Arquivo - Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos
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Arquivo - Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS A CADEIA PRODUTIVA DA FARINHA DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) DO VALE DA COPIOBA-BA: ATORES SOCIAIS, TECNOLOGIAS E A SEGURANÇA DO ALIMENTO ÍCARO RIBEIRO CAZUMBÁ DA SILVA Salvador – BA Março-2014 1 ÍCARO RIBEIRO CAZUMBÁ DA SILVA A CADEIA PRODUTIVA DA FARINHA DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) DO VALE DA COPIOBA-BA: ATORES SOCIAIS, TECNOLOGIAS E A SEGURANÇA DO ALIMENTO Dissertação apresentada à Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, para obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profª. Dra. Ryzia de Cassia Vieira Cardoso Salvador – BA Março- 2014 2 Sistema de Bibliotecas - UFBA Silva, Ícaro Ribeiro Cazumbá da A cadeia produtiva da farinha de mandioca (Manihot esculenta Crantz) do Vale da Copioba BA: atores sociais, tecnologias e a segurança do alimento / Ícaro Ribeiro Cazumbá da Silva. - 2014. 146 f. : il. Inclui apêndices e anexos. Orientadora: Profª Drª Ryzia de Cassia Vieira Cardoso. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Farmácia, Salvador, 2014. 1. Farinha de mandioca - Comércio - Recôncavo (BA) . 2. Mandioca - Cultivo. 3. Trabalhadores rurais. 4. Economia agrícola. 5. Segurança alimentar. I. Cardoso, Ryzia de Cassia Vieira. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Farmácia. III. Título. CDD - 664.72272 CDU - 664.761 3 4 À Deus, por me fazer mais uma vez vitorioso em minha caminhada. A minha família por ter me feito um cidadão de bem. Aos produtores de Farinha de mandioca no Vale do Copioba 5 AGRADECIMENTOS Agradecer não é uma tarefa das mais simples, uma vez que em meio a tantas linhas escritas neste trabalho, podemos em um pequeno deslize esquecer alguém tão importante quanto todos aqui citados. Primeiramente, agradeço a Deus, por ter me dado o sopro da vida, por estar sempre presente nos meus atos e atitudes, me fazendo seguir pelos caminhos que agradam ao Senhor e me dando cada dia mais vitórias. Muitas foram às idas e vindas entre Nazaré, Salvador e, em todos esses 10864,2km, estive amparado por suas mãos de graça, não deixando que nenhum mal acontecesse e que eu retornasse tranquilamente ao meu lar, sempre com o meu objetivo alcançado e em total segurança. Aos meus pais CÍCERO E SUELY, minhas fontes de direcionamento e força. Por eles é que sou quem sou hoje, diz um ditado popular antigo que “um pai cuida de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de um pai”, e hoje faço questão de dizer, que para toda regra existe um exceção e eu serei à exceção desse ditado, pela glória de Deus, sempre serei fonte de orgulho a vocês. Ao meu irmão Áthila (Bubi) pela vivência, pela paciência, pela ajuda sempre que necessitei, pela compreensão nos momentos de estresse de minha parte, afinal conviver com um irmão leonino, meio nerd e com “toc” por limpeza, não é fácil e hoje tenho consciência de sua importância nos meus dias. À minha orientadora RYZIA CARDOSO, pelos seus ensinamentos, seus conselhos, pelas orientações dadas; uma pessoa de uma humildade incrível, de uma coragem inabalável, sempre com um direcionamento às pesquisas de cunho social, buscando ajudar as comunidades necessitadas e se perguntando: “...o que daremos de retorno a população?” e isso no mundo acadêmico se torna cada vez mais raro. Uma pessoa, onde seu dia tem muito mais de 24h; além de tudo, ainda é mãe, esposa e mulher, fazendo todas as suas atividades como se fosse a única a ser feita. A senhora é um exemplo a ser seguindo por toda a minha vida, sou seu fã, que Deus lhe abençoe sempre! À Professora DALVA FURTUNATO (minha mãe acadêmica), uma das primeiras pessoas que acreditou em mim, que me deu oportunidades nos estudos, que me abriu os olhos ao que seria o mundo acadêmico de um modo geral. Tem um coração que não cabe no peito, uma mãe extremamente atenciosa 6 (Dani que o diga), não mede esforços a ajudar as pessoas, de uma assiduidade e responsabilidade invejáveis, além de tudo possui a ABNT toda na cabeça. Tenho certeza de que será uma das avós mais legais do mundo, sem sombra de dúvidas; tudo o que eu dissesse aqui para agradecer a ela, seria pouco pelo que já fez por mim. Às bolsistas envolvidas no projeto: ALAANE, NINA, JOSENAI, CAMILA, TAISE, MARIA e ERIKA, que sempre me acompanharam nas atividades, responsáveis e dispostas a resolver qualquer pendência e vivenciar esse mundo novo da farinha de Copioba. A todos os membros do grupo de pesquisa SACIA (Segurança Alimentar e Comércio Informal de Alimentos), pela constante construção do conhecimento em grupo. Ao Professor ÂNGELO GÓES, pela confiança em mim depositada e pela paciência, o senhor é um grande amigo. Aos colegas de mestrado CANDICE, LINDANOR, TÁCILA, MARGARETH, LÍDIA MOURA, LUCIANA ARGOLO, ÍSIS BORGES, MARIANA, LUCIANE SOUSA entre outras, pela companhia nos momentos de agonia durante esses dois anos ou mais. A ILA FALCÃO, LARISSA DIU, NADJANE DAMASCENA, ELAINE BONFIM, TATIANA GALLUCCIO, JULIEDE ALVES, ELIZABETH PINTO e, em especial, a MÁRCIA FILGUEIRAS, minha eterna amiga, colega, companheira de alegrias e tristezas. A vocês todas, digo apenas uma coisa: esses oito anos jamais seriam iguais sem vocês aqui. A todos os funcionários da Faculdade de Farmácia e Nutrição, em nome de Priscila Oliveira agradeço a todos pela ajuda e companhia. À Professora JANICE DRUZIAN, pela confiança em mim depositada para desenvolver as atividades do projeto de IG da farinha, por ela coordenado. Por fim, à FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia), pelo apoio financeiro no desenvolver dessas atividades. A todos, o meu eterno MUITO OBRIGADO, por compartilharem comigo mais esse ciclo de minha vida! 7 “...Metade de mim agora é assim, de um lado a poesia o verbo a saudade, do outro a luta, a força e a coragem pra chegar ao fim. E o fim é belo, incerto... depende de como você vê...” Fernando Anitelli 8 RESUMO Na Bahia, o cultivo da mandioca e a produção de farinha compreendem uma tradição, sem, contudo, mostrar avanços. Entre as regiões de maior produção, da farinha, o Recôncavo é uma das principais, com destaque para a farinha do Vale do Rio Copioba - a farinha de Copioba. Apesar da notoriedade desta farinha e do seu potencial para a Indicação Geográfica (IG), pouco se conhece sobre o contexto da sua produção. Assim, este estudo buscou caracterizar a cadeia produtiva da farinha de mandioca de Copioba, do Vale do Copioba, Bahia, na perspectiva dos atores sociais, tecnologias empregadas e segurança de alimentos, como contribuição ao processo de IG. Realizaram-se dois estudos, com abordagem quantitativa, nos três municípios que integram o Vale do Copioba: Nazaré, Maragojipe e São Felipe. O primeiro envolveu levantamento de dados junto a 72 casas de farinha e 239 produtores, por meio de questionários. O segundo foi desenvolvido nas mesmas casas de farinha, com avaliação das condições higiênico–sanitárias da produção da farinha, com uso de lista de verificação, contemplando cinco blocos: 1. Situação e condições da edificação; 2. Equipamentos e utensílios; 3. Pessoal na área de produção, manipulação e venda; 4. Matérias-primas e produtos expostos à venda; e 5. Fluxo de produção, manipulação, venda e controle de qualidade. No primeiro estudo verificou-se predomínio de homens (63,9%), com média de idade de 40,91 anos, escolaridade até ensino fundamental (82,3%) e renda familiar variando de um a três salários mínimos (58,4%). Em geral, os entrevistados tinham residências próprias (96,5%) e dispunham de energia elétrica (97,1%), mas não contavam com serviços públicos de água, saneamento e coleta de lixo. O tempo na atividade registrou média de 41,8 anos, enquanto a média de jornada diária de trabalho foi de 9,31 horas, com cinco dias de trabalho/semana, evidenciando-se o trabalho familiar e o trabalho infantil. A produção de farinha foi indicada tanto como fonte principal de renda (89,9%) quanto para complementação da renda familiar (10,1%). Verificouse fraca organização social dos trabalhadores, com índice 48,7% de participação em associações, cooperativas ou sindicato, o que constitui um limitante ao pedido de IG. No segundo estudo, para o conjunto de unidades avaliadas, nenhuma alcançou pontuação superior a 60% de adequação, limite abaixo do qual se caracteriza condição higiênico-sanitária deficiente. No bloco 2, obteve-se a menor 9 pontuação entre os demais, em virtude do não atendimento às normas vigentes, como a localização de equipamentos e utensílios em áreas comuns a todo o processo de fabricação, além da precária condição de conservação e de manipulação. O bloco de maior adequação foi o bloco 4, em razão das características sensoriais esperadas para o produto e do acondicionamento da farinha, pós-produção. Como ponto positivo, no bloco 5, salienta-se a identificação de fluxo linear para o processo produtivo, o que reduz a possibilidade de contaminação cruzada. O estudo revela a importância social e econômica da cadeia produtiva da farinha de mandioca, no Vale do Copioba-BA, embora descreva também limitações nas condições de trabalho, na organização social e no atendimento aos requisitos sanitários para alimentos. Assim, reforçase a necessidade de políticas e programas voltados para a cadeia, de modo a promover melhores condições de trabalho, a inocuidade dos alimentos e sustentar os arranjos produtivos locais, com valorização do produto regional e fomento ao pedido de IG e ao desenvolvimento social. Palavras-chave: Agricultura familiar; economia rural; produtos regionais; Indicação Geográfica; segurança alimentar e nutricional; higiene de alimentos. 10 ABSTRACT In Bahia, the cultivation and production of cassava flour comprise a tradition, but without showing progress. Among the areas of higher production of flour, the Reconcavo is one of the major, especially the flour from Valley Copioba river – Copioba flour. Despite the notoriety of the flour and the potential for the Geographical Indication (GI), little is known about the context of the production. Thus, this study aimed to characterize the productive chain of cassava flour, from Valley Copioba, the perspective of social actors, technologies used and food safety, as a contribution to the GI process. There were two studies with a quantitative approach, in three municipalities that comprise the Copioba Valley: Nazaré, Maragojipe and São Felipe. The first involved a data collection with 72 flour mills and 239 producers, through questionnaires. The second was developed in the same flour mills, with evaluation of sanitary conditions of production of flour, using a checklist, covering five sections: 1. Situation and conditions of the building 2. Equipment and utensils; 3. Personnel in the area of production, handling and sale; 4. Raw materials and products displayed for sale, and 5. Production flow, handling, sales and quality control. In the first study there was a predominance of men (63.9%) with mean age of 40.91 years, education up to elementary school (82.3%) and family income ranging from one to three minimum wages (58.4 %). In general, interviewees had their own homes (96.5%) and were equipped with electricity (97.1%), but did not have public water supply, sanitation and garbage collection. The average time on the activity was 41.8 years, while the average from daily working hours was 9.31 hours, with five working days / week, evidencing the family and child labor. The production of flour has been nominated both as main source of income (89.9%) and to complement the family income (10.1%). There was weak social organization of workers, with 48.7% of participation in associations, cooperatives or syndicate, which is a limiting factor to the application of GI. In the second study, the set of evaluated units, none achieved score higher than 60% of appropriate, below the recommended limit which characterized poor hygienic and sanitary conditions. In block 2, we obtained the lowest score among the rest, due to non-compliance with existing standards, such as the location of equipment and utensils in common areas of the entire manufacturing process, in addition to poor storage conditions and handling. The block which has the greatest 11 adaptation was the block 4, in reason to the sensory characteristics expected for the product and the packaging of flour, post-production positive point, in block 5, emphasizes the identification of linear flow to the productive process, which reduces the possibility of cross-contamination. The study reveals the social and economic importance of the productive chain of cassava flour, in the Copioba Valley - BA, while also describe limitations in working conditions, in social organization and the treatment to sanitary requirements for food. So, it reinforces the need for policies and programs for the chain, to promote better working conditions, food safety and sustain the local clusters, with appreciation of regional product and promoting the application of IG on social development. Keywords: Family agriculture, rural economy; regional products; Geographical Indication, food and nutrition security, food hygiene. 12 LISTA DE TABELAS Capítulo 2 Tabela 1 - Características sócio-demográficas dos produtores de Farinha de Mandioca tipo “Copioba” no Vale da Copioba, Bahia, 2012/2013..............................................................................................................50 Tabela 2 - Características das residências dos produtores de farinha de mandioca do Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.................................................................55 Tabela 3 - Características do trabalho dos produtores de farinha de mandioca no Vale da Copioba, Bahia, Brasil, 2012-2013...........................................................61 Capítulo 3 Tabela 1. Avaliação da FIEA - Parte B: Pesos específicos por bloco de avaliação...............................................................................................................84 Tabela 2. Critério de classificação das unidades de processamento da farinha de mandioca, de acordo com a nota obtida.............................................................86 Tabela 3. Avaliação das casas de farinha quanto a pontuação total, a média de pontos obtidos, a amplitude e % de adequação. Vale do Copioba, Bahia, 20122013.......................................................................................................................87 13 LISTAS DE ILUSTRAÇÕES Capítulo 1 Figura 1: Fluxograma do processamento de farinha de mandioca. Fonte: (OLIVEIRA E REBOUÇAS, 2008)..........................................................................27 Capítulo 2 Figura 1: Mapa do Vale do Copioba, com a identificação dos três municípios – Nazaré, Maragojipe e São Felipe e suas casas de farinha. (IBGE, 2005, adaptado)...............................................................................................................47 Figura 2: Distribuição (%) dos produtores do Vale da Copioba-BA, Brasil quanto à chefia de família, por gênero e localidade, 2012-2013.. ....................................... 54 Figura 3: Distribuição (%) dos entrevistados quanto à disponibilidade de bens e serviços nos domicílios. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013 .............................. 59 Figura 4: Distribuição (%) dos entrevistados quanto à indicação das atividades profissionais que representam maior contribuição ao sustento das famílias. Vale da Copioba-BA, 2012-2013.. ................................................................................ 65 Figura 5: Distribuição dos participantes quanto ao desenvolvimento de outras atividades geradoras de renda, excluindo-se a produção de farinha. Vale do Copioba-BA, 2012-2013. ..................................................................................... 66 Figura 6: Distribuição (%) dos produtores do Vale da Copioba-BA, quanto à participação em organização social de trabalho, 2012-2013. .............................. 67 Capítulo 3 Figura 1: Instalações de casas de farinha do Vale do Copioba, Bahia, 20122013.......................................................................................................................88 Figura 2: Rusticidade e estado de conservação dos equipamentos utilizados na produção da farinha de Copioba e o reaproveitamento de instalações domésticas para a produção da farinha. Vale do Copioba-BA, 2012-2013..............................91 Figura 3: Modelos de prensas artesanais utilizadas no Vale do Copioba-BA, 20122013.......................................................................................................................93 Figura 4: Sistemas de torração com forno manual e motorizado no Vale do Copioba-BA, 2012-2013........................................................................................95 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária; APPCC - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle; BA - Bahia BPF – Boas Práticas de Fabricação CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento EMBASA- Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FABESB - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IG – Indicação Geográfica INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial Kg – Kilo grama LPI – Lei de Propriedade Industrial MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento OMS - Organização Mundial de Saúde PIB - Produto Interno Bruto POP – Padrões Operacionais Padronizados PPHO – Procedimentos Padrões de Higiene Operacional RJ- Rio de Janeiro SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. SPSS - Statistical Package for the Social Sciences SVS – Serviço de Vigilância Sanitária t/ha – Tonelada por hectare 15 SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL ___________________________________________ 18 OBJETIVOS ____________________________________________________ 20 GERAL ______________________________________________________ 20 ESPECÍFICOS ________________________________________________ 20 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ___________________________________ 21 CAPITULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ___________________________ 22 1.1 A mandioca e a farinha de mandioca: origem e estatísticas _______ 22 1.2 O beneficiamento da mandioca e a produção da farinha __________ 24 1.3 Requisitos de qualidade de alimentos e Boas Práticas de Produção 31 1.4 A produção da farinha na Bahia e no Recôncavo ________________ 32 1.5 A Tradição e o Potencial da Farinha de Copioba para Indicação Geográfica ___________________________________________________ 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________ 36 CAPÍTULO 2: CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO ENTRE PRODUTORES DE FARINHA DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz): UM ESTUDO NO VALE DO COPIOBA-BA _______________________________________________ 42 LIVING CONDITIONS AND WORK BETWEEN PRODUCERS CASSAVA FLOUR (MANIHOT ESCULENTA CRANTZ): A STUDY IN THE VALLEY OF COPIOBABA ___________________________________________________________ 42 RESUMO ______________________________________________________ 43 ABSTRACT ____________________________________________________ 44 1 INTRODUÇÃO ________________________________________________ 45 2 MATERIAIS E MÉTODOS _______________________________________ 47 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES __________________________________ 50 4 CONCLUSÕES _________________________________________________72 5 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ________________________________73 CAPÍTULO 3: A SEGURANÇA DE ALIMENTOS EM CASAS DE FARINHA NO VALE DO COPIOBA, BAHIA BRASIL: DIAGNÓSTICO E CONTRIBUIÇÃO À INDICAÇÃO GEOGRÁFICA _______________________________________ 78 FOOD SAFETY IN HOUSES OF FLOUR IN THE VALLEY OF COPIOBA, BAHIA BRAZIL: DIAGNOSIS AND CONTRIBUTION TO THE GEOGRAPHICAL INDICATION_____________________________________________________78 RESUMO ______________________________________________________ 79 ABSTRACT ____________________________________________________ 80 1 INTRODUÇÃO ________________________________________________ 81 2 MATERIAIS E MÉTODOS _______________________________________ 83 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ___________________________________ 87 16 4 CONCLUSÕES _______________________________________________ 104 5 AGRADECIMENTOS____________________________________________105 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________ 106 CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________ 111 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOSEMI-ESTRUTURADO ______________ 114 APÊNCICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO_131 ANEXO A - Ficha de Inspeção de Estabelecimentos na Área de Alimentos (FIEAA)_____________________________________________________ 135 ANEXO B - Parecer Consubstanciado n° 97.402/2012 _______________ 143 17 INTRODUÇÃO GERAL Em diversos países do mundo, sobretudo naqueles em desenvolvimento, mais de 700 milhões de pessoas utilizam a mandioca (Manihot esculenta Crantz) como principal fonte de carboidratos, o que evidencia a importância social dessa cultura (MATTOS; GOMES, 2000). O Brasil, com aproximadamente dois milhões de hectares plantados, é um dos maiores produtores mundiais de mandioca, registrando produção de 26 milhões de toneladas de raízes frescas, em 2010, e estimativa de 27,1 milhões de toneladas, para 2011 (IBGE, 2011). Dentre as modalidades de cultivo da mandioca, o policultivo - mistura de mandioca com diversas espécies, principalmente feijão e milho - é a predominante entre as demais, sendo as regiões Norte e Nordeste as de maior utilização desta técnica de cultivo, bem como as maiores produtoras da mandioca (IBGE, 2011). No país, a maior parte das raízes é transformada em farinha de mesa comum, contudo, ainda pode-se obter a farinha d´água, a goma de tapioca, o polvilho doce e o azedo, a mandioca congelada, a minimamente processada e o chips de mandioca. Vários desses produtos são direcionados ao uso culinário, no qual a fécula é altamente utilizada, principalmente na fabricação de pães, bolos e biscoitos. Além deste aspecto, considera-se que a mandioca é utilizada integralmente, uma vez que a raiz e as partes aéreas ainda podem ser utilizadas como ingredientes para ração animal (CARDOSO et al., 2001). Na região Nordeste, é fato a existência de centenas de unidades produtoras de farinha, denominadas casas de farinha, cujas estruturas são bastante rudimentares, sendo característica o uso de mão-de-obra familiar (OLIVEIRA; MENDONÇA, 2008). De modo geral, a fabricação da farinha possui uma tecnologia considerada simples, contudo, exige cuidados no seu processamento. Dentre esses, pode-se citar a seleção da matéria-prima e a higiene e controles adotados durante todo o processo de fabricação, sendo tais fatores fundamentais para garantir um produto de qualidade. 18 Nesse contexto, para a fabricação da farinha de qualidade, o produtor precisa observar os procedimentos recomendados para o processamento dos alimentos: localização adequada da unidade de produção; utilização de medidas rigorosas de higiene dos trabalhadores na atividade; limpeza diária das instalações e equipamentos; matéria-prima de boa qualidade; tecnologia de processamento, embalagem e armazenagem adequada (FOLEGATTI et al., 2005). Todavia, por apresentarem estruturas bastante simples, muitas vezes, a maioria das casas de farinha não possuem as condições físico-estruturais adequadas e necessárias para o seu bom funcionamento, o que concorre para preocupações quanta qualidade do produto, na perspectiva sanitária (OLIVEIRA; REBOUÇAS, 2008; SANTOS, 2001). Para alguns autores, este cenário é justificado pelo fato dos trabalhadores das casas de farinha não atenderem às especificações técnicas de funcionamento estabelecidas pelos órgãos governamentais e não governamentais, bem como pelos órgãos de apoio à produção agropecuária/agrícola, dentre outros (CARDOSO, 2006; SOARES, 2007). Na Bahia, a produção da farinha de mandioca em casas de farinha também é uma tradição, com destaque para a farinha denominada Copioba, caracterizada pela granulometria fina e textura crocante. Esta farinha, apesar do reconhecimento popular, ainda não apresenta registros sobre a sua tecnologia de produção e controles sanitários, posto que seja produzida de forma artesanal, em comunidades rurais da região do Vale do Copioba, uma área geográfica que envolve os municípios de Nazaré, São Felipe e Maragojipe. Mediante a descrição, este estudo se volta para a produção da farinha de mandioca do tipo Copioba, no Vale do Copioba, considerando os atores sociais envolvidos, bem como os processos de produção e de segurança de alimentos adotados. Nesse contexto, espera-se que as informações resultantes possam contribuir para a tomada de decisão da coletividade de produtores e da gestão pública que atua junto ao segmento, com vistas ao fortalecimento dessa cadeia produtiva e ao desenvolvimento local. 19 OBJETIVOS GERAL Caracterizar a cadeia produtiva da farinha de mandioca de Copioba, do Vale do Copioba, Bahia, na perspectiva dos atores sociais, tecnologias empregadas e segurança de alimentos, como contribuição ao processo de Indicação Geográfica. ESPECÍFICOS Caracterizar os atores sociais envolvidos na produção da farinha de “Copioba”, na perspectiva socioeconômica e demográfica e quanto à organização social do trabalho; Avaliar o atendimento de requisitos higiênico-sanitários no processo produtivo da farinha de mandioca de Copioba; Propor medidas corretivas para as possíveis inadequações de processamento e de higiene encontradas, visando à melhoria da qualidade do produto e a contribuição ao processo de pedido a Indicação Geográfica; Sistematizar informações que contribuam para o processo de Indicação Geográfica da farinha de mandioca de Copioba, do Vale do Copioba, Bahia. 20 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Este estudo organiza-se em três capítulos, sendo o primeiro de revisão de literatura, com abordagem de temas relacionados à cultura da mandioca, produção e comercialização da farinha de mandioca e ao local de estudo, as casas de farinha e os atores sociais no Vale do Copioba, Bahia, Brasil. O segundo capítulo, em forma de artigo, procura apresentar e caracterizar os atores sociais envolvidos na produção de farinha de mandioca, no Vale do Copioba-BA, revelando os aspectos socioeconômicos, o trabalho e a organização social desse atores. O terceiro capítulo, em forma de artigo, procura avaliar o perfil higiênico-sanitário de casas de farinha do Vale do Copioba-BA, buscando contribuir para o fortalecimento de ações com vistas à promoção da segurança de alimentos nessa cadeia produtiva, bem como para o processo de Indicação Geográfica. 21 CAPITULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 A mandioca e sua farinha: origem e estatísticas A mandioca (Manihot esculenta Crantz) tem sua origem basicamente ameríndia e brasileira, estando também disseminada por toda a América. Graças aos colonizadores portugueses e espanhóis, a mandioca, ainda, foi levada por toda África e Ásia, sendo considerada por alguns autores como “a mais brasileira de todas as plantas de potencial econômico, dada a sua ligação com o desenvolvimento histórico, social e econômico do povo” (CONCEIÇÃO, 1983). De acordo com Silva (1996), vestígios arqueológicos indicam que a planta da mandioca pode ter mais de 7.000 anos de utilização. Historicamente, no Brasil, o cultivo e o uso da mandioca na alimentação associam-se à cultura indígena, com registros desde o período do descobrimento. A primeira referência à mandioca está na carta que Pero Vaz de Caminha enviou a Portugal quando do Descobrimento, que descreve: "...Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos..." (CASCUDO, 2004, p. 92). O "inhame" era, na realidade, a mandioca, posto que o inhame propriamente dito é de origem africana, tendo sido introduzido posteriormente no Brasil (CASCUDO, 2004). Deste modo, produtos como a raiz cozida, a farinha e a tapioca foram gradativamente incorporados aos hábitos alimentares dos portugueses e, posteriormente, integrados também à alimentação dos negros escravizados 22 (LEAL, 1998; CASCUDO, 2004), passando a compor um dos elementos de identidade da cultura alimentar brasileira. Na atualidade, em âmbito mundial, a mandioca é uma das principais explorações agrícolas, com produção acima de 229,5 milhões de toneladas/ano. Entre as tuberosas, perde apenas para a batata e encontra-se entre os seis principais produtos alimentares - trigo, arroz, milho, batata, cevada e mandioca, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO (2011). Dentre os continentes, a África é o maior produtor mundial (52,9%), seguido de Ásia (32,6%), América (14,5%) e Oceania (0,11%). Quanto ao rendimento, destacam-se a Ásia (14,37 toneladas por hectare (t.ha.)), a América (12,22 t.ha.), a Oceania (11,57 t.ha.) e a África (8,46 t.ha.) (FAO, 2011). O país de maior produção de mandioca é a Nigéria, com uma produção de 39 milhões de toneladas/ano, em 2011. Nesse país pretende-se substituir trigo importado e assim diminuir a dependência alimentar, pela adição de 40% de amido de mandioca na panificação. Espera-se também exportar 900.000 toneladas de mandioca chips e 182.000 toneladas de alta frutose, utilizada na substituição do açúcar contido em refrigerantes e, ainda, transformar 11 milhões de toneladas de amido de mandioca em litros de etanol (aproximadamente 1,2 bilhões de litros) (IBGE, 2012). Segundo a FAO (2013), a produção brasileira de mandioca representa 10,7% da produção mundial, tornando o Brasil o segundo maior produtor do mundo e mantendo o patamar de maior produtor do continente, com aproximadamente 26 milhões de toneladas de raízes frescas por ano (IBGE, 2010; FAO, 2013). Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada o mesmo indica que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em 2012 foi de R$ 988,8 bilhões, cerca de 23% do PIB brasileiro no mesmo ano 23 (CEPEA, 2012). Tendo a agricultura uma participação no equivalente a 71% da riqueza gerada pelo PIB do agronegócio, com um movimento em torno de R$ 697,1 bilhões em empreendimentos na área de insumos, no campo, na indústria e na distribuição. Cunha (2003) relata que o agronegócio da mandioca no Brasil possui uma receita bruta estimada de 2,5 bilhões de dólares e um milhão de empregos diretos. Entre os produtos, 33,9% destinam se à alimentação humana; 50,2% à alimentação animal; 5,7% a outros usos e 0,2% à exportação, havendo uma perda de 10%. Estima-se que a cultura da mandioca gere em torno de 200 mil empregos por ano, equiparando a cada três hectares ocupem duas pessoas durante o ano, sendo a mandioca uma das maiores cadeias de oferta de emprego no Estado do Pará (CEPEA, 2012). No Brasil, a região Nordeste detém a maior fatia da produção nacional, com 32,6%, seguida pelas regiões: Norte, 29,2%; Sul, 22,6%; Sudeste, 10,7% e Centro-Oeste, 4,9%. Entre os Estados, a Bahia é o terceiro maior produtor (12,6%), perdendo apenas para o Pará (17,7%) e Paraná (15,8%). No ano de 2011 a produtividade da mandioca cresceu 5% em relação ao mesmo período do ano anterior, contudo, ao comparar a produtividade de 2012, observa-se um declínio de aproximadamente 2,5% (IBGE, 2012). Em relação à farinha de mandioca, a produção nacional chegou a 25,7 milhões de toneladas, em 2012, tendo um incremento de 3,9%, em relação ao ano de 2010, evidenciando que, mesmo com interferências climáticas, a produção manteve crescimento (IBGE, 2012). 1.2 O beneficiamento da mandioca e a produção da farinha A transformação da mandioca em farinha, podendo ser chamada de “industrialização” das raízes de mandioca, quando em grande escala, diminui perdas pós-colheita, agrega valor ao produto, proporciona maior retorno financeiro 24 aos produtores e gera emprego e renda (MATSUURA et al., 2003). Estima-se que, na fase de produção primária e no processamento da farinha e fécula, são gerados um milhão de empregos diretos, e que a atividade mandioqueira proporciona receita bruta anual equivalente a 2,5 bilhões de dólares e uma contribuição tributária de 150 milhões de dólares; a produção que é transformada em farinha e fécula gera, respectivamente, receitas equivalentes a 600 e 150 milhões de dólares (OLIVEIRA e REBOUÇAS, 2008). Nesse contexto, existe uma divisão quanto à classificação das unidades produtoras de farinha, que inclui as farinheiras e as casas de farinha. As farinheiras são agroindústrias que apresentam uma estrutura de trabalho profissional, possuindo marcas próprias, e, em sua maioria, se localizam nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. As casas de farinha, por sua vez, mantêm o seu sistema produtivo baseado em métodos tradicionais, possuem uma estrutura menos profissionalizada, funcionam geralmente com trabalho familiar e alto índice de informalidade, sem marca própria, concentrando-se nas regiões Norte e Nordeste (GRANCO et al., 2005). No Nordeste, a maior parte da produção de mandioca é encaminhada para a produção de farinha, em casas de farinha (CARDOSO; SOUZA, 1999). O número real de casas de farinha em todo o país ainda é desconhecido, tendo em vista que, muitas vezes, os produtores de farinha podem possuir uma produção de pequeno porte e, com isso, não registram sua atividade. No entanto, estima-se que existam cerca de 400 mil casas de farinha, em todo o Brasil, embora mais concentradas nas regiões Norte e Nordeste, sendo geralmente unidades familiares, com capacidade de processamento variando de 2 a 3 sacos de 50 Kg/dia, cuja produção é geralmente destinada para autoconsumo, ou unidades comunitárias, parcialmente mecanizadas, com capacidade de processamento de até 2.000 ou 3.000 Kg/dia, nas quais grande parte da produção é comercializada (FOLEGATTI et al., 2005). 25 Em determinadas situações, quando algumas famílias não dispõem de uma casa de farinha, passam a processar sua mandioca em unidades vizinhas, e pagam por esse “aluguel” em farinha, utilizando a própria farinha produzida no local, variando a porcentagem paga de acordo com o tipo de farinha feita e com aspectos considerados pelos próprios dos donos das casas de farinha (CHUZEL et al., 1995; POULTER, 1995). Segundo levantamentos, em todo país, muitas famílias subsistem graças à produção da farinha, uma vez que a economia doméstica está ligada a cadeia produtiva. Colher a mandioca, esmagar, esfarelar e torrar é tema de cantigas em várias comunidades (SEBRAE, 2006; OLIVEIRA e REBOUÇAS). Vale ressaltar que, nas casas de farinha, dificilmente se consegue a uniformidade do produto obtido, sobretudo em virtude do processo produtivo depender muito de variáveis como mão-de-obra, matéria-prima, dentre outras; além desses aspectos, as diferenças nas características demandadas para as farinhas, entre o Norte-Nordeste e o Centro-Sul, também favorecem divergências no processo produtivo (OLIVEIRA E REBOUÇAS, 2008). Esse processo inclui a recebimento das raízes de mandioca, lavagem e descascamento, ralação, prensagem, esfarelamento, uma peneiração que pode ser opcional a depender do tipo de farinha que se deseja, torração e peneiração. Em linhas gerais, o processamento industrial das raízes de mandioca para a elaboração de farinha compreende nove etapas (Figura 1): recebimento das raízes, descascamento, ralação, prensagem, esfarelamento, torração, peneiração, acondicionamento e armazenagem (Adaptado de SANTANNA & MIRANDA, 2004). 26 RECEBIMENTO DAS RAÍZES LAVAGEM E DESCASCAMENTO RALAÇÃO PRENSAGEM ESFARELAMENTO PENEIRAÇÃO TORRAÇÃO PENEIRAÇÃO ACONDICIONAMENTO ARMAZENAMENTO FIGURA 1. Fluxograma do processamento de farinha de mandioca. Fonte: SANTANNA e MIRANDA, 2004 (adaptado). Em geral, o processo de produção artesanal da farinha dura de dois a três dias e abarca atividades no âmbito da roça e das casas de farinha (VELTHEM e KATZ, 2012). Ele inicia-se com a colheita das raízes de mandioca, que são arrancadas em dia anterior à produção ou no mesmo dia, bem cedo (OLIVEIRA, 2008; VELTHEM e KATZ, 2012). Em grande parte das pequenas propriedades, as raízes são transportadas para a casa de farinha em “carroças de boi” ou acondicionadas em cestos de cipó como “caçuás”, “balaios” e “cargueiros” pendurados em lombos de animais de carga (FREITAS et. al., 2011; VELTHEM, 2007; VELTHEM e KATZ, 2012). Ao chegar às casas de farinha, as raízes são colocadas no chão (VELTHEM, 2007, VELTHEM e KATZ, 2012), e, logo em seguida, as pessoas responsáveis pela produção dão início ao descascamento ou “raspagem” (OLIVEIRA, 2008; SILVA, 2008), que consiste na retirada da casca externa da mandioca e pode ser realizada tanto de forma manual ou por meio de sistema mecânico. No caso, salienta-se que a brevidade de tempo entre colheita e beneficiamento resulta do conhecimento empírico relativo ao processo de 27 deterioração da mandioca, que principia entre 24 e 48 horas pós-colheita (SEBRAE, 2006). Para o processo manual utiliza-se o auxílio de facas (SOARES, 2007), enquanto para o mecânico utilizam-se máquinas descascadoras, sendo, porém, necessário realizar a “repinicagem”, ou seja, a retirada do restante da casca deixado pelo processo mecânico por meio de processo manual. No sistema mecânico, é possível ainda a utilização de areia lavada, uma vez que facilita o descascamento (SEBRAE, 2006). As raízes descascadas são acondicionadas em recipientes chamados de “gamela” ou “cocho” (VELTHEM, 2007) e posteriormente levadas à etapa de lavagem, requerendo uma lavagem cuidadosa, de modo a produzir uma farinha de qualidade e não amarga (SEBRAE, 2006). Depois de lavadas, as raízes são raladas, moídas ou trituradas por meio de equipamentos específicos para tal finalidade, que recebem denominações diferentes em diversas partes do país. Como exemplo, no Acre, descreve-se que as raízes são “empurradas através da língua do banco, são então cevadas, roídas, ou seja, são trituradas pelo caititu ou bola” (VELTHEM, 2007). Em casas de farinha de Feira de Santana, Bahia, este processo é registrado como moagem das raízes “com o uso da “roda” ou “rodête”, um aparelho em forma cilíndrica com duas manivelas, uma em cada lado, movimentadas por duas pessoas” (SILVA, 2008). Após a ralação deve-se obter uma massa fina e homogênea (SEBRAE, 2006; SOARES, 2007). Em continuidade, a massa moída é colocada em sacos de náilon e formam vários pacotes - “forros de massa” ou “pneu” (VELTHEM, 2007; VELTHEM e KATZ 2012), que são empilhados em um prensa, geralmente feita de madeira, realizando-se a compressão do conteúdo, até perder boa parte do líquido presente na massa (SOARES, 2007; VELTHEM, 2007). Esta etapa, conhecida como prensagem, apresenta duração que pode variar de uma até doze horas, reduz o 28 volume da massa de 20 a 30% e contribui para evitar a “gomificação” da massa durante a torração (SEBRAE, 2006). O produto obtido após a prensagem compreende blocos de massa compactada que precisam ser esfarelados antes da torração. O esfarelamento é procedido por meio de raladores ou por peneiras e, ainda nesta etapa, podem ser retirados pedaços de cascas e fibras que restaram da etapa da ralação (SEBRAE, 2006; SOARES, 2007). A torração é o processo fundamental para obtenção da farinha, posto que nele ocorrem a secagem da massa e a caracterização do final do produto. Algumas características, como a cor, o sabor e o tempo de conservação estão relacionadas às condições de secagem (SEBRAE, 2006). O forno de torração é considerado um instrumento indispensável na casa de farinha, e, em alguns locais, a massa é seca com o auxílio de um rodo de cabo comprido (VELTHEM, 2007), podendo o processo ser realizado também por meio de forno mecanizado. Comumente, a torração tem duração de 30 a 40 minutos (SOARES, 2007). Em seguida, a farinha deve ser peneirada e, de acordo com a granulometria da peneira - mais fina ou mais grossa, é classificada (SEBRAE, 2006; SOARES, 2007), obtendo um produto final uniformizado e sem a presença de caroços. Ao final do processamento, a farinha de mandioca obtida deve ser embalada adequadamente, de modo a preservar a qualidade e as características do produto (SOARES, 2007). Segundo Velthem (2007), “o ideal é o ensacamento da farinha no mesmo dia, enquanto ainda quente, para ficar crocante”. Em geral, as embalagens compreendem sacos plásticos ou de aniagem, que devem ser fechadas e armazenadas sobre estrados de madeira em locais não úmidos e ventilados (SOARES, 2007). A farinha produzida tanto pode ser utilizada para consumo próprio dos produtores quanto para ser comercializada. 29 Entretanto, em uma mesma região produtora de farinha de mandioca, pode-se encontrar uma heterogeneidade de produtos entre os fabricantes, (BRASIL, 1995; CEREDA & VILPOUX, 2003). Portanto, se o único processo de produção da farinha fosse o artesanal, ou a mandioca fosse de uma variedade específica, poderia se pressupor em algo como queijos e vinhos europeus e suas regiões demarcadas. Há muitas respostas a serem buscadas, considerando que a matériaprima (raiz mandioca) pode ser oriunda de outras regiões e/ou municípios, e, provavelmente, o método de fabricação varia muito, incluindo mecanização ou não, e pressupõe-se que a técnica primitiva do processamento da farinha regional tenha sido muito diferente da atual, mas ainda deve ser praticada em muitos municípios (SZCZESNIAK & KAHN, 1971). Nessa perspectiva, alguns estudos têm evidenciado questões de higiene e sanidade nas práticas produtivas estabelecidas nas casas de farinha. Chisté e colaboradores (2006), em estudo conduzido em Alagoas, junto a dez unidades de produção, reportam a precariedade do processo e condições higiênico-sanitárias insatisfatórias, observando-se animais e insetos na área de processamento, além de outras irregularidades que comprometiam a qualidade do produto e a segurança do alimento. Oliveira e Rebouças (2008), buscando avaliar a estrutura de casas de farinha, nos municípios de Vitória da Conquista, Belo Campo e Cândido Sales região sudoeste da Bahia, utilizaram uma classificação numérica. De acordo com os autores, verificou-se deficiência em 100% das unidades de processamento da farinha de mandioca visitadas, em todos os requisitos observados, sendo indicada a necessidade de medidas corretivas, com vistas a garantir a inocuidade dos alimentos e a saúde do consumidor. Assim, estudos já apontam para a necessidade de treinamento dos produtores, uma vez que, além de colocarem suas famílias expostas a condições 30 impróprias, eles também comercializam parte da sua produção. Dentre as etapas de maior preocupação no processamento, em pequenas unidades, encontra-se a torração, muitas vezes feita com agitação manual, podendo demorar até 3,5 horas, para uma fornada de 90 Kg de farinha. Em muitas unidades, entretanto, já existem fornos com alimentação e agitação mecânica (OLIVEIRA E REBOUÇAS, 2008). 1.3 Requisitos de qualidade de alimentos e Boas Práticas de Produção Muito embora a qualidade dos alimentos possa ser entendida em diversos níveis (sensorial, nutricional, inocuidade e comercial), a segurança dos alimentos é uma de suas prioridades máximas. Na atualidade essa abordagem é integrada, procurando-se ter a rastreabilidade dos alimentos assegurada desde o campo até à mesa do consumidor (BRASIL, 1995). Nesse contexto, se evidencia uma sociedade demandando, cada vez mais, qualidade nos produtos e os órgãos fiscalizadores exigindo essa qualidade, contudo, poucos são os pequenos produtores que sabem como atingi-la. Em face desse quadro, as Boas Práticas de Fabricação (BPF) desempenham um papel fundamental na produção de alimentos com a tão almejada qualidade assegurada. As Boas Práticas de Fabricação (BPF) são requisitos essenciais necessários para garantir a qualidade da(s) matéria(s)-prima(s) e do(s) produto(s) acabado(s), sendo aplicadas em todas as etapas do processo produtivo (NASCIMENTO NETO, 2006). Elas abrangem um conjunto de medidas que devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos, a fim de garantir a qualidade sanitária e a conformidade dos produtos com os regulamentos técnicos. Como marco legal, a Portaria SVS nº 326/1997, do Ministério da Saúde, e a Portaria nº 368/1997, do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, estabelecem os requisitos gerais necessários para a produção de alimentos de acordo com as BPF. Somado a isso, a Portaria nº 275/2002, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), estabelece a documentação, procedimentos 31 operacionais padrões (POP) necessários para padronizar os processos produtivos, como parte dos requisitos para se obter produtos com qualidade (BRASIL, 1997 (b)); BRASIL, 2002). Além da legislação mencionada, ressalta-se a necessidade de adoção do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), que constitui um sistema de controle de qualidade dinâmico de processos operacionais, e outros procedimentos correlatos, como os Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO), que também são ferramentas disponíveis para o controle da qualidade estabelecidos pela Portaria 1428/93, do Ministério da Saúde (BRASIL, 1993; APPCC, 2000; BRASIL, 1997(a); BRASIL, 2006). Esses pré-requisitos identificam os perigos potenciais à segurança do alimento, desde a obtenção das matérias- primas até o consumo, estabelecendo em determinadas etapas (Pontos Críticos de Controle), medidas de controle e monitoramento que garantam, ao final do processo, a obtenção de um alimento seguro e com qualidade. Os produtos devem ainda atender aos Regulamentos Técnicos específicos de Aditivos Alimentares e Coadjuvantes de Tecnologia de Fabricação; Características macroscópicas, microscópicas e microbiológicas; Contaminantes; Rotulagem de Alimentos Embalados; Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados e Informação Nutricional Complementar, quando houver (ALVARENGA, 2006; BRASIL 1997 a 2006). 1.4 A produção da farinha na Bahia e no Recôncavo Na Bahia, o cultivo da mandioca e a produção de farinha compreendem uma tradição que se disseminou para os mais diferentes municípios, sem, contudo, mostrar muitos avanços tecnológicos - observa-se maior produção por pequenos produtores, com o processamento das raízes sendo realizado em casas de farinha. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2011), o Estado da Bahia, é o maior consumidor de mandioca no Brasil, consumindo mais de 24% da produção de farinha de mandioca do país e o 32 4° Estado brasileiro em consumo per capita deste produto, com 25,449 Kg/habitantes/ano. Em função deste quadro, a cadeia da mandioca constitui atualmente um dos objetos de atenção dos órgãos de governo (IBGE, 2012). Entre as regiões de destaque de produção da farinha de mandioca, o Recôncavo da Bahia é uma das principais, com destaque para a produção de farinha de mandioca de Copioba, no município de Nazaré, conhecido também como “Nazaré das Farinhas”, um dos municípios pertencentes ao Vale da Copioba. (CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008). Entende-se aqui como Recôncavo Baiano, a região que se desenvolveu com a economia canavieira sob o comando de Salvador. Envolve os municípios que se distribuem no entorno da Baía de Todos e se estende por um raio de 100 km a partir da cidade de Salvador, abrangendo uma superfície de aproximadamente 1.000 km² (MATOS et al., 2012). A cidade de Nazaré localiza-se no centro sul do Recôncavo baiano, às margens do Rio Jaguaripe. Ainda no período de colonização, abrigou os primeiros grandes engenhos de açúcar da Bahia e se especializou na produção de farinha de mandioca, que é considerada, ainda hoje, uma das melhores do Brasil. Tratase de uma farinha muito fina, chamada de Copioba, o que deu à cidade o codinome “Nazaré das Farinhas” (CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008). 1.5 A Tradição e o Potencial da Farinha de Copioba para Indicação Geográfica Embora muitas farinhas finas produzidas no Recôncavo sejam chamadas de Copioba, o nome refere-se a um lugarejo que fica entre os municípios de Nazaré, Maragojipe e São Felipe - o Vale do Rio Copioba, região que, no passado, era grande produtora de farinha. Assim, por ser considerada a melhor farinha, os demais locais produtores de farinha também passaram a adotar o nome Copioba para designar a farinha de boa qualidade, fina e torrada, 33 independentemente de onde quer que ela fosse fabricada (CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008). Além da notoriedade dessa farinha, ressalta-se que o município de Nazaré recebeu, historicamente, o codinome “Nazaré das Farinhas”, por ter sido, no século XIX, um grande produtor e distribuidor de farinha. Nesse contexto, segundo a Lei da Propriedade Industrial – LPI (Lei nº 9.279/96), constitui-se Indicação Geográfica (IG) a indicação de procedência que se refere ao nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço (Artigo 177). Em adição, faz-se necessário para estabelecimento da IG, esclarecer o modo tradicional como o produto é produzido (o saber-fazer) e as condições de inocuidade do processo de produção (BRASIL, 1996B). Partindo desse princípio, os produtos certificados como de Indicação Geográfica são, de certo modo, diferenciados e mais valorizados no mercado, apresentando uma maior competitividade. Como exemplos, citam-se a cachaça produzida em regiões de Minas Gerais e os vinhos produzidos no Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul, sendo essa ultima a primeira região com certificação para Indicação de Procedência no Brasil (OKAMOTTO, 2005). De modo mais recente, tem-se como novos exemplos, a cachaça de Paraty, no Rio de Janeiro, e o queijo artesanal serrano, também em Minas Gerais (SANTILLI, 2009). Nessa direção, torna-se oportuno ressaltar que, na Bahia, não existem produtos com IG pertencentes exclusivamente ao Estado - a Bahia partilha com o estado de Pernambuco a Indicação Geográfica do Submédio do São Francisco, relacionada às uvas e mangas de mesa. No Nordeste, além desta certificação, frisa-se haver apenas a Denominação de Origem dos camarões da Costa Negra, em Acaraú, no Ceará (OKAMOTTO, 2005). 34 Assim, este trabalho constitui parte de um estudo maior, que se conforma e se desenvolve em uma proposta multidisciplinar, com vistas ao pedido de Indicação Geográfica da farinha de Copioba do Vale do Copioba, Bahia, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) (BRANCO et al.; 2013). De modo específico, este projeto se debruça sobre o processo de produção da farinha de Copioba, buscando uma caracterização dos seus atores sociais, da segurança de alimentos e do trabalho, gerando subsídios à melhor organização e estruturação da cadeia produtiva, como contribuição ao processo de Indicação Geográfica. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA et al.; Qualidade da Farinha de Mandioca Produzida em Alcântara, Maranhão. In: XI Congresso Brasileiro de Mandioca, p. 1-4, 2005. ALVARENGA, A. L. B.; et al. Princípios das boas práticas de fabricação: requisitos para implementação de agroindústria de agricultores familiares. In: Recomendações básicas para a aplicação das boas práticas agropecuárias e de fabricação na agricultura familiar. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006. 243p. (Série Programa de Agroindustrialização Familiar). BAILEY, K. D. 1982. Methods of social research. McMillan Publishers, The Free Press, New York, USA 553p. BRANCO, N. P. N. C. S.; SILVA, I. 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Considerando a tradição dessa produção no Recôncavo baiano, o potencial da farinha de Copioba para um pedido de Indicação Geográfica (IG) e a insuficiência de estudos sobre o tema, objetivou-se caracterizar os atores sociais envolvidos no processo produtivo da farinha de mandioca do Vale do Copioba-BA, na perspectiva social, econômica e do trabalho. Realizou-se estudo descritivo, envolvendo 72 casas de farinha e 239 produtores, com coleta de dados por meio de questionários. Observou-se participação majoritária de homens (n=63,9%), com média de idade de 40,91 anos - faixa de 13 a 89 anos, escolaridade até ensino fundamental (82,3%) e renda familiar variando de um a três salários mínimos (58,4%). Em geral, os entrevistados tinham residências próprias (96,5%) e dispunham de energia elétrica (97,1%), mas não contavam com serviços de abastecimento público de água, saneamento e coleta de lixo. A média de tempo na atividade foi de 41,8 anos e a média de jornada diária de trabalho nas casas de farinha registrou 9,31 horas, com cinco dias de trabalho/semana, observando-se grande envolvimento do trabalho familiar, incluindo crianças (77,3%). A produção de farinha foi indicada tanto como fonte principal (89,9%) quanto para complementação da renda familiar (10,1%). Verificou-se fraca organização e mobilização social dos trabalhadores, com índice 48,7% de participação em associações, cooperativas ou sindicato, o que constitui um limitante ao pedido de IG. O estudo evidencia a importância social e econômica da cadeia produtiva da farinha, no Vale do Copioba, e reforça a necessidade de programas para fortalecer essa cadeia, sobretudo a sua organização social, visando contribuir para o pedido de IG e o desenvolvimento local. Palavras-chave: economia rural; agricultura familiar; farinha de mandioca; Indicação Geográfica; desenvolvimento social. 43 ABSTRACT In Northeast of Brazil, most of the cassava flour is produced by hand and by farmers, in flour mills. Considering the tradition of this production at the Recôncavo Baiano, the potential of Copioba flour to a request for Geographical Indication (GI) and the insufficient of studies about this topic, this study aimed to characterize the social actors involved in the production process of cassava flour in the Copioba Valley – BA, in the social, economic and labor perspective. A descriptive study was conducted involving 72 flour mills and 239 producers, collecting data through questionnaires. Observed more men (63.9%), with mean age of 40.91 years range 13-89 years, education up to elementary school (82.3%) and family income ranging from one to three minimum wage (58.4%). In general, respondents had their own homes (96.5%) and were equipped with electricity (97.1%), but did not have a public water supply, sanitation and garbage collection services. The average length of service was 41.8 years and the average workday in flour mills recorded 9.31 hours, with five working days/week, registering large involvement of family work, including children (77,3%). The production of flour has been nominated both as main source (89.9%) and to complement the family income (10.1%). There was weak social organization of workers, with 48.7% rate of participation in associations, cooperatives or syndicate, which is a limiting factor to the application of IG. The study shows the social and economic importance of the productive chain of the flour in the Copioba Valley, and reinforces the need for programs to strengthen this chain, especially this social organization, to contribute to the application of IG and local development. Keywords: rural economy; family farming; cassava flour; Geographical Indication; social development. 44 1 INTRODUÇÃO A mandioca (Manihot esculenta Crantz) tem origem basicamente ameríndia e brasileira, tendo se difundido por toda a América (CASCUDO, 2004). Graças aos colonizadores portugueses e espanhóis, a mandioca foi levada ainda para toda a África e a Ásia, sendo considerada, por alguns autores, como “a mais brasileira de todas as plantas econômicas, dada a sua ligação com o desenvolvimento histórico, social e econômico do povo” (CONCEIÇÃO, 1983; CASCUDO, 2004, p. 92). No âmbito mundial, a mandioca é uma das principais explorações agrícolas, com produção acima de 160 milhões de toneladas/ano. Entre as tuberosas, perde apenas para a batata e encontra-se entre os seis principais produtos alimentares - trigo, arroz, milho, batata, cevada e mandioca (FAO, 2011). No Brasil, a produção da raiz corresponde a 10,7% da produção mundial, o que classifica o país como o segundo maior produtor de mandioca do mundo e assegura o patamar de maior produtor de mandioca do continente americano, com aproximadamente 25,8 milhões de toneladas de raízes frescas por ano (FAO, 2011; IBGE, 2012; CONAB, 2012). Em nível nacional, a região Nordeste detém a maior fatia da produção, com 32,6%, seguida pelas seguintes regiões: Norte, 29,2%; Sul, 22,6%; Sudeste, 10,7% e Centro-Oeste, 4,9%. Entre os Estados, a Bahia é o terceiro com maior produção (12,9%), atrás apenas do Pará (17,7%) e do Paraná (15,8%) (IBGE, 2012). No país, a maior parte das raízes é transformada em farinha de mesa comum, contudo, ainda pode-se obter a farinha d´água, a goma de tapioca, o polvilho doce e o azedo, a mandioca congelada, a minimamente processada e o chips (CARDOSO et al., 2001). Nesse contexto, a farinha de mandioca representa a base da alimentação para grande parte da população, conformando uma identidade cultural, além de constituir importante fonte de trabalho e renda, sobretudo nas 45 regiões Norte e Nordeste (CHISTÉ et al., 2010). Nessas regiões, a maior parte da farinha é produzida de forma artesanal, por agricultores familiares, em locais denominados de “casas de farinha” (VAN VELTHEM, 2012; SOARES, 2007). Na Bahia, sobretudo no Recôncavo, mantém-se a tradição da produção e comercialização da farinha de mandioca, com destaque para a farinha denominada “Copioba” (CARDOSO, 2001; ARAUJO, 2007), que é produzida na região denominada Vale do Copioba. Esta farinha, conhecida pela sua granulometria fina e textura crocante, ganhou notoriedade desde os anos 30, quando jornais da época incentivavam o consumo da mesma pela sua qualidade (A TARDE, 1930; CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008). No Recôncavo, a arte de fazer farinha é transmitida de pai para filho e, mesmo com a chegada da energia elétrica e do incremento de tecnologias no seu processamento, é possível encontrar casas de farinha com funcionamento bem semelhante ao que era usado há décadas atrás, pelos moradores locais (CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008). Nesse cenário, considerando a tradição do saber-fazer, a notoriedade da farinha de mandioca do tipo Copioba, do Vale da Copioba, Bahia, bem como o potencial deste produto para um pedido de Indicação Geográfica, este estudo objetivou caracterizar os atores sociais envolvidos no processo produtivo, na perspectiva socioeconômica e quanto à organização social do trabalho. 46 2 MATERIAIS E MÉTODOS Realizou-se estudo exploratório, de natureza quantitativa, junto à comunidade de produtores rurais de farinha de mandioca do tipo Copioba, do Vale do Copioba, Bahia, localizado em área de abrangência dos municípios de Nazaré, São Felipe e Maragojipe (Figura 1). O estudo foi conduzido no período de dezembro de 2012 a outubro de 2013, como parte do projeto “Qualidade, identidade e notoriedade da farinha de mandioca de Nazaré das Farinhas-BA: uma contribuição à Indicação Geográfica”1, que conta com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Climério de Oliveira- Universidade Federal da Bahia (Parecer consubstanciado, n° 97.402/2012)(Anexo B). FIGURA 1. Mapa do Vale do Copioba, com a identificação dos três municípios – Nazaré, Maragojipe e São Felipe e suas casas de farinha. (IBGE, 2005, adaptado). Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013. 1 Projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) – Termo de Outorga TSC0027/2011 47 Inicialmente, realizou-se contato com associações, sindicatos e órgãos de atuação na área rural da região, no intuito de auxiliar em um primeiro contato com os produtores locais. Após esse contato, foi feito o levantamento de todas as casas de farinha do município. A partir da identificação dos produtores de farinha de mandioca, procedeu-se o contato com os responsáveis pelas unidades de produção. Nesse sentido, tendo em vista que os órgãos locais não possuíam um cadastro dos produtores e visando ampliar o trabalho na região, adotou-se a metodologia “bola de neve” (BAILEY, 1982), na qual foi solicitado a pessoas-chave e líderes das comunidades, que informassem a localização de outros produtores de farinha de mandioca, tipo Copioba, solicitando destes a mesma indicação, após conversa/entrevista e, assim, sucessivamente. Deste modo, a amostra da pesquisa foi formada pelo conjunto de casas de farinha que estavam em funcionamento, durante a pesquisa de campo. Para levantamento de dados, utilizou-se um questionário semiestruturado (Apêndice A), que se organiza nos seguintes blocos: informações gerais sobre a casa de farinha; participação em organização (cooperativa, associação, sindicato); produção; trabalho; moradia; saúde e cidadania; informações pessoais; composição da família e agregados residentes; composição da família de origem. Para fins deste estudo, especificamente, foram utilizados os blocos relativos a: Informações gerais sobre a casa de farinha; os dados pessoais dos produtores; trabalho; moradia e cidadania. No momento da aplicação do formulário, foram abordadas todas as pessoas que estavam trabalhando na casa de farinha, desde que aceitassem participar da pesquisa, cuja concordância foi registrada em termo de consentimento livre e esclarecido - TCLE (Apêndice B). No caso de trabalhadores menores, a autorização para participação no estudo foi dada pelos responsáveis. 48 No total, o estudo envolveu 72 casas de farinha e contou com a participação de 239 produtores de farinha, incluindo responsáveis e trabalhadores da cadeia produtiva da farinha de mandioca, alcançando uma média de 3,31 entrevistados por casa de farinha, assim distribuídos: 109 em Nazaré, 103 em São Felipe e 27 em Maragojipe. Ao longo do trabalho de campo e a abordagem dos produtores, não houve recusas. O preenchimento dos questionários foi realizado por entrevistadores treinados e supervisionados, que registraram as informações utilizando os seguintes procedimentos: observação direta no local, no caso de questões de inspeção imediata da casa de farinha (por exemplo, tipos e características dos equipamentos, utensílios) e entrevista, para as questões de conhecimento específico (por exemplo, dados pessoais e de opinião). Os dados foram tabulados no software Epidata, versão 3.1, e processados com uso do Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, v. 13.0, contemplando a análise descritiva, teste de associações (Chi-quadrado) e testes de média (Kruskall Wallis; teste de mediana) para as variáveis de interesse, com nível de probabilidade de 0,05. 49 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos para o conjunto de entrevistados encontram-se organizados em tópicos, conforme se descreve a seguir. Caracterização sócio-demográfica dos atores sociais Na Tabela 1, são apresentados os resultados sociodemográficos dos entrevistados. Como se nota, houve predomínio de pessoas do sexo masculino, quadro que se assemelha ao reportado por COSTA (2010), que descreve uma “masculinização” do meio rural, haja vista a tendência de muitas mulheres de se engajarem no processo êxodo rural mais fortemente. Ao mesmo tempo, verificouse proporção considerável de participantes do sexo feminino (36,1%), uma característica do trabalho nas casas de farinha que se vincula ao processo de raspagem, em grande parte, realizado por mulheres, donas de casa, que procuram complementar sua renda e reforçar a mão de obra familiar, tendo como moeda de troca a própria farinha (FREITAS, 2011). Tabela 1. Características sócio demográficas dos produtores (n=239) de Farinha de Mandioca de Copioba, no Vale da Copioba, Bahia, 2012/2013. Característica Distribuição Sexo (%) Masculino 63,9 Feminino 36,1 Idade (ano) Média (amplitude) 40,91 (13-89) Escolaridade (%) Alfabetizado 23,9 Ensino fundamental 58,4 Ensino médio 16,4 Ensino Superior 1,3 50 Continuação Tabela 1 Característica Distribuição Estado Civil (%) Solteiro 17,2 União Estável 20,2 Casado 54,6 Divorciado 1,7 Viúvo 6,3 Filhos (%) Sim 87,3 Não 12,7 Dependentes (%) Sim 91,2 Não 8,8 Chefe de Família (%) Sim 57,1 Não 42,9 Renda Geral (%) < 1 Salário mínimo 26,9 ≥1 a 3 salários mínimos 53,4 ≥3 a 5 salários mínimos 15,5 ≥5 a 10 salários mínimos 2,1 ≥10 salários mínimos 2,1 Em relação à idade, constatou-se ampla faixa etária dos entrevistados, haja vista os limites mínimo (13 anos) e máximo (89 anos), o que se aproxima de estudos apresentados por Menezes (2000) e Weisheimer (2004), em pesquisas realizadas no semiárido nordestino, com pequenos produtores rurais. No caso das casas de farinha do Vale do Copioba, essa ampla faixa etária permite refletir três situações possíveis: primeiro, que mesmo trabalhadores já aposentados ainda se mantinham ativos (n=25), no intuito de complementar a renda; segundo, que 51 alguns produtores poderiam não conhecer efetivamente seus direitos ou ter acesso difícil à aposentadoria, uma vez que foram identificados trabalhadores com idade superior a 60 anos (n=7); e que a rotina das casas de farinha abrigava também o trabalho infantil (77,3%), de forma natural e não relatada pela população, conforme também foi descrito por Santos (2013). Souza e Pontilli (2009) discutem que a realidade do trabalho infantil na zona rural se deve, muitas vezes, ao estado de vulnerabilidade econômica dos genitores, forçando a inserção do trabalho infantil no campo. De acordo com os autores, a presença desse quadro no Nordeste remonta décadas, o que configura a prática da utilização da mão de obra infantil como uma atividade histórica, conforme descrito por Heredina (1979) e Campo e Francischini (2003). Este é um aspecto considerado negativo à Indicação Geográfica, posto ser condição imprescindível ao processo não haver trabalho infantil (2001). Com relação à escolaridade, observou-se baixa formação educacional para grande parte dos entrevistados, quadro que, segundo Castro (2009), expressa uma realidade muito presente no contexto das populações rurais de várias regiões do país, sobretudo das regiões Norte e Nordeste. Esta característica reflete certo nível de abandono, ao qual as populações rurais estão sujeitas, uma vez que, devido à distância, as instituições de ensino não chegam até as populações rurais e, nessa condição, ou se estuda pouco ou até não se estuda, pelos empecilhos encontrados no acesso à educação (FREITAS, 2011). No que concerne ao estado civil, a maior parte dos produtores informou ser casado(a) (54,6%), seguido da opção união estável (20,2%), o que evidencia a manutenção de uma estrutura familiar na região, ainda que estejam presentes os arranjos de união não formal. Nesse contexto, reforça-se a participação da família nessa cadeia produtiva, realidade que concorda com achados de Velthen (2007), em estudo sobre a cadeia produtiva da farinha, no Acre. 52 Em relação ao número de filhos por mulher - média de 4,7, que é considerado alto, possivelmente reflete fragilidades nos programas locais de planejamento familiar. Nessa perspectiva, estudos (MARTELETO, 2001) têm também evidenciado uma relação inversa entre escolaridade e o número de filho, como é o caso dos produtores do Vale do Copioba-BA. Os resultados evidenciam ainda um percentual elevado de entrevistados com dependentes (91,2%), o que pode sugerir a falta de oportunidades de trabalho para muitos integrantes das famílias, sobretudo os filhos, mantendo um quadro de dependência dos pais, por períodos de tempo maiores. Quanto à renda, a maior parte dos produtores de farinha de mandioca tipo Copioba se enquadrou em uma condição socioeconômica limitada, ainda que alguns estudos recomendem um faturamento em salários dentro da faixa de um a três salários mínimos (AQUINO e SANTOS, 2002). Este contraponto, entretanto, é explicado em razão de outros estudos identificarem populações rurais com renda inferior a um salário mínimo (VELTHEM, 2007; SILVA, 2008). Na realidade das famílias do Vale Copioba, o fato do maior ganho constituiu reflexo do período de seca no Nordeste, com aumento considerável do preço da farinha de mandioca, nos anos de 2012 e 2013, elevando assim a renda das comunidades em estudo (BRANCO et al., 2012). A chefia de família foi declarada pela maioria dos entrevistados, sendo que, destes, 59,73% eram do sexo masculino. Conquanto este achado, observouse participação expressiva de mulheres que se declaram chefes de família (40,27%), o que faz refletir também sobre a participação das mulheres no trabalho e no auxílio à manutenção das suas famílias. Na avaliação da distribuição da chefia de família por gênero, em relação aos municípios estudados, verificaram-se valores mais próximos e equilibrados nos municípios de Nazaré e Maragojipe e valores mais distintos em São Felipe (Figura 2), confirmando-se não haver diferença significativa entre sexo e chefia de 53 família nos municípios de Nazaré e Maragojipe (p=0,679), enquanto houve diferença (p=0,025), em São Felipe. Neste estudo, ainda, verificou-se uma tendência para os produtores do sexo masculino com o ensino fundamental completo ou incompleto em assumir a chefia de família (76,3%), fato que não ocorria às mulheres - neste caso, a menor escolaridade, também se associou à assunção de chefes de família (p=0,015). Para as mulheres, o quadro foi justamente o contrário: quanto maior a escolaridade, maior a tendência em assumir a chefia das famílias (p=0,017). FIGURA 2: Distribuição (%) dos produtores do Vale da Copioba-BA, Brasil quanto à chefia de família, por gênero e localidade. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013. Para COSTA (2010), esta situação decorre da baixa oferta de emprego para indivíduos com baixa escolaridade, nas áreas urbanas, o que direciona ou mesmo mantém grande parte no meio rural, onde o homem, pela sua condição corpórea, se torna mais produtivo e, com isso, assume as despesas da casa, bem como a chefia da família, conformando o processo de “masculinização” do meio rural. O autor considera, ainda, que as mulheres apresentam tendência maior para buscar os estudos e a qualificação profissional e, deste modo, abandonam o meio rural ou mesmo assumem a chefia da família, por serem melhores remuneradas, em função da sua melhor capacitação profissional. 54 Condições de vida no campo Entre os entrevistados, a média de tempo de moradia na localidade foi de 19,18 anos, faixa de 0 a 72, demostrando a permanência pessoas residentes da zona rural, evitando o êxodo. Segundo Martine (1990) e Guimarães, (2013), contudo, este fenômeno acontece, sobretudo, com as pessoas mais velhas - os mais jovens estão mais frequentemente envolvidos no processo de êxodo rural, sendo a mudança para o meio urbano uma das suas principais perspectivas de vida. Os resultados relativos às condições de moradia dos agricultores são apresentados na Tabela 2. Em geral, evidenciou-se que a maior parte possuía residência própria, contudo, durante as viagens a campo, observaram-se habitações em condições precárias, sendo algumas construídas em taipa, cobertas com telhas de amianto e de barro, o que sinaliza a pobreza nessas localidades. Tabela 2 - Características das residências dos produtores de farinha de mandioca do Vale do Copioba - Bahia, 2012-2013. Características das residências Distribuição Condição de uso do imóvel (%) Próprio 96,5 Cedido por empregador 1,0 Cedido por outra pessoa 2,5 Iluminação elétrica (%) Sim 99,1 Não 0,9 Abastecimento de água (%) 55 Continuação 2 Rede pública 0 Poço ou nascente na propriedade 7,3 Poço ou nascente fora da propriedade 56,9 Carro pipa 0,2 Rios, açudes, lagos 27,8 Água de chuva 7,8 Realização de tratamento de água (%) Sim 39,7 Não 60,3 Características das residências Distribuição Disponibilidade de banheiro (%) Sim 87,3 Não 12,7 Destino dos dejetos do banheiro (%) Fossa 86,8 Vala 6,3 Rede pública 0,2 Céu aberto 0,0 Rio, Lago 6,7 Destino do lixo produzido no domicilio (%) Coletado 0,0 Queimado 90,2 Enterrado 2,7 Terreno baldio 5,8 Rio, lagoa ou mar 1,3 56 Em média, registraram-se casas com 5,98 cômodos, variação de 4 a 9 cômodos, e com 2,58 quartos e 1,06 banheiros por casa, revelando domicílios de tamanho mediano, em relação ao numero de cômodos, porém pequenos considerando o quantitativo de banheiros e quartos e o número médio de filhos. No Acre, em 2003, quando do desenvolvimento de projeto de habitação para produtores rurais, objetivando moradias baratas e com condições sanitárias e ambientais satisfatórias ao ser humano, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA, 2003), foram previstas habitações compostas por sala, cozinha, banheiro e três quartos, o que perfaz seis cômodos, e conforma melhor distribuição de espaços para as famílias; nesse projeto, contudo, a área construída era limitada a 48 m2. A maioria das residências dispunha de serviço de iluminação elétrica, entretanto, um percentual considerável (31,4%) dos produtores não possuía ligação elétrica formal, tendo como fonte de eletricidade as ligações informais, conhecidas como “gato”. Ressalta-se, todavia, que 95,7% dos produtores que usavam ligações informais comprovaram pedido formal de ligação, havendo uma espera da companhia de energia elétrica realizar o procedimento. Duarte et al. (2013), ao conduzir estudo com produtores de cana, na região do cerrado de Goiás, relatam que um dos maiores entraves para a produção agrícola de pequenos e médios produtores são as necessidades de bens e serviços comuns, uma vez que, diante dos grandes aglomerados urbanos, os pequenos produtores são sempre colocados de lado. No concernente ao abastecimento de água, os dados apontam que mais da metade dos entrevistados utilizavam as nascentes de propriedades vizinhas como fontes de água. Conforme observações em campo, era prática entre os produtores se organizarem para canalizar a água de poço e/ou nascente da propriedade de um deles. Nenhum dos participantes recebia água do sistema 57 público e apenas 39,7% faziam algum tipo de tratamento com a água, destacadamente o uso do filtro de barro (95,7%). Segundo Costa et al. (2000) e Melo (2006) um dos requisitos básicos para o desenvolvimento das regiões rurais associa-se ao atendimento de necessidades básicas, como energia elétrica e água potável. Deste modo, a identificação de recursos escassos nesses dois ramos torna mais difícil o êxito da produção rural, demandando a busca por fontes alternativas que, muitas vezes, são mais onerosas, em termos monetários, do que as fontes convencionais. Entre as residências, apesar da elevada disponibilidade de banheiros com vaso sanitário (87,3%), proporção mínima (0,20%) destinava seus dejetos na rede pública de esgoto, constatando-se grande uso de fossas, rios, lagos e valas, quadro que contribui diretamente para a poluição ambiental, no entorno das comunidades. Segundo Bezerra (2007), com a falta de saneamento básico ou com um saneamento básico insuficiente, as comunidades rurais e as cidades de médio e grande porte direcionam os dejetos produzidos em suas residências para rios, lagos, mar e solo, transformando-os em ambientes contaminados, pelo descarte de desejos não tratados. Entre as formas de destinação do lixo gerado nas comunidades do Vale do Copioba, prevaleceu a queima e, em menor proporção, a deposição em terrenos baldios, trazendo à tona, para quase todos os consultados, questões complexas de agressão ambiental. Nenhuma das comunidades visitadas possuía coleta pública do lixo, o que agravava ainda mais a situação. Práticas como essas compreendem grande preocupação ambiental, uma vez que, tempos atrás, se considerava que a poluição de ambientes naturais se iniciava principalmente nos ambientes urbanos – a direção urbano-rural. Pela descrição apresentada para o Vale do Copioba, contudo, fica evidente que a 58 poluição apresenta movimento bidirecional, causando preocupações tanto no meio rural quanto no urbano. Bezerra (2007), ao estudar as causas de contaminação do Rio Mutum, em Santo Antônio de Jesus-BA, observou que as principais compreendiam os dejetos de esgotos lançados diretamente nos mananciais, bem como o descarte de lixo e móveis em desuso. A disponibilidade de bens e serviços, entre os entrevistados no Vale do Copioba, encontra-se ilustrada na Figura 3, destacando-se a televisão, a geladeira e o rádio como os bens mais citados, aparecendo em seguida os celulares. FIGURA 3: Distribuição (%) dos entrevistados quanto à disponibilidade de bens e serviços nos domicílios. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013. Apesar de todo o avanço tecnológico presente no mundo moderno e da maior aquisição de bens entre os trabalhadores da farinha, a velocidade com que essa tecnologia se dissemina entre as populações é desigual. Assim, ainda que muitos tivessem aparelhos domésticos e celulares, menos de 1% relataram acesso à internet. Em adição, fica patente o descompasso entre a aquisição de bens e a manutenção de baixos níveis de escolaridade na zona rural – um 59 paradoxo que faz perpetuar menores índices de desenvolvimento social e a pobreza no campo (ABRAMOVAY, 2001). Confirmando um cenário de mudança na renda e como também uma facilidade para o deslocamento no campo, observa-se um número expressivo de participantes proprietários de motocicletas. Este avanço, entretanto, não deve servir para mascarar as dificuldades de transporte ainda presentes nas comunidades rurais, que em muito prejudicam tanto a mobilidade das pessoas quanto a circulação de produtos e outros materiais, favorecendo a dependência. Freire (1991), ainda nos anos 90, ao elaborar um panorama das principais barreiras na comunicação da informação tecnológica, constatou que aspectos correlacionados ao novo mundo ainda eram novos em comunidades rurais e registrou a resistência dos produtores às novas tecnologias. Pela realidade retratada no Vale do Copioba, então, fica evidente um franco processo de mudança, mas que ainda requer muitos investimentos em desenvolvimento social, para que esses trabalhadores possam viver de forma mais digna e ser valorizados pela e vida e trabalho no campo. Características do Trabalho Resultados quanto ao trabalho são sumarizados na Tabela 3. Pela descrição, avalia-se que o trabalho nas casas de farinha era atividade tradicional, uma vez que o tempo médio de trabalho nas casas de farinha registrou mais de 40 anos e, ainda, inseria pessoas novas e mais velhas - tempo mínimo 3 anos e máximo de 62 anos, confirmando uma atividade que envolve várias gerações. Esse cenário de tradição também foi confirmado pelas médias de idade das casas de farinha investigadas nos municípios - em Nazaré 43,3 anos, variando de 1 a 203 anos; em Maragojipe, 21,96 anos, variando de 1 a 53 anos; e, em São Felipe, 24,96 anos, variando de 2 a 105 anos. Nesse contexto, registra-se diferença significativa para o tempo mediano de criação das casas de farinha 60 (p=0,002), entre Nazaré e os demais municípios, salientando-se que a produção histórica da farinha de Copioba em Nazaré acha-se descrita em jornal de grande circulação, desde a década de 30 (ATARDE, 1930). Estes achados concordam com estudos conduzidos por Barickam (2003), Santos (2003) e Leandro (2007), que registram a fama da farinha de Copioba primariamente no município de Nazaré, por ser o pioneiro na produção de uma farinha fina, bem torrada e com coloração levemente escura, de grande preferência por todos os moradores da região. Tabela 3. Características do trabalho dos produtores de farinha de mandioca no Vale da Copioba-BA, Brasil, 2012-2013. Característica Distribuição Tempo no trabalho com farinha (anos) Média 41,8 (3-62) Jornada de trabalho (horas) Média 9,31 (2-15) Trabalho noturno (%) Sim 2,7 Não 97,3 Trabalho sábado, domingo e feriados (%) Sim 27,1 Não 72,9 Renda com a produção de farinha (%) < 1 Salário Mínimo 14,2 1 a 3 salários mínimos 65,6 3 a 5 salários mínimos 15,5 5 a 10 salários mínimos 2,1 >10 salários mínimos 2,1 A média de jornada diária de trabalho foi elevada (9,31h/dia), fato que, associado ao longo tempo na atividade, podem constituir fatores predisponentes 61 ao desenvolvimento de doenças relacionadas ao trabalho, conforme alerta Almeida (1995). Minayo (1997) e Corsi (2004), ao avaliarem o trabalho de pequenos produtores rurais, em todo Brasil, puderam observar jornadas de trabalho cada vez mais altas, em ambientes extremamente desfavoráveis à saúde. Essa condição, por sua vez, se associava à desvalorização dos produtos primários produzidos no campo e, desse modo, havia a necessidade cada vez maior de produção, deixando como saldo para os produtores diversos problemas de saúde. Em compensação à grande jornada de trabalho dos entrevistados do Vale do Copioba, verifica-se, como aspecto positivo, o fato do não trabalho nas casas e farinha aos sábados, domingos e feriados - os participantes trabalhavam, em média, cinco dias/ semana nas casas de farinha e, no sexto dia (sábado), vendiam a produção nas feiras locais. Nesse cenário, considera-se também a prática, nos municípios envolvidos, do sábado ser o dia destinado à feira, o que requer o deslocamento para a cidade, tanto para vender alguns produtos das pequenas propriedades rurais, quanto para adquirir gêneros alimentícios (ALMEIDA, 1995; MOREIRA, 2005). Quanto ao turno de trabalho, predominou o diurno, ainda que se tenham relatos de que as atividades começavam muito cedo, ainda antes do raiar do sol. Segundo os registros, o trabalho noturno era feito apenas por trabalhadores que necessitavam prensar a massa, no intuito de obter uma massa mais seca, no dia seguinte, de modo a favorecer a torração. Nesse contexto, salienta-se que novas tecnologias para produção da farinha, a partir da chegada da energia elétrica no campo, permitiram avanços, como os usos de raladores e do sistema mecanizado de torração, que têm contribuído para otimizar o trabalho nas casas de farinha. O processo de mecanização no campo, entretanto, ainda que signifique melhorias nas condições de trabalho, por permitir que determinados trabalhos 62 bastante desgastantes sejam feitos por máquinas, devem ser observados com cautela. Em determinados setores do campo, como exemplo no setor produtivo de cana de açúcar, essa mecanização gerou desemprego para diversos trabalhadores, pois, o trabalho antes feito por vários homens, acabou substituído por uma única máquina, com redução de mais de 35% no número de trabalhadores, após a mecanização (ANDRADE-JÚNIOR, 2010). No caso das casas de farinha, especificamente, importa considerar que a mecanização não apenas interfere no quantitativo da mão-de-obra envolvida, mas também que não dever significar rupturas em um saber-fazer secular, que tem contribuído para a notoriedade da farinha de Copioba. No concernente à mecanização agrícola, as casas de farinha de São Felipe se apresentaram como as de instalações mais modernas, com descascador de mandioca (61,4%), motor para a moagem (45,6%) e forno elétrico (44,8%), enquanto que Nazaré foi o município que manteve maior tradição na produção, verificando-se a presença de forno de barro, ainda em funcionamento, em 65,3% das casas de farinha - em São Felipe e Maragojipe, este índice alcançou 18,6% e 16,1%, respectivamente. Em termos comparativos, entre os municípios, observou-se que a mecanização da produção da farinha não influenciou a jornada de trabalho, mas, em termos de produtividade, São Felipe apresentou o maior lucro máximo (R$15.000,00/por casa de farinha/mês), seguido de Maragojipe (R$1.200,00/por casa de farinha/mês) e Nazaré (R$8.000,00/por casa de farinha/mês). Nesse estudo, entretanto, não foi investigado o impacto da mecanização na redução da mão de obra. Os relatos obtidos para a renda oriunda da produção de farinha foram bem semelhantes àqueles informados para a renda geral da família. Este quadro se deve ao fato de 89,9% dos produtores atribuírem sua renda principal à produção de farinha, o que evidencia a contribuição econômica e social da 63 atividade. Outrossim, a importância da produção da farinha como principal fonte de renda é confirmada pelo levantamento de renda independentemente da produção de farinha, para a qual identificou-se renda inferior a um salário mínimo, para 97,2% dos entrevistados. Fontes (1999) e Cardoso et al. (2001a), ao estudarem a produção de farinha de mandioca em Belém-PA, ressaltaram a importância social e econômica da cadeia produtiva da mandioca, posto que abarcava um grande contingente da população rural, além da contribuição cultural da atividade, em muitos municípios paraenses. Na Bahia, Castelluci Júnior (2008) evidencia que a cultura da produção de farinha, perpassa por décadas e se mantém presente nos dias atuais, sendo um dos principais pilares de sustentação de várias famílias. Com relação à atividade profissional que representava a maior contribuição para o sustento das famílias, no Vale do Copioba, as principais respostas encontram-se sumariadas na Figura 4, sobressaindo à atividade agrícola e a produção de farinha. Esse resultado reforça que a produção de farinha seja, mais uma vez, a grande responsável pela manutenção de muitas famílias, haja vista a sua indicação e que, a menção da agricultura, em grande parte, envolvia também o cultivo da mandioca para a produção de farinha (87,3%), sendo o excedente vendido in natura, no comércio local. 64 FIGURA 4: Distribuição (%) dos entrevistados quanto à indicação das atividades profissionais que representam maior contribuição ao sustento das famílias. Vale da Copioba-BA, 2012-2013. A contribuição econômica da agricultura familiar tem sido considerada em diversos estudos. Porto e Siqueira (1994) relatam em pesquisa com pequenos produtores rurais do Brasil, que esses trabalhadores tendem a ter a agricultura como a única fonte de renda - tanto a agricultura como os seus subprodutos, gerando um cenário de subsistência rural, muito comum em todo país. Guilhoto (2006), ao estudar as culturas de subsistência para agricultores familiares, no país, constatou que, de toda a mandioca produzida, 82% advinham da agricultura familiar, representando o mesmo percentual do Produto Interno Bruto (PIB) Familiar o que, em 2005, corresponderia a aproximadamente 4,3 bilhões de reais. Para além da produção da farinha, outras atividades geradoras de renda foram relatadas pelos produtores do Vale do Copioba, conforme ilustra a Figura 5. Cabe ressaltar que a produção agrícola em propriedade de terceiros, chamada popularmente de meeiro, ocorre quando um determinado produtor “aluga” uma dada área de terra e o pagamento do “aluguel” é feito com parte da produção. No caso do Vale do Copioba, esse pagamento foi muito variável - de 5 a 65 25% do que era produzido, e o arrendamento de terra foi mais frequente em alguns municípios, como São Felipe, no qual alcançou índice de 56%. FIGURA 5: Distribuição dos participantes quanto ao desenvolvimento de outras atividades geradoras de renda, excluindo-se a produção de farinha. Vale do Copioba-BA, 2012-2013. Segundo Camarano (1999), Silva (2001) e Leandro (2007), essa modalidade na produção rural brasileira ocupou papel de destaque, há anos ou mesmo décadas atrás. Nos anos mais recentes, de modo distinto, prevalece, por parte dos produtores, um direcionamento e uma vontade maior para buscar suas próprias terras. Couto (2009), por sua vez, chama a atenção para o interesse por parte dos produtores e o interesse “distorcido” por parte das políticas públicas orientadas aos agricultores familiares. Segundo o autor, embora estas políticas sejam formuladas no intuito de melhorar as condições dos produtores, são criadas “de cima para baixo” - por técnicos do setor público e com financiamentos de projetos-padrão, sem a participação mais efetiva dos produtores, para alcançarem melhor solução aos problemas enfrentados na realidade. 66 Organização Social do Trabalho Entre os produtores do Vale do Copioba, 58,4% responderam não participar de qualquer sindicato, cooperativa ou outras modalidades de organização social de trabalho (Figura 6). Nesse sentido, ainda, observou-se uma associação positiva significativa (p=0,001) entre menor escolaridade e não participação em organizações sociais. FIGURA 6: Distribuição (%) dos produtores do Vale da Copioba-BA, quanto à participação em organização social de trabalho. Vale do Copioba, Bahia, 20122013. Durante a pesquisa em campo, foi possível perceber um processo de organização social do trabalho ainda tímido. A maior parte das cooperativas, associações e sindicatos eram novos, com menos de dez anos. Segundo Chaves e Kustner (2013) era esperado, a partir 2009, que as políticas organizacionais na Bahia se fortalecessem, tendo em vista a sansão da lei Nº 11.362, de 26 de janeiro de 2009, que institui a Política Estadual de Apoio ao Cooperativismo. Essa política, conforme o Artigo 1º, parágrafos de I a IV, visa: “Incentivar a atividade cooperativista e contribuir para o seu desenvolvimento no Estado da Bahia; fomentar e apoiar a constituição, a consolidação e a expansão de cooperativas no Estado; estimular a captação e a disponibilização de 67 recursos financeiros destinados a apoiar ações desta Política; apoiar técnica e operacionalmente o cooperativismo no Estado, promovendo as parcerias necessárias ao seu desenvolvimento.” Como parte dessa política, foi criado o Conselho Estadual de Cooperativismo (CECOOP), “um órgão de natureza consultiva e deliberativa, com a finalidade de planejar e avaliar as ações desenvolvidas no âmbito da Política Estadual de Apoio ao Cooperativismo”, como consta no Artigo 11. Apesar do objetivo dessa política, entretanto, verifica-se falha no seu estabelecimento, uma vez que, embora enuncie a mobilização social como um dos eixos primordiais para a criação das organizações, esta estratégia ainda não alcança cobertura para várias localidades baianas, incluindo o Vale do Copioba. Em todo o Vale, levantou-se o registro de 54 organizações sociais, entre associações, sindicatos e cooperativas. Destas, 24 eram associações e cooperativas, que compreendem as instituições legais aptas a fazer o pedido de Indicação Geográfica (BRASIL, 1996). Todavia, apenas 11 se mantinham ativas, com reuniões periódicas, estatuto, registro municipal, e utilização de máquinas e de recursos de uso comum a todos os associados e cooperados. Dentre os municípios, a maior participação em cooperativas e associações foi localizada no município de Nazaré (50,5%), seguido de São Felipe (46,5%) – em Maragojipe, a participação foi mínima (3,0%). Entre as organizações identificadas, destacaram-se a Cooperativa de Produtores Rurais de São Felipe e a Associação de Produtores Rurais da Fazenda Santa Sofia, em Nazaré. Ambas evidenciaram atuação efetiva entre os associados/cooperados e órgãos responsáveis, e contavam com infraestrutura, sede, trator, arado, caminhão, entre outros, de uso comum entre os associados, 68 com pagamento apenas de uma pequena taxa que correspondia a 7% do valor real do uso do equipamento. Ao explanar sobre o Brasil rural e os engajamentos em politicas sindicais, Coradini (2007) refere que o menor engajamento dos agricultores em organizações sociais de trabalho em muito se atrela ao desconhecimento, ao pouco esclarecimento, e mesmo, certo medo, posto que, para pessoas que não possuem instrução/estudo, fazer este percurso também significa o enfrentamento do novo. Assim, muitos recuam desta participação e mobilização, ainda que ela possa significar a busca de seus direitos. Para Silva (1999), a organização social ainda é um dos eixos de maior fragilidade na área rural, constituindo uma temática que anda a passos curtos (SILVA, 1999). Para Eid (2010), uma das causas dessa “morosidade”, de certo modo, resulta de políticas públicas assistencialistas, muito comuns nos últimos anos, no Brasil. Autores como Abramovay (1998) e Eid (2010) consideram haver um direcionamento errôneo das políticas públicas no Brasil, historiando que, ainda nos anos 80, em virtude do desemprego e da exclusão sem precedentes, existiam políticas denominadas de caridade, que não buscavam a economia solidária, mas sim minimizar as formações sindicais contrárias à atuação do governo. Nesse âmbito, os estudiosos têm questionado este modelo e como também analisam se as políticas recentes não estariam seguindo o mesmo padrão. No Vale do Copioba, praticamente todos os produtores eram beneficiados com algum programa social, de cunho assistencialista. Assim, os enfrentamentos em busca de melhores condições de trabalho e de políticas públicas mais atuantes eram inibidos, pois prevalecia uma ideia de acomodação. Nesta direção, pode-se conceber a volta de uma política da caridade, deixando de lado as organizações sociais do trabalho e a economia solidária. 69 No caso dos atores em estudo, 91,3% declararam receber benefício de algum programa social, sendo que 87,6% recebiam o programa Bolsa Família (BF). Esta informação, quando correlacionada com a escolaridade, apresentou associação positiva entre níveis baixos de escolaridade/renda e a participação em programas sociais (p<0,001), sendo então plausível o objetivo do programa quanto ao atendimento de pessoas mais vulneráveis na sociedade, conforme preconizado. No entanto, é de conhecimento comum à compreensão ou mesmo um comportamento “equivocado”, por parte de alguns produtores, quanto ao auxílio prestado pelos programas sociais – que visam à complementação da renda (LAVINAS e VARSANO, 1997), posto que muitos deles, após serem beneficiados, acabam por reduzir seu ritmo de trabalho, quando não abandonam seus empregos. Na coletividade em estudo, testes de associação entre a jornada de trabalho e o recebimento de benefício de programas sociais (p<0,001), revelaram menor carga horária de trabalho para os beneficiários, em 77% dos casos. Deste modo, evidencia-se que os programas, na sua implementação real, fogem ao seu propósito - melhorar as condições de vida, com um auxílio financeiro à população, uma vez que muitos beneficiários passam a conceber os programas como substitutos de renda, permanecendo em níveis de renda iguais ou até piores aos que estavam anteriormente à adesão aos programas. Outro programa voltado ao incentivo no meio rural é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que, em suas diversas categorias, oferece crédito para produtores familiares, como forma de incentivo, no intuito de melhorar condições de produção (BRASIL, 1996). No Vale do Copioba, diversos produtores já usufruíram dessa linha de crédito, buscando modernizar as instalações das casas de farinha. Em termos comparativos, entre os três municípios pesquisados, São Felipe se destacou na utilização deste incentivo, apresentando a maior parte das casas de farinha com 70 instalações mais modernas. Nazaré, por ter as casa de farinha, mais antigas, foi o município que apresentou processo de modernização mais recente, com a aquisição de novos equipamentos, sobretudo forno elétrico (52,1%), motor para moagem da mandioca (48,0%) – nos demais municípios, as casas de farinha já foram criadas com essas novas tecnologias. Esse incentivo e modernização, entretanto, chegavam de forma fragmentada, visto que grande parte dos produtores relatou não se sentir preparado para utilizar as novas tecnologias e 90,2% informaram nunca ter participado de qualquer tipo de curso ou outra atividade formativa. Como exemplo, uma das associações adquiriu um trator e uma máquina de arar a terra, contudo, os trabalhadores não receberam treinamento para a utilização, o que gerou um aumento nos gastos, uma vez que, necessitavam contratar uma pessoa para dirigir/manusear os equipamentos. Além disso, quando o trator quebrou, não havia um planejamento para manutenção e tampouco recursos para o reparo. Deste modo, os equipamentos adquiridos se tornaram sucatas, aguardando alguma nova política assistencialista para conserto, visto que os produtores não possuíam organização social suficiente para viabilizá-lo, o que em muito beneficiaria as comunidades. Este exemplo deixa evidente o despreparo dos produtores quando da aquisição e manutenção de novas tecnologias e a fragilidade da mobilização social, no sentido de buscar capacitações para os produtores, bem como melhorias em prol da comunidade. Entre os produtores do Vale do Copioba, um maior nível de interação com alguns órgãos públicos foi notado, o que se dava, na maioria das vezes, por meio das organizações sociais. Nesse caso, relata-se a adoção de variedades de mandioca desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA): a grande maioria (64,8%) dos produtores utilizava as variedades Corrente e Cigana Preta, em associação, sendo que a segunda, da Embrapa, era 71 muito aceita, pois o uso combinado resultava em farinha de melhor qualidade e maior rendimento. 4 CONCLUSÕES Este estudo teve por propósito caracterizar os atores sociais envolvidos na produção de farinha no Vale do Copioba-BA, na perspectiva social e do trabalho. Nessa região, o trabalho com a farinha de mandioca envolveu centenas pessoas, sobretudo homens, em um contexto de agricultura familiar, revelando a sua importância como atividade econômica para manutenção de diversas famílias, destacando-se o fato de muitas não possuírem outra fonte de renda e confirmarem vulnerabilidade social pelo recebimento de benefício governamental. Nessa perspectiva, evidenciou-se, ao mesmo tempo, a tradição e precariedade no trabalho. Este, na maioria dos casos, envolvia várias gerações, mas acontecia de forma rústica, em condições e com jornadas desgastantes, envolvendo ainda o trabalho infantil. Quanto à participação em organizações sociais de trabalho, observouse um baixo engajamento dos participantes, quadro que limita o alcance de melhores condições de trabalho e apoio técnico para o trabalho no campo, bem como a constituição do processo de Indicação Geográfica para a farinha. Deste modo, o estudo sinaliza a necessidade de programas para fortalecer essa cadeia produtiva, sobretudo a sua organização social, visando contribuir para o pedido de IG e o desenvolvimento local. 72 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e serviço público: novos desafios para a extensão rural. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 15, n. 1, p. 137-157, 1998. ABRAMOVAY, R. Ruralidade e desenvolvimento territorial. Gazeta mercantil, v. 15, n. 04, p. 01, 2001. ALMEIDA, W. F. Trabalho agrícola e na relação com saúde/doença. In: Patologia do trabalho (R. Mendes, org.), Editora Atheneu, Rio de Janeiro, p.487-516, 1995. ANDRADE JUNIOR, José Roberto Porto de. A realidade do trabalho rural canavieiro ea necessidade de políticas públicas compensatórias: um diálogo sobre as condições de trabalho e a mecanização da colheita da cana. Proceedings of the 1nd Seminário de Saúde do Trabalhador de Franca, 2010. 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Trata-se de estudo exploratório, de natureza quantitativa, realizado junto a 72 casas de farinha dessa região. Para avaliação das casas de farinha utilizou-se a ficha de verificação proposta pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), contemplando cinco blocos – situação e condições da edificação; equipamentos e utensílios; pessoal na área de produção/manipulação/venda; matérias-prima/ produtos expostos à venda; fluxo de produção/manipulação/venda e controle de qualidade. Os resultados obtidos mostraram que no conjunto de unidades avaliadas, nenhuma alcançou pontuação superior a 60% de adequação, limite abaixo do qual se caracteriza condição higiênico-sanitária deficiente. Todos os blocos avaliados e para o conjunto de casas de farinha investigadas, os resultados traduziram uma grande preocupação na perspectiva da saúde pública, haja vista a classificação deficiente observada. O estudo evidenciou problemas de segurança de alimentos em uma cadeia produtiva tradicional na região, todavia, acredita-se que mudanças de cunho simples já seriam possíveis e trariam retornos positivos ao perfil higiênico-sanitário das casas de farinha, com contribuições para a sociedade. Palavras- chave: agricultura familiar, farinha de mandioca, higiene de alimentos, Boas Práticas de Produção. 79 ABSTRACT This study aimed to evaluate the hygienic-sanitary profile of flour mills from Copioba Valley, Bahia. This is an exploratory study, quantitative, performed with 72 flour mills in this region. For the evaluation of flour mills it was used the checklist, proposed by the Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), comprising five groups - state and conditions of the construction, equipment and utensils; personal in the production area / handling / sale; raw materials / products displayed for sale; production flow / handling / sales and quality control. The results showed in the group of units evaluated that none has achieved score higher than 60% of the requirement, below the recommended limit which characterized poor hygienic and sanitary conditions. All blocks evaluated and for the group of flour mills investigated, the results translated a major concern in public health perspective, given the poor rating observed. The study showed problems of food safety in a traditional supply chain in the region, however, it is believed that simple changes would be possible and that changes would bring positive returns to the hygienicsanitary profile of flour mills, with contributions to society. Keywords: Family Farming, copioba flour, food hygiene, good manufacturing practices. 80 1 INTRODUÇÃO No Brasil, historicamente, o cultivo e o uso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) na alimentação associam-se à cultura indígena, com registros desde o período do descobrimento. Assim, produtos como a raiz cozida, a farinha e a tapioca foram gradativamente incorporados aos hábitos alimentares dos portugueses e, posteriormente, integrados também à alimentação dos negros escravizados, passando a compor um dos elementos de identidade da cultura alimentar brasileira (LEAL, 1998; CASCUDO, 2004). No Nordeste brasileiro, a maior parte das raízes de mandioca é transformada em farinha de mesa comum, sendo a sua cadeia de produção caracterizada pelo uso de mão de obra familiar, em unidades denominadas “casas de farinha”, registrando-se centenas dessas unidades produtoras. Segundo Cardoso et al. (2001), a maioria das casas de farinha desenvolve atividades seguindo a tradição, de forma artesanal apresentando estrutura bastante simples, muitas vezes não dispondo de condições físico-estruturais adequadas para o bom funcionamento e a obtenção de produtos com qualidade assegurada. Embora a produção da farinha de mandioca empregue tecnologia simples, cuidados no processo são requeridos, tais como seleção adequada da matéria-prima, higiene e procedimentos corretos para manuseio durante as etapas de produção, a fim de garantir qualidade ao produto final. Entretanto, no âmbito da produção familiar da farinha, no Nordeste, alguns estudos têm levantado preocupação na perspectiva sanitária (CARDOSO et al., 2001; SANTOS, 2001). Nessa direção, considera-se que as Boas Práticas de Fabricação (BPF) compreendem uma das ferramentas mais empregadas para a melhoria das condições sanitárias na produção de alimentos e representam uma das mais importantes aliadas para o alcance de níveis adequados de segurança do alimento, contribuindo significativamente para assegurar a qualidade do produto 81 final. Além da redução de riscos, as BPF também possibilitam um ambiente de trabalho mais eficiente e organizado, otimizando todo o processo produtivo. No Recôncavo da Bahia, a tradição da produção e do comércio de farinha de mandioca mantém-se viva, destacando-se a produção da farinha denominada Copioba, famosa e reconhecida popularmente no Estado por ser um produto de granulação fina e crocante, de tipo superior em relação às outras farinhas de mandioca (CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008). Dada a perspectiva histórica e geográfica de produção, que envolve um saber fazer-fazer local, bem como as características de qualidade, identidade e notoriedade, considera-se que a farinha de mandioca tipo copioba conforma requisitos permissíveis ao pedido de Indicação Geográfica (IG). No contexto brasileiro, as IG são descritas como uma forma de qualificação para produtos e serviços atribuídos por características intrínsecas e próprias, que os vinculam à sua região produtora de origem, sendo as qualidades específicas relacionadas ao meio ambiente (geografia, clima, solo), ou pelo saber fazer tradicional, transmitido ao longo dos anos, de uma geração para outra, em determinada cultura (BRASIL, 1996; BRANCO, 2012). Nessa perspectiva, salienta-se que os produtos com potencial de pedido de IG devem adequar-se à legislação vigente, buscando a organização dos produtores, a forma de condução do processo produtivo, a uniformização da produção sob critérios de qualidade, o marketing local e regional e a articulação dos processos de comercialização (BRANCO et al., 2013). Considerando a notoriedade da farinha mandioca tipo Copioba, o seu potencial para IG e a insuficiência de estudos que descrevam a higiene do seu processo de produção, este estudo teve por objetivo avaliar o perfil higiênicosanitário de casas de farinha do Vale do Copioba-BA, buscando contribuir para o fortalecimento de ações com vistas à promoção da segurança de alimentos nessa cadeia produtiva, bem como para o processo de IG. 82 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de estudo exploratório, de natureza quantitativa, realizado junto a comunidades de produtores de farinha do Vale do Copioba, na Bahia - região que engloba os municípios de Nazaré, São Felipe e Maragojipe, no período de novembro de 2012 a novembro de 2013, como parte do projeto “Qualidade, identidade e notoriedade da farinha de mandioca de Nazaré das Farinhas-BA: uma contribuição à Indicação Geográfica”. A partir da identificação dos produtores, foi procedido contato com os responsáveis pelas unidades de produção, alcançando-se a participação de 72 casas de farinha. Para a avaliação das condições higiênicas da produção foi aplicada a “Ficha de Inspeção de Estabelecimentos na Área de Alimentos” (FIEAA) (Anexo A), sugerida pelo Programa Alimentos Seguros, segmento indústria (PASINDÚSTRIA), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI, 2000). De acordo com o PAS-INDÚSTRIA, esta Ficha contempla a maioria dos itens requeridos para garantir o processamento seguro dos alimentos e resulta em uma classificação das unidades, quanto ao percentual de atendimento às recomendações. A FIEAA é organizada em quatro partes: A - Identificação; B – Avaliação; C - Pontuação do estabelecimento; D - Registro de observações. A parte A, Identificação – contempla a identificação do estabelecimento e o registro de informações complementares específicas para a pesquisa. No que concerne à parte B - Avaliação - é destinada a registrar as informações relacionadas à avaliação propriamente dita, subdivididas em cinco blocos. O bloco 1, referente à situação e condições de edificação, compreende nove dimensões, distribuídas em 22 questões (22 indicadores): 1. Piso (2); 2. Teto e forro (2); 3. Paredes e divisórias (2); 4. Portas e janelas (4); 5. Instalações 83 sanitárias (2); 6. Vestiários (2); 7. Lavatórios na área de manipulação (3); 8. Caixa d’agua e instalações hidráulicas (2); e 9. Destino adequado dos resíduos (3). O bloco 2, relativo aos equipamentos e utensílios, organiza-se em cinco dimensões, com 10 questões: 1. Equipamentos e maquinários (2); 2. Utensílios (2), 3. Móveis (2); 4. Equipamentos para proteção e conservação sob refrigeração (2); e 5. Limpeza e desinfecção (2). Com relação ao bloco 3, avalia o pessoal na área de produção, manipulação e venda em duas dimensões: 1. Roupas/vestimentas e 2. Estado de saúde do trabalhador, compreendendo 4 indicadores na primeira dimensão e 2 na segunda, totalizando 6 questões. O bloco 4, referente às matérias-primas e aos produtos expostos à venda, abarca uma única dimensão com 4 indicadores. No bloco 5, estão organizadas quatro dimensões (, contemplando 14 questões distribuídos da seguinte forma: Fluxo adequado (2); Proteção contra contaminação (2); Armazenamento adequado (4); e Empacotamento e identificação adequada do produto acabado/produto exposto a venda (6). Cada um dos blocos foi pontuado com peso específico para compor a nota total, conforme explicitado na Tabela 1. Tabela 1: Avaliação da FIEA - Parte B: Pesos específicos por bloco de avaliação. BLOCOS PESOS ESPECÍFICOS 1 – Situação e condições de edificação P1 = 10 2 – Equipamentos e utensílios P2 = 15 3 – Pessoal na área de produção, manipulação e venda P3 = 25 4 – Matérias-primas e produtos expostos à venda P4 = 20 5 – Fluxo de produção, manipulação, venda e controle de P5 = 30 qualidade Fonte: SENAI, 2000. 84 Para calcular a nota obtida em cada bloco, utilizou-se uma constante específica (K) para o bloco. Esse mecanismo foi utilizado, de modo a não penalizar o estabelecimento nos casos em que determinados itens fossem considerados não aplicáveis (“NA”). Os valores das constantes estão descritos abaixo: Blocos de constantes 1- Situação e condições da edificação K1=60 2- Equipamentos e utensílios K2= 50 3- Pessoal na área de produção / manipulação / venda K3= 32 4- Matérias- primas/ produtos expostos à venda K4=24 5- Fluxo de produção/manipulação/venda e controle de qualidade K5= 53 A Parte C - Pontuação de cada bloco - foi calculada de acordo com a seguinte fórmula: PB = ∑S x P / K-∑NA , onde: PB = nota do bloco ∑S = somatório dos itens do bloco que receberam classificação adequada ∑NA = somatório dos itens do bloco considerados como não aplicáveis K = constante do bloco P = peso específico do bloco A nota total de cada casa de farinha foi calculada pela somatória das notas de cada bloco, ou seja: NT = PB1 + PB2 + PB3 + PB4 + PB5. Com base nesta nota, procedeu-se o preenchimento da Parte C - Classificação, conforme estabelecido pelo PAS-Indústria (SENAI, 2000) e descrito na Tabela 2. 85 Tabela 2. Critério de classificação das unidades de processamento da farinha de mandioca, de acordo com a nota obtida. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013. PONTUAÇÕES CLASSIFICAÇÕES 91 – 100 EXCELENTE (E) 81 – 90 BOM (B) 61 – 80 REGULAR (R) Até 60 DEFICIENTE (D) Fonte: SENAI, 2000. Adicionalmente, na parte D - Registro de observações - foi registrada a variação de temperatura de torração da farinha, com termômetro infravermelho, marca “ScamTemp”. Para medição, estabeleceu-se ponto imaginário situado na metade do raio da circunferência dos fornos, com monitoramento durante período de 15 minutos, registrando-se valores máximo e mínimo, com posterior cálculo da média. 86 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliação das Unidades de Processamento Os resultados da avaliação das casas de farinhas encontram-se apresentados na Tabela 3 e serão discutidos em tópicos específicos. Tabela 3. Avaliação das casas de farinha quando a pontuação total, a média de pontos obtidos, a amplitude e % de adequação. Vale do Copioba, Bahia, 20122013. BLOCOS 1 – Situação e condições de Pontuação Média Menor Maior % de Máxima (S) Nota Nota Adequação 2,97 2,10 4,90 29,72 0 2,40 4,54 0 8,33 15,14 6,66 10,0 45,42 4,52 12,30 30,34 10 edificação 2 – Equipamentos e utensílios (0,56) 15 0,68 (0,44) 3 – Pessoal na área de 25 produção/manipulação/venda 4 – Matérias–primas / produtos (3,49) 20 expostos à venda 5 – Fluxo de 3,78 9,08 (1,49) 30 produção/manipulação/ venda e 9,10 (2,89) controle de qualidade Situação e condições da edificação Para o bloco 1, verificou-se baixo atendimento aos requisitos de construção das unidades, o que descreve condições de edificação e instalações insatisfatórias para o conjunto de casas de farinha investigadas. Uma das justificativas para o resultado observado refere-se ao fato da maior parte das unidades funcionarem em imóveis adaptados, não projetados originalmente para a atividade ou que foram reformados de modo inadequado. 87 Entre os itens identificados como críticos estão: a inexistência de estrutura física completa, incluindo a ausência de paredes ou divisórias, portas, janelas, instalações sanitárias e a insuficiência nas instalações de tetos e forros (Figura 1). O índice de adequação do bloco não chegou a alcançar um terço do máximo possível, sinalizando a necessidade de melhorias estruturais nas unidades de beneficiamento. Figura 1 – Instalações de casas de farinha do Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013. A partir das visitas realizadas, evidenciou-se que as casas de farinha possuíam uma infraestrutura precária. O piso, na grande maioria dos casos (70%), era de chão batido, sendo os demais compostos de um misto de cimento e chão batido (20%) e apenas 10% de cimento. Com relação ao teto (telhado), as casas de farinha apresentaram condição também deficitária, uma vez que a cobertura era feita com telhas de barro, sustentadas por caibros e ripas de madeira, porém, sem forro. Esta estrutura, embora permita proteção razoável para o produto, não favorece a limpeza, caracterizando uma situação de vulnerabilidade ao alimento, uma vez que há acúmulo de pó da farinha e a superfície tornando-se habitat de diversos insetos. 88 Uma vez que a maioria das unidades avaliadas não possuía paredes e/ou qualquer barreira física que as delimitassem, a presença de animais - cães, gatos, aves, suínos - na parte interna e externa das unidades era constante, fato que também foi relatado por Bonfim et al. (2013), que evidenciaram animais em 100% das casas de farinha avaliadas. Dentre as casas de farinha do Vale do Copioba, apenas uma (1,4%) dispunha de água potável, o que revela um cenário distante das recomendações para a produção de alimentos (BRASIL, 2002). Na maior parte (98,6%) das unidades, a água utilizada na higienização e no processamento ficava armazenada em toneis fechados, evitando assim a contaminação por materiais físicos e químicos, bem como a disseminação do Aedes aegypti. Entretanto, para 87,8% das unidades, a água provinha de nascentes localizadas dentro da propriedade em que se situava a casa de farinha, ou em propriedades vizinhas. Ademais, 100% das unidades não possuíam instalações sanitárias (banheiros). Tendo em vista que, em geral, as casas de farinham situavam-se próximas às residências dos produtores, essa foi a principal justificativa apresentada para não haver instalações sanitárias nas unidades. Em estudos semelhantes, Oliveira e Rebouças (2008), na Bahia, e Bonfim (2013), no Maranhão, registraram a mesma realidade e igual justificativa. Este resultado mostra-se em desacordo com a legislação, que estabelece a presença de sanitários organizados, limpos e em adequado estado de conservação, munidos de produtos destinados à higiene pessoal (BRASIL, 2002). Outro fato que cabe salientar foi a forma de descarte da manipueira – o líquido resultante da prensagem da massa da mandioca, que era lançada diretamente no solo, sem qualquer tratamento. Santos (2008) avaliou a contaminação ambiental decorrente do descarte direto da manipueira e observou que, no leito em que era descartada, praticamente todas as plantas não se desenvolviam ou morriam, demonstrando, assim, que o teor de ácido cianídrico 89 nesse resíduo é importante contaminante ambiental, devendo ser direcionado a outros fins e não disposto diretamente no solo. Santos et al. (2009), Oliveira e Rebouças (2008) e Bonfim (2013) descrevem resultados similares quanto ao descarte da manipueira e, ainda, considerando a manutenção desta prática, sinalizam duas possibilidades: falta de conhecimento dos trabalhadores em relação à contaminação oriunda da manipueira e o descaso para questões ambientais. Quanto aos resíduos sólidos oriundos do processamento das raízes de mandioca (casca e entrecasca), eram amontoados em pilhas dentro das unidades, podendo, posteriormente, terem duas destinações: serem colocados em plantações (44,4%) e/ou serem utilizados como ração animal (46,6%). A permanência desse resíduo nas unidades poderia durar até 48h, como relatado pelos produtores, até o uso final, o que favorece o aparecimento de pragas e insetos. No Bloco 1, a única variável que alcançou maior adequação foi a condição de acesso, verificando-se que 94,5% das casas de farinha apresentavam acesso adequado, não comum a outros usos (habitação). Face ao conjunto de inadequações estruturais identificadas, os produtores alegaram não haver programas específicos que os incentivassem a realizar melhorias estruturais, o que expressa a demanda de incentivos por parte dos órgãos públicos, de modo a transpor esse quadro. Como alternativas para reduzir inadequações neste bloco, pode-se sugerir a construção de uma meia parede, o que delimitaria a estrutura da casa de farinha. Como estrutura complementar para fechar o espaço vazio entre a meia parede e o teto, se usaria uma tela milimetrada, o que evitaria a entrada de pragas e insetos, bem como ajudaria na exaustão do calor, o que justificaria a não utilização de uma parede completa e sim da meia parede. 90 Equipamentos e utensílios Para o Bloco 2, equipamentos e utensílios, observou-se ser este o de menor pontuação entre os demais, resultado que se associa a alguns pontos específicos, destacando-se o fato dos equipamentos e utensílios das unidades localizarem-se em áreas comuns a todo o processo de fabricação, não atendendo às normas vigentes, além da precária condição de conservação e de manipulação. Os estabelecimentos foram marcados pela rusticidade dos equipamentos e utensílios utilizados, posto que, em sua maioria, tinham fabricação em madeira, material que dificulta o processo de higienização (Figura 2). Seguindo a tradição rural, observou-se o uso da madeira para o fabrico de “cochos”, “gamelas”, pás para o sistema mecanizado e/ou para o manual, rodos para o revolvimento da farinha, dentre outros utensílios. Freitas (2011) aponta essa prática como de risco para a contaminação dos alimentos produzidos, uma vez que os utensílios ficam expostos a sujidades e configuram abrigo de pragas, favorecendo a contaminação física e biológica. Figura 2 – Rusticidade e estado de conservação dos equipamentos utilizados na produção da farinha de Copioba e o reaproveitamento de instalações domésticas para a produção da farinha. Vale do Copioba-BA, 2012-2013. 91 Ainda, constituiu prática comum nas casas de farinha do Vale da Copioba o reaproveitamento de utensílios “da casa” (Figura 2), o que também foi observado nas casas de farinha pesquisadas por Bonfim et al. (2013), no Maranhão. Assim, foi possível evidenciar a presença de utensílios domésticos reaproveitados, como banheiras ou de caixas internas de geladeiras, utilizadas para depósito da massa e/ou da farinha pronta. Entre os equipamentos utilizados, inicialmente, cita-se o ralador de cilindro, conhecido também como “bola”, presente em todas das casas de farinha estudadas, o que indica o desuso da trituração de forma manual. De acordo com Bonfim et al. (2013) e Denardin et al. (2009), esse cenário de mudança justifica-se, dado que o processamento manual demanda muito tempo – assim, no intuito de otimizá-lo, os produtores passaram a utilizar o ralador mecânico. A introdução desta tecnologia, embora tenha facilitado o processamento, ainda requer aprimoramentos de uso, uma vez que tem sido associado com acidentes de trabalho e mutilações, como relata Denardin et al. (2009). Quanto aos requisitos de higiene, ressalta-se a necessidade de melhorias do procedimento de limpeza do aparelho, nas etapas pré e pós-uso, uma vez que o mesmo não constitui rotina e, com isso, resulta na formação de incrustações no equipamento, conformando fontes de contaminação. No que se refere à prensagem da massa, em 75% das casas de farinha pesquisadas, acontecia em prensas artesanais, fabricadas em madeiras, com um sistema de parafuso e rosca sem fim, com o auxílio de um macaco hidráulico (Figura 3), sendo nas demais o processo realizado em prensas hidráulicas. Durante a prensagem, a massa ficava disposta em sacos de ráfia, tanto nos sistemas mais modernos como nos mais rústicos, podendo permanecer de 2 a 24 horas. Sant’anna e Miranda (2004) apontam essa como uma das etapas que eleva a insegurança com relação à qualidade do alimento, haja vista que está sujeito a 92 diversas contaminações, em virtude dos sacos de ráfia utilizados serem reaproveitados e, muitas vezes, não passarem por processos de limpeza. Figura 3 – Modelos de prensas artesanais utilizadas no Vale do Copioba-BA, 2012-2013. Na produção da farinha, um dos principais equipamentos refere-se ao forno, que, em sua grande maioria, caracteriza-se por uma estrutura de alvenaria, barro e/ou cimento, com uma chapa de ferro plana, sobre a qual a farinha é revolvida por um conjunto de pás de movimento planetário acionadas por um motor a combustão, ou um motor elétrico – no sistema mecânico, ou por auxílio de rodos ou pás de madeira – no sistema manual. Nas casas de farinha visitadas, contudo, independente do sistema de torração adotado, não havia esquemas de limpeza nem de manutenção preventiva dos fornos. Em todas as unidades, a alimentação dos fornos era feita com madeira (lenha) ou aparas de madeira como fonte de energia. Este material, normalmente armazenado ou empilhado nos arredores das casas de farinha, constituía abrigo para pragas, insetos e outros animais. Observa-se ainda que, o uso desse sistema de alimentação, de forma não controlada, contribui para amplas variações na temperatura de torração da farinha, o que, conforme Freitas (2011), prejudica a 93 sua qualidade, no que se refere à não uniformidade da crocância do produto obtido. Segundo Brandão et al. (2011), os equipamentos podem servir de incubadores para o crescimento de micro-organismos, quando empregadas temperaturas inadequadas, contudo, se mantidos na temperatura correta, podem prevenir a multiplicação bacteriana. Nas casas de farinha estudadas, a temperatura dos fornos variou de 89°C a 290°C, média de 100,5°C, registro fundamental na perspectiva da determinação da carga de micro-organismos presente na farinha de mandioca produzida. Almeida et al. (2005) conduziram um estudo com 26 amostras de farinhas coletadas de unidades tradicionais, em Alcântara-MA, e observaram que a incidência de bolores e leveduras, variou desde a não detecção até 87 UFC.g -1, o que indica que a temperatura empregada no processo de torração confere características de segurança ao produto, que se apresenta como substrato de baixo potencial para o desenvolvimento desses microrganismos. Deste modo, ressalta-se a importância do bom funcionamento dos fornos e do monitoramento da temperatura de torração, a fim de garantir a inocuidade da farinha processada. Em estudo conduzido por Sant’Anna (2002), com coleta de 35 amostras de farinha de mandioca procedentes de casas de farinha e comercializadas na feira livre de Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano, por sua vez, foram reportadas contagens de Bacillus cereus acima do permitido pela legislação vigente, para 45% das amostras, o que direcionou questões para o processo de torração – cujas temperaturas podem ter sido insuficientes para destruir os esporos deste microrganismo. No Vale do Copioba, a maioria das casas de farinha (87,8%) dispunha de um único forno, em grande parte (94,5%) motorizado, sendo o restante de funcionamento manual. No entanto, ainda existiam algumas casas de farinha que realizavam a torração na forma antiga, com utilização de três fornos (Figura 4). Os 94 três fornos possuíam temperaturas distintas, com funções diferentes: o primeiro, com temperatura média de 75°C, faz o processo de desidratação parcial, conhecido popularmente como “zanzar”; o segundo, com uma temperatura um pouco mais alta, média de 95°C, faz a desidratação por completo, processo também conhecido como “grolhar”; o terceiro e último forno, com temperatura média de 125°C, realiza a função de torração final da farinha, denominada simplesmente como “torrar” (LODY, 2013). A B Figura 4 – Sistemas de torração com forno manual (A) e motorizado (B) no Vale do Copioba-BA, 2012-2013. Em relação à etapa de peneiramento da farinha, em todas as unidades visitadas ocorria o processo manual. As peneiras eram construídas pelos próprios produtores, dotadas de uma estrutura de madeira na parte externa e tela em nylon, com crivos de acordo com a granulometria desejada, uma realidade também descrita por Santos (2009). Durante essa etapa, a fração remanescente nas peneiras - os aglomerados (caroço) - poderia ser novamente triturada e homogeneizada com a farinha pronta. Em 60,6% das casas de farinha do Vale do Copioba essa prática era adotada, enquanto 39,4% não a adotavam, uma vez que o acréscimo da fração afetava a granulometria e a qualidade do produto final. 95 De modo geral, as casas de farinha não apresentavam uma rotina ou um cronograma de limpeza. Operações de limpeza e desinfecção dos recipientes utilizados, principalmente após o uso, não foram observados em visitas in loco, sendo comum encontrá-los com resíduo de processamento anterior, ainda que 100% dos produtores relatassem a sua limpeza todos os dias, antes do início da produção. Os equipamentos eram limpos esporadicamente, com o auxílio de vassouras e de panos, sendo frequente a identificação de utensílios com restos de produções anteriores. De modo similar, os utensílios não possuíam uma rotina de limpeza e desinfecção e não eram armazenados em locais adequados e protegidos contra contaminação, conforme preconiza a legislação. Estes resultados concordam com relatos apresentados por Brandão et al. (2011), em estudo conduzido com 51 casas de farinha do agreste alagoano, que refere não haver preocupação maior dos produtores com relação aos aspectos de higiene pessoal, ambiental e de equipamentos. Além da condição de rusticidade, equipamentos, utensílios e ambientes revelaram não atendimento aos requisitos de higiene, apresentando considerável acúmulo de resíduos, exposição a contaminantes e animais, dentre outras sujidades, que configuram oportunidades de contaminação da farinha nas unidades de processamento, uma situação que deve ser corrigida. Assim, levando em consideração os aspectos higiênico-sanitários deste bloco, de modo geral, considera-se que as casas de farinha avaliadas encontravam-se em completa discordância com o preconizado, no que se refere aos equipamentos, utensílios e móveis. Como um contraponto à descrição feita, o Serviço Nacional de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), em trabalho de apoio aos pequenos produtores de farinha de mandioca, elaborou um manual com orientações relativas 96 à estrutura e aos equipamentos e utensílios nas casas de farinha, intitulado “Manual de Referência para Casas de Farinha” (SEBRAE, 2006). Nesta publicação, estão preconizados requisitos sanitários para os equipamentos, como a facilidade de limpeza, de modo a evitar o acúmulo de resíduos que favorecem o desenvolvimento de micro-organismos, bem como a recomendação para a adoção de práticas de manutenção preventiva, visando minimizar problemas relacionados ao desgaste desses bens, uma referência que contribui para consulta e atividades educativas junto aos produtores. Para o bloco em questão, recomenda-se a manutenção periódica dos equipamentos em utilização, o que resolveria quase todos os problemas citados previamente, atentando-se, ainda, para evitar a adaptação de objetos domésticos como utensílios nas casas de farinha. Pessoal na área de produção, manipulação e venda No Bloco 3, o baixo desempenho foi atrelado à condição insatisfatória das unidades produtoras, em virtude da insuficiência das condições dos manipuladores para o correto manuseio do produto, tanto no processamento quanto no pósprocessamento, e da falta de qualificação, quanto à adoção de práticas higiênicas no processo produtivo. Nas unidades visitadas, muitas vezes, os procedimentos higiênicos a serem adotados pelos manipuladores praticamente inexistiam. O uso de itens do vestuário, bem como de equipamentos de proteção individual, incluindo luvas, toucas e uniforme na área de produção não foram observados. O vestuário utilizado pelos manipuladores das casas de farinha, via de regra, caracterizava-se por roupas de uso diário, em estado de conservação ruim, muitas desgastadas, rasgadas e/ou furadas, que tanto favoreciam a contaminação dos produtos quanto expunham os manipuladores a riscos de acidentes de trabalho. Questões relativas ao asseio pessoal demandaram atenção, ainda, haja vista a grande frequência de manipuladores que 97 apresentavam unhas grandes e sujas, barba, e diversos tipos de lesões cutâneas. Em adição, foram observados hábitos inadequados durante o processamento, como cuspir e fumar na área de produção. Segundo Oliveira e Rebouças (2008), nas unidades, é fato comum a não utilização de aventais fechados ou macacões de cor clara, sapatos fechados em bom estado de conservação e rigorosamente limpos. Usualmente, os manipuladores utilizam adornos, esmaltes nas unhas e não observam hábitos higiênicos adequados, o que concorre para comprometer a qualidade dos produtos, por aumentar os riscos de contaminação. Nesse sentido, enfatiza-se a grande importância ao manipulador, dentro do processo produtivo, uma vez a sua atuação apresenta relação estreita com o sistema de proteção dos alimentos (PANETTA, 1998). Rebouças et al. (2011), ao realizarem o diagnóstico microbiológico e higiênico-sanitário dos locais de beneficiamento da mandioca, em 13 municípios da região Sudoeste da Bahia, verificaram que os manipuladores não apresentavam o mínimo de cuidado com higiene pessoal (unhas, braços, mãos, cabelos). Também foi constatado que eles possuíam inclusive o hábito de fumar e consumir alimentos e bebidas na área de processamento, que quase sempre se apresenta suja com restos alimentares e com resíduos da produção da farinha. Em seu estudo no Maranhão, Bonfim et al (2013) observaram que os pontos mais problemáticos concernentes ao pessoal na área de produção, manipulação e venda incluíram: a não utilização de uniformes, de luvas e de toucas; a presença de adornos; manipuladores com unhas sujas ou compridas; e a não periodicidade na realização dos exames médicos. Segundo Silva Júnior (2005), é importante o cumprimento de medidas de controle quanto à higiene pessoal dos manipuladores, durante o manuseio e processamento dos alimentos, de modo a evitar a contaminação cruzada do meio, 98 dos utensílios e dos equipamentos, contribuindo assim para a redução de contaminação do produto final e a oferta de alimentos seguros. Nas casas de farinha avaliadas, dado que não havia sistema de água encanada, não existiam lavatórios de mãos, nem os produtos de limpeza para mãos. Nesse contexto, resultados reportados por Bonfim et al. (2013) e por Denardin et al. (2009) corroboram com os achados no presente estudo, posto que esses autores observaram um grande percentual - 100% e 67%, respectivamente, de casas de farinha sem lavatórios de mãos. Em relação aos requisitos de saúde do trabalhador, no Vale do Copioba, verificou-se a não realização de exames periódicos para a totalidade dos entrevistados, quadro que concorda com o do estudo de Bonfim et al. (2013), no qual 100% dos produtores não realizavam exames períodos, e o de Denardin et al. (2009), que registra 89% para este indicador. Conforme explicitam Chaves et al. (2006), os manipuladores compreendem importante fonte ou causa de contaminação dos alimentos, em virtude do contato manual e corporal e das práticas que realizam - assim, devem estar cientes do seu papel durante todo o preparo e distribuição do alimento. Em contraste ao exposto e apesar da notoriedade da farinha do Vale do Copioba, observou-se a inexistência de qualquer programa de formação em segurança de alimentos pontual ou em educação continuada, para os envolvidos no trabalho das casas de farinhas pesquisadas. Estes resultados evidenciam uma desinformação por parte dos produtores, que utilizam apenas de conhecimentos empíricos adquiridos ao longo tempo, no processo de produção da farinha, um quadro de descaso ou de limitação na atuação dos órgãos de fomento ao produto. Nesse contexto, medidas básicas já amenizariam a situação explicitada, como a correta higienização das mãos e a utilização de roupas em condições de uso para o trabalho. Salienta-se, ainda, que um dos pontos mais importantes para 99 maior inocuidade no beneficiamento compreende a formação dos produtores, quanto à adoção das Boas Práticas de Produção, o que proporcionaria conhecimentos quanto à importância de cuidados básicos no processamento de alimentos. Matéria-prima e produtos expostos à venda No bloco 4, um dos aspectos de maior preocupação referiu-se aos cuidados com a matéria-prima - na maioria das unidades, as raízes de mandioca destinadas à farinha não eram lavadas e, após o descasque (raspagem), eram colocadas sobre lonas ou em toneis plásticos, que raramente passavam por processos de higienização. Deste modo, estas operações contribuíam de forma significativa para a contaminação da matéria-prima a ser processada. Outro aspecto importante constituiu o armazenamento do produto final – geralmente acondicionado em sacos de nylon de 50 kg, com revestimento plástico interno, o que reduz a chance de exposição do produto a contaminações externas. Todavia, os sacos eram dispostos diretamente sobre o chão, sem qualquer proteção, ou mesmo sobre lonas ou plásticos impróprios à finalidade. Nesse sentido, consideram-se práticas que contribuem para a redução tanto da inocuidade do produto quanto da sua vida de prateleira, podendo ocasionar riscos à saúde dos consumidores (CARVALHO, 2006). Em sua maioria (94,5%), os produtores comercializavam a farinha embalada a granel e sem qualquer identificação, em feiras da própria cidade ou de cidades próximas, bem como em pequenos comércios da região. Segundo a Instrução normativa n° 52, de 7 de novembro de 2011, do Ministério da Agricultura (BRASIL, 2011), as farinhas devem ser identificadas e as expressões devem ser colocadas em lugar de destaque e de fácil visualização, contendo, no mínimo, as informações relativas ao grupo e ao tipo do produto. Deste modo, levando em 100 consideração este enunciado, nenhuma das casas de farinha estudadas cumpriu com essa recomendação. Vale ressaltar, ainda, que esse bloco foi o que apresentou o maior percentual de adequação em relação à nota máxima do grupo (45,42%), o que se deve a dois indicadores, que mostraram atendimento ao preconizado. O primeiro relaciona-se às características sensoriais esperadas para o produto - uma vez que os consumidores de farinha prezam por um produto isento de odores ou sabores estranhos, a farinha possui uma peculiaridade que favorece a qualidade do produto final, e, o segundo, ao acondicionamento do produto no pós-preparo. Nessa direção, propõe-se a utilização de estrados para a estocagem dos sacos de farinhas prontos para comercialização, evitando que os mesmos permaneçam diretamente ao chão. Ainda, se faz necessário a criação de rótulos com informações básicas sobre o produto, como o local de produção da farinha, a composição, a presença ou ausência de corantes e a data de fabricação, o que já constituiria um diferencial. Fluxo de produção, manipulação, venda e controle de qualidade. No Bloco 5, apesar do baixo nível de desempenho registrado, observou-se um fluxo ordenado em forma de “U” para o processo produtivo, o que reduz a possibilidade de contaminação cruzada, dado o sentido linear da produção. As áreas de recebimento das raízes, descascamento e lavagem (área suja) não eram isoladas, fisicamente, da área de processamento - ralagem, prensagem, peneiração, torração e acondicionamento, contudo, não havia um cruzamento nem dos funcionários nem dos utensílios utilizados entre essas duas áreas, obedecendo ao fluxo, limitando assim contaminações do alimento em processamento. Entre os indicadores que mostraram inadequações, observou-se que a manipulação do produto final ocorria sem proteção - com exposição da farinha ao 101 manipulador e ao ambiente, e o uso de embalagem sem a identificação do produto. Ainda, não havia um controle com relação ao produto pósprocessamento, bem como análises laboratoriais que pudessem certificar as características finais. Em relação ao armazenamento do produto acabado, o nível de inadequação nas unidades pesquisadas alcançou a 94,5%. O tempo máximo de armazenamento do produto nas casas de farinha era de três dias e estas, em sua maioria, não dispunham de uma área específica para esse fim, sendo a farinha estocada nas residências dos produtores, diretamente no chão. Entre os veículos utilizados para escoamento do produto, verificaram-se: o carro de linha2 (40,54%), o caminhão e a caminhonete (ambos com 25%) e o carro de passeio (9,5%). A Resolução RDC nº 275/2002 (BRASIL, 2002) estabelece que o transporte/veículos utilizados no transporte de alimentos devem ser condizentes às finalidades de uso e atender ainda a alguns requisitos, como: apresentar cobertura para proteção de carga; possuir medidas que garantam a ausência de vetores e pragas urbanas ou qualquer evidência de sua presença como fezes, ninhos e outros; e apresentar-se limpos. Nesse aspecto, observa-se que essas exigências não eram cumpridas, para a totalidade das casas de farinha do Vale do Copioba. Como medidas para proporcionar maior segurança ao produto, neste bloco, sugere-se a utilização de luvas, no momento de manuseio final, bem como a necessidade de cuidados para evitar a sua exposição a contaminações ambientais, tanto durante a estocagem quanto no transporte. Quando possível, orienta-se a realização periódica de análise do produto, para se obter um perfil das suas características físicas, químicas e microbiológicas. 2 Veiculo que recebe um valor fixo por um determinado trajeto 102 Resultados da avaliação da aplicação da FIEAA Para o conjunto de unidades avaliadas, nenhuma alcançou índice de adequação superior a 60%, limite abaixo do qual se caracteriza condição higiênico-sanitária deficiente, o que concorda com outros estudos. Oliveira e Rebouças (2008), ao avaliarem o perfil higiênico sanitário das casas de farinha, na região sudoeste da Bahia, observaram que 100% das unidades investigadas foram classificadas como deficientes. Oliveira e Rebouças (2008) e Soares (2007) justificam esse cenário pelo fato dos trabalhadores das casas de farinha não atenderem às especificações técnicas de funcionamento estabelecidas pelos órgãos governamentais e não governamentais, de apoio à produção agropecuária/agrícola, dentre outros. Segundo os autores, entre os problemas identificados que concorreram para deficiências no perfil higiênico-sanitário, nas casas de farinha, foram incluídos: a não utilização ou a utilização inadequada de diversos equipamentos e utensílios; o descarte de forma errônea dos resíduos provenientes do processo produtivo; a não delimitação da área de produção e o descumprimento de etapas do processo produtivo - preparação das raízes, “raspagagem”, lavagem e acondicionamento das raízes para a trituração; e precárias condições de infraestrutura (OLIVEIRA e REBOUÇAS, 2008; SOARES, 2007). Nesse cenário, ainda que a farinha seja um alimento culturalmente estabelecido e de amplo uso, a classificação obtida para as casas de farinha pesquisadas no Vale da Copioba-BA expõe uma condição crítica, na perspectiva da segurança da produção de alimentos de interesse regional, no âmbito da agricultura familiar, bem como no atendimento dos requisitos para o pedido de Indicação Geográfica (BRASIL, 1996). Assim, a segurança de alimentos na produção da farinha de mandioca compreende um dos pontos de maior preocupação ao se estabelecer o pedido de Indicação Geográfica, necessitando, portanto, de medidas corretivas, a curto e a 103 médio prazo, visando à implantação das Boas Práticas de Produção, de modo a promover o princípio da inocuidade e fomentar o abastecimento e o desenvolvimento local. 4 CONCLUSÕES Os resultados evidenciaram, para os cinco diferentes blocos avaliados – instalações, equipamentos e utensílios, pessoal, manipulação, estocagem e distribuição - diversas condições de não atendimento quanto aos requisitos de higiene, na produção da farinha de mandioca, na região do Vale do Copioba, trazendo grande preocupação, na perspectiva da saúde pública, haja vista a classificação deficiente (D) para todas as unidades. Nessa direção, os achados reforçam a necessidade da adoção das Boas Práticas de Produção, considerando suas diferentes dimensões e componentes, em face de uma realidade de produção artesanal. Dentre esses componentes, reitera-se a urgência de adequação da estrutura física das casas de farinha e o desenvolvimento de atividades educativas para os produtores. A partir do diagnóstico realizado, acredita-se que mudanças de cunho simples já seriam possíveis e trariam retornos positivos ao perfil higiênico sanitário dessas unidades, com contribuições para a sociedade e, consequentemente, para o pedido de Indicação Geográfica da farinha de mandioca tipo Copioba. 104 5 AGRADECIMENTOS Esse estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB. Os autores agradecem aos produtores rurais, vinculados à produção de farinha de mandioca nos municípios de Nazaré, São Felipe e Maragojipe, que colaboraram com o preenchimento dos questionários e apoio nas atividades, e ao grupo de pesquisa, que cooperou para o desenvolvimento deste trabalho. 105 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, G. M. et al. Qualidade da farinha de mandioca produzida em Alcântara Maranhão. In:Congresso Brasileiro de Mandioca , 11, 2005, Campo Grande. Anais...Campo Grande: Secretaria de Ciência e Tecnologia do Mato Grosso do Sul, 2005. Disponível em: <http://www.suct.ms.gov.br/mandioca/trabalhos/pasta60.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2014. BONFIM, D.L.; DIAS, V.L.N.; KUROZAWA, L.E.; Perfil Higiênico-Sanitário Das Unidades De Processamento Da Farinha De Mandioca Em Municípios Da Microrregião De Imperatriz, MA. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, v.15, n.4, p.413-423, 2013. BRANCO, N. P. N. C. S.; SILVA, I. R. C.; ANDRADE, A. C. B.; CARDOSO, R. C. 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Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias – Fitotecnia / Fruticultura Tropical) – Universidade Federal da Bahia – Escola de Agronomia, Cruz das Almas, 2002. SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Boas Práticas de Fabricação, Diagnóstico Ambiental, Saúde, Segurança no Trabalho, Ergonomia e Projeto Arquitetônico. Manual de Referência para Casas de Farinha. Brasília – DF, 2006. 24p. 109 SENAI. DN. Guia para elaboração do Plano HACCP (Qualidade e Segurança Alimentar). Projeto HACCP Indústria. Convênio CNI/SENAI/SEBRAE. : geral. 2. Ed. Brasília, 2000. 301p. SILVA JÚNIOR, E.A. Manual de Controle Higiênico Sanitário em Alimentos. 8 ed. São Paulo: Varela, 2005. 480p. SOARES, Marisa Oliveira Santos. Sistema de Produção em Casas de Farinha: Uma leitura descritiva na Comunidade de Campinhos – Vitória da Conquista (BA). Ilhéus, 2007. 99p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente). Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Universidade Estadual de Santa Cruz. 110 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve por propósito caracterizar a cadeia produtiva da farinha de mandioca tipo Copioba, do Vale do Copioba, Bahia, na perspectiva dos atores sociais, tecnologias empregadas e segurança de alimentos, como contribuição ao processo de Indicação Geográfica (IG). Os resultados permitiram evidenciar, de forma inconteste, que essa cadeia produtiva traduz a inclusão de centenas de pessoas, sobretudo homens, em trabalho de base familiar, revelando a importância econômica da atividade para a manutenção de diversas famílias, destacadamente para as menos favorecidas, haja vista que vários participantes eram beneficiários de programas sociais. Observou-se, ainda, a tradição do processo produtivo da farinha tipo Copioba, preservada mais fortemente em alguns municípios, como Nazaré, ainda que o advento da modernização que fosse realidade mais presente nos demais municípios, na perspectiva de melhoria das condições de trabalho dos produtores, em contraposição à rusticidade das condições de trabalho, das jornadas desgastantes e do envolvimento do trabalho infantil. Quanto à participação em organizações sociais de trabalho, verificou-se um baixo engajamento dos produtores, quadro que restringe tanto os avanços nas condições de trabalho e no acesso a apoio técnico para a produção no campo, quanto a constituição do processo de IG para a farinha. No que se refere à segurança de alimentos, os achados revelaram um cenário crítico, com expressiva inadequação das casas de farinha e do processo produtivo aos requisitos legais para alimentos, o que sinaliza a necessidade da adoção das Boas Práticas de Produção, com atenção especial à adequação da estrutura física e às atividades de capacitação para os produtores (manipuladores). Nesse sentido, busca-se conciliar o atendimento às normas 111 vigentes mantendo o respeito ao caráter da produção artesanal e ao saber-fazer secular, requeridos pela IG. Ainda que apresente limitações, pelo recorte adotado, avalia-se que o estudo contribui para ampliar o conhecimento sobre a produção da farinha de mandioca tipo Copioba, no Vale do Copioba-BA, Brasil, um produto que descreve participação histórica na formação da identidade alimentar local. Em adição, observando a insuficiência de estudos sobre temática e as dimensões abordadas, o trabalho constitui valiosa fonte científica, disponibilizada à sociedade, bem como aos órgãos de fomento à cadeia, possibilitando a formulação política articulada à realidade territorial. Deste modo, o estudo sinaliza a necessidade de programas específicos para valorizar e fortalecer essa cadeia produtiva, sobretudo a formação e a organização social, visando contribuir para sua melhor estruturação sustentabilidade, para o pedido de IG e o para o desenvolvimento social. 112 e APÊNDICES 113 APÊNDICE A Questionário semi-estruturado 114 Questionário Cadastro dos Produtores das Casas de Farinha do Vale do Copioba Projeto da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia “QUALIDADE, IDENTIDADE E NOTORIEDADE DA FARINHA DE MANDIOCA DE NAZARÉ DAS FARINHAS-BA: UMA CONTRIBUIÇÃO A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA”, contemplado pelo Edital da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Data: Bahia - Fapesb 021/2011. / /2013 Nome do Entrevistador:_______________ N° _______ Hora inicio passagem: ___:___min, Hora fim passagem: ___:___min Orientação de passagem: é recomendado ao entrevistador explicar que somos da universidade do projeto de IG (cabe dizer um pouco do que é IG e de que a universidade esta como facilitadora e auxilio técnico num projeto de interesse da comunidade). Assim como que as informações serão usadas com o maior sigilo pela equipe do projeto no que se trata da identidade, nomes e dados pessoais do entrevistado ou de pessoas mencionadas por ele. As informações são muito importantes, pois facilitam o conhecimento das pessoas em que possamos nos apoiar, assim como embasam os argumentos sociais, e físico-químicos necessários para o pedido da IG que trará benefícios para a região. O tempo médio verificado em teste é de 40min. Categoria do entrevistado (1) Proprietário da casa de farinha (2) Responsável pela produção (produção na casa de farinha de terceiros) (3) Trabalhador na casa de farinha 1.Informações Gerais Sobre a Casa de Farinha Q.1. Nome da Casa de Farinha: Q.1.1. Endereço de casa de Farinha: Q.1.2. Função na Casa de Farinha*: *como descrita pelo entrevistado Q.1.3. Quando ou há quantos anos foi criada a casa de farinha? ______________ Q.1.4. Houve alguma melhoria desde então? (01) Sim (02) Não Q.1.5. Se sim, quais melhorias foram feitas na casa de farinha? (01) aquisição de motor para moer (01) Sim (02) Não (02) aquisição do motor no forno de torrar (01) Sim (02) Não 115 (03) outros__________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Q.1.6. (Somente Proprietário ou responsável produção) Quantas pessoas trabalham na casa de farinha hoje sobre sua responsabilidade?______ ( ) Não se aplica Q.1.7. As pessoas que trabalham com você são: (01) da mesma família (01) Sim (02) Não (02) da vizinhança (01) Sim (02) Não (03) vêm de outros municípios para trabalhar aqui. (01) Sim (02) Não Se de outros municípios, citar:__________________________________________________ Q.1.8. As crianças ajudam nas atividades da casa de farinha? (01) Sim (02) Não Q.1.9. Como é feito o pagamento dos trabalhadores? (01) até 5 kg de farinha/dia (01) Sim (02) Não (02) até 10kg de farinha/dia (01) Sim (02) Não (03) de 10 a 20 kg de farinha/dia (01) Sim (02) Não (04) troca de favor (01) Sim (02) Não (05) dinheiro (01) Sim (02) Não Quanto em reais por dia ___________ (06) Outros. Citar:__________________________________________ Q.1.10. (Somente Proprietário ou responsável produção) A casa de farinha é usada para produção da farinha de mandioca de outro produtor? (‘locação’) (01) Sim (02) Não (03) Não se aplica Q.1.11. (Somente Proprietário ou responsável produção) Se sim, qual a parte da farinha que é dada ao dono da casa de farinha pelo produtor? (01) 5% da produção (02) 15% da produção (03) 20% da produção (04) 25% da produção (05) 30% da produção (06) Outros _________________________________________________________________ (07) Não se aplica 116 2.Participação em Organização ( cooperativa, associações ou sindicato) Q.2.1. Você participa de alguma cooperativa, associação ou sindicato? (01) Sim (02) Não Q.2.2 Qual ou quais e há quanto tempo? (descrever o nome das organizações – tempo de participação) Organização (nome e tipo) Há quanto tempo? N° 1 ________ 2 ________ 3 ________ ( ) Não se aplica Q.2.3 Pode me informar se a cooperativa/associação/sindicato tem registro no município? (01) Sim (se mais de uma organização precisar quais pelos números Q.2.2.:______________) (02) Não (03) Não sei informar (04) Não se aplica Q.2.4. Você assume alguma função/ responsabilidade na associação/cooperativa? (01) Sim (02) Não (passar para Q.2.6.) (03) Não se aplica Q.2.5. Qual ou quais? (descrever função/estrutura se houver mais de uma / atividades correspondentes) Organização(associação/cooperativa) Função Atividade 1 2 (03) Não se aplica Q.2.6. Pode me passar o contato de um dos líderes? (2 entradas para se houver mais de uma organização, podendo ser preenchida por 2 líderes da mesma estrutura) 2.6.1 Nome1/estrutura:___________________________________________________________ __Telefone:_______________________Email:___________________________________ ____ 2.6.2 117 Nome2/estrutura:___________________________________________________________ __Telefone:________________________________________________________________ ___Email:_________________________________________________________________ _____ (03) Não sei informar (04) Não se aplica 3. Produção Q.3. (Somente Proprietário ou responsável produção) Qual o tamanho da sua propriedade rural? _______________ (numérico) Precisar medida:( ) hectares ( ) tarefas ( ) Km² ( ) Não se aplica (em caso de responsáveis meeiros, ou outra categoria) Matéria Prima: Q.3.1. (Somente Proprietário) A casa de farinha ou seu proprietário produz mandioca? (01) Sim (02) Não (03) Não sei informar (04) Não se aplica Q.3.2. (Somente Proprietário ou responsável produção) Se sim, qual a quantidade de mandioca que você produz por mês? _______ (numérico) Precisar medida: ( ) Kg , ( ) sacas, ( ) outros_____________ ( ) Não se aplica Q.3.3. (Somente Proprietário ou responsável produção) Qual o tipo da mandioca produzida? (01) corrente (01) sim (02) não (02) cigana (01) sim (02) não (03) outros ________________________________________________________________ (04) Não se aplica Q.3.4. (Somente Proprietário ou responsável produção) Onde é produzida a mandioca? (01) Vale do Copioba : São Felipe, Nazaré, Maragogipe. (02) Região do Recôncavo baiano (descrever cidade(s) e comunidade(s)_________________ (03) Outros (descrever cidade(s) e comunidade(s)___________________________________ (04) Não se aplica Q.3.5. (Somente Proprietário ou responsável produção) Em qual frequência ocorre o uso da casa de farinha por produtores que não são proprietários? 118 (01) toda semana (02) de quinze em quinze dias (03) todo mês (04) na maior parte dos meses do ano (mais de 6 meses) (05) em alguns meses do ano (menos de 6 meses) (06) Não se aplica Q.3.6. (Somente Proprietário) Qual a quantidade de mandioca de terceiros (não proprietários) processada por mês na casa de farinha? __________ (numérico) Precisar medida: ( ) Kg , ( ) sacas, ( ) outros_____________ ( ) Não se aplica Q.3.6.1. (Somente Proprietário) Qual o tipo da mandioca produzida por terceiros? (01) corrente (01) sim (02) não (02) cigana (01) sim (02) não (03) outros ________________________________________________________________ (04) Não sei informar (05) Não se aplica Q.3.7. (Somente Proprietário) Quando a casa de farinha é usada por terceiros, de onde vem a mandioca? (01) Vale do Copioba : São Felipe, Nazaré, Maragogipe. (02) Região do Recôncavo baiano (descrever cidade(s) e comunidade(s)__________________________________________________________ (03) Outros (descrever cidade(s) e comunidade(s)___________________________________________________________ (04) Não sei informar (05) Não se aplica Equipamentos Q.3.8. A casa de farinha possui: (01) moedor manual em uso (01) sim (02) não (02) moedor elétrico em uso (01) sim (02) não (03) forno de torrefação de mandioca de barro em uso (04) forno de torrefação de mandioca elétrico (05) prensa da massa de mandioca artesanal em uso (06) prensa da massa de mandioca moderna em uso (01) sim (02) não (01) sim (02) não (01) sim (02) não (01) sim (02) não Q. 3.8.1 O forno de barro de torrefação de mandioca é usado para outros fins (bolos, quitutes) (01) sim (02) não (03) não se aplica 119 Processo de Produção Q.3.9. Quanto tempo antes de moer a mandioca é feito a raspa (descasque) da mandioca? (01) no mesmo dia (02) um dia antes (03) dois dias antes (04) outros _______________________ Q.3.10. Onde fica armazenada a mandioca depois da raspa (descasque)? (01) no chão, na casa de farinha mesmo (02) no chão sobre lona (03) reservatório de madeira ou plástico (cocho ou equivalente) (04) outros, precisar _________________________________________________________ Q.3.11. A massa de mandioca fica quanto tempo na prensa? (01) de 1 a 2 horas (01) sim (02) não (02) de 2 a 3 horas (01) sim (02) não (03) de 3 a 6 horas (01) sim (02) não (04) até 1 dia (01) sim (02) não (05) até 2 dias (01) sim (02) não (06) outros ____________________________________ Q.3.12. (Somente Proprietário ou responsável produção) Quantos dias a casa de farinha funciona no mês, em média? (01) todos os dias da semana (02) dois dias na semana (03) mais de três dias da semana (04) menos de dois dias na semana (05) de quinze em quinze dias (06) uma vez por mês (07) outros _____________________________________ (08) Não se aplica Q.3.13. (Somente Proprietário ou responsável produção) Quantas sacas de farinha de mandioca você produz por dia de atividade na casa de farinha, em média? ________ (02) Não se aplica Q.3.14. (Somente Proprietário ou responsável produção) Quantas sacas de farinha de mandioca você produz por mês, em média? ________________ (02) Não se aplica Comercialização Q.3.15. Você sabe onde é vendida a farinha produzida aqui? (01) Sim (02) Não 120 Q.3.16. Para quem vende a farinha produzida? (múltiplas respostas) (01) diretamente na cidade (feira e/ou quermesse/bar da propriedade) (01) Sim (02) Não (02) para compradores conhecidos que revendem na feira (01) Sim (02) Não (03) para compradores conhecidos que revendem em outras cidades (01) Sim (02) Não (04) para compradores desconhecidos (01) Sim (02) Não (05) outros ________________________________________________________________ Q.3.17. (Somente Proprietário ou responsável produção) Para que cidades escoam-se com mais frequência a produção de farinha de mandioca? Em que volume ? Cidade por ordem da mais importante a menos Peso médio/mês em sacas de farinha 1 2 3 4 ( ) Não sei informar ( ) Não se aplica ( ) Não sei informar a quantidade Q.3.18. (Somente Proprietário ou responsável produção) Existem compradores fieis estabelecidos? Compram que volume? Nome do responsável e ordem de importância Peso médio/mês em sacas de farinha 1 2 3 4 ( ) Não sei informar ( ) Não se aplica Q.3.19. Como é feito o transporte para a venda? (01) Caminhão dos compradores ‘eles vem buscar aqui’ (01) Sim (02) Não (02) alugando caminhão ou carreto (01) Sim (02) Não (03) em caminhão ou carreto de vizinhos (01) Sim (02) Não (04) em caminhão ou carreto da associação (01) Sim (02) Não (05) em caminhão ou carreto próprio (01) Sim (02) Não (06) através de animais de carga (01) Sim (02) Não (07) carro de linha – pau-de-arara (01) Sim (02) Não (08) outros __________________________________________________________________ Q.3.20. (Somente Proprietário ou responsável produção) Qual o lucro que a produção de farinha lhe proporciona por mês (em reais)?_______________( ) Não se aplica 4. Trabalho Q.4.1. Você trabalha na casa de farinha desde quando? (anos) _______ 121 Q.4.1.1. Como você se sente realizando este trabalho? (01) Satisfeito (02) Insatisfeito (03)Bem (04) Infeliz (05) Indiferente (06) Outros _______________________________________ Q.4.2. Quantas horas você trabalha na casa de farinha por dia em média? _________ (aproximação jornada) Q.4.3. Você tem intervalos de descanso? (01) Na hora do almoço. (01)Sim (02)Não (02) Na hora do lanche. (01)Sim (02)Não (03) não descanso Q.4.4. Quanto tempo de descanso você tem em média por dia?______ (minuto/ hora precisar) Q.4.5. Você trabalha: (01) aos sábados (01)Sim (02)Não (02) nos domingos (01)Sim (02)Não (03) em feriados (01)Sim (02)Não Questões Somente para Trabalhadores (ST) Q.4.6. ST - Recebe algum beneficio por hora extra (01) Sim (quanto em Kg farinha:__________________________________) (02) Não (03) Não se aplica Q.4.7. ST - Recebe algum beneficio por domingos e/ou feriados trabalhados? (01) Sim (quanto em Kg farinha:__________________________________) (02) Não (03) Não se aplica Q.4.8. ST - A casa de farinha lhe dá benefícios em alimentação? (01) Sim (02) Não (03) Não se aplica Q.4.9. ST - Se sim, quais são os benefícios em alimentação? (01) Alimentação no local – refeição (01)Sim (02)Não (02) Alimentação em no local – lanche – beiju, bolos e quitutes (01)Sim (02)Não (03) Outros (precise qual/quais: _______________________________________________ ________________________________________________________________________) (04) Não se aplica Volta questões a todas as categorias 122 Q.4.10. Você trabalha na produção de alimentos somente para os moradores de sua casa? (subsistência) (01) Sim (02) Não Q.4.10.1. Se sim, especificar o tipo de produção: (01) plantação (01) Sim (02) Não (02) criação de animais (01) Sim (02) Não Q.4.11. Que outras atividades geradoras de renda você exerce? (01) Produção agrícola em propriedade de terceiros para venda (meeiro) (01) Sim (02) Não (02) Produção agrícola própria para venda (01) Sim (02) Não (03) Criação de animais para venda (01) Sim (02) Não (04) Produção de licores e cachaça para venda (01) Sim (02) Não (05) Produção bolos e quitutes da mandioca para venda (01) Sim (02) Não (06) Trabalho em bar e/ou quermesse (01) Sim (02) Não (07) Trabalha no transporte dos produtos agrícolas (01) Sim (02) Não (08) Outros _____________________________________________________________ ________________________________________________________________________ (09) Nenhuma Q.4.12.1. Quando se dedica à(s) outra(s) atividade(s) geradora(s) de renda, além da casa de farinha? (01) Regularmente, quando a casa de farinha esta parada. (01) Sim (02) Não (02) Um pouco todo dia de manhã ou à noite. (01) Sim (02) Não (03) Intensamente todo dia de manhã ou à noite. (01) Sim (02) Não (04) Alguns dias de manhã ou à noite. (01) Sim (02) Não (05) Nos fins de semana e feriados. (01) Sim (02) Não (06) Não se aplica. Q.4.12.2. Qual atividade profissional representa maior parte de seu sustento? (responder por ordem numérica da mais importante para a menos importante) 1_________________________________ 2_________________________________ 3_________________________________ Q.4.12.3. Possui renda de programas sociais? (01) Aposentadoria ou pensão de instituto de previdência oficial (federal, estadual ou municipal)? (01) sim (02) não (02) Programa social bolsa-família? (01) sim (02) não (03) Programa social de erradicação do trabalho infantil - PETI? (01) sim (02) não (04) Programa de Aquisição de Alimentos – PAA? (01) sim (02) não (05) Outros programas sociais ou de transferências, precisar: _______________________ (06) Não possuo renda de nenhum programa social ou de transferência do governo. 123 Q.4.12.4. A renda mensal que tira das outras atividades fora a produção de farinha é: (trabalho paralelo e programa social) Faixa de Salário mínimo ____ em salário (00) Sem renda (01)Menos de um salario mínimo ( < RS622,00) (02)Um salario mínimo (RS622,00) (03)De um até dois salários mínimos ( RS622 < 1244 ) (04)De dois até três salários mínimos ( RS 1244 < 1866 ) (05)De três até cinco salários mínimos ( RS 1866 < 3110) (06)De cinco a dez salários mínimos ( RS3110 < 6220 ) (07)Mais de dez salários mínimos (RS6220<) Q.4.13. Já houve cursos de capacitação ou treinamento para melhora e controle da produção da farinha? (01) sim (02) não Q.4.13.1. Já houve cursos de capacitação ou treinamento para melhora e controle da produção de mandioca? (01) Sim (02) Não (03) Houve, porém não participei. Por quê? __________________________________ Q.4.13.2. Quem ofereceu os cursos? (01) O município (01) Sim (02) Não (02) A Embrapa (01) Sim (02) Não (03) O sindicato (01) Sim (02) Não (04) EBDA (01) Sim (02) Não (05) Outros__________________________________________________________________ (06) Não se aplica Q.4.13.3. Houve alguma mudança depois do curso? (01) sim, citar 1_________________________________________________________________________ 2_________________________________________________________________________ (02) não, por que? ____________________________________________________ ____________________________________________________________________ (03) Não se aplica 5. Moradia Q.5.1. O domicílio de residência é: (01) próprio – já pago (02) próprio – ainda pagando 124 (03) alugado - valor do aluguel R$ _______,00 (04) cedido por empregador (05) cedido de outra pessoa (06) outra condição_____________________________________________ Q.5.2. Quantos cômodos existem neste domicílio? _______ (inclusive banheiro e cozinha, não considere como cômodo: corredores, varandas abertas, garagem e outros compartimentos para fins não residenciais). Q.5.3. Quantos cômodos servem de dormitório (quartos) para os moradores? _______ Q.5.4. Existe banheiro neste domicílio? (01) Sim (02) Não Q.5.4.1. Quantos banheiros?_______ Q.5.4.2. O esgoto do banheiro ou sanitário é jogado em: (01) Rede geral de esgoto ou pluvial (01) sim (02) não (02) Fossa (01) sim (02) não (03) Vala (01) sim (02) não (04) Céu aberto (01) sim (02) não (05) Rio, lago ou mar (01) sim (02) não Q.5.5. A forma de abastecimento de água utilizada neste domicílio é: (01) Rede geral de distribuição (01) Sim (02) Não (02) Poço ou nascente na propriedade (01) Sim (02) Não (03) Poço ou nascente fora da propriedade (01) Sim (02) Não (04) Carro-pipa (01) Sim (02) Não (05) Agua da chuva armazenada em cisterna (01) Sim (02) Não (06) Agua da chuva armazenada de outra forma (01) Sim (02) Não (07) Rios, açudes, lagos e igarapés (01) Sim (02) Não (08) Outra__________________________ Q.5.6. O domicilio tem água tratada pelo sistema público? (01) Sim (02) Não Q.5.6.1. Desde quando? _____/______ (mês ano) Q.5.6.2. Neste domicílio existe água encanada? (02) Não se aplica (01) Sim (02) Não Q.5.7. O lixo deste domicílio é: (01) Coletado diretamente por serviço de limpeza (01) Sim (02) Não (02) Queimado (na propriedade) (01) Sim (02) Não 125 (03) Enterrado (na propriedade) (01) Sim (02) Não (04) Jogado em terreno baldio ou logradouro (01) Sim (02) Não (05) Jogado em rio, lago ou mar (01) Sim (02) Não (06) Tem outro destino (01) Sim (02) Não Se sim, em que ______________________________________________________________ Q.5.8. Existe energia elétrica no domicílio? (01) De companhia distribuidora (01)Sim (02)Não (02) Gato (01) Sim (02) Não (03) De outras fontes (01) Sim (02) Não (03) Não há energia elétrica Q.5.8.1. Existe medidor de energia ou relógio no domicílio? (01) Sim, de uso exclusivo (02) Sim, de uso comum (03) Não tem medidor ou relógio (04) Não se aplica Q.5.9. Neste domicílio existe: 6.9.1. Rádio? (01) Sim (02) Não 6.9.2. Televisão? (01) Sim (02) Não 6.9.3. Máq. de lavar roupa? (01) Sim (02) Não 6.9.4. Geladeira? (01) Sim (02) não 6.9.5. Telefone celular? (01) Sim (02) Não 6.9.6. Telefone fixo? (01) Sim (02) Não 6.9.7. Computador? (01) Sim (02) Não 6.9.8. Acesso à internet? (01) Sim (02) Não 6.9.9. Motocicleta para uso particular? (01) Sim (02) Não 6.9.10. Automóvel para uso particular? (01) Sim (02) Não 6. Saúde e cidadania Q.6.1. Você tem algum problema de saúde? (01) Sim (02) Não Q.6.1.1 Se sim, qual problema de saúde? (01) Pressão alta (01) Sim (02) Não (02) Verminose (01) Sim (02) Não (03) Diabetes (01) Sim (02) Não (04) Colesterol/triglicérides (01) Sim (02) Não (05) Doença de chagas (01) Sim (02) Não (06) Outros ____________________________________________________________ (07) Não se aplica 126 Q.6.2. Quando tem necessidade de serviço de saúde, onde procura? (01) Hospital (01) Sim (02) Não (02) Unidade de saúde (01) Sim (02) Não (03) Farmácia (01) Sim (02) Não (04) Benzedeira (01) Sim (02) Não (05) Outros _______________________________________________________________ Q.6.2.1 Como faz para chegar ao serviço de saúde? (01) A pé, caminhando (01) Sim (02) Não (02) através de animais de carga (01) Sim (02) Não (03) em veículo de vizinhos (01) Sim (02) Não (04) em veículo próprio (01) Sim (02) Não (05) carro de linha (01) Sim (02) Não (06) outros ______________________________________________________________ Q.6.2.2. Que motivos lhe fazem desistir de procurar o serviço de saúde? (01) distância (01) Sim (02) Não (02) falta de transporte (01) Sim (02) Não (03) falta de tempo (01) Sim (02) Não (04) falta de dinheiro (01) Sim (02) Não (05) outros __________________________________________________________________ Q.6.3. Existem ações ou programas de prevenção em saúde desenvolvidos na comunidade? (01) Campanhas educacionais (01) Sim (02) Não (02) Campanhas de vacinação (01) Sim (02) Não (03) Visitas de agente comunitário de saúde (01) Sim (02) Não (04) Visitas de equipe de saúde (01) Sim (02) Não (05) Campanha de saúde bucal (01) Sim (02) Não Q.6.4. Quais dos problemas seguintes existem na comunidade? (01) Alcoolismo (01) Sim (02) Não (02) uso de drogas (01) Sim (02) Não (03) violência contra mulher? (01) Sim (02) Não (04) prostituição (01) Sim (02) Não (05) prostituição infantil (01) Sim (02) Não (06) abuso sexual de crianças e adolescentes (01) Sim (02) Não (07) outros_______________________________________________ 7. Informações pessoais Q.7.1. Nome: Q.7.2. Data de nascimento: ____/___/______ Idade: _____ Q.7.3: Cidade-Estado de nascimento: ________________-____________ Q.7.4. Sexo: (01) Feminino (02) Masculino 127 Q.7.5. Estado civil: (01) Solteiro (02) Casado (04) Separado (05) Viúvo (03) Divorciado (06) União Estável Q.7.6. O Sr/Sra. é o responsável pelo domicílio/chefe de família? (01) Sim (02) Não Q.7.7. Qual sua escolaridade? (01) Sem alfabetização (07) Ensino Técnico Completo (02) Apenas alfabetizado (08) Ensino Superior Incompleto (03) Ensino Fundamental Incompleto (09) Ensino Superior Completo (04) Ensino Fundamental Completo (10) Curso de pós graduação (05) Ensino Médio Incompleto (11) Curso de Especialização (06) Ensino Médio Completo Q.7.7. Endereço de residência: Q.7.8. Telefone (fixo): Q.7.9. Celular: Q.7.10. Email: Q.7.11. Nasceu neste município? (01) sim e sempre morou (ir para Q.7.13.) (02) sim, mas morou em outro município. (03) não (segue Q8.12.) Q. 7.12. Há quanto tempo mora no local? Q.7.13. Que profissões exerceu antes do trabalho na casa de farinha? 8. Composição da família e agregados residentes (tabela a ser preenchida com dados e códigos numéricos estabelecidos) N° Q.8.1. Nome Habitantes (não o entrevistado) Q.8.2. Código de relação com entrevistado3 Q.8.3. Cidade/ estado de nascime nto Q.8.4. Idade 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 128 Q.8.5. Código Escolaridad e4 Q.8.6. Sexo (01) F (02)M Q.8.7. Principal profissão que exerce/ exerceu (ativo/ antes aposentar) Q.8.8. Trabalho na da casa de farinha (01) sim (02) não 11 12 13 14 15 Q.8.9. Qual a renda da geral da família? _____ Faixa de Salario (00) Sem renda (01)Menos de um salario mínimo ( < RS622,00) (02)Um salario mínimo (RS622,00) (03)De um até dois salários mínimos ( RS622 < 1244 ) (04)De dois até três salários mínimos ( RS 1244 < 1866 ) (05)De três até cinco salários mínimos ( RS 1866 < 3110) (06)De cinco a dez salários mínimos ( RS3110 < 6220 ) (07)Mais de dez salários mínimos (RS6220<) 1 Q.8.2. Qual é a relação de parentesco ou de convivência? (01) pessoa responsável pelo domicílio (02) cônjuge ou companheiro(a) de sexo diferente (se não for o entrevistado) (03) cônjuge ou companheiro(a) do mesmo sexo (05) filho(a) somente do responsável (07) genro ou nora (09) sogro(a) (11) bisneto(a) (13) avô ou avó (15) agregado(a) (17) pensionista (19) parente do(a) empregado(a) doméstico(a) (04) filho(a) do responsável e do cônjuge (06) enteado(a) (08) pai, mãe, padrasto ou madrasta (10) neto(a) (12) irmão ou irmã (14) outro parente (16) convivente (18) empregado(a) doméstico(a) (20) individual em domicílio coletivo ²Q.8.5.Qual o nível de escolaridade da pessoa em questão? (e Q.9.5.) (01) Sem alfabetização (07) Ensino Técnico Completo (02) Apenas alfabetizado (08) Ensino Superior Incompleto (03) Ensino Fundamental Incompleto (09) Ensino Superior Completo (04) Ensino Fundamental Completo (10) Curso de pós graduação (05) Ensino Médio Incompleto (11) Curso de Especialização (06) Ensino Médio Completo 9.Composição da família de origem (informações dos pais e irmãos não residentes na mesma casa - tabela a ser preenchida com e código de escolaridade acima) 129 Q.9.1. Q.9.2. Nome Relação com entrevistado Q.9.3. Q.9.4. Q.9.5. Cidade/ Idade Código estado de Escolaridade² nascimento Q.9.6. Sexo (01) F (02)M Q.9.7. Principal profissão que exerce/ exerceu (ativo/ antes aposentar) Q.9.8. Trabalho na produção de farinha (01) sim (02) não Q.9.3. Cidade/ Estado de residência Pai Mãe Irmão1 Irmão2 Irmão3 Irmão4 Irmão5 Irmão6 Irmão7 Irmão8 Irmão9 Irmão10 Filho1 Filho2 Filho3 Filho4 Filho5 Filho6 Filho7 Filho8 Filho9 Filho10 Modo de passagem: (a descrever após entrevista pelo entrevistador, como se comportou o entrevistado e outras informações que possam ter sido objeto de conversa informal e facilitar contato de qualquer membro do projeto com o entrevistado) _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 130 APÊNCICE B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE 131 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE NUTRIÇÃO / FACULDADE DE FARMÁCIA NÚCLÉO DE INOVAÇÂO TECNOLÓGICA TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO A Universidade Federal da Bahia, cumprindo seus objetivos institucionais, está desenvolvendo o projeto de pesquisa “QUALIDADE, IDENTIDADE E NOTORIEDADE DA FARINHA DE MANDIOCA DE NAZARÉ DAS FARINHAS-BA: UMA CONTRIBUIÇÃO A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA.”, com objetivo de contribuir para constituição do processo de Indicação Geográfica (IG) para farinhas de mandioca produzidas em Nazaré (BA), a partir da caracterização e identificação do produto e/ou processo, da correlação destes dados com parâmetros geográficos e humanos da região produtora, e da orientação os atores sociais envolvidos no encaminhamento do processo de IG. Considerando a sua condição de produtor/trabalhador da cadeia produtiva de farinha de mandioca, solicitamos a sua contribuição, pela concordância com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aqui apresentado e participação em uma entrevista. Caso tenha qualquer dúvida, solicite esclarecimentos ao entrevistador, e/ou à Coordenação do projeto – Profa. Ryzia de Cassia Vieira Cardoso, Escola de Nutrição, R. Araújo Pinho, 32 – Canela, Salvador - Telefone: (71) 3283-7700/7695 / e-mail: [email protected], ou ao Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Climério de Oliveira, R. do Limoeiro, 137, Nazaré- Salvador, CEP: 40055-150 - Telefone (71) 3283-9275 / email: [email protected]. As informações obtidas serão mantidas em sigilo e você pode, 132 a qualquer momento, desistir de participar da pesquisa, não havendo nenhum prejuízo a sua pessoa. Na certeza de podermos contar com esta importante colaboração, agradecemos. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE NUTRIÇÃO / FACULDADE DE FARMÁCIA TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO NUCLÉO DE INOVAÇÂO TECNOLÓGICA - NIT Eu,___________________________________________________________________R G _________________, declaro ter sido informado (a) e estar devidamente esclarecido (a) sobre os objetivos e intenções deste estudo que é contribuir para constituição do processo de Indicação Geográfica (IG) para farinhas de mandioca produzidas em Nazaré (BA), a partir da caracterização e identificação do produto e/ou processo, da correlação destes dados com parâmetros geográficos e humanos da região produtora, e da orientação os atores sociais envolvidos no encaminhamento do processo de IG, e que a pesquisa inclui uma entrevista da qual estarei participando. Recebi garantia total de sigilo e de obter esclarecimentos sempre que o desejar. Sei que minha participação está livre de despesas. Concordo participar voluntariamente deste estudo e sei que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo ou perda de qualquer natureza. Assinatura: ___________________________________________________ Salvador, _____ de ____________________ de 201__ Impressão digital para não assinantes 133 PESQUISADOR RESPONSÁVEL Eu, Ryzia de Cassia Vieira Cardoso, responsável pelo projeto, ou o meu representante declaramos que obtivemos espontaneamente o consentimento deste participante para realizar este estudo. Assinatura ___________________________________ 134 ____/ ____/ _______ ANEXO A Ficha de Inspeção de Estabelecimentos na Área de Alimentos (FIEAA) 135 ANEXO A FIEAA - FICHA DE INSPEÇÃO DE ESTABELECIMENTOS NA ÁREA DE ALIMENTOS (CVS- Resolução SS-196, de 29-12-98) – ADAPTADA FONTE: Guia de Verificação do Sistema APPCC - Programa Alimentos Seguros (PAS), 2000. (Série Qualidade e Segurança Alimentar- Projeto APPCC Indústria). FICHA Nº ________ DATA__|____|____|__ PARTE A – IDENTIFICAÇÃO 1- Endereço:____________________________________ 2-Município:____________________________________ 3- Tipo de Estabelecimento:_________________4- Nome do proprietário:_______________ 5- Nº de funcionários:________ 6- Femininos: _______ Masculinos:________ 7. Quantidade de produção / semana (sacos de farinha): ____________ PARTE B – AVALIAÇÃO ITEM/QUESTÃO 1 DESCRIÇÃO PONTUAÇÃO SITUAÇÃO E CONDIÇÕES DA EDIFICAÇÃO 1.1 Localização adequada: área livre de focos de insalubridade. Ausência de lixo, objetos em desuso, animais, insetos e roedores, na área externa e vizinhança. S N NA (2)(0)(2) 1.2 Acesso adequado: direto e independente. Não comum a outros usos (habitação). S N NA (2)(0)(2) 1.3 1.3.1 1.3.2 1.4 1.4.1 1.4.2 Pisos adequados: Material liso, resistente, impermeável, de fácil limpeza e em bom estado de conservação (livre de defeitos, rachaduras, trincas, buracos). S N NA (1)(0)(1) Em perfeitas condições de limpeza. S N NA (1)(0)(1) Forros/tetos adequados: Acabamento liso, impermeável, lavável, em cor clara e em bom estado de conservação (livre de trincas, rachaduras, umidade, bolor, descascamentos). S N NA (1)(0)(1) Em perfeitas condições de limpeza. S N NA (1)(0)(1) 136 1.5 1.5.1 1.5.2 1.6 1.6.1 ITEM/QUESTÃO 1.7 1.8 1.9 1.10 1.10.1 1.10.2 1.11 1.11.1 Paredes/divisórias adequadas: Acabamento liso, impermeável, lavável, em cores claras e em bom estado de conservação (livre de falhas, rachaduras, umidade, bolor, descascamentos). S N NA (1)(0)(1) Em perfeitas condições de limpeza. S N NA (1)(0)(1) Portas e janelas adequadas: Com superfície lisa, fácil limpeza em bom estado de conservação (ajustadas aos batentes, sem falhas de revestimentos e limpas). DESCRIÇÃO Existência de proteção contra insetos e roedores: todas aberturas teladas (telas milimétricas), portas com mola e proteção inferior, ralos com sifão e proteção. Iluminação adequada a atividade desenvolvida, sem ofuscamento, reflexos fortes, sombras e contrastes excessivos. Luminárias limpas e em bom estado de conservação. Ventilação adequada, garantindo o conforto térmico e ambiente livre de fungos, bolores, gases, fumaças e condensação de vapores. Instalações sanitárias adequadas: Separadas por sexo, com vasos sanitários, mictórios e lavatórios em número suficiente, servidos de água corrente e conectados à rede de esgotos ou fossa aprovada. Pisos, paredes, forros, iluminação e ventilação, portas e janelas adequadas, e em bom estado de conservação. Sem comunicação direta com áreas de trabalho e de refeições. Em perfeitas condições de higiene e limpeza. Dotadas de produtos adequados à higienização das mãos – sabão, toalhas descartáveis ou outro sistema adequado para secagem. Vestiários adequados: Separados por sexo, dotados de antecâmara, área compatível e 1 (um) armário por funcionário, duchas ou chuveiros em número suficiente, com água fria e quente, pisos, paredes, forros, iluminação e ventilação, portas e janelas adequadas e em bom estado de conservação. Em perfeitas condições de limpeza e organização dotados de produtos adequados à higiene pessoal. 1.11.2 1.12 S N NA (1)(0)(1) PONTUAÇÃO S N NA (4)(0)(4) S N NA (1)(0)(1) S N NA (1)(0)(1) S N NA (2)(0)(2) S N NA (4)(0)(4) S N NA (1)(0)(1) S N NA (2)(0)(2) Lavatórios na área de manipulação: 1.12.1 Existência de lavatórios com água corrente, em posição estratégica, em relação ao fluxo de produção e serviço. S N NA (2)(0)(2) 1.12.2 Em perfeitas condições de higiene e limpeza. Dotado de sabão, escovas para mãos, desinfetantes, toalhas descartáveis ou outro sistema adequado para secagem. S N NA (4)(0)(4) 1.13 Abastecimento de água potável. Ligado à rede pública ou com potabilidade atestada através de laudo oficial (validade 6 meses). S N NA (8)(0)(8) 1.14 1.14.1 1.14.2 Caixa d’água e instalações hidráulicas: Com volume e pressão adequada. Dotada de tampa e em perfeitas condições de uso – livre de vazamento, infiltração, descascamentos. Em perfeitas condições de higiene e limpeza. Livre de resíduos na superfície ou depositados. Execução de limpeza periódica (6 meses). 137 S N NA (4)(0)(4) S N NA ( 8 ) ( 0 ) (8 ) 1.15 1.15.1 Destino adequados dos resíduos: Lixo doméstico no interior do estabelecimento em recipientes tampados, limpos e higienizados constantemente, e adequadamente armazenado para coleta. S N NA (4 ) ( 0 ) ( 4 ) 1.15.2 Outros resíduos (sólidos e gasosos) adequadamente tratados e lançados sem causar incômodo à vizinhança e ao meio ambiente. S N NA (2)(0)(2) ITEM/QUESTÃO DESCRIÇÃO Local apropriado para limpeza e desinfecção de equipa-mentos e utensílios, dotado de água quente e produtos adequados, e isolados das áreas de processamento. PONTUAÇÃO S N NA (2)(0)(2) TOTAIS TS1( ) TNA( ) 1.16 PB1 – Pontuação do bloco 1 TS1 – Somatória das notas SIM obtidas TNA1 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K1 = 60 (Constante no bloco 1) P1 = 10 (Peso do bloco) PB1 = ¦S1____ K1-¦NA1 X P1 PB1 = PB1 = ___________ x P1 60 2 2.1 EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS Equipamentos/maquinários adequados: S N NA (2)(0)(2) 2.1.1 Equipamentos dotados de superfície lisa de fácil limpeza e desinfecção. Em bom estado de conservação e funciona-mento. 2.1.2 Em perfeitas condições de limpeza. 2.2 Utensílios adequados: 2.2.1 Utensílios lisos, em material não contaminante, de tamanho e forma permitam fácil limpeza. Em bom estado de conservação. 2.2.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA (4)(0)(4) 2.3 Móveis (Mesas, bancadas, vitrines, etc...) Em número suficiente, de material resistente, liso e impermeável, com superfícies íntegras (sem rugosidade e frestas). Em bom estado de conservação. S N NA (2)(0)(2) 2.3.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA (4)(0)(4) 2.4 Equipamentos para proteção e conservação sob refrigeração adequados: Equipamentos com capacidade adequada com elementos e S N NA superfícies lisas, impermeáveis e resistentes. Com termômetro e (8)(0)(8) em bom estado de conservação e funciona-mento. S N NA Em perfeitas condições de limpeza. (8)(0)(8) 2.3.1 2.4.1 2.4.2 138 S N NA (4)(0)(4) S N NA (2)(0)(2) 2.5 Limpeza e desinfecção adequadas: 2.5.1 Utilização de água quente, detergente e desinfetantes registrados no Ministério da Saúde. S N NA (8)(0)(8) 2.6 Armazenamentos de utensílios e equipamentos em local apropriado, de forma ordenada e protegidos de contaminação. S N NA (8)(0)(8) TOTAIS PB2 – Pontuação do bloco 2 TS2 – Somatória das notas SIM obtidas TNA2 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K2 = 50 (Constante no bloco 2) P2 = 15 (Peso do bloco 2) TS2 ( ) TNA2 ( ) PB2 = ¦S2____ X P2 PB2 = K2-¦NA2 PB2 = ___________ x 15 50 - 3 PESSOAL NA ÁREA DE PRODUÇÃO/MANIPULAÇÃO/VENDA: 3.1 Roupas adequadas: 3.1.1 Utilização de aventais fechados ou macacões de cor clara, sapatos fechados e gorros que contenham todo o cabelo, em bom estado de conservação. 3.1.2 Rigorosamente limpos. 3.2 Asseio pessoal adequado. Boa apresentação, asseio corporal, mãos limpas, unhas curtas, sem esmalte, sem adornos (dedos, pulso e pescoço) 3.3 Hábitos higiênicos adequados. Lavagem cuidadosa das mãos antes da manipulação de alimentos e depois do uso de sanitário. Não espirrar sobre alimentos, não cuspir, não tossir, não fumar, não manipular dinheiro, não executar ato físico que possa contaminar o alimento. 3.4 Estado de saúde controlado: 3.4.1 Ausência de afecções cutâneas, feridas e supurações, ausência de sintomas de infecção respiratória, gastrointestinais. 3.4.2 Realização de exames periódicos. S N NA (2)(0)(2) S N NA (8)(0)(8) S N NA (8)(0)(8) S N NA (4)(0)(4) S N NA (8)(0)(8) S N NA (2)(0)(2) 139 TOTAIS TS3 ( ) TNA3 ( ) PB3 – Pontuação do bloco 3 TS3 – Somatória das notas SIM obtidas TNA3 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K3 = 32 (Constante no bloco 3) P3 = 25 (Peso do bloco 3) PB3 = ¦S3_____ K3-¦NA3 X P3 PB3 = PB3 = ___________ x 25 32 - 4 4.1 MATÉRIAS-PRIMAS/PRODUTOS EXPOSTOS À VENDA: Procedência controlada: matérias-primas e/ou produtos expostos à venda provenientes de fornecedores autorizados; embalagens, rótulos e explicações regulamentadas, registradas no Ministério da Saúde e/ou Ministério da Agricultura. S N NA (4)(0)(4) 4.2 Características organolépticas normais: alimentos e matérias-primas com cor, sabor, odor, consistência e aspectos sem alteração. S N NA (8)(0)(8) 4.3 Conservação adequada: condições de tempo e temperatura de conservação das matérias-primas e/ou produtos ex-postos à venda que garantam a não alteração dos mesmos. S N NA (4)(0)(4) 4.4 Empacotamento e identificação adequadas: embalagens íntegras e identificação visível. Prazo de validade respeitado. S N NA (8)(0)(8) TOTAIS TS4 ( ) TNA4 ( ) PB4 – Pontuação do bloco 4 TS4 – Somatória das notas SIM obtidas TNA4 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K4 = 24 (Constante no bloco 4) P4 = 20 (Peso do bloco 4) PB4 = ¦S4_____ PB4 = X P4 K4-¦NA4 PB4 = ___________ x 20 24 - 140 5 5.1 5.1.1 5.1.2 5.2 FLUXO DE PRODUÇÃO / MANIPULAÇÃO/ VENDA E CONTROLE DE QUALIDADE: Fluxo adequado: Fluxo linear de 1 (um) só sentido, evitando a contaminação cruzada. Locais S N NA para pré-preparo (“área suja”) e preparo (“área limpa”) isolados (a separação (4)(0)(4) física e necessária em estabelecimentos com grande produção). S N NA Manipulação mínima e higiênica. (8)(0)(8) Proteção contra contaminação: 5.2.1 Alimentos protegidos contra pó, saliva, insetos e roedores. 5.2.2 Substâncias perigosas como inseticidas, detergentes e desinfetantes, identificadas, armazenadas e utilizadas de formas a evitar a contaminação. 5.3 S N NA (4)(0)(4) S N NA (4)(0)(4) Armazenamento adequado: 5.3.1 Alimentos perecíveis mantidos à temperatura de congelamento (-15º C), refrigeração a (2 a 10º C), ou acima de 65º C de acordo com o produto. S N NA (8)(0)(8) 5.3.2 Alimentos armazenados separados por tipo ou grupo; sobre estrados ou prateleiras adequadas; ausência de material estranho, estragado ou tóxico; em local limpo e conservado. S N NA (4)(0)(4) 5.4 Eliminação imediata das sobras de alimentos. 5.5 Características organolépticas normais do produto acabado/produtos expostos à venda: cor, odor, consistência e aspecto sem alterações. 5.6 5.6.1 S N NA (4)(0)(4) S N NA ( 4 ) (0 ) ( 4 ) Empacotamento e identificação adequada do produto acabado/produtos expostos a venda: S N NA Embalagens íntegras com identificação visível (nome do produto, nome do (2)(0)(2) fabricante, endereço, nº de registro, prazo de validade). 5.6.2 Dizeres de rotulagem de acordo com o aprovado. 5.7 Controle de qualidade adequado na matéria-prima, do produto acabado e dos produtos expostos à venda. 5.8 Pessoal qualificado: pessoal devidamente treinado para a atividade. 5.9 Análise laboratorial com freqüência adequada: todos os lotes produzidos no estabelecimento devem ser analisados. 5.10 Transporte adequado, protegido e limpo. S N NA (1)(0)(1) S N NA (4)(0)(4) S N NA (2)(0)(2) S N NA (2)(0)(2) S N NA (2)(0)(2) TOTAIS 141 TS5 ( ) TNA5 ( ) PB5 – Pontuação do bloco 5 TS5 – Somatória das notas SIM obtidas TNA5 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K5 = 53 (Constante no bloco 5) P5 = 30 (Peso do bloco 5) PB5 = ___ ¦S5____ X P5 PB5 = K5-¦NA5 PB5 = ___________ x 30 53 - PARTE C – PONTUAÇÃO DO ESTABELECIMENTO PE = PB1 + PB2 + PB3 + PB4 + PB5 PE = + + + PONTUAÇÃO CLASSIFICAÇÃO 91 – 100 Excelente (E) 81 – 90 Bom (B) 61 – 80 Regular (R) Até 60 Deficiente (D) + = Classificação: _________________ OBSERVAÇÕES:______________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 142 ANEXO B Parecer Consubstanciado n° 97.402/2012 143 MATERNIDADE CLIMÉRIO DE OLIVEIRA ((MCO/UFBA)) PROJETO DE PESQUISA Título: QUALIDADE, IDENTIDADE E NOTORIEDADE DA FARINHA DE MANDIOCA DE NAZARÉ DAS FARINHAS-BA: UMA CONTRIBUIÇÃO A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA Área Temática: Versão: 1 CAAE: 05935412.0.0000.5543 Pesquisador: Instituição: Ryzia de Cassia Vieira Cardoso Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia/ ENUFBA PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP Número do Parecer: Data da Relatoria: 97.402 13/09/2012 Apresentação do Projeto: O cultivo da mandioca e a produção de farinha na Bahia compreendem uma tradição, com destaque para a cidade de Nazaré onde a produção de farinha de mandioca constitui uma das principais fontes de renda para grande parte da população do município. É relato e consenso popular que uma excelente farinha era feita na Fazenda Copioba, localizada na Serra de mesmo nome, entre os municípios de Nazaré, Maragojipe e São Felipe. Depois, toda farinha bem feita na região passou a se chamar farinha de copioba, embora nem toda farinha de Nazaré fosse de copioba. Assim, por ser considerada a melhor farinha, os demais locais produtores de farinha também passaram a adotar o nome copioba para designar a farinha de boa qualidade, fina e torrada, independente de onde quer que ela fosse fabricada. As casas de farinha de Nazaré ganharam destaque devido à diferenciação da farinha, sem terem avançado no sentido de qualificação e adequação à legislação. Muitas delas ainda utilizam sistemas rudimentares e artesanais considerados valiosos no sentido de manutenção na originalidade e aspectos sensoriais da farinha produzida. Questões como a higiene e a qualidade sanitária, na maioria das vezes negligenciadas pelos pequenos produtores, constituem uma forte preocupação. A presente proposta tem como objetivo avaliar a qualidade das farinhas de mandioca produzidas em Nazaré (BA), e através da correlação destes parâmetros com dados geográficos, meteorológicos e humanos, de onde é proveniente, identificar a sua identidade e notoriedade, contribuindo assim, para a futura construção de uma Indicação Geográfica (IG) do produto, no pressuposto da existência de uma vinculação entre a notoriedade comprovada e a sua origem (território). Para uma Indicação Geográfica (IG) é necessário esclarecer o modo tradicional como uma farinha é produzida, observar as condições de inocuidade do processo de produção considerando-se, como ¿riscos¿ a presença inaceitável de contaminantes químicos, físicos e biológicos na matéria prima ou na farinha e não obediência aos regulamentos técnicos e adequações às legislações vigentes. Um levantamento do número de casas de farinhas existentes em Nazaré, da notoriedade da farinha produzida, da territorialidade, da qualidade das farinhas, da conformidade e adequações as legislações vigentes, contribuirá para avaliar o potencial do produto para um pedido de IG contribuindo para o desenvolvimento social da região: valorizando de propriedades; agregando valor à cadeia da mandioca e incentivo ao plantio e à produção, aumento de lucros e empregos na agricultura. Endereço: Rua do Limoeiro, 137 Bairro: Nazaré UF: BA Município: SALVADOR Telefone: (71)3283-9210 CEP: 40.005-150 E-mail: [email protected] 144 MATERNIDADE CLIMÉRIO DE OLIVEIRA ((MCO/UFBA)) Objetivo da Pesquisa: Objetivo Primário: Avaliar a qualidade das farinhas de mandioca produzidas em Nazaré - BA, e a partir da correlação destes parâmetros com indicadores geográficos, meteorológicos e humanos de onde é proveniente, identificar a sua identidade e notoriedade, contribuindo para a futura construção de uma Indicação Geográfica do produto. Objetivso Secundários: A-Caracterizar os atores sociais responsáveis pela produção da farinha de mandioca, na perspectiva de organização social do trabalho; B-Descrever a tradição da produção de farinha de mandioca na região; C-Avaliar as condições higiênicas da produção de farinha e o perfil microbiológico; D-Avaliar a farinha quanto à granulometria e à presença de corpos estranhos por microscopia; E-Caracterizar a farinha quanto aos aspectos sensoriais, cor, composição nutricional e de atendimento aos parâmetros físico-químicos vigentes; F-Identificar o percentual de produtores que produzem a farinha dentro dos padrões de qualidade exigidos por legislação; G-Desenvolver uma prospecção da notoriedade da farinha produzida em Nazaré visando o processo de encaminhamento do pedido de indicação geográfica; H-Contribuir para a valorização de produtos com diferencial de qualidade e identidade para aumentar a competitividade no agronegócio; I-Promover a cadeia produtiva da farinha no município de Nazaré e os seus atores sociais; J-Contribuir para a constituição de territorialidade econômica, a partir da identidade de um território geográfico, cultural de um Estado e País tão diversificados como a Bahia e o Brasil. Avaliação dos Riscos e Benefícios: Riscos: A aplicação das entrevistas não representa riscos aos indivíduos que aderirem à pesquisa. Benefícios: Aumentar o valor agregado do produto, diferenciando-o dos demais; Preservar as particularidades do produto, o patrimônio das regiões específicas; Estimular os investimentos na própria área delimitada pela IG, com valorização das propriedades, aumento do turismo, do padrão tecnológico e da oferta de emprego; Fidelizar o consumidor, que, sob a etiqueta da IG, sabe que vai encontrar um produto ou serviço de qualidade e com características regionais; Melhorar a comercialização dos produtos, facilitando o acesso aos mercados através da propriedade coletiva; Conferir maior competitividade no mercado regional, nacional e internacional. Comentários e Considerações sobre a Pesquisa: Inicialmente será feito um levantamento do número total de unidades produtoras de farinha no município de Nazaré, atentando-se para a delimitação geográfica das unidades localizadas no Vale da Copioba seguindo-se com obtenção de amostras e caracterização da farinha de copioba e da sua diferenciação em relação as demais farinhas produzidas na localidade. Com esta finalidade serão realizadas as seguintes análises cujos resultados, quando pertinentes, serão avaliados frente aos parâmetros estabelecidos na legislação dfederal: A-Composição centesimal das farinhas - análises de umidade, lipídios totais, cinzas, proteína, carboidratos, fibras alimentares - solúvel, insolúvel e total, e também da atividade de água; B-Determinação de cor; determinação de carotenóides totais; C-Avaliação microbiológica para coliformes termotolerantes/Escherichia coli, Bacillus cereus, Salmonella spp e contagem de bolores e leveduras; D-Avaliação macroscópica e microscópica para pesquisa de sujidades; E-Caracterização sensorial das farinhas. Questionários, destinados para avaliações quantitativas e qualitativas, serão aplicados junto tanto a comunidade rural quanto a atores sociais de instituições de pesquisa (Embrapa) e outros órgãos de Endereço: Rua do Limoeiro, 137 Bairro: Nazaré UF: BA Telefone: Município: SALVADOR (71)3283-9210 CEP: 40.005-150 E-mail: [email protected] 145 MATERNIDADE CLIMÉRIO DE OLIVEIRA ((MCO/UFBA)) fomento de apoio à cadeia produtiva. Após essas etapas e análises de dados, será conduzida a capacitação dos atores envolvidos em um pedido de Indicação de Indicação Geográfica (IG)- os atores envolvidos no depósito de um pedido de IG deverão ser mobilizados/induzidos para apreender os diferentes aspectos relacionados ao processo de IG. Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória: Foram apresentados 4 TCLE- todos eles quando dirigidos a diversos participantes da pesquisa estão redigidos em linguagem clara e acessível. Objetivos, procedimentos, participação voluntária, cifiabilidade e contato tanto com o pesquisador quanto com o Comitê de Ética estão explicitados. Recomendações: Não há Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações: Trata-se de um estudo observacional, de natureza multidisciplinar, com abordagem quantitativa e qualitativa, cujo desfecho busca contribuições científicas, tecnológicas e sócio econômicas. Situação do Parecer: Aprovado Necessita Apreciação da CONEP: Não Considerações Finais a critério do CEP: SALVADOR, 13 de Setembro de 2012 Assinado por: Eduardo Martins Netto Endereço: Rua do Limoeiro, 137 Bairro: Nazaré UF: BA Município: SALVADOR Telefone: (71)3283-9210 CEP: 40.005-150 E-mail: [email protected] 146