EDITORIAL - Sociedade Brasileira de Eubiose

Transcrição

EDITORIAL - Sociedade Brasileira de Eubiose
Revista Online quadrimestral da Sociedade Brasileira de Eubiose - Ano I – Nº 1 –fevereiro a maio de 2012
EDITORIAL
Acompanhando o notório processo de evolução dos
meios de comunicação, nossa instituição não poderia,
jamais, ficar à margem da história. O avassalador
progresso tecnológico atual exige que a comunicação seja
imediata, precisa e pontual, portanto, a Revista Dhâranâ
Online surge como fruto desse processo, não abrindo mão
da Tradição de quase nove décadas de história, porém
adequando-se à modernidade dos dias atuais.
O lançamento da Revista Dhâranâ Online não
suprime a publicação da edição impressa. Ambas serão
direcionadas para um público externo, utilizando-se
de uma linguagem moderna, não mística, com uma
formatação que busca o padrão das revistas culturais e
científicas. O primeiro número da Revista Dhâranâ – órgão oficial
de divulgação da SBE – Sociedade Brasileira de Eubiose –
circulou em agosto de 1925, um ano depois da fundação da
instituição, então, de mesmo nome. Na apresentação de
sua primeira edição são definidos os principais objetivos
da publicação que perduram até hoje:
(...) “Dhâranâ” já divulgou o seu manifesto ao
povo brasileiro, definindo a sua razão de ser como uma
Sociedade Mental e Espiritualista, de onde surgem deveres,
cujo programa, irá sendo desenvolvido de acordo e à medida
que ele for sendo revelado pelos seus Augustos e Veneráveis
Dirigentes.
“Dhâranâ” apareceu, portanto, como uma obra
prática, destinada a cumprir os altos ensinamentos de todas
as Religiões que pregam o Amor, a Luz e a Paz.
“Dhâranâ” veio para conciliar os dogmas científicos com
os aspectos religiosos esparsos pelo mundo, estabelecendo a
harmonia do coração e da mente, pelo diapasão espiritual
do sol sustenido, misteriosa vibração que competiu ao
Brasil, na orquestra mística do concerto universal.
“Dhâranâ” surgiu, em suma, para congregar e
construir, para aspirar e vivificar, para proteger e segurar a
Vida e o Caráter, a Sabedoria Profana e a Sagrada, únicos
tesouros eternos que recebemos como precioso legado das
mãos da Providência.
“Dhâranâ” deseja estimular nos homens adormecidos,
a força poderosa do Pensamento, por demonstrações
práticas, reduzindo os célebres milagres às simples
proporções de fenômenos naturais, satisfazendo assim à
Ciência, sem escandalizar a Religião. (...)
Eis que, 87 anos depois, Dhâranâ Online mantém os
mesmos compromissos e amplia seus objetivos, abrindo
espaço editorial para que os discípulos e, também,
quaisquer outras pessoas afinadas com os ensinamentos
dos fundadores de Dhâranâ – Sociedade Mental e
Espiritualista, que depois tornou-se Sociedade Teosófica
Brasileira e, desde 1969, Sociedade Brasileira de Eubiose,
possam produzir novos saberes.
Partindo da hipótese de que os diferentes discursos
humanos – das ciências, das tecnologias, das artes, das
filosofias, das místicas, das religiões, enfim, uma variada
gama da produção cultural, não esgota nem diz tudo
sobre o real, Dhâranâ Online abre a seus colaboradores,
a partir destes diferentes conhecimentos, a possibilidade
de um mais além, que possa ajudar, além da interpretação
do mundo objetivo, a antecipar o futuro grandioso da
humanidade já revelado em vários textos considerados
sagrados.
Em outras palavras, Dhâranâ Online será mais um
instrumento engajado no trabalho essencial de humanizar
o sagrado e sacralizar o humano.
SUMÁRIO
3
DHÂRÂNÂ
Henrique José de Souza
Grande é o erro daqueles que confundem , o
Espírito ou Inteligência (Nous) com a Alma
(Psyké). Não menos os que confundem a Alma com
o corpo (Soma). Da união do Espírito com a Alma
nasce a Razão; da união da Alma com o Corpo
nasce a Paixão.
10
A CULTURA, O SUBLIME E A EUBIOSE
Laudelino Santos Neto
Pensar a SBE a partir da articulação entre
sublime, cultura e eubiose é refletir sobre as
condições individual, grupal e institucional
do estar-no-mundo para em seguida se inserir
conscientemente no Pramantha e ter condições
melhores e maiores de ser-no-mundo.
18
A LIDERANÇA NO TERCEIRO MILÊNIO
Silvio Piantino
“Reconstruir é o brado que nos compete! Sim,
reconstruir o homem, o pensamento, a moral, os
costumes; reconstruir o lar, a escola, o caráter,
para que o cérebro se transmute ao lado do
coração. Só assim a humanidade se tornará
digna do estado de consciência exigido pela Nova
Civilização”. JHS
5
CONEXÕES NUM MUNDO EM (R)
EVOLUÇÃO
Marcelo Wolf
Esta pintura é um belo exemplo do conceito de
espiritualidade: aquilo que vem do espírito, que é
externalizado pela mente humana, e que se traduz
no mundo concreto através de quatro grandes
frentes principais: Filosofia, Artes, Ciência e
Religião. E são elas que, como anunciadores ou
archotes do Fogo Divino, iluminam o caminho
dos homens e propiciam a criação das miríades de
possibilidades no mundo material.
15
A LENDA DO FAROL: OS SETE
SABERES DE UM EDUCADOR
Dirceu Moreira
“Jamais haveria evolução se o Verbo se
manifestasse proferindo sempre as mesmas
palavras”. Professor Henrique José de Souza.
O educador como porta voz do conhecimento
deverá estar atento para não cair na mesmice,
pois, o mesmo conteúdo de hoje, talvez tenha
que ser dado de forma diferente noutra ocasião.
Podemos chamar a isso de educação continuada e
inovadora.
20
EUBIOSE: CONSCIÊNCIA DA NATUREZA E NATUREZA DA CONSCIÊNCIA
Alberto Vieira da Silva
Os chacras em número de sete, como os astros
ou planetas, como o espectro solar etc., não são
mais do que “as forças sutis da natureza”. Para
conhecê-los e manejá-los é preciso ser um Adepto. –
Prof. Henrique José de Souza.
DHÂRANÂ
Henrique José de Souza
(Fundador da atual Sociedade Brasileira de Eubiose)
Grande é o erro daqueles que confundem , o Espírito
ou Inteligência (Nous) com a Alma (Psyké). Não menos
os que confundem a Alma com o corpo (Soma). Da
união do Espírito com a Alma nasce a Razão; da união
da Alma com o Corpo nasce a Paixão.
Desses três elementos, a Terra deu o corpo; a Lua,
a alma, e o Sol, o Espírito. Por isso que, todo Homem
justo, consciente de todas essas verdades, é, ao mesmo
tempo, durante a sua vida física, um habitante da Terra,
da Lua e do Sol". – Plutarco (De Ísis e Osíris).
YOGA, dizem os clássicos do Ocultismo, "é uma
filosofia ou sistema que tem por fim dar àquele que
a pratica, o poder de se abster de comer e de respirar
durante considerável tempo, e processo, ainda, de se
tornar insensível a todas a impressões exteriores".
Para nós, aquele que pratica Yoga visando tais
poderes é apenas um Faquir e não um Yogi.
Tal maneira de definir o termo Yoga tem provocado
tantas perturbações entre os pretendentes à Vereda
da Iniciação, como o próprio termo “Deus”, através
de lutas religiosas entre os que se extasiam diante de
definições, que não podem, de modo algum, expressar,
com precisão e clareza, tudo quanto pertence ao mundo
subjetivo. Ademais, no que diz respeito à Yoga, logo
se manifesta o desejo egoísta de sobrepujar os demais,
de ser enfim, um homem completamente diferente
dos outros, sem falar nos perigos que de tal prática
procedem, quase sempre em detrimento do próximo.
Nesse caso, Magia Negra e não Magia Branca ou
Aquela que praticam os Seres Superiores, como Guias
ou Instrutores dessa pobre Humanidade acorrentada
nas férreas cadeias da Ignorância, qual Prometeu
‘amarguradamente infeliz”, como diria Junqueiro, na
sua mítica montanha, que é o Cáucaso, que tanto vale
pelo “cárcere carnal” ou “pote de argila” bíblico.
corpos de que o homem se compõe, aparte opiniões até
hoje divulgadas, por serem completamente errôneas.
Referimo-nos a Hatha-Yoga, “como ciência do bem
estar físico”, desde que tal corpo é o sustentáculo da
alma e do espírito. "Mens sana in corpore sano". A
seguir, Gnana-Yoga e não Raja, como querem outros,
porquanto o mesmo termo Gnana ou Jnana, tem por
étimo Jim ou Jina, que de ser um habitante do Astral,
ipso-fato, relaciona-se com a Alma ou Psiké. Donde o
termo: poderes psíquicos. O mesmo termo Espiritismo,
usualmente empregado, é errôneo por suas práticas
envolverem única e exclusivamente o mundo astral.
Nesse caso, ANIMISMO OU PSIQUISMO. Finalmente,
Raja-Yoga (União real, régia ciência etc.) ou do Mental,
como sede do Espírito desde que acima dele se acham
as consciências Búdica e Átmica que, a bem dizer,
são Portas abertas ao Tabernáculo Divino. No corpo
humano, a hipófise tem que ver com a Alma, enquanto a
epífise ("sobrenatural") com o Espírito.
Por tudo isso, dizer-se que “tal união com o Todo
(pela prática da verdadeira Yoga) é feita por três
caminhos”, que a mesma Vedanta denomina de: Karma
ou ação para o físico; Bhakti ou “devoção” (a mística da
Fraternidade Humana, como o maior de todos os Ideais)
e Jnana ou do conhecimento, visão espiritual, sabedoria,
Gnose etc.
Todo e qualquer processo de livrar o Ego das ilusões
do mundo terreno com o fim de uni-lo à Consciência
Universal, é uma YOGA.
Na de Patanjali, como a mais importante de todas
existem oito graus ou estados:
1. YAMA: restrição, controle de si mesmo;
2. NI-YAMA: observações religiosas, ou antes,
alicerçamento do caráter;
Yoga, querendo dizer “união”, nada mais é do que
a adoção deste ou daquele sistema por parte de quem,
de fato, só tenha a preocupação de se UNIR, ao seu
Eu ou Consciência Imortal, na razão do que diz Paulo,
em Efesus, III, 16,117: "Todo ser bom pode falar ao
Cristo em seu Homem Interno": Cristo ou Consciência
Universal, tanto vale.
Das inúmeras espécies de Yoga que se
conhecem, sobressaem as que se conjugam com os três
3. ASANA: posição especial para a meditação,
embora que esteja incluída nos bailados iniciáticos,
tanto do velho Egito como da índia e posteriormente,
na Grécia (“mistérios eleusinos” etc.) e hoje, de modo
velado, na arte coreográfica, em geral. Tais “asanas” ou
posições, sempre debaixo de um certo ritmo, traduziam,
muitas vezes, toda a história de um deus do Panteon do
País, quando não, mensagens desses mesmos deuses
ao Templo onde eram praticados semelhantes rituais.
Haja vista, os bailados exigidos no começo de nossa
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Obra, todos eles expressando mensagens e divulgações de
remoto passado, em referência aos fundadores da mesma
Obra;
4. PRANAYAMA: retenção do hálito para controle
de todas as funções orgânicas (a mesma medicina atual
já aconselha essa prática nas crises “simpaticotônicas”
etc. em relação com o lado solar, do mesmo modo que as
vagotônicas, com o lunar. E a prova é que as duas narinas
estão classificadas nas antigas escrituras orientais, como:
Ida ou lunar (a esquerda) e Píngala ou solar (a direita).
Quando a respiração flui por ambas as narinas, recebe o
nome de Sushumna (respiração andrógina, dizemos nós
ou equilibrante etc.). Este é o momento mais apropriado
para semelhante YOGA, principalmente se levada a efeito
em PADMASANA (Padma, loto e Asana, posição. Nesse
caso, "posição do loto”, ou seja: de pernas cruzadas,
como se vê nas imagens do Buda etc.)
5. PRATY AHARA: o poder de afastar o mental das
sensações físicas;
6. DHÂRANÂ: “a intensa e perfeita concentração da
mente em determinado objeto interno, com abstração
completa do mundo dos sentidos”. Em síntese: o sumo
controle do pensamento;
7. DHYANA: Meditação, contemplação abstrata
ou afastamento do mundo dos sentidos, melhor dito,
estado de "isolamento completo". Constituí uma das
"seis Paramitas” budistas. E a prova é que, em um dos
mantrans (hinos) do começo de nossa Obra – o mesmo
que nos foi enviado do Oriente – figuram estas palavras:
"Dhyâna, tuas portas de oiro nos livram da deusa Mayá
(“ilusão dos sentidos”);
8. SAMADHI (ou Samyâma): estado de meditação
obtido pela concentração, no qual o Adepto se torna
consciente de seu Mental Superior, o que tanto vale, por
se tornar Um com o Todo, a Consciência Universal etc.
A mesma “posição do Buda” não significa outra coisa.
Por isso, traz os olhos cerrados (visão para dentro ou
espiritual), orelhas enormes, que muitos criticam sem
saber que é apenas um símbolo; na razão daquele que
além de CLARIVIDENTE é CLARIAUDIENTE. As
pernas cruzadas ou na posição já apontada como de
Padmasana, sendo as mãos unidas e os dedos curvos,
formando a última letra do alfabeto sânscrito, ou Aquele
que alcançou o Fim de sua evolução terrena: o Nirvana
etc. E quanto ao ponto ou sinal que traz na fronte (“olho
de Shiva", como se chama na Índia, “ureus mágico”,
no Egito, como prova a “serpente que se vê na fronte do
faraós”), em relação à mesma visão espiritual. E assim
por diante.
Por todas essas razões e outras mais ainda, a
nossa Escola Iniciática ter sido fundada com nome
"DHÂRANÂ", e seu órgão oficial o conservar até hoje
como uma homenagem àquela época.
DHÂRANÂ serviu, pois, de “sumo controle
do Pensamento”, para que, Dhyâna abrisse suas
"Portas de Oiro" a Samadhi, além do mais, através de
desconcertantes fenômenos psíquicos, que o vulgo
denomina erroneamente de “milagres”. E logo chegando
o domínio do Mental (Dhyâna ligada a Samadhi, ou
antes. Budhi e Atmã, como 6º e 7º princípios teosóficos,
para a formação da Tríade Superior), a própria Lei lhe
exigir o de SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA*,
além de excelso e significativo lema, que é: SPES
MESSIS IN SEMINE, ou “a esperança da colheita está
na SEMENTE”. E isso porque, todos quantos forem
atraídos para as suas fileiras, desde já representam os
arautos dessa civilização de elite que fará seu surto nesta
parte do Globo, e para a qual foi a mesma S. T. B. criada.
Assim, o mesmo leitor; ao manusear as iniciáticas
páginas de seu órgão oficial, embora que não o saiba,
pratica um rápido estado de "Dhâranâ", por ter de
abandonar o “mundo dos sentidos”, sob pena de não
poder compreender o que, por “baixo da letra que mata”,
refulge, como um Novo Sol, a iluminar-lhe a Consciência,
o “Espírito que vivifica”.
Vitam impendere Vero!
Dhâranâ nº 119 a 122 – Janeiro a Dezembro de 1944 –
Ano XIX
* (Hoje Sociedade Brasileira de Eubiose)
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CONEXÕES NUM MUNDO EM (R)EVOLUÇÃO
Marcelo José Wolf
INTRODUÇÃO
Na parte alta da cidade de Praga, na República
Tcheca, há um mosteiro muito aprazível, um dos pontos
turísticos da cidade. O Monastério de Strahov abriga uma
sala de grande magnitude, chamada “Salão Filosófico”,
uma espécie de biblioteca, com um grande acervo sobre o
pensamento humano. Mas o que chama a atenção dos que
visitam essa sala é um afresco que toma todo o seu teto,
criado pelo pintor vienense Franz Anton Maulbertsch,
entre os anos de 1776 e 1778. O nome dessa obra é “A
Evolução Espiritual da Humanidade”. Nela vemos uma
clara junção entre ciência, filosofia e religião. A Divina
Providência, colocada no centro do afresco, está cercada
por representações de vícios e virtudes. Motivos do Antigo
Testamento, como os Dez Mandamentos de Moisés e
a Arca da Aliança, fazem frente ao desenvolvimento da
civilização grega, desde seu período mítico até os filósofos
Sócrates, Diógenes e Demócrito, passando por Alexandre
“o Grande”. A evolução da ciência está representada
por Esculápio, Pitágoras e Sócrates na prisão. Tudo
transcorre até o desenvolvimento do Cristianismo.
Essa pintura é um belo exemplo do conceito
de espiritualidade: aquilo que vem do espírito, que é
externalizado pela mente humana, e que se traduz no
mundo concreto através de quatro grandes frentes
principais: Filosofia, Artes, Ciência e Religião. E são elas
que, como anunciadores ou archotes do Fogo Divino,
iluminam o caminho dos homens e propiciam a criação
de miríades de possibilidades no mundo material e suas
infinitas ramificações, como a política, o comércio,
o entretenimento, etc., tendo como objetivo último o
aprimoramento, a evolução do ser humano. O espiritual
expressa uma tendência arquetípica, manifestada no
mundo concreto, paulatinamente, no dia a dia.
Ao longo dos séculos, a civilização ocidental, sem
o perceber, passou a dissociar o espiritual do material,
criando uma polaridade entre ambos, que, na verdade,
não existe. Nesse ponto, as culturas ditas “primitivas”
e, também, os povos antigos tratam essas duas facetas
de uma forma bem mais natural, sem apresentar
essa dissociação. Mas pior que isso foi a redução da
espiritualidade em religião, fenômeno, que, na maioria
das vezes, não exprime adequadamente sua verdadeira
função, descrita na acepção do termo: re-ligar ou tornar a
ligar o homem à sua essência imortal.
No ano de 2011, vimos muita coisa acontecer no
nosso planeta, algumas inéditas, outras seguindo um
processo que vem se desenrolando nos últimos anos. A
mais notável e surpreendente é a Primavera Árabe. O
inegável é que estamos passando por transformações
sociais, culturais, econômicas e políticas, que estão
redesenhando a face do mundo, do poder e da vida dos
seres humanos. E, se tomarmos como corolário o fato de
que o espiritual nunca está dissociado do material, e que
este é uma expressão concreta das tendências imanadas
do primeiro, fica a pergunta: por quais caminhos a
humanidade está trilhando sua marcha? Espiritualmente,
há uma tendência a ser seguida em sua evolução?
Podemos antever os seus caminhos futuros?
CONSTATAÇÃO NO MUNDO
Apontamos aqui alguns fatos significativos que vêm
ocorrendo no mundo e que estão redesenhando o cenário
da vida humana em nosso planeta. Através desses fatos,
vamos tentando deixar mais claro um pano de fundo,
um leitmotiv, ou um padrão, em vigência nesse terceiro
milênio. Após esses exemplos concretos, vamos propor
uma ideia para tentar responder à questão sobre qual a
tendência espiritual de nossos dias.
A partir de 1989, avançamos em passos de
gigante para o que conhecemos como Globalização:
países perdem suas fronteiras econômicas, culturais,
monetárias, para fazerem parte de grandes blocos.
Ninguém mais vive isoladamente; nenhuma nação vive
sozinha. Todos realizam intercâmbios econômicos,
culturais, políticos, etc.
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A popularização da Internet, também, foi uma
das grandes propulsoras dessa globalização. A Internet
conecta a todos. Promoveu uma grande revolução na
forma de produzir conhecimento, de comprar, de se
conhecer pessoas, de obter-se informação, de organizar
movimentos e de formar opiniões. Graças a ela, as
distâncias encurtaram, e o mundo tornou-se uma aldeia
global.
economia e com empréstimos milionários a grandes
empresas, em detrimento da população em geral.
Com a popularização da Internet, o termo
“ciber” passou a ter relevância na vida das pessoas.
Tudo que é ciber mudou nossa forma de atuar no
mundo: Cibercultura, ciberespaço, ciberterrorismo,
ciberativismo, etc. Um dos filósofos e escritores
mais influentes nessa área é Pierre Levy, com muitas
publicações sobre o assunto, mostrando a importância
desse novo paradigma nos dias presentes e vindouros.
Hoje em dia, o conhecimento, como acúmulo de
informação, não é mais um privilégio nem o diferencial de
ninguém. Para isso existe o Google! Com poucos cliques
na Internet, você pode descobrir o significado de quase
tudo. Como usar essas informações e produzir algo que
supra uma demanda, ou como fazer a diferença frente a
uma situação passou a ser o foco principal da questão.
Para isso é preciso saber como encontrar a informação
correta e elaborá-la corretamente. E isso requer uma
versatilidade mental e uma boa dose de intuição.
Nas redes sociais da Internet, a exemplo do
Facebook, há uma comunicação entre pessoas do mundo
todo. E, muitas vezes, elas se organizam para criar grupos
específicos ou reivindicar melhorias e mudanças em
determinados setores da vida coletiva. Possibilitaram
que opiniões individuais tivessem um peso considerável
na formação da opinião global, contribuindo com a
criação do que chamamos de uma consciência coletiva.
O coletivo passa a ter uma grande importância frente ao
individual.
Essa consciência coletiva tem seus efeitos no
mundo. Estamos assistindo a uma onda de manifestações
e protestos no Oriente Médio e no Norte da África,
denominada Primavera Árabe, contra os regimes
autoritários que lá imperam e que são calcados na
repressão e na censura. Impulsionadas pelas redes
sociais, essas manifestações clamam por uma maior
liberdade política, intelectual e, até mesmo, econômica.
Cada vez mais caminhamos para o fim dos
governos autoritários onde poucos ditam as regras a ser
seguidas por todos. As regras passam a ser elaboradas
coletivamente, de uma forma mais democrática.
O Capitalismo vive uma grande crise, e vemos
vários protestos em Wall Street, na Europa e em todo o
mundo, formando uma campanha contra a desigualdade
econômica e a concentração de riquezas nas mãos de
pouquíssimos. Centenas de pessoas acampam no parque
Zuccotti, perto do centro financeiro de Nova York,
demonstrando o descontentamento com os rumos da
Outras formas de ganho de capital estão nascendo.
Muitas tentativas de cooperação e trabalho coletivo
despontam no mundo. A mais popular é a produção
de software livre. Um bom exemplo disso é o sistema
operacional Linux; outro, a enciclopédia Wikipédia, na
qual há uma produção conjunta do saber.
Diante da socialização do conhecimento promovida
pela Internet, um aspecto passou a ser essencial para o
bom desempenho de tarefas: a criatividade. Qualquer
profissional, para desenvolver-se (e muitas vezes, apenas,
para manter-se no mercado de trabalho), precisa muito
mais do que fazer bem feito o que lhe compete. Precisa
responder, instantaneamente, às mais diversas demandas
e situações inesperadas que podem ocorrer. E, para isso,
mais do que conhecimento, é necessário se ter “jogo
de cintura”, no dito popular, ou, em outras palavras,
criatividade e outras formas de inteligência, como a
emocional.
Pouco se falava em sustentabilidade e
preocupação com o meio ambiente há algumas
décadas. Hoje, esse tema entrou em todas as pautas da
vida humana, desde política e econômica até cultural e
comportamental. O homem passa a olhar de uma forma
diferente para a natureza, o planeta e seus recursos
naturais.
Com o aumento das demandas em nossas vidas, o
homem passou a ter uma maior preocupação com sua
vida interior. Vemos uma busca crescente por terapias
alternativas, autoconhecimento, psicologia, autoajuda,
espiritualidade, meditação, etc. Basta darmos uma
olhada na sessão de livros mais vendidos ou verificar a
procura por palestras de autoajuda. Isso é um reflexo de
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que o homem está, cada vez mais, tentando aprimorar sua
qualidade de vida. A agitação da vida moderna o empurra
para buscar, dentro de si mesmo, um caminho mais
satisfatório com seus anseios e desejos íntimos.
Em consequência dessa maior busca interior,
passamos a viver uma espécie de “neorrenascimento” no
qual, novamente, o homem ocupa o centro do universo,
dessa vez não culturalmente, mas sim espiritualmente.
Enquanto alguns movimentos religiosos crescem e
ganham importância, muitas pessoas estão abandonando
as práticas religiosas institucionalizadas e tradicionais,
devido a não mais preencherem seus anseios íntimos
de satisfação e significação da vida. Cada vez há menos
espaço para guias ou gurus espirituais, que mostrem “o”
caminho a ser seguido. As pessoas percebem que cada
um precisa construir e descobrir seu próprio e individual
caminho interior.
PROPOSIÇÃO DE UMA TESE
Diante dos fatos a que vimos assistindo e de que
vimos participando no mundo, voltemos à questão
original e mote deste artigo: qual a tendência espiritual
a ser vivida pela humanidade nesse terceiro milênio?
Lançamos aqui uma hipótese que, longe de ser uma
verdade absoluta, tenta, apenas, ser o pontapé inicial
para reflexões individuais por parte de todos que estão
lendo este texto. Ela é a união de conceitos, propostos
pelas mais diversas correntes filosóficas e espirituais,
com a verificação do que lemos diariamente nos jornais e
do que vivemos no nosso dia a dia. A hipótese é a de que
vivemos numa época em que, cada vez mais, caminhamos
para a Conectividade entre tudo e todos, resultando na
divinização do humano.
Antes de franzirem o sobrolho e acharem que
o autor vive numa redoma de vidro frente a todos os
problemas, barbáries e injustiças, vistas no mundo, três
ressalvas são necessárias:
1. Tendência espiritual é aquilo que inspira a
humanidade, que a direciona e que vai se tornando
real gradativamente, muitas vezes de forma
imperceptível, e não o que já está realizado,
conquistado e pleno. A própria palavra já o diz:
tendência;
2. Todo processo de evolução é gradativo, longo, feito
passo a passo, na maioria das vezes sem rupturas
drásticas e radicais, e, sempre, passando por
melhorias e ajustes. Não nasce pronto, perfeito e
imutável, vai se aperfeiçoando ao longo do caminho;
3. Num projeto, a ideia está perfeita. Quando passa
para a execução real, ele, sempre, apresenta
imperfeições, pois isso é inerente à polaridade da vida
e é, praticamente, impossível termos a perfeição no
mundo manifestado.
Mas o que se entende por conectividade para
a divinização do humano? O ser humano tem, cada
vez mais, a possibilidade de estabelecer conexões (ou
relações) de todos os tipos. Num mundo globalizado
e digital, é difícil se viver sozinho ou isolado. Essas
conexões promovem a troca, a partilha, o intercâmbio
de diversas formas, nas quais um lado não apenas deixa
algo de si para outro, mas também o transforma um
pouco. Essa é a base de todo relacionamento afetivo,
de amizades, de comércio, de partilhas. Água parada
apodrece, diz o dito popular. Num caldeamento racial, a
troca de material genético é indispensável para a melhoria
da espécie. Toda troca implica uma transformação.
Essas conexões promovem em cada indivíduo
um aprimoramento e um crescimento, auxiliando na
principal conexão em termos individuais: a ligação entre
o ego inferior e mortal e sua individualidade imortal,
conhecido nas tradições como o despertar espiritual, a
vivenciação plena do arquétipo do “Self”, da psicologia
analítica, a paz interior de você estar conectado com
você mesmo, com sua verdadeira essência. Essa ideia é
antiqüíssima, e todo culto, verdadeiramente, religioso
tem essa proposta em seu âmago. E o homem, cada vez
mais, busca o Divino dentro de si mesmo, não mais em
templos, profetas ou tradutores do saber divino. Busca,
em si mesmo, aquilo que o ligará com algo superior
e transcendental. Fazendo isso, está despertando,
internamente, todo o potencial divino que possui, e
realizando o milagre da humanização do divino, para que,
através da vivência do divino no humano, possa ocorrer a
divinização do humano.
Muitos filósofos apontam essa como uma das
metas do homem. Ludwig Feuerbach, em 1843, no
seu “Princípios da Filosofia do Futuro”, escreveu que
“a tarefa dos tempos modernos foi a realização e a
humanização de Deus - a transformação e a resolução da
teologia na antropologia”. Marcel Gauchet, com sua ideia
de “individualização do crer”, propôs que “a crença diz
respeito a um ato de adesão estritamente pessoal, fora da
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existência comunitária, ou mesmo contra ela”. Segundo
Luc Ferry, a humanização do divino se dá com a laicidade,
iniciada na Europa com o Iluminismo, reforçada com o
Positivismo e consagrada com a revolução tecnológica
e científica. Disso decorre uma divinização do humano,
ligada ao nascimento da família e do amor modernos,
responsáveis pela solidificação de laços sociais
fundamentais para a emancipação do homem, não mais
governado pela tradição ou por obrigações, mas, sim,
pelo sentimento e pela afinidade.
Novamente, frisamos ser essa uma tendência para a
qual caminhamos, não a situação vigente atual!
E A NOSSA TAREFA INDIVIDUAL
NESSE PROJETO?
Diante de várias tendências coletivas que operam
no mundo, fica a pergunta: e o homem individualmente?
Como se processam essas tendências no homem
individual? O homem é o ponto focal onde se concentram,
hoje, as esperanças de evolução do plano arquetipal do
Eterno, da Divindade. A evolução global da humanidade
depende da evolução individual de cada homem. Ele
passa a ser peça chave na evolução do cosmos, pois é
um pontífice, um construtor de pontes, aquele que liga o
passado animal ao futuro divino.
O primeiro passo dessa grande jornada é a
transformação do homem, para que possa conectarse ao seu ser mais íntimo, ao seu Deus Interior, ao
arquétipo do “Self”, segundo a terminologia junguiana.
A realização da Eucaristia, ou a união do Eu finito com
o Cristo Interno, é o passo primordial para a elevação da
humanidade. O homem passa a ser o verdadeiro Templo
da “religião” do futuro, pois, em seu íntimo, localiza-se
o “Sanctum Sanctorum”, onde vibra a chama viva da
Consciência Humana ou seu Princípio Crístico ou Atmã.
vida. E, consequentemente, passamos a ser um dínamo
irradiador de espiritualidade, amor e sabedoria para a
face da Terra.
Um pré-requisito para isso é a conexão das mentes,
a concreta, lógica e racional, com a abstrata, criativa e
intuitiva. Esse padrão tem como maior exemplo o cérebro
humano. Este faz, naturalmente, uma sinergia entre seu
lado esquerdo (racional, analítico) e o direito (sintético,
intuitivo, criativo). Hoje, a humanidade, ainda, tem um
baixo uso de todo o potencial cerebral, principalmente, de
seu hemisfério direito.
Quanto mais esse supramental, ou Mental
completo, bafejado pela plena intuição, desenvolve-se,
mais o coração passa a agir, despertando as chamas do
amor verdadeiro, o Amor Universal. Quando o homem
vence as provas evolucionais e atinge um patamar mais
alto de consciência, passa a agir com o coração em
sintonia com a mente, num perfeito equilíbrio entre
ambos.
Estamos adentrando a tão propalada “Era de
Aquário”. A humanidade inicia uma nova era astrológica.
Muito foi dito, muito foi especulado e, também, muito
foi iludido a respeito dessa fase, como se todos os
problemas sumissem num passe de mágica, e um mundo
perfeito surgisse para os homens. Será uma nova etapa
de experiências, com seus prós e contras, acertos e
erros. Mas será uma Era marcada pela fraternidade
universal através da união dos povos, da superação das
diferenças, da convivência fraterna. Daremos mais um
passo rumo à visão uraniana de mundo, sintetizada no
ideal da Revolução Francesa - Liberdade, Igualdade,
Fraternidade. A bondade e o conhecimento passam a ser a
verdadeira religião, com a união entre ciência e tradição,
formando uma terceira via, hoje, já aventada por alguns
pensadores do mundo e denominada de “Metaciência”
(Basarab Nicolescu) e de “Metarrealismo” (Jean
Guitton).
Através do autoconhecimento, vamos descortinar
o caminho que nos levará à nossa verdadeira
essência. Então, passaremos a viver nossa verdadeira
individualidade, nossa verdadeira vida, nossos mais
reais anseios e propósitos, em sintonia com a nossa
Mônada, Tríade Superior ou o Espírito no homem. Nesse
momento, estaremos conectados com o sentido da vida, o
que, junto com a alegria, é inerente a essa nova forma de
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Assim, conectado com sua essência interior,
o homem, também, conecta-se com a Terra e com a
natureza; passa a se integrar de forma holística ao meio
que o cerca. Esse sentimento de união com o Todo
desperta o verdadeiro sentido de Humanidade, pois aí,
efetivamente, ele se sente encaixado e fazendo parte
de uma família global, de um todo maior, que tem uma
função definida dentro de um todo maior ainda, do qual
ele faz parte. E, como consequência natural disso, brota
em si a Compaixão e o Amor Universal. Seus atos não
são mais individuais, mas pautados dentro dos atos da
hierarquia. Não por obrigação, mas pelo sentimento de
amor, que une todos os seus membros, como uma grande
família cósmica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procurou-se, neste texto, fazer reflexões sobre
indícios, caminhos e horizontes, que mostrem a
conectividade como um apanágio em nossas vidas,
e como ela nos conduz para um patamar superior,
divinizando o homem. Sem dúvida alguma, o homem
caminha, cada vez mais, para aquilo que chamamos
de “a Era das Conexões”, onde as partes se conectam
para formar algo muito maior que a simples soma delas.
Como última reflexão, cabe, aqui, lembrar o sentido
do termo conexão. Segundo o dicionário Houaiss,
conectividade significa a capacidade ou possibilidade de
operar em um ambiente de rede. Conectivo é o que une
uma coisa à outra, e conectar é unir, ligar. Quando nos
conectamos a algo, não perdemos nossa identidade para
nos tornar outra coisa, mas sim passamos a comungar
com algo maior, como um computador, que mantém
suas características e amplia-as ao se conectar numa
rede. Expandimos nossas capacidades e, graças a isso,
podemos fazer muito mais coisas. Passamos a “operar
em rede”, ou a sermos parte de algo maior. Como nos
disse Pierre Weil, “o homem passa a ser o elo entre
o invisível (abstrato) e o visível (órgãos sensoriais)”.
Passamos a ser muito mais do que simples homens,
tornamo-nos algo maior, mais completo e mais sublime:
tornamo-nos partes da grande família humana na Terra.
REFERÊNCIAS
1. FEUERBACH, Ludwig. Princípios da Filosofia do Futuro.
Lusosofia Press, 2008.
2. FERRY, Luc; GAUCHET, Marcel. Depois da Religião. Difel
(Brasil), 2008.
3. FERRY, Luc. O Homem Deus. Difel (Brasil), 2007.
4. LÉVY, Pierre. Filosofia world: o mercado, o ciberespaço,
a consciência. Instituto Piaget, 2000.
5. WEIL, Pierre. Rumo à nova transdisciplinaridade.
Summus Editora, 1993.
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A CULTURA, O SUBLIME E A EUBIOSE
Laudelino Santos Neto
Pensar a SBE a partir da articulação entre sublime, cultura e eubiose é refletir sobre as condições
individual, grupal e institucional do estar-no-mundo para, em seguida, inserir-se, conscientemente,
no Pramantha e ter condições melhores e maiores de ser-no-mundo.
A articulação dos conceitos de sublime, cultura e
eubiose é importante para entendermos o trabalho da
SBE – Sociedade Brasileira de Eubiose e, por analogia
e extensão, de outras instituições iniciáticas. As
abordagens que expressaremos neste texto, visam a nos
tirar de uma região de conforto contemplativo, algumas
vezes, provocado não por uma beatitude pós-sabedoria,
mas sim, por um encadeamento de platitudes, que
podem transformar o processo iniciático num manual de
autoajuda politicamente correto.
Pensar a SBE a partir da articulação entre sublime,
cultura e eubiose é refletir sobre as condições individual,
grupal e institucional do estar-no-mundo, para em
seguida, inserir- se, conscientemente, no Pramantha e ter
condições melhores e maiores de ser-no-mundo. Não é
uma jornada fácil e confortável. Significa nos livrarmos,
paulatinamente, de identificações maiávicas que, apesar
de essenciais para a constituição da nossa anterior e atual subjetividade, devem ser deixadas para trás.
Ao mesmo tempo, temos que inventar novas e
nelas focar, num trabalho de facilitação da travessia
para o Quinto Sistema de Evolução. Paradoxalmente,
o ingrediente mais difícil de introduzir nesse labor
alquímico é a alegria. O sofrimento desnecessário, ainda,
é um forte estruturante de nossas existências.
A Etimologia do Termo Cultura
No Ocidente, o termo “cultura” origina-se do latim
“culturae”, que quer dizer cultivar, cuidar, e está ligado,
inicialmente, ao trabalho agrícola. Mas, com o passar
do tempo, amplia seu significado, abrangendo, então, o
sentido de dois vocábulos gregos: o primeiro é Geórgia,
que quer dizer a cultura do campo, as lides, relativas
à agricultura. O outro é mathemata, significando
conhecimentos adquiridos, o acervo de saber de um
indivíduo, de uma sociedade.
cena a noção do homem educado, culto, inserido numa
ordem racional e politicamente construída.
Na Inglaterra, berço das transformações sociais,
políticas, econômicas e religiosas, que marcam o fim
da Idade Média e o início da Idade Moderna, começa a
surgir, no início do século XVIII, o termo “cultivation”
para expressar as noções de cultura, então, vista como
um desenvolvimento subjetivo e harmonioso do espírito
humano e, também, das suas diversas faculdades.
No mesmo século XVIII, aparece, na Alemanha, a
palavra “kultur”, no sentido de refinamento espiritual,
enobrecimento de toda uma sociedade, e, praticamente,
todos os outros significados, hoje, atribuídos à “cultura”,
em sua extensão social e coletiva.
Existe, ainda, outro valor semântico de cultura,
voltado ao cultuar dos Deuses, rememorar os eventos
e fatos importantes da vida, das gerações, dos
antepassados. É uma espécie de atualização dos mitos no
momento presente, fazendo, com isso, uma espécie de
renovação dos compromissos do cotidiano, do presente
com um passado muitas vezes idealizado.
Na Idade Média, há uma mudança na utilização
das palavras. “Colere” vai, paulatinamente, caindo em
desuso, e dois novos vocábulos começam a aparecer, num
reflexo das mudanças sociais, que surgem para expressar
a ideia de “cultura – humanitas” e “civitas”, pondo em
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A Concepção
Contemporânea de Cultura
A Concepção Clássica
de Cultura
A concepção clássica de cultura,
abarcando visões da antropologia,
economia, política, sociologia, que
começa a partir do século XVIII com
o termo kultur, na Alemanha, de uma
forma ou de outra, ainda, permanece
majoritária nos tempos atuais. É a que
se organiza a partir de uma estrutura
binária em que cultura se opõe à
natureza, ou, se preferirem, cultura x
natureza.
Por esse raciocínio, em determinado momento de sua
evolução, o antropóide se desvia, entra em conflito com a
natureza em geral e com a sua específica. Torna-se, então,
um “inadaptado”. Karl Marx usa, para tal, a expressão
alemã “mängel wesen”. Literalmente, o primeiro termo
significa “falta”, e o segundo, “ente”, “existência”. Quer
dizer que, em determinado momento da evolução do
homem, ele se torna um ser, um ente, em que falta alguma
coisa, por isso mesmo, não conformado, inteiramente, à
natureza.
Por lhe faltar uma conexão completa com a natureza,
ao contrário de outros mamíferos e animais em geral, o
homem é, então, capaz de se produzir separadamente
da natureza, quer dizer, produzir-se como um ser. Com
isso, também, é capaz de produzir seu próprio mundo,
dissociado da natureza, de todo o resto. Isso tem
profundas implicações, porque produzir-se a si próprio e
seu próprio mundo significa, outrossim, a capacidade de
apropriar-se do mundo bem como, de si mesmo.
Talvez, nessa falta, nessa ausência, esteja o primeiro
passo da criação da Hierarquia Jiva... e da caminhada
para o Quinto Sistema de Evolução...
E como é próprio do Humano a caminho do
Divino, surgem as primeiras contradições, os primeiros
paradoxos. Um deles é que a cultura, sempre, busca
a universalidade, mas carrega, no seu interior, a
diversidade, a especificidade. Ao deixar o determinismo
animal da natureza, o homem “em falta” cria os
fenômenos culturais e passa, ao mesmo tempo, a tecer
sua própria história.
A concepção contemporânea
de cultura – entendam-se
contemporâneos, os últimos 50 anos
– aproxima-se muito do conceito de
civilização. Os dois praticamente se
misturam, e é impossível pensar um
sem o outro. Pode-se, então, conceber
a cultura/civilização como um
complexo de conhecimentos, crenças,
artes, moral, hábitos, costumes e
capacidades, adquiridos pelos homens
como membros de uma sociedade. Para citar, apenas,
um dos intelectuais contemporâneos, que pensaram
de forma inovadora a cultura, sublinho o antropólogo
francês Claude Lévi-Strauss, um dos fundadores do
estruturalismo, que vê a cultura como um sistema de
signos. Para ele, toda cultura pode ser considerada um
conjunto de sistemas simbólicos, em que se situam, como
mais importantes, a linguagem, as relações econômicas,
a arte, a ciência, as relações matrimoniais – em torno das
quais se organizam os parentescos – e a religião.
É importante salientar que o fundador da
antropologia cultural, Claude Lévi-Strauss, concebeu
suas teorias após estudar a cultura dos índios bororos,
quando de uma estada no Brasil, nos anos 30, época em
que foi professor da recém-inaugurada Faculdade de
Letras e Artes, embrião da futura USP – Universidade de
São Paulo.
Como um pequeno exercício para compreendermos
melhor o trabalho dos atuais Dianis Planetários e sua
repercussão na Face da Terra, trocaremos a palavra
cultura pelo termo Pramantha. Com isso, veremos que
a concepção estruturalista de Lévi-Strauss vale para
os dois, possibilitando-nos afirmar que, no interior do
Pramantha, os sistemas simbólicos se organizam em
rede, sem qualquer hegemonia de uma Linha em relação
à Outra. Devemos, então, respeito e veneração a todas
elas, inclusive para aqueles aspectos que se apresentam
com linguagens materialistas e ateias.
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A Desconstrução
A Sublimação como
Processo Fundador da
Cultura
Pós-Moderna
Mas nem tudo são flores na época
A sublimação é uma palavra
contemporânea. O “destruens et
que Freud foi buscar na química,
construens” permanece como uma
na
antiga alquimia, e, talvez, até no
lei universal. As finalidades místicas,
conceito de sublime, de Aristóteles,
religiosas ou cívicas das manifestações
para explicar o processo em que a
culturais, praticamente, desvanecerampulsão de vida, sexual, é desviada e
se, principalmente das obras de arte.
Sublime é aquilo que é elevado,
transformada
em produtos culturais
Foram substituídas por uma espécie
grandioso, que está acima de tudo e
– tanto artísticos como científicos
de esteticismo puro, que se basta a si
de todos.
e tecnológicos. A questão da
mesmo, e pela chamada comunicação
sublimação é tão importante, que,
de massa, cada vez mais estruturada
sem
ela,
não
poderia
existir
o que se conhece hoje como
como espetáculo. O historiador inglês Arnold Toymbee,
civilização.
usa pela primeira vez, a expressão pós-moderno para
indicar essa nova vaga de desconstrução dos cânones
Sublime é aquilo que é elevado, grandioso, que
estabelecidos.
está acima de tudo e de todos. Na Grécia Antiga,
principalmente em Aristóteles, o sublime é o tipo de
Os valores da Renascença e do Iluminismo do século
conhecimento que ultrapassa a razão humana, a lógica,
XVIII, tais como o predomínio da razão, a liberdade
e só é percebido por uma espécie de elevação espiritual,
política, os progressos científicos e tecnológicos, o
divina. Como decorrência dessa linha de pensamento, os
desenvolvimento social e a ampliação da igualdade
alquimistas chamavam de sublimação a transformação
foram postos em questão. O pós-moderno coloca as
do chumbo em ouro. Em química, até hoje, sublimação é
manifestações culturais como obras do acaso e da
a transformação do estado sólido, diretamente, em estado
indeterminação (influência da física quântica), da
gasoso.
irracionalidade e do relativismo. E a grande contradição
desse pós-modernismo é que foi construída uma
sociedade, ao mesmo tempo, de massa e individualista.
Outros encaram pontos positivos na sociedade
pós-moderna, que ao invés de abolir o racionalismo e
o humanismo, revisitam-nos com novos instrumentos
teóricos e práticos. Isso ocorre, hoje, principalmente,
na arquitetura e na indústria da moda. Ao mesmo
tempo, já se fala numa nova “episteme” (conjunto de
conhecimentos de determinado momento histórico)
ocidental se organizando, em que o princípio de
autoridade centralizadora é substituído por uma mescla
de indeterminação, pluralismo, ecletismo, aleatoriedade,
paródia e ceticismo em face das antigas criações
espirituais e dos comportamentos tradicionais de grupo.
Nesse cadinho de transformações surge, entre outras,
uma nova classe dirigente, o gestor ou “decisor”, os
novos executivos de empresas, os altos funcionários de
órgãos governamentais e, também, das organizações nãogovernamentais, das universidades, etc.
Um aspecto curioso do processo sublimatório
é que ele opera com duas grandes inovações. Na
primeira, consegue desviar a energia da pulsão do seu
destino natural para a criação de novos fatos culturais e
científicos, de toda e qualquer monta. Na segunda, fura
o bloqueio dos universos da cultura, de tudo que está
aceito e consolidado, e imprime a marca individual do
criador. Sendo muito singular, a criação carrega em si
um “quantum” de desafio e revolta contra o estabelecido,
numa espécie de anarquia visionária.
Em sentido contrário, uma situação extrema de
império absoluto de conceitos universais, não há espaço
para as manifestações individuais, consequentemente, é
impossível haver sublimação. Por isso mesmo, a maneira
mais rápida de se cair na barbárie é impor, de forma
ditatorial, modos de pensar e agir. Todo ditador está a
serviço da pulsão de morte.
A sublimação, também, pode ser entendida como
a aplicação, a transferência, o deslocamento da energia
para outro campo, para outro local, em que são possíveis
realizações socialmente mais úteis, mais valiosas. Com
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isso, a sublimação tem tudo
a ver com as forças ligadas à
vida, à evolução e age, também,
como um inibidor das forças
de destruição, que começam,
sempre, com um discurso
voltado à extinção da diferença,
do individual, que a pretexto da
volta à paz e à harmonia, levanos ao silêncio terrível do fim da
vida, do inorgânico.
Sublimação, Alegria
e Prazer
Sublimar não é reprimir, não é recalcar.
Vive, em ledo engano, quem reprime suas
energias, que podem se transformar em
objetos singulares, artísticos, científicos,
tecnológicos, imaginando que se está
sublimando e, com isso, chegando mais
perto do divino. Sublimar é a grande saída
humana para a explosão de vida de origem
universal.
Além de contribuir para
o melhor entendimento dos
processos criativos, através
do conceito de sublimação,
resgatado por Freud da química, a psicanálise foi mais
além em apontar sua origem, muito diferente do existente
em termos de senso comum. O nascimento da cultura
e da civilização teve um custo para o antropóide. Ele se
tornou menos animal e mais humano com o sacrifício da
realização de parte dos seus instintos.
Mas ao contrário do que pensam muitas pessoas,
sublimação não tem nada a ver com recalcamento e
repressão. Estas são essenciais para o viver em sociedade,
para as organizações humanas funcionarem. Podemos
dizer que se relacionam com o princípio de realidade, com
as condicionantes e determinantes da estruturação do
ego, da personalidade. Mas a conformação à sociedade,
à socialização, para a qual o sujeito paga o preço da
alienação da sua singularidade, não gera o objeto oriundo
da sublimação, o novo, o inusitado, o sinalizador do
Quinto Sistema de Evolução.
As questões ligadas à cultura e à civilização,
como tudo que é complexo, têm suas contradições e
ambiguidades. Uma dessas é a repressão ser origem
da cultura e, ao mesmo tempo, seu desenvolvimento
depender de seu oposto, a sublimação. Sublimação é algo
mais além, e sua origem está no chamado princípio de
prazer, na alegria de criar, de transformar o mundo pela
concepção de um novo objeto, ou conceito nunca antes
pensado.
Sublimar não é reprimir,
não é recalcar. Vive, em
ledo engano, quem reprime
suas energias, que podem
se transformar em objetos
singulares, artísticos,
científicos, tecnológicos,
imaginando que se está
sublimando e, com isso,
chegando mais perto do divino.
Sublimar é a grande saída
humana para a explosão de
vida de origem universal.
Em Carta-Revelação de 1º
de agosto de 1951, JHS cita um
livro que se encontra na Secção
7, códice 17, da Biblioteca de
Duat, intitulado Sublimatum
– Le Coeur et La Croix, escrito
pelo Jesuíta e grande pensador
Rosa-Cruz – e, também, Adepto - Louis Lerov, que se
apresentou sob o pseudônimo de Giuliano Benfica. Essa
obra é de grande transcendência mística e revela os mais
profundos aspectos espirituais da sublimação.
A Eubiose como Método de
Transmissão/Invenção
Nascida na transição do Quarto para o Quinto
Sistema de Evolução, a Eubiose deve ser vista e operada
através de vários vetores. Escolhemos, para esse trabalho,
os relativos à transmissão do conhecimento e da invenção
de uma nova cultura, de uma nova civilização, como
estratégia para antecipar 3005.
A primeira questão que se nos apresenta é: transmitir
o que? Uma das respostas possíveis está na própria
história da Sociedade Brasileira de Eubiose. Transmitir a
Tradição Iniciática das Idades. Mas, no contexto do século
XXI, com todos os avanços do conhecimento humano,
propiciados pela presença dos Dhianis Planetários,
devemos ultrapassar o método e o conteúdo puramente
teosófico.
Como fazer? Essa é a próxima questão que se
apresenta. A cultura contemporânea nos dá indicadores
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seguros. Devemos revisitar os conhecimentos seculares e
fecundá-los com as novas descobertas e, num movimento
dialético, também, sermos fecundados por aquilo que eles
possuem de essenciais.
Isso implica dar nova vida ao sagrado, trazê-lo ao
nosso cotidiano para uma transformação recíproca.
Pressupõe não uma simples adoração de textos sagrados,
mas uma interpretação hermenêutica do passado à luz do
saber atual. Ou seja, temos que conhecer, sistematizar e
organizar tanto o passado como o presente.
Mas, até o momento, nesse item, estamos tratando
de informação, conhecimento, administração de dados.
Ou seja, como as redes de transmissão se organizam no
interior da sociedade e, também, em nossas estruturas
cognitivas. Mas o processo iniciático, apesar de não poder
prescindir do conhecimento, é algo mais profundo. Ele
visa, em última análise, à utilização de uma linguagem
eubiótica bem contemporânea, a inserção consciente do
discípulo no Pramantha, a transformar o atual estado de
consciência humana em andrógina, profética, integrada
com os construtores do Quinto Sistema de Evolução.
A SBE, no século XXI, deverá, então, levar em conta
as novas questões relativas à transmissão e, também,
repensar o processo de iniciação, que não pode ser mais
focado numa volta à Idade de Ouro idealizada, mas sim,
na contribuição humana para a construção do Quinto
Sistema de Evolução.
A nossa proposta é estender o presente em direção
ao futuro e ao passado. Deste último já abordamos
alguns aspectos, como a revisitação do antigo com as
ferramentas contemporâneas para aprimorar o processo
de transmissão do conhecimento.
Mas o processo iniciático, apesar de não
poder prescindir do conhecimento, é algo
mais profundo. Ele visa, em última análise, à
utilização de uma linguagem eubiótica bem
contemporânea, a inserção consciente do
discípulo no Pramantha, a transformar o atual
estado de consciência humana em andrógina,
profética, integrada com os construtores do
Quinto Sistema de Evolução.
Para o futuro, para 3005, para o Quinto Sistema de
Evolução, é impossível a revisitação. Mas o processo,
estruturalmente, pode ser o mesmo. A partir do passado
transformado e do presente eubiótico trabalhado,
podemos imaginar, inventar o futuro. E essa invenção,
necessariamente, terá, como primeiro ponto de partida,
criar ambiências para que a sublimação aconteça em
sua plenitude, numa vertente psicodinâmica, como
denominavam os professores Sebastião Vieira Vidal e
Margarida Estrela, saudosos orientadores dos jovens da
SBE na segunda metade do século passado. O segundo
é trabalhar os conteúdos revelados pelo seu fundador,
Henrique José de Souza, e transformá-los, dentre outras
coisas, em matrizes operacionais de ação.
Essa invenção cotidiana se transformará, então,
num novo processo iniciático, que se estrutura num
compartilhamento de novos estados de consciência,
surgidos não da mera sacralização de discursos passados,
mas de experiências, de trabalhos concretos. E aqui
aparece mais uma contradição, mais uma ambiguidade:
a consciência abstrata é construída a partir do trabalho
concreto, que passa a ter valor iniciático, se coadunado
com a inserção consciente no Pramantha.
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A LENDA DO FAROL
Os Sete Saberes de um
Educador
Dirceu Moreira
“Jamais haveria evolução se o Verbo se manifestasse proferindo, sempre, as mesmas palavras.”
(Professor Henrique José de Souza.)
O educador, como porta-voz do conhecimento, deverá estar atento para não cair na mesmice, pois o
mesmo conteúdo de hoje, talvez, tenha que ser dado de forma diferente em outra ocasião. Podemos
chamar a isso de educação continuada e inovadora.
A busca pelo conhecimento, sempre, foi e será a única
forma de o ser humano sair da prisão do apedeutismo,
que tanto o torna dependente e manipulado por aqueles
que, possuindo tal conhecimento, esquecem-se
da Lei que os rege. Tal Lei não permite, jamais,
que esse conhecimento seja segregado de muitos
em detrimento de uma minoria. O preço disso
será inexoravelmente caro, pois se constitui
em crime de lesa-humanidade, ofendendo ao
próprio Criador que o disponibiliza a todos,
indistintamente, a fim de que não aconteça o que
disse o grande baiano Rui Barbosa: “Há tantos
burros mandando em homens de inteligência,
que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma
ciência”. Para que isso não aconteça, esperamos
que se profetizem as palavras de outro baiano, Castro
Alves: “Oh! Bendito aquele que semeia livros... |livros à
mão cheia... | E manda o povo pensar! | O livro caindo
n’alma | É germe - que faz a palma, | É chuva - que faz o
mar”. Eu complemento dizendo que livros são os faróis
do conhecimento iluminando as mentes e os corações dos
homens como bênção divina.
Para falar desse mal apedêutico, que acomete
uma grande parcela de pessoas inscientes na
humanidade, contarei o fato através de uma
lenda criada, especialmente, para este caso.
Certa vez, no interior do sertão baiano, vivia
um desses ermitões habitando no alto de uma
pequena montanha; todas as noites, punha-se a
observar e contar estrelas.
Ele ouvira dizer, pela boca de um sábio, que
vivia não muito distante dali, que as estrelas
poderiam lhe revelar grandes segredos da vida e
“enrique-SER” seus conhecimentos.
Seguindo as palavras daquele mestre, ele grudou seu
olhar no céu todas as noites e, somente, depois de muito
tempo de perseverança, subindo e descendo a montanha
durante anos seguidos, deu-se a primeira revelação de um
conhecimento.
Foi um momento mágico, pois, de uma pequenina
estrela perdida na imensidão do cosmo, lançouse um facho de luz que, como um farol, iluminou
e projetou algumas palavras escritas na pedra à
sua frente, onde ele pôde ler: “esta é a pedra do
conhecimento, ligado à arte de transformar o mais
insano e vil metal em ouro, utilizada pelos antigos
alquimistas”.
Tome muito cuidado, porque nada disso
acontecerá sem a sua transformação interior,
afinal, todos esses conhecimentos, somente, serão
sabedoria depois de tê-los colocados em prática,
caso contrário, não passarão de um livro cujas páginas
foram arrancadas.
Passaram-se muitas luas para que o ermitão pudesse
vivenciar e iniciar sua jornada interior; como peregrino,
vagou por muitos caminhos.
De retorno ao alto da montanha, contemplou,
novamente, o céu, sendo que a segunda estrela
escolhida, também, exigiu dele muito tempo de reflexão,
mas, quando se distraiu com todas aquelas
possibilidades de miríades de estrelas, o fato se
repetiu.
O farol ilumina, novamente, a pedra na qual
costumava sentar-se. Então, pôde ler: “esta é a
segunda pedra, que traz o conhecimento sobre
todas as artes, que inspiraram os grandes seres
a iluminarem esse planeta através da música,
pintura, canto, dança (artes em geral). Seja
cauteloso para não deturpar sua essência,
principalmente, se o caminho da primeira estrela
não tiver sido percorrido com êxito, para conduzi-la à
sua autotransformação. Assim, a magia da arte voltarse-á contra você. Nunca é demais avisar o que os grandes
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Mestres, sempre, recomendaram: olhos e ouvidos
alerta, porque a lei de polaridade espreita por
todos os lados, e tudo tem seu oposto. Todo ser
humano leva, em si, imanente, a tendência e a
força para transformar-se em algo superior;
jamais se esqueça dessa lei de evolução, para
que não desqualifique as pessoas. A quem
encontrar pelo caminho cumprimente-o dizendo
NAMASTÊ: O Deus que habita em mim, saúda
o Deus que habita em você. Eis aí a síntese dos
relacionamentos”.
conhecimentos, registrados pelo tempo afora.
Procure ler muito para que possa cumprir o que
lhe trouxe a 4ª estrela, e tudo que produzir o faça
com ética e com estética da sublime arte do bem
viver, assim, estará transformando a si mesmo,
alquimicamente”.
Foram tantas as luas que se passaram, que
nem mesmo o relógio do Sol poderia registrar
o desaparecimento do ermitão e, muito menos,
o que ele fez em sua caminhada pelo mundo. Num lindo dia, daqueles em que o verde cobria
todo o semiárido baiano, o alto da montanha
estava, ainda, mais lindo para recebê-lo. Ao
cair da noite, pôde vislumbrar que havia cinco
estrelas cintilantes, que se destacavam no céu.
Ali sentado, recebeu sua sexta revelação, e uma
estrela projetou, novamente, aquele farol de luz
esplendoroso, possibilitando-lhe que, naquele
instante, pudesse ler a seguinte mensagem: “sou
a essência que lhe trago o dom de aprender a
pensar, com isso, poderá, novamente, “re-ligarse” ao Criador, não a confundindo com a religião
comum: Eu sou a filosofia e a teogonia, teosofia
que dá ao homem as possibilidades de acessar sua
consciência superior, conhecer o céu e a terra e seus
mistérios (cosmogênese e antropogênese). Com
isso, poderá mergulhar para dentro de si e tornarse mais criativo. Junto comigo, trago uma
das minhas irmãs, a 7ª estrela, que lhe
revelará a arte da cura por um ramo do
conhecimento, ainda, pouco praticado
pelos homens – a medicina teúrgica
(palavra de origem grega, que significa
Obra, Magia Divina)”.
Maquiavel
Conta-se que, tempos depois, o ermitão
produziu muitas obras de artes e, só depois de um
tanto de luas, retornou ao seu lugar de origem.
No seu terceiro encontro, no alto da
montanha, chovia muito, mas ali ele permaneceu
e, só no terceiro dia consecutivo, deu-se a
projeção do farol de luz trazendo-lhe outra tônica
do conhecimento:
“Preste atenção, esta é sua terceira revelação:
para que as duas anteriores sejam vivenciadas
por você, será preciso que atue no mundo de forma
ética, estética e politicamente correta”.
Nessa altura dos acontecimentos, o ermitão
começou a perceber que, a cada passo, as coisas
ficariam mais difíceis, porém, também,
sabia que, para “enrique-Ser”, era
preciso ter a riqueza não só do ouro, mas
também do saber SER. O tempo passou depressa, e a quarta
revelação lhe veio de súbito quando
descia da montanha. E, quando menos
esperava, observou novamente um
clarão. Voltou, então, a sentar na pedra, e
assim foi registrado: “existe uma lei da sublime mecânica
celeste que se projeta em todas as coisas; o homem
a denomina de ciências exatas. Ela tem inspirado,
nos seres humanos, grandes possibilidades de
descobertas e força impulsionadora da tônica do
progresso tecnológico. Antes que possa retornar
ao seu refúgio, como nosso tempo é curto, peço
que nada tente fazer sem antes compreender o
que lhe ensinará a 5ª estrela, que vem trazendo o
dom acumulado ao longo de gerações, contido na
literatura, através de livros dos mais diferentes
O ermitão ficou, completamente, em
êxtase, no entanto percebeu que todo seu aprendizado
não fazia sentido algum isoladamente. Sua
visão, ainda, era fragmentada com um monte
de disciplinas, que não se conectavam, não
interagiam umas com as outras. Novamente, a
presença de “Cronos”, o deus do tempo, fez um
único dia da vida do ermitão ser uma eternidade e
o atormenta tanto, que ele retornou à montanha
e pos-se a pedir, incessantemente, que as estrelas
lhe dessem a chave do conhecimento secreto, para
resolver tal enigma.
Fevereiro - Maio/2012
16
Neste dia, de tanto suplicar (e a súplica de um
sertanejo sábio tem o poder de uma medicina teúrgica),
fez jus a seu pedido, caso semelhante ao que acontecera
a Esculápio de Epidauro, que renasceu das cinzas, ou,
mesmo, ao estalo de Vieira (padre Antônio Vieira).
Eis a revelação provinda da 8ª estrela: “eu sou o poder
sintetizador, unificador e integrador de todas as revelações
que você recebeu das sete estrelas, minhas projeções. Para
que possa “enrique-SER”, ou seja, aplicar o conhecimento
recebido, deverá vivenciar a metáfora: um por todos e todos
por um, não a luta pelo poder, mas a luta pelo dever. Daqui
pra frente, a jornada é sua, e lembre-se sempre: a quem
muito for dado, muito lhe será cobrado”.
Conta-se que, depois de muito tempo, o ermitão
casou-se e teve oito filhos, e os batizou com o nome
dos sete ramos do conhecimento da Árvore da
Vida, que lhe fora revelado. Tornou-se um grande
pensador e, hoje, caminha pelo mundo, ensinando seu
método de aprendizagem denominado de “o farol do
conhecimento”, divulgando que todos os saberes são
analógicos.
Embora de conteúdos diferentes, encontramos,
nesses saberes, semelhanças, inclusive, contendo o bem,
o bom e o belo, para serem integrados de forma eclética e,
sincreticamente, aplicados no dia a dia de cada um. Sem
dúvida alguma, trata-se de uma visão sistêmica, integral
e holística, na qual as múltiplas disciplinas, quaisquer
que sejam, interagem de forma multidisciplinar, inter
e transdisciplinar. O farol do conhecimento é móvel
e, como tal, gira 360 graus, iluminando a escuridão
provocada pelo apedeutismo, que tanto atrasa o
desenvolvimento do ser humano. A educação é o farol
do conhecimento, cujo potencial vai além do farol de
Alexandria. A educação não tem fronteira, é a fonte de
toda Criação, e os limites, a ela impostos, são produtos
da ganância dos homens, para dominar os povos. Esse
conhecimento é incorruptível e volta, sempre, ao seio dos
homens, como fez Prometeu ao nos entregar as chamas
desse fogo (Este prometeu e cumpriu). A educação é o
farol do conhecimento; os educadores, suas cores e luzes;
e as sete estrelas são suas múltiplas disciplinas. Cada
escola possui um farol do conhecimento, réplica perfeita
daquele contido nas estrelas. Todas as escolas possuem
a mesma essência, e nenhum educador pode arrogar o
direito de dizer que a sua, ou seu método, é melhor do
que o outro, e, sim, compartilhar suas experiências e
qualificar o que os outros estão fazendo. Assim como
o ermitão era conhecido como Glorioso, o mesmo
significado para o nome Euclídes, assim, também, todos
os educadores são gloriosos, e suas ferramentas são os
diversos ramos do conhecimento, verdadeiras Cunhas,
capazes de erguer, remover e transformar os maiores
pesos da ignorância do ser humano.
Educação, família e sociedade é uma tríade perfeita
à medida que cada uma delas cumpra seu verdadeiro
papel. Que a família o faça através do amor, a escola
pela inteligência e a sociedade pelo trabalho. Amor sem
sabedoria cria protecionismo sem os devidos limites.
São Mestres e pais bonzinhos, não justos. A inteligência
sem amor torna o homem distante e frio em seus
relacionamentos, mas, também, amor e sabedoria sem o
trabalho (ação) não gera, absolutamente, nada; é como
um livro fechado e trancado numa biblioteca. Escola,
família e sociedade constituem o palco da vida onde se
desenrolam os saberes, sintetizados pelas revelações das
estrelas; em suas interrelações, é que se dá a harmonia
tão desejada de todos os educadores, para que a educação
não seja mais o bode expiatório de toda sociedade,
porque nosso país é como disse Jorge Amado: “Eu sou
muito otimista, muito. O Brasil é um país com uma força
enorme. Nós somos um continente, meu amor. Nós não
somos um paísinho, nós somos um continente, com um povo
extraordinário”.
Antonio Conselheiro disse, por volta de 1900: “Há
de chover uma grande chuva de estrelas e aí será o fim
do mundo”. Primeira tradução: é o fim, a morte pela
transformação do ser humano, através das estrelas do
conhecimento, citado na lenda, tendo à frente a educação
como farol a iluminar o grande espetáculo da criação
Divina, mas, também, pode ser o aviso, há tempos,
anunciado pelos grandes sábios. Ou mudamos pelo amor,
ou pela dor, mas mudamos.
Essa lenda é uma homenagem a todos os educadores
baianos e a todos os educadores brasileiros, que, com
dignidade, fazem da educação seu principal baluarte.
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, disse Euclídes
da Cunha. Os educadores, além de fortes, são, também,
persistentes e sábios, para que possam transformar
pequenas estrelas em grandes Sóis. Há uma condição
“sine qua non”, para que tudo isso possa acontecer, que
se encerra na frase do Prof. Henrique José de Souza: “O
homem não é sábio porque sabe, ele é sábio porque ama.
Em essência, esse amor é pleno de sabedoria”.
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A LIDERANÇA NO TERCEIRO MILÊNIO
Silvio Piantino
“Reconstruir é o brado que nos compete! Sim, reconstruir o homem, o pensamento, a moral, os costumes;
reconstruir o lar, a escola, o caráter, para que o cérebro se transmute ao lado do coração. Só assim a
humanidade se tornará digna do estado de consciência exigido pela nova civilização.”
(Professor Henrique José de Souza.)
É imperioso que esse brado da reconstrução encontre
eco na mente e no coração de cada membro da Sociedade
Brasileira de Eubiose e de cada cidadão do mundo, sintonizado
com os ditames da Era de “Aquarius”. Urge que cada um
desses assuma a liderança de uma parcela da humanidade, de
forma a satisfazer as exigências transformacionais do novo
Ciclo.
Entendemos, no entanto, que essa liderança deva se
mostrar hábil e eficiente, encontrando-se, necessariamente,
embasada em técnicas e conceitos testados e validados
através dos tempos. Percebemos, ainda, que a reconstrução
do homem, do pensamento, da moral, dos costumes, do
lar, da escola, e do caráter passa, necessariamente, pela
estreita vereda da significação, do autogerenciamento e do
autoconhecimento.
Assim, iniciamos uma série de artigos que apontam como
objetivo abordagens e tendências históricas da liderança,
fomentando o relacionamento de Liderança com Significação,
Autogerenciamento e Autoconhecimento, de modo a se
tornarem cenários inseparáveis. Nesse trajeto, reforçaremos
a conceituação de liderança como um estado dinâmico no
domínio espaço-tempo.
Tomando como ponto de partida a abordagem dos traços,
dos estilos e dos contextos, ultrapassaremos os conjuntos
situacionais e o enfoque servil até aportarmos na tão almejada
Liderança Transformacional. Compartilharemos, entre
outras, as ideias e propostas de Bernard Bass, Joseph Host,
Maslow, Holander Fieder, até alcançarmos James C. Hunter,
que definiu Liderança como a “habilidade de influenciar
pessoas para trabalharem entusiasticamente, visando ao bem
comum, inspirando confiança por meio da força do caráter”. E,
assim, preparamos o caminho para Viktor Frankl, que colocou
liderança como um “Relacionamento de estímulo mútuo
que eleva os seguidores à condição de líderes de si mesmos”.
Intentamos, com todo esse desenvolvimento, alcançar o marco
sem retorno, onde, unicamente, o irrestrito autoconhecimento
pode nos permitir continuar e alcançar a verdadeira liderança,
que tem como base o encontro pleno consigo mesmo.
INTRODUÇÃO
A procura da liderança é constante e viva em todos os
setores da sociedade. No entanto, a incapacidade de preencher
a riqueza de atributos e comportamentos, desejados àqueles
que se propõem à posição de líderes, resulta na falta de
liderança capaz e eficaz, nos governos, nas indústrias, nas
empresas, nas religiões, nos esportes, na educação, bem como
nas demais formas de organização humana.
A liderança tornou-se quase uma obsessão. Os livros se
amontoam nas prateleiras das livrarias e, a cada mês, mais
e mais títulos são acrescentados. Hoje, 02 de dezembro de
2011, digitando “leadership”, no Google, em 26 segundos,
fomos brindados com, aproximadamente, 123 milhões de
referências!!!
Bernard Bass e Ralph Stogdill (1990) catalogaram 7.000
estudos sobre liderança. Penner (2001) pressupõe que esse
número já deveria ter ultrapassado a casa dos 12.000 estudos.
E estamos aqui falando de trabalhos que introduzem ou
propõem algo de novo nesse assunto, ou seja, não são, apenas,
coletâneas ou releituras do já realizado.
É fato que o evento da liderança existe desde o início dos
tempos. O homem é um ser, essencialmente, social. Assim,
desde o alvorecer das civilizações, sempre, buscou formatos
organizacionais, que visassem a fins específicos, fossem
grupais ou individuais. Sabemos que toda ação demanda
esforços e, também, que maior probabilidade de êxito teríamos
se lográssemos construir e manter estruturas grupais coesas e,
uniformemente, direcionadas.
Em qualquer grupo, formal ou informal, cada indivíduo
desempenha um papel particular e uma função conjunta. Em
qualquer aliança, sempre, aflorará, alguém cujo desempenho e
posição são essenciais ao êxito do grupo como um todo. Está,
assim, caracterizada a liderança como um elemento natural
e espontâneo da função de influenciar outros para se atingir
objetivos comuns.
Toda literatura, sempre, orbita na figura dos heróis,
personagens de caracteres especiais, que conduzem outros a
metas específicas. Seres que atuam como espelho, caminho e
meio, para valores oportunos na situação em apreço. Ou, em
outras palavras, líderes.
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Uma pesquisa literária remontando à Grécia antiga,
representada por “A República” de Platão, pela “Odisseia”
e pela “Ilíada” de Homero, ou ao extremo Oriente, com sua
epopéia MahaBharata, passando pelos livros do Antigo
Testamento e de todas as outras religiões, irrefutavelmente,
comprova essa afirmação. O que dizer de seres mitológicos
como Ulisses, Arjuna, Krisnha, Rama, Abraão, Zoroastro,
Tupã e outros mais? A história humana está, também, repleta
desses personagens. Quem nunca se inspirou em Gandhi,
Júlio César, Aknaton, Marco Polo, Joana d´Arc, Alexandre, o
Grande, Dalai Lama ou Churchill?
Apesar de tão vasto manancial teórico, poucos assuntos
são tão controversos quanto este, não havendo, até agora, um
modelo de liderança universalmente aceito, independente da
época, posição geográfica ou situação avaliada. Cada nova
abordagem critica aspectos e reforça partes das anteriores. É
como se cada proponente acrescentasse uma pedra ao edifício
conceitual da liderança, contribuindo, assim, com seu quinhão
para a conclusão do todo.
Fiedler, assim, expressou-se sobre esse tema: “Um estilo
de liderança não é, em si mesmo, melhor ou pior do que outro,
nem, tampouco, existe um tipo de comportamento em liderança
apropriado para todas as condições. Dessa forma, quase todo
mundo poderia ser capaz de ter sucesso como líder em algumas
situações e quase todo mundo está apto a falhar em outras”
(FIEDLER, 1967, p.115).
Bernard Bass (1990) afirma, textualmente, que “Existem
quase tantas definições de liderança quantas pessoas que
tentaram definir o conceito”. Já Joseph Rost (1993) vai ainda
mais longe, afirmando, com um senso de humor ímpar,
que “Os eruditos não sabem o que eles estão estudando, e os
praticantes não sabem o que eles estão fazendo”.
Sabemos que tudo, na vida, evolui, o mesmo,
necessariamente, devendo se aplicar à liderança. Acreditamos
que, nesse terceiro milênio, deveríamos alcançar patamares
relacionais mais elevados, objetivando um processo
transformacional de si e do outro. Acreditamos que não nos
sustenta mais o mero atendimento de metas e objetivos. Ao
final do processo há de existir, com igual ênfase, evolução e
engrandecimento humano.
Somos, assim, atraídos pela questão: Qual o caminho a ser
trilhado pelo líder no processo transformacional de si mesmo e
de sua equipe?
Aqui chegamos ao objetivo geral deste trabalho, como
sendo a identificação de uma postura de Liderança, que prime
pela transformação holística, grupal e individual, baseada no
tripé: Significação, Autogerenciamento e Autoconhecimento.
Como objetivos específicos, poderíamos detalhar os
seguintes tópicos:
I. Conceituar e caracterizar a liderança;
II. Apresentar modelos básicos utilizados através dos
tempos, reforçando a sua linha evolucional;
III. Diferenciar Líder e Gestor;
IV. Conceituar liderança como um estado dinâmico no
domínio espaço/tempo;
V. Demonstrar a importância da significação na
motivação individual;
VI. Demonstrar a importância do autogerenciamento no
convívio das pessoas;
VII. Demonstrar a importância do autoconhecimento,
como identificação das limitações e potencialidades, tanto de si
como dos outros.
Cremos se explicar a escolha desse tema no diferencial
que uma liderança adequada, sempre, apresentou em todos os
aspectos da vida humana, tanto no âmbito profissional como
no pessoal.
Acreditamos, assim, que todo esforço, no sentido de lançar
mais um pouco de luz em tão complexo como relevante tema,
seria mais que plenamente justificável.
De forma a atingirmos nosso intento, valemo-nos
da Metodologia Bibliográfica, Exploratória, baseandonos em pesquisas em sites de instituições e organizações
especializadas nesse assunto. Os artigos e publicações foram
selecionados com base em autores renomados e considerados
como autoridades nesse assunto. Entre tais: Bernard Bass,
Joseph Host, Maslow, Holander Fieder, Yukl, James C. Hunter
e Victor Frankl.
REFERÊNCIAS
BASS, Bernard M. Bass, Ruth Bass. The Bass handbook
of leadership: theory, research, and managerial applications,
1990.
FIEDLER, F. (1967). A theory of leadership effectiveness.
New York: McGraw-Hill
PENNER, David S. Revisão Literária Sobre Liderança.
2001. Disponível em <http://www.unisa.br/cbel/
artigos04/09_david_penner.pdf>. Acesso em 25 de agosto de
2010.
ROST, Joseph C. Leadership for the Twenty-First Century,
1993.
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E
UBIOSE: Consciência da Natureza e
Natureza da Consciência
Alberto Vieira da Silva
“Os chacras em número de sete, como os astros ou planetas, como o espectro solar, etc.,
não são mais do que “as forças sutis da natureza”. Para conhecê-los e
manejá-los é preciso ser um Adepto.”
(Prof. Henrique José de Souza.)
As grandes transformações: sinais e
indícios
A interação entre o ser humano e a Natureza vem
de tempos imemoriais. A partir do momento em que os
homens romperam o elo original, que os ligava às forças
naturais e às demais criaturas, destacando-se destas através
do intelecto, essa mesma interação passou a gerar uma
importante produção artística, literária, filosófica, religiosa
e, mais recentemente, científica. Através da diversidade
humana, essa relação adquiriu, ao longo dos tempos e das
civilizações, aspectos muito diversos, que ora proporcionaram
uma harmonia e proximidade, ora geraram alheamento
e até desarmonia, como é o caso de nossa civilização,
essencialmente, urbana e industrial, completamente
divorciada da “Máquina do Mundo”, na cosmovisão
renascentista de Luís de Camões em Os Lusíadas. Assim fala a
deusa Tétis a Vasco da Gama no alto de uma montanha da Ilha
dos Amores, para onde havia sido conduzido para contemplar
a harmonia universal:
"Vês aqui a grande Máquina do Mundo,
etérea e elemental, que fabricada
assim foi do Saber, alto e profundo,
que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
globo e sua superfície tão limada,
é Deus: mas o que é Deus ninguém o entende,
que a tanto o engenho humano não se estende".1
Com efeito, segundo diversos estudos realizados
nos últimos anos por comissões de especialistas criadas
pela ONU, governos e entidades privadas para análise
das questões ambientais – onde a par das biológicas se
encontram, também, as climáticas – o resgate de uma relação
equilibrada, harmoniosa, de toda atividade humana com a
Natureza ou meio ambiente já não é opção: é uma necessidade
e uma obrigação de todos, de modo a evitar ou, pelo menos,
minimizar catástrofes ambientais e, inevitavelmente, sociais.
Já a caminho da tão esperada Conferência Mundial das Nações
Unidas Rio+20 (Junho 2012), todos os estudos realizados
desde a conferência original revelam, de modo conclusivo, os
danos da ação humana sobre o meio ambiente perpetrados
nas últimas décadas, numa escala que está se aproximando,
perigosamente, do limite irreversível dos chamados serviços
naturais.
Será que nossa civilização, essencialmente, urbana
se encontra tão afastada assim, da Natureza e de uma
relação harmônica entre o ser humano e o meio ambiente?
– questionarão alguns. O próprio termo “civilização” –
originado do latino “civile” (conjunto organizado de indivíduos
ou “cives” vivendo sob leis comuns), agrupados normalmente
em uma “urbs” (cidade) – fala, claramente, sobre essa
perspectiva herdada da Antiguidade, que o Cristianismo, no
Ocidente, perpetuou até hoje: o centro conceitual do mundo
humano não é a Natureza com o Homem dentro dela; pelo
contrário situa-se num polo oposto dela, fora dela, um “Deus
ex machina”, mais com perfil de imperador tirano, sentado
num trono urbano e isolado da realidade humana e natural por
elevadas muralhas. Não é sem razão que Fernando Pessoa, em
um de seus ensaios, sob o raro heterônimo “António Mora”,
escreveu: “A Igreja Católica não deriva, não descende do
Império Romano. A Igreja Católica é o Império Romano.” 2
Por outro lado, mesmo abstraindo as emissões nocivas
de origem urbana e industrial e o acúmulo de lixo nos lugares
mais inesperados, existe algo que denuncia, desde logo, esse
afastamento: o fato de se considerar, com toda a naturalidade,
o ser humano por um lado, e a Natureza por outro, não
será revelador sobre o grau de fragmentação conceitual das
sociedades ocidentais, em relação ao grande todo natural que,
de algum modo, as envolve?
Essa característica cultural, que, com toda a
naturalidade, aliena o ser humano do meio ambiente para
centrar-se no confortável mundo urbano, encontra-se
presente diariamente, inconsciente e sutilmente em nossas
atitudes. E ela determina as causas próximas e remotas do
viés predatório de uma sociedade cunhada por um conceito de
“desenvolvimento”, que devasta florestas inteiras, contamina
ou aniquila ecossistemas, condena à extinção espécies naturais
e injeta, diariamente, no ambiente, milhares de toneladas de
produtos sólidos, líquidos e gasosos, que a biologia natural
não consegue degradar em tempo útil. Como é evidente,
semelhante paradigma, também, não poupa o ser humano que
o alimenta. E, entre competição feroz, envolvendo pessoas
e empresas, corrupção e degradantes falhas de caráter,
tal mentalidade surge como uma das principais causas do
desequilíbrio psicossomático dos indivíduos e do conjunto de
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“A neurastenia nas grandes
cidades”, capítulo de uma
coletânea de textos3,
editada em 1949 pela,
então, Sociedade Teosófica
Brasileira, Henrique José
de Souza, sob o heterônimo
Laurentus, denunciava
as patologias físicas e
psíquicas das grandes
cidades, apresentando
como causas, justamente, o
afastamento da Natureza e
o desconhecimento de suas
leis.
perturbações, doenças e
anomalias, que explodem nos consultórios clínicos de todas
as especialidades. Já em “A neurastenia nas grandes cidades”,
capítulo de uma coletânea de textos3, editada em 1949 pela,
então, Sociedade Teosófica Brasileira, Henrique José de Souza,
sob o heterônimo Laurentus, denunciava as patologias físicas
e psíquicas das grandes cidades, apresentando como causas,
justamente, o afastamento da Natureza e o desconhecimento
de suas leis.
Porém, nas cinzas desse divórcio secular entre
as sociedades urbanas e a Natureza global, agudizado,
particularmente, desde o final do século dezoito – quando
foi iniciada a era industrial – parece existir uma esperança.
Um pouco por todo lado no mundo, e, particularmente, no
seio das próprias sociedades industriais, começa a estar em
alta, nos dias de hoje, na aldeia global, todo um conjunto
de preocupações e práticas mais ou menos ambientais e
naturalistas, o que parece ser sinal de uma busca individual
e coletiva por uma harmonia perdida. Ou, talvez, nunca
encontrada desde os míticos tempos do paraíso terrenal – o
paradiso, paradesha ou país supremo, etimologia sugerida
por René Guénon, em 1927 (“Le Roi du Monde”), consistente
com o avéstico pairi-daeza, como lugar murado, reservado,
etc. Paraíso donde foram, simbolicamente, “expulsos” Adão e
Eva para adquirirem a sagacidade e a inteligência da Serpente
(conquista da Mente no plano do concretismo). E para onde
serão reconduzidos, como Humanidade, já pela Inteligência
superior ou abstrata, búdica, ou a mesma “consciência
imortal”, com a vitória sobre o materialismo ligado ao corpo e
aos sentidos. Portanto, sobre a própria Morte, libertando-se do
kármico ciclo dos nascimentos e mortes.
Preservação ambiental, proteção a espécies em extinção,
denúncia de maus tratos a animais domésticos e das brutais
linhas de produção de animais para abate; alimentação
saudável e balanceada, higiene do pensamento, vida ao ar
livre; gestão ambiental das empresas, tecnologias “verdes”,
engenharia ambiental, consumo de materiais naturais e novos
hábitos de vida ou de pensamento; o sucesso mundial de
autores como Fritjof Capra (O Tao da Física, Ponto de Mutação
e A Teia da Vida, entre outros), de palestrantes como Al Gore,
ou de filmes premiados como Uma Verdade Inconveniente
(2006) deste último; o Avatar, de John Cameron (2009),
com sua mensagem fortemente ecológica e naturalista; a
forte comunicação e sensibilidade das animações de Hayao
Miyazaki ou de Isao Takahata; o tempo crescente dedicado
a programas ambientais nos canais televisivos – entre
muitíssimos mais são, apenas, alguns exemplos de toda
uma mudança cultural que está imprimindo sua influência
em adultos, jovens e crianças, e que alguns pesquisadores e
educadores, à falta de políticas públicas de educação nesse
sentido, já começam a transportar, inclusive, para as salas de
aula e atividades extracurriculares.
Apesar das tendências e transformações em curso,
numa época que muitos já identificam com o renovador Ciclo
de Aquário, semelhante paraíso terrenal não surge da noite
para o dia. Ainda existe um longo caminho a percorrer para
o surgimento de cidades e de sociedades, ambientalmente,
sustentáveis e, sobretudo, harmônicas, nas quais a maior parte
de seus habitantes seja ajustada emocionalmente e viva dentro
de padrões éticos, consciente de sua integração harmoniosa
com a totalidade da Natureza: a Natureza global ou integral,
que possui sua parte visível e outra sutil, invisível aos olhos
grosseiros. O que, hoje, ainda, não é possível porque o ser
humano vive sobretudo para o corpo e as explosivas emoções
ligadas a ele, certamente, fará parte de etapas evolucionais da
mônada.
Semelhante movimento de rearmonização com a
Natureza global – induzido parcialmente, mas, também,
significativamente, pelas preocupações ambientais –
não significa, bem-entendido, um retorno às matas e ao
desconforto de uma vida dura, primitiva e perigosa. Significa,
na visão eubiótica, a conquista de um equilíbrio justo e
perfeito entre ambientes naturais e ambientes que reflitam
o melhor da própria natureza humana, ou antes, de sua
verdadeira identidade, que, segundo a Eubiose, é divina
em sua origem e em seu destino final, o que pressupõe uma
revisão conceitual de toda a nossa civilização e a inserção de
reformas importantes em muitas práticas sociais, começando
pela reforma das mentalidades – como encontramos,
frequentemente, em Edgar Morin, por exemplo, em Os Sete
Saberes para a Educação do Futuro 4 – ou, na perspectiva
da Eubiose, pelo interior do próprio ser humano, como
preconizou o Prof. Henrique José de Souza:
O homem moderno, que criou para si tantos
instrumentos de conforto, não poderia mais volver ao seio das
florestas como os seus ancestrais, vivendo primitivamente.
Seria um retrocesso, e a EUBIOSE não preconiza retrocessos.
O homem moderno criou uma literatura, possui teatros,
cinemas, rádios, geladeiras, fogões elétricos, aviões, máquinas
de lavar e passar roupa, telefone, automóveis,etc. Ser-lhe-ia
impossível prescindir de tudo isso. A finalidade da EUBIOSE é
tornar o homem feliz, integrando-o, harmoniosamente, nessa
civilização, com um novo caráter impresso em sua mentalidade:
viver procurando a felicidade alheia. É uma afirmação que, à
primeira vista, parece um tanto utópica, considerando a posição
atual do homem em meio das suas próprias contradições
internas e externas, que caracterizam o nosso ciclo e que são
os frutos da nossa formação didática errônea, da perda da
Tradição, portanto, do meio social distorcido e, porque não
dizer, pervertido, em que vivemos. 5
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21
A dúvida ou questionamento – como impulso
para descobrir e aperfeiçoar-se – permite
ao ser humano acercar-se de si mesmo,
aprofundando os dados dos sentidos,
desafiando as aparências, observando-se como
se ele próprio fosse um objeto distinto... visto
que quem observa o objeto é o sujeito.
Consciência da Natureza e natureza
da consciência
Será que o ser humano constitui, efetivamente, uma
partição completamente distinta da Natureza em geral,
a ponto de se considerar uma criatura exógena a ela? No
entender de Edgar Morin, sistematizador da complexidade
na Ciência e um dos maiores vultos do pensamento
contemporâneo, “nós fazemos parte da Natureza e, ao
mesmo tempo, estamos separados dela. É um problema
epistemológico. Será que o Homem faz parte da Natureza?
Sim e não. É preciso saber evitar esse tipo de questão, que nos
obriga a uma resposta binária. Nós pertencemos à Natureza
e, ao mesmo tempo, estamos além dela porque temos uma
cultura, um espírito, uma consciência” (MORIN, 2006, p.2). 6
Aparentemente, não existem quaisquer evidências
ou argumentos, sobretudo do ponto de vista biológico,
que sustentem tal afirmação. O ser humano compartilha,
praticamente, todas as suas características somáticas e até
psíquicas com a restante vida biológica de nosso planeta,
muito especialmente com os animais superiores: medo, desejo,
ira, atração, sofrimento, alegria, concentração, trapaça... São
reações encontradas, com perturbadora semelhança, tanto nas
comunidades humanas, como em nossos animais domésticos,
em mamíferos e noutros animais que vivem nas matas mais
distantes dos centros populacionais, em plena imersão nos
ecossistemas intocados pela mão humana. Porém, o ser
humano não é um animal...
Estudos recentes sobre o genoma humano, comparado
com o genoma do chimpanzé, mostram que os pares de genes
das duas espécies diferem menos de 4%. Porém, que mistério
enorme encerra essa percentagem mínima na diferenciação
genética, para que, pesadas as inegáveis semelhanças,
existam, ao mesmo tempo, diferenças tão abismais entre
humanos e os animais mais próximos? O que se encontra no
ser humano que o faz, instintivamente – assim como o fez
durante a História – rejeitar o mundo natural e concentrar-se
em ambientes inteiramente antrópicos? Do ponto de vista da
Eubiose e dos ramos mais importantes da filosofia iniciática e
espiritualista tradicional, o traço fundamental, que distingue o
ser humano de seus irmãos animais, é o que se poderia chamar
de consciência. E o que é a consciência? – poderá questionar o
leitor.
“Cogito, ergo sum”, diria o filósofo na tradução latina
de seu “Discurso do Método”. Embora René Descartes
seja, em alguns círculos intelectuais, apontado como um
dos responsáveis por certo tipo de pensamento quadrado,
mecânico e limitado (vide cartesianismo), existem razões para
supor que o eminente filósofo apresentava um pensamento
muito mais amplo e completo, que incluía Deus em seu cenário
existencial e, portanto, a assimilação da inteligência humana
à Inteligência universal. Por outras palavras, a busca de uma
Ciência universal, em Descartes, não só não exclui a existência
de Deus, mas também integra o Divino na própria Ciência,
como busca – séria e metódica – de um sentido para o mundo.
Afinal, o oráculo de Delfos, na antiga Grécia, não afirmava
algo muito diferente na célebre lápide: “Homem, conhece-te a
ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.
Na verdade, é o próprio ato de duvidar – ou melhor, de
questionar-se – que constitui o motor do aperfeiçoamento
humano em todos os seus aspectos, tanto individual como
coletivamente, tanto subjetiva como objetivamente, tanto
mental como afetivamente, visto que as emoções, também,
aprimoram-se. Como? Segundo o Prof. Henrique José de
Souza, cultivando e desenvolvendo um padrão afetivo superior,
como o que está presente no altruísmo ou, pelo menos, na
preocupação constante pelos outros, seja reforçando o bem
comum acima das exigências egoístas, seja minimizando-lhes
a dor e o sofrimento, seja de que forma for. E o que dizer desses
mesmos sentimentos pelos restantes seres vivos? – questão
para refletir o que significa a emergência e a popularidade
das preocupações ambientais e da conservação da Natureza
em tantos milhões de pessoas em todo o mundo. Não admira,
portanto, que o Mestre aconselhasse aos discípulos perpassar
todos os dados dos sentidos ou das emoções pelo “crivo da
inteligência superior”, visto que essa superioridade não reside,
verdadeiramente, em considerar-se superior aos demais, mas
encontrar-se em um estado superior de ser e de fazer justo,
sábio e generoso, onde a vaidade não tem qualquer lugar.
A dúvida ou questionamento – como impulso para
descobrir e aperfeiçoar-se – permite ao ser humano acercar-se
de si mesmo, aprofundando os dados dos sentidos, desafiando
as aparências, observando-se como se ele próprio fosse um
objeto distinto... visto que quem observa o objeto é o sujeito. E
esse sujeito o que é, senão o “Eu” – ou “Eu-consciência” – que
a maior parte das pessoas confunde com a alma, mas constitui
a chave-mestra da própria Iniciação, já que liga o ser humano
ao seu princípio divino, ainda, adormecido na maior parte dos
indivíduos?
Todo o processo de elaboração, expansão e
aprofundamento da consciência se passa de uma forma oculta,
invisível, ou seja, faz parte de um mundo imponderável,
porque se situa, imediatamente, acima do físico, embora,
sempre, com reflexo neste. É comum alguém se referir a um
grande expoente da música, das artes, da ciência, ou até da
espiritualidade como sendo “imortal”, ou como tendo deixado
uma “obra imortal”. Justamente, nesses casos, o gênio criador
ou o pensamento redentor, proveniente do interior desses
indivíduos – invisível e sem forma – agiu sobre o mundo
humano, trazendo benefícios, evolução, aperfeiçoamento ou
melhoramento, consoante aos casos. É o mesmo lado oculto,
íntimo e reservado da Natureza, que, consoante a altura a que
o indivíduo consegue erguer-se, oferece- lhe a identificação
ou fusão perfeita com todas as criaturas viventes e com os
elementos naturais, chamem-se estes por seus antigos nomes
de Terra, Água, Fogo, Ar e Éter, ou elementos sutis, que, no
Oriente, são conhecidos por Tatwas, as forças ou elementos
sutis da Natureza, coroados pelo quinto elemento, o Akasha,
em sânscrito, ou o mesmo “Aether” da Antiguidade Clássica
Ocidental. E só pode dominar os Tatwas quem conseguir
dominar a si mesmo...
Com efeito, a consciência e seus estados ou patamares
possíveis – os estados de consciência – não têm peso nem
ocupam lugar material, e a sabedoria popular aí está com o
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provérbio, de todos conhecido: “O saber não ocupa lugar”.
E saber, no caso, pode ser tudo, desde a simples acumulação
de conhecimentos – constitui, nesse nível, a ilusão do
conhecimento, porque se limita à capacidade de acumulação
da memória e a um jogo lógico elementar – até à sabedoria
propriamente dita, celebrada e colocada em prática pelos
grandes gênios e iluminados, que já passaram por esse mundo.
Esta, como Quintessência do conhecimento e da própria vida
humana, que, se tocada pela luz búdica, não necessita mais
de literatura e de fenômenos materiais ou visíveis para ser
alimentada, porque consegue ler, diretamente, do Mundo
das Causas, o mesmo do Tronco da Árvore da Vida ou dos
Kumaras, a Mente Universal. Porém, antes de chegar a ela,
longa peregrinação é necessária pelos tortuosos caminhos
da mente, da ilusão para a desilusão, e desta para as certezas
finais do Atmã ou Sétimo Princípio, com o sopro da Divindade
bafejando a criatura consciente dela mesma. Será que existem
certezas antes desse estágio final da evolução, na concepção
da Ciência Iniciática? Podem existir, mas, sempre, provisórias,
porque o homem ou a mulher, trilhando um caminho sábio,
não deixam de questionar-se, afastando de si o fanatismo, a
crendice e a preguiça mental ou fossilização da mente; ou,
como ensinou o Prof. Henrique José de Souza, “A pior das
rotinas é a rotina da inteligência”.
Em suma, o ser humano é parte integrante da Natureza
em termos biológicos e psicológicos, assim como, através
desses superiores estados de entendimento ou inteligência,
constitui o elo com a consciência global da Natureza e o
próprio Mundo das Causas: algo tão real e palpável como
reais nos parecem os objetos que podem ser admirados nas
vitrines ou adquiridos em qualquer shopping. Do mesmo
modo, no ser humano, existe uma dupla Natureza: uma
visível e outra invisível, ou antes, aspectos visíveis e invisíveis
da Natureza, que é uma só e que, do seu lado oculto ou da
consciência, segreda a todos os Mistérios do ser e do não-ser,
da morte e da vida, como vida universal. E a vida universal
não termina nunca, porque se renova, constantemente, nas
formas, orbitando em torno da mesma Árvore da Vida. Por
outras palavras, se o lado visível, vital, material e efêmero da
Natureza é pura energia, já o lado invisível constitui o universo
dos estados superiores da consciência, de tal forma, que este
só consegue realizar-se plenamente, quando habita um corpo
físico, preparado, devidamente para semelhante casamento
místico, como induziu Andreas (ou Andreae) em “As Bodas
Químicas de Christian Rosenkreutz”, que, trazendo a referência
de 1459, só veio a público em 1616, em Estrasburgo. É assim
que o Professor Henrique José de Souza, com a profunda
simplicidade de sábio iluminado, propôs a seus discípulos
que pensassem no seguinte: “Iniciação é transformar a vidaenergia em vida-consciência”.
Outro sentido não têm as referências constantes que se
encontram nas obras do Dr. Mário Roso de Luna – El Libro
que Mata a La Muerte, por exemplo – observação da Natureza
e de suas leis, por parte dos sábios, entre todos os antigos
povos e civilizações, cujo estudo e práticas constituíam um
corpo, único místico-científico, que só agora começa a ser
considerado, pouco a pouco, pela ciência oficial. Sabedoria,
à qual seu discípulo, amigo e companheiro, Dr. Eduardo
Alfonso, dedicou uma de suas obras mais conhecidas – La
Religión de la Naturaleza – onde é discutida e exposta a
veneração dos antigos sistemas teosóficos por essas mesmas
forças sutis da natureza e por seus aspectos visíveis, em
harmonia, como os ciclos cósmicos e naturais, dentro dos
quais se desenvolve a vida em todas as suas manifestações.
A Eubiose, ciência da vida harmônica
com a Natureza
É nesse contexto que fica mais clara a apresentação da
Eubiose elaborada em 1948 pelo Prof. Henrique José de Souza,
no célebre artigo com o mesmo nome7, numa época em que
a Ecologia, ainda, não se tinha constituído como ciência, e
as abordagens de sustentabilidade ambiental estavam longe
de ser iniciadas. Argumentava o Mestre: “A nossa civilização
afastou e continua, cada vez mais, afastando o homem da
Natureza” – uma crítica, que já havia sido argumentada e
aprofundada no livro O Verdadeiro Caminho da Iniciação e que
continuaria em Ocultismo e Teosofia, de 1949, este último de
autoria de seu heterônimo Laurentus.
Nesse artigo, onde lançou, pela primeira vez, a
conceituação geral da Eubiose, o Professor Henrique José de
Souza qualificava-a como “Ciência da vida bem vivida, isto
é, harmônica com a Natureza. É um programa de trabalho,
um processo de fazer a Humanidade evoluir e melhorar”8. E
advertindo logo, enquanto a classificava como ciência universal
e sinônimo de um Naturismo Espiritual: “Nossas afirmações
são categóricas: não se fundam em uma fé ou numa convicção
formal, mas numa base intrínseca, num conhecimento
objetivo”.
Justamente, porque, nesse plano ou patamar de
entendimento, no qual se dá a fusão do indivíduo com a
Natureza global, não existe lugar para, apenas, “acreditar”,
para uma fé cega e proselitista no estilo do que exigem a maior
parte das religiões e misticismos. Existe lugar, sim, para
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E no que respeita ao equilíbrio ou à
harmonia do ser humano consigo mesmo?
Será que a busca dessa harmonia interior e
da harmonia com a Natureza e com todos
os elementos fará parte de um mesmo
processo? Justamente, esse é o ponto onde
entra a Eubiose e onde se pode aprofundar
a “consciência da Natureza global”.
buscar, investigar, compreender e operar o que for possível
para realizar-se como indivíduo, por um lado, e contribuir
com generosidade e altruísmo para o melhoramento da vida
humana, por outro. Trata-se, como várias vezes afirmou o
Mestre, de um “corpo único, místico-científico”, nem que seja
para fazer jus à antiquíssima Ciência Iniciática das Idades, tão
maltratada, incompreendida e até perseguida em todas as suas
manifestações ao longo dos séculos.
Como todos os precursores, gênios e iluminados,
Henrique José de Souza não foi entendido na sua época. Quase
50 anos depois de seu desaparecimento, pode constatar-se,
sem favorecimento, que a maior parte dos atuais estudos e
das conclusões sobre meio ambiente e educação ambiental
segue uma orientação, perturbadoramente, próxima das
palavras do Mestre. E, também, que a maior parte das
abordagens ambientais, sobretudo no Brasil, ultrapassam,
em muito, as abordagens estritamente científicas ao
gosto clássico, entrando, claramente, na linha conhecida
por pesquisa-ação. Nos dias de hoje, a palavra de ordem,
especialmente no que diz respeito à sustentabilidade
ambiental, é interdisciplinaridade, ou seja, o diálogo entre
diversas disciplinas do saber, com o intuito de perceber uma
realidade, um todo que não é fragmentado em especialidades,
existindo além das disciplinas científicas. Com efeito, é
aceite, entre os principais pesquisadores e autores, que a
temática ambiental não existe isolada: ela permeia todas as
atividades e campos do conhecimento e, apesar de socorrer-se
de diversas ciências exatas, como a Biologia, a Química e a
Ecologia, não se encontra divorciada da vida humana e, por
isso mesmo, é aperfeiçoada e posta em prática nas decisões
cabíveis, através das ciências sociais aplicadas. Assim, pode
se dizer que a temática ambiental é, sempre, socioambiental.
Em outros termos, é consenso entre os estudiosos que a
abordagem ambiental, além de interdisciplinar é, também,
transversal – atravessa toda e qualquer particularização
científica ou de outra ordem, embora todas possam e devam
dar seu contributo para a meta geral da sustentabilidade
planetária: o resgate do equilíbrio perdido, que não é reservada
a universidades e centros de pesquisa, mas que se encontra ao
alcance de qualquer cidadão dotado de percepção e consciência
ambiental.
E no que respeita ao equilíbrio ou à harmonia do ser
humano consigo mesmo? Será que a busca dessa harmonia
interior e da harmonia com a Natureza e com todos os
elementos fará parte de um mesmo processo? Justamente, esse
é o ponto onde entra a Eubiose e onde se pode aprofundar a
“consciência da Natureza global”, discutida acima.
O caso não é para menos: pode dizer-se que meio
ambiente é tudo o que envolve o ser humano, ou seja, a
totalidade da Natureza: a terra em si mesma, os elementos
atmosféricos que formam o clima, todos os seres vivos
(biosfera) e seus ambientes particulares (biomas,
ecossistemas), e, ainda, a própria vida sociocultural,
exclusivamente, humana (antroposfera), que, portanto, pode
e deve ser considerada parte da Natureza, embora abrindo
portas para outra realidade, não objetivamente material, mas,
nem por isso, irreal, o mundo mental e mental superior, ou
espiritualidade, que já engloba as melhores expressões da
afetividade humana, como generosidade, compaixão e amor
por todos os seres, como ensinaram, desde sempre, todos os
Grandes Iluminados, Avataras ou manifestações da Divindade.
O Budismo, por exemplo, é, dentre os diversos caminhos
espiritualistas tradicionais, o que mais dá ênfase à interação
do ser humano com a Natureza em seu caminho para a
iluminação, insistindo, sempre, na harmonia do todo e na nãoviolência com os seres vivos, sejam eles humanos ou não. E o
Cristianismo poderia ser semelhante, se São Francisco tivesse
sido levado a sério no século treze, em sua filosofia de vida, que
tinha muito mais ensinamentos do amoroso Nazareno do que
todo o Vaticano em peso, na época...
O saber antigo do Oriente, em certas escolas mais
reservadas, vamos dizer assim, estabelece, também, cinco
elementos ou forças sutis da Natureza, a que se dá o nome de
Tatwas, objeto de aprofundamento nos ensinamentos do Prof.
Henrique José de Souza aos seus discípulos: Prithivi (a terra
em seu aspecto geológico), Apas (o elemento aquoso), Tejas
(o fogo), Vayu (o ar, o vento) e, por último, Akasha (o éter),
que, sendo invisível, reúne os quatro anteriores e sintetiza
o sexto e o sétimo, respectivamente, Anupádaka e Adi,
apenas, desenvolvidos ou realizados nas cadeias de evolução
posteriores à atual. Por sua vez, segundo nosso Mestre, cada
uma dessas forças sutis da Natureza está relacionada com
um dos sete grandes ciclos ou Cadeias de evolução e, por sua
vez, com os sete chakras ou vórtices de energia vital no corpo
humano, que formarão a estrutura básica dos seres do Quinto
Sistema de evolução. Do mesmo modo que o ser humano,
como criatura do Quarto Sistema, segundo a Eubiose, tem
como base de sua estrutura fisiológica o sistema cérebroespinal. Naturalmente, esses cinco elementos formam um
sistema completo e indivisível, sendo o quinto a ponte que liga
a Natureza visível à Natureza invisível. O Quinto Elemento,
portanto, está em relação simultânea com os aspectos mais
avançados da consciência humana e da Natureza global, como
fator integrador e, portanto, “transversal” de tudo o que existe.
É interessante, nesse ponto, voltar aos domínios da
ciência acadêmica e observar algumas premissas das diversas
concepções contemporâneas sobre meio ambiente, tal como
são consideradas nas universidades e centros de pesquisa,
em estudos de referência, produzidos por organismos
internacionais, como o PNUMA (Nações Unidas), declarações
internacionais, como a Carta da Terra, etc.
– Existe um relacionamento estreito e dinâmico
entre clima, vida biológica e vida sócio-cultural-humana. A
realidade planetária é uma coisa só: um só sistema complexo,
dotado de inúmeros subsistemas interdependentes e em tal
grau, que qualquer dano ou desequilíbrio em um deles afeta,
necessariamente, os demais;
– Todas as orientações epistemológicas clássicas,
presentes, ainda, nas práticas sociais, econômicas e políticas,
assim como nos sistemas de ensino em todos os graus,
levam o indivíduo a considerar-se algo à parte da Natureza,
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“Sim, porque a Natureza tem as suas leis,
que devem ser estudadas por todos, mas não
contrariadas por ninguém - principalmente
a maioria da Humanidade, ignorante de tais
leis, e por isso mesmo, semelhante à criança
que se queima com o fogo, por ignorar o mal
que lhe poderia causar em brincar com ele;
do mesmo modo que o desconhecedor da
química, quando entra em um laboratório
para fazer experiências."
dominar-se conscientemente, dominará, também, a Natureza,
porque, conhecendo as suas leis e obedecendo a elas, a
Natureza - submissa e escrava - obedecerá às suas ordens.
Porém, enquanto imperar o egoísmo entre os homens, os
elementos transbordados serão tão caprichosos e cruéis como a
humana natureza". 9
conferindo-se o direito de usar os recursos e serviços por ela
proporcionados e abusar deles;
– As relações entre ser humano e meio ambiente são
consideradas nos níveis científico, econômico e político,
sendo passíveis de um envolvimento emocional, estético,
afetivo; conforme a intensidade e a qualidade dessa relação,
o ser humano respeitará, mais ou menos, o meio ambiente,
identificar-se-á com ele e ensinará outros a fazê-lo.
Tais premissas, aqui muito condensadas ou resumidas,
podem ser consideradas, sem qualquer favorecimento,
francamente eubióticas, abrindo, desde logo, uma visão,
sistêmica, integral ou holística, como se quiser chamar, do
relacionamento entre ser humano e Natureza, por um lado,
e do ser humano consigo mesmo, na mesma direção da
célebre máxima referida: “Homem, conhece-te a ti mesmo”.
Além do mais, as novas abordagens ambientais e seus
desenvolvimentos dão noção de uma evolução notável no
pensamento humano: elas são resultado dos desdobramentos
permanentes que, desde o final dos anos 60, vêm sendo
elaborados por inúmeros estudiosos e interessados pelo
relacionamento entre homem e meio e pelo resgate de
uma relação harmoniosa entre ambos. Sobretudo, depois
de ser constatada a maior destruição coletiva, alguma vez
experimentada pela mão do homem, quando ficou mais claro
que algo não estava bem na fórmula de “progresso” e de
“desenvolvimento” da civilização ocidental. Fica óbvio, assim,
que esse desenvolvimento, tal como se encontra hoje, e por
ser entendido, apenas, no sentido econômico ou material, não
serve à evolução ou desenvolvimento integral da Humanidade,
sendo passível de importantes reformas.
Pode entender-se do contexto, com relativa facilidade,
que esse “domínio da Natureza” – benigno e esclarecido
porque derivado da mais elevada espiritualidade – se distingue
do predomínio dominador e predador que, nos dias de hoje,
ainda que já denunciado amplamente e com alternativas
credíveis, continua vazando resíduos químicos e biológicos
para os rios, lagos e mares; desmatando florestas inteiras
com todos os seres vivos que elas contêm e rompendo
cadeias importantíssimas dentro dos ecossistemas; secando
mananciais de água potável; incentivando o consumismo
a qualquer custo sem cuidar dos resíduos dele derivados;
enchendo de lixo estradas, ruas e calçadas, agravando,
inclusive, o nível das inundações urbanas em enchentes.
A Iniciação na Eubiose e o
despertar de um novo estado de
consciência
Essas leis, que regem a Natureza, por sua vez, vivem
no homem. E, por isso mesmo, é que a Esfinge diz: "Ou tu me
decifras, ou eu te devoro". Aprendendo, portanto, o homem a
dominar a si próprio, dominará a Natureza.
O trabalho do Professor Henrique José de Souza,
ao longo de 40 anos, veio trazer um enfoque integral e
verdadeiramente inédito ao espiritualismo em geral e,
particularmente, ao que se chama de “Iniciação”. Com
a ousadia de quem sabe aquilo por que vem e o que está
revelando ao público, o Mestre transgrediu o “teoricismo
teosófico” da época e o misticismo passivo dos colecionadores
de textos e definições, colocando a Iniciação como processo,
como uma via prática, viva: não para seguir, religiosamente,
mestre ou guru, mas para atingir um estado de profunda
comunhão com o universo consciente, chame-se de Deus,
Todo, Absoluto, Logos ou qualquer termo equivalente. E não
bastando atingir esse estado, mas passar a agir de acordo, com
sabedoria, com caráter, enfim, com espiritualidade. E como
se atinge esse estado? Através do despertar do “Eu Superior”,
do Deus Interno ou do Mestre Interior de cada um, como
se quiser chamar, que todo ser humano possui dentro de si
mesmo, como Centelha da Divindade. No Budismo, seria a
iluminação ou o despertar (Buddha significa, em sânscrito,
“o que despertou” ou “o iluminado”); no Cristianismo, algo
como o que induziu São João nas palavras que ouviu do Cristo:
“Eu e o Pai somos um” ou “O reino de Deus está dentro de
vós” – logo, esperando ser despertado, para cada um tornar-se
um “Christós”, em grego, “o ungido ou iluminado”.
E foi por essa mesma razão que dissemos no final
de nossa palestra pelo rádio: "Quando o homem chegar a
Assim, longe de ser um processo de motivação egoísta,
voltado, exclusivamente, para o benefício individual, o Mestre
É de notar, mais uma vez, que o fundador da Sociedade
Brasileira de Eubiose (SBE) já havia tocado em muitos desses
aspectos muito antes de começarem a ser investigados e
popularizados, dando o mote para uma sociedade humana
mais ajustada, não, apenas, com as leis naturais e universais,
mas de cada um consigo mesmo, consagrando-os como
premissas fundamentais da Eubiose. Logo em 1932, no início
da caminhada da Instituição, fundada em 1924, o Mestre
escrevia:
“Sim, porque a Natureza tem as suas leis, que devem
ser estudadas por todos, mas não contrariadas por ninguém principalmente a maioria da Humanidade, ignorante de tais
leis, e por isso mesmo, semelhante à criança que se queima com
o fogo, por ignorar o mal que lhe poderia causar em brincar
com ele; do mesmo modo que o desconhecedor da química,
quando entra em um laboratório para fazer experiências.
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"Quando o homem chegar a dominar-se
conscientemente, dominará, também, a
Natureza, porque, conhecendo as suas
leis e obedecendo a elas, a Natureza submissa e escrava - obedecerá às suas
ordens. Porém, enquanto imperar o
egoísmo entre os homens, os elementos
transbordados serão tão caprichosos e
cruéis como a humana natureza".
enfatiza que “A finalidade da EUBIOSE é tornar o homem
feliz integrando-o harmonicamente nessa civilização, com
um novo caráter impresso em sua mentalidade: o de o homem
viver procurando a felicidade alheia” 10. E aponta, assim, uma
interação necessária e pró-ativa com a sociedade em geral,
donde “nasceriam reformas, plenamente, eubióticas, isto
é, favoráveis ao aperfeiçoamento e à felicidade dos que são o
seu objeto, aperfeiçoamento e felicidade extensivos, quanto
possível, ao meio social”. 11
Por outras palavras, se a Iniciação e o progresso
espiritual do ser humano têm a ver, essencialmente, com o
“despertar de um estado de consciência superior”, porém, ele
não acontece pensando, apenas, em si mesmo e na “salvação”
pessoal, mas no contexto de um meio natural e sociocultural,
pertencendo a um “meio cósmico ou universal”. Assim,
quando o Mestre apresenta a Eubiose, em 1948, declara
que é a “ciência da vida bem-vivida, isto é, harmônica com a
Natureza. É um programa de trabalho, um processo de fazer a
Humanidade evoluir e melhorar”. 12 E mais à frente:
“A Eubiose (...) visa – e isto é que é importante – à
evolução interna e espiritual da Humanidade. Cogita do
seu melhoramento; é um sistema de vida que pretende
orientar a ciência e a educação, estabelecer a harmonia
social, a política, a didática, a moral e o bem-estar dos
povos, para haver felicidade”. 13
Sete anos depois, no extenso artigo “O que é Eubiose?”,
que expande e complementa a primeira conceituação de 1948,
o Mestre confirma: “Eubiose é a ciência da Vida. E como tal, é
aquela que ensina os meios de se viver em harmonia com as leis
da Natureza, e, consequentemente, com as leis universais, das
quais as primeiras se derivam”. 14
Em suma, uma característica importante no conjunto
e contexto dos ensinamentos do Mestre, é que a Iniciação,
como caminho místico-filosófico, aparece, sempre, com
um sentido muito prático, quer se trate do despertar da
espiritualidade individual e da busca da felicidade, quer no
que respeita ao impacto desse sentido superior de vida com
o mundo e a sociedade humana, para seu melhoramento.
Além disso, está, sempre presente na filosofia de vida de
Henrique José de Souza, o sentido de compaixão e amor pela
Humanidade e por todos os seres vivos, e, nesse sentido, o
conhecimento e harmonização com “Essas leis que regem
a Natureza” e que, “por sua vez, vivem no homem” 15 sem
qualquer distinção, visto que “O homem vulgar, a quem
devemos estudar e em quem devemos pensar... deixando
de parte os casos excepcionais, é naturalmente sociável, e,
enquanto a sociedade se estabelece entre os seres, já não mais
pode ser, senão de dois modos: simbiótica e não-arasitária”. 16
E no que concerne às implicações da filosofia de vida da
Eubiose em termos econômicos e sociais, o Professor Henrique
identifica-as com particular clareza e, claramente, com um
sentido mais reformador do que utópico: “Enquanto isso, a
EUBIOSE se propõe a concorrer para a felicidade de todos.
Em uma palavra, deseja abolir o sistema das concorrências,
onde a felicidade de uns é amassada com a infelicidade de
outros. A riqueza destes, com a fome daqueles, substituindo-o
pelo sistema de cooperação simbiótica, isto é, que cada um
possa melhorar e conquistar a felicidade, em proporção
àquela que traz aos demais; que ninguém possa resumir a
sua prosperidade e felicidade, de acordo com as daqueles que
concorreram para as mesmas (isto é, para levantá-lo). Ao
parasitismo social, pouco a pouco, vá substituindo a simbiose
social, pois doloroso é saber que as reformas sociais só se dão
através de colisões e violências, quando o simples espírito de
Humanitarismo, o inato sentimento de Justiça devia viver no
coração de todas as criaturas”. 17
Desde a primeira revolução industrial, o conhecimento
crescente das leis da Natureza através da Ciência e a
entronização da tecnologia em nossos lares, em empregos e em
nossas vidas, fizeram expandir, poderosamente, a produção
e comercialização de variadíssimos produtos e tecnologias e
a capacidade humana de intervir cada vez mais na Natureza.
Porém, essa evolução relativa deu-se “sem princípios e critérios
harmonizadores” – sem Eubiose. Tecnologias avançadas tanto
podem preservar o equilíbrio natural, como destruí-lo, se
estiverem a soldo de interesses econômicos selvagens e sem
critérios. Da Natureza são retirados os recursos ou matériasprimas necessárias para o desenvolvimento econômico, que,
ainda, é visto como “progresso a qualquer custo para acelerar
o crescimento”. Porém, esse desenvolvimento foi e é, ainda,
fragmentado, esquizóide, esquecendo, completamente,
que muitos dos chamados “recursos econômicos” não são
renováveis e que as mesmas leis naturais, graças às quais ele
mesmo se desenvolveu, continuam como meta primordial da
própria Ciência.
A ganância comercial e a capacidade tecnológica
tornaram-se, rapidamente, parceiras nesse predomínio; o ser
humano torna-se predador e contaminador dos elementos
naturais que, sempre, interligados, servem de base aos biomas
e ecossistemas, e… à sua própria sobrevivência: a terra, o
ar e a água. Logo, a partir dessa ignorância e de objetivos
inconfessáveis, revela-se uma desarmonia entre os Tatwas,
os mesmos elementos sutis da Natureza, que, como ensina
o cânone oriental, deveriam estar harmonizados entre si, no
próprio ser humano, sob pena de desequilíbrio, sofrimento,
infelicidade. Como tal, o “homo oeconomicus” invade, ainda,
os territórios dos povos nativos e pressiona suas fronteiras,
expulsando-os e deserdando-os de seus próprios territórios
ancestrais. O modelo econômico dos “brancos”, em muitos
casos, passou a subverter não apenas o equilíbrio natural das
sociedades tradicionais com a terra e a Natureza, mas também
as relações sociais dentro delas. Também, nas periferias das
grandes cidades, os ambientes humanos se degradaram cada
vez mais. Armados pelo dinheiro fácil do narcotráfico, bandos
invadem os lares das classes econômica e culturalmente
dominantes – nada fizeram para evitar a degradação e a
miséria – agora suas clientes e dependentes, sobretudo através
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A ganância comercial e a capacidade tecnológica
tornaram-se, rapidamente, parceiras nesse
predomínio; o ser humano torna-se predador
e contaminador dos elementos naturais que,
sempre, interligados, servem de base aos biomas
e ecossistemas, e… à sua própria sobrevivência: a
terra, o ar e a água. Logo, a partir dessa ignorância
e de objetivos inconfessáveis, revela-se uma
desarmonia entre os Tatwas, os mesmos elementos
sutis da Natureza, que, como ensina o cânone
oriental, deveriam estar harmonizados entre si,
no próprio ser humano, sob pena de desequilíbrio,
sofrimento, infelicidade.
dos jovens, aliciados pelos infelizes dependentes, já na mão
dos quadrilheiros. A ação de Karma é inexorável… e enquanto
não cessarem suas causas, caso a caso, através de uma filosofia
de vida sábia dentro dos lares, governos e empresas, os efeitos
continuarão sua faina destruidora.
Tudo isso estreitamente relacionado com algo que o
Mestre alertou desde sempre: “o grande vazio das faculdades
superiores”, a imersão da alma humana nessa zona cinzenta
onde se dá o predomínio do egoísmo e do materialismo
selvagem, consubstanciados na ganância cega e na vaidade
pessoal, contrapartidas caóticas do culto à beleza, à Natureza,
ao respeito pelo próximo e aos nobres anseios da inteligência,
bases de uma Civilização digna desse nome, o que elevaria,
a bem dizer, o atual conceito de “qualidade de vida” de um
patamar, apenas, material e, ainda, elitista, para outro mais
seguro e estável, envolto na qualidade dos pensamentos, das
emoções, dos anseios e das esperanças, que passariam a ser
mais altruístas e geradores de felicidade em faixas crescentes
da população.
Posto isso, consegue-se já enxergar um território, ainda,
inexplorado – ou, apenas, começando a ser explorado – que
conduz ao aprofundamento do meio ambiente enquanto
elemento envolvente ideal para uma “educação integral”
– eubiótica – assim como ao entendimento das grandes
linhas civilizatórias para o Novo Pramantha ou Nova Era,
nitidamente, tomando forma. Muitos concordam que os
tempos atuais são de grandes mudanças, porém, ninguém
ou quase ninguém, começando pela própria classe política,
intelectuais e líderes de opinião sabe o porquê, ou tem uma
perspectiva ampla ou um entendimento claro do que está
acontecendo. Ainda, no que respeita à educação, ela constitui
um processo fundamental de mudança social no sentido do
melhoramento e do aperfeiçoamento do “bem-comum”, mas,
poucas vezes, tem sido seu instrumento, porque condiciona,
tradicionalmente, as crianças e jovens, sua formação, seus
ambientes em casa e na escola, a uma perspectiva imobilista,
conservadora. Talvez, por essa razão, as artes e a educação
ambiental demorem tanto a entrar com maior influência nos
currículos e práticas escolares, onde os alunos aprendem
“coisas” ou conhecimentos já mastigados, e não são induzidos
à busca, à descoberta e à criação, ao desenvolvimento de
ideias próprias, etc. Certamente, é importante uma educação
harmoniosa, completa, abrangente e com treinamento de
espírito ético, crítico e de descoberta, constituindo uma sólida
base para que os jovens integrem, em sua experiência pessoal,
as tendências dos novos tempos e lhes dêem vida e forma,
como construtores efetivos de novas sociedades mais humanas
e ajustadas com as leis naturais e universais.
É importante destacar, porém, que transformações
desse porte não surgem da noite para o dia, nem muito menos
por divino milagre: são resultado de um processo paciente
e de tolerância com o ser humano conforme ele é, com seus
defeitos, virtudes, anseios e ilusões, ou seja, partindo de sua
própria realidade. E ninguém consegue mudar ninguém sem
ter realizado, em si mesmo, essa mudança e dar o exemplo.
Quando, em 1948, o Mestre apresentou a Eubiose como uma
evolução da Teosofia e do Espiritualismo clássico, estava ciente
do estado evolucional da Humanidade e, portanto, de seus
limites, tanto quanto de suas potencialidades. E advertia: “A
STB não pretende implantar um sistema. Ela é uma entidade
espiritualista, cujas cogitações e atividades são dirigidas
inteiramente para o aperfeiçoamento interno dos homens”.18”. Tal como, então, não caberá hoje à SBE implantar um
sistema, pelas mesmíssimas razões. Contudo, ela tem, dentro
de si mesma, em seus Mistérios Maiores, o potencial de um
sistema de evolução inteiro, o chamado “Quinto Sistema”,
correspondente a um estado de consciência mais avançado do
que conhecemos hoje. “Trago um novo estado de consciência
para o mundo” – afirmou Henrique José de Souza. Se a SBE,
através de seus membros e simpatizantes, conseguir ser um
farol inspirador, um berço de novas práticas e ideias gerais,
enfim, um campo catalisador para todas essas transformações,
terá cumprido uma parte importante de sua missão.
Não seria aqui o lugar ideal para desenvolver assunto
tão transcendente, mas poderíamos afirmar que esse estágio
da evolução humana, cujos primórdios já estão em pleno
desenvolvimento, tem como tônica fundamental o equilíbrio
dinâmico dessas duas naturezas que discutimos neste
artigo: a interna – inspiradora, transformadora, redentora
e portadora de uma consciência mais elevada, e a externa
ou material veículo da primeira e, por isso mesmo, muito
mais harmônica do que é hoje em termos humanos e sociais
e em sua relação com a tão agredida Natureza. Sobretudo,
portadora de realização e felicidade individual, porque
todos terão oportunidade para exteriorizar o melhor que a
Humanidade tem dentro dela. Nesse sentido, caberia à SBE e a
seus componentes:
“(...) despertar, nas almas de seus membros e de
quantos a queiram seguir ou ouvir, as faculdades que os
possam tornar capazes, nesta e em outras vidas […] de ser
lídimos defensores e aplicadores de tais princípios elevados e
necessários. Daí o lema da S.T.B.: “Spes messis in semine”,
definindo, por um lado, a preparação das Mônadas humanas,
que, pela aquisição de novas ‘skandas’, em função do
conhecimento e prática da Gupta-Vidya dela aprendida, serão
a safra do futuro, já que, do ponto de vista cíclico, no presente,
cuida-se do porvir, ou seja, das sexta e sétima sub-raças do
ciclo Aryo; de outro, a obra manúsica que diz respeito ao novo
ciclo em que florescerão, pujantes e adultos, os Lotos Sagrados,
vicejando nos remansos incólumes desse mundo atormentado,
para onde os trouxe o Bom Semeador de todas as Eras”. 19
Todos esses sublimes, conquanto práticos
ensinamentos, apontam que, quanto mais perto alguém está
da Divindade, ou com ela viva e vibrante dentro de si mesmo,
tanto mais perto, sem dúvida, encontrar-se-á do coração da
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27
Humanidade – e, também, do coração da Natureza global, com
tudo o que ela contém, pouco importa se visível ou invisível aos
olhos humanos. Tal como essa grande Árvore da Vida, cujas
raízes estão ocultas e seguras no seio da Terra e cujos galhos
mais elevados adentram as insondáveis regiões do Espaço Sem
Limites.
Laguna, Santa Catarina, Dezembro 2011.
SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, Agosto de 1948, Ano
XXIII.
8
SOUZA, H. J. Minha mensagem ao Mundo Espiritualista – Quinta, Sexta e
Sétima Partes. Revista Dhâranâ nº 71 – Janeiro a Março de 1932. Nota nº 7.
9
SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, Agosto de 1948, Ano
XXIII.
10
DOMICIANI, Lorenzo Paolo. O que é Eubiose? Revista Dhâranâ nº 5/6
Novembro 1954 a Fevereiro 1955.
11
SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, Agosto de 1948, Ano
XXIII.
12
Referência:
CAMÕES, L. V. Os Lusíadas. Lisboa, Instituto Camões, 2002. Edição digital.
Disponível em http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/literatura/lusiadas/.
Acesso em 21-12-2011.
1
PESSOA, F. , MORA, A. O regresso dos deuses - Os sete círculos ínferos
da sombria Visão de Alighieri. Arquivo Pessoa, Obra édita. Edição digital.
Disponível em http://arquivopessoa.net/textos/3943. Acesso em 19-122011.
2
LAURENTUS, Ocultismo e Teosofia. São Paulo, Sociedade Teosófica
Brasileira, 1949. Ocultismo e Teosofia - Revelações à luz da Eubiose.
São Lourenço, Sociedade Brasileira de Eubiose Conselho de Estudos e
Publicações, 2003.
3
SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, Agosto de 1948, Ano
XXIII.
13
_______. Ibid.
14
SOUZA, H. J. Minha mensagem ao Mundo Espiritualista – Quinta, Sexta e
Sétima Partes. Revista Dhâranâ nº 71 – Janeiro a Março de 1932. Nota nº 7.
15
DOMICIANI, Lorenzo Paolo. O que é Eubiose? Revista Dhâranâ nº 5/6
Novembro 1954 a Fevereiro 1955.
16
DOMICIANI, Lorenzo Paolo. O que é Eubiose? Revista Dhâranâ nº 5/6
Novembro 1954 a Fevereiro 1955.
17
MORIN, E. Os sete saberes para a educação do futuro. Lisboa: Instituto
Piaget, 2002.
4
SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, Agosto de 1948, Ano
XXIII.
5
SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, Agosto de 1948, Ano
XXIII.
18
SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, Agosto de 1948, Ano
XXIII.
19
MORIN, E. L’aventure de la science fait partie de l’aventure de l’humanité,
aventure inconnue. In: Inter Lettre Chemin Faisant MCX-APC, N° 32, MarsAvril 2006. P. 2-3. Disponível em www.mcxapc.org. Acesso em 25-06-2006.
6
SOUZA, H. J. A Eubiose. Revista Dhâranâ, nº 136, Agosto de 1948, Ano
XXIII.
7
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28
EXPEDIENTE
SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSE
www.eubiose.org.br
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Presidente: Hélio Jefferson de Souza
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