DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA

Transcrição

DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CAMPUS DE JABOTICABAL
DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA
(Morus alba L.) NO RÚMEN DE CAPRINOS
Anita Schmidek
Orientador: Prof. Dr. Kleber T. de Resende
Prof. Ariosvaldo N. Medeiros
JABOTICABAL –SP
10 Semestre – 1999
2
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CAMPUS DE JABOTICABAL
DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE AMOREIRA
(Morus alba L.) NO RÚMEN DE CAPRINOS
Anita Schmidek
Orientador: Prof. Dr. Kleber T. de Resende
Prof. Ariosvaldo N. Medeiros
Trabalho
apresentado
à
Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias - UNESP, Campus
de Jaboticabal, para graduação
em ZOOTECNIA.
JABOTICABAL –SP
10 Semestre – 1999
3
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
Título do trabalho: DEGRADABILIDADE DE CULTIVARES DE
AMOREIRA (Morus alba L.) NO RÚMEN DE CAPRINOS
.
Autora: Anita Schmidek
Orientadores: Prof. Dr. Kleber Tomás de Resende
Prof. Ariosvaldo Nunes Medeiros
Número de Créditos:
Aprovado e corrigido de acordo com a Banca Examinadora.
Banca Examinadora:
__________________________________
Prof. Dr. Kleber Tomás de Resende
- Orientador -
_______________________________
Prof. Ariosvaldo N. Medeiros
- Membro da Banca -
_____________________________
Prof. Dr. Roque Takahashi
- Membro da Banca -
Data da realização:
Aprovado em Reunião do Conselho do Departamento de Zootecnia em
/
/
.
_________________________________________
Prof. Dr.
- Chefe do Depto. de Zootecnia-
4
ÍNDICE
ágina
1. INTRODUÇÃO...............................................................................
6
2. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................
9
2.1 Características gerais e produtivas da amoreira........................ 9
2.2 Composição química da amoreira..............................................
11
2.3 Particularidades na utilização da amoreira................................
15
2.4 Otimização no uso da amoreira.................................................
18
2.5 Valor nutricional da amoreira.....................................................
21
2.6 Fatores que interferem na estimativa da degradação da
amoreira.....................................................................................
22
2.7 Degradabilidade da amoreira....................................................
23
3. MATERIAL E MÉTODOS..............................................................
28
3.1 Local..........................................................................................
28
3.2 Animais e manejo......................................................................
29
3.3 Dieta e tratamentos...................................................................
29
3.4 Cultivo, corte e preparação do feno da amoreira......................
30
3.5 Material incubado......................................................................
31
3.6 Período pré-experimental..........................................................
31
3.7 Procedimentos para incubação.................................................
31
3.8 Análises laboratoriais................................................................
33
3.9 Equações e parâmetros avaliados............................................
33
5
3.10 Análise estatísticas e delineamento experimental...................
34
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................
36
4.1 Composição química e bromatológica......................................
36
4.2 Degradabilidade das frações.....................................................
42
4.2.1 Degradabilidade da matéria seca.........................................
42
4.2.2 Degradabilidade da proteína bruta.......................................
48
4.2.3 Degradabilidade da fibra em detergente neutro...................
54
5.CONCLUSÕES...............................................................................
60
6. RESUMO........................................................................................
62
7.SUMMARY......................................................................................
63
8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................
65
6
1. INTRODUÇÃO
Com as mudanças ocorridas nas últimas décadas, o setor agropecuário
tem procurado cada vez mais otimizar a produção, o que se consegue à
medida que se reduz o seu tempo e custo. Porém, para se obter uma maior
produtividade, em especial no sistema pecuário, há necessidade de se
oferecer aos animais alimentos de alta qualidade, o que, de modo geral,
implica em altos custos. No intuito de minimizar estes problemas, buscam-se
alternativas, sendo uma delas a pesquisa de novas fontes alimentares.
Neste sentido, nos últimos anos, vêm-se desenvolvendo pesquisas na
FCAV-UNESP, com o objetivo de estudar a possibilidade de utilização da
amoreira (Morus alba L.), como fonte alimentar para caprinos, em virtude de
seu bom valor nutricional, com elevado teor protéico e baixo custo, visto que
tem grande produção de massa verde (5 ton. de folhas/ha/corte (Takahashi
7
1984, citado por SABINO JUNIOR et al., 1997), podendo-se efetuar vários
cortes ao longo do ano (a cada 3 meses) e excelente aceitabilidade pelos
animais. Aliado a isto, a amoreira ainda se caracteriza por ser uma planta
rústica, perene, precoce, vegetando bem em quase todos os tipos de solo,
exceto os alagadiços. Outra grande vantagem, é o fato de apresentar alta
produção por todo o ano, inclusive na época seca do ano (SABINO JUNIOR et
al., 1997), sendo este um dos principais problemas da maioria das forrageiras
utilizadas na pecuária nacional.
Torna-se imperativo estudar o valor nutritivo dos diversos cultivares de
amoreira, desde a sua composição em nutrientes até a sua degradação.
A estimativa da degradabilidade possibilita determinar a velocidade de
degradação da proteína de forragens e de suplementos protéicos. Com este
método, um número variável de bolsas é incubado no rúmen durante diferentes
períodos de tempo, de tal forma que se possibilita conhecer o ritmo de
degradação, através da taxa de desaparecimento do material incubado em
função do tempo (ORSKOV, 1988).
Com relação aos animais alvo do presente estudo, os caprinos, são
pequenos ruminantes, que apresentam uma grande flexibilidade alimentar,
tendo preferência por consumir dicotiledôneas herbáceas, brotos e folhas de
árvores e arbustos, diferenciando-se de outros ruminantes domésticos, que
têm preferência por gramíneas.
O objetivo do presente trabalho foi determinar, a partir do valor nutritivo
dos cultivares Miura (M), FM Shima Miura (SH) e FM 86 (FM), a degradação
ruminal da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro
8
(FDN), através da técnica da degradabilidade in situ, e assim avaliar a
eficiência de utilização dos cultivares de amoreira.
9
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Características gerais e produtivas da amoreira
Segundo TAKAHASHI (1988), a amoreira pertence à família Moraceae,
ao gênero Morus e compreende as seguintes espécies: Morus alba L, Morus
lhou Koidz, Morus bombycis Koidz, Morus nigra L. e Morus rubra L., das quais
destaca-se principalmente a primeira, conhecida também como amoreira
branca. É classificada como sendo uma planta perene, rústica, com facilidade
de adaptação a diversos tipos de solos, preferindo os mais férteis, aerados e
com pH em torno de 6,5. Suas raízes atingem profundidades consideráveis,
alcançando água em camadas subsuperficiais, mesmo na estação seca,
permitindo que sua produção não sofra decréscimo acentuado nessa época do
10
ano. Estudo realizado por CARNAZ (1992) estimou a produção da amoreira da
ordem de 60% no período das águas e 40% no período das secas,
demonstrando uma superioridade de produção quanto ao período seco em
comparação com a maior parte das plantas forrageiras conhecidas.
Dentre os diversos cultivares existentes no Brasil, destacam-se entre as
mais cultivadas a variedade Miura e os híbridos FM 86 e Shima Miura. Suas
principais características, segundo BRAZÃO (1992), além de apresentarem
precocidade vegetativa, folhas de boa qualidade, e propagação por estaquia,
são:
Miura – Considerada como uma das melhores variedades entre as
cultivadas. A inclusão desta como variedade é justificada pelo fato de sua
utilização como planta feminina na constituição dos híbridos estudados.
FM 86 – Cruzamento efetuado em Bastos - SP em 1976, selecionando
entre 360 descendentes, provenientes de um cruzamento entre as variedades
Nezumigaezi (masculina) e Miura (feminina).
Shima Miura – Cruzamento efetuado em São José do Rio Preto - SP em
1984, selecionando entre 150 descendentes, proveniente de um cruzamento
entre as variedades Shimaguwa (masculina) e Miura (feminina).
BAFFI (1992), utilizando o cultivar Yamada em 4 diferentes idades de
crescimento (45, 60, 75 e 90 dias), concluiu que a maior produção de MS e MS
digestível da folha se verificava aos 90 dias de crescimento, e estimou a
produção anual como 8,3 ton de MS de caule e folhas/ ha/ ano, e chegou à
conclusão de que, pelo fato da amoreira apresentar alto teor de proteína e alta
produção de MS, quando comparado com leguminosas, além da ótima
11
aceitabilidade pelos caprinos, constitui excelente alternativa de volumoso para
estes.
BRAZÃO (1992), estimou a produção de MS em idades de crescimento
de 45 e 90 dias para os cultivares FM86 e Shima Miura e obteve,
respectivamente, 2,70 e 7,05 ton / ha/ ano e 3,52 e 6,22 ton/ ha/ ano de MS
nas folhas para as referidas idades.
HARA (1993) estimou a produção anual de 5 cultivares de amoreira
(Korin, Calabresa, FM 86, Shima Miura e Miura) em 4 idades de crescimento
(45, 60, 75 e 90 dias), comparando a produção nas águas e na seca e concluiu
que, quando comparado com as leguminosas, os cultivares estudados
apresentaram alta produção anual de MS. O cultivar Shima Miura obteve
superioridade significativa para produção de MS, mas para porcentagem de
PB nas folhas, não foram encontradas diferenças significativas. Porém,
levando em conta a maior produção de MS, este cultivar também deve
apresentar uma maior produção de PB, em quantidade.
2.2 Composição química da amoreira
Na análise bromatológica dos alimentos, a MS é desdobrada em Cinzas
e MO, esta, dividida em PB, EE, FB e ENN. Entretanto, modernamente preferese desdobrar a MO das forrageiras destinadas à alimentação dos ruminantes
em parede celular e conteúdo celular (CC). A primeira fração representa a
fração fibrosa e menos digestível, sendo constituída de celulose, hemicelulose,
lignina e cutina, enquanto o CC, incluindo açúcares, lipídeos e vitaminas são
12
consideradas como 100% digestível (GOMIDE e QUEIROZ, 1993). Outra
alteração diz respeito à fração FB, que hoje em dia é menos utilizada em
análises bromatológicas e químicas que a fibra em detergente neutro (FDN) e
fibra em detergente ácido (FDA), bem como as frações celulose, hemicelulose
e lignina.
A FDN compreende as frações celulose, hemicelulose, lignina e N-FDN,
e a FDA, celulose, lignina e N-FDA.
As leguminosas, assim como a amoreira (Morus alba L.), distinguem-se
das gramíneas por apresentarem maiores teores de PB e Ca, menores valores
de parede celular, bem como menos intensa variação em sua composição
química e digestibilidade com o avanço de seu estádio de desenvolvimento
(GOMIDE e QUEIROZ, 1993).
Outra vantagem da amoreira, conforme estudo de BASAGLIA (1993), é
que, ao contrário de outras forrageiras, onde, com o avançar da idade, ocorre
uma diminuição no coeficiente de digestibilidade, resultado do aumento do teor
de carboidratos estruturais (CE) que influenciam negativamente a eficiência de
utilização dos alimentos, com a amoreira não ocorreu aumento tão grande dos
CE, nem redução das frações mais digestíveis, e assim não houve queda tão
acentuada na digestibilidade da MS. Para a digestibilidade da PB, apesar de
reportada queda com o avançar da idade, em função do maior teor de
constituintes da parede celular, esta não foi tão acentuada, como em outras
espécies forrageiras, pois seus teores de fibra não se elevam tanto com o
avançar da idade. Foi encontrado, também, valor biológico alto (média de
13
99,85) para a proteína, indicando um balanceamento satisfatório da proteína
da amoreira em termos de aminoácidos.
BRAZÃO (1992), avaliando a curva de crescimento de 5 cultivares de
amoreira em 2 períodos, concluiu que a maior porcentagem de MS era obtida
com o corte aos 90 dias.
BAFFI (1992), avaliando a composição de folhas do cultivar Yamada,
aos 90 dias, encontrou as porcentagens de MS, PB, digestibilidade in vitro da
MS
e
da
PB,
como
sendo
23,80%,
22,85%,
78,90%
e
85,96%,
respectivamente.
Estudando a composição bromatológica de diversos cultivares de
amoreira, BRAZÃO (1992) verificou acréscimo no teor de MS e FDN e
diminuição no teor de PB com o crescimento da planta, verificando diferenças
significativas quanto ao percentual de PB e FDN entre os cultivares, e maior
produção de MS de folhas e caule para Shima Miura quando comparado às
demais. Avaliando a composição das folhas aos 90 dias, obteve como média
dos dois períodos, para os cultivares Miura, Shima Miura e FM86,
respectivamente, 25,88%, 23,61% e 23,53% de MS; 24,26%, 22,97% e 22,71%
de PB; e 27,69%, 27,63% e 29,27% de FDN.
Com relação à composição bromatológica do cultivar Yamada,
MAGÁRIO (1993) encontrou os seguintes valores médios para fração folha:
23% MS, 24,2% PB, 30,4% FDN, 10,8% Matéria mineral (Mm). Entretanto,
DESHMUKH et al. (1993), em trabalho com coelhos, concluíram que o melhor
cultivar, em relação à produção total de MS foi o híbrido Shima Miura.
14
Avaliando os cultivares de amoreira Shima Miura e FM86 para uso por
caprinos, DORIGAN (1993), obteve, para a fração folha aos 90 dias,
respectivamente, 22,06% e 21,09% de PB; 22,19% e 25,11% de FDN; 18,97%
e 18,62% de FDA; e 69,79% e 72,29% de coeficiente de digestibilidade (CD)
da PB.
BASAGLIA (1993), comparando também os cultivares Shima Miura e
FM86, para a mesma espécie, obteve a seguinte composição, para folhas aos
90 dias: 70,83% e 71,38% de MS digestível, 22,60% e 21,09% de PB, 15,05%
e 13,33% de PD, 15,05% e 13,31% de PM, 70,83% e 71,38% de CDMS, e
75,60% e 71,54% de CDPB, respectivamente.
HARA (1993), em trabalho que comparou diversos cultivares de
amoreira, em dois períodos (águas e seca), obteve para a fração folha aos 90
dias, respectivamente para os cultivares Miura, Shima Miura e FM86, 23,85%,
21,89% e 22,31% de MS; 26,59%, 24,80%, 24,92% de PB; 67,96%, 70,49% e
70,24% de CDMS; e 61,12%, 61,38%; e 61,07% de CDPB.
Estudando a composição química da amoreira e seu valor nutricional
para ovinos, na Itália, CASOLI et al. (1986) obtiveram os seguintes valores,
para MO 83,38%, PB 9,51%, FB 10,86%, CDMS 60,35%, CDPB 56,96%,
CDFB 64,27% e ED 10,58MJ/ kg.
Em trabalho sobre a utilização de folhas de amoreira como único
alimento para coelhos adultos, DESHMUKH et al. (1993) obtiveram a seguinte
composição bromatológica: 22,13% PB; 5,9% FB; 36,35% FDN; 31,52% FDA;
e 3,9% EE e concluíram que as folhas forneceram nutrientes suficientes à
manutenção.
15
Comparando o valor nutritivo do feno de soja perene (Glicyne wrighti
Verdec) e amoreira, CARREGAL e TAKAHASHI (1983) chegaram à conclusão
que o feno de amoreira tem valor nutritivo superior ao feno de soja.
Machado 1989, citado por SABINO JUNIOR (1996), avaliando o valor
alimentício das folhas de amoreira, realizou análises comparativas e verificou
que esta fração da planta contém maior quantidade de proteína, o dobro de
hidratos de carbono, mais elementos minerais e menos celulose do que a folha
de alfafa. A análise dos dados revelou que a amoreira, quando comparada
com outras plantas forrageiras (alfafa, soja e erva de pasto), apresentou
superioridade em tudo aquilo que constitui fração digestível, com menor teor
de frações menos aproveitáveis, como a celulose, por exemplo.
Segundo DORIGAN (1993), avaliando os cultivares FM86 e Shima
Miura, estas sofreram pequeno decréscimo no conteúdo celular e somente
pequena elevação da fração fibrosa com o desenvolvimento, quando
comparado com guandu, soja perene e aveia.
2.3 Particularidades na utilização da amoreira
Quando analisa-se a amoreira sob seu aspecto químico e de
degradabilidade, vê-se que possui altas proporções protéicas, que por sua vez
possuem alta degradabilidade. Estes são pontos muito positivos. Porém, há
outros pontos que influenciam no aproveitamento do alimento pelo animal,
como por exemplo a disponibilidade de carboidratos da dieta, a relação
16
energia: proteína dos alimentos, bem como fatores antinutricionais. Estes
pontos, entre outros, serão comentados a seguir.
Mc Donald 1948, citado por BATISTA (1996) verificou que a maior parte
da proteína do alimento era convertida em amônia no rúmen e que a
quantidade de amônia ali produzida dependia da proteína ingerida e dos
carboidratos disponíveis. De acordo com ANDRIGUETTO et al. (1983), a
intensidade de produção de proteínas microbianas, a nível de rúmen, está
estreitamente ligada à degradação das mesmas pelos microorganismos.
Segundo Cotta e Hespell 1986, citados por TEIXEIRA (1996), o principal
destino dos aminoácidos derivados da degradação da proteína no rúmen
parece ser a fermentação a AGVs, CO2, NH4 e CH4.
Segundo BATISTA (1996), a eficiência de síntese microbiana em ovinos
apresenta-se bem variável e é afetada principalmente pela quantidade de
energia e compostos nitrogenados dos alimentos ou dietas.
Os microorganismos ruminais sintetizam suas proteínas a partir da
amônia e dos aminoácidos liberados no rúmen pela degradação da proteína
dietética e da amônia salivar.
De acordo com BATISTA (1996), em animais de alta produção, nos
quais as necessidades protéicas são altas, parte da proteína dietética pode ser
perdida, se houver excessiva degradação desta no rúmen.
Além do nitrogênio disponível, o fator mais importante a afetar o
crescimento microbiano é a quantidade de MO fermentável. Deste modo, a
relação energia: proteína é extremamente importante para o metabolismo
17
microbiano, não somente no aspecto quantitativo, mas, principalmente, na
interação entre a taxa de degradação da proteína e da energia.
Tanto em estudos in vitro como in vivo têm-se verificado aumento na
eficiência de síntese microbiana com aumento na taxa de passagem de
líquidos e sólidos.
De acordo com TEIXEIRA (1996), a síntese de proteína microbiana
ocorre em ambiente claramente limitado pela energia. Isto pode ser crítico no
caso de uma alimentação exclusiva de amoreira, visto que tem, de acordo com
a literatura, proporções inadequadas de energia, ainda mais levando-se em
conta que grande parte da proteína do alimento (que no caso da amoreira é
bastante elevada) é convertida em amônia, e que sua utilização está
relacionada ao nível de energia e de carboidratos da dieta.
A carência de amônia no rúmen pode limitar o crescimento microbiano,
mas quando a taxa de produção de amônia excede às necessidades
microbianas, o excesso é absorvido através do epitélio ruminal, indo, via
sangue, ao fígado, onde é convertido em uréia. Uma fração desta pode ser
reciclada, voltando ao rúmen através da saliva, sendo que a maior parte é
usualmente perdida através da urina.
ANDRIGUETTO et al. (1983) descrevem os efeitos resultantes de um
excesso de proteínas, afirmando que a administração de rações que
contenham altas proporções de proteína, além de acarretar em uma
sobrecarga ao fígado e rins, que necessitam eliminar o nitrogênio em excesso,
já que este excesso não poderá ser armazenado, não trazem aumentos na
produção que justifiquem a sua economicidade. Este fenômeno também é
18
descrito por TEIXEIRA (1996), afirmando que o excesso de nitrogênio não
protéico, ou proteína altamente solúvel (como parece ser o caso da amoreira)
pode produzir toxicidade por amônia.
Segundo VALADARES et al. (1997), a amônia, originada principalmente
da fermentação do alimento no rúmen, de células lisadas e da uréia reciclada
e dietética, penetra na célula microbiana por difusão passiva. A absorção da
amônia através da parede do rúmen é a rota principal para a amônia que não é
assimilada pelos microorganismos (citado por NOLAN, 1993).
Uma das formas de se verificar um excesso de proteína, segundo
VALADARES et al. (1997), seria o acompanhamento do nível plasmático de
uréia, que mostrou afetar linearmente este parâmetro, onde, no caso de
novilhos, o limite a partir do qual estariam ocorrendo perdas de N estaria entre
13,5 e 15,5 mg N-uréia/ dl de plasma.
Além disso, parece haver a presença de fatores antinutricionais na
amoreira, que ainda não foram identificados. Este efeito foi observado em
caprinos alimentados com dietas compostas exclusivamente ou com altas
proporções de amoreira, porém, faltam estudos mais aprofundados sobre o
tema (SABINO JR., 1996).
2.4 Otimização no uso da amoreira
Segundo TEIXEIRA (1996), em trabalho com ovinos, muito da proteína
ingerida pelos mesmos é degradada no rúmen por ação dos microorganismos
ali presentes, gerando grandes quantidades de amônia. Parte desta é utilizada
19
para a síntese microbiana, mas uma grande proporção é, usualmente, perdida.
Estas perdas podem ser minimizadas, se a taxa de fermentação dos
carboidratos degradáveis no rúmen for devidamente sincronizada com a taxa
de degradação da proteína.
Além disto, a energia fornecida pelos glicídios (açúcares, amidos,
celuloses, gomas e substâncias afins), uma vez degradados no rúmen, pode
apresentar perdas, principalmente pelos gases produzidos, onde 6 a 8 % da
EB (energia bruta) é perdida na forma de metano, como descrito por
ANDRIGUETTO et al. (1983).
A otimização do nitrogênio dietético pelos ruminantes inicia com a
formulação da dieta, especialmente visando sua composição em termos de
nitrogênio, energia e outros nutrientes, além do comportamento da dieta no
trato digestivo do animal.
Um exemplo muito didático é apresentado por TEIXEIRA (1996),
adaptado de Russel (1992):
20
Exemplo hipotético mostrando o impacto potencial das taxas de fermentação
de carboidratos e proteínas, sobre as perdas de amônia.
Item
A
B
C
Prot. dietética/proteína + carboidratos (%)a
14
14
14
Taxa de diluição (%/h)b
10
10
10
Taxa de degradação de carboidratos (%/h)
10
25
10
Taxa de degradação de proteína (%/h)
40
40
5
Proteína ruminal/carboidratos (%)c
21
15
5
Perdas proteína ruminal (%)d
27
5
2
a
Baseado na matéria orgânica potencialmente digestível no rúmen. Não inclui gordura ou cinzas.
b
Assume uma taxa de diluição geral de 10% e não separa sólidos e líquido.
c
Relação de proteína para carboidratos que são segregados no rúmen.
d
Assume que todo excesso de proteína (acima de 14%) foi convertido em amônia.
No caso A, a dieta contém 14 % de proteína bruta, mas a fração
protéica apresenta uma taxa de degradação muito mais rápida que a fração
carboidrato. Com base nas taxas de diluição e de degradação ruminal, 21 %
de MO degradada no rúmen pode ser proteína. Uma vez que este percentual
excede às necessidades e nitrogênio da microflora ruminal (14 % de MO
fermentáveis na forma de proteína), grandes quantidades de amônia
acumulam-se no rúmen. Então, mesmo que a dieta pareça adequada em
proteína dietética (14 %), o animal estará deficiente em aminoácidos. No caso
B, a dieta também contém 14 % de proteína, mas a taxa de fermentação dos
carboidratos é consideravelmente mais rápida (25 %/h versus 10%/h). Uma
grande fração da proteína dietética é ainda degradada no rúmen, sendo que
neste caso muito do nitrogênio é utilizado na síntese de proteína microbiana e
as perdas ruminais de amônia são grandemente reduzidas (somente 5 %). No
caso C, a taxa de fermentação dos carboidratos é lenta, mas uma fonte de
21
proteína de degradação lenta foi melhor balanceada e somente uma pequena
fração da proteína é perdida como amônia ruminal.
A relação energia: proteína pode ser alterada pelo tipo de carboidrato
ou pela proporção de concentrado da dieta (Hart e Orskov 1979, citado por
BATISTA, 1996).
Estas correções em termos de concentrados na dieta, também foram
sugeridos por outros autores, como VASCONCELOS (1994).
2.5 Valor nutricional da amoreira
PRASAD e REDDY (1991) avaliando o valor nutritivo de folhas de
amoreira para ovinos e caprinos, obtiveram ingestão de MS da ordem de
3,55% do peso vivo para caprinos, correspondendo a 146% do requerimento,
além disso, digestibilidade da PB e FB, e o balanço de N foram
significativamente superiores para os caprinos, com 12,23% PB digestível e
70% de NDT.
GONZALES et al. (1996), comparando o ganho em peso de bovinos de
corte recebendo silagem de amoreira e folhas frescas da mesma como
suplemento à dieta básica, somente Pennisetum purpureum, observaram um
ganho de peso maior (601 vs. 117 g/ animal com silagem e 954 vs 39 g/ animal
com folhas frescas), bem como maior ingestão de matéria seca (IMS) para a
primeira dieta, e concluíram que amoreira fresca é um bom alimento para o
gado de produção e que sua silagem pode seguramente ser utilizada na época
seca do ano.
22
Trabalhando com ovinos, RAO et al. (1996) avaliaram 2 dietas
isonitrogênicas, ambas com 40% de folhas secas de “neem” (Azadirachta
indica) ou amoreira, e concluíram que, com exceção do EE, a digestibilidade
dos outros nutrientes foi maior para a amoreira, o que resultou numa maior
ingestão (P< 0,05) de NDT, utilização de N e valor nutritivo do alimento.
PRASAD et al. (1995), avaliando o efeito da suplementação de feno de
amoreira para ovelhas gestantes, utilizaram 3 dietas: sorgo picado ad libtum +
350g concentrado; palha de sorgo e feno de amoreira picados (2:1) + 250g
concentrado; e palha de sorgo e feno de amoreira picados (1:1) + 100g
concentrado, de modo a atender o requerimento protéico, e concluíram que a
IMS foi comparável para todas as dietas e que a digestibilidade dos nutrientes
foi semelhante exceto para EE, que decresceu (P<0,01) como aumento da
porcentagem de feno de amoreira. O peso ao nascer dos cordeiros dos três
grupos também foi semelhante.
2.6 Fatores que interferem na estimativa da degradação da amoreira
No estudo da degradação dos alimentos, algumas variáveis podem
interferir na degradabilidade e na estimação da mesma, como por exemplo a
variação individual na capacidade de degradação dos alimentos (efeito
animal), a alimentação utilizada pelo animal (nível de fibra e de concentrado),
o tipo de alimento a ser avaliado (velocidade de degradação, porcentagem
solúvel), a taxa de passagem do alimento (kp), o nível de produção animal, o
23
tamanho dos poros do saco, tamanho do saco, quantidade de amostras
utilizadas, intervalos de tempo utilizados.
Segundo ORSKOV (1988), há algumas recomendações, visando
minimizar os efeitos citados acima, que se referem ao material dos sacos
(devendo ser de fibra sintética – totalmente resistente à degradação
microbiana), tamanho da malha do tecido (20 a 40 µm), tamanho da bolsa
(aproximadamente 14 x 9 cm) e quantidade de amostra (3 a 5 g de MS).
2.7 Degradabilidade da amoreira
A degradabilidade é uma forma indireta de se avaliar a digestibilidade in
vivo dos alimentos, sendo uma das mensurações mais condizentes com a
realidade, em comparação com as técnicas existentes.
Nesta técnica, utilizam-se animais fistulados no rúmen, portando cânula,
onde são introduzidas bolsas de nylon com o material a ser avaliado e
deixadas por períodos de tempo pré determinados.
Com as bolsas de nylon se mede o desaparecimento do alimento, e se
supõe que este desaparecimento seja sinônimo de degradação (ORSKOV,
1988).
MAKKAR et al. (1989) em trabalho sobre a relação da degradabilidade
ruminal com colonização microbiana, constituintes de parede celular e níveis
de tanino em folhas de 10 espécies arbóreas, entre elas a amoreira,
observaram que a degradabilidade dela foi a segunda mais alta (perda de MS
= 0,71) e que seu nível de tanino era baixo (4,00mg/ g).
24
WEAKLEY et al. (1983)verificaram, em vacas recebendo rações com 25,
40, 60 ou 80%de feno de alfafa, uma maior degradação do farelo de soja,
quando a ração era composta de 80% de feno, indicando um sinergismo entre
o alimento volumoso e o concentrado, fator este que pode levar à alterações
em valores de degradabilidade. Estes autores sugerem que, além do efeito
sobre a população microbiana no rúmen, fatores físicos associados à dieta
contribuem para aumentar a degradação , quando a mesma contém alta
porcentagem de volumoso.
A
estimativa
da
degradabilidade
pode
ser
subdividida
em
degradabilidade potencial (DP) e efetiva (DE), sendo a primeira a
degradabilidade máxima alcançada pelo alimento ao permanecer no rúmen por
determinado período de tempo, levando em conta uma fração rapidamente
solúvel ( “A” ) e outra degradável ao longo do tempo ( “B” ), que é dependente
de “c”, constante do ritmo (taxa) de degradação microbiana, que esta fração
será degradada por hora, podendo ser estimada através da fórmula:
DP = a + b (1 –e-ct)
A efetiva, além destas frações, leva também em conta o percurso normal
do alimento pelo trato gastrointestinal (taxa de passagem), e pode ser
estimada pela seguinte fórmula:
DE = a+ (bc) / (c+k), onde k é a taxa de passagem do alimento contido
no rúmen, que é dependente do nível de produção animal, da ingestão
voluntária de MS, do teor de fibra e do tamanho das partículas do alimento,
(ORSKOV, 1988). O consumo voluntário de MS, segundo Van Soest 1965,
25
citado por GOMIDE e QUEIROZ (1993), para forrageiras, guarda estreita e
positiva relação com sua digestibilidade e teor protéico do alimento.
O conhecimento da degradabilidade efetiva e da taxa de degradação
dos alimentos utilizados, aliado a dados de composição química, permitem o
cálculo de uma ração mais adequada. Para a fração proteína de determinado
alimento, conhecendo-se sua degradabilidade no rúmen, permite formular
rações na base de proteína degradada no rúmen (PDR) e proteína não
degradada no rúmen (PNDR), que atendem às exigências de compostos
nitrogenados dos microorganismos e do animal, podendo deste modo
proporcionar uma produção mais eficiente.
SINGH et al. (1989) determinaram a degradação ruminal da amoreira
pelo método in situ, obtendo os valores 49,4% para degradação efetiva e 0,044
para taxa de degradação, utilizando plantas em estágio vegetativo bastante
avançado.
LORENZI et al. (1992), comparando diferentes técnicas para avaliação
da digestibilidade da MS e MO concluíram que na técnica in situ constatou-se
boa repetibilidade entre os animais fistulados, que a repetibilidade da técnica
in situ foi satisfatória, e o período de fermentação no rúmen de 48 horas foi o
mais indicado para o estudo da digestibilidade da MS e MO. Os valores de
digestibilidade in situ apresentaram altas correlações com a digestibilidade in
vitro, permitindo razoável estimativa da digestibilidade da MS e MO.
Avaliando taxas de desaparecimento para forragens, o percentual de N
residual e MS, às 2, 12, 24, 36 e 48 horas de incubação, utilizando a técnica in
situ em ovinos, NOCEK et al., (1979) encontraram que as taxas de
26
desaparecimento de 2 horas variaram de 0,279 a 0,029 para N e de 0,259 a
0,023 para MS. Estes autores consideraram também, a possibilidade de uma
ação abrasiva entre o material fibroso da digesta ruminal com a superfície do
saco. Esta ação abrasiva, associada aos movimentos dos sacos, sob pressão,
agiriam na desobstrução contínua do material acumulado nos poros,
constituído de partículas do conteúdo fibroso e de limo bacteriano.
VASCONCELOS (1994), avaliando a degradação ruminal in situ da MS,
PB e FDN de dois cultivares de amoreira (FM Shima Miura e FM 86), em duas
idades de corte (45 e 90 dias) e em 6 tempos de incubação (0, 6, 12, 24, 36 e
48 horas) no rúmen, encontrou que tanto para MS como a PB e FDN, a taxa de
degradação foi elevada. Esta taxa, tanto potencial como efetiva, para MS e PB,
não diferiu significativamente entre os cultivares. Encontrou os seguintes
valores para degradabilidades potencial e efetiva, respectivamente: 92,01 e
73,6% para MS, 96,7 e 71,1% para PB não estimando para FDN. Para MS, a
degradação às 6 e 12 horas foi de 58,4 e 78,1%, respectivamente,
correspondendo a 67,76 e 86,77% da degradação total. Para a PB, a
influência do tempo de incubação na degradação ocorreu apenas nas
primeiras 24 horas de incubação. Os valores de degradação às 6 e 12 horas de
incubação foram 44,4 e 72,8%, respectivamente, correspondendo a 52,32 e
80,56% da degradação total. Para FDN, verificou diferenças significativas na
degradabilidade, entre os cultivares, com maior valor para o cultivar FM 86. As
degradações da FDN às 6 e 24 horas foram de 28,5 e 52,6%, representando,
respectivamente 39,47 e 82,87% do total degradado. Concluiu que os
27
cultivares de amoreira estudados foram rapidamente degradados no rúmen e
apresentaram elevada taxa de degradação ruminal da MS, PB e FDN.
HARA (1993) e BASAGLIA (1993) também não verificaram diferenças
significativas na digestibilidade da PB de cultivares de amoreira, usando
métodos in vitro e in vivo, respectivamente.
WEAKELEY et al.. (1983) verificaram, em vacas que receberam rações
com 25, 40, 60, ou 80% de feno de alfafa, uma maior degradação do farelo de
soja, quando a ração era composta de 80% de feno, indicando um sinergismo
entre o alimento volumoso e o concentrado, fator este que pode levar ‘a
alteração em valores de degradabilidade. Estes autores sugerem que, além do
efeito sobre a população microbiana no rúmen, fatores físicos associados à
dieta contribuem para aumentar a degradação, quando a mesma contém alta
porcentagem de volumoso.
Os dados apresentados neste item podem ser encontrados na Tabela
A1 e A2 do Apêndice.
28
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Local
O experimento foi conduzido na Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias de Jaboticabal – UNESP. A Universidade encontra-se à altitude de
614 m, latitude -48017’9,3” e longitude -21014’4,9”, apresentando clima
subtropical, temperatura média anual de 200C e precipitação pluviométrica
média anual de 1400 mm.
29
3.2 Animais e manejo
Foram utilizados 5 caprinos da raça Saanen, machos, castrados, com
média de 65 Kg de peso vivo e 2 anos de idade, portando cânula ruminal.
Os animais foram mantidos em regime de confinamento, em baia
coletiva, com dimensões de 7,5 x 4 m, ripado com cobertura de 2,5 x 4 m e
solário cimentado de 5 x 4 m, possuindo cocho e bebedouro.
Foi realizada a everminação dos animais, aplicação de vitamina ADE (3
ml/ animal) e casqueamento.
3.3 Dieta e tratamentos
A alimentação foi dividida em 2 refeições diárias, às 8:00 e 16:00 h,
consistindo de 300 g de concentrado protéico mineralizado, fenos de Tifton-86
e de amoreira e água, ad libitum, cujas composições médias encontram-se na
Tabela 1.
Tabela 1 – Composição química da dieta experimental, com base na
Matéria Seca.
MS (%)
PB (%)
FDN (%)
MO (%) Cinzas (%)
Concentrado
87,62
21,21
24,58
91,56
8,44
Feno Tifton
85,18
9,61
85,61
92,19
7,81
Feno Amoreira
69,53
15,61
39,11
90,62
9,38
O concentrado apresentava a seguinte composição, em termos de
ingredientes:
30
No presente trabalho foram utilizadas a variedade Miura e os híbridos
FM 86 e Shima Miura, caracterizando três tratamentos.
3.4 Cultivo, corte e preparação do feno da amoreira
As amoreiras utilizadas para o experimento tinham 9 anos de
implantação, plantadas em espaçamento de 3 m entre linhas e 0,6 m entre
plantas.
Foi realizado um corte de uniformização no amoreiral em outubro de
1997. Após 90 dias realizou-se a colheita dos ramos de amoreira. Coletados
os ramos, procedeu-se à desfolhagem, de onde se aproveitou as folhas (limbo
e pecíolo) e a parte apical da planta, sendo em seguida embalados em sacos
plásticos e acondicionados em refrigerador, para posterior incubação.
Para a confecção do feno de amoreira utilizaram-se ramas de amoreira
com 90 dias de crescimento. Triturou-se as ramas em picadeira de forragens,
sendo o material (folhas e caule), em seguida, colocado sobre lona plástica,
espalhado e deixado ao sol para secar, sendo revirado periodicamente, para
que não houvesse fermentação do material. Ao final do dia, ou quando havia
chuva, o material era recolhido para galpão coberto, sendo colocado para
secar novamente no dia seguinte. Este procedimento foi repetido por 5 dias,
quando o mesmo encontrava-se seco, sendo então ensacado.
31
3.5 Material incubado
O material a ser incubado foi inicialmente macerado com maçante de
madeira, a fim de aproximar as características do material experimental com o
que seria ingerido pelo animal, após ter passado por mastigação, sobre lona
plástica, tendo-se o cuidado de evitar perdas de conteúdo celular.
A aparência do mesmo era de um verde bem escuro, formando uma
massa uniforme que permanecia agregada, sem haver presença de líquido. O
tamanho das partículas era de cerca de 3 mm.
3.6 Período pré-experimental
Adotou-se um período de adaptação de 21 dias, no qual forneceu-se
alimento do mesmo tipo que seria avaliado no experimento (amoreira),
procedimento destinado `a adaptação da flora ruminal ao material a ser
testado.
3.7 Procedimentos para incubação
Para a avaliação da degradabilidade do material, foram utilizados sacos
de Nylon (40 µm), com dimensões de 14 x 7 cm, para onde se transferiu cerca
de 10 g do material macerado (em torno de 5 g de MS), sendo então fechado
com elástico e guardado em refrigerador até o momento da incubação.
32
Faltando uma hora para a incubação, os sacos a serem incubados
foram postos de molho em água, afim de umedecer o material e retirar o ar
presente nos sacos, facilitando, desta forma o deslocamento dos sacos para o
fundo do rúmen.
Foi utilizada uma corrente de ferro disposta de forma triangular (20 x 20
x 20 cm) de 20 cm e 240 g, à qual foram fixados os sacos, através de
mosquetões. Prendeu-se também à corrente uma corda fina, que possuía na
extremidade um pequeno cano de PVC de tamanho maior que o diâmetro da
cânula, cuja finalidade era evitar que a corrente se “perdesse” no rúmen.
Aproximadamente na metade da corda, foi colocado um girador para que a
corrente com os saquinhos tivessem maior liberdade de movimento dentro do
rúmen.
Após 6, 12, 24, 48 e 96 horas de incubação os sacos foram retirados,
tomando-se cuidado para evitar a perda de conteúdo ruminal, e submergidos
imediatamente em água fria, para interrupção da atividade microbiana. Em
seguida foram lavados em água corrente até que o líquido proveniente da
lavagem saísse completamente límpido, indicando que todo material solúvel
tinha sido eliminado, sendo em seguida retirado o excesso de água e postos
para secar em estufa a 55ºC, por um período mínimo de 72 horas (pré secagem).
Para se determinar o tempo 0, ou seja, a fração solúvel, colocou-se os
sacos com amostras em balde com água, de modo que ficassem submersos,
por 1 hora. Após este período, foram lavados e postos para secar do mesmo
modo como os outros sacos.
33
Após o período de pré-secagem, o material dos sacos foi pesado, a fim
de se determinar a diferença de peso com o material original. Sendo então
moído em moinho de facas, para posteriormente efetuar-se a análise
bromatológica do mesmo. Esta análise estendeu-se também ao material antes
de ser submetido à incubação.
3.8 Análises laboratoriais
Foram efetuadas análises dos alimentos que compunham a dieta dos
animais, como também do material sujeito à degradação, antes e após a
incubação, onde se avaliou os teores de Matéria Seca, Proteína Bruta, Fibra
em Detergente Neutro (SILVA, 1981) para todas as amostras, sendo que para
os alimentos também foram efetuadas análises de Matéria Orgânica, Matéria
Mineral, Extrato Etéreo, Fibra em Detergente Ácido e Nitrogênio da FDN e
FDA, também de acordo com SILVA (1981).
3.9 Equações e parâmetros avaliados
No presente experimento, com a finalidade de se avaliar a curva de
degradação da amoreira em caprinos, e assim poder estimar seu potencial
nutricional, foram avaliados os seguintes parâmetros: MS, PB e FDN, nos
alimentos fornecidos e nas frações degradadas, assim como a taxa de
desaparecimento, o potencial de degradação e a degradação efetiva, que leva
em conta a taxa de passagem do conteúdo ruminal do material avaliado.
34
Para a determinação da porcentagem de MS utilizaram-se as equações
a seguir:
% ASA = peso do material pré seco x 100
peso do material verde
% ASE = peso da amostra seca x 100 ,
peso da amostra
% MS = ASA x ASE .
100
A PB foi estimada a partir da seguinte equação:
% PB = % N x 6.25
A taxa de degradação foi calculada de acordo com a equação:
% Degradação = Material Incubado (g) – Material Residual (g) x 100
Material Incubado(g)
No cálculo das degradabilidades potencial e efetiva, utilizaram-se as
seguintes fórmulas, respectivamente:
DP = a + b (1 - e
-ct
)
DE = a + (bc / c + k )
3.10 Análise estatísticas e delineamento experimental
Adotou-se um delineamento em blocos casualizados com parcela
subdividida, com 3 tratamentos (cultivares de amoreira), 5 repetições/ blocos
(animais) e 5 parcelas (tempos de incubação). Sobre os resultados efetuou-se
análise de variância e teste de média (Tukey 5%). Utilizando o SAS estimou-se
a significância das variações dos dados obtidos e de suas interações.
35
Para as análises, optou-se por não utilizar o tempo de 96 horas, visto
que o mesmo não seguiu a tendência de degradação, que era crescente, ao
contrário, observou-se maior quantidade de material nas bolsas incubadas por
96 horas do que nas incubadas por 48 horas, indicando que houve alguma
interferência, possivelmente um refluxo bacteriano no período, e que a
degradação máxima havia ocorrido no período anterior, ou seja, 48 horas, em
cima do qual calculou-se a degradabilidade efetiva.
O esquema de análise de variância utilizado neste experimento foi o
seguinte:
Causas de Variação
GL
Animais (bloco)
4
Tempos de incubação
4
erro (a)
16
Subtotal
24
Cultivares
2
Cultivares x Tempo de incubação
8
erro (b)
56
Total
74
36
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Composição química e bromatológica
A composição química é o ponto de partida para se determinar o valor
nutritivo de um alimento, avaliando-se sua proporção aproveitável (MO, PB,
EE, energia) e a menos aproveitável (FB ou FDN, FDA, celulose,
hemicelulose, lignina). A partir daí, pode-se estudar o aproveitamento destas
frações pelo animal (digestibilidade), bem como, no caso de ruminantes, pelos
microorganismos ruminais (degradabilidade).
Na tabela 2 encontram-se descritas médias obtidas para a composição
química do material a ser incubado, referente aos cultivares Miura, Shima
Miura e FM 86.
37
Tabela 2. Composição química das cultivares estudadas, com base na MS (%).
Cultivar
Miura
Shima Miura
FM 86
Média
MS
24,58 a
25,28 a
24,45 a
24,77
MO
90,95 a
89,81 b
89,99 b
90,25
PB
23,61 a
22,74 a
21,67 a
22,68
EE
2,06 a
2,08 a
2,08 a
2,08
NDT*
82,91 a
77,82 b
79,52 b
80,08
ED**
3,62 a
3,47 b
3,51 b
3,53
FDN
39,28 a
36,59 a
31,24 b
35,70
FDA
17,24 b
21,70 a
20,21 a
19,72
Hemicelulose***
22,04 a
14,89 b
11,02 c
15,99
N-FDN (% PB)
18,75 a
19,59 a
17,69 b
18,68
N-FDA (% PB)
5,83 a
5,05 a
4,61 a
5,16
MM
9,05 b
10,19 a
10,01 a
9,75
*Calculado a partir da equação NDT = 102,56 – (% FDA x 1,140), proposta por
Raffler e Sotter 1975, citado pelo NRC (1989).
**(Mcal/ kg MS); calculado a partir da equação 1 kg NDT = 4,409 Mcal ED.
***Hemicelulose = FDN - FDA.
Avaliando-se as análises químicas e bromatológicas dos três cultivares
estudados, percebe-se grande semelhança NO TOCANTE À ms. Já com
relação à MO, o cultivar Miura foi superior (P < 0,05) aos demais cultivares,
sendo este também diferente significativamente dos demais em termos de MM,
porém, tendo os menores valores.
38
Entretanto, os valores de MO, apesar da diferença entre cultivares, é
elevada para todos (90,2% como média, 89,8% para Shima Miura, o mais
baixo), indicando bom potencial de aproveitamento.
Os valores obtidos no presente trabalho estão de acordo com os
encontrados na literatura, como BRAZÃO (1992), BAFFI (1992) e HARA (1993)
para MS: 24,3%, 23,8% e 22,7%, respectivamente, SABINO JR. (1996) para
MO (93,0%) e MAGÁRIO (1993) para MM (10,8%). Entretanto diferem dos
valores obtidos por SINGH et al. (1984), PRASAD e REDDY (1991) e SABINO
JR. (1996) para MS (38,0%; 30,1% e 31,4%), sendo justificados para os dois
primeiros por utilizarem plantas mais maduras, e o último por ser representado
por caules, além das folhas. CASOLI et al. (1986) obteve valor inferior para
MO (83,4%) e DESHMUK e PATHAK (1989) e PRASAD e REDDY (1991),
valores superiores para MM, devendo-se, provavelmente à maior idade das
plantas, quando comparado às do presente trabalho.
Com relação aos constituintes da parede celular, houve semelhança (P
> 0,05) com relação à PB e ao EE. Porém, com relação ao NDT e à ED, o
cultivar Miura foi superior (P< 0,05). Esta superioridade talvez tenha relação
com o menor percentual de FDA encontrado neste cultivar, uma vez que estes
dois parâmetros foram estimados à partir da FDA. Todavia esta superioridade
faz concordância com a superioridade do cultivar em questão para MO,
indicando ser mais aproveitáveis suas frações estudadas.
Chamam a atenção os altos valores de proteína (22,7%), NDT (80,1%) e
ED (3,53 Mcal/ kg MS) encontrados na amoreira, evidenciando um alimento de
valor
nutricional
elevado,
tendo
sido
encontrados
poucos
alimentos
39
comparáveis na literatura, como foi o caso da alfafa, forragem de reconhecido
valor nutricional. Entretanto, os valores obtidos para o extrato etéreo se
destacam por serem baixos (2,1%).
Esta elevada percentagem de PB fica evidenciada quando comparamos
os teores da amoreira com percentuais de PB de outros alimentos utilizados na
alimentação animal (ver tabela A3, apêndice), onde perde apenas para o farelo
de soja (39% PB), ficando equiparada, com ligeira vantagem em relação à
alfafa (22% alfafa verde e 17% feno de alfafa).
Entretanto,
os
valores
de
ED
estimados,
apesar
de
serem
representativos, não conseguem fornecer uma relação energia: proteína
adequada, de acordo com as recomendações do NRC (1989) para caprinos
(32 g PB: 1 Mcal ED), ficando esta relação, no presente trabalho, com média
de 63,8 g PB/ Mcal ED (ver tabela A4, no apêndice, onde se compara a
relação de outros alimentos). Isto tem maior importância quando se pensa no
uso da amoreira como alimento exclusivo, ou em proporções inadequadas com
outros alimentos, tendendo a fornecer, desta forma, uma dieta desbalanceada
aos animais, podendo acarretar em prejuízos orgânicos (crescimento, ganho
de peso, etc.) e econômicos.
Isto talvez seja ilustrado ao analisarmos o trabalho de SABINO JUNIOR
(1996), onde estuda a digestibilidade in vivo e a seletividade em caprinos, em
que a alimentação dos mesmos era composta exclusivamente por amoreira
(que conteve proporções de PB inferiores a este trabalho, 15,8%). Através dos
dados de consumo diário de proteína (640 g PB/ dia) e do PV dos animais
(média de 15 kg), chega-se a dados impressionantes, tendo, para animais de
40
alto nível de produção (150 g GPV/ dia), 50% de excesso de proteína, e no
caso de animais em manutenção, 215%, com base nas recomendações do
NRC (1989).
Os valores de PB encontrados estão de acordo com os obtidos por
DORIGAN (1993), BASAGLIA, (1993), BRAZÃO (1992), BAFFI (1992) , entre
outros (ver tabela A1), enquanto alguns autores, como SINGH et al. (1984),
CASOLI et al. (1986) e RAO et al. (1996) obtiveram valores inferiores, sendo
devido, também, à maior idade. Sobre o EE, os dados encontrados na literatura
foram superiores aos obtidos no presente trabalho, ao passo que valores
referentes ao NDT foram inferiores (SINGH et al. (1984), PRASAD e REDDY
(1991), SABINO JUNIOR (1996) e RAO et al. (1996)), provavelmente em
virtude da maior idade das amoreiras, e no caso do último autor, por incluir
caules, além das folhas. O parâmetro ED encontrado neste trabalho foi
superior ao encontrado na literatura (2,53 Mcal, CASOLI et al. (1986)), porém,
novamente, em função da diferença de idade das plantas estudadas.
Comparando, por sua vez, com a ED de outros alimentos (tabela A3), percebese que, de acordo com a ED estimada no presente trabalho, que a amoreira
possui valores significativos, sendo superior à alfafa verde (2,90 Mcal), ficando
próximo de alimentos nobres, como o farelo de soja (3,66 Mcal) e o milho (3,85
Mcal).
Com relação aos constituintes da parede celular (FDA, FDN, Hem, NFDN e N-FDA), com exceção do N-FDA, todos apresentaram diferenças
estatísticas (P < 0,05). O FDN mostrou-se elevado (35,7%), havendo em
menor quantidade no cultivar FM86. Para o parâmetro FDA, o cultivar Miura
41
teve valores significativamente menores (17,2%), o que é uma vantagem, do
ponto de vista nutricional. Com relação à hemicelulose, todos diferiram
estatisticamente (p < 0,05) entre si, apresentando o cultivar Miura os maiores
valores (22,0%) e o FM86 os menores (11,0%). O N-FDN foi inferior (P < 0,05)
para o cultivar FM86 (4,6%).
Os valores de FDN obtidos são superiores aos encontrados pelos
autores trabalhando com folhas de amoreira, 90dias de crescimento (26,4%,
em média), (ver tabela A1), estando próximo aos valores obtidos em trabalhos
com a amoreira mais madura (37,5%, média). Foi observado menor valor de
FDN pelos autores BRAZÃO (1992) (28,2%) e DORIGAN (1993) (23,6%),
utilizando os mesmos cultivares e a mesma data de corte do presente trabalho.
A explicação talvez se deva à época do ano em que os experimentos foram
conduzidos, podendo, assim, plantas com o mesmo tempo de crescimento, ter
um desenvolvimento desigual em função da pluviosidade e/ ou outros fatores
ambientais que tenham diferenciado nos dois experimentos deste. Por outro
lado, o FDA está em concordância com os primeiros (18,8%, média), sendo a
deste trabalho um pouco inferior, e bastante inferior quando comparada aos
valores da amoreira madura (30,7%, média). Não foram encontrados valores
de N-FDN e N-FDA na literatura pesquisada.
Embora o cultivar Miura tenha demonstrado certa superioridade pela
composição química, em relação aos outros dois cultivares estudados, este
não deve ser suficiente para indicá-la como tal, uma vez que há cultivares
(como Shima Miura) que se sobressaem em termos de massa verde produzida
42
por área, necessitando de estudos mais minuciosos para pode-se definir tal
superioridade, em termos de custo/ benefício.
4.2 Degradabilidade das frações
o estudo da degradação dos alimentos pelo método in situ, permite
estimar o fracionamento da digestão em ruminantes, sendo os valores obtidos
empregados na formulação de rações. Originalmente desenvolvido para
avaliar a digestão ruminal de proteínas, atualmente emprega-se também para
outros componentes do alimento (NOCEK, 1997).
4.2.1 Degradabilidade da matéria seca
Os valores de degradação da MS dos três cultivares estudados, nos
diferentes tempos de incubação são apresentados na Tabela 3.
43
Tabela 3. Degradação da MS (%) dos cultivares estudados, em função do
tempo de incubação.
Tempo
Cultivar
Média
Miura
Shima Miura
FM 86
6
52,22
54,82
56,70
54,58 C
12
81,66
78,81
80,31
80,26 B
24
91,80
89,07
91,48
90,78 A
48
93,25
93,24
93,03
93,17 A
79,73 a
78,99 a
Média
C.V. %
80,38 a
3,61
Médias seguidas da mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P > 0,05).
Não houve diferenças estatísticas entre os cultivares estudados (P >
0,05), com relação à degradação da MS. Estes resultados estão de acordo com
HARA (1993), BASAGLIA (1993) e VASCONCELOS (1994) que usaram
respectivamente os métodos in vitro, in vivo e in situ. Para a variável tempo de
incubação, como já era esperado, observou-se diferenças estatísticas (P <
0,05). A degradação às 6 e 12 horas foi de 54,6% e 80,3%, respectivamente,
correspondendo a 58,6% e 86,1% da degradação total como pode ser visto na
tabela A3 do apêndice, ao passo que os dois tempos de incubação posteriores
(24 e 48 horas) foram responsáveis, em conjunto, por apenas 14,2% do total
degradado. Deve ser chamado à atenção, ainda, que dos 58,6% de
degradação para o tempo 6, mencionado acima, 31,4% correspondem à fração
solúvel, ou tempo zero, como pode ser visto na Tabela 3. Analisando a Tabela
3 e a Figura 1, pode-se perceber o grande potencial de degradação
microbiana da amoreira, tendo uma velocidade maior nas primeiras horas (6 e
44
12 horas), havendo em seguida uma estabilização na velocidade de
degradação, não se encontrando, inclusive, diferenças estatísticas (P > 0,05)
entre os últimos tempos (24 e 48 horas). Isto mostra a grande porcentagem da
fração degradável pelos microorganismos do rúmen, e com isto, o grande
potencial alimentício da amoreira para ruminantes e herbívoros.
O mesmo padrão de significação estatística encontrada neste trabalho,
ou seja, diferenças nas horas 6 e 12 e não nas demais, foi observado também
por VASCONCELOS (1994) (tabela A2, apêndice).
A seguir é apresentada a curva de degradação da MS, onde pode-se
ver mais claramente o comportamento de degradação da mesma.
120
y = 17,374Ln(x) + 30,684
R 2 = 0,9499
Degradação (%)
100
80
60
40
20
0
0
6
12
18
24
30
36
42
48
54
Tempo de incubação (h)
Figura 1. Curva de degradação da MS da amoreira, em função do tempo de
incubação.
Chama a atenção a grande degradação nas primeiras horas, bem como
a degradação quase completa (93%) do material ao término do período (48
horas).
45
Estes altos valores de degradação podem ter relação (além da
composição da amoreira) com a quantidade/ proporção de volumoso ingerido
pelos animais, como base de sua alimentação, como citado por GANAV et al.
(1979), porém utilizando dieta exclusiva de volumoso, onde esta promoveria
um incremento na atividade celulolítica dos microorganismos, uma vez que a
dieta é o principal determinante da quantidade e tipos de microorganismos no
rúmen. Além da dieta, outro fator a interferir na síntese e atividade microbiana,
segundo ANDRIGUETTO et al. (1983), a nível de rúmen, é a degradação da
proteína pelos mesmos.
No cálculo da degradabilidade potencial, leva-se em conta a proporção
das frações solúvel, degradável e taxa de degradação por hora, que podem
ser analisadas na Tabela 4, bem como a fração indegradável pelos
microorganismos.
Tabela 4 – Frações solúvel ( A ), potencialmente degradável ( B ),
indegradável ( I ) e taxa de degradação ( c ) da MS dos cultivares
estudados.
Cultivar
M
SHM
FM86
média
A (%)
33,97
29,25
30,99
31,40
B (%)
59,37
63,99
62,03
61,79
I (%)
6,75
6,76
6,97
6,83
c (%/ h)
0,16
0,13
0,16
0,15
Percebe-se que há um percentual relativamente alto de material solúvel,
31,4 %. Porém, a maioria (61,8 %) representa o material degradável pela ação
46
microbiana. Aliado a isto, nota-se a pequena porção indegradável (6,8%). A
taxa de degradação por hora foi de 0,15%.
Os valores obtidos neste trabalho estão de acordo com os valores
obtidos por VASCONCELOS (1994), que obteve 31,1%, 60,9% e 0,12% para
as frações A, B e c, respectivamente. Porém, para o coeficiente c, o valor
obtido no presente trabalho ficou mais próximo aos dados encontrado pelo
autor para plantas com 45 dias de crescimento (0,16%), tendo sido detectada
diferença significativa entre as duas datas de corte.
Com relação aos dados obtidos por SINGH et al. (1989), há uma certa
semelhança com a fração B (77,6%), sendo esta, entretanto, mais elevada.
Porém, o valor obtido para a fração A é espantosamente menor (0,02%), assim
como o coeficiente c (0,044%/ h), sendo que a fração I é também bastante
superior (22,4%) à obtida no presente trabalho. estas diferenças talvez tenham
relação com a maior maturidade das amoreiras estudadas por estes autores,
tendo então o material maior teor de fibra (o que explicaria a maior porção
destinada à ação dos microorganismos, a menor taxa de degradação por hora
e a menor solubilidade).
Afim de se alcançar uma visão mais acurada do potencial de
degradação da amoreira, pode-se observar na Tabela 5 os valores das
degradabilidades potencial e efetiva.
47
Tabela 5. Degradabilidade potencial e efetiva da MS dos cultivares estudados.*
Cultivar
Miura
Deg. Pot.
Shima Miura
FM 86
Média
C.V. %
93,26
97,19
86,65
92,37
1,58
kp 0,02
86,44
83,98
85,76
85,39
2,63
kp 0,05
78,71
74,48
77,62
76,94
4,58
kp 0,08
72,99
67,91
71,62
70,84
5,71
Deg. Efet.
* Os cultivares não diferiram estatisticamente entre si pelo teste de Tukey
(P > 0,05).
kp = taxa de passagem.
Percebe-se, mais uma vez, o grande potencial de degradação,
chegando no caso da Shima Miura muito próximo ao máximo (97,2%) e,
notando-se a ausência de diferenças estatísticas entre os cultivares, pode-se
dizer que todos demonstraram boas qualidades com relação à degradação.
Neste experimento não se avaliou a taxa de passagem do material, mas
sabendo-se que o mesmo era composto apenas pelas partes mais tenras da
planta (folhas e parte apical dos ramos), a DE aplicável no caso deve estar
próximo a 0,05 e 0,08. Foram encontrados valores muito satisfatórios para as
degradabilidades potencial (92,4%) e efetiva (76,9 a 70,8%, dependendo do
kp).
Lembrando que, segundo o ARC (1984), para manutenção, a kp é de
2% e para alta produção é de 8%, pode-se supor um bom potencial de "nível
de produção" da amoreira.
48
Os dados referentes à DP obtidos no presente trabalho são muito
próximos aos obtidos por VASCONCELOS (1994), aos 90 dias de corte –
92,0%, bem como os referentes à DE, (73,5%), situando-se entre as taxas de
passagem de 5 e 8%. Com relação à DE obtida por SINGH et al. (1989), de
49,4%, que é bastante inferior à encontrada neste trabalho, pode ser explicada
pela maior maturidade do material estudado por estes autores, ou, quem sabe,
também por diferenças entre cultivares.
Comparando-se os valores de degradação da MS encontrados para
amoreira e com os encontrados para feno de alfafa, nota-se a superioridade da
primeira, segundo dados de OLUBOBOKUN et al. (1990), trabalhando com os
mesmos tempos de incubação (6, 12, 24 e 48 horas) (ver Tabela A no
apêndice) e de LORENZI et al. (1992), que obteve 76,99% de degradação com
72 horas de incubação no rúmen. Talvez esta inferioridade da alfafa tenha
relação com a forma de apresentação (feno). Porém, comparando-se os
valores de FDN das duas espécies, percebe-se que é bastante semelhante,
indicando ser realmente a amoreira superior, sob este ponto de vista.
4.2.2 Degradabilidade da proteína bruta
O comportamento de degradação da PB dos cultivares estudados, em
função dos tempos de incubação pode ser visualizado na Tabela 6:
49
Tabela 6. Coeficiente de degradação da PB dos cultivares estudados, em
função do tempo de incubação.
Tempo
Cultivar
Miura
Shima Miura
FM 86
Média
6
50,66
49,83
50,90
50,46 C
12
84,06
79,97
83,08
82,37 B
24
94,87
89,99
94,66
93,17 A
48
97,31
97,02
96,23
96,85 A
81,73 a
79,20 a
81,22 a
Média
C.V. %
5,27
Médias seguidas da mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P > 0,05).
Não foram encontradas diferenças significativas (P > 0,05) entre os
cultivares, e sim para os tempos de incubação, havendo diferenças nas duas
primeiras horas (6 e 12 h) e não nas outras duas (24 e 48 h), indicando ter
havido diminuição significativa na velocidade de degradação nos tempos de
incubação 24 e 48 horas.
A degradação às 6 e 12 horas foi de 50,5% e 82,4%, respectivamente,
correspondendo a 52,1% e 85,1% da degradação total, enquanto os dois
tempos restantes (24 e 48 horas) foram responsáveis, em conjunto, por 15,1%
do total degradado, mostrando a rápida degradação do material estudado.
Cabe ressaltar, que dos 50,5% desaparecidos no tempo 6, 17,7%
correspondem à fração solúvel em água, sendo o restante realmente devidos à
ação microbiana. Outro dado a ser destacado é o quase total degradação da
PB (96,9%) ao término da incubação (48 horas), indicando o grande potencial
de aproveitamento da proteína desta planta, já possuidora de elevados
50
percentuais de proteína quando in natura, ao compará-la com outras plantas
utilizadas como alimento para ruminantes.
A ausência de diferenças significativas entre os cultivares para a
degradação da PB também foi observada por VASCONCELOS (1994), assim
como para a digestibilidade in vitro e in vivo, por HARA (1993) e BASAGLIA
(1993), respectivamente.
O padrão de degradação descrito acima concorda com os dados obtidos
por VASCONCELOS (1994) para amoreira (embora ligeiramente inferiores),
que obteve 44,4% e 72,8% de degradação às 6 e 12 horas, respectivamente,
que corresponderam a 52,3% e 80,6% da degradação total, ressaltando a
rápida degradação do material, ilustrando que apenas 5,8% do material ficou
sujeito à degradação à partir do tempo de incubação 24 horas.
Este padrão de comportamento pode ser observado na Figura 2, que
mostra a curva de degradação da PB para os cultivares estudados.
Degradação (%)
120
y = 22,363Ln(x) + 17,953
R 2 = 0,9485
100
80
60
40
20
0
0
6 12 18 24 30 36 42 48 54
Tempo de incubação (h)
Figura 2. Curva de degradação da PB de amoreira.
51
Pode-se perceber a alta velocidade de degradação inicial, bem como também
a elevada degradação final (96,8 %), indicando que praticamente toda a
proteína contida no alimento (amoreira) tenha sido degradada em outros
produtos, como proteína microbiana e amônia, entre outros, não podendo-se
predizer, entretanto, seu aproveitamento, visto que sofre influência de vários
fatores, como o valor biológico da amoreira para a espécie animal, o nível de
carboidratos da dieta, o nível de produção animal, entre outros.
A cinética de degradação da PB para os 3 cultivares de amoreira
estudados estão demonstradas na Tabela 7.
Tabela 7– Frações solúvel ( A ), potencialmente degradável ( B ), indegradável
( I ) e taxa de degradação ( c ) da PB dos cultivares estudados.
Cultivar
M
SHM
FM86
média
A (%)
24,30
11,29
17,38
17,66
B (%)
73,31
85,73
78,85
79,30
I (%)
2,69
2,98
3,77
3,15
c ( /%)
0,18
0,14
0,16
0,16
Percebe-se, no caso da proteína, uma menor porcentagem da fração A,
solúvel, (17,7%) em relação à fração degradável, ou B (79,3%), bem como
pequena
fração
indegradável
(3,2%),
indicando
haver
uma
grande
interferência dos microorganismos na degradação da PB. Chama a atenção
este mínimo valor indegradável, mostrando, mais uma vez, o grande potencial
de aproveitamento da amoreira.
52
Os dados encontrados na literatura (VASCONCELOS, 1994) condizem
com os resultados obtidos, exceto para o coeficiente “c”, o qual é superior ao
encontrado no presente trabalho (0,10 vs. 0,16). Já os valores encontrados por
SINGH et al. (1989), diferem bastante, principalmente com relação ao
coeficiente “c”, cuja taxa encontrada foi de 0,04, diferença justificada pela
maior idade do material avaliado por estes autores.
Comparando a cinética de degradação das frações da amoreira com a
obtida em outros alimentos protéicos (tabela A2, apêndice), quais sejam soja
integral, farelo de soja (FS), de carne e de algodão, nota-se uma grande
semelhança ao comportamento do FS, embora este com maior porcentagem
indegradável e maior taxa de degradação por hora. Isto talvez se explique pelo
fato da amoreira conter maior proporção de fibra, o que pode reduzir a taxa de
passagem.
Na Tabela 8 são apresentados os dados referentes às degradabilidades
potencial e efetiva da PB.
53
Tabela 8. Degradabilidade potencial e efetiva da PB dos cultivares estudados.
Cultivar
Miura
Deg. Pot.
Shima Miura
FM 86
Média
C.V. %
92,67
95,81
83,54
90,67
2,22
kp 0,02
89,26
84,34
87,49
87,03
4,71
kp 0,05
80,23
71,69
77,53
76,48
8,33
kp 0,08
72,71
63,0
70,07
68,61
10,92
Deg. Efet.
* Os cultivares não diferiram estatisticamente entre si pelo teste de Tukey
(P > 0,05).
kp = taxa de passagem.
Não houve, para as degradabilidades potencial e efetiva da PB,
diferenças estatísticas entre os cultivares.
Pode-se observar, mais uma vez, altos valores de degradabilidade para
PB.
Os valores obtidos no presente trabalho estão consistentes aos
encontrados por VASCONCELOS (1994), (96,7 para DP 71,1 para DE, com kp
= 4,4%). A ligeira superioridade do valor obtido pela autora para DP deve-se,
provavelmente, ao menor coeficiente “c” encontrado em seu trabalho, ficando o
material, deste modo, sujeito à degradação no rúmen por um tempo maior. Os
valores de DE aproximam-se aos obtidos no presente trabalho com kp de 5%,
taxa próxima à obtida pela autora. Os dados apresentados por SINGH et al.
(1989) são bastante inferiores, porém o material avaliado era mais maduro,
como pode-se ver na Tabela A2 no apêndice.
54
Comparando-se os dados encontrados neste trabalho para DP e DE e
comparando-os com os encontrados para o CD da PB, obtidos pelos métodos
in vivo e in vitro por HARA (1993) e BASAGLIA (1993), respectivamente, como
pode ser visto na Tabela A1 do apêndice, percebe-se valores bastante
inferiores para DP, ao passo que para DE, de modo geral, os dados
aproximam-se dos encontrados no presente trabalho, para as três taxas de
passagem
calculadas,
havendo
algumas
inferiores,
que
se
devem,
provavelmente, à maior idade do material avaliado.
4.2.3 Degradabilidade da fibra em detergente neutro
A Tabela 9 mostra os valores de degradação da FDN dos três cultivares
estudados, em função dos tempos de incubação.
55
Tabela 9. Coeficiente de degradação (%) da FDN dos cultivares estudados em
função do tempo de incubação.
Tempo
Cultivar
Miura
Média
Shima Miura
FM 86
Média
6
34,22
27,02
27,70
29,65 C
12
71,43
61,61
63,26
65,43 B
24
83,81
76,76
79,70
80,09 A
48
86,78
84,88
83,40
85,02 A
69,06 a
62,57 b
63,52 b
C.V. %
6,84
Médias seguidas da mesma letra, não diferem entre si pelo
teste de Tukey (P > 0,05).
O parâmetro de avaliação FDN foi o único em que foram encontradas
diferenças estatísticas entre os cultivares, onde o Miura foi superior aos
demais (P < 0,05). Isto é interessante pelo fato de, na composição química,
estar no grupo que diferiu estatisticamente, para mais, no percentual de FDN
(numericamente foi o mais elevado), e, depois do material ser exposto à
degradação microbiana, este cultivar ser estatisticamente (P < 0,05) o mais
degradado. Esta maior taxa de degradação do Miura indica a possibilidade das
fibras deste cultivar permitirem uma melhor ação aos microorganismos
ruminais, por questões químicas, físicas ou outras, apesar deste cultivar
possuir maior percentual de FDN que os demais. O que talvez possa explicar
esta superioridade tem relação com os teores de FDA que, (mesmo não
significativamente) numericamente, são menores quando comparados aos
demais cultivares, indicando também menores teores de fibra indisponível
(indegradável). Esta relação pode ser percebida analisando-se a Tabela 10,
56
que é apresentada posteriormente, onde percebe-se o menor percentual da
fração indegradável do cultivar Miura, quando em comparação aos demais.
Porém, os tempos de incubação mantiveram a mesma tendência
observados para MS e PB, ou seja, maior velocidade de degradação nos dois
primeiros tempos (6 e 24 horas) e redução da velocidade nos dois últimos (24
e 48 horas), sendo estes últimos, porém, responsáveis por razoável parcela da
degradação (35,8%), em conjunto, como pode ser melhor visualizado
observando-se a Figura 3, que representa a curva de degradação da FDN.
Analisando a Tabela 9 e Figura 3, pode-se observar também a grande
proporção de fibra degradada, restando, após 48 horas de incubação, apenas
15% da fibra incubada, que não foi degradada pelos microorganismos.
As degradações médias da FDN às 6 e 12 horas de incubação foram de
29,7% e 65,4%, respectivamente, representando 34,8% e 76,9% do total
degradado (ver Tabela A3 no apêndice).
120
y = 26,081Ln(x) - 8,7991
R 2 = 0,8698
Degradação (%)
100
80
60
40
20
0
0
6
12 18 24 30 36 42 48 54
Tempo de incubação (h)
Figura 3. Curva de degradação da FDN de amoreira.
57
Os valores obtidos neste trabalho são semelhantes aos valores
encontrados por VASCONCELOS (1994) (28,5% e 52,6% nas 6 e 24 h de
incubação, respectivamente) e totalizando 83,4% da degradação da FDN.
Os valores do presente trabalho, em comparação aos dados
encontrados por OLUBOBOKUN et al. (1990) para a alfafa, cuja degradação
com 96 horas de incubação foi de 58,2%. SINGH et al. (1989), trabalhando
com amoreira, obteve a degradação máxima às 96 horas, com 34,4% de
degradação, valor próximo ao percentual obtido às 6 horas de incubação no
presente trabalho. VASCONCELOS (1994) justifica estas diferenças pelas
diferentes porcentagens de FDA e lignina, 28,1% e 10,8%, respectivamente
obtidos por SINGH et al. (1989) quando em comparação aos encontrados em
seu trabalho, 18,8% e 6,1%, respectivamente.
A seguir é apresentada a Tabela 10, que se refere às frações passíveis
de degradação ou não, que posteriormente serão utilizadas na estimação da
DP e DE.
Tabela 10 – Frações solúvel ( A ), potencialmente degradável ( B ),
indegradável ( I ) e taxa de degradação ( c ) da FDN dos cultivares
estudados.
Cultivar
M
SHM
FM86
média
A (%)
0,00
0,00
0,00
0,00
B (%)
86,78
84,88
83,40
85,02
I (%)
13,22
15,12
16,60
14,98
c (%/ h)
0,17
0,12
0,14
0,14
58
O parâmetro FDN não possui fração A em virtude do mesmo ser
insolúvel em água, dependendo exclusivamente da ação bacteriana para haver
desaparecimento de material dos sacos. Analisando-se a fração B dos três
parâmetros avaliados (MS, PB e FDN), observa-se que a maior é o da FDN,
indicando ser o parâmetro avaliado que maior influência da degradação
microbiana teve, obtendo, apesar da ausência de porções solúveis, altos
valores de degradação final (85%).
A seguir é apresentada a Tabela 11, que faz referência às
degradabilidades potencial e efetiva da FDN dos cultivares estudados.
Tabela 11. Degradabilidade potencial e efetiva da FDN dos cultivares
estudadas.
Cultivar
Miura
Deg. Pot.
Shima Miura
FM 86
Média
C.V. %
92,95
96,18
83,18
90,77
3,07
kp 0,02
76,82
71,34
72,63
73,60
5,19
kp 0,05
65,69
58,08
60,95
61,57
9,60
kp 0,08
57,47
49,20
52,57
53,08
12,69
Deg. Efet.
* Os cultivares não diferiram estatisticamente entre si pelo teste de Tukey
(P > 0,05).
kp = taxa de passagem.
A diferença estatística observada na tabela anterior não se manteve
para as degradabilidades potencial e efetiva, como pode ser observado na
tabela 11.
59
A análise estatística apresentada neste trabalho diferiu dos dados
encontrados na literatura, como VASCONCELOS (1994) e DORIGAN (1993)
utilizando, respectivamente, os métodos in situ e in vivo, onde foram
encontradas diferenças significativas para o cultivar FM86, que obteve os
valores mais altos. Comparando os dados obtidos com CDs de FDN
encontrados na literatura (ver tabela A2 no apêndice) nota-se a semelhança do
valor encontrado por SABINO JUNIOR (1996) com a DP do presente trabalho
e semelhança com a DE - 0,02 encontrada e os dados relativos ao CDFDN
obtidos por DORIGAN (1993).
Como alternativas de utilização da amoreira para o consumo animal,
poderia ser utilizada como banco de proteína direto no campo (inconveniente,
porcentagem de perdas), como suplemento protéico, colhida e oferecida em
ramas ou picada, no cocho, feno das folhas ou folhas e caule, silagem
(havendo necessidade de maiores estudos, visto que provavelmente, à
semelhança de leguminosas, deva apresentar alguns inconvenientes na
fermentação).
Do ponto de vista de combinação da amoreira com outras forrageiras
para alimentação animal, em virtude de complementariedade de nutrientes e
custo de produção, que talvez seja interessante estudar, seja a cana de
açúcar, uma vez que é extremamente pobre em PB e rica em energia e fibra.
60
5. CONCLUSÕES
Os valores obtidos para as variáveis estudadas neste trabalho permitem
concluir que:
*Com respeito à composição química, que a amoreira é uma planta com
elevado valor nutricional, que, apesar de diferenças entre os cultivares (P <
0.05), possui significantes proporções de MO, PB, NDT, ED e FDN, porém,
com baixo EE, para todos os cultivares.
*sobre a degradação, observou-se taxas elevadas para todos os
parâmetros avaliados (MS, PB e FDN), chegando, no caso da PB, quase ao
máximo de degradação, em 48 horas, podendo-se concluir que a amoreira
permite excelente desempenho aos microorganismos ruminais, não podendose inferir, entretanto, sobre a utilização desta grande proporção de material
degradado, não havendo diferenças entre os cultivares (P < 0.05).
61
*sobre as frações, conclui-se que a MS e a PB têm considerável fração
solúvel (A), porém os três parâmetros possuem apreciável proporção de
material insolúvel degradável (B), baixas porcentagens de fração indegradável
(I), destacando-se entre os parâmetros a PB, sendo praticamente insignificante
sua fração indegradável.
*sobre a DP conclui-se que possui elevado valor, para todos os
parâmetros, não havendo diferenças entre os cultivares (P < 0.05), e sobre a
DE, que também possui elevados valores, que a taxa de passagem deve estar
entre 5 e 8 %, tendo havido diferença significativa apenaspara o parâmetro
FDN, apresentando o cultivar FM86 a menor degradabilidade.
*A amoreira é uma planta de grande potencial de alimentação para
caprinos, visto que esta é muito apetecível a eles e que possui qualidades de
produção e, principalmente, nutritivas, que a destacam dentre várias
forrageiras de qualidade, podendo ser considerada, segundo os dados do
presente trabalho, como volumoso protéico, visto que tem mais de 18% de
fibra e mais de 20% de PB.
Esta alta proporção de proteína, bem como os elevadosníveis de
degradação da mesma são muito positivos, porém podem requerer certa
atenção no sentido do aproveitamento desta proteína pelos animais. Outro
aspecto a ser levado em conta é a utilização deste alimento com
exclusividade, visto que aparentemente possui relação energia: proteína
inadequada, não sendo recomendável utilizá-la com exclusividade,
necessitando de estudos sobre as espécies a serem utilizadas com a amoreira,
bem como suas proporções. Uma espécie que talvez mereça atenção, no caso,
62
é a cana de açúcar, visto que, em relação à amoreira, são bastante
complementares, além de econômica do ponto de vista de produção. Estudos
também serão necessários afim de se determinar a melhor forma de utilização
da amoreira, desde o melhor espaçmento para plantá-la, até a forma como
será oferecida aos animais: verde no campo, no cocho, em ramas, triturada, só
folhas, em forma de feno, silagem, etc.
63
6. RESUMO
O trabalho foi conduzido no Setor de Caprinocultura – UNESP/ Jaboticabal
durante o período de 17 a 26 de fevereiro de 1998, com o objetivo de avaliar a
degradabilidade de três cultivares de amoreira (Miura, Shima Miura e FM86)
em caprinos. Foram utilizados 5 animais Saanen canulados no rúmen, e 5
tempos de incubação (6, 12, 24, 48 e 96 h), além da fração solúvel,
determinada em água.
As amostras foram incubadas no rúmen e retiradas após respectivos
períodos de tempo, de modo que ficassem sujeitos à degradação microbiana. O
material remanescente nas bolsas foi submetido à análises, bem como os
alimentos destinados à dieta dos animais, que consistiram de MS, PB, FDN,
para todos, além de MO, Mm, EE, NDT e ED FDA, N-FDN e N-FDA para os
alimentos fornecidos. A partir do material experimental, avaliou-se a
64
degradabilidade do mesmo, através da taxa de desaparecimento de material
das bolsas e equações, como para DP e DE.
De acordo comas análises realizadas, destacamos os principais valores
médios encontrados para amoreira, em relação à composição química, com
90,3% de MO, 22,7% de PB, 2,1% de EE, 80,1% de NDT, 3,53 Mcal de ED,
35,7% de FDN, 19,7% de FDA, 16,0% de Hem, 18,7% N-FDN (% PB), 5,2% NFDA (% PB) e 9,8% de MM, à degradação, com 93,2%, 96,8% e 85,0% de
degradação em 48 horas, para MS, PB e FDN, respectivamente. Com respeito
às frações A, B, I e C, foram de 31,4%, 61,8%, 6,8% e 0,15 para MS, 17,7%,
79,3%, 3,15% e 0,16 para PB e 0,0%, 85,0%, 15,0% e 0,14 para FDN. As
degradabilidades potenciais e efetivas foram de 92,4% e 77,0% para MS,
90,7% e 76,5% para PB e 90,8% e 61,6% para FDN.
Pelos resultados obtidos não foram detectadas grandes diferenças entre
os cultivares estudados e para os parâmetros avaliados (embora dados da
literatura façam referência à maior produção por ha de Shima Miura, podendo
esta proporcionar maior produtividade), podendo-se concluir que a amoreira é
uma planta com grande potencial alimentar para caprinos, principalmente em
função de suas altas proporções em PB, bem como a alta degradabilidade da
mesma. Por outro lado, parece haver proporções bastante reduzidas de
energia, indicando que a suplementação com outros alimentos, principalmente
energéticos, podem ser necessários, de modo a promover um balanceamento
adequado e sejam minimizadas perdas, principalmente protéicas.
65
7. SUMMARY
66
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRIGUETTO, J. M. et al. Nutrição Animal: as bases da nutrição
animal. 4a Edição. São Paulo: Nobel. v 1. 1983.
ANDRIGUETTO, J. M. et al. Nutrição Animal: alimentação animal. 4a
Edição. São Paulo: Nobel. v 2. 1983.
BAFFI, M.H. Utilização da amoreira (Morus alba L.) cultivar Yamada
para caprinos: curva de crescimento e digestibilidade “in vitro”.
Jaboticabal. 1992. 35p. (Trabalho apresentado à Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal,
para graduação em Zootecnia).
BASAGLIA, R. Eficiência de utilização da proteína da amoreira (Morus
alba L.). Jaboticabal. 1993. 45p. (Trabalho apresentado à Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal,
para graduação em Zootecnia).
67
BATISTA, A. M. V. Degradabilidade ruminal e síntese de proteína
microbiana no rúmen de ovinos. Nutrição de ovinos. Jaboticabal:
FUNEP. 1996. p. 81-117.
BRAZÃO, C.S. Estudo da curva de crescimento e composição
bromatológica da amoreira (Morus alba L.). Jaboticabal. 1992. 42p.
(Trabalho
apresentado
à
Faculdade
de
Ciências
Agrárias
e
Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal, para graduação em
Zootecnia).
CARNAZ, L. F. F. Determinação da produção e perda de água de seis
cultivares de amoreira (Morus alba L.). Jaboticabal. 1992. 28 p.
(Trabalho
apresentado
à
Faculdade
de
Ciências
Agrárias
e
Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal, para graduação em
Zootecnia).
CARREGAL, R.D., TAKAHASHI, R. Composição entre o valor nutritivo
dos fenos de soja perene (Glycine wrightii verdec) e amoreira (Morus
alba L.), através da digestibilidade aparente em coelhos. In:
REUNIÃO ANUAL DA SBZ, 20, 1983. Pelotas. Anais..., p.66.
CASOLI, C. et al. Chemical composition and nutritive value of Morus
alba leaves. Zootecnica e Nutizione Animale. 1986. v. 12, n. 1, p. 4753, 1986. (CD Rom – CAB Abstracts 1993-7/95).
DESHMUK, S. V., PATHAK, N. N. Voluntary intake and dry matter
digestibility of green fodders and tree leaves in New Zeland white
rabbits. Cheiron, v. 18, n. 6, p. 223-225, 1989. (CD Rom – CAB
Abstracts 1993-7/95).
68
DESHMUKH, S. V. et al. Nutritional effect of mullberry (Morus alba)
leaves as sole ration of adult rabbits. World Rabbit Science, v. 1, n. 2,
67-69, 1993. (CD Rom – CAB Abstracts 1993-7/95).
DORIGAN, C.J. Utilização da energia e da fibra da amoreira (Morus alba
L.) pelos caprinos. Jaboticabal. 1993. 52p. (Trabalho apresentado à
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus de
Jaboticabal, para graduação em Zootecnia).
GOMIDE ,J.A., QUEIROZ, D.S. Valor nutritivo de leguminosas arbóreas
e arbustivas. In: SIMPÓSIO SOBRE USOS MÚLTIPLOS DE
LEGUMINOSAS ARBUSTIVAS E ARBÓREAS, 1, 1993, Nova
Odessa, Anais..., p.31-62.
GONZALES, J. et al. Evaluation of the quality of mullberry (Morus alba)
greenshop and silage for fattening cows. Edicion especial. Tesis de
maestria en agroforesteria, 1996: cultivos en callejones; arbustos
forrageros; huertos caseros. Agroforesteria en las Americas, v. 3, n.
11-12, p. 20-23, 1996. (CD Rom – CAB Abstracts 1993-7/95).
HARA, C.H. Produção e digestibilidade in vitro da matéria seca e
proteína bruta em cultivares de amoreira (Morus alba L.). Jaboticabal.
1993. 43p. (Trabalho apresentado à Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal, para graduação em
Zootecnia).
KAWAS, J.R., JORGENSEN, A., LU, C. D. Influence of alfafa maturity
and feed intake and site of nutrient digestion in sheep. J. Anim. Sci.,
Champaign, v. 68, p. 4376-4386, 1990.
69
LORENZI, E.T. et al. Comparação entre as técnicas in vitro, in situ, in
vivo, e in vitro com sacos de náilon para avaliação da digestibilidade
de forragens. Rev. Soc. Bras. Zootec., Viçosa, v. 21, p. 366-377,
1992.
MAGÁRIO, K.C. Estudo da composição bromatológica da amoreira
(Morus alba L.) cultivar Yamada em várias idades de crescimento.
Jaboticabal 1993. 34p. (Trabalho apresentado à Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal,
para graduação em Zootecnia).
MAKKAR, H. P. S., SINGH, B., NEGI, S.S. Relationship of rumen
degradability with microbial colonizatin, cell wall constituents and
tannin levels in some tree leaves. Animal Production, India, v. 49, n.
2, p. 299-303, 1989.
NOCEK, J.E., CUMMINS, K. A., POLAN, C. E. Ruminal disappearence
of crude protein and dry matter, in feeds and combine effect in
formulated ration. J. Dairy Sci., Champaign, v. 62, p. 1587-1598,
1979.
NOCECK, J. E. In situ e outros métodos para estimar a proteína ruminal
e a digestibilidade da energia: Revisão. SIMPÓSIO INTERNACIONAL
DE DIGESTIBILIDADE EM RUMINANTES. Lavras: UFLA - FAEPE, p.
241-287, 1997.
OLUBOBOKUN, J. A., CRAIG, W. M., POND, K.R. Effects of mastication
and
microbial
contamination
on
ruminal
in
situ
forrage
desappearence. J. Anim. Sci., Champaign, v. 68, p. 3371-3381, 1990.
70
ORSKOV, E. R. Nutricion proteica de los ruminantes. 178 p., 1988.
PRASAD, P. E et al. Effect of feeding mullberry (Morus alba) hay in the
rations to pregnant ewes. Indian Journal of Animal Nutrition, v. 12, n.
2, p. 109-111, 1995. (CD Rom – CAB Abstracts 1993-7/95).
PRASAD, P. E., REDDY, M.R. Nutritive value of mullberry (Morus alba)
leaves in goats and sheep. Indian Journal of Animal Nutrition, v. 8, n.
4, p. 295-296, 1991. (CD Rom – CAB Abstracts 1993-7/95).
RAO, S. B. N., et al. Tree leaves based pelleted feeds and their
utilization in goats. Indian Journal of Animal Nutrition, v. 13, n. 3, p.
174-177, 1996. (CD Rom – CAB Abstracts 1993-7/95).
SABINO JUNIOR, R. Digestibilidade “in vivo” e seletividade em caprinos
alimentados com três cultivares de amoreira (Morus alba L.).
Jaboticabal. 1996. 49 p. (Trabalho apresentado à Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal,
para graduação em Zootecnia).
SABINO JUNIOR, R, RESENDE, K. T., CARVALHO, F. F. R.
Composição química e digestibilidade in vivo, em caprinos, de três
cultivares de amoreira (Morus alba L.). In: REUNIÃO ANUAL DA
SBZ, 34, 1997, Juiz de Fora. Anais..., p..
SILVA, D.J. Análise de alimentos. Viçosa: Imprensa Universitária, 1981,
166p. 1981.
SINGH, B., MAKKAR, H. P. S., NEGI, S. S. Rate and extent of digestion
and potentialy digestible dry matter and cell wall of various tree
leaves. J. Dairy Sci., Champaign, v. 72, p. 3233-3239, 1989.
71
TAKAHASHI, R. Sericicultura: Amoreira (Morus alba L.) Bicho da Seda
(Bombyx mori L.). Jaboticabal: FCAV/UNESP. 1988, 135 p.,
(apostila).
TEIXEIRA, J. C. Minimização da perdas de nitrogènio em ovinos. In:
SILVA SOBRINHO, A. G. et al. Nutrição de ovinos. Jaboticabal:
FUNEP. 1996. p. 81-117.
VASCONCELOS, V. R. Degradação ruminal da amoreira (Morus alba L.)
em caprinos. Jaboticabal. 1994. 86 p. Dissertação (Mestrado em
Zootecnia) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP.
WEAKELEY, D. C., STERN, M. D., SATTER, L. D. Factors affecting
disappearence of feedstuffs from bags suspended in the rumen. J.
Anim. Sci., Champaign, v. 52, p. 493-507, 1983.

Documentos relacionados

Níveis de uréia no leite como ferramenta para utilização

Níveis de uréia no leite como ferramenta para utilização se constitui numa ferramenta para indicar o estado nutricional e reprodutivo dos animais. Quando detectamos altos níveis de uréia no leite, é um indicativo de excesso de proteína como farelos de so...

Leia mais