ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A FOME EM ÁFRICA
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ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A FOME EM ÁFRICA
ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A FOME EM ÁFRICA Solicitado por: Comité Técnico da Parceria Para Reduzir a Fome em África Preparado por: Jerome M. Wolgin* Versão de 26 de Março de 2001 Introdução do Comité Técnico da Parceria Para Reduzir a Fome em África Este documento é um esboço do diagnóstico sobre os desafios que os países da África Sub-Sahariana enfrentam para a redução significativa da fome e da pobreza no sub-continente e sugere acções estratégicas que podem ser levadas a cabo pelos Estados Unidos para apoiar os Africanos neste sentido. A Parceria Para Reduzir a Fome em África solicitou este documento para sintetizar o que achamos que aprendemos acerca destes desafios atraves de estudos anteriores, muitos deles feitos essencialmente pelos próprios Africanos. Um segundo objectivo é o de solicitar comentários de indivíduos e organizações em África e nos Estados Unidos acerca do diagnóstico e do plano de acção. Os comentários que esperamos receber, serão cruciais para a elaboração do relatório final a ser apresentado pela Parceria a fazedores de política chave e a parceiros, na conferência a ter lugar em Washington no final de Junho de 2001. Solicitamos a quem ler este documento que ao providenciar os comentários, possa fazê-lo com a seguinte estrutura: a) b) c) d) Com que partes do documento concorda; Com que partes do documento não concorda e porquê; Grandes omissões no documento; Sugestões acerca das acções a serem levadas a cabo pelo: i. Governo dos Estados Unidos da América ii. Sector privado dos Estados Unidos iii. ONGs americanas e fundações para apoiar os Africanos a apoiarem outros Africanos com vista a reduzir a fome e a pobreza no continente. Apreciaríamos também comentários acerca do que não deverá ser feito pelas agências e organizações dos Estados Unidos da América. Com vista a facilitar os comentários numerámos cada parágrafo do documento, pelo que solicitamos aos leitores que ao fazerem os comentários indiquem o número do parágrafo a que se referem. Queiram por favor enviar os comentários para os seguintes endereços do Comité Técnico da Parceria: e-mail: fax: postal adress: Muito Obrigado [email protected] 1-517-353-1888 Technical Committee of the Partnership to Cut Hunger in Africa c/o Institute of International Agriculture 324 Agriculture Hall Michigan State University East Lansing, MI 48824-1039 USA *O autor do documento é um analista sénior de desenvolvimento em África, tendo trabalhado por mais de 20 anos no Departamento de África da USAID. Ele foi solicitado a preparar este documento num período de ausência do seu trabalho no Banco Mundial, sendo actualmente o economista chefe no Grupo da Parceria. As opiniões manifestadas no documento, reflectem apenas os pontos de vista do autor, tendo os membros do Comité Técnico da Parceria Para Reduzir a Fome em África efectuado individualmente revisões. Este documento não reflecte, de modo algum, pontos de vista da USAID, do Banco Mundial, da Michigan State University, da University of Illnois, Bread for the World, ou de quaisquer outras organizações participantes na Parceria para Reduzir a Fome em África. Abaixo os membros do Comité Técnico da Parceria para Reduzir a Fome em África: Earl Kellogg (ex-officio) Associate Provost for International Affairs University of Illinois at U-C Champaign, IL Akin Adesina Resident Representative for Southern Africa The Rockefeller Foundation Harare, Zimbabwe John Staatz Dept. of Agricultural Economics Michigan State University East Lansing, MI David Atwood Deputy Director, G/EGAD/AFS US Agency for International Development Washington, DC Michael Weber Dept. of Agricultural Economics Michigan State University East Lansing, MI George R. Gardner Senior Agricultural Economist USAID/AFR/SD/ANRE Washington, D.C. Jeff Hill Agricultural Research Advisor USAID/AFR-SD Washington, DC Dennis Weller Division Chief, Agriculture and Natural Resources Africa Bureau USAID Washington, DC Julie Howard Dept. of Agricultural Economics Michigan State University East Lansing, MI Jerome Wolgin Principal Economist World Bank Washington, DC T.S. Jayne Department of Agricultural Economics Michigan State University East Lansing, Michigan 48824 USA ii ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A FOME EM AFRICA Índice Sumário Executivo .................................................................................................................... v Prefácio ..................................................................................................................................... 1 Antecedentes ............................................................................................................................. 1 As Mudanças no Contexto Africano ......................................................................................... 2 Políticas e Governação .................................................................................................. 2 Política Económica........................................................................................................ 3 Aumento da Pressão sobre a Terra................................................................................ 5 Urbanização................................................................................................................... 5 HIV/SIDA ..................................................................................................................... 5 As Mudanças no Contexto Internacional .................................................................................. 6 Globalização.................................................................................................................. 6 Novas Tecnologias ........................................................................................................ 7 Fluxos de Capitais Internacionais ................................................................................. 8 O Fim da Guerra Fria .................................................................................................... 9 Mudança dos Métodos dos Doadores ......................................................................... 10 Abertura dos Mercados da OCDE............................................................................... 11 O Problema da Fome............................................................................................................... 12 A Dimensão da Fome em África................................................................................. 12 Pobreza e Fome ........................................................................................................... 12 O Problema da Pobreza ........................................................................................................... 14 A Solução para a Pobreza/Fome ............................................................................................. 15 Crescimento Agrícola Acelerado Como Motor Estratégico do Crescimento ......................... 15 O que se sabe sobre a Agricultura Africana? .............................................................. 15 Uma Estratégia Para Reduzir a Fome Baseada na Agricultura............................................... 20 Mercados de Produtos Alimentares de Primeira Necessidade .................................... 21 Produtos Alimentares de Alto Valor Comercial Produzidos Internamente ................ 21 Agro-Indústria ............................................................................................................. 22 Estratégias de Exportação ........................................................................................... 22 A Experiência da Agricultura Africana em Exportação.............................................. 23 Competitividade na Nova Economia Global........................................................................... 25 Alterar o Paradigma .................................................................................................... 26 Reformas Permanentes do Papel do Estado ................................................................ 27 Desenvolvimento da Parceria entre o Sector Público e Privado ................................. 28 Investimento em Conhecimentos e na Geração de Tecnologias Afins ....................... 30 Investimento em Infraestruturas Rurais ...................................................................... 32 Capacitação dos Agricultores ........................................................................................................33 Desenvolver Mecanismos Mais Sofisticado de Comercialização, Contratação e Gestão de Risco..........................................................................................................................34 iii Conclusões .............................................................................................................................. 35 Mobilização de Recursos ............................................................................................ 36 Capacitação Humana na Era do HIV/SIDA................................................................ 38 Governação ................................................................................................................. 39 Por uma resposta dos EUA.......................................................................................... 41 LISTA DE TABELAS Tabela I: Tabela II: Tabela III: Tabela IV. Tabela V. Tabela VI: Tabela VII. Tabela VIII Tabela IX. Integração Económica ...................................................................................... 7 Dados Nutricionais De Crianças Em Países Africanos Selecionados ……….13 Pobreza E Indicadores De Bem Estar No Quénia Em 1997 ....................... 14 Pobreza Em 21 Países Africanos Durante Os Anos 90 ….…………………..14 Indicadores Agrícolas Para África, Ásia E América Latina …………………20 Comparticipação Africana No Comércio Mundial Das Suas Principais Produções De Exportação ............................................................................... 23 Exportações Não Tradicionais De Países Africanos Selecionados…………..24 Indicadores De Infraestruturas Por Região.………………………………….32 Distribuição Da Boa Governação……………………………………………39 LISTA DE FIGURAS Figura I Perspectiva sobre o Tamanho da Africa .................................................................. 18 iv ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A FOME EM ÁFRICA Sumário Executivo décadas e África também. Há novas oportunidades e novos desafios. O propósito deste OBJECTIVO: documento é o de delinear uma estratégia clara e capaz de ser implementada para reduzir a fome em África nos próximos 15 anos. Possivelmente seja tarde demais para se atingirem os objectivos traçados na Cimeira Mundial de Alimentação que previa reduzir a fome em metade, até 2015. Mas progressos substanciais poderão ser atingidos caso a comunidade Africana e a comunidade internacional ataquem seriamente este problema. Este documento não é claramente o ponto final, mas apenas o início, um ponto de partida para uma nova e intensa discussão entre académicos Africanos e Americanos, profissionais e líderes políticos, onde as ideias apresentadas serão reformuladas e refinadas. Em África: Novas democracias tomaram o lugar de instituições políticas ultrapassadas baseadas em modelos autoritários. O Povo espera mais dos seus governos e não apenas a retórica que antes os satisfazia. Apesar de as instituições e comportamentos democráticos serem ainda recentes e frágeis, há razões que nos levam a acreditar que as políticas públicas serão no futuro mais conducentes a um favorecimento dos pobres. As políticas económicas evoluíram também. A maior parte dos países entende agora a importância de uma estabilidade macro-económica, de uma maior abertura dos mercados e da redução do controlo e regulamentação por parte do Governo. Na agricultura, isto é normalmente assumido como uma maior liberalização dos mercados e melhoria dos incentivos aos agricultores, apesar de as reformas correrem sempre o perigo de serem revertidas. No final da discussão esperamos ter atingido dois grandes resultados – acordo sobre a estratégia de como reduzir a fome em África e um compromisso político para a implementação da referida estratégia assumido tanto pelos fazedores de política Americanos como Africanos. Do lado Africano, irá requerer grandes mudanças de políticas, enquanto que do lado Americano irá requerer um novo compromisso para uma maior abertura de mercados e de mobilização de recursos, públicos e privados, financeiros e intelectuais, necessários para apoiar a implementação desta estratégia. O grande aumento da urbanização fez surgir mercados maiores e mais diferenciados para os produtos agrícolas, mas por outro lado, mantêm-se a pressão populacional sobre uma base limitada de recursos naturais. Finalmente, o flagelo do HIV/SIDA continua a afectar de várias formas as sociedades Africanas, desde reduzir a segurança social na velhice, ao aumento do número de órfãos, à redução de disponibilidade de trabalhadores, à redução de poupanças e da vontade de poupar. MUDANÇAS E PORTUNIDADES: Desde a independência, a maior parte dos países da África Sub-Sahariana atingiram apenas progressos limitados na redução da pobreza e fome. Porque razão, depois de tantos esforços falhados, haverá actualmente esperanças renovadas em África e na comunidade internacional? O mundo mudou muito nestas últimas v Economia Mundial: economia mundial rapidamente: Ao mesmo tempo, a assistência externa reduziu em termos reais per capita e tornou-se mais compartimentada; a assistência foi desviada de sectores produtivos directos como a agricultura, para sectores de desenvolvimento humano como a saúde e a educação. Entretanto, a muda também Globalização, o aumento da interacção económica, tornou-se a palavra de ordem. Para muitos, a globalização representa uma ameaça aos empregos, à cultura, à protecção do meio ambiente, às condições de trabalho. Por outro lado, para outros a globalização representa uma oportunidade de encontrar novos mercados para novos produtos a preços mais elevados, aumentando assim o emprego e os salários. O comércio mundial de bens e serviços aumentou em 10 anos, de 21% para 28% do PIB. Destas mudanças resultaram novas oportunidades e novos problemas. Este documento apresenta um tipo de silogismo simples: • A fome e a malnutrição são em grande medida derivadas de baixos rendimentos; rendimentos podem ser • Baixos ultrapassados através de um crescimento económico rapido conducente à redução da pobreza, como exemplificado pelas experiências na Ásia Oriental e no Sudeste Asiático; • Uma importante estratégia para se atingir um rápido crescimento conducente à redução da pobreza é a ênfase na aceleração do crescimento agrícola porque: (1) a maioria dos pobres vivem nas áreas rurais e os ambientes rurais, apesar de complexos, são em ultima análise dependentes da produtividade agrícola ; (2) o crescimento agrícola já demonstrou ter grandes efeitos multiplicadores na economia como um todo; (3) o crescimento agrícola ajudará a manter preços baixos dos alimentos e os alimentos representam cerca de 70% das despesas realizadas pelos pobres; e (4) alimentos a preços baixos podem também manter salários reduzidos, permitindo assim a expansão do emprego nas indústrias de substituição de importações e exportações; • A procura desempenha um papel igual ou ainda mais importante que a oferta na geração de crescimento agrícola; • O ressurgimento da agricultura terá provavelmente como sector dinamizador a exportação de produtos não-tradicionais, como foi constatado em países como o Uganda, Gana e Zâmbia. Contudo, importantes e dinâmicas possibilidades de mercado existem acrescentando valor as A globalização também significou a integração dos mercados financeiros e novos fluxos de fundos de investimento privado do Norte para o Sul, ambos directamente e na forma de carteira de investimentos. Os fluxos privados são bastante superiores aos da assistência oficial, num factor de 10:1. Contudo, estes fluxos são voláteis e tendem a concentrarse num reduzido número de países importantes. A globalização também significa a disponibilidade de novas tecnologias, particularmente nas áreas de biotecnologia e informática, o que dá aos países menos desenvolvidos a oportunidade de saltar alguns passos intermédios de desenvolvimento evitando, por exemplo, investimentos caros em linhas fixas de comunicacao e utilizando directamente a tecnologia celular. O fim da Guerra Fria alterou as expectativas e o papel dos países Ocidentais em África; os Estados Unidos da América estão agora a encontrar novas razões de longo prazo para o seu relacionamento, razões essas baseadas numa parceria económica e em bens públicos globais. vi culturas alimentares e culturas de rendimento é crítica para o aumento da produtividade agrícola. Um outro factor crítico respeitante à produção do século XXI é o conhecimento. Os Governos Africanos devem desenvolver políticas tais como a liberalização das telecomunicações, que reduz os custos e expande a disponibilidade do conhecimento. Os Governos Africanos e os seus Parceiros devem investir em todos os níveis de educação e encorajar também a iniciativa privada na educação. culturas agrícolas tradicionais, reorientando a producao para produtos alimentares de maior valor comercial, desenvolvendo o comércio Africano regional e até aumentando as exportações tradicionais. A PROPOSTA DE ESTRATÉGIA: questão crítica que se coloca é como acelerar o crescimento agrícola. Este documento apresenta sete elementos críticos de uma estratégia de desenvolvimento dinamizada pela agricultura e conducente a uma redução da pobreza: 5. Investir em Infraestruturas Rurais: Os Governos Africanos devem reverter a tendência urbana de anos e investir nas áreas rurais, particularmente em transporte, água, electricidade e telecomunicações. A competitividade é posta em risco devido a altos custos de transacção na agricultura, que derivam essencialmente de políticas falhadas, infraestruturas pobres e de uma população dispersa. 1. Alterar o Paradigma: Os países africanos e os seus parceiros do Norte devem ter uma visão de longo prazo onde os elementos chave para a redução da fome e da pobreza são os investimentos na economia rural, abertura de mercados e dependência do investimento e iniciativa privada. 2. Reforma Permanente do Papel do Estado: Na nova economia global, o Estado tem um papel crítico, mas é um papel muito diferente do que tradicionalmente tem sido a prática em África. O Estado deve criar as infraestruturas físicas e institucionais (regulamentos, práticas, cumprimento de contratos, etc.) que são fundamentais para o funcionamento efectivo dos mercados. 6. Capacitar os Agricultores: As novas experiências democráticas permitem pela primeira vez aos agricultores organizaremse em cooperativas de produtores, por eles controladas, e outro tipo de grupos afins, o que lhes permite adquirirem insumos, vender os produtos, obter crédito, terem assessoria disponível para os seus membros e defenderem mudanças de políticas de uma forma eficaz . Os Governos devem criar o ambiente político e legal necessário que encoraje este desenvolvimento. 3. Desenvolver uma parceria entre o sector público e privado: Para além disso, o Estado deve encetar parcerias com o sector privado seja ele de fins lucrativos ou não, com vista à prossecução dos objectivos da Nação. Há um número de áreas, tais como a pesquisa agrícola, onde uma parceria entre o sector público e privado pode reduzir os custos e aumentar a eficácia na prestação de serviços críticos, que sempre foram vistos como de responsabilidade do Governo. 7. Desenvolver mecanismos mais sofisticados de comercialização, Os contratação e gestão de risco: mercados em África mantêm-se fragmentados, personalizados e inseguros. Os Governos devem ajudar a melhorar o sistema de informação de mercados, assegurar de uma forma mais sofisticada os níveis de qualidade, alargar os mercados reduzindo as barreiras do comércio regional e, acima de tudo, serem consistentes na formulação de políticas. 4. Investir em Tecnologia e Geração de A tecnologia para Conhecimentos: vii é um documento para definir a estratégia para o combate do HIV/SIDA. No entanto, é crítico que todos os programas e actividades de desenvolvimento na África Sub-Sahariana ao serem esboçados, tenham em conta de como o impacto do HIV/SIDA afectará ou não o sucesso do programa e qual o impacto do programa na expansão do HIV/SIDA. O ASPECTOS FUNDAMENTAIS: documento refere também três importantes aspectos que necessitam de ser tratados, de forma a permitir que a estratégia aqui apresentada seja bem sucedida: Recursos: Houve um declínio substancial da assistência externa nos anos 90. Enquanto que os fluxos de investimento privado aumentaram em outros sítios, eles ainda não cobriram a brecha causada em África pelo declínio da assistência. O alívio da dívida ao abrigo da Iniciativa HIPC é uma ajuda, mas não é suficiente. Os países da OCDE devem reforçar o seu compromisso de conceder uma ajuda mais flexível aos países Africanos, os quais agora, como resultado de uma liberalização política e económica, estão em melhores condições de usá-la de forma eficaz. É irónico que a ajuda externa esteja a declinar logo quando a OCDE se comprometeu a atingir objectivos críticos de desenvolvimento e quando os países Africanos efectuaram profundas e dolorosas reformas. Por outro lado, estas reformas necessitam de ser aprofundadas, se as economias africanas querem ser atractivas para um aumento de investimentos, quer interno quer externo. Governação: Apesar das mudanças nas últimas décadas os Governos Africanos enfrentam uma série de difíceis problemas. Como construir o estado-nação a partir de tantos grupos étnicos? Como tornar o governo num instrumento efectivo na prestação de serviços económicos e sociais críticos? Como distribuir de uma forma justa os benefícios do sistema político? Como desviar a lealdade do partido ou pessoa para o estado e governo? Como construir instituições que garantam a transparencia, incluindo uma imprensa responsável e livre? Como tornar o governo mais pequeno e com mais enfoque?. Como mudar de um sistema governado pela lei do homem para um Estado de Direito? Estes são problemas extremamente difíceis, mas a não ser que África os solucione, a luta contra a pobreza e a fome irá falhar. Não há dúvidas que a HIV/SIDA: epidemia do HIV/SIDA tem o potencial de aumentar seriamente a pobreza e a fome e reduzir a capacidade de acelerar o crescimento económico em países onde a prevalência seja média/alta. Ao nível macroeconómico o HIV/SIDA reduzirá grandemente o número de trabalhadores capacitados, tanto por morte como por morbidez e reduzirá as poupanças privadas. A nível do agregado familiar o impacto pode ser enorme. Agregados pobres tem uma margem muito limitada em termos de poupança e rendimento. Uma doença causada pelo SIDA pode resultar num aumento de tempo gasto a cuidar do doente, a perda de emprego pelo membro da família infectado, aumento de despesas em cuidados de saúde e em funerais. Este não Então será esta a estratégia viável? Não em todo o lado, e talvez não na maior parte dos países africanos neste momento. É talvez necessário começar-se a trabalhar de uma forma mais abrangente, com poucos países Africanos que já possuem alguns dos prerequisitos que irão permitir esta estratégia funcionar. – Uganda, Mali, Moçambique, Gana, Nigéria, possivelmente Quénia e Etiópia, e ainda a África do Sul. Noutros países talvez não seja possível implementar toda a agenda estratégica aqui presente. No entanto, algumas partes da agenda poderão sê-lo. Mas esta realidade diferenciada da Africa deve ser usada em benefício de África, como uma oportunidade para aprofundar conhecimentos e compartilhar experiências. viii e mensurável ajudando as nações Africanas a: Não é a primeira vez que África fica numa encruzilhada. Mas esta poderá ser a sua ultima oportunidade. Há grandes oportunidades e grandes obstáculos. O sucesso não poderá apenas significar um corte substancial da fome em 15 anos, mas também o começo de um círculo eficaz que poderá significar a redução da pobreza, doenças e guerra, numa base alargada e contínua. Esta é uma oportunidade a não perder. 1. Desenvolver programas e políticas que fortaleçam os agricultores, os negócios e os mercados de modo a permitir-lhes competir na economia global. 2. Reforçar a educação, formação e instituições públicas nas zonas rurais. 3. Expandir a pesquisa e a extensão rural, baseada na ciência e tecnologias de informação; estimular novos contactos de negócios e evitar danos no meio ambiente. POR UMA RESPOSTA DOS EUA: Os EUA devem desenvolver esforços com vista a estimular as economias Africanas, reduzir a pobreza e ajudar os mais carenciados a serem auto-sustentáveis. Os EUA, devem apoiar as nações Africanas a melhorarem o desempenho da agricultura e do sistema alimentar na sua globalidade. Todavia, desenvolvimento significa muito para além do crescimento económico. Significa melhoria do bem estar humano e oportunidade para todas as pessoas atingirem o seu potencial máximo. Mas sem um crescimento económico abrangente, os países Africanos não terão recursos para financiar os seus sistemas de cuidados de saúde, escolas, e programas de segurança mínima para os carenciados. Um crescimento económico abrangente derivado de melhorias na agricultura e segurança alimentar, pode contribuir significativamente para estas e outras importantes prioridades de desenvolvimento. 4. Melhorar a administração pública rural. 5. Estabelecer a ligação entre a ajuda alimentar de emergência e o desenvolvimento a longo prazo. 6. Coordenar programas alimentares e agrícolas com acções no combate ao HIV/SIDA. Os elementos para a nova estratégia dos EUA necessitarão de um desenvolvimento ulterior, baseado em sugestões e comentários de líderes e de organizações chave de África e dos EUA. E, a assistência dos EUA para reduzir a fome em África deverá concentrar-se nas áreas específicas em que os EUA são especialistas. Não há soluções rápidas. O crescimento económico em África requer um esforço sustentável de 15 a 20 anos. O progresso a médio prazo pode ser atingido ix ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A FOME EM ÁFRICA (1) PREFÁCIO (2) O propósito deste documento é o de delinear uma estratégia clara e capaz de ser implementada para reduzir a fome em África nos próximos 15 anos. Possivelmente será tarde demais para se atingirem os objectivos traçados na Cimeira Mundial de Alimentação que previa reduzir a fome em metade, até 2015. Mas progressos substanciais poderão ser atingidos, caso a comunidade Africana e a comunidade Internacional ataquem seriamente este problema. Esta estratégia foi esboçada com base em ideias que foram emergindo ao longo da ultima década sendo a maioria delas de profissionais e formuladores de política Africanos. Particularmente, esta estratégia é resultante de uma série de "Seminários de Transformação Agrícola" realizados entre 1993 e 1999 onde participaram estudiosos africanos, formuladores de política e pessoas ligadas a negócios, assim como de trabalho desenvolvido pelo Banco Africano de Desenvolvimento, de um estudo realizado conjuntamente pelo Banco Mundial, Comissão Económica para África e o Consórcio Africano para a Pesquisa Económica, para além de uma série de consultas Africanas organizadas pelo FARA - Fórum para a Pesquisa Agrícola em África. 1 (3) Este documento não é claramente o ponto final, mas apenas o início, um ponto de partida para uma nova e intensa discussão entre académicos Africanos e Americanos, profissionais e líderes políticos, onde as ideias presentes serão reformuladas e refinadas. No final da discussão esperamos atingir dois grandes resultados - acordo sobre a estratégia de como reduzir a fome em África e um compromisso político para a implementação da referida estratégia assumido tanto pelos formuladores de política Americanos como Africanos. Do lado Africano, irá requerer grandes mudanças de política, enquanto que da parte Americana irá requerer um novo compromisso para uma maior abertura de mercados e de mobilização de recursos, públicos e privados, financeiros e intelectuais, necessários para apoiar a implementação desta estratégia. (4) ANTECEDENTES (5) A maioria dos países Sub-Saharianos tornaram-se independentes, no meio de grandes esperanças, há 40 anos. Contudo, desde então, os anos que se seguiram não foram fáceis para muitas partes do continente que foram assoladas por guerras, golpes militares, secas, fome, estagnação económica e pobreza. Ao longo desse tempo, os doadores canalizaram mais de um trilião de dólares em assistência externa e os Governos Africanos pediram outros $200 milhões de empréstimos em condições comerciais e investiram com recursos próprios mais $ 500 biliões, cujo impacto foi bastante reduzido. África mantêm-se quase tão pobre, quase com tanta fome e quase com a mesma prevalência de doenças como em 1960. Então qual o razão para uma nova estratégia? O que é que mudou que nos faça pensar que existe 1 See Julie Howard et al, “African Perspectives on Progress and Challenges in Transforming Agriculture to Help Cut Hunger and Poverty” at: http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/africanhunger/perspectives.pdf African Development Bank, Agriculture and Rural Development Sector Policy, at: http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/africanhunger/agripolicy.pdf SPAAR Secretariat. 1999. SPAAR/FARA Vision of African Agricultural Research and Development, at: http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/africanhunger/visionafrica.pdf The World Band in Partnership with various African Organizations. 2000. Can Africa Reclaim the Twenty-First Century? at: http://wbln0018.worldbank.org/AFR/afr.nsf/General/9D48D6DCE826CCD0852568F1006DBF2E?OpenDocum ent 1 actualmente o conhecimento para o desenvolvimento de uma estratégia para reduzir a fome que resultará, quando todas as tentativas anteriores falharam? (6) Em primeiro lugar, num conjunto abrangente de matérias, muitos profissionais de desenvolvimento e académicos, ambos dentro e fora de África, concordarão que o problema não é falta de conhecimentos, particularmente a nível técnico. Existe actualmente conhecimento suficiente no que se refere ao processo de desenvolvimento da África SubSahariana (ASS) e é possível delinear em traços largos uma estratégia que reflicta tal conhecimento. O conhecimento em como aumentar a produção de alimentos e as soluções técnicas para o problema da redução da abrangência da pobreza existe, e têm um consenso alargado. O problema real é um problema de política económica – os governos Africanos, na sua maioria, não se dedicaram à luta contra a fome e pobreza e, por seu lado, os países desenvolvidos não cumpriram os seus compromissos em termos de assistência, alívio da dívida e abertura de mercados. As razões para tal são complexas, mas o mais importante é que o contexto no qual a luta contra a fome deve ser conduzida mudou radicalmente, oferecendo novas oportunidades e apresentando novas dificuldades. A estratégia abaixo descrita oferece uma oportunidade real para reduzir a fome em África nos próximos quinze anos.2 O que se torna necessário é vontade de o fazer. Mas “vontade”não pode significar palavras pomposas ou retórica inspirada. Significa sim, a necessidade de tanto os Africanos como os seus parceiros, tomarem decisões políticas difíceis. Esta vontade deve ser traduzida em recursos reais e numa redefinição de programas. (7) AS MUDANÇAS NO CONTEXTO AFRICANO (8) Políticas e Governação (9) Com o fim da Guerra Fria, os Africanos começaram a exigir e a esperar maior transparência dos seus Governos. Uma segunda onda de liberalização política resultou numa pronunciada viragem de regimes autoritários e golpes militares do período pós-independência para várias formas de democracia. Conforme calculado pelo “Freedom House”, o número de países “livres” na África Sub-Sahariana aumentou de dois para oito entre 1990 e 2000, o número de países “parcialmente livres” aumentou de 15 para 24, enquanto que o número de países “não livres” reduziu de 26 para 13. É importante não subestimar ou sobrestimar o impacto desta revolução pacífica. (10) A mudança foi profunda. Os Africanos desejam agora métodos democráticos de comportamento e a falta dessa vivência dentro de métodos democráticas levou já ao surgimento de turbulências. Golpes militares poderão ter sucesso por um certo período, mas a pressão para se retornar aos processos democráticos é a regra e não a excepção. Regimes foram alterados através do voto e Governos derrotados deixaram o poder. Parlamentos e legislaturas adquirem mais independência e mais autoridade. Há, em muitos países, uma imprensa livre e vibrante, que inclui não só a imprensa escrita mas a radiodifundida. Muitos países estão activamente envolvidos na descentralização política e administrativa. Abusos contra os direitos humanos tendem a reduzir em todos os regimes, mesmo nos mais recalcitrantes. 2 The World Food Summit goals call for a reduction in poverty by half by the year 2015; because of lack of progress since that goal was enunciated, it may now be unreachable; nevertheless a significant reduction in hunger by 2015 is still possible. 2 (11) O novo espaço político, juntamente com a erosão das capacidades do estado nas áreas rurais, levou a um aumento dramático de organizações da sociedade civil tanto em número, como em vigor e diversidade. Cooperativas pertencentes e geridas pelo estado, deram lugar a organizações de produtores independentes controladas pelos seus associados. De uma forma crescente, estes grupos não só têm substituído o Governo na comercialização agrícola, como têm também na arena política uma posição cada vez mais sólida. Um dos assuntos chave que permanece inacabado em África é a transformação política do continente baseada em interesses económicos e, as organizações de base de agricultores são uma peça fundamental desta transformação. Esta é uma área onde os E.U.A. tem uma grande experiência que pode ser de grande utilidade. (12) Há, é claro, a outra face. Existe ainda um número de estados fracos e falhados obstruídos pela violência interna e pressões externas. Neste preciso momento em que escrevo este documento, mantêm-se sérios conflitos em Angola, República do Congo, Serra Leoa, Sudão e Uganda e turbulências políticas e violência em outros estados. Mesmo as democracias mais estáveis são fracas, com instituições fracas de governação, níveis significativos de corrupção e um sistema de prestação de serviços ineficaz. Em muitos destes países, a política é largamente baseada em personalidades e em interesses regionais e não em interesses económicos. Permanecem as dificuldades tanto para os agricultores, como para os mais carenciados, com vista a organizarem-se de modo a conseguirem influenciar as políticas do governo e, como veremos, as políticas do governo continuam a favorecer os centros urbanos, os ricos e os poderosos. (13) Contudo, actualmente o contexto político é bastante mais favorável conducente a um desenvolvimento mais abrangente, do que em qualquer outro momento nestes últimos quarenta anos. Mais importante ainda, é que o povo espera dos seus governos uma maior transparência e resposta às suas necessidades. Esperam ter mais controlo a nível local sobre os assuntos que lhe são de interesse. Esperam honestidade e desprezam a corrupção. E, acima de tudo, não se deixam mais enganar por teorias que justificam a sua pobreza por problemas derivados do mundo exterior e não por problemas do próprio governo.3 Com o passar do tempo, estas expectativas levarão a uma maior transparência nos governos. Assim, enquanto que governos efectivos, honestos, empenhados, visionários não surgem da noite para o dia, pode-se esperar que os governos se tornem a médio prazo mais efectivos, mais honestos, mais empenhados e mais visionários. (14) Política Económica (15) Nos últimos quinze anos a maior parte dos estados Africanos procederam a reformas dramáticas nas suas políticas económicas. Isto é mais evidente na área macroeconómica, onde os deficits governamentais foram reduzidos para níveis sustentáveis, resultando assim em reduções substanciais da inflação (de 13.6% em 1980 para 8.4% em 1997). O nível médio do deficit fiscal na ASS ( para países nos quais existem dados para os dois anos) decresceu de 4.8% em 1980 para 2.2% em 1997. Igualmente importante, os sistemas de taxas de câmbio foram liberalizados e actualmente o preço da moeda externa reflecte o seu preço de escassez. 3 However, Africans still raise concerns, some very legitimate, about the role of external forces in contributing to African poverty, such as high-income countries’ trade policies (restricted market access to high-income countries and dumping of OECD agricultural surpluses), as well as the declining commitment in most OECD countries, not the least of which is the U.S., to official development assistance. 3 (16) Estas duas políticas são extremamente importantes para a fome e pobreza. A inflação é o imposto mais cruel sobre os pobres, que não têm maneira de investir os seus limitados recursos financeiros em bens que mantenham o seu valor, em tempos de inflação alta. Ao contrário, eles são forçados a manter os seus bens em numerário, cujo valor se deprecia rapidamente. Uma taxa de câmbio sobreavaliada reduz os preços de bens comercializáveis ou semi-comercializáveis, tais como alimentos e exportações agrícolas e reduz assim os rendimentos reais dos produtores rurais. Estudos mostram que estas políticas reduzem os rendimentos dos pobres.4 (17) Apesar de os indicativos permanecerem relativamente fracos e muitas reformas importantes estejam a ser corroídas, as políticas agrícolas em África melhoraram. (Este aspecto será discutido abaixo com mais detalhe). Tradicionalmente, os países Africanos tributam os agricultores e subsidiam os consumidores urbanos, enquanto que ao mesmo tempo subinvestem nas áreas rurais. A eliminação de monopólios de comercialização agrícola do governo, juntamente com uma desvalorização real da taxa de câmbio, tem significado aumentos reais de preços para os agricultores Africanos que produzem para os mercados mundiais (apesar da queda dos preços). Assim, os agricultores em países tais como o Gana, Uganda, Nigéria, Tanzânia e Moçambique viram os preços das suas exportações aumentarem na ordem dos 50% desde o início dos anos 90. Reformas políticas na área de culturas alimentares tem sido menos uniformes; muito do control existente assim como as empresas públicas de comercialização foram eliminadas. Mas os indicativos mantêm-se relativamente fracos.5 (18) Apesar de tudo, o ambiente de política económica, apesar actualmente mais conducente a um crescimento rural e redução anteriormente. Os mercados estão na generalidade liberalizados, agricultura foram reduzidos e as oportunidades para o investimento Contudo, estas alterações levantaram alguns aspectos importantes: • • • • de longe do ideal é da pobreza, do que os impostos sobre a privado são maiores. (19) A austeridade governamental tornou mais difícil o investimento nas áreas rurais e em áreas chave de actividades públicas essenciais para um crescimento de longo prazo, tal como uma pesquisa agronómica adaptada; (20) As instituições financeiras mantêm-se desordenadas, com alternativas muito limitadas para o sector privado, face aos extintos bancos agrícolas estatais; (21) A maior parte dos sistemas de pesquisa e extensão rural têm fundos insuficientes e mostram-se incapazes de cumprir a sua missão; (22) Os regulamentos governamentais no que concerne ao investimento privado mantêm-se dispersos e aspectos como a estabilidade política e transparência elevam para níveis considerados inaceitáveis, os riscos dos investidores. 4 See David Sahn et al., Structural Adjustment Reconsidered: Economic Policy and Poverty in Africa, Cambridge University Press, 1996; and Economic Reform and the Poor in Africa, Oxford University Press, 1996; 5 See, for example, Jayne, T.S., Mulinge Mukumbu, Munhamo Chisvo, David Tschirley, Michael T. Weber, Ballard Zulu, Robert Johansson, Paula Santos, and David Soroko, 1999. "Successes and Challenges of Food Market Reform: Experiences from Kenya, Mozambique, Zambia, and Zimbabwe," MSU International Development Working Paper 72, East Lansing: The Department of Agricultural Economics, Michigan State University at: http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/papers/idwp72.pdf 4 (23) Aumento da Pressão Sobre a Terra (24) A população na ASS continua a duplicar a cada 25 anos e em muitas áreas os agricultores têm de se deslocar para terras menos produtivas e mais frágeis; em muitos países a fertilidade dos solos está a sofrer um declínio apreciável.6 Por muitos anos a produção agrícola em África tem aumentado essencialmente devido à movimentação das populações para novas terras. Há muitos países (Nigéria, Moçambique e Uganda, por exemplo) onde existe ainda uma grande reserva de terra de grande potencial agrícola; contudo, muitos outros países (Quénia, Ruanda, Malawi, por exemplo) atingiram os limites e estão a sofrer não só uma redução do tamanho das propriedades, como a aumentar o número dos sem terra e também uma maior degradação dos solos. Para todos estes países, a única solução é intensificar a agricultura e aumentar a produtividade. (25) Urbanização (26) A população urbana da ASS aumentou de 82 milhões em 1980 para 193.5 milhões em 1998, um crescimento anual de 4.9% ao ano.7 Assim, o mercado urbano de alimentos mais que duplicou, enquanto que a força de trabalho rural disponível aumentou apenas 50%. É claro que o mercado de alimentos não é só determinado pelo tamanho da população, mas pelo seu rendimento. Com o ressurgimento dos níveis de crescimento económico, a procura de alimentos particularmente produtos de maior valor comercial como a carne e lacticínios, aumentará também. Houve também um aumento na procura de alimentos processados dado o aumento do custo de oportunidade de tempo dos residentes urbanos, particularmente o da mulher. Isto conduz a um aumento de rendimento e oportunidades de emprego no sistema de comercialização e processamento de alimentos, provocando ao mesmo tempo novas tensões nesse sistema. (27) HIV/SIDA (28) Não há dúvida que a epidemia do HIV/SIDA ainda não atingiu o seu pico em África. As taxas correntes do HIV prevalecentes entre a população adulta varia entre os 35.8% no Botswana e 1.7% no Senegal. Histórias horríveis abundam sobre os efeitos do SIDA nas taxas de mortalidade, em órfãos, na condução dos negócios e nas vidas das mulheres, que em muitos países de África têm muito pouco poder para evitar o comportamento de risco dos seus parceiros. Estimativas correntes mostram que a epidemia do HIV/SIDA em países de grande prevalência, reduz a taxa de crescimento económico de um para dois pontos percentuais. Apesar de ainda ser difícil prever com segurança o impacto multiforme desta epidemia no crescimento económico em geral e na agricultura em particular, o seguinte parece provável: • (29) O número de mortes resultante do SIDA continuará a aumentar no futuro próximo e atingirá tal nível, em alguns países, que poderá reverter o aumento populacional; 6 See Clay, D. and T. Reardon. 1996. "Rwanda case study: Dynamic linkages among population, environment, and agriculture in the highlands of East Africa." In Clay, Reardon, and Shaikh, Population, Environment, and Development in Africa: Dynamic Linkages and their Implications for Future Research and Development Programming. East Lansing: Michigan State University. Pp. 39-91. 7 In contrast, the rural population of Africa has been growing at only 2.2% per year. 5 • • • • • (30) As mortes provocadas pelo SIDA ocorrem em grupos etários económicamente activos e isso irá provocar um aumento de dependentes dos trabalhadores activos, o que actualmente já apresenta um rácio elevado na ASS; (31) Para agregados familiares pobres, doenças e morte derivados do SIDA resultam normalmente na redução do rendimento familiar, particularmente para as crianças órfãs; (32) O custo económico do SIDA a nível do agregado familiar resulta frequentemente na redução de recursos disponíveis para poupança e investimento; (33) Altos níveis de incidência do HIV entre a população educada reduzirá o stock de educação e para além disso, altos níveis de prevalência tornam a formação e a educação mais dispendiosas; e, (34) Em áreas atingidas mais fortemente pela epidemia, a força de trabalho reduziu drasticamente e os rácios de dependência dispararam, enquanto que os avós tentam tomar conta de um grande número de órfãos. Esta mudança na disponibilidade de trabalho, leva a questionar a conveniência das tecnologias agrícolas desenvolvidas para estas áreas, específicamente as de trabalho intensivo (tais como as dirigidas à conservação dos solos e altamente dependentes de fertilizantes orgânicos). (35) É incerto o que tudo isto significa no seu conjunto, excepto que o HIV/SIDA irá tornar a luta contra a fome em África, ainda mais difícil. (36) AS MUDANÇAS NO CONTEXTO INTERNACIONAL (37) Enquanto que os acontecimentos em África aumentaram gradualmente as oportunidades para reduzir a fome, as mudanças no ambiente internacional são muito mais dramáticas. O mundo é fundamentalmente diferente hoje comparativamente há vinte anos atrás e as oportunidades para um desenvolvimento mais abrangente são actualmente mais prevalecentes. (38) Globalização (39) O conjunto destas mudanças foi sumarizado numa palavra que despertou uma grande paixão nos últimos anos — globalização. Numa estreita perspectiva técnica “globalização” significa uma maior integração da economia internacional, que se manifesta num aumento do comércio, aumento da mobilidade do capital e da força de trabalho e um aumento de fluxos de tecnologia. Num sentido alargado, alimentado pela revolução da informação, globalização significa um aumento radical da penetração nas sociedades tradicionais de ideias, valores e cultura globais, quase sempre Ocidentais e frequentemente Americanas. As manifestações externas desta influência são visíveis nos restaurantes McDonald’s, sapatilhas Nike e nas uvas do Chile. (40) A Tabela I demonstra algumas das dimensões da globalização. Ao longo da década de 1988 a 1998, a fracção do comércio mundial de bens relativamente à percentagem do PIB aumentou de 33% e a fração de investimento directo estrangeiro no PIB duplicou. A taxa de crescimento média anual das exportações no período de 1990-97 foi de 6.2%; enquanto que a taxa média pelo qual o crescimento de exportações excedeu o crescimento do PIB foi de 3.0%. Isto são números dramáticos. Como pode ser visto na tabela, práticamente todas as regiões menos desenvolvidas do mundo participaram neste processo, apesar de África não ter sido tão bem sucedida, particularmente no que se refere aos investimentos externos comparativamente a outras regiões, como a América Latina. No entanto, o crescimento anual 6 do volume de exportações na África Sub-Sahariana aumentou dramáticamente de uma média de 2.0% nos anos oitenta para 7.5% nos anos noventa. (41) TABELA I: INTEGRAÇÃO ECONÓMICA Comércio de Bens (em % do PPP PIB) Região Ásia Leste e Pacífico Europa e Ásia Central América Latina Médio Oriente e Norte de África Sul da Ásia África Sub-Sahariana Mundo 1988 13.3 9.0 9.4 17.6 4.2 15.4 21.2 1998 15.5 21.1 19.1 17.4 4.8 16.8 28.3 Investimento Directo Estrangeiro Bruto (em % do PPP PIB) 1988 0.4 … 0.5 0.3 0.0 0.3 1.7 1998 1.3 1.0 2.5 0.9 0.1 0.7 3.8 Fonte: World Bank, World Development Indicators. (42) A globalização oferece assim substancialmente novas oportunidades, mercados internacionais de produtos e de factores, que apresentam níveis históricos de crescimento elevado. Mas, estas oportunidades requerem uma resposta muito mais sofisticada. Exportações de produtos tradicionais por si só não são suficientes para liderar um crescimento dinâmico em África. Tem havido um decréscimo contínuo nos preços dos produtos agrícolas desde 1960, com o índice dos preços agrícolas a cair de 208 em 1960 para 90 em 1999, um decréscimo médio de 2.4% por ano. Algum deste decréscimo pode ser atribuído a ganhos de produtividade dos concorrentes principais de África, o que salienta a grande importância do investimento na agricultura. Mais ainda, o acesso aos mercados está a tornar-se mais difícil e mais complexo. Cada vez mais, o acesso aos mercados mundiais requer especificações de produtos mais restritas, tanto para produtos agrícolas e não agricolas, resultante essencialmente do papel importante que representam os nichos de mercados e o desejo de manter a pureza da marca. O que isto significa,é que as empresas internacionais que compram e comercializam produtos envolvem-se cada vez mais numa estreita coordenação de produção e de canais de comercialização - o aumento dos padrões ISO e privados. O sucesso na participação do mercado global dinâmico de produtos específicos de alto valor comercial (em oposição a produtos genéricos), requer uma gestão sofisticada, melhor capital humano, um entendimento profundo de oportunidades de mercado internacional, controlo de qualidade, melhores embalagens, transporte mais barato, seguro e rápido, atenção especial a padrões ambientais e de saúde, um ambiente favorável ao capital internacional e à gestão e uma estabilidade macroeconómica. Ao mesmo tempo, esforços substanciais devem ser realizados para reduzir os custos de mercado e aumentar a produtividade das culturas tradicionais tanto para o mercado interno como para exportação. (43) Novas Tecnologias (44) Um dos aspectos mais animadores da globalização, é o facto que a informação está actualmente disponível de uma forma mais abrangente e barata do que nunca. Entender a revolução da informação é crucial para uma participação efectiva na nova economia global. Que oportunidades oferece a África a revolução na informação? 7 • • • • • (45) Acesso à informação sobre oportunidades de novos mercados (46) Acesso à informação actualizada de novas tecnologias (47) Oportunidades de integração de mercados fornecendo informação instantânea relativa a preços e procura (48) Oportunidades de redução de riscos derivados da seca (49) Oportunidades de dessiminar informação tecnológica mais barata e mais efectiva para os agricultores. (50) Isto apenas toca a superfície. É difícil hoje prevêr o que será a revolução da informação no futuro, mas sabemos que para aproveitar as oportunidades que daí advêm, irá requerer um esforço cuidadoso e calculado para construir o tipo de capacidade necessária, para uma adaptação a uma mudança radical do ambiente tecnológico. (51) O mesmo poderá ser dito no que concerne à revolução biotecnológica. Tal como acontece com a nova informação tecnológica é difícil hoje prevêr com segurança como é que a biotecnologia será utilizada para aumentar a produtividade agrícola em África. O potencial da biotecnologia para altos rendimentos, melhor control de pragas, maior resistência à seca, redução da dependência em fertilizantes químicos, períodos menores de crescimento e aumento dos valores nutricionais, podem levar a uma revolução agrícola até mais dramática que a "Revolução Verde" dos meados do século XX. Mas existem três grande obstáculos. (52) Em primeiro lugar, a maioria das instituições de pesquisa Africanas e pesquisadores Africanos não estão ainda capazes de utilizar os avanços tecnológicos em curso no Ocidente e adaptá-los às circunstâncias Africanas. Segundo, a maior parte dos avanços na biotecnologia estão a ser introduzidos por empresas privadas, que registam a patente desses avanços genéticos e não por instituições públicas que tratam o material genético como bem público. Isto significa que, não só a propagação de novas tecnologias fica restringida ao facto de serem ou não lucrativas em termos de oportunidade de mercado, mas também a pesquisa fica geralmente confinada a áreas de importância particular para a agricultura dos países desenvolvidos. Finalmente, toda a área de engenharia genética tem levantado um certo número de questões importante concernentes a ameaças ao meio ambiente e à saúde humana que, na maior parte das vezes provocou mais confusão que clarificação dos assuntos, mas que irá atrasar e tornar mais difícil a transferência dessas tecnologias para África. Não há obstáculos intransponíveis. Contudo, a estratégia para reduzir a fome em África necessita de confrontar estes obstáculos e de ser explícita em como tirar vantagens da revolução biotecnológica para a agricultura em África. (53) Fluxos De Capital Internacional (54) Conforme já mencionado, houve um crescimento dramático nos fluxos de capital internacional, que atingiram níveis 10 vezes acima do nível da assistência da ODA (overseas development assistance). Contudo, o investimento directo estrangeiro e a carteira de investimentos ainda retardam na África Sub-Sahariana e têm-se concentrado em poucos países e sectores. O que a experiência internacional tem mostrado, é que o capital irá atrás de oportunidades onde as puder encontrar, mas também, que os investidores internacionais têm muitas opções e assim, aqueles países com alto risco político, instabilidade macroeconómica ou barreiras pesadas à sua entrada, serão deixados para trás. Mais ainda, especialmente em termos de carteira de investimentos, o movimento do capital internacional é muito volátil. Novamente, isto salienta o facto de apesar de a globalização oferecer novas oportunidades, 8 apresenta também riscos crescentes e requer esforços concertados e mudanças radicais, de forma a obter-se vantagens destas oportunidades. (55) Os Novos Filantropos. A revolução tecnológica criou uma nova geração de capitalistas fabulosamente ricos que, tal como os Fords e Rockefellers antes deles, estão interessados em retornar um pouco da riqueza adquirida. Isto resultou numa explosão de novas fundações e uma geração de novos filantropos tal como Bill Gates e Ted Turner, que procuram tanto no exterior como a nível interno oportunidades para as quais possam contribuir. No geral, estas novas fundações têm capacidades e mandatos limitados concentrando-se nos sectores sociais. Contudo, estas novas fundações procuram ainda o seu rumo e a maioria ainda não se identificou fortemente com qualquer agenda particular de desenvolvimento. (56) O Fim da Guerra Fria (57) O fim da Guerra Fria provocou alterações em aspectos importantes no clima político internacional. Nas três primeiras décadas de independência, os países Africanos foram importantes, embora secundários, campos de batalha no conflito das grandes potências. Muitos destes países conseguiram jogar as grandes potências umas contra as outras, gerando recursos substanciais que permitiram governos corruptos e ineficazes permanecerem no poder. Os Estados Unidos, em particular, perdeu milhões de dólares de assistência externa para promover regimes corruptos e autoritários no Sudão, Somália, Libéria e Zaire. Ao mesmo tempo, a Guerra Fria também gerou um conflito ideológico, que promoveu o desenvolvimento do dirigismo e outras filosofias políticas. (58) O novo clima político internacional possibilita ao Ocidente ter uma relação mais madura com África, baseada no interesse mútuo de reduzir a pobreza e aumentar a prosperidade. Os Estados Unidos têm tido uma grande dificuldade em definir uma política externa pós- Guerra Fria, particularmente respeitante a África e os vários argumentos para a assistência externa – bens públicos internacionais tais como, saúde e protecção do meio ambiente – sempre os conduziu ao mesmo – os Estados Unidos têm maiores benefícios, num mundo pacífico e próspero.8 Em África, paz e prosperidade só virão através do desenvolvimento económico, e um programa de assistência externa racional e generoso pode ajudar a promover esse desenvolvimento. (59) Contudo, os anos noventa sofreram uma redução drástica em assistência externa, com os níveis globais a caírem de $56.5 biliões em 1993 para $51.9 biliões em 1998. Na África Sub-Sahariana, os valores reais de assistência per capita reduziram um-terço entre 1990 e 1998. Isto é injusto numa época de prosperidade sem paralelo. Mais ainda, a assistência à agricultura reduziu ainda mais drasticamente. Por exemplo, os empréstimos do Banco Mundial para o desenvolvimento rural em África reduziram de 23 projectos num valor de $1.0 biliões em 1990 para 8 projectos, num valor de $224 milhões em 1999. Como resultado, logo quando a comunidade internacional decide que o seu enfoque será a redução 8 However, it is interesting to note that the American public believes: (1) that the U.S. has a moral responsibility to provide assistance to the poorest countries; (2) that the U.S. gives up to 10 times more in foreign assistance than it actually does; (3) that the U.S. should provide a much higher level of assistance to poor countries; (4) that the main rationale should be moral rather than self-interest; and (5) that foreign assistance is frequently ineffective. See University of Maryland, Program on International Policy Attitudes, “Americans on Foreign Aid and World Hunger: A Study of Public Attitudes,” February, 2001. at: http://www.pipa.org/index.html 9 da pobreza, conforme reflectido nos Objectivos de Desenvolvimento Internacional do Comité de Assistência ao Desenvolvimento 9 , reduz a sua capacidade de alcançar este objectivo. (60) Isto é uma grande tragédia. África encara uma crise de desenvolvimento talvez de proporções históricas. Pela primeira vez, devido a reformas políticas e económicas, as oportunidades de investimento efectivo de redução de pobreza, são manifestas. Quatro décadas de luta para alcançar o desenvolvimento, não foram feitas sem uma aprendizagem profunda de África assim como, das comunidades de assistência. A economia mundial está a desenvolver-se rapidamente e oferece novas e excitantes oportunidades. As mudanças tecnológicas dão-nos esperança, de que muitos dos problemas existentes actualmente possam ser resolvidos. Esta não é a altura para se voltar para trás quando o objectivo está tão próximo. (61) Mudança dos Métodos dos Doadores (62) Mudança dos Interesses e “Earmarks” dos Doadores. A assistência externa tem sido sempre muito caprichosa, mudando de prioridades cada década ou quase. Durante os anos noventa, especialmente como resposta a preocupações levantadas por círculos eleitorais internos, uma maior proporção de fundos de doação foram direccionados para áreas específicas onde teriam um impacto directo na pobreza, tal como a sobrevivência da criança e saúde, ou para áreas que reflectiam preocupações políticas internas, tais como o meio ambiente e problemas de género. No contexto de um bolo fixo ou diminuindo, isto significou que menores recursos ficaram disponíveis para um enfoque em sectores económicos, particularmente a agricultura e o sistema alimentar. (63) Para além disso, estas pressões parecem ser universais e a ideia de vantagens comparativas de doadores não faz mais sentido. Assim, todos os doadores transferiram recursos para os sectores sociais à custa dos sectores produtivos, incluindo doadores com interesses tradicionais na agricultura como a USAID e o Banco Mundial. Pressões dos doadores em defesa de certos interesses específicos, eram muitas vezes incompatíveis com a construção de uma estratégia nacional coerente. Mas, muitos países Africanos devido à falta de analistas bem formados não conseguiam argumentar estes pontos com os doadores ( e faltaram a disciplina necessária para não aceitar o dinheiro dos doadores destinados a fins diferentes das prioridades definidas.) (64) Perdeu-se assim, um entendimento equilibrado de desenvolvimento. Não há dúvida que o investimento no desenvolvimento humano, nos sectores de educação e da saúde em particular, é vital para um crescimento sustentável. Para além disso, a educação e a saúde são bens importantes por si só, para além de serem absolutamente necessários ao crescimento agrícola. O mesmo é obviamente verdade para investimentos de sustentabilidade do meio ambiente. Contudo, a capacidade a longo prazo para melhorar a qualidade e o acesso a estes serviços sociais cruciais, depende de uma maior capacidade de prestação de serviços por parte do sector público, o que depende de um aumento de receitas governamentais, que por sua vez dependem de uma economia em crescimento. Há claramente uma relação sinergética entre melhorias nos sectores sociais e nos sectores produtivos. Ao longo dos últimos anos este equilíbrio foi perturbado, particularmente no programa da USAID. 9 See A Better World for All, Progress Towards International Development, OECD, July, 2000. 10 (65) Orientação de Resultados. Alterações ao pensamento estratégico, conduziu a uma crescente ênfase crescente nos resultados por parte das agências doadoras. Neste contexto, a USAID, devido a amplas reformas governamentais conforme estabelecido no “Government Performance and Results Act “ (GPRA), tem tomado a liderança. Infelizmente, ênfase em resultados tem muitas vezes sido operacionalizada como ênfase em resultados de curto prazo. Programas de desenvolvimento com resultados indirectos ou difíceis de quantificar ou resultados que ocorrem por num período de longo prazo, têm tido a tendência de ser pouco acentuados. Isto é claramente visível nas substanciais reduções de investimento na formação de longo prazo e pesquisa, da USAID. (66) A Erosão da Capacidade Técnica. O desvio de investimentos na agricultura e desenvolvimento rural, provocou também uma redução substancial do pessoal técnico agrícola das agências doadoras. Isto torna-se um ciclo vicioso, onde programas reduzidos conduzem a uma redução de pessoal e redução de pessoal conduz a programas reduzidos. (67) Assistência Externa e Organizações Não-Governamentais (ONG’s). Um aumento do activismo político da comunidade das Organizações Voluntárias Privadas (PVO’s) ligado à erosão das capacidades do estado, levou os doadores a apoiarem-se cada vez mais nas ONG’s para prestação de assistência. É um assunto muito complexo, ligado ao apoio de processos democráticos e sociedade civil e a preocupações concernentes à efectividade governamental. Contudo, o contínuo aumento da concentração em actores não-governamentais, no sentido que reduz o envolvimento com os governos Africanos, pode ser auto-destrutivo. No final, não é possível reduzir a pobreza, sem um governo efectivo e comprometido com o desenvolvimento. (68) Abertura dos Mercados da OCDE (69) Se os governos Africanos querem desenvolver um esforço verdadeiro para competir nos mercados globais, necessitam de receber algumas respostas honestas dos países da OCDE. Apesar de um progresso substancial nesta frente ter sido realizado na última ronda de negociações da Organização Mundial do Comércio (WTO), especialmente com a aprovação do “African Growth and Opportunity Act” (AGOA) e com a nova política de abertura de mercados para países menos desenvolvidos anunciado pela União Europeia, a política agrícola da OCDE continua a ser hostil aos países pobres. Foi estimado que a soma total de subsídios agrícolas da OCDE equivale ao PIB da África Sub-Sahariana.10 Estes subsídios, juntamente com o pouco cuidado na utilização da ajuda alimentar, prejudicaram tanto os mercados internos como os externos para a agricultura Africana. Este problema, tem sido agravado pela perda de fundos de assistência ao desenvolvimento destinado às ONG’s, que cada vez mais contam apenas com a ajuda alimentar para venda, como forma de financiar as suas actividades tendo-se criado assim um lobby para o aumento da ajuda alimentar. Ao mesmo tempo, maior flexibilidade na utilização dos fundos gerados pela venda da ajuda alimentar poderá criar novas oportunidades de reforço do crescimento agrícola de longo prazo,utilizando estas receitas. 10 See Binswanger and Townsend, “The Growth Performance of Agriculture in Sub-Saharan Africa, American Journal of Agricultural Economics, 82:5, pp. 1075-1086. 11 (70) O PROBLEMA DA FOME (71) A Dimensão da Fome em África (72) De acordo com a FAO, há 186 milhões de pessoas com fome em África.11 A fome em África deve ser analisada em duas dimensões – longo e curto prazo. A longo prazo, as populações carenciadas possuem recursos limitados e são incapazes de comprar ou produzir, numa base contínua, a quantidade e qualidade de comida necessária para uma vida saudável. Esta condição crónica é mensurável por um indicador denominado desnutrição crónica definido como a altura da criança relativamente à altura normal de uma criança da sua idade. Na África Sub-Sahariana, a percentagem de crianças que estão com altura abaixo do normal, varia de 15% até 45%, mesmo em países onde não decorram conflitos ou que não sofram de seca grave. Isto indica que um grande número de crianças estará pouco desenvolvida a longo prazo, tanto fisica como mentalmente, em resultado de uma dieta inadequada. (73) Por outro lado, insegurança alimentar de curto prazo, frequentemente resultante de crises ou faltas sazonais de alimentos, é medido por um indicador denominado desnutrição aguda, ou seja o peso da criança relativo à altura. A percentagem de crianças com o peso abaixo do normal, que enfrentam assim um grave problema nutricional, geralmente varia entre 5% e 10% em países sem crise da ASS. A Tabela II apresenta os dados de medições nutricionais em oito países Africanos. Como se verifica pela tabela, o progresso na redução da malnutrição foi diferenciado na melhor das hipóteses, com um aumento na redução do peso normal em quase todos os países e um decréscimo da relação peso/peso normal em metade e um acréscimo na outra metade. É difícil decidir o que fazer com estes dados, apesar de parecer existir alguma indicação que países que tiveram um rápido crescimento e reduziram a pobreza (Gana, Uganda e Zimbabwe durante este período) tiveram uma redução no número de crianças com altura abaixo do normal para a sua idade, pelo menos nas áreas rurais.12 O que é claro é que a malnutrição, tal como a pobreza, é pior nas áreas rurais de todos os países para o qual existe informação. (74) Claro que a situação é mais grave em países que enfrentam crises. As Nações Unidas estimam que cerca de 1% da população Africana, seis milhões de pessoas, são refugiados ou deslocados. Em países como Angola, Sudão, Norte do Uganda, Serra Leoa e o Congo não só há grande número de deslocados, como capital foi destruído e fontes de sobrevivência sofreram rupturas. Para além disso, a maior parte de África está sujeita a secas periódicas e outras catástrofes naturais como as cheias. Mas no meio de todas estas questões – malnutrição crónica, conflito, seca e fome todos derivam de um causa universal – pobreza. (75) Pobreza e Fome (76) A médio e a longo prazo a única solução para o problema da fome em África é a redução da pobreza. Apesar de a fome ter um número de causas próximas tal como fraca qualidade de saúde, colheitas pobres, falta de informação nutricional, conflitos, etc., todas 11 FAO, The State of Food Insecurity in the World. 12 As has been documented by Tefft et al. in a set of nutrition studies in Mali, sampling inconsistencies across years make this sort of longitudinal comparison problematic. (Tefft, James, Christopher Penders, Valerie Kelly, John M. Staatz, Mbaye Yade, and Victoria Wise. “Linkages Between Agricultural Growth and Improved Child Nutrition in Mali.” MSU International Development Working Paper No. 79. East Lansing: Michigan State University Departments of Agricultural Economics and Economics: 2000. at: http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/papers/idwp79.pdf 12 elas são originadas de um factor principal – pobreza. Pessoas carenciadas são menos saudáveis, menos educadas e mais vulneráveis a choques. A centralidade da pobreza ao problema da fome, e de facto, a todas dimensões de bem estar, é claramente provado numa série de dados compilados pelo Banco Mundial na Pesquisa Demográfica e Saúde, financiado pela USAID. A Tabela III, que apresenta dados do Quénia, é relativamente típica. (77) TABELA II: DADOS NUTRICIONAIS DE CRIANÇAS EM PAÍSES AFRICANOS SELECIONADOS 13 País (anos) Primeiro Ano Segundo Ano Mudança desnutri ção aguda desnutri ção crónica desnutri ção aguda desnutri ção crónica desnutri ção \aguda desnutri ção crónica Urbano: Gana (1988 and 1993) Madagascar (1992,1997) Mali (1987 and 1995) Senegal (1986 and 1992) Tanzania (1991 and 1996) Uganda (1988 and 1995) Zambia (1992 and 1996) Zimbabwe (1988, 1994) 7.3 3.8 9.9 3.5 5.1 0.6 5.4 1.4 24.6 40.5 19.6 17.5 38.0 24.8 32.8 16.0 9.1 5.3 24.9 8.8 8.1 1.4 3.3 6.5 17.0 44.8 23.9 15.2 32.6 22.7 32.9 19.0 1.8 1.5 15.0 5.3 3.0 0.7 -2.1 5.0 -7.6 4.3 4.3 -2.3 -5.5 -2.1 0.1 3.0 Rural: Gana (1988 and 1993) Madagascar (1992,1997) Mali (1987 and 1995) Senegal (1986 and 1992) Tanzania (1991 and 1996) Uganda (1988 and 1995) Zambia (1992 and 1996) Zimbabwe (1988, 1994) 8.5 6.0 12.3 7.1 6.4 2.0 5.0 1.1 31.4 50.6 26.2 26.5 45.0 45.2 46.5 34.3 13.1 8.3 24.4 13.4 7.3 3.2 4.9 5.6 32.3 49.5 36.2 32.7 46.1 40.7 48.9 25.0 4.6 2.3 12.2 6.3 0.9 1.3 -0.1 4.5 0.9 -1.1 10.0 6.3 1.2 -4.5 2.4 -9.3 (78) Como se pode verificar, para quase todos os indicadores, o quintil mais rico tem indicadores que são duas, três ou até mais vezes superiores ao quintil mais pobre. Isto é claramente verdade para os três indicadores de nutrição, assim como para os dois indicadores de saúde. São relações complexas e nem sempre lineares, mas é claro que a relação entre pobreza e nutrição, pobreza e estado de saúde e pobreza e fertilidade, são fortes. Assim, qualquer ataque à questão da fome deve ser baseada num ataque à pobreza. 13 Sahn, David E., Paul A. Dorash and Stephen Younger. 1999, “A Reply to De Maio, Stewart and van der Hoeven,” World Development 27 (3) 471-75. 13 (79) TABELA III: POBREZA E INDICADORES DE BEM ESTAR NO QUÉNIA EM 1997 Indicador Quintil do Consumo do Agregado Familiar Taxa de Mortalidade Infantil Taxa de Mortalidade Abaixo dos 5 anos Crianças com altura abaixo da média desnutri ção crónica (%) Crianças moderadamente abaixo do peso Normal (%) Crianças fortemente abaixo do peso Normal (%) Mãe com baixo índice de massa corporal* (%) Taxa de fertilidade total Mais Pobres 95.8 136.2 Segundo 82.9 120.4 Médio 58.5 92.3 Quarto 61.0 84.9 Mais Ricos 40.2 60.7 Média 70.7 105.2 44.1 37.5 30.2 30.5 17.1 33.0 31.6 26.7 20.0 17.1 10.3 22.1 7.1 6.2 3.8 3.4 2.1 4.8 17.6 15.5 11.5 8.1 5.5 11.9 6.5 5.6 4.7 4.2 2.0 4.7 * Índice de massa corporal, um índice do estado nutricional de um adulto (80) O PROBLEMA DA POBREZA (81) A gravidade do problema da pobreza em África é apresentado na Tabela IV. (82) O rácio "headcount" é definido como a percentagem da população abaixo de linha de pobreza. A brecha (gap) de pobreza equivale à distância do fraco rendimento do pobre da linha de pobreza, como percentagem da linha de pobreza. Em outras palavras, uma brecha de pobreza de 23% significa que a pessoa pobre em média, tem um rendimento 23% abaixo da linha de pobreza. (83) A tabela ilustra os seguintes factos: • • • (84) A pobreza está difundida em África, sendo a maioria da população pobre (85) A pobreza é mais prevalecente e mais grave nas áreas rurais, mas está difundida nas áreas urbanas (86) Mesmo onde o rendimento é melhor distribuído, a maioria das pessoas não estarão muito acima da linha de pobreza. (87) TABELA IV. POBREZA EM 21 PAÍSES AFRICANOS DURANTE OS ANOS 9014 Indicador r Indice de Incidencia (%) Indice de pobreza diferencial (%) Indice do quadrado de pobreza diferencial (%) Despesa media (US$/pessoa/ano) Linha de pobreza media (US$/pessoa/ano) 14 Rural Urbano Global 56 23 13 409 325 43 16 8 959 558 52 22 12 551 Can Africa Claim the Twenty-First Century, The World Bank, p.90. 14 (88) Muitas das mudanças, em particular a liberalização política e económica, descritas na primeira parte, conduziram a uma certa melhoria na situação de pobreza. Por exemplo, ao longo de um período de cinco anos, o "Poverty Headcount Ratio" reduziu em 25% na zona rural da Etiópia, 14% no Gana, 30% na Mauritânia e 21% no Uganda. Em cada um destes países, um novo crescimento conduziu a aumentos no consumo per capita de cerca de 11%. Ao contrário, em três países (Nigéria, Zambia e Zimbabwe) onde o consumo per capita decresceu numa média de 6.5%, o "Poverty Headcount Ratio" aumentou em 53%, 5% e 26% respectivamente. (89) A SOLUÇÃO PARA A POBREZA/FOME (90) Um número de estudiosos referiram que a estratégia mais efectiva para a redução da pobreza e promoção do crescimento económico, é assegurar que o sector agrícola cresça rápidamente.15 Em primeiro lugar, o sector rural é onde se localizam a maioria da população carenciada, então um rápido crescimento da economia rural terá um maior e mais directo impacto nessa população. Segundo, acima de 80% da despesa dos pobres é em alimentos; uma agricultura em rápido crescimento é baseada num aumento de produtividade reduzindo assim os custos dos bens alimentares. A redução dos custos dos bens alimentares aumenta o rendimento real dos pobres, urbanos e rurais. Terceiro, a redução dos custos dos bens alimentares permite aos trabalhadores melhorar os seus rendimentos sem aumento do nível salarial, permitindo assim à economia ser mais competitiva nos mercados internacionais. Finalmente, um crescimento rápido na agricultura aumenta o rendimento dos agricultores, permitindo-lhes em troca adquirir bens e serviços. Estudos demonstram que os rendimentos gerados da agricultura, são provavelmente gastos em bens e serviços produzidos internamente e não em bens e serviços importados.16 Isto significa que o aumento dos rendimentos agrícolas têm efeitos multiplicadores maiores na produção não agrícola e emprego, do que o crescimento não agrícola. (91) CRESCIMENTO AGRÍCOLA ACELERADO COMO MOTOR ESTRATÉGICO DO CRESCIMENTO (92) O que se sabe sobre a agricultura Africana? (93) África é um continente enorme (Figura 1) com uma grande variedade agro-ecológica. Assim, generalizações alargadas acerca da agricultura através do sub continente é muitas 15 See for example: African Development Bank, Agriculture and Rural Development Sector Report, Niama Nango Dembélé, “Sécurité Alimentaire en Afrique Sub-saharienne: Quelle Stratégie de Réalisation?” mimeo, February, 2001. See for example: African Development Bank, Agriculture and Rural Development Sector Report, Niama Nango Dembélé, “Sécurité Alimentaire en Afrique Sub-saharienne: Quelle Stratégie de Réalisation?” mimeo, February, 2001. http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/africanhunger/securitealimentaire.pdf Timmer, C. Peter. 1998. “The Agricultural Transformation.” In Eicher, Carl, and John Staatz (eds.) International Agricultural Development (third edition). Baltimore: Johns Hopkins University Press, and Gem Argwings-Kodhek, T.S. Jayne, and Isaac Minde. 1999. African Perspectives on Progress and Challenges in Agricultural Transformation. http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/polsyn/number47.pdf 16 Cf. Christopher L. Delgado, Jane Hopkins, Valerie Kelly et. al., ”Agricultural Growth Linkages In SubSaharan Africa,” International Food Policy Research Institutey, Research Report #107, December, 1998. 15 vezes um engano. Em definitivo, as recomendações necessitam de ser talhadas para cada país e região agro-ecológica.17 Mesmo assim, há algumas características comuns que se evidenciam. O que se segue não é uma lista exaustiva, mas sim uma lista de características chave descrevendo a estrutura da agricultura e dos sistemas alimentares Africanos: • • • • • • • • • • (94) A agricultura Africana é largamente alimentada pela chuva (cerca de 4.1% de terra arável tem irrigação) e sujeita a grandes variações pluviométricas, assim como secas periódicas e graves; (95) Apesar da contribuição substancial de agricultores comerciais de grande dimensão na África Austral e no Quénia, grande parte da agricultura Africana é caracterizada por uma mistura de pequenos camponeses com cerca de 0.5 a 5 hectares de terra, com um capital limitado de insumos com excepção de instrumentos agrícolas, algum gado, algumas árvores e em algumas áreas equipamento de tracção animal; (96) Na maioria dos países, a mulher está fortemente envolvida na agricultura, muitas vezes fornecendo a maioria da força de trabalho e algumas vezes tomando a maior parte das decisões de gestão do dia a dia da produção, particularmente em áreas onde a emigração dos homens para as minas e para outros trabalhos não agrícolas é comum. Mesmo assim, a mulher tem geralmente menor acesso ao crédito, extensão e outros serviços de apoio agrícola que o homem; (97) No conjunto, excepto para os dez anos de crise (1975-1985), a agricultura Africana cresceu quase ao mesmo nível que a taxa de crescimento populacional, 3% ao ano por um período que vai de 1960-1975, 1.8% ao ano entre 1975 e 1985, e 3% ao ano desde então; (98) Contudo, África perdeu consideráveis cotas de mercados de exportação em muitas, se não na maioria, das suas culturas de exportação tradicionais; (99) Muito do aumento da produção agrícola é resultante da expansão das áreas plantadas e cada vez mais, as novas terras têm menor qualidade; (100) Contudo, a contínua migração campo-cidade ( que em muitos países conduziu a taxas de crescimento da população urbana de 5% ) significa que o aumento da produção foi resultante de um aumento de produtividade da força de trabalho agrícola; (101) Rendimentos da produção agrícola estão bastante abaixo dos valores mundiais, apesar dos significativos aumentos de rendimentos de meados dos anos oitenta, resultantes de investimentos na pesquisa agrícola; (102) Os custos de comercialização são dos maiores do mundo, devido a problemas de política, altos custos de transporte e baixa densidade populacional o que aumenta os custos de montagem por unidade e de distribuição; isto reduz a competitividade, emprego e salários reais; (103) Novos dados mostram existir uma grande disparidade na posse de terra entre os pequenos camponeses mesmo na mesma àrea; como resultado, 80% dos excedentes comercializados em muitos países são produzidos por 20% da população; e muitos agricultores são compradores finais de produtos de primeira necesidade (por isso reduzir os custos de comercialização entre as zonas rurais é tão importante quanto 17 Moussa Batchily Ba, et al.1999. Workshop on Agriculture Transformation in Africa: Abidjan, Côte d’Ivoire, September 26-29, 1995. MSU International Development Working Paper no 75. East Lansing: Dept. of Agricultural Economics, Michigan State University. http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/papers/idwp75.pdf 16 • • • • • reduzir os custos entre a zona rural e urbana). Há, assim, números substanciais de pobres em áreas de grande produção 18 (104) A maioria dos pequenos camponeses não produzem comida suficiente para se auto sustentarem e dependem do mercado para uma parte substancial (até 40%) do seu consumo alimentar; isto significa que a maior parte dos pequenos camponeses têm fontes de rendimento em numerário – salários, remessas e rendimentos resultantes de outros negócios; (105) O sector dos pequenos camponeses está assim dividido em dois grupos, um subsector dinâmico, capaz de investir em bens de capital e em melhorias na terra, de adquirir insumos comercializados e de adoptar novas tecnologias. E um subsector mais retraído, com pouca possibilidade de aumentar a produtividade de uma forma abrangente. As pessoas no subsector menos dinâmico, com recursos de terra e outros muito limitados, em último caso necessitarão de obter o grosso do seu rendimento de fontes não agrícolas (incluindo vender a sua força de trabalho a outros agricultores). Mas tais oportunidades de emprego não surgirão, a não ser que aqueles pequenos agricultores que possuem os recursos necessários para expandir a produção estejam capazes de fornecer-lhes os meios necessários para aumentar a produção e a produtividade. Uma maior produtividade no grupo mais dinâmico irá gerar novos empregos (nas actividades agrícolas e não agrícolas) com salários mais altos para os do subsector menos dinâmico. Esta é uma estratégia explícita para promover ligações dinâmicas no sector dos pequenos camponeses. (106) O aumento de rendimentos (e os países Africanos têm aumentado, apesar de lentamente) e uma rápida urbanização levou a um aumento da procura de alimentos de maior valor comercial – carne, lacticínios, óleo alimentar, alimentos processados, etc.; (107) Há um grande volume de comércio inter-Africano de produtos agrícolas, muito, se não quase todo, sem registo; (108) A agricultura Africana utiliza muito menos capital intensivo e fertilizantes, que a agricultura em outras partes do mundo desenvolvido. (109) Muita desta informação está reflectida na Tabela V. (110) Porque razão tem sido tão difícil o desenvolvimento da agricultura e do sistema alimentar em África? Haverá factores geográficos, climáticos, demográficos ou sociais que dificultem mais o crescimento agrícola acelerado em África, do que em outras regiões do mundo? Para ter a certeza, há um número de factores que diferenciam África da Ásia e tornam a experiência da “Revolução Verde” menos relevante. De particular importância são os seguintes factores: 19 18 Personal communication with Michael Weber and Thomas Jayne. See also: T.S. Jayne. 2001. “Differential Access to Land Among Smallholders in Africa: Implications for Poverty Reduction Strategies and Structural Transformation.” MSU International Development Paper (draft) no 80. East Lansing: Dept. of Agricultural Economics, Michigan State University. 19 Much of this list is derived from African Development Bank, Agriculture and Rural Development Sector Report, pp. 7-11. 17 Figura 1. Perspectiva sobre o Tamanho da Africa 18 • • • • • • • • • • • • (111) Declínio dos preços reais das exportações de culturas tradicionais; (112) Serviços de infra-estruturas limitados nas áreas rurais, que não só aumentam os custos de comercialização, mas também inibem o desenvolvimento da agro-industria nas zonas rurais; (113) Um nível elevado de doenças transmitidas por vectores e vírus, particularmente malária e HIV/SIDA, que reduz a produtividade da força de trabalho rural; (114) Redução das fontes naturais de base, incluindo uma desflorestação substancial e declínio da fertilidade do solo; (115) Sistemas de posse de terra complicados que normalmente têm uma limitada transferabilidade e uma reduzida segurança; (116) Grandes perdas pós-colheita; (117) Fraca intermediação financeira rural; (118) Fraca participação dos utilizadores finais no esboço dos projectos de desenvolvimento e na formulação da política agrícola; (119) Uma agricultura bastante mais diferenciada, com mais culturas e mais zonas ecológicas, do que a monocultura do arroz e trigo da Ásia; (120) Uma população mais dispersa, aumentando os custos de infra-estruturas e de comercialização; (121) Uma agricultura de sequeiro, em vez de uma agricultura de irrigação como tem a maior parte da Ásia; (122) Uma população rural menos educada do que na Ásia, no início do seu crescimento rápido; (123) Estes factores tornam o aumento da produtividade mais difícil, e provavelmente reduzem a taxa de retorno de muitos investimentos. Contudo, não significa que a maioria dos países Africanos não possam aumentar a produção agrícola de 3% para 5% ao ano, a taxa necessária para rapidamente se reduzir a pobreza. De facto, vários países estão a ter este tipo de crescimento rápido, mas há ainda uma larga brecha entre o possível e o actual. (124) Apesar do acima descrito, o conjunto mais importante de factores que inibiram a agricultura Africana foi o conjunto de políticas económicas que os estados Africanos seguiram na maior parte do período pós-independência. Estas políticas, foram caracterizadas por uma instabilidade macroeconómica, orientação urbana e inconsistência e reversão de políticas. No geral, os países Africanos tributaram os produtores rurais e subsidiaram os consumidores urbanos, isto foi mais forte na África Ocidental do que na África de Leste e Austral. Em certas áreas, pelo menos onde estabeleceu-se sistemas orientados aos farmeiros colonos Europeus (“settler agriculture”), as políticas foram estabelecidas para proteger os Europeus da competição exterior, tanto da Africana como de importações. Muitas destas políticas mantiveram-se na era pós-independência, levando por exemplo, à imposição de direitos aduaneiros elevados, na importação do milho no Quénia. Os governos Africanos sub investiram nas áreas rurais enquanto que as zonas urbanas eram providas de uma forma desproporcional. Controlaram mercados agrícolas, subsidiaram insumos (tornando assim o acesso aos insumos e ao crédito um processo político) e sub financiaram instituições chave, tais como as instituições nacionais de pesquisa agrícola. 19 (125) TABELA V. INDICADORES AGRÍCOLAS PARA ÁFRICA, ÁSIA E AMÉRICA LATINA Indicator África Ásia América Latina PIB Agrícola (biliões de dólares) 1997 Agricultura/PIB (percentagem) 1995 Força de Trabalho Agrícola (percentagem do total) 1995 Exportações Agrícolas (percentagem do total) 1995 62.4 30 70 40 400.1 25 72 18 143.2 10 29 30 Índice de produção agrícola (1961-64=100) 1965-1969 1975-1979 1985-1989 1995-1998 113 135 166 221 115 154 230 338 115 153 200 253 100 92 84 87 103 110 135 169 102 106 112 120 2,943 285 1.3 180 33.3 804 .37 29 146 32 2,477 256 24.8 75 9.2 1165 .16 25 24 40 Indice de produção agrícola per capita(1961-64=100) 1965-1969 1975-1979 1985-1989 1995-1998 Rendimentos dos cereais (kg/ha), 1994 1,230 Produção de cereais per capita (kgs), 1993-96 133 Terra agrícola por trabalhador (ha), 1994 5.9 Fertilizantes por terra arável (kg/ha), 1993-96 15 Area irrigada como % de área arável, 1994 6.6 290 Tractores/terra arável (nGmero por 100 hectares), 1993-96 .06 Densidade rodoviria (km de estrada/ km quadrado), 1995 Vias pavimentadas (%), 1995 15 Densidade populacional (pessoas/km2), 1995 25 42 Rendimento rural não agr5cola (% do rendimento rural total) Fonte: Can Africa Claim The Twenty-First Century, Banco Mundial, 2000 (126) No início dos meados dos anos oitenta muitos países Africanos, pressionados pelos doadores, iniciaram um processo de reforma estrutural. Deficits orçamentais foram reduzidos, mercados cambiais liberalizados, subsídios retirados, regimes comerciais mais abertos, preços liberalizados, empresas públicas privatizadas, mercados financeiros liberalizados e empresas públicas de comercialização eliminadas. Estas mudanças levaram muito tempo e estão longo de estar concluídas. Em anos recentes verificaram-se alguns retrocessos, particularmente na África de Leste e Austral. Este aspecto será detalhadamente discutido à frente. (127) UMA ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A FOME BASEADA NA RICULTURA (128) O argumento deste documento até aqui poderá ser recapitulado do seguinte modo: (1) a fome é largamente resultante de baixos níveis de rendimento familiar. Assim, uma estratégia para reduzir substancialmente a fome, deverá basear-se na redução da pobreza e no aumento do rendimento dos pobres; (2) a revitalização da agricultura é fundamental neste esforço; (3) a agricultura Africana tem estado estagnada essencialmente devido a fracas políticas governamentais, incluindo um sub investimento no sector; (4) a liberalização política e económica por um lado, e a globalização por outro, oferecem uma nova oportunidade de retoma da agricultura, mas somente se os países da OCDE abrirem mais os 20 seus mercados para os produtos Africanos, particularmente os produtos agrícolas de valor acrescentado; e (5) competir na economia internacional do Século XXI irá requerer um acesso totalmente novo tanto dos países Africanos, como dos seus parceiros do Norte, porque a economia internacional é mais complexa e mais exigente do que era mesmo há dez anos atrás. As oportunidades estão lá, mas a tarefa não será fácil. (129) O ressurgimento da agricultura, na maior parte dos países Africanos, deverá ter uma orientação de mercado e ser virada para a procura. As fontes para este ressurgimento da procura, inclui tanto mercados internos como externos. Internamente, isso envolve: • (130) Aumento da produção de alimentos tanto para os mercados rurais como urbanos (incluindo tirando vantagens de oportunidades de substituição de importações quando económicamente viável); • (131) Aumento dos mercados internos de alimentos de maior valor comercial; • (132) Aumento do valor acrescentado através do processamento de mercadorias agrícolas (133) Mercados de Produtos Alimentares de Primeira Necessidade (134) O cerne deste argumento é simples. Maior produção de culturas alimentares básicas sem aumento da procura, resulta em preços reduzidos e pequena alteração no rendimento do produtor. A procura de produtos alimentares básicos não é elástica em função do rendimento. Contudo, devido aos contínuos níveis elevados de crescimento populacional e migração campo-cidade, a procura de produtos alimentares de primeira necessidade, mesmo na ausência de um crescimento económico rápido e generalizado, pode crescer entre três a quatro por cento ao ano. Reduzindo os custos de mercado, mesmo sem um aumento de produtividade no campo, pode reduzir o preço dos alimentos ao consumidor e assim aumentar um pouco mais a procura. Contudo, dado o elevado custo transporte/valor de grande parte dos produtos alimentares de primeira necessidade e às políticas alimentares existentes na OCDE, os mercados de exportação dos produtos alimentares de primeira necessidade estarão provavelmente limitados aos mercados regionais. Um mercado robusto de produtos alimentares é fundamental para o crescimento agrícola, mas nunca poderá ser um sector líder se trabalhar isoladamente. (135) Isto não quer dizer que a produção de produtos alimentares de primeira necessidade não tenha um papel crucial e portanto mereça investimentos conducentes a um aumento da produtividade neste sector. Do lado da procura, talvez haja lugar para substituir a importação de alimentos através do desenvolvimento de um sistema de informação mais seguro e categorias e padrões para o comércio regional. A falta dessa informação e de padrões, actuam como uma barreira não tarifária para o comércio local e aumenta o preço dos produtos agrícolas produzidos na região, comparativamente às importações extra-Africanas. (136) Mercados de Produtos Alimentares Domésticos de Alto Valor Comercial (137) Enquanto que os produtos alimentares básicos tem uma reduzida elasticidade em função do rendimento, produtos alimentares de maior valor comercial tais como óleo alimentar, carne, peixe e lacticínios têm uma grande elasticidade em função do rendimento. A desvalorização de 1994 do franco CFA, permitiu aos produtores de gado do Sahel de retomar os mercados de carne da costa da África Ocidental previamente perdidos a favor de 21 importações de carne subsidiada da Europa Ocidental. Aqui, e dado os subsídios concedidos à carne da União Europeia, talvez seja importante para os países Africanos estipular protecção tarifária para as indústrias nascentes de carne e lacticínios do dumping dos países desenvolvidos. 20 Isto é especialmente verdade, uma vez que estes produtos tendem a ser largamente consumidos pelos grupos de altos rendimentos e assim, as tarifas não afectarão grandemente os pobres. Mais ainda, dada a distribuição regional da actividade económica, o fortalecimento do mercado de carne regional e lacticínios na África Ocidental terá tendência a aumentar os rendimentos das regiões mais pobres do Sahel. (138) Agro- Indústria (139) Há agora um claro entendimento, que o desenvolvimento agrícola deve ser visto numa perspectiva do sistema alimentar e agrícola e não só do ponto de vista da produção. "As restrições para assegurar um crescimento sustentável e segurança alimentar existem tanto dentro como fora da machamba. Em muitos países, mais de metade dos custos de alimentos dos consumidores vêm de operações pós colheita e de aquisição de insumos. Aumentar a produtividade dos inputs e outputs de comercialização, armazenagem e processamento é portanto crucial." 21 Cada vez mais, os agregados familiares urbanos, devido à falta de tempo disponível, procuram alimentos que levem menos tempo a cozinhar e que mantenham a frescura nos ambientes urbanos. Muitos destes requisitos de bens alimentares processados, são satisfeitos através de importações em vez de no mercado interno. Aqui novamente, o desenvolvimento de mercados regionais criará economias de escala necessárias para fazer com que níveis mais altos de processamento sejam lucrativos. (140) Estratégias de Exportação (141) Enquanto que os mercados domésticos continuarão a ser o segmento mais importante de toda a procura da produção agrícola, eles terão a tendência de ser menos dinâmicos que os mercados externos. O mercado internacional está a crescer mais rapidamente que a economia mundial e mais rapidamente que os sectores não-agrícolas, da maior parte das economias Africanas. Mais ainda, a maior parte dos produtos produzidos pelos países Africanos para os mercados mundiais são de mais alto valor comercial, do que os produtos produzidos para o consumo interno. A transformação da agricultura em África, requer um circulo eficaz de um aumento de produção de produtos de alto valor comercial, aumento de rendimentos agrícolas, aumento da procura a nível rural de serviços não agrícolas, aumento da procura de produtos alimentares de primeira necessidade e aumento da produtividade na produção de alimentos. (142) Para além disso, produzir para os mercados mundiais tem outros importantes benefícios. Por exemplo: • (143) Competir no mercado mundial é difícil e requer indústrias fortes; esta competição força os produtores Africanos a cortar custos e melhorar a eficiência e assim, aumentar o factor total de produtividade. • (144) Competir numa nova economia global trás vantagens em termos de conhecimento como um factor de produção e, há uma grande quantidade de 20 Pressure to re-institute EU export subsidies on beef will likely grow because Europe is currently accumulating very large stocks of unsold beef due to the sharp drop in demand for beef in Europe because of Mad Cow Disease 21 Howard et al., op. cit., p. 2. 22 conhecimentos que se podem obter a preços baixos, apesar de alguns elementos específicos de conhecimento serem dispendiosos. • (145) Competir nos mercados mundiais atrai o investimento privado estrangeiro e tecnologia, dado que a procura é de certo modo independente dos caprichos da economia doméstica. (146) A Experiência de Exportação da Agricultura Africana (147) Taxas de câmbio sobrevalorizadas, impostos e sub investimento tem enfraquecido o sector Africano de exportação tradicional agrícola. (Tabela VI). É importante notar três aspectos desta tabela: 1. (148) Em todas as mercadorias com excepção do chá, a participação Africana no mercado mundial decresceu. 2. (149) Em quatro das dez mercadorias, as exportações Africanas em 1997 foram de facto mais baixas do que em 1970. 3. (150) Com excepção do tabaco e bananas, o mercado mundial de todas estas mercadorias aumentou entre 2.2% ao ano e 0.8% ao ano, por tanto este não foi o segmento dinâmico do comércio mundial. Contudo ainda são importantes para África e podem representar oportunidades a não perder se África se mantiver competitiva. (151) TABELA VI: COMPARTICIPAÇÃO AFRICANA NO COMÉRCIO MUNDIAL DAS SUAS PRINCIPAIS PRODUÇÕES DE EXPORTAÇÃO Cultura Bananas Cacau Café Algodão em fio Amendoim Óleo de Palma Borracha Açucar Chá Tabaco Fonte: FAOSTAT Exportações Mundiais (‘000 tm) 1970 5,730 1,136 3,282 4,000 983 906 2,661 21,861 752 1,200 1997 14,512 2,061 5,074 5,677 1,218 12,297 4,668 37,883 1,352 5,733 Exportações Africanas (‘000 tm) 1970 394 867 1,010 672 677 178 201 1,515 109 88 1997 429 1,403 808 869 61 156 292 1,386 313 289 Participação Africana no Comércio Mundial (%) 1970 6.9 75.8 30.8 16.8 68.9 19.6 7.6 6.9 14.5 7.3 1997 3.0 67.9 15.9 15.3 5.0 1.3 6.3 3.7 23.2 5.0 (152) Por outro lado, alguns países Africanos têm tido a oportunidade de explorar nichos não tradicionais de mercado (Tabela VII). (153) Em cada um destes países, exportações não tradicionais (ENTs) têm, por curto espaço de tempo, aumentado a sua comparticipação no total de exportações e têm tido um crescimento muito rápido. Nem todas estas ENTs são agrícolas mas uma parte substancial é. 23 (154) TABELA VII. EXPORTAÇÕES NÃO TRADICIONAIS DE PAÍSES AFRICANOS SELECIONADOS País Costa do Marfim Ana Madagáscar Maurícias Moçambique Senegal Uganda Zâmbia Partcipação nas exportações totais (%)) 1994 13.5 9.7 64.1 67.2 5.6 11.5 5.6 14.7 1998 17.4 19.2 86.1 68.9 17.8 13.3 34.9 33.0 Média do Crescimento Anual (%) 1994-1998 16.4 35.5 11.9 2.9 50.3 9.3 101.5 16.5 (155) A estratégia de exportação de África deve ser equilibrada através de três importantes segmentos de mercado: exportações tradicionais, exportações não tradicionais e exportações regionais. Conforma acima referido, os preços nos mercados tradicionais de exportação têm vindo a cair quase à meio século. Mesmo assim, para muitas mercadorias, África ainda tem vantagens comparativas nestes mercados e um aumento de intensidade na exportação pode aumentar os rendimentos familiares (trabalho e produtividade da terra permanecem altas na produção de exportações tradicionais ao contrário da produção de alimentos básicos). Mais ainda, vantagens comparativas é um conceito dinâmico e enquanto África perde a sua comparticipação de mercado em produções tais como óleo de palma e café porque, inter alia, sub investiu nestas produções, poderá readquirir quotas de mercado reinvestindo de uma forma cuidadosa. África é ainda de uma forma abrangente, um produtor de baixo custo de produtos tradicionais comparativamente ao resto do mundo a nível do agricultor, mas a vantagem é muitas vezes perdida devido a impedimentos de política e comercialização.22 (156) O comércio regional de produtos agrícolas já é forte, apesar de pouco deste comércio aparecer nas estatísticas oficiais.23 Estudos efectuados pela USAID na África Oriental e Austral demonstraram que o comércio transfronteiriço, a maior parte dele de produtos agrícolas, é bastante maior do que o reportado oficialmente.24 Por exemplo, em 1994-95 exportações agrícolas não registadas do Uganda para o Quénia, eram iguais a 60% do total de exportações oficiais. A informalidade deste comércio, em parte para fugir aos direitos 22 Patricia Kristjanson, Mark Newman, Cheryl Christiansen and Martin Abel, “Export Crop Competitiveness: Strategies for Sub-Saharan Africa” APAP #109; USAID #PN-ABG-776; July 1990. 23 One exception is work done on regional trade in West Africa following the CFA franc devaluation. Cf. Yade, Mbaye, Anne Chohin-Kuper, Valerie Kelly, John Staatz and James Tefft. 1999. “The Role of Regional Trade in Agricultural Transformation: the Case of West Africa Following the Devaluation of the CFA Franc.” Paper presented at the Tegemeo/ECAPAPA/MSU/USAID Workshop on Agricultural Transformation, Nairobi, June 27-30, 1999. MSU Agricultural Economics Staff Paper No. 99-28, June 1999 < http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/ag_transformation/atw_yade.pdf> and James Tefft, Mbaye Yade, John Staatz et al. Food Security and Agricultural Subsectors in West Africa: Future Prospects and Key Issues Four Years After the Devaluation of the CFA Franc. Policy Briefs (covering the Cotton Subsector, the Beef Subsector, Horticultural Subsectors, and Consumption). Bamako: Institut du Sahel, November, 1998 (http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/sahel/index.htm) 24 See "Unrecorded Cross-Border Trade Between Kenya and Uganda: Proceeding of a Workshop Held at the Mayfair Hotel, Nairobi, Kenya, December 6, 1996". July 1997. Chris Ackello-Ogutu and Protase Echessah. (USAID AFR/SDTechnical Paper No. 58. http://www.afrsd.org/publications/59trade.pdf 24 alfandegários, mas em larga medida para se evitar os atrasos e extorsão nas zonas fronteiriças, aumenta os custos e assim reduz o retorno dos agricultores. Frequentemente, embarques são feitos a granel para a fronteira, posteriormente dividido em parcelas que são carregadas à cabeça ou em bicicletas e reagrupadas logo que se atravesse a fronteira. O que isto significa, é que os esforços para reduzir as barreiras de comércio inter-Africano, se bem sucedido, reduzirá os custos de transacção, provocando assim uma expansão do comércio, mas nem sempre poderá criar novos mercados que não existiram antes. Grande atenção deverá ser prestada ao desenvolvimento de espaços de mercados sub-regionais em África, particularmente na agricultura.25 (157) Contudo, o comércio regional poderá tornar-se num obstáculo, em alguns casos, para entrar em novos mercados não tradicionais. O comércio regional é muitas vezes mais fácil de capturar do que mercados internacionais e podem servir como aprendizagem em termos de conhecimento que é necessário (em termos de organização de sistema, padrões de qualidade, etc.) para ser competitivo em mercados externos. Tradicionalmente, na economia préglobalização, as indústrias desenvolveram-se servindo primeiro o mercado interno, depois o mercado regional e finalmente o mercado internacional. Deste modo, os conhecimentos relativos à produção e comercialização tornam-se mais refinados à medida que o nível de competição aumenta. Contudo, com uma maior mobilidade do capital e da tecnologia, o caminho está aberto para a produção directa destinada ao mercado internacional, sem ser necessário percorrer estes passos intermédios. (158) Exportações agrícolas não tradicionais devem tornar-se o sector mais dinâmico da economia, devido não só à procura de mercado como também pela importância do conhecimento como factor de produção. É o que está a acontecer, conforme demonstrado pelos índices de crescimento apresentados na Tabela VII acima. Apesar de estes índices de crescimento estarem provavelmente empolados, porque começaram com uma base muito reduzida, mesmo assim eles demonstram que é possível diversificar substancialmente a produção para exportação num relativo curto espaço de tempo. Contudo, a entrada em mercados não tradicionais implica novos conhecimentos e um alto nível de sofisticação do que é necessário para competir em mercados de exportação tradicionais. (159) COMPETITIVIDADE NA NOVA ECONOMIA GLOBAL (160) Então como mudar a agricultura Africana do seu modelo de baixa utilização de insumos, investimento reduzido e valor reduzido, para um modelo de alta utilização de insumos, alto valor e alto investimento? Há sete passos necessários para que esta transformação ocorra26 1. (161) Alterar o Paradigma 2. (162) Reformas permanentes do papel do estado 3. (163) Desenvolver a parceria entre o sector público e privado 25 The literature has much to say on the efficacy of trading blocks, and the problems of trade diversion as opposed to trade creation. Given the degree of subsidization of OECD food products, there are efficiency arguments for creating a regional protected space to offset the price advantage that these subsidies bring. However, a contrary argument, that African countries should accept the subsidization of their consumers by OECD taxpayers, has some cogency. Given the importance of food in the commodity bundles of the poor, there are distributional as well as efficiency arguments to be considered. If labor were mobile, and farmers had other opportunities, then the anti-protection argument would dominate. However, labor is relatively immobile, and farmers’ opportunities in the short-run are constrained. 26 Much of this discussion is derived from Howard et al. op.cit. 25 4. 5. 6. 7. (164) Investir em conhecimentos e na geração de tecnologias (165) Investir em infra-estruturas rurais (166) Capacitar os agricultores (167) Desenvolver acordos de comercialização, contratação e participação de risco mais sofisticados (168) Alterar o Paradigma (169) No livro de provérbios diz-se “O meu povo morre por falta de visão.” Este provérbio é particularmente verdadeiro em África, onde, para a maioria, a visão que tem motivado os políticos tem sido a de curto prazo, com o único objectivo de manter o poder. Até recentemente, em muitos poucos países foi realizado um debate político amplo, muito menos obtidos consensos políticos, sobre o caminho que o país deverá seguir. Tem havido habilidade para tomar posições vagas sobre um futuro tranquilo, mas muito pouca vontade em transformar essas posições num plano estratégico efectivo. Esta falta de uma estratégia transformadora significou duas coisas: (1) uma concentração no curto prazo e não no longo prazo e (2) uma falha no desafio à ideologia dominante. Muitas vezes, as políticas dos doadores reforçaram este enfoque de curto prazo devido à pressão das agências doadoras de “fazer o dinheiro andar” e “mostrar resultados.” Durante a Guerra Fria, conforme anteriormente referido, os Estados Unidos e a União Soviética concederam ajuda essencialmente com propósitos estratégicos, muitas vezes sem desafiar as políticas económicas dos seus aliados Africanos. Como resultado, ou os governos desenvolveram políticas e programas destinados a manter a sua base política ( e em África isto frequentemente significa usar o governo como um sistema para distribuir favores políticos e económicos com métodos que prejudicam uma boa governação) ou desenvolvem políticas e programas baseados em paradigmas económicos e políticos profundamente errados e falhados. (170) Para a maior parte do período de independência, o paradigma operativo foi baseado numa industrialização dirigida pelo estado, com vista à substituição de importações. Os líderes de opinião Africanos falavam sobre “ capturar os altos comandos da economia” e foram apoiados nestes esforços por muitos doadores. Os líderes pensaram que modernização e industrialização eram sinónimos e que o único caminho para promover a industrialização era proteger a base industrial da competição externa. Mais ainda, desprezaram o capital privado, porque a maior parte era estrangeiro, fosse em forma de grandes companhias pertencentes ao anterior poder colonial ou pequenas empresas pertencentes a grupos étnicos minoritários tais como os indianos na África Oriental e Austral ou os libaneses na África Ocidental. (171) O novo paradigma de desenvolvimento vira o outro de cabeça para baixo. É tanto promotor de exportações como de substituição de importações, enfatiza a agricultura como motor de crescimento em vez de somente a indústria e o crescimento deve ser baseado no sector privado em vez de um crescimento baseado no estado. Em grande medida, a maior parte de África adoptou este modelo – o consenso de Washington. Mas este é um paradigma dos finais do século XX. Não tem visão e não reflecte totalmente as mudanças que a globalização está a provocar. Um modelo de desenvolvimento do século XXI deve, em termos dialécticos, trazer uma espécie de síntese entre o velho e o novo. Em particular, deve ser baseado num papel do governo muito menor do que aquele considerado pelo domínio do estado, mas muito maior do que o considerado pelo consenso de Washington. Igualmente importante, deve ultrapassar os modelos tradicionais de vantagens comparativas, para 26 modelos descritos por Michael Fairbanks como os de “vantagens competitivas”, modelos que vêm a competição na economia mundial não de uma forma passiva e em conformidade com os incentivos dos preços, mas modelos que activamente procuram oportunidades de mercado, modelos nos quais as empresas e o governo cooperam para construir a base institucional de competitividade.27 Finalmente, e mais importante, o novo paradigma vê as oportunidades globais e regionais já não baseadas em factores tradicionais de produção tal como a terra e trabalho, mas baseadas em conhecimento e informação. (172) O exemplo seguinte poderá ajudar a descrever as diferenças entre os novos e velhos paradigmas. (173) A indústria de flores do Uganda. O maior exportador mundial de flores de corte tem pouca terra, mão de obra extremamente cara e mau clima. O que a Holanda tem é uma técnica especializada de primeira classe, reconhecimento do mercado, custos reduzidos de transporte, grande investimento de capital e uma indústria extremamente diversificada (9,350 viveiros de flores de corte e 1,900 exportadores). A Holanda não só produz mais flores, como também produz flores mais variadas e valiosas, aparecendo anualmente com novas variedades de tulipas e gladíolos. O Uganda por seu lado, tem um clima óptimo, muita terra barata, força de trabalho com salários baixos, altos custos de transporte, reconhecimento limitado do mercado e um técnica especializada muito rudimentar. Produz essencialmente rosas, competindo no preço e não na qualidade. A Holanda exporta $2.8 biliões em flores de corte, enquanto que o Uganda ( com apenas 17 produtores) exporta $ 25 milhões. (O mercado mundial de flores é de cerca de $ 5 biliões, comparado com o mercado do café de $14 biliões). Com vista a desenvolver as suas indústrias de exportação agrícola não tradicional, o Uganda teve de reformar drásticamente as suas políticas macroeconómicas, resolver o problema do monopólio dos fretes aéreos de exportação da sua companhia aérea, reforçar as instituições de exportação, desenvolver a sua indústria de embalagem e construir armazéns perto do aeroporto de Entebe. Recentemente, a Universidade de Makerere criou um curso de cultivo de flores. Claramente, o Uganda entendeu que para a indústria de flores prosperar, necessita de desenvolver as habilidades e conhecimentos que permitirá às flores Ugandesas tornarem-se diferenciadas, desejadas e mais valiosas. (174) Reformas Permanentes do Papel do Estado (175) Os países Africanos deram passos largos na criação de um ambiente político mais favorável a um rápido crescimento. Como foi acima referido, isto é particularmente verdade no que se refere a políticas macroeconómicas. Contudo, houve derrapagens recentes e os países estão a encontrar dificuldades em manter a disciplina fiscal. E na política agrícola, houve algumas inversões substanciais, particularmente na África Oriental e Austral. Qual é o regime político essencial para a promoção do desenvolvimento Africano no século XXI . • (176) Estabilidade macroeconómica. África irá necessitar de maiores níveis de investimento privado (os níveis correntes são menos de 10% do PIB), tanto doméstico como estrangeiro. Tal investimento, com excepção das indústrias extractivas, não é provável que apareça caso existam altos níveis de inflação. 27 See Michael Fairbanks and Stace Lindsay, Plowing the Sea. Harvard Business School Press (Boston, Ma. 1997). For an African perspective see Yumkella, Roepstorff, Viranchianchi and Hawkins, “Globalization and Structural Transformation in Sub-Saharan Africa,” presented at the Workshop on Agricultural Transformation in Africa (June, 1999); http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/ag_transformation/atw_yumkella.pdf 27 • • • • • • • (177) Estabilidade política. Ainda mais importante do que ter políticas correctas é torná-las previsíveis. O sector privado pode adaptar-se a más políticas; não se adapta a mudanças rápidas de políticas. Os países necessitam de desenvolver uma visão consistente que possa delinear o seu enquadramento de políticas, tanto a direcção geral que essas políticas pretendem tomar como os mecanismos pelo qual as políticas são formuladas. (178) Um papel estratégico e claramente delineado para o sector público. Os Governos devem definir qual o seu papel nos sectores produtivos – em grande medida devem manter-se fora dos negócios que não tenham a natureza de “bens públicos”. Em particular, os governos devem facilitar o trabalho dos mercados privados. (179) Deixe-se os mercados trabalhar. Os regulamentos do governo devem ser limitados à saúde e segurança, protecção de fraude e a áreas onde existam práticas monopolistas que possam ferir a economia. Os preços devem ser determinados pelo mercado e os subsídios eliminados. Esta orientação política deve também aplicar-se tanto aos países da OCDE, como aos seus parceiros Africanos. Frequentemente, os países da OCDE, incluindo os EUA, pregam a liberalização aos seus parceiros Africanos, enquanto os seus mercados de produtos agrícolas mantêm-se altamente protegidos das importações de África. (180) Proteger a propriedade e os contratos privados. O papel mais importante do governo é fazer cumprir os contratos; na maior parte dos países da ASS, o sistema legal é ineficaz na garantia da execução dos contratos. (181) Abrir a economia. A política do governo deve eliminar as restrições quantitativas e outros constrangimentos no comércio internacional e utilizar as tarifas apenas para aumentar os rendimentos e não para orientar o comportamento económico. Não deve existir nenhum sistema de isenções. Novamente, esta orientação deve abranger os parceiros Africanos da OCDE. (182) Desenvolver um sistema de impostos justo, previsível e com uma reduzida taxa marginal. (183) Fornecer um ambiente favorável à formação de organizações profissionais que podem ajudar a fornecer “semi-bens públicos” (184) Desenvolver uma parceria entre o sector público e privado (185) Contudo, não é apenas aquilo que os países não podem fazer, mas também o que devem fazer. Devem em primeiro lugar, conforme uma vez referido por um Governador adjunto do banco central da Malásia, “Vejam o sector privado como vosso parceiro. Quando o sector privado cresce, o sector público beneficia também.” O problema em África é que a maior parte dos governos não vê o sector privado como parceiro, mas como competidor. Os governos devem olhar para as suas políticas, estratégias e programas do ponto de vista de como poderão promover o objectivo da redução da pobreza, através de um crescimento liderado pelo sector privado. (186) De seguida uma série de exemplos de como a parceria poderá trabalhar. (187) Pesquisa e extensão agrícola. Um número de estudos demonstrou que os investimentos na pesquisa e extensão agrícola em África tiveram altos índices de retorno 28 económico.28 A pesquisa agrícola tem sido geralmente uma área do sector público, apesar de numerosos exemplos de pesquisa financiada pelo sector privado, ou ainda, de instituições de pesquisa do sector privado. Em geral, a pesquisa do sector privado tem o seu enfoque na multiplicação de sementes, especialmente de culturas de rendimentos, enquanto que a pesquisa do sector público deve ter o seu enfoque em sistemas de cultivo, práticas de cultivo, sustentabilidade do meio ambiente, etc., áreas onde a informação não é incorporada no produto para venda. Esta definição, deveria também incluir a multiplicação de variedades de polinização aberta de culturas alimentares, onde a retenção das sementes por parte dos pequenos agricultores, reduz o incentivo do sector privado de investir no desenvolvimento de novas variedades. (188) Neste momento, um grupo de líderes dos Sistemas Africanos de Investigação Nacional está a preparar um conjunto de recomendações para orientar a reestruturação necessária dos Centros Internacionais de Pesquisa Agrícola, de modo que estas organizações possam não só melhor servir o público Africano, como os interesses do sector privado no desenvolvimento de tecnologias de novos alimentos e culturas de rendimento.29 Uma atenção cuidada deverá ser dada aos resultados destas deliberações, de modo a orientar os investimentos futuros no desenvolvimento da tecnologia alimentar e agrícola e sistemas afins de extensão/entrega. (189) Também, torna-se necessário em muitos países, um certo equilíbrio entre a pesquisa básica e uma pesquisa mais adaptada. Poucos países têm os recursos para fazer a pesquisa básica e ficam na posição de ter de pedi-la emprestada e adaptá-la. Há também muito trabalho a fazer no desenvolvimento de protocolos relativos à biosegurança básica, antes que a adopção da biotecnologia se difunda mais. Tem havido muito pouco trabalho no lado da equação pós-colheita - armazenagem, transporte e processamento e aqui há um espaço particular para a parceria sector público/privado, especialmente dada as grande perdas póscolheita das culturas tradicionais e as vastas oportunidades para indústrias de valor acrescentado nos negócios agrícolas. Isto envolve algumas reorientações sérias, na forma como as instituições de pesquisa agrícola trabalham, dado que estas tipicamente vêm os agricultores como seus clientes principais e neglegenciam clientes potenciais como os comerciantes, processadores ou consumidores. (190) Qual será a natureza de tal parceria? Do lado do sector público consistirá na determinação de políticas gerais de macro-estabilidade, redução de regulamentos e abertura do comércio, assim como passos mais positivos para assegurar a existência de elementos chave infraestruturais, regulamentos fitosanitários efectivos e um regime de impostos justo. Desenvolver este relacionamento requer que o governo se sente com potenciais empresas de negócios agrícolas e discuta quais as necessidades desta empresas para investirem lucrativamente e então, excluindo previlégios especiais, satisfazer essas necessidades. (191) Tecnologia de Informação. Os governos Africanos e os doadores deverão ter uma perspectiva e uma visão correcta, no que se refere à tecnologia de informação. Actualmente, muitos governos vêm os sistemas de internet e de telecomunicações como um monopólio que devem controlar. Governos em todo o lado receiam o fluxo livre de 28 James F. Oehmke and Eric W. Crawford.1993. “The Impact of Agricultural Technology in Sub-Saharan Africa: A Synthesis of Symposium Findings.” MSU International Development Paper No. 14. East Lansing: Michigan State University. http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/papers/idp14.pdf 29 SPAAR Secretariat. 1999. SPAAR/FARA Vision of African Agricultural Research and Development,, op. cit. and forthcoming SPAAR/FARA plenary session to be held from April 2-7 in Addis Ababa, Ethiopi 29 informação e tentam, tanto com boas intenções como más, regulamentar e limitar os fluxo livre de ideias. Contudo, o poder do mercado livre de ideias é difícil de visualizar mesmo no começo do século XXI. Os governos devem entender que os benefícios de regular e controlar, devem ser equilibrados contra o poder de um mercado de ideias descontrolado. Os governos devem privatizar as telecomunicações, desenvolver uma capacidade de regulamentar, eliminar os direitos em computadores e equipamento de telecomunicações (muitos governos definiram computadores como bens de consumo nas suas pautas aduaneiras), e licenciar e vender frequências de telefone celular. A informação é o motor para o crescimento económico, e governos com visão irão fazer o que puderem para reduzir custos e promover o acesso alargado. Os governos deverão também, desenvolver estratégias para expandir o acesso à tecnologia de informação incluindo a aplicação de subsídios alvo. (192) Infraestruturas de Transporte. Transporte é o sangue da vida de uma economia. Alguns países criaram uma parceria pública/privada para gerir um fundo de estradas, financiado por impostos sobre a gasolina e outros emolumentos pagos pelos utilizadores, com vista a assegurar a manutenção e reabilitação de estradas importantes. Os governos devem priorizar a construção e melhoria de estradas em zonas com grande potencial de crescimento. Os governos não se devem envolver no negócio de construção directa e sim contratar consoante as suas necessidades de construção. Os elementos chave de infraestruturas de transporte - particularmente linhas aéreas, portos e caminhos de ferro - devem ser ou privatizados ou entregues a uma gestão privada. (193) Política de exportação. Já não é suficiente ter eliminado restrições quantitativas, liberalizado o sistema cambial e ter reduzido e uniformizado os direitos. Os governos e o sector privado, necessitam agora de ter a capacidade de negociar com o excesso de regulamentos das instituições internacionais e os emitidas pelo sistema da OMC e em particular, os referentes à agricultura e regulamentos fitosanitários. Devem ter a capacidade de representar os seus interesses efectivamente no OMC. Devem ter a capacidade de adquirir informação sobre as oportunidades que os acordos da OMC concedem, e desenvolverem estratégias de exportação baseadas nessas oportunidades. Devem trabalhar em conjunto com o sector privado, de modo a prestarem assistência crucial na penetração em novos mercados. Dado o tamanho reduzido destas economias e a disponibilidade limitada de pessoal técnico, desenvolver este tipo de informação de uma forma efectiva requer cooperação regional. (194) Política concernente à biotecnologia. Os países africanos necessitam de delinear uma política de biotecnologia com uma visão de futuro. Os avanços da biotecnologia oferecem oportunidades tremendas para o aumento dos rendimentos físicos, na redução dos efeitos negativos das pestes, proteção do meio ambiente e melhoria do valor nutritivo de muitas culturas. Com vista a melhor utilizar as variedades genéticamente modificadas, os governos necessitam de (1) desenvolver a capacidade para facilitar a implementação de regulamentos e orientações concernentes à biosegurança e (2) desenvolver e reforçar políticas, sistemas de informação e formação biotecnológica. Há também necessidade de iniciar uma discussão alargada sobre os custos e benefícios da biotecnologia. (195) Investir em conhecimento e na geração de tecnologias afins (196) A nova economia global é uma economia baseada na informação. Isto é tanto verdade em termos óbvios como subtis. O conhecimento económico é mais do que chips de computadores e internet. É essencialmente, a utilização do conhecimento sobre o produto e mercado para produzir produtos de alto valor comercial para mercados específicos. Por 30 exemplo, voltando ao exemplo das flores; o sucesso no mercado mundial de flores requer conhecimentos técnicos ( como desenvolver flores que possam manter a qualidade face aos embarques de longo curso); conhecimentos de comercialização ( o que querem os consumidores da Alemanha querem?); e conhecimento organizacional (como obter flores cortadas hoje para estarem em Amesterdão à noite?). Claramente, o primeiro passo para a construção de uma economia baseada no conhecimento é o desenvolvimento do talento humano necessário para gerir a produção baseada em tecnologia, linguagem e símbolos. Ajudar a desenvolver a capacidade de pesquisa Africana, especialmente na área da tecnologia da cultura alimentar, que se pode considerar como um bem público, é um aspecto essencialmente estratégico no processo de apoio aos agriculturas no que concerne a oportunidades de captura de mercados locais emergentes e mercados globais. (197) Os países Africanos e os doadores devem fazer do investimento na educação a sua prioridade de longo prazo mais importante e, dentro desta prioridade a ênfase deve ser posta na qualidade e não na quantidade. Nas décadas passadas, registou-se uma erosão na qualidade dos sistemas de educação Africanos a todos os níveis, particularmente nas universidades. Nova ênfase na matemática, ciências e tecnologia com um compromisso de ligação das universidades e escolas à internet deve ser dada. Uma parceria pública/privada no financiamento de centros de tecnologia é crucial para o sucesso. (198) A reforma do sistema de educação poderá ser tão difícil como outras reformas estruturais. Na maior parte dos países, a opção de restringir o acesso com vista a manter ou melhorar a qualidade não é politicamente viável. Poderá ser possível utilizar tecnologia moderna de informação, especialmente o rádio, como um mecanismo de elevar os insumos pedagógicos na sala de aula. A participação dos pais, níveis objectivos de desempenho e uma maior descentralização de responsabilidade e autoridade, podem no seu conjunto fazer com que os níveis de responsabilização sejam elevados a nível da escola. (199) Reformar universidades, particularmente na área de um maior auto-financiamento por parte dos estudantes é um pesadelo político, sendo os estudantes um dos segmentos políticos mais activos no seio da população. Contudo, o alto nível de subsídios a estudantes, sem qualquer dúvida, provocou tanto o desvio desnecessário de grandes valores do orçamento já limitado do governo para a área da educação, para o sector terciário e, ao mesmo tempo provocou a redução da disponibilidade de recursos para níveis que de uma forma adversa afectaram a qualidade. As infraestruturas estão deterioradas, os professores das faculdades são mal pagos, livros e jornais inexistentes. Contudo há ainda esperança. A Universidade de Makerere no Uganda, demonstrou que uma reforma estrutural cuidada dos programas é possível e, que muitos estudantes estão dispostos a pagar por uma educação com qualidade. Mais ainda, o declínio das universidades públicas deu espaço em muitos países, para o aumento do número de universidades privadas e outras instituições terciárias. (200) O reforço dos sistemas de pesquisa agrícola, particularmente com um enfoque na pesquisa de adaptação, continua a ser o grande desafio. Com o apoio da USAID e outros doadores, nos anos oitenta muitos países Africanos deram passos largos para alinhar os seus sistemas. Contudo, com as reduções no apoio orçamental tanto dos doadores como do orçamento interno no anos noventa, muitos destes sistemas perderam pessoal chave e continuam limitados com falta de fundos operativos. O sistema de redes regionais de pesquisa através dos países provocou economias de escala, permitindo que os diferentes países possam ter o seu enfoque em culturas específicas e posteriormente compartilhem na região os resultados obtidos. Mas redes regionais são complementares e não substitutas dos 31 sistemas nacionais de pesquisa funcionais. Sem uma dedicação renovada para o reforço dos sistemas de pesquisa agrícola em África, o crescimento da produtividade requerido para estimular um desenvolvimento económico abrangente, não irá surgir. (201) Investimento em infraestruturas rurais. (202) Durante muitos anos os governos Africanos e as agências doadoras subinvestiram em infraestruturas rurais (veja a Tabela VIII). Apesar de os dados serem difíceis de obter, “na maior parte dos países Africanos o sector agrícola recebe menos de 10% do orçamento de despesas públicas, corrente e de investimentos, mas contribui com 30-80 % do rendimento doméstico.”30 Mesmo quando o investimento em infraestruturas rurais, particularmente estradas, é adicionado ao total, a proporção das despesas públicas na economia rural é bastante menor do que seria desejável dada a sua importância para a economia. Uma estratégia cujo enfoque é a agricultura como motor principal para reduzir a fome, deve aumentar numa grande proporção o stock de capital público na área rural. (203) Estradas. Os custos de mercado Africanos são dos mais elevados do mundo. Isto é parcialmente um resultado geográfico. Bloom e Sachs identificaram um número de características geográficas (população dispersa, uma grande parte a viver longe do mar, uma linha costeira pequena relativamente à área total, a barreira do Sahara) que torna o transporte dispendioso.31 Mas é também em parte devido a más políticas, incluindo uma incapacidade para manter as estradas. Para a maior parte dos Africanos que vivem nas zonas rurais, boas estradas são uma linha de vida para os mercados, centros de saúde e outros serviços cruciais. Infraestruturas de estradas pobres reduzem o preço ao agricultor e, assim, os índices salariais. Esta é uma área importante que necessita de ser repensada pelos formuladores de políticas públicas. (204) TABELA VIII. INDICADORES DE INFRAESTRUTURAS POR REGIÃO Grupo de países/ Região Rendimento baixo e medio Asia Leste e Pac5fico Europa e Asia Central Am-rica Latina e o Car5be M-dio Oriente e Norte de Africa Sul da Asia Africa Sub-Sahariana Africa Sub-Sahariana (excl. Africa do Sul) Consumo de Energia Eléctrica (horas kv) Linhas Telefónicas por 1,000 Habitante Estradas Asfaltadas (% de total de estradas) Custo em $ Por uma chamada de 3 minutos para os EUA % da População c/acesso a agua Potvel 1996 851 624 2,788 1,347 1,166 313 439 146 1997 60 50 204 110 75 18 16 10 1997 30 10 83 26 50 41 16 --- 1997 6.22 5.60 4.33 4.42 6.02 --8.11 --- 1995 75 77 --75 --81 47 46 Fonte: World Bank. Can Africa Claim the Twenty-First Century? 30 Can Africa Claim the Twenty-First Century, op. cit., p.189 Bloom, David E. and Jeffrey D. Sachs, “Geography, demography and Economic Growth in Africa,” Brookings Papers on Economic Activity 2 31 32 (205) Água. Em quase toda a África é a mulher que desenvolve a maior parte do trabalho na agricultura. Mas, a mulher também cozinha, toma conta das crianças, apanha a lenha e carrega a água. Pesquisas no Burkina Faso, Uganda e Zâmbia concluíram que a mulher Africana, em média, movimenta 26 toneladas métricas- kilómetro por ano, comparativamente com menos de 7 toneladas métricas/kilómetro para o homem.32 Enquanto que estradas melhoradas podem reduzir o tempo de transporte das colheitas e lenha, melhorar o abastecimento de água terá muitos benefícios, um dos quais será libertar a mulher para que se dedique mais à agricultura. Mais ainda, estes investimentos infraestruturais também pouparão tempo às raparigas, tornando assim possível a sua frequência na escola. (206) Irrigação. África tem o nível mais reduzido de irrigação do que qualquer outra região do mundo. Além disso, os retornos derivados da irrigação têm sido muitas vezes reduzidos, principalmente devido a políticas governamentais fracas. Mesmo assim, há oportunidades substanciais para irrigação de pequena escala (que não requer gestão pública), particularmente para culturas de alto valor comercial. Novamente, o maior constrangimento é a falta de recursos. (207) Electrificação. Uma economia rural vibrante requer cidades com mercados, cidades que comprem comida, que processem produtos agrícolas e comercializem bens de consumo e insumos agrícolas. A electrificação destas cidades permitirá ao sector de manufactura de pequena escala, crescer. São as sinergias entre a agricultura e a não-agricultura que levam a um rápido crescimento na redução da pobreza. Em muitos países, há necessidade de abrir os mercados de energia a uma maior competição, porque o fraco desempenho dos monopólios nacionais reduziram o crescimento da electrificação. (208) Capacitação dos agricultores. (209) Conforme acima referido, uma das mudanças promissoras que surgiram em África, foi o progresso na mudança de regimes autoritários para regimes democráticos. Um importante aspecto desta mudança foi o aumento da capacitação de grupos não-governamentais, o que é denominado “sociedade civil”. Esta capacitação tem várias faces: • • • (210) aumento do espaço para a tomada de decisões próprias (211) aumento da influência sobre o poder público decisório (212) aumento de acções colectivas (213) Aumento do espaço para a tomada de decisões próprias. Esta área de capacitação ocorreu largamente em consequência da redução do controlo directo da economia por parte do sector público. Isto é particularmente verdade, na área de comercialização onde, com as advertências acima, o monopólio do sector público sobre a comercialização foi reduzido se não eliminado inteiramente. Contudo, a incerteza em relação à regulamentação implicou que, nem sempre o sector privado ocupou o vazio deixado pela abolição dos monopólios públicos. (214) Aumento da influência sobre as decisões do sector público. Esta área de capacitação tem dois aspectos: macro e micro. A nível macro, os agricultores agrupados em associações têm o potencial de influenciar a política do governo. Em muitos países isto ainda não acontece de forma sistemática. Enquanto que a democracia significa que os partidos políticos têm de lutar pelos votos, o processo politico na maior parte de África ainda não evoluiu para 32 Can Africa Claim the Twenty-First Century, p.140. 33 um estágio, onde aspectos económicos e interesses definam os partidos políticos. Assim, os agricultores têm de usar outros mecanismos para além das eleições, para influenciar a política pública. Cada vez mais, o apoio dos doadores às associações de agricultores será um importante mecanismo, permitindo-lhes entender as implicações da política económica, articular posições e apresentá-las à liderança política influenciando assim, a reordenação das prioridades públicas. (215) Aumento da acção colectiva. Talvez tenha havido um movimento maior ao nível micro, onde os governos e os seus parceiros doadores estão a permitir que haja um aumento da influência por parte dos beneficiários dos investimentos públicos sobre a escolha dos projectos, esboço e implementação. Este é o resultado do que parece ser o consenso, de que os projectos têm melhores resultados com o envolvimento directo dos beneficiários. Com o aumento da descentralização por um lado, e a redução das capacidades do governo central por outro, o espaço para o controlo a nível local expandiu-se de duas formas – primeiro, através do aumento da influência nos programas do governo e segundo, através do assumir de responsabilidades por parte de grupos privados locais na prestação de serviços e funções, anteriormente providenciados pelo governo. (216) É este ultimo processo, aumento da acção colectiva pelos grupos de agricultores para assumirem o controlo sobre o seu próprio futuro, que oferece uma grande esperança para uma transformação na agricultura. Historicamente, as cooperativas em África eram controladas pelo estado. Só recentemente é que se viu o surgimento de sociedades cooperativas e outras organizações de agricultores, verdadeiramente independentes. Este agrupar de produtores, não só oferece a possibilidade de uma maior influência na política pública, mas também dá a possibilidade aos seus membros de colectivamente fazerem coisas que não seriam capazes de o fazer com eficiência individualmente - comprar insumos, obter crédito e comercializar a produção. O falhanço dos sistemas de comercialização do governo deixou um vacum e, as organizações dos produtores estão a começar a preenchê-lo, batendo-se pelos seus próprios acordos com bancos e empresas de negócios agrícolas. Este é um desenvolvimento muito salutar e oferece uma esperança real para um caminho intermédio entre a ineficiência pública e os sistemas de comercialização privados, algumas vezes monopolísticos. (217) Capacitar os comerciantes e os processadores, particularmente os que operam numa pequena ou média escala, através da criação de grupos profissionais, poderá ter efeitos similares. Se as regras que regulam estes grupos forem cuidadosamente esboçadas de forma a evitar colisões, a acção colectiva por grupos de comerciantes e processadores pode ajudar a melhorar o cumprimento dos contratos, desenvolver padrões de classificação, facilitar o investimento em grupo em infraestruturas e promover o comércio regional através de melhorias na informação de mercado e criação de pressão política conducente à redução de barreiras comerciais não tarifárias. (218) Desenvolver mecanismos mais contratação e gestão de risco. sofisticado de comercialização, (219) Já foi demonstrado que a liberalização dos mercados agrícolas por si só não levam a grandes aumentos, tanto na produção como na produtividade em África.33 As instituições de mercado na maior parte dos países Africanos são caracterizadas do seguinte modo: 33 This section is largely derived from Jayne, et. al, “Improving the Impact of Market Reform on Agricultural Productivity in Africa: How Institutional Design Makes a Difference,” MSU International Development Working Paper No. 66, 1997. http://www.aec.msu.edu/agecon/fs2/papers/idwp66.pdf 34 • • • • • • • • • • • • (220) Termos de troca envolvendo custos de transacção elevados (221) Utilização de relações comerciais personalizadas (222) Uma estrutura de produção agrícola de semi-subsistência (223) Altos riscos de mercado e coordenação ineficiente, que reduzem os incentivos para um investimento na produtividade resultante de uma melhoria da tecnologia. (224) Incerteza no cumprimento dos direitos de propriedade (225) Coordenação vertical ou integração limitada entre a entrega dos insumos, cr-dito agrícola e venda das colheitas (226) Informação limitada sobre o mercado (227) Padrões de classificação dos produtos limitados (228) Dificuldades de transporte (229) Dificuldades institucionais de ligação entre os agricultores Africanos e os mercados externos (230) Compensações (“trade-offs”) entre a liberalização do mercado e as necessidades do governo de mobilizar recursos fiscais (231) Desconfiança do governo em relação aos comerciantes e dos comerciantes em relação ao governo (232) A maior parte destes problemas surgem devido à estrutura dos mercados dos países Africanos. Esta estrutura é caracterizada por uma produção semi-comercial de culturas alimentares, altos custos de transacção e um grau elevado de incerteza no que concerne às políticas do governo. A comercialização é caracterizada por altos custos e investimento reduzido devido à existência de economias de escala limitadas, mercados financeiros fracos e o comércio é feito essencialmente por empresários tradicionais de pequena escala. No sector de exportação, as instituições estão mais desenvolvidas, parte devido ao papel histórico das empresas estatais de exportação, ou porque a natureza do próprio comércio requer mercados mais sofisticados. (233) Como escapar do que se pode considerar um equilíbrio de baixo nível, onde baixos níveis de articulação de mercado são originados em grande medida por baixos níveis de rendimento e de comercialização? Há certas áreas onde a acção do governo pode melhorar um pouco; específicamente, uma política agrícola do governo mais consistente e estável, investimentos para melhorar a informação sobre o mercado, investimentos infraestruturais com vista à redução dos custos de transacção e melhorias na implementação de um estado de direito. Mais ainda, qualquer acção para aumentar o tamanho do mercado através de uma integração regional, poderá também ajudar. (234) CONCLUSÕES (235) Para recapitular o argumento acima descrito: A redução da fome só poderá ser atingida reduzindo a pobreza e, reduzir a pobreza depende de um crescimento rápido através da agricultura. Tal crescimento poderá surgir de uma melhor forma se se aproveitarem as novas oportunidades concedidas pelo rápido crescimento dos mercados internacionais – procurando novos mercados de exportação de produtos agrícolas de alto valor comercial. Contudo, será difícil ter sucesso nestes mercados e além disso requer um número de mudanças radicais. Mais importante ainda, os países têm necessidade de adquirir uma nova visão de desenvolvimento que coloque a agenda de diversificação da economia no centro das 35 suas estratégias. Segundo, os países necessitam de reformas radicais das suas políticas económicas de forma a que elas se centrem no encorajamento do desenvolvimento da nova economia global, liderada pelo sector privado. Terceiro, os governos devem desenvolver novas e activas parcerias com o sector privado, com vista a desenvolver novos mecanismos institucionais de forma a resolver um número de questões espinhosas. Quarto, os governos e os doadores internacionais devem investir na geração de conhecimentos de uma forma muito mais intensiva e efectiva do que o fizeram até agora. Quinto, os governos e os doadores devem investir intensamente na infraestrutura rural – estradas, água, telecomunicações, energia e irrigação. Sexto, os governos e os doadores devem capacitar os produtores rurais para que estes encontrem soluções para os seus próprios problemas através de uma acção colaborativa. E finalmente, os governos devem trabalhar em conjunto com o sector privado para desenvolver instituições de mercado mais sofisticadas e altamente articuladas. Concluindo, a opinião aqui defendida não preconiza uma “retirada” do estado, mas sim uma redefinição do estado, com o estado a jogar um papel chave, mas diferente, um papel catalizador que ajude a fortalecer um desenvolvimento baseado no mercado. (236) Este documento centraliza-se mais no que fazer, em vez de como o fazer. Há três importantes questões “como” que ainda não foram referidas. E apesar de o documento não oferecer soluções para tal, é importante pelo menos discutir estas questões de solução mais difícil de uma forma mais abrangente. (237) Mobilização de Recursos (238) De muitas formas, a estratégia aqui presente não é baseada num fluxo massivo de novos recursos, mas sim numa reestruturação radical da utilização desses mesmos recursos. Todavia, um crescimento rápido requer altos níveis de investimento e poupança o que não é a situação actual. África investe actualmente 17% do PIB, o nível mais baixo comparativamente a outras regiões em desenvolvimento. Destes 17%, 15% do PIB são originados de poupanças domésticas (novamente o nível mais baixo comparativamente a outras regiões em desenvolvimento), enquanto que 2% são originados de financiamentos externos. Quais serão as fontes prováveis de novas poupanças em África? (239) A mais importante fonte será da própria população. Aqui , o aspecto crucial é o governo, que, por um lado necessita de aumentar receitas de impostos suficientes para fornecer um nível aceitável de bens públicos, e por outro lado não incentiva o investimento privado.34 Tradicionalmente, os governos Africanos têm mantido deficits de cerca de 6.5% do PIB, dos quais 4% têm sido financiados pelos doadores e 2.5% por empréstimos internos. Apesar de não haver dados confiáveis no que se refere ao investimento público, é pouco provável que seja mais de 5% do PIB, significando que o governo é um prestatário líquido. (240) Isso significa que o sector privado terá de conceder cerca de 20 a 25% em poupanças e investimento do PIB, para que a economia possa ter o crescimento necessário para reduzir a fome rapidamente. Este valor não representa um grande esforço, mas poderá não ocorrer rapidamente. Os índices de poupança doméstica andam à volta de 20% na maior parte do 34 But if government can raise 16% of GDP through efficient tax collection, and if donors provide an additional 4%, then it should be possible to provide the necessary public expenditures (in percentage of GDP – 5% for education, 2% for health, 6% for infrastructure and agriculture, and the remainder for general administration, defense and internal security) without borrowing. Of that 20%, the ratio of recurrent to capital expenditures should probably be on the order of three to one, 15% recurrent and 5% investment. That would enable the government to be a net saver, rather than a net borrower. 36 mundo em desenvolvimento (representam incríveis 37% na Ásia Leste). A abertura da economia a novas oportunidades de investimento irá provocar novas poupanças e investimento. Há capital substancial que os Africanos mantêm no exterior devido à instabilidade política e económica. Mais ainda, houve ocasiões onde a fuga de capital de África foi revertida, quando as condições económicas em certos países se tornou mais favorável . Mais ainda, a nova era de globalização significa que há substanciais montantes de financiamento privado à procura de boas oportunidades de investimento. (241) Mas o aspecto essencial é mais a qualidade do investimento do que a quantidade desse investimento. Em larga medida, significa a redução da componente do sector público e o aumento da componente do sector privado. Mas também significa uma grande melhoria na qualidade das despesas públicas. Este aspecto, será discutido de novo no capitulo da governação, mas um pouco de aritmética ajuda. O crescimento é o resultado do investimento vezes a eficácia desse investimento (tradicionalmente, o rácio do rendimento do capital). Uma economia que investe 20% líquidos do PIB e tem um rácio de rendimento do capital de quatro crescerá a uma taxa de 5% ao ano. Por cada 1% de aumento na taxa de investimento ou 1% de melhorias no rácio do rendimento do capital, a taxa de crescimento aumentará de 1%. Contudo, melhorias no rácio do rendimento de capital que resulte de uma redução da regulamentação, melhor qualidade de despesas públicas, etc. poderá também melhorar a eficácia do capital já investido, aumentar a taxa de retorno do sector privado e encorajar mais investimento. Então, melhorias na eficácia, mantendo o restante igual, tem efeitos mais abrangentes do que melhorias quantitativas. (242) Isto aplica-se também à assistência dos doadores, que tem sido concedida aos países errados pelas razões erradas nos sectores errados. Para África reduzir a fome, os doadores devem corrigir os desequilíbrios da ultima década quando abandonaram a economia rural e os investimentos públicos nas infraestruturas rurais. Uma vez que os recursos dos doadores reduziram, estes devem ser mais estratégicos. Infelizmente, os doadores estão a ser influenciados por pequenos grupos de eleitores domésticos que forçam uma ou outra intervenção que acham importante na ocasião e não conseguem ter a perspectiva geral. A não ser haja uma mudança nesta situação, África não receberá toda a ajuda que necessita de modo a evitar novas décadas de desenvolvimento falhado. (243) Uma palavra sobre a dívida. É estimado que os países Africanos têm uma dívida externa de cerca de $230 biliões e pagam cerca de $14.1 biliões de serviço de dívida, ou $22 per capita. Tem havido uma grande discussão pública sobre esta dívida, mas o facto mantemse de que o serviço da dívida actual de África é o menor do mundo como parte do PIB e exportações. Para além disso, este serviço da dívida é compensado por cerca de $28 biliões anuais de assistência externa ao desenvolvimento que, mesmo em termos líquido é maior do que qualquer outro recebido por outras regiões em termos de assistência per capita ($44), parte do PNB (4.1%) e parte do investimento bruto doméstico (22.3%) Estes números são ainda maiores se excluirmos a Nigéria e a África do Sul, que em conjunto recebem pouca assistência externa.35 Apesar de não haver compensação entre o alívio da dívida e a reduzida assistência externa, é importante reconhecer a magnitude destes fluxos líquidos, mesma face a um serviço da dívida substancial. 35 For SSA, excluding Nigeria and South Africa, net ODA equals $13.4 billion or $27 per capita, 7.6% of GDP and 38.5% of gross domestic investment. 37 (244) A Capacidade Humana na Era do HIV/SIDA (245) Não há dúvida que a epidemia do HIV/SIDA tem o potencial de aumentar seriamente a pobreza e a fome e reduzir a capacidade de acelerar o crescimento económico em países onde a prevalência seja média/alta. Ao nível macroeconómico o SIDA irá reduzir drasticamente o número da força de trabalho capacitada, tanto por morte como por morbidez e reduzirá as poupanças privadas. Apesar de ser difícil quantificar o impacto destes efeitos, vários estudos estimam que pode reduzir um a dois porcento de todo o crescimento económico global e de 0.3% a 1% de crescimento per capita.36 A redução substancial da fome em 2015, requer taxas de crescimento per capita de 4-5% por ano e taxas de crescimento globais de 7-8%, pelo que o impacto do SIDA poderá significar a necessidade de aumentar a taxa de crescimento não-SIDA em pelo menos um terço. (246) A nível do agregado familiar o impacto pode ser enorme. Agregados familiares carenciados têm uma margem muito limitada em termos de poupança e rendimento. Uma doença como ao SIDA, pode resultar em mais tempo dispendido a cuidar do doente, a perda de emprego pelo membro da família infectado, aumento das despesas em cuidados de saúde e funerais. O resultado final é uma redução drástica do consumo. Por exemplo, na Costa do Marfim, a média de consumo caiu de 44% no ano seguinte à morte ou ausência do membro da família infectado pelo SIDA. Mais ainda, o impacto do HIV/SIDA a nível do agregado familiar é de longo prazo, porque as famílias perdem o seu elemento activo e as crianças são forçadas a abandonar a escola ou porque ficam órfãos ou têm de substituir a força de trabalho perdida no agregado familiar e, os idosos são abandonados pelas suas crianças que deveriam tomar conta deles na velhice. (247) Isto leva a uma quebra na produção agrícola. No Zimbabwe, por exemplo, estimativas mostram que a morte do trabalhador activo da família provocada pelo SIDA, reduz os rendimentos agrícolas em cerca de 61% no milho e 47% no algodão. Na Tanzania, um agregado familiar com um doente do SIDA perde entre 29% e 43% do seu recurso de trabalho por ano. (248) Então o que pode ser feito? Este não é um documento para definir a estratégia para o combate do HIV/SIDA. No entanto, tem havido sucesso, tanto em África como no mundo em desenvolvimento no geral, no combate ao SIDA. Torna-se necessário um maior compromisso político e um entendimento abrangente que verifique o impacto de todas as actividade de desenvolvimento na epidemia e o impacto da epidemia na actividade. Não significa contudo, que todos os projectos de desenvolvimento necessitem de uma componente do HIV/SIDA, porque isso poderá criar estruturas paralelas duplicando os esforços, mas nenhum atingindo o conjunto crucial. Talvez seja melhor concentrar recursos num programa mais sistemático do HIV/SIDA, a nível nacional. Por exemplo, devido ao HIV/SIDA poderá ser importante concentrar em tecnologias de poupança de trabalho, tais como passar a utilizar de uma forma mais abrangente os fertilizantes químicos, deixando assim os métodos naturais de fertilização do solo e o desenvolvimento de melhores instrumentos agrícolas, tais como arados mecânicos e um aumento no investimento de insfraestruturas de poupança de trabalho, tais como água canalizada, melhor transporte sobre rodas, etc. 36 Lori Bollinger and John Stover, “The Economic Impact of AIDS,” (The Futures Group, 1999) 38 (249) Governação (250) A razão mais premente para os altos níveis de fome em África é a fraca governação que a região tem tido desde a independência (Tabela IX). Como a Tabela IX demonstra os estados Africanos tem os piores registos de governação comparativamente a qualquer região do mundo, com mais de 50% nos dois quintis mais baixos e somente 13% nos dois mais altos. Uma questão crucial que necessita de ter resposta, é quais as causas desta fraca governação. Será meramente um problema de má liderança? Terá as suas raízes na experiência colonial Africana? Haverá problemas culturais ? Geográficos? (251) Foram realizados um conjunto de estudos no que é denominado na literatura “estados fracos”. Estes estudos, sugerem que os problemas que os estados Africanos enfrentam são orgânicos, implantados na sua história e geografia e em alguns casos na sua cultura. A maior parte dos estados Africanos são compostos por um número de diferentes grupos étnicos e, a tarefa política central que eles enfrentam é a construção da identidade nacional ou pelo menos uma maioria política estável. As tentativas iniciais do nacionalismo, surgidas da luta contra o colonialismo, centraram-se ao redor do símbolo do “grande homem”. Estes heróis – Nkrumah, Kenyatta, Nyerere – foram homens de grande estatuto internacional. Para muitos deles, "o estado é meu ", era uma realidade e as suas caras podiam ser encontradas em qualquer lugar – na moeda e nos muros de todos os edifícios públicos. (252) TABELA IX. DISTRIBUIÇÃO DA BOA GOVERNAÇÃO País Grupo/Região: Quintis de Governação (% do Quintil) 1o-Maior 2o 3o 4o 5o-Menor Amostra inteira 3.4 25.9 10.9 Ásia de Leste 8.6 2.9 2.9 2.9 0.0 Africa 2.9 14.3 38.2 32.4 42.9 Médio Oriente e 0.0 25.7 11.8 5.9 14.3 Norte de África Ásia do Sul e 0.0 14.3 8.8 17.6 14.3 Sudeste Europa e Ásia 14.3 17.1 14.7 20.6 22.9 Central OCDE 65.7 5.7 0.0 0.0 0.0 América Latina e 8.6 20.0 23.5 20.6 5.7 Caraíbas Fonte: D. Kaufmann, A. Kraay, and P. Zoido-Lobaton, 1999. “Aggregating Governance Indicators.” World Bank Working Paper #2195 . See document for definition of governance indicator. (http://www.worldbank.org/research/growth/corrupt_data.htm) 10.9 19.5 14.4 14.9 (253) Estes líderes eram revolucionários, tinham um pensamento socialista, lutaram contra o poder económico incrustado nas companhias multinacionais. A sua filosofia económica era a industrialização atrav-s da substituição de importações e viram o estado como um instrumento de transformação. O estado também se converteu no instrumento para se manter o poder político e, a concessão de favores do estado era mais importante que o poder coercivo do mesmo. Esta utilização do estado não foi de maneira nenhuma um fenómeno apenas Africano, mas juntamente com a rede tradicional de obrigações para pessoas conhecidas e parentes, o aparelho do estado foi rapidamente politizado e a burocracia muitas vezes desprofissionalizada. 39 (254) Assim, os estados Africanos ficaram caracterizados pela identificação do líder e seu partido com o próprio estado-nação, tensões étnicas, falta de uma visão nacional coerente, a utilização do estado na prestação de favores políticos, a expansão do papel do estado para além da sua capacidade administrativa e a erosão do profissionalismo dos funcionários públicos. Sem a tradição de fortes instituições responsveis ao pGblico, tornou-se vulgar em muitos países, tanto para os políticos como para os burocratas, utilizar o poder que detinham para enriquecerem. (255) Com o tempo, as promessas e esperanças de auto-determinação começaram a esmorecer e a incapacidade do sistema político de transformar a economia tornou-se evidente. Os governos, respondendo aos seus insucessos no desenvolvimento, tornaram-se mais coercivos e perderam a legitimidade. Os militares intervinham e, cada geração seguinte de generais a coronéis e sargentos viam o golpe de estado como um meio de adquirir o poder e a riqueza. As tensões étnicas foram exacerbadas e muitas vezes degeneraram em guerras civis. A crise do petróleo em 1974 e especialmente em 1979 expôs a fraqueza da economia destas sociedades e atirou-as para uma queda livre económica, mas não antes de terem conseguido pedir emprestado e desbaratar biliões de petro-dólares. (256) Seguiram-se os ajustamentos estruturais e a liberalização política. Mas a nova economia liberal e os sistemas políticos enfrentam os mesmos problemas. Como construir o estado-nação a partir de tantos grupos étnicos? Como tornar o governo num instrumento efectivo na prestação de serviços económicos e sociais essenciais? Como distribuir de uma forma justa os benefícios do sistema político? Como desviar a lealdade do partido ou pessoas para o estado e governo? Como construir instituições que garantam a transpar/ncia, incluindo uma imprensa responsável e livre? Como tornar o governo mais reduzido e com mais enfoque? Como mudar de um sistema governado pela lei do homem para um Estado de Direito? (257) Muitos dos quarenta anos após a independência tiveram pouco progresso na luta contra a pobreza e os países Africanos enfrentam os mesmos problemas num ambiente muito mais difícil – recursos naturais reduzidos, populações com crescimento rápido, altos níveis de urbanização, o espectro do HIV/SIDA. A estratégia presente neste documento, só poderá funcionar se estes problemas políticos e de governação forem resolvidos. (258) Então, será esta uma estratégia viável? Não em todo o lado e, talvez não na maior parte dos países Africanos neste momento. É talvez necessário começar-se a trabalhar de uma forma mais abrangente, com poucos países Africanos que já possuem alguns dos prerequesitos que irão permitir esta estratégia funcionar. – Uganda, Mali, Moçambique, Gana, Nigéria, possivelmente Quénia e Etiópia e ainda a África do Sul. Noutros países talvez não seja possível implementar a agenda completa da estratégia aqui presente, no entanto, algumas áreas poderão sê-lo. Mas esta conjuntura, deve ser utilizada em benefício de África, como uma oportunidade para aprofundar conhecimentos e dividir experiências. (259) POR UMA RESPOSTA DOS EUA (260) Os EUA devem desenvolver esforços com vista a estimular as economias Africanas, reduzir a pobreza e ajudar os mais carenciados a serem auto-sustentáveis. Os EUA, devem apoiar as nações Africanas com vista a melhorar de uma forma mais abrangente o seu desempenho na agricultura e no sistema alimentar. Nenhum país foi capaz de reduzir substancialmente a pobreza e estimular mudanças económicas, sem primeiro aumentar 40 drasticamente a produtividade na agricultura e melhorar o sistema alimentar. Este objectivo, ajudará a evitar crises futuras e irá gerar recursos internos em África o que permitirá dar resposta a preocupações humanitárias existentes, tais como melhorar a saúde, a nutrição e a educação. (261) Desenvolvimento significa muito para além do crescimento económico. Significa melhoria do bem estar humano e oportunidade para todas as pessoas atingirem o seu potencial máximo. Particularmente importante, é dar resposta às necessidades dos mais excluídos dos benefícios do sistema actual, que são de uma forma desproporcional mulheres e crianças. Mas, sem um crescimento económico abrangente, os países Africanos não terão recursos para financiar os seus sistemas de cuidados de saúde, escolas e programas de segurança mínima para os carenciados. Oportunidades de emprego para os pobres, especialmente mulheres, em micro empresas, irão reduzir-se essencialmente devido à falta de poder de compra da maioria da população, em relação aos produtos destas pequenas empresas. E o meio ambiente natural sofrerá, porque cada vez mais a população irá explorar qualquer recurso que possa para assegurar a sua subsistência no dia a dia. (262) Um crescimento económico abrangente derivado de melhorias na agricultura e segurança alimentar, pode contribuir significativamente para fazer face a outras importantes prioridades de desenvolvimento. A utilização de técnicas eficazes para promover a sobrevivência da criança, tais como vacinações e terapia de rehidratação oral, só são sustentáveis a longo prazo se a economia crescer o suficiente de modo a financiar estes serviços e se as famílias tiverem rendimentos que lhes permita ter acesso a eles. Da mesma forma, uma melhor educação, (especialmente das raparigas) e programas de nutrição, requerem também um crescimento económico local para a sua sustentabilidade. A protecção do meio ambiente será melhorada, porque o aumento da produtividade agrícola reduz a pressão da expansão de explorações agrícolas para ambientes frágeis, aumentando assim por consequência o sequestro do carbono numa biomassa mais luxuriante. Fertilizantes químicos utilizados em conjunto com inputs orgânicos e herbicidas, num sistema onde não se utilize o arado, pode reduzir grandemente os requisitos de força de trabalho na agricultura, permitindo assim aos agregados familiares cujos membros da família tenha morrido ou estejam incapacitados devido ao SIDA, a produzir parte do seu sustento. A estabilidade política será fortalecida, pelo aumento de novas oportunidades de emprego para uma força de trabalho crescente e, por preços mais estáveis dos produtos básicos. (263) Elementos da nova estratégia dos EUA (Estes elementos serão desenvolvidos de forma mais detalhada nas próximas semanas, com base no retorno da informação recebida de dirigentes e organizações chave, em África e nos Estados Unidos) (264) A assistência dos Estados Unidos na redução da fome em África deverá concentrar-se nas áreas específicas em que os EUA são especialistas. Não há soluções rápidas. O crescimento económico em África, requer um esforço sustentável de 15 a 20 anos. O progresso a médio prazo pode ser atingido e ser mensurável ajudando as nações africanas a: • (265) Desenvolver programas e políticas que fortaleçam os agricultores, as empresas e os mercados de modo a permitir-lhes competir na economia global. Os países Africanos necessitam de continuar a abrir as suas economias ao sector privado e tornar os processos políticos mais transparentes. Necessitam também de assistência para o reforço da capacidade local para analisar e formular programas e políticas, o que irá reforçar a parceria entre o sector público e o privado e incentivará um crescimento mais abrangente. 41 Particularmente importante, será o aumento da produção agrícola e ao mesmo tempo tornar os produtos Africanos mais competitivos a nível internacional. A rápida urbanização e o crescimento do comércio regional e internacional, oferecerá não só novas oportunidades aos agricultores mas, irá colocar sob pressão os circuitos comerciais existentes. A introdução de melhorias nas infraestruturas de transporte é necessária, mas estas deverão ser enquadradas no âmbito da assistência multilateral. • (266) Reforçar a educação, formação e instituições públicas nas zonas rurais. A educação é especialmente crítica para o progresso da economia rural e na melhoria da qualidade de vida. As mulheres, em particular, necessitam de melhorar a sua instrução, a sua educação profissional e adquirir conhecimentos básicos com vista a melhorar a saúde e nutrição das suas famílias. As economias africanas estão limitadas pelo declínio em cientistas, educadores e extensionistas e pela falta de instituições para a sua formação. Uma grande perda derivada da concentração da USAID em questões de curto prazo, particularmente na agricultura, é o declínio verificado na formação a longo prazo e no reforço institucional. Formação e reforço institucional representam a maior contribuição dada pelos Estados Unidos no desenvolvimento económico da Ásia e América Latina, nos anos 50 e 60. O progresso de muitos países Africanos nos anos 90, resultou em parte das contribuições de cientistas e analistas políticos formados em anos anteriores nos Estados Unidos. Novas tecnologias de informação oferecem novas oportunidades menos dispendiosas de formação e reforço de instituições, por exemplo, através de parcerias ligando universidades africanas e americanas nas áreas de agricultura, biotecnologia e análise de política. • (267) Expandir a pesquisa e a extensão rural na agricultura, baseada na ciência e tecnologias de informação; estimular novos contactos de negócios e evitar danos no meio ambiente. Em África, a pesquisa na área alimentar e agrícola mantém-se fraca, apesar de reformas substanciais recentemente efectuadas. A pesquisa e a extensão devem responder às necessidades dos agricultores e à procura do mercado. A biotecnologia oferece oportunidades especiais para o aumento de rendimentos, adaptando as colheitas às condições locais e reduzindo os danos no meio ambiente. Logo que uma tecnologia agrícola seja melhorada e desenvolvida, torna-se premente que ela chegue o mais rápidamente possível aos agricultores, comerciantes e processadores. Uma maior utilização da parceria entre o sector privado e público, donativos competitivos e ligações com a comunidade dos Estados Unidos afecta à pesquisa agrícola, constituem alguns dos meios disponíveis para que qualquer novo conhecimento de vital importância nesta área, possa ser desenvolvido e disseminado rapidamente. As novas tecnologias de informação, oferecem oportunidades especiais para o alargamento desta colaboração. • (268) Melhorar a administração pública rural. Muitos países Africanos estão num processo de descentralizar os serviços e de criar governos locais. Para além disso, há uma sociedade civil vibrante em crescimento. Nas áreas rurais, onde a maior parte dos Africanos vivem, estas mudanças permitem uma maior iniciativa local através de organizações de agricultores, conselhos escolares e de saúde locais e de governos municipais. Os Estados Unidos, através do seu profundo conhecimento sobre o federalismo e de serviços de extensão eficientes, detém uma posição privelegiada para prestar apoio aos países Africanos, com vista a melhorarem estas organizações locais. • (269) Estabelecer a ligação entre a ajuda alimentar de emergência e o desenvolvimento a longo prazo. Emergências de carácter humanitário continuarão a 42 existir. O Governo dos Estados Unidos tem feito progressos substanciais nos últimos anos ao enquadrar numa perspectiva a longo prazo as operações de ajuda de emergência. Ênfase nesta direção é crucial. • (270) Coordenar programas alimentares e agrícolas com acções no combate ao HIV/SIDA. Esta crescente tragédia impõe um enorme desafio. A FAO prevê que cerca de um quarto dos trabalhadores agrícolas em nove países, mais fortemente atingidos pelo HIV/SIDA, (todos na África Oriental e Austral) poderão estar perdidos até 2020. Novas tecnologias agrícolas devem ser desenvolvidas, dando atenção especial às necessidades destas economias rurais severamente limitadas. Agricultura e alimentação adequadas, podem contribuir substancialmente na batalha contra o SIDA que está em franca expansão nas áreas rurais. Por exemplo, serviços de extensão rural podem aconselhar em matéria de saúde e nutrição e os sistemas de comercialização agrícola podem colaborar na distribuição de preservativos. (271) Não é a primeira vez que África fica numa encruzilhada. Mas esta poderá ser a sua ultima oportunidade. Há grandes oportunidades e grandes obstáculos. O sucesso não poderá apenas significar um corte substancial da fome em 15 anos, mas também o início de um círculo eficaz que poderá significar a redução da pobreza, doenças e guerra, numa base alargada e contínua. Esta é uma oportunidade a não perder. 43