Atualização na Síndrome Coronariana Aguda

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Atualização na Síndrome Coronariana Aguda
ISSN 0103-8559
Volume 26 • Nº 2 • ABRIL/JUNHO 2016
Atualização na Síndrome Coronariana Aguda
•fisiopatologia das síndromes
coronarianas agudas
•DIAGNÓSTICO DAS SÍNDROMES CORONARIANAS
AGUDAS E MODELO SISTEMATIZADO DE
ATENDIMENTO EM UNIDADES DE DOR TORÁCICA
Aumento de expressão de TLTR2
Aumento de neutrófilos
Aumento de NETS
Interações com ácido hialurônico
Aumento da apoptose endotelial
Aumento de microparticulas endoteliais
Aumento de LDL-colesterol
Aumento de vias inflamatórias
Formação de celulas espumosas
Redução de IgM anti LDLoxidada
Inflamação de linfócitos e monócitos
pró-inflamatórios
endotélio
Micropartículas
endotéliais
Trombose
Oclusão Total
Trombose
Oclusão parcial
IAMSSST/AI
Erosão endotelial
Trombose
IAMCSST
Ruptura de placa
Trombose
•IMPORTÂNCIA DA TELEMEDICINA E DA
TROMBÓLISE PRÉ-HOSPITALAR
•ANÁLISE CRÍTICA DA REPERFUSÃO PRECOCE
NO INFARTO AGUDO COM SUPRADESNÍVEL
DE ST: TROMBÓLISE QUÍMICA E INTERVENÇÃO
PERCUTÂNEA PRIMÁRIA
•ESTRATÉGIA INVASIVA NAS SÍNDROMES
CORONARIANAS AGUDAS SEM
SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST
•TERAPIA ANTITROMBÓTICA NA FASE AGUDA DAS
SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
Plaquetas*
xIa
IX
Heparina não
fracionada(+AT III)
FT
FT
Villa
x +Ca++PL
2
IX a
Xa
PL
•Análise Crítica do Tratamento Cirúrgico
nas Síndromes Coronarianas Agudas e
suas Complicações
II (Protrombina)
Va+PL+Ca+2
IIa (trombina)
X illa+
+2
+V Ca
FT +
Bivalirudina
Fibrinogenio
Fibrinas
FT
FT
Células endoteliais
Heparina de baixo peso
molecular (+ AT III)
Fondaparinux
(+AT III)
FT
FT
FT
•ESTRATÉGIAS ANTIPLAQUETÁRIAS ORAIS NAS
FASES AGUDA E CRÔNICA DAS SÍNDROMES
CORONARIANAS AGUDAS.
FT
Macrófagos
Células musculares lisas
*Representadas em tamanho aumentado para fins didáticos.
FT= fator tecidual, cofator lipoprotéico não-enzimático, que aumenta a eficiência proteolítica do fator VII; PL= fosfolipídios; AT III= antitrombina III.
Editora Chefe: Maria Cristina de Oliveira Izar
www.socesp.org.br
•Síndrome coronariana aguda em
indivíduos com revascularização
cirúrgica ou percutânea prévia
•Papel do Suporte Circulatório nas
Síndromes Coronarianas Agudas
Responsável Técnico
Dr. Luiz Carlos V. de Andrade – CRM 48277
Sala de cirurgia híbrida cardiovascular, para o tratamento de cardiopatias
complexas com imagens tridimensionais altamente apuradas.
HCor – Hospital do Coração/Diagnóstico – Unidade Paraíso: Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 147 – São Paulo – SP
HCor – Edifício Dr. Adib Jatene: Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 130 – São Paulo – SP
HCor Onco – Clínica de Radioterapia: Rua Tomás Carvalhal, 172 – São Paulo – SP
HCor Diagnóstico – Unidade Cidade Jardim: Av. Cidade Jardim, 350 – 2º andar – São Paulo – SP
Tels.: Geral: (11) 3053-6611 • Central de Agendamento: (11) 3889-3939 • Pronto-socorro: (11) 3889-9944 • www.hcor.com.br
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ISSN 0103-8559
Indexada em:
LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (www.bireme.br)
Latindex – Sistema Regional de Información em Línea para Revistas Científicas de América Latina, El Caribe, España y Portugal
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Álvaro Avezum
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil
Amanda G. M. R. Sousa
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Angelo Amato V. de Paola
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São
Paulo - Unifesp São Paulo, SP, Brasil
Antonio Augusto Lopes
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil
Antonio Carlos Pereira-Barretto
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Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil
Antonio de Pádua Mansur
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Ari Timerman
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Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Benedito Carlos Maciel
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto,SP,Brasil
Bráulio Luna Filho
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo/Hospital Brasil, ABC São Paulo, SP, Brasil
Bruno Caramelli
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Caio de Brito Vianna
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo,
SP, Brasil
Carlos Alberto Buchpiguel
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(Vinculação Acadêmica) São Paulo, SP, Brasil
Carlos Costa Magalhães
Cardioclin - Clinica e Emergência Cardiologica
São José dos Campos, SP, Brasil.
Carlos Eduardo Rochitte
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP/Hospital do
Coração, HCOR/Associação do Sanatório Sírio, São Paulo, SP, Brasil
Carlos V. Serrano Jr.
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil
Celso Amodeo
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Dalmo Antonio R. Moreira
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Daniel Born
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo - UNIFESP São Paulo, SP, Brasil
Dante Marcelo Artigas Giorgi
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (HC FMUSP), São Paulo,
SP, Brasil
Dirceu Rodrigues Almeida
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
Edson Stefanini
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
Expedito E. Ribeiro
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil
Fabio B. Jatene
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil
Fausto Feres
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil
Felix J. A. Ramires
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo,
SP, Brasil
Conselho Editorial
Fernanda Marciano Consolim Colombo
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Fernando Bacal
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Fernando Nobre
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo-HCFMUSP, Ribeirão Preto, SP, Brasil
Flavio Tarasoutchi
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo,
SP, Brasil
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Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Henry Abensur
Beneficência Portuguesa de São Paulo - Setor de ensino, São Paulo,
SP, Brasil
Ibraim Masciarelli F.pinto
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Ieda Biscegli Jatene
Hospital do Coração - HCOR São Paulo, SP, Brasil
João Fernando Monteiro Ferreira
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
João Manoel Rossi Neto
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
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Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
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Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
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Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
José Carlos Pachón Mateos
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Universidade de São
Paulo - USP, Hospital do Coração, Hospital Edmundo Vasconcelos,
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José Henrique Andrade Vila
Hospital de Beneficência Portuguesa, São Paulo, SP, Brasil
José L. Andrade
Instituto de Radiologia (InRad) - Hospital das Clínicas - Faculdade de
Medicina- USP, São Paulo, SP, Brasil
José Soares Jr.
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Katashi Okoshi
Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, Botucatu, SP, Brasil
Kleber G. Franchini
Departamento de Clínica Médica UNICAMP - Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil
Leopoldo Soares Piegas
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Lilia Nigro Maia
Faculdade de Medicina de Rio Preto (FAMERP)/Hospital de Base
São José do Rio Preto, SP, Brasil
Luiz A. Machado César
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Luiz Mastrocola
Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio (HCOR) e Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Luiz Felipe P. Moreira
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil
Marcelo Jatene
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Marcelo Chiara Bertolami
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Marcelo Luiz Campos Vieira
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Marcus Vinicius Simões
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo,
Ribeirão Preto, SP - Brasil
Maria Cristina Oliveira Izar
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
-UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
Maria Teresa Nogueira Bombig
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
-UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
Dra. Maria Virgínia Tavares Santana
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Mauricio Ibrahim Scanavacca
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Max Grinberg
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Miguel Antonio Moretti
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Nelson Kasinsky
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
-UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
Orlando Campos Filho
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
-UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
Otavio Rizzi Coelho
Disciplina de Cardiologia do Departamento de Clinica Médica da
FCM UNICAMP, São Paulo, SP, Brasil
Paola Emanuela Poggio Smanio
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil
Paulo Andrade Lotufo
Faculdade de Medicina e Centro de Pesquisa Clínica
Epidemiológica da USP, São Paulo, SP, Brasil
Paulo J. F. Tucci
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
Paulo M. Pêgo Fernandes
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Pedro Silvio Farsky
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Raul Dias Dos Santos Filho
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo,
SP, Brasil
Renato Azevedo Jr
Hospital Samaritano São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Romeu Sérgio Meneghelo
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia/Hospital Israelita
Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil
Rui Póvoa
Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Ulisses Alexandre Croti
Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto (FUNFARME)/Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP),
São José do Rio Preto, SP, Brasil
Valdir Ambrosio Moises
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/Fleury Medicina e Saúde, São Paulo, SP, Brasil
Valter C. Lima
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
William Azem Chalela
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
DIRETORIA DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO/Biênio 2016 - 2017
Presidente
Ibraim Masciarelli Francisco Pinto
Vice-Presidente
João Fernando Monteiro Ferreira
1° Secretário
Ieda Biscegli Jatene
2° Secretário
Roberto Kalil Filho
1° Tesoureiro
José Luiz Aziz
2° Tesoureiro
Juan Carlos Yugar Toledo
Diretor Científico
Álvaro Avezum Junior
Diretora de Publicações
Maria Cristina de Oliveira Izar
Diretora de Regionais
Lilia Nigro Maia
Diretor de Qualidade Assistencial
Múcio Tavares de Oliveira Junior
Diretor de Tecnologia da Informação
Ricardo Pavanello
Diretor de Relações Institucionais
Luciano Ferreira Drager
Diretor de Promoção e Pesquisa
Pedro Alves Lemos Neto
Diretor do Centro de Emergências
Agnaldo Pispico
Coordenador de Pesquisa
Otavio Berwanger
Coordenador de Educação Virtual
Pedro Silvio Farsky
Coordenadores de Políticas de Saúde
Edson Stefanini
Jose Francisco Kerr Saraiva
Coordenador de Memórias
Alberto Francisco Piccolotto Naccarato
A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (INSS 0103-8559) é Órgão Oficial da Sociedade de
Cardiologia do Estado de São Paulo, editada trimestralmente pela Diretoria de Publicações da SOCESP.
Avenida Paulista, 2073 – Horsa I, 15° andar Conjunto 1512 - Cerqueira Cesar – São Paulo, SP
CEP 01311-940/Tel: (11) 3179-0045/E-mail: [email protected]
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Diretoria de Publicações
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Tiragem: 6.190 exemplares
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Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo
São Paulo – SP, Brasil. V. 1 – 1991 –
Substitui Atualização Cardiológica, 1981 – 91
1991,
1992,
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1994,
1995,
1996,
1997,
1998,
1999,
2000,
2001,
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2011,
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2013,
2014,
2015,
2016,
: 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A)
1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A)
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ISSN 0103-8559CDD16616.105
RSCESP 72594NLM W1
WG100
CDU 616.1(05)
DIRETORIA DAS REGIONAIS DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Biênio 2016 - 2017
ABCDM
CAMPINAS
RIBEIRÃO PRETO
Presidente
Rogerio Krakauer
Presidente
Alessandro Franjotti Chagas
Presidente
Moyses de Oliveira Lima Filho
Diretor Científico
Roberto Andres Gomez Douglas
Diretor Científico
Fernando Piza de S. Cannavan
Diretor Científico
Marcelo Garcia Leal
1° Secretário
Fernando Mello Porto
1° Secretária
Samira Ubaid Girioli
2° Secretário
Tiago Porto Di Nucci
2° Secretário
Flavio Cantarelli Hiss
FRANCA
SANTOS
Presidente
Eduardo Maniglia Puccinelli
Presidente
Luiz Fernando Muniz Pinheiro
Diretor Científico
Rodrigo Tavares Silva
Diretor Científico
Carlos Alberto Cyrillo Sellera
1° Secretário
Luiz Alfredo Husemann Patti
1° Secretário
William da Costa
2° Secretário
Hélio Rubens Crialezi
2° Secretário
Sergio Paulo Almeida B. Camargo
JUNDIAÍ
SÃO CARLOS
Presidente
Luiz Anibal Larco Patino
Presidente
Hélio Araújo Cardoso
Diretor Científico
Marco Antonio Dias
Diretora Científica
Ana Cândida Arruda Verzola de Castro.
1° Secretário
João Paulo de Mello Medeiros
1° Secretária
Meliza Goi Roscani
2° Secretária
Fatima Aparecida Lopes Pinto Denardi
2° Secretário
Sergio Luis Berti
MARILIA
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Presidente
Alexandre Rodrigues
Presidente
Adriana Pinto Bellini Miola
Diretor Científico
Pedro Beraldo de Andrade
Diretor Científico
Gilmar Valdir Greque
1° Secretário
Ronaldo de Oliveira Jr
1° Secretária
Maria Helena Mani Dias Sardilli
2° Secretário
André dos Santos Moro
2° Secretária
Eliana Migliorini Mustafa
PIRACICABA
SOROCABA
Presidente
Juliana Barbosa Previtalli
Presidente
Fernando Cortes Remisio Figuinha
Diretora Científica
Celise Alessandra Sobral Denardi
Diretor Científico
Pericles Sidnei Salmazo
1° Secretário
Rafael Prota
1° Secretária
Juliana Buchmann Pereira
BOTUCATU
2° Secretário
Davi Bizetti Pelai
2° Secretário
Marcelo Demarchi
Presidente
Ricardo Mattos Ferreira
PRESIDENTE PRUDENTE
VALE DO PARAÍBA
Presidente
Mozart Alves Gonçalves Filho
Presidente
Jorge Zarur Neto
Diretor Científico
Fernando Pierin Peres
Diretor Científico
Pedro Henrique Duccini Mendes Trindade
1° Secretário
Osmar Marchiotto Junior
1° Secretária
Fabiana Goulart Marcondes Braga
2° Secretário
Adriano Oliveira Cavalheiro
2° Secretário
André Zeraik Lima Chammas
1° Secretária
Carla Janice Baister Lantieri
2° Secretário
Kamal Yazbek Jr.
ARAÇATUBA
Presidente
Celso Biagi
Diretor Científico
Carlos Roberto Bortoluci Etto
1° Secretário
Paulo Francisco de Mesquita Barros
2° Secretária
Monica Neri Shinsato
ARARAQUARA
Presidente
Antonio Carlos Braga de Moraes
Diretor Científico
José Geraldo Bonfá
1° Secretário
Hélio Marques Malavolta
2° Secretário
José Candido M. da S. Machado
ARARAS
Presidente
Antonio Carlos Assumpção
Diretor Científico
José Joaquim Fernandes Raposo Filho
1° Secretário
Fernando Candido Martins
2° Secretário
Agnaldo Pispico
BAURU
Presidente
Alexandre Volney Villa
Diretor Científico
Plinio de Almeida Barros Neto
1° Secretário
Nilcelio Leite Melo
2° Secretário
João Quialheiro Abreu
Diretor Científico
Danieliso Renato Fusco
1° Secretário
Marcos Mitsuo Seki
2° Secretário
Guilherme de Castro Ribeiro
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A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São
Paulo (Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo) é o órgão oficial
de divulgação da Sociedade de Cardiologia do Estado de São
Paulo (SOCESP).
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Estado de São Paulo é parte integrante da Revista da Sociedade
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áreas de saúde como enfermagem, fisioterapia, educação
física, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social, farmacologia, entre outras).
Trata-se de uma publicação trimestral indexada no LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
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Com o objetivo de disseminar o conhecimento na área de
cardiologia e de outras áreas de saúde a Revista da SOCESP e
seu Suplemento passam a partir de 2015 a ter acesso aberto.
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Paulo segue na íntegra a tendência internacional do estilo Vancouver, disponível (www.icmje.org.br).
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6
Atualização/
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até 250 palavras
4.000 - Excluindo o resumo, referências,
tabelas e figuras
60
3
2
Editorial
0
500
0
0
0
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baseadas nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) -http://
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no Medical Subject Headings (MeSH) - http://www.nlm.nih.
gov/mesh/meshhome.html, no mínimo três e no máximo seis
citações.
Introdução: Deve apresentar o assunto e objetivo do estudo,
oferecer citações sem fazer uma revisão externa da matéria.
Material e método: Deve descrever o experimento (quantidade e qualidade) e os procedimentos em detalhes suficientes
que permitam a outros pesquisadores reproduzirem os resultados
ou darem continuidade ao estudo.
Ao relatar experimentos sobre temas humanos e animais,
indicar se os procedimentos seguiram as normas do Comitê Ético
sobre Experiências Humanas da Instituição, na qual a pesquisa
foi realizada ou de acordo com a declaração de Helsinki de 1995
e Animal Experimentation Ethics, respectivamente. Identificar
precisamente todas as drogas e substâncias químicas usadas,
incluindo os nomes genéricos, dosagens e formas de administração. Não usar nomes dos pacientes, iniciais, ou registros
de hospitais. Oferecer referências para o estabelecimento de
procedimentos estatísticos.
Resultados: Apresentar os resultados em sequência lógica
do texto, usando tabelas e ilustrações. Não repetir no texto
todos os dados constantes das tabelas e ou ilustrações. No
texto, enfatizar ou resumir somente as descobertas importantes.
Discussão: Enfatizar novos e importantes aspectos do estudo. Os métodos publicados anteriormente devem ser comparados com o atual para que os resultados não sejam repetidos.
Conclusão: Deve ser clara e concisa e estabelecer uma
ligação entre a conclusão e os objetivos do estudo. Evitar conclusões não baseadas em dados.
Agradecimentos: Dirigidos a pessoas que tenham colaborado intelectualmente, mas cuja contribuição não justifica
coautoria, ou para aquelas que tenham provido apoio material.
Referências: Citar as referências, restritas à bibliografia essencial ao conteúdo do artigo. Numerar as referências de forma
consecutiva de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizando-se números arábicos
sobrescritos. Incluir os seis primeiros autores seguidos de at al.
Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo
com o Index Medicus.
a. Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do Periódico. ano;
volume: página inicial - final
Ex.: Campbell CJ. The healing of cartilage deffects. Clin
Orthop Relat Res. 1969;(64):45-63.
b. Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não
for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora; ano. Ex.: Diener HC, Wilkinson M, editors.
Drug-induced headache. 2nd ed. New York: Spriger-Verlag;
1996.
c. Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo
Editor(es) do livro e demais dados sobre este, conforme o
item anterior.Ex.: Chapman MW, Olson SA. Open fractures.
In: Rockwood CA, Green DP. Fractures in adults. 4th ed.
Philadelphia: Lippincott-Raven; 1996. p.305-52.
d. Resumos: Autor(es). Título, seguido de [abstract]. Periódico
ano; volume (suplemento e seu número, se for o caso):
página(s) Ex.: Enzensberger W, Fisher PA. Metronome in
Parkinson’s
disease [abstract]. Lancet. 1996;34:1337.
e. Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no
texto entre parênteses.
f. Tese: Autor, título nível (mestrado, doutorado etc.), cidade:
instituição; ano. Ex.: Kaplan SJ.Post-hospital home health care:
the elderley’s access and utilization [dissertation]. St. Louis:
Washington Univ.; 1995.
g. Material eletrônico: Título do documento, endereço na internet, data do acesso. Ex: Morse SS. Factors in the emergence
of infectious diseases. Emerg Infect Dis. [online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];1(1):[24 screens]. Available from:
URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm
Tabelas: As tabelas devem ser numeradas por ordem de
aparecimento no texto com números arábicos. Cada tabela deve
ter um título e, se necessário, uma legenda explicativa. As tabelas
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Figuras (fotografias e ilustrações): As figuras devem ser
apresentadas em páginas separadas e numeradas sequencialmente, em algarismos arábicos, conforme a ordem de aparecimento no texto. Para evitar problemas que comprometam
o padrão da revista, o envio do material deve obedecer aos
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devem ter qualidade gráfica adequada (300 dpi de resolução)
e apresentar título e legenda. Em todos os casos, os arquivos
devem ter extensão.tif e/ou jpg. Também são aceitos arquivos
com extensão.xls (Excel),.eps,.psd para ilustrações em curva
(gráficos, desenhos e esquemas). As figuras incluem todas as
ilustrações, tais como fotografias, desenhos, mapas, gráficos,
etc, e devem ser numeradas consecutivamente em algarismos
arábicos.
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versão online do artigo. Deve ser encaminhado junto com o artigo
em arquivo separado e acompanhado de legenda. Os vídeos
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acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e
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foram citadas no trabalho. Abreviaturas e Siglas:Devem ser
precedidas do nome completo quando citadas pela primeira
vez no texto. No rodapé das figuras e tabelas deve ser discriminado o significado das abreviaturas, símbolos, outros sinais
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editorial
Prezados leitores,
72
Nesta segunda edição da Revista da SOCESP, abril/junho de 2016, o tema
escolhido foi Atualização na Síndrome Coronária Aguda. Este é um fascículo que
procura abordar de forma bastante abrangente essa situação clínica tão dramática, para que o cardiologista possa encontrar uma referência rápida e precisa
do tema, desde a fisiopatologia e sistematização do diagnóstico, incluindo modelos de atendimento na sala de emergência aos avanços com a incorporação
da telemedicina na abordagem inicial das síndromes coronárias agudas (SCA).
De grande interesse e importância, temos ainda capítulos que discutem as
estratégias de reperfusão nas SCA com supradesnível de ST, comparando a
intervenção coronária percutânea precoce, a trombólise química e a estratégia
fármaco-invasiva, situando suas vantagens e desvantagens a depender do tempo
para sua realização e da sintonia entre as equipes participantes, para garantir
o sucesso de cada uma das intervenções. Naquelas sem supradesnível de ST,
discute-se a forma e o momento ideal para a estratificação invasiva de risco,
se precoce ou muito precoce, conforme o cenário clínico.
Com relação ao tratamento farmacológico, contamos com revisões cuidadosas
sobre o uso apropriado dos antitrombóticos e antiplaquetários nas SCA, com
considerações sobre a obtenção do máximo benefício clínico e o menor risco de
sangramento.
Situações especiais constituem as indicações do tratamento cirúrgico nas
SCA e em suas complicações, e uma condição peculiar, mas frequente, que é
a abordagem naqueles que possuem revascularização cirúrgica ou percutânea
prévia. Por fim, uma situação clínica de alta mortalidade na fase hospitalar,
como o choque cardiogênico, é discutida nesta edição. A estratificação de
risco, o momento da indicação e a escolha da modalidade de suporte circulatório são apresentados para a apropriada tomada de decisão clínica.
Espero que os leitores tirem o melhor proveito desse verdadeiro estado da
arte, onde os autores escrevem de maneira atualizada, em profundidade e numa
leitura agradável tópicos da maior importância em cardiologia.
Boa leitura!
Maria Cristina Izar
Editora Chefe
SUMÁRIO/CONTENTS
Atualização na Síndrome Coronariana Aguda
fisiopatologia das síndromes
coronarianas agudas...................................................................................................................................................................................................... 74
PATHOPHYSIOLOGY OF ACUTE CORONARY SYNDROMES
Francisco Antonio Helfenstein Fonseca, Maria Cristina de Oliveira Izar
DIAGNÓSTICO DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS E MODELO SISTEMATIZADO
DE ATENDIMENTO EM UNIDADES DE DOR TORÁCICA............................................................................................................................................... 78
DIAGNOSIS OF ACUTE CORONARY SYNDROME AND SYSTEMATIC MODEL IN CHEST PAIN SERVICES
Silvio Reggi, Edson Stefanini
IMPORTÂNCIA DA TELEMEDICINA E DA TROMBÓLISE PRÉ-HOSPITALAR.......................................................................................................... 86
THE IMPORTANCE OF TELEMEDICINE AND OF PRE-HOSPITAL THROMBOLYSIS
Silvio Reggi, Antonio Carlos Carvalho
ANÁLISE CRÍTICA DA REPERFUSÃO PRECOCE NO INFARTO AGUDO COM SUPRADESNÍVEL DE ST:
TROMBÓLISE QUÍMICA E INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA PRIMÁRIA....................................................................................................................... 93
ANALYSIS OF EARLY PERFUSION IN MYOCARDIAL INFARCTION WITH ST ELEVATION:
CHEMICAL THROMBOLYSIS AND PRIMARY PERCUTANEOUS INTERVENTION
Luiz Antonio Machado César, Miguel Antonio Moretti
ESTRATÉGIA INVASIVA NAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
SEM SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST...................................................................................................................................................... 99
INVASIVE STRATEGY IN ACUTE CORONARY SYNDROMES WITHOUT ST SEGMENT ELEVATION
Dimytri A. Siqueira, J. Ribamar Costa Jr., Alexandre Abizaid
TERAPIA ANTITROMBÓTICA NA FASE AGUDA DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS..................................................................105
ANTITHROMBOTIC THERAPY IN ACUTE PHASE OF ACUTE CORONARY SYNDROMES
Rodrigo Modolo, Otávio Rizzi Coelho
ESTRATÉGIAS ANTIPLAQUETÁRIAS ORAIS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DAS SÍNDROMES
CORONARIANAS AGUDAS....................................................................................................................................................................................................112
ORAL ANTIPLATELET STRATEGIES IN THE ACUTE AND CHRONIC OF ACUTE CORONARY SYNDROMES.
José Carlos Nicolau, Remo Holanda de Mendonça Furtado
Análise Crítica do Tratamento Cirúrgico nas Síndromes Coronarianas Agudas e
suas Complicações............................................................................................................................................................................................................120
Critical analysis of surgical treatment in acute coronary syndromes and its complications
Alexandre C. Hueb, Fabio B. Jatene
Síndrome coronariana aguda em indivíduos com revascularização cirúrgica
ou percutânea prévia......................................................................................................................................................................................................128
Acute coronary syndrome in individuals with previous surgical or percutaneous revascularization
Cristiano Guedes Bezerra, Fábio Augusto Pinton, Pedro Alves Lemos Neto
Papel do Suporte Circulatório nas Síndromes Coronarianas Agudas.....................................................................................134
The role of circulatory support in acute coronary syndromes
Eduardo Gregório Chamlian, Nelson Americo Hossne Junior, Walter José Gomes
revisão/review
fisiopatologia das síndromes
coronarianas agudas
PATHOPHYSIOLOGY OF ACUTE CORONARY SYNDROMES
Resumo
Francisco Antonio
Helfenstein Fonseca1
Maria Cristina de Oliveira Izar1
1. Escola Paulista de Medicina,
Universidade Federal de São Paulo, Brasil
Correspondência:
Setor de Lípides,
Aterosclerose e Biologia Vascular
Escola Paulista de Medicina –
Disciplina de Cardiologia
Rua Loefgren 1350, Vila Clementino,
São Paulo – SP, CEP 04040-001
[email protected]
As síndromes coronarianas agudas decorrem principalmente de ruptura da placa vulnerável
ou de erosão superficial do endotélio. A crescente exposição ao tratamento com estatinas
tem diminuído o conteúdo lipídico e inflamatório das placas, resultando em progressiva
redução dos infartos com oclusão completa do vaso e mesmo de recorrência de eventos
coronarianos. Por outro lado, com a maior longevidade e crescente prevalência de obesidade e diabetes, a erosão endotelial tem se tornado mais presente, notadamente nas
apresentações com oclusões transitórias ou parciais das coronárias, sugeridas pela maior
incidência de infartos sem supradesnível de segmento ST e angina instável. O avanço da
compreensão do papel do colesterol e da inflamação tem proporcionado uma nova visão
terapêutica das síndromes coronarianas agudas, que incluem melhora da microcirculação,
diminuição de massa infartada e melhor remodelamento ventricular.
Descritores: Síndromes coronarianas agudas; Inflamação; Colesterol.
Abstract
Acute coronary syndromes mainly occur due to the rupture of vulnerable plaque or superficial
endothelial erosion. The increasing exposure of treatment with statins has decreased the
inflammatory and lipid content of the plaques, resulting in progressive reduction of myocardial
infarction with complete vessel occlusion and even recurrence of coronary events. On the
other hand, the increased longevity and the higher prevalence of obesity and diabetes have
been associated with endothelial erosion, mainly in transient or partial coronary occlusion,
suggested by higher incidence of non-ST elevation myocardial infarction or unstable angina.
Advances in understanding the role of cholesterol and inflammation have provided a new
therapeutic vision of acute coronary syndromes, including improvement of microcirculation,
decreased infarct mass, and better ventricular remodeling.
74
Keywords: Acute coronary syndromes; Inflammation; Cholesterol.
INTRODUÇÃO
A doença isquêmica do coração é a principal causa de
morte em todo o mundo,1 responsável por 7,4 milhões de
óbitos anuais, correspondendo a 13,2% de todas as mortes. No Brasil, a doença isquêmica do coração também é
a principal causa de óbito, sendo responsável por 31% das
mortes cardiovasculares, ultrapassando a taxa de morte por
acidente vascular cerebral, estimada em 30%.2
Análise de randomização Mendeliana tem mostrado
um notável impacto da exposição a níveis mais baixos
de colesterol ao longo da vida e proporcional diminuição
nas taxas de eventos coronarianos na vida adulta.3 Além
disso, polimorfismos genéticos afetando diferentes mecanismos para redução do colesterol, como absorção
intestinal e síntese endógena, possuem similar impacto
na incidência da doença coronariana na vida adulta e
sinergismo quando concomitantemente presentes.4
Entretanto, marcadores inflamatórios parecem também
associados aos desfechos coronarianos, por uma diversidade de mecanismos, que vão desde a presença de cristais
de colesterol na íntima vascular, como também a partir de
isquemia, maior ativação de receptores Toll Like tipo 2 (TLR2)
associados com estresse endotelial, aumento de liberação
de microfilamentos (Neutrophyl extracellular Traps – NETs) por
neutrófilos, em conjunto proporcionando erosão endotelial.5
Assim, ambos os mecanismos, lipídicos e inflamatórios
parecem associados com complicações da placa vulnerável
e erosão endotelial e a magnitude da resposta inflamatória
que se segue após a oclusão vascular constituem tema de
grande interesse atual devido ao seu papel na recuperação do miocárdio isquêmico e recorrência de desfechos,
sobretudo ao longo do primeiro ano após uma síndrome
coronariana aguda.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):74-7
fisiopatologia das síndromes coronarianas agudas
ATEROSCLEROSE CORONARIANA
Estrias gordurosas e fibroateromas nas coronárias estão
presentes no adulto jovem e sua gravidade estreitamente
relacionada com fatores de risco clássicos, como colesterol e hipertensão arterial.6 A exposição a níveis altos de
colesterol, como na hipercolesterolemia familiar determina
maior prematuridade na idade de apresentação da doença
coronariana, sendo que apropriada redução nos níveis de
LDL-colesterol aproxima os pacientes com a dislipidemia de
base genética com a história natural da população geral.7,8
Embora a hipercolesterolemia seja fortemente associada com o desenvolvimento das lesões ateroscleróticas
coronárias e suas complicações, o acúmulo de colesterol
na íntima vascular parece depender de modificações na
estrutura da LDL, principalmente pela exposição a espécies
reativas de oxigênio, determinando oxidação de conteúdo
protéico (apolipoproteína B) e de fosfolípides. Entretanto,
nos últimos anos, notável avanço no conhecimento do papel
de subtipos de linfócitos na modulação da placa vulnerável
foi reconhecido. Linfócitos que produzem interferon – gama
impedem respostas reparativas, como a migração e mudança fenotípica de células musculares lisas da camada
média, reduzindo a síntese de matriz e promovendo maior
proximidade de macrófagos repletos de colesterol junto à luz
vascular. Além disso, certos linfócitos de marcante atividade
inflamatória, induzem nos macrófagos maior liberação de
metaloproteases de matriz, substâncias que degradam o
tecido matricial, facilitando a interação do núcleo lipídico
com a circulação e, consequentemente, trombose do vaso.9
Nos últimos anos, maior atenção tem sido dada ao papel
imune dos linfócitos. As células B1 produzem anticorpo natural
(IgM) que neutraliza a LDL oxidada, enquanto outros tipos de
linfócitos como as células B2 parecem relacionadas com maior
Aumento de expressão de TLTR2
Aumento de neutrófilos
Aumento de NETS
Interações com ácido hialurônico
Aumento da apoptose endotelial
Aumento de microparticulas endoteliais
ativação de linfócitos TCD4 e CD8 e relacionadas com maior
desenvolvimento de aterosclerose e complicações.10 Certos
subtipos de linfócitos produzem anticorpos anti-LDL oxidada
classe IgG e parecem atenuar a doença coronariana e são
mais expressos sob melhor controle de fatores de risco.11-15
PLACA VULNERÁVEL, EROSÃO ENDOTELIAL
E A FORMA DE APRESENTAÇÃO DAS
SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
O infarto com supradesnível de segmento ST ocorre em
associação com oclusão trombótica total do vaso, frequentemente como complicação de placa rica em colesterol e infiltrada de leucócitos. Entretanto, com a crescente exposição a
tratamento com estatinas, esta forma de apresentação clínica
da síndrome coronariana aguda tem declinado, em virtude
do menor conteúdo lipídico, trombótico e inflamatório.16 Por
outro lado, oclusões parciais do vaso, associadas com infarto
sem supradesnível do segmento ST ou com angina instável
têm se tornado cada vez mais prevalentes. Seus mecanismos
parecem associados com maior expressão de receptor TLR2
e da interação deste com ácido hialurônico, uma abundante
substância da matriz intimal.5 Esta interação parece associada
ao estresse do retículo da célula endotelial, promovendo sua
apoptose e exposição da íntima aos elementos do sangue
(fator tecidual e fator VII ativado), gerando trombina e ativação
plaquetária. A Figura 1 mostra as características clínicas das
síndromes coronarianas agudas e seus mecanismos.
RECORRÊNCIA DE EVENTOS CORONÁRIOS
APÓS INFARTO DO MIOCÁRDIO
A necrose miocárdica deflagra intensa mobilização de
leucócitos ao miocárdio. O mais surpreendente é que esta
Aumento de LDL-colesterol
Aumento de vias inflamatórias
Formação de celulas espumosas
Redução de IgM anti LDLoxidada
Inflamação de linfócitos e monócitos
pró-inflamatórios
endotélio
Micropartículas
endotéliais
Trombose
Oclusão parcial
IAMSSST/AI
Erosão endotelial
Trombose
Trombose
Oclusão Total
IAMCSST
Ruptura de placa
Trombose
Figura 1. Mecanismos das síndromes coronarianas agudas. Oclusões parciais dos vasos coronarianos estão associadas com infarto sem
supradesnível do segmento ST e angina instável e tem como base a erosão endotelial. A erosão endotelial parece associada com aumento do estresse endotelial deflagrado por aumento da expressão de receptores toll-like 2 (TLR2), NETs (Neutrophyl Extracellular Traps),
aumento do estresse hemodinâmico e isquemia. Já as oclusões totais do vaso coronariano se associam ao infarto do miocárdio com
supradesnível do segmento ST e presença de núcleo lipídico mais exuberante e com intensa infiltração de linfócitos e macrófagos
associados com menor produção de anticorpos anti LDL oxidada.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):74-7
75
76
onda de mobilização de linfócitos determina colonização de
placas ateroscleróticas em diferentes estágios de formação,
causando aumento da atividade inflamatória e mecanismos de
vulnerabilidade das placas ou mesmo de apoptose endotelial.17
Em outras palavras, o infarto do miocárdio acelera a aterosclerose e o ambiente inflamatório das placas explica as altas
taxas de recorrência de eventos coronarianos principalmente
ao longo do primeiro ano após o infarto do miocárdio. Este
mecanismo de recorrência de eventos parece dependente do
tipo de linfócito mobilizado, possivelmente de característica
mais inflamatória na presença de fatores de risco não controlados, como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemias.
Outro aspecto relevante foi a descoberta de como a complexa resposta inflamatória é deflagrada. A partir de estímulos
como cristais de colesterol, infecções associadas com maior
presença de neutrófilos liberando NETs, isquemia e alterações
do estresse hemodinâmico, o complexo inflammasome é
deflagrado a partir de ativação da interleucina 1-beta pela
caspase 1, favorecendo maior expressão de cascata inflamatória que inclui interleucina 6, fator de necrose tumoral alfa,
proteína C reativa, fibrinogênio, entre outros biomarcadores
associados com desfechos cardiovasculares.18,19
aterosclerose. De fato, o estudo JUPITER21,22 embora tenha
comprovado os benefícios do uso de estatina em população
com colesterol relativamente normal e aumento de atividade
inflamatória (estimada pelo aumento da proteína C-reativa de
alta sensibilidade), reduziu não apenas este marcador inflamatório, mas também os níveis de LDL-colesterol, tornando
difícil a interpretação dos benefícios, se devido ao controle
da inflamação, ou pela redução do colesterol.
Além dos mecanismos de controle da aterosclerose e
complicações trombóticas, a inflamação também parece
modular o remodelamento ventricular, afetando adversamente
quando muito pronunciada.23
Novos agentes hipolipemiantes, como os inibidores da
pró-proteína convertase subtilisina kexina tipo 9 (PCSK9)
estão sendo aprovados e têm se mostrado extremamente seguros e eficientes, permitindo notáveis reduções do
LDL-colesterol.24,25 Estudos de desfechos com estes agentes
em pacientes de alto risco cardiovascular estão em pleno
andamento e em breve permitirão uma melhor avaliação de
seus efeitos na doença coronariana.
PERSPECTIVAS FUTURAS
A oclusão parcial ou total do vaso coronário determina
uma variedade de apresentação clínica das síndromes coronarianas agudas. Inflamação e colesterol são os mecanismos que levam à formação, desestabilização e desfechos
aterotrombóticos. A persistência de inflamação ou de níveis
elevados de LDL-colesterol se associa com recorrência de
eventos. O mais pronto controle da inflamação e alcance de
valores baixos de LDL-colesterol constituem os aspectos mais
relevantes para diminuição das sequelas do infarto agudo do
miocárdio e para estabilização da doença em longo prazo.
As bases fisiopatológicas da doença coronariana parecem bem estabelecidas e a necessidade do mais precoce
restabelecimento de fluxo para a área infartada ou isquêmica
é incontestável, mas outros fatores relevantes parecem ser
a modulação da resposta inflamatória a curto e longo prazo,
bem como a manutenção de baixos níveis de colesterol
em longo prazo. O controle da atividade inflamatória está
sendo testado em dois grandes estudos, o Cardiovascular
Inflammation Reduction Trial (CIRT) por meio de baixa dose
semanal do metotrexate e o Canakinumab Anti-Inflammatory
Thrombosis Outcomes Study (CANTOS) pela administração
de anticorpo monoclonal anti-interleucina 1-beta em dose
subcutânea trimestral.20 Como estes estudos bloqueiam
a inflamação praticamente sem afetar os lípides plasmáticos, poderão testar em definitivo a teoria inflamatória da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho.
Referências
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who.int/mediacentre/factsheets/fs310/en/acesso em 01/04/2016.
2. Ribeiro AL, Duncan BB, Brant LC, Lotufo PA, Mill JG, Barreto
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Circulation. 2016;133(4):422-33.
3. Ference BA, Yoo W, Alesh I, Mahajan N, Mirowska KK, Mewada A,
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cholesterol beginning early in life on the risk of coronary heart
disease: a Mendelian randomization analysis. J Am Coll Cardiol.
2012;60(25):2631-9.
4. Ference BA, Majeed F, Penumetcha R, Flack JM, Brook RD. Effect
of naturally random allocation to lower low-density lipoprotein cholesterol on the risk of coronary heart disease mediated by polymorphisms in NPC1L1, HMGCR, or both: a 2 × 2 factorial Mendelian
randomization study. J Am Coll Cardiol. 2015;65(15):1552-61.
5. Quillard T, Araújo HA, Franck G, Shvartz E, Sukhova G, Libby P.
TLR2 and neutrophils potentiate endothelial stress, apoptosis
and detachment: implications for superficial erosion. Eur Heart
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77
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):74-7
revisão/review
DIAGNÓSTICO DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
E MODELO SISTEMATIZADO DE ATENDIMENTO EM
UNIDADES DE DOR TORÁCICA
DIAGNOSIS OF ACUTE CORONARY SYNDROME AND
SYSTEMATIC MODEL IN CHEST PAIN SERVICES
Resumo
Silvio Reggi
Edson Stefanini1
1
1. Disciplina Cardiologia da Escola
Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo/UNIFESP
Correspondência:
Rua Pintassilgo 155 ap. 61
CEP 04514030
[email protected]
78
A dor torácica é o sintoma que leva o paciente ao serviço de emergência e, nesse contexto,
é fundamental que se faça o diagnóstico de uma síndrome coronariana aguda (SCA). A
avaliação adequada das características dos sintomas e a realização imediata de eletrocardiograma no atendimento inicial permitem o diagnóstico e, na maioria das vezes, apontam
o melhor tratamento. Pelo eletrocardiograma podemos prontamente estabelecer o diagnóstico de SCA com supra de ST, que caracteriza infarto agudo do miocárdio e orienta para
o tratamento de reperfusão o quanto antes. A ausência desse achado eletrocardiográfico
caracteriza SCA sem supra de ST, que requer melhor definição prognóstica. Os marcadores
de necrose miocárdica contribuem para melhor definição diagnóstica e estratificação de
risco desses pacientes. Para aqueles cujos aspectos clínicos fazem suspeitar de quadro
de isquemia aguda do miocárdio, mas que não apresentam um traçado eletrocardiográfico
e marcadores de necrose com alterações suficientes para um diagnóstico mais definitivo,
os testes isquêmicos não invasivos como o teste ergométrico, o ecocardiograma ou a
cintilografia de perfusão miocárdica, de repouso ou de esforço ou ainda com estresse
farmacológico, podem contribuir tanto para o diagnóstico, quanto para a estratificação
de risco. Mais recentemente, com a angiotomografia das coronárias ou com protocolos
de atendimento de curta duração que utilizam troponinas de alta sensibilidade, podemos
confirmar a presença de SCA ou afastá-la com segurança, reduzindo significativamente a
permanência hospitalar desses pacientes.
Descritores: Síndromes Coronárias Agudas; Infarto Agudo do Miocárdio;
Eletrocardiograma; Marcadores de Necrose Miocárdica; Isquemia Miocárdica.
Abstract
Chest pain is the symptom that brings the patient to the emergency department and
in this context, it is essential to make the diagnosis of an acute coronary syndrome (ACS).
Proper evaluation of the characteristics of the symptoms and the immediate realization of
an electrocardiogram in the initial care allow the diagnosis and, in most cases, indicate the
best treatment. The electrocardiogram can readily establish the diagnosis of ACS with ST
elevation, featuring acute myocardial infarction, and guides for the treatment of reperfusion
as soon as possible. The absence of this electrocardiographic finding is compatible with an
ACS without ST elevation, which requires better prognostic definition. Myocardial necrosis
markers contribute to better diagnostic definition and risk stratification of these patients. For
those whose clinical aspects lead to suspicion of acute myocardial ischemia, but do not
have an electrocardiographic tracing and necrosis markers with enough change for a more
definitive diagnosis, non-invasive ischemic tests such as exercise test, echocardiography or
stress-rest myocardial perfusion scintigraphy, or pharmacologic stress can contribute to both
the diagnosis and the risk stratification. More recently, with CT angiography of the coronary
or with short-term treatment protocols using high-sensitivity troponins, we can confirm the
presence of ACS or rule out it safely, significantly reducing the hospital stay of these patients.
Keywords: Acute Coronary Syndromes; Acute Myocardial Infarction; Electrocardiogram;
Myocardial Necrosis Biomarkers; Myocardial Ischemia.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):78-85
DIAGNÓSTICO DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS E
MODELO SISTEMATIZADO DE ATENDIMENTO EM UNIDADES DE DOR TORÁCICA
INTRODUÇÃO
A dor torácica é o principal sintoma que motiva a investigação
diagnóstica diante de um quadro de possível síndrome coronária
aguda (SCA). Em alguns pacientes, como nos idosos e nos
diabéticos, sintomas atípicos podem estar presentes tanto em
associação, como isoladamente. Dispneia e/ou dor epigástrica
se apresentam como os sintomas mais determinantes nesses
pacientes. De qualquer forma, feita a suspeita de uma possível
SCA, o eletrocardiograma (ECG) passa a ter papel fundamental
na diferenciação de dois grandes grupos de pacientes:
(a) Pacientes com elevação do segmento ST e sintomas persistentes (duração da dor maior que 20 minutos): esta condição,
chamada de SCA com supra-desnível do segmento ST, geralmente reflete a oclusão completa de uma artéria coronariana, a
qual se associa com correntes de lesão subepicárdicas. Neste
cenário, o ponto central do atendimento é a reperfusão imediata,
com agentes fibrinolíticos, ou com angioplastia percutânea.1
(b) Pacientes com sintomas intermitentes, porém sem elevação do segmento ST no eletrocardiograma: nestes casos a
desafio diagnóstico é maior, na medida em que o eletrocardiograma pode apresentar infradesnível do segmento ST, inversão
simétrica da onda T ou mesmo ser totalmente normal. Além
das variações de sintomas apresentados por estes pacientes,
a gravidade do quadro clínico também é muito diversa, indo
desde pacientes com dores de pequena intensidade e livre de
sintomas associados, até pacientes que se apresentam em
franco choque cardiogênico. A variabilidade do quadro clínico
no momento do diagnóstico está intimamente relacionada aos
graus de isquemia (SCA sem supra de ST) e necrose enfrentadas
pelo músculo cardíaco (SCA com supra de ST).
Definição universal de infarto do miocárdio
O infarto agudo do miocárdio (IAM) é definido como a
morte celular miocárdica e necrose (de qualquer proporção) do
músculo cardíaco, num cenário que representa a evolução de
uma isquemia miocárdica aguda (SCA).2 Uma combinação de
critérios é necessária para que o diagnóstico de IAM seja estabelecido,3 sempre com alterações de marcadores de necrose
miocárdica, preferencialmente a troponina, em associação com
pelo menos uma das ocorrências: (a) sintomas de isquemia,
(b) novas ou presumidamente novas mudanças no segmento
ST ou novo bloqueio do ramo esquerdo, (c) desenvolvimento
de ondas Q patológicas, (d) evidência por imagem de uma
nova, ou presumidamente nova, perda de miocárdio viável ou
deficiências segmentares da contratilidade e (e) evidência de
trombo coronariano durante cinecoronariografia ou necropsia.
Infarto tipo 1
A ruptura da placa aterosclerótica ou ainda, uma ulceração, fissura, erosão ou dissecção, que leve à formação de
um trombo intraluminal, em uma ou mais artérias coronárias,
define o infarto tipo 1.4 Nestes casos, há uma diminuição do
fluxo coronariano com subsequente isquemia ou necrose do
músculo cardíaco.
Infarto Tipo 2
No infarto tipo 2 o mecanismo não se dá pela instabilidade
da placa coronariana, mas por outros fatores externos à doença
aterosclerótica mas que levam ao desequilíbrio entre a oferta
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):78-85
e a demanda de oxigênio.2,4 Diversos mecanismos podem
estar envolvidos, como o espasmo das artérias, a disfunção
endotelial, arritmias, anemia, sepse, choque ou as insuficiências
de diversos órgãos. Paciente internado em unidades de terapia
intensiva e aqueles submetidos a cirurgias não cardíacas de
grande porte também podem ser acometidos por este tipo
de infarto.
A definição universal de infarto também inclui três outros
tipos de infarto: O tipo 3, IAM que resulta em morte (sem tempo
para avaliação dos marcadores de necrose); O tipo 4, IAM
relacionado à angioplastia, o qual se subdivide em 4a, quando
ocorre elevação acima de cinco vezes o valor basal da troponina e 4b, quando ocorre trombose do stent, caracterizada na
angiografia ou na necropsia, além de manifestação de isquemia
e elevação dos marcadores de necrose. E ainda temos o tipo
5, IAM relacionado à cirurgia de revascularização miocárdica.4
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico das SCA se baseia numa série de achados
que, no seu conjunto, levarão a uma conclusão definitiva. Nem
sempre o diagnóstico é simples, na medida em que muitos
pacientes podem apresentar sintomas atípicos e não manifestar qualquer alteração nos exames subsidiários. Assim, a
expertise, de quem faz o primeiro atendimento de um paciente
com uma possível SCA, é fundamental, principalmente nos
casos suspeitos,mas sem a obviedade dos sintomas.
Para um diagnóstico adequado, não é necessário ter disponível toda a medicina diagnóstica, embora quanto mais
recursos tivermos ao alcance das mãos, melhores seremos
na definição do diagnóstico e da conduta. Contudo, é preciso
deixar claro que, com a história clínica e o exame físico acurados, com o auxílio do eletrocardiograma e dos marcadores
de necrose miocárdica, preferencialmente a troponina de
alta sensibilidade, temos condições de diagnosticar e tratar a
grande maioria dos pacientes, assim como estratificar o risco
dos mesmos. Exames subsidiários mais complexos, como o
ecocardiograma, a cintilografia miocárdica, a angiotomografia
coronária e a ressonância nuclear magnética têm também
espaço e enorme importância, no contexto do diagnóstico e
do atendimento inicial, mas, numa minoria dos casos serão
necessários nos momentos iniciais do atendimento.
História e exame físico
A dor torácica típica é o sintoma principal da doença coronariana aguda, principalmente aquela em opressão, que
irradia para o braço esquerdo, direito ou para a mandíbula.
Pode estar associada à sudorese fria, náusea, dor abdominal
ou lipotimia. Sua duração tem importância central, uma vez
que as dores com duração superior a vinte minutos e sem
momentos de melhora, nos direcionam para um diagnóstico de
maior gravidade, já que nos fazem pensar que a possibilidade
maior é de interrupção completa do fluxo sanguíneo coronariano. Contudo, a dor intermitente que cessa espontaneamente,
principalmente aquela que se iniciou nos últimos dias ou horas,
também é sugestiva de doença coronária com episódios de
isquemia aguda. No entanto, é preciso lembrar que os sintomas
típicos estão presentes apenas numa parcela dos pacientes.
Muitos, em especial idosos, mulheres e diabéticos apresentam
frequentemente sintomas atípicos que eventualmente acabam
direcionando o diagnóstico para outras doenças.5-7
79
SCA sem supra de ST
80
Nos casos de SCA sem supra de ST, a dor anginosa terá
uma das características abaixo relacionadas:
(a) Dor prolongada em repouso;
(b) Angina de início recente (“de novo”) classificada
como II ou III pela classificação da Canadian Cardiovascular
Society (CCS);8
(c) Recente desestabilização de angina estável prévia, com
pelo menos classificação III da CCS (“angina em crescendo”);
(d) Angina pós-IAM.
Um dos sintomas mais típicos da coronariopatia crônica
é a presença da dor durante os esforços físicos com alívio no
repouso. Nos casos de SCA, a dor está normalmente presente
no repouso, todavia, a atividade física, ainda que de pequena
intensidade, leva ao aumento de sua intensidade.
Não é incomum que o paciente que se apresenta com
SCA sem supra de ST, não tenha qualquer alteração eletrocardiográfica ou laboratorial. Diante disso, a avalição adequada
da probabilidade de doença aterosclerótica é fundamental. A
presença de um ou mais fatores de risco para doença aterosclerótica coronária, eleva consideravelmente a possibilidade de
ser o paciente portador de um quadro isquêmico miocárdico
agudo. Idade avançada, sexo masculino, história familiar de
doença coronária, diabetes, hiperlipidemia, hipertensão arterial, tabagismo, insuficiência renal crônica, infarto prévio ou
doença aterosclerótica carotídea ou periférica são fatores de
risco amplamente conhecidos.
O exame físico na SCA sem supra de ST é quase sempre
pobre e não contribui, na grande maioria das vezes, para o
diagnóstico. Seu papel é mais relevante no diagnóstico das
complicações relacionadas ao quadro isquêmico agudo,
mais comumente visto nos casos mais dramáticos e que,
geralmente, estão associados ao IAM. O exame físico, pode
ainda, contribuir para o diagnóstico diferencial com outras
patologias como as relacionadas ao sistema digestivo e nas
doenças da parede torácica. Vale lembrar que a dor torácica
que se reproduz à palpação do tórax tem alto valor preditivo
negativo para SCA.9
SCA com supra de ST
O diagnóstico inicial da SCA com supra de ST se confunde temporalmente com seu tratamento. Devido à gravidade
e a dramaticidade da doença, o diagnóstico e o tratamento
andam juntos, não sendo admitida nenhuma perda de tempo.
O sintoma central da SCA com supra de ST é a dor torácica
que se prolonga por mais de 20 minutos, que não cede com o
repouso, tampouco com o uso de nitratos (preferencialmente
de ação rápida). Como nos casos de SCA sem supra de ST,
a dor geralmente é em opressão, pode irradiar para um ou
para ambos os braços, mandíbula ou nuca. Também nestes
casos existem aqueles que apresentam sintomas atípicos,
normalmente idosos, mulheres ou diabéticos. Por este motivo,
estes pacientes, que podem chegar a 30% daqueles que
procuram o serviço de emergência, recebem menos frequentemente a terapia adequada segundo algumas análises.10
Os antecedentes pessoais também têm papel importante nos casos de SCA com supra de ST, apesar de que
a ausência deles, não pode de maneira alguma desviar o
médico da hipótese diagnóstica. Nestes casos o ECG, como
será comentado a seguir, tem uma relevância altíssima, pois
o encontro das alterações pertinentes, desencadeará o tratamento necessário, que deve ser imediato.
O exame físico ajuda principalmente na identificação das
complicações e nos diagnósticos diferenciais. Nas SCA com
supra de ST, complicações como insuficiência cardíaca (IC)
por disfunção do ventrículo esquerdo (VE) devido à extensão
do infarto, choque cardiogênico por insuficiência mitral aguda
ou comunicação interventricular, as chamadas complicações
mecânicas, além de instabilidade elétrica, bem mais prevalente.
Eletrocardiograma (ECG)
O eletrocardiograma de 12 derivações é o primeiro exame a
ser realizado num cenário de possível SCA. (Figura 1) Nos casos
com elevação do segmento ST ou bloqueio de ramo esquerdo
(BRE) supostamente novo, o traçado eletrocardiográfico será
provavelmente o único exame a ser realizado antes do início da
terapia de reperfusão. É recomendado que o ECG seja realizado
nos primeiros 10 minutos após o início do atendimento, seja
num cenário pré-hospitalar ou hospitalar.11
Nas SCA sem supra de ST, um grande número de alterações
podem ser encontradas no ECG, podendo mesmo ser completamente normal em até 1/3 dos pacientes. Outros achados incluem alterações da onda T e alterações dinâmicas do segmento
ST, principalmente o infradesnível.1,12 É importante enfatizar,
que em pacientes com sintomas persistentes e sugestivos de
oclusão de uma ou mais artérias coronárias e com alterações
eletrocardiográficas não muito bem definidas, é fundamental
que se procure realizar um número maior de derivações. Nos
casos de oclusão da artéria circunflexa (ACx) com infarto de
parede dorsal do VE, as derivações V7-9 podem contribuir para
a localização da região comprometida. Nos infartos de parede
inferior, as derivações V3R e V4R devem ser realizadas para o
diagnóstico de infarto de ventrículo direito.2 (Tabela 1)
Figura 1. Avaliação inicial do paciente com sídrome coronariana aguda baseada nos sintomas, nos achados do ECG e nos
bomarcarcores.3
Baixa probabilidade
Alta probabilidade
1. Apresentação
2. Eletrocardiograma
3. Troponina
4. Diagnóstico
Não cardíaco
AI Cardíaca
outras IAM sem ST IAM com ST
Tabela 1. Apresentações eletrocardiográficas atípicas em pacientes
com diagnóstico de síndrome coronariana aguda com provável
oclusão total de uma ou mais artérias coronarianas.
Bloqueio novo do ramo esquerdo
Ritmo ventricular (QRS largo, dissociação A-V)
Pacientes com ECG normal e com sintomas persistentes
Infarto de parede posterior isolado (ST infra V1-3; ST supra V7-9)
Supradesnível do segmento ST em aVR
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DIAGNÓSTICO DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS E
MODELO SISTEMATIZADO DE ATENDIMENTO EM UNIDADES DE DOR TORÁCICA
Biomarcadores
Os biomarcadores, ou marcadores de necrose miocárdica, complementam a avaliação inicial, em associação com o
eletrocardiograma, dos pacientes com SCA sem supra de ST.
Sua importância nos pacientes com IAM com supra de ST é
menor na avaliação inicial já que, nestes casos, eles não se
prestam para o diagnóstico – pelo tempo necessário para que
se elevem seus níveis plasmáticos e também pela demora no
processamento da amostra, tendo mais importância como
critério de reperfusão, de reinfarto ou diagnóstico tardio de
infarto. Assim, é nos casos sem supra de ST que os biomarcadores têm seu papel mais relevante.
Os biomarcadores de necrose miocárdica deveriam representar exclusivamente a morte de células cardíacas em
decorrência de infarto por doença coronária. Contudo, na
prática, sabemos que existem diversas outras condições
clínicas que elevam os marcadores de necrose e, portanto,
quando positivos, é fundamental que sejam interpretados
mediante um cenário adequado. A simples elevação dos
mesmos não significa, necessariamente, um infarto agudo
do miocárdio do tipo 1.4
As troponinas cardíacas são os marcadores de necrose
que preferencialmente devem ser utilizados.3 As troponinas são
mais sensíveis e específicas que outros exames, como a CK,
a CB-MB ou a mioglobina.13 Sua interpretação num cenário
de provável SCA ajuda para o diagnóstico de IAM, sendo
considerado positivo quando um valor acima do percentil 99
(para indivíduos sadios) for alcançado. Outra vantagem das
troponinas, em relação aos demais marcadores, é a velocidade
com que aparece com níveis elevados no plasma: em poucas horas já são detectáveis. Esse tempo pode ser reduzido
enormemente no caso das troponinas de alta sensibilidade
(em menos de 60 minutos). As troponinas podem permanecer
positivas por 7 a 10 dias após o evento agudo, facilitando assim
o diagnóstico tardio de um infarto agudo do miocárdio.4,13
Uma das principais vantagens da troponinas de alta sensibilidade, como já referido, é a velocidade com que se elevam.
Isso faz com que seu uso nas unidades de dor torácica seja
fundamental, pois todo e qualquer algoritmo de estratificação
de risco e de critérios de internação levará em conta os resultados destes exames.2,13-15 Todavia, a alta sensibilidade do
exame pode ser também, em algumas situações, um fator de
confusão. São várias as doenças cardiológicas não isquêmicas
e as doenças sistêmicas que podem levar ao aumento dos
níveis de troponina. Diante do exposto, a avaliação criteriosa
é mandatória. (Tabela 2)
Tabela 2. Outras condições cardíacas e não cardíacas que podem
estar associadas à elevação dos níveis de Troponina.
Cardíacas
Não cardíacas
Arritmias
Sepse, choque
Emergências hipertensivas
Tromboembolismo Pulmonar
Miocardite
Insuficiência renal
Síndrome do Coração Partido Acidente vascular cerebral agudo (AVC)
(Tako-tsubo)
Dissecção de Aorta
Hiper e hipotireoidismo
Espasmo coronariano
Toxicidade por drogas
Doença cardíaca estrutural
Exercícios extenuantes
Insuficiência cardíaca
Rabdomiólise
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Além das troponinas, somente a creatinoquinase MB
(CK-MB) e a copeptina parecem ter relevância clínica semelhantes.2,13,14,16-18 Apesar de a CK-MB subir mais lentamente,
ela sofre um declínio mais rápido, ajudando na definição do
momento da doença nos casos que chegam tardiamente.
Também tem papel importante no diagnóstico de reinfarto.
A copeptina é a porção C-terminal da vasopressina, pode
quantificar o nível de estresse endógeno em diversas situações clínicas, incluindo nos casos de IAM. Como o nível
de estresse é invariavelmente alto nos casos no início do
IAM, sua análise, em conjunto com as troponinas, pode ter
grande valor.17, 18 Contudo seu uso só faz sentido quando não
há a disponibilidade da troponina de alta sensibilidade ou
quando se deseja descartar rapidamente um caso suspeito
de IAM.17,18 A copeptina ainda é pouco conhecida em nosso
meio e não está disponível na maioria dos hospitais.
Marcadores utilizados no passado, como CK total, transaminases hepáticas e DHL hoje estão completamente em
desuso devido a suas baixas sensibilidades e especificidades
e por isso não devem ser utilizados na prática clínica atual.
A Figura 1 resume a contribuição da avaliação clínica, do
eletrocardiograma e dos marcadores de necrose miocárdica
para adequada avaliação do paciente e definição diagnóstica
de uma SCA sem supra ou com supra de ST.
Teste ergométrico
O teste ergométrico (TE) é um exame há muito tempo
conhecido e de grande relevância no diagnóstico da doença
coronária crônica. Todavia este exame tem grande valor no
contexto das SCA, como ferramenta para o diagnóstico e
para estratificação de risco, desde que realizado com o
paciente já estabilizado e com protocolo adequado.
Os critérios utilizados para o diagnóstico de doença
coronária são os tradicionais: em duas derivações consecutivas, infradesnível do segmento ST >= 1,5mm ou
supradesnível >= 2,0mm.19 O TE também ajuda na estratificação da gravidade do paciente, uma vez que a presença
de dor durante o exame, a redução da pressão sistólica e
a deficiência cronotrópica com a progressão do exercício
reforçam o diagnóstico e apontam a gravidade da doença.20
Há décadas se reconhece o valor do TE no atendimento
na sala de emergência. Desde 1983, quando surgiu a primeira unidade de dor torácica, nos EUA, os especialistas
no método têm trabalhado nestas unidades. Atualmente
o papel do TE se concentra nos casos de baixo risco, em
que se quer descartar a possibilidade de coronariopatia.
Pacientes com alterações eletrocardiográficas sugestivas
de isquemia, com marcadores alterados ou com sintomas
recorrentes não devem, de forma alguma, serem submetidos
aos testes.21 Dado o seu alto valor preditivo negativo, nos
casos em que o resultado for normal, torna-se desnecessária
a realização de novos exames,22 principalmente naqueles
com boa capacidade funcional.
Ecocardiograma
O Ecocardiograma (ECO) tem grande utilidade na sala
de dor torácica. É um exame de baixo custo, de fácil acesso
e que pode ser realizado à beira do leito. Traz informações
valiosas que podem confirmar o diagnóstico de uma SCA,
assim como estratificar a sua gravidade.
81
A maior informação trazida pelo ecocardiograma num
cenário de dor torácica é a avaliação da contratilidade regional das paredes do VE. O encontro de alterações segmentares de contração favorece grandemente o diagnóstico
de SCA. Embora estas alterações, possam estar presentes
em decorrência de eventos isquêmicos prévios, ou ainda
por conta de outras cardiopatias não isquêmicas, como
nas miocardites, quando bem indicado o ecocardiograma
contribui enormemente.23-25
A avaliação da função de VE é um elemento importante
na estratificação de risco dos pacientes com SCA, particularmente no IAM, em que o ECO é fundamental para o
diagnóstico das complicações mecânicas.
O ECO ainda nos ajuda nos diagnósticos diferenciais
de dor torácica, como nos casos de dissecção da aorta,
de estenose aórtica, de miocardiopatias hipertróficas ou
ainda nas pericardites.21
O ECO de estresse (farmacológico ou físico) é outro
exame de grande valor na avaliação dos pacientes com
quadro de dor torácica de baixo risco.21 Seu resultado ajuda
na definição do diagnóstico e na escolha da conduta terapêutica a ser implementada. Contudo, seu maior valor está nos
casos em que o teste ergométrico não pode ser realizado.
Medicina nuclear
82
A cintilografia do miocárdio tem desempenhado um papel
central no diagnóstico das doenças coronarianas há muitos
anos. Recentemente, informações adicionais provenientes da
capacidade de avaliação da função ventricular e da reserva funcional têm contribuído ainda mais. Nas unidades de dor torácica,
a cintilografia tem sido usada no auxílio à tomada de decisão
nos casos em que a dor tem origem indeterminada, mostrando, neste contexto, ser um método com alta sensibilidade.26-32
Infelizmente, o custo da instalação destes equipamentos é
relativamente alto o que torna inviável sua utilização na maioria
dos serviços no Brasil. São equipamentos quase sempre importados e que utilizam fármacos radiotraçadores, os quais também
não são largamente disponíveis. Além disso, é preciso que o
fármaco seja injetado preferencialmente no momento da dor
ou logo após o evento e que as imagens sejam interpretadas
por profissionais especializados.
Quando disponível, a cintilografia com estresse farmacológico está indicada nos pacientes em que a origem da dor
torácica não é muito bem determinada e que o risco de um
quadro isquêmico agudo seja baixo, principalmente para os
pacientes que não tem condições de realizar o TE. Para aqueles que se apresentam com dor no momento da admissão, o
exame sem estresse é igualmente aceitável.
Angiotomografia das coronárias
A angiotomografia coronária, realizada com tomógrafos
com multidetectores, permite uma perfeita avaliação da árvore
coronariana e um resultado normal exclui o diagnóstico de
doença aterosclerótica. Nove estudos reunidos numa metanálise, com mais de 1300 pacientes, têm demonstrado um alto
valor preditivo negativo do método para excluir SCA, tendo
principalmente indicação nos pacientes com probabilidade
baixa ou intermediária de um quadro isquêmico agudo.33
Vários estudos randomizados têm testado o uso da tomografia
coronariana em comparação com os métodos tradicionais
na avaliação da dor torácica na sala de emergência.34-37 No
seguimento destes pacientes, que variou de um a seis meses,
não houve mortes e os resultados mostraram resultados
semelhantes para outros desfechos (IAM, retorno à unidade
de emergência ou re-hospitalização). Contudo, o uso do tomógrafo esteve associado a um menor custo e menor tempo de
permanência no hospital.38 Em nenhum dos estudos citados,
o marcador de necrose foi a troponina de alta sensibilidade, a
qual também é capaz de reduzir significativamente o tempo
de permanência hospitalar.
Por outro lado, não é aconselhável a realização da
angiotomografia coronária no atendimento de emergência
em pacientes com doença coronária conhecida pela maior
chance de exames falso-positivos para um quadro isquêmico agudo. Em algumas análises, o uso do tomógrafo também esteve associado à maior probabilidade de se adotar
uma estratégia de estratificação invasiva (8,4% vs. 6,3%;
OR 1,36).38 Diante disso, o exame deve ser realizado com
o objetivo de excluir a doença coronariana aguda, portanto
não se prestando para os já sabidamente acometidos.
Uma vantagem da tomografia é a possibilidade de se
realizar, ao mesmo tempo, na avaliação da dor torácica o
diagnóstico de outras situações clínicas de muita gravidade,
como a dissecção da aorta, o tromboembolismo pulmonar
e o pneumotórax.39
Entre os fatores que não contribuem para a disseminação do método nas unidades de emergência estão,
o alto custo e a necessidade de profissionais treinados
disponíveis nas 24 horas do dia.3
Ressonância nuclear magnética
A ressonância nuclear magnética (RNM) tem se estabelecido, nos últimos anos, como uma importante ferramenta para
cardiologia. Através da RNM, e com a injeção de fármacos
provocativos – dipiridamol e adenosina – hoje é possível
se detectar a isquemia miocárdica com grande precisão,
mesmo quando comparada a métodos consagrados como
o ecocardiograma com estresse,40 com a cintilografia41-42 e
com reserva de fluxo coronariano por técnica invasiva.43 O
exame ainda é capaz de trazer informações sobre a morfologia e função do coração, o que resulta em diagnósticos
mais precisos. Dados relacionados ao músculo cardíaco, sua
massa e a presença de necrose e/ou fibrose pela técnica do
realce tardio44 hoje têm enorme relevância clínica.
Apesar do papel da RNM estar estabelecido na doença
arterial coronária crônica, alguns estudos, ainda pequenos,
já tem demonstrado sua relevância para os pacientes que
se encontram nas unidades de atendimento emergencial.45-48
Contudo, atualmente, devido ao custo e às dificuldades
de se realizar o exame, seu emprego num cenário de SCA
ainda é bastante incomum. Seu papel principal se concentra
na avalição dos diagnósticos diferenciais de dor torácica,
em que o ECG não apresenta alterações conclusivas e os
marcadores de necrose são negativos.21
MODELO DE ATENDIMENTO EM UNIDADES
DE DOR TORÁCICA
O atendimento sistematizado, dos pacientes que se apresentam com dor torácica, é fundamental. Através de algoritmos
bem desenhados podemos promover um atendimento de
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DIAGNÓSTICO DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS E
MODELO SISTEMATIZADO DE ATENDIMENTO EM UNIDADES DE DOR TORÁCICA
melhor qualidade, garantindo que os realmente portadores de
uma SCA sejam tratados adequadamente e que os demais,
recebam alta hospitalar sem qualquer prejuízo. Atualmente,
estes atendimentos se baseiam em quatro pilares: anamnese
e exame físico, eletrocardiograma, marcadores de necrose
e testes provocativos de isquemia não invasivos. Com as
informações resultantes destas análises, podemos fazer diagnósticos, estratificar risco e propor tratamentos.
Com o advento de troponina de alta sensibilidade, que
apresenta maior acurácia na detecção do IAM, a medição
da segunda amostra de troponina pode ser encurtada. Hoje,
raramente intervalos maiores do que três horas são necessários para a nova coleta de amostra sanguínea, garantindo
ao paciente um menor tempo de permanência na sala de
emergência.2,12,13,16 Na Figura 2 podemos observar um algoritmo
proposto baseado no uso da troponina de alta sensibilidade,
hoje já largamente disponível em nosso meio. Contudo, algoritmos baseados em troponina de alta sensibilidade num
tempo ainda mais curto já têm sido propostos por algumas
sociedades médicas.3 É preciso deixar claro que o ECG é
fundamental em todo o processo, assim como a reavaliação
dos sintomas. Qualquer anormalidade encontrada, seja no
quadro clínico ou no ECG, deve precipitar a reanálise da troponina ou até mesmo determinar o início do tratamento, seja
medicamentoso ou invasivo.
Muitos pacientes que são admitidos pelos critérios propostos nestes algoritmos necessitarão de exames invasivos para
a elucidação do diagnóstico. A cinecoronariografia deverá ser
considerada naqueles considerados de alto risco ou naqueles
em que a SCA é altamente provável.
Para os pacientes de menor risco, a angiotomografia das
coronárias pode ser uma alternativa.3 Os testes não invasivos
têm grande papel na avaliação destes pacientes. Naqueles
em que as alterações eletrocardiográficas são inconclusivas,
em que os marcadores de necrose são negativos e em que
os sintomas não recorrem, o uso destes testes pode definir
a conduta. Mais importante do que a discussão sobre qual
teste utilizar, se TE, ecocardiograma em repouso e/ou com
estresse ou cintilografia, é saber qual deles está disponível
no serviço em que se atua. A expertise da equipe, nestes
casos, também tem grande relevância. Todavia, infelizmente,
na maioria das unidades de emergência nenhum dos testes
indicados estão disponíveis para estes pacientes. Por isso, é
muito importante que os pacientes com indicação de realizá-los
sejam devidamente orientados a retornar ao pronto-socorro na
recorrência de qualquer sintoma suspeito. Da mesma forma,
caso permaneça assintomático, a reavaliação precoce e a
realização dos testes provocativos, ainda que num ambiente
ambulatorial, é altamente recomendada.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho.
83
Dor toracica aguda
<10 min
Eletrocardiograma
Presença de alterações isquêmicas agudas,
ST supra ou BRE novo
Tratamento
Não diagnóstico
Normal
Troponina de alta sensibilidade (hs-Tn)
Dor < 6h
Alterada
Elevação > 5x normal,
sintomas de SCA
Dor > 6h
Troponina de alta sensibilidade (hs-Tn): reanálise após 3horas
hs-Tn normal, sem alterações
Sem dor, escore Grace<140,
diagnósticos diferenciais excluídos
Elevação de HS-Tn (Δ varia com o
ensaio utilizado)
Hs-Tn sem alterações
Alta; testes não invasivos,
angiotomografia das coronárias
Estratégia invasiva, cinecoronariografia
Diagnósticos diferenciais
Figura 2. Modelo de atendimento sistematizado do paciente com dor torácica em unidades de pronto-atendimento/pronto-socorro.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):78-85
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85
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):78-85
revisão/review
IMPORTÂNCIA DA TELEMEDICINA E DA
TROMBÓLISE PRÉ-HOSPITALAR
THE IMPORTANCE OF TELEMEDICINE AND OF PRE-HOSPITAL THROMBOLYSIS
RESUMO
Silvio Reggi1
Antonio Carlos Carvalho1
1. Disciplina de Cardiologia da
Universidade Federal de São PauloUNIFESP, São Paulo, Brasil.
Correspondência:
Rua Napoleão de Barros, 715.
São Paulo, SP
[email protected]
86
O infarto agudo do miocárdio com supradesnível de ST é uma das emergências
cardiológicas mais exigentes para o sistema de saúde de qualquer país; em lugares
subdesenvolvidos as dificuldades são evidentemente maiores.
A necessidade de o paciente chamar socorro rápido (atendimento pré-hospitalar)
ou procurar atendimento, usualmente em hospitais gerais, e ser identificado pela clínica
e ECG, ocasiona grande perda de tempo e demora na reperfusão miocárdica. Se a
estrutura de atendimento não está organizada para definir trombólise ou angioplastia
imediata (e há necessidade de transferência), uma ou outra necessitando ser utilizada
o mais precocemente possível, ocorrem atrasos adicionais e o paciente é grandemente
prejudicado, não só com aumento do número de óbitos, mas também com grande
comprometimento de VE.
A trombólise pré-hospitalar e um sistema de tele-ECG (no Brasil, a maioria dos atendimentos de urgência em casa ou nos prontos-socorros gerais são feitos por não cardiologistas, com dificuldades na interpretação do ECG) são elementos importantes que
ajudam de forma indiscutível a melhorar resultados no infarto com supradesnível, desde que
inseridos em uma rede de atendimento de infarto em que todos têm função bem definida,
da rapidez em reconhecer a clínica, fazer e interpretar o ECG, definir a forma de reperfusão
e se há ou não necessidade e condições de transporte imediato. Quando utilizados de
forma organizada e sistemática, portanto, ambos contribuem para melhorar o resultado de
qualquer sistema de atendimento do infarto agudo do miocárdio com supradesnível de ST.
Descritores: Infarto do Miocárdio; Reperfusão Miocárdica; Atendimento de Emergência
Pré-Hospitalar.
ABSTRACT
Myocardial infarction with ST segment elevation is one of the most demanding
cardiological emergencies for the health system of any country; in underdeveloped
countries, the difficulties are clearly even greater.
The need for the patient to summon rapid first aid (pre-hospital care) or seek care,
usually in general hospitals, and to be identified by the clinic and ECG, results in a significant loss of time and delay in myocardial reperfusion. If the emergency care structure
is not organized to define thrombolysis or angioplasty immediately (and there is a need
for transfer), with one or the other needing to be performed as early as possible, this can
lead to additional delays, and the patient is placed at greater risk, not only due to the
increase in the number of deaths, but also due to significant impairment of LV.
Pre-hospital thrombolysis and a tele-ECG system (in Brazil, most emergency care at
home or in first aid departments is done by non-cardiologists, who have difficulty interpreting the ECG) are important procedures, which undeniably help to improve the results
in cases of acute MI with ST segment elevation, provided they are included as part of an
emergency care network for myocardial infarction in which everybody has a clearly-defined
role, with rapid clinical recognition, performing and interpreting the ECG, defining the form
of reperfusion, and whether or not the patient requires, or is in a fit condition for immediate
transport. Therefore, when used in a systematic and organized way, both procedures can
improve the outcomes of any emergency care system for patients with acute myocardial
infarction with ST segment elevation.
Descriptors: Myocardial Infarction; Myocardial Reperfusion; Emergency Medical Services.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):86-92
IMPORTÂNCIA DA TELEMEDICINA E DA TROMBÓLISE PRÉ-HOSPITALAR
O INÍCIO DE UMA NOVA ERA:
O TRATAMENTO PRÉ-HOSPITALAR E A
REDUÇÃO NA MORTALIDADE
A importância do tratamento precoce do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST está
documentada desde 1993, quando Weaver mostrou, em
360 pacientes estudados em 19 centros, o efeito positivo
da trombólise pré-hospitalar.1 Quando medicados com alteplase dentro dos primeiros 70 minutos após o início dos
sintomas, a mortalidade dos tratados pré-hospitalar, quando
comparados aos tratados no hospital, sofreu uma queda
relativa de quase 86% (8,7% versus 1,2%, p=0,04) e a fração
de ejeção permaneceu em patamares significativamente
maiores (53% versus 49%, p=0,03).1 Se considerados todos
os pacientes tratados (em até 6 horas), não houve diferença em nenhum dos desfechos, demonstrando o peso da
precocidade do tratamento no prognóstico dos pacientes.
Em 2003 novos dados sobre o tema foram publicados,
agora referentes ao CAPTIM Trial.2 Nesta análise randomizada, pacientes que receberam trombólise pré-hospitalar
(seguida de angioplastia, se necessária) foram comparados
aos submetidos à angioplastia primária. Os pacientes trombolisados com menos de 2 horas após o início dos sintomas
tiveram mortalidade (em 30 dias) significativamente menor
que aqueles submetidos à angioplastia primária (2,2% versus
5,7%, P=0,058), efeito que não ocorreu com os trombolisados com mais de 2 horas (5,9% versus 3,7%, p=0,47).2 Da
mesma forma, a incidência de choque cardiogênico foi menor
nos pacientes com tratamento precoce (1,3 versus 5,3%,
p=0,032) e semelhante nos paciente com tratamento tardio,
quando comparamos os trombolisados com os pacientes
submetidos a angioplastia primária.2
DEFINIÇÃO DE INFARTO “ABORTADO” E
SEUS PREDITORES
No fim da década de 90, Lamfers e Verheught iniciaram
na Holanda um protocolo de trombólise pré-hospitalar em
que trabalharam intimamente com os sistemas de atendimento de emergências médicas (ambulâncias e hospitais).3
Foi possível na ocasião reduzir em 63 minutos o início do
tratamento, sendo que 28% receberam a terapia com menos
de uma hora de dor3. Este mesmo grupo de pesquisadores
avaliou o número de infartos “abortados” no grupo com lise
pré-hospitalar versus tratamento padrão (hospitalar).4 Para
inclusão, foi usado um sistema de telemedicina que transmitia as informações eletrocardiográficas para uma unidade
hospitalar próxima, onde o diagnóstico de síndrome coronariana aguda (SCA) com ST supra era confirmado. Foram
considerados para a análise os pacientes com sintomas entre
30 minutos e 6 horas. Ficaram estabelecidos como infarto
“abortado” os casos em que: (1) os achados do ECG e os
sintomas clínicos fossem compatíveis com o diagnóstico de
SCA com ST supra; (2) a elevação da CK total ou da fração
MB não superasse duas vezes o limite do normal; e (3) a
elevação do segmento ST fosse reduzida em pelo menos
50% após 2 horas de tratamento. Os resultados mostraram
uma grande superioridade nos resultados em favor do grupo
pré-hospitalar (13% versus 4%, p<0,05), mostrando maior
efetividade desta em conseguir infartos “abortados”, apesar
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):86-92
das porcentagens absolutas não serem grandes4 pelo “n”
estudado. Neste estudo também foi possível constatar uma
significante redução no tempo de tratamento (85 minutos
para o pré-hospitalar versus 165 minutos para o hospitalar,
p<0,05), o que representa uma queda de quase 50%4 no
início do tratamento.
Para o esclarecimento dos preditores de infarto “abortado”, os autores avaliaram, numa terceira publicação,5 os
dados de pacientes de ambos os grupos, tratamento pré
e intra-hospitalar que tiveram infarto “abortado” conforme
os critérios definidos acima. Dos pacientes avaliados, total
de 744, 17,1% do grupo pré-hospitalar tiveram seu infarto
interrompido, número bem diferente dos 4,5% do grupo
controle.5 Entre as características analisadas, revelaram-se
como preditores os seguintes itens: (1) tratamento precoce;
(2) menor elevação do ST no momento do diagnóstico; e
(3) presença de angina. O entendimento é relativamente
simples, já que o tratamento precoce determina uma menor área de isquemia e necrose, com menor elevação do
ST pela área menor de miocárdio sob risco e a presença
de angina leva ao acionamento do serviço de emergência
mais precocemente. Vale destacar que os pacientes que
tiveram o infarto interrompido precocemente apresentaram
mortalidade (em 12 meses) quase seis vezes menor que o
grupo controle (2,2% versus 11,6%).5
O ESTUDO STREAM6 E DADOS MAIS
RECENTES
A estratégia fármaco-invasiva (EFI) de tratamento das
SCA com ST supra (uso de lítico seguido de cateterismo sistemático após 6-24 horas e PCI imediata quando necessário)
teve seu benefício mostrado pela primeira vez no CAPTIM
Trial.2 Porém, uma análise direta, randomizada e prospectiva
frente à angioplastia primária, avaliando a interrupção precoce
do infarto (ou infarto “abortado”), assim como a mortalidade,
choque cardiogênico, insuficiência cardíaca e reinfarto (em
até 30 dias) não havia até então acontecido.
O estudo STREAM (STrategic Reperfusion Early After
Myocardial Infarction)6 foi primeiro que se propôs a avaliar
tais resultados. Pacientes com sintomas que se iniciaram
há menos de 3 horas e que não poderiam ser submetidos
à angioplastia primária em menos de uma hora foram selecionados para o estudo.
Os 1892 pacientes do STREAM foram randomizados para
duas terapias: (1) angioplastia primária ou (2) tenecteplase
e transporte imediato para um hospital em que um serviço
de hemodinâmica estivesse disponível. Nos casos em que a
terapia fibrinolítica não alcançava os critérios de sucesso de
reperfusão, os pacientes eram submetidos a angioplastia de
resgate. Nos demais, o estudo hemodinâmico foi realizado
de forma sistemática entre 6 e 24 horas após a randomização. Ácido acetilsalicílico, clopidogrel e enoxaparina foram
utilizados igualmente nos dois grupos.
O desfecho primário ocorreu em 12,4% dos pacientes do
grupo fibrinólise e em 14,3% no grupo angioplastia primária
(RR=0,86; IC 95%; 0,68-1,09; p=0,21). A angioplastia de
resgate foi necessária em 36,3% dos pacientes randomizados para o tratamento pré-hospitalar, tendo o restante sido
submetido a cinecoronariografia, em média, 17 horas após
a randomização. Como complicação da EFI se destacou a
87
hemorragia intracraniana, que pela alta incidência inicial levou
ao ajuste da dose de tenecteplase em pacientes acima de
75 anos para metade da dose inicial (calculada pela relação
de mg de TNK/kg de peso); após esta correção, a incidência
foi discretamente diferente entre os dois grupos, porém sem
significância estatística (0,5% para o grupo fibrinólise versus
0,3% para o grupo angioplastia, p=0,47). (Tabela 1)
No que tange a interrupção precoce do infarto, uma segunda publicação do mesmo grupo7 mostrou que a EFI foi capaz
de promover uma maior interrupção do IAM (n=99; 11,1%)
que o grupo angioplastia primária (n=59; 6,9%; p<0,01),
confirmando os trabalhos iniciais de Lamfers e Verheught.
Numa análise multivariada foi notado que os preditores para
infarto “abortado” no STREAM foram os seguintes: (1) menor
elevação do ST supra; (2) menor quantidade de ondas Q
no eletrocardiograma; e (3) menor tempo de isquemia total.
Como se não bastasse, outras análises, agora com
ressonância nuclear magnética, também mostraram que
infartos interrompidos precocemente, por fibrinólise ou por
angioplastia primária, também estavam associados com
menor taxa de eventos futuros8 e menor taxa de no reflow.9
Tabela 1. Desfechos clínicos, achados angiográficos e procedimentos realizados dentro dos 30 primeiros dias no estudo STREAM.6
Variável
88
Desfecho
composto: morte,
choque, IC e
reinfarto.
Morte por qualquer
causa
Choque
cardiogênico
Insuficiência
cardíaca (IC)
Reinfarto
Fibrinólise
(N=944)
116/939
(12,4%)
43/939
(4,6%)
41/939
(4,4%)
57/939
(6,1%)
23/938
(2,5%)
Angioplastia
primária
(N=948)
Valor
de p
135/943(14,3%)
0,21
42/946 (4,4%)
0,88
56/944 (5,9%)
0,13
72/943 (7,6%)
0,18
21/944 (2,2%)
0,74
Rehospitalização
45/939
41/943 (4,3%)
por causas
(4,8%)
cardíacas
Angioplastia de
331/911
NA
resgate
(36,3%)
Necessidade
de cirurgia de
44/943 (4,7)
20/947 (2,1)
revascularização
Angioplastia com 704/736
838/933 (95,6%)
(95,7%)
stent
0,64
NA
A necessidade de um sistema de atendimento pré-hospitalar se sustenta na medida em já se foi demonstrado que,
com ele, a oferta do tratamento se torna mais precoce.1,3 Nesta primeira intervenção, geralmente feita por um generalista
que atua num sistema de atendimento médico de urgência
(SAMU), é possível que o diagnóstico seja reconhecido pela
história clínica e pelo eletrocardiograma e, nos casos adequados, o fibrinolítico seja administrado. (Figura 1)
Na Figura 1 estão demonstrados os tempos de atendimento nos casos de SCA com ST supra conforme proposta do
último Guidelines da European Society of Cardiology11 de 2012:
• Tempo para acionamento do serviço médico: é o
tempo entre o início dos sintomas e o primeiro atendimento
médico. Trata-se de um tempo em que o paciente e seus
familiares têm fundamental relevância, uma vez que se faz
necessária a pronta percepção da condição apresentada.
Pacientes com história de doenças cardiovasculares ou de
alto risco para eventos coronarianos deveriam, em especial,
receber treinamento adequado para reconhecer possíveis
sintomas e acionar o sistema médico local. Na Europa
especialmente o chamado para as unidades tipo SAMU
é intenso e frequente, apenas uma minoria de pacientes
chega ao PS ou hospital por conta própria.
• Tempo entre o primeiro atendimento médico e o
diagnóstico: o tempo ideal é que o diagnóstico seja feito em
até 10 minutos. É necessário que neste período seja obtida
uma história clínica direcionada assim como seja realizado o
primeiro eletrocardiograma. É muito comum que se perca um
tempo precioso neste período. As emergências hospitalares
não estão, na maioria das vezes, preparadas para acolher, de
modo adequado, o paciente com possível SCA. Para que este
tempo seja otimizado toda a equipe de atendimento médico
de emergência, não só o médico, deve estar treinada e apta.
Nos casos de atendimento pré-hospitalar, o qual geralmente é
feito por um generalista, a interpretação do eletrocardiograma
pode ser feita através de telemedicina, numa central distante
do ponto de atendimento, se necessário.
• Tempo entre o primeiro atendimento médico e a reperfusão: este é o tempo que o “sistema” leva para iniciar o
tratamento do paciente. Ele é um preditor de qualidade de
atendimento, assim como de desfechos.12,13 Em sistemas
(atendimento pré-hospitalar e hospitais) em que a angioplastia
primária é a conduta de escolha, este tempo não deveria
superar os 90 minutos. Nos casos de infarto de grande ex-
0,002
Sintomas
Atendimento Diagnóstico
Reperfusão
0,95
A LOGÍSTICA DO ATENDIMENTO
PRÉ-HOSPITALAR
A rapidez no tratamento das síndromes coronarianas
agudas, em especial nas com ST supra, é fundamental para o
restabelecimento da perfusão e diminuição dos desfechos.10
Quanto maior o tempo de exposição à isquemia, menor a
probabilidade de interrupção precoce do infarto e maior a
taxa de complicações, entre elas a insuficiência cardíaca, o
choque cardiogênico e a morte.
<=10 min.
Tempo para
atendimento
Tempo para início do tratamento
Tempo para terapia de reperfusão
Figura 1. Tempos de atendimento nos casos de SCA com ST.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):86-92
IMPORTÂNCIA DA TELEMEDICINA E DA TROMBÓLISE PRÉ-HOSPITALAR
Sistematização de Chamadas e Local de
Transferência
Para que um sistema médico de atendimento emergencial
e pré-hospitalar, funcione adequadamente é preciso que se
tenha um número de telefone amplamente divulgado e de
fácil memorização e acesso. O profissional de saúde da
ponta necessita fazer apenas um chamado, rápido, efetivo,
para resolver seu problema e não perder tempo falando com
pessoas e locais diferentes. O telefone do IAM necessita ficar
na UCO ou na Hemodinâmica com um profissional capaz
de discutir necessidade e tipo de reperfusão daquele caso,
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):86-92
disponibilidade de vaga imediata e encaminhamento imediato
para o laboratório de hemodinâmica ou não. Se necessário
pode receber o ECG via celular para discutir se é ou não
um caso de ST supra. Contudo, é comum em nosso meio
que as unidades de atendimento não se sintam capazes de
iniciar a terapia de reperfusão fibrinolítica, reflexo da falta
de treinamento adequado e, possivelmente, de um sistema
sólido de telemedicina que possa prover ajuda na interpretação do cenário clínico e dos achados do eletrocardiograma.
Se funcionasse adequadamente, as ambulâncias deixariam
de ser apenas um sistema rápido de transporte e se transformariam em mais um local de diagnóstico e tratamento.
Como falado anteriormente, o diagnóstico precoce feito por
um sistema de atendimento pré-hospitalar, está associado a melhores tempos de atendimento, a reperfusão mais
precoce, evita trombólise inadequada e propicia melhores
desfechos clínicos.12,19-22 Um dos pontos mais críticos no
atendimento pré-hospitalar das SCA está na interpretação
do eletrocardiograma. Na figura 3 vemos o organograma de
atendimento proposto pela European Society of Cardiology.11
Hoje com a facilidade de transmitir dados via skype, whats
Atraso (min) para a realização da angioplastia primária
tensão, ou naqueles em que os sintomas se iniciaram há
menos de duas horas, o recomendado é um máximo de 60
minutos.2,13 Contudo, hospitais capazes de realizar angioplastia primária deveriam perseguir o tempo máximo porta-balão
de 60 minutos para todos os casos. Por último, ainda que
os tempos adequados sejam atingidos, é preciso que se
mantenha vigilância e treinamento constantes para que a
qualidade não se perca com o passar do tempo.
• Tempo entre a reperfusão e a transferência do paciente para um centro PCI, caso o local da reperfusão não
tenha hemodinâmica. Este é um dos pontos onde existe
maior divergência entre as Diretrizes Europeia-Brasileira
versus a do ACC/AHA. A do ACC/AHA,14 de 2013, recomenda transferência imediata apenas para os casos sem
reperfusão ou com reoclusão (como IIa B). A Europeia,11 de
2012, recomenda transferência imediata após fibrinólise,
com ou sem sucesso, para um centro PCI como recomendação I A, realizando-se o cat como resgate ou em ate
24 horas dependendo da condição do paciente. A Diretriz
Brasileira15 de 2015, recomenda transferência sistemática
para centro PCI após uso de fibrinolítico, mencionando uso
de resgate ou não segundo as condições do paciente,
mas sem colocar tempo específico ou nível de recomendação neste item. Ainda na Diretriz Brasileira mais recente
a indicação de trombólise pré-hospitalar é I B, a indicação
de fibrinolíticos se o tempo primeiro contato médico-balão
for maior que 120’ também é I B e a indicação de estratégia
fármaco invasiva é IIa B.
O problema com angioplastia de resgate é que pela
maior instabilidade do paciente você obtém resultados significativamente piores do tratamento. Gershlick16 e colaboradores demonstrou no material do STREAM, e confirmando
dados prévios, que após mais de 60’ de atraso para PCI, e
especialmente após 90’, os casos com estratégia fármaco-invasiva têm resultados melhores (Figura 2) que os de intervenção percutânea no objetivo composto analisado. Welsh17
mostrou resultados piores quando comparando tratamento
em sistemas de emergência da periferia contra tratamento
pré-hospitalar via ambulâncias pela maior demora no sistema
periférico (178 x 137’) com maior número de resgates e maior
número de eventos (odds ratio 2.3). Já quando os tempos
de tratamento eram semelhantes não havia diferença nos
resultados dos centros periféricos contra o tratamento feito
nas ambulâncias. Almeida Souza18 e colaboradores, em
nosso meio, mostraram como os resultados de resgate em
mulheres, muito dependentes de demora na transferência de
ambulância após fibrinólise sem sucesso, onera a mortalidade
em 4 a 5 vezes o resultado obtido eletivamente.
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
140
89
0,0
2,0
1,0
EFI melhor
3,0
PCI melhor
Figura 2. Estratégica fármaco-invasiva (EFI) versus angioplástica
primária (PCI).
Atendimento pré-hospitalar
ou hopital sem angioplastia
Hospital com
angioplastia primária
Menos de 60 min
Menos de 90 min
(60 para sintomas <2h)
Angioplastia primária
Angioplastia possível em
menos de 120 minutos?
Sim
Menos de
30 min
Angioplastia de resgate
Imediatamente
Não
Sim
Melhor
entre 3 e 24 h
Cinecoronariografia
Não
Fibrinólise com
sucesso?
Fibrinólise
Transferência para hospital
com hermodinâmica
Figura 3. Diagnóstico e conduta em IAM com supra segundo a
Diretriz Europeia de 2012.
app, facebook etc um ECG pode facilmente ser enviado
para o médico da unidade de referência e o caso ter no
mínimo uma segunda opinião. A definição clara do centro
PCI que receberá o caso é fundamental para que o sistema
de transporte não perca tempo procurando um local para
transferência. O ideal é sempre haver vaga para um infarto
com supra e a hemodinâmica funcionar 24/7.
REDE DE TRATAMENTO DE SCA COM ST
SUPRA
90
Um ótimo sistema para tratamento de SCA com ST supra
deveria contar com a implementação de diversas tecnologias
disponíveis, conectando o atendimento pré-hospitalar às
unidades hospitalares, sempre com o objetivo de otimizar
o tempo de tratamento e garantir a reperfusão e sempre
atendendo as necessidades específicas locais. As principais
características de uma rede de atendimento bem formada
são os seguintes:
a) definição clara das áreas de responsabilidade (no
caso de atendimento pré-hospitalar) e dos hospitais subordinados (sem unidade de hemodinâmica) com definições
das condutas específicas e sistemáticas para cada local.
b) amplo treinamento da equipe, através de protocolos,
e com clara definição da responsabilidade de cada membro
durante o atendimento.
c) adequado sistema, preferencialmente exclusivo e único, de atendimento de chamadas de emergência, com ampla
divulgação, fácil memorização e sem espera. O médico da
“ponta” faz apenas uma chamada telefônica para discutir e
transferir o caso.
d) comunicação aberta com a equipe de hemodinâmica
do hospital de referência para que, nos casos de angioplastia primária, o paciente seja admitido imediatamente no
laboratório e não permaneça desnecessariamente na sala
de emergência.
Para otimizar o sistema de atendimento e a sua qualidade,
os hospitais habilitados para angioplastia primária deveriam realizá-la sete dias por semana, durante as 24 hora do
dia. Eventualmente, quando isso não for possível de forma
permanente, um rodízio entre os hospitais de determinada
região pode ser empregado, sempre com a ressalva de que
tais escalas precisam ser claras e bem divulgadas. Isto tem
o objetivo principal de não gerar confusões com o sistema
de atendimento pré-hospitalar, o que pode, eventualmente,
retardar o tempo de atendimento. Na impossibilidade de
angioplastia primária em um tempo inferior a 90 ou 120’ após
o primeiro contato médico a opção de fibrinolítico seguida
de transferência e cateterismo cardíaco em até 24 horas
deve ser oferecida.
REDE SÃO PAULO DE TRATAMENTO DE
IAM COM SUPRA
Após início do serviço de TeleECG da Unifesp em 2008
com 64 AMAS sob seus cuidados ficou evidente a necessidade
de estruturação de um serviço tipo rede que sistematizasse o
reconhecimento e tratamento rápido do IAM com supra, pois
o simples diagnóstico do IAM pelo ECG não tirava o paciente
de um local com recursos mínimos, sem condições de medicar adequadamente e tratar complicações desta doença.
Durante o ano de 2009 um protocolo foi desenvolvido entre
a Unifesp, Prefeitura Municipal de São Paulo e na ocasião o
SAMU, protocolo que praticamente não foi modificado até hoje
(Figura 4) e que tem proporcionado excelentes resultados. Foi
feito treinamento e capacitação das unidades participantes,
com participação da Socesp,23 e o projeto evoluiu das 4 unidades iniciais para 11 participantes nos dias de hoje, sendo
atendidos de janeiro 2010 a dezembro de 2015, 1705 casos
diagnosticados e tratados inicialmente como IAM com supra
(comunicação pessoal, material a ser apresentado no Congresso SOCESP de 2016). Vale ressaltar que estes casos foram
tratados e transferidos para o hospital referência PCI (Hospital
São Paulo) a partir das unidades de emergência envolvidas e
não após internação hospitalar em unidades coronarianas, o
que abrevia em muito o tempo total de tratamento. O importante é que a rede estruturada atenda as necessidades locais e
que ofereça as duas opções de reperfusão de acordo com as
necessidades individuais das unidades envolvidas no sistema
e que realize transferências de forma organizada e sistemática
para um centro PCI que funcione 24/7.
No que diz respeito a transferência pós-fibrinólise, nosso
grupo tem recomendado o que a Diretriz Europeia propõe
(transferência imediata e sistemática) por quatro razões principais: nossos postos periféricos tem menos recursos e pessoal
menos capacitado que nos países desenvolvidos, há uma taxa
de não reperfusão após TNK de 30% que necessita resgate
imediato, há uma taxa de 10% em nosso material de reoclusão
após reperfusão inicial que também necessita resgate a curto
prazo e finalmente nosso número de ambulâncias no setor
público é insuficiente, levando em média de 5 a 8 horas para
uma transferência, o que por si só inviabiliza bom resultado de
angioplastia primária ou complica o atendimento de resgates.
Na rede de infarto de SP após os primeiros 1000 pacientes
tratados, chegou-se a um NNT para óbito de 11,2, ou seja, a
cada 100 pacientes tratados evita-se 11 óbitos em relação ao
tratamento usual de infarto com supra existente na cidade.24
Contudo, é preciso ficar claro que não existe um único modelo
de rede de atendimento e que modelos que deram certo em
determinados locais podem não ser aplicáveis em outros. Por
outro lado esses números, apesar de excelentes, poderiam
ser ainda melhores caso houvesse transporte imediato para
os casos de falência do uso do trombolítico, situação que
acaba geralmente em choque cardiogênico com suas ine-
Atendimento domiciliar
(SAMU)
Menor
que 90’
Maior
que 90’
Hospital terciário, com
serviço de hemodinamica
Trombose:
tenecteplase
Angioplastia
promária
Hospital sem serviço de
hemodinâmica
Sucesso: CATE
em 3-24 h
Sem sucesso:
CATE imediato
Menor
que 90’
Maior
que 90’
Trombose:
Tenecteplase
Angioplastia
promária
Figura 4. Fluxograma de reperfusão na rede primaria paulistana
de infarto com ST supra.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):86-92
IMPORTÂNCIA DA TELEMEDICINA E DA TROMBÓLISE PRÉ-HOSPITALAR
vitáveis complicações e elevada mortalidade. Nos casos de
atendimento de SCA, notamos que as maiores dificuldades
de atendimento se concentram na interpretação do eletrocardiograma e na decisão de iniciar a terapia fibrinolítica. Assim,
o suporte a distância, por especialistas, poderá ajudar nos
dois grandes gargalos vistos hoje e que tem determinado um
atraso substancial no início do tratamento.
Redes de atendimento bem estruturadas reduzem o tempo de atendimento e aumentam as taxas de reperfusão19-25
e em países em desenvolvimento, diferentemente de países
desenvolvidos, podem diminuir a mortalidade.26 Num sistema
montado na Carolina do Norte, englobando todo o estado,25
foi notada uma diminuição no número de pacientes que não
receberam reperfusão (de 5,4% para 4,0%, p=0,04). Os
pacientes também foram submetidos mais rapidamente ao
estudo hemodinâmico, com queda significativa nos tempos
tanto nos hospitais com serviço de hemodinâmica, quanto
naqueles que providenciaram a transferência do paciente.
TELEMEDICINA
Um sistema de telemedicina tem como objetivos principais auxiliar no diagnóstico, na interpretação de exames e na
decisão terapêutica. Nem sempre, no local do atendimento,
há a possibilidade de se oferecer profissional treinado e com
expertise para a tomada de decisões difíceis, muitas vezes
num cenário em que a vida está sob risco.
Com a disseminação dos sistemas de atendimentos de
emergência pré-hospitalar, o que garantiu atendimento mais
rápido a um grande número de pessoas, foi necessário à
ampliação das unidades que não contam com médicos,
o que tornou o serviço apenas um sistema de triagem e
transporte rápidos. Por outro lado, nas unidades em que o
médico está presente, quase nunca contamos com um especialista, uma vez que tal serviço não está, nem deve estar,
estruturado para o atendimento de um grupo específico de
doenças. Diante deste cenário passa a ser fundamental que
estas equipes de atendimento na “ponta” tenham acesso a
equipes especializadas, fundamentalmente para auxiliá-las
em todas as etapas do atendimento.
Apesar da telemedicina poder abranger toda uma tecnologia muito ampla já existente, nem sempre ela é necessária
em sua totalidade. Nos casos cardiológicos, por exemplo,
um adequado sistema de transmissão de imagens de baixa
resolução e um canal telefônico para a comunicação entre as
partes já cumpre grande parte da necessidade atual. Hoje,
a transmissão das imagens pode ser realizada através de
aplicativos de celular, tablets ou ainda por sinais telefônicos
que são interpretados e traduzidos nos centros de análise.
A rápida interpretação deste traçado, por um especialista,
e o contato telefônico que se estabelece a seguir, são suficientes para que o diagnóstico seja corretamente feito, o
caso discutido e a terapia adequada instituída. Portanto,
diante da inviabilidade de ser ter um especialista dentro de
cada ambulância, é fundamental que os serviços de telemedicina sejam adequadamente estruturados e fomentados,
para que desta forma tenhamos pacientes com diagnóstico
mais precoce e melhor tratados, basicamente aumentando
a taxa de reperfusão nos casos de IAMCSST. Os serviços de
atendimento de tele ECG27,28 hoje já estão disseminados em
vários locais do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador,
Belo Horizonte, Porto Alegre etc) e de modo geral atendem
nichos específicos das áreas mencionadas. A expansão
destes serviços, entretanto, poderia ser maior e com certeza
poderiam ajudar a propiciar maior taxa de reperfusão no
infarto com supra. A recente Diretriz de Telecardiologia29 da
Sociedade Brasileira de Cardiologia enfatiza estes aspectos
e é um grande apontador de normas e direções que esta
área deve seguir nos próximos anos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde os primeiro dados publicados no início da década
de 90, e desde então cada vez mais robustos, notamos que
o atendimento médico pré-hospitalar leva a diminuição dos
tempos de tratamento, maior taxa de reperfusão (angioplastia
primária ou fibrinólise) e menor taxa de desfechos clínicos.
O maior estudo randomizado que consolidou tais achados
foi o STREAM Trial, publicado em 2013, em que pacientes
trombolisados antes do atendimento hospitalar tiveram desfechos semelhantes aos submetidos a angioplastia primária.6
Além disso, mostrou que nos submetidos à terapia fármaco-invasiva (com sucesso, 70% deles) é possível que se aguarde
até 24 horas para a realização do estudo hemodinâmico. Tais
achados apoiam fortemente a necessidade do estabelecimento de uma rede bem estruturada de atendimento e que
atenda as necessidades locais. O atendimento pré-hospitalar,
os hospitais-referência com serviço de hemodinâmica (que
idealmente devem ser próximos) e a telemedicina são elos
fundamentais para que toda a rede de atendimento funcione
adequadamente, garantindo o atendimento de qualidade
buscado por todos em todos os lugares.
Diante disso, faz-se necessário que se estabeleça uma
ampla discussão que inclua pacientes e seus representantes
(ONG’s por exemplo), sociedades médicas e os diversos
níveis de governos para que possamos implementar e estruturar o serviço em todas as regiões do país, sempre com
o objetivo único que une a todos: promover saúde e atendimento de qualidade.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho.
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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):86-92
revisão/review
ANÁLISE CRÍTICA DA REPERFUSÃO PRECOCE NO
INFARTO AGUDO COM SUPRADESNÍVEL DE ST:
TROMBÓLISE QUÍMICA E INTERVENÇÃO
PERCUTÂNEA PRIMÁRIA
ANALYSIS OF EARLY PERFUSION IN MYOCARDIAL INFARCTION WITH ST ELEVATION:
CHEMICAL THROMBOLYSIS AND PRIMARY PERCUTANEOUS INTERVENTION
RESUMO
Luiz Antonio Machado
César¹
Miguel Antonio Moretti¹
1. Instituto do Coração(InCor) do
Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da USP, São Paulo, SP
Correspondência:
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44.
Cerqueira Cesar, São Paulo, SP.
CEP 05403-000.
[email protected]
O tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST
está consolidado no trinômio trombólise química-angioplastia primária-angioplastia de
resgate. Dependendo do local de atendimento e da conduta local, essas estratégias
funcionam e levam a reduções enormes de mortes e dano no miocárdio. É fundamental
que o sistema de saúde se organize para estabelecer a melhor estratégia local para que
se obtenha esse enorme benefício de abrir a artéria responsável pelo infarto ocluído, no
menor espaço de tempo.
Descritores: Infarto agudo do miocárdio; Doença coronária; Aterosclerose
ABSTRACT
The treatment of acute myocardial infarction with ST elevation is consolidated in the trinomial chemical thrombolysis – primary angioplasty – rescue angioplasty. Depending on where
the procedure is carried out, and the local conduct, these strategies are effective, and enable
enormous reductions in mortality and myocardial damage. It is essential for the health system
to organize itself, to establish the best local strategy to obtain this enormous benefit of opening
the artery responsible for the occluded infarct related artery, in as short a time as possible.
Keywords: Myocardial Infarction; Coronary Diseasne; Atherosclerosis
INTRODUÇÃO
Dentro do arsenal terapêutico para o tratamento do infarto
agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCST) ao eletrocardiograma (ECG), a Intervenção
coronária percutânea (ICP) primária é a estratégia de reperfusão mais importante. Porém, a sua realização dentro dos
prazos definidos nas evidências dos estudos é um grande
desafio. Por isso, apesar de muitos acharem que os fibrinolíticos não têm lugar na era da ICP primária, outros acreditam
que os fibrinolíticos são necessários porque a ICP primária não
esta disponível para todos os pacientes com IAMCST dentro
dos prazos necessárias para uma eficácia plena. O atraso na
terapia de reperfusão tem importante impacto no prognóstico
do paciente. Dessa forma na ausência da ICP ou na presença
de um retardo prolongado para a realização da intervenção,
o uso do fibrinolítico pode ser a melhor opção terapêutica.
O atraso para a aplicação da terapia de reperfusão pode
ocorrer em qualquer um dos períodos que vão desde o início
dos sintomas até a recanalização da artéria, como mostra
a Figura 1 que é do SAVICO (Suporte Avançado de Vida na
Doença Coronária). Esses períodos são: do início dos sintomas
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):93-8
até o pedido de ajuda; do início dos sintomas até o primeiro
contato com o médico e do inicio dos sintomas até a trombólise
química ou até a insuflação do balão na ICP. Nesses tempos
estão embutidos os tempos da entrada na emergência até
o início da infusão do fibrinolítico (tempo porta-agulha) e o
tempo da entrada na emergência até a abertura da artéria
com o balão (tempo porta-balão). Mesmo com as condições
ideais para um rápido diagnóstico inicial, longos atrasos podem ocorrer, por exemplo, nas transferências entre serviços
e/ou hospitais. E estes atrasos são prejudiciais aos pacientes.
Linha do tempo, entre o início dos sintomas e a realização da
ICP. Com destaque para os períodos mais suscetíveis aos
atrasos. Os atrasos podem ser relacionados aos pacientes e/
ou ao sistema de saúde. O atraso relacionado com o paciente
pode variar substancialmente.1
A chave para a reperfusão no IAMCST é realizar a terapia
o mais rápido possível para todos os doentes que possuem
essa indicação. Já a escolha da estratégia depende do tempo
do início do infarto e de muitos outros fatores, incluindo as
características do paciente, dos recursos locais, e da organização do sistema de saúde regional e nacional.
93
IAM com supra de ST
Primeiro contato médico
ICP não disponível no local
Transferência < 30min
Tempo PCM-balão
<120min
Sim
ICP disponível
Tempo PCM-balão
< 90 min
Cineangiocoronariografia
Não
Angloplastia de
resgate
Trombólise em 30
Estratégia
farmacoinvasiva 3-24h
Reperfusão com
sucesso
Reperfusão sem
sucesso
ICP x RM cirúrgica ou
tratamento clínico
Figura 1. Linha do tempo, entre o início dos sintomas e a realização da ICP. Com destaque para os períodos mais suscetíveis aos atrasos. Os
atrasos podem ser relacionados aos pacientes e/ou ao sistema de saúde. O atraso relacionado com o paciente pode variar substancialmente.1
A importância do tempo
Desde 1979, já se sabia que a reversibilidade da
isquemia e a redução da extensão da necrose no IAMCST
com a terapia de recanalização da artéria culpada são tempo
dependentes, quanto mais precoce melhor. Posteriormente,
outros estudos que utilizaram o fibrinolítico como terapia de
reperfusão reforçaram essa relação. Os achados do GISSI-13
mostraram pouca vantagem da utilização do fibrinolítico após
seis horas do início do infarto. Já os estudos EMERAS e LATE4
sugeriram que esta janela poderia ser entendida para até 12
horas. Com base nesses, outros estudos (incluindo os com
ICP primária) trouxeram o suporte necessário para que as
diretrizes sobre tratamento do IAMCST destacassem e adotassem um determinado padrão de tempo para a realização
da terapia de reperfusão.5
Não se pode esquecer, que apesar de hipótese da artéria
aberta ser melhor do que a da artéria fechada, e da questão
tempo também estar intimamente relacionada com o prognóstico evolutivo, essa relação tempo-artéria aberta não é
tão simples assim, pois existe também uma relação muito
grande entre o prognóstico e o fluxo da artéria coronária6
após a terapia de reperfusão, mostrando que quanto melhor
o fluxo melhor o prognóstico.
Assim o princípio básico para se obter o melhor resultado
da terapia do IAMCST é o de reestabelecer o melhor fluxo
possível no menor tempo possível. Como visto anteriormente, isso inclui também o tempo de chegada do paciente ao
serviço médico. Pois, quanto mais cedo o paciente chega
maior é o impacto do tempo para o início do tratamento de
reperfusão (Figura 2). Já que um importante determinante
da estratégia terapêutica ideal é o denominado tempo de
isquemia total, ou seja, a duração da isquemia antes e no
momento do primeiro contato médico.7
Olhando pelo aspecto de iniciar a reperfusão o mais pre2
94
coce possível, porque não antes mesmo do paciente chegar
ao hospital. Antes do estabelecimento da ICP primária, alguns
estudos já ressaltavam a importância da trombólise pré-hospitalar e seus ótimos resultados.9,10 Porém, antes dessa proposta
terapêutica se destacar como terapia padrão, os estudos já
mostravam a ICP primária como a melhor opção terapêutica.11
Uma crítica a essa metanálise foi fato do benefício postulado
pela ICP primária limitar-se aos pacientes que receberam a
fibrinólise no ambiente hospitalar. Além disso, quando os pacientes com choque cardiogênico foram omitidos da análise e
a comparação foi feita com apenas ativador do plasminogênio
tecidual, ao contrário de todas as drogas fibrinolíticas, tais
como uroquinase e estreptoquinase, a proporção de pacientes
com eventos adversos cardiovasculares maiores foi similar
ao da ICP primária. Apesar destas dúvidas, a ICP primária
tornou-se a opção preferida de reperfusão, demonstrando
importantes vantagens em relação à reperfusão química, como
o estabelecimento de fluxo TIMI 3 em 70-90% dos pacientes,
e redução substancial no risco de hemorragia intracraniana.
Sendo definitivamente melhor nos pacientes de alto risco, com
choque cardiogênico, insuficiência cardíaca congestiva grave
ou instabilidade hemodinâmica ou elétrica. Para isso a ICP
primária têm que ser realizada por uma equipe especializada
e em ambiente hospitalar, impactando diretamente na sua
disponibilidade para todos os pacientes com IAMCST.
A ICP e o Tempo
O registro nacional americano12 mostra a associação de
uma maior mortalidade intra-hospitalar com o atraso na realização da ICP primária (3% nos casos com tempo porta-balão
< 90 min. e 7,4% nos casos com > 150 min.). Já outros
estudos,13 mostram que apesar da significativa redução no
tempo porta-balão (113 min em 2003 para 76 min em 2008,
p < 0,001) e do maior número de pacientes revascularizados
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):93-8
ANÁLISE CRÍTICA DA REPERFUSÃO PRECOCE NO INFARTO AGUDO COM SUPRADESNÍVEL DE ST:
TROMBÓLISE QUÍMICA E INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA PRIMÁRIA
Tempo de Reperfusão e Benefício
Modificações na evolução com as
estratégias de tratamento
Redução da mortalidade %
100
Tempo dependente:
Salvamento miocárdio
D
80
A-B
Sem beneficio
A-CBenéfico
B-CBenéfico
D-BDeletério
D-CDeletério
Tempo independente:
Abrir artéria relacionada ao IAM
60
C
40
Extensão
miocardia
salvo
20
B
A
0
0
4
8
12
16
Tempo do início dos sintomas para terapia de reperfusão,H
20
24
Gersh B JAMA 293:980’05
Figura 2. A associação entre o tempo de tratamento, redução da mortalidade, e a extensão do salvamento do miocárdio. O maior
benefício obtido com terapia de reperfusão ocorre nas primeiras 2-3 horas após o início dos sintomas (ente pontos D e C). A duração
deste período de tempo crítico pode ser modificado por fatores como grau de colaterais para os vasos ocluídos, o consumo de oxigênio do miocárdio, tempo de isquemia total e pré-condicionamento isquêmico. O ganho na mortalidade começa a estabilizar após
este período. Figura adaptada de Gersh et al.8
com menos de 90 min no mesmo período (28,5% versus
67,2% com p<0,001) a mortalidade intra-hospitalar não sofreu
alteração significativa (4,1% versus 3,6%). Algumas críticas
aos atrasos são baseadas no fato de que a gravidade de
alguns pacientes acaba por atrasar a realização da ICP, além
de contribuírem para uma maior taxa de complicações. Mas
ao analisarmos esses tempos é importante lembrar apesar do tempo porta-balão ser um parâmetro importante, ele
não representa o tempo total de isquemia, que como vimos
anteriormente tem um importante papel no prognóstico do
paciente. Ou seja, encurtar o tempo porta-balão não necessariamente pode afetar a mortalidade global, é preciso que
os pacientes venham mais precocemente ao hospital.
Outro aspecto importante na relação tempo versus
realização da ICP primária, está na disponibilidade desse
recurso para os pacientes. Pois não são todos os hospitais
e todas as regiões que dispõem de um centro capacitado
para a realização da ICP primária. No Reino Unido, por
exemplo, a percentagem de doentes que têm acesso a
ICP primária pode variar entre 80% e 95%, dependendo
da localização geográfica e da disponibilidade de transporte. Em outras partes do mundo esse acesso é ainda
mais difícil. Na Austrália apenas 40,2% da população
tinha acesso a ICP primária14 (definida como população
capaz de realizar ICP em < 60 min no hospital de chegada
ou em < 120 min se tivesse que ser transferida). Nesse
mesmo estudo observaram que a melhora dos serviços
em realizar as transferências trouxe apenas um discreto
aumento para a ICP primária. Os investigadores sugeriram que uma boa alternativa seria estimular a trombólise
química pré-hospitalar. Já nos EUA, tempos porta-balão
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):93-8
< 90 min são previstos para menos de um terço dos pacientes que não precisariam ser transferidos para outro
serviço e menos ainda para os pacientes que precisariam
ser transferidos para terem acesso a ICP primária.15 Isso
significa que a ICP primária pode não ser a melhor opção
em algumas partes dos EUA, uma vez que as distâncias
necessárias para a transferência são difíceis de superar. No
entanto, tanto nos EUA e em outras partes do mundo (por
exemplo, Canadá, Rússia, e na Austrália), uma tendência
de melhorias consistentes em transporte, comunicação,
criação de uma rede de cuidados e treinamento de equipes
de paramédicos e conscientização da população para
procurar mais cedo a ajuda médica, contribuiu para uma
redução nos tempos globais para a ICP primária.16
Muitas vezes o fato do paciente procurar ou ser transferido para um hospital que não tem condições de realizar
a ICP, acaba por acrescentar um tempo a mais no intervalo
de tempo entre o infarto e a reperfusão (Figura 1). Com
relação a esse tempo entre a chegada e a saída desse
hospital (porta-in porta-out) Wang e cols17 relatam que
30 min ou menos estava relacionado a menores atrasos
na reperfusão e uma menor mortalidade hospitalar.
Portanto, embora a ICP primária seja mais eficaz do que
a trombólise química quando realizada dentro das janelas
aceitas, o benefício da ICP primária é suscetível a atrasos
no tratamento. E quando os tempos propostos não podem
ser alcançados, vários estudos9 demonstram que o tempo
de isquemia total é essencial, e que tempos mais curtos
porta-balão podem ter mais efeito em pacientes que se
apresentam precocemente (dentro <3 h de infarto) do que
naqueles que apresentam mais tarde. Assim, encurtar o
95
tempo porta-balão é fundamental no contexto da redução
do tempo de isquemia total, que inclui o tempo de início dos
sintomas para o primeiro contato médico e transferência
(porta-in porta-out) (Figura 1).
Trombólise química versus ICP primária
96
Alguns autores sugerem que não há desvantagens
para a ICP primária precoce quando os resultados são
comparados com os da trombólise química e que, para
qualquer ponto de tempo entre o início dos sintomas até a
terapia de reperfusão, a ICP primária é sempre a estratégia
superior, como Boersma e cols18 demonstraram, sendo
que mesmo a ICP primária sendo realizada com 55 min
de atraso em relação a trombólise química ela foi capaz
de reduzir, e de forma significativa, em 37% a mortalidade
aos 30 dias. Além disso, mostraram também que quanto
menor o atraso para a realização da ICP em relação à
trombólise química maior era a redução na taxa de mortalidade em 30 dias. Os pesquisadores concluíram que a
ICP primária foi associada a uma redução significativa de
mortalidade em comparação com a trombólise química,
independentemente do atraso no tratamento, e, portanto,
recomenda-se que, apesar das dificuldades logísticas a
abordagem padrão deve ser a ICP primária para todos.
Outros autores ressaltam que a diferença na capacidade
de instituir uma terapêutica no tempo adequado é importante
em ambas as estratégias de reperfusão. Chakrabarti e cols19
observaram que qualquer benefício de redução da mortalidade na ICP primária em comparação a trombólise química
no local foi anulada quando o tempo de atraso para a ICP
primária foi de 120 min ou mais.
Uma ressalva para a plena aceitação da proposta de
que a ICP primária é sempre a melhor opção começa a ser
questionada a partir do estudo CAPTIM,20 que favoreceu uma
estratégia fármaco invasiva. Outra ressalva repousa no fato
de que nenhum estudo comparou as opções de reperfusão
em diferentes momentos entre si.19,21
Trombólise química e estratégia fármaco
invasiva
Estudos têm apontado que a otimização, com medidas
adjuvantes, da terapia de reperfusão com trombólise química
pode ser uma boa opção para igualar os resultados da ICP
primária. O estudo GRACIA 122 sugere que a realização da
angiografia em até 24 horas depois de uma trombólise química
com sinais de sucesso ou que a realização de um ECG 90
minutos após o término do uso do fibrinolítico23 com o propósito de identificar um insucesso na terapia de reperfusão
química, e em ambos os casos seguir-se uma angioplastia, se
indicada, poderia diminuir as diferenças entre os resultados da
ICP primária e a trombólise química. Com base nesses dados
o estudo CAPTIM24 testou a terapia de reperfusão química
realizada pré-hospitalar e a angioplastia de resgate contra a
ICP primária. Ao final de cinco anos, a taxa de mortalidade
para os pacientes que receberam a terapia de recanalização
com menos de duas horas de infarto foi significativamente
menor no grupo trombólise química (5,8% versus 11,1% com
p=0,04). Já os pacientes que receberam terapia de reperfusão com mais de duas horas de infarto tiveram, ao final de
cinco anos, taxas semelhantes de mortalidade (14,5% versus
14,4%). Porém a combinação de dois estudos semelhantes
mostrou que a redução na taxa de mortalidade de um ano nos
pacientes que receberam tratamento precoce (menos de duas
do início do infarto) não era significativa a favor da trombólise
química em relação à ICP primária. E que nos pacientes que
receberam a terapia de reperfusão depois de duas horas do
início do infarto tiveram a mesma taxa de mortalidade.25 Estes
resultados permitiram somente inferir que a trombólise química mais angiografia e ICP (se necessário) é um comparador
adequado para a ICP primária. No estudo ASSENT-426 a ICP
foi realizada independente do resultado da terapia trombolítica
em todos os pacientes que receberam fibrinolíticos além da
terapia adjuvante antitrombótica neste braço não ter sido a
ideal. Essa estratégia chamada de facilitada não demonstrou
nenhum benefício, e até certa desvantagem, em relação à
ICP primária. Como resultado desses estudos, a estratégia
ideal para terapia de reperfusão pode ser trombólise química
precoce seguida de transferência para um hospital capaz de
realizar uma ICP de resgate no caso da fibrinólise não ser
bem sucedida ou somente uma angiografia coronária, entre
quatro e 24 horas pós terapia de reperfusão, nos pacientes
com sinais de sucesso.
O estudo STREAM27 avaliou uma estratégia fármaco
invasiva considerada ideal. Projetado para uma intervenção
rápida apenas nos pacientes cuja terapia de trombólise química (nesse estudo utilizou o tenecteplase – TNK em bolus)
tenha falhado (de acordo com os critérios eletrocardiográficos de reperfusão), diferente de outros estudos onde todos
pacientes foram submetidos à ICP independentemente do
sucesso da terapia de reperfusão química. Os outros pacientes foram submetidos a intervenção de seis a 24 horas
após a terapia de reperfusão química. Foram randomizados
pacientes que chegaram com até três horas do início do
infarto e que não conseguiriam receber ICP primária em
menos de uma hora. Foi analisado após 30 dias um desfecho
composto de morte, choque, reinfarto ou disfunção ventricular
com insuficiência cardíaca. A de desfecho primário no grupo
trombólise química foi de 12,4% e no grupo ICP primária foi
14,3% com um p=0,21. A ICP de emergência foi necessária
em 36% dos pacientes do grupo trombólise química (taxa
consistente com os demais estudos que utilizaram estratégia
fármaco invasiva). Os demais pacientes do grupo trombólise
química realizaram a angiografia em média 17 horas após a
terapia. Desses 64% não precisaram de ICP. A hemorragia
intracraniana foi significativamente maior no grupo trombólise
química (1,0% versus 0,2% com p=0,04). Porém após os
primeiros 400 pacientes a dose de fibrinolítico foi reduzida
à metade nos pacientes com mais de 75 anos e com isso
a taxa de hemorragia intracraniana foi semelhante nos dois
grupos (0,5% versus 0,3%).
Os resultados deste estudo confirmam que existe um
lugar claro para os fibrinolíticos desde que determinados
critérios sejam respeitados. Iniciar, de preferência, ainda no
pré-hospitalar para pacientes sem contraindicações (por
exemplo, hemorragia recente ou acidente vascular cerebral)
e seguido por angiografia coronária oportuna (em até 24 horas) ou ICP de resgate para aqueles sem sinais de sucesso
da terapia trombolítica. Ainda, a trombólise química pode
ser uma estratégia importante nos pacientes incapazes de
receber ICP primária antes da primeira hora da chegada ao
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):93-8
ANÁLISE CRÍTICA DA REPERFUSÃO PRECOCE NO INFARTO AGUDO COM SUPRADESNÍVEL DE ST:
TROMBÓLISE QUÍMICA E INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA PRIMÁRIA
hospital; esta abordagem superaria as desvantagens associadas à ICP primária realizada com atraso. Curiosamente,
os dados sobre o fluxo coronariano dos pacientes do estudo
STREAM mostrou que mais de 70% dos doentes tratados com
trombólise química tinham fluxo TIMI 2 ou 3 no momento da
angiografia, em comparação com 20% daqueles alocados
para a ICP primária. Embora o fluxo TIMI em ambos os grupos
fossem iguais após o tratamento, pode-se dizer que significativamente mais pacientes no grupo fibrinolítico estavam com
a artéria aberta mais cedo, o que poderia proporcionar uma
melhor recuperação do miocárdio no longo prazo. A análise
de seguimento de um ano do estudo STREAM28 demonstrou
uma taxa de mortalidade semelhante entre os dois grupos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A melhor opção para a terapia de reperfusão no IAMCST
é a ICP primária. Mas o atraso na realização da ICP reduz
essa vantagem sobre a terapia trombolítica. Quando esse
atraso é maior que 60 minutos, as vantagens se igualam.
Assim uma estratégia de trombólise química pré-hospitalar
seguida de uma ICP planejada (para os pacientes hemodinamicamente estáveis) ou a ICP de resgate demonstraram
resultados equivalentes ou melhores que a ICP primária para
aqueles pacientes que se apresentam precocemente ao serviço de emergência. Sobretudo naqueles pacientes onde a
ICP primária não pode ser realizada antes de 120 minutos a
partir do primeiro contato médico, ou se a trombólise química
puder ser realizada 60 minutos antes da ICP.
A trombólise química ainda parece ter um papel importante
a desempenhar no tratamento de pacientes com IAMCST, especialmente naqueles que não conseguem chegar a um centro
capaz de realizar uma ICP eficaz rapidamente. No entanto, uma
estratégia de tratamento baseado em terapia fármaco invasiva
depende da formação adequada de uma equipe pronta para
administrar trombolíticos pré-hospitalar e da eficiência da rede
de atendimento, tal qual estão determinadas e sugeridas nas
diretrizes americana29 e brasileira30 sobre o tema.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho.
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98
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):93-8
revisão/review
ESTRATÉGIA INVASIVA NAS SÍNDROMES CORONARIANAS
AGUDAS SEM SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST
INVASIVE STRATEGY IN ACUTE CORONARY SYNDROMES
WITHOUT ST SEGMENT ELEVATION
RESUMO
Dimytri A. Siqueira
J. Ribamar Costa Jr.1,2
Alexandre Abizaid1,2,3
1,2
1. Instituto Dante Pazzanese de
Cardiologia, São Paulo - Brasil
2. Hospital do Coração (HCor) –
Associação do Sanatório Sírio, São
Paulo - Brasil
3. Hospital Israelita Albert Einstein,
São Paulo - Brasil
Correspondência:
Dr. Alexandre Abizaid
Av. Dr. Dante Pazzanese, 500,
São Paulo, SP
CEP: 04012-909
[email protected]
As doenças cardiovasculares representam uma das principais causas de morbimortalidade no mundo ocidental. Neste cenário, as síndromes coronarianas agudas respondem
pela grande maioria dos eventos fatais. Em pacientes acometidos por síndrome coronariana
sem supra-desnivelamento do segmento ST a estratificação invasiva (cinecoronariografia)
ocupa papel central na tomada de conduta terapêutica, tendo como méritos: 1) determinar
a presença de doença arterial coronária obstrutiva, confirmando o diagnóstico clínico e
laboratorial de SCA; 2) identificar a lesão “culpada” ou responsável pelo quadro clínico
apresentado; 3) fornecer informações prognósticas a respeito da ocorrência de eventos
cardiovasculares como óbito e infarto, intimamente relacionados à severidade e extensão
da doença coronária, à função ventricular esquerda e à presença de condições associadas (como valvopatias); 4) e estabelecer a necessidade e o tipo de revascularização
miocárdica a ser empregado, seja percutânea ou cirúrgica. O momento ideal de realizar a
estratificação invasiva varia de acordo com a estratificação de risco do paciente avaliado,
devendo em geral ser realizada em até 72h. Estratégias muito precoces (<2h) ou precoces
(<24h) são plausíveis em cenários de mais alto risco clínico.
Descritores: Síndrome coronária aguda sem supra de ST; Estratégia invasiva; Estratégia
invasiva precoce; Estratégia invasiva muito precoce; Intervenção coronária percutânea;
Via de acesso radial.
Abstract
Cardiovascular diseases represent one of the main causes of morbidity and mortality in
the western world. In this scenario, acute coronary syndromes represent the vast majority
of fatal events. In patients affected by coronary syndrome without ST segment elevation,
the invasive strategy (cinecoronariography) plays a central role in the choice of therapeutic
conduct, as it has several merits: 1) determining the presence of obstructive coronary
arterial disease, confirming the clinical and laboratory diagnosis of ACS; 2) identifying the
lesion responsible for the clinical symptoms presented; 3) providing prognostic information on the occurrence of cardiovascular events with such as death or stroke, which are
closely related to the severity and extent of the coronary disease, the left ventricle function,
and the presence of associated conditions (such as valve disease); and 4) establishing
the need for and type of myocardial revascularization to be used, whether percutaneous
or surgical. The ideal moment to conduct invasive stratification varies, depending on the
risk level of the patient being evaluated, but in general, it should be performed within 72
hours. Very early strategies (< 2 hours) or early strategies (< 24 hours) are plausible in
scenarios of greater clinical risk.
Keywords: Acute coronary syndrome without ST level elevation; Invasive strategy; early
invasive strategy; very early invasive strategy; Percutaneous coronary intervention; Radial
access route.
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares (DCV) representam uma
das principais causas de morbimortalidade no mundo ocidental.1 Estima-se que em nosso país, a DCV responda por
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):99-104
20% de todos os óbitos em indivíduos acima dos 30 anos,
sendo a principal causa de mortalidade nessas faixas etárias,
superando as neoplasias, doenças do trato respiratório e as
causas externas (violência urbana, trânsito, etc.).
99
100
Neste cenário, as síndromes coronarianas agudas (SCA)
respondem pela grande maioria dos eventos fatais. As SCA
compreendem três manifestações distintas: angina instável,
infarto agudo do miocárdio (IAM) sem elevação do segmento ST
e o IAM com elevação do segmento ST. Em comum, estas três
apresentações clínicas possuem o mesmo substrato, a placa
aterosclerótica dita “vulnerável”, que se rompe parcial ou totalmente, expondo o endotélio aos elementos trombogênicos da
corrente sanguínea, iniciando assim a “cascata” da trombose.
A despeito de sua elevada letalidade, nos últimos anos
tem se observado uma tendência global à redução da mortalidade por eventos fatais na SCA. Em grande parte, isto
se deve ao importante avanço no manejo fármaco-invasivo,
com introdução de novos fármacos antitrombóticos e antiagregantes plaquetários e a adoção mais ampla da estratégia
invasiva precoce, com realização de cinecoronariografia
seguida de intervenção coronária percutânea (ICP) nas
primeiras horas após início dos sintomas da SCA.
A coronariografia é, de longa data, o método de imagem
de referência para a avaliação da árvore coronária, ocupando
destacado papel neste cenário. Sua indicação tem como
méritos: 1) determinar a presença de doença arterial coronária
obstrutiva, confirmando o diagnóstico clínico e laboratorial
de SCA; 2) identificar a lesão “culpada” ou responsável pelo
quadro clínico apresentado; 3) fornecer informações prognósticas a respeito da ocorrência de eventos cardiovasculares
como óbito e infarto, intimamente relacionados à severidade e
extensão da doença coronária, à função ventricular esquerda
e à presença de condições associadas (como valvopatias);
4) e estabelecer a necessidade e o tipo de revascularização
miocárdica a ser empregado, seja percutânea ou cirúrgica.
Em pacientes acometidos por síndrome coronariana sem
supra-desnivelamento do segmento ST (SCASSST = angina
instável e IAM sem supra-desnivelamento do segmento),
comumente se observa ao menos uma lesão “culpada”
à coronariografia, caracterizada angiograficamente por
significativo porcentual de obstrução, reduzido diâmetro
luminal mínimo, presença de bordas irregulares, excentricidade, sinais sugestivos de ulcerações e/ou pela presença
de imagens de falha de enchimento indicativas de trombo
intra-luminal. 2 A observação de fluxo coronário reduzido
também é outro importante aspecto angiográfico valorizado
na identificação da lesão culpada. O achado de múltiplas
lesões “instáveis” não é raro, e reflete a natureza sistêmica
da doença aterosclerótica.3 Em geral, a coronariografia revela
a presença de artérias coronárias normais ou sem lesões
obstrutivas em 10-20% dos casos, de doença multiarterial
(mais de um vaso acometido) em 40-50% dos pacientes e
de lesões de tronco de coronária esquerda em 5 a 10%.4-6
Duas estratégias referentes à indicação da coronariografia podem ser adotadas em pacientes com SCASSST.
A primeira, classicamente denominada estratégia invasiva,
consiste na indicação rotineira da angiografia coronária com o
intuito planejado de revascularização miocárdica percutânea
ou cirúrgica, caso esta esteja indicada. A segunda estratégia, por sua vez, é dita conservadora – embora seja melhor
compreendida como invasiva seletiva – e fundamenta-se,
primeiramente, no acompanhamento clínico evolutivo dos
pacientes e na indicação de testes funcionais para a detecção de isquemia miocárdica residual; a coronariografia é
reservada aos pacientes que experimentam recorrência de
sintomas - a despeito do tratamento farmacológico - ou que
apresentam isquemia residual em métodos não-invasivos
(teste ergométrico, ecocardiograma de estresse, cintilografia
miocárdica etc.). Nesta revisão, abordaremos as principais
indicações e vantagens da estratégia invasiva, bem como
o melhor momento para que esta seja implementada em
pacientes acometidos por SCASSST.
BENEFÍCIOS DA ESTRATÉGIA INVASIVA
FRENTE À ESTRATÉGIA CONSERVADORA
Nas últimas duas décadas, diversos estudos compararam
a estratégia invasiva à estratégia conservadora (ou invasiva
seletiva).7-12 Em meta-análise de Mehta e cols. (7 estudos,
9212 pacientes), a implementação de estratégia invasiva
resultou em redução de 18% no risco relativo de infarto não-fatal e óbito (14,4% vs 12,2% [OR], 0,82; 95% IC 0,72-0,93;
p = 0,001).13 Bavry e cols., em meta-análise com 7 estudos
e 8375 pacientes, revelaram que a estratégia invasiva se
associou à redução de 25% na ocorrência de óbito (4,9%
vs 6,5%, RR=0,75 IC 95% 0,63-0,90, p=0,001), de 17% nas
taxas de infarto não-fatal (7,6% vs 9,1%, RR 0,83 IC 95%
0,72-0,96) e de 31% na re-hospitalização por angina instável
(RR 0,69 IC 95% 0,65-0,74).14 Em meta-análise mais recente
(O’Donoughe e cols., 8 estudos, n=10150) demonstrou-se,
por sua vez, que a estratégia invasiva resultou em menores
taxas de óbito, infarto não-fatal e de nova hospitalização
por angina após um ano (21,1 vs 25,9%, OR 0,78; 95% CI
0,61–0,98), sendo tais benefícios restritos a pacientes com
elevação de marcadores de necrose miocárdica.15 Com
segmento de mais longo prazo, Fox e cols (3 estudos, 5467
pacientes) revelaram ainda que pacientes submetidos à
estratégia invasiva apresentaram menor ocorrência de óbito
ou infarto após 5 anos (14,7% vs 17,9%, RR=0,81; IC 95%
0,71-0,93, p=0,002), sendo a redução de risco absoluto mais
pronunciada conforme a gravidade de cada paciente (2%
nos de baixo risco, 3,8% naqueles com risco intermediário
e 11,1% nos indivíduos de alto risco).16
Assim, o somatório das evidências disponíveis (provenientes de estudos randomizados e 4 meta-análises) suporta a
opção pela estratégia invasiva, pois tal abordagem associa-se
à significativa redução das taxas de óbito, infarto e isquemia
recorrente, quando comparada à estratégia conservadora.
INDICAÇÕES DA ESTRATÉGIA INVASIVA
Diversos aspectos devem ser analisados para a apropriada tomada de decisão sobre o momento ideal de indicar avaliação invasiva na SCASSST. Em primeiro lugar,
o diagnóstico clínico de SCASSST deve ser firmado, ou
seja, os sintomas apresentados por determinado paciente
devem ser bem caracterizados e compatíveis com quadro
de isquemia miocárdica. Em estudos clínicos, até 20% dos
pacientes incluídos como portadores de SCASSST apresentam coronárias normais ou com doença insignificante à
coronariografia.6 Assim, a estratégia conservadora pode ser
a opção inicial em pacientes com sintomas não-sugestivos
de isquemia ou com dor atípica – desde que o eletrocardiograma não revele alterações sugestivas de isquemia e
não haja elevação de marcadores de necrose miocárdica.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):99-104
ESTRATÉGIA INVASIVA NAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS SEM SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST
Fatores de risco como história familiar para doença coronária, tabagismo e diabetes mellitus são de grande valor
prognóstico. Pacientes diabéticos, em geral, beneficiam-se
da estratégia invasiva, com redução de desfechos combinados (óbito, infarto e recorrência de angina), bem como
de infarto não-fatal (RR: 0,71; 95% CI: 0,55 a 0,92).
A estimativa de risco de eventos cardíacos pode ser
embasada em modelos de predição de eventos, que auxiliam na decisão sobre o tipo de estratégia a ser instituído.
Diversos escores prognósticos foram validados em grandes populações e são aplicados para a identificação de
pacientes que requerem a estratégia invasiva. Dentre estes,
destacam-se os escores TIMI17 (Thrombolysis in Myocardial
Infarction) e GRACE18 (Global Registry of Acute Coronary
Events), acurados na predição dos eventos como óbito,
infarto e angina recorrente. No escore de risco TIMI, o paciente é categorizado como de baixo risco (escore de 0 a
2), de risco intermediário (escore de 3 ou 4) ou de alto risco
(escore de 5 a 7). No escore de risco GRACE, por sua vez,
a soma de pontos < 108 categoriza o paciente como de
baixo risco para ocorrência de óbito hospitalar (incidência
<1%); entre 109 e 140 o paciente é classificado como de
risco intermediário; quando a soma é > 140, o paciente
é avaliado como de alto risco, com mortalidade estimada
superior a 3%.18
Estratégia invasiva precoce ou muito precoce
A decisão sobre o melhor momento para se implementar
a estratégia invasiva deve ser sempre tomada individualmente, de acordo com o risco particular de cada paciente.
Os potenciais benefícios da execução da coronariografia
e da ICP muito precoces (realizadas nas primeiras horas após
a admissão) estão relacionados à prevenção de eventos adversos de natureza isquêmica, como a evolução para infarto
com supra ST, disfunção ventricular esquerda, arritmias e óbito;
estes eventos são determinados pela oclusão evolutiva da
artéria culpada pela SCASSST ou por isquemia miocárdica
persistente e de grande extensão, e são passíveis de ocorrência quando se posterga a coronariografia.
Por sua vez, a implementação da estratégia invasiva após
um período inicial de “passivação da placa” com fármacos
antitrombóticos e antiplaquetários pode resultar em menores
índices de complicações peri-procedimento, como a embolização distal de conteúdo necrótico da placa, distúrbios de fluxo,
trombose de stent e infarto do miocárdio após a intervenção.
Para fins didáticos, três tipos de estratégia invasiva
podem ser diferenciados: I) a estratégia invasiva denominada imediata ou muito precoce (implementada em menos
de 2 horas da admissão); II) a estratégia invasiva precoce
(indicada em menos de 24 h da admissão); e, III) a estratégia invasiva propriamente dita (na qual a coronariografia
é realizada em menos de 72 h da internação).
Estratégia invasiva muito precoce (< 2 h)
Os pacientes com SCASSST e de muito alto risco são
pouco representados na maioria dos estudos randomizados
publicados. Dentre estes indivíduos, incluem-se aqueles
com choque cardiogênico, arritmias ventriculares complexas, edema agudo de pulmão, insuficiência mitral aguda e
sintomas persistentes e refratários ao tratamento farmacolóRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):99-104
gico instituído (Tabela 1). Por apresentarem mau prognóstico
a curto prazo, recomenda-se - de forma consensual4-6 - que
tais pacientes sejam submetidos à estratégia invasiva muito
precoce, semelhante à implementada nas situações de
infarto com supra-desnivelamento de segmento ST. Nestes
casos, o objetivo principal deve ser a revascularização
imediata do vaso culpado. Em hospitais que não dispõem
de serviço de cardiologia intervencionista, deve-se buscar
a transferência para centro equipado e habilitado.
Alto grau de suspeição é aconselhado em indivíduos
com fatores de risco e dor típica e prolongada, em repouso: é notório o conhecimento de que oclusões da artéria
circunflexa comumente cursam com pouca expressão eletrocardiográfica. A análise criteriosa do eletrocardiograma, principalmente em derivações adicionais (V7 e V8) é imperiosa.
Estratégia invasiva precoce (< 24 h)
As evidências a respeito das vantagens da estratégia
invasiva precoce são provenientes de estudos randomizados
e meta-análises.
No estudo ISAR-COOL,19 410 pacientes com SCASSST
e risco intermediário a alto e tratados com a associação
de antiplaquetários (aspirina, clopidogrel e inibidores de
glicoproteína IIbIIIa), foram selecionados para estratégia
invasiva dita precoce ou invasiva tardia (média de tempo
até a coronariografia de 2,4 vs 86 horas, respectivamente).
Neste estudo, a intervenção precoce esteve associada
à diminuição significativa de óbito ou IAM aos 30 dias
(5.9% vs 11.6%, p = 0,04), sendo tal benefício associado
à prevenção de eventos prévios ao cateterismo.
O estudo ABOARD,20 por sua vez, selecionou 352 pacientes
com SCASSST e escore de risco TIMI > 3 para coronariografia
imediata (média de 70 minutos) ou entre 8 e 60 horas após
a randomização (média de 21 horas). O desfecho primário selecionado foi o valor máximo observado de troponina
I durante a hospitalização, e não diferiu entre os 2 grupos
Tabela 1- Critérios valorizados para a estratificação de risco em
pacientes com scassst (adaptada de Roffim e cols6).
Muito alto risco – estratégia invasiva muito precoce (< 2h)
- Instabilidade hemodinâmica, choque cardiogênico
- Instabilidade elétrica com taquiarritmia ventricular sustentada
ou fibrilação ventricular
- Angina refratária a despeito de tratamento farmacológico máximo
- Insuficiência mitral aguda
- Edema agudo de pulmão
Alto risco – estratégia invasiva precoce (< 24 h)
- Escore de risco alto (GRACE > 140)
- Elevação de marcadores de necrose miocárdica
- Alterações dinâmicas de segmento ST
Risco intermediário – estratégia invasiva (24-72 h)
- Escore TIMI > 2, GRACE 109-140
- Presença de Diabetes ou Insuficiência renal (clearance de creatina < 60 ml/min)
- Disfunção ventricular esquerda (FE < 40%)
- ICP ou CRVM prévias
Baixo risco - estratégia conservadora
- Escores de risco baixos (TIMI 0-1, GRACE <109)
- Dúvidas quanto à natureza dos sintomas
FE = fração de ejeção; ICP = intervenção coronária percutânea; CRVM = cirurgia de
revascularização miocárdica.
101
102
(2,1 [0,3-7,1] ng/mL vs 1,7 [0,3-7,2] ng/mL na estratégia imediata e não-imediata, respectivamente p = 0,70). Não foram
notadas diferenças em relação à incidência de eventos clínicos.
No estudo TIMACS,21 3031 pacientes com SCASSST foram encaminhados à coronariografia nas primeiras 24 horas
(média de 14 h) ou após 36 horas (média de 50 h). Após 6
meses, os desfechos primários óbito, infarto e AVC ocorreram
em 9,7% dos pacientes randomizados para coronariografia
precoce e em 11,4% daqueles submetidos a coronariografia mais tardia (HR 0,85; IC 95%: 0,68 a 1,06, p=0,15). O
composto de óbito, infarto e isquemia refratária – desfechos
secundários - foi significativamente menos frequente no grupo
submetido a coronariografia precoce (9,6% vs 13,1%, HR 0,72
IC 95%: 0,58 a 0,89, p=0,002). Em análise pré-especificada,
pacientes com escore de risco GRACE > 140 beneficiaram-se de coronariografia e intervenção precoces, com redução
significativa dos desfechos primários combinados óbito,
infarto e AVC (HR 0,65; IC 95% 0,48 a 0,88, p=0,01), quando
comparados aos de risco ≤ 140. A adoção de estratégia
invasiva precoce não esteve associada à redução de sangramentos maiores (3,1% vs 3,5%).
Em meta-análise com 4 estudos randomizados e 4013
pacientes, não foi observada diferença significativa nas taxas
de óbito (RR 0,85 IC 95%: 0,64-1,11) e infarto (RR 0,94 IC 95%:
0,61-1,45) em pacientes submetidos à estratégia invasiva
precoce (1,16 a 14 horas após a admissão) ou prorrogada
(20,8-86 horas). Entretanto, a implementação de estratégia
precoce esteve, associada à redução de 41% na taxa de
angina recorrente (RR 0,59, IC 95%: 0,38-0,92, p=0,02) e no
tempo de hospitalização (em 28%, p < 0.001).22
Em revisão sistemática com maior número de estudos
e pacientes incluídos (7 estudos randomizados com 5370
indivíduos, 4 estudos observacionais com 77499 pacientes),
Navarese e cols. demonstraram que, embora não esteja relacionada à redução de infarto e óbito, a estratégia invasiva
precoce (<24 h) resulta em menor incidência de angina
refratária (3,8% vs. 7,3%, p=0,008).23
Conforme exposto, as evidências existentes apontam
que a implementação de estratégia invasiva precoce é
segura, e reduz a ocorrência de isquemia refratária e do
tempo de internação, e pode ser considerada em pacientes
de maior risco (Tabela 1). Em indivíduos de risco intermediário e proposta de estratégia invasiva, por sua vez, a
coronariografia deve ocorrer idealmente em menos de 72
horas da admissão. Tal recomendação se aplica também a
pacientes com disfunção renal crônica (mesmo que preencham um ou dois critérios de maior risco): neste cenário, é
prudente postergar a coronariografia para que as medidas
que previnem a ocorrência de nefropatia induzida por contraste (hidratação, suspensão de fármacos nefrotóxicos,
metformina) possam ser implementadas.
INDICAÇÕES E ASPECTOS TÉCNICOS
DA INTERVENÇÃO CORONÁRIA
PERCUTÂNEA EM SCASSST
Após a realização da coronariografia, a decisão sobre
a necessidade e o tipo de revascularização a ser indicada
– seja percutânea ou cirúrgica – é embasada pela estimativa de riscos de eventos cardíacos adversos a curto
e longo prazo, a gravidade dos sintomas, a presença de
comorbidades (diabetes, disfunção renal, doença pulmonar
obstrutiva crônica) e a gravidade anatômica e funcional da
doença arterial coronária.
Estudos apontam que apenas 10% dos indivíduos com
SCASSST são submetidos à cirurgia de revascularização
miocárdica, sendo a ICP a forma predominante de tratamento
nesta população.6 Um importante aspecto no processo de
decisão diz respeito à possibilidade de se obter revascularização completa com uma ou outra abordagem: sabe-se que
a revascularização incompleta afeta sobremaneira o prognóstico de indivíduos multiarteriais.24,25 Na ausência de estudos
randomizados e específicos entre cirurgia de revascularização
miocárdica e intervenção coronária percutânea em SCASST,
os mesmos critérios utilizados na escolha da modalidade
de revascularização em pacientes multivasculares estáveis
devem ser aplicados aos indivíduos com síndromes instáveis.
Em pacientes com SCASSST, a ICP é usualmente realizada no mesmo procedimento, sucedendo a coronariografia
diagnóstica (ICP ad hoc). O alvo primário da ICP deve ser a
lesão “culpada”, reconhecida pelos critérios angiográficos já
citados, pelas alterações eletrocardiográficas apresentadas
ou pelos achados da ventriculografia esquerda. A ICP de
outras lesões coronárias porventura identificadas pode ser
executada no procedimento índice ou postergada, conforme
a situação clínica do paciente, a complexidade da doença
coronária, o volume de contraste utilizado e preferência do
cardiologista. O emprego de stents farmacológicos de última
geração em SCASSST é seguro, e associa-se à redução de
complicações tardias, sobretudo reestenose.
Nas situações de SCASSST, a prescrição de fármacos
antitrombóticos e antiplaquetários potentes previne a ocorrência de eventos isquêmicos, porém pode vir acompanhada de complicações hemorrágicas. Neste contexto, as
complicações relacionadas à punção femoral (hematomas,
pseudoaneurismas, fístulas arterio-venosas e hematomas
retroperitoneais) são responsáveis por significativa parcela
dos eventos hemorrágicos ocorridos após a ICP, e de fato
constituem as principais complicações não-cardíacas observadas nesta população.26,27 Dados relacionados ao procedimento, como a utilização de introdutores arteriais de maior
diâmetro e o uso concomitante de inibidores de glicoproteína
IIbIIIa são preditores de sangramento intra-hospitalar após
intervenção pela via femoral. A utilização de dispositivos de
reparo vascular permite a remoção imediata do introdutor,
porém as evidências mais atuais – provenientes de meta-análises de estudos randomizados - não revelam redução
nas taxas de hemorragias e complicações vasculares quando
tais dispositivos são comparados à compressão manual.28,29
Dentre as diferentes recomendações para a prevenção de
sangramentos relacionados à ICP, a utilização da via transradial ocupa destacada importância. Evidências acumuladas de
estudos randomizados30,31 e meta-análises32,33 demonstram
que a ICP pela via radial se associa à significativa redução de
complicações hemorrágicas e vasculares em indivíduos com
síndromes coronárias agudas (SCA), podendo ser adotada
com iguais taxas de sucesso em relação à via femoral, desde
que executada por operadores experientes.34
Em ensaio randomizado, multicêntrico e comparativo
entre as vias de acesso (RIVAL - Radial Versus Femoral Access
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):99-104
ESTRATÉGIA INVASIVA NAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS SEM SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST
for Coronary Intervention, n=7021)30 – que incluiu parcela
de pacientes com SCASSST —, a ICP pela via radial esteve
associada à redução significativa nas taxas de sangramentos
maiores (1,9 vs 4,5%, p<0,0001) e de complicações vasculares (1,4 vs 3,7%, p<0.0001). Ademais, pacientes tratados em
centros definidos arbitrariamente como de grande volume e
experiência com a via radial (mais de 138 casos/ano) apresentaram menor incidência do desfecho primário composto por
óbito, infarto, acidente vascular encefálico e sangramentos
maiores não-relacionados à cirurgia de revascularização com
esta técnica (1,6 vs 3,2%, p=0,015).
No estudo MATRIX (Minimizing Adverse Haemorrhagic
Events by TRansradial Access Site and Systemic Implementation of AngioX, n=8404),31 a ocorrência do desfecho primário
composto por óbito, infarto e AVC não diferiu entre os grupos
radial e femoral (8,8% vs 10,3%, respectivamente, RR 0,85,
IC 95% 0,74–0,99; p=0,03). Contudo, as taxas do desfecho
co-primário (óbito, infarto, AVC e sangramento maior) e de
mortalidade foram menos frequentes nos pacientes submetidos à ICP pela via radial (9,8% vs 11,7%, RR 0,83, IC
95% 0,73–0,96; p=0,0092, e 1,6% vs 2,2%, RR 0,72, IC 95%
0,53–0,99; p=0,045, respectivamente).
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho.
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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):99-104
revisão/review
TERAPIA ANTITROMBÓTICA NA FASE AGUDA DAS
SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
ANTITHROMBOTIC THERAPY IN ACUTE PHASE OF ACUTE CORONARY SYNDROMES
RESUMO
Rodrigo Modolo1
Otávio Rizzi Coelho2
1. Laboratório de Cateterismo Cardíaco,
Disciplina de Cardiologia, Departamento
de Clínica Médica, Faculdade de
Ciências Médicas – UNICAMP.
Campinas, SP, Brasil
2. Disciplina de Cardiologia,
Departamento de Clínica Médica,
Faculdade de Ciências Médicas –
UNICAMP. Campinas, SP, Brasil
Correspondência:
Rua Francisco Glicério, 1867,
Campinas, SP, Brasil. CEP: 13012-000
[email protected]
A morbidade e a mortalidade nas síndromes coronarianas agudas – causadas
principalmente pela instabilidade da placa aterosclerótica, levando à formação de
trombos – foi bastante reduzida com o advento de antiplaquetários, antitrombóticos e
revascularização precoce. Hoje, dispomos de quatroantitrombóticos para uso nestas
condições: a heparina não fracionada, a de baixo peso molecular, o fondaparinux
e a bivalirudina – sendo apenas as três primeiras disponíveis no Brasil. Como são
agentes antiocoagulantes, o risco de sangramento não é desprezível e deve ser
apropriadamente dosado com o fim de trazer o máximo benefício antitrombótico,
sem grande risco hemorrágico. Nesta revisão sumarizamos o atual estado da arte
no uso de antitrombóticos no Brasil.
Descritores: Síndrome coronariana aguda; Antitrombóticos; Antitrombínicos.
ABSTRACT
Morbidity and mortality in the acute coronary syndromes – caused in the majorly
by atherosclerotic plaque instability, with consequent thrombus formation – was
drastically reduced by the advent of antiplatelet and antithrombotic agents, and by
early revascularization. Nowadays, we have 4 antithrombotic agents: unfractionated
heparin, low molecular weight heparin, fondaparinux and bivalirudin – with only the
first 3 available in Brazil. As they comprise anticoagulant effects, the risk of bleeding
is high and must be taken into account when prescribed, in order to bring the greater
benefits without higher bleeding risk. In this review we summarized the current state
of the art about the use of these agents in our country.
Descriptors: Acute coronary syndrome; Antithrombotics; Anticoagulants.
INTRODUÇÃO
As síndromes coronarianas agudas (SCAs) – sejam elas
com supra ou sem supradesnivelamento do segmento ST
– ocorrem primariamente por instabilidade de placa aterosclerótica, com sua ruptura e consequente formação de
trombo luminal.1-3 O desenvolvimento de terapia adjunta
no tratamento destes quadros coronarianos agudos vem
crescendo e novas drogas antiplaquetárias e antitrombóticas
vêm surgindo sempre com o intuito de reduzir morbidade e
mortalidade, mantendo um bom perfil de segurança – sem
alto risco de sangramento.
É conhecido que uma terapia antitrombótica adequada é
capaz de reduzir o potencial isquêmico da coronária, sob o
ônus do aumento do sangramento, inerente a estas drogas.
Já é demonstrado que o sangramento maior está intimamente
associado à pior evolução do paciente com SCA – incluindo
aumento da mortalidade em grandes estudos observacionais
e também em ensaios clínicos randomizados.4,5 Desta maneira, o uso parcimonioso destas drogas é imperativo para
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):105-11
um controle adequado da isquemia miocárdica, diminuindo
os riscos de evolução desfavorável pelos efeitos adversos.
Hoje, no Brasil, estão disponíveis 3 agentes antitrombóticos
para uso nas SCAs: (1) heparina não fracionada, (2) enoxaparina e (3) fondaparinux. Nesta revisão focaremos nas suas
indicações, doses e efeitos clínicos nos pacientes com SCA.
ANTITROMBÓTICOS
Heparina não fracionada
A heparina não fracionada (HNF) comercialmente disponível é uma mistura de diferentes glicosaminoglicanos. A HNF
age através de uma sequência pentassacarídea específica
em seu composto que se liga com alta afinidade à trombina,
e serve como catalisador, acelerando a neutralização da trombina e de outros fatores de coagulação.6 A primeira heparina
a ser sugerida e testada no contexto das SCAs foi a HNF. Os
estudos que inicialmente a testaram são da era pré-dupla
antiagregação plaquetária, bem como pré-revascularização
105
106
precoce.7 O tratamento era proposto para pacientes com
diagnóstico de “angina instável” e a HNF era usada apenas
com ácido acetilsalicílico (AAS).8-11 Os resultados destes
estudos demonstraram uma grande tendência à diminuição
de eventos cardiovasculares (CV) com a adição de HNF ao
AAS. No entanto, esta não era usada de forma endovenosa
como hoje é recomendado.
Na sequência os grandes trials GISSI-2 e ISIS-3 testaram
esta mesma associação do AAS com a HNF no contexto da
trombólise química para o infarto agudo do miocárdio (IAM),
mostrando resultados não satisfatórios – fato explicado pelo
atraso na introdução da droga, usada apenas de forma
subcutânea.12,13 O grande estudo subsequente viria para
consolidar o uso da HNF nestes pacientes; o trial GUSTO-1,
testou em mais de 40 mil indivíduos a fibrinólise com rTPA e/
ou estreptoquinase, com diferentes administrações de HNF
(subcutânera ou endovenosa), e demonstrou que o grupo
que recebeu o anticoagulante por via endovenosa associado
ao rTPA teve a menor mortalidade ao final de um mês, dentre
os grupos avaliados.14 A diferença deste para os demais foi
a dose de heparina inicial e uma padronização do controle
rigoroso da dose individualizada (por peso), sendo a infusão,
endovenosa. Desta maneira, concluiu-se que uma anticoagulação mais previsível com doses individualizadas era capaz
de proporcionar maior benefício clínico.15 A HNF tem um
perfil farmacocinético com enorme variabilidade individual
– principalmente devido a sua ligação inespecífica a muitas
proteínas plasmáticas – e uma estreita janela terapêutica, o
que dificulta seu uso no cenário clínico.
A HNF, em virtude da meia-vida relativamente curta, pode
ter seus efeitos hemorrágicos extintos após sua suspensão.
Apresenta atividade anticoagulante reversível com o uso da
protamina – uma proteína básica que neutraliza imediatamente os seus efeitos antitrombínicos.
Fondaparinux
(+AT III)
xI
IX
Heparina não
fracionada(+AT III)
FT
FT
A heparina de baixo peso molecular (HBPM) é hoje o
agente antitrombótico mais usado no mundo. Ela é desenvolvida a partir da HNF, sendo realizada a despolimerização de
suas moléculas produzindo partículas com cerca de um terço
do tamanho original. Esta heparina possui menor ativação
plaquetária comparada à HNF e é absorvida rapidamente
por via subcutânea.16
Em comparação com a HNF, esta heparina apresenta ação
na cascata da coagulação preferencialmente seletiva a seus
efeitos na inibição do fator Xa, com pouca ação sobre o fator
II (Figura 1). Pela maior seletividade para o fator Xa, as HBPMs
não alteram os exames clínicos de coagulação dos pacientes
(ao contrário da HNF).17,18 Também de forma diferente de sua
predecessora HNF, as HBPMs ligam-se menos avidamente
às proteínas plasmáticas (mesmo as de fase aguda – as
quais estão aumentadas nas SCAs), tornando-se assim farmacologicamente mais estável – com farmacocinética mais
favorável, maior biodisponibilidade e maior tempo de meia-vida.
Dessa maneira, seu uso pode ocorrer com doses fixas e com
aplicações por via subcutânea em tempos mais espaçados –
contribuindo, portanto, para uma melhor posologia.
No Brasil, as apresentações clinicamente disponíveis
são a: dalteparina, nadroparina e enoxaparina. A primeira
avaliada nos estudos FRISC19,20 e FRISC II,21 e a segunda no
trial FRAX.I.S.,22 ambas demonstrando ser equiparáveis à
HNF e superiores ao placebo nas SCAs. A enoxaparina é a
mais usada no Brasil, e a mais estudada em ensaios clínicos.
Na mesma época das publicações dos estudos da nadroparina e da dalteparina, grandes trials demonstravam que,
ao contrário das duas primeiras, a enoxaparina apresentava
superioridade à HNF, no contexto das SCAs.23-26 O estudo
ESSENCE já demonstrou que estes benefícios da enoxaparina eram mantidos no seguimento mais longo (1 ano).27
As HBPMs podem ser parcialmente revertidas com o uso da
PL
X illa+
+2
V
+ Ca
FT +
II (Protrombina)
Va+PL+Ca+2
IIa (trombina)
Bivalirudina
Fibrinogenio
Fibrinas
FT
FT
Células endoteliais
Heparina de baixo peso
molecular (+ AT III)
Vill
a
x +Ca++PL
2
IX a
Xa
a
Plaquetas*
Heparina de baixo peso molecular
FT
FT
FT
FT
Macrófagos
Células musculares lisas
*Representadas em tamanho aumentado para fins didáticos.
FT= fator tecidual, cofator lipoprotéico não-enzimático, que aumenta a eficiência proteolítica do fator VII; PL= fosfolipídios; AT III= antitrombina III.
Figura 1: Representação gráfica dos principais sítios de ação dos agentes antitrombóticos.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):105-11
TERAPIA ANTITROMBÓTICA NA FASE AGUDA DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
protamina (que é capaz de neutralizar os efeitos antitrombínicos
das HBPMs); no entanto, a protamina não reverte a atividade anti-Xa – predominante nestes fármacos. Por isso, a HNF é tida como
único antitrombótico capaz de ser neutralizado prontamente.
Tanto a HNF quanto as HBPMs (estas em menor grau) podem
levar, em até 15% dos pacientes, a um quadro de trombocitopenia. Esta trombocitopenia pode ser: (i) dose-dependente, não
imune e autolimitada – geralmente benigna, sem necessidade de
interrupção da terapêutica; e (ii) a forma autoimune, conhecida
como plaquetopenia induzida por heparina (HIT), com grande
potencial trombótico e evolução desfavorável, devendo neste
caso, portanto, descontinuar a terapia.28,29
Fondaparinux
O fondaparinux é um composto sintético, pentassacarídeo, sendo o único inibidor seletivo do fator X ativado em
uso clínico no Brasil. Age ligando-se de forma reversível e
não covalente à antitrombina com alta afinidade, assim impedindo a formação da trombina.30 Assim como as HBPM,
o fondaparinux tem pouca interação com as proteínas do
plasma, sem grande diferença de resposta interindividual.
Administrada por via subcutânea, o composto apresenta
pico plasmático já com 2 horas de administração e possui
tempo de meia-vida maior que HNF e HBPM – de 17 horas
– podendo, dessa forma, ser aplicada em dose única diária.
A monitorização da atividade anti-Xa não é necessária, e
o fondaparinux não altera parâmetros laboratoriais de anticoagulação como TTPa ou TCA (tempo de coagulação ativado).
Por suas características farmacológicas, este antitrombótico
não induz a HIT. Como apresenta excreção renal, seu uso é
contraindicado para pacientes com insuficiência renal com
Clearence de creatinina inferior à 20mL/min.31
No contexto das SCAs, este pentassacarídeo foi avaliado
no estudo PENTUA – de fase clínica 2 – que mostrou boa
segurança e eficácia da droga, chegando à dose usada
hoje.32 No estudo subsequente de fase 3 – OASIS 5 – o
fondaparinux, que foi comparado à enoxaparina em estudo
de não-inferioridade, mostrou-se equivalente à HBPM e com
menor incidência de sangramentos, consolidando sua entrada no arsenal terapêutica dos antitrombóticos para SCA.33
Bivalirudina
A bivalirudina – um inibidor direto da trombina – é um
polipepetídeo sintético de 20 aminoácidos, análogo da hirudina, que produz forte ligação bivalente com o sítio ativo e
exossítio da trombina. Assim, age ligando-se diretamente à
trombina – tanto em sua parte livre (fase fluida) como na ligada
à fibrina – inibindo a conversão de fibrinogênio em fibrina.34-37
Como a droga não se liga a proteínas plasmáticas –
característica da HNF – seu efeito anticoagulante é mais
estável e previsível. Após sua ligação com a trombina, a
droga é clivada, restando apenas um inibidor de baixa afinidade. Assim, o potente efeito anticoagulante da bivalirudina
é curto, e a droga tem meia-vida de apenas 25 horas. Sua
administração é realizada por via endovenosa, em infusão
contínua. Apesar de não possuir um antídoto, a curtíssima
meia-vida torna-a uma droga segura, sendo que sua interrupção leva à cessação de seu efeito hemorrágico em minutos.34
Como sua depuração é renal, em caso de insuficiência renal
crônica, a dose administrada deve ser ajustada, e o efeito
anticoagulante pode ser arrastado.38
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):105-11
O seu uso no contexto das SCAs foi avaliado nos estudos
HORIZONS-AMI, nos quais foi demonstrada a superioridade
da droga em relação à HNF para pacientes submetidos à
angioplastia primária;39,40 além disso, no estudo ACUITY, um
trial open-label em SCA sem supra, foi evidenciada equivalência da bivalirudina com HNF e enoxaparina para desfechos
isquêmicos, porém com grande redução de sangramento
com a bivalirudina.41,42 Apesar do benefício desse antitrombótico, o mesmo ainda não se encontra comercialmente
disponível no Brasil.
SÍNDROMES CORONARIANAS SEM
SUPRADESNIVELAMENTO DO
SEGMENTO ST
Sabe-se hoje que a ruptura de placa ateromatosa (geralmente as de capa fibrosa fina) coronariana é o evento inicial
para a gênese dos processos de SCA sem (SCASSST) e com
supradesnivelamento do segmento ST (SCACSST).43Nas
SCASSST, a fissura ou erosão da placa expõe material subendotelial, desencadeando, entre outros, o processo de
coagulação com agregação plaquetária e ativação da trombina com consequente formação de trombo (na placa ou
na luz do vaso). Isso associado a um estado protrombótico
típico das SCAs, leva ao quadro isquêmico coronariano,44 e
associa-se a mau prognóstico (Figura 1).45
Dessa maneira, o uso de agentes que atuem nesta cascata é imperioso para a melhor evolução do paciente com
SCA. Estes agentes antitrombóticos agem inibindo a geração
ou atividade da trombina, levando à diminuição de eventos
relacionados à formação dos trombos. O seu uso reduz
eventos isquêmicos e essa redução é potencializada quando
associado a um antiagregante plaquetário.46
A dose de HNF a ser usada nas SCASSST é ataque de
60-70 UI/kg (máximo de 5000 UI) seguidos de infusão contínua de 12-15 UI/kg/h (máximo de 1000 UI/h), ajustando-se
a infusão para manter TTPa entre 1,5 e 2,5x o controle. Esta
dose é recomendada pelas sociedades internacionais de
cardiologia – Europeia e Americana.2,47 A SBC preconiza que
a dose seja fixa de 5000 UI de bolus seguida de infusão de
1000 UI/h, ajustando-se a infusão para um TTPa de 1,5 a 2,5x
o controle.31 Esta proposta reside no fato de não se mostrar
benefício da dose ajustada por peso sobre a última.48 Seu
uso nas SCASSST foi inicialmente testado por um grupo de
pesquisadores em 1988, que demonstraram que o uso da
HNF diminuiu angina e apresentou tendência à diminuição
de infarto agudo do miocárdio (IAM), às custas de maior
sangramento, quando comparada à AAS e placebo.9 Anos
depois com estudos maiores como ATACS a associação
AAS e HNF se tornaria mais consagrada em reduzir eventos
isquêmicos,49 dados corroborados por metanálise publicada
em 1996, com redução de mortalidade.8
Com o advento das heparinas de baixo peso molecular – enoxaparina especialmente – muitos estudos foram
desenvolvidos com o intuito de se testá-la em comparação
com a HNF. Estudos iniciais, como o ESSENCE,27 ACUTE II50
e TIMI 11B24 demonstravam superioridade da enoxaparina
em relação à HNF.26 Então, com o intuito de se delinear um
estudo clínico com a conduta antiagregante completa e de
estratificação invasiva contemporânea surgiu o trial SINERGY.51
Este estudo contou com mais de 10.000 pacientes com SCA
de alto risco que seriam submetidos à estratificação invasi-
107
108
va. Ao final de 48 horas ou 14 dias não houve diferença em
mortalidade ou IAM entre os grupos enoxaparina e HNF. Mas
talvez o mais notável do estudo tenha sido uma análise post
hoc comparando quem se manteve apenas com uma das
heparinas durante a internação com quem fez o crossover,
que demonstrou que o grupo que usou as duas heparinas
durante a internação apresentou maior sangramento, sem
nenhum impacto na diminuição de desfechos clínicos “duros”.
Ainda, analisando-se apenas os pacientes que fizeram uso
de apenas um dos antitrombóticos durante a internação,
houve superioridade no grupo enoxaparina comparando-se
com HNF, para os desfechos óbito e IAM aos 30 dias. Dessa
forma, hoje é desencorajada a troca de HNF por enoxaparina
ou vice versa em pacientes com SCA.2,47,52
As doses recomendadas de enoxaparina são de
1mg/kg de 12 em 12 horas. Nos casos de insuficiência renal (taxa de filtração glomerular calculada < 30 mL/min) a
posologia é de apenas 1x ao dia; e para paciente acima de
75 anos, 0,75mg/kg 12/12h.
Pouco mais recente em desenvolvimento temos o antitrombótico sintético fondaparinux. Por surgir em uma época mais
contemporânea na cardiologia, seus estudos já são realizados
com um arsenal terapêutico mais robusto. O maior estudo
clínico randomizado a avaliá-lo no contexto das SCASSST
foi o OASIS-5.33 Este estudo randomizou mais de 20 mil pacientes com SCASSST para se submeterem ao tratamento
com fondaparinux ou enoxaparina. Em análise realizada de
não-inferioridade o fondaparinux foi equivalente (não inferior)
à enoxaparina em nove dias. Na avaliação do desfecho de
segurança, o fondaparinux apresentou significativamente
menos sangramento grave que a enoxaparina. No seguimento
maior (30 e 90 dias) houve diminuição de mortalidade no
grupo fondaparinux.
No subgrupo de pacientes submetidos à intervenção
coronariana percutânea (ICP) houve menor taxa de sangramento com fondaparinux, não influenciado pelo tempo de
atraso da angioplastia. No entanto, notou-se aumento de
trombos nos cateteres de ICP no grupo fondaparinux versus
enoxaparina (0,9 vs. 0,4%), fato este que foi diminuído por
injeção de dose empírica de HNF para lavar o cateter após
uma emenda ao protocolo do estudo ainda em andamento.53
Estudos subsequentes mostraram que uma dose de HNF
deve ser administrada na sala de hemodinâmica aos pacientes em uso de fondaparinux que serão submetidos à ICP.54
Um grande registro recentemente publicado – com 40.616
pacientes – mostrou redução de mortalidade hospitalar com
fondaparinux comparando-se à enoxaparina; vantagem que
não se manteve com 6 meses.55 Estudo de custo efetividade canadense mostrou que o fondaparinux é custo efetivo
comparando-se com a enoxaparina. Este benefício é notado
tanto imediatamente após o evento quanto a longo prazo.56
O fondaprinux é o antitrombótico de uso parenteral com o
melhor perfil de eficácia e segurança hoje, e seu uso deve
ser preferido sobre os demais, a menos que o paciente seja
referenciado para abordagem percutânea imediata.2
A dose do fondaparinux é de 2,5mg por via subcutânea
em 1 aplicação diária. Devido à sua eliminação renal, se a taxa
de filtração glomerular calculada for menor que 20mL/min,
seu uso não é recomendado (Tabela 1).
Para intervenção percutânea nas SCASSST, pode-se fazer
uso desses três antitrombínicos: enoxaparina, HNF e fondaparinux. Neste contexto, uma metanálise incluindo 23 trials e
mais de 30 mil pacientes mostrou a segurança e eficácia da
enoxaparina comparando-a com HNF - denotando redução
em: mortalidade, composto de mortalidade e infarto, complicações do infarto, e sangramentos maiores.57 Importante
ressaltar que o estudo SINERGY mostrou o malefício de se
trocar o antitrombínico nas SCASSST – de enoxaparina para
HNF ou vice-versa.51 O fondaparinux teve seu benefício demonstrado no estudo OASIS-5. Subgrupo de pacientes com
SCASSST que realizaram intervenção tiveram significativa
diminuição de sangramento com o fondaparinux comparado à
enoxaparina. No entanto, foi observado aumento de trombos
no cateter. Esse aumento de trombos foi abolido com uso de
HNF associado ao fondaparinux, de maneira que estudos
subsequentes trouxeram que a dose padrão de HNF deveria
ser usada nas ICP de pacientes sob uso do fondaparinux.54
Na hemodinâmica, a heparina não fracionada é usada em
bolus endovenoso, e ajustada pelo TCA. Essa dose é de 70 a
100 UI/kg, ou 50 a 70 UI/kg se usado em pacientes com inibidores da glicoproteína IIb/IIIa.58,59 A enoxaparina não precisa ser
administrada nas ICP se a última dose aconteceu a menos de 8
horas; caso contrário, a dose de 0,3 mg/kg por via endovenosa
deve ser administrada.60,61 Para pacientes com fondaparinux, a
dose diária é mantida, e a complementação na sala de hemodinâmica com 85 UI/kg de HNF deve ser realizada, ou 60 UI/kg
no caso do uso de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa.
SÍNDROMES CORONARIANAS COM SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST
A demonstração do benefício dos antitrombóticos nas
SCACSST precede o uso consagrado do AAS e da terapia
trombolítica.7 Nas SCA com supradesnivelamento do ST, a terapia antitrombótica difere nos seguintes cenários: (i) pacientes
submetidos à terapia trombolítica, (ii) pacientes submetidos à
angioplastia primária, e (iii) pacientes que não se submeteram
à qualquer terapia de reperfusão (infarto agudo do miocárdio
evoluído). A terapia antitrombótica já foi amplamente estudada
Tabela 1. Resumo das recomendações para terapia antitrombótica
nas SCASSST.
Ajuste para função
Droga antiDose
renal
trombótica
60-70 UI/kg (máx 5.000
UI) seguidos de infusão
Heparina
de 12-15 UI/kg/h
não fracio(máx 1.000 UI), ajustannada
do TTPa entre 1,5-2,5x o
SCA
controle
1mg/kg 12/12h ou
1mg/kg 1x/dia se
Enoxaparina 0,75mg/kg 12/12h se
TFG < 30mL/min
acima de 75 anos
FondapariNão recomendado
2,5mg 1x/dia SC
se TFG < 20 mL/min
nux
H e p a r i n a 70-100 UI/kg ou
não fracio- 50-70 UI/kg se em uso de IGP IIb/IIIa
nada
0,3mg/kg se última dose
ICP Enoxaparina
SC acima de 8 horas
Associar 85 UI/kg de HNF
Fondapariou 60UI/kg se com IGP nux
IIb/IIIa
Doses recomendadas para uso em casos de SCASSST. SCA: Síndrome coronariana aguda; ICP:
Intervenção coronária percutânea; TTPa: Tempo de tromboplastina parcial ativado; SC: subcutâneo;
IGP: Inibidores da Glicproteína; TFG: Taxa de Filtração Glomerular.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):105-11
TERAPIA ANTITROMBÓTICA NA FASE AGUDA DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS
nestes contextos e deve ser administrada até que a terapia de
reperfusão seja realizada. Caso não seja, deve ser dada por 48h
ou durante o período de internação do paciente, até oito dias.
No início da década de 90, para os pacientes submetidos à terapia trombolítica, dois grandes estudos – ISIS-3 e
GISSI-2 – fatoriais, colocaram em xeque o benefício do uso
da heparina nos casos de SCA com supradesnivelamento de
ST. Ambos falharam em demonstrar redução de desfechos
cardiovasculares na adição da HNF à terapia de reperfusão
química e ao AAS.12,13 A explicação hoje para esta ausência
de benefício se dá pois a terapia realizada com HNF foi por
via subcutânea. O estudo subsequente GUSTO-1 – com mais
de 41 mil pacientes – viria demonstrar redução da mortalidade
com o uso desta mesma HNF, no entanto agora administrada
por via endovenosa contínua, conjuntamente com fibrinolítico
e AAS.14 A HNF aumentou patência da artéria coronária com
alteplase como fibrinolítico, mas não com estreptoquinase.62,63
Estudos posteriores viriam comparar enoxaparina com
HNF no cenário de trombólise para SCACSST. O estudo
ASSENT-3 demonstrou benefício da enoxaparina sobre HNF
em reinfarto e isquemia refratária hospitalares – com uso
por 7 dias.64 Foi seguido pela grande estudo ExTRACT TIMI25,65 que concluiu que o uso de enoxaparina em pacientes
submetidos à trombolise foi capaz de reduzir mortalidade
e reinfarto em 30 dias quando comparado ao uso da HNF.
Mesmo com aumento de sangramento nos pacientes do grupo enoxaparina, o benefício líquido favoreceu enoxaparina.65
Mais recentemente, o fondaparinux foi testado no estudo
OASIS-6 e, em uma análise de subgrupo posteriormente publicada, mostrou-se superior ao placebo e HNF em reduzir
reinfarto e morte – particularmente nos pacientes que receberam estreptoquinase.66 A dose de HNF a ser usada nos casos
com trombólise é: dose de ataque de 60 UI/kg (máximo de
4.000 UI) seguida de infusão contínua de 12UI/kg, ajustando-se a infusão para manter TTPa entre 1,5 e 2x o controle.31 A
enoxaparina deve ser usada em 30mg por via endovenosa
como dose de ataque seguida de 1mg/kg a cada 12 horas
por via subcutânea.31 Os ajustes para função renal e idade
seguem o mesmo padrão da dose para SCASSST.
No segundo cenário citado – o de pacientes submetidos
à angioplastia primária – as opções disponíveis no Brasil
são apenas a HNF e a enoxaparina. O uso do fondaparinux não é indicado na sala de hemodinâmica como único
antitrombínico pelos resultados não satisfatórios do estudo
OASIS-6.67 Apesar de não haver estudo robusto, controlado e
randomizado para o uso de HNF na angioplastia primária, o
uso deste antitrombótico é consagrado, na dose de 70 a 100
UI/kg; ou 50 a 60 UI/kg se administrado com inibidores da
glicoproteína IIb/IIIa.68 Diversos estudos não randomizados
sugeriram o uso da enoxaparina na angioplastia primária;57,69
Mas o estudo clínico randomizado que a testou (ATOLL70),
mostrou ausência de benefício para o desfecho primário
(p=0,06), mas demonstrou superioridade à HNF no desfecho secundário composto (morte, IAM ou SCA recorrente,
ou revascularização de urgência). A diretriz Europeia de
tratamento de SCACSST68 coloca preferência da enoxa-
parina sobre a HNF em angioplastia primária, diferente da
diretriz brasileira, que inverte o nível de escolha. Nas salas
de hemodinâmica do Brasil há preferência pelo uso da HNF
sobre a enoxaparina.31 A dose para uso da enoxaparina na
angioplastia primária é de 0,5mg/kg endovenoso.71
Com relação ao cenário do IAM evoluído (sem reperfusão)
há escassez de dados na literatura; no entanto, a diretriz
européia sugere que o mesmo tratamento medicamentoso
utilizado para a SCACSST com trombólise seja usado neste
caso (com enoxaparina, fondaparinux ou HNF) (Tabela 2).68
Tabela 2. Resumo das recomendações para terapia antitrombótica
nas SCACSST.
Ajuste para
Droga antiDose
função renal
trombótica
60 UI/kg (máx 4.000 UI)
seguidos de infusão de
Heparina não 12 UI/kg/h
fracionada
(máx 1.000 UI), ajustando
FibrinóTTPa entre 1,5-2,0x o
lise
controle
30mg EV em bolus
ou
seguido de 1mg/kg
1mg/kg 1x/
12/12h ou
Enoxaparina
dia se TFG
sem bolus inicial seguido
< 30mL/min
evoluído
de 0,75mg/kg 12/12h se
acima de 75 anos
Não reco2,5mg EV em bolus
mendado
Fondaparinux seguido de 2,5mg 1x/
se TFG < 20
dia SC
mL/min
70-100 UI/kg sem IGP
Heparina não IIb/IIIa ou
50-60 UI/kg se em uso
ICP pri- fracionada
de IGP IIb/IIIa
mária
Enoxaparina 0,5mg/kg EV em bolus Fondaparinux NÃO RECOMENDADO
Doses recomendadas para uso em casos de SCACSST. ICP: Intervenção coronária percutânea; TTPa:
Tempo de tromboplastina parcial ativado; SC: subcutâneo; IGP: Inibidores da Glicproteína; TFG:
Taxa de Filtração Glomerular.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os antitrombóticos devem sempre ser usados nos pacientes com SCAs, no momento do diagnóstico, respeitando-se
os limites dos riscos de sangramento. A escolha deve sempre
se basear no tipo de SCA (se com ou sem supradesnivelamento do segmento ST) e em seu perfil de depuração renal,
além da disponibilidade do fármaco. O manejo adequado
dos antitrombóticos e sua adequada e rápida instituição
são essenciais para se reduzir os riscos de isquemia sem
aumentar de forma imprudente os riscos de sangramento.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho.
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111
Revisão/review
ESTRATÉGIAS ANTIPLAQUETÁRIAS ORAIS NAS FASES
AGUDA E CRÔNICA DAS SÍNDROMES
CORONARIANAS AGUDAS
ORAL ANTIPLATELET STRATEGIES IN THE ACUTE AND
CHRONIC OF ACUTE CORONARY SYNDROMES.
RESUMO
José Carlos Nicolau¹
Remo Holanda de
Mendonça Furtado¹
1.Unidade de Coronariopatia Aguda do
Instituto do Coração (InCor) do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo.
Correspondência:
Rua Dr. Eneas Carvalho de Aguiar 44,
2o andar, Bloco II, conjunto 12;
São Paulo, SP; CEP 05403-000
[email protected]
112
Desde os primeiros estudos com ácido acetilsalicílico (AAS), até publicações mais recentes com novos bloqueadores de ADP e bloqueadores do receptor de trombina, pode-se
afirmar que o conhecimento sobre o tratamento antiplaquetário nas síndromes coronarianas
agudas (SCA) evoluiu de forma exponencial. Atualmente, a dupla antiagregação (DAP) é
parte essencial do tratamento das SCA em todas as suas formas de apresentação, sendo
recomendada por no mínimo um ano em todos os pacientes, independentemente da
estratégia de revascularização utilizada, desde que não haja contraindicações ao seu uso.
Ao mesmo tempo que se demonstrava eficácia crescente com o uso de antitrombóticos de forma geral (incluindo-se os antiplaquetários), cada vez mais a comunidade
científica se conscientizava da importância do sangramento que ocorria com o uso desses
medicamentos e negava, ao menos parcialmente, os benefícios obtidos.
Assim sendo, os maiores desafios nos tempos atuais em termos de terapêutica
antitrombótica nas SCA voltam-se para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas
personalizadas individualmente, que possam ter o máximo possível de benefício em
termos de eventos isquêmicos, com o mínimo possível de sangramento. Isso inclui não
apenas uma análise cuidadosa dos medicamentos a serem associados, mas também do
tempo de sua utilização. Tais estratégias constituem o foco principal da presente revisão.
Descritores: Terapia antiplaquetária; Síndromes coronárias agudas; Estratégia.
ABSTRACT
Since the first studies with acetylsalicylic acid (ASA) up to more recent publications with
new blockers of ADP and anti-thrombin receptor blockers, it is fair to say that knowledge
about antiplatelet therapy in acute coronary syndromes (ACS) has grown exponentially.
Currently, dual antiplatelet (DAP) therapy is an essential part of the treatment in all presentation forms of ACS, and it is recommended for at least one year for all patients, regardless
of the revascularization strategy used, provided there are no contraindications to its use.
Alongside the demonstration of increased efficacy of antithrombotics in general (including antiplatelet drugs), the scientific community became increasingly aware of the impact
of bleeding that occurred with the use of these drugs, and that were undermining, at least
partially, the benefits obtained.
Thus, the main challenge today regarding anti-thrombotic treatment in ACS is the development of tailored therapeutic strategies that can produce the greatest possible benefit in
terms of ischemic events, with minimal bleeding. This includes not only a careful analysis
of the drugs to be associated, but also the duration of their use. Such strategies are the
focus of the present review.
Descriptors: Antiplatelet therapy; Acute coronary syndromes; Strategies.
INTRODUÇÃO
O estímulo à agregação plaquetária segue diversas
vias metabólicas, como pode ser visto na Figura 1. Para fins
didáticos, a presente revisão focará nos medicamentos que
bloqueiam a ciclooxigenase (ácido acetil salicílico), o receptor
do ADP P2Y12 (clopidogrel, prasugrel e ticagrelor) e o receptor
da trombina PAR-1 (vorapaxar).
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):112-9
ESTRATÉGIAS ANTIPLAQUETÁRIAS ORAIS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS.
EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO ANTIPLAQUETÁRIO NAS SCA
Ácido acetilsalicílico (AAS)
Data de mais de um século o uso do ácido acetilsalicílico
(AAS) como medicamento com efeitos analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios.1 A primeira descrição científica do AAS
ocorreu em 1763, quando foram descritas as propriedades
analgésicas da salicilina, substância obtida a partir da casca
do salgueiro.1 Posteriormente, os laboratórios Bayer passaram a comercializar a substância com o nome comercial de
Aspirina®, sendo uma das medicações mais utilizadas no
mundo até os dias atuais. O mecanismo de ação do AAS é
bem estabelecido e conhecido: o medicamento leva à acetilação irreversível com consequente inativação da enzima
ciclo-oxigenase (COX), bloqueando deste modo a geração
do tromboxano A2, potente indutor da agregabilidade plaquetária.(Tabela 1) Sua ação antiplaquetária ocorre mesmo com
sua utilização em doses baixas, como 81 a 150 mg/dia, sendo
essas doses as recomendadas no tratamento das síndromes
coronarianas agudas (SCA) por manterem excelente potência
antiagregante com menor incidência de sangramento, em
relação a doses maiores.2,3,4 O efeito antitrombótico do AAS
foi testado clinicamente de forma adequada, somente nos
últimos 30 anos. Em pacientes com angina instável, desde
a década de 1980 existem evidências de que sua utilização,
em relação a placebo, leva à diminuição de aproximadamente
50% na incidência do desfecho composto de infarto, óbito
cardiovascular e acidente vascular cerebral (AVC).3,5
Já no infarto agudo do miocárdio com supradesnível do
segmento ST (IAMCSST), o AAS foi testado no estudo ISIS-2,
que incluiu >17000 pacientes e demonstrou que o medicamento, em relação ao placebo, levou à redução de 23% na
mortalidade em 35 dias, percentual bastante próximo do obtido
quando da comparação (no mesmo estudo) de estreptoquinase
AAS
Tromboxane
A2
Coagulação
Trombina
PAR-4
vorapaxar
Geração de
trombina
TPa
Colageno
GPVI
contra placebo (25%). Ainda mais importante, o uso do AAS em
conjunto com a estreptoquinase, em relação a placebo, levou a
impressionantes 42% de diminuição na mortalidade precoce.6
Clopidogrel
A partir dos anos 1990, foi desenvolvida a hipótese de
que a adição de um bloqueador do receptor ao AAS poderia
acrescentar benefício no tratamento de pacientes com SCA, já
que estaria bloqueando um “caminho” diferente da agregação
plaquetária. Essa hipótese foi testada inicialmente no estudo
CURE, que demonstrou redução significativa na incidência
do desfecho composto de reinfarto, óbito e AVC a favor do
clopidogrel em comparação ao placebo, em população de
pacientes com SCA sem supradesnível de segmento ST. O
benefício do medicamento foi consistente tanto nos indivíduos
tratados com intervenção coronária percutânea (ICP), como
naqueles tratados com terapia médica apenas ou com cirurgia
de revascularização do miocárdio. Vale ressaltar que a redução
de eventos se manteve durante todo o seguimento do estudo,
de 12 meses, e apesar do aparente maior benefício nos primeiros três meses de seguimento, houve significativo benefício
adicional após o primeiro mês a partir do evento agudo. Em
direção oposta ao benefício obtido, observou-se significativo
aumento na incidência de sangramentos maiores.7,8
Após o beneficio demonstrado na SCA sem supradesnível
do segmento ST, o clopidogrel foi testado também no IAMCSST.
No estudo CLARITY, que incluiu >3.500 pacientes tratados com
fibrinolítico e AAS, o clopidogrel, em relação ao placebo, levou
a diminuições significativas nas incidências dos desfechos
compostos de artéria ocluída, reinfarto e morte cardiovascular
(principal), e de óbito cardiovascular, reinfarto ou isquemia
refratária levando à necessidade de revascularização urgente
(secundário).9 Já o estudo COMMIT, em que aproximadamente 45.000 pacientes com ou sem uso de fibrinolítico foram
analisados, demonstrou redução significativa no desfecho
5HT
5TH2A
P2Y1
PAR-1
Ativação
Plaquetária
REVISÃO/REVIEW
INDICAÇÕES DE DISPOSITIVOS MECÂNICOS DE
SUPORTE NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA REFRATÁRIA
INDICATIONS OF MECHANICAL SUPPORT DEVICES IN REFRACTORY HEART FAILURE
RESUMO
Elias Knobel1
Bruno Biselli2
Paulo Manuel Pêgo
Fernandes2
1. Hospital Israelita Albert Einstein,
São Paulo,Brasil .
2. Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade
de São Paulo, São Paulo, Brasil.
Correspondência:
Bruno Biselli. Endereço: Av. Dr Enéas
Carvalho de Aguiar, 44.
[email protected].
A insuficiência cardíaca refratária e o choque cardiogênico estão relacionados a
elevadas taxas de mortalidade e a baixa qualidade de vida. As estratégias de tratamento
para esses pacientes foram limitadas, nos últimos anos, às terapias farmacológicas que
pouco modificaram a evolução da doença. Entretanto, com o desenvolvimento tecnológico em dispositivos mecânicos de suporte circulatório, diversas modalidades terapêuticas
utilizando diferentes tipos de tecnologia proporcionam melhor suporte hemodinâmico,
diminuição e reversão de disfunções orgânicas causadas pela insuficiência cardíaca.
Esses dispositivos quando indicados corretamente melhoram os desfechos clínicos de
pacientes que aguardam transplante cardíaco e dos que não são candidatos a transplante. Atualmente, observam-se indicações cada vez mais precoces de dispositivos de
suporte circulatório, tornando-os uma terapia essencial no manejo de pacientes com
insuficiência cardíaca refratária ou choque cardiogênico. Esta revisão abordará os principais tipos de dispositivos disponíveis em nosso país e suas indicações.
Descritores: Coração Auxiliar, Circulação Assistida, Suporte Circulatório Mecânico, Insuficiência Cardíaca, Choque Cardiogênico, Transplante de Coração.
1
ABSTRACT
The refractory heart failure and cardiogenic shock are related to high rates of mortality and
poor quality of life. Treatment strategies for these patients have been limited in the last years
to pharmacological therapies that change only slightly the evolution of the disease. However,
with technological advances in mechanical devices for circulatory assistance, various therapeutic modalities using different types of technology provide better hemodynamic support,
reduction and reversal of organic dysfunction caused by heart failure. When properly indicated, these devices can provide better clinical outcomes of patients on heart transplantation
waiting list and those who are not candidates for transplantation. Contemporarily, indications
for mechanical support devices are occurring increasingly earlier, making them an essential
therapy in the management of patients with refractory heart failure or cardiogenic shock.
This review covers the different types of devices available in our country and its indications.
Descriptors: Heart-Assist Devices, Assisted Circulation, Mechanical Circulatory Support,
Heart Failure, Cardiogenic Shock, Heart Transplantation
INTRODUÇÃO
Nos últimos 20 anos diversas terapias farmacológicas
e dispositivos como cardiodesfibrilador implantável e terapia de ressincronização melhoraram significativamente
o prognóstico dos pacientes com insuficiência cardíaca
(IC) crônica. Porém, apesar dessa terapia otimizada, nota-se em alguns pacientes uma progressão de sintomas e
refratariedade ao tratamento, com comprometimento hemodinâmico e múltiplas hospitalizações.1
Essa refratariedade ao tratamento clínico otimizado é
referida como IC refratária ou avançada e seus critérios são
descritos na Tabela 1.2
A IC avançada representacerca de 10% dos pacientes
com insuficiência cardiaca e está relacionada a uma baixa
qualidade de vida e múltiplas internações. Nos últimos 15
anos, nenhuma droga nova mostrou beneficio em reduzir a mortalidade desse tipo de paciente e a progressão
da doença ainda parece ser inevitável acarretando um
prognóstico pior em relação aos pacientes com IC estáveis.3 A taxa de mortalidade desses pacientes gira em
torno de 50% em 1 ano e o cenário é ainda mais dramático
naqueles internados e dependentes de inotrópicos cuja a
mortalidade anual chega a mais de 75%.4,5
O transplante cardíaco (TC) é o único tratamento definitivo
5HT
ADP
ADP
ATP
ADP
ATP
P2X1
Grânulo
denso
P2Y12
ticlopidina
clopidogrel
prasugrel
Metabólito
Ativo
ticagrelor
cangrelor
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(1):21-6
Amplificação
Alteração
da forma
Grânulo alfa
αIIbβ3
Fatores da coagulação
Mediadores inflamatórios
αIIbβ3
Fibrinogênio
Agregação
αIIbβ3
Antagonistas GP IIb/IIIa
PAR= protease-activated receptor. TP= thromboxane A2 prostaglandin H2.
Adaptado de: Story RF. Curr Pharm Des. 2006; 12:1255-1259.
Figura1. Mecanismos de ativação plaquetária.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):112-9
113
114
composto de óbito, reinfarto e AVC em relação ao placebo,
quando clopidogrel foi associado ao AAS. O mesmo estudo
demonstrou ainda diminuição significativa na mortalidade
global (redução de risco relativo de 7%, p=0,03).10 Em ambos
os estudos, o clopidogrel foi utilizado somente durante a fase
de hospitalização, o que talvez explique o fato de que não se
detectou aumento significativo na incidência de sangramento
maior com o uso do medicamento, em relação a placebo.
Em relação à dose, o estudo CURRENT-OASIS 7 testou a
hipótese de que dose dobrada do clopidogrel (600 mg dose
de ataque seguida de 150 mg/dia por 1 semana) poderia ser
superior à dose convencional de 300 mg dose de ataque
seguida por 75 mg/dia. No total dos aproximadamente 25000
pacientes com SCA (com e sem supradesnível do segmento
ST) incluídos, não foi demonstrada diferença significativa em
relação ao desfecho primário de óbito cardiovascular, IAM e
AVC entre as duas doses testadas. Entretanto, no subgrupo de
pacientes submetido à ICP, demonstrou-se benefício significativo da dose maior em relação ao desfecho principal (p=0,036;
NNT=167), porém, as custas de significativo aumento na
incidência de sangramento maior (p=0,01; NNH=200).11
Finalmente, no longo prazo pós-IAM, com todas as limitações
que se deve ter em análises de subgrupo, o estudo CHARISMA
(que no geral foi neutro) sugeriu benefício do uso do clopidogrel
contra placebo na subpopulação de pacientes com IAM prévio.12
Apesar das evidências a favor de sua eficácia em diversos cenários das SCA, o clopidogrel apresenta diversas
limitações. Primeiramente, por ser uma pró-droga, necessita
de ativação no citocromo P450, o que implica efeito lento e
incompleto na inibição da agregação plaquetária. Na realidade, cerca de 30% dos pacientes apresentam má resposta ao
medicamento inclusive durante a fase crônica de tratamento,
colocando-os em risco aumentado de eventos trombóticos
recorrentes.13 Por último, o clopidogrel é sujeito a diversas
interações genéticas e medicamentosas por conta do seu
complexo metabolismo via citocromo P450, o que contribui
na diminuição da sua potência antiagregante plaquetária.14
Em resumo, sabe-se que o clopidogrel tem um lento início
de ação, uma inibição média da agregabilidade aquém
do ideal, e uma grande variação de resposta individual,
principalmente relacionada a interações medicamentosas e
presença de polimorfismos, o que levou ao desenvolvimento
de novos bloqueadores do P2Y12, descritos na sequencia.15
“Novos” bloqueadores de ADP
Os “novos” bloqueadores do receptor P2Y12 do ADP têm
em comum o fato de que, em relação ao clopidogrel, apresentam início de ação mais rápido, bloqueiam a agregação
plaquetária de modo mais intenso e apresentam menor variabilidade de resposta.
Prasugrel
É um tienopiridínico de 3a geração (ticlopidina->clopidogrel->prasugrel) que, à semelhança dos seus antecessores, age
bloqueando de maneira irreversível o receptor P2Y12. No estudo
TRITON, o prasugrel foi significativamente superior ao clopidogrel no que se refere à redução do desfecho composto de
morte cardiovascular, reinfarto e AVC (às custas de diminuição
na incidência de reinfarto), em pacientes apresentando SCA
com e sem supradesnível de ST tratados por ICP. Apesar do
aumento significativo encontrado na incidência de sangramento
maior no grupo prasugrel, o benefício líquido (13%) foi favorável
ao composto mais recente. Importante salientar que não houve
benefício nos pacientes idosos (>75 anos de idade) ou com
baixo peso (<60 kg) – nessas situações o medicamento deve
ser utilizado com dose pela metade. Ainda, o benefício líquido
foi desfavorável ao prasugrel nos indivíduos com AVC ou ataque isquêmico transitório (AIT) prévios, sendo o medicamento
contraindicado nessas duas situações.16
Já o estudo TRILOGY incluiu pacientes com SCA sem
supradesnivel de ST tratados de forma clínica, portanto sem
revascularização, durante a hospitalização inicial. Nesse estudo, ao contrário do anterior, o prasugrel não foi superior ao
clopidogrel na redução de eventos trombóticos, e tampouco
foi observado aumento significativo de sangramento.17
Devido ao início de ação mais rápido, seria possível que o
prasugrel tivesse alguma vantagem adicional se utilizado ainda
na sala de emergência, em relação ao uso somente no laboratório de hemodinâmica após a visualização da anatomia coronária, conforme testado no TRITON. Essa hipótese foi testada
no estudo ACCOAST, que não demonstrou qualquer vantagem
dessa estratégia em relação àquela do TRITON, demonstrando,
ao contrário, desvantagem ao aumentar sangramento maior.18
Ticagrelor
Ao contrário dos tienopiridínicos, esse composto é um
bloqueador reversível do receptor P2Y12. No estudo PLATO,
o ticagrelor foi superior ao clopidogrel na redução do desfecho composto de morte cardiovascular, reinfarto e AVC em
pacientes apresentando SCA com ou sem supradesnível de
ST, independente do tratamento de revascularização utilizado
(ICP, cirurgia de revascularização do miocárdio ou tratamento
clínico). Não houve aumento de sangramento global, embora
tenha havido maior incidência de sangramento não relacionado
a procedimento cirúrgico no grupo ticagrelor. Além da redução
do desfecho composto, demonstrou-se também redução de
reinfarto, óbito cardiovascular e óbito global individualmente.
Os efeitos colaterais que tiveram incidências significativamente
maiores no grupo ticagrelor incluíram: bradicardia e pausas sinusais, entretanto sem que houvesse aumento na necessidade de
marcapasso, e dispneia, que levou à interrupção do tratamento
em aproximadamente 1% dos casos.19 O achado de dispneia
tem levado a grandes discussões na literatura, já que não se
relaciona à piora da função ventricular. Admite-se atualmente
que a dispneia observada com o ticagrelor esteja relacionada ao
aumento dos níveis circulantes da adenosina, já que o medicamento inibe a recaptação celular da adenosina, principalmente
pelos glóbulos vermelhos.20 Levando-se em conta demonstrações prévias do efeito benéfico da adenosina no infarto do
miocárdio21 e sub-análise do próprio estudo PLATO, admite-se
que esse “efeito colateral” do ticagrelor poderia explicar parte
dos benefícios encontrados com o medicamento, inclusive, ao
menos a diminuição de mortalidade observada.22 Importante
salientar que o estudo PLATO incluiu pacientes com todas as
formas de apresentação da SCA, com exceção de pacientes
com IAM com supradesnível de ST tratados com fibrinolíticos,
que no momento estão sendo estudados em estudo multicêntrico
internacional de iniciativa brasileira (NCT 02298088).
No IAM com supradesnível de ST submetido à ICP primária, o estudo ATLANTIC testou a hipótese de que o uso
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):112-9
ESTRATÉGIAS ANTIPLAQUETÁRIAS ORAIS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS.
do ticagrelor em ambulância, portanto antes da chegada ao
hospital, poderia acrescentar benefício, em relação à sua
utilização hospitalar na sala de hemodinâmica. O estudo
não mostrou redução significativa nos seus dois desfechos
primários, fluxo TIMI 3 na coronariografia pré-ICP e melhora
>70% no supradesnível do segmento ST antes da ICP. Por
outro lado, a incidência de sangramento foi baixa e igual nos
dois grupos. Considera-se que a principal limitação do estudo
foi o fato de que houve apenas 31 minutos de diferença em
relação à utilização dos medicamentos nos dois grupos.23
Finalmente, no longo prazo pós-IAM, o estudo PEGASUS
testou ticagrelor em duas doses diferentes (90 e 60 mg de
12 em 12 horas) versus placebo, associado ao AAS, em
pacientes com história de IAM entre um e três anos antes
da randomização. O estudo demonstrou, ao longo de dois
anos e meio de seguimento médio, redução significativa no
desfecho composto de morte cardiovascular, reinfarto e AVC.
Ao mesmo tempo, houve aumento significativo na incidência
de sangramento maior (principalmente com a dose de 90 mg)
mas não de sangramento fatal (tanto na população global
quanto com as diferentes doses testadas).24 Por conta desse
estudo, a dose de 60 mg do ticagrelor foi aprovada para uso
no longo prazo pós-IAM em diversos países, inclusive EUA.
Vorapaxar
Além dos bloqueios das ações do tromboxano A2 e do
ADP, o bloqueio da ação da trombina também poderia desempenhar importante papel no tratamento das SCA. O vorapaxar é um medicamento que age bloqueando o receptor
PAR-1 (protease activated receptor – receptor ativado por
protease), responsável pela agregação plaquetária mediada
pela trombina. Estudos de fase dois mostraram que essa via
seria especialmente atrativa, pois aparentemente quando
inibida levava a importante bloqueio da agregação plaquetária, sem aumento significativo de sangramento, sobretudo
sangramento periprocedimento.25 O estudo TRACER testou
a associação de vorapaxar versus placebo em cerca de 12
mil pacientes com SCA sem supradesnível de ST tratados
invasivamente, adicionado ao uso de AAS e anti-ADP. O estudo não mostrou diferença significativa entre os grupos em
relação ao desfecho primário composto de morte, reinfarto,
AVC, isquemia recorrente ou necessidade de revascularização
de urgência e, ao contrário do esperado, demonstrou aumento
de sangramento maior, incluindo um incremento de quase
quatro vezes no risco de hemorragia intracraniana.26
Já o uso do produto contra placebo, no longo prazo após
IAM, foi testado no estudo TRA-2P. No total foram incluídos
>26.000 pacientes, todos estáveis com IAM ou AVC isquêmico entre 14 dias e 12 meses antes da randomização, ou
doença arterial periférica (DAP). No global, demonstrou-se
redução significativa no desfecho composto de morte cardiovascular, reinfarto e AVC no grupo vorapaxar, às custas
de significativo aumento na incidência de sangramento
maior e de hemorragia intracraniana.27 Análise secundária
demonstrou ausência de interação do sangramento com o
fato de o paciente utilizar AAS isoladamente ou em conjunto
com um anti-ADP.28 Como os sangramentos ocorreram de
forma muito mais marcante no grupo com AVC prévio, foi
realizada nova análise excluindo-se pacientes com AVC
prévio. Nesta análise, que incluiu 20170 pacientes com IAM
prévio e/ou doença arterial periférica, o benefício líquido foi
significativamente favorável ao vorapaxar (principalmente no
grupo com IAM prévio), levando o produto a ser aprovado
para essa indicação em diferentes países, inclusive EUA.29
Tabela 1. Medicamentos antiplaquetários nas síndromes coronárias agudas.
Medicamento
Mecanismo de ação
Indicação clínica
Dose
Ácido
acetilsalicílico
(AAS)
Inibição da síntese de tromboxano
A2 por bloqueio irreversível da
enzima COX-1
Ataque: 165 a 325 mg
Clopidogrel
Bloqueio irreversível do receptor
P2Y12, evitando a ação agonista
plaquetária do ADP
Todos os pacientes com doença
aterotrombótica, independente se
agudos ou crônicos
Todas as formas de apresentação das
SCA
Coronariopatia crônica tratada com ICP
com stents
Prasugrel
Bloqueio irreversível do receptor
P2Y12, evitando a ação agonista
plaquetária do ADP
SCA tratada com ICP
OBS: contraindicado se AVC ou AIT
prévios
Ticagrelor
Bloqueio reversível do receptor
P2Y12, evitando a ação agonista
plaquetária do ADP
Todas as formas de apresentação das
SCA, exceto IAM com supradesnível do
segmento ST tratado com fibrinolítico.
Pacientes crônicos com infarto prévio
entre 1 e 3 anos (indicação pendente
no Brasil)
OBS: contraindicado se alto risco para
bradicardia
Vorapaxar
Bloqueio do receptor PAR-1,
impedindo a ativação plaquetária
induzida pela trombina
Pós IAM (pelo menos 14 dias) ou doença
vascular periférica de extremidades, em
Manutenção: 2,5 mg/dia
associação ao AAS com ou sem antiADP (indicação pendente no Brasil)
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):112-9
Manutenção: 75 a 165 mg/dia
Ataque: 300 a 600 mg
Manutenção: 75 mg/dia
Ataque: 60 mg
Manutenção: 10 mg/dia
OBS: utilizar metade da doe se peso
< 60 kg ou idade >75 anos
Ataque: 180 mg
Manutenção: 90 mg 2 vezes ao dia
no paciente agudo; 60 mg 2x ao
dia no paciente crônico
115
RECOMENDAÇÕES DAS DIRETRIZES
Em diferentes formas de apresentação das SCA (angina
instável, IAM com ou sem supradesnível do segmento ST),
a DAP é indicada desde o início do tratamento, devendo ser
mantida por pelo menos um ano, ressalvando-se aspectos de
contra-indicações, tolerabilidade, disponibilidade e custo. Nas
SCA com ou sem supradesnível de ST em que o inicio do tratamento ocorre na sala de hemodinâmica após o conhecimento
da anatomia coronária, o AAS pode ser associado a qualquer
dos três anti-ADP anteriormente citados. Nas situações em que
o tratamento se inicia antes do conhecimento da anatomia
coronária, apenas o clopidogrel e o ticagrelor são indicados.
No IAM com supradesnível de ST tratado com fibrinolítico, o
clopidogrel é o anti-ADP de escolha.30-35 Em relação ao AAS,
este deve ser mantido por tempo indeterminado. Doses baixas (81 a 100 mg por dia) são indicadas, pois como referido
previamente doses maiores não reduzem eventos isquêmicos
e aumentam as taxas de sangramento.11
DURAÇÃO IDEAL DA DUPLA
ANTIAGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA
Por conta basicamente do alto risco residual de eventos
isquêmicos no longo prazo pós-SCA,36-38 tem havido grandes
discussões na literatura sobre o tempo ideal de utilização da
DAP após a fase inicial da doença.
Por conta da relevância do tema, diversas metanálises
foram publicadas, mas de forma isolada não conseguiram
apontar caminhos seguros, até porque os enfoques eram
bastante diferentes (pacientes com stents recobertos de
primeira ou segunda geração, análise independente do
uso de stent, etc).39-41
No sentido de tentar equacionar o problema, as sociedades Norte-Americanas de Cardiologia publicaram, neste ano
de 2016, uma revisão sistemática juntamente com uma diretriz
sobre o assunto. Como pode ser visto na Figura 2, tal diretriz
recomenda idealmente a utilização de DAP por 12 meses após
um episódio de coronariopatia aguda (classe I), e tempos
maiores do que 12 meses em pacientes com ausência de alto
risco de sangramento e sem sangramento durante a utilização
de DAP (IIb). Outras recomendações incluem a preferência de
ticagrelor ou prasugrel sobre o clopidogrel em pacientes com
SCA tratados com ICP (classe IIa), e a suspensão da DAP após
seis meses em pacientes submetidos à ICP com alto risco
de sangramento ou sangramento significativo (classe IIb).42
Em resumo, o tempo de utilização da DAP pós-SCA vai
depender de uma análise cuidadosa do risco de eventos isquêmicos vs. risco de sangramento apresentado pelo paciente. No
sentido de facilitar tal avaliação, no momento apenas o escore
DAPT colocou numa mesma equação as duas variáveis, analisando assim o benefício líquido de se manter ou não a DAP
por tempo maior do que um ano.43 Entretanto, apesar de útil, a
aplicação desse escore precisa ser feita com cautela, pois foram
incluídos no estudo apenas pacientes aderentes ao tratamento
que não tinham apresentado nenhum sangramento nos 12 meses iniciais de tratamento com DAP, apenas 1/3 da população
apresentava SCA, e a totalidade dos pacientes foi submetido
a tratamento com stent (a grande maioria farmacológico).44
116
DAC
SCA agudo/recente
(SSDST-SCA ou IMSST)
DCIE
Sem Ht de
ICP de CRM
recente
0 mês
6 meses
SQ de ICP
SMD
Classe III: Sem
benefício
SQ de CRM
SEM
Classe I:
Pelo menos Classe I:
1 mês (clo- Pelo menos
6 meses
pidogrel)
(clopidogrel)
Classe IIb:
12 meses
podem ser
razoáveis
Sem alto risco de sangramento e (clopidogrel)
sem sangramento visível com DAP
Classe IIb: > 1
mês pode ser
razoável
Terapia
clínica
Lítica
(IMSST)
ICP (SMD
ou SEM)
CRM
Classe I:
Pelo menos
12 meses
(clopidogrel,
ticagrelor)
Classe I:
Mínimo de
14 dias e de
idealmente
pelo menos
12 meses
(clopidogrel)
Classe I:
Pelo menos
12 meses
(clopidogrel,
prasugrel,
ticagrelor)
Classe I:
Depois de
CRM, retomar inibidor
P2Y12 para
completar
um ano de
DAP
Classe IIb: > 6
meses podem
ser razoáveis
12 meses
Sem alto risco de sangramento e sem
sangramento visível com DAP
Classe IIb: 12 meses podem ser razoáveis
Adaptado da referência 42
Figura 2. Algoritmo para duração do tratamento como inibidor do P2Y12 em pacientes com doença arterial coronária tratados com
dupla antiagregação plaquetária.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):112-9
ESTRATÉGIAS ANTIPLAQUETÁRIAS ORAIS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DAS SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS.
Controvérsias atuais e questões
não resolvidas
Qual a importância clínica da interação entre
morfina e anti-ADP?
Apesar do enorme conhecimento adquirido em tempos recentes sobre os antiplaquetários, várias questões permanecem não
esclarecidas. Na sequência são mencionados alguns exemplos:
Publicação do registro CRUSADE em pacientes com SCA
sem supradesnível do segmento ST encontrou aumento de
mortalidade nos indivíduos que haviam feito uso de morfina endovenosa.51 Mais recentemente o estudo ATLANTIC,
citado anteriormente, que testou o uso do ticagrelor já na
ambulância ou apenas no hospital, e que foi neutro no global,
encontrou benefício significativo do uso precoce do ticagrelor,
em relação ao uso mais tardio nos indivíduos que receberam
morfina IV.23 A causa de tal interação pode estar na alteração
da absorção dos medicamentos, já que os antiplaquetários
são utizados por via oral e os opióides causam retardo no
trânsito gastrointestinal, havendo evidência laboratorial desta
hipótese com clopidogrel, prasugrel e ticagrelor.52,53
Ainda no campo das controvérsias, existe espaço para a
possibilidade de terapia antiplaquetária personalizada, por meio
de testes genéticos ou mesmo testes que avaliam a agregabilidade plaquetária. Evidências robustas ligam maior incidência
de eventos clínicos em indivíduos portadores de polimorfismos
genéticos que levam à perda de função do citocromo 2C19, a
principal enzima envolvida no metabolismo do clopidogrel de
pró-droga para forma ativa. O aumento de risco existe tanto
para heterozigotos como para homozigotos, sendo mais contundente com os últimos, já que apresentam redução total da
atividade da enzima.54 Metanálise de estudos que avaliaram
a influência genética no desenvolvimento de eventos clínicos,
mostraram aumento de eventos isquêmicos e mortalidade,
semelhante ao que foi descrito para os IBPs.48 No entanto,
existem também evidências de que os polimorfismos explicam
somente 12% da variabilidade na resposta ao clopidogrel.55
Em relação aos testes de agregabilidade plaquetária, um
campo em grande desenvolvimento, existem evidências de
correlação entre a agregrabilidade avaliada em laboratório
com eventos isquêmicos e hemorrágicos;56 entretanto; não se
conseguiu provar até o momento que uma terapêutica guiada
por esses testes possa modificar prognóstico.57 Estudo randomizado em desenvolvimento no nosso centro, com pacientes
apresentando SCA e indicação de cirurgia de revascularização
do miocárdio, está testando se uma estratégia de suspensão do
anti-ADP guiada por exame de agregação plaquetária poderia
encurtar o tempo de encaminhamento do paciente à cirurgia,
em comparação aos cinco dias recomendados (NCT 02516267).
Outra dúvida, é o que fazer em caso de pacientes que
necessitem de DAP e de anticoagulação oral, sobretudo em
portadores de fibrilação atrial não valvar. O único estudo randomizado sobre o tema mostrou que a estratégia de terapia dupla
(um anti-ADP mais o anticoagulante oral), foi mais segura do
que a terapia tripla (aspirina, anti-ADP e anticoagulante), com
redução significativa de sangramento maior e menor incidência
de eventos trombóticos. Vale ressaltar que esse estudo não
teve tamanho amostral suficiente para avaliar de forma definitiva desfechos isquêmicos, e que o número de pacientes com
SCA foi muito baixo; além disso, foram estudados somente o
clopidogrel como anti-ADP e a varfarina como anticoagulante
oral.58 No momento, não existe resposta em relação aos novos
anti-ADPs nem em relação aos novos anticoagulantes orais,
rivaroxabana, dabigatrana, apixabana e edoxabana. Pelo menos
três estudos randomizados em andamento, PIONEER, com
rivaroxabana (NCT 01830543), REDUAL-PCI com dabigatrana
Qual o melhor anti-ADP a ser utilizado com o
AAS?
Nenhum grande estudo com poder estatístico suficiente
para avaliar desfechos clínicos comparou os novos anti-ADP
entre si. Em estudo com desfecho farmacodinâmico, o ticagrelor foi superior ao prasugrel na inibição da agregabilidade paquetária, porém o significado clínico de tal achado é incerto45.
O AAS é necessário quando utilizado em
conjunto com novos antitrombóticos?
Apesar da eficácia inquestionável do AAS e de seu papel
estabelecido como medicamento padrão no tratamento das
SCA existe, atualmente, espaço para se questionar se seu
uso em conjunto com novos antitrombóticos mais potentes
acrescentaria benefício, ou somente aumentaria sangramento.
Estudo mecanístico recente testando ticagrelor em voluntários
sadios, sugere que a segunda hipótese poderia ser a verdadeira.46 Nesta linha, o estudo TWILIGHT (NCT02270242) está
testando ticagrelor + AAS versus ticagrelor isolado em 9000
pacientes submetidos à ICP de alto risco, e o estudo GEMINI-ACS 1, de fase 2, está testando em pacientes com SCA com ou
sem supradesnível de ST se a rivaroxabana na dose de 2,5 mg
duas vezes ao dia em associação ao ticagrelor ou clopidogrel
seria mais segura, ou até mesmo mais eficaz, do que o AAS.47
Qual a importância clinica da interação
medicamentosa entre inibidores de bomba de
próton (IBP) e clopidogrel?
Metanálise publicada por Hulot et al., demonstrou aumento significativo de mortalidade em pacientes utilizando
IBP + clopidogrel, em relação a pacientes utilizando clopidogrel isolado, principalmente às custas daqueles com alto
risco para eventos isquêmicos.48 A publicação mais recente
sobre o assunto, sub-análise pré-especificada do estudo
TRILOGY, demonstrou diminuição significativa na incidência
de IAM a favor do prasugrel, em relação ao clopidogrel, no
grupo de pacientes que utilizava IBP, ao contrário daqueles
que não utilizavam IBPs, nos quais não se encontrou diferença significativa entre os grupos em relação à incidência
de eventos isquêmicos aos três anos de seguimento. Os
resultados obtidos foram consistentes, independentemente
do IBP utilizado.38 Saliente-se que os dados mais recentes
corroboram achados prévios, que já haviam levado as
autoridades norte-americanas a recomendarem evitar-se
a utilização de clopidogrel com omeprazol, o que coloca
os bloqueadores de receptor H2, como a ranitidina, como
alternativa atraente nessa situação. Os poucos estudos que
avaliaram possíveis interações entre esse medicamento e
clopidogrel sugerem que não exista qualquer interação entre
os dois compostos, sendo, portanto, os bloqueadores do receptor H2 uma boa alternativa aos IBPs, nessa situação.49,50
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):112-9
117
(NCT 02164864) e AUGUSTUS com apixabana (NCT 02415400),
se propõem a responder essa importante questão.
conclusões e perspectivas futuras
O tratamento antiplaquetário nas SCA, nas suas fases inicial
e tardia, sem dúvida alguma evoluiu de maneira importante nas
últimas décadas. Entretanto, esse é um campo que continua
apresentando enormes desafios, principalmente por conta do
relativamente pouco que se sabe sobre as plaquetas, e por
conta da chegada de diversos novos antitrombóticos ao mercado, fazendo com que a utilização adequada dos mesmos,
principalmente em associação, seja um problema que se renova
a cada dia. Se, por um lado, a DAP talvez tenha atingido o ápice
de sua eficácia, é bem verdade que se deve aperfeiçoar a sua
segurança, sobretudo em alguns subgrupos de pacientes,
como aqueles em uso de anticoagulantes, com AVC prévio e
em idosos. Num futuro de médio prazo, pode-se esperar que
respostas para importantes questionamentos estarão sendo
obtidas; por outro lado, é possível que o clopidogrel seja um
antiplaquetário cada vez menos utilizado, embora isso depen-
da do equacionamento de diversas questões relacionadas
principalmente a custo, disponiblidade, aceitação, experiência
clínica com os novos anti-ADP e, principalmente, balanço entre
o benefício antitrombótico e o risco isquêmico. Finalmente,
é possível que se desenvolvam novas tecnologias, que nos
permitam implementar estratégias terapêuticas personalizadas
de forma mais segura em relação ao que temos atualmente.
Conflitos de interesse
Prof. Nicolau refere os seguintes potenciais conflitos de
interesse, relacionados à presente publicação:Coordenador
Nacional e Membro do “Steering Committee” dos estudos
TRITON, PLATO, TRACER e TRA-2P, citados no manuscrito; “Grant” de pesquisa e/ou educacional e/ou honorários
de consultoria/palestra: Astrazeneca, Daiichi-Sankyo, MSD,
Sanofi. Dr. Remo é Investigador de estudos patrocinados
pela indústria (AstraZeneca, Jansen, Boheringer, Amgem,
Sanofi, Pfizer, Novartis).
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118
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119
revisão/review
ANÁLISE CRÍTICA DO TRATAMENTO CIRÚRGICO NAS
SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS E
SUAS COMPLICAÇÕES
Critical analysis of surgical treatment in acute coronary
syndromes and its complications
RESUMO
Alexandre C. Hueb1
Fabio B. Jatene1
1. Instituto do Coração do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, São Paulo,
SP, Brasil.
Correspondência:
Fabio B. Jatene, Instituto do Coração.
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44
- 5º andar, bloco 2, sala 5 Cerqueira Cesar - São Paulo, SP, Brasil
CEP 05403-000
[email protected]
120
Apesar dos grandes avanços no tratamento médico, suporte farmacológico, técnicas de
reperfusão e o suporte mecânico, as síndromes coronarianas ainda representam uma das
principais causas de morbidade e mortalidade. Abordagens agressivas de revascularização
miocárdica parecem estar associadas à redução da mortalidade em pacientes com síndromes
coronarianas agudas (SCA). O melhor momento da intervenção não deve apenas reduzir a
mortalidade em curto prazo, mas também oferecer resultados satisfatórios em longo prazo.
Dependendo do tipo de evento, a síndrome coronariana aguda tem uma adequada
modalidade terapêutica. Iremos abordar estratégias relacionadas ao infarto sem e com
supra desnivelamento do segmento ST, infarto miocárdico com choque cardiogênico e as
complicações mecânicas do infarto. De forma geral, a abordagem invasiva tem melhores
resultados. Pacientes com infarto na fase aguda são abordados preferencialmente por
técnicas percutâneas, pois a estratégia cirúrgica demanda tempo para a efetiva revascularização. Os resultados de seguimento em longo prazo variam de acordo com a extensão do
infarto, a fração de ejeção e a anatomia coronariana. Aqueles pacientes que evoluem com
choque cardiogênico têm alta mortalidade independente da estratégia utilizada. Pacientes
que evoluem com complicações mecânicas, são necessariamente cirúrgicos, sendo que o
melhor momento para a intervenção varia de acordo com a condição clínica e hemodinâmica.
Descritores: Síndrome coronariana aguda; Revascularização miocárdica; Mortalidade; Infarto.
ABSTRACT
Despite the great advances in medical treatment, pharmacological support, reperfusion techniques, and mechanical support, coronary syndromes are still among the main causes of morbidity
and mortality. Aggressive myocardial revascularization approaches appear to be associated
with reduced mortality in patients with ACS. The optimum moment of intervention should not
only reduce mortality in the short term, but should also offer satisfactory results in the long term.
Depending on the type of event, acute coronary syndrome has an adequate therapeutic
modality. We address strategies related to infarction with and without ST segment elevation,
myocardial infarction with cardiogenic shock, and mechanical complications of infarction. In
general, the invasive approach has shown best results. Patients with infarction in the acute
phase are preferably treated by percutaneous techniques, as the surgical approach requires
time for effective revascularization. The long-term results vary, depending on the extent of the
infarction, the ejection fraction, and the coronary anatomy. Patients who evolve with cardiogenic shock have high mortality, regardless of the strategy used. Patients who evolve with
mechanical complications must undergo surgery, with the best moment for the intervention
depending on the clinical and hemodynamic condition.
Descriptors: Acute coronary syndrome; Myocardial revascularization; Mortality; Infarction.
INTRODUÇÃO
A síndrome coronariana aguda (SCA) varia em gravidade
desde a angina instável, à evolução para o infarto agudo do
miocárdio (IAM) sem supra do segmento ST (NSTEMI), ao
IAM com supra desnivelamento do segmento ST (STEMI) e o
IAM com choque cardiogênico (SHOCK). Apesar dos grandes avanços no tratamento médico, suporte farmacológico,
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):120-7
Análise Crítica do Tratamento Cirúrgico nas Síndromes Coronarianas Agudas e suas Complicações
técnicas de reperfusão e o suporte mecânico, as síndromes
coronarianas ainda representam uma das principais causas de
morbidade e mortalidade.1 O impacto do tratamento cirúrgico
em pacientes com SCA permanece controverso.2 Abordagens
agressivas de revascularização miocárdica parecem estar
associadas à redução da mortalidade em pacientes com SCA.
O melhor momento da intervenção não deve apenas reduzir a
mortalidade em curto prazo, mas também oferecer resultados
satisfatórios em longo prazo. O objetivo desse artigo é analisar
as possibilidades cirúrgicas para pacientes com SCA.3
CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME
CORONARIANA AGUDA
É importante classificar a SCA, pois cada entidade determina uma ação terapêutica adequada. Podemos estabelecer
então, o NSTEMI, STEMI, SHOCK e as complicações mecânicas do infarto, entre elas a ruptura do músculo papilar, a
ruptura do septo interventricular e a ruptura da parede livre do
ventrículo. Estudo envolvendo mais de 1.4 milhões de pacientes com IAM hospitalizados nos Estados Unidos, de 2001 a
2011 demonstrou uma queda no número de hospitalizações
por IAM ao longo desse período, com redução da ocorrência
de STEMI de 40,2% em 2001 para 26,9% em 2011, ou seja,
uma redução de 33%. Em relação ao tratamento houve um
aumento significativo de revascularização percutânea (PCI)
em STEMI e NSTEMI. Em contraste, a porcentagem de revascularização cirúrgica do miocárdio (CRM), diminuiu 39% ao
longo destes anos para STEMI e diminuiu 14% para NSTEMI.4
MODALIDADES TERAPÊUTICAS
Analisando o espectro de apresentações da SCA, devemos considerar que, como são situações clínicas diferentes, demandam estratégias terapêuticas individualizadas
direcionadas à severidade do infarto.5
Pacientes com SCA de moderado a alto risco tem recomendação formal de abordagem invasiva, PCI ou CRM,
pelas principais sociedades de cardiologia do mundo como
a American Heart Association (AHA), American College of
Cardiology (ACC) e European Society of Cardiology (ESC).6,7
Da mesma forma, podemos ressaltar que os eventos
associados aos procedimentos percutâneos oferecem menos morbidade imediata quando comparados à intervenção
cirúrgica, mas em longo prazo, apresentam maior recorrência
de angina assim como necessidade de re-revascularização.8
Baseado nas Diretrizes e Consensos Brasileiros e internacionais,5-7,9 as situações com indicação de CRM, têm sido
cada vez menos frequentes e com indicações precisas. De
forma clara o tempo entre o evento e a reperfusão, química,
percutânea ou cirúrgica, é a variável mais importante quando consideramos as várias modalidades terapêuticas.10-12
Provavelmente a CRM com enxertos arteriais e sem a
utilização de circulação extracorpórea seria uma ótima modalidade terapêutica. Mas a exequibilidade desse procedimento
passa pelos obstáculos de estabelecer o diagnóstico, realizar
o estudo angiográfico, solicitar exames pré-operatórios, iniciar
a intervenção cirúrgica e reperfundir a artéria culpada em menos do que poucas horas. Nesse sentido, a CRM não constitui
modalidade terapêutica preliminar para o IAM. Habitualmente,
encaminha-se para intervenção cirúrgica aqueles pacientes
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):120-7
onde haja uma anatomia coronariana desfavorável, Syntax
escore alto, tentativa falha de revascularização percutânea,
SHOCK ou casos com complicações mecânicas.13
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia,9 dentre
as principais indicações de CRM de urgência estão a operação; após intervenção percutânea sem sucesso; angina
recorrente; e revascularização associada à correção das
complicações mecânicas do infarto.
TIPO DE INFATO
Infarto Agudo do Miocárdio Sem Supra
Desnivelamento do Segmento ST
A frequência e o tipo de IAM mudou nas últimas décadas, sendo o NSTEMI o tipo mais prevalente. A recomendação da AHA, sugere terapia agressiva e precoce para
esse grupo de pacientes.14
Existem etapas para diagnosticar e tratar esses pacientes. Primeiro, a indicação na admissão de realizar o estudo
angiográfico, seguido pela análise e indicação do procedimento a seguir. Segundo, o tipo de procedimento ao qual
o paciente poderá ser submetido, ou seja, PCI ou CRM. A
análise do estudo TRILOGY ACS, publicado em 2015, demonstrou que 76,2% dos pacientes com NSTEMI realizaram
estudo angiográfico. Desses, um pouco mais que a metade
foram submetidos a procedimentos intervencionistas, ou seja,
43,6% a PCI e 11,5% à CRM durante a mesma internação.15
Embora as estratégias intervencionistas no NSTEMI tenham melhores resultados que o tratamento conservador, a
decisão e o tipo de revascularização devem ser individualizados para cada paciente.16 Entretanto, certos fatores favorecem
uma modalidade terapêutica ou outra. As características
anatômicas das coronárias são variáveis, que de maneira
inconteste, devem ser sempre levadas em conta e são muito
importantes para esta decisão. Lesões do tronco da coronária
esquerda, lesões tri-arteriais ou lesão de duas artérias com
doença ostial ou proximal do ramo interventricular anterior,
são típicas indicações de CRM. Considerações relacionadas aos achados anatômicos são a chave da tomada de
decisões para a realização de revascularização cirúrgica ou
percutânea. O registro CUSTOMIZE Registry reportou que a
PCI em pacientes NSTEMI está associada a maiores riscos
de eventos cardíacos adversos como: morte, IAM e maior
necessidade de re-revascularização em um ano, quando
comparado a CRM. Esses dados sugerem que a CRM deva
ser selecionada preferencialmente naqueles pacientes com
NSTEMI que tenham expectativa de menos eventos em longo
prazo.17Além da análise da variável anatômica, certos grupos
de pacientes também devem ser analisados de maneira
diferenciada. Roe e colaboradores18 demonstraram que pacientes ≥ 75 anos com NSTEMI submetidos a CRM tiveram
taxas de mortalidade menores que aqueles submetidos à
PCI, em seguimento de cinco anos. Análises derivadas do
estudo FREEDOM,19,20 sugerem que subgrupos de pacientes
diabéticos com doença renal crônica e aterosclerose avançada com NSTEMI, devem ser encaminhados para CRM.
Apesar do aumentado risco de acidente vascular encefálico
(STROKE) em seguimento de curto e médio prazo, associado
a CRM em comparação com PCI, observou-se que essa diferença é reduzida ou anulada em pacientes com NSTEMI.18
121
Considerações Operatórias
122
Devemos estabelecer critérios e metas em relação às
estratégias operatórias. Se a opção terapêutica para revascularização no NSTEMI foi cirúrgica, a próxima decisão será
em que momento será realizado o procedimento.21,22
Entretanto, o tempo ideal para esse procedimento não
está totalmente estabelecido. O estudo ACUITY,23 analisou
13.819 pacientes com SCA e NSTEMI com angiografia realizada até 72 horas após o evento, sendo submetidos posteriormente a tratamento conservador, PCI ou CRM.
No grupo PCI, observou-se maior taxa de isquemia recorrente e maior necessidade de re-revascularização. As variáveis
STROKE, sangramento pós-operatório e necessidade de
transfusão e insuficiência renal foram mais frequentes em
CRM. Não houve diferença em relação à mortalidade em
curto e médio prazo. Fazendo uma análise crítica, algumas
variáveis não foram destacadas nesse estudo. O número de
artérias tratadas em PCI e CRM foram diferentes: 1,3 e 3,3
artérias tratadas, respectivamente. A possibilidade de oferecer
a CRM e um tratamento mais completo certamente melhora
o prognóstico em longo prazo. Outro dado interessante é o
tempo em que as intervenções foram realizadas. Pacientes
submetidos à PCI tiveram um tempo médio muito menor entre a
admissão e a revascularização quando comparados ao grupo
CRM. O tempo médio foi de 1,2 dias para PCI e 5,6 dias para
CRM. Em termos de tempo, o estudo APPROACH,24 o estudo
CRUSADE 8, o ACTION25 e a recente publicação de Davierwala
et al,26 demonstram que nos pacientes com NSTEMI, o tempo
não é a variável mais importante que determina a sobrevida.
Dois estudos24,25 reportam que a mortalidade hospitalar e a
mortalidade em 30 dias não diferem em relação ao tempo em
que é realizada a revascularização no paciente com NSTEMI, a
partir da admissão hospitalar. Outro estudo26 com seguimento
de 5 anos, revela resultados similares de mortalidade no grupo
revascularizado em 24 horas, 24 a 72 horas ou com mais de
72 horas, a partir da admissão.
Outra consideração é muito importante em relação à tomada de decisão. Devido ao fato das medicações antiplaquetárias
serem administradas imediatamente após o diagnóstico de
NSTEMI, devemos estar atentos ao risco de trombose ou
sangramento aumentado no pós-operatório em pacientes
elegíveis para CRM. O uso dos inibidores P2Y12 apesar da
diferente biodisponibilidade e farmacocinética, devem ser
descontinuados. O estudo PLATO27 e o estudo de Hansson,28
sugerem que essas medicações devam ser descontinuadas
cinco dias antes da intervenção cirúrgica, sob o risco de aumento do sangramento pré e pós-operatório e a necessidade
de re-exploração cirúrgica.
Estudo realizado em nosso meio, demonstrou que a
revascularização miocárdica realizada na fase aguda do IAM,
apresenta resultados semelhantes em relação à mortalidade,
quando compara-se o grupo NSTEMI e STEMI. Identificamos
variáveis relacionadas ao aumento da mortalidade, entre
eles o choque cardiogênico, as arritmias ventriculares e as
complicações mecânicas do IAM.29 Estando presentes uma
dessas variáveis a mortalidade variou de oito a 32%.29,30
A logística para a revascularização cirúrgica é complexa,
pois necessita que etapas obrigatórias sejam cumpridas,
desde a identificação do infarto, até a admissão no hospital
e o diagnóstico angiográfico, preparo da sala operatória, o
início da cirurgia e a revascularização efetiva da coronária comprometida.31 Nesse processo, sem dúvida a possibilidade da
revascularização já na sala de hemodinâmica é muito atrativa.
Interessante notar que naqueles casos de SCA com STEMI
na grande maioria das vezes, com padrão de lesão tri-arterial,
diversos estudos sugerem que uma ótima abordagem dessas
lesões de resto, seja realizada em outro momento. Nesse
sentido, a CRM tem o seu espaço garantido. Um estudo da
Universidade de Hannover32 analisou pacientes com STEMI
e NSTEMI submetidos a CRM em um período menor que 6
horas após a realização do cateterismo cardíaco. Pacientes com NSTEMI tiveram uma mortalidade equiparável aos
casos operados eletivamente na ausência de IAM, ou seja,
1% intra-hospitalar e 2% em 30 dias. O grupo de pacientes
de STEMI apresenta mortalidade de 15% intra-hospitalar e
a mesma em 30 dias. As variáveis logísticas de mortalidade
foram: choque cardiogênico, fração de ejeção abaixo de 30%,
STEMI e Euroscore II acima de nove. Concluíram então, que
a revascularização imediata em pacientes com IAM é segura
e tem excelentes resultados no NSTEMI. A mortalidade em
pacientes com STEMI, especialmente aqueles com choque e
disfunção do ventrículo esquerdo (VE) é substancialmente alta.
Em relação ao STEMI comprometendo o tronco da coronária esquerda, um importante e inédito trabalho publicado na
Holanda, analisou esse grupo de pacientes. Oitenta e quatro
pacientes com STEMI foram elencados para tratamento
percutâneo ou cirúrgico. Os resultados foram analisados
em 30 dias e um ano. No grupo PCI, analisando todas as
causas de morte, observou-se uma taxa de mortalidade de
64% em 30 dias e 69% em um ano. No grupo CRM, a taxa
de mortalidade foi 24% em 30 dias e a mesma em um ano.33
Dados do CUSTOMIZE Registry, que analisou pacientes com
SCA e lesão desprotegida de tronco da coronária esquerda,
evidenciaram que em um ano os eventos cardiovasculares adversos (MACE) foram significativamente maiores no grupo PCI. 34
Infarto agudo do miocárdio com supra
desnivelamento do segmento ST
Ao longo dos anos, resultados insatisfatórios, contraditórios ou inconsistentes de séries de casos, fizeram com
que as tentativas de abordagem cirúrgicas do STEMI não
alcançassem ampla aceitação da comunidade cardiológica
e cirúrgica. Estudos isolados de instituições individuais reportam resultados ora superiores ao tratamento percutâneo,
ora semelhantes. Portanto, não há um consenso em relação
à melhor abordagem em relação ao STEMI.35
Interessante notar que a CRM é realizada em pequeno grupo de pacientes com STEMI. Como exemplo, temos o estudo
The TRIUMPH36 que analisou pacientes com STEMI de 2005
a 2008. Desses, 664 foram submetidos à revascularização,
sendo que 88,8% a PCI e 11,2% a CRM. Os autores concluíram que independente da modalidade de revascularização,
a revascularização multi-arterial confere melhores resultados
em relação à angina e qualidade de vida em um ano.
Um estudo de 112 pacientes com STEMI elencados
para CRM por rejeição do cardiologista intervencionista
ou prazo maior que 48 horas após início dos sintomas
demonstrou que a CRM em pacientes com STEMI pode
ser realizada com resultados aceitáveis, especialmente
naqueles sem SHOCK.37
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):120-7
Análise Crítica do Tratamento Cirúrgico nas Síndromes Coronarianas Agudas e suas Complicações
Outro estudo se propôs a analisar a morbidade e mortalidade de pacientes com STEMI submetidos a CRM analisou
pacientes submetidos à intervenção cirúrgica em intervalo
< 24 horas ou > 24 horas após o evento isquêmico. Concluíram que não houve diferença em um mês e um ano em
pacientes operados com STEMI antes ou depois de 24 horas
do evento isquêmico.38
Se formos analisar o racional da doença, sem dúvida após
alguns minutos ou poucas horas, a área infartada tem mínima
possibilidade de recuperação. Essa definição patogênica clássica, entretanto, não considera variáveis importantes como a
circulação colateral, a reserva de fluxo miocárdica, a liberação
de mediadores bioquímicos e neuro-hormonais que possam
viabilizar a perfusão da área infartada. A gama de variáveis é
tão grande, que é difícil estabelecer um padrão de conduta
acertada. Caso a teoria fosse correta, seria ilógico qualquer tipo
de revascularização decorridas 3 horas do evento isquêmico,
período no qual a viabilidade da área infartada é mínima. Na
prática, o que vemos, é que mesmo as revascularizações tardias, conferem melhores prognóstico em curto e longo prazo,
do que a abordagem conservadora. É bem possível que não
entendamos claramente a fisiopatologia desse evento e que a
complexa, delicada e intrincada circulação coronariana tenha
muito que nos ensinar ainda. Esse conceito apenas reforça a
ideia de que o heart time, a individualização do atendimento
e a tomada de decisões deva ser individualizada.
Infarto Agudo do Miocárdio
Complicado com Choque
Cardiogênico
A principal complicação e a maior causa de morte no IAM
é o choque cardiogênico. O SHOCK é um estado em que há
uma redução no débito cardíaco e evidência de hipoperfusão
tecidual na presença de pressões de enchimento adequadas.
O choque é definido pela persistente (>30 min) hipotensão
com uma pressão arterial sistólica <90 mmHg, redução no
índice cardíaco (<1.8 L/min/m2 sem suporte farmacológico
ou <2.2 L/min/m2 com suporte farmacológico), e normal ou
elevada pressão capilar pulmonar (>15 mmHg). O SHOCK normalmente se deve a uma extensa lesão do músculo miocárdico
ou de complicações mecânicas como a ruptura do músculo
papilar, ruptura do septo interventricular ou parede livre do VE.39
Estudos contemporâneos demonstram que 8% dos pacientes com STEMI e 2 a 5% com NSTEMI evoluem para SHOCK.
As taxas de mortalidade declinaram ao longo das décadas,
principalmente devido a abordagens invasivas mais precoces,
mas recentes dados de banco de dados inglês revelam taxas
de mortalidade ainda muito altas entre 37 a 48%.40
Recente publicação avaliou 1.990.486 pacientes com
STEMI, no período de 2003 a 2010.41 A taxa de pacientes com
SHOCK pós-IAM foi de 7,9% (157.892). No geral, 42,7% (67.481
pacientes), foram submetidos à PCI ou CRM precoce, ou seja,
nas primeiras 24 horas de admissão. A taxa de PCI precoce
aumentou de 26,6% para 52,8%. Em contraste, as taxas de
CRM aumentaram de 4,5% para 6,2% em 2008, seguidas de
declínio para 4,7% em 2010. No geral, a mortalidade intra-hospitalar em pacientes com SHOCK foi de 39% considerando
as duas modalidades terapêuticas. A mortalidade hospitalar
foi maior em pacientes ≥ 75 anos e em mulheres.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):120-7
Pacientes com IAM que evoluem com SHOCK devem ser
submetidos à revascularização precoce do miocárdio para
diminuir a taxa de mortalidade.1 A PCI tornou-se o pilar do
tratamento para SHOCK, particularmente o STEMI, devido
à capacidade de promover reperfusão precoce da artéria
comprometida. A CRM devido à logística inerente ao preparo operatório e o tempo necessário para revascularizar
a área infartada, fica reservada para os pacientes com IAM
e SHOCK que evoluem com complicações mecânicas ou
anatomia desfavorável a PCI, ou seja, Syntax escore alto,
doença multiarterial e lesão de tronco da coronária esquerda.
Devemos considerar a possibilidade de suporte mecânico nos
pacientes onde o SHOCK é tão grave que a PCI e o suporte
farmacológico não serão suficientes para reverter a situação.13
O estudo SHOCK, conduzido pela doutora Judith S.
Hochman trouxe, sem dúvida, grande contribuição para o
entendimento das modalidades terapêuticas possíveis para
pacientes com IAM e SHOCK.42,43
Nos dados paralelos do SHOCK trial,44 884 pacientes com
choque cardiogênico apresentaram falência do ventrículo
esquerdo. Destes, 276 pacientes (31,2%) foram submetidos
à PCI e 109 (12,3%) realizaram CRM. Os pacientes elegíveis
para CRM tinham uma maior prevalência de insuficiência
renal (12,3% versus 7,3%), doença arterial periférica (28,1% vs
11,7%), CRM prévia (9,3% vs 5,9%), NSTEMI (38,9% vs 32,4%)
e IAM anterior (62,5% vs 50,4%). Em contraste, o sexo feminino
(39,9% vs 24,8%), PCI prévia (9,3% vs 3,9%), e STEMI (88,0%
vs 67,9%) foram mais comuns entre os pacientes PCI em
comparação aos pacientes CRM.
A mortalidade intra-hospitalar foi menor nos pacientes submetidos à CRM em comparação com PCI (23,9% vs 46,4%). A
mortalidade hospitalar com a doença uniarterial foi semelhante
em ambos os grupos (33,3% [CRM] vs 32,9% [PCI]), mas foi
significativamente menor para o grupo CRM em pacientes com
lesão de 2 vasos (17,7% [CRM] vs 42,2% [PCI], p = 0,025) e
triarteriais (29,6% [CRM] vs 59,4% [PCI], p= 0,0001). Assim,
a mortalidade hospitalar permaneceu estável em pacientes
que tiveram CRM, enquanto aumentou no grupo PCI quando
o número de vasos comprometidos aumentou.
Se formos considerar o quesito tempo, vários autores
demonstram claramente que o tempo adequado para a
revascularização interfere significativamente na sobrevida.45
Uma interessante publicação nórdica de 2015 analisou
614 pacientes com SCA e infarto NSTEMI e STEMI, que foram
submetidos a CRM de emergência ou de salvamento.46 Elencaram pacientes no grupo emergência, aqueles que foram
operados no dia seguinte após a decisão operatória e aqueles
do salvamento, pacientes que precisaram de ressuscitação
cardiorrespiratória a caminho da sala operatória. A taxa de
mortalidade global intra-hospitalar foi de 15%, sendo 13% para
aqueles operados na emergência e 41% para os procedimentos
de salvamento. Um seguimento de 5 anos revelou sobrevida
no grupo emergência de 79% e salvamento 46%, sendo que
não houve diferença de mortalidade entre NSTEMI e STEMI.
Podemos então, identificar que pacientes com SHOCK
têm extenso comprometimento miocárdico e ainda hoje as
taxas de mortalidade são altas. Não existe um consenso em
relação à melhor ação terapêutica ou ao melhor momento de
intervenção. A tomada de decisões deve ser compartilhada
entre os profissionais envolvidos, levando-se em consideração
as recomendações e diretrizes sobre o tema.
123
ASSISTÊNCIA CIRCULATÓRIA NO IAM
124
Dentre os vários dispositivos para assistência circulatória,
o balão intra-aórtico (BIA), introduzido na prática médica desde
a década de 60, tornou-se um importante aliado no suporte
mecânico para pacientes com patologias de diversas etiologias
onde as estratégias terapêuticas clássicas não garantiriam a
sobrevida.47-50 O uso desse dispositivo preenche o espaço do
suporte farmacológico em situações de falência ventricular ou
insuficiência coronariana, onde os efeitos colaterais das medicações são mais deletérios que a própria ação terapêutica
medicamentosa. Por exemplo, o suporte com vasopressor,
(noradrenalina) é bastante adequado para garantir uma cabeça de pressão arterial sistêmica. Mas isso se faz à custa
do aumento da pós-carga ao ventrículo esquerdo.51 Em um
cenário de disfunção ventricular aguda pós infarto, o aumento
da pós-carga ao ventrículo certamente não seria adequado.
Portanto, o uso do BIA é um passo além na terapêutica, quando
o suporte farmacológico não é suficiente. Centenas de estudos
viabilizaram a utilização clínica do BIA. Mais recentemente,
séries importantes de seguimento de pacientes com IAM e
uso de BIA, contestaram os reais benefícios desse dispositivo.
Apesar das controvérsias, atualmente o uso do BIA,
segundo metanálises envolvendo milhares de pacientes,
demonstrou não trazer benefícios em relação a mortalidade
precoce ou tardia, em pacientes com NSTEMI, STEMI, SHOCK ou complicações mecânicas do infarto. Mesmo naqueles
pacientes com SCA, submetidos à PCI seu uso não trouxe
benefício. O único grupo de pacientes que apresentou benefício relacionado à mortalidade com o uso do BIA foram
pacientes com SCA de alto risco submetidos a CRM. Nesse
grupo, em especial, o uso do BIA diminuiu a mortalidade.
Entendemos que atualmente o uso do BIA deve ter a sua
indicação baseada em rigorosos critérios, para evitar possíveis indesejáveis complicações relacionadas ao seu uso.52
Dentre os demais dispositivos de assistência circulatória
alguns são mais frequentemente utilizados nas situações
onde o suporte farmacológico e a assistência com o BIA
não são suficientes para manter o equilíbrio cardiocirculatório. A preferência nesses casos recai sobre dispositivos de
inserção percutânea, que oferecem assistência temporária
ao VE, buscando a recuperação funcional, com melhora do
débito cardíaco e diminuição da pós-carga. Nenhum estudo
acumula grande experiência para sustentar o emprego dessa
tecnologia, embora em séries pequenas, os resultados têm
se mostrado satisfatórios e promissores.53 Contra a disseminação do seu emprego, em nosso meio, destacamos a
dificuldade de obtenção dos equipamentos e o alto custo.
ESTRATÉGIA OPERATÓRIA NA
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA
A escolha das duas principais modalidades de CRM
realizada com auxílio da circulação extracorpórea (CEC) ou
com o coração batendo (Off pump) para o tratamento da
SCA depende de características clínicas do paciente e da
experiência da equipe cirúrgica com essas técnicas. Nos
dias atuais, técnicas, equipamentos e tecnologia de ponta,
permitem que a maioria dos cirurgiões cardiovasculares
possa utilizar essa técnica para revascularização miocárdica.
No entanto, obstáculos à realização desse procedimento
podem comprometer os resultados operatórios.54
Nos últimos anos, esforços têm sido realizados para
identificar se pacientes com SCA, pacientes com NSTEMI,
STEMI e SHOCK poderiam se beneficiar de uma ou outra
modalidade operatória.
Apesar da não existência de estudos randomizados
multicêntricos envolvendo grande número de pacientes,
vários estudos e metanálises demonstram resultados otimistas em relação a eventos e mortalidade precoce e tardia
quando comparam CRM com CEC e Off pump. Estudo da
Universidade de Leipzig, analisando 638 pacientes com SCA,
hemodinamicamente estáveis ou em SHOCK, submetidos a
CRM com CEC ou Off pump, observaram uma propensão a
realização da Off pump em pacientes com SHOCK. Nesse
grupo houve menos sangramento, menos transfusão, menor
tempo de UTI, menos Stroke, e menos insuficiência renal.
No SHOCK pacientes submetidos Off pump, tiveram uma
mortalidade menor quando comparados a CRM com CEC.
Em seguimento de 5 anos os resultados de mortalidade,
MACE e re-revascularização foi comparável no grupo CRM
com CEC e Off pump.55 Outras séries de casos, demonstram
benefícios da Off pump relacionados e perviabilidade dos
enxertos em seguimento de curto prazo.56
COMPLICAÇÕES MECÂNICAS DO
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
Em alguns casos a gravidade do infarto pode levar a uma
lesão estrutural miocárdica denominada de complicação mecânica do infarto. Destacamos a comunicação interventricular
(CIV), ruptura do músculo papilar, e ruptura da parede livre
do VE. A CIV devido ao infarto agudo do miocárdio tornou-se
infrequente nesse momento em que o diagnóstico e a terapia de reperfusão miocárdica são cada vez mais precoces.
O tratamento cirúrgico continua a ser a terapia de escolha,
embora desafiador e associado à alta taxa de mortalidade. O
tratamento conservador prolongado geralmente é inútil, e inclui
a redução da pós-carga e a utilização do balão intra-aórtico.
A ocorrência de CIV pós-IAM tem relação linear entre
o menor tempo de reperfusão e a menor incidência de CIV
ou ruptura cardíaca.57 A escolha do tipo de reperfusão, seja
química ou mecânica, não tem relação com a ocorrência de
ruptura cardíaca. Na verdade, a ocorrência de CIV e ruptura é
maior naqueles onde o tempo porta-balão é prolongado.58,59
Em relação ao melhor momento da intervenção, observou-se que a mortalidade é reduzida com o tempo entre o
evento e a intervenção cirúrgica, provavelmente devido a um
miocárdio mais estável e fibrosado, mas também devido ao
viés de sobrevivência. Não se sabe qual a percentagem de
pacientes continua a sobreviver quando a cirurgia é adiada.
No estudo GUSTO-1, houve 94% de mortalidade em 30 dias
sem cirurgia sugerindo que o tratamento conservador está
associado à mortalidade muito elevada. A intervenção imediata (<24 horas) segundo dados do STS tem mortalidade
em 30 dias de 60%. A cirurgia realizada entre o 7º ao 21º
dia tem mortalidade de 30% e se for realizada em caráter
eletivo após 21 dias a mortalidade é de aproximadamente
10%. O manejo cirúrgico desses pacientes normalmente
é complexo, pois na maioria das vezes o paciente está
em choque cardiogênico, com instabilidade do ritmo e
excitabilidade ventricular, tem doença arterial coronariana
e o músculo miocárdico está friável. Princípios do reparo
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):120-7
Análise Crítica do Tratamento Cirúrgico nas Síndromes Coronarianas Agudas e suas Complicações
bem-sucedido incluem desbridamento do tecido infartado
em volta do miocárdio, evitando tensão sobre o reparo.
Uma revisão dos dados da Society of Thoracic Surgeons
identificou 2876 pacientes submetidos à correção de CIV
pós-IAM. A mortalidade global foi de 42,9%, o que representou a maior taxa de mortalidade de qualquer cirurgia
cardíaca. A mortalidade em 30 dias está associada aos
pacientes idosos, do sexo feminino, com creatinina sérica
elevada e complicações relacionadas à doença (choque
cardiogênico, FEVE reduzida, doença coronária triarterial, ou
a exigência de BIA pré-operatório). A mortalidade operatória
foi menor para procedimentos considerados eletivos (13,2%
de mortalidade) versus emergentes (56,0% de mortalidade)
versus resgate (80,5% de mortalidade).60
Estratégias de suporte mecânico com balão intra-aórtico
não evidenciaram melhora na sobrevida. Os dispositivos de
assistência ventricular uni- ou biventricular não têm dados
suficientes para suportar o seu uso.61 Portanto, baseados nos
estudos mais recentes, entendemos que a CIV pós IAM é um
evento grave de alta mortalidade e que o tratamento definitivo
é a cirurgia. Nos casos com instabilidade hemodinâmica,
a intervenção precoce deve ser considerada, mesmo com
taxas maiores de mortalidade. Pacientes estáveis com CIV
ampla podem ser considerados para terapias de redução da
pós-carga, com BIA e suporte ventricular e aqueles pacientes
estáveis devem esperar ao menos 21 dias para oferecer
melhores taxas de sobrevida.62
Se há evidências de necrose do músculo papilar ou há
preocupações sobre possível progressão, em curso de lesão
isquêmica, a substituição da válvula mitral proporciona um
tratamento definitivo da valva mitral regurgitante.
A regurgitação mitral aguda devido à ruptura do muscular papilar por IAM é uma complicação grave e deve ser
reconhecida e tratada com intervenção cirúrgica em caráter
de emergência. A regurgitação leve a moderada pode ser
encontrada em 15 a 45% dos pacientes com STEMI. Nessa
população, a regurgitação mitral é bem tolerada e geralmente transitória e assintomática. Mas a regurgitação mitral
severa com ruptura do músculo papilar é complicação grave
com risco de vida. Ela ocorre em 0,25% dos pacientes com
STEMI. O diagnóstico precoce e a terapia cirúrgica agressiva
têm relação com o prognóstico. A intervenção sobre a valva
mitral associada à revascularização miocárdica confere melhor resultado em curto e longo prazo.63 A terapia clínica que
precede a intervenção operatória visa reduzir a pós-carga.
Esse objetivo pode ser atingido com suporte farmacológico
com drogas vasodilatadoras e inotrópicas ou com o uso do
BIA. Esses doentes podem se beneficiar do suporte cardíaco
mecânico com diferentes tipos de dispositivos. A terapia médica e o suporte mecânico estão associados a uma sobrevida
pobre, a sua utilização apenas assegura uma ponte para a
intervenção que é a pedra angular do tratamento.
A ruptura do músculo papilar após IAM está associada
a uma alta mortalidade hospitalar que varia de 70% a 80%
com tratamento clínico.
Em uma série de pacientes submetidos à intervenção
cirúrgica por ruptura do músculo papilar, a mortalidade operatória foi de 26,9%, com uma sobrevida em 15 anos de 39%.
Nos pacientes submetidos a tratamento cirúrgico da valva
mitral e revascularização miocárdica, a taxa de mortalidade
em curto prazo não diferiu, mas em longo prazo, aqueles submetidos ao tratamento concomitante tiveram uma sobrevida
melhor do que aqueles submetidos somente a substituição
valvar em seguimento de 15 anos.64
Outro estudo demonstrou que o tratamento concomitante
da valva mitral e a revascularização do miocárdio obteve
melhora da mortalidade operatória. No entanto, não houve
diferença significativa na sobrevida em cinco anos entre o tipo
de técnica utilizada, reparo da valva mitral ou substituição da
válvula mitral nesse grupo de pacientes.65
Em relação à ruptura da parede livre do VE, destacamos
que é uma patologia grave com altas taxas de mortalidade e
não existem estudos amplos sobre essa ocorrência.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho.
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127
revisão/review
Síndrome coronariana aguda em indivíduos
com revascularização cirúrgica
ou percutânea prévia
Acute coronary syndrome in individuals with previous
surgical or percutaneous revascularization
Resumo
Cristiano Guedes Bezerra
Fábio Augusto Pinton1
Pedro Alves Lemos Neto1
1. Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São
Paulo (InCor – HCFMUSP).
Correspondência:
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44,
bloco I, 3o andar, Hemodinâmica,
Cerqueira César, CEP: 05403-000,
São Paulo, SP, Brasil.
[email protected]
128
1
Aproximadamente 30% dos pacientes que se apresentam com quadro de síndrome
coronariana aguda têm revascularização prévia do miocárdio. Os eventos coronarianos
subsequentes à revascularização do miocárdio podem ocorrer por progressão da doença aterosclerótica no leito coronário nativo, evento relacionado ao stent (reestenose,
trombose ou neoaterosclerose) ou evento relacionado à cirurgia de revascularização do
miocárdio (degeneração ou oclusão de enxertos cirúrgicos). Esses pacientes que necessitam de um novo procedimento de revascularização têm perfil de alto risco, geralmente
associado a doença renal crônica, diabetes mellitus, doença arterial periférica, além de
elevada carga aterosclerótica no leito coronariano nativo, degeneração de enxertos de
veia safena e reestenose de stents. Este cenário faz com que o segundo procedimento
de revascularização tenha maior risco e maior complexidade.
Neste artigo discutiremos as características clínicas e as possibilidades terapêuticas
de pacientes com SCA e revascularização percutânea ou cirúrgica prévias.
Descritores: Síndrome Coronariana Aguda; Intervenção Coronária Percutânea; Stents,
Reestenose Coronária, Ponte de Artéria Coronária
Abstract
Around 30% of patients who present acute coronary syndrome have undergone previous
myocardial revascularization. Coronary events following myocardial revascularization can
occur due to progression of atherosclerotic disease in the native coronary bed, an event
related to the stent (restenosis, thrombosis or neoatherosclerosis) or to the myocardial
revascularization surgery (degeneration or occlusion of surgical grafts). These patients who
need a new revascularization procedure have a high-risk profile, generally associated with
chronic kidney disease, diabetes mellitus, and peripheral arterial disease, as well as a high
atherosclerotic burden in the native coronary bed, degeneration of grafts of the saphenous
vein, and restenosis of stents. This scenario confers a higher risk and greater complexity
on the second revascularization procedure.
In this article, we discuss the clinical characteristics and therapeutic possibilities of patients
with ACS and previous percutaneous or surgical revascularization.
Descriptors: Acute coronary syndrome; Percutaneous coronary intervention; Stents; Coronary restenosis; Coronary artery by-pass.
Introdução
A doença aterosclerótica coronária (DAC) é a principal
causa de mortalidade no mundo. Embora o tratamento clínico
tenha evoluído muito nos últimos anos com novas drogas
antiplaquetárias, anticoagulantes e estatinas mais potentes,
muitos pacientes necessitam de revascularização percutânea
ou cirúrgica do miocárdio. No entanto, mesmo com o tratamento intervencionista realizado com sucesso, os pacientes
continuam sob risco de novos eventos coronários adversos.
Aproximadamente 30% dos pacientes que se apresentam
com quadro de síndrome coronária aguda (SCA) possuem
revascularização do miocárdio prévia. Em estudo envolvendo
12483 pacientes com SCA, 14,2% tinham intervenção coronariana percutânea (ICP) prévia, 9,6% cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) prévia e 5,1% ICP e CRM prévias.1
Em outro estudo que analisou pacientes com SCA de
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):128-33
Síndrome coronariana aguda em indivíduos com revascularização cirúrgica ou percutânea prévia
acordo com o quadro clínico, nos pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST
(IAMCSST), cerca de 5% dos pacientes tinham ICP ou CRM
prévias, enquanto que nos pacientes com IAM sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST) e com angina
instável, esse número foi de 13% e 20%, respectivamente.2
Os eventos subsequentes a revascularização do miocárdio podem ser por progressão da doença aterosclerótica
em leito coronário nativo, evento relacionado ao stent (particularmente, reestenose, trombose ou neoaterosclerose)
ou evento relacionado à CRM (degeneração ou oclusão de
enxertos cirúrgicos).
O aumento no número de procedimentos de revascularização miocárdica de forma percutânea ou cirúrgica, assim como
o aumento na expectativa de vida se associa à um aumento na
taxa de novos procedimentos de revascularização, sobretudo
devido a natureza crônica da doença coronária aterosclerótica.
Esses pacientes que necessitam de um novo procedimento de revascularização, compõem um perfil de alto
risco, geralmente associado à doença renal crônica, diabetes
melitus, doença arterial periférica, além de uma elevada
carga aterosclerótica no leito coronário nativo, degeneração
de enxertos de veia safena e reestenose de stents. Este
cenário torna o segundo procedimento de revascularização
de maior risco e complexidade. Portanto, é fundamental a
decisão conjunta do chamado “Heart Team” que envolve
cardiologistas clínicos, cardiologistas intervencionistas e
cirurgiões cardíacos, para definição da melhor estratégia
terapêutica a ser adotada. Neste artigo discutiremos as
características clínicas e as possibilidades terapêuticas
de pacientes com SCA e revascularização percutânea ou
cirúrgica prévias.
Evento adverso coronário em
pacientes com revascularização
cirúrgica prévia
A necessidade de nova revascularização após CRM
cresce dramaticamente na segunda década após a cirurgia.
Comparativamente ao primeiro procedimento de revascularização, a mortalidade em cinco anos é o dobro tanto se
o segundo procedimento for percutâneo (25% vs 16%) ou
cirúrgico (21% vs 14%).3 Uma nova cirurgia cardíaca é um
preditor isolado de risco para esses pacientes devido a uma
nova esternotomia, aderências pericárdicas e manipulação
de enxertos prévios de mamária e safena. Por outro lado,
incisões minimamente invasivas, cirurgias sem circulação
extra-corpórea, novas modalidades de proteção miocárdica
tentam diminuir esse risco da reoperação.4
Portanto, é mister considerar diversos aspectos na escolha da modalidade terapêutica quando for necessária uma
reintervenção no paciente com CRM prévia. Deve-se dar
preferência a nova CRM nos pacientes de maior risco, com
poucos enxertos funcionantes, mais oclusões coronárias
crônicas e baixa fração de ejeção de ventrículo esquerdo
(FEVE) ao passo que ICP é a modalidade de escolha nos
casos com anatomia favorável, sobretudo se a mamária interna esquerda para artéria descendente anterior for patente.
Abaixo, apresentamos as recomendações do Guideline da
Sociedade Européia de Cardiologia (ESC 2010) para ICP
em pacientes com CRM prévia.(Tabela 1)
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):128-33
Tabela 1. Recomendações do guideline da sociedade européia de cardiologia (ESC 2010) para ICP.
Recomendação
Classe
Nível de
evidência
ICP ou reoperação de CRM está
indicada em caso de sintomas limiI
tantes ou isquemia extensa a despeito
do tratamento clínico otimizado.
B
ICP é recomendada como primeira esI
colha ao invés de reoperação de CRM.
B
Em caso de reoperação utilizar enxerI
tos de mamária.
B
Reoperação de CRM deve ser considerada em casos de doença de múltiplos enxertos, disfunção ventricular
IIa
esquerda, oclusões crônicas e ausência de enxerto de mamária para descendente anterior patente.
C
ICP deve ser considerada em pacientes com enxerto de mamária para
IIa
descendente anterior patente e anatomia favorável.
C
É preferível abordar o vaso nativo coronário por ICP quando os enxertos de I
safena tem mais do que 3 anos.
B
Angioplastia em enxertos de veia
safena
A patência de um enxerto de veia safena (PVS) para
artérias coronárias em 10 – 15 anos é de 25 a 50% apenas,
sendo que até 10% dos enxertos estão ocluídos antes da alta
hospitalar.5 A história natural da degeneração dos enxertos
de veia safena envolve três mecanismos fisiopatológicos
interligados: trombose, hiperplasia intimal e aterosclerose.
A trombose é um fenômeno precoce relacionado a aspectos técnicos peri-operatórios. A hiperplasia intimal ocorre
nos primeiros meses após CRM e representa a base para
aterosclerose tardia. O processo relacionado à doença do
enxerto venoso dominante após um ano é a aterosclerose,
ocorrendo manifestação de sintomas geralmente três anos
após CRM. A aterosclerose que acomete esses enxertos
se caracteriza pelo seu aspecto difuso e concêntrico. São
placas friáveis com fina ou ausente capa fibrosa e pouca
calcificação. Em caso de ocorrência de SCA em pacientes
já submetidos a CRM, é importante levar em consideração
todos esses aspectos fisiopatológicos avaliando a melhor
forma de revascularização, caso esta esteja indicada. Sabese que a necessidade de ICP em enxertos de safena é uma
situação clínica comum em pacientes com SCA após CRM.
No entanto, a ICP em enxertos de safena está relacionada
a inúmeras complicações, dentre elas se sobressaem: risco de ruptura devido a parede delgada da veia safena e o
ateroembolismo.6 A embolização de debris aterotrombóticos
para circulação coronária nativa pode resultar em redução do
fluxo anterógrado (“No-Reflow”) ou infarto peri-procedimento.
Comparada a ICP em artérias nativas, a ICP em enxertos de
veia safena se associa a maior taxa de mortalidade, infarto
peri-procedimento e re-estenose.
129
Para tentar minimizar essas potenciais complicações, as
diretrizes recomendam o uso de dispositivos de proteção
embólica distal para prevenção de ateroembolismo durante a angioplastia (filtros de safena).7 Para esta finalidade,
pode ser recomendado também o uso de stents revestidos
(stent Mguard).8
Em relação ao tipo de stent (convencional vs farmacológico), uma metanálise recente de 22 estudos sugere que
os stents farmacológicos são superiores na ICP em enxertos
de safena com diminuição de taxas de revascularização do
vaso-alvo e mortalidade cardíaca (OR 0.71, p = 0,04) e sem
diferença de risco de trombose de stent e infarto do miocárdio.9
Infarto agudo do miocárdio relacionado a enxerto de veia
safena está relacionada a elevada taxa de mortalidade intra-hospitalar e prognóstico ruim a longo prazo. Nesses casos,
deve-se considerar trombectomia manual aspirativa uma vez
que há grande associação com trombo visível e em grande
quantidade, assim como, considerar estadiar o procedimento
terapêutico mantendo um regime farmacológico agressivo
(associar AAS, clopidogrel e inibidores da glicoproteína
IIb/IIIa, manter anticoagulação plena, por exemplo).
Angioplastia em enxertos de
artéria mamária
130
O mecanismo de obstrução luminal da artéria mamária é
totalmente diferente em relação à degeneração dos enxertos
de safena e é resultante da hiperplasia neointimal secundária
ao trauma vascular durante a preparação do enxerto e anastomose. Aproximadamente em 60% dos casos, a estenose
se desenvolve no local da anastomose e responde favoravelmente à angioplastia convencional com balão (sucesso
primário em torno de 90%).10
Intervenção coronária
percutânea em leito nativo de
pacientes com CRM prévia
Em geral, o leito nativo coronário desses pacientes já
submetidos a CRM prévia apresentam uma elevada carga
aterosclerótica, calcificação acentuada, doença de tronco
de coronária esquerda associada e oclusões crônicas totais
caracterizando um cenário de ICP de abordagem complexa.
Portanto, além de expertise do operador, é real a necessidade de aterectomia rotacional (Rotablator) para permitir
expansão adequada dos stents, de imagem intravascular
(ultrassom intra-coronário e/ou tomografia de coerência
óptica) para guiar o procedimento e otimizar o implante
dos stents, sendo fortemente recomendado o uso de stents
farmacológicos para diminuir as taxas de re-estenose.
Reestenose intra-stent (RIS)
A reestenose angiográfica é definida como presença
de obstrução superior a 50% do diâmetro do segmento da
artéria tratada, dentro do stent ou até 5 mm de suas bordas.
A reestenose clínica consiste no retorno dos sintomas de
isquemia miocárdica, associado à confirmação angiográfica,
necessitando de nova revascularização da lesão-alvo quer
seja por intervenção percutânea ou cirúrgica.11
A reestenose dos stents pode ser classificada em quatro
tipos, conforme Tabela 2.12
O padrão mais comum de reestenose após implante
de stent convencional é o difuso, enquanto que após stent
farmacológico o mais comum é o focal.
Os mecanismos envolvidos na reestenose coronariana
após o tratamento percutâneo com balão são deposição
plaquetária, formação de trombo, retração elástica e remodelamento negativo. Com o advento do stent, houve o bloqueio
da retração elástica e do remodelamento negativo, reduzindo
as taxas de reestenose por estes mecanismos.
O mecanismo da reestenose dos stents convencionais é
a hiperplasia neointimal, que foi reduzida drasticamente com
o uso de stents farmacológicos. As taxas de reestenose após
balão são de 32-42%, dos stents convencionais 16-32% e
dos stents farmacológicos inferiores a 10%.
Embora inicialmente descrita como benigna, estudos
recentes têm demostrado uma maior incidência de SCA
como apresentação clínica da reestenose, tanto de stents
convencionais como de farmacológicos.
Em estudo que comparou a apresentação clínica de
pacientes com reestenose de acordo com o tipo de stent,
cerca de 65 a 70% dos casos eram SCA, sendo 5 a 10% de
IAM, sem diferenças entre os tipos de stent. Neste estudo,
os fatores de risco relacionados a IAM como forma de
apresentação do quadro de reestenose foram tabagismo
ativo e insuficiência renal crônica. Estes achados sugerem
que a apresentação clínica da reestenose intra-stent está
associada aos fatores de risco relacionados ao paciente e
não aos fatores relacionados ao dispositivo. Com relação
aos desfechos em longo prazo, a SCA como forma de
apresentação de RIS foi preditor independente de eventos
cardiovasculares adversos maiores aos seis meses, quando comparada ao quadro de angina estável ou isquemia
silenciosas causada pela reestenose.13
Os principais fatores de risco associados à ocorrência de
reestenose são: diabetes, idade inferior a 55-60 anos, SCA,
angioplastia prévia, sexo feminino, lesões multiarteriais, lesão
de tronco de coronária esquerda, lesões em enxertos venosos,
oclusões crônicas, stents com diâmetros iguais ou inferiores a
2,5 e comprimento maior ou igual a 40 mm, lesões calcificadas,
expansão inadequada do stent e perda geográfica.
Embora os stents farmacológicos tenham reduzido de
forma significativa as taxas de reestenose, esta ainda pode
ocorrer devido, principalmente aos seguintes fatores: hipersensibilidade ao polímero e/ou à plataforma metálica,
resistência à droga atiproliferativa, sub-expansão do stent,
fratura do stent e perda geográfica da lesão.
O uso de métodos de imagem intravascular, como o
ultrassom intracoronário e a tomografia de coerência óptica
podem auxiliar de maneira fundamental na avaliação do
mecanismo da reestenose e ajudar a guiar tratamento.
O prognóstico do tratamento da reestenose depende de
Tabela 2. Classificação da reestenose intra-stent.
Tipo I ou Focal: lesão menor que 10 mm de comprimento
Tipo II ou Difusa intra-stent: lesão maior que 10 mm de
comprimento, porém restrita ao stent
Tipo III ou Proliferativa: lesão maior que 10 mm de comprimento
ultrapassando as margens do stent
Tipo IV ou Oclusiva: ausência de fluxo anterógrado
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):128-33
Síndrome coronariana aguda em indivíduos com revascularização cirúrgica ou percutânea prévia
sua classificação. Quanto maior a proliferação neointimal
maior será a recorrência de reestenose.
O tratamento de pacientes com reestenose clínica tratados anteriormente com balão é feito utilizando-se um stent
convencional ou farmacológico. Pacientes com reestenose
clínica tratados anteriormente com stent convencional devem
ser tratados com stent farmacológico.
O tratamento da restenose de um stent farmacológico
ainda é controverso e desanimador, pois a reestenose após
o tratamento com um novo stent farmacológico com a mesma droga ou droga diferente ocorre em 25-30% dos casos.
Deve-se tentar avaliar o mecanismo de reestenose. Se for
detectado perda angiográfica da lesão ou fratura de stent,
um novo stent farmacológico deverá ser implantado. No
caso de hipoexpansão do stent, deve-se tentar corrigir com
o uso de balões adequados. A hiperplasia neointimal pode
ser corrigida com implante de um outro stent farmacológico ou com o emprego de balão farmacológico, que tem se
mostrado superior ao balão convencional e com resultados
semelhantes quando comparado ao implante de outro stent
farmacológico.
Em pacientes com reestenoses intra-stent recorrentes,
principalmente difusa e associada à doença multiarterial
e/ou lesões complexas, a cirurgia de revascularização do
miocárdio deve ser considerada.
Um dos diagnósticos diferencias da reestenose intra-stent
é a neoaterosclerose, definida como presença de placa aterosclerótica dentro de um stent implantado. Seu diagnóstico in vivo
é feito pela tomografia de coerência óptica. Até o momento,
poucos trabalhos estão disponíveis na literatura sobre a melhor
abordagem da neoaterosclerose, sendo geralmente utilizada
a estratégia de tratamento em lesões de novo.
Trombose de stent
A trombose de stent, embora relativamente incomum, é
uma das complicações mais temidas em pacientes submetidos à ICP, pois apresenta taxas de mortalidade de 10-20%
ao final de um ano.
A trombose de stent pode ser classificada de acordo
com o tempo de ocorrência ou de acordo com o grau de
suspeita clínica.14 (Tabela 3)
A trombose de stent geralmente se apresenta com quadro
de infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do
segmento ST (IAMCSST) e está associada a piores desfechos
clínicos a curto e longo prazo.
Em uma série de 430 casos de trombose de stent definitiva, a ocorrência de óbito e nova trombose de stent foi de
18% aos 30 dias de seguimento. Estes pacientes apresentam
maior risco de trombose de stent recorrente, IAM recorrente e
óbito em até três anos.15
Com relação ao tempo de ocorrência, a trombose de
stent precoce está associada a maior mortalidade hospitalar
quando comparada a trombose tardia ou muito tardia.16
O IAM devido a trombose de stent difere do IAM causado
por uma placa aterosclerótica em uma coronária nativa por
estar associado à maior carga trombótica, embolização distal
mais frequente e menores taxas de reperfusão.
A trombose de stent é uma complicação rara. Em uma
metanálise de 30 estudos que incluiu 220000 pacientes e
4300 tromboses de stent, após uma mediana de 22 meses
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):128-33
Tabela 3. Classificação de trombose de stent.
De acordo com o momento em que ocorre
Precoce: < 30 dias (aguda < 24h e sub-aguda 1-30 dias)
Tardia: 30 dias a 1 ano
Muito tardia: > 1 ano
De acordo com o grau de suspeita clínica
Definitiva: SCA comprovada pela cinecoronariografia ou anatomia
patológica
Provável: morte inexplicada nos primeiros 30 dias após implante do
stent ou SCA envolvendo território no qual foi implantado o stent
sem confirmação angiográfica, independentemente do tempo
Possível: morte inexplicada > 30 dias após o implante do stent
de seguimento, a ocorrência de trombose de stent foi de
2,4%, sendo 0,4% aguda, 1,1%, sub-aguda, 0,5% tardia e
0,6% muito tardia.17
Com a melhora das técnicas de implante dos stents e
com a utilização de terapia antiplaquetária dupla, as taxas
atuais de trombose precoce de stent reduziram para menos
de 1% e após 30 dias para 0,2 a 0,6% por ano.
Os fatores de risco para sua ocorrência podem estar relacionados ao paciente, ao procedimento e/ou ao tipo de stent
utilizado. Os principais fatores relacionados ao paciente são:
tamanho do vaso e comprimento da lesão, SCA, disfunção
ventricular, diabetes, insuficiência renal crônica, resistência ou
descontinuação do clopidogrel. Os relacionados ao procedimento são: subdimensionamento ou expansão inadequada
do stent, dissecção de bordas, presença de trombo na lesão,
múltiplos stents, comprimento do stent, lesão em bifurcação
e terapia antitrombótica peri-procedimento. Os relacionados
ao stent são: tipo de stent, tipo de droga antiproliferativa e o
polímero carreador da droga.
Apesar dos inúmeros fatores de risco possíveis, os preditores de trombose de stent mais comuns e mais consistentes
são descontinuação precoce da terapia antiplaquetária,
doença coronariana extensa e número/comprimento do stent.
Outros preditores comuns porém menos consistentes foram
SCA como quadro clínico na admissão, diabetes, tabagismo
ativo e lesão em bifurcação.17
Como o quadro clínico na maioria dos pacientes com
trombose de stent é o IAMCSST, os pacientes devem ser
encaminhados preferencialmente para angioplastia primária,
objetivando a reperfusão coronariana precoce.
Devido ao seu quadro infrequente, a estratégia intervencionista de escolha para o tratamento desta complicação
permanece incerta. Por se tratar de um cenário geralmente
com alta carga trombótica, os inibidores da glicoproteína IIb/
IIIa e os cateteres de tromboaspiração manual podem contribuir para a melhora dos resultados. A dilatação do stent com
balões de alta pressão deve ser usada para corrigir possíveis
mecanismos relacionados ao stent. O uso de métodos de
imagem intravascular, como o ultrassom intracoronário e a
tomografia de coerência óptica, podem auxiliar na identificação
da causa da trombose e otimizar os resultados da angioplastia.
A utilização de outro stent para tratar trombose de stent
é um tema controverso, ficando reservado para casos de
dissecção de borda ou lesões adjacentes ao stent prévio
e/ou resultados inadequados apenas com o uso de balão.
131
Em um estudo observacional que avaliou o manejo dos
pacientes com trombose de stent, a maioria dos pacientes
com trombose precoce de stent foi tratada apenas com balão,
enquanto que pacientes com trombose muito tardia foram
tratados com implante de stent farmacológico. A utilização
de tromboaspiração e de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa
foi de 30-35% e 65-75%, respectivamente.16
O uso da terapia antiplaquetária adequada é de fundamental importância para minimizar o risco de trombose de stent e
de sua recorrência. Deve-se dar preferência ao prasugrel ou
ticagrelor, desde que indicado, pois estes, além de reduzirem
eventos cardíacos adversos maiores, reduzem também as
taxas de trombose de stent.18,19 Estes medicamentos devem
ser utilizados por pelo menos 12 meses após SCA, podendo
o tratamento ser prolongado principalmente nos pacientes de
alto risco trombótico, se bem tolerado.
Resultados clínicos da ICP em
pacientes com SCA e ICP ou
CRM prévias
132
Os pacientes que se apresentam com SCA sem supra
de ST e que possuem antecedentes de CRM ou ICP prévias
apresentam um maior risco de eventos adversos. As diretrizes
brasileira, americana e européia de SCASST mais recentes
recomendam estratificação invasiva nestes pacientes. No
entanto, na prática, os pacientes com CRM prévia tendem
a ser tratados de maneira mais conservadora.
Em um estudo observacional, pacientes com história
prévia de ICP que se apresentaram com quadro de SCASST
tiveram uma maior probabilidade de serem tratados invasivamente, o que é consistente com as recomendações
das diretrizes atuais. Inversamente, os pacientes com CRM
prévia foram menos frequentemente submetidos a cinecoronariografia e a revascularização miocárdica, além de
receberem menos medicações antitrombóticas precocemente, mesmo sendo pacientes de alto risco de eventos
cardíacos pelos escores de risco.1
Os pacientes que se apresentam com quadro isquêmico
agudo de trombose de stent ou oclusão de enxertos venosos
representam um dos maiores subgrupos de risco para a ICP.
Um estudo retrospectivo analisou 415 pacientes submetidos à ICP por SCA decorrente de trombose de stent
ou oclusão de enxerto venoso. O grupo oclusão de enxerto
venoso foi subdividido em ICP realizada no enxerto venoso
ou ICP realizada na artéria coronária nativa. Os pacientes
do grupo ICP em trombose de stent tiveram maiores taxas
de eventos adversos em 30 dias quando comparados aos
pacientes que realizaram ICP na artéria coronária nativa. Não
houve diferença na ocorrência de eventos entre os pacientes do grupo trombose de stent e o grupo ICP no enxerto
venoso em 30 dias. Ao final de 1 ano de seguimento, a taxa
de eventos foi semelhante entre os 3 grupos.20
Em uma análise post-hoc do estudo SYNTAX, embora as
taxas de trombose de stent e oclusão de enxerto definitiva/
provável tenham sido semelhantes (aproximadamente 10%)
ao final de 5 anos, o impacto clínico da trombose de stent
parece ser maior, com uma mortalidade de 41,3% versus 23,1%
quando comparada aos pacientes com oclusão do enxerto.21
Considerações Finais
Com o aumento da expectativa de vida e do número de
procedimentos de angioplastias ou revascularização cirúrgica do miocárdio, a necessidade de novas intervenções
devido a SCA é real, uma vez que o substrato aterogênico
persiste. É imperativo o controle dos fatores de risco, mudança de estilo de vida e tratamento clínico otimizado para
diminuir a chance de evolução desfavorável. Outrossim, a
qualidade da primeira intervenção é muito importante, visto
que frequentemente os eventos adversos se relacionam a
aspectos técnicos cirúrgicos ou do implante do stent. A
indicação de novo procedimento de revascularização e
qual procedimento a ser adotado precisa ser amplamente
discutida entre os membros do “Heart Team”.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de
interesse na realização deste trabalho.
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133
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):128-33
revisão/review
PAPEL DO SUPORTE CIRCULATÓRIO NAS SÍNDROMES
CORONARIANAS AGUDAS
The role of circulatory support in acute coronary syndromes
RESUMO
Eduardo Gregório Chamlian1
Nelson Americo Hossne
Junior1
Walter José Gomes1
1. Disciplina de Cirurgia
Cardiovascular da UNIFESP –
Escola Paulista de Medicina,
São Paulo, Brasil
Correspondência:
Rua Napoleão de Barros, 715, 3° andar,
São Paulo, SP
[email protected]
134
O tratamento da síndrome coronariana aguda obteve expressiva redução da mortalidade
graças ao desenvolvimento de novos fármacos e da angioplastia coronariana primária.
Entretanto, apesar desta terapêutica ser eficiente e oferecer resultados adequados no
tratamento do infarto agudo do miocárdio (IAM), o choque cardiogênico ainda ocorre
em 5 a 10% dos casos e continua a ser a principal causa de mortalidade intra-hospitalar.
Portanto, temos um desfecho clínico insatisfatório neste grupo de pacientes com prognóstico reservado a curto e longo prazo.
O balão intra-aórtico, embora empregado de forma rotineira no tratamento do choque
cardiogênico refratário, apresenta benefícios limitados e não apresenta impacto no prognóstico
destes pacientes, como demonstrado em ensaios randomizados recentes.
Os sistemas de suporte de vida extracorpóreo (ECLS) são considerados dispositivos eficazes para o tratamento do choque cardiogênico refratário no IAM, uma vez que
oferecem fluxo sanguíneo adequado e são instalados rapidamente pela canulação de
vasos periféricos. Deste modo, permitem a tomada de decisões médicas para a realização
de intervenções diagnósticas e terapêuticas – ponte para decisão – para tratamento da
causa clínica e anatômica, com resultados clínicos consistentes e encorajadores para a
utilização deste tipo de tecnologia.
Descritores: Infarto do miocárdio; Choque cardiogênico; Insuficiência cardíaca sistólica;
Circulação extracorpórea; Oxigenação por membrana extracorpórea.
ABSTRACT
The treatment of acute coronary syndrome has achieved a significant reduction in mortality, thanks to the development of new drugs and primary coronary angioplasty. However,
although this therapy is efficient and offers adequate results in the treatment of acute myocardial infarction (AMI), cardiogenic shock still occurs in 5% to 10% of cases, and continues
to be the main cause of intrahospital mortality. Therefore, we have an unsatisfactory clinical
outcome in this group of patients, with a reserved prognosis in the short and long terms.
The intra-aortic balloon pump, although used routinely in the treatment of refractory
cardiogenic shock, has limited benefits and does not have any impact on patient prognosis,
as demonstrated in recent randomized trials.
Extracorporeal life support systems (ECLS) are considered effective devices for the
treatment of refractory cardiogenic shock in AMI, as they offer adequate blood flow and
are rapidly installed through cannulation of the peripheral veins. They therefore enable
medical decision-making for diagnostic and therapeutic interventions – decision-making
bridge – for treatment of the clinical and anatomical cause, with consistent and encouraging clinical results for the use of this type of technology.
Descriptors: Myocardial infarction; Shock cardiogenic; Heart failure, systolic; Extracorporeal
circulation; Extracorporeal Membrane Oxygenation
INTRODUÇÃO
O tratamento da síndrome coronariana aguda (SCA) teve
enorme avanço com o desenvolvimento de novos fármacos
e da angioplastia primária, com expressiva redução da mortalidade. No entanto, apesar da eficiência e bons resultados
no tratamento precoce no infarto agudo do miocárdio (IAM),
o choque cardiogênico ainda ocorre em 5 a 10%, e continua
a ser a principal causa de mortalidade intra-hospitalar nestes
pacientes.1 Portanto, o desfecho clínico dos pacientes com
SCA que cursam com choque cardiogênico continua a ser
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):134-40
Papel do Suporte Circulatório nas Síndromes Coronarianas Agudas
insatisfatório; e o prognóstico daqueles que desenvolvem
parada cardíaca permanece extremamente reservado.
Embora comumente empregado no tratamento do choque cardiogênico refratário, devido à disponibilidade e familiaridade do médico, o balão intra-aórtico tem benefícios
limitados e não melhora o prognóstico destes pacientes,
como demonstrado em recentes ensaios randomizados.2-4
Portanto, novos dispositivos mais eficazes de manterem suporte circulatório tem emergindo e encontrado maior aplicação.
Atualmente existem vários dispositivos disponíveis de
suporte circulatório mecânico, como suporte de vida extracorpórea (ECLS), ventrículos artificiais para-corpóreos ou
extracorpóreos (VAD) e o coração artificial total.
Os sistemas de suporte de vida extracorpórea (ECLS)
são considerados dispositivos eficazes para tratar o choque
cardiogênico refratário ou a parada cardíaca no IAM devido à
sua capacidade de fornecer um eficiente suporte circulatório
e com a possibilidade de serem rapidamente executados
através de canulação de vasos periféricos.
No entanto, os ECLS, isoladamente, são insuficientes para
a resolução do choque cardiogênico após IAM. O objetivo
principal da instalação do ECLS, nestes casos, é manter os
pacientes vivos temporariamente para permitir raciocínio e
tomada de decisões médicas, com o escopo de ponte de
decisão para intervenções diagnósticas e terapêuticas, a
fim de elucidar e tratar a condição clinica e anatômica que
desencadeou a situação. (Figuras 1 e 2)
Isto é particularmente importante em pacientes com choque cardiogênico consequente a um IAM extenso; nos quais,
embora a reperfusão possa ter sido eficaz, a recuperação
da função contrátil devido ao miocárdio atordoado (stunned
myocardium) possa demorar vários dias. Outra situação ocorre quando há parada cardíaca refratária, onde a instalação
de ECLS permite estabilizar hemodinamicamente o paciente
e proceder com métodos diagnósticos e de tratamento da
condição desencadeadora.
O grande desenvolvimento dos sistemas de ECLS permite
atualmente a implantação rápida com canulação percutânea periférica e utilização de oxigenadores de membrana e
bombas centrifugas, com resultados clínicos cada vez mais
consistentes e encorajadores.
Figura 2. Centrimag® utilizada em suporte ventricular esquerdo
(canulação ventrículo esquerdo – aorta ascendente) como ponte
para decisão.
ESTRATÉGIA PARA ASSISTÊNCIA
CIRCULATÓRIA MECÂNICA
Na última década, a taxa de mortalidade de pacientes
com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento
do segmento ST (IAMSST) submetidos à terapia de reperfusão
coronariana via angioplastia, ou trombólise intravenosa, diminuiu de forma significativa, quando comparada com o período
em que este tipo de terapia não era possível.5 Os principais
fatores que contribuem para este resultado são: avanços na
terapia farmacológica,6-8 melhora contínua de dispositivos para
intervenção coronária percutânea (ICP), 9-11 dedicação continua
para diminuição do tempo porta-balão no IAMSST,12,13 utilização
de suporte circulatório mecânico nos casos de instabilidade
hemodinâmica14,15 e programas de reabilitação cardiovascular.16,17 No entanto, quando analisamos o subgrupo de pacientes
com IAMSST que desenvolveu choque cardiogênico – 7 a 10%
dos casos -, a mortalidade intra-hospitalar ainda permanece
extremamente elevada, apesar da terapia de reperfusão coronariana,18-20 com evolução clínica gravemente comprometida21,22
e mortalidade entre 40-50%.23 Os resultados do estudo SHOCK
em 1999 evidenciaram que o melhor tratamento para o choque
cardiogênico pós IAMSST é a revascularização precoce.24
Apesar da revascularização precoce ser essencial para a recuperação da função ventricular, a disfunção de múltiplos
órgãos é a principal causa de morte. Deste modo, a estabilização hemodinâmica também deve desempenhar um papel
fundamental na estratégia de tratamento.25
O balão intra-aórtico (BIA) historicamente tem sido usado
e considerado um tipo de dispositivo de assistência circulatória mecânica (DACM) efetivo para pacientes com IAMSST
com choque cardiogênico.26,27 Entretanto, estudos clínicos
recentes, randomizados, controlados e multicêntricos demonstraram que o BIA não oferece benefício adicional na
evolução de pacientes com choque cardiogênico submetidos
a ICP.2-3 Como resultado, existe uma intensa controvérsia no
uso do BIA neste perfil de pacientes.28-30
Oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO)
Figura 1 – Centrimag® com detalhe da bomba centrífuga.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):134-40
A utilização de ECMO (sistema de suporte de vida extracorpórea) têm sido reportada na literatura de modo crescente
para pacientes com choque cardiogênico,31-38 com taxas de
sobrevida entre 32,7% a 76,2%, sendo, as maiores taxas,
em centros com expertise em implantes de dispositivo de
assistência ventricular (DAV) ou transplante cardíaco. Bermudez
135
et al.32 e Tayara et al.34 relatam taxas de implante de DAV de
45% e 100%, com sobrevida de 64% e 66,7%, respectivamente.
insucesso na revascularização e disfunção de múltiplos
órgãos como preditores de maior mortalidade hospitalar.46
Impella®
MOMENTO DO IMPLANTE
Os usos de dispositivos de assistência ventricular temporários têm sido utilizados de forma rotineira em pacientes
com choque cardiogênico mesmo em vigência de parada
cardiorrespiratória (PCR),39-45 com taxa de alta hospitalar entre
26% e 55%. A porcentagem de pacientes que receberam um
DAV foi de 1,7% a 5,6%, e, nesta série, nenhum paciente foi
submetido a transplante cardíaco.
A assistência circulatória mecânica no choque cardiogênico pós IAMSST tem sido utilizada primariamente como
terapia de resgate após a intervenção coronária percutânea
que evolui com necessidade de suporte inotrópico sem
resposta hemodinâmica adequada. (Figuras 3 e 4)
Sakamoto et al. reportaram 98 pacientes submetidos a
ECMO por choque cardiogênico ou PCR. A ICP foi realizada
com sucesso em 66,3% e a ECMO foi instituída antes ou
durante a ICP em 83,7% dos casos. Houve retirada da ECMO
em 55,1% dos casos, com sobrevida hospitalar de 32,7%.31
Sheu et al. analisaram 46 pacientes submetidos a ECMO
simultaneamente à ICP após IAMSST. Nessa casuística, a
retirada da ECMO foi possível em 78,3% dos casos, com sobrevida hospitalar de 60,9%. Este estudo mostra uma taxa de
sobrevida significativa com o uso da ECMO associada a ICP
em um grupo de pacientes críticos, com grande probabilidade
de óbito sem o uso da assistência circulatória mecânica.33
Kim et al. apresentaram 27 pacientes nos quais 70,4%
foram submetidos a ECMO antes da ICP ou cirurgia de revascularização miocárdica, demonstrando uma sobrevida
hospitalar de 59,3%.37
A utilização da ECMO e dos DAV não implantáveis devem
REVASCULARIZAÇÃO
A revascularização adequada variou entre 20% a 100%
nos pacientes submetidos a ECMO e, entre 58% e 100%
naqueles submetidos a DAV. Na literatura, poucos autores
relataram o valor da revascularização na vigência de choque
cardiogênico após um IAMSST. Sakamoto at al.31, Chen at
al..35 e Anderson et al.46 encontraram diferenças significativas
nas taxas de revascularização em sobreviventes quando comparados aos não sobreviventes (84,4% vs. 57,6%, p=0,005;
100% vs. 67%, p=0,033; e 100% vs. 67%, p<0,01).
ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO
136
Análises multivariadas de risco foram realizados em cinco
estudos.31,33,37,42,45 O estudo de Sakamoto et al. avaliou 98
pacientes submetidos a ECMO após síndrome coronariana
aguda (SCA) e os preditores independentes de mortalidade
intra-hospitalar foram: angioplastia sem sucesso (Odds Ratio
(OR): 6,7), assistolia ou atividade elétrica sem pulso (OR: 6,3)
e complicações relacionadas a ECMO (OR: 4,6).31 Sheu et
al. estudaram 71 pacientes com choque cardiogênico após
IAMSST e identificou os seguintes preditores independentes
de sobrevida: angioplastia sem sucesso (OR: 4,1), insuficiência cardíaca avançada (NYHA ≥ 3) (OR: 13,3) e suporte com
ECMO (OR: 0,2).33 Kim et al. reportaram 27 pacientes submetidos a ECMO após IAMSST, e somente o nível sérico de lactato
antes da instalação de ECMO foi um fator independente
associado com maior mortalidade hospitalar (p=0,007).37
Aiba et al. analisaram 64 pacientes com choque cardiogênico
pós IAMSST que receberam BIA (38 pacientes) ou ECMO (26
pacientes), e identificaram um sistema de escore de choque
baseado na frequência cardíaca, pressão arterial, débito urinário, excesso de bases e estado mental como um preditor
independente de mortalidade hospitalar (OR:2,2).42 Lauten
et al. avaliaram 120 pacientes com choque cardiogênico
pós IAMSST derivados do Registro Impella-EUROSHOCK e
identificaram como preditores independentes de mortalidade
a idade acima de 65 anos (OR:5,2) e nível sérico de lactato
maior que 3,8 mmol/L (OR:5,2).45
Análises univariadas foram demonstradas em dois estudos. 35,46 Chen et al. reportaram 36 pacientes submetidos a
ECMO de resgate após PCR devido a IAMSST e encontraram
os seguintes fatores com diferença estatística significativa no
desfecho de mortalidade: escore inotrópico, nível sérico de
lactato, duração da PCR, Escore SOFA (Sepsis-related Organ
Failure Assessment Score), falência hepática, falência renal
e falência do sistema nervoso central.35 Da mesma forma,
Anderson et al. estudaram 100 pacientes com choque cardiogênico pós IAMSST e identificaram a gravidade do choque,
Figura 3. Canulação em artéria femoral direita e veia femoral direita
por punção percutânea com irrigação distal do membro inferior
direito em paciente com fração de ejeção de 8% pós-infarto agudo
do miocárdio.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):134-40
Papel do Suporte Circulatório nas Síndromes Coronarianas Agudas
falhas de revascularização percutânea ou após cirurgia
de revascularização miocárdica, fato este que acarreta
um maior tempo para o início de sua terapêutica, além
de um maior custo.
RESULTADOS DE SOBREVIDA
Figura 4. Detalhe da Centrimag® com 4.500 rpm e fluxo de 5 L/min.
ser iniciados prontamente, uma vez que têm a capacidade
de fornecer uma rápida normalização das variáveis hemodinâmicas encontradas no choque cardiogênico.
RECUPERAÇÃO MIOCÁRDICA
Na literatura, a taxa de retirada dos DACM variou de
0% a 81,5% para ECMO, 32,4% a 76,9% para DAV não
implantáveis e de 0% a 47,1% para DAV implantáveis,46-47
em comparação com a menor retirada dos DAV implantáveis de longa duração, por exemplo o HeartMate I®.48-50A
retirada da ECMO e dos DAV não implantáveis foi maior
(> 70%) em estudos com maiores taxas de revascularização (> 80%),33,37,40,43 e consistentemente menor (< 70%)
em estudos com menores taxas de revascularização
(< 80%).31,32,34,39,42A ECMO geralmente é colocada de
forma precoce e ocasionalmente antes da revascularização miocárdica, enquanto os DAV não implantáveis
são colocados no laboratório de hemodinâmica após a
ICP. Os DAV implantáveis necessitam de ambiente cirúrgico para sua instalação e são geralmente utilizados nas
IAM/CC
Choque Cardiogênico Grave
Pas<75 mmhg apesar de:
• BIA
• Altas doses de Inotrópicos
• Uso de Vasopressores
Sim
ECMO
Alternativa
Notavelmente, oito estudos que utilizaram dispositivos de ACM no tratamento do choque cardiogênico pós
IAMSST mostraram uma sobrevida maior que 60%, resultado este favorável, considerando que o quadro agudo de
sua apresentação clínica neste subgrupo de pacientes é
significativamente maior quando comparado com estudos
que não incluíram dispositivos de ACM.32-34,38,48-51
ALGORITMO DE ASSISTÊNCIA
CIRCULATÓRIA MECÂNICA NO
CHOQUE CARDIOGÊNICO NA
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA
As análises de fatores de risco demonstram que o
tempo para intervenção coronária e a gravidade do choque
são os principais preditores de sobrevida principais neste
grupo de pacientes.31,33,35,42,46 A intervenção coronariana
rápida previne o dano miocárdico irreversível enquanto a
ACM diminui a disfunção de múltiplos órgãos.25 Diretrizes
atuais recomendam a revascularização de emergência
no choque cardiogênico após um infarto agudo do miocárdio,52 entretanto a ocorrência de choque cardiogênico
grave pode colocar em risco uma recuperação favorável.
Deste modo, propomos um algoritmo modificado de
Caceres et al.22 baseado em três elementos principais: identificação do estado de choque cardiogênico grave, revascularização miocárdica e tempo para instalação de dispositivos
de assistência circulatória mecânica. (Figuras 5 e 6)
IAM: Infarto Agudo do Miocárdio
CC: Choque Cardiogênico
BIA: Balão Intra-Aórtico
ECMO: Oxigenação por Membrana Extracorpórea
ICP: Intervenção Coronária Percutânea
ARI: Artéria Relacionada ao Infarto
ACM: Assitência Circulatória Mecânica
CRM: Cirurgia de Revascularização Miocárdica
DAV: Dispositivo de Assistência Ventricular
Impella 5.0 LP
ICP Imediata
ICP com Sucesso da ARI
Continuar estabilização com
ACM
Não
Sim
IAM<6 hr
• Continuar ACM até retirada
• Mudança de dispositivo de
ACM se necessário até recuperação do miocádio atordoado
ECMO/Centrimag/
Impella 5.0 LP
Considerar CRM com
Acm de back-up
• ECMO
• Centrimag
IAM>6 hr
Considerar CRM com Acm
de back-up, com suspeita
de miocárdio viável e
melhora a hipoperfusão:
• Diminuição do edema
pulmonar
• Bilirrubina < 3 mg/dl
• Creatinina < 2 mg/dl
Figura5. Algoritmo de tratamento de choque cardiogênico na síndrome coronariana aguda – I.
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2016;26(2):134-40
Continuar ACM até retirada
• Considerar DAV de longa
duração
• Considerar transplante
cardíaco
137
IAM: Infarto Agudo do Miocárdio
CC: Choque Cardiogênico
BIA: Balão Intra-Aórtico
ECMO: Oxigenação por Membrana Extracorpória
ICP: Intervenção Coronária Percutânea
ARI: Artéria Relacionada ao Infarto
ACM: Assitência Circulatória Mecânica
CRM: Cirurgia de Revascularização Miocárdica
DAV: Dispositivo de Assistência Ventricular
IAM/CC
Choque Cardiogênico Grave
PAS< 75 mmhg apesar de :
• BIA
• Altas doses de inotrópicos
• Uso de vasopressores
Não
ICP Imediata
ICP com sucesso da ARI
Não
Sim
Monitorar lesão por reperfusão
Uso de 2 ou mais inotrópicos
para manter IC> 2,2 I/min/m2
IAM < 6 hr
Consideração CRM
com ACM de back-up
• ECMO
• Centrimag
Sim
Considerar DAV de curta duração
IAM > 6 hr
Continuar estabilização com ACM
ECMO/Centrimag/Impella 5.0 LP
Considerar CRM com de back-up,
com suspeita de miocárdia viavel e
melhora da hipoperfusão:
• Diminuição do edema pumonar
• Bilirrubina < 3 mg/dl
• Creatinina < 2 mg/dl
Continuar ACM até retirada
• Considerar DAV de longa duração
• Cinsiderar transplante cardíaco
Figura 6. Algoritmo de tratamento de choque cardiogênico na síndrome coronariana aguda – II.
138
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do desenvolvimento importante dos materiais
utilizados na angioplastia coronária percutânea e do avanço
tecnológico dos stents, o choque cardiogênico permanece
como a principal causa de morte após o infarto agudo do
miocárdio.
A utilização precoce de dispositivos de assistência circulatória mecânica, em conjunto ou logo após a intervenção
coronária percutânea, é uma opção terapêutica atual e com
resultados favoráveis na diminuição da mortalidade.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho.
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