O uso do Rituximabe no tratamento do Linfoma não
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O uso do Rituximabe no tratamento do Linfoma não
O uso do Rituximabe no tratamento do Linfoma nãoHodgkin, de célula B, baixo grau CD 20 Brasília – DF Abril/2009 MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia Parecer Técnico-Científico: O uso do Rituximabe no tratamento do Linfoma nãoHodgkin, de célula B, baixo grau CD 20 Brasília – DF Abril/2009 2009 Ministério da Saúde. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica. Este estudo foi financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT/MS) e não expressa decisão formal do Ministério da Saúde para fins de incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS). Informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Ciência e Tecnologia Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Edifício Sede, 8° andar, sala 852 CEP: 70058-900, Brasília – DF Tel.: (61) 3315-3633 E-mail: [email protected] [email protected] Home Page: http://www.saude.gov.br/rebrats Elaboração: Revisão Técnica: Mário Henrique Osanai (CGATS/DECIT/SCTIE/MS) Fernanda de Oliveira Laranjeira (CGATS/DECIT/SCTIE/MS Declaração de Potenciais Conflitos de Interesse Nenhum dos autores recebe qualquer patrocínio da indústria ou participa de qualquer entidade de especialidade ou de pacientes que possa ser incluído como conflito. iii RESUMO Intensidade das recomendações: Aa Introdução: Os linfomas não-Hodgkin de célula B, de baixo grau, compõem um grupo importante dos linfomas não-Hodgkin. Aproximadamente 70% dos linfomas nãoHodgkin apresentam um comportamento indolente. O prognóstico e a terapia para o linfoma indolente estão intimamente relacionados à extensão da doença no diagnóstico inicial: menos de 15% a 20% dos pacientes com linfoma indolente são diagnosticados em um estágio inicial da doença (Estágio Ann Arbor I ou II), e metade desses pacientes apresenta longa sobrevida livre de doença após radioterapia. No entanto, a ampla maioria de pacientes com linfoma indolente diagnosticados com doença em estágios avançados (Ann Arbor III ou IV) não pode ser curada com a terapia convencional. Esses pacientes não apresentam benefícios em sobrevida do tratamento no diagnóstico inicial quando comparados com a estratégia de observação, e é geralmente aceito que o tratamento para estes pacientes deva ser reservado para quando a doença se torne sintomática. Para pacientes com linfoma indolente sintomático, um amplo espectro de opções terapêuticas está disponível, variando de agentes simples a regimes com múltiplos agentes ou quimioterapia de alta dose O rituximabe é um anticorpo monoclonal quimérico IgG1 dirigido contra o antígeno de superfície CD20 encontrado na maioria dos linfócitos B normais e neoplásicos. Este agente consiste na primeira terapia baseada em anticorpos aprovada para tratamento do câncer. Objetivo: Este trabalho foi elaborado para avaliar a eficácia e segurança do rituximabe para o tratamento de linfoma não-Hodgkin de célula B, de baixo grau, CD20 positivo. Metodologia: Foi realizada uma busca nos bancos de dados eletrônicos Cochrane Library (via Bireme), Medline (via PubMed), TripDatabase e Center for Reviews and Dissemination. As palavras chaves utilizadas foram “rituximabe”, “lymphoma” e “lymphoma, non-Hodgkin”. Foram selecionadas 3 revisões sistemáticas. Considerações Finais: Os estudos mostraram aumento significativo na sobrevida de pacientes com o uso do rituximabe associado à quimioterapia, no seguimento médio de dois anos, com nível de evidência “1A” e grau de recomendação “A”. A análise do perfil de segurança do medicamento foi prejudicada pela falta de uniformidade nos registros de eventos adversos nos estudos primários, mas destaca-se a maior incidência de eventos adversos de grau 3 e 4, como febre e leucopenia, nos pacientes que utilizaram rituximabe. O aumento na sobrevida em dois anos pode não refletir o real impacto do tratamento com rituximabe sobre a doença, considerando o comportamento indolente e a baixa letalidade da doença nos primeiros anos. O medicamento apresenta um alto custo incremental. São necessárias melhores evidências científicas de eficácia e segurança, particularmente com maior tempo de seguimento. a Representa revisão sistemática de ensaios clínicos controlados randomizados, que traduz boa intensidade de recomendação. Baseada na tabela de nível de evidência do Oxford Centre for Evidence Based Medicine: http://www.projetodiretrizes.org.br/projetodiretrizes/textointrodutorio.pdf. iv SUMÁRIO Contexto.............................................................................................................................6 Pergunta ........................................................................................................................... 7 Introdução ........................................................................................................................ 8 Aspectos epidemiológicos, demográficos e sociais ........................................................10 Descrição do medicamento avaliado e alternativas terapêuticas ....................................11 Rituximabe...............................................................................................11 Alternativas terapêuticas ........................................................................ 17 Método para elaboração do Parecer Técnico-Científico ................................................18 Bases de dados e estratégia de busca .................................................................18 Critérios de seleção e exclusão dos artigos ....................................................... 19 Avaliação da qualidade da evidência ................................................................ 20 Resultados ..................................................................................................................... 21 Apresentação dos resultados dos estudos .......................................................... 21 Interpretação dos resultados .............................................................................. 22 Análise de eficácia .......…...................................................................... 22 Análise de segurança ..............................................................................23 Recomendações ............................................................................................................. 24 Referências bibliográficas ............................................................................................. 25 v Contexto Este Parecer Técnico-Científico (PTC) foi elaborado pela Área de Avaliação de Tecnologias em Saúde do DECIT/SCTIE/MS para avaliar as evidências científicas disponíveis atualmente acerca da eficácia e segurança da tecnologia em questão, visando ao bem comum e à eficiência do Sistema Único de Saúde (SUS). Este PTC tem a finalidade de subsidiar a tomada de decisão do Ministério da Saúde e dos demais gestores do SUS, e não expressa a decisão formal do Ministério da Saúde para fins de incorporação. 6 Pergunta O objetivo deste PTC é analisar as evidências científicas disponíveis atualmente sobre a eficácia e a segurança do rituximabe no tratamento do linfoma não-Hodgkin, de células B, baixo grau CD20 positivo. Para sua elaboração, estabeleceu-se a seguinte pergunta, cuja estruturação encontra-se apresentada no Quadro 1. Quadro 1: Pergunta estruturada para elaboração do PTC População Intervenção (tecnologia) Comparação Parâmetros Desfechos (resultados em saúde) Linfoma não-Hodgkin, de célula B, baixo grau Rituximabe Eficácia e segurança Resposta completa, Sobrevida, efeitos adversos Pergunta: O uso do Rituximabe no tratamento do Linfoma não-Hodgkin, de célula B, baixo grau CD 20+ é seguro e eficaz? 7 Introdução O termo linfoma identifica dois grupos distintos de neoplasias: linfomas não-Hodgkin e linfoma de Hodgkin. Houve significativo progresso na elucidação da patogênese do linfoma não-Hodgkin como uma expansão clonal maligna de células B ou T. A caracterização molecular das anormalidades citogenéticas mais frequentes associadas ao linfoma não-Hodgkin levou à identificação de diversos genes alterados nos linfomas não-Hodgkin de células B ou T1. Diversas classificações já foram criadas para os linfomas. As mais utilizadas, Working Formulation e REAL/WHO são complementares. A Working Formulation, desenvolvida em 1982 como resultado de um painel de consenso entre hematopatologistas, é o sistema mais comumente utilizado na classificação dos linfomas nãoHodgkin. Ela associa o comportamento clínico da doença com aspectos histopatológicos descritivos do linfoma não-Hodgkin2. No entanto, não incorpora informação sobre a origem em células B ou T e não reconhece uma variedade de novas entidades clínico-patológicas recentemente descritas. A classificação REAL (Revised European American Lymphoma), modificada pela Organização Mundial da Saúde, correlaciona as situações de linfoma com a porção de linfócitos normais e é mais aplicável a linfomas incomuns. Devido à sua dependência da análise imunofenotípica e linhagem celular, a REAL/WHO é mais reprodutível. A Working Formulation classifica os linfomas não-Hodgkin em baixo grau, grau intermediário e alto grau, enquanto a REAL/WHO os classifica como indolente (baixo grau), agressivo e altamente agressivo (graus intermediário e alto). Segundo a Classificação de doenças neoplásicas dos tecidos hematopoiético e linfóide da Organização Mundial da Saúde, os principais grupos e respectivas características dos linfomas não-Hodgkin de células B periféricas de baixo grau são2: 1. Linfoma linfocítico de pequenas células: é o homólogo tecidual ou nodal da leucemia linfocítica crônica e se apresenta classicamente como linfadenopatia difusa e envolvimento da medula óssea. As células são CD5, CD20 e CD23 positivas. 2. Linfomas linfoplasmacíticos: incluem macroglobulinemia de Waldenström e outros linfomas de células B que podem manifestar picos de proteína sérica monoclonal. A composição celular do linfoma linfocítico plasmacitóide é feita de linfócitos, células plasmáticas e formas hibridizadas com componentes de ambos. As células são 8 geralmente CD20 positivas, em contraste com células plasmáticas. A síndrome de hiperviscosidade casada pela proteína IgM que forma pentâmeros assimétricos pode dominar o quadro clínico na macroglobulinemia de Waldenström. 3. Linfomas foliculares: incluem o folicular de pequenas células clivadas, mistas e grandes células (graus I, II e III respectivamente, de acordo com a classificação REAL). As células são positivas para CD10 e CD20 e negativas para CD5. Os linfomas foliculares de pequenas células clivadas e linfomas mistos são geralmente considerados como linfomas não-Hodgkin de baixo grau, enquanto o raro tipo folicular de grandes células é considerado como grau intermediário por algumas autoridades. Células maiores transformadas constituem 25% a 50% da composição celular nos linfomas mistos, enquanto linfomas de pequenas células clivadas são compostos predominantemente por pequenas células. a) Os linfomas foliculares tendem a se apresentar como doença nodal. Aproximadamente 85% dos casos são estádio III ou IV no momento da apresentação, com frequente envolvimento da medula óssea (mais de 50% dos casos). O fígado, baço e nódulos mesentéricos estão frequentemente envolvidos. b) Linfomas foliculares frequentemente progridem lentamente e não necessitam de terapia imediata. Regressões espontâneas temporárias são observadas em mais de 30% dos casos. Linfomas foliculares são altamente responsivos ao tratamento, mas o efeito do tratamento na sobrevida é modesto, e poucos pacientes são curados. A média de sobrevida varia entre 6 a 10 anos. c) A transformação citológica dos linfomas não-Hodgkin para grau intermediário ou alto grau pode ocorrer a qualquer momento na doença. Uma transformação similar pode ocorrer em algumas outras formas de linfomas não-Hodgkin de baixo grau. 4. Linfoma da zona marginal: é atribuído como derivado de células da zona marginal ou parafolicular que circundam a zona do manto. As células são negativas para CD10 e CD5 e positivas para CD20. a) MALTomas (tecido linfóide associado à mucosa) são um grupo de linfomas extranodais que frequentemente se apresentam como tumores localizados no estômago, pulmão, mama, tireóide ou outros locais extranodais. Em alguns casos, uma doença autoimune preexistente associada a um órgão é identificada (por 9 exemplo síndrome de Sjögren ou tireoidite de Hashimoto). Muitos destes foram designados como pseudolinfomas no passado. A história natural inclui sobrevida prolongada sem disseminação e sugere um papel para a radioterapia ou cirurgia no manejo. O MALToma gástrico é claramente associado com a infecção por H. pylori e tipicamente regride após suas erradicação. Frequentemente, uma remissão ocorre mais de um ano após o tratamento com antibióticos. b) Linfomas esplênicos são uma forma incomum de linfomas da zona marginal. São caracterizados por pronunciado aumento esplênico, quase sempre sem doença sistêmica. As células frequentemente têm vilos (linfoma esplênico com linfócitos vilosos). c) Linfomas nodais da zona marginal são também chamados linfomas monocitóides por sua aparência. Aspectos epidemiológicos, demográficos e sociais As estimativas da Organização Mundial da Saúde sobre incidência de linfomas nãoHodgkin para o ano de 2002 foram de 300.571 casos novos no mundo todo (175.123 em homens e 125.448 em mulheres). Para a América do Sul, foram estimados em 8.333 novos casos, sendo que, para o Brasil, foram estimados 7.817 novos casos (4.559 em homens e 3.258 em mulheres). Em relação à mortalidade, foram estimados, para aquele ano, 171.820 óbitos pela doença no mundo todo (98.865 em homens e 72.955 em mulheres). Apenas no Brasil, no ano de 2002, foram estimados 3.629 óbitos (2.054 em homens e 1.575 em mulheres). A prevalência mundial estimada em 2002 foi de 201.714 casos (115.493 homens e 86.221 mulheres) e 751.270 casos em cinco anos (427.086 homens e 324.184 mulheres). No Brasil, para os mesmos períodos, as estimativas foram de 4.468 (2.610 homens e 1.858 mulheres) e 15.295 (8.982 homens e 6.313 mulheres), respectivamente3,4. O Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (MS/SVS/DASIS/SIM) informa, para o ano de 2006, 3.498 óbitos por linfoma não-Hogkin, assim distribuídos por ocorrência: 95 na Região Norte, 631 na Região Nordeste, 1.871 na Região Sudeste, 671 na Região Sul e 230 na Região Centro-Oeste5. O curso clínico dos linfomas indolentes, que representam mais de 70% dos linfomas não-Hodgkin, e a abordagem terapêutica diferem daqueles dos linfomas agressivos. O 10 prognóstico e a terapia para o linfoma indolente estão intimamente relacionados à extensão da doença no diagnóstico inicial: menos de 15% a 20% dos pacientes com linfoma indolente são diagnosticados em um estágio inicial da doença (Estágio Ann Arbor I ou II), e metade desses pacientes apresenta longa sobrevida livre de doença após radioterapia. No entanto, a ampla maioria de pacientes com linfoma indolente diagnosticados com doença em estágios avançados (Ann Arbor III ou IV) não pode ser curada com a terapia convencional. Esses pacientes não apresentam benefícios em sobrevida do tratamento no diagnóstico inicial quando comparados com a estratégia de observação, e é geralmente aceito que o tratamento para estes pacientes deva ser reservado para quando a doença se torne sintomática. Para pacientes com linfoma indolente sintomático, um amplo espectro de opções terapêuticas está disponível, variando de agentes simples a regimes com múltiplos agentes ou quimioterapia de alta dose6. O curso do tratamento é tipicamente por altos índices de resposta inicial seguidos por padrões regulares de recidiva com nenhum ou muito poucos sobreviventes em longo prazo. O prognóstico do linfoma indolente com uma sobrevida média de oito a dez anos mudou muito pouco nas últimas décadas. Os dados mais recentes de sobrevida para pacientes com linfoma indolente sugerem uma melhora na sobrevida global nos últimos 25 anos, provavelmente devido a uma aplicação sequencial de diferentes regimes quimioterápicos, incorporação de agentes biológicos e melhores cuidados de suporte6. Descrição do medicamento avaliado e alternativas terapêuticas Rituximabe O rituximabe está registrado no Brasil, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa, sob o nome comercial MabThera®, fabricado pela “F. Hoffmann – La Roche AG – Suíça” e registrado pela empresa “Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A.” sob o número 101000548, com vencimento do registro em junho de 2013, nas apresentações farmacêuticas de solução injetável a 10 mg/mL em frascos de vidro de 10 mL (caixa com dois frascos) e 50mL (caixa com um frasco), para infusão intravenosa7. Rituximabe é um anticorpo monoclonal quimérico camundongo/humano que se liga especificamente ao antígeno transmembrana CD20. Este antígeno está localizado nos linfócitos pré-B e linfócitos B maduros, mas não em células progenitoras, células pró-B, 11 células plasmáticas normais ou outros tecidos normais. O antígeno encontra-se presente em mais de 95% de todas as células B dos linfomas não-Hodgkin (LNH). Após a ligação do anticorpo, o antígeno CD20 não é introduzido na célula nem liberado da membrana celular para o ambiente. O antígeno CD20 não circula no plasma como antígeno livre e, portanto, não compete com a ligação de anticorpos8. Rituximabe liga-se ao antígeno CD20 dos linfócitos B e inicia reações imunológicas que mediarão a lise da célula B. Os possíveis mecanismos para a lise celular são citotoxicidade complemento-dependente (CDC), citotoxicidade celular anticorpo-dependente (ADCC) e indução de apoptose. Finalmente, o fabricante informa que os estudos in vitro demonstraram que o Rituximabe sensibiliza linhagens celulares do linfoma B humano, resistentes a drogas quimioterápicas, para os efeitos citotóxicos de alguns desses agentes quimioterápicos8. Na bula do medicamento registrada na Anvisa, sobre a indicação, constam as seguintes informações: “linfoma não-Hodgkin de células B, baixo grau ou folicular, CD20 positivo, recidivado ou resistente à quimioterapia; linfoma não-Hodgkin difuso de grandes células B, CD20 positivo, em combinação à quimioterapia CHOP; linfoma não-Hodgkin de células B, folicular, CD20 positivo, não tratados previamente, em combinação com quimioterapia. A combinação com a quimioterapia CVP é de indicação exclusiva para linfomas foliculares exceto os linfomas foliculares do tipo 3 (correspondente ao linfoma folicular de grandes células da Working Formulation); pacientes com linfoma folicular como tratamento de manutenção, após resposta à terapia de indução.” 8. São mencionadas diversas reações relacionadas à infusão de Rituximabe, que podem estar relacionadas à liberação de citocinas e/ou outros mediadores químicos. A reação grave relacionada à infusão pode ser clinicamente indistinguível das reações de hipersensibilidade ou síndrome da liberação de citocinas. Reações graves com evolução fatal, relacionadas à infusão, foram relatadas durante o uso pós-marketing. Essas reações graves geralmente manifestam-se dentro de 1 a 2 horas após o início da primeira infusão de rituximabe, são caracterizadas por eventos pulmonares e incluem, em alguns casos, lise tumoral rápida e manifestações da síndrome de lise tumoral adicionalmente a febre, tremores, hipotensão, urticária, angioedema, e outros sintomas. Pacientes com alta carga tumoral ou um grande número de células circulantes malignas (> 25.000/mm3) podem ter um risco maior de 12 desenvolver reações graves relacionadas à infusão (ex: pacientes com LLC e linfoma de células do manto) 8. Reação anafilática e outras reações de hipersensibilidade foram relatadas após a administração intravenosa de proteínas aos pacientes. Epinefrina, anti-histamínicos e glicocorticóides devem estar disponíveis para uso imediato na eventualidade de uma reação de hipersensibilidade ao rituximabe. As infusões de rituximabe devem ser administradas em ambiente onde há todas as facilidades de reanimação disponíveis imediatamente e sob atenta supervisão de um hematologista/oncologista experiente8. Hipotensão, febre, calafrios, tremores, urticária, broncoespasmo e angioedema ocorreram em associação com a infusão de rituximabe como componente de um complexo de sintomas relacionados à infusão. Estes sintomas são geralmente reversíveis com a interrupção da infusão. O tratamento dos sintomas relacionados à infusão com um anti-histamínico (difenidramina) e acetaminofeno é recomendado. Tratamento adicional com broncodilatadores ou soro fisiológico IV pode ser indicado. Na maioria dos casos, a infusão pode ser reiniciada com uma redução de 50% na velocidade de infusão (p. ex. de 100 mg/h para 50 mg/h) quando os sintomas melhorarem completamente. A maioria dos pacientes que apresentaram reações relacionadas à infusão que não acarretaram risco de vida puderam fazer o tratamento completo com rituximabe8. A insuficiência respiratória aguda pode ser acompanhada por eventos como infiltrados pulmonares intersticiais ou edema, visível à radiografia de tórax8. Uma vez que poderá ocorrer hipotensão durante a infusão de rituximabe deve-se levar em consideração a suspensão das medicações anti-hipertensivas 12 horas antes e durante a infusão de rituximabe8. Angina pectoris e arritmias cardíacas (flutter e fibrilação atrial) ocorreram em pacientes tratados com rituximabe. Portanto, pacientes com história de doença cardíaca devem ser monitorados atentamente8. Deverá ser considerada a necessidade de se realizar hemograma completo regularmente durante a monoterapia com rituximabe. Quando rituximabe é administrado em combinação com quimioterapia CHOP ou CVP, o hemograma completo regular deve ser realizado de acordo com a prática clínica normal8. 13 Casos de reativação de hepatite B, incluindo relatos de hepatite fulminante, foram observados em indivíduos recebendo rituximabe. Pacientes com histórico de infecção por hepatite B devem ser cuidadosamente monitorados quanto aos sinais de infecção ativa pelo vírus da hepatite B quando rituximabe é usado associado à quimioterapia citotóxica8. A segurança e a efetividade de rituximabe em pacientes pediátricos não foram estabelecidas. Categoria de risco na gravidez: C. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica8. Não é conhecido se rituximabe pode provocar perigo ao feto quando administrado a gestantes, ou se afeta a capacidade de reprodução. Não há dados de estudos realizados em gestantes. Entretanto, em função da capacidade das imunoglobulinas IgG de atravessar a barreira placentária, rituximabe pode causar depleção das células B fetais. Por essas razões, rituximabe não deverá ser administrado a gestantes, a não ser que os eventuais benefícios superem os riscos potenciais. Não é conhecido se o rituximabe é excretado pelo leite materno. Porém, considerando que as IgG maternas estão presentes no leite materno, rituximabe não deverá ser administrado a mulheres lactantes. Não há dados referentes ao uso de vacinas em pacientes com células B depletadas após o tratamento com rituximabe. Os médicos devem rever o estado de vacinação dos pacientes que serão considerados para o tratamento com rituximabe e seguir as diretrizes local/nacional para vacinação de adultos. A vacinação deve estar completa ao menos 4 semanas antes da primeira administração de rituximabe. As vacinas vivas não são recomendadas em pacientes enquanto estiverem com células B depletadas8. Posologia: Dose padrão: Rituximabe deve ser administrado através de infusão intravenosa de acesso exclusivo (a solução não deve ser misturada a outros medicamentos ou outras soluções). Não administrar como uma injeção intravenosa ou em bolus. Pré-medicação, consistindo de um analgésico/antipirético (p. ex. acetaminofeno) e uma droga anti-histamínica (p. ex. difenidramina), deverá ser sempre administrada antes de cada infusão de rituximabe. A pré-medicação com glicocorticóides também deve ser considerada8. 14 Instruções de dose especiais: Crianças e adolecentes: A segurança e a efetividade de rituximabe em pacientes pediátricos não foram estabelecidas8. Idosos: Não é necessário ajuste de dose para pacientes idosos (> 65 anos de idade) 8. Linfoma não-Hodgkin: A pré-medicação com glicocorticóide deve ser considerada caso rituximabe não seja administrado em combinação com quimioterapia contendo esteróide (CHOP ou CVP) para o tratamento de linfoma não-Hodgkin8. Linfoma não-Hodgkin folicular ou de grau baixo: Tratamento inicial8 A dosagem recomendada pelo fabricante de rituximabe usada como monoterapia para pacientes adultos é de 375 mg/m2 de superfície corpórea, administrado como infusão intravenosa (vide Primeira infusão), uma vez por semana, por quatro semanas. A dosagem recomendada de rituximabe quando associada à quimioterapia CVP (ciclofosfamida, vincristina e predinisolona) é de 375mg/m2 de superfície corpórea, a cada 21 dias por 8 ciclos, administrado no dia 1 de cada ciclo de quimioterapia após administração IV do glicocorticosteróide que compõe o CVP. Re-tratamento após recaída8 Segundo o fabricante, pacientes que tiverem respondido a rituximabe inicialmente, poderão ser tratados novamente com rituximabe na dose de 375 mg/m2 de superfície corpórea, administrado como infusão intravenosa, uma vez por semana, por 4 semanas (vide “Resultados de eficácia”, Re-tratamento, semanal por 4 doses). Tratamento de manutenção 8 O fabricante informa, ainda, que pacientes que responderam ao tratamento de indução podem receber terapia de manutenção com rituximabe fornecido na dose de 375 mg/m2 de superfície corpórea, uma vez a cada 3 meses até a progressão da doença ou por um período máximo de 2 anos. Reações Adversas informadas pelo fabricante: As reações adversas mais comuns são: constipação (33%), náusea e vômitos (42% a 53%), cefaléia (41%), convulsão (23%) e fadiga (34%). Alguns efeitos adversos graves têm 15 sido reportados, como anemia aplásica, síndrome mielodisplasica, leucemia mieloide, mielosupreesão, neutropenia, pancitopenia, trombocitopenia, infecções oportunistas, pneumonia por pneumocystis carinii8 . 16 Alternativas terapêuticas No manejo dos linfomas não-Hodgkin de células B baixo grau sintomáticos, diversos esquemas terapêuticos são utilizados, sendo o mais frequente o esquema CHOP (ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona). Os principais estudos desenvolvidos comparam a utilização do esquema CHOP e a adição do rituximabe ao esquema CHOP. Trata-se, portanto, da proposta de adição do medicamento aos esquemas quimioterápicos já utilizados6. Tabela 1. Preço do rituximabe (MabThera ®) em suas indicações terapêuticas. Medicamento rituximabe Monoterapia Associado ao regime CHOP Retratamento após recaída Manutenção Posologiab Preço do tratamento (R$)c 375mg/m2 1x/semana por 4 semanas 29.532,57 a 59.154,69 375mg/m2 1x a cada 21 dias por 8 ciclos 375mg/m2 1x/semana por 4 semanas 59.065,15 a 118.309,38 29.532,57 a 59.154,69 375mg/m2 por até 8 ciclos 59.065,15 a 118.309,38 b Valores estimados para um indivíduo adulto com 1,70m e 70kg (1,81m2 área corporal) Preços obtidos em consulta realizada à página da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA / Secretaria Executiva – CMED. Lista de Preços de Medicamentos – Preços Fábrica e Máximos ao Consumidor. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/monitora/cmed/legis/comunicados/lista_conformidade.pdf (Atualizada em 11 de maio de 2009). c 17 Metodologia para elaboração do Parecer Técnico-Científico Bases de dados e estratégia de busca Realizou-se ampla busca em bases de dados objetivando-se encontrar revisões sistemáticas ou, na falta dessas, estudos cínicos randomizados e controlados, como a melhor base para evidência científica. A busca (Tabela 2) foi realizada nas bases de dados Cochrane Library (via Bireme)10, Medline (PubMed)11, Trip Database12 e Centre for Reviews and Dissemination13 utilizando as palavras-chave “Lymphoma, Non-Hodgkin” ou “Lymphoma” e “rituximab”. Nas buscas realizadas nas bases descritas, foram utilizados filtros visando a localização preferencial de revisões sistemáticas e estudos clínicos randomizados controlados. Tabela 2 - Bases de dados e estratégia de busca Base Cochrane Library12 Medline (via Pubmed)13 Termos (rituximab) AND (lymphoma) “rituximab”[Substance Name] AND “Lymphoma, Non-Hodgkin”[Mesh] AND (Meta-Analysis[ptyp] OR Randomized Controlled Trial[ptyp] OR Review[ptyp]) Trip DataBase14 (rituximab) AND (lymphoma) Centre for (rituximab) AND (lymphoma) Reviews and Dissemination15 Resultados 5 Estudos selecionados 1 Estudos utilizados 1 399 4 4 37 40 1 2 1 2 Os estudos encontrados foram avaliados quanto à qualidade metodológica de acordo com os critérios especificados por Guyatt e Rennie (2006)14, conforme consta na Tabela 3. Os estudos considerados de boa qualidade e relacionados ao tema do presente parecer técnicocientífico foram utilizados para a elaboração do mesmo. 18 Critérios de seleção e exclusão de artigos Por se tratar de uma questão sobre a eficácia de um medicamento, as melhores evidências são revisões sistemáticas de ensaios clínicos controlados randomizados, seguidas de ensaios clínicos controlados randomizados, além de avaliações de tecnologias em saúde. O principal critério de seleção para esse parecer foi que o desenho do estudo contemplasse uma dessas classificações. Alguns critérios de exclusão foram determinados, como apenas resumos, registros de ensaios controlados, avaliações econômicas, revisões narrativas, estudos pilotos, de fase I ou II ou estudos que não contemplassem a população aplicável ao tema do parecer técnicocientífico. Considerando os critérios acima mencionados foi selecionada na Cochrane Library uma revisão sistemática6. Na busca realizada no Medline (via Pubmed) foram encontrados 399 estudos, dentre os quais foram selecionadas quatro publicações referentes a três revisões sistemáticas (a revisão localizada na Cochrane Library foi publicada também como um artigo em separado)6, 15-17 . Dos 37 estudos encontrados na Trip DataBase foi selecionada uma revisão sistemática6. Na busca realizada no Centre for Reviews and Dissemination, foram identificadas e selecionadas três publicações6, 15,16 referentes a duas revisões sistemáticas. As revisões sistemáticas localizadas e selecionadas a partir das buscas nas bases do Centre for Reviews and Dissemination, Trip Database e Cochrane Library eram as mesmas já contempladas pela busca no PubMed. 19 Avaliação da qualidade da evidência Para a avaliação da qualidade da evidência apresentada, utilizou-se o modelo para avaliação da qualidade de revisão sistemática proposto por Guyatt e colaboradores14. As três revisões sistemáticas selecionadas apresentam boa qualidade metodológica e nível de evidência “1A”d. Diante disso, este parecer apresenta intensidade “A” para as recomendações apresentadas. Os estudos primários incluídos nas revisões apresentam algumas limitações, como o financiamento pela indústria, o que pode influenciar a publicação de resultados positivos. Tabela 3 – Qualidade das revisões sistemáticas Estudo Busca Estudos incluídos 16 Vidal L. et al - 2009 Ampla 5 (1.143 indivíduos) Qualidade dos 5 Ensaios Clínicos Estudos Primários Randomizados Controlados, não-cegos. Randomização adequada em 4 deles e perdas não relatadas em apenas um estudo. Avaliação dos Dois revisores estudos primários Perfil dos Portadores de linfoma participantes não-Hodgkin indolente Intervenção Conflitos de interesse 6 Schulz H. et al - 2008 Ampla 7 (1.943 indivíduos) 7 Ensaios Clínicos Randomizados Controlados, não-cegos. Randomização adequada em 6 deles e perdas não relatadas em apenas um estudo. Dois revisores 17 Cheung M.C. et al - 2007 Ampla 14 (destes, 7 para linfoma indolente de células B) 7 Ensaios Clínicos Randomizados,sendo 1 Jadad Score=1, 5 Jadad Score = 2 e 1 Jadad Score = 3 Dois revisores Maiores de 18 anos de Portadores de linfoma nãoidade com linfoma não- Hodgkin indolente (em sua Hodgkin indolente ou maior parte, folicular) linfoma do manto. Rituximabe no tratamento Quimioterapia combinada Quimioterapia combinada com de manutenção. com ou sem rituximabe ou sem rituximabe (como (primeira ou segunda-linha primeira ou segunda-linha e na de tratamento) manutenção) 3 estudos primários com 5 estudos primários com Não declarados fundos da indústria. 2 fundos da indústria. 5 pesquisadores da revisão pesquisadores da revisão sistemática receberam sistemática receberam fundos da indústria fundos da indústria (Roche) (Roche) d Representa revisão sistemática de ensaios clínicos controlados randomizados. Baseada na tabela de nível de evidência do Oxford Centre for Evidence Based Medicine: http://www.projetodiretrizes.org.br/projetodiretrizes/textointrodutorio.pdf. 20 Resultados Tabela 4 - Apresentação dos resultados dos estudos selecionados Estudo Tipo de Estudo / Desfechos População 16 Sobrevida (<4 anos) Vidal L. et al - 2009 Revisão Sistemática Intervalo livre de doença Portadores de Intervalo livre de progressão linfoma nãoEventos adversos Hodgkin indolente, rituximabe no tratamento de manutenção 5 RCTs (n=1.143) 6 Revisão Sobrevida (2 anos) Schulz H. et al Sistemática 2008 Portadores de linfoma nãoHodgkin indolente Resposta ao tratamento ou linfoma do Resposta completa manto, rituximabe Intervalo livre de progressão no tratamento Toxicidade (primeira ou segunda-linha) 7 RCTs (n=1.943) Cheung M.C. et al 2007 17 - Revisão Sistemática Portadores de linfoma nãoHodgkin indolente 7 RCTs (n=1.924) Sobrevida Não houve metanálise Os resultados foram apresentados individualmente, em tabela. Resultados HR de morte= 0.60 (IC95=0.45-0.79) HR = 0.46 (IC95=0.37-0.57) HR = 0.53 (IC95=0.42-0.66) Graus 3 ou 4 RR=1.52 (IC95=1-2.3) Relacionados a infecção RR=1.99(IC95=1.21-3.27) Relacionados a infecção Graus 3 ou 4 RR=2.9 (IC95=1.24-6.76) HR de morte = 0.65(IC95=0.54-0.78) HR de morte linfoma folicular= 0.63 (IC95=0.51-0.79) NNT=28 (IC95=21-49.7) RR=1.21 (IC95=1.16-1.27) RR=2.03 (IC95=1.71-2.40) HR= 0.62 (IC95=0.55-0.71) Leucopenia RR = 1.31 (IC95=1.11-1.55) Febre RR= 3.79 (IC95 = 1.47-9.78) Infecção RR= 1.05 (IC95= 0.74-1.48) Trombocitopenia RR=1.14 (IC95=0.76-1.72) Granulocitopenia RR=1.18 (IC95=1.00-1.38) Estudo 1 = 3 anos 89% vs 81% (p=0.07) Estudo 2 = 2 anos 95% vs 90% (p=0.016) Estudo 3 = 2 anos 76% ambos os braços (p=0.93) Estudo 4 = 3 anos 83% vs 72% (p=0.096) Estudo 5 = Não informado Estudo 6 = Não informado Estudo 7 = 3 anos 72% vs 68% (p=0.94) Não há análise de eventos adversos 21 Interpretação dos resultados Análise de eficácia: As três revisões sistemáticas selecionadas apresentam boa qualidade metodológica. Na revisão de Cheung et al (2007)17, que buscou estudos até março de 2006, foram incluídos sete estudos relacionados ao uso do rituximabe no linfoma nãoHodgkin indolente de células B. Não foi realizada metanálise. A revisão de Schulz et al (2008) 6 buscou artigos até dezembro de 2005 e foi publicada em duas versões, uma como revisão Cochrane, sobre quimioterapia mais rituximabe versus quimioterapia isolada para linfoma não-Hodgkin de células B e outra como revisão sistemática e metanálise avaliando a imunoquimioterapia com rituximabe e a sobrevida global em pacientes com linfoma indolente ou de células do manto. Foram utilizados os mesmos artigos já localizados na revisão de Cheung et al17. Em relação à sobrevida global, o seguimento médio foi de apenas dois anos (18 a 39 meses), sendo calculado um hazard ratio para morte de 0.65 (IC 95% = 0.54 a 0.78), indicando uma sobrevida global significativamente melhor no grupo da quimioterapia associada ao rituximabe quando comparada ao grupo da quimioterapia isolada (sem rituximabe). Quando analisada a sobrevida somente no grupo de pacientes com linfoma folicular (excluídos os com linfoma do manto), o hazard ratio para morte foi de 0.63 (IC 95% = 0.51 a 0.79), indicando uma sobrevida global significativamente melhor no grupo da quimioterapia associada ao rituximabe quando comparada ao grupo da quimioterapia isolada (sem rituximabe). A terceira revisão sistemática, também com metanálise, incluída no parecer foi a de Vidal et al (2009)16, que buscou estudos até junho de 2007, incluindo cinco estudos relacionados ao uso do rituximabe no tratamento de manutenção para pacientes com linfoma folicular. No estudo, a maior parte das publicações já fora utilizada nas duas revisões anteriores, com a diferença na análise dirigida ao tratamento de manutenção na última revisão. Segundo esta revisão, com seguimentos médios que variaram de 26 a 41 meses, os pacientes que foram tratados com rituximabe em terapia de manutenção tiveram melhor sobrevida global com significância estatística em relação ao grupo controle (observação e rituximabe quando progressão da doença): hazard ratio de morte = 0.60 (IC 95% = 0.45 a 0.79). Os estudos incluídos nas revisões sistemáticas apresentam algumas limitações metodológicas importantes, como o intervalo de seguimento ainda limitado a dois ou três anos, a falta de cegamento, uso de controle com placebo e a falta de sigilo na 22 randomização. Esses fatores possibilitam alguns vieses. Além disso, o financiamento dos estudos pelo fabricante do medicamento poderia influenciar a publicação preferencial dos resultados positivos. Análise de segurança: Na revisão de Schulz et al (2008)6, os autores destacam a falta de uniformidade no relato dos efeitos adversos nos sete estudos analisados. Os eventos adversos de grau 3 e 4 mais frequentemente relatados foram hematotoxicidade (leucocitopenia, trombocitopenia ou granulocitopenia), febre e infecções. O risco relativo de desenvolver febre ou leucopenia foi significativamente maior nos pacientes tratados com quimioterapia mais rituximabe do que nos tratados com quimioterapia isolada (RR=3.79; IC 95% = 1.47 a 9.78 e RR=1.31; IC 95% = 1.11 a 1.55, respectivamente). Não houve diferença entre os grupos de tratamento em relação ao risco de infecção. No estudo de Vidal et al (2009)16, analisando especificamente o tratamento de manutenção com o rituximabe, os eventos adversos mais comuns foram as infecções, algumas delas com risco de morte. Os pacientes submetidos ao tratamento de manutenção com rituximabe tiveram mais eventos adversos relacionados a infecções do que os pacientes no braço da observação (RR= 1.99; IC 95% = 1.21 a 3.27). Quando somente os eventos adversos graus 3 e 4 relacionados a infecções foram incluídos na análise, o efeito foi ainda mais pronunciado (RR=2.90; IC 95% = 1.24 a 6.76). Segundo os autores, o rituximabe pode causar imunosssupressão por vários mecanismos, como citopenia, particularmente neutropenia e hipogamaglobulinemia. Destacam, ainda, que existem questões abertas relacionadas ao uso do rituximabe no tratamento de manutenção de pacientes com linfoma folicular, como: quais os efeitos do tratamento de manutenção com rituximabe na progressão da doença; quais os efeitos do tratamento de manutenção com rituximabe em pacientes previamente não tratados e com linfoma folicular avançado; qual a duração ótima e qual o esquema ótimo para o tratamento de manutenção com rituximabe e quais os efeitos de toxicidade em longo prazo, com o uso do rituximabe16. A falta de uniformidade no registro e apresentação dos efeitos adversos nos estudos primários destacada por Schulz et al (2008)6 limita a análise do quesito segurança e pode refletir o fato de estes estudos serem financiados pelo fabricante do medicamento. 23 Recomendações Até o momento de conclusão deste parecer, com nível de evidência “1A” e grau de recomendação “A”, a evidência disponível mostra aumento de sobrevida global em dois anos com o uso de rituximabe associado à quimioterapia no tratamento dos linfomas não-Hodgkin de baixo grau. No entanto, considerando a história natural da doença e a baixa letalidade nos primeiros anos da doença, por seu comportamento indolente, é recomendável a análise do impacto do uso desta medicação na sobrevida global com um maior tempo de seguimento. Não foram localizados estudos com bom nível de evidência científica que demonstrem o impacto terapêutico do rituximabe na sobrevida global em cinco ou dez anos de seguimento, por exemplo. Quanto ao perfil de segurança, foi observada limitação nos registros e na apresentação dos efeitos adversos com o uso do rituximabe nos estudos primários. Os efeitos adversos relatados incluem alguns de grau 3 e 4 e não há informações sobre a toxicidade de seu uso em longo prazo. Conclui-se que o aumento na sobrevida em dois anos pode não refletir um real impacto terapêutico no tratamento dos linfomas não-Hodgkin, de células B, de baixo grau CD20 positivos, sem que seja feita a análise da sobrevida global em cinco ou dez anos. Além disso, o medicamento apresenta alto custo incremental e a maior prevalência de efeitos adversos de grau 3 e 4, bem como a limitação de informações sobre o perfil de segurança em longo prazo, evidenciam a necessidade de outros estudos com boa qualidade metodológica. 24 Referências Bibliográficas: 1. Dalla-Favera R, Gaidano G. Section 45.1. Molecular biology of lymphomas. In: De Vita VTJ, Hellman S, Rosenberg SA, editors. Cancer: Principles and Practice of Oncology. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2001. p. 2215–2235. 2. Emmanouilides C, Casciato DA, Rosen PJ. Hodgkin and non-Hodgkin Lymphoma, In: Casciato DA, Lowitz BB. Manual of Clinical Oncology, 4th Edition, Lippincott Williams & Wilkins 2000, p. 399442. 3. Parkin D.M., Brasy F., Ferlay J., Pisani P. CA Cancer J Clin 2005;55;74-108. 4. World Health Organization (WHO/OMS). International Agency for Research on Cancer (IARC). Globocan 2002. Acesso em http://www-dep.iarc.fr/GLOBOCAN/Table2_sel.htm. 5. BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. Sistema de Informações sobre Mortalidade. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obtuf.def. Acesso em 11 de maio de 2009. 6. Schulz H, Bohlius J, Skoetz N, Trelle S, Kober T, Reiser M, Dreyling M, Herold M, Schwarzer G, Hallek M, Engert A. Chemotherapy plus Rituximab versus chemotherapy alone for B-cell nonHodgkin's lymphoma. Cochrane Database Syst Rev. 2007 Oct 17;(4):CD003805. 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Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez. Acesso em 06 de maio de 2009. 12. Trip Database. Disponível em http://www.tripdatabase.com/index.html. Acesso em 06 de maio de 2009. 13. Centre for Reviews and Dissemination. Disponível em http://www.york.ac.uk/crdweb. Acesso em 06 de maio de 2009. 14. Guyatt G., Rennie D. Diretrizes para Utilização de Literatura Médica – Fundamentos para a Prática Clínica da Medicina Baseada em Evidências. Ed. Artmed, 1ª edição, Porto Alegre, 2006. 15. Schulz H, Bohlius JF, Trelle S, Skoetz N, Reiser M, Kober T, Schwarzer G, Herold M, Dreyling M, Hallek M, Engert A. Immunochemotherapy with rituximab and overall survival in patients with indolent or mantle cell lymphoma: a systematic review and meta-analysis. J Natl Cancer Inst. 2007 May 2;99(9):706-14. 16. Vidal L, Gafter-Gvili A, Leibovici L, Dreyling M, Ghielmini M, Hsu Schmitz SF, Cohen A, Shpilberg O. 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