ONDE ESTÁ O

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ONDE ESTÁ O
NESTA EDIÇÃO: OS SEGREDOS DO MERCADO ALEMÃO
WWW.CITRUS.COM
ISSN 2359-1889
FEVEREIRO/2015 – ANO 1 – Nº 4
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS
ONDE ESTÁ O
GREENING?
Novas tecnologias e diferentes manejos do
pomar já possibilitam a convivência com a
doença, desde que seguidas as recomendações
técnicas. Nesta edição, confira as melhores
práticas e os exemplos de citricultores que estão
vencendo esta guerra. E, para começar: você
consegue identificar os psilídeos nesta capa?
nononono
ELE ESTÁ
AQUI
A imagem ao lado é uma
fotomontagem feita com uma
planta fotografada em
ambiente controlado no
Fundecitrus. O fundo, com um
pomar comercial, foi aplicado
justamente para confundir o
leitor e mostrar o quão difícil é
encontrar o pequeno inseto.
Essa é a razão pela qual muitos
citricultores afirmam nunca ter
visto esse sorrateiro inimigo.
Nas próximas páginas, confira
as histórias de quem decidiu
encontrar o mosquito e atacar
os problemas
FOTOS: JULIO VILELA
CAPA: MONTAGEM SOBRE FOTOS DE JULIO VILELA
2 | CITRUSBR Nononono 2014
CITRUSBR Nonononon 2014 | 3
Índice
CAPA
CAÇA AO
MOSQUITO
Conheça a história de quem está
seguindo à risca as mais modernas
práticas de combate ao greening
e dessa forma tem conseguido
afastar a doença de seus pomares.
Pág. 14
SAFRA BOA
LIMÃO DOCE
PESQUISA
CONCORRÊNCIA
MAIS ÁGUA
TECNOLOGIA
Os avanços do projeto
de recenseamento
do parque cítricola,
tocado pelo
Fundecitrus.
Pág. 64
Matéria do jornal
Folha de S. Paulo
mostra como avanço
da bebida afeta o
mercado de suco de
laranja. Pág. 52
Depois de sofrerem
com estiagem
prolongada,
citricultores apostam
na irrigação.
Pág. 54
Mudança na legislação
traz novas exigências
para máquinas de
baixa potência. Veja
as novidades desses
equipamentos. Pág. 60
PES
ACELERADA
CHÁ EM
ALTA
GOTAS
SALVADORAS
TRATOR
TURBINADO
Estiagem reduz produção da
fruta e faz preço disparar e
atingir alta histórica.
O problema é que muitos
produtores não tinham o
produto para vender.
Pág. 36
Equipe CitrusBR
Revista CitrusBR
Diretor-executivo Ibiapaba Netto
Diretora de Relações Internacionais Larissa Popp
Coordenadora de Projetos Isabela Costa
Coordenadora Administrativa Debora Dezan
Assistente Administrativo Tamires Pereira Ribeiro
Editor Eduardo Savanachi
Subeditora Juliana Ribeiro
Colaboraram nesta edição: Alécia Pontes, Taciana
Bovo (texto) e Julio Vilela (fotos)
Direção/Produção/Revisão Typodigital
Agradecimentos Fundecitrus, Markestrat, Unesp
Araraquara, Mauricio Mendes, Faro Capital,
Fazenda Cambuhy, Antônio Palhares, Luis
Vasconcelos, Nivaldo Davóglio e Neoclair Gilbertoni
Para Assinar a revista
ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS
EXPORTADORES DE
SUCOS CÍTRICOS
ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS
EXPORTADORES DE
SUCOS CÍTRICOS
expediente
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ESPECIAL CONSUMO
FORÇA
ALEMÃ
Estudo traça um raio X do
mercado consumidor alemão,
principal comprador do suco
brasileiro na Europa. Pág. 69
Carta ao leitor
EVENTO
MERCADO
REUNIDO
Acompanhamos o Juice Summit,
evento que reuniu algumas
das principais lideranças da
indústria mundial de sucos para
debater os desafios do setor.
Pág. 46
BENEFÍCIOS
BEBIDA PARA
ATLETA
Estudo desenvolvido por
pesquisadores da USP e Unesp
mostra que o suco de laranja
ajuda na reposição de nutrientes
perdidos durante a prática
esportiva. Pág. 56
ENTREVISTA
MARCOS MACHADO
Diretor do Centro de
Citricultura Sylvio Moreira
fala sobre as novas pesquisas
para o setor. Pág. 34
A incrível missão
de informar
Nesta quarta edição da revista CitrusBR, o prezado leitor vai se
deparar com uma gama bastante diferenciada de assuntos e
nenhum deles foi escolhido por acaso. O primeiro deles está
justamente na reportagem de capa, que trata desse terrível
problema, o greening, que tira o sono de todo citricultor. Com a
ajuda de produtores e profissionais das indústrias, que contam suas
experiências, procuramos mostrar quais as melhores práticas do
mercado, e como muitos deles têm conseguido superar esse
desafio. A partir deste número, incrementamos a seção Notas, que
traz uma série de novidades do mercado internacional. A ideia é
mostrar ao citricultor o dinamismo do mercado mundial de
bebidas, no qual o suco de laranja está inserido. Também trazemos
uma série de reportagens mostrando estratégias de gente que está
na citricultura, mas que tem utilizado ferramentas variadas para
tocar os seus negócios. Podemos encontrar o caso do agricultor e
pecuarista Nivaldo Davóglio, que possui em sua fazenda laranja de
sequeiro e irrigada, para mesa e indústria. Além disso, ainda
cultiva limão taiti, cujo preço no mercado de mesa chegou a
incríveis R$ 100 a caixinha de 27 quilos. Davóglio explicou à
equipe da CitrusBR por que ele tem na diversificação de culturas
sua principal forma de gerir sua fazenda. Na mesma linha,
mostramos o caso do produtor Neoclair Gilbertoni, que também se
especializou na produção de limão e conseguiu bons resultados em
2014. Na nossa série Consumo, desta vez, o professor Marcos Fava
Neves explora os desafios do mercado alemão, o maior consumidor
de suco de laranja da Europa e carro-chefe das nossas exportações
no Velho Continente. Entre as descobertas é possível compreender
as forças que regem aquele mercado, puxado principalmente pelas
marcas próprias dos supermercados que dominam as vendas. Para
quem leu o número anterior, sobre o mercado americano, é sem
sombra de dúvida um choque de realidade. Também nesta edição
vale a pena ler a análise do balanço da Gerber-Refresco, empresa
que compra cerca de 15% de todo o suco de laranja brasileiro e que
passa por um momento turbulento. Além disso, trazemos nossas já
tradicionais reportagens técnicas sobre insumos, tratores, irrigação
e muito mais.
A você uma boa leitura e um excelente 2015.
Ibiapaba Netto
Diretor-executivo
CitrusBR
[email protected]
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 3
ACONTECE
PREVISÃO
MENOS LARANJA
NA FLÓRIDA
O Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos (USDA) divulgou sua primeira
estimativa do ano para a safra 2014/2015 na
Flórida. A previsão é de que sejam colhidos
103 milhões de caixas de 40,8 kg de laranjas.
A projeção representa uma redução de 5%
em relação ao volume indicado na última
previsão, feita em dezembro de 2014. Desse
volume, estima-se que 48 milhões de caixas
103
sejam de laranjas não Valência e as laranjas da
variedade Valência devem somar 55 milhões
MILHÕES
DE CAIXAS DE 40,8 KG
de caixas. O Departamento também manteve
É A PROJEÇÃO DE
suas previsões para outros tipos de citrus,
COLHEITA
55
como as grapefruits cuja produção foi mantida
MILHÕES
em 15 milhões de caixas. A previsão para a
DE CAIXAS DE 40,8 KG
safra de tangerinas também segue estável em
48
DE LARANJAS
2,5 milhões de caixas, bem como a de
VALÊNCIA
MILHÕES
tangelos, em 800 mil caixas da fruta.
DE CAIXAS DE 40,8 KG
DE LARANJAS
NÃO VALÊNCIA
EXÓTICO
A FONTE DA
JUVENTUDE
EXPANSÃO
A JUXX, fabricante de bebidas funcionais e pioneira nas
vendas de suco de cranberry no Brasil, lançou um novo
suco de fruta classificado
pela empresa como “o mais
poderoso antioxidante do
país”. De acordo com a
empresa, o suco de frutas
vermelhas, batizado de
Antiox, não tem corantes,
conservantes ou aromas
artificiais. A empresa também garante que a bebida
contém 50 vezes mais flavonoides antocianina do que o
vinho, o que ajuda na prevenção do envelhecimento.
O grupo norte-americano Alico Inc. anunciou a aquisição de três áreas produtoras de
citrus na Flórida, o que a torna uma das maiores empresas de citricultura dos Estados
Unidos. De acordo com a companhia, o valor do negócio gira em torno de US$ 363
milhões e abrange cerca de 28 mil acres de terra. As novas propriedades devem impulsionar a produtividade da companhia em 10 milhões de caixas de laranjas por ano, o que
representa algo próximo de 10% da produção anual da Flórida. Além do cultivo de
citrus, a Alico cultiva cana-de-açúcar, tem criação de gado e gerencia terras na Flórida.
6 | CITRUSBR Fevereiro 2015
NASCE UMA GIGANTE
DIVERSIFICAÇÃO
CAMPBELL
AUMENTA A
FAMÍLIA
Disposta a expandir sua
unidade de bebidas, a
Campbell Soup Co
aumentou a gama de
sabores de sua linha de
sucos vegetais da marca V8
e ampliou seu portfólio para
o mercado de bebidas
proteicas. A expectativa da
empresa é que as novas
linhas ajudem a atrair novos
consumidores e a brigar por
uma fatia no valioso
mercado de produtos
prontos para beber, que
movimenta cerca de US$
4,6 bilhões por ano.
CAIXA NOVA
CUSTO ALTO,
PRODUTIVIDADE
EM BAIXA
INNOCENT PARA LEVAR PARA CASA
Depois de lançar uma nova linha de smoothies que combinam sabores
de frutas e vegetais, a marca de bebidas Innocent, que pertence à CocaCola, quer ampliar a ocasião de consumo de seus produtos. A empresa
passou a comercializar o produto em embalagens cartonadas de 750
ml, um formato para quem quer consumir o produto em casa. “Nós
lançamos o nosso supersmoothies com o objetivo de atrair novos consumidores para a marca Innocent”, disse o gerente da marca, Sim Jerath.
Paulo Biasioli,
presidente da Alicitros,
fala sobre os gastos com
insumos na próxima safra
EM BUSCA DO
SUPERSUCO
CALORIA
ENERGÉTICO ZERO
A empresa Lucozade está apostando em novo energético
com menor quantidade de açúcar para conquistar o mercado do Reino Unido. Com forte investimento em mídia,
a nova bebida é feita à base de limonada e contém 50%
menos açúcar do que as outras bebidas da marca.
“Identificamos uma oportunidade de mercado com energéticos de baixa caloria”, argumenta o diretor de marketing da Lucozade, Corrine Hopwood.
A SAFRA PELO MUNDO
Previsão da produção
de laranja nos principais
países produtores (em
milhões de caixas de
40,8 kg)
Safra 2014/2015
FOTOS: DIVULGAÇÃO, SHUTTERSTOCK
com combustíveis e mão
de obra estão tornando a
atividade de alto risco.
Grécia
20,83
Espanha
80,88
Turquia
37,99
Flórida
108
Marrocos
21,29
* Safra 2015/2016
Fonte: USDA/Gain Reports
ASIÁTICAS VÃO
ÀS COMPRAS
As empresas Sapporo
Holdings Ltd. e a Toyota
Tsusho Corp. firmaram
uma joint-venture para
adquirir a fabricante de
sucos norte-americana
Country Pure Foods Inc.
A expectativa é de que as
empresas concluam a
operação em fevereiro por
cerca de US$ 100 milhões.
A Sapporo deve ficar com
51% de participação,
enquanto a Toyota obterá
os 49% restantes.
A Country tem entre
seus principais clientes
escolas públicas e hospitais,
além do varejo..
MISTUREBA
A combinação de suco de
frutas misturado com vegetais, ervas e raízes deu origem a um supersuco. Essa
pelo menos é a aposta da
nova linha de bebidas lançada pela empresa americana
Purity Organic. Sediada em
São Francisco, a empresa
afirma que a nova linha, batizada de “superjuice”, é rica
em vitaminas, antioxidantes e
possui propriedades antiinflamatórias.
FECHADO
Os custos da próxima safra
em relação à anterior estão
mais altos?
Os custos seguem crescentes,
em razão da baixa produtividade. Os fatores climáticos,
Brasil*
N/D
Itália
41,66
É possível calcular o
percentual de aumento
dos custos?
O custo vêm aumentando
acima de 15% a cada ano.
Em dez anos, os custos de
colheita e frete, por exemplo,
subiram mais de 250%.
Como o dólar vai impactar
a compra de insumos dos
citricultores?
Para os insumos que não
estão atrelados à importação,
o câmbio alto é positivo. Já os
adubos deverão ter aumentos,
pois levam sais importados
em sua composição.
Existe algum período
indicado para o citricultor fazer a compra dos
insumos?
Os inseticidas e fungicidas
são usados como preventivos
e aplicados nas árvores em
vários períodos diferentes. Já
na adubação, as compras variam em função do tamanho
da produção e ocorrem na
entressafra.
A seca da safra passada vai
interferir nos custos da
próxima safra?
Sim, há enorme incerteza
sobre os volumes produzidos.
comprar os insumos para
uma quantidade ainda
incerta de caixas. Pode-se
gastar os mesmos valores
por área, mas, em função da
quantidade colhida, os custos
podem disparar.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 7
ACONTECE
ANTES ERA CRISTALINA
QUENTE
CIDRA PARA O INVERNO BRITÂNICO
A Kopparberg Spiced Apple lançou uma nova cidra que promete
aquecer o paladar dos britânicos. A bebida, produzida com uma
concentração de sabores diferenciados, foi desenvolvida para ser
consumida durante o inverno do Reino Unido. “Os fãs da marca
frequentemente perguntavam sobre uma cidra para ser consumida
no inverno e, depois de um pequeno teste feito em 2013, decidimos colocar o produto à venda para o nosso público”, disse o
diretor de marketing da empresa, Rob Calder, que espera que a
bebida também aqueça as vendas da empresa.
ROUPAGEM
TUDO MISTURADO
NÉCTAR VIP
TEM CHÁ, MAS É REFRIGERANTE
A Jandaia acaba de colocar
no mercado sua primeira
linha de sucos premium,
nos sabores uva e laranja.
Com cores fortes,
comunicação direta e
design moderno, as
embalagens de 200
mililitros e 1 litro chamam
atenção nas gôndolas.
“Queremos passar ao
consumidor um conceito
novo, diferenciado.
Levando em consideração
que o produto é premium,
a embalagem também
deve ser”, disse o diretor
comercial da empresa,
Eduardo Figueiredo.
A Suntory Beverage & Food Ltd. lançou na Austrália
sua primeira marca de refrigerantes. Colocada no
mercado por meio de sua subsidiária Frucor Bebidas
(Austrália) Pty Ltda, a OVI, foi desenvolvida como
uma nova bebida de valor agregado que contém chá
verde. A Suntory focou o produto no mercado de
bebidas para hidratação, que cresce cada vez mais
no país. Refrigerantes e bebidas à base de suco de
frutas contam com quase 70% do mercado de
refrigerantes da Austrália.
8 | CITRUSBR Fevereiro 2015
TECNOLOGIA
MELLO E O
SUCO DE ALTA
PRESSÃO
Outra marca que está focando na saúde para avançar as
vendas é a britânica Mello. A
empresa lançou um novo
suco de melão que garante
ter características funcionais.
Fabricada com tecnologia
de processamento de alta
pressão, a bebida não é
pasteurizada e por isso,
segundo a Mello, conserva
as vitaminas, minerais e
enzimas da fruta.
NATUREBA
SALADA PARA
BEBER
A fabricante japonesa de
bebidas Kagome lançou um
produto à base de mix de
vegetais, fibras e frutas.
Batizado de Shokumotsu
Seni Tappuri Aojiru, a bebida
contém uma mistura de
50% à base de espinafre,
cenoura e couve e 48% de
maçã, limão e uva. Cada 180
mililitros da bebida possui
3,5 gramas de fibra, 3 microgramas de ferro e 130
microgramas de vitamina C.
ÁGUA COM
SABOR TROPICAL
A divisão de águas da Nestlé
lançou uma linha de águas
saborizadas com zero caloria
sob o guarda-chuva de sua
marca Pure Life, na América
do Norte. A linha de sabores
tropicais oferece quatro
opções aos consumidores,
manga com pera e abacaxi,
morango com pitaia, tangerina
e lima. Os produtos já estão
disponíveis nas lojas da rede
Target nos Estados Unidos.
DIFERENTE
O NÉCTAR QUE
QUERIA SER
SUCO
CRIANÇADA
ÁGUA DE COCO
PARA ANIMAR
OS PEQUENOS
A FAL Healthy Beverages
resolveu apostar no público
infantil para multiplicar as
vendas. A companhia firmou
acordo com a Disney para
patrocinar a animação Fire &
Rescue e lançou duas linhas
de águas de coco cujas
embalagens eram estilizadas
com os personagens do
desenho. Tudo para conquistar o gosto das crianças e o
bolso dos adultos.
Na luta para se diferenciar
no gigantesco mercado brasileiro, a Empresa Brasileira
de Bebidas e Alimentos
(EBBA), dona da marca
Maguary, colocou no
mercado uma linha de
néctares premium.
Batizada de Maguary
Laranjeira, o produto está disponível
nos sabores laranjeira valência, laranjeira
siciliana e laranjeira
siciliana com gominhos. A empresa
também aumentou sua
linha de néctares vendidos
em latas. Os lançamentos
refletem a estratégia da
companhia de ampliar sua
presença nos principais
canais nacionais de distribuição e varejo
MUDANÇA
O VAIVÉM DO
CONSUMO
JARRITOS COM SOTAQUE INGLÊS
MENOS PLÁSTICO
VISUAL
REPAGINADO
A marca australiana SPC
Ardmona’s Goulburn Valley
repaginou o visual de suas
embalagens do Goulburn
Juice. As novas garrafas
plásticas da marca são feitas
com uma tecnologia que
reduz o peso da embalagem
e utiliza menos plástico.
Disponível nos sabores laranja,
maçã, maçã com groselha e
frutas tropicais, as novas
garrafas de suco são mais
fáceis de manusear.
A fabricante de bebidas mexicana Novamex firmou um acordo
com uma distribuidora do Reino Unido para lançar seu
refrigerante Jarritos naquele país e em alguns vizinhos mais
próximos. O acordo, firmado com a importadora Bloombury
Drinks inclui a distribuição de três sabores do refrigerante: limão,
tangerina e morango. Lançada em 1950, Jarritos é uma das marcas
de refrigerantes mais populares do México.
CHINÊS
LIGHT
HEINZ VERSÃO 50% MENOS AÇÚCAR
De olho no interesse dos consumidores por opções mais saudáveis, a Heinz coloca no Reino Unido sua nova versão de ketchup com 50% menos açúcar e uma
redução de 25% na quantidade de sal. O novo
produto substitui uma antiga versão de Heinz, a
qual continha redução de 30% nos níveis de açúcar e 25% nos níveis de sódio. O novo produto
vai ao encontro das metas estabelecidas pelo
governo do Reino Unido de reduzir a porção de
sal em produtos industrializados até 2017.
CONCENTRADO
A MULTIPLICAÇÃO DO REFRIGERANTE
BRITÂNICO
PEPSICO LANÇA
ÁGUA DE COCO
NO REINO
UNIDO
A PepsiCo acaba de lançar
sua água de coco, a Naked,
no Reino Unido. A marca, lançada em 2010 nos Estados
Unidos, chegou ao mercado
daquele país em uma embalagem Tetra-Pak de 500 mililitros com tampa rosqueável.
Adrian Baty, diretor de marketing da marca no Reino
Unido, afirmou que a categoria água de coco “vem crescendo significativamente no
país nos últimos anos”.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
do Relatório da
Nielsen sobre o consumo
de suco de laranja no
mercado norte-americano
nas últimas quatro
semanas com término em
20/12/2014:
A rede varejista francesa Leclerc se tornou a primeira no país a
lançar uma espécie de refrigerante concentrado. O produto de
marca própria da rede é comercializado em garrafas de 500 mililitros e vem com um recipiente medidor que permite ao consumidor fazer até 12 litros de bebidas diluída em água mineral, incluindo. Os sabores cola, cola light, limonada e laranjada.
VITA COCO
NA CHINA
A fabricante All Market
firmou um acordo com
a Reignwood Group,
baseado na China, que
dará à companhia o
acesso à rede nacional
de distribuição da
Reignwood e também
aos pontos no varejo
para comercializar a água
de coco Vita Coco. A
Reignwood opera a Red
Bull China, que fabrica e
distribui os energéticos
da marca naquele país.
Com a operação, 25%
da Vita Coco passa para
as mãos da Reignwood
por US$ 665 milhões.
SUSTENTÁVEL
PLANTAR ÁRVORE PARA VENDER
ÁGUA DE COCO
Apelo sustentável é a estratégia da fabricante de água de coco filipina Buko.
A empresa firmou uma parceria com a Cuipo, uma organização voltada para
a sustentabilidade. De acordo com a empresa, a cada produto vendido uma
pequena doação será feita para a Cuipo. O dinheiro será usado para replantio de florestas. Em cada caixa da bebida, os consumidores vão encontrar
um código único, que representa o “seu” metro quadrado de floresta tropical. Eles podem inseri-lo no site da Buko para descobrir onde está localizado
o “seu” pedaço de floresta.
5,1%
foi a alta nos preços do
litro do suco de laranja no
período em comparação
com as quatro semanas
de 2013, atingindo
R$ 4,60 ante R$ 4,40
5,2%
foi a variação do preço do
litro de suco refrigerado
nas quatro últimas
semanas de dezembro de
2014 em comparação
com o mesmo período
de 2013
1,76%
é a proporção da
elasticidade entre a queda
no percentual de
consumo e o aumento do
percentual de preço do
litro de suco
9%
foi a queda nas vendas
totais de suco nas quatro
semanas avaliadas, com
153,9 milhões de litros
4,3%
de redução na receita
ocorreu no período
analisado, ficando em
R$ 712,8 milhões
8,8%
foi a queda registrada
nas vendas de suco de
laranja refrigerado no
período, encerrando as
últimas semanas de
2014 com 146,6 milhões
de litros
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 9
TENDÊNCIAS
1SUCO NA PRESSÃO
E os sucos de frutas seguem sob ataque. Um estudo australiano avaliou
hábitos de consumo de adultos e relacionou a ingestão frequente dessas
bebidas com incidência de pressão alta. Os resultados ganharam manchetes sensacionalistas em vários jornais do Reino Unido, EUA e da
Índia. Depois de todo o barulho, o Serviço Nacional de Saúde do Reino
Unido (NHS) publicou um relatório apontando que a ligação entre o
suco de frutas e a pressão arterial elevada não foi provada. A principal
crítica é de que o estudo não levou em conta outras fontes de açúcar
na dieta dos entrevistados. O órgão ainda classificou as manchetes
como “exageradas ao se basear apenas em um pequeno estudo”.
2
3
Aposta
BEBIDA
GELADA,
GANHOS
QUENTES
A multinacional suíça Nestlé
resolveu apostar no potencial
de mercado dos cafés gelados
na Europa e lançou o
Shakissimo. A bebida pronta
para beber terá a missão de
posicionar a empresa dentro
desse segmento. Embora responda por apenas 4,2% dos lançamentos mundiais, a empresa
avalia que esse tipo de produto
tem grande potencial para crescer tanto no mercado europeu
quanto em outras regiões, como
a Ásia. Nesse segmento, a
maior demanda é por bebidas
em copo, com tampa e prontas
para o consumo.
10 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Máquinas
A GUERRA
DAS CÁPSULAS
De olho no mercado de preparo de bebidas em casa, a empresa Sodastream firmou um acordo com a PepsiCo para testar
seus produtos na Flórida. A parceria é mais um capítulo na disputa com a Coca-Cola por esse segmento. A Sodastream já firmou acordo para fornecer cápsulas para empresas como
Ocean Spray, Cott e Sunny Delight. Enquanto isso, a Coca-Cola
deve lançar neste ano sua máquina de preparo de bebidas. A
briga por esse segmento se intensificou nos últimos anos por
conta da queda nas vendas de refrigerantes e pela necessidade
de as empresas explorarem outros filões.
4
Greening 1
COCA-COLA
NA BRIGA
E não é só do governo americano que vem a preocupação com a doença. A empresa Coca-Cola
doou US$ 1,5 milhão para apoiar os trabalhos de
pesquisa de prevenção, manejo e combate ao greening. Os recursos serão destinados para a
Fundação de Pesquisa da Universidade da Flórida
e serão enviados em três parcelas de US$ 500
mil, uma a cada ano. “Esta concessão da CocaCola vai permitir ao Instituto um impulso maior
nos trabalhos para buscar a cura do greening”,
disse o vice-presidente sênior de agricultura e
recursos naturais da universidade, Jack Payne.
5
Investimento
PRINCESS INVESTE EM
AMPLIAÇÃO DE FÁBRICA
A fabricante de refrigerantes Princess, do grupo Mitsubishi, investiu
aproximadamente US$ 68,5 milhões na ampliação e reforma de sua
planta de envase de bebidas em Bradford, no Reino Unido. Os investimentos englobam uma nova instalação para a produção de xarope, na
qual serão feitas as misturas de ingredientes para as bebidas. Os investimentos vêm de mãos dadas com o crescimento nas vendas da companhia, que aumentaram 25% fora do Reino Unido e atingiram cerca de
US$ 598 milhões no ano fiscal encerrado em março de 2013.
7
6
Aquisição
OS REIS DO
SUCO NA ARÁBIA
O grupo Olayan Financing
Co (OFC), baseado na
Arábia Saudita, adquiriu participação majoritária em uma
das maiores processadoras
de sucos de frutas do
Oriente Médio, a Gulf Union
Foods Co (GUFC). A negociação foi feita com um
grupo de investidores,
incluindo a empresa de private equity Jadwa Investment.
A aquisição contempla 51%,
mas os valores da negociação não foram divulgados.
O grupo Jadwa segue com
30% do GUFC, companhia
que também produz e
comercializa a marca
Maaza na Arábia Saudita.
Exportações
O QUERIDINHO
DOS COREANOS
A Coreia do Sul continua sendo
um mercado que sorri constantemente para a indústria do suco
de laranja da Flórida. O país passou de menor comprador da
bebida para um dos mais importantes players para o suco norteamericano, após firmar um acordo com o país em 2012 para eliminar tarifas de alguns itens
importantes, incluindo o fim da
taxa de 54% sobre o suco de
laranja. A Coreia do Sul importou 62,3 milhões de litros de
suco de laranja em 2013, ante
11,3 milhões em 2011.
FOTOS: DIVULGAÇÃO, SHUTTERSTOCK E ISTOCKPHOTO
9
8
Diversificação
ADM VAI ÀS
COMPRAS
A ADM completou a aquisição da Specialty
Commodities por US$ 191 milhões. A companhia
é especialista no processamento de ingredientes
para a indústria de alimentos, como grãos, oleaginosas e frutas secas. “Estamos continuamente
expandindo nosso portfólio de ingredientes especiais para servir melhor nossos clientes e reduzir
a volatilidade de nossos ganhos”, disse o presidente da divisão de novos sabores e ingredientes
especiais da ADM, Greg Morris.
Greening 2
MAIS VERBA CONTRA
O MOSQUITO
O secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack,
anunciou que o Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos (USDA) disponibilizou uma nova assistência financeira
para citricultores da Flórida para a remoção de árvores atingidas
com greening e para o replantio de pomares novos, com estoque saudável. "O USDA está investindo em pesquisa e uma
variedade de estratégias para combater o greening a longo
prazo", disse Vilsack. A linha faz parte de uma pacote de US$ 25
milhões, lançado pelo USDA para combater o greening.
Fale com a redação: [email protected]
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 11
BASTIDORES
NEGOCIAÇÃO
ANIVERSÁRIO CONSECITRUS
Em 22 de fevereiro de 2015, o julgamento do Consecitrus fará
o seu primeiro “aniversário”. Naquela ocasião, o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica aprovou o estatuto assinado entre CitrusBR e Sociedade Rural Brasileira e determinou
uma série de ações e prazos. Em razão de recursos impostos
pela Faesp e pelo Unicitrus, os embargos foram julgados em
agosto de 2014 e, desde então, entidades de produtores tentam encontrar consenso para levar suas demandas à CitrusBR,
que representa as indústrias. Até o fechamento desta edição,
a CitrusBR não havia recebido nenhum contato.
POLÍTICA
NOVA CÂMARA,
NOVOS PROJETOS
A nova Câmara da Citricultura de São Paulo realizou
sua primeira reunião no fim de novembro. Seus
membros elegeram o desenvolvimento de ações
para fomentar o mercado interno como principal
foco das discussões. Nenhum assunto, a exemplo do
Consecitrus, será levado à nova casa. Entre os membros estão a Associação dos Produtores de Frutas
de Mesa, CitrusBR, Ceagesp, Instituto de Economia
Agrícola, Instituto Agronômico de Campinas e
Associtrus, entre outros.
NATURAL
GOVERNO
LUCROS MAIS
SAUDÁVEIS
NOVO
SECRETÁRIO
De olho na crescente demanda
por alimentos mais saúdaveis,
a fabricante de bebidas norteamericana Noble Juice reforçou
seu portfólio com duas novas
bebidas cujo o principal apelo
é baixa caloria. De acordo
com a companhia, seus novos
sucos de chai mandarin com
maçã e romã com tangerina
são livres de gordura, não contêm adição de açúcar, conservantes, glúten ou qualquer
outro componente artificial.
Tomou posse o novo secretário de Agricultura
do Estado de
São Paulo,
Arnaldo
Jardim.
Ele é
Engenheiro
civil, político
filiado ao PPS e
substitui a engenheira agrônoma Monika Bergamaschi,
que deixa o cargo após
três anos.
EUROPA 1
A COISA FICOU “RUSSA”
O Juice Market, uma das mais conhecidas publicações do mercado internacional de sucos, afirma que países que têm sofrido embargos da Rússia
por conta da crise com a Ucrânia têm recorrido a uma prática pouco
ética. A publicação afirma que produtores de frutas, impedidos de exportar para aquele país, têm vendido os alimentos para destinos livres de
qualquer embargo. A partir desses destinos as frutas são reembaladas e
reexportadas para a pátria liderada por Vladmir Putin.
12 | CITRUSBR Fevereiro 2015
BRASÍLIA 1
MENOS IMPOSTOS PARA O SUCO
A Câmara Setorial da Laranja, vinculada ao Ministério da
Agricultura, também deve acelerar as discussões sobre como
fomentar o mercado interno de suco de laranja industrializado.
O presidente da entidade, Marco Antonio dos Santos, chegou
a defender a redução de PIS/Confins em audiência pública no
Senado. Com a nova ministra, ele acredita que o setor pode se
beneficiar. “A ministra Kátia Abreu é sensível à citricultura e conhece o potencial do mercado interno, ganhamos uma aliada”, diz.
NOVOS ARES
EUROPA 2
BRASÍLIA 2
A INVASÃO DA MAÇÃ
ALÉM DA
PEPRO
A produção recorde de 85 milhões
de caixas de maçã equivalente a
40,8 quilos na Europa, considerada
a maior da história, e o embargo às
exportações da Polônia, maior produtor, para a Rússia continuam a
prejudicar o mercado de suco de
laranja. Algumas publicações internacionais já mencionam a venda de
suco de laranja abaixo de
US$ 1.900,00 FOB Santos, valor
correspondente ao que se tem
visto na Bolsa de Nova Iorque,
descontados os impostos.
Santos também pretende ampliar o leque de
discussão do colegiado,
que reúne as principais
entidades citrícolas nas
mais diversas áreas. “No
ano passado, por força
das circunstâncias, tivemos que trabalhar praticamente em função da
Pepro, mas este ano
temos que ampliar as
discussões”, avalia.
FOTOS: DIVULGAÇÃO, PICASA, JULIO VILELA, SHUTTERSTOCK E ILUSTRAÇÃO FARREL
ATÉ TU, EMERSON
O bicampão mundial de Fórmula 1 e também
citricultor, Emerson Fittipaldi sempre foi reconhecido como um dos grandes divulgadores
do suco de laranja. Tanto que já chegou a trocar o tradicional leite
dado aos vencedores das 5oo
Milhas de Indianápolis pelo
suco. Mas, ao que parece,
Fittipaldi sucumbiu à concorrência de outras bebidas. Ele é o
garoto-propaganda de uma nova
marca de energéticos, a Celsius. O apelo da
bebida é a “caloria negativa” ou seja, o fabricante garante que o produto acelera o metabolismo e assim ajuda na queima de calorias.
É mais um concorrente para o suco brasileiro.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 13
capa
nononono
14 | CITRUSBR Janeiro
Fevereiro
2015
2015
Mos
quito
O greening, doença transmitida pelo
pisilídeo, um pequeno mosquito
presente em todo Brasil, tem sido
uma das principais inimigas da
citricultura. Hoje, porém, novas
técnicas possibilitam um manejo
adequado dos pomares e já é
possível vencer o problema
indestrutível,
cultura perecível
N
os últimos anos a citricultura brasileira tem travado uma
verdadeira guerra contra o pisilídeo, um mosquito quase
invisível a olho nu e que transmite o greening,
considerada a mais grave doença já registrada em
pomares de laranja. Principal “culpada” por devastar
pomares nos Estados Unidos, a doença chegou a praticamente 100% dos
talhões da Flórida, segundo dados do Florida Department of Citrus.
Em São Paulo, a incidência chega a 14%, de acordo com o Fundecitrus.
Os extremos do parque citrícola, localizados mais ao sul do Estado e ao
FOTO: JULIO VILELA
CITRUSBR
CITRUSBR
Fevereiro
Janeiro 2015 | 15
capa
norte, no sentido do Triângulo Mineiro, são as áreas menos afetadas.
Já regiões mais tradicionais, como
Descalvado, Bebedouro, Araraquara, entre outras, têm convivido com
todas as incertezas geradas por uma
doença sem cura e que ameaça o
principal patrimônio do citricultor,
ou seja, o seu pomar.
Pouco menor que a conhecida
mosca-do-mediterrâneo, aquele
mosquitinho que voa sobre frutas
maduras, sua adaptação ao meio
ambiente é resultado de milhares
de anos de evolução, o que o tornou
extremamente adaptado à natureza.
Não é exagero dizer que, se fosse um
da vontade do homem. Segundo
alguns especialistas ouvidos pela
revista CitrusBR, essas mosquinhas
habitam nosso planeta muito antes
de nós, seres humanos, e, provavelmente, aqui estarão ainda por milhares de anos.
O jeito encontrado até agora
pela ciência consiste num pacote
tecnológico que envolve diferentes
disciplinas nos pomares de laranja.
Desde a estratégia de plantio correto
nas bordaduras até a frequência das
pulverizações, muito há para ser
feito. Em muitas fazendas, até mesmo naquela localizadas em regiões
consideradas endêmicas, é possível
manter o greening sob
controle. Muito mais
do que investimentos
custosos, é preciso atenção com o know-how
aplicado.
Segundo Juliano
Ayres, gerente-geral do
Fundecitrus, “a citricultura já viveu momentos
complicados com outras doenças e conseguimos superá-las”. Para ele, hoje se
conhece muito mais sobre a doença
do que se imaginava sobre ela cinco
anos atrás e aqueles citricultores
que de fato se especializaram no seu
combate têm conseguido manter a
sanidade de seus pomares e ainda
incrementar sua produtividade.
E, com o intuito de disseminar o
conhecimento acumulado e as melhores práticas agronômicas, nas
próximas páginas serão demonstrados os principais manejos agrícolas
utilizados por aqueles citricultores
que têm vencido a doença e continuam a acreditar na viabilidade da
citricultura no longo prazo.
O CONTROLE DO
GREENING JÁ É POSSÍVEL
POR MEIO DO USO DE
DIFERENTES TECNOLOGIAS
NO POMAR
ser humano, o pisilídeo teria poderes
de um super-herói ou, no caso, um
super-vilão. Afinal de contas, àqueles
cujos olhos não são treinados, ele é
quase invisível; sua estrutura corporal, com músculos extremamente
fortes, permite incrível resistência e
ele pode cair de alturas inimagináveis sem nada sofrer; a autonomia
de voo desse pequeno inseto é impressionante e corresponde a um ser
humano viajando do Brasil à Argentina num dia, à pé. E, caro leitor,
acredite: os inseticidas constituem
apenas uma forma de controle de sua
população, o que significa que ele
sempre existirá, independentemente
16 | CITRUSBR Fevereiro 2015
O incrível berçário de
plantas
Cuidar das mudas é o primeiro passo para
garantir um pomar saudável
O
viverista Luiz Augusto
Vanconcellos é aquele tipo
do sujeito zeloso com seus
pomares. Professor universitário de
formação e citricultor por vocação, ele
é a quarta geração de uma tradicional
família de citricultores radicada em
Limeira. Ao longo de sua vida e de
alguns familiares que já atuavam na
lida com a citricultura, ele viu várias
doenças chegarem ao Brasil. E se há
um lugar em que os conhecimentos
do professor e do citricultor se encontram é justamente dentro do viveiro.
Lá, ele produz 240 mil mudas por ano,
que têm como destino as regiões de
Botucatu, Avaré, Bariri, Pirassununga,
Mococa e, claro, Limeira. Uma muda
doente, explica, é a forma mais fácil de
disseminar uma doença. E, para mantê-las saudáveis, o professor-citricultor
viajou à África do Sul em 2008. Lá, os
O USO DO SISTÊMICO,
APESAR DE SER MAIS CARO,
MOSTRA UMA EFICIÊNCIA
MAIOR, SE COMPARADO COM
O MANEJO TRADICIONAL
FOTO: JULIO VILELA
citricultores convivem com a doença
desde a década de 1940. “Vimos que
os produtores daquele país conseguiam
proteger as plantas e reduzir a incidência da doença com o uso do manejo
sistêmico”, revela.
O sistema consiste em “vacinar” as
mudas para que já cheguem aos pomares protegidas contra a doença. Para
tanto, o trabalho começa ainda nos
viveiros, com a aplicação de inseticidas
em forma de dremch no solo. Isso significa um manejo em que o defensivo
é aplicado com água no solo e é absorvido pelas raízes da planta. Assim, os
produtos sistêmicos, são “inteligentes”
e se espalham por toda a planta, da raiz
até as folhas e brotações, criando uma
proteção especial para cada muda.
“Além disso, combinamos o sistêmico
com a pulverização nas folhas, para
obter melhores resultados”, explica
Vasconcellos.
Combinado ao manejo das mudas,
o sistema de proteção dos viveiros
também é diferente do convencional
na propriedade de Vasconcellos. As
telas laterais têm espessura de 0,87 milímetros por 0,30 milímetros, portanto
livre de insetos afídeos. A pulverização
das plantas é feita quinzenalmente. As
mudas são gestadas em outra propriedade da família, em uma área protegiCITRUSBR Fevereiro 2015 | 17
capa
PRECAU
ÇÕES NA
FORMAÇ
ÃO DO P
OMAR
Se
te dicas pa
a plantaçã ra manter
o sadia
PULVERIZAÇÃO
Aplicação de
inseticida sistêmico
por meio de drench
evita rebrota
1. Plantio d
e mudas sa
dias
s mais ade
nsados
3. Porta-e
nxertos an
anicantes
4. Plantios
adensado
s em bord
da proprie
as
dade e do
talhão
5. Plantios
paralelos
à divisa da
propriedad
e
6. Renova
ção de po
mares
em blocos
7. Utilização
de mulchin
g refletivo
2. Pomare
da, para evitar a contaminação. Dentro
do viveiro, as mudas e os portas-enxertos ficam sobre bancadas a uma
distância mínima do solo, para evitar
a contaminação por outras doenças,
como a gomose e o aparecimento de
hospedeiras. Ao saírem dos viveiros, as
plantas mantêm a proteção da vacina
por um período entre 60 e 80 dias.
DO VIVEIRO AO POMAR
Assim que deixam os viveiros,
as plantas logo se tornam sujeitas à
contaminação. Por isso, o trabalho de
prevenção deve ser redobrado. No caso
de Vasconcellos, seguindo as recomen-
dações técnicas, a prevenção continua
com aplicações sistêmicas programadas nas 130 mil árvores dos pomares
da família. O citricultor explica que
é possível reduzir o número de aplicações por ano com esse manejo. No
método tradicional, há casos relatados
em que citricultores chegam a fazer
30 pulverizações anuais. “No caso do
sistêmico, fazemos entre 13 e 14 pulverizações anuais, com intervalo maior”.
Apesar disso, ele revela que o custo do
sistêmico é 25% a 30% superior ao manejo convencional. “Por outro lado, os
resultados são positivos. Em pomares
de um a dez anos com sistêmico, a perda chega no máximo a 2%. Já nos pomares sem o sistêmico esse percentual
chega a 20%”, calcula.
De forma geral, os pomares mais
jovens, tanto nas fazendas da família
Vasconcellos, quanto nas propriedades
para as quais o professor-citricultor
presta consultoria, também mostraram
melhores resultados no manejo contra
o greening. Isso porque, segundo Vasconcellos, a distribuição dos inseticidas por meio da aplicação sistêmica é
mais uniforme em plantas mais jovens.
“Verificamos também que o uso do
sistêmico ajuda a planta a manter seu
equilíbrio, o que muitas vezes não
ocorre quando é feita a aplicação convencional de inseticida”. Apesar das
vantagens, ele revela que o sistema ainda é pouco usado por aqui, já que requer investimentos. “O que vejo é que
o citricultor que realmente quer ficar
no negócio investe em soluções para
conviver com o greening e manter sua
produtividade”. Para ele, o trabalho de
manejo requer cinco elementos principais: recurso financeiro, consciência
do produtor de que vai trabalhar para
conviver com o greening, trabalho
pesado de inspeção e erradicação de
plantas contaminadas, controle permanente do psilídeo e aquisição de
mudas sadias, já vacinadas. Mas esses
temas ficam para as próximas páginas.
CALDA NA MEDIDA CERTA
Recomendações do Fundecitrus mostram que eficiência na aplicação não tem a ver com grande quantidade
POMARES DE CINCO ANOS
(copa com volume de 25 m3)
VOLUME
COBERTURA DA PULVERIZAÇÃO (%)
1.000 l
INSETICIDA
EFICIÊNCIA
(l/ha)
(ml/m3 )
(l/ha)
(%)
1.000
77
1
100
500
39
0,5
100
400
31
0,4
100
300
23
0,3
100
18 | CITRUSBR Fevereiro 2015
500 l
400 l
300 l
CUIDADOS COM
AS MUDAS
são fundamentais
para que a doença
não seja disseminada
entre as diversas
regiões produtoras
Os donos da
borda
Após sofrer revés com
a chegada do greening
e perda na produção,
família investe em
manejo para recuperar
áreas atingidas
N
monstram não só as pesquisas e
resultados divulgados pelo Fundecitrus, mas também pela comunidade
científica. A área de ação do psilídeo
normalmente se concentra nos 100
metros iniciais da propriedade. Dessa
forma, o controle da doença em propriedades muito pequenas se torna
mais complicado. Isso porque, por
exemplo, numa área de 900 hectares,
a borda teria em torno de 59 hectares, portanto, 6,5% do total. Já numa
fazenda com 100 hectares, com os
mesmos 100 metros mais expostos,
a área da borda corresponderia a 36
hectares, ou 36%. Portanto, quanto
menor a propriedade, mais exposta
ela estará ao psilídeo. De acordo com
a recomendação técnica, o tratamento
de borda indicado é de 100 metros
internos no contorno com citros da
QUANDO TAMANHO É DOCUMENTO
Esquema abaixo mostra como pequenas propriedades são mais
suscetíveis aos ataques do psilídeo
3.000 m
100 m
1.000 m
500 m
Área total = 100 ha
Área de borda = 36 ha
(36%)
500 m
1.000 m
3.000 m
a região de Pirassununga,
a família Palhares vem enfrentando o amargo desafio
de lidar com o greening em uma das
áreas mais afetadas pela doença no
Estado de São Paulo. Diferentemente
das laranjas que plantam, o sabor do
impacto da doenças não é nada doce.
Segundo Antonio Palhares, um dos
donos das 12 propriedades mantidas
ao lado filho Brian, a produção total
já chegou a 3,6 milhões de caixas.
Mas, com a perda da produtividade e
o arranquio de plantas, hoje há 411,2
mil plantas e uma produção ao redor
de 1 milhão de caixas.
A decisão de lutar contra a doença aconteceu há aproximadamente
três anos, quando os Palhares decidiram investir pesado no manejo
contra o psilídeo. Uma das principais
armas deles para o combate à doença
dentro das fazendas está no uso de
bordas externas nos talhões e bordas
internas nas quadras. Ou seja, ao
contrário da maioria dos citricultores, que adotam a borda apenas ao
redor de cada talhão, os Palhares
implantaram uma borda "extra" ao
redor de cada quadra dentro do talhão. Segundo Antonio, com isso,
caso os insetos passem a barreira da
primeira borda, logo caem nas primeiras árvores das bordas internas,
evitando a contaminação das árvores
do miolo dos pomares. Em três anos,
os resultados já são visíveis. O índice
de erradicação de plantas, que girava
em torno de 3% quando o trabalho
começou, deve fechar próximo de 1%
nesta safra. “Mas ainda o consideramos alto. Estamos trabalhando para
reduzir a um índice inferior a 0,5%”,
calcula Antonio.
O manejo das bordas é um dos
pontos fundamentais, segundo de-
Área total = 25 ha
Área de borda =
66 ha (64%)
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 19
capa
nononono
Menor perda de plantas em plantios paralelos. Maior facilidade da operação
de pulverização da faixa de borda
MOSQUITO COME PELAS BORDAS
Conhecer os hábitos do psilídeo ajuda no combate
Levando em consideração a infor-
servem como fronteiras. No esquema no
mação do início desta reportagem em
quadro ao lado é possível entender as
relação à capacidade de deslocamento
melhores formas de plantio das bordas.
do psilídeo, é preciso atentar para as
Nas fotos abaixo, que mostram o dese-
áreas mais afetadas. As fotos acima
nho dos talhões, é possível notar como
mostram claramente o potencial destru-
pode ser complicado o plantio em
tiva do greening, principalmente nas
decorrência da falta de uniformidade.
bordas. Isso porque o hábito de alimen-
Uma das soluções é a renovação dos
tação do vetor acontece quando a plan-
pomares em blocos. A vantagem em
ta está no período vegetativo e, como já
relação à remoção individual das qua-
detectou a ciência, uma vez que encon-
dras está no melhor controle justamente
tra alimento, o mosquito não tem neces-
das bordaduras, minimizando a pressão
sidade de ir para as áreas mais profun-
da doença vinda de pomares antigos
das do talhão. Dessa forma, as bordas
vizinhos e das áreas externas.
Sugestão de sistema de novos plantios
PLANTIO PARALELO
À DIVISA DA
PROPRIEDADE
Combate ao psilídeo deve ser
intensificado nas bordas
O esquema acima, desenvolvido pelo
Forma da propriedade não dever ser estreita ou recortada
Fundecitrus, mostra que as bordas paralelas à rua facilitam as operações de pulverizações. Já a foto aérea no alto da
página mostra que as bordas em diferentes direções dificultam o manejo. Como a
presença do inseto nas áreas internas da
propriedade é muito baixa, a pressão de
entrada se concentra nas bordaduras da
propriedade, onde o controle deve ser
intenso. Desta forma, quando o relevo
permitir, deve-se efetuar o plantio com
linhas paralelas à divisa da propriedade.
Isso garantirá maior operacionalidade aos
pulverizadores, assegurando o timing
Mais difícil controle
20 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Mais fácil controle
necessário entre aplicações.
PORTAENXERTOS
ANANICANTES:
uso da técnica gera maior
eficiência na inspeção
e controle de pragas e
doenças. Além disso,
reduz o custo de colheita
e possibilita a utilização
de inseticidas sistêmicos
em plantas adultas
Porta-enxerto convencional
propriedade. Quando possível, é recomendado que se estenda esta faixa até
200 metros. Nessa área da propriedade, segundo especialistas, é ideal que
se faça a aplicação com inseticida de
contato com o intervalo de sete dias e
aplicação de inseticida sistêmico três
a quatro vezes ao ano, concentrado
no período de maior ocorrência do
inseto. Já para o tratamento de borda
dos talhões internos, a aplicação com
inseticida de contato deve ser feita
quinzenalmente.
Tudo isso é realizado na propriedade dos Palhares. Porém, embora
a área total seja grande, todo o perímetro plantado com laranja está distribuído ao longo de 12 propriedades
de diferentes tamanhos. Isso significa
que a “maldição das bordas” também
recai sobre seus pomares. Desde que
iniciaram o trabalho de controle
mais intensivo contra o psilídeo, três
anos atrás, muitos vizinhos deixaram
a citricultura justamente por sucumbir à devastação causada pela doença.
Hoje as inspeções das árvores
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Porta-enxerto ananicante
em busca de sintomas, ou mesmo
da presença do vetor, são semanais,
enquanto o calendário de pulverizações, antes mensal, para o combate
da pinta preta, passou a ser quinzenal para o combate do greening.
“Também instalamos armadilhas em
várias áreas para identificar a ocorrência de psilídeos.”
Em relação aos vizinhos, o trabalho foi mais de diálogo. “Muitos não
faziam o manejo adequado, então
passamos a incentivá-los a fazê-lo
de forma regular, para o controle da
doença”, revela Antonio. Atualmente,
ele faz a pulverização de apenas um
pomar vizinho, no qual as aplicações
são semanais nas bordaduras e quinzenais no restante do pomar.
Antonio também explica que faz
a rotação de inseticidas nas aplicações e reforma os pomares quando
necessário. “Nos pomares mais novos, as mudas já vêm vacinadas, são
cultivadas com uma nova tecnologia
e consequentemente têm resultados
melhores no combate à doença e na
produtividade também”, explica,
embora sejam as mais suscetíveis ao
ataque do psilídeo e necessitem de
mais cuidados. Segundo ele, mesmo
com a seca que se abateu sobre a
região nesta temporada, os pomares
mais jovens obtiveram rendimentos
superiores aos mais antigos.
PARA
CONTRO
LAR
A DOEN
ÇA
Dois pon
tos
fundame
ntais
1. Inspeç
ão e
erradicaç
ão de pla
ntas
sintomáti
cas
2. Nutriçã
o adequ
ada
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 21
capa
nononono
TRABALHO COM
PROPRIEDADES VIZINHAS ESTÁ
AJUDANDO A CAMBUHY A
MANTER SEUS POMARES SAUDÁVEIS
E A PRODUTIVIDADE EM ALTA
Na estrada contra o
greening
Saiba como a estratégia de implantar um modelo de
manejo preventivo feito em parceria com propriedades
vizinhas ajudou a Cambuhy a reduzir o percentual de
plantas com greening em suas fazendas
O
ditado que diz que a união faz
a força descreve com precisão
o trabalho de combate ao
greening desenvolvido pelo empresa
Cambuhy Agrícola, localizada na região de Matão (SP). Há alguns anos a
propriedade, que possui uma área total
de 14.123 hectares, sendo 6.792 hectares ocupados por pomares de laranja,
22 | CITRUSBR Fevereiro 2015
começou a perceber que o greening
se alastrava pelos pomares vizinhos,
de diversos tamanhos, que não conseguiam fazer um controle eficiente.
Essa situação poderia colocar em risco
a produção da fazenda, que colhe 6
milhões de caixas por ano. Diante do
problema, a Cambuhy decidiu iniciar
em 2011 um trabalho de aproximação
com os vizinhos na região. A empresa
começou então um amplo mapeamento de todas as propriedades em um
raio de 4 quilômetros de sua fazenda e
passou a fazer visitas com o intuito de
incentivar os donos delas a erradicar
as plantas doentes e fazer o manejo
adequado nos pomares. “O trabalho
conjunto se mostrou muito eficiente e
hoje conseguimos ótimos resultados
com esse tipo de controle”, afirma o
diretor-geral da Cambuhy, Alexandre
Tachibana. De fato, os dados mostram
que a estratégia tem surtido efeito.
O percentual de plantas erradicadas
dentro dos pomares da Cambuhy foi
reduzido de 3,51% entre maio de 2010
e abril de 2011 para 1,64% entre maio
e novembro de 2014. Em contrapartida, a produtividade média aumentou,
passando de 539 caixas por hectare na
temporada 2010/2011 para 1.013 caixas
na temporada 2013/2014. “Nossa meta é
POMAR SOB CONTROLE
Com o manejo regional, bons resultados surgem no horizonte
Produtividade média anual da Cambuhy
(caixas de 40,8 kg por ha produtivo)
1.024*
1.000
1.012
1.013
04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12
12/13
13/14 14/15
656
594
695
742
679
628
539
* Estimativa
3,51%
Erradicação de plantas com
HBL na Cambuhy desde 2004
2,36%
1,77%
1,97%
5/11
a 4/12
5/12
a 4/13
2,17%
1,64%
0,99%
FOTO: JULIO VILELA
5/14
a 11/14
5/13
a 4/14
5/10
a 4/11
5/09
a 4/10
5/08
a 4/09
5/07
a 4/08
5/06
a 4/07
5/05
a 4/06
0,20% 0,29% 0,20% 0,47%
5/04
a 4/05
chegar a 1,5 mil caixas por hectare nas
próximas safras”, planeja Tachibana.
Atualmente, todo o trabalho de
manejo e pulverização nas propriedades vizinhas é feito e custeado pela
Cambuhy. Alguns produtores de
porte maior também fazem a pulverização periódica, só que por conta
própria. Segundo a companhia, o
custo médio anual com o projeto é
da ordem de R$ 200 mil, incluindo
inspeção, pulverização e a remoção de
plantas. Desde o início do programa
até agora já foram erradicadas 40 mil
plantas. “Hoje trabalhamos com 63
vizinhos, em um projeto de manejo
que abrange uma área de 250 hectares”, explica Tachibana.
Além da pulverização, outros
tipos de manejo são disseminados
entre os vizinhos. Periodicamente
é feita a liberação das Tamarixias,
predadoras naturais de psilídeos, que
Custos com os vizinhos da Cambuhy
R$/ano
Inspeção
Pulverização
Remoção de plantas
Total
R$ 13.000
R$ 117.000
R$ 72.840
R$ 202.840
atuam como auxiliares no controle da
população de insetos, especialmente
em pomares abandonados e de difícil
acesso. A avaliação da quantidade de
psilídeos tanto dentro quanto fora da
Cambuhy é feita por meio de armadilhas inspecionadas semanalmente.
O trabalho feito em conjunto com
os vizinhos, somado ao manejo da
porteira para dentro da fazenda, vem
dando resultados. Na Cambuhy, as
mudas já chegam às áreas de plantio
vacinadas e recebem tratamento sis-
têmico preventivo até os 3 anos, o que
ajuda a diminuir o número de plantas
sintomáticas nesse período. O trabalho de pulverização é feito com maior
intensidade nas bordas, justamente as
regiões mais críticas de ocorrência do
greening e principais pontos de contato com as propriedades vizinhas. Já
o interior dos pomares e as áreas com
plantios mais antigos recebem menor
quantidade de inseticidas. “Isso porque
a ocorrência de psilídeos acontece nas
bordas e nos pomares mais novos.”
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 23
capa
Dessa forma, o custo médio do manejo preventivo da doença varia de R$
1.140,23 por hectare, para os pomares
mais novos, a R$ 510,19 para os pomares mais velhos, segundo Tachibana.
Além disso, anualmente cerca de 400
hectares são reformados. Juntamente
com a reforma dos pomares, Tachibana revela que a Cambuhy está em fase
de transferência das áreas de citrus
para o interior da fazenda, em regiões
de difícil acesso para os psilídeos. “Nas
bordas, podemos fazer o cultivo de
cana ou de seringueiras, já que temos
essas culturas dentro da propriedade
também”, explica o executivo.
A cada reforma, os pomares são
plantados de forma adensada, o que
permite uma produção mais precoce, garantindo mais rapidamente o
retorno do capital investido, além de
obtenção de maior produtividade por
área. Com a adoção dessa prática, a
MOSQUIT
O
Sete dicas SOB CONTROLE
para comb
ater
o vetor
1. Program
a de insetic
ida
2. Tratame
nto sistem
át
ico de
borda da
propriedad
e
e talhões
3. Monitora
4. Uso de
mento do
5. Manejo
as
regional
6. Controle
7. Liberaçã
radiata
psilídeo
bioinseticid
em áreas
o de Tam
externas
arixia
24 | CITRUSBR Fevereiro 2015
CORTE SECO
A erradicação de
plantas sintomáticas
é uma das práticas
fundamentais do
manejo contra o
greening. Ao ser
cortada, a planta
deixa de ser
atraente ao psilídeo
e a contaminação
não acontece
perda de plantas com o Huanglongbing (HLB) ao longo do tempo é
minimizada, perpetuando por mais
tempo o estande de plantas. Outra
vantagem do adensamento é a maior
proteção contra a penetração do psilídeo para o interior do pomar, por
causa do renque mais fechado
das linhas de plantio.
O monitoramento do psilídeo via inspetor ou armadilha
adesiva visa monitorar a migração do inseto e também são
armas importantes no combate
à doença.As armadilhas adesivas
devem ser colocadas nas bordas
da propriedade e talhões e têm
como principal objetivo indicar
os locais preferenciais de ocorrência do inseto, que geralmente percorre o mesmo caminho. Com essa
observação, as medidas de controle
são tomadas com mais rigor nesses
pontos. É sempre importante reforçar a importância do treinamento
do inspetor para a identificação do
psilídeo na armadilha atrativa.
RENOVAÇÃO DE
POMAR
Evitar plantios isolados é uma
boa estratégia de manejo
Sempre que for viável, é
recomendada a renovação dos
pomares em blocos, evitando o
plantio de talhões isolados, que
sofrerão maior pressão das
quadras mais velhas
circunvizinhas. A renovação em
bloco leva vantagem em relação
à renovação individual, porque
garante melhor controle
fitossanitário e isso minimiza a
pressão da doença no entorno.
De olho na
vizinhança
Como a Faro Capita, de Paulo Zucchi Rodas, convenceu a
vizinhança a entrar na luta contra o greening
A
Fazenda São Sebastião,
localizada em Pedregulho
(SP), é uma das principais
produtoras de laranja dentro dos
negócios de Paulo Zucchi Rodas.
Detentor de nove fazendas, sendo
cinco delas com foco na citricultura,
o grupo cultiva 3.657 hectares de
pomares com aproximadamente 2
milhões de árvores e produz anualmente cerca de 3,5 milhões de caixas,
a maior parte vendida para a indústria. Desde 2012, o grupo investe
no relacionamento com os vizinhos
para desenvolver um programa de
manejo regional e atuar no combate
ao greening, que tem azedado a pro-
FOTOS: JULIO VILELA E DIVULGAÇÃO
dutividade da citricultura. “Sempre
fizemos o manejo dentro da fazenda,
mas percebemos que só isso não era
suficiente. Vimos que o manejo do
greening sem o manejo regional é
algo inviável”, conta Luiz Girotto,
diretor agrícola da empresa.
Começava aí o trabalho de contato com os 30 vizinhos
da propriedade, em um
raio de 10 quilômetros.
Girotto conta que, ao
iniciar o mapeamento,
os técnicos verificaram que a propriedade
estava rodeada de
áreas com pomares
não comerciais, uma das primeiras
dificuldades enfrentadas pela equipe
ao longo do processo. “Muitas áreas
eram de chácaras, nas quais as pessoas
mantinham poucos pés para consumo
próprio e sem manejo algum”, explica
Girotto. Agora, após pouco mais de
dois anos do início do trabalho, a evolução do greening na fazenda já registra desaceleração. Em março de 2013,
o número de plantas erradicadas na
Fazenda São Sebastião chegou a 698,
número que caiu para 150 em março
de 2014. Ou seja, a infestação hoje é
apenas 21% do que já foi um ano atrás.
Com isso, os primeiros resultados já
começam a aparecer na produtividade.
Enquanto a média de caixas por hectare das fazendas da Faro é de 1.134, na
COM O MANEJO EM UM RAIO
DE 10 QUILÔMETROS, A FARO
REDUZIU EM 21% O NÚMERO
DE PLANTAS ERRADICADAS
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 25
capa
NOVAS ARMAS
Ráfia aluminizada tem ação repelente
sobre o psilídeo e não permite o
crescimento de plantas daninhas embaixo
do mulching
São Sebastião, a média chegou a 1.310
caixas na última safra.
Girotto lembra que a primeira
tentativa de contato com os vizinhos
em Pedregulho foi frustrada, já que
o intuito era incentivá-los a erradicar
as plantas. “Depois mudamos a estratégia e passamos a nos oferecer para
pulverizar os pomares”, conta. No
caso dos vizinhos com pomares não
comerciais que aceitaram erradicar
as plantas, a estratégia da Faro foi
oferecer uma caixa mensal de laranja
para as famílias, para compensar a
erradicação das plantas. Além disso,
com o apoio da Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral (Cati), a
empresa passou a fornecer também
mudas de outras árvores frutíferas,
como maracujás, goiabas e coco para
esses vizinhos. Do total de 1.432 árvores encontradas nos terrenos dos
vizinhos, a Faro erradicou 831 plantas
e vem desenvolvendo um trabalho de
pulverização quinzenal nas 631 plantas remanescentes.
A parceria para o manejo nos vizinhos também inclui a instalação de
armadilhas nos pomares e nas murtas
usadas como plantas ornamentais nas
propriedades. “Também temos feito a
liberação de tamarixias cedidas pelo
Fundecitrus, para controle da população de psilídeos”, revela Girotto. Além
disso, o trabalho de inspeção é feito
quinzenalmente e a partir dele são feitas as programações de pulverização.
Da porteira para dentro da Fazenda São Sebastião, o manejo seguiu
também com instalação e reposicio26 | CITRUSBR Fevereiro 2015
A PAPA-PSILÍDEO
A soltura de tamarixias,
predadora natural do psilídeo,
tem se mostrado uma arma
eficaz dos produtores no
controle da doença
Ninfa de psilídeo
Tamarixia
Ninfa parasitada
Pupa
Múmia
Pupa
namento de armadilhas, inspeção dos
pomares e pulverização quinzenal.
A partir do trabalho feito com os
vizinhos, Girotto conta que foi iniciado um programa de pulverização
de baixo volume dentro da fazenda.
“Desenvolvemos um novo programa
de pulverização em que reduzimos em
35% o volume de inseticida usado e
também o número de aplicações por
mês”. Com isso, o número de pulverizações caiu de 31 em setembro de
2013 para 18 em novembro de 2014.
O trabalho deu resultados tão
positivos em Pedregulho que a Faro
estendeu o projeto de manejo regional para suas outras propriedades,
incluindo a Fazenda Descalvado, em
Anhembi (SP), onde 31 vizinhos já
participam do programa. Na propriedade cujos pomares são mais novos,
as mudas já chegam vacinadas por
meio do manejo sistêmico, o que para
Girotto é uma vantagem. “Os pomares mais novos são os mais suscetíveis
ao greening, então, começar o manejo
desde cedo é uma alternativa para
gerar melhores resultados”, explica.
FOTO: DIVULGAÇÃO
O pomar do
futuro
Nunca houve tanto conhecimento para combater o greening
como hoje. Novidades e pesquisas apontam para uma convivência
menos traumática em um futuro não tão distante
A
convivência com o greening
já é uma realidade. Ele está
presente em 18% dos talhões
do Estado de São Paulo e, em alguns
casos, na porteira ao lado ou mesmo
dentro da fazenda. Nos últimos anos
muitas novidades têm surgido como
forma de minimizar custos ou mesmo
o impacto da doença. As reportagens
dessa matéria especial mostram casos
de produtores que têm vencido a batalha. Na Flórida, local em que a legislação fitossanitária é menos rigorosa
comparada à do Brasil, os estragos
foram mais severos. O fato é que enquanto a cura da doença não surge e
árvores resistentes ou tolerantes estão
apenas nas pesquisas, há uma série de
novidades disponíveis no mercado ou
que estão prestes a chegar.
Um dos casos mais recentes é o
uso do mulching, uma cobertura plástica, que está sendo testada pela empresa Cutrale e repele 100% dos mosquitos em plantas jovens, até com três
anos. Ao que tudo indica, embora os
estudos ainda não sejam conclusivos,
a radiação solar emitida não permite
a aproximação do mosquito vetor da
doença. Sem psilídeo se alimentando
nas plantas, não há transmissão do
greening. Além disso, o sistema de
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 27
capa
irrigação pode ser instalado por baixo
dessa proteção. A falta de luz solar no
solo ao redor do tronco das árvores
faz com que não seja necessário realizar aplicações de herbicidas, já que as
ervas daninhas não conseguem se desenvolver debaixo do sistema, Ainda é
preciso que as pesquisas evoluam porque não se sabe, por exemplo, como
será a eficiência desse método quando
a copa das árvores fizer sombra no
mulching. Aliás, o uso desse material
tem aumentado em 100% a velocidade
de crescimento das plantas.
Tomando por base as plantas que
já o utilizam, pode-se destacar o uso
de porta-enxertos ananicantes, que
possibilitam elevadas densidades de
plantio obtendo-se maior produção
por unidade de área e redução nos
custos de colheita. Trata-se de plantas
de baixa estatura de copa, mas que
permitem grandes produtividades por
causa do forte adensamento. O baixo
vigor das plantas ananicantes reduz
o tempo de atratividade do psilídeo
NOVIDAD
ES
A CAMIN
O que a pe
HO
squisa
prepara pa
ra o futuro
1. Feromô
nio sexual
2. Plantas
repelente
s
3. Murta re
pelente
4. Plantas
tolerantes/
resistente
s
28 | CITRUSBR Fevereiro 2015
JULIANO AYRES, DO
FUNDECITRUS
Citricultores que se especializam no
combate à doença têm conseguido
manter a sanidade dos pomares e
incrementar a produtividade
pela planta, pela redução do comprimento dos surtos vegetativos, além de
aumentar a eficiência dos tratamentos
fitossanitários e facilitar a inspeção.
Portanto, seja pelo lado da produção,
seja pelo da prevenção, essas plantas
se mostram uma boa opção.
Outro detalhe interessante está
na nutrição das plantas. Aquelas que
recebem uma “alimentação” adequada,
dentro das recomendações técnicas
agronômicas, mostram maior tolerância aos sintomas. Isso significa que
plantas nutricialmente equilibradas,
quando infectadas, apresentam um definhamento mais lento e podem ter sua
vida produtiva estendida. Hoje, porém,
isso ainda não é possível fora do ambiente de pesquisa, em razão da legislação que obriga a erradicação de todo
pé infectado. No futuro, porém, com o
avanço tecnológico, a alteração
da legislação e a disseminação
de todo esse conhecimento,
poderá ser possível conviver
com a doença.
Outra novidade que ainda
está na prancheta dos cientistas é o trabalho com feromônios sexuais. Com a comprovação que os psilídeos machos são
atraídos pelos odores de extrato
exalados pela fêmeas, a pesquisa visa utilizar esta ferramenta
para o auxílio no controle do
vetor da doença.
Também há trabalhos em
desenvolvimento com o uso de
bioinseticidas. Esses produtos são
à base de fungos entomopatogênicos
e podem ser usados alternadamente
com os inseticidas químicos presentes
no mercado, visando reduzir as chances do surgimento de uma seleção de
psilídeos resistentes.Há trabalhos com
seleção do fungo Isaria fomosorosea
com eficiência de controle a campo
de aproximadamente 80%. Ele possui
a vantagem de não deixar resíduo na
fruta, o que permite aplicações mesmo
perto do momento da colheita.
Uma das possibilidades é a utilização da técnica do confundimento
sexual, onde o feromônio sintetizado
é distribuído em diferentes áreas
dificultando o trabalho do macho
de encontrar as fêmeas e, assim, se
reproduzirem. Dentro dessa mesma
linha, há a possibilidade de atração
dos machos para armadilhas de captura, também usando feromônios
sintetizados.
As plantas repelentes também
podem ser uma opção no futuro. A
ciência já descobriu que o psilídeo
repele o odor de goiaba. Diante disso,
há tentativas de isolar os genes que
produzem estes compostos e inseri-
VIGILÂNCIA CONSTANTE
Porcentagem de plantas com sintomas de HBL
encontradas por mês em relação ao total encontrado
16
14.9
14
12.7
11.5
12
10
8
12.2
11.0
8.6
8.0
6.7
4.9
6
4
3.6
3.2
2.8
Out
Nov
Dez
2
0
-los na planta cítrica, com o objetivo
de repelir o inseto vetor. Uma busca
está sendo realizada, porém, o resultado prático ainda está distante e
é possível que demore muitos anos
ainda para aparecer.
Também se espera o desenvol-
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
vimento de uma planta tolerante ou
resistente ao greening, de forma a
permitir a convivência pacífica com
a doença. Embora existam pesquisas
em andamento nesse sentido, ainda
está distante o dia em que haja um
pomar comercial aprovado com uma
Jul
Ago
Set
variedade tolerante ou resistente.
Enquanto as novidades não
chegam ao mercado, só existe uma
fórmula: atenção no monitoramento,
uso das recomendações técnicas e
inabalável disciplina. O resto ainda é
ficção científica.
A GOIABA REPELENTE
Estudo aponta que cheiro da fruta serve como repelente natural ao psilídeo
CITRUS
GOIABA
Isolar e inserir
genes que
produzem
estes
compostos
em citrus
Planta cítrica
repelente
FOTOS: JULIO VILELA E DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 29
capa
nononono
O monitoramento das
gigantes
Bayer CropScience, FMC, Ihara e Syngenta
apoiam melhoria do Alerta Fitossanitário e da
conscientização dos citricultores
A
s empresas de defensivos Bayer CropScience, FMC, Ihara
e Syngenta firmaram apoio
ao sistema de Alerta Fitossanitário –
Psilídeo, do Fundecitrus. Cada uma
doou R$ 50 mil que serão utilizados
na reformulação do sistema online
que, a partir de fevereiro deste ano,
terá novas ferramentas e apresentará
mais dados aos citricultores participantes. Os recursos também serão
utilizados na orientação dos produtores para o controle regional do
psilídeo.
O Alerta Fitossanitário é um sistema criado para monitorar a população do psilídeo, inseto transmissor do
greening (huanglongbing/HLB), uma
das piores doenças da citricultura.
Para isso, utiliza 15 mil armadilhas
adesivas amarelas georreferenciadas
(veja quadro), distribuídas por 125
mil hectares de citros e que, a cada 15
30 | CITRUSBR Fevereiro 2015
dias são avaliadas. Os dados das avaliações são processados e distribuídos
aos citricultores para informá-los da
situação da praga na sua região. O
programa foi criado para incentivar
o manejo regional do greening e estimular os citricultores a trabalhar
em conjunto com os vizinhos para
reduzir a população de psilídeo e melhorar o controle do HLB.
Como reconhecimento pelo apoio
das empresas, foi concedido às parceiras o selo de “Empresa Amiga do
Citricultor”, uma iniciativa do Fundecitrus para valorizar as empresas
que apoiam as ações coletivas e de
sustentabilidade que beneficiam a
cultura de citrus. “Acreditamos no
manejo regional e no uso correto e
seguro dos produtos. O caminho é
esse.”, afirma o consultor de Desenvolvimento Técnico de Mercado da
Syngenta, Thales Barreto.
UNIDOS
Programa foi criado para
incentivar o manejo regional
do greening, com citricultores
trabalhando em conjunto
Para o consultor de desenvolvimento de mercado da Ihara, Rodrigo
Naime Salvador, o Alerta Fitossanitário é uma oportunidade do setor
citrícola se unir para o controle da pior
doença da citricultura. “Neste momento de busca de novas tecnologias e
um novo modelo de produção, toda a
cadeia produtiva deve estar unida pelos
objetivos comuns: contra o HLB e pela
viabilidade da citricultura”, declara.
Já a Bayer tem apoiado este e
outros programas e pesquisas do
Fundecitrus apostando na sustentabilidade. “O Alerta Fitossanitário é
uma estratégia integrada de ações que
deve ser adotada para o controle de
um dos principais desafios da citricultura atualmente, o HLB”, afirma
o gerente de Cultura Citrus, Ricardo
Baldassari.
A sustentabilidade também é o foco
da FMC. “O Alerta Fitossanitário coordenado pela Fundecitrus junto com os
associados é uma grande iniciativa que
está promovendo a sustentabilidade da
cadeia citrícola no Estado de São Paulo”, diz o gerente de Marketing, Flavio
Mitsuru Irokawa.
FOTOS: DIVULGAÇÃO E GUSTAVO FERNANDES DE OLIVEIRA
Menos mosquitos e mais
laranja
Seguindo à risca as principais recomendações de
combate ao greening, empresa consegue controlar a
doença e elevar a produtividade dos seus pomares
N
os últimos anos, a empresa
Cutrale tem intensificado
o seu trabalho de combate ao greening. Nos pomares da
companhia é realizado um amplo
controle sanitário, no qual todas as
recomendações técnicas e manejos são seguidos à risca. Os frutos
desse rígido controle se refletem na
redução da infestação do greening
em suas fazendas próprias. Um dos
grandes exemplo disso está na reinauguração da sua fazenda Graziela,
que aconteceu em dezembro de 2014.
O primeiro plantio na propriedade
aconteceu em 1991 em Ibaté, cidade
conhecida por estar localizada numa
região considerada o olho do furacão
da doença. Ou seja, com altos níveis
de infestação.
A fazenda não ficou imune ao
ataque dos psílideos e, após o pomar
ter completado 22 anos de idade, sua
produção começou a cair. Diante
desse cenário, a Cutrale de uma só
vez arrancou os 1.049 hectares, que
foram replantados entre novembro
de 2013 e novembro de 2014. O trabalho seguiu os conceitos de renovação em bloco, alinhamento adequado
nas bordaduras e forte adensamento,
conforme recomedações do Funde-
citrus disponíveis nesta reportagem
de capa. O resultado apareceu não
apenas com a queda da infestação
da doença, mas também em ganho
produtivo. A propriedade que anteriormente era ocupada por 287 mil
plantas cítricas em uma densidade de
274 plantas por hectare, atualmente
possui 623.561 plantas no adensamento de 597 planta por hectare, ou
seja, um aumento de adensamento da
ordem de 117%.
E, com o greening sob controle, a
empresa também mantém a atenção
aos demais desafios fitossanitários e
a correta aplicação de suas práticas
agronômicas. A companhia afirma
que continua a acreditar fortemente
na citricultura, renovando seus pomares de forma cada vez mais tecnificada. “Agora que atingimos nos
pomares da Cutrale a produtividade
média dentro das nossas expectativas, começamos a trabalhar para
o controle sanitário e para atingir
um novo salto produtivo”, ressalta o
diretor da Área Agrícola da Cutrale,
Valdir Guessi.
FAZENDA GRAZIELA
Em um ano foram replantados
todo os 1.049 hectares da
propriedade, o que reduziu
a incidência de grenning e
elevou a produção de laranjas
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 31
capa
nononono
FRANCISCO NETTO
trabalho intensificado no
combate à doença ajudou a
dexar o índice de incidência
abaixo de 1% nas fazendas
Tolerância zero contra o
greening
Utilizando uma variedade de técnicas e manejos, a
Citrosuco conseguiu reduzir o nível de infestação da
doença em seus pomares para menos de 1%
U
ma batalha sem trégua.
Assim pode ser resumido
o trabalho de prevenção e
controle do greening que vem sendo
realizado pela empresa Citrosuco.
Nos últimos anos, a incidência da
doença nos pomares próprios da
empresa tem ficado abaixo de 1%.
Um resultado altamente positivo,
alcançado por meio de uma série
de técnicas e manejos seguidos com
rigor e, principalmente, uma política
de tolerância zero contra a doença.
“Um dos pilares do nosso resultado
é que assim que identificamos uma
planta doente erradicamos essa árvore imediatamente”, explica o diretor
agrícola da Citrosuco, Francisco Netto. De acordo com o diretor, durante
todo o ano, técnicos percorrem os
talhões das propriedades em busca
de plantas sintomáticas. “O número
de inspeções varia de acordo com
o ano, mas o importante é que esse
trabalho de monitoramento e erradi32 | CITRUSBR Fevereiro 2015
cação ajuda a manter o controle da
doença”, ressalta.
Além da retirada de árvores sintomáticas, outro ponto importante do
modelo de controle da companhia são
as armadilhas para captura de psilídeos, espalhadas pelas fazendas. Além
de monitorar a população do inseto na
parte interna da fazenda, ela também é
mapeada nos locais em que as árvores
doentes são arrancadas. “Cruzando esses dois dados, temos o mapa do grau
de severidade da doença na fazenda,
ou seja, identificamos os talhões onde
temos uma ocorrência maior da doença. Nessas áreas são intensificados os
números de pulverizações.”
Netto aponta como outro
diferencial o trabalho
PEGA MOSQUITO
Uso de armadilhas
georreferenciadas
é a estratégia para
monitorar psilídeos
feito no entorno das propriedades.
Desde o ano passado a empresa passou a espalhar armadilhas georreferenciadas de forma mais adensada,
a cada 150 metros do perímetro das
bordas das fazendas. Semanalmente
são feitas leituras das armadilhas, que
são recolhidas e levadas para análise em laboratório. A partir daí são
identificados os pontos de chegada do
psilídeo nas fazendas. “Uma vez identificado pontos da fazenda com alta
incidência de entrada do mosquito,
nós montamos uma força-tarefa que
percorre as áreas próximas às propriedades atrás de árvores abandonadas, pomares caseiros, entre outros
focos da doença”, explica. “Esses pés
podem ser substituídos por outras
plantas frutíferas ou são erradicados
quando é permitido ou até mesmo
tratados dependendo do caso”, diz.
A estratégia da Citrosuco é
complementada com um trabalho
nas bordas das propriedades. Nos
pomares novos são realizados plantios mais adensados e com linhas de
plantio transversais nos primeiros
150 metros da fazenda. Essa área é
chamada de “zona de sacrifício”. Netto pondera que os psilídeos normalmente chegam primeiro nessa área
e esse modelo de plantio permite
uma pulverização mais rápida, o que impede que o
mosquito infecte áreas
maiores da fazenda.
“Com esse conjunto
de medidas conseguimos manter a doença
controlada.”
Disciplina para
proteger os
pomares
MONITORAMENTO
Rigor nos manejos
garante baixa incidência
de greening
O cuidado segue nos pomares mais
novos. Enquanto nas plantações mais
antigas são realizadas seis inspeções
por ano, conforme recomendação do
Fundecitrus, nas árvores jovens o núCom forte trabalho de gestão das inspeção de plantas
mero de inspeções chega a 12 por ano.
sintomáticas e combate ao psilídeo, a empresa Louis
“Nossa filosofia é de rigor na detecção/
Dreyfus Commodities mantém doença controlada
erradicação de plantas sintomáticas
e no combate ao vetor, para evitar a
ais do que utilizar as práou surto de psílideos, entre ouentrada da doença nos talhões
ticas recomendadas de
tros. Esse modelo ajudou a
mais jovens, já que uma
manejo, a estratégia de
empresa a manter o nível
planta nova infectada não
combate ao greening nos pomares da
de incidência da doença
se tornará um adulto
empresa Louis Dreyfus Commodities
em 1,1% no pomares
viável”, explica. Para
(LDC) está ligada a um rígido sistema
mais antigos e de 0,3%
garantir a qualidade
de gestão dessas técnicas. Um modelo
a 0,5% nos pomares
das inspeções, a emque garante que a empresa controle
mais novos, com idades
presa desenvolveu um
todas as operações realizadas e os
entre 0 e 4 anos.
programa próprio de treiprazos determinados. “Nós já temos
Para alcançar esses
namento para os inspeo conhecimento do manejo que deve
dados, uma parte imtores, que todos os anos
PLANTAS NOVAS
ser implementado, portanto temos que
portante do trabalho já
são reciclados para receAuditoria nos
focar nossos esforços para que o planecomeça nas mudas. A
ber uma certificação que
fornecedores para
jamento seja bem executado”, avalia o
companhia não planta
garantir mudas saudáveis garante que eles estejam
diretor agrícola da LDC, Jorge Costa.
100% das mudas que neaptos para identificar a
A empresa implantou ferramentas de
cessita e por isso desenvolveu um sistedoença nos talhões. “A capacitação de
controle que são abastecidas com dama de certificação para auditar os seus
nosso pessoal e o acompanhamento
dos de todas as inspeções realizadas.
fornecedores. “Reduzimos a quantidade
dos resultados através de indicadoDessa forma, é possível saber semanalde fornecedores por conta do rigor que
res-chaves são aspectos importantes do
mente informações importantes como
temos nessa operação, mas assim conse- nosso trabalho que, aliados às técnicas
o cronograma de pulverizações, se
guimos fazer uma auditoria bem severa, recomendadas, estão nos ajudando a
existe alguma área com atraso, regiões
o que garante o controle das mudas sau- evoluir no controle doença, mantenda fazenda que tiveram erradicações
dáveis”, ressalta o diretor.
do-a em níveis aceitáveis”, afirma.
M
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 33
entrevista
|
Marcos Antônio Machado
Presidente do Centro de Citricultura Sylvio Moreira
“A citricultura
brasileira
não pode ter a pesquisa limitada”
Nos últimos 11 anos, o engenheiro Marcos Antônio Machado tem dedicado seu tempo
para dirigir o Centro de Citricultura Sylvio Moreira, em Cordeirópolis (SP). O local é um
dos mais tradicionais institutos de pesquisas em citrus do Brasil, responsável por uma série de estudos e dono da maior coleção de germoplasmas do mundo. Além disso, o Centro
é sede do principal evento do setor citrícola, a Semana da Citricultura. Com mais de 35
anos de experiência no setor, ele falou à Revista CitrusBR sobre o papel fundamental da
pesquisa e de como as novas tecnologias são vitais para o desenvolvimento da citricultura.
Revista CitrusBR: Quando nasceu o Centro de Citricultura?
Marcos Antônio Machado: O Centro nasceu em 1928
como serviço de citricultura, vinculado ao Governo do
Estado de São Paulo. A partir de 1934, ele passou a ser
vinculado ao IAC (Instituto Agronômico de Campinas).
Ele era uma estação experimental, tínhamos todas as variedades de citrus. Depois, em 1994, se tornou um Centro
e, com isso, passou a abrigar um número maior de pesquisadores e novas linhas de pesquisa.
CitrusBR: Qual é o papel do Centro atualmente?
Machado: Hoje, desenvolvemos produtos baseados em
melhoramento. Não estamos falando só de laranja, mas de
tangerinas, limas, limões, entre outros. Além dos projetos
de pesquisa para novos produtos, temos pesquisas voltadas para o genoma, a questão fitossanitária e genética.
CitrusBR: Mas o principal desafio é desenvolver novas
variedades?
Machado: Sem dúvida. Isso é algo extremamente complicado e demorado, porque os citrus não são originais
do Brasil e para fazer o melhoramento é difícil, não tem
34 | CITRUSBR Fevereiro 2015
tanta diversidade à mão. Por outro lado, o setor tem muita
resistência às novas variedades, porque a cultura é perene
e ninguém replanta o pomar todo ano. Então, a taxa de
transferência de tecnologia não é a desejada.
CitrusBR: Qual é a importância da participação dos
citricultores no Centro?
Machado: Para nós, é essencial aumentar a interação com
o produtor. Somos um centro de produto, temos que ter
esse diálogo, para que eles demandem mais pesquisas,
nos ajudem na identificação dos rumos a seguir. Também
é fundamental nos tornarmos mais internacionais, para
compartilharmos experiências com outros países. Não
tem sentido um país do porte do Brasil e com a citricultura desse tamanho ter sua pesquisa limitada.
CitrusBR: Quais os caminhos para viabilizar isso?
Machado: Vai depender do apoio dos setores público e
privado. É fundamental que eles reconheçam a importância da pesquisa e seu papel dentro da citricultura.
CitrusBR: De onde vem a maior parte das demandas,
dos pesquisadores ou do mercado?
TEMOS QUE AUMENTAR A
INTERAÇÃO COM O PRODUTOR,
PARA QUE ELES DEMANDEM
PESQUISAS E NOS AJUDEM NA
IDENTIFICAÇÃO DOS RUMOS A SEGUIR
tos de pesquisa?
Machado: Praticamente 95% do que usamos
de verba para a pesquisa vem das agências de
fomento, como a Fapesp e o CNPQ. A iniciativa
privada ainda é muito acanhada no fomento à
pesquisa. É preciso mostrar ao setor que é um
investimento que traz frutos no médio e longo
prazo para todos.
Machado: Demandas sugeridas diretamente pelo setor
respondem por aproximadamente 20%. O maior número
de demandas vem quando se tem uma relação próxima
com o setor, quando se trabalha com a indústria e o produtor e você conhece as necessidades deles.
CitrusBR: A Semana da Citricultura também é
parte importante do trabalho?
Machado: A Semana da Citricultura é o mais tradicional
evento da citricultura no País e chegou à 34ª edição. Dentro dela, todos os anos fazemos a feira da citricultura. O
foco principal está nas palestras técnicas para os produtores, na discussão de problemas e inovações
CitrusBR: Quais são as principais linhas de pesquisa
dentro do Centro?
Machado: Atualmente, temos cerca de 80 projetos em
desenvolvimento e quatro programas principais, o de melhoramento, de biotecnologia, de fisiologia da produção
e o de fitossanidade. Na área de biotecnologia temos um
grande programa de genoma, que envolve vários parceiros
nacionais e internacionais.
CitrusBR: Por que a feira teve seu tamanho reduzido
nas últimas edições?
Machado: Nesses últimos anos, com a crise no setor, muitas empresas deixaram de vir e muitas das grandes empresas não voltaram porque o setor ficou pequeno para elas.
É difícil incentivá-las a continuar quando a soja, por exemplo, movimenta mais. Mas elas têm tentado e temos feito
novos planejamentos para estimular o retorno delas à feira.
CitrusBR: Qual é a importância do banco genético
mantido pelo Centro?
Machado: Temos a maior coleção de germoplasmas do
mundo. Temos todas as espécies e variedades de citrus.
Hoje temos cerca de 3 mil variedades. Desse número, 500
são de laranjas diferentes.
CitrusBR: Qual é a estratégia para voltar a atrair as empresas para a feira?
Machado: A partir de 2015, vamos introduzir um sistema
em que as empresas podem adquirir o estande montado e
padronizado, o que reduz o custo delas com a feira. Temos
feito outras ações para atrair as empresas. No ano passado, 36 empresas participaram. Para este ano, a expectativa
é ter entre 45 e 53 empresas.
CitrusBR: De onde vem o financiamento para os projeFOTO: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 35
mercado
NEOCLAIR
GILBERTONI:
produtor comemora
safra com preços em alta,
mas lamenta queda de
produtividade que limitou
os ganhos da fazenda
36 | CITRUSBR Fevereiro 2015
O limão
ficou mais doce
Estiagem intensa reduziu a produção de limão na
safra 2014 e fez preço da fruta atingir preços recordes
A última safra de limão deixou
um gosto doce na boca do produtor
Neoclair José Gilbertoni. E não se
trata de nenhuma nova variedade
adocicada da fruta. Ela continua
com seu azedume característico. O
que mudou mesmo foi o mercado
desse produto. A seca prolongada
que afetou toda a produção agrícola
do Estado de São Paulo prejudicou
também a safra do limão e fez com
que os preços atingissem patamares
recordes. De acordo com o acompanhamento feito pelo Centro de
Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea), em novembro do
ano passado, o preço médio da caixa
de 27 kg ficou em R$ 70,95. O valor
é 150% superior ao valor registrado
no mesmo período de 2013, quando
O RECORDE FOI
NO DIA 4/11/14,
COM A CAIXA A
R$ 95,02
a média ficou em R$ 28,43 a caixa
de 27 kg. No dia 4 de novembro, a
fruta chegou a bater o pico histórico
de R$ 95,02 a caixa de 27 kg. O que
explica esse movimento é a velha lei
econômica da oferta e da procura.
Com uma estiagem sem precedentes
no interior de São Paulo, a oferta de
limão teve uma drástica restrição.
Ao mesmo tempo, a demanda
pela fruta se manteve aquecida no
mercado interno. Com isso, o preço
do fruto se valorizou. “Sem dúvida
tivemos um bom ano em termos de
rentabilidade”, revela Gilbertoni.
Produtor na região de Taquaritinga, Gilbertoni toca, ao lado do
pai, Dorival Gilbertoni, a fazenda
SAFRA ADOCICADA
Durante maior parte do ano preços registraram forte alta.
Histórico mês a mês do preço médio do limão (caixa de 27 kg)
MÊS
2013
2014
Janeiro
R$ 7,96
R$ 8,96
Fevereiro
R$ 4,42
R$ 10,05
Março
R$ 4,87
R$ 9,57
Abril
R$ 6,31
R$ 11,46
Maio
R$ 16,97
R$ 14,31
Junho
R$ 18,02
R$ 18,80
Julho
R$ 20,99
R$ 29,22
Agosto
R$ 37,06
R$ 22,65
Setembro
R$ 39,46
R$ 30,24
Outubro
R$ 25,84
R$ 52,86
Novembro
R$ 28,43
R$ 70,95
Dezembro*
R$ 21,17
R$ 35,62
*Até o dia 5 de dezembro
Fonte: Cepea
FOTOS: JULIO VILELA
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 37
mercado
Santa Terezinha. A propriedade tem
242 hectares e ali ele mantém uma
produção diversificada, com criação
de gado, lavouras de cana e plantação
de limão. São cerca de 27 mil pés da
fruta. “Minha família sempre teve
propriedade nessa região e sempre
apostou em culturas diversificadas.
Mas o limão sempre esteve nas nossas
terras”, explica o produtor, que conta
que a maior parte da produção se
destina à comercialização no mercado
de fruta in natura. “Comercializamos
a maior parte da
fruta com mercados
da região e a vendemos pelo preço do
dia. Para a indústria
vendemos apenas
uma pequena parte da
produção que sobra
no final da safra.” Em
uma safra de preços
altos, a variação na
cotação da fruta tem
se mostrado favorável
e se revertido em
lucro. “Os preços
variam a cada semana,
mas temos conseguido uma média de R$
40 a caixa. É um preço
bem acima dos outros
anos”, ressalta.
O sorriso do
PRODUTIVIDADE
DA FAZENDA CAIU
QUASE 50%
NA SAFRA 2014 E
LIMITOU OS GANHOS
38 | CITRUSBR Fevereiro 2015
produtor só não é maior por conta
da quebra da safra que, se por um
lado elevou o preço da fruta, por
outro reduziu a oferta do produto.
Gilbertoni produz seu limão em área
de sequeiro, sem o uso da irrigação.
Ou seja, sua produção depende do
volume de chuvas que caem sobre
suas terras. Em uma ano de estiagem
intensa, ele, assim como grande parte
dos produtores, não conseguiu obter
a mesma produtividade de outros
anos, o que limitou os ganhos. “No
ano passado, colhemos uma média
de 250 caixas por dia, vendendo por
R$ 20 a caixa de 27 kg. Neste ano, o
preço está em R$ 40, mas estamos
colhendo 100 caixas por dia."
Esse foi um aspecto que pontuou
a safra, conforme explica
a pesquisadora do Cepea
Fernanda Geraldini. "No
pico da safra, quando
os produtores comercializaram os maiores
volumes, a oferta foi mais
escalonada do que os
outros anos", diz.
De acordo com o
produtor, quando o preço
bateu a casa dos R$ 100 a
caixa de 27 kg, a colheita
na fazenda não passou
de 80 caixas/dia. “No ano
passado, sem dúvida,
tivemos o pior clima
que eu já vivenciei", diz
Gilbertoni, que torce para
que as chuvas colaborem
com sua produtividade.
Para a pesquisadora do
Cepea, o clima do ano
passado ainda deve refletir
na produção deste ano.
"Podemos ter atraso no
pico da safra por conta da
seca, que atrasou a abertura da florada.
Assim o volume
de fruta disponivel no
primeiro trimestre será
escalonado", pondera.
bate-papo
Emílio Fávero, sócio da Alfa Citrus, presidente da Associação Brasileira de
Citrus de Mesa e da Câmara Setorial de Citrus de São Paulo
“Esperamos sair desta crise
mais fortes
do que entramos”
O produtor Emílio Fávero, presidente da Associação Brasileira
de Citros de Mesa, foi eleito o novo presidente da Câmara
Setorial de Citrus da Secretaria de Agricultura de São Paulo,
na primeira reunião que marcou a retomada do órgão após
14 anos. Agora no novo cargo, ele comentou os principais
pontos que estarão na pauta de discussões da Câmara
CITRUSBR: De que forma a reativação da Câmara deve
contribuir para auxiliar o setor citrícola paulista?
FÁVERO: Passaremos a ter um fórum para discutir os vários problemas do setor, sem ter que nos prender a discutir
as relações comerciais, já que o Consecitrus, penso eu, será
o principal fórum para isso. Além disso, teremos o Estado
presente nestes problemas, já que houve um vácuo nestes
anos sem a Câmara e sem a presença efetiva do Estado nas
discussões dos problemas nestes últimos anos.
CITRUSBR: Que balanço faz da primeira reunião que
marcou a reabertura da Câmara Setorial de Citrus?
FÁVERO: Foi bastante positiva, primeiramente porque
como foi a primeira reunião da Câmara e a minha primeira reunião como representante de uma associação que acabamos de formar. Não esperava pela indicação e aclamação como presidente. E estou motivado, porque percebemos
que todos os elos participantes estão também motivados.
Assim poderemos fazer algo por este setor tão importante
econômica e socialmente para o Estado e o País.
CITRUSBR: Quais os principais desafios da Câmara?
FÁVERO: O primeiro desafio é organizar uma agenda,
para que possamos atender às principais demandas dos
participantes e conseguir desenvolver os trabalhos de forma que seja possível trazer resultados efetivos para o setor.
CITRUSBR: Como isso é possível?
FÁVERO: Precisamos desenvolver os trabalhos de forma
FOTO: JULIO VILELA
que todos continuem motivados e que os resultados sejam
sempre consensuais entre os elos da cadeia. Também será
necessário atender às demandas, não específicas de um ou
outro setor, mas da maioria.
CITRUSBR: E quais temas serão considerados prioridade
dentro da Câmara?
FÁVERO: Nós temos assuntos ligados à fitossanidade,
pesquisa, tributação, boas práticas de produção e fabricação nos packings,, além de assuntos relacionados ao
marketing e estatísticas do setor.
CITRUSBR: Questões de mercado, como consumo e demanda, também serão debatidas dentro da Câmara?
FÁVERO: Discutiremos políticas públicas, ações, normas
e procedimentos para apresentar soluções e encaminhamentos para os problemas e demandas que forem apontadas pelos participantes.
CitrusBR: Como a Câmara irá dialogar com órgãos governamentais e outras câmaras ligadas ao setor?
FÁVERO: Na Câmara temos uma presença bem grande de representantes do setor. Portanto, toda demanda
deverá ser trazida através destas entidades. Penso que
teremos que participar da Câmara de Brasília como
representante de São Paulo, visto que nosso estado é o
principal produtor de citrus. Também deveremos repassar as demandas que a Câmara julgar que devam ser
encaminhadas ao Consecitrus.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 39
fruta de mesa
QUANTO TEM:
NIVALDO:
foco em modelos
diferenciados de
produção garante bons
resultados
35 MIL
PÉS
DE LARANJA
QUANTO
PRODUZ:
40 MIL
QUANTO
GANHA:
CAIXAS
DE 40,8 KG
R$ 15
A CAIXA PARA
O MERCADO
DE FRUTA
IN NATURA
Diversificar p
40
| CITRUSBR
2015CARLINHOS MÜLLER
FOTOS:
JULIO VILELAFevereiro
- ILUSTRAÇÃO:
QUANTO TEM:
16 MIL
PÉS
DE LIMÃO
QUANTO
PRODUZ:
50 MIL
CAIXAS DE
27 KG
QUANTO GANHA:
R$ 45
Desde pequeno, o produtor Nivaldo Davoglio já acompanhava de
perto o trabalho do seu pai na lida da
fazenda da família, localizada na região de Taquaritinga. Naquela época,
por ali se cultivava o café, o tomate,
além de outras culturas. Dessa forma,
quando algum produto não ia bem,
outro garantia o rendimento da propriedade. O tempo passou e hoje com
75 anos de idade, a maior parte deles
dedicados a tocar a fazenda, Davoglio
mostra que herdou a mesma visão de
negócio de seu pai. Hoje, a propriedade de 600 hectares é ocupada por
pomares de laranja e de limão, além
de um rebanho de gado de corte.
Além disso, a família ainda mantém
outras propriedades no interior de
São Paulo, onde são cultivados cana-de-açúcar e grãos. Essa mescla de
atividades garante bons resultados ao
QUANTO
produtor. “Sempre mantivemos uma
GANHA:
produção diversificada. Assim conseguimos aproveitar bem nossa área e
A ARROBA
minimizamos os riscos agrícolas
QUANTO
de cada atividade”, revela. DaPRODUZ:
voglio é um dos exemplos de
80
produtores que, como estraCABEÇAS
tégia, optaram por abrir mão
POR MÊS
A CAIXA DE 27 KG
NO MERCADO
DE FRUTA
IN NATURA
R$ 146
QUANTO TEM:
200
CABEÇAS
DE GADO
Conheça a estratégia do produtor Nivaldo
Davoglio, que, investindo em culturas
diferentes, consegue reduzir os riscos e
aumentar os ganhos de sua propriedade
de manter grandes áreas com uma
mesma cultura e para ocupá-las com
uma agropecuária diversificada, capaz de lhe oferecer bons rendimentos
em diferentes épocas do ano. “Assim
eu não fico amarrado com nenhum
produto. Quando um não está bem,
nós focamos no outro e conseguimos
manter os ganhos da fazenda”, diz o
produtor, repetindo o que aprendeu
com o seu pai.
No caso da laranja, Davoglio mantém cerca de 60 hectares, ocupados
por 35 mil pés, que lhe rendem uma
produção de 40 mil caixas de 40,8
quilos. Com a propriedade localizada
numa região privilegiada, próxima às
principais indústrias processadoras
da fruta, o citricultor poderia optar
por vender toda sua produção para
uma das empresas, já que a distância
lhe proporcionaria um custo de frete
competitivo. Mas, mesmo assim, ele
adotou uma estratégia diferente. Sua
produção é dividida: 70% são comercializados para pequenas indústrias
processadoras, os outros 30% são comercializados para o mercado de fruta in natura. “Investimos em mudas
de qualidade, com boas variedades
ara equilibrar
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 41
nononono
fruta
de mesa
LIMOEIRO:
área destinada
ao plantio de
limão totalmente
irrigada garantiu
boa produtividade,
mesmo com a seca
e manejo cuidadoso. Assim consigo
ter uma fruta de qualidade, comercializá-la com mercados da região
com maior valor agregado”, explica
Davoglio, que ressalta que a estratégia
ajuda a não depender totalmente de
nenhuma das pontas do mercado.
“Tendo uma produção dividida, eu
não fico na mão do mercado de fruta
para suco nem da fruta in natura. Vou
destinando a produção conforme a
demanda e o momento de cada um
desses segmentos."
Para garantir a qualidade das
frutas, o produtor investiu na implantação de um sistema de fertirrigação,
que lhe dá uma boa produção mesmo
em tempos de estiagem intensa, como
foi o caso dessa safra. “O custo de
implantar a irrigação é alto, chega a
R$ 8 por planta. Mas a produtividade
tem feito o investimento valer a pena”.
A conta fica ainda mais interessante
quando passamos para os pomares de
limão. Na fazenda, são cultivados 16
mil pés da fruta, todos irrigados. Num
ano de seca extrema, esse modelo fez
toda a diferença para o produtor. Sem
chuvas, a safra de limão registrou
uma queda significativa ao mesmo
BOIADA BOA:
produtor investe em
cruzamento industrial entre
gado nelore e angus
42 | CITRUSBR Fevereiro 2015
tempo que a demanda se manteve em
alta (ler reportagem na página 36).
Com isso, quem tinha limão para
entregar pôde se beneficiar de preços
recordes da fruta. Esse foi justamente
o caso de Davoglio. “Com a irrigação,
conseguimos manter o mesmo nível
de produtividade de outros anos. Assim, pude comercializar a fruta por
preços de R$ 45 a R$ 50, chegando até
próximo de R$ 100 a caixa”, revela o
produtor.
Na outra ponta da fazenda, a parte
destinada â pecuária também vive
tempos de vacas gordas. Dono de um
rebanho de 200 cabeças, quando veste
o “chapéu” de pecuarista, Davoglio
também procura se diferenciar no
mercado. Ele trabalha com produção
de carne com maior valor agregado
e investe no cruzamento industrial
entre bois da raça nelore e angus. “É
um tipo muito bom de animal, com
ótimo ganho de peso e que produz
uma carne de alta qualidade”, diz. Por
mês, a fazenda destina 80 cabeças de
gado para o abate em frigorificos da
região. Com o mercado da pecuária
aquecido, esse é outro segmento em
que o produtor tem registrado bons
resultados. “Recentemente, o preço da
arroba do boi se valorizou no estado
de São Paulo. Estamos comercializando o gado entre R$ 146 e R$ 154 a
arroba e em alguns casos temos também um prêmio de 10% por conta do
tipo da carne que entregamos”, afirma
o produtor, que comemora os bons
resultados do seu modelo. “Trabalhar
com várias culturas possibilita atuar
em diferentes mercados, sem depender
exclusivamente de nenhum."
mercado
Embarques em
ritmo lento
Dados da Secex mostram que exportações
brasileiras de suco de laranja recuaram 5,8% nos
primeiros seis meses da safra 2014/15
Os dados registrados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex)
mostram que as exportações brasileiras de suco de laranja (FCOJ Equivalente a 66º Brix), via porto de Santos,
somaram 573,7 mil toneladas entre
julho e dezembro de 2014. Uma re-
dução de 5,8% em relação ao mesmo
período da safra 2013/2014.
O recuo nas vendas do produto só não
foi maior graças aos Estados Unidos,
cujo embarques aumentaram em 28%
no mesmo período. A força nos embarques para a América do Norte é
reflexo da queda de produção no parque citrícola da Flórida. Já o principal
destino do suco brasileiro, a Europa,
registrou uma queda de 16,7%, ante o
mesmo período em 2013.
A queda nas exportações refletiu
no equilíbrio dos estoques e foi um dos
fatores que contribuíram para que a
expectativa de chegar a um volume de
suco estocado de 364 mil toneladas em
30 de junho de 2015 não se confirmasse.
O processamento adicional estimado de
12 milhões de caixas de laranja e uma
substancial melhora no rendimento
industrial, que, por conta da estiagem,
deverá chegar a 240,5 caixas necessárias para produção de uma tonelada de
FCOJ Equivalente 66º brix, apontam
para um estoque 447 mil tons no final
da safra corrente, em junho de 2015.
DADOS DOS PRIMEIROS
6 MESES (JUL/DEZ)
2004/
2005
2005/
2006
2006/
2007
2007/
2008
2008/
2009
2009/
2010
2010/
2011
2011/
2012
2012/
2013
2013/
2014
2014/
2015
SAFRA 14/15
VS. 13/14
Exportações Totais
668,8
678,9
660,3
633,7
577,2
640,0
582,1
554,4
556,0
609,0
573,7
-35,3
-5,8%
Exportações
para a Europa
493,6
466,5
459,3
415,4
421,9
430,0
416,2
356,9
358,4
430,5
358,5
-71,9
-16,7%
Exportações para
a América do Norte
95,8t
107,6
108,1
150,5
74,2
109,8
74,2
126,2
127,1
114,3
146,3
32,0
28,0%
Exportações para a Ásia
63,7
87,3
74,2
56,0
63,2
82,0
80,4
63,7
59,1
54,7
56,8
2,2
3,9%
Exportações para
outros destinos
15,6
17,5
18,7
11,9
17,9
18,1
11,3
7,6
11,4
9,6
12,0
2,5
26,0%
2004/
2005
2005/
2006
2006/
2007
2007/
2008
2008/
2009
2009/
2010
2010/
2011
2011/
2012
2012/
2013
2013/
2014
2014/
2015
1323,7
1.268,7
1.356,8 1.254,3
1.147,5
1.205,6
1.100,4 1.095,2
1.091,7
1.079,3
n.d.
-95,6
-14,3%
Exportações
para a Europa
917,5
868,8
932,3
861,1
839,2
861,3
788,0
792,5
748,4
721,6
n.d.
-114,6
-24,2%
Exportações para
a América do Norte
215,3
198,9
242,1
259,1
157,7
181,5
122,4
155,6
210,7
230,9
n.d.
42,5
40,9%
Exportações para a Ásia
159,4
172,4
147,6
109,4
119,2
132,8
163,4
129,7
111,7
108,2
n.d.
-18,3
-24,3%
31,5
28,5
34,8
24,8
31,4
30,0
26,6
17,4
20,9
18,7
n.d.
-5,3
-30,4%
DADOS DE SAFRA
COMPLETA (JUL/JUN)
Exportações Totais
Exportações para
outros destinos
43 | CITRUSBR Nononono 2014
SAFRA 14/15 VS.
04/5, 05/6 & 06/7
CITRUSBR Nonononon 2014 | 43
divulgação de estoque
Compromisso de
transparência
A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR)
dando cumprimento ao seu compromisso de transparência vem
divulgar as seguintes informações:
Levantamento realizado por
meio de auditorias independentes
realizadas junto a cada uma das empresas a ela associadas à CitrusBR,
consolidado também por auditoria
externa, apurou que os estoques
globais de suco de laranja brasileiro, convertidos em suco de laranja
congelado e concentrado equivalente
a 66º brix (FCOJ equivalente a 66º
Brix) na posse das suas associadas,
em 31 de dezembro de 2014, eram de
1.002.038 toneladas. Esse volume in-
dica uma redução de 4,2% em relação
às 1.046.465 toneladas existentes no
mesmo período do ano anterior, isto
é em 31 de dezembro de 2013.
Trabalho, também realizado por
auditoria independente a pedido da
CitrusBR junto às suas associadas,
indicou a existência de expectativa
de que em 30 de junho de 2015, elas
venham a ter, em conjunto, um volume da ordem de 447.276 toneladas
de FCOJ equivalente a 66º brix em
seus estoques . Essa projeção, se con-
firmada, representará uma queda de
16% em relação às 534.529 toneladas
de FCOJ equivalente a 66º brix em
poder das empresas associadas à CitrusBR em 30 de junho de 2014, conforme já informado ao mercado. Essa
estimativa, se confirmada, indicará
um estoque adicional correspondente
a 83 mil toneladas, ou seja 22,9% acima das 364 mil toneladas previstas
anteriormente.
A tabela abaixo mostra o histórico do estoque físico das empresas
HISTÓRICO DA EXISTÊNCIA DE ESTOQUES DE SUCO DE LARANJA BRASILEIRO EM PODER DOS ASSOCIADOS DA CITRUSBR
NO MUNDO - TONS FCOJ EQUIVALENTE A 66º BRIX (FCOJ+NFC)
Período de
Mensuração dos
Estoques
Meio de Safra
Corte de Safra
Data dos Estoques
Auditados nas Associados
da CitrusBr
Data de Divulgação
dos Dados de Estoque
Estoques Existentes
no Brasil (+)
Estoques Existentes
no Exterior (+)
Estoques Existentes
Globais (=)
Dia, Mês e Ano
Tons FCOJ Equiv. a
66º Brix
Tons FCOJ Equiv. a
66º Brix
Tons FCOJ Equiv. a
66º Brix
Estoques em 31.12 2011
15 de Março de 2012
815.602
116.398
932.000
Estoques em 31.12.2012
19 de Fevereiro de 2013
923.998
220.374
1.144.372
Estoques em 31.12.2013
10 de Fevereiro de 2014
779.196
267.269
1.046.465
Estoques em 31.12.2014
03 de Fevereiro de 2015
776.318
225.720
1.002.038
Estoques em 30.06.2011
18 de Julho de 2011
71.221
143.148
214.369
Estoques em 30.06.2012
28 de Agosto de 2012
461.829
200.623
662.452
Estoques em 30.06.2013
8 de Agosto de 2013
550.542
215.382
765.924
Estoques em 30.06.2014
21 de julho de 2014
337.254
197.275
534.529
Estoques Projetados para
30.06.2015 (Aproximado)
44 | CITRUSBR Fevereiro 2015
447.276
HISTÓRICO DE RENDIMENTO INDUSTRIAL DOS ASSOCIADOS DA CITRUSBR NA PRODUÇÃO
DE SUCO DE LARANJA (INCLUSO PULP/CORE-WASH, EXCLUSO CÉLULAS CONGELADAS)
Ano Safra
Caixas de 40,8 kg
Por Ton FCOJ
a 66º Brix Equiv.
Oscilação
Em Relação
a Safra Anterior
Ano Safra
Caixas de 40,8 kg
Por Ton FCOJ
a 66º Brix Equiv.
Oscilação
Em Relação
a Safra Anterior
2000/01
246,87
n/d
2007/08
228,49
1,8%
2001/02
236,52
4,2%
2008/09
252,88
-10,7%
2002/03
224,85
4,9%
2009/10
262,52
-3,8%
2003/04
226,64
-0,8%
2010/11
240,58
8,4%
2004/05
244,19
-7,7%
2011/12
265,36
-10,3%
2005/06
226,42
7,3%
2012/13
263,54
0,7%
2006/07
232,69
-2,8%
2013/14
282,00
-7,0%
2014/15
240,50
14,7%
associadas à CitrusBR nas datas de 31
de dezembro e 30 de junho de cada
safra, bem como a projeção de estoque no corte da safra 2014/15.
PROCESSAMENTO DE
LARANJA NA SAFRA 2014/15:
Com informações colhidas individual e sigilosamente junto às
empresas associadas à CitrusBR, a
auditoria independente contratada
estimou em cerca de 250 milhões de
caixas de 40,8 kg o processamento
total a ser realizado pelas mesmas na
safra 2014/2015 em curso. Acrescentando-se a esse volume uma estimativa de mais 20 milhões de caixas de
laranja de 40,8 kg a serem processadas por empresas não associadas
à CitrusBR, chega-se a uma expectativa de processamento de laranja
no Estado de São Paulo para a safra
2014/15 da ordem de 270 milhões de
caixas de 40,8 kg. Essa estimativa, se
confirmada, representará um acréscimo de 12 milhões de caixas de 40,8
kg, correspondente 4,6% do total a
ser processado, em relação aos 258
milhões de caixas que haviam sido
estimados em julho de 2014 para o
mesmo período.
RENDIMENTO INDUSTRIAL
E PRODUÇÃO DE SUCO DE
LARANJA NA SAFRA 2014/15:
Informações também compiladas
por auditoria independente indicaram, para a safra 2014/2015, rendimento industrial médio de 240,5
caixas de laranja de 40,8 quilos para
a produção de uma tonelada de FCOJ
equivalente a 66º brix resultando
em uma projeção de produção total
da ordem de 1.122.000 toneladas de
FCOJ equivalente a 66º brix para a
safra 2014/15, acrescentando mais
149 mil toneladas à estimativa anterior de 973.000 toneladas feitas pela
CitrusBR em julho de 2014. Esse
acréscimo, se confirmado, representará um incremento de 15,3% em
relação à projeção realizada em julho
de 2014 e será decorrente de uma
combinação dos seguintes fatores:
Aumento da estimativa de processamento total pela indústria (associadas e não associadas) da ordem 12
milhões de caixas de laranja (+4,6%);
Melhora no rendimento industrial: em julho de 2014, a estimativa
foi de 265 caixas de 40,8 kg necessárias para a produção de uma tonelada
de FCOJ Equivalente a 66º brix. Contudo, esse número foi corrigido para
240,5 caixas por tonelada de FCOJ
equivalente a 66º brix, ou 10,2% a
mais.
Na tabela acima é possível observar o histórico de rendimento industrial obtido nos últimos anos pelas
empresas associadas à CitrusBR.
Importante destacar que, se por um
lado os efeitos da forte estiagem que
atingiu o cinturão citrícola de São
Paulo e Triângulo Mineiro causou
queda adicional de frutos das árvores, por outro, foi responsável por
substancial melhoria no conteúdo de
suco de laranja na fruta (rendimento
industrial) da ordem de 14,7%, se
comparado ao rendimento obtido na
safra anterior.
São Paulo, 3 de fevereiro de 2015
Ibiapaba Netto
Diretor-executivo
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 45
nononono
internacional
| por Larissa Popp Abraão*
Decifrando o
mercado
Juice Summit reúne algumas das principais lideranças da
indústria mundial de suco em busca de soluções para frear
a queda de consumo que preocupa todo o segmento
Entender o mercado de bebidas
– e o mercado de sucos – não é tarefa
fácil. É algo para quem tem talento
com quebra-cabeças e gosta de ver os
vários ângulos de um mesmo assunto.
É para quem sabe ler nas entrelinhas,
pra quem entende de marketing, de
estatística, de nutrição, de legislação,
de política, de sustentabilidade e de
combate a pragas. Pra quem sabe o
que está acontecendo em Bruxelas, em
Paris, na Flórida. E no interior de São
Paulo, para quem sabe de muitas outras coisas.
Ao se inscrever no Juice Summit,
atualmente o principal evento de sucos
46 | CITRUSBR Fevereiro 2015
do mundo, que aconteceu na Europa
em outubro, alguém pode pensar que
será fácil juntar as peças do quebra-cabeça. No programa, dois dias de palestras e discussões com os principais
atores desse complexo mercado: analistas, líderes das principais indústrias
produtoras, envasadoras, fornecedoras
de embalagens, autoridades, experts
em marketing, doutores em nutrição e
ph.Ds. em assuntos técnicos. Assunto é
o que não falta, bem como gente qualificada para falar.
Essa foi a segunda vez que a Associação Europeia de Sucos de Frutas
(AIJN), a Federação Internacional de
Sucos (IFU) e a SGF se uniram para
organizar um evento sobre sucos – um
evento organizado pelo setor, para o
setor. Mais do que um evento de networking, onde todos se encontram
uma vez por ano e fortalecem seus
laços profissionais, o Juice Summit
tem como objetivo realizar análises e
discussões sobre os principais desafios
do setor.
O presidente da PepsiCo, Zein
Abdalla, encerrou o evento resumindo os cinco pontos essenciais para o
crescimento sustentável: inovação, parceria, valorização da agricultura, foco
na produtividade e talento. Pontos que
DURANTE DOIS DIAS, 500
PESSOAS E MAIS DE 200
EMPRESAS DISCUTIRAM OS
DESAFIOS DO SETOR
apareceram em diversos momentos
ao longo dos dois dias em que mais de
500 pessoas de mais de 200 empresas
estiveram reunidas na capital dos diamantes, a Antuérpia.
Enquanto um representante da associação de comerciantes de diamantes
contava para os presentes a história
desse mercado, certamente a maior
parte da plateia sentia-se surpresa – e
com muita inveja: a cada dia, são negociados pelo menos 90 milhões de euros
em diamantes somente em Antuérpia.
Um mercado onde praticamente não
existe crise, especialmente porque não
há queda na demanda.
No caso dos sucos acontece o inverso – principalmente nos mercados
maduros como os Estados Unidos e a
União Europeia. Para ajudar a entender o mercado como um todo, a organização do evento convidou palestrantes que pudessem falar sobre diferentes
partes do mundo. Os americanos
mostraram que não bastasse o enorme
desafio do greening devastando os pomares, todos os milhares de dólares e
FOTOS: ERIK LUNTANG
esforços despendidos nos últimos anos
em marketing não foram suficientes
para interromper a queda livre no consumo de suco de laranja. Felizmente,
o Departamento de Citrus da Flórida
ainda conta com valiosos recursos para
tentar reverter a situação e para isso
está realizando uma série de mudanças
em suas estratégias de marketing: mais
investimento em relações públicas e
redes sociais, menos investimento em
televisão. Parceria com a Marvel para
criar um super-herói da laranja (como
já foi noticiado em uma edição anterior
da revista CitrusBR) e parcerias com
celebridades para atuarem como embaixadoras do suco.
Para os europeus, no entanto, a
estratégia do Capitão Citrus não faz
muito sentido... a não ser que ele também seja lobista e consiga convencer
as autoridades europeias que os sucos
continuam sendo bebidas saudáveis e
não responsáveis por todos os problemas de saúde do mundo.
Falando em problemas de saúde
e em soluções heroicas, muito se fala
nos mercados emergentes como alternativas para a queda no consumo nos
países maduros. Como mostraram as
apresentações de Christopher Lazaro,
da Tetra Pak, e de Monther Alharti,
presidente da Associação Árabe de
Bebidas, a Ásia e o Oriente Médio são
mercados bastante promissores.
Na Ásia, os destaques positivos são
o crescimento no consumo e as oportunidades para crescimento contínuo,
uma vez que o consumo per capita
ainda é baixíssimo se comparado a
mercados consolidados. Sabemos, no
entanto, que o volume ainda é pequeno
e que, à exceção do Japão, predominam
os néctares e refrescos. Outro desafio é
mudar a percepção dos consumidores
de que o suco é mais do que uma bebida refrescante – ele também é nutritivo
e proporciona uma série de benefícios
à saúde. Hoje, os consumidores asiáticos – especialmente os japoneses,
que cada vez tomam menos suco de
laranja — entendem que somente os
sucos de vegetais têm essas qualidades.
Se eles soubessem que poderiam ter os
mesmos benefícios com um sabor infinitamente melhor como o da laranja,
certamente mudariam de ideia. O que
dizer, então, dos chineses, que atribuem aos seus produtos tradicionais
propriedades quase “mágicas”, consumindo quantidades enormes de suco
de pera e esquecendo que a laranja vem
da China?
Os países árabes também são um
mercado a se observar: população jovem, renda disponível, hábitos alimentares que não incluem o consumo de
bebidas alcoólicas por motivos religiosos. No entanto, o consumo de bebidas
ricas em açúcares é visto com reservas,
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 47
internacional
DEBATE:
(da esq. para a dir.) Vincent
Prolongeau, da Pepsico; Thomas
Hinderer, chairman da Eckes Granini;
Bill Kelly, da Coca-Cola; Frank von
Ooijen, da Friesland Campina; e Richard
Hall, da Zenith International
já que a obesidade e a incidência de
doenças como o diabetes têm aumentado como consequência de uma dieta
rica em açúcares. Além disso, assim
como na Europa, falar “bem” dos sucos
é tarefa difícil: o governo pega pesado
nas regulamentações sobre o assunto.
A boa notícia é que pelo menos um
dos nossos concorrentes – o energético – não pode ser propagandeado nem
vendido em uma série de estabelecimentos. Assim como acontece no Brasil com os cigarros, os fabricantes de
energéticos precisam incluir no rótulo
frases informando que é um produto
transforma rapidamente em “verdade”.
Como exemplo, citou a afirmação do
cientista Robert Lustig, que disse que
“sucos são piores que refrigerantes”
e que estariam contribuindo para o
aumento da obesidade. Não é o que
os estudos mostram, já que na grande
maioria dos casos não é possível estabelecer relação direta entre consumo
de suco e ganho de peso. Além disso,
os níveis de obesidade sobem ao mesmo tempo que o consumo de suco cai.
Como criar uma correlação? Seria o
consumo de água responsável pelo aumento de obesidade, já que o segmento
de água engarrafada também
não pára de crescer?
Se pensarmos no copo
meio cheio, olhamos para o
futuro e lembramos que até
2030 o mundo vai precisar de
50% mais alimentos. A população mundial vai crescer – e
muito. Como garantir que o
suco de laranja seja relevante para as pessoas? Com a
quantidade de novas bebidas e alimentos lançados e com as mudanças dramáticas no estilo de vida das pessoas
como convenceremos os consumidores
da necessidade de consumirem suco?
As conclusões de quem conseguiu
transmitir sua mensagem são duas: é
preciso ser relevante para o consumidor e mostrar isso com uma narrativa
bem construída. Não é somente o suco
de laranja que sofre com a quantidade
de alternativas e com os desafios no se-
PROJETO DE MARKETING
DESENVOLVIDO PELA
CITRUSBR, EM PARCERIA
COM A AIJN, FOI UM DOS
DESTAQUES DO ENCONTRO
prejudicial à saúde.
Não há dúvidas que nossa vida seria mais fácil se o mesmo rigor aplicado à comunicação sobre os benefícios
dos sucos fosse aplicado para a comunicação dos seus “malefícios”. Infelizmente não há filtro para a publicação
de inverdades na imprensa e nas redes
sociais. Como mostrou o professor
Fred Brouns, uma inverdade publicada
na imprensa mundial e compartilhada
milhões de vezes nas redes sociais se
48 | CITRUSBR Fevereiro 2015
VOZES DO MERCADO:
Mark Wallace, da Coca-Cola;
Cristopher Lazaro, da TetraPak; e
Zein Abdalla, da PepsiCo (da esq.
para a dir). Palestrantes apontaram
desafios para o setor
tor produtivo: durante o Juice Summit
vimos uma série de outros exemplos. E
as alternativas não param de aparecer,
não somente no caso de bebidas não
alcoólicas que são concorrentes diretas
do suco, mas também no caso de bebidas alcoólicas e alimentos.
No edição anterior, o destaque
do evento foi para a apresentação da
Concreto – a empresa contratada pela
CitrusBR para realizar um profundo
diagnóstico de mercado e entender
os motivos pelos quais o consumo de
laranja cai tanto em alguns mercados
menos em outros – e o que poderia
ser feito para reverter a situação. Na
época, ficou claro o porquê da queda
de consumo e que se o setor não se
movimentasse para comunicar aos
consumidores o valor do suco, eles
continuariam optando por alternativas
que lhes parecem mais atrativas – porque estão mais bem posicionadas para
competir. A dúvida, obviamente, era:
como fazer?
Nesse ano, a expectativa era de
ouvir a resposta para essa pergunta e
certamente os participantes do Juice
Summit voltaram para casa um pouco
mais animados do que no ano anterior — e com lição de casa para fazer.
ANFITRIÃO
O presidente da Associação Europeia
de Sucos de Frutas (AIJN), Andrew
Biles, abriu as apresentações
O diretor de marketing de sucos da
Coca-Cola, Mark Wallace, apresentou
um resumo do trabalho realizado nos
últimos meses para desenvolver uma
campanha de relações públicas na
Europa com coordenação da AIJN. Na
edição de agosto da revista CitrusBR,
o presidente da AIJN Andrew Biles
concedeu uma entrevista falando sobre
o projeto, que contou com a CitrusBR
como patrocinadora integral em sua
primeira etapa.
A ideia é formatar um projeto paneuropeu, mas inicialmente com foco
em alguns mercados piloto segundo
critérios definidos pelo conselho diretor formado de especialistas de marketing das principais marcas europeias.
A coordenação do projeto deve ficar a
cargo da associação europeia, mas sua
execução contará com o apoio das associações de suco locais, uma vez que a
estratégia do projeto prevê a interação
com a comunidade científica e com
comunicadores da área de
nutrição.
Esse é um trabalho
complexo e que envolve
uma série de etapas e atividades: uma delas é a identificação de
todos os atores que falam sobre sucos
em cada mercado e qual o posicionamento de cada um (neutro, positivo ou
negativo). Outra é elaborar um mapa
de mensagens proativas e reativas sobre sucos, com evidências científicas
para comprovar cada argumento.
Após a apresentação do projeto,
aconteceu uma discussão com as
principais lideranças da indústria de
sucos na Europa: Vincent Prolongeau,
vice-presidente sênior de frutas e vegetais da PepsiCo; Thomas Hinderer,
chairman do conselho da Eckes Granini; Bill Kelly, vice-presidente global de
sucos da Coca-Cola, Frank von Ooijen;
diretor de comunicação da Friesland
Campina; e Richard Hall, chairman da
Zenith International.
Todos os comentaristas elogiaram
a iniciativa da AIJN e da CitrusBR de
dar o primeiro passo para o início de
uma campanha, deixaram claro que
esse é um trabalho essencial para o
futuro do setor – e que deve contar
também com o apoio de
todas as marcas e atores
envolvidos. O suco é um
produto cheio de atributos
positivos, que não são comunicados devidamente
– ao mesmo tempo que
é atacado com uma série
de argumentos em sua
maioria equivocados. Mais
do que reconhecer a necessidade de
agir, ficou claro que é necessário agir o
quanto antes.
Tudo ia muito bem até alguém na
plateia fez uma provocação: “Vocês
acham que podemos continuar fingindo que o suco não engorda? Temos que
assumir nossas fraquezas se quisermos
ter essa discussão com os consumidores”. Como disse o professor Fred
Brouns, a questão é a quantidade.
Qualquer coisa em grandes quantidades, faz mal. Outro participante
questionou: “Que tal para o próximo
ano convidarmos outros participantes
da cadeia? Não estou vendo todos aqui,
na plateia”...
A julgar pelos aplausos, o próximo
Juice Summit vai precisar de um espaço maior. Se está interessado, anote na
agenda: ele será nos dias 7 e 8 de outubro de 2015, novamente em Antuérpia,
Bélgica. Quem sabe em um futuro próximo o nosso setor não esteja comemorando mais um ano bom, assim como
os vendedores de diamantes?
*Diretora de assuntos
internacionais da CitrusBR
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 49
finanças
Quanto vale a
Bolsa
Veja a atualização dos preços médios na
Bolsa de Nova York, nos últimos 21 anos
e entenda a forma correta de transformar
dólar por libra de sólido solúvel em dólar
por tonelada de FCOJ
Acompanhar o sobe e desce da
Bolsa de Nova York é um elemento
essencial para quem atua na cadeia
citrícola. Afinal, trata-se de uma
importante referência das cotações
do suco de laranja. Seguindo com o
objetivo de tornar esse acompanhamento mais claro, a revista CitrusBR
traz a atualização do histórico, ano
a ano, dos preços médios mensais
do fechamento diário das cotações
do suco de laranja (FCOJ), das últimas 20 safras na Bolsa de Nova
York. Nesta edição, trazemos o
levantamento referente à safra
2014/2015, entre julho e deMédia da cotação da Bolsa
de Nova York em dólar por
libra de sólido solúvel em
dezembro de 2014
Média da cotação da Bolsa
de Nova York em dólar por
libra de sólido solúvel em
dezembro de 2014, livre de
imposto de importação norteamericano
Quantidade de sólido solúvel
existente em 1 tonelada
de FCOJ 66º Brix
50 | CITRUSBR Fevereiro 2015
zembro do ano passado.
Mais uma vez é preciso chamar
atenção do leitor para a necessidade
de, na hora de analisar esses números,
levar em conta os impostos pagos ao
governo americano. Caso contrário,
a ordem de grandeza dos dados pode
ficar distorcida. O suco brasileiro paga
US$ 415 por tonelada para acessar
o mercado dos Estados Unidos. Por
exemplo, a média da cotação da Bolsa
de Nova York em dólar por tonelada
US$ 1 , 57
– U S$
77
de FCOJ 66º Brix em dezembro de
2014, livre de imposto de importação norte-americano, ficou em US$
1.700,31. Para se chegar a esse valor,
conforme explica o quadro abaixo, é
necessário subtrair da média da cotação da Bolsa de Nova York em dólar
por sólido solúvel referente a essa data
o valor de US$ 0,2854, pertencente ao
desconto do imposto de importação
norte-americano em dólar por libra de
sólido solúvel/equivalente a US$ 415
por tonelada de FCOJ 66º Brix.
O resultado dessa conta será a
média da cotação da Bolsa de Nova
York em dólar por libra de sólido solúvel em dezembro de 2014, livre da
imposto. Para se chegar à média de
cotação por tonelada de FCOJ, basta
multiplicar por 1.455, que é a quantidade de sólido solúvel existente em
uma tonelada de FCOJ 66º Brix.
Dessa forma, fazendo a conversão corretamente e levando em conta os impostos pagos pelo produto
brasileiro no mercado americano, é
possível ter uma visão real do mercado e, com base nessas informações, ter análises mais precisas
sobre as exportações brasileiras
de suco de laranja.
0, 285 4
9
= U S$ 1 , 2
23
x 1 .455
0, 30
8
8
.
1
$
S
=U
Desconto do Imposto
de Importação norteamericano em dólar por
libra de sólido solúvel/
equivalente a US$ 415
por tonelada
de FCOJ 66º Brix
Média da cotação da Bolsa
de Nova York em dólar
por tonelada de FCOJ 66º
Brix em dezembro de
2014, livre de Imposto
de Importação norteamericano
Preço médio mensal do fechamento diário das cotações do
FCOJ na Bolsa de Nova York
Safra
Dólares por Libra de Sólido Solúvel (Incluso Imposto de Importação Americano e Taxas Anti-Dumping)
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Mai.
Média
da Safra
Jun.
Média do
Ano Calendário
1994-95
$0,900
$0,941
$0,903
$1,001
$1,090
$1,112
$1,033
$1,027
$1,010
$1,070
$1,047
$1,009
$1,012
1994
$1,008
1995-96
$0,978
$1,050
$1,116
$1,160
$1,233
$1,209
$1,179
$1,242
$1,328
$1,321
$1,232
$1,222
$1,189
1995
$1,078
1996-97
$1,164
$1,172
$1,101
$1,115
$1,016
$0,887
$0,836
$0,804
$0,830
$0,751
$0,786
$0,760
$0,935
1996
$1,165
1997-98
$0,749
$0,722
$0,700
$0,698
$0,780
$0,841
$0,910
$0,977
$1,059
$0,971
$1,100
$1,037
$0,879
1997
$0,771
1998-99
$1,040
$1,102
$1,082
$1,152
$1,177
$1,086
$0,997
$0,930
$0,835
$0,845
$0,854
$0,892
$0,999
1998
$1,058
1999-00 $0,802
$0,926
$0,930
$0,885
$0,949
$0,932
$0,844
$0,847
$0,848
$0,825
$0,818
$0,844
$0,871
1999
$0,898
2000-01
$0,797
$0,741
$0,714
$0,700
$0,740
$0,804
$0,760
$0,757
$0,748
$0,743
$0,783
$0,770
$0,755
2000
$0,793
2001-02
$0,814
$0,777
$0,808
$0,853
$0,938
$0,917
$0,894
$0,896
$0,927
$0,896
$0,912
$0,914
$0,879
2001
$0,806
2002-03
$0,954
$1,009
$1,003
$0,951
$1,005
$0,974
$0,920
$0,871
$0,847
$0,855
$0,857
$0,853
$0,925
2002
$0,945
2003-04
$0,813
$0,787
$0,772
$0,708
$0,701
$0,670
$0,630
$0,610
$0,612
$0,595
$0,561
$0,577
$0,669
2003
$0,804
2004-05 $0,667
$0,673
$0,800
$0,825
$0,750
$0,835
$0,821
$0,850
$0,948
$0,953
$0,937
$0,962
$0,835
2004
$0,678
2005-06 $0,999
$0,916
$0,957
$1,080
$1,200
$1,251
$1,231
$1,302
$1,399
$1,448
$1,551
$1,582
$1,243
2005
$0,990
2006-07
$1,630
$1,775
$1,748
$1,846
$1,977
$2,012
$2,003
$1,956
$2,000
$1,717
$1,650
$1,384
$1,808
2006
$1,625
2007-08
$1,331
$1,296
$1,251
$1,425
$1,364
$1,444
$1,369
$1,282
$1,188
$1,157
$1,123
$1,120
$1,279
2007
$1,568
2008-09
$1,216
$1,036
$0,948
$0,814
$0,798
$0,738
$0,744
$0,693
$0,737
$0,806
$0,907
$0,820
$0,855
2008
$1,066
2009-10
$0,937
$0,978
$0,936
$1,080
$1,133
$1,288
$1,375
$1,374
$1,463
$1,331
$1,403
$1,411
$1,226
2009
$0,921
2010-11
$1,435
$1,389
$1,503
$1,507
$1,565
$1,632
$1,755
$1,734
$1,681
$1,689
$1,801
$1,880
$1,631
2010
$1,449
2011-12
$1,981
$1,746
$1,636
$1,700
$1,799
$1,702
$1,977
$1,904
$1,819
$1,492
$1,144
$1,161
$1,672
2011
$1,759
2012-13
$1,183
$1,220
$1,262
$1,125
$1,158
$1,304
$1,132
$1,252
$1,340
$1,439
$1,467
$1,438
$1,277
2012
$1,396
2013-14
$1,409
$1,364
$1,317
$1,231
$1,335
$1,399
$1,424
$1,457
$1,528
$1,601
$1,579
$1,578
$1,435
2013
$1,343
2014-15
$1,480
$1,452
$1,458
$1,384
$1,361
$1,454
$1,432
2014
$1,480
Safra
Dólares por Tonelada de FCOJ 66 Brix (Livre de Imposto de Importação Americano e Taxas Anti-Dumping)
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Mai.
Jun.
Média
da Safra
Média do
Ano Calendário
1994-95
$820
$880
$824
$968
$1.097
$1.129
$1.014
$1.005
$980
$1.068
$1.034
$979
$983
1994
$978
1995-96
$947
$1.051
$1.147
$1.211
$1.317
$1.283
$1.239
$1.330
$1.455
$1.445
$1.316
$1.301
$1.254
1995
$1.093
1996-97
$1.230
$1.241
$1.139
$1.158
$1.014
$827
$752
$705
$743
$629
$680
$641
$897
1996
$1.231
1997-98
$638
$599
$567
$564
$684
$772
$872
$969
$1.090
$961
$1.148
$1.058
$827
1997
$671
1998-99
$1.074
$1.164
$1.135
$1.238
$1.274
$1.141
$1.011
$914
$776
$790
$804
$859
$1.015
1998
$1.100
1999-00
$740
$920
$926
$862
$954
$929
$801
$805
$808
$774
$763
$802
$840
1999
$880
2000-01
$739
$657
$619
$599
$656
$750
$686
$681
$668
$660
$719
$700
$678
2000
$734
2001-02
$763
$710
$755
$820
$944
$913
$881
$884
$928
$883
$906
$910
$858
2001
$752
2002-03
$968
$1.048
$1.039
$964
$1.042
$996
$919
$847
$812
$824
$827
$821
$926
2002
$954
2003-04
$763
$724
$702
$609
$600
$555
$496
$467
$470
$445
$396
$419
$554
2003
$750
2004-05
$551
$558
$744
$780
$671
$794
$774
$817
$960
$966
$943
$980
$795
2004
$566
2005-06
$1.033
$885
$943
$1.117
$1.285
$1.357
$1.329
$1.430
$1.567
$1.636
$1.781
$1.825
$1.349
2005
$1.005
2006-07
$1.893
$2.097
$2.059
$2.198
$2.383
$2.432
$2.420
$2.353
$2.415
$2.016
$1.921
$1.545
$2.144
2006
$1.886
2007-08
$1.471
$1.421
$1.357
$1.604
$1.518
$1.630
$1.525
$1.402
$1.269
$1.226
$1.177
$1.173
$1.398
2007
$1.806
2008-09
$1.309
$1.054
$930
$741
$719
$634
$642
$570
$633
$729
$873
$749
$799
2008
$1.097
2009-10
$914
$972
$913
$1.116
$1.191
$1.411
$1.532
$1.531
$1.657
$1.471
$1.572
$1.583
$1.322
2009
$893
2010-11
$1.618
$1.552
$1.713
$1.719
$1.801
$1.895
$2.069
$2.040
$2.026
$2.037
$2.200
$2.315
$1.915
2010
$1.637
$2.128
2011-12
$2.461
$2.121
$1.961
$2.053
$2.197
$2.056
$2.456
$2.350
$2.227
$1.750
$1.244
$1.269
$2.012
2011
2012-13
$1.305
$1.359
$1.420
$1.222
$1.269
$1.482
$1.232
$1.406
$1.534
$1.678
$1.718
$1.676
$1.442
2012
$1.615
2013-14
$1.634
$1.568
$1.500
$1.376
$1.526
$1.620
$1.656
$1.705
$1.807
$1.914
$1.881
$1.880
$1.672
2013
$1.525
2014-15
$1.738
$1.697
$1.705
$1.598
$1.565
$1.700
$1.667
2014
$1.737
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 51
mercado
| por Folha de S. Paulo
HORA DO
CHÁ
COM ALTA DE 6% AO ANO NO CONSUMO
GLOBAL, BEBIDA AVANÇA SOBRE OS ÍCONES
NACIONAIS CAFÉ E SUCO DE LARANJA
Dois ícones das bebidas brasileiras, o café e o suco de laranja, estão
sofrendo forte concorrência de novas
bebidas, tanto no mercado interno
como no externo.
Isotônicos, energéticos, achocolatados, água de coco, água com
sabores, sucos de multifrutas e água
normal estão nessa lista.
Um dos destaques, no entanto, é
o tradicional chá. Enquanto o consumo mundial dessa bebida cresce
6% ao ano, o de café tem evolução de
apenas 2%. Já a demanda mundial
por suco de laranja recua 1% ao ano.
Dois motivos levam a essa perda
de participação dos dois tradicionais
produtos brasileiros. Primeiro, a propaganda contra componentes considerados não benéficos à saúde nesses
produtos —principalmente contra as
calorias do suco—, sem que houvesse
um destaque no lado positivo deles.
Em segundo lugar, o setor de bebidas evoluiu muito. Essa evolução
trouxe inovações em diversas áreas,
enquanto café e suco de laranja demoraram para reagir.
52 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Ross Colbert, do departamento
de bebidas do Rabobank International, diz que há um aumento de consumo de café nos países emergentes,
mas a bebida ainda está bem distante
do consumo de chá nos países asiáticos. Já nos países industrializados,
o chá passa a ser uma nova opção
como bebida saudável.
Colbert aponta que o chá ainda é
pouco competitivo na América Latina. Em média, os consumidores tomam 28 xícaras por ano, bem abaixo
das 373 de café.
Na Ásia, no entanto, o café tem
um longo caminho a percorrer para
disputar com o chá. Os asiáticos consomem, em média, 187 xicaras de chá
por ano e só 27 de café.
Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), diz que
desde 1997 a indústria de café percebeu que o chá pode ser um novo
concorrente do café. “É um produto
para ser olhado e não pode ser desprezado”, afirma Herszkowicz. Ele
diz, no entanto, que o crescimento
do chá, no caso do Brasil, se dá sobre uma base menor de consumo,
enquanto a evolução da demanda do
café é mais difícil porque já está em
98% dos lares brasileiros.
AGILIDADE A favor do café, Cobert diz que
é mais fácil os consumidores de chá
mudarem para o café do que ocorrer
o contrário. Mas Herszkowicz afirma
que a indústria de chá foi mais ágil
do que a de café quando se trata de
inovações, inclusive com produtos
que atraem até os jovens.
NA ÁSIA, ONDE ESTÃO AS
PRINCIPAIS PLANTAÇÕES DA
ERVA, O CONSUMO PER CAPITA É
DE 187 XÍCARAS POR ANO,
CONTRA 27 DE CAFÉ
O setor acrescentou sabores,
novas opções de consumo —como
o produto gelado— e novas embalagens. Inovação e demanda por
novas bebidas colocaram também as
principais multinacionais do setor de
alimentos no mercado de bebidas.
O setor de café está reagindo, e a
oferta da bebida em monodoses (doses únicas), que cresce rapidamente, é
uma resposta, diz o diretor-executivo
da Abic. Ibiapaba Netto, diretorexecutivo do CitrusBR, entidade que
congrega produtores e exportadores
de suco de laranja, concorda com
Herszkowicz e diz que um dos pontos
de avanço das indústrias de bebidas é
a inovação. E o chá conseguiu inovar.
Além disso, o chá está dentro de
um dos segmentos que mais crescem entre as bebidas, o de água. O
chá é uma dose de água acrescida
da matéria-prima com sabor. Como
tendência, portanto, esse crescimento faz sentido. E a disponibilidade
do produto tanto quente como frio é
mais um atrativo para o consumidor,
segundo Netto.
O que os setores de suco e de café
não podem permitir, no entanto, é
que essas duas bebidas virem um
subproduto de outras categorias. Suco e café devem se manter como
bebidas tradicionalmente conhecidas, segundo ele. Uma das saídas
para que isso continue a ocorrer é a
colocação de produtos de qualidade
no mercado. E isso as indústrias vêm
fazendo, diz.
Texto publicado originalmente
em 6/12/14, na coluna Vaivém,
do jornalista Mauro Zafalon, no
jornal Folha de S. Paulo.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 53
tecnologia
| por Alécia Pontes
Esse cano
pode salvar
o seu
pomar
Depois de sofrer com a seca,
citricultores investem em
sistemas de irrigação. Modelo
pode trazer bons resultados,
mas sua implantação exige
planejamento
Depois de uma das maiores secas de todos os
tempos e das perdas registradas na maior parte dos
pomares de citrus do Estado de São Paulo, não são
poucos os citricultores que passaram a observar o
uso de irrigação como uma alternativa interessante
para minimizar os riscos climáticos em suas propriedades. De acordo com um levantamento da empresa
especializada nesse tipo de equipamento, a Netafim,
a procura por sistemas irrigados aumentou 15% no
último ano. A principal motivação está justamente
no caso de produtores que já detêm a tecnologia e
que conseguiram manter a produtividade média e a
qualidade dos frutos, mesmo com a escassez de chuvas. “A irrigação é sem dúvida uma opção para quem
quer minimizar riscos, mas sua implantação deve
ser bem planejada”, ressalta o gerente comercial e de
contas da Netafim, Marcos Kawasse.
O uso de irrigação vem se disseminando na citricultura desde o ano de 1997 e tem no ganho de produção seu principal atrativo. “Dependendo da região
e do modelo de produção, o ganho de produtividade
54 | CITRUSBR Nononono 2014
GANHO ESTIMADO
80%
DE AUMENTO NA
PRODUTIVIDADE
PARA CHOVER NO SEU POMAR
Veja o que é preciso verificar antes de se optar por um sistema de irrigação
Balanço hídrico
da região
pode chegar a 80%”, revela Kawasse. O
consultor em sistemas de irrigação do
Grupo Técnico de Assistência e Consultoria em Citrus (GTACC), Danilo
Luchiari, também coloca o ganho de
produção como a grande contribuição
do modelo. “Nos últimos anos a área
de citrus reduziu drasticamente em
São Paulo, mas a produtividade aumentou. Claro que o uso de irrigação
não é a única razão para isso, mas sem
dúvida contribuiu muito”, analisa o
consultor, que pondera que a tecnologia ainda tem espaço para crescer.
“Estimamos que um terço da área
plantada com citrus seja irrigada.”
Atualmente o sistema mais utilizado é o gotejamento, por conta do custo
mais baixo e da menor necessidade de água. Mas
há outros equipamentos como o de aspersão que também
podem ser utilizados. “Esse sistema
é usado, principalmente, por produtores de fruta destinada
Adensamento
de plantio
QUANTO CUSTA
Distância e
desnível da
captação de água
até a área irrigada
ao mercado de mesa, por conta da sua
mobilidade. Ele não é fixo, então pode
ser levado para áreas de diferentes
variedades na época em que elas mais
precisam”, explica. “Todo modelo tem
sua vantagem e desvantagem. É preciso
ver qual atende à necessidade especifica do citricultor”.
Segundo, Marcos Kawasse, da
Netafim, para implantar um sistema
de irrigação é preciso planejar bem o
projeto, partindo do custo e analisando se o investimento é viável para a
propriedade. “O custo médio de implantação de um sistema de irrigação
é de R$ 5 mil por hectare.” O primeiro
passo é realizar o balanço hídrico da
região. Pois apenas esse estudo pode
determinar a quantidade de
MARCOS
KAWASE,
NETAFIM
"O sistema é um boa
opção para quem
quer minimizar
os riscos"
R$ 5 MIL
POR HECTARE
água necessária para o projeto. Outros
aspectos a serem observados, segundo
o gerente da Netafim, são o adensamento de plantio, distância e desnível
da captação de água até a área irrigada. Além do nível de automação e
fertirrigação.
Já o consultor do GTACC ressalta que hoje a grande dificuldade em
utilizar a irrigação não está propriamente nos custos, mas sim na parte
burocrática. “Hoje é muito complicado conseguir a outorga para o uso de
água para a irrigação”, diz. A outorga
é a concessão do direito de uso de
recursos hídricos. Luchiari explica
que a lei não permite armazenar água
para irrigação. É preciso usar a água
que fica na superfície das reservas das
fazendas. “O problema é que, com a
seca intensa, essas bacias estão com
seus limites baixos, o que torna o processo de outorga bem difícil. Esse é o
maior impeditivo para a expansão das
áreas irrigadas.”
Marcos Kawase – Netafim
[email protected]
CITRUSBR Nonononon 2014 | 55
benefícios
| por Taciana Bovo
O suco que
bate um
BOLÃO
Estudo feito em parceria pela Escola de Educação
Física da USP de Ribeirão Preto e a Unesp de
Araraquara mostra que o suco de laranja é um
grande aliado para repor as energias e nutrientes
perdidos durante a prática esportiva
Suar a camisa pedalando no parque, correndo de manhã, jogando futebol ou praticando qualquer outro tipo
de esporte faz bem para a mente e para
o corpo. Isso ninguém discute. O que
muitas pessoas não observam é a importância de repor as energias perdidas
durante os exercícios. São vitaminas e
minerais que são perdidos e que precisam ser repostos. É justamente aí que o
suco de laranja entra em campo. Uma
pesquisa desenvolvida pela Escola de
Educação Física da USP de Ribeirão
Preto em parceria com a Unesp de
Araraquara apontou que a bebida é um
excelente repositor energético para o
corpo. Para chegar a essa conclusão, os
pesquisadores fizeram um experimento com um grupo de 30 jogadores da
categoria de base da Ferroviária, tradicional clube de futebol do interior de
São Paulo. De acordo com a professora
da Escola de Educação Física da USP,
56 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Dra. Ellen Freitas, os jogadores perdem
em média 1,2 mil calorias por jogo. E
junto com as calorias o corpo também
acaba eliminando uma série de nutrientes. A ideia do estudo era mostrar
que o suco de laranja poderia ser
uma forma de repor essas
substâncias. “O suco possui características que
nos levaram a acreditar
que ele pode cumprir
essa função de reposição”,
explica.
Durante 60 dias, os
jogadores, com idade entre
18 e 19 anos, ingeriram
um litro de suco de laranja, sendo 500 mililitros
antes do treino e 500
mililitros após a atividade. A cada atividade
física, eles eram submetidos a vários exa-
SARA TERRAZAS SOUZA:
Durante estudo, pesquisadora da
Unesp constatou que os atletas
suplementados com suco de laranja
conseguiram repor até 90% das suas
necessidades energéticas
mes clínicos. “Constatamos que todos
os atletas estavam se alimentando
muito mal e, após o início da pesquisa,
eles registraram um aumento energético, uma diminuição do colesterol total
e também do LDL (colesterol ruim)”,
ressalta a pesquisadora, que revela
ainda que os jovens registraram uma
redução considerável da hemoglobina
glicosilada, evitando assim o risco do
diabetes.
Segundo a nutricionista e mestre
da Unesp de Araraquara Sara Morhy
Terrazas Souza, uma das coordena-
INGESTÃO DO SUCO
AJUDOU OS ATLETAS A
ABSORVEREM MAIS
NUTRIENTES
doras do estudo, a grande vantagem
do suco de laranja é sua rápida absorção pelo organismo, algo importante
quando se fala de reposição de energia.
“Após a suplementação com o suco de
laranja, constatamos que os jogadores atingiram cerca de 90% das suas
necessidades energéticas. Além disso,
os jogadores tiveram um aumento da
vitamina A, de potássio, ácido fólico
e ferro, nutrientes essenciais para o
organismo”, revela a nutricionista, que
também afirma que se surpreendeu
com o aumento da vitamina C, que
chegou a quadruplicar.
Outro dado revelado
pelo estudo foi o aumento
significativo da ferritina,
que significa o aumento da
capacidade do organismo
de armazenar ferro. Na
opinião da doutora Ellen,
esse é um benefício impor-
tante, pois a falta ou baixa quantidade
de ferro pode levar à anemia. “O suco
de laranja seria imprescindível para a
dieta feminina, pois por causa do ciclo
menstrual, existe uma perda considerável de sangue. Por isso é importante
beber suco de laranja e procurar manter uma dieta saudável. Assim teremos
um bom equilíbrio no organismo e
evita-se a anemia”, pondera.
E os benefícios não se restringem
a atletas profissionais ou de alto rendimento. Quem pratica esporte como
recreação também pode optar pelo
suco de laranja como suplemento alimentar. Nesse caso, é preciso adequar
as quantidades da bebida ao nível de
esforço dos exercícios e, consequentemente, ao volume de perda de energia
que ele gera. “No geral, se as pessoas se
habituassem a beber um copo de 300
mililitros de suco de laranja todos os
dias seria perfeito”, afirma Ellen.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 57
legislação
As novas
regras do
suco
A mudança na
legislação de rotulagem
de bebidas e o aumento
do percentual de suco
nos néctares podem
refletir em acréscimo
de demanda por
suco de laranja no
mercado interno
Duas mudanças na legislação brasileira de bebidas
prometem mexer na dinâmica do mercado interno. A
primeira, em vigor desde o dia 12 de dezembro último,
determinou que todas as bebidas à base de sucos de frutas e vegetais devem apresentar em seus rótulos a quantidade de suco presente em suas misturas. A segunda,
que passou a valer no final de janeiro, prevê o aumento
do percentual de suco de laranja nos néctares, passando
de 30% para 40%. A mudança é o resultado de um processo de discussões que começou em meados de 2013,
com participação efetiva da CitrusBR e da Câmara de
Citricultura do Ministério da Agricultura, e representa
58 | CITRUSBR Fevereiro 2015
um passo importante para o fortalecimento do mercado. Isso porque a iniciativa deve refletir em aumento de
consumo da bebida. A expectativa é de que a medida
contribua para melhorar a qualidade do produto vendido ao consumidor. A partir de 31 de janeiro de 2016,
o percentual de suco dos néctares vai passar para 50%.
“Todo mundo ganha com isso, já que a medida é boa,
não vai aumentar tanto a demanda por laranja, mas vai
estreitar a relação de confiança dos consumidores com
o produto e eles saberão exatamente o que estão consumindo”, explica Marco Antônio dos Santos, presidente
da Câmara de Citricultura de Brasília.
Segundo o chefe da divisão de bebidas do Ministério
da Agricultura, Marlos Vicenzi, a proposta de mudança
na rotulagem das bebidas já vinha sendo discutida desde
2010. “O Mapa captou a necessidade dos consumidores
brasileiros por mais informações no rótulo e tomou providências para atender à essa demanda”, explica. Segundo
ele, participaram das discussões os atores envolvidos na
cadeia do agronegócio de bebidas, por meio das consultas
NEM TUDO É SUCO
Com a mudança na legislação, percentual
de suco de fruta em néctares passou dos
30% para 40% em janeiro e para 50% em
janeiro de 2016
O
R E FR E S C
80% a 95%: água, suco
artificial, açúcar, corante,
conservante, aromatizante
5% a 20% de suco de fruta
natural
NÉCTAR
70%: água, suco artificial,
açúcar, corante,
conservante, aromatizante
30% de suco de fruta
natural
SUCO IN
TEGR AL 100% de suco de
fruta natural proibida
a adição de açúcar
e conservantes
A partir de janeiro de 2015
públicas e audiências públicas. “A própria CitrusBR participou de algumas rodadas de discussão."
Com a vigência, os fabricantes de bebidas deverão
obedecer às regras de posicionamento e tamanho das fontes para as informações contidas nos rótulos. De acordo
com Vicenzi, no caso de néctares e sucos tropicais, a mudança será obrigatória a partir de março de 2015. “Com
isso, queremos levar à população informações claras e
precisas sobre o produto que ela está consumindo, reduzindo a assimetria de informações entre os consumidores
e envasadores.”
A fiscalização das normas será feita em três etapas.
Em um primeiro momento todas as fábricas e produtos
devem estar registrados no Mapa. Depois serão efetuados
os registros de produtos, com análise de composição dos
mesmos, adequação dos rótulos aos padrões de identidade e qualidade estipulados pelo Mapa. Em seguida, será
feita a inspeção nas fábricas para avaliar desde condições
de funcionamento, rotulagem, controle de matérias-primas até a análise laboratorial de alguns produtos.
FOTO: PHIL BOORMAN
NÉCTAR
Aumento de 30% para
40% no percentual de
suco de fruta natural
Fonte: Markestrat
O QUE MUDOU
Para as empresas que não cumprirem as exigências
das novas regras, as penalidades incluem advertência,
passando por apreensão dos produtos, interdição do estabelecimento, suspensão dos registros e multa no valor de
R$ 117 mil.
Vicenzi explica que existem iniciativas semelhantes a
essas em outros países, “mas o modelo adotado nacionalmente não seguiu nenhum exemplo em particular, pois
foi construído a partir de discussões internas considerando as especificidades dos produtos envolvidos e a realidade do mercado nacional”.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 59
nononono
tecnologia
O seu TRATOR
Fabricantes correm para se ajustar à nova legislação,
que determina que tratores de baixa potência
também sejam cabinados, e colocar no mercado
máquinas modernas que atendam à lei e às
necessidades dos pequenos produtores
O trator da foto acima, amplamente utilizado no cultivo dos pomares, está com os dias contados. Isso
porque uma nova geração de tratores,
equipados com mais tecnologia e
conforto, deve chegar aos pomares a
partir de 2015. Uma mudança na Instrução Normativa 31, do Ministério
do Trabalho e Emprego, determina
que, a partir do próximo ano, todos
os tratores, inclusive os de menor
60 | CITRUSBR Fevereiro 2015
porte utilizados na citricultura, sejam
cabinados e tenham o mesmo nível
de proteção das máquinas de maior
porte. Diante dessa exigência, as fabricantes de máquinas e implementos
agrícolas trabalham a todo vapor para
desenvolver modelos que atendam às
exigências – tanto da lei quanto dos
citricultores.
Mesmo antes da nova lei, as
companhias já identificavam uma
DE OLHO NO MERCADO
Já no ano passado a John Deere lançou seu primeiro
modelo de trator cabinado de baixa potência
de cara nova
crescente demanda por cabines em
tratores menores, especialmente
nos pomares. “Os produtores estão
dispostos a pagar um pouco mais
em modelos que ofereçam mais
conforto, segurança, precisão e
agilidade”, explica o especialista de
produtos New Holland para citricultura, Rafael Stein. A marca ainda não
lançou um modelo de baixa potência
cabinado, mas o projeto já está no
forno. “Estamos trabalhando em um
RAFAEL STEIN, DA
NEW HOLLAND:
modelos deverão oferecer
mais segurança, precisão e
agilidade aos trabalhos
FOTOS: DIVULGAÇÃO E ERON ZENI
projeto de trator de pequeno porte
cabinado, mas, como envolve muitos
detalhes, ainda não temos uma data
para o lançamento”, explica.
Atenção aos detalhes também é o
foco da John Deere. No ano passado,
a companhia lançou dentro da linha
500, que abrange máquinas de baixa
potência, um trator cabinado. Tratase do modelo 5078E, com potência de
78 cavalos. “Demoramos cinco anos
para desenvolver o projeto e, em média, demoramos 90 dias para entregar
os pedidos aos clientes”, explica o
especialista em marketing e produtos
John Deere, Marcos Balsan.
Os cabinados vêm se tornando
tendência e a procura deve crescer
nas próximas safras. De olho nessa
nova demanda do mercado, a Valtra
também está preparando seus modelos de tratores estreitos cabinados
para a fruticultura. Enquanto não há
data para o lançamento, a companhia foca sua estratégia de vendas na
nova família da Série A Fruteiro, que
inclui produtos cuja potência varia
de 66 a 95 cavalos. Ao todo, a série A
disponibiliza 12 modelos de tratores
estreitos, desenvolvidos especialmente para os pomares.
No caso de pomares com áreas
maiores entre as plantas, alguns modelos cabinados da Série A Geração II
como o A 650, com 66 cavalos; A750,
com 78 cavalos; A850, com 85 cavalos;
e o A950, com 96 cavalos; podem ser
usados pelos citricultores. Segundo o
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 61
tecnologia
Cinto de
segurança
Tratores
devem
ser todos
cabinados
Direção e
assento ajustáveis
EVOLUÇÃO
A partir da mudança na
legislação, as empresas
estão ajustando suas
linhas de tratores. Veja
alguns dos itens que
podem equipar essas
máquinas
Ar-condicionado
Isolamento
acústico
supervisor de marketing de produto tratores
da Valtra, Winston Quintas,
estes modelos apresentam sistema
de injeção com bomba em linha, que
proporciona menor consumo de combustível e baixo custo de manutenção.
“Mas a principal novidade é a versão
com cabine, que foi apresentada com
exclusividade na Agrishow deste ano,
é bastante ampla e atende a todos os
requisitos dos nossos clientes”, explica.
Já a Massey Fergusson aposta
na família de tratores MF 4200 para
atender à nova demanda do setor. Entre eles, destaque para dois modelos
cabinados, o MF 4283 e MF 4290. O
primeiro tem potência de 85 cavalos
62 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Cabine com
piso mais plano
para aumentar a
estabilidade
e o segundo, 95
cavalos. A escolha dos modelos
para o uso nos pomares, no entanto,
depende do espaçamento entre as
árvores de cada propriedade. “Em
algumas áreas onde esse espaço é
menor, o recomendado é o uso de
tratores menores e mais estreitos. Já
em áreas com mais espaço, os dois
modelos se adaptam facilmente”,
explica o coordenador de marketing
produto tratores da Massey Ferguson,
Eder Pinheiro.
Reversor elétrico
ou hidráulico
Mas caso o produtor queira apenas fazer uma adaptação nos tratores
que já possui na fazenda, para se
adequar às novas regras, isso também é possível. O problema é que no
fim das contas, na ponta do lápis, o
investimento total, somado ao preço
já pago pelo trator quando adquirido,
acaba saindo mais caro. “O custo é
geralmente superior. A cabine em um
trator de fábrica custa entre R$ 18 mil
e R$ 20 mil, já a cabine avulsa pode
custar acima de R$ 22 mil”, revela
Balsan, da John Deere.
internacional
Menos suco na
lancheira
Governo britânico adota medidas que restringem consumo
da bebida nas escolas e insere novo e polêmico sistema
de rotulagem de alimentos. Veja como isso pode afetar o
consumo na terra da rainha
No final do ano passado, a marca
de sucos Tropicana, pertencente à
PepsiCo, anunciou uma nova embalagem para o seu suco de laranja
vendido no Reino Unido. A principal
novidade do recipiente estava em seu
tamanho, apenas 150 mililitros do
produto. O que parece apenas mais
um lançamento para diversificar as
vendas, na verdade visa atender os
novos padrões de alimentação escolar para comida e bebida estipulados
pelo governo britânico e que entram
em vigor a partir deste ano. “Nós
estamos comprometidos em oferecer
os produtos nas escolas nos formatos
que atendam às normas e regulamentos do setor”, declarou o diretor da
PepsiCo, Ayman Nasreldin.
A preocupação é que medidas
como essa afetem o consumo de sucos de frutas, que já registra queda.
MONTAGEM SOBRE FOTO DE SHUTERSTOCK
De acordo com o último relatório publicado pela Associação Europeia de
Sucos de Frutas (AIJN), o consumo
dessa bebida no Reino Unido havia
caído 2,22% em 2013.
O padrão de alimentação escolar
é uma espécie de guia nutricional
que determina a porção de cada
nico anunciou um novo e polêmico
sistema de rotulagem de alimentos.
O novo modelo, usa um sistema de
“alerta” de cores semelhante a um
semáforo, para identificar a quantidade de gordura, açúcar, sal e calorias presente em cada produto. Dessa
forma, se o produto possui uma
quantidade alta de algumas dessas
substâncias ela é mostrada com a cor
vermelha. Se a quantidade for média
a cor é amarela e, em caso de quantidades consideradas baixas, a cor é
a verde. O modelo não é obrigatório,
mas grandes marcas e redes varejistas já sinalizaram que devem adotar
o sistema. O problema é que alguns
especialistas temem que o novo mé-
Mudanças Tropicana lançou suco de laranja em
embalagem menor para atender às exigências britânicas
grupo de alimentos na dieta das
crianças. A mudança em relação ao
consumo de frutas, que inclui os sucos naturais, reduziu a porção desse
alimento no cardápio dos alunos. E
essa não é a única medida que pode
refletir no consumo dos sucos.
No ano passado, o governo britâ-
todo cause confusão entre os consumidores e provoque queda nas vendas. A própria União Europeia não
gostou do modelo e pediu explicações
para o governo britânico sobre a nova
medida. Em tempos de consumo em
queda, sem dúvida é mais um desafio
para o suco de laranja.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 63
mercado
Na medida da
Projeto acelera
pelo interior para
realizar o trabalho de
recenseamento do parque
citrícola de São Paulo e
do Triânguilo Mineiro
Passados pouco mais de três
meses do início dos trabalhos de
coleta de dados, os agentes de
campo que atuam na Pesquisa de
Estimativa de Safra (PES), realizada
pelo Fundecitrus, seguem em ritmo
acelerado, percorrendo os talhões
do cinturão citrícola do Estado de
São Paulo e do Triângulo Mineiro.
O trabalho faz parte de uma das
etapas mais importantes do projeto, que utiliza ainda imagens de
satélites e checagem no campo, cujo
objetivo é fazer o recenseamento de
todo o parque citrícola. Nos últimos
meses, esses agentes, munidos de
GPS e outras ferramentas
que auxiliam na coleta de dados, já
percorreram
64 | CITRUSBR Fevereiro 2015
PES
milhares de propriedades que são
desenhadas sobre fotos de satélite.
“Os primeiros meses e os resultados
já alcançados demonstram o amadurecimento e a compreensão dos
nossos citricultores, o que amplia
nossa confiança no atingimento das
metas nos prazos estabelecidos”,
afirma o presidente do Fundecitrus,
Lourival Mônaco.
De acordo com levantamento
da entidade, no momento o projeto
conta com 43 agentes de pesquisa
que, até o fechamento dessa edição,
já haviam visitado cerca de 4.759
propriedades, em mais de 200 municípios. Ao todo já são aproximadamente 183 mil hectares mapeados.
Levando-se em conta todo o trajeto
de deslocamento entre cidades e
dentro dos talhões das fazendas, os
agentes já percorreram nada menos
do que 316 mil quilômetros. “Os
citricultores estão permitindo a entrada de nossos técnicos, o que tem
sido muito positivo para o bom
43
AGENTES
DE CAMPO
316 MIL
QUILÔMETROS
PERCORRIDOS
183 MIL
HECTARES
CHECADOS
êxito do projeto”, ressalta o coordenador da PES, Vinicus Trombin.
Os trabalhos começaram com 30
técnicos, e depois, mais 13 agentes
foram incorporados à equipe. Com
isso, foi registrado um aumento de
22% na área mapeada, em comparação com as semanas anteriores.
“O processo vai se ajustando pelo
crescimento do envolvimento cada
vez maior dos produtores que respeitam os princípios estabelecidos
de níveis pouco usuais realizados
principalmente pelo setor produtivo,
com potencial de contribuir para
mudança do ambiente negocial da
citricultura”, explica Mônaco.
A expectativa é de que todo esse
levantamento dos dados de campo
seja finalizado até o mês de fevereiro. A partir daí, em março, começa
a contagem das árvores de uma
amostra representativa de todos os
talhões que foram mapeados. “Esta
contagem é um procedimento para
avaliação da aderência do método
e correção de todos os cadastros
mapeados a partir do desvio que
iremos aferir”, diz o coordenador.
Com esse trabalho, será possível obter um retrato dos pomares atualizado em março de 2015. “No mês de
abril iremos fazer a derriça de 2.500
árvores para, então, fazer a previsão
da safra 2015/16."
Para o presidente do Fundecitrus,
com o avanço do trabalho, o projeto
vem se mostrando uma ferramenta
importante para o setor. “É impor-
4.759
PROPRIEDADES
VISITADAS
tante ressaltar a relevância na preservação de uma atividade econômica
geradora de oportunidades de trabalho e valorização econômica dos municípios. Esperamos que, com o andamento positivo, haja envolvimento
dos citricultores em todas as etapas e
que eles sejam fiscalizadores dos conceitos básicos da PES: transparência,
confiabilidade, independência e imparcialidade”, finaliza.
OS CAMINHOS PERCORRIDOS PELA PESQUISA
Municípios em
andamento
Municípios já
finalizados
FOTOS: DIVULGAÇÃO - ILUSTRAÇÃO: PAULO ZILBERMAN
Mapas mostram a evolução
do trabalho dos agentes
de campo até o dia 12
de janeiro de 2015. As
imagens são atualizadas
semanalmente e podem
ser acompanhadas no site
do Fundecitrus
(www.fundecitrus .com.br)
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 65
finanças
O caminho do
dinheiro
Com oferta de crédito
crescente, o que não
faltam são opções
para financiar a
modernização da
fazenda e aumentar a
produtividade
Todo começo de safra é assim:
hora de avaliar os ganhos, verificar
quais serão os investimentos necessários e buscar as melhores opções
de crédito para a próxima temporada. Para fazer esse planejamento, é
fundamental conhecer as opções de
financiamentos disponíveis, não importa se para renovar o maquinário,
investir em infraestrutura ou adquirir
os defensivos para o pomar.
A boa notícia é que os valores
destinados ao financiamento agrícola vêm crescendo a cada nova safra,
acompanhando o crescimento da
produção no campo. Só o Plano Agrícola e Pecuário para a Safra 2014/2015
está disponibilizando R$ 156 bilhões,
valor 14,7% superior ao da safra
passada, de R$ 136 bilhões. Ao todo,
são dez programas, que contemplam
linhas de crédito para pequenos, médios e grandes agricultores.
O economista-chefe da Associação
Nacional das Instituições de Crédito,
66 | CITRUSBR Fevereiro 2015
CRÉDITO PARA
TODOS OS BOLSOS
Saiba quais são os programas de
financiamento mais adequados
para as necessidades da
sua fazenda
Infraestrutura
Linha: Moderinfra
Para que serve: investimentos em
sistemas de irrigação ou ampliação
de estrutura para armazenagem
da produção e maquinário
Limite: R$ 2 milhões para
produtor individual e R$ 6 milhões
para financiamento coletivo
Taxa de juros: 4% a 6% ao ano
Proteção de pomares
Linha: Inovar
Para que serve: investimento em
inovações tecnológicas, especialmente
para proteção de pomares
Limite: R$ 1 milhão para
produtor individual e de até
R$ 3 milhões para ações coletivas
Taxa de juros: 4% ao ano
Armazenagem
Linha: Programa para Construção
e Ampliação de Armazéns (PCA)
Para que serve: projetos
individuais e coletivos
Limite: Não possui limite
Taxa de juros: 4% ao ano
Modernização da frota
Linha: Moderfrota
Para que serve:
financiamento para
quem deseja investir na
modernização da frota
com compra de tratores,
colheitadeiras e outras
máquinas agrícolas
Limite: Sem limite de valor
Taxa de juros:
4,5% a 6% ao ano
FOTOS: ISTOCKPHOTO
Médias propriedades
Linha: Pronamp
Para que serve: Visa estimular a geração de
emprego e renda no campo
Limite: Teto de R$ 385 mil para empreendimentos
individuais e de R$ 20 milhões para ações coletivas
Taxa de juros: 5,5% ao ano
Cooperativas
Linha: Procap Agro
Para que serve: crédito para a
reestruturação de cooperativas
Limite: R$ 40 mil por cooperado e
R$ 60 milhões para capital de giro
Taxa de juros: 6,5% a 7,5% ao ano
Financiamento e Investimento, Nicola
Tingas, explica que os custos das linhas de crédito agrícola são menores
e melhores quando comparados aos
custos das linhas para pessoa jurídica.
“Além disso, por ser majoritariamente
exportador, as condições de financiamentos estão mais atreladas ao próprio
ciclo agrícola do que à economia propriamente dita”, explica.
Bom para o produtor, já que as
taxas de juros variam de 4% a 6,5% ao
ano, dependendo do programa contratado. Carlos Alberto Vianna, chefe do
departamento de suporte a programas
agropecuários da Área de Agropecuá-
DIVERSIDADE DE
LINHAS REQUER
ATENÇÃO NA HORA DE
OPTAR POR
UM FINANCIAMENTO
Modernização
Linha: Moderagro
Para que serve: investimentos
em modernização, incluindo
infraestrutura, recuperação de solo e
compra de defensivos
Limite: até R$ 800 mil para
empreendedor individual e R$ 2,4
milhões para ações coletivas
Taxa de juros: 6,5% ao ano
FONTE: BNDES
Agricultura familiar
Linha: Pronaf
Para que serve: crédito para
investimentos variados, passando
por modernização de estrutura,
ampliação da produtividade e
redução de custos de produção
Limite: R$ 4 mil a R$ 750 mil
Taxa de Juros: 0,5% a 3,5% ao ano
ria e de Inclusão Social (Agris) do BNDES, destaca duas importantes linhas
de crédito para o citricultor: o Inovar e
o Moderagro.
O primeiro deles, lançado há pouco
mais de dois anos, possui uma linha
específica para proteção dos pomares,
ideal para ser usado no combate ao
greening, cancro e outras doenças. “Se
ele quiser melhorar a produtividade
da atividade agrícola, ele pode fazer,
se quiser proteger, ele tem o limite
dobrado, o governo tem o interesse
em restabelecer a produtividade do
campo”, explica Vianna. Os limites
para esse programa vão de R$ 1 milhão para produtor individual a R$ 3
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 67
nononono
milhões para operações coletivas e os
juros anuais são de 4%, com prazo de
pagamento de até dez anos.
Já o Moderagro contempla projetos
de recuperação de solo, compra e uso
de insumos e outros produtos neces-
sários para o manejo dos
pomares. “A busca por
esses dois programas tem
sido bastante grande e vem crescendo
safra após safra”, explica Vianna.
Os financiamentos dos programas
agrícolas do Ministério da Agricultura podem ser contratados em
qualquer banco público ou privado.
Desde junho do ano passado, a Caixa
passou a oferecer linhas de crédito
rural para seus clientes. Segundo o
vice-presidente de Negócios Emergentes da Caixa, Fábio Lenza, a estimava
do banco é de que para a safra 2014/15
sejam contratados cerca de R$ 6 bilhões em financiamentos agrícolas.
No Bradesco, as linhas de crédito
voltadas ao produtor rural têm registrado aumento da demanda nos
últimos anos. Só no primeiro semestre
deste ano, o banco registrou uma carteira de R$ 23,341 bilhões em negócios
na área agrícola. “Esse volume é 32,8%
superior ao mesmo período do ano
passado”, explica Rui Pereira Rosa,
superintendente-executivo da área de
Empréstimos e Financiamentos do
Bradesco. Ele explica ainda que, além
das linhas de repasse do BNDES, o
banco trabalha com as linhas Custeio,
Investimentos e Comercialização, linhas da carteira comercial, cartão de
crédito e diversas outras soluções para
o setor do agronegócio.
PARA MATAR A DÍVIDA
Crédito fácil e imprevistos podem levar produtor a se endividar. Por isso, especialistas dão dicas para evitar
cair em armadilhas financeiras
Embora a oferta de crédito e as opções de financiamento
cresçam a cada safra, em algumas ocasiões, a inadimplência
controlados ou do crédito rural”, pondera a pesquisadora do
Instituto de Economia Agrícola (IEA), Terezinha França.
bate à porta do produtor. Na maior parte das vezes, essa situ-
De acordo com o diretor da área de Empréstimos e
ação é consequência da oscilação de preços no mercado, de
Financiamentos do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, para
problemas na comercialização da fruta com alguma indústria
evitar ficar inadimplente ou contrair mais dívidas, o ideal é que
processadora ou packing house compradores de frutas, do
o produtor faça um planejamento minucioso dos investimen-
efeito especulativo de alguns citricultores ao preferirem o
tos e dos pagamentos. “O ideal é que o produtor rural se disci-
risco do mercado spot do que contratar sua fruta para a safra
pline e tenha uma folga em seu fluxo de caixa para se manter
inteira ou para várias safras com uma determinada indústria.
até a recuperação."
Além disso, a oscilação do preço do suco da fruta no merca-
Mas, se o produtor já está endividado, a melhor saída é
do, problemas com pragas e estiagem prolongada contribuem
negociar diretamente com o banco, segundo explica o
para esse cenário de endividamento.
ex-secretário de Agricultura de São Paulo e conselheiro da
Para resolver a situação, muitas vezes os produtores aca-
Sociedade Rural Brasileira, Antônio Júlio de Queiroz. “O ideal é
bam por contrair novos créditos para sanar dívidas antigas.
conversar com o gerente, pensar em uma renegociação com
Uma prática conhecida como “mata-mata”, que pode trazer
valores que o produtor possa arcar”, afirma Queiroz, que tam-
problemas para o caixa da fazenda, além de ter impedimentos
bém acredita que a ampliação do seguro rural ajudaria o setor.
jurídicos. “A prática pode levá-lo a uma nova situação de
“É preciso criar um seguro inteligente, que não pague só o
inadimplência, principalmente porque ocorre com financia-
que o produtor perdeu, mas pague também a renda, que ele
mentos a taxas de juros mais elevadas do que aquelas a juros
passe aquele período crítico”, explica.
68 | CITRUSBR Fevereiro 2015
ESPECIAL
Consumo de suco na
A l e ma n h a
passado,
presente e
futuro
MAIORES CONSUMIDORES DE SUCO DE LARANJA NA EUROPA, OS ALEMÃES SÃO ALTAMENTE
SENSÍVEIS A AUMENTOS DE PREÇOS E NÃO SE APEGAM A MARCAS DE BEBIDAS. ENTENDA OS
DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES DESSE COMPLEXO GIGANTE
MARCOS FAVA NEVES, VINICIUS GUSTAVO TROMBIN E RAFAEL BORDONAL KALAKI
ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER
Série Consumo de Suco de Laranja
CONHECENDO ASPECTOS
ECONÔMICOS, DEMOGRÁFICOS
E COMPORTAMENTAIS DO
CONSUMIDOR ALEMÃO
70 | CITRUSBR Fevereiro 2015
INTRODUÇÃO E MÉTODO PARA ANÁLISE
nos EUA, para quem fornecemos apenas 18%
DO MERCADO ALEMÃO
do que eles consumiram, sendo o restante
Após nossa viagem aos Estados Unidos na
fornecido pela própria Flórida, México, Cos-
edição passada, estudando este megamer-
ta Rica, dentre outras origens, o continente
cado consumidor de suco de laranja, com
europeu recebeu quase 70% do volume total
quase 730 mil toneladas em 2013, agora de-
de suco de laranja exportado pelo porto de
sembarcamos na Alemanha. Vamos enten-
Santos na safra 2013/2014. Portanto, se nos
der o segundo mais importante país consu-
EUA apenas cerca de 20% do suco é brasilei-
midor no mundo e o maior mercado de suco
ro, na Europa é quase a totalidade.
da Europa. Em 2013, os alemães consumi-
O pano de fundo desta análise é explorar
ram 167 mil toneladas de FCOJ Equivalente
a queda do consumo de suco na Alemanha
a 66° Brix.
e as mensagens que isso traz ao Brasil. Para
Para o Brasil, a Alemanha é muito impor-
atingirmos esta compreensão, nossa sequên-
tante, pois, diferentemente do que acontece
cia nesta revista levará o leitor a entender
primeiramente aspectos econômicos, demo-
O CONSUMIDOR ALEMÃO
gráficos e comportamentais do consumidor
Para maior entendimento do consumidor
alemão. Após esse entendimento, na segun-
alemão, é interessante uma viagem ao pas-
da parte faremos uma abordagem da histó-
sado. A Alemanha foi criada com esse nome
ria da indústria de sucos na Alemanha e rela-
no final do século XIX, quando o chanceler
tos interessantes de cinco casos de sucesso
Otto Von Bismarck articulou a unificação das
destas empresas genuinamente alemãs, que
monarquias germânicas. Pouco tempo de-
desde os primórdios foram e continuam a
pois, e após duas guerras mundiais, o país foi
ser até hoje as mais fortes e tradicionais do
dividido entre o capitalismo e o comunismo,
ramo. Depois, na terceira parte, mostramos
assim permanecendo por todo o período de
o varejo alemão, um dos mais interessantes
guerra fria, com a porção ocidental do país
do mundo pelo seu poder de compra, e como
sob influência dos Estados Unidos e a parte
este afetou a concentração dos envasadores
oriental sob o domínio da extinta União Sovi-
de suco de laranja comprado do Brasil. Final-
ética. Esse longo período vivendo em regimes
mente, na quarta parte, após entendimento
políticos e econômicos tão distintos fez com
pelo leitor destes fundamentos todos, mos-
que diferentes identidades culturais fossem
tramos os preocupantes dados de queda de
ciradas. Com isso, a reunificação, ocorrida em
consumo, que, após a leitura dos fatos, pode-
1989, se tornou um longo processo de reade-
rão ser naturalmente entendidos pelo leitor.
quação e reaprendizado que ainda está em
Por fim, fechamos com mensagens à cadeia
curso no país.
produtiva no Brasil.
ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER
Em relação ao perfil do consumidor ale-
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 71
Série Consumo de Suco de Laranja
mão, nem mesmo as diferenças entre os
ao Brasil após a humilhante derrota de 7x1 no
regimes a oeste e a leste da antiga fronteira
futebol, durante a última Copa do Mundo.
foram capazes de extinguir o racionalismo
O reflexo de tal comportamento pode ser
prático que todo alemão tem no seu DNA.
visto também na relação que o alemão tem
Em outras palavras, o cidadão alemão espera
com os alimentos. Ao contrário dos franceses,
que sua sociedade funcione de forma tão pre-
que tratam os pratos que preparam como arte
cisa quanto a mais perfeita e eficiente máqui-
e que cultuam o momento das refeições qua-
na construída pelo homem. Em função disso,
se como um ritual, o alemão come porque en-
não é difícil identificar o modo de pensar de
tende que é necessário para o funcionamen-
um engenheiro mecânico no jeito com que as
to correto do seu corpo e, por consequência,
pessoas buscam soluções e respostas para
suas decisões de compra são sempre volta-
os mais diversos assuntos. O alemão valoriza
das para a solução de uma equação muito
ordem, controle, regras predefinidas, obedi-
simples: valor nutricional e menor custo. Cos-
ência e respeito à autoridade. Tudo deve ser
tumo dizer que o francês tem alimentação
cuidadosamente planejado e pontualmente
“food for fun” (alimentação para diversão),
executado, já que a previsibilidade é condi-
enquanto que o alemão é o “food for fuel” (ali-
ção essencial para a vida em harmonia. Aliás,
mentação como combustível).
uma triste lembrança ao leitor: falamos muito
Alemães querem comprar comida de
destes princípios alemães como aprendizado
boa qualidade e nutritiva, sempre pagando
TENDÊNCIAS DE CONSUMO NA ALEMANHA E NA EUROPA 2013/2014 IMPORTÂNCIA DO PREÇO NA DECISÃO DE COMPRA
Qual afirmação descreve melhor seu conhecimento sobre os preços dos produtos que você compra regularmente
100%
4
3
3
2
2
24 30 30 28 32
3
6
29 40
7
10
4
6
9
32
46 44 39 42
11
2
9
45 33 42
7
4
3
46 45 44
75%
Não sei os
preços e
não percebo
quando há
alterações
50%
Não sei todos
os preços,
mas percebo
quando alguns
mudam
25%
Eu sei a maioria
dos preços e
sempre noto
quando há
alterações
17
17
15
14
14
14 14
13
9
8
Hungria
Suécia
Búlgaria
Portugal
Holanda
17
Súiça
45
Bélgica
42
França
34
Polônia
Reino Unido
30 51 35
Noruega
Espanha
35 40 35
19 18
Fonte: Nielsen Shopper Trends 2013/2014
72 | CITRUSBR Fevereiro 2015
44 27
Dinamarca
20 19
Aústria
21
49 36
Irlanda
22
Itália
24
Alemanha
0%
46 50 47
Turquia
48 45
Eu sei o preço
de todos os
produtos que
compro
o mínimo possível. Economizar e estocar
regra e cada vez mais o café da manhã em
são tradições da cultura alemã. Os nascidos
família está se restringindo aos finais de se-
no pós-guerra aprenderam com seus pais e
mana, fazendo com que a frequência de con-
avós que os tempos podem se tornar difíceis
sumo de seus itens tradicionais, incluindo o
a qualquer momento e que guardar agora
suco de laranja, diminua. Combinado a isso,
para não faltar no futuro pode fazer toda a
a questão da obesidade também começa a
diferença. Esse ensinamento ainda é repas-
ter influência nos dados de consumo.
sado aos mais jovens, geração após geração.
Vimos no artigo sobre os Estados Uni-
Além disso, há outros dois pontos impor-
dos que as elevadas taxas de obesidade na
tantes referentes às mudanças de hábitos
população adulta são um problema sério
de consumo que merecem ser menciona-
que vem trazendo impacto negativo sobre o
dos. O primeiro diz respeito ao café da ma-
consumo de várias bebidas por lá, incluindo
nhã e o segundo à preocupação das pessoas
os sucos de frutas. Para analisar a questão
com a obesidade e com o consumo excessi-
na Europa, buscamos informações em ou-
vo de açúcar.
tras fontes e, não por acaso, encontramos
Como em praticamente todos os mer-
os mesmos resultados em dados mais atu-
cados que estudamos, o consumidor tem
ais, com o Reino Unido e a Alemanha figu-
menos tempo disponível e mais compromis-
rando entre os países com maior percentual
sos na agenda. A Alemanha não é exceção à
de obesos em suas populações adultas, de
PAÍSES COM MAIORES ÍNDICES DE OBESIDADE E DIABETES EM 2013
Obesidade
Diabetes
45
40
30
25
20
15
10
5
França
Áustria
Malásia
Finlândia
Polônia
Espanha
Turquia
Grécia
Repúplica Checa
Brasil
Canadá
África do Sul
Alemanha
Argentina
Rússia
Reino Unido
Austrália
México
Venezuela
0
US
% população adulta
35
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 73
Série Consumo de Suco de Laranja
acordo com estudo realizado pela consultoria Euromonitor em novembro de 2014. Além
disso, note que a incidência de casos de diabetes nesses países também figura entre as
maiores do mundo.
A mesma pequisa da Euromonitor aponta os impactos que a preocupação com a
obesidade traz para os consumidores, para
a indústria, para os formadores de opinião,
governos e para a indústria de bebidas não
alcoólicas especificamente:
TENDÊNCIAS DO CONSUMIDOR:
Dr. Lustig, a
» A grande incidência de casos de obesi-
comparação
dade, diabetes e de queda de dentes re-
entre açúcar e
lacionados ao consumo de açúcar levam
cigarro e o livro
os consumidores a procurar produtos naturais, mais saudáveis, com menor valor
calórico e reduzida quantidade de açúcar.
relacionando
obesidade,
açúcar com
a indústria de
alimentos
TENDÊNCIAS DAS INDÚSTRIAS:
» Redução do conteúdo de açúcar adicionado em alimentos e bebidas;
» Lançamentos de porções com embalagens menores;
» Desenvolvimento de produtos à base de
stevia e outros adoçantes naturais.
TENDÊNCIAS DOS FORMADORES DE OPINIÃO:
» O estudo destaca o surgimento de grupos
74 | CITRUSBR Fevereiro 2015
“contra açúcar” e de ativistas individuais,
como o pediatra americano Robert Lustig,
que o jornal inglês The Guardian chamou
de “o homem que acredita que o açúcar é
um veneno”.
TENDÊNCIAS DOS GOVERNOS:
» Maior envolvimento em campanhas antiobesidade;
» Criação ou aumento de impostos e banimento das chamadas “junk-foods” de escolas;
» Restrição de propagandas dirigidas às
crianças;
» Mais informação sobre açúcar e calorias nas
embalagens dos produtos industrializados.
Na Alemanha o processo deu resultado
com o crescimento do consumo de refrigerantes diet, que roubaram substancialmente volume de vendas de outras categorias, incluindo os sucos de frutas;
TENDÊNCIAS PARA A INDÚSTRIA DE BEBI-
» Muitos consumidores deixaram de consu-
DAS NÃO ALCOÓLICAS, O ESTUDO APON-
mir bebidas à base de frutas e passaram a
TA AS SEGUINTES CONSEQUÊNCIAS:
dar preferência às águas, aos chás prontos
» Refrigerantes são considerados um dos
para beber e às outras categorias com me-
principais culpados pelo aumento da obe-
nos calorias;
sidade em vários países. Em função disso,
» Os sucos 100% ainda são vistos como al-
Coca-Cola e PepsiCo, além de dar mais
ternativas mais saudáveis, se comparados
tração no marketing de versões diet ou
a refrigerantes e xaropes, mas, por causa
sem caloria, recentemente lançaram ver-
do alto nível de açúcar natural em forma
sões de “média caloria”, que combinam
de frutose, também passaram a ser alvos
Exemplo da
stevia com quantidade menores de açúcar.
da mídia e de ativistas antiaçúcar e, tal
repercussão recente na
mídia alemã
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 75
Série Consumo de Suco de Laranja
como no outro lado do Atlântico, na Euro-
ALGUNS ASPECTOS ECONÔMICOS DA
pa várias notícias desencontradas sobre
ALEMANHA
aspectos de saúde relacionados ao consu-
Em 9 de novembro de 2014, a Alemanha
mo de sucos de frutas também vêm sendo
celebrou o 25° aniversário da queda do muro
veiculadas na mídia, causando impacto di-
de Berlim e, desde sua reunificação, o país
reto no consumo. Mesmo com veiculação
vem se tornando a locomotiva que move a
de artigos que mostrem o aspecto nutri-
economia de toda a Zona do Euro. Para se ter
cional dos sucos, é difícil combater estes
uma idéia do poder que a Alemanha exerce
artigos midiáticos contra o consumo.
sobre o continente, citamos alguns exemplos
elencados pela consultoria Euromonitor:
A combinação desses aspectos culturais
» A Alemanha abriga 24,2% da população
e novas tendências com os desafios da eco-
da Zona do Euro e seus habitantes respon-
nomia atual propiciou a criação de condições
dem por 29,7% do rendimento líquido anu-
de mercado diferenciadas na Alemanha. Um
al do continente.
mercado muito sensível a preço, com ten-
» As exportações alemãs correspondem a
dência à comoditização de praticamente
32% do valor total exportado por todos os
todos os itens oferecidos no varejo e o sur-
» O PIB alemão corresponde a mais de 25%
do em entregar ao consumidor comida mais
do PIB total da Zona do Euro e, apesar da
barata possível. São os chamados “hard discounters”, como o caso da rede Aldi, que será
vista na sessão 3.
76 | CITRUSBR Fevereiro 2015
países da Zona do Euro.
gimento de um canal de vendas especializa-
previsão de menor crescimento em 2014,
ainda espera-se que 53,6% do crescimento projetado para a Europa seja gerado
pela economia alemã.
CRESCIMENTO REAL DO CONSUMO
DAS FAMÍLIAS NOS PAISES
DESENVOLVIDOS DE 2000 A 2013
É verdade que o setor exportador, a baixa
EUA
taxa de desemprego e a saúde das contas
públicas são indicadores de que a economia
Reino Unido
é sólida. Porém, parte dessa solidez foi cons-
França
truída à custa de arrocho salarial. Os dados
mostram que o crescimento dos salários na
Espanha
Alemanha desde 2000 foi de 5% em termos
Alemanha
reais, menor do que o registrado nos outros
Japão
países da Zona do Euro no mesmo período,
de 8,8%.
Itália
Como consequência, podemos citar dois
fatos que colocam a economia alemã em
-5.0
0.0
alerta:
5.0
10.0
15.0
% crescimento
20.0
25.0
» Segundo a Euromonitor, o crescimento
do consumo das famílias alemãs desde
2000 foi de 6,7%, um dos menores dentre
os 176 países estudados pela consultoria.
» Em função do baixo crescimento do mercado doméstico, as empresas alemãs
apostam muitas de suas fichas nas exportações para parceiros na Europa e outros
continentes e aí temos outro problema.
OS 10 PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES ALEMÃS EM 2013
França
Reino Unido
Holanda
Estados Unidos
Áustria
Itália
China
Suíça
Bélgica
Polônia
0.0
20.0
40.0
60.0
80.0
100.0
120.0
140.0
160.0
Em bilhões de dólares
ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 77
Série Consumo de Suco de Laranja
França, Estados Unidos, Reino Unido e
CURVA DE ENVELHESCIMENTO DA
POPULAÇÃO ALEMÃ
2013
Itália estão entre os principais destinos
das exportações alemãs. E esses países,
apesar de apresentarem sinais de uma
2030
retomada na economia, ainda sofrem
Faixa etária
com problemas relacionados à crise eco-
80
nômica de 2008.
70
Outros dois pontos cruciais impactam o
60
desenvolvimento do mercado interno alemão:
50
» O envelhecimento da população e o en-
40
colhimento da força de trabalho. O país
30
tem a mais alta média de idade dentre os
países da Zona do Euro, com 45,3 anos
20
de média em 2013 e estima-se que, em
10
745
596
447
298
149
2030, 27,3% da população terá mais de
65 anos de idade. Com relação à força de
0
`000
149
298
447
596
trabalho, estima-se que faltarão 2,4 mi-
745
DADOS DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS DOS ESTADOS ALEMÃES EM 2013
ESTADOS
POPULAÇÃO TOTAL
Milhões de
Habitantes
Total Alemanha
RENDIMENTO LÍQUIDO ANUAL
Participação no
Total
Bilhões de
Dólares
Participação no
Total
RENDIMENTO LÍQUIDO PER CAPITA
Dólar por
Habitantes
Variação para
Média Nacional
81,8
100%
$2.384
100,0%
$29.150
-
1
Hamburg
1,7
2,1%
$63
2,6%
$36.043
23,6%
2
Bremen
0,7
0,8%
$21
0,9%
$32.221
10,5%
3
Baden-Württemberg
10,6
13,0%
$337
14,1%
$31.723
8,8%
4
Bayern
12,5
15,3%
$391
16,4%
$31.284
7,3%
5
Hessen
6
Nordrhein-Westfalen
7
6,0
7,4%
$184
7,7%
$30.393
4,3%
17,8
21,7%
$536
22,5%
$30.190
3,6%
Saarland
1,0
1.2%
$29
1,2%
$29.702
1,9%
8
Rheinland-Pfalz
4,0
4,9%
$114
4,8%
$28.662
-1,7%
9
Niedersachsen
7,8
9,5%
$22
9,3%
$28.438
-2,4%
10
Schleswig-Holstein
2,8
3,4%
$78
3,3%
$27.711
-4,9%
11
Brandenburg
2,4
3,0%
$61
2,6%
$25.030
-14,1%
12
Sachsen
4,0
4,9%
$99
4,2%
$24.548
-15,8%
13
Berlin
3,4
4,2%
$83
3,5%
$24.221
-16,9%
14
Thüringen
2,2
2,6%
$52
2,2%
$24.137
-17,2%
15
Sachsen-Anhalt
2,2
2,7%
$54
2,3
$23.969
-17,8%
16
Mecklenburg-Vorpommern
2,6
3,2%
$59
2,5%
$22.793
-21,8%
Antiga Alemanha Ocidental
64,9
79,3%
1.976
82,9%
30.429
4,4%
Antiga Alemanha Oriental
16,9
20,7%
409
17,1%
24.153
-17,1%
78 | CITRUSBR Fevereiro 2015
lhões de trabalhadores no país em 2020.
PREVISÃO DO DESENVOLVIMENTO
POPULACIONAL ATÉ 2060
Para suprir esse déficit, são apontadas
três soluções possíveis: maior participação de mulheres no mercado de trabalho,
Em 2060 a proporção de cidadãos com idade superior a 65 anos
será mais que o dobro que a população na faixa de 20 anos
(População em milhões)
79.9
77.4
73.8
69.4
64.7
100%
17.0
17.0
16.0
15.0
16.0
manutenção de trabalhadores em idade
de aposentadoria e a contratação de imigrantes, a maioria proveniente da Turquia
e do Leste Europeu.
» O permanente esforço para reconstru-
75%
ção da antiga Alemanha Oriental, que
somente até 2019 vai consumir algo em
torno de 80 bilhões de euros dos cofres
50%
públicos. O governo enxerga tal medida
60.0
54.0
52.0
51.0
50.0
como necessária, pois a diferença des< 20 anos
25%
sa região com os Estados que no passado formavam a Alemanha Ocidental é
imensa, conforme visto nos indicadores
0%
macroeconômicos e demográficos da
23.0
29.0
32.0
33.0
34.0
2020
2030
2040
2050
2060
20 - 65 anos
> 65 anos
Fonte: Federal Statistical Office of Germany, lower limit of the medium population
PIB ANUAL
Bilhões de
Dólares
PIB PER CAPITA
Participação no
Total
Dólar por
Habitantes
TAXA DE DESEMPREGO
Variação para
Média Nacional
Percentual
Variação para
Média Nacional
$3.615
100,0%
$44.169
-
5,3%
-
$124
3,4%
$71.207
61,2%
7,4%
39,6%
$38
1,0%
$57.227
29,6%
11,1%
109,4%
$533
14,7%
$50.130
13,5%
4,1%
-22,6%
$638
17,7%
$51.042
15,6%
3,8%
-28,3%
$309
8,5%
$51.123
15,7%
5,8%
9,4%
$793
21,9%
$44,656
1,1%
8,3%
56,6%
$42
1,2%
$42.283
-4,3%
7,3%
37,7%
$161
4,5%
$40.405
-8,5%
5,5%
3,8%
30,2%
$312
8,6%
$40.045
-9,3%
6,9%
$104
2,9%
$36.771
-16,8%
6,9%
30,2%
$77
2,1%
$31.547
-28,6%
9,9%
86,8%
$130
3,6%
$32.178
-27,1%
9,4%
77,4%
$139
3,9%
$40.699
-7,9%
11,7%
120,8%
$66
1,8%
$30.772
-30,3%
8,2%
54,7%
$69
1,9%
$30.810
-30,2%
11,2%
111,3%
$79
2,2%
$30.306
-31,4%
11,7%
120,8%
3.054
84,5%
47.033
6,5%
561
15,5%
33.161
-24,9%
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 79
Série Consumo de Suco de Laranja
ALEMANHA REUNIFICADA
Conheça os Estado alemães, suas importantes cidades e a localização
das principais fábricas de bebidas não alcóolicas
Kiel
SCHLESWIG-HOLSTEN
Rostock
Cuxhaven
MECKLENBURG-VORPOMMERN
Schwerin
Hamburg
BREMEN
Dodow
HAMBURG
Bremen
BRANDENBURG
Fallingbostel
Vechta
NIEDEDSACHSEN
R
Neuenkirchen
Hannover
Calvörde
Rinteln
Bessingen
Paderborn
Dortmund
Moers
SACHSEN-ANHALT
Mönchengladbach
Dusseldorf
Erkrath
Colônia
Hennef Sieg
Erftstadt
Bonn R
Schwalmtal
Neuss
Dachwig
RHEINLANDPFALZ
Rötha
Dresden
Erfurt
SACHSEN
THÜRINGEN
Wiesbaden
Mainz
Nieder-Olm
Saarbrücken
Leipzig
HESSEN
R
SAAPLAND
BERLIM
Magdeburg
NORDRHEIN WESTFALEN
R
Darmstadt
Mannheim
Heidelberg
Waibstadt
Öhringer
R
Grünsfeld
Nuremberg
BAYERN
Stuttgart
Berghülen
Erding
BADEN-WÜRTTENBERG
80 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Berlim
Potsdam
Munique
tabela a seguir. Note que todos os números mostram condições muito menos
favoráveis nos Estados que formavam a
Alemanha Oriental. A taxa de desemprego na região, por exemplo, é o dobro da
BERLIM
ORIENTAL
BERLIM
OCIDENTAL
registrada no lado ocidental, o que está
causando um verdadeiro êxodo do leste
para o oeste. Desde a reunificação, a população do território da antiga Alemanha
Oriental diminuiu pela metade. Mais um
MURO
DE BERLIM
sinal do não funcionamento das economias socialistas ou comunistas.
MENSAGENS DA ECONOMIA, DEMOGRAFIA
E CONSUMIDOR
Alemanha Oriental
Um resumo do cenário do mercado alemão:
Alemanha Ocidental
Capital
Cidade
1. Diminuição da população e falta de
mão de obra;
2. Reposições salariais abaixo da média
de outros países europeus;
3. Aumento do número de imigrantes e diferentes hábitos de consumo;
Döhler Group
E
g
Eckes-Granini Group
ST
dental e necessidade de investimentos
vultosos para equilibrá-las;
5. Economia se sustenta nas exporta-
Riha Wesergold Group
R
4. Diferenças entre a parte oriental e oci-
Refresco Group
Stute
ções, que estão difíceis neste momento por causa da crise e ao momento
que
alguns
países,
principalmente
França e Itália, enfrentam.
6. Mercado interno, portanto, estagnado
Niederrhein-Gold
Molkerei Gropper
Wild Group
Valensina
Albi Fruchtsäfte
Sonnländer
e incertezas em relação ao mercado
externo.
Depois destas mensagens, importantes
no processo de construção do raciocínio e do
conteúdo para que o leitor possa entender a
queda no mercado alemão, nas próxima sessão abordaremos a rica história da indústria
de sucos alemã, relatando cinco casos de
sucesso.
Pepsico Deutschland
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 81
Série Consumo de Suco de Laranja
A RICA HISTÓRIA DA
INDÚSTRIA DE SUCOS NA
ALEMANHA
A indústria de envase de sucos de frutas
nos principais países consumidores. Também
na Alemanha tem longa e interessante histó-
foram retiradas de publicações históricas e
ria, da qual destacamos alguns pontos aqui.
relatórios anuais das companhias e de seus
Há notícias do início dessas atividades já no
sites. As imagens usadas a seguir são de domí-
final do século XIX e início do século XX, mas
nio público ou cedidas pelas empresas.
o grande impulso veio com o fim da Segunda
82 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Guerra Mundial, em razão da escassez de ali-
DÖHLER
mentos quando o país trabalhava pela sua re-
Fundada por Lorenz Döhler em 1838 como
construção. Ao longo deste desenvolvimento,
um moinho de especiarias e com sede na
muitos ficaram pelo caminho, e vale destacar
cidade de Erfurt, a Döhler tinha à época um
cinco, empresas, dentre as principais, que de-
portfólio de oito misturas de especiarias
ram contribuição histórica à indústria de sucos
“Spezereien” com sua marca. Em 1892, a em-
alemã e permanecem atuando fortemente
presa foi assumida pela família Gemmer e,
para seu desenvolvimento. Estas informações
em 1924, passou pelo seu primeiro processo
foram conseguidas a partir de entrevistas com
de expansão, com a fundação de duas novas
os envasadores realizadas ao longo dos últi-
fábricas e a introdução das marcas “Döhler
mos anos em que o Markestrat e a Concreto
Pudding”, “Backfein” e “Backstolz”.
Brasil vêm assessorando a CitrusBR com estu-
Em 1948, a Döhler, uma importante forne-
do de consumo de suco e análises de mercado
cedora de alimentos para a parte leste ocu-
Primeiro prédio da
Döhler em Erfut na
Alemanha, em foto de
1834, e a operação da
fábrica em 1892
pada da Alemanha dividida, foi desapropriada. A família Gemmer então se mudou para
o oeste, sendo Frankfurt e Bad Wildungen os
primeiros destinos para o recomeço da pro-
Marcas da Döhler
introduzidas
no mercado de
alimentos da
Alemanha em 1924
dução de aromas e produtos de panificação
para padeiros e confeiteiros, além de aromas
para a indústria de doces e bebidas alcoólicas. Já em 1952, uma nova linha de produção
expande a gama de produtos da empresa
com compostos e aromas à base de frutas
para acompanhar o crescimento dinâmico
ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER - FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 83
Série Consumo de Suco de Laranja
da indústria de refrigerantes na Alemanha.
operações internacionais, com a aquisição da
Desde 1957, a matriz da empresa está
Citrusco N.V. na Bélgica. Em 1997, a Fischer-
localizada na cidade de Darmstadt, na
Döhler foi estabelecida como uma joint ventu-
Alemanha. Naquela época, com cerca de 70
re com a empresa Citrosuco para a produção
colaboradores, geravam vendas em torno de
de compostos e aromas destinados aos mer-
6 milhões de litros de suco processado de la-
cados da América do Sul e Central, processo
ranja naqueles anos.
que deu origem à criação da Dohler América
Para assegurar o fornecimento de maté-
Latina Ltda. Em 2008, a Döhler América
ria-prima para o então crescente mercado de
Latina desvinculou suas operações da fábrica
sucos de frutas, a empresa buscou parcerias
da Citrosuco em Limeira e construiu sua uni-
em diversos países. Em 1982 deu início às suas
dade industrial na mesma cidade, na margem
oposta da rodovia Anhanguera.
Além das instalações em Limeira, a empresa possui fábricas para processamento de fru-
Sede da empresa
em Darmstadt,
no ano de 1957
tas e vegetais na Alemanha, Espanha, Polônia,
Ucrânia, Turquia, Egito e China. No total são 23
fábricas, 48 centros de aplicação de matériaprima, 48 escritórios de venda espalhados
pelo mundo e quase 4 mil colaboradores, que
garantem negócios globais em 130 países.
Mais informações relevantes da empresa e
a linha de produtos e mercado de atuação
podem ser vistas em https://www.doehler.
com/en/home.html
Foto atual da sede da
empresa em Darmstadt,
na Alemanha
Fábrica da Döhler na Rodovia
Anhanguera, em Limeira/SP
84 | CITRUSBR Fevereiro 2015
O Sr. Peter Eckes,
fundador da EckesGranini
ECKES-GRANINI
Em 1857, um bem-sucedido produtor de frutas,
vinicultor e dono de uma frota de 40 cavalos,
Peter Eckes, fundou uma destilaria que produzia licores feitos a partir de restos de frutas e
uvas. Mesmo durante a Primeira e a Segunda
Grande Guerra Mundial, a companhia conseguiu manter estáveis a sua produção e venda
de destilados e, logo após o final da Segunda
Guerra Mundial, entrou no mercado de bebidas concentradas de pós à base de frutas.
A empresa,
na década
de 20
Posteriormente, em 1958, a empresa revolucionou o mercado ao introduzir o primei-
Avenida em Matão,
em homenagem a
Ludwig Eckes, e a
fábrica da Citrosuco
ro suco de laranja pronto para beber, vendido
em garrafas de vidro marrom, posicionando
o produto como fonte de vitamina C, modificando a indústria de bebidas. Sua marca
Hohes C, desde então, se tornou a líder no
mercado alemão de sucos 100%.
Já em 1963, com o sucesso de vendas de
sua marca Hohes C nas farmácias e mercearias
e após repetidos problemas com falta de fornecimento de suco de laranja proveniente da
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 85
Série Consumo de Suco de Laranja
A ECKES-GRANINI NO MAPA
ilustração da presença da empresa , que se tornou a dententora do
mais variado portifólio de sucos de frutas na Europa
ESCANDINÁVIA
(DINAMARCA, SUÉCIA, NORUEGA )
ALEMANHA
BÉLGICA
FRANÇA
ESPANHA
SUÍÇA
ITÁLIA
AUSTRIA
86 | CITRUSBR Fevereiro 2015
FINLÂNDIA
LITUÂNIA
REP. TCHECA
ESLOVÁQUIA
ROMÊNIA
EXPORTS
BULGÁRIA
HUNGRIA
TURQUIA
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 87
Série Consumo de Suco de Laranja
A evolução das
campanhas
de marketing
da Hohes C
Flórida, em função das geadas que assolaram
aquele cinturão citrícola, a já centenária companhia Eckes veio ao Brasil se associar à família Fischer e fundar a Citrosuco Paulista. A companhia se tornou uma das líderes mundiais na
produção de suco de laranja, num movimento
estratégico de integração vertical para trás na
cadeia produtiva de suco de laranja.
ainda deteve 26% das ações da nova Eckes-
Em 1993, após a venda de sua partici-
Granini, que foram finalmente adquiridas pela
pação na Citrosuco para a família Fischer, a
Eckes no final de 2006. A operação transfor-
Eckes-Granini concentrou seus esforços na
mou a empresa na dententora do mais variado
sua expansão internacional no mercado de
portfólio de sucos de frutas na Europa.
bebidas.
Em 1994, a fusão com marca Granini, até
a linha de produtos e mercado de atuação
da Eckes-Granini GmbH como uma empre-
podem ser vistas em
sa independente especializada em bebidas
http://www.eckes-granini.com
à base de frutas. À época da fusão, a Melitta
88 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Mais informações relevantes da empresa e
então pertencente à Melitta, levou à criação
RIHA WESERGOLD
A partir do estímulo de matar sua própria
sede enquanto exercia seu ofício, Richard
Hartinger, que trabalhava em uma oficina de
vidros como soprador, fundou o que hoje é
O início das
operações da
empresa nas
primeiras décadas
do século XX
uma das mais importantes empresas na indústria de sucos de frutas na Europa. A história começa com o processamento de maçãs
cultivadas na região da cidade de Rinteln, em
uma prensa de madeira manual por ele construída. Em 1934, Hartinger começou a produzir
seus refrescos com fins comerciais e surgia
então a “RiHa Wesergold”, nome criado a partir das iniciais de seu fundador.
O ano de 1956 marcou o término da
construção do primeiro prédio da empresa
em Rinteln. Em 1970, a empresa passou a
oferecer refrigerantes carbonatados aproveitando a descoberta de uma fonte constante de água mineral com propriedades
medicinais.
Atualmente o grupo possui e opera três
fábricas na Alemanha, uma na Suíça, uma
na Polônia e uma na Espanha, onde são
produzidos diariamente mais de 7 milhões
Fábrica da
Wesergold em
Rinteln, nas
proximidades
de Hannover,
a maior do grupo
de unidades de sucos de frutas, néctares,
refrescos e águas minerais. Esses produtos
são posteriormente distribuídos também
na França e na Holanda, além dos países já
mencionados.
Mais informações relevantes da empresa e
a linha de produtos e mercado de atuação
podem ser vistas em
http://www.riha.de/languages/gb/site/
unternehmen_gb.html
O portfólio de
produtos da
Wesergold, com
destaque para os
sucos de frutas
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 89
Série Consumo de Suco de Laranja
O patriarca Sr. Ewald Stute, grande lider
condutor da indústria de sucos na Alemanha.
Durante toda sua vida, Stute cultivou uma
relação pessoal com o patriarca da família
Albeicht, donos da Aldi, implementando
o modelo de negócios existente até hoje
determinado pela forte interdependência entre
cada cadeia varejista e seu respectivo envasador
Primeiro prédio
da empresa em
Neuenbeken.
Onde tudo começou
Vista áerea da fábrica em Paderborn, na década
de 1960. O prédio localizado na Abstbrede, 129
hoje abriga a matriz da empresa
STUTE
Desde 1893, Wilhelm Stute comercializava
produtos agrícolas em uma pequena cidade
alemã chamada Neuenbeken. A casa utilizada no início da empresa foi mantida pela
família Stute, que ainda a utiliza como uma
loja de alimentos.
Entre 1934 e 1936 a empresa se estabeleceu em Paderborn e iniciou a produção de
marmeladas, geleias e sucos de frutas, que foi
interrompida em 1945 por causa da destrui-
90 | CITRUSBR Fevereiro 2015
nente europeu.
ção da fábrica na Segunda Guerra Mundial e
Atualmente, com atividades na Europa,
retomada no ano seguinte, após o término do
América do Norte e Austrália e cerca de 1.000
conflito e a da reconstrução das instalações.
colaboradores em suas duas fábricas em
Em 1958, houve a primeira grande ex-
Paderborn, a empresa se tornou uma das
pansão da fábrica situada na rua Abstbrede
principais fabricantes de marcas próprias do
e em 1984 foi lançada a pedra fundamental
varejo em duas categorias, a de doces para o
da construção da megafábrica “Paderborn
café da manhã, que con-
Kuhlhaus”. Na época, se tratava da mais mo-
templa
derna da Europa e que até hoje detém o título
meladas, com-
de maior planta envasadora em todo o conti-
potas e geléias
mar-
WILD COMPANY
O início da empresa se deu em 1931, quando
Rudolf Wild, então um jovem químico, teve a
original ideia de produzir bebidas não alcoólicas utilizando apenas ingredientes naturais,
sem aditivos químicos. Ele insistia que as bebidas deveriam conter apenas ingredientes
naturais, ser saudáveis, de excelente qualidade e ter um sabor fantástico. Naquele tempo,
todos bebiam refrigerantes feitos à base de
aditivos artificiais, que eram mais baratos e
mais fáceis de processar. Wild, contra todo
o criticismo do mercado, manteve-se fiel à
sua ideia original e criou o conceito que guia a
empresa até hoje, tornando-a uma das mais
importantes empresas de sucos e aromas da
Europa e do mundo.
O início da
empresa em
Heidelberg
A segunda fábrica, “Paderborner Kühlhaus”,
com um dos maiores sistemas de geração de
energia solar da Alemanha, responsável pela
produção de grande parte da energia elétrica
consumida na fábrica.
de fruta para marcas próprias do varejo e a de
bebidas não alcoólicas com produtos como
águas, energéticos, isotônicos, sucos de frutas, smoothies, néctares, refrescos e chás.
Com dezenas de linhas que envasam embalagens tipo longa vida, garrafas PET e latas, a Stute é capaz de oferecer produtos em
19 combinações diferentes de embalagens,
A Wild iniciou sua produção importan-
tamanhos e formatos que são diariamente
do laranjas e limões da Sicília, em trens
entregues aos centros de distribuição de su-
que diariamente chegavam à estação de
permercados em toda a Europa por meio de
Eppelheim. Seguindo sua vocação inova-
uma frota de centenas de caminhões.
dora e com o objetivo de alavancar sua estratégia de crescimento global, em 1966,
Mais informações relevantes da empresa e a
fez sua primeira compra de suco de laranja
linha de produtos e mercado de atuação po-
brasileiro produzido e exportado pela en-
dem ser vistas em
tão Suconasa, adquirida naquele ano pela
http://www.stute-foods.com/about-us.html
família Cutrale, se tornando então o pri-
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 91
Série Consumo de Suco de Laranja
Carregamentos diários
de frutas vindos da Sicília
e recepção de limões na
fábrica em Eppelheim
meiro usuário de suco de laranja da Cutrale.
Segundo o próprio fundador, “qualquer ideia
ou negócio que tenha a ver com fruta natural é
algo que devemos checar e avaliar”.
Nos anos 1950, a empresa lançou o primeiro refrigerante alemão sem aditivos artificiais, o Libella. A marca foi introduzida no
mercado em 1951 por meio de um sistema de
envase e distribuição baseado em concessões dadas à indústria de cerveja e atualmente ainda está no mercado com 30 envasadoras licenciadas.
De volta a 1966, o departamento de vendas da empresa apresentou uma embalagem
lizados na produção do Capri-Sonne, produto
vendido em 114 países pela própria Wild ou
por meio de envasadores franqueados.
prateada em forma de triângulo que conquis-
Uma unidade de negócios independente
tou Wild imediatamente. Era a chave para a
da que opera o Capri-Sonne, a Wild Flavors
criação de uma das marcas mais importantes
and Specialty Ingredients, foi vendida à ADM
na indústria global de suco, a Capri-Sonne.
em 2014, numa transação de US$ 3 bilhões,
Depois de solucionar vários problemas com
fornecendo bases de sucos de frutas, aro-
a produção das embalagens e com a linha de
mas e compostos naturais para as indústria
envase que era totalmente nova, o produto
de alimentos e de bebidas de suas 15 unida-
foi lançado em 1969 oferecido nos sabores
des fabris ao redor do mundo.
laranja, limão e maçã. Após seis anos já era a
marca líder no mercado de refrescos à base
Mais informações relevantes da empresa e
de fruta na Alemanha.
a linha de produtos e mercado de atuação
Atualmente, a Wild Company também é
92 | CITRUSBR Fevereiro 2015
podem ser vistas em
proprietária de uma empresa chamada Indag,
http://w w w.stute-foods.com/about-us.
que produz os pouches e a linha de envase uti-
html
Artigo sobre a negociação entre a Wild e a
ADM no The Wall Street Journal
Dessa forma podemos observar um
suas linhas de produtos, marcas, serviços,
pouco da história da indústria de sucos na
embalagens adequadas e criativas, de acordo
Alemanha. Por meio da história dessas cin-
com as constantes alterações dos padrões de
co companhias, o leitor pode entender mais
consumo em seus mercados relevantes.
as origens das empresas envasadoras de
Devem também operacionalizar a dis-
sucos e suas funções. Afinal, elas são as
tribuição terrestre das plantas envasado-
distribuidoras de dezenas de variedades
ras até os centros de distribuição dos vare-
de sucos, néctares, refrescos, aguas, iso-
jistas ou diretamente ao pequeno varejo.
tônicos, refrigerantes, energéticos, dentre
Estabelecer uma política de precificação de
outras centenas de combinações de tipos
seus produtos (no caso das grandes mar-
de embalagem. Na próxima sessão abor-
cas que são minoria) ou suas estratégias de
daremos o que acontece estruturalmente
descontos para conseguirem quantidades
no varejo alemão, que aliado às tendências
maiores de contratos das redes varejistas
macroeconômicas e de consumo, justificam
(no caso dos envasadores de private label
o porque de nos últimos anos ocorrer uma
que são tomadores de preços do elo seguin-
grande concentração na indústria de sucos.
te que detém maior poder de barganha). Ou
Evoluindo o nosso pensamento até as ra-
seja, os envasadores devem ser orientados
zões para a queda de consumo, ao final.
pela demanda e serem provedores e solucio-
É relevante entender que as indústrias de
nadores de problemas ou das demandas de
bebidas tem como funções comprar o suco
seus compradores, sejam eles varejistas ou
concentrado de frutas ou NFC e outros insu-
consumidores finais. E pode-se afirmar com
mos, diluir ou misturar estes insumos e pra-
clareza que sem estes as industrias proces-
ticamente fazer propaganda e marketing de
sadoras e produtoras do suco de laranja no
suas bebidas ao consumidor final.
Montar
Brasil não seriam capazes do sobreviver, pois
canais de distribuição e força de vendas para
o suco de laranja no formato “a granel”, por
toda a sua linha de produtos, no caso das
elas vendido em seus terminais marítimos na
grandes marcas (não dos envasadores de
Holanda e Bélgica, jamais chegaria aos con-
private labels), constantemente redesenhar
sumidores finais.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 93
Série Consumo de Suco de Laranja
94 | CITRUSBR Novembro 2014
O VAREJO ALEMÃO
INDUZINDO À MEGACONSOLIDAÇÃO
DA INDÚSTRIA DE SUCOS
Nas cadeias produtivas tradicionais, o va-
pos de lojas e o principal varejista, por sinal, é
rejo (supermercados, lojas de conveniência,
uma grande rede de supermercados coope-
hotéis e restaurantes) é o elemento final de
rativados chamada Edeka.
ligação com o consumidor. Afinal, é lá que os
Em linha com o que discutimos na pri-
produtos são expostos, comprados e pagos.
meira sessão, da austeridade observada
Em mais de 20 anos de estudo deste assun-
no comportamento do comprador alemão,
to, é inegável o aumento de poder deste elo
observa-se que, no ranking por faturamen-
da cadeia. Seus integrantes viraram gigantes
to total, as empresas de grandes descon-
mundiais, comprando em todos os lugares,
tos (hard discount) Lidl (Schwarz Group) e
com suas marcas, poderio financeiro e de in-
Aldi figuram respectivamente em terceiro
formações. Vamos agora analisar um pouco
e quinto lugar. Porém, quando analisamos
mais a estrutura deste setor e seus impactos
o ranking de vendas de itens alimentícios,
na indústria.
ambas ganham uma posição, figurando respectivamente como segundo e quarto colo-
ESTRUTURA DO VAREJO ALEMÃO:
PRINCIPAIS GRUPOS
O varejo alemão é composto de diversos ti-
ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER
cados no ranking.
Outro interessante aspecto a ser observado no ranking é que ele é dominado por
CITRUSBR Janeiro 2015 | 95
Série Consumo de Suco de Laranja
RANKING DO VAREJO NA ALEMANHA EM 2013
FATURAMENTO EM 2013
VAREJISTA
TOTAL
Bi Dólares
ALIMENTOS
Bi Dólares
Percentual
ÁREA DE VENDA
DEMAIS
Bi Dólares
NO LOJAS
TOTAL
POR LOJA
M2
M2
Percentual
VENDAS
POR M2
1 Edeka
$66,591
$54,037
81%
$12,554
19%
13.762
10.586.392
769
$6.290
2 Rewe Group
$49,174
$31,265
64%
$17,909
36%
8.614
9.178.661
1.066
$5.357
3 Schwarz Group
$45,328
$31,716
70%
$13,612
30%
3.891
5.793.895
1.489
$7.823
4 Metro Group
$39,239
$10,860
28%
$28,379
72%
1.006
5.518.081
5.485
$7.111
5 Aldi
$36,378
$28,360
78%
$8,018
22%
4.246
3.462.104
815
$10.508
6 Otto Group
$13,679
$13,679
100%
1.023
445.390
435
$30.713
7 Amazon
$12, 537
$0,362
3%
$12,176
97%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d
8 Lekkerland
$11,167
$10,301
92%
$0,865
8%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
9 Tengelmann
$10,115
$2,151
21%
$7,964
79%
4.701
4.964.095
1.056
$2.038
10 dm
$7,756
$1,176
15%
$6,580
85%
1.480
849.520
574
$9.130
11 AS Watson
$6,627
$1,522
23%
$5,105
77%
1.826
806.608
442
$8.216
12 IKEA
$6,304
$0,122
2%
$6,182
98%
46
1.325.500
28.815
$4.756
13 E-Square
$6,273
$6,273
100%
6.496
646.770
100
$9.699
14 Globus
$5,813
$2,213
38%
$3,601
62%
132
1.125.300
8.525
$5.166
15 Expert
$5,656
$5,656
100%
461
445.000
965
$12.710
16 McDonald`s
$5,211
$5,211
100%
1.468
n.d.
n.d.
n.d.
17 H&M
$4,781
18 Bartels-Langness
$4,381
19 Euronics
20 C&A
21 Karstadt
$4,183
$0,039
22 Norma
$4,016
23 Bauhaus
$3,652
24 Douglas
$4,781
100%
418
585.500
1.401
$8.166
$2,141
49%
118
416.628
3.531
$10.524
$4,381
$4,381
100%
1.829
448.105
245
$9.777
$4,356
$4.356
100%
512
1.280.000
2.500
$3.403
1%
$4,145
99%
116
1.359.672
11.721
$3.077
$3,206
80%
$0,810
20%
1.289
863.630
670
$4.650
$3,652
100%
128
1.222.144
9.548
$2.989
$3,544
$0,130
4%
$3,414
96%
1.105
382.686
346
$9.261
25 Muller
$3,480
$0,070
2%
$3,410
98%
510
586.500
1.150
$5.934
26 Hornbach
$3,196
$3,196
100%
119
1.173.080
9.858
$2.725
$2,243
51%
27 BP
$2,869
$1.979
69%
$0,890
31%
2.043
204.300
100
$14.043
28 Bunting
$2,800
$1,982
71%
$0,818
29%
844
563.354
667
$4.971
29 Praktiker
$2,686
$2,686
100%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
30 Shell
$2,662
$1,735
65%
$0,927
35%
2.298
101.200
44
$26.306
31 Deichmann
$2,543
$2,543
100%
1.333
666.500
500
$3.816
32 Coop (CH)
$2,166
$1,288
59%
$0,878
41%
44
412.739
9.380
$5.248
33 XXXLutz
$2,021
$2,021
100%
54
561.000
10.389
$3.602
34 eBay
$1,901
$1,901
100%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
35 Esprit
$1,844
$1,844
100%
518
220.668
426
$8.357
36 Dohle
$1,836
$1,102
60%
$0,734
40%
95
281.745
2.966
$6.516
37 Coop (DE)
$1,688
$1,265
75%
$0,423
25%
265
239.740
1.244
$5.121
38 Zalando
$1,619
$1,619
100%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
39 K-Mail Order
$1,584
$1,584
100%
1
4.000
4.000
$396.015
40 Dansk Supermarked
$1,581
$0,334
21%
346
259.500
750
$6.093
96 | CITRUSBR Fevereiro 2015
$1,248
79%
FATURAMENTO EM 2013
VAREJISTA
TOTAL
Bi Dólares
ALIMENTOS
Bi Dólares
$1,180
Percentual
Bi Dólares
NO LOJAS
TOTAL
POR LOJA
M2
M2
Percentual
VENDAS
POR M2
41 Migros
$1,383
$0,204
15%
284
310.844
1.095
$4.450
42 Fressnapf
$1,342
$1,342
100%
836
501.600
600
$2.676
43 Conrad
$1,254
$1,254
100%
25
39.250
1.570
$31.938
44 ExxonMobil
$1,100
$0,342
31%
1.100
88.480
80
$12.432
$0,758
85%
ÁREA DE VENDA
DEMAIS
69%
45 Total
$1,043
$0,719
69%
$0,324
31%
1.000
70.700
71
$14.752
46 QVC
$0,932
$0,012
1%
$0,920
99%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
47 Burger King
$0,907
100%
692
n.d.
n.d.
n.d.
48 TJX
$0,697
$0,697
100%
63
187.299
2.973
$3.721
49 Apple
$0,600
$0,600
100%
12
8.400
700
$71.405
50 Inditex
$0,592
$0,592
100%
104
92.005
885
$6.430
51 Locker
$0,476
$0,476
100%
243
47.165
194
$10.088
52 Futterhaus
$0,443
$0,443
100%
284
227.200
800
$1.950
53 Carphone Warehouse
$0,427
$0,427
100%
195
9.360
48
$45.609
54 Toys `R` Us
$0,414
$0,002
1%
$0,412
100%
63
157.500
2.500
$2.626
55 Staples
$0,399
$0,016
4%
$0,384
96%
59
112.100
1.900
$3.561
56 Decathlon
$0,387
$0,387
100%
21
115.500
5.500
$3.348
57 Game Stop
$0,339
$0,339
100%
208
29.120
140
$11.653
58 Celesio
$0,302
$0,011
4%
$0,291
96%
175
10.500
60
$28.791
59 Subway
$0,284
$0,284
100%
591
n.d.
n.d.
n.d.
60 Primark
$0,217
$0,217
100%
7
35.000
5.000
$6.188
61 Abercrombie & Fitch
$0,215
27
28.000
1.037
$7.684
62 Yum! Brands
$0,171
$0,171
100%
163
n.d.
n.d.
n.d.
63 Office Depot
$0,165
$0,006
4%
$0,159
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
64 Yves Rocher
#0,131
$0,131
100%
98
4.900
50
$26.730
65 Lagardère Services
$0,130
$0,023
17%
$0,108
83%
81
20.925
258
$6.226
66 Starbucks
$0,095
$0,095
100%
161
n.d.
n.d.
n.d.
67 Galeries Lafayette
$0,085
$0,016
19%
$0,069
81%
1
8.000
8.000
$10.664
68 Body Shop (The)
$0,073
$0,073
100%
104
10.400
100
$7.060
69 Fast Retailing
$0,070
$0,70
100%
44
7.050
160
$9.922
70 Coop Danmark (FDB)
$0,068
$0,014
21%
2
3.000
1.500
$22.534
71 Blokker
$0,065
$0,065
100%
86
36.180
421
$1.808
72 Lush
$0,036
$0,036
100%
46
5.000
109
$7.244
73 L`Occitane
$0,036
$0,036
100%
50
4.000
80
$8.909
74 HEMA
$0,026
$0,017
67%
10
4.400
440
$5.896
75 Sally Beauty
$0,026
$0,026
100%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
76 Dixons Retail
$0,020
$0,020
100%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
77 Domino`s Pizza
$0,017
$0,017
100%
23
n.d.
n.d.
n.d.
78 Ahold
$0,011
$0,009
88%
$0,001
12%
5
500
100
$21,243
$0,000
3%
$0,053
$0,009
79%
33%
96%
79 Dunkin` Brands
$0,010
$0,010
97%
46
n.d.
n.d.
n.d.
80 Rakuten
$0,010
$0,010
100%
n.d.
n.d.
n.d.
n.d.
81 SPAR (Austria)
$0,003
$0,003
100%
1
600
600
$4.426
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 97
Série Consumo de Suco de Laranja
empresas alemãs. Diferentemente de ou-
ção do setor, com os cinco primeiros coloca-
tros países, como o Brasil, onde entre os 10
dos sendo responsáveis por mais de 78% das
principais participantes do mercado existem
vendas e com os dez primeiros colocados to-
diversas empresas de capital externo. Isto
talizando impressionantes 89,8% de todo o
mostra a força do varejo alemão e a ligação
mercado de alimentos do país. Isso nos reme-
do alemão com suas redes de origem.
te de volta ao racional da operação varejista
Analisando mais a fundo o ranking de ven-
publicado no trabalho sobre a cadeia citrícola
da de produtos alimentícios na Alemanha, é
de 2010 e que, por permanecer mais atual do
impossível não mencionar a alta concentra-
que nunca, merece ser revisitado agora:
PARTICIPAÇÃO DE MERCADO NA VENDA DE ALIMENTOS NO VAREJO NA
ALEMANHA EM 2013
VAREJISTAS
FATURAMENTO
PART.
Bi Dólares
%
VAREJISTAS
FATURAMENTO
Bi Dólares
PART.
%
26 Subway
$0,284
0,14%
27 Yum! Brands
$0,171
0,09%
28 Douglas
$0,130
0,07%
29 IKEA
$0,122
0,06%
30 Starbucks
$0,095
0,05%
31 Muller
$0,070
0,04%
32 Coop Danmark (FDB)
$0,053
0,03%
33 Karstadt
$0,039
0,02%
34 Lagardère Services
$0,023
0,01%
35 Domino`s Pizza
$0,017
0,01%
36 Galeries Lafayette
$0,016
0,01%
37 Staples
$0,016
0,01%
38 QVC
$0,012
0,01%
39 Celesio
$0,011
0,01%
40 Ahold
$0,009
0,00%
41 HEMA
$0,009
0,00%
42 Office Depot
$0,006
0,00%
43 Toys `R` Us
$0,002
0,00%
44 Dunkin` Brands
$0,0003
0,00%
MERCADO TOTAL
$199,9
100,00%
MERCADO TOTAL
$199,871
100%
1 Edeka
$54,037
27,04%
2 Schwarz Group
$31,716
15,87%
3 Rewe Group
$31,265
15,64%
4 Aldi
$28,360
14,19%
5 Metro Group
$10,860
5,43%
6 Lekkerland
$10,301
5,15%
7 McDonald`s
$5,211
2,61%
8 Norma
$3,206
1,60%
9 Bartels-Langness
$2,243
1,12%
10 Globus
$2,213
1,11%
11 Tengelmann
$2,151
1,08%
12 Bunting
$1,982
0,99%
13 BP
$1,979
0,99%
14 Shell
$1,735
0,87%
15 AS Watson
$1,522
0,76%
16 Coop (CH)
$1,288
0,64%
17 Coop (DE)
$1,265
0,63%
18 Dansk Supermarked
$1,248
0,62%
19 Migros
$1,180
0,59%
20 dm
$1,176
0,59%
Do 1º ao 5º colocado
$156,2
78,17%
21 Dohle
$1,102
0,55%
Do 6º ao 10º colocado
$23,2
11,59%
$179,4
89,76%
22 Burger King
$0,907
0,45%
Sub-Total 10 Maiores
23 ExxonMobil
$0,758
0,38%
Do 11º ao 20º
$15,5
7,77%
24 Total
$0,719
0,36%
Do 21º ao 30º
$4,6
1,01%
25 Amazon
$0,362
0,18%
Total 30 Maiores
$199,6
98,54%
98 | CITRUSBR Fevereiro 2015
RACIONAL DA OPERAÇÃO DO VAREJISTA
"LOOP"DA PRODUTIVIDADE
R
GE
A
1 - Incremento
na eficiência
operacional e
no processo
de compra
GE
RA
2 - Redução
de custos e
despesas
5 - Maior
volume de
vendas
A
G ER
A
G ER
1
4 - Aumento
no fluxo de
consumidores
na loja
GERA
3 - Menores
preços
no varejo
A BUSCA POR EFICIÊNCIA E REDUÇÃO DE CUSTOS
Visando maior faturamento por metro quadrado e maior eficiência operacional, os varejistas
controlam a disponibilidade de espaço para cada
tipo de produto nas gôndolas, dando preferência a
produtos com maior giro de estoque e com maior
margem de lucro.
Além disso, as redes varejistas têm a redução
da quantidade de itens disponíveis na gôndola
como um de seus principais objetivos. A estratégia
reduz os volumes de estoque, reduz a complexidade
do processo de compras e propicia inúmeras vantagens logísticas, já que o varejista ganha em agilidade e diminui o custo da operação como um todo.
A consequência é que as indústrias têm menos espaço de prateleira para expor suas marcas encarecendo ainda mais os chamados slotting fees, que
são as taxas fixas pagas pelos fabricantes para garantir exposição de seus produtos nas gôndolas dos
supermercados.
Outra estratégia para redução de custos e
despesas no varejo é a adoção de marcas próprias, as chamadas private labels ou marcas
brancas. Este tipo de produto está sistematica-
mente ganhando mercado frente às marcas tradicionais, pois, nos países desenvolvidos, oferece
o mesmo padrão de qualidade por menor preço.
Como consequência observam-se fabricantes
de marcas tradicionais exercendo uma enorme
pressão por menores preços em todos os elos da
cadeia, a fim de garantir competitividade de mercado para seus produtos.
Os grandes varejistas possuem altos níveis
de participação das vendas de alimentos, o que
resulta em um enorme poder de negociação com
fornecedores. Com o mesmo objetivo, os varejistas
de pequeno e médio porte têm se organizado em
pool ou organizações de compra e assim conseguem um poder de barganha equivalente ao das
grandes redes como Edeka (Alemanha), Tesco
(Reino Unido), Carrefour (França), Lidl (Alemanha),
Rewe (Alemanha), Leclerc (França), Intermarché
(França), Aldi (Alemanha), Sainsbury (Reino
Unido), System U (França), Asda (Reino Unido),
Casino (França), Morrisons (Reino Unido), Auchan
(França) e Metro (Alemanha) — as 15 maiores redes de varejo de alimentos da Europa.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 99
Série Consumo de Suco de Laranja
Analisando o ciclo da figura, o leitor per-
A expansão se dá em um vitorioso mode-
cebe que, para o varejista alemão, é funda-
lo de negócio baseado em lojas pequenas e
mental comprar bem, negociar bem, e isto
modestas e muito agressivas em matéria de
acaba impactando negativamente em mar-
preços, às vezes vendendo alimento a preços
gens toda a cadeia produtiva
20% a 30% mais baratos que seus principais
concorrentes.
AS LOJAS DE GRANDES DESCONTOS
(HARD DISCOUNT)
O segredo por trás de tamanha agressividade em preços é relativamente fácil de ex-
É Impossível descrever o ambiente do
plicar: uma operação muito barata, com pou-
varejo alemão sem abrir um capítulo à parte
cos funcionários e poucos itens à venda nas
para um segmento que é praticamente um
gôndolas. Boa parte das gôndolas é a própria
fenômeno cultural no país, os hard discoun-
caixa paletizada, vinda diretamente das in-
ters. A venda de alimentos por meio desse
dústrias processadoras de alimentos. As lojas
tipo de varejista vem de longa data. Redes
também dispõem de poucas gôndolas refrige-
como Aldi e Lidl, as principais nesse seg-
radas (apenas 5% da distribuição de sucos de
mento, foram fundadas na primeira década
frutas na Alemanha é feita em cadeia refrige-
do século XX e se expandiram nacional e in-
rada) e quase nada em mão de obra de reposi-
ternacionalmente a partir da década de 60.
tores de estoques nas gôndolas.
Conceito minimalista das redes de varejo Aldi e
Lidl, com lojas pequenas, mercadorias expostas
em pallets, tudo visando a redução de custos
operacionais
100 | CITRUSBR Fevereiro 2015
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Junta-se a isso um eficiente sistema de
distribuição que reduz a necessidade de manutenção de estoques e um enorme poder de
barganha junto a produtores de alimentos e
chega-se à fórmula do sucesso desse modelo de negócio. Veja bem, estamos falando de
poder de barganha junto aos produtores de
alimentos. Acontece que, para completar a
eficiência do modelo, boa parte dos produtos
vendidos é de das marcas próprias do varejo,
as chamadas private labels. Nesse momento,
vale fazermos uma pausa para analisarmos o
fenômeno das marcas próprias do varejo.
O FENÔMENO DAS MARCAS PRÓPRIAS
(PRIVATE LABELS) NA ALEMANHA QUE
SE ESPALHOU POR TODA A EUROPA OCIDENTAL
As marcas próprias, assim conhecidas na
literatura, são as marcas cujos proprietários
são as próprias redes varejistas. O supermercado pode ter a opção de usar seu próprio nome nos produtos ou ter uma marca
diferente, da qual é dono, para utilizar nos
produtos. Temos então produtos com a marca Carrefour ou produtos com a marca Taeq
(neste caso, não usando o nome da rede de
supermercados).
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 101
Série Consumo de Suco de Laranja
Na edição anterior de nossa revista vi-
também por terem presenciado nos últimos
mos que as grandes marcas (Minute Maid e
anos uma drástica queda no consumo de
Simply Orange, da Coca-Cola, e Tropicana e
suco de frutas em geral, viram-se repentina-
Dole, da Pepsi, entre outras) exercem gran-
mente em uma situação de ociosidade fabril
de influência de precificação nas gôndolas
próxima a 50%, em média. Um cenário que
no mercado norte-americano, igualando e
acirrou ainda mais a competição predatória
muitas vezes sobrepondo o poder de bar-
entre os grandes envasadores em busca de
ganha dos varejistas. Porém, não podemos
contratos de envase de bebidas, além de su-
afirmar o mesmo com relação à Alemanha
cos cada vez com menores preços às redes
e outros países europeus, em que redes va-
varejistas e suas marcas próprias.
rejistas dominam o mercado e impõem con-
Para melhor ilustrar a tamanha força
dições comerciais difíceis às várias cadeias
opressora do varejo alemão e consequente
produtivas ao redor do mundo, em função
grau de dificuldade da indústria envasado-
da estratégia de marcas próprias iniciada na
ra, consta nos relatos históricos do setor que
década de 1970.
nem mesmo as detentoras das maiores e
E, para piorar ainda mais as coisas para
mais conhecidas marcas de suco do planeta,
as envasadoras de sucos na Alemanha, por
Coca-Cola e e Pepsi-Cola, conseguiram se
conta de enormes investimentos feitos du-
manter com margens de lucro interessantes
rante o início da década passada em linhas
neste mercado vendendo suco de laranja.
de envase de PET asséptico, de terem mi-
Após muitas tentativas, saíram dos mercados
grado uma parcela substancial de sua pro-
e tentam voltar com suas marcas de sucos ou
dução anteriormente feita em caixinhas de
outras inovações, a exemplo do recém-lança-
papel cartonado tipo Tetra Pak para garra-
do NFC de laranja e maçã em PET asséptico
fas PET, investimentos estes demandados
pela Innocent (de propriedade da Coca-Cola).
pela mudança de hábito dos consumidores e
No livro a Estratégia das Marcas Próprias
FORÇA DAS MARCAS PRÓPRIAS NO VAREJO ALEMÃO
PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE
REFRIGERANTES BASE COLA NO MUNDO
50%
PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE
REFRIGERANTES BASE COLA NA ALEMANHA
50%
47%
40%
40%
30%
30%
20%
20%
10%
38%
36%
10%
5%
0%
0%
Participação
de mercado da
Coca-Cola
102 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Participação de
marcas próprias
do varejo
Participação
de mercado da
Coca-Cola
Participação de
marcas próprias
do varejo
(Private Lable Strategy), publicado pela Har-
cios. A estratégia é simples: retirar espaço
vard Business School, o professor Nirmalya
de gôndola de marcas menores, preencher
Kumar explica que ao longo de quase todo
as prateleiras com as marcas próprias e
século XX as redes varejistas eram relati-
subcontratar a produção de seus produtos
vamente pequenas quando comparadas
junto aos antigos fabricantes das marcas
aos seus principais fornecedores. Isso pos-
que perderam espaço de comercialização e,
sibilitou que as empresas detentoras das
portanto, ficaram com suas fábricas para-
grandes marcas ditassem praticamente
das. Em outras palavras, não compro mais
todas as regras de mercado, passando por
sua marca e, em vez disso, contrato sua
qualidade, inovação, marketing, condições
fábrica para a produção da minha própria
comerciais, etc. As marcas eram tão fortes
marca por um valor unitário menor ao pre-
que forçavam os varejistas a aceitar seus
viamente praticado.
produtos, preços e promoções preestabe-
Em 2014 chega-se ao cúmulo da rede de
lecidas. Aos varejistas era dada a clássica
varejo Lidl excluir produtos da Coca-Cola de
alternativa, “take it or leave it”.
suas gôndolas em resposta a uma disputa
O autor ainda diz que a relação de forças
de preços em que o varejista queria reduzir
entre marcas e varejo começou a mudar na
o preço destes refrigerantes para o consu-
década de 1970, principalmente na Euro-
midor final, mas não conseguia negociar tais
pa. Redes como Ahold (Holanda), Carrefour
descontos frente à Coca-Cola. Na Alemanha,
(França) e Metro (Alemanha) iniciaram um
nem os refrigerantes à base de cola, que no
processo de consolidação e internacionali-
resto mundo são praticamente imunes ao
zação e logo foram seguidos por seus com-
poder das marcas próprias, escapam, como
petidores, aumentando a concentração no
pôde ser visto no quadro da página anterior.
mercado varejista.
Em linha novamente com o que vimos
Com seu crescimento, estas grandes
do comportamento do consumidor alemão
empresas têm maior poder de negociação
na sessão 1, vejam que interessante a con-
e passam a confrontar algumas regras de
cordância dos alemães á frase que preferem
mercado, identificando nas marcas próprias
marcas conhecidas às alternativas baratas
uma estratégia para fugir da pressão altista
(“I prefer branded goods to cheaper alterna-
de preços exercida por diversas marcas ou
tives”). Ou seja, o alemão tem simpatia por
cadeias produtivas e, o mais importante, de
marcas mais baratas e por varejistas de
otimizar as margens de lucro de seus negó-
grandes descontos.
QUEM PREFERE MARCA, QUEM PREFERE PREÇO BAIXO
"Eu prefiro produtos de marca a alternativas mais baratas". O que pensa o alemão:
Concordo Concordo
totalmente
0%
10%
20%
indiferente
30%
40%
50%
Discordo
60%
70%
Discordo
totalmente
80%
90%
100%
Fonte: Euromonitor/AIJN
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 103
Série Consumo de Suco de Laranja
Trazendo a conversa para a cadeia da
O crescimento das vendas de marcas
laranja, no mercado de sucos de frutas não
próprias do varejo no mercado alemão cau-
é diferente. Os gráficos a seguir mostram a
sou e ainda causa grande impacto para a in-
participação das marcas próprias do varejo
dústria de sucos de frutas no país. O principal
nas vendas de sucos de frutas, com desta-
efeito é o desaparecimento/enfraquecimen-
que para o amplo domínio que as redes va-
to de diversas empresas pequenas e médias,
rejistas impõem sobre os mercados de suco
que praticamente perderam suas marcas e
de laranja e de maçã. Observem que no caso
que foram vendidas, fechadas ou se torna-
da laranja 64% do volume vendido de suco
ram ineficientes a ponto de não conseguirem
100% é com a marca própria dos supermer-
competir em condições de igualdade com os
cados, as private labels.
grandes do mercado.
PARTICIPAÇÃO DAS MARCAS DO VAREJO E DA
DISTRIBUIÇÃO EM CADEIA REFRIGERADA NAS VENDAS
DE SUCO 100% EM 2013
TODOS OS SABORES
5%
48%
Gôndola
refrigerada
Marcas
do varejo
95%
52%
Gôndola não
refrigerada
Grandes
marcas
PARTICIPAÇÃO DAS MARCAS DO VAREJO NAS VENDAS
DE SUCO 100% EM 2013
SUCO DE LARANJA 100%
SUCO DE MAÇÃ 100%
36%
Grandes
marcas
64%
Marcas
do varejo
104 | CITRUSBR Fevereiro 2015
75%
Marcas
do varejo
25%
Grandes
marcas
AS MARCAS DO VAREJO NO MERCADO DE BEBIDAS
Redes de supermercado criam suas próprias grifes para conquistar o consumidor
A lógica é simples: a concentração das ven-
diluir seus custos fixos nas cada vez mais aper-
das de suco de frutas em poucos varejistas,
tadas margens impostas pelo varejo ou aque-
com dois terços de todo o volume vendido por
les que têm pequena linha de produtos e tipos
apenas quatro redes (Aldi, Lidl, Edeka e Rewe),
de bebidas e sucos não sobrevivem. O jogo foi,
deu ao varejo enorme poder para buscar for-
é e permanecerá cruel e as marcas próprias
necedores com uma sólida estrutura de cadeia
vieram para aumentar a dificuldade com as
de suprimentos (supply chain), que garanta se-
empresas menores.
gurança alimentar e preços muitos baixos. Isto
gerou necessidade de escala e nesse conceito,
A CONSOLIDAÇÃO NAS EMPRESAS DE
capacidade para envasar grandes volumes em
SUCOS
diferentes tipos de embalagens e capacidade
Na sessão anterior analisamos casos de
para entregar uma gama diferenciada de itens
cinco sobreviventes da indústria de sucos ale-
que deve incluir sucos, águas, refrigerantes,
mã que com muito trabalho e competência
energéticos e outras categorias são atributos
conseguiram por décadas navegar e bata-
fundamentais para o envasador que pretende
lhar nestas águas agitadas e mesmo assim
se manter no mercado, pois fábricas pequenas
fizeram prosperar seus negócios. Mas gran-
que não têm volume grande o suficiente para
de parte das histórias não teve um final feliz.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 105
Série Consumo de Suco de Laranja
A consolidação da indústria de sucos e bebi-
ricamente, a indústria de sucos alemã foi
das em geral, entretanto, não foi apenas con-
desenvolvida utilizando garrafas retorná-
sequência do crescimento na participação de
veis de vidro, como as antigas garrafas de
mercado das marcas próprias, já que outros
refrigerantes no Brasil, e posteriormente em
fatores contribuíram para o processo. Em en-
embalagens longa vida. Fontes da indústria
trevistas com agentes que atuam no mercado
apontam que, ainda no final dos anos 1990,
há tempos, indentificamos outros movimen-
cerca de 80% do volume de suco era ven-
tos que vão desde uma guerra de preços entre
dido nessas embalagens em caixinha de
duas gigantes nos anos 1980 até uma mudan-
papel cartonadas tipo Tetra Pak. A tecnolo-
ça na política pública de reutilização de em-
gia de envase estava disponível para todos
balagens não retornáveis no início dos anos
os fabricantes do mercado, independente-
2000. Vale explicar estas duas.
mente de escala ou situação econômica e os
No final dos anos 1980, a Procter & Gam-
próprios fornecedores do papel cartonado
ble (então proprietária das marcas Punica
da caixinha de suco instalavam suas linhas
e Valensina) e Eckes (ainda antes da fusão
e equipamentos de envase com tanques de
com a Granini) travaram uma acirrada guerra
processo, pasteurizadores e acessórios a
de preços com o objetivo de aumentar a par-
custo zero de investimento ao envasador.
ticipação de mercado de seus sucos e fazer
Dessa forma reduziam substancialmente o
frente à concorrência das private labels que
investimento inicial para colocar em marcha
começavam a ganhar terreno. A consequên-
uma nova planta envasadora.
cia foi a queda de preços que desestruturou
Por outro lado, esta política de comodato
as finanças de empresas que não tinham
de equipamentos a novos entrantes no mer-
um fluxo de caixa sólido. Guerra de preços é
cado garantia ao fornecedor do papel exclu-
sempre uma estratégia mortal para empre-
sividade no fornecimento do material de em-
sas com elevado endividamento e dificul-
balagem, pois suas máquinas em comodato
dades de fluxo de caixa. Acelera a saída do
eram programadas eletronicamente para
setor e a consolidação.
trabalhar apenas com aquele papel cartona-
Outro fator que contribuiu para o desa-
106 | CITRUSBR Fevereiro 2015
do fornecido por ele mesmo.
parecimento ou enfraquecimento de várias
Portanto, não só a barreira de capital para
empresas foi uma mudança no tipo de em-
novos entrantes era mais baixa, comparado
balagem solicitada pelos varejistas. Histo-
aos investimentos volumosos necessários a
cada linha de PET asséptico, como também
centavos por embalagem, mudou seus hábi-
o varejo era mais pulverizado e absorvia toda
tos de consumo, principalmente para garra-
a produção. Ao longo dos anos houve gran-
fas PET, acelerando a troca.
de alteração e em 2014 embalagens tipo PET
A princípio, os próprios varejistas foram
tinham 51,4% de participação no volume de
contrários à medida porque as lojas passa-
sucos 100% e néctares vendidos na Alema-
riam a ser as responsáveis por dispor das
nha, segundo a AIJN, sendo que a participa-
embalagens usadas. Porém, o retorno de
ção de embalagens de vidro e longa vida caiu
embalagens, que poderia ser um problema,
para 47,8%.
virou mais um negócio para os supermerca-
Para entender como esta alteração fa-
dos, que passaram a vender as embalagens
voreceu a concentração, é importante saber
não retornáveis para outras indústrias. Vi-
que no passado a indústria de bebidas já pa-
rou um bom negócio de reciclagem: o varejo
gava um depósito compulsório sobre o reú-
está pagando 25 centavos de euro para cada
so das embalagens retornáveis, o mehrweg
embalagem e consegue revender todo o ma-
pfand, que era obviamente adicionado ao
terial com lucro, enviando grande parte das
valor do produto final, mas que não podia ser
garrafas e latas para a China, que as aplica
reembolsado pelo consumidor. No início dos
em diversas indústrias após a reciclagem.
anos 2000, uma medida do governo também
Vale dizer que o einweg-pfand nunca foi
passou a exigir o pagamento de um depósito
cobrado de sucos, néctares, leites e outras
para cada embalagem não retornável vendi-
categorias consideradas saudáveis, apesar
da pelo varejo e o valor foi inserido no preço
de tal medida estar em discussão nos bas-
da mercadoria ao consumidor final, que por
tidores da política alemã nesse momen-
sua vez recuperaria seu depósito se devol-
to. Mas então como o depósito influenciou
vesse a embalagem ao varejo para recicla-
também a indústria de sucos? Além do lucro
gem, o chamado einweg-pfand. O sistema
obtido com a venda das garrafas PET devol-
funciona com cupons – 25 centavos de euro
vidas pelos consumidores, o varejo também
para cada embalagem devolvida — cujos va-
identificou ganhos logísticos que permitiram
lores são abatidos do valor final da compra
a redução de custos operacionais com a
no caixa do supermercado. O consumidor,
substituição das garrafas de vidro e das em-
vendo a possibilidade de recuperar seus 25
balagens longa vida.
Máquinas que recebem embalagens
não retornáveis para reciclagem.
Consumidor recebe cupom de desconto
a cada unidade entregue
ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER - FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 107
Série Consumo de Suco de Laranja
Toda a simplicidade que citamos nas lojas
todo tipo de bebida, tornando mais simples
de Aldi e Lidl, por exemplo, com os pallets de
alterar o mix de produtos nas fábricas que
produtos servindo como prateleiras ganhou
fizeram a conversão de vidro e papel longa
mais força com a introdução do PET e desta
vida para PET. Se você é dono de uma fábri-
política de retorno. Além disso, o leitor se lem-
ca e investiu em uma linha de produção mais
bra que a consolidação do varejo e o cresci-
eficiente que comporta todo seu portfólio,
mento das marcas próprias fizeram com que
por que não utilizar essa linha também para
os envasadores deixassem de ser especialis-
os produtos não atingidos pelo pfand?
tas para se tornar fábricas de todos os tipos
Foi exatamente o que ocorreu com a intro-
de bebidas para ganhar eficiência, volume e
dução do PET também para sucos e néctares
flexibilidade nas linhas de produção.
nas fábricas que tinham as linhas de envase
Pois bem, a partir daí, utilizando o poder
que melhor atendiam às demandas do va-
de mercado que possuem, os supermerca-
rejo. Essas fábricas passaram então a con-
dos passaram a demandar cada vez mais be-
seguir contratos com volumes maiores em
bidas em garrafas PET para produtos como
detrimento de outras que passaram a perder
refrigerantes, refrescos, águas, energéticos,
negócios e a se dedicar a nichos de mercado
entre outros, obrigando os envasadores que
e outras categorias de bebidas específicas
tinham caixa e/ou linhas de crédito dispo-
para sobreviver, fazendo com que a indústria
níveis a investir em novas linhas de envase
de suco de laranja brasileira perdesse vários
para lhes atender. Ocorre que as novas linhas
clientes que costumavam comprar algo entre
de envase eram mais eficientes e aceitavam
500 e 3.000 toneladas de FCOJ Equivalente
ESTRATIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS ENVASADORES DE SUCOS DE FRUTAS
NA ALEMANHA EM 2013
EMPRESAS MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO ALEMÃ DOS ENVASADORES DE SUCOS DE FRUTAS - VDF
TRANCHAS DE FATURAMENTO
ANUAL DAS EMPRESAS
SELECIONADAS
acima de € 102,26 milhões
FATURAMENTO
TOTAL POR
TRANCHA
(Milhões de Euros)
PARTICIPAÇÃO DE
CADA TRANCHA
NO FATURAMENTO
TOTAL DAS
EMPRESAS
SELECIONADAS
FATURAMENTO
MÉDIO POR
EMPRESA E POR
TRANCHA
(Milhões de Euros)
QUANTIDADE
DE EMPRESAS EM
CADA TRANCHA
DE FATURAMENTO
PARTICIPAÇÃO
DE CADA TRANCHA
NO TOTAL DE
EMPRESAS
SELECIONADAS
€ 2,573.2
75.3%
€ 321.7
8
4.6%
de € 51,12 a € 102,26 milhões
€ 113.0
3.3%
€ 56.5
2
1.1%
de € 25,56 a € 51,13 milhões
€ 372.0
10.9%
€ 33.8
11
6.3%
de € 10,23 a € 25,56 milhões
€ 193.8
5.7%
€ 16.2
12
6.9%
de € 5,11 a € 10,23 milhões
€ 66.1
1.9%
€ 6.6
10
5.7%
de € 2,56 a € 5,11 milhões
€ 21.4
0.6%
€ 3.6
6
3.4%
de € 1,02 a € 2,56 milhões
€ 54.5
1.6%
€ 1.8
31
17.8%
de € 510 mil a € 1,02 milhões
€ 13.6
0.4%
€ 0.7
19
10.9%
de € 260 a € 510 mil
€ 5.4
0.2%
€ 0.4
15
8.6%
até € 260 mil
€ 5.8
0.2%
€ 0.1
60
34.5%
€ 3,418.8
100,0%
€441,2
174
100,0%
FATURAMENTO TOTAL
108 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Quantidade de envasadores de suco membros
ou afiliados à VDF
ENVASADORES DE SUCOS DE FRUTAS NA ALEMANHA
460
445
91
440
420
ENVASADORES
SUMIRAM DO
MAPA
409
400
391
389
378
380
379
370
360
357
354
2012
2013
340
320
300
2000
2005
2007
2008
2009
2010
2011
a 66° Brix por ano do Brasil. Ou seja, mais um
Frutas da Alemanha, mostram que, dentre
fato acelerador da concentração.
as empresas que fazem parte da associação
A título de curiosidade, um relatório do
como membros, apenas 4,6% dos envasa-
Rabobank de maio de 2006 mostrava que o
dores, ou apenas oito deles, foram respon-
investimento necessário para a implementa-
sáveis por 75,3% do faturamento registrado.
ção de uma linha de PET asséptico, a mais
A VDF mostra também que enquanto
indicada para sucos de frutas, girava em tor-
em 2000 existiam 445 empresas que enva-
no de 10 a 12 milhões de euros fora o mon-
savam sucos de fruta (174 delas com fatu-
tante necessário para a construção de toda
ramento anual superior a 200 mil euros por
a infraestrutura fabril, salas de processo e
ano), já em 2013 este número caiu para 354,
armazéns de produtos acabados. O mes-
causando em 13 anos a saída de 91 envasa-
mo relatório também afirmava que muitos
dores do mapa de clientes de suco de laranja
envasadores não teriam caixa para fazer a
das indústrias brasileiras, registrando uma
transição e que isso estimularia uma onda
média anual de sete empresas saindo.
de fusões ou de encerramento de empresas.
A fim de ilustrar esse fenômeno, fomos
Acertaram, pois os investimentos nas linhas
buscar informações junto a fontes da in-
de PET sem a descontinuidade das linhas
dústria e conseguimos montar uma linha do
previamente existentes, vidro e longa vida,
tempo mostrando os principais eventos en-
tornou ainda mais difíceis as negociações
volvendo aquisições, fusões e encerramento
entre a indústria de bebidas e os supermer-
de empresas nos últimos 30 anos.
cados, que agora também contavam com
Ou seja, a indústria de sucos na Ale-
capacidade de envase ociosa a seu favor na
manha é um campo fértil para estudos de
hora de discutir contratos.
consolidação e concentração, por causa da
Dados de 2013 publicados pela VDF, a
Associação dos Envasadores de Sucos de
mudança nas variáveis de competição e no
ambiente externo às empresas.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 109
Série Consumo de Suco de Laranja
NÃO ESTÃO MAIS ENTRE NÓS
Na linha do tempo abaixo, é possível visualizar o encolhimento do mercado alemão com o fechamento de diversas empresas
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
Naturella
Sudsaft AG vende
uma fábrica em
Ohringen para a
Riha Wesergold
1992
1993
1994
1995
1996
Elbestern vendida
para a Bari
Marca Valensina
vendida por. Dittmeyer
à Procter & Gamble
Merziger
vendida à
cervejaria
Karlsberg
1991
1998
Fusão entre
NiefoffVaihinger
e Vaihinger
Fruchtsaefte
Nordgetraenke
vendida para Emig
Lindavia vendida
ao grupo Hero, que
já era proprietário da
Klindworth
1997
Fusão entre Eckes e
Granini. A Melitta manteve
26% das ações da Granini
Neu’s vendida para
a Beckers Bester
Fruchtquell, com fábrica
em Dodow, vendida à
Riha Wesergold
Rapp’s Keiterei vendida
para o grupo Hassia
Veldenz Saftkellerei
vendida para a
Niefoff-Vaihinger
Lindavia e
Klindworth
Fruchtsaefte
vendidas pelo
grupo Hero
para a Merziger,
que por sua
vez pertencia
à cervejaria
Karlsberg
Para facilitar a análise do leitor, vamos aos fatores que levaram à concentração da indústria
de sucos alemã:
» Concentração do varejo e poder de negociação dos supermercados;
» Força do modelo de hard discount (lojas de grandes descontos) no varejo alemão;
» Austeridade e vontade de economizar sempre no comportamento do consumidor alemão;
» Grande crescimento das marcas próprias (marcas dos supermercados);
» Política pública que estimulou a reciclagem de embalagens;
» Mudança das embalagens tradicionais de vidro para embalagens cartonadas e PET;
» Pressão para baixar os preços, aliado a aumento de custos (concentrados e outros), levando
à queda de margens.
A concentração da indústria de sucos alemã, motivada pelos fatores acima, traz os seguintes impactos para a cadeia produtiva no Brasil.
» Menor número de empresas compradoras na Alemanha;
» Compram em volumes maiores;
» Empresas apresentam pouca margem, portanto comprar bem é fundamental para a sobrevivência no negócio;
» Por serem em menor número e maiores, apresentam maior poder de negociação junto à indústria brasileira, pois perder um destes grandes compradores traz importante impacto na
sua necessidade de vendas;
110 | CITRUSBR Fevereiro 2015
1999
2000
2001
Krings
vendida
para o
grupo
holandês
Refresco
Fábrica
da Lindavia
vendida para a
Videmann, que
alterou o nome
da empresa
para Lindauer
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Hardthof
vendida
para o grupo
holandês
Refresco
Fábrica da
Dinter em
Otterndorf
vendida para
a Döhler
Emig vendida
para Gerber
formando
o grupo
Gerber-Emig
Bonjuice
vendida
para a
Döhler
Marca
Punica
vendida
para a
PepsiCo
Melitta
vende os 26%
restantes
da sua
participação
na Granini
para a Eckes
Marcas Valensina e
Hitchcock vendidas para
Underberg, que também
detinha as marcas Sportfit,
Dr. Siemer e a Keiterei Wolfra
Marca Punica vendida para a
SunnyD e retirada da Procter &
Gamble do negócio de sucos de frutas
Fusão entre o grupo Hero
e Niehoff-Vaihinger criou o
grupo Tucano
Fusão
entre
Uberkingen
Teinach
e grupo
Tucano
Jahncke
vendida
para a
Döhler
Elmenhorster e
Rottaler vendidas
para Roetha Keiterei e
criação do grupo Elro
Kumpf
vendida para o
grupo Hassia
2010
truturalmente no mercado alemão, desde
nossa análise do consumidor e da econo-
2012
2013
2014
Falência
da
Scholer
Encerramento
das atividades
da Döhle
Encerramento
das atividades
da Bauer
Weinstadt
Falência da
Glockengold
SDI vendida
para o grupo
holandês
Refresco
Ackermann’s
Haus vendida
para o grupo
Fruit Erroir,
da França
Neste momento o leitor já possui um
bom conhecimento do que se passa es-
2011
FSP, Frische e FruitiKing vendida
para a Sportifit-Valensina, de
propriedade da familia Mocken
Fábrica da
Refresco-Gerber
em Waibstadt
vendida para a
Riha Wesergold
como condição
da União
Europeia para
a aprovação
da fusão das
empresas
Fusão entre o grupo
holandês Refresco e o
grupo anglo-alemão
Gerber-Emig, criando
a maior envasadora
de sucos de fruta da
Europa, posteriormente
denominada Refresco
Gerber Group
Marca Neu’s
vendida para o
grupo Hassia e
encerramento
das atividades
da fábrica
onde os
produtos com
a marca eram
produzidos
mia (sessão 1), do varejo e da indústria de
sucos (sessões 2 e 3). No próximo capítulo
abordamos a já quase previsível queda no
consumo de sucos na Alemanha e as mensagens ao Brasil.
Falência do grupo Elro e venda de seus ativos adquiridos
pela rede de supermercados Edeka, que passou a chamar
a empresa de Soonlander e verticalizou seu negócio de
produção de sucos de frutas
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 111
Série Consumo de Suco de Laranja
A QUEDA DO
CONSUMO ALEMÃO
DE SUCOS E MENSAGENS
AO BRASIL
112 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Neste momento, após tudo o que vimos,
Na contramão da queda geral de con-
é natural ao leitor entender a queda no con-
sumo do FCOJ, há um efeito substituição
sumo de sucos, para nossa tristeza, interes-
em curso, pois continuamos a observar leve
sados históricos que somos no desenvolvi-
aumento no consumo de sucos não recons-
mento e crescimento do negócio no Brasil
tituídos, NFC, naqueles países do bloco com
com geração e distribuição de renda. De
maior poder aquisitivo.
acordo com o último relatório sobre o mer-
Apesar da austeridade alemã que vimos
cado europeu publicado pela Associação
na primeira sessão, o mercado não é homo-
Europeia de Sucos de Frutas, AIJN, o ano de
gêneo, pois, assim como no Brasil, os índi-
2013 registrou queda de consumo de 4,2%,
ces demográficos, macroeconômicos e de
sendo o quinto ano consecutivo com taxa de
renda per capita diferem muito de Estado
declínio. Porém, temos um alento.
para Estado e naqueles bolsões de maior
riqueza existem segmentos de consumido-
multifrutas lançado pela Eckes, tema de um
res dispostos a pagar pela naturalidade e
dos nossos casos na sessão 2, ainda na dé-
funcionalidade de um suco premium. Outro
cada de 70.
movimento que também se observa nes-
Além de atender à demanda crescente,
tes segmentos é o aumento na procura por
os sucos multifrutas também dão espaço
atributos, o que fez com que muitos enva-
ao envasador para gerenciar os custos de
sadores ampliassem a oferta de sucos fun-
matéria-prima, ou seja, o objetivo aqui é
cionais, os smoothies, por nós conhecidos
sempre priorizar a utilização das frutas cuja
como vitaminas, ou mesmo sucos sabor
matéria-prima esteja mais barata nas fór-
multifrutas.
mulas dos produtos oferecidos ao consumi-
São muitas as estratégias de inovações
dor final e investir parte do ganho de mar-
e lançamentos de sabores com várias frutas
gem em ações de marketing para convencer
juntas e, em alguns casos, misturando suco
o consumidor de que várias frutas combina-
de frutas com suco de vegetais que têm me-
das são mais saudáveis que o velho e bom
nos calorias. É importante ressaltar ao leitor
suco de laranja, para tristeza nossa aqui no
que, apesar de crescente, esta estratégia
Brasil. Vimos como isto é importante ao en-
não é nova, como pôde ser visto neste suco
vasador na sessão 3.
ILUSTRAÇÃO: CARLINHOS MÜLLER
Suco multifruitas.
Inovação introduzida
pela Eckes na década
de 1970
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 113
Série Consumo de Suco de Laranja
Garçom com canecas
de cerveja na tradicional
Oktoberfest, em Munique
E se você acha que a Alemanha é o país
pessoas dos bares e pubs e acentuou o con-
da cerveja, acertou parcialmente. O país ain-
sumo on-the-go; e a concorrência dos vinhos.
da é o maior “tomador” de cerveja da Europa,
Tudo em linha com o que vimos na sessão 1.
porém o consumo da bebida também vem
Realmente, analisando o painel de mer-
caindo constantemente, registrando queda
cado Markestrat e avaliando as últimas no-
de 12,6% no volume total e de 11,9% no volu-
tícias sobre o mercado alemão, vemos que,
me per capita na última década. O motivo? O
no mercado de bebidas alcoólicas alemão,
mesmo que afasta consumidores do suco de
quem cresce é a bebida à base de uva. Já no
laranja 100%: as calorias.
mercado de bebidas não alcoólicas, há outros
O porta-voz da Associação das Indústria
114 | CITRUSBR Fevereiro 2015
vencedores como veremos na sequência.
de Cerveja da Alemanha, Marc-Oliver Huh-
Vimos que a Alemanha é o maior merca-
nholz, afirmou em entrevista recente que o
do em volume de sucos na Europa, porém, lá
volume de cerveja consumido no país é o me-
o consumo de bebidas à base de fruta (su-
nor desde os anos 1990 porque, dentre ou-
cos 100%, néctares e refrescos), e dos sa-
tras coisas, as pessoas estão com preocupa-
bores laranja e maçã em particular, também
ções crescentes com a obesidade. Além das
caiu acentuadamente na última década. En-
calorias, ele ainda mencionou outros fatores
quanto em 2004 este mercado utilizava 228
que contribuem para a queda no consumo
mil toneladas de FCOJ Equivalente com per
da bebida: envelhecimento da população, já
capita de 15,6 litros, em 2013 registrou um
que o consumo de cerveja está associado a
consumo de apenas 167 mil toneladas e um
indivíduos de menor faixa etária; o aumento
consumo per capita de 11,5 litros, represen-
da vida dentro do escritório, que afastou as
tando uma queda de 34% no volume total
consumido de suco de laranja e de 26% no
brix similar ao da fruta fresca. Os produtos
consumo per capita.
que estão nos mercados apresentam o grau
A metodologia de acompanhamento de
brix mínimo legalmente exigido para serem
consumo é a mesma usada para o levanta-
considerados bebidas à base de fruta, que
mento de dados dos 40 principais mercados
para o suco de laranja pronto para beber va-
consumidores de suco de laranja no mundo,
ria entre 10° e 12°.
apresentada na segunda edição da Revista
CitrusBR. É feito pela Markestrat, contrata-
Categoria Sucos: é composta por três
da da CitrusBR que utiliza criteriosamente
subcategorias, o suco 100%, os néctares e os
uma vasta fonte de dados de associadas e
refrescos. Sucos 100%, como o próprio nome
da própria CitrusBR, que inclui AIJN, Banco
explica, são as bebidas à base de fruta que
Mundial, Beverage Digest, Codex Alimen-
contêm apenas suco em sua formulação,
tarium, Food Beverage, Food Navigator, IRI,
sem adição de água, açúcar, conservantes,
Just Drink, Nielsen, Planet Retail, Tetra Pak e
etc. Os néctares são bebidas à base de fru-
alguns envasadores de suco.
ta que contêm de 25% a 99% de suco em
Esse conjunto de dados está agregado no
sua formulação; e os refrescos são bebidas
que chamamos de Painel de Mercado Mar-
à base de fruta que contêm até 24% de suco
kestrat, dividido em seis seções, sendo elas:
em sua formulação. Ou seja, néctares e re-
1- Dados Demográficos & Macroeco-
frescos são bebidas mais diluídas que o suco
nômicos;
2- Dados de Consumo Total de Bebidas
100% e trazem, além do suco, outros ingredientes em suas composições.
Industrializadas;
3- Dados de Consumo per Capita de Bebidas Industrializadas;
Multifrutas: Nos últimos anos, a inovação na categoria de sucos se deu pelo lança-
4- Consumo de Sucos 100%, Néctares e
mento de sabores multifrutas: sucos 100%,
Refrescos Por Sabor de Fruta & Cál-
néctares e refrescos com sucos de várias
culo do Conteúdo embutido de FCOJ
frutas misturadas. Nesse caso, os sucos de
Equivalente;
laranja, maçã e uva – as principais frutas uti-
5- Resumo do FCOJ Equivalente Embu-
lizadas como base para os multifrutas – são
tido em Cada Categoria & Consumo
considerados ingredientes e o conteúdo de
Total; e
cada uma dessas frutas varia nos produtos
6- Resultante do Cálculo Reverso de Con-
de acordo com a disponibilidade e preço re-
sumo per Capita de Suco de Laranja.
lativo de cada um destes sucos de fruta em
relação aos demais, forçando o envasador a
Para compreender como chegamos à de-
adicionar um conteúdo maior daquele sabor
manda de FCOJ Equivalente a 66° Brix, é muito
de fruta que no momento encontra-se com
importante, e aqui repetimos algo das edições
preço mais em conta.
anteriores, entender alguns conceitos preliminares utilizados na execução do cálculo:
Voltando ao cálculo da demanda de FCOJ
Equivalente a 66° Brix é preciso então iden-
Grau Brix: Brix é uma escala que mede a
tificar três variáveis inerentes ao país a ser
quantidade de sólidos solúveis em sucos de
analisado: o brix mínimo estipulado pela le-
frutas e outros produtos. Em outras palavras,
gislação do país, o conteúdo médio de suco
mede a quantidade de açúcares nas bebidas
de fruta utilizado pela indústria nos néctares
prontas para beber que, em regra, devem ter
e refrescos e o conteúdo de suco de laranja
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 115
Série Consumo de Suco de Laranja
de litros, ou 25% dos litros consumidos, de
suco de frutas, dos quais 8 milhões de litros,
ou 30% do conteúdo de suco na fórmula,
eram de suco de laranja.
A partir daí, converte-se o volume de litros para quilos e o volume do grau brix do
produto pronto para beber (11,2°, no caso
da Alemanha) para o grau brix 66°, que é
o padrão do FCOJ, chegando-se enfim a 1
116 | CITRUSBR Fevereiro 2015
utilizado pela indústria como ingrediente nos
mil toneladas apontada em nosso estudo.
sabores multifrutas.
Aplicando-se o mesmo princípio a todas
Para entendermos bem esta conta, va-
as subcategorias em que há suco de laran-
mos focar no exemplo da Alemanha. Se to-
ja na fórmula, obtém-se o volume total de
marmos o ano de 2013 como base, temos os
FCOJ Equivalente a 66° Brix utilizado no país
seguintes dados: brix mínimo legal de 11,2° e
anualmente. Pode parecer complicado, mas
conteúdo médio de suco de 72% nos nécta-
uma vez pronta a planilha e com acesso aos
res e de 24% nos refrescos. Identificadas as
dados, o processo torna-se mecânico. Este
variáveis, calcula-se o volume de FCOJ Equi-
é o nosso papel ao sempre traduzir o que
valente a 66° Brix conforme o exemplo a se-
acontece ao citricultor brasileiro.
guir. Na Alemanha, para produzir 103 milhões
Os números são preocupantes nas diver-
de litros de refresco sabor multifrutas consu-
sas formas que utilizamos para analisar a in-
midos em 2013 foram utilizados 25 milhões
formação:
Nos últimos dez anos, o consumo de sucos 100% em geral caiu 27,7%, o de néctares 30,1% e o de refrescos 16,6%.
No mesmo período, se analisarmos o consumo per capita, temos números parecidos, com queda de 27,1% no consumo de sucos 100%, 29,5% no consumo de
néctares e de 15,9% no consumo de refrescos.
Quando explodimos os dados de sucos, néctares e refrescos e analisamos sabor
a sabor, fruta a fruta, vemos que no período de 2004 a 2013 só houve crescimento, muito modesto, do sabor multifruta vendido como suco 100% e também
como refresco. Todo o restante da categoria registrou queda de consumo no período.
Os sucos de maçã e de laranja são os preferidos do consumidor alemão e, em
função de variáveis e dinâmicas de mercado, estão conectados. Paradoxalmente, também são os que mais sofreram com a perda de consumidores. De acordo
com nosso estudo, o consumo de suco de maçã 100% de 2013 foi 486 milhões de
litros menor que o consumo em 2004, queda de 43%.
No caso do suco de laranja 100%, a mesma análise aponta que o consumo de
2013 foi 232 milhões de litros menor que o consumo de 2004, queda de 25% no
período, e que corresponde a 41 mil toneladas de FCOJ Equivalente a 66° Brix
que deixaram de ser comercializadas a envasadores na Alemanha.
Soma-se a isso o volume de suco de laranja que deixou de ser utilizado em função da queda no consumo de néctares e refrescos e chegamos à conclusão de
que o mercado de suco de laranja alemão encolheu 60,5 mil toneladas de FCOJ
Equivalente a 66° Brix desde 2004.
Em um cálculo rápido, levando em consideração o rendimento industrial médio em São Paulo entre as safras 2000/01 e 2012/13, somente com a queda de
consumo na Alemanha a cadeia citrícola brasileira perdeu espaço para absorver
aproximadamente 14,7 milhões de caixas de laranja de 40,8 kg.
O alento vem do crescimento da demanda
outros países da Europa, como França e Reino
por NFC de laranja. Dados da consultoria IRI,
Unido, onde o produto diferenciado é o car-
que computou o volume de vendas de suco
ro-chefe das vendas há algum tempo.
de laranja 100% à base de NFC entre julho/13
O que vemos então é a constante perda
e junho/14, apontam um crescimento da or-
de participação de mercado dos sucos 100%,
dem de 17,8%, comparado ao mesmo período
néctares e refrescos, em função da substi-
dos anos anteriores. O volume em litros ainda
tuição por novos produtos que, por melhor
é pequeno, algo em torno de 15% do mercado
comunicarem seus atributos e funcionalida-
de suco de laranja 100% na Alemanha (ante
des, conseguem atrair mais atenção do con-
os 59% nos Estados Unidos), mas o cresci-
sumidor. Por outro lado, alguma reação no
mento é promissor, especialmente se compa-
segmento que quer e paga por qualidade e
ramos com o consumo de NFC de laranja em
frescor, como se observa no NFC.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 117
Série Consumo de Suco de Laranja
PAINEL DE MERCADO MARKESTRAT
1- DADOS DEMOGRÁFICOS & MACROECONÔMICOS:
2004
ÍNDICES E ANOS
Quantidade
e Valor
População Total Milhões
2005
Variação
Anual
Quantidade
e Valor
2006
Variação
Anual
Quantidade
e Valor
2007
Variação
Anual
Quantidade
e Valor
2008
Variação Quantidade Variação
Anual
e Valor
Anual
82,5
82,5
-0,04%
82,4
-0,08%
82,3
-0,15%
82,2
-0,12%
Rendimento Líquido
Anual - Bilhões
US$ 1,9
US$ 1,9
1,8%
US$ 1,9
3,0%
US$ 2,1
10,6%
US$ 2,4
9,7%
Rendimento Líquido
Anual - Per Capita
US$ 22.428
US$ 22.844
1,9%
US$ 23.545
3,1%
US$ 26.081
10,8%
US$ 28.640
9,8%
€ 0,805
€ 0,805
€ 0,797
€ 0,731
€ 0,683
1,6%
2,3%
2,6%
Tx. de Câmbio Média US$ a Moeda Local
Inflação Anual
1,7%
1,6%
PIB Total - Bilhões de
Dólares
US$ 2.746
US$ 2.787
1,5%
US$ 2.197
-21,2%
US$ 3.323
51,3%
US$ 3.653
9,9%
PIB Total Per Capita Dólares p/Habit.
US$ 33.273
US$ 33.778
1,5%
US$ 26.650
-21,1%
US$ 40.374
51,5%
US$ 44.425
10,0%
Taxa de Desemprego
9,2%
9,2%
8,1%
8,3%
7,3%
2- CONSUMO TOTAL DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS:
2004
ÍNDICES E ANOS
Litros
Milhões
2005
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
2006
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
2007
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
2008
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
Particip.
Mercado
CONSUMO TOTAL
60.721
100,0%
61.061
100,0%
62.487
100,0%
61.913
100,0%
62.990
100,0%
Águas
12.069
19,9%
12.382
20,3%
13.119
21,0%
12.990
21,0%
13.445
21,3%
Cafés
11.699
19,3%
11.812
19,3%
11.991
19,2%
12.006
19,4%
12.136
19,3%
Refrigerantes
7.096
11,7%
7.420
12,2%
7.865
12,6%
8.049
13,0%
8.477
13,5%
Cervejas
9.548
15,7%
9.394
15,4%
9.426
15,1%
9.082
14,7%
8.986
14,3%
Chás
6.619
10,9%
6.546
10,7%
6.320
10,1%
6.209
10,0%
6.322
10,0%
Leites
4.065
6,7%
4.061
6,7%
4.071
6,5%
4.033
6,5%
4.059
6,4%
Vinhos
1.938
3,2%
1.953
3,2%
1.975
3,2%
2.006
3,2%
2.052
3,3%
Sucos
2.651
4,4%
2.477
4,1%
2.532
4,1%
2.376
3,8%
2.341
3,7%
Refrescos à Base
de Fruta
1.235
2,0%
1.331
2,2%
1.430
2,3%
1.429
2,3%
1.394
2,2%
Bebidas à Base
de Chá
1.047
1,7%
1.025
1,7%
1.021
1,6%
933
1,5%
955
1,5%
1,5%
Néctares
930
1,5%
827
1,4%
860
1,4%
889
1,4%
948
Destilados
473
0,8%
470
0,8%
469
0,8%
460
0,7%
440
0,7%
Energéticos
65
0,1%
86
0,1%
109
0,2%
136
0,2%
174
0,3%
0,5%
Leites Saborizados
352
0,6%
340
0,6%
335
0,5%
320
0,5%
301
Leites Reconstituídos
309
0,5%
300
0,5%
292
0,5%
290
0,5%
266
0,4%
Isotônicos
137
0,2%
147
0,2%
150
0,2%
180
0,3%
193
0,3%
Leites Infantis
171
0,3%
172
0,3%
168
0,3%
171
0,3%
169
0,3%
Iogurtes
207
0,3%
206
0,3%
220
0,4%
224
0,4%
207
0,3%
Leites de Soja
64
0,1%
66
0,1%
86
0,1%
81
0,1%
75
0,1%
Leites Fermentados
45
0,1%
46
0,1%
48
0,1%
47
0,1%
49
0,1%
1
0,0%
1
0,0%
1
0,0%
1
0,0%
1
0,0%
Bebidas à Base de
Cereais
118 | CITRUSBR Fevereiro 2015
ALEMANHA
2009
Quantidade
e Valor
2010
Variação
Anual
Quantidade
e Valor
2011
2012
2013
2013 Vs 2004
Variação Quantidade Variação Quantidade Variação Quantidade Variação Quantidade Variação
Anual
e Valor
Anual
e Valor
Anual
e Valor
Anual
e Valor
10 Anos
82,0
-0,26%
81,7
-0,34%
81,4
-0,37%
81,8
0,52%
81,8
-0,00%
-0,7
-0,84%
US$ 2,2
-4,9%
US$ 2,1
-4,3%
US$ 2,4
11,6%
US$ 2,2
-6,5%
US$ 2,4
6,6%
US$ 0,5
28,9%
US$ 27.299
-4,7%
US$ 26.228
-3,9%
US$ 29.389
12,1%
US$ 27.342
-7,0%
US$ 29.150
6,6%
US$ 6.722
30,0%
€ 0,720
€ 0,755
€ 0,748
€ 0,778
€ 0,783
0,3%
1,1%
2,3%
2,0%
1,5%
US$ 3.348
-8,3%
US$ 3.309
-1,1%
US$ 3.575
8,0%
US$ 3.397
-5,0%
US$ 3.635
7,0%
US$ 889
32,4%
US$ 40.824
-8,1%
US$ 40.494
-0,8%
US$ 43.902
8,4%
US$ 41.509
-5,5%
US$ 44.413
7,0%
US$ 11.141
33,5%
7,6%
6,8%
2009
Litros
Milhões
6,0%
2010
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
5,5%
2011
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
5,3%
2012
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
2013
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
2013 Vs 2004
Particip.
Mercado
Litros
Milhões
Variação
10 Anos
63.042
100,0%
62.987
100,0%
63.558
100,0%
63.563
100,0%
62.264
100,0%
1.543
2,5%
13.666
21,7%
13.711
21,8%
14.105
22,2%
14.233
22,4%
13.705
22,0%
1.636
13,6%
12.270
19,5%
12.255
19,5%
12.322
19,4%
12.347
19,4%
12.006
19,3%
307
2,6%
8.798
14,0%
9.009
14,3%
9.259
14,6%
9.401
14,8%
9.217
14,8%
2.121
29,9%
-12,6%
8.789
13,9%
8.645
13,7%
8.549
13,5%
8.440
13,3%
8.343
13,4%
-1.205
6.252
9,9%
6.356
10,1%
6.381
10,0%
6.420
10,1%
6.440
10,3%
-179
-2,7%
4.043
6,4%
3.936
6,2%
3.903
6,1%
3.871
6,1%
3.865
6,2%
-200
-4,9%
2.012
3,2%
2.024
3,2%
2.009
3,2%
2.014
3,2%
2.078
3,3%
140
7,2%
2.181
3,5%
2.198
3,5%
2.167
3,4%
2.047
3,2%
1.916
3,1%
-735
-27,7%
1.256
2,0%
1.175
1,9%
1.080
1,7%
1.105
1,7%
1.080
1,7%
-155
-12,6%
935
1,5%
891
1,4%
910
1,4%
915
1,4%
788
1,3%
-259
-24,7%
932
1,5%
885
1,4%
840
1,3%
694
1,1%
650
1,0%
-280
-30,1%
457
0,7%
458
0,7%
458
0,7%
457
0,7%
491
0,8%
18
3,8%
208
0,3%
239
0,4%
344
0,5%
378
0,6%
441
0,7%
376
578,5%
295
0,5%
287
0,5%
289
0,5%
291
0,5%
350
0,6%
-2
-0,6%
265
0,4%
245
0,4%
240
0,4%
238
0,4%
228
0,4%
-81
-26,2%
186
0,3%
190
0,3%
222
0,3%
232
0,4%
221
0,4%
84
61,3%
176
0,3%
179
0,3%
182
0,3%
185
0,3%
192
0,3%
21
12,3%
200
0,3%
182
0,3%
176
0,3%
173
0,3%
136
0,2%
-71
-34,3%
70
0,1%
67
0,1%
67
0,1%
67
0,1%
66
0,1%
2
3,1%
50
0,1%
54
0,1%
54
0,1%
53
0,1%
50
0,1%
5
11,1%
1
0,0%
1
0,0%
1
0,0%
1
0,0%
1
0,0%
0
0,0%
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 119
Série Consumo de Suco de Laranja
3 - CONSUMO PER CAPITA DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS:
2004
ÍNDICES E ANOS
Litros
Per Capita
2005
Variação
Anual
Litros
Per Capita
2006
Variação
Anual
Litros
Per Capita
2007
Variação
Anual
Litros
Per Capita
2008
Variação
Anual
Litros
Per Capita
Variação
Anual
CONSUMO TOTAL PER
CAPITA
735,7
740,1
0,6%
758,0
2,4%
752,1
-0,8%
766,1
1,9%
Águas
146,2
150,1
2,6%
159,1
6,0%
157,8
-0,8%
163,5
3,6%
Cafés
141,8
143,2
1,0%
145,5
1,6%
145,9
0,3%
147,6
1,2%
86,0
89,9
4,6%
95,4
6,1%
97,8
2,5%
103,1
5,4%
Refrigerantes
Cervejas
115,7
113,9
-1,6%
114,3
0,4%
110,3
-3,5%
109,3
-0,9%
Chás
80,2
79,3
-1,1%
76,7
-3,4%
75,4
-1,6%
76,9
1,9%
Leites
49,3
49,2
-0,1%
49,4
0,3%
49,0
-0,8%
49,4
0,8%
Vinhos
23,5
23,7
0,8%
24,0
1,2%
24,4
1,7%
25,0
2,4%
Sucos
32,1
30,0
-6,5%
30,7
2,3%
28,9
-6,0%
28,5
-1,4%
Refrescos à Base
de Fruta
15,0
16,1
7,8%
17,3
7,5%
17,4
0,1%
17,0
-2,4%
Bebidas à Base
de Chá
12,7
12,4
-2,1%
12,4
-0,4%
11,3
-8,4%
11,6
2,5%
Néctares
11,3
10,0
-11,0%
10,4
4,1%
10,8
3,5%
11,5
6,8%
Destilados
5,7
5,7
-0,7%
5,7
-0,1%
5,6
-1,7%
5,4
-4,3%
Energéticos
0,8
1,0
32,4%
1,3
26,6%
1,7
25,2%
2,1
28,0%
Leites Saborizados
4,3
4,1
-3,4%
4,1
-1,4%
3,9
-4,3%
3,7
-5,8%
Leites Reconstituídos
3,7
3,6
-2,9%
3,5
-2,6%
3,5
-0,5%
3,2
-8,2%
Isotônicos
1,7
1,8
n.d.
1,8
2,4%
2,2
20,1%
2,3
7,4%
Leites Infantis
2,1
2,1
0,5%
2,0
-2,0%
2,1
1,8%
2,1
-1,1%
Iogurtes
2,5
2,5
-0,4%
2,7
6,9%
2,7
2,0%
2,5
-7,5%
Leites de Soja
0,8
0,8
3,2%
1,0
30,4%
1,0
-5,7%
0,9
-7,3%
Leites Fermentados
0,5
0,6
2,3%
0,6
4,4%
0,6
-1,9%
0,6
4,4%
Bebidas à Base de Cereais
0,0
0,0
0,0%
0,0
10,1%
0,0
-9,0%
0,0
0,1%
120 | CITRUSBR Fevereiro 2015
2009
Litros
Per Capita
2010
Variação
Anual
Litros
Per Capita
2011
Variação
Anual
Litros
Per Capita
2012
Variação
Anual
Litros
Per Capita
2013
Variação
Anual
Litros
Per Capita
2013 Vs 2004
Variação
Anual
Litros
Per Capita
Variação
10 Anos
768,8
0,3%
770,8
0,3%
780,6
1,3%
776,7
-0,5%
760,8
-2,0%
25,1
3,4%
166,7
1,9%
167,8
0,7%
173,2
3,3%
173,9
0,4%
167,5
-3,7%
21,23
14,5%
149,6
1,4%
150,0
0,2%
151,3
0,9%
150,9
-0,3%
146,7
-2,8%
4,95
3,5%
107,3
4,1%
110,2
2,7%
113,7
3,2%
114,9
1,0%
112,6
-2,0%
26,64
31,0%
107,2
-1,9%
105,8
-1,3%
105,0
-0,8%
103,1
-1,8%
101,9
-1,1%
-13,75
-11,9%
76,2
-0,9%
77,8
2,0%
78,4
0,8%
78,4
0,1%
78,7
0,3%
-1,51
-1,9%
49,3
-0,1%
48,2
-2,3%
47,9
-0,5%
47,3
-1,3%
47,2
-0,2%
-2,03
-4,1%
24,5
-1,7%
24,8
0,9%
24,7
-0,4%
24,6
-0,3%
25,4
3,2%
1,91
8,1%
26,6
-6,6%
26,9
1,1%
26,6
-1,0%
25,0
-6,0%
23,4
-6,4%
-8,71
-27,1%
15,3
-9,7%
14,4
-6,1%
13,3
-7,7%
13,5
1,8%
13,2
-2,3%
-1,77
-11,8%
11,4
-1,8%
10,9
-4,4%
11,2
2,5%
11,2
0,0%
9,6
-13,9%
-3,06
-24,1%
11,4
-1,4%
10,8
-4,7%
10,3
-4,7%
8,5
-17,8%
7,9
-6,3%
-3,33
-29,5%
5,6
4,1%
5,6
0,5%
5,6
0,5%
5,6
-0,7%
6,0
7,3%
0,27
4,7%
2,5
19,8%
2,9
15,4%
4,2
44,5%
4,6
9,3%
5,4
16,7%
4,60
584,2%
3,6
-1,7%
3,5
-2,4%
3,5
1,1%
3,6
0,2%
4,3
20,3%
0,01
0,3%
3,2
-0,1%
3,0
-7,2%
2,9
-1,7%
2,9
-1,3%
2,8
-4,2%
-0,96
-25,6%
2,3
-3,4%
2,3
2,6%
2,7
17,2%
2,8
3,9%
2,7
-4,7%
1,04
62,7%
2,1
4,5%
2,2
2,0%
2,2
2,2%
2,3
1,2%
2,3
3,6%
0,27
13,2%
2,4
-3,1%
2,2
-8,7%
2,2
-2,9%
2,1
-2,2%
1,7
-21,4%
-0,85
-33,7%
0,9
-6,4%
0,8
-4,0%
0,8
0,4%
0,8
-0,5%
0,8
-1,5%
0,03
4,0%
0,6
2,3%
0,7
8,4%
0,7
0,4%
0,6
-2,4%
0,6
-5,7%
0,07
12,0%
0,0
10,3%
0,0
0,3%
0,0
0,4%
0,0
8,5%
0,0
-16,7%
0,00
0,8%
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 121
Série Consumo de Suco de Laranja
4 - CONSUMO DE SUCOS 100%, NÉCTARES E REFRESCOS POR FRUTA E CÁLCULO DO
2004
ÍNDICES E ANOS
Litros
Milhões
2005
Particip.
Litros
Milhões
2006
Particip.
2007
Particip.
4.822
Litros
Milhões
2008
Particip.
4.876
SUCOS 100%
2.651
Maçã
1.140
43%
1.078
44%
1.101
44%
1.045
44%
1.042
Laranja
915
35%
830
34%
836
33%
784
33%
773
Milhares de Tons de FCOJ Equivalente
162
Outros
358
14%
316
211
2.477
2.532
147
14%
347
4.694
Litros
Milhões
CONSUMO TOTAL
Multifrutas
4.662
Litros
Milhões
2.376
148
14%
367
4.683
2.341
139
15%
333
137
239
9%
223
9%
228
9%
214
9%
Conteúdo de Suco no 100%
239
100%
223
100%
228
100%
214
100%
211
Conteúdo de Suco Sabor Laranja
59,6
25%
55,7
25%
57,0
25%
53,5
25%
52,7
Milhares de Tons de FCOJ Equivalente
10
9
10
930
Multifrutas
284
31%
248
30%
254
30%
258
29%
270
Conteúdo de Suco no Néctar
207
73%
181
73%
185
73%
186
72%
195
Conteúdo de Suco Sabor Laranja
52
25%
45
25%
46
25%
46
25%
49
Milhares de Tons de FCOJ Equivalente
9
26%
254
228
860
9
NÉCTARES
Outros
827
9
8
25%
207
889
8
948
8
25%
219
26%
231
8
Maçã
219
24%
198
24%
211
25%
222
25%
239
Laranja
200
22%
174
21%
176
21%
178
20%
185
Conteúdo de Suco no Néctar
146
73%
127
73%
129
73%
128
72%
133
Conteúdo de Suco Sabor Laranja
146
100%
127
100%
129
100%
128
100%
133
Milhares de Tons de FCOJ Equivalente
26
REFRESCOS
22
1.295
23
1.358
23
1.430
24
1.429
1.394
Maçã
333
27%
346
26%
358
25%
350
25%
335
Citrus (Outros)
222
18%
253
19%
286
20%
300
21%
298
Laranja
331
23%
320
23%
315
22%
307
22%
293
Conteúdo de Suco no Refresco
81
24%
78
24%
77
24%
74
24%
70
Conteúdo de Suco Sabor Laranja
81
100%
78
100%
77
100%
74
100%
70
Milhares de Tons de FCOJ Equivalente
14
10%
132
ACE (Lar, Cen, Lim)
155
14
12%
153
14
11%
150
13
11%
143
12
Conteúdo de Suco no Refresco
38
24%
37
24%
37
24%
35
24%
32
Conteúdo de Suco Sabor Laranja
32
85%
32
85%
31
85%
30
85%
28
8%
112
8%
119
8%
121
9%
118
29
Milhares de Tons de FCOJ Equivalente
Multifrutas
5
99
5
5
5
5
Conteúdo de Suco no Refresco
24
24%
27
24%
29
24%
30
24%
Conteúdo de Suco Sabor Laranja
7
30%
8
30%
9
30%
9
30%
Milhares de Tons de FCOJ Equivalente
1
1
2
2
9
1
Outros
84
7%
93
7%
112
8%
110
8%
Mix de Vegetais
40
3%
44
3%
46
3%
44
3%
116
45
Uva
19
2%
23
2%
29
2%
33
2%
36
Grapefruit
7
1%
8
1%
10
1%
11
1%
11
Pera
5
0%
7
1%
7
1%
9
1%
10
LITROS PER CAPITA DE SUCO DE LARANJA: Calculados com base no consumo total de FCOJ Equivalente a 66° Brix utilizados em Sucos 100% + Néctares + Refrescos
convertidos como Suco 100% pronto para beber
BRIX MÍNIMO LEGAL EXIGIDO: Para venda de suco de laranja industrializado pronto para beber no varejo: 11.2º
122 | CITRUSBR Fevereiro 2015
CONTEÚDO DE FCOJ EQUIVALENTE A 66° BRIX:
2009
Particip.
Litros
Milhões
2010
Particip.
4.369
Litros
Milhões
2011
Particip.
4.258
2.181
Litros
Milhões
2012
Particip.
4.087
2.198
Litros
Milhões
2013
Particip.
3.846
2013 Vs 2004
Particip.
3.646
-1.230
-25%
-735
-28%
44%
945
43%
921
43%
901
44%
654
34%
-486
-43%
33%
731
34%
747
34%
737
34%
686
34%
683
36%
-232
-25%
-41
-25%
131
1.916
Variação
10 Anos
960
133
2.047
Litros
Milhões
45%
130
2.167
Litros
Milhões
122
121
14%
294
14%
308
14%
293
14%
256
13%
327
17%
-31
-9%
9%
196
9%
198
9%
217
10%
205
10%
252
13%
13
6%
100%
196
100%
198
100%
217
100%
205
100%
252
100%
13
25%
49,1
25%
49,5
25%
54,2
25%
51,2
25%
63,0
25%
3,4
8
8
932
9
885
9
-280
-30%
28%
248
28%
244
29%
201
29%
195
30%
-89
-31%
72%
188
72%
178
72%
175
72%
145
72%
140
72%
-67
25%
47
25%
45
25%
44
25%
36
25%
35
25%
7
650
6%
261
8
694
1
29%
8
840
11
6
6
-17
-2,8
-32%
27%
257
28%
248
28%
231
28%
191
28%
172
27%
-56
-24%
25%
237
25%
221
25%
210
25%
174
25%
166
26%
-53
-24%
-41%
20%
177
19%
168
19%
155
19%
128
19%
117
18%
-83
72%
127
72%
121
72%
112
72%
92
72%
84
72%
-62
100%
127
100%
121
100%
112
100%
92
100%
84
100%
-62
23
21
1.256
20
1.175
16
1.080
15
1.105
1.080
-11
-42%
-215
-17%
24%
295
24%
270
23%
259
24%
267
24%
243
23%
-90
-27%
21%
271
22%
247
21%
232
22%
239
22%
232
22%
10
4%
21%
260
21%
247
21%
221
21%
222
20%
238
22%
-93
-28%
24%
62
24%
59
24%
54
24%
53
24%
57
24%
-24
100%
62
100%
59
100%
54
100%
53
100%
57
100%
-24
-4
-30%
10%
117
9%
106
9%
103
10%
106
10%
103
10%
-52
-34%
24%
29
24%
25
24%
25
24%
26
24%
24
24%
-14
85%
24
85%
21
85%
21
85%
22
85%
20
85%
-12
11
11
4
10
4
9
-2
-36%
9%
109
9%
106
9%
103
10%
106
10%
103
10%
4
4%
24%
27
24%
26
24%
11
24%
26
24%
25
24%
1
30%
8
30%
8
30%
3
30%
8
30%
8
30%
1
8%
4
10
1
106
8%
3%
41
3%
3%
36
3%
1%
11
1%
1%
9
1%
94
4
1
8%
78
47
4%
35
3%
12
1%
12
1%
3
1
7%
80
38
4%
30
3%
12
1%
4
0%
1
7%
0
0
4%
-6
-7%
7%
78
39
4%
38
4%
-2
-4%
31
3%
30
3%
12
63%
12
1%
12
1%
4
60%
4
0%
4
0%
-1
-13%
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 123
Série Consumo de Suco de Laranja
5 - RESUMO DO CÁLCULO DE FCOJ EQUIVALENTE A 66° BRIX UTILIZADO EM CADA
2004
ÍNDICES E ANOS
Sucos 100% Sabor Laranja
Sucos 100% Sabor Multifrutas
Néctares Sabor Multifrutas
2005
2006
2007
2008
Mil Tons Variação Mil Tons Variação Mil Tons Variação Mil Tons Variação Mil Tons Variação
FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. Anual FCOJ Equiv. Anual
162,2
147,1
-9,3%
148,2
0,7%
139,0
-6,2%
137,0
-1,5%
10,1
9,5
-6,6%
9,7
2,2%
9,1
-6,2%
8,9
-1,5%
8,8
7,7
-12,5%
7,9
2,3%
7,9
0,2%
8,3
4,8%
Néctares Sabor Laranja
25,9
22,5
-13,1%
22,8
1,5%
22,7
-0,5%
23,6
4,0%
Refrescos Sabor Laranja
14,4
13,9
-3,3%
13,7
-1,7%
13,1
-4,3%
12,5
-4,7%
6,7
6,8
1,4%
7,3
7,4%
6,6
-10,1%
6,2
-6,2%
228,1
207,5
-9,0%
209,5
1,0%
198,3
-5,3%
196,4
-1,0%
Refrescos Sabor Mutifrutas
TOTAL DIVERSAS APLICAÇÕES
6- CÁLCULO REVERSO DE CONSUMO PER CAPITA DE SUCO DE LARANJA:
2004
ÍNDICES E ANOS
LITROS POR HABITANTE
124 | CITRUSBR Fevereiro 2015
2005
2006
2007
2008
Litros
Variação
Litros
Variação
Litros
Variação
Litros
Variação
Litros
Variação
Per Capita Anual Per Capita Anual Per Capita Anual Per Capita Anual Per Capita Anual
15,6
14,2
-8,9%
14,3
1,0%
13,6
-5,3%
13,4
-1,0%
CATEGORIA E CONSUMO TOTAL:
2009
Mil Tons
FCOJ Equiv.
2010
2011
2012
2013
2013 Vs 2004
Variação
Anual
Mil Tons
FCOJ Equiv.
Variação
Anual
Mil Tons
FCOJ Equiv.
Variação
Anual
Mil Tons
FCOJ Equiv.
Variação
Mil Tons
Variação
Mil Tons
Variação
Anual
FCOJ Equiv.
Anual
FCOJ Equiv. 10 Anos
129,6
-5,4%
132,5
2,3%
130,7
-1,4%
121,6
-6,9%
121,1
-0,4%
-41,1
-25,3%
8,3
-6,8%
8,4
0,8%
9,2
9,5%
8,7
-5,5%
10,7
23,1%
0,6
5,6%
8,0
-3,4%
7,6
-5,0%
7,4
-1,7%
6,1
-17,4%
6,0
-3,1%
-2,8
-32,2%
22,6
-4,2%
21,5
-5,0%
19,8
-7,6%
16,4
-17,4%
14,9
-8,9%
-10,9
-42,3%
11,1
-11,2%
10,5
-5,1%
9,6
-8,8%
9,5
-1,3%
10,1
6,9%
-4,3
-29,7%
5,5
-10,8%
4,9
-10,7%
4,2
-14,7%
5,0
20,6%
4,8
-5,7%
-2,0
-29,1%
185,0
-5,8%
185,4
0,2%
180,9
-2,4%
167,3
-7,5%
167,6
0,1%
-60,5
-26,5%
Litros
Per Capita
Variação
Anual
Litros
Per Capita
Variação
Anual
Litros
Per Capita
Variação
Anual
Litros
Per Capita
Variação
Anual
Litros
Per Capita
Variação
Anual
Litros
Per Capita
Variação
10 Anos
12,7
-5,6%
12,7
0,4%
12,5
-1,6%
11,5
-8,2%
11,5
-0,1%
-4,1
-26,2%
2009
2010
2011
2012
2013
Outras informações relevantes do qua-
dido por categorias como cervejas, sucos
dro são que de 2004 para 2013 o consumo
100%, refrescos, néctares, leites, iogurtes
per capita de bebidas industrializadas em
e chás no período analisado. Se temos aqui
todo o país registrou um pequeno avanço da
uma boa notícia ao produtor de café do Bra-
ordem de 3,3%, saindo de 736,5 litros por ha-
sil, ao seu irmão citricultor, ela não é boa.
bitante em 2004 para 760,8 litros em 2013, o
Nota-se também que, apesar de uma
que implica em uma ingestão diária de 2,09
acentuada queda nos volumes de venda de
litros por habitante, além do que se consome
sucos 100%, saindo de 2,6 bilhões de litros
de água de torneira. Nota-se também que
em 2004 para 1,9 bilhão de litros em 2013,
nos dois últimos anos, porém, a tendência
pelo menos uma boa notícia, pois houve
é de queda, com o ano de 2013 registrando
um ligeiro aumento da participação do sa-
recuo de 2% no volume de bebidas industria-
bor laranja no universo dos sucos 100%,
lizadas per capita na comparação com 2012.
subindo de 35% em 2004 para 36% em
Sendo assim, concluímos que catego-
2013, o que mais uma vez indica que não
rias como refrigerantes, principalmente nas
houve fuga de consumo de suco de laran-
suas versões diet (com aumento de vendas
ja 100% para sucos 100% de outras frutas,
de +29,9% ou + 2,1 bilhões de litros); águas
mas para essas categorias citadas, menos
(+13,6% ou + 1,6 bilhão de litros); energéticos
calóricas, mais inovadoras e comunica-
(+578% ou + 376 milhões de litros); cafés (+
tivas. Estas categorias também dispõem
2,6% ou + 307 milhões de litros), vinhos (+
de recursos para investir na comunicação
7,2% ou 140 milhões de litros) e isotônicos
de marketing, o que não é visto para o suco
(+61,3% ou + 84 milhões de litros), além de
de laranja por causa da disparada do cus-
outras com crescimento menor, foram as
to Brasil, pressão inflacionária agrícola e
grandes ganhadoras de todo o volume per-
industrial e recuo da cotação do dólar da
2013 Vs 2004
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 125
Série Consumo de Suco de Laranja
ANÁLISE DO MERCADO DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS POR CATEGORIA
CONSUMO TOTAL DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS
ALEMANHA
TOTAL
Refrigerantes
Águas
Energéticos
Cafés
Vinhos
Isotônicos
2004
2013
Litros
Milhões
Litros
Milhões
CONSUMO PER CAPITA
2013 vs 2004
Litros
Milhões
ALEMANHA
Variação
10 anos
60,721
62,264
1,543
2.5%
7,096
9,217
2,121
29.9%
Refrigerantes
12,069
13,705
1,636
13.6%
Águas
Cafés
CONSUMO PER CAPITA TOTAL
65
441
376
578.5%
11,699
12,006
307
2.6%
Energéticos
1,938
2,078
140
7.2%
Vinhos
137
221
84
61.3%
Isotônicos
Leites Infantis
Leites Infantis
171
192
21
12.3%
Destilados
473
491
18
3.8%
Destilados
Leites Fermentados
45
50
5
11.1%
Leites Fermentados
Leites de Soja
64
66
2
3.1%
Leites de Soja
Leites Saborizados
Bebidas à Base de Cereais
1
1
0
0.0%
33,758
38,468
4,710
14.0%
Bebidas à Base de Cereais
Cervejas
9,548
8,343
-1,205
-12.6%
SUBTOTAL
Sucos
2,651
1,916
-735
-27.7%
Cervejas
SUBTOTAL
Néctares
930
650
-280
-30.1%
Sucos
Bebidas à Base de Chá
1,047
788
-259
-24.7%
Néctares
Leites
4,065
3,865
-200
-4.9%
Bebidas à Base de Chá
Chás
6,619
6,440
-179
-2.7%
Leites
Refrescos à Base de Fruta
1,235
1,080
-155
-12.6%
Refrescos à Base de Fruta
Leites Reconstituídos
309
228
-81
-26.2%
Chás
Iogurtes
207
136
-71
-34.3%
Leites Reconstituídos
Leites Saborizados
352
350
-2
-0.6%
26,963
23,796
-3,167
-11.7%
SUBTOTAL
126 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Iogurtes
SUBTOTAL
última década. Isto tirou muita margem dos
produtos chegam às prateleiras dos super-
envasadores, prejudicando investimentos
mercados de todo o mundo. Produtos com
no reposicionamento e comunicação do
os mais diferentes e exóticos sabores, todos
suco de laranja, hipótese levantada desde
disputando a preferência dos consumido-
o início dos nossos estudos.
res. Acompanhar todo esse movimento é
Como se vê, o mercado mundial de be-
fundamental para entender a lógica desse
bidas apresenta grande concorrência. Afi-
mercado. É justamente nesse ponto que a
nal, todos os anos uma infinidade de novos
Alemanha surge como sede dos dois eventos
DE BEBIDAS INDUSTRIALIZADAS
2004
2013
PARTICIPAÇÃO DE MERCADO
2013 vs 2004
ALEMANHA
2004
2013
2013 Vs 2004
Particip.
Mercado
Particip.
Mercado
Variação
10 anos
100,0%
100,0%
0,0%
Litros
per capita
Litros
per capita
735.7
760.8
25
3.4%
86.0
112.6
26.6
31.0%
Refrigerantes
11.7%
14.8%
3.12%
146.2
167.5
21.2
14.5%
Águas
19.9%
22.0%
2.13%
141.8
146.7
4.9
3.5%
0.8
5.4
4.6
584.2%
23.5
25.4
1.9
8.1%
1.7
2.7
1.0
Litros
per capita
Variação
10 anos
TOTAL
Energéticos
0.1%
0.7%
0.60%
Vinhos
3.2%
3.3%
0.15%
Isotônicos
0.2%
0.4%
0.13%
62.7%
Leites Infantis
0.3%
0.3%
0.03%
Cafés
19.3%
19.3%
0.02%
Destilados
0.8%
0.8%
0.01%
Leites Fermentados
0.1%
0.1%
0.01%
4.0%
Leites de Soja
0.1%
0.1%
0.00%
0.0
0.3%
Bebidas à Base de Cereais
0.0%
0.0%
0.00%
0.0
0.8%
SUBTOTAL
56%
62%
6.2%
15.7%
13.4%
-2.33%
Sucos
4.4%
3.1%
-1.29%
-27.1%
Chás
10.9%
10.3%
-0.56%
-29.5%
Néctares
1.5%
1.0%
-0.49%
Leites
6.7%
6.2%
-0.49%
Bebidas à Base de Chá
1.7%
1.3%
-0.46%
Refrescos à Base de Fruta
2.0%
1.7%
-0.30%
Leites Reconstituídos
0.5%
0.4%
-0.14%
2.1
2.3
0.3
13.2%
5.7
6.0
0.3
4.7%
0.5
0.6
0.1
12.0%
0.8
0.8
0.0
4.3
4.3
0.0
0.0
413
474
61
14.8%
Cervejas
115.7
101.9
-13.7
-11.9%
32.1
23.4
-8.7
11.3
7.9
-3.3
12.7
9.6
-3.1
-24.1%
49.3
47.2
-2.0
-4.1%
15.0
13.2
-1.8
-11.8%
80.2
78.7
-1.5
-1.9%
3.7
2.8
-1.0
-25.6%
Iogurtes
0.3%
0.2%
-0.12%
2.5
1.7
-0.8
-33.7%
Leites Saborizados
0.6%
0.6%
-0.02%
322
286
-36
-11.1%
SUBTOTAL
44%
38%
-6.2%
mundiais de maior importância para a indús-
possibilidades de fazer visitas, tirar fotos
tria alimentícia e de bebidas, as feiras Anu-
e, principalmente, fazer entrevistas com
ga e Drinktech. Esses eventos que reúnem a
agentes do setor, traduzindo-as em artigos
indústria mundial de alimentos e bebidas se
ao longo dos últimos anos. E assim será nos
tornaram a vitrine das tendênciais mundiais
próximos, mostrando à cadeia produtiva
em ambos os setores.
no Brasil, de maneira científica, tudo o que
Temos tido o privilégio, a convite da CitrusBR, de acompanhar estes eventos, com
acontece do lado de lá do mundo, nos nossos maiores consumidores.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 127
Série Consumo de Suco de Laranja
Vista para a famosa Catedral de Colônia à
beira do Rio Reno e a entrada principal da
Feira de Anuga, que acontece na cidade a
cada dois anos
Maior e mais importante feira de alimen-
mercado e fechamento de negócios. Isso por-
tos e bebidas do mundo, a Anuga acontece
que, além de reunir praticamente toda a clien-
a cada dois anos, na cidade de Côlonia, na
tela compradora de suco de laranja do mundo,
Alemanha. De acordo com dados da organi-
conta também com a presença e participação
zação, a 32ª edição da feira, que aconteceu
dos principais executivos e vendedores de
em 2013, reuniu 6.777 expositores. Durante os
suco das processadoras de laranja do Brasil,
cinco dias de realização recebeu 155 mil visi-
dos Estados Unidos, da Espanha, da Itália, da
tantes de 187 países. Todos acomodados no
Costa Rica e do México e acontece na metade
quinto maior centro de exposições do mundo.
de outubro, justamente logo após o USDA pu-
Para se ter uma ideia de como o mercado
blicar sua primeira estimativa de produção de
de sucos de frutas foi perdendo espaço para
128 | CITRUSBR Fevereiro 2015
laranja para a safra a se iniciar na Flórida.
outros tipos de bebidas, na feira de Anuga du-
Portanto, nos dias que antecedem a tra-
rante décadas havia um hall inteiro dedicado
dicional feira de Anuga, ao se conhecer a
especialmente aos sucos de frutas, néctares e
quantidade de laranja e suco que o principal
refrescos onde dezenas de envasadores mon-
concorrente do Brasil no mundo espera pro-
tavam seus stands. Atualmente, estes exposi-
duzir e ofertar aos mercados, começa uma
tores se resumem a quatro envasadoras com-
formatação dos fundamentos de mercado
pradoras de suco de laranja das processado-
e os negócios a fluir entre envasadores e
ras brasileiras e ficam em um canto de um hall.
processadores de suco, formatação esta de
Há também outras importantes feiras,
mercado baseada na expectativa futura de
como a SIAL, em Paris; e a Alimentaria, em
demanda por suco de laranja, da produção
Barcelona, mas, para o caso específico do
de suco dos principais produtores mundiais
setor citrícola brasileiro, a feira de Anuga é a
e níveis existentes de estoque de suco de la-
mais importante. Ela é voltada para a reali-
ranja no mundo nas instalações das proces-
zação de extenso networking, formatação de
sadoras e envasadoras.
A Cutrale recepciona seus
clientes nas noites de
segunda-feira em todas
as edições da feira de
Anuga em um coquetel
na biblioteca do Hotel
Hyatt. Acima, o stand da
Citrosuco no evento
As companhias Citrosuco e Louis Dreyfus
Commodities mantêm stands no evento,
onde recebem visita de clientes em contato
direto com o público. Já a Cutrale promove
Stand da Döhler na
Drinktech, em Munique
sempre nas noites de segunda-feira em Anuga um coquetel aos clientes, realizado na
biblioteca do Hotel Hyatt. Os stands das empresas, os corredores da feira e o coquetel
são momentos valiosos para capturarmos
informações de interesse à cadeia produtiva no Brasil, para formatação de estratégias
públicas e privadas.
Outro ponto de encontro da indústria é a
Drinktech. Realizada a cada três anos na cidade de Munique, também na Alemanha, a
feira é um dos principais eventos do mundo
para a indústria de bebidas e alimentos líquidos. Fabricantes e fornecedores de todo
o mundo se reúnem com todos os tamanhos
FOTOS: DIVULGAÇÃO E ARJON GROENEWEG
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 129
Série Consumo de Suco de Laranja
de produtores e revendedores de bebidas,
de suprimento da maçã, com campo de atua-
fornecedores de matérias-primas, empre-
ção que vai desde fazendas onde cultivam a
sas de equipamentos, entre outros. Durante
fruta, passando pelo processamento da fru-
quatro dias, o evento reúne cerca de 1.400
ta, produção de suco concentrado, de NFC e
expositores, oriundos de 76 países e recebe
pelas linhas de envase, até a conexão com
cerca de 67.000 visitantes de 183 países. Um
suas amplas redes de vendas e distribuição
dos focos do evento está na inovação tecno-
de suco de maçã aos supermercados.
lógica. Os fabricantes apresentam as mais
Pelo histórico de preços de gôndola de am-
recentes tecnologias para processamento,
bos os sabores, que sempre teve o suco 100%
envase, embalagem e comercialização de to-
sabor maçã vendido a preços mais baixos que
dos os tipos de bebidas e alimentos líquidos.
o 100% sabor laranja, é importante acompa-
Quando se fala de Alemanha, o maior
nhar a relação entre eles, uma vez que os pre-
mercado tomador de suco de laranja brasilei-
ços inferiores do suco de maçã nas gôndolas
ro na Europa e que tem histórica predominân-
impõem um teto de subida para o preço do
cia de sabor maçã, vale lembrar que, além da
suco de laranja, fazendo com que historica-
produção doméstica de maçãs, logo ao lado
mente toda vez que aumenta o diferencial de
encontra-se, na Polônia, uma importante ca-
preço entre os sabores, se observa fuga de
deia produtiva de suco concentrado e NFC da
consumo da laranja para a maçã, ao passo que,
fruta. Além disso, empresas como Wesergold
quando esta diferença de preços diminui subs-
e Stute, que vimos com mais detalhes na ses-
tancialmente, nota-se uma migração reversa a
são 2, também são verticalizadas na cadeia
favor do suco de laranja 100%. Como já vimos
HISTÓRICO DE PREÇOS MÉDIOS MENSAIS DE SUCO NA ALEMANHA - GKF/IRI
Preço do suco de
laranja reconstituído
Preço do suco de
maçã reconstituído
Linear (consumo de suco
de laranja por habitante)
Diferença de preços entre os
sucos de laranja e maçã nas
gôndolas dos supermercados
1,20
16
1,10
€ 0,15
€ 0,13
15
€ 0,29
€ 0,31
€ 0,09
0,90
0,80
€ 0,34
€ 0,20
0,70
€ 0,09
€ 0,26
€ 0,08
€ 0,18
14
13
12
0,60
11
0,50
0,40
Jan/04
Abr/04
Jul/04
Out/04
Jan/05
Abr/05
Jul/05
Out/05
Jan/06
Abr/06
Jul/06
Out/06
Jan/07
Abr/07
Jul/07
Out/07
Jan/08
Abr/08
Jul/08
Out/08
Jan/09
Abr/09
Jul/09
Out/09
Jan/10
Abr/10
Jul/10
Out/10
Jan/11
Abr/11
Jul/11
Out/11
Jan/12
Abr/12
Jul/12
Out/12
Jan/13
Abr/13
Jul/13
Out/13
Jan/14
Abr/14
10
Fonte: Elaborado por Markestrat a partir de diversas fontes.
130 | CITRUSBR Fevereiro 2015
Litros por habitante
€ por litro
1,00
na sessão 1, parte importante dos consumido-
Em função disso, espera-se que as curvas
res alemães é muito sensível a flutuações de
do gráfico que acabamos de ver se distan-
preços, talvez o mais sensível do mundo. Tão
ciem novamente e que o consumo de suco de
sensível que variações de alguns centavos de
maçã volte a crescer em detrimento do nosso
euro influenciam decisões de compra.
suco de laranja. Em dezembro de 2014, a dife-
Porém, apesar da verdadeira adoração
rença de preços entre os sucos reconstituídos
que alemães têm por maçãs (raízes histó-
de maçã e de laranja havia subido para 30
ricas, fruta produzida localmente, etc.), a
centavos de euro, retornando a níveis ante-
laranja é percebida como um produto mais
riormente registrados em 2007, 2010 e 2012.
completo e bastou que a diferença de preço
Ainda sobre a questão dos preços na Ale-
entre os dois sabores diminuísse para que o
manha, as redes de varejo Aldi e Lidl, em fun-
consumo de suco de laranja se aproximasse
ção de serem as que mais vendem sucos de
e até ultrapassasse o volume de vendas de
frutas e, portanto, os maiores compradores do
suco de maçã, como ocorreu em 2013.
produto acabado junto aos seus envasadores
Contudo, temos outro fato recente e infe-
contratados, são quem ditam o valor a ser pra-
lizmente não muito favorável. Com o embargo
russo a produtos oriundos da comunidade europeia, que já destacamos em artigo na edição
anterior de nossa revista, a Polônia, maior produtor de maçãs da Europa e que tinha a Rússia
como maior mercado, foi obrigada a direcionar
o excesso de fruta que não conseguiu comercializar para sua indústria processadora, inundando o mercado com suco de maçã e, por
consequência, derrubando os preços do nosso
maior concorrente na categoria. Ou seja, se o
Preço de um litro de
suco 100% de maçã
reconstituído no hard
discounter Aldi em
dezembro de 2014, após
a queda na cotação do
suco concentrado da fruta
em função do excesso de
produção e do embargo
russo às frutas polonesas
embargo russo representou festa aos produtores de carnes do Brasil, não foi bom para a
laranja, neste novo mundo ultraconectado.
Novo preço para 1 litro
de suco 100% de laranja
reconstituído imposto
pelo Aldi a partir de
agosto de 2014. Em
razão da sensibilidade
do consumidor a preços,
o valor virou referência
para todas as redes
varejistas, que também
reduziram seus preços ao
consumidor
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 131
Série Consumo de Suco de Laranja
ticado no mercado do país, chegando, inclusi-
to de 2013. Por consequência, todas as outras
ve, através dos preços que praticam em suas
redes passaram a praticar o mesmo preço
lojas fora da Alemanha, a formatar também
para seus produtos de marcas próprias para
nestes outros mercados preços referenciais de
se manterem competitivas. Isso iniciou uma
gôndola. Assim, influenciam diretamente nas
nova onda de forte pressão para redução dos
negociações entre os demais retailers e seus
preços do FCOJ brasileiro, o que pode trazer
envasadores e entre estes e seus fornecedores
mais prejuízos futuros para a cadeia citrícola.
de suco em todos os outros principais merca-
Ou seja, mais problemas pela frente.
dos europeus, como Áustria, Bélgica, França,
Após analisar a batalha nas gôndolas ale-
Holanda, Irlanda, Itália, Polônia, Reino Unido,
mãs, listamos oito fatores determinantes para
Suíça, entre outros. Além disso, inibem a en-
a queda na demanda por suco de laranja apre-
trada no mercado alemão das duas principais
sentada na última década e que impactam ne-
empresas de sucos de frutas do mundo, Co-
gativamente a cadeia produtiva no Brasil
ca-Cola e PepsiCo, que dominam as gôndolas
nos Estados Unidos e no Canadá, e com forte
1. O café da manhã, a principal ocasião de
presença no Brasil, Espanha, França, Holan-
consumo do suco de laranja, está caindo
da, Reino Unido, Rússia, Ucrânia, mas que não
em desuso. As pessoas não têm mais tempo
operam com o mesmo sucesso na Alemanha.
para sentar-se à mesa de manhã e o hábito
Para exemplificar como o mercado alemão
do café da manhã em família se tornou um
funciona, no início de agosto de 2014, o Lidl de-
evento de final de semana, diminuíndo a fre-
cidiu pôr em prática seu poder de mercado e
quência de consumo dos sucos.
definiu que o novo preço do suco 100% de la-
132 | CITRUSBR Fevereiro 2015
ranja reconstituído na Alemanha seria de 89
2. A Alemanha é um mercado muito sensível
centavos de euro – incluindo impostos de valor
a flutuações de preço e o preço das bebidas
agregado e reduzindo o preço de gôndola em 6
feitas à base de suco de fruta subiu ao lon-
centavos de euro com relação aos 95 centavos
go da última década, enquanto os preços de
de euro que era o preço praticado desde agos-
gôndola de outras bebidas mantiveram-se
estáveis. No caso da laranja, o aumento
ao açúcar está fazendo com que o suco de
substancial do preço de suco de laranja bra-
laranja perca o rótulo de bebida saudável.
sileiro nos últimos anos, para fazer frente à
explosão de custos vivida pela cadeia citrí-
6. Preferência do consumidor por bebidas
cola no Brasil, levou a matéria-prima dos
de baixa caloria. Essa tendência está impul-
envasadores a preços elevados a ponto de
sionando o consumo de águas, refrigerantes
lhes causar prejuízos com a categoria, uma
de baixa caloria e de um tipo de refresco mui-
vez que não conseguiram repassar o aumen-
to popular chamado Schorle (50% de suco
to dos custos ao varejo na mesma proporção
de maçã e 50% de água mineral, geralmente
da subida. Com margens negativas no en-
gaseificada). Mulheres estão evitando o con-
vase do suco da fruta foram perdendo inte-
sumo de suco 100%, em função das calorias,
resse pelo desenvolvimento da categoria em
e é comum misturarem água à bebida. É as-
suas ações de marketing.
sim que as mães estão ensinando as crianças a beber suco de frutas.
3. Agressiva guerra de preços promovida
pelos “hard discounters” e suas marcas pró-
7. Adolescentes preferem
prias, muitas vezes anulando e outras nega-
águas saborizadas e energéticos e não têm a
chá gelado,
tivando as margens das grandes marcas e
tradição do consumo de suco de laranja, pois
impedindo investimentos em comunicação
nasceram em novos tempos.
e marketing para o suco de laranja. A consequência foi a transformação do suco 100%
8. Envasadores de sucos identificaram es-
laranja em um produto básico, sem qualquer
sas tendências e passaram a fabricar e pro-
apelo funcional, nutricional e emocional, no
mover outras categorias, como refrigerantes
qual o consumidor não enxerga valor agre-
de baixa caloria, águas, energéticos, chás e
gado e cuja decisão de compra passa a se
isotônicos. A tendência é que a variadade de
basear apenas em preço. É a comoditização
produtos ofertada continue a crescer, bem
do produto na gôndola do supermercado.
como os investimento em marketing para os
Um grande erro, que tivemos oportunidade
novos produtos lançados, criando um círculo
de abordar em palestra aos envasadores du-
vicioso que tende a empurrar o consumo do
rante o Juice Summit de Madri, em 2012.
suco de laranja, e também de outras frutas,
ainda mais para baixo nos próximos anos.
4. Teto de preço imposto pelo suco de maçã
ao suco de laranja, que causa fuga de con-
Essa realidade ressalta algo que peço há
sumidores sempre que há aumento do preço
20 anos para a cadeia produtiva brasileira:
do nosso suco na gôndola dos supermerca-
precisamos, mesmo com todas as dificul-
dos alemães.
dades oferecidas pelo ambiente produtivo
brasileiro, investir em ganhos de produtivida-
5. Em função da falta de comunicação e de
de para redução do custo do nosso produto
investimentos em marketing, o consumidor
entregue à Europa, para termos mais chances
não sabe a diferença entre suco 100% e néc-
de competir e gerar renda para ser distribuí-
tar, o que é ruim, pois o consumidor associa
da no Brasil. Pois será cada vez mais difícil
a palavra néctar a açúcar. Além disso, no
ganhar espaço em uma região que tem difícil
ano de 2013 foi constatado que metade da
ambiente de negociação do mundo. É na Eu-
população alemã acima de 15 anos de idade
ropa que encontramos o pior cenário de gran-
está acima do peso e a associação do suco
des redes varejistas que ditam os preços a se-
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 133
Série Consumo de Suco de Laranja
performance para o comprador. Buscar sempre a sustentabilidade e as certificações de
excelência. O Brasil tem o suco de laranja
mais diferenciado do mundo!
Em custos aos elementos da cadeia, destaco as importantes estratégias de CCCV
ligadas a explorar com competência a atividade central da empresa (o core business);
melhor uso de todos os ativos e recursos de
organização; estratégia de produção em escala; qualidade, segurança e custos de insumos; eficiência em trabalho (simplicidade);
contínuo redesenho das operações; estímulo
de competição entre fornecedores; arquite-
134 | CITRUSBR Fevereiro 2015
rem praticados nas gôndolas, tornando-se os
tura financeira criativa (fontes de recursos);
envasadores de marcas próprias de suco (as
busca dos melhores momentos de compras;
chamadas private labels), muitas vezes tor-
contratos estáveis buscando reduzir custos
nando o restante da cadeia produtiva meros
de transação; uso intensivo de inovações tec-
tomadores de preço.
nológicas redutoras de custos e gestão “celu-
Para não terminarmos nossa série sobre
lar” dos custos de produção. É necessário cor-
a Alemanha sem um rumo, trazemos nova-
tarmos onde pudermos para reduzir os custos
mente aqui as estratégias que temos que
de produção da cadeia citrícola brasileira.
tomar. Além da agenda de políticas e ações
Finalmente, em ações coletivas, destaco
públicas, é fundamental a presença de um
as importantes estratégias de CCCV ligadas
setor privado ativo, inovador. Portanto, no
a ações coletivas horizontais (empresas da
âmbito empresarial, sempre relacionado
mesma indústria) e verticais (da mesma ca-
com o público, é necessário às empresas
deia produtiva), ações com empresas não
da cadeia citrícola atuarem no modelo que
relacionadas; fortalecer as associações seto-
chamo de CCCV (criação, captura e com-
riais e entidades de representação, participar
partilhamento de valor), visando o tripé de
de cooperativas, criar e fortalecer consórcios
ações estratégicas em diferenciação, custos
e alianças estratégicas, entre outras formas
e ações coletivas.
de trabalho cooperativo. Melhorar a cadeia
Em diferenciação destaco as importan-
de suprimentos via montagem de centrais de
tes estratégias de CCCV ligadas a construir
compras, ações conjuntas em produtos/mar-
uma abordagem de relacionamento inte-
cas/embalagens e serviços, canais de distri-
grado e oferta de soluções ao comprador;
buição e vendas, comunicação, precificação,
fortalecer sempre a pesquisa e a inovação,
entre outras. É uma área onde o agro brasi-
construir estratégias de fidelização, inovan-
leiro tem muito a melhorar. E, para o bem do
do em produtos/serviços, imagem e marca,
setor citrícola, cada vez mais fortalecermos o
soluções de embalagens, canais e força de
Consecitrus, Fundecitrus e mais todas as im-
vendas, serviços e ter como foco oferecer
portantes organizações que temos.
olho nos balanços
Qual o
caminho para
Refresco-Gerber?
Uma das maiores
compradoras de suco
do Brasil passa por um
momento delicado e
seus balanços mostram
dificuldades a serem
vencidas
FOTO: SHUTTERSTOCK
A Refresco-Gerber é hoje a maior compradora
individual de suco brasileiro. Estima-se que a
empresa, sozinha, compre algo em torno de 15%
do volume total. Isso graças a uma fusão que
dois anos atrás juntou as companhias GerberEmig e Refresco. À época, a ideia era construir
uma das maiores empresas de suco do mundo.
Porém, apesar dos ganhos de escala, quando se
observa separadamente o que era Gerber e o que
era Refresco, o negócio diminuiu de tamanho.
De acordo com os resultados divulgados pela
empresa, o seu volume de vendas caiu 2,2% nos
primeiros nove meses de 2014.
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 135
olho nos balanços
O mau resultado foi
suficiente para que uma
onda de especulações
surgisse sobre o destino
da companhia. Os rumores
são de que ela poderia buscar novos rumos através da
abertura de seu capital por
meio de uma oferta pública
de ações, o chamado IPO, ou
até mesmo algo mais drástico:
a venda da nova companhia.
Isso sem falar em mudanças
como a redução de preço das
matérias-primas e dos insumos
e o foco no envase de produtos
com maior margem de lucro em detrimento dos demais. Isso significa,
em outras palavras, apertar fornecedores de suco, como o Brasil, em
busca de preços mais baixos.
Segundo jornais europeus, o
Blackstone Group, um dos gigantes
do mercado de investimentos privados, estaria disposto a fazer uma
oferta pela companhia. Também há
rumores que outros grupos rivais,
como o KKR e o CVC Partners esta-
riam de olho na Refresco-Gerber.
O que atrai esses grupos é uma
extensa combinação de produtos e
tipos de embalagens para bebidas
que vão desde suco 100% até refrigerantes e águas minerais em embalagem longa vida. A primeira opção
dos acionistas da Refresco-Gerber
seria abrir o capital da empresa na
Bolsa de Valores de Londres por
meio de um IPO. Porém, depois da
queda dos mercados globais em se-
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO
PERÍODO DA REFRESCO-GERBER
Veja os resultados econômicos da empresa no 3º trimestre de 2014
Acumulado do 3° Trimestre de 2014
Unidade
9 meses
2013
9 meses
2014
Variação
%
Receita total
Milhões de Euros
€ 1,176.60
€ 1,538.90
30.8%
Volume Vendido
Milhões de Litros
3,829.8
4,581.8
19.6%
Margem de lucro bruta por litro
Euros
€ 0.12
€ 0.14
17.5%
Lucro antes de juros, impostos, depreciação
e amortização
Milhões de Euros
€ 109.40
€ 159.90
46.2%
Depreciação e amortização
Milhões de Euros
€ 51.80
€ 64.00
23.6%
Fusão, reestruturação e outras despesas
Milhões de Euros
€ 9.10
€ 9.80
7.7%
Lucro operacional
Milhões de Euros
€ 48.50
€ 86.10
77.5%
Lucro operacional por litro
Euros
€ 0.01
€ 0.02
48.4%
Lucro líquido
Milhões de Euros
€ 6.80
€ 33.90
398.5%
Caixa e equivalentes no final do período
Milhões de Euros
€ 113.60
€ 107.50
-5.4%
136 | CITRUSBR Fevereiro 2015
VENDA OU IPO?
Jornal Britânico The Telegraph
publicou reportagem em que comenta
o interesse de outros grupos na
aquisição da empresa, além de citar
que a gigante das bebidas poderia
abrir seu capital na Bolsa de Londres
tembro de 2014, a opção pela venda
da empresa ganhou força.
No entanto, de acordo com matéria publicada no jornal britânico The
Telegraph, os problemas ocorridos
no ano passado já teriam sido superados e o IPO ainda seria uma opção
para a Refresco-Gerber. Mas há urgência para que o processo ocorra no
início de 2015, antes das eleições gerais na Inglaterra, que podem trazer
instabilidade aos mercados.
A empresa não comenta sobre
a possibilidade de ser vendida. No
comunicado à imprensa publicado
em 20 de novembro de 2014, em que
foram divulgados os números do
terceiro trimestre de 2014, o CEO da
empresa, Hans Roelefs se limitou a
comentar os resultados obtidos. Veja
a íntegra da nota:
“Estamos satisfeitos em anunciar
lucros operacionais e fluxos de caixa robustos pelo terceiro trimestre
FOTOS: JULIO VILELA
consecutivo. A performance da operação permaneceu sólida, dirigida
pela estratégia de seletivamente balancear volumes e margens, concentrando nossos esforços em bebidas
com maior margem de lucro. Apesar
da estratégia ocasionalmente afetar
negativamente os volumes envasados, a opção se mostra vantajosa
ao passo que permite um melhor
desenvolvimento das nossas operações. O significante aumento em
volumes e receitas da empresa foi
resultado do processo de fusão com
a Gerber-Emig. Porém, comparando
os volumes sem considerarmos a
fusão, vemos que condições econômicas desfavoráveis em alguns
mercados e péssimo clima no mês
de agosto impactaram severamente
os volumes em agosto e setembro de
2014 como um todo.
Além da influência da queda dos
volumes nas receitas, houve também
o impacto da redução dos preços de
gôndola dos nossos produtos devido
a reduções de custos obtidas nas negociações para compra de insumos e
matérias-primas.
Nós continuamos a aplicar nossos esforços na busca de excelência
operacional e a completa integração
das duas empresas Refresco e Gerber-Emig está no caminho correto
para ser finalizada antes do final de
2015. As sinergias estão surgindo de
forma mais rápida que o previsto,
nossos custos estão completamente
sob controle e acreditamos que podemos manter nossa performance
no restante do ano de 2014.
O sucesso do processo de fusão
deu início à próxima fase de desenvolvimento da Refresco-Gerber e estamos ativamente explorando as alternativas de estruturação financeira
que nos darão suporte para aproveitar as oportunidades de crescimento
orgânico e de crescimento via aquisições que enxergamos na Europa e em
outras partes do mundo.”
NÚMEROS NA MESA
Observando seus resultados,
vemos que a empresa envasou 4,5
bilhões de litros e obteve receitas
da ordem de 1,5 bilhão de euros
no terceiro trimestre de 2014, um
aumento de 19,6% em volume e de
30,8% em receitas na comparação
com os números do mesmo período
de 2013.
Porém, o comunicado ressalta
que, na comparação, sem considerar a fusão, houve uma queda de
2,2% no volume vendido nos nove
primeiros meses do ano, índice um
pouco menor que a queda registrada nos países da Europa Ocidental.
O aumento no lucro operacional,
porém, é de 48% por litro envasado
nos primeiros nove meses de 2014.
Eles geraram enormes ganhos financeiros inerentes à fusão das duas
gigantes. Isso além das eficiências
operacionais que tiveram a seu favor
com a recente redução dos preços
do FCOJ e do NFC, com a drástica
queda do preço do suco de maçã,
redução dos custos das garrafas PET
devido à queda das cotações internacionais do petróleo, dentre outras
economias.
Fazendo uma conta simples, verificamos que o lucro operacional de
0,0188 de euro por litro envasado
corresponde a 0,0235 dólar por litro
a uma taxa de câmbio de
BALANÇO FINANCEIRO DA REFRESCO-GERBER
Comparativo de resultados alncaçados no 3º trimestre de 2014 e 2013
Acumulado do 3° Trimestre de 2014
Passivo Total Excl. Patrimonio Líquido
Milhões de
Euros em
30/09/2013
Milhões de
Euros em
30/09/2014
Variação
%
€ 1,064.8
€ 1,304.4
22.5%
Passivo Realizável a Longo Prazo
€ 698.7
€ 749.7
7.3%
Empréstimos
€ 654.2
€ 685.8
4.8%
Derivativos
€ 6.4
€ 10.6
65.6%
Imposto Diferido e Outras Provisões
€ 38.1
€ 53.3
39.9%
Passivo Circulante
€ 366.1
€ 554.7
51.5%
Empréstimos
€ 2.8
€ 5.3
89.3%
Contas a pagar
€ 363.3
€ 549.4
51.2%
Ativo Total Excl. Prédios, Instalações e Intangíveis
€ 576.3
€ 732.7
27.1%
Ativo Realizável a Longo Prazo
€ 16.7
€ 14.2
-15.0%
Imobilizações Financeiras
€ 5.9
€ 5.6
-5.1%
Imposto Diferido
€ 10.8
€ 8.6
-20.4%
Ativo Circulante
€ 559.6
€ 718.5
28.4%
Estoques
€ 177.7
€ 200.5
12.8%
Outros Ativos Circulantes
€ 268.3
€ 410.5
53.0%
Caixa e Equivalentes
€ 113.6
€ 107.5
-5.4%
Valor Patrimonial da Empresa Excl. Intangíveis
€ 488.5
€ 571.7
17.0%
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 137
olho nos balanços
US$ 1,25 para cada euro. Considerando a existência de 22 litros de
suco de laranja pronto para beber
em uma caixa de laranja de 40,8 kg,
chegamos a um lucro equivalente
na caixa de laranja de US$ 0,52
por caixa de laranja de 40,8 kg, ou
R$ 1,29, considerando o dólar ao
câmbio de R$ 2,50 para cada litro
envasado pela Refresco-Gerber. Isso
mostra o movimento de transferência de renda do suco produzido no
Brasil para as empresas envasadoras
e, posteriormente, para o varejista.
Esse número é uma média dos resultados obtidos pela empresa com
todo seu portfólio, desde os produtos e sabores mais lucrativos até os
de menor rentabilidade.
Todos os mercados, com exceção
de Itália e Benelux, bloco formado
por Holanda, Bélgica e Luxemburgo, registraram aumento de receita
no terceiro trimestre. Em ambos os
mercados, entretanto, a participação
de mercado foi mantida. O aumento
nas receitas na Alemanha, França,
Reino Unido e nordeste europeu se
deu exclusivamente em razão da fusão das empresas.
A margem de lucro bruta por
litro do terceiro trimestre de 2014
foi de 0,143 centavo de euro comparados a 0,118 centavos de euro no
mesmo período do ano anterior. A
melhora é também reflexo de benefícios operacionais alcançados com
a fusão e da estratégia de priorizar
produtos com maior margem de
lucro. Além desses fatores, matérias-primas e insumos a preços menores também contribuíram para a
melhora nas margens.
O lucro líquido do terceiro trimestre foi de 12 milhões de euros,
o que corresponde a um ganho de
138 | CITRUSBR Fevereiro 2015
REFRESCO-GERBER / VENDAS POR REGIÃO
Veja o desempenho da empresa nos principais mercados em que atua
Acumulado do 3° Trimestre de 2014
Milhões de Euros
9 meses 2013
Variação
%
9 meses 2014
Benelux
€ 369.8
€ 336.6
-9.0%
Alemanha
€ 255.3
€ 341.3
33.7%
França
€ 196.3
€ 245.4
25.0%
€ 37.7
€ 274.4
627.9%
Reino Unido
Península Ibérica
€ 113.4
€ 118.0
4.1%
Itália
€ 120.1
€ 110.8
-7.7%
€ 84.0
€ 112.4
33.8%
€ 1,176.6
€ 1,538.9
30.8%
Polônia e Finlândia
Receita Total
2 milhões de euros ante o mesmo
período de 2013, relacionados a uma
margem de lucro média maior, sinergias e redução geral de custos de
operação. O lucro líquido obtido nos
primeiros nove meses do ano cresceu
27,1 milhões de euros, totalizando
33,9 milhões de euros em 2014, frente
a 6,8 milhões de euros em 2013.
No trimestre, a empresa também
registrou a venda de sua fábrica em
Waibstadt na Alemanha, que pertencia à Gerber-Emig e teve de ser
negociada como parte do acordo feito com o órgão que analisa questões
de concorrência na Europa, para a
aprovação da fusão. A baixa no ativo fixo da empresa foi da ordem de
21 milhões de euros.
O esforço para integrar as estruturas da Refresco e da Gerber-Emig
fez com que o nível de investimentos saltasse de 7 milhões de euros
no terceiro trimestre de 2013
para 13 milhões de euros no
mesmo período em 2014.
HANS ROELEFS
Ceo da RefrescoGerber não
comenta os
rumores de venda
da empresa
RAIO X DO
BALANÇO
Quais são os principais
resultados da
Refresco-Gerber no
terceiro trimestre
Uma significante melhora, impulsionada por sinergias que resultaram da fusão entre Refresco e
Gerber-Emig.
O lucro antes dos juros, impostos,
depreciação e amortização dos
nove primeiros meses de 2014 foi
159 milhões de euros. O lucro
líquido dos primeiros nove meses
de 2014 de 33,9 milhões de euros
comparados a 6,8 milhões de
euros no mesmo período do ano
anterior.
Fluxo de caixa acumulado nos primeiros nove meses de 2014 foi de
143,7 milhões de euros comparados a 46,8 milhões de euros no
mesmo período do ano anterior.
A margem de lucro bruta teve
crescimento de 17,5%, para
0,141 centavo de euro
nos primeiros nove
meses de 2014
FOTO: DIVULGAÇÃO
artigo|
Por Mauricio MENDES,
consultor do Gconci e diretor da Agrotools
O brasileiro é sim um grande
consumidor de suco de
laranja!
No momento em que há uma
grande preocupação de toda a citricultura com a queda de consumo de suco
processado de laranja, notadamente
pelos países consumidores tradicionais
da América do Norte e da Europa
Ocidental, os olhos de produtores e
indústria devem se voltar para os mercados emergentes, onde o Brasil está
incluído e tem posição de destaque.
No setor de bebidas, vimos investimentos significativos feitos por Coca-Cola, Pepsi e Kirin, adquirindo
outras empresas e entrando pesado em
novos setores, como água mineral,
águas saborizadas, água de coco e bebidas de soja. Os sucos também foram
contemplados com a chegada das chamadas superfrutas, como romã, lichia,
cranberry, blueberries e outras.
No sentido contrário, está o mercado interno de suco de laranja. Embora
em termos relativos tenha havido crescimento de consumo, o maior produtor
de laranjas e de suco industrializado da
fruta do mundo consome pouco mais
de 7%. Mais curioso ainda é verificar
que o sabor laranja é o terceiro colocado
entre os sucos prontos para beber, vem
atrás do suco de uva e de pêssego.
Por esta perspectiva, se poderia
concluir que o brasileiro toma pouco
suco de laranja, mas isso não é verdade. É fato que não é um grande consumidor de suco industrializado, no
entanto, é um grande tomador do suco
natural, extraído da própria fruta.
Segundo o USDA – infelizmente, o
único órgão que tem um balanço completo de oferta e demanda da citriculFOTO: DIVULGAÇÃO
tura para todo o Brasil –, 130 milhões
de caixas de 40,8 kg de laranjas vão
para o mercado interno, já excluídas as
perdas e quedas de frutas não colhidas.
Sabe-se que grande parte desta
fruta se transforma em suco nos bares,
nos lares, nos hotéis e restaurantes.
Uma parte bem menor é descascada
para virar sobremesa ou complemento
de feijoada. Assim, mesmo supondo-se que “apenas” 80 milhões de caixas se transformem em suco, esta
quantidade é capaz de gerar algo
como 300 mil toneladas de suco (66º.
Brix). É uma quantidade importante,
levando-se em consideração que o
maior consumidor de suco do
mundo, os Estados Unidos, consome
tária sobre o suco industrializado que
fica no mercado interno brasileiro é
extremamente alta: “27,5%, apenas
em ICMS, PIS e Cofins, sem contar os
tributos cobrados ao longo do processo produtivo”. Como resultado, este
suco chega a um valor final proibitivo
e sem condições de competir com o
natural. Por outro lado, existem
alguns aspectos favoráveis ao suco
industrializado, como a dificuldade
crescente de se espremer suco “na
hora” em bares, lanchonetes e restaurantes, além de dificuldade de armazenagem e descarte do bagaço (resíduo).
Assim, concluindo, em primeiro
lugar tem-se que considerar que estamos sim diante de um grande mercado
Para conquistar esse mercado
é preciso marketing
e qualidade
700 mil toneladas e que o maior cliente do Brasil, a Alemanha, compra 170
mil toneladas (2013). Então por que a
dificuldade de se emplacar o suco
industrializado no Brasil?
O brasileiro é um privilegiado,
pois a laranja está disponível praticamente ao longo do ano todo e a um
preço extremamente acessível. O consumidor também encontra suco
“espremido na hora” em praticamente
todos os pontos de alimentação do
País. Além disso, estudo recente da
Markestrat apontou que a carga tribu-
consumidor, mas que é extremamente
exigente. Então, para conquistar este
mercado, é preciso oferecer em primeiro lugar qualidade, mas facilidade de
manuseio e preço devem vir juntos. É
preciso também, como em todos os
casos em que se quer oferecer algo
novo a um consumidor, haver excelente planejamento de marketing, boa
estratégia de comunicação e ações direcionadas ao consumidor final.
Contato:
[email protected]
CITRUSBR Fevereiro 2015 | 139