Revista Processos Químicos

Transcrição

Revista Processos Químicos
REVISTA
OPINIÃO: A Importância da Produção Vegetal para o Século XXI
Processos
Químicos
www.rpqsenai.org.br
Sustentabilidade na Produção Vegetal
Revista Científica da Faculdade de
Tecnologia SENAI Roberto Mange
Ano 7
nº 13
Jan/Jun
2013
REVISTA
ISSN 1981-8521
Processos
Químicos
Revista Científica da Faculdade de
Tecnologia SENAI Roberto Mange
Goiânia, v.7, n.13, ano 7, jan/jun 2013.
REVISTA
Processos
Químicos
Ano 7
nº 13
Jan/Jun
2013
Pedro Alves de Oliveira
Presidente do Conselho Regional do SENAI
Paulo Vargas
Diretor Regional do SENAI
Manoel Pereira da Costa
Diretor de Educação e Tecnologia
Ítalo de Lima Machado
Gerente de Educação Profissional
Aroldo dos Reis Nogueira
Diretor da Faculdade de Tecnologia SENAI Roberto Mange
Joana Darc Silva Borges
Coordenadora da Área de Química
Corpo Editorial
Ademir João Camargo
Anselmo Eucana de Oliveira
Carlito Lariucci
Eurípedes de Almeida Ribeiro Júnior
Gilberto Lúcio Benedito Aquino
Guilherme Roberto de Oliveira
Hamilton Barbosa Napolitano
Joana Darc Silva Borges
José Daniel Gonçalves Vieira
Kleber Carlos Mundim
Manoel Pereira da Costa
Maria Assima Bittar Gonçalves
Roberta Signini
Solemar Silva Oliveira
Revista Processos Químicos / SENAI.
Departamento Regional de Goiás - v.7,
n.13 (jan/jun, 2013). Goiânia: SENAI/
DR. Gerência de Educação Profissional /
Faculdade de Tecnologia SENAI Roberto
Mange, 2013.
v.: il.
Semestral
Núcleo de Material Didático da Gerência
de Educação Profissional do SENAI/DR/GO
Capa e Diagramação: Juliano Rodrigues
Revisão: Fernanda Marques
ISSN 1981-8521
1. Educação Profissional - Periódicos. 2.
Processos Químicos.
I. SENAI. Departamento Regional de
Goiás
CDD - 540
Tiragem: 2.000 exemplares
Faculdade de Tecnologia
SENAI Roberto Mange
Av. Engenheiro Roberto Mange, n° 239
Bairro Jundiaí - CEP 75113-630 - Anápolis-GO
Fone: (62) 3902-6200 - Fax: (62) 3902-6226
e-mail: [email protected]
Sumário
ARTIGO CONVIDADO
09
Sustentabilidade na Produção Vegetal
Adilson Pelá
ARTIGOS GERAIS
15
Mamíferos em Ambientes Cortados por uma Rodovia no Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro
Maressa R. Prado-Cacau, Ednaldo C. Rocha, Gumercindo
S.Lima & Gisele M. Lessa
21
Produtividade de Plantas de Pinhão Manso Cultivadas em
Diferentes Espaçamentos
Marcus V. P. Cassiano , Luis F. O. Borges, Alainy C. S.
Nascente, Pollykennya K. F. Alves, Victor P. Godoi, Larissa P.
Borges, Mariana S. Carmo & Fábio S. Matos
27
Desenvolvimento de Cultivares de Alface em Sucessão a
Leguminosas
Gesiane R. Guimarãesa, Faber S. Pereira, Alexandre M. E.
Oliveira, Ednaldo C. Rocha & Roberli R. Guimaraes
31
Adubação Nitrogenada de Sorgo Avaliada pelo Teor de Clorofila
com Método Convencional e por Medidor Portátil
Vitor C. M. Barretto, Alex da Silva, José M. G. Beraldo, Mara
C. P. Cruz & Manoel E. Ferreira
37
Diferentes Períodos de Fermentação de Sementes para
Produção de Mudas de Pitombeira em Ambientes Protegidos
Cleiton G. S. Benett, Murilo F. Pelloso, Miriam F. Lima, Katiane
S. S. Benett, Edilson Costa, Mateus L. Secretti & Fabrício
Rodrigues
43
Simulação de Déficit Hídrico em Diferentes Genótipos de Feijão
pela Diminuição do Potencial Osmótico
Daiane M. Duarte, Diana C. Silva, Ednaldo C. Rocha, Helton S.
Pereira & Fabrício Rodrigues
51
Eficiência Nutricional de Híbridos de Sorgo Granífero ao
Fósforo Avaliados sob Diferentes Condições Ambientais
Fabricio Rodrigues, Mylla C. Ribeiro, Felipe R. Costa, Leandro
F. Damaso, Jéssica S. Pacheco, Daiane M. Duarte & Cleiton G.
S. Benett
59
Adubação Orgânica e Mineral na Cultura do Milho
André L. S. Pereira, Adilson Pelá, Gláucia M. Pelá, Rogério N.
Gonçalves, Rodrigo T. Mendes, Odilon P. M. Júnior
67
Uso de Pó de Basalto como Alternativa na Adubação da Cultura
da Alface
Thiago P. Rezende, Adilson Pelá & Gláucia M. Pelá
73
Toxicidade de Extratos de Sementes de Jatropha curcas e
Azadirachta indica à Plutella xylostella
Paulo V. Sousa, Flávio G. Jesus, Márcio S. Araújo, Fábio S.
Matos & Leandro Bacci
OPINIÃO
77
A Importância da Produção Vegetal para o Século XXI
Fabrício Rodrigues
Apresentação
O desenvolvimento da economia brasileira está diretamente relacionado à
saúde de setores-chave, como é o caso da indústria e da agropecuária que, no ano
de 2012, tiveram uma composição de mais de 30% do Produto Interno Brasileiro.
Para alavancar a participação desses setores, são imprescindíveis investimentos em
pesquisa e consequente inovação tecnológica. Nesse sentido, nichos de pesquisa
que alinhem a sustentabilidade das atividades agrícolas à produção vegetal
tornam-se uma vertente de grande importância na dinamização agropecuária. A
produção vegetal, vinculada à sustentabilidade, pode trazer benefícios ao mercado
agropecuário, tais como: (1) desenvolvimento de novas tecnologias que permitam
a exploração agrícola cada vez mais eficiente, visando à melhoria da qualidade
de vida dos cidadãos; (2) conhecimento de aspectos teóricos e práticos do
desenvolvimento sustentável, bem como preservação do ambiente e (3) aplicação
de conhecimentos científicos em benefício à sociedade.
Considerando a necessidade de uma ampliação da agropecuária na composição
do desenvolvimento da economia brasileira, a Revista Processos Químicos
lança seu décimo terceiro volume com artigos, abordando temas relacionados
à “Produção Vegetal: Sustentabilidade e Mercado”. Neste volume, serão
disponibilizados artigos que discutem questões relacionadas ao desenvolvimento
de novas tecnologias para otimização de cultivares no cerrado, bem como o
impacto ambiental, social e econômico dessas tecnologias.
Valter Henrique Carvalho Silva
Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas
FATEC SENAI RM
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Revista Processos Químicos
Jan / Jun de 2013
Artigo Convidado
Sustentabilidade na
Produção Vegetal
Adilson Pelá
Para atender à demanda, o crescimento da produção agrícola continuará a
ser indispensável nas próximas décadas, principalmente dos produtos básicos
usados na alimentação humana. A busca pela sustentabilidade da produção
vegetal determina a preocupação com a forma utilizada para aumentar a produção
agrícola, em termos de poluição ambiental;, esgotamento ou degradação dos
recursos naturais, alm de questões sociais, culturais e econômicas. Em muitas
práticas ou sistemas agrícolas, como a produção de agroenergia, a integração
lavoura-pecuária-floresta, a agroecologia e o manejo integrado de pragas e doenças
são identificados como aspectos mais sustentáveis que aqueles praticados na
agricultura tradicional. A percepção de problemas de ordem econômica, ambiental
e social deve constantemente nortear o ajustes do modelo de produção agrícola
atual, em busca da sustentabilidade.
Palavras-chave: sistemas conservacionistas; recursos naturais; preservação.
The growth of agricultural production will continue to be essential in the
coming decades, particularly commodity used in food. The quest for sustainability
of crop production should guide the form used to increase agricultural production,
to reduce environmental pollution, depletion and degradation of natural resources,
without disregarding the social, cultural and economic. In many practices or
farming systems, such as the production of bioenergy, the integrated crop-livestockforestry, agro-ecology and integrated pest and diseases are identified aspects more
sustainable than those practiced in traditional agriculture. The perceived problems
of an economic, environmental and social must constantly guide the model fits the
current agricultural production, in pursuit of sustainability.
Keywords: conservation systems; natural resources; preservation.
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Revista Processos Químicos
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Artigo Convidado
Introdução
Um dos maiores desafios da atualidade consiste
em assegurar o acesso mundial à alimentação, face ao
impacto das mudanças climáticas e ao esgotamento
dos recursos naturais não renováveis. Atualmente 850
milhões de pessoas passam fome no mundo. Dessas,
820 milhões vivem em países em desenvolvimento,
que também serão os mais afetados pela mudança no
clima.
Em 1947, quando foi publicada a primeira edição de
The State of Food and Agriculture, metade da população
era cronicamente desnutrida, com consumo inadequado
de energia. A partir da modernização da agricultura, esse
percentual caiu para 12,5. Porém, 868 milhões de pessoas
ainda permanecem subnutridas em termos de consumo
de energia e estima-se que 2 bilhões de pessoas sofrem
deficiências de um ou mais micronutrientes1.
O desafio da sustentabilidade agrícola aponta para
o paradigma de se incorporar um padrão produtivo
que garanta a segurança alimentar sem agredir o meio
ambiente2. O crescimento da produção agrícola contribui
para melhorar a nutrição, principalmente em países, cuja
economia é essencialmente agrícola, tanto por meio
da geração de renda quanto da redução no preço dos
alimentos, tornando-os mais acessíveis à população1.
Para atender à demanda, o crescimento da produção
agrícola continuará a ser indispensável nas próximas
décadas, principalmente dos produtos básicos usados na
alimentação humana, que deverá crescer cerca de 60%,1.
Maiores esforços devem ser dirigidos para intervenções
que promovam a diversificação da produção dos pequenos
agricultores, como sistemas agrícolas integrados1. Assim,
poderão ser melhor atendidas as necessidades nutricionais
quantitativas e qualitativas.
Existe, porém, a preocupação com a forma utilizada
para aumentar a produção agrícola, em termos de
poluição ambiental, esgotamento ou degradação dos
recursos naturais, alem de questões sociais, culturais
e econômicas. Daí o surgimento do conceito de
sustentabilidade na produção vegetal. Em 1987, a
Comissão Mundial do Ambiente e do Desenvolvimento
define desenvolvimento sustentável como aquele que
satisfaz as necessidades das gerações presentes sem
comprometer a capacidade das gerações futuras para
satisfazer as suas próprias necessidades.
10
Revista Processos Químicos
Considera-se como suporte para a sustentabilidade
o tripé formado pelos aspectos econômicos, ambientais
e sociais. Embora, muitos defendam que estes devam
ser priorizados nessa ordem, focando primeiro a
prosperidade econômica, depois, a preocupação com
qualidade ambiental e, por último, um elemento que o
mundo dos negócios tende a desconsiderar: a justiça
social. Porém, o conceito de tripé exige equilíbrio entre
todos, sob pena de insustentabilidade.
Na
produção vegetal,
a conceituação de
sustentabilidade caminha no mesmo sentido. A agricultura
sustentável adota práticas produtivas, competitivas e
eficientes, além de proteger e melhorar o ambiente e
o ecossistema global, bem como as condições sócioeconômicas das comunidades locais, em consonância
com a dignidade humana3. Torna-se necessário, cada
vez mais, então, adequar os sistemas agrícolas a esses
conceitos.
O termo sustentabilidade tem sido adotado com
forte conotação valorativa, refletindo mais uma
expressão dos desejos e valores de quem as exprime
do que algo concreto de aceitação geral4. É necessário
interpretar a sustentabilidade como um espaço em
constante transformação e adaptação num mundo que é
continuamente afetado pela mudança5.
A busca do desenvolvimento sustentável representa
um dos maiores desafios para a humanidade e, em
especial, para o Brasil. Ao longo de séculos, o modelo de
desenvolvimento no país tem evoluído do extrativismo
e da agricultura de subsistência para exploração
agroindustrial intensa, com a aplicação de tecnologias
modernas e, em muitos casos, com ocupação e utilização
desordenada dos recursos do ambiente, o que coloca em
risco a nossa rica base de recursos naturais6.
O aumento da produtividade das lavouras, pelo
processo de modernização agrícola, tem provocado
impactos ambientais indesejáveis, principalmente, por
práticas inadequadas de manejo do solo e de culturas7.
Entre os problemas ambientais verificados com a
modernização da agricultura destacam-se a destruição
das florestas e da biodiversidade genética, a erosão
dos solos e a contaminação dos recursos naturais e dos
alimentos8.
A priorização da produtividade das culturas
agrícolas, a qualquer custo, tem como consequências
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sócioambientais a contaminação do solo e das águas
(superficiais e subterrâneas) pelo uso maciço de
agrotóxicos e adubos; a simplificação dos ecossistemas
e promoção de desequilíbrios ecológicos devido ao uso
de meios exclusivamente químicos para controle de
plantas daninhas, pragas e doenças, resultando na seleção
de organismos resistentes, bem como necessidade de
intensificação das dosagens dos agrotóxicos e da mistura
de vários produtos4.
Podemos citar como exemplo de insustentabilidade
desse modelo agrícola a desestabilização social de
comunidades tradicionais do Cerrado e Pantanal do Mato
Grosso (indígenas, ribeirinhos, camponeses pantaneiros).
Nessa constatam-se problemas como a destruição de
germoplasma, que gerou prejuízo de valor incalculável
para a diversidade; a contaminação dos trabalhadores
rurais e transferência para o setor de saúde pública
dos encargos sócioeconômicos do tratamento; forte
concentração das terras e da renda gerada; modelo de
produção muito sujeito à variação cambial4.
Os recursos-chave para a produção de alimentos, com
sementes, solo, matéria orgânica, água, entre outros, são
renováveis, o que deveria permitir que a agricultura fosse
uma atividade altamente sustentável. Porém, verificase que o padrão atual usado na produção vegetal tem
características que mais o aproximam de uma indústria
extrativa, o que tende a torná-lo não-sustentável. A
atividade agrícola ainda pode envolver custos nãoambientais, como impactos para os trabalhadores, para
as comunidades, as regiões e os consumidores, em
diferentes graus, de acordo com a atividade6.
Ações voltadas para o uso racional e manejo dos
recursos naturais, principalmente do solo, da água e da
biodiversidade visam promover agricultura sustentável,
aumentar a oferta de alimentos e melhorar os níveis
de emprego e renda no meio rural9. Assim, atingir
a sustentabilidade pode ser uma simples questão
de adequação tecnológica, ou então algo bem mais
complexo, como a construção de uma nova ordem social
mais justa no âmbito planetário10.
Ao analisar os conceitos de sustentabilidade percebese a dificuldade que existe ao se considerar um sistema
de produção agrícola sustentável, pela necessidade de
previsão do futuro. Na realidade, o que se consegue é
uma redução relativa dos problemas ambientais e sociais
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dentro da viabilidade econômica da produção agrícola.
Existe esforço grande decorrente das pressões
exercidas por vários agentes da sociedade, em desenvolver
e/ou demonstrar os aspectos ou características que
contribuem com maior sustentabilidade da produção
vegetal. Um dos maiores desafios enfrentados pela
discussão sobre o desenvolvimento sustentável é a
elaboração de metodologias aplicadas que permitam
avaliar a sustentabilidade de diferentes projetos,
tecnologias ou agroecossistemas em situações concretas11.
Normalmente, procura-se extrair a essência de um
conjunto de informações complexas sobre determinada
realidade. Assim como o surgimento de algumas doenças
de plantas chegou a determinar mudanças de hábitos
na população, a sustentabilidade, na atualidade, poderá
apresentar resultado semelhante. Em todas as atividades
agrícolas, podemos identificar práticas que colaboram
com a sustentabilidade, mesmo naquelas consideradas
por muitos como insustentáveis, como nos sistemas de
produção das commodities agrícolas.
Um dos pilares da sustentabilidade, os impactos
ambientais estão se tornando um tema cada vez mais
importante no mundo, com pressão oriunda de uma
série de fontes, como autoridades governamentais
locais e nacionais, reguladores, associações comerciais,
clientes, colaboradores e acionistas, e principalmente
dos consumidores. Por meio de sistemas de certificação
internacionais, as exigências sociais conseguem
ser contempladas porque envolvem diretamente a
comercialização dos produtos.
Sistemas de Cultivo ou Práticas
Agrícolas que Contribuem
com a Sustentabilidade
Produção de Agroenergia
O consumo energético no cenário mundial está em
contínuo crescimento, o que desperta a consciência
coletiva para a necessidade de aumento da produção e
a diversificação da matriz energética, de forma a suprir
a demanda. Ao mesmo tempo, é necessário reduzir os
impactos nocivos ao meio ambiente, em especial os
relativos ao aquecimento global, e suas consequências no
futuro do planeta.
Revista Processos Químicos
11
Artigo Convidado
O Brasil é referência na produção de agroenergia,
principalmente, por meio de programas como os do etanol
e do biodiesel. O País tem atraído a atenção do mundo por
ofertar alternativas econômica e ecologicamente viáveis
à substituição dos combustíveis fósseis. Menos poluente
e mais barata, a geração de energia com o uso de produtos
agrícolas representa a segunda principal fonte de energia
primária do País. O consumo do álcool supera o da
gasolina e o biodiesel já conta com participação relevante
na matriz de combustíveis no País em mistura obrigatória
com a gasolina. A produção e o processamento de canade-açúcar no Brasil são gerenciados pelo setor privado,
que obtém os menores custos de produção do mundo.
Conforme resultados preliminares publicados no
BEN 2012, a biomassa derivada da cana-de-açúcar
e de resíduos atingiu 15,7% e lenha e carvão 9,7% no
provimento de energia de fontes renováveis na matriz
energética brasileira. A perspectiva é de que futuramente
essas fontes renováveis sejam ampliadas com o uso de
biomassas processadas com tecnologias mais modernas,
como a produção de etanol, a partir da celulose, e
com o desenvolvimento de pesquisas agropecuárias,
com estudos sobre oleaginosas, aptidões agrícolas e
produtividade, com a finalidade de otimizar a produção
de biodiesel.
Produção agroecológica
Os sistemas de produção agrícola do tipo ecológico,
como a agricultura orgânica, têm apresentado resultados
satisfatórios do ponto de vista econômico, ambiental
e social12. O objetivo da produção orgânica vegetal e
animal é promover qualidade de vida com proteção ao
meio ambiente. Sua principal característica é não utilizar
agrotóxicos, adubos químicos ou substâncias sintéticas
que agridam o meio ambiente. Para ser considerado
orgânico, o processo produtivo contempla o uso
responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos
naturais, respeitando as relações sociais e culturais. O
Brasil já ocupa posição de destaque na produção mundial
de orgânicos.
A produção orgânica procura estabelecer relação de
confiança entre produtor e consumidor, mediante controle
de qualidade, feito por meio de uma Certificação por
Auditoria ou por um Sistema Participativo de Garantia.
Os agricultores familiares são os únicos autorizados a
12
Revista Processos Químicos
realizar vendas diretas ao consumidor sem certificação,
desde que integrem alguma organização de controle
social cadastrada nos órgãos fiscalizadores.
Ações governamentais são de extrema importância
e devem permear um campo de atuação multivariado,
passando pelas áreas do ensino, ciência e tecnologia
(formação e pesquisa agrícola); social (organização de
produtores e consumidores); técnica (extensão rural);
fomento (comercialização e mercado), além do apoio
em relação às áreas da legislação; certificação; linhas
de crédito e financiamento específicos; divulgação;
informação e consumo responsável de produtos
orgânicos14.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
A otimização e a intensificação do uso das áreas
agricultáveis é necessidade para atender a demanda
por alimentos e matérias-prima. A Integração LavouraPecuária-Floresta (ILPF) promove a recuperação de
áreas de pastagens degradadas por meio da associação
com diferentes sistemas produtivos, como os de grãos,
fibras, carne, leite e agroenergia. Dessa forma, permite a
diversificação das atividades econômicas na propriedade
e minimiza os riscos de frustração de renda por eventos
climáticos ou por condições de mercado, ao mesmo
tempo, explorando melhor o potencial produtivo das
áreas agrícolas.
Ainda predominam, na paisagem, pastagens
degradadas, e 80% destas apresentam algum grau de
degradação. Por outro lado, muitas áreas utilizadas com
lavouras ficam ociosas durante algum período do ano.
Tanto a pecuária quanto a agricultura podem se beneficiar
da integração. A adoção da ILPF ajuda a reduzir o uso de
agroquímicos, a necessidade abertura de novas áreas para
fins agropecuários e o passivo ambiental. Possibilita,
ao mesmo tempo, o aumento da biodiversidade e do
controle dos processos erosivos com a manutenção da
cobertura do solo. Aliada a práticas conservacionistas,
como o plantio direto, constitui-se em uma alternativa
econômica e sustentável para elevar a produtividade de
áreas degradadas.
Depois do sistema de plantio direto, a ILPF apresenta
potencial para revolucionar o agronegócio brasileiro,
que já é considerado um dos mais eficientes do mundo.
Aos poucos se destacam na paisagem propriedades com
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áreas compostas de pastagens verdes mesmo ao final do
período seco na região do Cerrado, onde o sistema foi
adotado. Os bons resultados, no início, servem como
incentivo, e no final acaba se tornando necessidade.
Manejo integrado de pragas, doenças
e plantas daninhas
O manejo integrado de pragas e doenças é uma
estratégia de controle múltiplo de infestações que se
fundamenta no controle ecológico por meio de táticas de
controle que interfiram minimamente com esses fatores.
O objetivo desse é diminuir as chances dos insetos ou
doenças de se adaptarem à alguma prática de controle
isolada. Visa manejar a cultura para que as plantas possam
expressar sua resistência natural às pragas e patógenos e
possam ser protegidos os organismos benéficos.
Quando bem empregada, a técnica do Manejo
Integrado de Pragas e Doenças (MIP) limita os efeitos
potenciais prejudiciais agrotóxicos à saúde pública e ao
ambiente natural.
O objetivo dessa estratégia não é o de eliminar os
agentes, mas reduzir sua população, de modo a permitir
que seus inimigos naturais permaneçam na plantação,
agindo sobre suas presas e favorecendo a volta do
equilíbrio natural perdido com o uso de defensivos
agrícolas. Dessa forma, requer o entendimento do
sistema da plantação como um todo e o conhecimento
das interelações ecológicas entre os insetos praga, seus
inimigos naturais. O ambiente onde é realizado o cultivo
baseia-se no conhecimento do nível de tolerância das
culturas, sem refletir em perda econômica substancial,
envolvendo o acompanhamento constante para estimar o
grau de abundância e severidade da infestação.
As táticas usuais do Manejo Integrado de Pragas
consistem na utilização de sementes resistentes ou
tolerantes ao ataque de pragas e/ou doenças; na adoção
de certas práticas agrícolas, como a rotação de culturas,
seleção de áreas de plantio, plantio de culturas-armadilhas,
e ajuste do plantio e colheita na época menos favorável
às infestações; controle físico e mecânico, como valas
e coberturas plásticas, que dificultam a locomoção dos
insetos para as culturas controle biológico. Recorre-se ao
controle químico, somente quando as táticas anteriores
mostraram-se ineficazes e ultrapassar o nível de dano
econômico.
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Considerações Finais
A sustentabilidade na agricultura é uma meta a
ser alcançada, porém, a complexidade dos fatores
envolvidos dificulta a sua avaliação. De acordo com a
própria conceituação, é impossível considerar um sistema
sustentável, uma vez que envolveria a previsão do
futuro. Porém, essa incerteza não deve se constituir num
argumento para deixar de adotar as práticas que, além de
economicamente viáveis, sejam ambientalmente corretas
e socialmente justas. A percepção de problemas de ordem
econômica, ambiental e social devem constantemente
nortear o ajustes do modelo de produção agrícola atual,
em busca da sustentabilidade.
Referências
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Nations. World food and agriculture. FAO Statistical Yearbook
2013.
2. Cunha, SK; Boszczowski, A.K. Facco, C.A. Ecologização
do sistema setorial do sistema de produção da soja no Brasil.
Agroalimentaria. v.17 n.32, p. 71-86. 2011.
3. Hani F., Pintér, L., Herren, H.R From common principles to
common practice. INFASA /IISD/ SHL, Bern, 2006,248p.
4. Santos, J. W. M. C.. Ritmo climático e sustentabilidade sócioambiental da agricultura comercial da soja no sudeste de Mato
Grosso. Revista do Departamento de Geografia, V.17, p. 6182,2005.
5. Vicente, R. S. Avaliação da sustentabilidade ao nível da
Exploração agrícola: aplicação do modelo RISE na região
demarcada do Douro. Dissertação de mestrado em Engenharia
Agronômica. 75f. Universidade Técnica de Lisboa. 2010.
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Disponível em: http://www.embrapa.br/imprensa/artigos/2007/
artigo.2007-02-14.4893566264/# Acesso em 24/07/2013.
7. Barbosa, L.G.A.; Thomé, H.V.; Ratz, R.J.; Moraes, A.J. Para além
do discurso ambientalista: percepções, práticas e perspectivas da
agricultura agroecológica. Ambiência, v.8 n.2 p. 389 – 40, 2012.
8. Balsan, R. Impactos decorrentes da modernização da agricultura
brasileira. Campo- Território: Revista de Geografia Agrária, v.1,
n.2, p.123-151, 2006.
9. FAO/INCRA Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento
Sustentável. Brasilia,1994. 24p. (Versão resumida do relatório
final do projeto UTF/BRA/036).
10. Moreira, J.R. A formação interdisciplinar e o desenvolvimento
sustentável. In. Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do
Solo e da Água. 10., 1994,
11. Florianópolis. Anais. Florianópolis. Epagri, 1994, 428p. p.25-32.
Revista Processos Químicos
13
Artigo Convidado
12. Mangabeira, J. A. de C.; Romeiro, A. R.; Azevedo, E. C. de;
Zaroni, M. M. H. Tipificação de sistemas de produção rural:
a abordagem da análise de correspondência múltipla em
Machadinho d Oeste-RO. Campinas: Embrapa, 2002. 30 p.
(Embrapa monitoramento por satélite - circular técnica, 8).
13. BEN – Balanço Energético Nacional 2012. Disponível em:
https://ben.epe.gov.br/downloads/Relatorio_Final_BEN_2012.
pdf. Acesso em: 09/08/2013.
14. Assim, R. L. de. Agroecologia no Brasil: analise do processo de
difusão e perspectivas. Tese (Doutorado) - Instituto de Economia,
Universidade Estadual de Campinas. 2002.
15. Melão, I.B. Desenvolvimento rural sustentável a partir da
14
Revista Processos Químicos
agroecologia e da agricultura orgânica: o caso do Paraná. Ipardes.
Nota técnica n.8, 2010. 25p.
Adilson Pelá
Universidade Estadual de Goiás, UnU - Ipameri, GO
e-mail: [email protected]
Jan / Jun de 2013
Artigos Gerais
Mamíferos em Ambientes
Cortados por uma Rodovia
no Parque Estadual
da Serra do Brigadeiro
Maressa R. Prado-Cacau, Ednaldo C. Rocha, Gumercindo S. Lima
& Gisele M. Lessa
Este trabalho compara a riqueza e a frequência de registros de espécies de mamíferos
de médio e grande porte entre três diferentes distâncias paralelas à rodovia BR 482, que
cruza o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, Minas Gerais. Foram estabelecidos dois
grids, compostos por três transectos de 300 m cada, paralelos à rodovia e distantes dela
10, 80 e 150 m, respectivamente. As riquezas, observada e estimada, foram ligeiramente
maiores no transecto mais distante da rodovia, mas os valores são estatisticamente
semelhantes. A frequência de registros das espécies também se mostrou estatisticamente
semelhante entre as três distâncias da rodovia.
Palavras-chave: unidade de conservação; mastofauna; impacto ambiental.
This work to compare of the richness and frequency of records of mammal species
of medium and large body in three different distances parallel to the road BR 482,
crossing the State Park of Serra do Brigadeiro, Minas Gerais. It was established two
grids composed by three transects of 300 m each, parallels to the road in a distance
of 10, 80 and 150 m respectively. The richness, observed and estimated, were slightly
higher in transect the most distant from the road, but the values are statistically similar.
The frequency of records of species was also statistically similar between the three
distances of the road.
Key words: conservation unit; mammal fauna; environmental impact.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
15
Artigo Geral 1
Introdução
A drástica redução de hábitats e o isolamento
genético das populações é uma das graves
consequências do processo de desmatamento e
fragmentação que a Floresta Atlântica tem sofrido. A
ameaça à biota nativa também pode ocorrer de maneira
sutil, como a limitação do potencial de dispersão e
colonização, pois muitas espécies de mamíferos, aves
e insetos não atravessam nem mesmo faixas estreitas
de ambiente aberto, devido ao perigo de predação1.
Os impactos causados na fauna, por estradas
internas em áreas destinadas à conservação, têm sido
pouco avaliados e discutidos nos estudos brasileiros
de impacto ambiental e ecologia. Apesar disso, sugerese que a barreira formada pelas estradas internas,
além de fragmentar a paisagem, interrompe o fluxo
de algumas espécies e causa expressiva alteração nas
relações ecológicas entre as espécies que utilizam
a borda da mata2. Tal perturbação torna-se mais
acentuada quando aliada a outros efeitos, como a
poluição sonora; liberação de gases; trânsito intenso de
veículos automotivos; atropelamento de fauna e maior
incidência de entrada de fogo3. O grau de ameaça e
a importância ecológica dos mamíferos de médio
e grande porte tornam evidente a necessidade de se
incluir informações sobre estes animais em inventários
e diagnósticos ambientais4, duas atividades essenciais
para se conhecer e definir estratégias de proteção à
biodiversidade1.
No Parque Estadual da Serra do Brigadeiro
(PESB), estado de Minas Gerais, Sudeste do Brasil, os
primeiros estudos sobre os mamíferos são datados de
1935 e, dentre a listagem de espécies, destacam-se os
registros de anta Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758),
hoje extinta na região, e a captura de um exemplar
de muriqui-do-norte Brachyteles hypoxanthus (Kuhl,
1820). A partir de 1992, iniciou-se uma série de
estudos com a mastofauna do local, sendo recente
a caracterização do grupo de mamíferos de médio e
grande porte5.
Visando complementar os estudos sobre os
mamíferos do PESB, o presente trabalho utilizou o
método de armadilhas de pegadas, com o objetivo de
avaliar e comparar a riqueza de espécies e a frequência
de registros de mamíferos de médio e grande porte em
16
Revista Processos Químicos
três diferentes distâncias (10, 80 e 150 m) paralelas à
rodovia BR 482, a qual cruza o PESB.
Material e Métodos
Área de estudo
A área de estudo está inserida no Parque Estadual
da Serra do Brigadeiro (PESB), criado na década
de 70 e legalizado em 1996 (Decreto Estadual nº
38.319), localizado na Zona da Mata mineira (entre
as coordenadas geográficas de longitudes 42°40’,
40°20’W e latitudes 20°33’ e 21°00’S) e possui área
total de 13.210 ha. O parque apresenta formato bem
peculiar, pois seu eixo principal se estende no sentido
nordeste - sudoeste, de forma irregular, comprida e
estreita. Possui relevo bastante acidentado, abrangendo
as partes mais elevadas de um conjunto de serras
integrantes da Cadeia da Mantiqueira, com altitudes
variando de 1.000 a 1.985 m6.
A região apresenta precipitação média anual de 1.500
mm, com duas estações climáticas bem definidas: seca, de
junho a agosto e chuvosa nos demais meses. O clima da
região é do tipo mesotérmico médio (CWb)6. A vegetação
típica é a Floresta Estacional Semidecidual SubMontana, com ocorrência de campos de altitude. As áreas
de floresta são, em sua maioria, secundárias, advindas da
regeneração posterior ao grande desmatamento realizado
nos anos 707.
Desde a sua criação, o PESB já era dividido pela
BR 482, o principal meio de acesso dos moradores do
entorno às cidades maiores8. Essa rodovia foi definida, no
Plano de Manejo do parque, como zona de uso conflitante
e possui como normas a sua fiscalização intensiva e a
proibição de velocidades superiores a 30 km/h e uso de
buzinas7. A rodovia apresenta-se muito sinuosa e ainda
não foi pavimentada. Durante o período de realização do
estudo, de fevereiro a agosto de 2008, o fluxo médio de
veículos na rodovia foi de 775 veículos/mês, sendo que
somente 25% corresponderam à visitação.
Dentre os diversos problemas enfrentados pelo
parque, além da rodovia cruzando a unidade de
conservação, podem ser citados ainda a caça de animais
silvestres, o furto de espécies de bromélias e orquídeas
e o fogo, prática comum na limpeza de pastagens nas
propriedades lindeiras9.
Jan / Jun de 2013
Coleta dos dados
O método utilizado neste trabalho foi o rastreamento
de pegadas em grids de amostragem estruturados
especificamente para esse fim. Foram escolhidos dois
pontos da rodovia (BR 482), nas proximidades da sede
administrativa do PESB, onde foram instalados os
grids, os quais possibilitaram a instalação das parcelas
em áreas planas num trecho mínimo de 300 m. Foram
estabelecidos dois grids (G1 e G2), compostos por três
transectos de 300 m cada, paralelos à rodovia, sendo o
primeiro distante 10 m desta e os demais distantes entre
si 70 m em direção ao interior da floresta. Cada transecto
continha 10 parcelas de 1 x 1 m cada, com uma distância
aproximada de 30 m entre elas (Figura 1).
O grid G1 (coordenadas do ponto central: 42°28’22”
S e 20°43’31” O), localizado perto da sede do PESB,
foi local de pastagem pertencente a uma propriedade
particular até o final de década de 1990. Já o grid G2
(coordenadas do ponto central: 42°28’8” S e 20°43’53”
W), que fica mais distante da sede e próximo da portaria
“Pedra do Pato”, foi lavoura no passado.
As parcelas foram instaladas com auxílio de uma
enxada, para revolver o substrato do próprio transecto10,
e posteriormente o solo foi peneirado para facilitar a
impressão e visualização das pegadas. As parcelas foram
iscadas inicialmente com frutas (n=380) e depois com
carne – toucinho e sardinha (n=520). A mudança ocorreu
na tentativa de aumentar atratividade da isca.
Os rastreamentos ou vistorias ocorriam no dia seguinte
ao preparo das parcelas, momento em que todas as pegadas
velhas existentes nas parcelas eram apagadas. As parcelas
eram iscadas diariamente e, quando necessário, tinham o
folhiço removido e o substrato peneirado. A cada visita,
as parcelas eram rigorosamente inspecionadas e, quando
encontradas pegadas, estas eram identificadas com
auxílio de guias de campo11, 12, registradas e fotografadas.
Neste estudo, seguiu-se a classificação taxonômica de
Wilson e Reeder13. Realizaram-se 10 campanhas de
campo, de fevereiro a agosto de 2008, totalizando 900
parcelas vistoriadas (480 no G1 e 420 no G2), sendo que
cada campanha era composta por três dias.
Análise dos dados
A análise estatística dos dados foi conduzida,
utilizando como unidade amostral cada vistoria em cada
transecto contendo 10 parcelas. Assim, o grid G1 contou
com 48 unidades amostrais e o grid G2 com 42.
A partir dos dados de presença ou ausência de
pegadas de cada espécie nas parcelas de cada transecto,
estimou-se a riqueza de espécies para cada grid e entre
os transectos de cada área, pelo estimador Jackknife 114,
utilizando o Programa EstimateS versão 8.215.
Determinou-se a intensidade de uso de hábitat por
meio da frequência de registros de pegadas de cada
espécie nos transectos em cada distância da rodovia.
Para a realização dessa análise, os dados dos dois grids
provenientes da mesma distância da rodovia foram
agrupados. Esses dados foram analisados por meio do
teste Qui-Quadrado de independência (X2), no intuito
de avaliar se a frequência de registros de cada espécie
de mamífero diferiu significativamente entre as três
distâncias da rodovia (10, 80 e 150 m).
Resultados
Figura 1. Representação de um dos grids de coleta de dados no Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). Cada grid era composto por
três transectos instalados a partir de 10 m paralelos a borda da BR 482 e
cada transecto continha 10 parcelas de 1 x 1 m, distantes 30 m entre si.
Jan / Jun de 2013
Registros de 14 taxas, 13 espécies mais a categoria
pequenos mamíferos (Tabela 1), foram obtidos durante
a realização deste estudo, sendo que duas espécies
encontram-se ameaçadas de extinção no Brasil16:
Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) e Leopardus pardalis
(Linnaeus, 1758). Nove táxons foram registrados no
grid G1 e 11 no grid G2. Aproximadamente, 33% das
parcelas vistoriadas apresentaram no mínimo um registro
de pegadas de mamífero. Por sua vez, a riqueza estimada
Revista Processos Químicos
17
Artigo Geral 1
Tabela 1. Comparação da frequência de registros das espécies de mamíferos entre 10, 80 e 150 m da rodovia, no PESB, pelo teste χ2 (g.l. = 2; p < 0,05).
Taxa
Frequência de ocorrência acumulada
χ2
Probabilidade
4,09
0,13
10 m
80 m
150 m
Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758)
0
0
2
Didelphis aurita (Wied, 1826)
11
10
16
2,85
0,24
Nasua nasua (Linnaeus, 1766)
0
0
1
2,02
0,36
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)
1
0
0
2,02
0,36
Galictis sp.
0
0
1
2,02
0,36
Cebus nigritus (Goldfuss, 1809)
0
1
0
2,02
0,36
Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758
1
0
0
2,02
0,36
Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758)
0
0
1
2,02
0,36
Mazama americana (Erxleben, 1777)
0
1
0
2,02
0,36
Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785)
0
1
1
1,02
0,60
Eira barbara (Linnaeus, 1758)
1
0
1
1,02
0,60
Leopardus tigrinus (Schreber, 1775)*
2
1
2
0,42
0,77
Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758)*
2
1
2
0,42
0,81
Pequenos mamíferos
16
13
19
0,00
1,00
* Espécies ameaçados de extinção16.
para G1 foi de 16 (intervalo de confiança - IC ± 5,63)
espécies e para G2 foi de 16 (IC ± 4,18) espécies.
Nas distâncias de 10, 80 e 150 m da rodovia,
as riquezas observadas foram 8, 7 e 10 espécies de
mamíferos, respectivamente. Por sua vez, as riquezas
estimadas foram 13, 12 e 15 espécies para as distâncias
de 10, 80 e 150 m da rodovia, respectivamente (Figura 2).
A comparação da intensidade de uso do hábitat,
aferida, a partir da frequência de registros de cada espécie
nos transectos, não detectou diferença estatisticamente
significativa para nenhuma das espécies registradas (Tabela
1). Portanto, nas distâncias de 10, 80 e 150 m da rodovia a
intensidade de uso de hábitat se mostrou semelhante, pelo
teste X2 (g.l. = 2; p < 0,05), para todas as espécies detectadas.
Discussão
O método de armadilhas de pegadas tem mostrado
bons resultados para a estimativa de riqueza, inclusive
em curtos períodos de tempo e para registro de animais
de hábitos noturnos17, 4, 18. Tal fato foi corroborado neste
estudo, uma vez que permitiu o registro de 13 espécies
de mamíferos, riqueza que representa cerca de 75% das
espécies registradas anteriormente no PESB5 e passíveis
18
Revista Processos Químicos
de identificação por pegadas (pertencentes às ordens
Artiodactyla, Carnivora, Lagomorpha, Cingulata,
parte de Rodentia e de Didelphimorphia). Além disso,
foram registradas duas espécies que não constavam nos
trabalhos anteriores: Conepatus semistriatus (Boddaert,
1785) e Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758).
As riquezas de espécies, observada e estimada,
mostraram-se ligeiramente maiores no transecto mais
distante da rodovia (150 m), quando comparada com os
transectos mais próximos (10 e 80 m). Todavia, usando a
técnica de inferência por intervalo de confiança, percebese que os valores de riqueza, estimados para as diferentes
distâncias da rodovia, não são estatisticamente distintos,
pois existe considerável sobreposição em seus intervalos
de confiança (Figura 2).
Em termos gerais, a riqueza de espécies de mamíferos,
nos ambientes amostrados, pode ser considerada baixa,
refletindo, entre outros fatores, o histórico de uso da área
que inclui extração de madeira, implantação de pastagens
e lavouras19, além de caça. Esses efeitos cumulativos
podem ter ocasionado a extinção local de anta T.
terrestris e, possivelmente, a redução da abundância de
outras espécies.
A frequência de registros de pegadas dos mamíferos
Jan / Jun de 2013
e aves significativamente maiores que corredores de
larguras inferiores a 200 m.
Enfim, a escassez de estudos destinados a avaliar o
efeito de borda de rodovias sobre os mamíferos dificulta
comparações e o estabelecimento de um padrão que
permita compreender como esses empreendimentos
afetam a riqueza e o uso do ambiente por mamíferos.
Por isso, novos estudos são desejáveis, sobretudo, os de
longa duração.
Agradecimentos
Figura 2. Riqueza de espécies de mamíferos estimada para as
diferentes distâncias da rodovia, no PESB. Os pontos representam
a riqueza de espécies estimada e as barras indicam os intervalos de
confiança (p < 0,05).
Ao CNPq pela bolsa de mestrado concedida à
M.R.P.C; ao Instituto Estadual de Florestas de Minas
Gerais e aos funcionários do PESB; aos Departamentos
de Engenharia Florestal, Biologia Animal e ao Museu
de Zoologia João Moojen, da Universidade Federal de
Viçosa; e ao Professor Márcio Araújo pela revisão crítica
do manuscrito.
Referências
nas parcelas foi baixa nas três distâncias paralelas à
rodovia (10, 80 e 150 m), exceto para a espécie Didelphis
aurita (Wied, 1826) e para a categoria pequenos
mamíferos, o que é um indicativo da depreciação da
qualidade ambiental da área amostrada. Nesse sentido,
Santos-Filho e colaboradores20, trabalhando na Amazônia
Meridional brasileira, verificaram que a abundância,
a riqueza e a composição das espécies de pequenos
mamíferos são afetadas principalmente pela qualidade da
matriz ambiental, de forma que áreas mais degradadas
tendem a apresentar menor número de espécies, as quais
são encontradas em elevadas abundâncias.
Como a riqueza e a frequência de registros das espécies
de mamíferos foram estatisticamente semelhantes entre
as três distâncias paralelas à rodovia, pode-se inferir que
o efeito de borda da rodovia foi percebido até o transecto
mais distante da rodovia (150 m). Dessa maneira, Scoss2
detectou efeito de borda sobre os mamíferos de médio
e grande porte entre 80 e 150 m de distância de uma
rodovia no Parque Estadual do Rio Doce, estado de
Minas Gerais. Contudo, Lees e Peres21 verificaram, em
áreas de floresta fragmentada na Amazônia Meridional,
que corredores de floresta ripária com cerca de 400 m de
largura apresentaram riqueza de espécies de mamíferos
Jan / Jun de 2013
1. G
aray, I.; Dias, B. F. S.; Conservação da Biodiversidade em
Ecossistemas Tropicais: avanços conceituais e revisão das novas
metodologias de avaliação de monitoramento. Editora Vozes:
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o caso do Parque Estadual do Rio Doce. Dissertação (Mestrado
em Ciência Florestal) – Departamento de Engenharia Florestal.
Universidade Federal de Viçosa: Viçosa, 2002.
3. R
odrigues, F. H. G.; Biologia e conservação do lobo-guará na
Estação Ecológica de Águas Emendadas, DF. Tese (Doutorado
em Ecologia) – Instituto de Biologia, Universidade Estadual de
Campinas: Campinas, 2002.
4. P
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Em. Métodos de estudos em Biologia da Conservação e Manejo
da Vida Silvestre; Cullen Junior, L.; Rudran, R.; ValladaresPadua, C., Orgs.; Editora da Universidade Federal do Paraná:
Curitiba, cap. 8. 2004.
5. O
liveira, V. B.; Uso de Armadilhas de Pegadas na Amostragem
da Mastofauna em Duas Unidades de Conservação nos Biomas
Cerrado e Mata Atlântica. Dissertação (Mestrado em Zoologia de
Vertebrados). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais:
Belo Horizonte, 2007.
6. E
NGEVIX. Caracterização do meio físico da área autorizada para
a criação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro - Relatório
técnico final dos estudos - 8296 – RG-H4-003/94, “VER. 1”. IEF/
BIRD/PRÓ-FLORESTA/SEPLAN, 1995.
7. I EF – Instituto Estadual de Florestas. Plano de manejo do Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro. IEF: Belo Horizonte, 2007.
Revista Processos Químicos
19
Artigo Geral 1
8. C
astro, R. C. L.; Avaliação da Efetividade de Gestão e do
Uso Público no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro-MG.
Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Departamento de
Engenharia Florestal. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa,
2007.
9. M
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da Serra do Brigadeiro – Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em
Extensão Rural). Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2002.
10. Prado, M. R.; Rocha, E. C.; Lessa, G.; R. Árvore 2008, 32, 741749.
18. Scoss, L. M.; Marco-Junior, P.; Silva, E.; Martins, E. S.; Uso de
parcelas de areia para o monitoramento de impacto de estradas
sobre a riqueza de espécies de mamíferos. R. Árvore 2004, 28,
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19. Consenza, B. A. P.; Melo, F. R.; Neotropical Primates 1998, 6,
18-20.
20. Santos-Filho, M.; Peres, C. A.; Silva, D. J.; Sanaiotti, T. M.;
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21. Lees, A. C.; Peres, C. A.; Conserv. Biol. 2008, 22, 439–449.
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brasileiros: um guia de campo, 2ª ed., Universidade de Brasília:
Brasília, 1991.
12. Borges, P. A. L.; Tomás, W. M.; Guia de Rastros e Outros
Vestígios de Mamíferos no Pantanal. Embrapa Pantanal:
Corumbá, 2004.
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a taxonomic and geographic reference; 3ª ed., v. 1 e 2. The Johns
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Richness and Shared Species from Samples. Version 8.2, 2009.
Disponível em: <http://viceroy.eeb.uconn.edu/Estimates>. Acesso
em: 24 mar. 2010.
16. Machado, A. B. M.; Drummond, G. M.; Paglia, A. P., Eds.; Livro
vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. Ministério do
Meio Ambiente: Brasília, 2008.
17. Silveira, L.; Jácomo, A. T.; Diniz-Filho, J. A. F.; Biol. Conserv.
2003, 114, 351-355.
20
Revista Processos Químicos
Maressa R. Prado-Cacau1, Ednaldo
C. Rocha2*, Gumercindo S. Lima1
& Gisele M. Lessa3
Departamento de Engenharia Florestal e Pós-graduação em Ciência
Florestal da Universidade Federal de Viçosa, DEF/UFV, 36570-000,
Viçosa - MG, Brasil.
1
2
Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade de Ipameri, 75780000, Ipameri - GO, Brasil.
3
Museu de Zoologia João Moojen, Departamento de Biologia Animal
da Universidade Federal de Viçosa, DBA/UFV, Viçosa - MG, Brasil.
* e-mail: [email protected]
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 2
Produtividade de
Plantas de Pinhão Manso
Cultivadas em Diferentes
Espaçamentos
Marcus V. P. Cassiano , Luis F. O. Borges, Alainy C. S. Nascente,
Pollykennya K. F. Alves, Victor P. Godoi, Larissa P. Borges, Mariana
S. Carmo & Fábio S. Matos
O presente estudo teve como objetivo avaliar a produtividade de plantas de pinhão
manso cultivadas em diferentes espaçamentos. O trabalho foi conduzido no campo
experimental da Universidade Estadual de Goiás em Latossolo Vermelho-Amarelo.
Utilizou-se o delineamento experimental em blocos casualizados com três tratamentos
(plantas cultivadas nos espaçamentos 3x1, 3x2 e 3x3 m) e seis repetições. A competição
entre plantas de pinhão manso pouco afetou o crescimento vegetativo das plantas, no
entanto, com o desenvolvimento dos frutos, drenos que mais demandam assimilados na
planta, a competição por recursos abióticos contribuiu para redução da produtividade.
Palavras-chave: Densidade de plantas; Jatropha curcas; rendimento de sementes.
The present study aimed to evaluate the productivity of Jatropha curcas plants grown
at different spacings. The work was conducted in the experimental field of the University
of Goiás in Oxisol. We used a randomized complete block design with three treatments
(plants grown in spacing 3x1, 3x2 and 3x3 m) and six replications. Competition between
plants of Jatropha curcas had little effect on the vegetative growth, however, with the
development of the fruit, drains demand more assimilated in the plant, the competition
for abiotic resources in plants densest contributed to reduced productivity.
Keywords: Plant density; Jatropha curcas; seed yield.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
21
Artigo Geral 2
Introdução
O incremento dos níveis dos gases de efeito estufa,
notadamente dióxido de carbono (CO2) na atmosfera
terrestre, tem intensificado a busca por combustíveis
renováveis, tipo biodiesel, visando reduzir o consumo
de combustíveis fósseis. A busca por uma alternativa
energética aos combustíveis fósseis requer a avaliação de
fontes renováveis e de baixo impacto sobre o ambiente
natural. São primazes o desenvolvimento de tecnologias
apropriadas e a definição da matéria-prima a ser utilizada
para a geração de energia, sem ou com o mínimo de
prejuízos ao ambiente.
O Brasil apresenta grande potencial para
produção de biocombustíveis em grande parte de sua
extensão territorial, em função de suas características
edafoclimáticas, biodiversidade (várias espécies
potenciais para produção de biocombustíveis adaptadas
a diferentes climas e biomas), disponibilidade de área
e de mão-de-obra, bem como comprovada competência
técnica no campo da ciência agrícola1,2. Além disso, as
exigências para cultivo de plantas são perfeitamente
atendidas pelas condições brasileiras, pois o país possui
água e luz solar em abundância. Por último, argumentase que o Brasil tem grande oferta de mão-de-obra para
alavancar a produção no campo; riqueza de espécies
vegetais das quais se podem extrair bioetanol, biodiesel
e bioquerosene, e tradição em geração de energia limpa.
Todas essas condições reunidas já colocam o Brasil
na liderança da produção mundial de agroenergia,
notadamente de agrocombustíveis. O Programa Nacional
de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) brasileiro
fomenta a produção de oleaginosas para suprir às
indústrias com matéria-prima, adotando o enfoque
no desenvolvimento regional e da inclusão social por
meio do “Selo Combustível Social” do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA).
As principais matérias-primas utilizadas para
produção do biodiesel no Brasil são soja, sebo bovino e
algodão, com contribuições de 71,13 %, 18,66 % e 4,69 %,
respectivamente, sendo os outros materiais responsáveis
por apenas 4,08 % da produção3. Existe a necessidade,
portanto, de diversificar a produção de matéria-prima
para produção de biodiesel, por meio da introdução de
espécies promissoras, como Jatropha curcas L.
22
Revista Processos Químicos
J. curcas (Euphorbiaceae) é uma espécie oleaginosa,
conhecida popularmente como pinhão manso. É
originário da América Central, mais especificamente no
México. Os índios que migraram da América do Norte
para a América do Sul, há mais de dez mil anos, seriam
os responsáveis por sua distribuição do México até a
Argentina, incluindo o Brasil4,5. A espécie possui grande
potencial econômico, sobretudo, por suas sementes
constituírem matéria-prima para a produção de óleo
para biodiesel. Esta característica tem contribuído para o
aumento da exploração comercial dessa cultura. O pinhão
manso é considerado planta rústica e adaptada às mais
diversas condições edafoclimáticas, desenvolve-se bem
em solos marginais de baixa fertilidade. Trata-se de um
arbusto de desenvolvimento rápido, podendo iniciar sua
produção já no sétimo mês após o plantio, permanecendo
produtiva por aproximadamente 40 anos 4.
Atualmente, há duas grandes preocupações quanto
ao cultivo do pinhão manso: primeiro, existem poucas
informações sobre os aspectos agronômicos básicos da
cultura como recomendação de adubação, densidade de
plantas e maturação desuniforme de frutos e segundo,
trata-se de uma espécie silvestre com nenhum grau de
melhoramento6. O pinhão manso ainda é considerado uma
planta silvestre7,8, com poucas informações disponíveis a
respeito da performance das sementes ou acessos. Com
o desenvolvimento de novas pesquisas, espera-se que a
cultura deixe de ser potencial e passe a ser efetivamente
uma matéria-prima para o mercado de biodiesel 9,10.
Com a possibilidade do uso do óleo de pinhão
manso para a produção de biodiesel, abrem-se amplas
perspectivas para o aumento das áreas de plantio dessa
cultura em diversas regiões. A densidade de plantas
é variável decisiva na produtividade de plantas de
quaisquer espécies. Apesar da planta de pinhão manso
ser rústica e produtiva em solos de baixa fertilidade,
espera-se obter maiores rendimentos em solos férteis
e densidade populacional adequada para minimizar a
competição e permitir exploração de maior volume de
solo. A produtividade das espécies é dependente do
potencial de extração de água e nutrientes e absorção de
energia luminosa inerentes a cada espécie vegetal. Na
escolha do espaçamento em campo, busca-se reduzir a
competição entre as plantas fornecendo água e nutrientes
na quantidade adequada. O adequado arranjo de plantas
Jan / Jun de 2013
visa, entre outros aspectos. maximizar a incidência da
radiação solar, uma vez que a redução na disponibilidade
de energia luminosa tem sido apontada como causa do
baixo rendimento das culturas em campo11.
As pesquisas com pinhão manso têm-se concentrado
em estresse abiótico; melhoramento de plantas e
aplicação de reguladores de crescimento, porém, a
averiguação do adequado espaçamento tem sido pouco
pesquisada e carece de elucidação científica. O presente
estudo teve como objetivo avaliar a produtividade de
plantas de pinhão manso, cultivadas em diferentes
espaçamentos. Isso se deve à necessidade de buscar
informações de tal natureza para obtenção de elevadas
produtividades em campo, possibilitando exploração
comercial.
Material e Método
O trabalho foi conduzido no campo experimental da
Universidade Estadual de Goiás, unidade de Ipameri (Lat.
170 43’ 19’’ S, Long. 480 09’ 35’’ W, Alt. 773 m), Ipameri,
Goiás. Esta região possui clima tropical com inverno seco
e verão úmido (Aw), de acordo com a classificação de
Köppen. Plantas de pinhão manso, com um ano de idade,
foram cultivadas nos espaçamentos (3x1 m; 3 x 2 m e 3x3
m). O delineamento experimental utilizado foi em blocos
casualizados com três tratamentos e seis repetições. O solo
da área experimental é o Latossolo Vermelho-Amarelo.
O pH dele foi corrigido e a adubação realizada, seguindo
recomendações técnicas para a cultura 4.
Características Avaliadas
Aos 30 dias do mês de maio do ano de 2013, as
seguintes variáveis foram analisadas: altura da Planta
(AP), em m, com auxílio de uma trena, do coleto até o
ápice do ramo principal; Diâmetro do Caule (DC), em
mm, com auxílio de um paquímetro digital, no coleto;
Diâmetro da Copa (DCOP), em m, com auxílio de uma
trena, entre as duas extremidades laterais da planta; Área
foliar segundo12, Número de Ramos Totais (NRT) pela
contagem do número total de ramos a partir do coleto e
produtividade (g planta-1 e kg ha-1).
Procedimentos estatísticos
O experimento foi montado, seguindo o delineamento
em blocos casualizados com três tratamentos e seis
repetições. Os dados obtidos submeteram-se à análise
de variância e teste de Newman-Keuls para comparação
entre médias. Todas as análises foram realizadas
utilizando o software SISVAR 5.3 13.
Resultados
As variáveis relacionadas com o crescimento e
produção são mostradas nas Tabelas 1 e 2. A altura
de planta, diâmetro do caule e diâmetro de copa
apresentaram-se bastante semelhantes nas plantas,
independente do espaçamento utilizado no cultivo. Estas
variáveis não diferiram estatisticamente ao nível de
5% de probabilidade. O número de ramos, área foliar e
produtividade apresentaram significativa diferença entre
as plantas tratadas. O número de ramos foi, em média,
19% maior nas plantas cultivadas no espaçamento de 3
x 2 m em relação as plantas no espaçamento 3 x 3 m.
Quando a comparação é feita com o espaçamento 3x1
m, o número de ramos foi, em média, 40% superior nas
plantas cultivadas no espaçamento 3x2 m. De maneira
geral, a área foliar foi maior nas plantas cultivadas nos
Tabela 1. Caracteres produtivos: Altura de planta, número de ramos e diâmetro do caule de plantas de pinhão manso cultivadas em diferentes espaçamentos.
Espaçamentos
Variáveis analisadas
Altura (m)
Nº de ramos
Diâmetro do caule (mm)
1x3
2,43±0,1 A
5,83± 1,0 B
89,7± 4,2 A
2x3
2,15±0,1A
9,72±1,0A
103,1±6,9A
3x3
2,39±0,1A
7,90±0,8AB
98,6±4,2 A
Valores representam a média ± erro-padrão (n=6). Médias seguidas por uma mesma letra dentro de cada linha não diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Newman-Keuls.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
23
Artigo Geral 2
Tabela 2. Caracteres produtivos: Área foliar, diâmetro de copa e produção por planta e produtividade de plantas de pinhão manso cultivadas em
diferentes espaçamentos.
Espaçamentos
Variáveis analisadas
Área foliar (cm2)
Diâmetro de copa (m)
Produção por planta (g)
Produtividade Kg ha-1
3x1
193 ± 12,3B
2,0 ± 0,1 A
90 ± 6,8C
301,7 ± 15,7C
3x2
162 ± 12,7B
1,8 ± 0,2A
206 ± 13B
342,6 ± 20,2B
3x3
243 ± 14,3
1,9 ± 0,1
368 ± 21
408,7 ± 21,5A
A
A
A
Valores representam a média ± erro-padrão (n=6). Médias seguidas por uma mesma letra dentro de cada linha não diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Newman-Keuls.
maiores espaçamentos, ou seja, com menor densidade
de plantas. A área foliar foi, em média, 21% maior
nas plantas sob espaçamento de 3x3 m em relação às
plantas cultivadas em espaçamento de 3x1 m. A mesma
variável foi, em média, 34% maior nas plantas cultivadas
em espaçamento de 3x3 m em relação às plantas sob
espaçamento de 3x2 m. A produção por planta foi maior
nas plantas cultivadas em maiores espaçamentos e menor
densidade de plantas. A produção por planta foi, em média,
75% superior nas plantas cultivadas no espaçamento de
3x3 m em relação às plantas em espaçamento de 3x1
m. A mesma variável foi, em média, 44% superior nas
plantas sob espaçamento de 3x3 em relação às plantas de
3x2 m. A produtividade em kg ha-1 foi, em média, 26%
superior nas plantas cultivadas no espaçamento de 3x3
m em relação às plantas em espaçamento de 3x1 m. A
mesma variável foi, em média, 16% superior nas plantas
sob espaçamento de 3x3 em relação às plantas de 3x2 m.
Discussão
Por se tratar de uma cultura perene, o clímax
produtivo do pinhão manso demanda tempo, devido ao
longo período para estabilizar a produção (quatro anos).
As diferenças de produtividade registradas no presente
trabalho, possivelmente, serão realçadas ao longo dos
anos até a produtividade ser estabilizada. Como um todo,
os resultados demonstram que o cultivo do pinhão manso
em maior espaçamento e, portanto, menor densidade de
plantas apresenta maior produtividade.
Independentemente do espaçamento utilizado, as
plantas de pinhão manso apresentaram semelhança na
altura de planta, diâmetro de caule e diâmetro de copa.
O elevado potencial de extração de água e nutrientes
24
Revista Processos Químicos
do solo por planta de pinhão manso, possivelmente,
permitiu exploração de elevado volume de solo
necessário para manutenção do vigoroso crescimento
vegetativo da espécie, e percepção de pequena diferença
entre os tratamentos. O pinhão manso é uma planta
xerófila, sobrevive com pluviosidade de 600 mm anuais,
adapta-se a diversas condições de clima e solo14, 15. O
caule suculento atua em condição de déficit hídrico
como tampão hídrico6. Em adição, o rápido crescimento
vegetativo das plantas de pinhão manso aliado ao
adensamento, proporcionou ligeiro sombreamento das
folhas baixeiras nas plantas cultivadas nos espaçamentos
de 3x1 m e 3x2 m, reduzindo assim, a disponibilidade de
energia luminosa. Plantas desenvolvidas sob diferentes
níveis de luminosidade apresentam variações fisiológicas
em diversos caracteres produtivos16. A energia luminosa
é desencadeadora do processo fotossintético e interfere
consideravelmente no acúmulo de biomassa. Plantas
desenvolvidas em condição de baixa itensidade
luminosa apresentam reduzido acúmulo massa seca e
produtividade16.
A competição por água, luz e nutrientes entre plantas
de pinhão manso não foi suficiente para interferir no
crescimento vegetativo da espécie. No entanto, com o
desenvolvimento de mais um dreno, em especial, o mais
forte da planta, os frutos, a competição por recursos
abióticos, nas plantas mais adensadas, contribuiu para
redução da produção por planta e produtividade como
um todo.
Em geral, as plantas desenvolvem “folhas de sol” e
“de sombra”, quando aclimatadas a diferentes níveis de
luminosidade. Área foliar específica e unitária; espessura
da cutícula; densidade estomática; cloroplastos com
menos ou mais grana; menos ou mais tilacoides por
Jan / Jun de 2013
granum e taxa de assimilação líquida de carbono são
algumas das características que variam em resposta à
irradiância17. A redução da disponibilidade de energia
luminosa pode ter contribuído para menor taxa de
assimilação de carbono em folhas de plantas de pinhão
manso sombreadas, comprometendo a produção de
assimilados e produção de frutos. A elevada variação na
produção por planta é indício de que as plantas cultivadas
em menores espaçamentos e, portanto, submetidas ao
intenso sombreamento, apresentaram menor produção
por planta e consequentemente menor produtividade
em função da reduzida disponibilidade de assimilados
oriundos da fotossíntese, bem como pela maior
competição por água e nutrientes.
Estudos posteriores, com exploração do pinhão
manso em diversos outros espaçamentos, são necessários
para determinar a adequada densidade de plantas a
ser recomendada. A competição por água e nutrientes
aliada ao sombreamento proporcionado pelo elevado
adensamentos, limita a produtividade de plantas de
pinhão manso.
Conclusões
A competição por água, nutrientes e luz pouco
interfere no crescimento vegetativo de plantas de pinhão
manso sob espaçamentos de 3x1, 3x2 e 3x3 m, no entanto,
o sombreamento das plantas aliado à competição por água
e nutrientes interfere significativamente na produtividade
de sementes da espécie.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Universidade Estadual de
Goiás (UEG) pelo apoio financeiro dispensado para
condução deste trabalho e à FAPEG, pela concessão da
bolsa de iniciação científica.
Referências
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oleaginosas arbóreas em sistemas silvipastoris. In: Fernandes,
E.M.; Paciullo, D.S.C.; Castro, C.R.T., Muller, M.D.; Arcuri, P.B.;
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Sul: desafios e potencialidades. Juiz de Fora: Embrapa Gado de
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Jan / Jun de 2013
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Oliveira, T.S.; Dias, D.C.F.S. Cultivo de pinhão-manso (Pinhão
manso L.) para produção de óleo combustível. Viçosa: LAS Dias,
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Resende, P.L.; Silva, N.D. Cultivo do pinhão-manso para
produção de biodiesel. Viçosa: Centro de Produções Técnicas,
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R. C.; Efeito da salinidade na germinação de sementes e no
crescimento inicial de mudas de pinhão-manso. Rev. Bras. Sem.
2010, 32, 83.
10. Souza, A.C.; Ribeiro, R.P.; Jacinto, J.T.D.; Cintra, A.D.; Amaral,
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feijoeiro: alternativa para agricultura familiar, Rev. Agrarian.
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Jatropha curcas l. Submetidas a doses de benzilaminopurina. Rev.
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measurement of Jatropha curcas leaf area. Rev. Bras. Oleag. Fibr.
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14. Severino, L.S. Viagem à Índia para prospecção de tecnologias
sobre mamona e pinhão manso. Campina Grande: Embrapa do
algodão. Documento. 2006, 153, 56.
15. Pompelli, M. F.; Luís, R. B.; Vitorino, Hermerson. S.; Gonçalves,
E. R.; Rolim, E. V.; Santos, M. G.; Cortez, J. S. A.; Ferreira, V.
M.; Lemos, E. E.; Endres, L. Photosynthesis, photoprotection
and antioxidant activity of purging nut under drought deficit and
recovery. Biomass and bioenerg. 2010, 4, 1207.
16. Matos, F.S.; Gamboa, I.; Ribeiro, R.P.; Mayer, M.L.; Neves, T,
G.; Leonardo, B. R. L.; Souza, A, C. Influência da intensidade
luminosa no desenvolvimento de mudas de Jatropha curcas L.
Rev. Agrarian. 2011, 4, 265.
Revista Processos Químicos
25
Artigo Geral 2
17. Brant, R. S.; Pinto, J. E. B. P.; Rosal, L. F.; Castro, E. M.;
Oliveira, C.; Albuquerque, C. J. B. Características fisiológicas
e anatômicas de Melissa officinalis cultivadas sob diferentes
condições de luminosidade. Magistra. 2010, 22, 146.
Marcus V. P. Cassiano, Luis F. O.
Borges, Alainy C. S. Nascente,
Pollykennya K. F. Alves, Victor P.
Godoi, Larissa P. Borges, Mariana
S. Carmo, Fábio S. Matos*
Universidade Estadual de Goiás (UEG), Rodovia: GO 330, km 241,
Anel Viário s/n, Ipameri-GO, CEP: 75780-000.
* e-mail: [email protected]
26
Revista Processos Químicos
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 3
Desenvolvimento de
Cultivares de Alface em
Sucessão a Leguminosas
Gesiane R. Guimarãesa, Faber S. Pereira, Alexandre M. E. Oliveira,
Ednaldo C. Rocha & Roberli R. Guimaraes
Este trabalho foi realizado na Universidade Estadual de Goiás, Unidade de Ipameri,
de agosto a setembro de 2012. O objetivo foi avaliar o desenvolvimento de quatro
cultivares de alface em sucessão a leguminosas. O delineamento experimental foi o de
blocos casualizados, com cinco repetições. A avaliação da produção foi pelo número
de folhas e peso fresco de seis plantas úteis por tratamento, totalizando 30 plantas por
tratamento. O plantio de alface, sucedendo o cultivo de leguminosas, proporcionou
melhor desenvolvimento às cultivares Delícia, Grandes Lagos e Manteiga, as quais mais
se destacaram em quantidade de folhas e peso fresco.
Palavras-chaves: Adubação verde; Cultivo orgânico; Conservação do solo.
This study was conducted at the State University of Goiás, UnU Ipameri, AugustSeptember 2012. The objective was to evaluate the development of four lettuce
cultivars grown after legumes. The experimental design was a randomized block with
five replications. The evaluation of the production was the number of leaves and fresh
weight of six plants per treatment, totaling 30 plants per treatment. The planting of
succeeding lettuce crop legume cultivars to enhanced growth Delight, Great Lakes and
Butter, which stood out in number of leaves and fresh weight.
Keywords: Green manure; Organic farming; Soil conservation.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
27
Artigo Geral 3
Introdução
A alface é uma das hortaliças mais cultivadas em todo
o mundo. É consumida de forma in natura, constitui boa
fonte de vitaminas e sais minerais e é recomendada para
dietas alimentares ricas em fibras1. O cultivo orgânico dessa
hortaliça, além de ecologicamente correto, gera um produto
com melhores características sensoriais e de maior vida útil
pós-colheita, em comparação aos sistemas convencionais2.
As cultivares de alface disponíveis, atualmente são
de coloração verde, em sua maioria, existindo também
cultivares com folhas arroxeadas. Os tipos de cultivares
de alface existentes são: Repolhuda-Manteiga, RepolhudaCrespa (Americana), Solta-Lisa, Solta-Crespa, Mimosa e
Romana3.
A cultura da alface não conta com uma rede de ensaios
de competições de cultivares que envolva locais, épocas
e anos de plantio diversificados, o que é diferente do que
ocorre com outras culturas como a batata, o milho e o
feijão. Essa deficiência leva o produtor a utilizar cultivares
recomendadas pelas empresas produtoras de sementes e que
podem não se adaptarem a uma ampla faixa de ambientes,
fato esse de grande interesse ao produtor que deseja
desenvolver sua produção. Essa situação leva a dificuldades
na obtenção de melhores produtividades, considerando as
diferentes estações climáticas em que a alface é cultivada,
haja vista que as cultivares interagem com o ambiente,
mesmo que esse ambiente seja protegido4.
O uso da adubação verde nas unidades de produção
orgânica é uma estratégia importante com elevado potencial
de impacto na produtividade das culturas e na conservação
do solo. O uso de espécies de leguminosas, notadamente
em áreas passíveis de pousio, tem sido preconizado como
alternativa interessante para o suprimento de nitrogênio às
culturas5. A adubação verde acrescenta nitrogênio e outros
nutrientes ao agroecossistema; proporciona cobertura
ao solo; reduz riscos de erosão; atenua a competição das
plantas espontâneas com as culturas e contribui para a
biodiversidade funcional nas unidades de produção6.
Uma das alternativas para viabilizar os sistemas de
produção é a adubação verde, que consiste no cultivo de
diferentes culturas com propriedades que contribuem com
melhorias nas condições do solo, adequando-o para o plantio
de culturas de interesse comercial, como na produção de
hortaliças. As contribuições são consideráveis à viabilidade
econômica e sustentabilidade dos agroecossistemas, pelo
28
Revista Processos Químicos
aporte de quantidades expressivas de N ao sistema soloplanta, reduzindo assim, a necessidade de N sintético. Além
do aporte de N e da diminuição da erosão, os adubos verdes
desempenham papel fundamental na ciclagem de nutrientes,
tanto dos aplicados por meio dos fertilizantes minerais e não
aproveitados pelas culturas, quanto daqueles provenientes
da mineralização da matéria orgânica do solo e do próprio
material vegetal7.
As espécies mais utilizadas para a adubação verde
são as leguminosas, pelo fato de elas terem a capacidade
de fixar nitrogênio por meio da simbiose de bactérias em
seus sistemas radiculares8. Nesse contexto, Linhares e
colaboradores9, afirmam que quando se adiciona um adubo
verde ao solo, este trará benefícios não só ao primeiro
cultivo, mas também a cultivos sucessivos que caracterizase pela viabilidade no emprego desse insumo. Assim, o
objetivo deste trabalho foi avaliar o desenvolvimento de
quatro cultivares de alface em sucessão a leguminosas.
Material e Métodos
O estudo foi conduzido na área experimental
da Universidade Estadual de Goiás - Unidade de
Ipameri, sudeste de Goiás (Coordenadas geográficas:
17°43’02,4” S / 48°08’36,7” O).
As leguminosas foram semeadas em novembro de
2011, cortadas e incorporadas em agosto de 2012, vinte
e cinco dias antes do transplantio. Foram utilizadas as
seguintes leguminosas: Crotalária (Crotalaria juncea L.e
C. spectabilis R.); Feijão de porco (Canavalia ensiformis
(L.); Mucuna preta (Stizolobium aterrinnum PT.) e Mucuna
verde e cinza (Stizolobium spp.); Feijão guandu (Cajanus
cajans (L.); Feijão rajado (Phaseolus vulgaris L.) e
Estilozante campo grande (Stylosantes capitata V. (80%) e
S. Macrocephala FC. (20%), sendo cultivadas no Sistema
Integrado de Produção Agroecológica.
A semeadura da alface de cultivares (Delícia, Grandes
Lagos e Manteiga), nas bandejas de isopor, contendo
200 células, foi realizada no dia 30 de agosto de 2012 e o
transplantio para os canteiros ocorreu no dia 20 de setembro
de 2012 (Figura 1). Essas mudas foram produzidas em
casa de vegetação, com substrato comercial, constituído de
subsolo argiloso, esterco bovino curtido e vermicomposto e
irrigadas diariamente.
Foram feitos canteiros que mediam 1,0 m de largura
x 1,0 m de comprimento x 0,2 m de altura, nos quais o
Jan / Jun de 2013
seis plantas coletadas por parcela, totalizando 30 plantas
por tratamento. Os dados foram submetidos à análise de
variância e, nos casos em que o teste F foi significativo,
realizou-se o teste de Scott Knott para comparação múltipla
das médias dos tratamentos (ambos com p<0,05). Essas
análises estatísticas foram conduzidas, utilizando-se o
software SISVAR 5.310.
Resultados e Discussão
Figura 1. Semeadura das cultivares em bandejas de isopor (A e
B), transplantio para os canteiros (C) e cultivares após 30 dias de
transplantio (D).
espaçamento utilizado no plantio foi de 0,30 x 0,30 m,
totalizando 9 plantas por m2, referente à área de cada
parcela. O delineamento experimental utilizado foi o de
blocos casualizados com cinco repetições, utilizando quatro
cultivares de alface: Marisa (Repolhuda crespa), Grandes
lagos (Americana), Delícia (Americana) e Boston branca
(Manteiga).
As adubações foram realizadas três dias antes do
transplantio, incorporando adubo bovino (esterco).
As adubações de cobertura com esterco bovino foram
realizadas no 7° e 22° dias, após o transplantio (DAT). Três
capinas manuais foram necessárias para a remoção das
plantas daninhas dos canteiros e a irrigação foi realizada
manualmente duas vezes ao dia com o auxílio de regadores.
A colheita ocorreu aos 30 dias após o transplantio, sendo
as alfaces cortadas rentes ao solo, submetidas a uma prélimpeza, em que as folhas baixeiras, senescentes ou
lesionadas foram descartadas.
A avaliação do desenvolvimento das cultivares foi
feita por meio do número de folhas e do peso fresco das
plantas presentes na parcela útil, a qual era constituída por
Jan / Jun de 2013
A colheita da alface ocorreu aos 30 dias após o
transplantio (DAT). Os resultados das análises estão
sintetizados na Tabela 1. Nota-se que houve diferença
significativa (p>0,001) para as duas variáveis avaliadas,
massa fresca e quantidade de folhas.
A cultivar Delícia foi a que apresentou a maior média
de massa fresca, pesando 243 g, a qual foi seguida
pela cultivar Manteiga (232 g), pela Marisa (193 g) e
pela Grandes Lagos (143 g), sendo detectada diferença
significativa pelo teste de Scott Knott entre todas as
cultivares (Tabela 2).
A quantidade média de folhas da cultivar Delícia foi
43,6, valor estatisticamente superior às médias de folhas
das demais cultivares. Manteiga, Marisa e Grandes
Lagos foram estatisticamente semelhantes, com médias
de 35,8, 31,6 e 28,6 folhas, respectivamente. Resultados
de número de folhas relativamente semelhantes foram
obtidos por Rezende e colaboradores11 em Brasília-DF, os
quais encontraram média de 26,5 folhas por planta para
a cultivar Grandes lagos e 23,1 folhas por planta para
a cultivar Americana, ambas produzidas em sucessão a
leguminosas.
Tabela 1. Resumo da análise de variância para a massa fresca e
quantidade de folhas de quatro cultivares de alface.
Fonte de
variação
Quadrados médios
GL
Massa fresca
(g)
Quantidade
de folhas
Cultivares de
alface
3
10.213,87**
211,80**
Blocos
4
186,38
19,70
Resíduo
12
Coeficiente de
variação
45,74
21,13
3,33%
13,17%
** significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.
Revista Processos Químicos
29
Artigo Geral 3
Tabela 2. Resultado do teste de médias para a massa fresca e quantidade
de folhas de quatro cultivares de alface.
Médias
Fonte de variação
Massa fresca (g)
Quantidade de
folhas
Delícia
243 a
43,6 a
Manteiga
232 b
35,8 b
Marisa
193 c
31,6 b
Grandes lagos
143 d
28,6 b
Médias seguidas por uma mesma letra dentro de cada coluna não diferem entre si, a 5% de
probabilidade, pelo teste de Scott Knott.
Referências
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M. M.; Marcolino, E.; Revista Agro@mbiente On-line 2011, 5, 12.
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Júnior, M. N. De; Vieira, T. A.; Vallone, H. S.; II Seminário Iniciação
Científica – IFTM, Campus Uberaba, MG. 20 de outubro de 2009.
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Tosta, P. A. F.; Agropecuária Científica no Semi-Árido 2009, 5, 30.
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Resende, A. L. S.; Oliveira, F. L.; Ribeiro, R. L. D.; Hortic. Bras.
2011, 29, 57.
Bueno12 encontrou efeito significativo para número de
folhas com resposta linear crescente em relação às doses
de nitrogênio. Em alface, a maior quantidade de folhas
por planta resulta, em geral, numa maior área foliar, maior
massa fresca e, consequentemente, maior produtividade.
A absorção dos nutrientes, advindos da mineralização
dos adubos verdes, pelas hortaliças depende, em grande
parte, da sincronia entre a decomposição, mineralização dos
resíduos vegetais e a época de maior exigência nutricional da
cultura. De acordo com Diniz13, 24 dias após a incorporação
dos resíduos de Mucuna cinza (Stizolobium cinereum PT.),
50% do nitrogênio presente no adubo verde já havia sido
liberado. A maior taxa de absorção e acúmulo de nutrientes
do repolho ocorre entre 60 e 70 dias após o transplante.
Assim, no presente estudo, possivelmente, não houve
sincronia entre a máxima liberação de nutrientes dos adubos
verdes e a época de maior exigência nutricional da alface,
pois o transplantio das mudas ocorreu aproximadamente 40
dias após a incorporação das leguminosas.
6. Oliveira, F. L.; Ribas, R. G. T.; Junqueira, R. M.; Padovan, M. P.; Guerra,
J. G. M.; Almeida, D. L.; Ribeiro, R. L. D.; Agronomia 2003, 37, 60.
Conclusão
Gesiane R. Guimarãesa*, Faber S.
Pereira, Alexandre M. E. Oliveira,
Ednaldo C. Rocha & Roberli R.
Guimaraes
Em sucessão ao cultivo de leguminosas, a cultivar
delícia apresentou o melhor desenvolvimento em termos de
massa fresca e quantidade de folhas. As cultivares Manteiga
e Marisa obtiveram desempenho intermediário para a
variável massa fresca. Para a quantidade média de folhas, as
cultivares Manteiga, Marisa e Grandes Lagos apresentaram
desenvolvimento semelhante.
30
Revista Processos Químicos
7. Perin, A.; Guerra, J. G.; Texeira, M. G.; Pesq. Agropec. Bras. 2003,
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11. R
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Produção. Circular Técnica 56. Embrapa: Brasília, 2007.
12. B
ueno, C. R.; Adubação nitrogenada em cobertura via fertirrigação
por gotejamento para a alface americana em ambiente protegido.
Dissertação (Mestrado em Agronomia). Universidade Federal de
Lavras: Lavras. 1998.
13. Diniz E. R.; Influência da época de incorporação de adubo verde na
produção de brócolis cultivado organicamente. Dissertação (Mestrado
e Fitotecnia). Universidade Federal de Viçosa: Viçosa. 2004.
Universidade Estadual de Goiás, Rodovia: GO 330, km 241, Anel
Viário s/n, Ipameri-GO, CEP: 75780-000.
*[email protected]
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 4
Adubação Nitrogenada
de Sorgo Avaliada pelo
Teor de Clorofila com
Método Convencional e
por Medidor Portátil
Vitor C. M. Barretto, Alex da Silva, José M. G. Beraldo, Mara C. P.
Cruz & Manoel E. Ferreira
Avaliou-se o teor de clorofila por medidor portátil de clorofila (SPAD), em relação
ao método analítico, sob doses de nitrogênio, na cultura do sorgo em casa de vegetação.
O delineamento experimental usado foi o inteiramente casualizado, com cinco doses de
nitrogênio e quatro repetições. O medidor SPAD apresentou alta correlação para teor de
nitrogênio total na folha, teor de clorofila (total, a e b), e produção de matéria seca da
folha. As doses de 225 e 300 mg dm-3 de N proporcionaram teores foliares de 13,87 e
17,55 g kg-1 respectivamente, porém, estas doses afetaram a produção de matéria seca.
Palavras-chave: Métodos de avaliação; Sorghum bicolor L.; SPAD.
Assessed chlorophyll content for portable chlorophyll meter (SPAD) in relation to
analytical method under doses of nitrogen in the culture of sorghum under greenhouse
conditions. The experimental design used was the completely randomized design, with
five nitrogen doses and four replicates. The SPAD meter showed high correlation to
total leaf nitrogen content, chlorophyll content (total, a and b), and leaf dry matter
production. The doses of 225 and 300 mg dm-3 of N foliar provided 13.87 and 17.55 g
kg-1 respectively, however, these doses affected the production of dry matter.
Key words: Methods of assessments;Sorghum bicolor L.; SPAD.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
31
Artigo Geral 4
Introdução
No Brasil, a cultura do sorgo (Sorghum bicolor L.) vem
crescendo cada vez mais, devido à utilização de plantas com
potencial genético e também ao manejo da cultura com a
aplicação adequada de nutrientes. O nitrogênio participa
da constituição da molécula de clorofila, a avaliação da
necessidade de N pela planta poderia ser determinada pela
mensuração indireta do teor de clorofila1.
A molécula de clorofila é o pigmento principal
na absorção de luz na região do visível, sendo
que ela é composta de 6% de nitrogênio2. Plantas
sem nitrogênio apresentam menor composição de
clorofila, consequentemente, havendo redução da taxa
fotossintética, produção de assimilados e acúmulo
de massa seca3,4. O manejo da adubação nitrogenada
da cultura do sorgo pode ser alcançado por meio de
determinações periódicas e precisas do estado nutricional.
As determinações das concentrações de nitrogênio na
matéria seca de folhas, geralmente, são em condições
de laboratório, empregando-se métodos analíticos,
demorados e de alto custo5, e que requerem destruição
de amostras de tecidos e muito trabalho nos processos de
extração e quantificação6,7.
Em contraposição aos métodos tradicionais, a
determinação indireta de clorofila, por meio de medidores
portáveis, desponta como mais uma alternativa na diagnose
da necessidade de adubação nitrogenada para as culturas, de
forma fácil, rápida, e não destrutiva5,6,7,8. Por não ser afetada
pelo consumo de luxo de nitrogênio, a medida indireta de
clorofila, por meio do medidor portátil, tem sido considerada
melhor indicadora do nível do nitrogênio na planta do que o
próprio teor total do elemento9.
Os índices de clorofila nas folhas correspondem ao teor
relativo de clorofila presente na folha obtido pelo medidor
portátil de clorofila, esses valores são calculados com base
na quantidade de luz transmitida por meio da folha na faixa
do vermelho e do infravermelho próximo, por apresentar
alta correlação com o conteúdo de N na folha10.
A concentração de clorofila pode indicar a concentração
de N na folha de milho, podendo ser uma determinação
mais sensível às variações do suprimento de N que as
determinações do nutriente na matéria seca das folhas 5, o
que possibilitaria maior rapidez na detecção da deficiência
de N11. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o
32
Revista Processos Químicos
uso do medidor de clorofila SPAD em relação ao método
analítico sob doses de nitrogênio na cultura do sorgo em
casa de vegetação.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido em casa de vegetação
utilizando o delineamento experimental inteiramente
casualizado, com cinco doses de nitrogênio (0; 75; 150; 225
e 330 mg dm-3), empregando como fonte de nitrogênio a
uréia, e quatro repetições.
O solo utilizado foi coletado a uma profundidade de
0-20 cm, em área de pastagem no município de BorboremaSP, colocado para secar à sombra, destorroado, peneirado
em peneira de 4 mm e homogeneizado. As características
químicas do solo foram determinadas antes da instalação do
experimento, segundo metodologia proposta por Raij15. Os
valores obtidos foram: P resina = 14 mg dm-3; M.O. = 29
mg dm-3; pH em CaCl2 = 5,5; K = 2,4 mmolc dm-3; Ca = 25
mmolc dm-3; Mg = 13 mmolc dm-3; H+Al = 21 mmolc dm-3;
SB = 40 mmolc dm-3; CTC = 61 mmolc dm-3; V = 66%. Não
houve necessidade de realizar calagem.
A adubação de semeadura foi composta por: 80; 150;
20; 0,5; 1,00; 0,02 e 1,5 mg dm-3 de P, K, S, B, Cu, Mo e Zn,
respectivamente, por vaso. Utilizaram-se vasos de alumínio
com capacidade para 3 dm³, nos quais foram adicionados
2,8 dm³ de solo. Após a aplicação dos nutrientes e das
doses de N, foram semeadas dez sementes por vaso. Após a
germinação, realizou-se o raleio de forma que apenas cinco
plântulas permaneceram em cada vaso, constituindo uma
unidade experimental.
Aos 25 dias após emergência (DAE), foram observados
sintomas de deficiência de nitrogênio, caracterizados pelo
amarelecimento das folhas mais velhas, principalmente nos
tratamentos sem a aplicação de nitrogênio. Foi administrada
uma adubação de cobertura com 50 mg dm-3 de potássio
aos 28 DAE, e aos 40 DAE, as plantas de sorgo foram
colhidas e transportadas ao laboratório em embalagens
plásticas, devidamente identificadas.
Realizaram-se leituras, por meio do medidor portátil
de clorofila (SPAD), na quarta folha com bainha visível,
na região mediana da folha de cada planta em todos os
tratamentos. Foram realizadas três leituras com o medidor,
das quais se obteve a média para cada folha amostrada
por tratamento. Também foram determinados os teores de
clorofilas a, b e total, segundo metodologia descrita por
Jan / Jun de 2013
relativa (100%). Entretanto, quando foi aplicado a dose
de 300 mg g-1 de N, houve um decréscimo na produção
(92%). Tal fato indica que, a dose de 225 mg g-1 de N
foi suficiente para maximizar o crescimento das plantas.
Resultados diferentes aos encontrados por Oliveira14, os
quais, analisando cultivares de sorgo e doses de nitrogênio ,
não observaram efeito significativo das doses de N sobre a
produção de massa seca.
O fornecimento de nitrogênio em quantidades
adequadas, além de incrementar a área foliar das plantas,
aumenta os teores de clorofila nas folhas, tornando-as mais
eficientes na interceptação da radiação solar2, refletindo,
consequentemente, em maior acúmulo de matéria seca.
No desenvolvimento do experimento foi observado
que no tratamento em que não foi adicionado nitrogênio
houve um amarelecimento das folhas mais velhas, com as
mais novas permanecendo verdes, este fato é um indicativo
da mobilidade do nitrogênio na planta. As proteínas
translocam-se das folhas deficientes e são reutilizadas nas
folhas mais novas15.
A análise de correlação simples evidenciou uma
alta correlação entre as leituras obtidas no medidor
portátil, os teores de N e de clorofila e a produção de
matéria seca, variando de 0,77 a 0,99 (Tabela 2). A alta
correlação verificada entre a leitura com o medidor
portátil de clorofila e o teor de clorofila total na folha
(0,95) evidencia que as leituras efetuadas com o medidor
portátil estimam adequadamente o teor de clorofila da
folha de sorgo.
O teor de clorofila na folha correlacionou-se
positivamente com o teor de N no sorgo. Resultados obtidos
Hendry e Price12. Realizou-se a leitura das absorbâncias
e os valores foram registrados nos comprimentos de onda
de 645 e 663 nm para fins de obter as concentrações das
clorofilas a, b e total.
O restante das plantas foram separadas em colmo +
bainha e lâminas foliares, lavadas, colocadas para secar em
estufa a 65oC e após pesagem obtiveram-se a produção de
matéria seca e o teor de N total, de acordo com Bataglia13.
Os dados foram submetidos à análise de variância e,
quando as médias apresentavam nível de significância, foram
comparados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e
para as doses de N foram realizadas análises de regressão e
submetidos à análise de correlação de Pearson para avaliar
as variáveis estudadas.
Resultados e Discussões
Os resultados do teor de N na folha, concentração de
clorofila a, b e total, produção de matéria seca e produção
relativa encontram-se na Tabela 1. De acordo com os
valores encontrados, verificou-se aumento significativo no
teor de nitrogênio nas folhas de sorgo com o aumento da
dose de nitrogênio quando comparado à testemunha.
Em relação ao valor SPAD, não se verificou diferença
significativa a partir da dose de 150 mg dm-3 de N. Os
teores de clorofila a, b e total apresentaram comportamento
semelhante entre os tratamentos, sendo que a dose de 300
mg g-1 de N propiciou a extração das maiores quantidades,
1,27 e 1,12 mg g-1 de N, respectivamente para a clorofila a e
b. Houve aumento significativo para matéria seca até a dose
de 225 mg g-1 de N, na qual se obteve a maior produção
Tabela 1. Valores obtidos da leitura SPAD, teor de N e de clorofila na folha, matéria seca produzida e produção relativa na cultura do sorgo.
Doses
de N
Leitura
SPAD
Teor de
N Foliar
Teor de Clorofila
---mg dm-3---
---------
---g kg-1---
0
20,36 a
6,23 a
75
29,70 b
9,85 b
0,84 b
150
30,09 c
11,53 c
0,90 bc
225
34,51 c
13,88 d
1,08 cd
1,05 cd
300
35,19 c
17,55 e
1,27 d
1,12 d
a
b
total
---------------mg g-1--------------0,53 a
Matéria
Seca
Produção
Relativa
----g----
--%--
1,23 a
8,13 a
37
0,95 ab
1,79 b
17,86 b
82
0,99 bc
1,89 ab
20,72 c
95
2,13 cd
21,69 c
100
2,39 d
20,04 bc
92
0,70 a
CV(%)
4,22
4,68
6,48
4,30
9,56
6,49
---
DMS
2,7629
1,2077
0,2665
0,090
0,1929
2,5069
---
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
33
Artigo Geral 4
Tabela 2 - Correlações lineares de Pearson entre os parâmetros avaliados
no experimento, com nível de significância de 5% de probabilidade.
Variáveis
Leitura
SPAD
Teor de
N na
folha
Clorofila
total
a
b
Leitura
SPAD
1,00
--
--
--
--
--
Teor de N
na folha
0,91*
1,00
--
--
--
--
Clorofila
total
0,95*
0,95*
1,00
--
--
--
Clorofila
a
0,95*
0,92*
0,98*
1,00
--
--
Clorofila
b
0,93*
0,95*
0,99*
0,96*
1,00
--
Matéria
Seca
0,90*
0,77*
0,83*
0,88*
0,79*
1,00
Clorofila
Matéria
Seca
também por Schadchina16 e Waskom17. Para a clorofila total
e para clorofila b foi de 0,95, para clorofila a foi um pouco
mais baixa de 0,92. Esta relação é atribuída principalmente
ao fato de 50 a 70% do N total das folhas ser integrante de
enzimas18 que estão associadas aos cloroplastos19.
A leitura com o medidor portátil apresenta algumas
vantagens sobre o método de extração de clorofila:
a leitura pode ser realizada em poucos minutos, não
há necessidade de coleta e envio de amostras para
o laboratório, com economia de tempo e dinheiro,
é um método não destrutivo, no qual podem ser
realizadas quantas amostras forem necessárias1.
Portanto, as leituras efetuadas pelo equipamento
podem substituir, com boa precisão, as determinações
tradicionais do teor de clorofila. Avaliações realizadas
em outras espécies20, 21, 22 também constataram relação
significativa entre a leitura do medidor portátil e o teor
de clorofila extraível.
A produção de matéria seca apresentou maior
correlação com a leitura do medidor portátil (0,90) do
que com os outros parâmetros avaliados. Resultados
diferentes dos encontrados por Argenta23, que não
verificaram correlação na cultura do milho entre a leitura
obtida no medidor portátil com a matéria seca. A maior
limitação da utilização do medidor portátil de clorofila
como indicador do teor do nitrogênio, é que ele não
34
Revista Processos Químicos
prediz com precisão a quantidade de N suplementar que
deve ser aplicada17, 24.
Nas Figuras 1 e 2 são apresentadas as curvas e
respectivas equações que melhor ajustaram os valores
obtidos pelo teor de N na folha, teor de clorofila (total, a
e b), medidor portátil de clorofila (SPAD) e produção de
matéria seca da folha em função da dose de N utilizada.
Os teores de N total das folhas de sorgo assim como o
teor das clorofilas total, a e b, cresceram linearmente com
o aumento das doses de N (Figuras 1a e 1b).
As concentrações de N nas folhas se ajustaram
linearmente de 6,22 a 17,55 g kg-1 (Figura 1a). Na cultura
do sorgo, os níveis adequados de nitrogênio nas folhas
estão entre 13 a 15 g kg-1, segundo Malavolta1. No
presente estudo verificou-se que quando foram utilizadas
as doses de 225 e 300 mg dm-3, os teores de nitrogênio
nas folhas obtidos foram respectivamente de 13,87 e
17,55 g kg-1, considerados adequados.
Para os teores de clorofila (a) os valores variaram
a)
b)
Figura 1 - Teor de nitrogênio nas folhas (a) e teor de clorofila a, b e
total (b) em função de doses de nitrogênio na cultura do sorgo.
Jan / Jun de 2013
de 0,69 a 1,11 mg g-1, para a clorofila (b) de 0,52 a
1,27 mg g-1 e para clorofila total de 1,22 a 2,38 mg
g-1 (Figura 1b). A análise regressão demonstrou que o
valor obtido pelo medidor portátil de clorofila (Figura
2a) variou entre 20,35 e 35,18 unidades SPAD, em que se
ajustaram a regressão quadrática com ponto de máximo
de 241,5 mg dm-3 de N, com coeficiente de determinação
de 0,9367.
Os valores da produção de matéria seca das folhas se
ajustaram à regressão quadrática, com ponto de máximo
de 218 mg dm-3 de N, com o coeficiente de determinação
de 0,9813 (Figura 2b). Aumentos da matéria seca,
em função de doses crescentes de nitrogênio, foram
verificados por Oliveira25. Isso pode estar relacionado
com uma maior interceptação da radiação solar em
virtude do aumento da área vegetativa das plantas e dos
teores de clorofila existentes nas folhas26.
Assim, esse resultados indicam que, apesar dos teores
de nitrogênio encontrados na planta com as doses de 225
e 300 mg dm-3 serem considerados suficientes para a
cultura do sorgo, em relação à produção de matéria seca,
a utilização de tais níveis propiciou um efeito depressivo
na produção, atingindo seu máximo na dose de 218 mg
dm-3 (Figura 2b). Portanto, a utilização de doses maiores
que 225 mg dm-3 causou queda da produção de matéria
seca e gasto inútil com o nutriente.
Neste sentido, verificam-se poucos estudos,
principalmente, recentes e enfocando à adubação
nitrogenada e teores de clorofila na cultura do sorgo,
sendo que os fatores como solo, condições climáticas,
variedade, manejo do solo, principalmente adubação
podem interferir no desenvolvimento da cultura.
Conclusões
O medidor portátil de clorofila (SPAD) apresentou
alta correlação com os teores de nitrogênio total da
planta, clorofila total, a e b, e produção de matéria seca,
indicando ser um método rápido, prático e eficiente para
se avaliar a concentração de clorofila.
As doses de 225 e 300 mg dm-3 de N proporcionaram
teores foliares de 13,87 e 17,55 g kg-1 considerados
suficientes para a cultura do sorgo, entretanto, com essas
doses verificou-se um efeito depressivo na produção de
matéria seca.
Jan / Jun de 2013
a)
b)
Figura 2 - Teor de clorofila determinada pelo medidor portátil de
clorofila (SPAD) (a) e produção de matéria seca das folhas (b) em
função de doses de nitrogênio na cultura do sorgo.
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Revista Processos Químicos
35
Artigo Geral 4
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Vitor C. M. Barretto1*, Alex da
Silva1, José M. G. Beraldo2, Mara
C. P. Cruz3 & Manoel E. Ferreira3
Universidade Estadual de Goiás, UEG, UnU Ipameri, Rodovia GO
330, Km 241, Anel Viário, CEP 75780-000, Ipameri, GO, Brasil.
1
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo,
IFSP, CEP 15990-040, Matão, SP, Brasil.
20. Dwyer, L. M.; Anderson, A. M.; Stewart, D. W.; Tollenaar, M.;
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3
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias, UNESP/FCAV, Departamento de Solos e Adubos, CEP
14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil.
21. Yadava, U. L. HortScience, 1986, 21, 1449-1450.
* e-mail: [email protected]
36
Revista Processos Químicos
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 5
Diferentes Períodos de
Fermentação de Sementes
para Produção de
Mudas de Pitombeira em
Ambientes Protegidos
Cleiton G. S. Benett, Murilo F. Pelloso, Miriam F. Lima, Katiane S. S.
Benett, Edilson Costa, Mateus L. Secretti & Fabrício Rodrigues
O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção de mudas de pitombeira em
ambientes protegidos, em função de diferentes períodos de fermentação de sementes. O
delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, sendo seis períodos
de fermentação em água (0, 12, 24, 36, 48 e 60 horas) e três ambientes protegidos (palha,
estufa e sombrite), com 25 sementes cada repetição. O período de 24 a 36 horas de
fermentação em água é o mais indicado para a emergência e desenvolvimento das mudas
de pitomba. Os ambientes palhas e sombrite são os mais indicados para a produção de
mudas de pitomba.
Palavras-chave: Talisia esculenta Radlk; frutífera nativa; viveiro.
The aim of this study was to evaluate the production of seedlings pitombeira in
protected environments for different periods of fermentation of seeds. The experimental
design was completely randomized, six fermentation periods in water (0. 12. 24. 36.
48 and 60 hours) and three greenhouses (straw, glass and shading), with 25 seeds each.
The 24 to 36 hours in water is the most suitable for the emergence and development
of seedlings pitomba. Environments straw and shading are the most suitable for the
production of seedlings pitomba.
Keywords: Talisia esculenta Radlk; native fruit; nursery.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
37
Artigo Geral 5
Introdução
A pitombeira (Talisia esculenta Radlk) é uma árvore
frutífera, que pode ser encontrada e/ou introduzida
em diversas regiões do país. No entanto, essa espécie
é explorada mediante extrativismo ou em pomares
domésticos sem utilização de tecnologia, o que implica
depreciação da conservação da espécie. Os frutos da
pitombeira são carnosos e adocicados, havendo grande
interesse ecológico e econômico. Os frutos, bem como
os produtos derivados, são muito utilizados na culinária
regional e, a polpa utilizada in natura ou na fabricação
de compotas, geleias e doces em massa, cujo sabor
assemelha-se ao do damasco (Prunus armeniaca L.)1.
A pitomba é indicada para plantio em áreas
degradadas, cuja madeira vem sendo utilizada para obras
internas na construção civil como forros, molduras,
tábuas para assoalho, carpintaria e para confecção de
caixas2. A propagação da espécie é realizada por via
sexuada, por meio de sementes, as quais apresentam curta
longevidade, sendo necessária a semeadura logo após a
extração dos frutos2. A extração das sementes de frutos
carnosos geralmente é feita por via úmida, a qual consiste
em colocar os frutos na água por aproximadamente 24
horas para amolecer a polpa, o que facilita a extração das
sementes3, isso se deve ao fato de a mucilagem poder
prejudicar a germinação e desenvolvimento das plântulas
por favorecer o desenvolvimento de microrganismos ou
conter substâncias inibidoras de germinação4.
O tempo de fermentação das sementes de frutos
carnosos varia, conforme a espécie e temperatura5, como
por exemplo, a gabiroba necessita de aproximadamente
três dias (Campomanesia adamantium Camb.)4 e dois
dias para o café (Coffea arabica L.)6.
A qualidade na produção de mudas é fator importante
na cadeia produtiva, uma vez que mudas mal formadas
prejudicam o desempenho final da cultura, causando
perdas na produção e no atraso do ciclo produtivo7. A
utilização de sombreamento é viável para a produção
de mudas frutíferas, pois, além de propiciar melhor
desenvolvimento e crescimento da planta, favorece o
estabelecimento do pomar8. O ambiente de cultivo pode
influenciar diretamente na qualidade das mudas. Para
este efeito, o uso de tela de polipropileno (monofilamento
ou ráfia) tornar-se popular. A redução da incidência de
luz solar proporciona maior produção de massa seca das
38
Revista Processos Químicos
plantas9. Outro tipo de tela utilizada é a termorrefletora,
aluminizada, que também pode influenciar o
desenvolvimento das plantas.
Tendo em vista a utilização da pitombeira para os
mais diversos fins, são necessárias informações sobre o
desenvolvimento de técnicas agronômicas necessárias
a serem empregadas no cultivo desta frutífera, uma
vez que a espécie demonstra potencial de produção,
visando à sustentabilidade e o mercado consumidor.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a
produção de mudas de pitombeira em ambientes
protegidos em função de diferentes períodos de
fermentação de sementes.
Materiais e Métodos
O trabalho foi desenvolvido entre os meses de
fevereiro a março de 2011, no laboratório de sementes da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS),
Unidade Universitária da Aquidauana.
O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente casualizado, sendo seis períodos de
fermentação em água (0, 12, 24, 36, 48 e 60 horas) e três
ambientes protegidos (palha, estufa e sombrite), com 25
sementes cada repetição. Foram utilizadas sementes de
pitomba (Talisia esculenta Radlk) adquiridas de árvores
existentes na fazenda experimental da universidade.
Os ambientes protegidos utilizados foram: 1) Palha:
viveiro agrícola em forma de paralelepípedo, estrutura
de madeira, possuindo dimensões de 3,00 m x 1,20 m x
1,70 m, coberto com palha de coqueiro nativo da região,
conhecido popularmente como buriti (Mauritia flexuosa
L.), totalmente aberto nas laterais e frontais. 2) Estufa:
viveiro agrícola, com dimensões de 6,4 x 18,0 m, altura sob
a calha de 4,00 m e 6,00 m na cumeeira e cobertura em arco,
construída com canos de aço galvanizado, coberta com
filme polietileno difusor de luz de 150 μm e laterais com tela
de monofilamento, em malha de 50% de sombreamento. 3)
Sombrite: viveiro agrícola, estrutura de madeira, coberto
com tela de monofilamento com 50% de sombreamento,
com dimensões de 2,5 m x 2,5 m x 2,5 m.
Para os cinco períodos de fermentação em água, colocaramse as sementes em imersão nos respectivos períodos e, após a
fermentação, foram secas à sombra por dois dias.
A semeadura foi realizada em sacos de polietileno 10 x
20 cm, utilizando somente solo virgem com profundidade
Jan / Jun de 2013
de 80 cm. Realizaram-se as avaliações a partir da
emergência das primeiras plantas, considerando como
emergidas as plântulas que apresentaram os cotilédones
totalmente livres. As avaliações foram realizadas até os
38 dias após a semeadura.
Verificou-se o efeito dos tratamentos sobre a qualidade
das mudas, avaliando-se: porcentagem de emergência10;
índice de velocidade de emergência11; índice de qualidade
de Dickson12; altura de plantas (com o auxílio de uma
régua graduada); diâmetro do caulículo (com o auxílio de
um paquímetro digital); índice de área foliar (mensurada
pelo Software “Image J” versão 1.43u); massa fresca e
seca da parte aérea e raízes; massa seca da parte aérea
e raízes. Para cada avaliação, foram utilizadas cinco
plantas de cada tratamento.
Os dados foram submetidos à análise de variância (teste
F) e, quando as médias apresentavam nível de significância
,foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
para ambientes e, para os períodos de fermentação em água
foram realizadas análises de regressão.
Resultados e Discussão
Verificou-se que o índice de velocidade de
emergência, diâmetro do caulículo e índice da área foliar,
foram influenciados significativamente pelos ambientes
utilizados (Tabela 1). O ambiente sombrite diferiu
estatisticamente do palha, quando se avaliou o índice de
velocidade de germinação. Para o diâmetro do caulículo,
observou-se que o ambiente estufa apresentou valores
superiores aos demais ambientes (Tabela 1). O diâmetro
do caulículo é uma variável importante, pois plântulas
com diâmetro menores de haste e altas podem apresentar
maior risco de tombamento pela ação do vento.
Houve influência significativa do tempo de
fermentação em água sobre a porcentagem de germinação
e o índice de velocidade de emergência, cujos dados se
ajustaram a uma regressão quadrática, com ponto de
máximo estimado de 26 e 23 horas, respectivamente
(Figura 1a). A retirada da mucilagem das sementes
melhora o potencial de germinação e evita o ataque de
microrganismo, essa técnica também influencia no índice
de velocidade de emergência, havendo uma germinação
mais rápida.
Trabalho realizado com sementes de pitomba e
diferentes períodos de fermentação observam que a
Jan / Jun de 2013
Tabela 1. Valores médios da porcentagem de emergência (EMERG),
índice de velocidade de emergência (IVE), altura de plântulas (ALT),
diâmetro do caulículo (DIAM), índice da área foliar (IAF) em função
dos ambientes e períodos de fermentação da semente em água.
Aquidauana-MS, 2011.
Tratamentos
EMERG
%
Plântulas dia-1
ALT
cm
DIAM
cm
IAF
cm²
IVE
Ambientes
Palha
92,61a
1,00 b
15,86
0,245 ab
963,57
Estufa
91,33 a
1,05 ab
18,25
0,262 a
914,39
Sombrite
93,46 a
1,28 a
15,33
0,239 b
826,48
CV (%)
3,51
18,19
9,10
14,15
11,75
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.
remoção do arilo facilitou a germinação das sementes,
provavelmente pelo fato de ele conter algum tipo de
substância, inibidora da germinação13. Trabalho realizado
em sementes de maracujá amarelo observarou efeito
positivo da fermentação na velocidade de germinação14.
Ocorreu efeito significativo da interação entre os
ambientes e os tempos de fermentação em água, quando
se avaliou a altura de plantas e o índice da área foliar
(Figura 1b e 1c).
Para altura de plântulas, os ambientes estufa e
palha se ajustaram a uma regressão quadrática (Figura
1b) com valor máximo estimado de 36,8 e 28,3 horas,
respectivamente, enquanto que para o ambiente
sombrite proporcionou um aumento linear na altura
das plântulas. Trabalho realizado com períodos de
secagem de sementes de pitomba verificarou que a altura
máxima de plântulas foi de 11,2cm15. Algumas espécies
conduzidas em diferentes ambientes têm condições de se
adaptarem, tentando aproveitar ao máximo as condições
que o ambiente proporciona para o seu crescimento e
desenvolvimento.
Ao avaliar o índice da área foliar nos ambientes
estufa e palha, observou-se também ajuste dos dados
a uma regressão quadrática com valores máximos
estimados de 48 e 34,3 horas, respectivamente (Figura
1c). De acordo com16 a área foliar, é um parâmetro
indicativo de produtividade, uma vez que o processo
fotossintético depende da captação da energia
solar, sendo dessa forma, a base do rendimento de
uma cultura. Para17 cada espécie florestal apresenta
Revista Processos Químicos
39
Artigo Geral 5
a)
b)
c)
Figura 1. Valores de germinação, índice de velocidade de germinação em função dos períodos de fermentação da semente em água (a), desdobramento da
interação entre ambientes e períodos de fermentação da semente em água para altura de plântulas (b) e índice da área foliar (IAF) (c). Aquidauana-MS, 2011.
* significância a 5% e ** significância a 1% de probabilidade.
exigência luminosa própria para seu desenvolvimento,
sendo que algumas plântulas podem aproveitar e
desenvolver-se melhor em locais com alta intensidade
luminosa e outras em sombreamento e ainda, existem
espécies que são intermediárias e as de ampla
dispersão. Os valores da massa fresca e seca da parte
área e de raiz e o índice de qualidade de Dickson, estão
disponíveis na Tabela 2.
Para a massa fresca da parte aérea, observou-se que
o ambiente palha foi o que se destacou entre os demais
ambientes, apresentando massa fresca próxima de 21,5
e 30 % em relação aos ambientes estufa e sombrite,
respectivamente. Para a massa seca da parte aérea não
houve efeito significativo entre os ambientes. Quando
se avaliou a massa fresca de raiz, verificou-se que os
ambientes estufa e sombrite foram superiores ao ambiente
palha. A melhor forma de se avaliar o crescimento de
uma planta, seria a massa seca, pois a massa fresca é um
parâmetro muito sensível às oscilações hídricas, uma vez
que a maior parte dos vegetais é formada por água18.
O índice de qualidade de Dickson foi influenciado
pelos ambientes, sendo que no ambiente palha
observaram-se os maiores valores. De acordo com19, 20 o
índice de qualidade de Dickson serve como indicador da
qualidade das mudas, envolvendo vários parâmetros de
crescimento.
Quando se avaliou o tempo de fermentação em água,
pode-se observar que tanto a massa fresca e seca da
parte aérea e raiz ajustaram-se à regressão linear positiva
40
Revista Processos Químicos
(Figura 2a e 2b), sendo que à medida que as sementes
de pitomba permaneceram na água, aumentou o acúmulo
das massas. Avaliando o período de fermentação das
sementes de pitomba13, verificou-se o maior valor
de massa seca (0,270 g) com 105 horas, sendo esses
resultados próximos aos encontrados nesse trabalho.
A fitomassa seca da planta é um importante parâmetro
na avaliação do crescimento, pois sua determinação no
ciclo da cultura possibilita estimar o crescimento e o
desenvolvimento das plantas21.
Para o índice de qualidade de Dickson (Figura 2c), os
valores ajustaram-se à regressão quadrática com ponto
de máximo de 33,5 horas, significando que plantas com
maior IQD tem melhor capacidade de desenvolvimento
Tabela 2. Valores médios acumulados da massa fresca da parte aérea
(MFPA), massa seca da parte aérea (MSPA), massa fresca de raiz (MFR),
massa seca de raiz (MSR) e índice de qualidade de Dickson (IQD) em
função dos ambientes e períodos de fermentação das sementes em água.
Aquidauana-MS, 2011.
Tratamentos
MFPA
g
MSPA
g
MFR
g
MSR
g
IQD
Ambientes
Palha
2,196 a
0,845 a
0,844 b
0,416 b
2,18 a
Estufa
1,806 b
0,781 a
1,105 a
0,473 ab
1,99 ab
Sombrite
1,689 b
0,762 a
1,022 a
0,509 a
1,79 b
CV (%)
19,29
14,63
18,73
17,09
15,76
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.
Jan / Jun de 2013
a)
b)
** significância a 1%.
c)
** significância a 1%.
** significância a 1%.
Figura 2. Valores médios acumulados da massa fresca da parte aérea (MFPA), massa fresca de raiz (MFR) (a) e massa seca da parte aérea (MSPA), massa
seca de raiz (MSR) (b) e índice de qualidade de Dickson (IQD) (c) em função dos períodos de fermentação das sementes em água. Aquidauana-MS, 2011.
no campo. Para22 o índice de qualidade de Dickson é uma
fórmula balanceada que inclui relações de parâmetros
morfológicos, como altura, diâmetro e biomassa seca.
Conclusões
O período de 24 a 36 horas de fermentação em água é
o mais indicado para a emergência e desenvolvimento das
mudas de pitomba. Os ambientes palhas e sombrite são
os mais indicados para a produção de mudas de pitomba.
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Jan / Jun de 2013
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21. Lopes, J. S.; Dourado Neto, D.; Manfron, P. A.; Medeiros,
S. L. P.; Brum, B.; Couto, M. R. M. Revista Brasileira de
Agrometeorologia. 2005, 13, 73.
Revista Processos Químicos
41
Artigo Geral 5
22. Silva, A. K.; Costa, E.; Santos, E. L. L.; Benett, K. S. S.; Benett,
C. G. S. Revista Brasileira de Ciências Agrárias. 2013, 8, 42.
Cleiton G. S. Benett1*, Murilo F.
Pelloso2, Miriam F. Lima2, Katiane
S. S. Benett1, Edilson Costa3,
Mateus L. Secretti4 & Fabrício
Rodrigues1
Universidade Estadual de Goiás, Departamento de Agronomia,
Rodovia GO 330, Km 241, Anel Viário, s/n, Setor Universitário, CEP
75780-000, Ipameri-GO, Brasil.
1
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária
de Aquidauana, Rodovia Aquidauana-Cera, Km 12, Zona Rural, CEP
79200-000, Aquidauana-MS, Brasil.
2
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária
de Cassilândia, Departamento de Agronomia, Cassilândia-MS, Brasil.
3
Programa de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas da
Universidade Federal de Viçosa-MG, Brasil.
4
* E-mail: [email protected]
42
Revista Processos Químicos
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 6
Simulação de Déficit
Hídrico em Diferentes
Genótipos de Feijão
pela Diminuição do
Potencial Osmótico
Daiane M. Duarte, Diana C. Silva, Ednaldo C. Rocha, Helton S.
Pereira & Fabrício Rodrigues
O presente trabalho teve como objetivo simular condições de déficit hídrico em
laboratório para a avaliação da germinação e desenvolvimento de diferentes genótipos de
feijão. O experimento foi realizado no Laboratório da Universidade Estadual de Goiás,
em que se utilizaram dez genótipos de feijão, submetidos à germinação em condições
de estresse sob os níveis 0 , -0,6, -1,2 e -1,8 MPa de potencial osmótico, simulados com
soluções de manitol (C6H14O6) nas doses: 0, 44; 58; 89,17 e 133,75 g L-1. Dentre os
genótipos utilizados, o cultivar Esplendor obteve melhor desempenho para as variáveis
analisadas, demonstrando maior potencial adaptativo à deficiência hídrica.
Palavras Chaves: Phaseolus Vulgaris L.; Germinação; Estresse.
The present study aimed to simulate water deficit conditions, in the laboratory,
the germination and development of different genotypes of bean. The experiment was
conducted at the Laboratory of the State University of Goiás, where were used ten
cultivars of beans, subjected to germination in stress levels 0, -0.6, -1.2 and -1.8 MPa
osmotic potential, simulated with solutions of manitol (C6H14O6) in levels: 0, 44, 58,
89.17 and 133.75 g L-1. Among the genotypes used, cultivar Esplendor performed better
for the variables analyzed, demonstrating high potential in adaptation to drought stress.
Key words: Phaseolus vulgaris L.; Germination; Stress.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
43
Artigo Geral 6
Introdução
O feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) é cultivado
no Brasil o ano todo, em ecossistemas subtropical e
tropical como Cerrado, Mata Atlântica e Semiárido, nos
mais variados arranjos de plantas inter e intraespecíficos,
em três safras: “das águas” e “da seca” em todos os
estados da federação, e “de inverno”, com irrigação
concentrada nas Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Oeste
da Bahia, o que garante uma oferta constante do produto
para um consumo interno1. Nas últimas décadas, têmse intensificado os debates sobre o aquecimento global
e as mudanças climáticas, havendo quase um consenso
entre os cientistas de que a intensificação do efeito estufa
planetário encontra-se, principalmente, relacionada ao
padrão de produção e ao consumo da sociedade moderna.
No Brasil, alguns estudos mostram que elevação do nível
do mar pode afetar regiões costeiras, especialmente,
as metrópoles litorâneas e que os efeitos podem ser
registrados em diversas outras regiões do país. Dentre
os principais desequilíbrios que estas alterações podem
causar ao meio ambiente, o Centro de Gestão e Estudos
Estratégicos2 relaciona os seguintes: expansão de vetores
de doenças endêmicas; mudança do regime hidrológico;
perdas na agricultura e ameaças à biodiversidade e, claro,
aumento da frequência e intensidade de enchentes e
secas.
Nos últimos anos, os sistemas de produção agrícola
convencionais veem cedendo espaço para os chamados
sistemas alternativos de produção de base agroecológica.
Fruto de um processo de conscientização ecológica
em que a sociedade demonstra preferência, no qual o
termo sustentabilidade se torna cada vez mais evidente3.
Entretanto, a disponibilidade de água em algumas regiões
do país é escassa e, algumas outras, estão passando por
trocas climáticas bruscas, o que dificulta o plantio do
feijão o ano todo ou mesmo na época das águas.
No entanto, o solo nem sempre oferece ambiente
ótimo para a germinação das sementes, mesmo porque,
quando ocorre deficiência hídrica, subentende-se que
o solo apresenta potenciais hídricos que dificultam a
absorção da água necessária para a germinação4. Neste
caso, qualquer alteração, já no início de seu cultivo, irá
influenciar o seu potencial produtivo. Portanto, os efeitos
sobre a qualidade do produto, geralmente, são traduzidos
44
Revista Processos Químicos
pelo decréscimo na percentagem de germinação; aumento
de plântulas anormais e redução do vigor das plântulas5,
já na fase inicial de desenvolvimento destas.
A espécie possui pouca tolerância a estresses
hídricos, sendo que, 60% do seu cultivo no mundo estão
submetidos a este fator, tornando a seca o maior redutor da
produtividade6. No entanto, algumas práticas de manejo
podem contribuir para o aumento da produtividade,
em condições de estresses hídricos, sendo que o maior
progresso tem sido obtido por meio do melhoramento7. A
utilização de cultivares tolerantes possibilita ao produtor
a condição de manter sua produtividade em níveis que
não causem dano econômico, expressos pela capacidade
da planta em interligar uma diversidade de sinais
ambientais a sinais metabólicos, que regulam a expressão
gênica durante o estresse8, assim, possibilitando a sua
sobrevivência. Segundo Santos9, é fundamental que ao
analisar previamente, mediante levantamento de dados, o
impacto que a seca e outras mudanças climáticas venham
causar, seria possível realização de uma base de dados
para trabalhar futuramente, contando com os possíveis
imprevistos.
Uma das maneiras de sanar, em um curto período
de tempo esse problema, seria a utilização de genótipos
tolerantes que possam ser analisados e utilizados em
programas de melhoramento como fonte de tolerância ao
estresse hídrico e, assim, associar essa característica ou
essas características aos demais genótipos que compõem
os blocos de cruzamentos10. Alguns autores relatam que
diversas soluções osmóticas têm sido usadas para simular
um ambiente com reduzida umidade, dentre elas pode-se
destacar o Manitol4.
Segundo Boyer5, os valores aproximados de
potenciais de água letais, para algumas espécies vegetais,
variam de -1,4 a -6,0 MPa para o tomateiro e a acácia,
respectivamente. Entretanto, para o feijão-comum e
para o feijão-caupi, esses valores de potencial hídrico
foliar são de -1,5 a -2,5 MPa, respectivamente, o que
os classifica como plantas sensíveis e moderadamente
tolerantes ao déficit de água no solo.
Diante do exposto e da importância econômica
do feijão, torna-se imprescindível a realização de
estudos, visando avaliar o desempenho de cultivares
desenvolvidos para o cultivo em regime de sequeiro e
irrigado, frente às limitações hídricas impostas durante
Jan / Jun de 2013
o seu desenvolvimento. Assim, o presente trabalho teve
como objetivo simular condições padronizadas de déficit
hídrico, em laboratório, por meio de simulação com
manitol, para a avaliação do desempenho fisiológico de
diferentes cultivares de feijoeiro comum.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no Laboratório da
Universidade Estadual de Goiás, da Unidade Universitária
de Ipameri (GO), no mês de novembro de 2012. Utilizaramse dez genótipos de feijão, provenientes do Programa de
Melhoramento da Embrapa Arroz e Feijão (Pérola, Agreste,
Esplendor, Campeiro, Cometa, Pontal, Marfim, Notável,
Ametista e Estilo), os quais apresentavam características
importantes, e são cultivados na região sudeste de Goiás,
sendo estes submetidos à germinação, em condições de
estresse hídrico sob os níveis 0, -0,6, -1,2 e -1,8 MPa de
potencial osmótico, simulados com soluções de manitol
(C6H14O6), nas doses: 0; 44; 58; 89,17 e 133,75 g L-1. As
concentrações foram calculadas pela fórmula de Van’t
Hoff: Yos = RTC, em que: Yos: potencial osmótico (atm);
R: constante geral dos gases perfeitos (0,082 atm. L mol1°K-1); T: temperatura (°C) e C: concentração (mol L-1),
conforme BRAGA12.
Foram colocadas 25 sementes de cada cultivar
para germinar em três folhas de papel (Germitest),
umedecidas com 2,25 vezes a sua massa, com as soluções
osmóticas de manitol, para proporcionar diferentes níveis
de potencial osmótico nas sementes, em delineamento
inteiramente casualizado com quatro repetições. Logo
após, depositadas sobre duas folhas e recobertas com
uma terceira folha de papel. Em seguida, as folhas foram
enroladas e depositadas em uma câmara de germinação
(BOD), com umidade de 92% e temperatura de 25°C,
permanecendo nesta condição por um período de dez
dias. A análise da germinação das sementes foi realizada
no quinto dia e o crescimento das plântulas no décimo dia,
na qual as avaliações, bem como a metodologia utilizada,
obedeceram às normas estipuladas nas Regras para
Análise de Sementes7. Posteriormente, para a análise do
teste de geminação, foi utilizado o critério de emissão de
radícula e, para o desenvolvimento, medição da radícula
e do hipocótilo das plântulas normais desenvolvidas.
Foram submetidos os dados à análise de variância e
comparação entre as médias pelo teste de Scott-Knott,
Jan / Jun de 2013
a 5% de significância, e, então, realizadas as análise de
regressão polinomial para as diferentes concentrações de
manitol, utilizando o programa SISVAR14. Além disso,
realizou-se a análise de correlação de Spearman (r) para
avaliar o grau de associação entre as doses de manitol e a
porcentagem de germinação das sementes.
Resultados e Discussão
A análise de variância indicou diferença significativa
entre as doses de manitol (P<0,05) e entre os genótipos
avaliados (P<0,05), mas o efeito da interação entre as
doses de manitol e os genótipos não foi significativo (P>
0,05), indicando que essas variáveis influenciaram de
modo independente a germinação das sementes. As doses
de manitol e o percentual de germinação apresentaram
correlação negativa e significativa (r = -0,69; P = 0,00),
indicando que a porcentagem de sementes germinadas
diminuiu, à medida que o potencial osmótico foi reduzido
(Tabela 1). Detecta-se que as sementes tiveram maior
dificuldade para emitir radícula na condição de estresse
hídrico simulado pelo Manitol. Estes resultados corroboram
com os obtidos por Garcia15 em sementes de feijão e, por
Trigo16, em sementes de cebola, os quais constataram redução
significativa na percentagem de sementes germinadas com a
redução do potencial osmótico.
O tratamento sem manitol (testemunha) proporcionou
o maior percentual de germinação, no qual apresentou
97%, seguido pelas doses 44 e 58 g L-1, com 88 e 91%
de germinação, respectivamente. Por sua vez, a dose de
133 g L-1 proporcionou a menor quantidade de sementes
germinadas (55%), conforme Tabela 1.
Tabela 1. Porcentagem de germinação de sementes, utilizando dez
cultivares de feijão comum, simulados com diferentes doses de solução
de Manitol. Ipameri, GO, 2013.
Doses (g L-1)
Porcentagem Germinação (%)
0
97 a
44
88 b
58
91 b
89
77 c
133
55 d
Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a
5% de probabilidade.
Revista Processos Químicos
45
Artigo Geral 6
Avaliando diferentes níveis de potenciais osmóticos
simulados por PEG-6000 em arroz, Silva17, encontrou
resultados condizentes com o esperado e semelhantes
ao apresentando por Manitol em feijão, neste trabalho,
uma vez que a concentração de PEG-6000 e de Manitol
controlam o meio de germinação e, dessa forma, a
absorção de água pelos tecidos da semente, dificultando ou
impedindo o início do processo germinativo. As diferentes
concentrações das soluções e o tipo de produto utilizado
para simular tais condições de estresse, podem alterar todo
o resultado, mesmo se tratando de uma mesma cultivar,
Coelho10 observou que ao utilizar manitol, CaCl2, MgCl2 e
NaCl, em analogia às condições de campo, observou que
a germinação reagiu de maneira diferenciada, dependente
da concentração de cada soluto e o produto, sendo que a
simulação por Manitol se mostrou mais estável e apresentou
um maior potencial germinativo na mesma concentração
dos demais testados. Entretanto, se o produto utilizado fosse
NaCl e CaCl2, o potencial germinativo seria bem reduzido,
mesmo na mesma concentração que o Manitol.
A Figura 1 ilustra a redução na porcentagem de
sementes germinadas com a redução do potencial
osmótico. Nota-se que da dose 0 g L-1 de manitol para
a dose 133 g L-1 de manitol houve redução de 42% na
porcentagem média de germinação das sementes.
Neste sentido, Bray19 ressalta que a germinação das
sementes é uma das fases mais sensíveis à deficiência
hídrica, visto que a água constitui a matriz em que ocorre
a maioria dos processos bioquímicos e fisiológicos, que
resultam na protrusão da raiz primária. A diminuição
do potencial osmótico prejudica a germinação, diminui
o desenvolvimento meristemático e expõe as sementes
por mais tempo às condições desfavoráveis do ambiente,
acarretando diminuição na produtividade, como
consequência, prejuízo ao produtor16, 20.
Os cultivares BRS Esplendor e BRS Agreste
apresentaram desempenho semelhante e superior aos
demais cultivares testados, quanto à tolerância ao
estresse hídrico, com o percentual médio de germinação
de 96% e 90%, respectivamente (Tabela 2). Por outro
lado, os menores percentuais de germinação foram
observados para os genótipos Cometa, Pontal, Pérola e
Estilo, os quais apresentaram desempenho cerca de 23%
menor que o do cultivar Esplendor, demonstrando que
possuem menor tolerância ao estresse hídrico. Além
disso, esses percentuais podem indicar menor capacidade
destes cultivares em interligar uma diversidade de sinais
ambientais à sinais metabólicos que regulam a expressão
gênica durante o estresse8, dificultando, assim, sua
sobrevivência e impossibilitando uma boa produtividade.
Tabela 2. Porcentagem de germinação de dez cultivares de feijão
comum, em relação às doses das soluções simuladoras utilizando
Manitol. Ipameri, GO, 2013.
Figura 1. Análise de regressão para porcentagem de germinação de
sementes de feijão comum, utilizando diferentes doses de Manitol.
Ipameri, GO, 2013.
46
Revista Processos Químicos
CULTIVARES
PORCENTAGEM
GERMINAÇÃO (%)
BRS ESPLENDOR
96 a
BRS AGRESTE
90 a
BRS AMETISTA
85 b
BRS CAMPEIRO
84 b
BRS MARFIM
84 b
BRS NOTÁVEL
84 b
BRS ESTILO
79 c
BRS PÉROLA
74 c
BRS PONTAL
72 c
BRS COMETA
70 c
MÉDIA GERAL
81
Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a
5% de probabilidade.
Jan / Jun de 2013
O desenvolvimento de cultivares mais tolerantes
a períodos de deficiência hídrica no solo, tal como o
estudo do desenvolvimento de mecanismos que auxiliem
as plantas a tolerar períodos prolongados de seca ou de
estiagem, será essencial na manutenção da produção
agrícola brasileira e mundial21. As diferentes reações de
cada genótipo, a essas variações, permitem que este possa
tolerá-las, quando estiverem níveis críticos no solo, ainda
assim, mantendo suas taxas de fotossíntese em níveis
adequados22. Nesse caso, indicadas para a obtenção
de novas famílias e geração de novos cultivares, além
disso, possibilita a seleção de genótipos promissores
de maneira precoce e, assim, acelerando o programa de
melhoramento desta espécie.
Para a análise do desenvolvimento por meio da
mensuração do comprimento radicular e comprimento
do hipocótilo das plântulas de feijão, pode-se observar
que houve diferença significativa (P<0,05) e, também,
para interação dos genótipos com os diferentes níveis
de potencial osmótico, indicando que essas variáveis
influenciaram de modo dependente o desenvolvimento das
plântulas. Nos maiores potenciais osmóticos, as plântulas
são mais vigorosas, havendo maior desenvolvimento do
sistema radicular com valores próximos a 12 cm e, à
medida que se reduz o potencial osmótico, há redução do
comprimento da raiz principal, corroborando com Reis23
e Moraes e Menezes20, que trabalharam com sementes de
feijão e soja, respectivamente.
De acordo com a Tabela 3, é possível observar que
o maior crescimento radicular ocorreu no nível 0 (zero)
do soluto, para todos os genótipos. Cabe salientar,
também, que houve redução no comprimento da
radícula das plântulas para os dez genótipos avaliados,
demonstrando que o aumento da concentração de manitol
e redução no potencial hídrico afetou negativamente o
desenvolvimento da radícula, causando uma diminuição
no seu crescimento.
O cultivar esplendor destacou-se por apresentar
radículas mais desenvolvidas quando expostas às maiores
concentrações das soluções de manitol, indicando que
este genótipo pode ser mais tolerante à deficiência hídrica
que os outros cultivares testados. Ávila e colaboradores4
observaram que para a cultura da canola, contrariamente
ao que ocorre com o feijão, quanto maior a dose de manitol,
até o limite tolerável pela planta, maior é o crescimento
radicular, pois, as plantas de canola, quando submetidas
ao estresse hídrico, tendem a desenvolver um sistema
radicular que propicia maior absorção água, em maiores
profundidades. O uso eficiente da água pelas culturas
agrícolas depende, sobretudo, das condições físicas do
Tabela 3. Crescimento radicular de dez cultivares de feijão comum, em diferentes doses de soluções simuladoras de estresse hídrico, utilizando manitol.
Ipameri, GO, 2013.
CRESCIMENTO RADÍCULA (cm)
GENÓTIPOS
BRS AGRESTE
DOSES DE MANITOL
0
44
58
89,17
133,75
8,60 b
9,20 a
6,71 b
2,46 a
1,65 a
BRS AMETISTA
7,42 c
8,95 a
6,57 b
1,79 b
1,34 a
BRS CAMPEIRO
9,42 b
6,70 c
4,57 c
1, 38 b
1,23 a
BRS COMETA
8,87 b
5,20 d
3,40 d
1,56 b
2,26 a
BRS ESPLENDOR
10,70 a
9,04 a
9,71 a
2,43 a
1, 78 a
BRS ESTILO
5,64 e
7,18 c
6,52 b
2,37 a
1,30 a
BRS MARFIM
7,76 c
7,80 b
4,55 c
2,11 a
1,52 a
BRS NOTÁVEL
9,51 b
5,45 d
6,12 b
1,64 b
1,43 a
BRS PÉROLA
6,61 d
5,75 d
3,91 d
1,49 b
1,26 a
BRS PONTAL
7,80 c
4,53 d
3,30 d
1,59 b
1,14 a
MÉDIAS
8,21
7,00
5,53
1,88
1,49
Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
47
Artigo Geral 6
solo; das condições atmosféricas; do estado nutricional
das plantas; de fatores fisiológicos; da natureza genética
e do seu estágio de desenvolvimento. Todas as plantas
exigem quantidades relativamente elevadas de água
para a produção de matéria seca, uma cultura de feijão,
por exemplo, requer cerca de 1750 kg de água para a
produção de 1 kg de matéria seca e grãos25, se o cultivar
necessitar de uma menor quantidade de água, além da
tolerância, irá acarretar menor custo de produção e em
um cultivo mais sustentável.
Os cultivares que apresentaram sensibilidade à
deficiência hídrica foram o BRS Pontal e BRS Cometa,
os quais, nas concentrações mais altas, apresentaram
redução do crescimento radicular, quando comparados
aos demais. Na dose de 133,75% não houve diferença
entre os cultivares testados, demonstrando que neste
potencial hídrico, as plântulas não conseguem absorver
água e, consequentemente, não apresentam diferença em
seu crescimento vegetativo que seja significativo.
Da mesma forma, para o comprimento do hipocótilo,
pode ser verificada redução nesta característica
com a redução do potencial osmótico (Tabela 4).
Corroborando os resultados de Reis23, Moraes e
Menezes20, que trabalharam com sementes de feijão e
soja, respectivamente. Em ambos os casos, os menores
potenciais osmóticos reduziram o comprimento das
plântulas, devido às mudanças na turgescência celular,
em função da diminuição da síntese de proteínas em
condições de déficit hídrico. O primeiro efeito mensurável
do estresse hídrico é uma diminuição no crescimento,
causada pela redução da expansão celular que necessita
de potencial de turgor adequado26.
Os resultados encontrados estão de acordo com os
obtidos por Alvarenga27, em estudos realizados com soja,
e Dantas28 em estudos com feijão, em que à medida que
aumentou a concentração de manitol nas soluções, houve
decréscimo no comprimento do hipocótilo das plantas,
demonstrando ter seu desenvolvimento prejudicado
quando submetidos a ambientes com baixa umidade.
Para este caráter o Cultivar BRS Esplendor também
apresentou indícios de ser o mais adaptado às condições
de deficiência de água, pois, alcançou os maiores valores
para o comprimento do hipocótilo em concentrações
mais elevadas de manitol (58%), assim como o agreste
(Tabela 4).
Conclusão
A redução do potencial osmótico do substrato,
utilizando manitol, pode ser utilizada para o estudo de
Tabela 4. Crescimento do hipocótilo dos diferentes genótipos em relação às doses das soluções simuladoras de estresse hídrico, utilizando manitol. Ipameri, GO, 2013.
CRESCIMENTO HIPOCÓTILO (CM)
CULTIVARES
DOSES (%)
0
44
58
89,17
133,75
BRS AGRESTE
6,99 b
4,15 d
3,17 a
0,31 a
0,08 a
BRS AMETISTA
5,37 d
4, 96 a
2,47 b
0,20 a
0,07 a
BRS CAMPEIRO
9,07 a
2,84 c
2,56 b
0,30 a
0,05 a
BRS COMETA
8,79 a
2,46 e
2,85 b
0,42 a
0,07 a
BRS ESPLENDOR
9,11 a
3,19 c
3,71 a
0,58 a
0,06 a
BRS ESTILO
4,82 e
2,92 c
2,33 b
1,01 a
0,13 a
BRS MARFIM
4,50 e
3,14 c
2,52 b
0, 48 a
0,19 a
BRS NOTÁVEL
6,58 b
2,11 e
1,20 d
0,30 a
0,01 a
BRS PÉROLA
5,88 c
2,90 c
2,52 b
0,41 a
0,19 a
BRS PONTAL
6,99 c
3,84 b
2,01 c
0,22 a
0,09 a
MÉDIAS
6,72
3,24
2,53
0,41
0,18
Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
48
Revista Processos Químicos
Jan / Jun de 2013
possíveis genótipos com maior tolerância à deficiência
hídrica. Dentre os cultivares testados, o cultivar BRS
Esplendor teve melhor desempenho para a maioria dos
caracteres avaliados, demonstrando maior potencial
adaptativo à deficiência hídrica, característica importante
para os programas de melhoramento.
Referências
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Tecnológica, 2008, 1, 219.
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Revista Brasileira de Sementes, 2006, 28, 142.
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10. Vale, N. M.; Barili, L. D.; Rozzeto, D. S.; Stinghin, J. C.; Coimbra, J.
L. M.; Guidolin, A. F.; Koop, M. M. Biotemas, 2012, 25, 135.
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Revista de Ciências Agroveterinárias, 2012, 11, 35.
16. Trigo, M.F.O.O.; Trigo L.F.N. Revista Brasileira de Sementes,
1999, 21, 145.
17. Silva, L. S.; Silva, R. B.; Valadares, R. N.; Matos, V. P.; Lima, C.
F. Revista Tropica, 2012, 6, 37.
Jan / Jun de 2013
Daiane M. Duarte1, Diana C. da
Silva1, Ednaldo C. Rocha2, Helton
S. Pereira3 & Fabrício Rodrigues2*
Universidade Estadual de Goiás, Departamento de Produção Vegetal,
Rodovia GO 330, Km 241, Anel Viário, s/n, Setor Universitário, CEP
75780-000, Ipameri-GO, Brasil.
1
2
Universidade Estadual de Goiás, Departamento de Agronomia e
Engenharia Florestal, Rodovia GO 330, Km 241, Anel Viário, s/n, Setor
Universitário, CEP 75780-000, Ipameri-GO, Brasil.
3
Embrapa arroz e feijão, Departamento de Melhoramento de feijão,
Goiânia, GO, Embrapa Arroz e Feijão, Rodovia GO-462,(GoiâniaNova Veneza), km 12, Zona Rural, C.P. 179, 75375-000, Santo Antônio
de Goiás, GO, Brasil.
*e-mail: [email protected]
Revista Processos Químicos
49
50
Revista Processos Químicos
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 7
Eficiência Nutricional de
Híbridos de Sorgo Granífero
ao Fósforo Avaliados sob
Diferentes Condições
Ambientais
Fabricio Rodrigues, Mylla C. Ribeiro, Felipe R. Costa, Leandro F.
Damaso, Jéssica S. Pacheco, Daiane M. Duarte & Cleiton G. S.
Benett
O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência nutricional de dez híbridos de sorgo
granífero a doses crescentes de fósforo, em vaso e campo, utilizando a biomassa da
planta para comparar a eficiência da seleção, aliados ao ambiente. Existe diferença
significativa entre as fontes de variação híbridos e doses, entretanto, não ocorreu
para a interação híbridos x doses, impossibilitando a seleção de híbridos eficientes e
responsivos, utilizando a biomassa. A correlação fenotípica denota que as plantas
respondem fisiologicamente da mesma forma, em vaso e em campo, sendo confirmados
pela correlação ambiental, no qual possuíram valores expressivos e significativos.
Palavras Chaves: estresse; biomassa; correlação ambiental.
The objective of this study was to evaluate the nutritional efficiency of ten sorghum
hybrid , in increasing levels of phosphorus, vase and field, using plant biomass to
compare the efficiency of selection, combined with the environment. There is a
significant difference between the sources of variation hybrids and levels, however, the
interaction hybrid x levels not was significant, thus precluding the selection of efficient
and responsive hybrid, using biomass. The phenotypic correlation indicates that plants
respond physiologically similarly, in the vase and field, confirmed by environmental
correlation, being significant and expressive values.
Key words: stress; biomass; environmental correlation.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
51
Artigo Geral 7
Introdução
A produção mundial de sorgo, para a safra 2012/13,
está estimada em 59,2 milhões de toneladas, 8,4%
acima dos 54,6 milhões de toneladas alcançadas na safra
2011/12. Entretanto, mesmo com esse aumento na safra,
ainda é considerada baixa, pois, ao analisar o período
compreendido entre 2008 a 2013, a produção mundial
recorde foi de 66,0 milhões de toneladas, alcançada na
safra 2007/08. Além disso, observa-se que a produção
mundial, na safra 2012/13, ainda é 2% inferior à produção
média dos últimos cinco anos1.
No Brasil, o sorgo é cultivado em todas as regiões
do país, todavia, a produção nacional concentra-se nos
Estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, juntos,
produziram, na safra 2011/12, 1,7 milhão de tonelada,
sendo o estado do Goiás o maior produtor, com 999 mil
toneladas1. Dentre os principais fatores responsáveis pela
baixa produtividade, nas áreas destinadas à produção
dessas plantas, destacam-se as precipitações irregulares, a
fertilidade do solo e as baixas aplicações de fertilizantes2,
em que normalmente o sorgo é utilizado, visando ao
aproveitamento da adubação do plantio anterior e que
pouco do que foi extraído do solo, é reposto.
Os solos brasileiros são carentes de fósforo (P),
em consequência do material de origem e da forte
interação do fósforo com o solo, em que menos de 0,1%
encontra-se em solução, logo, a aplicação de P em doses
elevadas em solos do cerrado é justificada pela intensa
fixação desse elemento, ocasionando baixo conteúdo
de fósforo disponível no solo3. Além disso, o excesso
causa aumento no custo de produção e sem retorno
econômico, nos casos em que os genótipos possuem
baixa capacidade em usar o fósforo adsorvido ao
solo. Recentemente, um estudo chinês, realizado com
dados de 1980 a 2005, comprovou que grande parte
do nitrogênio e do fósforo aplicado pela agricultura,
foi perdida e que não contribui em nada para aumentar
a produção chinesa. Como consequência, causou
contaminação dos rios das regiões norte, sul e leste
do país4, o que torna mais evidente o termo manejo
sustentável. O sistema agrícola atual está baseado em
patamares de produção, sustentados por expressivas
toneladas de adubações e, o melhoramento vegetal de
diversas culturas desenvolveu, sob o ideal da revolução
verde, ideais contrários ao sistema da sustentabilidade.
52
Revista Processos Químicos
A grande expansão do cultivo do sorgo,
principalmente em plantios de sucessão a culturas
de verão, tem gerado grande demanda por cultivares
produtivas e com valor agregado para adaptação às
condições predominantes nas regiões de plantio5,
inclusive para a deficiência de fósforo (P). Entretanto,
pouco se conhece da eficiência nutricional dos
híbridos de sorgo que estão no mercado atualmente
e, além disso, quais seriam mais eficientes em regiões
com maior deficiência de fósforo, quais seriam mais
responsivos sob doses elevadas e, se fisiologicamente,
as plantas apresentariam o mesmo comportamento sob
diferentes condições de avaliação.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi
avaliar a eficiência nutricional de dez híbridos de sorgo
granífero a doses crescentes de fósforo, em vaso e
campo, utilizando a biomassa da planta para comparar
a eficiência da seleção aliada ao ambiente em que os
híbridos foram testados.
Materiais e Métodos
O experimento foi realizado no período da safra
convencional 2010/11, na fazenda experimental da
Universidade Estadual de Goiás localizada em Ipameri
(Latitude 170 43’ S, Longitude 480 08’ N), a 790 metros
de altitude.
Foram utilizados dez híbridos comerciais de sorgo
granífero (BRS308, BRS309, BRS310, BRS330,
BRS332, AG1040, DKB551, 50A50, AS4610 e 1G282),
em três doses de fósforo, sob duas condições de cultivo,
em vaso e campo.
Experimento em vaso
O delineamento experimental utilizado foi o
de blocos casualizados, no arranjo fatorial simples,
constituído de dez híbridos de sorgo granífero, em três
níveis de fósforo, com três repetições. A parcela foi
representada por três plantas, em um vaso de 15 litros,
o qual foi preenchido com solo de cerrado, proveniente
de uma área que apresentava deficiência de P, pela
análise química (Tabela 1). Posteriormente, realizou-se a
homogeneização do solo, a calagem e, logo após 15 dias,
a adubação, conforme a necessidade da planta e visando
a uma produtividade média de 12.000 kg ha-1para todos
os nutrientes, exceto o P.
Jan / Jun de 2013
As adubações de P foram 50, 100 e 150% do necessário
para o desenvolvimento adequado da planta, em que a
dose 50% representa somente a metade do necessário para
a cultura do sorgo; a dose 100% representa a adubação
ideal e a dose 150%, representa um incremento de 50%,
no que é necessário para a cultura. Foram plantadas nove
sementes por vaso, sendo o desbaste realizado 15 dias
após o plantio, permanecendo apenas três plantas por
vaso e irrigados a cada dois.
Os caracteres avaliados foram massa fresca da parte
área (MF) e massa seca da parte área (MS), avaliadas
aos 90 dias após o plantio, em que as três plantas foram
cortadas com o auxílio de uma tesoura de poda e pesadas
frescas e, então, colocadas em saquinhos de papel para
a pesagem. Logo após, os saquinhos foram colocados
na estufa por um período de 72 horas a 70°C e, então,
pesados para determinação da massa seca.
Experimento campo
O preparo do solo foi realizado de maneira
convencional com uma aração e duas gradagens,
sendo utilizado um cultivador para abertura dos
sulcos. O delineamento experimental utilizado foi o
de blocos casualizados, no arranjo fatorial simples,
com dez híbridos de sorgo granífero, em três níveis
de P, com três repetições, em que cada parcela
era representada por uma linha de seis metros. O
desbaste foi realizado manualmente, quando as
plantas apresentavam-se com três a quatro folhas
totalmente expandidas, deixando-se cinco plantas
por metro, sendo irrigado a cada dois dias.
A adubação de plantio e cobertura, assim como
a calagem, foi realizada a partir da análise de solo,
adotando-se as doses de 50, 100 e 150% de P, ou
seja, metade do que seria recomendado para a cultura,
adubação adequada e 50%, a mais, do que seria
recomendado para a cultura do sorgo, respectivamente,
somente para fósforo. Para os demais nutrientes,
aplicou-se a dose recomendada para a cultura, visando
a uma produtividade média de 12.000kg ha-1.
As avaliações de campo foram realizadas aos 90
dias, com a extração de três plantas aleatórias de cada
parcela e, então, avaliadas quanto à massa fresca da parte
aérea (MF) e massa seca da parte aérea (MS), sendo as
plantas cortadas com o auxílio de uma tesoura de poda e
Jan / Jun de 2013
colocadas em saquinhos de papel para a pesagem. Logo
após, os saquinhos foram colocados na estufa por um
período de 72 horas a 70°C e, posteriormente, pesados
para determinação da massa seca.
Análise dos dados
A análise dos dados foi realizada no programa
estatístico GENES6, calculando-se a média e a interação
entre os híbridos e as doses, por meio da análise de
variância individual e conjunta, utilizando os seguintes
modelos matemáticos para análise de variância:
Yij = µ + gi + bj + eij (Individual)
(1)
em que: Yij = observação feita na parcela do i-ésimo
tratamento no j-ésimo bloco; µ = média geral; gi = efeito
do i-ésimo híbrido; bj = efeito do j-ésimo bloco; eij =
efeito dos fatores não controlados na parcela que recebeu
o i-ésimo híbrido no j-ésimo bloco.
Yijk = µ + gi + aj + gaij + bk/aj + eijk (Conjunta)
(2)
em que: Yijk = observação feita na parcela do i-ésimo híbrido
no j-ésimo bloco; µ = média geral; gi = efeito do i-ésimo
genótipo; aj = efeito da j-ésimo dose; gaij = efeito da interação
do i-ésimo híbrido com a j-ésimo dose; bk/aj = efeito do
k-ésimo bloco dentro da j-ésimo dose; eijk = efeito dos fatores
não controlados na parcela que recebeu o i-ésimo genótio no
j-ésimo ambiente dentro do k-ésimo bloco. Posteriormente,
estimados os coeficientes da correlação fenotípica, ambiental
e a herdabilidade no sentido amplo, entre os caracteres,
utilizando as expressões apresentadas por Cruz e Regazzi6.
Resultados e Discussão
O resumo da análise de variância conjunta, para
todos os caracteres avaliados, está apresentada na
Tabela 2. Paras as fontes de variação híbridos e,
também, doses, houve diferença significativa a 1 e 5%
para todas as variáveis analisadas, independente da
condição ambiental em que a biomassa foi avaliada.
Entretanto, a fonte de variação híbridos x doses, não
apresentou diferença significativa (P≤0,05), para todos
os caracteres avaliados. Isso indica que os híbridos
testados apresentaram o mesmo comportamento nas
diferentes doses de fósforo (Tabela 2).
Revista Processos Químicos
53
Artigo Geral 7
Tabela 1. Principais atributos químicos do solo (0-20 cm de profundidade), 30 dias antes da aplicação dos fertilizantes e do calcário, no sulco de
semeadura. Ipameri, GO, 2013.
Solo
pH
M.O.
Presina
(CaCl2)
(g dm-3)
(mg dm-3)
4,3
16,2
2,4
0-20 cm
H+Al
41,8
Tabela 2. Resumo da análise de variância conjunta e estimativa
da herdabilidade (h2) para os caracteres massa fresca da parte
área (MFPA) e massa seca da parte área (MSPA), avaliados em
vaso e campo, sob diferentes doses de fósforo no solo.
Universidade Estadual de Goiás, Ipameri, GO, 2013.
QM
GL
MF1
MS1
MF2
MS2
Híbridos
9
5271,73**
271,35**
108885,51**
47141,78**
Doses
2
13085,46**
238,68*
434333,22**
159753,18**
Híbridos
x doses
18
1096,27 n.s.
88,19 n.s.
19295,03 n.s.
9740,91 n.s.
Repetição
2
1612,33
86,44
53112,10
7943,20
Erro
58
830,70
51,25
22471,83
9547,44
CV (%)
-
25,34
18,97
30,02
32,87
CVg (%)
-
20,49
13,40
20,49
28,35
h2/Dose 50%
-
36,66
31,43
72,26
64,71
h2/Dose 100%
-
70,43
87,56
63,80
56,25
h2/Dose 150%
-
76,24
73,97
14,62
4,18
* e ** significativo a 5 e 1% de probabilidade, pelo teste F; ns - não significativo;
1
e 2 – Biomassa avaliada sob condições de vaso e campo, respectivamente.
54
Revista Processos Químicos
Ca
Mg
SB
CTC
V%
12,8
54,6
23,4
mmolc dm-3
Para Carvalho7, essa falta de interação não é
esperada, quando se trabalha com grupos de cultivares
com alta variabilidade genética, havendo diferença entre
eles para diversas características morfofisiológicas.
Normalmente, os solos das regiões tropicais, além da
deficiência generalizada, apresentam alta capacidade de
fixação de fosfato (adsorção e precipitação), limitando
a produtividade das culturas nessas áreas8. Apesar da
calagem e da adubação com 50% a mais de P, as plantas
podem ter os mesmos mecanismos de expressão gênica
para produção de raiz, dessa forma, o mesmo resultado por
não conseguirem acessar o P disponível no solo. O contato
do íon fosfato nas raízes ocorre, preferencialmente, por
difusão, razão pela qual a absorção do nutriente depende
do volume de solo explorado pelas raízes9.
FV
K
1,5
8,5
2,8
O coeficiente de variação (CV%) representa a
precisão experimental, nota-se que os maiores valores
foram apresentados pelas variáveis analisadas a campo,
entretanto, os valores são considerados similares aos
citados na literatura. Percebe-se que, quando os estudos
estão relacionados à eficiência nutricional ao P, em
diferentes culturas, por exemplo, sorgo10, 11, milho12 e
pimentão13 ou sob condições de outros estresses, como
hídrico14, esses valores apresentam alta variação entre as
doses testadas, características analisadas, genótipos e a
safra em questão.
Testando a resposta da cultura do sorgo granífero,
na safrinha, em nível de campo, submetidos a diferentes
doses e fontes de nitrogênio em cobertura, Goes15 e
colaboradores obtiveram valores bem abaixo para matéria
seca (1,64%), tal êxito foi alcançado por apresentar uma
repetição a mais e, além disso, uma área útil três vezes
maior do que a apresentada neste experimento.
No caso de competição de plantas por nutrientes, o
CV% encontrado é mais condizente com o de trabalhos
de eficiência nutricional, visto que as plantas necessitam
aprofundar suas raízes em busca de nutrientes. Lopes16,
estudando o comportamento de plantas de sorgo a
diferentes espaçamentos encontrou CV% variando de 15,1
a 37,3%, sendo a média em torno de 25%, indicando que a
precisão experimental também está ligada ao estande final,
no qual a menor área útil para a planta aumenta a relação
de deficiência e variação entre os dados. É conveniente,
em experimentos dessa natureza, a utilização de parcelas
experimentais maiores, com maior número de fileiras
e, também, um maior número de repetições, a fim de
alcançar uma precisão maior e obter êxito com a seleção
de cultivares eficientes e responsivos ao P.
Os valores dos coeficientes de variação genética
(CVg) refletem a boa variação entre os híbridos, apesar de
ser mais relevante no caráter MS, com valor de 28,35%,
quando avaliado a campo (Tabela 2). O CVg representa
Jan / Jun de 2013
a razão, expressa em porcentagem, entre o desvio do
padrão genético e a média das cultivares, indicando
existir diversidade entre os híbridos testados, apesar de
serem provenientes, em sua maioria, do Programa de
Melhoramento da Embrapa Milho e Sorgo.
A herdabilidade (h2) permite antever a possibilidade
de sucesso com a seleção, uma vez que ela reflete a
proporção da variação fenotípica que pode ser herdada.
Verifica-se que o ganho com a seleção será mais
eficiente, se a seleção for realizada em vaso, nas doses
100% e 150%, tanto para MF quanto para MSPA, com
valores variando de 70,43 a 87,56%, similares a outros
trabalhos17,18. Percebe-se que, se a seleção for visando
híbridos mais responsivos, a análise deveria ser feita
utilizando vasos. Entretanto, quando o interesse do
programa for a eficiência dos híbridos de sorgo, as
análises deveriam ser realizadas a campo, dessa forma,
obtendo o máximo de êxito, de acordo com a Tabela 2.
Detecta-se que os híbridos de melhor desempenho para
MF e MS, simultaneamente, sob condições de vaso, foram os
híbridos AG1040, BRS 330, BRS 332 e o DKB 551 (Tabela
3). Em contrapartida, o híbrido de melhor desempenho, sob
condições de campo, simultaneamente, para as duas variáveis
analisadas, foi somente o híbrido 1G282. Indicando que a
seleção deve menos criteriosa quando for realizada a campo
e com um maior número de variáveis para confirmar o
desempenho dos genótipos testados. É conveniente salientar
que as folhas e colmos (biomassa da parte aérea) não sofreram
quaisquer alterações nas diferentes doses, indicando que esses
caracteres podem auxiliar na seleção, mas, que prejudicariam
o programa de melhoramento, se utilizados sem qualquer
outro critério, como a produtividade, para a avaliação da
eficiência e resposta.
A correlação tem importância no melhoramento de
plantas porque quantifica o grau de associação genético
e não-genético entre dois ou mais caracteres. A eficiência
da seleção de um caráter pode ser aumentada com a
utilização de caracteres agronômicos correlacionados19.
Assim, se existir correlação entre caracteres avaliados em
vaso, com caracteres avaliados em campo, isso reduziria
o tempo e a área que são gastos na avaliação de um
grande número de híbridos, testados em campo. Outro
ponto a se considerar é que estas associações quantificam
a possibilidade de ganhos indiretos por seleção em
caracteres correlacionados.
Jan / Jun de 2013
Tabela 3. Médias dos caracteres massa fresca da parte área (MF)
e massa seca da parte área (MS), avaliados em vaso e campo, sob
diferentes doses de fósforo no solo. Universidade Estadual de Goiás,
Ipameri, GO, 2013.
HÍBRIDOS
MF1
MS1
MF2
MS2
1G282
92,38 b
29,76 c
709,09 a
384,97 a
50A50
90,87 b
31,42 c
443,01 c
175,66 b
AG1040
146,54 a
43,31 a
427,01 c
212,96 b
AS4610
123,38 a
36,27 b
574,19 b
297,98 a
BRS308
88,01 b
36,83 b
414,06 c
170,69 b
BRS309
79,44 b
30,16 c
379,09 c
190,59 b
BRS310
86,10 b
36,06 b
324,57 c
131,58 b
BRS330
120,28 a
40,17 a
497,90 b
232,56 b
BRS332
132,57 a
45,72 a
526,20 b
228,86 b
DKB551
132,01 a
40,68 a
527,56 b
253,24 b
Médias
109,16
37,04
482,27
227,91
Médias seguidas pela mesma letra na vertical, não diferem entre si pelo teste de Scott Knott a
5% de probabilidade;
1
e 2 – Biomassa avaliada sob condições de vaso e campo, respectivamente.
Observa-se, conforme a Tabela 4, que a maioria das
correlações foram significativas, exceto para MF, obtida
no experimento em campo, na dose 50% e a MF na dose
100% obtida em vaso e, também, entre a MF na dose
100% avaliada em campo e a MF na dose 50% avaliada
em vaso.
Isto sugere a possibilidade de avaliação de híbridos,
em vaso, com a possibilidade dos resultados serem
extrapolados para campo, justificando que é possível
a avaliação prévia em vaso e, posterior avaliação em
campo. O resultado esperado seria que as correlações
fossem altas, tanto para MF quanto para MS, quando
estivessem sob o mesmo estresse ou sob a mesma
condição de adubação, neste caso, confirmados pelos
altos valores obtidos na diagonal da Tabela 4 e 5.
A correlação ambiental indica que se os caracteres
envolvidos são afetados pela variância ambiental de modo
análogo, ou seja, se a estimativa da correlação ambiental
é alta e positiva, depreende-se que os dois caracteres, que
são influenciados pela variação ambiental, são afetados
igualmente pelos caracteres. Se a situação ocorre em
sentido contrário (correlação negativa), isto é, em direção
contrária, os ambientes afetam de maneira contraria os
caracteres em questão.
Revista Processos Químicos
55
Artigo Geral 7
Tabela 4. Correlação fenotípica entre os caracteres de massa fresca da
parte área das plantas, avaliados em vaso na dose 50% (MF501), 100%
(MF1001) e 150% (MF1501) com a massa fresca avaliada em campo
na dose 50% (MF502), 100% (MF1002) e 150% (MF1502). Ipameri,
GO, 2013.
Caracteres
MF501
MF1001
MF1501
Caracteres
MS501
MF50
89,8**
26,8n.s.
61,4*
MS50
87,5**
0,76
52,9
97,7**
69,7**
MS100
60,4*
61,3*
97,9**
2
MF100
2
MF1502
n.s.
*,** - significativo a 1 e 5% pelo teste t, n.s. – não significativo; 1 e 2 – Biomassa avaliada sob
condições de vaso e campo, respectivamente.
Tabela 5. Correlação fenotípica entre os caracteres de massa seca da
parte área das plantas, avaliados em vaso na dose 50% (MS501), 100%
(MS1001) e 150% (MS1501) com a massa fresca avaliada em campo
na dose 50% (MS502), 100% (MS1002) e 150% (MS1502). Ipameri,
GO, 2013.
Caracteres
MS501
MS1001
MS1501
MS502
0,9n.s.
95,2**
53,7n.s.
2
67,7*
90,1**
58,4*
MS1502
20,2n.s.
46,2n.s.
95,5**
MS100
*,** - significativo a 1 e 5% pelo teste t, n.s. – não significativo; 1 e 2 – Biomassa avaliada sob
condições de vaso e campo, respectivamente.
Nota-se que a correlação ambiental apresentou valores altos
e significativos na diagonal (Tabela 6 e 7), demonstrando que
o comportamento dos híbridos para MF e MS, sob estresses ou
sob doses elevadas de fósforo, responderam da mesma forma
nas diferentes condições testadas. E, que a correlação fosse
não significativa, se possível, quando a comparação estivesse
sendo realizada entre as doses 50% e a dose 150%, ou seja,
ambientes contrários de avaliação da eficiência nutricional.
Percebe-se que apesar de existir correlação positiva e
significativa entre MF50, em vaso, com MF150, em campo,
o resultado é considerado baixa amplitude.
Tabela 6. Correlação ambiental entre os caracteres de massa fresca da
parte área das plantas, avaliados em vaso na dose 50% (MF501), 100%
(MF1001) e 150% (MF1501) com a massa fresca avaliada em campo
na dose 50% (MF502), 100% (MF1002) e 150% (MF1502). Ipameri,
GO, 2013.
Caracteres
MF501
MF1001
MF1501
MF502
92,1**
12,1n.s.
57,3**
MF100
23,0
n.s.
88,9**
27,6n.s.
32,5n.s.
0,13n.s.
97,4**
2
MF1502
*,** - significativo a 1 e 5% pelo teste t, n.s. – não significativo; 1 e 2 – Biomassa avaliada sob
condições de vaso e campo, respectivamente.
56
Tabela 7. Correlação ambiental entre os caracteres de massa seca da
parte área das plantas, avaliados em vaso nas dose 50% (MS501), 100%
(MS1001) e 150% (MS1501) com a massa seca avaliada em campo,
nas dose 50% (MS502), 100% (MS1002) e 150% (MS1502). Ipameri,
GO, 2013.
Revista Processos Químicos
2
2
MS1502
MS1001
n.s.
MS1501
28,0n.s.
21,9
15,6
n.s.
27,6n.s.
16,4n.s.
0,08n.s.
95,6**
n.s.
*,** - significativo a 1 e 5% pelo teste t, n.s. – não significativo; 1 e 2 – Biomassa avaliada sob
condições de vaso e campo, respectivamente.
A correlação fenotípica denota que as plantas
respondem fisiologicamente da mesma forma, em vaso
e em campo, sendo, então, comprovados pela correlação
ambiental dos caracteres MF e MS, reforçando ainda
mais a possibilidade de se fazer seleção de genótipos
superiores em vaso e, posteriormente, testá-los em
campo, com a possibilidade de obter bons resultados em
relação à eficiência nutricional em sorgo ao fósforo.
Conclusão
Existe diferença significativa entre os híbridos e as
doses testadas, entretanto, não ocorreu interação entre os
híbridos x doses, impossibilitando a seleção de híbridos
eficientes e responsivos, utilizando a biomassa.
A correlação fenotípica denota que as plantas
respondem fisiologicamente da mesma forma, em vaso e
em campo, sendo confirmados pela correlação ambiental,
no qual possuíram valores expressivos e significativos.
Referências
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de sorgo granífero. Disponível em: <http://www.conab.
gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/12_09_11_16_41_03_
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Jan / Jun de 2013
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8. Novais, R. F.; Alvarezv, V. H. ; Barros, N. F.; Fontes, R. L. F. ;
Cantarutti, R. B. ; Neves, J. C. L. Sociedade Brasileira de Ciência
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15. Goes, R. J.; Rodrigues, R. A. F.; Arf, O.; Arruda, O. G. D.; Vilela,
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Toebe, M. Ciência Rural, 2009, 39, 650.
17. Cunha, E. E.; Lima, J. M. P. Revista Brasileira de Zootecnia,
2010, 39, 701.
Jan / Jun de 2013
Fabricio Rodrigues1*, Mylla C.
Ribeiro2, Felipe R. Costa2, Leandro
F. Damaso2, Jéssica S. Pacheco2,
Daiane M. Duarte2 & Cleiton G. S.
Benett1
Universidade Estadual de Goiás, Departamento de Agronomia,
Rodovia GO 330, Km 241, Anel Viário, s/n, Setor Universitário, CEP
75780-000, Ipameri-GO, Brasil.
1
2
Universidade Estadual de Goiás, Departamento de Agronomia e
Produção Vegetal, Rodovia GO 330, Km 241, Anel Viário, s/n, Setor
Universitário, CEP 75780-000, Ipameri-GO, Brasil.
*e-mail: [email protected]
Revista Processos Químicos
57
58
Revista Processos Químicos
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 8
Adubação Orgânica
e Mineral na
Cultura do Milho
André L. S. Pereira, Adilson Pelá, Gláucia M. Pelá, Rogério N.
Gonçalves, Rodrigo T. Mendes, Odilon P. M. Júnior
Com o objetivo de avaliar a adubação orgânica e mineral na cultura do milho,
foram estudadas cinco doses de cama de aviário (0; 2,5; 5; 10 e 20 t ha-1), e cinco
doses de adubo mineral NPK (100; 200; 300; 400 e 500 kg ha-1), na formulação 0525-15, no delineamento em blocos casualizados, em esquema fatorial 5x5, com três
repetições. Verificaram-se interações significativas entre adubação com cama de aviário
e a adubação mineral para todas as variáveis estudadas. Conclui-se, de maneira geral,
que o melhor resultado foi com 15 toneladas por hectare de cama de aviário, associada
com 300 kg ha-1 de adubo mineral NPK.
Palavras-chave: Zea mays L.; sustentabilidade; cama de aviário.
This study aimed to evaluate the organic and mineral fertilization in maize. We
tested five doses of manure (0, 2.5, 5, 10 and 20 t ha-1) and five doses of mineral fertilizer
NPK (100, 200, 300, 400 and 500 kg ha-1) in the formulation 05-25-15, in a randomized
block design using a 5x5 factorial arrangement with three replications. There were
significant interactions between fertilization with poultry manure and mineral fertilizer
for all variables studied. We conclude, in general, the best result was with 15 tons per
hectare of manure associated with 300 kg ha-1 of mineral fertilizer NPK.
Keywords: Zea mays L sustainability; poultry litter.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
59
Artigo Geral 8
Introdução
A busca pelo desenvolvimento sustentável consiste
num dos maiores desafios para a humanidade e, em
especial, para o Brasil 1. O uso racional e o manejo dos
recursos naturais, principalmente do solo, da água
e da biodiversidade visam promover a agricultura
sustentável; aumentar a oferta de alimentos, trabalho
e renda no meio rural. Aumentar a produtividade
das culturas agrícolas é uma necessidade tanto
para atender à demanda por alimentos quanto para
otimizar a utilização do recurso solo. A adubação tem
papel fundamental no aumento da produtividade das
culturas, mas sua utilização deve ocorrer de forma
eficiente, evitando desperdícios e a contaminação
ambiental.
Entre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o
mais expressivo em termos de produtividade. De acordo
com suas características fisiológicas, a cultura tem alto
potencial produtivo. No entanto, a produtividade média
nacional, está em torno de 4,4 t ha-1, sendo considerada,
ainda, muito baixa2, demonstrando que os diferentes
sistemas de produção de milho deverão ser ainda bastante
aprimorados para se obter aumento na produtividade e na
rentabilidade dos produtores3.
Das tecnologias disponíveis no meio agrícola, a
adubação tem sido considerada a mais limitante para o
aumento da produtividade das lavouras de milho4. A não
utilização de adubação mineral, de forma, satisfatória
nessa cultura tem sido atribuída, em primeira instância,
ao elevado custo dos fertilizantes. Portanto, isso tem
forçado os produtores a buscar formas de cultivo que
apresentem menores custos de produção, que causem
menos danos possíveis ao meio ambiente, principalmente
ao solo, objetivando um manejo conservacionista, com
redução na dependência dos fertilizantes5,6,7,8. Entretanto,
somente com a utilização de adubo químico, não é
possível manter a produtividade em níveis satisfatórios,
por um longo prazo9.
Com a acelerada degradação dos solos sob
cultivo intensivo e da utilização de áreas com baixa
fertilidade, têm sido preconizadas várias alternativas
para a elevação da produtividade da cultura do milho,
tais como a incorporação de resíduos culturais; a
adubação verde; o uso de compostos orgânicos e os
resíduos de animais10. Por sua vez, a grande exigência
60
Revista Processos Químicos
de nitrogênio torna a cultura do milho altamente
responsiva à adubação nitrogenada11. Em solos de boa
fertilidade ou devidamente corrigidos, é o nitrogênio
que controla os níveis de produtividade do milho12.
Dentre as fontes de nitrogênio que se encontram
disponíveis para utilização, tem-se a adubação
orgânica e a adubação mineral13.
Com a existência de uma considerável quantidade
de resíduos orgânicos de origem animal, principalmente
de bovinos e aves, disponíveis atualmente, prontamente
disponíveis para o uso imediato como composto orgânico,
provenientes de um grandes número de confinamentos e
granjas distribuídos pelas diferentes regiões de produção
agrícola, a adubação orgânica, ou mesmo a associação
desta com a adubação mineral, tem-se constituído em
alternativas economicamente viáveis para a maioria dos
produtores10.
Nos últimos anos, a utilização de cama de aviário
obteve aumento considerável no Brasil, por representar
uma importante fonte alternativa de fertilizante para a
agricultura14, na qual sua utilização contínua melhora as
propriedades químicas, físicas e biológicas do solo15. Em
alguns casos, em especial, nas pequenas propriedades
rurais, pode representar a única fonte de nutrientes
aplicada às culturas agrícolas.
O uso de matéria orgânica permite uma
racionalização de até um terço na utilização do adubo
mineral, porque promove aumento na CTC, evitando
perdas por lixiviação, melhorando a agregação;
diminuindo a plasticidade e a coesão; diminuindo a
oscilação de temperatura e ajudando na liberação dos
nutrientes à planta16. A demanda de nutrientes, exigidos
pela cultura, é diferente da necessidade de adubação e
correção, de tal modo que, para se obter rendimentos
satisfatórios nas culturas é preciso o uso racional de
adubos orgânicos complementados com fertilizantes
minerais. Para a utilização da adubação organomineral,
são necessários programas de estabelecimento de
adubação, visando conseguir que ambos os tipos de
fertilizantes contribuam adequadamente nos cálculos
das doses indicadas para as culturas17.
Com base nessas considerações, o presente trabalho
teve por objetivo avaliar o efeito das adubações orgânica
e mineral na produtividade e componentes de rendimento
da cultura do milho.
Jan / Jun de 2013
Material e Métodos
O experimento foi realizado na fazenda experimental
da UEG-Universidade Estadual de Goiás, UnU de
Ipameri-GO, na safra 2009/2010, em Latossolo
Vermelho-Amarelo Distrófico (Embrapa, 1999), cujas
coordenadas geográficas são 17º43’20” de latitude
sul e 48º09’44”de longitude oeste e altitude de 800
m. O clima predominante da região é Aw, segundo a
classificação de Koppen.
O delineamento experimental utilizado foi em
blocos casualizados, em esquema fatorial 5x5, com três
repetições. O primeiro fator consistiu em cinco doses
de cama de aviário (CA) 0; 2,5; 5; 10 e 20 Mg ha-1, e
o segundo fator, em cinco doses de adubo mineral NPK
de formulação 05-25-15 (100, 200, 300, 400 e 500
kg ha-1). As características químicas do solo da área
experimental, antes da aplicação do corretivo, bem
como a caracterização do composto orgânico utilizado
no experimento encontram-se na Tabela 1. Convém
salientar que a área apresentava anteriormente ao
período de estudo, pastagem com braquiária (Brachiaria
decumbens) em sistema extensivo de manejo, o que
explica a baixa fertilidade do solo.
Foi realizada a calagem, visando elevar a saturação
de bases do solo a 60%, com aplicação de 1,33 Mg ha-1
de calcário dolomítico (PRNT 85%), 30 dias antes da
semeadura e incorporada a 20 cm de profundidade no solo
por meio de gradagens. O preparo do solo foi realizado
da seguinte forma: aração,por meio de duas gradagens,
na camada de 0-20 cm com grade intermediária; uma
gradagem de nivelamento e destorroamento da superfície
do solo com grade leve. A aplicação da CA foi realizada a
lanço na área de cada parcela, com a dose correspondente
ao tratamento (0; 2,5; 5; 10 e 20 Mg ha-1) e incorporadas
20 dias antes da semeadura com grade leve. Foram
abertos sulcos utilizando um cultivador, para aplicação do
fertilizante mineral, a 10 cm de profundidade. A adubação
mineral de semeadura, com uso de formulado NPK (0525-15), consistiu da aplicação das seguintes doses de N,
P2O5 e K2O: 100 (22,6-25-15 kg ha-1); 200 (45,2-50-30 kg
ha-1); 300 (67,8-75-45 kg ha-1); 400 (90,4-100-60 kg ha-1) e
500 (113-125-75 kg ha-1). Para adubação de cobertura, foi
utilizado como fonte de N a uréia, com dose equivalente a
2/3 da dose de N, da dose total do respectivo tratamento,
aos 30 dias após emergência da cultura.
Jan / Jun de 2013
Tabela 1. Caracterização química do solo da área experimental e da
cama de aviário utilizada.
Caracterização
do Solo
Caracterização
da cama de avário
Característica
Valor
Característica
Valor
pH em H2O
4,3
Matéria Orgânica
(g kg-1)
74
Matéria
Orgânica
(g dm-3)
24,0
Nitrogênio
(g kg-1)
2,4
Al Trocável
(cmolc dm-3)
0,3
Relação C/N
17
Cálcio
(cmolc dm-3)
0,5
Cálcio (g kg-1)
4,23
Magnésio
(cmolc dm-3)
0,2
Magnésio (g kg-1)
0,83
H + Al (cmolc
dm-3)
2,5
Potássio (g kg-1)
2,90
CTC Total
(cmolc dm-3)
3,3
Fósforo (g kg-1)
5,14
Potássio
(mg dm-3)
47
Enxofre (g kg-1)
0,42
Fósforo
(mg dm-3)
5,6
Sódio (mg kg-1)
5680
Saturação por
bases (%)
25,5
Ferro (mg kg-1)
51500
__
_
Manganês
(mg kg-1)
1066
__
_
Zinco (mg kg-1)
1060
__
_
Cobre (mg kg-1)
158
As unidades experimentais foram compostas por
quatro fileiras de plantas com 4,0 m de comprimento,
espaçadas 0,9 m entre si. As sementes do híbrido
simples AGN 30A95 foram semeadas manualmente
para a obtenção de uma população de 65 mil plantas
por hectare, a 5 cm de profundidade no mesmo
sulco da adubação. Posteriormente, para a obtenção
dos dados, utilizaram-se as duas fileiras centrais,
eliminando-se 0,5 m nas extremidades, perfazendo
uma área útil de 10,8 m2.
O controle de doenças foi realizado de forma
preventiva, com duas aplicações de fungicida. A primeira
aplicação foi realizada com a cultura em estádio V8, com
aplicação do produto à base de mistura de azoxystrobin +
ciproconazole, na dose de 0,3 L ha-1 mais o óleo mineral
Revista Processos Químicos
61
Artigo Geral 8
a 0,5 L ha-1 e, a segunda, com a mesma dose no período
inicial da emissão da espiga.
Para o controle da lagarta do cartucho do milho foi
utilizado inseticida fisiológico do grupo benzoiluréia,
composto com Triflumurom a 480 g L-1, sendo aplicado
numa dose de 125 ml ha-1, aos 20 dias após emergência
e, visando ao controle das plantas daninhas, foi realizada
uma capina manual nos estágios iniciais da cultura.
A colheita do milho foi realizada 142 dias após a
emergência, sendo avaliados os seguintes parâmetros:
a altura total de planta, medindo-se da base ao pendão,
a partir de 10 plantas medidas ao acaso; diâmetro do
colmo, medindo-se dois diâmetros perpendiculares, na
altura da base, a partir de 10 plantas medidas ao acaso;
a produtividade de grãos, determinada pela pesagem
dos grãos produzidos em cada parcela, corrigindo-se
o teor de água para 14%; número de grãos por fileira,
obtido pelo número médio de grãos de quatro fileiras
por espiga, utilizando-se 10 espigas representativas
por parcela; número de fileiras por espiga, obtido pelo
número médio de fileira de 10 espigas representativas
por parcela; massa seca de 100 grãos, obtido pela média
de quatro amostras da parcela e, massa seca de planta,
obtida pela pesagem de duas plantas da parcela, que
foram submetidas à secagem, em estufa a 70ºC até o
seu peso constante.
Os dados foram submetidos à análise de variância e
regressão, adotando-se nível de 5% de probabilidade, para
o erro tipo I, utilizando-se o software estatístico SISVAR.
Resultados e Discussão
Na Tabela 2, são apresentadas as equações ajustadas,
obtidas pela análise de regressão, relacionadas à
produtividade e componentes de rendimento da cultura do
milho. Constatou-se que houve interações significativas
entre cama de aviário e a adubação mineral para todas
as variáveis estudadas.Todas as variáveis apresentaram
ajustes lineares ou quadráticos e, também, significativos
com as doses de cama de aviário aplicadas.
Em relação às doses de NPK, apenas as variáveis
produtividade de grãos e massa seca de 100 grãos
apresentaram ajustes lineares e quadráticos significativos,
entretanto, as variáveis número de grãos por fileira de
espiga, altura de plantas e diâmetro do colmo com relação
significativa apenas para ajuste linear (Tabela 2).
Na Tabela 3, são apresentadas as equações de
regressão para as variáveis produtividade de grãos,
número de grãos por fileira de espiga, massa seca de 100
grãos, altura de plantas e diâmetro do colmo, ajustadas em
resposta à adubação NPK nas diferentes doses de cama
de aviário. Os ajustes significativos para a produtividade
em função das doses de NPK foram obtidos apenas com
0 e 2,5 Mg ha-1 de cama de aviário, com comportamento
linear e, com a dose de 10 Mg ha-1, com ajuste quadrático
(Tabela 3). Na ausência de aplicação de cama de aviário,
obteve-se um incremento de 800 kg ha-1 de grãos para
cada 100 kg ha-1 de NPK e produtividade máxima de
7009 kg ha-1. Quando utilizada 2,5 Mg ha-1 de cama de
Tabela 2. Resumo do quadro de análise de variância para os ajustes da análise de regressão entre os adubos cama de aviário e NPK sobre as variáveis
estudadas. UEG – Ipameri, GO, 2010.
Efeitos
Variável – resposta
NPK
Q
L
Q
NPK x
Cama de aviário
CV %
L
Produtividade (kg ha-1)
**
**
**
**
**
12,34
Nº de fileiras de grãos/ espiga
ns
ns
**
**
**
4,12
Nº de grão/ fileira de espiga
*
ns
**
**
**
8,90
Massa seca de 100 grãos (g)
**
*
**
*
**
5,73
Matéria seca de plantas (kg ha )
ns
ns
*
*
*
22,90
Altura de plantas (m)
**
ns
**
**
**
16,02
Diâmetro do colmo (m)
*
ns
**
**
**
10,81
-1
Cama de aviário
ns: não significativo a 5% pelo teste F;
*, **: significativo a 5 % e 1% pelo teste F, respectivamente.
L: efeito linear;
Q: efeito quadrático.
62
Revista Processos Químicos
Jan / Jun de 2013
Tabela 3. Equações de regressão para as variáveis relacionadas à produtividade de grãos e componentes de rendimento da cultura do milho em respostas à
adubação NPK nas diferentes doses de cama de aviário.
Variável-resposta
Cama de Aviário (Mg ha-1)
0
y = 7,9948x + 3012,8
0,71**
Produtividade de grãos (t ha-1)
2,5
y = 5,5246x + 5504,3
0,91**
Número de grãos por fileira de espiga
Massa seca de 100 grãos (g)
Equação de regressão
R2
10
y = - 0,0475x2 + 28,642x + 6911
0,59**
0
y = 0,0232x + 15,048
0,98**
2,5
y = 0,0162x + 21,277
0,91**
y = - 0,00005x2 - 0,0348x + 30,759
0,99*
5
20
y = - 0,0069x + 29,72
0,48*
Altura de plantas (m)
0
y = 0,0008x + 1,5339
0,66**
Diâmetro do colmo (cm)
0
y = 0,009x + 12,873
0,54*
*, **: significativo a 5 % e 1% pelo teste F, respectivamente.
aviário houve um incremento, aproximando-se de 600
kg ha-1 de grãos para cada 100 kg ha-1 de NPK aplicado,
porém, com produtividade máxima de 8266 kg ha-1,
superior à obtida na ausência de adubação orgânica. Já na
dose de 10 Mg ha-1 de cama de aviário estimou-se uma
produtividade máxima de 11.270 kg ha-1 de grãos, com a
aplicação de 304 kg ha-1 de NPK.
Ajustes lineares significativos do número de grãos
por fileira de espiga em função da adubação NPK foram
obtidos com as doses de 0 e 2,5 Mg ha-1 de cama de
aviário. Sem a aplicação de cama de aviário, obteve-se um
incremento de 2,3 grãos por fileira para cada 100 kg ha-1
de NPK aplicado, enquanto que, para a dose de 2,5 Mg ha-1
de cama de aviário, obteve-se um incremento de 1,6 grãos
para cada 100 kg ha-1 de NPK aplicado. Quanto à massa
seca de 100 grãos, para a dose de 20 Mg ha-1 de cama de
aviário, verificou-se decréscimo de 0,005 g, para cada
100 kg ha-1 de NPK aplicado. Já para a dose de 5 t ha-1 de
cama de aviário, obteve-se resposta quadrática, com valor
mínimo obtido com a dose de 340 kg ha-1 de NPK.
Os ajustes lineares significativos, na ausência de
adubação com cama de aviário, em função da adubação
NPK ocorreram para as variáveis altura de plantas e
diâmetro do colmo, sendo que, para cada 100 kg ha-1
de NPK aplicado, houve redução de 8 cm em altura de
planta e 0,9 cm em diâmetro do colmo.
Pelo desdobramento das doses do adubo mineral,
verificaram-se ajustes significativos em todas as doses de
Jan / Jun de 2013
NPK, para a variável produtividade de grãos (Tabela 4).
Quando utilizou-se 200 kg ha-1 de NPK houve resposta
linear à aplicação de cama de aviário, obtendo-se um
incremento de 281 kg ha-1 de grãos para cada tonelada de
cama de aviário aplicada. Assim como na dose de 500 kg
ha-1 de NPK, em que também se verificou ajuste linear,
com incremento de 173 kg ha-1 de grãos para cada tonelada
de cama de aviário aplicada, no entanto, com incremento
de 38% menor que na dose de 200 kg ha-1 de NPK. Para
as doses de 100 e 400 kg ha-1 de NPK, verificou-se ajuste
quadrático, com produtividades máximas de 10.995 kg ha-1
de grãos na dose de 100 kg ha-1 de NPK, com a dose de
cama de aviário estimada em 16,8 t ha-1, e 10.506 kg ha-1 de
grãos na dose de 400 kg ha-1 de NPK, com a dose de cama
de aviário estimada em 16,6 Mg ha-1. Na dose de 300 kg ha-1
de NPK, que também obteve ajuste quadrático, observou-se
produtividade de grãos de 12.180 kg ha-1 com a dose de 14,8
Mg ha-1 de cama de aviário, com 10,7 % de produtividade
superior à obtida com 100 kg ha-1 de NPK.
Quanto ao número de fileiras de grãos, a dose de
100 kg ha-1 de NPK proporcionou quantidade máxima de
17,88 fileiras, quando associado a uma dose estimada de
14,3 Mg ha-1 de cama de aviário. Já para a dose de 300 kg
ha-1 de NPK, a quantidade máxima de fileiras foi de 17,95
unidades, quando associado à dose estimada de 11,79 Mg
ha-1 de cama de aviário, enquanto que na dose de 500 kg
ha-1 de NPK, foram obtidas 17,82 fileiras, com uma dose
estimada de 13,17 Mg ha-1 de cama de aviário.
Revista Processos Químicos
63
Artigo Geral 8
Tabela 4. Equações de regressão para as variáveis relacionadas à produtividade de grãos e componentes de rendimento da cultura do milho, em respostas à
adubação com cama de aviário nas diferentes doses do adubo mineral NPK.
Variável - resposta
Produtividade de grãos (t ha-1)
Número de fileiras de grãos por espiga
Número de grãos por fileira de espiga
Massa seca de 100 grãos (g)
Massa seca de planta (g)
Altura de plantas (m)
Diâmetro do colmo (cm)
NPK (kg ha-1)
Equação de regressão
R2
100
y = -0,027x2 + 0,9119x + 3,3126
0,97**
200
y = 0,2812x + 6,0896
0,91**
300
y = -0,0327x2 + 0,9705x + 5,0176
0,94**
400
y = -0,0147x2 + 0,5001x + 6,3392
0,95*
500
y = 0,173x + 7,37
0,87**
100
y = - 0,0135x2 + 0,3718x + 15,232
0,72**
200
y = 0,0813x + 16,297
0,44**
300
y = - 0,0191x2 + 0,4484x + 15,322
0,78**
500
y = - 0,0178x2 + 0,4487x + 14,874
0,84**
100
y = - 0,0754x2 + 2,3532x + 16,95
0,99**
200
y = - 0,0648x2 + 2,0047x + 19,61
0,95**
300
y = - 0,0532x2 + 1,7819x + 22,87
0,99**
400
y = 0,579x + 25,484
0,97**
500
y = 0,4707x + 27,319
0,87**
200
y = 0,0237x2 - 0,3907x + 27,763
0,88**
300
y = 0,1761x + 25,319
0,73**
100
y = - 26,648x2 + 764,34x + 4006
0,93**
200
y = 176,72x + 5460,7
0,87**
300
y = 227,98x + 4930,6
0,97**
400
y = 123,64x + 5784
0,85*
100
y = - 0,0026x2 + 0,0856x + 1,5749
0,95**
200
y = 0,0208x + 1,8637
0,86**
300
y = 0,0234x + 1,8531
0,88**
400
y = 0,0155x + 1,9288
0,93**
500
y = 0,0188x + 1,8783
0,78**
100
y = - 0,0394x2 + 1,1804x + 13,6
0,91**
200
y = 0,2497x + 17,021
0,71**
300
y = 0,1987x + 17,177
0,65**
500
y = 0,207x + 17,054
0,64**
*, **: significativo a 5 % e 1% pelo teste F, respectivamente.
Na dose de 300 kg ha-1 de NPK, a massa seca de
100 grãos apresentou ajuste linear, com incremento de
0,176 g para cada tonelada de cama de aviário aplicada,
na dose de 200 kg ha-1 de NPK, sendo o valor mínimo
obtido, pelo ajustamento quadrático, foi de 25,78 g, com
dose estimada de 8,24 Mg ha-1 de cama de aviário, com
tendência de aumento, a partir desta dose.
Para número de grãos por fileira de espiga, as doses
64
Revista Processos Químicos
de 100, 200 e 300 kg ha-1 de NPK apresentaram resposta
quadrática, sendo que para a dose de 100 kg ha-1 foi obtido
35,39 grãos por fileira, quando associado com uma dose
estimada de 15,69 t ha-1 de cama de aviário. Para com a
dose de 200 kg ha-1, obtiveram-se 35,27 grãos por fileira
de espiga, quando associado a uma dose estimada de
15,65 Mg ha-1 de cama de aviário. Já com a dose de 300
kg ha-1 de NPK, foram obtidos 41,38 grãos por fileira de
Jan / Jun de 2013
espiga, quando associados com uma dose de 18,8 t ha-1
de cama de aviário, podendo ser uma justificativa para
a obtenção de maiores produtividades deste tratamento.
Vários autores verificaram a superioridade da
adubação orgânica, em relação à adubação mineral. Nas
culturas da alface e rúcula, efeitos significativos na altura
e diâmetro de plantas e no número de folhas por planta,
em que os maiores valores foram obtidos com o cultivo
orgânico associado à adubação mineral18. Em estudos
com a cultura da erva mate, maior rendimento de massa
verde foi obtido com cama de aviário, superando até a
adubação exclusivamente mineral19.
Em estudos com pimentão, verificou-se que a
aplicação de composto orgânico, na ausência da
adubação mineral, com teores de N entre 40,1 e 44,3
g kg-1, evidenciando que somente com a utilização da
adubação orgânica, as plantas apresentaram-se bem
nutridas em N20. Possivelmente, a maior produtividade
proporcionada pelo uso de cama de aviário é devido à
adequada concentração de nutrientes para a cultura em
sua composição, melhor capacidade de aumentar a troca
de cátions e elevação do acúmulo de umidade do solo21.
A interação entre cama de aviário e adubo mineral
provavelmente possibilitou efeito de sinergismo, em
que a utilização da cama de aviário, potencializando a
adubação mineral, promoveu adequado balanceamento
da adubação à cultura. Esse comportamento deve-se
não apenas pelo fornecimento de nutrientes, como
na adubação mineral, mas também, devido aos
seus efeitos benéficos como aumento da atividade
microbiana, melhoria da aeração e infiltração de água
no solo 22.
A utilização de fontes orgânicas de nutrientes nas
culturas agrícolas é uma alternativa viável técnica e
economicamente23. Contudo, sua eficiência pode ser
maximizada, quando associada à adubação mineral,
especialmente para aumentar a quantidade de nitrogênio
disponível desde o início do ciclo da cultura, o qual é
particularmente importante quando do uso da cama de
aviário, que por conter maior quantidade de nutrientes, é
uma alternativa melhor do que outras fontes orgânicas.
Conclusão
Houve interações significativas entre a adubação com
NPK e a cama de aviário para todos os parâmetros avaliados;
Jan / Jun de 2013
enquanto a adubação orgânica promoveu incremento na
produtividade e nos componentes de rendimento do milho.
De maneira geral, os melhores resultados foram obtidos
na dose de 15 toneladas por hectare de cama de aviário
associada com 300 kg ha-1 de adubo mineral NPK.
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66
Revista Processos Químicos
André L. S. Pereira1, Adilson Pelá*,
Gláucia M. Pelá, Rogério N.
Gonçalves2, Rodrigo T. Mendes3
& Odilon P. M. Júnior4
Bayer CropScience
Universidade Estadual de Goiás, UEG, UnU Ipameri, Rodovia GO
330, Km 241, Anel Viário, CEP 75780-000, Ipameri, GO, Brasil.
3
Solar Agrícola, Ipameri-GO
4
Universidade Federal de Goiás, UFG, Brasil.
*e-mail: [email protected]
1
2
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 9
Uso de Pó de Basalto
como Alternativa
na Adubação da
Cultura da Alface
Thiago P. Rezende, Adilson Pelá & Gláucia M. Pelá
Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência da adubação com pó de basalto,
em relação à adubação orgânica e organo-mineral na cultura da alface (Lactuca sativa).
O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso, em esquema fatorial 2x5
com três repetições: foram testadas duas cultivares (Sallad Bowl e Black Seeded); e
cinco tipos de adubação (T1 – 80 Mg ha-1 de esterco de curral e 2 Mg ha-1 de pó de
basalto no plantio) , (T2 – 80 Mg ha-1 de esterco de curral), (T3 – 3 Mg ha-1 de pó de
basalto no plantio, mais 1,5 Mg ha-1 de pó de basalto em cobertura ), (T4 – 80 Mg
ha-1 esterco de curral e 1,5 Mg ha-1 do formulado NPK 05-25-15) (T5 – testemunha –
sem adubação. Foram determinados o diâmetro de cabeça, o número de folhas, a massa
fresca e a massa seca das plantas. O pó de basalto, usado de maneira isolada ou em
associação com o esterco de curral, foi ineficiente para a nutrição da cultura, nas doses
testadas. O esterco de curral promoveu um bom desenvolvimento da alface.
Palavras-chave: Lactuca sativa; nutrição; esterco de curral.
This study aimed to evaluate the efficiency of fertilization with basalt powder in
relation to organic fertilization and organic-mineral in lettuce (Lactuca sativa). The
experimental design was randomized blocks in a 2x5 factorial arrangement: two
cultivars (Sallad Bowl and Black Seeded), and five types of fertilization (T1 - 80 Mg
ha-1 of manure and 2 Mg ha-1 powder basalt at planting), (T2 - 80 Mg ha-1 manure) (T3 3 Mg ha-1 of basalt powder at planting, plus 1.5 Mg ha-1 of basalt powder in coverage)
(T4 - 80 Mg ha-1 manure and 1.5 Mg ha-1 of NPK 05-25-15) (T5 - witness - without
fertilization, with three replications. were determined head diameter, number of leaves,
fresh weight and dry weight of plants. exclusively using basalt powder, or associated
with the manure was not efficient for the nourishment of culture, at the doses tested.
manure promoted the good development of lettuce .
Keywords: Lactuca sativa; nutrition; manure.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
67
Artigo Geral 9
Introdução
A alface está entre as dez hortaliças mais apreciadas
para consumo in natura no Brasil1, sendo a folhosa de
maior importância econômica. A alface é excelente fonte
de vitamina A, possuindo ainda as vitaminas B1, B2 e C,
além de sais de cálcio e de ferro2.
Para uma planta desenvolver-se sadia e equilibrada,
necessita dos chamados elementos essenciais que
envolvem os macro e micronutrientes. Análises químicas
realizadas em amostras de húmus, compostos orgânicos
e pós de rocha revelam mais de cinquenta elementos
presentes nestes insumos, ao passo que os fertilizantes
sintéticos, a exemplo do NPK, possuem praticamente
três, representados pelas próprias letras: Nitrogênio (N),
Fósforo (P) e Potássio (K) - que são elementos exigidos
em maiores quantidades pelas plantas. Desse modo, as
plantas cultivadas no sistema orgânico desenvolvamse com maior diversidade de elementos no solo, o que
proporciona aumento nos teores de nutrientes, e com
maior disponibilidade destes para as plantas, terão,
portanto, melhor desenvolvimento e qualidade3,4,5.
Hoje, após a II Guerra Mundial e décadas de uso e
abuso dos adubos hidrossolúveis e dos agrotóxicos,
volta-se à pesquisa e utilização de insumos naturais
que foram relegados, como o esterco, composto, lixo
doméstico, cinzas, rochas moídas, etc.6. A maior demanda
de adubações, no entanto, gera maior custo, muitas
vezes, desnecessário, o que incentiva a realização de
pesquisas com materiais alternativos à adubação mineral
extraída quimicamente. Além disso, em virtude da
própria natureza dessa adubação, existe risco potencial
ao ambiente, o qual pode tornar-se preocupante, quando
a adubação é realizada sem critérios adequados7.
Muitos anos são necessários para a natureza fragmentar
as pedras, para então, em contato com a água, ácidos
e calor, ocorrer a mineralização, disponibilizando os
minerais para as plantas. Os organismos do solo também
desempenham papel importantíssimo na intemperização
físico-química das rochas, sendo os fungos e bactérias os
principais responsáveis por se desenvolverem nesse meio
e liberar nutrientes dos minerais do solo8.
O uso de rocha moída, principalmente o basalto,
indicando como uma possível fonte de macro e
micronutrientes, podendo levar ao rejuvenescimento de
68
Revista Processos Químicos
solos muito intemperizados9. A quantidade de elementos
minerais nutritivos presentes na rocha sedimentar de
basalto é considerável, sendo encontradas em ppm: 86000
de Fe, 1500 de Mn, 100 de Cu, 100 de Zn, 1 de Mo e 5
de B.10. No Brasil, são poucas ainda as referências de sua
utilização em escala comercial na agricultura, porém na
Europa, sua utilização pode ser considerada uma prática
convencional de muitos agricultores.
As rochas são corpos sólidos formados mediante
agregação de minerais, podendo em sua formação, serem
formados de um ou de vários tipos desses. Todas as
rochas originaram-se de um estado ígneo, chamado de
magma que, sob elevadas temperaturas são ejetadas do
interior da Terra para a superfície através dos vulcões.
Essas rochas na superfície irão apresentar diferenciações,
as quais estão ligadas a determinados fatores, como:
composição química, origem, textura, estrutura, declive,
cobertura vegetal, tempo geológico e tipo de clima,
dentre outros11.
A mineralogia principal de um basalto é constituída
principalmente por piroxênios e plagioclásio. Pode
incluir olivina, quartzo, feldspato potássico, piroxênios,
anfibólios, micas, olivina, fesdspatoides (leucita,
nefelita, sodalita, zeolitos sódicos), hematita, ilmenita,
magnetita, rutilo, dentre outros. Na composição química
dos minerais das rochas ígneas vulcânicas, ocorre maior
frequência de óxidos, sendo o de maior importância o
óxido de silício (SiO2), cuja porcentagem, em peso, pode
variar de 35 a 75%. Em segundo lugar, vem o óxido
de alumínio (Al2O3), que varia entre 12 e 18%. Outros
óxidos podem estar presentes, como: óxido de ferro,
óxido de manganês, óxido de magnésio e outros de sódio,
potássio e cálcio12.
Os elementos químicos existentes nessas rochas que
podem ser facilmente revolvidos são Ca, Mg e K. E os
que podem ser concentrados residualmente, como Fe, P
e elementos traços. Assim, solos originados de rochas
basálticas tendem a ser mais ricos em Fe, P, Ca, Cu e Zn,
e, por outro lado, tendem a ser mais pobres em B e Mo13.
Os basaltos são considerados rochas básicas,
tidas como um importante material de origem de
solos, contribuindo para sua fertilidade em função do
predomínio de minerais, facilmente intemperizáveis
e ricos em cátions, destacando-se os feldspatos cálciosódicos e piroxênios13.
Jan / Jun de 2013
A utilização da farinha de rocha traz várias vantagens,
sendo uma delas a diminuição da mão-de-obra, pois com
a aplicação da farinha de rocha, não há necessidade
de se adubar frequentemente, devido ao seu efeito
prolongado. Isso porque, não sendo a farinha de rocha
prontamente solúvel em água, o produto não é lixiviado
pela água da chuva ou irrigações intensas14. Outras
vantagens são citadas pelo autor, como a correção do pH,
a não salinização do solo, a não absorção em excesso de
potássio, o que beneficia a absorção de cálcio e magnésio
e a diminuição da fixação do fósforo solúvel pela
presença da sílica.
Em Goiás, existe uma grande produção de brita de
basalto, mas o pó ainda não é aproveitado na agricultura,
devido à desinformação dos produtores sobre seus
benefícios15. Maiores teores de Ca, Mg, B, Cu e Fe nas
folhas de mudas de Prunus sellowii, adubadas com pó de
basalto16. Incrementos em pH, K, Ca, Mg, soma de bases
e saturação de bases com o aumento das doses de basalto
aplicadas também foram observados17.
Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência
da adubação com pó de basalto em relação à adubação
orgânica e organo-mineral na cultura da alface.
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido na fazenda experimetal
da UEG, município de Ipameri – Goiás, localizada a
17º43’20” de latitude sul e 48º09’44”de longitude oeste,
com altitude de 800 m, em LATOSSOLO VERMELHOAMARELO. O clima, segundo a classificação de
Köppen, é do tipo Aw, constando temperaturas elevadas
com chuvas no verão e seca no inverno.
O delineamento experimental utilizado foi de blocos
ao acaso, em esquema fatorial 2x5 com 3 repetições:
foram testadas duas cultivares (Sallad Bowl e Black
Seeded); e cinco tipos de adubação (T1 – 80 Mg ha-1
de esterco de curral e 2 Mg ha-1 de pó de basalto no
plantio) , (T2 – 80 Mg ha-1 de esterco de curral), (T3 – 3
Mg ha-1 de pó de basalto no plantio, mais 1,5 Mg ha-1 de
pó de basalto em cobertura ), (T4 – 80 Mg ha-1 esterco
de curral e 1,5 Mg ha-1 do formulado NPK 05-25-15)
(T5 – testemunha – sem adubação. Foram coletadas
12 subamostras de solo, na camada de 0 a 20 cm de
profundidade, para formar uma amostra composta. Nesta
foi realizada análise química, cujos resultados obtidos
Jan / Jun de 2013
foram: pH (CaCl2) = 4,3; matéria orgânica = 21 g dm-3;
fósforo (resina) = 2 mg dm-3; enxofre = 3 mg dm-3; cálcio
= 0,6 cmolc dm-3; magnésio = 0,2 cmolc dm-3; potássio =
0,09 cmolc dm-3; alumínio = 0,5 cmolc dm-3; hidrogênio
+ alumínio = 4,2 cmolc dm-3; CTC = 5,09 cmolc dm-3;
V% = 17.
Com o objetivo de elevar a saturação por bases
a 60%, distribuiram-se superficialmente 2,5 Mg por
hectare de um calcário dolomítico com PRNT de 87%.
O calcário foi incorporado ao solo com arado de disco
com três meses de antecedência ao plantio. Os canteiros
foram construídos com largura de 1,50 m e comprimento
variável, com elevação de 0,10 m em relação à superfície
do terreno, para evitar as enxurradas e facilitar o
escoamento do excesso de água. Para tanto, utilizaramse de ferramentas manuais para o revolvimento e
nivelamento destes, incorporação dos adubos e remoção
de plantas daninhas. Os canteiros foram separados por
caminhos de 50 cm, perpendicular ao declive do terreno2.
O espaçamento utilizado no canteiro definitivo foi de
0,30 m x 0,30 m, com 5 fileiras.
As mudas foram produzidas em bandejas de isopor,
com 200 células, de acordo com as recomendações
descritas em18. Foram utilizadas 9 bandejas, totalizando
1800 mudas. Nas bandejas, foram deixadas uma planta
por célula, e após 30 dias, quando as mudas apresentavam
4 a 6 folhas, foram transplantadas para os canteiros. Cada
parcela foi constituída por cinco fileiras de 2,10 m de
comprimento, com 7 plantas espaçadas a 0,30 m, sendo
utilizadas três linhas como área útil, eliminando-se as
bordaduras, dispondo, assim,15 plantas para amostragem.
A irrigação foi realizada por aspersão, mantendo-se o
solo com teor de água entre 60 e 80 % da capacidade
de campo. O controle de plantas daninhas foi realizado
manualmente.
Avaliou-se o tamanho médio das folhas (comprimento
e largura); número de folhas por planta; produtividade
de massa fresca e massa seca, por planta e por unidade
de área, aos 35 dias após o transplante. Os dados foram
submetidos à análise de variância, e as médias comparadas
pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
A adubação com esterco de curral, associada ao
adubo NPK; a adubação exclusiva com esterco de curral
Revista Processos Químicos
69
Artigo Geral 9
e esterco de curral com pó de basalto proporcionaram os
maiores diâmetros de cabeça, para ambas as cultivares
(Tabela 1). Na média das duas cultivares, observaram-se
diâmetros de 29,11, 26,86 e 25,29 cm, respectivamente.
Foram superiores à adubação exclusiva com pó de
basalto e à testemunha, com valores de 17,17 e 14,59
cm, que não diferiram significativamente entre si. Com a
cultivar Black Seeded não houve diferenças significativas
entre a adubação com esterco de curral curtido associado
ao pó de basalto e o tratamento que recebeu adubação
exclusiva com pó de basalto, com diâmetros de 24,79 e
19,50 cm, respectivamente.
Pelo diâmetro de cabeça, conclui-se que apenas
a adubação com esterco de curral seria suficiente para
proporcionar os melhores resultados, e que o esterco não
contribuiu para melhorar a eficiência do pó de basalto. As
cultivares não diferiram entre si, quanto ao diâmetro de
cabeças, na média de todos os tratamentos. Também não
encontraram diferenças siginificativas do uso de pó de
basalto sobre o diâmetro do coleto de Prunus selowii16.
Em relação ao número de folhas, verificou-se
também que o uso do esterco de curral, associado ou
não com o adubo NPK ou ao pó de basalto, foram os
tratamentos que proporcionaram os maiores valores em
ambos os cultivares e na média destes, não diferindo
significativamente entre si (Tabela 2). Na média dos
dois cultivares, a adubação com esterco de curral e
NPK, a adubação com esterco de curral e com esterco
de curral e pó de basalto apresentaram 21,88, 21,79 e
21,50 folhas por planta. A adubação com pó de basalto
e a testemunha foram os tratamentos que apresentaram
menor número de folhas por planta, com 12,88 e 12,33,
respectivamente, na média dos dois cultivares, e não
diferiram significativamente entre si. Também não houve
diferenças significativas entre as cultivares em relação ao
número de folhas por planta.
Esses resultados indicam que a aplicação do adubo
NPK, ou a aplicação do pó de basalto, associados ao
esterco de curral, conseguiram aumentar o número de
folhas por planta, em relação à adubação com esterco de
curral. O esterco de curral não conseguiu potencializar
o efeito do pó de basalto como fertilizante. Resultados
semelhantes foram obtidos com diferentes doses de pó de
basalto misturado a lodo de esgoto, aguapé e esterco de
curral sobre o crescimento de Astronium fraxinifolium17.
Para a cultivar Black Seeded, a massa fresca por
plantas foi maior quando utilizou-se a adubação com
esterco de curral associado com NPK, 132,2 g, e quando
utilizou-se somente o esterco de curral, 156,17 g, não
diferindo significativamente entre si. Com esta cultivar,
a adubação com esterco de curral e pó de basalto, a
adubação exclusiva com pó de basaltto e a testemunha,
com 57,45, 16,43 e 12,90 g por plantas, não diferiram
significativamente entre si.
Tabela 1. Diâmetro de cabeças e número de folhas por planta de duas cultivares de alface, em função do tipo de adubação.
ADUBAÇÃO
Diâmetro de cabeça (cm)
Número de folhas/planta
B. Seeded
S. Bowl
Média
B. Seeded
S. Bowl
Média
Esterco + NPK
29,17 a
29,04 a
29,11 a
22,92 a
24,83 a
21,88 a
Esterco
29,09 a
24,63 a
26,86 a
23,00 a
20,58 a
21,79 a
Esterco + pó de
basalto
24,79 ba
25,77 a
25,29 a
21,58 a
21,42 a
21,50 a
Pó de basalto
19,50 cb
14,83 b
17,17 b
12,33 b
13,42 b
12,88 b
Testemunha
14,79 c
14,38 b
14,59 b
11,67 b
13,00 b
12,33 b
CULTIVAR
Black Seeded
23,47
18,30
Salad Bowl
21,73
18,65
C.V. (%)
17,06
11,84
C.V. = coeficiente de variação. Médias seguidas por mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
70
Revista Processos Químicos
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Tabela 2. Massa fresca e massa seca de duas cultivares de alface, em função do tipo de adubação
ADUBAÇÃO
Massa fresca (g planta-1)
Massa seca (g planta-1)
B. Seeded
S. Bowl
Média
B. Seeded
S. Bowl
Esterco + NPK
132,20 a
138,90 a
Esterco
156,17 a
71,25 a
135,55 a
9,65 a
12,87 a
11,26 a
113,71 a
13,07 a
14,72 a
13,90 a
Esterco + pó
de basalto
57,45 b
83,35 a
70,40 b
4,95 b
7,40 b
6,17 b
Pó de basalto
16,43 b
16,43 b
16,43 c
3,03 b
2,44 c
2,73 c
Testemunha
12,90 b
14,36 b
13,63 c
2,08 b
2,29 c
2,18 c
Média
CULTIVAR
Black Seeded
75,03
Salad Bowl
64.85
7,94
C.V. (%)
25,98
25,22
6,56
C.V. = coeficiente de variação. Médias seguidas por mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Com a cultivar Salad Bowl verificaram-se maiores
valores de massa seca com a adubação com esterco de
curral e NPK, esterco de curral e pó de basalto e com
adubação exclusiva com esterco de curral: 138,90, 83,35
e 71,25 g por planta, respectivamente, superiores aos
tratamentos testemunha e adubação exclusiva com pó de
basalto, com 14,36 e 16,43 g por planta, respectivamente.
Na média das duas cultivares, maiores valores
de massa fresca foram obtidos com a adubação com
esterco de curral e NPK, 135,5 g por planta, e adubação
com esterco de curral, 113,71 g por planta, que foram
superiores aos demais tratamentos. A associação do pó
de basalto com o esterco de curral, com 70,40 g por
planta, foi superior à adubação exclusiva com pó de
basalto, com 16,43 g por planta e à testemunha, com
13,63 g por planta. Não houve diferença significativa
entre estes últimos.
A massa seca das plantas apresentou comportamento
semelhante ao da massa fresca em cada cultivar e na
média destes. O esterco de curral proporcionou maior
produtividade de massa seca nas cultivares Black Seeded,
Salad Bowl e na média destas, com 13,07, 14,72 e 13,90 g por
planta, respectivamente, não diferindo significativamente
apenas da adubação com esterco de curral e NPK, cujos
valores obtidos foram 9,65, 12,87 e 11,26 g por planta.
Esses dois tratamentos foram estatisticamente superiores
aos demais quanto a esse parâmetro. Na cultivar Black
Jan / Jun de 2013
Seeded, a adubação com esterco de curral e pó de basalto,
a adubação exclusiva com pó de basalto e a testemunha,
com 4,95, 3,03 e 2,08 g por planta, não diferiram
significativamente entre si. Na cultivar Salad Bowl e na
média das duas cultivares, a associação de esterco e pó de
basalto superou os tratamentos com adubação exclusiva
com pó de basalto e testemunha.
Pelos resultados de massa fresca e massa seca
verificou-se que, nas doses utilizadas nesse experimento,
a adubação com esterco de curral foi a responsável pelos
melhores resultados, sendo dispensável a utilização do
adubo NPK em complementação, e prejudicial a adição
do pó de basalto a esse. O pó de basalto mostrou-se
ineficiente, quando usado isoladamente ou mesmo
associado à adubação orgânica com esterco de curral.
As doses crescentes de composto orgânico aumentaram
a produção da cultura até 27,367 kg/ha de matéria fresca,
obtida na dose mais elevada em plantas cultivadas entre
80 e 110 dias após a aplicação do adubo19.
Conclusões
O pó de basalto, usado de maneira isolada ou em
associação com o esterco de curral, foi ineficiente para
a nutrição da cultura, nas doses testadas. O esterco de
curral, independente da adubação mineral, foi suficiente
para promover um bom desenvolvimento da alface.
Revista Processos Químicos
71
Artigo Geral 9
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Congresso Brasileiro de Geologia, 29., 1976, Belo Horizonte.
Anais... Belo Horizonte, 1976. P. 137-145.
8. Malavolta, E. Elementos de Nutrição Mineral de Plantas. São
Paulo: ed. Agronômica Ceres, 1980.
Thiago P. Rezende, Adilson Pelá*,
Gláucia M. Pelá
9. Machado, F. B. Et Al. Enciclopédia Multimídia de Minerais em
Atlas de Rochas. 2003. Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/
museudpm/> acesso em: 10 mai. 2004.
Universidade Estadual de Goiás (UEG), Rodovia: GO 330, km 241,
Anel Viário s/n, Ipameri-GO, CEP: 75780-000.
10. Turner, F.J.; Verhoogen, J. Igneous and Metamorphic Petrology. 2
ed. New York: Mcgraw-Hill. 1960. 694 p.
72
Revista Processos Químicos
*e-mail: [email protected]
Jan / Jun de 2013
Artigo Geral 10
Toxicidade de Extratos
de Sementes de Jatropha
curcas e Azadirachta indica
à Plutella xylostella
Paulo V. Sousa, Flávio G. Jesus, Márcio S. Araújo, Fábio S. Matos &
Leandro Bacci
Avaliou-se a toxicidade de extratos de sementes de Azadirachta indica (Neen) e
de Jatropha curcas (Pinhão manso) à Plutella xylostella (Traça das crucíferas). Discos
foliares de couve (Brassica oleracea var. acephala) cultivar Portuguesa foram imersos
nos extratos de Neen e Pinhão manso nas concentrações de 0,5 % e, depois, fornecidos
como alimento para as lagartas. Após isso, acompanhou-se o seu ciclo biológico. Todas
as fases de desenvolvimento do inseto investigadas foram afetadas pela aplicação de
óleos vegetais de A. indica e J. curcas. A aplicação de óleos vegetais de A. indica e J.
curcas reduz a sobrevivência da praga.
Palavras-chave: Pesticida natural; Praga de Brassicaceae; Plantas inseticidas.
The aim of this study was to evaluate the toxicity of seed extracts of Azadirachta
indica (Neen) and Jatropha curcas (Pinhão manso) to Plutella xylostella (Diamondback
moth). Leaf discs of Portuguese Cabbage cultivar (Brassica oleracea var. Acephala)
were immersed in extracts of Pinhão manso and Neen in concentrations of 0.5% and
then provided as food for the moth. After this, followed up its biological cycle. All
stages of development of this pest were affected by the application of vegetable oils of
A. indica and J. curcas. The use of vegetable oils A. indica and J. curcas reduces survival
of the pest.
Keywords: Natural pesticide; Brassicaceae pest; Plants insecticides.
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
73
Artigo Geral 10
Introdução
A couve, Brassica oleracea var. acephala (L.),
destaca-se entre as plantas hortícolas como um dos
alimentos importantes na nutrição humana, sendo rica
em minerais e vitaminas1. É uma cultura danificada
por diversas pragas, tais como: pulgões, curuquerê da
couve, lagarta-rosca, lagarta-mede-palmo e traça-dascrucíferas2. Este último inseto, muitas vezes, limitante
para o cultivo de crucíferas em áreas tropicais, em
razão, principalmente, de seu ciclo curto e alto potencial
reprodutivo, o que determina número anual elevado de
gerações3.
O controle da traça-das-crucíferas é realizado
geralmente com o uso de inseticidas organossintéticos.
O uso intensivo desses produtos selecionou populações
resistentes aos diferentes princípios ativos, comumente
utilizados em seu controle4,5. Produtos naturais extraídos
de plantas constituem-se fonte de substâncias bioativas
compatíveis com programas de manejo integrado de
pragas (MIP), o que pode reduzir os efeitos negativos,
ocasionados pela aplicação descontrolada de inseticidas
organossintéticos ao meio ambiente6,7,8.
As plantas inseticidas são capazes de provocar
inibição alimentar nos insetos; redução da motilidade
intestinal; interferência na síntese do ecdisônio;
inibição da biossíntese da quitina; deformações em
pupas e adultos, redução na fecundidade; longevidade;
esterilização; inibição na oviposição e mortalidade de
formas imaturas e adultas9,10,11,12,13. Algumas plantas
inseticidas já foram avaliadas para o controle de P.
xylostella. Chen e colaboradores14 encontraram que
extratos de Melia azedarach (L.) causaram 93,5% de
redução na oviposição de P. xylostella na concentração
de 4%. Torres et al. (2001) verificaram que os extratos
aquosos de Aspidosperma pyrifolium (Mart.), A. indica
e Cissampelos aff. glaberrima (St. Hil.) reduziram
a oviposição de P. xylostella, e que esta redução
era diretamente correlacionada com o aumento das
concentrações dos extratos dessas plantas e o efeito
repelente se acentuava com a quantidade de substâncias
bioativas extraídas e existentes em cada extrato. Boiça
Junior e colaboradores12 verificaram que os extratos
aquosos de Sapindus saponaria L., Trichilia pallida
SW, Enterolobium contortisilliquum (Vell.) Morong e
Nicotiana tabacum L. causaram 100% de mortalidade
74
Revista Processos Químicos
das larvas dessa praga. Medeiros e colaboradores6
constataram que os extratos de frutos de S. saponaria,
e de E. contortisilliquum e de folhas de T. pallida,
proporcionaram efeito deterrente na oviposição da praga,
com índice de 100% de deterrência.
Portanto, tendo em vista a importância que representa
o cultivo de brássicas e o uso de inseticidas botânicos
dentro do manejo integrado de pragas, este trabalho teve
por objetivo determinar o efeito de óleos vegetais de
sementes de Azadirachta indica e Jatropha curcas sobre
Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Plutellidae).
Material e Métodos
Os experimentos foram desenvolvidos no Laboratório
de Entomologia da Universidade Estadual de Goiás,
Unidade Universitária de Ipameri. Para a criação da
população de traça-das-crucíferas, usadas nesse trabalho,
foram utilizadas plantas de couve, B. oleracea var.
acephala, (Manteiga), semeadas em campo e, conduzidas
sem qualquer tipo de aplicação de agrotóxico.
CRIAÇÃO-ESTOQUE
Para criação de P. xylostella, ovos deste inseto foram
adquiridos do Laboratório de Resistência de Plantas a
Insetos da FCAV - UNESP - Jaboticabal, SP. Lagartas
recém-eclodidas foram confinadas em recipientes
plásticos com dimensões 15,0 x 10,0 x 5,0 cm,
alimentadas com folhas de couve, previamente lavadas
em água corrente.
Trocaram-se as folhas sempre que necessário, até que
todos os insetos atingissem a fase de pupa. Essas foram
coletadas diariamente e colocadas em tubos de vidro de
fundo chato, medindo 1,0 cm de diâmetro, fechados com
filme plástico transparente PVC com pequenos orifícios
para circulação do ar. Após a emergência, coletaram-se
os adultos diariamente. Foi feita a sexagem e formados
dez casais, que permaneceram confinados em gaiolas
plásticas, transparentes, circulares com uma abertura
retangular vedada lateralmente com malha fina de nylon
para possibilitar a circulação do ar. A parte superior da
gaiola continha um orifício circular no qual foi colocada
uma esponja embebida com uma solução de mel a 10%
para alimentação das mariposas adultas, presa com uma
rolha de pano, tamponando tal abertura.
Dentro dessas gaiolas, foram colocados discos de
Jan / Jun de 2013
folha de couve, medindo 8,0 cm de diâmetro sobre papel
filtro umedecido, sobre um copo plástico de 50,0 ml para
a oviposição. Os discos foram substituídos diariamente
e aqueles com as posturas, acondicionados em placa
de Petri (9,0 cm de diâmetro) até a eclosão das larvas,
mantendo-se, então, os procedimentos já descritos.
colocadas dez lagartas recém-eclodidas e, em seguida,
foram vedadas com filme PVC para evitar fuga destas.
Essas placas foram mantidas no laboratório em condições
do ambiente, sendo as folhas substituídas diariamente
por outras tratadas. Quando as folhas foram trocadas,
anotou-se o número de larvas mortas. Tal procedimento
foi adotado até que as larvas atingissem o estádio de
pupa. As pupas sobreviventes foram pesadas 24 horas
após a sua formação.
As variáveis biológicas avaliadas foram: duração
e sobrevivência da fase larval e pupal, peso pupal e
ciclo total. O delineamento estatístico adotado foi o
inteiramente casualizados, com três tratamentos e dez
repetições. Os dados dos experimentais foram analisados
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e, para isso,
utilizou-se o software ESTAT.
OBTENÇÃO DO EXTRATO HEXANO
DE PINHÃO MANSO
As sementes de J. curcas foram provenientes de
plantio comercial, localizados na Cidade de Uberlândia,
MG. Depois de trituradas, partes das sementes de J.
curcas foram completamente mergulhadas em hexano
a frio, obtendo-se, assim, os extratos, conforme
metodologia proposta por Scramin e colaboradores16,
até que os componentes da planta não mais eram
transferidos por difusão ao solvente, conforme relatado
Rey17, em que ocorre ausência de coloração do solvente,
quando é trocado de dois em dois dias. O extrato obtido
foi concentrado em evaporador rotativo à baixa pressão
e temperatura reduzida (< 50°C) e, a quantidade obtida
dele foi armazenada sob refrigeração para os testes
biológicos. Quanto ao óleo de Neen, esse era uma
formulação comercial, de nome Neen I GO®.
Resultados e Discussão
A duração da fase larval de P. xylostella foi prolongada
quando as folhas de couve-comum utilizadas para sua
alimentação foram tratadas com óleo vegetal a 0,5% de
J. curcas. O óleo vegetal de A. indica proporcionou o
melhor desempenho, no qual os insetos alimentados com
folhas tratadas com este óleo vegetal não chegaram à
próxima fase de desenvolvimento. A sobrevivência larval
também foi afetada pelo óleo vegetal de J. curcas. Assim,
apenas 11,0% das lagartas atingiram a fase de pupa, valor
inferior ao registrado na testemunha com 80,0%.
Quanto à duração da fase pupal, este parâmetro
biológico também foi afetado, em que óleo vegetal a
0,5% de J. curcas (5,37 dias) provocou alongamento
EFEITO DE ÓLEOS VEGETAIS NA BIOLOGIA
DE P. xylostella
Para observação do desenvolvimento de P. xylostella,
foram utilizadas placas de Petri (9,0 cm de diâmetro),
contendo folhas de couve – cv Manteiga, tratadas com os
óleos na concentração de 0,5%. Sobre cada folha, foram
Tabela 1. Média (± EPM) de duração e sobrevivência das fases larval e pupal e peso de pupa de Plutella xyllostela em folhas de couve-comum tratadas
com óleos (0,5%) de sementes de Azadiracta indica e Jatropha curcas.
Fase Larval
Fase Pupal
Tratamentos1
Duração
(dias)
Sobrevivência
(%)
Duração
(dias)
Sobrevivência
(%)
Peso Pupal
(mg)
Ciclo Total
(dias)
Testemunha
5,02 ± 0,14 a
80,00 ± 5,96 a
4,83 ± 0,09 a
70,00 ± 4,71 a
5,10 ± 0,14 a
14,43 ± 0,37 a
A. indica
-
-
-
-
-
-
J. curcas
6,86 ± 0,39 b
11,0 ± 4,58 b
5,37 ± 0,55 a
28,30 ± 13,16 b
5,20 ± 0,27 a
17,70 ± 0,28 b
F
8,02**
5,48**
0,91NS
8,90**
1,30NS
48,43**
C.V (%)
12,27
25,40
19,09
21,15
12,81
4,12
Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para análise, os dados foram transformados em (x + 0,5)1/2.
**Significativo a 1% de probabilidade.
NS
Não significativo.
1
Jan / Jun de 2013
Revista Processos Químicos
75
Artigo Geral 10
em relação à registrada na testemunha (4,83 dias). Do
mesmo modo, ao constatado na fase larval, também na
fase pupal, a sobrevivência foi reduzida pelo tratamento
com óleo vegetal de J. curcas. Quanto ao peso de pupas,
não houve diferença entre o tratamento óleo vegetal a
0,5% de J. curcas e a testemunha.
Em relação ao ciclo total, as folhas de couvecomum quando tratadas com óleo vegetal a 0,5% de
J. curcas (17,70 dias) e utilizadas para na alimentação
de P. xylostella, promoveram prolongamento no ciclo
total da praga, quando comparado com a testemunha
(14,43 dias).
De acordo com Torres e colaboradores15, o
prolongamento da fase larval de P. xylostella,
adicionalmente à mortalidade da fase larval, mediante
aplicação de extratos vegetais, é muito importante em
campo, pois aumentará o tempo de exposição da praga
aos inimigos naturais, bem como o tempo médio de cada
geração, reduzindo o crescimento populacional da praga.
Mordue & Blackwell10 também relataram que insetos
tratados ou alimentados com azadiractina, inseticida
regulador de crescimento de origem vegetal, apresentam
inibição de crescimento, má-formação, prolongamento
da fase larval e até morte das lagartas algumas horas após
o tratamento.
O fato da aplicação de óleos vegetais de A. indica e
J. curcas alterar o normal desenvolvimento e reduzir a
sobrevivência de P. xylostella implica potencial de seu
uso desses para o controle dessa praga.
3. Ulmer, B.; Gillott, C.; Woods, C.; Erlandson, M. Crop Protection,
2002, 21, 327.
4. Castelo Branco, M.; Gatehouse, A.G. An. Soc. Ent. Bras., 1997,
26, 75.
5. Castelo Branco, M.; França, F.H.; Medeiros, M.A.; Leal, J.G.T.
Hortic. Bras., 2001, 19, 60.
6. Medeiros, C.A.M.; Boiça Junior, A.L.; Torres, A.L.T. Bragantia,
2005, 64, 227.
7. Thuller, R.T.; Bortoli, S.A.; Goulart, R.M.; Pereira-Viana, C.L.T.;
Pratissoli, D. Ciên. Agrotec., 2008, 32, 1154.
8. Zotti, M.J.; Grützmacher, A.D.; Grützmacher, D.D.; Castilhos,
R.V.; Martins, J.F.S. Arq. Inst. Biol., 2010, 77, 111.
9. Schmutterer, H. Ann. Rev. Entomol., 1990, 35, 217.
10. Mordue, A.J.; Blackwell, A. J. Insec. Physiol., 1993, 39, 903.
11. Roel, A.R.; Vendramim, J.D.; Frighetto, R.T.S.; Frighetto, N. An.
Soc. Entomol. Bras., 2000, 29, 799.
12. Boiça Junior, A.L.; Medeiros, C.A.M.; Torres, A.L.; Chagas Filho,
N.R. Arq. Inst. Biol., 2005, 72, 45.
13. Araújo, MS.; Della Lucia, T.M.C.; Moreira, M.D.; Picanço, M.C.
Rev. Bras. de Agroc., 2008, 14, 106.
14. Chen, C.; Chang, S.; Cheng, L.; Hou, R.F. J. Appl. Entomol.,
1996, 120, 165.
15. Torres, A.L.; Barros, R.; Oliveira, J.V. Neotrop. Entomol., 2001,
30, 151.
16. Scramin, S.; Silva, H.P.; Fernandes, L.M.S.; Yhan, C.A. Nemat.
Bras., 1987, 12, 121.
17. Rey, A.B. Química Tecnológica Fundamental. In: Física / Química
Moderna. v.5, São Paulo: Fortaleza, 1970, 405p.
Agradecimentos
À Equipe do Laboratório de Resistência de Plantas
a Insetos da FCAV/UNESP de Jaboticabal (SP), que
gentilmente cedeu algumas pupas para inicio de nossa
criação da população de P. xylostella.
Referências
1. Filgueira, F.A.R. Novo Manual de Olericultura: Agrotecnologia
Moderna na Produção e Comercialização de Hortaliças. 3 ed.,
Viçosa-MG: UFV, 2008.
2. Gallo, D.; Nakano, O.; Silveira Neto, S.; Baptista, G.C.; Berti
Filho, E.; Parra, J.R.P.; Zucchi, R.A.; Alves, S.B.; Vendramim,
J.D.; Marchini, L.C.; Lopes, J.R.S.; Omoto, C. Entomologia
Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002.
76
Revista Processos Químicos
Paulo V. Sousa1, Flávio G. Jesus1, Márcio S.
Araújo2*, Fábio S. Matos2 & Leandro Bacci3
1
Instituto Federal Goiano. Campus de Urutai, GO, 75790-000, Brasil
UnU Ipameri, Universidade Estadual de Goiás, Ipameri, GO, 75780000, Brasil
2
Departamento de Agronomia, Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão, SE, 49100-000, Brasil
3
*e-mail: [email protected]
Jan / Jun de 2013
Opinião
Fabrício Rodrigues
A Importância da Produção Vegetal
para o Século XXI
Nos primórdios, quando o homem iniciou a
domesticação das espécies, há cerca de 12.000 anos,
selecionando os vegetais mais desejáveis, de maneira
involuntária, tal ação culminou com o surgimento da
agricultura. Dessa forma, o homem passou a se relacionar
em grupos e, então, houve o surgimento das civilizações,
considerado um dos maiores avanços da humanidade.
Entretanto, a Revolução Industrial e a Revolução Verde
trouxeram benefícios inimagináveis para a sociedade
e, aliados a este, diversos problemas, causados pelo
desenvolvimento acelerado. O maior salto observado
pela sociedade moderna ocorreu nas últimas décadas com
obtenção de plantas geneticamente modificadas (OGM).
A engenharia genética quebra as barreiras das espécies
e o que, teoricamente seria impossível de ser realizado,
passa a ser plausível, ou seja, inserir ou suprimir um ou
mais genes de qualquer ser vivo, com qualidades inéditas
na natureza.
Mesmo com a capacidade de alterar o genoma
vegetal, visando ao maior potencial produtivo e ao
manejo sustentável do sistema agrícola, a produtividade
das espécies está em patamares altíssimos, quase que
impossíveis de ser acrescidos. Além disso, a utilização
de transgênicos não reduz a emissão de gases danosos
ao efeito estufa e o problema continuaria a se perpetuar
durante os anos. E, devido às mudanças climáticas
ocasionadas pelo aquecimento global, a produtividade
das espécies tende a permanecer estável, com risco de
queda, se as plantas não apresentarem características
para suportar tal mudança a tempo de possíveis
alterações mais drásticas. Independentemente de suas
origens, as mudanças climáticas produzem impactos
que poderão ter amplos reflexos no meio ambiente.
Atualmente, essas mudanças vêm afetando os padrões
regionais de precipitação e de evapotranspiração,
o que tem repercutido em todo regime hidrológico,
biológico e agrícola, amplamente discutido por diversos
pesquisadores.
Jan / Jun de 2013
Recentemente, o mundo, aterrorizado com as
possíveis consequências, gerou uma enormidade de
informações sobre o desenvolvimento sustentável e,
então, surgiu o termo “Agricultura de Baixo Carbono ABC”. No Brasil, o programa ABC tem como o objetivo
de estimular as práticas mais sustentáveis por meio de
atividades específicas como o plantio direto na palha e
recuperação de áreas degradadas, com o intuito de reduzir
o dano já causado pela emissão de gases.
Nas últimas décadas, têm-se intensificado os debates
sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas,
havendo quase um consenso entre os cientistas de que
a intensificação do efeito estufa planetário encontra-se,
principalmente, relacionada ao padrão de produção e ao
consumo da sociedade moderna. As mudanças climáticas,
registradas nas últimas décadas, vêm comprometendo
o funcionamento dos ecossistemas e, também, os
agroecossistemas, alterando a oferta de serviços ambientais,
consequentemente, reduzindo a disponibilidade de água,
boas fertilidades e a conservação do solo, bem como a
biodiversidade como um todo. Ao mesmo tempo em que
contribuirá para o aumento da incidência de pragas/doenças
e na redução de áreas propícias à produção agrícola. Além
das consequências, supracitadas, alterações nos ciclos
hidrológicos, secas ou inundações; aumento da frequência
e intensidade de ciclones e furacões; contaminação
de lençóis freáticos com água salgada; desertificação;
perda de biodiversidade; intensificação de fenômenos
meteorológicos danosos; inundação de zonas costeiras e até
o desaparecimento de ilhas.
Os mais importantes estudos sobre esse tema mostram
que as regiões tropicais, mesmo não sendo as maiores
responsáveis pelo aquecimento global, serão muito mais
afetadas pelas mudanças climáticas que as temperadas.
O International Food Policy Research Institute (IFPRI Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar)
fez um estudo com base em diversos modelos climáticos
e o resultado converge para uma preocupante direção
Revista Processos Químicos
77
Opinião
de declínio geral, com relação ao ritmo de aumento da
produção agropecuária. Os resultados ainda podem
ser mais impressionantes, de acordo com 23 modelos
climáticos globais, há 90% de chance de que as
temperaturas dos trópicos e dos subtrópicos, no final
do século XXI, excedam as maiores temperaturas já
registradas entre 1900 e 2006. Entre 1861 e 2000, a
temperatura média global aumentou 0,6 °C, sendo que as
precipitações pluviométricas foram alteradas com chuvas
mais torrenciais e o fenômeno El Niño tem se tornado
mais frequente, persistente e intenso.
Os principais gases, oriundos de atividades antrópicas,
que têm atuado na intensificação do efeito estufa, são
o metano, o ozônio, o óxido nitroso (O3), os CFC’s
(Clorofluorcarbonos) e em maior proporção dióxido de
carbono (CO2), responsável por 60% das consequências
detectadas. O desenvolvimento sustentável tem como
principal fundamento equilibrar o desenvolvimento
econômico com sustentabilidade ambiental, visando à
perfeita harmonia entre o meio ambiente e o consumo.
Ainda são poucos os estudos sobre as respostas no
metabolismo de carbono e na produtividade de plantas
agrícolas ao aumento da concentração de CO2 e O3
no campo, em clima tropical, no Brasil. É importante
salientar que as respostas fisiológicas às diferentes
condições ambientais são muito variáveis, em função do
genótipo, ambiente e sua interação fenotípica. Entretanto,
encontrar o genótipo com melhor desempenho sob tais
condições, não seria uma tarefa fácil e, mesmo que
fossem encontrados, os testes e os métodos de medições
não trariam certezas e, no máximo, possíveis soluções.
O acréscimo de 1ºC na temperatura provoca um
aumento de 61,6% para 85,9% nas áreas inaptas para o
cafeeiro da espécie Coffea arábica, com a elevação de
mais 2 ºC, 99% do Estado de Goiás passa à condição
de inapto, inclusive para o café irrigado. Em função
das temperaturas elevadas, a irrigação aparece como
regulador térmico, evitando, assim, o abortamento das
flores. A dinâmica no processo de surgimento de áreas
com baixo e médio risco climático, na porção mais ao
leste do Nordeste Brasileiro, pode estar associada à
influência dos sistemas atmosféricos, que atuam sobre
a região. Portanto, é possível inferir que o aumento de
temperatura média do ar, como sendo um fator limitante
ao cultivo do algodão, mesmo diante do aumento da
78
Revista Processos Químicos
oferta hídrica. Resultados semelhantes foram obtidos ao
se analisar o cultivo do feijão caupi no Estado da Paraíba.
Os cenários climáticos futuros implicam redução média
de 31% na produção nacional de grãos de trigo, sendo os
efeitos mais depressivos projetados para a região centrosul, especialmente a partir de 2030.
Os impactos das mudanças climáticas, na agricultura
brasileira sobre as plantações de soja, milho, feijão, café
e arroz, num futuro bem próximo, reduziram a produção,
tais como as áreas plantadas, sendo que a soja seria a
cultura mais afetada, seguida pelo café. As exportações
brasileiras de soja contribuem para a captação de moedas
estrangeiras e equilibram a economia nacional. Por outro
lado, é possível melhorar as plantas para suportar os
diferentes estresses relatados. Neste caso, plantas capazes
de obter mais água ou que tenham maior eficiência no
seu uso, resistirão melhor à elevação de temperaturas,
secas e, até mesmo, à salinidade, por meio de estratégias
como redução da área foliar; deposição de ceras sobre
a folha; abscisão de folhas e fechamento de estômatos;
acentuado crescimento de raízes por modificações, ou
por alterações genéticas e morfofisiológicas, evitando,
assim, altas perdas de produtividade.
A utilização de plantas transgênicas, tolerantes aos
diferentes estresses citados, já estão sendo testadas.
Entre os genes avaliados estão aqueles envolvidos
com sinalização; controle de transcrição; proteção das
membranas e proteínas e a eliminação dos radicais livres
e compostos tóxicos. Recentemente, a investigação sobre
os mecanismos moleculares da resposta ao estresse
começou a dar frutos e, em paralelo, a modificação
genética de tolerância ao estresse também tem mostrado
resultados promissores que podem trazer benefícios às
plantas agrícolas e ecologicamente importantes em um
curto prazo de tempo.
Durante reunião do IPCC, a possibilidade de se
utilizar práticas agrícolas conservacionistas como o
sistema plantio direto para mitigar o aumento de CO2 na
atmosfera, pelo sequestro de carbono pelo solo, obteve
consenso internacional. A ideia contida no consenso
foi que, promovendo-se a adoção de práticas agrícolas,
visando à conservação do solo, seria possível não apenas
aumentar a produtividade agrícola como, também,
transformar os solos agrícolas em drenos ou sumidouros
de CO2 atmosférico.
Jan / Jun de 2013
Logo, para as empresas, a questão ambiental deixou
de ser um problema, para se tornar parte de uma solução
maior, a credibilidade da empresa junto à sociedade,
mediante qualidade e competitividade de seus produtos.
A introdução de novos conceitos como certificação
ambiental, atuação responsável e gestão ambiental tende
a modificar a postura que marcava, até recentemente,
o relacionamento entre as empresas, de um lado, e os
órgãos de fiscalização e as ONG’s, atuantes na questão
ambiental, do outro. Dessa forma, multas vão sendo
substituídas por maiores lucratividade e, como beneficio,
a empresa ganha com a imagem da credibilidade junto
aos consumidores.
Uma das principais estratégias do MAPA (Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para
implementar o Plano ABC, é o envolvimento dos
Estados, por meio da integração da Política Nacional de
Mudança Climática com os planos estaduais de redução
da emissão, mediante Grupos Gestores Estaduais (GGE).
Esta integração é justificada pelo pressuposto de que
os “estados” possuem conhecimento mais aprofundado
sobre a realidade local, considerando-se as fragilidades
e oportunidades em cada situação. Em cada etapa do
programa do Programa ABC, o produtor se propor a adotar
de uma série de ações, como por exemplo, fortalecimento
das organizações de assistência técnica e extensão rural;
capacitação e informação; estratégias de transferência
de tecnologia, tais como, dias de campo, palestras,
seminários, workshops, na implantação de Unidades de
Referência Tecnológica (URTs), além de campanhas
de divulgação e chamadas públicas para contratação de
serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural.
Por exemplo, para fins de raciocínio, se as Reservas
Legais e APPs previstas no Código Florestal brasileiro
tiverem uma área total de 100 milhões de hectares e os
donos receberem apenas R$ 200 por hectare por ano,
Jan / Jun de 2013
para não desmatar essas áreas, o total anual seria de R$
20 bilhões, sendo que o Programa Bolsa Família custa R$
15 bilhões por ano. Neste caso, seria possível o governo
gastar mais com pagamentos por serviços ambientais do
que com Bolsa Família?
O Banco Mundial estima que o Brasil precisaria de R$
34,2 bilhões, por ano, para reduzir as emissões de carbono.
Já outros pesquisadores estimam que seriam necessários
cerca de R$ 20 bilhões para manter os produtores aliados
ao programa. Denotando que não seria impossível,
entretanto, políticas econômicas deveriam ser revisadas e,
assim, sanar grande parte do problema.
Dessa forma, o combate ao aquecimento global
deve ser compatível com o crescimento econômico
sustentável e com o combate à fome, levando-se em
consideração o manejo e adequação da cultura ao
sistema de sequestro de carbono. E, então, ocorrerá a
diminuição de efeitos danosos causados pelo efeito estufa
e políticas de desenvolvimento sustentável, devem, sim,
estabelecerem-se e, ainda, gerarem novas diretrizes de
controle de danos. Denotando-se que, os pesquisadores
da área de produção vegetal têm papel importante
no futuro da sociedade moderna, desde a geração de
cultivares capazes de enfrentar alterações climáticas
diferentes a descoberta de genes que contribuíram para
a sobrevivência das espécies, sendo estas relacionadas
ou não.
Fabrício Rodrigues*
Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal,
da Universidade Estadual de Goiás. Rodovia GO-330, Km 241, Anel
Viário, Ipamerí-GO, CEP: 75780-000, Brasil.
* e-mail: [email protected]
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e devidamente identificadas. Se escaneadas, devem ser em alta resolução (800
dpi/ bitmap para traços) com extensão TIF ou JPEG. As fotos ou desenhos com
cor (300 dpi/grayscale) devem ser enviadas com extensão tif/jpg, para não termos
problemas ao aplicá-las no padrão da Revista. Outras extensões possíveis: CDR,
EPS ou CDX. No caso particular de esquemas contendo estruturas químicas,
estas deverão ter sempre a mesma dimensão, para que possam ser reduzidas
uniformemente. Considerar que as figuras deverão ter largura máxima de uma
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do artigo. Será utilizada a abreviatura da revista como definida no Chemical Abstracts
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de uma determinada revista não possa ser localizada e não for óbvio como o título deve
ser abreviado, deve-se citar o título completo. Exemplos de citações:
1. Varma, R. S.; Singh, A. P.; J. Indian Chem. Soc. 1990, 67, 518.
2. Provstyanoi, M. V.; Logachev, E. V.; Kochergin, P. M.; Beilis, Y. I.; Izv.
Vyssh. Uchebn. Zadev.; Khim. Khim. Tekhnol. 1976, 19, 708.
3. Lemos, T. L. G.; Andrade, C. H. S.; Guimarães, A. M.; Wolter-Filho, W.;
Braz-Filho, R.; J. Braz. Chem. Soc. 1996, 7, 123;
4. Ângelo, A. C. D.; de Souza, A.; Morgon, N. H.; Sambrano, J. R.; Quim.
Nova 2001, 24, 473.
5. Regitz, M. Em Multiple Bonds and Low Coordination in Phosphorus
Chemistry; Regitz, M.; Scherer, O. J., eds.; Georg Thieme Verlag: Stuttgart,
1990, cap. 2.
6. Cotton, F.A.: Wilkinson, G.; Advanced Inorganic Chemistry, 5th ed., Wiley:
New York, 1988.
► Espaço duplo entre linhas;
► Fonte: Times New Roman 12;
► Enviar uma cópia do artigo, acompanhada de carta de encaminhamento
à Editoria da Revista Processos Químicos, por meio do site www.rpqsenai.org.br.
Maiores informações podem ser obtidas mediante endereço eletrônico:
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