YORK RIO - Fraternitas In Praxis
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YORK RIO - Fraternitas In Praxis
ISSN 2318-3462 Volume 1, Número 2, Set/Dez. 2013. FERNANDO DA SILVA MAGALHÃES Educação e Maçonaria: a ação transformadora da Loja Maçônica “União e Tranquilidade” (1881-1890) ANDERSON LUPO NUNES A Sequência de Fibonacci no Templo de Salomão KENNYO ISMAIL Os Calendários Maçônicos e Suas Corretas Aplicações LUIZ FRANKLIN DE MATTOS SILVA O Conceito Filosófico de Tempo e a Régua de 24 Polegadas RUBENS CALDEIRA MONTEIRO The Pillars of the Earth (review) ERICK VAN-ERVEN GONÇALVES O Astronauta Brasileiro é Iniciado na Maçonaria (news) JOSÉ ROBERTO FERREIRA York Rite Brazil 2013 (report) YORK RIO Apoio: Associação Realização: Patrocínio: FinP entrevista: Jorge Pessôa, Grande Superintendente da Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros Templários Volume 1, Número 2, Set/Dez. 2013. Missão: Desenvolver e promover estudos e pesquisas sobre Maçonaria e Fraternidades em geral, com foco em História e Ciências Sociais. Sua dimensão internacional busca promover maior intercâmbio entre pesquisadores de diferentes culturas, saberes e formação, acessando outros níveis de realidade e contribuindo para o enriquecimento de nosso conhecimento numa proposta transdisciplinar. Dados Catalográficos: ISSN 2318-3462 Setembro a Dezembro de 2013. Volume 01. Número 02. Periodicidade: Quadrimestral Conselho Editorial Rubens Caldeira Monteiro (Editor-Chefe) José Roberto Ferreira Kennyo Ismail Luiz Franklin Mattos Contato Editor-Chefe: [email protected] Suporte Técnico: [email protected] Portal: www.fraternitasinpraxis.com.br Contato geral: [email protected] Ilustração da Capa: A Persistência da Memória, de Salvador Dalí (domínio público) A escolha da ilustração para a capa foi inspirada pelo artigo “A Concepção Filosófica de Tempo e a Régua de 24 Polegadas”, de Luiz Franklin de Mattos Silva. Parceiros Institucionais: Associação YORK RIO Loja de Pesquisas Maçônicas “Rio de Janeiro” Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro Aviso: Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Revista Fraternitas in Praxis—FinP. 2 Volume 1, Número 2, Set/Dez. 2013. Sumário Prefácio 5-6 Educação & Maçonaria: a ação transformadora da Loja Maçônica União e 7-20 Tranquilidade (1881-1890) FERNANDO DA SILVA MAGALHÃES A Sequência de Fibonacci no Templo de Salomão ANDERSON LUPO NUNES 21-30 Os Calendários Maçônicos e Suas Corretas Aplicações KENNYO ISMAIL 31-36 O Conceito Filosófico de Tempo e a Régua de 24 Polegadas LUIZ FRANKLIN DE MATTOS SILVA 37-41 The Pillars of the Earth (resenha) RUBENS CALDEIRA MONTEIRO 43-45 O Astronauta Brasileiro é Iniciado na Maçonaria (notícia) ERICK VAN-ERVEN GONÇALVES 47-48 York Rite Brazil 2013 in Manaus (evento) JOSÉ ROBERTO FERREIRA 49-50 FinP entrevista: JORGE PESSÔA, GRANDE SUPERINTENDENTE DA ORDEM DOS SACERDOTES CAVALEIROS TEMPLÁRIOS NO BRASIL 51-58 3 4 ISSN 2318-3462 Volume 1, Número 2, Set/Dez. 2013. Apresentação Trazemos a lume o segundo número da revis- linguagem universal da Matemática, ciência primordial, natural, essencial. Como Pitágoras teria dito, os ta Fraternitas in Praxis. números são entes vivos! Apresentando o formalisNeste ano de 2013 alcançamos alguns objeti- mo matemático da definição da Razão Áurea, o autor vos: nos conduz pelas convergências das formas da Vida e Tivemos mais de 5 mil downloads, isso sem do Cosmos na proporção áurea, como se ouvíssemos contar o que é compartilhado entre as pessoas e di- o próprio Criador nos reapresentando a nós mesmos: vulgação via rede sociais. A distribuição da FinP de “Ecce homo”. forma gratuita em formato digital tem se mostrado Grande parte das Lojas Maçônicas Brasileiras uma opção viável. ainda mantém em suas atas, denominadas também de Balaústres, a data do calendário gregoriano e do calendário maçônico. Contudo, alguma confusão ainda paira na sua aplicação. O escritor e maçonólogo, Mestre em Administração pela FGV, Past Master da ARLS Flor de Lótus (GLMDF/CMSB) Kennyo Ismail nos brinda com uma revisão dos calendários maçônicos nos diversos ritos e seu uso adequado. A profusão de ritos praticados na Maçonaria Brasileira merece a apresentação dessa riqueza ímpar. Obtivemos nosso ISSN (2318-3462), que é um controle bibliográfico mundial de publicações seriadas, por meio de um único código, o ISSN (International Standard Serial Number). Também cadastramos a revista em alguns indexadores e diretórios, como Google Scholar, Sumários.org1 e Latindex2. É ainda um pequeno passo para o que planejamos, mas toda jornada começa com um primeiro passo. Um dos temas mais abordados em peças de arquitetura de Aprendizes Maçons, a régua de 24 polegadas, é enfocada de forma sublime pelo Doutor em Biologia de Água Doce, professor e Venerável Mestre da Loja Acácia de York (GOIRJ/COMAB) Luiz Franklin de Mattos Silva. Essa abordagem filosófica adotada pelo autor nos coloca numa dimensão do tempo ainda pouco explorada. Este segundo número abrimos com um artigo do Doutor em História e Venerável Mestre da Loja União e Tranquilidade (GOB-RJ), Fernando da Silva Magalhães, sobre Educação & Maçonaria. Este trabalho é parte da Tese de Doutoramento do autor, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ. Destaca o papel preponderante de alguns obreiros que por seu ideal lutaram pela Educação, por vezes contrariando seus pares, retratando facetas do funcionamento de uma Loja Maçônica, muitas vezes ocultas do profano. Optando pela resenha de uma obra numa mídia diferente, o Doutor em Geociências, geofísico de reservatórios e Venerável Mestre da Loja de PesquiO físico, professor e doutorando Anderson sas Rio de Janeiro (GOIRJ/COMAB) Rubens Caldeira Lupo Nunes, mestre-maçom da Loja de Pesquisas Rio Monteiro traz um retrato dos aspectos da Maçonaria de Janeiro (GOIRJ/COMAB), traz para a Maçonaria a Operativa apresentada na minissérie “Os Pilares da 1 http://www.sumarios.org/revistas/fraternitas-praxis 2 http://www.latindex.unam.mx/buscador/ficRev.html?opcion=1&folio=22861 FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 5-6, Set/Dez, 2013. 5 FinP - APRESENTAÇÃO Terra”, onde a construção da Catedral de Kingsbridge seus defeitos e qualidades. é a grande protagonista e ao seu redor vislumbramos É este o conteúdo que trazemos a nossos leio dia-a-dia de um canteiro de obras da Alta Idade tores, brindando esse nosso segundo número. Boa Média. leitura! Como o astronauta americano Buzz Aldrin (iniciado na Loja Oak Park, em Montgomery, Alabama, em 1955, grau 32° do REAA, Cavaleiro Templário do Rito de York e Shriner), o Brasil agora tem o seu Fraterna e Sinceramente, primeiro astronauta iniciado nas fileiras da Arte Real. O jornalista e assessor de imprensa do Grão MestraRubens Caldeira Monteiro do do GOIRJ, mestre maçom da Loja Maçônica Chico Xavier (GOIRJ/COMAB) Erick Van-Erven Gonçalves Editor-Chefe apresenta nota da iniciação do astronauta brasileiro e [email protected] comandante Marcos Cesar Pontes na Loja Maçônica Jacques DeMolay (GOIRJ/COMAB), em Petrópolis – RJ, no dia 30 de novembro de 2013. Numa cerimônia concorrida o neófito foi recebido como irmão pelo Venerável Mestre junto com o Grão Mestre do GOIRJ, assistindo logo em seguida a uma cerimônia de jovens da Ordem DeMolay. O estatístico, assessor federal e Venerável Mestre da Loja Maçônica Chico Xavier (GOIRJ/ COMAB), José Roberto Ferreira, também Past Sumo Sacerdote do Capítulo York No40 de Maçons do Real Arco e Ilustre Mestre do Conselho York No 6 de Maçons Crípticos, compartilha um relato do Encontro Anual do Rito de York no Brasil, realizado em meados de novembro na cidade de Manaus, quando foi conferido o último grau do Rito de York, o de Cavaleiro Templário, equivalente ao grau 33° do REAA, a mais de uma centena de irmãos. A entrevista da FinP desse número é com Jorge Pessôa, Grande Superintendente da Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros Templários no Brasil. O entrevistado nos apresenta o que é e como funciona essa ordem internacional jurisdicionada diretamente ao Grande Colégio, localizado na cidade de York (Inglaterra). Seu caráter místico e bíblico encanta o buscador sincero, relembrando em suas cerimônias o Cristo e Melquisedeque. A entrevista traz ainda uma visão pessoal, lúcida e polêmica de outras Ordens e como alguns irmãos fazem uso delas em seu próprio benefício, além de evidenciar uma visão panorâmica do entrevistado sobre o cenário maçônico brasileiro, FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 5-6, Set/Dez, 2013. 6 ISSN 2318-3462 Recebido: 07/10/2013 Aprovado: 14/11/2013 EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E TRANQUILIDADE (1881-1890) Autor: Fernando da Silva Magalhães¹ Resumo O presente trabalho, escrito a partir do campo da História, e na linha de pesquisa da História da Educação, tem por objetivo apresentar algumas das atividades educacionais desenvolvidas pela Augusta e Respeitável Grande Benemérita e Grande Benfeitora Loja Simbólica União e Tranquilidade, a Segunda da Ordem e a Primaz do Rito Moderno no Brasil durante a década de 80 do século XIX (1881 a 1890). Palavras-chave: Educação; Maçonaria; Iluminismo. Abstract This paper, written from the field of history, and History of Education specifically, aims to present some of the educational activities developed by “União e Tranquilidade” Masonic Lodge, the Second Lodge in the Grand Orient of Brazil and the Primate of Modern Rite in Brazil during the 80’s of the nineteenth century (1881-1890). Keywords: Education, Freemasonry, Enlightenment. ¹ Fernando da Silva Magalhães é Doutor em Educação pela UERJ (2013) e Mestre em Educação pela UFRJ (2009), com bacharelado e licenciatura em História pela UFRJ (1990). É o atual Venerável Mestre da Loja Maçônica União e Tranquilidade No. 002 do Grande Oriente do Brasil—GOB. E-mail: [email protected] FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 7 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... que estas atas nunca foram trazidas a público, ficando os trabalhos desenvolvidos por este grupo, inscriEstabelecer um diálogo possível entre a pouco tos, até a presente data, na melhor das hipóteses, no conhecida atuação da maçonaria no âmbito da edu- campo das lendas e suposições. cação nacional. Este é o objetivo precípuo desta pesDesta forma, por fim, acreditamos e esperaquisa. mos que esta apresentação contribua para um meO presente trabalho, escrito a partir do campo lhor entendimento de como atuava, e ainda atua da História, e na linha de pesquisa da História da Edu- uma das principais lojas maçônicas do Brasil, uma das cação, tem por objetivo apresentar algumas das ativi- três matrizes fundadoras da Maçonaria neste país, dades desenvolvidas pela Augusta e Respeitável nos idos de 1822, e que vem atuando ininterruptaGrande Benemérita e Grande Benfeitora Loja Simbó- mente desde então, até a atualidade. lica União e Tranquilidade, a Segunda da Ordem e a Primaz do Rito Moderno no Brasil durante a década de 80 do século XIX (1881 a 1890). Esta pesquisa re- Antecedentes: comentários relativos à educação expresenta parte da tese de doutoramento em Educa- traídos do Boletim do Grande Oriente do Brasil ção ora em desenvolvimento por este pesquisador no (1871) Programa de Pós Graduação em Educação – PROPED É pouco conhecida, e, menos ainda, pesquisa– da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – da, a preocupação nutrida pela maçonaria em relação UERJ. Traça um relatório das atividades da referida à Educação no Brasil. Se a razão de tal ênfase reside Loja maçônica, concernentes ao aspecto da beneme- nos princípios iluministas, por esta instituição consirência e da filantropia maçônicas, características que derados como princípios basilares norteadores, ou, conformam e moldam o processo de educação de se mera estratégia de combate à atuação de sua opotodo partícipe desta Ordem. É parte de nossa hipóte- sitora à época, a Igreja, é ponderação que deixamos se de trabalho que tais atos, desenvolvidos ao longo em aberto aos pesquisadores pósteros. O que podedas reuniões maçônicas, têm por fim o desenvolvi- mos atestar é que a maçonaria efetivamente demento de características comportamentais em seus monstra, através de seus documentos publicados e membros que contribuirão para a sua atuação no âm- aqui relacionados, grande interesse e atuação intensa bito social no qual se inserem, com o fito específico no campo da educação durante todo o século XIX e de tornarem-nos “construtores de templos às virtu- primeira metade do século XX, sendo elemento fundes e escavadores de masmorras aos vícios”, confor- damental deste campo, e de alta relevância para o me ditam os rituais maçônicos. entendimento da conformação da Educação RepubliIntrodução Assim sendo, e com este objetivo, foram pesquisados os Boletins do Grande Oriente do Brasil, publicação oficial da maior e mais antiga potência maçônica do país, bem como as Atas da referida Loja Maçônica, arquivadas em sua secretaria, e que nos revelam seu dia-a-dia, suas nuances e idiossincrasias, desvelando o novelo de ações e reações dos seus membros durante o desenvolvimento das atividades que, para nós, na contemporaneidade, tornaram-se, pelo distanciamento do tempo, “História”. cana em nosso país. O Boletim do Grande Oriente do Brasil, fonte que aqui apresentamos para dar à lume tal diálogo, é publicação editada desde o ano de 1871, e representa a palavra oficial da principal potência maçônica do país. Logo em seu primeiro número, a partir do quinto parágrafo, a publicação, em sua apresentação introdutória, afirma: “Os homens não são separados somente pelas desigualdades da fortuna; as da educação, estabelecendo entre eles Cremos ser esta, uma importante contribuição à História da Educação, a partir da percepção de FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 8 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... uma barreira maior, exigem que a administração da sociedade alargue os estreitos caminhos pelos quaes a instrucção chega às classes mais numerosas. A necessidade de conhecerse a fonte, onde foi bebida a instrucção e os meios empregados para obtê-lo, a chancelaria de um estabelecimento publico ou approvado pela administração, como um privilégio para a admissão nas universidades ou academias, a negligência dos juizes sobre as habilitações dos professores públicos, cuja unica direcção deve ser confiado o ensino, a imposição da acquisição dos conhecimentos acessórios em diversos ramos de estudo, todas estas distincções devem desapparecer para que a instrucção torne-se possível e fácil. Os primeiros legisladores, instruídos pelos sacerdotes, consideravam o homem como autômato, visto como o seu principal fim consistia no gozo d’alma e do corpo, à custa da ignorância dos governados. Mais tarde, quando Deus desceu ao universo para regenerar o mundo intelectual quando depois de ter estabelecido por bases de sua admirável doutrina a justiça e a caridade para todos, desappareceu aos olhos dos povos, offuscados pelos raios de sua eternidade; homens hábeis, para firmarem mais o seu domínio, torturaram durante perto de mil annos os seus irmãos, cercando a sciencia de uma nuvem, a cuja sombra eles e os reis, seus escravos, se conservavam. A propagação da instrucção pelo povo é uma idéia que a Inst.’. Mac.’., que abraça a causa da humanidade, deve sempre sustentar e executar, com o intuito de auxiliar a administração da sociedade na realisação de medidas, de que depende o seu progresso.” A ciência e a civilização eram distribuídas apenas aos filhos dos nobres ou aos favoritos da fortuna. A aristocracia, para tornar-se o centro de todas as luzes, condemnava a humanidade a viver nas trevas da superstição e da ignorância. No 18° século a philosophia foi pouco a pouco apparecendo; e rompendo o véo dos preconceitos, destruiu o fanatismo, com o seu cortejo de crimes. (BOLETIM DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Jornal Official da Maçonaria Brasileira. Num. 1, Dezembro, 1871, 1°ANNO. Introdução. Pp. 05-11. Mantida a grafia original). Tal exposição, verdadeiro manifesto de suas idéias sociais e pedagógicas, delineia a proposta de No presente século, será a ciência ainda atuação da maçonaria no campo educacional. direito de todos nos paizes civilisados? Não será uma anomalia ver-se a única aristocracia possível e legal tão pouco espalhada? Baseando seus pressupostos educacionais em uma visão de mundo pautada na filosofia iluminista, faz-se necessário entendermos previamente como se dava esta perspectiva. Muitas definições se têm dado sobre o Iluminismo ao longo dos tempos. Optamos aqui, por uma descrição sintética, em sete pontos, dada por um dos mais atuantes pesquisadores maçônicos da atualidade, William Almeida de Carvalho1, que nos diz: Não exigirá a civilisação moderna, com os mesmos direitos que tinha a antiguidade para os membros privilegiados da sociedade, uma educação nacional e livre, que não pode ser dada, senão gratuita? O privilégio nos campos da inteligência parece ser o maior obstáculo que se oppõe ao desenvolvimento dos destinos da sociedade e uma causa poderosa da ignorância dos espíritos o da inferioridade moral das classes menos abastadas. A maçonaria recebeu um impacto muito forte das idéias iluministas, que contribuíram para influenciá-la até os dias atuais. Ao se enumerar as idéias iluministas, pode-se 1 William Almeida de Carvalho é Doutor em Ciência Política pela Panthéon-Sorbonne. Sociólogo de formação, pós-graduado em Administração Pública, foi Secretário de Educação e Cultura do Grande Oriente do Distrito Federal, e, atualmente é membro associado da Scottish Rite Research Society, da Southern Califórnia Research Lodge, da Philalethes Society e da Masonic Library and Museum Association. É membro ativo da Loja Maçônica Equidade e Justiça, n.º 2336—GOB, localizada em Brasília – DF. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 9 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... fazer um cotejamento com os rituais e documentos maçônicos de hoje. desenvolvidas por suas células sociais; as lojas maçônicas, aqui representadas pela loja União e TranquiliEsquematicamente, os componentes dade. do Iluminismo clássico seriam os seguintes: 1. O universo é fundamentalmente racional, isto é, pode ser entendido pelo uso da razão; 2. A verdade pode ser atingida pela observação empírica, pelo uso da razão e pela dúvida sistemática; 3. A experiência humana é o fundamento do entendimento humano da verdade; a autoridade não deve prevalecer sobre a experiência; 4. Toda vida humana, seja social ou individual, pode ser entendida da mesma maneira que o mundo natural pode ser entendido; uma vez entendida, a vida humana, tanto social quanto individual, pode ser forjada e gerenciada da mesma maneira que o mundo natural pode ser manipulado e arquitetado; O combate às desigualdades sociais através da democratização da educação, a ênfase na propagação do conhecimento científico como via e elemento civilizatório, a defesa visceral da laicidade, tanto na sociedade civil quanto, em especial na educação, tanto pública quanto privada, a qualificação e profissionalização do professor público, a opção por uma cultura ampla e geral, de cunho humanístico; todas estas propostas são encaminhadas pela maçonaria do século XIX à sociedade através da tomada de posição sistemática de estratégias de expansão do ensino, público, laico e gratuito. Este será o mote da ação transformadora da maçonaria no século XIX. Balaústres, atas maçônicas e projetos educacionais Quando iniciávamos, ainda incipientemente, 5. A história humana é amplamente a histó- em 2010, nossas pesquisas sobre as relações entre maçonaria e educação no Brasil, deparamo-nos com ria do progresso; a Prancha (nome que os maçons dão aos seus ofícios 6. Os seres humanos podem ser melhorados por meio da educação e do desenvol- internos) que abaixo comentamos e parcialmente reproduzimos. vimento de suas faculdades racionais; 7. As doutrinas religiosas não ocupam lugar no entendimento do mundo físico e humano. (CARVALHO, William Almeida de. Maçonaria, tráfico de escravos e o Banco do Brasil e outros temas maçônicos e histórias controversas. São Paulo, Madras, 2010, p. 61-62. Grifos meus). Assim sendo, explicadas e definidas as crenças maçônicas bem como seus pressupostos ideológicos e filosóficos, fica mais fácil entendermos a atuação da maçonaria como instituição, bem como as atividades A mesma, enviada em 26 de janeiro de 1911 pela Loja paulistana Sete de Setembro ao Poder Central, localizado à época no Palácio do Lavradio, na rua do mesmo nome, no Centro do Rio de Janeiro, solicitava ao Grande Secretário-Geral do Grande Oriente do Brasil retificar uma informação constante em seus registros: a bem da verdade, informavam aqueles obreiros que era a Loja maçônica em questão, e não a “emérita Sr.ª D. Anália Franco”2, à frente de sua Associação Feminina Beneficente, que geria um conjunto não determinado de escolas naquela cidade. A razão de tal disfarce, seria o desejo por parte dos membros da loja maçônica de não serem incomoda- 2 Anália Franco Bastos, mais conhecida como Anália Franco (Resende, 10/02/1856 – São Paulo, 20/01/1919). Foi professora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira. Fundou mais de setenta escolas e mais de uma vintena de asilos para crianças órfãs. Na cidade de São Paulo, fundou uma importante instituição de auxílio às mulheres, e a região, antes afastada do Centro, é hoje o bairro Jardim Anália Franco. Morreu vitimada pela gripe espanhola. Fonte: Wikipédia: “Anália Franco”. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Analia_Franco. Acesso em: 05.mar.2012. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 10 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... dos com os “importunos (sic) pedidos de pessoas inte- senvolvimento e conformação das instituições educaressadas em regê-las”. cionais brasileiras ao longo dos últimos cem anos. A descoberta do documento levantou uma série de questões que se tornaram a base hipotética desta pesquisa, e que estão expressas na Introdução ao nosso projeto de tese. Partindo da idéia de que os maçons entendiam a Educação como plataforma de transformação dos antigos ideais absolutistas e dogmáticos em novas idéias iluministas e liberais, mais afeitas a conformação de seu próprio ideário de sociedade, republicana, baseada no tripé revolucionário francês de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, entendemos que a maçonaria como instituição, encetou, intencionalmente, esforços organizados no intuito de estimular em seus Orientes a criação e o patrocínio de educandários laicos, mistos e voltados para a formação para o trabalho, engajando-se em um movimento antimonárquico e anticlerical durante o século XIX, e que se estendeu pelo século XX, no seu segundo aspecto. A ação transformadora A Loja Maçônica União e Tranquilidade, durante praticamente metade da década pesquisada, possuiu um único Venerável Mestre (nome dado ao presidente e gestor do conjunto de maçons que formam uma loja), o Irmão José Fernandes Ferro, que assina quase todas as Atas, entre 1880 e 1884, quando não substituído, esporadicamente, por motivos de indisposição (“moléstia”, no jargão da época). Foi sucedido pelo Irmão Silvério Antonio Pereira, de 1885 a 1889, que também passou, posteriormente, o Malhete (instrumento-símbolo de sua condição de liderança dentro de uma loja maçônica) ao Irmão Honório Pinto Pereira de Magalhães, em 1889, que deixará o posto em 18 de dezembro daquele mesmo ano para assumir no dia seguinte a função de Primeiro Grande Vigilante do Grande Oriente do Brasil3. Foram estes Esta pesquisa busca, portanto, elucidar a os Veneráveis Mestres do período aqui analisado. questão sobre que modelo (s) de escola os maçons O universo documental pesquisado consiste planejavam estimular no Brasil para, em seguida, verificar quais as características identitárias que esses nas atas de número 1.892, datada de 20 de novemmaçons reputavam como as mais adequadas ao edu- bro de 1881, até a de número 2.220, de 24 de abril de 1890. 328 relatórios manuscritos de sessões macando e futuro cidadão brasileiro. çônicas, portanto, organizados em três livros encaAssim sendo, buscamos nos ater à documen- dernados que conformam os registros do período em tação e ao garimpo das fontes primárias comprobató- questão, atualmente arquivados na secretaria desta rias de nossa hipótese de trabalho. loja maçônica. Para além do balaústre (outra nomenclatura A título de curiosidade, o último dos três cadada pelos maçons aos seus ofícios) em questão, bus- dernos se encerra com a transcrição de uma carta de camos, através da pesquisa nas atas das lojas maçôni- próprio punho, datada de 07 de maio de 1890, do cas e no Boletim do Grande Oriente do Brasil, coleção então Generalíssimo Manoel Deodoro da Fonseca, de documentos oficiais maçônicos que vêm sendo instaurador e primeiro presidente da nascente Repúpublicados ininterruptamente desde o ano de 1871, blica do Brasil, e, ao mesmo tempo, Soberano Grãoapresentar uma seleção de documentos que demons- Mestre Geral Comendador da Ordem Maçônica no trem a participação da maçonaria no processo de de- Brasil, quinze dias após a sua posse no cargo, em 24 3 Não pretendendo fazer deste um texto laudatório, mas sim no sentido de caracterizar a importância e a representatividade da Loja União e Tranquilidade no mundo maçônico brasileiro, ressaltamos a relevância do cargo para o qual o Venerável Mestre da referida loja é designado. O posto de 1º Vigilante representa uma espécie de “adjunto” do Venerável Mestre na loja. É normalmente quem assume as funções daquele, quando de sua ausência. Ressalte-se ainda, que a posse do irmão Honório Pinto Pereira de Magalhães se dá na mesma sessão na qual é empossado Deodoro da Fonseca como Grão-Mestre da maçonaria, o que, pelo relevo da ocasião, acrescenta maior significação ao posto. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 11 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... de abril de 1890. Esta missiva foi encaminhada ao Venerável Mestre Honório Pinto Pereira de Magalhães, fazendo menção aos obreiros “que alteram a boa ordem e regularidade dos trabalhos”, autorizando “fazer cobrir ao Templo4 obreiros turbulentos, e quando desobedeçam ou reincidam, a suspender provisoriamente dos seus direitos maçônicos, instaurando-lhes imediatamente o respectivo processo, para serem julgados segundo as leis vigentes”. Sinal dos tempos bicudos em que coexistia, por um lado, uma Loja maçônica de grande relevo e importância, mergulhada na desordem conflituosa entre seus pares, refletindo a tensão ideológica que permeava a sociedade de então, e, por outro, um Grão-Mestre propenso a decisões de caráter militar e pouco afeito a questionamentos. Sem dúvida uma época de evidentes possibilidades conflituosas para ambos os lados, tanto no universo maçônico quanto na sociedade brasileira. Português, como a imensa maioria dos componentes daquela oficina à época, o Irmão Ferro manobrava seu malhete, como o próprio nome o sugere, com “mão-de-ferro”, administrando uma série de conflitos que caracterizaram as atividades da Loja em meio a um conturbado período de efervescência política. Lembremos que, durante a década em tela, o Brasil passaria por todas as “questões” (militar, religiosa e dos fazendeiros) que minariam os alicerces do Segundo Império; enfrentaria os conturbados eventos que antecederam a abolição da escravatura e culminariam na Proclamação da República, em 1889. sentes a cada reunião, a principal tônica dos longos debates, expressos em suas atas ao transcurso de toda esta década. Estes eram personagens perfeitamente inseridos no contexto de seu tempo, a grande maioria estrangeira; homens imigrados de seu país de origem, labutando por estabelecer-se em segurança e com razoável dignidade em um país conturbado, em meio a profundas transformações, muitas delas provavelmente inconvenientes a seus planos pessoais. Ainda assim, e talvez, por essa razão, é que se ressaltam como de interesse, em meio a toda esta balbúrdia social, seus atos de beneficência, quando, ainda no calor de uma discussão, a pedagogia maçônica se agiganta e determina o encerramento de um entrevero, em nome de uma deliberação conjunta que requer, de imediato, a união dos Irmãos. É o que podemos, por exemplo, ver na atenção dispensada à Prancha da Loja Aurora Escosseza, do Grande Oriente Unido do Brasil, lida na ata da sessão n.º 1.910, de 14 de junho de 1.882, pedindo a coadjuvação financeira da Loja para a libertação de um escravo. Do mesmo modo, podemos ler na ata da sessão n.º 1.943, de 12 de maio de 1.883, a aquiescência da Loja à solicitação da parte da Secretaria Geral da Ordem, para a fundação de “escolas maçônicas”, concorrendo a Oficina com a quantia de 10$ mensais. Na mesma ata, tomamos ciência da decisão de se convidar o Soberano Grão-Mestre para um ato Não sendo do teor desta pesquisa a intenção solene, onde lhe seria entregue em mãos “em carta de produzir falsos heróis, as observações feitas a par- fechada, a quantia de 100$000 para uma liberdade”. tir das leituras ordenadas das atas da época nos faDa mesma forma, encontramos, quando do zem saltar aos olhos o caráter irascível de alguns des- retorno às atividades da Loja após uma suspensão de tes “Irmãos”, bem como seus interesses excessiva- três meses por parte do Poder Central, devido ás mente fixados nas atividades financeiras da Loja. “desinteligências” ali ocorridas, sob a administração Eram as discussões a respeito do emprego do Tronco do Venerável Silvério Antonio Pereira, na ata n.º de Benemerência, contribuição financeira voluntária 2.103, de 15 de setembro de 1.887, uma prancha do para fins filantrópicos dada por todos os maçons pre- Dr. Henrique Valadares, membro honorário e filiando 4 “Cobrir ao Templo” é expressão baseada no simbolismo maçônico que significa basicamente neste caso, retirar do local de reunião o(s) membro(s) que esteja(m) provocando desarmonia no ambiente. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 12 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... livre da Loja União e Tranquilidade. Esta trazia os seTambém identificamos, e consideramos de guintes termos: “pedindo a coadjuvação desta Augus- alta relevância, encontrar na ata n.º 2.107, de 03 de ta Loja para o Lyceo Maçônico que o Sapientíssimo novembro de 1887, o trecho que em seguida transGrande Irmão tem em vista crear”5. crevemos: Na mesma sequência, é lida a solicitação do Irmão Francisco Luiz Alves de Lima, membro do quadro, solicitando uma beneficência, atendida com a quantia de 10$000 réis mensais; outra, da Augusta Loja Acácia, do Oriente do Rio Grande do Sul, pedindo proteção para o seu Benemérito Irmão Henrique Landeel; e, finalmente, da Viscondessa de Ponte Ferreira, também pedindo uma beneficência, e sendo atendida com a importância de 10$000 réis. Da mesma forma, na ata n.º 2.105, de 20 de outubro de 1.887, identificamos a leitura de uma prancha do Irmão Júlio da Nóbrega, maçom do grau 33, pedindo “uma beneficência para o maçom José Lino Fleming, maestro compositor que se acha na Itália, concluindo e aperfeiçoando os seus estudos”. O pedido foi encaminhado á comissão de finanças para avaliação. É presente pelo Respeitável Irmão Venerável uma prancha da Secretaria Geral da Ordem, pedindo a opinião da Loja sobre a liberdade dos escravos. A Loja resolve acompanhar as idéias do Sapientíssimo Grande Irmão”. (ATA N.º 2107. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 03 de novembro de 1887). Este trecho reputamos da mais alta relevância, no sentido de perceber a vanguarda social preconizada pela maçonaria naquele período, tendo em vista a constatação de que, com cerca de seis meses de antecedência, já a maçonaria articulava em seus espaços de sociabilidade6, a interlocução a respeito da abolição da escravatura. Ainda sobre tal assunto, e evidenciando o posicionamento da ordem maçônica a respeito da quesEstes atos de beneficência e contribuição pe- tão abolicionista, informa-nos a ata da sessão n.º cuniária, sejam no aspecto individual, quando do 2.126, de 24 de maio de 1.888, que apoio a uma viúva ou a um músico brasileiro em ou“O Irmão Venerável declarou que, sendo tro país, ou, no campo das contribuições a projetos convocados os Veneráveis das Oficinas afim escolares, refletem a ênfase transformadora preconida Maçonaria festejar a abolição da escravidão, ele em nome da Oficina, ofereceu a zada pela maçonaria naquele contexto histórico, baquantia de 50$000 réis, cujo ato esperava seada no ideário iluminista que enfatizava a bandeira que fosse por todos aprovado”. da liberdade e multiplicidade de pensamento e a lai(ATA N.º 2126. RJ, Palácio Maçônico do cidade, em oposição a um projeto social conservador, Lavradio. 24 de maio de 1888). representado, naquele período, também no campo da educação, pela Igreja. 5 Henrique Valadares (PI, 15.03.1852 - RJ, 09.11.1903). Iniciado na Loja Cruzeiro do Sul II, na província de Uruguaiana – RS, em 24.06.1874. Instaurada a República, durante o governo de Floriano Peixoto, foi nomeado por este o 3º prefeito do Distrito Federal (junho de 1893 - dezembro de 1894), e, posteriormente, deputado federal pelo Estado do Piauí. Foi Grande Secretário-Geral do GOB (1891-1900) e Grão-Mestre Adjunto e Lugar-Tenente Comendador do GOB na gestão de Quintino Bocayuva (1901-1904). Foi ainda, Benemérito da Ordem e Grão-Mestre Grande-Comendador Honorário do GOB (Decreto n.º 147, de 22.01.1898), além de Garante de Amizade do Grande Oriente da França e do Supremo Conselho do Egito (BO GOB n.º 3, 14º ano, maio de 1889, p.48). Quando de sua morte, ocupava o posto de general-de-divisão do exército brasileiro, recebendo postumamente honras de marechal-de-exército. Maçom permanentemente dedicado ao campo da educação e da instrução, foi durante as décadas de 80 e 90 do século XIX redator-chefe do Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil. 6 Sobre o conceito de sociabilidade maçônica, sugerimos a leitura de Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822), de Alexandre Mansur Barata, onde o autor explicita o conceito de sociabilidade como o maior contributo da Ordem à sociedade, residindo nesta característica maçônica, o foco principal de interesse dos historiadores acadêmicos contemporâneos que pesquisam a Maçonaria. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 13 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... Consta na ata n.º 2.155, de 02 de maio de pressa na dedicatória ao leitor escrita pelo próprio 1.889, um Tronco de Beneficência corrido em nome Henrique Valadares, na abertura do livro: das “Aquele que se inicia na Maçonaria nem sempre encontra quem lhe ministre todas as explicações necessárias relativamente aos trabalhos ordinários de uma Loja. A curiosidade e o desejo de aprender e conhecer levam o novo Aprendiz a inquirir a todo o momento sobre as práticas mais insignificantes. Disso resulta que o Aprendiz vai procurar essas explicações nos livros que pode encontrar na mercado, fazendo aquisição mais ou menos dispendiosa de obras muitas vezes pouco criteriosas e mesmo mentirosas. Para satisfazer a essa necessidade reconhecida e preencher essa lacuna, procuramos organizar o presente opúsculo, em que serão encontradas aquelas explicações, que não estão consignadas nos Rituais e obras congêneres. Não é um trabalho metódico e preparado a capricho. É, porém, o fruto da boa vontade de um Maçom que deseja ver a uniformidade e a regularidade no trabalhos das Oficinas do Grande Oriente do Brasil. É portanto, um arrojo desculpável”. “vítimas de Campinas. Depois de ter sido discutido e aprovado, produzindo a quantia de 15$000, que foram entregues ao Respeitável Irmão Hospitaleiro com ordens para serem entregues ao respeitável irmão Secretário Geral, em nome de nossa Augusta Loja em favor das vítimas”. (ATA N.º 2155. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 02 de maio de 1889). Na ata n.º 2.168, de 16 de maio de 1.889, destina a loja a quantia de 42$000 “para a aquisição de 14 cadeiras de benefício ao Lyceu Maçônico”. O Lyceu Maçônico, como anteriormente citado, era um projeto diretamente ligado à iniciativa do maçom Henrique Valadares, proeminente personagem histórico do período que, como maçom, buscava neste espaço o apoio necessário ao desenvolvimento de sua idéia. Desde a mocidade preocupado com a questão educacional, Henrique Valadares atuou pedagogicamente tanto no interior da ordem maçônica quanto no âmbito da sociedade brasileira como um todo, fosse como professor na Escola Militar7, ou como incentivador de novas escolas, como o Lyceu maçônico. No campo interno da maçonaria, Valadares publicou em novembro de 1896, a obra “O Aprendiz-Maçom”8, onde delineava todos os requisitos necessários ao bom desenvolvimento e apreensão dos conhecimentos da pedagogia maçônica por parte dos iniciantes na ordem. Tal preocupação pedagógica é bem ex- (VALADARES, Henrique. “O Aprendiz – Maçom”. Volume 1. RJ, Grande Oriente do Brasil, 1896, 1ª Edição, p.12). A maçonaria, portanto, podemos perceber, atuava oculta e discretamente no seio da sociedade brasileira de então como um “centro de união”, onde discussões e projetos sociais, muitos deles de cunho educacional, não ortodoxos para o stablishment podiam ser tratados e desenvolvidos, configurando-se em território neutro de diálogos possíveis entre atores sociais normalmente afastados entre si no âmbito da 7 O maior reconhecimento que se poderia dar à figura de Henrique Valadares como bom e dedicado professor e emérito educador, viria a ser expresso por seus alunos, em 1903, quando da passagem de seu féretro em via pública, rumo ao cemitério: Em certo ponto do trajeto, os alunos da Escola Militar fizeram parar o coche que transportava seu caixão, e, à mão, transportaram o corpo de seu ex-mestre até a sepultura, no cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro. 8 No ano de 1965 o Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil, Álvaro Palmeira, institui através do Ato n° 2.761 uma comissão encarregada de relançar o livro de Henrique Valadares. No mês de dezembro de 1966, no Rio de Janeiro, é lançado o volume “O Aprendiz – Maçom” de Henrique Valadares. Contendo neste volume: “Livro 1 O Aprendiz Maçom”; “Livro 2 - As Constituições de Anderson – a) As Antigas Leis Fundamentais – b) As Antigas Obrigações ou Regulamentos Gerais de 1721”; “Livro 3 – Os Landmarques da Ordem, segundo Mackey, Findel, Pount e Grant”. Sendo este volume reeditado na administração 1978 – 1982, do Grão Mestre Osiris Teixeira. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 14 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... rígida estrutura de classes altamente hierarquizada A autonomia de decisão da Loja maçônica do Segundo Império. União e Tranquilidade também pode ser identificada Percebemos outro interessante aspecto da na ata n.º 2.183, de 21 de novembro de 1.889, quanatuação de uma loja maçônica como espaço dialogal, do do falecimento do Grão-Mestre Geral da Ordem, neste aspecto específico, no campo do gênero, que Senador Vieira da Silva. Instada pelo Poder Central e se dá na leitura da ata n.º 2.171, de 13 de junho de por uma comissão de veneráveis a participar de uma 1.889, onde se delibera e se atende ao pedido de be- cotização para organização de uma sessão de pompa neficência de D. Maria Carolina da Costa Braga, espo- fúnebre, ritual de homenagem póstuma praticado pelos maçons quando da morte de um de seus memsa do Irmão Antonio da Costa Braga: bros; a loja, em deliberação conjunta, resolve desti“Quando enferma e abandonada por seu nar a quantia apurada de 50$000, não ao fim proposmarido. A Ilustre Comissão de Beneficência termina com as seguintes conclusões. 1º. to, mas diretamente às mãos da filha do finado, deliQue seja embolsado o Irmão Affonso Leite, berando ainda, a concessão de uma pensão de 10 da quantia de 44$000, por ele dispendida à $000 mensais à viúva, enquanto lhe fosse necessário. D. Maria Carolina da Costa Braga, esposa do irmão Costa Braga; 2º. Que se dê um voto de louvor pelo ato filantrópico por ele praticado; 3º. Que seja convidado o nosso Irmão Costa Braga por prancha para ser advertido para não continuar a proceder mais daquela forma”. (ATA N.º 2171. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 13 de junho de 1889). Atuando como interlocutora e mediadora do conflito matrimonial aqui exposto, pode-se daí depreender que a Maçonaria, em atuação bastante avançada para os padrões sociais de então, altamente discriminatórios em relação à figura feminina, preza substancialmente a harmonia do lar, intercedendo e agindo com rigor em casos de conflitos ou desatenção matrimonial que envolvam seus obreiros. Outro aspecto interessante, este no tocante à atuação política da Ordem, se pode identificar no texto da ata 2.173, de 04 de julho de 1.889, quando da solicitação do Grão-Mestre Geral, que pede: “a coadjuvação possível no que pode-se influir à que o Sapientíssimo Irmão GrãoMestre Adjunto, Barão de Guahy seja o escolhido para senador pela Província do Rio de Janeiro”. (ATA N.º 2173. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 04 de julho de 1889). Além destes, muitos outros atos de filantropia e benemerência eram constantemente praticados. Aqui os relacionamos, no sentido de buscar clarificar seu pensamento pedagógico enquanto formadora de mentalidades inovadoras e libertárias em meio a uma sociedade arcaica em momento de profundas transformações sociais. Em praticamente todas as sessões da loja maçônica União e Tranquilidade eram formadas comissões de beneficência para visitar irmãos acamados, onde eram, muitas vezes, angariados recursos ao pagamento de despesas médicas. Comissões do mesmo tipo eram sempre constituídas quando do falecimento de algum irmão do quadro, onde, em muitos casos, quando a família do falecido encontrava-se em situação de penúria, eram pagas as custas do féretro e concedidas quantias para o auxílio da viúva e familiares. Até mesmo o zelador do Palácio Maçônico do Lavradio, pessoa de poucos recursos, tinha sua recorrente missiva rogatória (aparece em pelo menos seis das atas pesquisadas) atendida em diversas ocasiões, quando sempre lhe era destinada a mesma quantia de 5$000, invariavelmente para “auxiliar sua mãe enferma, em Portugal”. O lyceo maçônico ou lyceu brazileiro, transforma-se em lyceu do Grande Oriente Ao longo do período estudado, percebemos a pista, nas acima citadas atas de maio de 1883, setembro de 1887 e maio de 1889, do projeto de constru- FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 15 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... ção do Lyceo Maçônico, idealizado inicialmente por parte do maçom Henrique Valadares, e, posteriormente, tendo sua proposta absorvida pelas lideranças maçônicas de então conjugando esforços, não apenas dos obreiros da Loja União e Tranquilidade, mas de todos os maçons da corte em vias de se tornar capital da república. Ao final da década que esta pesquisa se propôs abordar, encontramos nova referência ao citado projeto educacional maçônico, desta feita, vinculado a mais um momento de transformação no seio da Loja União e Tranquilidade, relativo às mudanças acarretadas na Ordem pela assunção de Deodoro da Fonseca ao posto máximo no Grande Oriente do Brasil. Como visto, o Lyceo Maçônico projetado por Henrique Valadares quase uma década antes, aparentemente apresentava dificuldades em sair da prancheta dos arquitetos. Nem por isso a idéia fora esquecida. Conjugada às questões administrativas e políticas da ordem, a vertente educacional da maçonaria caminhava paralelamente como um item constante e importante da pauta de ações transformadoras dos pedreiros-livres. E, provavelmente impulsionada pela próxima ascensão de Deodoro ao grãomestrado, o ideal incipiente do Lyceu é retomado com maior força e vigor, como se pode ver através da esclarecedora publicação, no Boletim de maio de 1889 do seu Regulamento. Percebemos então, que o projeto de Valadares já havia desde algum tempo, tornando-se realidade, ainda que de forma incipiente, existindo em caráter experimental provisoriamente dentro do próprio Palácio Maçônico do Lavradio. A escola maçônica, originalmente batizada como Lyceu Brazileiro, passa a receber, com seu estatuto regulamentador, a denominação de Lyceu do Grande Oriente, e, com esta nova nomenclatura, ganha forma consistente, aventurando-se a formar sede própria, como podemos ver no extrato abaixo: “Lyceu do Grande Oriente. Tendo funcionado este Lyceu por aulas diurnas, em compartimento especial do Edifício Maçônico, deliberou o Sap.’. Gr.. Or.’. instalal-o fora do Edificio e por aulas nocturnas, sob o seguinte REGULAMENTO CAPITULO 1 DO LYCEU Art. 1°. O Gr.. Or.. chama a si a direcção e custeio do Lyceu Brazileiro, que passará a denominar-se Lyceu do Grande Oriente, no qual serão ensinadas gratuitamente as materias de ensino primário e secundário aos filhos de maçons. § Único. O ensino poderá ser facultado aos filhos de indivíduos que não pertençam à Ordem, sendo pobres, quando o Gr.’. Or.’. o deliberar. CAPITULO II DAS MATRICULAS Art. 2°. Para a matricula nas aulas do Lyceu exige-se: § 1°. 0 Requerimento ao Grão Mestre pelo pae ou tutor do alumno, e na falta destes pela mãe ou quem por elle velar. § 2°. Ser o alumno filho, ou irmão menor de Maçom, e este membro activo de qualquer 0fficina do Círculo, e quando fallecido, ter sido membro activo na occasião do seu fallecimento. Art. 3°. A prova da actividade maçonica, consiste no certificado da Grande Secretaria Geral da Ordem em vista do quadro da respectiva 0fficina, ou desta quando o Maçom fôr fallecido. CAPITULO III DA. DIRECÇÀO DO LYCEU Art. 4.° A direcção do Lyceu é confiada a uma commissão de 7 Membros effectivos do Gr.’. Or.’. que servirá durante o anno maçonico, e que d’entre si nomeará um para Presidente, e a esta Comm.’. compete: § 1°. Admittir os Professores em que reconhecer habilitações e. idoneidade, e dispensal-os quando commetterem faltas que prejudiquem o ensino. § 2°. Inspeccionar os trabalhos das aulas, para que funccionem com a precisa regularidade, mantendo o respeito aos Professores e a disciplina entre o alumnos. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 16 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... § 3°. Attender ás reclamações dos Professores, providenciando como julgar conveniente, e requisitando do Gr.’. Or.’. e do Gr.’. Mestr.’. em caso urgente, qualquer medida extraordinaria. infractores punidos: § 4°. Propôr qualquer medida a bem do ensino, e sobre premios aos alumnos que se distinguirem, ou sobre qualquer remuneração aos Professores. § 4°. Pela communicação ao pae ou tutor para o punir. § 5°. Requisitar da Gr.’. Thesour.’. Ger.’. da Ord.’. por intermedio do Gr.’. Secr.’. o pagamento das despezas do custeio, no limite da verba authorizada. Art. 10°. As penas comminadas nos §§ 1° e 2° do Art. antecedente serão applicadas pelo professor; a do § 3° pelo professor de accordo com o Director; a do § 4° pelo Director; e a do § 5° pela commissão directora, sendo esta pena applicada por mais de uma reincidência. § 1°. Pela advertência em particular. § 2°. Pela reprehensão em aula. § 3°. Pela retirada da aula. § 5°. Pela expulsão do Lyceu. § 6°. Dar conhecimento ao Gr.’. Or.’., nas quatro sessões annuaes, do andamento e estado do Lyceu, propondo as medidas que julgar a bem do mesmo. Art. 11. Aos alumnos, cujos paes não dispuzerem totalmente de meios para compra de livros, lhes serão fornecidos pelo Lyceu. CAPITULO IV DAS FINANÇAS DO LYCEU Art. 12. Aos alumnos de exemplar comportamento, estudiosos e que se distinguirem, merecendo approvação em exames, serão concedidos prêmios pelo Gr.’. Or.’.” Art. 5°. A receita do Lyceu consiste: § 1°. Da verba que o Gr.’. Or.’. decretar. § 2°. Do producto de um beneficio em theatro, que terá lugar annualmente. (GRANDE ORIENTE DO BRASIL. “Lyceu do Grande Oriente”. Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maçonaria. Brasileira. Número 3, 14º ano de publicação, Maio, 1889. pp. 36-38. Mantida a grafia original). § 3°. Dos donativos voluntários, quer das OOff.’. quer dos MMaç.’. do Circ.’. Art. 6°. A despeza do Lyceu consiste: § 1°. Do aluguel da casa em que o Lyceu funccionar. § 2°. Da gratificação a um escripturario, que estará presente nas horas das aulas § 3°. Do consumo de gaz, livros, servente e qualquer despeza eventual. CAPITULO V DAS AULAS, PENAS E RECOMPENSAS. Art. 7°. O anno lectivo começa em 1 de Março e termina em 20 de Dezembro de cada anno, sendo feriados os dias santificados, de festa ou luto nacional, domingo da qüinquagésima até quarta-feira de cinzas e toda a semana santa. Art. 8°. As aulas serão nocturnas, funccionando de Abril a Setembro das 6 ás 9 horas, e de Outubro a Março das 7 ás 10 horas, e ás ditas aulas assistirá sempre um Director. Art. 9°. Dos allumnos exige-se a pratica das bôas acções e regras de civilidade, sendo os Como anteriormente citado, no final desta década de intensa movimentação política e social, o último Venerável-Mestre do período, Honório Pinto Pereira de Magalhães deixa seu posto na Loja União e Tranquilidade em 18 de dezembro de 1889 para assumir no dia seguinte a honrosa posição de Primeiro Grande Vigilante do Grande Oriente do Brasil, secundando o Grão-Mestre também na mesma data empossado, Deodoro da Fonseca. Juntos, estes e outros maçons dos mais distantes rincões da nação darão prosseguimento ao projeto maçônico republicano. Paralelamente, no campo educacional, nunca descurado, mesmo nos momentos mais conturbados, a experiência pedagógica do Lyceu do Grande Oriente prosseguirá; como podemos perceber nesta outra transcrição abaixo, referente à eleição e posse de Deodoro da Fonseca e FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 17 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... destacam-se o Monte Pio e o Lycêo. Honório Magalhães, onde, cerca de seis meses após a publicação de seu Regimento, a preocupação manifesta relativa ao desenvolvimento da referida escola se inscreverá entre as quatro principais proposituras do mandato do novo Grão-Mestre e de seu Primeiro Vigilante. A terceira, corrigir muitos abuzos, introduzidos na Maçonaria, pela tolerância d’uns e indiferença d’outros. A quarta, restabelecer a disciplina maçônica, fazendo observar a lei em toda a sua pureza e de modo, que o maçom seja apreciado pela qualidade e não pela quantidade. Quando da posse dos dois, assim descreveu o Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil o evento: Astro do dia, o Marechal Deodoro, ha de atttrahir à Maçonaria muitos satelites. Escolhel-os e aproveital-os, em beneficio da Ordem, será, sem duvida, um dos seus principaes cuidados. “A Maconaria revive! Duas eleições importantes realizaram -se no dia 19, para preenchimento de vagas, abertas pela morte. Parecia não ser fácil dar successores aos illustres, Luiz Antonio Vieira da Silva, Gr.’. Mest.’., e Francisco José de Lima Barros 1º Gr.’. Vig..’.; entretanto, inspirado o Gr.’. Or.’. pelo Supr.’. Arch.’. do Un.’., fez a mais acertada das escolhas. Os eleitos, e por unanimidade, foram: Gr.’. Mest.’. e Gr.’.. Comen.’., o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca; e o 1º Gr.’. Vig.’., Honório Pinto Pereira de Magalhães. Impor-lhes o acto de prezença, o mais importante dos seus serviços. Levar a animação, onde existia a indiferença, o serviço, por excellencia. Realizadas as aspirações, que vimos de apontar como urgentes, grande serviço deverá a Maçonaria ao seu Gr.’.Mest.’. Então, continuaremos a affirmar que: A Maçonaria revive! Symbolisa o primeiro a Actualidade, o Palinuro da Nau do Estado; o segundo, as tradições maçônicas, a chefia dos soldados da velha guarda. NEMO. Dezembro. 30 de 1889”. (GRANDE ORIENTE DO BRASIL. “A Maçonaria Revive”. Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 14º ano de publicação, Dez., 1889. pp. 247249. Grifos meus. Mantida a grafia original). Escolhendo homens d’este quilate, com poderes e aptidões para todos os commettimentos, mostrou o Gr.’. Or.’. perfeita orientação dos interesses maçônicos, quiçá, por longos annos, tão descurados. Com administração corno a actual, a Potência Maçônica, é chamada a reorganizar-se immediata e completamente, de modo a produzir todos os beneficios promettidos áquelles, que n’eIIa se filiam. (...) Levado ao Grão Mestrado por prestigiosa eleição, qual a d’unanimidade de votos, pezadas obrigações contrahio o Marechal Deodoro. A primeira, comparecer a todos os actos, a que por lei é chamado, e tantas vezes mais, quantas a necessidade do serviço o exigir. A segunda, tornar effectivas as reformas e creações pendentes, entre as quaes Considerações finais Pudemos perceber, ao longo desta pesquisa, que nos anos que compreendem o final do século XIX e o início do XX, para além da grande participação política da maçonaria nos acontecimentos nacionais, mormente na implantação, constituição e delineamento da república no Brasil, que, no nosso entender, desenvolve um perfil “maçônico” em nosso país, ainda a ser desvelado por pesquisas mais aprofundadas sobre o tema, e que façam uso do rico e praticamente desconhecido acervo documental disponível nas lojas maçônicas, também a ordem se dedica, paralelamente, e, com igual ênfase, ao campo do desenvolvimento educacional do país. Este campo era FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 18 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... entendido estrategicamente pelos maçons, tanto pela vertente iluminista, quanto pelos modernos positivistas, ambas poderosas correntes ideológicas praticadas pelos maçons de então, como área fundamental para o progresso nacional e o desenvolvimento no país de diálogos construtores que, entre suas colunas, não só se tornaram possíveis, mas fundamentalmente essenciais no caminho da consecução do projeto de modernização civilizatória nacional. Concluímos que os maçons do passado, em pouco ou quase nada se diferenciavam dos personagens sociais da atualidade. Seus receios, medos e incompreensões relativos aos fatos dos quais eram contemporâneos em muito se assemelham às posturas dos homens comuns hodiernos. Entretanto, cabe-nos, como estudiosos e buscadores do real “évenement”9 histórico dentro do campo da Educação, compreender as matrizes de seus pensamentos e atitudes, a fim de entendermos da melhor forma possível como os acontecimentos do passado desenharam o mundo futuro, no qual existimos hoje. to e a compreensão de seus gestos, enquanto homens normais. Homens estes que merecem respeito e admiração por conduzirem de alguma forma a maçonaria até os dias atuais. Se não são merecedores de um mistificador culto, fazem-se por outro lado, dignos de nosso reconhecimento enquanto atores sociais, por, através de seus esforços em prol de um diuturno e constante aperfeiçoamento de suas pedras, como reza a pedagogia expressa no simbolismo dos maçons, propagar a filantropia e a beneficência mesmo em meio a um período conturbado de instabilidade política, que se espelhou com todas as suas nuances no seio das oficinas maçônicas. A loja maçônica União e Tranquilidade, contrariamente ao que preconiza seu dístico, enfrentou diversos momentos de crise intestina, sofrendo ao longo desta década estudada, diversas intervenções do Poder Central Maçônico, tendo, inclusive, seus trabalhos suspensos até que a paz e a concórdia voltassem a reinar em suas colunas. Ainda assim, o trabalho maçônico não deixou Pela sua atuação transformadora enquanto de ser cumprido, como pudemos perceber através da espaço de estabelecimento de diálogos que, fora de leitura de suas atas. suas paredes, seriam impossíveis na sociedade de Se estes “irmãos” de antanho não primavam então, a loja maçônica União e Tranquilidade eviden- pela fraternidade e concórdia entre seus pares, mais cia o desenvolvimento do projeto pedagógico maçô- relevantes ainda, em nosso entender, se tornam seus nico de propagação das luzes do saber e do conheci- esforços na manutenção e desenvolvimento do auxímento, com base na laicidade, na razão e na lógica do lio, tanto no aspecto do mutualismo que caracteriza pensamento. fortemente a Ordem Maçônica, quanto, e principalMuito mais proveitoso torna-se, para nós, mente, no aspecto das suas intervenções transformapesquisadores do campo educacional, o entendimen- doras no seio da sociedade, especialmente no aspec⁹ Événement, traduzido para o português, pode ser entendido como “acontecimento”. Para o historiador Pierre Nora, “quem detém o poder é tido como quem sabe. Daí uma dialética nova, própria a fazer surgir nas nossas sociedades um tipo de acontecimento ligado ao segredo, à polícia, à conspiração, ao rumor e aos ruídos. Pois é, ao mesmo tempo, verdadeiro e falso que não se fala tanto para esconder o essencial, que o sistema que favorece o nascimento do acontecimento é também, mas não apenas, fabricante de ilusões, que tantas confissões dissimulam uma falsidade. Quer se trate por exemplo da franco-maçonaria associada aos Sábios de Sion na época da revolução industrial, quer se trate da internacional judia sob Hitler, ou do antiimperialismo nos países descolonizados, é certo que todos esses bodes expiatórios utilizados por tantos senhores-feiticeiros do poder carismático acompanharam a experiência histórica da participação nova das massas na vida pública, ou seja, no crescimento da democracia. Aconte cimentos que traduzem desastradamente, selvagemente, tanto a irrupção das massas na cena quanto a profunda frustração das multidões que se lançam sobre um falso saber para compensar sua falta de poder. Multiplicar o novo, fabricar o acontecimento, degradar a informação, são seguramente os meios de se defender. Mas a ambigüidade que se encontra no coração da informação acaba no paradoxo das metamorfoses do acontecimento”. (NORA, Pierre. O retorno do fato. In: LE GOFF, J. e NORA, P. História: Novos Problemas. RJ, Francisco Alves, 1979, p. 188). FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 19 MAGALHÃES, F. S. EDUCAÇÃO E MAÇONARIA: A AÇÃO TRANSFORMADORA DA LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E... to educacional; assim contribuindo, efetivamente, para o desenvolvimento, a partir de seu meio, das características que conformaram o campo social da nação brasileira. Este estudo, concluímos, pensa colaborar para o entendimento do real funcionamento de uma loja maçônica, bem como clarificar suas matrizes de pensamento pedagógico, com todos os seus defeitos e percalços, no âmbito de suas relações com a sociedade que a envolve. O mérito maior que podemos reconhecer na atuação da Maçonaria, principalmente em meio a momentos conturbados da história brasileira, reside no fato de que nestes espaços, homens comuns labutam constantemente no esforço pelo aperfeiçoamento constante de seus pensamentos e ações. Permanentemente em busca do que a pedagogia maçônica chama de “igualdade moral”, chave equalizadora das diferenças de crença, costumes e opiniões, os maçons contribuem desta forma, para a transformação da sociedade, perenemente incentivando a irradiação das luzes da razão com base em uma educação sólida, libertária, igualitária e fraterna, fazendo destes pressupostos, elementos norteadores rumo ao inevitável progresso da Edificação Social, conforme rezam seus estatutos e regras de conduta. ATA N.º 1943. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 12 de maio de 1883. ATA N.º 2103. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 15 de setembro de 1887. ATA N.º 2105. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 20 de outubro de 1887. ATA N.º 2107. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 03 de novembro de 1887. ATA N.º 2126. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 24 de maio de 1888. ATA N.º 2155. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 02 de maio de 1889. ATA N.º 2168. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 16 de maio de 1889. ATA N.º 2171. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 13 de junho de 1889. ATA N.º 2173. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 04 de julho de 1889. ATA N.º 2183. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 21 de novembro de 1889. ATA N.º 2220. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 24 de abril de 1890. 2. FONTES SECUNDÁRIAS BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil (1790-1822). Juiz de Fora : Ed. UFJF; SP : Anablume, 2006. Afinal, talvez resida aí o grande segredo da CARVALHO, William Almeida de. Maçonaria, tráfico de escravos e o Banco do Brasil e outros temas maçônicos e histórias controMaçonaria. versas. São Paulo, Madras, 2010. LE GOFF, J.; NORA, P. História: Novos Problemas. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1979. Bibliografia VALADARES, Henrique. O Aprendiz – Maçom. Volume 1. Rio de Janeiro, Grande Oriente do Brasil, 1966, 2ª edição. 1. FONTES PRIMÁRIAS GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Boletim do Grande Oriente do Brasil. Número 1, ano 1 de publicação, Dezembro, 1871. GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Boletim do Grande Oriente do Brasil. Número 3, 14º ano de publicação, Maio, 1889. GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Boletim do Grande Oriente do Brasil. Número 10, 14º ano de publicação, Dez., 1889. ARQUIVOS DA SECRETARIA DA LOJA UNIÃO E TRANQUILIDADE ATA N.º 1910. RJ, Palácio Maçônico do Lavradio. 14 de junho de 1882. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 7-20, Set/Dez, 2013. 20 ISSN 2318-3462 Recebido: 25/10/2013 Aprovado: 17/11/2013 A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO Anderson Lupo Nunes¹ Resumo É feita uma introdução, que trata sobre os vínculos entre o simbolismo do Templo de Salomão e a sequência de Fibonacci. O conceito acerca da Razão Áurea é apresentado e é feita uma dedução formal de seu valor numérico. Diversos exemplos de identificação da Razão Áurea, extraídos de aspectos biológicos, anatômicos, astronômicos, entre outros, são apresentados. A sequência de Fibonacci é deduzida e conceituada, sendo relacionada com a Razão Áurea. É traçado um paralelo entre a sequência de Fibonacci e diversos aspectos simbólicos e mitológicos do Templo de Salomão na literatura maçônica, como a caminhada do lado externo ao Templo passando pelo pavimento térreo e subindo a escada até o segundo pavimento. Nas considerações finais, observa-se toda a riqueza e perfeição do Grande Arquiteto do Universo a partir da ordem natural presente em todo o Universo manifesto e oculta no simbolismo acerca do mitológico Templo de Salomão. Palavras-chave: Templo de Salomão; Sequência de Fibonacci; Razão Áurea. Abstract Introduction deals about the links between the symbolism of the Temple of Solomon and the Fibonacci sequence. The concept about the Golden Ratio is displayed, and made a formal deduction of its numerical value. Several examples of identification of the Golden Ratio, extracted from biological, anatomical, astronomical aspects, among others, are presented. The Fibonacci sequence is inferred and conceptualized, being related to the Golden Ratio. It's drawn a parallel between the Fibonacci sequence and various symbolic and mythological aspects of Solomon's Temple in Masonic literature, such as walking on the outside of the Temple through the ground floor and up the stairs to the second floor. In closing remarks, there is all the wealth and perfection of the Great Architect of the Universe from the natural order present throughout the universe manifest and hidden in mythological symbolism about the Temple of Solomon. Keywords: Temple of Solomon; Fibonacci Sequence; Golden Ratio. ¹ Anderson Nunes é Doutorando em Engenharia Nuclear pela UFRJ, Mestre em Engenharia Nuclear pela UFRJ, Especialista em Educação Tecnológica pelo CEFET-RJ, Graduado em Física pela UFRJ e em Formação Docente para o Ensino Fundamental e Médio pela Universidade Cândido Mendes. É membro da Loja de Pesquisas “Rio de Janeiro” - GOIRJ. E-mail: [email protected] FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 21 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO de referências nas afirmativas de Durão (2003). Ismail (2012) ressalta que a Maçonaria sempre teve uma relação com o Templo de Salomão. Adoum (1972) trata de aspectos simbólicos do Tabernáculo no deserto que seria o símbolo do corpo físico no deserto da matéria. O Tabernáculo, ou o corpo físico, foi dado ao homem para que ele encontre Deus. Williams (2004) também destaca os mesmos aspectos relatados por Adoum (1972) e ainda trata de relações com os sólidos platônicos e os chakras. Introdução A Maçonaria possui um simbolismo oculto, o qual o irmão deve se debruçar no estudo e meditação acerca do aspecto ritualístico para desvendar o seu significado. Há, de certa forma, uma Maçonaria velada e que nem todos os irmãos tem acesso. Isto é natural, pois apesar de toda a abertura do conhecimento e o aprimoramento dos meios de comunicação, a Maçonaria continua sendo profundamente mística e esotérica. Efeitos psicológicos acerca do A proposta do presente trabalho consiste simbolismo maçônico são apresentados em Guimarelacionar aspectos simbólicos do Templo de Salorães (2013). mão com a sequência de Fibonacci. O manancial de Segundo Janotta (2013), boa parte do simbo- símbolos acerca de ambos é muito rico e a interseção lismo maçônico é fundamentado no Templo de Salo- entre eles é a matéria prima desta obra. A relevância mão, apresentado na Bíblia Sagrada (2012) em Exôdo do tema se justifica pela importância dos aspectos cap. 26 até 29 como uma tenda que deveria abrigar o simbólicos relacionados. A sequência de Fibonacci Senhor durante a peregrinação dos judeus que eram aparece nas mais diversas manifestações da vida no guiados por Moisés até a Terra Santa. Com a sua fixa- planeta Terra. Da quantidade de pétalas das flores ção na região da Palestina, houve uma época de mui- até as espirais do caracol e da própria via Láctea são tos conflitos que se acentuaram durante o reinado de alguns exemplos de aplicação desta sequência. Davi. Após a sua morte sobe ao trono o seu filho, SaUma notável descoberta revelada por Tatterlomão. Segue-se um período de paz e prosperidade, sall (2013) consiste no fato de que os períodos das que o motivou a construir o Templo de Deus na Terra Prometida, de acordo com I Reis no capítulo 1 e capí- órbitas de todos os planetas o sistema solar, incluindo os dois planetas anões, possui uma estreita cortulos 5 até 7. respondência com os vinte primeiros termos da seBuchanan (2013) realiza uma busca arqueo- quência de Fibonacci. O erro médio entre os vinte e lógica ao Templo de Salomão contestando o senso oito pontos de dados é demonstrado estar sob comum de que ele ficava originalmente na Cúpula da 2,75%. Rocha, afirmando que quando foi totalmente destruíUm número que surge naturalmente no esdo pela primeira vez em 516 A.C. ele ficava perto da fonte de Siloé. A importância dessa busca reside no tudo matemático da sequência de Fibonacci é a chafato de que o Templo não é apenas simbólico e mito- mada Razão Áurea, também chamada de Divina Prológico, mas também uma realidade histórica inserida porção ou mesmo Proporção Áurea. O seu estudo é em um contexto atual sócio-político bastante com- relevante para este trabalho. plexo. A construção do Templo de Salomão começou no ano 480 após o êxodo, segundo I Reis, cap. 6 vers. 1 e levou um período de 13 anos até o término da obra. Segundo Durão (2003), Salomão era um grande artista e um alquimista, tendo desenhado a maior parte dos enfeites do Templo e também teria manufaturado, por meios alquímicos, parte do ouro utilizado na sua construção. Vale ressaltar a carência A Razão Áurea Trata-se de um número irracional que pode ser obtido a partir de certas proporções do ser humano e da Natureza em geral. Por unir macrocosmo e microcosmo assume um aspecto divino, daí também ser conhecido como Divina Proporção. Existe mais de uma maneira de deduzir a Razão Áurea, conforme FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 22 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO pode-se verificar em Queiroz (2010), Conte (2008) e tiva ao termo da direita: Lawor (1997). Na verdade usarei um método pessoal, x2 yx y 2 partindo dos conceitos apresentados nas três referências. 2 O termo x passa para o lado esquerdo da Considere um seguimento de reta definido equação: pelos pontos A e B abaixo: x2 yx y 2 0 A equação acima, considerando o x como a incógnita, torna-se uma equação do segundo grau. Marque um ponto C qualquer entre A e B. Tanto faz se o ponto está mais próximo de A ou de B. ax2 bx c 0 Note que se escolhêssemos o y como incógnita a equação seria exatamente a mesma. Foi por conta desta simetria que afirmei acima que tanto a menor distância ser AC ou CB. A equação do segundo grau é resolvida pela fórmula de Báscara. Quando a razão (divisão) entre o maior trecho (AC) e o menor trecho (CB) é igual a divisão entre o seguimento de reta completo (AB) e o maior trecho (AC) o resultado da divisão é um número irracional chamado de Divina Proporção ou Razão Aurea. Matematicamente a afirmativa acima pode ser escrita: AC AB CB AC A letra grega b b 2 4ac x 2a Aplicando a fórmula de báscara à equação x2 yx y 2 0 , segue: y y2 4 y2 x 2 (Phi) representa a própria É possível simplificar a equação acima. Primeiro, soma-se os termos de dentro da raiz quadraRazão Aurea. Para deduzir o valor de , vamos chamar o trecho AC de x e o trecho CB de y. A equação da. acima pode ser reescrita: 2 x x x y y x y 5y 2 Segundo, aplica-se a propriedade do produMultiplica-se os denominadores cruzados to de raízes: pelos numeradores: x y x y x 2 y 5 y2 2 Seguem duas opções de simplificações para Em seguida, aplica-se a propriedade distribu- a equação. A primeira é: FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 23 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO x Note que y 2 x y 5 y 1 5 y 2 , logo: 1 5 x 0, 6180339887 y 2 Este resultado é falso uma vez que x e y são positivos e assim a Razão Aurea não pode ser negativa. Resta, portanto a outra alternativa: x 1 5 y y 5y 2 2 Logo, 1 5 x 1, 6180339887 y 2 1,6180339887 O número é chamado de Razão Aurea ou Divina Proporção. É irracional porque resulta de uma divisão em que o resultado não é exato, ou seja, após infinitas etapas de divisões o resto nunca se anula. O seu simbolismo é muito rico, o infinito presente no finito, o eterno expresso e limitado no tempo. Aspectos naturais da Razão Áurea A Divina Proporção está presente em diversas relações do corpo humano, segundo Queiroz (2010) e Melchizedek (2009): A altura do corpo e a medida do umbigo até o chão. A medida da cintura até a cabeça e o tamanho do tórax. O tamanho dos dedos e a medida da dobra central até a ponta. A altura do crânio e a medida da mandíbula até o alto da cabeça. A medida do quadril ao chão e a medida da mandíbula até o alto da cabeça. Também encontramos a Razão Áurea no comportamento da refração da luz, nos átomos, nas espirais das galáxias, nas ondas dos oceanos, nos furacões. Ela já era conhecida dos antigos egípcios que construíram suas pirâmides utilizando a Divina Proporção nos blocos de pedra e nas câmaras internas de seus monumentos. Segundo Melchizedek (2009) as dimensões da Razão Áurea no corpo humano nunca são exatas em uma pessoa. Quando um bebê nasce o seu umbigo se situa exatamente no centro geométrico do corpo. À medida que a criança cresce a posição do umbigo começa a se mover na direção da cabeça até chegar exatamente na Razão Áurea, mas continua subindo. Depois vai descendo e assim, sucessivamente, oscilando em torno da posição correspondente à Divina Proporção. Quando chega a idade adulta se estabiliza em um ponto um pouco acima ou abaixo da Proporção Áurea, na maioria dos homens ligeiramente acima e na maioria das mulheres ligeiramente abaixo. Na média da humanidade fica exatamente no ponto correspondente à Razão Áurea. Lawor (1997) também cita a oscilação da posição do umbigo em relação à Razão Áurea e o fato de que nos homens é acima e nas mulheres, abaixo. Lawor (1997) afirma que a Proporção Áurea é uma razão constante derivada de uma relação geométrica que tal qual o π e outras constantes deste tipo é irracional em termos numéricos. Acima de tudo deve ser apresentada como uma proporção sobre FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 24 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO a qual se funda a experiência do conhecimento. As- Figura 1: Homem de Vitrúvio de Da Vinci (1485-90, Veneza) sim, a Proporção Áurea pode ser considerada como suprarracional ou transcendental. Foi Pitágoras, segundo Conte (2008), quem descobriu que a Razão Áurea representava uma lei biológica que regula o crescimento de todas as coisas vivas. Chegou a esta conclusão ao medir e analisar uma belíssima concha marinha (Nautilus pompilius), bastante comum nas praias da ilha de Samos. Mas Pitágoras tinha a convicção de que a Natureza era regida pelo número quatro. Assim, pode representar a perfeição da espiral da concha por uma sequência de quadrados, começando com um quadrado de lado igual a um e ajustando os quadrados seguintes ao crescimento da espiral. O mesmo exercício geométrico feito com a perfeita espiral de uma concha pode ser feito com a Via Láctea. Esta sequência numérica é muito especial e parece ser a chave para explicar a Razão Áurea. A Sequência de Fibonacci Leonardo Da Vinci se notabilizou, entre diver- Fonte: http://www.infoescola.com/desenho/o-homemsas outras obras, por um esboço chamado de o Ho- vitruviano/ mem Vitruviano ou Homem de Vitrúvia, apresentado na Figura 1. Melchizedek (2009) e Lawor (1997) co- Figura 2: A Espiral de Fibonacci mentam que é possível traçar uma espiral sobre o desenho que tem uma importante relação com Razão Áurea. A espiral é construída a partir de um quadrado 1x1, seguido de outro quadrado idêntico. Os dois primeiros quadrados formam o lado do terceiro quadrado 2x2 e assim sucessivamente. A Razão Áurea presente no esboço de Da Vinci revela a espiral abaixo feita pelos lados sucessivos de quadrados, formando a sequência de Fibonacci. Fonte: http://dsigngrafico.wordpress.com/tag/fibonacci/ FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 25 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO A sequência numérica presente na espiral da figura 2 foi revelada por Leonardo Fibonacci (11701250) em sua obra Liber Abaci, embora não tenha sido ele que descobriu a sequência, ela recebeu o seu nome após a sua morte. Fibonacci foi o primeiro e um dos mais importantes matemáticos europeus da Idade Média, segundo Eves (1990). Considere o número 1, representa o Todo, o Grande Arquiteto do Universo. Ele cria uma imagem de si mesmo, ou seja, outro número 1. Soma-se os dois primeiros números da sequência o que resulta no 2. Soma-se o 2 com o anterior o que resulta o 3. Repete-se sempre a soma do número com o anterior sucessivamente e obtém-se a Sequência de Fibonacci. Representando a aproximação da divisão dos termos seguidos em relação à Razão Áurea observase um comportamento oscilatório, que já havia sido comentado neste trabalho por meio do exemplo sobre a posição do umbigo do bebê até chegar à idade adulta. Observe o comportamento oscilatório no gráfico da Figura 3. 1 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89 A sequência de Fibonacci apresenta muitas propriedades que, segundo Kalman & Mena (2003), podem ser classificadas como maravilhosas. As somas ou as diferenças entre números da sequência de Fibonacci resultam em números que também são da sequência. Quaisquer quatro números seguidos de Fibonacci podem ser combinados para formar um terno pitagórico, ou seja, dos quatro números é possível tirar três que formam os catetos e a hipotenusa de um triângulo retângulo (onde vale o Teorema de Pitágoras). Estas e outras propriedades da sequência de Fibonacci são descritas por Kalman & Mena (2003) com maiores detalhes. A relação entre a Sequência de Fibonacci e a Razão Áurea é bastante simples. Basta dividir um número da sequência pelo seu antecessor. Quanto maior for o número, mais o resultado se aproxima da Razão Áurea. Vejamos a seguinte tabela: Figura 3: Gráfico que mostra a oscilação dos termos da sequencia de Fibonacci em torno da Razão Áurea produzido pelo autor no aplicativo Microcal (TM) Origin versão 6.0 A sequência de Fibonacci, vinculada à Razão Áurea, está associada a uma miríade de fenômenos biológicos, atômicos e estelares. Melchizedek (2009) mostra a presença da sequência na quantidade de pétalas das flores, a distribuição das folhas e das sementes. Também aparece nas espirais presentes na anatomia humana, nos caracóis, etc. Tashtoush & Tabela 1: Termos consecutivos da sequência de Fibonacci con- Darwish (2012) utilizam a sequência de Fibonacci na construção de um protocolo que melhora em até vergindo para a Razão Áurea 21% a transmissão dos dados em uma rede. Mishra 1/1 = 1 21/13 = 1,61538... et al. (2012), por sua vez, utilizam a sequência para 2/1 = 2 34/21 = 1,619048... criar um novo modelo de criptografia de imagem. A 3/2 = 1,5 55/34 = 1,617647... sequência de Fibonacci revela uma ordem natural 5/3 =1,6667 89/55 = 1,61818... subjacente a todo o Universo. 8/5 = 1,6 144/89 = 1,617978 ... 13/8 = 1,625 233/144 = 1,618055... FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 26 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO Relações com o Templo de Salomão movimento da Criação. A Maçonaria revela aspectos simbólicos do Templo de Salomão que são velados e segundo minha análise e inspiração tem uma relação direta com a sequência de Fibonacci, e por contiguidade, à Razão Áurea. Morrison (2008) revela a metáfora arquitetônica do Templo de Salomão correlacionando sua geometria com o corpo humano e demais elementos naturais a partir do estudo acerca de uma obra de Juan Battista Villalpando publicada em 1604. O aprendiz no início de seu movimento para o pavimento superior do Templo de Salomão fica entre as duas colunas, B. e J., que juntas elas dão a ideia da dualidade. Simbolizam o terceiro termo da sequência de Fibonacci, ou seja, o número 2. Na Bíblia Sagrada (2012), Livro da Gênesis, cap. 1 vers. 27 está escrito: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho e fêmea ele os criou.” Note que é só no cap. 2, vers. 21, 22 e 23 que está escrito que Deus criou a mulher a partir da costela de Adão. Qual seria então o significado da afirmativa que Deus criou o ser humano, à sua imagem, macho e fêmea? Parece ser uma referência ao princípio de Dualidade. Na Bíblia Sagrada (2012), Livro I Reis , cap. 6 vers. 21 trata da construção do Templo de Salomão, onde aparece a figura do artífice Hiram Abiff que teria construído as colunas. Está escrito: “Em seguida ele ergueu as colunas na frente do vestíbulo do templo: levantou a coluna do lado direito dando o nome de Jaquin; em seguida levantou a coluna do lado esquerdo, chamando-a de Booz.” O início do ingresso no Templo de Salomão se faz pela antessala, que pode ser simbolizada pelo número 1, é Princípio no sentido cosmogônico do termo, portanto, o início da sequência de Fibonacci. Queiroz(2010), Melchizedek (2009) e Lawor (1997) relacionam o simbolismo do número 1 à unidade e ao princípio organizador do Universo. Goswami (2007) afirma que a consciência necessária, segundo uma interpretação idealista da Física Quântica, é única. Um referencial absoluto e necessário para que todo o Universo se manifeste. Na verdade ele adota o conceito de mônoda, criado por Leibnitiz e o amplia, definindo a mônoda quântica. O Aprendiz Maçom está ainda no pavimento térreo do Templo do Rei Salomão, segundo Adoum (1972). Este pavimento simboliza o próprio Aprendiz e é o reflexo do princípio. Logo é o segundo termo da sequência de Fibonacci, ou seja, o segundo 1. Na Bíblia Sagrada (2012), Livro da Gênesis, cap. 1 vers. 26 está escrito: “Deus disse: Façamos o ser humano a nossa imagem e segundo nossa semelhança,(...)” A consciência humana é um reflexo da consciência cósmica. Este ponto do estudo é relevante porque se do Princípio não surgisse a sua imagem ou reflexo não existiria a Criação. Se não fosse o surgimento do segundo 1 na sequência de Fibonacci ela simplesmente não existiria. Hurtak (1996) afirma que o Homem é feito na imagem e similitude, onde o “na” indica que a evolução é um contínuo assimilar de Luz. Ubaldi (1999) que cada fenômeno só existe porque há movimento de um ponto de partida para um ponto de chegada. O surgimento do segundo número 1 da sequência de Fibonacci mostra, portanto, o primeiro A seguir, vem a escada em forma de caracol. Note que o caracol, por si só é uma referência a Pitágoras e o formato perfeito das conchas que tanto inspiraram esse Venerável Mestre. Os três primeiros degraus aludem ao princípio ternário, representado no altar pelas Três Grandes Luzes da Maçonaria. Representam também as virtudes Sabedoria, Força e Beleza. É cabível também uma relação com os pilares da Árvore da Vida, segundo Marques (2011). Chega-se ao quarto termo da sequência de Fibonacci, o número 3. Os cinco degraus seguintes representam às cinco ordens clássicas da Arquitetura, ou seja, Dórica, Jônica, Coríntia, Toscana e Compósita. As informações acerca da Arquitetura Clássica foram preservadas através da obra de Vitrúvio, que viveu no século I A.C. , segundo Maciel (2009). Aludem também aos cinco sentidos humanos e aos cinco elementos alquímicos, a saber, Terra, Ar, Água, Fogo e Éter. Uma descrição sucinta dos cinco elementos alquímicos é feita por Cotnoir & Wsserman (2009), que relacionam o FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 27 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO quito elemento com o campo, ou seja, a fonte de tudo o que existe. Nota-se que a referência às cinco colunas da Arquitetura Clássica passam uma idéia de ordem ou mesmo simetria, conceito fundamental da Razão Áurea. Surge o quinto termo da sequência de Fibonacci, o número 5. Segundo Adoum (1972), desde os mais antigos rituais a letra G simboliza o Grande Arquiteto do Universo, merecendo, portanto, uma deferência especial. Assim, os sete degraus (sete ciências) somadas ao próprio Grande Arquiteto do Universo, simbolizam o número 8. Note que o número 8 simboliza o duas vezes quatro, a manifestação perfeita. O octanário é o número da realização da Divindade no Homem. Note que o oito é o símbolo do infinito voltado para cima. Chega-se ao sexto termo da sequência de Fibonacci, o número 8. Em seguida vem sete degraus que aludem a todo o simbolismo do número sete. Os sete dias da semana, as sete cores do arco-íris, os sete planetas, os sete orbitais atômicos, as sete notas musicais, entre outros, são aspectos naturais relacionados ao número sete segundo Marques (2011) e Queiroz (2010). O que seriam das sete ciências sem a conexão Os sete degraus simbolizam as sete artes ou ciências com o Grande Arquiteto do Universo? Conclui-se com liberais: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geo- o sexto termo da sequência de Fibonacci. Segue com metria, Música e Astronomia. As três primeiras, ou um quadro comparativo dos termos da sequência e seja, Gramática, Retórica e Lógica, eram as disciplinas seus aspectos relacionados ao Templo de Salomão, da Universidade conhecidas como Trivium e que ti- considerando o seu simbolismo. nham como objetivo o provimento da mente para encontrar expressão na linguagem, segundo Joseph Tabela 2: Termos da sequência de Fibonacci relacionados com o (2008). Ainda em Joseph (2008), as quatro últimas, Templo de Salomão e o seu simbolismo ou seja, Aritmética, GeTermo da ometria, Música e Assequência de Templo de Salomão Simbolismo tronomia, eram conheFibonacci cidas como Quadrivium 1 O próprio Aprendiz O Princípio (mônada) e o seu objetivo era o 1 O pavimento térreo Reflexo do Princípio. A Imagem do Pai. provimento de meios 2 As Colunas B. e J. A Dualidade (Polaridades) para o estudo da matéOs três degraus (Sabedoria, O princípio ternário. As Três Grandes 3 Força e Beleza) Luzes da Maçonaria. ria. Os cinco degraus (colunas: Os cinco sentidos físicos. Os cinco Mas eis que sur5 Dórica, Jônica, Coríntia, princípios alquímicos (Terra, Ar, Água, ge um problema, o sexToscana e Compósita) Fogo e Éter) to número da seqüênOs sete degraus (Gramática, O simbolismo do número sete (sete dias da cia de Fibonacci é 8 e Retórica, Lógica, Aritmética, semana, as sete cores do arco-íris, os sete 8 não 7. Mas imagine, ao Geometria, Música e planetas, etc.) associado ao GADU resulta Astronomia) unidos ao piso da no oito (o Divino ligado ao Homem, o terminar de subir os câmara do meio (letra G) infinito) sete degraus o Aprendiz chega à câmara do meio do Templo do Rei Salomão. O término da escaFonte: Elaborada pelo autor. da não é no sétimo degrau, e sim no próprio piso da câmara do meio. São oito passos, portanto. Mas haConsiderações Finais veria um simbolismo para o piso da câmara do meio? A câmara do meio é onde os obreiros recebem o paTodo o simbolismo do qual o presente artigo gamento. Nela observa-se a letra G. Poderia se pen- investiga encontra-se em um esquema que pode ser sar que a letra G representa a Geometria, mas esta relacionado com diversos aspectos do macrocosmo e ciência já foi verificada em um dos sete degraus. do microcosmo. Arola (1986) descreve diversos asFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 28 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO pectos do simbolismo relacionado ao templo. Ismail (2012) também trata do simbolismo contido na Maçonaria, mostrando que nada está ali por acaso. Um símbolo pode ter tantos significados quantos sejam aqueles que dedicam ao estudo e meditação acerca do seu significado. Arola (1986) considera que o Templo é a interseção entre o Céu e a Terra, entre o Homem e Deus, porque um templo exterior e tangível é simplesmente o reflexo de um templo interior e intangível. que foi feita com a sequência de Fibonacci. Pelo contrário, a sequência de Fibonacci ganha mais relevância com seus aspectos cabalísticos. É possível traçar mais relações entre o Templo de Salomão e a Cabala. Segundo Marques (2011), a Cabala é um sistema que permite compreender a similitude oriunda da unidade em todas as partes da Criação. É evidente que o Templo pode ser também esquematizado pelo viés da Cabala. A princípio todo modelo é incompleto e revela um ponto de vista acerca de um fato. Fica difícil definir qual seja o melhor. Isso não diminui a importância da comparação 51a Ed., Petrópolis, RJ, 2012. A existência de diversos artigos recentes relacionados à sequência de Fibonacci e ao Templo de Salomão demonstra que ambas as temáticas são atuais e inseridas em um contexto científico ou acadêmico. Guimarães (2013), Janotta (2013), Kalman & Mena (2003), Mishra (2012), Morrison (2008), Tashtoush & Darwish (2012) e Tattersall (2013) são exemplos de O Templo de Salomão apresenta aspectos de artigos recentes e que foram citados no presente arseu simbolismo que foram relacionados com os seis tigo. primeiros termos da sequência de Fibonacci. O próxiConclui-se que o simbolismo acerca da semo termo seria número 13 que por si só carrega todo quência de Fibonacci é muito mais rico do que apaum simbolismo. Foi em um dia 13 de Outubro de rentava. O Grande Arquiteto do Universo transcende 1307 que Jacques de Molay foi preso, de acordo com a mente e a compreensão humanas, mas seria possíRead (2001). A carta que representa a morte no Tarot vel ousar supor que a linguagem que está mais próxiMitológico é exatamente a carta 13. Seu simbolismo ma da Mente Cósmica é a Matemática. Na Matemátiestá associado à transformação e a transmutação. Na ca está contida tudo o que existe, mas também o que Bíblia Sagrada (2012), Livro I Reis, cap. 7 vers. 1, está não existe. Um exemplo de algo que não é mensuráescrito: “Quanto ao palácio, Salomão levou treze vel na Natureza, mas existe na Matemática são os anos para construí-lo de todo.” Note que a referência números complexos. é ao palácio. No versículo anterior (I Reis, cap. 6, vers. Ao traçar estas relações nossa mente se ex38) está escrito que o Templo levou sete anos para pande a vai de encontro à Mente Cósmica. Foi a parser construído. tir daí que, segundo Conte (2008), Pitágoras concluiu O fato de não ter encontrado relações do estupefato: “Tudo no Universo são números”. Templo de Salomão com o número treze não significa que tais relações não possam existir. Mas lembre que foram seis dias da Criação, e foram os seis primeiros Referências Bibliográficas termos da sequência de Fibonacci que foram relacio- ADOUM, Jorge. O Grau do Aprendiz e seus Mistérios. Ed. Pensanados com o Templo de Salomão. Ele simboliza tanto mento-Cultrix, São Paulo, 1972. o microcosmo, representado pelo corpo humano, AROLA, Ramón. O Simbolismo do Templo. Editora Objetiva, Rio quanto o Universo, ou seja, o macrocosmo. A se- de Janeiro, 1986. quência deve terminar em algum dos termos. BÍBLIA SAGRADA, Trad. Domingos Zamagna. Editora Vozes Ltda. BUCHANAN, George Wesley. In Search of King Solomon’s Temple. Associates for Scriptural Knowledge. Portland, USA. Number 9/13, p. 30-35, September 2013. CONTE, Carlos B.. Pitágoras, Ciência e Magia na Antiga Grécia. Editora Madras, São Paulo, 2008. CORTNOIR, Brian e WASSERMAN, James. Introdução à Alquimia. Editora Pensamento. São Paulo, 2009. DURÃO, João Ferreira. Pequeno Glossário de Filosofia, Esoterismo, História Antiga e Medieval. Editora Madras, São Paulo, FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 21-30, Set/Dez, 2013. 29 NUNES, A. L. A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI NO TEMPLO DE SALOMÃO 2003. 28/10/2013. GOSWAMI, Amit. 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Considerando a grande diversidade de práticas maçônicas presentes no Brasil e a escassa literatura sobre o tema, muitas vezes a aplicação correta dos calendários específicos de cada Rito ou Ordem torna-se um desafio para as Grandes Lojas e Grandes Orientes. Os resultados publicados aqui podem ajudar as instituições maçônicas na observância dessas tradições. Palavras-chave: Ritos Maçônicos; Ordens Maçônicas; Calendários Maçônicos. Abstract This study presents the forms of dating of events in the various Masonic Rites and Masonic Orders in activity in Brazil. Considering the great diversity of masonic practices in Brazil and the scarce literature on the subject, often the correct application of the specific calendar for each Rite or Order becomes a challenge to the Grand Lodges and Grand Orients. The results published here can help the masonic institutions in compliance with such traditions. Keywords: Masonic Rites; Masonic Orders; Masonic Calendars. ¹ Kennyo Ismail é Mestre em Administração pela EBAPE-FGV, com MBA em Gestão de Marketing pela ESAMC e bacharelado em Administração pela UnB. É professor titular do Instituto de Ensino Superior de Goiás. Mestre Instalado, é membro da Loja Maçônica “Flor de Lótus No. 38” - GLMDF; Sumo Sacerdote do Capítulo “Fredericksburg No. 16” de Maçons do Real Arco; e Grande Mestre Adjunto do Supremo Grande Conselho de Maçons Crípticos do Brasil. Membro das sociedades de pesquisa “Philalethes Society” e “The Masonic Society” e das Lojas de Pesquisa “American Lodge of Research”, “Missouri Lodge of Research” e “South California Research Lodge”. E-mail: [email protected] FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013. 31 ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES 1. Introdução A Maçonaria possui diferentes tipos de calendários, usados nos mais diversos ritos e épocas, cada um com sua própria lógica e significados. Porém, isso tem gerado certas confusões históricas, principalmente no Brasil, com sua pluralidade de Ritos e carência de registros legais disponíveis, de bibliotecas maçônicas e, principalmente, de literatura maçônica de qualidade. 2.1.1. Era Comum, Era Corrente ou Era Vulgar (E.´. V.´.) Pensando nisso, este artigo tem por objetivo disponibilizar uma relação dos tipos de calendários maçônicos existentes e seus mecanismos de funcionamento, de forma a esclarecer de uma vez por todas esse tema, disponibilizando aos interessados, sejam estudiosos de Maçonaria ou secretários com a missão de confeccionar diplomas, acesso a informação organizada e confiável. Também conhecido como Anno Domini, termo em latim que significa “Ano de nosso Senhor”, o qual pode ser encontrado por sua sigla, A.´. D.´.. Trata -se do calendário gregoriano, promulgado pelo Papa Gregório XIII em 24 de Fevereiro de 1582 (THIBAULT, 1981 ), e adotado como ano civil em praticamente todos os países. O Papa Gregório determinou a criação de um novo calendário porque o calendário juliano, que se utilizava desde 46 a.C., arredondava o ano solar para 365 dias e 6 horas, o que dava uma diferença de mais de 11 minutos por ano em comparação com o ano solar real (COIL, 1961, p. 112). Com o passar dos séculos, isso havia gerado uma diferença de dias, e o Papa desejava determinar corretamente a data da Páscoa. Naquele ano de 1582, a quinta-feira do dia 04 de Outubro, foi seguida por uma sexta-feira, dia 15 de Outubro, corrigindo o desvio do calendário anterior, e os anos passaram a ter exatos 365 dias, adotando-se o sistema de anos bissextos para suas correções periódicas. Dessa forma, espera-se colaborar com a redução de confusão resultante do registro de data em atas, documentos e certificados maçônicos brasileiros, matéria essa que deveria ser das mais simples, mas que faz com que até comemoremos o Dia do Maçom no dia errado. Esse é o calendário que dá origem ao formato do dia 20 de Junho de 2013, data que servirá de comparação aos demais calendários. A Maçonaria deve utilizá-lo para todos os documentos, atas e certificados legais e para pranchas e comunicações direcionadas a pessoas ou instituições do mundo profano. 2. Tipos de Calendários 2.1.2. Calendário Judaico 2.1. Calendários Não-Maçônicos Calendário utilizado no Judaísmo, adotado principalmente para as datas religiosas (BASSINI, 2004). Os judeus ortodoxos também utilizam para registrar nascimentos, casamentos e outras datas importantes. Trata-se de calendário no qual os meses são baseados no ciclo lunar, enquanto os anos são baseados no ciclo solar. Dessa forma, os anos se intercalam entre de 12 e 13 meses. Mas é desaconselhada aos corpos maçônicos a utilização desse calendário, visto ser um calendário religioso. Nesse cenário caótico, muitas vezes as Obediências Maçônicas, Lojas e demais corpos maçônicos brasileiros encontram dificuldades e não encontram consenso na adoção dos calendários utilizados em seus certificados. Calendários que não são genuinamente maçônicos, mas suas menções são importantes, visto que servem de base para o cálculo de um ou mais sistemas de datação utilizados na Maçonaria. Há vários outros calendários não maçônicos que foram ou ainda são utilizados em algumas situações, entretanto, por não terem relação direta com os calendários maçônicos apresentados neste artigo, não serão mencionados. No calendário judaico, a data de 20 de Junho FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013. 32 ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES de 2013 é: 12 de Tamuz de 5773. 2.2. Calendários Maçônicos 2.2.1. Calendário da Maçonaria Simbólica A Maçonaria Simbólica, ou seja, as Obediências Maçônicas e suas Lojas, deve adotar o Anno Lucis (Ano da Luz), abreviado como A.´. L.´.. Sua data é calculada acrescentando 4000 anos à data do ano civil corrente. Altos Graus do REAA o sistema de Anno Mundi (Ano do Mundo), A.´. M.´., que é inspirado no Calendário Judaico, apesar de diferente desse. O sistema funciona da seguinte maneira nos dois Supremos Conselhos do REAA norte-americanos: Entre 01 de Janeiro e 31 de Agosto, deve-se adicionar 3760 anos ao ano civil corrente. Já entre 01 de Setembro e 31 de Dezembro, deve-se adicionar um ano extra, ou seja, 3761 anos ao ano civil corrente. Dessa forma, todo ano inicia-se no dia 01 de Setembro do ano anterior e encerra-se em 31 de Agosto do ano corrente, devendo os meses serem mencionados por número ordinal. Assim sendo, Setembro é o 1º mês, Outubro o 2º, Novembro o 3º, e Agosto o 12º. Trata-se de sistema adotado pela maioria dos Supremos Conselhos do Rito no mundo. A adoção do Anno Lucis na Maçonaria Simbólica foi iniciativa de James Anderson, que acreditava que a Maçonaria deveria ter uma forma própria de marcar as datas, diferente de calendários religiosos como o judaico e o gregoriano. Ele tomou por base os Como exemplo, o dia 20 de Junho de 2013 cálculos de um arcebispo anglicano irlandês, James seria 20 do 10º mês de 5773 do A.´. M.´. Ussher, que determinou, com base nos registros bíblicos, que o mundo teve origem no ano de 4.004 a.C. (BARR, 1985). Para facilitar a utilização, Ander- 2.2.3. Calendários do Rito de York son arredondou a criação do mundo para 4.000 a.C. 2.2.3.1. Calendário da Maçonaria Capitular ou do (COIL, 1961, p. 112). Real Arco Dessa forma, tendo como exemplo o dia 20 de Os Graus Capitulares do Rito de York abranJunho de 2013, tem-se: 20 de Junho de 6013 do A.´. gem um sistema de 04 graus: Mestre de Marca, Past L.´.. Esse é o sistema utilizado pelas Grandes Lojas de todo o mundo, e o recomendado às Lojas e Grandes Master, Mui Excelente Mestre e Maçom do Real ArLojas ou Grandes Orientes brasileiros para utilização co. Esses graus são concedidos em Capítulos de Manos certificados de concessão dos graus simbólicos, çons do Real Arco, subordinados a Grandes Capítulos cartas constitutivas e demais documentos que sejam de Maçons do Real Arco, os quais são filiados ao estritamente maçônicos. Sugere-se a utilização desse Grande Capítulo Geral de Maçons do Real Arco Intercalendário no Simbolismo, independente do Rito nacional (General Grand Chapter of Royal Arch Maadotado na Loja, de forma a padronizar a datação de sons International). Esses corpos adotam o Anno Incertificados e cartas constitutivas pelas Obediências, ventionis, que significa “Ano do Descobrimento” e é reduzindo assim possíveis confusões. Dessa forma, os abreviado como A.´. I.´.. Ele é calculado somando 530 calendários específicos dos ritos têm suas adoções anos ao ano civil corrente (COIL, 1961; MACKEY, 1914). Os maçons do Real Arco registram essa data restritas aos seus respectivos Altos Graus. porque foi o ano em que Zorobabel iniciou a construção do segundo Templo, em 530 anos antes de Cristo. A seguinte passagem bíblica está relacionada com 2.2.2. Calendário do Rito Escocês Antigo e Aceito a construção: “Então se levantaram Zorobabel, filho Houve ocasiões no passado em que se verifi- de Salatiel, e Jesuá, filho de Jozedeque, e começaram cou o uso do calendário hebraico em alguns Supre- a edificar a casa de Deus, que está em Jerusalém; e mos Conselhos do REAA, adotando a sigla A.´. H.´., de com eles os profetas de Deus, que os ajudaAnno Hebraico, após a data (MACKEY, 1914, p. 129). vam.” (BÍBLIA, 1969, Esdras 5:2) No entanto, via de regra, atualmente adota-se nos FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013. 33 ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES Como exemplo, o dia 20 de Junho de 2013 é: Para ilustrar seu uso, o dia 20 de Junho de 20 de Junho de 2543 do A.´. I.´. 2013 seria: 20 de Junho de 895 do A.´. O.´. 2.2.3.2. Calendário da Maçonaria Críptica ou da Ma- 2.2.3.4. Calendário da Ordem do Sumo Sacerdócio çonaria de Conselho Mais conhecida no Brasil como a Ordem dos Os Graus de Conselho ou Graus Crípticos do Sumos Sacerdotes Ungidos, essa é uma Ordem conrito de York abrangem um sistema de 03 graus: Mes- cedida àqueles eleitos para servirem como Sumos tre Real, Mestre Escolhido e Super Excelente Mestre. Sacerdotes (Presidentes) de Capítulos de Maçons do Esses graus são concedidos em Conselhos de Maçons Real Arco. É o correspondente no Real Arco à InstalaCrípticos, os quais são subordinados a Grandes Con- ção de um Venerável Mestre Eleito na Maçonaria selhos de Maçons Crípticos, esses últimos filiados ao Simbólica. Na Ordem do Sumo Sacerdócio adota-se o Grande Conselho Geral de Maçons Crípticos Interna- Anno Beneiacio (Ano da Benção), abreviado como A.´. cional (General Grand Council of Cryptic Masons In- Beo.´., que é calculado adicionando 1913 anos ao ano ternational). Esses corpos utilizam o sistema de Anno civil corrente, pois acredita-se que Abraão foi abenDepositionis (Ano do Depósito), cuja sigla é A.´. Dep.´. çoado por Melquisedeque em 1913 a.C.: “Porque ese que é calculado somando-se 1.000 anos ao ano civil te Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote corrente (COIL, 1961; MACKEY, 1914). O uso desse do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão ano é em observância ao ano em que a construção quando ele regressava da matança dos reis, e o abendo Templo de Salomão foi concluída e o Templo foi çoou” (Hebreus 7:1). consagrado, tendo em seu interior depositada a Arca Desse modo, o dia 20 de Junho de 2013 é: 20 da Aliança: “Assim se acabou toda a obra que fez o de Junho de 3926 do A.´. Beo.´. na Ordem dos Sumos rei Salomão para a casa do Senhor; então trouxe SaSacerdotes Ungidos. lomão as coisas que seu pai Davi havia consagrado; a prata, e o ouro, e os objetos pôs entre os tesouros da casa do Senhor.” (Reis I 7:51). 2.2.3.5. Calendário da Ordem dos Cavaleiros SacerAssim, o dia 20 de Junho de 2013 é registrado dotes Templários do Santo Arco Real como: 20 de Junho de 3013 do A.´. Dep.´. Também conhecida como Ordem da Santa Sabedoria, possui uma versão inglesa e outra norteamericana. A inglesa é restrita a maçons que sejam 2.2.3.3. Calendário da Maçonaria Templária ou da Mestres Instalados, Maçons do Arco Real, Cavaleiros Cavalaria Maçônica Templários e professem a fé cristã. Sua versão norteAs Ordens de Cavalaria Maçônica são 03: Or- americana, considerada como um corpo aliado ao dem da Cruz Vermelha, Ordem de Malta e Ordem dos Rito de York, é muito mais restrita, exigindo também Cavaleiros Templários. Essas ordens são concedidas que o candidato tenha servido como Comandante de em Comanderias Templárias, que são subordinadas a uma Comanderia Templária. Essa Ordem utiliza o AnGrandes Comanderias, essas últimas filiadas ao Gran- no Renascenti (Ano do Renascimento), cuja sigla é de Acampamento Templário. Esses corpos usam o A.´. R.´., e no qual se subtrai 1686 anos do ano civil formato de Anno Ordinis, termo em latim que signifi- corrente. ca “Ano da Ordem” e que é abreviado como A.´. O.´.. Exemplificando, o dia 20 de Junho de 2013 É calculado subtraindo 1118 anos do ano civil corren- fica sendo: 20 de Junho de 327 do A.´. R.´. te (COIL, 1961; MACKEY, 1914), visto a Ordem dos Templários ter sido oficialmente fundada no ano de 1.118 (i.e.: AYALA, 2005). FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013. 34 ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES 2.2.4. Calendário do Rito Adonhiramita nhiramita gerava bastante confusão. O termo relacioO Rito Adonhiramita é um rito de origem fran- nado ao ano geralmente utilizado também é o da cesa, cujo calendário foi abolido pelo Grande Oriente Verdadeira Luz: V.´. L.´., ou, em alguns registros do de França em 12/10/1774, por gerar grande confusão Rito Moderno, Vraie Lumiere (MACKEY, 1914, p. 129). em sua datação. Assim, o dia 20 de junho de 2013 é o 20º dia As primeiras Lojas na cidade do Rio de Janei- do 4º mês de 6013 da V.´. L.´. para o Rito Moderno. ro, a Loja “Reunião” e depois a Loja “Comércio e Artes”, trabalharam inicialmente no Rito Adonhiramita, adotando seu calendário original. Já quando do reerguimento da Loja “Comércio e Artes” e sua divisão em três Lojas para a fundação do então Grande Oriente Brasílico, os trabalhos já ocorreram no Rito Moderno. Porém, assim como “o uso do cachimbo deixa a boca torta”, a Loja “Comércio e Artes” por um bom tempo teve suas atas datadas ainda pelo calendário do Rito Adonhiramita, o que originou, anos depois, a confusão do Dia do Maçom. 3. Comentários Finais A Maçonaria Brasileira é, sem dúvida alguma, uma das mais “bem servidas” em se tratando de ritos maçônicos, como bem evidencia João Guilherme da Cruz Ribeiro (2012, p. 11). Com exceção do Rito Brasileiro que, por coincidência ou não, parece não possuir calendário próprio, os demais ritos em prática no Brasil são sistemas importados, a maioria chegando ao Brasil ainda no século XIX. E cada rito, ou mesmo segmento de rito, chegou com sua própria história, O sistema do Calendário Adonhiramita tem seus próprios termos, paramentos e regras de funciopor base o início do ano no dia 21 de Março, fixando namento, resultantes de diferentes origens, inspiranesse dia o Equinócio Vernal. Soma-se então ao ano ções e influências. 4000 anos, como no calendário maçônico original, Iniciativa inaugurada por James Anderson, criado por James Anderson. O termo utilizado para designar o ano também é “Verdadeira Luz”, similar quando da Primeira Grande Loja de Londres, o priao termo adotado por Anderson, de Anno Lucis (Ano meiro calendário maçônico, por sinal muito simples de se utilizar, tinha por objetivo claro dar uma identida Luz). dade própria ao registro das datas maçônicas, numa Considerando esse sistema, o dia 20 de Junho época em que ritos formalmente ainda não existiam. de 2013 é o 31º dia do 3º mês de 6013 da V.´. L.´., no Conforme foram surgindo, cada rito parece ter utiliRito Adonhiramita. zado da mesma estratégia para deixar sua marca na datação dos documentos e registros maçônicos. 2.2.5. Calendário do Rito Moderno O Rito Francês, também conhecido como Rito Moderno, foi adotado no Grande Oriente da França quando de sua Convenção de 1786 (i.e.: COIL, 1961, p. 268; MACKEY, 1914, p. 285). O calendário do Rito Moderno é o calendário tido como oficial no âmbito do Grande Oriente de França desde 1774, em substituição do calendário do Rito Adonhiramita. Esse calendário era baseado no sistema adonhiramita, com a diferença de que se passou a adotar como primeiro dia do ano o dia 1º de março (COIL, 1961, p. 113), e os meses passaram a ser contados pelo número ordinal. Isso facilitava no cálculo, visto que o sistema ado- Nos últimos anos, muitos desses calendários maçônicos têm caído em desuso. E quando utilizados, geralmente são acompanhados pela data no formato do calendário civil. Por esse motivo, não é de se estranhar que muitos maçons, mesmo com algumas décadas de experiência, desconheçam o funcionamento dos mesmos, até mesmo quando adeptos de um dos ritos que os possui. Portanto, que este trabalho não sirva apenas para saciar a curiosidade daqueles que o leem, ou para servir de orientação quando se desejar confeccionar um certificado maçônico com certo requinte, senão para também registrar, de forma sucinta e or- FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013. 35 ISMAIL, K. OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES ganizada, um dos elementos que compõem a história dos ritos aqui citados e que pode simplesmente se perder nas brumas do tempo. 4. Referências Bibliográficas AYALA, Carlos Martinez – “Origem, Significado e Tipologia das Ordens Militares”, As Ordens Militares na Europa Medieval, dir., por Feliciano Movoa Portela, 1ª ed., em Portugal, Lisboa, Chaves Ferreira – Publicações S.A., 2005 BARR, J. 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FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 31-36, Set/Dez, 2013. 36 ISSN 2318-3462 Recebido: 13/10/2013 Aprovado: 02/12/2013 O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS Luiz Franklin de Mattos Silva¹ Resumo O presente artigo aborda a questão da régua de 24 polegadas e o conceito filosófico do tempo, buscando afirmar que o instrumento conferido ao aprendiz maçom contém diversos elementos de contemplação dos filósofos gregos. O artigo ressalta que o maçom, ao usar a régua como um instrumento cotidiano pode obter "tempo" para a vida maçônica e familiar, evitando-se a ausência em ambos os ambientes. Palavras-chave: Filosofia; Régua de 24 polegadas; tempo. Abstract This article addresses the question of the 24 inches ruler and the philosophical concept of time, seeking to affirm that the instrument given to Entered Apprentice contains many elements of contemplation of the Greek philosophers. The article emphasizes that the freemason, using the ruler as an everyday tool, can get "time" to the masonic and family life, avoiding the absence in both environments. Keywords: Philosophy; 24 inches ruler; time. ¹ Luiz Franklin de Mattos Silva é biólogo, Mestre em Zoologia pelo INPA e Doutor em Biologia de Água Doce pelo INPA/Roseinstel School of Marine Science. Mestre Instalado, é membro da Loja Maçônica “Acácia de York No. 52”, Sumo Sacerdote do Capítulo “York No. 40” de Maçons do Real Arco e Grande Secretário de Planejamento Estratégico do GOIRJ. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013. 37 SILVA, L. F. M. O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS A Questão do Tempo A maioria das pessoas, lógico supor, admite uma compreensão intuitiva do tempo. Pra essa maioria o tempo é algo ao mesmo tempo cotidiano, empírico, científico, fácil e complexo, poético e assustador, sentimental ou frívolo. Após a cerimônia de iniciação maçônica, no primeiro grau da Ordem, o Aprendiz Maçom recebe uma régua, ou é instado a pensar sobre a utilidade de “uma régua de 24 polegadas”, que, devidamente dividida em três partes iguais, deve remetê-lo a adequar a utilização do tempo cotidiano. A Maçonaria a adota porque simboliza o dia com suas vinte e quatro horas, exigindo dos maçons uma adequada utilização das horas do dia. Falamos do ontem, do hoje e do amanhã. Referenciamos no passado de nossas vidas, para hoje planejarmos e pensamos no futuro de nossas famíNo campo maçônico a graduação nela colocalias. Enfim, existe um tempo que passa ao mesmo da de vinte e quatro polegadas, serve para mensurar tempo em que outros passam o tempo. o tempo, as vinte e quatro horas do dia, em que o Para muitos o passado como tempo é história homem deve distribuir suas atividades. No Rito de e o futuro especulação. O hoje e o agora não existem, York, a “cautela” ganha importância na vida do masendo apenas uma referência de segundos entre o çom. Associar, portanto, a cautela à régua de 24 polegadas nos parece ser um bom caminho para explopassado e o futuro. Deus é, diriam alguns, logo não existe passado rarmos o conceito de tempo. Um maçom deve usar, no cotidiano de sua ou futuro na mente de Deus. Talvez por isso Santo Agostinho tenha escrito em suas Confissões: “O que é existência, as 24 polegadas como representação de o tempo? Se ninguém pergunta, sei o que ele é; mas 24 horas, divididas em três partes de 8 horas: descanse alguém me pergunta e tento explica-lo, já não sei so, trabalho e solidariedade. mais.” (SANTO AGOSTINHO, 1997). Assim, deve de certa forma dividi-las entre Poderíamos, partindo da premissa acima, con- suas atividades matinais, nem sempre realizadas, cosiderar que o tempo é algo ou objeto de difícil defini- mo sua primeira refeição diária, às vezes esquecida. ção, podendo apresentar diversos conceitos e abor- Outras horas dedicadas ao seu trabalho; à necessária dado de formas diferentes, dependendo do ramo da recreação, muitas das vezes não considerada; suas ciência, seja arte, geometria, biologia, astronomia, reflexões, em geral pouco ou mal aproveitadas; e o merecido repouso, como nos prega a mensagem mamatemática, física, sociologia e filosofia. Não se pretende neste artigo uma abordagem çônica. E as outras oitos horas servindo a Deus ou a sobre cada um desses aspectos, mas apenas demons- algum necessitado. Filosoficamente, poderíamos dizer tratar-se trar que o simbolismo da régua de 24 polegadas, em especial no Rito de York, possui profunda atualidade de um caminho entre a norma e a ordem, entre o que se quer fazer e o que se deve fazer, entre o passifilosófica sobre o que concerne ao tempo. onal e o racional, entre a direção da ponta do malho ao topo do cinzel. Indica a própria construção do hoA Régua de 24 polegadas na Maçonaria mem, a lapidação de sua forma mais bruta em busca A primeira observação que fazemos é quanto da perfeição (RAGON, 2005). às características básicas da régua, um instrumento O exercício na separação de cada tempo, dansimples, milenar, que nos ensina, de uma forma mais do o ritmo necessário para cada etapa, faz com que o simples ainda, o caminho direto entre dois pontos, homem evolua, cresça, se realize e desenvolva habilidois destinos. Com a régua medimos um seguimento dades que de outra forma poderia pensar ser imposdo infinito. Uma parte de nossa vida. A retidão que sível realizá-las. buscamos. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013. 38 SILVA, L. F. M. O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS A constante assertiva de muitos maçons contemporâneos de que “não tem tempo”, quer para ir à Loja ou realizar atividades de filantropia, demonstra uma não utilização dos princípios maçônicos sobre a administração do tempo (ALCÂNTARA FILHO, 2012). Ele formula uma questão-chave: “O tempo poderia existir sem a alma e o pensamento, que são os verdadeiros sujeitos de toda a medição? (218b)”. Depois de uma análise desta questão, ele mesmo formula a resposta afirmando que isso poderia ser váliSegundo os conceitos filosóficos do simbolis- do para todas as coisas, menos para o tempo e o momo maçônico, “tempo obtido” seria uma vitória pes- vimento. soal, inigualável, uma capacidade de autogestão, ou a As respostas acima seriam analisadas séculos pura demonstração da vontade, de responsabilidade depois por Santo Agostinho. Mas, retornando a Arise do reconhecimento de si própria. Um caminho que tóteles, podemos ressaltar a definição de seu objeto: se propõe reto é íntegro e honesto. Cada nova ação “O tempo, se não é o próprio movimento, é seu núproposta deverá ser bem estudada, analisada, e, para mero calculado, isto é o resultado da medição” (219). ser edificada, basta incluí-la nos intervalos de cada Assim ganhamos consciência do tempo pelo fato do ponto de nossa régua, utilizando para isso os princí- movimento representar uma sucessão contínua, defipios éticos que envolvem a liberdade, a igualdade e a nida como um antes e um depois, ou seja, “O tempo fraternidade (BAYARD, 2004). é o número do movimento conforme o antes e o deNo campo simbólico, junto ao malho e o cin- pois” (219b). zel, a régua forma um conjunto de ferramentas ou instrumentos que devem ser usados pelo Aprendiz em seu trabalho, como Rito Escocês Antigo e Aceito. Já no Rito de York, mais antigo que esse, a régua de 24 polegadas está associada ao “martelo de corte”, um instrumento muito mais apropriado ao trabalho no “desbastar” da Pedra Bruta. Lógico que já evidenciamos esses conceitos aristotélicos no simbolismo da régua de 24 polegadas, no sentido de podermos medir numericamente um espaço de movimento menor (ciclo de oito horas) durante um dia (três ciclos de oito horas). Analogamente, no item 223-b da mesma obra, Aristóteles diz que “a locomoção circular (o moDe qualquer forma, a régua era usada pelos vimento dos astros no céu) é a melhor medida, pormaçons operativos, àqueles que remontam das len- que seu número é o mais conhecido”, o que também das míticas aos construtores de templos, para execu- remete a simbolismo maçônico, do Rito Escocês. tar um trabalho de precisão na construção, medindo, Heidegger (2012), ao citar Platão, afirmou que delineando, ajustando o traçado ou limites do corte o tempo nasceu quando um ser divino colocou orde uma determinada pedra para uma construção es- dem e estruturou o caos primitivo. O tempo tem, pecífica. portanto, de acordo com Platão, uma origem cosmoO Tempo: Primeiros Conceitos lógica. Ele procura estabelecer a distinção entre o "ser'' e o "não ser''. O mundo do "ser'' é fundamental e não está sujeito a mutações. Ele é, portanto, eternamente o mesmo. Este mundo, entretanto, é o mundo das ideias, apreensível apenas pela inteligência e pode ser entendido utilizando-se a razão. O mundo do “não ser’’ faz parte das sensações, que são irracionais, porque “dependem essencialmente de cada pessoa” (LUCE, 1994). Aristóteles (1995), em sua obra “Physique IV, Tratado do Tempo”, faz uma reflexão sobre a realidade física do tempo, aquela que é medida pelos relógios, dando inclusive a impressão que descarta o tempo psicológico, demonstrando que o tempo é uma ilusão. Para ele, o momento presente, como “instante”, não pode existir para o homem, pois não O domínio do tempo estaria nesse segundo pode ser percebido instantaneamente, como no somundo, assim como tudo o que se observa no univernho (BURNET, 1994). so físico, tendo assim uma importância menor. Talvez FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013. 39 SILVA, L. F. M. O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS se existem nas representações de nossas mentes, eles o fazem na forma presente, pois é no presente que concebemos ou imaginamos o futuro e nos recordamos do passado (cap. XVII)”. (ABRÃO & COSCODAI, 1999). possa ser dito que para Platão o tempo essencialmente não existe, uma vez que faz parte do mundo das sensações. O Tempo da Alma Platão (2002), em Timeu, afirma que o “deus quis que todas as coisas fossem boas”. Portanto, para A humanidade tem necessidade de medir o ele, esse deus: que ela concebe como tempo. A régua de 24 polega*...+ teve a ideia de criar uma espécie das expressa essa necessidade. Portanto, deve ser de imagem móvel da eternidade, e, dividida em 3 partes iguais, pois aqui o tempo se enquanto organizava o céu, criou à apresenta como número e, como todos os números, semelhança da eternidade imutável em sua unidade, uma imagem em indicando quantidade – quer de tempo ou de horas – eterna evolução, ritmada pelo nú- não passa de um produto prático de pensamento. mero; e é isto que chamamos de tempo. À constituição do tempo, ele combinou o nascimento dos dias, das noites, dos meses e do ano (Platão. Timeu e Critias ou Atlântida, 2002). Considerações Finais A natureza do tempo tem sido um dos maiores problemas desde a antiguidade, quer no que concerne a medição, passagem, fluidez, linearidade ou circularidade, se divino, cósmico ou meramente físiEsses princípios mostram a universalidade do co. ensino simbólico da Maçonaria, em especial na régua Acredita-se cada vez mais que ele é uma das de 24 polegadas, pois o ciclo se repete, a cada 8 medições numéricas, num ciclo ininterrupto de 3 medi- propriedades gerais do pensamento humano ou uma ções. Ou seja, a cada hora, a cada dia, mês e ano. En- se suas exterioridades e que, para a compreensão e fim, a régua e os conceitos platônicos nos remetem a entendimento de nossa humanidade, precisa ser dividido em três dimensões lineares: o passado, o prenossa própria vida e eternidade. sente e futuro. Santo Agostinho (op. cit) oferece-nos outra Sabemos que devemos a máxima de “nunca reflexão sobre o tempo onde ele opõe a eternidade nos banhamos duas vezes no mesmo rio” a Heráclito imóvel num eterno presente e o tempo que passa. Para ele o “Verbo” eterno é o criador de todos os (1988), que é o filósofo da transformação e do movitempos em que a criação pode ocorrer. E no capítulo mento perpétuo. Conceito que reforça o princípio de XIII afirma que não havia tempo antes que o tempo que a divisão igual em 24 partes da régua, embora existisse, mostrando que o futuro não existe ainda, o repetida cotidianamente pelos maçons, nunca terá o passado já não existe mais e presente vai desapare- mesmo objetivo, pois se renova automaticamente, ao cer a medida que o tempo avança, sendo portanto final de cada ciclo de 24 horas. efêmero. Mesmo sendo uma contraposição ao pensaOutra contribuição de Agostinho é que do mento de Platão (op. Cit), que, ao defender um “ciclo tempo “psicológico” de Aristóteles constrói a ideia de mítico de eterno retorno”, onde o tempo era um movimento cíclico e assíduo, pois aquilo que acontecia tríade: no passado era repetido e retornava (VERNANT, *...+ passado-presente-futuro que não existem em atos, mas nas re- 1992), a régua de 24 polegadas reafirma um conceito presentações de nossas mentes, e de que a repetição insensata de pensamentos e FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013. 40 SILVA, L. F. M. O CONCEITO FILOSÓFICO DE TEMPO E A RÉGUA DE 24 POLEGADAS ações, diariamente, traz infortúnios. Na perspectiva de Kant, o tempo é uma estrutura da relação do sujeito com ele próprio e com o mundo, uma forma “a priori” da sensibilidade, uma espécie de intuição pura e ao mesmo tempo, uma noção objetiva de observação e não extraído da experiência, ou seja, um dos limites para o conhecimento no plano da sensibilidade. Independente do valor material, físico e matemático da medição do tempo, relacionando-o ao passado, presente ou futuro, a medida que o tempo se torna subjetivo ou psicológico, cada ser humano pode vivenciá-lo numa situação agradável, desagradável, lenta, rápida, penosa ou alegre. Conclui-se portanto que o homem, pela sua condição de mortal, é afetado por processos diferentes do que ocorrem no espaço infinito. HEIDEGGER, M. Platão, o Sofista. São Paulo: Editora Forense Universitária, 2012. LUCE, J.V. Curso de Filosofia Grega. Trad. M.G. Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. PLATÃO. Timeu e Critias ou Atlântida. Rio de janeiro: Hemus Editora, 2002. RAGON, J. M. Ritual do Aprendiz Maçom. 8ª Ed. São Paulo: Pensamento, 2005. SANTO AGOSTINHO. Confissões. Rio de Janeiro: Editora Paulus, 1997. VERNANT, J. P. As origens do Pensamento Grego. Trad. I.B.B. da Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 7ª ed., 1992. Há uma assertiva na Maçonaria brasileira de que “somos todos aprendizes”. Sendo assim, a régua de 24 polegadas, pelo menos teoricamente, nos acompanha sempre. Se seu simbolismo é usado junto com a nossa capacidade mental de reter acontecimentos e imagens passamos a ter uma condição fundamental para as características fundamentais da vida social, o que inclui obrigatoriamente a necessidade de “tempo” para nós mesmos e para nossas famílias. Referências ABRÃO, B.S.; COSCODAI, M.U. História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. ALCÂNTARA FILHO, N. Irmãos, Ajudai-me a Abrir Loja. São Paulo: Madras, 2012. ARISTÓTELES. Physique IV, Traité du temps. Paris: Kimé, 1995. BAYARD, J. P. A Espiritualidade da Maçonaria: da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências. São Paulo: Madras, 2004. BURNET, J. O Despertar da Filosofia Grega. Trad. M. Gama. São Paulo: Siciliano, 1994. HERÁCLITO. Fragments et Témoignages, Les Présocratiques. Paris: Gallimard, 1988. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 37-41, Set/Dez, 2013. 41 42 ISSN 2318-3462 Recebido: 07/10/2013 Aprovado: 13/12/2013 Resenha da Minissérie: THE PILLARS of the Earth. Direção: Sergio Mimica-Gezzan. Produtor: John Ryan. Produção: Tandem Communications, Muse Entertainment e Scott Free Films. Roteiro: John Pielmeier. Concepção: Ken Follett. Minissérie da Netflix, 8 episódios (411 min.), original em inglês (UK), legendado (PT-BR e ESP). Classificação 16 anos. Página oficial http://www.the-pillars-of-the-earth.tv. . A produção germano-canadense “Os Pilares da Terra”, baseada no livro homônimo de Ken Follett1, publicado originalmente em 1989 na Inglaterra, pode ser classificado como uma ficção histórica ou drama épico. Teve sua primeira transmissão de 23 de julho a 27 de agosto de 2010 pelo canal canadense The Movie Network. Hoje a minissérie de 8 episódios está disponível na TV por internet da empresa Netflix2 e pode ser adquirida também em DVD ou Blu -ray distribuídos pela Paramount. também ficcional3. Situada entre os anos de 1120 e 1170 a história traz alguns personagens que encarnam o Bem e o Mal de uma forma um tanto maniqueísta, mas também a luta íntima de alguns deles para submeter seus vícios e conquistar virtudes por sua fé manifestadas através do sacerdócio ou do trabalho na pedra bruta. Podem ser apontadas alguns anacronismos na série4, como, por exemplo, a estátua de Santo Afonso ser representada como São Dinis de Paris, mas ainda asSeu enredo traz a história de construtores de sim apresenta boa coerência histórica. catedrais do século XII no sul da Inglaterra e a luta A série não se refere, em nenhum momento, entre o Bem e o Mal, enquanto se desenvolve a cons- explicitamente à Franco-Maçonaria. É preciso lemtrução da catedral de Kingsbridge, um pequeno cen- brar que a Grande Loja de Londres e Westminster, tro de peregrinação que possui as relíquias de Santo embrião da Grande Loja da Inglaterra Afonso. Tem por pano de fundo traição, intrigas, con- (posteriormente, em 1813, Grande Loja Unida da Inflitos religiosos, guerras e a luta pela sucessão no po- glaterra), foi fundada somente em 1717. A Grande der. Filmado na Áustria e na Hungria em 2009, essa Loja de Toda Inglaterra, também chamada de Grande catedral de Kingsbridge é fictícia, não precisa procu- Loja de York, que não possuía uma estrutura organirar no Google Maps, mas a cidade realmente existe. zada como Grande Loja, teve início em 1705. As refeKingsbridge é uma cidade estuarina, no distrito de rências maçônicas mais próximas que temos da MaDevon, com uma população de menos de 6.000 habi- çonaria como associação organizada é a Loja Kilwintantes, desenvolvendo um importante mercado de ning n. 0 (Loja Mãe da Escócia), fundada em 1140, comércio de lã, como apresentado no filme, mas isso portanto, não espere ver nessa obra a Maçonaria em somente no século XVIII. Mas o autor do romance no sua forma institucionalizada como é atualmente. Talqual se baseia a série afirma que a sua Kingsbridge é vez uma referência mais fiel de como as guildas da 1 2 3 4 FOLLETT, Ken. Os Pilares da Terra. Trad. Paulo Azevedo. Rio de Janeiro: Rocco, 2012, 944 páginas. http://movies.netflix.com/WiMovie/The_Pillars_of_the_Earth/70241611 http://ken-follett.com/bibliography/the_pillars_of_the_earth/kingsbridge.html http://en.wikipedia.org/wiki/The_Pillars_of_the_Earth#Historical_accuracy FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 43-45, Set/Dez, 2013. 43 MONTEIRO, R. C. THE PILLAR OF THE EARTH (review) Idade Média operavam possa ser obtida em “As origens da Maçonaria”, de David Stevenson5, em seu capítulo ’A Contribuição Medieval’. O primeiro maçom especulativo de que se tem registro teria sido Elias Ashmole, iniciado em 16 de outubro de 1646 em Warrington (Lancashire) na Inglaterra, 500 anos depois dos relatos em “Os Pilares da Terra”, portanto, bem mais tarde. Desta forma, “Os Pilares da Terra” retrata a Maçonaria em seu período operativo e sua riqueza de detalhes é o que a torna esse thriller épico impressionante. É uma viagem aos primórdios dessa Arte. Sem usar o termo Maçonaria, a série retrata com fidelidade o trabalho dos maçons no canteiro de obra. Situado no período da Anarquia, (onde tem início a disputa pelo poder entre o Rei Stephen de Blois e a Imperatriz Matilda com a morte do Rei Henrique I, o maçom Tom Builder toma suas ferramentas e parte para o sudoeste da Inglaterra com a família em busca de trabalho. No caminha encontra o jovem Jack, que tem um dom para a cantaria e o toma por seu aprendiz. Com o incêndio da catedral românica do priorado de Kingsbridge, Tom e seu aprendiz assumem a construção de uma nova catedral, impondo a ela o estilo gótico. A sucessão pelo poder temporal e espiritual na série (rei-conde e prior-bispo-arcebispo) se dá por assassinatos, intrigas e traição, mas “Os Pilares da Terra” não deixa de abordar também a sucessão do cargo de Mestre de Obras da construção da Catedral de Kingsbridge, que combinado com as lutas por poder nos leva a reflexões sobre as disputas pelo poder da Franco-Maçonaria nos dias atuais. Cooptação de obreiros, fraudes em eleições, tentativas de manutenção vitalícia em cargos eletivos, emendas constitucionais para adequar possibilidade de reeleição são temas por vezes tratados em bastidores nas Lojas e conversas informais e à boca miúda, até para evitar retaliação, perseguições ou mesmo por falta de evidência mais clara que as comprove. Contudo, a série também retrata o trabalho por ideal, na construção de uma organização verdadeiramente democrática, onde a livre expressão é garantida, como exemplificado nas reuniões do priorado. Nas oficinas maçônicas também não são poucos os irmãos que trabalham por um ideal, zelosa, sincera e fielmente devotados ao trabalho de edificação de uma Loja ativa, que contemple seus propósitos de desenvolvimento do ser humano em seus diversos aspectos, buscando uma política clara, compondo candidaturas com um plano baseado em meios possíveis e metas e prazos exequíveis, favorecendo a escolha mais adequada de seus gestores pelos maçons eleitores.6 A viagem de Tom Builder em busca de trabalho reflete o aspecto livre (franco, daí o nome de Franco-Maçonaria) do mestre maçom em poder transpor fronteiras para assumir empreendimentos em outras terras. A minissérie não de atem ao aspecto da organização das guildas, embora retrate parte disso quando Jack vai procurar trabalho como artesão em Saint-Denis, ao norte de Paris, e obtém de seu mestre o livro de Euclides, provavelmente “Os Elementos”. O Poema Régio (ou Manuscrito Halliwell), com data provável de 1390, relata a mítica Assembleia Geral dos Maçons em York organizada por Edwin, a pedido do seu pai (ou irmão?), o Rei Athelstan da Inglaterra, no ano de 926. Sendo verdadeiro esse mito, talvez possamos admitir que Edwin tivera sido o primeiro maçom especulativo e talvez até Grão Mestre, tendo compilado os Antigos Deveres (Old Charges) e agindo como patrono da Arte Real. Nessa Assembleia de York teria sido aprovado um código de leis (15 artigos e 15 pontos) que se tornou a base sobre a qual todas as constituições maçônicas subsequentes foram enquadradas. Embora não se comprove a existência dessa “reunião sindical”, outros manuscritos como Cooke (1450), trazem maiores detalhes que o 5 STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria: o século da Escócia (1590-1710). Trad. Marcos Malvezzi Leal. São Paulo: Madras, 2009, 286 p. ISBN 978-85-370-0500-2. 6 ISMAIL, Kennyo. MAÇONARIA: Democracia e Meritocracia no Mundo Ocidental. 2013. 8 p. Disponível em: <http://pt.scribd.com/ doc/144981846/MACONARIA-DEMOC-e-MERITOC-Kennyo-Ismail-pdf>. Acesso em: 20 set. 2013. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 43-45, Set/Dez, 2013. 44 MONTEIRO, R. C. THE PILLAR OF THE EARTH (review) próprio Poema Régio. Para os que buscam detalhes no tema, o Rito de York possui nos Graus Maçons Aliados (AMD) a Ordem Maçônica de Athelstan, relacionada diretamente a esta lenda e aberta somente a Maçons do Real Arco. catedral no nascer do Sol e na discussão sobre como evitar que a abóbada de cruzaria de pedras desabe. A série é repleta de detalhes que fizeram o “segredo maçônico” desses primeiros obreiros, talvez muito semelhante ao segredos profissionais e corporativos Entre a diversidade de aspectos relatados na de hoje em dia, sejam os aprendidos na academia ou minissérie, explorada no perfil de muitas persona- na experiência do dia-a-dia, informação operacional gens, destacamos o cotidiano do trabalho na edifica- ou estratégica. ção da Catedral de Kingsbridge: a importância da Vale a dica de assistir à minissérie e, porque existência de peregrinos que provêm doação para a não, ler ao livro. construção da igreja e o atrativo de um mercado local forte, quando errônea e muitas vezes nos lembramos somente das famílias que por orgulho e vaidade osRubens Caldeira Monteiro tentavam poder patrocinando essas grandes obras; a VM da Loja de Pesquisas Rio de Janeiro nº 54 - GOIRJ localização estratégica de recursos como pedreiras e MRA, SEM, KT florestas para garantir o suprimento de materiais; a Grande Secretário de Relações Exteriores do GOIRJ logística para transporte de materiais, hospedagem e alimentação dos trabalhadores; a dificuldade de pagamento do salário; o conhecimento especializado restrito aos mestres, como a geometria de Euclides e seu caráter experimental. Aliás, outra obra que não pode ser esquecida para buscar revelar o cotidiano do trabalho nos canteiros de obra dessa fase operativa, é “Johaben: Diário de um construtor do Templo”, romance histórico da “Trilogia do Templo” de Zé Rodrix. A série apresenta ainda aspectos arquitetônicos do estilo gótico nascente na Alta Idade Média (900 a 1300), trazendo novidades desse estilo como o verticalismo e a iluminação em profusão, arcos ogivais, abóbada de cruzaria, arcobotantes e contrafortes, pináculos e gárgulas e a substituição das espessas paredes românicas por uma estrutura leve com vitrais e rosáceas, indicando a influência da arquitetura francesa no sul da Inglaterra, todos esses elementos mesclados com o enredo. As ferramentas do Mestre Maçom operativo são seu grande tesouro e o valor simbólico delas é enfatizado quando a caixa de ferramentas de Tom Buider é tomada por seu filho Alfred. Preste atenção no uso das ferramentas para o posicionamento da 7 RODRIX, Zé. JOHABEN: Diário de um construtor do Templo. vol.1. Rio de Janeiro: Record, 1999, 448 páginas. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 43-45, Set/Dez, 2013. 45 46 ISSN 2318-3462 Recebido: 02/12/2013 Aprovado: 07/12/2013 Notícia: O ASTRONAUTA BRASILEIRO É INICIADO NA MAÇONARIA GOIRJ recebe astronauta na Ordem e declara que ele, é composta de homem respeitáveis e de valor homens de valor sempre compuseram seus quadros. para a sociedade. Perguntado se já conhecia a Maçonaria, o Comandante afirmou que já havia sido conviNa tarde de um belo sábado, dia 30 de no- dado outras vezes para compor os quadros de outras vembro, na cidade de Petrópolis, no Estado do Rio de Potências maçônicas, mas foi naquele momento que Janeiro, o Grande Oriente Independente do Rio de achou mais apropriado fazê-lo. Janeiro – GOIRJ, principal representante da Maçonaria fluminense, promoveu a iniciação de sete candidatos eleitos para compor os quadros da Ordem. Entre eles estava ninguém menos do que o Comandante Marcos Cesar Pontes, primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço. O convite à iniciação foi promovido pela Loja Maçônica “Jaques DeMolay nº 50” - GOIRJ, localizada na cidade de Petrópolis, que pratica o Rito de York (o legítimo, Americano). A sessão foi realizada na devida forma, de acordo com os rituais tradicionais da Maçonaria, e estiveram presentes representantes das três Potências Regulares fluminenses. Ao final de seu processo de iniciação, o comandante Marcos conheceu de perto os jovens integrantes da Ordem DeMolay, instituição juvenil de caráter filosófico e filantrópico patrocinada pela Maçonaria. Os jovens DeMolays realizaram uma demonsO comandante Marcos Pontes, ao final inicia- tração pública, na qual emocionaram os convidados ção, declarou-se bastante empolgado com a possibili- presentes com a apresentação de suas virtudes e hisdade de participar da Ordem Maçônica, que, segundo tória. O evento contou também com a presença do Soberano Grão Mestre do GOIRJ e Vice-presidente da Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, Irmão Antônio Carlos Raphael. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 47-48, Set/Dez, 2013. 47 GONÇALVES, E. V-E. O ASTRONAUTA BRASILEIRO É INICIADO NA MAÇONARIA Marcos Pontes ficou emocionado com a apresentação dos jovens. Os DeMolays fizeram declarações emocionadas, como a de que, juntamente com o Ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, Marcos Pontes era uma das personalidades brasileiras que servem de exemplo para os jovens da Ordem, sempre citado como exemplo de honestidade, ética, valores positivos de coragem e determinação. É a prova viva de que não se deve desistir de um sonho. Mesmo que esse sonho seja o espaço sideral. Erick Van-Erven Gonçalves Jornalista Mestre Maçom da Loja Francisco C. Xavier No. 55 Assessor de Impressa do Grão-Mestre - GOIRJ FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 47-48, Set/Dez, 2013. 48 ISSN 2318-3462 Recebido: 18/11/2013 Aprovado: 29/11/2013 Relato de Evento: York Rite Brazil 2013 - Manaus-AM Introdução O Rito de York americano é praticado no simbolismo, nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, como em qualquer outro Rito praticado no Brasil. Assim, toda Loja de York, também conhecida como Blue Lodge, inicia profanos no grau de Aprendiz, realiza a Passagem do Aprendiz ao grau de Companheiro e faz a Elevação do Companheiro para o grau de Mestre. Logo, o Rito de York está sob a Jurisdição de uma Potência Maçônica. Seus graus superiores, no caso brasileiro, estão subordinados ao Supremo Grande Capítulo de Maçons do Real Arco do Brasil, Jurisdicionado ao General Grand Charpter of Royal Arch Masons International e ao Supremo Grande Conselho de Maçons Crípticos do Brasil, jurisdicionado ao General Grand Council of Cryptic Masons International. Ambos, evidentemente, independentes de Potências Simbólicas. Superiores, constituídos por Lojas de Perfeição (4º ao 14º), Capítulos Rosa Cruz (15º ao 18º), Conselho de Cavaleiros Kadosch (19º ao 30º), Consistório de Príncipes do Real Segredo (31º ao 32º) e Supremo Conselho (33º), os graus superiores de York ¹ são concedidos em Corpos assim denominados: Capítulos de Maçons do Real Arco (Mestre de Marca, Past Master, Mui Excelente Mestre e Maçom do Real Arco), Conselhos de Maçons Crípticos (Mestre Real, Mestre Escolhido e Super Excelente Mestre), Comanderia Templária (Ordem da Cruz Vermelha, Ordem dos Cavaleiros de Malta e Ordem dos Cavaleiros Templários). Esses graus são concedidos nos diversos Estados da federação que têm Capítulos e Conselhos instalados, sendo que os graus Crípticos só podem ser concedidos até ao grau de Mestre Escolhido, sendo o grau de Super Excelente Mestre e as Ordens de Cavalaria concedidas uma vez por ano em encontro nacional realizado em uma cidade da federação, normalA fundação do Supremo Grande Capítulo de mente capital de Estado. Maçons do Real Arco se deu há 13 anos, no dia 1º de janeiro de 2001, sendo sua Carta Constitutiva outorgada em 24 de maio de 2001. Sua sede está localiza- O Encontro de 2013 da na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. No ano de 2013 a cidade escolhida para o encontro do Rito de York foi Manaus, sendo o período Diferentemente dos outros Ritos, o de York não trata seus graus por números, 1º grau, 2º grau, de sua realização de 14 a 17 de novembro, consti8º grau e sim pelo nome de cada um deles, Aprendiz, tuindo-se em tradição a escolha da data incluindo o Companheiro, Mestre de Marca, Super Excelente dia 15 de novembro. Assim sendo, realizou-se a Reunião Anual das Comanderias de Cavaleiros TempláMestre, etc. rios do Brasil, do Supremo Grande Conselho de MaSabemos que os três primeiros graus, ou çons Crípticos do Brasil e do Supremo Grande Capítugraus simbólicos, são comuns a todos os Ritos, e por lo de Maçons do Real Arco do Brasil. isso recebem também a denominação de graus uniA cidade de Manaus, localizada na maior floversais. Comparando com o REAA, cujos graus superiresta tropical do mundo, na confluência dos rios Neores são concedidos pelo que chamamos de Corpos FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 49-50, Set/Dez, 2013. 49 FERREIRA, J. R. YORK RITE BRAZIL 2013 IN MANAUS gro e Solimões, a -03º08’05” de latitude Sul e 60º01’24” de longitude Oeste, cujo limite ao norte é com o município de Presidente Figueiredo, ao Sul com o município de Careiro, a Leste com o município de Rio Preto da Eva e Itacoatiara e a Oeste com o município de Novo Airão, está a 3.490 km da Capital federal e a 4.638 km do Rio de Janeiro. Constitui-se no maior centro, financeiro, econômico e corporativo da região Norte do Brasil, possuindo um potencial turístico que a torna uma das cidades brasileiras mais visitadas por turistas estrangeiros e a décima cidade mais visitada pelos brasileiros. Tem grande peso em nossa história e ainda hoje atrai muita curiosidade para quem a visita. uníssono a canção Amigos Para Sempre, demonstrando que a família é fundamental para todos nós e que devemos sempre nos unir pois na verdade somos apenas um. Em toda reunião anual do Rito de York, contase com a presença de muitas autoridades maçônicas, principalmente do Grande Sumo Sacerdote Geral do Grande Capítulo Geral de Maçons do Real Arco Internacional, Companheiro Ted Harrison, e dos representantes do Grão-Mestre do Grande Acampamento de Cavaleiros Templários Internacional, o Grande Secretário, Irmão Larry Tucker, e o Eminente Comandante do Departamento de Comanderias Subordinadas, Irmão Edward Trosin, que é Past Grão Mestre da GranAssim e de acordo com a programação, foi de Loja do Estado de New York. realizada, na quinta-feira, 14 de novembro de 2013, o credenciamento dos irmãos e suas comitivas e a reunião com os dirigentes de Capítulos, Conselhos e Co- Considerações Finais manderias, onde normalmente são apresentadas as Todo evento como um encontro como esse, conclusões do ano em curso e as metas para o ano que deve ter congregado perto de 150 pessoas, exige vindouro, culminando com a solenidade de abertura uma organização muito grande e muitos erros, confuoficial, onde houve a linda apresentação folclórica do sões e desencontros acontecem. Não é o primeiro Boi-Bumbá. Nos dias subsequentes, sexta-feira, 15 de que participo e assisto, embora não tenha assistido a novembro e no sábado, 16 de novembro, vimos di- todos, mas pelo que ouvi dizer dos outros e consideversas iniciações, onde as equipes ritualísticas, princi- rando aqueles que vi, esse foi o melhor organizado e palmente de Manaus e do Rio de Janeiro, deram um em todos os sentidos. Claro que ainda falta muita coiverdadeiro show de interpretação ao texto iniciático, sa a acertar, a fazer, mas tenho certeza que os anos abrilhantando sobremaneira a concessão dos graus vindouros mostraram eventos mais e mais organizade Super Excelente Mestre, Cavaleiro Templário, Or- dos. Para o próximo ano estamos programados para dem dos Sumos Sacerdotes (somente concedida aos nos encontrar na cidade de Recife, capital do Estado Sumos Sacerdotes, que são aqueles que dirigem ou já de Pernambuco. Nos encontramos lá? dirigiram um Capítulo de Maçons do Real Arco), Ordem da Trolha de Prata (somente concedida aos IlusJosé Roberto Ferreira tres Mestres ou Past Ilustres Mestres, que são aqueles que dirigem ou dirigiram um Conselho de Maçons Venerável Mestre da Loja “Francisco Cândido Xavier” Crípticos). Paralelamente e nos referidos encontros, Past Sumo Sacerdote do Capítulo “York No. 40” há reunião da Societas Rosacruciana in Civitatibus Ilustre Mestre do Conselho “York No. 06” Foederatis, também realizando ou concedendo seus graus para aqueles que nela estão associados. Culminando com as atividades, houve o já famoso e muito concorrido Jantar de Confraternização, onde há o congraçamento maior entre os irmãos e onde as cunhadas deram um verdadeiro show de confraternização e harmonia ao cantarem, todas em FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 49-50, Set/Dez, 2013. 50 ISSN 2318-3462 Recebido: 18/11/2013 Aprovado: 29/11/2013 FinP entrevista: JORGE PESSÔA Entrevista realizada no dia 16 de Novembro de 2013 com Jorge Barnsley Pessôa Filho, Grande Superintendente do Distrito 47 da Ordem Sagrada dos Sacerdotes Cavaleiros Templários do Real Arco ou Ordem da Sagrada Sabedoria. FinP - Jorge, o que é a Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros Maçonaria de tratar de política e religião. Templários do Santo Real Arco ou Ordem da Sagrada Sa- Então essa característica dela ser uma Ordem Universal é bedoria? muito interessante porque nós tínhamos, ou nós temos, Jorge - É a mais alta ordem filosófica dentre as Ordens as Grandes Lojas, ou Grandes Orientes de países, de EstaInglesas. Ela é uma Ordem posterior aos cavaleiros tem- dos, de regiões... depois nós temos Grandes Priorados ou plários, e ela tem algumas restrições: além de você ser um Grandes Acampamentos de países... nós temos Supremos Maçom do Real Arco e um Cavaleiro Templário, você pre- Conselhos de países, nós temos o Supremo Grande Capícisa, e é importante que isso ocorra, ser um mestre insta- tulo de Maçons no Real Arco do Brasil, o Supremo de Malado no simbolismo que tenha dirigido uma Loja por pelo çons do Real Arco dos Estados Unidos, Supremo de Maçons do Real Arco da Bolívia, o Grande Conselho dos Mamenos um ano. çons do Real Arco de São Paulo... ou seja, sempre restrito Ela tem algumas características: é uma ordem extrema- á uma região. mente mística, é uma ordem que se baseia na Bíblia, em lendas muito antigas. Ela é também conhecida como or- Na verdade, existem duas Ordens e só duas ordens que dem de Melquisedeque. Na verdade Melquisedeque é são de fato universais. A Ordem dos Sacerdotes dos Cavaaquele que em tudo se igualou a Jesus Cristo. É aquele leiros Templários, e a ‘Royal Arch off Scotland’ na Escócia. que era o rei da paz, aquele à quem, está na Bíblia, Abraão A Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros Templários é toda ela pagou dízimo de todas as suas riquezas. Ora, portanto era subordinada ao ‘‘Grand College’’, cuja sede fica na cidade alguém superior a Abraão, que foi o fundador da religião York, exatamente na cidade dos Antigos, e que tem distrijudaica, o patriarca judeu que estruturou a religião judai- tos pelo mundo. Nós temos distritos na China, Filipinas, Austrália, Nova Zelândia, Togo, Estados Unidos, Canadá... ca. A ordem de Melquisedeque é anterior à isso. nós temos distritos em 50 países do mundo. É uma ordem Ela se baseia especificamente em Melquisedeque e depois bastante pequena para o seu nível mundial, principalmenem Jesus Cristo. Portanto, é uma Ordem exclusivamente te pelo fato dela exigir que todos os seus membros sejam cristã. E uma das características que ela tem diferente de mestres instalados, restrição essa que as outras ordens todas as outras Ordens que nós conhecemos, é que ela é abandonaram. O Real Arco americano, como nós sabeuma Ordem internacional. Nós temos um Grande Sumo mos, abandonou-a criando o grau de “Past Master”, e o Sacerdote, ‘Grand High Priest’, que fica no nosso quartel sistema inglês moderno abandonou isso, abandonando general, e é na cidade de York, Inglaterra, e inclusive a simplesmente. Você para chegar a Maçom da Marca, Magente se reúne muitas vezes dentro da sede que era aque- çom do Real Arco, à Cruz Vermelha de Constantino, ao la mesma do tempo dos “Antigos”, da Grande Loja dos Grau Zariato na Inglaterra você não precisa ser Mestre Maçons de Toda a Inglaterra, que eram conhecidos como Instalado. É a única ordem que manteve essa restrição, os “Antigos”, ou seja, aqueles que não aceitaram as restri- então ela é uma ordem pequena. Nós não chegamos a 10 ções e as imposições feitas em 1717 pela Grande Loja dos mil membros em todo o mundo. Mas é uma ordem basModernos, que, na verdade, foi uma criação do Jorge I, o tante querida. primeiro da Dinastia de Hanôver que quis, com a Grande Loja de Londres, domesticar a Maçonaria, até proibindo a O local de reuniões da ordem chama-se Tabernáculo e nós temos reuniões de tabernáculo normalmente quatro veFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013. 51 FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA zes ao ano. Três vezes ao ano, essa reunião é no seu Tabernáculo. O meu especificamente é o Tabernáculo Brasil, sediado na cidade de São Paulo. Então três vezes por ano temos reunião de Tabernáculo lá. E uma vez por ano, já marcado há mais de cem anos, na cidade de Birmingham, no segundo sábado do mês de junho. Então, no segundo sábado de junho, todo os Sacerdotes Cavaleiros Templários são convidados para uma reunião em Birmingham. E todos os Sumos Sacerdotes de cada Tabernáculo são convocados para essa reunião em Birmingham. Jorge - Uma relação muito boa e bastante íntima, porque os membros do ‘Grand College’ vieram ao nosso distrito já cinco vezes. Como é uma Ordem muito pequena e muito restrita, nós ainda mantemos a tradição de que o ‘Grand Hight Priest’ e os Grandes Oficiais da Ordem, que são chamados por nós de pilares, o Grande 7º Pilar, o Grande 6º Pilar, o Grande 5º Pilar, pilares que vão de um a sete, além do ‘Grand Hight Priest’, ele, acompanhado de alguns Grandes Oficiais, veio para a consagração de todos os nossos Tabernáculos. Nós já temos sete Tabernáculos consagraA gente procura se basear em todas as religiões e tirar as dos no Brasil e o ano que vem nós devemos consagrar coisas boas de todas as religiões. Uma coisa que nós tira- mais quatro. mos do Islamismo é que todo o Sacerdote Cavaleiro, ao Então, o ano que vem todo o ‘Grand College’ virá de novo menos uma vez na vida, deve participar da reunião anual para o Brasil. Pessoalmente eu e o Grande Secretário Disem Birmingham. É uma festa maravilhosa. Na verdade, trital, a gente viaja normalmente duas ou três vezes para a além das reuniões nós temos duas refeições: uma exclusi- Inglaterra por ano, ou para Londres ou para Birmingham, vamente para os KTPs, e outra para os KTPs e famílias. ou para York. E nos 7 anos de nosso Distrito eles já vieram Maçonaria andou esquecendo bastante que Maçonaria é cinco vezes para cá. Fora isso eu mantenho contato telefôfamiliar. Nós temos que integrar a nossa família, nós te- nico e por e-mail com eles duas vezes por semana. É uma mos de ser na Maçonaria homens melhores e homens li- coisa muito próxima. gados à célula-mater da sociedade, que é a família, sem FinP - Esses quatro Tabernáculos a serem consagrados dúvida alguma. serão onde no Brasil? Então, há o chamado “ágape familiar”, ou seja, o baile de gala com esposas e filhos, e o outro só para nós. É uma delícia você sentar em uma mesa de doze, que a gente faz a refeição, onde tem um irmão do Togo, um irmão da Alemanha, um irmão do Canadá, um irmão da Nova Zelândia, um irmão do Brasil, e é uma confraternização muito grande. Agora posso dizer realmente que já fui recebido em todas as partes do mundo de fato como irmão. Jorge - Um vai ser consagrado em Recife. Um vai ser consagrado no Rio de Janeiro, aliás, no Estado do Rio já tem dois: um na cidade do Rio e um na cidade de Niterói. O outro vai ser consagrado em São Paulo, que já tem também dois. E um quarto vai ser consagrado em Osasco. Então é Recife, Rio, São Paulo e Osasco. FinP - Os que já existem já estão mais espalhados pelo Brasil? Estão em que Estados hoje em dia? FinP - E quantas pessoas costumam atender a essa reuniNós temos no Rio Grande do Sul; nós temos no Distrito ão? Federal, em Brasília; nós temos em Santos; nós temos dois Jorge - Na última, agora em 2013, tinham quatrocentos e em São Paulo; Rio de Janeiro; Niterói. E vamos ter mais poucos irmãos. Não foi a maior. Temos que lembrar que a quatro. Inglaterra em junho ainda estava bastante em crise, com questões econômicas, um macro econômico meio... mas FinP - E quais as exigências burocráticas para ingresso? eu já estive reunião em Birmingham com quinhentas e Em questão de reconhecimento no simbolismo? tantas, até 600 pessoas. A maior que eu estive era com Jorge - Você precisava ser de uma Grande Loja ou Grande seiscentas e poucas pessoas. Oriente que tenha tratado de amizade com a Inglaterra, com a United Grand Lodge. Isto era até fevereiro deste FinP - Como funciona essa divisão por distritos? ano. Em fevereiro deste ano, em vista das condições pecuJorge - Existe uma superintendência por Distrito. Você liares de brigas do Grande Oriente do Brasil, foi mudada tem um distrito para o Brasil, que é o Distrito 47. Nós so- essa regra para você ser ou de uma potência simbólica mos o distrito 47, nós somos bastante jovens. Esse distrito reconhecida pela Inglaterra ou ser um Maçom do Real foi fundado em 2006. Arco do Rito de York, dos Estados Unidos, ou que tenha FinP - E como é a relação do “Grand College” com seu dis- correlação, tenha tratado de amizade com o Grande Capítrito? tulo Geral do Real Arco Americano, ou o Grande AcampaFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013. 52 FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA mento de Cavaleiros Templários dos Estados Unidos. E nós temos o representante no Brasil, o Real Arco, que foi o primeiro a englobar os três grupos de potências da Maçonaria Simbólica no Brasil. Tanto o Grande Oriente do Brasil, com todos os seus Grandes Orientes Estaduais, ou como é conhecido no mundo inteiro, Grandes Orientes Distritais; como as Grandes Lojas Estaduais; e os Grandes Orientes Independentes Estaduais. um Sacerdote Cavaleiro Templário é espargir a Maçonaria. A Ordem se baseia nas Sagradas Escrituras e existe um trecho da cerimônia na Ordenação de um Irmão como Sacerdote Cavaleiro Templário, onde se lê aquela parte da bíblia que diz: “Agora você não sairá mais à luta. Você será um espargidor de luz para manter a nossa religião forte e firme.” Porque antes o Cavaleiro Templário é um soldado da Cruz. Você ganha uma espada para defender a religião. Este Tabernáculo que vai ser fundado agora em São Paulo, A nossa fé em Deus. Já o Sacerdote não sai mais à luta. Ele é basicamente composto por membros do Grande Oriente será aquele que estuda e que dissemina a luz, no caso da Paulista, da COMAB. Eu quero ressaltar: em nenhum Ta- Maçonaria e da Religião Cristã. bernáculo nosso há qualquer limitação para entrada de FinP - Inclusive celebrando missas? Como sacerdote ele qualquer maçom regular. Como exemplo, nesse Taberná- tem essa função? culo que será fundado por maçons da COMAB do Estado Jorge - Não. Ele não celebra missas. Nós não somos uma de São Paulo, eu tenho já inscritos alguns do Grande Ori- Ordem Eclesiástica. Nós somos os sacerdotes da Ordem ente do Brasil e da Grande Loja do Estado de São Paulo. Se de Melquisedeque. Nós lembramos na mais alta de nossas não me engano, são três membros da Grande Loja, dois cerimônias, chamada “Grand Point”, que no vernáculo do Grande Oriente do Brasil e a maioria é do Grande Ori- inglês é alguma coisa periciada, não é só um ponto granente Paulista. Não se fala em potência simbólica. Houve de, é o topo. Nessa cerimônia nós lembramos, nós bebeuma época que o Grande Oriente do Brasil tentou, até por mos vinho, comemos pão e comemos sal, e lembramos correspondência oficial, subordinar os Sacerdotes Cavalei- que Cristo fez isso, mas muito antes de Cristo, Melquiseros ao Grande Oriente do Brasil, através daquela associa- dec também fez isso. Quando Abraão venceu a guerra na ção protetora dos Ritos, mas que na verdade é quem diri- Palestina e tomou a Palestina, daí ele se encontrou como ge todos os Ritos por que quem nomeia o Grão Mestre do Melquisedeque e Melquisedeque o abençoou levando a Cavaleiros Templários deles, por exemplo, é o Grão Mes- ele pão e vinho, de tal maneira que se comemora em totre do Grande Oriente do Brasil. Então são sociedades que das as religiões e em nossa fraternidade, o Ágape Fraternão tem soberania. Se o seu líder maior é nomeado pelo nal. Grão Mestre de uma potência simbólica, eles estão excluíA raça humana sempre se reúne ao redor de uma mesa dos do mundo maçônico. comendo. A gente em casa reúne os amigos, comemos FinP - Isso não torna de certa forma esse Corpo irregular? dando festas, ou nos reunimos com a nossa família e em Por questões de tratado de independência? volta de nossa mesa. É a mesma coisa. Essa consagração Jorge - Não o torna irregular. Torna ele não soberano. Não não é uma missa. Não é uma cerimônia para aquele que é uma ordem soberana. Me diz: o que é um maçom irre- acredita na transformação do pão no corpo de Cristo. gular? Ele não é reconhecido. Eu não o reconheço como Não. É a comemoração, pelo pão, do companheirismo, da Cavaleiro Templário. Isso não quer dizer que não sejam fraternidade. Compartilhamos o pão e o vinho pelos quais regular. Talvez eles trabalhem regularmente... nós vamos partilhar o nosso júbilo, a nossa alegria, e pelo FinP - Mas existe outros Tabernáculos no Brasil que não sal nos vamos partilhar a nossa unidade. são do Distrito 47? Jorge - Não. Eles tentaram, tentaram, mas não conseguiram carta patente. FinP - E para você o que representa ser um Sacerdote Cavaleiro Templário? FinP - Temos notícia de que os Cavaleiros Templários da vertente inglesa, costumam realizar algumas “Missas Templárias”, que geram dúvidas para a população brasileira por que são realizadas em Igrejas. Eles utilizam igrejas emprestadas, às vezes dos Anglicanos, e realizam essas missas templárias, o que levanta o questionamento de alguns maçons se isso não vai de encontro ao fato da Maçonaria não ser uma religião, e não poder desde 1717 se envolver em questões religiosas. Jorge - Representa que você chegou ao topo de uma hierarquia. Isso te dá a obrigação de ser um membro espargidor da luz. Até o sinal de um Sacerdote Cavaleiro Temporário é chamado “o sinal da Luz”. A nossa obrigação, de Jorge - Primeiro, dizer que “desde 1717” não representa FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013. 53 FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA nada. Embora os ingleses queiram ser o dono da FinP - E essa questão das missas templárias que são cele‘Franchising”, ser a Grande Loja Mãe... não é coisa nenhu- bradas na Inglaterra? ma. Jorge - Há um pequeno equívoco na tua colocação. Não é FinP - A Maçonaria e escocesa era bem mais antiga, inclu- uma missa templária, embora muitas vezes os próprios sive. Templários escrevam isso. É bobagem. Não é uma missa Jorge - Exato. Eu tenho na nossa biblioteca os livros da templária. É uma missa assistida por Templários. Apenas Loja de Kilwinning, que é a Loja número zero da Escócia, e assistida. Sentou no banco e olhou lá. Como um casameneu vi que os arquivos de Kilwinning tem atas especulativas to. Você vai a um casamento até podendo ser cristão ou do ano de um mil cento e oitenta e poucos. Tem até um não. Sua prima vai se casar e você vai ao casamento dela. livro de registro de marcas onde é muito claro o porquê Esteja ela se casando com um católico, com um presbiterido livro ter duas partes: o registro das marcas dos Maçons ano, e você vai no culto, mas não é que você seja adepto daquela missa ou culto... você apenas está lá. Então a misOperativos, e o registro das marcas dos Maçons Aceitos. sa que você está vendo é missa templária? Não. É uma Na verdade, 1717 é a pura tentativa da casa de Hanôver, missa normal de uma igreja normal, assistida por templádo rei Jorge I, o primeiro rei da casa de Hanôver, que esta- rios. A ordem dos Templários tem isso. A Ordem da Cruz va inseguro politicamente e inseguro religiosamente. Por- Vermelha de Constantino tem isso. Tem um monte de Orque a história da Inglaterra é farta de: subia um rei, mata- dem que tem isso. A Hípica Paulista, que é o clube que eu vam os católicos; subia outro rei, matavam os protestan- frequento, faz uma missa todo ano no nosso grande picates; aí subia o outro, matavam os católicos; e o outro ma- deiro, na época do dia das mães, para todos os sócios do tava os protestantes. Então Jorge fez as Lojas Maçônicas Clube. Não é essa missa hípica. É uma missa realizada para naquela época, que eram o centro de comunicação. Hoje os sócios da Hípica, e qualquer religião pode fazer isso. A nós temos telefone celular, naquele tempo como é que a Igreja Católica Romana não faz muito. Os presbiterianos notícia se espalhava? De boca em boca. E as lojas Maçôni- fazem muito. Isso é muito importante. cas eram os grandes espargidores das notícias, dos movimentos populares. Jorge I, para acabar com isso, criou a FinP - A Ordem tem mais de um grau? Grande Loja de Londres, reunindo quatro das inúmeras Jorge - A ordem são 32 graus. O 32º grau é o de Sacerdote Lojas que tinham. Na verdade, tinham 16 ou 18 Lojas, e Cavaleiro. Você, quando faz a cerimônia de Sacerdote Caele conseguiu reunir 4. Soltou dinheiro nessas quatro e valeiro, recebe por comunicação os outros 31 graus. O falou pro capelão Anderson: “Olha, você deixa os meninos que se quer dizer receber por comunicação, no nosso enfazerem o que eles quiserem, contando que não falem da tender? Eu te dou nome e está na hora de você estudar! É política ou religião.” Foi uma tentativa de subornar. Só claro que nós temos os rituais dos 31 graus. Isso é da orique... gem da ordem dos Sacerdotes Cavaleiros. Aliás, ela chama FinP - A Constituição então teria sido modelada por um Sacerdote Cavaleiro Templário por causa dessa sua oricara que costumava contar histórias, inventava árvores gem. Ela não tem nada a ver com a Ordem dos Cavaleiros Templários. O que ela tem é que ela nasceu na Irlanda, da genealógicas... reunião daqueles velhos Templários, aqueles mais estudiJorge - Certo. Sem a mínima dúvida. Anderson era esco- osos que eram normalmente já Cavaleiros Grã Cruz do cês, a serviço do rei da Inglaterra Hanôver, que, diga-se de Templo, que é que é a mais alta condecoração da Ordem passagem, era um rei que não falava nem inglês. Ele só Templária. E os Cavaleiros da Grã Cruz do Templo tinham falava alemão. Ele era até muito impopular, um rei que essa amizade e se reuniam semestralmente para discutir não fala a língua da sua terra. Só que depois nós tivemos a Maçonaria, para estudar. E eles foram desencravando Orera Vitoriana onde a Inglaterra não dominou, mas influen- dens, todas as Ordens de Cavalaria que vieram para a Euciou o mundo todo. Influenciou o Brasil imensamente. ropa na Idade Média, que se criaram ou que vieram para a Então criou-se a história de que ela (a Grande Loja de Lon- Europa, tanto do Oriente Médio quanto do norte da Eurodres) era a detentora da “Franchising” da Maçonaria. Pa- pa. E esses Cavaleiros Templários “seniores” as estudalhaçada. Bobagem. Qualquer Maçom que estude um pou- ram, até que reuniram num grupo, numa Ordem Sacerdoco de história da Maçonaria verá que 1717 é uma tentati- tal, numa Ordem de estudo. va dum rei de silenciar o pensamento e o livre arbítrio do No começo era considerada como apenas um grau aliado. Maçom. E até hoje eles tentam. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013. 54 FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA Assim foi até que, no final do século XIX, eles se reuniram FinP - Pelo cargo que você ocupa na Maçonaria, você tem e a tornaram uma Ordem independente. Mas é basica- bons contatos, tem uma experiência Maçônica na Inglatermente uma Ordem de estudos. ra, e também experiência Maçônica nos Estados Unidos. FinP - Então quanto você é iniciado Sacerdote Cavaleiro Você vai todos os anos na Inglaterra e você também costuTemplário e recebe esses graus é como se fosse uma ma- ma ir em eventos e congressos não só nos Estados Unidos. trícula para uma escola em que todos os graus anteceden- No Brasil a gente sabe muito bem que existe um grupo que tenta promover a hegemonia na Maçonaria do Brasil, protes são programas de estudo? movendo muita confusão e muita fofoca acerca da relação Jorge - Exato. São programas de estudo baseados em me- entre Ordens inglesas e Ordens americanas. Muitos desses sas, baseados em lendas contidas nesses graus. Por exem- dizem que não existe reconhecimento, não existe amizade, plo, o 31º grau é sobre os libertos de Heredom. Quem são não existe intervisitação. Você que já transitou e transita os libertos de Heredom? Se você for procurar na história por Inglaterra e Estados Unidos, o que você poderia dizer do começo do reino de Israel, eram 13 tribos. Dessas 13, da relação entre a relação entre Arco Real Inglês e o Real uma sumiu. A 13ª tribo é a tribo de Heredom. Então esse Arco Americano, os Templários ingleses e os Templários grau, os libertos de Heredom, é baseado na história dessa americanos? tribo, que foi escravizada pelas outras tribos de Israel. Então essa história constitui-se um estudo que não é exclusi- Jorge - Eu, de fato, tenho boa relação na Inglaterra. Eu sou va da religião israelita, nem da religião católica, mas é o único brasileiro pertencente a “Royal Order of uma parte da história da humanidade que ficou meio es- Scotland”, que é toda Maçonaria Escocesa. Sou membro nos Estados Unidos de quatro ou cinco ordens. E sou um quecida. É um dos graus de nossa Ordem. Shriner. FinP - E tendo esse conteúdo todo para estudar, ela tem alguma válvula de escape para esses estudos? Há alguma Na verdade, existe um equívoco muito incentivado pelo publicação onde os membros publicam artigos, resultantes Grande Oriente do Brasil na sua atual gestão, que infelizmente desde desembargador Murilo, que faleceu durante desses estudos? o seu Grão Mestrado, que o GOB caiu num desentendiJorge - Não, a Ordem especificamente não. Eu pessoal- mento, na melhor das hipóteses. O que ocorre é uma rixa, mente não aceito muito essa história de que a Maçonaria uma inveja muito grande, mas não entre a Maçonaria iné uma sociedade filantrópica. Na constituição de todas as glesa e a Maçonaria americana. Mas entre o Distrito inglês potências diz isso. Mas não. A Maçonaria não é uma socie- do Brasil, da United Grand Lodge of England no Brasil, e o dade filantrópica. É uma sociedade de formação de ho- restante da Maçonaria brasileira. Vocês ouviram ontem mens, de homens bem formados. De homens perfeita- em alto e bom tom em alguns discursos: A Maçonaria inmente integrados na sociedade e bem polidos. E se somos glesa está morrendo. As Ordens inglesas estão decaindo. perfeitamente polidos, seremos nós filantropos. A minha Na verdade, a única Ordem que não está decaindo, que Loja base não faz filantropia, mas eu sou diretor de duas está subindo, é a Ordens dos Sacerdotes dos Cavaleiros, creches, tenho outro Irmão nosso, o Irmão Celso, que é todas as outras estão diminuindo. Até pela sua qualidade um sujeito que é integrado na questão de dar sopas à noi- universal, a Ordem dos Sacerdotes Cavaleiros na Inglaterte para mendigos na cidade. Ele é espírita, essa é a religião ra pode diminuir um pouco, mas no mundo ela aumenta dele, e ele segue isso. Nós outro dia na nossa Loja conta- muito. E uma vez eu estava conversando com Grandes mos algo entre 40 ou 44 sociedades ajudadas pelos mem- Oficiais ingleses, e falei: “Poxa vida, o distrito inglês se esbros da loja, mas não pela loja. Não é a Maçonaria que é tá jogando pedra, está fazendo palhaçada...” Sabe qual foi uma sociedade filantrópica. São os Maçons que são pesso- a resposta do Grande Oficial? Traduzindo para o portuas bem informadas e que vão ser os filantropos. guês: “Senhor, aquilo não são ingleses. São expatriados Da mesma forma, retornando a questão de publicações, que vivem lá no Brasil.” Então, isso que dizem não existe. existem grandes publicações escritas por membros da or- Toda nossa reunião de Sacerdotes Cavaleiros, temos dem, mas a ordem não publica nada. Na verdade, que eu membros americanos que estão lá. Toda a reunião da saiba, a Ordem tem dois ou três livros publicados sobre “Masonic Week” tem membros ingleses que estão nos sua história interna. Mas há um monte de livros publica- Estados Unidos. dos por membros da ordem. Eu já publiquei um e estou A gente precisa ver as coisas em um âmbito histórico maiescrevendo outro agora. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013. 55 FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA or. O que existe na verdade é que economicamente no início do século XX, fim do século XIX, a Inglaterra dominou o mundo economicamente. Com certeza dominou o Brasil economicamente. Nossa industrialização, desde 1900 até o Getúlio, foi exclusivamente inglesa. Aí a Inglaterra forçou e criou um negócio que é uma aberração: um Distrito Maçônico Inglês encravado no Brasil. Esse distrito inglês, conforme o tratado, autorizou dez Lojas no Brasil falarem em inglês e serem subordinadas direto à United Grand Lodge of England. Essas Lojas, todas fundadas no Grande Oriente do Brasil, saíram e fizeram o Distrito Inglês. Isso é passado, isso morreu. A Light já foi nacionalizada. A Moinho Velho, as minas de ouro, já foram nacionalizadas. Mas ficou um ranço de Maçons, hoje quase completamente decrépitos. A salvação do Distrito Inglês foi há uns dez anos atrás, quando o Grande Oriente de São Paulo salvou o Distrito Inglês, por que lojas como a Saint George Lodge não funcionava mais. Ela estava com três membros só. Daí eles pediram Socorro Maçônico. E então o Grão Mestre Adjunto do Grande Oriente São Paulo pediu para nós entrarmos na Loja Inglesa para que ela não abatesse colunas. A Loja inglesa vive, mas por causa disso. Eles falam que têm 10 Lojas e, se eu não me engano, 80 e tantos maçons. Na verdade todos os membros são de quase todas as Lojas. E eles foram cooptados pela atual administração do GOB. A questão dos Cavaleiros Templários, a história é muito clara. Eles sempre existiram no Distrito Inglês, assim como outras Ordens inglesas, só que o Distrito Inglês não admitia brasileiros no Arco Real, na Marca, nos Templários. Não aceitava os brasileiros. Quem brigou muito para aceitarem os brasileiros foi o falecido Rubens Barbosa de Marcos, então Grão Mestre do Grande Oriente de São Paulo. Se você for com o seu paletó vermelho a qualquer capítulo do Arco Real Inglês, na Inglaterra, você será maravilhosamente bem recebido. Se você for com seu paletó vermelho no Capítulo Inglês do Distrito inglês aqui, que fica na Rua Lisboa, em SP, ou num Capítulo do Grande Oriente do Brasil, você não será recebido. Os Capítulos Americanos recebem e nós não temos nada contra. Somos Irmãos. Aliás, a briga é só lá no topo. Na base nunca houve briga de Potência. Nenhum membro de um Grande Oriente Independente foi recusado na minha Loja do Grande Oriente do Brasil, quando eu era do Grande Oriente do Brasil. É hipocrisia dizer que não existe, porque qualquer posse de grande signatário do Grande Oriente do Brasil consta lá os membros da COMAB que são convidados. Então dizer que não reconhece é palhaçada. Então não existe a briga. O que existe é o raio de um Distrito Inglês que devia ter sido extinto assim como todas as companhias inglesas foram. Quem fez as ferrovias no Brasil? São Paulo Railway Roll, que era uma companhia inglesa, que depois mudou para Companhia Paulista, depois mudou para Rede Ferroviária Federal. Tudo bem. Evolui. Mas a ânsia de ter o poder, de manter o poder... todo mundo para eles é espúrio tirando eles. Eles são o anjo Gabriel, só que as pessoas passam, morrem. FinP - Jorge, e por que da exigência de ser ter sido um Mestre de Loja para o ingresso no KTP? Já que outras Ordens aboliram tal exigência, não seria interessante fazer o mesmo na Ordem dos KTPs? Jorge - Nós queremos Maçons que tenham um nível de conhecimento adequado para poder pertencer à Ordem. Para mim, a maior experiência que um Maçom tem é o ano que ele passa à frente de uma Loja Simbólica. Esse ano que ele passa à frente de uma Loja Simbólica equivale a 400 ou 500 livros que ele tenha estudado. Disso o KTP Daí a Grande Loja do Estado de São Paulo conseguiu trazer não abre mão. da Espanha o Arco Real, o Cavaleiro Templário e outras Essa questão de ser de uma Loja reconhecida pela InglaOrdens Inglesas. Só que quem primeiro assumiu os postos terra quebrou, não tem mais. Pode ser reconhecida pelos principais foi o Grão Mestre da GLESP. Daí o então Secre- Estados Unidos, e os Estados Unidos são muito maiores do tário, e eterno secretário de relações exteriores do GOB que a Inglaterra hoje. A Inglaterra foi grande no século desde que o Murilo morreu, ficou ofendidíssimo porque XIX. Depois da Segunda Guerra Mundial, a potência é os ele não era o chefe da Ordem. Ele foi para a Inglaterra e Estados Unidos. O que se quer para ser KTP é alguém que conseguiu na Inglaterra, através dos seus contatos, outra tenha vivido a Maçonaria. E você só pode viver a Maçonacarta patente. Então, em novembro de um ano fundou-se ria depois que você passou um ano como Venerável de a Cavalaria Templária com o Grande Priorado do Brasil. E uma Loja. A ligação maçônica que nós temos é grande, em fevereiro do ano seguinte criou-se o Grande Priorado mas a ligação que um Venerável tem com aquele Irmão do Grande Oriente do Brasil. Aí já começou a briga. A briga que ele recebeu na Maçonaria é um negócio fenomenal. não tem nada a ver entre Estados Unidos e Inglaterra. Você já foi Mestre, você já dirigiu uma Loja. Você sabe que FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013. 56 FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA é um conceito totalmente diferente, você ser, por um ano, responsável por 30 homens, muitas vezes melhores e maiores do que você, certo? E você tem que ser o Venerável, de ser a luz para eles. Você ser a luz para uma turma que muitas vezes ali entre eles têm gente melhor do que você. Mas você é o líder. Você está com o malhete na mão. Essa experiência é imprescindível para você ser Sacerdote. O resto é você ter os graus, porque são a base do estudo. que o Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro é espúrio. Se eu falo, ele vai ser espúrio por que eu falei??? Não. O Wagner... ele só escreve e assina besteiras para cá, besteiras para lá... é um louco porque o Grande Mestre da Ordem de Cavalaria do Grande Oriente do Brasil é ele, Wagner Veneziani. Um sujeito que não é cristão. Isso vai contra todas as coisas da Ordem. Então a Cavalaria não é nada, é brincadeira? FinP - Você comentou que era do GOB. Você saiu do GOB? FinP - Você quer dar um último recado, fazer o último coEstá na Grande Loja agora? mentário? Jorge - Não. Eu estou em uma Loja americana e no Grande Oriente Paulista. Eu estou no Brasil no Grande Oriente Paulista (COMAB). Eu saí do GOB por conta de uma palhaçada que eles chamam de Justiça do GOB. Eu sou do Supremo Conselho de Jacarepaguá também (Supremo Conselho do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil), e sou da Loja José Carlos Salles do Grande Oriente Paulista. Jorge - O que eu quero dizer é que eu fico muito feliz, muito mesmo, em ver o atual entrosamento dos Grandes Orientes Independentes da COMAB. Na verdade, sempre em linhas preces eu sempre me lembro muito do Curi e do João Guilherme, porque eles começaram uma coisa que transformou-se no que talvez seja a salvação da Maçonaria Brasileira. Nós todos sabemos que as Grandes Lojas do Brasil surgiram de uma eleição contestada, para não dizer FinP - Existe algo dos Sacerdotes Cavaleiros Templários roubada no Grande Oriente do Brasil. E os Grandes Orientes Independentes posteriormente nasceram de outra que é administrado pelo Wagner Veneziani? eleição também contestada no Grande Oriente do Brasil. Jorge - Não estamos falando de estelionatários aqui. Nós FinP - E foi diferente nessa última eleição do GOB? estamos falando de maçons. Que eu saiba não existe. Jorge - Só que nessa última eleição, graças a Deus, não FinP - Não existe? Não funciona? houve outra cisão, outra criação de Obediências. A eleição Jorge - Nunca vi nada disso. Ele tentou e foi expulso da foi totalmente roubada, foi um negócio vergonhoso. Aliás, Ordem dos Sacerdotes por uma razão simples: o Wagner é basta o fato de que o Tribunal Eleitoral que se reuniu para Cavaleiro Templário ordenado Sacerdote. Como Cavaleiro a apuração no GOB tinha na porta dois gorilas, dois seguTemplário, você assina uma declaração de que você acre- ranças contratados, não maçons, para permitir a entrada dita na Santíssima Trindade e nos dogmas do Cristianismo. ou não das pessoas interessadas. Isso é uma eleição livre e E ele tem escrito um livro, de autoria dele, Wagner Vene- honesta??? Eu, Jorge Pessoa, tenho a cópia autenticada ziani da Costa, onde ele fala claramente que a Santíssima da ata de reunião de uma Loja de Pernambuco, com... não Trindade é uma invenção. Ele fala com todas as letras. En- sei os números agora, mas vamos dizer: 18 votos para o tão no mínimo é um perjúrio. A Ordem dos Sacerdotes, o Mozarildo e 02 votos para o Marcos José. E tenho a publiGrand College, não expulsou, não fez nada, só o desligou. cação do tribunal: 18 para o Marcos José e 02 para o MoEla não está preocupada com um sujeito que é perjúrio, zarildo. Eu tenho essa movimentação. que assina uma coisa e escreve outra coisa contraditória. Não tenho absolutamente nada contra as religiões afro, Não sei se você tem ciência daquela condenação que o contra a Umbanda, contra o Candomblé. Não sigo essas Marcos José teve pela Justiça em Brasília, pela publicação religiões, mas não tenho nada contra. O que eu não posso onde ele se diz o primeiro afrodescendente brasileiro a aceitar é uma pessoa ser de uma religião, então dizer que dirigir o GOB, o que também é mentira por que nós já tiveacredita numa outra coisa, assinar que acredita naquela mos negros à frente do Grande Oriente do Brasil muito outra coisa, e depois escrever que aquilo que ele disse que antes dele. Só que naquele tempo era negro, não era afro acredita é papagaiada. Ele é que não é uma pessoa corre- descendente! (risos) Deve ter uma diferença agora, não ta, idônea. Tem um e-mail do Tulio dizendo que a Ordem sei. Infelizmente o GOB está em uma fase muito crítica, dos Maçons Operativos é espúria. A Ordem ficou espúria mas as pessoas passam. porque o Túlio disse que é espúria? Ele que é um imbecil FinP - A gente é transitória. que escreveu uma coisa dessa. Eu tenho direito de dizer Jorge - A ordem um dia volta ao caos. A grande verdade é FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013. 57 FinP ENTREVISTA: JORGE PESSOA que, quando o desembargador Murilo morreu, tinha morrido um pouco antes o Jovelino, que era Adjunto. Quando ele morreu, o GOB em si, a organização GOB caiu na mão da Assembleia. E a Assembleia é e sempre foi o lugar dos maçons indesejados em Loja. Quando o maçom era muito chato e a gente queria se desfazer dele e tal, a gente o elegia Deputado da Assembleia Maçônica Legislativa Federal pra ele ir pra Brasília. Só que morreu o Grão Mestre, tinha morrido o Adjunto, e caiu na mão da Assembleia. Aquilo era uma corja, eles mudaram aquilo e ficaram com aquilo e ninguém consegue desencastelar eles de lá. Infelizmente é o que aconteceu. Real Arco, paciência. Nós estamos em uma democracia. Cada um chama o seu filho do nome que quiser. FinP - A gente quer agradecer a sua atenção, por você nos dar o direito de publicar esse material, e isso vai facilitar para as pessoas conhecerem melhor o KTP. Obrigado, Jorge. Jorge - Eu que agradeço. Unificação da Maçonaria do Brasil hoje é, a meu ver, inviável. Não por nós. Por nós a gente se unifica na hora. No meu Templo Maçônico, tem Lojas das três potências, ao mesmo tempo, se confraternizando. Mas tem muito avental bonito por aí... não dá para fazer a unificação da Maçonaria no Brasil. Em país sério como a Alemanha houve. No Brasil não dá ainda. Mas a união que o João Guilherme e o Curi fizeram da Maçonaria... o João Guilherme foi o grande artífice da mudança de regras do Grand College, em York. O João conseguiu colocar na cabeça deles que é um trabalho sério. Eles viram que o Grande oriente do Brasil está podre. Então nós só vamos aceitar Maçons do Grande Oriente do Brasil??? E todos os maçons dos Grandes Orientes Independentes? E todos os maçons das outras Grandes Lojas? Tem só quatro Grandes Lojas aceitas pela Inglaterra. E as Grandes Lojas do Nordeste, as Grandes Lojas do Centro-Oeste, as Grandes Lojas do Sul? Não podem ser Sacerdotes Cavaleiros? Todos dos Grandes Orientes Independentes não podem ser Sacerdotes Cavaleiros porque o senhor Túlio Colacioppo não aceita? Então ótimo, hoje basta a aceitação dos Americanos. Hoje, por exemplo, o Grande Oriente Paulista, da COMAB, já tem cinco reconhecimentos internacionais, entre eles o reconhecimento da Grande Loja do Distrito de Columbia, em Washington, onde é inclusive a sede do Supremo Conselho Mãe do Mundo do Rito Escocês Antigo e Aceito, o da Jurisdição Sul dos EUA. Então, na verdade, em dez ou doze anos que está fazendo isso, o João Guilherme conseguiu quebrar essa resistência e aceitou a todos e estamos aqui. Aqui tem maçons de vinte ou mais potências simbólicas diferentes. Todos convivendo fraternalmente, trabalhando, estudando. Então eu gosto de dizer que se o GOB quer criar o Supremo Colégio dos Meninos que Gostam de Bruxaria, é um direito que ele tem. Se quiser dar um nome de Grande Colégio do FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.2, p. 51-58, Set/Dez, 2013. 58 Diretrizes para Autores A submissão de trabalhos deverá ser feita através da página da revista. 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Referências Bibliográficas e/ouBibliografia, Citações, Notas de Fim: A Revista FRATERNITAS IN PRAXIS adota como critério orientador para elaboração das referências bibliográficas dos artigos nela publicados asseguintes formas: - NBR-6023:2002 - Referências bibliográficas; - NBR-10520:2002 – Citações; - NBR-6022:2003 - Artigo em publicação periódica cientifica. O não respeito as NBR's no que se refere à apresentação do artigo acarretará na sua imediata devolução para correção por parte do(s) autor(es). Exceção será feita aos autores não brasileiros que não residem no país, cujos textos serão adequados às normas da ABNT acima citadas. Apresentação dos textos Estabelece-se, ainda, uma padronização para a apresentação de textos, que deverá seguir o seguinte critério quanto à sua forma: Título: centrado, todo em maiúsculas, negrito, fonte Calibri,tamanho 14. Subtítulo: Em linha imediatamente abaixo do titulo, todo em minúsculas, negrito, fonte Calibri, tamanho 13. 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