser mais nova três meses que esta. Se formos observar apenas o desempenho inicial e final, desconsiderando a segunda avaliação na qual a criança C1 apresentou um desempenho diminuído, verificaremos que ambas apresentaram ganho de habilidades e melhora de desempenho em relação ao escore bruto da AIMS. No entanto, proporcionalmente, apesar de a criança C1 apresentar escore total maior que o da criança C2 (Tabela 3), a criança C2 apresentou maiores ganhos que a C1 (Tabela 5). Além disso, quando comparamos os diferentes momentos de avaliação de cada uma das crianças, considerando a primeira e a terceira avaliação, o escore bruto de C1 aumentou em 18%, enquanto o de C2 aumentou em 52,6%. Tabela 5. Proporção de desempenho calculada pela razão entre o escore bruto de C2 por C1 na primeira e terceira avaliação. Proporção desempenho C2/C1 1ª avaliação 0,59 2ª avaliação 0,76 Embora o treino de marcha tenha sido uma terapia complementar à fisioterapia convencional e à aplicação da técnica de Integração Sensorial, observamos que, após as primeiras intervenções na esteira, os lactentes que anteriormente permaneciam estáticos, quando posicionados em ortostatismo, iniciaram passos quando eram segurados pelas mãos. Tal comportamento foi observado para C1 após a terceira sessão de treino em esteira e após a quinta sessão para C2. No decorrer dos atendimentos, a criança C1 andou no chão com apoio das mãos por um percurso maior que a criança C2. Essas observações também foram relatadas nos estudos de Ulrich (2001), que observou que andar com apoio e andar de forma independente ocorreram mais rapidamente no grupo de crianças que realizaram treino em esteira. Também vão ao encontro dos achados de Lopes e Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 70 Raniero (2009), que sugerem que a intervenção do treino em esteira promove um desempenho motor mais ativo em bebês com risco de atraso motor, e de Ângulo-Barroso, Wu e Ulrich (2008), que sugerem o favorecimento de aquisição precoce de marcos motores em crianças com Síndrome de Down quando submetidas ao treino de marcha. Assim, apesar de as duas crianças não terem alcançado a marcha independente ao fim deste estudo, acredita-se que o treino de marcha em esteira tenha favorecido o desenvolvimento motor destas, por propiciar padrões de marcha mais avançados, maior velocidade e amplitude da passada. 4. CONCLUSÃO Diante dos resultados observados, sugerimos que o treino de marcha em esteira, associado à aplicação da técnica de Integração Sensorial e à fisioterapia convencional, favoreceu a melhora no desempenho motor das crianças deste estudo, que apresentaram ganho considerável de habilidades ao final do estudo. Além disso, sugerimos que o treino de marcha na esteira favorece a adoção da postura ortostática pela criança com Síndrome de Down, a qual é pré-requisito para a aquisição da marcha com apoio e que vai contribuir, no futuro, para a aquisição da marcha independente. Observamos, também, que a presença de cardiopatia na C1 não restringiu sua resposta ao treino de marcha em esteira, uma vez que esta também apresentou ganhos consideráveis ao longo do tratamento. Assim, sugerimos que estudos com um número maior de crianças com Síndrome de Down com e sem cardiopatia sejam realizados, acompanhando-os desde idades mais precoces até o início da marcha independente, a fim de confirmar a influência do treino em esteira. REFERÊNCIAS ÂNGULO-BARROSO, R. M. et al. Physical activity in infants with Down syndrome receiving a treadmill intervention. Infant Behavior & Development, v. 31, p. 255-269, 2008. Saúde, Batatais, v. 3, n. 1, p. 59-72, jan./dez. 2014 71 ÂNGULO-BARROSO, R. M.; WU, J.; ULRICH, D. A. Long-term of different treadmill interventions on gait development in new walkers with down syndrome. Gait & Posture, v. 27, p. 231-238, 2008. DALLA DÉA, V. H. S. D. Síndrome de down, informações, caminho e história de amor. São Paulo: Phorte, 2009. FILIPPIN, et al. A influência do treinamento da marcha com suporte parcial de peso corporal na diplegia espástica. Fisioterapia Brasil, v. 3, n. 3, 2006. 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