Cães na cultura humana

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Cães na cultura humana
 O cão (Canis lupus familiaris[1]), no Brasil frequentemente chamado de cachorro, é um
mamífero canídeo e talvez o mais antigo animal domesticado pelo ser humano. Teorias
postulam que surgiu do lobo cinzento no continente asiático há mais de 100 000 anos.
Ao longo dos séculos, através da domesticação, o ser humano realizou uma seleção
artificial dos cães por suas aptidões, características físicas ou tipos de comportamentos.
O resultado foi uma grande diversidade de raças caninas, as quais variam em pelagem e
tamanho dentro de suas próprias raças, atualmente classificadas em diferentes grupos ou
categorias. As designações vira-lata (no Brasil) ou rafeiro (em Portugal) são dadas aos
cães sem raça definida ou mestiços descendentes.
Com uma expectativa de vida que varia entre dez e vinte anos, o cão é um animal social
que, na maioria das vezes, aceita o seu dono como o "chefe da matilha" e possui várias
características que o tornam de grande utilidade para o homem. Possui excelente olfato
e audição, é bom caçador e corredor vigoroso, relativamente dócil e leal, inteligente e
com boa capacidade de aprendizagem. Deste modo, o cão pode ser adestrado para
executar um grande número de tarefas úteis, como um cão de caça, de guarda ou pastor
de rebanhos, por exemplo. Assim como o ser humano, também é vítima de doenças
como o resfriado, a depressão e o mal de Alzheimer, bem como das características do
envelhecimento, como problemas de visão e audição, artrite e mudanças de humor.
A afeição e a companhia deste animal são alguns dos motivos da famosa frase: "O cão é
o melhor amigo do homem", já que não há registro de amizade tão forte e duradoura
entre espécies distintas quanto a de humano e cão. Esta relação figura em filmes, livros
e revistas, que citam, inclusive, diferentes relatos reais de diferentes épocas e em várias
nações. Entre os cães mais famosos que viveram e marcaram sociedades estão Balto,
Laika, Lassie e Marley. Na mitologia, o Cérbero é dito um dos mais assustadores seres
e, na ficção, Pluto, Snoopy e Scooby-Doo há décadas fazem parte da infância de várias
gerações.
Índice
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1 Origem e história da domesticação
2 A relação entre o cão e o lobo
3 Seleção artificial
4 Etimologia e significado
5 Taxonomia e nomeclatura
6 Características
7 Grupos de raças
8 Saúde
9 Comportamento
10 Relacionamento com o homem
11 Cães na cultura humana
12 Notas
13 Referências
14 Bibliografia
15 Ver também
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16 Ligações externas
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Origem e história da domesticação
Lobo, do qual provavelmente se originaram as raças caninas. Atualmente, este lobo é
um animal ameaçado de extinção.[2]
As origens do cão doméstico baseiam-se em suposições, por se tratar de ocorrências de
milhares de anos, cujos crescentes estudos mudam em ambiente e datação dos fósseis.
Uma das teorias aponta para um início anterior ao processo de domesticação,
apresentando a separação de lobo e cão há cerca de 135 000 anos, sob a luz dos
encontrados restos de canídeos com uma morfologia próxima à do cinzento, misturados
com ossadas humanas.[3] Outras, cujas cronologias são mais recentes, sugerem que a
domesticação em si começou há cerca de 30 000 anos, os primeiros trabalhos caninos e
o início de uma acentuada evolução entre 15 000 e 12 000, e por volta de 20% das raças
encontradas atualmente, entre 10 000 e 8000 anos no Oriente Médio.[4][5] Além das
imprecisões do período, há também discordâncias sobre a origem. Enquanto especula-se
que os cães sejam descendentes de uma outra variação canídea, as mais aceitáveis são a
descendência direta do lobo cinzento ou dos cruzamentos entre lobos e chacais.[6]
As evidências baseiam-se também em achados arqueológicos, já que foram encontrados
cães enterrados com humanos em posições que sugerem afetividade.[7] Segundo estes
trabalhos de pesquisa, o surgimento das variações teria ocorrido por seleção artificial de
filhotes de lobos-cinzentos e chacais que viviam em volta dos acampamentos préhistóricos, alimentando-se de restos de comida ou carcaças deixadas como resíduos
pelos caçadores-coletores. Os seres humanos perceberam a existência de certos lobos
que se aproximavam mais do que outros e reconheceram certa utilidade nisso, pois eles
alertavam para a presença de animais selvagens, como outros lobos ou grandes felinos.
Mais sedentários devido ao desenvolvimento da agricultura, os seres humanos então
deram um novo passo na relação com os caninos. Eventualmente, alguns filhotes foram
capturados e levados para os acampamentos na tentativa de serem utilizados. Com o
passar dos anos, os animais que, ao atingirem a fase adulta, mostravam-se ferozes, não
aceitando a presença humana, eram descartados ou impedidos de se acasalar. Deste
modo, ao longo do tempo, houve uma seleção de animais dóceis, tolerantes e obedientes
aos seres humanos, aos quais era permitido o acasalamento e que, quando adultos, eram
de grande utilidade, auxiliando na caça e na guarda. Esse gradual processo, baseado em
tentativas e erros, levou eventualmente à criação dos cães domésticos.[8][9][4]
Exemplar em Pompeia: mosaico romano com o aviso Cave canem ("Cuidado com o
cão") era um motivo popular nas vilas romanas, já que estes animais tornaram-se
comuns como cães de guarda das casas.
Foi ainda durante a Pré-História que surgiram os primeiros trabalhos caninos e, com
isso, começaram a fortalecer os laços com o ser humano. Cães de caça e de guarda
ajudavam as tribos em troca de alimento e abrigo. Com o tempo, aperfeiçoaram o
rastreio e dividiram o abate das presas com os humanos.[4] Por possuírem alta
capacidade de adaptação, espalharam-se ao redor do mundo, levados durante as
migrações humanas e aparecendo em antigas culturas romanas, egípcias, assírias,
gaulesas e pré-colombianas, tendo então sua história contada ao lado da do
homem.[10][11]
No Egito Antigo, os cães eram reverenciados como conhecedores dos segredos do outro
mundo, bem como utilizados na caça e adorados na forma do deus Anúbis. Esta relação
com os mortos teria vindo do hábito de se alimentarem dos cadáveres, assim como os
chacais. No continente europeu, mais precisamente na Grécia Antiga, cães eram
relacionados aos deuses da cura, com templos que abrigavam dezenas deles para que os
doentes pudessem ser levados até lá e terem suas feridas lambidas. Neste período,
também combateram junto aos exércitos de Alexandre, o Grande, espalhando-se pela
Ásia e Europa. Na Gália, além de guardiões e caçadores, detinham a honra de serem
sacrificados aos deuses e enterrados nos túmulos de seus donos. Durante o período do
Império Romano, os cães, sempre fortes e de grande porte, foram utilizados para a
diversão do público em grandes brigas no Coliseu de Roma.[4] Trazidos da Bretanha e
da parte ocidental da Europa, eram mantidos presos e sem alimentos, para que
pudessem ficar agressivos durante os espetáculos, nos quais deviam matar prisioneiros,
escravos e cristãos. Sua fama ficou tão grande que as raças da época quase foram
extintas, devido ao exagerado uso em guerras e apresentações.[9][12][13]
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Cães têm sido criados em uma variedade de formas, cores e tamanhos tão grande que a
variação pode ser ampla mesmo dentro de uma só raça, como acontece com esses
Cavalier King Charles Spaniel.
Um caçador em 1885 com uma grande matilha de Beagles, uma raça de cães de caça.
Em princípio, cães eram criados por suas habilidades de trabalho. Após, entraram nos
lares como companheiros de vida.
Com o fim do Império Romano, o mundo entrou na fase da Idade Média, já com os cães
espalhados pelo continente europeu, levados pelos mercadores fenícios do Oriente
Médio à região mediterrânea e adentrado a região seguindo soldados romanos. Foi nessa
época que os caninos perderam o relativo prestígio de antes, já que doenças como a
peste negra assolavam a Europa e eram os cães que comiam os cadáveres nas periferias
das cidades. A Igreja Católica, enquanto instituição mais influente, passou a relacionálos à morte e considerá-los criaturas das trevas. Sua mentalidade supersticiosa
popularizou-os como animais de bruxas, vampiros e lobisomens. Tal influência, por
incentivo da Inquisição, resultou em matanças de lobos, cães e híbridos. Indo ainda
mais além, estipulou decretos que diziam que se qualquer preso acusado de bruxaria
fosse visitado por um cão, gato ou pássaro, seria imediatamente considerado culpado de
bruxaria e queimado na fogueira. Apesar de toda a perseguição, no fim deste momento,
os cães já começavam a ser vistos como companhia infantil.[12][14]
Durante o Renascimento, a visão negativa sobre os cães foi desaparecendo, já que
caíram no gosto dos nobres. Durante este período, os caninos eram utilizados para a
caça esportiva e criados com cuidado dentro dos canis de cada castelo. Com as famílias
livres para desenvolverem suas próprias raças, as variedades de cada região começaram
a surgir. Estas novas raças eram consideradas tesouros não encontrados em nenhum
outro lugar do mundo, e por isso, dadas de presente entre a nobreza, por representarem
grande sinal de riqueza. Esta atitude ajudou a difundir ainda mais a variedade e a
preservar determinadas raças, quando em seu lugar de origem acabavam exterminadas.
Adiante, também na Europa, nasceram os cães de companhia, já que o apreço por eles
crescia, conforme se via a fidelidade. Guilherme de Orange dos Países Baixos chegou a
declarar que seu cão o salvou de um atentado. Ao mesmo tempo que a diversidade
crescia no continente, tribos siberianas usavam seus cães para praticamente tudo, já que
eram bastante fortes e úteis para locomoção e outras atividades. Estes caninos,
importados da Sibéria, ajudaram o ser humano na conquista dos polos pelos primeiros
homens a pisar no Polo Sul e Polo Norte, puxando seus trenós.[12]
No período das grandes navegações, os homens migraram ao Novo Mundo com seus
caninos. Apesar de não serem desconhecidos dos povos pré-colombianos, a variedade o
era. Também durante a conquista, a presença deste animal teve sua utilidade: nas
guerras contra os nativos, farejadores eram utilizados para encontrar e matar os índios.
A respeito disso, há a lenda de que, na atual República Dominicana, milhares de
indígenas foram exterminados por uma tropa de 150 soldados de infantaria, trinta
cavaleiros e vinte cães rastreadores.[9] Durante o século XIX, apesar de polêmicos, os
treinamentos dos caninos para lutas e guerras, ganhou popularidade como na época de
Alexandre. Nessa fase, algumas raças foram compostas por animais menores, mais
brutos e de musculatura mais forte, como o bull terrier.[4]
No século seguinte, eventos tornaram a marcar a evolução canina. As guerras mundiais
extinguiram as raças das regiões mais afetadas e ajudaram a popularizar as variedades
militares, como o pastor alemão e o dobermann, enquanto rastreadores. No Japão, em
plena guerra, o imperador decretou que todos os cães que não pastores alemães fossem
mortos para a confecção de uniformes militares com seu couro. Devido a isso, muitos
criadores de akitas cruzaram seus animais com pastores alemães, para tentar fugir ao
decreto. Os resultantes destes cruzamentos, levados aos Estados Unidos pelos soldados,
foram os primeiros na criação de mais uma nova raça. Foi também após as guerras
mundiais que surgiram os primeiros centros de treinamento de cães-guia de cego.[12]
Modernamente, apesar de fazer parte da história humana desde a imagem divina aos
soldados das guerras, o cão tornou-se um animal de estimação apenas no século XX, já
adaptado aos modos de vida dos seres humanos, devido a sua habilidade de fazer de
diversos ambientes os melhores possíveis, e ao voltar suas capacidades de aprendizado à
domesticação. Diz-se que esta mútua relação entre os dois mais numerosos carnívoros
do mundo deve-se à compreensão e à evolução cerebral canina em entender o que
querem as pessoas.[15]
A relação entre o cão e o lobo
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Cães e lobos são tão parecidos fisica e comportamentalmente, que são capazes de
gerarem crias híbridas, como o chamado cão-lobo.
Levando-se em consideração os estudos que apontam o lobo como antecessor do cão, é
possível traçar semelhanças e diferenças entre estas duas espécies. Os mais antigos
esqueletos de cães descobertos datam de cerca de 30 000 anos depois do aparecimento
do Homo sapiens, sempre exumados em associação com o resto das ossadas humanas.
Aos pesquisadores, pareceu lógico associá-los aos canídeos pré-existentes, como o lobo,
o chacal e o coiote. No entanto, em descobertas feitas na China, nas quais encontravamse vestígios dos cães, o coiote e o chacal não foram identificados na região. Ainda no
Oriente, notou-se as primeiras associações do homem com uma variedade de lobo com
tamanho reduzido, de cerca de 150 000 anos. Nessa teoria, a ausência das duas espécies
e o fato de Canis lupus e Canis (lupus) variabilis(a) terem coexistido e possivelmente
reproduzido, pode confirmar a explicação do lobo como ancestral do cão, e por sob
questionamentos a teoria mais difundida, do acasalamento entre o cinzento, o chacal e
até mesmo, o coiote.[16] Essa hipótese, segundo estudos mais recentes, aliou-se a novas
descobertas: o aparecimento de algumas raças de cães nórdicos diretamente originados
do lobo; o resultado de trabalhos genéticos comparando o DNA destas espécies, que
mostraram uma semelhança superior a 99,8% entre o cão e o lobo, enquanto não
ultrapassa 96% entre o cão e o coiote;[17] e a existência de mais de 45 subespécies de
lobos, que poderiam estar na origem da diversidade racial observada nos cães.[18][19]
As semelhanças entre cães e lobos dificultam os trabalhos dos arqueólogos para fazer
distinção exata entre os vestígios de cada espécie, quando apresentam-se incompletos ou
quando o contexto arqueológico torna a coabitação pouco provável. De certo, o cão
primitivo só se diferencia do seu ancestral por alguns detalhes pouco fiáveis, como o
comprimento do focinho, a angulação do stop ou detalhes na arcada dentária.[18]
O lobo-cinzento, que supõe-se ser a única espécie de lobo tendo o cão como uma de
suas subespécies,[20] é um canídeo selvagem que vive em alcateias. Fisicamente, pode
atingir 2 m de comprimento e pesar mais de 60 kg. Suas cerca de quinze subespécies
habitam florestas ou planícies da Europa, Ásia, Estados Unidos, Canadá e o norte da
África, mas, em alguns lugares, como o Japão, estão à beira da extinção. Já o cão é o
único canídeo domesticado pelo homem, em um processo milenar. Seu tamanho varia
entre 1 - 45 kg(b), e vive tanto isolado quanto em matilhas. Sua diversidade de raças é,
em boa parte, devida à seleção artificial feita pelo homem na busca de qualidades
aproveitáveis e de submissão. É ainda um animal sem riscos de extinção, apesar de
algumas raças não mais existirem. Em comum, além das características físicas, estes
dois possuem as comportamentais e de povoamento. Suas caudas compridas são usadas
para comunicação quando precisam mostrar obediência diante do dominante, por
exemplo. Vigorosos, não são tão velozes quanto os felinos, mas capturam suas presas
pelo cansaço da persistência. Pelo globo, dispersaram-se há milhares de anos,
espalhando-se pela Ásia, Europa e África. À Oceania e às Américas, chegaram levados
pelo homem.[21]
Apesar do processo de domesticação, o cão não perdeu boa parte das semelhanças com
seu ancestral e com a família dos canídeos.
O modo como se alimentam também é semelhante. O lobo obtém a maior parte de sua
comida caçando em grupo e atacando presas de grande porte. A competição entre seus
membros leva ainda a um rápido consumo do alimento. Após matar a presa, come até se
satisfazer, passando um longo período sem se alimentar. Como os antepassados, os cães
domésticos comem rapidamente e poucas vezes ao dia. Essa tendência em comer muito
rápido pode virar um problema, pois os cães podem se engasgar ou engolir grandes
quantidades de ar. Os caninos alimentados em grupo podem apresentar as relações de
dominação dos lobos e, como resultado, os dominantes obtêm a maior parte do alimento
e os subordinados ficam com menos do que precisam. Como diferença, ao passo que o
lobo alimenta-se do que captura, o cão doméstico usufrui de rações fabricadas
especificamente para suas necessidades físicas.[22] Comunicativamente, além das
comuns características básicas de uso de gestos e odores, estas duas espécies
apresentam uma diferença marcante: enquanto os lobos amadurecem suas formas de
comunicação conforme atingem a idade adulta, certas raças caninas resultantes de
seleção artificial mantêm a forma que aprenderam enquanto filhotes. Em pesquisa
realizada entre quinze raças caninas e o lupino, o descendente direto husky siberiano foi
o único a confirmar igualdade nos meios de comunicação, marcando quinze pontos em
quinze avaliações. Na outra ponta, o cavalier king charles spainel mostrou dois, o que
ainda assim é capaz de demonstrar semelhança, já que outras raças superaram os 50%
de equiparidade entre seus meios de comunicação mesmo com a interferência humana
direta, que sempre busca as características que melhor lhe favoreçam, em detrimento
dos instintos animais.[23] Em suma, apesar de não ser possível definir como única, a
descendência direta do lobo pode ser confirmada devido as características muito
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semelhantes tanto físicas quanto comportamentais, ainda que a interferência humana
tenha sido extrema.
Seleção artificial
Ver artigo principal: Seleção artificial
Através da seleção artificial, alguns basset hounds desenvolveram orelhas tão grandes
que podem tropeçar nelas.[24]
Na seleção natural, processo proposto por Darwin, apenas os mais aptos se reproduzem
e se multiplicam, eliminando assim, geração após geração, os genes problemáticos. É
devido a esta razão que os animais selvagens são visivelmente saudáveis psicológica e
fisicamente. Na seleção artificial, especificamente dos cães, o critério é acasalar os
caninos a partir das formas físicas, chamadas morfológicas, orgânicas, chamadas
fisiológicas, e mentais, conhecidas como psíquicas. Como exemplo dessas seleções está
a criação das raças pequenas, resultados dos acasalamentos dos espécimes menores,
independente de suas capacidades de sobrevivência. Conduzida pelo ser humano, a
seleção artificial é direcional: a partir de indivíduos selecionados por suas
características, tem-se as novas ninhadas, que serão novamente selecionadas, de acordo
com as peculiaridades desejadas. Desta forma, os genes responsáveis pelas
características escolhidas aumentam de frequência e tendem a entrar em homozigose.
Ao mesmo tempo, pode-se evitar a reprodução de indivíduos que não possuam as
qualidades almejadas.[24][25]
Todavia, não se obtém apenas benefícios destes cruzamentos seletivos. Juntamente com
os genes das características visíveis, são repassados aqueles que, apesar de presentes,
não se manifestaram no indivíduo, mas que, provavelmente, afetarão seus descendentes.
Alguns acarretam propensão para males como displasia coxofemoral, surdez, miopia,
diversas doenças de pele e problemas psicológicos. Disfarçadamente, há ainda um outro
problema que acomete os caninos. No intuito de criar diferentes raças, o homem
desenvolveu características extremas, que atrapalham o bem-estar do animal: os
buldogues têm os focinhos tão achatados que não conseguem respirar normalmente;
shar peis têm tanta pele extra que desenvolvem micoses e infecções nas dobras; e os
border collies tornaram-se hiperativos, entre outros exemplos.[25]
Em suma, apesar do sucesso na criação de variadas raças com determinadas
características físicas e mentais, como o aperfeiçoamento de cães para pastoreio, há os
problemas derivados dessas seleções, que dificultam as vidas dos espécimes e lhes
causam graves problemas hereditários de saúde. Para evitar estes males, é preciso não
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reproduzir cães com problemas psicológicos ou físicos mesmo que sejam campeões de
beleza ou excelentes em alguma atividade útil ao ser humano. Apesar da possibilidade,
não há registro de raça canina criada em laboratório.[24]
Etimologia e significado
Cães e gatos, ao menos no nome, tiveram uma origem comum para as línguas
neolatinas.
Etimologicamente, o latim cattus designava tanto significado para cão quanto para gato.
Ao longo do tempo, a palavra sofreu modificação para catulus, depois canus. Catellus,
que se referia a cachorrinho, e catula, à cachorra, também derivaram dessa forma.
Apenas cachorrinha teve um caminho etimológico distinto, pois veio de canícula, que
significava a estrela conhecida como Sírio. Por problemas no significado, que era
confundido com o da catapulta, os romanos dobraram a letra t do original catus, que foi
modificando-se ao longo dos anos, passando a duas palavras para dois significados
distintos e seus derivados.[26] Segundo a história semântica das palavras do português,
foi constatado que, assim como as palavras mudam em sua forma e sua sintaxe através
dos anos, seu significado, por vezes, vai se modificando também, em decorrência de
uma série de fatores sociais e culturais. Diante disso, o vocábulo cachorro, proveniente
do basco, indicava qualquer tipo de filhote, e, por um processo de restrição de
significado linguístico, passou a indicar filhote de cão e o próprio cão. Essa explicação
justifica o sinônimo entre as duas palavras e a adoção comum das pessoas, apesar dos
significados constantes nos dicionários da língua portuguesa.[27]
Segundo o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, na variante brasileira, cão
significa mamífero canídeo, domesticado pelo homem desde tempos remotos, que
atende pelo plural de cães e tem como forma feminina, cadela. Cachorro, por sua vez,
entendido como sinônimo, tem cachorra como feminino e cachorros como forma plural,
designa sim um cão novo, uma cria de lobo ou ainda qualquer cão. Em sentido
pejorativo, o cachorro é sinônimo de canalha e aparece ainda em formas cristalizadas da
gíria e de expressões populares, como "matar cachorro a grito" e "quem não tem cão,
caça com gato".[28][29] Segundo o dicionário online Priberam, na variante europeia, cão
possui um significado denotativo mais amplo, além dos conhecidos na variante sulamericana, com sete significados conotativos e três denotativos.[30] O mesmo se aplica a
cachorro, que possui uma maior variação de significados em Portugal.[31]
Taxonomia e nomeclatura
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O cão, enquanto espécie distinta do lobo, foi descrito pela primeira vez como Canis
familiaris em 1758. Na imagem, um grupo de cinzentos.
O cão foi descrito por Lineu em 1758 como Canis familiaris, e considerado como uma
espécie distinta do lobo, descrito também por Lineu no mesmo ano como Canis
lupus.[32] Outros nomes foram descritos por Lineu, Johann Friedrich Gmelin e Charles
Hamilton Smith para a mesma espécie, sendo considerados sinônimos.(c)
A ancestralidade canina vem sendo discutida e estudada desde há muitos anos. Teorias
antigas sugerem uma origem proveniente do chacal-dourado[33] ou então uma origem
híbrida entre várias espécies.[34][35] Um levantamento das sequências da região de
controle do DNA mitocondrial em 140 cães e 162 lobos demonstrou que o lobo é o
único ancestral dos cães.[36] Esta conclusão foi confirmada em outro estudo envolvendo
654 cães e 38 lobos da Eurásia.[37] Enquanto há uma aceitação do lobo como único
progenitor do cão, a questão taxonômica envolvendo o reconhecimento de uma ou duas
espécies distintas ainda não está resolvida.[38]
Baseado na consistência genética, Wayne considerou que o cão, apesar da diversidade
em tamanho e proporção, nada mais é do que um lobo.[39] Em contraste, análises
estatísticas de crânios têm repetidamente demonstrado uma separação total entre lobo e
cão.[40] O conceito ecológico de espécie proposto por Van Valen foi aplicado por alguns
pesquisadores para demonstrar características adaptativas específicas nos cães por
viverem em um nicho antropogênico. Esta hipótese suporta o reconhecimento do Canis
familiaris como uma espécie distinta do Canis lupus, apesar de uma idade de separação
não superior a 12 000 a 15 000 anos atrás.[41]
Apesar de certos pesquisadores continuarem a reconhecer duas espécies distintas, [42][41]
existe uma tendência recente em seguir a classificação proposta por Wozencraft
(1993[43];2005[44]) que inclui o C. familiaris como uma subespécie de C. lupus.[38] Pela
lei da prioridade estipulada pelo Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, o
nome C. familiaris, descrito na página 38, tem prioridade sobre C. lupus, descrito na
página 39 do Systema Naturae por Linnaeus. Por questões de usabilidade e estabilidade,
foi requisitado à Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica a conservação de
dezessete nomes específicos baseados em espécies selvagens, entre eles o Canis
lupus.[45][46]
Características
Ver artigo principal: Anatomia canina
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Quando comparado fisicamente a seu ancestral, o cão possui mínimas diferenças no
desing genético. A estrutura óssea, os tipos de músculo, nervos e dentições, por
exemplo, são idênticos. Até mesmo a pelagem é similar, já que ambos, salvo algumas
exceções, possuem uma dupla camada de pelos. Como diferença acentuada, tem-se o
fato dos lobos contarem com cérebro e glândulas produtoras de hormônios mais
pesados, já que vivem em ambientes que requerem respostas rápidas a eventos
extremos.[47][48] Mais especificamente, sua anatomia divide-se em cinco grandes áreas
de estudo: a externa, a osteologia, a artrologia, a miologia e dos órgãos internos:
Anatomia geral e estrutura externa
Esquema da anatomia externa comum a todas as raças caninas. Legenda: stop (1),
cabeça (2), pescoço (3), ombros (4), cotovelos (5), munhecas (6), garupa (7), coxas (8),
jarretes (9), boletos (10), espáduas (11), joelhos (12), patas posteriores (13) e cauda
(14).
Animais quadrúpedes e digitígrados, o que lhes garante maior agilidade, são
considerados os mais difundidos mamíferos domésticos e possuem várias raças
adestradas para os mais diferentes fins.[49] Sua longevidade atinge os vinte anos e suas
características externas, como tamanho e pelagem, são tão variadas que dificultam a
descrição comum de um cão. Contudo, entre as principais características externas,
iguais em todas as raças, estão o stop, a cabeça, o pescoço, as espáduas, a garupa, os
ombros, a cauda, as coxas, os cotovelos, os joelhos, os jarretes, os boletos, as patas
posteriores e as munhecas, como ilustra a imagem.[50] Mais detalhadamente, suas
características externas dividem o corpo do animal em três áreas: na zona anterior, estão
a cabeça, o pescoço, o peitoral e os membros frontais; na zona posterior, encontram-se
os membros posteriores e a cauda; e nos aprumos, nota-se a posição dos membros em
comparação a uma superfície horizontal, que refletem sob os elementos principais da
locomoção do cão e suas aptidões, isto é, a postura de seus membros.[51] Outra
característica comum é a dentição. Em geral, um cão possui um total de 42 dentes,
divididos em 12 incisivos, 4 caninos, 16 pré-molares e 10 molares.[52] Sua pele, outra
característica comum nestes animais, representa a maior parte de seu sistema
imunológico. Ao longo dela, certas áreas mostram-se sob formas diferentes, pois têm
propósitos específicos. As unhas e as patas são para a durabilidade, as orelhas para
sinalização social e as glândulas da derme para demarcação pelo cheiro.[47]
Com base na diversidade, é possível classificar cães em categorias de acordo com seu
peso e sua morfologia. De acordo com o peso, as raças dividem-se em quatro
subcategorias: pequena (< 10 kg), média (11-25 kg), grande (26-45 kg) e gigante (> 45
kg). Na outra ponta, a classificação morfológica apresenta-se um pouco mais complexa,
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apesar de ter apenas três subcategorias: os cães longilíneos possuem seu comprimento
superior a sua largura e espessura, e apresentam-se em formas alongadas e esbeltas; os
brevilíneos são o aposto, abarcando exemplares robustos e arredondados; já os
mediolíneos são o equilíbrio entre as duas classificações anteriores.[49] Outra marcante
característica, capaz de dintinguir cães dentro de sua própria raça, é a pelagem, que,
variando em comprimento e tipo, gera combinações. Os comprimentos são quatro, ao
passo que os tipos são cinco: sem pelo, raso, curto e semi-longo; duro, heterogêneo,
liso, sedoso e lanoso.[53]
Estrutura interna
Esqueleto canino, composto por 25 partes ósseas principais, é, como em animais de
semelhante estrutura, fundamental para locomoção e proteção, além de possuir outras
funções primordiais.
A estrutura interna, comum a cães das mais variadas raças, é, assim como em grande
parte dos mamíferos, dividida em quatro áreas maiores:[54]
A primeira delas é o esqueleto, a rígida estrutura que sustenta o corpo e desempenha as
funções de proteção, movimento, reserva de elementos químicos, como o cálcio, e a
produção de glóbulos vermelhos nestes animais. Nos cães, que têm ao longo do corpo
um total de 25 divisões ósseas maiores, observam-se dois fenômenos durante a fase
referente a pré-puberdade: o aumento da espessura e do comprimento ósseos e a
calcificação total da cartilagem de conjugação. Este sistema é ainda sustentado por
ligamentos e tendões fortes e elásticos.[47] O crânio, que tem por função principal a
proteção do cérebro, é composto por treze ossos que se soldam logo após o nascimento
e articulam-se diretamente à coluna vertebral, composta por sete vértebras cervicais,
treze torácicas, sete lombares, três sacrais e um número variável de vértebras no
comprimento da cauda. Já a caixa torácica é formada por dez pares de costelas, ligadas
ao esterno.[55] Também partes importantes na movimentação e locomoção são as
articulações caninas, divididas em dois tipos: as sinoviais, que permitem grande
mobilidade e estabilidade, e as não-sinoviais, soldas ósseas ao nível da caixa craniana
cuja união se dá através de um tecido fibroso.[56] Recobrindo estas duas estruturas estão
os 34 músculos superficiais do cão, responsáveis por todos os movimentos voluntários
ou involuntários, divididos entre estriados, lisos e cardíacos, e de funções flexoras,
extensoras, abdutoras e adutoras. É na parte frontal que se encontra a maior
concentração muscular dos cães.[57] Entre as peculiaridades deste sistema estão o fato de
permitirem um giro da cabeça de 220º e que as patas escavem e arranhem com força.[47]
13
Segundo estudos no campo neurológico, o modelo cerebral do cão é igual ao do
homem. A diferença reside no desenvolvimento das partes.[58]
Internamente, nota-se ainda as topografias, que têm relação com os funcionamentos e as
divisões dos órgãos caninos internos. É na topografia torácica que encontra-se o
aparelho respiratório, composto pelas cavidades nasais, a faringe, quarenta aneis
cartilaginosos formadores da traqueia, os brônquios, os bronquíolos e os alvéolos
pulmonares, importantes para a vascularização dos pulmões. No tórax do canino
também está o aparelho cardiovascular, cujo coração apresenta quatro cavidades, tem a
forma predominante de um globo, está mais situado a esquerda do tórax e possui um
tamanho que varia de 120 g à 15 kg, depenendo da raça. Este aparelho é composto ainda
por outras oito partes.[59]
Já na outra topografia, a abdominal, está o aparelho digestivo, com 17 partes, que vão
da boca ao ânus. As particularidades deste aparelho apresentam-se no volume
considerável do estômago, devido ao regime carnívoro do animal, e na boca, cuja
mastigação é pouco desenvolvida, o que deixa o trabalho digestivo quase
completamente para o estômago. Também nesta área do corpo do canino, está o
aparelho urinário, cuja diferença dos demais mamíferos reside no fato de um rim ser
suspenso na cavidade abdominal, enquanto o outro encontra-se fixado sob a última
vértebra torácica e as duas primeiras lombares. Outra peculiaridade presente neste
sistema é o fato da uretra ser mais comprida e menos larga nos machos que nas fêmeas.
O baço, também localizado no abdómen, é um órgão linfático que compõe o sistema de
defesa do organismo, já que, quando o animal ingere mais alimentos do que pode
suportar, acompanha o estômago para trás, sedendo-lhe mais espaço e evitando
problemas digestivos. É ainda no baço que o sangue novo é fabricado em conjunto com
a medula óssea.[47][60]
Os sentidos
Os cães pertencem à família dos canídeos, da qual fazem parte também as raposas e os
lobos. Esta família de predadores possui sentidos apurados para a captura de presas e
para proteção da matilha. Apesar da domesticação e do cruzamento seletivo, o que
tornaram o cão menos dependente de seus sentidos, estes ainda são considerados
habilidades sensoriais incríveis. Assim como em humanos e outros mamíferos, seus
sentidos dividem-se em cinco:[61][62][47][63][6]
14
O nariz super sensível de um cachorro possui 32 vezes mais nervos olfativos que um ser
humano.

Olfato: considerado o principal sentido canino, superior a de todos os outros
animais. Tal característica marcante advém das ramificações dos nervos
olfativos na cavidade nasal, que ocupam 160 cm², enquanto no homem a área
chega a 5 cm². Em outra comparação, as células olfativas do ser humano chegam
a cinco milhões, enquanto em um cão atingem 220 milhões. Essencialmente
farejador, o nariz do cão tem um grande número de fendas permanentes,
diferentes de animal para animal, como as impressões digitais. Por essa razão,
ele pode ser usado para a identificação individual. Os cães possuem trinta vezes
mais sensores olfativos que um ser humano. Tal capacidade apurada permite a
um cão adestrado/policial, por exemplo, localizar drogas, minas terrestres e
pessoas sob escombros. É devido a suas dobras convolutas que qualquer cheiro,
por mais sutil que seja, pode ser capturado.

Audição: como o olfato, é outro sentido bastante desenvolvido no canino, que,
diferente do ser humano, ouve sons de alta frequência e baixo volume. Por meio
de suas orelhas direcionáveis, característica esta comum aos mamíferos, são
capazes de localizar com precisão a direção e a origem do som em seis
centésimos de segundo. São ainda capazes de ouvir a uma distância quatro vezes
superior a do ser humano. Tais características concedem-lhe úteis habilidades,
como a capacidade de discernir com facilidade as palavras pronunciadas por seu
dono, ainda que o tom da voz e os gestos não sejam desconsiderados.
Nos cães, a audição, para além de aguçada, é capaz também de discernir tons e as
palavras pronunciadas.

Visão: este sentido difere dos humanos sob muitos aspectos. A visão noturna
dos cães é muito mais apurada que a dos humanos. Seu ângulo de visão também
15
é mais amplo, devido a posição de seus olhos, localizados ao lado da cabeça.
Sua visão é bicromática (ao contrário dos humanos, que é tricromática), isto é,
distinguem bem apenas o amarelo e o azul, além do branco (somatória das cores)
e do preto (ausência delas). As cores vermelho, verde, rosa e laranja não são
distinguidas pelos cães, que as vêem em branco ou preto.[64] Os cães são mais
sensíveis a luz e ao movimento, captando, com maior facilidade, algo movendose no escuro. Contudo, possuem menor capacidade de foco e de diferenciar as
cores. Em igual, enxergam em três dimensões. A visão é ainda responsável por
transmitir certas marcas comportamentais desses animais. Enquanto fitar
diretamente com os olhos significa relação de entendimento e segurança, nunca
fitar significa o oposto; deslocar o olhar demonstra, além de insegurança, o
medo, ao passo que o olhar fixo mostra uma possível vontade de atacar.

Tato: sentido considerado pouco desenvolvido, o tato é fundamental na relação
afetiva com outros animais. Junto ao olfato, é o primeiro sentido a funcionar em
um cachorro na percepção extrassensorial. Nos cães, as sensações térmicas,
táteis e de dor, são percebidas pelas terminações nervosas que, densas, formam
uma rede ligada à medula espinhal e ao cérebro. Ao tato está ligada a
sensibilidade do animal, que sente mais o frio que o calor, respondendo com
aceleração da respiração e a evaporação da água através da língua. As partes
responsáveis por este sentido formam uma rede nervosa concentrada na base dos
pelos, que nem sempre apresentam a mesma sensibilidade. As vibrissas, pelos
longos do focinho, dos supercílios e do queixo, são particularmente providas de
terminações nervosas.

Paladar: sentido pouco desenvolvido. Em relação com o homem, possui quase
nove vezes a menos o número de papilas gustativas. Por isso, o sabor que os
cães sentem está diretamente ligado ao odor. É também por esta razão que
podem consumir diariamente o mesmo alimento.
Reprodução e esterilização
Filhote recém-nascido. Com as orelhas e os olhos ainda fechados, seus sentidos
primeiros são o olfato e o tato.
É de muito tempo que a reprodução canina divide-se em assistida e natural. A primeira
refere-se ao fato do homem observar sua cadela seja em um cruzamento natural, seja em
um manipulado - de fins financeiros, como uma cria de pedigree para venda ou
competições, ou ainda, para seleção artificial de uma raça ou criação de uma nova,
16
geralmente realizados através de inseminações artificiais ou cruzamentos controlados.
Em relação aos animais, as fêmeas, assim como as mulheres, nascem com um
determinado número de óvulos, enquanto os machos atingem a idade sênior de doze
anos ainda férteis.[65]
Em um cruzamento natural, assistido ou não, o processo é iniciado na fase do cio da
cadela, que dura em uma média de quinze à vinte dias, cujo ápice da fertilidade é
atingido entre o 8.º e o 11.º dias.[65] A cópula então começa com uma fase de
farejamento. A ereção do macho é possibilitada pela rigidez do osso peniano e pelo
fluxo de sangue do tecido erétil. Com um monte bem sucedido, desencadeia-se então as
contrações vaginais na fêmea que favorecem a ascensão dos espermatozóides, a
manutenção da ereção e o "aprisionamento" do macho durante a ejaculação na fase
prostática. Esta fase dura um mínimo de cinco minutos, embora possa atingir trinta.[66]
Já a inseminação artificial, sempre assistida, é feita de três diferentes formas: com
sêmen fresco, refrigerado ou congelado. Contudo, todas se caracterizam como técnicas
de reprodução impossíveis de ocorrerem sem a intervenção do ser humano, que vão,
desde o recolhimento do material do macho a sua introdução na fêmea.[67]
A cadela amamenta seus filhotes por um mínimo de 45 dias.
Faz parte da reprodução também a gestação, que dura em média sessenta dias e gera um
número variado de filhotes, dependendo do tamanho e do sistema reprodutor da
fêmea,[68] bem como os cuidados com os cachorros. A alimentação de uma cadela
durante a gestação é fundamental para o nascimento de uma cria saudável. Os cuidados
alimentares devem ter início antes mesmo do acasalamento e prosseguirem até o
desmame dos filhotes, já que ela é bastante exigida também nesta etapa. A fêmea não
deve estar gorda quando cruzar e não pode receber gorduras na alimentação, mas ao
contrário, tem bastante necessidade de proteínas, cálcio e sais minerais.[69] Por fim, fazse ainda necessária atenção aos filhotes. Nesta fase, a cadela é protetora e os amamenta
por cerca de 45 dias. Aos poucos, os cachorros, que desenvolvem primeiramente o
olfato e o tato junto à mãe, abrem os olhos e as orelhas, que lhes conferem dois sentidos
bastante aguçados.[70][71]
Na outra ponta da reprodução está a esterilização, chamada também de castração,
comum em animais domésticos e uma necessidade para o controle de animais nas
cidades, geralmente abandonados nas ruas. A esterilização em si consiste na remoção
cirúrgica completa dos órgãos com funções restritivamente reprodutoras. Nas fêmeas,
retira-se o útero e os ovários, o que elimina os cios. Nos machos, retira-se os testículos,
deixando-se a bolsa escrotal vazia. O processo é classificado como indolor, devido a
17
anestesia, incômodo, após o procedimento, e seguro, devido a eficácia dos resultados
para o animal e para a sociedade.[72]
Envelhecimento
A aparência de um cão idoso mostra parte do focinho esbranquiçado e os olhos mais
caídos.
O envelhecimento canino é um processo natural ainda não totalmente entendido,
embora sabido que ocorra de modo variado, dependendo das raças e de seu porte.
Enquanto um cão de médio porte vive em torno de doze anos, um gigante tem
expectativa de vida mais curta. Antes, acreditava-se que estes animais envelheciam sete
anos para cada ano de vida de um ser humano. No entanto, essa teoria foi revista, e mais
recentemente, tenta-se comparar o estágio de desenvolvimento inicial da vida do cão
com aquele dos seres humanos. De acordo com alguns resultados obtidos, raças
pequenas alcançam seus tamanhos finais entre os oito e os doze meses; raças de porte
médio entre doze e dezesseis meses; de porte grande entre dezesseis e dezoito meses; e
as gigantes, por volta dos dois anos. Com isso, foi possível traçar um paralelo que
resultou em variação de porte para porte. As raças pequenas e médias têm os cinco
primeiros anos de vida para o primeiro ano humano. Deste ponto em diante, são quatro
para cada ano vivido por um ser humano. Já as raças grandes e gigantes, de maturidade
mais lenta, envelhecem sete e doze, respectivamente, em seu primeiro ano de vida, com
cinco e sete anos a partir do segundo ano de vida, para cada tamanho.[73] Com base
nessas afirmações, pode-se dizer que um chiuaua nascido no mesmo dia e ano que um
homem, tenha, cinco anos mais tarde, 21.
Cães de idade avançada estão mais sujeitos a doenças, dores e alterações
comportamentais. Por isso, é importante dar atenção às mudanças da idade de um cão
doméstico, pois isso permite suprir novas necessidades e proporciona melhores
condições de vida. Entre os principais males que podem acometer os idosos caninos
estão a artrite, o mal de Alzheimer e a depressão. Esses problemas e outros, como a
queda de dentes, decorrentes da idade, são diagnosticáveis desde o início pela
observação das mudanças comportamentais e pela realização de constante
acompanhamento veterinário. Problemas de visão e audição, quietude e
esbranquiçamento e queda do pêlo são fatores considerados normais, causados pelo
avanço da idade.[74]
Comunicação
18
É durante as brincadeiras com os irmãos ou outros cachorros que os filhotes aprendem
boa parte dos significados de seus meios de comunicação.
A forma de comunicação mais conhecida dos cães é o latido, apesar de chorarem,
rosnarem, uivarem, cheirarem e utilizarem de sua linguagem corporal para se fazerem
entender tanto para os caninos quanto para os seres humanos.[75]
A relação entre os cães ocorre, na grande maioria das vezes, de modo bem diferente a
dos homens. Por conta disso, muitas vezes suas atitudes não são compreendidas, como
porque se cheiram tanto, latem sem motivos, estão brincando e de repente começam a
brigar. Os cães também sentem medo, ansiedade, interesse, alegria e outras emoções. E,
por serem animais gregários, dedicam parte do tempo em conhecer seu status dentro da
relação. No aprendizado, cães precisam do contato com outros cães para aprenderem
sua linguagem. Durante as primeiras sete ou oito semanas, os cachorros aprendem toda
a base da comunicação com a mãe. Se eles a machucam, ela grunhe e os afasta, e na
época do desmame, mostra-se aborrecida com o ataque às mamas, por exemplo. A partir
daí, o contato com os irmãos também é importante. Nas brincadeiras com outros
filhotes, o cachorro aprenderá como demonstrar a dor e a brigar pela comida. De todas
as formas de comunicação, a mais importante da vida do cão, entre os cães, é a corporal.
Através da leitura da posição das orelhas, da cauda, dos olhos e do corpo em geral, os
cães poderão identificar o estado de outro animal, como a aceitação das brincadeiras ou
da dominância. O odor, também de animal para animal, é importante na comunicação
para a identificação única de cada indivíduo. É através do cheiro que ainda identificam
quando uma cadela está no cio ou a mensagem da urina em determinado local
demarcado.[76][77]
Pelo ser humano comunicar-se verbalmente, acredita que esta seja a principal forma de
comunicação canina. O latido, em geral, significa um pedido de atenção quando
carentes, entediados, excitados ou sozinhos, e um alerta de perigo. Entre homem e
animal, além do latido, outra forma de comunicação é o choro. Chorando, os cachorros
percebem desde cedo que tanto a mãe quanto os donos lhe atendem e passam a usar
disso como meio de obter atenção. Além disso, o choramingo demonstra susto com
barulhos altos, como trovões. O rosnado por sua vez, é o som mais simples de se
entender, tanto para os caninos, quanto para os humanos, pois significa ataque caso não
haja o recuo do outro diante da posse, demarcação ou proteção. Por ser um sinal de
agressividade, não costuma ser ignorado. Por fim, o uivo é um som familiar e único, que
demonstra também excitação, o alerta, a solidão e o desejo. É usado quando caçam e
encurralam suas presas ou só para ver se alguém aparece. Em um paralelo, o uivo é tão
contagiante quanto o bocejo humano: quando um começa e outro ouve, o faz.[75] No
relacionamento homem e animal, seus meios de comunicação causam problemas que
geram determinadas soluções apenas para o ser humano. Entre as mais eficientes e
definitivas estão o uso de coleiras anti-latidos, que associam o ato de latir com algo
negativo, como jatos de citronela no focinho, e as operações que retiram as cordas
vocais.[78]
Locomoção
19
A locomoção canina é idêntica a dos demais mamíferos: depende das estruturas óssea e
muscular.
Assim como em todos os mamíferos, as funções de sustentação, proteção e locomoção
são executadas pelos esqueletos ósseo e muscular. Igualmente aos seres humanos, os
cães possuem estrutura básica, cujos níveis encontram-se nas alturas escapular e
pélvica, uma para os membros superiores e outra para os membros inferiores. A
diferença encontra-se no fato das duas alturas servirem para a locomoção canina, ao
passo que só a inferior é utilizada na locomoção humana. Para andar, os caninos
dependem dos graus articulares, mas principalmente do sistema neuro-muscular, que
exerce as suas funções de contração e relaxamento, graças a ligação ao sistema nervoso
e as superfícies articulares do esqueleto ósseo.[79] Suas patas, fundamentais na
locomoção, têm nos coxins a única parte da pele com glândulas sudoríparas, o que ajuda
a mante-las flexíveis. São ainda pouco sensíveis ao frio e ao calor, o que lhes ajuda
quando em situações mais rigorosas,[47] bem como possuem entre quatro e cinco dedos,
o que proporciona sensibilidade, adaptação e aderência muito boas. Em comparação ao
cavalo, outro forte animal domesticado, o cão é ainda um melhor saltador, devido a sua
musculatura, e possui uma coluna mais flexível.[80]
Nos caninos, apesar da locomoção ser algo comum a todas as raças, existem
peculiaridades que acompanham o tamanho e o peso do animal. Cães como o sãobernardo são muito mais pesados que aqueles de ossos leves, como o afghan hound, e
por isso, na relação com o ser humano, há de se ter cuidado quanto as práticas e
trabalhos pretendidos para eles, já que muitas destas raças possuem limitações devido a
seleção artificial, como o buldogue, de pernas curvadas e o dachshund, de patas
curtas.[80][81]
O tipo de andar que o cão executa é a chamada andadura, aquela passada completa,
quando o membro volta a assumir a mesma posição do início, no momento em que toca
o solo novamente, pronto para a repetição. De acordo com visualizações e definições, o
andar do cão é variado e pode ser chamado de trote, cuja passada se completa com dois
tempos, ou seja, duas patas tocando o chão ao mesmo tempo; trote em diagonal, quando
forem de lados opostos; passo de camelo, quando dois membros, que tocam o solo
simultaneamente, forem do mesmo lado; e galope de corrida e lento, que significam os
membros posteriores e os anteriores movimentando-se quase ao mesmo tempo. Todos
estes tipos de andadura são muito parecidos, mas cada um reflete a postura do animal e
possui um ritmo determinado pela cadência dos tempos. Independente disso, são mais
fáceis de serem vistos em competições de raça.[82]
Grupos de raças
Ver artigo principal: Raças caninas
20
Bloco comemorativo ucraniano em homenagem aos cães. Na imagem estão presentes
seis diferentes raças de seis diferentes grupos caninos.
De acordo com a Federação de Cinofilia Internacional, em francês: Fédération
Cynologique Internationale, regida pela Federação Cinológica Internacional, existem
onze grupos de raças oficiais, porém variados de país para país, já que cada organização
internacional admite diferentes grupos para a classificação do conjunto de raças que
reconhece. A oficial, por sua vez, considera "os cães que realizam o mesmo tipo de
trabalho ou que tenham a mesma semelhança física, a fim de que os cinófilos possam ter
mecanismos facilitados para julgamento da estrutura e dinâmica dos exemplares de cães
apresentados em exposições de beleza e fundamentalmente, organizar aquelas raças que,
com particularidades e utilidades similares, sejam facilmente identificadas pela sua
função":[83][84][85]

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
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
Grupo 01: cães pastores e boieiros (exceto boieiros suíços)
Grupo 02: tipo pinscher e schnauzer, molossóides e boieiros suíços
Grupo 03: terriers
Grupo 04: dachshunds
Grupo 05: spitz e do tipo primitivo
Grupo 06: sabujos farejadores e raças semelhantes
Grupo 07: cães apontadores e de parar
Grupo 08: cães d'água, levantadores e retrievers
Grupo 09: cães de companhia
Grupo 10: lebréus ou galgos
Grupo 11: raças não reconhecidas pela FCI, como american pit bull terrier,
dogue brasileiro, ovelheiro gaúcho e o bulldog americano.
Dentro destes grupos estão mais de quatrocentas raças ao redor do globo, que, por suas
funções, dividem-se em um número variado de categorias, como de guarda, de tiro e
caça, de utilidade, de luxo e de companhia. Entre as raças mais populares do mundo,
eleitas no ano de 2009, estão o labrador retriever, considerado amigável e boa
companhia para as crianças; o golden retriever, dito simpático, gentil e brincalhão; o
yorkshire terrier, classificado como ativo e protetor apesar de seu diminuto tamanho; o
pastor alemão, que figura como uma das raças mais inteligentes e leais; o beagle, visto
como grande farejador; o dachshund, de corpo exótico; o boxer, ativo e leal; o poodle,
ativo e companheiro; o shih tzu, dito excelente companheiro; e o schnauzer miniatura,
visto como esperto e amável.[86]
Há ainda o vira-lata (Brasil), ou rafeiro (Portugal), denominações dadas aos cães ou
gatos sem raça definida (SRD), como são geralmente referenciados em textos
veterinários. Em geral são considerados sem raça definida os mestiços, descendentes da
mescla natural e desordenada de diferentes raças.[87]
[Expandir]As dez raças mais populares em 2009
1 - labrador retriever2 - golden retriever3 - yorkshire terrier4 - pastor alemão
5 - beagle
9 - shih tzu
6 - dachshund
7 - boxer
21
8 - poodle
10 - schnauzer
Saúde
A saúde de um canino doméstico inclui uma boa alimentação, exercícios, um ambiente
equilibrado e o acompanhamento veterinário:
Alimentação
Da dieta do canino doméstico tem-se em vista que a simples alimentação seria dar-lhe
comida. Para a manutenção de sua saúde então, é fundamental nutri-lo com proteínas,
cálcio, lipídios, carboidratos, minerais e vitaminas. Em geral, estes nutrientes são
encontrados em situações normais para animais selvagens, nas dosagens que necessitam
ou acumulam.[88] Como o cão não vive livre ou abandonado nas ruas, isso é feito através
de análise do cotidiano familiar, de suas atividades e da consulta ao veterinário, a fim de
equilibrar cardápio fresco e ração, considerando a particularidade de cada animal.
Filhotes, adultos e seniores podem trocar o hábito alimentar dependendo da
necessidade. Independente da troca, esta deve ser mais gradual à medida que aumenta a
idade do canino, já que este pode se mostrar mais resistente fisiológica e/ou
psicologicamente à mudança alimentar.[89] Há ainda de se considerar que o canino não
gasta energia como seus antecessores livres e o exagero na alimentação, que causa
sobrepeso e obesidade nos animais, e os alimentos proibidos aos cães, como os ricos em
açúcares, gordura saturada e sódio, por exemplo.[90] Outro alimento perigoso é o
chocolate, em qualquer forma que se apresente. A subtância nele presente, chamada
teobromina, pode causar intoxicação alimentar, coma e até casos de óbito. Por isso,
deve-se não apenas evitar, mas proibir a ingestão de chocolate nestes animais.[91] Em
2009, como reflexo da má alimentação dos domésticos, foi constatado, pela Associação
de Prevenção à Obesidade dos Animais de Estimação, que 45% do cães e 58% dos
gatos estão acima do peso ou obesos, em geral refletindo a condição física de seus
donos. Como consequência deste quadro, os animais estão desenvolvendo, de acordo
com veterinários, problemas coronarianos, displasia, pressão alta, artrite, diabetes,
22
aumento no risco de derrames e câncer. Como solução, foi apontada a união da dieta
equilibrada e os exercícios físicos.[92]
Como onívoro, faz parte da dieta de um cão boa parte do que come um ser humano. No
entanto, sua alimentação balanceada é mais facilmente mantida por meio das rações
industrializadas e devem ser oferecidas de acordo com tamanho, idade e atividades que
o animal executa. A comida caseira também pode ser dada, mas a complicação de
atender às exigências nutricionais é maior, estraga com rapidez e pode causar tártaro ao
animal. Outra vantagem que a ração apresenta é o fato de ser dura, o que promove o
atrito e a limpeza dos dentes, já que o tártaro pode causar inflamações, perda de dentes e
até mesmo doenças graves.[93]
Doenças
Ver artigo principal: Doenças caninas
A vacinação, a higiene e o acompanhamento veterinário evitam doenças ou diminuem
os danos causados por elas nos animais domésticos. Na imagem, um saudável labrador
retriever.
Entre as doenças que os cães podem ter, algumas se destacam por serem transmitidas
aos seres humanos e outros mamíferos, como as dermatofitoses, as intoxicações por
salmonella, a leptospirose e a raiva, que atinge o sistema nervoso.[94] Tais efermidades
são denominadas zoonoses e tratáveis por meio da vacinação, higiene e tratamento da
doença em si. Crianças e idosos são mais suscetíveis a estes problemas devido ao
sistema imunológico debilitado ou pouco desenvolvido. Todavia, dependendo da
progressão e da demora no diagnóstico, nem todas apresentam-se curáveis.[95]
Para os caninos em si, que se resfriam como muitos outros animais, existem sete
doenças comuns e fatais, que também podem ser evitadas através de vacinação anual ou
combatidas por meio de fortes tratamentos:[95][96] a tosse canina, doença infectorespiratória causada por uma bactéria, é tratável com antibióticos e comum onde muitos
cães vivem juntos; a coronavírus, contraída quando um cão entra em contato com as
fezes ou outras excreções de espécimes infectados, causa apatia e vômitos, e é tratada
com abundância de líquidos e medicação; a cinomose, vista como a doença infecciosa
mais fatal, é causada por vírus transmitido diretamente pelo ar, com tratamento eficaz
apenas no primeiro de seus dois estágios e se em cães de sistema imunológico saudável;
a hepatite infecciosa canina, doença viral espalhada por contato direto, causa febre,
23
inchaço das amígdalas e dores estomacais, e é tratada com medicação adequada e
tratamento intravenoso, cujos resultados aparecem em quatro dias; a leptospirose,
causada por bactéria e transmitida através da urina, causa febre, depressão, letargia e
perda de apetite, além de úlcera na boca e na língua, e tem como tratamento a internação
e o uso de antibióticos; a parvovirose, doença altamente contagiosa que se espalha
através das patas, pêlo, saliva e fezes de um cão infectado ou por sapatos de pessoas, é
considerada altamente fatal nos filhotes, tem como sintomas a diarreia aguda e o dano
ao músculo cardíaco, e seu tratamento é feito através de medicação adequada e a
obrigatória esterilização do ambiente, para que o cão não adoeça novamente com maior
gravidade.[97][98]
Outras enfermidades, também tratáveis, causam desconforto ao animal, invalidez
temporária ou permanente, dores e tratamentos extensivos, como as úlceras, problemas
neurológicos, de vista, nas orelhas e na boca, alergias e dermatites. De um modo mais
abrangente, pulgas e carrapatos representam os dois maiores males dos cães, pois
causam e transmitem inúmeras doenças, além do desconforto que causam na pele, com
as constantes mordidas.[97] Em geral, a higiene, a boa alimentação e um
acompanhamento veterinário evitam ou diminuem os efeitos danosos destes problemas
físicos em cães domésticos.[95] Psicologicamente, um dos maiores problemas sofridos
por estes animais é a depressão, que se manifesta em forma de agressão, quietude ou
histeria. Em pesquisa liderada pela espanhola Belen Rosado, constatou-se que a maior
causa da agressão e dos latidos caninos são a depressão, em geral advinda de uma vida
muito sedentária, o que os estressaria. Os exames realizados apontaram baixa de
serotonina e alta de cortisol, causadores da desestabilização emocional. Para os
veterinários, apenas o exercício físico e a companhia seriam capazes de amenizar ou
eliminar este problema.[99]
Controle de animais e organizações protetoras
O controle de animais é feito pelo órgão responsável pelo controle de agravos e doenças
transmitidas por animais, chamadas zoonoses, através do controle das populações de
animais domésticos (cães, gatos e animais de grande porte) e controle de populações de
animais sinantrópicos, como os ratos e os pombos. São geralmente órgãos
governamentais credenciados pelos ministérios da saúde.[100] Relacionado aos cães, os
centros de controles de animais, além de efetuarem o recolhimento dos abandonados nas
ruas e a castração por exemplo, também promovem campanhas de adoção dos bichos
recolhidos, em geral saudáveis, vacinados, castrados e vermifugados.[101][102]
As organizações protetoras dos animais são entidades de ajuda a cães, gatos e outros
animais abandonados, como os pássaros em geral. Algumas delas abrigam centenas de
animais que são retirados das ruas para se evitar o sacrifício pelos centros de controle,
enquanto controladoras populacionais. Essas entidades, que podem ser sociedades,
associações ou organizações, precisam de voluntários e auxílio para se manterem ativas.
Também promovem campanhas de adoção de animais e protegem seus direitos em
geral, como à vida e ao bem-estar.[103]
Predação e maus tratos
24
Pequeno grupo de cães ferais da cidade de Bucareste, na Romênia. Apesar dos hábitos
noturnos e de permanecerem escondidos, alguns da matilha são vistos durante o dia.[104]
Existem, em território urbano, uma classificação que divide a presença canina em
quatro. Nas três primeiras, encontram-se os domésticos totalmente supervisionados, os
semi-supervisionados e os de vizinhança, todos sob os cuidados dos humanos. Já na
última, tem-se os chamados ferais, independentes e irrestritos, que formam matilhas de
dez a quinze indivíduos que não interagem com os homens.[105]
Esta classe canina interfere diretamente no equilíbrio do ecossistema que ocupa. Por se
manterem afastados de grupos humanos obtêm sua subsistência a partir de resíduos
dispersos na periferia das cidades e da caça a animais de reservas e matas
circunvizinhas. Nas ocasiões em que ocorrerem contatos com seres humanos e outros
animais de estimação, os riscos de agravos são maiores que com os demais estratos
populacionais, por manifestarem agressividade mais acentuada que os próprios animais
selvagens.[106] Em contrapartida, estes animais apresentam altas taxas de mortalidade e
baixas de reprodução. Possuem o instinto da caça desenvolvido e não são seletivos, pois
variam desde pequenas presas anfíbias a grandes mamíferos de cerca de 10 kg.
Considerados um dos principais predadores da vida selvagem nativa em áreas
protegidas em todo o mundo, estes cães são agressivos tanto com seres humanos quanto
com outros animais.[107][108] Possuem hábitos mais noturnos e não matam apenas para
alimentação. Suas populações não são vacinadas contra raiva e outras doenças
transmissíveis, o que as torna transmissoras potenciais de vírus, representando um
perigo para a vida selvagem e para o ser humano, caso entre em contato com um. Tal
comportamento e o perigo que representam às sociedades e a outros animais, deixa
como solução apenas a sua erradicação.[104]
Doentes ou mutilados, cães são abandonados nas ruas por seus donos. Podem tornar-se
disseminadores e risco à saúde pública. O abandono é considerado crime em alguns
países.
25
Por outro lado, o relacionamento com o homem não se reduz a bom ou agradável. Há
casos de pessoas atacadas por seus animais domésticos e casos de pessoas que
maltratam, quando não seus próprios caninos, os de outros ou de rua. Do homem para o
animal existem diversos tipos de maus tratos, desde a direta agressão física ao uso
abusivo de seus bichos em rinhas de briga e como cobaias. São ainda postos em gaiolas
minúsculas, sem higiene e alimentação. Tais agressões são consideradas, em
determinados países, como violação ao direito dos animais e preveem punição
legislativa. Abandonar cães doentes e idosos também é considerado crime. No Brasil, a
lei protege os animais desde 1934, pelo decreto lei Nº24.645, de julho, e mais tarde, a
lei de crimes ambientais nº 9605, de 16 de fevereiro de 1998, reforçou este decreto e
especificou várias violações e penalidades de detenção para aqueles que praticam
crimes contra os animais:[109][110][111]
Artigo 32 da Lei Federal nº. 9.605/98: É considerado crime praticar ato de
abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, doméstico ou
domesticados, nativos ou exóticos. (...) quem realiza experiência dolorosa
ou cruel em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos alternativos. (...) se ocorrer a morte do(s)
animal(s).
—
Em Portugal constituem crime "todas as violências injustificadas contra animais,
considerando-se como tais os actos consistentes, sem necessidade, se infligir a morte, o
sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal." e abandonar "os animais
doentes, feridos ou em perigo" de uma forma geral. Essas medidas gerais de proteção
foram decretadas pela Assembleia da República nos termos dos artigos 164.º, alínea d),
e 169.º, n.º 3, da Constituição.[112]
Comportamento
A border collie, usada como cão de pastoreio, é considerada a raça canina mais
inteligente do mundo.[113]
É no cérebro que se abrigam as capacidades herdadas e gravadas, base da formação
mental do cão, que mostram comportamentos e habilidades potenciais deste animal. A
chamada inteligência canina é dividida em três habilidades mentais baseadas em
instinto: aprendizagem, resolução de problemas e inteligência comunicativa. Dos lobos,
os cães herdaram a chamada flexibilidade mental, que significa a capacidade de
aprender com as experiências que os ajudam a adaptarem-se ou a modificarem o
ambiente para que se torne um lugar melhor para viverem. Instintivamente cautelosos e
'
26
desconfiados, aprendem também em quem confiar e quem devem evitar. Para
solucionarem um problema, o cérebro funciona com rapidez de construção com o menor
número possível de falsos inícios. Essa combinação constitui sua capacidade de
resolução, em geral deficiente nos cães, e na qual o border collie se destaca, enquanto
cão de pastoreio.[114][115]
A inteligência comunicativa é a conhecida obediência ou inteligência de trabalho. Ainda
que seja bom nas outras duas habilidades, precisa entender o que o os comandos do ser
humano e os outros cães dizem, para perceber instintivamente a hierarquia da matilha,
comunicando-se através da linguagem corporal e do cheiro. O labrador retriever é um
exemplar excelente em inteligência comunicativa enquanto cão de tiro, devido a sua
persistência em se concentrar.[114][115]
Os cães possuem ainda o instinto natural de saberem o que devem ou não comer.
Quando mastigam grama, significa por exemplo, que estão adicionando fibra à
alimentação. Para compreenderem relações, possuem uma habilidade hereditária que
lhes permite perceber a hierarquia e reforçar a ordem, o mesmo sendo aplicado na hora
de interpretar a postura de outro animal ou do ser humano. Os caninos possuem também
a habilidade de se localizarem, traçando mapas mentais de grandes territórios. Todavia,
muitos vivem restritivamente ao lar e não desenvolvem esta capacidade, terminando
então com um ruim senso de direção. Estes animais ainda são capazes de julgar
movimentos e forças, como a aproximação de uma onda na praia.[114] Resumindo, a
inteligência canina é utilizada pelo ser humano para desenvolver e utilizar de suas
habilidades mais destacadas, ao passo que serve ainda para o melhor convívio entre os
de sua espécie.[115]
Equilibrar um canino através do adestramento, feito por repetição de comandos e
atividades, é fundamental para a boa relação entre duas espécies tão distintas: cão e ser
humano.[114]
Seu temperamento é variado de cão para cão, ainda que uma dada raça seja padronizada
no papel a ter um determinado tipo de comportamento, como o companheirismo do
poodle. No entanto, não há neles uma característica presente no ser humano: o racismo
por julgamento. Apesar de demonstrar aversão a determinado grupo de pessoas, os
motivos são nunca ter tido contato com tais pessoas, ter dono inseguro a dado grupo e o
estímulo à desconfiança canina para um determinado grupo.[116] Outra marcante
característica do comportamento canino é a coprofagia. As razões variam de deficiência
metabólica ou doença à motivos meramente comportamentais, como as cadelas que
comem as fezes de seus filhotes, para manter o canto deles limpo. Os tratamentos para
este comportamento, além de imprecisos, são controversos.[117] Sabidamente um animal
social, é afetado também pela chamada "mentalidade de massa", através da qual é
estimulado ou simplesmente consegue fazer algo que sozinho não faria, como o ganho
27
da confiança para encarar ameaças maiores. Em contrapartida, este comportamento
pode também ser negativo, estimulado por maus hábitos, como latir excessivamente ou
avançar.[118]
Se você quer saber se um cachorro é seu, deixe-o ir... se ele
voltar, é seu.
— Ditado
indígena[119]
Para o bom relacionamento homem e canino existe um ato fundamental (d), o
adestramento, já que os cães são seres vivos que sentem, têm necessidades, possuem
sentimentos e emoções, e este exercício constante lhes dá segurança e equilíbrio.
Durante o processo, o dono dita, o cão obedece e acostuma-se com bons atos. Um
canino que nunca aprendeu a sentar ou ficar, pode fugir ou correr na direção do perigo.
Para um adestramento ser bem sucedido, o homem precisa entender o potencial e as
limitações do animal e ensina-lo o respeito através das atividades. Em geral, todos os
cães são capazes de aprenderem os comandos básicos para manterem um bom equilíbrio
na relação, mais especificamente quando feitos por meio das brincadeiras, já que tanto o
homem quanto o canino são animais neotênicos. É através das atividades que ele
aprende, se socializa, desenvolve-se, se exercita e supre suas necessidades de gasto
energético. Em suma, no relacionamento homem e animal, é o adestramento que dá uma
boa base, norteia uma relação equilibrada destas espécies tão distintas, direciona e
mostra as maiores habilidades de dadas raças.[114] Em contrapartida, é primordial saber
adestrar um cão, com as palavras certas e os métodos corretos - cujas linhas ainda não
estão totalmente traçadas pelos profissionais - a fim de evitar traumas e
inseguranças.[119]
Relacionamento com o homem
Um militar estadunidense com um cão farejador durante uma operação na cidade de
Buhriz, no Iraque. O labrador é também bastante utilizado como cão-guia de cegos e
companhia.
O processo de domesticação fez com que os cães se adaptassem aos homens em todos
os sentidos. Desse modo, estes animais adquiriram riqueza fônica superior à do lobo,
alimentam-se das mesmas coisas e mudaram sua morfologia para acompanhá-los ao
longo do tempo. No entanto, neste relacionamento perfeito, um detalhe precisa estar
todo o tempo estabelecido: a hierarquia. Assim, fica claro ao cão que o homem é o
dominante do líder canino da matilha, tornando tal estabelecimento possível devido a
28
sua superior inteligência quantitativa. Deste ponto, é dever do ser humano, como líder,
premiar boas condutas, castigar a desobediência, administrar os recursos essenciais e
não usar de brutalidade. Isso dá ao cão a proteção e a certeza de que todas as suas
necessidades serão satisfeitas, e acima disso, uma boa relação de convivência. Essa
convivência explica que, ao longo dos tempos de mutualidade, foi possível obter-se um
êxito tão grande no relacionamento entre duas espécies distintas, só comparadas com
aquelas que precisam umas das outras para sobreviverem.[120] Segundo estudos
realizados na Universidade de Viena, a adaptação dos cães é devida ao fato de terem
desenvolvido a habilidade de aprendizado por imitação. Habilidade esta que evoluíram e
continuam a utilizar para evitar o aprendizado por tentativa e erro, considerado, na
prática, mais arriscado. A pesquisa, que afirma esta ser uma característica comum em
outros grupos animais, destaca a diferença canina no fato de terem crescido e se
desenvolvido no meio humano ao longo dos anos.[121] É inquestionável, portanto, e
pode-se afirmar com segurança que a adaptação foi feita do cão ao homem e não em
sentido contrário.[120]
Em termos práticos, o cão obtém dessa relação uma melhora em sua atitude quanto à
sobrevivência, já que tem comida em abundância, evita a depredação e otimiza a
qualidade reprodutiva; e também quanto à atitude social, pois se integra em uma mais
ampla. Já o homem é ainda mais favorecido, pois melhora a segurança de seu grupo, as
necessidades gregárias e por vezes as físicas e psicológicas.[120][122]
A utilidade de um cão para o ser humano só não é mais antiga que seu bom
relacionamento e interação mútuos. Na imagem, um comportado pastor alemão.
Reconhecida e inegavelmente uma espécie domesticada, algumas raças de cães possuem
características específicas que os fazem se destacar em algumas tarefas. Para
desenvolver mais estas peculiaridades os cães normalmente são adestrados para
obedecerem ao dono e para reagir corretamente a determinadas situações. Tal estrutura,
elaborada pelo ser humano ao longo de seu convívio e interação com os caninos, só é
possível devido ao comportamento do cão em relação ao homem e gerou certa
variedade de classificação de suas raças, todas admitidas pelo órgão oficial máximo.
Todavia, em toda classificação são postas as informações standard, que mostram o
nome de origem do cão, seu padrão e suas eventuais variedades, bem como
características comportamentais, de caráter, educação e utilização. Em suma, o standard
é obtido através dos estudos da cinologia[123] e apresenta a origem da raça e suas
diferentes variedades admitidas, a aparência geral e o aspecto que deve ter sua estrutura
externa: a cabeça, o pescoço, o corpo, os membros e a cauda. Como última
29
característica, o standard evolui com o passar dos anos, estabelecendo padrões que se
modificam de acordo com a evolução de cada raça seguindo os processos naturais e
artificiais de reprodução.[124][125]
Existem ainda os caninos com funções específicas, sem distinção e limitações de raças,
com certas preferências de acordo com as aptidões de cada categoria, como por
exemplo, os cães-guia de cegos, adestrados para guiar deficientes visuais totais ou
parciais, e auxiliá-los nas tarefas caseiras e nas ruas;[126] e os cães ouvintes, selecionados
e treinados para ajudarem os surdos ou deficientes auditivos, alertando-os para sons
importantes dentro de casa, como campainhas e alarmes de incêndio, bem como fora,
chamando a atenção para sons como das sirenes, empilhadoras, aproximação de pessoas
e o chamamento do nome do manipulador.[127]
De todos os animais que conhecemos, o cão é o que mais uniu a
nós. Para o cão o tempo parou. A sua alma, incólume ao século
nervoso das bombas atômicas e viagens interplanetárias, não
conhece nem malícia nem falsidade. Com a mesma alegria
natural, ele nos acompanha na chuva torrencial e no forte calor:
sempre o amigo mais fiel do homem.
— Théo
Gygas, em "O
cão em Nossa
Casa"[128]
Exemplares de yorkshire terrier, raça considerada protetora do lar apesar do diminuto
tamanho.
Além destas várias funções, em geral desenvolvidas e utilizadas em conjunto com o ser
humano, há ainda a provável mais antiga relação de afeição mútua, que transformou o
cão no "melhor amigo do homem".[129] Tal afirmação, apesar de considerada por muitos
apenas uma crença popular, possui um início. Esta frase foi pronunciada pela primeira
vez pelo advogado George Graham Vest, em um tribunal dos Estados Unidos, já que
seu cliente, Charles Burden, dono de um galgo chamado Old Drum, descobriu que seu
vizinho o havia assassinado sem motivo aparente e decidiu denunciar o fato. No
julgamento, Graham então discursou:[130]
Cavalheiros do júri: O melhor amigo que um homem possa ter, poderá se
voltar contra ele e se converter em seu inimigo. Seu próprio filho ou filha, a
quem criou com amor e dedicação infinita, podem demonstrar ingratidão.
Aqueles que estão bem próximos de nosso coração, aqueles a quem
confiamos nossa felicidade e bom nome, podem se converter em traidores.
—
'
30
Neste relacionamento homem e animal, o cão não se importa se seu dono reside em uma
mansão ou na rua, qual a sua religião ou a cor de sua pele. Vasilhas com água limpa e
comida, cuidado, carinho e respeito são o suficiente para conquistar a confiança dele,
que por isso, recebeu o título de melhor amigo do homem, antes mesmo da frase ser dita
pela primeira vez. Em retribuição aos cuidados, o canino está sempre disposto a
acompanhar o humano, não difama ninguém e não se importa com a aparência dos
outros. Por vezes, a ligação é tão forte, que se o dono adoece, o cão fica ao pé da cama
lhe esperando levantar. Um dos exemplos dessa forte ligação foi a menina ucraniana
Oxana Malaya, a chamada garota-cachorro. Cuidada e criada por cães, adaptou-se ao
ambiente no quintal de casa e viveu cinco anos como membro da matilha.[131] Por estas
razões, é tido como integrante da família por muitas pessoas e, por suas habilidades
adquiridas, é um grande ajudante nas mais variadas tarefas.[132] Por outro lado, há a
desconfiança de que o cão não seja um animal de estimação, mas sim um evoluído
parasita. Tal afirmação advém do fato do canino se adaptar completamente para
satisfazer a necessidade biológica que o ser humano tem de cuidar de outro ser
dependente e o tornar familiar, como também estar sempre perto quando o homem se
sente só, aflito ou inseguro, e por, aparentemente estar no controle, pois o homem lhe dá
comida quando sente fome, o leva ao veterinário quando está doente e lhe dá atenção
quando pede.[133]
Cães na cultura humana
É de tempos que o cão se relaciona com o homem. Através deste convívio, observam-se
momentos positivos e negativos. Na cultura, povoa a realidade com heróis,
companheiros de passatempo e de trabalho, os sonhos e como úteis cobaias; na
Mitologia, o canino também está presente, desde a ocidental à oriental; e, na ficção,
figura em filmes, desenhos animados, seriados de televisão, livros e revistas:
Na filosofia
De entre os discípulos de Sócrates uma corrente de pensamento passou à história com o
nome de cinismo, que deriva do Ginásio Cinosargos, onde pregara Antístenes de
Atenas ou, segundo outros autores, da palavra em grego para cão (Kynos), que seria o
animal que seus adeptos tinham por exemplo como forma de vida ideal - na busca pela
felicidade o homem só a obtém pela vida simples, com desprezo pelas riquezas e
prazeres.[134] O cínico mais notável foi Diógenes de Sínope que, além da corrente
filosófica de nome "canino" também se identificava com o cão: conta-se que ele,
morando num tonel, foi saudado por Alexandre Magno; este apresentou-se como um rei
de quem as pessoas imputavam certa fama. Diógenes respondera-lhe ser "um cão, de
quem dizem alguma coisa"; questionado pelo imperador por que dava-se um nome tão
"baixo", este respondera ser "porque eu adulo os que me dão, ladro contra os que me
recusam e mordo os maus".[135]
Na produção artística e na sociedade
31
Em jarros da Grécia Antiga cães de caça eram retratados ao lado de seus donos, que
exibiam os animais abatidos.
Enquanto presença na sociedade humana, uma das primeiras aparições do cão como
parte da produção cultural foi nas belas artes, figurando das pinturas às esculturas
antigas. Na Pré-História, cerca de 4500 a.C, surgiram as primeiras pinturas rupestres
com os cães de caça, cujas aparências não se assemelhavam a nenhuma raça atual.
Contudo, no Egito Antigo, a semelhança pôde ser percebida em algumas ilustrações. No
Ocidente, durante o período do Império Romano, o canino figurou na cultura e foi
retratado na produção artística como o guardião do lar, feroz e dedicado ao dono. Já na
Idade Média, regrediu à Pré-história e passou a ser fundamentalmente um cão de caça,
voltando a estar quase ausente de todas as manifestações pictóricas, provavelmente em
virtude da má imagem que os artistas tinham nessa época de bichos vadios, agressivos,
perigosos e esfomeados, que alimentavam-se de cadáveres. Por esta razão, figuravam
apenas em pinturas de suas matilhas caçadoras.[10]
Foi no Renascimento que a imagem do canino se humanizou, pois surgiu neste período
o cão de companhia. Estes eram pintados em quadros ao lado de suas donas,
apresentando-se menores que os anteriores caçadores. Foi durante o século XVI que
foram representados em abundância nas artes. No século seguinte, o cão ganhou
quadros para si, assumindo o papel principal da reprodução artística. Foi nesse período
que surgiram os artistas especializados em retratar animais, como o francês François
Desportes, e as pinturas realistas, tanto da anatomia, quanto das expressões. Pouco mais
de cem anos adiante, os cães ganharam imagens quase sentimentais nas pinturas,
conquistando espaço como símbolo de admiração e inspiração. Todavia, foi apenas no
século XX que atingiu sua plenitude como animal de companhia, figurando em pinturas
sendo acariciados por suas donas em passeios de gôndola ou sobre almofadas de
seda.[10]
32
No Egito Antigo, cães eram esculpidos em baixo relevo, principalmente quando
retratadas matilhas.
Na produção de esculturas, a presença canina também foi grande. Começou ainda na
Pré-História, representados em potes de barro, nos quais apareciam animais com
abdómens exagerados e patas curtas. Adiante, na produção pré-colombiana, passaram a
ter os traços da divindade à qual se encontravam associados, dando à produção
escultural a expressão do mundo espiritual e místico. No Egito, o cão representava a
figura do Deus Anubis, além de aparecer em obras de calcário e em baixo relevo,
quando esculpidas as matilhas. Na Ásia, foi também esculpida a divindade do cão-leão,
que figura em entradas de templos. Apesar de presente em esculturas de distintas
culturas, somente na produção assíria o ato de esculpir os cães ganhou qualidade. Eram
desenhados a sós ou em grupos, mas sempre com sutileza de traços. Nas antigas Roma e
Grécia, estes traços foram aperfeiçoados para proporcionar um realismo quase perfeito,
ainda que não tivessem grande valor sócio-cultural. Na Idade Média nasceram as
representações imaginárias, nas quais os caninos figuravam nas casas como simples
adornos. Mais tarde, apesar da forte presença na pintura renascentista, pouco apareceu
na escultura da época, já que o cavalo era o foco principal dos artistas. Do século XVII
em diante, o cão continou a ser objeto escultural, agora mais para pesquisa que pela arte
em si, que ficou a cargo dos artistas de animais.[11]
Além da produção artística, o cão figura modernamente na sociedade nos mais
diferentes níveis, desde cão de companhia de um presidente da república a cão de agility
e exposição. Nesse esporte, praticado em dupla, há a interação cão e dono, em uma
atividade que trabalha a atenção, a força e a agilidade canina, além da liderança do
homem. Nascido em 1978, na Inglaterra, foi considerado esporte de entretenimento,[136]
como a exposição canina de estrutura e beleza. É nela que se estabelecem a qualificação
e a classificação seletivas de exemplares que tenham potencial para aprimorar a criação
de cães. Diferente do que se pensa, a classificação geral é feita entre os caninos
presentes, ao passo que a qualificação, tida como mais importante, pois concede estatuto
de acordo com suas virtudes e suas faltas, é feita para garantir a pureza de uma
determinada raça.[137] Não relacionado diretamente com o animal, o cão continua no
meio esportivo como mascote de times e de eventos mundiais, como a Copa do Mundo
de Futebol de 1994, realizada nos Estados Unidos.[138] O apreço pelos cães os tornam de
mascotes esportivos a mascotes do dia a dia, como um SRD adotado em um cemitério
33
brasileiro.[139] Tão presente positivamente na cultura humana, povoa seus sonhos de
forma negativa. Os variados significados de sonhar com o cão não trazem boa sorte,
pois podem representar traição, fraude, surpresas ruins, intrigas familiares e reflexos
negativos de personalidade. Na metafísica, são os guardiões do mundo subterrâneo.
Podem também representar a parte mais animal da natureza humana, e muitos o vêem
como a energia masculina em sua melhor expressão.[140]
No âmbito científico, há o uso de animais para experimentação de produtos ou
aperfeiçoamento das raças, os chamados cobaias, e para pesquisa genética. Em todos
estes usos, há leis que proibem os maus tratos e asseguram o melhor ambiente
possível.[141] Essas pesquisas genéticas são baseadas no fato de homem e cão
partilharem determinadas doenças de mesma base genética, podendo então contribuir
com informações sobre a patogenia de efermidades como câncer, epilepsia, diabetes e
problemas cardiovasculares.[142] Sem correr o risco dos maus-tratos, os cães também
estão presentes na área tecnológica, mas como robôs. Em uma pesquisa realizada no
Japão, a maioria dos entrevistados disse preferir a companhia de um animal a de um ser
humano. Daí então nasceu o conceito do cão-robótico para entretenimento. Como um
exemplo está Aibo, da Sony, com vários recursos de inteligência artificial embutidos,
que lhe dão a capacidade de aprender através da técnica de tentativa e erro e assim
descobrir o que pode ou não fazer. Existe também uma nova versão desse robô, com
capacidade de achar a tomada para recarregar suas baterias e reconhecer a voz e o rosto
de seu dono. O Aibo pode ainda ter sua personalidade controlada por computador e ser
manipulado por e-mail. Socializando, pode-se ver um time de futebol formado por
vários desses robôs com aspectos de brinquedo: eles fazem gol e comemoram colocando
as patas dianteiras para cima.[143][144]
Estátua de Balto, localizada no Central Park, em Nova Iorque. Este cão foi um dos
heróis reais que fazem parte das histórias.
Além dessas, há outra utilidade apreciada pelos homens: o cão enquanto iguaria
culinária. Animal de estimação e de imagem demasiada humana em várias culturas, em
algumas é visto como alimento.[145] Na Coreia do Sul, a carne de cachorro é um prato
tradicional, chamado boshintang, para ser consumido na busca da boa saúde durante os
conhecidos três "dias do cachorro". No entanto, essa oriental tradição é frequentemente
rejeitada pelos jovens sul-coreanos, devido à ocidentalização do pensamento de que o
34
cão é um companheiro e não uma refeição.[146][147] Na China, outro país oriental, há
também o consumo de cachorro, mas como um prato exótico, devido a sua extrema
variedade e fartura. Com mais de três mil anos de existência, a culinária deste país varia
muito devido à adaptação das pessoas às regiões remotas, que aproveitam da natureza o
que ela oferece para sobreviver. Apesar disso, o governo chinês rascunhou uma lei que
proíbe o consumo de determinados animais, entre eles o cão.[148][149]
No relacionamento homem e canino, ao longo da história da Humanidade, muitos cães
vieram a ter destaque por ações heróicas, puro companheirismo, e até mesmo
pioneirismo, conquistando com isso, certa fama e reconhecimento humano. Entre os
maiores exemplos está Balto, um mestiço de husky siberiano e lobo-cinzento, que foi
herói no estado norte-americano do Alasca em 1925. Sua história, na qual salva vidas da
difteria após percorrer uma enorme distância em plena nevasca para buscar remédios, é
contada em filme, no qual é dublado pelo ator Kevin Bacon.[150][151] Outro herói canino
é Barry, um são-bernardo que salvou entre quarenta e cem pessoas perdidas na neve dos
Alpes suíços durante 14 anos. Seu corpo está preservado no Museu de História Natural
de Berna.[152]. Já Laika foi uma vira-lata do programa espacial soviético e o primeiro ser
vivo a entrar em órbita espacial, feito este a bordo da Sputnik II.[153] Assim como a
cadela, Snuppy foi um outro pioneiro, desta vez no campo da ciência, ao tornar-se o
primeiro cão clonado do mundo. Da raça galgo afegão, nasceu em 2005, após
experimentos realizados pelos sul-coreanos e tornou-se notícia no mundo todo.[154]
Entre os maiores exemplos de companheirismo documentados está o caso do akita
japonês Hachiko, cuja história deu origem ao filme Sempre ao seu lado protagonizado
pelo ator Richard Gere.[155] Este cão nasceu no início da década de 1920, no Japão, e
vivia com o professor universitário Hidesaburo Ueno em Tóquio, onde o acompanhava
de casa até a estação de trem de Shibuya. Em 1924, o professor faleceu e Hachi foi
doado a outra família. Apesar disso, o cão sempre voltava à estação para esperar pelo
antigo dono, repetindo o ato por dez anos até falecer em 1935, tornando-se uma lenda
japonesa com direito a três estátuas de bronze, um filme nacional rodado em 1987 e um
livro infantil.[132] No Ocidente, Greyfriars Bobby, um skye terrier que viveu na Escócia,
ficou conhecido por ter guardado o túmulo de seu dono por 14 anos, até falecer em 14
de janeiro de 1872. Um ano após sua morte, Lady Burdett-Coutts mandou erguer uma
fonte e uma estátua em sua homenagem. Filmes e livros também foram baseados na
vida deste cão, incluído um produzio pela Walt Disney Productions.[156]
O cão no folclore lusófono: expressões, crendices e agouros
Na crença das nações lusófonas, o significado do cão varia de fidelidade e devoção à
covardia, sordidez e até mesmo demônio. A pintura é de Frans Snyders.
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Ao contrário de Portugal, onde o cão dispõe de uma imagem de fidelidade e devoção,
no Brasil há uma associação de sinonímia com o diabo e a palavra cão - ao passo que
cachorro se usa em camada socialmente superior.[157]
Na tradição clássica lusa quem mata um cão deve uma alma a São Lázaro. No sinete do
Santo Ofício está a figura de um cão. Graças aos muçulmanos a visão sobre eles na
África ganhou sentido pejorativo, como em Angola, onde a literatura oral banta figuraos como símbolos de covardia, sordidez e servilismo. Como nos Açores se chama ao
demônio de cão negro e cão tinhoso, aventa-se que a associação no Brasil tenha vindo
com os colonos açorianos, sobretudo no século XVIII.[157]
Na Roma Antiga acreditava-se que os cães viam os espíritos; quando isto ocorre na
crendice brasileira, diz-se o esconjuro: "Todo o agouro para o teu couro". Acredita-se
que quando uiva está a chamar desgraça para o dono, repetindo-se o mesmo agouro
anterior, ou vira-se um sapato com a palmilha para o alto, fazendo assim o animal se
calar. Quando o cachorro cavar a terra com o focinho para a rua, ou cava à entrada da
casa acredita-se que cava a sepultura do dono; já se cava a terra com o focinho voltado
para a casa é sinal de dinheiro. É sinal de azar o cão dormir com a barriga para cima, ao
passo que se urinar na porta é boa sorte. Dentre as inúmeras crendices há também o cão
dito "pesunho" - que possui uma unha a mais - que se crê capaz de ver e perseguir
lobisomens.[157]
Cão e gato
Faz parte do imaginário humano a premissa de que o cão e o gato são inimigos naturais,
bem como o felino é do rato. Frases do tipo "parecem cão e gato" reforçam a ideia de
que os dois não se toleram. É sabido que estes mamíferos, apesar de domesticados e sob
o apreço do homem, possuem hábitos totalmente diferentes, o que não é sinônimo de
inimizade. O cão, mais sociável que o gato, devido a sua relação de dependência, pode
sim viver com um gato sob o mesmo teto.[158]
Essa afirmação popular pode ter surgido por disputas territoriais ocorridas diante dos
olhos das pessoas. Quando um outro animal é introduzido no ambiente, o cão sente-se o
protegendo do invasor. Isso pode acontecer com qualquer bicho, mas tornou-se mais
comum entre cães e gatos por ambos serem espécies domesticadas e do agrado do ser
humano. O cão vê o novo morador como ameaça, rosna para ele e o gato responde
igualmente com o seu tipo de rosnado, o que significa uma agressão para o canídeo, que
começa a persegui-lo. Rápido, o felino é um estímulo ao instinto caçador do cão, que
não para de correr atrás. Ao que o gato cessa a correria, o cão desiste, pois a diversão
acabou.[159] Essas perseguições renderam filmes e personagens animados, como o
buldogue Spike, o cão que persegue o gato Tom,[160] e o longa Como cães e gatos, que
mostram estes mamíferos como inimigos e provocadores mútuos.[161] Na outra ponta,
quando estes casos ocorrem entre dois caninos, o ser humano vê apenas como ciúme e
não os iguala.[162]
Na mitologia e na religião
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Cérbero, o cão de três cabeças, é a besta mitológica mais conhecida do ocidente.
O cão, na religião católica, figurou na cena do nascimento de Jesus, ao lado dos
pastores.
Da mitologia ocidental à oriental, o cão figura como fera e como divindade. Uma das
mais famosas imagens ocidentais é a de Cérbero: besta presente na mitologia grecoromana, é o filho de Tifão e Equidna, inimigo de Zeus, era irmão do cão bicéfalo Ortros
e da Hidra, a serpente de sete cabeças. De sua união com Quimera nasceram o Leão de
Nemeia e a Esfinge. Cérbero vivia na entrada do reino do deus Hades e costumava latir
muito. Para aplacar sua ira, os mortos lhe davam um bolo feito de farinha e mel,
presente que seus parentes deixavam nos túmulos. Apesar da conhecida lenda, sua
morfologia no entanto, sofre com discrepâncias quanto ao número de cabeças, ainda que
a versão mais aceita seja com três. Sua cauda também é atribuída de várias formas,
como de escorpião, de cão ou de cabeça de serpente.[163] Outro conhecido cão
mitológico da Grécia, é Argos, cujo dono era Odisseu. Na Odisseia de Homero, foi
Argos o único a reconhecer o herói quando este retornou para casa, morrendo logo
depois disso.[164] Outros cães presentes na mitologia grega são Argyreos e Chryseos,
feitos de prata e ouro respectivamente, confeccionados pelo deus Hefestos; Ortros era o
cão companheiro de Gerião, conhecido por ter sido morto por Hércules. Ainda no
ocidente, o canino também figurou nas mitologias nórdica, com os Kenning, as
conhecidas montarias das valquírias; germânica, com Barghest, lobo domesticado pelos
goblins; celta, com Failinis da lenda dos 'argonautas' gaélicos, e Bran, o cão de Finn;[165]
e egípcia, com Anúbis.
No lado oriental da mitologia, este animal aparece como Tien-koan, o cão celestial
chinês; e como Hōkō, a besta de cinco caudas da mitologia japonesa. Como híbrido, o
cão também figura, mas na mitologia do Antigo Egito, como um cinocéfalo, macaco
com cabeça de canídeo.[165] Os cinocéfalos chegaram à Idade Média, sendo populares as
lendas como a de São Cristóvão com a cabeça de cão.[166]
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Nas religiões o cão também possui o seu papel. Para os judeus, apesar de considerados
impuros por se alimentares de restos, fosse de cadáveres, fosse de lixo, também eram
vistos positivamente, devido a palavra do Talmude. Este afirma que os cães devem ser
tolerados e que o acesso ao alimento ritualmente impuro foi a recompensa concedida
por Deus aos cães, retribuindo o silêncio destes na noite em que os israelitas começaram
o êxodo do Egito, além de um cão ter sido dado por Deus a Caim como sinal de
proteção. No Catolicismo, apesar do início preconceituoso da Idade Média, a imagem
dos cães passou a ser positiva desde a narrativa do nascimento de Jesus, no qual
figuraram como cães de pastoreio, até a história do cão Giggio, sempre defendendo São
João Bosco. Para a religião islâmica, os cães, antes vistos como párias e com o decreto
de Maomé para seu extermínio, continuam vistos como animais a serem evitados e
eliminados, mas agora apenas quando vadios e disseminadores de doenças, já que
possuem utilidade ao ser humano quando em atividades como pastoreio, caça e
guarda.[167]
Na ficção
A cadela fictícia Lassie, um cão da raça collie, foi protagonista de filme e seriado de
televisão homônimos.
A ficção produziu inúmeros cães, que aparecem da literatura ao cinema, seja em filmes
ou desenhos animados, passando pela banda desenhada. Entre os mais famosos é
possível citar alguns que marcaram gerações, seja apenas em países ou pelo mundo.
Criação dos estúdios Disney, os 101 Dálmatas foram um desenho animado rodado pela
primeira vez em 1961, que viraram filme 35 anos mais tarde, com direito a uma
continuação chamada 102 Dálmatas. Além, viraram jogos de videogame, pelúcias,
roupas e acessórios. Também criação deste estúdio é o cão Pluto, da raça bloodhound,
companheiro do rato Mickey. Criado em 1950, sua personalidade quase humana o
destacou pelo mundo. Em 1941, o desenho Me dê uma pata, protagonizado pelo canino,
conquistou o Óscar de melhor curta-metragem de animação. Assim como os dálmatas,
Pluto também é estampado em diversos produtos, bem como outro famoso cão da vida
do rato norte-americano: Pateta, cuja primeira aparição em desenho animado deu-se em
1932.[168] Destacado também pela Disney foi Banzé, o filhote de A Dama e o
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Vagabundo, filme também destacado pelo estúdio e por apresentar o romance entre dois
caninos de mundo tão distintos, exibido no ano de 1955.[169]
Nos desenhos animados, Scooby-doo, o dinamarquês criado no ano de 1969 por Iwao
Takamoto, e Snoopy, cão da raça beagle, personagem da história em quadrinhos
Peanuts criado por Charles Schulz, destacaram-se por permanecerem em exibição nas
televisões ao redor do mundo, e por figurarem em diversos produtos e também bandas
desenhadas. Scooby inclusive foi às telas do cinema com dois filmes.[170][171]
Especificamente nos quadrinhos, Bidu,[172] cão azul da raça schnauzer criado pelo
brasileiro Maurício de Sousa, e Ideiafix, minúsculo companheiro do Obelix, também
destacaram-se como seres fictícios.[169]
Já no cinema e na literatura, destacam-se Lassie, cadela que deu nome à série e ao
famoso filme rodado ao lado de Elizabeth Taylor;[173] Rin-tin-tin, astro de quase trinta
filmes, detentor de uma estrela na Calçada da Fama e um dos primeiros cães do mundo
a se tornarem celebridade;[174] e Marley, um canino real que marcou a vida de uma
família e saiu do livro escrito e vivido por John Grogan, para as telas do cimena em
Marley & Eu. Publicação e película contaram a história do pior cão do mundo com o
maior coração de todos.[175] Existem ainda vários cães que aparecem em diversos filmes,
desenhos e tiras de jornais, como o companheiro Odie de Garfield, que fazem parte de
famílias, são amigos, falantes ou comunicativos, guerreiros ou trapaceiros, que sempre
povoam a imaginação do ser humano.[176]
Notas

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