efeito da aplicação de micorrizas na produção de tomate

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efeito da aplicação de micorrizas na produção de tomate
EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICORRIZAS NA PRODUÇÃO DE TOMATE
ESTAQUEADO EM CASA DE VEGETAÇÃO NO MUNICÍPIO DE ALTA
FLORESTA - MT
EFFECT OF MYCORRHIZAL APPLICATION ON THE PRODUCTION OF STALKED TOMATO
PLANTS GROWN IN A GREENHOUSE IN ALTA FLORESTA - MT
1
SANTOS, A. A.1; CAMPOS, O. R.2
Mestranda em Agronomia, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, SP
2
Docente da Universidade Estadual Mato Grosso, Alta Floresta, MT
e-mail: [email protected]
Resumo
O tomateiro é considerado uma cultura de grande importância, não só em termos de
produção como também em valor econômico, pois é a cultura industrializada que emprega
grande contingente de mão-de-obra além de ser utilizado diariamente na dieta alimentar da
maioria da população. A capacidade das plantas de estabelecer relações compatíveis com
certos grupos de fungos do solo, conhecidos como micorrizas, considerada alternativa para a
redução no uso de insumos na agricultura. O trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de
fungos micorrízicos na produção da cultura do tomateiro estaqueado em cultivo protegido no
Município de Alta Floresta, MT. O experimento foi implantado em delineamento inteiramente
casualizado, sendo cada parcela constituída de duas linhas de 6 m de comprimento,
espaçadas de 1 m e 0,5 m entre plantas, em um total de 4 repetições. Para avaliar a produção,
foram pesados os frutos da área útil da parcela e os valores transformados em kg ha-1. E assim
verificou-se que o tratamento com aplicação somente de NPK foi o que obteve o maior
resultado, enquanto que entre os tratamentos somente com micorrizas não houve diferença
significativa. No entanto, no tratamento com maior dosagem de micorrizas a produção foi
superior a 13.000 kg ha-1, quando comparado à testemunha.
Abstract
Tomato crops are of great importance, not only when it comes to the yields, but also
when it comes to their economical value, as it is an industrialized culture that requires great
labor contingent besides being daily used in the diet of most of the population. The plants
potential to establish compatible relationships with certain groups of soil fungi, known as
mycorrhizas, is considered to be an alternative for the reduction in the use of agrochemicals in
agriculture. This research work had the objective of evaluating the effect of mycorrhizal fungi on
the yields of stalked tomato plants grown in protected environment in Alta Floresta, MT. The
experiment was established in a completely randomized design, each plot consisting of two
lines which were 6-m long, under the spacing system of 1 m and 0.5 m between plants, in a
total of 4 replications. In order to evaluate the yield, the fruits from the plot useful area were
weighed and the values were changed into kg ha-1. The results show that the treatment with the
NPK application alone was the one which provided the highest values, while there were no
significant differences among the treatments with mycorrhizas. However, in the treatment with
higher mycorrhizas doses, the yield was higher than 13,000 kg ha-1, when compared to the
control.
Introdução
O centro primário de origem do tomateiro está restrito a um estreito território, limitado
ao norte pelo Equador, ao sul pelo norte do Chile, a oeste pelo oceano Pacífico e a leste pela
Cordilheira dos Andes. Antes da colonização espanhola, o tomate foi levado para o México centro secundário, onde passou a ser cultivado e melhorado. Foi introduzido na Europa,
através da Espanha, entre 1523 e 1554. Inicialmente, foi considerada como uma planta
ornamental, não sendo utilizado para consumo por acharem que os frutos tivessem efeito
tóxico (FILGUEIRA, 2003).
Dificilmente haverá outra hortaliça mais cosmopolita que o tomate, pois se encontra
amplamente disseminada (FILGUEIRA, 2003). Pertence a família das solanáceas, onde
também são encontradas outras hortaliças como berinjela, pimentão, petúnia, fumo, batata, e
outras (MINAMI & HAAG, 1989).
Nos sistemas micorrízicos os fungos se associam a briófitas, pteridófitas,
gimnospermas e angiospermas. Com essa interação, as plantas têm o crescimento estimulado
em decorrência do aumento nos níveis de nutrientes minerais (SMITH & READ, 1997) e de
carboidratos solúveis (AMIJEÉ et al., 1993), alterações no conteúdo de hormônios vegetais
(LUDWIG-MUELLER et al., 1997) e na taxa de fotossíntese (ALLEN et al., 1982). Fungos
micorrízicos arbusculares (FMA) dependem inteiramente dos carboidratos produzidos pelo
hospedeiro, podendo as raízes de plantas inoculadas utilizarem de 4 a 17 % mais carbono que
as plantas não inoculadas (SMITH & READ, 1997).
O desafio da pesquisa para as próximas décadas é explorar os benefícios destas
associações em condições reais de campo nos ecossistemas naturais e agrossistemas
(SIQUEIRA & KLAUBERG FILHO, 2000). São sistemas formados pela planta, por fungo e com
grande influência do solo modulados pelo ambiente e manejo do ecossistema (MOREIRA &
SIQUEIRA, 2002).
Material e Métodos
O experimento foi desenvolvido na área experimental da UNEMAT, Campus de Alta
Floresta, no período de julho de 2006 a 2007. O solo da área foi classificado como Latossolo
Vermelho-Amarelo distrófico (LVAd) argiloso, A moderado, hipodistrófico, caulinítico,
compactado, muito profundo, moderadamente ácido.
Com base na análise de solo foi realizada a aplicação de calcário e adubos, sendo o
calcário aplicado em área total e incorporado 25 kg de calcário dolomítico Filler por casa de
vegetação de 104 m2. Para os tratamentos com adubação química utilizou-se as seguintes
proporções para adubação de plantio, foi aplicado 0,60 kg de sulfato de amônia, 1,32 kg de
super simples e 0,96 kg de cloreto de potássio, por parcela de 6 m2 e na adubação de
cobertura utilizou-se 0,40 kg de sulfato de amônia e 0,17 kg de cloreto de potássio, em duas
aplicações.
Tabela 1 – Resultados de análises químicas para macronutrientes e micronutrientes do solo.
Amostra
(cm)
pH
(CaCl2)
(0-20)
5,1
mg/dm3
cmolc/dm3
g/dm3
P
K
Ca
Mg
Al
H
H+A
l
1,4
121
3,1
1,0
0,0
4,2
4,2
cmolc/dm3
%
M.O.
S
T
V
28
4,4
8,6
51,2
O trabalho foi conduzido em casa de vegetação com quatro repetições e seis
tratamentos sendo: T1, 0,7g de micorrizas por planta; T2, 0,5g de micorrizas por planta; T3, 0,3g
de micorrizas por planta; T4, NPK; T5, 0,5g de micorrizas por planta mais adubação com NK;
T6, sem adubo e sem micorriza.
Para a produção das mudas utilizou-se substrato comercial (Plantmax®). Para cada
tratamento, esse substrato foi inoculado ou não com micorrizas (G. clarum) fornecidas pela
EMBRAPA (Agrobiologia), em seguida colocado em bandejas de isopor de 128 células, em
cada uma destas foram colocadas de duas a três sementes. Dez dias após a emergência fezse o desbaste deixando apenas uma plântula por célula.
Cada parcela constitui-se de uma linha de 6m de comprimento, espaçadas de 1 m
entre linhas e 0,5m entre plantas. A cada 2 linhas constituiu-se uma repetição, perfazendo-se
um total de 4 repetições. Para a área útil foram utilizadas 8 plantas, sendo excluídas 2 plantas
de cada extremidade.
Para realização do trabalho foi utilizado o híbrido Duradouro para cultivo estaquiado,
desenvolvido pela EMBRAPA, pois possui resistência às principais doenças do tomateiro na
região (vira-cabeça, mancha de estenfílio, murcha de fusário e murcha de verticílio).
As amostragens foram realizadas durante o ciclo reprodutivo no qual foram pesados os
frutos por planta.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, com auxílio do programa estatístico SAS (1999).
Resultados e Discussão
Os valores de produtividade para o tratamento com aplicação apenas de adubação
química (NPK) foi o que apresentou melhor resultado, atingindo 41.150 kg ha-1, enquanto os
tratamentos com 0,7, 0,5 e 0,3g de micorrizas/planta apresentaram valores inferiores, sendo
32.750, 29.031 e 28.463 kg ha-1, respectivamente. Produtividades bem inferiores foram
verificadas para a testemunha e aplicação de NK + 0,5g de micorrizas/planta, cujos valores
foram 19.638 e 19.513 kg ha-1, respectivamente (Tabela 2).
A diferença de produtividade foi tão significativa que a maior produtividade dos
tratamentos com aplicação apenas de micorrizas foi 13.237 kg ha-1 t a mais que a testemunha,
tratamento esse que não recebeu aplicação de adubo nem micorrizas (Tabela 2).
Com base nos resultados obtidos, a inoculação de tomate com micorrizas G. clarum
pode ser uma alternativa para minimizar o uso de adubação química, consequentemente,
reduzindo os custos de produção.
Tabela 2 – Produtividade de tomateiro estaqueado inoculado com micorrizas sob ambiente
protegido, no município de Alta Floresta, MT, 2006.
Tratamentos
T1 - 0,7g micorriza/planta
T2 - 0,5g micorriza/planta
T3 - 0,3g micorriza/planta
T4 - NPK
T5 - NK + 0,5g de micorriza/planta
T6 - Sem micorriza e adubação
F
C.V. (%)
DMS
Produtividade (kg ha -1)
32.750 ab
29.031 ab
28.463 ab
41.150 a
19.638 abc
19.513 abc
27,48**
11,030
7,046
Valores seguidos pelas mesmas letras minúsculas nas colunas não diferem entre si a 5% de
probabilidade pelo teste de Tukey.
ns Valores não diferem segundo o Teste F.
**Média significativas a 1% de probabilidade segundo o Teste F.
Conclusões
Com base nos resultados obtidos, foi possível concluir que:
- Qualquer uma das dosagens de micorrizas foi satisfatória para desenvolvimento de
plantas de tomateiro;
- O tratamento com adubação completa (NPK) foi o que proporcionou as plantas
melhor desenvolvimento e produtividade;
- A produtividade do tomateiro aumentou à medida que foi aumentada a dosagem de
micorrizas.
Referências
ALLEN, M.F.; MOORE, T.S.; CHRISTENSEN, M. Phytohormone changes in Bouteloua gracilis
infected by vesicular-arbuscular mycorrhizae II. Altered levels of gibberellin-like substances and
abscisic acid in the host plant. Canadian Journal of Botany, Canada, v.60, 1982. p.468-471.
AMIJEE, F.; STRIBLEY, D.P.; TINKER, P.B. The development of endomycorhizal root systems:
effects of soil phosphorus and fungal colonization on the concentration of soluble carbohydrates
in roots. The New Phytologist, Oxford, v.123, n. 2, 1993. p.297-306.
FILGUEIRA, F.A. R. Novo Manual de Olericultura: agrotecnologia moderna na produção
de hortaliças. Viçosa: UFV, 2003. p. 412.
LUDWIG-MUELLER, J.; KALDORF, M.; SUTTER, E.G. & EPSTEIN, E. Indole-3-butyric acid
(IBA) is enhanced in young maize (Zea mays L.) roots colonized with the arbuscular mycorrhizal
fungus Glomus intraradices. Plant Science v.125, 1997. p.153-162.
MOREIRA, F.A. S; SIQUEIRA J.O. Microbiologia e Bioquímica do Solo. Lavras: UFLA, 2002.
626p.
SAS – Statistical Analysis System Institute.SAS/STAT Procedure guide personal computers.9.
ed. Cary, NC. Inst, 1999. 334p.
SIQUEIRA, J.O.; KLAUBRG FILHO, O. Micorrizas arbusculares: A pesquisa brasileira em
perspectiva. In: Tópicos em ciência do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,
v.1, 2000. p.351.
SMITH, S.E.; READ, D.J. Mycorrhizal Symbiosis: Academic Press, London, 1997 p.453-469.

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