A estruturação do parágrafo O tamanho do parágrafo

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A estruturação do parágrafo O tamanho do parágrafo
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CURSO PRÉ-VESTIBULAR
PORTUGUÊS
AULA 25
ASSUNTO: REDAÇÃO
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REDAÇÃO
A estruturação do parágrafo
(Parágrafo-padrão )
O parágrafo-padrão é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em
que se desenvolve determinada idéia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias,
intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.
O parágrafo é indicado por um afastamento da margem esquerda da folha. Ele facilita ao escritor a
tarefa de isolar e depois ajustar convenientemente as idéias principais de sua composição, permitindo ao
leitor acompanhar-lhes o desenvolvimento nos seus diferentes estágios.
O tamanho do parágrafo
Os parágrafos são moldáveis como a argila, podem ser aumentados ou diminuídos, conforme o tipo
de redação, o leitor e o veículo de comunicação onde o texto vai ser divulgado. Se o escritor souber variar
o tamanho dos parágrafos, dará colorido especial ao texto, captando a atenção do leitor, do começo ao
fim. Em princípio, o parágrafo é mais longo que o período e menor que uma página impressa no livro, e a
regra geral para determinar o tamanho é o bom senso.
Parágrafos curtos: próprios para textos pequenos, fabricados para leitores de pouca formação
cultural. A notícia possui parágrafos curtos em colunas estreitas, já artigos e editoriais costumam ter
parágrafos mais longos. Revistas populares, livros didáticos destinados a alunos iniciantes, geralmente,
apresentam parágrafos curtos.
Quando o parágrafo é muito longo, o escritor deve dividi-lo em parágrafos menores, seguindo critério
claro e definido. O parágrafo curto também é empregado para movimentar o texto, no meio de longos
parágrafos, ou para enfatizar uma idéia.
Parágrafos médios - comuns em revistas e livros didáticos destinados a um leitor de nível médio (2º
grau). Cada parágrafo médio construído com três períodos que ocupam de 50 a 150 palavras. Em cada
página de livro cabem cerca de três parágrafos médios.
Parágrafos longos - em geral, as obras científicas e acadêmicas possuem longos parágrafos, por
três razões: os textos são grandes e consomem muitas páginas; as explicações são complexas e exigem
várias idéias e especificações, ocupando mais espaço; os leitores possuem capacidade e fôlego para
acompanhá-los.
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Tópico frasal
A idéia central do parágrafo é enunciada através do período denominado tópico frasal (também
chamado de frase-síntese ou período tópico). Esse período orienta ou governa o resto do parágrafo; dele
nascem outros períodos secundários ou periféricos; ele vai ser o roteiro do escritor na construção do
parágrafo; ele é o período mestre, que contém a frase-chave. Como o enunciado da tese, que dirige a
atenção do leitor diretamente para o tema central, o tópico frasal ajuda o leitor a agarrar o fio da meada
do raciocínio do escritor; como a tese, o tópico frasal introduz o assunto e o aspecto desse assunto, ou a
idéia central com o potencial de gerar idéias-filhote; como a tese, o tópico frasal é enunciação
argumentável, afirmação ou negação que leva o leitor a esperar mais do escritor (uma explicação, uma
prova, detalhes, exemplos) para completar o parágrafo ou apresentar um raciocínio completo. Assim, o
tópico frasal é enunciação, supõe desdobramento ou explicação.
A idéia central ou tópico frasal geralmente vem no começo do parágrafo, seguida de outros períodos
que explicam ou detalham a idéia central.
Exemplos:
Ao cuidar do gado, o peão monta e governa os cavalos sem maltrátá-los. O modo de tratar o cavalo
parece rude, mas o vaqueiro jamais é cruel. Ele sabe como o animal foi domado, conhece as qualidades e
defeitos do animal, sabe onde, quando e quanto exigir do cavalo. O vaqueiro apren
deu que paciência e muitos exercícios são os principais meios para se obter sucesso na lida com os
cavalos, e que não se pode exigir mais do que é esperado.
A distribuição de renda no Brasil é injusta. Embora a renda per capita brasileira seja estimada em U$
$2.000 anuais, a maioria do povo ganha menos, enquanto uma minoria ganha dezenas ou centena de
vezes mais. A maioria dos trabalhadores ganha o salário mínimo, que vale U$$112 mensais; muitos
nordestinos recebem a metade do salário mínimo,. Dividindo essa pequena quantia por uma família onde
há crianças e mulheres, a renda per capita fica ainda mais reduzida; contando-se o número de
desempregados, a renda diminui um pouco mais. Há pessoas que ganham cerca de U$$10.000 mensais,
ou U$$ 120.000 anuais; outras ganham muito mais, ainda. O contraste entre o pouco que muitos ganham
e o muito que poucos ganham prova que a distribuição de renda em nosso país é injusta.
Exercícios
1. Desenvolva também estes tópicos frasais dissertativos:
a) A prática do esporte deve ser incentivada e amparada pelos órgãos públicos.
b) O trabalho dignifica o homem, mas o homem não deve viver só para o trabalho.
c) A propaganda de cigarros e de bebidas deve ser proibida.
d) O direito à cultura é fundamental a qualquer ser humano.
2. Desenvolva os tópicos frasais seguintes, considerando os conectivos:
a) O jornal pode ser um excelente meio de conscientização das pessoas, a não ser que
b) As mulheres, atualmente, ocupam cada vez mais funções de destaque na vida social e política de
muitos países; no entanto
c) Um curso universitário pode ser um bom caminho para a realização profissional de uma pessoa,
mas...
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d) Se não souber preservar a natureza, o ser humano estará pondo em risco sua própria existência,
porque...
e) Muitas pessoas propõem a pena de morte como medida para conter a violência que existe hoje em
várias cidades; outras, porém
f) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, porque.
g) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, no entanto
h) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura, pois
i) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura, entretanto
j) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, porque
l) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, embora
Tópico frasal desenvolvido por enumeração.
Exemplo:
A televisão, apesar das críticas que recebe, tem trazido muitos benefícios às pessoas, tais como:
informação, por meio de noticiários que mostram o que acontece de importante em qualquer parte do
mundo; diversão, através de programas de entretenimento (shows, competições esportivas); cultura, por
meio de filmes, debates, cursos.
Faça o mesmo:
1. Na escolha de uma carreira profissional, precisamos considerar muitos aspectos, dentre os quais
podemos citar:
2. O desrespeito aos direitos humanos manifesta-se de várias formas:
3. O bom relacionamento entre os membros de uma família depende de vários fatores, como:
4. A vida nas grandes cidades oferece vantagens e desvantagens. Dentre as vantagens, podemos
lembrar
e, dentre as desvantagens,
Tópico frasal desenvolvido por descrição de detalhes
É o processo típico do desenvolvimento de um parágrafo descritivo:
Era o casarão clássico das antigas fazendas negreiras. Assobradado, erguia-se em alicerces o
muramento, de pedra até meia altura e, dali em diante, de pau-a-pique (...) À porta da entrada ia ter uma
escadaria dupla, com alpendre e parapeito desgastado.(Monteiro Lobato)
Tópico frasal desenvolvido por confronto.
Trata-se de estabelecer um confronto entre duas idéias, dois fatos, dois seres, seja por meio de
contrastes das diferenças, seja do paralelo das semelhanças. Veja o exemplo:
Embora a vida real não seja um jogo, mas algo muito sério, o xadrez pode ilustrar o fato de que,
numa relação entre pais e filhos, não se pode planejar mais que uns poucos lances adiante. No xadrez,
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cada jogada depende da resposta à anterior, pois o jogador não pode seguir seu planos sem considerar os
contra-ataques do adversário, senão será prontamente abatido. O mesmo acontecerá com um pai que
tentar seguir um plano preconcebido, sem adaptar sua forma de agir às respostas do filho, sem reavaliar
as constantes mudanças da situação geral, na medida em que se apresentam. (Bruno Betelheim,
adaptado)
Tópico frasal desenvolvido por razões
No desenvolvimento apresentamos as razões, os motivos que comprovam o que afirmamos no tópico
frasal.
As adivinhações agradam particularmente às crianças. Por que isso acontece de maneira tão
generalizada? Porque, mais ou menos, representam a forma concentrada, quase simbólica, da experiência
infantil de conquista da realidade. Para uma criança, o mundo está cheio de objetos misteriosos, de
acontecimentos incompreensíveis, de figuras indecifráveis. A própria presença da criança no mundo é,
para ela, uma adivinhação a ser resolvida. Daí o prazer de experimentar de modo desinteressado, por
brincadeira, a emoção da procura da surpresa. (Gianni Rodari, adaptado)
Tópico frasal desenvolvido por análise
É a divisão do todo em partes.
Quatro funções básicas têm sido atribuídas aos meios de comunicação: informar, divertir, persuadir e
ensinar. A primeira diz respeito à difusão de notícias, relatos e comentários sobre a realidade. A segunda
atende à procura de distração, de evasão, de divertimento por parte do público. A terceira procura
persuadir o indivíduo, convencê-lo a adquirir certo produto. A quarta é realizada de modo intencional ou
não, por meio de material que contribui para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de
conhecimentos. (Samuel P. Netto, adaptado)
Tópico frasal desenvolvido pela exemplificação
Consiste em esclarecer o que foi afirmado no tópico frasal por meio de exemplos:
A imaginação utópica e inerente ao homem, sempre existiu e continuará existindo. Sua presença é
uma constante em diferentes momentos históricos: nas sociedades primitivas, sob a forma de lendas e
crenças que apontam para um lugar melhor; nas formas do pensamento religioso que falam de um
paraíso a alcançar; nas teorias de filósofos e cientistas sociais que, apregoando o sonho de uma vida mais
justa, pedem-nos que “sejamos realistas, exijamos o impossível”. (Teixeira Coelho, adaptado)
Exercícios
1.Grife o tópico frasal de cada parágrafo apresentado. Não deixe de observar como o autor
desenvolve.
a) “O isolamento de uma população determina as características culturais próprias. Essas sociedades
não têm conhecimento das idéias existentes fora de seu horizonte geográfico. É o que acontece na terra
dos cegos do conto de H.G. Welles. Os cegos desconhecem a visão e vivem tranqüilamente com sua
realidade, naturalmente adaptados, pois todos são iguais. Esse conceito pode ser exemplificado também
pelo caso das comunidades indígenas ou mesmo qualquer outra comunidade isolada.”(Redação de
vestibular)
b) “O desprestígio da classe política e o desinteresse do eleitorado pelas eleições proporcionais são
muitos fortes. As eleições para os postos executivos é que constituem o grande momento de mobilização
do eleitorado. É o momento em que o povão se vinga, aprovando alguns candidatos e rejeitando outros.
Os deputados, na sua grande maioria, pertencem à classe A. É com os membros dessa classe que os
parlamentares mantêm relações sociais, comerciais, familiares. É dessa classe com a qual mantêm
maiores vínculos, que sofrem as maiores pressões. Desse modo, nas condições concretas das disputas
eleitorais em nosso país, se o parlamentarismo não elimina inteiramente a influência das classes D e E no
jogo político, certamente atua no sentido de reduzi-la.” (Leôncio M. Rodrigues)
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2. Apresentamos a seguir alguns tópicos frasais para serem desenvolvidos na maneira sugerida.
a) Anacleto é um detetive trapalhão. (por enumeração de detalhes: forneça a descrição física e
psicológica do personagem).
b) As novelas transmitidas pela televisão brasileira são muito mais atraentes que nossos filmes. (por
confronto)
c) As cidades brasileiras estão se tornando ingovernáveis. (por razões)
d) Há três tipos básicos de composição: a narração, a descrição e a dissertação. (por análise)
e) Nunca diga que algum ser humano é uma ilha: tudo que acontece a um semelhante nos atinge.
(por exemplificação)
Coesão e Coerência
Antes de tudo é preciso saber o que é coesão e coerência, pois sem essas duas chaves
principais de qualquer texto, você não vai a lugar nenhum.
Coesão - em nossa linguagem cotidiana procuramos executar manobras coesivas,
muitas vezes, com o intuito de melhorar a própria expressividade do enunciado. Veja
alguns casos:
Em lugar de:
- Comprei sorvetes. Dei os sorvetes a meus filhos.
usamos:
- Comprei sorvetes. Dei-os a meus filhos.
Dei-os funciona como relacional que recupera em B o que havia sido colocado em A.
Neste caso, o objetivo é evidenciar o processo de repetição, considerado menos "nobre"
por uma certa gramática.
O uso indevido de elementos de ligação e mesmo a má escolha vocabular podem
comprometer os processos coesivos do texto.
Coerência - é comum ouvir-se dizer que há textos bons por serem coerentes e outros
ruins pela incoerência. A rigor, existem vários níveis e planos de coerência ou
incoerência. Veja alguns casos:
- Um sujeito resolve contar a última piada de papagaio num velório. Além de
impertinente, a piada sofre de uma síndrome geral de incoerência contextual. A situação
lutuosa não permite que o decoro seja quebrado e risos apareçam em torno do defunto.
- Em vestibular da Fuvest, o candidato saiu-se com a seguinte "... a palidez do sol
tropical refletia nas águas do rio Amazonas". Convenhamos que o sol tropical pode ser
acusado de muitas coisas, menos de palidez. O riso provocado pela leitura daquele texto
poético é derivado de um caso de incoerência no uso da imagem.
A lista poderia aumentar muito. Basta reter a idéia que, no fundo, o problema básico
envolvido na produção da coerência é o do acerto das partes com relação ao todo
textual; do ajuste seqüencial das idéias; da progressão dos argumentos; das afirmativas
que são explicadas... Coloque-se sempre no lugar do autor ou do ouvinte para sentir se
realmente está sendo coerente.
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Coerência e coesão
(Um estudo aprofundado sobre os dois temas. )
Apresentação
(do site: www.acd.ufrj.br/~pead/index.htm)
Autor: ?
Pretendemos, neste tema, trabalhando com os conceitos de coerência e coesão, mostrar
o papel e a importância de cada um desses mecanismos não só para a leitura e a
compreensão de textos como também para sua produção.
A coerência e a coesão contribuem para conferir textualidade a um conjunto de
enunciados. Assim, a coerência, manifestada em grande parte no nível macrotextual, é o
resultado da possibilidade de se estabelecer alguma forma de unidade ou relação entre
os elementos do texto. E a coesão, manifestada no nível microtextual, se refere ao modo
como os vocábulos se ligam dentro de uma seqüência.
Ao analisar esses mecanismos, mostramos, por meio de exemplos, as formas em que
podem ocorrer. Ao mesmo tempo, procuramos fazer com que os usuários saibam
empregar adequadamente cada mecanismo não só para depreender o sentido de um
texto como para produzir textos com sentido, estabelecendo uma continuidade entre as
partes, de modo a instaurar entre elas uma unidade, ou seja, a coerência.
É importante também lembrar que a coesão pode auxiliar no estabelecimento da
coerência, embora, às vezes, a coesão nem sempre se manifeste explicitamente através
de marcas lingüísticas, o que faz concluir que pode haver textos coerentes mesmo que
não tenham coesão explícita.
Este tema será, portanto, desenvolvido com o objetivo de mostrar aos usuário da língua
que:
1) mais importante que conhecer os conceitos de coerência e coesão é saber de que
maneira esses fenômenos contribuem para tornar um texto inteligível;
2) a coerência (conectividade conceitual) e a coesão (conectividade seqüencial) são
requisitos fundamentais para a elaboração de qualquer tipo de texto;
3) enquanto a coerência se fundamenta na continuidade de sentidos, a coesão pode se
apresentar por meio de marcas lingüísticas, observadas na gramática ou no léxico;
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4) é necessário perceber como coerência e coesão se completam no processo de
produção e compreensão do texto.
Considerações sobre o conceito de coerência
No nosso dia-a-dia, são comuns comentários do tipo:
Isto não tem coerência.
Esta frase não tem coerência.
O seu texto está incoerente.
O que leva as pessoas a fazerem tais observações, provavelmente, é o fato de
perceberem que, por algum motivo, escapa a elas o entendimento de uma frase ou de
todo o texto.
Coerência está, pois, ligada à compreensão, à possibilidade de interpretação daquilo que
se diz ou escreve. Assim, a coerência é decorrente do sentido contido no texto, para
quem ouve ou lê. Uma simples frase, um texto de jornal, uma obra literária (romance,
novela, poema...), uma conversa animada, o discurso de um político ou do operário, um
livro, uma canção ..., enfim, qualquer comunicação, independente de sua extensão,
precisa ter sentido, isto é, precisa ter coerência.
A coerência depende de uma série de fatores, entre os quais vale ressaltar:
·
o conhecimento do mundo e o grau em que esse conhecimento deve ser ou é
compartilhado pelos interlocutores;
·
o domínio das regras que norteiam a língua - isto vai possibilitar as várias
combinações dos elementos lingüísticos;
·
os próprios interlocutores, considerando a situação em que se encontram, as suas
intenções de comunicação, suas crenças, a função comunicativa do texto.
Portanto, a coerência se estabelece numa situação comunicativa; ela é a responsável
pelo sentido que um texto deve ter quando partilhado por esses usuários, entre os quais
existe um acordo pré-estabelecido, que pressupõe limites partilhados por eles e um
domínio comum da língua.
A coerência se manifesta nas diversas camadas da organização do texto. Ela tem uma
dimensão semântica - caracteriza-se por uma interdependência semântica entre os
elementos constituintes do texto. Tem principalmente uma dimensão pragmática - é
fundamental, no estabelecimento da coerência, o nosso conhecimento de mundo, e esse
conhecimento é acumulado ao longo de nossa existência, de maneira ordenada.
Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo, devemos dizer que a ele se
acrescentam as informações novas. Se estas forem muito numerosas, o texto pode se
tornar incoerente devido à não-familiaridade do ouvinte/leitor com essa massa
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desconhecida de informações. É isto que acontece, por exemplo, quando lemos um texto
muito técnico, de uma área na qual somos leigos.
Na verdade, quando dizemos que um texto é incoerente, precisamos esclarecer que
motivos nos levaram a afirmar isto. Ele pode ser incoerente em uma determinada
situação, porque quem o produziu não soube adequá-lo ao receptor, não valorizaou
suficientemente a questão da comunicabilidade, não obedeceu ao código lingüístico,
enfim, não levou em conta o fato de que a coerência está diretamente ligada à
possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto.
Embora nosso objetivo não seja teorizar em demasia o conceito de coerência, achamos
necessário retomar algumas afirmações feitas por Koch e Travaglia (1989), como
pontos de partida para o trabalho com textos que se segue: "A coerência é profunda,
subjacente à superfície textual, não-linear, não marcada explicitamente na estrutura de
superfície. (...) Ela tem a ver com a produção do texto, à medida que quem o faz quer
que seja entendido por seu interlocutor. (...) A coerência diz respeito ao modo como os
elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores,
uma configuração veiculadora de sentidos. (...) A coerência, portanto, longe de
constituir mera qualidade ou propriedade do texto, é resultado de uma construção feita
pelos interlocutores, numa situação de interação dada, pela atuação conjunta de uma
série de fatores de ordem cognitiva, situacional, sociocultural e interacional."
Observando o grupo de frases abaixo, consideradas do ponto de vista estritamente
referencial,
O homem construiu uma casa na floresta.
O pássaro fez o ninho.
O lenhador derrubou a árvore.
O trabalhador acompanhou o noticiário criticamente.
As árvores estão plantadas no deserto.
A árvore está grávida.
podemos notar que as quatro primeiras não oferecem qualquer problema de
compreensão. Dizemos, então, que elas têm coerência. Já não ocorre o mesmo em
relação às duas últimas. Em As árvores estão plantadas no deserto, há duas idéias
opostas, uma contraria a outra. Em A árvore está grávida, há uma restrição na
combinatória ser vegetal + grávida, o que não ocorre em A mulher está grávida, em
que temos a combinatória possível ser racional + grávida.
Examinemos agora as frases:
a) O pássaro voa.
b) O homem voa.
A frase a tem um grau de aceitação maior do que a frase b, que depende de uma
complementação para esclarecer qual o meio utilizado pelo homem para voar - O
homem voa de asa delta, por exemplo. A combinação de homem com voa tem outras
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significações no plano da conotação: O homem sonha, o homem delira, o homem
anda rápido. Neste plano, muitas outras combinações são possíveis:
As nuvens estão prenhes de chuva.
Sua boca cuspia desaforos.
Observe os três pares que se seguem:
1. a) Todo mundo destrói a natureza menos eu.
b) Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo.
2. a) Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não.
b) Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar.
3. a) Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta sobrevive.
b) Apesar de estarem derrubando muitas árvores, a floresta não tem muitas árvores.
·
as frases de letra a de cada par são facilmente compreendidas, têm coerência;
·
as frases de letra b de cada par apresentam problema de compreensão.
o vocábulo menos indica exclusão de uma parte do
grupo, portanto, neste caso, pode ser combinado
com o pronome eu
há uma restrição, porque o vocábulo menos indica
1 b.Todo mundo destrói a natureza
exclusão de uma parte do grupo, portanto, neste
menos todo mundo
caso, não pode ser combinado com todo mundo,
que indica o grupo inteiro
mas introduz uma idéia oposta, que é
2 a.Todo mundo viu o mico-leão, mas
perfeitamente aceitável, porque todo mundo se
eu não
diferencia de eu
mas introduz uma idéia oposta, que é inaceitável
porque o conteúdo da idéia introduzida por mas
2 b. Todo mundo viu o mico-leão, mas não é o contrário da idéia anterior. Assim, a
eu não ouvi o sabiá cantar
primeira parte Todo mundo viu o mico-leão não
pode ser combinada com eu não ouvi o sabiá
cantar por intermédio do vocábulo mas
o uso de apesar de pressupõe a presença de idéias
3 a. Apesar de estarem derrubando
contrárias, qualquer que seja a ordem :
muitas árvores, a floresta sobrevive
negativa/positiva, positiva/negativa
o uso de apesar de pressupõe a presença de idéias
3 b. Apesar de estarem derrubando contrárias, qualquer que seja a ordem:
muitas árvores, a floresta não tem
negativa/positiva, positiva/negativa. Daí a
muitas árvores
incoerência da frase b, em que ocorrem duas
negativas simultâneas
1 a. Todo mundo destrói a natureza
menos eu.
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Estas observações mostram que a coerência de uma frase, de um texto, não se define
apenas pelo modo como elementos lingüísticos se combinam; depende também do
conhecimento do mundo partilhado por emissor e receptor, bem como do tipo de texto
em questão. Podemos ainda dizer que, nas frases de letra b, os elementos de coesão não
foram usados de forma adequada, por isto não contribuíram para estabelecer a
coerência.
O trecho abaixo
Assim como milhões de brasileiros, os habitantes da Mata Atlântica estão sentindo na pele os
efeitos da crise econômica. As verbas são curtas, a fiscalização é pouca, e, com isso, as leis de
proteção nem sempre são respeitadas. Resultado : mesmo sendo uma das mais importantes
florestas tropicais do mundo - portanto, essencial à sobrevivência do planeta - pouco a pouco a
Mata Atlântica vai desaparecendo do mapa.
mostra as dificuldades sentidas pelos habitantes da Mata Atlântica como conseqüência
da crise econômica. O sentido do texto é viabilizado pela combinação dos elementos
presentes numa progressão harmoniosa. Observe como este sentido vai sendo
construído a partir da ocorrência de vocábulos relacionados entre si. Por exemplo:
milhões de rasileiros
habitantes
Mata Atlântica
florestas tropicais
verbo
fiscalização
lei
mundo
planeta
mapa
importante
essencial
e
portanto (conectores)
com isso
curta
pouca
proteção
sobrevivência
Observe finalmente:
Se está difícil sobreviver aí na cidade, imagine aqui.
Numa primeira leitura, esta mensagem parece vaga : aqui aponta para várias
possibilidades de significação, entretanto cada uma elas claramente se opõe a "cidade".
Mas, se situarmos esta frase como introdutória ao texto sobre a Mata Atlântica, o
sentido fica mais explícito, sobretudo se a frase for acompanhada da imagem de um
habitante da Mata Atlântica.
Tipos de Coerência
Em obra na qual discutem as estratégias cognitivas de compreensão do discurso, Van
Dijk e Kintsch (1983) falam de coerência local e de coerência global. Enquanto a
primeira se refere a partes do texto, a segunda se refere ao texto como um todo. Embora
já tenha sido dito anteriormente que a coerência diz respeito à intenção comunicativa do
emissor, interagindo, de maneira cooperativa, com o seu interlocutor, acontece de, em
um mesmo texto, ocorrerem partes ou passagens com problemas de incoerências incoerências locais no caso - que acabam por perturbar a compreensão daquela
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passagem. A presença de uma incoerência local pode não prejudicar a compreensão do
texto, mas é claro que assim não será se houver um grande número de problemas desse
tipo.
Ainda na obra citada, os autores apontam alguns tipos de coerências, a saber, coerência
semântica, coerência sintática, coerência estilística, coerência pragmática.
Coerência Semântica
Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em seqüência; a
incoerência aparece quando esses sentidos não combinam, ou quando são
contraditórios. Exemplos:
1) ... ouvem-se vozes exaltadas para onde acorreram muitos fotógrafos e telegrafistas
para registrarem o fato.
O uso do vocábulo telegrafista é inadequado neste contexto, pois o fato que causa
espanto será documentado por fotógrafos e, talvez, por cronistas, que, depois, poderão
escrever uma crônica sobre ele, mas certamente telegrafistas não são espectadores
comuns nessas circunstâncias.
Ao lado deste, há um outro problema, de ordem sintática: trata-se do emprego de para
onde, que teria vozes exaltadas como referente, o que não é possível, porque esse
referente não contém idéia de lugar, implícita no pronome relativo onde.
Cabe ainda uma observação quanto ao tempo verbal de ouvem-se e acorreram, presente
e pretérito perfeito, respectivamente. Seria mais adequado os dois verbos estarem no
mesmo tempo.
2) O governo principalmente não corresponde de uma maneira correta em relação ao
nível de condições que para muitos seriam uma decisão óbvia.
Nesta frase, há duas incoerências semânticas. A primeira decorre do uso inadequado de
corresponder - corresponder em relação ao nível - que poderia ser substituído por
responder, mas, mesmo assim, o complemento teria que ser modificado, para resolver o
problema da incoerência sintática - corresponder a (alguma coisa). A segunda está na
expressão nível de condições. O vocábulo nível é desnecessário, podendo-se dizer
simplesmente em relação às condições.
3) Educação, problema universal que por direito todo indivíduo deve ter acesso.
A inadequação, parece-nos, se deve ao fato de não ficar claro qual é o antecedente do
pronome que. Da maneira como foi escrita a frase, o antecedente é problema universal,
e, neste caso, a incoerência semântica está na não-combinação entre os sentidos de ter
acesso e problema. Um problema precisa ser resolvido, solucionado, mas não ser
alcançado, que é o sentido de ter acesso. É muito mais provável que o autor desta frase
tenha pensado que todo indivíduo deve ter acesso à educação, mas, da forma como
ordenou as palavras, causou ambigüidade com relação ao antecedente do que.
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Ainda dentro deste tipo de coerência, lembramos que o pouco domínio do sentido dos
vocábulos e das restrições combinatórias podem também gerar frases com problemas de
compreensão, como as que seguem:
O jardim que circula a casa estava maltratado.
Entramos em um círculo de mudanças.
O rei quis obter as luxúrias que sua posição oferecia.
... sendo este o dominador comum das mudanças.
O Brasil é um país em alta-rotatividade.
O que existe é um apontamento dos erros do vestibular.
A televisão transmite lazer.
Não deu asas ao pensamento, obviamente com medo de aferir a opinião dos outros.
Isto acontece quando você está batendo uma conversa informal.
O quarto era o maior ambiente do barraco.
Minhas suspeitas se atrapalham.
O sol deixa um rastro de cor reflexada na água.
A audiência no Maracanã é grande quando jogam Vasco e Flamengo.
... vencendo a oscilação que repousava em sua mente.
Jamais fui a uma igreja seja ela de qual raça ou costume.
O tempo nos proporciona muitos sacrifícios.
O armário estava desarrumado, com as gavetas afogadas de tantas roupas dispersivas.
Coerência Sintática
Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica: conectivos,
pronomes, etc. Exemplos:
1) Então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular. Onde há
métodos, equipamentos e até professores melhores.
A coerência deste período poderia ser recuperada se duas alterações fossem feitas. A
primeira seria a troca do relativo onde, específico de lugar, para no qual ou em que
(ensino particular, no qual/ em que há métodos ...), e a segunda seria a substituição do
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ponto por vírgula, de maneira que a oração relativa não ocorresse como uma oração
completa e independente da anterior. Teríamos a seguinte oração, sem problemas de
compreensão: Então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino
particular, no qual há equipamentos e até professores melhores.
2) Na verdade, essa falta de leitura, de escrever, seja porque tudo já vem pronto,
mastigado para uma boa compreensão, não precisando pensar.
Há, nesta frase, vários problemas que prejudicam a sua coerência. O primeiro é o nãoparalelismo entre leitura (nome) e escrever (verbo); seria desejável, por exemplo, dizer
falta de ler, de escrever, ou falta de leitura, falta de treino de escrita. Depois foi
empregada a conjunção seja, que geralmente se usa para apresentar mais de uma
alternativa: seja porque tudo já vem pronto, seja porque não há estímulo por parte dos
professores; usada isoladamente, ela perde o seu sentido alternativo. Talvez o autor
estivesse querendo dizer seja porque tudo já vem mastigado; a elipse da conjunção na
segunda expressão foi inadequada. Percebemos, ainda, que o sujeito essa falta de
leitura acabou não se juntando a nenhum predicado, e a frase ficou fragmentada. Por
último, não foi explicitado o termo que pode preencher essa função.
3) O papel preponderante da escola, que seria de formar e informar, principalmente
crianças e adultos, hoje não está alcançando esse objetivo.
Esta frase apresenta o seguinte problema: ela é longa demais, por isso o predicado,
muito distante do sujeito, acaba discordando dele, não gramaticalmente, mas pela
inadequação do vocabulário. Pode-se dizer que há um cruzamento na estrutura da frase,
o que causa uma incoerência sintática.
O papel da escola
X
A escola
não está alcançando esse objetivo.
não está sendo cumprido.
(As frases usadas como exemplos foram produzidas por alunos recém-ingressos na
universidade.)
Coerência Estilística
Percebemos, pelos exemplos citados abaixo, que este tipo de coerência não chega, na
verdade, a perturbar a interpretabilidade de um texto; é uma noção relacionada à mistura
de registros lingüísticos. É desejável que quem escreve ou lê se mantenha num estilo
relativamente uniforme. Entretanto, a alternância de registros pode ser, por outro lado,
um recurso estilístico.
Leia este poema de Manuel Bandeira:
Teresa, se algum sujeito bancar o
sentimental em cima de você
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e te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA
O autor procede como se estivesse falando, aconselhando alguém, advertindo sobre uma
possível "cantada". Há mistura de tratamento (tu/você), mistura de registros, pois o
autor utiliza várias expressões da língua oral, como "do tamanho de um bonde", "se ele
se rasgar todo", "cai fora" , ao mesmo tempo em que emprega o futuro do subjuntivo,
tempo mais comum num registro mais cuidado.
Agora leia este trecho, extraído de uma aula gravada:
... isso aí é um conceitozinho um pouco maior, é que nós sabemos que os cloretos, por
decoreba, aquele negócio que eu falei, os cloretos e prata, chumbo são insolúveis, todos os
outros cloretos são solúveis. Agora pergunto: aquilo lá não é uma cascata muito grande?
Quando a gente agora está por dentro do assunto? O que o cara quer dizer com solúveis, muito
solúveis, pouco solúveis? Apenas um conceito relativo. AgCl é considerado insolúvel porque o
que fica de AgCl é um troço tão irrisório que a gente não considera ... Entendeu qual é a
jogada? O que tem na solução daqueles íons não vai atrapalhar ninguém. Você pode comer
quilos desse troço que a prata não vai te perturbar.
(Corpus do Projeto NURC/RJ - UFRJ- Informante: Homem, 31 anos, Professor de química
numa aula para o terceiro ano do segundo grau.)
Nesta exposição, chamada, dentro do corpus do projeto, de elocução formal, o professor
emprega uma grande variação de registro, movendo-se todo o tempo entre o formal,
para explicar o conceito de solubilidade, e o informal, servindo-se de gírias (troço,
cascata, estar por dentro, jogada, decoreba, cara), talvez com o objetivo de tornar a
explicação menos pesada e a exposição mais interessante para os alunos, aproximandose deles ao usar essa maneira de falar. Portanto, nesta passagem, a mistura de registros,
sem causar incoerência, pode ter uma causa objetiva.
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Coerência Pragmática
Refere-se ao texto visto como uma seqüência de atos de fala. Para haver coerência nesta
seqüência, é preciso que os atos de fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada
interlocutor, na sua vez de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte.
Quando uma pessoa faz uma pergunta a outra, a resposta pode se manifestar por meio
de uma afirmação, de outra pergunta, de uma promessa, de uma negação. Qualquer uma
dessa seqüências seria considerada coerente. Por outro lado, se o interlocutor não
responder, virar as costas e sair andando, começar a cantar, ou mesmo dizer algo
totalmente desconectado do tema da pergunta, estas seqüências seriam consideradas
incoerentes. Exemplo:
A: Você pode me dizer onde fica a Rua Alice?
B: O ônibus está muito atrasado hoje.
Piadas podem ser elaboradas a partir de incoerências:
No balcão da companhia aérea, o viajante perguntou à atendente:
A - A senhorita pode me dizer quanto tempo dura o vôo do Rio a Lisboa?
B - Um momentinho.
A - Muito obrigado.
Para quem fez a pergunta, não pareceu nem um pouco incoerente a resposta obtida.
Entretanto, a frase de B não é a resposta, é simplesmente um pedido de tempo para
depois dar atenção ao interlocutor A. Nós é que percebemos a incoerência da seqüência
e tomamos o conjunto como uma piada.
Há ainda incoerências geradas a partir da desobediência a articulações de conteúdo. Se
você ouvir a frase Meu irmão é filho único pode pensar que quem a pronunciou
desconhece o sentido dos vocábulos usados, pois a seqüência contém uma contradição.
O sentido de irmão inclui o fato de que esse indivíduo tem, pelo menos, uma irmã ou
irmão.
E um último exemplo pode ser esta frase, ouvida recentemente em um programa de
televisão: "Me inclui fora dessa." Parece que o emissor não conhece o sentido do verbo
incluir, que certamente não pode ocorrer combinado com fora. Ou então, usa
expressamente o advérbio fora para explicar sua intenção de não ser incluído em algum
projeto.
Texto e Coerência
Em outros temas desenvolvidos nesta série - O texto narrativo (tema 6), O texto
descritivo (tema 7), O texto dissertativo e a argumentatividade (tema 8) -, mostramos
como a coerência e a coesão ocorrem nos diversos tipos de texto. Retomando este
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ponto, lembramos que cada tipo de texto tem sua estrutura própria, por isso os
mecanismos de coerência e de coesão também vão se manifestar de forma diferente na
superfície lingüística, conforme se trate de um texto narrativo, descritivo ou
dissertativo-argumentativo.
No texto narrativo, a coerência existe em função, sobretudo, da ordenação temporal.
Tomemos como exemplo o conhecido poema A pesca, de Affonso Romano de
Sant’Anna, em que não há elementos coesivos. No entanto há coerência em função de
uma seqüência temporal depreendida não só da ordem em que foram colocados os
substantivos, mas da escolha de vocábulos de campos semânticos relacionados à pesca.
A pesca
o anil
a garganta
o anzol
a âncora
o azul
o peixe
o silêncio
a boca
o tempo
o arranco
o peixe
o rasgão
a agulha
aberta a água
vertical
aberta a chaga
mergulha
aberto o anzol
a água
aquelíneo
a linha
ágilclaro
a espuma
estabanado
o tempo
o peixe
a âncora
a areia
o peixe
o sol
azul
anzol
boca
anil
isca
rasgão
material
peixe
mar areia
"agulha"
chaga
sol
linha
garganta
mergulhar
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A história infantil A Casa Sonolenta, um texto narrativo e descritivo, é mais um bom
exemplo de como a seqüência é fundamental para que se estabeleça a coerência textual.
Era uma vez
Em cima desse cachorro tinha um gato
uma casa sonolenta
um gato ressonando,
onde todos viviam dormindo
em cima de um cachorro cochilando,
Nessa casa
em cima de um menino sonhando,
tinha uma cama
em cima de uma avó roncando,
uma cama aconchegante,
numa cama aconchegante,
numa casa sonolenta,
numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo.
onde todos viviam dormindo.
Nessa cama
Em cima desse gato
tinha uma avó,
tinha um rato,
uma avó roncando,
um rato dormitando,
numa cama aconchegante,
em cima de um gato ressonando,
numa casa sonolenta,
em cima de um cachorro cochilando,
onde todos viviam dormindo.
em cima de um menino sonhando,
Em cima dessa avó
em cima de uma avó roncando,
tinha um menino,
numa cama aconchegante,
um menino sonhando,
numa casa sonolenta,
em cima de uma avó roncando,
onde todos viviam dormindo.
numa cama aconchegante,
E em cima desse rato
numa casa sonolenta,
tinha uma pulga...
onde todos viviam dormindo.
Será possível?
Em cima desse menino
Um pulga acordada,
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que picou o rato,
tinha um cachorro,
que assustou o gato,
um cachorro cochilando,
que arranhou o cachorro,
em cima de um menino sonhando,
que caiu sobre o menino,
em cima de uma avó roncando,
que deu um susto na avó,
numa cama aconchegante,
que quebrou a cama,
numa casa sonolenta,
numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo.
onde ninguém mais estava dormindo.
A história se estrutura com base em dois momentos:
1º momento - todos estão dormindo.
2º momento - todos acordam, cada um por sua vez, movidos pela ação da pulga.
A coerência, na primeira parte, se dá pela escolha de vocábulos do campo semântico de
dormir - cama, sonolenta, aconchegante, roncando, sonhando, ressonando, dormitando,
cochilando. Não houve repetição de nenhum verbo, e cada um deles foi combinado
coerentemente com cada habitante da casa. O caráter descritivo desta parte se apóia em
adjetivos (caracterizando os seres inanimados) e verbos no gerúndio e pretérito
imperfeito (atribuídos aos seres animados).
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A segunda parte do texto apresenta a mudança desencadeada a partir da picada da pulga.
Os verbos estão no pretérito perfeito, marcando a ação finalizada.
casa sonolenta
dormindo
roncando
sonhando
ressonando
cochilando
viviam
tinha
casa acordada
picou
assustou
arranhou
caiu
deu
quebrou
Lembramos ainda o título do conto de Carlos Drummond de Andrade - Flor, telefone,
moça. Os três vocábulos juntos, aparentemente, não constituem título coerente para um
conto. No entanto, a coerência advém do próprio conto, que se resume na seguinte
história: uma moça, que tinha o costume de passear no cemitério, um dia, com um gesto
distraído, arrancou uma flor de um túmulo, machucou-a com as mãos e depois jogou-a
fora. A partir daí, passa a receber insistentes telefonemas feitos por uma voz que
reclama de volta a sua flor. A família se envolve, tentando uma solução para os
telefonemas que, a cada dia, deixam a moça mais nervosa e sem apetite. O caso termina
em tragédia. A moça, sem ânimo para coisa alguma, acaba definhando e morrendo.
Nunca mais houve telefonemas. Apenas os fatos narrados no conto justificam a ordem
em que os vocábulos foram organizados no título.
No texto descritivo, a coerência se estabelece, sobretudo, em função de uma ordenação
espacial. Quem descreve procura percorrer os detalhes daquilo que descreve, seja uma
pessoa, seja um cenário, seja um objeto, obedecendo a uma seqüência, com a finalidade
de auxiliar o leitor/ouvinte a compor o todo a partir dessas informações parciais. No
trecho abaixo, extraído de "Vidas Secas", temos uma série de atos que, se alterada,
prejudica a coerência do texto.
"(Sinhá Vitória) Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher, acendeu o
cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio de sarro. Jogo longe uma cusparada, que
passou por cima da janela e foi cair no terreiro. Preparou-se para cuspir novamente. Por uma
extravagante associação, relacionou esse ato com a lembrança da cama. Se o cuspo alcançasse
o terreiro, a cama seria comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, inclinou-se - e
não conseguiu o que esperava. Fez várias tentativas, inutilmente. O resultado foi secar a
garganta. Ergueu-se desapontada. Besteira, aquilo não valia.
Aproximou-se do canto onde o pote se erguia numa forquilha de três pontas, bebeu um caneco
de água. Água salobra."
Com respeito a essa ordenação das informações num texto descritivo, é interessante
assinalar que a ordem em que são percebidos os objetos ou os componentes de uma
cena pode determinar a organização linear das seqüências usadas para descrevê-los,
como no parágrafo abaixo:
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O homem estava sentado num tamborete rústico, com os joelhos cruzados e a cabeça baixa. À
sua direita havia uma mesinha de desarmar, entulhada de lápis de vários tipos e cores, folhas de
papel em branco, borrachas, tesoura e um pouco de estopa. Havia ainda uma tabuleta em cima
da pequena mesa, apoiando-se na pilastra onde estavam expostos seus trabalhos: fotografias
coloridas de grandes personalidades e caricaturas também de grandes personalidades.
(Wander Piroli, Trabalhadores do Brasil)
Entretanto, isto pode não acontecer, ou seja, a ordenação é feita a partir da seleção das
informações julgadas relevantes, como no texto abaixo:
A cerimônia esteve muito concorrida. Presidiu o Presidente da República, que fez o discurso
inaugural. Foi preciso esperar meia hora pelo Primeiro Ministro, que chegou, como sempre,
atrasado e sorridente.
No texto dissertativo-argumentativo, é muito importante para a coerência a ordenação
lógica das idéias. As possibilidades de correlacionar os argumentos decorrem dos
operadores lógico-discursivos empregados. Há conectores específicos para se expressar
as diferentes articulações sintáticas - causa, finalidade, conclusão, condição etc - e eles
devem ser usados adequadamente, de acordo com a relação que se quer exprimir ao
desenvolver uma argumentação. É ainda muito importante, com respeito à coesão, uma
combinação cuidosa dos tempos verbais empregados. Observe:
Depois que um rolo compressor passou pelo cinema brasileiro, alijando-o intempestivamente
do mercado, é bom saber que existem fórmulas ao alcance de diretores, produtores, roteiristas e
artistas para retomar o diálogo. O mercado consumidor tem fôlego, mas tende, por distorção
natural, a se voltar para o filme estrangeiro. Precisa de boa sacudida que o faça retomar o
caminho de casa, desde que, evidentemente, o produto da casa satisfaça suas expectativas.
Temos, neste parágrafo, os conectores mas (idéia adversativa) e desde que (condição),
que não podem ser substituídos por conectores de outro sentido, sob pena de alterar o
que se quer expressar. As expressões é bom saber, evidentemente têm a finalidade de
introduzir e reforçar os argumentos. Finalmente, lembramos que o uso do conector
desde que pede o emprego do verbo no modo subjuntivo, tempo presente, o que foi
feito pelo autor do texto (desde que ... satisfaça). O mesmo se verifica na frase anterior:
Precisa de boa sacudida que o faça... É importante, pois, escolher os conectores
adequados, quando o objetivo é argumentar de maneira coerente e coesa.
Considerações sobre o Conceito de Coesão
São muitos os autores que têm publicado estudos sobre coerência e coesão. Apoiados
nos trabalhos de Koch (1997), Platão e Fiorin (1996), Suárez Abreu (1990) e Marcuschi
(1983), apresentamos algumas considerações sobre o conceito de coesão com o objetivo
de mostrar a presença e a importância desse fenômeno na produção e interpretação dos
textos.
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Koch (1997) conceitua a coesão como "o fenômeno que diz respeito ao modo como os
elementos lingüísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por
meio de recursos também lingüísticos, formando seqüências veiculadoras de sentido."
Para Platão e Fiorin (1996), a coesão textual "é a ligação, a relação, a conexão entre as
palavras, expressões ou frases do texto." A coesão é, segundo Suárez Abreu (1990), "o
encadeamento semântico que produz a textualidade; trata-se de uma maneira de
recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença A." Daí a
necessidade de haver concordância entre o termo da sentença A e o termo que o retoma
na sentença B. Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores de coesão: "são
aqueles que dão conta da seqüenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos
formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos lingüísticos do
texto, relações de sentido."
A coesão pode ser observada tanto em enunciados mais simples quanto em enunciados
mais complexos. Observe:
1) Mulheres de três gerações enfrentam o preconceito e revelam suas experiências.
2) Elas resolveram falar. Quebrando o muro de silêncio, oito dezenas de mulheres
decidiram contar como aconteceu o fato que marcou sua vida.
3) Do alto de sua ignorância, os seres humanos costumam achar que dominam a terra
e todos os outros seres vivos.
Nesses exemplos, temos os pronomes suas e que retomando mulheres de três gerações e
o fato, respectivamente; os pronomes elas e sua antecipam oito dezenas de mulheres e
os seres humanos, respectivamente. Estes são apenas alguns mecanismos de coesão,
mas existem muitos outros, como veremos mais adiante.
Vejamos agora a coesão num período mais complexo:
Os amigos que me restam são da data mais recente; todos os amigos foram estudar a geologia
dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e
quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que
falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa.
(Machado de Assis, Dom Casmurro)
Observemos os elementos de coesão presentes neste texto.
No primeiro período, temos o pronome que remetendo a amigos, que é o sujeito dos
verbos restam e são, daí a concordância, em pessoa e número, entre eles. Do mesmo
modo, amigos é o sujeito de foram, na oração seguinte; todos e os se relacionam a
amigos.
Já no segundo período, em que o autor discorre sobre as amigas, os pronomes algumas,
outras, todas remetem a amigas; os numerais duas, três também remetem a amigas, que,
por sua vez, é o sujeito de datam, crêem, fariam, falam; nela retoma a expressão na
mocidade, evitando sua repetição; que representa a língua. E, para retomar muita vez, o
autor usou a expressão sinônima tal freqüência.
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Esses fatos representam mecanismos de coesão, assinalando relações entre os vocábulos
do texto. Outros mecanismos marcam a relação de sentido entre os enunciados. Assim,
os vocábulos mas (mas a língua que falam), e (e quase todos crêem na mocidae, e tal
freqüência é cansativa) assinalam relação de contraste ou de oposição e de adição de
argumentos ou idéias, respectivamente. Dessa maneira, por meio dos elementos de
coesão, o texto vai sendo "tecido", vai sendo construído.
A respeito do conceito de coesão, autores como Halliday e Hasan (1976), em obra
clássica sobre coesão textual, que tem servido de base para grande número de estudos
sobre o assunto, afirmam que a coesão é condição necessária, mas não suficiente, para
que se crie um texto. Na verdade, para que um conjunto de vocábulos, expressões,
frases seja considerado um texto, é preciso haver relações de sentido entra essas
unidades (coerência) e um encadeamento linear das unidades lingüísticas presentes no
texto (coesão). Mas essa afirmativa não é categórica nem definitiva, por algumas razões.
Uma delas é que podemos ter conjuntos lingüísticos destituídos de elos coesivos que, no
entanto, são considerados textos porque são coerentes, isto é, apresentam uma
continuidade semântica, como vimos no texto "Circuito Fechado", de Ricardo
Ramos.
Um outro bom exemplo da possibilidade de haver texto, porque há coerência, sem elos
coesivos explicitados lingüisticamente, é o texto do escritor cearense Mino, em que só
existem verbos.
Como se conjuga um empresário
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-se.
Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou.
Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se.
Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu.
Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu.
Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Depositou.
Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu.
Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou.
Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou.
Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou.
Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu. Despiu-se.
Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou. Sonhou.
Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu.
Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu.
Dormiu. Dormiu. Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se ...
Neste texto, a coerência é depreendida da seqüência ordenada dos verbos com os quais
o autor mostra o dia-a-dia de um empresário. Verbos como lesou, burlou, explorou,
safou-se ... transmitem um julgamento de valor do autor do texto em relação à figura de
um empresário.
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Podemos constatar que "Como se conjuga um empresário" não precisou de elementos
coesivos para ser considerado um texto. Por outro lado, elos coesivos não são
suficientes para garantir a coerência de um texto. É o caso do exemplo a seguir:
As janelas da casa foram pintadas de azul, mas os pedreiros estão almoçando. A água da
piscina parece limpa, entretanto foi tratada com cloro. A vista que tenho da casa é muito
agradável.
Finalizando, vale dizer que, embora a coesão não seja condição suficiente para que
enunciados se constituam em textos, são os elementos coesivos que dão a eles maior
legibilidade e evidenciam as relações entre seus diversos componentes. A coerência em
textos didáticos, expositivos, jornalísticos depende da utilização explícita de elementos
coesores.
Mecanismos de Coesão
São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam os
mecanismos de coesão. Consideramos que é necessário perceber como esses
mecanismos estão presentes no texto (quando estão) e de que maneira contribuem para
sua tecitura, sua organização.
Para Mira Mateus (1983), "todos os processos de seqüencialização que asseguram (ou
tornam recuperável) uma ligação lingüística significativa entre os elementos que
ocorrem na superfície textual podem ser encarados como instrumentos de coesão."
Esses instrumentos se organizam da seguinte forma:
Coesão Gramatical
Faz-se por meio das concordâncias nominais e verbais, da ordem dos vocábulos, dos
conectores, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de
numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos definidos, de expressões de valor temporal.
De acordo com o quadro antes apresentado, passamos a ver separadamente cada um dos
tipos de conexão gramatical, a saber, frásica, interfrásica, temporal e referencial.
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·
Coesão Frásica - este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa entre os
componentes da frase, com base na concordância entre o nome e seus determinantes,
entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e seus predicadores, na ordem dos vocábulos na
oração, na regência nominal e verbal. Exemplos:
1)Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem
ondas, rústicas, sofisticadas.
concordância nominal
praias desertas, agitadas, rústicas, sofisticadas
(subst.) (adjetivos)
todos
(pron.)
os
(artigo)
gostos
(substantivo)
concordância verbal
Florianópolis
(sujeito)
tem
(verbo)
2) A voz de Elza Soares é um patrimônio da música brasileira. Rascante, oclusiva,
suingada, é algo que poucas cantoras, no mundo inteiro, têm.
concordância nominal
voz rascante, oclusiva, suingada
poucas cantoras
música brasileira
mundo inteiro
concordância verbal
voz é
cantoras têm
Com respeito à ordem dos vocábulos na oração, deslocamentos de vocábulos ou
expressões dentro da oração podem levar a diferentes interpretações de um mesmo
enunciado. Observe estas frases:
a) O barão admirava a bailarina que dançava com um olhar lânguido.
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A expressão com um olhar lânguido, devido à posição em que foi colocada, causa
ambigüidade, pois tanto pode se referir ao barão como à bailarina. Para deixar claro um
ou outro sentido, é preciso alterar a ordem dos vocábulos.
O barão, com um olhar lânguido, admirava a bailarina que dançava.
O barão admirava a bailarina que, com um olhar lânguido, dançava.
b) A moto em que ele estava passeando lentamente saiu da estrada..
A análise deste período mostra que ele é formado de duas orações: A moto saiu da
estrada e em que ele estava passeando. A qual das duas, no entanto, se liga o advérbio
lentamente? Da forma como foi colocado, pode se ligar a qualquer uma das orações.
Para evitar a ambigüidade, recorremos a uma mudança na ordem dos vocábulos.
Poderíamos ter, então:
A moto em que lentamente ele estava passeando saiu da estrada.
A moto em que ele estava passeando saiu lentamente da estrada.
Também em relação à regência verbal, a coesão pode ficar prejudicada se não forem
tomados alguns cuidados. Há verbos que mudam de sentido conforme a regência, isto é,
conforme a relação que estabelecem com o seu complemento.
Por exemplo, o verbo assistir é usado com a preposição a quando significa ser
espectador, estar presente, presenciar. Exemplo: A cidade inteira assistiu ao desfile
das escolas de samba. Entretanto, na linguagem coloquial, este verbo é usado sem a
preposição. Por isso, com freqüência, temos frases como: Ainda não assisti o filme que
foi premiado no festival. Ou A peça que assisti ontem foi muito bem montada (ao invés
de a que assisti).
No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assistência, socorrer, usa-se com
proposição ou não. Observe: O médico assistiu ao doente durante toda a noite.Os Anjos
do Asfalto assistiram as vítimas do acidente.
No que diz respeito à regência nominal, há também casos em que os enunciados podem
se prestar a mais de uma interpretação. Se dissermos A liquidação da Mesbla foi
realizada no fim do verão, podemos entender que a Mesbla foi liquidada, foi vendida ou
que a Mesbla promoveu uma liquidação de seus produtos. Isso acontece porque o nome
liquidação está acompanhado de um outro termo (da Mesbla). Dependendo do sentido
que queremos dar à frase, podemos reescrevê-la de duas maneiras:
A Mesbla foi liquidada no fim do verão.
A Mesbla promoveu uma liquidação no fim do verão.
·
Coesão Interfrásica - designa os variados tipos de interdependência semântica
existente entre as frases na superfície textual. Essas relações são expressas pelos
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conectores ou operadores discursivos. É necessário, portanto, usar o conector
adequado à relação que queremos expressar. Seguem exemplos dos diferentes tipos de
conectores que podemos empregar:
a) As baleias que acabam de chegar ao Brasil saíram da Antártida há pouco mais de
um mês. No banco de Abrolhos, uma faixa com cerca de 500 quilômetros de água rasa
e cálida, entre o Espírito Santo e a Bahia, as baleias encontram as condições ideais
para acasalar, parir e amamentar. As primeiras a chegar são as mães, que ainda
amamentam os filhotes nascidos há um ano. Elas têm pressa, porque é difícil conciliar
amamentação e viagem, já que um filhote tem necessidade de mamar cerca de 100
litros de leite por dia para atingir a média ideal de aumento de peso: 35 quilos por
semana. Depois, vêm os machos, as fêmeas sem filhote e, por último, as grávidas. Ao
todo, são cerca de 1000 baleias que chegam a Abrolhos todos os anos. Já foram
dezenas de milhares na época do descobrimento, quando estacionavam em vários
pontos da costa brasileira. Em 1576, Pero de Magalhães Gândavo registrou ter visto
centenas delas na baía de Guanabara.
(Revista VEJA, no 30, julho/97)
b) Como suas glândulas mamárias são internas, ela espirra o leite na água.
(idem)
c) Ao longo dos meses, porém, a música vai sofrendo pequenas mudanças, até que,
depois de cinco anos, é completamente diferente da original.
(idem)
d) A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o corpanzil em forma de arco e
desaparece um instante. Sua cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água como se
fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia dura segundos, porém tão grande
é a baleia que parece um balé em câmara lenta.
(idem)
e) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou
uma cópula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas
alguns segundos.
(idem)
f) A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar. Como sua comida costuma ficar na
superfície, ela mergulha e nada em volta dos peixes, soltando bolhas de água. Ao subir,
as bolhas concentram o alimento num círculo. Em seguida, a baleia abocanha tudo,
elimina a água pelo canto da boca e usa a língua como uma canaleta a fim de jogar o
que interessa goela adentro.
(idem)
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g) Várias publicações estrangeiras foram traduzidas, embora muitas vezes valha a
pena comprar a versão original.
(idem)
h) Como guia de Paris, o livro é um embuste. Não espere, portanto, descobrir através
dele o horário de funcionamento dos museus. A autora faz uma lista dos lugares onde o
turista pode comprar roupas, óculos, sapatos, discos, livros, no entanto, não fornece as
faixas de preço das lojas.
(idem)
i) Se já não é possível espantar a chicotadas os vendilhões do templo, a solução é
integrá-los à paisagem da fé. (...) As críticas vêm não só dos vendilhões ameaçados de
ficar de fora, mas também das pessoas que freqüentam o interior do templo para
exercer a mais legítima de suas funções, a oração.
(Revista VEJA, no 27, julho/97)
j) Na verdade, muitos habitantes de Aparecida estão entre a cruz e a caixa
registradora. Vivem a dúvida de preservar a pureza da Casa de Deus ou apoiar um
empreendimento que pode trazer benesses materiais.
(idem)
l) A Igreja e a prefeitura estimam que o shopping deve gerar pelo menos 1000
empregos.
(idem)
m) Aparentemente boa, a infraestrutura da Basílica se transforma em pó em
outubro, por exemplo, quando num único fim de semana surgem 300 mil fiéis.
(idem)
n) O shopping da fé também contará com um centro de eventos com palco giratório.
(idem)
Conectores:
e (exemplos a,d,f) - liga termos ou argumentos.
porque (exemplo a), já que (exemplo a), como (exemplos b, f) - introduzem uma
explicação ou justificativa.
para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) - indicam uma finalidade.
porém (exemplos c, d), mas (e) , embora (g) , no entanto (h) - indicam uma
contraposição.
como (exemplo d) , tão ... que (exemplo d), tão ... quanto (exemplo e) - indicam uma
comparação.
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portanto (h) - evidencia uma conclusão.
Depois (a) , por último (a), quando (a), já (a), ao longo dos meses (c), depois de
cinco anos (c), em seguida (f), até que (c) - servem para explicar a ordem dos fatos,
para encadear os acontecimentos.
então (d) - operador que serve para dar continuidade ao texto.
se (exemplo i) - indica uma forma de condicionar uma proposição a outra.
não só...mas também (exemplo i) - serve para mostrar uma soma de argumentos.
na verdade (exemplo j) - expressa uma generalização, uma amplificação.
ou (exemplo j) - apresenta um disjunção argumentativa, uma alternativa.
por exemplo (exemplo m) - serve para especificar o que foi dito antes.
também (exemplo n) - operador para reforçar mais um argumento apresentado.
Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em que a
coesão se dá em função da seqüência do texto, da ordem em que as informações, as
proposições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando isto acontece, ainda
que os operadores não tenham sido explicitados, eles são depreendidos da relação
que está implícita entre as partes da frase. O trecho abaixo é um exemplo de
justaposição.
Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou mulheres, foi apresentado a
medalhões das artes e da política. Nos anos 20, trocou o Rio por longas temporadas em São Paulo; em
seguida foi para Paris. Acabou conhecendo Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di
Cavalcanti era irreverente demais e calculista de menos em relação aos famosos e poderosos. Quando se
irritava com alguém, não media palavras. Teve um inimigo na vida. O também pintor Cândido Portinari.
A briga entre ambos começou nos anos 40. Jamais se reconciliaram. Portinari não tocava publicamente no
nome de Di.
(Revista VEJA, no 37,setembro/97)
Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica explicitada: trata-se da oração
"Quando se irritava com alguém, não media palavras". Os demais possíveis
conectores são indicados por ponto e ponto-e-vírgula.
·
Coesão Temporal - uma seqüência só se apresenta coesa e coerente quando a
ordem dos enunciados estiver de acordo com aquilo que sabemos ser possível de
ocorrer no universo a que o texto se refere, ou no qual o texto se insere. Se essa
ordenação temporal não satisfizer essas condições, o texto apresentará problemas
no seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado dos
tempos verbais, obedecendo a uma seqüência plausível, ao uso de advérbios que
ajudam a situar o leitor no tempo (são, de certa forma, os conectores temporais).
Exemplos:
A dita Era da Televisão é, relativamente, nova. Embora os princípios técnicos de base sobre os quais
repousa a transmissão televisual já estivessem em experimentação entre 1908 e 1914, nos Estados
Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a amplificação eletrônica, somente na década de vinte chegou-se
ao tubo catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após várias experiências por sociedades
eletrônicas, tiveram início, em 1939, as transmissões regulares entre Nova Iorque e Chicago - mas quase
não havia aparelhos particulares. A guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão vertiginosa do
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novo veículo deu-se após 1945. No Brasil, a despeito de algumas experiências pioneiras de laboratório
(Roquete Pinto chegou a interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só foi mesmo implantada em
setembro de 1950, com a inauguração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis Chateaubriand. Nesse mesmo
ano, nos Estados Unidos, já havia cerca de cem estações, servindo a doze milhões de aparelhos. Existem
hoje mais de 50 canais em funcionamento, em todo o território brasileiro, e perto de 4 milhões de
aparelhos receptores. [dados de 1971]
(Muniz Sodré, A comunicação do grotesco)
Temos, neste parágrafo, a apresentação da trajetória da televisão no Brasil, e o que
contribui para a clareza desta trajetória é a seqüência coerente das datas: entre
1908 e 1914, na década de vinte, em 1939, Após várias experiências por sociedades
eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em setembro de 1950, nesse mesmo ano,
hoje.
Embora o assunto neste tópico seja a coesão temporal, vale a pena mostrar
também a ordenação espacial que acompanha as diversas épocas apontadas no
parágrafo: nos Estados Unidos, entre Nova Iorque e Chicago, no Brasil, em todo o
território brasileiro.
·
Coesão Referencial - neste tipo de coesão, um componente da superfície
textual faz referência a outro componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta
referência são largamente empregados os pronomes pessoais de terceira pessoa
(retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos,
interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí),
artigos. Exemplos:
a) Durante o período da amamentação, a mãe ensina os segredos da sobrevivência ao
filhote e é arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a cauda,
ele também o faz.
-(Revista VEJA, no 30,julho/97)
ela, a - retomam o termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocábulo mãe.
ele - retoma o termo filhote
ele também o faz - o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.
b) Madre Teresa de Calcutá, que em 1979 ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seu
trabalho com os destituídos do mundo, estava triste na semana passada. Perdera uma
amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de saúde agravaram-se.
Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como sempre, na ativa. Já que
não podia ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um ato em memória da
princesa, em Calcutá, onde morava há quase setenta anos. Na noite de sexta-feira,
seu médico foi chamado às pressas. Não adiantou. Aos 87 anos, Madre Teresa perdeu
a batalha entre seu organismo debilitado e frágil e sua vontade de ferro e morreu
vítima de ataque cardíaco. O Papa João Paulo II declarou-se "sentido e
entristecido". Madre Teresa e o papa tinham grande afinidade.
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-(Revista VEJA, nº 36, setembro/97)
que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa.
princesa retoma a expressão princesa Diana.
papa retoma a expressão Papa João Paulo II.
onde refere-se à cidade de Calcutá.
Há ainda outros elementos de coesão, como Além disso, já que, que introduzem,
respectivamente, um acréscimo ao que já fora dito e uma justificativa.
c) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de
três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo,
que determina a velocidade e a direção a seguir. Os machos vão atrás, na expectativa
de ver se a fêmea cai na rede, com o perdão do trocadilho,e aceita copular. Como há
mais machos que fêmeas, elas copulam com vários deles para ter certeza de que
engravidarão.
-(Revista VEJA, no 30, julho/97)
Neste exemplo, ocorre um tipo bastante comum de referência - a anafórica. Os
pronomes elas (que retoma jubartes), ela (que retoma fêmea), elas (que se refere a
fêmeas) e deles (que se refere a machos) ocorrem depois dos nomes que
representam.
d) Ele foi o único sobrevivente do acidente que matou a princesa, mas o guardacostas não se lembra de nada.
-(Revista VEJA, no 37, setembro/97)
e) Elas estão divididas entre a criação dos filhos e o desenvolvimento profissional, por
isso, muitas vezes, as mulheres precisam fazer escolhas difíceis.
-(Revista VEJA, no 30, julho/97)
Nas letras d, e temos o que se chama uma referência catafórica. Isto acontece
porque os pronomes Ele e Elas, que se referem, respectivamente a guarda-costas e
mulheres aparecem antes do nome que retomam.
f) A expedição de Vasco da Gama reunia o melhor que Portugal podia oferecer em
tecnologia náutica. Dispunha das mais avançadas cartas de navegação e levava
pilotos experientes.
-(Revista VEJA, no 27, julho/97)
Temos neste período uma referência por elipse. O sujeito dos verbos dispunha e
levava é A expedição de Vasco da Gama, que não é retomada pelo pronome
correspondente ela, mas por elipse, isto é, a concordância do verbo - 3ª pessoa do
singular do pretérito imperfeito do indicativo - é que indica a referência.
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Existe ainda a possibilidade de uma idéia inteira ser retomada por um pronome,
como acontece nas frases a seguir:
a) Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são resultado de anos de observação de
pesquisadores apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse vêm
alcançando bons resultados.
-(Revista VEJA, no 30, julho/97)
O pronome esse retoma toda a seqüência anterior.
b) Se ninguém tomar uma providência, haverá um desastre sem precedentes na
Amazônia brasileira. Ainda há tempo de evitá-lo
-(Revista VEJA, junho/97)
O pronome lo se refere ao desastre sem precedentes citado antes.
c) A lei é um absurdo do começo ao fim. Primeiro, porque permite aos moradores da
superquadra isolar uma área pública, não permitindo que os demais habitantes
transitem por ali. Segundo, o projeto não repassa aos moradores o custo disso, ou
seja, a responsabilidade pela coleta de lixo, pelos serviços de água e luz e pela
instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza pública seria reduzida para
os moradores. Além disso, a aprovação do texto foi obtida mediante emprego de
argumentos falsos.
-(Revista VEJA, julho/97)
Este texto apresenta diferentes tipo de elementos de coesão.
ali - faz referência a área pública, anteriormente citada.
disso - retoma o que é considerado um absurdo dentro da nova lei. Ao mesmo
tempo, disso é explicado a partir do operador ou seja.
ou seja, pelo contrário - conectores que introduzem uma retificação, uma correção.
Além disso - conector que tem por função acrescentar mais um argumento ao que
está sendo discutido.
Primeiro e Segundo - estes conectores indicam a ordem dos argumentos, dos
assuntos.
Coesão Lexical
Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam vocábulos ou expressões que já
ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo
opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a reiteração e a substituição.
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Por reiteração entendemos a repetição de expressões lingüísticas; neste caso, existe
identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral, bastante usado nas
propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor reter o nome e as qualidades
do que é anunciado. Observe, nesta propaganda da Ipiranga, quantas vezes é
repetido o nome da refinaria.
Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma refinaria brasileira dar
certo.
Quando a Ipiranga começou a produzir querosene de padrão internacional, muitos afirmavam, também,
que dificilmente isso seria possível.
Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf Oil e Atlantic, muitos disseram que isso era
incomum.
E, a cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões que indicavam outra
direção.
Quem poderia imaginar que a partir de uma refinaria como aquela a Ipiranga se transformaria numa das
principais empresas do país, com 5600 postos de abastecimento anual de 5,4 bilhões de dólares?
E, que além de tudo, está preparada para o futuro?
É que, além de ousadia, a Ipiranga teve sorte: a gente estava tão ocupado trabalhando que nunca sobrou
muito tempo para prestar atenção em profecias.
(Revista VEJA, nº 37, setembro/97)
Outro exemplo:
A história de Porto Belo envolve invasão de aventureiros espanhóis, aventureiros ingleses e
aventureiros franceses, que procuraram portos naturais, portos seguros para proteger suas embarcações
de tempestades.
(JB, Caderno Viagem, 25/08/93)
A substituição é mais ampla, pois pode se efetuar por meio da sinonímia, da
antonímia, da hiperonímia, da hiponímia. Vamos ilustrar cada um desses
mecanismos por meio de exemplos.
Sinonímia
a) Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. João Paulo II decidiu visitar
em janeiro a ilha da Fantasia.
-(Revista VEJA, nº 39, outubro/97)
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Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretanto, é preciso esclarecer
que, neste caso, há um julgamento de valor na substituição de Cuba por ilha da
Fantasia, numa alusão a lugar onde não há seriedade.
b) Aos 26 anos, o zagueiro Júnior Baiano deu uma grande virada em sua carreira.
Conhecido por suas inconseqüentes "tesouras voadoras", ele passou a agir de
maneira mais sensata, atitude que já levou até a Seleção Brasileira.
Patrícia, a esposa, e os filhos Patrícia Caroline e Patrick são as maiores alegrias
desse baiano nascido na cidade de Feira de Santana. "Eles são a minha razão de
viver e lutar por coisas boas", comenta o zagueiro.
Na galeria do ídolos, Júnior Baiano coloca três craques: Leandro, Mozer a Aldair.
"Eles sabem tudo de bola, diz o jogador. O zagueiro da Seleção só questiona se um
dia terá o mesmo prestígio deles.
Deixando para trás a fase de desajustado e brigão, o zagueiro rubro-negro agora
orienta os mais jovens e aposta nesta nova geração do Flamengo.
-(Jornal dos Sports, 24/08/97)
Este tipo de procedimento é muito útil para evitar as constantes repetições que
tornam um texto cansativo e pouco atraente. Observe quantas diferentes maneiras
foram empregadas para fazer alusão à mesma pessoa. Dentro desse parágrafo,
observamos ainda outros mecanismos de coesão já vistos anteriormente: sua, ele, o,
que retomam o jogador Júnior Baiano, e deles, que retoma os três craques.
c) Como uma ilha entre as pessoas que se comprimiam no abrigo do bonde, o homem
mantinha-se concentrado no seu serviço. Era especialista em colorir retrato e fazia
caricatura em cinco minutos. No momento, ele retocava uma foto de Getúlio Vargas,
que mostrava um dos melhores sorrisos do presidente morto.
-(Wander Piroli, Trabalhadores do Brasil)
d) Vestia um camisolão azul, sem cintura. Tinha cabelos longos como Jesus e barbas
longas. Nos pés calçava sandálias para enfrentar o pó das estradas e, a cabeça,
protegia-a do sol inclemente com um chapelão de abas largas. Nas mãos levava um
cajado, como os profetas, os santos, os guiadores de gente, os escolhidos, os que
sabiam o caminho do céu. Chamava os outros de "meu irmão". Os outros
chamavam-no "meu pai". Foi conhecido como Antonio dos Mares, uma certa época,
e também como Irmão Antonio. Os mais devotos o intitulavam "Bom Jesus", "Santo
Antonio". De batismo, era Antonio Vicente Mendes Maciel. Quando fixou sua fama,
era Antônio Conselheiro, nome com o qual conquistou os sertões e além.
-(Revista VEJA,setembro/97)
Os vocábulos assinalados indicam a sinonímia para o nome de Antônio
Conselheiro.Por ser um parágrafo rico em mecanismos de coesão, vale a pena
mostrar mais alguns deles. Por exemplo, o sujeito de vestia, tinha, calçava, levava,
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chamava, foi conhecido, fixou é sempre o mesmo, isto é, Antônio Conselheiro, mas
só ao final do texto esse sujeito é esclarecido. Dizemos, então, que, neste caso,
houve uma referência por elipse.
Chamavam-no e o intitulavam - os pronomes oblíquos no e o retomam a figura de
Antônio Conselheiro. Da mesma forma, o pronome a (protegia-a) refere-se ao
nome cabeça, e o possessivo sua (sua fama) tem como referente o mesmo Antônio
Conselheiro.
e) Depois do ciclo Romário, o Flamengo entra na era Sávio. Pelo menos é essa a
intenção do presidente Kleber Leite. O dirigente nega a intenção do clube em fazer de
seu atacante uma moeda de troca. "No ano passado me ofereceram US $ 9 milhões e
mais o passe do Romário pelo Sávio e eu não fiz negócio", lembrou. Segundo Kleber,
o jogador tem categoria suficiente para se transformar em um ídolo nacional. Por
falar em prata da casa,o presidente do Flamengo, apoiado por Zico, vai apostar nos
jovens valores do clube para o segundo semestre. Ele acha que, mantendo a base,
com Sávio, Júnior Baiano, Athirson, Evandro e Lúcio, o time rubro-negro terá
condições de chegar às finais do Campeonato Brasileiro e Supercopa.
-(Jornal dos Sports, 24/08/97)
As expressões assinaladas em azul se referem à mesma pessoa. Na verdade, temos
em dirigente um sinônimo de fato, enquanto as outras substituições podem ser
chamadas de elipses parciais, embora todas remetam ao presidente do clube
carioca. Existe igualmente sinonímia entre Sávio, atacante e jogador.
f) Penando para tentar reduzir a conta dos direitos e benefícios dos trabalhadores,
todo governante europeu hoje em dia baba de inveja dos Estados Unidos - o país do
cada um por si e o governo, de preferência, bem longe dessas questões. Pois foi
justamente na terra do vale-tudo entre patrão e empregado que 185000 filiados de um
sindicato cruzaram os braços neste mês e pararam por quinze dias a UPS, a maior
empresa de entregas terrestres do mudo.
-(Revista VEJA, setembro/97)
Não podemos deixar de apontar que, neste exemplo, os sinônimos escolhidos para
Estados Unidos se revestem de um juízo de valor, são denominações de caráter
pejorativo.
Antonímia - É a seleção de expresões lingüísticas com traços semânticos opostos.
Exemplos:
a) Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais belas
paisagens catarinenses.
-(JB, Caderno Viagem, 25/08/93)
Hiperonímia e Hiponímia - Por hiperonímia temos o caso em que a primeira
expressão mantém com a segunda uma relação de todo-parte ou classe-elemento.
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Por hiponímia designamos o caso inverso: a primeira expressão mantém com a
segunda uma relação de parte-todo ou elemento-classe. Em outras palavras, essas
substituições ocorrem quando um termo mais geral - o hiperônimo - é substituído
por um termo menos geral - o hipônimo, ou vice-versa. Os exemplo ajudam a
entender melhor.
a) Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humano presenciou
uma cópula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura apenas
alguns segundos.
-(Revista VEJA, no 30, julho/97)
b) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de
três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo,
que determina a velocidade e a direção a seguir.
-(Idem)
c) Dentre as 79 espécies de cetáceos, as jubartes são as únicas que cantam - tanto que
são conhecidas também por "baleias cantoras".
-(Idem)
d) A renda de bilro é a mais conhecida e criativa forma de artesanato catarinense.
-(JB, Caderno Viagem, 25/08/93)
e) O litoral norte de Santa Catarina tem um verdadeiro festival de localidades
famosas: a praia de Camboriu, a ilha de São Francisco do Sul, a enseada do Brito.
-(Idem)
f) Dado que, entre os assentados, é expressivo o número de analfabetos, pode-se ter
uma idéia de quanto é difícil elaborar um projeto ou usar novas tecnologias. Com
pouco dinheiro e escassa assistência, eles costumam usar sementes de qualidade
baixa e voltar-se para a produção de consumo familiar. Mesmo entre os instrumentos
de trabalho mais corriqueiros, também há escassez brutal, e a maioria dos assentados
não dispõe nem mesmo de uma pá ou de uma picareta. Entre eles, ainda que os semterra tenham escolhido a foice como um dos seus símbolos de luta pela reforma
agrária, o instrumento mais comum ainda é a velha enxada.
-(Revista VEJA, nº 29, julho/97)
Hiperônimos
(termos mais gerais)
baleias
Hipônimos
(termos mais específicos)
jubartes
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animais
jubartes
cetáceos
baleias
artesanato
renda de bilro
litoral norte
praia, ilha, enseada
instrumentos
pá, picareta, foice, enxada
Vale a pena apontar também a coesão lexical por sinonímia, entre assentados e
sem-terra (exemplo f) e entre jubartes e baleias cantoras (exemplo c). Os pronomes
eles (caso reto) e se (caso oblíquo) são exemplos de coesão gramatical referencial,
pois remetem aos assentados.
Coerência e Coesão
Seu Papel na Compreensão e Produção de
Textos
Neste último item, nosso objetivo é mostrar como o trabalho com os mecanismos
de coerência e coesão é necessário para a atividade de compreensão e produção de
textos. Este trabalho não deve se ater ou se restringir aos nomes e definições de
cada mecanismo, isto não seria de grande proveito. É preciso, acima de tudo,
mostrar aos alunos como devem, ao produzir seus textos, lidar com a coerência e a
coesão.
Como afirma Koch (1990), "um professor pode fazer grandes modificações em sua
metodologia de ensino de produção e compreensão de textos, baseando-se nas
descobertas da Lingüística Textual sobre coesão e coerência, sem fazer qualquer
referência teórica sobre o assunto para seus alunos de 1º e 2º graus."
Às vezes, a grande preocupação do ensino de língua portuguesa é fazer com que os
alunos decorem, por exemplo, uma interminável lista de conjunções, as
coordenativas e as subordinativas. É muito mais produtivo eles entenderem o
sentido das conjunções, sua função argumentativa, as relações que estabelecem
entre as idéias como uma forma de evitar os períodos incoerentes do ponto de vista
sintático e semântico.
Outro assunto que também é trabalhoso no ensino de língua portuguesa diz
respeito à pontuação. São extremamente comuns as queixas não sei pontuar, não
sei usar vírgulas, etc. Seria, talvez, mais proveitoso aliar o ensino da pontuação ao
ensino dos mecanismos de coerência e coesão, mostrando a importância da
pontuação para o estabelecimento do sentido do texto. Assim como podemos usar
conectores e outros elementos de coesão para articular vocábulos ou orações e
indicar as relações existentes entre eles, os sinais de pontuação também
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contribuem para a "costura" do texto. Observe o trecho abaixo, extraído de uma
reportagem sobre o pintor Di Cavalcanti.
Nas vacas magras, ia de cerveja a cachaça. Nunca ficava bêbado. Tinha um poder enorme
sobre o copo. Bebia, depois deitava, lia, relaxava.
(Revista VEJA, nº 37, julho/97)
Temos um período formado de quatro orações, separadas por ponto. Embora não
haja conectores gramaticais explícito, percebemos de que forma essas orações se
combinam, formando uma seqüência. Entretanto, se quiséssemos usar conjunções
e outros coesores, poderíamos reescrever esse mesmo período da seguinte maneira:
Nas vacas magras, ia de cerveja a cachaça, porém (entretanto, mas, contudo) nunca ficava
bêbado, pois (porque, visto que, dado que) tinha um poder enorme sobre o copo, isto é, bebia,
depois deitava, lia, descansava.
Esta reescritura serve para mostrar o sentido das conjunções empregadas, sua
adequação ao transmitir as relações entre as orações, e, sobretudo, a possibilidade
de substituir os pontos por conectores explícitos antecedidos de vírgulas.
Observamos ainda que essa forma de escrever (sem as conjunções) pode ser marca
de um estilo, estando de acordo com as intenções e preferências do autor do texto.
Na atividade de produção de textos, percebemos que, muitas vezes, os problemas
mais graves advêm das falhas na estruturação da frase, da incoerência das idéias,
da ausência de unidade e encadeamento lógico dos argumentos. Daí a necessidade
de saber lidar com a coerência e a coesão, mostrando como cada uma delas
contribui para a elaboração de um bom texto.
Muitas vezes, o cuidado maior, por parte dos professores, é com a correção
gramatical, como se ela fosse a qualidade mais importante do texto. Lembramos
aqui as sempre atuais colocações de Othon M. Garcia (1973): "uma composição
pode estar absolutamente correta do ponto de vista gramatical e revelar-se
absolutamente inaproveitável." Mais adiante continua: "Quando o estudante
aprende a concatenar as idéias e estabelecer suas relações de dependência,
expondo seu pensamento de modo claro, coerente e objetivo, a forma gramatical
vem com um mínimo de erros que não chegam a invalidar a redação. E esse
mínimo de erros se consegue evitar com um mínimo de ‘regrinhas’ gramaticais."
Há, nos estudos sobre coerência e coesão, uma posição comum quanto à íntima
relação entre esses dois mecanismos na produção e compreensão de textos. Vimos
que a coesão não garante a coerência, embora concorra para que esta se
estabeleça. Charolles (1986) é muito claro quando afirma que "o uso dos
mecanismos coesivos tem por função facilitar a interpretação do texto e a
construção da coerência pelos usuários. No entanto, eles [os mecanismos coesivos]
podem produzir incoerências: como possuem, por convenção, funções específicas,
não podem ser usados sem respeitar tais convenções. Se isto acontecer, isto é, se o
seu uso contrariar a sua função, o resultado será a incoerência ou a falta de
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seqüencialidade de modo que o leitor/ouvinte não será capaz de construir a
interpretação adequada."
Finalmente, é bom lembrar que, se o professor quer que seus alunos produzam
textos coerentes e coesos, pode, em primeiro lugar, mostrar a presença desses
mecanismos em textos literários, não-literários, jornalísticos, publicitários. Desta
forma, vai familiarizar seu público com essas novas aquisições lingüísticas. Nesta
etapa, os alunos vão perceber que fazem parte da língua elementos que têm a
função de estabelecer relações textuais. Trata-se de processos de seqüencialização
que asseguram uma ligação entre os elementos lingüísticos formadores do texto são os chamados recursos de coesão textual ou instrumentos de coesão.
Só então os alunos passariam a desenvolver a sua própria produção. Muitas vezes,
não basta dizer que o texto do aluno é incoerente; é preciso mostrar onde estão os
problemas e, sobretudo, como podem ser resolvidos.
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