ROSÁCEA PÁPULO-PUSTULAR GRAVE: RELATO DE CASO

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ROSÁCEA PÁPULO-PUSTULAR GRAVE: RELATO DE CASO
ROSÁCEA PÁPULO-PUSTULAR GRAVE: RELATO DE CASO
Maristela da Silva Andreoni1; Raquel Araújo Martos Battaglin2
Email: [email protected]
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Médica, pós-graduada em Dermatologia Clinica e Dermatologia Estética Avançada pelo Instituto Sup. de Med. e Dermatol, SP/Brasil
Médica, pós-graduada em Dermatologia Clinica pelo Instituto Sup. de Med. e Dermatol, SP/Brasil
Objetivo: Discutir aspectos relativos ao diagnóstico e tratamento da rosácea, a partir do relato de um caso.
Método: Revisão de literatura sobre rosácea, incluindo a clínica, o diagnóstico e a terapêutica.
Relato do caso: Paciente do gênero feminino, 27 anos, auxiliar de cozinha, com diagnóstico de rosácea e relato de
agudizações esporádicas, com remissão espontânea. Diante de quadro exacerbado, procura atendimento médico em
clínica particular, relatando estresse emocional prévio. Ao exame observaram-se: eritema, telangiectasias, múltiplas
pápulas e pústulas de permeio (Figura 1). Foi prescrito metronidazol tópico a 1% e oral 1,5 g/dia; evoluiu com piora
importante, surgindo pápulas eritemato-descamativas em base espessada, aparência áspera e disseminação para as
regiões retro-auriculares, pescoço, colo, dorso e membros superiores (Figuras 2, 3 e 4). Associou-se isotretinoína (0,3
mg/Kg de peso), quando então a paciente evoluiu com melhora progressiva até a remissão quase completa ao término
do terceiro mês, persistindo ainda eritema leve e algumas pápulas. O anatomopatológico revelou dermatite crônica
linfohistiocitária, sugestiva de rosácea.
Figura 1 : Quadro clínico inicial
Figuras 2, 3 e 4: Exacerbação da rosácea com disseminação das lesões
Figuras 5 e 6: Remissão do quadro
Discussão: A rosácea é uma desordem inflamatória crônica que cursa com remissões e exacerbações, com maior
incidência em caucasianos e em mulheres; um terço dos pacientes tem história familiar positiva1. Diversos estudos
sugerem etiologia multifatorial, associando predisposição genética, fatores intrínsecos e extrínsecos à expressão
fenotípica da doença2. São fatores desencadeantes: exposição solar, estresse emocional, atividade física, frio e calor,
bebidas quentes, álcool e alimentos picantes, os quais participam em graus variáveis e em diferentes momentos no
curso da doença3. A clínica inclui flushing, eritema persistente, pápulas, pústulas e teleangectasias como sinais
primários4 e, queimação, placas eritematosas, aspereza, descamação, edema, manifestações oculares, lesões
periféricas e alterações fimatosas como sinais secundários5,7. Afeta as áreas centrais da face e os olhos, mas pode
envolver as regiões retroauriculares, esternal, dorso e couro cabeludo1. De acordo com o tipo de lesão predominante, o
National Rosacea Expert Committee, classificou a doença em: eritematotelangiectásica (flushing, eritema facial central
persistente, telangectasias e eventual envolvimento das orelhas, pescoço e tórax); pápulo-pustular (eritema facial
central com pápulas e/ou pústulas, podendo envolver as regiões perioral, perinasal e periocular); fimatosa
(espessamento da pele com dilatação dos orifícios foliculares); ocular (blefarite e conjuntivite)5. São consideradas
variantes desta classificação a rosácea granulomatosa (caracterizada por pápulas ou nódulos amarelos, marrons ou
eritematosos periorais, perioculares e/ou malares; até 15% dos pacientes tem manifestações extrafaciais; o granuloma
é uma característica histológica) e a rosácea fulminante (início súbito de pápulas, pústulas e nódulos coalescentes no
queixo, bochechas e região frontal)6,7. O diagnóstico é inicialmente clínico, pelo achado de um ou mais dos sinais
primários, podendo ser corroborado ou não com o exame histopatológico, cujos achados incluem: infiltrado linfocitário
perivascular superficial, coleções de neutrófilos intrafoliculares, infiltrado linfohistiocitário perifolicular, granulomas
epitelióides não caseosos perivasculares e perifoliculares5. O tratamento visa a remissão do quadro e o controle da
doença, já que a cura ainda não é conhecida. Inclui a identificação dos fatores desencadeantes e orientação quanto
aos meios de prevenção, fotoproteção, terapia tópica com metronidazol 0,75 – 1%, ácido azelaico a 15%,
sulfacetamida de sódio a 10% com 5% de enxofre (tópicos aprovados pela Food and Drug Administration) e terapia
sistêmica. Esta inclui antimicrobianos, como a tetraciclina, eritromicina e metronidazol, betabloqueadores,
contraceptivos orais, clonidina, isotretinoína, entre outros. A isotretinoína é usada na dose de 0,5 – 1mg/Kg e indicada
para os casos graves e recalcitrantes. Além destes, são também empregados o laser e a luz intensa pulsada5,6,7.
Conclusão: As manifestações clínicas iniciais da paciente em questão sugeriam o diagnóstico de rosácea pápulopustular, tendo-se identificado o estresse e o calor ocupacional como desencadeantes. A piora do quadro com
disseminação das lesões nos fez pensar na variante granulomatosa, não confirmada pelo anatomopatológico. Assim,
concluímos por rosácea pápulo-pustular grave, com resposta satisfatória à terapia, ainda em curso. Vale ressaltar que a
posologia de isotretinoína empregada foi menor do que a preconizada na literatura e que optou-se por tal com o intuito
de prevenir a possível piora do quadro (flare up) ao iniciar o uso de derivado retinóide. Diante de resposta satisfatória,
manteve-se a posologia inicial.
Bibliografia: 1. ROSSO, J.Q. Update on rosacea pathogenesis and correlation with medical therapeutic agents. Cutis, 78(2): 97-100, 2006; 2.
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