Baixar Arquivo - Rema - Universidade Federal de Santa Catarina

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Baixar Arquivo - Rema - Universidade Federal de Santa Catarina
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLÓGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL
SUHITA MONTEIRO RAMOS
ANÁLISE COMPARATIVA DA INFLUÊNCIA DO ETANOL
EM DIFERENTES PROCESSOS DE REMEDIAÇÃO DE
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS IMPACTADAS POR GASOLINA
DISSERTAÇÃO
FLORIANÓPOLIS - SC
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLÓGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL
SUHITA MONTEIRO RAMOS
ANÁLISE COMPARATIVA DA INFLUÊNCIA DO ETANOL
EM DIFERENTES PROCESSOS DE REMEDIAÇÃO DE
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS IMPACTADAS POR GASOLINA
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Engenharia Ambiental da
Universidade Federal de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre
em Engenharia Ambiental.
Orientador: Prof. Dr. Henry Xavier Corseuil
Co-orientadora: Drª. Cristina Cardoso Nunes
FLORIANÓPOLIS
2010
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina
R175a
.
Ramos, Suhita Monteiro
Análise comparativa da influência do etanol em
diferentes processos de remediação de águas subterrâneas
impactadas por gasolina [dissertação] / Suhita Monteiro
Ramos ; orientador, Henry Xavier Corseuil. - Florianópolis,
SC, 2010.
104 f.: il., grafs., tabs., mapas
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Ambiental.
Inclui referências
1. Engenharia ambiental. 2. Águas subterrâneas. 3.
Etanol. 4. Gasolina. 5. Remediação. I. Corseuil, Henry
Xavier. II. Universidade Federal de Santa Catarina.
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental. III.
Título.
CDU 628.4
TERMO DE APROVAÇÃO
SUHITA MONTEIRO RAMOS
“Análise comparativa da influência do etanol em diferentes processos de remediação de
águas subterrâneas impactadas por gasolina.”
Dissertação submetida ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção
do grau de
MESTRE EM ENGENHARIA AMBIENTAL
Aprovado por:
____________________________________________________
Prof. Hugo Moreira Soares, Dr.
Departamento de Engenharia Química, UFSC (SC)
____________________________________________________
Prof. Rejane Helena Ribeiro da Costa, Dra.
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFSC (SC)
____________________________________________________
Prof. Henry Xavier Corseuil, Dr.
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFSC (SC)
(Orientador)
____________________________________________________
Prof. William Gerson Matias, Dr.
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFSC (SC)
____________________________________________________
Prof. Flávio Rubens Lapolli, Dr.
(Coordenador PPGEA)
FLORIANÓPOLIS, SC - BRASIL
OUTUBRO/2010
Aos meus pais, irmãos, madrinha e tia Irene,
por todo o amor, dedicação, compreensão,
paciência, instrução, exemplos
e pelo sentido que dão à minha vida.
vii DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
AGRADECIMENTOS
Ao Ministério dos Petróleos de Angola pela bolsa de pesquisa e ao CENPES/PETROBRAS e
TRANSPETRO/PETROBRAS pelo financiamento do projeto.
Ao Professor Henry Xavier Corseuil, pela confiança, oportunidade, ensinamentos,
profissionalismo, paciência e dedicação na orientação deste trabalho.
À Dra. Cristina Cardoso Nunes pela co-orientação “energética”, pelo entusiasmo, paciência,
alto astral, parênteses abertos e fechados, dedicação, rigor e amizade ao longo do mestrado.
À Dra. Marilda Fernandes pelos ensinamentos, paciência, dedicação, apoio e valiosas
orientações a área laboratorial, pela energia positiva e pela a amizade.
À Helen Chiaranda pelos ensinamentos, inesgotável paciência durante o esclarecimento das
minhas intermináveis dúvidas, pelo carinho e amizade dentro e fora do laboratório.
Aos colegas e amigos do laboratório REMAS pela amizade, carinho, experiências, dedicação,
ensinamentos e valiosas contribuições neste trabalho: Karina Joussef, Jean Junkes, Camile
Machado, Ana Schneider, Alexandre Scheidt, Débora Ramos, Mário do Rosário, Carlos
Amorim Jr., Márcia Farias, Juliana Müller, Cássio Schambeck, Camila Müller, José Neto,
Daniele Pezzini, Pilar Serbent, Pieter van der Zon, Renata Pacheco, Djema Cristiano, Tácito
de Lucca e a todos os bolsista do laboratório. Agradeço em especial aos amigos Lorena
Guimarães e ao Bruno Colonese pelo carinho dentro e fora do laboratório.
Ao Professor José Carlos e Alexandre pela montagem e manutenção da área experimental.
À banca examinadora, pela disponibilidade.
À professora Regina Antônio.
À Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ao Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Ambiental (PPGEA), pela infra-estrutura e equipe disponibilizada.
À Ângela e Delmo pelo imenso carinho, apoio incondicional, amizade, ensinamentos e
equílibrio emocional que me proporcionaram em todos os momentos.
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Ao meu tio Orlando Marques pela disponibilidade na leitura do trabalho, paciência, rigor e
críticas construtivas.
Aos meus amigos pelos momentos mágicos que, cada um com o seu carisma, fizeram de mim
uma pessoa melhor e com certeza alguns deles farão sempre parte da minha vida: Jaime
Lozano, Jonas Vian, Juan Pablo Quimbayo, Ekta Shah, Karin Santos, Dina Mazariegos, Cira
Mejia, Isabela Belarmino, Mitsue Yanai, Maria Cecília Gomes, Luis Guillermo Romero,
Jacqueline Vistuba, Elmer Gamboa, Jonatan Rodas, Ana Luisa Mena, Miguel Herrera, Luna
“garfield”, Bruno Segalla, João Paulo Pedro, Clarisse López, Alvaro Guzman.
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ix RESUMO
O uso do etanol como aditivo nos combustíveis fósseis é uma das políticas mundiais que vem
ao encontro das exigências ambientais para promover o desenvolvimento sustentável. Apesar
do avanço ambiental do uso do etanol no que diz respeito à qualidade da atmosfera mundial, a
sua adição na gasolina torna a questão bem mais complexa em ambientes subterrâneos, pois
ele é o substrato preferencial e a biodegradação dos compostos BTEX é relegada a um
segundo plano até ao seu esgotamento. Neste estudo foram avaliados e comparados resultados
de três processos de remediação nos quais foram feitas liberações controladas de gasolina
contendo diferentes volumes de etanol (24, 25 e 10%), a saber, Atenuação Natural
Monitorada (ANM), Bioestimulação Ativa com Nitrato (BAN) e Bioestimulação Ativa com
Sulfato (BAS). Somente para o estudo da BAN foi possível constatar diminuição da
concentração do etanol (teste de estatístico de Mann-Kendall, α = 10%) tendo a região da
fonte, de acordo com o teste, sido considerado intemperizada. No caso da BAS, ainda que
aquele estudo contasse com injeções de 126Kg de sulfato de sódio ao longo de 12 meses após
a liberação, as injeções não auxiliaram na aceleração das condições sulfato-redutoras do meio,
devido à disponibilidade de receptores de elétrons mais favoráveis termodinamicamente no
aquífero em estudo. Desta forma, em caso da necessidade de se realizar uma biorremediação
ativa em derramamentos de gasolina com etanol, estratégias que visem acelerar o processo de
biodegradação do etanol (como as injeções de nitrato) devem ser empregadas de forma a
antecipar a biodegradação dos BTEX e impedir o avanço das plumas destes compostos.
Palavras-Chave: Águas subterrâneas, Etanol, Gasolina, Remediação.
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
xi ABSTRACT
The use of ethanol as a fossil fuel additive is one of the global policies aiming to comply with
environmental demands to promote a sustainable development. Despite its potential to reduce
atmospheric pollution, ethanol addition to gasoline is a cause of concerns due to its ability to
act as the preferential substrate by the microorganisms, which delays BTEX biodegradation.
In this study, results of three remediation processes were evaluated and compared, namely,
Natural Attenuation, Biostimulation with Nitrate, and Biostimulation with Sulphate. The three
studies involved controlled spills of gasohol containing different volumes of ethanol (24%,
25%, and 10%). Only in the study of Biostimulation with Nitrate, it was possible to observe a
decrease in ethanol concentration (Mann-Kendall statistical test, α = 10%), thus, the source
area was considered weathered. In the study of Biostimulation with sulphate, in which 126 Kg
of sodium sulphate were injected for a 12 month period, the injections did not favored
sulphate reducing conditions due to the availability of more thermodynamically favorable
electron acceptors in the area. Therefore, when considering the use of active bioremediation in
gasohol spills, approaches that seek to accelerate the biodegradation of ethanol (such as
nitrate injections) should be considered in order to anticipate the BTEX biodegradation and
prevent the spreading of plumes of such compounds.
Key-words: Ethanol, Gasoline, Groundwater, Remediation
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xiii LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Esquema do processo de biodegradação..................................................................... 8 Figura 2– Evolução geoquímica da água subterrânea .............................................................. 11 Figura 3– Correlação entre o potencial de oxidação-redução e energia liberada ..................... 12 Figura 4 – Localização da área de estudo dos experimentos ANM, BAN e BAS ................... 25 Figura 5 - Mapa da área experimental da ANM com os poços de monitoramento .................. 26 Figura 6 - Mapa da área do experimento da BAN com poços de monitoramento ................... 27 Figura 7 – Precipitação mensal na região de Florianópolis. ..................................................... 29 Figura 8 – Seções geológicas interpretadas a partir de perfis descritivos. ............................... 30 Figura 9- Visualização e ilustração da configuração experimental da área da BAS ................ 33 Figura 10– Ilustração do sistema de identificação dos níveis de amostragem. ........................ 34 Figura 11 – Sistema de injeção do experimento do experimento da BAS ............................... 35 Figura 12 – Figura da fonte de contaminação do experimento da BAS .................................. 37 Figura 13 - Análise de tendência pelo método estatístico de Mann-Kendall. .......................... 43 Figura 14 – Gráfico comparativo da concentração do etanol nos 3 experimentos ................... 46 Figura 15 – Gráfico comparativo da concentração de OD nos 3 experimentos ....................... 49 Figura 16 – Gráficos comparativos da concentração de Fe (II) registrada nos 3 experimentos
.................................................................................................................................................. 51 Figura 17 – Gráfico comparativo da concentração de acetato nos 3 experimentos ................. 53 Figura 18 – Gráficos comparativos da concentração de metano nos 3 experimentos .............. 55 Figura 19 – Gráficos comparativos do POR nos 3 experimentos............................................. 57 REMAS
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Figura 20 – Gráficos comparativos da concentração de sulfato nos 3 experimentos .............. 59 Figura 21 – Gráficos comparativos da concentração de nitrato nos 3 experimentos ............... 60 Figura 22 – Gráficos comparativos das concentrações dos BTEX individuais e total nos 3
experimentos ........................................................................................................................... 65 Figura 23 – Planilha de teste de Mann-Kendall do etanol e dos BTEX ao longo de 12 meses
do experimento da ANM.......................................................................................................... 67 Figura 24 - Planilha de teste de Mann-Kendall do etanol e dos BTEX ao longo de 12 meses do
experimento da BAN. .............................................................................................................. 68 Figura 25 - Planilha de teste de Mann-Kendall do etanol e dos BTEX ao longo de 12 meses do
experimento BAS. .................................................................................................................... 69 REMAS
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xv LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Propriedades físico-químicas do etanol..................................................................... 6 Tabela 2 - Propriedades dos vários receptores de elétrons. ...................................................... 15 Tabela 3-Valores máximos e mínimos das variáveis encontradas na água subterrânea
analisados antes liberação do combustível E10........................................................................ 31 Tabela 4 – Tabela de relação para valores estatísticos de Mann-Kendall (S) negativos. ......... 44 Tabela 5 – Propriedades dos BTEX nas diferentes concentrações de etanol das gasolinas
utilizadas nos 3 experimentos ................................................................................................... 62 Tabela 6 – Relação de massa entre o etanol e os BTEX em cada experimento. ...................... 63 REMAS
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xvii LISTA DE ABREVIATURAS
ANM - Atenuação Natural Monitorada
BAN - Bioestimulação Ativa com Nitrato
BAS - Bioestimulação Ativa com Sulfato
BTEX – Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e Xilenos
CETESB – Companhia Integrada de Saneamento Ambiental de São Paulo
EPA – Agência de Proteção Ambiental
ENS – Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental
Eh0 – Potencial de Oxidação-Redução Padrão
Eq. – Equação
kPa - Quilopascal
LEBAC – Laboratório de Estudos de Bacias
POR – Potencial de oxidação-redução
PPGEA – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental
REMAS – Laboratório de Remediação de Águas Subterrâneas
SC – Santa Catarina
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UNESP – Universidade Estadual Paulista
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
xix SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS..................................................................................................... vii RESUMO ............................................................................................................................... ix ABSTRACT .......................................................................................................................... xi LISTA DE FIGURAS .....................................................................................................xiii LISTA DE TABELAS...................................................................................................... xv LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................... xvii 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................. 1 1.2 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 3 1.2.1 Objetivos Específicos ................................................................................................. 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 5 2.1 O USO DO ETANOL COMO BIOCOMBUSTÍVEL ...................................................... 5 2.2 BIODEGRADAÇÃO EM SUBSUPERFÍCIE.................................................................. 8 2.2.1 Conceitos Gerais ......................................................................................................... 8 2.2.2 Termodinâmica ......................................................................................................... 10 2.2.3 Fermentação e Respiração ........................................................................................ 12 2.3 ESTRATÉGIAS DE REMEDIAÇÃO ............................................................................ 14 2.3.1 Atenuação Natural Monitorada ................................................................................ 16 2.3.2 Nitrato-Redução........................................................................................................ 20 2.3.3 Sulfato-Redução ....................................................................................................... 21 3. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 24 3.1 ÁREA DE ESTUDO DOS EXPERIMENTOS .............................................................. 24 3.1.1 Descrição da Área Experimental da ANM ............................................................... 25 REMAS
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3.1.2 Descrição da Área Experimental da BAN ............................................................... 26 3.2 CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DA ÁREA DO EXPERIMENTO DA
BAS ...................................................................................................................................... 27 3.3 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA DOS EXPERIMENTOS DA BAN E BAS ...... 29 3.4 CARACTERIZAÇÃO GEOQUÍMICA E HIDROQUÍMICA DO EXPERIMENTO DA
BAS ...................................................................................................................................... 31 3.5 CONFIGURAÇÃO EXPERIMENTAL DA ÁREA DO EXPERIMENTO DA BAS .. 31 3.5.1 Instalação dos Poços de Monitoramento e Injeção .................................................. 31 3.5.2 Sistema de Injeção ................................................................................................... 34 3.5.3 Preparação da Solução de Injeção ............................................................................ 35 3.6 LIBERAÇÃO CONTROLADA NO EXPERIMENTO DA BAS ................................. 36 3.7 VARIÁVEIS DE MONITORAMENTO NOS 3 EXPERIMENTOS ............................ 37 3.7.1 Equipamentos de Amostragem ................................................................................ 37 3.7.2 Coleta de Amostras .................................................................................................. 38 3.7.3 Monitoramentos e Injeções ...................................................................................... 38 3.8 DETERMINAÇÕES ANALÍTICAS ............................................................................. 38 3.8.1 BTEX, Etanol e Metano ........................................................................................... 38 3.8.2 Ânions – Brometo, Fosfato, Sulfato, Acetato, Nitrito, Cloreto e Nitrato ................ 39 3.8.3 Ferro (II) e Sulfeto ................................................................................................... 39 3.8.4 Alcalinidade e Acidez .............................................................................................. 40 3.9 TRATAMENTO DE DADOS DOS 3 EXPERIMENTOS ............................................ 40 3.9.1 Análise Temporal ..................................................................................................... 40 3.9.2 Teste de Mann-Kendall ............................................................................................ 42 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 45 4.1 ANÁLISE DOS INDICADORES DE BIODEGRADAÇÃO ........................................ 45 4.1.1 Etanol ....................................................................................................................... 46 4.1.2 Oxigênio Dissolvido ................................................................................................ 48 REMAS
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xxi 4.1.3 Ferro (II) ................................................................................................................... 50 4.1.4 Acetato ...................................................................................................................... 52 4.1.5 Metano ...................................................................................................................... 54 4.1.6 Potencial de Oxidação-Redução ............................................................................... 56 4.1.7 Sulfato....................................................................................................................... 58 4.1.8 Nitrato ....................................................................................................................... 59 4.1.9 BTEX Total .............................................................................................................. 60 4.2 ABORDAGEM ESTATÍSTICA NA COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE
REMEDIAÇÃO .................................................................................................................... 66 4.2.1 Teste de Mann-Kendall ............................................................................................ 66 5. CONCLUSÕES ............................................................................................................. 70 6. RECOMENDAÇÕES .................................................................................................. 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 74 APÊNDICES ....................................................................................................................... 82 REMAS
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1 1. INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O mundo atravessa uma era sem precedentes na produção e uso de biocombustíveis, sendo
estes considerados como qualquer combustível produzido a partir de espécies vegetais (canade-açúcar, soja, mamona, óleo de dendê, girassol, etc.). O rápido interesse pela produção e
comercialização dos biocombustíveis, deve-se ao fato de os mesmos serem substitutos mais
sustentáveis e tecnologicamente mais compatíveis com os combustíveis derivados do
petróleo.
A combustão dos biocombustíveis causa a liberação de dióxido de carbono (CO2) na
atmosfera, mas, uma vez que essas emissões já são parte do ciclo de carbono (pois são
absorvidas pelas plantas durante o seu crescimento), elas não contribuem para novas emissões
de CO2 (WORLDWATCH INSTITUTE, 2007). O etanol, devido à sua característica
oxigenada, auxilia no processo de redução de gases de efeito estufa através do aumento de
eficiência do processo de combustão, tornando-se assim uma fonte de energia limpa cada vez
mais solicitada.
À medida que ascende a preocupação com a qualidade do ar, com a busca de novas técnicas
que mitiguem os gases de efeito estufa, levanta-se também a questão, de origem
socioecológica, que é a problemática da escassez de água mundialmente. A crescente
deterioração das águas superficiais, devido à poluição urbana e rural, tem levado ao aumento
da procura de novas fontes naturais desta, que visem suprir a demanda cada vez maior, de
água com qualidade assegurada. Essa procura levou à captação e uso de água subterrânea
como alternativa para abastecimento urbano. Mundialmente, mais de 30 países sofrem com
escassez de água e o consumo de água subterrânea tem vindo a aumentar de forma a suprir a
demanda (UNESCO, 2005). Até 2003, cerca de dois bilhões de pessoas dependiam de água
subterrânea (UNEP, 2003). O aumento da dependência da água subterrânea para
abastecimento público da nação brasileira pode ser verificado pelo crescimento de 72 (1997)
para 80% em 2006, representando um suprimento de água a 5,5 milhões de habitantes.
Regionalmente, no estado do Paraná e do Rio Grande do Sul, a porcentagem de água
subterrânea utilizada para abastecimento chega a 90%, e no Piauí e Maranhão acima de 80 e
70% respectivamente (ANA, 2009).
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Ainda que a dependência pelas águas subterrâneas aumente anualmente, esse recurso vem
perdendo qualidade devido à sua contaminação por fontes antropogênicas tais como lixões,
aterros mal operados, acidentes com substâncias tóxicas, atividades inadequadas de
armazenamento, manuseio e descarte de matérias primas, efluentes e resíduos de atividades
industriais, entre outros (BEDIENT et al., 1994; CETESB, 2001). A contaminação de
aquíferos por combustíveis é um problema mundial, principalmente devido à toxicidade dos
compostos monoaromáticos, os BTEX (Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e Xilenos) que
compõe a gasolina, uma vez que estes são prejudiciais à saúde por serem cancerígenos. No
Brasil, os padrões de potabilidade estão previstos na portaria no. 518, do Ministério da Saúde,
de 25 de março de 2004, onde o valor máximo permitido para o benzeno, tolueno, etilbenzeno
e xilenos são de 5; 170; 200 e 300 μg/L respectivamente.
No Brasil, o uso de biocombustíveis data de 1975com a introdução do etanol como fonte
energética para automotivos leves. A origem do uso de biocombustíveis no Brasil teve causa
econômica, derivada da crise mundial do petróleo. No Brasil, está atualmente vigente a
portaria no. 51, de 22 de fevereiro de 2006 (BRASIL, 2006), que estipula a adição de etanol à
gasolina numa proporção que varia de 20-25%. Vários países, entre eles Colômbia, Peru,
Canadá, Tailândia, China,Jamaica, Índia, Austrália, Estados Unidos, vêm também adotando a
prática de misturar etanol à sua gasolina entre 5-10% volume/volume (E5 e E10
respectivamente. Em alguns estados americanos, essa mistura, no entanto, pode chegar até
95% de etanol.
Em casos de derramamento em águas subterrâneas, a adição de etanol contribui com a
permanência prolongada dos BTEX na água subterrânea, uma vez que o etanol é o substrato
preferencial dos microorganismos (Corseuil et al., 1998). Assim, uma vez poluídas, as águas
subterrâneas requerem um elevado dispêndio de recursos financeiro e humano para a sua
remediação, o que de modo geral é atingido ao final de vários anos. Desta maneira, torna-se
essencial a busca por desenvolvimento de tecnologias de remediação, bem como o
aprimoramento dos já existentes de forma a solucionar os problemas gerados e recuperar a
qualidade das águas subterrâneas.
Os processos de remediação são métodos que se vêm aperfeiçoando ao longo dos anos devido
à necessidade de se reduzir os custos das descontaminações de áreas impactadas. Esses
processos podem ser ativos ou passivos, dependendo da rapidez da resposta desejada. A
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3 Atenuação Natural Monitorada (ANM) é um processo de remediação passivo, enquanto a
Bioestimulação Ativa com Nitrato (BAN), na qual a objetivo é estimular o processo de
nitrato-redução (ou desnitrificação) e a Bioestimulação Ativa com Sulfato (BAS) que estimula
o processo de sulfato-redução, são processos de remediação ativos que ocorrem quando o
nitrato e o sulfato servem como receptor de elétrons, auxiliando assim na biodegradação do
contaminante.
Como processo de remediação, a sulfato-redução tem-se mostrado uma alternativa promissora
na descontaminação de aquíferos contaminados com misturas de gasolina e etanol
(REINHARD et al., 1997; ULRICH e SUFLITA, 2002). Na ausência de etanol, a sulfatoredução mostrou-se eficaz na biodegradação do benzeno, composto de maior toxicidade
(LOVLEY e ANDERSON, 2000; ULRICH e SUFLITA 2002) e na presença do etanol, o
consumo do mesmo reduziu a biodegradação dos BTEX (MACKAY et al., 2007).
Uma vez que a presença do etanol atrasa a biodegradação dos compostos monoaromáticos, é
necessário que se avaliem processos de remediação que visem acelerar a biodegradação do
etanol de maneira que seja antecipada a biodegradação dos BTEX. Assim, o tempo necessário
para a completa biodegradação do etanol dependerá tanto da relação volume/volume do
biocombustível na mistura (5 a 95%), como do tipo de processo de remediação utilizado. O
presente estudo está baseado em experimentos de campo que consideram diferentes processos
de remediação (ANM, BAS, BAN) e volumes de etanol (24, 25 e 10%) em misturas de
gasolina e álcool. A abordagem proposta poderá auxiliar nas tomadas de decisão para a
escolha de métodos mais eficazes para o tratamento de aquíferos contaminados com gasolina.
1.2 OBJETIVOS
Avaliar o comportamento do etanol e dos BTEX em misturas de gasolina em derramamentos
subsuperficiais utilizando diferentes processos de remediação.
1.2.1 Objetivos Específicos
1. Avaliar a influência e o decaimento de etanol na presença de diferentes receptores finais de
elétrons disponíveis;
2. Avaliar a estratégia de remediação de áreas impactadas com gasolina com etanol em função
dos diferentes receptores de elétrons disponíveis.
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3. Aplicar teste Mann-Kendall para avaliar o decaimento do etanol e compostos BTEX nos
diferentes processos de remediação.
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5 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O USO DO ETANOL COMO BIOCOMBUSTÍVEL
Com a crescente conscientização sobre a necessidade do uso de energias renováveis e limpas,
o etanol vem ganhando cada vez mais espaço no mercado dos combustíveis como substituto
parcial da gasolina. O etanol é um combustível líquido que se presta à substituição de
derivados leves de petróleo, seja pelo uso direto em motores a combustão, seja por sua adição
à gasolina, podendo ser produzido a partir de qualquer matéria-prima biológica, que contenha
quantidades apreciáveis de açúcares ou materiais que possam ser convertidos em açúcares
como amidos ou celulose (BRASIL, 2007). A importância ambiental do uso do etanol como
um oxigenado nas misturas com a gasolina,é justificada pela melhorana qualidade da queima
da gasolina, auxiliando na redução de emissões tóxicas tais como monóxido de carbono
(ATLAS e BARTHA 1987; NIVEN, 2005).
Apesar de o etanol se mostrar um forte aliado na qualidade do ar, através da redução de gases
de efeito estufa, quando presente em ambientes subterrâneos a sua posição é preocupante. Isto
ocorre devido à sua natureza simples de álcool de cadeia curta que o torna facilmente
degradado, bem como devido à sua alta solubilidade e consequente migração facilitada como
ocorre nos casos de derramamento de combustível, em que o etanol migra mais rápido que os
demais componentes presentes na gasolina, ocasionando assim, consequências para o meio
subterrâneo uma questão complexa.
Quando presente em baixas concentrações (i.e., não tóxicas aos microorganismos), o etanol é
um composto facilmente degradado a produtos não tóxicos e pode ser metabolizado por uma
vasta variedade de microorganismos sob condições aeróbias e anaeróbias sem que seja
necessário um período de aclimatização (ALVAREZ e HUNT, 2002; MACKAY et al., 2006),
uma vez que este é produzido como intermediário comum durante a fermentação da matéria
orgânica (ATLAS e BARTHA 1987; CALDWELL, 1995; ULRICH, 1999) e assim, a sua
presença no meio subterrâneo não representa nenhumaanormalidade no metabolismo dos
microorganismos. No entanto, em ambientes subterrâneos e deficientes de fontes de carbono,
a introdução de uma fonte de carbono facilmente degradável pode gerar alterações nas
condições oxi-redutoras que prevalecem no meio, bem como na estrutura e na
funcionalidadedas comunidades microbianas no meio (FERIS et al., 2008). Algumas das
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
alterações do modo de ação dos microorganismos baseiam-se no fato de os mesmos optarem
por biodegradar preferencialmente as formas mais simples de carbono (ex. etanol) em relação
às formas mais complexas e mais tóxicas (ex. BTEX). Este fato gera o retardo e o
prolongamento da extensão das plumas de contaminação dos BTEX, devido à demanda
exercida pelo etanol no consumo de oxigênio que poderia ser utilizado para a biodegradação
dos BTEX (CORSEUIL et al., 1998; ALVAREZ e HUNT, 2002; MACKAY et al., 2007).
Outro efeito negativo do etanol está relacionado com a sua capacidade de agir como
cossolvente que, sendo um composto hidrofílico e altamente solúvel em água, quando
presente em concentrações superiores a 10% pode aumentar a solubilidade aquosa dos BTEX
(CORSEUIL e FERNANDES, 1999; POWERS et al., 2001; CORSEUIL et al., 2004).
Como o etanol possui baixa toxicidade e baixa permanência no meio, o mesmo não é
considerado tóxico e, portanto, não existem padrões de regulamentação (ZHANG et al.,
2006). As propriedades do etanol encontram-se na Tabela 1 abaixo:
Tabela 1 - Propriedades físico-químicas do etanol.
Propriedades
Fórmula
Massa molecular (g/mol)2
Densidade relativa (a 20oC, em g/cm3)2
Pressão de vapor (a 26oC em mmHg)2
Ponto de ebulição (oC)2
Solubilidade em água(g/100g H2O)2
Constante da lei de Henry (adimensional)1
Etanol
C2H5OH
46,07
0,792
60
78,3
∞
6,30x10-6
FONTE: Wingrove e Caret, 1981 1;CETESB, 2001 2
Devido à sua infinita solubilidade em água (Tabela 1), a concentração do etanol é governada
predominantemente pela diluição. Assim, através da baixa solubilidade em água dos
compostos BTEX em relação ao etanol, este tornar-se o composto dissolvido dominante
próximo à fonte de contaminação (ULRICH, 1999).
Considerando o comportamento químico do etanol, é esperado que durante vazamentos
subterrâneos, o mesmo particione rapidamente para a água subterrânea e se torne
ocontaminante dissolvido dominante à jusante do derramamento. A característica estrutural do
etanol (Tabela 1) favorece a sua rápida biodegradação, bem como a sua taxa de mobilidade
quando presente em ambientes subterrâneos (i.e. a mobilidade é definida pelo fluxo da água
subterrânea). Desta forma, os mecanismos abióticos para a atenuação de contaminantes em
ambientes subterrâneos (sorção, volatilização e transporte advectivo) não contribuem
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significativamente para a perda ou redução de mobilidade do etanol quando este se encontra
em ambientes subterrâneos, nesse caso, o transporte e destino do etanol serão
predominantemente definidos pela biodegradação (WIEDEMEIER et al., 1999a).
O etanol pode ser misturado em diversos volumes na gasolina. No Brasil, é utilizada uma
mistura que varia entre 20 a 25%, confome mencionado anteriormente. A gasolina E10 é um
combustível que contém 10% de etanol (v/v) e que pode ser utilizado em todos os veículos e
motores independentemente de os mesmos terem sido projetados para funcionar apenas com
gasolina (WORLDWATCH INSTITUTE, 2007), uma vez que volumes de etanol superiores a
10% estão sujeitos ao comprometimento das fábricas de veículos em atender à demanda de
veículos flex (veículos que funcionam com volumes mais elevados de etanol). Nos Estados
Unidos, aproximadamente 98% do etanol consumido nos combustíveis é comercializado
como mistura de 10% na gasolina comum.
Em experimentos realizados em microcosmos (LAWRENCE et al., 2009) comparando os
combustíveis E10, E50 e E90, foi observado que o combustível E10 foi aquele que apresentou
menores taxas de biodegradação (2 a 10 vezes mais lento) para os compostos BTEX em
relação aos outros combustíveis testados. Naquela pesquisa, foi sugerido que na presença de
etanol, há um crescimento acidental de bactérias degradadoras de BTEX e que, portanto,
quanto mais elevada a concentração de etanol presente, maior a taxa de crescimento dessas
bactérias e por conseguinte maior a taxa de biodegradação dos BTEX. Para o combustível
E24 (24% de etanol), foi constatado que agrande massa de microorganismos desenvolvida
com a biodegradação do etanol também foi responsável pela redução de massa dos BTEX
após o esgotamento do etanol, devido à intensificação da taxa de biodegradação anaeróbia
(NUNES e CORSEUIL, 2007).
A avaliação da biodegradação do etanol é necessária para que se possa prever o
comportamento deste no meio ambiente. Um fator importante que governa a biodegradação
de contaminantes orgânicos é a presença de receptores de elétrons no meio. Corseuil et al.
(1998), em estudo de laboratório, determinaram as taxas de biodegradação do etanol em
condições nitrato- e sulfato-redutoras bem como metanogênicas, apresentando valores de
>100; 8 e 10 mg/L.d, respectivamente. Uma vez que o etanol é facilmente biodegradável em
condições aeróbias e anaeróbias, as taxas de biodegradação, bem como processos metabólicos
da sua oxidação, são influenciados pelos receptores de elétrons presentes no local impactado.
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2.2 BIODEGRADAÇÃO EM SUBSUPERFÍCIE
2.2.1 Conceitos Gerais
Os microorganismos obtêm energia para o seu crescimento e suas atividades, através de
reações de oxidação e redução (oxi-redução), na qual os elétrons são transferidos de um grupo
de compostos para outro, denominando-se doadores e receptores de elétrons respectivamente.
Nesse processo, energia é liberada resultando na oxidação do doador de elétron e na
concomitante redução do receptor de elétrons. Quanto maior o estado de oxidação do
substrato e do produto final, maior a liberação de energia (GRADY e LIM, 1980). Os
doadores de elétrons são compostos que ocorrem em estados reduzidos e incluem compostos
orgânicos naturais tais como, hidrocarbonetos de petróleo entre outros. Já os receptores de
elétrons são compostos que ocorrem em estados oxidados e são relativamente oxidáveis,
sendo o oxigênio dissolvido, o nitrato, o íon férrico, o sulfato ou o CO2 os mais comumente
utilizados pelos microorganismos em ambientes naturais (CHAPELLE, 1993; WIEDEMEIER
et al., 1999b). Assim, os compostos orgânicos são biodegradados através da oxidação
biológica, quando os doadores e receptores de elétrons e nutrientes são combinados pelos
microorganismos para produzir os subprodutos metabólicos e energia para o seu crescimento
(Figura 1). Desta maneira, uma parte dos elétrons é transferida para o receptor para gerar mais
energia, enquanto a outra é convertida em resíduo orgânico (WIEDEMEIER, 1999b;
RITTMAN e McCARTY, 2001).
Microorganismos + Doador de elétrons + Receptor de elétrons + Nutrientes
Subprodutos metabólicos + Energia + Microorganismos
Figura 1- Esquema do processo de biodegradação (FONTE: Wiedemeier et al., 1999a).
Em condições aeróbias, as bactérias combinam a oxidação dos compostos orgânicos
(doadores de elétrons) com a redução do oxigênio (receptor de elétrons). Já em condições
anaeróbias a maior parte dos compostos orgânicos é degradada por grupos de
microorganismos agindo de forma simbiótica, realizando reações especializadas diferentes
que, quando combinadas, levam à biodegradação dos compostos orgânicos a CO2, CH4
(metano) e H2O.
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9 O processo de biodegradação do etanol leva à utilização dos receptores de elétrons, gerando
espécies reduzidas, denominadas subprodutos metabólicos. Os principais subprodutos
metabólicos que apresentam aumento em sua concentração dissolvida em áreas contaminadas
com combustíveis são: ferro ferroso (Fe (II)), acetato (CH3COO-) e metano (CH4). Durante a
respiração aeróbia, o oxigênio é reduzido a CO2 e água e as concentrações de oxigênio
dissolvido (OD) diminuem. De acordo com Schreiber e Bahr (1999), concentrações de OD
superiores a 3 mg/L indicam zona aeróbia, concentrações entre 1–3 mg/L indicam zona
intermediária e valores inferiores a 1 mg/L caracterizam zonas anaeróbias. Em sistemas
anaeróbios onde o nitrato (NO3-) é o receptor de elétrons predominante, este é reduzido a
nitrito (NO2-) e a concentração de NO3- no meio diminui. A redução de ferro férrico (Fe (III)),
é um processo importante na oxidação da matéria orgânica, bem como na localização de
alguns tipos de contaminações químicas no meio ambiente, já que através da presença de Fe
(II), pode-se detectar a ocorrência de ferro-redução (CHAPELLE, 1999; WIEDEMEIER,
1999a). Quando Fe (III), insolúvel, é o receptor de elétrons, este é reduzido a Fe (II), forma
solúvel, e as concentrações de Fe (II) aumentam na água subterrânea.
Anaerobiamente, o sulfato (SO42-), quando presente como receptor de elétrons predominante,
é reduzido a sulfeto (S2-) com a concomitante diminuição da concentração de SO42- no meio.
Em sistemas anaeróbios, onde o CO2 é o principal receptor de elétrons, há a produção de CH4
pelas bactérias metanogênicas. A presença de CH4 na água subterrânea é um indicativo de
condições altamente redutoras (WIEDEMEIER et al., 1999b). O manganês (IV) pode
igualmente servir como receptor de elétrons em alguns ambientes subterrâneos, gerando
manganês (II) (WIEDEMEIER et al., 1999a).
Assim como os receptores de elétrons, a medição dos subprodutos metabólicos em um
aquífero é fundamental na identificação dos processos geológicos e microbiológicos
predominantes que estejam a ocorrer, ou já tenham ocorrido na altura do monitoramento
(WIEDEMEIER et al., 1999a).
A degradação da matéria orgânica em ambientes anaeróbios envolve um conjunto de
microorganismos que atuam de maneira sincronizada nas diferentes etapas da cadeia
alimentar anaeróbia. O primeiro grupo é composto por bactérias fermentativas que degradam
moléculas mais complexas (polissacarídeos, lipídeos e proteínas), formando subprodutos
como ácidos orgânicos, alcoóis, gás hidrogênio (H2) e CO2. Estes são por sua vez utilizados
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durante a respiração anaeróbia com uma variedade de receptores de elétrons alternativos tais
como, óxidos férricos, nitrato e sulfato.
2.2.2 Termodinâmica
Para que ocorram os processos metabólicos, os microorganismos entram em conformidade
com as leis da termodinâmica, na qual apenas as reações com uma energia livre negativa
ocorrem espontaneamente (CHAPELLE, 1993). O mecanismo mais termodinamicamente
favorável no qual os microorganismos oxidam a matéria orgânica é o metabolismo aeróbio,
onde oxigênio é utilizado como receptor de elétrons. Por razões termodinâmicas, os
microorganismos utilizam preferencialmente aqueles receptores de elétrons que fornecem
maior quantidade de energia durante a respiração (BOUWER 1992, apud WIEDEMEIER et
al., 1999a). Uma vez que o rendimento energético das reações é diferente, as populações
microbianas que podem mediar uma reação altamente energética predominam em relação às
demais. Essas populações microbianas e as reações químicas que predominam em
determinada situação são funções da energia livre de Gibbs que é uma energia que é liberada
através das reações químicas (energia liberada durante a biodegradação). Quanto maior a
energia livre liberada, maior a eficiência. Termodinamicamente, a energia livre de Gibbs
identifica a ordem de ocorrência e eficiência das reações, sendo as reações com ΔG0(W) mais
negativo, as consideradas mais favoráveis. A energia livre de Gibbs para a oxidação da
matéria orgânica (em kiloJoules por equivalente-grama de matéria orgânica oxidada) segue a
seguinte sequência de reações: respiração aeróbia (-125 kJ/eq), desnitrificação (-119 kJ/eq),
redução do manganês (-98 kJ/eq), ferro-redução (-42,2 kJ/eq), sulfato-redução (-25 kJ/eq) e
metanogênese (-23 kJ/eq). Deste modo, considerando o processo termodinâmico, a sequência
no consumo dos receptores de elétrons obedece à seguinte ordem: O2> NO3-> Fe3+> SO42->
CO2 (CHRISTENSEN et al., 2000). Ainda que energeticamente haja uma ordem definida para
o uso preferencial dos receptores de elétrons (Figura 2) em casos reais tem-se constatado que
há concomitância de consumo dos vários receptores de elétrons disponíveis no meio, como foi
comprovado por vários autores (EDMUNDS et al.,1984; CHRISTENSEN 2000; CHAPELLE
et al., 2002; BORCH 2010).
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11 Figura 2– Evolução geoquímica da água subterrânea
Um ambiente que possui elevadas concentrações de receptores de elétrons tem potencial
elétrico elevado e é considerado oxidante. À medida que os receptores de elétrons e nutrientes
são consumidos pela atividade microbiana, durante a biodegradação, o potencial de oxidaçãoredução diminui tornando o ambiente redutor. As mudanças decorrentes das variações
geológicas e microbiológicas resultam numa sucessão de grupos bacterianos adaptados às
condições atuais do aquífero. O potencial de oxidação-redução (POR) da água subterrânea
(Eh0), o qual representa uma medida de atividade de elétrons, é um indicador da tendência
relativa de uma solução para aceitar ou transferir elétrons, sendo um parâmetro que
complementa a análise do processo biodegradativo de compostos orgânicos. A avaliação das
condições de oxidação-redução na pluma do contaminante na água subterrânea é um prérequisito para o entendimento do comportamento dos contaminantes na pluma e para a
seleção da abordagem de remediação (CHRISTENSEN, 2000). Alguns processos biológicos
ocorrem somente dentro de uma faixa de valores de POR podendo este ser usado como
indicador qualitativo de condições aeróbias ou anaeróbias. Geralmente, o POR de águas
subterrâneas varia entre -400 a 800 mV (WIEDEMEIER et al., 1999a). O uso de receptores de
elétrons no meio impactado pode ser explicado através da proposta de Stumm e Morgan
(1981), considerando reações em pH 7 e temperatura a 25oC, na caracterização do conceito de
sequência de potenciais de oxidação-redução (Figura 3), o qual auxilia a delimitação de zonas
de oxidação-redução nas águas subterrâneas. Edmund et al. (1984) propuseram uma sequência
de quatro intervalos: (1) oxigênio-nitrogênio, (2) ferro, (3) sulfato e (4) metanogênese. Os
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potenciais correspondentes a esses intervalos eram respectivamente: (+) 250 mV a (+) 100
mV, (+) 100 mV a zero mV, zero a (-) 200 mV e abaixo de (-) 200 mV. Por último, é
importante realçar que, os potenciais de oxidação-redução positivos correspondem àquelas
reações com maior liberação de energia (mais favoráveis), enquanto os potenciais de
oxidação-redução negativos, àquelas energeticamente menos favoráveis. Portanto, um valor
negativo de energia livre de Gibbs equivale a um potencial de oxidação-redução positivo.
Figura 3– Correlação entre o potencial de oxidação-redução e energia liberada (FONTE: STUMM e MORGAN,
1981).
2.2.3 Fermentação e Respiração
A biodegradação da matéria orgânica é uma reação bioquímica mediada por
microorganismos, onde geralmente um composto orgânico é oxidado (perde elétrons) por um
receptor de elétrons que é por sua vez reduzido (ganha elétrons). Esses microorganismos
utilizam compostos como o trifosfato de adenosina (ATP) para temporariamente
armazenarem a energia que é usada para combinar as reações exergônicas e endergônicas
(CHAPELLE, 1993).
O processo biodegradativo pode ocorrer por duas vias: a fermentativa e a respiratória, sendo
ambas processos de conservação de energia. Na via fermentativa, o composto orgânico é
oxidado a moléculas orgânicas mais simples (tais como acetato e o etanol), além da formação
de CO2 e H2. Estes compostos orgânicos mais simples recebem os elétrons gerados na
oxidação desse mesmo composto. A fermentação é um processo de oxidação parcial da
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13 matéria orgânica, onde os nucleotídeos são reduzidos e posteriormente oxidados pelos
compostos orgânicos, produtos finais da reação. Este processo dispensa a presença de
receptores de elétrons inorgânicos (O2, NO3-, Fe (III), SO42- e CO2) e geralmente ocorre
somente quando estes não se encontram disponíveis no meio. Na fermentação, a geração de
ATP dá-se através do processo de fosforalização a nível de substrato, onde os elétrons são
transferidos para um receptor de elétrons orgânico. Os subprodutos gerados na fermentação
contêm alguma energia disponível que é utilizada pelos microorganismos respiradores através
da combinação entre a oxidação dos produtos da fermentação e a redução de receptores de
elétrons.
Na via respiratória, os elétrons são transferidos para uma molécula inorgânica, diferente do
que ocorre na fermentação. Assim, a presença de receptores de elétrons inorgânicos é
indispensável para que a respiração possa ocorrer.
Os elétrons gerados pela oxidação das moléculas orgânicas são transferidos para os receptores
de elétrons inorgânicos utilizando sistemas de transporte de elétrons para a síntese de ATP,
conservando assim a energia liberada durante as reações de oxidação e redução (CHAPELLE,
1993).
Em ambientes subterrâneos contaminados por derivados de petróleo, a biodegradação da
matéria orgânica ocorre tanto através da fermentação, como da respiração. Esses processos
podem ocorrer simultaneamente em diferentes partes da pluma de contaminação. Enquanto
houver a presença de receptores de elétrons inorgânicos como o O2, NO3-, Fe (III), SO42- e
CO2, o processo de biodegradação segue a rota respiratória. Já quando os receptores de
elétrons inorgânicos se esgotam se inicia o processo fermentativo, no qual a matéria orgânica
passa a ser oxidada através do processo acetogênico. Esse processo gera, com citado
anteriormente, acetato, H2 e CO2 que são substratos para a produção de metano.
A metanogênese é a rota mais importante encontrada em ambientes subterrâneos
(CHAPELLE, 1993), no entanto, para que esta seja viável, é necessário que as concentrações
de H2 geradas no processo acetogênico, sejam mantidas baixas (10-2 a 10-4 kPa) de outra
forma o processo é inibido, pois a energia livre disponível para a conservação do CO2 a
metano torna-se positiva (LALMAN, 2000; WIEDEMEIER, 1999a). As concentrações de H2
são mantidas baixas pela ação das bactérias metanogênicas, que, ao consumirem H2
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favorecem a viabilidade de ocorrência do processo metanogênico (GRADY e LIM, 1980;
POWERS et al., 2001).
Em casos de contaminação por derivados de petróleo, onde o processo de remediação
anaeróbio escolhido é a ANM, a metanogênese é o processo predominante, uma vez que este
processo não depende da presença de receptores de elétrons e esses se esgotam no decorrer da
biodegradação do contaminante. Quando o processo escolhido para remediar a área
contaminada é a bioestimulação com receptores de elétrons inorgânicos como o nitrato e o
sulfato, os processos que irão predominar em determinado momento serão a nitrato- e a
sulfato-redução. Nesses processos, onde ocorre a via respiratória, os microorganismos
utilizam o nitrato e o sulfato para a oxidação do contaminante.
No item 2.3 é dada uma explicação mais sucinta dos experimentos avaliados (ANM, BAN e
BAS) neste estudo.
2.3 ESTRATÉGIAS DE REMEDIAÇÃO
As águas subterrâneas mundiais têm se tornado cada vez mais utilizadas devido à sua
qualidade, abundância e poluição das águas superficiais. No entanto, essas águas vêm
sofrendo contaminações variadas devido a acidentes, envolvendo vazamentos de combustível
superficiais e subterrâneos, contaminação proveniente de aterros sanitários, pelo uso de
produtos agrícolas, etc. Devido aos riscos impostos à saúde pelos derivados de petróleo bem
como por outros contaminantes, são necessários métodos de remediação que visem devolver
ao meio contaminado condições de uso. Esses métodos estão divididos em processos passivos
e ativos. Os processos passivos são aqueles nos quais não há a intervenção direta do homem
no sentido de acelerar os processos naturais de biodegradação, i.e., os processos contam com
a resposta física, química, hidrogeológica e biológica natural do meio à presença do
contaminante. Dentre os processos passivos, insere-se a Atenuação Natural Monitorada
(ANM), que consiste no monitoramento da resposta natural do meio contaminado. Já os
processos ativos de remediação são aqueles onde ocorre a intervenção direta do homem de
forma a acelerar os processos naturais. A bioestimulação anaeróbia, processo ativo de
remediação, baseia-se na utilização de receptores de elétrons alternativos (ex. nitrato, ferro,
sulfato) e consiste na introdução de nutrientes em forma de fertilizantes orgânicos ou
inorgânicos num sistema contaminado, no qual se dá o aumento da população de
microorganismos naturalmente presentes no solo contaminado, acelerando assim o processo
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biodegradativo do contaminante. A adição de compostos químicos pode mudar a geoquímica
do solo e da água subterrânea para que as condições de biodegradação dos contaminantes
possam ser favorecidas para atuação dos microorganismos. Estudos mostram que estratégias
de tratamento anaeróbias in situ são preferíveis em relação às aeróbias, já que os receptores
de elétrons anaeróbios são relativamente baratos, podem ser facilmente adicionados a
ambientes subterrâneos e são quimicamente mais estáveis que o oxigênio podendo atuar nas
proximidades da fonte de contaminação, zonas que são invariavelmente anaeróbias
(BARCELONA e HOLM, 1991; HUTCHINS et al., 1998; ANDERSON e LOVLEY, 2009).
Os receptores de elétrons que são mais solúveis em água e que têm maior capacidade de
transferir elétrons são os mais desejados (ULRICH e SUFLITA, 2001). As propriedades de
alguns receptores de elétrons encontram-se na Tabela 2.
Conforme a Tabela 2, o oxigênio, apesar de ser o receptor de elétrons energeticamente mais
favorável, apresenta como desvantagem a baixa solubilidade (o que dificulta o seu
bombeamento e a sua ação na área contaminada), o risco de obstrução do aquífero devido ao
crescimento microbiano excessivo e a baixa capacidade de doar elétrons (NORRIS et al.,
1993; CUNNINGHAM et al., 2001). Além disso, a lenta taxa em que o oxigênio pode ser
suprido à área contaminada torna o tratamento tecnicamente difícil ou proibitivamente caro.
O nitrato, igualmente favorável e com alta solubilidade, tem como desvantagem o seu nível de
toxicidade, estando legislado pelo Ministério da Saúde como substância química que
representa risco à saúde, com um valor máximo permitido de 10 mg/L (como N).
Tabela 2- Propriedades dos vários receptores de elétrons.
Propriedades
Receptor Solubilidade
Rendimento
Energético
Padrão de
Potabilidade
POR
Limitação
Muito
Alto
Obstrui aquífero
Alto
Toxicidade
Baixo
Quelato de ferro afeta a
atividade microbiana
Muito
baixo
Toxicidade do H2S
Oxigênio
Baixa
Alto
Não definido
Nitrato
Muito alta
Alto
(10 mg/L)
Ferro
Intermédia
Intermédio
(0,3 mg/L)
Sulfato
Alta
Baixo
(250 mg/L)
Baixo
Aceitável
Aceitável
FONTE: CUNNINGHAM et al., 2001; BRASIL, 2004; DA SILVA et al., 2005.
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O ferro, normalmente presente na transição entre as fases aeróbia e anaeróbia dos processos
de biodegradação, tem solubilidade média, possui baixa capacidade de assimilar elétrons (1ē
equivalente por mole), a sua forma quelatada compromete a atividade microbiana e o fato de
atuar como fonte de carbono alternativa dificulta a degradação do contaminante (HAAS e
DICHRISTINA, 2002). Uma das vantagens do uso do sulfato como receptor de elétrons para
estimular a biodegradação em relação ao oxigênio, por exemplo, é que concentrações altas de
sulfato dissolvido promovem uma maior capacidade receptiva de elétrons (ULRICH e
SUFLITA, 2001). Outro ponto positivo do sulfato é o fato de estar legislado com a aceitação
para consumo humano com valor máximo permitido de 250 mg/L contra os 10 mg/L
permitidos para o nitrato, estipulados pelo Ministério da Saúde no padrão de potabilidade de
água. Porém, uma desvantagem do uso do sulfato é a formação de sulfeto que é formado
durante a redução biológica do sulfato. Quando presente em concentrações elevadas
(superiores a 180 mg S/L), o sulfeto torna-se tóxico para alguns grupos bacterianos presentes
durante a biodegradação biológica, comprometendo assim a biodegradação do contaminante
(KOSTER et al., 1986; O’FLAHERTY 1998; ULRICH e SUFLITA 2000; LOPES et al.,
2007). Dentre esses fatores, além do baixo rendimento energético, o sulfato torna-se um
receptor de elétrons menos competitivo em relação aos demais.
Assim, dependendo das características geoquímicas do local e do tipo de contaminação, as
vantagens e desvantagens dos diversos receptores devem ser avaliadas a fim de se proceder a
escolha mais adequada do método de remediação para o local impactado.
2.3.1 Atenuação Natural Monitorada
A ANM é um processo de remediação no qual os microorganismos contam apenas com a
capacidade do meio em suprir receptores de elétrons, i.e., não são adicionados outros
nutrientes que possam auxiliar no processo de remediação. Assim, em casos de
derramamento, os receptores são consumidos de acordo com a sequência termodinâmica
favorável, através da oxidação dos vários receptores disponíveis (O2, NO3-, Fe3+ e SO42-).
Como estratégia, a ANM é o resultado da integração de vários mecanismos subterrâneos de
atenuação que são definidos como destrutivos ou não destrutivos. A biodegradação
microbiana de hidrocarbonetos petróleo é o mecanismo de transformação mais importante da
atenuação destrutiva. Os mecanismos não destrutivos que levam à perda do contaminante são:
sorção (aderência do contaminante às superfícies sólidas), volatilização (perda do
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17 contaminante pelo estado gasoso), diluição (diminuição da concentração do contaminante
devido ao volume de água) e dispersão, i.e., espalhamento do contaminante (CHAPELLE,
1993; WIEDEMEIER et al., 1999a). Deste modo, esse processo depende de processos
naturais para descontaminar ou atenuar o efeito da contaminação e ocorre na maior parte dos
locais contaminados (EPA, 2001). No entanto, para que ocorra uma atenuação natural com
êxito, são necessárias condições apropriadas, caso contrário, o processo torna-se mais
demorado e pode, inclusive, ocorrer de forma incompleta (EPA, 2001). O tempo do processo
pode variar em anos, como em décadas, dependendo do tipo e da quantidade do contaminante,
do tamanho e da profundidade da área contaminada, bem como do tipo de solo e das
condições presentes no local. Entre as vantagens do uso da ANM, como estratégia de
atenuação, destacam-se: a transformação dos contaminantes em subprodutos inócuos e não
apenas a transferência dos mesmos para outro local ou mudança de fase no meio ambiente,
levando à geração ou transferência de resíduos; é uma técnica não-intrusiva; é mais barata, já
que exige menos equipamento e esforço que os demais métodos, podendo ser usada sozinha
ou em conjunto com outras estratégias quando os outros processos não são considerados
viáveis ou quando o tempo de tratamento é semelhante aos outros métodos (WIEDEMEIER,
1999a; EPA, 2001).
No entanto, as desvantagens são: o longo período de monitoramento; o risco de mudanças
naturais ou antropogênicas (mudança da direção ou da velocidade do fluxo da água
subterrânea, concentrações dos doadores ou receptores de elétrons, mudanças nas condições
geoquímicas e hidrológicas ao longo do tempo); a heterogeneidade do local, a qual pode
comprometer a caracterização do local e a toxicidade dos produtos intermediários gerada pela
biodegradação do contaminante original (WIEDEMEIER et al., 1999a), bem como o fato de
não poder ser utilizada caso existam receptores (ex. poços de captação, áreas residenciais)
próximos à área da contaminação.
Nos casos de derramamento de gasolina com etanol, onde a ANM é a estratégia escolhida, o
etanol pode ser degradado sob condições aeróbias e anaeróbias. A biodegradação aeróbia
(mais favorável termodinamicamente) do etanol dá-se pela sua oxidação a CO2 e H2O
(Equação 2.1) via ciclo de Krebs.
CH3CH2OH + 3O2 2CO2 + 3H2O
REMAS
Eq. 2.1
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A biodegradação anaeróbia pode ocorrer através da redução de nitrato, sulfato e ferro (III),
dependendo do receptor disponível no meio. Sob condições ferro-redutoras, a biodegradação
do etanol é representada pela equação abaixo (Equação 2.2). As equações da biodegradação
do etanol em condições nitrato- e sulfato-redutoras estão apresentadas nos próximos itens.
CH3CH2OH + 12 Fe (OH) amorfo + 24 H+ 2CO2 + 12 Fe 2+ + 33H2O
Eq. 2.2
Já em condições anaeróbias e na ausência de receptores de elétrons, o etanol é degradado
através do processo acetogênico, produzindo acetato e hidrogênio. Desta forma, um indicativo
da biodegradação do etanol em condições anaeróbias é o acúmulo de acetato no meio. Após a
formação de acetato, este é posteriormente utilizado pelas bactérias metanogênicas para a
produção de metano (processo fermentativo) e CO2 (processo respiratório) conforme as
equações abaixo (GRADY e LIM, 1980; McINERNEY et al., 1981; BEDIENT et al., 1994;
ULRICH, 1999):
CH3CH2OH + H2O  CH3COO- + H+ + 2H2
Eq. 2.3
CH3COO- + H+ + H2O  2CO2 + 4H2
Eq. 2.4
H2 + CO2 CH4 + H2O
Eq. 2.5
Existem duas rotas pelas quais pode ocorrer a metanogênese, sendo uma a rota do hidrogênio
a partir da redução do CO2, que atua como receptor de elétrons, e outra pela redução do
acetato, no qual o carbono orgânico na forma de acetato é convertido a metano, conforme as
Equações 2.6 e 2.7. Em ambos os casos, as reações são termodinamicamente favoráveis,
porém a energia liberada é baixa (-32,4 e – 31 Kcal respectivamente) (LUBBERDING, 1995;
CHAPELLE, 1993). O processo metanogênico envolve a parceria de vários tipos de bactérias
que dependem umas das outras para atingir um fim metabólico. No entanto, essa dependência
resulta da termodinâmica desfavorável, por exemplo, da fermentação do etanol a substratos
metanogênicos, da qual resulta uma reação endergônica (Equação 2.3) com ∆G= + 9,6 kJ/mol
(SEITZ et al., 1990).
4H2 + CO2 CH4 + 2H2O ∆Go = - 32,4 Kcal1
Eq. 2.6
1
1 Kcal = 4,187 kJ
REMAS
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CH3COOH  CH4 + CO2∆Go = -31 Kcal
19 Eq. 2.7
A participação do acetato na produção de metano corresponde a 72% para carboidratos,
enquanto o H2 participa no processo com 28% (METCALF e EDDY, 2003). Em estudo sobre
a conversão microbiana de acetato a metano, Weber et al. (1984), observaram que o acetato
foi responsável por 65 – 95% da produção de metano.
O processo de oxidação do etanol a acetato e hidrogênio não é termodinamicamente favorável
sob concentrações elevadas de hidrogênio, podendo a concentração de hidrogênio inibir o
metabolismo do acetato. Assim, é necessária a presença de outros grupos bacterianos
anaeróbios (metanogênicos, inclusive) para que o hidrogênio possa ser removido do meio
(SEITZ et al., 1988), conforme mencionado anteriormente. Os microorganismos
metanogênicos predominam somente em ambientes subterrâneos deficientes de outras formas
receptores de elétrons inorgânicos. Uma vez que muitos ambientes subterrâneos são limitados
de receptores de elétrons, a metanogênese através da redução tanto do CO2 como do acetato, é
o processo predominante (CHAPELLE, 1993). A oxidação do etanol é energeticamente mais
favorável do que a oxidação do acetato, podendo o etanol ser degradado em concentrações de
hidrogênio mais elevadas que o acetato, resultando consequentemente, no acúmulo de acetato
no meio (LEE e ZINDER, 1988).
A capacidade de acumulação do acetato como subproduto metabólico da degradação do
etanol é importante na avaliação do processo de biodegradação. O acetato pode ser produzido
tanto pela biodegradação anaeróbia do etanol, como pelo processo de degradação
fermentativo de compostos orgânicos (ABRAMS, 2000; POWERS et al., 2001).
Sob condições anaeróbias, o etanol é biodegradado por meio da respiração anaeróbia, através
da qual são consumidos os receptores de elétrons anaeróbios (nitrato, ferro, sulfato, CO2),
gerando os seus respectivos subprodutos. Na ausência de receptores de elétrons, o etanol é
convertido a ácido acético e H2. Esses subprodutos gerados são, por conseguinte catalisados
pelas bactérias metanogênicas a metano e CO2 (McINERNEY, 1981; THIELE e ZEIKUS,
1988).
Em estudos de campo realizados por Kuivila (1989) e Baedecker (1993) foi observado que a
concentração de acetato proveniente da biodegradação dos hidrocarbonetos de petróleo não
REMAS
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20
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ultrapassou a faixa de 2,36 e 3 mg/L respectivamente. Assim, isto significa que elevadas
concentrações de acetato no meio são geradas pela biodegradação do etanol.
2.3.2 Nitrato-Redução
A nitrato-redução é um processo no qual o nitrato é utilizado como receptor de elétrons
durante a biodegradação da matéria orgânica, numa sequência catalisada por diferentes
microorganismos, gerando como subproduto principal o nitrogênio molecular que é liberado
na atmosfera, conforme a seguinte sequência: NO3- NO2- NO  N2O  N2.
Durante o processo de nitrato-redução, o nitrato é utilizado gerando nitrito como subproduto.
Em ambientes aeróbios, a nitrato-redução pode ser inibida pela presença do oxigênio,
resultando no acúmulo de nitrato. Já sob condições anaeróbias este fato não ocorre, pois o
nitrato é convertido a N2 através do processo de desnitrificação (CHAPELLE, 1993).
Na presença de oxigênio e de nitrato, os microorganismos tendem a consumir os dois como
receptores de elétrons. Quando os microorganismos se encontram na presença de misturas de
substratos que promovem as mesmas funções fisiológicas, a redução dessas substâncias é
dependente da proporção e do tipo de substratos presentes naquela mistura (EGLI et al.,
1993). Uma vez que o oxigênio e o nitrato proporcionam uma quantidade semelhante de
energia, a presença destes simultaneamente pode levar ao aumento da habilidade dos
microorganismos em atacar o anel aromático do benzeno, facilitando a completa degradação
do composto, que poderá ocorrer tanto por meio da respiração aeróbia quanto pela
desnitrificação anóxica (RITTMAN e McCARTY, 2001). Assim, o consumo do nitrato como
receptor predominante não é definido pelo esgotamento completo do oxigênio.
Durante a nitrato-redução, a fonte de carbono é oxidada pelas bactérias desnitrificantes,
conforme as equações abaixo que (em pH inferior a 6,3):
5CH3CH2OH + 4NO3-  5CH3COO- + 2N2 + H+ + 7H2O
Eq. 2.8
5CH3COO- + 8NO3- + 3H+  10HCO3- + 4N2 + H2O
Eq. 2.9
5CH3CH2OH + 12 NO3- 6N2 + 10CO2 + 9H2O + 12OH-
Eq. 2.10
As taxas de desnitrificação utilizando diferentes fontes de carbono (etanol, acetato, etc.) têm
sido comparadas em vários estudos. Alguns desses estudos concluíram que o etanol é um
REMAS
UFSC
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
21 excelente substrato já que aumenta o número de bactérias desnitrificantes, bem como a taxa
de desnitrificação, tendo o etanol apresentado melhor desempenho que o acetato (ÆSØY et
al., 1998; KESSERŰ et al., 2003; AUN, 2008). No entanto, Constantin e Fick (1997)
observaram que o etanol aumentou o número de microorganismos, mas a taxa de
desnitrificação foi maior na presença do acetato, já que o mesmo é uma fonte de carbono de
assimilação direta, em comparação ao etanol que precisa primeiramente ser convertido a
acetato. Testes de laboratório comparando a taxa de desnitrificação sob diferentes fontes de
carbono (etanol, metanol, acetato, sacarose entre outros) indicaram que o etanol e o acetato
foram os que apresentaram melhores taxas de desnitrificação (BLASZCZYK, 1993; HALLIN
e PELL, 1998; LORRAIN et al., 2004; GÜVEN, 2009).
Dentre os processos de remediação ativa, a nitrato-redução é um processo que se vem
mostrando eficaz no auxílio do tratamento de áreas impactadas por derivados de petróleo.
Reinhard et al. (1997), em estudo de campo no qual foi injetada uma solução de nitrato (85125 mg/L) e de sulfato (70-100 mg/L) em área subterrânea de posto de combustível,
observaram que o nitrato foi consumido preferencialmente em relação ao sulfato na
biodegradação dos BTEX, embora o benzeno (o composto de mais difícil degradação) tenha
sido degradado com a combinação dos 2 receptores de elétrons disponíveis. Cunningham et
al. (2001), em estudo semelhante, constataram que para a biodegradação do tolueno,
etilbenzeno e m-xileno na presença no nitrato, não foi necessária a aclimatização dos
microorganismos, tendo esses compostos sido degradados em aproximadamente 10 dias,
enquanto que na presença do sulfato, esses compostos levaram até 60 dias para
biodegradarem.
2.3.3 Sulfato-Redução
O enxofre é normalmente encontrado em forma de pirita (FeS2) ou gipsita (CaSO4) em rochas
e sedimentos, bem como na forma de sulfato (SO42-) na água do mar. Em ambientes
subterrâneos, o sulfato só será o receptor de elétrons termodinamicamente mais favorável
após a utilização do nitrato e do ferro durante a biodegradação anaeróbia da matéria orgânica
(ATLAS e BARTHA 1987; WEIDEMEIER et al., 1999a). No processo de sulfato-redução, o
sulfato é consumido como nutriente, liberando como subproduto o sulfeto (H2S)
(POSTGATE, 1979).
REMAS
UFSC
22
2CH3CH2OH + 3SO42- + 6H+ 3H2S + 4CO2 + 6H2O
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Eq. 2.14
Para que ocorra a sulfato-redução é necessário que sejam alcançados alguns requisitos, tais
como: presença de bactérias sulfato-redutoras no aquífero; disponibilidade de sulfato,
presença de formas biodegradáveis de carbono orgânico, permanência de condições redutoras
e um doador de elétrons ou agente redutor (ex. matéria orgânica) que possa ser utilizado pelas
mesmas (POSTGATE 1979; WIEDEMEIER et al., 1999b).
As bactérias sulfato-redutoras (BSR) são microorganismos anaeróbios que utilizam (respiram)
o sulfato como agente oxidante ou receptor de elétrons primário para o seu crescimento
(MUYZER e STAMS, 2008). Nesse processo, o íon sulfato através da sua ação oxidante,
oxida a matéria orgânica, assimilando uma pequena parte do sulfato reduzido e liberando a
maior parte deste como íon sulfeto.
Considerando o caráter orgânico ou inorgânico da fonte energética, podem ocorrer dois tipos
de respiração anaeróbia do sulfato pelas BSR: 1) A redução autotrófica do sulfato, onde a
fonte energética é o hidrogênio gasoso (H2), conforme a Equação 2.11; ou 2) A redução
heterotrófica do sulfato na qual as fontes energéticas são compostos orgânicos simples (ex.
alcoóis) e, dependendo do subproduto ainda há duas possíveis rotas de biodegradação: a) A
oxidação heterotrófica incompleta da matéria orgânica, onde o produto final é o acetato
(Equação 2.12) e b) Oxidação heterotrófica completa onde os produtos finais são o CO2 e
H2O, (Equação 2.13). As equações abaixo ocorrem em pH 7.
4H2 + SO42- S2- + 4H2O
Eq. 2.11
2CH3CH2OH + SO42-  2CH3COO- + HS- + H+ + 2H2O
Eq. 2.12
CH3COO- + SO42- 2HCO3- + HS-
Eq. 2.13
De acordo com Drury (1999), em pH abaixo de 6,3 a oxidação completa do etanol e do
acetato, dá-se pelas seguintes equações:
CH3COO- + SO42- + 3H+ H2S + 2CO2 + 2H2O
Eq. 2.15
Para que haja a predominância das BSR em relação às metanogênicas (grupo bacteriano que
normalmente compete com as BSR), é necessário que o pH seja igual ou superior a 7,5. Nessa
faixa de pH dá-se um aumento da taxa de crescimento das BSR em relação às metanogênicas
REMAS
UFSC
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
23 e há a diminuição da sensibilidade das BSR ao sulfeto, que possui efeito tóxico em pH baixo
(VISSER, 1996; KALYUZHNYI 1997; O’FLAHERTY, 1998; LOPES et al., 2007). Este
quesito de pH, neutro a elevado, é uma consequência da sulfato-redução, já que este processo
tende ao aumento do pH, condição semelhante a que ocorre com a desnitrificação (processo o
qual o nitrato é utilizado como receptor de elétrons) e inversa a que ocorre em condições
aeróbias, onde se dá uma diminuição do pH (STUMM e MORGAN, 1981).
Diversas fontes de carbono podem cumprir o papel de doadores de elétrons na sulfatoredução. Dentre essas fontes de carbono, etanol é usado como fonte de energia por várias
bactérias sulfato-redutoras (POSTGATE, 1979; LAAMBROEK et al., 1984). Na presença de
sulfato, o etanol é oxidado a acetato pelas BSR com a redução concomitante do sulfato a
sulfeto (POSTGATE, 1979; MACKAY et al., 2006). No entanto, foi constatado que o acetato
não é o único produto intermediário na degradação do etanol, tendo o propionato, também,
sido produzido durante a oxidação do etanol (SCHINK et al., 1985; MACKAY 2007).
Em estudos de laboratório no qual foi feita a comparação entre diferentes fontes de carbono
paraa sulfato-redução, Bryant et al. (1997) observaram que o etanol (comparado ao acetato e
ao lactato) foi o que se mostrou mais eficaz como fonte de carbono, já que incentivou a
sulfato-redução e o crescimento bacteriano. No mesmo estudo, no entanto, o acetato foi o
menos eficaz na estimulação da precipitação do sulfeto e no crescimento das BSR.
Kalyuzhny et al. (1997), igualmente observaram uma taxa de crescimento das BSR mais lenta
quando o acetato foi utilizado como substrato em relação ao etanol. A presença de acetato,
além de inibir o crescimento das BSR, pode servir também como fonte de carbono para as
bactérias metanogênicas (LOVLEY et al., 1982; SCHINK, 1997; OUDE ELFERINK et al.,
1998; HULSHOFF POL et al., 1998).
Nagpal et al.(2000), em estudo de laboratório no qual o etanol foi utilizado como fonte de
carbono (após o esgotamento do lactato) sem necessidade de aclimatização, o etanol foi
convertido a acetato e não foi observada uma significativa formação de CO2, representando a
oxidação completa do etanol pelas BSR (ODOM e RIVERS SINGLETON, 1993; MUYZER
e STAMS, 2008). Mackay et al. (2007), em experimento de campo utilizando o éter metilterc-butílico (MTBE em inglês), no qual foram injetadas soluções contendo benzeno, tolueno
e o-xileno e etanol, observaram que a sulfato-redução foi responsável pela biodegradação do
etanol.
REMAS
UFSC
24
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Neste capítulo é detalhada a metodologia das liberações controladas, as análises químicas e o
tratamento de dados dos experimentos analisados neste estudo. Somente o estudo da
Bioestimulação Ativa com Sulfato (BAS) foi realizado pela autora deste trabalho. Os estudos
da ANM e da BAN tiveram início nos anos de 1998 e 2004 respectivamente, e os dados
utilizados para a análise comparativa deste trabalho foram considerados até ao ano de 2009,
no entanto, os respectivos estudos ainda estão em curso. Os referidos experimentos
encontram-se detalhados nos trabalhos de NUNES e CORSEUIL (2007) para a ANM e
COSTA (2008) para a BAN. O estudo da BAS teve início em fevereiro de 2009 e os dados
utilizados neste trabalho corresponderam aos períodos monitorados até maio de 2010.
Os experimentos da BAN e da BAS encontravam-se geograficamente em áreas muito
próximas (Figura 4), assim os dados hidrogeológicos e geológicos obtidos no experimento da
BAN, foram aqueles usados no experimento da BAS.
A seguir será apresentada a metodologia para o experimento da BAS, sendo que para os
demais experimentos (ANM e da BAN) serão apresentados apenas os pontos mais
importantes para a discussão dos objetivos deste trabalho.
3.1 ÁREA DE ESTUDO DOS EXPERIMENTOS
Os 3 experimentos foram realizados em escala real, na Área Experimental II da Fazenda da
Ressacada onde são realizados os experimentos de campo do Laboratório de Remeadiação de
Águas Subterrâneas (REMAS). Aquela área, com cerca de 160 hectares é propriedade da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e está localizada na região sudoeste de
Florianópolis, bairro Tapera, próximo ao aeroporto Hercílio Luz.
REMAS
UFSC
25 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Figura 4 – Localização da área de estudo dos experimentos ANM, BAN e BAS
3.1.1 Descrição da Área Experimental da ANM
A área experimental possuía cerca de 390 m2, contendo 45 poços de monitoramento
multiníveis, dos quais 1 representava a fonte de contaminação. Os poços possuíam
profundidades de 1; 2; 2,5; 3,5 e 4,5 m em relação à cota do terreno.
Neste experimento foram liberados ao nível do lençol freático 100L de gasolina E24 (24% de
etanol v/v), previamente à liberação foi colocada uma solução contendo 1Kg de brometo de
potássio (KBr). A caracterização geológica da área revelou que o solo era caracterizado como
areias quartsozas hidromórficas distróficas (solo pouco desenvolvido). Já a caracterização
hidrogeológica indicou a presença de areia marron acinzentada na camada superficial e a
presença de areia fina, cinza de granulometria uniforme, com menos de 5% de silte e argila na
cama subsuperficial. Ensaios de carga revelaram uma condutividade hidráulica média de 6,6 x
10-5 cm/s. A porosidade efetiva (
) foi quantificada em 20%, a velocidade da água
subterrânea em 2,8 m/ano e o gradiente hidráulico médio de 1,8%. As análises geoquímica e
REMAS
UFSC
26
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
hidroquímica acusaram baixo teor de carbono orgânico, 0,06% nos níveis 2,5 a 3,5 m e baixas
concentrações de nutrientes. As análises das amostras de água subetrrânea coletadas em todas
as profundidades dos poços (de 1 a 4,5m), apresentaram os seguintes resultados: temperatura
entre 17–24oC, pH entre 5,0–5,3, potencial de oxidação-redução entre (+32) – (+) 169 mV,
oxigênio dissolvido entre 5–8 mg/L, nitrato entre 0,05–0,137 mg/L, sulfato entre 0,3–4,3
mg/L, sulfeto entre 0,006–0,014 mg/L, ferro (II) entre 0–1,64, fosfato entre 0,05–0,54 mg/L,
metano igual a 0,01 mg/L.
A área deste experimento distava da área dos experimentos da nitrato- e sulfato-redução em
aproximadamente 350 m. Na Figura 5 é possível visualizar a configuração experimental da
Largura da área experimental (metros)
área do experimento da ANM.
P27
15
P22
P26
P17
P21
P12
P7A
P7
10
P6A
P6
P1
P5A
Fonte P5
5 P2
P4
P3
P3C
0
0
P6B
P11
P5B
P4A
P4B
P10
P10B
P20
P24
P15
P19
P23
P9B
P9
P3AC P3BC
5
P25
P16
P14
P3B
P3A
P11B
P8B
P8
P8C
P18
P13
P8BC
10
15
20
Poço estudado
25
30
Distância dos poços da fonte (metros)
Figura 5 - Mapa da área experimental da ANM com os poços de monitoramento e limites da área (FONTE:
Adaptado de NUNES e CORSEUIL, 2007).
3.1.2 Descrição da Área Experimental da BAN
A área onde foi realizado o experimento da BAN possuía aproximadamente 390 m2 e foi
composta por 53 poços de monitoramento multiníveis dos quais 1 foi a fonte de contaminação
e 6 foram poços de injeção, todos com profundidades de 2,3; 2,8; 3,8; 4,8 e 5,8 m. Naquele
experimento foram liberados, no nível do lençol freático 100L de gasolina E25 (25% de
etanol v/v), posteriores à adição de uma solução contendo 0,5Kg de KBr. As caracterizações
hidrogeológica e geológica daquele experimento foram utilizadas como referência no
experimento da BAS, assim esses itens foram apresentados junto com a metodologia do
experimento da BAS. A caracterização da água subterrânea antes da liberação revelou os
seguintes valores médios: temperatura 24oC, pH 4,2, potencial de oxidação-redução (+) 520,
REMAS
UFSC
27 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
oxigênio dissolvido entre 3–5 mg/L, nitrato 1 mg/L, sulfato 4 mg/L, sulfeto 0 mg/L, ferro (II)
< 0,1 mg/L, fosfato < 0,1 mg/L, metano < 0,01 mg/L.
Na Figura 6 abaixo é mostrada a configuração experimental do experimento da BAN.
2m
Poços de Monitoramento
4m
Norte
6A
6m
11A
8m
m
16A
10
6
1
21A
11
5
26A
m
16
10
4
16
21
15
9
3
26
8
14 20
2
31A
m
25
22
7
13 19
24
18
12
31
23
17
36A
30
22
29
36
28
41A
35
27
34
41
33
40
32
39
38
37
Fonte
Poços de Injeção
Poço estudado
m
28
Leste
Figura 6 - Mapa da área do experimento da BAN com poços de monitoramento e distâncias destes em relação à
fonte (FONTE: Adaptado de COSTA et al., 2009).
3.2 CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DA ÁREA DO EXPERIMENTO DA
BAS
O conhecimento hidrogeológico de áreas impactadas por derramamentos de derivados de
petróleo é de primordial importância para a compreensão do fluxo da água subterrânea bem
como o destino e os mecanismos de transporte dos contaminantes.
O sistema aquífero da fazenda da Ressacada é caracterizado como livre, e o escoamento da
água subterrânea ocorre em várias direções, devido à presença de águas superficiais e áreas de
drenagem que servem como área de descarga do aquífero.
Com o objetivo de se conhecer a direção do fluxo da água subterrânea, foram monitoradas as
flutuações do nível freático através de piezômetros locados ao redor da área. Próximo à área
do experimento, a variação das flutuações apresentou-se ser de 0,7 a 2,0 m em relação à cota
do terreno (COSTA, 2008). A determinação da condutividade hidráulica foi realizada, pelo
Laboratório de Estudo de Bacias (LEBAC), da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP)
REMAS
UFSC
28
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
através de testes de slug no ponto mais próximo da área em estudo o que indicou um valor
médio de 4,25x10-4 cm/s. O gradiente hidráulico da área é de 0,6% (COSTA, 2008).
A direção do fluxo foi aquilatada através do monitoramento das flutuações dos níveis dos
piezômetros com o auxílio da construção de mapas potenciométricos com o modelo
matemático bidimensional SCBR - Solução Corretiva Baseada no Risco (CORSEUIL et al.,
2006). Cabe salientar que o sentido do fluxo da água subterrânea é condicionado pela
presença de um córrego, e que, portanto, as condições de recarga do aquífero podem provocar
variações na direção do fluxo, como observou Schneider (2005).
O método usado para determinar a velocidade da água subterrânea na área experimental foi o
método do íon brometo que, na qualidade de recalcitrante (não sofre biodegradação) é
considerado o mais eficaz. De acordo com Costa (2008), a velocidade da água subterrânea
varia de 5,2 a 6,2 m/ano.
Na Figura 7 está representado o gráfico da variação na precipitação mensal na região da área
experimental, de acordo com os dados obtidos pelo Ajardinado Meteorológico do
Destacamento de Controle de Espaço Aéreo de Florianópolis, localizado Aeroporto Hercílio
Luz, no período que abrangeu o experimento da BAS. Essa variação pluviométrica que
incorpora a região da Ressacada é comum aos 3 experimentos.
REMAS
UFSC
299 DISSE
ERTAÇÃO DE
D MESTRAD
DO
450
P
Período
de mo
onitoramento
Precipitação mensal (mm)
400
350
300
250
200
150
100
50
jul/10
jun/10
mai/10
abr/10
mar/10
fev/10
jan/10
d /09
dez/09
nov/09
out/09
set/09
ago/09
jul/09
jun/09
mai/09
abr/09
mar/09
fev/09
jan/09
0
M
Mês/Ano
Figuura 7 – Precipiitação mensal na região de Florianópolis
F
no período dee 2009-2010.
A prrecipitação média duraante o períoodo de trabaalho do expperimento dda BAS enttre maio dee
20099 e julho dee 2010 foi de aproxim
madamente 1600 mm. A precipittação médiaa anual doss
experimentos daa ANM e BAN
B
variouu entre 1200
0 a 1700 mm
m entre oss anos de 20
004 a 20066
(COS
STA, 2008)).
3.3 CARACTE
C
ERIZAÇÃO
O GEOLÓG
GICA DOS
S EXPERIM
MENTOS D
DA BAN E BAS
O suubsolo da área
á
era coomposto, majoritariam
m
mente, por areias quarrtzosas hidromórficas,,
intercalado por camadas poouco argiloosas, com granulometriia uniformee, teor de siilte e argilaa
mbora a áreea seja prinncipalmente constituídaa de areia ffina (ESTEV
VES, 2002;;
inferrior a 5% em
LAG
GE 2005), coonforme pode ser obserrvado na Fiigura 8.
REMA
AS
UFSC
C
30
DISSERTAÇÃ
ÃO DE MESTRADO
O
Figuura 8 – Seções geollógicas interpretadaas a partir de perfis descritivos
d
de sondagens (FONTE: LA
AGE, 2005).
REMAS
UFSC
U
31 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
3.4 CARACTERIZAÇÃO GEOQUÍMICA E HIDROQUÍMICA DO EXPERIMENTO
DA BAS
As caracterizações geoquímica e hidroquímica foram realizadas a partirde análises das
amostras da água subterrâneacoletadas por meio de bomba peristáltica. Foram coletadas 5
amostras, sendo 1 (uma) amostra por nível de profundidade do poço em estudo. Essas
amostras foram analisadas para as seguintes variáveis: sulfato, acetato, cloreto, nitrato, ferro
(II), fosfato, pH, oxigênio dissolvido, temperatura, potencial de oxidação-redução,
alcalinidade, acidez, condutividade específica, sulfeto, brometo e metano. Essas análises
foram realizadas em campo e em laboratório. Os valores das variáveis medidas encontram-se
na Tabela 3. Os resultados apresentados na referida tabela correspondem aos máximos e
mínimos dos 5 níveis monitorados em um dado poço na área antes da liberação.
Tabela 3-Valores máximos e mínimos das variáveis encontradas na água subterrânea analisados antes liberação
do combustível E10.
Variáveis
Valores
(mín-máx)
Variáveis
Valores
(mín-máx.)
Temperatura (°C)
23,27 – 25,19
Acidez
(mgCaCO3/ L)
80,75 - 140,6
pH
3,64 – 5,17
Acetato (mg/L)
0,02 – 1,25
Condutividade Específica
(mS/cm)
32 – 109
Cloreto (mg/L)
2,50 – 22,71
Oxigênio dissolvido (mg/L)
0,2 – 6,99
Nitrato (mg/L)
0,17 – 8,10
Potencial de oxidação-redução
297 – 419
Fosfato (mg/L)
0,05 – 0,56
Fe (II) (mg/L)
0,01 – 1,00
Sulfato (mg/L)
1,60 – 5,93
Sulfeto (μg/L)
0,04 – 36
Brometo (mg/L)
0,03 – 0,27
Alcalinidade
(mgCaCO3/ L)
0,55 – 4,84
Metano (mg/L)
< 0,01
3.5 CONFIGURAÇÃO EXPERIMENTAL DA ÁREA DO EXPERIMENTO DA BAS
3.5.1 Instalação dos Poços de Monitoramento e Injeção
A área experimental possuía cerca de 549 m2 (30,5 m de comprimento e 18 m de largura).
Naquela área foram instalados 66 poços multiníveis,1 poço se localizou na fonte, 7 foram
poços de injeção (PI) e os demais, poços de monitoramento da água subterrânea (PM),
REMAS
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32
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
conforme a Figura 9. Cada poço possuía 5 níveis de profundidade de 2, 3 ,4, 5 e 6 m em
relação à cota do terreno.
A perfuração dos PM foi realizada por meio de percussão com jato de água. O sistema
utilizado para a percussão consiste de um gerador elétrico, bomba centrífuga de ½ HP, canos
de PVC de 40 mm de diâmetro com 6 m de comprimento. A água utilizada para a construção
dos poços foi extraída de um piezômetro próximo à área.
Os PM foram construídos com mangueiras transparentes inertes e atóxicas de polietileno de
baixa densidade (PEBD), o que evitava a contaminação das amostras por reações
indesejáveis. As mangueiras possuíam comprimentos respectivos às profundidades que foram
monitoradas. Na extremidade superior as mangueiras foram etiquetadas, de modo a permitir a
posterior identificação dos níveis de amostragem, no presente caso as cores amarela, azul,
verde, vermelho e preto identificam as profundidades 2, 3, 4, 5 e 6 m respectivamente. A
extremidade inferior foi envolvida por filtro construído de tela de aço inoxidável para evitar o
entupimento e excesso de sólidos finos que prejudicam as análises.
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33 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Poços de Injeção (PI)
Poços de Monitoramento (PM)
Fonte
Poço estudado
Poços de injeção (PI)
Poços de monitoramento (PM)
Fonte
Poço estudado
Figura 9- Visualização e ilustração da configuração experimental da área e distância entre as linhas de poços de
monitoramento.
As mangueiras foram aderidas com fita adesiva a um cano PVC de meia polegada, este cuja
função foi auxiliar na instalação dos poços bem como dar suporte às mangueiras de
monitoramento. A Figura 10 ilustra o sistema de identificação dos níveis de amostragem e
cano de PVC utilizados na construção dos PM. Cada poço foi protegido externamente dos
efeitos da exposição ao sol com uma camisa de 0,5 m de tubo de PVC de 2”, evitando assim o
ressecamento e dano das mangueiras.
REMAS
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34
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Id e n tific a ç ã o d o s n ív e is d e c o le ta
M a n g u e ira s
C ano PVC
F iltro s
Figura 10– Ilustração do sistema de identificação dos níveis de amostragem.
Os sete PI, instalados àmontante da fonte, fizeram a distribuição da solução (sulfato de sódio e
hidróxido de sódio) pela área e foram colocados estrategicamente para permitir que a solução
causasse efeito o mais próximo possível da fonte de contaminação, estimulando assim o
processo de sulfato-redução.
Os PM foram colocados de acordo com a direção preferencial do fluxo da água subterrânea e
a distâncias específicas para que se pudesse monitorar o fluxo de massa do contaminante, o
deslocamento/migração da pluma de contaminação, bem como a variação hidroquímica do
aquífero de forma mais abrangente. A disposição dos PM e dos PI encontra-se exposta na
Figura 9.
3.5.2 Sistema de Injeção
O sistema de injeção foi composto por uma caixa d’água, situada a 1,50 m de altura do solo e
apoiada por uma estrutura de cimento, onde foi preparada a solução de sulfato de sódio
(Na2SO4) anidro e hidróxido de sódio (NaOH) para a realização das injeções. A solução foi
transportada através de mangueiras de ¾ de diâmetro conectadas (por meio de torneiras que
regulavam a vazão da solução) entre a caixa d’água e os divisores de fluxo (“medusas”)
duplos ou únicos que direcionavam a solução até aos cinco níveis de cada PI, conforme ilustra
a Figura 9. A água para a preparação da solução foi bombeada de um poço instalado a cerca
de 100 m de distância da área, por uma bomba centrífuga de ½ HP que, por meio de
mangueira de ¾ era transportada para a caixa d´água. A distância do ponto de coleta da água
para a solução é de relevância, já que, é uma distância considerada segura o suficiente de
forma a não afetar as condições almejadas pelo experimento. A injeção foi realizada uma vez
REMAS
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35 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
por semana, podendo, no entanto, ser passada a duas ou mais vezes em períodos de
precipitação elevada.
Figura 11 – Sistema de injeção do experimento do experimento da BAS (Figura meramente ilustrativa).
3.5.3 Preparação da Solução de Injeção
Para a escolha da concentração média de sulfato a ser obtida na área em estudo, optou-se por
utilizar a concentração média de aquíferos norte-americanos, os quais possuem concentrações
de sulfato significativas para que a biodegradação na área possa ocorrer com predominância
da sulfato-redução. Esta concentração média variava entre 100-200 mg/L de Na2SO4 sob pH
em torno de 6. Com este objetivo foram necessárias duas adequações ao aquífero local (pH e
concentração de Na2SO4).
A) Massa de sulfato de sódio
Ao longo do experimento, foram injetados 1750g semanais de Na2SO4, totalizando
aproximadamente 126Kg ao longo de 15 meses de duração do experimento. Essa massa foi
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36
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
calculada através de cálculo de balanço de massa, onde foram consideradas as dimensões da
área experimental, a velocidade da água subterrânea e a concentração desejada de Na2SO4.
B) Massa de hidróxido de sódio
Dada a necessidade de se corrigir o pH da área, caracterizado por ácido (pH variando de 3,6 –
5,2), foi necessária a correção constante do mesmo para um patamar que se aproximasse da
particularidade do caso em estudo.
Foram injetados, ao longo do experimento, juntamente com o Na2SO4, 160g de NaOH
semanais, que foram mais tarde corrigidos para 500g uma vez que a quantidade inicial não foi
suficiente para elevar o pH para o patamar desejado.
3.6 LIBERAÇÃO CONTROLADA NO EXPERIMENTO DA BAS
A gasolina e o etanol, utilizados como contaminantes neste experimento foram doados pela
Petrobrás/REPAR – Refinaria do Paraná. O combustível E10 foi preparado adicionando-se
10L de etanol a 90L de gasolina pura.
Em 26 de Maio de 2009, foram liberados na fonte cerca de 100L de gasolina E10 (gasolina
com 10% de etanol em volume/volume). A fonte possuía dimensões de 1m2 e 1,6 m de
profundidade em relação à cota do terreno, conforme a Figura 12 (A). Uma solução de 30L de
água, contendo cerca de 3Kg de KBr, 18g de NaOH e 200g de Na2SO4 foi despejada na fonte
antes da liberação do combustível, ao nível do lençol freático. No dia da liberação o lençol
freático estava a aproximadamente 1,6 m de profundidade em relação à cota do terreno. Após
a liberação, a área foi coberta com lona plástica de 200 µm de espessura e sobre a mesma foi
acrescentado um tapete de brita para a sua proteção e fixação. A utilização da lona teve por
intuito evitar a infiltração direta da água da chuva e simular a cobertura impermeável
encontrada em postos de combustível. Desta forma, a recarga na área ocorria somente à
montante e nas laterais.
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37 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
(A)
(B)
Figura 12 - (A) Buraco de aproximadamente de 1,60 m de profundidade com camadas argilosas; (B) Cobertura
do buraco após a liberação.
3.7 VARIÁVEIS DE MONITORAMENTO NOS 3 EXPERIMENTOS
Dado que, para os 3 experimentos (ANM, BAN e BAS) as variáveis monitoradas foram as
mesmas, abaixo é apresentada a metodologia de análise comum aos mesmos.
3.7.1 Equipamentos de Amostragem
Os equipamentos de coleta foram previamente limpos, montados e calibrados em laboratório.
Para a coleta da água subterrânea foi usada uma bomba peristáltica Millipore, modelo
XX80EL000 (easy load), 33-650 RPM 0,35 HP e mangueiras Masterflex Tygon (material
inerte; não reage com a água da amostra) para cada poço de monitoramento. Para as análises
físico-químicas foi utilizado o analisador de água MicropurgeFlowcell® modelo MP20,
calibrado de acordo com as especificações do fabricante, para medir as variáveis: pH,
potencial de oxidação-redução, temperatura, oxigênio dissolvido, condutividade e salinidade.
Essas análises foram feitas em campo, no momento da coleta.
As análises de alcalinidade e acidez foram realizadas por titulometria com buretas digitais da
marca Brinkmann e um peagômetro de marca ORION, modelo – 9107BN.
Em laboratório, as variáveis acetato, cloreto, nitrito, nitrato, brometo sulfato e fosfato foram
analisadas por meio de equipamento de cromatografia iônica da marca DIONEX modelo ICS1000. O ferro (II) e o sulfeto foram analisados em um espectofotômetro DR/2500 da marca
HACH.
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38
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
3.7.2 Coleta de Amostras
Em campo, a coleta de amostras foi realizada por meio de bombeamento com
bombaperistáltica. As amostras bombeadas foram coletadas cuidadosamentenos frascos de
forma a evitar-se aeração das mesmas. Essas amostras foram transferidas diretamente para
frascos âmbar de 30 ml para a análise dos ânions (brometo, cloreto, nitrato, nitrito, fosfato,
sulfato e acetato),para frascos (“vials”) de 40 ml para análisedos BTEX, etanol e metano e
para frascos âmbar de 250 ml para o ferro (II) e sulfeto. A amostragem foi realizada sempre
dos níveis de, supostamente,menor concentração (níveis inferiores), para os níveis de maior
concentração (níveis superiores), evitando-se assim problemas de contaminação cruzada.
Após a coleta, as amostras foram preservadas em caixa de isopor com gelo rígido em
temperatura entre 4 e 5oC. As amostras para a determinação dos BTEX, etanol e metano
foram preservadas em pH inferior a 2 comácido clorídrico (HCl) 1:1 para que não houvesse
perda daqueles compostos por biodegradação.
Os poços dos 3 experimentos (ANM, BAN e BAS) foram escolhidos por se situarem na
região da fonte, e sofrerem pouca influência do transporte advectivo, já que as velocidades de
fluxo nas 3 áreas eram diferentes. Os poços escolhidos estão assinalados na Figura 5 (ANM),
Figura 6 (BAN) e Figura 9 (BAS).
3.7.3 Monitoramentos e Injeções
Ao longo dos 15 meses de duração do experimento, foram realizadas 62 injeções semanais e 5
monitoramentos.
3.8 DETERMINAÇÕES ANALÍTICAS
3.8.1 BTEX, Etanol e Metano
As soluções padrão para os BTEX e etanol foram preparadas segundoo método da
Environmental Protection Agency (USA) EPA/8015A – Aromatic Volatile Organics by Gas
Chromatography (EPA, 1996). O padrão utilizado para os BTEX foi o UST Modified
Gasoline Range Organics da SUPELCO e o reagente utilizado para a curva de calibração do
etanol foi da indústria J.T. Baker, com 99,9% de pureza. Para o metano, a solução padrão foi
preparada a partir do gás metano com 99,5% de pureza da empresa White Martins. O gás
metano era borbulhado dentro de um recipiente contendo água ultrapura, até a obtenção do
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
39 equilíbrio entre as duas fases: gasosa e aquosa. Conhecendo-se a pressão parcial e a constante
de Henry, para o metano, foi possível calcular a concentração do metano na fase aquosa, e
representada em miligramas por litro de água (STUMM e MORGAN, 1981).
3.8.2 Ânions– Brometo, Fosfato, Sulfato, Acetato, Nitrito, Cloreto e Nitrato
Os ânions brometo (Br-), cloreto (Cl-), nitrato (NO3-), nitrito (NO2-), fosfato (PO4-3) sulfato
(SO4-2) e acetato (CH3COO-) foram analisados por cromatografia de íons, em cromatógrafo da
marca Dionex (modelo ICS-1000), com detector de condutividade, em regime isocrático,
utilizando-se 4,5 Mm de carbonato de sódio e 1,4 Mm de bicarbonato de sódio como eluente.
A coluna utilizada foi a AS22 (4 x 250 mm).
Para a quantificação dos compostos de interesse, utilizou-se a padronização externa, com
curvas de calibração cujas concentrações variaram de 0,1 a 100 mg/L. O método utilizado
para a determinação dos ânions baseou-se em U.S. EPA – Método 300.1 DETERMINATION
OF INORGANIC ANIONS BY ION CHROMATOGRAPHY. Os sais utilizados para a
preparação das soluções padrão foram todos da marca J.T. Baker e a concentração das
soluções individuaisfoi de 1000 mg/L.
Os limites de detecção e quantificação foram realizados através da medida da linearidade,
com os dados obtidos por área, foi calculado o limite de detecção e quantificação através das
Equações 3.1 e 3.2, respectivamente, tendo sido obtidos os valores de 0,09 e 0,30 mg/L para o
acetato; 0,02 a 0,06 mg/L para o cloreto; 0,01 a 0,03 mg/L para o nitrito; 0,01 a 0,02 mg/L
para o brometo; 0,05 e 0,15 mg/L para o nitrato; 0,12 e 0,37 mg/L para o fosfato e 0,03 a 0,10
mg/L para o sulfato.
LD = 3,3 x (s/S)
Eq. 3.1
LQ = 10 x (s/S)
Eq. 3.2
3.8.3 Ferro (II) e Sulfeto
As análises de ferro (II) e sulfeto foram conduzidas em espectrofotômetro HACH – DR/2500;
seguindo método 3500-Fe D – método 1,10 fenantrolina para o ferro II e o 4500-S2-D –
REMAS
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40
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
método colorimétrico azul de metileno para o sulfeto do Standard Method (APHA, 1992). Os
reagentes da HACH utilizados foram: para o ferro (II) (1,10-fenantrolina e bicarbonato de
sódio, na proporção para analisar 25 mL de amostra) e para o sulfeto (reagente 1, que contém
ácido sulfúrico, oxalato de N,N-dimetil-p-fenilenodiamina e o reagente 2, uma solução de
azul de metileno, todos na proporção correta para analisar 25 mL da amostra).
3.8.4 Alcalinidade e Acidez
Para a determinação da acidez e da alcalinidade foi empregado o método titulométrico de
acordo com o Standard Methods (APHA, 1992) – Métodos 2310B e 2320B. Foram utilizadas
soluções padronizadas de hidróxido de sódio (NaOH) 0,02M, com ácido sulfúrico (H2SO4)
0,01M e para a alcalinidade, o ácido sulfúrico (H2SO4) 0,04M, com carbonato de sódio
(Na2CO3) 0,05M. O NaOH e o Na2CO3 utilizados foram da empresa J.T.Baker e MERCK,
todos com pureza acima de 99%. O peagômetro utilizado foi da marca ORION, modelo –
9107BN, e a bureta digital (Brinkmann). Os resultados são apresentados em mgCaCO3/L.
3.9 TRATAMENTO DE DADOS DOS 3 EXPERIMENTOS
Para cumprir com os objetivos deste trabalho, serão apresentados 2 tipos de avaliação: 1)
Avaliação temporal das concentrações das variáveis em estudo (etanol, potencial de oxidaçãoredução, metano, BTEX, acetato, ferro (II), e oxigênio dissolvido) e 2) Teste de MannKendall.
3.9.1 Análise Temporal
O estudo e a interpretação de um conjunto de dados dependem do conhecimento de
tendências e possíveis correlações entre as variáveis analisadas. Nesse sentido, a avaliação
temporal é uma ferramenta para a avaliação de fenômenos físico-químicos e para a inferência
sobre os mesmos.
Para se analisar a variação da concentração do etanol e dos indicadores de biodegradação ao
longo do tempo nos 3 processos de remediação abordados (ANM, BAN e BAS), foram
plotados gráficos com os valores máximos para as variáveis etanol, BTEX, oxigênio
dissolvido, ferro (II), metano e acetato, e os valores mínimos para a variável potencial de
oxidação-redução, utilizando-se o programa Origin 8.
REMAS
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41 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Os 3 processos, nomeadamente ANM, BAN e BAS foram analisados ao longo de 12 meses
após a liberação dos combustíveis E24 (ANM), E25 (BAN) e E10 (BAS). A análise dos dados
foi feita até aos 12 meses após a liberação de cada combustível, já que esse foi o perído
comum para os 3 experimentos. Com esse objetivo foram analisados resultados de 1 poço à
jusante da fonte de cada área de estudo (tendo cada poço 5 níveis de profundidade) e
escolhido o valor máximo dentre estes resultados. Os poços utilizados em cada experimento
ANM (poço P4), BAN (poço P4) e BAS (poço P13) distam aproximadamente 2 m das fontes
de contaminação. A fim de se avaliar o comportamento dos contaminantes perante às
diferentes abordagens experimentais, foram analisados as variáveis indicadoras de
biodegradação ao longo dos 12 meses, e após esse período para os experimentos da ANM e da
BAN, os quais possuem períodos de monitoramento mais longos (126 e 51 meses
respectivamente).
Nos gráficos que representam as concentrações dos BTEX ao longo do tempo, a concentração
obtida no monitoramento foi dividida pela concentração de saturação dos compostos BTEX
na água subterrânea obtida da lei de Raoult, a qual está apresentada na Equação 3.3.
Ciw = XiSiw
Eq. 3.3
Onde:
Ciw- concentração de um composto i na fase aquosa
Xi- fração molar do composto na gasolina
Siw- solubilidade do composto em água
A fração molar do composto considera o número de moles do composto i ( ) número de
moles total ( ). O número de moles considera por sua vez a massa do composto i (
peso molecular desse composto em água (
seu peso molecular (
) e a massa do composto total (
)eo
) bem como o
), conforme a Equação 3.4:
Eq. 3.4
Essa abordagem foi escolhida a fim de se normatizar os valores de concentração dos
compostos orgânicos monoaromáticos para efeito de comparação entre os 3 processos de
remediação, já que são 3 tipos diferentes de combustível utilizado (E24, E25 e E10). A
REMAS
UFSC
42
diferença
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
na
composição
dos
combustíveis
traz
diferentes
frações
molares
e
consequentemente diferentes concentrações de saturação.
A partir dos valores obtidos através da análise de cromatografia de massa dos diversos
compostos orgânicos nos 3 combustíveis analisados (E24, E25 e E10), foi possível obter-se os
percentuais de massa e de volume para cada composto. Para o cálculo de massa na fonte foi
considerada a equação abaixo, onde a
densidade do composto, %
representa a massa de cada composto,
éa
é o percentual de volume do composto na gasolina e
éo
volume total de gasolina no combustível.
%
100
Eq.3.5
10002
Uma vez que a biodegradação dos contaminantes ocorre somente quando estes se encontram
na sua forma dissolvida, C/C0 representa a concentração dos contaminantes em equilíbrio no
meio, na qual corresponde à concentração máxima do composto ao longo do tempo (C) sobre
concentração do composto na fase aquosa (C0).
3.9.2 Teste de Mann-Kendall
Quando a distribuição dos dados a serem analisados não obedece a uma distribuição normal,
são aconselhados testes não paramétricos para a análise dos mesmos. Para estes testes não há
suposições definidas em relação aos dados de entrada. Para análise estatística dos dados
obtidos nos 3 experimentos, foi utilizado teste não paramétrico de Mann-Kendall.
O método de Mann-Kendall é um teste usualmente empregado para determinação do
comportamento de plumas de hidrocarbonetos do petróleo. Este teste consiste na comparação
dos dados de concentração ou de massa de cada um dos eventos amostrais em duas regiões da
pluma: uma mais próxima à fonte e outra na extremidade oposta. A vantagem da utilização
desse método em relação aos outros métodos estatísticos paramétricos está no fato de que a
análise não depende da distribuição de frequência dos dados ou que sejam realizadas
transformações destes, em caso de não normalidade (WISCOSIN DEPARTMENT OF
NATURAL RESOURCES, 1999).
2
O valor obtido é multiplicado por 1000 por questão de unidade (transformar em grama) e o valor total é
dividido por 100 para que se cancele a unidade percentual do %
REMAS
.
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43 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O método pode ser melhor compreendido através do exemplo apresentado na Figura 13 onde
foram analisados 5 eventos amostrais de concentração de um contaminante em uma
determinada região da pluma. Neste exemplo foi realizada acomparação sequencial do evento
1 com o evento 2 até ao último evento. Em seguida, foi comparado o evento 2 com o evento 3
até ao último evento, e assim sucessivamente para os demais eventos. Cada linha (abaixo da
linha da concentração dos contaminantes) foi ocupada com valores 1, 0 ou –1 em função da
seguinte comparação:
se a concentração do evento xi> evento 1  valor de entrada = +1;
se a concentração do evento xi= evento 1  valor de entrada = 0;
se a concentração do evento xi< evento 1  valor de entrada = -1;
onde xi é valor do evento amostral comparado. A soma do resultado de cada comparação foi
colocada na última coluna da Figura 13, que apresenta uma tabela típica para a análise de
tendência pelo método de Mann-Kendall. O valor estatístico Mann-Kendall (S) é o resultado
do somatório desta última coluna.
Concentração
Comparação
com evento 1
Comparação
com evento 2
Comparação
com evento 3
Comparação
com evento 4
Evento
Amostral 1
Evento
Amostral 2
Evento
Amostral 3
Evento
Amostral 4
Evento
Amostral 5
100
50
85
75
50
Soma das
colunas
-1
-1
-1
-1
-4
1
1
0
2
-1
-1
-2
-1
-1
Valor Estatístico de Mann-Kendall (S) =
-5
Figura 13 - Análise de tendência pelo método estatístico de Mann-Kendall (FONTE: Adaptado de WISCOSIN
DEPARTMENT OF NATURAL RESOURCES, 2003).
O comportamento da pluma é examinado em função da variação do valor estatístico MannKendall (S). Para valores de S maiores que 0 (zero) o modelo mostra uma tendência
deaumento de concentração na região analisada (que pode ser um poço ou um conjunto de
poços) com confiança superior a 90% e, portanto, uma tendência de crescimento da pluma.
REMAS
UFSC
44
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Valores de S negativos podem ser interpretados como uma tendência de encolhimento da
pluma, i.e., possibilidade de tendência de diminuição da concentração. No entanto, esse valor
negativo deve ser verificado na Tabela 4, na qual para o número de variáveis analisadas (n) é
estipulado um valor máximo para o valor estatístico de Mann-Kendall (Smáx), conforme o
nível de confiança determinado (90% o valor de αé igual a 0,1 (1-0,9) e 80%, α é igual a 0,2
(1-0,8), onde α representa o nível de significância de 10 ou 20% (BARBETTA, 2007). Caso o
valor de S seja maior que o Smáx, deve-se analisar o coeficiente de variação (CV) que é
definido como a razão entre o desvio padrão e a média aritmética. Se o valor de S for nulo é
considerado que não existem hipóteses de tendência, e neste caso, deve ser analisado o CV.
Se o CV for menor ou igual a um, a pluma apresentacomportamento estacionário.
Tabela 4 – Tabela de relação para valores estatísticos de Mann-Kendall (S) negativos.
REMAS
n
Faixa de S
Smáx α=0,1
Smáx α=0,2
4
-6 a +6
-6
-4
5
-10 a +10
-7
-5
6
-15 a +15
-8
-6
7
-21 a +21
-10
-7
8
-28 a +28
-11
-8
9
-36 a +36
-14
-10
10
-45 a +45
-16
-11
UFSC
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
45 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A apresentação e a discussão dos resultados foram feita em 2 etapas. Numa primeira etapa
(item 4.1), avaliou-se o decaimento do etanol sob influência dos 3 processos de remediação
estudados (ANM, BAN e BAS). Essa avaliação foi feita em relação ao etanol, aos receptores
de elétrons disponíveis, aos subprodutos gerados e ao potencial de oxidação-redução dos
processos de biodegradação. Na segunda etapa (item 4.2), avaliaram-se estatisticamente as
diferenças e/ou semelhanças entre os 3 processos de remediação para o etanol e compostos
BTEX através do teste estatístico não-paramétrico de Mann-Kendall.
4.1 ANÁLISE DOS INDICADORES DE BIODEGRADAÇÃO AO LONGO DO
TEMPO
A análise temporal dos dados de campo permitiu acompanhar a variação dos indicadores dos
3 processos de biodegradação estudados a fim de se obter uma concepção geral do
comportamento e da tendência dos contaminantes ao longo do tempo. Esta análise foi
realizada através da elaboração de gráficos das seguintes variáveis: etanol, BTEX, oxigênio
dissolvido, ferro (II), acetato, metano e potencial de oxidação-redução. Os pontos de
avaliação desta análise são poços de monitoramento multiníveis de cada um dos 3 processos
estudados que estavam localizados a aproximadamente 2 m das respectivas fontes de
contaminação conforme descrito no item 3.9.1. Para cada processo foi considerado1 poço (P4
para a ANM, Figura 5; P4 para a BAN, Figura 6 e P13 para a BAS, Figura 9) com 5 pontos
amostrais localizados nas profundidades de 1,2, 2,5; 3,5 e 4,5 m para a ANM (P4), 2,3; 2,8;
3,8; 4,8 e 5,8 m para a BAN (P4) e 2, 3, 4, 5 e 6 m para a BAS (P13). Para esta análise foi
considerada a maior concentração dos 5 níveis amostrais em cada tempo (t1 a t6 para o
experimento da ANM e t1 a t5 para os experimentos da BAN e BAS) analisados. Este
procedimento foi realizado para as variáveis etanol, oxigênio dissolvido, ferro (II), acetato e
metano e a menor concentração para a variável potencial de oxidação-redução.
Os diferentes processos (ANM, BAN e BAS) iniciaram-se em distintos períodos (1998, 2004
e 2009 respectivamente). O experimento da ANM possuía 126 meses de monitoramento após
a liberação do combustível, o da BAN possuía 51 meses e o da BAS 12 meses em maio de
2010. O período comum aos 3 processos (12 meses) foi destacado pela área sombreada
REMAS
UFSC
46
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
(cinzenta) nos gráficos, período esse que considera 1 poço na região da fonte de cada área
experimental, como mencionado no item 3.9.1.
4.1.1 Etanol
Neste trabalho, a variação da concentração do etanol foi comparada entre os 3 processos de
remediação (ANM, BAN e BAS), pretendendo-se verificar as diferenças entre esses processos
em relação ao decaimento e a migração do mesmo (Equação 2.16). A análise foi feita através
do acompanhamento da concentração ao longo do tempo, já que essa condição é a que auxilia
na interpretação dos resultados obtidos. A Figura 14 mostra o comportamento do etanol nos 3
experimentos ao longo de 12 meses de monitoramento.
5000
4000
3000
ANM
2000
Concentração de Etanol (mg/L)
1000
0
5000
4000
Nitrato
BAN
3000
2000
1000
0
5000
Sulfato
BAS
4000
3000
2000
1000
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 14 – Gráfico comparativo da concentração do etanol nos 3 experimentos estudados no poço localizado a
2m da fonte.
Analisando-se o gráfico comparativo (Figura 14), observa-se que a maior concentração de
etanol no experimento da ANM ocorreu aos 16 meses, no experimento da BAN aos 4 meses e
REMAS
UFSC
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
47 no experimento da BAS aos 12 meses. Somente no experimento da BAS a concentração de
etanol aumenta ao longo do tempo, sendo a concentração máxima encontrada aos 12 meses.
Uma vez que o experimento ainda está em curso, é possível que após esse período a
concentração ainda aumente. Para o período até 12 meses após a liberação, tanto no
experimento da ANM como no da BAS, observou-se somente expansão no aumento da
concentração de etanol, enquanto que no experimento da BAN se notou uma retração na
concentração de etanol.
O efeito da injeção de nitrato foi o principal componente para justificar o início da
biodegradação do etanol já aos 6 meses. Em relação à ANM, o esgotamento do etanol no
experimento da BAN antecipou-se em 5 meses na área total. Na ANM, a ausência de
receptores de elétrons disponíveis que pudessem ser repostos, gerou um atraso na
biodegradação do etanol, em relação à BAN, já que à medida que ocorreu a biodegradação do
etanol através do consumo e exaustão dos receptores de elétrons mais favoráveis, o processo
biodegradativo tornou-se metanogênico. O rápido decaimento do etanol no experimento da
BAN foi resultante das injeções de nitrato. O fato de naquele experimento o pico e o
decaimento terem sido inferiores aos demais experimentos é um indicativo que as injeções de
nitrato aceleraram o início da biodegradação do etanol e impediram acúmulo de etanol por
período prolongado. Na ANM, após a exaustão dos receptores mais favoráveis (O2 e Fe (II)),
a metanogênese foi o processo predominante na biodegradação do etanol no poço em estudo.
A produção de metano nos 3 processos será discutida no item 4.1.5. Em relação ao consumo
de Fe (III) para a biodegradação do etanol, este foi mais utilizado na ANM do que nos demais
experimentos, tópico que será discutido no item 4.1.3.
Deste modo, concluiu-se que até aos 12 meses após a liberação, o processo de transferência de
massa (aumento da concentração) foi predominante nos experimentos da ANM e da BAS em
relação à biodegradação (diminuição). Somente no experimento da BAN o processo de
decaimento da concentração iniciou-se aproximadamente aos 6 meses, podendo-se considerar
que o processo de biodegradação foi predominante entre os 6 e os 12 meses.
Em relação ao experimento da BAS, ainda que neste houvesse um receptor de elétrons
disponível em grande quantidade, este não foi utilizado preferencialmente dado o processo
termodinâmico, que respeita uma ordem sequencial na utilização dos receptores (O2 > NO3- >
Fe3+> SO42- > CO2). Destaca-se que, no caso do experimento da BAS, não bastou a existência
REMAS
UFSC
48
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
de um receptor de elétrons disponível em quantidade para acelerar o processo de
biodegradação. O receptor deve ser termodinamicamente favorável em relação ao processo de
biodegradação em uso. Assim, na área do experimento da BAS, a sua utilização só ocorrerá
de modo significativo quando os processos aeróbios e anaeróbios mais favoráveis (O2, NO3e Fe (III)) não forem mais preponderantes. A contribuição dos receptores de elétrons no
processo de biodegradação do etanol será discutida mais detalhadamente nos itens 4.1.2 e
4.1.3.
4.1.2 Oxigênio Dissolvido
O oxigênio dissolvido (OD) é o receptor de elétrons mais favorável termodinamicamente
durante biodegradação de compostos orgânicos, sendo a sua concentração usada para estimar
a massa de contaminante que pode ser biodegradada aerobiamente. Durante a biodegradação
aeróbia a concentração de OD diminui. A fase anaeróbia é considerada a partir de valores
inferiores a 1 mg/L, no entanto, as bactérias estritamente anaeróbias não toleram
concentrações de OD acima de 0,5 mg/L (WIEDEMEIER et al., 1999a).
O processo aeróbio é rápido e o esgotamento do oxigênio na área pode ser percebido pelo uso
dos outros receptores de elétrons anaeróbios (nitrato, ferro, sulfato etc.). A degradação do
etanol contribui significativamente para o aumento da demanda de oxigênio e, quando
presente, o etanol é o substrato preferencial dos microorganismos em relação aos
hidrocarbonetos.
As concentrações de OD no meio definem a predominância da fase anaeróbia durante a
biodegradação do contaminante. Nos casos de derramamentos de combustíveis, a fase que
normalmente predomina é a fase anaeróbia, já que o OD é rapidamente esgotado no meio,
sendo que, em ambientes subterrâneos a concentração de OD depende da recarga de chuvas
para a sua reposição. Neste trabalho, através da análise da variação das concentrações de OD
ao longo do tempo, pretende-se verificar a influência de cada processo (ANM, BAN e BAS)
na biodegradação aeróbia do etanol, i.e., a utilização do OD na ausência e na presença dos
receptores de elétrons alternativos (nitrato e sulfato). A Figura 15 ilustra a comparação do
decaimento do OD entre dos processos da ANM, BAN e BAS até aos 12 meses de
monitoramento.
REMAS
UFSC
49 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ANM
8
6
Concentração de Oxigênio Dissolvido (mg/L)
4
2
0
8
6
Nitrato
BAN
4
2
0
8
6
Sulfato
BAS
4
2
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 15 – Gráfico comparativo da concentração de OD nos 3 experimentos ao longo do tempo no poço
localizado a 2 m da fonte.
As concentrações de OD medidas antes da liberação do combustível no experimento da ANM
foram entre 5–8 mg/L, para a BAN 3–5 mg/L e para a BAS entre 2–7 mg/L, assim através dos
valores obtidos antes da liberação foi possível fazer-se a análise da variação da concentração
do OD através dos valores de referência.
Em todos os processos (ANM, BAN e BAS), verificou-se o decaimento da concentração de
oxigênio nos primeiros meses após a liberação (Figura 15), representando o esgotamento
deste durante o processo aeróbio de biodegradação. Os experimentos da ANM e da BAS
tiveram comportamento semelhante, com consumo rápido de OD, através do decaimento
deste, seguido de uma parcial recuperação de OD no meio, principalmente através da recarga
no meio. Dos 3 estudos, apenas o experimento da BAN apresentou um patamar mínimo de
OD maior ou igual a 2 mg/L. Isso foi resultado das injeções de nitrato que disponibilizaram
REMAS
UFSC
50
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
um receptor de elétrons facilmente utilizável no processo de biodegradação. Este fato não
ocorreu nos experimentos da ANM e da BAS, justificando as baixas concentrações de OD
naqueles experimentos (Figura 15). A presença do nitrato em abundância em relação ao
oxigênio gerou um consumo concomitante dos dois receptores, fazendo com que o oxigênio
não fosse totalmente consumido.
4.1.3 Ferro (II)
No meio ambiente, o ferro existe predominantemente na forma solúvel e reduzida ferrosa (Fe
(II)) ou na forma insolúvel e oxidada férrica (Fe (III)). A maior parte do Fe (II) gerado pela
redução do Fe (III) não passa para fase aquosa, sendo cerca de 98% sequestrado na forma de
argilas ricas em ferro, entre elas as piritas que são os sulfetos de ferro. Apenas uma pequena
porcentagem de Fe (II) acumula na solução, e esta se movimenta através do gradiente de
difusão ou com a água corrente (CHAPELLE, 1999). Se o Fe (II) dissolvido é transportado
para uma área aeróbia, este pode ser oxidado a Fe (III), mas, somente em pH superior a 6
(FERREIRA, 2006).
Após o esgotamento do OD e do nitrato, o Fe (III) é o receptor de elétrons mais favorável no
meio. Neste estudo, foram comparadas as concentrações de Fe (II) produzidas nos 3 processos
(ANM, BAN e BAS) para se avaliar a contribuição da ferro-redução em cada processo. As
concentrações de Fe (II) antes da liberação para ANM, BAN e BAS foram respectivamente: <
1,6; <0,1 e <1 mg/L.
Nos 3 estudos, a produção de Fe (II) esteve relacionada à biodegradação do etanol (Figura
14), uma vez que as maiores concentrações foram registradas na presença do etanol e após a
exaustão deste (no caso da ANM e da BAN), as concentrações de Fe (II) diminuíram. O
experimento da ANM (Figura 16) foi aquele onde foram observadas as maiores concentrações
de Fe (II). Porém, o processo de ferro-redução naquele experimento não foi um processo
significativo na biodegradação do etanol, já que conforme a relação estequiométrica, para
degradar 1 mole de etanol são necessários 12 moles de Fe (III).
C2H6O + 12Fe(OH)3, amorfo + 24H+ 2CO2 + 12Fe2+ + 33H2O
REMAS
Eq. 4.1
UFSC
51 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
80
ANM
60
40
Concentração de Ferro (II) (mg/L)
20
0
80
60
BAN
Nitrato
40
20
0
80
60
BAS
Sulfato
40
20
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 16 – Gráficos comparativos da concentração de Fe (II) registrada nos 3 experimentos ao longo do tempo
no poço localizado a 2 m da fonte.
No experimento da BAN, a presença de nitrato, reduziu o consumo do Fe (III) como receptor
de elétrons. Naquele experimento, a concentração máxima de Fe (II) ocorreu aos 4 meses (34
mg/L) e a partir daquela altura as concentrações foram diminuindo, provavelmente devido à
biodisponibilidade do nitrato injetado. As concentrações máximas de Fe (II) no experimento
da BAN foram muito inferiores àquelas observadas na ANM (Figura 16), revelando a pouca
utilização do Fe (II) no processo de biodegradação do etanol.
No experimento da BAS, devido ao curto tempo em que ocorreu o experimento, a avaliação
da interferência da ferro-redução na biodegradação do etanol foi parcial. O aumento da
concentração de Fe (II) indica que ocorreu, por um período curto, o processo de ferroredução. A concentração máxima obtida neste experimento foi de 35 mg/L aos 9 meses de
monitoramento (Figura 16).
REMAS
UFSC
52
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Concluiu-se assim, que a ferro-redução não foi o principal processo de biodegradação do
etanol nos experimentos da ANM e da BAN. Para o experimento da BAS, não foi possível
concluir-se sobre o papel da redução do ferro (III) na oxidação do etanol naquele estudo, já
que o processo de ferro-redução ainda está em curso. É importante destacar que a influencia
da ferro-redução na ANM, ainda que não tenha sido o principal processo responsável pela
biodegradação do etanol, aquele processo foi muito mais significativo que no experimento da
BAN. Enquanto no experimento da BAN após o uso do OD havia grande disponibilidade de
nitrato no meio, que termodinamicamente é mais favorecido que o Fe (II), na ANM não houve
essa disponibilidade, fato que acarretou a ferro-redução.
4.1.4 Acetato
A Figura 17 ilustra a variação da concentração do subproduto acetato nos 3 experimentos ao
longo do tempo. Nos 3 processos, as concentrações de acetato nos períodos experimentais
sofreram influência da biodegradação do etanol, o qual é o substrato preferencial em
condições anaeróbias. Comparando os 2 processos (ANM e BAN) que continham maiores
concentrações de etanol (Figura 14), observa-se que em ambos os casos ocorreram
concentrações significativas de acetato (Figura 17), porém, por motivos distintos. Na ANM, a
biodegradação do etanol passa necessariamente pela formação de acetato (item 2.3.1.1),
enquanto no caso da nitrato-redução (processo da BAN) a formação de acetato é dependente
da quantidade de nitrato presente no meio (item 2.3.1.2). Quando a quantidade de nitrato
disponível é insuficiente no processo de biodegradação do etanol pela nitrato-redução, uma
parte do nitrato reage com o etanol para formar acetato e outra parte reage posteriormente
com o acetato formado para gerar bicarbonato e nitrito (item 2.3.1.2, Equações 2.8 e 2.9).
No experimento da ANM, o acetato não foi monitorado até aos 23 meses após a liberação. De
acordo com os valores obtidos após esse período (nos quais 23 e 32 meses, com
concentrações mais elevadas de 102 e 113 mg/L respectivamente) foi possível observar-se
que as elevadas concentrações de acetato correspondiam às concentrações elevadas de etanol.
Após o esgotamento do etanol aos 32 meses, as elevadas concentrações de acetato
corresponderam ao acúmulo deste devido à biodegradação do etanol, junto com o acetato que
passou a ser produzido devido à biodegradação dos BTEX. A formação de acetato durante a
ANM deu-se através do processo fermentativo através do qual o etanol, ao reagir com a água
sofre o processo acetogênico na qual se dá a formação de acetato (item 2.3.1.1, Equação 2.3).
REMAS
UFSC
53 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
500
400
ANM
300
200
Concentração de Acetato (mg/L)
100
0
500
400
BAN
300
Nitrato
200
100
0
500
400
BAS
Sulfato
300
200
100
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 17 – Gráfico comparativo da concentração de acetato nos 3 experimentos ao longo do tempo no poço
localizado a 2m da fonte. --- Período não analisado.
No experimento da BAN, as maiores concentrações de acetato no poço em estudo foram
registradas nos 9 primeiros meses após a liberação (Figura 17), período esse que correspondeu
às maiores concentrações de etanol naquele poço. A partir dos 13 meses, as concentrações
diminuíram ao longo do tempo, correspondendo à diminuição da concentração do etanol a
partir do mesmo período. No período entre 25 e 32 meses a produção de acetato deveu-se
predominantemente à degradação do etanol, mas foi influenciada pela biodegradação dos
BTEX a partir dos 17 meses (COSTA, 2009). Devido às injeções de nitrato, o etanol presente
foi reduzido pelas bactérias desnitrificantes e a formação de acetato só se deu quando a
quantidade de nitrato no meio foi insuficiente para transformar o etanol em acetato (Equação
2.8). Na nitrato-redução, a formação de acetato é devida à oxidação heterotrófica incompleta
do etanol. Na oxidação completa, em baixo pH (característico da área), os produtos são CO2,
REMAS
UFSC
54
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
H2O e H2S. A produção de acetato no experimento da BAN ocorreu de forma antecipada em
relação à ANM, o que pode ser justificado pela biodegradação do etanol que também foi
antecipada. Além disso, a formação de acetato no experimento da BAN indica que a
quantidade de nitrato presente no meio foi insuficiente para transformar o etanol diretamente
em N2 e CO2 conforme a Equação 2.10. A presença de acetato revela que o processo de
biodegradação do etanol passou pelas etapas das Equações 2.8 e 2.9.
No experimento da BAS, a produção de acetato pelo processo respiratório, teve seu valor
mais elevado aos 9 meses (130 mg/L) (Figura 17), porém foi um valor pontual. O baixo teor
de etanol no combustível usado para este estudo possivelmente inibiu a formação de elevadas
concentrações de acetato por um longo período de tempo e a biodegradação dos BTEX não
pode ser considerada até aos 12 meses por estes serem biodegradados somente após o
esgotamento do etanol, que no período em estudo não tinha ocorrido ainda. Apesar de ter
havido parcialmente a produção de acetato nos primeiros 12 meses de monitoramento do
experimento da BAS, como o processo da biodegradação do etanol sob condições sulfatoredutoras não era significativo, a presença de acetato pode ser proveniente também de outros
processos anaeróbios de biodegradação.
4.1.5 Metano
O metano é o principal subproduto da degradação anaeróbia da matéria orgânica. Este é
gerado no final do processo da digestão anaeróbia e em casos de derramamento. Quando se
esgotam os receptores de elétrons, o processo metanogênico prevalece, gerando metano. A
presença de metano no meio é um indicativo de condições fortemente redutoras. A produção
de metano nos processos de fermentação e respiração ocorre por diferentes vias. No processo
fermentativo o etanol gera acetato, pelas bactérias acetogênicas (POWERS et al., 2001) e
passa a metano. Deste modo, a formação de metano é resultado da transformação de acetato, e
da insuficiência dos receptores de elétrons mais favoráveis termodinamicamente (NO3-, Fe
(III) e SO42-) na região.
REMAS
UFSC
55 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
120
ANM
90
60
Concentração de Metano (mg/L)
30
0
120
90
Nitrato
BAN
60
30
0
120
90
BAS
Sulfato
60
30
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 18 – Gráficos comparativos da concentração de metano nos 3 experimentos ao longo do tempo no poço
localizado a 2 m da fonte. --- Período não analisado
A análise das concentrações de metano nos 3 experimentos auxiliou no entendimento da
influência da presença e da ausência dos receptores de elétrons nos 3 processos de
biodegradação no retardo das condições metanogênicas.
Entre os 0 (zero) e os 12 meses, observou-se a formação de metano nos experimentos da
ANM e da BAN. Já no experimento da BAS não foi observada a produção de metano ao
longo do mesmo período (Figura 18). No caso do experimento da BAN, uma vez que as
injeções só tiveram início 2,5 meses após a liberação, é possível que naquela altura o processo
metanôgenico já tivesse dado início e, portanto, as injeções não reverteram o processo, apenas
o atenuaram e não permitiram que este se prolongasse por muito tempo, já que a partir dos 9
meses as concentrações de metano foram inferiores a 2 mg/L (Figura 18). No experimento da
BAN, a metanogênese não foi um processo que tivesse predominado em algum momento do
REMAS
UFSC
56
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
estudo, i.e., as condições desnitrificantes não favoreceram a produção de metano, como pode
ser observado pelos baixos valores de metano produzido ao longo do tempo, tendo a maior
concentração, no poço em estudo, sido de 53 mg/L aos 4 meses (Figura 18). O metano
presente no início do experimento (após a liberação) demonstra que o nitrato naquela altura,
não foi suficiente para biodegradar o etanol, assim o processo de biodegradação ocorreu via
metanogênese.
No estudo da ANM, até aos 11 meses após a liberação, as concentrações de metano
aumentaram ao longo dos dois tempos monitorados. No entanto, a partir dos 23 meses após a
liberação, a concentração de metano no meio superou o seu nível de saturação (22 mg/L) e
aos 32 meses ocorreu o ápice da saturação de deste. Embora as concentrações mais elevadas
tenham ocorrido até aos 32 meses após a liberação, depois desse período o metano continuou
a ser produzido, mas devido à biodegradação dos BTEX.
A metanogênese, sendo um processo que ocorre somente quando não há disponibilidade de
outros receptores de elétrons, foi o processo predominante nos últimos estágios do
experimento da ANM, já que este estudo não contou com auxílio de outros receptores de
elétrons.
Durante o experimento da BAS, as concentrações de metano foram insignificantes, devido à
disponibilidade e consumo de outros receptores de elétrons termodinamicamente mais
favoráveis, e no caso, a metanogênese ocorreria apenas se os receptores de elétrons já
tivessem sido esgotados. Antes de se iniciar o processo metanogênico, é necessário que se
esgote o sulfato presente no meio, já que o sulfato é termodinamicamente mais favorável. A
falta de detecção de metano durante aquele experimento era esperada, pois o processo ainda
se encontrava no processo de ferro-redução.
4.1.6 Potencial de Oxidação-Redução
O potencial de oxidação-redução (POR) é um indicador qualitativo de condições aeróbias ou
anaeróbias, auxiliando no conhecimento da tendência biodegradativa do meio impactado e é
fortemente influenciado pelas reações químicas e bioquímicas nas águas subterrâneas.
Conforme o item 2.2.2, os valores característicos dos POR seguem uma sequência energética
favorável aos processos mediados pelos microorganismos, na qual a respiração aeróbia
apresenta o POR mais elevado (+820 mV), seguido pela nitrato-redução (+740 mV), ferroREMAS
UFSC
57 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
redução (-50 mV), sulfato-redução (-220 mV) e metanogênese (-240 mV). Assim, através dos
valores observados, podem-se obter informações sobre o processo de biodegradação
predominante durante os monitoramentos realizados. Os valores iniciais (antes da liberação)
de POR foram para ANM, BAN e BAS, entre (+) 32 –(+) 169, (+) 520 e (+) 297 – (+) 169
mV respectivamente. Para esta avaliação foram considerados os menores valores de POR
obtidos para cada experimento, pois o interesse era verificar os potenciais redutores dos 3
experimentos.
450
ANM
300
150
Potencial de oxidação - redução (mV)
0
-150
450
Nitrato
BAN
300
150
0
-150
450
300
Sulfato
BAS
150
0
-150
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 19 – Gráficos comparativos do POR nos 3 experimentos ao longo do tempo no poço localizado a 2 m da
fonte.
Até aos 12 meses, dos 3 processos estudados, o da ANM foi o que apresentou valores de POR
mais baixos no poço em estudo devido ao rápido esgotamento do OD e dos processos
anaeróbios (ferro-redução e metanogênese). Já o experimento da BAN foi o que apresentou
valores de POR mais elevados, i.e., os valores negativos de POR basicamente não foram
REMAS
UFSC
58
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
observados (Figura 19). Isto é justificável devido às injeções de nitrato que, estando
disponível no meio, proporcionava o nitrato como receptor de elétrons para a biodegradação
do etanol, auxiliando na biodegradação deste, já que em POR elevados o processo
biodegradativo é mais eficaz. Os poucos valores negativos observados naquele experimento
foram provavelmente devido à concomitância da ocorrência da ferro-redução (que ocorre em
POR em torno de – 50 mV).
Porém, a grande maioria dos valores ficou na faixa de (+) 100 e (+) 250 mV. No experimento
da BAS, no qual os valores de POR antes da liberação foram entre (+) 419 e
(+) 297 mV, os valores de POR obtidos não foram representativos do processo de sulfatoredução, já que este ocorre em POR bastante baixos (em torno -220 mV) e, no caso do poço
em estudo, o menor valor obtido foi de - 24 mV (Figura 19), tendo a maior parte dos POR
sido mantido entre (+) 160 e (+) 190 mV. Uma justificativa para esses valores é o fato de o
processo biodegradativo não estar em fase de sulfato-redução, i.e., outros receptores de
elétrons (Fe (III)) estavam sendo utilizados no processo e mesmo com as injeções de sulfato
que biodisponibilizavam esse receptor em abundância o processo de biodegradação seguiu a
sequência termodinâmica, através do uso de receptores de elétrons mais favoráveis
energeticamente.
4.1.7 Sulfato
Na Figura 20 estão apresentados os gráficos comparativos da concentração de sulfato nos 3
experimentos estudados. Observa-se através destes que, as injeções de sulfato causaram efeito
no aumento da concentração de sulfato no experimento da BAS. Nos experimentos da ANM e
da BAN, as concentrações máximas não ultrapassaram os 10 mg/L e 15 mg/L
respectivamente, ao longo dos 12 meses, não se constituindo uma estratégia para a
biodegradação. Já no experimento da BAS, a injeção de sulfato permitiu elevar a
concentração do meio até aproximadamente 80 mg/L, e o seu usado pode ser constatado pelo
decréscimo da concentração ao longo do tempo.
REMAS
UFSC
59 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
80
60
ANM
40
Concentração de Sulfato (mg/L)
20
0
80
BAN
60
40
20
0
80
60
BAS
40
20
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 20 – Gráficos comparativos da concentração de sulfato nos 3 experimentos ao longo do tempo no poço
localizado a 2 m da fonte.
4.1.8 Nitrato
O gráfico da Figura 21 ilustra as diferenças nas concentrações de nitrato nos 3 experimentos
até aos 12 meses de monitoramento. Nas 3 áreas experimentais, a concentração de nitrato era
baixa. As altas concentrações de nitrato na BAN foram devido às injeções. Desta forma,
somente na BAN, o nitrato pôde ser usado como receptor de elétrons, sendo o seu decaimento
ao longo do tempo a constatação da sua utilização.
REMAS
UFSC
60
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
1200
900
ANM
Concentração de Nitrato (mg/L)
600
300
0
1200
900
BAN
600
300
0
1200
900
BAS
600
300
0
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 21 – Gráficos comparativos da concentração de nitrato nos 3 experimentos ao longo do tempo no poço
localizado a 2 m da fonte.
4.1.9 BTEX Total
A análise do comportamento dos BTEX nos 3 experimentos é essencial para a compreensão
da influência do etanol em diferentes processos de biorremediação e a escolha da melhor
estratégia de remediação para os compostos monoaromáticos. Os dados necessários para esta
análise estão descriminados na Tabela 5. Em primeiro lugar, são apresentadas as seguintes
propriedades físico-químicas dos BTEX: solubilidade do composto em água, densidade
relativa, peso molecular e coeficiente de partição carbono e água (
). Para cada
experimento, ANM, BAN e BAS, os parâmetros de interesse estão citados em colunas: fração
molar(adimensional), % volume (adimensional), % massa (adimensional), massa na fonte (g)
e concentração de saturação (mg/L).
Na Tabela 5 são também apresentados os parâmetros necessários para o cálculo da
concentração de saturação dos compostos monoaromáticos, sendo eles, a fração molar
(colunas D, I e N) e solubilidade (coluna A), conforme a Equação 3.3. A fração molar por sua
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61 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
vez toma em conta o percentual de massa (colunas F, K e P) e o peso molecular (coluna C),
conforme a Equação 3.4. As colunas H (ANM), M (BAN) e R (BAS) apresentam os valores
obtidos para essas concentrações. Para o benzeno, a maior concentração de saturação se deu
para o combustível utilizado no experimento da BAS (E10), para o tolueno, para o
combustível utilizado no experimento da BAN (E25), para o etilbenzeno no experimento da
ANM (E24) e por último, para os xilenos, no experimento da BAN (E25).
A
massa
de
cada
composto
monoaromático
é
destacada
na
Tabela
5
por
experimento/combustível. Para o cálculo da massa dos compostos monoaromáticos foi
utilizada a Equação 3.4 (item 3.9.1). Os resultados para os BTEX do combustível utilizado no
experimento da ANM, encontram-se na coluna G, do combustível do experimento da BAN na
coluna L, e por último, do experimento da BAS, na coluna Q. Ainda que o volume de gasolina
na misturado experimento da BAS tenha sido maior (90L), a massa de compostos
monoaromáticos foi menor. Isso se deu devido ao menor percentual de volume dos compostos
TEX no combustível E10, comparado aos demais (colunas G, M e R). A diferença da massa
individual dos BTEX e do BTEX Total nas fontes de cada experimento (colunas G, L e Q) é
devido ao volume de gasolina usado em cada um, sendo eles 76L para o experimento da
ANM, 75L para o experimento da BAN e 90L para o experimento da BAS. Em relação à
massa, o combustível (E24) utilizado no experimento da ANM foi aquele que teve a maior
massa de BTEX (7025g), seguida do combustível do experimento da BAN (6870 g) e do
experimento da BAS (6517 g).
REMAS
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62
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Tabela 5 – Propriedades dos BTEX nas diferentes concentrações de etanol das gasolinas utilizadas nos 3 experimentos
Propriedades
ANM (E24)
B
1750
0,876
78,1
0,008
0,534
0,61
355
13,6
0,008
0,53
0,60
352
13,6
0,010
0,65
0,76
512
17,5
T
515
0,867
92,1
0,042
3,355
3,87
2234
21,6
0,042
3,35
3,82
2179
21,6
0,033
2,62
3,04
2044
16,9
E
152
0,867
106,2
0,011
1,022
1,18
680
1,67
0,011
1,02
1,16
665
1,67
0,008
0,73
0,82
570
1,22
X
158
1,744
106,2
0,061
5,642
6,49
3756
9,63
0,061
5,64
6,41
3675
9,63
0,048
4,33
2,43
3390
7,59
Composto
Concentração de
Saturaçaõ(mg/L)
R
Massa na fonte (g)
Q
% Massa
P
% Volume
O
Fração Molar
N
Concentração de
Saturação(mg/L)
M
Massa na fonte (g)
L
% Massa
K
%Volume
J
Fração Molar
I
Concentração de
saturação (mg/L)
H
Massa na fonte (g)
G
% Massa
F
% Volume
E
Fração Molar
D
Peso Molecular
(g/mol)
C
Densidade
Relativa
B
BAS (E10)
Solubilidade em água
(mg/L) a 25oC
A
BAN (E25)
BTEX Total
7025
6870
6517
Nota: os valores da densidade relativa e do peso molecular do xileno são as médias do o, m e p- xilenos. As letras no topo das colunas são para facilitar na identificação dos
parâmetros.
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63 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
A massa de etanol contida em cada combustível dos experimentos realizados também foi
calculada utilizada a Equação 3.4 (item 3.9.1). A massa dos compostos BTEX e etanol é
destacada na Tabela 6, a fim de avaliarmos a relação de massa entre o etanol e os compostos
BTEX de cada combustível.
Tolueno
Etilbenzeno
Xilenos
BTEX Total
Relação de massa
entre etanol e
BTEX
Benzeno
Massa (g)
Etanol
Experimento
Tabela 6 – Relação de massa entre o etanol e os BTEX em cada experimento.
ANM
19000
355
2234
680
3756
7025
2,70
BAN
19800
352
2179
665
3675
6870
2,88
BAS
7900
512
2044
570
3390
6517
1,21
A relação de massa entre o etanol e os compostos BTEX (Tabela 6) do experimento da ANM
(2,70) e do experimento da BAN (2,88) são semelhantes, já que a quantidade de etanol foi
semelhante nos dois experimentos (E24 e E25 respectivamente). No combustível E10 a
relação de massa entre o etanol (7900 g) e os compostos BTEX (6517 g) é de 1,21, portanto, a
massa de etanol presente no combustível E10 é muito próxima à massa dos compostos
monoaromáticos. Enquanto nos experimentos da ANM e da BAN foram necessários
aproximadamente 32 meses para o esgotamento do etanol na área monitorada, o tempo
necessário para o esgotamento do etanol do combutível E10 deverá ser menor e o início da
biodegradação dos compostos BTEX deverá também se iniciar mais cedo.
Assim, conforme verificado anteriormente, os 3 combustíveis utilizados nos 3 experimentos
devido às suas características, possuem diferentes concentrações de saturação para os
compostos BTEX. A fim de normatizar a análise dos compostos BTEX, levando em
consideração a composição dos diferentes combustíveis, optou-se por determinar a relação
C/Co onde C é a concentração de um determinado hidrocarboneto monoaromático no tempo
T, e Co é a concentração de saturação daquele hidrocarboneto prevista pela lei de Raoult
(concentração de saturação) (item 3.9.1). Com os valores de solubilidade (Tabela 5) dos
hidrocarbonetos monoaromáticos para cada processo de remediação (ANM, BAN e BAS) e
suas respectivas concentrações de saturação (colunas H, M e R) foi possível calcular o C/Co.
REMAS
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64
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Conforme o item 3.9.1, a concentração de saturação foi calculada através da lei de Raoult
(Equação 3.3) que considera a fração molar(colunas D, I e N) e solubilidade (coluna A) dos
compostos que variam conforme a composição de cada combustível. Por exemplo, de acordo
com a Tabela 5, para o experimento da ANM, a fração molar do benzeno na gasolina E24
(combustível utilizado naquele experimento) é de 0,008 (coluna D), para o experimento da
BAN foi de 0,008 (coluna I) e para o experimento da BAS foi de 0,010 (coluna N). Assim,
obtém-se diferentes concentrações de saturação para cada combustível, conforme as colunas
H (ANM), M (BAN) e R (BAS) da Tabela 5. A semelhança dos valores da fração molar para
os experimentos da ANM e da BAN (colunas D e I) é justificada pelo fato de a fração molar
estar relacionada à quantidade de BTEX em determinado volume de gasolina, no caso dos
experimentos da ANM 76L e da BAN 75L, já no percentual de massa (colunas F e K) é
avaliado o combustível como um todo (com o etanol incluído).
A Figura 22 representa a relação C/Co dos compostos BTEX e BTEX Total para os 3
experimentos. Os valores das concentrações escolhidas nos diversos tempos conforme
especificado no item 3.9.1 (ANM: P4, BAN: P4, BAS: P13) são os máximos dos 5 níveis
monitorados, do poço a aproximadamente 2 m da fonte para os 3 experimentos. No Anexo A,
as Tabelas A.2, A.4 e A.6 apresentam os valores máximos utilizados para a elaboração dos
gráficos.
REMAS
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65 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Benzeno (ug/L)
1,5
1,0
ANM
0,5
0,0
1,5
1,5
0,0
1,0
C/Co
Nitrato
BAN
0,5
0,0
1,5
Nitrato
BAN
0,5
0,0
1,5
1,0
Sulfato
1,0
BAS
Sulfato
0,5
0,0
ANM
1,0
0,5
1,0
C/Co
Tolueno (ug/L)
1,5
BAS
0,5
0
20
40
60
80
100
120
0,0
140
0
20
40
Tempo (Meses)
Xilenos (ug/L)
1,5
0,5
0,5
0,0
1,5
0,0
1,5
Nitrato
C/Co
C/Co
0,0
1,5
140
BAN
Nitrato
0,5
0,0
1,5
1,0
Sulfato
BAS
Sulfato
BAS
0,5
0,5
0,0
120
ANM
1,0
BAN
0,5
1,0
100
Etilbenzeno (ug/L)
1,0
1,0
80
1,5
ANM
1,0
60
Tempo (Meses)
0,0
0
20
40
60
80
100
120
140
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Tempo (Meses)
BTEX Total (ug/L)
1,5
1,0
ANM
0,5
0,0
1,5
C/Co
1,0
BAN
Nitrato
0,5
0,0
1,5
1,0
BAS
Sulfato
0,5
0,0
0
20
40
60
80
100
120
140
Tempo (Meses)
Figura 22 – Gráficos comparativos das concentrações dos BTEX individuais e total nos 3 experimentos ao longo
do tempo no poço localizado a 2 m da fonte.
REMAS
UFSC
66
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Nos 3 experimentos, até aos 12 meses, o comportamento dos BTEX foi semelhante,
caracterizado por um período de transferência de massa da fonte para o meio. Após os 12
meses, o experimento da BAN apresentou um decaimento dos BTEX mais acentuado que no
experimento da ANM.
A análise individual dos compostos monoaromáticos revela que no experimento da BAS
foram encontradas para o tolueno e xilenos, concentrações superiores à concentração de
saturação, indicando fase livre no poço (P13) a aproximadamente 2 m da fonte. Este fato não
foi observado para os demais experimentos. Nos 3 processos, a análise individual dos
hidrocarbonetos confirma a análise dos BTEX Total, i.e., entre o 0 (zero) e os 12 meses para
os 3 experimentos e para os compostos monoaromáticos este período foi marcado pela
predominância da dissolução dos compostos no meio, já que as suas concentrações
aumentaram ao longo do tempo (0 a 12 meses).
4.2 ABORDAGEM ESTATÍSTICA NA COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE
REMEDIAÇÃO
4.2.1 Teste de Mann-Kendall
Nas Figuras 20 a 23 são expostos os resultados da análise estatística de Mann-Kendall para os
parâmetros etanol, BTEX dos 3 experimentos estudados, nos quais foram contaminadas 3
áreas com combustíveis contendo 24, 25 e 10% de etanol (correspondendo aos experimentos
da ANM, BAN e BAS respectivamente). Os dados foram inseridos a partir da data de maior
concentração encontrada nos resultados dos experimentos através dos quais foi observada
uma tendência de intemperização (diminuição de massa do contaminante). Através disso,
obtém-se o valor estatístico de Mann-Kendall (S), a média e o desvio padrão das
concentrações, o coeficiente de variação (CV) e o nível de confiança da tendência de
diminuição ou aumento das concentrações. Para valores estatítisticos de S inferiores a 0
(zero), os dados apresentam tendência de aumento de concentração com nível de confiança
superior a 90%. Obtendo-se um valor de S nulo, o teste indica que não há hipótese de
tendência e nesse caso é analisado o coeficiente de variação (CV). Se CV≤ 1, então o poço é
considerado não intemperizado.
No estudo da ANM, no qual foram liberados 100L de gasolina E24, os compostos
monoaromáticos e o etanol apresentaram uma tendência de aumento (destacado a vermelho na
REMAS
UFSC
67 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
tabela) na concentração com um nível de confiança de 90%, com exceção do benzeno que
apresentou 80%, que é considerado o nível mínimo de confiança aceitável pelo teste.
Site Name =ANM (E24)
Compound ->
BRRTS No. = Well Number = P4
Etilbenzeno
Xilenos
BTEXT Tot
Etanol
Concentration Concentration Concentration Concentration
(leave blank
(leave blank
(leave blank
(leave blank
if no data)
if no data)
if no data)
if no data)
0,01
0,01
11,00
0,01
141,00
647,00
4.088,00
123,50
190,00
929,00
4.144,00
76,60
124,00
467,70
2.974,00
83,10
2.700,00
1.595,00
16.663,00
1.321,00
538,00
2.529,00
14.228,00
2.078,00
Benzeno
Concentration
(leave blank
if no data)
0,01
1.425,00
1.241,00
1.027,00
8.443,00
5.185,00
Tolueno
Concentration
(leave blank
if no data)
11,00
1.875,00
1.784,00
1.354,00
3.925,00
5.976,00
Mann Kendall Statistic (S) =
7,0
Number of Rounds (n) =
6
Average =
2886,84
Standard Deviation =
3249,339
Coefficient of Variation(CV)=
1,126
Error Check, Blank if No Errors Detected
Trend ≥ 80% Confidence Level
INCREASING
Trend ≥ 90% Confidence Level
No Trend
Stability Test, If No Trend Exists at
80% Confidence Level
NA
Data Entry By = SMR
9,0
6
2487,50
2122,451
0,853
9,0
6
615,50
1037,087
1,685
11,0
6
1027,95
905,555
0,881
9,0
6
7018,00
6742,505
0,961
11,0
6
613,70
875,371
1,426
INCREASING
INCREASING
INCREASING
INCREASING
INCREASING
INCREASING
INCREASING
INCREASING
INCREASING
INCREASING
Event
Number
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Sampling Date
(most recent last)
9/dez/98
21/jan/99
24/mar/99
19/mai/99
13/ago/99
2/nov/99
NA
NA
NA
Date = 12.08.2010
Checked By = SMR
NA
NA
Figura 23 – Planilha de teste de Mann-Kendall utilizada para análise estatística dos valores do etanol e dos
BTEX ao longo de 12 meses do experimento da ANM.
Os valores de Mann-Kendall (S) tanto para os BTEX como para o etanol foram superiores a 0
(zero) (item 3.9.2), assim apresentaram tendência de aumento de concentração.
Para o experimento da BAN (Figura 24), todos os valores de Mann-Kendall para os BTEX
foram superiores a 0 (zero). No entanto, os compostos BTX apresentaram tendência de
aumento de concentração com nível de tendência superior a 90%. Já o etilbenzeno (E), não
apresentou tendência, e com o valor estatítico de Mann-Kendall superior a 0 (S=2) mas com
Smín inferior ao estabelecido para 90% (Smín= 6) e 80% (Smín= 4), foi necessário analisar-se o
coeficiente de variação (CV), que apresentou um valor menor ou igual a 1 (Figura 24), sendo
considerado poço não intemperizado. O etanol apresentou um valor estatítico de MannKendall inferior a 0 (zero), apresentando um tendência de diminuição (destacado em azul na
tabela) com um nível de confiança igual ou superior a 90%. O coeficiente de variação (CV)
foi superior a 1, ou seja, o modelo considerou o poço como intemperizado.
REMAS
UFSC
68
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Site Name =BAN (E25)
Compound ->
Benzeno
Concentration
(leave blank
if no data)
6,64
3.428,27
3.504,63
6.088,02
7.381,68
Tolueno
Concentration
(leave blank
if no data)
Mann Kendall Statistic (S) =
10,0
Number of Rounds (n) =
5
Average =
4081,85
Standard Deviation =
2840,831
Coefficient of Variation(CV)=
0,696
Error Check, Blank if No Errors Detected
Trend ≥ 80% Confidence Level
INCREASING
Trend ≥ 90% Confidence Level
INCREASING
Stability Test, If No Trend Exists at
80% Confidence Level
NA
Data Entry By = SMR
6,0
4
6432,40
2706,643
0,421
Event
Number
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Sampling Date
(most recent last)
26/jan/05
25/abr/05
6/jun/05
3/out/05
15/fev/06
3.871,54
4.452,19
7.932,29
9.473,59
BRRTS No. = Well Number = P4
Etilbenzeno
Xilenos
BTEXT Tot
Etanol
Concentration Concentration Concentration Concentration
(leave blank
(leave blank
(leave blank
(leave blank
if no data)
if no data)
if no data)
if no data)
6,64
366,63
1.383,15
9.049,59
1.549,10
1.135,39
1.441,00
10.533,21
1.289,88
444,02
2.583,18
16.617,00
160,18
759,94
3.599,12
21.214,33
0,01
2,0
4
676,50
350,052
0,517
6,0
4
2251,61
1054,677
0,468
10,0
5
11484,15
8055,854
0,701
-6,0
4
749,79
783,242
1,045
No Trend INCREASING INCREASING DECREASING
No Trend INCREASING INCREASING DECREASING
CV <= 1
NA
STABLE
NA
NA
NA
Date = 12.08.2010
Checked By = SMR
INCREASING
INCREASING
Figura 24 - Planilha de teste de Mann-Kendall utilizada para análise estatística dos valores do etanol e dos BTEX
ao longo de 12 meses do experimento da bioestimulação ativa com nitrato (BAN).
No experimento da BAS, os valores estatíticos de Mann-Kendall (S) para os BTEX e para o
etanol foram superiores a 0 (zero). No entanto, o benzeno apresentou valor estatístico maior
que 0 (S=3), mas inferior ao Smín estabelecido (Figura 25). O coeficiente de variação (CV) do
benzeno foi menor ou igual a 1 sendo o poço considerado não intemperizado. O tolueno e
BTEX Total apresentaram tendência de aumento da concentração com 90% de nível de
confiança. Já o etilbenzeno e os xilenos apresentaram tendência de aumento de concentração
com 80% de nível de confiança.
REMAS
UFSC
69 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Site Name =BAS (E10)
Compound ->
Event
Number
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Sampling Date
(most recent last)
3/ago/09
8/set/09
4/nov/09
14/dez/09
3/mar/10
17/mai/10
Benzeno
Concentration
(leave blank
if no data)
52,40
692,50
20.512,00
16.513,80
15.707,60
12.243,90
Mann Kendall Statistic (S) =
Number of Rounds (n) =
Average =
Standard Deviation =
Coefficient of Variation(CV)=
Error Check, Blank if No Errors Detected
Trend ≥ 80% Confidence Level
Trend ≥ 90% Confidence Level
Stability Test, If No Trend Exists at
80% Confidence Level
Data Entry By = SMR
Tolueno
Concentration
(leave blank
if no data)
35,90
544,20
21.848,60
16.253,00
21.893,40
19.367,60
BRRTS No. = Well Number = P13
Etilbenzeno
Xilenos
BTEXT Tot
Etanol
Concentration Concentration Concentration Concentration
(leave blank
(leave blank
(leave blank
(leave blank
if no data)
if no data)
if no data)
if no data)
88,30
0,01
90,50
405,30
1.732,40
0,01
1.549,40
6.123,00
50.033,10
1.060,00
3.884,90
37.712,20
1.981,70
2.358,50
10.170,10
50.129,50
3.003,00
1.665,00
6.189,30
39.465,80
4.236,70
3,0
6
10953,70
8610,117
0,786
9,0
6
13323,78
10306,352
0,774
6,0
5
1344,68
840,589
0,625
6,0
5
5354,52
3575,325
0,668
9,0
6
29860,22
23018,475
0,771
9,0
5
1844,28
1863,321
1,010
No Trend
No Trend
CV <= 1
STABLE
INCREASING
INCREASING
INCREASING
No Trend
INCREASING
No Trend
INCREASING
INCREASING
INCREASING
INCREASING
NA
Date = 12.08.10
NA
NA
Checked By = SMR
NA
NA
Figura 25 - Planilha de teste de Mann-Kendall utilizada para análise estatística dos valores do etanol e dos BTEX
ao longo de 12 meses do experimento da bioestimulação ativa com sulfato (BAS).
Deste modo, através do teste de Mann-Kendall, conclui-se que nos experimentos da ANM e
da BAS o etanol apresentou tendência de aumento das concentrações ao longo do tempo de
monitoramento. Já no experimento da BAN, o etanol apresentou tendência de diminuição da
concentração ao longo do número de variáveis analisadas. Em relação aos BTEX, o benzeno
apresentou tendência de aumento de concentração com nível de confiança de 80% e 90% para
os experimentos da ANM e da BAN respectivamente, já no estudo da BAS não houve
tendência de intemperização, com valor de coeficiente de variação (CV) menor ou igual a 1,
tendo sido considerado como poço não intemperizado.
O tolueno e os BTEX Total aprensentaram tendência de aumento na concentração com 90%
de nível de confiança para os 3 estudos analisados. O etilbenzeno foi considerado igualmente
poço não intemperizado no experimento da BAN, já nos demais experimentos, o mesmo
apresentou um nível de confiança de 80% e 90%. Os xilenos apresentaram nos estudos da
ANM e da BAN tendência de aumento na concentração com nível de confiança de 90% e para
o estudo da sulfato-redução esse valor foi de 80%.
No geral, não foram observadas diferenças significativas entre os 3 processos analisados em
relação aos BTEX dos 0 aos 12 meses de monitoramento após a liberação, i.e., a partir do
teste de Mann-Kendall não foi possível mostrar a tendência de intemperização nas
concentrações dos compostos monoaromáticos.
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5. CONCLUSÕES
Este trabalho teve como objetivo geral a avaliação do comportamento do etanol em misturas
com gasolina em derramamentos subsuperficiais em diferentes processos de remediação. Os
experimentos abordaram 3 processos de remediação, tendo sido eles a Atenuação Natural
Monitorada (ANM), no qual foi utilizado o combustível E24 (gasolina com 24% de etanol), a
bioestimulação ativa com nitrato (BAN) onde o E25 foi o combustível avaliado, e a
bioestimulação ativa com sulfato (BAS) no qual o combustível era o E10. As conclusões
geradas neste trabalho são referentes ao período de avaliação comum aos 3 experimentos,
entre 0 (zero) e 12 meses após a liberação dos combustíveis, as quais estão enumeradas
abaixo:
- O etanol foi utilizado preferencialmente em todas as estratégias de remediação estudadas.
Porém, no caso da BAS, este processo só pode ser visualizado por meio dos receptores de
elétrons, já que a concentração do etanol ainda se apresentava em processo de crescimento.
No experimento da BAN o etanol foi biodegradado mais rapidamente que nos demais
experimentos. Isto ocorreu devido ao excesso de nitrato, que evitou a demanda por receptores
de elétrons adicionais em condições termodinâmicas menos favoráveis que de outra forma
retardariam a velocidade de degradação do etanol;
- Dos 3 experimentos investigados, o da BAN foi o que apresentou valores de potencial de
oxidação-redução maiores devido às injeções de nitrato que proporcionaram ao meio um
receptor de elétrons mais favorável e evitaram a exaustão do oxigênio dissolvido. No
experimento da ANM, os valores do potencial de oxidação-redução foram os mais negativos,
embora essa condição tenha ocorrido após mais de um ano do início do experimento;
- No experimento de BAS, no qual foi estudada a gasolina E10, as injeções de sulfato não
auxiliaram na aceleração das condições sulfato-redutoras do meio. Esse fato ocorreu devido à
disponibilidade de receptores de elétrons mais favoráveis (OD e Fe (III)) e devido ao menor
volume de etanol presente no meio (10L) em comparação aos outros dois experimentos (24L
e 25L);
- A rapidez de esgotamento do oxigênio dissolvido devido à presença do etanol foi
proporcional à quantidade de etanol presente no meio impactado. Assim, quanto maior o
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71 volume de etanol presente na gasolina, maior será a demanda exercida, implicando numa
quantidade menor de oxigênio disponível para biodegradar os BTEX, causando um aumento
no tempo necessário para o consumo da massa de etanol presente na água subterrânea e
consequentemente atrasando a biodegradação dos compostos dos BTEX;
- A produção de acetato foi mais evidente nos experimentos da ANM e da BAN,
provavelmente devido à maior quantidade de etanol contido nos combustíveis utilizados.
Nestes dois experimentos as rotas de formação foram distintas, para a ANM a rota utilizada
foi a fermentação, já que não haviam receptores de elétrons disponíveis, enquanto na BAN foi
a respiração, na qual a presença do nitrato serviu como receptor de elétrons;
- Em relação ao metano, observou-se que a sua formação foi mais favorecida no experimento
da ANM, isto devido à exaustão dos receptores de elétrons pelo uso do etanol. Esse fato gerou
uma condição redutora e baixo potencial de oxidação-redução (condições desfavoráveis),
tornando mais lento o processo de biodegradação. Com as injeções de nitrato e de sulfato, o
processo metanogênico é retardado, gerando assim uma antecipação no início de
biodegradação dos BTEX;
- Para os compostos BTEX, a análise estatística através do teste de Mann-Kendall, indicou
que não houve significativa diminuição nas concentrações dos BTEX durante os 12 meses de
monitoramento desde a liberação dos produtos nos 3 experimentos. Para os experimentos da
ANM e da BAS, o substrato preferencial (etanol) ainda estava presente no meio naquele
período o que explica a não biodegradação dos BTEX. No entanto, no caso do experimento da
BAN, ainda que tenha sido possível provar estatisticamente o processo de decaimento do
etanol, o efeito do esgotamento do etanol no meio ainda não tinha se refletido na
biodegradação dos BTEX, o que só foi observado a partir dos 16 meses após o início do
experimento;
- O volume de etanol, influenciou diretamente na disponibilidade dos receptores de elétrons,
para biodegradação dos BTEX e assim, a sua presença definiu o consumo dos mesmos e
consequentemente o potencial de oxidação-redução no meio. À medida que são consumidos
os receptores de elétrons mais favoráveis (OD, NO3-, Fe3+, etc.) o potencial de oxidaçãoredução diminui, gerando condições mais redutoras e menos favoráveis à biodegradação dos
compostos monoaromáticos. Assim, quanto mais rápido for degradado o etanol, mais cedo
serão biodegradados os BTEX. Desta forma, em caso da necessidade de se realizar uma
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biorremediação ativa em derramamentos de gasolina com etanol, estratégias que visem
acelerar o processo de biodegradação do etanol (como as injeções de nitrato) devem ser
empregadas de forma a antecipar a biodegradação dos BTEX e impedir o avanço das plumas
dos compostos BTEX.
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73 6. RECOMENDAÇÕES
- Avaliação da importância da ferro-redução em experimentos contendo menores volumes de
etanol (experimento da BAS);
- Avaliação da degradação dos compostos BTEX em condições sulfato-redutoras;
- Avaliar a influência de maiores volumes de etanol na alteração das condições de oxi-redução
da água subterrânea e a possibilidade de produção de grandes quantidades de metano que
possam causar perigos de explosividade.
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REMAS
UFSC
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
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REMAS
UFSC
82
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
APÊNDICES
Apêndice A - Valores máximos utilizados para a elaboração dos gráficos dos 3 experimentos.
REMAS
UFSC
83 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Apêndice A - Valores máximos utilizados para a elaboração dos gráficos dos 3 experimentos.
Tabela A.1 - Valores máximos obtidos no experimento da ANM, utilizados na elaboração dos
gráficos dos parâmetros etanol, oxigênio dissolvido, ferro (II), sulfato, acetato, nitrato, metano
e potencial de oxidação-redução (POR).
Tempo
(meses)
Etanol
(mg/L)
OD
(mg/L)
Fe (II)
(mg/L)
Sulfato
(mg/L)
Acetato
(mg/L)
Nitrato
(mg/L)
Metano
(mg/L)
POR
(mV)
0,5
N/A
7,90
3,85
2,3
N/A
0
N/A
32,50
1,7
123,50
7,90
4,70
1,7
N/A
0
N/A
81,70
3,7
76,60
4,56
3,23
1,7
N/A
0
N/A
27,90
5,5
83,10
4,64
10,11
1,4
N/A
0
N/A
50,40
8,3
1321,10
6,13
24,15
1,5
N/A
0,01
11,14
-14,50
10,8
2078,0
2,26
67,40
3,7
N/A
0
23,00
-120,00
16,3
2193,2
0,72
16,3
4,1
N/A
0
4,59
-85,60
23,3
1027,88
2,37
34,40
5,0
102,05
0,02
93,00
-32,00
32,0
0,00
1,09
31,80
3,4
113,14
1,56
114,22
57,00
37,1
1,80
1,56
14,92
1,9
55,35
0,03
23,47
127,70
45,0
0,60
4,17
11,36
4,8
40,67
3,98
73,08
-146,00
59,9
0,00
1,47
26,45
6,6
5,83
16,3
23,25
-107,50
67,9
N.D.
6,80
2,45
8,5
7,48
26,3
59,94
-92,70
79,2
0,00
1,38
1,15
4,9
4,29
56,5
21,19
-76,00
91,2
N.D.
0,67
2,15
1,4
0,26
0,04
0,52
220,00
102,2
N.D.
4,05
0,76
4,4
0,00
41,9
0,52
238,00
114,0
N.D.
3,69
5,10
3,8
5,08
56,3
0,21
189,00
125,9
N.D.
4,71
2,05
3,3
0, 5879
25,6
0,05
89,00
REMAS
UFSC
84
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
TABELA A.2 - Valores máximos obtidos no experimento da ANM, utilizados na elaboração dos gráficos dos parâmetros benzeno, tolueno,
etilbenzeno, xilenos e BTEX Total.
Tempo
(meses)
Benzeno
(μg/L)
Benzeno
(C/C0)
Tolueno
(μg/L)
Tolueno
(C/C0)
Etilbenzeno
(μg/L)
Etilbenzeno
(C/C0)
Xilenos
(μg/L)
Xilenos
(C/C0)
0,5
1,7
3,7
5,5
8,3
10,8
16,3
23,3
32,0
37,1
45,0
59,9
67,9
79,2
91,2
102,2
114,0
125,9
0
1425
1241
1027,4
8443
5185
2293
11411
6575,0
5644,3
4722,1
382,4
568
1226
126
65
34,9
80,63
0
0,10
0,09
0,07
0,62
0,38
0,17
0,83
0,48
0,41
0,34
0,03
0,04
0,09
0,00
0,00
0,00
0,00
11
1875
1784
1354,6
3925
5976
2839
528
20335
18558
14307
9326
9459
5040
206
31
90
39,42
0,00
0,09
0,08
0,06
0,18
0,27
0,13
0,02
0,94
0,85
0,66
0,43
0,44
0,23
0,00
0,00
0,00
12,44
0
141
190
124,5
308
538
374
1579
139,7
229
159,6
195,6
1284
786
481
149
22,29
12,4
0
0,08
0,11
0,07
0,18
0,31
0,22
0,92
0,08
0,13
0,09
0,11
0,75
0,46
0,28
0,08
0,01
0,00
0
647
929
468
1595
2529
871
6629
634
909
7080
651
5938
3614
2382
543
370
122
0
0,06
0,09
0,05
0,16
0,26
0,09
0,68
0,06
0,09
0,72
0,07
0,61
0,37
0,24
0,05
0,04
0,01
REMAS
BTEX
Total
(μg/L)
11
4088
4144
2974
13963
14228
6377
19619
26909
24202
26109
9706
17249
10666
3195
788
517
255
BTEX
Total
(C/C0)
0,00
0,07
0,07
0,05
0,24
0,25
0,11
0,34
0,47
0,42
0,46
0,17
0,30
0,18
0,05
0,01
0,00
0,00
UFSC
85 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
TABELA A.3 - Valores das concentrações máximas obtido as no experimento da nitrato-
redução, utilizadas na elaboração dos gráficos dos parâmetros etanol, oxigênio dissolvido,
ferro (II), sulfato, acetato, nitrato, metano e potencial de oxidação-redução (POR).
Tempo
(meses)
Etanol
(mg/L)
OD
(mg/L)
Fe (II)
(mg/L)
Sulfato
(mg/L)
Acetato
(mg/L)
Nitrato
(mg/L)
Metano
(mg/L)
POR
(mV)
1,1
N.D.
4,13
0,41
3,60
0,00
1,01
0,05
438
4,1
1549,10
N.A.
33,56
2,9
58,9
462,9
52,93
N.A.
5,5
1289,88
5,34
8,37
3,4
433,3
392,4
39,58
131
9,4
160,18
4,12
12,00
3,2
456,2
132,1
42,07
44
13,1
0,00
1,93
4,45
7,3
5,6
1008,8
9,99
235
16,5
0,00
3,07
7,25
15,2
10,3
1128,2
2,53
211
20,5
1,77
3,04
1,8
13,3
3,1
455,5
0,83
127
24,8
0,52
2,73
0,52
11,5
3,3
21,5
0,07
164
31,6
0,23
3,53
0,23
8,9
5,9
239,3
0,04
153
37,8
0,04
2,03
0,04
9,5
2,6
40,8
0,04
152
45,6
0,00
3,53
0,00
7,1
0,04
41,27
0,13
-99
51,1
0,00
3,85
0,00
3,6
1,7
39,76
0,01
-24
REMAS
UFSC
86
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
TABELA A.4 - Valores máximos obtidos no experimento da nitrato-redução, utilizados na elaboração dos gráficos dos parâmetros benzeno,
tolueno, etilbenzeno, xilenos e BTEX Total.
Tempo
(meses)
Benzeno
(μg/L)
Benzeno
(C/C0)
Tolueno
(μg/L)
Tolueno
(C/C0)
1,1
4,1
5,5
9,4
13,1
16,5
20,5
24,8
31,6
37,8
45,6
51,1
6,6
3428
3505
6088
7382
10134
5932
8706
4987
766
522
365
0,00
0,25
0,26
0,44
0,54
0,74
0,43
0,64
0,36
0,06
0,04
0,03
0,0
3871
4452
7932
9473
15096
7261
12008
10654
152
909
83,5
0,00
0,18
0,21
0,37
0,44
0,70
0,34
0,56
0,49
0,01
0,04
0,00
REMAS
Etilbenzeno Etilbenzeno
(μg/L)
(C/C0)
0,0
367
1135
444
760
1064
591
860
1096
278
207
118
0,00
0,22
0,67
0,26
0,45
0,63
0,35
0,51
0,64
0,16
0,12
0,07
Xilenos
(μg/L)
Xilenos
(C/C0)
BTEX Total
(μg/L)
0,0
1383
1441
2583
3599
5342
2593
3649
4702
1473
1040
677
0,00
0,14
0,15
0,27
0,37
0,55
0,27
0,38
0,48
0,15
0,11
0,07
6,6
9047
10533
16617
21214
30877
16146
25223
21439
2669
2541
1243
BTEX
Total
(C/C0)
0,00
0,19
0,23
0,36
0,45
0,66
0,35
0,54
0,46
0,06
0,05
0,03
UFSC
87 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
TABELA A.5 - Valores máximos obtidos no experimento da sulfato-redução, utilizados na
elaboração dos gráficos dos parâmetros etanol, oxigênio dissolvido, ferro (II), sulfato, acetato,
nitrato, metano e potencial de oxidação-redução (POR).
Tempo
(meses)
Etanol
(mg/L)
OD
(mg/L)
Fe (II)
(mg/L(
Sulfato
(mg/L)
Acetato
(mg/L)
Nitrato
(mg/L)
Metano
(mg/L)
POR
(mV)
2,3
0
4,3
0,0
54,9
0,0
24,2
0,0
167
3,5
0,0
4,3
0,2
48,0
2,3
31,4
0
184
5,5
1982
2,7
0,2
36,3
0,4
38,3
0
193
9,2
3003
0,5
35,4
71,4
130,2
22,6
0
-24
11,9
4237
1,8
8,2
5,6
1,1
60,7
0
27
REMAS
UFSC
88
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
TABELA A.6 - Valores máximos obtidos no experimento da sulfato-redução, utilizados na elaboração dos gráficos dos parâmetros benzeno,
tolueno, etilbenzeno, xilenos e BTEX Total.
Tempo
(meses)
Benzeno
(μg/L)
Benzeno
(C/C0)
Tolueno
(μg/L)
Tolueno
(C/C0)
2,3
3,5
5,5
6,6
9,2
11,9
52
692
2854
16514
15708
12244
0,00
0,04
0,17
0,97
0,92
0,72
36
544
21849
16253
21893
19368
0,00
0,03
1,29
0,96
1,29
1,14
REMAS
Etilbenzeno Etilbenzeno
(μg/L)
(C/C0)
0,00
94
272
1060
1067
1089
0,00
0,07
0,22
0,87
0,88
0,89
Xilenos
(μg/L)
Xilenos
(C/C0)
BTEX
Total (μg/L)
0,00
405
6123
3885
10170
6189
0,00
0,05
0,81
0,52
1,35
0,82
88
1732
7493
37712
20771
39466
BTEX
Total
(C/C0)
0,00
0,04
0,17
0,88
0,48
0,92
UFSC

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