20140510 Meia de Rock AO #26
Transcrição
20140510 Meia de Rock AO #26
26 Sábado AÇORIANO ORIENTAL SÁBADO, 10 DE MAIO DE 2014 COORDENAÇÃO HUGO GONÇALVES, JOÃO CORDEIRO E LÁZARO RAPOSO Ben Harper canta ao lado da sua mãe em novo disco DANNY CLINCH Depois de um disco em parceria com a lenda do blues, Charlie Musselwhite, Ben Harper grava com a mãe, Ellen Harper Vinte anos a cantar um mundo cruel Em 1, Ben Harper lançava o seu disco de estreia – “Welcome to the Cruel World”. Vinte anos depois, num vídeo que assinala a efeméride, Ben Harper assume, de forma emocionada, que esse disco é a razão de tantas coisas na sua vida. Não sei quando comprei o disco, mas sei que foi a partir de uma versão ao vivo da música “Please Bleed” – que nem vem neste disco – que me hipnotizou. Desde então, é um álbum a que regresso com frequência. JOÃO CORDEIRO [email protected] Que melhor homenagem pode um músico fazer à sua mãe? Talvez gravar um disco inteiro com ela. E se o lançamento desse disco acontecer no dia da mãe ainda melhor. Foi isso mesmo que fez Ben Harper. “Childhood Home” é um ternurento disco de canções folk sobre família, amor e memórias de outros tempos. Dez temas simples e doces, cantados quase sempre em harmonia, a duas vozes, e com uma evidente cumplicidade. Em pouco mais de meia hora, mãe e filho partilham histórias sobre o percurso da vida. Ben assina seis temas, e a mãe os restantes quatro. Quanto ao som, Ben Harper afirma – sem esconder o orgulho – que “foi tudo gravado como o El- Ben Harper cresceu rodeado de instrumentos, na loja dos avós, em que a mãe trabalhava vis fazia no início. Nenhum instrumento foi amplificado. É tudo acústico”. Afinal, quem é Ellen Harper? Certamente mais conhecida por ser “a mãe de Ben Harper”, Ellen não é propriamente uma novata na música. Trabalhou no Folk Music Center and Museum, loja aberta pelos seus pais e de que ainda hoje é proprietária, e onde aprendeu a dominar vários instrumentos. Foi neste ambiente que o jovem Ben cresceu: rodeado de instrumentos e artistas. A loja dos avós era o destino diário depois da escola, já que Ellen era mãe solteira. Um dos músicos que frequentava o Folk Music Center and Museum era o guitarrista Ry Cooder, que acaba por ter uma clara influência na carreira de Ben Harper. Basta ouvir os dois a tocar slide guitar para perceber o que quero dizer. No seu site, Ben Harper assume que fazer um disco com a mãe era algo em que falavam há muito tempo, e diz mesmo: “Acho que sempre o quisemos fazer”. Se, à partida, pode parecer que Ben Harper fez gesto simpático à mãe ao gravar consigo um disco, depois de conhecer o seu percurso familiar e musical, não posso deixar de pensar que foi muito mais do que isso. Acredito que Ben Harper sabe que deve tudo à sua mãe, que, não só tomou conta dele sem ter um pai por perto, mas ainda lhe abriu as portas para o mundo artístico. Curiosamente, “Childhood Home” surge um ano depois de outro álbum em que Ben Harper fez um exercício de regressão no tempo. Ainda o ano passado, o músico juntou-se a uma lenda da harmónica, o virtuoso Charlie Musselwhite, para gravar “Get Up”, um disco que regressa às raízes do blues. DIREITOS RESERVADOS Lisboetas Ekta Moai fundem influências para criar som único HUGO GONÇALVES [email protected] Cada vez menos surgem bandas que, por um motivo ou outro, conseguem destacar-se das demais. Num mundo onde as almejadas “fórmulas de sucesso” estão praticamente esgotadas e onde quase tudo já se experimentou resta, muitas vezes, reusar, reformular e recriar aquilo que já foi feito. Por vezes o resultado final surge como uma versão refinada e melhorada daquilo que serviu de base. Mas nem sempre é o caso. Ainda mais difícil é conseguirem fazê-lo através da originalidade da música produzida. Este é o caso dos Ekta Moai, banda lisboeta formada por Adriano Macedo (baixo), Mini Master (guitarra), Dino Récio (bateria), Mark Cain (saxofone), Paulo Baldaque (guitarra e voz) e Eduardo Viana (teclado). A própria banda descreve-se como praticante de um rock progressivo/alternativo “aliado a temas vocalizados de carácter intimista, com inclinação para o étereo e inesperado”. Tamanha complexidade já seria de esperar se tivermos em conta que os seus elementos provêm de bandas tão díspares como Primitive Reason, Diabo na Cruz, Tv Rural e Ummadjam. Contudo, a banda é tudo isto e muito mais. A prova do que vos digo está neste “Marte”, o primeiro álbum de originais da banda. Em “Marte” os Ekta Moai alcançaram, logo na estreia, algo que não está ao alcance de muitos. No meio de uma mescla de influências, trazidas certamente pelos seus vários elementos, a banda conseguiu criar um estilo muito próprio que, embora por vezes complexo e exigente por parte do ouvinte, nunca farta. Evidenciar tão cedo uma personalidade tão vincada e fazêlo de forma tão capaz é de louvar. Está, sem dúvida, lançado o mote de uma banda que promete. Capa do álbum de estreia