“Estrangeirismos de Domínios Científicos e Técnicos no DLPC

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“Estrangeirismos de Domínios Científicos e Técnicos no DLPC
“Estrangeirismos de Domínios Científicos e Técnicos no DLPC”1
Rita Gonçalves2
ILTEC / CELEXTE
1. Introdução
Perante a alta frequência de terminologia das várias áreas do saber em periódicos e outros
meios de comunicação social, bem como perante a vulgarização do consumo de produtos
resultantes de tecnologias várias, o falante está familiarizado com um sem-número de
palavras especializadas com as quais convive e comunica. É com base na relação íntima que
se estabelece entre o falante e o vocabulário científico e técnico que surge a responsabilidade
pedagógica do dicionário na explicitação de conceitos que fazem parte de uma multiplicidade
de “cenários comunicativos”: “They cover, for instance, communication among specialists,
between specialists and semi-specialists or technicians, between specialists and learners, as
well as popularisation of science and technology” (Cabré:2003).
Assim, parece mais do que evidente a pertinência da inserção de unidades especializadas nos
dicionários de língua geral, veículo do conhecimento que acaba por ser um espelho da
sociedade tanto ao nível linguístico, como aos níveis cultural e sociológico, tanto mais que
elas constituem unidades lexicais da língua, tal como fica expresso nas seguintes palavras de
Cabré “… the terminological units are not perceived as separate from words which constitute
a speaker’s lexical space but as special meanings of the lexical units at a speaker’s
command.” (Cabré:2003)
Dados o peso e a importância de uma instituição como é a Academia das Ciências de Lisboa,
as elevadas expectativas em relação ao seu dicionário 3 faziam prever um período de debates
envolvendo temáticas linguísticas e lexicográficas, uma vez que, perante a inexistência de um
organismo oficialmente responsável pela normalização do Português Europeu, o Dicionário
da Língua Portuguesa Contemporânea (DLPC) foi tomado como referência e assume esse
carácter normalizador, como podemos constatar na Introdução do mesmo: “O Dicionário da
Academia, embora seja uma obra de natureza essencialmente descritiva, fundamentada no uso
da Língua, tem também uma preocupação normalizadora em aspectos que se relacionam com
a grafia, a fonética, o aportuguesamento de estrangeirismos ou a sua substituição por formas
vernáculas...” (Casteleiro 2001: pp. XIII)
Também as palavras de José Vitorino de Pina Martins, na altura Presidente da Academia das
Ciências de Lisboa, deixam bem claro que acredita que estas unidades de origem estrangeira,
depois de tratadas, devem ser plenamente integradas na língua e, por consequência, devem
estar devidamente registadas: “A Língua falada por um povo é um organismo vivo,
enriquecendo-se quotidianamente no contacto dos seus falantes com novas realidades da
existência e até com falantes de outros idiomas. Há que lutar pela sua defesa e ilustração, mas
sabendo que os novos vocábulos e até novos termos de outros idiomas ou estrangeirismos,
uma vez integrados e afeiçoados no cerne da língua falada, não a corrompem nem a poluem
lexicalmente.”. (Prefácio do DLPC: pp. IX)
1
Agradeço a Margarita Correia e Teresa Cabré as leituras atentas, as correcções e as sugestões. No entanto,
quaisquer erros ou omissões constantes deste artigo são da minha inteira responsabilidade.
2
A minha participação neste congresso foi possível graças ao apoio do Instituto Camões, no âmbito do Programa
Lusitânia.
3
O dicionário com a chancela da Academia das Ciências de Lisboa era esperado desde o séc. XVIII, data da
publicação do primeiro dicionário a cargo desta instituição que acabou por ficar apenas pela edição do volume
correspondente à letra A, que voltou a ser editado em 1976, numa versão revista e actualizada.
De entre as unidades lexicais de origem estrangeira que se registaram no DLPC é dada
especial atenção ao vocabulário técnico e científico, como afirma Malaca Casteleiro: “O
léxico registado no Dicionário abrange não apenas o vocabulário de uso geral, mas também os
termos mais usuais das diferentes áreas científicas e técnicas, assim como os neologismos
recentes e os vocábulos internacionais dos nossos dias, nomeadamente os das novas
tecnologias (ou novas técnicas), a maior parte deles provindos do inglês, sobretudo por via
americana.”. (Casteleiro 2001: p. XIII)
Nesta comunicação começarei por fazer uma breve apresentação do tratamento dos
estrangeirismos 4 e da sua representatividade, tendo em conta o que é afirmado na Introdução
do DLPC e o que se encontra na nomenclatura. Em seguida, focarei a minha exposição na
questão da manutenção, ou não, da forma original, abordando os diferentes tipos de adaptação
propostos e, finalmente, apresentarei as conclusões mais interessantes deste estudo.
Este trabalho surge no contexto da elaboração da minha tese de Mestrado, com o tema
Tecnicismos no DLPC, sob a orientação de Margarita Correia e Teresa Cabré, a ser
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
2. Os Termos Importados no DLPC
2.1. Tratamentos na Introdução
A introdução do DLPC dá conta do tipo de palavras que encontraremos no dicionário, sendo
que, para este trabalho, nos interessam particularmente 3 secções:
I. Vocabulário Científico e Técnico
Visto que este estudo se refere ao vocabulário de cariz especializado, é necessário
entender as linhas de pensamento que levaram à escolha destas unidades de áreas específicas
na nomenclatura do dicionário. De modo a abranger um público de vários níveis etários, com
formação e interesses diversificados, o dicionário contempla, de acordo com o texto da
Introdução do DLPC:
•
•
•
Tecnicismos generalizados no uso comum da língua;
Tecnicismos que, apesar de não serem de uso comum, correspondem a noções,
classificações ou aparelhos fundamentais para essa ciência ou técnica;
Tecnicismos que ocorrem em manuais escolares de matérias de natureza científica e
técnica.
II. Neologismos
Tratando-se de um dicionário que pretende ser descritivo do português
contemporâneo, os neologismos têm um papel importantíssimo na sua forma de mostrar a
realidade comunicacional, admitindo a inclusão de unidades que, embora não satisfaçam a
boa formação, já estão enraizados, parecendo impossível bani-los, ignorá-los, ou tentar criar
novas unidades adaptadas ou vernáculas para os substituir, já que são, na sua esmagadora
maioria, palavras importadas de línguas estrangeiras.
III. Estrangeirismos
4
“O termo estrangeirismo é [...] usado para designar lexias ou formantes de lexias que, [...], apresentam
características, sobretudo do ponto de vista gráfico, das respecticas línguas estrangeiras” (Andrade & Lopes:
1997)
Apesar de se verificar o recurso a estrangeirismos em variadíssimas situações da
língua corrente, o que é certo é que existe uma acentuada proeminência de unidades
estrangeiras nas linguagens de especialidade, nomeadamente em áreas relacionadas com as
novas tecnologias, ou em áreas de confluência de culturas, como a Culinária.
Devido às dificuldades inerentes à escolha de estrangeirismos para integrar a
nomenclatura de uma obra com as características do DLPC, com responsabilidades tanto ao
nível linguístico como social, os autores optaram por integrar estrangeirismos de três tipos:
•
•
•
Aqueles que não têm qualquer alteração à sua forma original, por via da sua
generalização e aceitação consensual no seio da comunidade linguística;
Os que continuam a manter a forma de origem, com remissão para uma versão
aportuguesada;
Os que se mantêm na versão original, com remissão para um equivalente vernáculo.
2.2. Quantidade / Representatividade
De modo a delimitar o âmbito deste estudo foi necessário estabelecer alguns critérios para a
compilação do corpus, não serão consideradas para este estudo as unidades dos seguintes
tipos:
- Brasileirismos
- Africanismos em geral
- Nomes de Línguas
- Sistemas monetários
- Antropónimos
- Topónimos
- Marcas registadas
Excluídas do corpus foram também as palavras que, enquanto entrada, já sofreram
aportuguesamentos como “Hóquei”, sem que seja apresentada, na nomenclatura, a forma que
lhe deu origem no inglês.
O número de entradas recenseadas refere-se apenas a unidades registadas na sua forma
original e assinaladas como pertencentes a uma área específica do saber. O DLPC regista
ainda várias outras unidades de vários domínios, sem alterações à sua forma de origem, mas
que não têm qualquer marca que as identifique como termos de nenhuma área de
especialidade, como se pode verificar nos seguintes casos:
Cockpit
Cyberspace
Bowling
Broker
Pipeline
Output
Match
Spaghetti
Thriller
Foram encontradas 250 formas provenientes de 8 línguas: Inglês, Francês, Italiano, Alemão,
Japonês, Sânscrito, Hebraico e Castelhano.
A grande maioria das unidades em língua estrangeira é, obviamente, proveniente do Inglês
(70%) pelo prestígio desta língua em algumas linguagens de especialidade e pelo seu
monopólio em outras áreas, como a INFORMÁTICA e a ECONOMIA. Apenas 16% das
entradas entraram no Português por via do Francês e trata-se essencialmente de vocabulário
ligado à CULINÁRIA e, quase sempre, com remissão para uma forma aportuguesada ou
vernácula. O Italiano tem uma representação de 7% e todas as palavras estão ligadas à
CULINÁRIA e à MÚSICA. Os outros 7% são distribuídos pelas restantes cinco línguas, com
números de ocorrências pouco significativos, confinadas a áreas com marcas culturais muito
fortes, como é o caso da RELIGIÃO ou da POLÍTICA.
A discrepância dos valores fica bem clara através da representação no gráfico (Fig.1), onde se
verifica a grande proeminência do Inglês relativamente às outras línguas, incluindo o Francês.
Esta língua apresenta valores baixos, mas que, mesmo assim, são mais elevados do que os
valores correspondentes ao conjunto de todas as outras línguas, já que apenas o Italiano
apresenta valores consideráveis. As outras quatro línguas têm uma representação praticamente
irrelevante.
Fig. 1: Unidades Estrangeiras por Línguas
2.3. Áreas mais representadas
Perante a questão das unidades em língua estrangeira, temos uma tendência imediata para
pensar em áreas relacionadas com a Ciência, ou com as tecnologias. No entanto, o presente
corpus vem demonstrar que existem outras áreas em que os empréstimos são em número
bastante significativo. Assim, as áreas com mais representação (algumas unidades pertencem
a mais do que um domínio) são:
-
DESPORTO (58)
MÚSICA (45)
INFORMÁTICA (41)
-
ECONOMIA (25)
CULINÁRIA (22)
Na verdade, os termos de áreas como o DESPORTO, a MÚSICA ou a CULINÁRIA estão de
tal maneira integrados no nosso vocabulário e na nossa cultura que acabamos por não os
sentir como estranhos, a não ser na sua forma gráfica, no caso de ainda não existir uma versão
aportuguesada.
Os termos de DESPORTO são, na sua esmagadora maioria, provenientes do Inglês (variedade
americana), facto que também se verifica nos casos da INFORMÁTICA e muito
particularmente na ECONOMIA, área em que raramente existem tentativas de
aportuguesamento ou de criação de qualquer tipo de denominação alternativa.
As línguas românicas (Francês e Italiano) têm uma presença forte na CULINÁRIA e na
MÚSICA, onde podemos encontrar várias designações do Italiano.
Para além das áreas que se destacam com números elevados de ocorrências, existem também
áreas com uma certa relevância numérica, como o CINEMA (8), a actividade MILITAR (8) e
a FOTOGRAFIA (7).
Áreas com pouca representação são a GENÉTICA (1), a QUÍMICA (2) e a AERONÁUTICA
(3), áreas onde seria de esperar um número elevado de palavras estrangeiras, sobretudo no que
se refere ao Inglês.
2.4. Formas de tratamento dos empréstimos
2.4.1. Manutenção da forma original
Cerca de (44%) das formas não têm qualquer remissão para formas aportuguesadas ou
vernáculas e é precisamente este grupo que constitui a maioria, relativamente ao total de
termos recolhidos. Talvez porque estejam já definitivamente integradas na língua portuguesa,
ou porque, pelo contrário, ainda estão no decorrer do processo de integração, o que é certo é
que o DLCP apresenta variadíssimas palavras sem alterações à forma que nos chega da língua
de origem.
A seguir, apresentamos a lista completa 5, com as abreviaturas correspondentes ao domínio do
saber a que pertencem (Ver “Lista de abreviaturas”, antes da Bibliografia deste artigo):
ABS (Autom.)
Acelerando (Mús.)
Aficción (Taurom.)
Agitato (Mús.)
Aileron (Aeron.,Autom.)
Airbus (Aeron.)
Andante (Mús.)
Antidumping (Econ.)
Bit (Inform.)
Blues (Mús.)
Bug (Inform.)
Byte (Infom.)
CD-ROM (Inform.)
Chip (Inform.)
Cliché (Fotogr.)
Cobol (Inform.)
Currency (Econ.)
DDT (Quím.)
Dealer (Econ.)
Drible (Desp.)
Drive (Desp., Infom.)
Dumping (Econ.)
DVD (Tecnol.)
Factoring (Econ.)
Folk (Mús.)
Fondue (Cul.)
Fortran (Inform.)
Funk (Mús.)
Funky (Mús.)
Gigabyte (Inform.)
Glasé (Cul.)
Gospel (Mús.)
Hardware (Inform.)
Internet (Inform.)
Jazz1 (Mús.)
Jazz2 (Mús.)
5
Joystick (Inform.)
Karaoke (Mús.)
Kilobit (Inform.)
Kilobyte (Inform.)
Laser (Fís.)
Leitmotiv (Mús.)
Marketing ( Econ.)
Medley (Mús.)
Megabit (Inform.)
Megabyte (Inform.)
Modem (Inform.)
Off (Cinem.)
Offset (Inform.)
Offshore1 (Adj.) (Econ.)
Offshore2 (Econ.)
Open (Desp.)
Ostpolitik (Polít.)
Pack (Desp.)
PBX (Telecom.)
Performance (Ling.)
Pick-up (Autom.)
Pidgin1 (Ling.)
Pidgin2 (Ling.)
Pin-up (Fot.)
Prise (Autom.)
Quark (Fís.)
Ram (Inform.)
Ranger (Mil.)
Realpolitik (Polít.)
Reggae (Mús.)
Remake (Cinem.)
Rifle (Arm.)
Rock1 (Mús.)
Rock2 (Adj.) (Mús.)
Rom (Inform.)
Sample (Mús.)
Sampler (Mús.)
Scat (Mús.)
Scherzando (Mús.)
Scherzo (Mús.)
Scone (Cul.)
Self (Electr.)
Set (Desp., Cinem., Mús.)
Sfogato (Mús.)
Sfozando (Mús.)
Shunt (Electr.)
Single (Mús.)
Skate (Desp.)
Slalom (Desp.)
Smorzando (Mús.)
Software (Inform.)
Soul (Mús.)
Spin (Fís.)
Spinnaker (Náut.)
Squash (Desp.)
Stacatto1(Adv) (Mús.)
Stacatto2 (Mús.)
Star (Cinem.)
Swing (Mús.)
Time-sharing (Inform.)
Trust (Econ.)
Upgrade (Inform.)
Vaudeville (Teat.)
Vintage (Vin.)
Warrant (Econ.)
Web (Inform.)
Windsurf (Desp.)
Workstation (Inform.)
Zen1 (Filos., Rel.)
Zen2 (Filos.)
Zoom (Fot., Cinem.)
Todos os termos são substantivos, à excepção dos que apresentam indicação em contrário.
Algumas destas formas constituem verdadeiros internacionalismos, pelo carácter universal de
certas áreas e, consequentemente, das suas terminologias, como é o caso da maioria dos
termos do DESPORTO, da INFORMÁTICA ou da MÚSICA. Mas, sempre que existam
equivalentes vernáculos, a situação ideal será a sua divulgação, como nos casos de Aileron
(estabilizador), ou Set (cenário).
Importa destacar que a instalação de grandes quantidades de estrangeirismos pode trazer
sérias consequências para o português: “Se o fenómeno de importação de termos não constitui
per si um dano, a verdade é que a sua entrada maciça numa determinada língua pode conduzir
a uma descaracterização da mesma, inibindo a sua capacidade criativa e conduzindo à sua
subalternização enquanto língua de comunicação científica e tecnológica e enquanto língua de
comunicação internacional.” (Correia, no prelo)
2.4.2. Adaptação
O DLCP apresenta, na sua nomenclatura algumas formas aportuguesadas (cerca de 33% das
unidades recenseadas), com a intenção de integrar essas palavras em conformidade com as
características ortográficas, fonológicas e morfológicas da língua portuguesa. A forma como
esse processo foi levado a cabo é matéria de inúmeras discussões, levadas a público pela
grande maioria dos jornais nacionais, que dedicaram a este assunto várias notícias,
entrevistas, reportagens especiais e artigos de opinião. Apresentamos a lista (Ver Lista de
Abreviaturas):
Aikido – aiquidô (Desp.)
Audio – Áudio (Tecnol.)
Badminton – Badmínton (Desp.)
Bâton – batom (Desp.)
Box1 – Boxe1 (Desp.)
Box2 – Boxe2 (Desp.)
Bunker – Búnquer (Mil.)
Cannabis – cannabis (Bot.)
Cannelonne – canelone (Cul.)
Kart – carte (Desp.)
Chantilly – chantili (Cul.)
Courgette – curgete (Bot.)
Couscous – cuzcuz (Cul.)
Cricket – críquete (Desp.)
Deck – deque (Náut.)
Diskette – disquete (Inform.)
Éclair – ecler (Cul.)
Écran – ecrã (Fot.)
Flan – flã (Cul.)
Flash – flache (Fot.)
Geyser – gêiser (Geol.)
Golf – golfe (Desp.)
Gong – gongo (Mús.)
Hamster – hamster (Zool.)
Karaté – carate (Desp.)
Karma – carma (Fil., Rel.)
Kendo – quendo (Desp.)
Microchip – chipe (Inform.)
Net – Internet (Inform.)
Ozone – ozono (Quím.)
Paprika – paprica (Cul.)
Parquet – parqué, parquete
(Constr.)
Pâté – patê (Cul.)
Pickles – picles (Cul.)
Pivot – pivô (Agr.)
Pizza – piza (Cul.)
Placard – placar (Desp.)
Plafond – plafom (Fin.)
Plastron – plastrom (Arm.)
Poster – poster (Cin.)
Ragoût – ragu (Desp.)
Raid – raide (Desp.)
Rally – rali (Desp.)
Rappel – rappel (Desp.)
Ravioli – ravióis (Cul.)
Record – recorde (Desp.)
Ring – ringue (Desp.)
Rocket – roquete (Mil.)
Rugby – râguebi (Desp.)
Scanner – scâner (Inform.)
Server – servidor (Inform.)
Ski – esqui (dEsp.)
Skiff – esquife (Desp.)
Softball – softbol (Desp.)
Spot – spote (Teat.)
Sprint – spínte (Desp.)
Sprinter – sprinter (Desp.)
Stress – stresse (Med.)
Suit – suite (Mús.)
Surf – surfe (Desp.)
Toboggan – tobogã (Desp.)
Vamp – vampe (Cin.)
Videotape – video (Tecnol.)
Vinagrette – vinagreta (Cul.)
Vison – visom (Zool.)
Volley – vólei (Desp.)
Yod – iode (Gram)
Ghetto – gueto (Hist.)
Phot – fot (Fís.)
Mezzo – meio-soprano (Mus.)
Mezzo-soprano – meio-soprano
(Mús.)
Kivi – quivi (Bot.)
Knockout1 – nocaute1 (Desp.)
Knockout2 – nocaute2 (Desp.)
Löss – loesse (Geol.)
Intermezzo – entremez (Teat.)
Karting – cartismo (Desp.)
Rink – rinque (Desp.)
Round – ronda (Desp.)
Sauté – salteado (Cul.)
Soufflé – suflê (Cul.)
2.4.3. Decalque Semântico
O DLPC registou formas estrangeiras, para as quais propõe alternativas vernáculas (cerca de
23% do corpus), deixando claro que muitos dos estrangeirismos podem ser, efectivamente,
substituídos, por formas vernáculas. Por razões sociais ou sócio-profissionais, alguns grupos
da comunidade insistem em importar termos estrangeiros.
Por vezes o equivalente vernáculo não é tão divulgado ou usado por razões da ordem das que
são apontadas por Nelly Carvalho (Carvalho 1992: 662):
- A evolução rápida (sem tempo para divulgar o termo vernáculo);
- A falta de tradução exacta;
- A facilidade de comunicação (intercâmbio).
A seguir apresentamos a lista de estrangeirismos com a respectiva proposta de decalque (Ver
“Lista de Abreviaturas”):
Airbag – almofada de ar (Autom.)
Boxeur – pugilista (Desp.)
Budget – orçamento (Econ.)
Bypass – derivação (Med.)
CD – disco compacto (Tecnol.)
Champignon – cogumelo (Bot.)
Check-up – exame geral (Med.)
Consommé – consome (Cul.)
Court – campo de ténis (Desp.)
Crawl – livre (Desp.)
Décor – decoração (B.-Art.)
Démarche – diligência (Mil.)
Destroyer – contratorpedeiro (Mil.)
DNA – ADN (Gen.)
Driver – taco (desp.)
Editing – edição (Inform.)
E-mail – correio electrónico (Inform.)
Encore – Bis (Mús.)
Enjambement – encavalgamento (Lit.)
Feedback – retorno (Econ.)
Fixing – fixação de câmbio (Econ.)
Franchise – contrato de franquia (Econ.)
Franchising – contrato de franquia (Econ.)
Free – livre (Desp.)
Gap – Hiato (Gram.)
Gourmet – gastrónomo (Cul.)
Handicap – desvantagem (Desp.)
Hi-fi – alta fidelidade (Electr.)
Holding – sociedade gestora de participações sociais
(Econ.)
Horsepower – cavalo-vapor (meter.)
Keeper – guarda-redes (Desp.)
Management – gerência (Econ.)
Manager – gerente, treinador (Econ., Desp.)
Mouse – rato (Infor.)
Note-book – portátil (Inform.)
Off-line – fora de linha (Inform.)
On –line – em linha (Inform.)
Motherboard – placa-mãe (Inform.)
Water-polo - pólo-aquático (Desp.)
Pool – consórcio (Econ.)
Script – guião (Cinem.)
Self-government – governo representative (Polít.)
Self-induction – auto indução (Elec.)
Site – sítio (Inform.)
Spoiler – estabilizador (Autom.)
Yeld – rendimento (Econ.)
Green – relvado, campo de golfe (Desp.)
Groom – paquete (Náut.)
Hacker – pirata informático (Inform.)
Putsh – golpe de estado (Polít.)
Meeting – reunião (Mil., Desp.)
Net – líquido (adj.) (Econ.)
Network – rede (Inform.)
Nonsense – absurdo (Filos.)
Jet – avião a jacto (Aerón.)
Round – assalto (Desp.)
Short – curta-metragem (Cinem.)
Speaker – locator (Ling.)
Tape – gravação (Acúst.)
Target – objectivo (Mil.)
Umlaut – metafonia (Ling.)
Muitos dos estrangeirismos desta lista parecem ser muito menos usados pelos falantes do que
a forma apresentada como alternativa vernácula, o que leva a questionar a pertinência da
inserção das formas estrangeiras na nomenclatura do DLPC. Na verdade, muitas são as
situações em que não se justifica a importação de termos, dado que “cada língua possui a
capacidade e os mecanismos necessários à construção de neologismos passíveis de
denominarem os conceitos que vão surgindo na sociedade, pelo que a entrada maciça de
empréstimos numa língua não é apenas perniciosa, como claramente não constitui uma
inevitabilidade” (Correia no prelo). Esse é o caso dos exemplos que apresentamos a seguir:
DNA – ADN
Driver – taco
Free - livre
Keeper – guarda-redes
Mouse – rato
Net – líquido (Adj.)
Short – curta-metragem
Tape – gravação
3. Conclusões
A constituição de uma obra lexicográfica é uma actividade de escolhas constantes e as
questões levantadas pela inserção de palavras estrangeiras na sua nomenclatura são
verdadeiramente polémicas. No entanto, não existem muitos estudos sobre este assunto para o
português (à excepção de trabalhos como os de Andrade e Lavouras Lopes 1997) e a edição
do DLPC veio trazer à ribalta as questões que se relacionam com o todo esse fenómeno dos
estrangeirismos.
O presente estudo centrou-se na forma como o DLCP trata estas unidades, por ser uma obra
que tem a particularidade de tentar assumir um difícil compromisso entre as perspectivas
descritiva e normativa, tarefa nem sempre levada a cabo da melhor forma.
Consideramos que o número de entradas que constitui o nosso corpus é suficientemente
representativo para ter importância num dicionário com cerca de 70.000 entradas, contanto
com inúmeros desdobramentos de entradas por razões morfológicas, etimológicas, ou outras
menos compreensíveis. Importa, neste momento, enunciar algumas conclusões deste trabalho:
- A grande maioria dos termos recenseados vem do língua inglesa, está relacionada com áreas
como a Informática, a Música ou a Economia e acaba por não sofrer adaptações ao
português;
- O DLPC regista alguns estrangeirismos, sem apresentar alternativas para formas com
equivalentes vernáculos;
- A forma como as adaptações dos estrangeirismos foram levadas a cabo levantou polémicas
linguísticas e de opinião pública, como demonstram as palavras de Ivo de Castro (Castro
2003: pp. 22): “ Pessoalmente, custa-me menos ver uma frase com palavras estrangeiras,
[...], do que uma frase com estranhas malformações que resultam da tentativa de
aportuguesar aquelas palavras [...]. Este assunto foi muito discutido aquando da recente
publicação do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da autoria de Malaca
Casteleiro, não tento pela liberdade que mostra na admissão de estrangeirismos em forma
original, [...], mas pelas suas propostas de aportuguesamento.”
- Alguns dos estrangeirismos registados parecem não ser muito usados pelos falantes. Em
alguns dos casos recenseados neste estudo, a comunidade linguística parece ter optado pela
utilização de uma forma vernácula, deixando para trás a forma estrangeira (como o caso de
“Keeper” – gurada-redes).
A inserção de estrangeirismos científicos e técnicos no DLPC tem muitas outras questões a
investigar, como as incongruências relativas à classificação por domínios de especialidade, a
pertinência e a boa formação das unidades inseridas na nomenclatura já com as adaptações ao
português e sem referência ao termo original, etc. Interessante seria também a confrontação
destes dados com as recolhas feitas no âmbito do Observatório de Neologia do Português.6
6
Projecto Observatório de Neologia do Português – ONP, a ser desenvolvido pelo Centro de Estudos em LÉXico
e TErminologia – CELexTE, em funcionamento no ILTEC.
Lista de Abreviaturas:
Acústica (Acúst.), Aeronáutica (Aeron.), Agricultura (Agr.), Armaria (Arm.), Automobilismo (Autom.), Belas-Artes (B.Art.), Botânica
(Bot.), Cinema (Cinem.), Construção (Constr.), Culinária (Cul.), Desporto (Desp.), Direito (Dir.), Economia (Econ.), Electricidade (Electr.),
Electrotécnica (Electotéc.), Filosofia (Filos.), Finanças (Fin.), Física (Fís.), Fotografia (Fot.), Genética (Genét.), Geologia (Geol.), Gramática
(Gram.), História (Hist.), Informática (Inform.), Linguística (Ling.), Literatura (Literat.), Medicina (Med.), Meteorologia (Meteor.), Militar
(Mil.), Música (Mús.), Náutica (Náut.), Política (Polít.), Química (Quím.), Religião (Rel.), Tauromaquia (Taurom.), Teatro (Teat.),
Tecnologia (Tecnol.), Telecomunicações (Telecom.), Tipografia (Tip.), Vinificação (Vin.), Zoologia (Zool.)
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