Arruda dos Vinhos

Transcrição

Arruda dos Vinhos
CASA EM ARRUDA DOS VINHOS . PLANO B ARQUITECTOS
“Pensamos que o mais interessante em arquitectura não é
resolver problemas, é resolver problemas criticamente. De uma forma
que questione as práticas correntes da construção e, se é permitida
esta ambição, da sociedade em que vivemos.”
Plano B Arquitectos
Junho 2007
CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
A casa em Arruda dos Vinhos, do gabinete de arquitectura Plano B, parece
ser um exercício perfeito desta arquitectura crítica.
Desta atitude de questionar a sociedade.
Após ponderar a análise de uma obra de Tadao Ando, decidi fazê-la em
relação a esta casa. Isto por dois motivos: ao pesquisar outro tema qualquer,
deparei-me com o blog que descreve toda a sua edificação, com spots da evolução
do próprio conceito arquitectónico e com muitas imagens.
Mais do que isso, porém, apresentou-se-me uma outra grande vantagem: é
obra nacional, em território português, de arquitectos tão nossos.
O site do Plano B não apresenta obras do último par de anos. Parecem, no
entanto, ainda existir em espírito; dei com um post relativamente recente sobre esta
sua Casa em Arruda noutro qualquer sítio cibernáutico, cujo autor se desfazia em
louvores sobre a “arquitectura verde” e a “sustentabilidade” da coisa.
Ele(s) também, e responderam; agradeceram a simpatia pelo texto, mas que
não, não era nada de “sustentável” ou “verde”, citando Souto Moura na sua visão
de que sustentável tem de ser a arquitectura - é uma das condições da sua
qualidade. Que o que fizeram naquela obra fora um reflexo do que pensavam na
altura; que era na articulação de materiais orgânicos - leia-se taipa, madeira - com
industriais - betão, metal - que centravam o seu fazer.
Creio que é um fazer arquitectura, um saber fazer aliás, que esta casa
demonstra. Claro que o desenho é minimalista, contemporâneo, clean, articulado
com a paisagem. Desenho de arquitecto.
Mas a construção da casa passou também pela sensibilidade do material e
pela construção eficaz. Pelo apelo a voluntários que ajudassem a amassar e a
construir paredes de terra e de palha, voltando ao sentido comunitário que a
construção em tempos teve. Por partilhar, até hoje, os vários momentos desde
deitar abaixo as ruínas até aos acabamentos.
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
DADOS TÉCNICOS
PROGRAMA
. uma casa em Arruda dos Vinhos
CONDICIONANTES
. local de implantação em reserva ecológica
. área de implantação de 60 m2
. respeito pelos antigos limites de ocupação, altura e nº de pisos
ESTRUTURA
. Madeira de eucalipto (idoso, de cerne alargado)
. Tabique de terra
. Fundações e laje maciça em betão armado
IMPERMEABILIZAÇÃO
. Laje de fundação
- tela asfáltica
. Cobertura
- flintkote, tela asfáltica sobre OSB com pendente de 4%
ISOLAMENTOS
TÉRMICOS
. Paredes exteriores
- aglomerado de cortiça em placas de 5cm esp. (100 m2)
. Paredes interiores
- ripado em madeira de pinho, enchimento com terra
. Laje; Paredes das vigas de fundação
- Floormate com 40 mm espessura
- betuminoso e poliestireno extrudido com 30 mm esp.
. Cobertura
- poliestireno extrudido com 5 cm esp.
VÃOS
. de batente; dois vãos fixos com caixilharia híbrida em aço
. vidros duplos; vidro duplo: folha temperada baixo-emissiva - 8 mm esp., caixa
de ar - 10 mm esp., e laminada e foscada a ácido - 11 mm esp.
. Área total dos envidraçados: 33,22 m2
ACABAMENTOS
. Paredes interiores
- reboco a cal e areia, MDF hidrófugo colorido sobre OSB
. Paredes exteriores
- chapas de policarbonato ondulado (100 m2)
- madeira de pinho
. Cobertura
- soalho em deck reciclado sobre estrutura de chapa galvanizada
. Tecto
- tecto falso em gesso cartonado
. Soalho
- betonilha afagada protegida com resina acrílica
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
LOCAL
Casal de Santo António, Santiago dos Velhos
Arruda dos Vinhos
CLIENTE
Rui Pedro Bargado Lérias
PROJECTO DE EXECUÇÃO
Março de 2007
ARQUITECTURA
Plano B Arquitectura
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
A casa de Arruda dos Vinhos, do atelier Plano B arquitectos, é um exercício de
adaptação de materiais e de técnicas, de moldagem do conceito de habitação ao sítio e
ao tempo.
Foi um projecto de uma casa que teria de seguir a outra que já lá houvera. Se a
ruína foi o passaporte para o licenciamento, os seus sessenta metros quadrados de
implantação, o seu piso térreo e a sua altura foram lei – literalmente. Sendo uma reserva
ecológica, as restrições legislativas ao projecto foram exponenciais.
Fazer mais como, se era um problema que estavam com ele? O projecto trocou a
ordem natural das coisas. Se o que já existia tinha de ser utilizado, fizeram-no literalmente.
A era da ecologia, da construção sustentável, das paredes trombe, da reutilização de
materiais e dos painéis solares é esta, e era, em 2007, a do Plano B. Construir verde,
construir sustentável, construir para as gerações futuras, reduzir a pegada ecológica slogans publicitários, reclames de produtores, cartilha moral, legislação solar. Norman Foster
com a sua torre sustentável, ditando a moda do alto da sua tecnologia de ponta; no
extremo oposto da moeda, propagam-se os workshops de construção em taipa, os
laboratórios de casas eficientes, os colectores solares. Going green é fashion.
Fashion continua a ser, também, o betão, o vidro, o metal. Os materiais industriais,
os traços modernos à Mies van der Rohe, a tecnologia.
O projecto para a casa de Arruda dos Vinhos, como qualquer projecto de boa
arquitectura, é um produto do seu tempo. Mas tem a grande particularidade de estar num
patamar de maturidade muito além da arquitectura-verde-laboratório ou da arquitecturaumbiguista-de-autor.
É inegável estarmos num ponto de viragem na abordagem à arquitectura porque, se
ela tem de ser eficaz e sustentável, devê-lo-ia ser de forma natural e esta naturalidade
deveria ser parte integrante do projecto que a gera.
O arquitecto Eduardo Souto de Moura, respondendo à pergunta que a imprensa lhe
fazia sobre a sustentabilidade do seu Estádio Municipal de Braga, disse não crer haver uma
‘arquitectura sustentável’; haveria, sim, uma boa ou uma má eficácia de um bom ou de um
mau projecto arquitectónico.
Este impasse é problemático porque não há, ainda, formação académica
suficientemente sustentada para nos dar, futuros arquitectos, as bases técnicas suficientes
para desenhar com eficácia. E talvez seja por isso que o “verde” é ainda berrante, destoa
do “projecto de arquitectura” e é uma especialidade. De projectista ou de engenheiro, de
legislação e de RCCTE; quanto muito, de arquitecto que foi à procura e desmontou a
informação.
O que os arquitectos do Plano B fizeram foi pegar na sustentabilidade tal como
pegaram nas restrições de área de implantação ou na paisagem; foi um dado, uma
componente do programa a resolver. Não tomando como adquiridos os pilotis de betão
armado e a alvenaria de tijolo de 11 do mesmo modo como não deram como adquirido o
como resolver materialmente a dicotomia conceptual entre o volume do edifício e a base
(de contenção, de terraplanagem) sobre a qual ele assenta.
A sua forma de resolver estes problemas criticamente foi, na pior das
caracterizações, arquitectónica.
Desenharam um volume simples a partir da orientação da paisagem, reutilizando o
reutilizável da ruína e reinventando-a com o que a era moderna tem para acrescentar.
E se queriam questionar a sociedade em que vivemos - pois conseguiram.
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
A CASA E O LOCAL
O projecto
consiste na articulação
de dois elementos
base: um volume de
habitação, assente
numa base asfáltica
permeável a 40% às
águas pluviais, que
cobre o piso exterior.
Os muros de
contenção e de
delimitação, em betão
armado, foram
deixados sem
revestimento; a planta
é extremamente
simples - um
quadrado com área
mais técnica na sua
extremidade Norte. A
área da cozinha faz a
transição entre este
espaço e a grande
sala/quarto de dormir.
A casa está
orientada pelos
PLANTA E AXONOMETRIA
vértices, sensivelmente
PLANO B ARQUITECTOS
num eixo Norte-Sul.
Esta decisão prendese com a morfologia
do terreno, com uma criação de relação com a paisagem rural e com uma maior liberdade
de abertura de vãos - de que os arquitectos tiraram pleno partido. Os vãos são muitos e
grandes; ocupam cerca de 33% da área de parede, e concentram-se naturalmente nas
fachadas Sudeste e Sudoeste que iluminam e ventilam a zona mais habitada da casa.
Arruda dos Vinhos, com clima tipo temperado, reflecte a influência atlântica,
reforçada pela presença do rio Tejo. A região apresenta um clima temperado (temperatura
média anual (TMA) de 16,1 ºC), moderado (variação da TMA de 16,5ºC), seco (U média
anual 77%, às 9h e 59%, às 15h) e moderadamente chuvoso (P média anual 587mm). Não
é particularmente ventosa (a velocidade média do vento, predominantemente Norte e
Nordeste, é de 17,6 km/h); a elevação do terreno, a Norte, protegerá a habitação na
maioria dos dias.
Depreende-se, portanto, que não haverá necessidade de sistemas construtivos
altamente sofisticados, dada a amenidade do clima. O maior problema potencial que se
apresenta, de facto, é de haver um sismo.
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
LAJE E FUNDAÇÕES
A casa assenta numa laje maciça de
betão armado, com sapatas, vigas de
fundação e com toda a parafernália de
isolamentos a que a eles estão
associados.
À partida, a decisão de betonar a laje e
as fundações e revesti-las com os
materiais escolhidos é uma opção padrão
e comum; não necessariamente mas, em
princípio, seria uma solução construtiva
eficiente ao nível térmico.
Entre telas asfálticas e Floormate, e
partindo do pressuposto de que a
aplicação dos isolamentos é tão eficaz
quanto o que os testes de laboratório
ditam, a laje maciça de betão armado não apresenta grandes riscos de desconforto ou de
pontes térmicas. Todas as paredes e as vigas foram revestidas por um betuminoso e por
poliestireno, que lhes conferirão uma maior capacidade de manobra contra as pontes
térmicas. Aliás, com um coeficiente de transmissão térmica de 0,55, o contacto com o solo
está bem dentro do que é considerado eficaz.
Não contei, para efeitos de cálculo, com a espessura dos lintéis ou com o desnível
do reservatório de águas pluviais - sabendo, no entanto, que este representa um foco de
incidência de humidade e um potencial abismo para uma ponte térmica. Mas a construção
é de 2007; o processo construtivo foi amplamente acompanhado; a casa encontra-se
ligeiramente afastada do plano do terreno. Haverá diferenças nos resultados da análise das
perdas para a envolvente mas, com todos os factores pesados, creio que a solução
construtiva das fundações, reservatório e laje é perfeitamente capaz e ajustada ao
propósito de habitação.
Poder-se-ia argumentar que os custos de produção, transporte e aplicação do betão,
do ferro e dos vários compostos dos isolamentos incorporaram uma quantidade de energia
muito superior à que seria economizada com a sua aplicação. Que estão longe de serem
ecológicos. Acaba por ser esta a discussão da construção sustentável, hoje em dia; os
prós e os contras da era da industrialização e da técnica versus os prós e os contras da
economia de recursos e a ecologia das soluções.
Neste caso, a indústria prova ser sólida. E eficaz.
Tipo
λ
R
U
Perdas para
Espessura Condutibilidade Resistência
Coeficiente de
a envolvente
térmica
térmica
transmissão térmica (Wh/m².ano)
Fundações
e laje
Betão armado
0,2
Impermeabilização
Tela asfáltica
Isolamentos
Floormate
Soalho
1,75
0,11
0,006
0,23
0,03
0,04
0,035
1,14
Betuminoso e
poliestireno extrudido
0,03
0,13
0,23
Betonilha afagada
com resina acrílica
0,05
0,35
0,14
0,550
413,280
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MAPA DE BETONAGENS
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PAREDES
MAPA DE ESTRUTURAS - MADEIRA (PORMENOR)
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É aqui que a construção se torna original.
A escolha de uma estrutura de madeira de eucalipto foi assumidamente arriscada,
devido às características estáticas e de resistência ao empeno; contudo, para efeitos de
sustentabilidade, é uma escolha interessante. O eucalipto é utilizado como material
construtivo mas, geralmente,
noutras aplicações.
A sua utilização, aqui, é
interessante sobretudo por se
fazer acompanhar de um sistema
construtivo pouco comum: o
espaço intersticial dos elementos
de madeira de eucalipto é
preenchido por terra amassada
com palha. No interior, é sustida
por um fasquiado de pinho e
rebocado a cal aérea e areia;
no exterior, placas de
aglomerado negro de cortiça
isolam o conjunto que é, então,
revestido por chapas de
policarbonato alveolar.
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A cortiça é, aqui, o elemento-chave. A taipa apresenta, obviamente, grandes
vantagens ao nível da redução de energia incorporada no seu fabrico e aplicação - até por
as paredes terem sido erguidas com pela mão-de-obra que respondeu ao apelo online por
voluntários. Não é tão comum assim haver, hoje, um empenho de uma comunidade,
sobretudo cibernáutica, em se reunir por uma causa comum.
Por incorporar menos energia, a terra é à partida uma escolha “verde”. A terra e a
palha não têm características térmicas fabulosas por si mas, associadas a cinco centímetros
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SISTEMA CONSTRUTIVO DAS PAREDES
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de cortiça e a uma camada impermeabilizante de policarbonato, obtém-se uma boa
estabilidade térmica, com um coeficiente de transmissão térmica de 0,47.
Os acabamentos interiores dependem, obviamente, da área da casa; nas zonas
húmidas (instalação sanitária e cozinha), o tabique é revestido a MDF hidrófugo negro sobre
placas de Oriented Strand Board (OSB). Na área de estar / dormir, aplicou-se um reboco
de cal aérea e areia - citando os Plano B, “pelas suas características de permeabilidade ao
vapor de água (um factor importante numa parede de terra) e, igualmente, de ductilidade
que evite a sua fendilhação (uma vez que todos os suportes são em madeira e
consequentemente muito susceptíveis a dilatações e contracções provocadas pelas variantes
do clima)”.
Tipo
Paredes
Exteriores
Chapas de
policarbonato
ondulado
λ
R
U
Perdas para
Espessura Condutibilidade Resistência
Coeficiente de
a envolvente
térmica
térmica
transmissão térmica (Wh/m².ano)
0,004
Estrutura metálica de
0,025x0,025
tubos galvanizados
2,9
0,0014
--
0,16
Madeira (Pinho)
0,10
0,23
0,43
Isolamento
Placas de
aglomerado negro
de cortiça
0,05
0,045
1,11
Paredes
Interiores
Ripado em madeira
de pinho;
tabique de terra
0,20
0,92
0,22
Reboco a cal
e areia
0,025
0,7
0,04
MDF hidrófugo
0,008
0,5
0,016
OSB 4
0,011
0,20
0,055
0,472
397,892
2,421
2,230
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VÃOS ENVIDRAÇADOS
Os panos de vidro foram
decididos com cuidado. Se, por um
lado, permitem uma generosidade
privilegiada tanto da entrada da luz
natural como da paisagem para o
interior, por outro lado representam,
tipicamente, o ponto de maior
desequilíbrio térmico numa habitação.
Os arquitectos optaram pelo
desenho dos caixilhos, descritos como
híbridos e feitos especificamente para
a casa. Todos os vidros são duplos e,
naturalmente, temperados. Os maiores
- fixos - são baixo-emissivos:
compõem-se por uma folha temperada
baixo-emissiva de 8 mm de espessura,
caixa de ar com 10 mm, e outra folha laminada e foscada a ácido, de 11 mm de
espessura. É interessante notar que os vidros fixos, por serem tratados para evitar grandes
trocas de energia com o exterior, apresentam características térmicas semelhantes às das
paredes interiores, com vinte centímetros de espessura e rebocadas; de uma forma geral,
todos eles comportam-se de forma eficaz, sobretudo tendo em conta a percentagem de
área que ocupam, que com 35,64% é muito
acima do que é comum e corrente em Portugal.
Tem também a vantagem de, por se tratar de
uma habitação com todas as fachadas
desimpedidas e com vãos, permitir ventilação
cruzada - um factor crucial de conforto.
O facto de a maior parte dos vãos ter
sido colocada na orientação Sul - Sudoeste e
Sudeste - faz com que, a nível de ganhos
solares, se rentabilize a entrada de radiação,
pois é nesta orientação que contabilizam os
ganhos solares úteis na estação de aquecimento.
Já no Verão, o risco de excesso de entrada de
raios solares, é colmatado pelo tratamento dado
aos vãos foscados já que, assim, parte da
radiação é absorvida antes de chegar ao interior.
Apresentando índices baixos de perdas
energéticas, aparentemente, a generosidade dos
vãos e de luz natural não envolve perdas de
conforto pela dissipação ou excesso de calor.
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MAPA DE VÃOS ENVIDRAÇADOS SIMPLIFICADO
PLANO B ARQUITECTOS
Tipo
Espessura
Vãos
Caixilharia
híbrida (aço)
--
Vidros duplos
folha transparente
--
0,025
Vidro duplo
folha translúcida
Vidro temperado
baixo-emissivo
0,008
Caixa-de-ar
0,01
Vidro laminado
foscado a ácido
0,011
0,029
Área do
envidraçado
Factor
Solar
U
Coeficiente de
transmissão
térmica
Perdas para
a envolvente
(Wh/m².ano)
16,45
0,75
3,7
791,005
16,78
0,35
2,5
545,188
1.336,192
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
COBERTURA
A casa de Arruda dos Vinhos é
coberta por material reciclado.
O deck utilizado consiste em
pinho de cofragem, vulgar, reutilizado
num projecto efémero e aplicado
definitivamente nesta cobertura, após
três anos de armazém e os devidos
tratamentos impermeabilizantes e
fungicidas.
A ideia de reutilizar madeira é
sempre boa - até pela metáfora da
reutilização madeira de cofragem e
das múltiplas associações conceptuais
que se lhe podem fazer.
A madeira, nesta cobertura, é visível do plano térreo, e conjuga-se com os elementos
deslizantes que cobrem os vãos envidraçados. Arquitectonicamente, fala-se a mesma língua;
termicamente, também.
Ao tecto falso em gesso cartonado, sustido por uma estrutura metálica, sobrepõe-se
a estrutura metálica, onde assenta uma camada de Oriented Strand Board com pendente
de 4%. Sobre esta, isolamento em cobertura invertida: Flintkote em pasta e telas asfálticas
para a impermeabilização; o poliestireno extrudido com cinco centímetros de espessura faz
o tampão térmico que torna esta cobertura sólida contra trocas térmicas (0,38 de
coeficiente de transmissão térmica). Tendo em conta que a cobertura é dos pontos críticos
da eficiência dos edifícios, um valor tão baixo reduz em muito as necessidades energéticas
na estação de aquecimento - o parâmetro que tem vindo a ser calculado.
Tipo
U
λ
R
Perdas para
Coeficiente de
Espessura Condutibilidade Resistência
a envolvente
transmissão
térmica
térmica
(Wh/m².ano)
térmica
Tecto
Tecto falso em
gesso cartonado
0,04
0,35
0,11
Cobertura
Estrutura de chapa
galvanizada
--
--
--
Soalho em deck
reciclado
0,10
0,23
0,43
OSB 4, pendente 4%
0,015
0,20
0,075
Flintkote
0,006
0,23
0,03
Telas asfálticas
(2 camadas)
0,08
0,23
0,35
Poliestireno
extrudido
0,05
0,035
1,43
Impermeabilização
Isolamentos
267,835
0,387
267,84
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
A POSTERIORI
O conjunto das componentes da
casa - laje e fundações, paredes, vãos
envidraçados e cobertura - apresenta
coeficientes de transmissão térmica bons
ou muito bons, para todos os sistemas
construtivos. Isto significa que, no papel,
a casa funciona bem a nível térmico,
parecendo não apenas cumprir os
regulamentos mínimos mas ser
verdadeiramente eficiente.
De igual modo, dada a homogeneidade
dos elementos construtivos e a sua
aplicação, à partida o risco de pontes
térmicas é baixo, fazendo com que
problemas como condensações internas
seja improvável (e daí, dada a materialidade do reboco, talvez mesmo que as houvesse, o
edifício incorporá-las-ia e canalizá-las-ia para o exterior).
O desenho resolve questões importantes, como a ventilação cruzada - o que ajuda a
garantir as renovações de ar necessárias e a potenciar o arrefecimento da casa, nos meses
quentes -, a colocação lógica dos vãos e a integração com a paisagem.
Por outro lado, o ‘linguarejar’ estético de arquitecto é, neste projecto, uma escolha
de materiais que une o conceito e a construção.
Apesar de não ter calculado um potencial efeito térmico do asfalto (permeável a
40%) com que o Plano B cobriu o acesso à casa e os muros de contenção, é óbvio que a
constância da membrana que rodeia a casa choca com o verde e as referidas vinhas que,
provavelmente, fizeram com que Rui Pedro Lérias decidisse construir ali, em Arruda dos
Vinhos, a sua casa.
E se calhar foi pela sensibilidade dos Plano B que a eles recorreu para o desenho.
Porque funcionar no papel ou na fotografia não são suficientes individualmente mas
para mim, que lá não fui, o facto de esta casa funcionar nas duas, o facto de o “levantar”
a casa do chão ter sido público em todos os sentidos, o facto de a casa ter sido pensada
ao ponto de não se ter partido de dados adquiridos em nada - tudo parece levar-me a
crer que a casa funciona.
Como objecto eficaz onde viver.
Como peça que encaixa na paisagem.
Como resultado de um processo de aprendizagem - se não para os arquitectos ou
para o dono de obra, pelo menos para quem lê o blog, vê as fotografias e percebe um
raciocínio metódico de que este projecto é um produto.
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
BIBLIOGRAFIA
SÍTIOS INTERNET CONSULTADOS
PINA DOS SANTOS, C. A.; DE PAIVA, JOSÉ A. VASCONCELOS
COEFICIENTES DE TRANSMISSÃO TÉRMICA DE ELEMENTOS DA ENVOLVENTE DOS EDIFÍCIOS
LABORATÓRIO NACIONAL DE ENGENHARIA CIVIL, LISBOA, 1990
VÁRIOS
A GREEN VITRUVIUS - PRINCÍPIOS E PRÁTICAS DE PROJECTO PARA A ARQUITECTURA
SUSTENTÁVEL
ORDEM DOS ARQUITECTOS, 1999
GABINETE DE ARQUITECTURA PLANO B
HTTP://WWW.PLANOB.COM
BLOG DA CONSTRUÇÃO
HTTP://PLANOB-ARRUDA.BLOGSPOT.COM/
APOIO À EXECUÇÃO E LEITURA DAS TABELAS DO LNEC
HTTP://WWW.ENAT.PT/PT/
HTTP://WWW.LABEEE.UFSC.BR/CONFORTO/TEXTOS/TERMICA/T2-TERMICA/
HTTP://WWW.A2A.PT/FICHAS/DR/DR40-90-1.HTM
HTTP://PAGINAS.FE.UP.PT/~EM00003/CENTRO/RCCTE.HTM
HTTP://WWW.ACEPE.PT/RCCTE/RCCTE_CT.ASP
DADOS BIOCLIMÁTICOS DE ARRUDA DOS VINHOS
HTTP://WWW.CM-ARRUDA.PT/_UPLOADS/PDM_II_SIST_BIOF.PDF
Outros sítios online, sobretudo fóruns de arquitectura e engenharia, foram
consultados mas, à data da elaboração da bibliografia, foi impossível redescobrir
os seus endereços.
Todas os esquemas, desenhos, mapas e fotografias da casa de Arruda dos
Vinhos, com a excepção das tabelas de análise dos materiais, encontram-se
disponíveis online no sítio HTTP://PLANOB-ARRUDA.BLOGSPOT.COM/ e foram utilizadas
com o conhecimento do gabinete.
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CASA EM ARRUDA DOS VINHOS - PLANO B ARQUITECTOS
JOANA PINTO COELHO
20091393
2º D - ARQUITECTURA
FÍSICA DAS CONSTRUÇÕES E AMBIENTE
FACULDADE DE ARQUITECTURA
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
JANEIRO
DE
2010
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