YORK RIO - Fraternitas In Praxis

Transcrição

YORK RIO - Fraternitas In Praxis
ISSN 2318-3462
Volume 1, Número 2, Set/Dez. 2013.
FERNANDO DA SILVA MAGALHÃES
Educação e Maçonaria: a ação transformadora da Loja Maçônica “União e
Tranquilidade” (1881-1890)
ANDERSON LUPO NUNES
A Sequência de Fibonacci no Templo
de Salomão
KENNYO ISMAIL
Os Calendários Maçônicos e Suas Corretas Aplicações
LUIZ FRANKLIN DE MATTOS SILVA
O Conceito Filosófico de Tempo e a
Régua de 24 Polegadas
RUBENS CALDEIRA MONTEIRO
The Pillars of the Earth (review)
ERICK VAN-ERVEN GONÇALVES
O Astronauta Brasileiro é Iniciado na
Maçonaria (news)
JOSÉ ROBERTO FERREIRA
York Rite Brazil 2013 (report)
YORK RIO
Apoio:
Associação
Realização:
Patrocínio:
FinP entrevista: Jorge Pessôa, Grande
Superintendente da Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros Templários
Volume 1, Número 2, Set/Dez. 2013.
Missão:
Desenvolver e promover estudos e pesquisas sobre Maçonaria e Fraternidades em geral, com foco em História e Ciências Sociais. Sua dimensão internacional busca promover maior intercâmbio entre pesquisadores de
diferentes culturas, saberes e formação, acessando outros níveis de realidade e contribuindo para o enriquecimento de nosso conhecimento numa proposta transdisciplinar.
Dados Catalográficos:
ISSN 2318-3462
Setembro a Dezembro de 2013.
Volume 01.
Número 02.
Periodicidade:
Quadrimestral
Conselho Editorial
Rubens Caldeira Monteiro (Editor-Chefe)
José Roberto Ferreira
Kennyo Ismail
Luiz Franklin Mattos
Contato
Editor-Chefe: [email protected]
Suporte Técnico: [email protected]
Portal: www.fraternitasinpraxis.com.br
Contato geral: [email protected]
Ilustração da Capa:
A Persistência da Memória, de Salvador Dalí
(domínio público)
A escolha da ilustração para a capa foi inspirada pelo
artigo “A Concepção Filosófica de Tempo e a Régua de 24
Polegadas”, de Luiz Franklin de Mattos Silva.
Parceiros Institucionais:
Associação YORK RIO
Loja de Pesquisas Maçônicas “Rio de Janeiro”
Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro
Aviso:
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Revista Fraternitas in Praxis—FinP.
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Volume 1, Número 2, Set/Dez. 2013.
Sumário
Prefácio
5-6
Educação & Maçonaria: a ação transformadora da Loja Maçônica União e 7-20
Tranquilidade (1881-1890)
FERNANDO DA SILVA MAGALHÃES
A Sequência de Fibonacci no Templo de Salomão
ANDERSON LUPO NUNES
21-30
Os Calendários Maçônicos e Suas Corretas Aplicações
KENNYO ISMAIL
31-36
O Conceito Filosófico de Tempo e a Régua de 24 Polegadas
LUIZ FRANKLIN DE MATTOS SILVA
37-41
The Pillars of the Earth (resenha)
RUBENS CALDEIRA MONTEIRO
43-45
O Astronauta Brasileiro é Iniciado na Maçonaria (notícia)
ERICK VAN-ERVEN GONÇALVES
47-48
York Rite Brazil 2013 in Manaus (evento)
JOSÉ ROBERTO FERREIRA
49-50
FinP entrevista: JORGE PESSÔA, GRANDE SUPERINTENDENTE DA ORDEM
DOS SACERDOTES CAVALEIROS TEMPLÁRIOS NO BRASIL
51-58
3
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ISSN 2318-3462
Volume 1, Número 2, Set/Dez. 2013.
Apresentação
Trazemos a lume o segundo número da revis- linguagem universal da Matemática, ciência primordial, natural, essencial. Como Pitágoras teria dito, os
ta Fraternitas in Praxis.
números são entes vivos! Apresentando o formalisNeste ano de 2013 alcançamos alguns objeti- mo matemático da definição da Razão Áurea, o autor
vos:
nos conduz pelas convergências das formas da Vida e
Tivemos mais de 5 mil downloads, isso sem do Cosmos na proporção áurea, como se ouvíssemos
contar o que é compartilhado entre as pessoas e di- o próprio Criador nos reapresentando a nós mesmos:
vulgação via rede sociais. A distribuição da FinP de “Ecce homo”.
forma gratuita em formato digital tem se mostrado
Grande parte das Lojas Maçônicas Brasileiras
uma opção viável.
ainda mantém em suas atas, denominadas também
de Balaústres, a data do calendário gregoriano e do
calendário maçônico. Contudo, alguma confusão ainda paira na sua aplicação. O escritor e maçonólogo,
Mestre em Administração pela FGV, Past Master da
ARLS Flor de Lótus (GLMDF/CMSB) Kennyo Ismail nos
brinda com uma revisão dos calendários maçônicos
nos diversos ritos e seu uso adequado. A profusão de
ritos praticados na Maçonaria Brasileira merece a
apresentação dessa riqueza ímpar.
Obtivemos nosso ISSN (2318-3462), que é um
controle bibliográfico mundial de publicações seriadas, por meio de um único código, o ISSN
(International Standard Serial Number).
Também cadastramos a revista em alguns indexadores e diretórios, como Google Scholar, Sumários.org1
e Latindex2. É ainda um pequeno passo para o que
planejamos, mas toda jornada começa com um primeiro passo.
Um dos temas mais abordados em peças de
arquitetura de Aprendizes Maçons, a régua de 24 polegadas, é enfocada de forma sublime pelo Doutor
em Biologia de Água Doce, professor e Venerável
Mestre da Loja Acácia de York (GOIRJ/COMAB) Luiz
Franklin de Mattos Silva. Essa abordagem filosófica
adotada pelo autor nos coloca numa dimensão do
tempo ainda pouco explorada.
Este segundo número abrimos com um artigo
do Doutor em História e Venerável Mestre da Loja
União e Tranquilidade (GOB-RJ), Fernando da Silva
Magalhães, sobre Educação & Maçonaria. Este trabalho é parte da Tese de Doutoramento do autor, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ. Destaca o papel preponderante de alguns obreiros que por seu ideal lutaram pela Educação, por vezes contrariando seus pares, retratando
facetas do funcionamento de uma Loja Maçônica,
muitas vezes ocultas do profano.
Optando pela resenha de uma obra numa mídia diferente, o Doutor em Geociências, geofísico de
reservatórios e Venerável Mestre da Loja de PesquiO físico, professor e doutorando Anderson sas Rio de Janeiro (GOIRJ/COMAB) Rubens Caldeira
Lupo Nunes, mestre-maçom da Loja de Pesquisas Rio Monteiro traz um retrato dos aspectos da Maçonaria
de Janeiro (GOIRJ/COMAB), traz para a Maçonaria a Operativa apresentada na minissérie “Os Pilares da
1
http://www.sumarios.org/revistas/fraternitas-praxis
2
http://www.latindex.unam.mx/buscador/ficRev.html?opcion=1&folio=22861
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 5-6, Set/Dez, 2013.
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FinP - APRESENTAÇÃO
Terra”, onde a construção da Catedral de Kingsbridge seus defeitos e qualidades.
é a grande protagonista e ao seu redor vislumbramos
É este o conteúdo que trazemos a nossos leio dia-a-dia de um canteiro de obras da Alta Idade tores, brindando esse nosso segundo número. Boa
Média.
leitura!
Como o astronauta americano Buzz Aldrin
(iniciado na Loja Oak Park, em Montgomery, Alabama, em 1955, grau 32° do REAA, Cavaleiro Templário
do Rito de York e Shriner), o Brasil agora tem o seu
Fraterna e Sinceramente,
primeiro astronauta iniciado nas fileiras da Arte Real.
O jornalista e assessor de imprensa do Grão MestraRubens Caldeira Monteiro
do do GOIRJ, mestre maçom da Loja Maçônica Chico
Xavier (GOIRJ/COMAB) Erick Van-Erven Gonçalves
Editor-Chefe
apresenta nota da iniciação do astronauta brasileiro e
[email protected]
comandante Marcos Cesar Pontes na Loja Maçônica
Jacques DeMolay (GOIRJ/COMAB), em Petrópolis –
RJ, no dia 30 de novembro de 2013. Numa cerimônia
concorrida o neófito foi recebido como irmão pelo
Venerável Mestre junto com o Grão Mestre do
GOIRJ, assistindo logo em seguida a uma cerimônia
de jovens da Ordem DeMolay.
O estatístico, assessor federal e Venerável
Mestre da Loja Maçônica Chico Xavier (GOIRJ/
COMAB), José Roberto Ferreira, também Past Sumo
Sacerdote do Capítulo York No40 de Maçons do Real
Arco e Ilustre Mestre do Conselho York No 6 de Maçons Crípticos, compartilha um relato do Encontro
Anual do Rito de York no Brasil, realizado em meados
de novembro na cidade de Manaus, quando foi conferido o último grau do Rito de York, o de Cavaleiro
Templário, equivalente ao grau 33° do REAA, a mais
de uma centena de irmãos.
A entrevista da FinP desse número é com Jorge Pessôa, Grande Superintendente da Ordem dos
Sacerdotes Cavaleiros Templários no Brasil. O entrevistado nos apresenta o que é e como funciona essa
ordem internacional jurisdicionada diretamente ao
Grande Colégio, localizado na cidade de York
(Inglaterra). Seu caráter místico e bíblico encanta o
buscador sincero, relembrando em suas cerimônias o
Cristo e Melquisedeque. A entrevista traz ainda uma
visão pessoal, lúcida e polêmica de outras Ordens e
como alguns irmãos fazem uso delas em seu próprio
benefício, além de evidenciar uma visão panorâmica
do entrevistado sobre o cenário maçônico brasileiro,
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 5-6, Set/Dez, 2013.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 07/10/2013
Aprovado: 14/11/2013
EDUCAÇÃO E MAÇONARIA:
A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E TRANQUILIDADE (1881-1890)
Autor: Fernando da Silva Magalhães¹
Resumo
O presente trabalho, escrito a partir do campo da História, e na linha de pesquisa da História da Educação,
tem por objetivo apresentar algumas das atividades educacionais desenvolvidas pela Augusta e Respeitável
Grande Benemérita e Grande Benfeitora Loja Simbólica União e Tranquilidade, a Segunda da Ordem e a Primaz do Rito Moderno no Brasil durante a década de 80 do século XIX (1881 a 1890).
Palavras-chave: Educação; Maçonaria; Iluminismo.
Abstract
This paper, written from the field of history, and History of Education specifically, aims to present some of
the educational activities developed by “União e Tranquilidade” Masonic Lodge, the Second Lodge in the
Grand Orient of Brazil and the Primate of Modern Rite in Brazil during the 80’s of the nineteenth century
(1881-1890).
Keywords: Education, Freemasonry, Enlightenment.
¹ Fernando da Silva Magalhães é Doutor em Educação pela UERJ (2013) e Mestre em Educação pela UFRJ (2009), com bacharelado
e licenciatura em História pela UFRJ (1990). É o atual Venerável Mestre da Loja Maçônica União e Tranquilidade No. 002 do Grande Oriente do Brasil—GOB. E-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
que estas atas nunca foram trazidas a público, ficando os trabalhos desenvolvidos por este grupo, inscriEstabelecer um diálogo possível entre a pouco tos, até a presente data, na melhor das hipóteses, no
conhecida atuação da maçonaria no âmbito da edu- campo das lendas e suposições.
cação nacional. Este é o objetivo precípuo desta pesDesta forma, por fim, acreditamos e esperaquisa.
mos que esta apresentação contribua para um meO presente trabalho, escrito a partir do campo lhor entendimento de como atuava, e ainda atua
da História, e na linha de pesquisa da História da Edu- uma das principais lojas maçônicas do Brasil, uma das
cação, tem por objetivo apresentar algumas das ativi- três matrizes fundadoras da Maçonaria neste país,
dades desenvolvidas pela Augusta e Respeitável nos idos de 1822, e que vem atuando ininterruptaGrande Benemérita e Grande Benfeitora Loja Simbó- mente desde então, até a atualidade.
lica União e Tranquilidade, a Segunda da Ordem e a
Primaz do Rito Moderno no Brasil durante a década
de 80 do século XIX (1881 a 1890). Esta pesquisa re- Antecedentes: comentários relativos à educação expresenta parte da tese de doutoramento em Educa- traídos do Boletim do Grande Oriente do Brasil
ção ora em desenvolvimento por este pesquisador no (1871)
Programa de Pós Graduação em Educação – PROPED
É pouco conhecida, e, menos ainda, pesquisa– da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – da, a preocupação nutrida pela maçonaria em relação
UERJ. Traça um relatório das atividades da referida à Educação no Brasil. Se a razão de tal ênfase reside
Loja maçônica, concernentes ao aspecto da beneme- nos princípios iluministas, por esta instituição consirência e da filantropia maçônicas, características que derados como princípios basilares norteadores, ou,
conformam e moldam o processo de educação de se mera estratégia de combate à atuação de sua opotodo partícipe desta Ordem. É parte de nossa hipóte- sitora à época, a Igreja, é ponderação que deixamos
se de trabalho que tais atos, desenvolvidos ao longo em aberto aos pesquisadores pósteros. O que podedas reuniões maçônicas, têm por fim o desenvolvi- mos atestar é que a maçonaria efetivamente demento de características comportamentais em seus monstra, através de seus documentos publicados e
membros que contribuirão para a sua atuação no âm- aqui relacionados, grande interesse e atuação intensa
bito social no qual se inserem, com o fito específico no campo da educação durante todo o século XIX e
de tornarem-nos “construtores de templos às virtu- primeira metade do século XX, sendo elemento fundes e escavadores de masmorras aos vícios”, confor- damental deste campo, e de alta relevância para o
me ditam os rituais maçônicos.
entendimento da conformação da Educação RepubliIntrodução
Assim sendo, e com este objetivo, foram pesquisados os Boletins do Grande Oriente do Brasil, publicação oficial da maior e mais antiga potência maçônica do país, bem como as Atas da referida Loja
Maçônica, arquivadas em sua secretaria, e que nos
revelam seu dia-a-dia, suas nuances e idiossincrasias,
desvelando o novelo de ações e reações dos seus
membros durante o desenvolvimento das atividades
que, para nós, na contemporaneidade, tornaram-se,
pelo distanciamento do tempo, “História”.
cana em nosso país.
O Boletim do Grande Oriente do Brasil, fonte
que aqui apresentamos para dar à lume tal diálogo, é
publicação editada desde o ano de 1871, e representa a palavra oficial da principal potência maçônica do
país.
Logo em seu primeiro número, a partir do
quinto parágrafo, a publicação, em sua apresentação
introdutória, afirma:
“Os homens não são separados somente pelas desigualdades da fortuna; as
da educação, estabelecendo entre eles
Cremos ser esta, uma importante contribuição à História da Educação, a partir da percepção de
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
uma barreira maior, exigem que a administração da sociedade alargue os estreitos
caminhos pelos quaes a instrucção chega
às classes mais numerosas.
A necessidade de conhecerse a fonte,
onde foi bebida a instrucção e os meios
empregados para obtê-lo, a chancelaria de
um estabelecimento publico ou approvado
pela administração, como um privilégio
para a admissão nas universidades ou academias, a negligência dos juizes sobre as
habilitações dos professores públicos, cuja
unica direcção deve ser confiado o ensino,
a imposição da acquisição dos conhecimentos acessórios em diversos ramos de estudo, todas estas distincções devem desapparecer para que a instrucção torne-se
possível e fácil.
Os primeiros legisladores, instruídos
pelos sacerdotes, consideravam o homem
como autômato, visto como o seu principal
fim consistia no gozo d’alma e do corpo, à
custa da ignorância dos governados. Mais
tarde, quando Deus desceu ao universo
para regenerar o mundo intelectual quando depois de ter estabelecido por bases de
sua admirável doutrina a justiça e a caridade para todos, desappareceu aos olhos dos
povos, offuscados pelos raios de sua eternidade; homens hábeis, para firmarem mais
o seu domínio, torturaram durante perto
de mil annos os seus irmãos, cercando a
sciencia de uma nuvem, a cuja sombra eles
e os reis, seus escravos, se conservavam.
A propagação da instrucção pelo povo é uma idéia que a Inst.’. Mac.’., que
abraça a causa da humanidade, deve sempre sustentar e executar, com o intuito de
auxiliar a administração da sociedade na
realisação de medidas, de que depende o
seu progresso.”
A ciência e a civilização eram distribuídas apenas aos filhos dos nobres ou aos
favoritos da fortuna. A aristocracia, para
tornar-se o centro de todas as luzes, condemnava a humanidade a viver nas trevas
da superstição e da ignorância. No 18° século a philosophia foi pouco a pouco apparecendo; e rompendo o véo dos preconceitos, destruiu o fanatismo, com o seu cortejo de crimes.
(BOLETIM DO GRANDE ORIENTE DO
BRASIL. Jornal Official da Maçonaria Brasileira. Num. 1, Dezembro, 1871, 1°ANNO.
Introdução. Pp. 05-11. Mantida a grafia
original).
Tal exposição, verdadeiro manifesto de suas
idéias sociais e pedagógicas, delineia a proposta de
No presente século, será a ciência ainda atuação da maçonaria no campo educacional.
direito de todos nos paizes civilisados? Não
será uma anomalia ver-se a única aristocracia possível e legal tão pouco espalhada?
Baseando seus pressupostos educacionais em
uma visão de mundo pautada na filosofia iluminista,
faz-se necessário entendermos previamente como se
dava esta perspectiva. Muitas definições se têm dado
sobre o Iluminismo ao longo dos tempos. Optamos
aqui, por uma descrição sintética, em sete pontos,
dada por um dos mais atuantes pesquisadores maçônicos da atualidade, William Almeida de Carvalho1,
que nos diz:
Não exigirá a civilisação moderna,
com os mesmos direitos que tinha a antiguidade para os membros privilegiados da
sociedade, uma educação nacional e livre,
que não pode ser dada, senão gratuita?
O privilégio nos campos da inteligência parece ser o maior obstáculo que se
oppõe ao desenvolvimento dos destinos da
sociedade e uma causa poderosa da ignorância dos espíritos o da inferioridade moral das classes menos abastadas.
A maçonaria recebeu um impacto muito
forte das idéias iluministas, que contribuíram para influenciá-la até os dias atuais. Ao
se enumerar as idéias iluministas, pode-se
1
William Almeida de Carvalho é Doutor em Ciência Política pela Panthéon-Sorbonne. Sociólogo de formação, pós-graduado em
Administração Pública, foi Secretário de Educação e Cultura do Grande Oriente do Distrito Federal, e, atualmente é membro associado da Scottish Rite Research Society, da Southern Califórnia Research Lodge, da Philalethes Society e da Masonic Library and
Museum Association. É membro ativo da Loja Maçônica Equidade e Justiça, n.º 2336—GOB, localizada em Brasília – DF.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
fazer um cotejamento com os rituais e documentos maçônicos de hoje.
desenvolvidas por suas células sociais; as lojas maçônicas, aqui representadas pela loja União e TranquiliEsquematicamente, os componentes dade.
do Iluminismo clássico seriam os seguintes:
1. O universo é fundamentalmente racional, isto é, pode ser entendido pelo uso da
razão;
2. A verdade pode ser atingida pela observação empírica, pelo uso da razão e pela
dúvida sistemática;
3. A experiência humana é o fundamento
do entendimento humano da verdade; a
autoridade não deve prevalecer sobre a
experiência;
4. Toda vida humana, seja social ou individual, pode ser entendida da mesma maneira que o mundo natural pode ser entendido; uma vez entendida, a vida humana,
tanto social quanto individual, pode ser
forjada e gerenciada da mesma maneira
que o mundo natural pode ser manipulado
e arquitetado;
O combate às desigualdades sociais através
da democratização da educação, a ênfase na propagação do conhecimento científico como via e elemento civilizatório, a defesa visceral da laicidade, tanto na
sociedade civil quanto, em especial na educação, tanto pública quanto privada, a qualificação e profissionalização do professor público, a opção por uma cultura ampla e geral, de cunho humanístico; todas estas propostas são encaminhadas pela maçonaria do
século XIX à sociedade através da tomada de posição
sistemática de estratégias de expansão do ensino,
público, laico e gratuito. Este será o mote da ação
transformadora da maçonaria no século XIX.
Balaústres, atas maçônicas e projetos educacionais
Quando iniciávamos, ainda incipientemente,
5. A história humana é amplamente a histó- em 2010, nossas pesquisas sobre as relações entre
maçonaria e educação no Brasil, deparamo-nos com
ria do progresso;
a Prancha (nome que os maçons dão aos seus ofícios
6. Os seres humanos podem ser melhorados por meio da educação e do desenvol- internos) que abaixo comentamos e parcialmente
reproduzimos.
vimento de suas faculdades racionais;
7. As doutrinas religiosas não ocupam lugar
no entendimento do mundo físico e humano.
(CARVALHO, William Almeida de. Maçonaria, tráfico de escravos e o Banco do Brasil e
outros temas maçônicos e histórias controversas. São Paulo, Madras, 2010, p. 61-62.
Grifos meus).
Assim sendo, explicadas e definidas as crenças
maçônicas bem como seus pressupostos ideológicos
e filosóficos, fica mais fácil entendermos a atuação da
maçonaria como instituição, bem como as atividades
A mesma, enviada em 26 de janeiro de 1911
pela Loja paulistana Sete de Setembro ao Poder Central, localizado à época no Palácio do Lavradio, na rua
do mesmo nome, no Centro do Rio de Janeiro, solicitava ao Grande Secretário-Geral do Grande Oriente
do Brasil retificar uma informação constante em seus
registros: a bem da verdade, informavam aqueles
obreiros que era a Loja maçônica em questão, e não
a “emérita Sr.ª D. Anália Franco”2, à frente de sua
Associação Feminina Beneficente, que geria um conjunto não determinado de escolas naquela cidade. A
razão de tal disfarce, seria o desejo por parte dos
membros da loja maçônica de não serem incomoda-
2
Anália Franco Bastos, mais conhecida como Anália Franco (Resende, 10/02/1856 – São Paulo, 20/01/1919). Foi professora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira. Fundou mais de setenta escolas e mais de uma vintena de asilos para crianças órfãs. Na cidade
de São Paulo, fundou uma importante instituição de auxílio às mulheres, e a região, antes afastada do Centro, é hoje o bairro Jardim Anália Franco. Morreu vitimada pela gripe espanhola. Fonte: Wikipédia: “Anália Franco”. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Analia_Franco. Acesso em: 05.mar.2012.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
dos com os “importunos (sic) pedidos de pessoas inte- senvolvimento e conformação das instituições educaressadas em regê-las”.
cionais brasileiras ao longo dos últimos cem anos.
A descoberta do documento levantou uma
série de questões que se tornaram a base hipotética
desta pesquisa, e que estão expressas na Introdução
ao nosso projeto de tese. Partindo da idéia de que os
maçons entendiam a Educação como plataforma de
transformação dos antigos ideais absolutistas e dogmáticos em novas idéias iluministas e liberais, mais
afeitas a conformação de seu próprio ideário de sociedade, republicana, baseada no tripé revolucionário
francês de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, entendemos que a maçonaria como instituição, encetou, intencionalmente, esforços organizados no intuito de estimular em seus Orientes a criação e o patrocínio de educandários laicos, mistos e voltados para a
formação para o trabalho, engajando-se em um movimento antimonárquico e anticlerical durante o século XIX, e que se estendeu pelo século XX, no seu
segundo aspecto.
A ação transformadora
A Loja Maçônica União e Tranquilidade, durante praticamente metade da década pesquisada,
possuiu um único Venerável Mestre (nome dado ao
presidente e gestor do conjunto de maçons que formam uma loja), o Irmão José Fernandes Ferro, que
assina quase todas as Atas, entre 1880 e 1884, quando não substituído, esporadicamente, por motivos de
indisposição (“moléstia”, no jargão da época). Foi sucedido pelo Irmão Silvério Antonio Pereira, de 1885 a
1889, que também passou, posteriormente, o Malhete (instrumento-símbolo de sua condição de liderança dentro de uma loja maçônica) ao Irmão Honório
Pinto Pereira de Magalhães, em 1889, que deixará o
posto em 18 de dezembro daquele mesmo ano para
assumir no dia seguinte a função de Primeiro Grande
Vigilante do Grande Oriente do Brasil3. Foram estes
Esta pesquisa busca, portanto, elucidar a os Veneráveis Mestres do período aqui analisado.
questão sobre que modelo (s) de escola os maçons
O universo documental pesquisado consiste
planejavam estimular no Brasil para, em seguida, verificar quais as características identitárias que esses nas atas de número 1.892, datada de 20 de novemmaçons reputavam como as mais adequadas ao edu- bro de 1881, até a de número 2.220, de 24 de abril
de 1890. 328 relatórios manuscritos de sessões macando e futuro cidadão brasileiro.
çônicas, portanto, organizados em três livros encaAssim sendo, buscamos nos ater à documen- dernados que conformam os registros do período em
tação e ao garimpo das fontes primárias comprobató- questão, atualmente arquivados na secretaria desta
rias de nossa hipótese de trabalho.
loja maçônica.
Para além do balaústre (outra nomenclatura
A título de curiosidade, o último dos três cadada pelos maçons aos seus ofícios) em questão, bus- dernos se encerra com a transcrição de uma carta de
camos, através da pesquisa nas atas das lojas maçôni- próprio punho, datada de 07 de maio de 1890, do
cas e no Boletim do Grande Oriente do Brasil, coleção então Generalíssimo Manoel Deodoro da Fonseca,
de documentos oficiais maçônicos que vêm sendo instaurador e primeiro presidente da nascente Repúpublicados ininterruptamente desde o ano de 1871, blica do Brasil, e, ao mesmo tempo, Soberano Grãoapresentar uma seleção de documentos que demons- Mestre Geral Comendador da Ordem Maçônica no
trem a participação da maçonaria no processo de de- Brasil, quinze dias após a sua posse no cargo, em 24
3
Não pretendendo fazer deste um texto laudatório, mas sim no sentido de caracterizar a importância e a representatividade da
Loja União e Tranquilidade no mundo maçônico brasileiro, ressaltamos a relevância do cargo para o qual o Venerável Mestre da
referida loja é designado. O posto de 1º Vigilante representa uma espécie de “adjunto” do Venerável Mestre na loja. É normalmente quem assume as funções daquele, quando de sua ausência. Ressalte-se ainda, que a posse do irmão Honório Pinto Pereira
de Magalhães se dá na mesma sessão na qual é empossado Deodoro da Fonseca como Grão-Mestre da maçonaria, o que, pelo
relevo da ocasião, acrescenta maior significação ao posto.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
de abril de 1890. Esta missiva foi encaminhada ao
Venerável Mestre Honório Pinto Pereira de Magalhães, fazendo menção aos obreiros “que alteram a
boa ordem e regularidade dos trabalhos”, autorizando “fazer cobrir ao Templo4 obreiros turbulentos, e
quando desobedeçam ou reincidam, a suspender provisoriamente dos seus direitos maçônicos, instaurando-lhes imediatamente o respectivo processo, para
serem julgados segundo as leis vigentes”. Sinal dos
tempos bicudos em que coexistia, por um lado, uma
Loja maçônica de grande relevo e importância, mergulhada na desordem conflituosa entre seus pares,
refletindo a tensão ideológica que permeava a sociedade de então, e, por outro, um Grão-Mestre propenso a decisões de caráter militar e pouco afeito a
questionamentos. Sem dúvida uma época de evidentes possibilidades conflituosas para ambos os lados,
tanto no universo maçônico quanto na sociedade
brasileira.
Português, como a imensa maioria dos componentes daquela oficina à época, o Irmão Ferro manobrava seu malhete, como o próprio nome o sugere,
com “mão-de-ferro”, administrando uma série de
conflitos que caracterizaram as atividades da Loja em
meio a um conturbado período de efervescência política. Lembremos que, durante a década em tela, o
Brasil passaria por todas as “questões” (militar, religiosa e dos fazendeiros) que minariam os alicerces do
Segundo Império; enfrentaria os conturbados eventos que antecederam a abolição da escravatura e culminariam na Proclamação da República, em 1889.
sentes a cada reunião, a principal tônica dos longos
debates, expressos em suas atas ao transcurso de
toda esta década.
Estes eram personagens perfeitamente inseridos no contexto de seu tempo, a grande maioria estrangeira; homens imigrados de seu país de origem,
labutando por estabelecer-se em segurança e com
razoável dignidade em um país conturbado, em meio
a profundas transformações, muitas delas provavelmente inconvenientes a seus planos pessoais.
Ainda assim, e talvez, por essa razão, é que se
ressaltam como de interesse, em meio a toda esta
balbúrdia social, seus atos de beneficência, quando,
ainda no calor de uma discussão, a pedagogia maçônica se agiganta e determina o encerramento de um
entrevero, em nome de uma deliberação conjunta
que requer, de imediato, a união dos Irmãos.
É o que podemos, por exemplo, ver na atenção dispensada à Prancha da Loja Aurora Escosseza,
do Grande Oriente Unido do Brasil, lida na ata da sessão n.º 1.910, de 14 de junho de 1.882, pedindo a
coadjuvação financeira da Loja para a libertação de
um escravo.
Do mesmo modo, podemos ler na ata da sessão n.º 1.943, de 12 de maio de 1.883, a aquiescência
da Loja à solicitação da parte da Secretaria Geral da
Ordem, para a fundação de “escolas maçônicas”,
concorrendo a Oficina com a quantia de 10$ mensais.
Na mesma ata, tomamos ciência da decisão
de se convidar o Soberano Grão-Mestre para um ato
Não sendo do teor desta pesquisa a intenção solene, onde lhe seria entregue em mãos “em carta
de produzir falsos heróis, as observações feitas a par- fechada, a quantia de 100$000 para uma liberdade”.
tir das leituras ordenadas das atas da época nos faDa mesma forma, encontramos, quando do
zem saltar aos olhos o caráter irascível de alguns des- retorno às atividades da Loja após uma suspensão de
tes “Irmãos”, bem como seus interesses excessiva- três meses por parte do Poder Central, devido ás
mente fixados nas atividades financeiras da Loja. “desinteligências” ali ocorridas, sob a administração
Eram as discussões a respeito do emprego do Tronco do Venerável Silvério Antonio Pereira, na ata n.º
de Benemerência, contribuição financeira voluntária 2.103, de 15 de setembro de 1.887, uma prancha do
para fins filantrópicos dada por todos os maçons pre- Dr. Henrique Valadares, membro honorário e filiando
4
“Cobrir ao Templo” é expressão baseada no simbolismo maçônico que significa basicamente neste caso, retirar do local de reunião o(s) membro(s) que esteja(m) provocando desarmonia no ambiente.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
livre da Loja União e Tranquilidade. Esta trazia os seTambém identificamos, e consideramos de
guintes termos: “pedindo a coadjuvação desta Augus- alta relevância, encontrar na ata n.º 2.107, de 03 de
ta Loja para o Lyceo Maçônico que o Sapientíssimo novembro de 1887, o trecho que em seguida transGrande Irmão tem em vista crear”5.
crevemos:
Na mesma sequência, é lida a solicitação do
Irmão Francisco Luiz Alves de Lima, membro do quadro, solicitando uma beneficência, atendida com a
quantia de 10$000 réis mensais; outra, da Augusta
Loja Acácia, do Oriente do Rio Grande do Sul, pedindo proteção para o seu Benemérito Irmão Henrique
Landeel; e, finalmente, da Viscondessa de Ponte Ferreira, também pedindo uma beneficência, e sendo
atendida com a importância de 10$000 réis.
Da mesma forma, na ata n.º 2.105, de 20 de
outubro de 1.887, identificamos a leitura de uma
prancha do Irmão Júlio da Nóbrega, maçom do grau
33, pedindo “uma beneficência para o maçom José
Lino Fleming, maestro compositor que se acha na Itália, concluindo e aperfeiçoando os seus estudos”. O
pedido foi encaminhado á comissão de finanças para
avaliação.
É presente pelo Respeitável Irmão Venerável uma prancha da Secretaria Geral da
Ordem, pedindo a opinião da Loja sobre a
liberdade dos escravos. A Loja resolve
acompanhar as idéias do Sapientíssimo
Grande Irmão”.
(ATA N.º 2107. RJ, Palácio Maçônico
do Lavradio. 03 de novembro de 1887).
Este trecho reputamos da mais alta relevância, no sentido de perceber a vanguarda social preconizada pela maçonaria naquele período, tendo em
vista a constatação de que, com cerca de seis meses
de antecedência, já a maçonaria articulava em seus
espaços de sociabilidade6, a interlocução a respeito
da abolição da escravatura.
Ainda sobre tal assunto, e evidenciando o posicionamento da ordem maçônica a respeito da quesEstes atos de beneficência e contribuição pe- tão abolicionista, informa-nos a ata da sessão n.º
cuniária, sejam no aspecto individual, quando do 2.126, de 24 de maio de 1.888, que
apoio a uma viúva ou a um músico brasileiro em ou“O Irmão Venerável declarou que, sendo
tro país, ou, no campo das contribuições a projetos
convocados os Veneráveis das Oficinas afim
escolares, refletem a ênfase transformadora preconida Maçonaria festejar a abolição da escravidão, ele em nome da Oficina, ofereceu a
zada pela maçonaria naquele contexto histórico, baquantia de 50$000 réis, cujo ato esperava
seada no ideário iluminista que enfatizava a bandeira
que fosse por todos aprovado”.
da liberdade e multiplicidade de pensamento e a lai(ATA N.º 2126. RJ, Palácio Maçônico do
cidade, em oposição a um projeto social conservador,
Lavradio. 24 de maio de 1888).
representado, naquele período, também no campo
da educação, pela Igreja.
5
Henrique Valadares (PI, 15.03.1852 - RJ, 09.11.1903). Iniciado na Loja Cruzeiro do Sul II, na província de Uruguaiana – RS, em
24.06.1874. Instaurada a República, durante o governo de Floriano Peixoto, foi nomeado por este o 3º prefeito do Distrito Federal
(junho de 1893 - dezembro de 1894), e, posteriormente, deputado federal pelo Estado do Piauí. Foi Grande Secretário-Geral do
GOB (1891-1900) e Grão-Mestre Adjunto e Lugar-Tenente Comendador do GOB na gestão de Quintino Bocayuva (1901-1904). Foi
ainda, Benemérito da Ordem e Grão-Mestre Grande-Comendador Honorário do GOB (Decreto n.º 147, de 22.01.1898), além de
Garante de Amizade do Grande Oriente da França e do Supremo Conselho do Egito (BO GOB n.º 3, 14º ano, maio de 1889, p.48).
Quando de sua morte, ocupava o posto de general-de-divisão do exército brasileiro, recebendo postumamente honras de marechal-de-exército. Maçom permanentemente dedicado ao campo da educação e da instrução, foi durante as décadas de 80 e 90 do
século XIX redator-chefe do Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil.
6
Sobre o conceito de sociabilidade maçônica, sugerimos a leitura de Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil
(1790-1822), de Alexandre Mansur Barata, onde o autor explicita o conceito de sociabilidade como o maior contributo da Ordem à
sociedade, residindo nesta característica maçônica, o foco principal de interesse dos historiadores acadêmicos contemporâneos
que pesquisam a Maçonaria.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
Consta na ata n.º 2.155, de 02 de maio de pressa na dedicatória ao leitor escrita pelo próprio
1.889, um Tronco de Beneficência corrido em nome Henrique Valadares, na abertura do livro:
das
“Aquele que se inicia na Maçonaria nem
sempre encontra quem lhe ministre todas
as explicações necessárias relativamente
aos trabalhos ordinários de uma Loja. A
curiosidade e o desejo de aprender e conhecer levam o novo Aprendiz a inquirir a
todo o momento sobre as práticas mais
insignificantes. Disso resulta que o Aprendiz
vai procurar essas explicações nos livros
que pode encontrar na mercado, fazendo
aquisição mais ou menos dispendiosa de
obras muitas vezes pouco criteriosas e mesmo mentirosas. Para satisfazer a essa necessidade reconhecida e preencher essa
lacuna, procuramos organizar o presente
opúsculo, em que serão encontradas aquelas explicações, que não estão consignadas
nos Rituais e obras congêneres. Não é um
trabalho metódico e preparado a capricho.
É, porém, o fruto da boa vontade de um
Maçom que deseja ver a uniformidade e a
regularidade no trabalhos das Oficinas do
Grande Oriente do Brasil. É portanto, um
arrojo desculpável”.
“vítimas de Campinas. Depois de ter sido
discutido e aprovado, produzindo a quantia
de 15$000, que foram entregues ao Respeitável Irmão Hospitaleiro com ordens para
serem entregues ao respeitável irmão Secretário Geral, em nome de nossa Augusta
Loja em favor das vítimas”.
(ATA N.º 2155. RJ, Palácio Maçônico do
Lavradio. 02 de maio de 1889).
Na ata n.º 2.168, de 16 de maio de 1.889, destina a loja a quantia de 42$000 “para a aquisição de
14 cadeiras de benefício ao Lyceu Maçônico”.
O Lyceu Maçônico, como anteriormente citado, era um projeto diretamente ligado à iniciativa do
maçom Henrique Valadares, proeminente personagem histórico do período que, como maçom, buscava
neste espaço o apoio necessário ao desenvolvimento
de sua idéia.
Desde a mocidade preocupado com a questão
educacional, Henrique Valadares atuou pedagogicamente tanto no interior da ordem maçônica quanto
no âmbito da sociedade brasileira como um todo,
fosse como professor na Escola Militar7, ou como incentivador de novas escolas, como o Lyceu maçônico.
No campo interno da maçonaria, Valadares publicou
em novembro de 1896, a obra “O Aprendiz-Maçom”8,
onde delineava todos os requisitos necessários ao
bom desenvolvimento e apreensão dos conhecimentos da pedagogia maçônica por parte dos iniciantes
na ordem. Tal preocupação pedagógica é bem ex-
(VALADARES, Henrique. “O Aprendiz – Maçom”. Volume 1. RJ, Grande Oriente do
Brasil, 1896, 1ª Edição, p.12).
A maçonaria, portanto, podemos perceber,
atuava oculta e discretamente no seio da sociedade
brasileira de então como um “centro de união”, onde
discussões e projetos sociais, muitos deles de cunho
educacional, não ortodoxos para o stablishment podiam ser tratados e desenvolvidos, configurando-se em
território neutro de diálogos possíveis entre atores
sociais normalmente afastados entre si no âmbito da
7
O maior reconhecimento que se poderia dar à figura de Henrique Valadares como bom e dedicado professor e emérito educador,
viria a ser expresso por seus alunos, em 1903, quando da passagem de seu féretro em via pública, rumo ao cemitério: Em certo
ponto do trajeto, os alunos da Escola Militar fizeram parar o coche que transportava seu caixão, e, à mão, transportaram o corpo
de seu ex-mestre até a sepultura, no cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro.
8
No ano de 1965 o Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil, Álvaro Palmeira, institui através do Ato n° 2.761 uma comissão
encarregada de relançar o livro de Henrique Valadares. No mês de dezembro de 1966, no Rio de Janeiro, é lançado o volume “O
Aprendiz – Maçom” de Henrique Valadares. Contendo neste volume: “Livro 1 O Aprendiz Maçom”; “Livro 2 - As Constituições de
Anderson – a) As Antigas Leis Fundamentais – b) As Antigas Obrigações ou Regulamentos Gerais de 1721”; “Livro 3 – Os Landmarques da Ordem, segundo Mackey, Findel, Pount e Grant”. Sendo este volume reeditado na administração 1978 – 1982, do Grão
Mestre Osiris Teixeira.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
rígida estrutura de classes altamente hierarquizada
A autonomia de decisão da Loja maçônica
do Segundo Império.
União e Tranquilidade também pode ser identificada
Percebemos outro interessante aspecto da na ata n.º 2.183, de 21 de novembro de 1.889, quanatuação de uma loja maçônica como espaço dialogal, do do falecimento do Grão-Mestre Geral da Ordem,
neste aspecto específico, no campo do gênero, que Senador Vieira da Silva. Instada pelo Poder Central e
se dá na leitura da ata n.º 2.171, de 13 de junho de por uma comissão de veneráveis a participar de uma
1.889, onde se delibera e se atende ao pedido de be- cotização para organização de uma sessão de pompa
neficência de D. Maria Carolina da Costa Braga, espo- fúnebre, ritual de homenagem póstuma praticado
pelos maçons quando da morte de um de seus memsa do Irmão Antonio da Costa Braga:
bros; a loja, em deliberação conjunta, resolve desti“Quando enferma e abandonada por seu
nar a quantia apurada de 50$000, não ao fim proposmarido. A Ilustre Comissão de Beneficência
termina com as seguintes conclusões. 1º. to, mas diretamente às mãos da filha do finado, deliQue seja embolsado o Irmão Affonso Leite, berando ainda, a concessão de uma pensão de 10
da quantia de 44$000, por ele dispendida à $000 mensais à viúva, enquanto lhe fosse necessário.
D. Maria Carolina da Costa Braga, esposa
do irmão Costa Braga; 2º. Que se dê um
voto de louvor pelo ato filantrópico por ele
praticado; 3º. Que seja convidado o nosso
Irmão Costa Braga por prancha para ser
advertido para não continuar a proceder
mais daquela forma”.
(ATA N.º 2171. RJ, Palácio Maçônico do
Lavradio. 13 de junho de 1889).
Atuando como interlocutora e mediadora do
conflito matrimonial aqui exposto, pode-se daí depreender que a Maçonaria, em atuação bastante
avançada para os padrões sociais de então, altamente discriminatórios em relação à figura feminina, preza substancialmente a harmonia do lar, intercedendo
e agindo com rigor em casos de conflitos ou desatenção matrimonial que envolvam seus obreiros.
Outro aspecto interessante, este no tocante à
atuação política da Ordem, se pode identificar no texto da ata 2.173, de 04 de julho de 1.889, quando da
solicitação do Grão-Mestre Geral, que pede:
“a coadjuvação possível no que pode-se
influir à que o Sapientíssimo Irmão GrãoMestre Adjunto, Barão de Guahy seja o
escolhido para senador pela Província do
Rio de Janeiro”.
(ATA N.º 2173. RJ, Palácio Maçônico do
Lavradio. 04 de julho de 1889).
Além destes, muitos outros atos de filantropia
e benemerência eram constantemente praticados.
Aqui os relacionamos, no sentido de buscar clarificar
seu pensamento pedagógico enquanto formadora de
mentalidades inovadoras e libertárias em meio a uma
sociedade arcaica em momento de profundas transformações sociais. Em praticamente todas as sessões
da loja maçônica União e Tranquilidade eram formadas comissões de beneficência para visitar irmãos
acamados, onde eram, muitas vezes, angariados recursos ao pagamento de despesas médicas. Comissões do mesmo tipo eram sempre constituídas quando do falecimento de algum irmão do quadro, onde,
em muitos casos, quando a família do falecido encontrava-se em situação de penúria, eram pagas as custas do féretro e concedidas quantias para o auxílio da
viúva e familiares. Até mesmo o zelador do Palácio
Maçônico do Lavradio, pessoa de poucos recursos,
tinha sua recorrente missiva rogatória (aparece em
pelo menos seis das atas pesquisadas) atendida em
diversas ocasiões, quando sempre lhe era destinada a
mesma quantia de 5$000, invariavelmente para
“auxiliar sua mãe enferma, em Portugal”.
O lyceo maçônico ou lyceu brazileiro, transforma-se
em lyceu do Grande Oriente
Ao longo do período estudado, percebemos a
pista, nas acima citadas atas de maio de 1883, setembro de 1887 e maio de 1889, do projeto de constru-
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
ção do Lyceo Maçônico, idealizado inicialmente por
parte do maçom Henrique Valadares, e, posteriormente, tendo sua proposta absorvida pelas lideranças maçônicas de então conjugando esforços, não
apenas dos obreiros da Loja União e Tranquilidade,
mas de todos os maçons da corte em vias de se tornar capital da república.
Ao final da década que esta pesquisa se propôs abordar, encontramos nova referência ao citado
projeto educacional maçônico, desta feita, vinculado
a mais um momento de transformação no seio da
Loja União e Tranquilidade, relativo às mudanças
acarretadas na Ordem pela assunção de Deodoro da
Fonseca ao posto máximo no Grande Oriente do Brasil.
Como visto, o Lyceo Maçônico projetado por
Henrique Valadares quase uma década antes, aparentemente apresentava dificuldades em sair da
prancheta dos arquitetos. Nem por isso a idéia fora
esquecida. Conjugada às questões administrativas e
políticas da ordem, a vertente educacional da maçonaria caminhava paralelamente como um item constante e importante da pauta de ações transformadoras dos pedreiros-livres. E, provavelmente impulsionada pela próxima ascensão de Deodoro ao grãomestrado, o ideal incipiente do Lyceu é retomado
com maior força e vigor, como se pode ver através da
esclarecedora publicação, no Boletim de maio de
1889 do seu Regulamento. Percebemos então, que o
projeto de Valadares já havia desde algum tempo,
tornando-se realidade, ainda que de forma incipiente, existindo em caráter experimental provisoriamente dentro do próprio Palácio Maçônico do Lavradio. A
escola maçônica, originalmente batizada como Lyceu
Brazileiro, passa a receber, com seu estatuto regulamentador, a denominação de Lyceu do Grande Oriente, e, com esta nova nomenclatura, ganha forma consistente, aventurando-se a formar sede própria, como podemos ver no extrato abaixo:
“Lyceu do Grande Oriente.
Tendo funcionado este Lyceu por aulas
diurnas, em compartimento especial do
Edifício Maçônico, deliberou o Sap.’. Gr..
Or.’. instalal-o fora do Edificio e por aulas
nocturnas, sob o seguinte
REGULAMENTO
CAPITULO 1
DO LYCEU
Art. 1°. O Gr.. Or.. chama a si a direcção e
custeio do Lyceu Brazileiro, que passará a
denominar-se Lyceu do Grande Oriente, no
qual serão ensinadas gratuitamente as materias de ensino primário e secundário aos
filhos de maçons.
§ Único. O ensino poderá ser facultado aos
filhos de indivíduos que não pertençam à
Ordem, sendo pobres, quando o Gr.’. Or.’.
o deliberar.
CAPITULO II
DAS MATRICULAS
Art. 2°. Para a matricula nas aulas do Lyceu
exige-se:
§ 1°. 0 Requerimento ao Grão Mestre pelo
pae ou tutor do alumno, e na falta destes
pela mãe ou quem por elle velar.
§ 2°. Ser o alumno filho, ou irmão menor de
Maçom, e este membro activo de qualquer
0fficina do Círculo, e quando fallecido, ter
sido membro activo na occasião do seu
fallecimento.
Art. 3°. A prova da actividade maçonica,
consiste no certificado da Grande Secretaria Geral da Ordem em vista do quadro da
respectiva 0fficina, ou desta quando o Maçom fôr fallecido.
CAPITULO III
DA. DIRECÇÀO DO LYCEU
Art. 4.° A direcção do Lyceu é confiada a
uma commissão de 7 Membros effectivos
do Gr.’. Or.’. que servirá durante o anno
maçonico, e que d’entre si nomeará um
para Presidente, e a esta Comm.’. compete:
§ 1°. Admittir os Professores em que reconhecer habilitações e. idoneidade, e dispensal-os quando commetterem faltas que
prejudiquem o ensino.
§ 2°. Inspeccionar os trabalhos das aulas,
para que funccionem com a precisa regularidade, mantendo o respeito aos Professores e a disciplina entre o alumnos.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
§ 3°. Attender ás reclamações dos Professores, providenciando como julgar conveniente, e requisitando do Gr.’. Or.’. e do Gr.’.
Mestr.’. em caso urgente, qualquer medida
extraordinaria.
infractores punidos:
§ 4°. Propôr qualquer medida a bem do
ensino, e sobre premios aos alumnos que
se distinguirem, ou sobre qualquer remuneração aos Professores.
§ 4°. Pela communicação ao pae ou tutor
para o punir.
§ 5°. Requisitar da Gr.’. Thesour.’. Ger.’. da
Ord.’. por intermedio do Gr.’. Secr.’. o pagamento das despezas do custeio, no limite
da verba authorizada.
Art. 10°. As penas comminadas nos §§ 1° e
2° do Art. antecedente serão applicadas
pelo professor; a do § 3° pelo professor de
accordo com o Director; a do § 4° pelo Director; e a do § 5° pela commissão directora, sendo esta pena applicada por mais de
uma reincidência.
§ 1°. Pela advertência em particular.
§ 2°. Pela reprehensão em aula.
§ 3°. Pela retirada da aula.
§ 5°. Pela expulsão do Lyceu.
§ 6°. Dar conhecimento ao Gr.’. Or.’., nas
quatro sessões annuaes, do andamento e
estado do Lyceu, propondo as medidas que
julgar a bem do mesmo.
Art. 11. Aos alumnos, cujos paes não dispuzerem totalmente de meios para compra
de livros, lhes serão fornecidos pelo Lyceu.
CAPITULO IV
DAS FINANÇAS DO LYCEU
Art. 12. Aos alumnos de exemplar comportamento, estudiosos e que se distinguirem,
merecendo approvação em exames, serão
concedidos prêmios pelo Gr.’. Or.’.”
Art. 5°. A receita do Lyceu consiste:
§ 1°. Da verba que o Gr.’. Or.’. decretar.
§ 2°. Do producto de um beneficio em theatro, que terá lugar annualmente.
(GRANDE ORIENTE DO BRASIL. “Lyceu do
Grande Oriente”. Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maçonaria.
Brasileira. Número 3, 14º ano de publicação, Maio, 1889. pp. 36-38. Mantida a grafia original).
§ 3°. Dos donativos voluntários, quer das
OOff.’. quer dos MMaç.’. do Circ.’.
Art. 6°. A despeza do Lyceu consiste:
§ 1°. Do aluguel da casa em que o Lyceu
funccionar.
§ 2°. Da gratificação a um escripturario, que
estará presente nas horas das aulas
§ 3°. Do consumo de gaz, livros, servente e
qualquer despeza eventual.
CAPITULO V
DAS AULAS, PENAS E RECOMPENSAS.
Art. 7°. O anno lectivo começa em 1 de
Março e termina em 20 de Dezembro de
cada anno, sendo feriados os dias santificados, de festa ou luto nacional, domingo da
qüinquagésima até quarta-feira de cinzas e
toda a semana santa.
Art. 8°. As aulas serão nocturnas, funccionando de Abril a Setembro das 6 ás 9 horas,
e de Outubro a Março das 7 ás 10 horas, e
ás ditas aulas assistirá sempre um Director.
Art. 9°. Dos allumnos exige-se a pratica das
bôas acções e regras de civilidade, sendo os
Como anteriormente citado, no final desta
década de intensa movimentação política e social, o
último Venerável-Mestre do período, Honório Pinto
Pereira de Magalhães deixa seu posto na Loja União e
Tranquilidade em 18 de dezembro de 1889 para assumir no dia seguinte a honrosa posição de Primeiro
Grande Vigilante do Grande Oriente do Brasil, secundando o Grão-Mestre também na mesma data empossado, Deodoro da Fonseca.
Juntos, estes e outros maçons dos mais distantes rincões da nação darão prosseguimento ao
projeto maçônico republicano. Paralelamente, no
campo educacional, nunca descurado, mesmo nos
momentos mais conturbados, a experiência pedagógica do Lyceu do Grande Oriente prosseguirá; como
podemos perceber nesta outra transcrição abaixo,
referente à eleição e posse de Deodoro da Fonseca e
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
destacam-se o Monte Pio e o Lycêo.
Honório Magalhães, onde, cerca de seis meses após a
publicação de seu Regimento, a preocupação manifesta relativa ao desenvolvimento da referida escola
se inscreverá entre as quatro principais proposituras
do mandato do novo Grão-Mestre e de seu Primeiro
Vigilante.
A terceira, corrigir muitos abuzos,
introduzidos na Maçonaria, pela tolerância
d’uns e indiferença d’outros.
A quarta, restabelecer a disciplina
maçônica, fazendo observar a lei em toda a
sua pureza e de modo, que o maçom seja
apreciado pela qualidade e não pela quantidade.
Quando da posse dos dois, assim descreveu o
Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil o evento:
Astro do dia, o Marechal Deodoro, ha
de atttrahir à Maçonaria muitos satelites.
Escolhel-os e aproveital-os, em beneficio da
Ordem, será, sem duvida, um dos seus principaes cuidados.
“A Maconaria revive!
Duas eleições importantes realizaram
-se no dia 19, para preenchimento de vagas, abertas pela morte.
Parecia não ser fácil dar successores
aos illustres, Luiz Antonio Vieira da Silva,
Gr.’. Mest.’., e Francisco José de Lima Barros 1º Gr.’. Vig..’.; entretanto, inspirado o
Gr.’. Or.’. pelo Supr.’. Arch.’. do Un.’., fez a
mais acertada das escolhas.
Os eleitos,
e por unanimidade, foram: Gr.’. Mest.’. e
Gr.’.. Comen.’., o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca; e o 1º Gr.’. Vig.’., Honório
Pinto Pereira de Magalhães.
Impor-lhes o acto de prezença, o mais
importante dos seus serviços. Levar a animação, onde existia a indiferença, o serviço, por excellencia.
Realizadas as aspirações, que vimos
de apontar como urgentes, grande serviço
deverá a Maçonaria ao seu Gr.’.Mest.’.
Então, continuaremos a affirmar que:
A Maçonaria revive!
Symbolisa o primeiro a Actualidade, o
Palinuro da Nau do Estado; o segundo, as
tradições maçônicas, a chefia dos soldados
da velha guarda.
NEMO.
Dezembro. 30 de 1889”.
(GRANDE ORIENTE DO BRASIL. “A Maçonaria
Revive”. Boletim do Grande Oriente do Brasil.
Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10,
14º ano de publicação, Dez., 1889. pp. 247249. Grifos meus. Mantida a grafia original).
Escolhendo homens d’este quilate,
com poderes e aptidões para todos os commettimentos, mostrou o Gr.’. Or.’. perfeita
orientação dos interesses maçônicos, quiçá,
por longos annos, tão descurados.
Com administração corno a actual, a
Potência Maçônica, é chamada a reorganizar-se immediata e completamente, de
modo a produzir todos os beneficios promettidos áquelles, que n’eIIa se filiam.
(...)
Levado ao Grão Mestrado por prestigiosa eleição, qual a d’unanimidade de votos, pezadas obrigações contrahio o Marechal Deodoro.
A primeira, comparecer a todos os
actos, a que por lei é chamado, e tantas
vezes mais, quantas a necessidade do serviço o exigir.
A segunda, tornar effectivas as reformas e creações pendentes, entre as quaes
Considerações finais
Pudemos perceber, ao longo desta pesquisa,
que nos anos que compreendem o final do século XIX
e o início do XX, para além da grande participação
política da maçonaria nos acontecimentos nacionais,
mormente na implantação, constituição e delineamento da república no Brasil, que, no nosso entender, desenvolve um perfil “maçônico” em nosso país,
ainda a ser desvelado por pesquisas mais aprofundadas sobre o tema, e que façam uso do rico e praticamente desconhecido acervo documental disponível
nas lojas maçônicas, também a ordem se dedica, paralelamente, e, com igual ênfase, ao campo do desenvolvimento educacional do país. Este campo era
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013.
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MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
entendido estrategicamente pelos maçons, tanto pela vertente iluminista, quanto pelos modernos positivistas, ambas poderosas correntes ideológicas praticadas pelos maçons de então, como área fundamental para o progresso nacional e o desenvolvimento no
país de diálogos construtores que, entre suas colunas, não só se tornaram possíveis, mas fundamentalmente essenciais no caminho da consecução do projeto de modernização civilizatória nacional.
Concluímos que os maçons do passado, em
pouco ou quase nada se diferenciavam dos personagens sociais da atualidade. Seus receios, medos e incompreensões relativos aos fatos dos quais eram
contemporâneos em muito se assemelham às posturas dos homens comuns hodiernos.
Entretanto, cabe-nos, como estudiosos e buscadores do real “évenement”9 histórico dentro do
campo da Educação, compreender as matrizes de
seus pensamentos e atitudes, a fim de entendermos
da melhor forma possível como os acontecimentos
do passado desenharam o mundo futuro, no qual
existimos hoje.
to e a compreensão de seus gestos, enquanto homens normais. Homens estes que merecem respeito
e admiração por conduzirem de alguma forma a maçonaria até os dias atuais.
Se não são merecedores de um mistificador
culto, fazem-se por outro lado, dignos de nosso reconhecimento enquanto atores sociais, por, através de
seus esforços em prol de um diuturno e constante
aperfeiçoamento de suas pedras, como reza a pedagogia expressa no simbolismo dos maçons, propagar
a filantropia e a beneficência mesmo em meio a um
período conturbado de instabilidade política, que se
espelhou com todas as suas nuances no seio das oficinas maçônicas.
A loja maçônica União e Tranquilidade, contrariamente ao que preconiza seu dístico, enfrentou
diversos momentos de crise intestina, sofrendo ao
longo desta década estudada, diversas intervenções
do Poder Central Maçônico, tendo, inclusive, seus
trabalhos suspensos até que a paz e a concórdia voltassem a reinar em suas colunas.
Ainda assim, o trabalho maçônico não deixou
Pela sua atuação transformadora enquanto de ser cumprido, como pudemos perceber através da
espaço de estabelecimento de diálogos que, fora de leitura de suas atas.
suas paredes, seriam impossíveis na sociedade de
Se estes “irmãos” de antanho não primavam
então, a loja maçônica União e Tranquilidade eviden- pela fraternidade e concórdia entre seus pares, mais
cia o desenvolvimento do projeto pedagógico maçô- relevantes ainda, em nosso entender, se tornam seus
nico de propagação das luzes do saber e do conheci- esforços na manutenção e desenvolvimento do auxímento, com base na laicidade, na razão e na lógica do lio, tanto no aspecto do mutualismo que caracteriza
pensamento.
fortemente a Ordem Maçônica, quanto, e principalMuito mais proveitoso torna-se, para nós, mente, no aspecto das suas intervenções transformapesquisadores do campo educacional, o entendimen- doras no seio da sociedade, especialmente no aspec⁹ Événement, traduzido para o português, pode ser entendido como “acontecimento”. Para o historiador Pierre Nora, “quem detém o poder é tido como quem sabe. Daí uma dialética nova, própria a fazer surgir nas nossas sociedades um tipo de acontecimento ligado ao segredo, à polícia, à conspiração, ao rumor e aos ruídos. Pois é, ao mesmo tempo, verdadeiro e falso que não se fala
tanto para esconder o essencial, que o sistema que favorece o nascimento do acontecimento é também, mas não apenas, fabricante de ilusões, que tantas confissões dissimulam uma falsidade. Quer se trate por exemplo da franco-maçonaria associada aos Sábios de Sion na época da revolução industrial, quer se trate da internacional judia sob Hitler, ou do antiimperialismo nos países
descolonizados, é certo que todos esses bodes expiatórios utilizados por tantos senhores-feiticeiros do poder carismático acompanharam a experiência histórica da participação nova das massas na vida pública, ou seja, no crescimento da democracia. Aconte cimentos que traduzem desastradamente, selvagemente, tanto a irrupção das massas na cena quanto a profunda frustração das
multidões que se lançam sobre um falso saber para compensar sua falta de poder. Multiplicar o novo, fabricar o acontecimento,
degradar a informação, são seguramente os meios de se defender. Mas a ambigüidade que se encontra no coração da informação
acaba no paradoxo das metamorfoses do acontecimento”. (NORA, Pierre. O retorno do fato. In: LE GOFF, J. e NORA, P. História:
Novos Problemas. RJ, Francisco Alves, 1979, p. 188).
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19
MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E...
to educacional; assim contribuindo, efetivamente,
para o desenvolvimento, a partir de seu meio, das
características que conformaram o campo social da
nação brasileira.
Este estudo, concluímos, pensa colaborar para o entendimento do real funcionamento de uma
loja maçônica, bem como clarificar suas matrizes de
pensamento pedagógico, com todos os seus defeitos
e percalços, no âmbito de suas relações com a sociedade que a envolve.
O mérito maior que podemos reconhecer na
atuação da Maçonaria, principalmente em meio a
momentos conturbados da história brasileira, reside
no fato de que nestes espaços, homens comuns labutam constantemente no esforço pelo aperfeiçoamento constante de seus pensamentos e ações.
Permanentemente em busca do que a pedagogia maçônica chama de “igualdade moral”, chave
equalizadora das diferenças de crença, costumes e
opiniões, os maçons contribuem desta forma, para a
transformação da sociedade, perenemente incentivando a irradiação das luzes da razão com base em
uma educação sólida, libertária, igualitária e fraterna,
fazendo destes pressupostos, elementos norteadores
rumo ao inevitável progresso da Edificação Social,
conforme rezam seus estatutos e regras de conduta.
ATA N.º 1943. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 12 de maio de
1883.
ATA N.º 2103. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 15 de setembro
de 1887.
ATA N.º 2105. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 20 de outubro
de 1887.
ATA N.º 2107. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 03 de novembro de 1887.
ATA N.º 2126. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 24 de maio de
1888.
ATA N.º 2155. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 02 de maio de
1889.
ATA N.º 2168. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 16 de maio de
1889.
ATA N.º 2171. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 13 de junho de
1889.
ATA N.º 2173. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 04 de julho de
1889.
ATA N.º 2183. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 21 de novembro de 1889.
ATA N.º 2220. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 24 de abril de
1890.
2. FONTES SECUNDÁRIAS
BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada
e independência do Brasil (1790-1822). Juiz de Fora : Ed. UFJF;
SP : Anablume, 2006.
Afinal, talvez resida aí o grande segredo da CARVALHO, William Almeida de. Maçonaria, tráfico de escravos
e o Banco do Brasil e outros temas maçônicos e histórias controMaçonaria.
versas. São Paulo, Madras, 2010.
LE GOFF, J.; NORA, P. História: Novos Problemas. Rio de Janeiro,
Francisco Alves, 1979.
Bibliografia
VALADARES, Henrique. O Aprendiz – Maçom. Volume 1. Rio de
Janeiro, Grande Oriente do Brasil, 1966, 2ª edição.
1. FONTES PRIMÁRIAS
GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Boletim do Grande Oriente do
Brasil. Número 1, ano 1 de publicação, Dezembro, 1871.
GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Boletim do Grande Oriente do
Brasil. Número 3, 14º ano de publicação, Maio, 1889.
GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Boletim do Grande Oriente do
Brasil. Número 10, 14º ano de publicação, Dez., 1889.
ARQUIVOS DA SECRETARIA DA LOJA UNIÃO E TRANQUILIDADE
ATA N.º 1910. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 14 de junho de
1882.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 25/10/2013
Aprovado: 17/11/2013
A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
Anderson Lupo Nunes¹
Resumo
É feita uma introdução, que trata sobre os vínculos entre o simbolismo do Templo de Salomão e a sequência
de Fibonacci. O conceito acerca da Razão Áurea é apresentado e é feita uma dedução formal de seu valor
numérico. Diversos exemplos de identificação da Razão Áurea, extraídos de aspectos biológicos, anatômicos,
astronômicos, entre outros, são apresentados. A sequência de Fibonacci é deduzida e conceituada, sendo
relacionada com a Razão Áurea. É traçado um paralelo entre a sequência de Fibonacci e diversos aspectos
simbólicos e mitológicos do Templo de Salomão na literatura maçônica, como a caminhada do lado externo
ao Templo passando pelo pavimento térreo e subindo a escada até o segundo pavimento. Nas considerações
finais, observa-se toda a riqueza e perfeição do Grande Arquiteto do Universo a partir da ordem natural presente em todo o Universo manifesto e oculta no simbolismo acerca do mitológico Templo de Salomão.
Palavras-chave: Templo de Salomão; Sequência de Fibonacci; Razão Áurea.
Abstract
Introduction deals about the links between the symbolism of the Temple of Solomon and the Fibonacci sequence. The concept about the Golden Ratio is displayed, and made a formal deduction of its numerical value. Several examples of identification of the Golden Ratio, extracted from biological, anatomical, astronomical aspects, among others, are presented. The Fibonacci sequence is inferred and conceptualized, being related to the Golden Ratio. It's drawn a parallel between the Fibonacci sequence and various symbolic and
mythological aspects of Solomon's Temple in Masonic literature, such as walking on the outside of the Temple through the ground floor and up the stairs to the second floor. In closing remarks, there is all the wealth
and perfection of the Great Architect of the Universe from the natural order present throughout the universe manifest and hidden in mythological symbolism about the Temple of Solomon.
Keywords: Temple of Solomon; Fibonacci Sequence; Golden Ratio.
¹ Anderson Nunes é Doutorando em Engenharia Nuclear pela UFRJ, Mestre em Engenharia Nuclear pela UFRJ, Especialista em Educação Tecnológica pelo CEFET-RJ, Graduado em Física pela UFRJ e em Formação Docente para o Ensino Fundamental e Médio pela
Universidade Cândido Mendes. É membro da Loja de Pesquisas “Rio de Janeiro” - GOIRJ. E-mail: [email protected]
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NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
de referências nas afirmativas de Durão (2003). Ismail
(2012) ressalta que a Maçonaria sempre teve uma
relação com o Templo de Salomão. Adoum (1972)
trata de aspectos simbólicos do Tabernáculo no deserto que seria o símbolo do corpo físico no deserto
da matéria. O Tabernáculo, ou o corpo físico, foi dado
ao homem para que ele encontre Deus. Williams
(2004) também destaca os mesmos aspectos relatados por Adoum (1972) e ainda trata de relações com
os sólidos platônicos e os chakras.
Introdução
A Maçonaria possui um simbolismo oculto, o
qual o irmão deve se debruçar no estudo e meditação acerca do aspecto ritualístico para desvendar o
seu significado. Há, de certa forma, uma Maçonaria
velada e que nem todos os irmãos tem acesso. Isto é
natural, pois apesar de toda a abertura do conhecimento e o aprimoramento dos meios de comunicação, a Maçonaria continua sendo profundamente
mística e esotérica. Efeitos psicológicos acerca do
A proposta do presente trabalho consiste
simbolismo maçônico são apresentados em Guimarelacionar aspectos simbólicos do Templo de Salorães (2013).
mão com a sequência de Fibonacci. O manancial de
Segundo Janotta (2013), boa parte do simbo- símbolos acerca de ambos é muito rico e a interseção
lismo maçônico é fundamentado no Templo de Salo- entre eles é a matéria prima desta obra. A relevância
mão, apresentado na Bíblia Sagrada (2012) em Exôdo do tema se justifica pela importância dos aspectos
cap. 26 até 29 como uma tenda que deveria abrigar o simbólicos relacionados. A sequência de Fibonacci
Senhor durante a peregrinação dos judeus que eram aparece nas mais diversas manifestações da vida no
guiados por Moisés até a Terra Santa. Com a sua fixa- planeta Terra. Da quantidade de pétalas das flores
ção na região da Palestina, houve uma época de mui- até as espirais do caracol e da própria via Láctea são
tos conflitos que se acentuaram durante o reinado de alguns exemplos de aplicação desta sequência.
Davi. Após a sua morte sobe ao trono o seu filho, SaUma notável descoberta revelada por Tatterlomão. Segue-se um período de paz e prosperidade,
sall
(2013)
consiste no fato de que os períodos das
que o motivou a construir o Templo de Deus na Terra
Prometida, de acordo com I Reis no capítulo 1 e capí- órbitas de todos os planetas o sistema solar, incluindo os dois planetas anões, possui uma estreita cortulos 5 até 7.
respondência com os vinte primeiros termos da seBuchanan (2013) realiza uma busca arqueo- quência de Fibonacci. O erro médio entre os vinte e
lógica ao Templo de Salomão contestando o senso oito pontos de dados é demonstrado estar sob
comum de que ele ficava originalmente na Cúpula da 2,75%.
Rocha, afirmando que quando foi totalmente destruíUm número que surge naturalmente no esdo pela primeira vez em 516 A.C. ele ficava perto da
fonte de Siloé. A importância dessa busca reside no tudo matemático da sequência de Fibonacci é a chafato de que o Templo não é apenas simbólico e mito- mada Razão Áurea, também chamada de Divina Prológico, mas também uma realidade histórica inserida porção ou mesmo Proporção Áurea. O seu estudo é
em um contexto atual sócio-político bastante com- relevante para este trabalho.
plexo.
A construção do Templo de Salomão começou no ano 480 após o êxodo, segundo I Reis, cap. 6
vers. 1 e levou um período de 13 anos até o término
da obra. Segundo Durão (2003), Salomão era um
grande artista e um alquimista, tendo desenhado a
maior parte dos enfeites do Templo e também teria
manufaturado, por meios alquímicos, parte do ouro
utilizado na sua construção. Vale ressaltar a carência
A Razão Áurea
Trata-se de um número irracional que pode
ser obtido a partir de certas proporções do ser humano e da Natureza em geral. Por unir macrocosmo e
microcosmo assume um aspecto divino, daí também
ser conhecido como Divina Proporção. Existe mais de
uma maneira de deduzir a Razão Áurea, conforme
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NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
pode-se verificar em Queiroz (2010), Conte (2008) e tiva ao termo da direita:
Lawor (1997). Na verdade usarei um método pessoal,
x2  yx  y 2
partindo dos conceitos apresentados nas três referências.
2
O termo x passa para o lado esquerdo da
Considere um seguimento de reta definido
equação:
pelos pontos A e B abaixo:
x2  yx  y 2  0
A equação acima, considerando o x como a
incógnita, torna-se uma equação do segundo grau.
Marque um ponto C qualquer entre A e B.
Tanto faz se o ponto está mais próximo de A ou de B.
ax2  bx  c  0
Note que se escolhêssemos o y como incógnita a equação seria exatamente a mesma. Foi por
conta desta simetria que afirmei acima que tanto a
menor distância ser AC ou CB. A equação do segundo
grau é resolvida pela fórmula de Báscara.
Quando a razão (divisão) entre o maior trecho (AC) e o menor trecho (CB) é igual a divisão entre
o seguimento de reta completo (AB) e o maior trecho
(AC) o resultado da divisão é um número irracional
chamado de Divina Proporção ou Razão Aurea. Matematicamente a afirmativa acima pode ser escrita:
AC AB


CB AC
A letra grega

b  b 2  4ac
x
2a
Aplicando a fórmula de báscara à equação
x2  yx  y 2  0
, segue:
y  y2  4 y2
x
2
(Phi) representa a própria
É possível simplificar a equação acima. Primeiro,
soma-se
os termos de dentro da raiz quadraRazão Aurea. Para deduzir o valor de
, vamos chamar o trecho AC de x e o trecho CB de y. A equação da.
acima pode ser reescrita:
2

x
x x y

y
x
y  5y
2
Segundo, aplica-se a propriedade do produMultiplica-se os denominadores cruzados to de raízes:
pelos numeradores:
x  y  x  y
x
2
y  5 y2
2
Seguem duas opções de simplificações para
Em seguida, aplica-se a propriedade distribu- a equação. A primeira é:
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NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
x
Note que
y
2
x

y

5 y 1  5  y


2


, logo:

1 5
x
 
 0, 6180339887
y
2
Este resultado é falso uma vez que x e y são
positivos e assim a Razão Aurea não pode ser negativa. Resta, portanto a outra alternativa:
x


1 5 y
y  5y

2
2
Logo,



1 5
x

 1, 6180339887
y
2
  1,6180339887
O número
é chamado
de Razão Aurea ou Divina Proporção. É irracional porque resulta de uma divisão em que o resultado não é
exato, ou seja, após infinitas etapas de divisões o resto nunca se anula. O seu simbolismo é muito rico, o
infinito presente no finito, o eterno expresso e limitado no tempo.
Aspectos naturais da Razão Áurea
A Divina Proporção está presente em diversas relações do corpo humano, segundo Queiroz
(2010) e Melchizedek (2009):


A altura do corpo e a medida do umbigo até o
chão.
A medida da cintura até a cabeça e o tamanho
do tórax.
O tamanho dos dedos e a medida da dobra
central até a ponta.
A altura do crânio e a medida da mandíbula
até o alto da cabeça.
A medida do quadril ao chão e a medida da
mandíbula até o alto da cabeça.
Também encontramos a Razão Áurea no
comportamento da refração da luz, nos átomos, nas
espirais das galáxias, nas ondas dos oceanos, nos furacões. Ela já era conhecida dos antigos egípcios que
construíram suas pirâmides utilizando a Divina Proporção nos blocos de pedra e nas câmaras internas
de seus monumentos.
Segundo Melchizedek (2009) as dimensões
da Razão Áurea no corpo humano nunca são exatas
em uma pessoa. Quando um bebê nasce o seu umbigo se situa exatamente no centro geométrico do corpo. À medida que a criança cresce a posição do umbigo começa a se mover na direção da cabeça até chegar exatamente na Razão Áurea, mas continua subindo. Depois vai descendo e assim, sucessivamente,
oscilando em torno da posição correspondente à Divina Proporção. Quando chega a idade adulta se estabiliza em um ponto um pouco acima ou abaixo da
Proporção Áurea, na maioria dos homens ligeiramente acima e na maioria das mulheres ligeiramente
abaixo. Na média da humanidade fica exatamente no
ponto correspondente à Razão Áurea. Lawor (1997)
também cita a oscilação da posição do umbigo em
relação à Razão Áurea e o fato de que nos homens é
acima e nas mulheres, abaixo.
Lawor (1997) afirma que a Proporção Áurea
é uma razão constante derivada de uma relação geométrica que tal qual o π e outras constantes deste
tipo é irracional em termos numéricos. Acima de tudo deve ser apresentada como uma proporção sobre
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NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
a qual se funda a experiência do conhecimento. As- Figura 1: Homem de Vitrúvio de Da Vinci (1485-90, Veneza)
sim, a Proporção Áurea pode ser considerada como
suprarracional ou transcendental.
Foi Pitágoras, segundo Conte (2008), quem
descobriu que a Razão Áurea representava uma lei
biológica que regula o crescimento de todas as coisas
vivas. Chegou a esta conclusão ao medir e analisar
uma belíssima concha marinha (Nautilus pompilius),
bastante comum nas praias da ilha de Samos.
Mas Pitágoras tinha a convicção de que a
Natureza era regida pelo número quatro. Assim, pode representar a perfeição da espiral da concha por
uma sequência de quadrados, começando com um
quadrado de lado igual a um e ajustando os quadrados seguintes ao crescimento da espiral. O mesmo
exercício geométrico feito com a perfeita espiral de
uma concha pode ser feito com a Via Láctea. Esta
sequência numérica é muito especial e parece ser a
chave para explicar a Razão Áurea.
A Sequência de Fibonacci
Leonardo Da Vinci se notabilizou, entre diver- Fonte:
http://www.infoescola.com/desenho/o-homemsas outras obras, por um esboço chamado de o Ho- vitruviano/
mem Vitruviano ou Homem de Vitrúvia, apresentado
na Figura 1. Melchizedek (2009) e Lawor (1997) co- Figura 2: A Espiral de Fibonacci
mentam que é possível traçar uma espiral sobre o
desenho que tem uma importante relação com Razão
Áurea. A espiral é construída a partir de um quadrado
1x1, seguido de outro quadrado idêntico. Os dois primeiros quadrados formam o lado do terceiro quadrado 2x2 e assim sucessivamente. A Razão Áurea presente no esboço de Da Vinci revela a espiral abaixo
feita pelos lados sucessivos de quadrados, formando
a sequência de Fibonacci.
Fonte: http://dsigngrafico.wordpress.com/tag/fibonacci/
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NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
A sequência numérica presente na espiral da
figura 2 foi revelada por Leonardo Fibonacci (11701250) em sua obra Liber Abaci, embora não tenha
sido ele que descobriu a sequência, ela recebeu o seu
nome após a sua morte. Fibonacci foi o primeiro e
um dos mais importantes matemáticos europeus da
Idade Média, segundo Eves (1990).
Considere o número 1, representa o Todo, o
Grande Arquiteto do Universo. Ele cria uma imagem
de si mesmo, ou seja, outro número 1. Soma-se os
dois primeiros números da sequência o que resulta
no 2. Soma-se o 2 com o anterior o que resulta o 3.
Repete-se sempre a soma do número com o anterior
sucessivamente e obtém-se a Sequência de Fibonacci.
Representando a aproximação da divisão dos
termos seguidos em relação à Razão Áurea observase um comportamento oscilatório, que já havia sido
comentado neste trabalho por meio do exemplo sobre a posição do umbigo do bebê até chegar à idade
adulta. Observe o comportamento oscilatório no gráfico da Figura 3.
1 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89
A sequência de Fibonacci apresenta muitas propriedades que, segundo Kalman & Mena (2003), podem ser classificadas como maravilhosas. As somas
ou as diferenças entre números da sequência de Fibonacci resultam em números que também são da
sequência. Quaisquer quatro números seguidos de
Fibonacci podem ser combinados para formar um
terno pitagórico, ou seja, dos quatro números é possível tirar três que formam os catetos e a hipotenusa
de um triângulo retângulo (onde vale o Teorema de
Pitágoras). Estas e outras propriedades da sequência
de Fibonacci são descritas por Kalman & Mena (2003)
com maiores detalhes.
A relação entre a Sequência de Fibonacci e a
Razão Áurea é bastante simples. Basta dividir um número da sequência pelo seu antecessor. Quanto maior for o número, mais o resultado se aproxima da Razão Áurea. Vejamos a seguinte tabela:
Figura 3: Gráfico que mostra a oscilação dos termos da sequencia de Fibonacci em torno da Razão Áurea produzido pelo autor
no aplicativo Microcal (TM) Origin versão 6.0
A sequência de Fibonacci, vinculada à Razão
Áurea, está associada a uma miríade de fenômenos
biológicos, atômicos e estelares. Melchizedek (2009)
mostra a presença da sequência na quantidade de
pétalas das flores, a distribuição das folhas e das sementes. Também aparece nas espirais presentes na
anatomia humana, nos caracóis, etc. Tashtoush &
Tabela 1: Termos consecutivos da sequência de Fibonacci con- Darwish (2012) utilizam a sequência de Fibonacci na
construção de um protocolo que melhora em até
vergindo para a Razão Áurea
21% a transmissão dos dados em uma rede. Mishra
1/1 = 1
21/13 = 1,61538...
et al. (2012), por sua vez, utilizam a sequência para
2/1 = 2
34/21 = 1,619048...
criar um novo modelo de criptografia de imagem. A
3/2 = 1,5
55/34 = 1,617647...
sequência de Fibonacci revela uma ordem natural
5/3 =1,6667
89/55 = 1,61818...
subjacente a todo o Universo.
8/5 = 1,6
144/89 = 1,617978 ...
13/8 = 1,625
233/144 = 1,618055...
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NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
Relações com o Templo de Salomão
movimento da Criação.
A Maçonaria revela aspectos simbólicos do
Templo de Salomão que são velados e segundo minha análise e inspiração tem uma relação direta com
a sequência de Fibonacci, e por contiguidade, à Razão
Áurea. Morrison (2008) revela a metáfora arquitetônica do Templo de Salomão correlacionando sua geometria com o corpo humano e demais elementos naturais a partir do estudo acerca de uma obra de Juan
Battista Villalpando publicada em 1604.
O aprendiz no início de seu movimento para o
pavimento superior do Templo de Salomão fica entre
as duas colunas, B. e J., que juntas elas dão a ideia da
dualidade. Simbolizam o terceiro termo da sequência
de Fibonacci, ou seja, o número 2. Na Bíblia Sagrada
(2012), Livro da Gênesis, cap. 1 vers. 27 está escrito:
“Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem
de Deus o criou, macho e fêmea ele os criou.” Note
que é só no cap. 2, vers. 21, 22 e 23 que está escrito
que Deus criou a mulher a partir da costela de Adão.
Qual seria então o significado da afirmativa que Deus
criou o ser humano, à sua imagem, macho e fêmea?
Parece ser uma referência ao princípio de Dualidade.
Na Bíblia Sagrada (2012), Livro I Reis , cap. 6 vers. 21
trata da construção do Templo de Salomão, onde
aparece a figura do artífice Hiram Abiff que teria
construído as colunas. Está escrito: “Em seguida ele
ergueu as colunas na frente do vestíbulo do templo:
levantou a coluna do lado direito dando o nome de
Jaquin; em seguida levantou a coluna do lado esquerdo, chamando-a de Booz.”
O início do ingresso no Templo de Salomão se
faz pela antessala, que pode ser simbolizada pelo número 1, é Princípio no sentido cosmogônico do termo, portanto, o início da sequência de Fibonacci.
Queiroz(2010), Melchizedek (2009) e Lawor (1997)
relacionam o simbolismo do número 1 à unidade e ao
princípio organizador do Universo. Goswami (2007)
afirma que a consciência necessária, segundo uma
interpretação idealista da Física Quântica, é única.
Um referencial absoluto e necessário para que todo o
Universo se manifeste. Na verdade ele adota o conceito de mônoda, criado por Leibnitiz e o amplia, definindo a mônoda quântica.
O Aprendiz Maçom está ainda no pavimento
térreo do Templo do Rei Salomão, segundo Adoum
(1972). Este pavimento simboliza o próprio Aprendiz
e é o reflexo do princípio. Logo é o segundo termo da
sequência de Fibonacci, ou seja, o segundo 1. Na Bíblia Sagrada (2012), Livro da Gênesis, cap. 1 vers. 26
está escrito: “Deus disse: Façamos o ser humano a
nossa imagem e segundo nossa semelhança,(...)” A
consciência humana é um reflexo da consciência cósmica. Este ponto do estudo é relevante porque se do
Princípio não surgisse a sua imagem ou reflexo não
existiria a Criação. Se não fosse o surgimento do segundo 1 na sequência de Fibonacci ela simplesmente
não existiria. Hurtak (1996) afirma que o Homem é
feito na imagem e similitude, onde o “na” indica que
a evolução é um contínuo assimilar de Luz. Ubaldi
(1999) que cada fenômeno só existe porque há movimento de um ponto de partida para um ponto de
chegada. O surgimento do segundo número 1 da sequência de Fibonacci mostra, portanto, o primeiro
A seguir, vem a escada em forma de caracol.
Note que o caracol, por si só é uma referência a Pitágoras e o formato perfeito das conchas que tanto inspiraram esse Venerável Mestre. Os três primeiros degraus aludem ao princípio ternário, representado no
altar pelas Três Grandes Luzes da Maçonaria. Representam também as virtudes Sabedoria, Força e Beleza. É cabível também uma relação com os pilares da
Árvore da Vida, segundo Marques (2011). Chega-se
ao quarto termo da sequência de Fibonacci, o número 3.
Os cinco degraus seguintes representam às
cinco ordens clássicas da Arquitetura, ou seja, Dórica,
Jônica, Coríntia, Toscana e Compósita. As informações acerca da Arquitetura Clássica foram preservadas através da obra de Vitrúvio, que viveu no século I
A.C. , segundo Maciel (2009). Aludem também aos
cinco sentidos humanos e aos cinco elementos alquímicos, a saber, Terra, Ar, Água, Fogo e Éter. Uma descrição sucinta dos cinco elementos alquímicos é feita
por Cotnoir & Wsserman (2009), que relacionam o
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013.
27
NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
quito elemento com o campo, ou seja, a fonte de tudo o que existe. Nota-se que a referência às cinco
colunas da Arquitetura Clássica passam uma idéia de
ordem ou mesmo simetria, conceito fundamental da
Razão Áurea. Surge o quinto termo da sequência de
Fibonacci, o número 5.
Segundo Adoum (1972), desde os mais antigos rituais a letra G simboliza o Grande Arquiteto do
Universo, merecendo, portanto, uma deferência especial. Assim, os sete degraus (sete ciências) somadas
ao próprio Grande Arquiteto do Universo, simbolizam
o número 8. Note que o número 8 simboliza o duas
vezes quatro, a manifestação perfeita. O octanário é
o número da realização da Divindade no Homem. Note que o oito é o símbolo do infinito voltado para cima. Chega-se ao sexto termo da sequência de Fibonacci, o número 8.
Em seguida vem sete degraus que aludem a
todo o simbolismo do número sete. Os sete dias da
semana, as sete cores do arco-íris, os sete planetas,
os sete orbitais atômicos, as sete notas musicais, entre outros, são aspectos naturais relacionados ao número sete segundo Marques (2011) e Queiroz (2010).
O que seriam das sete ciências sem a conexão
Os sete degraus simbolizam as sete artes ou ciências com o Grande Arquiteto do Universo? Conclui-se com
liberais: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geo- o sexto termo da sequência de Fibonacci. Segue com
metria, Música e Astronomia. As três primeiras, ou um quadro comparativo dos termos da sequência e
seja, Gramática, Retórica e Lógica, eram as disciplinas seus aspectos relacionados ao Templo de Salomão,
da Universidade conhecidas como Trivium e que ti- considerando o seu simbolismo.
nham como objetivo o provimento da mente para
encontrar expressão na linguagem, segundo Joseph
Tabela 2: Termos da sequência de Fibonacci relacionados com o
(2008). Ainda em Joseph (2008), as quatro últimas, Templo de Salomão e o seu simbolismo
ou seja, Aritmética, GeTermo da
ometria, Música e Assequência de
Templo de Salomão
Simbolismo
tronomia, eram conheFibonacci
cidas como Quadrivium
1
O próprio Aprendiz
O Princípio (mônada)
e o seu objetivo era o
1
O pavimento térreo
Reflexo do Princípio. A Imagem do Pai.
provimento de meios
2
As Colunas B. e J.
A Dualidade (Polaridades)
para o estudo da matéOs três degraus (Sabedoria,
O princípio ternário. As Três Grandes
3
Força e Beleza)
Luzes da Maçonaria.
ria.
Os cinco degraus (colunas:
Os cinco sentidos físicos. Os cinco
Mas eis que sur5
Dórica, Jônica, Coríntia,
princípios alquímicos (Terra, Ar, Água,
ge um problema, o sexToscana e Compósita)
Fogo e Éter)
to número da seqüênOs sete degraus (Gramática,
O simbolismo do número sete (sete dias da
cia de Fibonacci é 8 e
Retórica, Lógica, Aritmética,
semana, as sete cores do arco-íris, os sete
8
não 7. Mas imagine, ao
Geometria, Música e
planetas, etc.) associado ao GADU resulta
Astronomia) unidos ao piso da
no oito (o Divino ligado ao Homem, o
terminar de subir os
câmara do meio (letra G)
infinito)
sete degraus o Aprendiz chega à câmara do
meio do Templo do Rei Salomão. O término da escaFonte: Elaborada pelo autor.
da não é no sétimo degrau, e sim no próprio piso da
câmara do meio. São oito passos, portanto. Mas haConsiderações Finais
veria um simbolismo para o piso da câmara do meio?
A câmara do meio é onde os obreiros recebem o paTodo o simbolismo do qual o presente artigo
gamento. Nela observa-se a letra G. Poderia se pen- investiga encontra-se em um esquema que pode ser
sar que a letra G representa a Geometria, mas esta relacionado com diversos aspectos do macrocosmo e
ciência já foi verificada em um dos sete degraus.
do microcosmo. Arola (1986) descreve diversos asFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013.
28
NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO
pectos do simbolismo relacionado ao templo. Ismail
(2012) também trata do simbolismo contido na Maçonaria, mostrando que nada está ali por acaso. Um
símbolo pode ter tantos significados quantos sejam
aqueles que dedicam ao estudo e meditação acerca
do seu significado. Arola (1986) considera que o Templo é a interseção entre o Céu e a Terra, entre o Homem e Deus, porque um templo exterior e tangível é
simplesmente o reflexo de um templo interior e intangível.
que foi feita com a sequência de Fibonacci. Pelo contrário, a sequência de Fibonacci ganha mais relevância com seus aspectos cabalísticos.
É possível traçar mais relações entre o Templo
de Salomão e a Cabala. Segundo Marques (2011), a
Cabala é um sistema que permite compreender a similitude oriunda da unidade em todas as partes da
Criação. É evidente que o Templo pode ser também
esquematizado pelo viés da Cabala. A princípio todo
modelo é incompleto e revela um ponto de vista
acerca de um fato. Fica difícil definir qual seja o melhor. Isso não diminui a importância da comparação
51a Ed., Petrópolis, RJ, 2012.
A existência de diversos artigos recentes relacionados à sequência de Fibonacci e ao Templo de
Salomão demonstra que ambas as temáticas são atuais e inseridas em um contexto científico ou acadêmico. Guimarães (2013), Janotta (2013), Kalman & Mena (2003), Mishra (2012), Morrison (2008), Tashtoush
& Darwish (2012) e Tattersall (2013) são exemplos de
O Templo de Salomão apresenta aspectos de artigos recentes e que foram citados no presente arseu simbolismo que foram relacionados com os seis tigo.
primeiros termos da sequência de Fibonacci. O próxiConclui-se que o simbolismo acerca da semo termo seria número 13 que por si só carrega todo quência de Fibonacci é muito mais rico do que apaum simbolismo. Foi em um dia 13 de Outubro de rentava. O Grande Arquiteto do Universo transcende
1307 que Jacques de Molay foi preso, de acordo com a mente e a compreensão humanas, mas seria possíRead (2001). A carta que representa a morte no Tarot vel ousar supor que a linguagem que está mais próxiMitológico é exatamente a carta 13. Seu simbolismo ma da Mente Cósmica é a Matemática. Na Matemátiestá associado à transformação e a transmutação. Na ca está contida tudo o que existe, mas também o que
Bíblia Sagrada (2012), Livro I Reis, cap. 7 vers. 1, está não existe. Um exemplo de algo que não é mensuráescrito: “Quanto ao palácio, Salomão levou treze vel na Natureza, mas existe na Matemática são os
anos para construí-lo de todo.” Note que a referência números complexos.
é ao palácio. No versículo anterior (I Reis, cap. 6, vers.
Ao traçar estas relações nossa mente se ex38) está escrito que o Templo levou sete anos para
pande
a
vai de encontro à Mente Cósmica. Foi a parser construído.
tir daí que, segundo Conte (2008), Pitágoras concluiu
O fato de não ter encontrado relações do estupefato: “Tudo no Universo são números”.
Templo de Salomão com o número treze não significa
que tais relações não possam existir. Mas lembre que
foram seis dias da Criação, e foram os seis primeiros Referências Bibliográficas
termos da sequência de Fibonacci que foram relacio- ADOUM, Jorge. O Grau do Aprendiz e seus Mistérios. Ed. Pensanados com o Templo de Salomão. Ele simboliza tanto mento-Cultrix, São Paulo, 1972.
o microcosmo, representado pelo corpo humano, AROLA, Ramón. O Simbolismo do Templo. Editora Objetiva, Rio
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quência deve terminar em algum dos termos.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 21/09/2013
Aprovado: 28/11/2013
OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES
Kennyo Ismail¹
Resumo
Este estudo trata das formas de datação dos eventos conforme os diferentes Ritos e Ordens Maçônicas em
atividade no Brasil. Considerando a grande diversidade de práticas maçônicas presentes no Brasil e a escassa
literatura sobre o tema, muitas vezes a aplicação correta dos calendários específicos de cada Rito ou Ordem
torna-se um desafio para as Grandes Lojas e Grandes Orientes. Os resultados publicados aqui podem ajudar
as instituições maçônicas na observância dessas tradições.
Palavras-chave: Ritos Maçônicos; Ordens Maçônicas; Calendários Maçônicos.
Abstract
This study presents the forms of dating of events in the various Masonic Rites and Masonic Orders in activity
in Brazil. Considering the great diversity of masonic practices in Brazil and the scarce literature on the subject, often the correct application of the specific calendar for each Rite or Order becomes a challenge to the
Grand Lodges and Grand Orients. The results published here can help the masonic institutions in compliance
with such traditions.
Keywords: Masonic Rites; Masonic Orders; Masonic Calendars.
¹ Kennyo Ismail é Mestre em Administração pela EBAPE-FGV, com MBA em Gestão de Marketing pela ESAMC e bacharelado em
Administração pela UnB. É professor titular do Instituto de Ensino Superior de Goiás. Mestre Instalado, é membro da Loja Maçônica “Flor de Lótus No. 38” - GLMDF; Sumo Sacerdote do Capítulo “Fredericksburg No. 16” de Maçons do Real Arco; e Grande Mestre Adjunto do Supremo Grande Conselho de Maçons Crípticos do Brasil. Membro das sociedades de pesquisa “Philalethes Society” e “The Masonic Society” e das Lojas de Pesquisa “American Lodge of Research”, “Missouri Lodge of Research” e “South California Research Lodge”. E-mail: [email protected]
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013.
31
ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES
1. Introdução
A Maçonaria possui diferentes tipos de calendários, usados nos mais diversos ritos e épocas, cada
um com sua própria lógica e significados. Porém, isso
tem gerado certas confusões históricas, principalmente no Brasil, com sua pluralidade de Ritos e carência de registros legais disponíveis, de bibliotecas
maçônicas e, principalmente, de literatura maçônica
de qualidade.
2.1.1. Era Comum, Era Corrente ou Era Vulgar (E.´.
V.´.)
Pensando nisso, este artigo tem por objetivo
disponibilizar uma relação dos tipos de calendários
maçônicos existentes e seus mecanismos de funcionamento, de forma a esclarecer de uma vez por todas esse tema, disponibilizando aos interessados, sejam estudiosos de Maçonaria ou secretários com a
missão de confeccionar diplomas, acesso a informação organizada e confiável.
Também conhecido como Anno Domini, termo em latim que significa “Ano de nosso Senhor”, o
qual pode ser encontrado por sua sigla, A.´. D.´.. Trata
-se do calendário gregoriano, promulgado pelo Papa
Gregório XIII em 24 de Fevereiro de 1582 (THIBAULT,
1981
), e adotado como ano civil em praticamente todos os países. O Papa Gregório determinou a criação
de um novo calendário porque o calendário juliano,
que se utilizava desde 46 a.C., arredondava o ano solar para 365 dias e 6 horas, o que dava uma diferença
de mais de 11 minutos por ano em comparação com
o ano solar real (COIL, 1961, p. 112). Com o passar
dos séculos, isso havia gerado uma diferença de dias,
e o Papa desejava determinar corretamente a data
da Páscoa. Naquele ano de 1582, a quinta-feira do
dia 04 de Outubro, foi seguida por uma sexta-feira,
dia 15 de Outubro, corrigindo o desvio do calendário
anterior, e os anos passaram a ter exatos 365 dias,
adotando-se o sistema de anos bissextos para suas
correções periódicas.
Dessa forma, espera-se colaborar com a redução de confusão resultante do registro de data em
atas, documentos e certificados maçônicos brasileiros, matéria essa que deveria ser das mais simples,
mas que faz com que até comemoremos o Dia do
Maçom no dia errado.
Esse é o calendário que dá origem ao formato
do dia 20 de Junho de 2013, data que servirá de comparação aos demais calendários. A Maçonaria deve
utilizá-lo para todos os documentos, atas e certificados legais e para pranchas e comunicações direcionadas a pessoas ou instituições do mundo profano.
2. Tipos de Calendários
2.1.2. Calendário Judaico
2.1. Calendários Não-Maçônicos
Calendário utilizado no Judaísmo, adotado
principalmente para as datas religiosas (BASSINI,
2004). Os judeus ortodoxos também utilizam para
registrar nascimentos, casamentos e outras datas importantes. Trata-se de calendário no qual os meses
são baseados no ciclo lunar, enquanto os anos são
baseados no ciclo solar. Dessa forma, os anos se intercalam entre de 12 e 13 meses. Mas é desaconselhada aos corpos maçônicos a utilização desse calendário, visto ser um calendário religioso.
Nesse cenário caótico, muitas vezes as Obediências Maçônicas, Lojas e demais corpos maçônicos
brasileiros encontram dificuldades e não encontram
consenso na adoção dos calendários utilizados em
seus certificados.
Calendários que não são genuinamente maçônicos, mas suas menções são importantes, visto que
servem de base para o cálculo de um ou mais sistemas de datação utilizados na Maçonaria. Há vários
outros calendários não maçônicos que foram ou ainda são utilizados em algumas situações, entretanto,
por não terem relação direta com os calendários maçônicos apresentados neste artigo, não serão mencionados.
No calendário judaico, a data de 20 de Junho
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013.
32
ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES
de 2013 é: 12 de Tamuz de 5773.
2.2. Calendários Maçônicos
2.2.1. Calendário da Maçonaria Simbólica
A Maçonaria Simbólica, ou seja, as Obediências Maçônicas e suas Lojas, deve adotar o Anno Lucis
(Ano da Luz), abreviado como A.´. L.´.. Sua data é calculada acrescentando 4000 anos à data do ano civil
corrente.
Altos Graus do REAA o sistema de Anno Mundi (Ano
do Mundo), A.´. M.´., que é inspirado no Calendário
Judaico, apesar de diferente desse. O sistema funciona da seguinte maneira nos dois Supremos Conselhos
do REAA norte-americanos: Entre 01 de Janeiro e 31
de Agosto, deve-se adicionar 3760 anos ao ano civil
corrente. Já entre 01 de Setembro e 31 de Dezembro,
deve-se adicionar um ano extra, ou seja, 3761 anos
ao ano civil corrente. Dessa forma, todo ano inicia-se
no dia 01 de Setembro do ano anterior e encerra-se
em 31 de Agosto do ano corrente, devendo os meses
serem mencionados por número ordinal. Assim sendo, Setembro é o 1º mês, Outubro o 2º, Novembro o
3º, e Agosto o 12º. Trata-se de sistema adotado pela
maioria dos Supremos Conselhos do Rito no mundo.
A adoção do Anno Lucis na Maçonaria Simbólica foi iniciativa de James Anderson, que acreditava
que a Maçonaria deveria ter uma forma própria de
marcar as datas, diferente de calendários religiosos
como o judaico e o gregoriano. Ele tomou por base os
Como exemplo, o dia 20 de Junho de 2013
cálculos de um arcebispo anglicano irlandês, James seria 20 do 10º mês de 5773 do A.´. M.´.
Ussher, que determinou, com base nos registros bíblicos, que o mundo teve origem no ano de 4.004
a.C. (BARR, 1985). Para facilitar a utilização, Ander- 2.2.3. Calendários do Rito de York
son arredondou a criação do mundo para 4.000 a.C.
2.2.3.1. Calendário da Maçonaria Capitular ou do
(COIL, 1961, p. 112).
Real Arco
Dessa forma, tendo como exemplo o dia 20 de
Os Graus Capitulares do Rito de York abranJunho de 2013, tem-se: 20 de Junho de 6013 do A.´.
gem
um
sistema de 04 graus: Mestre de Marca, Past
L.´.. Esse é o sistema utilizado pelas Grandes Lojas de
todo o mundo, e o recomendado às Lojas e Grandes Master, Mui Excelente Mestre e Maçom do Real ArLojas ou Grandes Orientes brasileiros para utilização co. Esses graus são concedidos em Capítulos de Manos certificados de concessão dos graus simbólicos, çons do Real Arco, subordinados a Grandes Capítulos
cartas constitutivas e demais documentos que sejam de Maçons do Real Arco, os quais são filiados ao
estritamente maçônicos. Sugere-se a utilização desse Grande Capítulo Geral de Maçons do Real Arco Intercalendário no Simbolismo, independente do Rito nacional (General Grand Chapter of Royal Arch Maadotado na Loja, de forma a padronizar a datação de sons International). Esses corpos adotam o Anno Incertificados e cartas constitutivas pelas Obediências, ventionis, que significa “Ano do Descobrimento” e é
reduzindo assim possíveis confusões. Dessa forma, os abreviado como A.´. I.´.. Ele é calculado somando 530
calendários específicos dos ritos têm suas adoções anos ao ano civil corrente (COIL, 1961; MACKEY,
1914). Os maçons do Real Arco registram essa data
restritas aos seus respectivos Altos Graus.
porque foi o ano em que Zorobabel iniciou a construção do segundo Templo, em 530 anos antes de Cristo. A seguinte passagem bíblica está relacionada com
2.2.2. Calendário do Rito Escocês Antigo e Aceito
a construção: “Então se levantaram Zorobabel, filho
Houve ocasiões no passado em que se verifi- de Salatiel, e Jesuá, filho de Jozedeque, e começaram
cou o uso do calendário hebraico em alguns Supre- a edificar a casa de Deus, que está em Jerusalém; e
mos Conselhos do REAA, adotando a sigla A.´. H.´., de com eles os profetas de Deus, que os ajudaAnno Hebraico, após a data (MACKEY, 1914, p. 129). vam.” (BÍBLIA, 1969, Esdras 5:2)
No entanto, via de regra, atualmente adota-se nos
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013.
33
ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES
Como exemplo, o dia 20 de Junho de 2013 é:
Para ilustrar seu uso, o dia 20 de Junho de
20 de Junho de 2543 do A.´. I.´.
2013 seria: 20 de Junho de 895 do A.´. O.´.
2.2.3.2. Calendário da Maçonaria Críptica ou da Ma- 2.2.3.4. Calendário da Ordem do Sumo Sacerdócio
çonaria de Conselho
Mais conhecida no Brasil como a Ordem dos
Os Graus de Conselho ou Graus Crípticos do Sumos Sacerdotes Ungidos, essa é uma Ordem conrito de York abrangem um sistema de 03 graus: Mes- cedida àqueles eleitos para servirem como Sumos
tre Real, Mestre Escolhido e Super Excelente Mestre. Sacerdotes (Presidentes) de Capítulos de Maçons do
Esses graus são concedidos em Conselhos de Maçons Real Arco. É o correspondente no Real Arco à InstalaCrípticos, os quais são subordinados a Grandes Con- ção de um Venerável Mestre Eleito na Maçonaria
selhos de Maçons Crípticos, esses últimos filiados ao Simbólica. Na Ordem do Sumo Sacerdócio adota-se o
Grande Conselho Geral de Maçons Crípticos Interna- Anno Beneiacio (Ano da Benção), abreviado como A.´.
cional (General Grand Council of Cryptic Masons In- Beo.´., que é calculado adicionando 1913 anos ao ano
ternational). Esses corpos utilizam o sistema de Anno civil corrente, pois acredita-se que Abraão foi abenDepositionis (Ano do Depósito), cuja sigla é A.´. Dep.´. çoado por Melquisedeque em 1913 a.C.: “Porque ese que é calculado somando-se 1.000 anos ao ano civil te Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote
corrente (COIL, 1961; MACKEY, 1914). O uso desse do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão
ano é em observância ao ano em que a construção quando ele regressava da matança dos reis, e o abendo Templo de Salomão foi concluída e o Templo foi çoou” (Hebreus 7:1).
consagrado, tendo em seu interior depositada a Arca
Desse modo, o dia 20 de Junho de 2013 é: 20
da Aliança: “Assim se acabou toda a obra que fez o de Junho de 3926 do A.´. Beo.´. na Ordem dos Sumos
rei Salomão para a casa do Senhor; então trouxe SaSacerdotes Ungidos.
lomão as coisas que seu pai Davi havia consagrado; a
prata, e o ouro, e os objetos pôs entre os tesouros da
casa do Senhor.” (Reis I 7:51).
2.2.3.5. Calendário da Ordem dos Cavaleiros SacerAssim, o dia 20 de Junho de 2013 é registrado dotes Templários do Santo Arco Real
como: 20 de Junho de 3013 do A.´. Dep.´.
Também conhecida como Ordem da Santa
Sabedoria, possui uma versão inglesa e outra norteamericana. A inglesa é restrita a maçons que sejam
2.2.3.3. Calendário da Maçonaria Templária ou da Mestres Instalados, Maçons do Arco Real, Cavaleiros
Cavalaria Maçônica
Templários e professem a fé cristã. Sua versão norteAs Ordens de Cavalaria Maçônica são 03: Or- americana, considerada como um corpo aliado ao
dem da Cruz Vermelha, Ordem de Malta e Ordem dos Rito de York, é muito mais restrita, exigindo também
Cavaleiros Templários. Essas ordens são concedidas que o candidato tenha servido como Comandante de
em Comanderias Templárias, que são subordinadas a uma Comanderia Templária. Essa Ordem utiliza o AnGrandes Comanderias, essas últimas filiadas ao Gran- no Renascenti (Ano do Renascimento), cuja sigla é
de Acampamento Templário. Esses corpos usam o A.´. R.´., e no qual se subtrai 1686 anos do ano civil
formato de Anno Ordinis, termo em latim que signifi- corrente.
ca “Ano da Ordem” e que é abreviado como A.´. O.´..
Exemplificando, o dia 20 de Junho de 2013
É calculado subtraindo 1118 anos do ano civil corren- fica sendo: 20 de Junho de 327 do A.´. R.´.
te (COIL, 1961; MACKEY, 1914), visto a Ordem dos
Templários ter sido oficialmente fundada no ano de
1.118 (i.e.: AYALA, 2005).
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013.
34
ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES
2.2.4. Calendário do Rito Adonhiramita
nhiramita gerava bastante confusão. O termo relacioO Rito Adonhiramita é um rito de origem fran- nado ao ano geralmente utilizado também é o da
cesa, cujo calendário foi abolido pelo Grande Oriente Verdadeira Luz: V.´. L.´., ou, em alguns registros do
de França em 12/10/1774, por gerar grande confusão Rito Moderno, Vraie Lumiere (MACKEY, 1914, p. 129).
em sua datação.
Assim, o dia 20 de junho de 2013 é o 20º dia
As primeiras Lojas na cidade do Rio de Janei- do 4º mês de 6013 da V.´. L.´. para o Rito Moderno.
ro, a Loja “Reunião” e depois a Loja “Comércio e Artes”, trabalharam inicialmente no Rito Adonhiramita,
adotando seu calendário original. Já quando do reerguimento da Loja “Comércio e Artes” e sua divisão
em três Lojas para a fundação do então Grande Oriente Brasílico, os trabalhos já ocorreram no Rito Moderno. Porém, assim como “o uso do cachimbo deixa
a boca torta”, a Loja “Comércio e Artes” por um bom
tempo teve suas atas datadas ainda pelo calendário
do Rito Adonhiramita, o que originou, anos depois, a
confusão do Dia do Maçom.
3. Comentários Finais
A Maçonaria Brasileira é, sem dúvida alguma,
uma das mais “bem servidas” em se tratando de ritos
maçônicos, como bem evidencia João Guilherme da
Cruz Ribeiro (2012, p. 11). Com exceção do Rito Brasileiro que, por coincidência ou não, parece não possuir calendário próprio, os demais ritos em prática no
Brasil são sistemas importados, a maioria chegando
ao Brasil ainda no século XIX. E cada rito, ou mesmo
segmento de rito, chegou com sua própria história,
O sistema do Calendário Adonhiramita tem seus próprios termos, paramentos e regras de funciopor base o início do ano no dia 21 de Março, fixando namento, resultantes de diferentes origens, inspiranesse dia o Equinócio Vernal. Soma-se então ao ano ções e influências.
4000 anos, como no calendário maçônico original,
Iniciativa inaugurada por James Anderson,
criado por James Anderson. O termo utilizado para
designar o ano também é “Verdadeira Luz”, similar quando da Primeira Grande Loja de Londres, o priao termo adotado por Anderson, de Anno Lucis (Ano meiro calendário maçônico, por sinal muito simples
de se utilizar, tinha por objetivo claro dar uma identida Luz).
dade própria ao registro das datas maçônicas, numa
Considerando esse sistema, o dia 20 de Junho época em que ritos formalmente ainda não existiam.
de 2013 é o 31º dia do 3º mês de 6013 da V.´. L.´., no Conforme foram surgindo, cada rito parece ter utiliRito Adonhiramita.
zado da mesma estratégia para deixar sua marca na
datação dos documentos e registros maçônicos.
2.2.5. Calendário do Rito Moderno
O Rito Francês, também conhecido como Rito
Moderno, foi adotado no Grande Oriente da França
quando de sua Convenção de 1786 (i.e.: COIL, 1961,
p. 268; MACKEY, 1914, p. 285). O calendário do Rito
Moderno é o calendário tido como oficial no âmbito
do Grande Oriente de França desde 1774, em substituição do calendário do Rito Adonhiramita. Esse calendário era baseado no sistema adonhiramita, com a
diferença de que se passou a adotar como primeiro
dia do ano o dia 1º de março (COIL, 1961, p. 113), e
os meses passaram a ser contados pelo número ordinal. Isso facilitava no cálculo, visto que o sistema ado-
Nos últimos anos, muitos desses calendários
maçônicos têm caído em desuso. E quando utilizados,
geralmente são acompanhados pela data no formato
do calendário civil. Por esse motivo, não é de se estranhar que muitos maçons, mesmo com algumas
décadas de experiência, desconheçam o funcionamento dos mesmos, até mesmo quando adeptos de
um dos ritos que os possui.
Portanto, que este trabalho não sirva apenas
para saciar a curiosidade daqueles que o leem, ou
para servir de orientação quando se desejar confeccionar um certificado maçônico com certo requinte,
senão para também registrar, de forma sucinta e or-
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013.
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ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES
ganizada, um dos elementos que compõem a história
dos ritos aqui citados e que pode simplesmente se
perder nas brumas do tempo.
4. Referências Bibliográficas
AYALA, Carlos Martinez – “Origem, Significado e Tipologia
das Ordens Militares”, As Ordens Militares na Europa Medieval, dir., por Feliciano Movoa Portela, 1ª ed., em Portugal, Lisboa, Chaves Ferreira – Publicações S.A., 2005
BARR, J. Why the World Was Created in 4004 BC: Archbishop Ussher and Biblical Chronology. Bulletin of the John
Rylands University. 1985, vol. 67, no2, pp. 575-608.
BASSINI, Marili. Ensino Religioso: educação pró-ativa para
a tolerância. Revista de Estudos da Religião Nº 2, p. 49-64,
2004.
BÍBLIA. Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução: João Ferreira de Almeida. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.
COIL, Henry Wilson; BROWN, William M. Coil’s Masonic
Encyclopedia. New York: Ed. Macoy,1961.
MACKEY, Albert. An Encyclopedia of Freemasonry. New
York e Londres: The Masonic History Company, 1914.
RIBEIRO, João Guilherme da Cruz. O Nosso Lado da Escada. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2012.
THIBAULT, Pierre. O Período das Ditaduras 1918-1947.
História Universal 12. Lisboa: Publicações Dom Quixote,
1981.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 13/10/2013
Aprovado: 02/12/2013
O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS
Luiz Franklin de Mattos Silva¹
Resumo
O presente artigo aborda a questão da régua de 24 polegadas e o conceito filosófico do tempo, buscando
afirmar que o instrumento conferido ao aprendiz maçom contém diversos elementos de contemplação dos
filósofos gregos. O artigo ressalta que o maçom, ao usar a régua como um instrumento cotidiano pode obter
"tempo" para a vida maçônica e familiar, evitando-se a ausência em ambos os ambientes.
Palavras-chave: Filosofia; Régua de 24 polegadas; tempo.
Abstract
This article addresses the question of the 24 inches ruler and the philosophical concept of time, seeking to
affirm that the instrument given to Entered Apprentice contains many elements of contemplation of the
Greek philosophers. The article emphasizes that the freemason, using the ruler as an everyday tool, can get
"time" to the masonic and family life, avoiding the absence in both environments.
Keywords: Philosophy; 24 inches ruler; time.
¹ Luiz Franklin de Mattos Silva é biólogo, Mestre em Zoologia pelo INPA e Doutor em Biologia de Água Doce pelo INPA/Roseinstel
School of Marine Science. Mestre Instalado, é membro da Loja Maçônica “Acácia de York No. 52”, Sumo Sacerdote do Capítulo
“York No. 40” de Maçons do Real Arco e Grande Secretário de Planejamento Estratégico do GOIRJ.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013.
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SILVA, L. F. M. O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS
A Questão do Tempo
A maioria das pessoas, lógico supor, admite
uma compreensão intuitiva do tempo. Pra essa maioria o tempo é algo ao mesmo tempo cotidiano, empírico, científico, fácil e complexo, poético e assustador, sentimental ou frívolo.
Após a cerimônia de iniciação maçônica, no
primeiro grau da Ordem, o Aprendiz Maçom recebe
uma régua, ou é instado a pensar sobre a utilidade de
“uma régua de 24 polegadas”, que, devidamente dividida em três partes iguais, deve remetê-lo a adequar a utilização do tempo cotidiano. A Maçonaria a
adota porque simboliza o dia com suas vinte e quatro
horas, exigindo dos maçons uma adequada utilização
das horas do dia.
Falamos do ontem, do hoje e do amanhã. Referenciamos no passado de nossas vidas, para hoje
planejarmos e pensamos no futuro de nossas famíNo campo maçônico a graduação nela colocalias. Enfim, existe um tempo que passa ao mesmo da de vinte e quatro polegadas, serve para mensurar
tempo em que outros passam o tempo.
o tempo, as vinte e quatro horas do dia, em que o
Para muitos o passado como tempo é história homem deve distribuir suas atividades. No Rito de
e o futuro especulação. O hoje e o agora não existem, York, a “cautela” ganha importância na vida do masendo apenas uma referência de segundos entre o çom. Associar, portanto, a cautela à régua de 24 polegadas nos parece ser um bom caminho para explopassado e o futuro.
Deus é, diriam alguns, logo não existe passado rarmos o conceito de tempo.
Um maçom deve usar, no cotidiano de sua
ou futuro na mente de Deus. Talvez por isso Santo
Agostinho tenha escrito em suas Confissões: “O que é existência, as 24 polegadas como representação de
o tempo? Se ninguém pergunta, sei o que ele é; mas 24 horas, divididas em três partes de 8 horas: descanse alguém me pergunta e tento explica-lo, já não sei so, trabalho e solidariedade.
mais.” (SANTO AGOSTINHO, 1997).
Assim, deve de certa forma dividi-las entre
Poderíamos, partindo da premissa acima, con- suas atividades matinais, nem sempre realizadas, cosiderar que o tempo é algo ou objeto de difícil defini- mo sua primeira refeição diária, às vezes esquecida.
ção, podendo apresentar diversos conceitos e abor- Outras horas dedicadas ao seu trabalho; à necessária
dado de formas diferentes, dependendo do ramo da recreação, muitas das vezes não considerada; suas
ciência, seja arte, geometria, biologia, astronomia, reflexões, em geral pouco ou mal aproveitadas; e o
merecido repouso, como nos prega a mensagem mamatemática, física, sociologia e filosofia.
Não se pretende neste artigo uma abordagem çônica. E as outras oitos horas servindo a Deus ou a
sobre cada um desses aspectos, mas apenas demons- algum necessitado.
Filosoficamente, poderíamos dizer tratar-se
trar que o simbolismo da régua de 24 polegadas, em
especial no Rito de York, possui profunda atualidade de um caminho entre a norma e a ordem, entre o
que se quer fazer e o que se deve fazer, entre o passifilosófica sobre o que concerne ao tempo.
onal e o racional, entre a direção da ponta do malho
ao topo do cinzel. Indica a própria construção do hoA Régua de 24 polegadas na Maçonaria
mem, a lapidação de sua forma mais bruta em busca
A primeira observação que fazemos é quanto da perfeição (RAGON, 2005).
às características básicas da régua, um instrumento
O exercício na separação de cada tempo, dansimples, milenar, que nos ensina, de uma forma mais do o ritmo necessário para cada etapa, faz com que o
simples ainda, o caminho direto entre dois pontos, homem evolua, cresça, se realize e desenvolva habilidois destinos. Com a régua medimos um seguimento dades que de outra forma poderia pensar ser imposdo infinito. Uma parte de nossa vida. A retidão que sível realizá-las.
buscamos.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013.
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SILVA, L. F. M. O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS
A constante assertiva de muitos maçons contemporâneos de que “não tem tempo”, quer para ir à
Loja ou realizar atividades de filantropia, demonstra
uma não utilização dos princípios maçônicos sobre a
administração do tempo (ALCÂNTARA FILHO, 2012).
Ele formula uma questão-chave: “O tempo
poderia existir sem a alma e o pensamento, que são
os verdadeiros sujeitos de toda a medição? (218b)”.
Depois de uma análise desta questão, ele mesmo formula a resposta afirmando que isso poderia ser váliSegundo os conceitos filosóficos do simbolis- do para todas as coisas, menos para o tempo e o momo maçônico, “tempo obtido” seria uma vitória pes- vimento.
soal, inigualável, uma capacidade de autogestão, ou a
As respostas acima seriam analisadas séculos
pura demonstração da vontade, de responsabilidade depois por Santo Agostinho. Mas, retornando a Arise do reconhecimento de si própria. Um caminho que tóteles, podemos ressaltar a definição de seu objeto:
se propõe reto é íntegro e honesto. Cada nova ação “O tempo, se não é o próprio movimento, é seu núproposta deverá ser bem estudada, analisada, e, para mero calculado, isto é o resultado da medição” (219).
ser edificada, basta incluí-la nos intervalos de cada Assim ganhamos consciência do tempo pelo fato do
ponto de nossa régua, utilizando para isso os princí- movimento representar uma sucessão contínua, defipios éticos que envolvem a liberdade, a igualdade e a nida como um antes e um depois, ou seja, “O tempo
fraternidade (BAYARD, 2004).
é o número do movimento conforme o antes e o deNo campo simbólico, junto ao malho e o cin- pois” (219b).
zel, a régua forma um conjunto de ferramentas ou
instrumentos que devem ser usados pelo Aprendiz
em seu trabalho, como Rito Escocês Antigo e Aceito.
Já no Rito de York, mais antigo que esse, a régua de
24 polegadas está associada ao “martelo de corte”,
um instrumento muito mais apropriado ao trabalho
no “desbastar” da Pedra Bruta.
Lógico que já evidenciamos esses conceitos
aristotélicos no simbolismo da régua de 24 polegadas, no sentido de podermos medir numericamente
um espaço de movimento menor (ciclo de oito horas)
durante um dia (três ciclos de oito horas).
Analogamente, no item 223-b da mesma
obra, Aristóteles diz que “a locomoção circular (o moDe qualquer forma, a régua era usada pelos vimento dos astros no céu) é a melhor medida, pormaçons operativos, àqueles que remontam das len- que seu número é o mais conhecido”, o que também
das míticas aos construtores de templos, para execu- remete a simbolismo maçônico, do Rito Escocês.
tar um trabalho de precisão na construção, medindo,
Heidegger (2012), ao citar Platão, afirmou que
delineando, ajustando o traçado ou limites do corte o tempo nasceu quando um ser divino colocou orde uma determinada pedra para uma construção es- dem e estruturou o caos primitivo. O tempo tem,
pecífica.
portanto, de acordo com Platão, uma origem cosmoO Tempo: Primeiros Conceitos
lógica. Ele procura estabelecer a distinção entre o
"ser'' e o "não ser''. O mundo do "ser'' é fundamental
e não está sujeito a mutações. Ele é, portanto, eternamente o mesmo. Este mundo, entretanto, é o
mundo das ideias, apreensível apenas pela inteligência e pode ser entendido utilizando-se a razão. O
mundo do “não ser’’ faz parte das sensações, que são
irracionais, porque “dependem essencialmente de
cada pessoa” (LUCE, 1994).
Aristóteles (1995), em sua obra “Physique IV,
Tratado do Tempo”, faz uma reflexão sobre a realidade física do tempo, aquela que é medida pelos relógios, dando inclusive a impressão que descarta o
tempo psicológico, demonstrando que o tempo é
uma ilusão. Para ele, o momento presente, como
“instante”, não pode existir para o homem, pois não
O domínio do tempo estaria nesse segundo
pode ser percebido instantaneamente, como no somundo, assim como tudo o que se observa no univernho (BURNET, 1994).
so físico, tendo assim uma importância menor. Talvez
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013.
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SILVA, L. F. M. O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS
se existem nas representações de
nossas mentes, eles o fazem na forma presente, pois é no presente que
concebemos ou imaginamos o futuro e nos recordamos do passado
(cap. XVII)”. (ABRÃO & COSCODAI,
1999).
possa ser dito que para Platão o tempo essencialmente não existe, uma vez que faz parte do mundo
das sensações.
O Tempo da Alma
Platão (2002), em Timeu, afirma que o “deus
quis que todas as coisas fossem boas”. Portanto, para
A humanidade tem necessidade de medir o
ele, esse deus:
que ela concebe como tempo. A régua de 24 polega*...+ teve a ideia de criar uma espécie das expressa essa necessidade. Portanto, deve ser
de imagem móvel da eternidade, e, dividida em 3 partes iguais, pois aqui o tempo se
enquanto organizava o céu, criou à
apresenta como número e, como todos os números,
semelhança da eternidade imutável
em sua unidade, uma imagem em indicando quantidade – quer de tempo ou de horas –
eterna evolução, ritmada pelo nú- não passa de um produto prático de pensamento.
mero; e é isto que chamamos de
tempo. À constituição do tempo, ele
combinou o nascimento dos dias,
das noites, dos meses e do ano
(Platão. Timeu e Critias ou Atlântida,
2002).
Considerações Finais
A natureza do tempo tem sido um dos maiores problemas desde a antiguidade, quer no que concerne a medição, passagem, fluidez, linearidade ou
circularidade, se divino, cósmico ou meramente físiEsses princípios mostram a universalidade do
co.
ensino simbólico da Maçonaria, em especial na régua
Acredita-se cada vez mais que ele é uma das
de 24 polegadas, pois o ciclo se repete, a cada 8 medições numéricas, num ciclo ininterrupto de 3 medi- propriedades gerais do pensamento humano ou uma
ções. Ou seja, a cada hora, a cada dia, mês e ano. En- se suas exterioridades e que, para a compreensão e
fim, a régua e os conceitos platônicos nos remetem a entendimento de nossa humanidade, precisa ser dividido em três dimensões lineares: o passado, o prenossa própria vida e eternidade.
sente e futuro.
Santo Agostinho (op. cit) oferece-nos outra
Sabemos que devemos a máxima de “nunca
reflexão sobre o tempo onde ele opõe a eternidade
nos
banhamos
duas vezes no mesmo rio” a Heráclito
imóvel num eterno presente e o tempo que passa.
Para ele o “Verbo” eterno é o criador de todos os (1988), que é o filósofo da transformação e do movitempos em que a criação pode ocorrer. E no capítulo mento perpétuo. Conceito que reforça o princípio de
XIII afirma que não havia tempo antes que o tempo que a divisão igual em 24 partes da régua, embora
existisse, mostrando que o futuro não existe ainda, o repetida cotidianamente pelos maçons, nunca terá o
passado já não existe mais e presente vai desapare- mesmo objetivo, pois se renova automaticamente, ao
cer a medida que o tempo avança, sendo portanto final de cada ciclo de 24 horas.
efêmero.
Mesmo sendo uma contraposição ao pensaOutra contribuição de Agostinho é que do mento de Platão (op. Cit), que, ao defender um “ciclo
tempo “psicológico” de Aristóteles constrói a ideia de mítico de eterno retorno”, onde o tempo era um movimento cíclico e assíduo, pois aquilo que acontecia
tríade:
no passado era repetido e retornava (VERNANT,
*...+ passado-presente-futuro que
não existem em atos, mas nas re- 1992), a régua de 24 polegadas reafirma um conceito
presentações de nossas mentes, e de que a repetição insensata de pensamentos e
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013.
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SILVA, L. F. M. O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS
ações, diariamente, traz infortúnios.
Na perspectiva de Kant, o tempo é uma estrutura da relação do sujeito com ele próprio e com o
mundo, uma forma “a priori” da sensibilidade, uma
espécie de intuição pura e ao mesmo tempo, uma
noção objetiva de observação e não extraído da experiência, ou seja, um dos limites para o conhecimento no plano da sensibilidade.
Independente do valor material, físico e matemático da medição do tempo, relacionando-o ao passado, presente ou futuro, a medida que o tempo se
torna subjetivo ou psicológico, cada ser humano pode vivenciá-lo numa situação agradável, desagradável, lenta, rápida, penosa ou alegre. Conclui-se portanto que o homem, pela sua condição de mortal, é
afetado por processos diferentes do que ocorrem no
espaço infinito.
HEIDEGGER, M. Platão, o Sofista. São Paulo: Editora Forense Universitária, 2012.
LUCE, J.V. Curso de Filosofia Grega. Trad. M.G. Kury. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
PLATÃO. Timeu e Critias ou Atlântida. Rio de janeiro: Hemus Editora, 2002.
RAGON, J. M. Ritual do Aprendiz Maçom. 8ª Ed. São Paulo:
Pensamento, 2005.
SANTO AGOSTINHO. Confissões. Rio de Janeiro: Editora
Paulus, 1997.
VERNANT, J. P. As origens do Pensamento Grego. Trad.
I.B.B. da Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 7ª ed.,
1992.
Há uma assertiva na Maçonaria brasileira de
que “somos todos aprendizes”. Sendo assim, a régua
de 24 polegadas, pelo menos teoricamente, nos
acompanha sempre. Se seu simbolismo é usado junto
com a nossa capacidade mental de reter acontecimentos e imagens passamos a ter uma condição fundamental para as características fundamentais da vida social, o que inclui obrigatoriamente a necessidade de “tempo” para nós mesmos e para nossas famílias.
Referências
ABRÃO, B.S.; COSCODAI, M.U. História da Filosofia. São
Paulo: Nova Cultural, 1999.
ALCÂNTARA FILHO, N. Irmãos, Ajudai-me a Abrir Loja. São
Paulo: Madras, 2012.
ARISTÓTELES. Physique IV, Traité du temps. Paris: Kimé,
1995.
BAYARD, J. P. A Espiritualidade da Maçonaria: da Ordem
Iniciática Tradicional às Obediências. São Paulo: Madras,
2004.
BURNET, J. O Despertar da Filosofia Grega. Trad. M. Gama.
São Paulo: Siciliano, 1994.
HERÁCLITO. Fragments et Témoignages, Les Présocratiques. Paris: Gallimard, 1988.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 07/10/2013
Aprovado: 13/12/2013
Resenha da Minissérie:
THE PILLARS of the Earth. Direção: Sergio Mimica-Gezzan. Produtor: John Ryan. Produção: Tandem
Communications, Muse Entertainment e Scott Free Films. Roteiro: John Pielmeier. Concepção: Ken
Follett. Minissérie da Netflix, 8 episódios (411 min.), original em inglês (UK), legendado (PT-BR e
ESP). Classificação 16 anos. Página oficial http://www.the-pillars-of-the-earth.tv. .
A produção germano-canadense “Os Pilares
da Terra”, baseada no livro homônimo de Ken
Follett1, publicado originalmente em 1989 na Inglaterra, pode ser classificado como uma ficção histórica
ou drama épico. Teve sua primeira transmissão de 23
de julho a 27 de agosto de 2010 pelo canal canadense The Movie Network. Hoje a minissérie de 8 episódios está disponível na TV por internet da empresa
Netflix2 e pode ser adquirida também em DVD ou Blu
-ray distribuídos pela Paramount.
também ficcional3.
Situada entre os anos de 1120 e 1170 a história traz alguns personagens que encarnam o Bem e o
Mal de uma forma um tanto maniqueísta, mas também a luta íntima de alguns deles para submeter seus
vícios e conquistar virtudes por sua fé manifestadas
através do sacerdócio ou do trabalho na pedra bruta.
Podem ser apontadas alguns anacronismos na série4,
como, por exemplo, a estátua de Santo Afonso ser
representada como São Dinis de Paris, mas ainda asSeu enredo traz a história de construtores de sim apresenta boa coerência histórica.
catedrais do século XII no sul da Inglaterra e a luta
A série não se refere, em nenhum momento,
entre o Bem e o Mal, enquanto se desenvolve a cons- explicitamente à Franco-Maçonaria. É preciso lemtrução da catedral de Kingsbridge, um pequeno cen- brar que a Grande Loja de Londres e Westminster,
tro de peregrinação que possui as relíquias de Santo embrião
da
Grande
Loja
da
Inglaterra
Afonso. Tem por pano de fundo traição, intrigas, con- (posteriormente, em 1813, Grande Loja Unida da Inflitos religiosos, guerras e a luta pela sucessão no po- glaterra), foi fundada somente em 1717. A Grande
der. Filmado na Áustria e na Hungria em 2009, essa Loja de Toda Inglaterra, também chamada de Grande
catedral de Kingsbridge é fictícia, não precisa procu- Loja de York, que não possuía uma estrutura organirar no Google Maps, mas a cidade realmente existe. zada como Grande Loja, teve início em 1705. As refeKingsbridge é uma cidade estuarina, no distrito de rências maçônicas mais próximas que temos da MaDevon, com uma população de menos de 6.000 habi- çonaria como associação organizada é a Loja Kilwintantes, desenvolvendo um importante mercado de ning n. 0 (Loja Mãe da Escócia), fundada em 1140,
comércio de lã, como apresentado no filme, mas isso portanto, não espere ver nessa obra a Maçonaria em
somente no século XVIII. Mas o autor do romance no sua forma institucionalizada como é atualmente. Talqual se baseia a série afirma que a sua Kingsbridge é vez uma referência mais fiel de como as guildas da
1
2
3
4
FOLLETT, Ken. Os Pilares da Terra. Trad. Paulo Azevedo. Rio de Janeiro: Rocco, 2012, 944 páginas.
http://movies.netflix.com/WiMovie/The_Pillars_of_the_Earth/70241611
http://ken-follett.com/bibliography/the_pillars_of_the_earth/kingsbridge.html
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Pillars_of_the_Earth#Historical_accuracy
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 43-45, Set/Dez, 2013.
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MONTEIRO, R. C. THE PILLAR OF THE EARTH (review)
Idade Média operavam possa ser obtida em “As origens da Maçonaria”, de David Stevenson5, em seu
capítulo ’A Contribuição Medieval’. O primeiro maçom especulativo de que se tem registro teria sido
Elias Ashmole, iniciado em 16 de outubro de 1646 em
Warrington (Lancashire) na Inglaterra, 500 anos depois dos relatos em “Os Pilares da Terra”, portanto,
bem mais tarde.
Desta forma, “Os Pilares da Terra” retrata a
Maçonaria em seu período operativo e sua riqueza
de detalhes é o que a torna esse thriller épico impressionante. É uma viagem aos primórdios dessa Arte.
Sem usar o termo Maçonaria, a série retrata com fidelidade o trabalho dos maçons no canteiro de obra.
Situado no período da Anarquia, (onde tem início a
disputa pelo poder entre o Rei Stephen de Blois e a
Imperatriz Matilda com a morte do Rei Henrique I, o
maçom Tom Builder toma suas ferramentas e parte
para o sudoeste da Inglaterra com a família em busca
de trabalho. No caminha encontra o jovem Jack, que
tem um dom para a cantaria e o toma por seu aprendiz. Com o incêndio da catedral românica do priorado
de Kingsbridge, Tom e seu aprendiz assumem a construção de uma nova catedral, impondo a ela o estilo
gótico. A sucessão pelo poder temporal e espiritual
na série (rei-conde e prior-bispo-arcebispo) se dá por
assassinatos, intrigas e traição, mas “Os Pilares da
Terra” não deixa de abordar também a sucessão do
cargo de Mestre de Obras da construção da Catedral
de Kingsbridge, que combinado com as lutas por poder nos leva a reflexões sobre as disputas pelo poder
da Franco-Maçonaria nos dias atuais. Cooptação de
obreiros, fraudes em eleições, tentativas de manutenção vitalícia em cargos eletivos, emendas constitucionais para adequar possibilidade de reeleição são
temas por vezes tratados em bastidores nas Lojas e
conversas informais e à boca miúda, até para evitar
retaliação, perseguições ou mesmo por falta de evidência mais clara que as comprove. Contudo, a série
também retrata o trabalho por ideal, na construção
de uma organização verdadeiramente democrática,
onde a livre expressão é garantida, como exemplificado nas reuniões do priorado. Nas oficinas maçônicas
também não são poucos os irmãos que trabalham
por um ideal, zelosa, sincera e fielmente devotados
ao trabalho de edificação de uma Loja ativa, que contemple seus propósitos de desenvolvimento do ser
humano em seus diversos aspectos, buscando uma
política clara, compondo candidaturas com um plano
baseado em meios possíveis e metas e prazos exequíveis, favorecendo a escolha mais adequada de seus
gestores pelos maçons eleitores.6
A viagem de Tom Builder em busca de trabalho reflete o aspecto livre (franco, daí o nome de
Franco-Maçonaria) do mestre maçom em poder
transpor fronteiras para assumir empreendimentos
em outras terras. A minissérie não de atem ao aspecto da organização das guildas, embora retrate parte
disso quando Jack vai procurar trabalho como artesão em Saint-Denis, ao norte de Paris, e obtém de
seu mestre o livro de Euclides, provavelmente “Os
Elementos”.
O Poema Régio (ou Manuscrito Halliwell), com
data provável de 1390, relata a mítica Assembleia
Geral dos Maçons em York organizada por Edwin, a
pedido do seu pai (ou irmão?), o Rei Athelstan da Inglaterra, no ano de 926. Sendo verdadeiro esse mito,
talvez possamos admitir que Edwin tivera sido o primeiro maçom especulativo e talvez até Grão Mestre,
tendo compilado os Antigos Deveres (Old Charges) e
agindo como patrono da Arte Real. Nessa Assembleia
de York teria sido aprovado um código de leis (15 artigos e 15 pontos) que se tornou a base sobre a qual
todas as constituições maçônicas subsequentes foram enquadradas. Embora não se comprove a existência dessa “reunião sindical”, outros manuscritos
como Cooke (1450), trazem maiores detalhes que o
5
STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria: o século da Escócia (1590-1710). Trad. Marcos Malvezzi Leal. São Paulo: Madras,
2009, 286 p. ISBN 978-85-370-0500-2.
6
ISMAIL, Kennyo. MAÇONARIA: Democracia e Meritocracia no Mundo Ocidental. 2013. 8 p. Disponível em: <http://pt.scribd.com/
doc/144981846/MACONARIA-DEMOC-e-MERITOC-Kennyo-Ismail-pdf>. Acesso em: 20 set. 2013.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 43-45, Set/Dez, 2013.
44
MONTEIRO, R. C. THE PILLAR OF THE EARTH (review)
próprio Poema Régio. Para os que buscam detalhes
no tema, o Rito de York possui nos Graus Maçons Aliados (AMD) a Ordem Maçônica de Athelstan, relacionada diretamente a esta lenda e aberta somente a
Maçons do Real Arco.
catedral no nascer do Sol e na discussão sobre como
evitar que a abóbada de cruzaria de pedras desabe. A
série é repleta de detalhes que fizeram o “segredo
maçônico” desses primeiros obreiros, talvez muito
semelhante ao segredos profissionais e corporativos
Entre a diversidade de aspectos relatados na de hoje em dia, sejam os aprendidos na academia ou
minissérie, explorada no perfil de muitas persona- na experiência do dia-a-dia, informação operacional
gens, destacamos o cotidiano do trabalho na edifica- ou estratégica.
ção da Catedral de Kingsbridge: a importância da
Vale a dica de assistir à minissérie e, porque
existência de peregrinos que provêm doação para a não, ler ao livro.
construção da igreja e o atrativo de um mercado local
forte, quando errônea e muitas vezes nos lembramos
somente das famílias que por orgulho e vaidade osRubens Caldeira Monteiro
tentavam poder patrocinando essas grandes obras; a
VM
da
Loja
de
Pesquisas
Rio de Janeiro nº 54 - GOIRJ
localização estratégica de recursos como pedreiras e
MRA, SEM, KT
florestas para garantir o suprimento de materiais; a
Grande Secretário de Relações Exteriores do GOIRJ
logística para transporte de materiais, hospedagem e
alimentação dos trabalhadores; a dificuldade de pagamento do salário; o conhecimento especializado
restrito aos mestres, como a geometria de Euclides e
seu caráter experimental. Aliás, outra obra que não
pode ser esquecida para buscar revelar o cotidiano
do trabalho nos canteiros de obra dessa fase operativa, é “Johaben: Diário de um construtor do Templo”,
romance histórico da “Trilogia do Templo” de Zé Rodrix.
A série apresenta ainda aspectos arquitetônicos do estilo gótico nascente na Alta Idade Média
(900 a 1300), trazendo novidades desse estilo como o
verticalismo e a iluminação em profusão, arcos ogivais, abóbada de cruzaria, arcobotantes e contrafortes, pináculos e gárgulas e a substituição das espessas paredes românicas por uma estrutura leve com
vitrais e rosáceas, indicando a influência da arquitetura francesa no sul da Inglaterra, todos esses elementos mesclados com o enredo.
As ferramentas do Mestre Maçom operativo
são seu grande tesouro e o valor simbólico delas é
enfatizado quando a caixa de ferramentas de Tom
Buider é tomada por seu filho Alfred. Preste atenção
no uso das ferramentas para o posicionamento da
7
RODRIX, Zé. JOHABEN: Diário de um construtor do Templo. vol.1. Rio de Janeiro: Record, 1999, 448 páginas.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 43-45, Set/Dez, 2013.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 02/12/2013
Aprovado: 07/12/2013
Notícia:
O ASTRONAUTA BRASILEIRO É INICIADO NA MAÇONARIA
GOIRJ recebe astronauta na Ordem e declara que ele, é composta de homem respeitáveis e de valor
homens de valor sempre compuseram seus quadros. para a sociedade. Perguntado se já conhecia a Maçonaria, o Comandante afirmou que já havia sido conviNa tarde de um belo sábado, dia 30 de no- dado outras vezes para compor os quadros de outras
vembro, na cidade de Petrópolis, no Estado do Rio de Potências maçônicas, mas foi naquele momento que
Janeiro, o Grande Oriente Independente do Rio de achou mais apropriado fazê-lo.
Janeiro – GOIRJ, principal representante da Maçonaria fluminense,
promoveu a iniciação de sete candidatos eleitos para compor os
quadros da Ordem. Entre eles estava ninguém menos do que o Comandante Marcos Cesar Pontes,
primeiro astronauta brasileiro a ir
ao espaço.
O convite à iniciação foi
promovido pela Loja Maçônica
“Jaques DeMolay nº 50” - GOIRJ,
localizada na cidade de Petrópolis,
que pratica o Rito de York (o legítimo, Americano).
A sessão foi realizada na
devida forma, de acordo com os
rituais tradicionais da Maçonaria, e
estiveram presentes representantes das três Potências Regulares fluminenses.
Ao final de seu processo de iniciação, o comandante Marcos conheceu de perto os jovens integrantes da Ordem DeMolay, instituição juvenil de caráter filosófico e filantrópico patrocinada pela Maçonaria. Os jovens DeMolays realizaram uma demonsO comandante Marcos Pontes, ao final inicia- tração pública, na qual emocionaram os convidados
ção, declarou-se bastante empolgado com a possibili- presentes com a apresentação de suas virtudes e hisdade de participar da Ordem Maçônica, que, segundo tória.
O evento contou também com a presença do
Soberano Grão Mestre do GOIRJ e Vice-presidente da
Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, Irmão
Antônio Carlos Raphael.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 47-48, Set/Dez, 2013.
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GONÇALVES, E. V-E. O ASTRONAUTA BRASILEIRO É INICIADO NA MAÇONARIA
Marcos Pontes ficou emocionado com a apresentação dos jovens. Os DeMolays fizeram declarações emocionadas, como a de que, juntamente com
o Ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal
Federal, Marcos Pontes era uma das personalidades
brasileiras que servem de exemplo para os jovens da
Ordem, sempre citado como exemplo de honestidade, ética, valores positivos de coragem e determinação. É a prova viva de que não se deve desistir de um
sonho. Mesmo que esse sonho seja o espaço sideral.
Erick Van-Erven Gonçalves
Jornalista
Mestre Maçom da Loja Francisco C. Xavier No. 55
Assessor de Impressa do Grão-Mestre - GOIRJ
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 47-48, Set/Dez, 2013.
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ISSN 2318-3462
Recebido: 18/11/2013
Aprovado: 29/11/2013
Relato de Evento:
York Rite Brazil 2013 - Manaus-AM
Introdução
O Rito de York americano é praticado no simbolismo, nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, como em qualquer outro Rito praticado no Brasil.
Assim, toda Loja de York, também conhecida como
Blue Lodge, inicia profanos no grau de Aprendiz, realiza a Passagem do Aprendiz ao grau de Companheiro
e faz a Elevação do Companheiro para o grau de Mestre. Logo, o Rito de York está sob a Jurisdição de uma
Potência Maçônica.
Seus graus superiores, no caso brasileiro, estão subordinados
ao Supremo Grande Capítulo
de Maçons do Real Arco do Brasil, Jurisdicionado ao
General Grand Charpter of Royal Arch Masons International e ao Supremo Grande Conselho de Maçons
Crípticos do Brasil, jurisdicionado ao General Grand
Council of Cryptic Masons International. Ambos, evidentemente, independentes de Potências Simbólicas.
Superiores, constituídos por Lojas de Perfeição (4º ao
14º), Capítulos Rosa Cruz (15º ao 18º), Conselho de
Cavaleiros Kadosch (19º ao 30º), Consistório de Príncipes do Real Segredo (31º ao 32º) e Supremo Conselho (33º), os graus superiores de York ¹ são concedidos em Corpos assim denominados: Capítulos de Maçons do Real Arco (Mestre de Marca, Past Master,
Mui Excelente Mestre e Maçom do Real Arco), Conselhos de Maçons Crípticos (Mestre Real, Mestre Escolhido e Super Excelente Mestre), Comanderia Templária (Ordem da Cruz Vermelha, Ordem dos Cavaleiros de Malta e Ordem dos Cavaleiros Templários).
Esses graus são concedidos nos diversos Estados da federação que têm Capítulos e Conselhos instalados, sendo que os graus Crípticos só podem ser
concedidos até ao grau de Mestre Escolhido, sendo o
grau de Super Excelente Mestre e as Ordens de Cavalaria concedidas uma vez por ano em encontro nacional realizado em uma cidade da federação, normalA fundação do Supremo Grande Capítulo de mente capital de Estado.
Maçons do Real Arco se deu há 13 anos, no dia 1º de
janeiro de 2001, sendo sua Carta Constitutiva outorgada em 24 de maio de 2001. Sua sede está localiza- O Encontro de 2013
da na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
No ano de 2013 a cidade escolhida para o encontro
do Rito de York foi Manaus, sendo o período
Diferentemente dos outros Ritos, o de York
não trata seus graus por números, 1º grau, 2º grau, de sua realização de 14 a 17 de novembro, consti8º grau e sim pelo nome de cada um deles, Aprendiz, tuindo-se em tradição a escolha da data incluindo o
Companheiro, Mestre de Marca, Super Excelente dia 15 de novembro. Assim sendo, realizou-se a Reunião Anual das Comanderias de Cavaleiros TempláMestre, etc.
rios do Brasil, do Supremo Grande Conselho de MaSabemos que os três primeiros graus, ou çons Crípticos do Brasil e do Supremo Grande Capítugraus simbólicos, são comuns a todos os Ritos, e por lo de Maçons do Real Arco do Brasil.
isso recebem também a denominação de graus uniA cidade de Manaus, localizada na maior floversais. Comparando com o REAA, cujos graus superiresta
tropical
do mundo, na confluência dos rios Neores são concedidos pelo que chamamos de Corpos
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 49-50, Set/Dez, 2013.
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FERREIRA, J. R. YORK RITE BRAZIL 2013 IN MANAUS
gro e Solimões, a -03º08’05” de latitude Sul e 60º01’24” de longitude Oeste, cujo limite ao norte é
com o município de Presidente Figueiredo, ao Sul
com o município de Careiro, a Leste com o município
de Rio Preto da Eva e Itacoatiara e a Oeste com o município de Novo Airão, está a 3.490 km da Capital federal e a 4.638 km do Rio de Janeiro. Constitui-se no
maior centro, financeiro, econômico e corporativo da
região Norte do Brasil, possuindo um potencial turístico que a torna uma das cidades brasileiras mais visitadas por turistas estrangeiros e a décima cidade
mais visitada pelos brasileiros. Tem grande peso em
nossa história e ainda hoje atrai muita curiosidade
para quem a visita.
uníssono a canção Amigos Para Sempre, demonstrando que a família é fundamental para todos nós e que
devemos sempre nos unir pois na verdade somos
apenas um.
Em toda reunião anual do Rito de York, contase com a presença de muitas autoridades maçônicas,
principalmente do Grande Sumo Sacerdote Geral do
Grande Capítulo Geral de Maçons do Real Arco Internacional, Companheiro Ted Harrison, e dos representantes do Grão-Mestre do Grande Acampamento de
Cavaleiros Templários Internacional, o Grande Secretário, Irmão Larry Tucker, e o Eminente Comandante
do Departamento de Comanderias Subordinadas, Irmão Edward Trosin, que é Past Grão Mestre da GranAssim e de acordo com a programação, foi de Loja do Estado de New York.
realizada, na quinta-feira, 14 de novembro de 2013, o
credenciamento dos irmãos e suas comitivas e a reunião com os dirigentes de Capítulos, Conselhos e Co- Considerações Finais
manderias, onde normalmente são apresentadas as
Todo evento como um encontro como esse,
conclusões do ano em curso e as metas para o ano que deve ter congregado perto de 150 pessoas, exige
vindouro, culminando com a solenidade de abertura uma organização muito grande e muitos erros, confuoficial, onde houve a linda apresentação folclórica do sões e desencontros acontecem. Não é o primeiro
Boi-Bumbá. Nos dias subsequentes, sexta-feira, 15 de que participo e assisto, embora não tenha assistido a
novembro e no sábado, 16 de novembro, vimos di- todos, mas pelo que ouvi dizer dos outros e consideversas iniciações, onde as equipes ritualísticas, princi- rando aqueles que vi, esse foi o melhor organizado e
palmente de Manaus e do Rio de Janeiro, deram um em todos os sentidos. Claro que ainda falta muita coiverdadeiro show de interpretação ao texto iniciático, sa a acertar, a fazer, mas tenho certeza que os anos
abrilhantando sobremaneira a concessão dos graus vindouros mostraram eventos mais e mais organizade Super Excelente Mestre, Cavaleiro Templário, Or- dos. Para o próximo ano estamos programados para
dem dos Sumos Sacerdotes (somente concedida aos nos encontrar na cidade de Recife, capital do Estado
Sumos Sacerdotes, que são aqueles que dirigem ou já de Pernambuco. Nos encontramos lá?
dirigiram um Capítulo de Maçons do Real Arco), Ordem da Trolha de Prata (somente concedida aos IlusJosé Roberto Ferreira
tres Mestres ou Past Ilustres Mestres, que são aqueles que dirigem ou dirigiram um Conselho de Maçons Venerável Mestre da Loja “Francisco Cândido Xavier”
Crípticos). Paralelamente e nos referidos encontros,
Past Sumo Sacerdote do Capítulo “York No. 40”
há reunião da Societas Rosacruciana in Civitatibus
Ilustre Mestre do Conselho “York No. 06”
Foederatis, também realizando ou concedendo seus
graus para aqueles que nela estão associados.
Culminando com as atividades, houve o já famoso e muito concorrido Jantar de Confraternização,
onde há o congraçamento maior entre os irmãos e
onde as cunhadas deram um verdadeiro show de
confraternização e harmonia ao cantarem, todas em
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 49-50, Set/Dez, 2013.
50
ISSN 2318-3462
Recebido: 18/11/2013
Aprovado: 29/11/2013
FinP entrevista: JORGE PESSÔA
Entrevista realizada no dia 16 de Novembro de 2013 com Jorge Barnsley Pessôa Filho, Grande Superintendente do Distrito 47 da Ordem Sagrada dos Sacerdotes Cavaleiros Templários do Real Arco ou Ordem da
Sagrada Sabedoria.
FinP - Jorge, o que é a Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros Maçonaria de tratar de política e religião.
Templários do Santo Real Arco ou Ordem da Sagrada Sa- Então essa característica dela ser uma Ordem Universal é
bedoria?
muito interessante porque nós tínhamos, ou nós temos,
Jorge - É a mais alta ordem filosófica dentre as Ordens as Grandes Lojas, ou Grandes Orientes de países, de EstaInglesas. Ela é uma Ordem posterior aos cavaleiros tem- dos, de regiões... depois nós temos Grandes Priorados ou
plários, e ela tem algumas restrições: além de você ser um Grandes Acampamentos de países... nós temos Supremos
Maçom do Real Arco e um Cavaleiro Templário, você pre- Conselhos de países, nós temos o Supremo Grande Capícisa, e é importante que isso ocorra, ser um mestre insta- tulo de Maçons no Real Arco do Brasil, o Supremo de Malado no simbolismo que tenha dirigido uma Loja por pelo çons do Real Arco dos Estados Unidos, Supremo de Maçons do Real Arco da Bolívia, o Grande Conselho dos Mamenos um ano.
çons do Real Arco de São Paulo... ou seja, sempre restrito
Ela tem algumas características: é uma ordem extrema- á uma região.
mente mística, é uma ordem que se baseia na Bíblia, em
lendas muito antigas. Ela é também conhecida como or- Na verdade, existem duas Ordens e só duas ordens que
dem de Melquisedeque. Na verdade Melquisedeque é são de fato universais. A Ordem dos Sacerdotes dos Cavaaquele que em tudo se igualou a Jesus Cristo. É aquele leiros Templários, e a ‘Royal Arch off Scotland’ na Escócia.
que era o rei da paz, aquele à quem, está na Bíblia, Abraão A Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros Templários é toda ela
pagou dízimo de todas as suas riquezas. Ora, portanto era subordinada ao ‘‘Grand College’’, cuja sede fica na cidade
alguém superior a Abraão, que foi o fundador da religião York, exatamente na cidade dos Antigos, e que tem distrijudaica, o patriarca judeu que estruturou a religião judai- tos pelo mundo. Nós temos distritos na China, Filipinas,
Austrália, Nova Zelândia, Togo, Estados Unidos, Canadá...
ca. A ordem de Melquisedeque é anterior à isso.
nós temos distritos em 50 países do mundo. É uma ordem
Ela se baseia especificamente em Melquisedeque e depois bastante pequena para o seu nível mundial, principalmenem Jesus Cristo. Portanto, é uma Ordem exclusivamente te pelo fato dela exigir que todos os seus membros sejam
cristã. E uma das características que ela tem diferente de mestres instalados, restrição essa que as outras ordens
todas as outras Ordens que nós conhecemos, é que ela é abandonaram. O Real Arco americano, como nós sabeuma Ordem internacional. Nós temos um Grande Sumo mos, abandonou-a criando o grau de “Past Master”, e o
Sacerdote, ‘Grand High Priest’, que fica no nosso quartel sistema inglês moderno abandonou isso, abandonando
general, e é na cidade de York, Inglaterra, e inclusive a simplesmente. Você para chegar a Maçom da Marca, Magente se reúne muitas vezes dentro da sede que era aque- çom do Real Arco, à Cruz Vermelha de Constantino, ao
la mesma do tempo dos “Antigos”, da Grande Loja dos Grau Zariato na Inglaterra você não precisa ser Mestre
Maçons de Toda a Inglaterra, que eram conhecidos como Instalado. É a única ordem que manteve essa restrição,
os “Antigos”, ou seja, aqueles que não aceitaram as restri- então ela é uma ordem pequena. Nós não chegamos a 10
ções e as imposições feitas em 1717 pela Grande Loja dos mil membros em todo o mundo. Mas é uma ordem basModernos, que, na verdade, foi uma criação do Jorge I, o tante querida.
primeiro da Dinastia de Hanôver que quis, com a Grande
Loja de Londres, domesticar a Maçonaria, até proibindo a O local de reuniões da ordem chama-se Tabernáculo e nós
temos reuniões de tabernáculo normalmente quatro veFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013.
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FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA
zes ao ano. Três vezes ao ano, essa reunião é no seu Tabernáculo. O meu especificamente é o Tabernáculo Brasil,
sediado na cidade de São Paulo. Então três vezes por ano
temos reunião de Tabernáculo lá. E uma vez por ano, já
marcado há mais de cem anos, na cidade de Birmingham,
no segundo sábado do mês de junho. Então, no segundo
sábado de junho, todo os Sacerdotes Cavaleiros Templários são convidados para uma reunião em Birmingham. E
todos os Sumos Sacerdotes de cada Tabernáculo são convocados para essa reunião em Birmingham.
Jorge - Uma relação muito boa e bastante íntima, porque
os membros do ‘Grand College’ vieram ao nosso distrito já
cinco vezes. Como é uma Ordem muito pequena e muito
restrita, nós ainda mantemos a tradição de que o ‘Grand
Hight Priest’ e os Grandes Oficiais da Ordem, que são chamados por nós de pilares, o Grande 7º Pilar, o Grande 6º
Pilar, o Grande 5º Pilar, pilares que vão de um a sete, além
do ‘Grand Hight Priest’, ele, acompanhado de alguns Grandes Oficiais, veio para a consagração de todos os nossos
Tabernáculos. Nós já temos sete Tabernáculos consagraA gente procura se basear em todas as religiões e tirar as dos no Brasil e o ano que vem nós devemos consagrar
coisas boas de todas as religiões. Uma coisa que nós tira- mais quatro.
mos do Islamismo é que todo o Sacerdote Cavaleiro, ao Então, o ano que vem todo o ‘Grand College’ virá de novo
menos uma vez na vida, deve participar da reunião anual para o Brasil. Pessoalmente eu e o Grande Secretário Disem Birmingham. É uma festa maravilhosa. Na verdade, trital, a gente viaja normalmente duas ou três vezes para a
além das reuniões nós temos duas refeições: uma exclusi- Inglaterra por ano, ou para Londres ou para Birmingham,
vamente para os KTPs, e outra para os KTPs e famílias. ou para York. E nos 7 anos de nosso Distrito eles já vieram
Maçonaria andou esquecendo bastante que Maçonaria é cinco vezes para cá. Fora isso eu mantenho contato telefôfamiliar. Nós temos que integrar a nossa família, nós te- nico e por e-mail com eles duas vezes por semana. É uma
mos de ser na Maçonaria homens melhores e homens li- coisa muito próxima.
gados à célula-mater da sociedade, que é a família, sem FinP - Esses quatro Tabernáculos a serem consagrados
dúvida alguma.
serão onde no Brasil?
Então, há o chamado “ágape familiar”, ou seja, o baile de
gala com esposas e filhos, e o outro só para nós. É uma
delícia você sentar em uma mesa de doze, que a gente faz
a refeição, onde tem um irmão do Togo, um irmão da Alemanha, um irmão do Canadá, um irmão da Nova Zelândia,
um irmão do Brasil, e é uma confraternização muito grande. Agora posso dizer realmente que já fui recebido em
todas as partes do mundo de fato como irmão.
Jorge - Um vai ser consagrado em Recife. Um vai ser consagrado no Rio de Janeiro, aliás, no Estado do Rio já tem
dois: um na cidade do Rio e um na cidade de Niterói. O
outro vai ser consagrado em São Paulo, que já tem também dois. E um quarto vai ser consagrado em Osasco. Então é Recife, Rio, São Paulo e Osasco.
FinP - Os que já existem já estão mais espalhados pelo
Brasil? Estão em que Estados hoje em dia?
FinP - E quantas pessoas costumam atender a essa reuniNós temos no Rio Grande do Sul; nós temos no Distrito
ão?
Federal, em Brasília; nós temos em Santos; nós temos dois
Jorge - Na última, agora em 2013, tinham quatrocentos e em São Paulo; Rio de Janeiro; Niterói. E vamos ter mais
poucos irmãos. Não foi a maior. Temos que lembrar que a quatro.
Inglaterra em junho ainda estava bastante em crise, com
questões econômicas, um macro econômico meio... mas FinP - E quais as exigências burocráticas para ingresso?
eu já estive reunião em Birmingham com quinhentas e Em questão de reconhecimento no simbolismo?
tantas, até 600 pessoas. A maior que eu estive era com Jorge - Você precisava ser de uma Grande Loja ou Grande
seiscentas e poucas pessoas.
Oriente que tenha tratado de amizade com a Inglaterra,
com a United Grand Lodge. Isto era até fevereiro deste
FinP - Como funciona essa divisão por distritos?
ano. Em fevereiro deste ano, em vista das condições pecuJorge - Existe uma superintendência por Distrito. Você liares de brigas do Grande Oriente do Brasil, foi mudada
tem um distrito para o Brasil, que é o Distrito 47. Nós so- essa regra para você ser ou de uma potência simbólica
mos o distrito 47, nós somos bastante jovens. Esse distrito reconhecida pela Inglaterra ou ser um Maçom do Real
foi fundado em 2006.
Arco do Rito de York, dos Estados Unidos, ou que tenha
FinP - E como é a relação do “Grand College” com seu dis- correlação, tenha tratado de amizade com o Grande Capítrito?
tulo Geral do Real Arco Americano, ou o Grande AcampaFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013.
52
FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA
mento de Cavaleiros Templários dos Estados Unidos. E nós
temos o representante no Brasil, o Real Arco, que foi o
primeiro a englobar os três grupos de potências da Maçonaria Simbólica no Brasil. Tanto o Grande Oriente do Brasil, com todos os seus Grandes Orientes Estaduais, ou como é conhecido no mundo inteiro, Grandes Orientes Distritais; como as Grandes Lojas Estaduais; e os Grandes Orientes Independentes Estaduais.
um Sacerdote Cavaleiro Templário é espargir a Maçonaria.
A Ordem se baseia nas Sagradas Escrituras e existe um
trecho da cerimônia na Ordenação de um Irmão como
Sacerdote Cavaleiro Templário, onde se lê aquela parte da
bíblia que diz: “Agora você não sairá mais à luta. Você será
um espargidor de luz para manter a nossa religião forte e
firme.” Porque antes o Cavaleiro Templário é um soldado
da Cruz. Você ganha uma espada para defender a religião.
Este Tabernáculo que vai ser fundado agora em São Paulo, A nossa fé em Deus. Já o Sacerdote não sai mais à luta. Ele
é basicamente composto por membros do Grande Oriente será aquele que estuda e que dissemina a luz, no caso da
Paulista, da COMAB. Eu quero ressaltar: em nenhum Ta- Maçonaria e da Religião Cristã.
bernáculo nosso há qualquer limitação para entrada de FinP - Inclusive celebrando missas? Como sacerdote ele
qualquer maçom regular. Como exemplo, nesse Taberná- tem essa função?
culo que será fundado por maçons da COMAB do Estado Jorge - Não. Ele não celebra missas. Nós não somos uma
de São Paulo, eu tenho já inscritos alguns do Grande Ori- Ordem Eclesiástica. Nós somos os sacerdotes da Ordem
ente do Brasil e da Grande Loja do Estado de São Paulo. Se de Melquisedeque. Nós lembramos na mais alta de nossas
não me engano, são três membros da Grande Loja, dois cerimônias, chamada “Grand Point”, que no vernáculo
do Grande Oriente do Brasil e a maioria é do Grande Ori- inglês é alguma coisa periciada, não é só um ponto granente Paulista. Não se fala em potência simbólica. Houve de, é o topo. Nessa cerimônia nós lembramos, nós bebeuma época que o Grande Oriente do Brasil tentou, até por mos vinho, comemos pão e comemos sal, e lembramos
correspondência oficial, subordinar os Sacerdotes Cavalei- que Cristo fez isso, mas muito antes de Cristo, Melquiseros ao Grande Oriente do Brasil, através daquela associa- dec também fez isso. Quando Abraão venceu a guerra na
ção protetora dos Ritos, mas que na verdade é quem diri- Palestina e tomou a Palestina, daí ele se encontrou como
ge todos os Ritos por que quem nomeia o Grão Mestre do Melquisedeque e Melquisedeque o abençoou levando a
Cavaleiros Templários deles, por exemplo, é o Grão Mes- ele pão e vinho, de tal maneira que se comemora em totre do Grande Oriente do Brasil. Então são sociedades que das as religiões e em nossa fraternidade, o Ágape Fraternão tem soberania. Se o seu líder maior é nomeado pelo nal.
Grão Mestre de uma potência simbólica, eles estão excluíA raça humana sempre se reúne ao redor de uma mesa
dos do mundo maçônico.
comendo. A gente em casa reúne os amigos, comemos
FinP - Isso não torna de certa forma esse Corpo irregular? dando festas, ou nos reunimos com a nossa família e em
Por questões de tratado de independência?
volta de nossa mesa. É a mesma coisa. Essa consagração
Jorge - Não o torna irregular. Torna ele não soberano. Não não é uma missa. Não é uma cerimônia para aquele que
é uma ordem soberana. Me diz: o que é um maçom irre- acredita na transformação do pão no corpo de Cristo.
gular? Ele não é reconhecido. Eu não o reconheço como Não. É a comemoração, pelo pão, do companheirismo, da
Cavaleiro Templário. Isso não quer dizer que não sejam fraternidade. Compartilhamos o pão e o vinho pelos quais
regular. Talvez eles trabalhem regularmente...
nós vamos partilhar o nosso júbilo, a nossa alegria, e pelo
FinP - Mas existe outros Tabernáculos no Brasil que não sal nos vamos partilhar a nossa unidade.
são do Distrito 47?
Jorge - Não. Eles tentaram, tentaram, mas não conseguiram carta patente.
FinP - E para você o que representa ser um Sacerdote Cavaleiro Templário?
FinP - Temos notícia de que os Cavaleiros Templários da
vertente inglesa, costumam realizar algumas “Missas
Templárias”, que geram dúvidas para a população brasileira por que são realizadas em Igrejas. Eles utilizam igrejas emprestadas, às vezes dos Anglicanos, e realizam essas
missas templárias, o que levanta o questionamento de
alguns maçons se isso não vai de encontro ao fato da Maçonaria não ser uma religião, e não poder desde 1717 se
envolver em questões religiosas.
Jorge - Representa que você chegou ao topo de uma hierarquia. Isso te dá a obrigação de ser um membro espargidor da luz. Até o sinal de um Sacerdote Cavaleiro Temporário é chamado “o sinal da Luz”. A nossa obrigação, de Jorge - Primeiro, dizer que “desde 1717” não representa
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013.
53
FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA
nada. Embora os ingleses queiram ser o dono da FinP - E essa questão das missas templárias que são cele‘Franchising”, ser a Grande Loja Mãe... não é coisa nenhu- bradas na Inglaterra?
ma.
Jorge - Há um pequeno equívoco na tua colocação. Não é
FinP - A Maçonaria e escocesa era bem mais antiga, inclu- uma missa templária, embora muitas vezes os próprios
sive.
Templários escrevam isso. É bobagem. Não é uma missa
Jorge - Exato. Eu tenho na nossa biblioteca os livros da templária. É uma missa assistida por Templários. Apenas
Loja de Kilwinning, que é a Loja número zero da Escócia, e assistida. Sentou no banco e olhou lá. Como um casameneu vi que os arquivos de Kilwinning tem atas especulativas to. Você vai a um casamento até podendo ser cristão ou
do ano de um mil cento e oitenta e poucos. Tem até um não. Sua prima vai se casar e você vai ao casamento dela.
livro de registro de marcas onde é muito claro o porquê Esteja ela se casando com um católico, com um presbiterido livro ter duas partes: o registro das marcas dos Maçons ano, e você vai no culto, mas não é que você seja adepto
daquela missa ou culto... você apenas está lá. Então a misOperativos, e o registro das marcas dos Maçons Aceitos.
sa que você está vendo é missa templária? Não. É uma
Na verdade, 1717 é a pura tentativa da casa de Hanôver, missa normal de uma igreja normal, assistida por templádo rei Jorge I, o primeiro rei da casa de Hanôver, que esta- rios. A ordem dos Templários tem isso. A Ordem da Cruz
va inseguro politicamente e inseguro religiosamente. Por- Vermelha de Constantino tem isso. Tem um monte de Orque a história da Inglaterra é farta de: subia um rei, mata- dem que tem isso. A Hípica Paulista, que é o clube que eu
vam os católicos; subia outro rei, matavam os protestan- frequento, faz uma missa todo ano no nosso grande picates; aí subia o outro, matavam os católicos; e o outro ma- deiro, na época do dia das mães, para todos os sócios do
tava os protestantes. Então Jorge fez as Lojas Maçônicas Clube. Não é essa missa hípica. É uma missa realizada para
naquela época, que eram o centro de comunicação. Hoje os sócios da Hípica, e qualquer religião pode fazer isso. A
nós temos telefone celular, naquele tempo como é que a Igreja Católica Romana não faz muito. Os presbiterianos
notícia se espalhava? De boca em boca. E as lojas Maçôni- fazem muito. Isso é muito importante.
cas eram os grandes espargidores das notícias, dos movimentos populares. Jorge I, para acabar com isso, criou a FinP - A Ordem tem mais de um grau?
Grande Loja de Londres, reunindo quatro das inúmeras Jorge - A ordem são 32 graus. O 32º grau é o de Sacerdote
Lojas que tinham. Na verdade, tinham 16 ou 18 Lojas, e Cavaleiro. Você, quando faz a cerimônia de Sacerdote Caele conseguiu reunir 4. Soltou dinheiro nessas quatro e valeiro, recebe por comunicação os outros 31 graus. O
falou pro capelão Anderson: “Olha, você deixa os meninos que se quer dizer receber por comunicação, no nosso enfazerem o que eles quiserem, contando que não falem da tender? Eu te dou nome e está na hora de você estudar! É
política ou religião.” Foi uma tentativa de subornar. Só claro que nós temos os rituais dos 31 graus. Isso é da orique...
gem da ordem dos Sacerdotes Cavaleiros. Aliás, ela chama
FinP - A Constituição então teria sido modelada por um Sacerdote Cavaleiro Templário por causa dessa sua oricara que costumava contar histórias, inventava árvores gem. Ela não tem nada a ver com a Ordem dos Cavaleiros
Templários. O que ela tem é que ela nasceu na Irlanda, da
genealógicas...
reunião daqueles velhos Templários, aqueles mais estudiJorge - Certo. Sem a mínima dúvida. Anderson era esco- osos que eram normalmente já Cavaleiros Grã Cruz do
cês, a serviço do rei da Inglaterra Hanôver, que, diga-se de Templo, que é que é a mais alta condecoração da Ordem
passagem, era um rei que não falava nem inglês. Ele só Templária. E os Cavaleiros da Grã Cruz do Templo tinham
falava alemão. Ele era até muito impopular, um rei que essa amizade e se reuniam semestralmente para discutir
não fala a língua da sua terra. Só que depois nós tivemos a Maçonaria, para estudar. E eles foram desencravando Orera Vitoriana onde a Inglaterra não dominou, mas influen- dens, todas as Ordens de Cavalaria que vieram para a Euciou o mundo todo. Influenciou o Brasil imensamente. ropa na Idade Média, que se criaram ou que vieram para a
Então criou-se a história de que ela (a Grande Loja de Lon- Europa, tanto do Oriente Médio quanto do norte da Eurodres) era a detentora da “Franchising” da Maçonaria. Pa- pa. E esses Cavaleiros Templários “seniores” as estudalhaçada. Bobagem. Qualquer Maçom que estude um pou- ram, até que reuniram num grupo, numa Ordem Sacerdoco de história da Maçonaria verá que 1717 é uma tentati- tal, numa Ordem de estudo.
va dum rei de silenciar o pensamento e o livre arbítrio do
No começo era considerada como apenas um grau aliado.
Maçom. E até hoje eles tentam.
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FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA
Assim foi até que, no final do século XIX, eles se reuniram FinP - Pelo cargo que você ocupa na Maçonaria, você tem
e a tornaram uma Ordem independente. Mas é basica- bons contatos, tem uma experiência Maçônica na Inglatermente uma Ordem de estudos.
ra, e também experiência Maçônica nos Estados Unidos.
FinP - Então quanto você é iniciado Sacerdote Cavaleiro Você vai todos os anos na Inglaterra e você também costuTemplário e recebe esses graus é como se fosse uma ma- ma ir em eventos e congressos não só nos Estados Unidos.
trícula para uma escola em que todos os graus anteceden- No Brasil a gente sabe muito bem que existe um grupo que
tenta promover a hegemonia na Maçonaria do Brasil, protes são programas de estudo?
movendo muita confusão e muita fofoca acerca da relação
Jorge - Exato. São programas de estudo baseados em me- entre Ordens inglesas e Ordens americanas. Muitos desses
sas, baseados em lendas contidas nesses graus. Por exem- dizem que não existe reconhecimento, não existe amizade,
plo, o 31º grau é sobre os libertos de Heredom. Quem são não existe intervisitação. Você que já transitou e transita
os libertos de Heredom? Se você for procurar na história por Inglaterra e Estados Unidos, o que você poderia dizer
do começo do reino de Israel, eram 13 tribos. Dessas 13, da relação entre a relação entre Arco Real Inglês e o Real
uma sumiu. A 13ª tribo é a tribo de Heredom. Então esse Arco Americano, os Templários ingleses e os Templários
grau, os libertos de Heredom, é baseado na história dessa americanos?
tribo, que foi escravizada pelas outras tribos de Israel. Então essa história constitui-se um estudo que não é exclusi- Jorge - Eu, de fato, tenho boa relação na Inglaterra. Eu sou
va da religião israelita, nem da religião católica, mas é o único brasileiro pertencente a “Royal Order of
uma parte da história da humanidade que ficou meio es- Scotland”, que é toda Maçonaria Escocesa. Sou membro
nos Estados Unidos de quatro ou cinco ordens. E sou um
quecida. É um dos graus de nossa Ordem.
Shriner.
FinP - E tendo esse conteúdo todo para estudar, ela tem
alguma válvula de escape para esses estudos? Há alguma Na verdade, existe um equívoco muito incentivado pelo
publicação onde os membros publicam artigos, resultantes Grande Oriente do Brasil na sua atual gestão, que infelizmente desde desembargador Murilo, que faleceu durante
desses estudos?
o seu Grão Mestrado, que o GOB caiu num desentendiJorge - Não, a Ordem especificamente não. Eu pessoal- mento, na melhor das hipóteses. O que ocorre é uma rixa,
mente não aceito muito essa história de que a Maçonaria uma inveja muito grande, mas não entre a Maçonaria iné uma sociedade filantrópica. Na constituição de todas as glesa e a Maçonaria americana. Mas entre o Distrito inglês
potências diz isso. Mas não. A Maçonaria não é uma socie- do Brasil, da United Grand Lodge of England no Brasil, e o
dade filantrópica. É uma sociedade de formação de ho- restante da Maçonaria brasileira. Vocês ouviram ontem
mens, de homens bem formados. De homens perfeita- em alto e bom tom em alguns discursos: A Maçonaria inmente integrados na sociedade e bem polidos. E se somos glesa está morrendo. As Ordens inglesas estão decaindo.
perfeitamente polidos, seremos nós filantropos. A minha Na verdade, a única Ordem que não está decaindo, que
Loja base não faz filantropia, mas eu sou diretor de duas está subindo, é a Ordens dos Sacerdotes dos Cavaleiros,
creches, tenho outro Irmão nosso, o Irmão Celso, que é todas as outras estão diminuindo. Até pela sua qualidade
um sujeito que é integrado na questão de dar sopas à noi- universal, a Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros na Inglaterte para mendigos na cidade. Ele é espírita, essa é a religião ra pode diminuir um pouco, mas no mundo ela aumenta
dele, e ele segue isso. Nós outro dia na nossa Loja conta- muito. E uma vez eu estava conversando com Grandes
mos algo entre 40 ou 44 sociedades ajudadas pelos mem- Oficiais ingleses, e falei: “Poxa vida, o distrito inglês se esbros da loja, mas não pela loja. Não é a Maçonaria que é tá jogando pedra, está fazendo palhaçada...” Sabe qual foi
uma sociedade filantrópica. São os Maçons que são pesso- a resposta do Grande Oficial? Traduzindo para o portuas bem informadas e que vão ser os filantropos.
guês: “Senhor, aquilo não são ingleses. São expatriados
Da mesma forma, retornando a questão de publicações, que vivem lá no Brasil.” Então, isso que dizem não existe.
existem grandes publicações escritas por membros da or- Toda nossa reunião de Sacerdotes Cavaleiros, temos
dem, mas a ordem não publica nada. Na verdade, que eu membros americanos que estão lá. Toda a reunião da
saiba, a Ordem tem dois ou três livros publicados sobre “Masonic Week” tem membros ingleses que estão nos
sua história interna. Mas há um monte de livros publica- Estados Unidos.
dos por membros da ordem. Eu já publiquei um e estou A gente precisa ver as coisas em um âmbito histórico maiescrevendo outro agora.
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FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA
or. O que existe na verdade é que economicamente no
início do século XX, fim do século XIX, a Inglaterra dominou o mundo economicamente. Com certeza dominou o
Brasil economicamente. Nossa industrialização, desde
1900 até o Getúlio, foi exclusivamente inglesa. Aí a Inglaterra forçou e criou um negócio que é uma aberração: um
Distrito Maçônico Inglês encravado no Brasil. Esse distrito
inglês, conforme o tratado, autorizou dez Lojas no Brasil
falarem em inglês e serem subordinadas direto à United
Grand Lodge of England.
Essas Lojas, todas fundadas no Grande Oriente do Brasil,
saíram e fizeram o Distrito Inglês. Isso é passado, isso morreu. A Light já foi nacionalizada. A Moinho Velho, as minas
de ouro, já foram nacionalizadas. Mas ficou um ranço de
Maçons, hoje quase completamente decrépitos. A salvação do Distrito Inglês foi há uns dez anos atrás, quando o
Grande Oriente de São Paulo salvou o Distrito Inglês, por
que lojas como a Saint George Lodge não funcionava mais.
Ela estava com três membros só. Daí eles pediram Socorro
Maçônico. E então o Grão Mestre Adjunto do Grande Oriente São Paulo pediu para nós entrarmos na Loja Inglesa
para que ela não abatesse colunas.
A Loja inglesa vive, mas por causa disso. Eles falam que
têm 10 Lojas e, se eu não me engano, 80 e tantos maçons.
Na verdade todos os membros são de quase todas as Lojas. E eles foram cooptados pela atual administração do
GOB. A questão dos Cavaleiros Templários, a história é
muito clara. Eles sempre existiram no Distrito Inglês, assim
como outras Ordens inglesas, só que o Distrito Inglês não
admitia brasileiros no Arco Real, na Marca, nos Templários. Não aceitava os brasileiros. Quem brigou muito para
aceitarem os brasileiros foi o falecido Rubens Barbosa de
Marcos, então Grão Mestre do Grande Oriente de São
Paulo.
Se você for com o seu paletó vermelho a qualquer capítulo do Arco Real Inglês, na Inglaterra, você será maravilhosamente bem recebido. Se você for com seu paletó vermelho no Capítulo Inglês do Distrito inglês aqui, que fica
na Rua Lisboa, em SP, ou num Capítulo do Grande Oriente
do Brasil, você não será recebido. Os Capítulos Americanos recebem e nós não temos nada contra. Somos Irmãos.
Aliás, a briga é só lá no topo. Na base nunca houve briga
de Potência. Nenhum membro de um Grande Oriente
Independente foi recusado na minha Loja do Grande Oriente do Brasil, quando eu era do Grande Oriente do Brasil.
É hipocrisia dizer que não existe, porque qualquer posse
de grande signatário do Grande Oriente do Brasil consta lá
os membros da COMAB que são convidados. Então dizer
que não reconhece é palhaçada. Então não existe a briga.
O que existe é o raio de um Distrito Inglês que devia ter
sido extinto assim como todas as companhias inglesas foram. Quem fez as ferrovias no Brasil? São Paulo Railway
Roll, que era uma companhia inglesa, que depois mudou
para Companhia Paulista, depois mudou para Rede Ferroviária Federal. Tudo bem. Evolui. Mas a ânsia de ter o poder, de manter o poder... todo mundo para eles é espúrio
tirando eles. Eles são o anjo Gabriel, só que as pessoas
passam, morrem.
FinP - Jorge, e por que da exigência de ser ter sido um
Mestre de Loja para o ingresso no KTP? Já que outras Ordens aboliram tal exigência, não seria interessante fazer o
mesmo na Ordem dos KTPs?
Jorge - Nós queremos Maçons que tenham um nível de
conhecimento adequado para poder pertencer à Ordem.
Para mim, a maior experiência que um Maçom tem é o
ano que ele passa à frente de uma Loja Simbólica. Esse
ano que ele passa à frente de uma Loja Simbólica equivale
a 400 ou 500 livros que ele tenha estudado. Disso o KTP
Daí a Grande Loja do Estado de São Paulo conseguiu trazer não abre mão.
da Espanha o Arco Real, o Cavaleiro Templário e outras Essa questão de ser de uma Loja reconhecida pela InglaOrdens Inglesas. Só que quem primeiro assumiu os postos terra quebrou, não tem mais. Pode ser reconhecida pelos
principais foi o Grão Mestre da GLESP. Daí o então Secre- Estados Unidos, e os Estados Unidos são muito maiores do
tário, e eterno secretário de relações exteriores do GOB que a Inglaterra hoje. A Inglaterra foi grande no século
desde que o Murilo morreu, ficou ofendidíssimo porque XIX. Depois da Segunda Guerra Mundial, a potência é os
ele não era o chefe da Ordem. Ele foi para a Inglaterra e Estados Unidos. O que se quer para ser KTP é alguém que
conseguiu na Inglaterra, através dos seus contatos, outra tenha vivido a Maçonaria. E você só pode viver a Maçonacarta patente. Então, em novembro de um ano fundou-se ria depois que você passou um ano como Venerável de
a Cavalaria Templária com o Grande Priorado do Brasil. E uma Loja. A ligação maçônica que nós temos é grande,
em fevereiro do ano seguinte criou-se o Grande Priorado mas a ligação que um Venerável tem com aquele Irmão
do Grande Oriente do Brasil. Aí já começou a briga. A briga que ele recebeu na Maçonaria é um negócio fenomenal.
não tem nada a ver entre Estados Unidos e Inglaterra.
Você já foi Mestre, você já dirigiu uma Loja. Você sabe que
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FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA
é um conceito totalmente diferente, você ser, por um ano,
responsável por 30 homens, muitas vezes melhores e maiores do que você, certo? E você tem que ser o Venerável,
de ser a luz para eles. Você ser a luz para uma turma que
muitas vezes ali entre eles têm gente melhor do que você.
Mas você é o líder. Você está com o malhete na mão. Essa
experiência é imprescindível para você ser Sacerdote. O
resto é você ter os graus, porque são a base do estudo.
que o Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro é
espúrio. Se eu falo, ele vai ser espúrio por que eu falei???
Não. O Wagner... ele só escreve e assina besteiras para cá,
besteiras para lá... é um louco porque o Grande Mestre da
Ordem de Cavalaria do Grande Oriente do Brasil é ele,
Wagner Veneziani. Um sujeito que não é cristão. Isso vai
contra todas as coisas da Ordem. Então a Cavalaria não é
nada, é brincadeira?
FinP - Você comentou que era do GOB. Você saiu do GOB? FinP - Você quer dar um último recado, fazer o último coEstá na Grande Loja agora?
mentário?
Jorge - Não. Eu estou em uma Loja americana e no Grande
Oriente Paulista. Eu estou no Brasil no Grande Oriente
Paulista (COMAB). Eu saí do GOB por conta de uma palhaçada que eles chamam de Justiça do GOB. Eu sou do Supremo Conselho de Jacarepaguá também (Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República
Federativa do Brasil), e sou da Loja José Carlos Salles do
Grande Oriente Paulista.
Jorge - O que eu quero dizer é que eu fico muito feliz, muito mesmo, em ver o atual entrosamento dos Grandes Orientes Independentes da COMAB. Na verdade, sempre em
linhas preces eu sempre me lembro muito do Curi e do
João Guilherme, porque eles começaram uma coisa que
transformou-se no que talvez seja a salvação da Maçonaria Brasileira. Nós todos sabemos que as Grandes Lojas do
Brasil surgiram de uma eleição contestada, para não dizer
FinP - Existe algo dos Sacerdotes Cavaleiros Templários roubada no Grande Oriente do Brasil. E os Grandes Orientes Independentes posteriormente nasceram de outra
que é administrado pelo Wagner Veneziani?
eleição também contestada no Grande Oriente do Brasil.
Jorge - Não estamos falando de estelionatários aqui. Nós
FinP - E foi diferente nessa última eleição do GOB?
estamos falando de maçons. Que eu saiba não existe.
Jorge - Só que nessa última eleição, graças a Deus, não
FinP - Não existe? Não funciona?
houve outra cisão, outra criação de Obediências. A eleição
Jorge - Nunca vi nada disso. Ele tentou e foi expulso da foi totalmente roubada, foi um negócio vergonhoso. Aliás,
Ordem dos Sacerdotes por uma razão simples: o Wagner é basta o fato de que o Tribunal Eleitoral que se reuniu para
Cavaleiro Templário ordenado Sacerdote. Como Cavaleiro a apuração no GOB tinha na porta dois gorilas, dois seguTemplário, você assina uma declaração de que você acre- ranças contratados, não maçons, para permitir a entrada
dita na Santíssima Trindade e nos dogmas do Cristianismo. ou não das pessoas interessadas. Isso é uma eleição livre e
E ele tem escrito um livro, de autoria dele, Wagner Vene- honesta??? Eu, Jorge Pessoa, tenho a cópia autenticada
ziani da Costa, onde ele fala claramente que a Santíssima da ata de reunião de uma Loja de Pernambuco, com... não
Trindade é uma invenção. Ele fala com todas as letras. En- sei os números agora, mas vamos dizer: 18 votos para o
tão no mínimo é um perjúrio. A Ordem dos Sacerdotes, o Mozarildo e 02 votos para o Marcos José. E tenho a publiGrand College, não expulsou, não fez nada, só o desligou. cação do tribunal: 18 para o Marcos José e 02 para o MoEla não está preocupada com um sujeito que é perjúrio, zarildo. Eu tenho essa movimentação.
que assina uma coisa e escreve outra coisa contraditória.
Não tenho absolutamente nada contra as religiões afro, Não sei se você tem ciência daquela condenação que o
contra a Umbanda, contra o Candomblé. Não sigo essas Marcos José teve pela Justiça em Brasília, pela publicação
religiões, mas não tenho nada contra. O que eu não posso onde ele se diz o primeiro afrodescendente brasileiro a
aceitar é uma pessoa ser de uma religião, então dizer que dirigir o GOB, o que também é mentira por que nós já tiveacredita numa outra coisa, assinar que acredita naquela mos negros à frente do Grande Oriente do Brasil muito
outra coisa, e depois escrever que aquilo que ele disse que antes dele. Só que naquele tempo era negro, não era afro
acredita é papagaiada. Ele é que não é uma pessoa corre- descendente! (risos) Deve ter uma diferença agora, não
ta, idônea. Tem um e-mail do Tulio dizendo que a Ordem sei. Infelizmente o GOB está em uma fase muito crítica,
dos Maçons Operativos é espúria. A Ordem ficou espúria mas as pessoas passam.
porque o Túlio disse que é espúria? Ele que é um imbecil FinP - A gente é transitória.
que escreveu uma coisa dessa. Eu tenho direito de dizer Jorge - A ordem um dia volta ao caos. A grande verdade é
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FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA
que, quando o desembargador Murilo morreu, tinha morrido um pouco antes o Jovelino, que era Adjunto. Quando
ele morreu, o GOB em si, a organização GOB caiu na mão
da Assembleia. E a Assembleia é e sempre foi o lugar dos
maçons indesejados em Loja. Quando o maçom era muito
chato e a gente queria se desfazer dele e tal, a gente o
elegia Deputado da Assembleia Maçônica Legislativa Federal pra ele ir pra Brasília. Só que morreu o Grão Mestre,
tinha morrido o Adjunto, e caiu na mão da Assembleia.
Aquilo era uma corja, eles mudaram aquilo e ficaram com
aquilo e ninguém consegue desencastelar eles de lá. Infelizmente é o que aconteceu.
Real Arco, paciência. Nós estamos em uma democracia.
Cada um chama o seu filho do nome que quiser.
FinP - A gente quer agradecer a sua atenção, por você nos
dar o direito de publicar esse material, e isso vai facilitar
para as pessoas conhecerem melhor o KTP. Obrigado, Jorge.
Jorge - Eu que agradeço.
Unificação da Maçonaria do Brasil hoje é, a meu ver, inviável. Não por nós. Por nós a gente se unifica na hora. No
meu Templo Maçônico, tem Lojas das três potências, ao
mesmo tempo, se confraternizando. Mas tem muito avental bonito por aí... não dá para fazer a unificação da Maçonaria no Brasil. Em país sério como a Alemanha houve. No
Brasil não dá ainda. Mas a união que o João Guilherme e o
Curi fizeram da Maçonaria... o João Guilherme foi o grande artífice da mudança de regras do Grand College, em
York. O João conseguiu colocar na cabeça deles que é um
trabalho sério. Eles viram que o Grande oriente do Brasil
está podre. Então nós só vamos aceitar Maçons do Grande
Oriente do Brasil??? E todos os maçons dos Grandes Orientes Independentes? E todos os maçons das outras Grandes Lojas? Tem só quatro Grandes Lojas aceitas pela Inglaterra. E as Grandes Lojas do Nordeste, as Grandes Lojas do
Centro-Oeste, as Grandes Lojas do Sul? Não podem ser
Sacerdotes Cavaleiros? Todos dos Grandes Orientes Independentes não podem ser Sacerdotes Cavaleiros porque o
senhor Túlio Colacioppo não aceita?
Então ótimo, hoje basta a aceitação dos Americanos. Hoje, por exemplo, o Grande Oriente Paulista, da COMAB, já
tem cinco reconhecimentos internacionais, entre eles o
reconhecimento da Grande Loja do Distrito de Columbia,
em Washington, onde é inclusive a sede do Supremo Conselho Mãe do Mundo do Rito Escocês Antigo e Aceito, o
da Jurisdição Sul dos EUA.
Então, na verdade, em dez ou doze anos que está fazendo
isso, o João Guilherme conseguiu quebrar essa resistência
e aceitou a todos e estamos aqui. Aqui tem maçons de
vinte ou mais potências simbólicas diferentes. Todos convivendo fraternalmente, trabalhando, estudando. Então
eu gosto de dizer que se o GOB quer criar o Supremo Colégio dos Meninos que Gostam de Bruxaria, é um direito
que ele tem. Se quiser dar um nome de Grande Colégio do
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