Programa - Companhia Nacional de Bailado

Transcrição

Programa - Companhia Nacional de Bailado
PROGRAMA06
PROGRAMA04
O Quebra-Nozes
Nova Produção em Estreia Absoluta
DEZEMBRO . 2003
Teatro Camões . orquestra e coro
20, 22, 23 e 29 Dez. . 21H00
26, 27 e 28 Dez. . 16H00
JANEIRO . 2004
Teatro Camões . música gravada
3, 4, 9 e 10 Jan. . 21H00
3, 4, 9* e 11 Jan. . 16H00
* Escolas
Coreografia MEHMET BALKAN segundo PETIPA
Orquestra Sinfónica Portuguesa e
Coro do Teatro Nacional de São Carlos
Direcção Musical JAMES TUGGLE
MAIS INFORMAÇÕES
www.cnb.pt
EDP-Electricidade de Portugal
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A beleza da Dança — para além do que decorre do evidente prodígio que é conseguir contar uma história apenas através
do gesto, do movimento, sem recurso à palavra — reside em transformar cada momento num hino à harmonia na diversidade; à busca do equilíbrio partindo de uma agitada rede de acções. E, ainda assim, fazendo com que cada interveniente
se mantenha singular, original, inédito.
Num perpétuo movimento de (mu)dança cumprimos, na EDP, dia-a-dia e há muitos anos, o milagre da luz. A liberalização
do mercado traz-nos hoje numa roda-viva. Temos que ser mais competitivos; aumentar o nosso ritmo; cumprir as expectativas dos nossos clientes, de modo a que eles nos possam continuar a identificar claramente por entre os acenos que
outros lhes remeterão.
Esta é a nossa arte e é talvez por isso que nos sentimos tão identificados com a CNB, da qual somos Mecenas Exclusivo
desde 31 de Março de 1998. Por isso e porque queremos sublinhar a nossa intenção de levar a cada recanto em que
prestamos o nosso serviço a fluência luminosa que só se encontra na demonstração estética, organizada, de uma vontade
indómita, obsessiva, de servir. Cada vez mais, cada vez melhor, cada vez com uma singularidade mais vincada apesar
da abertura do mercado e do consequente surgimento de outros actores portadores de outras propostas e projectistas
de outras ilusões.
Temos connosco a solidez de um passado ao qual podemos ir buscar todos os argumentos que singularizam o nosso movimento.
Daí também o nosso gesto – singular mas continuado – de apoio à CNB.
Porque EDP também é Cultura, somos Mecenas Exclusivo da CNB.
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CNB
Companhia Nacional de Bailado
A Companhia Nacional de Bailado foi criada em 1977
por despacho de David Mourão Ferreira, então Secretário
de Estado da Cultura, ficando em regime de instalação
provisória a partir de 22 de Junho do mesmo ano, regime
que foi institucionalizado pelo Decreto nº 460/82, de 26
de Novembro. Integrada no Teatro Nacional de São Carlos
em 1985, a CNB voltou ao regime anterior em 1992 e,
em 1994, passou a integrar o Instituto Português
do Bailado e da Dança. Em 1998 a Companhia Nacional
de Bailado recuperou a sua autonomia.
Em Junho de 1996, Jorge Salavisa foi convidado para
reestruturar a CNB, tendo assumido, em Setembro desse
ano, o cargo de Presidente do Instituto Português
do Bailado e da Dança, associação cultural que então
tutelava a CNB.
Jorge Salavisa foi Director-Geral da Companhia Nacional
de Bailado de Fevereiro de 1998 a Abril de 2001.
A CNB apresentou a primeira realização nacional de produções integrais de bailados como La Sylphide, Raymonda,
O Lago dos Cisnes, Coppélia, Dom Quixote ou Romeu
e Julieta; recuperou outros clássicos como Pas-de-Quatre,
Giselle, Les Sylphides, Petruchka, La Bayadère, O Pássaro
de Fogo, O Quebra-Nozes, A Sagração da Primavera,
As Bodas e La Fille Mal Gardeé, entre outros. Apresentou
também obras de Balanchine, Lifar, Lichine, Joos, Limón,
van Dantzig, Nebrada e Lubovitch e dos portugueses Armando
Jorge, Fernando Lima, Carlos Trincheiras e Olga Roriz.
De Janeiro de 2001 a Agosto de 2002, Marc Jonkers assumiu
a direcção artística da CNB.
Para além das digressões em território nacional, a CNB
apresentou-se na Europa (Espanha, França, Suíça e Alemanha),
Brasil, Bermudas e República Popular da China. Para a RTP,
a CNB gravou vários bailados, como La Sylphide, Romeu
e Julieta, O Pássaro de Fogo e Pas-de-Quatre.
Entre 1978 e 1993, a direcção artística da CNB esteve
a cargo de Armando Jorge. Isabel Santa Rosa assumiu
a direcção artística de 1994 a 1996.
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Luísa Taveira ocupou o cargo de Directora Artística da CNB
de Janeiro de 1999 a Maio de 2000.
Nos últimos anos, a CNB apresentou obras de coreógrafos
como Michael Corder, William Forsythe, Anne Teresa
De Keersmaeker (em estreia absoluta), e ainda de coreógrafos seleccionados nos sucessivos Estúdios Coreográficos
entretanto realizados por David Fielding e Rui Lopes Graça.
A CNB tem trabalhado regularmente com a Orquestra
Sinfónica Portuguesa, Orquestra Metropolitana de Lisboa,
Orquestra Nacional do Porto, Quarteto de Pianos
de Amesterdão e ainda com diversos músicos e maestros
portugueses.
Ana Pereira Caldas foi nomeada Directora da Companhia
Nacional de Bailado em Maio 2001.
Desde Setembro de 2002, a Companhia Nacional de Bailado
tem como Director Artístico Mehmet Balkan.
CNB
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TEATRO CAMÕES
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DIRECÇÃO DA CNB
2003, um ano de actividade
A Companhia Nacional de Bailado é uma companhia
de reportório, com a missão de assegurar a apresentação
de obras do bailado clássico, moderno e contemporâneo
em todo o território nacional. Em 2001, estreámos Romeu
e Julieta de John Cranko, com cenário de João Mendes
Ribeiro e figurinos de António Lagarto, no Centro Cultural
de Belém e com a Orquestra Sinfónica Portuguesa.
Em 2002, e no âmbito 25º aniversário da criação da CNB,
estreámos uma nova produção de Giselle com coreografia
George Garcia, com cenários e figurinos de António
Lagarto, no Teatro Nacional de São Carlos.
Em 2001 e 2002, dançámos em Lisboa, Porto, Setúbal,
Viseu, Évora, Coimbra, Serpa, Montemor-o-Novo, Damaia,
Famalicão, Leiria, Faro, Lagos, Tavira, Castelo Branco,
Sintra, Funchal, e também em Miami, Bruxelas, Viena,
Rouen e Paris.
1 estreia na CNB: Cinco Tangos de Hans van Manen;
4 reposições: Apollo e Who Cares? de George Balanchine,
Troy Game de Roberth North e A Dama das Camélias
de Mehmet Balkan.
No início de 2003, por Resolução do Conselho de Ministros,
a gestão e a programação do Teatro Camões foi entregue
à CNB. Ficou assim definida a sala para a apresentação
regular das nossas temporadas em Lisboa. Nessa perspectiva, e de Janeiro a Dezembro de 2003, a CNB apresentou
seis programas distintos que incluiram:
4 estreias absolutas: Glória de Rui Lopes Graça, Pedro
e Inês de Olga Roriz, O Quebra-Nozes de Mehmet Balkan
e Facing the Sky de Pierre Wyss;
6 estreias em Portugal: Rondo Ala Turka de Beyhan
Murphy, Concerto de Katarzina Gdaniec e Marco
Cantalupo, Light Fandango e Entre Dos Aguas de Roberth
North, Cinco Estações de Mehmet Balkan e Solo de Hans
van Manen;
Neste mês de Dezembro, a CNB estreia uma nova produção
do bailado em dois actos O Quebra-Nozes, com a colaboração da Escola de Dança do Conservatório Nacional, o Coro
e a Orquestra do Teatro Nacional de São Carlos. Trata-se
de uma nova produção em estreia que testou mais uma vez
a capacidade organizativa e de produção de uma pequena
equipa profissional. Sem falsas modéstias, orgulhamo-nos
do resultado.
Em Maio, apresentámos o Estúdio Coreográfico 2003,
uma aposta continuada em novos criadores para a dança
e estreámos pela primeira vez na Companhia Nacional
de Bailado obras de Hans van Manen. Em Julho ocorreu
a estreia absoluta de Pedro e Inês, uma coreografia
de Olga Roriz com cenários de João Mendes Ribeiro, figurinos de Mariana Sá Nogueira e desenho de luz de Cristina
Piedade. Desde então, Pedro e Inês tem sido apresentado
em digressão nacional e está em preparação uma
digressão internacional.
Ao mesmo tempo que decorreu a temporada regular
da Companhia no Teatro Camões, desenvolvemos mais
uma digressão nacional: estivemos em Serpa, Évora,
Figueira da Foz, Santa Maria da Feira, Coimbra, Castelo
Branco, Lagos e Arronches. A Companhia Nacional
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DIRECÇÃO DA CNB
de Bailado tem vindo a desenvolver todos os anos digressões
por todo o território nacional, incluíndo as ilhas, o que
nos garante hoje um circuito mínimo de espectáculos em
teatros municipais, universitários, cine-teratros ou pavilhões
gimnodesportivos. Tal só é possível, graças ao apoio e interesse de muitas autarquias, do Europarque, da Culturporto,
da Delegação Regional de Cultura do Alentejo, entre outros.
O apoio mecenático da EDP tem-se revelado decisivo para
o desenvolvimento e crescimento da actividades da CNB.
De facto, e desde 1998, a EDP tem sido um parceiro fundamental nesta estratégia de assegurar a apresentação
de espectáculos de qualidade não apenas em Lisboa, sede
da Companhia, mas também em todo o território nacional.
Por isso, a EDP associou-se também a nós na remodelação
do Teatro Camões e no seu lançamento como Teatro
da Dança. Num ano de fortes restrições orçamentais, a EDP
renovou o seu apoio mecenático à Companhia Nacional
de Bailado, aumentando o valor anual atribuído:
de ¤ 500.000,00 para ¤ 750.000,00.
Ainda durante 2003, acolhemos no Teatro Camões
a Companhia Olga Roriz, a CêDêCê-Companhia de Dança
Contemporânea, a Ballet Contemporâneo do Norte,
Companhia de Dança de Almada e também iniciativas dedicadas à dança do novíssimo Instituto das Artes.
Conciliámos, por último, no Teatro Camões, a temporada regular da CNB com as referidas companhias e com uma forte
actividade de caracter comercial, que não sendo decisiva é
certamente determinante como fonte alternativa de receitas.
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A CNB é um projecto em crescimento, com dinâmica e qualidade artísticas asseguradas. Estamos em fase de reestruturação que é necessária e fundamental para modernizar
a estrutura da Companhia e prepara-la para uma nova fase
que inclui o Teatro Camões.
Neste final de ano, a Direcção da CNB agradece a todos
os que tornaram possível esta realidade, a nossa programação, os nossos espectáculos na nossa nova casa em
Lisboa mas também por todo o país. Uma palavra, em particular, para os administrativos, artístas e técnicos
que compõem os quadros da Companhia: esta equipa,
que somos todos nós, tem demonstrado que hoje é possível
prestar um serviço público de qualidade, com o qual
o cidadão se identifica: trabalhar em equipa e exigir
a excelência, é, porventura, o segredo do nosso eventual
sucesso.
A todos um muito obrigado pelo trabalho desenvolvido
e votos de um bom anos de 2004.
A Direcção da Companhia Nacional de Bailado
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CNB
Director Artístico Mehmet Balkan
Directora Ana Pereira Caldas
Subdirector Carlos Vargas
FICHA TÉCNICA CNB
Bailarinos Principais
Inês Amaral, Adeline Charpentier, Barbora Hruskova, Peggy Konik, Ana
Lacerda, Filomena Pinto, Filipa Rola*, Didier Chazeau, Alexandre Fernandes,
Mário Franco, Alistair Main, Carlos Pinillos, Roman Vassiliev
Solistas
Isabel Galriça, Mariana Paz, Claude Yammin, Luís d’Albergaria, Bruno Roque,
Fernando Duarte, Rui Lopes Graça, Juan Hernández, Brent Williamson
Corifeus
Filipa Castro, Catarina Lourenço, Guiomar Machado, Maria João Pinto,
Paulina Santos, Rui Alexandre, Tom Colin, Carlos Labiós, Armando Maciel
Corpo de Baile
Annabel Barnes, Paula de Castro, Virginya Chevalier, Marina Figueiredo,
Isabel Frederico, Clare Figgins, Mónica García, Catarina Grilo, Etelvina
Loureiro, Elsa Madeira, Helena Marques, Susana Matos, Myriam Mechaiek,
Solange Melo, Charmaine du Mont, Maria Paiva, Irina de Oliveira, Carla
Pereira, Margarida Pimenta, Andreia Pinho, Sílvia Santos, Anabel Segura,
Marta Sobreira, Alba Tapia, Henriett Ventura, Can Arslan, Xavier Carmo, Philip
Currel, Freek Damen, Nuno Fernandes, Ediz Ergüç, Frederico Gameiro, Kürsat
Killiç, Filipe Macedo, Pedro Mascarenhas, José Carlos Oliveira, João Carlos
Petrucci, Álvaro Santos, Mehmet Yümak
Mestres de Bailado Maria Palmeirim, João Miranda
Ensaiadores Maria José Branco, Isabel Fernandes, Kimberley Ribeiro
Professora Emérita e Conselheira Pedagógica Violette Quenolle
Professora Cristina Maciel
Pianista Acompanhadora e Assistente Musical Ana Paula Ferreira
Pianista Imelda Cartwright
* Estágio de Massoterapia
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Coordenador Técnico João Carlos Andrade
Director Técnico João Paulo Xavier
Director de Cena Henrique Andrade
Directora de Produção Maria Luísa Carles
Coordenadora Executiva Margarida Mendes
Encarregado Geral Manuel Carvalho
Assistente da Direcção de Produção Carla Almeida
Assistente da Direcção Técnica e Contra-Regra Wanda França
Chefe Maquinista Joaquim Maia
Maquinista Alves Forte
Chefe de Iluminação Vítor José
Técnico Assistente de Iluminação Pedro Mendes
Técnico de Som e Vídeo Helder Gomes
Zeladora do Guarda-Roupa Maria José Pardal
Mestra de Guarda-Roupa Adelaide Marinho
Costureira Adelaide Pedro Paulo
Osteopata José Campos, Acácia Coyac
Massagista Vitor Passarinho
Coordenador Administrativo António Ferreira
Assistente Administrativa Fátima Ramos
Assistente Administrativa Especialista Isabel Ricarte
Secretária da Direcção Lurdes Almeida
Apoio Administrativo Laura Pinto
Assessora Jurídica Leonor Pinto Ribeiro
Relações Públicas Cristina de Jesus
Apoio à Internet Fátima Brito
Fundo Documental Marco Arantes
Motorista João Alegria
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PROGRAMA06
O Quebra-Nozes
Coreografia Mehmet Balkan segundo Marius Petipa
Música P. I. Tchaikovsky
Dramaturgia Mehmet Balkan e Olaf Zombebeck segundo E. T. A. Hoffman
Cenários e Figurinos Olaf Zombeck
Desenho de Luz Cristina Piedade
Assistente do Coreógrafo Junko Hikasa
Ensaiadores João Miranda, Maria José Branco, Isabel Fernandes e Cristina Maciel
Ensaiadores das crianças Isabel Fernandes, Armando Maciel
Assistente do Cenógrafo e Figurinista Natacha Fernandes
Execução Adereços de Cena Leonel e Bicho, Guilherme Durão Cal, Linden
Patrick Bell, Fernando Oliveira, Carlos Coxo
Cabeleireiras e Adereços de Cabeça Marian de Graef, Fátima Sousa
Caracterização Sandra Pinto
Aluguer de Guarda-Roupa Atelier Maria Gonzaga
Costureiras Ana Marinho, Glória Bento, Celeste Santos, Fernanda Campos,
Helena Moreira, Helena Sousa, Odete Oliveira, Esmeralda de Sousa, Carla Cruz,
Alexandrina Conde, Antónia Costa, Helena Freitas, Conceição Miranda,
Paula Marinho
Equipa Técnica Central do Mitelo, Lda.
Cruzada Cristiano Varela, Nicolau Nunes, Pedro Campos, Cândido Santos, Vitor
Pinto, Mário Silva, Luis Pires, Miguel Osório, Paulo Cesar, Rui Alves
Lista de Agradecimentos Adriano Coelho, Lda, Arnaud Transitários,
Casa Batalha, Central do Mitelo, Lda, Luzeiro, Ourotexteis, Lda, Santo
Condestável, Sua Kay Arquitectos, Top Atlântico
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Nova Produção em Estreia Absoluta
Lisboa, Teatro Camões, Companhia Nacional de Bailado, 20 de Dezembro de 2003
Coro do Teatro Nacional de São Carlos
Maestro Titular João Paulo Santos
Orquestra Sinfónica Portuguesa
Maestro Titular Zoltán Peskó
Direcção Musical James Tuggle
Para a Produção de O Quebra-Nozes
Execução de Cenários La Bottega Veneziana
Execução de Adereços Leonel Bicho e..............
Execução de Guarda Roupa Adelaide Marinho (Oficina CNB)
Execução de Cabeleiras e Adereços de Cabeça Patrick Bell e Liden..............
Caracterização Sandra Pinto
Aluguer de Guarda Roupa Atelier de Maria Gonzaga e ....................
Oficina CNB
Costureiras
Equipa técnica
Técnicos
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Peggy Konic e Fernando Duarte
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SINOPSE
O Quebra-Nozes
Tempo de sonhar.
Tempo para deixar voar os pensamentos, voar muito além
dos acontecimentos de Ontem, porque há sempre um
Amanhã, voar para além dos horizontes e espantar-se
através dos olhos de uma criança…
Tempo mágico.
Tempo de Natal.
…passam nuvens no céu nocturno estrelado e a lua vagueia
sobre a Terra.
Guia-nos através da esfera da fantasia, abre o cortinado de
um Teatro mágico imaginário e conta-nos o segredo de Natal
numa pequena cidade:
Era uma vez…
Perante os nossos olhos levanta-se o véu, encontramo-nos
no meio de um tumulto alegre de pessoas ansiosas e em
espírito de festa.
Filipa Castro e Carlos Pinillos
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Prólogo
As janelas das casas da cidade estão iluminadas com velas:
É a Noite Santa.
Visitantes tardios passam rapidamente, carregados de
prendas de Natal.
Além, numa casa senhorial, abre-se a porta de entrada
para deixar entrar os convidados.
Aí, da janela de sacada, uma menina olha com um ar
pensativo para uma velhinha pobre que vende as últimas
castanhas por baixo das árvores.
Começa a nevar. Agora as ruas estão vazias. Por todo
o lado se prepara a consoada.
A porta de entrada abre-se novamente, aparece a mesma
menina, sai de casa e corre em direcção à velhinha; pede-lhe
para que a acompanhe e convida-a a passar a Noite de Natal
no calor e carinho da sua família.
Vejam, como brilha a Árvore de Natal... e os inúmeros
presentes e, como está linda a mesa decorada e cheia
de iguarias!...
Será que mágico, Drosselmeier consegiu este passo
de magica?
Ou...?
A velhinha sorri enigmática e misteriosa...
Fritz está feliz com um pequeno regimento de soldados –
heróis corajosos sem dúvida — e a Clara?
Clara também recebeu um herói: é um Quebra-Nozes lindo,
o príncipe dos seus sonhos…
Que noite tão divertida, transbordante de alegria e de
exuberância, com os avós a dançar, sem falar, saudosos
dos tempos da sua juventude.
Parece que o mágico bebeu um copinho a mais: as suas
marionetas desatam a correr, a fugir, Columbine e Pierrot
dançam à sua volta.
1º Acto
Cena I: A Consoada
No interior da casa, uma sala decorada para o Natal,
num brilho suave, recebe os seus últimos convidados.
Os pais da menina dão as boas vindas à velhinha pobre
e pedem a Clara — assim se chama a filha — para a acompanhar até a poltrona, abrigando-a ao calor da lareira.
As portas de vidro ainda estão ainda fechadas, e as crianças
muito excitadas; finalmente, os avós sentam-se e, tal como
tios e tias, todos os amigos e crianças esperam pela surpresa
misteriosamente anunciada.
Cansado e esgotado ele sobe a escada para finalmente
poder descansar, que bem merece!
Ai, o ponche, o vinho!
Artistas da CNB
Drosselmeier, o mágico, entra – um pouco cómico e sinistro!
Ouvem-se sussurros: “parece que ele sabe enfeitiçar”...
...e, então, abrem-se as portas de vidro!
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Estão a fazer efeito e, já é tão tarde!
Seguem-se as despedidas: Boa noite! Feliz Natal! Adeus!....
Dorme bem Clara!…
Cena II: Meia-Noite
Agora é noite escura. A Árvore de Natal brilha misteriosamente à luz da lua e das estrelas.
Será que Clara desce e mansinho as escadas? É mesmo:
Ela vem à procura do seu novo amigo, o Quebra-Nozes, é ele
que vai proteger e guiar os seus sonhos.
O relógio bate as doze badaladas. O ponteiro indica
a Meia-Noite, hora em que se abrem as portas invisíveis…
...alguma coisa se mexeu ali? Será uma brincadeira?
...quem está a sussurrar?
Uma ratazana? …não pode ser! Outra, e mais outra...
Socorro! Socorro!...
Ao cimo da escada parece estar um fantasma! Ah mas
é o Mágico! Acordou assustado e com uma vela na mão
tenta descer a escada com todo o cuidado...
Clara e o Mágico assustados, chocam um com o outro:
Ratazanas! Um exército de piratas! Socorro!...
Então, uma figura mágica levanta-se da cadeira de braços —
é a Fada do Mundo dos Sonhos que só aparece aos Homens
na Noite de Natal.
Com gestos determinados ela afasta o pesadelo... e vejam...
Ah, a sala... tornou-se enorme e a Árvore de Natal cintilante
cresceu também!
Clara fica fascinada com toda esta mudança.
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Legenda
Ouve-se o rufar dos tambores — o soar das trombetas.
Os soldadinhos investem — nós já os conhecemos — são
do regimento do pequeno Fritz que, comandados pelo
Quebra-Nozes da Clara, corajoso e determinado, atacam
com um canhão de enorme.
O fragor da batalha agita as tropas das ratazanas e dos
soldados.
As espadas brilham no meio do fumo da pólvora...
Por momentos parece que os piratas ganham terreno:
o terrível chefe Raterix, exige o máximo de todos!
Mas a protectora Fada do Natal consegue heróico general da
Clara, o Quebra-Nozes, ponha o malvado bando de ratazanas
em debandada. O seu regimento consegui uma grande
vitória!...
Mas onde está o Mágico!
Será que se escondeu na sua caixinha mágica cheio
de medo!
O fumo dissipa-se.
2º ACTO
Cena IV: Voo no céu estrelado
A lua continua a percorrer o seu caminho. Não estão a ver?
No mais fundo da sua imaginação Clara vê surgir o seu pro- Clara voa atrás das nuvens no céu cheio de estrelas…
tector transformado no seu Príncipe, Herói, Amigo
Um trenó leva-a para o país das maravilhas onde existe
do Coração – o seu Quebra-Nozes.
Beleza, Alegria, Brilho e Crianças felizes.
Carinhosamente ele acompanha Clara ao Reino da Paz
e dos bons sonhos.
Cena V: Na Primavera
O mundo desabrochou e está cheio de promessas.
Clara enlevada observa os toureiros fogosos, a cortejar
as suas senhoritas adoradas – será o pronuncio de uma
Flocos de neve pairam em silêncio, giram e rodopiam ao tourada emocionante?
ritmo de uma melodia envolvente. Subitamente, Clara é
levada a voar através de uma floresta cintilante no Inverno E, num piscar de olhos, Clara vê o pôr-do-sol no deserto
profundo. …Ao lado da sua boa Fada, a Fada do Natal, voa egípcio;
para um Mundo em que todos os desejos são satisfeitos... ora, encontra mandarins com as suas vaidosas concubinas,
ora, encontra dois cossacos galhofeiros, que parecem querer mudar o mundo, doidos de alegria e vontade de viver.
Cena III: Um conto de Inverno
Como é bom viver, não é?
Só faltam os doces deliciosos, as guloseimas….
Chupa-chupas divertidos...
Parece mesmo um verdadeiro Circo!
Por todo o lado há algo que pula, salta, rodopia numa confusão multicolor.
Reina a alegria. E a Paz.
Num relvado imenso de flores, Columbina dança com
Pierrot e no meio das pétalas ondulantes, Clara, cheia de
felicidade, dança com o seu Quebra-Nozes, o seu Príncipe.
Figurinos Olaf Zomback
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Mas o seu sonho envolve-se numa magia conturbada:
a Fada dos bons momentos, acompanhada do seu galã sorridente, chega ao seu reino; o Jardim das doces promessas.
O Tempo e o Espaço transformam-se numa grandiosa apoteose.
O par maravilhoso transforma a atmosfera enebriante
de encantamento e graciosidade...
Epílogo
…mesmo o sonho mais bonito tem que acabar.
A boa Fada sabe que tudo tem uma razão de ser.
Clara acorda: nos seus braços segura o Quebra-Nozes…
Que noite de Natal tão maravilhosa!
Será que foi tudo um sonho? Aí está a Árvore de Natal,
as escadas…e lá, da poltrona levanta-se a velhinha…
ela conhece o segredo da Noite Santa e da Mensagem
da Reconciliação e da Solidariedade...
Foi assim? Será sempre assim?
Sorridente, a velhinha observa as estrelas – a lua escondese atrás de uma nuvem. Aperta o xaile à volta dos ombros
e, devagar, desvanece-se no escuro das ruelas adormecidas.
Enquanto ela se afasta, Clara olha-a, cheia de melancolia.
Na janela de sacada está o Quebra-Nozes, silencioso e sério
fitando o mundo, com os olhos bem abertos: o herói dos
sonhos reais.
SE OS SONHOS SÃO REAIS, O QUE É, ENTÃO, A REALIADADE?
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Olaf Zombeck
Ana Lacerda
ENSAIO
O enigmático mundo interior de
“O Quebra-Nozes”
«'O Quebra-Nozes' de Mikhail Baryshnikov é um estranho e
maravilhoso bailado.» A citação é de um texto do
"Washington Star" sobre a estreia, em 1976, em
Washington (EUA), da versão de Baryshnikov deste bailado,
originalmente criado no século anterior na Rússia. Este
olhar sobre «O Quebra-Nozes» é um exemplo da recuperação da complexidade simbólica e de drama psicológico
que está no texto que lhe deu origem, um conto de E.T.A.
Hoffmann, «O Quebra-Nozes e o Rei dos Ratos», do início do
século XIX. O primeiro bailado «O Quebra-Nozes» estreou
em Dezembro de 1892, no Teatro Maryinsky, em São
Petersburgo (Rússia). Segundo as memórias escritas de
Petipa («Mémoires», de Marius Petipa, 1990, Actes Sud):
«Lev Ivanov compõe e encena, a partir do meu argumento,
todas as danças do bailado 'O Quebra-nozes' sobre a música de Tchaikovski». O compositor inspirou-se na adaptação
para conto infantil que Alexandre Dumas fez da história de
Hoffmann.
Mikhail Baryshnikov e ...
A versão de Petipa/Ivanov desenha uma opção pelo
entretenimento, uma história ilustrada por momentos de
bailado simplesmente para distrair, retirando-lhe a dimensão psicológica inerente à essência dos contos de fadas.
Esse potencial simbólico, que propõe pistas para a compreensão do mundo interior do ser, é recuperado com
Baryshnikov, de acordo com as transcrições de críticas à
peça constantes no livro «Balanchine's Complete Stories of
The Great Ballets», de George Balanchine e Francis Mason
(1977, Doubleday & Company), que dão conta de um
mundo de fantasia que ilustra o dilema da existência interior da protagonista, Clara (em algumas versões chama-se
Maria), que se encontra numa idade de transição, da infância para a adolescência – no original de Petipa é uma criança que interpreta a menina, que tem um papel pouco
activo na história. Esta opção culmina na alteração do
momento chave do bailado: o famoso pas-de-deux, que no
original é dançado pela Fada do Açúcar e pelo seu cavaleiro, passa a ser um pas-de-trois dançado por Clara,
Drosselmeyer (o enigmático padrinho que lhe oferece o
boneco Quebra-nozes) e o príncipe (Quebra-nozes transformado). Outra diferença reside no facto de que, na maior
parte das versões, haver um conflito inicial entre Clara e o
irmão, Fritz, quando este lhe parte o boneco que
Drosselmeyer lhe oferece. No bailado de Baryshnikov o
conflito estabelece-se a um outro nível, com um adulto,
convidado da festa de natal da família Stahlbaum, que lhe
quebra o boneco, completando a lógica do potencial de
drama psicoanalítico presente nos contos de fadas, uma
vez que está implícito no sonho de Clara uma vingança dos
adultos, vingança que significa superar a adversidade
sendo feliz. E é esta uma das utilidades dos contos de fadas
para a qual alerta Bruno Bettelheim no seu livro
«Psicanálise dos Contos de Fadas» (10ª edição, 2003,
Bertrand): «Para que uma história possa prender verdadeiramente a atenção de uma criança, é preciso que ela
distraia e desperte a sua curiosidade. Mas, para enriquecer a sua vida, ela tem de estimular a sua imaginação; tem
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de ajudá-la a desenvolver o seu intelecto e esclarecer as
suas emoções; tem de estar sintonizada com as suas
angústias e as suas aspirações; tem de reconhecer plenamente as suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir
soluções para os problemas que a perturbam.»
«O Quebra-Nozes» é claramente um caso em que Petipa
(mesmo contando com a criatividade de Ivanov), «com
intenção de produzir grandes efeitos cénicos, [ele] enche o
espectáculo com solos e ensembles que pouco têm que ver
com o seu conteúdo» – de acordo com a bailarina russa
Tâmara Karsavina (nas «Mémoires», de Marius Petipa).
Não é por acaso que a segunda parte do bailado original é
composta por uma sequência de danças de diferentes culturas (espanhola, árabe, chinesa e russa), sintomaticamente integradas na categoria de «divertissement», que
nada acrescentam à história e que não têm outra utilidade
que não seja a diversão. Apesar da crítica, Karsavina elogia
o facto de Petipa se servir da coreografia, de um modo
geral, «como um meio de penetração nas profundezas psicológicas ao combinar com grande talento a forma exterior com o sentido interno». O que raramente acontece nas
versões de «O Quebra-Nozes», resultando num empobrecimento que deve ser tido em consideração e que se aplica,
de acordo com Bettelheim, à abordagem mais vulgarizada
actualmente a este género de literatura infantil: «A maior
parte das crianças de hoje toma conhecimento dos contos
de fadas em versões embonecadas e simplificadas, as
quais abrandam o seu sentido e lhes roubam qualquer significado mais profundo – versões tais como as dos filmes e
espectáculos da TV, em que os contos de fadas se transformam em divertimentos esvaziados de sentido.»
«O Quebra-Nozes» sobreviveu à ameaça do esquecimento,
mesmo tendo um começo pouco auspicioso – até
Tchaikovsky acreditava pouco no seu potencial, achava o
tema «inferior» ao de «A Bela Adormecida», segundo o
«Complete Book of Ballets», de Cyril W. Beaumont (1941,
20
Legenda
Garden City Publishing) – é hoje um clássico que se revisita
frequentemente no Natal. A questão das opções dramatúrgicas e da riqueza de reflexão psicológica, constante no
conto, pouco utilizada no bailado é apenas uma das perspectivas pelas quais vale a pena olhar para o «O QuebraNozes». A outra é entendê-lo como oportunidade de repensar o papel de Petipa na história da dança e este é também
um universo complexo. Muitas críticas são feitas a Petipa,
mas o nome tornou-se imortal, deixando tatuada uma
indiscutível influência no bailado clássico do final da
segunda metade do século XIX. «O Quebra-Nozes», mesmo
não tendo sido totalmente concebido por este – juntamente com «A Bela Adormecida» (1890) e «O Lago dos
Cisnes» (1895) – é uma das obras emblemáticas do reino
do teatro imperial russo que o coreógrafo francês dominou
na segunda metade do século XIX. Para esta importância
histórica contribuiu grandemente a colaboração com um
compositor, Tchaikovsky, autor das partituras das três
peças.
A relação mais próxima entre a composição musical e coreográfica é uma das contribuições de Petipa, quando até
aqui a prática era que todos os elementos constituintes de
uma obra – música, dança, figurinos, cenário… – fossem
criados separadamente, encontrando-se unicamente no
final, com resultados «muitas vezes longe de ser satisfatórios», segundo Beaumont. E esta mudança torna-se
mais evidente nas obras em colaboração com Tchaikovsky,
o que, segundo Tâmara Karsavina, pode explicar o facto de,
nos bailados anteriores, não existir «uma tal diversidade
de personagens, de nuances de sentidos subtis nos movimentos e de uma tradução da música em linguagem gestual, inspirando-a». Para Balanchine – «Mémoires», de
M.P. – Petipa leva para a Rússia «o requinte da elegância
francesa, o sentido de perfeição absoluta da forma visual
e um elevado simbolismo humanista. Ele faz sobressair o
actor-bailarino, uma vez que a Europa ocidental tenta
impor uma certa poética de convenção ao bailado que não
era mais do que pantomima infantil a dar-se ares de
ópera». Tomaz Ribas atribui-lhe «a grandiosidade e o brilhantismo do bailado imperial como também a manutenção
de pureza do Ballet como espectáculo» – no seu livro «O
Que é o Ballet» (2ª edição, 1966, Arcádia) – e defende uma
transposição «dos clichés da ópera lírica» para os bailados
de Petipa: «os coros grandiosos são grandiosos corpos de
baile; a área mais ou menos virtuosa da diva corresponde
à ária de virtuosa técnica da ballerina-assoluta; ao dueto
da diva e do tenor corresponde o pas-de-deux; e a ária do
tenor tem a sua correspondente nas variações do
danseur-noble». A consequência, segundo Ribas, era, «se
por um lado, elas serviam para a manutenção de uma
tradição da técnica e do estilo académico-clássico, por
outro lado, no ponto de vista da inspiração, tornaram-se
banais sobretudo por Petipa, dentro do convencionalismo
do ambiente, ter que ajustar as suas obras aos gostos e às
exigências do público que as apoiava. Assim, nesses ballets
todas as estrelas tinham de ter o seu brilharete, pelo que
Artistas da CNB
o coreógrafo se via forçado a conceber danças, solos, pasde-deux em que os dons pessoais de cada uma das
grandes bailarinas fossem explorados ao máximo».
Balanchine (nas já citadas «Mémoires») vê neste trabalho
com «os dons pessoais» de cada bailarino/a uma qualidade: «ao valorizar a individualidade do intérprete graças
a uma selecção de combinações de movimentos mais apropriados, Petipa aperfeiçoou de maneira indirecta todo o
vocabulário da dança clássica, uma vez que os bailarinos
aspiram a dilatar o léxico dos seus movimentos e a assimilar aquilo que lhes parecia impossível.»
Fazendo a transição do romantismo para o início do século XX, a importância de Marius Petipa para a história do
bailado é indiscutível, o que não anula as críticas que lhe
foram feitas. A bailarina e coreógrafa russa Bronislava
Nijinska (que chegou a dançar, ainda em menina, em bailados de Petipa), escreve, no livro «Mémoires», de Marius
Petipa, que considerava a mímica que existia nos seus
21
Legenda
espectáculos «ridícula», criticava «a virtuosidade da dança
clássica arremetida à acrobacia e não respondendo à
acção do bailado». Acrescenta ainda: «As túnicas dos
bailarinos, sempre as mesmas, pareciam-nos igualmente
inapropriadas. Estávamos indignados com os absurdos
geográficos, etnográficos e que iam simplesmente contra o
bom senso». Tomaz Ribas, no seu livro, afirma: «os divertissements sucedem-se uns aos outros quase anacronicamente, sem nada que ver com a acção dramática ou a
arquitectura coreográfica da obra». Mas por entre este
panorama, o especialista de dança português destaca as
três obras que contam com a criatividade musical de
Tchaikovsky: «estes bailados são grandes poemas coreográficos, que proporcionam uma impressão de beleza,
harmonia e graciosidade». E nesta descrição situa-se o que
Petipa considera mais importante, como definiu o bailarino
e mestre de bailado Nicolas Legat, contemporâneo do
coreógrafo, no livro de memórias: «Aspirar à beleza, ao
encanto e à simplicidade e não reconhecer nenhuma outra
lei.»
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«O Quebra-Nozes» situa-se na categoria de «bailadosfeérie», que conhecem uma grande expansão no final do
século XIX, o que remete para o mundo das fadas, de contos, do sobrenatural. A obra tem sido abordada pelos mais
diferentes coreógrafos, tanto numa perspectiva de reconstrução de uma nova obra, orientada pelas opções coreográficas originais ou assumindo uma autoria totalmente
própria, mesmo que inspirada no conto de Hoffmann e com
música de Tchaikovski, como aconteceu com o bailado de
Nureyev (1967, Royal Swedish Ballet), ou ainda como tentativa de reconstrução do original. Portugal não é
excepção. A 3 de Janeiro de 1971, Tomaz Ribas escrevia no
"Diário de Lisboa": «O dia 2 de Janeiro de 1971 ficará
sendo, de certo modo, uma data assinalável da ainda
pequena e pobre história do 'ballet' em Portugal pois será
a data em que, pela primeira vez, uma companhia balética
portuguesa apresentou uma versão integral do famoso
bailado 'Quebra-nozes'.» A companhia era o Grupo
Gulbenkian de Bailado (actual Ballet Gulbenkian) e a coreografia era assinada por Anton Dolin. «Velho e enfadonho
mas famoso», era assim que Tomaz Ribas descrevia esta
obra, destacando «os maravilhosos e esplendorosos
cenários e figurinos de Artur Casais» e «as presenças de
dois notáveis bailarinos portugueses – Isabel Santa Rosa e
Armando Jorge – que com Margery Lambert arcaram com
a responsabilidade dos principais papéis». Em 1975, aquela versão de «O Quebra-Nozes» regressa ao Ballet
Gulbenkian, mas com revisão coreográfica de Jorge Garcia,
Carlos Trincheiras e Armando Jorge. A Companhia Nacional
de Bailado, criada a 22 de Junho de 1977, apresenta no
seu primeiro programa (5 de Dezembro desse mesmo ano),
o famoso pas-de-deux de «O Quebra-Nozes», peça que viria
a ser revisitada, na íntegra, em 1984, com coreografia de
Armando Jorge e cenários e figurinos de Artur Casais, conhecendo agora uma nova versão, da autoria do actual
director da CNB, Mehmet Balkan.
Cenários e Figurinos de Artur Casais
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