REVISTA UNIVAP

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REVISTA UNIVAP
REVISTA UNIVAP
Universidade do Vale do Paraíba
Ficha Catalográfica
Revista UniVap - Ciência - Tecnologia - Humanismo. v.1, n.1 (1993)São José dos Campos: UniVap, 1993v. : il. ; 30cm
.
Semestral com suplemento.
ISSN 1517-3275
1 - Universidade do Vale do Paraíba
A REVISTA UniVap tem por objetivo divulgar conhecimentos, idéias e resultados, frutos de
trabalhos desenvolvidos na UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, ou que tiveram
participação de seus professores, pesquisadores e técnicos e da comunidade científica.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. A publicação total
ou parcial dos artigos desta revista é permitida, desde que seja feita referência completa à
fonte.
CORRESPONDÊNCIA
UNIVAP - Av. Shishima Hifumi, 2.911 - Urbanova
CEP: 12244-000 – São José dos Campos - SP - Brasil
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Campus Centro:
Campus Urbanova:
Campus Urbanova/Jacareí:
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Campus Villa Branca:
Estrada Municipal do Limoeiro, 250 - Jd. Dora
Jacareí - SP - CEP: 12300-000 - Tel.: (12) 3958-4000
Campus Aquarius:
Rua Dr. Tertuliano Delphim Junior, 181 - Jardim Aquarius
São José dos Campos - SP - CEP: 12246-080 - Tel.: (12) 3923-9090
Campus Platanus:
Campus Caçapava:
Praça Cândido Dias Castejón, 116 - Centro
São José dos Campos - SP - CEP: 12245-720 - Tel.: (12) 3928-9800
Rua Paraibuna, 75 - Centro
São José dos Campos - SP - CEP: 12245-020 - Tel.: (12) 3928-9800
Avenida Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova
São José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000
Avenida Frei Orestes Girardi, 3 - Bairro Fracalanza
Campos do Jordão - SP - CEP: 12460-000 - Tel.: (12) 3664-5388 / 3662-4667
Estrada Municipal Borda da Mata, 2020
Caçapava - SP - CEP: 12284-820 - Tel.: (12) 3655-4646
Supervisão Gráfica: Profa. Maria da Fátima Ramia Manfredini - Departamento de Cultura e Divulgação - Univap / Revisão: Prof. Antônio
Ravanelli e Profa. Alene Estelle Alder Rangel / Editoração Eletrônica: Glaucia Fernanda Barbosa Gomes - Univap (12) 3947-1036 /
Impressão: Jac Gráfica e Editora - (12) 3928-1555 / Publicação: Univap/2010
SUMÁRIO
Baptista Gargione Filho
Reitor
Antonio de Souza Teixeira Júnior
Vice-Reitor e Pró-Reitor de Integração Universidade Sociedade
Ailton Teixeira
Pró-Reitor de Administração e Finanças
Elizabeth Moraes Liberato
Pró-Reitora de Avaliação
Maria Cristina Goulart Pupio Silva
Pró-Reitora de Assuntos Jurídicos
Maria da Fátima Ramia Manfredini
Pró-Reitora de Cultura e Divulgação Acadêmica
Maria Helena Beolchi Rios Ribeiro
Pró-Reitora de Projetos e Ação Social
Samuel Roberto Ximenes Costa
Pró-Reitor de Educação Superior e Educação
Continuada
Frederico Lencioni Neto
Diretor Geral do Campus Villa Branca - Jacareí
Eduardo Jorge Brito Bastos
Diretor da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e
Urbanismo
Luiz Carlos Andrade de Aquino
Diretor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba
Emilia Angela Loschiavo Arisawa
Diretor da Faculdade de Ciências da Saúde
Manoel Otelino da Cunha Peixoto
Diretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e
Comunicação
Maria Valdelis Nunes Pereira
Diretora da Faculdade de Educação e Artes
Sandra Maria Fonseca da Costa
Diretora do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
COORDENAÇÃO GERAL
Antonio de Souza Teixeira Júnior
REVISÃO DE TEXTO
Antônio Ravanelli e Alene Estelle Alder Rangel
DIGITAÇÃO E FORMATAÇÃO
Glaucia Fernanda Barbosa Gomes
CONSELHO EDITORIAL
Alexandro Oto Hanefeld
Amilton Maciel Monteiro
Antonio de Souza Teixeira Júnior
Antônio dos Santos Lopes
Cláudio Roland Sonnenburg
Elizabeth Moraes Liberato
Francisco Pinto Barbosa
Frederico Lencioni Neto
Heitor Gurgulino de Souza
Jair Cândido de Melo
Luiz Carlos Scavarda do Carmo
Maria da Fátima Ramia Manfredini
Maria Tereza Dejuste de Paula
Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo
Rosangela Regis Cavalcanti
Samuel Roberto Ximenes Costa
Vera Maria Almeida Rodrigues Costa
v. 16
n. 28
mar. 10
ISSN 1517-3275
PALAVRA DO REITOR. ..................................................................................... 5
EDITORIAL. .......................................................................................................... 7
A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E A
UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) ............................... 9
A DOCUMENTAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL NA PERSPECTIVA DA
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Míriam Ogava Ilhara, Elizabeth Moraes Liberato ........................................... 1 3
OS ATRIBUTOS DE UM BOM TRABALHO MONOGRÁFICO:
REFLEXÕES E DIRECIONAMENTOS
Isabel C. dos Santos, Adriana L. Oliveira, Paulo Renato de Morais .............. 2 0
UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
NO MUNICÍPIO DE RESENDE NO SÉCULO XIX
Julio Cesar Fidelis Soares .................................................................................... 2 9
ESTUDO SOBRE A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO EM EMPRESAS
DA REGIÃO DE CONSELHEIRO LAFAIETE
Auxiliadôra Aaparecida de Matos, Ângela de Castro Ochôa, Christiane Garcia
Ribeiro, Ney Far Senra de Oliveira ................................................................... 3 5
VÍNCULOS ENTRE EMPRESAS E INSTITUIÇÕES LOCAIS: O CASO
DA INDÚSTRIA DE PEÇAS AUTOELÉTRICAS NO MUNICÍPIO DE
PEDERNEIRAS-SP
Fred Aparecido Matano, Fabiana Florian, Helena Carvalho De Lorenzo .... 4 3
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TURÍSTICO DA ALDEIA GUARANI
BOA VISTA DO SERTÃO DO PROMIRIM, UBATUBA/SP
Rodrigo de Campos Macedo, Wilson Cabral Sousa Jr. ..................................... 5 2
ELETRODEPOSIÇÃO DE FILMES DE POLIPIRROL EM MEIO
AQUOSO CONTENDO ÁCIDO CÍTRICO
Andréa Santos Liu, Márcia Cristina Bezerra Melo, Liu Yao Cho ................. 6 4
DIAGNÓSTICO DOS ATERROS MUNICIPAIS DO VALE DO
PARAÍBA (VP) E LITORAL NORTE PAULISTA (LNP)
Camila Soares Tobiezi, Fabiana Alves Fiore Pinto, Rafael Ivens da Silva
Bueno, José Renato Baptista de Lima .............................................................. 7 0
AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO HIGIÊNICO EM COLMEIAS
DE ABELHAS AFRICANIZADAS DA EMPRESA SER APIS EM SÃO
JOSÉ DOS CAMPOS - SP
Ágata Lise S. Silva, Josiane Aline S. Silva, Nádia M. R. de Campos Velho .. 7 8
PILOTO AUTOMÁTICO PARA ÔNIBUS: UMA REALIDADE
BRASILEIRA
Mauricio Micoski, Leopoldo R. Yoshioka, Renato D. Costa, Landulfo
Silveira Júnior, Antonio S. Teixeira Júnior ...................................................... 8 8
MERCADO BRASILEIRO DE GLICERINA: UMA ANÁLISE A PARTIR
DA INSERÇÃO DO BIODIESEL NA MATRIZ ENERGÉTICA NACIONAL
Márcia França Ribeiro Fernandes dos Santos, Suzana Borschiver .............. 102
REABILITAÇÃO MOTORA EM HEMIPLÉGICOS ESPÁSTICOS APÓS
TRATAMENTO COM ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NEURO MUSCULAR
Alecsandra Araújo Paula, Mário Oliveira Lima, Fernanda Pupio Silva Lima,
Paulo Roberto Garcia Lucarelo, Sergio Takeshi T. de Freitas ..................... 112
ASSOCIAÇÃO DA LASERTERAPIA COM PAPAÍNA NA
CICATRIZAÇÃO DE ÚLCERA DIABÉTICA EM MEMBRO INFERIOR RELATO DE CASO
Ciliana A. G. S. Oliveira, Karen C. M. de Moraes, Newton Soares da Silva 119
TERAPIA FOTODINÂMICA ANTIMICROBIANA: UM ESTUDO
COMPARATIVO ENTRE FOTOSSENSIBILIZANTES
Frederico Müller, Vinícius C. Oliveira, Alexandre L. Oliveira, Newton S. Silva122
VIBRATIONAL MODES OF THE CYSTEINE MOLECULE AND THE
STRETCHING FORCE CONSTANT OF THE DISULFIDE BOND OF
CYSTINE
Kumiko K. Sakane, Mituo Uehara, Airton A. Martin .................................. 130
PALAVRA DO REITOR
Chegamos ao número 28 desta Revista.
Procuramos espelhar, nos artigos publicados, os esforços de nossos pesquisadores,
focalizando assuntos que deles mereceram maior análise e aprofundamento. Com isso, a
Revista cumpre sua obrigação, como veículo da informação da Univap, de propiciar a presença
da produção de seu corpo de colaboradores na mídia, além de abrir oportunidade para a
apresentação de trabalhos de pesquisadores de outras instituições.
A Revista vem propiciando, por exemplo, apresentar artigos envolvendo tecnologias
importantes dedicadas ao bem estar das populações.
Esse é o caso do artigo “Piloto Automático para Ônibus: uma realidade brasileira”.
Com o término desse Projeto, São Paulo será a primeira cidade que poderá ter ônibus
com piloto automático, semelhante ao que ocorre nos aviões comerciais, o que aproximará a
qualidade do sistema ônibus ao sistema metrô, porém a um custo menor.
O Projeto, parcialmente terminado, depende só de entendimentos à parte relativa à
guiagem magnética, como explicaremos a seguir.
No caso do metrô, as composições se locomovem sobre trilhos de aço. No caso do
Projeto, a ser instalado no “Corredor Bandeirantes”, que liga, em São Paulo, o Mercado Municipal
ao Sacomã, passando pelo bairro do Ipiranga, os ônibus trafegarão, guiados por uma “trilha
magnética” composta por imãs, instalados a cada 2m de distância ao longo da pista, de modo
a interagir com sensores magnéticos nos ônibus. Não é preciso atuação do motorista, durante
o percurso. Ele só intervirá para freiar e parar o ônibus, nas plataformas de acesso, e para
entrar em movimento. A aproximação das plataformas de embarque é processada pela
automação introduzida.
Este projeto aguarda disposição da direção da SPTRANS, que controla o transporte
coletivo em São Paulo, para terminá-lo.
O Projeto, além da guiagem magnética, levou a término a automação das estações,
com entrada e fechamento de portas e comando de voz. Com esses elementos, hoje o Expresso
Tiradentes é o modelo de corredor de transporte público em São Paulo., conseguindo que os
ônibus nele trafeguem com velocidade média superior à do metrô, conforme pesquisa publicada
pelo jornal “O Estado de São Paulo”, em 17/8/08, C8, Reportagem “Raio X do Transporte
Coletivo”.
Assuntos como esse, que representam o coroamento da interação universidade/empresa
em benefício da qualidade de vida do cidadão – usuário, são obrigação das universidades, e a
UNIVAP os assume com decisão.
Baptista Gargione Filho, Prof. Dr.
Reitor da Univap
EDITORIAL
As universidades vêm assumindo, de modo crescente, encargos inerentes à tríplice
função que as caracterizam: ensino – pesquisa – extensão.
As atividades de extensão, no caso da UNIVAP, necessitam de dedicação incomum de
seus pesquisadores de tempo integral, pois, numa cidade como São José dos Campos, com
dois Parques Tecnológicos e quatro Incubadoras, com o Programa PRIME com 90 empresas
classificadas e as chamadas da FINEP, FAPESP E CNPq, de ajuda econômica, há uma
provocação permanente para empresários e acadêmicos apresentarem novos projetos
inovadores.
Estamos, no momento, conduzindo um projeto referente ao tratamento térmico de
resíduos urbanos, por plasma, com vitrificação final das cinzas volantes, obtidas com captação
dos gases formados, de modo a reter nos produtos finais, vitrificados, resíduos como metais
pesados, impedindo-os de voltarem a criar problemas ambientais, se absorvidos pela terra.
Outro exemplo é a substituição de hemodialisadores, importados em larga escala, sem
produção até agora, no país, o que o projeto em andamento almeja obter. Esse projeto está
sendo programado, com parceria da empresa QUIMLAB, ex-incubada e hoje empresa próspera,
com 45 servidores, graduados, mestres e doutorados.
E os exemplos se multiplicam: propostas de empresas de leds, para investigar a ação
de nanoparticulados especiais para melhor produção de luz; e todo tipo de prestação de serviços
são propiciadas pelos laboratórios da UNIVAP, ajudando empresas na melhora de seus produtos.
Só que essas tarefas são executadas por profissionais ocupados em todo tipo de
atividades, com presença em simpósios, publicando resultados de pesquisa, com aulas e
ainda mais a prestação de serviços em tarefas importantes, mas de grandes responsabilidades
imediatas, cobradas quando o projeto é iniciado e com obrigações que se estendem muitas
vezes a prestação de contas e de esclarecimento de detalhes não suficientemente entendidos
pelas agências de financiamento. E às empresas parceiras nos desenvolvimento interessa
que os resultados proporcionem lucros rápidos e patentes garantindo direitos a quem dedicou
tempo e dinheiro no desenvolvimento do produto ou serviço obtido.
São interesses respeitáveis dos empresários mas que nem sempre encontram
ressonância nos pesquisadores.
E o progresso do mundo depende, muitas vezes, dessa sintonia entre universidade e
empresa, buscando a inovação que é um importante capital proporcionador de bons lucros.
Antonio de Souza Teixeira Júnior, Prof. Dr.
Pró-Reitor de Integração Universidade - Sociedade
e Vice-reitor da UNIVAP
A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E A
UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP)
A Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE), com sede à
Praça Cândido Dias Castejón, 116, Centro, na cidade de
São José dos Campos, Estado de São Paulo, inscrita no
Ministério da Fazenda sob o nº 60.191.244/0001-20, Inscrição Estadual 645.070.494-112, é uma instituição filantrópica e comunitária, que não possui sócios de qualquer natureza, com seus recursos destinados integralmente à educação, instituída por escritura pública de 24
de agosto de 1963, lavrada nas Notas do Cartório do 1º
Ofício da Comarca de São José dos Campos, às folhas
93 vº/96 vº, do livro 275.
A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), mantida
pela FVE, tem como área de atuação prioritária o Distrito
Geoeducacional, DGE-31. Sua missão é a promoção da
educação para o desenvolvimento da Região do Vale do
Paraíba e Litoral Norte (DGE-31).
Até o presente, a UNIVAP possui os seguintes Campi:
a) Campus Centro, em São José dos Campos, situado à
Praça Cândido Dias Castejón, 116, e à Rua Paraibuna,
75.
b) Campus Urbanova, situado à Av. Shishima Hifumi, 2911.
c) Campus Urbanova/Jacareí, com acesso pela Av.
Shishima Hifumi, 2911.
d) Campus Aquarius, em São José dos Campos, situado
à Rua Dr. Tertuliano Delphim Júnior, 181.
e) Campus Villa Branca, localizado em Jacareí, na Estrada
Municipal do Limoeiro, 250.
f) Campus Platanus, localizado em Campos do Jordão,
na Av. Frei Orestes Girardi, 3.
g) Unidade Caçapava,na Estrada Municipal Borda da
Mata, 2020.
A Educação Superior, objetivo da UNIVAP, abrange os
cursos e programas a seguir descritos:
1) Graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e que tenham
sido classificados em processo seletivo.
2) Pós-graduação, compreendendo programas de
Mestrado, Doutorado, Especialização e outros,
abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam aos requisitos da UNIVAP.
3) Extensão, abertos a candidatos que atendam aos
requisitos estabelecidos pela UNIVAP.
4) Educação a distância, com uso de novas tecnologias
de comunicação.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
A FVE é também mantenedora, tendo em vista a educação integral dos futuros alunos da UNIVAP, de cursos de
Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e
ainda de Formação Profissional e Técnica.
A UNIVAP, em seu Projeto Institucional, centra-se:
1)
2)
3)
4)
numa função política, capaz de colocar a educação
como fator de inovação e mudanças na Região do
Vale do Paraíba e Litoral Norte - o DGE-31;
numa função ética, de forma que, ao desenvolver a
sua missão, observe e dissemine os valores positivos que dignificam o homem e a sua vida em sociedade;
numa proposta de transformação social, voltada
para a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte;
no comprometimento da comunidade acadêmica com
o desenvolvimento sustentável do País e, em
especial, com a Região do Vale do Paraíba e Litoral
Norte, sua principal área de atuação.
A UNIVAP está em permanente interação com agentes
sociais e culturais que com ela se identificam. Como decorrência da demanda de seus cursos ou dos serviços
que presta, estabelece convênios com instituições
públicas e privadas, no Brasil e no Exterior. Estes
convênios resultam na cooperação técnica e científica,
na qualificação de seus recursos humanos e tecnológicos, na viabilização de estágios acadêmicos e na
prestação de serviços. A história da UNIVAP, enraizada
na trajetória da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte,
traz consigo a marca da participação comunitária, a partir
do compromisso que tem com a sociedade regional,
alicerçado na tradição, na busca da excelência acadêmica,
na qualidade de seu ensino, no diálogo com a comunidade
e no exercício da tríplice função constitucional de
assegurar a indissociabilidade da pesquisa institucional,
ensino e extensão.
Como atividades de extensão, destacam-se, na
UNIVAP, aquelas relativas à Comunidade Solidária, que
têm por objetivo mobilizar ações que contribuam para a
alfabetização e melhoria da qualidade de vida de populações carentes. Dentro deste Programa, foram realizadas,
a partir de 1998, atividades nas áreas de Saúde, Higiene,
Cidadania, Educação e Lazer, em Santa Bárbara (BA),
Beruri (AM), Teotônio Vilela (AL), Nova Olinda (CE),
Coreaú (CE), Carnaubal (CE), São Benedito (CE), Groaíras
(CE), Atalaia do Norte (AM), Pão de Açúcar (AL),
Canguaretama (RN), Goianinha (RN), Maxaranguape
(RN), Pedra Preta (RN), Preto Velho (RN), Vila Flor (RN) e
9
São Benedito (CE) e, no Vale do Paraíba, nas cidades de
Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí, Paraibuna, São
Francisco Xavier e São José dos Campos.
Com atuação no Vale do Paraíba, destacam-se:
a) cursos de alfabetizadores, com 140 concluintes;
b) projeto cultural Meu Bairro, sobre a história e origem
do bairro de residência;
c) visitas mensais de avaliação e acompanhamento das
salas montadas em diversos bairros, seguidas de
Mostra Cultural, com apresentações de teatro, dança,
poesias na festa de encerramento;
d) incentivos aos alfabetizadores a prosseguir estudos.
A partir de janeiro de 2005, a UNIVAP participa do Projeto Rondon / Ministério da Defesa. Desde então atuou
em: Atalaia do Norte (AM); Vale do Ribeira (SP) - Itaóca,
Itapirapuã Paulista, Ribeira; Muribeca (SE); Piraí do Norte (BA); Jordão (AC); Madeiro (PI); Chuí (RS); Cerro
Branco (RS); Curuá (PA); Itacajá (TO); Paranaiguara (GO).
Todas as pesquisas institucionais da Universidade estão centradas em seu Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D), o qual executa programas e projetos e
congrega pesquisadores de todas as áreas da UNIVAP,
envolvidos em atividades de pesquisa, desenvolvimento e extensão. Em seus oito núcleos de pesquisa, nas
áreas sócio-econômica, genômica, instrumentação
biomédica, espectroscopia biomolecular, estudos e desenvolvimentos educacionais, ciências ambientais e
tecnologias espaciais, computação avançada, biomédicas, atrai e dá condições de trabalho a pesquisadores
de grande experiência, do País e do exterior. Os alunos
têm condições de participar, com os professores, de
pesquisas, executando tarefas criativas, motivadoras, que
propiciam a formulação de modelos e de simulações,
trabalhando com equipamentos de primeira linha, e isto
faz a diferença entre a memorização e a compreensão.
Bolsas de estudo vêm sendo oferecidas a alunos e
pesquisadores, quer pela UNIVAP, quer por instituições
como CAPES, CNPq, FINEP e FAPESP.
O esforço da UNIVAP em construir, no Campus
Urbanova, uma Universidade com instalações especiais
para cada área de atuação, com atenção especial aos laboratórios, tem por objetivo um ensino de qualidade,
compatível com as exigências da sociedade atual.
A UNIVAP, para o ano letivo de 2010, fiel ao lema de que
“o saber amplia a visão do homem e torna o seu caminhar
mais seguro”, oferece, à comunidade da Região do Vale
do Paraíba e Litoral Norte, diversos cursos, que vão desde
a Educação Infantil à Pós-Graduação, passando inclusive
pelo Colégio Técnico Industrial e pela Faculdade da
Terceira Idade.
CURSOS DE GRADUAÇÃO
- Administração
- Arquitetura e Urbanismo
- Artes Visuais
- Biomedicina
- Ciência da Computação
- Ciências Biológicas
- Ciências Contábeis
- Comunicação Social: Jornalismo
- Comunicação Social: Publicidade e Propaganda
- Comunicação Social: Rádio e TV
- Direito
- Educação Física
- Enfermagem
- Engenharia Aeronáutica e Espaço
- Engenharia Ambiental
- Engenharia Biomédica
- Engenharia Civil
- Engenharia de Alimentos
- Engenharia da Computação
- Engenharia de Materiais
- Engenharia Elétrica/Eletrônica
- Engenharia Química
- Farmácia
- Física
- Fisioterapia
- Geografia
- História
- Letras (Português)
- Matemática
- Moda
- Nutrição
- Odontologia
- Pedagogia
- Química
- Serviço Social
- Terapia Ocupacional
- Turismo
CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA
- Gastronomia
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- Gestão Ambiental
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CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
STRICTO SENSU
- Doutorado
- Mestrado
- Engenharia Biomédica
- Física e Astronomia
- Bioengenharia
- Engenharia Biomédica
- Física e Astronomia
- Planejamento Urbano e Regional
LATO SENSU
- Cursos de Especialização
- Curso de Especialização a Distância
- Alfabetização e Letramento
- Análise de Falhas de Materiais
- Contabilidade Internacional e Controladoria
- Cultura Popular Brasileira
- Docência para Educação Profissional na Área
da Saúde
- Enfermagem em Cuidados Críticos/Cardiologia
- Engenharia da Qualidade
- Gerontologia e Família
- Gestão de Projetos
- Gestão Empresarial
- Língua Portuguesa: Leitura e Produção de
Textos
- Neurologia Funcional
- Planejamento e Gestão Ambiental
- Psicopedagogia: Clínica e Institucional
- Saúde da Família
- Jornalismo Científico
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- Cursos de Extensão
- Gestão de Pessoas
- Implantodontia
- Periodontia
11
São José dos Campos
Com cerca de 600.000 habitantes, São José dos
Campos é o município com maior população na sua região, sendo que seu grande desenvolvimento começou
realmente com a construção da Rodovia Presidente Dutra
e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Além disso, a
localização estratégica e privilegiada entre São Paulo e
Rio de Janeiro e a topografia apropriada para a construção de grandes indústrias possibilitaram que a cidade
crescesse vertiginosamente na década de 70, passando
a ser uma das áreas mais dinâmicas do Estado e a terceira
maior taxa de crescimento da década de 80. De 1993 para
cá, a cidade passou por grandes transformações, alcançando avanços na área da saúde, indústria e comércio,
educação, da criança e adolescente, saneamento básico
e construção civil.
O comércio de São José dos Campos é bastante desenvolvido e vive um período de extensão, com vários centros de compras e grandes supermercados e Shopping
Centers. Com mais de 800 indústrias, 4.000 estabelecimentos comerciais e superando 7.000 prestadores de
serviço, o perfil industrial de São José dos Campos tem
dois lados distintos: o centralizado nas áreas aeroespacial
e aeronáutica, como a Embraer, e com a Petrobras, no
tratamernto do petróleo e derivados, e outro diversificado,
com indústrias, como a General Motors, Johnson &
Johnson, Rhodia, Monsanto, Hitachi, Bundy, Ericsson,
Eaton e outras. É, no Brasil, o 7º colocado em valor
adicionado bruto (12,09 bilhões de reais) e o 10º em
relação ao PIB (17,7 bilhões de reais), segundo dados do
IBGE, em 2004.
O orçamento de 2007 do município prevê receita de 998,6
milhões de reais, sendo 291,6 milhões para Educação e
271,8 milhões para Saúde.
São José dos Campos possui, como resultado da atuação
de suas indústrias, dos estabelecimentos comerciais e
dos organismos que desenvolvem tecnologias de ponta,
mão-de-obra de altíssimo nível. Entre esses órgãos destacam-se o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com seus
Institutos: ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica,
IAE - Instituto de Atividades Espaciais, IFI - Instituto de
Fomento e Coordenação Industrial e o IEAv - Instituto
de Estudos Avançados.
Com uma vida cultural bastante intensa, o município conta
com uma Fundação Cultural e vários espaços culturais,
como o Museu Municipal, galerias de arte, centros de
exposição, casas de cultura, Museu de Aeronáutica,
Teatro municipal, Cine-Teatro Benedito Alves da Silva,
12
Cine-Teatro Santana e o Teatro Univap Prof. Moacyr
Benedicto de Souza, cinemas, emissoras de rádio FM e
AM, Central Regional da TV Globo, jornais diários com
circulação regional, além dos da capital, e várias Bibliotecas Escolares, Universitárias e de Pesquisa, como a da
UNIVAP, a do INPE e a do ITA.
A UNIVAP integra, com o CTA e do INPE, importante
núcleo de ensino e pesquisa do município. Da Pré-Escola
à Universidade, além de Cursos de Pós-Graduação e da
Terceira Idade, a UNIVAP mantém o IP&D - Instituto de
Pesquisa e Desenvolvimento, que garante a incorporação da pesquisa na comunidade acadêmica da UNIVAP,
permitindo a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa. A UNIVAP tem estado aberta à interação com empresas e instituições do município, notadamente as de
ensino e pesquisa, entre elas o INPE e o CTA-ITA, além
de interação com FAPESP, CNPq, FINEP-MCT e
universidades do país e do exterior.
As atividades de extensão ganharam grande reforço com
a instituição do Parque Tecnológico Univap, cujo
edifício-sede, inaugurado a 1 de abril de 2005 e já abriga
cerca de 30 empresas portadoras de tecnologias de futuro,
instaladas em edifício moderno, de sete pavimentos e
19.000 m2 de área construída.
O edifício-sede já está com sua área de utilização
totalmente ocupada e deve ser dada origem a novo
edifício, para atender novos pretendentes.
O campus Urbanova, com área de seis milhões de metros
quadrados, constitui, com seus edifícios abrigando as
Faculdades, o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
- IP&D, Biblioteca e Administração universitária, o Parque
Tecnológico Univap, cujo edifício-sede foi descrito.
De futuro, está previsto moderno Núcleo de Indústrias e
Centros de Prestação de serviços, de médio e grande
porte, dedicados, da mesma forma que o edifício-sede, a
empresas de tecnologias geradoras de produtos
inovadores.
Um Centro de Residências próximo reunirá, no mesmo
campus, empresários, pesquisadores, dirigentes
universitários e docentes, num conjunto no qual Ciência
e Tecnologia se completem e produzam resultados
marcantes.
O ideal, consubstanciado na definição de Universidade,
como sendo a instituição que pratica, de modo
indissociável, ensino, pesquisa e extensão, conforme
preceitua o Art. 207 da Constitutição Federal, passa a ser
uma realidade plena.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
A Documentação em Serviço Social na Perspectiva da
Tecnologia da Informação
Míriam Ogava Ihara *
Elizabeth Moraes Liberato **
Resumo: Este trabalho pretende expor a importância da informação em processo informatizado
como componente inserido na contemporaneidade da atuação do Assistente Social. Em parte, é um
fenômeno decorrente do crescimento da tecnologia da informação nos diversos segmentos do mundo do trabalho, lazer e na sociedade em que vivemos.
A questão preocupante estaria, sobretudo, na possibilidade de acesso às informações por profissionais da área administrativa, gerando insegurança quanto ao caráter sigiloso do trabalho que é
realizado pelo Serviço Social e outras áreas interligadas pelo caráter interdisciplinar da ação, no
contexto da Empresa.
Palavras-chave: Documentação em Serviço Social, Tecnologia da Informação, sistemas de
informatização, banco de dados.
Abstract: This paper discusses the importance of computerized information as a component of
contemporary Social Work. The improvement of information technologies is growing in diverse
segments of work, leisure, and the society in general.
The worry is that the access of data by the administrative professionals may lead to troubles with
confidential information necessary in Social Work and similar areas.
Key words: Documentation in Social Work, Information Technology, Information Systems, data
processing.
1. INTRODUÇÃO
A prática profissional do Assistente Social nas
organizações/instituições e a compreensão de sua dinâmica na especificidade do Serviço Social de empresa apontam a necessidade de se trabalhar com as informações de
modo organizado, informações essas que dão suporte à
tomada de decisões.
Assim, o texto discorre sobre a documentação em
Serviço Social, permitindo visualizar a importância das
informações em tempo real aliada à utilização da
tecnologia da informação, para que o trabalho do Assistente Social possa tornar-se mais ágil, em um setor cada
vez mais procurado na empresa, na atual conjuntura.
Nesse setor de trabalho, ressaltamos a importância de se
coletar, armazenar, organizar, preservar as informações
referentes à memória dos casos e relatos, objetivando,
com isso, subsidiar a formulação de novas propostas e
* Graduada em Serviço Social da UNIVAP.
** Doutora em Serviço Social. Pró-Reitora de Avaliação e Professora da UNIVAP.
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políticas de ação, visando sempre a melhoria no atendimento e nos serviços.
Diante das novas tendências de Serviço Social
em empresa, que assume cada vez mais o seu papel na
assessoria à gerência, entendemos que merece destaque
a necessidade da qualificação dos profissionais da área,
por meio de projetos de treinamento, capacitação ou formação a distância, mantendo-os atualizados e em sintonia
com as novas exigências do mundo globalizado, entre
elas as novas tecnologias de informação.
2. SERVIÇO SOCIAL – A AÇÃO PROFISSIONAL
O Serviço Social, profissão que tem como foco a
intervenção na realidade, tem como um dos seus objetivos somar-se às forças sociais em busca das transformações sociais a partir da intencionalidade de sua ação.
A metodologia do Serviço Social compreende estudo dos métodos, das técnicas, dos instrumentos e das
formas da prática profissional. Os métodos referidos
correspondem às teorias sociais, que orientam a ação do
profissional do Serviço Social.
13
Segundo Falcão (1981),
[...] a metodologia do Serviço Social é ampla, abrangendo não só as operações definidas pelo método, mas, igualmente, um
conjunto de princípios, de ações técnicas,
de habilidades e atitudes.
A metodologia do Serviço Social evoluiu, atingindo um nível de sistematização que lhe garantiu o conteúdo teórico e prático, com base no grau significativo de
elaboração de sua prática.
Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na
área de Serviço Social constituem elaborações privativas do Assistente Social conforme art 5º, I, do Código de
Ética do Assistente Social (1993).
1.1 Novas perspectivas de atuação profissional: o perfil
do profissional, hoje
As profissões se constituem e se desenvolvem
na dinâmica das relações sociais e das forças produtivas
de determinada sociedade.
A prática do Serviço Social se insere nos movimentos das classes sociais constituintes do sistema capitalista. Desde os primórdios de sua criação, o Serviço
Social encontra-se inserido nas contradições das relações sociais entre classes sociais e Estado. Ao atender
as demandas da sociedade e as exigências das questões
sociais, o assistente social define seu espaço profissional a partir da capacidade da profissão de responder às
demandas dessa sociedade. Para tanto, deve investir no
conhecimento técnico e intelectual continuado.
Atualmente, no Brasil, a profissão está consolidada do ponto de vista de produção teórico-científica e
da organização da categoria. Todavia, a atuação profissional exige que o Assistente Social tenha conhecimento
do contexto histórico, incorpore conhecimento intelectual, ideológico e político, além do reconhecimento social da profissão. Para Guerra, o assistente social “é expressão histórica do movimento das classes sociais e
resultado da implementação do projeto ético-político profissional” (GUERRA, 2002, p. 12).
fissão é o de um técnico que compreende o significado
político da sua profissão e que saiba analisar teoricamente os processos sociais sobre os quais a sua ação se
debruça” (GUERRA, 2002, p. 25).
2. OS INSTRUMENTAIS TÉCNICO-OPERATIVOS EM
SERVIÇO SOCIAL
A concepção de instrumental compreende o conjunto articulado de instrumentos e técnicas que permitem operacionalização da ação profissional; são meios
pelos quais se realiza a ação. O instrumental é o conjunto
de estratégias, articulações, incluindo a habilidade e conhecimento do agente que possibilita a realização da ação
profissional, é o mecanismo que permite a realização da
ação, sua operacionalização e avaliação.
A técnica é entendida como habilidade no uso do
instrumental; a criatividade está no uso da habilidade
técnica e reside no agente.
A linha operacional das profissões abrange não
só o campo das técnicas, mas também conhecimentos e
habilidades. É, ainda, a categoria profissional que os constrói a cada momento, partindo das finalidades das ações
a desenvolver, dos determinantes políticos, sociais e
institucionais.
Conforme assinalam Martinelli e Koumrouyan,
“À instituição, enquanto organização, cabe
produzir instrumentais que garantam basicamente o acompanhamento dos programas em execução, a mensuração dos resultados obtidos e a relação estabelecida
entre os custos e os benefícios. Tais instrumentais, de natureza quantitativa, respondem mais prontamente às exigências
técnico-burocráticas e tem como característica básica o fato de serem produzidos
nas instâncias superiores da instituição,
diferentes portanto daquelas onde serão
operacionalizados”. (MARTINELLI;
KOUMROUYAN, 1994, p. 138)
2.1 Características do Instrumental
O que define a profissão é a existência de interesses antagônicos entre as classes; para atender esse conflito o Estado cria mecanismos materiais e ideológicos
que seriam as políticas sociais.
Os instrumentais quantitativos são relacionados
à eficiência, à padronização dos dados e informações
solicitadas, respondem às diretrizes institucionais. É preciso ter criatividade, no sentido de interpretar os dados
extraídos e, consequentemente, trazê-los para a prática.
Como diz Guerra, saber compreender e analisar a
conjuntura, ter a visão e saber antecipar o futuro, é um
processo que trará ganho profissional, “o perfil de pro-
Os instrumentais qualitativos correspondem ao
compromisso e intencionalidade dos profissionais que
os constroem e os utilizam, que visualizam o produto
14
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
final das ações, os resultados alcançados por meio da
prática institucional, que usam de criatividade para construção coletiva do fazer profissional. O alcance e a direção do uso dos instrumentais são determinados pelo
agente institucional e por sua consciência crítica.
ética, é preciso atenção quanto ao sigilo dos prontuários
do Serviço Social. “Os prontuários constituem material
confidencial que não pode ser divulgado senão dentro
de determinadas condições que se prendem à finalidade
e ao funcionamento da entidade” (VIEIRA,1973, p. 305).
Os instrumentais qualitativos estão associados à
uma concepção educativa, como processo de acompanhamento de uma ação programática, com finalidade de
produzir conhecimentos que aumentem a capacitação e a
iniciativa para produzir transformações na ação profissional.
O sigilo profissional é um dos deveres mais importantes visto que o usuário deposita toda confiança
no profissional. Portanto, todos da equipe interdisciplinar,
inclusive supervisores que tiverem acesso ao prontuário, deverão manter sigilo para preservar os dados do
usuário.
2.2 A Documentação em Serviço Social
3. OS SERVIÇOS, BUROCRACIA DOS SERVIÇOS E O SERVIÇO SOCIAL
Dentre os instrumentos de ação do Serviço Social, a documentação é um elemento importante. Diz Vieira,
“A documentação do Serviço Social é o
meio que permite relacionar o trabalho específico da entidade com a situação total
da comunidade, averiguar as causas e os
efeitos dos problemas sociais, avaliar o
resultado da aplicação das técnicas, aperfeiçoar os profissionais e proporcionar uma
visão de conjunto (...) .” (VIEIRA,1973, p.
297)
A documentação é a parte concreta da
metodologia do Serviço Social, que permite não somente
registrar as observações e atividades, mas também analisar os processos, avaliar as condições, os problemas
encontrados, os resultados, enfim sistematizar as ações.
Para o Assistente Social, as informações colhidas
no cotidiano de trabalho são impossíveis de serem memorizadas por muito tempo, em todos os seus detalhes;
no entanto, os registros são imprescindíveis para o desempenho profissional.
A importância da documentação está em como o
Assistente Social vê a situação, a técnica empregada, a
providência a ser tomada; possibilita verificar se a conduta foi adequada e os resultados obtidos para avaliar a
prática à luz da teoria. Todas as abordagens, sejam individuais, grupais ou aquelas realizadas em nível de comunidade, devem ser registradas para permitir continuidade
da ação profissional que permitirá analisar as diretrizes
da entidade, os problemas encontrados, e a qualidade do
atendimento.
Os relatórios identificam o usuário e o tipo de
demanda que busca o atendimento no Serviço Social. A
falta de relatórios e estatísticas dificulta a interpretação
dos processos do Serviço Social, principalmente na utilização dos serviços sociais públicos. Quanto à questão
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Serviço, na concepção de muitos, chega a ser entendido como uma atividade que implica utilidade e valores. As diversas visões trazem à tona uma série de
questionamentos porque a “tendência é avaliar o serviço pela atividade que cumpre, pelo seu conteúdo, pelo
que faz e como o faz” (KARSCH, 1989, p. 25).
Segundo Karsch, o serviço se mostra como um
mecanismo produtivo do capital monopolista, e se configura no modelo administrativo, sendo que, alguns elementos acabam se transformando, como autoridade, centralização, atribuições, prioridades. Os serviços surgem
e desaparecem em consequência das transformações
tecnológicas ou ideológicas. O serviço tem a função de
fazer cumprir as normas e regras, as diretrizes impostas, a
fim de atingir os objetivos propostos. Assim, os serviços
burocratizam, seguindo detalhes bastante específicos
para atender os interesses do poder. Embora haja tendência à desburocratização, vem aumentando cada vez
mais as atividades burocráticas.
No caso da empresa, o processo de trabalho está
sempre em transformação. Para não se gastar em investimentos, técnicas e manutenções em máquinas, as empresas modificam o ritmo de trabalho, colocando serviços
de estímulo aos recursos humanos. Para manter o equilíbrio entre o homem e máquina, os serviços internos buscam garantir o controle, através de estratégias de gestão.
É o tamanho da empresa que determina as condições do processo do trabalho. Quando a empresa tem
lucros, esses serviços são mantidos e quando não, a
tendência é subtraí-los do processo produtivo.
Hoje, desenvolvem-se serviços organizados, os
departamentos deixam de ser apenas atividades e passam à cooperação.
No sistema público, nos centros urbanos, o que
se observa é que há, cada vez mais, a expansão de servi15
ços para dar conta das demandas e, principalmente, criar
formas racionais de atendimento. As atividades técnicas
também cumprem um ritual burocrático, em que um outro
técnico pode não entender bem o que foi feito, mas aceita sem menor interesse pelo entendimento.
Para Karsch, cada organização produz uma burocracia específica para “salvaguardar-se das ameaças, fazendo com que todos dependam de todos, eliminando os
limites impostos pela divisão do trabalho”. (KARSCH,
1989, p. 36).
O Serviço Social se insere na área de Serviços,
como parte do processo de institucionalização da profissão nas instituições e organizações.
3.1 O Serviço Social e a Empresa
Na fala de Karsch, as atividades que competem
ao Serviço Social na empresa são diversas e derivam do:
“[...] sistema de comunicações internas, as
prioridades financeiras, o movimento do capital, o estilo da administração, as facilidades
de compreensão, o excedente econômico, o
avanço tecnológico, tudo transforma as necessidades e as utilidades, que caracterizam a
existência e a subsistência do Serviço Social
na empresa”. (KARSCH, 1989, p. 47)
“A divisão de Serviço Social na empresa
em questão auxiliada e incentivada pelo
desenvolvimento tecnológico a serviço da
cooperação (relatórios, índices e números
fornecidos por computadores que criam novas referências de avaliação de produtividade) assume atividades de informação e
comunicação que alimentam novas iniciativas de controle da crise e manutenção do
equilíbrio interno” (KARSCH, 1989, p. 49)
do para reduzir o absenteísmo, trabalhando nas questões que envolvem benefícios, entre outros. Diz Lemos:
“[...] sob o enfoque de participação localizamos o Serviço Social com uma ação
sistêmica, focalizando a organização como
o seu cliente em potencial, constituindo-se
entre outros, dos recursos humanos geradores dos fenômenos sociais e funcionais
na organização”. (LEMOS,1990, p. 4)
As empresas, ao longo dos anos, vêm
reinventando a gestão organizacional por meio de um
processo de inovação, cuja base, encontra-se nas formas de integrar a organização, a tecnologia e as pessoas.
Neste sentido, para os profissionais do Serviço Social a
informação passa a ser um elemento fundamental e é condição necessária para analisar os problemas e tomar as
decisões.
As novas tendências trouxeram bem mais que simples reflexos na utilização das informações, transformou
a forma de atuação e a postura do profissional no processo decisório, como gerenciador de informações.
4. AREVOLUÇÃO INFORMACIONAL
Lojkine, ao analisar a revolução informacional,
apoia-se nos estudos de Locken e Bell. Ao referenciar
sobre a Sociedade Pós-industrial, Locken (LOCKEN apud
LOJKINE, 1994, p. 27) coloca em discussão as teses que
defendem a ideia da substituição da produção material
pela informação. Hoje, existem opiniões que invalidam
tais pensamentos. No atual contexto, a produção da informação traria benefício no sentido de uma aproximação
que implicaria nas relações dialéticas entre indústria e
serviços, ciência e experiência, concepção e fabricação,
entre assalariados da produção e assalariado da concepção.
Os conhecimentos que os Assistentes Sociais
possuem são utilizados para diminuir os elementos que
põem em risco os objetivos das empresas, fornecem informações sobre o andamento do trabalho e das condições sociais.
Para Bell, a sociedade informacional seria a sociedade do saber e do conhecimento teórico. Todos os recursos humanos, em qualquer estágio do processo de
produção, estão interessados na inovação, destacando
a interação ciência-inovação em cada fase, a inter-relação, a troca de informação em todos os setores da empresa, o que resulta em eficácia.
Lemos assinala: “O Serviço Social na organização
é verdadeiramente, um órgão de promoção dos recursos
humanos e não de intermediação” (LEMOS, 1990, p. 5).
4.1 Os desafios da informatização
Hoje, diante das novas tendências do Serviço
Social em empresa, predomina o deslocamento do Serviço Social para a área de recursos humanos, em geral,
assessorando a gerência, auxiliando na criação de comportamento produtivo da força de trabalho, contribuin-
16
O ser humano possui habilidades diversas, capaz
de produzir, criar e memorizar. No entanto, apresenta limitações quanto à retenção total das informações. O fato é
que neste mundo globalizado, segundo Quéau (2006), a
“globalização não é universal, não afeta a todos da mesma maneira”, há uma diversidade, um número cada vez
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
maior de informações e acessos livres, que são impossíveis de memorizar, e ainda o que se recorda não é tão
confiável. Além disso, nesta era da informação, o tempo
disponível que as pessoas possuem é cada vez mais escasso. Com o avanço tecnológico nas mais variadas áreas, nota-se o impacto causado, principalmente na forma
de viver do homem, seja no trabalho, seja no lazer; tudo
isso leva à necessidade de buscar formas mais eficientes
para trabalhar com as informações que são essenciais
para o seu cotidiano. Hoje, uma pessoa, através da
Internet, tem a facilidade de se comunicar virtualmente e
acessar os mais diferentes tipos de informações; são informações que ela poderá usufruir para suprir suas necessidades, seja de ordem pessoal ou profissional.
No entanto, as pessoas sofrem, também, uma sobrecarga de informações, ou seja, diariamente recebem
mais informações do que pedem, precisam ou desejam,
acarretando assim prejuízos à sua saúde. A poluição visual, por exemplo, traz consequências graves à capacidade de concentração, raciocínio, provocando distúrbios de sono e estresse, a tão conhecida doença contemporânea.
No campo profissional, cada vez mais, as pessoas
são solicitadas a absorver conhecimentos em todas as
áreas, para tornarem-se competitivas no mercado de trabalho. O mercado de trabalho procura profissionais altamente qualificados, capacitados e polivalentes que desempenhem um conjunto diversificado de novas atividades, sejam criativos e bem relacionados. Muitos profissionais recorrem a cursos de pós-graduação para complementar seus conhecimentos, submetem-se constantemente a novos cursos, porém o mais importante no mercado
de trabalho é ser um profissional qualificado no uso de
tecnologias da informação.
Hoje, a digitalização da informação, a cada dia,
cresce de maneira desenfreada. Qual será o impacto disso? A tecnologia da informação impactará nos aspectos
econômicos, sociais, culturais e até mesmo nos aspectos
bio-psico-sociais, porque o homem se vê pressionado a
adaptar-se à nova realidade. Atualmente, não se pode
falar dos aspectos relacionados à tecnologia da informação sem mencionar a Internet, a estruturas de redes, a
base de dados em CD, pen-driver, que são instrumentos
de armazenamento de informações e outros assuntos que
envolvam o uso de computadores. Neste sentido, um
requisito essencial para o profissional, em qualquer área,
é o domínio da tecnologia da informação que, a cada dia,
se diversifica e alcança maior sofisticação.
5. O SERVIÇO SOCIAL E ATECNOLOGIADA INFORMAÇÃO, EM FUTURO PRÓXIMO
Segundo Raffoul e Mcneec
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
(1)
(1996), o Serviço
Social deste novo milênio terá que se preocupar com o
desenvolvimento da tecnologia da informação, inserida
diretamente no cotidiano do Assistente Social. As mudanças na prática do Serviço Social, frente aos impactos
da tecnologia da informação, afetarão não só os profissionais, mas seus usuários e serviços.
A visão que se tem sobre a tecnologia de informação abrangerá, em suas muitas formas, o trabalho em
rede a longa distância, que permite a transmissão não
apenas em texto como também em voz e imagens.
A cada dia, os computadores vêm correspondendo
às expectativas humanas, interagindo com as pessoas,
executando tarefas e se comunicando através de comandos falados ou por imagem e se tornarão mais eficazes,
comuns e rotineiros.
As comunicações estão sendo digitalizadas e a
sua transmissão, seja de voz, dados, gráficos e vídeos,
será enviada para qualquer localidade através de um único sistema de transmissão. A comunicação entre as pessoas, seja com seus familiares, com grupos será facilitada através de vídeo conferência, não sofrendo dificuldades com as barreiras da distância.
Os computadores aumentaram sua capacidade de
armazenagem de informações e possuem habilidades para
criar as novas. Executarão atividades humanas e desafiarão as definições aceitas de inteligência humana e provocarão uma redefinição. O aumento da capacidade de
processamento de informação é certo que aliviará muitas
atividades cognitivas do homem.
Na prática direta do Serviço Social o impacto ainda será menor se comparado ao que poderá advir, como o
acesso aos programas de auto-ajuda interativos. Assim,
ocorrerão inovações no dia a dia da prática do Serviço
Social na forma como hoje está sendo desenvolvido. “Os
registros dos clientes serão automatizados e o Assistente Social poderá se comunicar com o computador que
registrará as informações em texto, para posterior utilização e análise.” (WALLACE; RONALD, 1996, p. 22 apud
RAFFOUL; MCNEEC, 1996)
Os Assistentes Sociais levarão o laptop para anotações, conectados à rede e poderão interagir com outros profissionais em qualquer lugar do mundo, poderão
ter acesso e inserir informações, coordenar compromissos e obter informações. O Assistente poderá procurar
um banco de dados bibliográficos para buscar informações sobre as novas intervenções.
Com registros de cliente automatizados, o Assistente Social poderá fazer uma avaliação de seus trabalhos, programas e intervenções realizados e identificar
17
sua efetividade. Como dizem Wallace e Ronald,
“Estas ferramentas funcionarão mais como
um auxílio ao Assistente Social cuidando
de muitas das tarefas de administração de
informação rotineira, livrando o Assistente Social para se ocupar com os aspectos
mais inovadores e altamente qualificados
de prática” (WALLACE, RONALD, 1996,
p. 22 apud RAFFOUL; MCNEEC, 1996).
Irá o registro computadorizado cuidar da principal reclamação dos Assistentes Sociais hoje, a documentação escrita, a burocracia?
“Com a explosão da Tecnologia da Informação o volume das informações armazenadas permitirá uma administração com
maior eficácia. Assim, talvez os Assistentes Sociais gastem menos tempo documentando e analisando serviços, é quase certo que eles manterão melhor e mais informações sobre seus casos.” (WALLACE,
RONALD, 1996, p. 23 apud RAFFOUL;
MCNEEC, 1996)
Com a TV interativa, compact disc-interativo (CD-i)
e outras tecnologias de multimídia interativas, um conjunto
de apoio psico-social de intervenção interativos estarão
disponíveis. Estas tecnologias permitirão aos participantes
interagirem com o programa a que estão assistindo.
Num futuro não tão remoto, como tecnologia de
auto-ajuda de multimídia, o novo papel do Serviço Social
emergirá, no qual o Assistente Social fará parte da equipe do desenvolvimento de multimídia.
As inovações, com certeza, dependerão de investimentos e recursos aplicados em tecnologia, mas é possível vislumbrar programas em que as comunidades serão contempladas para interagirem sem a necessidade
dos participantes estarem no mesmo lugar. Os excluídos,
como as pessoas ineptas, idoso frágil poderão participar
através da tecnologia como vídeo conferência ou TV
interativa.
Para assegurar acesso igual à nova comunidade
eletrônica, programas que proveem apoios para as pessoas de baixa-renda precisarão incluir apoios de
tecnologia da informação. Os Assistentes Sociais precisarão ser os defensores de políticas que apoiam acesso
igual à tecnologia e inclusão digital.
As agências no ramo de atendimento de caso serão reconfiguradas para usar técnicas de vídeo conferência para contatar seus clientes. Desse modo, a família
18
que não tiver a tecnologia de vídeo conferência em casa
poderá dispor de alguns pontos de acesso de bairro.
Haverá um impacto profundo da tecnologia de
informação no ensino e treinamento do Serviço Social,
com exigências sobre o domínio do conhecimento, mas
também de outras habilidades que serão requeridas na
prática efetiva na era da informação.
Há que se considerar que as pessoas que procuram o Serviço Social esperam agilidade no atendimento,
solução de seus problemas urgentes e introdução de
novos benefícios. A informação, além de ser uma ferramenta, é também um dos principais produtos do Serviço
Social, devendo então ser observada a importância para
o desenvolvimento de uma sistematização dos trabalhos
e sua normatização, que proporcione e corresponda ao
modelo de gestão proposto pela Instituição e sendo, ao
mesmo tempo, fator de indução de mudanças internas.
Assim, o Assistente Social deverá estar capacitado para
lidar com o instrumental do Serviço Social em suas novas formas.
Com a informatização no Serviço Social, a prática
do Serviço Social sofrerá muitas mudanças. Exigirá mudança significativa no currículo do programa educacional do Serviço Social e atualização dos Assistentes Sociais. Precisarão ser competentes no uso da tecnologia da
informação, precisarão saber o quê, como e quando usar
ferramentas interativas de diagnóstico, como utilizar
multimídia de intervenção interativa.
Hoje, a informação no Serviço Social já tem focado
estudos que valorizam a implantação de sistemas para
tratamento das informações, como banco de dados integrados para o uso dos prontuários médicos, psicológicos e sociais, limitando o uso de cada área através do
código de acesso por nível de usuário, para não violar as
questões éticas de cada profissional e sua área de atuação. Faz parte deste processo a exigência de habilidades
do novo profissional de Serviço Social no tratamento
das informações, competência que deverá ser buscada
por meio de cursos e treinamentos especializados.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos que, o profissional deve dominar a
utilização e o conhecimento da tecnologia da informação, buscando cursos, mantendo-se atualizado. Hoje, os
equipamentos (hardware) são mais avançados em relação aos softwares. No entanto, os equipamentos se tornam rapidamente obsoletos e caem em desuso e os
softwares, por sua vez, sofrem um processo mais lento,
apresentando primeiramente, falhas críticas no sistema.
Assim, a educação tecnológica é uma das formas mais
efetivas para preparar o Assistente Social e romper com a
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
dificuldade que tem em manusear um micro computador.
Assim como é preciso possibilitar que todos os membros da sociedade tenham acesso aos benefícios da
tecnologia.
Há de se considerar que o estudo da tecnologia
da informação no Serviço Social é recente, ainda necessita de um entendimento não só conceitual, mas também
de suas implicações. Atrelado a isso, deparamo-nos com
a preservação das informações sigilosas, além da busca
de recursos que possam garantir a segurança de todas
as informações, seguindo sempre a ética profissional; é
uma preocupação de todos atualmente, tendo em vista
casos de violação de informações que ocorrem nesse
mundo virtual.
O registro dos usuários é considerado como um
módulo básico de um sistema computadorizado que consistiria na formação de prontuário eletrônico, uma tentativa da implementação de um sistema de registro
interdisciplinar.
Apontamos aqui a dificuldade que o Serviço Social encontra para ser inserido nesse processo de
informatização dentro das Instituições, que basicamente
são estruturadas nessas tecnologias.
Podemos concluir que se apresenta para o Serviço Social, ao atuar em diferentes setores ou áreas públicas ou privadas, o desafio da utilização das novas
tecnologias, sem prejuízo para a especificidade e a
confidencialidade de suas ações.
7. NOTA
(1) Tradução do texto Future Issuel for Social
Word Practice realizada pela autora deste trabalho.
8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BRASIL. Código de Ética Profissional dos Assistentes
Sociais. Aprovado em 15 de março de 1993 com as alterações introduzidas pelas resoluções CFESS n.º 290/94 e
293/94. Publicado no Diário Oficial da União N 60, de
30.03.93, Seção I, páginas 4004 a 4007 e alterado pela
Resolução CFESS n.º 290, publicada no Diário Oficial da
União de 11.02.94.
FALEIROS V. de P. Serviço Social: questões presentes
para o futuro. Serviço Social & Sociedade, nº 50. São
Paulo: Cortez, 1996.
GUERRA Y. Novas perspectivas de atuação Profissional:
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Social. Revista do Instituto de Pesquisa e Estudos, Divisão Serviço Social, Instituição Toledo de Ensino, n. 10,
maio 2002.
KARSCH, U. M. S. O Serviço Social na Era dos Serviços. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1989.
LEMOS J. L.Serviço Social Organizacional – Tendências de Ação. Apostila de Consultoria em Recursos Humanos. São Paulo: 1990.
LOJKINE, J. A revolução informacional contra a sociedade “pós-industrial”. Serviço Social e Sociedade, 45, ano
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MARTINELLI, M. L.; KOUMROUYAN, E. Um novo olhar
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Paulo: Cortez, 1994.
QUÉAU, P. A revolução da informação: em busca do bem
comum. Disponível em http://www.scielo.br/scielo. Acesso em: 5 de junho de 2006.
RAFFOUL P. R.; MCNEEC, C. A. Future Issuel for Social Word Practice. New Jersey, USA: Allyn &Bacon, 1996.
VIEIRA, B. O. Serviço Social: Processos e Técnicas. 3.
ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1973.
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19
Os Atributos de um Bom Trabalho Monográfico: reflexões
e direcionamentos
Isabel Cristina dos Santos *
Adriana Leônidas de Oliveira **
Paulo Renato de Morais ***
Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar reflexões e direcionamentos acerca do planejamento
e elaboração de monografias. Tem como base obras de estudiosos da área da metodologia científica de renome nacional e internacional, assim como a experiência dos autores. Busca contribuir
com alunos dos cursos de graduação e pós-graduação, e seus professores orientadores, quanto às
características que um trabalho científico deverá apresentar para ser julgado bom, fornecendo
diretrizes de como iniciar, executar e finalizar essa tarefa. Para isso, discute-se sobre a elaboração
do projeto de pesquisa, alguns dos principais métodos e técnicas de pesquisa disponíveis e sobre a
redação da monografia. Constata-se que, para ser considerada boa, uma monografia deverá exibir
o chamado rigor científico, apresentando evidências de um intenso processo reflexivo e investigativo,
voltado a responder às inquietações e proposições iniciais que motivaram a pesquisa e justificaram
a escolha dos caminhos da investigação utilizados.
Palavras-chave: Metodologia científica, técnicas de pesquisa, projeto de pesquisa, elaboração da monografia.
Abstract: This paper aims to present reflections and give directions about the planning and
preparation of monographic papers. It is based on the works of researchers in Scientific Methodology,
of national and international reputation, as well as the experience of the authors. Its purpose is to
make a contribution to graduate and undergraduate students, and their advisers, regarding the
characteristics of a well conducted scientific research. This paper gives directions on how to initiate,
execute, and conclude this task. A discussion is made about the preparation of a research project,
the main scientific methods and techniques available to the researcher, and about the writing of the
final monographic paper. The conclusion is that, to be considered good, the monographic paper
should exhibit the so-called scientific rigor, presenting evidence of a solid reflection on the subject
and a thorough investigative process, aiming to answer the initial propositions that motivated the
research and justified the choice of the investigative paths chosen by the researcher.
Key words: Scientific methodology, research techniques, research project, monographic paper.
1. INTRODUÇÃO
A discussão sobre os atributos necessários para
se realizar um bom trabalho monográfico deve começar
pela seguinte questão: o que é uma monografia? Alcançar uma resposta clara a este questionamento permitirá
ao aluno-pesquisador ter uma noção precisa de onde
deve partir e aonde deve chegar.
Salomon (1994, p. 179) define a monografia como
Professora Doutora do Departamento de Economia, Contábeis e Administração da UNITAU.
** Professora Doutora do Departamento de Psicologia
da UNITAU.
*** Professor da FCSAC e IP&D da UNIVAP.
o “tratamento escrito de um tema específico que resulte
de pesquisa científica com o escopo de apresentar uma
contribuição relevante ou original e pessoal à ciência”. O
autor ainda ressalta que a monografia é o tratamento escrito aprofundado de um só assunto, de maneira descritiva e analítica, onde a reflexão é a tônica.
Larosa e Ayres (2002) definem a monografia como
um trabalho científico em que se procura apresentar a
obtenção de contribuições pessoais à ciência, através
do estudo de um assunto único e das reflexões obtidas
neste processo.
*
20
Tais definições evidenciam que a monografia é
produto de uma construção intelectual do aluno-pesquisador que revela leitura, reflexão e interpretação sobre
um tema da realidade. O valor de um trabalho dessa natu-
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
reza é reconhecido pelo enfoque escolhido, pela lógica
que orienta a exposição do referencial teórico e, particularmente, pela riqueza das análises, sínteses, interpretações, comentários e pontos de vista relatados.
Não há monografia sem pesquisa científica, mas a
monografia não é apenas um trabalho de redação ou de
comunicação dos resultados de uma pesquisa.
O trabalho monográfico apresenta um tratamento
essencialmente reflexivo. Sem a marca da reflexão, a
monografia transforma-se facilmente em um relatório de
procedimentos de pesquisa ou compilação de obras alheias ou medíocre divulgação. Trata-se de um exercício de
crescimento intelectual e profissional, de busca de conhecimento sobre a realidade: conhecer é apropriar-se
de um objeto que lhe é exterior. Por isso, a “empreitada”
para a construção de uma monografia exige perseverança, determinação e modéstia.
A monografia pode ser concretizada com base em
uma pesquisa bibliográfica (análise teórica, que se processa predominantemente pelo processo dedutivo) ou
pesquisa empírica (que demanda método indutivo: experimento, observação, levantamento etc.). É o problema
que determina o tipo de pesquisa a ser empreendida.
Vale lembrar que trabalhos de conclusão de curso
de graduação ou pós-graduação lato sensu, dissertação
de mestrado e tese de doutoramento são, todas,
monografias, variando o grau de exigência entre elas
(INÁCIO FILHO, 1995). Assim, a complexidade de uma
pesquisa científica tem uma escala compatível com os
desafios propostos em cada nível de titulação pretendida. Desses, os que mais se destacam são:
a) Ineditismo e Criatividade: Necessariamente visado pela pesquisa de doutoramento. Espera-se que o
pesquisador a esse nível tenha desenvolvido grande capacidade crítica e de questionamento sobre os elementos
formais da pesquisa, resultando em análises criativas e
trabalhos inovadores, os quais possam contribuir para o
enriquecimento dos fundamentos teóricos já conhecidos.
É oportuno esclarecer a questão do ineditismo, o qual se
entende como sinônimo de originalidade, a fim de se evitarem maiores equívocos. Originalidade, citando as idéias
de Salomon (1994), significa, pela própria etimologia da
palavra, “volta às origens”. Não se identifica, portanto,
com novidade, mas sim com “retorno à essência”. Assim,
exigir originalidade num trabalho não significa exigir total
novidade, pois isso seria uma colocação ingênua e dificilmente atingível. Isso porque a ciência é um processo cumulativo, onde verdades provisórias são as verdades possíveis e, portanto, a revisão é constante. A exigência de
ineditismo ou originalidade traduz-se em atualização, relevância contemporânea, trabalho que apresenta nova aborRevista UniVap, v.16, n.28, 2010
dagem a um assunto já tratado, ou consegue estabelecer
relações novas ou ainda propõe nova interpretação de
questões controversas.
b) Profundidade: Requisito visado pela pesquisa
de mestrado e, mais destacadamente, na pesquisa de
doutoramento. Profundidade não deve ser compreendida como volume de páginas geradas, e, sim, uma adequada cobertura dos principais aspectos diretamente relacionados ao tema em debate.
c) Amplitude do Debate: Válido para qualquer trabalho monográfico, inclusive àqueles relativos à conclusão de cursos de graduação e pós-graduação lato sensu,
mestrados e doutoramento. Ainda que nos três primeiros
casos não haja exigências de trabalhos inéditos, convém
ao pesquisador evidenciar as habilidades de consultas
às diversas fontes e apresentar os conceitos e debates
existentes sobre o tema.
Para ser considerada válida, a monografia deverá
ter sido o produto de um trabalho científico bem organizado e orientado.
O objetivo deste artigo é discutir não apenas quais
as características de uma boa monografia, mas também
fornecer algumas diretrizes sobre como iniciar, executar e
finalizar essa tarefa, aspectos a serem tratados a seguir.
2. O PROJETO DE PESQUISA
Ao se buscar um resultado de valor excepcional,
deve-se ter em conta que o projeto de pesquisa tem que
estar descrito de modo claro e completo. Um começo
inadequado pode trazer inúmeros desvios de enfoque e
do tempo aplicado. A elaboração do projeto, portanto,
configura-se um elemento organizador essencial à pesquisa, além de oferecer uma fonte de reflexão de alto valor agregado ao trabalho.
Conforme enfatizam Victoriano e Garcia (1996,
p.15), o projeto permite “[...] visualizar melhor o objeto de
estudo, amadurecer as hipóteses e desenhar o mapa
metodológico que deverá ser seguido na execução da
monografia”.
O projeto pode ser compreendido como o planejamento global de todo o processo de pesquisa, com a
delimitação minuciosa de suas partes ou fases e recursos utilizados para sua realização (GIL, 2002). Pescuma e
Castilho (2006) apontam que, sendo o projeto o registro
do planejamento, irá orientar toda a pesquisa, e por isso
não deve ser considerado apenas um documento a ser
apresentado como mais um requisito burocrático, mas
deve acompanhar constantemente o pesquisador em seu
trabalho.
21
Como as pesquisas diferem muito entre si, não se
pode falar em um roteiro rígido para elaboração de projetos de pesquisa. Sua estrutura será determinada pelo tipo
de problema a ser pesquisado e pelo estilo de seus autores. Os elementos a serem apresentados e comentados a
seguir, entretanto, podem ser considerados como fundamentais para que o projeto possa proporcionar o entendimento do processo de pesquisa que se planeja desenvolver.
tudo quanto à relevância da pesquisa, a pertinência das
hipóteses formuladas e atribuirá um sentido de coerência e razão na construção da monografia, em especial na
conclusão.
Uma monografia bem construída deverá apresentar coerência entre o tema, o problema, as escolhas
metodológicas e as conclusões obtidas.
2.4 Formulação das Hipóteses
2.1 A Escolha do Tema e sua Delimitação
Define, de maneira concisa, o campo de conhecimento da obra a ser desenvolvida, permitindo caracterizar o conteúdo do trabalho. O tema deverá ser relevante,
tanto do ponto de vista da comunidade científica, quanto no campo da aplicação. Ou seja, o tema deverá cotejar
um encaminhamento pragmático e aplicável à realidade
profissional.
Dado o tempo de relacionamento com os elementos da pesquisa, será mais promissor escolher um tema
aderente ao cotidiano do pesquisador. Dessa forma, a
condução da pesquisa poderá ser favorecida pela intimidade e convivência do autor com a situação descrita, ou
minimamente, com o fato de o tema ter gerado inquietações criativas.
A delimitação do tema corresponde à porção lógica do campo de debate sobre o qual se pretende pesquisar.
Ao se estabelecer os limites do tema, ter-se-á maior clareza no foco e nos elementos indispensáveis à pesquisa.
Deve-se observar que a delimitação do tema é diferente
do título do trabalho, embora o segundo possa derivar
da primeira.
2.2 Justificativa
Na justificativa busca-se evidenciar qual a contribuição que o trabalho que se pretende realizar pode trazer. A relevância do trabalho deve ser apontada, tanto a
de caráter pessoal, acadêmico, profissional e social.
2.3 O Problema a Ser Investigado
Refere-se à questão especificamente tratada no
trabalho. Deve ter uma abrangência percebida e uma circunscrição que permita manter o foco, uma vez que o
problema atuará como um fio condutor para o encaminhamento da pesquisa, da análise dos dados coletados e
da concentração de foco na redação final da monografia.
O problema é geralmente expresso através de uma
pergunta, da qual derivarão o quadro de hipóteses do
trabalho. Uma definição clara do problema a ser investigado trará nexo ao desenvolvimento do trabalho, sobre-
22
A hipótese corresponde à idéia central previamente
articulada que se pretende confirmar ou, ao menos, testar ao longo da pesquisa.
A formulação de hipóteses é importante, pois oferece respostas antecipadas e provisórias ao problema de
pesquisa. Todo trabalho científico deve apresentar uma
argumentação que relacione o problema aos dados
coletados e às hipóteses. O trabalho pode apresentar
uma ou mais hipóteses que deverão ser demonstradas.
Em alguns casos, é admissível relatar um conjunto de
proposições a serem contempladas pela pesquisa.
A hipótese deve refletir uma convicção inicial a
ser verificada e não pressupostos já demonstrados ou
conhecidos. Deve ser clara, concisa e escrita de forma
afirmativa, formulada de maneira lógica, evidenciando as
lacunas ou ambiguidades do assunto.
2.5 Objetivos
Os objetivos mostram aonde se pretende chegar
com o trabalho de pesquisa e, por isso, orientam o processo como um todo. Os objetivos de uma pesquisa serão extraídos diretamente do problema de pesquisa, sendo que num projeto deve-se evidenciar o objetivo geral e
os objetivos específicos. O primeiro define, de modo geral, o que se pretende alcançar com a realização da pesquisa. Os objetivos específicos definem as etapas que
devem ser cumpridas para se chegar ao objetivo geral.
Os objetivos devem ser formulados com a utilização de verbos no infinitivo, tais como: explicar, avaliar,
caracterizar, aplicar, verificar, determinar, entre outros. A
escolha do verbo mais adequado será orientada pelo nível de pesquisa que se busca realizar.
2.6 Explicitação do Quadro Teórico
O quadro teórico revela o conjunto lógico dos
princípios, categorias e dos conceitos sob os quais o
trabalho será desenvolvido e sobre os quais a reflexão se
dará. Um quadro teórico bem definido pode enriquecer
uma monografia, conferindo-lhe circunstância e uma
dialética conceitual elevada com outros autores.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Um bom relatório monográfico apresenta
unicidade de princípios, categorias e conceitos, mesmo
que haja oposição de ideias entre os autores considerados (DE BRUYNE et al. apud LESSARD-HÉBERT,
GOYETTE; BOUTIN, 2005).
Quanto à revisão da bibliografia, um dos aspectos críticos a ser observado é a questão do diálogo entre
os autores e a contribuição efetiva que estes poderão
dar ao desenvolvimento do tema. Portanto, é imprescindível que a revisão bibliográfica seja ampla, tenha o maior elenco possível de abordagens relacionadas, dentre a
bibliografia clássica e debates mais recentes acerca do
tema pesquisado. Debates multidisciplinares são recomendados quando permitem o enriquecimento do pensamento investigativo.
Uma pergunta importante a ser feita é se o uso de
tais referências apoia o ponto de vista do autor e os
pressupostos do trabalho ou contribui com análises críticas ou, ainda, se os enunciados se mantêm válidos,
dada a existência de referências mais atualizadas, ou mesmo, o surgimento de postulados antagônicos ao tema
proposto. Expor eventuais antagonismos pode representar a riqueza da contribuição do pesquisador.
É importante ter em mente que o quadro teórico
terá a finalidade de fundamentar o trabalho e não se trata
de uma simples relação de obras que tratam do tema.
Nele o pesquisador mostrará seu conhecimento e posição a respeito do tema.
Naturalmente, deve ser observada a relevância do
uso de bibliografia original, bem como das citações de
segunda-mão, uma vez que essas podem conter algum
tipo de análise ou de ideologia do autor que a apresentou,
o que não necessariamente corresponde a uma tradução
do espírito que regeu o momento e o contexto da elaboração original. Cada autor utiliza as citações de acordo com
a proposta e contexto particular do seu trabalho.
De acordo com a pesquisa conduzida por Ketchen
e Gillis (2004), a falta de uma base teórica respeitável foi
motivo para rejeição de artigos internacionais para 43%
dos avaliadores. O segundo motivo mais destacado foi o
de “conceitos e medidas sem alinhamento”, para 38%
dos avaliadores. A terceira razão das rejeições referiu-se
a “inadequado desenho de pesquisa (ou modelagem)”,
para 34%; e o quarto motivo mais relevante, novamente
relativo à base teórica, foi a falta de teoria, para 33% dos
avaliadores. Dessa forma, uma cautelosa revisão bibliográfica poderá ensejar maiores possibilidades de aceitação do trabalho acadêmico, especialmente considerando
dados da mesma pesquisa, que identificou que os recortes de análise dos dados foram motivos de rejeição em
somente 3% das avaliações feitas.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
2.7 Escolha da Metodologia
Uma vez que o problema a ser investigado esteja
claramente delimitado, a escolha da metodologia deverá
ser compatível à inquietude que se pretende responder.
Neste momento, um método ou uma combinação favorável de métodos será aquele que maior nexo conferir ao
processo de pesquisa e resposta. Uma boa monografia
terá sido aquela que fizer melhor uso dos métodos de
pesquisa disponíveis, visando conferir a maior
credibilidade possível às conclusões obtidas.
A pesquisa poderá apresentar os seguintes níveis:
a) exploratório, quando visa explicitar a natureza
de um problema formulado, apoiando a construção das
hipóteses relacionadas e ao aprimoramento da ideia central da pesquisa;
b) descritivo, quando se destina a relacionar características específicas de uma determinada população
ou fenômeno, a partir das quais podem ser estabelecidas
as relações entre as variáveis que compõem o objeto de
estudo;
c) explicativo, quando visa identificar os fatores
que definem a natureza dos fenômenos ou facilitam sua
compreensão em bases realistas, permitindo justificar a
natureza e ordenação de fatos e eventos vinculados.
2.8 Estabelecimento do Cronograma de Pesquisa e Orçamento
Todo trabalho científico deve ser orientado por
um cronograma de execução que ofereça visibilidade dos
esforços a serem depreendidos, para que sejam adequadamente planejados, e que comprometa o pesquisador e
seu orientador. Sua principal função é indicar a sequência
e as datas em que as ações referentes à pesquisa serão
executadas.
Quanto ao orçamento, devem-se prever os recursos humanos e materiais necessários, sendo que a previsão detalhada e precisa é ainda mais necessária ao se
fazer um pedido de verbas para alguma instituição de
fomento à pesquisa.
3. O MÉTODO DA PESQUISA
Um trabalho de caráter científico somente se legitima a partir da definição e aplicação de uma adequada
abordagem científica de pesquisa. Assim, o pesquisador
deverá se esforçar para realizar as escolhas metodológicas
que proporcionem a melhor abordagem ao objeto de estudo, contribuindo, assim, para o êxito de seu trabalho
monográfico.
23
3.1 Abordagens de Pesquisa
A escolha de uma ou outra abordagem de pesquisa está associada aos requisitos que permitirão o confronto entre a natureza do objeto a ser debatido e o problema estabelecido, de modo a viabilizar o encaminhamento do estudo. A abordagem escolhida deve apoiar a
geração de ciência, seja do ponto de vista qualitativo ou
teórico, seja do ponto de vista quantitativo ou matemático. Desse modo, uma pesquisa poderá utilizar as abordagens a seguir, única ou combinadamente.
a) Pesquisa Quantitativa
Permite a apreciação do conjunto de teorias, de
enunciados e conceitos conhecidos e valorizados pela
comunidade científica. Parte da análise do objeto, segundo a realidade preexistente, associando-a a uma teoria existente e que possa explicá-la, permitindo, então, a
formulação de uma hipótese relacionada a conceitos
mensuráveis, de modo que a teoria aplicada possa ser
testada. Além disso, favorece a ampliação do conjunto
de conhecimentos prévios, associados a essa teoria, dentro daquela realidade observada.
Nessa abordagem, o valor intrínseco à pesquisa
refere-se à possibilidade de mensuração dos fatos, eventos ou variáveis correlacionadas.
pode ser tomada rigidamente, uma vez que muitas pesquisas não se enquadram facilmente nesses modelos,
mas na maioria dos casos pode-se enunciá-las em dois
grupos. No primeiro estão a pesquisa bibliográfica e a
documental, as quais podem ser compreendidas da seguinte forma:
a) Pesquisa Bibliográfica: Tem como objetivo conhecer, recolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas existentes sobre o assunto. Apesar
de todos os estudos exigirem uma exaustiva pesquisa
bibliográfica, existem teses desenvolvidas exclusivamente a partir de tais fontes (GIL, 2002; VICTORIANO;
GARCIA, 1996).
b) Pesquisa Documental: Assemelha-se à pesquisa bibliográfica, mas a diferença essencial está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se
utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que já receberam tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 2002). É uma
pesquisa realizada a partir da consideração de documentos autênticos, típicos de um levantamento de dados históricos em fontes designadas como primárias. Essa forma de pesquisa também considera fontes secundárias,
como dados estatísticos ou demográficos elaborados por
instituições confiáveis (PÁDUA, 1989).
b) Pesquisa Qualitativa
Nessa abordagem, o valor intrínseco da pesquisa
reside na análise e compreensão dos efeitos de ordem
psicossocial que um determinado objeto de estudo tem
sobre o meio onde ele se situa e a interação com a dimensão humana que coexiste nesse dado meio.
A pesquisa qualitativa busca uma profunda compreensão do contexto da situação; a pesquisa enfatiza
processo, ou seja, a sequência dos fatos ao longo do
tempo; a pesquisa geralmente emprega mais de uma fonte de dados (TEIXEIRA, 2005).
3.2 Delineamentos de Pesquisa
Delineamento é o design da pesquisa, o qual revela a estratégia que se adota na pesquisa. Refere-se ao
planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla.
Segundo Gil (2002), o delineamento expressa em linhas
gerais o desenvolvimento da pesquisa, com ênfase nos
procedimentos de coleta e análise de dados. Podem ser
verificados dois grandes grupos de delineamentos: aquele que se vale de fontes de papel e aquele cujos dados
são fornecidos por pessoas.
Como lembra Gil (2002), essa classificação não
24
No segundo grupo encontram-se, entre outros,
os seguintes delineamentos:
c) Pesquisa Experimental: É indicada para situações nas quais é possível manter as condições sob controle. Visa estabelecer relações de causa e efeito entre as
variáveis analisadas. Esse método permite a intervenção
do pesquisador (BRYMAN, 1995). Segundo Pádua (1989),
a escolha desse método deve considerar a possibilidade
de verificação e quantificação dos resultados.
d) Levantamento: É a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Procedese à solicitação de informações a um grupo significativo
de pessoas acerca do problema estudado, para, em seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados (GIL,
2002).
e) Pesquisa-Ação: Enfatiza a aplicação de uma
solução indicada pelo pesquisador a um problema real,
diante do qual o pesquisador recomenda um conjunto de
ações e observa o impacto de cada uma delas sobre o
ambiente (BRYMAN, 1995).
f) Estudo de Caso: Aborda uma ou mais empresas,
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
ou setores nelas inseridos, que possam conferir validade
ao processo científico em relação ao objeto de estudo.
Segundo Yin (1994), o estudo de caso é particularmente
recomendado para a análise de eventos contemporâneos, para responder a indagações do tipo “como?” e “por
quê?”, que estão fora do controle do pesquisador, de tal
forma que possam ser melhor contextualizados e compreendidos.
Para Yin (1994), o estudo de caso permite conhecer os fenômenos individuais, organizacionais, sociais e
políticos, preservando a visão completa e as características significativas de eventos da realidade e permitindo a
contínua interação entre a teoria e os dados coletados.
Quanto à escolha da abordagem e do delineamento (estratégia) a serem adotados na pesquisa, cabem algumas reflexões adicionais. Para Yin (1994), a escolha do
método ou dos métodos combinados mais indicados para
uma determinada pesquisa deverá levar em consideração alguns fatores particulares associados ao objeto da
pesquisa. São eles: a) extensão do controle do pesquisador sobre o desdobramento dos eventos observados; e,
b) analisar se o foco temporal da pesquisa e do objeto
será compreendido por meio de eventos contemporâneos ou eventos históricos.
O Quadro 1, a seguir, apoia a definição da estratégia a ser adotada na pesquisa.
Quadro 1 - Situações Relevantes de Diferentes Estratégias de Pesquisa (YIN, 1994).
De acordo com a natureza e a complexidade do
problema, o pesquisador poderá optar por mais de uma
abordagem para atender os requisitos da pesquisa.
4. O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Quando se fala em desenvolvimento da pesquisa,
deve-se ter em mente que dois processos complementares serão executados: a coleta e a análise dos dados. A
seguir, apontam-se alguns direcionamentos que podem
contribuir para essas tarefas.
4.1 A Coleta de Dados
A condução da pesquisa requer a escolha de uma
ou mais técnicas relacionadas à etapa de coleta de dados.
Bryman (1995) propõe as seguintes técnicas de
coleta de dados: a) Questionários Auto-Administrados:
questões respondidas livremente pelos participantes; b)
Entrevistas: questões específicas abordadas pelo
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entrevistador diretamente ao entrevistado; c) Observação Participante: o pesquisador coleta observações ao
participar de uma determinada situação; d) Observação
Estruturada: o pesquisador coleta informações, segundo
um plano pré-definido; e) Informações de Arquivos: é tratada como uma fonte de dados da qual o pesquisador
obterá os dados em material preexistente para posterior
análise. Outras técnicas que também podem ser utilizadas:
• Formulário: o pesquisador elabora o instrumento
com as questões dos dados pessoais e as questões específicas, e ele mesmo aplica, verbalmente. Cabe ao pesquisador o seu preenchimento (TEIXEIRA, 2005).
• Grupo focal: segundo Morgan (1997), a coleta de
dados neste método dá-se a partir da interação do grupo
sobre um tema determinado pelo pesquisador. Por meio do
grupo focal busca-se analisar a dinâmica interacional
surgida durante as discussões em grupo, sendo possível
perceber como o próprio grupo coloca as ideias de cada
um, comparando-as, sintetizando-as e analisando-as.
25
Idealmente, a cada estratégia de pesquisa
correlaciona-se uma técnica de coleta de dados. Bryman
(1995) sugere, por exemplo, que a pesquisa de levantamento seja associada às entrevistas estruturadas e aos
questionários auto-administrados. A pesquisa qualitativa utiliza mais frequentemente a observação participante
do processo analisado, tendo apoio na entrevista não
estruturada. Já as pesquisas experimentais, o estudo de
caso e a pesquisa-ação podem estar associadas a diversas técnicas de coleta de dados.
A coleta de dados deverá ser documentada com a
utilização de instrumentos especialmente desenvolvidos
para essa etapa. Esses documentos poderão ser desde
questionários às fichas de controle e registro de eventos, de roteiro de entrevistas estruturadas aos chamados
road maps, fluxogramas e outras formas de documentação de dados relativos ao comportamento do fenômeno
observado.
Na análise documental, uma lista de documentos,
com referências completas, sítios de armazenamento da
informação, poderá ser útil quando da verificação e validação de fontes consultadas, e para o acompanhamento
da pesquisa pelo orientador.
Algumas instituições de pesquisa estabelecem
códigos de ética para o uso dos instrumentos. Portanto,
além de desenvolvê-los sobre uma base conceitual
explicitada na revisão teórica e inseri-los nos apêndices
da monografia, os instrumentos devem ser submetidos à
apreciação da ética, especialmente quanto ao uso de experiências de laboratório com cobaias ou de dados obtidos com pessoas, destacando que entrevistas somente
poderão ser gravadas com a anuência do entrevistado.
A garantia do exercício da ética nos procedimentos
de pesquisa é, principalmente, oriunda das pesquisas em
Ciências Naturais, mas se estendeu por vários campos do
conhecimento. Pesquisa feita por Sifers et al. (2002) sobre
o uso de dados demográficos em 260 artigos científicos
revelou supressão nos dados publicados, dificultando a
comparação entre os resultados obtidos com outras situações vivenciadas, limitando assim a contribuição científica da pesquisa, que é a sua finalidade.
algum tipo de abordagem de análise. No caso de abordagem quantitativa, convém utilizar sistemas de
processamento automático de dados que permitam inúmeras análises, inclusive detalhem com a clareza necessária e possível, segundo os acordos de sigilo, a descrição da amostra.
Nos estudos quantitativos, apresentam-se os resultados obtidos na forma de tabelas ou gráficos; nos
qualitativos, na forma descritiva com unidades de registro dos informantes. Deve-se então analisar e discutir os
resultados obtidos, considerando os autores que dão
suporte ao estudo e/ou marco teórico adotado, assim
como as impressões e experiências do pesquisador
(TEIXEIRA, 2005). Conclui-se o estudo considerando as
hipóteses formuladas e os objetivos traçados e, em função dos resultados, é possível sugerir futuros estudos,
visando o aprofundamento da questão estudada ou ainda uma proposta de ação que traga contribuição.
5. A REDAÇÃO DA MONOGRAFIA
É importante que o trabalho seja redigido dentro
de uma construção lógica que evidencie um começo, meio
e fim, e siga um itinerário que permita ao leitor compreender o fluxo do raciocínio do autor no desenvolvimento e
nas conclusões obtidas. Portanto, a organização da
monografia deve contemplar:
Pré-Texto: contendo, obrigatoriamente, Capa,
Folha de rosto, Folha de Aprovação, Resumo, Abstract e
Sumário.
Introdução: visão ampla do cenário e dos principais indicadores utilizados, mudanças conjunturais. Deve
apresentar a contextualização do tema, delimitação do
tema, justificativa, formulação do problema, hipóteses,
objetivos.
Revisão Bibliográfica: descrição dos autores e
principais contribuições destes ao objeto da pesquisa e
seu desenvolvimento.
Método: descrição do tipo de pesquisa, do local/
contexto, dos instrumentos, da população e amostra, procedimentos de coleta e análise dos dados.
4.2 Análise e Interpretação dos Dados
Nos estudos quantitativos, conclui-se a coleta de
dados quando se atinge a amostra determinada. Nos estudos qualitativos, conclui-se a coleta quando não houver mais novas informações (critério de saturação teórica) ou quando se considerarem suficientes os dados encontrados para responder ao problema de pesquisa. Assim, a pesquisa de campo deverá fornecer dados, qualitativos ou quantitativos, que possam ser tratados por
26
Resultados e Discussão: descrição dos principais
resultados e seu confronto com o quadro de hipóteses
ou de proposições e sua discussão à luz do referencial
que embasou a pesquisa.
Considerações Finais: conclusões e observações
relevantes verificadas ao longo da pesquisa e do tratamento das informações. Apontamento das contribuições
da pesquisa e desdobramentos recomendados.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Pós-Texto: referências, glossário (opcional), apêndice (opcional), anexo (opcional). Vale lembrar que apêndice é todo texto ou documento elaborado pelo autor e anexo é todo texto ou documento não elaborado pelo autor.
A monografia está sujeita a um elenco de prérequisitos, os quais podem afetar a percepção dos leitores da banca examinadora sobre a qualidade do trabalho.
Os principais pontos de verificação da monografia estão
concentrados nas questões a seguir.
As citações foram creditadas e destacadas, conforme o padrão adotado? As fontes citadas constam nas
referências bibliográficas? As imagens ou abreviaturas
inseridas no texto foram devidamente relacionadas nas
listas de figuras, tabelas e gráficos e abreviaturas? Menção às letras de Anexos e Apêndices, em ordem de aparição? Houve identificação de número de página para assuntos destacados? Na alteração do texto ou imagem,
houve mudança de páginas?
Além dos aspectos descritos, que são uma fonte
bastante provável de erros de revisão, poderá ser de boa
prática recorrer a uma tabela de verificação como a proposta a seguir.
As palavras-chave oferecem uma visão adequada do
conteúdo do trabalho? O abstract foi revisado sempre
que houve alteração no corpo do resumo? A Introdução
situa, com clareza, o que o leitor deve esperar do trabalho? A ordem dos capítulos relata o grau de evolução da
pesquisa? Todas as informações novas estão apresentadas? Há isenção de juízos de valor, opiniões pessoais,
preconceitos, paixões etc.? O relatório está redigido na
terceira pessoa, ou seja, impessoal? Houve uso restrito
de adjetivos, superlativos e de preciosismos inatingíveis?
As conclusões são pertinentes ao método de pesquisa
ou à reflexão aplicada ao longo do projeto? Há coerência
entre os autores citados e sua notória competência no
tema? Há uma efetiva contribuição das conclusões na
aplicação em novos estudos?
Um dos aspectos importantes em relação ao conteúdo é a linearidade no desenvolvimento das ideias,
texto e pesquisa. O relatório deve ser considerado como
uma evolução gradual que respeita o nexo e a coerência
entre os diversos conceitos em relação ao objeto da pesquisa, além da legitimidade do processo de levantamento de dados e de tratamento dos dados, conforme será
relatado a seguir.
c) Dimensão Teórico-Filosófica do Trabalho
a) Dimensão Estética do Trabalho
Toda instituição definirá os elementos estéticos do
trabalho monográfico, segundo o padrão da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) ou outro. Vale a
pena perguntar se: Os nomes do curso, aluno e orientador
estão corretamente grafados? O sumário inclui todos os
capítulos e tópicos, apêndices e anexos? As palavras em
idioma estrangeiro estão grafadas em itálico? Há equilíbrio
entre volume de texto e imagens aplicadas? As imagens
têm o crédito da fonte de origem? A inserção de imagens
foi previamente explicada e chamada?
Deve ser considerada a impressão que os leitores
e, especialmente a banca, terão ao ler o relatório
monográfico. Convém submetê-lo a revisões independentes de modo a angariar a máxima atratividade estética. Igual cuidado deve ser tomado em relação ao conteúdo, conforme será descrito a seguir.
b) Dimensão Conteúdo do Trabalho
É importante que o desenvolvimento do trabalho
seja feito em consenso entre o orientador e o pesquisador, e que esteja dentro de uma perspectiva arquitetônica
compatível com o quadro de proposições da pesquisa,
com equilíbrio no diálogo conceitual. Desse modo, é importante verificar os seguintes aspectos estruturais do
trabalho: O resumo do trabalho abrange os objetivos, o
método, os principais resultados e conclusões obtidas?
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Todo trabalho científico deve estar apoiado por
fundamentos teóricos consistentes, sejam eles convergentes ou não. Cabe ao pesquisador questionar se: Há
clareza, ao longo da exposição, sobre quais serão esses
eixos conceituais? Foram pontuadas questões pertinentes aos eixos conceituais? As convergências e
complementaridades entre os autores, ou divergências e
disparidades foram destacadas e oportunamente debatidas? Esses eixos conceituais estão visíveis no modelo
de referência utilizado? O modelo de tratamento das informações e dados coletados sustenta ou evidencia a
base conceitual? Os principais conceitos perpassam a
elaboração do instrumental de coleta de dados? Na etapa de análise e discussão dos dados, os principais autores selecionados são confrontados com os resultados
obtidos? As considerações finais resgatam e sintetizam
as orientações conceituais, fazendo um vis-à-vis com as
conclusões obtidas?
Esses são alguns dos principais cuidados que
devem ser observados quando do desenvolvimento da
pesquisa. De modo geral, destaca-se a necessidade de
uma relação produtiva entre orientando e orientador: por
mais engajado que o orientador esteja com o trabalho, é
importante que o orientando assuma a responsabilidade
sobre o desenvolvimento da pesquisa, com o cumprimento dos prazos estabelecidos e se aproprie do tema e
do trabalho, pois ele é quem fará a defesa.
27
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma pesquisa científica deve servir de fonte de
referência e inspirar outros pesquisadores para as derivações do tema pesquisado. Portanto, é importante registrar quais os desdobramentos possíveis a partir da
pesquisa feita, indicando temas ou problemas que foram
percebidos como passíveis de novas pesquisas.
O trabalho científico pode e deve ser criativo.
Busca-se colaborar no desenvolvimento da ciência e fazer avançar o conhecimento, aplicando-se o instrumental da ciência aos objetos e situações, buscando seu
desvendamento e sua explicação.
LESSARD-HÉBERT, M.; GOYETTE, G.; BOUTIN, G. Investigação qualitativa: fundamentos e práticas. 2. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2005.
MORGAN, D. Focus group as qualitative research. 2.
ed. USA: Sage, 1997.
PÁDUA, Elisabete M. M. de. O trabalho monográfico
como iniciação à pesquisa científica. In: CARVALHO,
Maria Cecília M. de. (Org.). Construindo o saber:
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Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Uma Introdução ao Estudo da História da Educação
no Município de Resende no Século XIX
Julio Cesar Fidelis Soares *
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo preliminar sobre os professores e
educadores e as escolas que atuavam em Resende, Província do Rio de Janeiro no século XIX, numa
busca do que representaram socialmente. A análise dos elementos da representação social destes
mestres e das suas escolas nos ajudará a entender um pouco mais sobre história da educação em
Resende bem como da região do Vale do Paraíba Fluminense no período da produção cafeeira e
suas interfaces com sociedade.
Palavras-chave: Representações sociais, pesquisa educacional, escolas.
Abstract: This article presents a preliminary study about the teachers, educators, and schools that
were in Resende, Province of Rio de Janeiro in the nineteenth century, in search of what this socially
represents. The analysis of the elements of these teacher’s social representation and their schools
will help us to understand a little more about the history of the education in Resende as well as in
the region of the Paraíba Valley in Rio de Janeiro during the period of coffee production and their
interfaces within society.
Key words: Social representations, educational research, schools.
Todos nós sabemos que a educação é fator preponderante ou principal para o desenvolvimento de um
país ou região, e não mero elemento de visualização de
crescimento, mas um efetivo instrumento de desempenho nas mais diversas áreas de melhoria dos níveis de
qualidade de vida econômica e social.
Assim sendo, é necessário conhecer a história de
nossas escolas para sabermos em que contexto elas foram criadas, sua organização, que cursos ofereciam, quais
foram as atividades cívicas comemoradas e promovidas
em cada período de sua existência. Quem foram seus dirigentes, seus professores e tantos outros aspectos próprios das pesquisas não quantitativas, mas com um foco
extremamente qualitativo com que podemos aprender
mais, não só sobre as escolas como um todo, mas também quem eram aqueles que trabalhavam no ambiente
educacional. De outra maneira tal estudo nos dá possibilidade de conhecermos a história das unidades escolares
através do resgate de seus documentos, documentos de
extrema importância para o conhecimento histórico, pois
*
Mestre em História Social, Docente nas Faculdades
Dom Bosco - AEDB Resende/RJ. Centro Universitário – UNIFOA. Vice-Presidente da Academia
Resendense de História e Membro da Academia de
História Militar e Terrestre do Brasil.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
conseguem registrar o dia a dia das atividades das unidades escolares.
Pensando neste mundo da educação é que colocamos o nosso objetivo que é analisar ainda de forma
preliminar, informações sobre a educação em Resende
através de fontes de consulta primária para que os estudiosos e memorialistas da História da Educação, especificamente possam dar vida e voz à memória das antigas
unidades escolares de Resende no século XIX. Nessa
época, na região do Vale do Paraíba Fluminense, Resende
despontou como pioneira na produção cafeeira e também como foco dispersor desta cultura para outras regiões do país.
Assim, nosso estudo começa pelo primeiro relato
ou registro sobre a educação na então Vila de Resende.
Saint-Hilaire(1932), quando de sua viagem às Províncias
de Minas Gerais e São Paulo, de passagem por Resende,
fez o seguinte registro:
Quanto mais me aproximo da Capitania
do Rio de Janeiro mais consideráveis se
tornam as plantações. Várias existem
também muito importantes perto da Vila
de Resende. Proprietários desta redondeza possuem 40,50,60 e até 100 mil pés
de café. Pelo preço do gênero devem es-
29
tes fazendeiros ganhar somas enormes.
Perguntei [...]em que empregavam o dinheiro. – O senhor pode ver [...]que não
é construindo boas casas e mobiliandoas. Comem arroz e feijão. Vestuários também lhes custa pouco, nada gastam com
educação dos filhos que se entorpecem
na ignorância , são inteiramente alheios
ao prazeres da convivência mas é o café
que lhes traz dinheiro. Não se pode colher café senão com os negros; é pois comprando negros que gastam todas as rendas e o aumento da fortuna se presta muito mais para lhes satisfazer a vaidade do
que para lhes aumentar o conforto.
(SAINT-HILAIRE, 1822).
Sabe-se, entretanto, que a educação começa a
tomar forma no Brasil a partir da Independência. Segundo o professor Chrysógono Cavalcanti (1) (1998) em seus
estudos sobre a educação em Resende, em 1824 a
municipalidade pediu ao Imperador D. Pedro I que fossem criadas duas escolas de primeiras letras e uma Aula
de Latim que teve como primeiro mestre o Padre Thomaz
Villa Nova Portella.
Numa visão da história econômica da região do
Médio Vale do Paraíba, Resende foi citada por Zaluar, na
década de 1860, como a mais importante das povoações
do Vale. Era através de Resende que convergiam os produtos de parte das províncias de São Paulo e Minas para
o mercado da corte, conforme relatam inúmeros estudos
sobre o fluxo do comércio interno de abastecimento,
mesmo dentro do período Colonial antecedente. Pelo
que podemos pesquisar até o momento, vimos que a educação era realizada só para alguns e quem nos melhor
relata este fato é Celina Whately (2003):
Muitos dos filhos dos grandes cafeicultores eram mandados para o Rio, São Paulo, e até mesmo à Europa, para estudar.
Quando voltavam, com títulos de advogados, engenheiro ou médico, eram recebidos com grande pompa em bailes promovidos pela elite resendense.
(WHATELY, 2003).
30
Esta mesma elite, que fazia questão de receber
seus filhos quando voltavam dos estudos, era analfabeta. A exemplo disto temos o caso do Comendador Manoel
Gonçalves Martins,que usava como assinatura um carimbo de ouro, o que valeu a alcunha de “Manoel Carimbo”. Ele foi tropeiro e quando pôde foi ser cafeicultor,
uma história recorrente no ambiente do tropeirismo. Sua
filha, Maria Benedita, que ficou conhecida como a “Rainha do Café”, era, como o pai, analfabeta, do qual herdou
dez fazendas com uma enorme produtividade. Neste ambiente, as jovens moças eram educadas através de
preceptoras, invariavelmente estrangeiras, quando, além
do estudo das primeiras letras, aprendiam piano. Principalmente após os anos 1850, quando a importação foi
liberada para bens de consumo de luxo, talvez uma compensação pela proibição do comércio de “mercadorias
vivas”. Há ainda de se destacar o papel de certas organizações como a Maçonaria, que através de sua Loja Lealdade e Brio, fundou e manteve em 1883 (CAVALCANTI,
C, 1998), uma escola primária noturna e gratuita para o
ensino primário cujo mestre foi Jose Bento Furtado,
direcionada sobretudo para filhos dos negros livres que
não tinham onde estudar.
Por volta das primeiras décadas do século XIX
não havia escola pública, sendo que a primeira que se
tem notícia foi fundada por Padre Joaquim Pereira
Escobar, Presidente da Câmara em 1828, que implantou
os serviços de Correio, criou Cemitério Público e a cadeia
Pública, e criou uma escola pública de latim. Outra informação sobre a educação na então Vila de Resende é de
1844, num mapa de registros de estudantes que frequentavam as aulas de Gramática Latina e de Geometria, promovida pelo governo provincial que nos diz que em
Resende havia 19 estudantes nestas atividades educacionais (2). Observando as tabelas explicativas do orçamento da despesa para os anos que vão de 1842 até 1850,
vimos o registro do Padre e Latinista Paulino Jose
Rodrigues dos Santos na cátedra de professor de Latim,
da escola pública fundada por Padre Escobar, percebendo a quantia de 800$000 réis como proventos mensais,
valor ao que parece, inalterado ao longo de todo o período citado acima. Olhando estes primeiros anos da educação em Resende, é interessante apresentarmos os dados
referentes às despesas das Província do Rio de Janeiro
com a “Instrucção Pública”. Assim procuramos agrupar
os dados como demonstram o gráfico a seguir:
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Gráfico 1 - Despesas com instrução pública na província do Rio de Janeiro 1844-1851
O que vemos a partir de tais informações é que
houve um crescimento nos valores destinados à instrução pública. Para o período relativo a 1845/1846 não nos
foi dado a conhecer os valores empregados em Resende,
entretanto há de se pensar que seja crescente, pois a
tendência do conjunto é de crescimento, que gerou a
necessidade de contratação de novos mestres e a preocupação da instalação de novas escolas, pois no Relatório Provincial de 1851, que trata da Instrução Pública, dá
conta da existência de 21 escolas, frequentadas por 853
meninos e 76 meninas num total de 929 alunos na Província do Rio de Janeiro, fazendo referência que este número final é 30% maior do que do ano anterior. Neste mesmo
relatório achamos um trecho que merece ser destacado,
relativo à Resende:
escritora, professora, abolicionista e republicana Nísia
Floresta (4), que na capital do Império, fundara o Colégio
Augusto na Rua do Paço, para colocar em prática suas
ideias acerca da educação feminina, contidas em seu primeiro livro, “Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens”, de 1832. Joaquim Pinto Brasil (5), não se adaptando ao clima da cidade do Rio de Janeiro, muda-se, indo
morar em Resende, no interior da província, onde, assim
como ela, decide fundar um colégio que recebe o nome
de Colégio Brasil (6).
Ainda se achão sem escolas públicas, seis
municípios, a saber: Santo Antonio de Sá,
São João da Barra, Nova Friburgo,
Rezende, Vassouras e São João do Príncipe. (3)
Em nossa busca para identificar as unidades escolares precursoras, deparamos com uma tabela demonstrativa do orçamento e despesa para o período de 1843 a
1844. Esta nos informa de uma escola de instrução elementar na Vila de Resende, cujo mestre-escola era o senhor professor Joaquim José Jorge e, ainda conforme
registro de 1844, figura a pessoa de Bernarda Emília do
Prado Brandão como primeira mulher a assumir a função
de professora pública de instrução elementar, em Resende,
recebendo proventos de 600$000.
Ainda este mesmo relatório, deu-nos notícia de
que a Província, além de manter três liceus, matinha quatro cadeiras de latinidade (Aulas de Latim) que foram
frequentadas por 56 alunos nas seguintes cidades: Cabo
Frio (11 alunos), Itaborai (9 alunos), Parati (13 alunos) e
em Resende (23 alunos). Este relatório ainda nos informa
de um pedido de concessão para implantação de um Colégio particular em Resende, cujo solicitante foi o Dr. Joaquim Pinto Brasil que fora professor público de filosofia no Seminário de São José, na corte. Ele era irmão da
Quanto à educação e ensino nos primórdios do
núcleo de povoamento do Arraial de Nossa Senhora da
Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova (hoje
Resende), temos que o ensino era eminentemente particular, sendo o relato mais antigo o de 1795, tendo como
mestre de primeiras letras o professor Francisco Silva
(PEDREIRA, J. R., 1975). Em 1802, Resende era Vila e,
neste ano, Francisco Antônio de Andrade era professor
de aulas elementares (Classes Régias). Entre os anos de
1820-1821, temos respectivamente os professores parti-
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
31
culares Manoel Guilherme Pereira Silva e Francisco Dias
Moura. Ainda segundo Chistina Ramalho, em seus estudos sobre a poetisa e jornalista Narcisa Amália nos traz
a informação sobre os pais dessa poetisa. Fundando em
Resende de 1865 o Colégio Jácome para meninos, direção de Jácome Campos (7), e o Colégio N.Sra. da Conceição sob direção de D. Narcisa Inácia que era destinado
ao ensino das meninas.
Finalmente, esclarecemos que esse artigo se trata
de um estudo preliminar, em que pretendemos dar impulso aos estudos da história de educação no município de
Resende. Temos uma certeza de que ainda parece
incipiente, entretanto sabemos da importância do levantamento de documentos para o estudo da história, como
um todo, bem como nesta área da história regional da
educação. No intuito de colaborar e incentivar novos
pesquisadores interessados em tal tema é que apresentamos um quadro, anexo, com levantamento dos primeiros mestres e tipo de escola em que trabalhavam. Alguns
nomes já foram citados ao longo do trabalho e deparamos com outros que vale a pena pesquisar sua origem e
história, quem eram, bem como de que forma funcionavam estas escolas. Esses dados podem dar início, por
exemplo, a um aprofundamento na documentação existente no acervo do Arquivo Histórico Municipal de
Resende, que guarda peças ainda não estudadas. Essa
pesquisa nos trará à luz uma nova visão da educação
ministrada na região do Vale do Paraíba Fluminense, bem
como na Resende do século XIX.
NOTAS
(1) Artigo de Chrysógono Cavalcanti (Professor
de História / Direito / Quadro Magistério do Exército –
AMAN). – A Educação – Resende 150 anos de cidade
(1848-1998). Academia Resendense de História – Julho
1998 p.54.
(2) Relatório de Provincial do Rio de Janeiro –
1844. Mappa sobre ensino na província com registro do
secretário, João Candido de Deos e Silva.
(3) Relatório de Província do Rio de Janeiro 1851
p.34 . nosso grifo.
(4) Nísia Floresta, cujo nome verdadeiro era
Dionísia Gonçalves Pinto, escreveu 15 livros, tendo sua
obra conquistada grande prestígio. E não somente no
Brasil, mas também em diversos países da Europa. Em 9
de novembro morre o irmão Joaquim Pinto Brasil, no Rio
de Janeiro.
(5) Joaquim Pinto Brasil foi professor do Dr. Luiz
Pereira Barretto onde aprendeu as primeiras letras, fazendo ainda parte de seus preparatórios no Colégio Brasil,
32
uma das mais significativas figuras do pensamento nacional. Viveu oitenta e três anos, nascendo em Resende-RJ
a 11 de janeiro de 1840 e falecendo em São Paulo a 11 de
janeiro de 1923. http://www.sbhm.org.br/
index.asp?p=medicos_view&codigo=162 de 21/5/2007
20:50 e http://www.projetomemoria.art.br/NisiaFloresta/
bio_os_farrapo.html de 21/5/2007.
(6) Entretanto, ao pesquisarmos o Almanack
Laemmert de 1854, este nos informa que tal colégio foi
fundado em 11 de maio de 1851 como escola de instrução
primaria e secundária, sendo denominado Collégio
Resende (RAMALHO, C, 1999 .
(7) Educador e poeta colaborou com diversos jornais da imprensa fluminense e paulista, foi agraciado com
comenda da Ordem de Cristo, pelo Imperador D.Pedro II
quando da visita a Resende em l874.
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Comemorativa /Julho 1998 – Resende—RJ: Gráfica do
Patronato.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
33
Quadro Anexo I: Educação em Resende Séc. XIX
Fonte: Almanack Laemmert, 1846-1885.
34
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Estudo Sobre a Avaliação de Desempenho em Empresas da
Região de Conselheiro Lafaiete
Auxiliadôra Aparecida de Matos *
Ângela de Castro Ochôa **
Christiane Garcia Ribeiro **
Ney Far Senra de Oliveira **
Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar os programas de Avaliação de Desempenho (AD) em
empresas de diferentes segmentos numa mesma região e a percepção dos funcionários em relação
ao assunto. Especificamente, pretendeu-se definir AD e os métodos existentes; identificar nas empresas pesquisadas os métodos de AD utilizados; verificar a opinião dos funcionários sobre a AD e
comparar a satisfação com a AD nas empresas A, B, C, D e E. Os dados foram coletados através de
551 questionários aplicados em cinco empresas na região que compreende os municípios de Conselheiro Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco, Minas Gerais. Os resultados indicam que os funcionários avaliam a AD de forma positiva e relacionam os resultados da AD com treinamentos, aumento
salarial e promoções.
Palavras-chave: Avaliação de desempenho, feedback.
Abstract: The objective of this work was to analyze the Performance Evaluation (PE) program in
firms of different segments in the same region and how it is perceived by employees. Specifically, the
intention was to define PE and existing methods; to identify which ones are used in the firms
investigated; to determine employees’ opinion about the PE; and to compare their satisfaction with
the PE between the firms A, B, C, D, and E. The information was collected through 551 questionnaires
done in five firms within the region of Conselheiro Lafaiete, Congonhas, and Ouro Branco (Minas
Gerais). The results indicate that the employees evaluate the PE in a positive way of relating results
to trainings, salary increases, and promotions.
Key words: Performance evaluation, feedback.
1. INTRODUÇÃO
Avaliações estão sempre ocorrendo de forma natural e constante no dia a dia das pessoas, dentro e fora
das organizações. A AD é um processo que busca auxiliar na estruturação de uma visão mais objetiva do potencial de cada funcionário, por se tratar de uma avaliação
sistemática, que envolve não só o funcionário, mas também os supervisores ou aqueles que estejam familiarizados com os métodos de trabalho e com as metas da organização (SOUZA, 2003).
A prática da avaliação, em seu sentido genérico, é
inerente à natureza humana assim como é também a base
*
Docente e pesquisadora da Faculdade Santa Rita FaSaR.
** Graduandos do Curso de Administração de Empresas pela Faculdade Santa Rita - FaSaR.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
para tomada de decisão que está presente em toda escolha. As organizações buscam atrair e selecionar colaboradores que compartilham de seus valores e crenças e
utilizam sistemas de reconhecimento para estimular e tentar garantir os desempenhos considerados adequados e
desejáveis às suas realidades.
Contudo, entre o desempenho real e o desempenho esperado pode ocorrer um hiato, que é muitas vezes
designado como discrepância de desempenho. Para sanar essa situação é comum vermos as organizações delinearem diversas atividades e implantarem conceitos e
metodologias que nem sempre atendem suas próprias
necessidades. Muitas vezes, nestes processos, ocorrem
efeitos opostos aos desejados, onde muitas expectativas são criadas e poucas são atendidas de forma positiva, ou que venham a representar um ganho representativo na trajetória de desenvolvimento pessoal/profissional dos trabalhadores (GIL, 2007).
O assunto é extremamente delicado, principalmen35
te por envolver pessoas, uma vez que elas não podem
ser tratadas apenas como instrumento de trabalho, mas
como colaboradores essenciais para o sucesso da organização e por ser a AD uma ferramenta que ainda desperta resistência.
Identificou-se o problema: Qual é o grau de satisfação dos funcionários das empresas “A”, “B”, “C”, D”
e “E” sobre a AD?. Com isso, chegou-se à hipótese que
o percentual de funcionários que acreditam que a AD é
uma ferramenta que visa melhorar o seu próprio desempenho é baixo.
Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar os
programas de AD em empresas de diferentes segmentos
numa mesma região e a percepção dos funcionários em
relação ao assunto. Especificamente, pretendeu-se: definir AD e os métodos utilizados; identificar nas empresas
pesquisadas, os métodos de AD utilizados; verificar a
opinião dos funcionários sobre a AD e comparar a satisfação com a AD nas empresas “A”, “B”, “C”, “D” e “E”.
Optou-se por selecionar empresas de diferentes
segmentos de negócio, uma vez que o objeto de estudo
é comum a todas as organizações, sendo: uma do setor
de siderurgia, uma do setor mineração de ferro; uma do
setor de mineração de manganês; uma concessionária de
veículos leves e um hospital; que serão identificadas, a
partir deste ponto, como empresas “A”, “B”, “C”, “D” e
“E” respectivamente.
Para compor a amostra de estudo foi utilizado o
método probabilístico que permite que qualquer indivíduo da população possa vir a fazer parte da amostra. Foi
realizado um sorteio aleatório dos números de matrículas
dos funcionários até que se obteve o número da amostra. Admitiu-se um erro amostral de 5% que corresponde
a uma margem de confiança de 95%. Para determinar o
tamanho da amostra, utilizou-se a seguinte equação
(LEVIN, 1987):
n0 =
1
E 02
2. METODOLOGIA
Esta pesquisa caracterizou-se como pesquisa descritiva que, conforme Gil (2002), tem como objetivo primordial a descrição das características de uma população. As técnicas de coleta de dados utilizadas foram a
pesquisa bibliográfica e a aplicação de questionários em
cinco empresas nos municípios de Conselheiro Lafaiete,
Congonhas e Ouro Branco em Minas Gerais.
n=
N .n0
N + n0
onde:
N = Tamanho da população
E0 = Erro amostral tolerável
n0 = Primeira aproximação do tamanho da amostra
n = Tamanho da amostra
Tabela 1 - Identificação do tamanho da amostra por empresa
Assim, de posse do número de funcionários por
empresa (N) e admitindo-se um erro amostral (E0) de 5%,
calculou-se o tamanho da amostra aproximado (n0) que
define o tamanho da amostra por empresa (n), conforme
indica a Tabela 1.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
A AD é uma apreciação sistemática do desempenho de cada pessoa no cargo e o seu potencial de desen-
36
volvimento futuro. Toda avaliação é um processo para
estimular ou julgar o valor, a excelência, as qualidades de
alguma pessoa (CHIAVENATO, 2008).
A AD foi originalmente estruturada para mensurar
o desempenho e o potencial do funcionário, tratando-se
de uma avaliação sistemática, feita pelos supervisores
ou outros hierarquicamente superiores familiarizados com
as rotinas e demandas do trabalho. Ela é tradicionalmente definida como o processo que busca mensurar objeti-
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
vamente o desempenho e fornecer aos colaboradores
informações sobre a própria atuação, de forma que possam aperfeiçoá-la sem diminuir sua independência e motivação para a realização do trabalho. O desempenho reflete-se no sucesso da própria organização e talvez por
isso é característica mais óbvia a ser medida
(BERGAMINI; BERALDO, 2007).
Observa-se que em muitas empresas o desempenho e a produtividade da equipe são muito valorizados,
porém poucos funcionários parecem apresentar o perfil e
o desempenho esperado. Segundo Gil (2007), é necessário para uma organização que ela mantenha um sistema
de Avaliação do Desempenho tecnicamente elaborada.
Sendo esta, uma maneira de evitar que a avaliação seja
feita de forma superficial e unilateral, do chefe em relação
ao supervisionado. No entanto na visão de Snell e
Bateman (1998), a AD deveria preocupar-se com o nível
habitual de desempenho no trabalho atual, em determinado período, a contar desde a última avaliação.
Em muitas organizações a AD é tratada como um
procedimento de grande importância na gestão de recursos humanos. Muitos gestores veem na avaliação do
desempenho um conjunto de vantagens proveitosas para
a melhoria da produtividade, sendo um meio para desenvolver os recursos humanos da organização. Isso porque a AD torna possível identificar o grau de contribuição de cada empregado para a organização, identificar os
empregados que possuem qualificação superior à
requerida pelo cargo, identificar em que medida os programas de treinamento têm contribuído para a melhoria
do desempenho dos empregados, promover o
autoconhecimento e o autodesenvolvimento dos empregados, além de fornecer subsídios para definir o perfil
requerido dos ocupantes dos cargos, remuneração e promoção, e também para elaboração de planos de ação para
desempenhos satisfatórios (CHIAVENATO, 2008).
Através da avaliação podem ser observadas e
avaliadas competências como: visão estratégica, planejamento, organização, responsabilidade, acompanhamento, liderança, delegação, tomada de decisão, solução de
problemas, iniciativa, proatividade, criatividade e inovação, orientação a resultados, autodesenvolvimento, administração de conflitos, capacidade de negociação, flexibilidade e adaptação a mudanças, competências
interpessoal e trabalho em equipe (CHIAVENATO, 2005).
A AD é um instrumento utilizado pelas organizações há muito tempo, percebe-se que em muitas organizações há uma preocupação crescente em implantar algum sistema de avaliação, que vise conhecer a extensão
em relação a cada um dos colaboradores, tais como identificar problemas de integração, supervisão, motivação,
sub aproveitamento do potencial e outros.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Conforme a política de recursos humanos adotada pela organização, a responsabilidade pela avaliação
do desempenho das pessoas pode ser atribuída ao gerente, ao próprio indivíduo, ao indivíduo e seu gerente
conjuntamente, à equipe de trabalho, ao órgão de Gestão
de Pessoal ou a uma comissão de avaliação do desempenho. Cada uma dessas alternativas, segundo Chiavenato
(2008) envolve uma filosofia de ação:
a) O Gerente: na maior parte das organizações,
cabe ao gerente a responsabilidade de linha pelo desempenho de seus subordinados e por sua avaliação. Nelas,
quem avalia o desempenho do pessoal é o próprio gerente ou supervisor, com a assessoria do órgão de Gestão
de Pessoas que estabelece os meios e os critérios para
tal avaliação. Como o gerente ou o supervisor não têm
conhecimento especializado para projetar, manter e desenvolver um plano sistemático de avaliação das pessoas, o órgão de Gestão de Pessoas entra com a função
de staff de montar, acompanhar e controlar o sistema,
enquanto cada chefe mantém sua autoridade de linha
avaliando o trabalho dos subordinados por meio do esquema traçado pelo sistema. Modernamente, esta linha
de trabalho tem proporcionado maior liberdade e flexibilidade para que cada gerente seja realmente o gestor de
seu pessoal.
b) O próprio indivíduo: nas organizações mais
democráticas, é o próprio indivíduo o responsável por
seu desempenho e autoavaliação. Nessas organizações
utiliza-se a autoavaliação do desempenho, em que cada
pessoa se autoavalia quanto à sua performance, eficiência e eficácia, tendo em vista determinados parâmetros
fornecidos pelo gerente ou pela organização.
c) O indivíduo e o gerente: modernamente, as organizações estão adotando um avançado e dinâmico esquema de administração do desempenho. E aqui ressurge a velha Administração Por Objetivos (APO), agora
com novas roupagens e sem aqueles conhecidos traumas provocados pela antiga arbitrariedade, autocracia e
contínuo estado de tensão e aflição dos envolvidos que
caracterizavam sua implantação na maioria de nossas
organizações.
A AD não é um fim em si mesma, mas um instrumento, um meio, uma ferramenta para melhorar os resultados dos recursos humanos da organização (GIL, 2007).
Para alcançar esse objetivo básico – melhorar os resultados dos recursos humanos da empresa -, a avaliação do
desempenho procura alcançar uma variedade de objetivos intermediários. Segundo Chiavenato (2004) a avaliação do desempenho pode ter os seguintes objetivos intermediários como: adequação do indivíduo ao cargo,
treinamento, promoções, incentivo salarial ao bom desempenho, melhoria das relações humanas entre superi37
ores e subordinados, autoaperfeiçoamento do empregado, informações básicas para pesquisa de recursos humanos, estimativa do potencial de desenvolvimento dos
empregados, estímulo à maior produtividade, conhecimento dos padrões de desempenho da organização,
retroação (feedback) de informação ao próprio indivíduo
avaliado, outras decisões de pessoal, como transferências, dispensas etc.
Em resumo, os objetivos fundamentais da avaliação do desempenho podem ser apresentados em três
facetas:
• Permitir condições de medição do potencial humano no sentido de determinar sua plena aplicação.
• Permitir o tratamento dos recursos humanos
como importante vantagem competitiva da organização
e cuja produtividade pode ser desenvolvida, dependendo, obviamente, da forma de administração.
• Fornecer oportunidades de crescimento e condições de efetiva participação a todos os membros da
organização, tendo em vista, de um lado, os objetivos
organizacionais e, de outro, os objetivos individuais.
Para Araújo (2006), a avaliação do desempenho,
muitas vezes, pode servir de base às políticas de promoção das organizações. O processo é efetuado periodicamente, normalmente com caráter anual, e consiste na análise objetiva do comportamento do avaliado no seu trabalho, e posterior na comunicação dos resultados. Tradicionalmente compete aos superiores avaliarem os seus
subordinados, estando a avaliação sujeita a correções
posteriores para que os resultados finais sejam compatíveis com a política de promoções.
Os métodos tradicionais de avaliação de desempenho que são mais utilizados pelas organizações brasileiras, segundo Carvalho e Nascimento (1997), Gil (2007),
Bergamini e Beraldo (2007) e Chiavenato (2008), são:
Métodos da Escala Gráfica: é o método de Avaliação de desempenho mais utilizado, divulgado e simples. Exige muitos cuidados, a fim de neutralizar a subjetividade e o pré-julgamento do avaliador para evitar interferências. Trata-se de um método que avalia o desempenho das pessoas através de fatores de avaliação previamente definidos e graduados. Utiliza um formulário de
dupla entrada, no qual as linhas em sentido horizontal
representam os fatores de avaliação de desempenho;
enquanto as colunas em sentido vertical, representam os
graus de variação daqueles fatores. Os fatores são previamente selecionados para definir em cada empregado as
qualidades que se pretende avaliar.
38
Método da Escolha Forçada: Consiste em avaliar o
desempenho dos indivíduos por intermédio e frases descritivas de determinadas alternativas de tipos de desempenho individual. Em cada bloco, ou conjunto composto
de duas, quatro ou mais frases, o avaliador deve escolher, forçosamente, apenas uma ou duas alternativas, que
mais se aplicam ao desempenho do empregado avaliado.
Método de Pesquisa de Campo: é feito pelo chefe,
com assessoria de um especialista (staff) em avaliação do
desempenho. O especialista vai a cada sessão para entrevistar a chefia sobre o desempenho de seus respectivos subordinados. Embora a Avaliação seja responsabilidade de cada chefe, há uma ênfase na função de staff em
assessorar da maneira mais completa.
Métodos dos Incidentes Críticos: baseia-se no fato
de que, no comportamento humano, existem certas características extremas, capazes de levar a resultados positivos. Uma técnica sistemática, por meio da qual o
supervisor imediato observa e registra os fatos excepcionalmente positivos e os fatos excepcionalmente negativos a respeito do desempenho dos seus subordinados.
Focaliza tanto as exceções positivas como as negativas
no desempenho das pessoas. As exceções positivas devem ser realçadas e mais utilizadas, enquanto as exceções negativas devem ser corrigidas e eliminadas. Cada
fator de avaliação é utilizado em termos de incidentes
críticos ou excepcionais.
Método de Comparação aos Pares: consiste em
comparar dois a dois empregados de cada vez, e se anota
na coluna da direita, aquele que é considerado melhor,
quanto ao desempenho. Pode-se ainda, utilizar fatores
de avaliação. Assim, cada folha do formulário seria ocupada por um fator de avaliação de desempenho. É um
método pouco eficiente, então, recomenda-se sua utilização apenas quando os avaliadores não tiverem condições de usar métodos mais apurados de avaliação.
Método de Frases Descritivas: é um método que
não exige obrigatoriedade na escolha de frases. O avaliador assimila apenas as frases que caracterizam o desempenho do subordinado (sinal “+” ou “s”) e aquelas que
realmente demonstram o oposto de seu desempenho (sinal “-” ou “n”).
Método da Autoavaliação: é o método por meio do
qual o próprio empregado é solicitado a fazer uma sincera análise de suas próprias características de desempenho. Pode utilizar sistemáticas variáveis, inclusive formulários baseados nos esquemas apresentados nos
diversos métodos de AD já descritos. Também denominado de avaliação por competência. Para Chiavenato
(2005) o primeiro passo nesta nova abordagem consiste
na reformulação do papel dos funcionários no sistema
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
de avaliação. Eles devem fazer uma autoavaliação, identificando não apenas seus pontos fracos, mas seus pontos fortes e seus potenciais. Deixam de ser objetos passivos e passam a ser agentes ativos da avaliação de seu
desempenho.
Método de Avaliação por Resultados: liga-se aos
programas de Administração por Objetivos. Este método
baseia-se numa comprovação periódica entre os resultados fixados (ou separados) para cada funcionário e os
resultados efetivamente alcançados. As conclusões a
respeito dos resultados permitem a identificação dos
pontos fortes e fracos do funcionário, bem como as providências necessárias para o próximo período. É considerado um método prático, embora seu funcionamento
dependa sobremaneira das atitudes e dos pontos de vista do supervisor a respeito da avaliação do desempenho.
Algumas empresas vêm utilizando novos métodos de AD devido às limitações dos métodos tradicionais de avaliação. Estes novos métodos se caracterizam
por uma colocação totalmente nova do assunto:
autoavaliação e autodireção das pessoas, maior participação do funcionário em seu próprio desenvolvimento
pessoal, foco no futuro e na melhoria contínua do desempenho (VERGARA, 2000).
De acordo com Chiavenato (2008), os rumos da AD
têm sido marcados por dois fatores importantes. O primeiro deles é a gradativa substituição da organização funcional e departamentalizada pela organização por processos,
alterando os sistemas de indicadores e de medições dentro das empresas. O segundo é a participação dos trabalhadores nos resultados das empresas, que requer um sistema de medições e indicadores que permita negociações
francas e objetivas entre elas e seus funcionários.
Assim sendo, muitas empresas vêm adotando a
técnica de avaliação participativa por objetivos (APPO)
ao avaliar o desempenho dos seus funcionários. Segundo Chiavenato (2008) a APPO se baseia em uma nova
abordagem da APO (bem mais democrática, participativa,
envolvente e motivadora).
A AD tem várias aplicações e propósitos e deve
ser vista como uma fonte integradora das práticas de
Recursos Humanos. A avaliação deve ser como um processo de agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar pessoas (CHIAVENATO, 2005).
A entrevista de avaliação do desempenho: para
Chiavenato (2005), a comunicação do resultado da avaliação ao subordinado (feedback) é ponto fundamental de
todos os sistemas de avaliação do desempenho. De nada
adianta a avaliação sem que o maior interessado – o próprio empregado – tome conhecimento dela. É necessário
dar-lhe conhecimento das informações relevantes e significativas de seu desempenho, a fim de que os objetivos
possam ser plenamente alcançados. Essa comunicação é
feita através da entrevista de AD.
4. RESULTADOS
Para coletar os dados foram elaborados dois questionários distintos, sendo um direcionado ao departamento de Recursos Humanos de cada empresa, e o outro
destinado aos funcionários, ambos com questões relacionadas às avaliações do desempenho realizadas.
4.1 Resultados dos questionários aplicados no setor de
RH das empresas A, B, C, D e E
Tabela 2 - Periodicidade da AD
Tabela 3 - Responsável pela AD
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
39
Tabela 4 - Finalidade da AD
4.2 Resultados dos questionários aplicados para os funcionários das empresas A, B, C, D e E
Tabela 5 - Tempo do funcionário na empresa
Tabela 6 - Conhece o resultado da sua AD
Tabela 7 - Opinião sobre a importância da AD
Tabela 8 - Finalidade da AD de acordo com os funcionários
Tabela 9 - O desempenho melhorou com o resultado da AD
40
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Tabela 10 - Obteve benefícios depois da AD
Tabela 11 - Opinião sobre a última AD
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados indicam que 80% das empresas
pesquisadas possuem o supervisor e o funcionário como
responsáveis pela AD (Tabela 3). Segundo Chiavenato
(2005) essa é uma forma dinâmica e moderna de avaliar,
retomando a antiga Avaliação Por Objetivos (APO), sem
as arbitrariedades que a caracterizaram quando surgiu. A
APO agora é essencialmente democrática, participativa,
envolvente e fortemente motivadora.
A AD não é um fim em si mesma, mas um instrumento, um meio, uma ferramenta para melhorar os resultados dos recursos humanos. Assim, o feedback fornecido pela AD é fundamental para a eficiência do processo. Gil (2007) afirma que um dos principais objetivos da
AD é proporcionar feedback para a correção dos pontos
fracos dos funcionários, com vistas a melhorar o desenvolvimento de cada um. Nesse sentido, observou-se que
69,1% dos funcionários conhecem o resultado de sua
AD. Destes, 51,1% concordam com o mesmo e 18% discordam deste resultado, como mostra a Tabela 6.
Para melhorar os resultados dos recursos humanos da empresa a AD procura alcançar uma variedade de
objetivos intermediários, tais como: adequação do indivíduo ao cargo; treinamento; promoções; incentivo salarial ao bom desempenho; melhoria das relações humanas entre superiores e subordinados; autoaperfeiçoamento do empregado; informações básicas para
pesquisa de recursos humanos; estimativa do potencial
de desenvolvimento dos empregados; estímulo à maior
produtividade; conhecimento dos padrões de desempenho da organização; retroação (feedback) de informação
ao próprio indivíduo avaliado; outras decisões de pessoal, como transferências e demissões (VERGARA, 2000).
Nesse sentido, os resultados ilustrados na Tabela 4 indicam que para o setor de RH a finalidade da AD é
identificar necessidade de treinamento (100%); 80% é
para aumento salarial e 60% afirmam que é para promoRevista UniVap, v.16, n.28, 2010
ção. Já para os funcionários a finalidade da AD é o treinamento (41,6%), a promoção dos funcionários (30,4%) e
aumento salarial para 18,5% dos entrevistados, como indica a Tabela 8.
A periodicidade com que a AD é realizada é
indicada na Tabela 2, onde 60% das empresas estudadas
realizam a AD anualmente. Segundo Lucena (1992), é
necessário que a AD seja realizada de forma contínua e
com o efetivo estabelecimento de seus parâmetros; isso
é importante para evitar o Dia Nacional da Avaliação de
Desempenho.
A AD é uma apreciação sistemática do desempenho de cada pessoa no cargo e o seu potencial de desenvolvimento futuro. Toda avaliação é um processo para
estimular ou julgar o valor. (CHIAVENATO, 2005). Nesse
aspecto, a AD apresentou-se como uma ferramenta para
melhorar o desempenho para 68,1% dos funcionários,
conforme a Tabela 9, entretanto, 11,4% afirmam que não
obtiveram um desempenho melhor. Em relação à obtenção de benefícios depois da AD, a Tabela 10 mostra que
42,6% dos funcionários obtiveram benefícios e 45,9%
não. A última AD foi avaliada pelos funcionários da seguinte forma: 62,3% a consideraram boa e 26,3% regular
(Tabela 11).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de AD quando bem elaborado é um
elemento crucial para a consecução dos objetivos
organizacionais. Observa-se que em muitas empresas o
desempenho e a produtividade da equipe são muito valorizados, porém poucos funcionários parecem apresentar o perfil e o desempenho esperado. É necessário para
uma organização que ela mantenha um sistema de AD
tecnicamente elaborado para evitar que a avaliação seja
feita de forma superficial e unilateral, do chefe em relação
ao supervisionado.
Em função do objetivo deste trabalho que foi ana41
lisar os programas de AD em empresas de diferentes segmentos numa mesma região e a percepção dos funcionários em relação ao assunto, observou-se que a AD foi
bem avaliada pelos funcionários.
De modo geral, os funcionários percebem a relação da AD com ações posteriores, como treinamentos,
promoções e aumento salarial. Além disso, os responsáveis pela AD são os supervisores em parceria com os
funcionários. Essa forma de avaliar tende a reduzir a arbitrariedade da AD quando somente o supervisor avalia
seus subordinados, mostrando-se como um fator positivo nas empresas estudadas.
Nesse sentido, a hipótese elaborada para nortear
essa pesquisa foi refutada, pois acreditava-se que o
percentual de funcionários que percebiam a AD de forma
positiva seria baixo. Entretanto, 94,2% dos funcionários
afirmaram que a AD é importante para o funcionário e
para a empresa (Tabela 7), 68,1% disseram que o desempenhou melhorou com o resultado da AD (Tabela 9) e,
finalizando, 62,3% avaliaram a última AD como “boa”
(Tabela 11).
CARVALHO, A. V. de; NASCIMENTO, L. P. do. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Pioneira, 1997.
CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos:
o capital humano das organizações. 9.ed. São Paulo:
Campus, 2008.
_______. Gerenciando com as Pessoas. São Paulo:
Campus, 2005.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
_______. Gestão de Pessoas: um enfoque nos papéis
profissionais. São Paulo: Atlas, 2007.
LEVIN, J. Estatística aplicada às ciências humanas. 2.ed.
São Paulo: Harbra, 1987.
LUCENA, M. D. S. Avaliação de desempenho. São Paulo:
Atlas, 1992.
SNELL, S. A.; BATEMAN, T. S. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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integração organizacional. São Paulo: Atlas, 2006.
BERGAMINI, C. W.; BERALDO, D. G. R. Avaliação do
desempenho humano nas empresas. 4.ed. São Paulo:
Atlas, 2007.
42
SOUZA, V. L. Gestão de desempenho: julgamento ou diálogo? 2.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
VERGARA, S. C. Gestão de Pessoas. 2.ed. São Paulo:
Atlas, 2000.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Vínculos entre Empresas e Instituições Locais: o caso da
indústria de peças autoelétricas no município de
Pederneiras-SP
Fred Aparecido Matano *
Fabiana Florian **
Helena Carvalho De Lorenzo ***
Resumo: Os principais estudos sobre ganhos coletivos em segmentos produtivos apontam a importância do território, de vínculos de cooperação entre empresas e da presença mais ativa de atores
locais como fatores explicativos da dinâmica econômica do segmento. Este artigo busca contribuir
para estas perspectivas de estudos explicitando as condições em que ocorreram os ganhos coletivos no caso analisado. A pesquisa foi realizada em empresas de produção e recondicionamento de
peças autoelétricas, localizadas no Município de Pederneiras - SP, com o objetivo de identificar e
analisar as interações e vínculos existentes entre as empresas e instituições, a natureza dessas
relações e seus efeitos sobre o conjunto. A escolha do caso pautou-se no caráter inovador da
experiência, objeto de estudo. O estudo mostrou que as empresas conseguiram retomar sua expansão após forte crise que quase destruiu o setor, em razão dos seguintes fatores. Primeiramente, as
condições especiais de expansão do mercado de reposição de peças autoelétricas surgidas após a
reestruturação produtiva da indústria automobilística. Em segundo lugar, a retomada da expansão do setor está ligada ao desenvolvimento de parcerias, cooperação entre empresas e a criação
de uma associação local de produtores. As melhorias na capacitação tecnológica de algumas
empresas derivaram de processos interativos presentes e de relacionamentos que foram estabelecidos entre os agentes produtivos com seus fornecedores e clientes. A forte presença da associação
garantiu para as empresas distribuição simétrica de informações sobre tecnologias e mercados,
possibilitando e fortalecendo vínculos de confiança e de cooperação. Por outro lado, possibilitou
também compreensão adequada das necessidades tecnológicas do segmento o que resultou no
desenvolvimento de processos informais de aprendizado e na incorporação de processos inovativos
incrementais.
Palavras-chave: vínculos entre empresas e instituições, eficiência coletiva, aglomerações e arranjos
produtivos locais, indústria de recondicionamento de peças auto-elétricas, setor metal mecânico.
Abstract: The principal studies on collective gains in productive segments point to the importance
of region, cooperation between companies, and more active presence of local actors as explanatory
factors of a segment’s economical dynamics. This article attempts to contribute to the perspectives of
studies explaining the conditions that occur in collective earnings in the analyzed case. The research
was conducted in companies that produce and recondition automotive electric pieces, located in
the Municipality of Pederneiras,– SP. The objective was to identify and analyze the interactions and
existing links between the companies and institutions, the nature of those relationships, and their
effects on the group. The case was chosen based in the innovative character of the trial. The study
showed that the companies regained their expansion after a difficult crisis that almost destroyed the
*
Mestre pelo Programa em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente-UNIARA-Araraquara-SP.
** Docente no Curso de Ciências Econômicas e
Tecnológicas da UNIARA-Araraquara-SP.
*** Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente-UNIARAAraraquara-SP.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
43
segment because of the following factors. First, the special conditions of expansion in the market of
automotive electric replacement pieces appeared after the productive restructuring of the automobile
industry. Second, the return of expansion in the sector is linked to the development of partnerships,
cooperation between companies, and the creation of an association of local producers. The
improvements in the technological capability of some companies derive from the interactions and
relationships that the productive agents have established with their suppliers and customers. A
strong presence of the association guarantees the companies equal information to technologies
and markets, making possible and strengthening bonds of trust and cooperation. On the other
hand, the segment’s technological needs were adequately understood, which resulted in the
development of informal learning processes and the incorporation of innovative growth processes.
Key words: Links between companies and institutions, collective efficiency, gatherings and local
productive arrangements, reconditioning of automotive electric pieces industry, mechanical metal
sector.
1. INTRODUÇÃO
As primeiras indústrias de recondicionamento de
peças autoelétricas, também conhecidas como “induzidos”, surgiram no município de Pederneiras, na década
de 1950 que, assim, se inseria no mercado formado pela
nascente indústria automobilística brasileira. O induzido
é uma peça elétrica que trabalha dentro do motor de arranque, ou do alternador, para dar partida nos carros ou
para fazer os alternadores carregarem a bateria. Todo tipo
de caminhão, carro, moto, trator, máquina, ou seja, sempre que existir motor ligado, há nele um induzido funcionando. Até o final da década de 1980 a produção local
voltada para um produto recondicionado teve mercado
definido e seguro, fato que fez fortalecer no município
número bastante significativo de empresas direta e indiretamente relacionadas com esse segmento do ramo metal mecânico.
No entanto, na década de 1990, quando os mercados nacionais de automóveis e autopeças passaram por
profundas transformações com a vinda das montadoras e
com os processos de reestruturação produtiva, a indústria local de induzidos quase desapareceu, gerando fechamento de elevado número de empresas e elevado desemprego na região. Porém, nos anos que se seguiram e na
medida em que a produção flexível de carros se estabilizou, o mercado para revenda de carros usados e seminovos
se expandiu, dando origem a um novo cenário para o setor.
Neste contexto as indústrias de induzidos elétricos de
Pederneiras puderam retomar seu processo de desenvolvimento, ligadas a esse mercado secundário.
A pesquisa buscou analisar as especificidades da
recuperação do setor e das empresas, a partir da hipótese de que a simples proximidade geográfica não assegura a consolidação do setor, mas que a cooperação e o
desenvolvimento de processos inovativos são os principais responsáveis pelos ganhos coletivos. Outro pon-
44
to de partida para a organização da pesquisa foi à noção
de que ganhos coletivos podem contribuir para a consolidação do setor e gerar vantagens competitivas para as
empresas e para a região. Neste sentido investigaram-se,
além da natureza do segmento, os vínculos que vêm se
desenvolvendo entre empresas e instituições, e em que
medida esses vínculos puderam trazer ganhos coletivos.
Por ser um segmento inserido em cadeia produtiva de dimensão nacional - a cadeia automobilística nacional - e sendo o ramo de autopeças altamente dependente do setor automotivo, a possibilidade de consolidação
de um núcleo mais sólido de produção dessas peças na
região, fica muito dependente de mercados e tecnologias
exógenas à região. Tal constatação poderia fragilizar
grandemente a consolidação do segmento no local. Daí
o interesse em entender as especificidades do processo
de produção e do mercado desses produtos. Considerou-se, portanto, que por ser um agrupamento onde a
tecnologia exerce um papel fundamental, o sucesso e a
continuidade do agrupamento estão fortemente relacionados ao desenvolvimento de tecnologias que possam
gerar melhorias e garantias de desenvolvimento
endógeno.
O presente artigo está estruturado de forma a apresentar na seção seguinte, seção 2, uma síntese do
referencial analítico. Na seção 3 analisa a formação inicial
das empresas no local, o impacto da crise ocorrida nos
anos 90, em razão das mudanças no setor automobilístico e de autopeças e sua inserção na cadeia produtiva
metal mecânico. Na seção 4 explica a metodologia da pesquisa e os procedimentos utilizados para a sua realização. Na seção 5 são apresentados os resultados da pesquisa enfatizando a reorganização recente das empresas,
o perfil produtivo, produtos, mercados e emprego, a forma como ocorrem as inovações, a importância do conhecimento no setor e, na sequência, os vínculos de cooperação e as vantagens coletivas. O esforço final foi o de
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
apurar o grau de articulação efetiva ou eventual existente entre as empresas e os agentes locais envolvidos, na
perspectiva selecionada. Enfim, buscou-se conhecer os
limites e potencialidade dos ganhos coletivos que resultaram das relações que vêm sendo desenvolvidas nesta
nova fase de desenvolvimento do segmento.
2. REFERENCIAIS TEÓRICOS PARA O ESTUDO DOS
VÍNCULOSENTREEMPRESASEGANHOSCOLETIVOS
A reflexão aqui apresentada para subsidiar o estudo das relações sobre vínculos entre empresas e ganhos coletivos está apoiada em duas referências teóricas. Em primeiro lugar, nos estudos sobre as condições
que explicam a apropriação de ganhos coletivos a partir
do desenvolvimento de vínculos entre empresas e da
atuação de atores locais. Em segundo lugar, e tendo em
vista qualificar as condições segundo as quais os vínculos entre empresas podem transformar-se em vantagens
coletivas, a pesquisa tomou como referência teórica os
estudos sobre a importância de inovações incrementais
e do aprendizado, no sentido desenvolvido pela corrente conhecida como neo shumpeteriana.
Os estudos sobre as vantagens coletivas apropriadas por empresas de um mesmo segmento ou de segmentos complementares, em decorrência do desenvolvimento de vínculos entre empresas vêm-se ampliando desde os anos 70. Este interesse decorreu do sucesso obtido por aglomerações de empresas localizadas em territórios produtivos, hoje muito conhecidos, que se desenvolveram em razão das vantagens coletivas decorrentes
de vínculos entre empresas. Foram os casos da Terceira
Itália e os do Vale do Silício, nos EUA (BECATTINI, 1999).
No entanto, essas ideias têm origens anteriores.
As vantagens da aglomeração de produtores, levando-se
em consideração o processo de concorrência capitalista,
foram inicialmente apontadas pelo economista inglês Alfred
Marshal. Para o autor mencionado, a noção de eficiência
coletiva está associada à de “externalidades” ou de “economias externas”. A partir da pressuposição de retornos
crescentes de escala, Marshall apontou que as firmas aglomeradas são capazes de apropriar-se de economias externas geradas pela aglomeração dos produtores, que não
obteriam sucesso se tivessem atuando isoladamente. Os
retornos crescentes de escala emergem da condição de
especialização dos agentes participantes do processo de
divisão social do trabalho, propiciando, assim, às unidades envolvidas ganhos de escala.
Apesar de o conceito de “economias externas”
ter se constituído em elemento essencial para compreensão das vantagens derivadas da aglomeração, seu alcance revelou-se limitado na medida em que abarca somente
aqueles ganhos (ou perdas) resultantes da facilidade de
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
acesso a insumos especializados, mão de obra, principalmente (SCHMITZ, 1997).
Nesta direção, dentre os autores que mais recentemente abordaram a questão da eficiência coletiva, Porter
(1990) mostrou que, além das vantagens coletivas que
podem ser apropriadas pelas empresas a partir das mudanças nos processos produtivos decorrentes da introdução de novas tecnologias, da produção flexível e dos
impactos da globalização, outras categorias analíticas são
importantes para a compreensão da questão dos ganhos
coletivos. Este autor procurou recuperar os principais
elementos que explicam a importância e as relações entre
o local e aglomerações setorializadas. Mostra que países
ou regiões não serão necessariamente competitivos apenas em função de suas riquezas naturais ou de mão de
obra barata: cooperação e divisão de estágios produtivos entre empresas de um aglomerado devem ocorrer em
maior ou menor nível, e destaca a presença de instituições de apoio, tanto governamentais quanto privadas,
sejam universidades, associações comerciais ou de classe, centros tecnológicos de desenvolvimento, dentre
outros.
Outros autores como Camagni (1991) e Schimitz
(1997) realizaram vários estudos sobre o tema. Camagni
(1991) explica o ganho competitivo por meio da geração
de efeitos econômicos e aponta como economias externas, as noções de vantagens passivas e dinâmicas e de
economias próximas geograficamente que apresentem
elementos sinérgicos.
Schmitz (1997) desenvolveu a noção da importância entre economias externas e ação conjunta, como responsáveis pela geração de eficiência coletiva. Estudou
principalmente os casos de aglomerados de micro e pequenas empresas em países em desenvolvimento. Para
qualificar o conceito de “eficiência coletiva”, o autor distingue eficiência coletiva planejada (conscientemente
perseguida) da não planejada (incidental). Mostra que,
além das externalidades (fatores não planejados), a eficiência coletiva é formada e definida por fatores
deliberadamente planejados (ação conjunta: cooperação
vertical e horizontal). Segundo Schmitz (1997), a ideia
principal que emerge do conceito de eficiência coletiva é
a de que as externalidades locais não são suficientes
para explicar o desenvolvimento de aglomerações de micro
e pequenas empresas. Destaca o papel da cooperação e
das sinergias entre as empresas como um fator fundamental na construção das vantagens que vão resultar em
ganhos para o conjunto. A importância da cooperação e
sinergia entre as empresas também foi desenvolvida também por Cassaroto Filho e Pires (1998), autores mais voltados ao estudo de micro e pequenas empresas no Brasil, a partir das experiências de desenvolvimento regional italiana.
45
Inovações e aprendizado foram incorporados ao
estudo das externalidades para a ampliação e apropriação das vantagens coletivas. Essas noções vêm atraindo atenção de diversos estudiosos, tendo como base a
análise da dimensão sistêmica e territorial do processo
de inovação e de aprendizagem e deste como função
endógena do desenvolvimento econômico. Essas noções
provieram do pensamento de autores de formação neo
schumpeteriana, Dosi (1984) e, posteriormente, por
Freeman (1994) e Lundval (1992) que mostraram o papel
do conhecimento, da capacidade de aprendizado, da inovação como condições para a expansão de agrupamento
produtivos. No Brasil destacam-se os estudos de Suzigan,
Garcia, Furtado (1999); Cassiolato, Lastres, Maciel (2003).
As inovações podem ser definidas como sendo uma busca, uma descoberta, uma experimentação, um desenvolvimento, uma imitação e uma adoção de novos produtos,
novos processos e novas formas de organização. De
modo mais específico, a inovação pode ser algo novo ou
uma combinação de elementos já existentes. Nesta direção destacam-se as inovações incrementais que se referem à introdução de qualquer tipo de melhoria em um
produto, processo ou organização da produção dentro
da empresa sem alteração na estrutura industrial, podendo gerar maior eficiência técnica, aumento da produtividade e da qualidade, redução de custos e ampliação das
aplicações de um produto ou processo.
Esses autores também ressaltam a atuação das
economias externas oriundas da especialização e dos
agentes produtivos concentrados geograficamente. Podem ser identificadas duas formas relevantes. A primeira
se refere à presença de economias externas locais, que é
a possibilidade de transbordamentos (spill-overs) de
conhecimento e tecnologia. Essa proximidade facilita a
circulação de informações e de conhecimentos, fomentando o processo de aprendizado local. A segunda forma
de economia externa diz respeito à atração de fornecedores especializados em setores e segmentos da indústria e
serviços, ligados à atividade principal mantida no aglomerado produtivo, ou seja, a formação de indústrias de
correlatas e de apoio, além da presença de universidades
e centros de pesquisa.
Em síntese, os estudos sobre o tema mostram a
possibilidade de ganhos coletivos com o desenvolvimento de vínculos entre empresas, que não estão restritos apenas às questões indicadas por sinais de preço e
custos. A noção se completa tanto pela presença de competição e de cooperação, pela confiança e reciprocidade,
quanto pelas inovações que são categorias importantes
para se entender o adensamento do aglomerado e a incidência de ação conjunta no agrupamento. Por estas razões as empresas, principalmente as micro e pequenas,
têm sido levadas a concentrarem suas estratégias no
46
desenvolvimento de suas capacidades inovativas, buscando inserção mais competitiva no mercado. Ou seja, o
dinamismo do mercado faz com que as firmas busquem
constantemente novas estratégias, conhecimentos, competências e capacidades produtivas que as diferenciem e
que as coloquem à frente de novas situações que o mercado oferece.
3. A FORMAÇÃO DAS INDÚSTRIAS
AUTOELÉTRICAS DO MUNICÍPIO DE PEDERNEIRAS-SP E O IMPACTO DAS MUDANÇAS NO SETOR
AUTOMOBILÍSTICO NACIONAL NOS ANOS 90
As primeiras atividades da indústria de
recondicionamento de peças autoelétrica do setor metalmecânico também conhecida como “induzidos” surgiram em Pederneiras no final da década de 50, a partir de
experiências de alguns empreendedores locais buscando reproduzir peças originais para motores de partida de
veículos. Paralelamente, a presença no local de empresas, como Wolkswagen, Bosch e Wapsa, fez com que o
setor se expandisse atendendo as necessidades do mercado, estimulando o recondicionamento de alguns componentes dos motores de partida. As peças
recondicionadas ganharam o nome de “induzidos para
motores de partida”. Em meados dos anos 60, vários
outros pequenos empreendedores surgiram e o município começou a se destacar como um polo de
recondicionamento de motores.
Até meados dos anos 80, as empresas locais se
dedicavam ao recondicionamento das peças originais dos
motores de partida. A partir de 1986, formaram-se duas
novas empresas (com a separação de um dos sócios da
principal empresa local) que, além do recondicionamento
de peças, começaram a produzir, por meios de cópias, novos componentes de motores, os induzidos de partida,
para competir com os dos grandes fabricantes nacionais.
Até então, vender induzidos recondicionados não
havia sido tarefa muito difícil. No entanto, vender induzido novo, fabricado no município, tendo que competir
com as grandes empresas criadoras do produto original
foi uma questão bem mais complexa. Isto porque, ao mesmo tempo em que as empresas locais buscavam novas
alternativas, o setor de autopeças nacional entrou em
profunda crise que mudou totalmente sua estrutura produtiva com fortes impactos nas empresas do setor.
A partir dos anos 90, com a abertura comercial da
economia brasileira, as indústrias nacionais de automóveis e autopeças passaram por grandes transformações
estruturais e com a vinda das montadoras definiu-se novo
cenário para as indústrias automobilísticas e de
autopeças. Os processos de desverticalização,
globalização, hierarquização, redução e aproximação no
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
fornecimento de autopeças junto às montadoras, trouxeram como consequências, além da desnacionalização de
grandes firmas locais, a redução dos níveis de emprego,
mudanças nas condições de trabalho e nas qualificações
exigidas ao setor. Também trouxeram consequências desastrosas para muitas empresas brasileiras do setor de
autopeças, dentre as quais a pequena produção de induzidos de Pederneiras.
Com o prosseguimento do processo de
reestruturação produtiva no setor automobilístico nacional, os grandes fabricantes de autopeças iniciaram um forte ajuste administrativo e operacional com ênfase em reduções de custos, a fim de atenderem as novas exigências
das montadoras. Em consequência, o setor de autopeças
passou a incorporar empresas que fabricavam sob encomenda e prestavam serviços de montagem e manutenção
industrial. As atividades que predominaram foram a
usinagem, caldeiraria, e fundição. Os principais agentes
do setor passaram a ser constituídos por empresas de
menor porte, fornecedoras e não fornecedoras de grandes
empresas, empresas clientes âncoras e outras empresas
clientes, instituições de classe, pesquisa e ensino, de
capacitação e desenvolvimento e fornecedores de matéria
prima e insumos que, basicamente, são distribuidores e
fornecedores de serviços (AERIP, 2006).
O produto final da cadeia produtiva na qual o setor
de peças autoelétricas faz parte é composto de inúmeros
componentes oriundos de diversas tecnologias
(eletroeletrônica e metal-mecânico, química, por exemplo). A
produção de uma peça envolve crescente tecnologia, dado
que há um processo de escolha e de homologação de parcerias entre empresas de autopeças e montadoras ligadas
ao crescente aumento da demanda no mercado interno, que
exige desempenho cada vez maior dos fornecedores. Tal
exigência envolveu aprimoramento tecnológico constante
para manter as empresas no mercado.
A nova forma de organização da produção, em que
pese a presença de empresas estrangeiras e do encerramento de muitas empresas nacionais, trouxe melhorias ao
mercado na medida em que incentivou a concorrência e a
busca pela qualidade nas empresas de autopeças. O mercado para carros usados, que se ampliou substancialmente, gerou possibilidades de vendas de peças de reposição,
cuja produção teve também que se modernizar e incorporar tecnologias presentes nas próprias montadoras e em
suas redes de fornecimento. Apesar das inúmeras dificuldades que surgiram no decorrer do processo de reconstrução, parte significativa das empresas do setor de
autopeças, localizadas no Estado de São Paulo, pôde retomar sua posição no setor. Foi neste contexto que as empresas produtoras de autopeças de Pederneiras, objeto
deste estudo, buscaram adaptar-se a processos que se
apresentavam como inevitáveis.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa que deu origem a este trabalho pode
ser enquadrada como um estudo de caso dado que, no
contexto dos estudos sobre aglomerações produtivas, o
caso estudado diferencia-se por suas especificidades
locais. Trata-se também de um estudo descritivo e
exploratório uma vez que não existe estudo algum anterior sobre esse conjunto de empresas, e que ele vai proporcionar um primeiro contato mais formalizado e acadêmico com objeto pesquisado.
O estudo de caso foi realizado por meio de pesquisa em fontes secundárias e primárias. As principais
bases utilizadas foram: a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho, Fundação
SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas) e a AERIP (Associação das Empresas de Recondicionamento de Induzidos em Pederneiras
- SP). A pesquisa primária foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com empresários e instituições,
com o intuito de conhecer a dinâmica das empresas, de
verificar a existência de vínculos produtivos locais com
agentes públicos e privados e a intensidade das formas
de interação. As categorias analíticas pesquisadas foram
obtidas a partir das referências bibliográficas: produção
e mercados, aprendizado e inovação, cooperação, papel
das instituições e agentes públicos e privados. O universo pesquisado, em 2008, era constituído por 48 empresas
formais, sendo que se supunha a existência de 32 empresas informais, em sua maioria pertencentes à classe CNAE
(Cadastro Nacional de Atividades Econômicas) 3160-7
fabricação de materiais elétricos para veículos
automotivos (inclusive baterias e recondicionadores). As
empresas foram selecionadas a partir de uma amostra
aleatória de 20 empresas, o que equivaleu a 41% do total,
distribuídas em 11 micro empresas, 06 pequenas empresas e 03 médias empresas.
5. EVOLUÇÃO RECENTE DO SETOR DEAUTOPEÇAS
EM PEDERNEIRAS
5.1 Empresas, produtos, mercados e emprego
As empresas formais que compõem o núcleo do
segmento estudado estão distribuídas nas seguintes atividades: 05 fabricantes de estator; 41 fabricantes de
estator recondicionado; 05 fabricantes de induzidos de
partida; 41 fabricantes de induzidos de partida
recondicionados; 05 fabricantes de bobinas de campo;
19 fabricantes de bobinas de campo recondicionadas; 01
Fabricante de induzidos de dínamo; 41 fabricantes de
induzidos de dínamo recondicionados; 05 fabricantes de
chave magnética recondicionadas; 05 fabricantes de
47
impulsor de partida. Esses produtos estão inseridos na
cadeia automobilística nacional, e das 48 empresas formais existentes no município, 48% da produção tem como
destino o mercado nacional, 40% no mercado estadual,
10% permanecem na região. Desde 2000, pequena parcela de 2% vem sendo exportada. Os mercados nacionais,
principalmente das regiões norte e nordeste são os principais focos para as peças autoelétricas. A busca pela
inserção na cadeia automobilística tem sido uma das pre-
ocupações básicas das empresas locais.
Na década de 1980 a crise na indústria foi intensa,
o que se pode observar pela redução do emprego industrial mostrado na Tabela1. Entretanto, entre os anos de
1995 e 2005, o emprego no setor apresentou crescente
expansão mostrando significativos sinais de recuperação e elevada participação na economia do município.
Tabela 1 - Evolução do Emprego em setores formais Município de Pederneiras - SP
Fonte: RAIS/MTE, 2003.
A partir de 1995, segundo informações da RAIS, o
emprego no setor teve crescimento constante destacando-se elevada participação relacionada à fabricação e
recondicionamento de induzidos, que é o núcleo central
da produção industrial no município. A relação entre o
total de emprego da indústria de materiais elétrico e o
total de emprego no município passou de 1,6% em 1995
para 6,84 em 2005, evidenciando a importância da con-
centração dessa atividade para o emprego do município
(Tabela 2). Observou-se também que a indústria em relação ao número de empregados é o segundo maior empregador do município. Desde 1995, a indústria como um
todo vem crescendo e, agregando também um aumento
do número de empregados. Particularmente, o setor
CNAE mais importante das indústrias no município é o
de material elétrico para veículos exceto baterias.
Tabela 2 - Evolução do total de estabelecimentos e empregados dos segmentos metal-mecânico
Fonte: RAIS/MTE, 2005.
48
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
A origem do capital é nacional e as empresas são
independentes, ou seja, não fazem parte de nenhum grupo econômico. Quanto à estrutura do capital, as fontes
de recursos são sempre dos próprios sócios. Quanto ao
grau de escolarização pode-se dizer que há um elevado
nível de escolarização da mão de obra, uma vez que o
ensino fundamental completo e o ensino médio completo constituem a maior parte da mão de obra. No entanto,
há forte opinião dos empresários sobre a falta de qualificação técnica e adequada.
Quanto às características das relações de trabalho ressalta-se que a pesquisa foi realizada no segmento
formal, onde as relações de trabalho estão relativamente
preservadas. Porém, há alto grau de informalidade. Não
se observou trabalho infantil, dado que o sindicato não
permite. Há também estagiários vindos de algumas instituições conveniadas das empresas. Mesmo no setor formal existem algumas relações informais (sem carteira assinada), mas em número reduzido. A pesquisa indicou
elevada presença de terceirizações.
5.2 Inovações e a importância do conhecimento
O conceito de inovação assumido nesta pesquisa
é o que a relaciona com uma atividade interativa e social
e destaca a importância da inovação incremental abrangendo a introdução de produtos e processos novos (mesmo que apenas para o mercado específico da empresa e
para a própria empresa), bem como inovações de natureza organizacional. Para o caso em estudo, de maneira
geral, as inovações observadas são simples (não há
tecnologia de ponta) principalmente em produtos, mas
são consideradas essenciais para a competitividade do
setor. O estudo mostrou que estão ocorrendo avanços
na divisão do trabalho técnico para a produção de um
mesmo produto. Com o desenvolvimento de spin offs novas empresas surgiram a partir de outras, como a montagem no local de três empresas fabricantes de componentes (anéis, coletores e eixos).
As pequenas empresas têm uma preocupação
maior em inovação em produtos do que as micro e médias empresas. Essas inovações referem-se às novas peças, chaves magnéticas e impulsores de partida, que até
então não eram recondicionados. Essas pequenas “inovações” significaram grandes avanços para a consolidação de indústria local. A ampliação de mercados decorrente desses novos produtos é explicativa da importância deles. Os maiores impactos resultantes da introdução
de inovações ocorreram com o aumento da qualidade
dos produtos.
As inovações em processos ocorreram em pequena escala e voltadas à melhoria de processos para a produção dos novos induzidos. A aquisição de máquinas
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
foi uma necessidade para a implementação desses processos.
A maioria das empresas programou mudanças significativas na estrutura organizacional. O resultado mais
importante de introdução dessas inovações foi o aumento das vendas e da qualidade do produto, evidenciando
que a preocupação das empresas em alcançar melhor
padrão de produção, tentando-se aproximar-se do padrão nacional, encontra resposta no mercado. O treinamento e capacitação de recursos humanos estão mais
presentes nas empresas de portes pequeno e médio já
que estas empresas possuem melhores condições de
capacitar alguns formandos de cursos técnicos localizados no aglomerado ou próximo, assim como estagiários e
engenheiros. De maneira geral, as micro empresas possuem poucos recursos para investirem em treinamentos
e capacitação e o estudo indica como principais deficiências a baixa capacitação profissional e empresarial.
Os fatores que contribuíram para a melhoria do
aprendizado e conhecimento foram internos à empresa,
particularmente na área de produção que representa a
principal fonte de informação para todas as empresas
analisadas. Observou-se que algumas pequenas e médias dispõem de departamento de pesquisa e desenvolvimento mais avançados. As outras áreas de vendas e
marketing e serviços de atendimento ao cliente são também importante fonte de aprendizado e conhecimento. A
atuação das universidades e centros de pesquisa que
envolve capacitação profissional, de assistência técnica
e de manutenção ainda é baixa. As feiras, exibições e
lojas são importantes principalmente para a média e micro
empresas, respectivamente. É por meio das feiras nacionais e internacionais que as médias empresas buscam
conhecer os novos modelos de peças e adaptam essas
novas tecnologias ao local.
5.3 Vínculos de cooperação e atores locais
O principal responsável pelo desenvolvimento da
cooperação tem sido a presença de uma associação específica para o setor, a Associação das Empresas de
Recondicionamento de Induzidos de Pederneiras-SP –
AERIP, fundada em 2001. Uma das ações mais significativas desenvolvidas pela AERIP foi a garantia de fornecimento de informações técnicas e sobre o mercado para
todas as empresas. Este fato possibilitou o desenvolvimento da confiança e da cooperação entre as empresas.
As empresas começaram a se enxergar como complementares, deixando de produzir componentes tais como os
anéis e os espaguetes, antes recondicionados, para produzir peças e produtos novos de outros associados.
Dentre as principais ações que vêm sendo realizadas destacam-se ações voltadas para compras conjun49
tas (os associados têm comprado matéria prima em conjunto com preços menores e facilitadas condições de
pagamento com fornecedores e distribuidores), para o
desenvolvimento de tecnologias de produção, para a realização de Feiras. Também promoveu parcerias com a
criação de escolas técnica (SENAI), em 2006, com a preparação de cursos técnicos para montagem e
recondicionamento de peças autoelétricas. A presença
do SEBRAE a partir de 2001 foi importante para criar uma
visão conjunta de aglomerado, difundindo-se o conceito
de arranjo produtivo local.
Observou-se assim que a Associação é uma entidade com intensa ação local. Pode-se dizer que o nível de
cooperação não está assegurado pela proximidade geográfica, mas dependeu de uma ação conjunta dos empresários que, para sair da forte crise, viram na cooperação
alguma possibilidade de vantagem. As possibilidades de
divisão do trabalho entre empresas possibilitadas pelas
características técnicas do setor foram também condições essenciais para o incentivo à cooperação. Para o
caso estudado as interações entre as empresas vêm sendo buscadas e são elas que respondem pela criação de
economias externas.
5.4 Vantagens coletivas: a rede de fornecedores e a composição de produtos
A importância das vantagens coletivas associadas
ao ambiente local reflete um dos aspectos chave na análise do dinamismo competitivo e inovativo dos aglomerados. Para o caso estudado, as principais vantagens de
localização no aglomerado foram a presença de fornecedores de insumos e matérias primas e infra-estrutura física.
A maior parte das matérias primas, atualmente, é
comercializada no local, tais como o fio esmaltado, a caixa
de embalagens individual, fibras de poliéster, estanho, anel
de ligação e verniz isolante que foram se instalando aos
poucos no local, criando uma rede local de fornecedores.
É importante destacar que o fornecimento de
insumos realizado por empresas do município começou a
se dar a partir de 2001, quando a produção local, principalmente de anéis, espaguetes e caixas para embalagens
começou a ganhar o mercado. Em 2003, com a
comercialização local de verniz isolante, estanho, chapa
de aço e carretel em fibra, anéis e a venda de caixas para
embalagens, os negócios no município se ampliaram e o
setor de serviços ligado à atividade industrial criava
complementaridades importantes para a formação de economias externas locais.
Assim, a retomada no crescimento do setor foi
possibilitada por fortes parcerias e vínculos que foram
sendo estabelecidos à medida que os empresários come-
50
çaram a perceber a necessidade de ampliar a rede local e
de produtores e fornecedores. Algumas vezes, segundo
relatos de entrevistas, os empresários deixavam de adquirir insumos de fornecedores tradicionais para incentivar o empreendedorismo local. Alguns vínculos entre
empresas puderam se desenvolver, em primeiro lugar pela
presença de rede de fornecedores local e pelo avanço no
processo de divisão do trabalho para a produção de um
mesmo item. Foi o caso, por exemplo, das 14 empresas
associadas que deixaram muitas vezes de comprar de fornecedores externos, para comprarem componentes e peças de fornecedores locais, valorizando seu produto final e valorizando o território.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado mostrou em que a retomada de
crescimento do setor dependeu de duas condições muito peculiares. Em primeiro lugar, da expansão do mercado
nacional de reposição de peças para carros usados e
seminovos. Em segundo lugar, da habilidade dos empresários locais que souberam aproveitar esse novo cenário
para o setor, criando novas oportunidades a partir das
características técnicas do setor e de uma visão empreendedora de seu negócio.
O estudo realizado mostrou que a recuperação do
setor, a partir de 1995, esteve ligada ao esforço dos empresários locais com relação às melhorias na capacitação
tecnológica e tendências para a introdução de processos inovadores e que decorreram da compreensão, por
parte deles, de que o setor exige contínua introdução de
melhorias técnicas. Houve, pois, elevada participação dos
empresários locais que puderam perceber que a
tecnologia exerce papel fundamental no setor, mesmo em
se tratando de peças para reposição. Também perceberam que o sucesso e a continuidade do agrupamento
estão fortemente relacionados ao processo de desenvolvimento e aprimoramento de conhecimentos e inovações,
melhor capacitação e aprendizado para gerar emprego
qualificado e garantias de sustentabilidade do setor no
município. A pesquisa mostrou que as melhorias na
capacitação tecnológica de algumas empresas derivam
de processos interativos presentes na área de processos
de produção e de relacionamentos interativos que se
estabeleceram entre os agentes produtivos, com seus
fornecedores e clientes. Mostrou que para as melhorias
na produção foram importantes os processos informais
de aprendizado que resultam de incorporações de processos inovativos incrementais.
O estudo, portanto, confirma com suas evidências que o desenvolvimento de economias externas é fundamental para a aquisição de vantagens coletivas derivadas da aglomeração, e que elas não podem ser
desvinculadas da ação cooperativa e da confiança que
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
se desenvolve entre empresas e empresários. Mas os
laços de confiança não são espontâneos e foram incentivados pela ação da associação local. No caso estudado,
as atuações da associação e do sindicato do setor foram
responsáveis pela cooperação; a reconstrução das empresas esteve apoiada na introdução de inovações, e na
preocupação com o conhecimento. A introdução de inovações em produtos, processos e organizacionais foram
fundamentais para a sobrevivência das empresas em um
mercado que sofre forte influência do mundo globalizado.
O estudo dos vínculos de cooperação mostrou a
importância da formação de uma rede local de fornecedores que gerou ganhos coletivos e também contribuiu para
o incremento de apropriação de ganhos em cadeia. O
reforço da posição das empresas e de um ambiente mais
direcionado para a modernização e capacitação certamente estimulou uma gradual adesão das demais empresas a
este padrão mais competitivo. Neste contexto os graus
de confiança e articulação efetivos ou eventuais que se
desenvolveram foram fundamentais para a recuperação
e fortalecimento do setor.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AERIP (Associação das Empresas de Recondicionamento
de Induzidos em Pederneiras - SP).
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SUZIGAN, W.; GARCIA, R.; FURTADO, J.; SAMPAIO,
S. E. K. Aglomerações Industriais do Estado de São Paulo. Campinas: Unicamp, 1999.
51
Avaliação do Potencial Turístico da Aldeia Guarani Boa
Vista do Sertão do Promirim, Ubatuba/SP
Rodrigo de Campos Macedo *
Wilson Cabral Sousa Junior **
Resumo: O conhecimento do potencial turístico é uma demanda de muitos que se interessam em
empreender e/ou incrementar formas de geração de renda que aproveitem amenidades naturais e
culturais, tais como gestores de unidades de conservação e planejadores públicos. Acredita-se que
o turismo pode ser uma atividade econômica que as valorize e, consequentemente, incentive a
conservação destes recursos. Avaliar corretamente o potencial a ser explorado por atividades
turísticas é imprescindível para futuros empreendimentos; para isto, torna-se necessária a utilização de métodos e ferramentas de avaliação, tais como diagnósticos, inventários dos atrativos
turísticos e prognósticos. Este trabalho avaliou o potencial turístico existente na Aldeia Boa Vista,
a partir da execução de diagnóstico e inventário dos atrativos. O trabalho, além de definir roteiros,
apresenta sugestões e recomendações, em especial voltadas para a minimização dos riscos
socioambientais associados à aculturação e sobrepopulação, fato que aumentaria a pressão sobre
os recursos naturais da região.
Palavras-chave: Guarany, etnoturismo, diagnóstico socioambiental.
Abstract: The knowledge of touristic potential is required to improving income generation by
taking advantage of natural and cultural amenities. Tourism can be an economic activity that gives
value and incentives for conservation of these resources. Correctly evaluating the potential
utilization of a touristic activity is very important for future projects. That is why, methods and
evaluation tools, like diagnostics and inventory of the touristic spots, should be used. This work
evaluated the touristic potential that exists at Boa Vista village. Through diagnostics and an
inventory of touristic attractions, roads were defined and alternatives were proposed. Furthermore,
it presents some recommendations on minimizing environmental risks, especially those related to
the acculturation and overpopulation and its pressure on the natural resources.
Key words: Guarany, ethnotourism, environmental diagnostics.
1. INTRODUÇÃO
características encontradas nestes territórios.
Durante as oficinas do Projeto Novos Futuros no
Horizonte dos Guarani da Aldeia Boa Vista – Plano de
Negócio para o Artesanato Guarany, financiado pelo
FNMA e executado pela CPI-SP, a comunidade solicitou
ações para organizar um programa turístico como alternativa geradora de renda. Nascera a ideia para o presente
trabalho nesta solicitação. A necessidade de proposição
para obtenção de renda sem dependência da
comercialização de palmito é um desejo comum para os
que se preocupam com a sustentabilidade das TI´s. O
turismo (mais especificamente, o etnoturismo) apresenta-se como uma atividade econômica potencial para as
As comunidades indígenas, historicamente, sofreram drásticas mudanças em sua economia tradicional,
desde a chegada dos não-índios. Os territórios em que
hoje vivem – reduzidos em extensão, exauridos em seus
recursos naturais, com terras de baixa produtividade, com
pouca ou nenhuma área de caça, pesca, coleta e agricultura – são bastante diferentes daqueles que os abrigavam antes do ano de 1500 e que lhes davam perfeitas
condições de se manterem segundo seus costumes tradicionais. Como exemplos notáveis, podem ser citados a
disponibilidade de terras e dependência financeira, duas
características fundamentais no entendimento das alterações sócio-econômicas ocorridas com esta etnia. Por
outro lado, o contato intenso com a “civilização” ocidental introduziu nas sociedades indígenas a necessidade
de consumo de produtos manufaturados. Observa-se que,
* Mestrado em Sensoriamento Remoto - INPE.
** Doutorado em Economia Aplicada - UNICAMP.
52
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
quando as sociedades indígenas encontram a sociedade
dos não-índios, imediatamente se instaura uma relação
de dependência.
As trocas mercantis entre os Guarani e a sociedade urbano-industrial ocorrem desde o início da colonização ibérica. As principais formas de renda utilizada pelos
Guarani são a comercialização de produtos florestais e
serviços de mão-de-obra braçal (CTI, 1997). Com a redução das áreas passíveis de utilização, as assistências
governamentais passaram a ter maior relevância. Atualmente, não há grandes programas assistenciais como no
passado, assim a necessidade de coexistir formas de geração de renda com a conservação cultural é premente.
Surgem as possibilidades de agregação de valor nos produtos florestais (artesanatos, compotas, etc.) e as atividades econômicas relacionadas ao turismo.
O conhecimento do potencial turístico é uma demanda de muitos que se interessam em empreender e/ou
incrementar formas de geração de renda que aproveitem
amenidades naturais e culturais (LEMOS, 1996). Acredita-se que o turismo pode ser uma atividade econômica
que as valorize e, consequentemente, incentive a conservação destes recursos. Avaliar corretamente o potencial a ser explorado por atividades turísticas é imprescindível para futuros empreendimentos; para isto, torna-se
necessária a utilização de métodos e ferramentas de avaliação, tais como diagnósticos e inventários dos atrativos turísticos.
Os recursos naturais da região, embora possam
prover os índios de madeira para o fogo, construção das
casas e singelos utensílios domésticos e artesanatos, e
palmito para venda, além de fornecer alguma caça e pesca
ocasional, não são suficientes para garantir-lhes a subsistência. A maior parte dos alimentos consumidos é proveniente da Funai (Escola Indígena) ou comprada na cidade,
sendo que a renda se origina na venda de palmitos e de
artesanatos, o que é praticado em pequena escala. Além
disso, alguns membros da comunidade realizam trabalhos
remunerados, e outros recebem aposentadoria (1).
Os Guarani residentes na Aldeia Boa Vista expressaram o desejo de estruturar e organizar atividades econômicas relacionadas ao turismo. Esta demanda é compatível com a estratégia que permeia as ações em andamento na Aldeia (2): disponibilizar formas de geração de
renda compatíveis com a conservação dos recursos naturais e culturais, visando principalmente, reduzir a pressão sobre a extração de Euterpe edullis (palmito juçara),
renda garantida e espécie-chave para a Mata Atlântica.
Experiências promissoras tais como o Projeto Conservação dos Recursos Naturais através do Turismo Ecológico e da Gestão Participativa na região de Silves/AM
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
e a Capacitação de Guias Turísticos no Cambury/SP evidenciam os benefícios sociais destas ações.
O turismo possui riscos, principalmente relacionados às alterações na qualidade dos recursos naturais
e culturais. É muito importante que haja planejamento,
com avaliações para a capacidade de carga e pesquisas
sobre a influência do turismo na mudança cultural.
Este trabalho pretende avaliar o potencial turístico existente na Aldeia Boa Vista, realizando-se um diagnóstico e um inventário dos atrativos, sugerindo-se alternativas.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Os Guarani
O contato entre os Guarani e a civilização ocidental ocorre desde o século XVI. (MONTEIRO, 1994; RIBEIRO, 1995; FELIPIM, 2001). Os primeiros registros sobre este povo, também chamado de Carijó, Tapes,
Aranchã, entre outros, foram feitos por cronistas, viajantes e jesuítas (FELIPIM, 2001). Pode-se dizer que os principais agentes depopulativos e deculturativos dos
Guarani foram os bandeirantes e os jesuítas
(MONTEIRO, 1994). Perfazem hoje um total de 35.000
indivíduos (FUNAI, 2001). Habitam os seguintes países:
Paraguai, Argentina e, no Brasil, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. (ISA, 2008).
Dividem-se em três subtribos: Kaiowá, Nhandeva e
Mbyá, com costumes e dialetos diferentes, embora guardando certa semelhança entre si (SCHADEN, 1974). Os
Guarani Mbyá são os que atualmente mais se preservam
da sociedade não-índia. São também os menos influenciados pelo cristianismo. Os Mbyá possuem características “nômades”. Este grupo mantém uma referência de
um território tradicional, de limites não muito claros (para
a sociedade não-índia). As migrações são feitas dentro
dos limites do território tradicional (CHEROBIM, 1986;
CHASE-SARDI; 1992; LADEIRA, 1992; FELIPIM, 2001).
Este hábito lhes assegura certa manutenção de seu espaço geográfico. Além disso, dificulta a assimilação de
hábitos das populações vizinhas (CHEROBIM, 1986;
FELIPIM, 2001). Os locais onde se assentam, conhecidos pela sociedade não indígena como aldeias, são por
eles denominados de Tekoá, que são áreas em que podem viver de acordo com seus padrões culturais (LADEIRA, 1992; FELIPIM, 2001). Importante assinalar que
atualmente Tekoá algum lhes garante auto-suficiência.
Assim sendo, muitas migrações se fazem devido à escassez de recursos. Entretanto, raramente um Tekoá é totalmente abandonado, havendo um revezamento de famílias que o ocupam (GARLET, 1997; FELIPIM, 2001). Finalmente, a mobilidade Mbyá tem um forte apelo cultural,
53
visto que desde o século XVI há registros de migrações
conduzidas por líderes religiosos – os caraí, (homensdeuses) – em busca da Yvy-Marãey, (a terra sem males),
que pode ser alcançada a partir de algum ponto do litoral
brasileiro (SCHADEN, 1974; NIMUENDAJÚ, 1987; LADEIRA, 1992; 2000; CICCARONE, 2000; VIETTA, 2000;
FELIPIM, 2001). Schaden (1974), correlaciona essas migrações de caráter messiânico, conduzidas por um líder
religioso, à crise cultural. Essa crise poderia ser tema de
diversas teses científicas, dada a riqueza dos aspectos
que a compõe, mas pode-se afirmar que os Guarani vivem uma crise de valores devido à impossibilidade de
viverem de acordo com seus padrões tradicionais. Esta
impossibilidade é causada por vários fatores, tais como
o contato com novos valores, a incapacidade de seus
mitos e preceitos não darem explicações satisfatórias acerca da nova realidade que agora os cerca, e a degradação
ambiental das regiões onde habitam.
2.2 Turismo e Cultura – Algumas definições
Turismo pode ser definido como a ciência, a arte e
a atividade de atrair e transportar visitantes, alojá-los e
cordialmente satisfazer suas necessidade e desejos.
(MCINTOSH, 1977). É a soma dos fenômenos e das relações resultantes da viagem e da permanência de nãoresidentes, na medida em que não leva à residência permanente e não está relacionada a nenhuma atividade
remuneratória. (HUNZIKER; KRAPF, 1942). A OMT (1968)
convencionou que:
• Turistas são visitantes temporários que permaneçam pelo menos vinte e quatro horas no país visitado,
cuja finalidade da viagem pode ser classificada sob um
dos seguintes tópicos: lazer, negócios, família, missões e
conferência;
• Excursionistas são visitantes temporários que
permaneçam menos de vinte e quatro horas no país visitando;
• Atrativos naturais são elementos do espaço
geográfico que constituem a paisagem – recurso turístico importante. Serão identificados e indicados no inventário pela sua importância para uso turístico;
• Atrativos turísticos são lugares, objetos ou
acontecimentos de interesse turístico, que motivem o
deslocamento de grupos humanos para conhecê-los.
O turismo e o meio ambiente estão intrinsecamente ligados e são interdependentes. Devido ao grande crescimento do mercado de turismo, há a necessidade de
encontrar formas de melhorar a relação entre os dois e
torná-lo mais sustentável. Isto poderia envolver:
• Pensamento holístico e o conceito de
ecossistemas;
• Controle de impactos negativos;
54
• Encorajamento de práticas corretas;
• Manutenção de um senso de proporção;
• Despertar da consciência entre os turistas e a
indústria do turismo;
• Preço pago para cobrir o custo ambiental do
turismo;
• Manutenção do equilíbrio entre conservação e
desenvolvimento.
De acordo com Swarbrook (2000), o ecoturismo
não é necessariamente sustentável. Os ecoturistas não
estão inicialmente motivados por um desejo de proteger
o meio ambiente, mas, sim, de ver o ecossistema nativo
em primeira mão. Se o ecoturismo tiver de crescer em uma
área sem regulamentação, poderia facilmente tornar-se
tão prejudicial quanto outras formas de turismo. Na verdade, por tender a ocorrer em áreas com ecossistemas
frágeis e raros, ele poderia ser até mais prejudicial. Isso é
particularmente verdade porque os ecoturistas estão sempre procurando novos destinos, mais exóticos que os
anteriores, ao passo que muitos turistas habituais ficam
felizes por passar as férias em complexos turísticos consagrados. Assim, os ecoturistas podem não estar satisfeitos até que tenham visitado todas as áreas do mundo,
levando-lhes as bênçãos do turismo.
Já Beni (2002) é um pouco mais otimista com o
ecoturismo, afirmando que não é apenas turismo tradicional em áreas naturais. É atividade que tem de estar
indissoluvelmente ligada ao trabalho de educação
ambiental. Tem como principal elemento a contemplação
e o contato com a natureza. Nele são analisados os fatores: espaço turístico natural e urbano e seu planejamento
territorial; atrativos turísticos e consequência do turismo sobre o meio ambiente, preservação da flora, fauna e
paisagens, compreendendo todas as funções, variáveis
e regras de consistência de cada um desses fatores.
Considerar o turismo como agente modificador de
cultura pressupõe a explicação de dois pontos fundamentais: o que pode ser entendido como cultura e como modificação de culturas. Segundo Canclini (1985) cultura
corresponde à produção de fenômenos que contribuem,
mediante a representação ou reelaboração simbólicas das
estruturas materiais, para a compreensão, reprodução ou
transformação do sistema social, ou seja, a cultura diz respeito a todas as práticas e instituições dedicadas à administração, renovação e reestruturação do sentido. Assim a cultura aparece enquanto aspectos que garantem a perpetuação da coesão social ou sua transformação. O conceito de
modificação cultural surge ao serem caracterizados os grupos sociais, mas especificamente para o presente estudo:
residentes e turistas. A partir desta relação é que surge o
fenômeno de modificação cultural, na qual um grupo passa
a influenciar o outro. Essas percepções são aglutinadas na
ideia de aculturação, que seria um conjunto de fenômenos
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
que resulta do contato direto e contínuo entre grupos culturais distintos, o que acarreta mudanças subsequentes
nos tipos culturais de cada grupo (FIGUEIREDO, 1996).
2.3 O Turismo como atividade sustentável
dos próprios mercados de turismo;
• Aparecimento de fenômenos de disfunção social na família, patologia no processo de socialização,
desintegração da comunidade;
• Dependência do capital externo ou de estereótipos existentes em face do turismo.
Segundo Beni (2002), o turismo é um eficiente meio
para:
• Promover a difusão de informações sobre uma
determinada região ou localidade, seus valores naturais,
culturais e sociais;
• Abrir novas perspectivas sociais como resultado do desenvolvimento econômico e cultural da região;
• Integrar socialmente, incrementar, em determinados casos, a consciência nacional;
• Promover o sentimento de liberdade mediante
a abertura ao mundo, estabelecendo ou estendendo os
contatos culturais, estimulando o interesse pelas viagens
turísticas.
Porém, pode provocar:
• Degradação ou destruição dos recursos naturais;
• Perda da autenticidade da cultura local;
• Descrição estereotipada e falsa do turista e do
país ou região de que procede, por falta de informação
adequada;
• Ausência de perspectivas para aqueles grupos
da população local das áreas de destinação turística, que
não obtém benefícios diretos das visitas dos turistas ou
Um dos princípios largamente aceitos do turismo
sustentável é a ideia de que só pode ser sustentável se a
comunidade local estiver envolvida em seu planejamento e em sua administração. Entretanto, mesmo onde foram feitas tentativas de se alcançar esse objetivo, tem
havido problemas, como os seguintes:
• Há muitos grupos de interesse e pontos de vista individuais e não há uma maneira fácil de conciliá-los
para alcançar um consenso;
• Os mecanismos que são usados para esclarecer os pontos de vista da comunidade oferecem a chance
para uma minoria de porta-vozes, que influenciarão e
dominarão o processo.
• Pode haver subvalorização ou ignorância dos
pontos de vista locais que sejam contrários ao conhecimento vigente.
• Conflitos que o debate causa podem ser sérios
e continuar por um longo tempo depois que ele termina.
Swarbrooke (2000) descreveu os principais aspectos
e impactos relacionados às atividades turísticas. Podem ser
benéficos ou maléficos e estão sintetizados no Quadro 1:
Quadro 1 – Impactos positivos e negativos relacionados às atividades turísticas
Fonte: Swarbrooke, 2000.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
55
Outro quadro interessante para conhecimento são
os custos e benefícios econômicos do turismo:
Quadro 2 – Custos e benefícios econômicos do turismo
Fonte: Swarbrooke, 2000.
Alguns dos maiores impactos do turismo sobre o
meio ambiente (HUNTER; GREEN, 1996):
• Transformação das características da área (paisagem)
• Excesso de infra-estrutura
• Impacto visual (novos estilos arquitetônicos)
• Danos causados por excesso de trafegabilidade
(erosão e compactação)
• Poluição (sonora, atmosférica, solo, água)
• Fauna e Flora
Desde o início dos anos 90 a expressão “turismo
sustentável” passou a ser utilizada com frequência. Ela
encerra uma abordagem do turismo que reconhece a importância da comunidade local, a forma como as pessoas
são tratadas e o desejo de maximizar os benefícios econômicos do turismo para essa comunidade.
(SWARBROOKE, 2000)
Por sustentável entende-se “desenvolvimento
que satisfaz as necessidades atuais, sem comprometer a
capacidade das pessoas satisfazerem as suas no futuro” (LAYRARGUES, 1998). Trata-se, portanto, de uma
perspectiva a um prazo mais longo que o usual, e envolve uma necessidade de intervenção e planejamento. O
conceito de sustentabilidade engloba claramente o meio
ambiente, o sistema econômico e as pessoas envolvidas.
Enquanto o termo sustentável só passou a ser
usado explicitamente nos últimos 20 ou 30 anos, as ideias
que o sustentam nasceram, por exemplo, nos modelos
56
mais remotos de planejamento urbano. Swarbrooke (2000)
conclui que algumas das primeiras tentativas de se alcançar o desenvolvimento sustentável tenham sido as
cidades e as metrópoles que foram planejadas e desenvolvidas pelos romanos.
Pelo exposto anteriormente, conclui-se que turismo sustentável é simplesmente uma extensão do conceito de desenvolvimento sustentável. A ideia de que o desenvolvimento deve ser sustentável data de muitos séculos, principalmente devido à crescente industrialização e urbanização, processos que evidenciaram a necessidade de um desenvolvimento regrado. Contudo, a
sustentabilidade só se tornou um assunto importante
nos últimos anos em relação à indústria em geral, e ao
turismo especificamente.
Ainda segundo Swarbrooke (2000), o turismo sustentável deveria estar ligado à aplicação da definição do
Relatório Brundtland de sustentabilidade no turismo:
“Formas de turismo que satisfaçam hoje
as necessidades dos turistas, da indústria
do turismo e das comunidades locais, sem
comprometer a capacidade das futuras
gerações de satisfazerem suas próprias
necessidades. É economicamente viável,
mas não destrói os recursos dos quais o
turismo no futuro dependerá, principalmente o meio ambiente e o tecido social
da comunidade local.”
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Segundo Bramwell et al. (1996), turismo sustentável é um turismo que se desenvolve mais rápido possível,
levando em consideração a capacidade de acomodação
daquele momento, a população local e o meio ambiente.
Durante a Conferência Globo 90, em Vancouver, foi compilada uma lista dos benefícios do turismo sustentável:
• Estimula uma compreensão dos impactos do
turismo nos ambientes natural, cultural e humano;
• Assegura uma distribuição justa de benefícios
e custos;
• Gera empregos locais, tanto diretos quanto indiretos em outros setores de suporte e de gestão de recursos;
• Estimula indústrias domésticas lucrativas;
• Gera entradas de divisas para o país e injeta
capital e dinheiro na economia local;
• Diversifica a economia local, principalmente em
áreas rurais;
• Estimula o desenvolvimento do transporte local, das comunicações e de outras infraestruturas básicas da comunidade;
• Cria facilidade de recreação que podem ser utilizadas pelas comunidades locais;
• Estimula e auxilia a cobrir gastos com preservação
de sítios arqueológicos, construções e locais históricos;
• Encoraja o uso produtivo de terras que são consideradas marginais, permitindo que vastas regiões permaneçam cobertas por vegetação natural;
• Intensifica a autoestima da comunidade local e
oferece a oportunidade de uma maior compreensão e
comunicação entre os povos de formação diversas;
• Demonstra a importância dos recursos naturais e culturais para a economia de uma comunidade e
seu bem-estar social, e pode ajudar a preservá-los;
• Monitora, assessora e administra os impactos
do turismo, desenvolve métodos confiáveis de obtenção de respostas e opõe-se a qualquer efeito negativo.
2.4 Diagnóstico e Inventário do Potencial Turístico
De acordo com (WWF - World Wide Fund for
Nature, 2003), o levantamento do potencial turístico representa a primeira e fundamental etapa do processo de planejamento estratégico da atividade turística. Inventariar é
pesquisar e relacionar, de modo quantitativo e qualitativo,
os bens (atrativos naturais ou culturais, acessos) e serviços (meios de hospedagem e guias) de uma determinada
região. O inventário deve fornecer dados importantes para
uma análise da situação atual da região de interesse e, no
final deste processo de coleta e análise de dados, tem-se
um diagnóstico do potencial turístico.
Segundo Beni (2002), há a necessidade de se definir previamente os indicadores que subsidiarão o inventário, que por sua vez, se baseia nos indicadores selecionados e deve ser realizado de maneira objetiva e sistemática;
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
os dados obtidos demonstrarão a variedade de condições
dos indicadores. Os inventários de recursos podem ser
conduzidos em diferentes níveis de detalhe. O produto
final será um mapa ou matriz das condições existentes em
cada indicador ao longo da área inventariada.
O processo de planejamento, aplicação e análise
do inventário turístico é um conjunto de atividades que
interage com diversas outras. Percebe-se que o inventário
subsidia as ações de análise de viabilidade (WWF, 2003).
Segundo Boiteux e Werner (2002), o inventário
turístico é o início de uma série de ações preliminares
para viabilização do empreendimento turístico:
1.Inventário turístico – levantamento do potencial turístico de determinada localidade e a hierarquização
dos atrativos para segmentar a demanda;
2.Criação da sinalização turística – comunicação visual dos atrativos turísticos, e, linguagem padronizada e contemplada nos idiomas da demanda encontrada;
3.Informação turística – disponibilização de informações ao consumidor turístico, tais como postos de
informações, etc.;
4.Capacitação turística –formação e a reciclagem
dos prestadores de serviços nos cargos operacionais e
gerenciais, assim como a conscientização da população;
5.Medidas legislativas – criação de uma política
de incentivos fiscais;
6.Promoções turísticas – Efeitos multiplicadores
de empreendedorismo vinculado ao turismo;
7.Aferição da qualidade – garantia do produto
final e/ou aprimoramento nos rumos do produto.
Beni (2002), descreve o planejamento turístico nas
seguintes fases:
1.Qualificação vocacional do território
(Zoneamento) – categorias, níveis de densidade e índices
de densidade;
2.Inventário dos atrativos turísticos – Oferta absoluta, efetiva e total;
3.Vocação turística do núcleo receptor – A demanda por turismo apresenta ainda uma especificidade
própria, consoante às diversas motivações, necessidades e preferências dos turistas pelo principal produto
permanente ou eventual, que imprime sua vocação turística e seu conseqüente poder de atração, permitindo-lhe
uma afluência autodeterminada ou dirigida;
4.Análise das instalações – Levantamento das instalações de recreação existentes e das possibilidades físicas e econômicas de implantação de novas instalações;
5.Inventário das instalações – O inventário indica as instalações e recursos turísticos existentes, sendo
esses dados considerados como as necessidades de recreação e turismo;
57
6.Inventário combinado com projeções de população – O objetivo é relacionar a distribuição espacial local com a localização das instalações turístico-recreativas.
O resultado é usualmente localizado em um mapa em que
estão situadas as instalações existentes e as projetadas;
7.Capacidade de Utilização – Indica o limite das
possibilidades do ambiente físico e ecológico para atender
às necessidades do consumidor quanto às atividades de
recreação e turismo. É o elo que relaciona valores físicos
com as preocupações, preferências e atividades das pessoas engajadas em recreação e turismo. A partir da capacidade
de utilização de cada instalação é projetada a demanda. Parte da oferta de recreação para projetar a demanda.
Somente após o conhecimento do potencial atrativo, das lacunas e dificuldades para implementação e da
visão e expectativas da comunidade é que um programa
ou projeto de ecoturismo deve ser implantado (WWF, 2003).
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Área de Estudo
Fig. 1 – Localização da Terra Indígena Boa Vista no Estado de São Paulo.
A Terra Indígena Boa Vista do Sertão do Promirim
localiza-se no município de Ubatuba, litoral norte do Estado de São Paulo (Fig. 1). Abrange uma área de 920,66
ha. Sua demarcação física foi homologada através do
Decreto Presidencial n.o 94.220, de 14 de abril de 1987. É
cercada pelo PESM (Parque Estadual da Serra do Mar) e
está totalmente inserida na Área Natural Tombada da
Serra do Mar e na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica,
em um vale das encostas montanhosas da Serra do Mar,
recortada por vários rios e riachos, dentre eles o Rio
Promirim. Nela são encontrados praticamente todos os
ecossistemas representativos do bioma Mata Atlântica,
com predominância da Floresta Ombrófila Densa.
58
A Floresta Ombrófila Densa é caracterizada por
fanerófitos (macro e mesofanerófitos), lianas lenhosas e
epífitas em abundância; dossel contínuo com cerca de 30m,
além de árvores emergentes. Elevadas temperaturas (médias
de 25o C) e alta precipitação, bem distribuída ao longo do ano,
sem período seco (VELOSO et al., 1991, apud SMA/SP, 1998).
Segundo Sant’anna (1995) (apud SMA/SP, 1998),
no litoral norte, o período de chuvas se estende de novembro a abril, sendo que o semestre menos chuvoso acontece
entre maio a outubro. Em 53 anos de análise (1941-1993),
percebe-se forte tendência de diminuição das chuvas em
Ubatuba na ordem de 20%, a maior do litoral paulista.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Conforme a SMA/SP (1998), no Município de
Ubatuba existe um levantamento da vegetação da Floresta Atlântica de Encosta realizado por Silva & Leitão
Filho (1982), em uma área da Estação Experimental do
Instituto Agronômico de Campinas; e um segundo levantamento, realizado 12 anos mais tarde, na área em que
se encontra o Núcleo Picinguaba, às margens do Rio da
Fazenda, realizado por Sanchez (1994) (apud SMA/SP,
1998). Este fato ilustra como o conhecimento deste tipo
de vegetação é ainda incipiente uma vez que apenas dois
levantamentos florísticos foram realizados em ambientes
com características distintas, apresentando uma composição de espécies bem diferenciada.
coletadas foram plotadas em imagem orbital georreferenciada
e, através delas, obteve-se o comprimento.
Segundo Sanchez (1994) (apud SMA/SP, 1998), a
Serra do Mar proporciona grande heterogeneidade
ambiental, com encostas voltadas para o mar e para o continente, fazendo com que regimes de ventos, salinidade e
precipitação sejam diferentes. Além disso, variações topográficas, solos com diferentes fertilidades, profundidades, idades pedogenéticas propiciam condições diferenciadas para o estabelecimento das espécies. Esta grande
heterogeneidade ambiental é um indicador da grande diversidade de espécies encontradas na Mata Atlântica.
Para a coleta das coordenadas geográficas dos
pontos atrativos e dos roteiros, foi utilizado receptor de
navegação Garmin V, sendo posteriormente plotados em
imagem orbital CBERS, mosaico georreferenciado em
composição RGB com resolução de 15m.
3.2 Inventário do Potencial Turístico
De forma participativa, foram eleitas duas opções de
roteiros: um nos arredores da aldeia e outros dois, um pouco
mais distante, contemplado caminhada pela Mata Atlântica.
Os roteiros foram escolhidos de forma participativa.
Após esta definição, os trajetos foram percorridos, avaliando-se os níveis de dificuldade e coletando-se as coordenadas (pontos e linhas); além disso, os potenciais dos pontos
interpretativos foram fotografados. As coordenadas
Após estas etapas, houve diálogo com a comunidade sobre as estimativas de benefícios e riscos envolvidos, tais como a necessidade de pequenas melhorias nos
trajetos, mas incerteza se haveria financiamento para tais
melhorias. Através de assembleias, foi elaborada uma matriz de aspectos e impactos, no qual estes foram sintetizados por própria vontade da comunidade.
3.3 Sistema de Posicionamento Global e Imagens
Orbitais
Foram utilizados Autodesk CAD 2000 para os desenhos e ESRI Arc Map 9.2 para o georreferenciamento.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Fig. 2 a plotagem dos roteiros sobre imagem
CBERS. Os números indicam os roteiros, sendo: 1 (roteiro nos arredores da aldeia) e 2-3 (roteiros mais distantes).
Fig. 2 – Plotagem dos roteiros sobre imagem orbital CBERS 2.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
59
O pressuposto temático destes roteiros é o seguinte:
Roteiro 1: Percurso “cultural”, em que o visitante
tem a oportunidade de vivenciar o cotidiano dos guaranis
na aldeia, observando de perto, os espaços privados (moradia e seus quintais) e os espaços públicos (locais destinados ao convívio social Guarani).
tante tem a oportunidade de realizar uma trilha na Floresta Atlântica acompanhado de um guia guarani, cujas percepções, opiniões, mitos, etc., enriquecerão a experiência proporcionada ao visitante.
No Quadro 3, estão descritos as distâncias, tempo médio e níveis de dificuldade para os roteiros propostos e para os acessos à Aldeia.
Roteiros 2 e 3: Percurso “florestal”, em que o visiQuadro 3 - Descrições das medições obtidas nos roteiros
A chegada à Aldeia pode gerar decepção ao visitante, que possui expectativas de um arranjo visual diferenciado e se depara com um aspecto tipicamente rural, à beira da
BR-101. Não há qualquer alegoria que possa atrair; apenas
uma rua não-pavimentada, casas de moradores locais e turista (não-índios) e um bar e mercearia. Após 1.600m através
de uma estrada rural precária, chega-se à entrada da Aldeia.
É necessário frisar que o acesso antigo não possibilitava a
entrada de veículos, já que se tratava apenas de uma picada
pela mata, sem qualquer placa ou indicação. Ao chegar ao
local, há uma vista panorâmica com belo aspecto cênico,
para a baía do Promirim (praia mais conservada de Ubatuba)
– próprio nome da Aldeia. Por outro lado há uma infraestrutura básica: escola infantil, posto de saúde e uma construção destinada ao zelador (caseiro), todas de alvenaria e
com estilo arquitetônico comum, não proporcionando ao
visitante qualquer experiência de um ambiente indígena.
Roteiro 1 - Aldeia
Ao longo do Roteiro 1, é possível contemplar diversos atrativos, tais como a Casa de Reza, local onde são
realizadas as rezas, espetáculos artísticos de música e dança e exposição de artesanatos; Casa da Cultura, ainda em
construção (3); Poços do Promirim e, obviamente, a observação do cotidiano Guarani. Considerando-se as belezas
naturais, o roteiro 1 apresenta algumas quedas d´água, existentes no percurso do Rio Promirim, que desembocará na
praia do Promirim, sentido morro abaixo. Outra atração potencial presente no roteiro 1 são os diversos estilos
arquitetônicos encontrados na aldeia, com casas de madeira, sapé e, mais contemporâneo, um projeto de construção
de 50 casas padronizadas. Ao longo do percurso do roteiro
1 pode-se observar diferentes cenários que abordam desde
aspectos relacionados à religião, culturais e antropológicos. A ideia temática deste roteiro é a proximidade da “vida
60
como ela é”, em uma terra indígena, contemplando passagens próximas às casas dos moradores locais, visualização
de atividades cotidianas, tais como lavagem de roupa, banho às crianças, manutenção no quintal de roçados, brincadeiras das crianças. Um ponto de atenção em relação a este
percurso é relacionado às condições precárias em certos
trechos da trilha, geralmente sombreados e, portanto, permanentemente úmidos, locais que demandaria maior atenção com manutenção para o recebimento de visitantes.
Roteiros 2 e 3 – Mata Atlântica
Principais Atrativos: Vistas Panorâmicas e Árvores Expressivas.
Os roteiros 2 e 3 são mais extensos com objetivos
voltados para a Floresta Atlântica e, principalmente, para
a possibilidade de realização da trilha acompanhado de
um guia Guarani, com suas observações, percepções,
etc. que, obviamente, enriquecem a experiência.
Infra-Estrutura
A infra-estrutura básica para o recebimento de visitantes depende das próprias instalações da Aldeia (Posto
de Saúde e Escola, basicamente). Segundo as lideranças
locais, haverá espaço para estacionamento. Há proibições
para consumo de álcool e outras drogas (com exceção de
nicotina) durante o passeio. Em relação à possibilidade de
acampamentos, atualmente são proibidos em T.I´s, porém,
se a comunidade assim o quiser (autonomia), provavelmente será possível contemplar esta modalidade também.
Discussão Final
A indústria do turismo e os turistas têm um inte-
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resse especial por culturas fossilizadas, que sejam pitorescas ou interessantes, por causa de seu valor de novidade ou pelo contraste com a cultura dos próprios turistas. Os folhetos estão repletos de menções como
“intactos” e “inesgotável”. No entanto, a cultura está
sempre mudando, e é provavelmente impossível e indesejável tentar preservar culturas. Parece estranho falar
emocionalmente e nostalgicamente da necessidade de
conservar uma cultura tradicional, que já vem sendo rejeitada por jovens autóctones, ávidos por adotar a cultura dos próprios turistas (pelo menos os hábitos de consumo). Existe o risco de que o interesse de hoje em conservar as culturas de ontem faça com que as novas culturas do amanhã sejam um tanto artificiais e carentes de
dinamismo. Além disso, nenhuma cultura é estática. Sendo assim, não se pode esperar dos Mbyá, que têm um
convívio frequente com a sociedade nacional envolvente,
mesmo que este convívio, se, geralmente de maneira reservada, não cogitem novas possibilidades de subsistência, ainda mais quando os seus meios vão sendo radicalmente modificados.
Por isto a importância de se realizarem estudos
para dimensionamento da capacidade de carga e limites
aceitáveis de mudanças (capacidade de utilização) antes
do início de um empreendimento turístico. A capacidade
de utilização indica o limite das possibilidades do ambiente físico e ecológico para atender às necessidades do
consumidor de atividades de turismo e recreação. A partir da capacidade de utilização de cada instalação é projetada a demanda correspondente. A definição da capacidade é dada pelo somatório das capacidades de utilização em face dos padrões de espaço requeridos para recreação e ocupação global do território. A capacidade de
carga de recurso turístico consiste no número máximo de
visitantes, em um determinado período de tempo, que
uma área pode suportar, antes que ocorram alterações
por perturbações (novas ocupações, estradas, etc.). A
análise da capacidade de carga turística é um instrumento que procura garantir a qualidade da oferta turística,
conciliando diferentes fatores, como: satisfação dos turistas e da população residente, viabilidade econômica
dos equipamentos, infra-estrutura turística, qualidade do
meio ambiente e, ainda, busca conjugar os elementos
tempo curto e tempo longo, ou seja, o tempo limitado que
os visitantes dispõem para visitar e explorar a região com
sua perenidade. É o ponto a partir do qual o ambiente
físico, econômico e social será degradado, levando à
destruição da imagem turística com o consequente descontentamento do visitante e da penalização da qualidade de vida da comunidade local. E ainda: com esse conceito pretende-se estabelecer, do ponto de vista quantitativo, o número de visitantes e o nível de desenvolvimento susceptíveis de não terem consequências negati-
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vas sobre os recursos naturais e culturais de um destino
turístico.
Um potencial instrumento metodológico para prevenir os impactos negativos do turismo é o
Antimarketing, que está estreitamente ligada ao conceito de capacidade de carga e é conveniente ser feito após
a determinação da capacidade de carga da localidade. O
Antimarketing implica na manipulação de ações de
marketing para desmotivar ou não estimular turistas potenciais a visitarem determinadas destinações.
(RUSCHMANN, 1989).
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1 Turismo Sustentável
O turismo sustentável não pode ser separado do
debate mais amplo sobre desenvolvimento sustentável em
geral. Uma vez que a política de turismo sustentável encontra-se amplamente voltada para a distribuição de recursos finitos, é importante reconhecer que se trata de
uma questão abertamente política; por isso, as soluções
têm de ser políticas, e não meramente tecnocráticas. É preciso mais ênfase na dimensão social do turismo sustentável em termos de equidade social e impactos
socioculturais. O turismo deve ser percebido como justo
por todas as partes envolvidas, havendo viabilidade econômica de longo prazo no que se refere às organizações e
destinações de turismo, baseando nos princípios do preço justo. A compatibilização entre geração de renda e conservação tem gerado mais mudanças do que preservações e fossilizações. Por isto, o gerenciamento adequado
deve assegurar que o turismo opere de acordo com o conceito de “limites de alterações aceitáveis”, obviamente sem
comprometer a capacidade de suporte ou carga.
5.2 Aldeia Boa Vista
Há atrativos em potencial para organizar programas turísticos na aldeia Boa Vista do Sertão do Promirim,
porém deve haver ações para evitar ou minimizar os riscos citados na matriz de aspectos e impactos – intensificação dos processos de aculturação e sobrepopulação
no local, aumentando a pressão sobre os recursos naturais e ambientais. Um programa estruturado de Turismo
envolverá capacitação e formação de monitores. Esta
capacitação deverá ser compatível com as características culturais da comunidade. Uma ótima oportunidade é
conjugar conhecimentos acerca dos recursos naturais e
culturais regionais, com estórias, mitos e lendas Guarani.
Os principais aspectos e impactos a serem aprofundados
em estudos posteriores estão resumidos no Quadro 4,
construído coletivamente com os moradores locais:
61
Quadro 4 - Principais aspectos e impactos envolvidos nos roteiros da Terra Indígena Boa Vista
Recomenda-se uma avaliação da capacidade de
carga e a coordenação de um programa estruturado de
turismo, de maneira análoga às ações ocorridas na comunidade caiçara de Cambury e no próprio Núcleo
Picinguaba, contemplando o Sertão da Fazenda e a Vila
de Picinguaba.
6. NOTAS
(1) CPI-SP - Plano de Negócio.
(2) FUNAI, FNMA, CPI-SP - Aprimoramento da
cadeia de custódia de artesanatos, manejo de palmito
Juçara, mapeamento e revisão dos limites da TI, construção da casa de cultura e melhorias na infra-estrutura, tais
como vias de acesso, energia elétrica e saneamento básico.
(3) Obra financiada pelo MMA e MDS, através
do Programa Carteira Indígena – com previsão para término em 2008.
7. REFERÊNCIAS
BENI, M. C. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo:
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Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
63
Eletrodeposição de Filmes de Polipirrol em Meio Aquoso
Contendo Ácido Cítrico
Andréa Santos Liu *
Márcia Cristina Bezerra Melo **
Liu Yao Cho *
Resumo: A influência da natureza do metal que constitui o eletrodo de trabalho e a concentração
do pirrol foram investigados na deposição eletroquímica de filmes de polipirrol (PPy) em meio
aquoso contendo ácido cítrico. O aumento da concentração do pirrol levou ao aumento da espessura dos filmes depositados sobre as superfícies de platina e alumínio, sugerindo que o processo é
controlado por difusão do monômero até a interface metal/solução. Foi observado por microscópio
de varredura eletrônica, deposições de filmes de polipirrol homogêneos e compactos. A eficiência
do filme de polipirrol, para proteger a superfície de alumínio contra corrosão foi investigada
através de ensaios de polarização potenciodinâmica utilizando meio corrosivo de cloreto.
Palavras-chave: Ácido cítrico, eletrodeposição, polipirrol, alumínio.
Abstract: The electrochemical deposition of polypyrrole (PPy) films was investigated in the aqueous
solution with citric acid. The influences of the metallic nature of the electrode and pyrrole
concentration were studied in this medium. The increase of pyrrole concentration increases the
thickness of the polypyrrole films deposited on the platinum and aluminum surface. This suggests
that the process is controlled by the diffusion of the monomer onto the surface of the metal/solution.
Scan electronic microscopy showed homogeneous and compact polypyrrole films. The corrosion
protection of aluminum surfaces coated by polypyrrole films was investigated by potentiodynamic
polarization curves using chloride as the aggressive medium.
Key words: Citric acid, electrodeposition, polypyrrole, aluminum.
1. INTRODUÇÃO
O polipirrol (PPy) é um polímero condutor que
apresenta uma ampla possibilidade de aplicações, tais
como baterias, músculos artificiais, sensores, proteção
de metais oxidáveis contra corrosão, etc. O polímero é
facilmente sintetizado por métodos químicos ou
eletroquímicos (FAEZ et al., 2000).
A eletrodeposição permite controlar as propriedades físicas e químicas do filme polimérico através das condições de síntese, tais como: densidade de corrente aplicada,
temperatura, concentração de eletrólito ou tipo de eletrólito,
concentração do monômero, natureza do metal que constitui o eletrodo de trabalho, dentre outras (IROH et al. 1998).
O eletrodo de trabalho desempenha um papel chave
no processo de eletropolimerização do pirrol. Uma vez que os
filmes de polipirrol são produzidos por oxidação do monômero,
* Professor(a) da UNIVAP.
** Mestranda em Bioengenharia, UNIVAP, 2009.
64
é importante que o metal que constitui o eletrodo de trabalho
não oxide concorrentemente com o monômero. Por este motivo, geralmente os eletrodos de trabalho envolvidos na
eletrodeposição de polipirrol são constituídos por metais mais
nobres como platina e ouro (WANG et al. 2001). Entretanto,
se as condições de síntese forem bem controladas, é possível
depositar filmes homogêneos e aderentes de polipirrol sobre
superfícies de alumínio (BRANZOI et al. 2002; EMREGUL;
AKSUT, 2003; RIVIEIRA et al., 2004; MAAYTA;
RAWASHDEH, 2004; HOLZLE et al., 2005; SILVAet al., 2005).
Estudos realizados mostraram que filmes homogêneos e aderentes de polipirrol podem ser depositados
sobre superfícies de alumínio em meio aquoso contendo
ácido tartárico (LIU; OLIVEIRA, 2007).
A literatura mostra que o ácido cítrico pode atuar como
agente quelante, formando complexos com íons alumínio, os
quais podem adsorver na interface óxido/metal
(MOTEKAITIS; MARTELL, 1984). A adsorção desta camada pode dificultar a oxidação do alumínio sem inibir a oxidação do monômero. Além de influenciar no tipo de camada de
óxido de alumínio (porosa ou barreira), o contra-íon do eletrólito
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
também é indispensável para a compensação das cargas dos
polímeros condutores. A estrutura e a concentração destes
íons (dopantes) afetam a condutividade, a estabilidade e a
morfologia dos filmes de PPy. A concentração e a densidade
de carga do dopante podem influenciar nas interações elétricas do tipo íon-íon, cadeia-cadeia, cadeia-íon e, por isso, alterar a condutividade do polímero (MOHAMMAD, 1999).
O objetivo deste trabalho é avaliar a influência da
concentração do monômero de pirrol e da natureza do
metal que constitui o eletrodo de trabalho, na deposição
eletroquímica de filmes de polipirrol, utilizando meio aquoso contendo ácido cítrico como eletrólito. A eficiência do
filme polimérico para proteger a superfície de alumínio
contra corrosão também foi avaliada por ensaios de polarização em meio de cloreto.
A Fig. 1 apresenta a fórmula estrutural do ácido cítrico, que foi utilizado como eletrólito no presente trabalho.
Fig. 1 - Fórmula estrutural do ácido cítrico utilizado
como eletrólito.
A morfologia das superfícies de alumínio recobertas por filmes de polipirrol foi analisada por um Microscópio de Varredura Eletrônica Jeol JXA-840A.
Ensaios de corrosão para as superfícies de alumínio
apenas polida e recoberta por polipirrol foram realizados em
meio aquoso contendo 0,1 mol.L-1 de NaCl. A partir dos ensaios de polarização foram obtidas curvas de Tafel, das quais
foram determinados parâmetros eletroquímicos (potencial de
corrosão e densidades de correntes) que permitem avaliar a
proteção do alumínio contra corrosão pelo filme polimérico.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A influência da concentração do monômero no
processo de eletrodeposição dos filmes de polipirrol sobre eletrodo de platina foi investigada por voltametria
cíclica. A Fig. 2 apresenta estes resultados.
Foi observado na Fig. 2 que as correntes anódicas,
associadas à formação do filme de polipirrol aumenta com o
aumento da concentração do monômero. Estes resultados
estão associados com o processo de difusão do monômero
até a interface metal/solução, seguida pela oxidação do pirrol
na superfície do eletrodo de alumínio (IROH, 1998). Quanto
maior a concentração do monômero, mais rápida a reação de
oxidação do pirrol na interface metal/solução. Este comportamento está coerente com o mecanismo proposto na Fig. 3, em
que a etapa lenta do processo de eletrodeposição do polipirrol
é a reação de oxidação do monômero (TINGRY, 1996).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
As soluções utilizadas na eletrodeposição do
polipirrol foram preparadas dissolvendo 0,2 mol.L-1 de
ácido cítrico (Merk) e variando-se a concentração do
pirrol (Aldrich) entre 0,1 e 0,8 mol.L-1 em H2O destilada. O
pH destas soluções foi igual a 1,82. Os filmes de polipirrol
foram obtidos por voltametria cíclica, variando-se a janela do potencial de -1,0 a +2,0 V a uma velocidade de varredura de 5 mV.s-1.
Os experimentos eletroquímicos foram realizados
à temperatura de 25oC, em uma célula contendo três eletrodos. Os eletrodos de trabalho foram alumínio 99,7%
embutido em Teflonâ com área exposta de 0,53 cm2, e
platina, embutida em Teflonâ e com área exposta de 0,07
cm2. O eletrodo auxiliar foi um fio de platina e o eletrodo
de referência foi um eletrodo de Ag/AgCl saturado. Utilizou-se um Potenciostato/Galvanostato da Microquímica
(modelo MQPG-01).
Antes de cada experimento os eletrodos de trabalho foram polidos com lixas de granulometria 400, 600,
1200 e feltro com óxido de alumínio e depois enxaguado
com água destilada.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Fig. 2 - Primeiro ciclo de varredura de potencial para
o processo de eletrodeposição de polipirrol em platina,
utilizando-se soluções aquosas contendo 0,2 mol.L-1 de
ácido cítrico e pirrol nas concentrações de: (1) 0,2, (2)
0,5 e (3) 0,8 mol.L-1. Velocidade de varredura de
potencial de 5 mV.s-1.
65
Fig. 3 - Mecanismo envolvido na formação eletroquímica do polipirrol.
A influência da natureza do metal que constitui o
eletrodo de trabalho no processo de eletrodeposição de
polipirrol em ácido cítrico foi investigada utilizando-se
superfícies de alumínio e platina. A eletrodeposição do
filme de PPy em superfícies de alumínio, neste meio, somente ocorreu quando a concentração do monômero foi
igual ou superior a 0,5 mol.L-1.
A Fig. 4 apresenta os resultados da comparação
dos voltamogramas obtidos para a eletrodeposição do
polipirrol nos diferentes substratos metálicos, utilizando-se meio aquoso contendo 0,2 mol.L-1 de ácido cítrico
e 0,5 mol.L-1 de pirrol, pH 1,82.
Fig. 4 - Primeiro ciclo de varredura de potencial para
o processo de eletrodeposição de polipirrol em (1)
platina e (2) alumínio.
66
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Os resultados apresentados na Fig. 4 mostram
que, quando o alumínio foi utilizado como eletrodo de
trabalho, a densidade de corrente anódica associada ao
processo de formação do polipirrol é menor do que a
apresentada para a superfície de platina. Este comportamento está relacionado com a presença de uma camada
passiva de óxido de alumínio, que, em presença de ácido
cítrico, dificulta a transferência de elétrons e
consequentemente diminui a velocidade do processo de
eletrodeposição.
cos e/ou inorgânicos (WOLYNEC, 2003).
A Fig. 6 apresenta as curvas de Tafel obtidas através de curvas de polarização potenciodinâmica.
A morfologia da superfície de alumínio recoberta
pelo filme de polipirrol foi estudada por Microscopia de
Varredura Eletrônica (MEV). A Fig. 5 apresenta este resultado.
Fig. 6 - Curvas de Tafel obtidas em NaCl para superfície de alumínio: (1) Polida e (2) Recoberta pelo filme
de polipirrol.
A Tabela 1 apresenta os parâmetros
eletroquímicos obtidos das curvas de Tafel.
Tabela 1 - Parâmetros de corrosão para as superfícies
de alumínio polarizadas em NaCl
Fig. 5 - Micrografia (MEV) da superfície de alumínio
recoberta com o filme de polipirrol.
Pode ser observado que o filme de polipirrol depositado em meio aquoso contendo ácido cítrico é compacto e homogêneo. A micrografia mostra que o filme
possui uma estrutura cauliflower constituída por grãos
micro-esféricos. Esta estrutura tem sido atribuída à dificuldade de intercalação do dopante na estrutura
polimérica desordenada (YU, 2003).
Para verificar a eficiência do filme polimérico em
proteger superfícies de alumínio contra corrosão, foram
realizados ensaios de polarização potenciodinâmica à velocidade de varredura de 5 mV.s-1, utilizando-se solução
aquosa de NaCl 0,1 mol.L-1, pH 5,9 como meio corrosivo.
A técnica de polarização potenciodinâmica tem
sido largamente utilizada por grande número de pesquisadores na área de corrosão para avaliar a eficiência na
proteção de metais oxidáveis por revestimentos orgâniRevista UniVap, v.16, n.28, 2010
a. Potencial de Corrosão;
b. Densidade de corrente de corrosão.
Pode ser observado, através dos resultados apresentados na Fig. 6 e na Tabela 1, que houve deslocamento do potencial de corrosão para a direção mais positiva
quando a superfície de alumínio está recoberta por
polipirrol. Além disto, a Fig. 6 também mostra que as densidades de corrente anódicas, associadas à dissolução
do metal, são menores quando o metal é revestido pelo
polímero. Estes parâmetros indicam que houve inibição
de corrosão da superfície de alumínio.
Conforme apresentado na Tabela 1, a densidade
de corrente de corrosão é maior para superfície de alumínio recoberta pelo filme de PPy do que para o metal sem
67
filme. Este comportamento tem sido atribuído às reações
de redução que ocorrem na matrix polimérica que contribuem para aumentar a densidade de corrente catódica e
consequentemente aumentam a corrente de corrosão
(NAOI, 2000). O esquema apresentado na Fig. 7 mostra
as possíveis reações envolvidas durante a polarização
de superfícies de alumínio em meio contendo cloreto.
Reações anódicas
Al (s) → Al+3(aq) + 3e-
(1)
Reações catódicas
2 H2O + O2 + 4e- → 4 OH-(aq)
(2)
PPy dopado + ne- → PPy desdopado
(3)
Fig. 7 - Reações envolvidas no processo de corrosão de
superfícies de alumínio.
A ocorrência de reações de redução na matrix
polimérica, como aquela apresentada na Equação 3 contribui para aumentar os valores das densidades de correntes catódicas, aumento da densidade de corrente de
corrosão, o que justifica os resultados apresentados na
Tabela 1.
4. CONCLUSÃO
A presença de uma camada passiva de óxido sobre a superfície de alumínio dificulta o processo de
eletrodeposição do polipirrol. Este comportamento foi
demonstrado pelo maior valor de densidades de corrente
anódicas, associadas à formação do polipirrol quando o
eletrodo foi o de platina. Além disso, a concentração do
monômero influencia neste processo, uma vez que o
mecanismo proposto considera a reação de oxidação do
pirrol como etapa lenta, quanto maior a concentração do
monômero na interface metal/solução, maior a velocidade do crescimento do filme.
A microscopia (MEV) da superfície de alumínio
recoberta pelo polipirrol mostrou que, em meio aquoso
contendo ácido cítrico, o filme polimérico apresentou uma
morfologia compacta e homogênea. A técnica de polarização potenciodinâmica também mostrou que este filme
pode inibir a corrosão de superfícies de alumínio.
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69
Diagnóstico dos Aterros Municipais do Vale do Paraíba
(VP) e Litoral Norte Paulista (LNP)
Camila Soares Tobiezi *
Fabiana Alves Fiore Pinto **
Rafael Ivens da Silva Bueno ***
José Renato Baptista de Lima ****
Resumo: A questão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil tem sido amplamente discutida na
sociedade. No Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista o cenário não é muito diferente do resto do
país, onde o problema da destinação final de resíduos ainda é presente. Embora existam aterros
sanitários particulares, os órgãos públicos da região sofrem com os altos custos com reestruturação
de seus aterros de resíduos ou com transporte até o aterro sanitário mais próximo. Um fator como a
legalidade de funcionamento de aterros sem as devidas tecnologias de controle de poluição, contribui para o agravamento do problema. Com um maior detalhamento da situação atual dos aterros
desta região verificou-se a necessidade da estruturação e da sistematização do gerenciamento dos
resíduos sólidos urbanos por parte das administrações municipais buscando incentivar a implantação de ações estratégicas de gestão.
Palavras-chave: Aterro sanitário, resíduos sólidos, chorume.
Abstract: : The subject of the Urban Solid Waste in Brazil has been widely discussed in society. In the
Paraíba Valley and São Paulo’s North Coast the scenario is not too different from the rest of the
country, where the problem of the waste’s final destination is still present. Although private sanitary
landfills exist, the municipalities of the region suffer the high costs of reorganizing its landfills or
with transport to the nearest sanitary landfill. The legality of landfills without the proper technologies
for pollution control aggravates the problem. Better details of the current situation in the region’s
landfills verified the need for infrastructure and the systematization of urban solid waste management
on the part of municipal administrations in an attempt to stimulate the introduction of strategic
management actions.
Key words: Sanitary landfill, solid waste, leachate.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente a destinação final de resíduos tem
causado grande apreensão à sociedade devido à grande
preocupação mundial quanto à preservação do meio
*
Turismóloga - Anhembi Morumbi, Especialização
em Gestão Ambiental – UNIVAP.
**
Engenheira Civil, Mestre em Saneamento, Meio
Ambiente e Recursos Hídricos – UFMG e
Professora Adjunta a ETEP Faculdades.
*** Engenheiro Sanitarista e Ambiental – UNITAU,
Mestrando em Engenharia Mineral – USP.
**** Engenheiro de Minas, Mestre e Doutor em
Engenharia Mineral – USP e Professor Adjunto
no Departamento de Engenharia de Minas e de
Petróleo – USP.
70
ambiente. Ao mencionar o meio ambiente, há de se pensar não somente na preservação da fauna e flora do planeta, mas também nas inter-relações humanas envolvidas, pois o homem tem que interagir com o meio de maneira harmoniosa, para que possa haver um equilíbrio,
mantendo ou melhorando a qualidade de vida.
No setor da limpeza urbana, a destinação final
representa um paradoxo: aterros com alta sofisticação
técnica de engenharia coexistem com a destinação da
maior parte do lixo em lixões sem controle algum. É certo
que há muito a fazer, começando por uma demonstração
da realidade do que representa este paradoxo e mostrando o papel do aterro sanitário para a sociedade. (JARDIM, 2006)
A falta de atualização e a não sistematização das
informações sobre os resíduos sólidos no Brasil tem reRevista UniVap, v.16, n.28, 2010
presentado grave empecilho para o conhecimento mais
amplo da situação destes serviços, o que dificulta o estabelecimento de políticas públicas para o melhor
gerenciamento deste problema e, também, para direcionar
a atuação das entidades governamentais ou privadas que
tratam a questão (RUBERG; PHILIPPI, 1999).
Outro fator importante e que deve ser considerado é a falta de dados consistentes e confiáveis sobre a
geração dos resíduos e os serviços prestados nos municípios brasileiros e, em particular, em municípios do interior dos Estados brasileiros, além da falta de controle
operacional e funcional das atividades de limpeza pública, pois isso dificulta a administração e o gerenciamento
adequado do sistema (GOMES; MARTINS, 2003).
A questão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil tem sido amplamente discutida na sociedade, a partir
dos vários levantamentos realizados da situação atual e
perspectivas, para o setor. A conscientização quanto à
degradação do meio ambiente ainda é para muitas pessoas um assunto desconhecido, os métodos de regeneração
do solo e bio-alternativas ainda são pouco divulgados.
No Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista o cenário não é muito diferente do resto do país, onde a problemática da destinação final de resíduos ainda é presente.
Embora com a existência de aterros sanitários particulares, os órgãos públicos da região tem altos custos com a
operação e adequação às exigências ambientais de seus
aterros de resíduos ou com transporte até o aterro sanitário mais próximo.
Apesar da falta de informações referentes aos aterros de resíduos desta mesorregião, verifica-se a existência de 04 (quatro) aterros sanitários particulares que recebem os resíduos de seus próprios municípios e de outros 12 (doze) municípios. Dos 25 (vinte e cinco) aterros
restantes:
- o município de Cunha envia para um aterro sanitário particular em Itaquaquecetuba/SP, não estudado neste diagnóstico por não fazer parte da
região definida;
- o município de Pindamonhangaba, embora seja
público, é operado por uma empresa particular;
- 24 (vinte e quatro) municípios da região possuem aterros em valas.
Quanto às condições destes aterros, a CETESB
relata, em seu Inventário Estadual de Resíduos Sólidos
Domiciliares, referente ao ano de 2006, que 06 (seis) deles se encontram operando inadequadamente e 07 (sete)
deles de forma controlada. Dos 28 municípios que opeRevista UniVap, v.16, n.28, 2010
ram adequadamente, 16 (dezesseis) deles referem-se aos
04 (quatro) aterros sanitários particulares mencionados
acima, enquanto que, os outros 12 municípios, com notas altas, classificam-se como aterros em valas, cuja operação não conta com medidas de proteção ambiental.
A Portaria Minter Nº. 53 de 01 de março de 1979
considera que, para o bem estar público, de acordo com
os padrões internacionais, o lixo de pelo menos 80% (oitenta por cento) da população urbana das cidades com
mais de 20.000 (vinte mil) habitantes deve ter um sistema
de destinação final sanitariamente adequado. Embora não
seja, atualmente, a melhor opção os aterros em valas, é a
solução mais plausível pela limitação de verbas
disponibilizadas pelos órgãos municipais.
Um fator, como a legalização de aterros sem as
devidas tecnologias de controle de poluição, atribui notas positivas nos relatórios elaborados pela CETESB,
referência de informação, embora divergente da realidade destes aterros. Nesse contexto, este trabalho buscou
inicialmente um maior detalhamento de informações qualiquantitativas dos aterros desta região cujo crescimento
populacional, aliado ao incremento das atividades industriais, tem acarretado um aumento considerável na produção de resíduos.
2. MATERIAL E MÉTODOS
De acordo com a NBR 10.004 de 2004 os resíduos
sólidos são aqueles “Resíduos nos estados sólido e
semissólido que resultam de atividades da comunidade,
de origem: industrial, comercial, doméstica, hospitalar,
agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta
definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos de
controle da poluição, bem como determinados líquidos
cujas particularidades tornem inviáveis seus lançamentos na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou
exijam para isso soluções técnicas e economicamente
inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível”.
Os vários métodos de destinação e tratamento de
resíduos sólidos e líquidos fazem com que se tenham
diversas configurações para que seja escolhida a configuração mais adequada para uma cidade. Busca-se, no
entanto, adequá-los à quantidade de resíduos gerados.
De uma forma geral este assunto permeou por
várias áreas do conhecimento, desde o saneamento básico, meio ambiente, inserção social e econômica dos
processos de triagem e reciclagem dos materiais, e mais
recentemente, o aproveitamento energético dos gases
provenientes dos aterros sanitários.
De acordo com o Inventário Estadual de Resídu71
os Sólidos Domiciliares – 2006, elaborado pela CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, dos
645 municípios paulistas – 47,8% - tratam os resíduos
sólidos urbanos de forma adequada, sendo esse índice
referente a 308 municípios, o que significa que 80,7% das
28.397 toneladas diárias de lixo gerado no Estado são
dispostas adequadamente. Isto se explica pelo fato de
que as grandes cidades, que produzem maior quantidade
de resíduos, dispõem de sistemas de tratamento e disposição de resíduos considerados adequados.
Segundo o mesmo Inventário, 30% dos municípios do Estado de São Paulo continuam operando em condições controladas e 22,2% em condições inadequadas,
indicando um avanço em relação aos dados registrados
em 1997 de, respectivamente, 18% e 77,8%. Assim, são
143municípios operando em condições inadequadas e
194 municípios em condições controladas.
2.1 Universo
Foram considerados neste trabalho, juntamente
com os 35 municípios pertencentes ao Vale do Paraíba
Paulista o município de Santa Isabel e Guararema que,
embora não façam parte do Vale, são de responsabilidade da Agência Ambiental de Jacareí. O município de Cunha será desconsiderado uma vez que seus resíduos são
destinados em aterro particular (PAJOAN Ltda.) em
Itaquaquecetuba, ainda Estado de São Paulo, mas fora
da região pré-selecionada. O Litoral Norte conta com
apenas 04 municípios, sendo eles: Ubatuba, São Sebastião, Caraguatatuba e Ilhabela.
O inventário de 2006 conclui que, das 28.397 t/dia
de lixo gerado em todo o Estado, 22.909 t (80,7%) são
dispostas de forma adequada, 3.638 t (12,8%) de forma
controlada e 1.850 t (6,5%) de forma inadequada, contra
respectivamente 10,9%, 58,4% e 30,7% em 1997.
Os dados acima são referentes às condições dos
sistemas de disposição e tratamento de lixo doméstico
nos municípios do Estado, considerando: as características de cada instalação, população urbana de cada cidade e produção de resíduos “per capita”, sem computar
os resíduos gerados em indústrias, na limpeza de vias
públicas, poda de árvores, limpeza de córregos e outros.
Fig. 1 - Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista.
Fonte: VILELA, 2005.
Verifica-se assim que, ao longo dos últimos anos,
houve melhora explícita da situação dos locais de disposição e tratamento de resíduos sólidos domiciliares no
Estado de São Paulo. No entanto, ainda existe a necessidade de se continuar o esforço para melhorar essas condições, uma vez que ainda existem vários municípios dispondo seus resíduos de forma inadequada.
Os 41 municípios, aqui apresentados como Vale
do Paraíba e Litoral Norte Paulista, totalizam 2,3 milhões
de habitantes, produzem todos os dias 1.167,5 t de lixo
doméstico. Deste total, 76%, estão sendo tratadas em
condições consideradas adequadas, de acordo com a
CETESB. Dos outros 24%, 14,6% são tratados em condições controladas e 9,4%, em condições inadequadas.
A malha viária permitiu uma densa ocupação urbana, organizada em torno de algumas cidades de portes
médio e grande, revelando processos de conurbação já
consolidados ou emergentes. As especificidades dos
processos de urbanização e industrialização ocorridos
provocaram mudanças muito visíveis na vida das cidades. De um lado, geraram grandes potencialidades e oportunidades em função da base produtiva (atividades modernas, centro de tecnologia de ponta, etc.) e de outro,
acarretaram desequilíbrios de natureza ambiental e deficiências nos serviços básicos.
Como mencionado anteriormente, quanto às condições destes aterros, a CETESB relata, em seu Inventário
Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares, referente ao
ano de 2006, que 06 (seis) deles encontram-se operando
inadequadamente e 07 (sete) deles de forma controlada.
Nesse cenário, cidades médias passaram a conviver
com problemas típicos de cidades grandes, como é o caso
dos municípios do Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista.
72
Dos 28 municípios que operam adequadamente,
16 (dezesseis) deles referem-se aos quatro aterros sanitários particulares mencionados acima. Estes aterros,
operados pela iniciativa privada, são contratados pelas
prefeituras ou empresas municipais, sob a forma de
terceirização, que pagam pela quantidade, em peso de
resíduo depositado no aterro. Os outros 12 municípios
com notas altas possuem aterros em valas, cuja operação não conta com medidas de proteção ambiental.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
2.2 Metodologia de Pesquisa
Uma pesquisa de campo foi aplicada junto aos responsáveis por estes aterros para possibilitar uma avaliação de suas condições atuais de forma a sistematizar estas
informações em um inventário destes aterros de resíduos.
O universo da pesquisa abrangeu os municípios mencionados, sendo ela aplicada pessoalmente, por telefone e,
em alguns casos, pelos próprios responsáveis.
A opção pelo trabalho em campo e abordagem
direta se justifica pela necessidade de comunicação sobre o objeto do estudo em um grau mais elevado que
permitisse fornecer esclarecimentos mais aprofundados
e obter entendimento da real situação dos empreendimentos abordados.
A pesquisa foi realizada de forma simplificada para
com isso obter resultados rápidos e eficientes que pudessem ser utilizados de diversas formas após sua publicação.
O formulário foi elaborado inicialmente com
enfoque na geração de chorume, líquido poluente, de cor
escura e odor nauseante, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos
orgânicos que, somados com a ação da água das chuvas, se encarregam de lixiviar compostos orgânicos presentes nos aterros sanitários para o meio ambiente, mas
foi modificado para que o contato e tempo de entrevista
com os responsáveis pelos aterros de resíduos fossem
mais bem utilizados. Foram inclusas então, no questionário, perguntas referentes ao licenciamento, vida útil,
infra-estrutura, maquinários e equipamentos disponíveis,
sistemas de controle de poluição operacionais e
monitoramentos.
A segunda fase constituiu-se na atribuição de
valores à geração de chorume para os municípios da região, que desconhecem esses valores, com o propósito
de ser utilizado como uma ferramenta de auxílio à gestão
e ao gerenciamento de resíduos sólidos urbanos.
Para se atingir o objetivo de estimar a geração de
chorume na região, optou-se, nos casos de aterros em valas, onde não há a informação quantitativa da vazão do
líquido percolado, por realizar os cálculos abaixo descritos.
De acordo com a obra Limpeza Pública, (CETESB,
1980), o dimensionamento do sistema de drenagem é feito
a partir do conhecimento da vazão de líquido percolado
em cada dreno, determinada pela sua área de contribuição.
Assim sendo, a vazão média do chorume é dada
Q = PxAx K
t
Equação (1)
Onde:
Q = vazão média de líquido percolado (l/s)
P = precipitação média anual (m)
A = área do aterro (m²)
t = número de segundos em 1 ano (31.536.000s)
K = coeficiente que depende do grau de
compactação do lixo
Os índices pluviométricos obtidos juntos ao Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos
Hídricos do Estado de São Paulo - SIGRH correspondem
aos valores de precipitação de chuva mensais dos dez
últimos anos de dados obtidos. As planilhas de valores
encontram-se no Apêndice B. Com estes dados foi possível obter uma média anual para utilização na fórmula.
Os valores de tamanho das áreas de contribuição,
ou seja, das áreas dos aterros de resíduos foram obtidos
no questionário aplicado.
Novamente, conforme proposto pela CETESB (1980),
recomenda-se a adoção dos seguintes coeficientes:
- para aterros fracamente compactados com peso
específico de 0,4 a 0,7 t/m3, estima-se uma produção de chorume equivalente a 25 a 50% da
precipitação média anual contribuinte à área do
aterro;
- para aterros fortemente compactados com peso
específico - 0,7 t/m3, estima-se uma produção de
chorume equivalente a 15 a 25% da precipitação
média anual contribuinte à área do aterro.
O calculo foi realizado para 100% dos aterros, sendo aplicado um valor mínimo de 10.000 m2 aos locais em
que não foram fornecidos os valores de áreas do aterro.
2.3 Resultados
Os dados obtidos na pesquisa, juntamente com
informações adicionais passadas pelos responsáveis
pelos aterros de resíduos entrevistados e pesquisas em
fontes secundárias, permitiram a formulação de históricos sobre cada município e seus aterros de resíduos.
Foram utilizados dados de toda sua vida útil, buscando
expressar também as condições de tratamento desses
resíduos por parte dos órgãos ambientais, tanto financeira quanto tecnologicamente.
por:
A pesquisa realizada conseguiu abranger 99% dos
aterros da área delimitada para o estudo, não tendo sido
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
73
obtidas informações de apenas 01 município (Silveiras).
Verificou-se que, de acordo com a pesquisa dos 27 aterros, 24 são aterros públicos, 02 são particulares e 01 é de
economia mista.
Destes, 18 são em valas e os outros 09 se utilizam
de técnica de área, inclusos os dois particulares e o de
economia mista. Dos 09 aterros que se utilizam de técnica
de área, apenas o aterro de Ubatuba não possui
licenciamento. Já dos 18 aterros em valas, 14 deles possuem licenciamento, enquanto 04 não.
Todos os aterros recebem resíduos classificados
como classe II – não perigosos, sendo que 23 deles recebem resíduos domiciliares de seu próprio município e os
outros 04 recebem, além do próprio município os de outros 12 municípios. 05 deles recebem também resíduos
urbanos provenientes de limpeza pública e 03 deles recebem também resíduos industriais. Apenas o aterro particular de Tremembé recebe também resíduos classe I –
perigosos em uma outra célula com impermeabilização
específica para tal tipo de resíduo.
Dos aterros pesquisados, 01 deles está saturado
(Roseira) e ainda não possui outro destino para seus
resíduos; 03 deles se encerram ao fim de 2007 (Piquete,
Caraguatatuba e Ubatuba); 01 se encerra ao fim de 2008
(São José dos Campos); 02 não sabem quanto ainda tem
de vida útil (Areias e Taubaté); 12 deles ainda possuem
uma vida útil de 2 a 10 anos; e os 08 restantes tem vida
útil estimada de mais de 10 anos.
Mais de metade (15 aterros) das amostras demonstrou aterros sem tipo algum de infra-estrutura, sendo apenas um terreno, cercado em algumas das vezes, onde o
resíduo é despejado e coberto esporadicamente. Os outros 12 possuem desde portaria com guarita para controle de entrada e saída de resíduos até os mais completos
com centros de triagem, galpões de manutenção e lavagem de caminhões, entre outros.
Quanto aos valores de resíduos dispostos nestes
aterros, o Quadro 1 apresenta uma comparação dos valores obtidos com a pesquisa e aqueles fornecidos pela
CETESB.
Quadro 1 - Apresentação comparativa das quantidades de resíduos dos municípios Vale do Paraíba e Litoral
Norte Paulista entre a CETESB e a pesquisa realizada.
Fonte: Inventário de Resíduos da CETESB, 2006 e fonte própria, 2007.
74
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Vale ressaltar que os valores anteriormente mencionados, de recebimento de resíduos divergem do Inventário da CETESB, sempre superando o valor estimado e
isso pode ser explicado por algumas razões, dentre elas:
- primeiramente, em muitos dos casos, o município recebe resíduos sólidos urbanos, inclusos
limpeza urbana, como varrição e poda, e entulhos, quando no inventário só são considerados resíduos domésticos;
- pela falta de controle de entrada de resíduos nos
aterros;
- a quantidade de resíduos gerada é calculada pela
Prefeitura pela coleta (número de viagens e veículo utilizado) e pela CETESB, em função do tamanho da população;
Dos aterros que se utilizam de técnicas de área,
onde é prevista a impermeabilização da área, 06 deles se
utilizam de mantas de PEAD (polietileno de alta densidade) e/ou argila. Ainda verificando infra-estrutura destes
aterros, 01 (Ubatuba) não possui sistema de drenagem,
enquanto 02 deles (Cruzeiro e Tremembé) possuem drenagem do tipo colchão drenante e os restantes possuem
drenagem tipo espinha de peixe, intercalados ou não com
os drenos de gás.
Quanto ao armazenamento e tratamento do
chorume, 01 município (Cruzeiro) mantém o chorume coletado em valas ainda não impermeabilizadas até a construção de uma Estação de Tratamento de Efluentes própria. Os aterros de Pindamonhangaba e São José dos
Campos realizam a recirculação do chorume e os 05 aterros restantes tratam o líquido percolado em Estações de
Tratamento de Efluentes terceirizadas.
Dos 27 aterros onde foram realizadas entrevistas,
apenas 10 deles realizam qualquer tipo de análise, seja de
líquidos percolados, águas superficiais, águas subterrâneas ou geotécnicas.
De acordo com os dados obtidos na pesquisa foi
possível obter um valor aproximado da geração de
chorume de cada município.
A somatória das vazões permitiu a obtenção de
um valor total de 773 m3 de chorume gerados diariamente
no Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista. De acordo
com a pesquisa, 44,2%, ou seja, 341 m3/dia recebem tratamento adequado em ETE’s terceirizadas pelos aterros e
14,6% (113 m3/dia) é recirculado para os aterros. Os 318
m3/dia (41,1%) restantes infiltram para o solo sem nenhum tratamento.
2.4 FORMATAÇÃO DE FIGURAS E TABELAS
Com os resultados das visitas aos municípios
adotados como estudo de caso para o desenvolvimento
deste trabalho, foi possível observar a necessidade da
estruturação e da sistematização do gerenciamento dos
resíduos sólidos urbanos por parte das administrações
municipais do Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista.
Desta forma, o objetivo principal deste estudo,
foi estabelecido para que os resultados do trabalho pudessem ser utilizados para a definição de um sistema técnico organizacional para o gerenciamento de resíduos
sólidos urbanos que visasse a identificação de ações
estratégicas de gestão e, também, que servisse para diagnosticar as formas de disposição final adotadas em
municípios da região.
Foram verificadas inicialmente as condições de
lixões em aterros considerados adequados ou controlados que não possuem controle de entrada e saída de
resíduos, além daqueles cujo aterramento não é constante. Outro fator relatado é a falta de fiscalização por parte
das Prefeituras que permitem que os moradores do entorno despejem seu lixo irregularmente nos aterros ou
mesmo adentrem à área para catação dos resíduos ali
dispostos.
Outro grande problema encontrado foi a disponibilidade de veículos pertencentes às Prefeituras que, por
mais que tenham sido adquiridos para utilização no aterro, acabam por ser usados em outras atividades da Prefeitura. Verificaram-se casos onde o aterro era coberto
espaçadamente revezando o equipamento com outras
tarefas que não de operação do aterro ou até sendo executado somente quando havia veículo disponível, permitindo que o lixo ficasse exposto por grandes períodos
de tempo.
Atualmente o Relatório de Resíduos elaborado
pela CETESB anualmente é a única fonte de informação
sobre locais de disposição final e resíduos no Estado de
São Paulo.
Embora de extrema importância, acaba por aceitar
certas condições previamente impostas por legislações
e normas. Não é objetivo deste inventário o levantamento de todos os locais utilizados para descarga de resíduos sólidos, existentes no Estado. O conhecimento de todos esses locais é desejável como instrumento de planejamento, controle e avaliação da qualidade ambiental,
contudo não é meta deste documento. Diversos fatores
de complexo controle dificultam, nesse momento, a elaboração de um cadastro desse gênero.
Nesse contexto, foi pesquisado com maior
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
75
detalhamento de informações quali-quantitativas dos
aterros desta região para visualização da real situação
onde os resíduos e sua destinação ainda não têm primazia junto aos órgãos municipais.
Fig. 2 - Gráfico dos tipos de aterros.
Fig. 3 - Gráfico das técnicas de aterros.
Fig. 4 - Gráfico dos tipos de resíduos.
Fig. 5 - Gráfico dos Resíduos não perigosos.
Fig. 6 - Gráfico da infra-estrutura.
Fig. 7 - Gráfico do controle de poluição.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dos aterros pesquisados, 01 (Roseira) deles está
saturado e ainda não possui outro destino para seus
resíduos; 03 (Piquete, Caraguatatuba e Ubatuba) deles
se encerram no inicio de 2008; 01 (São José dos Campos)
se encerra ao fim de 2008; 02 (Areias e Taubaté) não
76
sabem quanto ainda tem de vida útil; 12 deles ainda possuem uma vida útil de 2 a 10 anos; e os 08 restantes têm
vida útil estimada de mais de 10 anos, sendo as alternativas atuais dos aterros de vida útil finda o transbordo de
seus resíduos para aterros licenciados na mesma região.
O detrimento dos aterros municipais é palpável,
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
sendo seus aterros em valas em grande maioria lixões
sem quaisquer cuidados. Já os aterros particulares licenciados encontram-se em ótimas condições, uma vez que
são submetidos a maior fiscalização por partes de órgãos
públicos devido à enorme quantidade de resíduos que
recebem.
Em uma região onde 66,6% dos aterros foram desenvolvidos em valas e, por isso, não possuem
impermeabilizações ou sistemas de drenagem e ainda são
considerados adequados, é preciso incentivar a revisão
das legislações cujas novas tecnologias ainda não são
abordadas e ainda prever um redimensionamento do orçamento público para questões ambientais, em especial,
a disposição final de resíduos sólidos.
Outra alternativa seria, a já abordada pelo novo
Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e
em discussão na CETESB, regionalização dos aterros,
onde sua viabilidade traria menores impactos e custos
para os órgãos municipais, além do incitamento de
melhoria da fiscalização.
4. REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 10.004. Classificação de resíduos sólidos. Rio de
Janeiro: Abnt; 2004.
COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO
AMBIENTAL – CETESB. Limpeza pública. São Paulo:
1980. 126 p.
JARDIM, F. Destino final – Problema ou solução? Revista Gestão de Resíduos. n.1, p. 14-20, 2006.
MARTINS, G. Relatório ambiental preliminar do município de Aparecida. Aparecida: 2006. p. 75.
RUBERG, C.; PHILIPPI JR., A. O gerenciamento de resíduos sólidos domiciliares: problemas e soluções – um
estudo de caso. Rio de Janeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL,
20, 1999, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: 1999.
VILELA, P. L., Estudo de Impacto Ambiental. Central de
gerenciamento ambiental. Taubaté: 2005.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
77
Avaliação do Comportamento Higiênico em Colmeias de
Abelhas Africanizadas da Empresa SER Apis em São José
dos Campos - SP
Ágata Lise S. Silva *
Josiane Aline S. Silva **
Nádia M. R. de Campos Velho ***
Resumo: As abelhas se encarregam da fecundação das flores, pois algumas espécies vegetais dependem totalmente de agentes polinizadores, garantindo assim a perpetuação das espécies. Após a
introdução da abelha africana no Brasil, a apicultura nacional apresentou crescente desenvolvimento, pois devido a cruzamentos naturais com abelhas europeias, originou-se a abelha africanizada,
que possui alta capacidade de higiene, rápida remoção de resíduos, resistência a enfermidades e
parasitas, alta capacidade defensiva e de enxameação e rápida dominância genética, que foram
fatores determinantes no seu sucesso adaptativo. A proposta deste trabalho foi realizar um processo de seleção biológica, através da avaliação do Comportamento Higiênico (CH) em colmeias de
abelhas africanizadas. Após receber os enxames nas instalações da SER Apis, foi realizada a
análise do CH, com registro fotográfico para compilação dos dados. Após a aplicação do método
de perfuração de células crias, observou-se que 20 % das colônias avaliadas são consideradas
higiênicas, sendo essas selecionadas para um apiário de matrizes. Através da seleção biológica,
feita pela análise do CH, pode-se obter linhagens mais higiênicas, evitando assim a utilização de
substâncias químicas, impedindo a contaminação dos produtos apícolas consumidos pelo homem.
Palavras-chave: Comportamento, abelha africanizada, seleção biológica.
Abstract: Bees are responsible for an important step in the reproduction of plants because some
vegetal species totally depend on pollinators to guarantee perpetuation of the species. After the
introduction of the African bee in Brazil, national beekeeping has increased due to the natural
crossings with Europeans bees, leading to the Africanized honey bee, which have good hygiene,
fast removal of residues, resistance to diseases and parasites, great defensive and swarming abilities,
and fast genetic dominance, which had been determinative factors in the adaptive success. The
proposal of this study was to conduct a biological selection through analyzing the hygienic behavior
(HB) in beehives of Africanized bees. After receiving the swarms in the SER Apis installations, the
HB was analyzed with a photographic register to compile data. The application of the method of
cell perforation showed that 20% of the evaluated colonies are considered hygienic, and these were
selected as matrices. Through the biological selection made by the HB analysis, it maybe possible to
obtain more hygienic lineages, thus avoiding the use of chemicals which contaminate apicultural
products consumed by humans.
Key words: Behavior, Africanized honey bee, biological selection.
1. INTRODUÇÃO
Desde a introdução da Apis mellifera, a apicultu-
* Bióloga.
** Bióloga - Empresa SER Apis.
*** Professora da UNIVAP.
78
ra brasileira tem apresentado crescente desenvolvimento, especialmente devido à capacidade de adaptação da
abelha africana e as condições favoráveis à criação, resultantes do grande potencial apícola nacional (COUTO;
COUTO, 2002). Em 1956 foi feita a introdução da A.
mellifera scutellata, o que resultou na africanização de
toda a apicultura brasileira (NOGUEIRA-NETO, 1972).
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
A alta capacidade de higiene e a rápida remoção de
resíduos, larvas, abelhas doentes ou mortas, a maior resistência a enfermidades e parasitas, a capacidade defensiva e
de enxameação, a rápida dominância genética, foram fatores
determinantes no sucesso adaptativo da abelha africanizada.
(SOMMER, 1996).
As abelhas africanizadas têm mostrado maior resistência específica aos patógenos e parasitas e maior resistência inespecífica, como, por exemplo, por comportamento
higiênico (MESSAGE, 2002 apud COUTO; COUTO, 2002).
O comportamento higiênico (CH) é a capacidade
das abelhas detectarem e removerem crias mortas, doentes,
danificadas ou infestadas com ácaros no interior da colônia
(ROTHENBUHLER, 1964). O CH é considerado uma das
características comportamentais das abelhas melíferas utilizadas em programas de melhoramento, face a sua vinculação
com a resistência a doenças de cria, e eliminação de ácaros
do gênero Varroa (SPIVAK; GILLIAN, 1998).
mento (GRAMACHO; GONÇALVES, 1994).
O manejo adequado nas colméias e a seleção de
abelhas que possuem Comportamento Higiênico de eficácia considerável melhorariam a qualidade dos produtos e
consequentemente aumentaria a participação brasileira no
mercado mundial, garantindo um produto saudável, que
também será consumido internamente. (MESSAGE, 2002
apud COUTO; COUTO, 2002).
A proposta deste trabalho foi realizar um processo de seleção biológica, através da avaliação do Comportamento Higiênico (CH) em colmeias de abelhas
africanizadas coletadas em diferentes pontos da região
da cidade de São José dos Campos – SP, visando à seleção dos enxames que apresentem o CH e reunindo-os em
um apiário de matrizes.
2. MATERIALE MÉTODOS
2.1 Área de Estudo
Há vários métodos de avaliação deste comportamento, dentre eles, os mais utilizados são, o método de
congelamento de cria (Keer et al., 1970) e o método de
perfuração de crias (NEWTON; OSTASIEWISKI, 1986),
onde ambos são eficientes para o estudo do comporta-
A pesquisa foi realizada em três apiários da empresa
SER Apis (Fig. 1) situados no Núcleo de Apicultura Univap
(NAU) localizado na Universidade do Vale do Paraíba Campus Urbanova em São José dos Campos - SP.
Fig. 1 - Colmeias em seus respectivos apiários.
2.2 Material Biológico
Os enxames de abelhas africanizadas (Fig. 2) utilizados para a análise do Comportamento Higiênico foram
reunidos através de captura em abrigos naturais ou não
e oriundos do processo enxameatório característico do
comportamento destes insetos, totalizando 20 colônias
avaliadas.
Fig. 2 - Enxames de abelhas africanizadas. A – Rainha de um enxame de abelhas africanizadas.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
79
2.3 Alimentação
Após cada etapa de verificação do Comportamento Higiênico das colônias, foi ministrada alimentação
energética e proteica, que, no período de entressafra,
suprem as necessidades dos enxames, garantindo, assim, alimentação necessária durante todo o ano.
2.4 Avaliação do Comportamento Higiênico (CH)
crias, descrito por Newton e Ostasiewski (1986) e modificado por Gonçalves e Gramacho (1994). A escolha do
método foi devido à eficácia considerável, fácil aplicação
e por ser um dos métodos mais econômicos.
De cada colônia avaliada, foi retirado um quadro
de crias operculadas de operárias com idade entre dez e
quatorze dias (Fig. 3); nessa idade, as crias apresentam
coloração rosa nos olhos, facilitando a identificação.
Utilizou-se o método de perfuração das células de
Fig. 3 - Crias operculadas com idade entre dez e quatorze dias.
Em seguida foram selecionadas duas áreas paralelas contendo 100 células operculadas cada, dispostas
em dez linhas por dez fileiras. A primeira área escolhida
(área A) foi utilizada para perfuração e a outra para controle ou testemunho, sem perfuração (área B). As células
vazias encontradas eventualmente foram contabilizadas
para ajuste do cálculo de porcentagem e para selecionar
a área perfurada, sendo esta, a com o menor número de
células vazias. As áreas foram demarcadas com o auxílio
de um bisturi (Fig. 4).
Fig. 4 - Demarcação das áreas.
O método consta na perfuração de 100 células de
crias operculadas com o auxílio de um alfinete
entomológico (Fig. 5), que foi inserido no centro do
80
opérculo em direção às crias, perfurando-as e, podendo
ou não causar a morte delas.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Fig. 5 - Perfuração da área A com o auxílio de um alfinete entomológico.
Após este procedimento, o quadro utilizado foi devolvido a colmeia avaliada, permanecendo por 24 horas para
que as operárias realizassem a desoperculação e remoção das
crias afetadas, e então o quadro foi retirado após o tempo
determinado e analisado em laboratório. Foram realizadas três
perfurações em cada enxame, com intervalos de quinze dias.
2.5 Análise Estatística do Comportamento Higiênico
Para a estimativa do CH de cada colônia foram
contabilizadas as células operculadas submetidas à perfuração, e após 24 horas foram contabilizadas as células
desoperculadas ou vazias, sendo dividido o total de células vazias pelo número de células perfuradas, obtendo
a quantidade de crias desoperculadas ou removidas pelas operárias higiênicas.
Células Vazias
Células perfuradas
=
crias removidas
CV1 = N° de células vazias 24 horas após a perfuração.
CV = N° de células vazias antes da perfuração.
CO = N° de células operculadas antes da perfuração.
Z = Fator de Correção obtido no controle.
• Fator de Correção Z:
Z = Y x 100
A
Z = Porcentagem de células limpas no controle.
A = N° de células com crias operculadas.
Y = N° de células vazias ou limpas contendo crias
operculadas, removidas naturalmente.
Sendo que Y = C-B.
C = N° de células vazias na área de controle, após
a introdução do favo na colônia analisada.
Na área B foi calculado o Fator de Correção “Z”
descrito por Moretto (1993), que corresponde à taxa de
limpeza natural da área, que é subtraído do valor de células removidas na área A.
B = N° de células vazias na área de controle antes
do favo ser introduzido.
A estimativa do valor de Z na área B ou controle é
feita da mesma forma que para a área A, considerando que
as células operculadas não são perfuradas na área controle (B), e as células vazias ou desoperculadas serão contadas 24 horas após a perfuração das células na área A.
Após as três perfurações em cada enxame selecionado calculou-se a média do CH, para a seleção das
melhores matrizes. Nos enxames considerados não higiênicos foi feita a substituição das rainhas, para futuramente se obter linhagens mais higiênicas, formando, assim, um apiário de elite.
O resultado final é considerado somente se o valor
do fator de correção (área B) for igual ou inferior a 10%.
As fórmulas utilizadas para os cálculos de CH e
de Z baseadas nos estudos de Gramacho (1999) foram:
• CH:
CH = CV1 – CV x 100 – Z
CO
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
2.6 Seleção de Matrizes
3. RESULTADOS
Para que uma colônia seja considerada higiênica,
é necessário que o valor do CH seja superior a 80%,
considerando somente o resultado em que o valor do
fator de correção “Z” seja inferior a 10%, e dos 20 enxames analisados, em apenas três enxames não foi possível
a verificação do Comportamento Higiênico.
81
3.1 Avaliação do Comportamento Higiênico
3.1.1 Enxames com o CH inferior a 80 %
tamento higiênico inferior a 80% foram: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,
10, 12, 13, 15, 16 e 17. Estes enxames não foram selecionados para o apiário de matrizes (Fig. 6).
Os enxames que apresentaram o valor do compor-
Fig. 6 - Média do CH em cada enxame não higiênico.
O enxame seis foi o que obteve resultado menos
satisfatório (Fig. 7), sendo o valor da 1ª perfuração de
40,43 %, da 2ª de 59,10% e da 3ª de 45,74%. As abelhas do
enxame seis não são consideradas higiênicas, pois não
removeram mais que 80% das crias afetadas.
Fig. 7 - Perfurações realizadas no enxame 6.
3.1.2 Enxames com o CH superior a 80%
Os enxames considerados higiênicos (Fig. 8) fo-
ram os que obtiveram o valor do comportamento higiênico
superior a 80%, após serem realizadas as três perfurações.
Estes foram selecionados para o apiário de matrizes.
Fig. 8 - Média do CH em cada enxame considerado higiênico.
82
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
3.1.3 Enxame 8
Em duas perfurações o CH foi superior a 90%,
porém, na segunda perfuração, foi de 70,12%, obtendo a
média de 86,33%, portanto essa colmeia é considerada
higiênica, sendo selecionada como matriz.
A média de crias danificadas que foram detectadas e removidas dos quadros analisados foi superior a
80%, e após a remoção das crias, as operárias depositaram alimento, pólen e mel, nas células desoperculadas
(Fig. 9).
Fig. 9 - Perfurações realizadas na caixa 8.
3.1.4 Enxame 9
O enxame nove foi o que obteve o melhor resultado na análise do comportamento higiênico, onde a média
das perfurações foi de 93,39% (Fig. 10), sendo selecionado como matriz. Esta colônia foi a única a apresentar todos
os resultados superiores a 80%, sendo a 1ª perfuração
92,35%, a 2ª perfuração 98,95 % e a 3ª perfuração 88,89%.
Fig. 10 - Perfurações realizadas na caixa 9.
3.1.5 Enxame 11
A primeira e a terceira perfurações obtiveram va-
lores acima de 97%, entretanto, na segunda perfuração, o
valor do CH foi de 70,03 %. A média do CH foi de 89,30%,
sendo considerada uma colônia higiênica (Fig. 11).
Fig. 11 - Perfurações realizadas na caixa 11.
O enxame foi selecionado como matriz, pois as
abelhas detectaram e removeram as crias danificadas em
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
aproximadamente 24 horas.
83
3.1.6 Enxame 14
Na 1ª perfuração realizada o valor do CH foi de 61,24%,
porém na 2ª perfuração foi de 88,04% e na 3ª apresentou
resultado de 92,05%. A média do CH foi de 80,44 %, portanto
esse enxame foi selecionado como uma das matrizes (Fig. 12).
Fig. 12 - Perfurações realizadas na caixa 14.
3.1.7 Enxames 18, 19 e 20
Não foi possível realizar a análise do comportamento higiênico nesses enxames, pois não foram encon-
tradas crias suficientes e na idade correta (entre 10 e 14
dias), sendo encontrada grande quantidade de crias mortas, talvez pelo uso de agrotóxico em plantas polinizadas
por abelhas (Fig. 13)
Fig. 13 - Quadro sem crias suficientes (esquerda), e quadro sem crias na idade correta (direita).
Dos vinte enxames avaliados, apenas 20% foi considerado higiênico, sendo 65% não higiênico, e em 15%
não foi possível realizar o CH (Fig. 14).
Fig. 14 - Análise do CH nos enxames selecionados.
Os enxames que obtiveram a média do CH superior a 80% foram selecionados como matrizes, para a for-
84
mação de um apiário de elite.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
4. DISCUSSÃO
Após a introdução da abelha africana no Brasil, a
apicultura nacional tem apresentado crescente desenvolvimento, pois, através de cruzamentos naturais entre
abelhas européias e africanas, originou-se uma abelha
com características próprias, mas muito semelhantes às
africanas, denomidada abelha africanizada.
O sucesso adaptativo desta abelha foi devido a
alta capacidade de higiene e rápida remoção de resíduos,
larvas, abelhas doentes ou mortas, a maior resistência a
enfermidades e parasitas, alta capacidade defensiva e de
enxameação e rápida dominância genética (SOMMER,
1996). As colônias do presente trabalho com alta capacidade higiênica removeram as crias afetadas em um curto
periodo de tempo, apresentando as características citadas acima por Sommer (1996); considerando que fosse
um patógeno, este seria removido da colmeia sem que
infectasse as crias.
Em consequência desta adaptação, observou-se
que algumas doenças que anteriormente existiam no Brasil foram desaparecendo, porém outras foram
introduzidas, como a Varroatose, mas não causam os
mesmos problemas que afetavam as abelhas europeias.
As abelhas africanizadas têm apresentado resistência a
patógenos e parasitas, através do comportamento higiênico, uma característica genética que foi observada nas
colônias analisadas.
Aumeier, Rosenkranz e Gonçalves (2000) com o
intuito de examinar o significado do comportamento higiênico presente em abelhas africanizadas na tolerância
à Varroatose, comparou estas abelhas com as abelhas
cárnicas no Brasil tropical, onde células de crias
operculadas foram infestadas artificialmente por ácaros
Varroa vivos, e analisadas após alguns dias. Pode-se
observar que as abelhas africanizadas removeram uma
quantidade significativamente maior do que as abelhas
europeias. A abertura da célula e remoção das crias das
abelhas são características independentes de uma resposta graduada por parte de operárias adultas com relação a células de crias infestadas por ácaros.
De acordo com Pires et al. (1996), o valor comportamento higiênico em vinte colmeias de abelhas de origem europeia, situadas em um apiário experimental no
nordeste de Portugal, foi considerado eficaz após um
período de 48 horas, enquanto as abelhas africanizadas,
consideradas adaptadas, com alta capacidade de detectar e remover as crias afetadas em apenas 24 horas, evitando, assim, que o patógeno se manifeste por toda a
colônia.
O comportamento higiênico é a capacidade que
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
as abelhas possuem de detectar e remover as crias mortas, doentes, danificadas ou infestadas por ácaros, e se
manifesta através de dois pares de genes homozigotos,
os genes desoperculador (dd) e removedor (rr). É considerado uma das características comportamentais das
abelhas utilizadas em programas de melhoramento.
Através do CH é que as abelhas realizam um controle biológico da colônia contra agentes infecciosos,
pois conseguem detectar e remover as crias afetadas
antes que a doença possa se desenvolver e ser transmitida para as demais crias, e antes que os sintomas sejam
evidentes para os humanos, impedindo que a colônia
seja afetada.
As abelhas que não possuem os dois pares de
genes homozigotos recessivos conseguem detectar e
remover as crias infectadas, porém somente após a doença se tornar infecciosa, resultando em sua manifestação por toda a colônia. Nesses casos a utilização de produtos químicos para o controle do agente infeccioso se
torna a única saída para os criadores e produtores, resultando assim, na contaminação dos produtos apícolas que
são utilizados pelo homem.
Vários são os métodos utilizados para a análise
do comportamento higiênico, dentre eles, os mais utilizados são o método de congelamento de crias, desenvolvido por Keer et al. (1970), e o método de perfuração de
células crias, desenvolvido por Newton e Ostasiewiski
(1986) e modificado por Gramacho e Gonçalves (1994).
O método de perfuração de células crias foi utilizado por ser eficaz, econômico e de rápida aplicação. Foi
analisado o comportamento higiênico em vinte colmeias
coletadas em abrigos naturais ou não, na região de São
José dos Campos - SP, e constatou-se que apenas 20%
são consideradas higiênicas, por apresentarem o CH superior a 80%.
As perfurações foram realizadas com intervalos
de quinze dias, pois, durante o vôo nupcial, a rainha virgem pode acasalar-se com até dezoito zangões, e durante o acasalamento, que demora menos de cinco segundos, o zangão everte o órgão genital (endófalo) dentro
da rainha. O bulbo do endófalo se quebra e é deixado na
rainha, e evita que o sêmen retorne, mas não evita que
novos cruzamentos ocorram. Os espermatozóides penetram pela vagina, indo localizar-se na espermateca. O sêmen estocado será utilizado na fecundação de óvulos
durante toda a vida da rainha, sendo que uma espermateca
pode conservar em torno de 5,3 a 5,7 milhões de
espermatozóides, e a rainha chega a pôr 2500 ovos por
dia. Há uma troca contínua de material genético, por essa
razão são realizadas de três a cinco perfurações em cada
colônia.
85
Os enxames com CH superior a 80% foram selecionados como matrizes, para futuramente ser formado um
apiário de elite com abelhas Apis mellifera, que sejam
consideradas higiênicas, para evitar o aparecimento de
patógenos e parasitas, tendo assim colônias saudáveis e
populosas, aumentando a produção.
De acordo com Santos, Carvalho e Silva (2004), os
produtos quimioterápicos (antibióticos, ácidos, etc.) podem
ter efeitos tóxicos, iatrogênios e residuais acumulativos, especialmente os antibióticos. Ainda podem deixar resíduos
que interferem no metabolismo normal das abelhas e permanecem no mel e em outros produtos.
É necessário o manejo adequado e a seleção de
abelhas que possuem os genes do Comportamento Higiênico, evitando o uso de substâncias quimioterápicas e
consequentemente a contaminação dos produtos produzidos pelas abelhas e utilizados pelo homem.
Através da aplicação do método de perfuração de
células crias foi possível analisar o Comportamento Higiênico das abelhas africanizadas, e selecionar as colônias com
o valor do CH superior a 80% para um apiário de matrizes,
onde haverá somente colônias consideradas higiênicas,
capazes de detectar e remover crias infectadas por patógenos
e parasitas, tornando-a saudável e populosa.
5. CONCLUSÕES
Dos vinte enxames avaliados, apenas 20% foram
considerados higiênicos, sendo 65% não higiênicos, e
em 15% não foi possível realizar o CH, sendo assim, podese verificar a necessidade de uma aplicação sistemática
do método de mapeamento do Comportamento Higiênico, assim como a seleção das colmeias com o valor do
CH superior a 80%, substituição das rainhas nas colmeias com o valor do CH inferior a 80 % e formação do
apiário de matrizes com colônias higiênicas.
Através da aplicação do método de perfuração de
células crias é possível analisar o Comportamento Higiênico das abelhas africanizadas, e selecionar as colônias com o
valor do CH superior a 80% para um apiário de matrizes,
onde haverá somente colônias higiênicas, mais populosas
e saudáveis, aumentando gradativamente a produção.
6. AGRADECIMENTOS
A Universidade do Vale do Paraíba pela oportunidade. Ao Sr. José Evaristo Merigo pela autorização para
o desenvolvimento da pesquisa no Núcleo de Apicultura (NAU) e à Profa. Terezinha de Fátima Nogueira pela
revisão do abstract.
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87
Piloto Automático para Ônibus: uma realidade brasileira
Mauricio Micoski *
Leopoldo R. Yoshioka **
Renato D. Costa **
Landulfo Silveira Júnior ***
Antonio S. Teixeira Júnior ****
Resumo: A guiagem magnética é um sistema de controle, desenvolvido no Brasil, para ser usado em
corredores dedicados a trânsito rápido. A tecnologia pode ser aplicada a qualquer tipo de veículo
e permite diminuir os desvios laterais, em marcha, dos veículos, permitindo usar pistas menos
largas. O sistema é contido em trilho magnético, constituído por imãs implantados na pista, a cada
2m e controlado por sensores colocados no ônibus, para manter o veículo controlado, centrado e
alinhado. O sistema não foi totalmente terminado em São Paulo por decisão da administração
pública municipal.
Palavras-chave: Guiagem magnética, imãs na pista, sensores no ônibus.
Abstract: The Magnetic Guidance System - MGS - is a control system, developed in Brazil, for use in
urban bus corridors known as “BRT - Bus Rapid Transit Corridors”. MGS technology can be
applied to any kind of vehicle and aims to minimize the lane width (thus diminishing the expropriate
costs and urban space impact), to raise the transport capacity (through the increase of the average
speed), and to improve passenger accessibility (because the MGS stops in a uniform and small
distance from the bus platform in a repetitive fashion during all the operation time, procedure
known as “Precision Docking”). In the current stage, MGS does the lateral guidance of the vehicle
and the human driver controls the speed using the conventional accelerator and brake pedals.
When the lateral automatic guidance is active, MGS controls the steering system of the vehicle using
a magnetic track as reference (the magnetic track is a sequence of discrete magnets spaced from 1m
to 2m in the pavement). Thus, MGS’s function is to maintain the vehicle centered and aligned, within
a tolerance margin, to the magnetic track. This work gives a general view about the developed
technology and the practical results achieved with MGS. The system is not in operation in São
Paulo because the public administration of the city decided not to conclude the Project.
Key words: Magnetic guidance, magnets on the pavement, sensors on buses.
1. INTRODUÇÃO
*
Graduado em Engenharia de Eletrônica pelo ITA,
com especialização em Engenharia de Software pela
UNICAMP e Mestrado em Engenharia Eletrônica
e Computação pelo ITA.
** Graduado em Engenharia de Eletrônica pelo ITA,
Mestrado e Doutorado em Engenharia Eletrônica
pelo Tokyo Institute of Technology.
*** Graduado em Engenharia de Eletrônica pelo ITA e
Mestrado em Engenharia Eletrônica pelo ITA.
**** Bacharel e licenciado em Matemática pela USP,
Pós-graduado em Física pela USP e Doutor em Ciências pela UNITAU/Conselho E. Educação.
88
O congestionamento do trânsito nas grandes cidades tem se tornado um tema recorrente. No entanto,
ainda não se encontrou uma solução eficaz para a resolução dessa questão.
Diante desse cenário, os corredores expressos de
ônibus, também conhecido pela sigla BRT (Bus Rapid
Transit), com a incorporação do Piloto Automático nos
ônibus, utilizando sistema de guiagem automática, vem
ganhando evidência nos países da Europa e nos Estados Unidos da América (SHILADOVER, 2007).
No Brasil, a tecnologia de guiagem automática,
baseada no sensoriamento magnético, está em desenvolvimento desde 2003, e atualmente encontra-se em fase
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
de certificação da tecnologia.
No caso do metrô, as composições se movimentam
sobre os trilhos de aço. No novo sistema, os ônibus se
guiam automaticamente através de um trilho virtual. O trilho virtual é na verdade uma fileira linear de ímãs permanentes instalados abaixo da superfície da via. O ônibus
possui sensores especiais que fazem a leitura dessa trilha
magnética, e um computador de bordo, baseado nessa
informação, controla a direção do veículo. O condutor
continua presente no veículo, passando a cuidar apenas
da velocidade (aceleração e frenagem), deixando a manobra de direção por conta do Piloto Automático (ZHANG et
al., 2007; CHAN, 2002; CHAN, 2003; TAN; BOUGLER,
2000; GULDNER; TAN; PATWARDHAN, 1997).
O presente artigo aborda as tecnologias envolvidas na implementação do piloto automático em ônibus, e
apresenta os resultados já obtidos em um corredor de
ônibus em São Paulo.
2. OPERAÇÃO DO SISTEMA
O Piloto Automático é um sistema embarcado que
assume o controle de direção do veículo, substituindo a
função do motorista, passando a realizar manobras de
aproximação e parada nas plataformas de embarque e
desembarque, bem como o deslocamento do veículo entre as paradas. Esse tipo de sistema é também conhecido
como Sistema de Guiagem Automática.
O veículo poderá operar em três modos distintos,
sendo eles: manual, semi-automático e automático. O
modo manual refere-se à maneira convencional em que o
próprio motorista controla o veículo. No modo semi-automático o sistema controlará a direção do veículo
(guiagem lateral) sendo que a velocidade (aceleração e
frenagem) continua sendo controlada pelo motorista. No
modo automático tanto o controle da direção como a
velocidade será realizada pelo sistema (guiagem lateral e
longitudinal). Nesse artigo a abordagem é limitada à
guiagem no modo semi-automático.
Para que o sistema de guiagem magnética funcione é necessário que a via seja marcada com identificadores
físicos de referência de posição. Diferentemente dos trilhos de trens ou de metrôs esses identificadores não
criam barreiras mecânicas na via, pois são feitos de pequenos blocos de ímãs nela enterrados, ou são faixas de
pintura rodoviária, dependendo do dispositivo de
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
sensoriamento que pode ser magnético ou ótico. Nesse
artigo trataremos especificamente do sensoriamento magnético.
Considerando inicialmente o veículo em modo
manual, seu posicionamento e deslocamento inicial caberão ao motorista, para que o sistema detecte o conjunto inicial de ímãs, permitindo ao computador de bordo
calcular a posição lateral e o ângulo do veículo em relação ao eixo longitudinal centralizado em relação à via.
Assim, após a leitura e processamento dos primeiros
marcadores magnéticos, o sistema avisa o motorista, através de um terminal visual de informação (TVI), que está
pronto para guiar o veículo. Então o motorista aciona
uma chave de comutação, localizada do lado esquerdo
do painel, que passará o controle do sistema de direção
para o Piloto Automático. A partir de então o motorista
retirará a mão do volante (hands free) preocupando-se
somente com o controle de aceleração e frenagem do
veículo. O TVI informará ao motorista o estado da guiagem
através de barras verticais de sinalização de desvio lateral e de apresentação de mensagens. Em caso de necessidade o sistema sinalizará, através do TVI e de um alarme sonoro, que o motorista deverá reassumir o controle
de direção do veículo. O motorista deverá acionar a chave de comutação e retomar o controle total do veículo.
O Piloto Automático permite que a manobra de
acostamento do ônibus na plataforma de parada seja feita de forma extremamente precisa e repetitiva. Pode-se
programar o sistema para que o espaçamento entre as
laterais do veículo e a plataforma seja da ordem de centímetros, dependendo das características da carroceria e
da plataforma. O acostamento preciso (desvios menores
que 1cm) e o nivelamento da altura da plataforma associado à utilização de ônibus de piso baixo (low-floor) permitem que o embarque e o desembarque dos passageiros
seja feito de forma ágil e confortável, facilitando, inclusive, o acesso aos portadores de deficiências visual e
motora (Decreto Federal No. 5296 de dezembro de 2004:
Lei da Acessibilidade aos portadores de deficiência
(BRASIL, 2004). A rapidez no embarque e desembarque
dos passageiros e o menor tempo necessário para as
manobras de acostamento e partida das paradas permitem aumentar significativamente a capacidade
operacional de um corredor. Um estudo realizado num
dos corredores de São Paulo verificou que o aumento da
capacidade operacional, em função da redução do
espaçamento lateral na parada (variação de 10cm a
100cm), pode chegar a 30%.
89
Fig. 1 - Ônibus com Piloto Automático trafega em corredor de ônibus de São Paulo.
Outro fator que deve ser considerado na utilização do Piloto Automático é a capacidade de seguir uma
rota pré-definida com desvios laterais muito pequenos,
inferiores a 5cm ao longo do trajeto entre as estações.
Isso permite que a largura da pista de rolamento do corredor seja a largura do ônibus (aproximadamente 255cm)
mais uma pequena folga em ambos os lados. O
estreitamento dos corredores permitiria melhor aproveitamento do viário além de reduções nos custos de desapropriações e pavimentação. Deve-se salientar ainda que
o tráfego contínuo em vias estreitas acarreta o acúmulo
de estresse no motorista do ônibus.
Fig. 2 - Manobra de acostamento na parada do ônibus
com Piloto Automático.
Fig. 3 - Espaçamento lateral reduzido facilita o
embarque e desembarque de passageiros.
90
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Fig. 4 - Piloto Automático permite que o ônibus trafegue em corredores estreitos.
3. ARQUITETURA DO SISTEMA
ao eixo dianteiro do veículo.
Serão descritos a seguir os principais componentes do sistema de guiagem magnética - SGM.
Os magnetômetros medem os campos magnéticos
nas vizinhanças de seus sensores e disponibilizam os valores lidos aos módulos de entrada analógica do Sistema
Computacional. Esses valores são digitalizados e transmitidos, através da rede CAN, para o computador de Guiagem,
que calcula o desvio lateral da frente do ônibus com relação aos ímãs que formam a trilha magnética, informação
essa usada para controlar a direção do veículo.
3.1 Sistema computacional
O sistema embarcado é construído em torno de um
sistema computacional distribuído, cujos componentes
principais são o Computador de Guiagem, a Rede CAN
(Controller Area Network) e os Módulos Periféricos.
3.3 Atuador de direção
A inteligência do Sistema Computacional encontra-se concentrada no Computador de Guiagem, que se
comunica diretamente com a Leitora de Identificação de
Trechos, o Terminal de Manutenção e o Computador de
Supervisão.
A comunicação do Computador de Guiagem com
os demais módulos constituintes do SGM Embarcado é
feita através de uma rede de comunicação de dados CAN.
Completam o Sistema Computacional diversos
módulos periféricos, que cumprem as funções de Entrada
/ Saída Digital, Entrada Analógica e Contador de pulsos.
Estes dispositivos fazem uso da rede CAN para
se comunicarem com o Computador de Guiagem.
3.2 Sensoriamento magnético
O SGM Embarcado conta com um conjunto de
magnetômetros cujos sensores são montados próximo
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Quando em guiagem automática, o SGM atua mecanicamente sobre o eixo da direção do veículo. Essa
ação é feita através de um atuador de direção, que se
conecta diretamente à Rede CAN, de onde recebe os
comandos de esterçamento emanados do computador
de guiagem.
O motorista comanda a comutação do modo de
guiagem lateral para Manual ou Automático através do
Acionador Manual / Automático. O estado do acionador
é lido por entradas digitais de um módulo periférico de
entradas e saídas digitais. Uma saída digital desse mesmo módulo periférico é usada para comandar o atuador
através do Acionador Manual / Automático, de forma tal
que o atuador é acoplado ao eixo de direção apenas quando o Computador de Guiagem aceita um comando do
motorista de colocação em modo Automático. Já o
desacoplamento ocorre imediatamente após o motorista
comandar a colocação em modo Manual, independentemente da confirmação do Computador de Guiagem.
91
3.4 Identificação de trechos
3.8 Suprimento de energia
Outra das funções do SGM é a identificação de
trechos que faz uso de etiquetas eletrônicas instaladas
na via e de uma antena e leitora de etiquetas instaladas
no veículo.
Todo o SGM Embarcado recebe alimentação elétrica suprida por um sistema de suprimento de energia
próprio. O estado da alimentação elétrica é supervisionado pelo Computador de Guiagem.
A identificação de trechos também pode ser feita
através da codificação dos ímãs da trilha magnética.
3.9 Cabos de interconexão
O SGM faz uso da informação de trecho para requisitar ao controlador de velocidade do veículo a aplicação de limites de velocidade e a aplicação de
sobretorque estabelecidos em cada trecho.
A interconexão entre os diversos módulos do SGM
é feita através de cabos de alimentação e de sinais (blindados). Os conectores são de fabricação especial para suportar as condições operacionais de um ônibus urbano.
3.10 Software de guiagem
3.5 Hodômetro
O SGM conta com um hodômetro que gera pulsos
elétricos que são lidos por um contador de pulsos, fornecendo diretamente a informação de distância percorrida e,
indiretamente, de velocidade do veículo. O hodômetro é
instalado no eixo do motor elétrico de tração.
3.6 Sensor de esterçamento
O SGM conta ainda com um sensor de
esterçamento para medir o ângulo de esterçamento das
rodas dianteiras do veículo. O sensor de esterçamento é
fixado no braço Pitman a fim de se obter imediatamente a
resposta do atuador. Circuitos diferenciais e filtros
condicionam o sinal.
As funções do SGM são controladas por software.
O software do sistema computacional é constituído de
Sistema Operacional de Tempo Real, Software de Guiagem
e Software do Terminal de Manutenção.
As principais funções do software de guiagem
são: aquisição de dados de sensoriamento magnético;
aquisição de dados de sensores de esterçamento e
hodômetro; leitura dos sinais de marcação de trecho (etiquetas eletrônicas ou códigos dos ímãs da trilha magnética); processamento dos sinais de sensoriamento;
processamento do algoritmo de guiagem; controle do
atuador de direção; comunicação com computador de
supervisão.
4. DETECÇÃO DO DESVIO LATERAL
3.7 Painel de indicações
O estado do SGM é informado ao motorista através
de um Painel de Indicações. O painel, instalado em local de
fácil visualização e protegido da incidência direta de luz
solar, é constituído de lâmpadas que permitem ao motorista
tomar conhecimento do estado operacional do sistema de
guiagem. Além de indicações visuais existe também um alarme sonoro que auxilia a percepção do motorista.
Os ímãs da trilha magnética são instalados a cada
2m no pavimento da via, rente ao solo. Os
magnetômetros, instalados sob o ônibus próximos ao
eixo dianteiro passam a uma altura de aproximadamente
30cm. Uma placa de blindagem magnética atenua as interferências do veículo sobre as medições dos
magnetômetros. A disposição destes elementos no ônibus é ilustrada na Fig. 6.
Fig. 5 - Painel de Informação de Guiagem.
Fig. 6 - Instalação dos ímãs e dos magnetômetros.
92
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
O SGM executa 200 amostras por segundo dos
cinco magnetômetros. O espaçamento lateral entre as
amostras é dado pela distância entre os magnetômetros.
O espaçamento longitudinal é dado pela distância percorrida entre amostras. A 54km/h, pouco acima da velocidade máxima de 50km/h do corredor, este espaçamento é
de 7.5cm. Em velocidades menores, este espaçamento é
menor. Assim, na velocidade máxima de operação, uma
grade horizontal de amostras é criada, como ilustrado na
Fig. 7, que mostra o percurso dos cinco magnetômetros
(mag0 a mag4) ao longo da direção y, que é a direção de
movimento do ônibus. Nesta figura, o campo gerado pelo
ímã é mostrado como linhas de nível circulares, mostrando o campo constante ao redor do ponto em que o ímã
está instalado. A região máxima de influência do ímã é da
ordem de 0.44m ao redor de seu ponto de instalação.
medição; µ0 a constante de permeabilidade magnética
(1.26 x 10-6 ou 4π x 10-7 H/m) e M é o momento de dipolo
magnético (A.m2).
A Fig. 8 mostra o perfil de campo visto por três
magnetômetros com diferentes desvios laterais em relação ao ímã.
Ao campo do ímã, mostrado nas Figs. 7 e 8, somase o campo terrestre ambiente que, dependendo do local
da operação, pode ser aproximadamente constante ou extremamente variável. O SGM foi testado em diversas condições de interferência magnética em São José dos Campos e no Corredor Expresso Tiradentes em São Paulo.
Fig. 8 - Perfil de campo para 3 deslocamentos laterais.
Fig. 7 - Grade de medição do campo magnético e região
de influência do ímã.
Na pista de testes do campus da Univap em São
José dos Campos, operou-se sobre pavimento composto por bloquetes intertravados e sem ferragem. O campo
ambiente, mostrado na Fig. 9, mostrou-se extremamente
constante.
O campo mostrado na Fig. 7 é o campo teórico,
calculado a partir da equação (1) abaixo, que pode ser
encontrada em Dennison (2008). Por medida de conveniência, os valores de campo magnético foram normalizados
em relação ao ímã padrão usado no projeto.
Bz = k * (3 * cos 2 θ − 1) / l 3
(1)
Fig. 9 - Campo ambiente na pista de São José dos Campos.
onde
k = µ 0 * M /(4 * π )
(2)
Nas equações (1) e (2), Bz é o campo magnético no
ponto de medição, na direção do eixo do ímã, em Gauss;
θ é o ângulo entre o eixo do ímã e a reta que liga o ímã ao
ponto de medição; l a distância entre o ímã e o ponto de
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
No Corredor Expresso Tiradentes operou-se em
duas condições de pavimento e interferência distintas.
No primeiro trecho, com pavimento composto por concreto com ferragem embutida, o campo ambiente medido
apresentou interferências conforme mostrado na Fig. 10.
Nesse caso observam-se variações importantes, com interferências de 10% a 30%, sendo em alguns pontos comparáveis ao campo gerado pelos ímãs.
93
No segundo trecho, com pavimento composto por
placas de concreto armado com ferragem embutida, instalado sobre vigas “I” de aço apoiadas por colunas de
concreto armado, o campo ambiente apresentou interferências significativas como é mostrado na Fig. 11. Neste
caso, as variações são extremas, sendo em grande parte
dos pontos, comparáveis ou superiores ao campo gerado pelos ímãs instalados na pista.
Fig. 10 - Campo ambiente do corredor, trecho 1.
Para a operação correta do SGM, foram selecionados dois tipos de ímãs: o tipo 1 a ser utilizado em locais
de baixa interferência; o tipo 2, de maior intensidade, a
ser utilizado em locais de alta interferência
A Fig. 12 mostra um trecho da trilha de ímãs instalada na pista sem ferragens. A Fig. 13 mostra a leitura do
mesmo trecho da Fig. 10 após a instalação da trilha de
ímãs. A Fig. 14 mostra as simulações de ímãs do tipo 2
instalados no trecho registrado na Fig. 11.
Fig. 11 - Campo ambiente no corredor, trecho 2.
O processamento dos dados da grade de amostras, tratado em detalhes em trabalho anterior, é feito em
duas etapas: processamento longitudinal e
processamento lateral.
4.1 Processamento longitudinal
Fig. 12 - Campo com imãs instalados no trecho da Fig. 9.
Nesta etapa, o SGM busca identificar a passagem
por um ímã. A identificação do ímã é feita comparando o
perfil lido pelos magnetômetros com o perfil teórico esperado através de uma ferramenta matemática de correlação que produz um valor alto quando o perfil amostrado
é semelhante ao perfil esperado e ambos estão na mesma
posição, o que elimina grande parte das variações observadas nas Figs. 10 e 11. Uma segunda filtragem, feita a
partir da distância conhecida entre ímãs, elimina os picos
do campo que passaram pela correlação, isto é, os que se
parecem com ímãs.
4.2 Processamento lateral
Fig. 13 - Campo com imãs instalados no corredor, no
trecho da Fig. 10.
Uma vez determinada a posição do pico de campo
gerado por um ímã, as leituras dos magnetômetros nesta
posição são usadas para compor um perfil lateral do campo. A correlação é então novamente usada para determinar qual deslocamento lateral, em relação ao
magnetômetro central, produz o máximo resultado. Este
deslocamento da máxima correlação é o desvio lateral.
5. CONTROLE
Do ponto de vista do controle, o ônibus com o
SGM pode ser descrito a partir do diagrama de blocos da
Fig. 15 e seus elementos são descritos a seguir.
Fig. 14 - Simulação do campo com os ímãs no corredor, no trecho da Fig. 11.
94
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
5.1 A planta
Como a operação do ônibus ocorre com acelerações laterais baixas, um modelo geométrico pode ser usado
para representá-lo. A Fig. 16 mostra seus elementos principais.
Fig. 15 - Diagrama em blocos do sistema do ponto de
vista do Controle.
ral x) a partir do esterçamento α imposto ao volante bem
como o esterçamento a ser executado para produzir uma
variação desejada no desvio lateral.
5.2 Os sensores
Há três sensores disponíveis no SGM, que medem o desvio lateral x, a distância percorrida y e o
esterçamento α. Além deles, o conhecimento prévio da
trilha funciona como um sensor de curvatura ρ. O desvio
lateral é medido a partir do processamento dos sinais
dos magnetômetros. A distância percorrida é medida através de um encoder instalado no eixo de tração e um contador de pulsos. O esterçamento é o efetivamente assumido pelas rodas, a partir de um sensor instalado no braço Pitman, que liga a caixa hidráulica aos pneus. Como
não é possível um ajuste mecânico perfeito e sem folgas
do esterçamento zero (que faz o ônibus andar reto à frente), apenas as variações no esterçamento informado pelo
sensor são usadas pelo controle. A curvatura é obtida
pelo sistema a partir do conhecimento prévio do caminho a ser percorrido e de codificações inseridas na alteração da polaridade dos ímãs na trilha.
5.3 O atuador
Fig. 16 - Elementos do Modelo Geométrico da Planta.
Na Fig. 16, a Trilha é a referência para a medição
do movimento; x é a distância lateral medida da trilha até
o veículo, na direção perpendicular ao corpo do veículo,
que é o valor medido pelos sensores (magnetômetros);
de é a distância entre o eixo dianteiro e o traseiro; Ψé o
ângulo horizontal entre o corpo do veículo e a trilha; α é
o esterçamento do pneu dianteiro, que é o ângulo entre o
corpo do ônibus e a direção para onde o pneu dianteiro
está apontado; e ρ é a curvatura da trilha, dada pelo inverso do raio da circunferência tangente àquele local.
Uma reta tem ρ = 0, ou seja, sua curvatura é zero.
Considerando as hipóteses auxiliares de ângulos
pequenos dadas por α < 6º e Ψ < 8º, as equações de
movimento do modelo geométrico podem ser escritas em
sua forma linear, dadas abaixo:
É composto por um servo-motor conectado à barra de direção do ônibus (que liga o volante à caixa hidráulica), capaz de posicioná-la no ângulo comandado
pelo controle. O conjunto do atuador mais a caixa hidráulica do ônibus apresenta um atraso na execução do comando de esterçamento, dado por:
Tat = Tini + ∆α/ω
(4)
onde Tat é o tempo de atraso, Tini o tempo para o início
do movimento do esterçamento após o comando, ∆α o
esterçamento comandado e ω a velocidade angular da
execução do comando. O atraso tem implicações importantes na estabilidade do sistema, uma vez que ele tem
valor próximo ao tempo gasto pelo ônibus para percorrer
a distância entre dois ímãs nas velocidades da operação
urbana.
5.4 O controlador
A lei de controle usada no SGM é deduzida a partir de (3) como o valor de α que anula o desvio lateral
atual, x, em uma certa distância à frente, chamada ∆yc.
(3)
(5)
Com as equações (3) é possível determinar o comportamento do ônibus (isto é, a evolução do desvio lateRevista UniVap, v.16, n.28, 2010
onde x, α e ρ são as grandezas lidas a partir dos sensores
e Ψé um valor estimado, através de um filtro de Kalman,
95
a partir das equações (3) e das medidas de x, y, α e ρ, na
forma descrita em Welch e Bishop (2006). Uma vez que o
sistema (3) é composto por 2 equações e 5 variáveis, as 4
medidas são suficientes para calcular o estado do ônibus e determinar Ψ.
Os valores de Kx, Ki, KΨ e Kρ na lei de controle (5)
são constantes que dependem de um parâmetro ∆yc que
pode ser ajustado para sintonizar a operação do
controlador. Valores muito grandes de ∆yc tornam a resposta do controlador mais lenta e tendem a produzir desvios laterais maiores. Por outro lado, valores muito pequenos de ∆yc tendem a produzir instabilidade no sistema, porque o próximo comando tende a acontecer antes
do pneu ter terminado o posicionamento determinado
pelo comando anterior. Assim, o valor escolhido para
∆yc é o menor que garanta uma operação estável do
sistema.
5.5 Estabilidade
A análise de estabilidade é feita usando o Espaço
de Estados, descrito em Ogata (1985). Para isso, os modelos do ônibus e do controle são escritos em forma de
equações de diferenças e traduzidos em uma equação
matricial do tipo [Xk+1] = [G]*[Xk], onde [Xk] é o vetor
estado do sistema em malha fechada no ímã k.
Os autovalores de [G] têm duas propriedades de
interesse para esta análise: 1) a estabilidade do sistema é
garantida se os autovalores de [G] têm módulo menor
que 1 e 2) os autovalores de [G] são os polos da resposta
do sistema e a análise do módulo e ângulo de sua forma
polar permite calcular o tempo de atenuação em termos
do período de oscilação. Isto permite estabelecer uma
segunda condição para a estabilidade do sistema, que
deve atenuar suas oscilações em um tempo menor que o
período de oscilação. Dado um autovalor complexo na
forma polar
, o período de atenuação a 10%
do valor inicial Tat e o período de oscilação Tosc são
calculados como:
ção de qual é o esterçamento médio executado entre estes dois pontos. Como as mudanças de esterçamento
são comandadas a partir da passagem pelos ímãs e o
atuador apresenta um atraso na execução, o esterçamento
médio entre dois ímãs é uma média ponderada entre o
esterçamento antes do primeiro ímã e o novo
esterçamento comandado a partir dele. Os pesos desta
média são calculados a partir da velocidade e do atraso
do atuador. Dependendo da velocidade, os comandos
de esterçamento podem demorar mais que a chegada do
próximo ímã para serem executados. Assim, a análise de
estabilidade definiu duas situações: operação em velocidades baixas, abaixo de um limiar Vc, em que a execução
do comando de esterçamento a partir do ímã k acontece
entre os ímãs k e k+1 e velocidades altas, acima do limiar
Vc, onde a execução do comando de esterçamento a partir do ímã k acontece entre os ímãs k+1 e k+2. Estas
duas situações cobrem toda a faixa de operação prevista
para o veículo. O valor de Vc é calculado a partir do
atraso do atuador e da distância entre ímãs.
Assim, a análise de estabilidade resulta no cálculo de ∆yc,min e ∆yc,otimo para a faixa de velocidades de
interesse, observando o limiar Vc. A Fig. 17 mostra os
resultados destes cálculos. Os limites da estabilidade
foram testados em uma situação práticas: fixando o valor
∆yc=6m e aumentando continuamente a velocidade do
ônibus em modo automático (guiado pelo SGM), o sistema operou de forma suave em velocidades baixas e apresentou tendências a oscilações laterais a partir de 50km/
h. Analisando pela Fig. 17, ∆yc=6m atende ambos os
requisitos de estabilidade até V≈ 35km/h. Com V=50km/h
∆yc=6m já está bem abaixo de ∆yc,otimo e está quase
ultrapassando o limiar de ∆yc,min.
(6)
(7)
Com isso, dois valores de ∆yc são gerados a partir das condições de estabilidade: ∆yc,min representa o
mínimo valor que não gera autovalores com módulo maior ou igual a 1. ∆yc,otimo representa o mínimo valor que
garante todas oscilações atenuadas no primeiro período.
A matriz [G] define o comportamento do ônibus
ao viajar de um ímã para outro, o que demanda a defini-
96
Fig. 17 - Curvas de estabilidade do ônibus controlado.
6. SEGURANÇA
A análise de segurança do SGM foi feita com base
na norma IEC-61508, empregada para definição e alocação
dos requisitos de segurança de um sistema de guiagem
magnética de ônibus urbanos, incluindo as atividades
de concepção e projeto específicas do ciclo de vida de
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
segurança, envolvendo as etapas Conceito de Segurança, Escopo da Segurança, Análise de Perigos e Riscos,
Requisitos Globais de Segurança e Alocação de Requisitos de Segurança. Destacam-se na metodologia adotada
a aplicação do princípio da Controlabilidade para determinação dos riscos do sistema, e o papel relevante exercido pela técnica FTA (Fault Tree Analysis).
A norma IEC 61508 adota uma abordagem baseada em risco para a determinação dos níveis de integridade de segurança requeridos para as funções de segurança de um sistema. Ela orienta como proceder para reduzir
os riscos associados ao sistema abaixo de um risco tolerável, definido genericamente como o risco aceito em um
determinado contexto tomando-se por base os valores
correntes da sociedade (Carneiro et al., 2008). Foge ao
escopo da norma, no entanto, a especificação do risco
aceitável para cada um dos setores de aplicação (setor
automotivo, no caso presente), tarefa atribuída aos comitês técnicos responsáveis por cada um desses setores. No caso do SGM, a determinação do risco tolerável
foi feita pela aplicação do conceito de Controlabilidade,
especificamente desenvolvido para o setor automobilístico pelo projeto DRIVE Safely e posteriormente adaptado e aprimorado por uma série de trabalhos, permitindo
associação entre as categorias de controlabilidade e os
níveis de integridade de segurança SIL, conforme definidos na norma IEC 61508, a que os riscos devem ser reduzidos. Similar, ainda que não idêntica, à classificação dos
perigos associados a aeronaves, a Controlabilidade tem
as características necessárias para o setor automotivo:
independência das condições de tráfego, leva em conta
a possibilidade de reação do motorista à ocorrência do
perigo e é independente do número de unidades em circulação. As cinco categorias de controlabilidade são
dadas a seguir:
Categoria 4: Incontrolável - Relaciona-se a falhas cujos efeitos não são controláveis pelos ocupantes
do veículo e que podem levar, muito provavelmente, a
resultados extremamente graves. O resultado não pode
ser influenciado pela ação humana.
Categoria 3: Difícil de Controlar - Relaciona-se
a falhas cujos efeitos não são normalmente controláveis
pelos ocupantes do veículo mas que poderiam, sob circunstâncias favoráveis, ser influenciados por uma ação
humana madura. Levarão, muito provavelmente, a resultados muito graves.
Categoria 2: Debilitante – Relaciona-se a falhas
cujos efeitos são usualmente controláveis por uma ação
humana sensata e, apesar de haver uma redução na margem de segurança, esperam-se normalmente resultados
que são, no pior caso, graves.
Categoria 1: Distração - Relaciona-se a falhas
que produzem limitações operacionais, mas uma ação humana normal limitará o resultado a, no pior caso, prejuízos menores.
Categoria 0: Perturbação Somente - Relacionase a falhas onde a segurança não é afetada, e onde a
satisfação dos usuários é a consideração principal.
A Tabela 1 apresenta a associação entre as categorias de Controlabilidade e os correspondentes níveis
de integridade de segurança correspondentes ao risco
tolerável, conforme definidos na norma IEC 61508. Na
coluna central são apresentadas as faixas de probabilidade de ocorrência de falhas inseguras associadas aos
SIL correspondentes, conforme a norma IEC 61508.
Tabela 1 - Controlabilidade e SIL
O ciclo de vida do projeto do SGM é representado na Fig. 18, onde são destacadas, no retângulo inferior,
as atividades específicas do ciclo de vida de segurança.
Uma vez definidos o Plano, o Conceito e o Escopo de Segurança, a análise de perigos e riscos determinou os perigos relacionados ao SGM, as sequências de
eventos que podem levar a eles e os riscos a eles associados. A determinação dos perigos associados ao SGM
foi feita através de uma série de reuniões com a participação de especialistas de diversas áreas, as quais levaram
à conclusão de que os perigos relevantes para a segurança funcional do SGM são aqueles, provocados pelo
SGM ou por ele exacerbados, que podem levar aos seguintes eventos perigosos: choque do veículo com outros veículos, com laterais da pista de rolamento, com
equipamentos urbanos ou outros objetos; atropelamento de pedestres; tombamento do veículo. A síntese das
causas básicas desses eventos leva à identificação de
três perigos:
- Saída da Faixa – o SGM, quando, no modo
Auto, leva o ônibus a sair de sua faixa de rolamento.
- Impede Manual – o SGM, quando, no modo
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
97
Auto, impede ou dificulta que o motorista assuma o controle da direção.
- Interferência - o SGM, quando, não no modo
Auto, interfere sobre o sistema de direção do veículo,
dificultando a ação do motorista.
A análise destes perigos e suas implicações para
o sistema levou à definição das Funções de Segurança,
listadas na Tabela 2, cuja implementação garante que as
fontes dos perigos permaneçam dentro da faixa de
Controlabilidade desejada.
segurança, o passo seguinte foi o de alocação desses
requisitos a componentes de hardware e software. Para
cada função de segurança foi estabelecido um diagrama
de contexto que foi, em seguida, submetido a decomposição funcional, sendo evidenciados módulos de
hardware e software que, em conjunto, pudessem
implementá-la. Este processo levou à especificação dos
requisitos de segurança a serem levados em conta pela
arquitetura e pelo projeto detalhado do sistema, entre os
quais destacam-se a especificação de acréscimos e alterações de hardware, a especificação de funções
implementadas por software e a identificação da necessidade de medidas para aumento da imunidade contra EMI.
Uma vez estabelecido um conjunto de funções de
Fig. 18 - Ciclo de vida do projeto incluindo atividades de segurança.
Tabela 2 - Funções de segurança
98
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
6.1 Acréscimos ou alterações de hardware
Função 2 - Software de detecção de alteração do
perfil magnético, com SIL 3.
Aqueles definidos pela análise de segurança foFunção 3 - Software central AUTO OK, com SIL 3.
ram:
Medida 1 - Contactor, comandado por software,
permitindo cortar a alimentação do servomotor. Deve ser
comandado por módulo remoto de E/S distinto do que
comanda o acoplamento da embreagem.
Medida 2 - Tomar medidas adicionais contra curtos-circuitos entre condutores ou entre blocos terminais
nos circuitos de comando da embreagem e de corte de
alimentação do servomotor.
Medida 3 - Duplicação do hodômetro e do contador de pulsos, sendo desnecessário o uso de módulos
remotos de E/S distintos.
Medida 4 - Redundância de magnetômetros, usando 5 magnetômetros ao invés de 3, que é o mínimo para a
detecção da trilha.
Medida 5 - Módulo Controlador AUTO OK, com
SIL 2. O estado seguro correspondente a indicador AUTO
OK apagado.
Medida 6 - Batentes mecânicos ou fins de curso.
Medida opcional, e apenas para grandes raios de curvatura.
Além de apontar a necessidade das medidas
listadas acima, o trabalho desenvolvido durante essa etapa mostrou ser desnecessária, ao contrário do que se
imaginava até então, a redundância do computador que
hospeda as funções de segurança implementadas por
software. Isso permitiu, no projeto de arquitetura, alocar
as funções vitais do sistema a um computador chamado
de Computador Vital e as funções não vitais a um outro
computador, chamado de Computador Não Vital. Uma
das vantagens dessa separação é a diminuição da complexidade do software que deve ser desenvolvido com
SIL 3. Além disso, ganhou-se flexibilidade no desenvolvimento do software do computador não vital, passando
a ser possível o uso de ferramentas mais poderosas e o
oferecimento de recursos mais sofisticados aos usuários
do sistema.
Função 4 - Software limitador de taxa de variação
e de amplitude do ângulo de esterçamento, com SIL 2.
Função 5 - Software de detecção de comando
invariável, com SIL 2.
Função 6 - Software de controle (protegido contra comando brusco), com SIL 1.
Função 7 - Software de verificação do ângulo das
rodas, com SIL 1.
Função 8 - Software de supervisão do servomotor,
com SIL 1.
Função 9 - Software de detecção de desvio maior
que o projetado, com SIL 1.
Função 10 - Software de detecção de comando
errático, com SIL 1.
Função 11 - Software de detecção de falha de
leitura do campo magnético, com SIL 1.
6.3 Medidas contra EMI
Aquelas definidas pela análise de segurança foram:
Medida 1 - Interface com sensor de esterçamento.
Medida 2 - Saídas dos hodômetros. Deve impedir
também interferências de causas comuns sobre ambos
hodômetros.
Medida 3 - Sinais analógicos envolvidos na medição do campo magnético.
Medida 4 - Interferência cruzada entre os sinais
analógicos envolvidos na medição do campo magnético,
inclusive curtos-circuitos.
7. DESEMPENHO DO SISTEMA
6.2 Funções implementadas por software
As funções definidas pela análise de segurança
foram:
Função 1 - Software de identificação de posição
com relação à trilha, com SIL 3.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
O desempenho do SGM é verificado rotineiramente através de operações reais na pista e de simulações em
laboratório. Durante as operações reais na pista o SGM
registra todas as amostras coletadas dos sensores, bem
como as medidas de desvio lateral e outros dados de
desempenho, o que permite uma avaliação posterior precisa de seu comportamento.
99
As Figs. 19, 20 e 21 são exemplos de dados
registrados pelo SGM durante uma operação de guiagem
automática na trilha implantada no Corredor Expresso
Tiradentes. A Fig. 19 mostra que o SGM consegue manter o ônibus sobre a trilha magnética com um desvio máximo de 5cm para cada lado, sendo que na maior parte do
tempo este desvio é inferior a 2.5cm. A Fig. 20 mostra o
perfil de velocidade aplicado durante a viagem. A redução aproximadamente no meio do caminho ocorreu para
a passagem por uma estação (a parada Pedro II). A Fig. 21
mostra a curvatura da trilha ao longo do trajeto. Os raios
correspondentes estão anotados próximos aos picos de
curvatura.
mulador usa os mesmos módulos de software que o SGM
real para o filtro de Kalman e o controle, de forma que o
desempenho no simulador pode ser testado sem alterar
estes módulos. A Fig. 22 mostra a curva de desvio lateral
obtida quando o controle do SGM é usado no simulador.
Esta curva apresenta as mesmas características de desvio máximo e variação ponto a ponto que as verificadas
no sistema real, registradas na Fig. 19, o que mostra que
o simulador é um elemento importante para a avaliação
do desempenho do SGM.
Fig. 21 - Curvatura da trilha no mesmo teste da Fig. 19.
Fig. 19 - Desvio lateral em guiagem automática no
Corredor Expresso Tiradentes.
Fig. 22 - Simulação da guiagem na trilha do Corredor
Expresso Tiradentes.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fig. 20 - Velocidade no mesmo teste da Fig. 19.
A fim de estudar em detalhes o desempenho do
SGM e ajustar seu controlador antes de levá-lo a campo,
um simulador do ônibus foi desenvolvido para uso em
laboratório. Ele usa um modelo não linear do veículo e
introduz elementos do sistema real como folga na direção, atraso no comando de esterçamento, ruído na leitura do desvio lateral, ajuste da velocidade do ônibus e
programação da trilha a ser percorrida. Além disso, o si-
100
Durante os ensaios de validação do sistema foram observadas as reações e as interações dos motoristas com relação ao Piloto Automático. Cerca de uma dezena de motoristas profissionais testaram o sistema no
corredor expresso de São Paulo. Após uma explicação do
funcionamento do sistema, os motoristas conduziam o
veículo, inicialmente no modo manual, e depois comutavam para o modo de guiagem automática. O receio de
retirar as mão do volante e deixar que um computador
assumisse o controle da direção era nítido no início, principalmente nas passagens por paradas (distância lateral
de alguns cm) e nas curvas. Entretanto, após os primeiros minutos criava-se um clima de confiança entre o motorista, agora no papel de supervisor, e o sistema de
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
guiagem automática.
O ciclo de desenvolvimento do ônibus com sistema de guiagem magnética atingiu um marco significativo
com o início da fase de certificação em um corredor expresso de São Paulo. Para o desenvolvimento de um novo
produto como o SGM foi necessário o envolvimento de
profissionais experientes em diversas áreas de conhecimento, incluindo especialistas em magnetismo, dinâmica
veicular, controle, software de tempo real, confiabilidade
e segurança entre outros. Também foi essencial a aplicação de práticas de engenharia de sistemas para a
integração dos componentes do SGM e a integração do
SGM com o veículo
Do ponto de vista de produto o SGM será constituído de um kit de componentes mecânicos e eletrônicos
que poderão ser instalados em qualquer tipo de chassis
e carrocerias de ônibus do mercado, incluindo os articulados e bi-articulados, com eventuais adaptações mecânicas para a fixação dos suportes dos equipamentos e
sensores. O computador embarcado permite ajuste de
configuração para que parâmetros mecânicos do veículo
sejam inseridos para sintonia da guiagem. Por fim, esforços de engenharia estão sendo feitos para que o custo
do SGM seja uma pequena fração do preço do veículo.
9. REFERÊNCIAS
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Functional Safety – and Application of IEC 61508. 14º
Congresso SAE Brasil. Disponível em http://
www.sae.org/ technical/papers/2005-01-4175. Acesso em:
27 jun. 2008.
101
Mercado Brasileiro de Glicerina: uma análise a partir da
inserção do biodiesel na matriz energética nacional
Márcia França Ribeiro Fernandes dos Santos *
Suzana Borschiver **
Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar e analisar informações sobre comércio brasileiro da
glicerina, subproduto da produção de biodiesel. A metodologia consistiu em uma revisão bibliográfica complementada por pesquisa documental. A revisão bibliográfica abrangeu aspectos sobre
informações gerais sobre a glicerina e suas principais aplicações, bem como identificar as principais rotas tecnológicas para a sua produção. Na pesquisa documental foi feito um levantamento de
dados com base no banco de dados do Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior
(ALICE), acessado via web, a partir do código da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM)
obtido na Tarifa Externa Comum (TEC) disponibilizada no site do portal do exportador. A pesquisa
revelou que a produção de glicerina no Brasil teve um aumento expressivo em função da inserção
do biodiesel na matriz energética brasileira em conformidade com a Lei 11.097/2005.
Palavras-chave: Biodiesel, glicerina, Brasil, comércio.
Abstract: This article aims to present and analyze information on the Brazilian trade in glyccerin, a
by-product of biodiesel. The methodology consisted of a literature review complemented by documentary
research. The literature review covered aspects of general information about the glycerin and its main
applications, and identify the main technological routes for its production. The documentary research
was a survey based on data from the database of the Information Analysis System of Foreign Trade
(IASFT), accessed via web, from the code of the Mercosur Common Nomenclature (MCN) obtained in
the Common External Tariff (CET) available on the portal site of the exporter. The research showed
that production of glycerol in Brazil has significantly increased due to the inclusion of biodiesel in the
Brazilian energy matrix in accordance with the Law 11097/2005.
Key words: Biodiesel, glycerin, Brazil, trade.
1. INTRODUÇÃO
A química tem uma grande participação nos dias
atuais com os inúmeros produtos fundamentais à humanidade, estando presente desde diversos combustíveis
até os mais complexos medicamentos. Entretanto, a indústria química também gera inúmeros inconvenientes,
como a formação de subprodutos tóxicos e a contaminação do ambiente e do próprio homem expostos a estes
contaminantes (NOGUEIRA, 2007).
A preocupação com estes inconvenientes pode
ser claramente observada, pois, nos últimos anos, cresce
continuamente a pressão sobre as indústrias químicas,
tanto através da sociedade civil, como das autoridades
*
IBGE, Doutoranda em Engenharia Química/UFRJ.
E-mail: [email protected]
** Orientadora e Professora da UFRJ/Escola de Química.
E-mail: [email protected].
102
governamentais, no sentido de aprimorar o desenvolvimento de processos, que sejam cada vez menos prejudiciais ao meio ambiente. (PRADO, 2003)
Dentro da problemática industrial vigente, um dos
principais problemas que se destaca é o grande volume
de efluentes tóxicos produzidos por vários processos
químicos. A implementação de tecnologias limpas em atividades industriais é sem dúvida um grande desafio para
a indústria química mundial. Existem diversos estudos
que abordam o problema e sugerem soluções para tornarem mais “verde” técnicas clássicas de produção, levando o setor industrial em direção a uma química sustentável.
Sob o aspecto econômico, o aumento nos preços
do petróleo fundamentado em especulações em torno
das instabilidades políticas nas principais regiões produtoras do mundo também funciona como força motriz
para busca de fontes alternativas de energia, na medida
que estas podem se tornar mais competitivas.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
O Brasil tem vantagens comparativas significativas para a química verde, tanto em relação às suas possibilidades de produção agrícola, seja na área dos
amiláceos, dos açúcares dos óleos vegetais ou mesmo
da celulose e afins como também em termos de utilização
de fontes renováveis de energia, que respondem por cerca de 41% de participação na OIE (Oferta Interna de Energia) enquanto a média mundial é de 14% e, de apenas 6%
nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico). (BORSCHIVER, 2006)
2. GLICERINA
Entre as diversas alternativas de energias
renováveis pode-se destacar o etanol e o biodiesel. Em
relação ao biodiesel, sabe-se que o tema, que teve seu
apogeu no começo dos anos oitenta, quando da elevação dos preços do petróleo pelo cartel dos países exportadores, torna a despertar o interesse das autoridades e
pesquisadores. O Brasil se insere mundialmente na produção do biodiesel a partir da Lei 11.097/2005, ratificando a importância dos óleos vegetais como uma fonte
renovável de energia, ambientalmente correta e que pode
contribuir para redução do efeito estufa.
Quando pura, a glicerina se apresenta na forma de
um líquido viscoso transparente, incolor, inodoro, com
gosto adocicado, sendo completamente miscível com a
água e álcoois. Devido às suas propriedades em absorver água, a glicerina pode atuar como um hidratante e
umectante em formulações de produtos cosméticos. Tal
substância mantém a pele hidratada e protege contra o
ressecamento.
Alem disso, na produção de biodiesel a partir de
qualquer triglicerídeo, há geração de aproximadamente
10 % de glicerina, como subproduto. O acréscimo da disponibilidade de glicerina no mercado brasileiro, com a
implantação do B2 (mistura de 2% de biodiesel ao diesel), deverá ser da ordem de 60 a 80 mil toneladas por ano
e com a introdução do B5 (mistura constituída de 5% de
biodiesel ao diesel) em 2013, a previsão é que esta produção aumente para 150 mil toneladas por ano. Estes grandes volumes de glicerina previstos (subprodutos) só
poderão ter mercado a preços muito inferiores aos atuais, afetando todo mercado de óleos-químicos
(BORSCHIVER, 2006).
Este artigo está dividido em três partes: a primeira
apresenta informações gerais sobre a glicerina, suas principais aplicações e ilustra as principais rotas tecnológicas
para sua produção; a segunda explica detalhadamente a
metodologia utilizada para o levantamento de informações sobre o comércio brasileiro da glicerina; e a última
mostra os principais resultados obtidos, buscando
analisá-los dentro do contexto da produção nacional do
biodiesel antes e depois de sua inserção na matriz
energética nacional.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
O glicerol, também conhecido como glicerina ou
1,2,3-propanotriol, pode ser encontrado em todas as gorduras e óleo e é um intermediário importante no metabolismo dos seres vivos. O termo glicerol aplica-se geralmente ao composto puro, ou seja, ao 1,2,3-propanotriol,
enquanto o termo glicerina aplica-se aos produtos comerciais que contenham 95% ou mais de glicerol na
sua composição (BENAZZI, 2005).
A glicerina pode ser vendida na sua forma bruta
(glicerina natural), sem qualquer purificação ou purificação. São comercializados dois tipos de glicerina natural.
O primeiro impõe uma especificação de 80% de glicerol,
enquanto o segundo impõe como especificação 88 a 91%
de glicerol. Quanto à glicerina purificada é classificada
em glicerina técnica (99,5% de glicerol) ou glicerina farmacêutica (86 ou 99,5% de glicerol) (FELIZARDO et al,
2003 apud BENAZZI, 2005).
2.1 Aplicação
Devido à combinação de suas propriedades físico-químicas, a glicerina apresenta uma ampla gama de
utilizações. O fato de não ser tóxica, incolor e inodora,
propriedades apreciadas pela indústria. Adicionalmente,
a glicerina pode ser utilizada como amaciante em pães e a
sua alta viscosidade permite a sua utilização em xaropes
(ULLMANNS, 1992 apud BENAZZI, 2005).
A glicerina é utilizada como lubrificante em equipamentos e/ou materiais na indústria têxtil, alimentar, farmacêutica e cosmética. Além disso, pode ser utilizada na
produção de ésteres, poligliceróis e clorohidrinas.
A Tabela 1 apresenta um detalhamento de alguns
setores das as aplicações mais importantes da glicerina.
103
Tabela 1 – Setores e aplicações para o glicerol
Fonte: Elaboração própria a partir de NOGUEIRA (2007).
Além das utilizações atuais, existem estudos para
encontrar novas aplicações e novos mercados para a
glicerina, que tornariam ainda mais interessante a produção do biodiesel, considerando que a obtenção de um
litro de biodiesel gera aproximadamente 300 ml de
glicerina bruta, que vem misturada a água, ácidos graxos
e sabão.
Apenas após ser purificada a glicerina, pode ser
utilizada na Indústria Química, farmacêutica, de cosméticos
e alimentícia; no entanto, a tecnologia necessária para a
extração das impurezas presentes na glicerina apresenta um
custo elevado e é dominada por apenas algumas empresas
no caso brasileiro (INSTITUTO CIÊNCIA HOJE, 2007).
2.2 Rotas Tecnológicas
A Fig. 1 ilustra as principais rotas de obtenção da
glicerina. Como o presente estudo enfatiza a produção
da glicerina como subproduto da produção do biodiesel.
Fontes de Glicerina
Fig. 1 - Rotas de Obtenção da Glicerina.
Fonte: NOGUEIRA, 2007.
O processo de obtenção de biodiesel mais difundido no mundo e no Brasil é a transesterificação que
envolve a reação química de triglicerídeos (óleos e gorduras vegetais ou animais) com álcoois (metanol ou
etanol), catalisada por um ácido, base ou enzima, gerando o biodiesel e o sub-produto glicerol (PLANO NACIONAL DE AGROENERGIA, 2006).
104
A Fig. 2 apresenta as etapas do processo para a
obtenção de biodiesel por meio da reação de
transesterificação, ressaltando a geração de um
subproduto principal, a glicerina, que encontra diversas
aplicações na indústria química após a sua destilação
(PLÁ, 2002 apud RATHMANN et al. 2006).
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Fig. 2 - Obtenção de biodiesel por meio da reação de transesterificação.
Fonte: PLANO NACIONAL DE AGROENERGIA, 2006.
Cabe destacar que a glicerina bruta, obtida da produção do biodiesel, já é um produto comercializável apesar da presença de impurezas. Entretanto, é preferível
submetê-la a um processo de purificação de modo aumentar seu valor agregado.
A purificação da glicerina é feita por meio da destilação a vácuo, resultando um produto límpido e transparente,
chamado comercialmente de Glicerina Destilada. O produto
desta destilação é chamado de resíduo glicérico e corresponde
a uma faixa entre 10 a 15% do peso da glicerina bruta.
3. METODOLOGIA
Foi utilizado como fonte de dados o banco de
informações do Sistema de Análise de Informações de
Comércio Exterior denominado ALICE, acessado via web.
O Sistema ALICE, da Secretaria de Comércio Exterior
(SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior (MDIC), foi desenvolvido visando
modernizar as formas de acesso e a sistemática de disseminação dos dados estatísticos das exportações e importações brasileiras (ALICE WEB, 2008).
O ALICE WEB é atualizado mensalmente, quando
da divulgação da balança comercial, e tem por base os
dados obtidos a partir do SISCOMEX, sistema que administra o comércio exterior brasileiro.
O acesso ao ALICE WEB é gratuito e a consulta é
feita com base nos oito dígitos da NCM e que foi obtido
na TEC disponibilizada no site do portal do exportador
(PORTAL DO EXPORTADOR, 2008). A Tabela 2 ilustra
os códigos de NCM referentes à glicerina.
Tabela 2 - Códigos NCM referentes à glicerina
No Sistema ALICE estão disponíveis para consulta as seguintes informações, tanto para a exportação
quanto para a importação: (i) mercadoria; (ii) país; (iii)
Bloco Econômico; (iv) Unidade da Federação (Estados e
Distrito Federal); (v) Via de transporte; e (vi) Porto. Considerando que este sistema só permite o uso de dois
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
parâmetros de consulta, no presente estudo foram utilizados a mercadoria e o país.
3.1 Mercadoria
Refere-se a todo produto objeto de uma exporta105
ção ou importação. Para efeito de classificação de mercadorias, o Brasil passou a utilizar, desde 1996, a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), utilizada igualmente pelos demais países partícipes do bloco (Argentina,
Paraguai e Uruguai), baseado no Sistema Harmonizado
de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH).
primeiros formados pelo Sistema Harmonizado (capítulo,
posição e subposição), e os dois últimos (item e subitem),
criados de acordo com a definição estabelecida entre os
países do Mercosul. A classificação das mercadorias na
NCM rege-se pelas Regras Gerais para a Interpretação
do Sistema Harmonizado. A Fig. 3 ilustra a estrutura do
código NCM.
A NCM é composta de oito dígitos, sendo os seis
Fig. 3 - Estrutura do NCM.
Fonte: ALICE WEB, 2008.
3.2 País
O Sistema permite que a consulta seja feita a partir
das exportações e importações feitas pelo Brasil durante
para cada ano. O país de destino, ou seja, aquele para o
qual o Brasil exporta, é aquele conhecido no momento do
despacho como o último país para onde os bens se destinam. Por outro lado entende-se como país de origem,
ou seja, aquele do qual o Brasil importa, o país onde
foram cultivados os produtos agrícolas, extraídos os minerais ou fabricados os bens manufaturados, total ou
parcialmente. Neste último caso, o país de origem é aque-
le no qual foi completada a última fase de processamento
para que o produto adote sua forma final (como conceito
definido pela convenção de Kyoto).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Exportação
A Tabela 3 mostra as informações referentes ao
Peso Líquido (Kg), o Valor exportado (US$ FOB) e o
percentual de exportação em US$ FOB dos países que
importam glicerina do Brasil para o triênio 2005-2007.
Tabela 3 - Percentual exportado pelo Brasil por país
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos do ALICE WEB (2008).
106
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
A Fig. 4 mostra o percentual de exportação em
US$ FOB dos principais países importadores de glicerina
para o triênio 2005-2007. A análise da Tabela 3 e da Fig. 4
mostra uma mudança no cenário das exportações brasileiras de glicerina, considerando que no ano de 2005 o
principal destino eram os EUA e o Chile, com cerca de
31,2% e 20,9% respectivamente. No entanto, no ano de
2007, os principais países são a China e a Malásia. Cabe
destacar que a participação americana caiu quase 1.000%
(de 31,2% para 3,7%). Isto pode ser justificado pelo aumento da produção e utilização de biodiesel no mercado
americano, o que tem levado a uma maior produção da
glicerina, levando assim a uma redução das importações
deste produto.
Fig. 4 - Percentual de exportação FOB.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos do ALICE WEB (2008).
4.2 Importação
A Tabela 4 mostra as informações referentes ao
Peso Líquido (Kg), o Valor exportado (US$ FOB) e o
percentual de importação em US$ FOB dos países que
exportam glicerina do Brasil para o triênio 2005-2007.
Tabela 4 - Percentual importado pelo Brasil por país
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos no ALICE WEB (2008).
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
107
A Fig. 5 mostra o percentual de importação em
US$ FOB dos principais países exportadores de glicerina
para o triênio 2005-2007. A análise da Tabela 4 e da Fig. 5
mostra mudança no cenário das importações brasileiras
de glicerina, considerando que no ano de 2005 a Alemanha dominava o mercado de exportações para o Brasil
com cerca de 81%; no entanto, para o ano de 2007 a sua
participação foi reduzida para pouco mais de 10%.
Em 2007, os países que dominam o mercado são
Indonésia, EUA e Malásia com, aproximadamente 41%,
21% e 16%, respectivamente. Tais países se destacam
nas exportações de glicerina, considerando que eles têm
investido na produção de biodiesel.
Fig. 5 - Percentual de importação FOB.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos no ALICE WEB (2008).
4.3 Exportação x Importação - Balança Comercial
A Tabela 5 ilustra os dados sobre exportação e
importação para a glicerina para o período entre 2002 e
2007). Observa-se que os valores unitários de importa-
ção foram maiores que o de exportação apenas para os
anos de 2002 e 2006; nos demais anos, os valores unitários de exportação são maiores, ressaltando que no ano
de 2007 o valor é quase o dobro.
Tabela 5 - Exportação x Importação
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos no ALICE WEB (2008).
A Fig. 6 apresenta as informações sobre as expor-
108
tações, importações e saldo da balança comercial do
glicerina no período entre 2002-2007.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Fig. 6 - Balança Comercial Brasileira para a Glicerina – período 2002-2007.
Fonte: Elaboração própria a partir do ALICE WEB (2008).
A Fig. 6 revela que as exportações do glicerol começaram a aumentar a partir do ano de 2005, que foi o
ano da inserção do biodiesel na matriz energética brasileira de acordo com a Lei 11.097 (2005) que regula a mistura de biodiesel ao diesel de origem fóssil na seguinte
proporção:
Cabe destacar ainda que, com a posse do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, a questão de
biocombustíveis, em especial o biodiesel e o bioetanol,
se tornaram uma prioridade do governo, uma vez que o
aumento da produção do biodiesel leva a uma aumento
da geração de glicerina (subproduto).
(i) de janeiro/2005 a janeiro de 2008: adição voluntária de 2% de biodiesel ao diesel;
Com a expansão do mercado de biodiesel haverá
um aumento considerável da produção mundial de
glicerina; isto levará a um aumento da oferta deste produto que deverá resultar, pelo menos em um primeiro
momento, na redução de seu preço, podendo ocasionar
até mesmo o fechamento de algumas unidades de produção. Desta forma, para fins de análise de viabilidade do
projeto biodiesel, a glicerina está sendo considerada como
um produto de baixo valor agregado (PRATES et al, 2007).
(ii) de janeiro/2005 a janeiro de 2013: adição obrigatória de 2% de biodiesel ao diesel e adição voluntária
de 5%; e
(iii) a partir de janeiro de 2013: adição obrigatória
de 5% de biodiesel ao diesel.
Com isso, observa-se que a partir de 2005, com
base na maior produção de biodiesel, houve também
maior produção do subproduto glicerol, justificando ainda a redução da sua importação, e revertendo assim um
saldo de balança comercial deficitário em 2004 para um
panorama de crescimento da balança comercial.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
O efeito do aumento da demanda de glicerina pode
ser visto através dos dados de consumo aparente, que
consiste na soma do valor de produção mais importação
diminuído da exportação, que são apresentados na Tabela 6 para os anos de 2006 e 2007 a partir dos dados do
Relatório do Sistema Dinâmico de Informações (SDI)
emitido pela Associação Brasileira da Indústria Química
(ABIQUIM).
109
Tabela 6 - Produção - importação x exportação
Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos no RELATÓRIO SID (2006; 2007).
A Tabela 6 revela que a produção de glicerina se
reduziu à metade, tanto com relação à capacidade instalada como relativo à sua produção. Isto pode ser justificado considerando que, face ao aumento da produção
de biodiesel, há um aumento da oferta de glicerina
(subproduto do biodiesel) no mercado, levando a uma
diminuição na sua produção pelas demais rotas
tecnológicas apresentadas anteriormente.
Além disso, verifica-se um aumento nas taxas de
importação na ordem de 50% e um aumento expressivo
na quantidade exportada, devido à expansão da produção de biodiesel no Brasil estimulada pelo marco
regulatório criado pela implantação da Lei 11.097/2005.
5. CONCLUSÕES
O objetivo deste trabalho foi utilizar dados de
comércio exterior a fim de obter informações sobre o desempenho do subproduto da produção de biodiesel, a
glicerina. A principal motivação deste estado foi verificar
o mercado de biodiesel indiretamente, considerando a
não existência de informações comerciais do biodiesel.
O estudo indicou que os dados de exportação e
produção destes produtos estão em franco crescimento
e que os dados de importação estão em uma fase de
declínio considerando a expansão da produção do
biodiesel.
Cabe destacar que o estudo é de grande relevância de modo a se traçar um panorama acerca do biodiesel,
visto que este produto ainda não é uma commodity internacional. Tais estudos podem servir de subsídios para
auxiliar os formuladores de políticas públicas e tomadores
de decisão no sentido de transformar o biodiesel em
commodities mundiais.
Adicionalmente, o grande desafio de países em
desenvolvimento, em especial do Brasil que apresenta
uma série de vantagens comparativas e competitivas com
relação aos biocombustíveis, é aumentar sua pauta de
exportação de produtos com valor agregado e de grande
110
valor no mercado.
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Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
111
Reabilitação Motora em Hemiplégicos Espásticos após
Tratamento com Estimulação Elétrica Neuro Muscular
Alecsandra Araújo Paula *
Mário Oliveira Lima **
Fernanda Pupio Silva Lima **
Paulo Roberto Garcia Lucareli ***
Sergio Takeshi T. de Freitas ****
Resumo: O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma das principais causas de acometimento
neurológico no adulto, com característica focal e súbita acomete o Polígono de Willis devido à
oclusão ou ruptura de um vaso sanguíneo cerebral, podendo evoluir com perda do controle motor,
alterações sensitivas, cognitivas, linguagem e coordenação. A maioria dos acometidos apresentam
hipertonia espástica, decorrente a lesão do sistema piramidal dificultando as atividades da vida
diária e a funcionalidade da marcha, pois um dos déficits observados consiste na perda da flexão
seletiva da articulação do joelho do membro parético. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da
estimulação elétrica neuromuscular (EENM) no músculo reto femoral em indivíduos acometidos
pelo AVE, os quais apresentavam hemiparesia espástica. Foram avaliados dois sujeitos com média
de idade de 57 anos. Ambos submetidos à avaliação semiológica e à avaliação do tônus muscular
com os parâmetros da escala modificada de Ashworth pré e pós-intervenção terapêutica, além
disso, foi proposta análise qualitativa e quantitativa da marcha, onde cada indivíduo caminhou 12
metros para que fosse coletado o tempo gasto e a velocidade durante o desempenho. Foram realizadas 20 sessões de EENM durante sete semanas. Os resultados obtidos demonstraram diminuição
da espasticidade no músculo reto femoral, e melhora de tempo gasto no percurso entre a primeira
e vigésima sessão foi de 6"47 milésimos para ambos os indivíduos. A EENM reduziu a espasticidade
do músculo reto femoral de ambos os indivíduos e melhorou gradativamente a agilidade durante a
marcha. Pode-se concluir que a estimulação elétrica neuromuscular trata-se de uma alternativa
eficaz a ser utilizada no processo de reabilitação nestes indivíduos com hemiparesia espástica.
Palavras-chave: Acidente vascular encefálico, hemiplegia espástica, estimulação elétrica neuromuscular
(EENM).
Abstract: Stroke is one off the most common cause of neurological incapacity in adults, with
characteristic sudden and focused attacks in the Willis Polygon due to the occlusion or rupture of
a cerebral blood vessel, which may cause loss of the motor control, senses, cognitive ability, language
ability, and coordination. The majority of people inflicted by this disease present spastic hypertonia,
resulting from the injury in the pyramidal system making daily activities and walking more difficult.
One of the deficits observed is the loss of the selective joint flexion in knee of the paralyzed limb. The
goal of this study was to evaluate the effect of the neuromuscular electrical stimulation (NMES) in
the rectus femoris muscle in individuals who had had strokes and presented spastic hemiparesis in
the contra lateral inferior limb due to the brain injury. Two individuals with the average age of 57
years were evaluated. Both underwent semiologic evaluation and muscular tone evaluation with
parameters of the modified Ashworth scale before and after therapeutic intervention. In addition,
*
Mestranda em Engenharia Biomédica - IP&D/
UNIVAP, 2009.
**
Professor(a) da FCS/UNIVAP.
*** Professor do Curso de Fisioterapia do Centro
Universitário São Camilo.
**** Professor da UNIVAP, da Universidade Paulista UNIP e da Universidade Braz Cubas - UBC.
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quantitative and qualitative analysis of the gait was performed when each individual walked 12
meters to collect the time and speed of the exercise. Twenty sessions of NMES during seven weeks
were performed. The results demonstrated reduction of the spasticity of the rectus femoris muscle.
An improvement in the time between the first and the twentieth sessions of about 6.47 milliseconds
for both individual could be noticed. NMES reduced the spasticity of the rectus femoralis muscle in
both individuals and they had gradual improvement in agility during the gait. Therefore, the electric
neuromuscular stimulation demonstrated to be an efficient alternative to use in the rehabilitation of
individuals with spastic hemiplegy.
Key words: Stroke, spastic hemiplegia, neuromuscular electrical stimulation (NMES).
INTRODUÇÃO
Acidente Vascular Encefálico (AVE) é caracterizado por um déficit neurológico com característica focal e
súbito acometendo o Polígono de Willis devido à oclusão
ou ruptura de um vaso sanguíneo cerebral que pode evoluir com perda do controle motor, alterações sensitivas,
alteração cognitiva e de linguagem, alteração de coordenação e coma (CHAVES, 2000; ABRAMO; MENDES;
OLIVEIRA, 2004; CECATTO, 2005).
A apresentação clínica do AVE segue na maioria das
vezes padrões de hemiplegia espástica, significando paralisia completa ou parcial dos músculos do membro superior e
inferior de um lado do corpo contralateral a lesão encefálica.
Trata-se de um grupo capaz e auto-suficiente que tende a
rejeitar o lado afetado e a eleger e inclinar-se para o lado não
afetado e costuma adotar a postura flexora para membro
superior e extensora para o membro inferior (BOBATH, 1989;
STOKES, 1998; NEVES, 2005).
As maiorias dos indivíduos sequelados de AVE
apresentam hipertonia espástica, ou seja, espasticidade,
definida como desordem neurológica devido lesão do
sistema piramidal, caracterizado pelo aumento da velocidade dos reflexos tônicos, resultando uma hiperatividade
do reflexo miotático, hiperreflexia, sinal de babinski, e
clônus, com efeitos adversos na função cinesiofuncional.
(KANDEL; SCWARTZ; JESSEL, 2000; NEUYENS et al.,
2002; SALAME et al., 2003).
Um dos músculos frequentemente acometidos
pelas espasticidade é o músculo reto femoral, que compõe juntamente com outros três músculos o denominado
quadríceps femoral, situado no anterior da coxa. Este
músculo é denominado biarticular e está envolvido diretamente na função de flexão do quadril e extensão de
joelho, dificultando assim, as atividades de vida diária
(AVD´s) e alterando a funcionalidade da marcha, pois um
dos déficits observados consiste na perda da flexão seletiva de joelho do membro parético (KANDEL;
SCWARTZ; JESSEL, 2000; NEUYENS et al., 2002;
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
SALAME et al., 2003, KENDALL, McCREARY,
PROVANCE,1995; MORAES et al., 2003).
A espasticidade é a manifestação clínica de fácil
reconhecimento e de difícil quantificação, porém é importante mensurá-la para determinar a intervenção terapêutica com melhora funcional, podendo ser através de
escalas simplificadas como a escala modificada de
Ashworth, que gradua a intensidade da hipertonia ao
movimento passivo do membro com razoável
credibilidade (DELISA; GANS, 2001).
A ciência disponibiliza vários recursos que podemos utilizar para minimizar a espasticidade e melhorar as
AVD´s do paciente, como: estimulação elétrica
neuromuscular, toxina botulínica, hipertermoterapia,
cinesioterapia, hidroterapia, hipotermoterapia entre outros (BRUNO et al., 2001).
A utilização Estimulação Elétrica Neuromuscular
(EENM) tem demonstrado ser bastante útil no auxílio da
reabilitação de pacientes neurológicos, sendo uma forma de produzir artificialmente contrações musculares visando restaurar, manter ou melhorar a capacidade funcional de um indivíduo, através da aplicação de corrente
elétrica diretamente ao músculo que apresente o sistema
nervoso periférico intacto (LIANZA et al., 2001 citar o
paper da revista de neurología).
E a melhora funcional proporcionada pela EENM
no membro inferior lesado pode ser demonstrado através da análise da marcha realizada pela videogametria
que permitirá analisar o ciclo da marcha, a distância, o
tempo, a velocidade, e a aceleração obtida ao realizar a
deambulação (NORDIN; FRANKEL, 2003).
Diante disso, o objetivo desse estudo foi demonstrar o efeito da Estimulação Elétrica Neuromuscular
(EENM) no músculo espástico (reto femoral) dos indivíduos com hemiparesia. E verificar a velocidade da marcha, por meio de fórmula.
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MATERIAIS E MÉTODOS
Para consecução dos objetivos propostos deste
trabalho, optou-se por uma pesquisa exploratória, quanto aos fins e uma pesquisa experimental quanto aos procedimentos.
cedimentos experimentais que foram submetidos. Os sujeitos assinaram um termo de livre consentimento e, após a
assinatura, foram submetidos à avaliação neurológica.
PROCEDIMENTOS
Os dois sujeitos foram submetidos à EENM durante 20 sessões, sendo 3 sessões por semana.
SUJEITOS
Participaram deste estudo dois indivíduos adultos com hemiparesia decorrente de AVE unilateral, sendo
dois homens com média de idade de 57. O sujeito 1 apresentava comprometimento do hemisfério cerebral direito
há 8 anos e o sujeito 2 do hemisfério cerebral direito há 2
anos. Todos os sujeitos receberam fisioterapia no mínimo três vezes por semana.
Os sujeitos cumpriram com os seguintes critérios
de inclusão: ADM completa, capacidade cognitiva, apresentar boa compreensão das instruções, não apresentar
alterações visuais e frequência fidedigna, e foram excluídos igualmente os que apresentaram luxações, deformidades, rigidez em membros inferiores, déficit cognitivo
grave, de atenção ou de linguagem.
Os sujeitos foram recrutados na Clínica Escola de
Fisioterapia da Universidade Paulista - UNIP de São José
dos Campos. Todos os sujeitos aceitaram participar voluntariamente do estudo e foram informados sobre os pro-
Para determinar o estado clínico de espasticidade
no membro inferior lesado, os pacientes avaliados estavam posicionados em decúbito dorsal, com membros inferiores em posição de repouso. Deste modo, na primeira,
décima e vigésima sessão, foram realizadas duas avaliações do tônus muscular, estirando o músculo Reto Femoral,
mensurando através da escala modificada de Ashworth,
por 6 fisioterapeutas, método duplo cego, sendo uma avaliação antes da aplicação de EEMN e outra ao término da
aplicação (ROCHA, PRETTE, PRETTE, 2008).
Após a avaliação inicial, foi utilizado 1 canal do
equipamento ORION TENS (Fig. 1) o qual atende todos
os requisitos de segurança, com dois eletrodos de borracha de silicone medindo 4cm x 3cm, foram colocados superficialmente sobre o músculo Reto Femoral nas proximidades do ponto motor do músculo hipertônico. Entre
o eletrodo e a pele do sujeito foi aplicado um gel, para
diminuir a impedância da pele.
Fig. 1 - Equipamento de Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM).
Os parâmetros de EENM deveriam provocar uma
evidente contração muscular o mais confortável possível,
sendo assim foram escolhidos os valores seguintes:
frequência 40 Hz, largura do pulso 150 ms, ciclo on/off de
5 segundos de estimulação e 10 segundos de repouso,
durante 20 minutos de estimulação e a intensidade da corrente aplicada aos indivíduos foi escolhida durante a tera-
114
pia de acordo com a sensibilidade do indivíduo e poderia
mudar caso ocorresse o fenômeno da acomodação.
Na primeira, na décima e vigésima sessão os participantes foram preparados para uma situação experimental, em que deveriam realizar a tarefa de caminhar na
velocidade normal, sob um tapete de E.V.A. azul, com 6
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
metros (m) de comprimento e 1 m de largura, cuja atividade era sair da linha de partida e retornar a ela, após completar os 6 m, portanto, cada participante caminhou 12 m,
sendo 6 m na ida e 6 m na volta. Durante o experimento,
foi coletado através de um cronômetro o tempo gasto
para conclusão do percurso, onde posteriormente foi calculado a velocidade da marcha, através da seguinte fórmula
.
O desempenho dos participantes foi filmado por
uma câmera de vídeo SONY (DVP – NS50P) posicionada
de maneira que possibilitasse a visão sagital de cada
lado e ântero-posterior de cada participante. A câmera
encontrava-se fixada num tripé a uma altura de 1 metro 16
centímetros para sagital e 54 centímetros para ântero-posterior.
É fundamental ressaltar que todos os indivíduos
interromperam as sessões de fisioterapia convencional
nos MMII durante o estudo.
de EENM, durante a primeira, décima e vigésima sessão,
os indivíduos foram avaliados e demonstraram os seguintes resultados quantificados pela análise estatística
do desvio padrão pela escala modificada de Ashworth,
sendo necessária uma adaptação com o grau 1+ da escala utilizada, que passou a corresponder a 1,5 para que
todos os números fossem da classe dos cardinais.
O sujeito 1, na primeira sessão antes da aplicação apresentou média 1,92 e desvio padrão de
espasticidade quantificada pela escala modificada de
Ashworth de 0,8612 e depois média 0,50 e 0,7746; na
décima sessão apresentou média 2,08 e desvio padrão
0,7360 e 0,58 e 0,6646 respectivamente, demonstrando
diminuição gradativa do grau de espasticidade entre a
primeira e décima sessão, e não somente entre antes e
depois a cada aplicação. Ao ser novamente avaliado na
vigésima sessão, apresentou aumento se comparado
com a última sessão, tendo 1,0 de média e desvio padrão 0,7746 e, logo após a intervenção, novamente demonstrou redução do grau de espasticidade com 0,25
de média e 0,6124 de desvio padrão.
ANÁLISE DOS DADOS
Na primeira, na décima e vigésima sessões, foram
coletadas as avaliações com os parâmetros da escala modificada de Ashworth, as quais foram avaliadas individualmente pelas estagiárias, comparando-se os dados antes
e depois da aplicação EENM. Estes dados foram calculados por meio de análise estatística expressa em média acompanhada do desvio padrão, tendo a seguinte fórmula res-
pectivamente
e
.
RESULTADOS
Escala modificada de Ashworth:
Como já mencionado, antes e depois da aplicação
Com o sujeito 2 obtivemos os seguintes resultados; na primeira sessão a média e o desvio padrão antes
EEMN foi de 1,67 e 0,6831 respectivamente e depois de
0,42 e 0,6646; na décima sessão antes da EEMN, a média
foi de 1,0 e desvio padrão de 0,5477 e 0,33 de média e
0,5164 desvio padrão; e na vigésima sessão iniciou-se
em 0,83 e 0,6831 de desvio padrão e após a aplicação
média de 0,17 e desvio padrão de 0,4083. Neste sujeito
podemos verificar que entre a primeira e a vigésima sessão o grau de espasticidade não se manteve embora em
todas as aplicações o resultado depois da EEMN demonstrou valores cada vez menores.
Ao compararmos os resultados da primeira sessão antes de EENM e vigésima sessão depois da EENM
de ambos os sujeitos verificou-se a diminuição da
espasticidade avaliada pela escala modificada de
ashworth demonstrado pela tabela 2, calculado através
do desvio padrão.
Tabela 1 - Média e desvio padrão dos índices da escala modificada de Ashworth antes e após aplicação de EENM
TEMPO E VELOCIDADE
servados na Fig. 2.
Os valores referentes aos tempos obtidos na situação experimental proposta aos sujeitos podem ser ob-
Podemos verificar que com a evolução do experimento, ambos os sujeitos apresentaram melhora gradativa
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de tempo entre a primeira e a vigésima sessão. O sujeito
1 iniciou o experimento utilizando 34"47 para concluir o
percurso e finalizou o experimento com 28", e o sujeito 2,
na primeira sessão, apresentou 29"50 para a conclusão
do percurso e 23"03 ao fim do experimento. Surpreendentemente a melhora de tempo entre a primeira e vigésima sessão foi de 6"47 milésimos para ambos os participantes.
Fig. 2 - Tempo(s) gasto no percurso.
Do mesmo modo, observamos pela Fig. 3 o aumento
gradual da velocidade durante o percurso, em que o sujeito
1 obteve um aumento da velocidade de 0,08 m/s entre a 1a e
20a sessão, sendo que na 1a sessão teve 0,35 m/s e na 20a foi
de 0,43 m/s, enquanto o sujeito 2 demonstrou um aumento
da velocidade de 0,11 m/s, o qual iniciou o experimento com
a velocidade de 0,41 m/s, e na vigésima sessão atingiu 0,52
m/s, mostrando assim a aceleração durante a marcha.
Fig. 3 - Velocidade durante o percurso.
DISCUSSÃO
A EENM surgiu em meados de 1871, quando
Duchenne relatou a respeito dos efeitos da ativação elétrica do antagonista ao músculo espástico. Desde então,
esta técnica vem sendo estudada e cada vez mais elaborada com finalidade de reduzir a espasticidade e com isso
minimizar suas complicações (CASALIS; GIANNI, 2007).
daram 86 pacientes que possuíam hipertonia espástica e
foram submetidos à estimulação elétrica. Cerca de 80,23%
obtiveram diminuição do grau de espasticidade após a
intervenção terapêutica, do mesmo modo que Freitas et
al. (2003) obtiveram resultados positivos ao utilizar desta mesma técnica no músculo tibial anterior de um paciente hipertônico. No entanto, observou-se neste estudo
que os hemiplégicos espásticos obtiveram resultados benéficos, dando mais credibilidade a este recurso.
Em função disso, Spaich e Taberning (2002) estu-
116
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Segundo Teive, Zonta e Kamugaiy (1998) e Corrêa
et al. ( 2005), o músculo reto femoral é um dos mais atingidos e comprometidos pela espasticidade, desta forma
a intervenção terapêutica deve promover condições que
adeque o tônus, favorecendo assim os padrões normais
de movimento.
velocidade e melhora funcional da marcha, após a intervenção proposta.
Apesar dos avanços no conhecimento do tratamento da espasticidade, ainda não existe cura para este
sintoma de fácil reconhecimento durante o exame físico.
A avaliação da espasticidade geralmente é subjetiva, pois,
como diz os autores Casalis e Gianni (2007), a
espasticidade pode ser mais fácil diagnosticar do que
definir, mais fácil de definir do que tratar e talvez seja
mais fácil de tratar do que quantificar.
Observou-se durante este estudo a necessidade
de métodos mais precisos para a avaliação e quantificação
da espasticidade, pois a escala modificada de ashworth,
apesar da facilidade em utilizá-la, possui fatores que podem influenciá-la.
Sabendo desta dificuldade foram criadas várias
escalas que procuram determinar o grau de hipertonia.
Tais escalas, segundo Casalis e Gianni (2007), são aceitas universalmente, relativamente simples de serem administradas e facilmente reprodutíveis como a escala modificada de Ashworth, embora possa ser influenciada por
condições do paciente ou do ambiente.
É importante ressaltar que a EENM não deve ser
vista e nem aplicada como um único recurso durante a
reabilitação.
CONCLUSÃO
Após os resultados obtidos, concluímos que a
EENM mostrou-se ser uma alternativa eficaz a ser utilizada
no processo de reabilitação de indivíduos com hipertonia
espástica do músculo reto femoral, deste
modo,contribuindo com a redução da espasticidade e assim proporcionar maior independência e melhora funcional, diminuindo o tempo gasto e a velocidade da marcha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Outros autores como Damiano et al., (2002),
Pandyan et al., (2001) relatam a inconsistência da escala
modificada de Ashworth, por não se tratar de uma avaliação 100% confiável.
No estudo em questão, utilizamos desta escala
como experimento e mesmo conquistando um resultado
satisfatório e não induzido pelo método duplo cego, este
modo de avaliação necessita de reformulações, para torna-se um método seguro e altamente confiável.
A partir desses levantamentos, cabe-nos aceitar
que existe a necessidade de quantificar mais precisamente a espasticidade.
Outro experimento utilizado neste estudo foi o
teste de velocidade da marcha, que consiste em
cronometrar o tempo e calcular a velocidade necessária
para a conclusão do percurso.
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Ribeiro; Scianni, (2004) que este teste é um dos indicadores de melhora na capacidade funcional, pois seus estudos demonstraram que, quanto menor o tempo para conclusão do percurso, mais veloz a marcha, mais independente torna-se o sujeito e mais apto a realizar as tarefas
do dia a dia.
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Associação da Laserterapia com Papaína na Cicatrização
de Úlcera Diabética em Membro Inferior - Relato de Caso
Ciliana Antero Guimarães da Silva Oliveira *
Karen Cristiane Martinez de Moraes **
Newton Soares da Silva ***
Resumo: A síndrome do pé diabético é definida como quaisquer lesões, agudas ou crônicas, que
ocorrem no pé dos pacientes diabéticos, em geral causadas pela presença de neuropatia periférica.
Dentre algumas formas de tratamento destas feridas temos a papaína e o laser utilizados separadamente. Desta forma, objetivamos com esse relato divulgar os resultados da associação da laserterapia
com papaína na cicatrização de úlceras diabéticas. Paciente de setenta e três anos, masculino,
diabético com lesão em hálux esquerdo devido a neuropatia, com ótima resposta ao tratamento de
laser associado à papaína. O uso do laser de baixa potência associado com a papaína no tratamento de úlceras diabéticas nos mostrou resultados positivos neste estudo, num período curto de tempo,
onde a ferida evoluiu para completa cicatrização.
Palavras-chave: Diabetes, laser, papaína.
Abstract: The diabetic foot syndrome is defined as any chronic and acute injure that occurs in the
diabetic patient foot generally caused by the presence of peripheral neuropathy. Some of the forms
of treatment include papain and laser used separately. The main objective of this manuscript is to
report the results of the association of laser therapy with papain in the healing of diabetic ulcers. A
73-year-old male diabetic patient with injuries in the left hallux, due to neuropathy, had good
results to the laser treatment associated with papain. The use of a low potency laser associated with
papain in the treatment of diabetic ulcers showed positive results in this study; in a short term
period the wound completely healed.
Key words: Diabetics, laser, papain.
1. INTRODUÇÃO
O diabetes melito é uma doença crônica e metabólica definida pelo distúrbio de carboidrato, proteína e
metabolismo de gordura caracterizada pela hiperglicemia
resultante de defeitos da secreção insulínica, da ação
insulínica ou de ambos (JORGE; DANTAS, 2003;
GOLDENZWAIG, 2004).
A síndrome do pé diabético é definida como quaisquer lesões, agudas ou crônicas, que ocorrem no pé dos
pacientes diabéticos, em geral causadas pela presença
de neuropatia periférica, doença oclusiva arterial perifé-
*
Enfermeira Estomaterapeuta. Docente nas Faculdades Integradas Teresa D‘Ávila - Lorena / SP.
** Doutora em Genética e Biologia Molecular - IP&D,
UNIVAP.
*** Doutor em Biociências e Biotecnologia. Laboratório
de Biologia Celular e Tecidual - IP&D, UNIVAP
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
rica e redução da microcirculação na extremidade inferior
(KUHN, 2006).
Dentre algumas formas de tratamento destas feridas temos a papaína e o laser. A papaína é uma enzima
proteolítica existente no látex do vegetal Carica papaya,
que possui a propriedade de decompor substâncias
protéicas, sendo extraída do látex do mamão desenvolvido, mas não amadurecido. Encontra-se comercializado
em diferentes formas como em pó, gel e creme. O laser é
uma forma de luz especial que é uma modalidade terapêutica atérmica (JORGE; DANTAS, 2003). A
fotobioestimulação, estudada na década de 1980, definiu
a aplicação do laser hélio-néon (He-Ne) como estimulação
para a cicatrização e reparo dos tecidos.
Os efeitos benéficos do laser podem ser rapidamente descritos como sendo de aceleração do processo
cicatricial, aumento na formação do tecido de granulação
(HAINA et al., 1992). Desta forma, objetivamos com esse
relato divulgar os resultados da associação da laserterapia
com papaína na cicatrização de úlceras diabéticas.
119
2. RELATO DE CASO
J.B.S., mulato, natural de Virgínia – M.G., 73 anos,
viúvo, motorista. Se encontra diabético, com ferida em
M.I.E., ex-tabagista, nega etilismo, cardiopatia e hipertensão. Ferida sem dor e sem odor. Relata “bolha na
ponta do dedo por causa do sapato, uso sapato o dia
inteiro trabalhando, fui ao posto de saúde do meu bairro onde estouraram e virou uma ferida”.
Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética
em Pesquisa da UNIVAP (Protocolo n°L215/2006/CEP).
Em 2/3/2006 iniciou o tratamento, onde o paciente era
submetido a sessões diárias de limpeza da ferida com
S.F.0.9% e aplicação do laser de baixa potência, da marca
Ibramed, com 830nm de comprimento de onda, com densidade de energia de 1 J/cm², potência de 30mW, sendo
aplicado ao redor de toda a borda da ferida, de forma
contínua e estando o diodo a 1cm da pele do paciente, de
forma perpendicular. Em seguida colocado papaína creme 2% em seu leito, ocluído com gase primária umedecida
com S.F.0.9%, gase secundária seca e fechado com ata-
dura. Todo este procedimento foi realizado desde o inicio do tratamento até o final (três meses).
Além de orientações à saúde, como controle dos
níveis glicêmicos diariamente, higiene, cuidados específicos com seu pé (pé diabético), nutrição, repouso, sapatos adequados e curativos diários.
3. RESULTADOS
Ao iniciar o tratamento em 2/3/2006 a lesão (Fig.
1) se encontrava contaminada, sinais flogísticos presentes, sem exsudato, em seu leito tecido necrosado,
esfacelos ao redor e sinal de tecido de granulação em
suas bordas. Com quarenta dias de tratamento a lesão
(Fig. 2) evoluiu, os sinais flogísticos estavam ausentes e
a lesão se apresentava com tecido vitalizado. Ao final do
tratamento, três meses após, a lesão (Fig. 3) evoluiu para
completa cicatrização, em 9/6/2006. O paciente recebeu
alta do ambulatório, sendo orientado a retornar dentro
de um mês para monitoração de seu “pé diabético” e de
seu estado clínico.
Fig. 2 - Evolução da lesão. (12/4/06)
Fig. 1 - Lesão na extremidade distal do halux esquerdo.
(2/3/06)
Fig. 3 - Final do tratamento, três meses após. (9/6/06).
120
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
4. DISCUSSÃO
5. CONCLUSÃO
O curativo realizado diariamente foi mantido
ocluído e úmido, desta forma sendo protegido de contaminação, favorecendo a decomposição da necrose e acelerando o processo de cicatrização. Portanto fazendo uso
dos princípios para o curativo ideal (DEALEY, 2003).
O uso do laser de baixa potência associado com a
papaína no tratamento de úlceras diabéticas nos mostrou resultados positivos neste estudo, num período curto
de tempo, onde a ferida evoluiu para completa cicatrização. Relatos de casos como este apresentado contribui
para novos estudos da associação de terapias na cicatrização de feridas diabéticas. A ampliação do número de
amostragem em projetos futuros irá demonstrar a
efetividade da metodologia empregada neste caso em
específico.
Devido aos efeitos terapêuticos da papaína, como
desbridante químico, antiinflamatório, bactericidabacteriostático e bioestimulante, ficou claro a decomposição do tecido desvitalizado em tão pouco tempo.
O laser confirma sua indicação nesses casos pela
melhora do quadro com o seu uso. As principais indicações dos Lasers de baixa intensidade na prática clínica
têm sido identificadas como sendo para tratamento de
feridas através do efeito de fotobioestimulação. Assim
os lasers têm vindo a ser usados em condições que estão relacionadas com úlceras varicosas; úlceras diabéticas; úlceras de decúbito, particularmente onde estes casos assumiram um estatuto de cronicidade, por outro
lado existe evidência que queimaduras e feridas pós-operatório respondem favoravelmente a tratamento de radiação laser (HAINA et al., 1992). A baixa densidade de
energia utilizada neste caso (1J/cm2) se justifica em um
procedimento leve que deve ser aplicado em pacientes
diabéticco. Doses mais elevadas poderiam causar um
processo de bioestimulação muito rápida do tecido adjacente com resultados não desejáveis, sempre lembrando
que o processo de cicatrização em pacientes diabéticos é
muito lento.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JORGE, S. A.; DANTAS, S. R. P. E. Abordagem
multiprofissional do tratamento de feridas. São Paulo:
Atheneu, 2003.
GOLDENZWAIG, N. R. S. C. Manual de Enfermagem Médico-Cirúrgico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
KUHN, P. O pé diabético. São Paulo: Atheneu, 2006.
HAINA, D.; HEIN, R.; LANDTHALER, M.; KRIEG, T.
Laser light of low power density does not influence
chemotaxis and collagen synthesis of human dermal
fibroblasts. Lasers Med. Sci. n. 7, pp. 79-83, 1992.
DEALEY, C. Produtos para tratamento de feridas. In:
Dealey, C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. 1. ed. São Paulo: Atheneus, 2003.
121
Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana: um estudo
comparativo entre fotossensibilizantes
Frederico Müller *
Vinícius Carneiro de Oliveira *
Alexandre de Lima Oliveira *
Newton Soares da Silva **
Resumo: A existência de resistência antibiótica entre bactérias patogênicas é iminente. Estudos
para encontrar uma terapia alternativa antimicrobiana têm sido desenvolvidos. Esta terapia poderia ser através da combinação entre um corante atóxico (fotossensibilizante) e luz visível, conhecida como terapia fotodinâmica (PDT). O objetivo desse estudo foi induzir morte bacteriana pela
PDT. Foram utilizados 2 fotossensibilizantes estudados de forma comparativa, um laser diodo de
baixa potência e cultura de Staphylococcus aureus. Os experimentos mostraram que a PDT tem boa
funcionalidade como alternativa para uma terapia antibiótica tópica. A despeito desses resultados
experimentais promissores, somente uma controlada experimentação clínica pode provar a
efetividade da PDT in vivo.
Palavras-chave: Staphylococcus aureus, fotoquimioterapia, azul de metileno.
Abstract: The existence of antibiotic resistance between pathogenic bacteria is imminent. Studies
to find antimicrobial therapy alternatives which bacteria will not be able to develop resistance
have been done. This therapy could be through the combination of an atoxic dye (photosensitizer)
and visible light, known as Photodynamic Therapy (PDT). This study directed suitable
photosensitizers against S. aureus. Two photosensitizers were compared using, a low potential
diode laser with Staphyloccocus aureus as the target. The assays showed that PDT may be a functional
alternative for topical antibiotic therapy. Despite these promising results, only a controlled clinical
experimentation can prove the effectiveness of the PDT in vivo.
Key words: Staphylococcus aureus, photochemotherapy, methylene blue.
Cultura de Staphylococcus aureus resistentes a
meticilina (MRSA) constituem uma das maiores causas
de infecção hospitalar no mundo, causando infecções
significativas e morbidade em muitos pacientes (JONES;
MONSTREY; GAMBIER, 1996). Muitas infecções são
difíceis de se tratar e pacientes infectados por muito tempo requerem longa permanência hospitalar.
Como terapia alternativa pode ser citada a Terapia
Fotodinâmica (PDT), a qual provoca morte celular pela
luz na presença de um agente fotossensibilizante. Quando envolve a morte de microorganismos, ela pode ser
chamada de Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana
(APDT). A excitação do fotossensibilizador se dá pela
absorção de luz em um comprimento de onda apropriado
e na presença de oxigênio, converte o fotossensibilizante
para seu estado ativado, que por sua vez reage ou com
um substrato local (reação tipo I) para formar radicais
citotóxicos, ou com oxigênio molecular (reação tipo II)
para produzir o oxigênio citotóxico singleto (WILSON;
DOBSON; HARVEY, 1992). Esse oxigênio reativo gerado
resulta em morte celular.
* Mestre em Ciências Biológicas – IP&D, UNIVAP.
** Doutor em Biociências e Biotecnologia, Laboratório
de Biologia Celular e Tecidual - IP&D, UNIVAP.
Quem primeiro demonstrou a fotossensibilização
letal de microorganismos foi Oscar Raab (RAAB, 1900
apud MAISCH et al., 2005). Ele demonstrou que a baixa
concentração de azul de metileno poderia levar à morte o
protozoário Paramecium caudatum frente à sua exposi-
1. INTRODUÇÃO
A resistência bacteriana frente à antibioticoterapia
convencional está conduzindo cada vez mais a elaboração de terapias antimicrobianas de interesse mundial
(JEVONS, 1961).
122
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
ção à luz diária normal.
A terapia fotodinâmica poderia ser útil como um
simples caminho para tratar e controlar infecções MRSA.
Ela teria duas grandes vantagens sobre antisépticos e
antimicrobianos convencionais: primeiro, como nenhum
dos dois componentes do sistema (luz e
fotosenssibilizante) é inerentemente bactericida, o efeito
antimicrobiano seria limitado para regiões luz-irradiadas
em áreas fotossensibilizante-tratadas, evitando um
desequilíbrio na microflora local com exceção daqueles
que estão sendo alvejados; segundo, e talvez mais importante, o desenvolvimento de resistência para
fotoquímica induzindo morte à qual é mediada predominantemente por oxigênio singleto, seria improvável
(EMBLETON et al., 2002).
Estudos anteriores nos revelaram uma grande escala de corantes que podem ser utilizados como agente
fotossensibilizante: ftalocianinas, porfirinas, azul de
toluidina, azul de metileno, dentre outros (BERTOLONI
et al., 2000). Nós focamos nossos trabalhos em dois
fotossensibilizantes: azul de metileno e uma ftalocianina
(cloro-alumínio-ftalocianina tetrasulfonada) ambos atuando na faixa de absorção de 600 a 700nm. O azul de
metileno foi o primeiro corante a ser utilizado na terapia
fotodinâmica. É um composto relativamente barato e de
fácil aquisição. Já os derivados da ftalocianina, são compostos mais recentes que mostram um futuro promissor.
Elas são fotossensibilizantes de segunda geração assim
como as porfirinas. Sua intensa absorção na faixa do vermelho visível (600-700nm), e sua longa permanência no
estado ativado são fatores atribuídos a elas (SOUKOS et
al., 1998). O fotossensibilizante utilizado (AlPcS4) segue
estes fatores e possuem pico de absorção em 675nm.
2. OBJETIVOS
Avaliar a ação da PDT em culturas de
Staphylococcus aureus comparando a eficácia da cloroalumínio-ftalocianina tetrasulfonada e do azul de metileno
como agentes fotossensibilizantes.
3. MATERIAL E MÉTODOS
Cultura bacteriana: O organismo utilizado nesta
investigação foi o Staphylococcus aureus (ATCC 14458).
Para finalidades experimentais, algumas colônias foram
inoculadas em 20ml de meio BHI (Brain Heart InfusionDifco) e incubadas overnight em estufa a 37°C, atingindo a fase exponencial de crescimento (3,04x106 bact/ml),
de acordo com a leitura espectrofotométrica
(Espectrofotômetro SpectraCount modelo BS10001 Packard BioScience Company).
Laser e fotossensibilizantes: O equipamento utilizado neste estudo foi um laser diodo semicondutor com
meio ativo de Arseneto de Gálio Alumínio (GaAlAs) nos
parâmetros apontados na Quadro 1. Os agentes
fotossensibilizantes empregados foram: azul de metileno
(Synth) numa proporção de 0.01% peso/volume (CHAN;
LAI, 2003) equivalente a 5,34µM e a cloro-alumínioftalocianina tetrasulfonada (AlPcS4) numa concentração
de 35mM (BRAGA; PACHECO-SOARES, 2005) como
sendo uma concentração eficaz.
Quadro 1 - Parâmetros de irradiação do laser Arseneto de Gálio Alumínio (GaAlAs).
Fotossensibilização e irradiação: Alíquotas foram
distribuídas em placas contendo 24 poços na seguinte
disposição formando os respectivos grupos:
Grupo 1 (controle)*: 1000ml de cultura bacteriana;
Grupo 2*: 965ml bactéria + 50ml de Triton X 100 –
1% + 35mM AlPcS4;
Grupo 3*: 500ml bactéria + 500ml azul de metileno;
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Grupo 4**: 1000ml de bactéria;
Grupo 5**: 965ml bactéria + 50ml de Triton X 100 –
1% + 35mM AlPcS4;
Grupo 6**: 500ml bactéria + 500ml azul de metileno.
* Grupos que não foram irradiados com laser;
** Grupos que receberam irradiação laser.
123
A cultura bacteriana após cultivo overnight para
atingir a fase log de crescimento, foi repicada em alíquotas:
1000ml para o grupo controle e grupo apenas irradiado
com laser (grupo 1 e 4), 965ml para o grupo onde seria
adicionado AlPcS4 (grupo 2 e 5) e 500ml para o grupo onde
seria adicionado azul de metileno (grupo 3 e 6), em uma
placa de 24 poços distribuídos em triplicata para cada grupo em posições intercaladas. Nos poços onde seriam colocados os fotossensibilizantes, antes foi adicionado 50ml
de Triton X 100 – 1% (SMETANA et al., 1994). Adicionou
então alíquotas de 35ml de AlPcS4 nos poços dos grupos
2 e 5 e 500ml de azul de metileno nos poços dos grupos 3
e 6 e então deixou em incubação a 37° C no escuro por um
período de 1 hora. Após esse período de incubação com
os fotossensibilizantes, o conteúdo de cada poço foi transferido para tubos eppendorfs individuais e centrifugado a
14000rpm por 5 minutos para remoção do agente
fotossensibilizante não captado. Em seguida descartouse o sobrenadante e ressuspendeu o sedimento em 1ml de
PBS (salina 0,9 % estéril). O conteúdo de cada tubo
eppendorf foi então recolocado nos seus respectivos poços para proceder a irradiação. Esta foi realizada no escuro
com o laser diodo GaAlAs nos parâmetros já mencionados. Após a irradiação foram retiradas alíquotas de 100ml
de cada poço e distribuídas uniformemente em placas de
Petri com o auxílio da alça de Drigalski. Ao final as placas
de Petri foram colocadas em estufa a 37°C por 24 horas
para depois efetuar a leitura dos resultados.
Método de leitura dos resultados: transcorridas
24 horas as placas de Petri foram fotografadas com máquina digital DSC-W5 (Sony Cybershot), sendo
transferidas para um computador convencional para proceder com a contagem das colônias formadas através do
programa UTHSCSA ImageTool Versão 3.0 e a
significância foi obtida através do método ANOVA.
4. RESULTADOS
Frações de sobrevivência bacteriana foram expressas como unidades formadoras de colônias (CFU –
Colonies Formation Units), portanto foram obtidos valores CFU para colônias controle, colônias contendo
apenas azul de metileno, colônias contendo apenas
AlPcS4, colônias irradiadas com laser, colônias contendo
azul de metileno e irradiadas com laser e colônias contendo AlPcS4 irradiadas com laser, depois de completadas
24 horas pós-experimento.
Fig. 1 - Unidades Formadoras de Colônias de Staphylococcus aureus 24 horas após o experimento: A- Controle;
B- Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfonada; C- Azul de Metileno; D- Laser; E- Azul de Metileno + Laser;
F- Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfonada + Laser.
Os valores de sobrevivência bacteriana foram indicados num processo comparativo com as colônias controle sendo considerados como 100% (3138 colônias em
média - Fig. 1A). Num primeiro momento preconizou-se a
contagem das colônias que foram incubadas apenas com
124
azul de metileno e com AlPcS4, obtendo os valores expressos no gráfico 1. A ALPcS4 manteve um número de
CFU similar ao do controle, não apresentando assim atividade antimicrobiana quando usado isoladamente, com
valor de 98,4% de sobrevivência bacteriana (3088 colôni-
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
as em média - Fig. 1B). Já o azul de metileno, na concentração usada, mostrou ser um fotossensibilizante que
apresenta certa atividade antimicrobiana contra
Staphylococcus aureus quando utilizado isoladamente,
apresentando 54,01% de sobrevivência de bactérias (1695
colônias em média - Fig. 1C).
Gráfico 1 - Efeitos propostos pelos fotossensibilizantes Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfonada (AlPcS4) e
Azul de Metileno (A.M.) na ausência de laser sobre cultura de Staphylococcus aureus
em comparação com o Controle (C); (P < 0,05).
Quando as colônias irradiadas apenas com laser
foram contadas, foi observado que ele não apresentou
propriedade antimicrobiana como mostrado no Gráfico 2,
pelo contrário, ele apresentou atividade bio-estimulatória,
e sua contagem foi 3,1% acima do valor obtido no controle (3237 colônias em média - Fig. 1D).
Ao contar as colônias que continham azul de
metileno e AlPcS4 respectivamente, e irradiadas com laser,
Gráfico 2, foram observados valores de sobrevivência
bacteriana menores quando comparados ao controle,
mostrando os seguintes valores de sobrevivência
bacteriana: 43,75% para azul de metileno mais laser (1373
colônias em média - Fig. 1E) e 23,67% de sobrevivência
bacteriana para AlPcS4 mais laser (744 colônias em média
- Fig. 1F).
Gráfico 2 - Efeitos propostos pelo Laser (L), Laser + Azul de Metileno (L+A.M.) e Laser + Cloro-AlumínioFtalocianina Tetrasulfonada (L+AlPcS4) sobre cultura de Staphylococcus aureus em comparação com o Controle (C);(P < 0,05).
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
125
Ao comparar os valores de bactérias que foram
tratadas apenas com fotossensibilizante e aquelas que,
além de conterem o mesmo, também foram irradiadas, foi
observado que as placas com azul de metileno mais laser
apresentaram uma pequena variação, obtendo um valor
de 81% de sobrevivência bacteriana, já AlPcS4 possuiu
uma variação bem considerável, com um valor 24,06% de
sobrevivência, Gráfico 3, tendo como base a utilização
isolada de cada fotossensibilizante como sendo 100%.
Ou seja, das 1695 colônias que sobreviveram quando o
azul de metileno foi utilizado isoladamente, 1373 ainda
sobreviveram quando ele foi utilizado em conjunto com
o laser (81% de sobrevivência) e das 3088 colônias que
sobreviveram quando a ftalocianina foi utilizada isoladamente, apenas 744 colônias sobreviveram quando esta
foi utilizada em conjunto com o laser (24,06% de sobrevivência).
Gráfico 3 - Efeitos comparativos entre Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfona (AlPcS4) na ausência de laser;
Laser + Cloro-Alumínio-Ftalocianina Tetrasulfona (L+AlPcS4); Azul de Metileno (A.M.) sem Laser, Laser +
Azul de Metileno (L+A.M.) sobre cultura de Staphylococcus aureus (P < 0,05).
5. DISCUSSÃO
Estudos anteriores demonstraram que a PDT contra Staphylococcus aureus pode possuir uma variação
considerável de acordo com o fotossensibilizante utilizado. E foi estabelecido que, para organismos gram-positivos, tanto fotossensibilizantes carregados positivamente como os carregados negativamente são efetivos para
mediar a PDT (JONES; MONSTREY; GAMBIER, 1996;
MALIK; LADAN; NITZAN, 1990; MALIK; LADAN;
NITZAN, 1992; MERCHAT et al., 1996A; MERCHAT et
al., 1996B; MILLSON et al., 1996; MINNOCK et al., 1996;
NITZAN; ASHKENAZI, 2001; ORTH et al., 1995;
MAISCH et al., 2005; ROBERT et al., 1998;
SAIJONMAA-KOULUMIES; LLOYD, 2002; SCHMIDT
et al., 1998; SMETANA et al., 1994).
Os resultados do presente estudo têm demonstrado significativa diferença quanto ao tipo de agente
fotossensibilizante utilizado na PDT. De acordo com outros autores, o azul de metileno não é efetivo contra bactérias até que certa concentração inicial eficaz tenha sido
descoberta (Merchat et al., 1996b; Wainwright, 1998).
126
Isso vale também para a ftalocianina, pois trabalhos anteriores não mostraram resultados significativos quando
da utilização de concentrações diferentes da que foi usada nesse estudo.
Embora não existam estudos detalhados sobre a
carga iônica total carregada pelo muco extracelular
(biofilme), existem trabalhos que mostram a interação
hidrofóbica entre o muco bacteriano e superfícies causando adesão bacteriana e assim determinando sua
patogenicidade (BROWN; FRANKL; PHANG, 1996;
SAIJONMAA-KOULUMIES; LLOYD, 2002).
Consequentemente, pode-se supor que as características do muco têm um significativo papel na determinação
da ligação e penetração intracelular de fotossensibilizante
que varia em carga e hidrofobicidade. Portanto uma maior ou menor morte bacteriana é determinada pelas características de sua superfície quanto à penetração do agente
fotossensibilizante e também por suas características
hidrofóbicas.
A toxicidade do azul de metileno é reportada como
sendo muito baixa. Ele tem sido usado em elevadas conRevista UniVap, v.16, n.28, 2010
centrações em vários diagnósticos e terapias, incluindo
injeção intrarterial em cirurgias reconstrutivas (JONES;
MONSTREY; GAMBIER, 1996), administração
intravenosa (5mg/kg diluído em 500ml de solução
glicosada) para tratamento de hiperparatireóidismo primário (ROBERT et al., 1998), em infusões contínuas para
tratamento de choque séptico (BROWN; FRANKL;
PHANG, 1996), sendo sua aplicação mais importante na
PDT contra células neoplásicas (ORTH et al., 1995).
Nesse estudo foi observado que o azul de metileno,
quando utilizado isoladamente promoveu uma sobrevivência bacteriana bem abaixo do controle, podendo supor que ele apresentou atividade bactericida para o
Staphylococcus aureus na ausência de irradiação.
Um importante objetivo na investigação do processo de fotossensibilização na PDT é a elucidação do
mecanismo de ação do agente fotossensibilizante selecionado, para determinar qual o tipo de reação ocorrida
(tipo I ou tipo II). Portanto, é de interesse analisar se a
morte bacteriana é mediada pela formação de radicais
citotóxicos a partir de substratos locais ou se ela é mediada predominantemente pelo oxigênio reativo singleto,
pois a eficiência de cada fotossensibilizante é baseada
no tipo de reação que ele desencadeia.
Estudos anteriores nos revelaram grande escala de
corantes que podem ser usados como agente
fotossensibilizante: ftalocianias, porfirinas, azul de
metileno, azul de toluidina dentre outros (BERTOLONI et
al., 2000), e todos mostraram ter atividade contra bactérias
Gram+ e contra Gram- frente à irradiação (MILLSON et al.,
1996; NITZAN; ASHKENAZI, 2001). Esta eficácia de morte bacteriana promovida por todos estes
fotossensibilizantes tem sido confirmada como sendo significativamente diferente entre bactérias Gram+ e Gram-,
com maior eficácia contra as bactérias Gram+ (MALIK;
LADAN; NITZAN, 1992; MERCHAT et al., 1996a;
NITZAN; ASHKENAZI, 2001). É geralmente aceito que a
camada de peptídeoglicano de extratos de Staphylococcus
sp é bastante permeável a antibióticos quando comparado
a outras membranas de bactérias Gram- (HAMBLIN et al.,
2002a; HAMBLIN et al., 2002b). Em contrapartida, concentrações significativas de fotossensibilizante ultrapassam a membrana citoplasmática de bactérias Gram+ induzindo danos irreversíveis via oxigênio singleto após irradiação. Morfologicamente as bactéria Gram+ diferem das
Gram-, pois estas últimas apresentam uma membrana externa (bicamada lipídica) fora da camada de
pepitídeoglicano (MALIK; LADAN; NITZAN, 1992).
Existem
evidências
sugerindo
que
fotossensibilizantes que penetram no interior da bactéria
pode ser mais efetivo que aqueles que agem na superfície bacteriana (HAMBLIN et al., 2002A; HAMBLIN et
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
al., 2002b). Isto não quer dizer que os agentes
fotossensibilizantes que agem na superfície bacteriana
não são eficazes, como muitos trabalhos anteriores já
mostraram (BHATTI et al., 1998; BHATTI et al., 1997).
Indicadores para essa nova ftalocianina mostram
que ela teria uma boa eficácia para controlar a colonização bacteriana em funcionários e pacientes hospitalares,
esterilizando feridas e desinfetando a pele e suas lesões,
se for realçada sua eficácia antimicrobiana contra bactérias in vivo, em comparação com sua eficácia contra bactérias in vitro. Em contra-partida, o azul de metileno, por
ter-se mostrado tóxico no estudo realizado, necessita de
novas pesquisas para se chegar a uma concentração que
seja menos tóxica e que promova menor sobrevivência
bacteriana frente a irradiação.
6. CONCLUSÕES
Os experimentos mostraram que os dois
fotossensibilizantes empregados têm boa funcionalidade na PDT, principalmente a AlPcS4 que proporcionou
melhores resultados quando comparada ao azul de
metileno. Portanto a utilização deles para mediar morte
bacteriana através da irradiação pode ser uma alternativa
para uma terapia antibiótica tópica. A despeito desses
resultados experimentais promissores, somente uma experimentação clínica controlada e minuciosa pode provar a eficácia da PDT para inativação de bactérias in
vivo.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTOLONI, G.; LAURO, F. M.; CORTELLA, G.;
MERCHAT, M. Photosensitizing activity of
hematoporphyrin on Staphylococcus aureus cells.
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BHATTI, M.; MACROBERT, A.; MEGHJI, S.;
HENDERSON, B.; WILSON, M. A study of the uptake of
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Campos-SP; 2005. Anais. São José dos Campos-SP: IX
INIC, p. 58, 2005.
127
BROWN, G.; FRANKL, D.; PHANG, T. Continuous
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129
Vibrational Modes of the Cysteine Molecule and the
Stretching Force Constant of the Disulfide Bond of Cystine
Kumiko Kobuichi Sakane *
Mituo Uehara *
Airton Abrahão Martin *
Abstract: Infrared spectra of cysteine and cystine, in the range 900 cm-1 to 350 cm-1, are presented.
The absorption band corresponding to the C-S stretching vibration of cysteine is clearly visible at
691 cm-1. A weak band at 499 cm-1 is assigned as the S-S stretching frequency of cystine. An
estimate of the S-S stretching force constant is made.
Key words: Cysteine, cystine, disulfide bond.
Resumo: São apresentados espectros de absorção no infravermelho, na faixa de 900 cm-1 a
350 cm-1. A banda de absorção correspondente à vibração de estiramento C-S é claramente vista em
691 cm-1. Uma banda fraca em 499 cm-1 é interpretada como correspondente à frequencia de
estiramento S-S da cistina. Apresenta-se uma estimativa da constante de força de estiramento S-S.
Palavras-chave: Cisteína, cistina, ligação S-S.
1. INTRODUCTION
The disulfide bond plays an important role in the
stabilization of the structure of protein molecules. In
cystine, the disulfide bond is a covalent bond formed
between the thiol groups of two vicinal cysteine residues.
There are correlations between S-S and C-S stretching
frequencies and molecular conformations of proteins and
dialkyl sulfides (BRANDT et al., 2008; SUGETA; GO;
MIYAZAWA, 1973).
The disulfide stretching vibrations gives rise to a
strong Raman band and a weak infrared-absorption band
(SUGETA; GO; MIYAZAWA, 1973). Thus, usually,
disulfide stretching frequency is obtained from Raman
spectrum, whereas, the infrared band corresponding to
the S-S stretching vibration is not mentioned in spectral
studies of cystine.
A normal coordinate analysis of the vibrational
modes of the cysteine molecule has been published by
Susi, Byler and Gerasimowicz (1983), which shows that
there is extensive coupling of the skeletal vibration modes,
which prevents approximate descriptions of the observed
frequencies, with the exception of the band corresponding
to the C-S stretching vibration.
* Professor(a) da UNIVAP.
E-mails: [email protected], [email protected],
[email protected]
130
In this paper, we present the infrared-absorption
spectra of cysteine and cystine, in the range 900 cm-1 to
350 cm-1, which corresponds to the skeletal vibration
modes of the cysteine molecule. We make an estimate of
the stretching force constant of the disulfide bond of
cystine, with a reasoning based on Susi, Byler and
Gerasimowicz (1983) normal coordinate analysis of the
cysteine molecule, and on the observed frequencies
corresponding to S-S and C-S stretching vibrational
modes.
2. EXPERIMENTAL
Cysteine and cystine, with purity higher than 97%
have been purchased from Sigma-Aldrich. The spectra
for both samples have been observed in the solid state,
at room temperature, with a Perkin-Elmer GX FT-IR
spectrophotometer. The precision was 4 cm-1 .
3. RESULTS AND DISCUSSION
Fig. 1 shows the infrared-absorption spectra of
cysteine and cystine, in the range 900 cm-1 to 350 cm-1.
The band at 691 cm-1, corresponding to the C-S stretching
vibration of cysteine (SUSI; BYLER; GERASIMOWICZ,
1983), can be clearly seen. At 499 cm-1 there is a shoulder
which corresponds to the weak infrared-absorption band
given rise by the S-S stretching vibration of the cystine
molecule.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Fig. 1 - Infrared spectra of cysteine and cystine.
Table 1 shows the wave-numbers (in cm-1) of the
observed infrared-absorption bands of cysteine and cystine.
Table 1 - Observed wave-numbers (cm-1) of cysteine and cystine
Raman spectra of dialkyl disulfides, in the liquid
state, show two bands, at 510 cm-1 and at 525 cm-1, that
have been assigned as S-S stretching vibrations (Sugeta;
Go; Miyazawa, 1973; Van Wart; Sheraga, 1986). Since the
S-S stretching frequencies depend upon the molecular
conformations about the C-S bond, Sugeta, Go and
Miyazawa (1973) have concluded that the two Raman
lines correspond to two different isomers. In the solid
state only one isomer was observed (Sugeta; Go;
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
Miyazawa, 1973; Van Wart; Sheraga, 1986).
The infrared spectrum of cystine, shown in Fig. 1,
has only one absorption band (at 499 cm-1) that can be
assigned as S-S stretching vibration. The spectrum was
obtained for the cystine in the solid state for which one
isomer is expected to exist. However, it cannot be
concluded from the observation of only one infrared band
that only one isomer exists, because the infrared
131
absorption is weak. Therefore, Raman and infrared spectra
are both needed for conformational studies.
A rough estimate of the S-S stretching force
constant can be made as follows. Susi, Byler and
Gerasimowicz (1983) have shown that the band at 691
cm-1 can be assigned to the C-S stretching vibration mode,
because, according to their calculations, 77% of the PED
(potential energy distribution) of that band corresponds
to the mentioned vibration mode. Thus, it is reasonable
to model that vibration mode by a two-particle system
with an effective reduced mass µCS defined by
(2) we obtain kSS = 3.1 N.cm-1, which may be used, as the
initial value of that constant, in a normal coordinate
analysis of the vibrational modes of the cystine molecule.
Wilson, Decius and Cross (1980) report the value
kSS = 2.5 N.cm-1 for the H2S2 molecule. The difference
between the two values for k SS can be understood
considering that the success of transferring force
constant values from one molecule to another is sensitive
to the difference between environments of the bond in
the two molecules and also to the number of interactions
employed in the potential function.
4. CONCLUSIONS
(1),
where c is the light speed in the vacuum,
the
wavenumber of the C-S stretching vibration, kCS the force constant, and µCS the effective reduced mass of the
system.
Introducing the values kCS = 3.223 N.cm-1 and =
691 cm-1, given by Susi, Byler and Gerasimowicz (1983),
into Equation (1) we obtain µCS = 11.5 amu (atomic mass
unit = 1.66004x10-27 kg).
The S-S stretching vibration of the cystine
molecule can be modeled by a two-particle system with
an effective reduced mass µSS defined by
(2),
where
is the wavenumber of the S-S stretching
vibration, kSS the force constant, and µSS the effective
reduced mass of the system.
As an estimate of the value of µSS we assume that
(3),
where we have subtracted 1 amu from µCS considering
that each cysteine residue has one hydrogen atom less
than the cysteine molecule, and we multiplied the
difference by 2 since cysteine is formed by two cysteine
residues linked by a disulfide bond. Thus, we get µSS = 21
amu. Introducing this value and = 499 cm-1 into Equation
132
The S-S stretching vibration can be observed in
the infrared spectrum of the cysteine molecule as a weak
band. For studies on molecular conformational states,
infrared spectra must be complemented by Raman spectra.
The estimated value of the S-S stretching force constant
may be useful for further studies on the cystine molecule.
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Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
NORMAS GERAIS PARA A PUBLICAÇÃO
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A Revista UniVap é uma publicação de divulgação
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2. Língua. Os artigos devem ser escritos,
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textos em Inglês e Espanhol. No caso do uso das línguas
Portuguesa e Espanhola, devem ser anexado um resumo
em Português (ou Espanhol) e em Inglês (Abstract).
3. Os trabalhos devem obedecer à seguinte ordem:
- Resumo. Com no máximo 250 palavras, o resumo deve
apresentar o que foi feito e estudado, seu objetivo, como
foi feito (metodologia), apresentando os resultados,
conclusões ou reflexões sobre o tema, de modo que o
leitor possa avaliar o conteúdo do texto. NBR6028.
- Abstract. Versão do resumo para a língua Inglesa.
Caso o trabalho seja escrito em Inglês, o Abstract deve
ser traduzido para o Português (Resumo).
- Palavras-chave (Key words). Apresentar de duas a
cinco palavras-chave sobre o tema.
- Texto. Corpo do artigo estruturado em introdução,
desenvolvimento e conclusão. No caso de divisão de
seções, sua ordenação deve seguir o sistema de
numeração progressiva (NBr6024), com subtítulos de
caráter informativo.
- Citações dentro do texto. As citações com mais de 3
linhas devem ser destacadas com recuo da margem
esquerda 4 cm, com letra menor que a do texto utilizado
e sem aspas.
Ex.:
Na criança, bons hábitos posturais são
importantes para evitar sobrecargas
anormais em ossos em crescimento e
alterações adaptativas em músculos e
tecido mole. (KISNER; COLBY, 1998).
Nas citações são utilizadas sobrenome e data,
apresentadas em maiúsculas dentro do parênteses e
em minúsculas fora do parênteses.
Ex.: 1. Segundo Spector (2003), “A discussão dos
resultados é a parte mais livre da tese, onde o autor
tem maior latitude para demonstrar o seu domínio do
tema e o valor do estudo.”
Ex.: 2. A discussão dos resultados é a parte mais livre
da tese, onde o autor tem maior latitude para
demonstrar o seu domínio do tema e o valor do estudo
(SPECTOR, 2003).
- Título (e subtítulo, se houver). Deve estar de acordo
com o conteúdo do trabalho, conforme os artigos aqui
apresentados.
- Referências Bibliográficas: devem ser apresentadas
no final do trabalho, em ordem alfabética de sobrenome
do(s) autor(es), como nos seguintes exemplos:
- Autor(es). Logo abaixo do título, apresentar nome(s)
do(s) autor(es) por extenso, sem abreviaturas. Com
asterisco, colocado logo após o nome completo do autor
ou autores, remeter a uma nota de rodapé relativa às
informações referentes às instituições a que pertence(m)
e às qualificações, títulos, cargos ou outros atributos.
a) Livro: SOBRENOME, Nome. Título da obra. Local
de publicação: Editora, data. Exemplo: PÉCORA,
Alcir. Problemas de redação. 4.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1992.
Revista UniVap, v.16, n.28, 2010
b) Capítulo de livro: SOBRENOME, Nome. Título do
capítulo. In: SOBRENOME, Nome (org.). Título do
133
livro. Local de publicação: Editora, data. Página
inicial-final. Exemplo: LACOSTE, Y. Liquidar a
geografia... liquidar a idéia nacional? In: VESENTIN,
José William (org.). Geografia e ensino: textos críticos.
Campinas: Papirus, 1989. p.31-82.
c) Artigo de periódico: SOBRENOME, Nome. Título
do artigo. Título do periódico, local de publicação,
volume do periódico, número do fascículo, página
inicial-página final, mês(es). Ano. Exemplo:
ALMEIDA JÚNIOR, M. A economia brasileira.
Revista Brasileira de Economia, São Paulo, v. 11, n.
1, p. 26-28, jan./fev. 1995.
d) Dissertações, Teses e Trabalhos Acadêmicos:
SOBRENOME, Nome. Título da dissertação (ou tese).
Local. Número de páginas (Categoria, grau e área de
concentração). Instituição em que foi defendida. data.
Exemplo: BRAZ, A. L. Efeito da luz na faixa espectral
do visível em adultos sadios. 2002. 1 disco laser.
Dissertação (Mestrado em Bioengenharia) - Instituto
de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do
Vale do Paraíba, São José dos Campos, 2002.
e) Outros casos: Consultar as Normas da ABNT para
Referências Bibliográficas (NBR6023). Ou acessar o
site: http://www.univap.br/cultura/abnt.htm
4. As figuras (desenhos, gráficos, ilustrações, fotos) e
tabelas devem apresentar boa qualidade e serem
acompanhados de legendas breves e claras. Indicar no
verso das ilustrações, escritos a lápis, o sentido da figura,
o nome do autor e o título abreviado do trabalho. As
figuras devem ser numeradas seqüencialmente com
números arábicos e iniciadas pelo termo Fig., devendo
ficar na parte inferior da figura. Exemplo: Fig. 4 - Gráfico
de controle de custo. (fonte 10). As tabelas também
devem ser numeradas seqüencialmente, com números
arábicos, e colocadas na parte superior da tabela.
Exemplo: Tabela 5 - Cronograma da Pesquisa. As figuras
e tabelas devem ser impressas juntamente com o original
e quando geradas no computador deverão estar gravadas
no mesmo arquivo do texto original. Fotografias,
desenho artístico, mapas etc., devem ser de boa
qualidade e em preto e branco.
134
5. O encaminhamento do original para publicação deve
ser feito acompanhado do disquete ou CD-ROM e com a
indicação do software e versão usada.
6. O Corpo Editorial avaliará sobre a conveniência ou
não da publicação do trabalho enviado, bem como
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edição, o Corpo Editorial selecionará, dentre os trabalhos
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