faculdade estacio de sá de santa catarina curso de

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faculdade estacio de sá de santa catarina curso de
1
FACULDADE ESTACIO DE SÁ DE SANTA CATARINA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
AMANDA DE SOUZA GOMES
JAQUELINE DE FARIA
RENAN DE SOUZA
PARTO DOMICILIAR: A BUSCA POR UM PARTO HUMANIZADO NA
PERCEPÇÃO DE UM GRUPO DE MULHERES
SÃO JOSÉ, 2011/2.
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AMANDA DE SOUZA GOMES
JAQUELINE DE FARIA
RENAN DE SOUZA
PARTO DOMICILIAR: A BUSCA POR UM PARTO HUMANIZADO NA
PERCEPÇÃO DE UM GRUPO DE MULHERES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a
Banca Examinadora, como requisito parcial
para a obtenção de título de Bacharel em
Enfermagem pela Faculdade Estácio de Sá de
Santa Catarina.
Orientadora Profª Ms. Fernanda Peixoto
Cordova
SÃO JOSÉ, 2011/2.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
G633p GOMES, Amanda de Souza.
Parto domiciliar: a busca por um parto humanizado. /
Amanda de Souza Gomes, Jaqueline de Faria, Renan de Souza. –
São José, 2011.
103 f. ; 31 cm.
Trabalho Monográfico (Graduação em Enfermagem) –
Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina, 2011.
Bibliografia: f. 88 - 93.
1. Parto natural. 2. Parto domiciliar. 3. Humanização do
parto. I. FARIA, Jaqueline de. II. SOUZA, Renan de. III.
Título
CDD 618.4
4
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DEDICATÓRIA
Com muito amor e carinho eu dedico a realização desse
sonho a vocês, Pai e Mãe, que se empenharam na minha
educação, me ensinaram os valores das coisas e das
pessoas, que me incentivaram a buscar pelo meu sonho
e a realizá-lo. Tenho muito orgulho de vocês. Obrigada
por tudo. Eu amo vocês.
Amanda de Souza Gomes
Dedico essa conquista a vocês, Pai e Mãe, que me
ensinaram o valor de um sonho e me deram apoio e
estrutura para buscá-lo e torná-lo realidade. Eu amo
vocês.
Jaqueline de Faria
Dedico essa pesquisa a vocês, Pai e Mãe, pois me deram
grandes ensinamentos de como viver a vida com
dignidade. Não bastaria um obrigado a vocês, que se
doaram por inteiros e renunciaram muitos dos seus
sonhos para que pudessem realizar os meus. Pela longa
espera e compreensão durante essa longa jornada, não
bastaria um muitíssimo obrigado. A vocês, pais por
natureza, por opção e amor, não bastaria dizer, que não
tenho palavras para agradecer por tudo que fizeram por
mim. Amo muito vocês!
Renan de Souza
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AGRADECIMENTOS
À nossa orientadora Fernanda Peixoto Cordova, pelo incentivo, dedicação e
carinho na trajetória desse estudo. Essa pesquisa não seria possível sem você. Obrigada!
A todas as Hanamães, mulheres vigorosas que buscaram uma forma mais
humanizada de terem os seus filhos. Obrigado por cederem suas casas e horas de seu tempo
para realizarmos as coletas dos dados contidos nessa pesquisa. Que Deus encha suas vidas de
amor, carinho, felicidade e prosperidade. Que cada Hanabebê cresça com saúde e felicidade.
A participação de vocês foi essencial para a conclusão dessa pesquisa.
Às queridas enfermeiras obstetras da Equipe Hanami, as Hanamigas, por todas
as oportunidades de participar dos seus eventos e por nos permitir desenvolver esse estudo.
À enfermeira obstetra da Equipe Hanami, Joyce Green Koettker, membro de
nossa banca, pelas importantes sugestões e pelo incentivo e dedicação desde o início da nossa
pesquisa.
À querida professora Maria de Lourdes Campos Hames, também membro de
nossa banca, por ter contribuído em nosso aprendizado durante a graduação e pelas sugestões
sobre o trabalho.
Aos professores da Faculdade Estácio de Sá que contribuíram com seus
conhecimentos para o nosso aprendizado nesses quatro anos de graduação.
À nossa Coordenadora, Ana Cristina Hoffmann, obrigado por sempre resolver
nossos problemas, por ter estado sempre disponível para discutir e atender nossos pedidos.
Você é uma pessoa muito especial.
Amanda, Jaqueline e Renan
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AGRADECIMENTOS INDIVIDUAIS
Agradeço primeiramente a Deus, que me deu o dom da vida, por me dar forças e
por iluminar o meu caminho na conclusão desse sonho.
Aos meus pais, Cida e Luis, sou muita grata a vocês por tudo que fizeram por mim.
Por me ensinarem o que é certo e errado, por me incentivarem sempre a estudar, a buscar e
realizar meus sonhos. Obrigada pelo carinho, amor incondicional e pelo apoio. Mas
principalmente agradeço a minha Mãe, minha amiga, que esteve comigo nesses quatro anos,
escutando meus desabafos e minhas alegrias. Mãe obrigada por ser essa pessoa tão especial,
por tudo que você deixou de lado para que eu realizasse o meu sonho que se tornou também o
seu sonho. Essa vitória não seria possível se não fosse por vocês. Eu amo muito vocês.
Ao meu namorado Evandro, o amor da minha vida, pelo apoio, força,
compreensão e companheirismo em todos os momentos da graduação e por estar sempre
presente nos momentos mais importantes da minha vida. Meu ombro amigo de todas as horas,
que nos momentos tristes estava sempre me animando, me fazendo sorrir, e nos felizes, me
dando seu amor. Obrigada por tudo amor. Eu te amo muito. Você me faz muito feliz.
Às minhas amigas e companheiras da graduação, Glorinha, Bianca, Gabriela,
Juliana e Janaína, por estarem sempre do meu lado nessa longa caminhada, demonstrando
amizade, apoio e carinho. Vou sentir saudades dos nossos cafezinhos, almoços, risadas,
bagunças, estudos, na casa da nossa amiga Bi, que é uma pessoa maravilhosa, dona de um
coração enorme, que sempre nos recebeu com muito amor e carinho na sua casa. Obrigada a
vocês por ter me proporcionado tantas alegrias nesses quatro anos de graduação, vocês vão
morar sempre no meu coração. Amo vocês.
Aos meus companheiros de TCC, Jaqueline e o Renan, que durante um ano me
acompanharam na realização desse estudo. Pelas dificuldades que encontramos durante a
pesquisa e os obstáculos que ultrapassamos juntos. Jaque, amiga obrigada por me escutar
desabafar nos momentos de estresse, pela sua sincera amizade e desculpa pelas briguinhas
bobas. Renan, primo desculpa as renas, as discussões os momentos de conflito, você é uma
pessoa muito especial. Obrigada por tudo. Eu amo vocês.
À minha amiga, irmã de coração Bárbara, pelo apoio e pela sincera amizade,
estando sempre ao meu lado.
À minha família, minha cunhada Eloiza, minha comadre Kastiane, obrigada
pela compreensão, amor e por todo o apoio que recebi de vocês de alguma forma.
À equipe de enfermagem do Centro Cirúrgico da Maternidade Carmela Dutra,
por me receberem com muito carinho durante o estágio e pela enorme contribuição no meu
aprendizado. Nunca vou esquecer de vocês.
Amanda de Souza Gomes
A Deus, que me deu forças e iluminou meu caminho.
Aos meus pais, José e Jacinta, que me ensinaram o valor de um sonho e me deram
apoio e estrutura para buscá-lo. Não tenho palavras para agradecê-los, mas devo muito a
vocês. Amo muiiiiito vocês.
Ao meu irmão Jackson, que sempre esteve ao meu lado em todas as etapas da
minha vida.
Ao meu namorado Guilherme, pela paciência e companheirismo.
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Às minhas amigas, Luana, Jerusa, Daniella, Gisela e Mariana que me mostraram
através da sinceridade, lealdade e amor o verdadeiro sentido da amizade.
Às minhas colegas de faculdade, Bianca, Gabriela, Glorinha, Janaina e Juliana,
que tornaram esses quatro anos mais divertidos.
Aos meus companheiros de TCC, Amanda e Renan, pelo amadurecimento
acadêmico que tivemos juntos na realização deste trabalho.
À todas as pessoas, principalmente ao Dr° Marcos Leite, pela sugestão do tema
do trabalho. E a todos que de certa forma contribuíram para a construção dessa pesquisa.
A todos meus colegas de trabalho, pelo apoio, amizade e parceria que recebi de
vocês durante essa longa trajetória.
Jaqueline de Faria
A Deus (o Pai, o Filho - Jesus Cristo, e o Espírito Santo), primeiramente, pelo
fôlego de vida dado a mim quando ainda estava no ventre de minha mãe. Agradeço, também,
por ser o meu guia nos momentos de tribulação, me consolando, e me mostrando os caminhos
iluminados por sua presença. Tu és o meu SENHOR e salvador, o meu refúgio e baluarte.
Assim como Davi, me fizeste repousar em pastos verdejantes, e junto as águas de descanso,
refrigeras a minha alma, o teu bordão e o teu cajado me acalmam. Mesmo que eu ande no vale
da sombra da morte, não temerei mal algum, pois fiz de ti a minha morada, e comigo sempre
estarás. Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida, e
habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre.
Aos meus pais, Luiz e Neuza, por fazerem esse sonho se tornar uma realidade.
Agradeço por darem a mim muito mais que amor, como também a amizade e o
companheirismo, estando ao meu lado tanto nos momentos de alegria, mas ainda mais nos
momentos de dificuldade. Pai e Mãe, obrigado por serem essas pessoas maravilhosas, e por
estarem presentes em mais uma etapa da minha vida.
Às minhas colegas e parceiras de pesquisa, Amanda e Jaqueline, por todo o
empenho e carinho, dedicados por vocês, na conclusão desta pesquisa. Que Deus abençoa
grandiosamente as suas vidas, e que vocês sejam muito felizes e se tornem as melhores
enfermeiras que o mundo conheceu. Sem o companheirismo de vocês duas, a conclusão dessa
pesquisa nunca seria possível.
Aos colegas de sala, em especial ao Carlos e Murilo, colegas de trabalho,
William, Plínio, Ramon, Roberto e Renan Bento, e irmãos na fé Telmo, Andréia, Édson
e Verônica, companheiros nos momentos de dificuldade, e nos momentos de alegria.
Agradeço por cada um de vocês, que estavam ao meu lado, me ajudando a lutar por esse
sonho nesses últimos quatro anos. Afirmo que permanecerão nas minhas lembranças pelo
resto da minha vida. Que nós possamos nos encontrar no local de trabalho e juntos nos
dedicar a tornar a vida das pessoas o mais saudável possível para se viver. Um grande abraço,
não mais como colega, mas sim como amigo.
Renan de Souza
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“Para mudar o mundo é preciso antes, mudar a
forma de nascer.”
Michel Odent
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RESUMO
GOMES, Amanda de Souza; FARIA, Jaqueline de; SOUZA, Renan de. Parto domiciliar: a
busca por um parto humanizado na percepção de um grupo de mulheres. São José: FEESC,
2011.
As práticas assistências destinadas ao nascimento sofreram com o passar dos anos diversas
transformações, tais como a mudança na percepção de quem é o protagonista do parto, a
substituição do ambiente domiciliar pelo hospitalar e a perda dos costumes, valores e crenças
que permeiam esse fenômeno. Muitas dessas mudanças ocorreram devido a justificativa de
busca por maior segurança, todavia estudos demonstram que essa transformação resultou no
apoderamento do ato de partejar pelos profissionais da saúde, submetendo a mulher a uma
série de intervenções, normas e rotinas obstétricas impostas pelas instituições hospitalares.
Atualmente muitas organizações de saúde não governamentais lutam para resgatar a
autonomia das mulheres no processo de parir, iniciando o movimento de humanização do
parto e algumas mulheres vêm optando pelo parto domiciliar como forma de retornarem a
serem protagonistas e terem suas necessidades, crenças e valores respeitados no processo de
nascimento. Essa pesquisa portanto se propôs compreender as percepções de mulheres em
relação à humanização do nascimento e ao parto domiciliar, com base na Teoria do Cuidado
Transcultural de Madeleine Leininger a partir de um estudo exploratório descritivo de
abordagem qualitativa. As informações foram coletadas por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com sete mulheres que tiveram parto domiciliar na Grande
Florianópolis. A análise dos dados foi realizada a partir da técnica de análise de conteúdo do
tipo temática, que resultou em sete categorias: experiências de partos hospitalares anteriores;
fatores que influenciaram a escolha pelo parto domiciliar; preparação para o parto domiciliar;
expectativas para o parto domiciliar; experiência do parto domiciliar; posições escolhidas para
o parto e percepção e satisfação quanto a assistência prestada. Concluímos com os relatos das
mulheres, que o parto em âmbito domiciliar foi o local mais adequado para o processo de
nascimento, porque atualmente o ambiente hospitalar apresenta formas desnecessárias de
assistência ao parto, a qual elas não vivenciaram em seus partos domiciliares. No domicilio, a
parturiente recupera a autonomia e o protagonismo do seu processo de parir, e nele não estão
mais presentes as intervenções e rotinas impostas nas instituições hospitalares. Dentre outros
benefícios levantados, estão reforço do vínculo familiar, o início precoce do contato mãebebê, o que possibilitou o início imediato da amamentação, reduzindo as taxas de desnutrição
e mortalidade neonatal. Todas as mulheres entrevistadas referiram terem vivenciado uma
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experiência completa no parto domiciliar e que suas ideias e vontades foram respeitadas.
Sentiram-se acolhidas e satisfeitas pela assistência prestada relatando que realizariam
novamente o parto domiciliar caso aconteça uma nova gestação. Aos enfermeiros e demais
profissionais da saúde destacam-se a importância de repensar o cuidado prestado às mulheres
e aos recém-nascidos no ambiente hospitalar, uma vez que o cuidado humanizado se consagra
em das premissas básicas para o atendimento de qualidade.
PALAVRAS-CHAVES: Parto domiciliar. Humanização do Parto. Parto natural.
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ABSTRACT
GOMES, Amanda de Souza; FARIA, Jaqueline de; SOUZA, Renan de. Homebirth: the
search for a humanized birth the perception of a group of women. São José: FEESC, 2011.
Birth care assistance suffered several changes over the last years, such as changing the
perception of who is the protagonist of the birth, home environment by replacing the hospital
and the loss of customs, values and beliefs that underlie this phenomenon. Many of these
changes occurred due to the search for greater security, however studies show that this
transformation resulted in the empowerment of the act the midwife by health professionals,
subjecting women to a series of interventions, rules and routines imposed by obstetric
hospitals. Nowadays many non-governmental health organizations struggle to rescue the
autonomy of women giving birth in the process of starting the movement of the humanization
of birth and some women are opting for home birth as a way to return to be protagonists and
have their needs, beliefs and values respected in the process of birth. This research therefore
set out to understand the perceptions of women in the humanization of birth and home birth,
based on Transcultural Care Theory Madeleine Leininger from an exploratory descriptive
study with qualitative approach. Information was collected through semi-structured interviews
with seven women who had home births in Florianópolis. Data analysis was performed using
the technique of content analysis-type theme, which resulted in seven categories: earlier
experiences at hospitals, factors that influenced the choice of home birth, home birth,
expectations for home delivery, experience of home birth, positions taken, perception and
satisfaction with the care provided. We conclude reports of women that by labor in the
household was the most suitable place for the birth process, because now the hospital has
forms unnecessary assistance to childbirth, which they have not experienced in their home
births. At home, the woman regains autonomy and the role of the process of giving birth, and
there are no longer exist interventions and routines imposed on hospitals. Among other
benefits raised, is the strengthening of family ties, the early mother-infant contact allowed the
immediate initiation of breastfeeding, reducing malnutrition rates and neonatal mortality. All
the women interviewed reported having experienced a complete experience in home birth and
that their ideas and wishes were respected. They felt welcomed and met by the assistance
would hold back reporting that home birth if it happens a new pregnancy. Nurses and other
health professionals should highlights the importance of rethinking the care provided to
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mothers and newborns in the hospital environment, since the humanized care is devoted to the
basic requirements for quality care.
KEY WORDS: Home Childbirth. Humanizing Delivery. Natural Childbirth.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16 5
2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 21 10
2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 21 10
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 21 10
3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 22 11
3.1 A TRAJETÓRIA DO PARTO...................................................................................
22
3.2 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO ............................................... 26 15
3.2.1 A dor e os métodos de alívio não farmacológicos .............................................
32
3.2.2 Tipos de parto e posições de parir ....................................................................... 37
3.2.2.1 Parto vaginal ........................................................................................................
38
3.2.2.2 Parto cesárea ........................................................................................................
40
3.2.3 Atenção humanizada ao recém-nascido .............................................................
41
3.2.4 A importância do acompanhante ........................................................................
42
3.2.5 A enfermeira na assistência ao parto domiciliar ...............................................
42
4 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................
45
4.1 BREVE BIOGRAFIA DE MADELEINE LEININGER ..........................................
45
4.1.1 Pressupostos de Leininger .................................................................................... 46
4.1.2 Conceitos ................................................................................................................ 48
4.1.3 Conceitos específicos ............................................................................................. 49
4.1.4 Definição de termos...............................................................................................
51
5 TRAJETÓTIA METODOLÓGICA ......................................................................... 53
5.1 TIPO DE ESTUDO ...................................................................................................
53
5.2 O CONTEXTO E OS SUJEITOS DO ESTUDO....................................................... 53
5.3 COLETA DE DADOS...............................................................................................
55
5.4 ANÁLISE DOS DADOS...........................................................................................
55
5.5 ASPECTOS ÉTICOS.................................................................................................
56
6 RESULTADOS ...........................................................................................................
57 44
6.1 EXPERIÊNCIAS DE PARTOS HOSPITALARES ANTERIORES ........................ 58
6.2 FATORES QUE INFLUENCIARAM A ESCOLHA PELO PARTO
DOMICILIAR .................................................................................................................
62
6.3 PREPARAÇÃO PARA O PARTO DOMICILIAR .................................................
65
15
6.4 EXPECTATIVAS PARA O PARTO DOMICILIAR ............................................... 68
6.5 EXPERIÊNCIA DO PARTO DOMICILIAR ...........................................................
72
6.6 POSIÇÕES ESCOLHIDAS PARA O PARTO ......................................................... 79
6.7 PERCEPÇÃO E SATISFAÇÃO QUANTO À ASSISTÊNCIA PRESTADA ........
81
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 86 45
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 90
APÊNDICES ..................................................................................................................
96
APÊNDICE A ................................................................................................................
97 50
APÊNDICE B ................................................................................................................. 98
APÊNDICE C ................................................................................................................
100
ANEXOS ........................................................................................................................
101
ANEXO A .......................................................................................................................
102
ANEXO B .......................................................................................................................
103
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1 INTRODUÇÃO
O ato de cuidar esteve presente durante toda a história da humanidade, e que ao
longo dos tempos se tornou uma profissão, a enfermagem. O cuidado é um processo de
fundamental importância a toda sociedade, pois todos necessitam de cuidado, sendo assim,
exercer o papel de cuidador torna-se um grande desafio, pois o afeto e a atenção dada ao
sujeito que necessita de cuidados podem ou não, influenciar nos fenômenos que esse vem
enfrentando.
O parto é um dos fenômenos naturais que muitas mulheres irão vivenciar no decorrer
da vida. Tal fenômeno, caracterizado como essencial para manutenção da vida, é influenciado
pelo meio sócio-cultural, onde preceitos culturais constroem a visão e forma com que a
mulher irá vivenciar o seu processo de parir. O ato de dar à luz a uma criança, portanto, nunca
será simplesmente um processo fisiológico, mas sim um evento que se desenvolve em um
ambiente cultural, e o profissional que a assiste nesse momento precisa compreendê-lo dessa
forma.
Segundo Acker et al. (2006), no alvorecer do século XX, a assistência ao parto era
um processo de exclusiva responsabilidade das mulheres, onde as parteiras com suas
experiências e seus conhecimentos ancestrais atuavam predominantemente. Nessa época, o
parto, em sua grande totalidade, acontecia na residência da parturiente, aonde essa participava
integralmente do seu processo de parir. As ações das parteiras baseavam-se em garantir um
ambiente viável para a realização do parto e promover a atuação da mulher em todo o
processo de parir, intervindo somente quando necessário. O parto acontecia de forma natural e
dava a mulher o total domínio e experiência desse processo.
Em meados do século XX, com o desenvolvimento da ciência, a assistência ao parto
passou a ser realizada por pessoas dotadas de uma formação científica, tornando-se uma
prática institucionalizada, realizada principalmente em âmbito hospitalar, fato que favoreceu a
intervenção médica no ato de parir e o controle do período gravídico puerperal (ACKER et
al., 2006).
O parto, que antes era visto como um processo fisiológico, com o passar dos anos
passou a ser visto como algo patológico. A sociedade passou a perceber esse processo como
um intenso sofrimento físico e moral, sendo necessária a intervenção do profissional de saúde,
médico e enfermeiro, e a utilização de instrumentos e medicações que aliviassem o sofrimento
materno. (CASTRO; CLAPIS, 2005)
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Contudo, a vivência do parto em instituições de saúde, com a presença de vários
profissionais conduzindo esse período, fez com que a mulher deixasse de ser a protagonista do
processo parturitivo. Ao perder o protagonismo, a parturiente passou a agir como coadjuvante,
sendo submetida a normas institucionais e intervenções sem o devido esclarecimento.
(ACKER et al., 2006)
Não se pode negar que intervenções médicas como a cesariana proporcionam maior
segurança à vida da gestante e do feto, quando se encontram em situação de alto risco. Para
Medeiros, Santos e Silva (2008), essa busca desenfreada por segurança, no entanto, fez com
que as intervenções passassem a ser usadas sem justificativas obstétricas adequadas,
impedindo a mulher de vivenciar todos os fenômenos que envolvem o processo de parir.
No Brasil são realizados diversos procedimentos interventivos sem a devida
necessidade como, por exemplo, a cesariana. Em 2008, a taxa de cesariana no Brasil foram
bastante elevadas, em torno de 35% e atingiram valores ainda maiores nos serviços privados –
de 70% a 90%. (BRASIL, 2008)
Reagindo a essa medicalização do parto, na década de 80 surge o movimento da
humanização da assistência ao parto com a finalidade de garantir a evolução do trabalho de
parto e parto com naturalidade, resgatando as necessidades específicas do corpo de cada
mulher, a sua autonomia e seu papel ativo durante o processo parturitivo. (KOETTKER,
2010)
Diante desse movimento, começa-se a refletir se o modelo de assistência ao parto
adotado atualmente como filosofia nas instituições de saúde brasileira estaria atendendo às
expectativas das mulheres, desde o momento da descoberta da gestação até o pós-parto.
Segundo Diniz (2005), para que ocorra a humanização da assistência ao parto no
ambiente hospitalar, é necessário uma mudança na cultura assistencial, promovendo uma
assistência voltada mais para as necessidades maternas e familiares. Para tal, é também
indispensável modificações na estrutura física, proporcionando um ambiente mais acolhedor e
favorável à implantação de práticas humanizadas.
O parto humanizado busca resgatar a naturalidade do parto para a mulher, para sua
família e a equipe de profissionais envolvida. A humanização também busca fazer com que o
parto, momento em que geralmente é carregado de medos e tensões, siga de modo natural, de
acordo com as necessidades específicas de cada mulher e com os profissionais interferindo o
mínimo possível. (CRIZÓSTOMO et al., 2007)
Para Medeiros, Santos e Silva (2008), o parto humanizado é um processo que
respeita a individualidade da gestante, valorizando-a como protagonista do seu processo
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parturitivo, onde são criadas condições para que as dimensões espirituais, psicológicas,
biológicas e culturais sejam plenamente atendidas.
Entendemos como parto humanizado, um conjunto de condutas e procedimentos que
façam esse processo ocorrer de forma saudável, sem a utilização de práticas intervencionistas
desnecessárias. Na assistência humanizada é dada a mulher o total domínio do seu processo
de parir, de forma que atenda toda suas necessidades biológica, psicológica e espiritual,
garantindo segurança a ela e ao bebê.
Humanizar o nascimento portanto é adequá-lo a cada mulher, a cada homem, ou seja,
envolver a família no nascimento, onde a técnica não pode tornar-se mais importante do que
as pessoas envolvidas. (BRASIL, 2008)
Nesta perspectiva, o cuidado cultural destaca-se como forma de representar os
valores, crenças e práticas de cada sujeito, com o objetivo de proporcionar práticas de
enfermagem e de cuidados na promoção da saúde ou bem-estar, contemplando as diferenças
culturais. (LEININGER, 1991)
Segundo Fialho (2008), é direito da mulher, ter o filho em ambiente calmo e
aconchegante, rodeada por pessoas preparadas e dedicadas ao nascimento. É direito dela
também ter liberdade de se alimentar, se hidratar, caminhar livremente, assumir a postura que
preferir e ter um acompanhante familiar (Lei Federal nº 11.108, de 7 de abril de 2005),
durante o trabalho de parto e o parto e de ser informada sobre os procedimentos adotados e
participar das decisões. Portanto, os profissionais de saúde possuem a responsabilidade de
orientar as mulheres quanto aos seus direitos e romper com todos os preceitos
intervencionistas envolvidos na assistência ao parto.
Para Crizóstomo et al. (2007), o local escolhido para a realização do parto é muito
importante. No Brasil a maioria dos partos é realizada em âmbito hospitalar, sendo que, as
mulheres que buscam maior autonomia preferem realizar em casas de parto ou até mesmo no
próprio domicilio. O parto natural domiciliar configura-se em uma das opções para quem quer
evitar o modelo tecnocrático de atendimento à parturiente, diferente do modelo hospitalar
tradicional.
Para a realização do parto no domicílio, a mulher deve ter uma gestação sem
complicações, e ser avaliada por um profissional da saúde que diagnosticará se o parto será de
baixo risco. A Organização Mundial de Saúde (OMS), compreende o parto de baixo risco
como de início espontâneo, com o feto nascendo em apresentação cefálica, com idade
gestacional entre 37 e 42 semanas completas, e que após o parto, a mãe e o bebê se encontrem
em boas condições de saúde. Seguindo essa definição, no mundo cerca de 70% a 80% de
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todas as gestações poderiam ser consideradas de baixo risco no início do trabalho de parto.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
A assistência exercida antigamente pelas parteiras, não possuía como alicerce um
conhecimento científico sobre anatomia e fisiologia humana, porém ocorria da forma mais
natural possível, sem quaisquer intervenções desnecessárias. (MORAIS, 2010) As parteiras
eram mulheres que já haviam vivenciado na própria pele, os fenômenos que envolvem o
processo de parto. Essa experiência dava tanta confiança às parteiras a exercer sua assistência,
tornando-as hábeis para confortar as mulheres durante todo o trabalho de parto. (ACKER et
al., 2006)
Segundo Davim e Menezes (2001), a parturiente deve ser acompanhada por um
profissional devidamente capacitado, para que as intervenções ocorram quando necessárias e
não como rotinas, privilegiando o bem-estar da parturiente e do bebê. Contudo, destaca-se que
essa assistência é mais realizada pelas enfermeiras obstetras, que atuam dentro de uma visão
mais humana e holística.
De acordo com Brasil (2008), a formação da enfermeira obstétrica dá maior ênfase
aos aspectos fisiológicos, emocionais e socioculturais do processo reprodutivo. A enfermeira
obstetra é a profissional mais adequada para a assistência aos partos de baixo risco, seja no
domicílio, em centros de parto normal, ou em serviços de obstetrícia hospitalares.
Destaca-se aqui que em um ambiente propício, como o domicílio, a enfermeira
consegue resgatar os processos naturais que envolvem e norteam toda a dinâmica do parto,
aonde a parturiente tem participação mais ativa e confiança em seu potencial de parir, o que se
torna também natural, pelo fato de não haver intervenções desnecessárias o que muitas vezes
acontece no hospital. No parto domiciliar é garantido à mulher a opção de escolher a posição
de parir, a liberdade de se movimentar, caminhar e a presença de familiares.
Atualmente no Brasil encontramos enfermeiras obstetras que realizam parto
domiciliar nas cidades de Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro,
Brasília, Bahia, Natal, entre outras. Amparadas pela legislação, tais enfermeiras podem
oferecer às mulheres um cuidado seguro, qualificado e individualizado, respeitando os
princípios da humanização da atenção à gestação, ao parto e ao puerpério. (AMIGAS DO
PARTO, 2011)
Diante do exposto, o presente trabalho teve como questão norteadora: Quais são as
percepções de mulheres em relação à humanização do nascimento e ao parto domiciliar?
A escolha pelo tema teve início com as experiências vivenciadas por nós, acadêmicos
de enfermagem, na unidade obstétrica do Hospital Regional de São José e da Maternidade
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Carmela Dutra. Durante os ensaios clínicos práticos, presenciamos diversos partos, dentre eles
realizados por cesariana, e a forma com que esses eram dirigidos trouxe-nos incomodação, o
que fez surgir em nós o sentimento de busca por um parto humanizado. Durante o período de
estágio obrigatório, conhecemos a Equipe Hanami1, conduzida por enfermeiras obstetras que
realizam parto natural em domicílio na Grande Florianópolis, o que nos proporcionou uma
nova forma de ver o processo de parir.
A realização deste trabalho de conclusão de curso tem como finalidade resgatar o
processo de parto natural, amplamente realizados antigamente pelas parteiras tradicionais, que
proporcionava à mulher, a experiência de parto, aonde essa, tinha todo o domínio do seu
processo de parir, e eram atendidas todas as suas necessidades biológicas, psicológicas,
culturais e espirituais, reforçando o vínculo familiar, e tornando esse momento, que hoje é
visto como intenso sofrimento, em algo prazeroso.
Além disso, a presente pesquisa evidencia a importância da atuação da enfermagem
obstétrica para humanização do nascimento, uma vez que as enfermeiras obstétricas possuem
respaldo legal para atenção ao parto de baixo risco e primam por práticas menos
intervencionistas. (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 1986)
1
Hanami é a equipe de enfermeiras que realizam parto domiciliar na Grande Florianópolis. A equipe é composta
por sete enfermeiras obstetras, que buscam realizar o parto de uma maneira humanizada.
21
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Compreender as percepções de mulheres em relação à humanização do nascimento e
ao parto domiciliar, com base na Teoria do Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar os fatores que influenciaram as mulheres na escolha por um parto
domiciliar;
Identificar qual posição as mulheres optaram no momento de parir;
Descrever as experiências vivenciadas pelas mulheres no processo de nascimento;
Investigar a satisfação sobre a assistência recebida no parto domiciliar.
22
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 A TRAJETÓRIA DA ASSISTÊNCIA AO PARTO HOSPITALAR E DOMICILIAR
A perpetuação da espécie humana até os dias de hoje foi possível através da
reprodução, o que torna o nascimento um fenômeno fisiológico vivenciado por todos os seres
humanos. Porém, a gestação e o parto vão além de processos fisiológico privativo à mulher,
são também eventos sociais, em um ambiente regido por padrões culturais. (MORAIS, 2010)
Segundo Acker et al. (2006), os rituais que envolviam o processo de nascer no
passado foram sendo modificados ao longo dos anos devido as influencias do
desenvolvimento científico. O nascimento que antes era marcado por grande envolvimento
afetivo familiar, atualmente está cercado de procedimentos técnicos desenvolvidos para
aumentar a segurança do parto, porém está afastando a família, do componente humano e
afetivo.
O resgate histórico das práticas e relações que envolviam o ato de parir na
antiguidade nos permite compreender a origem do processo de cuidar, o vínculo que se
estabelecia entre o cuidador e a parturiente antes do alvorecer da ciência, e a mudança no
padrão cultural do nascimento. (ACKER et al., 2006)
O processo de nascimento sempre tocou a curiosidade humana, envolvendo em
sentimentos como a simpatia, o medo e a alegria sobre os fenômenos que envolvem esse
processo. Há controvérsia em como se iniciou a assistência à mulher no processo de parir,
porém acredita-se que no princípio a mulher paria em um ambiente isolado, uma vez que a
gravidez e a capacidade reprodutora feminina ainda não eram fenômenos de interesse da
coletividade. (ACKER et al., 2006)
A assistência ao parto teve início a partir do momento em que algumas mulheres
passaram a ser encarregadas de auxiliar outras mulheres a trazerem seus filhos ao mundo.
Essa pratica se torna exclusiva de um grupo feminino de pessoas denominadas parteiras.
Embora conhecidas há muito tempo, pouco foi registrado sobre as práticas e estilos de vida
adotados por elas. (MOURA, 2007)
Vale ressaltar que mesmo havendo restrições de acesso dos homens no auxilio ao
processo de parir, o nascimento ainda sim era vivenciado não apenas pela mulher, mas
também pela família e comunidade (MORAIS, 2010).
23
Um dos mais antigos registros sobre a assistência prestada pelas parteiras pode ser
encontrado em trechos do antigo testamento da bíblia sagrada, mais precisamente no livro de
Êxodo, capítulo 1, versículos de 15 à 20, o que o torna seguramente um dos mais antigos
ofícios do mundo:
Falou o rei do Egito às parteiras das hebréias, das quais uma se chamava Sifrá e a
outra Puá, dizendo: Quando ajudardes no parto as hebréias, e as virdes sobre os
assentos, se for filho, matá-lo-eis; mas se for filha, viverá. (ALMEIDA, 1993, p.40)
As parteiras, porém, temeram a Deus e não fizeram como o rei do Egito lhes
ordenara, antes conservavam os meninos com vida. (ALMEIDA, 1993, p.40)
Pelo que o rei do Egito mandou chamar as parteiras e as interrogou: Por que tendes
feito isto e guardado os meninos com vida? (ALMEIDA, 1993, p.40)
Responderam as parteiras a Faraó: É que as mulheres hebréias não são como as
egípcias; pois são vigorosas, e já têm dado à luz antes que a parteira chegue a elas.
(ALMEIDA, 1993, p.40)
Portanto Deus fez bem às parteiras. E o povo se aumentou, e se fortaleceu muito.
(ALMEIDA, 1993, p.40)
É notável a participação dessas mulheres na história do povo de Israel. Elas
contribuíram para o nascimento de muitas crianças, principalmente dos meninos. Se não fosse
a atuação delas no parto das mulheres hebréias, provavelmente o povo israelita seria diferente
do que é hoje. Também é curioso notar o vigor das mulheres hebréias em parir seus filhos de
forma natural.
Segundo Moura (2007), a parteira era uma mulher que já havia sentido na carne
todas as dores e fenômenos que envolviam o processo de parir. Ela exercia seu cuidado
baseada na experiência vivida como mulher/mãe, pois tinha nutrido o bebê no útero e vivido o
rito de passagem do nascimento, o que a tornava hábil em confortar as mulheres durante o
trabalho de parto e parto, apresentando bons resultados nas condições de medo e angústia.
Naquela época até um passado recente a assistência ao trabalho de parto não requeria
nenhuma competência especial nem conhecimento científico. Sendo assim a parteira era mais
conhecida pela sua experiência e competência, do que pela posse de um conhecimento
científico sobre a anatomia e fisiologia do corpo humano feminino. (MORAIS, 2010)
A transmissão do seu saber dava-se oralmente, de geração em geração, às vezes de
mãe para filha. Desta forma muitas mulheres adquiriram habilidades especiais e
conhecimentos empíricos sobre a gravidez e o parto. (MORAIS, 2010)
Era exigido apenas que a parteira tivesse certa idade e experiência, ou seja, ser mãe
de filhos e ter conhecido na pele as dores do parto. Em muitos dos casos elas eram viúvas que
não tinham compromisso familiar, tendo assim disponibilidade de tempo para serem
24
requisitadas. Eram robustas e possuidoras de boa saúde, para independente das condições
climáticas, se deslocarem pelas estradas tanto no período noturno, quanto diurno. (ACKER et
al., 2006)
As parteiras eram tão confiantes, e cheias de orgulho de sua capacidade, que não
havia dúvida no exercer do seu cuidado, sobre como parir e depois como amamentar e cuidar
das crias. (OSAVA, 1997)
As parteiras tinham em comum a vivência no mesmo ambiente social que a mulher
que iam auxiliar, sendo elas (parentes, vizinhas, amigas). Sempre foram muito estimadas entre
as mulheres e sua participação e assistência sempre foram muito requisitadas. (ACKER et al.,
2006)
Para Acker et al. (2006), o parto e o nascimento dependiam, para o seu sucesso, mais
do que a atenção de uma parteira; requeriam a ajuda de familiares e amigas, que não somente
ajudavam o nascimento, mas tomavam a responsabilidade pelos afazeres domésticos durante
o período do resguardo. Essa prática tornava o parto um evento social.
Embora algumas parteiras desempenhem sua função junto às mulheres de sua própria
família e sua comunidade, essa função tornou-se, para algumas, fonte de subsistência. Para a
maioria uma função complementar aos afazeres domésticos. (MORAIS, 2010)
É curioso que nesse período já havia distinção na qualidade dos serviços prestados a
parturiente em diferentes classes sociais. Osava (1997), relata que as parteiras mais caras e
que prestavam a melhor assistência da época, destinavam-se a classe mais rica, que podiam
pagar pelos serviços, o que tendia a minimizar riscos e intercorrências. Já as pertencentes a
classes menos favorecidas financeiramente submetiam-se a quem disponível estivesse para
ajudá-las no parto.
Até o século XIX, estar grávida representava um risco de vida, pois freqüentemente
aconteciam intercorrências e morte das jovens mulheres devido às precárias condições de
assistência à saúde da época. Apesar dos riscos, estar grávida trazia uma série de benefícios e
privilégios para as mulheres, pois a gestação lhes atribuía status, graças à importância dada à
capacidade reprodutiva feminina. (MORAIS, 2010)
O parto domiciliar assistido pelas parteiras não condiziam de forma asséptica,
considerado pelos médicos obstetras da época. Mas, a assistência prestada pelas parteiras, se
fazia menos agressiva, voltada ao natural, comparado as intervenções médicas, que por vezes
se faziam desnecessárias. (OSAVA, 1997)
Segundo Monticelli (1994) o parto domiciliar era a única alternativa para o
nascimento no mundo até o século XIX. Conforme Morais (2010), a queda da taxa da
25
natalidade e o aumento da taxa de mortalidade materna e perinatal mundial, fez com que
surgisse no Brasil o interesse de promover ações que diminuíssem essas taxas. A idealização
de que o parto realizado em uma instituição hospitalar era mais seguro para mulher e recémnascido, culminando na substituição do modelo de parto domiciliar para o institucional.
A institucionalização do parto foi o fator determinante para a extinção das parteiras
tradicionais. A mudança do ambiente de parto trouxe uma série de transformações na
assistência prestada e no processo de parturição. Aonde antes o parto ocorria sobre os
costumes e crenças da parturiente, a hospitalização do parto faz com que a parturiente fosse
submetida a regras e as condutas hospitalares. (MAMEDE; MAMEDE; DOTTO, 2007)
Dentre as outras mudanças ocorridas com a hospitalização do parto as autoras ainda referem
que a parturiente perdeu o protagonismo do processo de parir, e o médico ou enfermeiro
passou a conduzir todo esse processo, utilizando uma serie de intervenções e instrumentais
com o objetivo de facilitar e agilizar todo o processo. Embora o objetivo dessa mudança fosse
trazer uma maior segurança à parturiente e ao feto, muitas dessas mudanças têm sido
prejudiciais a mãe e filho.
A parteira que antes tinha autonomia no processo de parir, após a institucionalização,
fica sujeita a aprovação médica para atuar dentro do hospital. Ocorre também a separação da
parturiente da sua família. (MORAIS, 2010)
Segundo Osava (1997) com o modelo hospitalocêntrico, o corpo da mulher passou a
ser visto como objeto de estudo. O ato de dar à luz passa a ser então um momento de
treinamento para os profissionais de saúde, iniciando ai o universo da assistência mecanicista.
Os profissionais médico e enfermeira obstétrica assumiram o papel hegemônico da
assistência.
Diversas mudanças ocorrem com a hospitalização do processo de parir. Entre essas
Vivanco (2007) relata que, as posições utilizadas no processo de parir, aconteciam de modo
geral, na posição vertical, estando à mulher sentada, acocorada ou até mesmo de pé, apoiada
em outra pessoa ou objeto. Adotando essas posições, tinham elas a ajuda do fator
gravitacional, que facilitava e agilizava a passagem do feto pelo canal vaginal.
Segundo Engelmann (1997), a evolução das técnicas científicas provocou mudanças
nos cuidados prestados ao nascimento. Foram introduzidos nas instituições hospitalares
instrumentais interventivos que retiraram a naturalidade do processo de parir, com a
justificativa de tornar o processo mais seguro. Desencadeou-se então a alteração da posição e
forma de vivenciar o parto.
26
As posições antes adotadas verticalmente foram mudadas pela posição horizontal. O
parto que acontecia numa lógica gravitacional, com o domínio do processo de parir com a
parturiente, passou a ter o profissional obstetra como condutor do parto, utilizando assim dos
processos interventivos. (MAMEDE; MAMEDE; DOTTO, 2007)
3.2 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO
No Brasil a busca pela humanização do parto iniciou-se quando as pessoas
envolvidas com o processo de nascer começaram a se questionar se prática assistencial
tecnocrática realmente trazia maior segurança a parturiente. Muitos autores e organizações
não governamentais começaram a demonstrar preocupações com o excesso da medicalização
e métodos interventivos que envolviam a assistência ao parto vigente. (DIAS, 2008)
Diversos movimentos pela humanização do parto foram impulsionados nos estados
brasileiros. Na década de 1970, profissionais inspirados pelas práticas tradicionais das
parteiras e índios, buscavam resgatar os valores que envolviam a assistência ao parto em
tempos passados. (DINIZ, 2005)
Na década de 90, no Rio de Janeiro, foi implantada a Política de Humanização do
Parto e Nascimento que buscou introduzir profissionais não médicos, como enfermeiras
obstetras, como agente principal da assistência ao parto de baixo risco. Entretanto, atualmente
ainda embates entre as categorias tem dificultado a política de humanização da assistência.
(DIAS, 2008)
Em 1993, foi fundada a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa)
com o objetivo de atuar contra a violência e constrangimentos que as instituições hospitalares
submetiam as mulheres e as crianças no momento do nascimento.
Contudo, para que ocorra a humanização da assistência ao parto é necessária uma
mudança na assistência hospitalar, onde esta, deve se voltar para as reais necessidades da
parturiente e sua família, respeitando a fisiologia e os aspectos sócio-culturais que envolvem
essa prática. Mudanças nos aspectos estruturais também são importantes, pois um ambiente
mais acolhedor é mais favorável a implantação de práticas assistenciais humanizadas. (DIAS,
2008)
27
Ao longo dos anos, diversas definições de humanização foram atribuídas aos
cuidados prestados no processo de parir. Muitos destes significados trazem aspectos
contraditórios e antagônicos. (DINIZ, 2005)
Segundo o Ministério da Saúde, a condição para o adequado acompanhamento do
parto e puerpério é a humanização da assistência obstétrica, sendo obrigação das unidades de
saúde receber com dignidade a mulher e o recém-nascido, com adoção de práticas
humanizadas e seguras, com condutas acolhedoras e não interventivas. (BRASIL, 2008)
Segundo Fernandes, Luft e Guimarães (1997), humanização é o “ato ou efeito de
humanizar”, tornar humano; dar feição ou condição humana; tornar bondoso, agradável. Fazer
adquirir hábitos sociais polidos; civilizar.
Para Faúdes e Cecatti (1991), humanizar a assistência implica, primeiramente, em
humanizar os profissionais de saúde, mudando suas atitudes e filosofia de vida. Deve haver o
entendimento do processo de parir como sendo um evento da vida sexual e reprodutiva. Um
processo fisiológico, que requer um acompanhamento com um mínimo de intervenção, que
disponha de pessoal treinado e de condições estruturais para identificação e prevenção
precoce de complicações e situações de risco, permitindo atuação imediata, adequada e eficaz.
Humanizar é dar à parturiente um cuidado de qualidade, tendo respeito a sua
dignidade e natureza humana, preocupando com a essência, singularidade, totalidade, e
subjetividade do ser humano, permitindo a participação ativa no estar e fazer. (CEQUEIRA,
2005)
Considerando as definições acima entendemos que humanizar o cuidado prestado no
processo de parir abrange muito mais do que chamar a paciente pelo nome, ou ter um sorriso
nos lábios constantemente, implica também em compreender seus medos, angústias,
incertezas dando-lhe apoio, cuidado e atenção permanente, além de respeitar suas crenças e
valores.
Diniz (2005) relata que o ato de humanizar, entretanto, é pouco compreendido pelos
profissionais que prestam a assistência, visto que o parto está cercado de procedimentos
técnicos, desenvolvidos para aumentar sua segurança. Infelizmente a busca por essa segurança
está tirando da parturiente o poder do seu processo de parir e afastando a família do
componente humano e afetivo.
A parturiente quer ser tratada como sujeito ativo e participante de todo o processo e
não como mero objeto. O autor também refere que evidências científicas demonstram que
fazer com que o parto transcorra o mais naturalmente possível torna-se um fator determinante
para uma boa experiência de parto. (CEQUEIRA, 2005)
28
Algumas instituições de saúde buscaram excluir rotinas obstétricas ineficazes e
valorizar a mulher como condutora do parto, atendendo ela em todas as dimensões e
valorizando os aspectos essenciais do ser humano. Porém, o que ainda é presenciado é que a
partir do momento em que a mulher é internada na maternidade, ela passa a não ter mais
controle da situação, tudo torna-se imprevisível, o ambiente não é familiar, não há interação
afetiva e, não se estabelece o cuidar verdadeiro. (MEDEIROS; SANTOS; SILVA, 2008)
Após a internação, o corpo da mulher passa a ser visto e manipulado como um
objeto. Não é levado em consideração os sentimentos expressados por ela e naquele momento
a parturiente fica à mercê do profissional de saúde, pois a eficiência e a resolutividade falam
mais alto, sendo assim, submete-se às normas e rotinas impostas pela instituição. O
profissional não entende que este é um momento especial, singular para ela, e que ela gostaria
de lembrar-se dele com carinho, alegria e satisfação de ter conseguido dar à luz.
(MEDEIROS; SANTOS; SILVA, 2008)
Acreditamos que a cesariana é a intervenção que deixa mais evidente a perda do
poder do processo de parir pela gestante, e que culturalmente alcançou grande aceitação entre
as mulheres brasileiras. Os índices realizados atualmente no Brasil, nos faz refletir sobre os
motivos que levam à gestante e o médico obstetra a optarem pela realização da cesárea ao
invés do parto vaginal ou natural.
Não se pode negar que a cesariana tem possibilitado salvar a vida de várias mulheres
com complicações na gestação, porém um procedimento antes só realizado em mulheres
mortas para salvar a vida do feto, passou a ser usado muitas vezes sem justificativas
adequadas. (CASTRO; CAPLIS, 2005)
Segundo Faúndes e Cecatti (1997), os motivos que podem estar relacionados com o
aumento de procedimentos cesarianos estão relacionados com três grupos, tais como: com a
mulher; com a cultura e com o profissional médico.
Conforme Faúndes e Cecatti (1991), os fatores relacionados à mulher, que as levam
realizar o procedimento de cesariana, possuem dois motivos. O primeiro motivo é o medo da
dor durante o trabalho de parto e o parto, e o segundo motivo é que a cesariana permitirá que
a anatomia genital fique intacta.
Referente ao primeiro motivo, o da dor, a cesariana eletiva decidida com
antecedência para dia e hora marcados permitirá à mulher um parto sem qualquer dor, desde
que receba anestesia e fortes analgésicos, antes e depois da cirurgia. (FAÚNDES; CECATTI,
1991)
29
A dor sentida pela mulher durante o processo de parto tem um aspecto importante e
diferenciado de acordo com cada sociedade. Influenciada por fatores biológicos, culturais,
socioeconômicos e emocionais, essas dores são muitas vezes menosprezadas pelos
profissionais de saúde, que a entende como parte integrante de um processo fisiológico. O
profissional não estando ao lado da mulher, não a acolhendo emocionalmente e não utilizando
técnicas naturais que aliviem as dores das contrações, intensifica ainda mais o desconforto por
ela sentido. A solidão vivida nesse período torna comum que o trabalho de parto seja
percebido de forma penosa, e representa um grande desafio para parturiente. (CEQUEIRA,
2005)
O bem-estar da mulher e o nascimento de seu recém-nascido dependem da confiança
depositada nos profissionais que a assistem. Esses deverão ao longo do trabalho de parto e no
parto, avaliar corretamente o estado da mãe, com monitoramento de suas condições vitais,
atentando para a manutenção de seu bem-estar físico e emocional. (DIAS, 2006).
Segundo Dias (2006), entre os fatores que reduzem nossa percepção da dor estão: o
relaxamento, a confiança, a informação correta a cerca do que irá acontecer, o contato
contínuo com pessoas familiares e amigas, o fato da gestante estar ativa, descansada e bem
alimentada num meio familiar confortável e o fato de permanecer no instante presente e de
viver as contrações uma a uma.
Para Ruano et al. (2007), muitos outros fatores podem estar relacionados ao receio da
dor. No imaginário de algumas mulheres, a boa mãe é aquela que sofreu ao dar à luz a seus
filhos, sendo que, o sofrimento por ela sentido pode ficar quase esquecido após receber o seu
filho nos braços.
As ações desenvolvidas pelo profissional enfermeiro têm contribuído para minimizar
a tensão da mãe e evitar que ela sofra no momento do parto, pois é ele quem permanece o
tempo todo ao seu lado, desde a sua admissão, até a sua alta hospitalar (RUANO et al., 2007).
O segundo motivo pela qual as mulheres optam para a cesárea é o conceito de que
esse procedimento permite à mulher manter intactas a anatomia e fisiologia da vagina e do
períneo, enquanto que parto vaginal produz perda acentuada da função do coito normal.
(FAÚNDES; CECATTI, 1991) Proteger o períneo sempre que possível, não justifica
realização de cesárea ou uso sistemático da episiotomia. (CEQUEIRA, 2005)
Podemos citar algumas diferenças que o parto natural tem sobre o parto normal
tradicional. O parto natural é realizado sem nenhuma intervenção ou procedimento
desnecessário durante toda a sua duração. Possui o atendimento focado na mulher, e a saída
do bebê ocorre pelo canal vaginal sem a realização de nenhuma intervenção cirúrgica. Tudo
30
transcorre da maneira mais natural possível, e com o mínimo de procedimentos, de modo a
evitar causar mais dor, complicações, como por exemplo, infecções à mãe e ao bebê.
(COREN SP, 2010)
Segundo Cequeira (2005), o parto normal tem ocorrido de maneira oposta à sua
normalidade e naturalidade, ou seja, muitos procedimentos desnecessários estão sendo
utilizado e de forma rotineira, como: a episiotomia, a administração de medicações para alivio
da dor, a tricotomia, a lavagem intestinal, a suspensão da alimentação, a proibição da presença
de um acompanhante, dentre outros. Entretanto esses procedimentos só causam sofrimento,
dor e aumento do risco de complicações à mãe e ao bebê, sendo também um dos motivos que
levam muitas mulheres a terem medo do parto normal.
As medidas como lavagem intestinal, raspagem dos pêlos pubianos são práticas
consideradas pela OMS ineficazes e devem ser eliminadas. A restrição de alimentos e ingesta
hídrica durante o trabalho de parto são práticas utilizadas pelas instituições hospitalares de
forma inapropriada. (FIALHO, 2008; ORGANIZAÇÃO MUDIAL DE SAÚDE, 1996)
No que se referente aos fatores culturais, Faúndes e Cecatti (1991) relatam que há o
conceito popular de que o parto via canal vaginal é mais arriscado para o feto do que uma
cesárea. Muitas mulheres, ao terem um mal resultado neonatal, atribuem a culpa ao fato do
médico não ter decidido realizar uma cesárea, ao invés de um parto vaginal. Diferentemente
se ocorre uma morte após procedimento cesariano, a causa da morte nunca estará associada ao
tipo de parto, e que ocorreu embora a “sábia” decisão do médico obstetra em realizar tal
procedimento. Essa crença popular torna-se também um fator importante na decisão do
obstetra quanto ao tipo de parto que ele realizará. Torna-se mais fácil um médico ser
incriminado por negligencia em realizar um parto vaginal do que por um procedimento
cesariano.
Em relação aos fatores médicos, diversos são os motivos que o leva a optar pela
realização da cesárea. Faúndes e Cecatti (1991) acreditam que optar por uma intervenção
programada, não tomará mais que uma hora do tempo do médico obstetra. Se tonaria muito
mais trabalhoso a realização de um parto vaginal, visto que esse poderia ocorrer a qualquer
hora do dia, e qualquer dia da semana, o que ocuparia um período maior e imprevisível de seu
tempo.
A incerteza quanto à possibilidade de complicações durante o trabalho de parto e
parto, somados a falta de um bom treinamento adequado obstétrico, pode ter uma influência
importante na decisão de intervir. A consequente falta de segurança do médico em sua
habilidade, explica por que em muitos hospitais somente os trabalhos de partos mais fáceis e
31
mais rápidos permitem-se evoluir para um parto vaginal. Explica também por que uma
distócia mínima, seja ela real ou imaginária, resulta automaticamente na decisão de se realizar
uma cesárea. (FAÚNDES; CECATTI, 1991) Os mesmos autores também referem que a
redução dos procedimentos interventivos e a substituição da cesariana por um parto normal
intervencionista não levará, por si, só à humanização do parto, haja vista que esse processo
depende, também, da mudança de outros paradigmas.
A medicalização do parto implantou na sociedade a idéia de um processo patológico.
Estudos realizados demonstram que o uso abusivo dessa prática, somado as intervenções de
cesarianas sem justificativa, têm causado o aumento dos índices de morbimortalidade materna
e neonatal. (CASTRO; CLAPIS, 2005)
Segundo Morais (2010), o enfoque no processo de doença, é o fator que dificulta o
abandono dos padrões contemporâneos de assistência ao parto, exercidos pelos profissionais
de saúde e adotados pela grande maioria da população. O autor ainda refere que para mudar a
forma de auxiliar o parto, faz-se necessário, antes, transformar as organizações de formação
em saúde vigentes. A reconstrução dos saberes e práticas de ambos os lados, profissionais e
sociedade, permitiria a implantação do “novo”, resgatando os fenômenos que envolviam o
parto no passado.
Para a reconstrução dos saberes acerca do nascimento, faz-se necessário lembrar-nos
da complexidade desses conhecimentos, e da dinamicidade da sociedade em diversificadas
épocas da história, resgatando os contextos que se inseriam na cultural e no relacionamento
social. (MORAIS, 2010)
Dentre os direitos que a parturiente possui, porém desconhece, é de ter um ambiente
favorável para ter o filho, ou seja, um ambiente calmo, com luz suave e cercada de pessoas
dedicadas ao nascimento; tomar líquido e se alimentar conforme o desejo durante o trabalho
de parto; ser informada sobre os procedimentos adotados e participar das decisões; não
receber raspagem dos pelos e, ou lavagem intestinal; caminhar livremente e assumir a postura
que preferir. É importante ressaltar que os procedimentos de rotina não têm comprovação
científica. (FIALHO, 2008; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
Acreditamos que o profissional enfermeiro deve refletir sobre a humanização da
assistência a saúde, e como eles percebem a realização de seu cuidado. Cremos que uma
assistência humanizada dentre os muitos benefícios, pode inibir o mal-estar durante o parto e
reduzir os riscos para a mulher e para o bebê. Então devemos primeiramente entender como
seria realizar uma assistência humanizada no processo de parir. Eles têm a oportunidade de
estar ao lado da parturiente, confortando, colocando seu conhecimento e serviço ao bem-estar
32
da mulher, parceiro e recém-nascido. Então vemos a humanização da assistência,
primeiramente como uma mudança na compreensão do parto como experiência pelo
profissional enfermeiro.
3.2.1 A Dor e os métodos de alívio não farmacológicos
Segundo Balaskas (2008) a dor sentida no parto acompanha a mulher desde os
primórdios da história humana. Essa dor é sentida pelas mulheres principalmente no ápice das
contrações. A autora acredita que uma das principais causas para o surgimento de dores
desnecessárias é a parturiente assumir a posição deitada.
Essa dor também pode estar associada com um ambiente impróprio para o parto, ou
seja, um ambiente que não forneça a parturiente privacidade e acolhimento necessários para
que o processo de parto ocorra com maior facilidade. O ambiente é um fator influente porque
a secreção do hormônio endorfina, hormônio analgésico natural, é inibido quando a mulher
não se sente segura, relaxada, desinibida e livre para tomar as decisões por si própria.
(BALASKAS, 2008)
A dor do parto é diferente dos outros tipos de dor. É uma dor intermitente, vem fraca
e curta no começo da contração e vai aumentando gradualmente, até atingir o seu máximo,
quando começa a diminuir e desaparece totalmente. Nos intervalos das contrações a dor cessa,
e nesse intervalo, é bom relaxar, respirar profundamente, às vezes até dormir. (DUARTE,
2011)
Segundo Largura (2000), a dor do parto é uma realidade que não podemos negar.
Sendo que a dor está presente diariamente na vida de milhares de pessoas. Alguns fatores
existentes podem aumentar a sensação de dor, que são os fatores psicológicos, biológicos,
socioculturais e econômicos. Em algumas mulheres às vezes a dor aumenta no trabalho de
parto, principalmente para as primigestas, pois nunca vivenciaram o desafio de um parto. De
acordo com Duarte (2011) a intensidade da dor do parto varia de uma gestação para outra, de
uma mulher para outra, dependendo dos fatores biopsicoemocionais de cada gestante. Embora
o modo de lidar com a dor do parto não se diferenciem muito de outras dores comuns,
sabemos que os recursos utilizados para a obtenção do alívio dessa dor e a resposta da
parturiente, são amplamente diferentes, pelo fato, de cada mulher possuir desejos e formas
33
difusas de lidar com a situação. Portanto a forma da assistência de enfermagem oferecida à
essa mulher deve ser realizada individualmente e não rotineiramente.
De acordo com Gayeski e Brüggemann (2010), devem ser desenvolvidas ações para
diminuir o nível de estresse e ansiedade da mulher durante o trabalho de parto, pois mesmo
com a utilização de vários analgésicos, sozinhos eles não podem gerir a dor.
A dor na primeira fase clínica do parto, fase de dilatação é mal localizada e não se
apresenta em apenas uma região. Na segunda fase, no período expulsivo, a dor tem um
componente somático, tem mais intensidade e é bem localizada e contínua. A ansiedade
gerada no trabalho de parto, para algumas parturientes pode fazer com que a experiência desse
momento seja traumática. (SANTANA et al., 2010)
Em nossa busca por um parto humanizado, não poderíamos esquecer-nos de abordar
as formas para o alívio da dor, na assistência de enfermagem voltada para humanização do
nascimento e ao parto domiciliar. Os métodos não farmacológicos podem reduzir essa
percepção dolorosa no alívio da dor de parto, sendo considerados também como não
invasivos.
Entende-se que o mais importante é a abordagem da assistência de enfermagem para
fornecer informações sobre as formas não farmacológicas para alívio da dor, que deve ser
iniciada durante o pré-natal (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
Para a OMS é essencial que métodos não farmacológicos de alívio da dor sejam
utilizados na assistência à parturiente, por serem mais seguros e menos invasivos. As ações de
saúde permitem condições seguras e voltadas para a humanização do parto. Algumas dessas
técnicas podem ser utilizadas por profissionais da saúde como uma forma humanizada de
apoiar e ajudar na assistência para as mulheres durante a experiência do parto. (MAZONI;
FARIA: MANFREDO, 2009)
Embora a eficácia de algumas técnicas não apresente ainda comprovação de eficácia,
existem evidências confiáveis de segurança e efetividade de várias técnicas que podem ser
utilizadas durante o trabalho de parto, que aumentam o conforto da parturiente. (ENKIN et al.,
2005)
Segundo Enkin et al. (2005) a solução para obter o alívio da dor é reduzir ou evitar
seus estímulos ocasionadores. No trabalho de parto as contrações uterinas ou a pressão
exercida pelo feto contra o colo uterino, pelve e vagina, ocasionam-se em estímulos
dolorosos. Esses estímulos dolorosos não podem ser evitados, mas, de acordo com a teoria,
algumas técnicas podem reduzí-los.
34
As mulheres encorajadas a escolherem posições que as deixe mais confortáveis,
percebem que em algumas posições sentem menos dor. Hoje em dia deixa as mulheres
quando em trabalho de parto permanecem em posições restritas ao leito devido a algumas
situações como monitorização fetal, fluidoterapia e medicações, ocasionando uma falta de
movimentação. De acordo com Enkin et al. (2005) as mulheres quando incentivadas a
permanecerem em posições que lhes ajudem a ficarem confortáveis, adotam posturas
ortostáticas, de pé, caminhando e sentada. Quando a parturiente muda de posição altera as
relações entre a gravidade, com as contrações uterinas, com o feto e região pélvica. Podendo
estimular a evolução do trabalho de parto e o alívio da dor.
O mau posicionamento da cabeça do feto pode causar forte dor lombar na gestante
durante o trabalho de parto (ENKIN et al., 2005). Segundo Mamede et. al. (2007) a
deambulação melhora a contratilidade uterina, o fluxo sanguíneo que chega ao feto através da
placenta é mais abundante, o trabalho de parto torna-se mais curto e menos doloroso.
Contudo, a deambulação ainda diminuiu o uso de métodos farmacológicos para alívio da dor.
Segundo Davim et al. (2008), o uso da bola suíça também proporciona mais conforto
entre e durante as contrações, ajudando na descida do bebê para o canal de parto, no alívio da
dor e no processo fisiológico do nascimento.
Outro método é a contrapressão, que consiste na aplicação de uma força contínua em
um local da região lombar, durante as contrações para alívio da dor, podendo-se utilizar o
punho, a base da palma da mão ou um objeto bem firme. (ENKIN et al., 2005)
De acordo com Enkin et al. (2005), algumas respostas fisiológicas produzidas pelo
calor e frio superficial podem causar alívio da dor. A aplicação de compressas quentes na
parte inferior do abdome e no períneo, de um cobertor aquecido em todo o corpo ou de
compressas de gelo na região lombar no ânus ou no períneo podem aliviar a dor de algumas
mulheres no trabalho de parto.
A água possui características benéficas e analgésicas. O uso da água varia muito
podendo ser usada de várias formas como duchas, banheiras, hidromassagem e em piscinas
para realizar o parto na água. A imersão em água trata-se de uma técnica segura, não invasiva
de estimulação cutânea de calor ou frio superficial que associada à intensidade e tempo de
aplicação, produz ação local, regional e geral, é um tratamento complementar usado na
assistência às parturientes. (MAZONI; FARIA; MANFREDO, 2009)
Alguns autores enfatizam que o efeito da imersão na água ajuda na diminuição da
pressão arterial, aumento da dilatação do colo uterino, no alívio da dor no trabalho de parto,
menor traumatismo no períneo, diminuição de edemas, diminuição da aplicação de analgesias
35
e proporciona ao bebê, (quando nascido na água) um nascimento suave. (ENKIN et al., 2005;
MAZONI; FARIA; MANFREDO, 2009) O banho de imersão possibilita também que a
parturiente e seu companheiro/acompanhante participem ativamente do parto.
Segundo Enning (2000) durante as contrações na fase da dilatação, a água morna
relaxa diminuindo a tensão e a dor, pois o colo do útero, assoalho pélvico e paredes vaginais
tornam-se mais elásticos. “A própria mulher libera analgésicos cerebrais (endorfinas) que
inibe as catecolaminas, substâncias mensageiras do estresse, como a adrenalina” (ENNING,
2000, p.15). Assim não se desenvolve uma respiração de estresse, no qual utilizaria mais
oxigênio durante as contrações.
O toque físico e massagens, transmitem mensagens para alívio da dor, dependendo
da maneira como é realizado. Porém o objetivo da massagem no trabalho de parto é
possibilitar as mulheres o relaxamento e o alívio da dor. (ENKIN et al., 2005)
Os impulsos nervosos que são gerados pelo contato da massagem em determinadas
regiões do corpo vão concorrer com as mensagens de dor que o cérebro recebe, diminuindo as
percepções de dor. São impulsos nervosos distintos, mas, que competem pelos mesmos
receptores do cérebro. (DUARTE, 2011) Segundo Enkin et al. (2005) a massagem é realizada
em forma de golpes leves mais firmes, fazendo pressão em forma circular e continua. Pode se
usar as pontas dos dedos, as mãos ou vários aparelhos que, vibram, rolam ou pressionam. As
várias formas de massagem que existem estimulam diferentes receptores sensoriais e quando
são interrompidas de repente, fazem aumentar a dor. O uso da massagem com variação de
localização e modo de massagear pode deferir os efeitos do alivio da dor. Segundo Duarte
(2011) todas as regiões que forem massageadas tem o seu valor. As massagens podem ser
realizadas nos pés e mãos, funciona como uma técnica de contrapressão. Essa técnica pode ser
feita nas costas, durante as contrações. As massagens para ajudar a relaxar durante as
contrações são aplicadas nos ombros e pescoço. A massagem leve na barriga, braços e pernas
oferece a sensação de apoio físico e afetivo, podendo ser realizadas pelo companheiro.
A parte do corpo a qual a maioria das parturientes costuma reclamar de dor durante o
trabalho de parto é a região lombar. Para alívio dessa dor, é realizado massagens com
massageadores, na posição mais adequada e relaxante para a mulher. Podendo ser realizadas
no chuveiro, com água quente, corrente caindo sobre a região lombar ou onde se localiza a
dor. (TEIXEIRA, 2003)
A acupuntura incide na inserção de agulhas em locais estrategicamente posicionados,
variando a escolha dos pontos, do tamanho da agulha e do método de inserção. São mais de
365 pontos, segundo Enkin et al. (2005). É associado geralmente a uma corrente elétrica, que
36
parece ter efeitos analgésicos. Pode ser usada para alívio da tensão, indução e aceleração do
parto. (DUARTE, 2011)
A acupressão é a aplicação de pressão ou de massagem profunda nos pontos
relacionados à acupuntura, pode ser feito com o polegar, ponta do dedo ou com a palma da
mão. Podendo ser aplicada pelo companheiro/acompanhante, proporcionando um conforto a
mulher no trabalho de parto. (ENKIN et al., 2005)
A estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS) é um método não invasivo e de
fácil utilização, que pode ser interrompido rapidamente caso seja necessário. A unidade TENS
é uma caixa portátil que contém um gerador de impulsos elétricos á bateria. Consiste em uma
corrente elétrica de baixa voltagem que é transmitida usando eletrodos na superfície para a
pele, resultando numa sensação de formigamento. Pode variar frequência de pulso, a
intensidade e os padrões de estimulação, é capaz de aumentar, diminuir ou pulsar as sensações
como a mulher em trabalho de parto desejar. (ENKIN et al., 2005)
A aromaterapia, com o uso de óleos essenciais como camomila, rosa, esclaréia e
lavanda, pode ser aplicada de várias formas, como óleos durante a massagem, como óleo no
banho ou escalda pés com água quente, diretamente sobre uma vela ou uma gota na palma da
mão ou na fronte da mulher em trabalho de parto, ou sendo aplicado como uma compressa
facial quente. (ENKIN et al., 2005) A aromaterapia também possui efeitos que ajudam na
redução de estresse, ansiedade, medo e tensão entre profissionais e acompanhantes que
acompanham o trabalho de parto. (ENKIN et al., 2005; GAYESKI; BRÜGGEMANN, 2010)
Outro método que ajuda no trabalho de parto e parto é a musicoterapia podendo
reduzir o estresse e potencializar outras medidas de alívio da dor como massagens, respiração,
entre outras. A música cria um ambiente agradável e relaxante para as mulheres. (ENKIN et
al., 2005) Segundo Duarte (2011) a música pode ser fonte de perturbação e para outras ajuda a
relaxar. O que realmente é importante é que cada mulher escolha se quer ou não a música,
quais devem ser as músicas e quando devem ser tocadas no trabalho de parto.
De acordo com Tabarro et al. (2009), a música é mais eficaz nos intervalos das
contrações, levando a uma evolução mais amena e eutócica do trabalho de parto, elevando na
mulher o limite de tolerância à dor e ao desconforto.
As técnicas de relaxamento têm grande importância em não permitir que as mulheres
e seus corpos lutem contra as dores provocadas pela dilatação do colo uterino. Esse período
provoca tensão que, por fim, pode diminuir o trabalho de parto e acaba provocando mais dor.
O relaxamento permite que o útero faça o trabalho, que é fisiológico. Relaxar deixa a mulher
se desligar das situações externas, permitindo-a interagir com aquele momento tão importante.
37
A meditação quando realizada durante a gravidez promove o relaxamento na hora do trabalho
de parto. (DUARTE, 2011)
O apoio, que pode ser obtido do companheiro, da mãe, da amiga, da equipe de
enfermagem ou uma combinação dessas pessoas, é importante para a mulher para não sentirse solitária nesse momento tão significativo e intenso. Receber carinho, informações,
massagens, tudo isso é importante e de grande ajuda no processo do parto. A confiança que a
mulher adquire nas pessoas que estão nessa trajetória com ela, que perceba uma harmonia
entre todas as pessoas e sua intenção de estar auxiliando no sucesso do seu trabalho de parto.
Deve haver paciência, compreensão, competência e, contudo, respeito com os ritmos e tempos
da mulher. (DUARTE, 2011)
Permitir o silêncio, a privacidade e ambiente discreto são fundamentais. A mulher
geralmente não se sente confortável ao falar durante as contrações, ao ouvir conversas
paralelas ou vozes de comando, e muito menos ter pessoas que entram e sai o tempo todo da
sala onde estão. (DUARTE, 2011)
A maioria das mulheres prefere um ambiente na penumbra ou na meia luz, é mais
favorável ao relaxamento. Você pode fechar cortinas, usar abajures, lâmpadas mais fracas e
outras formas que mantenha esse ambiente mais escuro. (DUARTE, 2011)
Para muitas mulheres a visualização tem um papel muito importante e permite o
relaxamento e diminui as preocupações e medo. A mulher pode visualizar seu colo se abrindo,
o bebê descendo pela sua bacia, o bebê saindo de dentro dela. (DUARTE, 2011)
3.2.2 Tipos de parto e posição de parir
A OMS classifica a liberdade de movimentação e de posição da parturiente durante o
trabalho de parto como uma atividade benéfica e que deve ser encorajada. Estudos têm
demonstrado menor uso de analgesia e menor uso de medicações para aceleração do trabalho
de parto em posições verticalizadas quando comparada à posição supina. Do ponto de vista da
fisiologia, as posições verticalizadas apresentam inúmeras vantagens para a evolução do
trabalho de parto e parto, devido menor compressão dos vasos sanguíneos com melhor
vascularização placentária e oxigenação fetal, ampliação do diâmetro do canal de parto, maior
eficácia das contrações uterinas, e participação mais ativa da parturiente. (BRASIL, 2008)
38
3.2.2.1 Parto vaginal
Definimos parto normal como o de início espontâneo, baixo risco no início do
trabalho de parto, permanecendo assim em todo o processo de parir, até o nascimento. O bebê
nasce espontaneamente, em posição cefálica de vértice, entre 37 e 42 semanas completas de
gestação (OMS, 1996). No qual compreende quatro períodos clínicos do parto (1º período ou
fase de dilatação, 2º período ou fase de expulsão, 3º período ou secundamento e 4º período ou
período de Greenberg). (REZENDE, 2003)
Posição de cócoras
Segundo Balaskas (2008) a posição de cócoras é a posição mais fisiológica para o
trabalho de parto e parto. A pelve da mulher alcança os maiores índices de aberturas, a
gravidade que o feto exerce sobre a pelve e as contrações têm um maior aumento de
intensidade, proporcionando um maior diâmetro da pelve e facilitando a descida do bebê. A
mulher pode ficar de cócoras nas contrações ou entre elas.
Segundo Souza (2005) o obstetra Moysés Paciornik, concluiu que acocorar-se, afeta
diretamente os músculos perineais. De acordo com o obstetra a posição de cócoras é a mais
adequada para o parto, pois nessa posição o canal vaginal alarga-se e não é comprimido pelo
peso da bexiga e pela pressão do reto, como acontece na posição dorsal. O obstetra concluiu
que acocorar-se, afeta diretamente os músculos perineais. Paciornik foi quem produziu a
primeira cadeira de parto de cócoras.
A posição de cócoras deixa o cóccix livre e vai para trás, facilitando o nascimento. A
mulher pode ficar de cócoras sozinha, pode segurar-se numa cadeira, na cama ou na mão do
acompanhante. A mulher pode também ficar sentada num lugar baixo e ser apoiada por trás
pelo companheiro, mãe, amiga, que vai segurá-la pelas axilas. Independente da posição que
será escolhida para realizar o parto, a posição de cócoras ajuda no progresso geral do parto.
(TEIXEIRA, 2003)
Posição litotômica
A posição de litotomia que é a posição de decúbito dorsal com pernas elevadas ou
em perneiras foi progressivamente incorporada na assistência aos partos, por permitir melhor
39
visualização do períneo e realização de manobras obstétricas, quando necessárias. (BRASIL,
2008) Posição usada com muita frequência desde o século XIX, essa posição facilita mais a
vida do médico do que da mulher, pois contraria a lei da gravidade, fazendo que a mulher
exerça uma força de expulsão muito maior. (SANCHEZ, 1998) Conforme o estudo de D`Orsi
et al. (2005) essa posição é bastante utilizadas pelas instituições hospitalares brasileiras.
Segundo Enkin (2005) a posição dorsal pode afetar adversamente tanto as condições do feto
quanto ao do processo do trabalho de parto, por interferir no suprimento sanguíneo uterino e
comprometer a eficiência das contrações. Nessa posição a intensidade das contrações diminui,
e muitas vezes a frequência das contrações aumenta, devido à posição dorsal.
Posição semi-sentada
A mulher se apoia em um encosto entre 30 e 45 graus em relação à cama com as
pernas apoiadas nas perneiras. Essa posição ajuda a facilitar a expulsão do bebê, mas,
permanece a compressão sobre os vasos sanguíneos da mãe. (SANCHEZ, 1998)
Posição genupeitoral
Conforme Balaskas (2008) essa posição ocorre de maneira intuitiva. É indicada
quando o trabalho de parto e o segundo período estão ocorrendo muito rápido, essa posição
ajuda a mulher a ter controle e o bebê vai progredir um pouco mais devagar. Pode ser
indicado também quando o bebê estiver com uma apresentação posterior, por diminuir a
pressão nas costas e é possível a movimentação mais suave da bacia ajudando no encaixe da
cabeça fetal à medida que o bebê desce na pelve.
Posição de lado
Nessa posição o sacro não possui nenhuma limitação, mas não se pode dispor de
ajuda da força da gravidade, sendo que está posição não deve ser usada quando o período
expulsivo está sendo longo. (BALASKAS, 2008) Segundo Sanchez (1998) a mulher fica
deitada de lado esquerdo, mantendo a perna esquerda reta na cama e a direita dobrada
(posição de sims). Essa posição ajuda na circulação fetal, por não comprimir a veia cava.
40
Parto na água
Deve ser realizada em uma banheira, de pelo menos, 1,5 metros de diâmetro, e com a
água em torno de 35ºC. Esse tipo de parto favorece a participação do pai no processo do
nascimento. (SANCHEZ, 1998) Segundo Enning (2000) permite um trabalho de parto mais
tranquilo tanto pra mãe quanto para o bebê, proporciona a diminuição da dor, pois deixa o
bebê passar mais facilmente através do canal da bacia e a água possui poder relaxante.
3.2.2.2 Parto cesárea
A operação cesariana traz benefícios às gestantes e recém-nascidos quando sua
indicação é bem determinada, o que hoje em dia sabemos que não ocorre exatamente assim.
Estas altas taxas de cesariana preocupam pelo uso indiscriminado desse procedimento, que
pode trazer riscos para mães e recém-nascidos. (PÁDUA et al., 2010)
Em relação à interferência direta da cicatriz cirúrgica no porvir obstétrico, julgamos
importante ressaltar que a presença desta é responsável direta por alta prevalência de
patologias de grande potencial hemorrágico, como a placenta prévia e o acretismo
placentário, responsáveis em nosso meio por um grande número de graves
complicações, que muitas vezes culminam no óbito materno. (SASS; SOUZA;
CAMANO, 1997, p.32)
O termo cesariana refere à operação para a retirada do feto através de incisões na
parede abdominal até chegar à parede uterina. (ENKIN et al., 2005) Conforme Brasil (2008) a
cesariana é realizada quando o trabalho de parto está contra-indicado ou quando não irá se
conseguir realizar um parto vaginal, com segurança, num espaço de tempo necessário para
prevenir o desenvolvimento de morbidade fetal e/ou materna maior do que aquela esperada
após o parto vaginal. No período de trinta anos, entre 1970 e 2000, verificou-se um grande
aumento das taxas de cesariana em todo o mundo.
As complicações maternas na cesariana podem variar de um episódio de febre ou
uma perda maior de volume de sangue, até como lacerações acidentais de vísceras, infecções
puerperais e acidentes anestésicos. As complicações nos recém-nascidos que podem ocorrer
por causa das cesarianas estão associadas a maior frequência de prematuridade e de síndrome
de angústia respiratória. (BRASIL, 2008)
41
3.2.3 Atenção humanizada ao recém-nascido
O contato precoce pele a pele é uma prática considerada reconhecidamente pela
OMS como benéfica e que deve ser estimulada pelos profissionais de saúde. O contato pele a
pele, estimula a mãe e o bebê a se conhecerem. Após o parto, os bebês são colonizados por
microorganismos; é melhor que entrem em contato com a flora cutânea de suas mães, e não
sejam colonizados por bactérias de prestadores de serviços ou de um hospital.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996) Segundo Brasil (2008) o início da
amamentação na primeira hora de vida do bebê também é uma prática benéfica, com
repercussões positivas para a saúde da mulher e da criança. É um período excelente para
iniciar a amamentação já que o bebê geralmente está vigilante, e com reflexo de sucção ativo,
estimulando precocemente a produção de ocitocina e prolactina.
Segundo Brasil (2011) o contato pele a pele durante a primeira hora de vida do bebê
promove um “comportamento pré-alimentar” organizado, onde o recém-nascido procura a
mama e abocanha o mamilo, iniciando os movimentos de busca e sucção espontâneos.
Considerando que quanto mais cedo for a primeira mamada, maior será a produção do leite,
que é determinada pela frequência que o bebê suga e esvazia a mama. O contato pele a pele
também ajuda na regulação térmica, sendo um método seguro e efetivo para a manutenção da
temperatura do RN, sendo tão efetivo quanto à incubadora. Outros benefícios desse contato
com a mãe é uma maior estabilidade cardiorrespiratória nos recém-nascido pré-termo tardio e
menor duração do choro, comparado com os recém-nascidos que não tiveram este contato
pele a pele.
As contribuições da primeira mamada precoce:
É a melhor prevenção contra as dificuldades de expulsão da placenta. As contrações
do útero e a expulsão estão intimamente ligados a um hormônio secretado pela póshipófise chamado de ocitocina, que tem sua secreção descontinuada. A secreção do
leite é favorecida quando a mãe passa a ver seu filho, tocá-lo e quando o bebê
começa a mamar;
A primeira mamada precoce tem a garantia da absorção imediata e completa do
colostro, substância que antecede o leite, rica em anticorpos e substâncias antiinfecciosas diversas. O colostro, para o recém-nascido, é a única fonte de
imunoglobulinas A. (ODENT apud D’ÁVILA; KOETTKER, 2000 p.65-66)
42
3.2.4 A importância do acompanhante
A questão do envolvimento do acompanhante no processo de parir vem sido
discutido muito, como uma presença indispensável e modificador da mudança do paradigma
em busca de uma assistência a um parto humanizado (STORTI, 2004). O Ministério da Saúde
ressalta a necessidade da parturiente de estar ao lado de um acompanhante de sua escolha e
confiança durante o trabalho de parto e parto (BRASIL, 2003).
Por inúmeras vezes nós profissionais da saúde separamos a mulher de sua família e
amigos, do companheiro e a mãe do seu próprio filho, argumentando que isso é para
sua segurança e de seu bem. Mas esses argumentos não se sustentam
cientificamente, ao contrário essas separações são comprovadamente prejudiciais e
sua manutenção é inaceitável (DINIZ apud STORTI, 2004, p.14).
Alguns aspectos do ambiente de parto no hospital podem causar estresse na mulher
em trabalho de parto. O sentimento de isolamento da mulher pode aumentar com o entra e sai
de pessoas desconhecidas, incluindo obstetras, obstetrizes, enfermeiras e estudantes. As
mulheres desejam um acompanhante que as apoie e esteja sempre disponível no trabalho de
parto, juntamente com a atenção do profissional de saúde. (ENKIN et al., 2005)
A presença de um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto é
garantido por lei. (ANEXO A)
3.2.5 A enfermeira na assistência ao parto normal e domiciliar
A Enfermeira Obstétrica tem seu exercício profissional regulamentado pela Lei n.
7.498/86, o Decreto-Lei 94.406/87. Em relação à atenção obstétrica, a enfermeira desempenha
a prestação de assistência de enfermagem à gestante, parturiente, puérpera e ao recémnascido; o acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; execução e assistência
obstétrica em situação de emergência e execução do parto de baixo risco.
A Portaria MS/GM 2:815, de 29 de maio de 1998 inclui na tabela do Sistema de
Informações Hospitalares do SUS o procedimento “parto normal sem distócia realizado pela
enfermeira obstetra” e tem como finalidade principal reconhecer a assistência prestada por
esta categoria profissional, no contexto de humanização do parto.
43
O Conselho Federal de Enfermagem também busca regulamentar e normatizar a
assistência oferecida pelas enfermeiras obstetras. De acordo com a Legislação sobre o
exercício de Enfermagem, o Conselho Regional de Enfermagem (COREN SC, 2003, p.32)
confere que:
Art. 9º - Às profissionais titulares de diploma ou certificados de obstetriz ou de
Enfermeira Obstetra, além das atividades de que trata o artigo precedente, compete:
I – prestação de assistência à parturiente e ao parto normal;
II – identificação das distócias obstétricas e tomada de providências até a chegada do
médico;
III – realização de episiotomia e episiorrafia, com aplicação de anestesia local,
quando necessária.
Segundo Granemann et al. (2008), a enfermeira obstetra, centrada, por formação, no
cuidado e no processo natural do nascimento, torna-se a profissional mais qualificada para
acompanhar a mulher durante esse processo de transição com serenidade, calma, carinho,
cuidado, sem intervenções desnecessárias e com conhecimento científico suficiente para que
este processo flua de modo natural e fisiológico. De acordo com a OMS, a enfermeiraparteira parece ser a profissional mais adequada e com melhor custo-efetividade para ser
responsável pela assistência ao processo de nascimento normal, incluindo avaliação de riscos
e o reconhecimento de complicações. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
A insatisfação das mulheres com a assistência obstétrica hospitalar e suas
intervenções desnecessárias têm levado um crescente número de mulheres a optar por dar à
luz em casa, buscando uma assistência mais humanizada, natural e acolhedora. Alguns
profissionais, como médicos e enfermeiras obstetras adeptos de este movimento, vêm
oferecendo esse tipo de serviço. (GRANEMANN et al., 2008)
Nesta categoria, os resultados da pesquisa realizada por Granemann et al. (2008)
demonstram que há uma desinformação inicial quanto ao trabalho da enfermeira obstetra;
mas, na busca por uma humanização do processo de nascimento, as mulheres encontraram
nessa profissional o amparo e a segurança que procuravam. A escolha pelo parto domiciliar é
consciente, pois estas mulheres têm um grau de instrução maior e valorizam seus potenciais,
acreditam na fisiologia do parto e buscam trazer seus filhos ao mundo de uma maneira
natural.
A enfermeira obstetra é um dos profissionais mais apropriados para o
acompanhamento da gestação e de partos normais de baixo risco. Estudos realizados na
Inglaterra e nos Estados Unidos demonstraram que os partos assistidos pelas enfermeiras
obstetras apresentam menores índices de cesarianas, uso de fórceps, indução do parto,
44
controle eletrônico do foco e menor frequência do uso de medicação, o que se reflete no
nascimento de bebês apresentando melhores índices de Apgar. (CASTRO; CLAPIS, 2005)
A enfermeira obstetra é vista como uma facilitadora, que vai amparar e assegurar que
tudo ocorra dentro da normalidade. A mulher é dona do parto e da casa. A família está
presente e atuante, e o profissional, assistindo, auxiliando e guiando. O processo de
nascimento não é doença e seu lugar não é necessariamente o hospital. Somente quando o
parto não está transcorrendo conforme sua naturalidade ou a gravidez é de risco, deva
acontecer no hospital. (GRANEMANN et al., 2008)
Hoje, no Brasil, a enfermeira obstetra vem crescendo como profissional autônoma no
atendimento a partos domiciliares, por essa ser uma atividade legal e respaldada pela
legislação brasileira. Dessa forma, a enfermagem vem conquistando o espaço do atendimento
ao parto no domicílio, além de seu papel hospitalar, na busca pelo cuidado integral,
valorizando a mulher como protagonista do processo de nascimento. (PETER et al., 2005)
45
4 REFERENCIAL TEÓRICO
Com a crescente utilização da tecnologia e da incorporação da assistência hospitalar,
as experiências e os sentimentos das famílias vêm sendo esquecidos na à atenção ao parto. Os
estudos feitos pelos profissionais da saúde não têm dado a devida importância à cultura dos
povos e, principalmente, à vivência das mulheres durante o processo de parir.
(MONTECELLI, 1994)
Para desenvolver este estudo, sentimos a necessidade de uma estrutura conceitual
que orientasse e direcionasse o cuidado para uma assistência de enfermagem respeitosa e
eficaz.
O referencial teórico atua como um guia que norteia a prática assistencial e assim
acreditamos que esta teoria servirá como referência sobre o que é importante observar,
relacionar, analisar e planejar nas situações de interação com a cliente, além de proporcionar
uma organização para reflexão e interpretação do que está sendo vivenciado (D`ÁVILLA;
KOETTKER, 2000).
Deste modo, o referencial adotado neste estudo está diretamente relacionado com o
processo de parir, mais designadamente com o local escolhido para o parto. Neste caso,
busca-se atender e considerar a cultura, crenças e valores da mulher, do recém-nascido e da
família, e para isso adotamos como base a Teoria da Diversidade e Universalidade do
Cuidado Cultural da Dra. Madeleine Leininger.
4.1 BREVE BIOGRAFIA DE MADELEINE LEININGER
Madeleine Leininger nasceu nos Estados Unidos da América no ano de 1925 e se
graduou em Enfermagem no ano de 1948 em Denver, Colorado. Tornou-se bacharel em
Ciências em 1950 e em 1965 concluiu o curso de Doutorado em Antropologia (sendo primeira
enfermeira a se doutorar em Antropologia).
Durante a metade dos anos 50, Leininger trabalhou em um lar para orientações de
crianças e pais, na especialidade de Enfermagem Clinica. No decorrer da realização desse
trabalho, percebeu que as crianças apresentavam algumas diferenças comportamentais que se
deviam à diferença cultural e que devido a isso, não possuía conhecimento suficiente para
46
compreendê-las e desenvolver práticas de cuidados de Enfermagem que fossem eficientes
(GEORGE, 1993).
Nos anos 60 Leininger começou a relacionar a enfermagem e a antropologia, e o que
as enfermeiras poderiam aprender sobre saúde e doença e cuidado humanizado, se elas
conseguissem compreender as semelhanças e diferenças sobre as culturas. (GEORGE, 1993)
Em 1966, na Universidade do Colorado, Madeleine Leininger ofereceu o primeiro
curso em enfermagem transcultural. Em 1978 publicou seu primeiro livro “Transcultural
Nursing”. Em 1979 definiu etnoenfermagem como “o estudo de crenças, valores e práticas de
cuidados de Enfermagem, tal como percebidas e conhecidas cognitivamente por uma
determinada cultura, através de sua experiência direta, crenças e sistema de valores”, de
acordo com George, 1993. Apresentou seu trabalho como teoria em 1985 e participou, em
Florianópolis, do primeiro Simpósio Brasileiro de Teorias de Enfermagem. (GEORGE, 1993)
O Modelo Sol Nascente (Sunrise) foi desenvolvido para demonstrar as inter-relações
dos conceitos da Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Transcultural,
proporcionando quatro níveis de focalização, que vão desde a estrutura cultural e social,
passando por indivíduos, famílias, grupos e instituições, em diversos sistemas de saúde, até
decisões e ações de cuidado de enfermagem. Estas ações possuem uma base cultural, sendo
coerentes com as necessidades e valores dos clientes, e são elas: preservação, adaptação,
acomodação e repadronização cultural do cuidado. (GEORGE, 1993)
4.1.1 Pressupostos de Leininger
Os pressupostos são afirmações que explicam os conceitos, hipóteses, ou seja, são
afirmações que possuem uma lógica inter-relacionada que norteiam a obtenção de dados e a
análise dos mesmos. (GEORGE, 1993)
Leininger apresentou pressupostos que dão apoio à sua previsão de que culturas
diferentes percebem, conhecem e praticam cuidado de diferentes maneiras, ainda
que alguns elementos comuns existam, em relação ao cuidado, em todas as culturas
do mundo. (GEORGE, 1993, p.287)
Alguns pressupostos que julgamos importantes para o desenvolvimento deste
referencial teórico:
47
- Desde o surgimento da espécie humana, o cuidado tem sido essencial para o
crescimento, desenvolvimento e sobrevivência dos seres humanos, cuidado próprio, e outros
padrões de cuidado, existentes entre as outras culturas. (LEININGER, 1985)
- Os valores, crenças e práticas de cuidado cultural são influenciados pela visão de
mundo, linguagem, religião, contexto social, político, educacional, econômico, tecnológico,
etnohistórico e ambiental de cada cultura em particular. (LEININGER, 1985)
- O cuidado humanizado é universal, existindo diversos padrões de cuidado que
podem ser identificados, explicados e conhecidos entre as culturas. Sendo esta a característica
central, dominante e unificadora da enfermagem. (LEININGER, 1985)
- O cuidado sob uma perspectiva transcultural é essencial para desenvolver e
estabelecer a enfermagem como uma profissão universal. (LEININGER, 1985)
- O cuidado é a essência da enfermagem. Este é essencial para o bem estar, a saúde, a
cura, o crescimento, a sobrevivência e o enfrentamento das dificuldades ou da morte. Para
Leininger não existe cura sem cuidados, mas pode haver cuidado sem que seja para a cura.
(LEININGER, 1985)
- As culturas possuem práticas de cuidado de saúde que são as profissionais e as
populares e essas influenciam as práticas e os sistemas de enfermagem. (LEININGER, 1985)
- A enfermagem é uma profissão de cuidado transcultural, humanístico e uma
profissão cujo propósito maior é servir ao ser humano. Para ela o paradigma qualitativo
proporciona novas formas de saber e diferentes meios de descobrir as dimensões epistemo e
ontológicas do cuidado humano. (LEININGER, 1985)
- Todas as culturas desenvolvem ritos de cuidado. Porém estes não acontecem
igualmente em todas as culturas. Assim sendo, alguns rituais são mais significantes e
terapêuticos do que outros, mas todos têm propósitos ou funções específicas para as culturas.
(LEININGER, 1985)
- Durante o desenvolvimento da prática assistencial, enfermeiras e clientes (famílias,
grupos, comunidades) trabalham de maneira co-participantes para a obtenção de cuidados
culturalmente congruentes. (LEININGER, 1985)
- Os seres homens são seres culturais e capazes de sobreviver ao passar do tempo,
através de sua capacidade de prestar cuidado aos outros, de todas as idades, em vários
ambientes e de muitas maneiras. (GEORGE, 1993)
- O parto não é um processo apenas biológico, nem muito menos uma técnica de
retirada do bebê das entranhas da mulher, no qual só ela está envolvida, mas sim um
48
acontecimento sócio/cultural, envolvendo o companheiro, a família que passará a transformar
a saciedade com a chegada de um novo ser. (SANTOS, 2000)
- O contexto e a vivência social do casal têm influencia sobre o significado do
processo de parir, bem como sobre a posição que a mulher adotará para a parturição.
(SANTOS, 2000)
4.1.2 Conceitos
Ser Humano
Os homens são seres universalmente provedores de cuidados que sobrevivem numa
diversidade de culturas, por meio de sua capacidade de oferecer a universalidade do
cuidado, de inúmeras maneiras, de acordo com culturas, necessidades e cenários
diferentes. (GEORGE, 1993, p.291)
Neste estudo o ser humano corresponde a mulher que deu à luz a seu filho em âmbito
domiciliar. A mulher é vista como mulher-mãe implantada em uma sociedade que em algum
período da vida passou a exercer mais um papel, o de mãe, além do que já desempenhava
como cidadã, filha, mulher, esposa, trabalhadora etc. Durante o processo de parir, passa por
mudanças anátomo-fisiológicas e emocionais compreendidas culturalmente de maneiras
diferenciadas e que traz consigo inúmeras crenças e valores relacionados com a gravidez, o
parto, o puerpério e a amamentação.
Ambiente
Sociedade/ambiente não são termos definidos por Leininger, em seu lugar fala a
respeito da visão de mundo, estrutura social, e contexto ambiental. (GEORGE, 1993)
“Visão de mundo” é o modo pelo qual eles observam o mundo ou seu universo,
para formar uma imagem ou estado de valorização sobre suas vidas ou sobre o mundo que os
cercar. (GEORGE, 1993)
Estrutura social são padrões e aspectos de natureza dinâmica dos fatores
organizacionais e estruturais, inter-relacionados de uma cultura em particular, uma sociedade,
incluindo valores religiosos, familiares, políticos e legais, econômicos, tecnológicos e
49
culturais, o modo como agem e estão inter-relacionados, de forma a influenciar o
comportamento humano em diferentes contextos ambientais. (GEORGE, 1993)
Contexto ambiental: refere-se à totalidade de um evento, situação, ou experiência
particular que dá significado a expressões humanas, interpretações, e interações sociais em
determinado cenário físico, ecológico, sócio-político e/ou cultural. (LEININGER, 1985)
Nesse estudo será focado Ambiente como sendo a residência da parturiente. O local
domiciliar está embasado em práticas familiares, passadas de geração para geração que
influenciam na visão do cuidado adquirido.
Saúde
Estado de bem estar, culturalmente definido, avaliado, praticado e que reflete a
capacidade que os indivíduos (ou grupos) possuem para realizar suas atividades
cotidianas, de uma forma culturalmente satisfatória. (LEININGER, 1985, p.156)
Em nosso estudo a mulher é vista como “ser saudável”, pois ela precisou estar em
boas condições biopsicoemocionais, para enfrentar o processo de parir de uma forma
culturalmente satisfatória, durante a assistência prestada no domicílio.
.
Enfermagem
A Enfermagem diz respeito à disciplina e profissão, humanística/aprendida e
cientifica, com seu foco no fenômeno e atividades de cuidado humano com o
propósito de ajudar, manter, facilitar ou permitir que indivíduos ou grupos
mantenham ou recuperem seu bem estar (ou saúde) de modo culturalmente
significante e benéfico, ou ajudar as pessoas a encarar o sofrimento físico/mental ou
a morte. (LEININGER, 1991 p.47)
No presente estudo, a Enfermagem é definida como uma profissão que deve abranger
seus conhecimentos além da assistência prestada, focalizando na percepção das mulheres que
vivenciaram o parto no âmbito domiciliar.
4.1.3 Conceitos específicos
Diversidade Cultural do Cuidado
50
A diversidade cultural indica, segundo Leininger (1985), a variação de significados,
padrões, valores ou símbolos de cuidado que são culturalmente originários dos homens para
seu bem estar ou para aperfeiçoar uma condição ou modo de vida homens, ou para enfrentar a
morte.
Universalidade Cultural do Cuidado
Se refere aos valores, crenças, normas e modos de vida praticados, que foram
aprendidos, compartilhados e transmitidos por grupos particulares que guiam
pensamentos, decisões e ações, de forma padronizada. (LEININGER, 1985 p.262)
Cuidado Cultural
É aquele em que os valores, crenças, e expressões padronizadas, cognitivamente
conhecidas, que auxiliam, dão apoio ou capacitam outro individuo ou grupo a
manter o bem-estar, a melhorar uma condição ou vida humanas ou a enfrentar a
morte e as deficiências. (GEORGE, 1993, p.288)
Cuidado cultural é mais que apenas cuidar, pois esse cuidado é a ação de
enfermagem e como tal é um fator decisivo para a promoção e manutenção da saúde, assim
como para a recuperação da doença ou para o auxilio na deficiência.
A Enfermagem é uma profissão que habilita a (o) enfermeira (o) a prestar o cuidado
cultural coerente. Refere-se às atividades/ações (nessas estão inclusas atividades educativas
em saúde) de assistência, apoio ou facilitadoras para com a parturiente e família no processo
de parir para aliviar processos (dolorosos, angustiantes, conflitantes etc.) ou melhorar a
condição do nascimento tanto para a mãe quanto para o recém-nascido.
Cultura
“São os valores, crenças, normas e práticas de vida de um determinado grupo,
aprendidos, partilhados e transmitidos, que orientam o pensamento, as decisões e as ações, de
maneiras padronizadas”. (GEORGE, 1993, p.287)
Para Monticelli (1994), a cultura envolve uma teia de significados. Para se ter uma
cultura, precisa-se de indivíduos que estabeleçam interações sociais, desempenho de papéis e
representações. Em suas ações do cotidiano o homem se norteia através do momento histórico
em que está inserido. Isso não quer dizer que ele está aprisionado a estas regras, mas às
51
tradições e os padrões culturais persistem a partir das situações originárias, porém, podem ser
modificadas.
O conhecimento popular e as crenças de saúde-doença nortearam o cuidado cultural,
trazendo deste modo a humanização da assistência. A enfermagem só poderá desenvolver
ações congruentes se acreditar que a cultura individual e principalmente a profissional poderá
ser diferente dos indivíduos que está cuidando.
Valores, Normas e Crenças
Conforme Leininger (1985) define valores, normas e crenças como sendo:
- Valores: são forças diretivas que comandam ou dão significado ao pensamento, às
decisões e as ações de indivíduos de um determinado grupo, que se mantém numa mesma
cultura por certo período de tempo.
- Normas: são regras que guiam o comportamento humano e afluem dos valores de
uma cultura. São diretrizes que ajudam as pessoas a atingirem os valores. O conjunto de
normas forma os padrões de uma cultura.
- Crenças: são traços culturais, que são representações do tipo cognitivo.
4.1.4 Definição de termos
Parto humanizado: conjunto de condutas e procedimentos que têm por finalidade a
promoção do parto e nascimento saudáveis sem a utilização de praticas interventivas
desnecessárias, dando a mulher o total domínio no seu processo de parir, liberdade de escolha
de posições, de forma que atenda toda a necessidade biológica, psicológica e espiritual dessa,
e garantindo a segurança da mãe e do recém-nascido. (D`ÁVILLA; KOETTKER, 2000)
Processo de parir: compreende o início do processo de parir já com os primeiros
sinais e sintomas do trabalho de parto, dotado não apenas de mudanças fisiológicas, mas
também emocional compreendido e vivenciado de maneira única, sendo influenciado pela
cultura, crenças e valores de cada mulher. (D`ÁVILLA; KOETTKER, 2000)
Parto normal: tem inicio espontâneo e baixo risco no inicio do trabalho de parto,
permanecendo assim durante todo o processo, até o nascimento. O bebê nasce
espontaneamente, em posição cefálica, entre 37 e 42 semanas de gestação. Após o
52
nascimento, mãe e filho permanecem em boas condições. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE, 1996)
53
5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
De acordo com Minayo (2004), a metodologia abrange os entendimentos teóricos de
abordagem, conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade e também o
potencial criativo do pesquisador, onde se constrói uma visão intrínseca do mundo social
vinculado com a teoria norteadora, facilitando a análise e interpretação dos dados obtidos
através da abordagem do social.
5.1 TIPO DE ESTUDO
A pesquisa foi desenvolvida na perspectiva de um estudo exploratório descritivo de
abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa busca dados subjetivos, que não podem ser
reduzidos a variáveis e nem representados através de gráficos e numéricos. (GOLDENBERG
apud SILVEIRA; CORDOVA, 2009)
A pesquisa exploratória descritiva tem como finalidade e objetivo desenvolver,
esclarecer, modificar conceitos e idéias ao descrever os fenômenos em estudo,
proporcionando uma visão mais ampla e esclarecida do problema. (GIL, 2007)
5.2 O CONTEXTO E OS SUJEITOS DO ESTUDO
O presente estudo foi realizado com mulheres que realizaram o parto domiciliar até
um ano antes do início do estudo. Os sujeitos da pesquisa foram 7 mulheres que realizaram o
parto em âmbito domiciliar com a Equipe Hanami. A coleta de dados foi realizada no
domicílio das mulheres participantes, localizados nos municípios de Florianópolis
(Campeche, Daniela, Ingleses, Vargem Pequena, Sambaqui e Canto da Lagoa) e Palhoça
(Pedra Branca).
Como estratégia para ter acesso a essas mulheres buscou-se a equipe Hanami, devido
a sua experiência no processo de parir em âmbito domiciliar, o que a torna um local de
referência para a realização desse modelo de parto, portanto também desta pesquisa. A
54
captação das mulheres foi realizada através da indicação de uma das Enfermeiras da Equipe
Hanami e pela divulgação do E-flyer (APÊNDICE C), realizado por nós pesquisadores. Esse
E-flyer foi disponibilizado na lista de e-mail Parto em Casa, no qual as mulheres interessadas
propuseram-se a participar da entrevista. Essa lista de email foi criada pela Equipe para
divulgação de eventos, palestras, para manter contato com as mulheres após o parto, para
retirar dúvidas, entre outras. Estão adicionadas na lista todas as mulheres que irão realizar ou
que já realizaram o parto domiciliar com a Equipe Hanami.
O atendimento ao parto domiciliar planejado em Santa Catarina, iniciou em 2002,
por uma das enfermeiras obstetras, que hoje é a atual coordenadora da equipe. A criação da
Equipe Hanami – O Florescer da Vida – parto planejado ocorreu em 2006. Atualmente a
equipe é formada por sete enfermeiras obstétricas e dois médicos. A Equipe Hanami
desenvolve atividades que compreende todo o período do pré-natal, parto e pós-parto.
(KOETTKER, 2010)
O acompanhamento da mulher que deseja ter um parto domiciliar inicia a partir da
37ª semana de gestação, após o enquadramento no protocolo, onde começam por consultas
pré-natais em domicílio com a equipe e que seguem semanalmente até o parto. Nas consultas
é realizado a avaliação obstétrica e o “pré-natal sensível”, que visa avaliar o ambiente em que
essa mulher se insere, incluindo os aspectos sociopsicoculturais e econômicos, e prepará-los
para o parto. Nesse momento a mulher e a família recebem também as orientações sobre o
local de transferência, em caso de intercorrências no parto, e o profissional que a receberá ao
chegar na instituição de saúde. (FEYER, 2009)
Dentre algumas das atividades da equipe podemos destacar o “consultão” um
encontro com gestantes, casais, familiares e outros profissionais, onde ocorre a apresentação
da metodologia do trabalho da Hanami esclarecendo as dúvidas decorridas do parto domiciliar
e trocando experiências. No momento do encontro são fornecidas orientações sobre o
atendimento ao parto domiciliar e os critérios de inclusão e exclusão para realização desse.
(FEYER, 2009)
A equipe possui desde 2009 um grupo de gestantes, onde essas e os seus
acompanhantes participam para ajudar em sua preparação para gestação, parto, puerpério,
cuidados com o RN e amamentação. (KOETTKER, 2010)
55
5.3 COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semi-estruturada, no período
de 27/10 a 15/11 de 2011, com questões abertas que buscaram conhecer a qualidade da
assistência recebida, as experiências e percepções das mulheres a cerca dos fenômenos que
envolvem o parto no domicílio. (APÊNDICE A)
Para garantir à facilidade e impedir a perda de importantes informações coletadas, as
entrevistas foram gravadas em formato Mp3 Player.
5.4 ANÁLISE DOS DADOS
Para análise dos dados, foi utilizada a técnica de análise do tipo temática, conforme
proposto por Minayo et al. (2004). O processo de análise de conteúdo engloba um conjunto de
técnicas de comunicação estruturado por procedimentos sistemáticos que permitam a
facilitação da organização, análise e compreensão dos dados coletados. (BARDIN, 2004)
A técnica de análise temática é dividida estruturalmente em três etapas: ordenação
dos dados, classificação dos dados e análise final. A fase de ordenação dos dados engloba as
entrevistas e materiais de observação coletados das fontes de pesquisas, onde os dados obtidos
foram submetidos sequencialmente a uma transcrição de áudio, releitura do material coletado,
organização dos relatos e a organização dos dados. (MINAYO et al., 2004)
Após a organização dos dados realizamos a fase mais importante da análise, que é a
fase de classificação dos dados, onde foi realizada uma leitura exaustiva e repetitiva.
Através dessa leitura, nós pesquisadores levantamos os dados mais importantes para nossa
pesquisa. (MINAYO et al., 2004)
A última fase realizada foi à análise final, onde comparamos os dados obtidos do
referencial teórico com os dados que obtivemos através da pesquisa de campo, procurando
responder a questão norteadora. (MINAYO et al. 2004)
56
5.5 ASPECTOS ÉTICOS
A pesquisa considerou os preceitos de ética em pesquisa definidos na Resolução
no196 de 1996 do Conselho Nacional em Saúde, quanto à submissão ao Comitê de Ética em
pesquisa e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Essa resolução
assegura o desenvolvimento do trabalho científico livre de quaisquer constrangimentos,
sequelas ou abusos sobre o sujeito da pesquisa.
Cada sujeito de pesquisa recebeu o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APÊNDICE B), sendo que antes do início da pesquisa as mulheres foram informadas sobre
nossos objetivos, ficando claro que os dados foram utilizados somente para fins de estudo e
que respeitamos o sigilo da identidade da mulher. As mulheres que aceitaram a participar
voluntariamente do estudo tinham o direito de não responder a qualquer pergunta e que
poderiam desistir de participar do estudo em qualquer momento. O Termo foi entregue em
duas vias, sendo que uma das vias ficou em posse da participante, e a outra ficou em posse
dos pesquisadores.
Os dados de áudio coletados foram destruídos após sua transcrição, sendo que estas
transcrições ficarão no domínio dos pesquisadores por até 5 anos, e depois destruídas.
O estudo só teve início após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto
de Cardiologia de Santa Catarina com o parecer consubstanciado nº 134/2011.
Para garantia do anonimato os nomes das mulheres foram substituídos por nome de
flores.
57
6 RESULTADOS
A análise dos dados emergiu das entrevistas realizadas com as mulheres a partir dos
seus relatos sobre suas expectativas, experiências e satisfação com a assistência prestada pela
Equipe Hanami durante o parto domiciliar.
De acordo com os dados apresentados no Quadro 1, a média de idade das mulheres
foi de 28 anos, sendo que 29% delas se encontram em idade superior ou igual a 30 anos, e
71% na faixa etária dos 20 aos 29 anos. Considerando o Ministério da Saúde, nenhuma das
mulheres encontrava-se na faixa de risco gestacional, ou seja, menor de 15 anos e maior de 35
anos. (BRASIL, 2005)
Quadro 1 - Distribuição das mulheres de acordo com a idade, escolaridade, estado civil,
moradia e número de filhos.
Idade
Entre 21 a 34 anos.
Escolaridade 6 mulheres com 3º grau completo (86%)
Estado Civil
Moradia
Nº de filhos
1 mulher com 3 º grau incompleto (14%)
6 mulheres casadas (86%)
1 mulher solteira ou união estável (14%)
7 mulheres residem na Grande Florianópolis
(100%)
4 mulheres multíparas (57%)
3 mulheres primíparas (43%)
No que se refere a escolaridade, observamos um elevado grau de escolaridade entre
as participantes. . Tal situação nos remete a perceber que possivelmente os indivíduos com
maior escolaridade são aqueles que conseguem em sua maioria ter seus direitos garantidos.
Em relação ao estado civil, a maioria das mulheres (86%) são casadas, e 14% são
solteiras ou união estável, sendo que todas moram com seus companheiros.
Quanto ao local de moradia, todas as mulheres que realizaram parto domiciliar com a
equipe Hanami moram na Grande Florianópolis.
Das mulheres entrevistadas, 57% são multíparas e 47% são primíparas. Destas, 3
(43%) mulheres já tiveram experiência hospitalar anterior, 1 (14%) mulher já possuía a
58
experiência de parto domiciliar e 3 (43%) mulheres tiveram seu primeiro filho em âmbito
domiciliar.
Da análise dos dados, surgiram sete categorias:
- Experiências de Partos Hospitalares Anteriores;
- Fatores que Influenciaram a Escolha pelo Parto Domiciliar;
- Preparação para o Parto Domiciliar;
- Expectativas para o Parto Domiciliar;
- Experiência do Parto Domiciliar;
- Posições Escolhidas para o Parto;
- Percepção e Satisfação quanto à Assistência Prestada.
A análise das categorias, respondidas pelas mulheres nas entrevistas, pretendeu
compreender os significados a partir do olhar dos pesquisadores e da fundamentação
científica, visando responder os objetivos do estudo.
6.1 EXPERIÊNCIAS DE PARTOS HOSPITALARES ANTERIORES
Segundo a OMS, o objetivo da assistência ao parto é ter como resultado mulheres e
bebês sadios, com o mínimo de intervenção médica compatível com a segurança. Disso
decorre que sempre deverá haver uma razão válida para interferir no processo de trabalho de
parto. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
Das mulheres entrevistadas, 3 (43%) tiveram partos hospitalares anteriores e
nenhuma delas referiu sentir-se completamente satisfeita com o atendimento prestado pelas
maternidades, destacando a ocorrência de diversas situações que não precisariam ser
encaradas de tal forma.
A transferência do parto do ambiente doméstico para o contexto do hospital no
decorrer da história foi acompanhada de uma série de transformações no processo de
59
parturição. A parturiente e o feto perderam o papel de protagonistas no processo, assumindo
uma posição passiva, enquanto os profissionais passaram a tomar o controle sobre o
nascimento. (MAMEDE et al., 2007)
Isso se afirma através dos depoimentos de Violeta e Tulipa, onde percebemos que
elas perderam sua autonomia, o controle e a decisão sobre o próprio processo de parto e
nascimento.
“(...) no hospital você tem a ligeira sensação de que não foi você... de que te
ajudaram de todas as formas (...)” (Violeta).
“(...) não foi o parto ideal porque eu não era dona de mim, naquele ambiente (...)”
(Tulipa).
Outro grande problema que ocorre no ambiente hospitalar é a incorporação de um
grande número de intervenções que muitas vezes são consideradas desnecessárias. Cabe aqui
ressaltar que muitas dessas intervenções não provocaram melhoria na assistência obstétrica e
na condição de saúde materno-infantil, pelo contrário, evidências científicas revelam que
algumas são prejudicais à mãe e ao filho. (MAMEDE et al., 2007)
Percebemos esse fenômeno por meio dos relatos de Tulipa onde o uso rotineiro de
tricotomia e da posição de litotomia são considerados claramente prejudiciais ou ineficazes e
que devem ser eliminados. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
“(...) o que é aquela criatura que cuidava lá da gente, reclamou por que eu não
tinha me raspado, porque isso era anti-higiênico” (Tulipa).
“(...) me incomodava muito ficar com as pernas penduradas (...)” (Tulipa).
Já com Violeta aconteceram práticas que são frequentemente utilizadas de modo
inadequado como: restrição hídrica durante o trabalho de parto e exames vaginais repetidos ou
frequentes por mais de um examinador. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
“(...) daqui a pouco você tá com sede, não pode beber água (...)” (Violeta).
“(...) as pessoas vinham, tu tava lá entrando no processo, daqui a pouco chegava
alguém, te pedia pra ir lá deitar pra fazer o toque (...)” (Violeta).
Algumas práticas utilizadas no momento do parto, além de gerarem danos e
complicações físicas à parturiente, também podem repercutir negativamente no estado
emocional dessas mulheres. Um estudo desenvolvido em uma maternidade pública de Goiás
constatou, a partir dos relatos das parturientes, que fatores assistenciais, como a posição
ginecológica durante o parto, e fatores fisiológicos, como a restrição de líquidos no pré-parto
60
podem acometer as mulheres ao estresse e desconforto no processo de parturição.
(CARVALHO et al., 2010)
É importante deixar claro que é indiscutível a enorme contribuição da intervenção
tecnológica à assistência ao parto salvando vidas de mulheres e crianças, desde que, essas
intervenções sejam utilizadas para o real benefício das mulheres e crianças e não para
beneficio e conveniências dos profissionais médicos. (KRUNO, 2004)
Os procedimentos de internação em maternidade acontecem como um verdadeiro
cerimonial, um rito de passagem, repleto de rotinas e normas de comportamento que são
ditadas pela instituição. A estrutura física e as rotinas hospitalares foram planejadas para
atender as necessidades dos profissionais de saúde, e não das parturientes. Assim, a maioria
das mulheres passou a permanecer internada em sala de pré-parto coletivo, com pouca ou
nenhuma privacidade, assistidas com práticas baseadas em normas e rotinas que as tornaram
passivas e impediram ou impossibilitaram a presença de uma pessoa de seu convívio social
para apoiá-las (BRÜGGEMANN, 2005).
“(...) você já era descaracterizada, por que na verdade, você chegava lá e você era
só mais uma. Você trocava de roupa... toda sua roupa, seu brinco, tudo que te
caracterizava, eles tiravam (...)” (Violeta).
“(...) o pós-parto no Hospital foi terrível (...) é aquilo ali, um monte de mão, um
monte de protocolo, a hora do banho vem a enfermeira pega e leva, enfim
intimidade zero assim né, e eu me sentir um pouco invadida (...)” (Flor de Lis).
“(...) quando eu cheguei ao hospital, fui encaminhada para uma enfermaria, numa
tal sala de pré-parto. Lá eu não pude ficar com o acompanhamento de nenhuma
pessoa (...) tive que ficar deitada numa cama, me senti completamente abandonada,
me senti em um campo de concentração ali, parecia que eu não me pertencia, não
podia trazer os meus pertences(...)” (Tulipa).
Esse último depoimento de Tulipa nos mostra também a infração da Lei nº 11.108,
de 7 de Abril de 2005, que garante às parturientes o direito à presença de acompanhante
durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS). Estudos têm comprovado que o apoio contínuo durante o trabalho de parto beneficia
as parturientes e contribui para redução das taxas de cesarianas, da duração do trabalho de
parto, incentiva o aleitamento e a mulher desenvolve uma percepção positiva sobre esses
eventos. (NAKANO et al, 2007; BRÜGGEMANN; PARPINELLI; OSIS, 2005; CASTRO;
CLAPIS, 2005)
61
O Ministério da Saúde recomenda que a parturiente tenha a presença de um
acompanhante, desde o pré-natal, no trabalho de parto e parto, vivenciando e apoiando à
mulher na experiência do processo do nascimento. (BRASIL, 2001)
A gestação, parto e puerpério constituem experiência humana das mais
significativas, com forte potencial positivo, enriquecedora para todos os que dela participam.
Os profissionais de saúde são coadjuvantes dessa experiência e nela desempenham importante
papel, colocando seu conhecimento a serviço do bem-estar da mulher e do bebê; ajudando-os
no processo da parturição e nascimento de forma saudável. (WOLFF; WOLDOW, 2008)
“(...) eu sofri alguns maus-tratos, tanto institucionais, quanto de funcionários (...)
não tive nenhum auxílio em relação a nenhum apoio para aliviar as dores (...) teve
uma hora que eu tava gritando de dor, passava uma enfermeira assim, como se não
tivesse ninguém” (Tulipa).
“(...) pouca interação da equipe no sentido de apoiar, era só no sentido de chegar
lá, coletar os dados que eles queriam, virar as costas e sair (...)” (Violeta).
Como podemos observar através destes relatos o atendimento que elas receberam foi
muito aquém das suas necessidades, revelando várias circunstâncias de falta de cuidado que a
mulher e o bebê foram sujeitos durante o processo de nascimento.
É fundamental que no trabalho de parto e parto exista uma relação de confiança e
segurança entre profissional e paciente fazendo-se necessário um cuidado com orientações a
cada procedimento, valorizando a participação ativa das parturientes e respeitando o momento
de dor.
“(...) no hospital você não participa desses momentos, são feitos com o bebê
(procedimentos) longe de você (...)” (Flor de Lis).
“(...) logo em seguida já levaram ela lá pra fazer os procedimentos lá, e ficou um
tempão. Eu sei que eu fui pro quarto e ela não vinha, e eu fiquei preocupada, e ela
não tinha nada, ela tava demorando, sei lá porque tava demorando... não mamou de
cara, mamou só uma hora depois né (...)” (Tulipa).
Conforme o relato de Flor de Lis e Tulipa pode-se ilustrar a angústia que as muitas
mulheres sofrem no período em que os recém-nascidos são levados para realização dos
procedimentos de rotina e a falta de informações que os profissionais deixam de comunicar,
visto que é de fundamental importância o contato pele a pele imediato entre mãe e recémnascido constituindo um procedimento indispensável no cuidado ao momento do nascimento,
quando se trabalha sob o enfoque da humanização.
A primeira hora após o nascimento é excelente e fundamental para iniciar a
amamentação, visto que o recém-nascido usualmente está bem alerta e atento, com reflexos de
62
sucção ativo, estimulando precocemente a produção de ocitocina e prolactina.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996) O início imediato da amamentação
também assegura que o recém-nascido receba o colostro, geralmente conhecido como a
“primeira vacina” devido a seu rico conteúdo de importantes fatores imunológicos (tanto
secretores quanto celulares), agentes antimicrobianos, anti-inflamatórios e vitamina A, todos
importantes para a proteção imediata e a longo prazo contra-infecções. (BRASIL, 2011)
Das mulheres que tiveram experiência em parir no ambiente hospitalar, o processo de
parturição de Flor de Lis foi considerado o “mais humanizado”, segundo seus relatos foi um
parto tranquilo, sem intervenções, ficou o tempo todo acompanhada de seu marido e teve seu
filho na posição que achou mais conveniente (parto de cócoras). Porém todos esses fatores
podem ter ocorrido pelo fato de seu marido ser estudante de medicina e conhecer a maioria
das pessoas que trabalham naquele centro obstétrico e também tiveram muitas facilidades em
relação às normas e rotinas adotadas pela instituição.
6.2 FATORES QUE INFLUENCIARAM A ESCOLHA PELO PARTO DOMICILIAR
Para a maioria (71%) das mulheres os fatores que as influenciaram na decisão pelo
parto domiciliar foi a segurança de que não seriam submetidas a intervenções comuns e
muitas vezes desnecessária. Segundo a OMS, práticas frequentemente utilizadas, tais como
exames vaginais repetitivos e interferência na dinâmica uterina com a utilização de ocitocina
são caracterizadas como práticas inadequadas. (ORGANIZAÇÃO MUNDAL DE SAÚDE,
1996)
“A partir dessa experiência anterior, eu fui buscar informações e vi que muitos dos
processos que eu vivenciei durante o parto do meu primeiro filho, não deveriam ser
necessários, e muitas vezes, por mim foram sentidos violentos, e percebo que hoje é
um tipo de intervenção desnecessária, que na época não tinha essa noção (...) foi
muito toque, uso de ocitocina, a equipe pouco me informava sobre os dados que eles
coletavam, da ausculta fetal, do toque, e pouca interação mesmo da equipe no
sentido de apoiar, só chegavam lá, coletavam os dados que eles queriam, viravam
as costas e saiam.” (Violeta).
Observamos rotineiramente tais práticas descritas por Violeta em nossa vivência
acadêmica nas maternidades da Grande Florianópolis. Além disso, observamos que os
profissionais no atendimento às mulheres pouco explicavam o que iriam fazer com elas, não
63
informavam os resultados dos toques, dos BCF´s e dos exames em geral, pouco acolhendo-as
emocionalmente.
De acordo com a OMS, durante todo o trabalho de parto, a mulher deve ser avaliada
regularmente, tanto quanto ao bem-estar físico e emocional, o que implica não só em verificar
a temperatura, frequência cardíaca, pressão arterial, ingesta de líquidos e débito urinário, mas
também avaliar o grau de dor, a necessidade de apoio, mantendo a privacidade da mulher
durante o trabalho de parto, respeitando seus acompanhantes e evitando a presença de pessoas
desnecessárias na sala de parto. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
Para algumas mulheres, mesmo com a humanização dos partos hospitalares elas não
irão contar com a mesma privacidade que teriam em seu domicílio, pois no hospital existem
normas e rotinas, prontuários a serem preenchidos e a frequente interrupção para realizar
procedimentos. (KRUNO, 2004)
“(...) a minha irmã, que engravidou. Ela (...) teve uma série de intervenções durante
o parto dela (...) foi para a cesariana (...). O pessoal não deixava minha mãe ficar
perto e minha irmã queria alguém perto” (Jasmim).
“(...) ver meu bebê nascer, bem e feliz, que eu tivesse me sentindo bem, com as
pessoas que eu conhecia, com as pessoas que estavam pensando a mesma coisa que
eu, então me sentia segura com isso, de que momento algum alguém ia tomar uma
atitude sem que eu soubesse que tava acontecendo.” (Violeta)
Um dos motivos de Flor de Lis optar pelo parto em âmbito domiciliar foi porque ela
queria que a filha mais velha presenciasse o parto da irmã, e sabia que se o parto fosse
realizado no ambiente hospitalar ela ficaria esperando no quarto e não participaria deste
momento tão importante da família, o que se configurou em mais um incentivo para a
realização do parto domiciliar.
“(...) outra coisa assim que a gente pensou (...) que seria muito ruim ter no hospital,
depois de ter uma filha, porque ela, ela não participaria do processo (...) ia ser bem
sofrido pra ela, a mãe sai de casa pra ter a irmã e volta com o bebê no colo (...)”
(Flor de Lis).
No ambiente hospitalar, o uso da tecnologia é justificativa para diminuir ou impedir
os riscos, entretanto condutas, ao exemplo da cesariana, são realizadas aparentemente sem
reais critérios, o que por vezes se parece contraditório (KRUNO, 2004).
Outra questão que influenciou o parto domiciliar foi a forma como o médico de
Jasmim tratou sobre o parto no início do pré-natal:
64
“(...) quando agente engravidou, fomos procurar uma obstetra e ela falou assim pra
mim, olha, eu só dou até quarenta semanas senão, vai nascer parto cesariana. E
aquilo me chocou (...)” (Jasmim).
O Ministério da Saúde recomenda que o preparo para o parto deve acontecer desde
as consultas de pré-natal. Na preparação do parto o profissional da saúde deve garantir à
mulher o direito de decisão sobre qual tipo de parto deseja realizar. O mesmo deve expor para
a mulher sobre as principais vantagens, benefícios, desvantagens e possíveis intercorrências
na realização de cada tipo de parto. (BRASIL, 2008)
De acordo com Potter et al. (2001), entre as mulheres acompanhadas no pré-natal,
tanto no serviço público como no privado, 70-80% delas apresentaram preferência pelo parto
vaginal. Apesar da preferência, as mulheres no serviço privado tiveram mais do que o dobro
de cesarianas ao comparar com as do serviço público, sendo tanto cesáreas eletivas e/ou
decididas nas primeiras horas após a admissão hospitalar. A mudança no tipo de parto em
relação à preferência anterior pareceu moldada pela conduta intervencionalista do médico.
A forma como o médico de Jasmim abordou a questão do parto, ilustra a defesa de
Cordova (2008) ao destacar que o desfecho da gestação está direcionado pela lógica inversa,
onde o parto cesáreo aparece como o parto mais factível e o parto normal passou a ser visto
como algo que só pode acontecer se estiver tudo bem e no limite determinado pelo
profissional de saúde e não pela fisiologia da mulher.
O que também influenciou as mulheres na escolha foi à segurança e o conforto de
poder ficar em casa mais a vontade e na companhia de seus familiares, de não precisar seguir
rotinas e regras institucionais, de poderem alimentar-se e beber durante o trabalho de parto, de
não fazer nada do que elas não desejavam naquele momento, de participar ativamente do
parto, de não serem afastadas dos seus filhos após o nascimento e de poder amamentar na
primeira hora após o parto.
“(...) Antes de engravidar, eu já tinha decidido que quando eu engravidasse, eu ia
ter o bebê em casa. Eu acho que pelo conforto, pela segurança (...)” (Iris).
“(...) comecei a pensar de como o meu filho gostaria de vir ao mundo né. Aí eu
pensei, ahhhh meu lar é o melhor recanto pra ele chegar nesse mundo, minhas
coisas, meu cheiro, minhas músicas (...)” (Jasmim).
Percebemos também, que em alguns casos a história de parto domiciliar na família
influenciou a escolha por seus partos também no domicílio.
65
“(...) Eu nasci em parto domiciliar também, minha mãe me teve em casa. Então eu
já sabia que era um passo mais natural, e mais acolhedor ter o parto em casa (...)”
(Orquídea).
“Eu comecei a pensar como seria o parto (...) desde o histórico da minha família.
Minha mãe, o primeiro parto dela foi de cócoras da minha irmã e foi super
tranqüilo enfim todo planejadinho (...)” (Jasmim).
Muitas pessoas ainda têm a concepção de que o hospital é o único lugar adequado e
com segurança para parir, de que o parto indica uma situação de risco, mesmo sendo uma
gestação de baixo risco e sem intercorrências. (KRUNO, 2004)
“(...) antes, eu tinha medo de pensar como seria em casa, porque a gente é formada
padrãozinho, que tem que ser no hospital (...)” (Jasmim).
O ambiente hospitalar apesar de ter o objetivo de proporcionar melhor controle dos
riscos materno-fetais, com a institucionalização do parto e os avanços tecnológicos na atenção
obstétrica, desencadeou uma exagerada prática de intervenções desnecessárias, como por
exemplo, as abusivas taxas de cesarianas (OLIVEIRA, 2002).
6.3 PREPARAÇÃO PARA O PARTO DOMICILIAR
A maioria das mulheres participantes do estudo decidiu pelo parto domiciliar ao
longo do decorrer da gestação e apenas duas (29%) já tinham certeza que fariam parto
domiciliar.
“(...) só no consultão né com o Hanami, lá a gente bateu a tecla, vamos realmente
fazer parto domiciliar (...)” (Jasmim).
“(...) desde que eu soube que eu tava grávida eu sabia que eu ia querer ter em casa,
então, eu não precisei me preparar psicologicamente assim, isso já tava decidido”
(Flor de Lis).
Todas as mulheres entrevistadas beneficiaram sua preparação para o parto através
das atividades realizadas pela Equipe Hanami, entres elas destaca-se o consultão, o grupo de
gestantes e as consultas realizadas no domicílio.
O “consultão” acontece uma vez por mês. Nesse encontro é apresentada a forma de
trabalho da Equipe Hanami e são esclarecidas dúvidas acerca do parto domiciliar planejado.
66
No grupo de gestantes a mulher grávida é preparada para a gestação, parto e puerpério com o
intuito de minimizar a expectativa e ansiedade que a acompanha, porque se a futura mãe tiver
a possibilidade de conhecer o funcionamento do seu corpo, aumentará seus potenciais de
cooperar e decidir sobre a sua saúde e de seu bebê, conjuntamente com a equipe de saúde,
resultando assim em um parto mais tranquilo e menos traumático. (HANAMI, 2011)
As consultas no domicílio são realizadas semanalmente a partir da 37ª semana de
gestação, essas visitas consistem em acompanhar exames laboratoriais, realizar o exame
clínico da gestante e constatar a real possibilidade de um parto domiciliar avaliando os
possíveis riscos. Outro grande benefício das consultas é a criação de laços de confiança com a
família e também são trabalhadas as questões emocionais que possam interferir no processo
do parto. (HANAMI, 2011)
“(...) elas fazem consultas em casa (...) então essas consultas além dos exames
físicos, né, que observam os batimentos, vê se tem alguma dilatação, a posição do
bebê, todos esses exames de rotina, elas fazem também o que chamam, de pré-natal
emocional, né, conversam como que foi a gestação, como é que ta sendo a
preparação da chegada do bebê, como é que a gente tá se sentindo, tanto eu, quanto
meu marido (...)” (Tulipa).
Outro meio de adquirir conhecimentos, esclarecer dúvidas e se preparar para o parto
foi através da leitura, onde 43% das mulheres citaram ler livros, artigos e consultar a internet
como fonte de informações desejadas.
“Desde o começo eu ficava fuçando pela internet e vídeos, artigos (...)” (Jasmim).
“(...) eu peguei um livro, o parto ativo. Ai eu li bastante ele (...) (Orquídea).
“(...) pra me preparar para os dois parto eu li livros, eu fiz esse curso de gestantes,
pesquisei na internet coisas assim, li bastante (...)” (Cerejeira).
Apenas uma (14%) das mulheres entrevistadas valorizou a qualidade do pré-natal
como pré-requisito fundamental para a determinação da escolha pelo parto domiciliar.
“Fiz o pré-natal bem certinho, como eu ia ter em casa fiquei um pouco mais
rigorosa assim com a verificação dos exames (...)” (Flor de Lis).
Para que o parto aconteça em casa é necessário que a gestação seja de baixo risco, ou
seja, estar livre de riscos (alterações como doença hipertensiva específica da gestação,
diabetes gestacional, entre outros); o bebê deve estar a termo, entre 37 e 42 semanas de
67
gestação; a mulher deve ter realizado o pré-natal completo e de preferência com médico que
esteja de acordo com o parto domiciliar. (HANAMI, 2011)
Quanto ao preparo físico, duas das mulheres entrevistadas realizaram yoga durante a
gravidez.
“(...) pude variar bastante de posição e eu fiz yoga na gestação (...)” (Cerejeira).
“Eu me preparei também com o yoga” (Orquídea).
Segundo Almeida (2003), muitos desconfortos, comuns na gravidez, incluindo à
tendência à formação de varizes, as dores nas costas e nas articulações e músculos, podem ser
aliviados com exercícios. As mulheres podem aumentar a sua resistência, o que as ajudará
enquanto estiverem em trabalho de parto, e podem fortalecer e tonificar os músculos mais
afetados durante a gravidez, tais como os músculos da pelve, os abdominais e os
lombodorsais.
Um bom programa de exercícios pré-natais pode ainda melhorar a postura, que é
seriamente afetada pelo crescimento do útero e pela expansão do abdômen, causando uma
inclinação anterior da pelve. Os exercícios para fortalecer os músculos das nádegas, costas,
ombros e barriga podem ajudar a manter o corpo alinhado e reduzir o desconforto associado à
má postura. (ALMEIDA, 2003)
“Tinha uma amiga minha que fez com o Hanami e então ela dividiu essa
experiência comigo (...)” (Jasmim).
“(...) tendo contato com outras pessoas que também queriam parto domiciliar,
tendo amigas que tinham tido partos domiciliar, então isso fortalece porque você vê
que não é um bicho de sete cabeças, e que só tem assim benefícios mesmo (...)”
(Violeta).
Percebemos nas duas falas acima que outra forma de preparação para o parto
domiciliar foi o diálogo com pessoas que já experimentaram a sensação de parir em casa. Ao
conversar sobre experiências positivas de parto domiciliar com as amigas e pessoas
conhecidas, as duas mulheres foram motivadas a optarem pelo mesmo tipo de parto.
“(...) e também teve outro trabalho que foi com a doula (...)” (Jasmim).
Uma das mulheres preferiu o acompanhamento de uma Doula (palavra de origem
grega que significa "mulher que serve a outra mulher"). Atualmente, Doula refere-se às
mulheres que dão suporte físico e emocional às parturientes durante e após o parto. Tal
68
suporte busca encorajar, tranquilizar e estimular o uso de medidas de conforto e métodos de
alívio da dor. (SANTOS; NUNES, 2009)
6.4 EXPECTATIVAS PARA O PARTO DOMICILIAR
Um parto sem dor, ou com dor suportável
Acreditamos que, em sua maioria, as mulheres que já enfrentaram uma experiência
gestacional ou não, já tiveram como expectativa, um parto sem dor ou com uma dor
suportável. Dentre as mulheres entrevistadas 85%, ou seja, seis das sete mulheres
entrevistadas relataram que esperavam ter um parto sem dor, ou com uma dor que pudesse ser
suportável, em um ambiente que oferecesse maior conforto com uma assistência humanizada.
“(...) eu tinha pensado em ter o parto na água, porque eu achava que eu ia senti
muito menos dor se eu tivesse dentro de uma banheira, eu achava que ela ia nascer
na água, bem suavemente sair na água, e ia pegar ela no meu braço assim, e eu
tinha esquecido assim da violência que são as contrações (...)” (Flor de Lis).
Os profissionais podem contribuir para amenizar os momentos de crise da gestante
na hora do parto, proporcionando a ela uma familiarização com ambiente, e criando um
vinculo de parceria e amizade. (BEZERRA; CARDOSO, 2005)
A OMS, relata que a maioria das mulheres, sentem dor durante o trabalho de parto,
mas a fonte dessa dor pode variar de mulher para mulher. A tarefa mais importante frente a
isso, é que o profissional prestador da assistência de apoio físico e emocional, ajudando a
mulher a suportar a dor sentida. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
A mulher que realiza parto natural pode usufruir de técnicas que aliviem a dor
durante todo o processo do parto, como a realização de massagens, banhos de chuveiros e
outras técnicas de relaxamento. É relatado ainda que um parto que permita que ela participe
de forma mais autônoma e ativa, como dona do próprio corpo, fará com que a dor não se torne
foco da sua atenção. (COREN SP, 2010)
Parto sem intervenções
69
Das mulheres entrevistadas, 57% relataram que tiveram como expectativa um parto
que não houvesse intervenções desnecessárias, sendo que desse grupo, 3 mulheres já haviam
tido experiência com parto hospitalar e destas 2 relataram discordar com procedimentos
interventivos e rotinas impostas pela instituição. Elas buscavam autonomia, querendo sentirse donas do seu processo de parir.
“A partir dessa experiência anterior, eu fui buscar informações e vi que muitos dos
processos que eu vivenciei durante o parto do meu primeiro filho, não deveriam ser
necessários, e muitas vezes, por mim foram sentidos violentos (...), e comecei a
pensar que esse outro filho ia ser em casa (...), então eu tinha certeza que em casa
isso não ia acontecer” (Violeta).
Conforme o relato citado acima, percebemos que Violeta devido à experiência do
parto anterior que foi realizado em âmbito hospitalar, sentiu que muitas das intervenções que
foram realizadas, eram desnecessárias, dando a ela a impressão de ter sido violentada, o que a
fez realizar seu próximo parto em âmbito domiciliar, sendo que acreditava que em seu
domicílio, não enfrentaria a mesma experiência vivenciada no hospital.
“As minhas expectativas é que acontecesse tudo bem, tranquilo, sem intervenção,
sem que fizessem coisas comigo, com o meu corpo, e com o meu bebê que eu não
soubesse (...)” (Cerejeira).
Através do relato da Cerejeira percebemos também que havia essa expectativa de
estarem sendo informadas sobre todos os procedimentos e exames que seriam realizados tanto
com ela, quanto com o bebê.
De acordo com a cartilha do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, parto
natural é aquele realizado sem intervenções ou procedimentos desnecessários durante todo o
período de trabalho de parto, parto e pós-parto, com o atendimento focado na mulher.
(COREN SP, 2010)
Para uma assistência adequada ao parto, o profissional deve observar atentamente a
sua evolução, sem interferir nos meios fisiológicos e familiares, dando a mulher o domínio do
processo e permitindo que ela escolha quem vai acompanhá-la, e qual posição será utilizada
para parir. (CHAGAS apud BEZERRA, 2005)
Parto rápido
“Eu tinha uma ideia que seria mais rápido, que seria mais fácil. E foi mais longo do
que eu imaginava, foi principalmente mais longo, mas difícil eu não digo (...)”
(Iris).
70
Segundo a pesquisa realizada por Koettker (2010) com mulheres que realizaram
parto domiciliar, a média do tempo do transcorrido entre a primeira avaliação no domicílio até
ao termino do parto foi menor que 5 horas em 46,1% dos casos, tendo sido mais frequente em
multíparas.
Segundo pesquisas a duração do trabalho de parto pode também estar associada à
posição, como também à deambulação que a parturiente assume durante o trabalho de parto e
parto. Estudos comprovam que há redução na duração do trabalho de parto em mulheres que
deambulam, pois proporciona melhor contratilidade uterina. (SABATINO apud MAMEDE et
al, 2007)
A presença de uma pessoa que mantenha o apoio físico e empático contínuo durante
o trabalho de parto, proporciona também uma série de benefícios, dentre eles um trabalho de
parto mais rápido e menos doloroso. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
A presença de acompanhantes de escolha da parturiente
Duas (29%) das sete mulheres entrevistadas relataram que faziam questão que seus
maridos, filhos e demais familiares e amigos estivessem presentes em seus partos, dando
apoio psicológico.
De acordo Bezerra e Cardoso (2005) se torna imprescindível a presença do
companheiro não só no local do parto, mas sua presença durante todo o período da gravidez,
visto que a formação do vínculo entre pais-filhos e a rede de intercomunicação familiar
começam a se desenvolver após a descoberta da gravidez, pois a gravidez deve ser vista como
um processo que envolve não só a mulher, mas também as pessoas mais próximas dela.
A presença de um acompanhante escolhido pela parturiente é garantida por lei, e
pesquisas científicas provam que a presença de um acompanhante escolhido pela mulher,
diminui a dor do processo de parto (SÃO PAULO, 2010; OMS, 1996; ELKIN, 2005). É
importante, também, nós considerarmos que houve relatos de mulheres que preferiram não
contar sobre o parto em domicílio para seus familiares, devido o receio de haver críticas
negativas:
“(...) às vezes é melhor nem conversar com o resto da família, eu só fui falar depois
que nasceu, né, não fiquei falando, nem pra minha família, nem pra colega de
trabalho, amigos (...) porque eles poderiam querer se meter, e falar que né, bota
areia, dizer que é louca de fazer isso” (Tulipa).
71
“(...) eu não contei pra muita gente, porque sabia que não ia ter muita aceitação,.
não é que não ia ter aceitação, todo mundo ia respeitar porque era uma decisão
minha, mas o problema era ficarem perguntando: e se acontecer isso? e se
acontecer aquilo? (...) é uma energia que não precisa né, a gente sabe dos riscos,
mas não é uma coisa que a gente fica focando” (Violeta).
Segundo a OMS, a parturiente deve ser acompanhada pelas pessoas em que confia e
com que se sinta a vontade, portanto entende-se o fato delas terem preservado esse momento e
não ter compartilhado essa experiência com outros familiares e amigos. (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
Um ambiente que garanta privacidade
Nas reflexões a respeito da escolha do local de parto, as entrevistadas levaram em
conta, referências as rotinas comuns dos modelos medicalizados de assistência ao nascimento,
bem como condutas normalmente adotadas por profissionais adeptos ao modelo mais
intervencionista. Duas mulheres relataram ter como expectativa, um ambiente que lhes
proporcionasse maior privacidade.
“Eu tinha certeza que o que me fez “sofrer” no parto do meu filho, foi o ambiente, e
a forma com que as pessoas que ao redor lidavam com isso (...) minha expectativa,
era de que eu queria ter o meu bebê no melhor local possível, pra ela e pra mim”
(Violeta).
Segundo Koettker (2010), no hospital, a parturiente pode ter o estresse durante o
parto aumentado por se tratar de um ambiente estranho e com pessoas desconhecidas. O
estresse aumentado pode elevar a percepção à dor, tornado o sofrimento das contrações mais
intenso. Já com a realização do parto no domicílio, a sensação a dor é mais facilmente
suportada, porque dentre muitos fatores, como atendimento profissional individualizado e a
utilização de técnicas naturais de alívio a dor, também é priorizada e incentivada a permanecia
do parceiro e da família próximo a parturiente.
Segundo Odent (2002), todo o contexto emocional que envolve a mulher em trabalho
de parto, nos permite analisar a importância que elas dão a privacidade e a liberdade de suas
ações. Assim como os animais mamíferos, os humanos, dominado pelos instintos, também
possuem estratégias de parir em privacidade, em silêncio e no escuro.
Um ambiente que não é acolhedor, é prejudicial pelo fato que qualquer situação que
estimule a liberação de hormônios adrenérgicos, pode estimular o neocórtex, vindo a inibir o
72
processo de parto. E ainda o sentimento de segurança é um pré-requisito básico para que ela
se mantenha concentrada durante todo o processo (BRASIL, 2008).
O mesmo autor ainda relata ser necessário que a mulher entre em um estado de
liberação dos seus instintos, pois isso facilita o processo de parto. Portanto, um ambiente com
luzes fortes, sons excessivos, conversas paralelas, e demais intervenções que venham colocar
a mulher em um estado de alerta, poderá vir a dificultar o parto.
Contudo, percebemos a importância da interação entre o fator ambiente e o fator
acolhedor, pois houve relatos de duas mulheres que já haviam realizado partos anteriores, em
instituições hospitalares e que sofreram com o ambiente não privativo e com o número grande
de profissionais que as rodeavam, constrangendo-as no momento do parto:
“(...) se eu tivesse em um ambiente hospitalar, eu não tinha parido ela (...) pra eu
parir ela, eu tive que tá naquela posição (cócoras), que não é uma posição que
qualquer hospital aceita (...) então eu tava numa posição que eu provavelmente ia
ficar muito constrangida de ficar no hospital, né, ainda mais com aquela
movimentação toda, (...) porque eu ficava na porta de passagem de todos os
profissionais do Hospital (...) eu gritei muuiiito, então assim, no ambiente hospitalar
se eu não me inibisse, alguém ia me constranger, porque é muito comum, a gente
sabe, de mandarem calar a boca, de começarem a agredir verbalmente a mulher”
(Violeta).
Segundo a OMS, torna-se vital, independente do local do parto, que o profissional
que dará assistência a parturiente, estabeleça um bom relacionamento com ela, pois a
qualidade do acolhimento pode determinar o grau de confiança que ela e os familiares sentem.
Deve haver também a constante avaliação do conforto físico e emocional da mulher, o que
também inclui a atenção a privacidade dela, respeitando suas escolhas de acompanhantes e
evitando a presença de pessoas desnecessárias no local do parto. (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAÚDE, 1996)
6.5 EXPERIÊNCIA DO PARTO DOMICILIAR
O início do trabalho de parto para todas as entrevistadas foi percebido a partir do
momento em que elas tomaram banho e as contrações ficaram mais regulares e intensas.
Todas as mulheres acompanhadas pela Equipe Hanami são orientadas para reconhecer o
início do trabalho de parto e ao perceberem, fazem contato telefônico avisando o que está
73
acontecendo. Nesse primeiro contato, geralmente as enfermeiras da equipe sugerem que a
mulher tome um banho morno e demorado, para alívio das contrações. Caso isso ocorra, é
orientado também que a mulher descanse e aguarde as novas contrações, pois possivelmente o
trabalho de parto ainda não começou efetivamente.
O estar próximo do parto pode desencadear reações emocionais, principalmente
medo de passar por esse momento. A sensação de medo esteve presente em três trabalhos de
parto, onde um estava relacionado ao período expulsivo e dois ligados ao medo de não
conseguir realizar o parto em casa.
“(...) tava um ambiente tão calmo e eu tinha a consciência dentro de mim que
faltava uma coragem minha pra fazer descer (...) na hora da expulsão, parece que
você vai rasgar no meio, eu senti que quando vinha a força eu dava uma segurada
(...)” (Cerejeira).
“(...) ela (enfermeira) me chamou no quarto, ai ela falou assim pra mim Jasmim tu
tá com medo do que? Mas eu falava, não to com medo, mas na verdade, eu sentia
que eu tinha um medo. E ali caiu a minha ficha que meu maior medo era não
conseguir parir em casa, que eu tivesse que parir no hospital. É que agente já tinha
sonhado tanto para ter um parto em casa (...)” (Jasmim).
A dor é subjetiva, portanto cada mulher a vive de forma singular, sendo influenciada
por vários fatores, tais como cultura, ansiedade, medo, experiências anteriores, preparação
para o parto e suporte oferecido durante esse processo. Todas as mulheres relataram sentir
dor, porém umas com maior intensidade, e outras com menor. Neste sentido a dor deve ser
tratada individualmente e não rotineiramente. Podemos constatar essa situação, através de
dois relatos, onde uma das parturientes relatou que teve muita dificuldade em lidar com a dor,
e a outra parturiente, que, embora, talvez tenha sentido dor em um mesmo limiar que a outra
mulher, estava mais bem preparada para suportá-la.
“(...) porque eu queria resistir, e ai pensava não dói, não dói, mais doía. E eu não
conseguia vencer essa dor (...)” (Jasmim).
“(...) eu senti muita dor, mais em nenhum momento eu senti que precisaria de outro
método (...)” (Orquídea).
Segundo Kruno (2004), muitas vezes os fantasmas da dúvida e do medo não são tão
assustadores como parecem ser. A dor física existe com certeza na ocasião do trabalho de
parto, porém há medos e dúvidas internas que fazem com que essa dor pareça ser muito maior
e insuportável.
74
Alguns métodos e técnicas de alívio da dor foram citados pelas mulheres
entrevistadas. Um deles foi a acupuntura, o qual incide na inserção de agulhas em locais
estrategicamente posicionados, variando a escolha dos pontos, do tamanho da agulha e do
método de inserção. (ENKIN, 2005) A acupuntura2 é um dos procedimentos terapêuticos que
constituem a Medicina Tradicional Chinesa, é um procedimento efetivo na medida em que
redistribui e normaliza a corrente energética em nosso organismo, recuperando a circulação
normal do indivíduo. Ela tem como objetivos terapêuticos a obtenção da analgesia,
recuperação motora e normalização das funções orgânicas. (MARTINI; BECKER, 2009) De
acordo com Duarte (2011), a acupuntura é associada geralmente a uma corrente elétrica. Pode
ser usada para alívio da tensão, indução e aceleração do parto.
“(...) pra ajudar durante o trabalho de parto (...) ela tinha aplicado uma acupuntura
em mim (...). E assim, quando eu teria isso num hospital? (...) Eu nunca teria isso
no hospital, esse aconchego, as pessoas me abraçando daquele jeito, dizendo, tu vai
conseguir. Quando que eu teria esse tempo no hospital? Quando que eu poderia ser
eu no hospital.” (Jasmim).
Outro método de alívio de dor é o uso de bola suíça. Davim (2008) diz que a bola
suíça proporciona mais conforto entre e durante as contrações, com os movimentos de rotação
da pelve, facilitando a rotação do bebê e ajudando-o na descida para o canal de parto. Nos
relatos das seguintes mulheres entrevistadas, observa-se que o uso da bola suíça proporcionou
muito conforto para as mulheres.
“(...) era com a bola que eu conseguia relaxar (...)” (Jasmim).
“(...) eu fiquei sentada na bola e quando eu tinha contração, também fazia uma
báscula do quadril pra trás em cima da bola que é mais fácil (...)” (Flor de Lis).
“(...) e eu sentei na bola e fiquei ali, e eu não queria sair daquela bola (...) aliviava
muito (...) e queria ficar na bola até o bebê nascer (...)” (Tulipa).
Outra vantagem mencionada por duas entrevistadas, foi o período de tempo que
puderam ficar sozinhas durante o trabalho de parto. Permitir o silêncio, a privacidade e
ambiente discreto são fundamentais para as parturientes. Geralmente a mulher não se sente
confortável ao falar durante as contrações, ao ouvir conversas paralelas ou vozes de comando,
e muito menos ter pessoas que entram e sai o tempo todo do lugar onde estão. (DOMICIANO,
2004)
2
A acupuntura foi realizada pela médica obstetra da mulher, que estava presente no parto.
75
“(...) então eu acho que foi muito importante porque eu fiquei em casa, e daí foi
todo mundo dormir, e eu fiquei quase o período do meu parto inteiro comigo (...)”
(Orquídea).
“(...) foi muito bom que eu fiquei bastante sozinha porque aí o meu marido foi
arrumar as coisas (...) essa coisa da privacidade é importante né, eu não teria um
parto desassistido, mas é o melhor jeito ter pessoas que façam isso na sua casa
(...)” (Cerejeira).
Muitas mulheres preferem um ambiente na penumbra ou na meia luz, é mais
favorável ao relaxamento. Pode-se fechar cortinas, usar abajures, lâmpadas mais fracas e
outras formas que mantenha esse ambiente mais escuro. (DUARTE, 2011) Na entrevista a
questão da iluminação foi citada por duas mulheres.
Para Jasmim, o ambiente escuro que a Equipe Hanami proporcionou, fez com que ela
se sentisse em um momento muito mágico e de grande emoção para receber seu filho no
mundo.
Outro método utilizado para conforto é a musicoterapia, que segundo Enkin et al.
(2005) pode reduzir o estresse e potencializar outras medidas de alívio da dor como
massagens, respiração, entre outras. A música cria um ambiente agradável e relaxante para as
mulheres.
“(...) foi uma magia, a emoção foi muito grande, porque quando eu cheguei aqui já
tinham preparado tudo pro parto. E meu marido já tinha colocado uma musiquinha
pra mim, (...) apagaram a luz, foi um momento muito mágico mesmo, para receber o
Lírio. (...)” (Jasmim).
“(...) tinha passado já bastante tempo pra tomar um banho (...) meu marido me
chamou, me ajudou a sair, (...) agente foi pro quarto (...) fiquei com tudo escuro
(...)” (Cerejeira).
De acordo com o estudo de Davim et al. (2008), foi observado que o banho de
chuveiro é uma técnica efetiva no alívio e conforto da dor das parturientes em trabalho de
parto na sua fase ativa. O estudo também refere que nos dias atuais, o uso de técnicas para o
alívio e conforto da dor do parto está se tornando uma temática relevante na assistência à
saúde materna e neonatal.
A água morna ajuda durante as contrações na fase da dilatação, relaxando,
diminuindo a tensão e a dor, fazendo com que o colo do útero, o assoalho pélvico e as paredes
vaginais se tornam mais elásticas para o momento de parir. (ENNING, 2000) O banho de
imersão possibilita que a parturiente e seu companheiro/acompanhante participem ativamente
do parto, sendo uma técnica muito segura. A água possui características benéficas e
analgésicas que trazem benefícios e vantagens no trabalho de parto. (MAZONI; FARIA;
76
MANFREDO, 2009) Conforme o relato das mulheres, ouvimos várias formas de utilização da
água, como duchas ou chuveiradas em regiões com muita dor ou mesmo o banho de chuveiro,
o uso da bola suíça no chuveiro e em piscinas para realização do parto na água.
“(...) eu fiquei apoiada na beirada da banheira e ela nasceu, e eu adotei essa
postura toda sentindo que era o que me aliviava (...)” (Violeta).
“(...) depois que fui pro chuveiro, (...) e deixava a água quente cair na minha
lombar (...)” (Flor de Lis).
As massagens também são técnicas muito positivas no momento do trabalho de
parto. Por ser realizada através de contato pele-a-pele, gera-se impulsos nervosos que vão
competir com as mensagens de dor que o cérebro recebe, pois são os mesmos receptores
cerebrais, diminuindo a sensação de dor. (DUARTE, 2011) Essa técnica de alívio da dor
proporciona a mulher uma diminuição da percepção de dor, com isso ajuda no relaxamento.
“(...) faziam massagem, ofereciam todo o tipo de suporte (...)” (Tulipa).
Podemos citar também o apoio emocional, a compreensão, o carinho que pode ser
obtido do companheiro, da mãe, da amiga e da equipe de enfermagem, tem muita importância
para a mulher não sentir-se solitária nesse momento tão significativo e intenso. Recebendo
sempre carinho, informações da equipe, massagens, tudo isso contribui muito no processo do
parto. A confiança também é um fator importante nessa trajetória, permitindo que a mulher
tenha uma boa interação com as pessoas que a acompanhe, que tenha uma harmonia entre
todas as pessoas presentes e auxiliando nesse momento tão importante que é o sucesso do seu
trabalho de parto (DUARTE, 2011).
“(...) eu tinha a presença das pessoas que eu escolhi (...) poderia ter levado a
família inteira, se eu quisesse. Não tinha repreensão nenhuma, pelas enfermeiras,
pelo contrário, assim, elas estavam só para dar um apoio mesmo. Pude contar com
métodos de auxílio na dor assim, até emocionalmente quando precisava (...)”
(Tulipa).
Segundo a fala de Jasmim o chocolate com os florais foi algo que a acalmou durante
o trabalho de parto. Martini e Becker (2009), dizem que a terapia com florais ajuda a baixar o
nível de ansiedade, a lidar com o medo, tranquiliza, acalma e permite uma percepção mais
acentuada do momento, reforçando a resistência física e emocional para que a mulher consiga
sentir-se mais relaxada para progredir o trabalho de parto.
77
“(...) para mim foi à coisa que me acalmo (...) elas picaram o chocolate e
colocaram um monte de florais e eu achando que era chocolate com licor (...)”
(Jasmin).
Na prestação de um parto humanizado, está se procurando oferecer alternativas não
farmacológicas de alivio da dor, como o uso de banhos de chuveiro, bola suíça, de pufes e até
a presença de familiares. (FIALHO, 2008) Através dos relatos percebemos que a Equipe
Hanami oferece todo o tipo de suporte, a parturiente, respeitando inteiramente a sua vontade,
em um ambiente seguro e acolhedor, o que a torna essa assistência humanizada.
“(..) a gente fez um parto que se chama parto Lotus, que agente não corta o cordão,
agente mantém a placenta ligada no bebê depois que ele nasce (...) eu comi uma
parte dela (placenta) o meu marido também comeu, e a nossa amiga também comeu
(...) de manha chegou uma outra amiga minha que eu já tinha combinado com ela
pra fazer uma tintura na verdade uma homeopatia com a placenta(...)” (Cerejeira).
.
O parto domiciliar proporciona o respeito às crenças e valores da mulher e de sua
família. Todas as culturas desenvolvem ritos de cuidado, através do relato da Cerejeira podese perceber alguns rituais que só puderem ser realizados por ter acontecido em ambiente
domiciliar.
Segundo a OMS, é improvável que o clampeamento tardio do cordão umbilical
provoque efeitos adversos em um parto normal. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE,
1996) Pesquisas recentes aprovam o clampeamento tardio, pois previne a anemia ferropriva
na infância, o que pode ser importante para recém-nascidos que vivem em países
subdesenvolvidos. (BRASIL, 2011)
Segundo Venancio et al. (2008), os níveis de ferro na criança são fortemente
influenciados pelo volume corpóreo total de ferro ao nascimento. As práticas obstétricas,
particularmente o momento do clampeamento do cordão umbilical, podem afetar o volume de
sangue transferido da placenta para o recém-nascido e consequentemente o volume total de
ferro.
O clampeamento do cordão umbilical um minuto após o nascimento tem efeito
positivo e independente sobre os níveis de ferritina aos três meses de vida. No entanto os
mesmos resultados não foram encontrados em relação aos níveis de hemoglobina.
(VENÂNCIO et al., 2008)
Para Leininger (apud LUNA e CAMERON, 1989), a enfermagem é uma profissão,
cuja assistência é essencialmente formada por cuidados transculturais, sendo esses cuidados,
78
ajustáveis as crenças, valores, e tipos de cultura da mulher assistida. A atenção as crenças e
aos valores da parturiente permitem ao enfermeiro compreender e prever qual tipo de cuidado
terapêutico popular será o mais adequado a oferecer ou aceitar para o processo de nascimento.
A maioria das mulheres entrevistadas cita a autonomia no parto, relacionado à
liberdade que a equipe Hanami ofereceu para elas, por poderem estar num ambiente
acolhedor, acompanhadas de pessoas especiais escolhidas por elas, a terem toda a autonomia e
liberdade para optarem, quanto ao que fazer, do que comer e beber, de não precisar assumir
posturas e de realizar procedimentos que elas não desejavam e de terem sido a protagonista do
seu parto.
De acordo com o estudo de Colacioppo et al. (2010) as práticas assistenciais visam
promover o conforto e o bem-estar físico e emocional durante o trabalho de parto, parto e pósparto. O cuidado no parto domiciliar deve ser realizado e centrado nas necessidades da mulher
e no respeito à fisiologia e ao ambiente privado da sua casa. A mulher deve ser estimulada a
encontrar posições e realizar atividades, como alimentar-se, movimentar-se e descansar, de
acordo com sua vontade.
“Eu tive toda a liberdade de eu ficar na posição que eu quisesse, de sempre que eu
precisasse, assim, eu podia ir ao banheiro, podia tomar água (...) em âmbito
domiciliar eu era a protagonista do meu parto, (...) e eu tinha esse apoio do
Hanami, porque caso acontecesse alguma coisa imprevista, e além do apoio que
elas dão, qualquer coisa também eu poderia ser encaminhada pra uma
maternidade, mais eu tinha plena certeza que eu tinha essa capacidade.” (Tulipa).
“(...) que eu percebo assim do parto do meu filho, pro parto da minha segunda filha,
que é essa liberdade pra você vivenciar isso com autonomia.” (Violeta).
Segundo Brasil (2001), o parto deve ser seguro, garantindo a cada mulher os
benefícios dos avanços científicos, mas fundamentalmente, deve permitir e estimular o
exercício da mulher, resgatando a autonomia dela no parto. A perda da autonomia da mulher
no parto hospitalar está relacionada, principalmente, com a intensa medicalização existente
em ambientes hospitalares.
“(...) A principal vantagem, assim, do parto em casa, foi humanizado, foi o
atendimento ao recém-nascido. Então isso foi muito especial assim, de eu poder
ficar com ele no colo, tanto quanto fosse necessário, a placenta saiu naturalmente.
E também depois todo o trabalho que elas fazem na ajuda ao aleitamento, consultas
puerperais, um cuidado muito especial que elas têm, assim com cada mãe e filho
que elas acompanham. Se um dia eu tiver um terceiro, vai ser da mesma forma”
(Tulipa).
Segundo a OMS, o contato precoce pele-a-pele entre a mãe e o bebê é muito
importante, pois trás diversos benefícios tanto para mãe quanto para o bebê. Dentre os
79
benefícios estão: estimular a mãe e o bebê a se conhecerem, fazer com que a perda da
temperatura corporal do bebê não seja tão intensa, e auxiliar na colonização da flora
bacteriana residente do bebê. (BRASIL, 2011)
O contato pele-a-pele após o parto também traz benefícios adicionais a curto e longo
prazos. É importante manter o bebê e a mãe juntos, não somente durante a primeira hora de
vida, mas também tão frequentemente quanto possível durante os primeiro dias de vida,
realizando todos os exames do bebê junto da mãe. (BRASIL, 2011)
O mesmo autor ainda refere que promover a amamentação é outro benefício
importante que a aproximação precoce do bebê proporciona. Considerando que a produção de
leite é determinada pela frequência com a qual o bebê suga e esvazia o peito, quanto maior a
produção de leite, maior serão as chances de prevenir a perda excessiva de peso neonatal.
Estudos também comprovam que a amamentação precoce reduz as chances de ingurgitamento
mamário. (BRASIL, 2011)
6.6 POSIÇÕES ESCOLHIDAS PARA O PARTO
Conforme a OMS, as posições verticalizadas apresentam inúmeras vantagens para a
evolução do trabalho de parto. As vantagens mais citadas nas entrevistas é que essas posições
causa menos desconforto e aliviam mais a dor durante o trabalho de parto e parto. Segundo
resultados de estudos, houve menos escores de APGAR abaixo de 7 quando a mulher estava
na posição verticalizada. (BRASIL, 2008)
A posição de cócoras, citada por 86% das mulheres entrevistadas, ajuda no processo
geral do parto por ser a posição mais fisiológica para o trabalho de parto e parto. Ela
proporciona à pelve maiores aberturas, como se o canal do parto se alargasse, e com a
gravidade exercida pelo feto sobre a pelve materna e com a intensidade das contrações
aumentando gradativamente sendo assim, a descida do bebê é facilitada. (BALASKAS, 2008)
A posição de cócoras possui outras vantagens, segundo Duarte (2011), o parto é mais
rápido, diminui a necessidade de episiotomia, a mulher sente o controle do seu parto e o
companheiro tem a participação mais ativa, ajudando a mulher a ficar nessa posição.
“(...) a posição que mais me conforto durante o trabalho, era o cócoras, que foi o
que eu consegui ficar muito bem na água.(...)” (Jasmim).
80
“Eu sentia que na força fazia mais efeito assim, que parece que rendia mais nas
contrações quando eu estava de cócoras.” (Íris).
“Eu fui percebendo que quanto mais eu fizesse uma posição que abrisse o meu
quadril, menos doloridas eram as contrações (...)” (Cerejeira).
A posição de quatro adotadas por três das mulheres entrevistadas no estudo era o que
mais aliviava a dor durante o processo de parir. Essa posição é indicada quando o trabalho de
parto e o segundo período estão ocorrendo muito rápido, pois ajuda a mulher a ter mais
controle e domínio do parto e, o bebê vai progredir um pouco mais devagar, diminuindo aos
poucos a pressão na lombar. Devido à diminuição da pressão lombar, a posição de quatro é
mais adotada quando as contrações estão mais intensas e regulares, dando mais conforto a
mulher (BALASKAS, 2008)
“(...) eu fiquei quase todo o trabalho de parto e parto na mesma postura, que foi a
posição mais de quatro, porque eu apoiava os joelhos na hora das contrações na
cama. Às vezes eu saia da cama e ficava de joelho no chão e apoiando os cotovelos.
No banheiro eu também me colocava nessa posição, eu achava que era a que mais
aliviava (...)” (Orquídea).
Na posição genupeitoral a mulher pode alongar a coluna para relaxar, sentando-se
sobre os pés e alongando os braços à frente. Essa posição também é uma boa posição para o
parto porque, às vezes, é percebida como menos dolorosa e pode facilitar o nascimento.
(TEIXEIRA, 2003) Essa posição é favorável para as adaptações da cabeça fetal na pelve
durante as contrações, pois também facilita a dilatação do colo, propícia o alívio da dor e
melhora a oxigenação fetal. (COLLAÇO; SIEBERT, 2008)
“(...) eu fiquei acho que 90% do trabalho de parto em posição genupeitoral, com os
cotovelos apoiados nos joelhos, e no inicio as contrações não estavam muito fortes
ainda, eu aproveitei bastante, para relaxar bastante o quadril (...)” (Violeta).
Alguns estudos revelam que, fisiologicamente, é muito melhor para a mãe e para o
feto quando a mulher se mantém em movimento (deambulando e variando as posições)
durante o trabalho de parto, pois com isso o útero se contrai com mais eficácia, onde chega
mais fluxo sanguíneo ao bebê através da placenta, o trabalho de parto se torna mais curto e a
dor é um pouco menor. (MAMEDE; MAMEDE; DOTTO, 2007) Devemos incentivar a
parturiente a deambular e a mudar de posições no trabalho de parto e parto, fazendo com que
ocorram várias vantagens e benefícios para a mãe e para o bebê.
81
“(...) No trabalho de parto, eu fiquei grande parte do trabalho de parto sentado na
bola grandona, e também ficava caminhando em volta da piscina (...)” (Tulipa).
“Sai pra caminhar de manhã com a minha filha, foi na hora que eu caminhei que eu
senti as contrações mais regulares (...)” (Flor de Lis).
Em conclusão, para todos os estágios do parto, as mulheres podem e devem adotar
qualquer posição que lhes agrade e que lhes forneça mais conforto, evitar longos períodos em
decúbito dorsal, porque nessa posição a compressão da veia cava pelo peso do útero, diminui
o fluxo sanguíneo materno, diminuindo a oxigenação fetal.
Deve-se estimulá-las a
experimentar a posição que for mais confortável, e suas escolhas devem ser apoiadas pelos
profissionais que acompanham e auxiliam no parto. (BRASIL, 2001)
6.7 PERCEPÇÃO E SATISFAÇÃO QUANTO À ASSISTÊNCIA PRESTADA
Referente à relação entre equipe e parturiente
“Super bom assim, elas vem antes pra conhecer a casa, pra conversar com a gente,
pra saber como é que agente quer o parto, esclarecer dúvidas, e na hora do parto
agente não precisa se preocupar com nada” (Cerejeira).
Segundo Fialho (2008), o profissional enfermeiro e demais profissionais que
desempenham a assistência à parturiente devem conhecer a situação da parturiente, para poder
interpretar e obter uma compreensão do seu sofrimento ou angustia. O objetivo dessa
compreensão é selecionar as estratégias mais adequadas para resolver o problema da mesma.
Sendo assim, percebemos a importância vital que a equipe deve dar à caracterização
do perfil da parturiente, analisando os motivos que ela possui para realizar seu parto em
domicílio, como também, todas as dúvidas e receios que ela tem do processo. Isso se torna
importante, para que os profissionais se familiarizem com o ambiente e vontade da
parturiente, e para que essa crie vínculos com a equipe que auxiliará a parir.
“Da vontade de continuar a relação de tão próximo que a gente fica, de tão a
vontade que a gente fica, quando a pessoas falam as Hanamigas, são mesmo, por
mais que a gente não tenha contato eu sei que são pessoas que vão ser sempre
especiais. Que tiveram com a gente num momento mais que especial na nossa vida”
(Iris).
82
É importante a mulher não se sentir sozinha nesse momento tão significativo e
intenso. A aproximação física ou emocional é importante e de grande ajuda no processo do
parto. (DUARTE, 2011)
Os relatos por si só já ilustram como é a relação que se estabelece entre a equipe e a
parturiente, onde as enfermeiras da Equipe Hanami buscam estabelecer mais que um vínculo
assistencial, elas buscam estabelecer uma relação de amizade, que promove à aproximação da
parturiente com a equipe, aonde esta deposita sua confiança na equipe.
Referente assistência prestada pela Equipe Hanami
“Durante o trabalho de parto, cada uma tinha seu jeitinho, o seu conforto, cada
uma com suas palavras, ao mesmo tempo, que tinha esse lado carinhoso, (...) esse
aconchego e ao mesmo tempo tinha todo o arsenal técnico e experiência por trás
(...), no pós-parto eu vivenciei um momento muito bonito. Eu vivenciei uma gestação
muito bonita, eu não queria que isso passasse...” (Jasmim).
“(...) as meninas são super profissionais, têm um material todo de apoio, elas tem o
contato para caso aconteça alguma coisa, alguma intercorrência, né, então tem
todo esse lado que com certeza faz diferença, (...) a gente tem opção de ter um parto
seguro, planejado, com todo esse material, e além de tudo, humanizado, acolhedor,
então isso fecha com chave de ouro, com certeza.” (Violeta).
De acordo com o Coren SP (2010), é importante que no acompanhamento do parto
natural o profissional que presta a assistência tenha paciência, tranquilidade, respeito e
conhecimento científico, não se esquecendo que a mulher é a protagonista do processo de
parir e personagem principal da sua assistência.
Referente à preparação que a Equipe Hanami oferece
“Eu achei muito bom, no pré-natal, elas te dão alguns cursos, que é opcional, se a
pessoa quiser fazer, os cursos foram maravilhosos que eu fiz. Então elas dão a
possibilidade de conhecer um pouco mais do assoalho pélvico, de conhecer o que é
o nascimento, pro bebê também, a participação do pai, elas trazem isso (...)”
(Orquídea).
A Equipe Hanami busca transmitir a maior quantidade de informações acerca dos
fenômenos que envolvem todo o processo gestativo e parturitivo, o que mediante as
evidências dos relatos, trouxeram uma maior segurança e preparo a parturiente, para o seu
processo de parir.
83
“Olha, fantástico. Eu não conhecia e não conheço e não sei se existe um
atendimento e um acompanhamento tão completo e tão eficaz assim, porque como
começa antes e termina depois elas te acompanham nos momentos mais
transformadores (...), dá saudade assim, hoje que já passou que já fizemos a
consulta do 10ª dia e já fez a consulta dos 40ª dias, às vezes quando eu vejo na lista
de e-mail lá, que nasceu mais alguém, ai que saudade” (Iris).
No terceiro trimestre de gravidez nasce no coração das gestantes o medo e o aumento
da ansiedade com a aproximação do dia do parto. Elas se vêem então em conflitos emocionais
aonde se tornam vulneráveis e sensíveis. Sendo assim durante a gestação há uma série de
necessidades que a enfermagem e demais profissionais da assistência precisam dar conta e
prepará-las para o processo de parto. (SILVA, 2001)
Referente à liberdade dada à parturiente pela Equipe Hanami
“(...) eu me lembro de alguns flashes delas, eu na posição que eu queria tá e que
não era o mais confortável pra ela obviamente, mas elas ficaram se contorcendo
horrores para poder fazer a ausculta do bebê. Em nenhum momento eu tinha que
assumir uma postura para que elas estivessem mais confortáveis do que eu”
(Violeta).
Foi respeitada inclusive a vontade da parturiente até no momento de realizar os
exames, quando o tipo de exame o permitia. A enfermeira tinha então que se posicionar para
realizar o exame, ou seja, nunca era retirada a parturiente do seu conforto para facilitar algum
procedimento para a equipe. Essa adaptava-se a necessidade da parturiente.
“(...) foi outro tratamento, assim, foi tratamento de gente né, (...) eu tive toda a
liberdade de eu ficar na posição que eu quisesse, de sempre que eu precisasse,
assim, eu podia ir ao banheiro, podia tomar água, (...) e sempre que o bicho
começava a pegar, nas contrações, assim, faziam massagem, ofereciam todo o tipo
de suportes, aí fiz o que eu queria, eu tive uma piscina à disposição” (Tulipa).
Através do relato da Tulipa percebemos que a liberdade e atenção dada a ela durante
todo o processo de parto foram de fundamental importância para a aceitação de toda a
assistência. O primeiro ponto a ser observado é referente à liberdade da parturiente escolher a
posição que ela queria parir.
Foi cientificamente comprovado que um dos maiores equívocos da obstetrícia foi de
horizontalizar um processo, em que, fisiologicamente ocorreria o mais verticalizado possível,
utilizando o fator gravitacional como auxílio para o processo de dilatação e expulsão.
(BRASIL, 2008)
Para Brasil (2008), a OMS preconiza que a parturiente escolha a posição durante o
trabalho de parto, pois isso é benéfico e que ela deve ser encorajada para tal. Estudos têm
84
demonstrado menor uso de analgesia e menor uso de medicações para aceleração do trabalho
de parto em posições verticalizadas quando comparada à posição supina.
Diversas opiniões têm rodeado sobre se é certo ou não a parturiente se alimentar
durante o processo de parto. De acordo com a OMS, a suspensão de alimentos não constitui
problema, geralmente as mulheres não desejam comer durante o trabalho de parto. Entretanto
observasse a necessidade de ingerir líquido por parte das mulheres. Porém o trabalho de parto
requer enorme quantidade de energia e como não se pode prever seu tempo de duração, para
garantir o bem-estar fetal e materno, faz-se importante repor essa fonte de energia
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1996).
O mesmo autor também relata que no parto domiciliar não há nenhuma restrição
alimentar, e que quando as parturientes querem comer, tendem intuitivamente ingerir
alimentos de fácil digestão.
Referente à mobilização de objetos e organização da casa
“Fiquei bem satisfeita, elas não te deixam com nada pendente, no dia do trabalho
do parto depois que elas foram embora (...) eu olhei a casa assim, não parecia que
tinha acontecido nada, que sabe, tava tudo em ordem, até as roupa da minha cama
elas trocaram pra eu poder deitar lá com a neném” (Flor de Lis).
Para que o parto ocorra da melhor forma possível, faz-se necessário um ambiente
aconchegante, com todos os aparatos necessários ao parto, e recursos utilizados para alivio da
dor. (COREN SP, 2010)
Percebe-se que a assistência prestada pela Equipe Hanami, busca que a parturiente
sinta-se completamente confortável. Enquanto a parturiente está concentrada no trabalho de
parto, parte da equipe está preparando o ambiente e utensílios, para que a parturiente tenha
espaço e suporte para todo o processo do parto. Após todo o processo, a equipe também fica
responsável pela limpeza e organização dos objetos movimentados e utilizados.
Referente ao que motiva a Equipe a realizar esse tipo de assistência.
“(...) elas não fazem isso por dinheiro, ou por pressão... elas fazem porque elas
gostam, né é um trabalho que dá gosto de ver assim eu acho que em todas essas
etapas não tem do que reclamar, foi muito bom mesmo” (Tulipa).
Segundo Silva (2001), a humanização da assistência ao parto, tem o enfermeiro
como peça ator principal do ato de humanizar, sendo de fundamental importância que a
85
prestação do seu serviço seja norteada por amor ao que faz. A autora ainda acrescenta que a
assistência humanizada é possível quando a equipe de enfermagem assume o compromisso
estando disposta a proporcionar uma assistência com qualidade.
Referente à repetição do parto domiciliar com a Equipe em uma próxima gestação
“Eu repetiria numa próxima gestação, porque eu gostei da experiência, e não me
vejo mais em um ambiente hospitalar, pra ter filhos, completamente desnecessário,
gostei muito da experiência do parto domiciliar. O respeito que eu tive tanto
comigo, quanto o meu filho, então eu certamente repetiria (...)” (Tulipa).
“Sim, repetiria, eu acho que não faz sentido ter no hospital (...) eu fui abençoada
com uma boa saúde, com uma boa vitalidade no momento do parto e consegui ter e
conduzir junto com as pessoas que estavam comigo da melhor forma sem precisar
de nenhuma estrutura hospitalar e de nenhuma intervenção que o hospital faria
(...)” (Flor de Lis).
“Com certeza. A justificativa é de simplesmente deixar acontecer o parto como ele é
(...) agora mesmo, que eu fiz um curso sobre doula, então eu quero também, ter essa
possibilidade de acompanhar a gestante, porque elas precisam mais no hospital,
porque os médicos não tem essa visão né. Então assim, acho que no hospital é muito
difícil você poder passar por um parto natural, porque lá você tem interferências do
meio” (Orquídea).
Todas as entrevistadas relatam que repetiriam o parto domiciliar caso engravidassem
novamente, o que mostra uma grande satisfação com a assistência prestada pela equipe
Hanami e os demais fenômenos que envolveram o processo de parto natural. Durante o
trabalho de parto e parto elas foram confortadas, ouvidas e respeitadas. Conforme as citações
das mulheres entrevistadas, percebemos que o parto domiciliar não proporcionou a elas
somente uma experiência completa e agradável, mas também criou nelas maior confiança na
capacidade do corpo feminino de parir sem qualquer tipo de intervenção presente nas
instituições hospitalares.
86
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar e discutir sobre os fenômenos que envolvem a prática do parto é fascinante.
Cada idéia nos proporciona um novo ponto de vista sobre a dinamicidade desse processo. É
um tema que nos apresenta uma diversidade de idéias, pois está inserido em questões
culturais, sociais e econômicas de variadas sociedades, e em diferentes épocas da história
humana, o que torna constante a reconstrução desse saber.
A escolha do título dessa pesquisa, “Parto Domiciliar: a busca por um parto
humanizado na percepção de um grupo de mulheres”, foi inspirada na confiança que as
mulheres entrevistadas depositaram no parto domiciliar, como um modelo de parto que
proporcionaria a elas uma assistência e um ambiente humanizado.
Buscamos através desse estudo, conhecer mais sobre o parto domiciliar e os
fenômenos que o rodeia, tendo como perspectiva referências teóricas e as percepções e
experiências das mulheres que protagonizaram esse evento.
Através do resgate histórico, podemos constatar que o cuidado sempre esteve
presente na história humana, e a assistência ao parto surgiu a partir do momento em que as
mulheres sentiram a necessidade de ajudar umas as outras nesse momento difícil e ao mesmo
tempo marcante em suas vidas.
A assistência exercida pelas parteiras estava inserida no contexto cultural da
parturiente, onde respeitava as crenças e valores. Era uma assistência que, embora não fosse
norteada por um conhecimento científico, supria as exigências fisiológicas e emocionais das
mulheres, proporcionando a elas uma experiência de parto completa e humanizada.
Podemos contemplar através desse estudo, um movimento de resgate da autonomia
do processo parturitivo, por mulheres que começaram a questionar a cultura moderna do parto
institucionalizado. Sendo que essa cultura, vê o parto como um processo patológico, em que
as mulheres necessitam de constantes intervenções para darem a luz a seus filhos. Com isso,
vêm sendo reivindicando a necessidade de liberdade, sendo ela instintiva ou não, no qual foi
esquecida com o tempo, devido às mudanças dos padrões culturais.
Conforme os relatos dessas mulheres o parto é um fenômeno totalmente fisiológico,
sendo o ambiente domiciliar, o local mais adequado para a realização desse processo, quando
estamos diante de uma gestação de baixo risco. Conclue-se então, que o ambiente hospitalar é
destinado as gestações de maior risco, sendo acompanhadas ou não de alguma patologia.
87
As experiências anteriores vivenciadas ou os conceitos pré-formados sobre as rotinas
hospitalares, resultaram em um dos motivos mais relevantes que induziu essas mulheres a
optarem pela realização do parto no domicílio, o que se mostrou mais favorável para o
primeiro contato entre a mãe e o bebê. Das mulheres que já haviam realizado o parto
hospitalar, criticaram a forma de como foram acolhidas pelos profissionais de saúde. A falta
de comunicação sobre a assistência prestada a elas, nos exames especulares, na ausculta do
BCF, dentre outros, não forneciam completos esclarecimentos sobre as finalidades e
resultados do que estava sendo realizado. O mesmo acontecia na assistência prestada ao bebê,
onde as mães questionavam a separação que ocorria durante a realização dos exames
neonatais.
Outro fator relevante para a escolha do parto domiciliar, foi a total liberdade da
parturiente estar acompanhada por todas as pessoas que julgava ser necessário. Sendo que o
vínculo familiar, nesse processo, era de vital importância para oferecer apoio emocional. Para
elas todos esses benefícios citados não poderiam ser vivenciados em um ambiente hospitalar,
devido aos protocolos e rotinas impostas pela instituição.
Para algumas das entrevistadas, a preparação para o parto domiciliar, inicio-se com a
busca de informações acerca das características que envolvem esse processo. As consultas de
pré-natal e as visitas domiciliares foram os momentos mais oportunos para que as enfermeiras
do Hanami compartilhassem com toda a família conhecimentos a respeito do parto. A
discussão da temática ocorreu através de palestras, reuniões e consultas de pré-natal, nas quais
eram abordados os fenômenos acerca do parto e do nascimento e eram dadas sugestões de
literaturas para maiores esclarecimentos. Esses fenômenos abordados compreendiam desde a
fisiologia materna, posições para o parto, métodos naturais de alívio da dor, até possíveis
complicações e intercorrências durante o trabalho de parto, parto e pós-parto.
Percebemos que as mulheres deste estudo estão bem cientes da sua capacidade
fisiológica de parir naturalmente, sendo o resgate dessa força, as vivências mais marcantes
relatadas durante a pesquisa. A escolha pelo natural resultou na transformação pessoal dessas
mulheres, onde vidas foram mudadas, pontos de vistas modificados e valores transformados.
Contemplamos, através dos dados coletados, que muitas delas não se iludiram com a
possibilidade de vivenciarem um parto sem dor, pelo contrário, elas tinham o conhecimento
que a dor as acompanharia em todo o processo, no entanto enfrentaram este desconforto como
algo que julgavam ser pertinente ao nascimento.
As mulheres relataram que o ambiente domiciliar proporcionou maior privacidade,
conforto, total liberdade na escolha da posição para partejar, estar ao lado de seu filho nos
88
primeiros momentos de vida e de se sentir protagonista do seu processo de parir. As mulheres
devem adotar qualquer posição que forneça mais conforto a ela durante o trabalho de parto e
parto, devendo evitar longos períodos em decúbito dorsal.
A equipe Hanami, com êxito, conseguiu proporcionar a parturiente uma experiência
completa e humanizada. A criação de um vínculo, entre os dois lados, bem como o respeito
pelas escolhas, expectativas e cultura permitiu uma maior segurança e confiabilidade por parte
destas mulheres.
Todas as mulheres desse estudo repetiriam o parto domiciliar com a Equipe Hanami
em uma próxima gestação, fazendo-nos confirmar a satisfação das entrevistadas com a
assistência prestada pelas enfermeiras.
Acreditamos que cada vez mais mulheres buscarão resgatar os valores que envolvem
o parto natural, livre de intervenções desnecessárias e com atendimento e assistência
humanizada e respeitosa, realizado, ou não, no domicílio. Que a busca pelos direitos e pela
autonomia já é uma tendência irreversível em nossa sociedade, mesmo que muitas ainda
optem por se submeterem as rotinas hospitalares. Cremos que essa vontade do ser humano de
buscar novos pontos de vistas, ideias, e estilos de vida que melhor o satisfaça é a força que
impulsiona a transformação do mundo.
A importância dada ao processo de doença é um dos motivos que impede o abandono
das formas interventivas de assistência ao parto. A transformação das organizações
profissionalizantes na área da saúde é a chave para a mudança da assistência vigente. Através
do resgate dos contextos socioculturais que envolviam a sociedade em épocas passadas, assim
nos permitirá reconstruir o saber obstétrico.
O enfermeiro que presta o cuidado ao processo do nascimento deve, antes de tudo,
julgar se a assistência prestada atualmente nas instituições hospitalares, atende todas as
necessidades biopsicoculturais e espirituais da parturiente. É necessária a formação de
profissionais que acolham a mulher com respeito, dignidade e incentivando o resgate da
autonomia da mulher no processo parturitivo.
O apoio psicológico exercido pela enfermagem é de vital importância. Espera que o
profissional esteja ao lado da parturiente e do familiar, ouvindo e percebendo suas
necessidades, e nunca esquecendo que eles são os atores principais da gestação e do parto.
Para isso é necessário um olhar atento sobre os cuidados, evitando a medicalização e o
menosprezo dos significados atribuídos pela gestante no processo de parto.
89
Os aspectos éticos ligados ao cuidado e à humanização devem ser uma das premissas
básicas para que o atendimento às mulheres tenha realmente qualidade e para que os
cuidadores possam ter prazer em cuidar.
90
REFERÊNCIAS
ACKER, Justina Inês Brunetto Verruck, et al. As parteiras e o cuidado com o nascimento.
Revista Brasileira de Enfermagem. Distrito Federal - Brasília v.59, n.5, 2006. ISSN
0034-7167
ALMEIDA, Jéssica Daniela Nunes. Prática da yoga durante o período de gestação. Revista
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96
APÊNDICES
97
APÊNDICE A– ROTEIRO PARA A ENTREVISTA
Identificação da Participante
Nome: _____________________________________________________________________
Idade: __________ anos
Escolaridade: ________________________________________________________________
Atividade Profissional: ________________________________________________________
Estado civil:_________________________________________________________________
Endereço: __________________________________________________________________
Telefone:___________________________________________________________________
Antecedentes Obstétricos
No. de Gestações: _______________________ No. de Abortos: _______________________
No. de Partos Normais: _______________________ No. de Cesáreas: __________________
Data da Última Menstruação: ____/____/____
Local onde realizou o pré-natal: _________________________________________________
Local escolhido para o parto: ___________________________________________________
A sua última gestação foi planejada? _____________________________________________
Questões
1. Como foi a experiência do(s) seu(seus) parto(s) anterior(es) para você e sua família?
2. Onde foi realizado?
3. O que levou você a optar pela realização do parto em âmbito domiciliar nesse último
parto?
4. Você foi preparada para o parto domiciliar? Como?
5. Quais eram suas expectativas em relação ao parto domiciliar? Foram atendidas?
6. Conte-nos como foi sua experiência no parto domiciliar.
7. Qual(is) foi(ram) a(as) posição(ões) utilizada(s) durante o trabalho de parto e parto? O
que levou você a adotar(las)?
8. Como você avalia a assistência prestada pelas enfermeiras obstetras da equipe Hanami
durante o pré-natal, parto e pós-parto?
9. Você ficou satisfeita com a assistência prestada pelas enfermeiras da equipe Hanami?
Justifique?
10. Você repetiria o parto domiciliar em uma próxima gestação? Justifique?
98
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título do Projeto: PARTO DOMICILIAR: A BUSCA POR UM PARTO HUMANIZADO
Gostaria de obter todas as informações
sobre este estudo:
Tempo que terei de ficar disponível;
Será em média 2 horas;
Quantas sessões serão necessárias (com Está previsto apenas um encontro, sendo que se
houver necessidade, será proposto um segundo
dia e horário previamente marcados);
encontro, conforme sua disponibilidade;
Detalhes sobre todos os procedimentos A coleta dos dados será realizada por meio de
(testes, tratamentos, exercícios, etc.);
entrevista semi-estruturada, com questões abertas;
Local onde será realizado;
O local da coleta de dados ficará a ser definido em
conjunto com você mulher;
Equipamentos ou instrumentos que serão Para garantir a facilidade e impedir a perda de
importantes informações coletadas, as entrevistas
utilizados;
serão gravadas em formato Mp3 Player;
Será preciso vestir alguma roupa ou sapato
apropriado;
e
quaisquer
outras Não será preciso usar nenhum tipo de roupa ou sapato
informações sobre o procedimento do apropriado.
estudo a ser realizado em mim.
Quais as medidas a serem obtidas?
Não será obtida nenhuma medida.
Quais os riscos e desconforto que podem Os riscos e os desconfortos serão mínimos.
ocorrer?
Quais os meus benefícios e vantagens em Ajudar-nos a compreender as expectativas e
fazer parte deste estudo?
experiências vivenciadas na atenção ao parto
contribuindo para melhora da assistência obstétrica
em Santa Catarina e no Brasil.
Quais as pessoas que estarão me Os pesquisadores:
acompanhando durante os procedimentos
Amanda de Souza Gomes (48) 8467-3827
práticos deste estudo?
Jaqueline de Faria (48) 8414-7772
Renan de Souza (48) 9921-4480
Este estudo envolve tirar fotos ou filmar a Não.
minha pessoa?
99
Existe algum questionário que preciso Existe um roteiro de perguntas que iremos fazer na
preencher? Sou obrigado a responder a entrevista. Você terá o direito de não responder a
qualquer pergunta e poderá desistir de participar do
todas as perguntas?
estudo a qualquer momento sem nenhum prejuízo e
punição.
Qual a maneira de se manter sob sigilo as Na apresentação dos resultados serão utilizados
minhas fotos, vídeos, questionários ou nomes fictícios, não ocorrendo a identificação dos
qualquer outro dado a meu respeito?
participantes. Os dados de áudio coletados serão
destruídos após sua transcrição, sendo que estas
transcrições ficarão de domínio dos pesquisadores por
até 5 anos, e depois destruídas.
Pesquisadora Responsável: Profa. Msc. Telefone: (48) 9604-9096
Fernanda Peixoto Cordova
Endereço: Faculdade Estácio de Sá Santa Catarina,
Av. Leoberto Leal, 431 – Barreiros, São José/SC.
Comitê de ética do Instituto
Cardiologia de Santa Catarina
de Telefone: (48) 32719101
TERMO DE CONSENTIMENTO
Declaro que fui informada sobre todos os procedimentos da pesquisa e, que recebi de forma clara e
objetiva todas as explicações pertinentes ao projeto e, que todos os dados a meu respeito serão
sigilosos. Eu compreendo que neste estudo irei participar de uma entrevista, respondendo as
perguntas a mim feitas de acordo com minha vontade.
Declaro que fui informada que posso me retirar do estudo a qualquer momento.
Nome por extenso _________________________________________________________ .
Assinatura da participante _________________________________________, ____/____/____ .
100
APÊNDICE C – E-FLYER DE DIVULGAÇÃO PARA ENTREVISTA
101
ANEXOS
102
ANEXO A – LEI DO ACOMPANHANTE
Lei nº 11.108, de 7 de Abril de 2005
Altera a Lei nº 8.080, de 19 de
setembro de 1990, para
garantir às parturientes o
direito
à
presença
de
acompanhante
durante
o
trabalho de parto, parto e pósparto imediato, no âmbito do
Sistema Único de Saúde SUS.
O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA
REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º O Título II "Do Sistema Único de Saúde" da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
1990, passa a vigorar acrescido do seguinte Capítulo VII "Do Subsistema de
Acompanhamento durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato", e dos arts. 19-J e
19-L:
"CAPÍTULO VII
DO SUBSISTEMA DE ACOMPANHAMENTO
DURANTE O TRABALHO DE PARTO, PARTO
E PÓS-PARTO IMEDIATO
Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria ou
conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um)
acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.
§ 1º O acompanhante de que trata o caput deste artigo será indicado pela parturiente.
§ 2º As ações destinadas a viabilizar o pleno exercício dos direitos de que trata este artigo
constarão do regulamento da lei, a ser elaborado pelo órgão competente do Poder Executivo.
Art. 19-L. (VETADO)"
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 7 de abril de 2005; 184º da Independência e 117º da República.
JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA
Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto
Humberto Sérgio Costa Lima
Publicação:
Diário Oficial da União - Seção 1 - 08/04/2005 , Página 1 (Publicação Original)
103
ANEXO B – COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA

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