A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas
Transcrição
A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas
Avanços e desafios – A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas Avanços e Desafios A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas Fundo das Nações Unidas para a Infância Avanços e Desafios A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas Brasília, 2012 Expediente Realização Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) Articulação estratégica Comitê Estadual do Pacto Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido Apoio Associação Tempo de Crescer (Tcer) Representante do UNICEF no Brasil Gary Stahl Representante Adjunta do UNICEF no Brasil Antonella Scolamiero Produção editorial Assessoramento de projeto Plano b) Comunicação Reportagem Inácio França Edição Cross Content Comunicação Andréia Peres e Carmen Nascimento Revisão Regina Pereira Projeto gráfico e direção de arte José Dionísio Filho Via Design Fotos e capa Lucas Cardim Fotos de arquivo Assessoria de Comunicação do Governo do Estado de Alagoas, Pastoral da Criança e Cláudio Soriano Tratamento de imagens Premedia Crop Escritório do Representante do UNICEF no Brasil Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Avanços e Desafios: A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas/[coordenação-geral Cristina Albuquerque e Jane Santos]. – Brasília, DF: UNICEF, 2012. SEPN 510, Bloco A, 2º- andar Brasília/DF – 70750-521 www.unicef.org.br [email protected] Equipe UNICEF Coordenação-geral Cristina Albuquerque e Jane Santos Colaboração Alexandre Amorim, Estela Caparelli e Letícia Sobreira 1. Assistência médica — Alagoas (Estado) 2. Crianças - Direitos 3. Gestantes — Direitos 4. Indicadores de saúde — Alagoas (Estado) 5. Mortalidade infantil — Alagoas (Estado) 6. Municípios — Alagoas (Estado) 7. Saúde pública — Alagoas (Estado) I. Albuquerque, Cristina. II. Santos, Jane. ISBN: 978-85-87685-33-9 12-15306 CDD-362.1098135 Índices para catálogo sistemático: 1. Alagoas: Estado: Redução da Mortalidade Infantil: Avanços e Desafios: Saúde pública 362.1098135 Agradecimentos Durante a realização do livro, contamos com o apoio constante de Paulo Frias, consultor nacional do Ministério da Saúde (Área Técnica de Saúde da Criança) e do UNICEF e pesquisador do Grupo de Estudos em Gestão e Avaliação em Saúde (Geas/Imip); Alexandre de Melo Toledo, secretário de Saúde do Estado de Alagoas; Álvaro Machado, secretário-chefe do Gabinete Civil do Estado de Alagoas; Carmen Aymar, neonatologista e mestre em Saúde da Criança e do Adolescente; Carmen Vasconcelos, coordenadora técnica da Tcer; Celiany Rocha Appelt, secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de Alagoas; Cláudio Fernandes Soriano, presidente do Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca) e superintendente da área técnica da criança da Secretaria da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos do Estado de Alagoas; Herbert Motta de Almeida, ex-secretário de Saúde de Alagoas e atual secretário executivo do gabinete do governador; Juliana Vergetti, secretária adjunta da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de Alagoas e coordenadora do Comitê Estadual do Pacto ; Kátia Born, secretária da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos do Estado de Alagoas; Marcelo Palmeira, ex-secretário de Assistência e Desenvolvimento Social de Alagoas; Maria da Conceição Silva Cardozo, consultora do UNICEF, mestre em monitoramento e avaliação de políticas públicas; Marina Ferreira de Medeiros Mendes, mestre em Saúde Pública pela Fiocruz e pesquisadora do Geas/Imip; Myrna Pimentel Ribeiro Villas Bôas, diretora de Atenção Básica da Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas (Sesau); Nelma Nunes, administradora estadual do Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia)/Conselho Tutelar e secretária executiva do Cedca/AL; Olímpio Barbosa de Moraes Filho, vice-presidente regional da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e professor de Medicina da Universidade de Pernambuco; Rickelane Gouveia, coordenadora em Alagoas da ONG Aldeias Infantis; Sandra Canuto, superintendente de Vigilância em Saúde da Sesau; Suely Arruda Vidal, doutora em Saúde Materno-Infantil (Imip); Syrlene Patriota, coordenadora estadual do programa Rede Cegonha; e Tânia Mossi, assessora técnica da Tcer. Agradecemos a todos, em especial ao governador Teotônio Vilela Filho, pelas contribuições. Também agradecemos a colaboração das instituições que trabalham conosco em Alagoas e a todos os pais, mães e profissionais entrevistados. Sumário 04 Apresentação 06 Resumo Executivo 08 CONTEXTO Uma história em transformação 08 Nos últimos anos, Alagoas conseguiu melhorar as taxas de mortalidade infantil do estado. Ainda há muito a avançar para que os direitos de todas e de cada criança sejam garantidos, mas os números mostram o que já mudou e o que falta mudar para construir um novo enredo 26 avanços As ações por trás dos progressos 26 Iniciativas como a ampliação e a modernização das maternidades e dos hospitais, a oferta de atendimento humanizado a gestantes e bebês e a integração do trabalho de órgãos públicos resultaram em avanços em relação à mortalidade infantil 48 desafios Qualidade ainda precisa avançar Apesar dos progressos, os desafios ainda são muitos. Melhorar a assistência ao pré-natal, ao parto e ao pós-parto, aumentar a participação da sociedade civil e investir na qualificação dos profissionais de saúde de Alagoas são alguns deles 48 66 Futuro Prioridades para os próximos anos Fotos: Lucas Cardim Além de investir na organização e na ampliação do Sistema de Saúde, para avançar será necessário incorporar o monitoramento e a avaliação na rotina da administração pública, qualificar a Atenção Básica e fortalecer a Rede Primeira Infância do Estado de Alagoas 78 66 anexos Bibliografia e links úteis 4 Apresentação D urante muito tempo, no Brasil, a morte de um recém-nascido – ou de uma mãe – não era considerada um problema social e político e, sim, uma fatalidade, um capricho do destino. Aos poucos, essa antiga visão foi sendo superada. Hoje, há um consenso de que essas mortes, em sua maioria, poderiam ser evitadas pelo acesso a ações de prevenção e promoção da saúde e a serviços de qualidade. Reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde das gestantes está entre os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos como prioridades pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, ao analisar os maiores problemas mundiais. O livro Avanços e Desafios – A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas é parte desse esforço. A publicação resulta do diálogo estabelecido entre o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o governo de Alagoas com o objetivo de fortalecer tanto os conhecimentos técnicos de gestores e profissionais quanto a participação social. Avanços e desafios estão tanto no título do livro quanto na história do enfrentamento da mortalidade infantil no estado. Em 2000, Alagoas ostentava uma elevada taxa de mortalidade infantil, a mais alta do Brasil: 58,4 óbitos para cada mil nascidos vivos, mais do que o dobro da média nacional, de 27,4. A situação era tão grave que foi considerada calamidade pública pelas autoridades estaduais e pelo UNICEF. Durante a última década a melhoria obtida por Alagoas na taxa de mortalidade infantil foi muito significativa. De acordo com os Indi- 5 cadores de Dados Básicos para a Saúde (IDB), o índice chegou a 41,1 óbitos para cada mil nascidos vivos em 2007 e caiu para 21,5 no ano seguinte – o que significa uma queda de 48,3%. Em números absolutos, 1.238 mortes de crianças foram evitadas em um ano. Em 2009, a taxa diminuiu ainda mais: 20,05 óbitos para cada mil nascidos vivos. No entanto, há muitos obstáculos a superar. Apesar de ter evoluído, a assistência a gestantes e bebês ainda tem uma cobertura insuficiente, agravada pelas diferenças regionais. Faltam infraestrutura, recursos materiais e capacitação de profissionais na assistência hospitalar para reduzir o número de mortes consideradas evitáveis, entre outros problemas. A parceria do UNICEF com o governo de Alagoas demonstrou o quanto é importante capacitar os diversos públicos, de conselheiros setoriais a funcionários das secretarias governamentais, de médicos a gestores públicos, para que eles atuem em uma perspectiva crítica, reflexiva e transformadora. A qualificação da atuação do poder público e da sociedade é condição que se impõe para superar os desafios, reduzir as desigualdades, potencializar as conquistas e continuar a avançar para garantir que as crianças de Alagoas não apenas sobrevivam mas se desenvolvam, cresçam protegidas e aprendam. Nas próximas páginas, além dos números e das estatísticas oficiais, você vai conhecer o que já foi feito e o que ainda é preciso fazer para mudar o destino e a vida dos meninos e das meninas que nascem no estado. Gary Stahl, representante do UNICEF no Brasil 6 Resumo executivo A publicação Avanços e Desafios – A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas foi estruturada em capítulos que destacam um panorama, inclusive histórico, do enfrentamento da mortalidade infantil no estado, os progressos e os desafios que se impõem para o futuro. O primeiro capítulo, Uma história em transformação, mostra, com números de ontem e de hoje, a queda significativa das taxas de mortalidade infantil do estado. De último colocado no ranking nacional da mortalidade infantil, o estado de Alagoas passou a ocupar o 17º- lugar em 2008. Em As ações por trás dos progressos, estão as iniciativas que resultaram nos principais avanços. Entre elas destacam-se a aplicação de recursos na ampliação e na modernização de maternidades e hospitais, a oferta de um atendimento mais humanizado a gestantes e bebês, o estabelecimento de parcerias estratégicas com o UNICEF e organizações da sociedade civil e a integração do trabalho das secretarias e dos órgãos públicos envolvidos direta e indiretamente com a questão da mortalidade infantil. O terceiro capítulo, Qualidade ainda precisa avançar, mostra que, apesar dos avanços, os desafios ainda são muitos. Intensificar o combate à mortalidade no período neonatal, melhorando a assistência ao pré-natal, ao parto e ao pós-parto é um dos principais deles, mas também é preciso aumentar a participação da sociedade civil e investir na qualificação dos profissionais de saúde do estado. 7 O capítulo Prioridades para os próximos anos aponta para o futuro. Um futuro em que os esforços de Alagoas para reduzir a mortalidade materna e infantil devem continuar, mas em que a ênfase será para que as iniciativas percam o atual caráter de urgência e sejam incorporadas à rotina das políticas públicas. Em Anexos, reunimos os livros e as pesquisas consultados e as sugestões de links para sites e publicações. Cada um dos capítulos traz ainda uma série de quadros, com depoimentos, materiais úteis às capacitações e informações complementares que podem ajudar na compreensão e no enfrentamento da mortalidade infantil nos 102 municípios de Alagoas. capítulo 1 – contexto Mãe e filho atendidos por meio do programa Mãe-Canguru, na Maternidade Santa Mônica, em Maceió Uma história em transformação Foto: Lucas Cardim Nos últimos anos, Alagoas conseguiu melhorar as taxas de mortalidade infantil do estado. Ainda há muito a avançar para que os direitos de todas e de cada criança sejam garantidos, mas os números mostram o que já mudou e o que falta mudar para construir um novo enredo 10 | CONTEXTO O estado de Alagoas entrou no século 21 ostentando uma elevada taxa de mortalidade infantil, a mais alta do Brasil: 58,4 óbitos para cada mil nascidos vivos em 2000. Esse número era mais que o dobro da média nacional, de 27,4, segundo Indicadores de Dados Básicos para a Saúde (IDB)1, publicados pelo Ministério da Saúde2 e pela Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa) (veja tabela 1). Mas a média do estado escondia taxas ainda maiores, em especial em alguns municípios do sertão alagoano. Mata Grande, cidade situada a 266 quilômetros de Maceió, por exemplo, registrou 118 mortes para cada mil crianças nascidas vivas em 2000, o maior índice dos municípios alagoanos3. A situação era tão grave que foi considerada calamidade pública pelas 4 autoridades estaduais e pelo UNICEF (veja quadro Parceria pela vida). Já de acordo com o banco de dados do Sis- A situação de Alagoas era tão grave que foi considerada calamidade pública pelas autoridades estaduais e pelo UNICEF tema de Informação sobre Mortalidade (SIM), gerenciado pelo Núcleo de Sistemas de Informações da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau), nesse mesmo ano o estado registrou 30,8 óbitos por mil nascidos vivos. A variação entre os números do Ministério da Saúde e da Sesau se explica por uma diferença de metodologia na coleta dos dados e no cálculo da taxa. Enquanto o Ministério da Saúde trabalha com uma combinação de estimativas, cálculo direto e fatores de correção, a secretaria utiliza apenas o cálculo direto (veja quadro Diferentes métodos de coleta), associando as informações dos respectivos sistemas de Informações de Mortalidade (SIM) e de Nascidos Vivos (Sinasc). As causas da alta taxa de mortalidade infantil no estado começaram a ser identificadas mais detalhadamente com base na pesquisa 1 IDB 2011 Brasil. 2 www.datasus.gov.br/idb. 3 L ima, Samarone. A Vitória da Vida: Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas 2000-2004. Unicef, 2005 (Coleção Faz e Conta, vol II). 100 p. 4 Lima, Samarone. A Vitória da Vida: Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas 2000-2004. Unicef, 2005 (Coleção Faz e Conta, vol II). 100 p. Uma história em transformação | 11 Nascer em Alagoas: Dilemas e Perspectivas5, realizada por um grupo de pediatras ligados à Sociedade Alagoana de Pediatria e à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), com apoio da Sesau e do UNICEF. Publicado em 2003, o trabalho contém um amplo levantamento das condições de funcionamento das 69 maternidades alagoanas. Os achados traduziam em números o que os profissionais da saúde já sabiam. Metade das maternidades não possuía sequer berços aquecidos e 70% delas não contavam com medicamentos básicos para atendimentos de emergência, como adrenalina e bicarbonato. Das 14 maternidades de Maceió, em apenas três havia ao menos um médico pediatra plantonista em tempo integral. Na cidade de Palmeira dos Índios, somente 50% dos partos eram acompanhados. Acesso insuficiente ao pré-natal As altas taxas de mortalidade infantil se devem a uma série de fatores, tanto biológicos quanto socioeconômicos e assistenciais. Destes, destaca-se a atenção à gestante e ao recém-nascido, que, se eficiente, Foto: Lucas Cardim 5 Soriano, C. F. R. ; Melo, A. M. ; Soares, F. ; Soares, E. . Nascer em Alagoas: Dilemas e Perspectivas. 1. ed. Maceió: Edufal - Editora da Universidade Federal de Alagoas, 2003. v. 1. 120 p. Pai em visita à filha e à esposa na Maternidade Santa Mônica, em Maceió 12 | CONTEXTO pode ajudar a diminuir o número de mortes, já que a maioria das causas de óbito é considerada evitável pelas autoridades de saúde. Ou seja, são casos que raramente ou nunca deveriam terminar em morte. De acordo com o relatório Saúde Alagoas: Análise da Situação de Saúde6, no ano 2000 aproximadamente 19,9% das gestantes alagoanas não tinham acesso a nenhuma consulta antes do parto. O número de mulheres que passaram por quatro a seis consultas era de apenas 22,45%. A realização de sete ou mais consultas de pré-natal ficou em 39,85%. 6 Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, Superintendência de Vigilância em Saúde, Diretoria de Análise da Situação de Saúde. Maceió: Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, 2011. PARCERIA PELA VIDA A atuação conjunta do UNICEF e do governo O governador, então, pediu ajuda ao UNICEF do estado de Alagoas teve início em 2001, e a outras organizações da sociedade civil, como quando foi publicado o Índice de Desenvolvimen- o Conselho Regional de Medicina de Alagoas to Infantil (IDI), um detalhado estudo sobre a si- (Cremal), universidades, a Pastoral da Criança e tuação das crianças no Brasil. A informação divul- diversas ONGs da área social para combater a gada pelo UNICEF de que Alagoas tinha o maior morte de crianças no primeiro ano de vida. coeficiente de mortalidade infantil do país gerou O UNICEF colaborou com os esforços gover- uma intensa reação do governo e da sociedade namentais de diversas formas, principalmente civil, em diversos níveis. oferecendo consultoria e capacitações. A organi- Nessa época, o então governador Ronaldo zação também apoiou a realização de uma pes- Lessa decidiu vestir o colete da Defesa Civil, usa- quisa sobre a mortalidade infantil em Alagoas do normalmente em situações de calamidade por César Victora, professor-doutor da Universi- pública, até que os índices da mortalidade infantil dade Federal de Pelotas (RS), e por Elaine Toma- de Alagoas atingissem pelo menos o mesmo nível si, da mesma universidade, com a colaboração dos demais estados nordestinos. Para ele, usar o da equipe da Sesau. colete era uma forma de mostrar que havia, no Como o estado de Alagoas tinha dificuldade estado, de fato uma calamidade nesse aspecto e para encontrar um índice confiável para o Coe- que a população alagoana precisava de socorro. ficiente de Mortalidade Infantil (CMI), em razão Uma história em transformação | 13 A Sesau, então, desenvolveu o Projeto Estadual de Redução da Mortalidade Infantil, que apresentava 13 ações como estratégia para enfrentar a questão e reduzir as taxas alagoanas. Entre elas estavam a redução da mortalidade materna, a garantia de registro civil e da certidão de nascimento para todos os nascidos no estado, a diminuição da subnotificação de nascimentos e óbitos, a melhoria da assistência ao pré-natal, ao parto, ao nascimento e ao puerpério, e o estímulo ao aleitamento materno7. 7 Lima, Samarone. A Vitória da Vida: Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas 2000-2004. Unicef, 2005 (Coleção Faz e Conta, vol II). 100 p. das subnotificações de nascimentos e óbitos e de divergências entre os sistemas de acompanhamento dos dados, Victora teve de comparar diferentes indicadores, como os do IBGE, e analisar o sistema de coleta e processamento dos dados de distintos bancos de informações, como o Sistema de Informações Básicas (Siab), o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc) entre os anos de 1999 e 2002. De acordo com a pesquisa, divulgada em 2004, o estado conseguiu, nesse período, consolidar uma tendência de redução do CMI. Desde então, o UNICEF vem colaborando com o governo estadual na implementação e no tante e à criança, com o objetivo de tornar mais eficientes as políticas voltadas para a redução da mortalidade infantil do estado (veja mais sobre isso no capítulo Avanços). Foto: Lucas Cardim aprimoramento de programas de atenção à ges- Maria Aparecida Pertuliano com sua filha caçula em Inhapi, no interior alagoano 14 | CONTEXTO A situação foi melhorando, mas em ritmo lento. De acordo com a publicação A Vitória da Vida: Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas, do UNICEF, em 2004 a cidade de Campo Alegre tinha uma estimativa de 983 gestantes, das quais apenas 316 estavam cadastradas no sistema pré-natal. O município de Delmiro Gouveia tinha 1.005 mulheres gestantes no mesmo ano, nenhuma delas cadastrada no sistema pré-natal. Em Santana do Ipanema, a estimativa era de 1.005 gestantes, com cerca de 395 cadastradas no pré-natal8. Hospitais sobrecarregados Durante mais de uma década, praticamente todas as alagoanas grávidas que entravam em trabalho de parto considerado de alto risco eram levadas para a Maternidade Escola Santa Mônica, na capital, Maceió. A precariedade do acompanhamento pré-natal e dos serviços de saúde prestados nos municípios do interior ou nos bairros mais 8 Lima, Samarone. A Vitória da Vida: Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas 2000-2004. Unicef, 2005 (Coleção Faz e Conta, vol II). 100 p. DIFERENTES MÉTODOS DE COLETA A taxa de mortalidade infantil de Alagoas, as- de do Sul e Mato Grosso do Sul, e o Distrito Federal sim como de outros 19 estados brasileiros, têm sua taxa de mortalidade calculada de forma era estimada com base nos números dos censos direta, associando as informações dos respectivos demográficos e da Pesquisa Nacional por Amos- sistemas de Informações de Mortalidade (SIM) e de tra de Domicílios (Pnad), realizados pelo IBGE. O Nascidos Vivos (Sinasc). A boa qualidade dos sis- cálculo considerava as projeções para os números temas garante que o cálculo direto seja realizado totais de óbitos e nascimentos, enquanto os dados nesses estados. concretos coletados pelos sistemas de informação eram descartados por causa da baixa cobertura. Já os Indicadores de Dados Básicos para a Saúde (IDB) são calculados pelo Ministério da Saúde Somente os estados de São Paulo, Rio de Janei- e pela Ripsa com base em diferentes indicadores, ro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Gran- de acordo com a disponibilidade para cada estado: Uma história em transformação | 15 pobres da capital contribuía para transformar a Santa Mônica em uma das únicas opções para a maioria da população de Alagoas – estatísticas da própria instituição revelaram que mais de 50% dos pacientes eram oriundos do interior do estado9. Em consequência, seus profissionais conviviam com a superlotação das enfermarias, das unidades de tratamento intensivo neonatal e materna e até dos corredores. Por estar operando com mais de 130% de sua ocupação, o que eleva os riscos de mortalidade materna e neonatal, a Santa Mônica chegou a restringir o atendimento a situações emergenciais de risco de morte10. Nem mesmo a reabertura da maternidade do Hospital Universitário da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) alterou esse quadro. Como não existia nenhum sistema de regulação de leitos capaz de 9 Ação Civil Pública Maceió (AL), 30 de agosto de 2006, para solução dos problemas alusivos à carência de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, bem como de Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) neonatal em todo o estado de Alagoas. 10 Ação Civil Pública Maceió (AL), 30 de agosto de 2006, para solução dos problemas alusivos à carência de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, bem como de Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) neonatal em todo o estado de Alagoas. métodos demográficos indiretos, dados do SIM e afetadas pelo sub-registro e ser internacional- do Sinasc e fatores de correção obtidos em proces- mente aceitas. No entanto, consideram longos sos de busca ativa de óbitos (ver tabela 1). períodos de tempo e, com isso, não conseguem A Secretaria de Saúde de Alagoas tem feito es- refletir as mudanças mais recentes. Assim, sua forços para ampliar a cobertura do SIM e do Sinasc, utilidade é limitada para a avaliação e o planeja- que atualmente está em 91,4% e 94,6% respecti- mento das políticas públicas de saúde. vamente. Com isso, nos últimos anos está reduzin- O método direto, por ser baseado em óbi- do o sub-registro de óbitos e tornando possível o tos registrados, gera estimativas regulares cálculo da mortalidade infantil pelo método direto e recentes de mortalidade. Por outro lado, a – mesmo com aplicação de fatores de correção – e subnotificação de óbitos e a falta de qualidade não pelas estimativas indiretas. das informações podem distorcer as estimati- As estimativas indiretas têm a vantagem de ser uniformes para todos os estados, de não ser vas. Assim, esses dados devem ser analisados com cautela. 16 | CONTEXTO avaliar e encaminhar cada caso para o local mais adequado ou com maior número de vagas, a Santa Mônica continuou a ser a primeira opção para o encaminhamento de pacientes de alto risco para 54 dos 102 municípios alagoanos. Essa situação de precariedade fez com que, em 2006, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual entrassem com uma Ação Civil Pública para exigir a ampliação no número de leitos no estado 11. Segundo o documento da ação, Alagoas deveria ter, no mínimo, 60 leitos de terapia intensiva neonatal e 180 leitos de berçário intermediário. No entanto, tinha apenas 39 leitos em UTI e 74 em berçários – uma carência de 21 e 106 leitos, respectivamente. Esse problema era ainda agrava- Metade das maternidades alagoanas não possuía sequer berços aquecidos e 70% delas não contavam com medicamentos básicos para atendimentos de emergência, como adrenalina e bicarbonato do pelo fato de que mais da metade dos 39 leitos de UTI existentes estava localizada somente em Maceió, assim como a grande maioria dos leitos de berçário, fazendo com que os pacientes do interior tivessem que se deslocar para a capital a fim de receber atendimento adequado. Mortalidade em queda Durante a última década a melhoria obtida por Alagoas na taxa de mortalidade infantil foi muito significativa. De acordo com o IDB, o índice chegou a 41,1 óbitos para cada mil nascidos vivos em 2007 e caiu para 21,5 no ano seguinte – o que significa uma queda de 48,3%. Em números absolutos, 1.238 mortes de crianças foram evitadas em um ano. Em 2009, a taxa diminuiu um pouco mais: 20,05 óbitos para cada mil nascidos vivos (veja tabela 1). Já segundo o SIM, da Sesau, em 2010 a taxa caiu para 17,5 por mil nascidos vivos, uma redução de 43,2% em comparação a 2000. A queda se deu de forma mais acelerada entre os anos de 2006 e 2010 (18,2%), 11 Ação Civil Pública Maceió (AL), 30 de agosto de 2006, para solução dos problemas alusivos à carência de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, bem como de Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) neonatal em todo o estado de Alagoas. Uma história em transformação | 17 Tabela 1 Taxa de mortalidade infantil – IDB 2011 Número de óbitos infantis (menores de 1 ano) por mil nascidos vivos Região e UF 2000 Obs 2007 Obs 2008 Obs 2009 Região Norte 28,62 * 22,14 * 23,06 **** 22,28 Rondônia 25,37 * 19,91 * 21,58 **** 20,23 Acre 35,59 * 28,04 * 23,39 **** 22 Amazonas 29,21 * 21,52 * 21,92 **** 21,43 Roraima 21,56 * 16,64 * 20,73 **** 19,06 Pará 29,02 * 23,09 * 23,64 **** 22,86 Amapá 25,95 * 20,85 * 28,91 **** 28,75 Tocantins 28,47 * 21,42 * 21,83 **** 21,32 Região Nordeste 41,57 * 28,67 * 21,65 **** 20,3 Maranhão 43,24 * 30,07 * 24,03 **** 23,01 Piauí 36,47 * 26,19 * 23,62 **** 22,04 Ceará 37,23 * 24,37 * 19,12 **** 17,62 Rio Grande do Norte 41,62 * 29,85 * 21,08 **** 19,1 Paraíba 44,83 * 30,95 * 21,18 **** 19,29 Pernambuco 44,29 * 29,16 * 19,31 **** 18,09 Alagoas 58,4 * 41,16 * 21,53 **** 20,05 Sergipe 40,53 * 30,03 * 20,4 **** 18,83 Bahia 37,57 * 26,3 * 23,3 **** 22,14 Região Sudeste 19,15 *** 14,57 *** 14,16 *** 13,89 Minas Gerais 22,34 * 17,4 * 17,38 **** 16,98 Espírito Santo 18,84 ** 13,9 ** 14,46 ** 12,86 Rio de Janeiro 19,74 ** 14,78 ** 14,31 ** 14,53 São Paulo 17,33 ** 13,06 ** 12,59 ** 12,37 Região Sul 17,03 ** 12,94 ** 12,65 ** 12 Paraná 19,58 ** 13,22 ** 13,09 ** 12,61 Santa Catarina 15,71 ** 12,77 ** 11,69 ** 11,17 Rio Grande do Sul 15,14 ** 12,75 ** 12,76 ** 11,85 Região Centro-Oeste 20,92 *** 16,51 *** 16,99 *** 16,44 Mato Grosso do Sul 23,83 ** 19,19 ** 16,54 ** 16,87 Mato Grosso 23,24 * 18,23 * 21,76 **** 20,76 Goiás 21,48 * 16,99 * 16,89 **** 15,83 Distrito Federal 14,4 ** 11,09 ** 11,89 ** 12,26 Total 27,36 *** 20,01 *** 17,56 *** 16,8 Obs **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** **** *** **** ** ** ** ** ** ** ** *** ** **** **** ** *** * Taxas estimada pelo MS com base em métodos demográficos indiretos. ** Taxas calculadas diretamente dos sistemas SIM e Sinasc, para os estados que atingiram índice final (cobertura e regularidade do SIM) igual ou superior a 80% e cobertura do Sinasc igual ou superior a 90%. *** Média das taxas estaduais, obtidas por método direto ou indireto. **** Estimadas com os dados informados ao SIM e ao Sinasc corrigidos por fatores obtidos no processo de busca ativa realizado na Amazônia Legal e no Nordeste, no ano de 2008. Nota: Para 2010, o processo de busca ativa não estava completo no momento do fechamento do IDB-2011; por isso, este indicador não apresenta dados para esse ano. Foto: Lucas Cardim 18 | CONTEXTO O enfermeiro João Batista da Silva atende criança na Unidade de Saúde da Família em Inhapi Uma história em transformação | 19 período em que a mortalidade infantil no estado passou de 21,4 para 17,512. É importante considerar a probabilidade de haver subnotificações e sub-registros de óbitos por falta de assistência médica para a constatação da morte, pela existência de cemitérios clandestinos e pela perda dos dados durante o fluxo das declarações de óbitos. Uma pesquisa de busca ativa promovida pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, em conjunto com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – que, com base nas informações coletadas, calculou um fator de correção para a quantidade de óbitos infantis –, também demonstrou os avanços alcançados13. De último colocado no ranking nacional da mortalidade infantil, o estado de Alagoas passou a ocupar o 17º- lugar, com taxa menor do que todos os estados da Região Norte (exceto Roraima), Maranhão, Piauí, Bahia, além de Mato Grosso (veja tabela 2). Em 2010, a taxa de mortalidade infantil de Alagoas caiu para 17,5 por mil nascidos vivos, redução de 43,2% em comparação ao ano 2000. A queda se deu de forma mais acelerada entre os anos de 2006 e 2010 Falhas no atendimento continuam Apesar das importantes melhorias nos últimos anos, ainda há muito a avançar. De acordo com o relatório Saúde Alagoas: Análise da Situação de Saúde14, a análise dos óbitos considerados evitáveis revela que falhas nas ações de prevenção, diagnóstico e tratamento precoce contribuíram para as mortes. Um exemplo disso é a frequência dos óbitos neonatais hospitalares com asfixia ao nascer. Em 2009, a taxa foi muito elevada no interior de Alagoas (65%), em especial entre os recém-nascidos 12 Saúde Alagoas: Análise da Situação de Saúde. Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, Superintendência de Vigilância em Saúde, Diretoria de Análise da Situação de Saúde. Maceió: Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, 2011. 13 Pesquisa Busca Ativa de Óbitos e Nascimentos no Nordeste e na Amazônia Legal: Estimação da Mortalidade Infantil nos Municípios Brasileiros. In Saúde Brasil 2010: Uma Análise da Situação de Saúde e de Evidências Selecionadas de Impacto de Ações de Vigilância em Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde/MS. 14 Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, Superintendência de Vigilância em Saúde, Diretoria de Análise da Situação de Saúde. Maceió: Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, 2011. 20 | CONTEXTO com peso acima de 2,5 quilos (veja mais sobre o assunto no capítulo Desafios). De acordo com estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), esse dado revela condições inadequadas de atendimento nas salas de parto e nas unidades de cuidados neonatais15. Segundo o relatório Saúde Alagoas, o número de gestantes que não tinham acesso a nenhuma consulta antes do parto caiu de 19,9%, em 2000, para 2,9%, em 2010, mas essa proporção ainda é maior Mães com seus filhos recém-nascidos na Maternidade Santa Olímpia, em Palmeira dos Índios Foto: Lucas Cardim 15 E pidemiologia dos Óbitos Neonatais Hospitalares Associados à Asfixia Perinatal no Interior do Estado de Alagoas em 2009. Cicero J. Silva, Junko A. B. Oliveira, M. Fernanda B. Almeida, Ruth Guinsburg, Cláudio F. R. Soriano. Unifesp; Uncisal. Uma história em transformação | 21 que a média brasileira, de 1,84%, segundo o Tabela 2 Uma nova versão do ranking da mortalidade infantil – 2008 IDB16. Destaca-se que 15,30% das mães adolescentes não realizaram pré-natal. O número de mulheres que passaram por quatro a seis consultas aumentou de 22,45% para 43,44%. A realização de sete ou mais consultas de pré-natal aumentou de 39,85% para 43,07% em 2010. Apesar do crescimento, o número de gestantes que realizaram sete ou mais consultas ainda é muito baixo. A média brasileira é de 61,11%17. Falta qualidade nas notificações No período de 2006 a 2010, a maior proporção de óbitos infantis foi registrada na faixa etária materna de 20 a 30 anos, seguida da faixa de 10 a 19 anos. Mas, segundo o relatório Saúde em Alagoas, há um grande número de declarações de óbito sem informações sobre a idade da mãe, indicando deficiência na coleta ou no preenchimento dos dados. O mesmo acontece em relação à idade gestacional: não há essa informação para 3,1% dos nascidos vivos em Alagoas. Entre os bebês que morrem na fase neonatal, a falta de informação é ainda mais elevada: 25,3% não têm declaração de idade gestacional. Com isso, fica difícil avaliar com precisão a influência da prematuridade na mortalidade infantil do estado, embora se saiba que esse é um fator de risco significativo. Em 2010, 16 IDB 2011. 17 IDB 2011. Posição 1º2ºº- UF CMI Santa Catarina 11,7* Distrito Federal 11,9* 3º4º- São Paulo 12,6* Rio Grande do Sul 12,8* 5º6º- Paraná 13,1* Rio de Janeiro 14,3* 7º8º- Espírito Santo 14,5* Mato Grosso do Sul 16,5* Goiás 16,9 9º10º11º- Minas Gerais 17,4 Ceará 19,1 12º13º14º- Pernambuco 19,3 Sergipe 20,4 Roraima 20,7 15º16º- Rio Grande do Norte 21,1 Paraíba 21,2 17º18º19º- Alagoas 21,5 Rondônia 21,6 Tocantins 21,8 20º21º- Mato Grosso 21,8 Amazonas 21,9 22º23º- Bahia 23,3 Acre 23,4 24º25º26º27º- Pará 23,6 Piauí 23,6 Maranhão 24,0 Amapá 28,9 * Calculado pelo método direto, sem correção dos dados informados ao SIM e ao Sinasc**. Fontes: Pesquisa Busca Ativa de Óbitos e Nascimentos no Nordeste e na Amazônia Legal: Estimação da Mortalidade Infantil nos Municípios Brasileiros. **A metodologia de cálculo da mortalidade infantil desta tabela foi fundamentada nas coberturas dos sistemas de informações SIM e Sinasc, no ano de 2008, estimadas com base nos dados coletados na pesquisa Busca Ativa de Óbitos e Nascimentos na Amazônia Legal e no Nordeste, realizada entre setembro de 2009 e junho de 2010, pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e pela Fundação Oswaldo Cruz. Com base nas informações captadas pela busca ativa, foi calculado um fator de correção de óbitos infantis. Foto: Lucas Cardim 22 | CONTEXTO UTI neonatal da Maternidade Santa Olímpia, em Palmeira dos Índios Uma história em transformação | 23 registrou-se o maior número de óbitos (50,2%) entre os bebês prematuros (nascidos com menos de 37 semanas de gestação). Outro fator que influencia a taxa de mortalidade infantil, a falta de saneamento básico adequado, também está sendo melhorado em Alagoas. De acordo com o IBGE18, em 2011 20,8% das residências alagoanas tinham acesso à rede de esgoto – em 2009, esse índice era de apenas 8%. Nesse ano, somente quatro estados brasileiros estavam em condições piores ( Piauí, Amapá, Pará e Rondônia). Mudança de cultura lenta Para o atual governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, falta também mudar a percepção que os moradores do interior têm das mortes dos “anjinhos”, como se referem aos bebês e às crianças pequenas enterradas em caixões brancos, para ampliar a mobilização dos gestores municipais. “Os prefeitos não podem aceitar a banalização, precisam ir ao enterro de cada criança que morre em seu município. Porque, quando o prefeito vai a um enterro no interior, a morte deixa de ser um acontecimento banal”, afirma. De último colocado no ranking nacional da mortalidade infantil, em 2000, o estado de Alagoas passou a ocupar o 17 º- lugar em 2008, com taxa menor do que todos os estados da Região Norte (exceto Roraima), Maranhão, Piauí, Bahia, além de Mato Grosso Com esse objetivo, o governador reuniu os secretários direta ou indiretamente envolvidos com o tema e percorreu o estado, fazendo reuniões públicas com a participação dos prefeitos, secretários municipais, médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde. Durante uma dessas reuniões, o governador percebeu que não eram só os prefeitos que precisavam ser sensibilizados. Um agente comunitário pediu a palavra e disse que a maior dificuldade era vencer a indiferença da comunidade, explicando que as crianças morrem, mas nem mesmo suas famílias se importam, como se a morte de um bebê fosse algo normal e inevitável. “Fiquei chocado com aquele relato e comovido com a indignação do funcioná18 Pnad 2011, Síntese de Indicadores. 24 | CONTEXTO rio. É evidente que sabíamos da importância do problema, mas foi aí que percebi a real dimensão da tragédia alagoana: aqui nós perdemos o equivalente a mais de três boeings cheios de crianças todos os anos, mas isso não é notícia”, diz o governador. Atendimento no interior ainda insuficiente A inauguração de unidades de tratamento intensivo neonatal em alguns hospitais no interior, como em Arapiraca e Palmeira dos Índios, melhorou a cobertura de atenção às gestantes e aos recém-nascidos de Alagoas. Mas a demanda no interior do estado é tão grande que as gestantes e os bebês de alto risco continuam sendo encaminhados para receber atendimento em Maceió. CUIDADOS QUE SALVAM F uncionária de um posto de combustível em capital alagoana, onde, na manhã seguinte, o bebê União dos Palmares, Gislaine Eloíse da Silva nasceu prematuro, pesando apenas 1,1 quilo, na (foto à direita) não imaginava que uma única difi- Maternidade Escola Santa Mônica. culdade enfrentada durante os seis meses da sua O prognóstico era ruim. Os médicos informa- gestação seria o prenúncio de muitas atribulações. ram a Gislaine que seu filho iria permanecer na UTI “Fui a todas as consultas do pré-natal no posto do neonatal e havia risco de que ele não sobrevivesse. Programa Saúde da Família. Com três meses de gra- Durante esse período, houve momentos críticos. Na videz tive um sangramento, o colo do útero não es- primeira vez em que ele saiu da UTI, teve de voltar no tava fechado, mas só precisei ficar de repouso cinco dia seguinte, porque estava com uma infecção grave, dias que o perigo passou e voltei a trabalhar”, afirma. chegando a ser entubado. “Quando eu achava que No sexto mês, tudo mudou. A bolsa estourou e já tinha chegado a hora de voltar para casa, os médi- ela perdeu o líquido amniótico. Sua cunhada, agen- cos descobriram uma infecção urinária. Dessa vez foi te comunitária de saúde, percebeu que Gislaine en- ainda pior: ele teve uma parada respiratória quando trara em trabalho de parto. Em União dos Palmares, os médicos tentavam colocar um cateter. Aí, ele foi as grávidas nessas condições são encaminhadas entubado de novo”, relembra Gislaine. para Maceió. Em menos de 1 hora, a ambulância A batalha pela vida foi dura, mas teve final fe- venceu os 73 quilômetros que separam a cidade da liz. Após 45 dias na UTI, o bebê e a mãe foram Uma história em transformação | 25 Foi o que aconteceu com Gislaine Eloíse da Silva, moradora de União dos Palmares. Com o rompimento da bolsa e as primeiras contrações aos seis meses de gestação, foi levada para Maceió, onde o parto foi realizado e o bebê permaneceu na UTI até ter alta. Com o atendimento recebido, o bebê de Gislaine conseguiu escapar de engrossar as estatísticas de mortalidade infantil do estado (veja quadro Cuidados que salvam). A mesma sorte não teve Rosicleide Sampaio. Moradora da zona rural do município de Traipu, não teve acesso a um acompanhamento pré-natal adequado e ainda precisou buscar atendimento em duas outras cidades até conseguir dar à luz uma menina prematura, que juntos para as salas do programa Mãe-Canguru. Nesse espaço, Gislaine passou a amamentar seu filho, que dormia sempre ao seu lado. Quando saiu do hospital, o bebê pesava duas vezes mais Foto: Lucas Cardim morreu cinco dias depois do nascimento (veja capítulo Desafios). do que ao nascer. Nos primeiros meses, a mãe o levava duas vezes por semana à maternidade em Maceió para dar continuidade aos exercícios de terapia ocupacional. Aos poucos, a rotina se tornou mais branda, exigindo menos tempo na estrada. Pouco antes de completar 1 ano de vida, o garoto passava por uma sessão mensal de terapia em Maceió e uma sessão semanal lá mesmo em União dos Palmares. Gislaine continuou a amamentar até algumas semanas antes do primeiro aniversário do bebê. Ela voltou a trabalhar no posto de gasolina e o filho passa a maior parte do dia com a avó paterna, sempre cercado de parentes. Os tempos árduos e tensos no hospital ficaram definitivamente para trás. A terapeuta ocupacional Maria de Fátima Mascarenhas, o menino Júlio Filho e Gislaine Eloíse da Silva capítulo 2 – avanços Mãe e bebê permanecem juntos na maternidade do Hospital Regional de Arapiraca Iniciativas como a ampliação e a modernização das maternidades e dos hospitais, a oferta de atendimento humanizado a gestantes e bebês e a integração do trabalho de órgãos públicos resultaram em avanços em relação à mortalidade infantil Foto: Lucas Cardim As ações por trás dos progressos 28 | AVANÇOS N o período de uma década, Alagoas registrou grandes avanços em sua luta contra a mortalidade infantil. A taxa de óbitos de bebês com menos de 1 ano de idade caiu pela metade (ver grá- ficos 1 e 2). Também cresceu o número de gestantes que tiveram acompanhamento pré-natal durante a maior parte da gravidez. O estado ampliou ainda a cobertura de Atenção Básica às gestantes e aos recém-nascidos na capital e no interior (veja mais sobre isso no capítulo Contexto). Uma análise das ações que resultaram nos avanços obtidos até agora indica os caminhos pelos quais Alagoas deve seguir para continuar superando os desafios e reduzir as taxas de mortalidade infantil de forma a garantir a sobrevivência, com qualidade de vida, de suas crianças. Entre elas destacam-se a aplicação de recursos na ampliação e na modernização das maternidades e hospitais, a oferta de um atendimento mais humanizado a gestantes e bebês, a melhoria do acesso e qualidade do pré-natal, o estabelecimento de parcerias 98% das compras passaram a ser licitadas, proporcionando redução de 30% nas despesas com veículos, equipamentos e medicamentos estratégicas com o UNICEF e organizações da sociedade civil, a integração do trabalho de secretarias e órgãos públicos envolvidos direta e indiretamente com a questão da mortalidade infantil, a melhoria das condições de vida da população e o aperfeiçoamento dos sistemas de informações de nascimentos e óbitos. Investimento em hospitais e maternidades No âmbito governamental, uma das prioridades foi investir no aparelhamento das maternidades alagoanas. O primeiro passo foi a compra de equipamentos para toda a rede hospitalar e a reestruturação das unidades de terapia intensiva e de cuidados intensivos. Foram mais de 3 milhões de reais gastos em respiradores, oxímetros e monitores novos para ampliar e renovar o chamado “parque de equipamentos” das maternidades, liberando-as da obrigação de investir em máquinas. O governo estadual passou também a custear metade do valor de medicamentos fundamentais para garantir a sobrevivência de crianças prematuras, como surfactantes e kits de reanimação neonatal. Essa decisão aliviou As ações por trás dos progressos | 29 os gastos dos municípios com saúde, já que o Ministério da Saúde arca com a outra metade dos valores. Ainda assim, as 17 maternidades dos municípios de referência de Alagoas poderiam usar até 50% dos recursos repassados diretamente em obras de reforma física ou na compra de equipamentos. Os programas de cofinanciamento – a contribuição do estado nas despesas que cabem aos municípios – da saúde em Alagoas foram inspirados no modelo criado em Minas Gerais, referência em estrutura hospitalar e organização da rede de saúde. A participação do estado se tornou possível graças à melhoria da arrecadação, decorrente do aquecimento da economia, e também a uma medida simples e obrigatória: 98% das compras passaram a ser licitadas, proporcionando redução de 30% nas despesas com veículos, equipamentos e medicamentos. Durante os anos da situação de calamidade, era comum que as compras fossem realizadas em caráter de urgência. E, quando se compra com pressa, se paga mais. Gráfico 1 Óbitos de menores de 1 ano — Alagoas, 2010 a 2011 1000 923 800 809 600 400 200 0 2010 2011 Fonte: SIM/SES/AL, Relatório de Atividade 2010-2012 do Pacto Nacional Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido 30 | AVANÇOS E o dinheiro não era repassado sem controle. As 17 maternidades precisavam cumprir metas quantitativas e qualitativas para receber os recursos sem nenhuma interrupção. As metas – entre elas, redução de cesarianas, diminuição de casos de infecção hospitalar e número de reuniões da comissão de vigilância do óbito infantil – eram monitoradas por meio de um sistema desenvolvido pelos próprios técnicos da Secretaria de Saúde. “Para alimentar o sistema, entregamos a cada município um computador. Para aqueles que não tinham acesso à internet, entregamos um pen drive para que fossem ao município vizinho passar os dados em uma lan house. Uma solução simples que surgiu em um dos fóruns do Programa Viva Vida, com a participação da comunidade”, explica Herbert Motta de Almeida, ex-secretário de Saúde do estado de Alagoas. O monitoramento das metas revela várias experiências municipais que viraram modelo para o restante do estado. Paripueira1 ilustra o que 1 Município litorâneo situado a 31 quilômetros de Maceió, com população de 11 mil habitantes. Gráfico 2 Taxa de mortalidade infantil – Alagoas, 2000 a 2009 60 58,4 50 54,9 51,8 48,9 40 46,4 44,4 42,6 41,1 30 20 21,5 20,0 10 0 2000 200120022003 2004200520062007 2008 2009 Fonte: IDB 2011 As ações por trás dos progressos | 31 pode ser alcançado com investimentos na gestão e se tornou um exemplo de como é possível melhorar. Em 2007, o município estava quase sob intervenção, mas teve os serviços de atenção primária completamente reestruturados. Com isso, passou de 5,2 óbitos por mil nascidos vivos em 2007, resultado de um sistema de notificação de óbitos quase inexistente, para 24,5 óbitos em 2008, o que indica que as mortes de crianças passaram a ser realmente registradas. Antes, isso não era feito. Lagoa da Canoa2 é um exemplo de como vincular profissionais. Lá foi aprovada uma lei municipal que permite o pagamento de incentivos financeiros para os médicos do Programa Saúde da Família (PSF) caso eles cumpram metas, incluindo o respeito à carga horária. Nesse município, próximo a Arapiraca, a mortalidade infantil caiu de 42,6 por mil nascidos vivos em 2007 para 27,6 no ano seguinte. Segunda maior cidade do estado, Arapiraca se destaca pelo salto de qualidade que 3 conseguiu dar ao atendimento, embora ainda enfrente problemas de cumprimento de carga Com a maior parte dos esforços e dos recursos concentrada na reestruturação de maternidades, hospitais e UTIs, os serviços de Atenção Básica de Alagoas tiveram de esperar horária por parte dos profissionais. A taxa de mortalidade infantil no município caiu de 21,2 por mil nascidos vivos em 2007 para 18,1 em 2008. Iniciativas como um centro de atendimento noturno para grávidas que trabalham em dois turnos ou moram fora da área de cobertura do PSF influenciaram decisivamente a melhoria da taxa e de outros indicadores de saúde. Com a maior parte dos esforços e dos recursos concentrada na reestruturação de maternidades, hospitais e UTIs, os serviços de Atenção Básica tiveram de esperar. Segundo Almeida, na época da “calamidade pública” não havia outra alternativa. “Nós acreditávamos que, apesar de todas as dificuldades, a cobertura em algum nível de Atenção Básica era de 70% do estado. E com programas como o de farmácia básica, os municípios tinham condições de, pelo menos, fazer o mínimo. Então, 2 Município situado a 142 quilômetros de Maceió, com população de 18 mil habitantes. 3 Município distante 125 quilômetros de Maceió, com 214 mil habitantes. 32 | AVANÇOS nós começamos a reduzir a mortalidade quando melhoramos as condições de assistência ao parto, estruturando as maternidades”, explica. As melhorias na atenção secundária evidenciaram a mortalidade provocada pelas fragilidades no acompanhamento pré-natal. Após concentrar esforços na assistência hospitalar, agora é necessário investir nos serviços de pré-natal e de acompanhamento às mães e aos bebês nos primeiros meses após o parto (veja mais sobre isso no capítulo Desafios). Humanização do atendimento Outro foco das políticas públicas de saúde foi a implantação de uma estratégia de humanização no atendimento cotidiano dos hospitais alagoanos. Na Maternidade Escola Santa Mônica, em Maceió – um dos principais centros de atenção a gestantes e recém-nascidos do estado –, médicos, enfer- Um dos focos das políticas públicas de saúde no estado foi a implantação de uma estratégia de humanização no atendimento cotidiano das maternidades e dos hospitais alagoanos meiros, auxiliares de enfermagem e administradores passaram por inúmeras capacitações e treinamentos sobre o tema no decorrer da última década. A maternidade também implantou o programa Mãe-Canguru. Nas salas reservadas para esse fim, as mães podem amamentar, cuidar da higiene e dormir ao lado dos filhos que acabaram de deixar a UTI. A pediatra Sirmani Frazão Torres, coordenadora do programa, explica que as mulheres participantes recebem orientações a respeito de vários temas ligados à família e à saúde do bebê, incluindo informações sobre métodos anticoncepcionais e a importância do aleitamento materno. “Fortalecer o aleitamento materno e o vínculo entre mãe e filho ajuda a reduzir a mortalidade”, diz a médica. Entre 2009 e 2010, foi feito ainda um investimento de cerca de 3 milhões de reais no aumento de número de leitos e no reaparelhamento das UTIs da Santa Mônica. “Avançamos bastante nos últimos anos no combate à mortalidade infantil, principalmente de 2010 para cá. É como se, nesse campo, as coisas tivessem entrado no rumo certo”, afirma o obstetra Telmo Henrique Barbosa de Lima, gerente-geral da As ações por trás dos progressos | 33 maternidade até o início de 2012. “Além da aquisição de equipamentos, outro exemplo desse avanço é a formação de uma rede de hospitais no interior”, explica, referindo-se às UTIs neonatais de Arapiraca e de Palmeira dos Índios e às Unidades de Cuidados Intermediários (UCIs) de São Miguel dos Campos, Santana do Ipanema e Penedo, esta ainda em processo de estruturação. No Hospital Regional de Arapiraca foi implantada uma unidade de tratamento intensivo neonatal na metade da década passada, o que ajudou a reduzir a sobrecarga de outras maternidades do estado. Também foi estabelecida uma política de qualificação e capacitação da equipe, com foco na humanização do atendimento. “O Ministério da Saúde ofertou cursos, capacitações e visitas técnicas, pois a maternidade participa do plano de qualificação para a redução de mortalidade infantil. Fiz uma visita técnica e um curso de Boas Práticas no Sofia Feldman, Foto: Lucas Cardim em Minas Gerais”, conta Andréia Costa, gerente técnica do hospital. Médico fantasiado, em celebração ao Dia da Criança, atende bebê na ala de pediatria do Hospital Regional de Arapiraca 34 | AVANÇOS Em 2011, a equipe foi conhecer o Instituto Fernandes Figueira, ligado à Fiocruz, no Rio de Janeiro. “O resultado é que estamos avançando em nossa política de humanização. Por exemplo, garantimos a aplicação da Lei do Acompanhante. Aqui, o pai tem trânsito livre no pré-parto, no parto e no puerpério”, afirma a gerente. Colaboração estratégica No início de 2011, o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, pediu ao UNICEF que avaliasse o que o estado estava fazendo em relação à mortalidade infantil, desse seu aval para as ações que estivessem no caminho certo e propusesse as mudanças necessárias para melhorar as políticas estaduais de saúde. A sugestão para envolver o UNICEF partiu dos integrantes do Comitê Estadual do Pacto Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido, que busca colocar a infância e a adolescência no centro das políticas públicas da região. Na verdade, foi uma retomada de uma parceria antiga. Desde 2001, o UNICEF colabora com ações do governo do estado de Alagoas na redução da mortalidade infantil (veja mais sobre isso no capítulo Contexto). Nesta nova etapa, o UNICEF foi convidado a monitorar o Projeto Viva Vida, em conjunto com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e a Secretaria de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social (Seads), e a indicar uma consultoria para apoiar sua implementação. O projeto é uma estratégia de integração das políticas públicas para promoção da vida e inclusão social, com o objetivo de mobilizar prefeituras, órgãos públicos estaduais e a sociedade civil dos 102 municípios alagoanos a melhorar os indicadores de saúde e proteção de crianças e adolescentes, em especial a mortalidade infantil. O Viva Vida é complementado por programas nas áreas de saúde, assistência e desenvolvimento social, entre outros, executados em parceria com órgãos formadores e sociedade civil organizada. Esses programas têm como foco, entre outras ações, a expansão do número de equipes de Saúde da Família; a ampliação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) e cuidados intermediários (UCI) neonatais; a regulação da atenção obstétrica e neonatal; a ampliação da rede de bancos de leite humano; a qualificação As ações por trás dos progressos | 35 dos profissionais para adoção do método Mãe-Canguru; e o aumento da cobertura e da qualidade dos Sistemas de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Nascidos Vivos (Sinasc), para possibilitar o cálculo direto da taxa de mortalidade infantil. O UNICEF ficou responsável também pela disponibilização de materiais específicos e de metodologia para a capacitação de articuladores do Selo UNICEF Município Aprovado, conselheiros tutelares, conselheiros de direitos da criança e do adolescente, conselheiros de saúde, comunicadores, promotores, defensores, educadores, profissionais da assistência social e líderes comunitários, considerados facilitadores da rede de proteção da mulher e da criança em suas comunidades. Promoveu a capacitação de profissionais de saúde em qualificação do pré-natal, parto e cuidados com o recém-nascido, tendo como base a aplicação efetiva dos protocolos ambulatoriais e hospitalares e materiais específicos (veja quadro Profissionais mais preparados). Atuou ainda no estímulo à criação de comitês municipais de investigação de óbitos, para melhorar a assistência e a qualidade do registro, e na qualificação das comissões Foto: Lucas Cardim hospitalares de redução da mortalidade materna e infantil. Jane Santos, do UNICEF, apresenta material usado nas capacitações ao governador Teotônio Vilela Filho, em 2011 36 | AVANÇOS PROFISSIONAIS MAIS PREPARADOS D urante todo o ano de 2011 até março de 2012, o Segundo Cristina Albuquerque, coordenadora UNICEF – em parceria com a Secretaria de Esta- nacional do UNICEF para os temas Sobrevivência do da Saúde, a Secretaria da Assistência e Desenvolvi- e Desenvolvimento Infantil, o guia foi lançado por- mento Social, a Secretaria de Estado da Mulher, da Ci- que o acesso à informação é um dos requisitos para dadania e dos Direitos Humanos e o Comitê Estadual assegurar que os direitos de cidadania de crianças, do Pacto Um Mundo para a Criança e o Adolescente adolescentes e gestantes sejam garantidos, respeita- do Semiárido — realizou, como parte do Programa dos e cumpridos. “A mobilização das administrações Viva Vida, capacitações e oficinas de qualificação pro- municipais e da sociedade civil de 102 municípios fissional destinadas a vários públicos, de conselheiros alagoanos é pré-condição para que a população co- setoriais a funcionários das secretarias governamen- nheça suas necessidades e seus direitos e torne-se tais, de médicos a gestores públicos, que incluíram a parceira do poder público, participando das tomadas distribuição de publicações específicas para ser utiliza- de decisão e indicando as prioridades e as deficiên- das como material de apoio técnico (veja mais sobre cias do sistema de saúde”, alerta. isso no quadro Disseminando conhecimentos). A ONG Associação Tempo de Crescer foi res- A neonatologista e doutoranda em Saúde da ponsável por cinco oficinas com foco na formação Criança e do Adolescente pela Universidade Federal de reeditores do Kit Família Brasileira Fortalecida. de Pernambuco (UFPE), Carmen Aymar, ministrou O público era composto de nutricionistas, enfer- quatro oficinas sobre Fortalecimento do Contro- meiros, psicólogos, médicos e assistentes sociais le Social e os Direitos da Gestante e do Bebê em dos 26 municípios considerados prioritários pelo Maceió, Arapiraca e Santana do Ipanema. Sua prin- governo do estado para a redução da mortalidade cipal ferramenta foi a publicação Guia dos Direitos infantil: Anadia, Arapiraca, Atalaia, Campo Alegre, da Gestante e do Bebê. Para que a ação não ficasse Canapi, Coruripe, Delmiro Gouveia, Girau do Pon- limitada à distribuição dos exemplares, a consultora ciano, Inhapi, Joaquim Gomes, Maceió, Maragogi, desenvolveu um método para que os participantes Marechal Deodoro, Matriz de Camaragibe, Muri- pudessem atuar como multiplicadores em seus mu- ci, Palmeira dos Índios, Penedo, Pilar, Rio Largo, nicípios, estimulando a reflexão sobre seu conteúdo. Santana do Ipanema, São José da Laje, São José Quase 500 conselheiros tutelares, conselheiros de da Tapera, São Luís do Quitunde, São Miguel dos direitos, educadores, agentes comunitários de saú- Campos, Teotônio Vilela e União dos Palmares. de, assistentes sociais e integrantes de outros conse- Médicos e enfermeiros desses mesmos mu- lhos setoriais, como os de Saúde, Assistência Social e nicípios também tiveram a oportunidade de par- Educação, estiveram presentes nessas oficinas. ticipar de cursos de atualização em pré-natal de Foto: Lucas Cardim As ações por trás dos progressos | 37 Durante esses encontros, a equipe alagoana e os especialistas contratados pelo UNICEF avaliaram os resultados e as ações desenvolvidas no âmbito da política para reduzir a mortalidade infantil e no Programa Viva Vida. Identificadas as atividades prioritárias, escolhidos os indicadores possíveis de ser acompanhados, construída a metodologia de avaliação e localizadas as deficiências no atendimento à população, o passo seguinte foi buscar formas de incorporar a prática do monitoramento à rotina da administração pública e criar estratégias para su- O pediatra Cláudio Soriano participa de capacitação sobre o Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê perar as lacunas do atendimento. Para Paulo Frias, o principal objetivo da capacitação em Monitoramento e Avaliação foi atingido com certa facilida- alto e baixo risco sob a supervisão do ginecolo- de: os profissionais alagoanos demonstraram, ao gista e obstetra Olímpio Barbosa de Moraes Filho, longo dos meses de debates, espírito crítico em professor da Universidade de Pernambuco (UPE) relação ao próprio trabalho, refletindo a cada pas- e vice-presidente regional da Federação Brasileira so e aperfeiçoando as propostas elaboradas. das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Os Paulo Frias coordenou ainda três oficinas com participantes repassaram todas as etapas da as- integrantes das superintendências de Atenção Bá- sistência pré-natal, com foco na qualificação do sica e Vigilância de Saúde, além de técnicos dos atendimento às gestantes por meio da otimiza- 26 municípios prioritários, para abordar todas as ção dos recursos humanos. Algumas discussões possibilidades do trabalho com Vigilância do Óbi- ultrapassaram as questões clínicas clássicas, com to, um serviço tradicionalmente centrado na noti- a inclusão de aspectos éticos e jurídicos. ficação e na coleta de informações sobre quando Já as oficinas de Monitoramento e Avaliação e onde ocorre a morte das crianças. O objetivo foi de Políticas Públicas coordenadas pela mestre em dar uma nova direção à atuação da Vigilância, de Saúde Pública pela Fiocruz Marina Mendes, pela forma que ela também ofereça informações para doutora em Saúde Materno-Infantil Suely Arruda localizar e compreender os estrangulamentos da Vidal e pelo consultor do Ministério da Saúde Atenção Básica e dos serviços de média e alta Paulo Frias se constituíram em uma sequência de complexidade e as deficiências de saneamento reuniões de trabalho com os técnicos da Sesau. básico, assistência social e do sistema de ensino. 38 | AVANÇOS Participação da sociedade civil O engajamento da sociedade civil foi, sem dúvida, fator fundamental para a melhoria dos indicadores de Alagoas. A atuação de uma instituição não governamental, a Pastoral da Criança, deu início às primeiras mobilizações no sentido de combater a mortalidade infantil em Alagoas. Em conjunto com o UNICEF, a Pastoral promoveu campanhas para difundir o uso do soro caseiro, solução urgente para evitar as mortes por desidratação. A diarreia, provocada pelo consumo de água sem nenhum tipo de tratamento, ainda fazia milhares de vítimas no início do século 21. A Pastoral também desenvolveu uma ação concentrada em São José da Tapera, município que ostentava uma taxa de mortalidade infantil de 147 óbitos por mil nascidos vivos no final da década de 90. Com ações básicas de saúde e a fabricação e distribuição de multimistura 4 para as famílias mais pobres da região, no final de Foto: Arquivo Pastoral da Criança 4 Complemento alimentar à base de sementes, folhas e cascas de vegetais acrescentado à farinha de mandioca e à água que faziam parte do cardápio cotidiano da maior parte da população local. Ação de combate à desnutrição realizada pela Pastoral da Criança em Alagoas As ações por trás dos progressos | 39 2001, a coordenadora da entidade comemorava a taxa pouco superior a 2 óbitos por mil nascidos vivos nas comunidades atendidas pelo projeto. Nas outras áreas do município aonde a Pastoral não chegava, a taxa era de 66 por mil nascidos vivos 5. Em 2008, a mortalidade infantil de São José da Tapera caiu para 19,2 óbitos por mil nascidos vivos. Outra instituição de atuação relevante foi a Sociedade Alagoana de Pediatria. Ao longo de toda a primeira década deste século, não deixou o tema mortalidade infantil cair no esquecimento, assumindo uma postura que associava proposição de soluções, pesquisas e denúncias respaldadas na experiência e no conhecimento científico (veja mais sobre isso no capítulo Contexto). Em Palmeira dos Índios, o Movimento Pró-Desenvolvimento Comunitário, outra organização não governamental apoiada pelo UNICEF, foi decisivo no início do processo de qualificação e humanização da Maternidade Santa Olímpia. A participação e a pressão da sociedade geraram resultados: hoje, a Santa Olímpia é um dos hospitais de referência regional para o cuidado materno-infantil. O funcionamento do Comitê de Prevenção e Redução da Mortalidade Infantil de Arapiraca também é referência para demonstrar as possibilidades de contribuição das organizações da sociedade civil na busca por soluções. A Cáritas Brasileira, outra entidade vinculada à Igreja Católica, faz parte do comitê, participando ativamente das investigações de cada óbito de criança na cidade, conhecendo de perto as condições de vida das famílias ou interpelando alguns diretores de hospital. Também apoia o processo de criação dos conselhos comunitários locais de saúde, que exercem o controle social nas áreas de abrangência das unidades básicas. “As coisas melhoraram muito. A política de assistência social se tornou porta de entrada para a população pobre ser atendida de forma eficiente pelo Estado”, avalia Maria Lúcia Lopes, representante da Cáritas no comitê. 5 Folha de S. Paulo, edição de 24 de dezembro de 2001. 40 | AVANÇOS Atuação intersetorial A evolução dos indicadores de Alagoas também se deve a uma mudança na forma de trabalhar. Com dinheiro contado, carência de profissionais e estrutura física defasada, a equipe de governo teve de levar a sério a integração das secretarias diretamente envolvidas com o tema da mortalidade infantil: Saúde, Assistência e Desenvolvimento Social e Mulher, Cidadania e Direitos Humanos, além do Gabinete Civil, responsável por acompanhar a execução das atividades e ajudar a contornar os eventuais obstáculos. Noções sobre o funcionamento do Sistema Único de Saúde e estatísticas sobre pré-natal, mortalidade materna ou desnutrição DISSEMINANDO CONHECIMENTOS P descoberta da gravidez pela mãe das pelo UNICEF em parceria com o governo até a criança completar seu sexto do estado de Alagoas, são distribuídos aos profis- ano de vida. Produzida em par- sionais da saúde diversos materiais de apoio técni- ceria pelo UNICEF e pela Editora co. Esses materiais ajudam a disseminar, entre as famílias e as comunidades, conhecimentos funda- Divulgação ara ampliar o alcance das capacitações realiza- Globo, a obra aborda os direitos da gestante e das crianças, fala da mentais para o combate à mortalidade infantil e importância do apoio da família e da comunida- materna, a prevenção de doenças e o desenvolvi- de para o desenvolvimento infantil e apresenta os mento adequado das crianças até 6 anos de idade. cuidados necessários para uma infância saudável. Entre eles, destacam-se o Almanaque da Família Não disponível para download. Brasileira, o Kit Família Brasileira Fortalecida, o Kit Família Brasileira Fortalecida – Este mate- Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê e o álbum rial é formado por cinco Promovendo o Aleitamento Materno. Almanaque da Família Brasileira – Por meio da história de Roberto e sua família, contada em Reprodução álbuns, que explicam os cuidados necessários com as crianças desde a gesta- forma de quadrinhos pelo cartunista Ziraldo Alves ção até os 6 anos de idade, período fundamental Pinto, esta cartilha mostra o que acontece desde a para o desenvolvimento infantil. O álbum 1 trata As ações por trás dos progressos | 41 passaram a fazer parte da rotina da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (Seades), que incorporou a convicção de que a morte de um bebê não interessa apenas a médicos e enfermeiros. O então secretário Marcelo Palmeira elogia o espírito de sua equipe, que não resistiu à ideia da integração. “A equipe compreendeu que reduzir a mortalidade materna e a infantil é uma política de Estado. Afinal, as altas taxas de mortalidade infantil não são taxas de uma secretaria ou outra, são taxas de Alagoas”, afirma. A distribuição de cestas nutricionais às gestantes atendidas pela rede pública de saúde é a face mais visível dessa intervenção e complementa um conjunto de ações que envolvem tanto a rede de assis- Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê – apresenta informações sobre o primeiro mês de Esta publicação trata do direito ao vida do bebê; o 3 explica como se desenvolvem pré-natal de qualidade, ao parto os bebês de 2 a 12 meses de idade; o 4 aborda os humanizado e à assistência ao re- cuidados com crianças de 1 a 3 anos de idade; e cém-nascido e à mãe. Desenvolvi- o 5 fala sobre as crianças de 4 a 6 anos. Disponível para download em www.unicef.org/brazil/pt/ resources_10178.htm. Reprodução do pré-natal, do parto e do pós-parto; o álbum 2 do pelo UNICEF em parceria com o Ministério da Saúde, com ilus- trações de Ziraldo, tem como objetivo fortalecer a Reprodução participação social por meio da ação de conselheiPromovendo o Aleitamento Materno – Este ál- ros, agentes comunitários de saúde, profissionais bum apresenta informações da assistência social, lideranças comunitárias, im- básicas sobre a amamen- prensa e sociedade. Disponível para download em tação e os problemas mais www.unicef.org/brazil/pt/resources_21257.htm. comuns que atingem a mãe e o bebê durante o período de lactação. Tam- O governo de Alagoas adquiriu 4 mil kits Fa- bém trata das leis que protegem o aleitamento mília Brasileira Fortalecida para distribuição às materno. Didático, facilita o trabalho de orienta- equipes do Programa Saúde da Família e 10 mil ção às mães e aos agentes de saúde. Disponível unidades do Almanaque da Família Brasileira, que para download em www.unicef.org/brazil/pt/ estão sendo entregues às mães de bebês de alto resources_10484.htm. risco de três maternidades públicas do estado. 42 | AVANÇOS tência social quanto a de saúde. O projeto é coordenado pela Seades com o apoio da Sesau por meio de uma Comissão de Execução e Apoio ao Projeto. Aos municípios cabem as tarefas de receber, armazenar e distribuir as cestas. Para estimular a economia regional, eles também são convidados a identificar quais produtos da agricultura local podem ser agregados às cestas, como a laranja produzida no Vale do Mundaú. São distribuídas 13.400 cestas todos os meses, cada uma custando aos cofres estaduais 78,65 reais. Os 12,6 milhões de reais anuais do programa são custeados integralmente pelo Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza. O Ministério Público também participa da iniciativa, acompanhando todo o processo, desde a licitação, passando pelo calendário de entrega até a verificação dos valores pagos pelo estado item por DE OLHO NOS INDICADORES D esde meados da década passada, vários indica- toramento de indicadores em dois eixos do progra- dores relacionados direta ou indiretamente ao ma: Impacto Social e Gestão de Políticas Públicas. acesso ao pré-natal, à cobertura do Programa Saúde No eixo Impacto Social, os municípios parti- da Família, à saúde na infância, à educação de quali- cipantes devem avançar nos indicadores Taxa de dade e às condições de vida das famílias são monito- mortalidade infantil (MS/Pacto da Atenção Básica) e rados pelo Selo UNICEF Município Aprovado em todo Percentual de óbitos neonatais do total de óbitos in- o Semiárido, na Amazônia Legal e nas regiões metro- fantis (MS/SIM). No eixo Gestão de Políticas Públicas, politanas de São Paulo e do Rio de Janeiro. A metodo- são quatro os indicadores avaliados: Percentual de logia do Selo coloca a melhoria da vida das crianças e crianças com menos de 1 ano com vacina tetravalen dos adolescentes na pauta das políticas públicas dos te (MS/PNI); Percentual de crianças menores de governos, mas também dá ênfase à participação da 1 ano imunizadas contra Hepatite B (MS/PNI); Co- comunidade, da sociedade civil e dos próprios ado- bertura do Programa Saúde da Família (MS/Siab); e lescentes nos processos políticos e sociais. Proporção de óbitos infantis investigados (SVS/MS). Para que os municípios obtenham os resultados O UNICEF consolida os números mais recentes ob- esperados em relação à mortalidade infantil, o Selo tidos junto ao Ministério da Saúde e encaminha a UNICEF oferece capacitação e ferramentas de moni- cada município os resultados. As ações por trás dos progressos | 43 item. O secretário adotou ainda alguns cuidados extras: “Todos os meses mando uma equipe de funcionários recolher algumas cestas em algum município, escolhido aleatoriamente. Eles trazem as cestas para a secretaria e eu mesmo confiro o que está sendo entregue”, explica. O próprio governador faz um monitoramento similar, verificando as cestas por amostragem. Outro exemplo de atuação integrada é a implantação de unidades interligadas de registro civil nas maternidades alagoanas, resultado de uma ação articulada entre a Seades e o Poder Judiciário. “O sub-registro, que era de 30% até 2009, caiu para 13% no ano seguinte”, afirma Juliana Vergetti, secretária adjunta da Seades. Já foram implantadas 28 unidades, da quais oito em Maceió e 20 no Foto: Arquivo da Assessoria de Comunicação/Governo do Estado de Alagoas interior do estado. Lançamento do Selo UNICEF Município Aprovado em Alagoas, em 2009 Participaram da edição 2009-2012 do Selo UNICEF Coité do Nóia, Coruripe, Delmiro Gouveia, Igaci, Jun- 67 dos 102 municípios de Alagoas, o que significa que queiro, Palmeira dos Índios, Quebrangulo, Taquarana, quase 70% do estado assumiu o compromisso de redu- Teotônio Vilela, União dos Palmares e Viçosa. Em 2008, zir os índices de mortalidade infantil e melhorar de forma dos 67 municípios alagoanos inscritos, sete receberam concreta a situação de vida de seus meninos e de suas o Selo UNICEF: Coruripe, Estrela de Alagoas, Igaci, Pira- meninas. Desse total, 12 foram certificados: Arapiraca, nhas, Taquarana, União dos Palmares e Viçosa. 44 | AVANÇOS O comitê responsável pela iniciativa, formado por várias secretarias do governo e também por representantes do Tribunal de Justiça, da Defensoria Pública, do Fundo Especial para o Registro Civil (Ferc), da Associação dos Notários e Registradores de Alagoas (Anoreg) e da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais de Alagoas (Arpen), promove campanhas e mutirões para fazer com que o registro civil chegue a todos. A Secretaria da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos também participa do debate e das ações para reduzir a mortalidade infantil em Alagoas. Seu papel é promover a articulação interna com as demais secretarias da área social, construindo espaços de diálogo governamentais e com entidades da sociedade. Um dos objetivos imediatos é viabilizar doações sistemáticas para o Fundo da Criança e do Adolescente. Outro é, por meio da Superintendência para Políticas para a Criança e o Adolescente, contribuir para o efetivo controle social, estimulando a participação ativa dos Conselhos Tutelares, dos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e dos conselhos setoriais – Saúde, Educação, Segurança, Assistência Social, entre outros –, além de reforçar aos gestores a importância de dar prioridade à criança nas políticas públicas. Já a Secretaria de Estado da Saúde teve de vencer o desafio da integração entre as suas diferentes áreas (veja mais sobre isso no capítulo Desafios). Hoje, as equipes já estão trabalhando integradas. A Superintendência de Vigilância, por exemplo, por meio do núcleo de óbitos materno, fetal e infantil, investiga as causas e as circunstâncias em que ocorre cada morte e passa as conclusões para os setores de Atenção Básica e Hospitalar, que buscam identificar onde o atendimento falhou e como fazer para evitar novas mortes. O levantamento dos cemitérios clandestinos é outro exemplo de trabalho integrado bem-sucedido. No caso, de parceria entre a Sesau e o Ministério Público, cujos promotores acompanharam as investigações e ainda hoje atuam como intermediários para estabelecer os Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) com os municípios (veja mais sobre isso no capítulo Desafios). As ações por trás dos progressos | 45 Melhoria das condições de vida da população O investimento na melhoria das condições de vida da população de Alagoas, com a criação de empregos e a ampliação da cobertura de saneamento básico, também teve influência na redução da taxa de mortalidade infantil do estado (veja mais sobre isso no capítulo Contexto). “Já foi possível elevar o índice para 30% de domicílios ligados à rede de saneamento. Há pouco tempo, os administradores públicos desprezavam investimentos desse tipo porque diziam que a população não percebia a importância da obra. Enquanto isso, os esgotos a céu aberto continuaram provocando doenças e matando crianças”, afirma o governador Teotônio Vilela Filho. Outro alvo da ação do governo estadual foi a melhoria da qualidade da alimentação das gestantes alagoanas. Por meio do Projeto de Alimentação Complementar de Gestantes em Situação de Vulnerabilidade Social e Insegurança Alimentar e Nutricional, do início ao fim da gravidez, todas as gestantes atendidas nos postos do Programa Saúde da Família do estado – desde que sejam consideradas em situação de insegurança nutricional ou de vulnerabilidade social – recebem mensalmente uma cesta nutricional. Um selo do Inmetro atesta a qualidade dos alimentos oferecidos na cesta, que são escolhidos por uma equipe de nutricionistas para atender às necessidades da mulher e do bebê. A entrega das cestas nutricionais às mulheres é de responsabilidade da Seades, mas os profissionais da saúde orientam as famílias sobre como usar cada um dos itens e condicionam o acesso ao benefício à vinculação às ações de saúde. O projeto faz parte do Programa Viva Vida e tem como objetivo combater as carências nutricionais das gestantes alagoanas e garantir a assiduidade das futuras mães às consultas pré-natais, já que essa é uma condição para receber o benefício. Com isso, contribui para reduzir a taxa de mortalidade infantil. Durante os três anos de existência do projeto, que teve início em 2009, já foram entregues 321.560 cestas nutricionais, beneficiando aproximadamente 53.593 gestantes. 46 | AVANÇOS Maior qualidade da informação O esforço de Alagoas para ampliar a cobertura dos Sistemas de Informação de Mortalidade (SIM) e Nascidos Vivos (Sinasc), atualmente com 91,4% e 94,6%, respectivamente, associado ao esforço de busca ativa para identificar cada nascimento e cada óbito infantil ocorridos no estado, reduziu o crônico problema do sub-registro e tornou possível, nos últimos anos, o cálculo da mortalidade infantil pelo método direto – mesmo com aplicação de fatores de correção – e não pelas estimativas indiretas. Desde 2009, após a assinatura de um convênio entre o governo do estado e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Re- Entrega das cestas nutricionais a gestantes e mães alagoanas Foto: Arquivo da Assessoria de Comunicação/Governo do Estado de Alagoas pública, a Seades vem desenvolvendo várias ações para erradicar os As ações por trás dos progressos | 47 sub-registros. Uma delas é a implantação de unidades interligadas de registro civil nas maternidades, permitindo que as mães deixem o hospital já com a certidão de nascimento dos filhos. Como resultado dessas ações, foram emitidas 33.573 certidões de nascimento de 2009 a agosto de 2012. Também foram realizados 32.141 atendimentos para emissão de outros documentos básicos, como RG, carteira de trabalho e certidão de casamento, entre outros. E promovida ainda a capacitação de 80 agentes das diversas redes de serviço (saúde, educação e assistência social), para que eles atuem como mobilizadores, orientando a população em relação ao registro civil de nascimento. O impacto de outros indicadores A redução da taxa de mortalidade infantil não se deu de forma isolada. Outros indicadores influenciaram essa queda, revelando a amplitude da intervenção do poder público, que não ficou restrita a um único aspecto do problema. Os avanços na cobertura do pré-natal são um deles. No ano 2000, aproximadamente 19% das gestantes não tinham acesso a nenhuma consulta antes do parto, percentual que caiu para menos de 3% em 2010. Já a proporção de gestantes com quatro ou mais consultas superou 86% (ver mais sobre isso no capítulo Contexto). Com a diminuição da taxa de fecundidade em Alagoas, registrou-se uma redução de mais de 10 mil partos de nascidos vivos nos últimos dez anos. O consultor nacional do Ministério da Saúde na área de Saúde da Criança e do UNICEF, Paulo Frias, avalia que esse fator também contribuiu para a redução da mortalidade infantil no estado. Embora todas essas ações mostrem que Alagoas deu um passo importante para consolidar os avanços em seus indicadores, é preciso que o estado mantenha a mobilização, tanto do poder público quanto da sociedade civil, para superar os obstáculos que ainda impedem que a taxa de mortalidade infantil atinja um nível considerado satisfatório e que suas crianças não apenas sobrevivam, mas se desenvolvam de forma plena. capítulo 3 – desafios Casal com a filha recém-nascida na maternidade do Hospital Regional de Arapiraca Apesar dos progressos, os desafios ainda são muitos. Melhorar a assistência ao pré-natal, ao parto e ao pós-parto, aumentar a participação da sociedade civil e investir na qualificação dos profissionais de saúde de Alagoas são alguns deles Foto: Lucas Cardim Qualidade ainda precisa avançar 50 | DESAFIOS “O nde se faz pré-natal bem-feito, sobram leitos nos hospitais.” A constatação é do secretário de Saúde de Alagoas, Alexandre Toledo, e revela um dos principais desafios que ainda precisam ser superados na Atenção Básica no estado. Segundo Paulo Frias, consultor nacional do Ministério da Saúde na área de Saúde da Criança e do UNICEF, melhorar a qualidade da assistência permanece sendo imprescindível. Como exemplo da baixa qualidade assistencial, ele cita o elevado número de mulheres que não realizam o exame de sífilis no estado. E, quando o fazem, muitas vezes não recebem os resultados ou não são tratadas adequadamente. De acordo com a publicação Saúde Alagoas1, os casos em que a mãe teve diagnóstico de sífilis durante o pré-natal mantiveram-se numa média de 33,94%, de 2007 a 2010, o que demonstra que as oportunidades de diagnóstico e tratamento adequado dessas Em Alagoas, dos 21,5 óbitos a cada mil nascimentos, 66% ocorreram antes do primeiro mês de vida da criança. A maioria dessas mortes poderia ter sido evitada mulheres durante a gestação foram perdidas. A ênfase do consultor em melhorar a assistência ao pré-natal, ao parto e ao pós-parto é justificada pela expressiva mortalidade de bebês com menos de 1 mês de vida, a chamada mortalidade neonatal. Em Alagoas, dos 21,5 óbitos a cada mil nascimentos, 66% ocorreram nessa faixa etária. A maioria dessas mortes poderia ter sido evitada e está diretamente relacionada às condições que antecedem ao nascimento e às primeiras semanas de vida. Hoje, a cobertura do Programa Saúde da Família no estado é de 73%. O percentual é considerado satisfatório e indica o maior acesso à atenção primária. O problema, no entanto, é que esse número esconde variações de 42% a 100% entre as microrregiões. Os dados oficiais também não expressam os múltiplos acordos locais em relação ao tempo de permanência do profissional na área. 1 Saúde Alagoas: Análise da Situação de Saúde. Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, Superintendência de Vigilância em Saúde, Diretoria de Análise da Situação de Saúde. Maceió: Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, 2011. Qualidade ainda precisa avançar | 51 Esses arranjos, quase sempre informais e irregulares, reduzem as possibilidades de intervenções efetivas e podem provocar o agravamento de situações clínicas, pois ampliam a possibilidade de o profissional, principalmente o médico, não estar presente no momento em que a mulher ou a criança necessite. Maceió, por exemplo, tem unidades básicas em todas as comunidades, mas somente 26% da sua população é atendida por equipes do Programa Saúde da Família. Em uma cidade com mais de 900 mil habitantes, quase um terço da população do estado, esse baixo percentual não é problema secundário. Apesar disso, os números da capital também revelam queda na mortalidade, de 19,3 por mil para 16,42. Bolsões de pobreza e lacunas na Atenção Básica Em 2000, em números absolutos, morreram mais de 2 mil crianças em Alagoas. Em 2010, foram menos de 1 mil crianças. Do total de mortes, dois terços, no entanto, ocorreram por causas evitáveis. “Há muito terreno a recuperar em relação ao resto do país”, alerta Cláudio Soriano, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança (Cedca) de Alagoas e superintendente de Políticas para a Criança e o Adolescente da Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos. Duas dissertações de mestrado, realizadas em 2009 por Cícero José da Silva e Junko Assakura3, confirmam o quanto essas mortes poderiam ser evitadas. Os pesquisadores percorreram 19 maternidades do estado, oito em Maceió e 11 no interior, onde ocorreram 85% dos nascimentos de Alagoas naquele ano. Segundo as pesquisas, a frequência dos óbitos associados à asfixia perinatal (falta de oxigenação no momento do parto) na capital foi de 47% e no interior chegou a 65%. Entre os recém-nascidos com 2 Fonte: Sesau/AL. 3 Dissertações apresentadas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 2010, orientadas pela professora-doutora Maria Fernanda Branco de Almeida e co-orientadas pelos professores-doutores Ruth Guinsburg e Cláudio Soriano. 52 | DESAFIOS peso igual ou superior a 2,5 quilos – ou seja, bebês que não seriam considerados de alto risco –, esses percentuais saltam para 63% em Maceió e 77% no interior. Para Cláudio Soriano, as pesquisas demonstraram a necessidade de implantação de infraestrutura, recursos materiais e capacitação de recursos humanos na assistência hospitalar. Segundo ele, uma análise mais detalhada dos indicadores mostra a existência de bolsões com taxas altíssimas de mortalidade e lacunas importantes na Atenção Básica e na assistência neonatal. “Ainda temos mortes provocadas por tétano neonatal”, exemplifica. “Precisamos melhorar o acesso da população à saúde e também à educação em saúde. Ao implantar políticas públicas, devemos assegurar os mecanismos para monitorá-las, para aferir seus resultados e mudar seus rumos caso seja necessário”, avalia. Após reduzir a taxa de mortalidade infantil concentrando esforços na assistência hospitalar, agora é necessário investir nos deficientes serviços de pré-natal (veja quadro Um pré-natal de qualidade) e de acompanhamento às mães e aos bebês nos primeiros meses após o parto. Para garantir um pré-natal de qualidade, é importante preparar as equipes e os postos de saúde para realizar a classificação de risco e vulne- UM PRÉ-NATAL DE QUALIDADE S egundo o Guia dos Direitos da Gestante e do • Exames de urina para descobrir infecções e per- Bebê, do UNICEF, o ideal é que a mulher inicie da de proteína. o pré-natal assim que descobrir a gravidez e que • Exame físico e ginecológico para saber como está tenha pelo menos sete consultas até o parto e dois a saúde da mãe e o desenvolvimento do bebê. retornos após o parto. Durante o pré-natal, também devem ser feitos diversos exames. Os principais são: • Exames de sangue para descobrir o tipo sanguíneo e doenças como sífilis, aids, anemia, hepatite e diabetes. • E xame de prevenção do câncer de colo do útero. • Medida de peso e pressão arterial. • Exames e tratamentos dos dentes e da gengiva. Fonte: Família Brasileira Fortalecida, UNICEF Qualidade ainda precisa avançar | 53 rabilidade da gravidez. E, quando os casos de alto risco forem detectados, eles também devem ser treinados para encaminhá-los para a rede de referência sem perda de tempo (veja mais sobre isso no capítulo Futuro). Para o UNICEF, a Atenção Básica precisa ser prioridade. Por isso, é fundamental a ampliação do acesso ao pré-natal logo nas semanas iniciais de gravidez e a garantia de sete ou mais consultas. Para alcançar essa meta, é necessário assegurar unidades de saúde equipadas, capacitação das equipes, disponibilizar exames laboratoriais e trabalhar para diminuir a incidência de sífilis congênita e da transmissão do HIV da mãe para o bebê, com diagnóstico precoce e tratamento adequado. A exemplo do restante do país, em Alagoas a maioria dos partos (mais de 98%) ocorre em âmbito hospitalar. Com isso, o estado tem a possibilidade de ofertar boas práticas, resgatar Após reduzir a taxa de mortalidade infantil concentrando esforços na assistência hospitalar, é necessário investir nos serviços de pré-natal e de acompanhamento às mães e aos bebês nos primeiros meses após o parto o protagonismo da mulher no parto e garantir uma assistência adequada. O modelo de atenção ao parto adotado no estado, no entanto, não difere dos demais estados brasileiros e tem privilegiado as intervenções médicas. As taxas de cirurgia cesariana vêm aumentando ao longo da última década. No Brasil, em 2009, pela primeira vez a proporção de cesáreas superou a de partos normais, enquanto em Alagoas, no mesmo ano, atingiu 47,7%, índice superior à média nordestina, de 41%. Participação da sociedade civil ainda é pequena Segundo o presidente do Cedca, o aspecto mais frágil da política governamental para o tema é a precariedade do controle social. O Comitê Estadual de Redução da Mortalidade Infantil, que tem a participação de representantes do governo e de organizações não governamentais, por exemplo, ficou quase dois anos sem se reunir. A volta dos encontros, no segundo semestre de 2011, deve ter, segundo ele, efeitos positivos. “O monitoramento exercido pelo comitê contribuirá para o governo usar critérios técnicos para a tomada de decisões”, afirma. Enfermeiras atendem bebê na UTI neonatal do Hospital Regional de Arapiraca Foto: Lucas Cardim 54 | DESAFIOS Qualidade ainda precisa avançar | 55 A incorporação da sociedade civil também é vista como fundamental pelo próprio governo. Segundo Álvaro Machado, secretário-chefe do Gabinete Civil, ter as instituições da sociedade plenamente engajadas nessa questão é um passo imprescindível que precisa ser dado. “A sociedade engajada, ciente da sua importância, é mais forte que qualquer governo, e isso é decisivo para que a redução da mortalidade infantil se torne uma política pública estruturadora, uma política de Estado, não apenas uma política de governo durante quatro ou oito anos”, diz ele. Para Maria Lúcia Pereira Lopes, que representa a Cáritas Brasileira (entidade vinculada à Igreja Católica) no Comitê de Prevenção e Redução da Mortalidade Infantil de Arapiraca, os programas sociais são bons, envolvem mais de uma secretaria, mas ainda falta pressão da sociedade para potencializá-los. Problemas com a rede conveniada Além de aumentar a participação da sociedade, outro desafio importante para o estado é melhorar o desempenho da rede de hospitais particulares conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS). A rede é apontada pelo obstetra Telmo Henrique Barbosa de Lima, gerente-geral da Maternidade Escola Santa Mônica até o início de 2012, como uma das principais fragilidades no esforço de Alagoas para garantir a melhoria das condições de saúde da criança e da mulher. “Muitas vezes, elas fecham as portas nos feriados, nos finais de semana ou fazem partos cesarianos desnecessários. É comum gestantes de baixo risco chegarem aqui já em alto risco por não ser atendidas em tempo hábil”, queixa-se ele. Para Eraldo Paixão dos Santos, médico da Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal do Hospital Regional de Arapiraca4, o problema é que os hospitais da rede conveniada fazem partos de alto risco sem possuir os equipamentos necessários para manter a vida do bebê. 4 Arapiraca, segunda maior cidade de Alagoas, está situada a 125 quilômetros de Maceió. Desde a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, as políticas públicas estão estruturadas com base em efetiva participação social. Esse conceito é mais amplo do que o simples controle social, que se confunde com a fiscalização do uso de recursos, o que é importante, mas insuficiente, quando falamos em mortalidade infantil Álvaro Machado, secretário-chefe do Gabinete Civil de Alagoas 56 | DESAFIOS “Eles ficam segurando o recém-nascido do jeito que dá por dois, três e até quatro dias sem alimentação parental, sem respirador”, diz ele. “Quando a situação fica insustentável, ou seja, quando a criança está para morrer, mandam para a UTI do Regional resolver. Eles fazem isso para receber mais recursos por causa do tempo de internação maior”, lamenta. Atendimento precisa ser melhorado O respeito à carga horária de 40 horas semanais e o estabelecimento de vínculos com a comunidade por parte dos profissionais de saúde são definidos pela equipe da Diretoria de Atenção Básica como o “maior desafio” para os próximos anos. Desafio que aparece não apenas na fala dos especialistas mas também no depoimento das mulheres que vivenciaram, na prática, o significado de sua importância. “Só foram duas consultas de pré-natal. Eu não sei por que, mas as enfermeiras deixaram de ir ao posto. Elas sumiram. Parece que houve um problema com a prefeitura”, diz Rosicleide Sampaio, do município de Traipu5. No sexto mês de gestação, 90 dias depois da última consulta, Rosicleide entrou em trabalho de parto e um vizinho a levou para Batalha. Veículo do Samu equipado com UTI neonatal Foto: Arquivo pessoal/Cláudio Soriano 5 Traipu localiza-se no Agreste de Alagoas, a 188 quilômetros da capital. Foto: Lucas Cardim Qualidade ainda precisa avançar | 57 Lá, o obstetra da unidade de saúde que a examinou foi categórico: ela precisaria ser encaminhada para Arapiraca porque o parto seria de alto risco e não havia como fazê-lo em Batalha. Sua filha nasceu com pouco mais de 800 gramas. Com a saúde bastante frágil, a menina foi transferida para a UTI neonatal e, cinco dias depois do parto, no Hospital Regional de Arapiraca, morreu. Oficialmente, a causa da morte foi uma infecção. Segundo Myrna Pimentel Ribeiro Villas Bôas, diretora de Atenção Básica da Secretaria de Estado da Saúde, para reduzir o óbito neonatal, Alagoas precisa garantir capacitação profissional permanente6, o bom funcionamento do sistema de notificação e assistência no período prénatal para cada gestante, como já foi mencionado. 6 Em 2011, foram realizados cursos e oficinas para aproximadamente 600 profissionais. Foram oferecidos os seguintes cursos e oficinas: Curso de Gerência de Atenção Primária em Saúde, Melhoria do Acesso da Qualidade da Atenção Básica, Formação de Tutores em Promoção da Alimentação Complementar Saudável, Manejo Clínico em Hipertensão e Diabetes, Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI Neonatal), Estratégia da Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violência e Oficina de Vigilância do Óbito Infantil, Fetal e por Causas Mal Definidas. O enfermeiro Robson Santos atende uma família em Inhapi, cidade do interior de Alagoas 58 | DESAFIOS Já o óbito pós-neonatal, que ocorre de 28 dias após o nascimento até o primeiro aniversário, é mais vulnerável às melhorias globais da condição de vida. Para combatê-lo, o Ministério da Saúde considera que são necessárias cinco ações: •U niversalização do teste do pezinho. •R egistro civil para todos os bebês. •A leitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida da criança. •Consultas médicas para a mãe e o filho durante esse período. •Vacinação. E, para que essas ações façam parte do cotidiano, agentes comunitários, enfermeiros e médicos precisam acolher, atender e orientar pratica- Foto: Lucas Cardim Equipe do Mãe-Canguru mente em tempo integral (veja quadro Um exemplo prático da importâncom mães e bebês atendidos pelo programa cia da integração). Nos locais onde não há saneamento básico, por exemplo, na Maternidade Santa as mães precisam ser ensinadas até a ferver água para toda a família usar. Mônica, em Maceió Qualidade ainda precisa avançar | 59 Fora isso, essas ações não podem acontecer só de vez em quando. É preciso ter profissionais presentes na zona rural dos municípios e na periferia dos principais centros urbanos, nos bairros com infraestrutura precária. Segundo o UNICEF, a construção das intervenções deve considerar as diferenças de gênero (a exemplo das condições das meninas expostas a abusos e exploração sexual) e focar as populações mais vulneráveis, com atenção especial a crianças e adolescentes de 12 comunidades indígenas alagoanas, como as dos xucuru-kariri, reripancó, kariri-xocó ou wassu-cocal, e das 64 comunidades quilombolas oficialmente reconhecidas no estado. Também é importante dedicar atenção integral às crianças expostas a situação de emergência, como aquelas que continuam vivendo em habitações precárias após as enchentes de 2010 e 2011. A interiorização dos profissionais de saúde é urgente A ausência de médicos e enfermeiras em pequenos municípios do interior é outro obstáculo que impede a população de ser atendida de forma adequada quando necessita dos serviços de média e alta complexidade, principalmente nas unidades de cuidados intermediários e intensivos neonatais. Como Rosicleide Sampaio, que mora em Traipu, a maioria das gestantes de alto risco é encaminhada às pressas pelos plantonistas de maternidades de menor porte para outros municípios, com mais infraestrutura. Na metade da década passada, a inauguração da UTI neonatal do Hospital Regional de Arapiraca desafogou as maternidades de referência para partos de alto risco da capital e aliviou um pouco a Maternidade Santa Olímpia, de Palmeira dos Índios, inaugurada no final de 2003. A demanda no interior do estado é tão grande que, cinco anos depois de inaugurada a UTI neonatal, ela superlota várias vezes por ano. Apesar de contar oficialmente com apenas dez leitos cadastrados junto ao SUS, a média mensal de ocupação da UTI é de 16 leitos, e o local já chegou, diversas vezes, a ter 23 bebês internados simultaneamente. “A maior parte dos bebês que passam por aqui vem de municípios que não contam com UTI e podem ter alguma dificuldade com o pré-natal 60 | DESAFIOS na Atenção Básica”, conta a enfermeira-chefe Andréa de Lima Cavalcanti. Campo Alegre, Coité do Nóia, Girau do Ponciano e Traipu são alguns dos municípios cujos nomes mais se repetem nos formulários e papeletas do Hospital Regional de Arapiraca. Independentemente do grau de risco da gestação, a mulher tem o direito de visitar e de conhecer com antecedência a maternidade onde deverá acontecer o parto. O protocolo do Ministério da Saúde recomenda o estabelecimento do vínculo prévio entre a gestante e a maternidade, sob a intermediação da equipe do Programa Saúde da Família que atende à mulher. Quando isso não ocorre, a tarefa dos médicos neonatologistas e das enfermeiras da UTI torna-se bem mais difícil. “Nós adaptamos os leitos usando equipamentos e monitores de um bebê mais estável em outro mais grave. Não é tão difícil quanto lidar com a pouca disponibilidade de recursos humanos, pois o risco Agente de Saúde da Família atende criança moradora da área rural de Inhapi Foto: Lucas Cardim de infecção dos pacientes aumenta proporcionalmente à sobrecarga e Qualidade ainda precisa avançar | 61 ao estresse da equipe”, lamenta a enfermeira-chefe. Segundo ela, outro grande problema é que a maternidade só recebe do SUS o equivalente aos dez leitos cadastrados. O tamanho da equipe também é um desafio a ser superado na mais importante maternidade do interior alagoano. Durante a noite, há apenas duas enfermeiras para atender a todas as demandas do hospital. “A dificuldade de contratação está na carência de enfermeiros especializados em neonatologia no estado de Alagoas”, diz a enfermeira Andréia Costa, gerente técnica do Regional. Segundo ela, também é difícil encontrar enfermeiras-obstetras. “O curso de especialização só passou a existir em Arapiraca em 2011”, explica. Na opinião de Telmo Henrique Barbosa de Lima, outro ponto fraco na política de redução da mortalidade infantil está na não realização de concursos públicos para a contratação de novos servidores para ocupar as vagas daqueles que se aposentaram ou pediram exoneração. Um exemplo dos danos provocados pela carência de profissionais é dado pela pediatra Sirmani Torres, coordenadora do programa Mãe-Canguru. Segundo ela, nos primeiros anos do programa havia uma assistente social que acompanhava a mãe quando ela saía do hospital e voltava para sua comunidade ou município. Essa profissional se aposentou e, durante cinco anos, não houve concurso público. Só no início de 2012, o Mãe-Canguru voltou a contar com uma assistente social em sua equipe. Segundo a pediatra, um profissional dessa área é importante para garantir que, ao chegar em casa, as mães não substituam o aleitamento materno por leite em pó ou mingau de maisena, algo bastante comum por causa da influência dos parentes que insistem em dizer que o leite da mãe é “fraco” e não sabem que é a amamentação que pode garantir a saúde da criança. As raízes do problema Para o secretário de Saúde do estado de Alagoas, atribuir as deficiências no atendimento primário nos municípios aos médicos é simplificar o problema. “Como posso crucificar um sujeito que passa seis anos na 62 | DESAFIOS faculdade, mais não sei quantos anos fazendo especialização, demora a entrar no mercado e, depois de tudo isso, vai ganhar pouco, trabalhar longe e sem perspectivas de fazer carreira?”, questiona. Segundo ele, o subfinanciamento dessa área é uma das raízes do problema da saúde pública alagoana que faz o maior número de vítimas entre a população mais vulnerável, as crianças. Outro é o mau gerenciamento dos recursos existentes “Salários, medicamentos e aparelhos ficaram mais caros, mas o financiamento estabilizou-se. Em 16 anos, o repasse de verbas para o Programa Saúde da Família teve reajuste de 18%”, contabiliza. Quando Toledo era prefeito de Penedo (entre 1997 e 2005 e entre 2009 e 2010), os custos do Programa Saúde da Família empatavam UM EXEMPLO PRÁTICO DA IMPORTÂNCIA DA INTEGRAÇÃO “S e existisse integração, seria possível fazer a segundo filho. Ela e o marido, segundo ele, se re- diferença.” A frase é de João Batista da Silva cusaram a receber a banheira para a criança ou (foto à direita), da equipe do Programa Saúde da mesmo a cesta básica com medo que o governo ti- Família do distrito da Baixa do Mel, na zona rural rasse seu filho em troca desses benefícios. “Passei de Inhapi*. O enfermeiro aprendeu, na prática, o a visitar o casal e, aos poucos, os convenci de que quanto a integração é necessária no planejamen- os benefícios eram direitos deles”, recorda. Hoje, to e na execução das políticas públicas. de acordo com o enfermeiro, a mulher engravidou João Batista diz que cansou de contar as vezes que a Secretaria de Estado da Saúde encaminhou novamente, mas contou com o pré-natal completo e usufruiu de todos os benefícios sociais. mães e bebês recém-nascidos para a Assistência João Batista acredita que contribuiu para es- Social acompanhar ou providenciar algum tipo de sas conquistas. Seu trabalho começou durante apoio para as famílias e nada foi feito. o atendimento à família. “Eu me coloco na pele Para ilustrar a importância de ações conjuntas, daqueles que, mesmo doentes, andaram 5 ou o enfermeiro conta a história de uma mulher que 6 quilômetros em busca de alguém capaz de apareceu no posto de saúde após engravidar do escutá-los”, explica. * Município do sertão alagoano a 271 quilômetros da capital. Qualidade ainda precisa avançar | 63 com o valor que o município recebia. Em 2011, o prejuízo da administração municipal ultrapassou os 250 mil reais. Penedo, segundo ele, é apenas um exemplo de um fenômeno nacional. A dificuldade de integração entre as diferentes áreas da Secretaria de Estado da Saúde é mais um obstáculo. Diferentemente da maioria dos estados brasileiros, a secretaria de Alagoas não conta com diretorias regionalizadas. Para executar as políticas públicas de saúde, a equipe instalada no bairro de Jaraguá, perto do centro de Maceió, precisa manter contato direto com as 102 secretarias municipais. São tantas tarefas e demandas que sobra pouco tempo para a articulação interna. Mesmo assim, as diferentes equipes começam a trabalhar integradas Foto: Lucas Cardim (veja mais sobre isso no capítulo Avanços). O enfermeiro João Batista da Silva atende a família de Maria Aparecida Pertuliano em Inhapi 64 | DESAFIOS Sistemas de informação ainda precisam melhorar Segundo os Indicadores de Dados Básicos 2011, divulgados em novembro de 2012, em 2007 apenas 38,5% dos óbitos de crianças com menos de 1 ano em Alagoas eram informados ao sistema. Em 2009, esse percentual foi de 84% (veja mais sobre isso no capítulo Contexto). Apesar dos investimentos nos sistemas de informação e dos inegáveis progressos que já ocorreram, ainda é preciso melhorar sua atuação com ênfase na capacidade de investigação e notificação dos óbitos fetal, infantil e materno (veja quadro Enfrentando a subnotificação). A melhora da qualidade das informações de registro das estatísticas vitais constitui, de acordo com o Ministério da Saúde7, etapa essencial no processo de redução da mortalidade infantil e tem sido considerada como um dos desafios a ser enfrentados para o alcance das metas do milênio. 7 Saúde Brasil 2010: Uma Análise da Situação de Saúde e de Evidências Selecionadas de Impacto de Ações de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. ENFRENTANDO A SUBNOTIFICAÇÃO U m diagnóstico realizado em 2007, com apoio hoje atuam como intermediários para estabelecer do Ministério Público, traduziu em números os Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) o que as autoridades de saúde sabiam existir, mas não eram capazes de quantificar: 48% dos cemitérios de Alagoas eram clandestinos. com os municípios. Para vencer o problema crônico de subnotificação, a Superintendência de Vigilância em Saúde Durante o processo de pesquisa, os técnicos da Secretaria de Estado da Saúde formou um nú- da Secretaria de Estado da Saúde e os promotores cleo específico para óbitos maternos, fetal e infan- constataram que muitos bebês eram enterrados til, dando os primeiros passos nesse sentido. Os em qualquer lugar, inclusive no quintal de casa, especialistas desse núcleo investigam as causas e sem registro algum. as circunstâncias em que ocorre cada morte. As O levantamento dos cemitérios é um exem- conclusões são repassadas para a Atenção Básica, plo de trabalho integrado bem-sucedido. Os pro- que tenta identificar onde o atendimento falhou e motores acompanharam as investigações e ainda como fazer para evitar novas mortes. Qualidade ainda precisa avançar | 65 Nessa perspectiva é crucial, de acordo com o UNICEF, fortalecer o Comitê Estadual de Prevenção de Mortalidade Materna, Infantil e Fetal, cujo objetivo mais importante é a identificação das razões dos óbitos. Apoiar a implantação e o funcionamento dos comitês municipais, compostos de profissionais de saúde, representantes dos usuários, integrantes dos conselhos de saúde e de instituições da sociedade civil, deve estar, portanto, na agenda de prioridades. Não basta apenas a criança sobreviver Para desenvolver plenamente as suas estruturas psicomotoras, afetivas, sociais e cognitivas, a criança precisa ainda de todos os seus direitos assegurados. Esse entendimento, segundo o UNICEF, pressupõe a necessidade de dar sequência aos investimentos na criança de até 5 anos, incorporando o conceito de atenção integral. Também é necessário ampliar a quantidade de vagas em creches e escolas de Educação Infantil, em todo o estado, com maior tempo de permanência na escola de crianças mais vulneráveis. Alagoas carece ainda de estratégias e investimentos para prevenir acidentes e violência na família, nas creches ou na comunidade. A lista de desafios a ser vencidos na área é extensa: elaboração dos planos estaduais de Convivência Familiar e Comunitária, de Enfrentamento à Violência Sexual e Doméstica e de Erradicação do Trabalho Infantil. Além disso, é preciso investir na qualificação das redes de proteção à criança reforçando os serviços de atendimento do Ministério Público, dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), dos conselhos de direitos da criança e do adolescente, tutelares e setoriais de saúde, assistência social e educação. A execução das políticas públicas com base nessas proposições contribuirá para a universalização dos diretos da criança e do adolescente, levando Alagoas a fazer sua parte no esforço de cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Foto: Lucas Cardim capítulo 4 – futuro Prioridades para os próximos anos Além de investir na organização e na ampliação do Sistema de Saúde, para avançar será necessário incorporar o monitoramento e a avaliação na rotina da administração pública, qualificar a Atenção Básica e fortalecer a Rede Primeira Infância do Estado de Alagoas Criança em creche municipal de Arapiraca 68 | FUTURO N os próximos anos, os esforços de Alagoas para reduzir a mortalidade materna e infantil devem continuar. A ênfase, no entanto, será para que as iniciativas nesse sentido percam o atual caráter de urgência e sejam incorporadas de vez à rotina das políticas públicas (veja quadro Estratégias de Médio e Longo Prazo). Tarefa que, segundo Alexandre Toledo, o atual secretário de Saúde do estado, deve começar pela organização do sistema. A intenção é que postos do Programa Saúde da Família, ambulatórios, maternidades, hospitais gerais e hospitais especializados atuem realmente como uma rede e não como unidades que têm pouco ou nenhum contato umas com as outras, como é hoje. Um passo importante para que essa rede possa de fato funcionar como tal é a regulação de leitos. Por regulação, entenda-se o ordenamento do acesso aos serviços de saúde, no qual um Quando estiver completamente instalada, a central de regulação irá otimizar o atendimento aos casos de alta complexidade, tratamentos fora do domicílio, marcação de consultas, exames, internações e emergências serviço centralizado identifica para qual hospital deve ser levado o paciente com base em informações como distância, disponibilidade de transporte, de vagas e gravidade do caso. Esse ordenamento evita – ou reduz – a superlotação e o constrangimento de o doente ser levado de porta em porta até conseguir atendimento. “O complexo regulador está estruturado. Já estamos investindo nisso”, conta o secretário, acrescentando que o serviço está funcionando parcialmente. Quando estiver completamente instalada, a central de regulação irá otimizar o atendimento aos casos de alta complexidade, tratamentos fora do domicílio, marcação de consultas, exames, internações e emergências. Também irá estabelecer condições de trabalho para a rede de hospitais, clínicas e laboratórios particulares conveniados. Melhorar o desempenho dessa rede é considerado um dos grandes desafios que o estado tem hoje (veja mais sobre isso no capítulo Desafios). “Os convênios só serão mantidos para os estabelecimentos submetidos à regulação. Não tem por que financiarmos a desorganização”, afirma. PRIORIDADES PARA OS PRÓXIMOS ANOS | 69 Os médicos estão ainda esperançosos com a possibilidade da criação de uma central específica para regular o acesso aos leitos pediátricos, antiga reivindicação da Sociedade Alagoana de Pediatria. Foco na gestão compartilhada A organização do Sistema de Saúde passa ainda pelo estabelecimento de consórcios entre os municípios do interior. Dois deles estão sendo montados. O menor, que tem a Unidade de Pronto Atendimento de Viçosa como eixo, atenderá oito municípios. O outro, com base no Hospital Regional de Santana do Ipanema, Foto: Lucas Cardim terá 24 municípios em sua área de atuação. Mãe e bebê atendidos pelo programa Mãe-Canguru na Maternidade Santa Mônica, em Maceió O menino Júlio Galvão Filho na sessão semanal de terapia com a terapeuta ocupacional Maria de Fátima Mascarenhas Foto: Lucas Cardim 70 | FUTURO PRIORIDADES PARA OS PRÓXIMOS ANOS | 71 Hoje, o atendimento do pré-natal de médio e alto risco está praticamente concentrado na capital (veja mais sobre isso nos capítulos Contexto e Desafios). A descentralização – e ampliação da oferta no interior do estado – é importante para possibilitar que a população seja atendida de forma adequada quando precisa dos serviços de média e alta complexidade, principalmente nas unidades de cuidados intermediários e intensivos neonatais. Ampliação da infraestrutura Junto com a organização do Sistema de Saúde, a ampliação da Maternidade Santa Mônica e a construção das Unidades de Cuidados Intermediários (UCIs) em Penedo e Piranhas também são prioridades para o enfrentamento da mortalidade infantil nos próximos anos. Com orçamento mensal pouco inferior a 1,2 milhão de reais, a maternidade deve passar por uma grande reforma, que será custeada com recursos estaduais dentro da política de redução da mortalidade infantil. Um terreno ao lado da maternidade já foi desapropriado pelo governo para a construção da Central de Parto Normal e a Casa de Apoio à Gestante, à Puérpera e ao Bebê, componente da Rede Cegonha, estratégia A organização do Sistema de Saúde, a ampliação da Maternidade Santa Mônica e a construção de Unidades de Cuidados Intermediários são prioridades para o enfrentamento da mortalidade infantil nos próximos anos criada pelo Ministério da Saúde para assegurar transporte para as gestantes, atendimento humanizado, partos seguros e acompanhamento da criança até 2 anos de idade. A Casa irá abrigar as mães e os bebês do interior que precisem de acompanhamento ambulatorial e não possam ficar se deslocando de uma cidade para outra várias vezes por mês. Ao acolher as gestantes que precisam de tratamentos específicos e as mães de recém-nascidos cujos filhos não puderam receber alta, a construção da Casa de Apoio à Gestante, à Puérpera e ao Bebê irá liberar leitos nas maternidades da capital. A reforma prevê ainda profundas modificações nas UTIs neonatal e materna. 72 | FUTURO Hoje, os 15 leitos da UTI neonatal estão espremidos em estreitas baias distribuídas ao longo de um corredor que mal dá passagem para duas pessoas caminhando lado a lado. Nas baias, quase não há espaço entre os leitos. A ampliação da maternidade deverá resolver os frequentes problemas gerados pela falta de espaço e de estrutura do ambiente onde a UTI está instalada. Já a construção das novas Unidades de Cuidados Intermediários (UCIs) em Penedo e Piranhas também terá papel importante na otimização da rede de atendimento, pois as UCIs irão atender os bebês de médio risco. A construção dessas unidades no interior evitará a superlotação das maternidades de Maceió e de Arapiraca e a ocupação de leitos da UTI com pacientes que não precisam desse tipo de atendimento. As UCIs no sertão do São Francisco (Piranhas) e no Baixo São Francisco (Penedo) devem funcionar como polos microrregionais ou subregionais. ESTRATÉGIAS DE MÉDIO E LONGO PRAZO C om o sugestivo nome de Alagoas Tem Pressa, o programa do governo estadual • Inovação na gestão pública. • Valorização da imagem e mudança cultural. definiu estratégias de médio e longo prazo para Para que o programa tenha resultados, há promover o desenvolvimento e melhorar os in- mais de 20 projetos estruturantes que estão sen- dicadores sociais de Alagoas. do construídos em conjunto com as secretarias Essas estratégias compõem uma Carteira de e se desdobram em várias ações e projetos. Na Projetos Estruturantes do Plano Plurianual 2012-2015 área de melhoria de qualidade de vida, por exem- e priorizam as ações em seis áreas: plo, um dos projetos estruturantes é o combate à • Melhoria da qualidade de vida. • Desenvolvimento do capital humano. • Erradicação da pobreza extrema e mortalidade infantil. O programa Alagoas Tem Pressa foi uma redução des 2010-2012 do Comitê Estadual do Pacto da pobreza e da desigualdade. • Crescimento, econômica. descontração das ações destacadas no Relatório de Ativida- e diversificação Nacional Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido. PRIORIDADES PARA OS PRÓXIMOS ANOS | 73 Considerando o número de nascidos vivos em Alagoas em 2011, há necessidade de 270 leitos neonatais, sendo 108 de UTI neonatal, 108 de UCI neonatal e 54 leitos-canguru. Esses números foram calculados com base na Portaria nº- 930, de maio de 2012, que definiu diretrizes e objetivos para a organização da atenção integral e humanizada ao recém-nascido grave ou potencialmente grave. O estado conta, hoje, com 205 leitos neonatais disponíveis, e está programada a implantação de 94 novos leitos. Potencializando os avanços Além de investir na organização e na ampliação do sistema, para avançar ainda mais no enfrentamento à mortalidade infantil nos próximos anos, será imprescindível qualificar a Atenção Básica, incorporar o monitoramento à rotina da administração pública e criar estratégias para, com base nessas informações, superar as lacunas do atendimento. Construído coletivamente por consultores do UNICEF e pela equipe técnica da Secretaria de Estado da Saúde, o sistema de monitoramento e avaliação precisa, agora, ser efetivamente aproveitado. A expectativa é que, em 2013, o sub-registro, que era de 30% até 2009, chegue a 5% do total de nascimentos Mais do que registrar óbitos, a vigilância dos óbitos maternos, fetais e infantis de Alagoas deve oferecer informações para localizar e compreender os estrangulamentos da Atenção Básica, dos serviços de média e alta complexidade e as deficiências de saneamento básico e da assistência social. Cada morte precisa ser alvo de intensa reflexão com a participação de gestores e de profissionais envolvidos na assistência ao caso. Uma das iniciativas que também devem ter continuidade nos próximos anos é a bem-sucedida implantação de unidades interligadas de registro civil nas maternidades. De acordo com o anúncio já feito pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, o governo estadual e seus parceiros deverão acelerar a expansão para as unidades ainda não atendidas. 74 | FUTURO A expectativa, segundo Juliana Vergetti, secretária adjunta da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de Alagoas, é que, em 2013, o sub-registro, que era de 30% até 2009, chegue a 5% do total de nascimentos (veja mais sobre isso no capítulo Avanços). Outra ação já em andamento é a ampla adesão ao programa Rede Cegonha. De acordo com a coordenadora estadual do programa, Syrlene Patriota, a principal prioridade da rede, agora, é monitorar a qualidade da assistência materno-infantil oferecida em Alagoas e fortalecer a atuação regionalizada, de forma a reduzir as taxas de cesáreas e de mortalidade materna, neonatal e fetal (veja mais sobre isso no quadro 100% dos municípios alagoanos aderiram à Rede Cegonha). 100% dos municípios alagoanos aderiram à rede cegonha A adesão dos municípios alagoanos à Rede planos de ação, que no momento estão em aná- Cegonha teve início em outubro de 2011. O lise pelo grupo técnico do Ministério da Saúde. governo estadual optou por trabalhar primeiro As outras quatro regiões (2ª-, 8ª-, 9ª- e 10ª-) estão com duas das dez regiões de saúde de Alagoas trabalhando nos seus planos de ação, que devem – a 1ª- e a 7ª- –, considerando que ambas, além ficar prontos no início de 2013. de concentrar 52% da população do estado, já Entre as ações mais recentes do programa em possuíam serviços estruturados em todos os níveis Alagoas está a liberação de recursos para investi- de atenção materno-infantil. Os 29 municípios mento na reforma e na compra de equipamentos que fazem parte dessas duas regiões finalizaram para centros de parto normal e casas de apoio à o processo de adesão em maio de 2012 e agora gestante, à puérpera e ao bebê, na ampliação dos estão na etapa de estabelecimento de contratos e leitos neonatais e obstétricos e na adequação da qualificação dos pontos de atenção. ambiência das maternidades. Também estão sen- As demais regiões do estado aderiram ao do realizadas a implantação dos testes rápidos programa entre maio e agosto de 2012, contem- de HIV e sífilis na Atenção Básica e a capacitação plando 100% dos municípios alagoanos. Dessas, dos profissionais dos serviços materno-infantil em quatro regiões (3ª-, 4ª-, 5ª- e 6ª-) já finalizaram seus boas práticas obstétricas e neonatais. PRIORIDADES PARA OS PRÓXIMOS ANOS | 75 O fortalecimento da sociedade civil Em agosto de 2012, a Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, por meio da Superintendência de Políticas para a Criança e o Adolescente, e o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente assinaram o termo de adesão à Rede Primeira Infância do Estado de Alagoas. Para o UNICEF, a sua efetivação deve ser prioridade tanto do governo quanto da sociedade nos próximos anos. A rede é uma referência de articulação envolvendo vários atores sociais que atuam na promoção e na defesa dos direitos da primeira infância (veja mais sobre isso no quadro Uma rede pela primeira infância). Formada por representantes de organizações da sociedade Foto: Lucas Cardim civil e do governo, institutos e fundações empresariais ou privadas, Mulheres discutem o conteúdo do Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê, que faz parte do material de apoio à Rede Cegonha 76 | FUTURO outras redes e organizações multilaterais, a Rede Primeira Infância do Estado de Alagoas já conta com a adesão de 30 instituições. Sua missão é articular e mobilizar políticas públicas nas diversas áreas da infância, como saúde, nutrição, educação, assistência social, cultura, lazer, habitação, saneamento básico e segurança. As mobilizações para a sua formação começaram no segundo semestre de 2011, por meio de uma série de eventos e encontros que ocorreram em 90% dos municípios alagoanos. “Com a rede, estamos conseguindo agregar experiências que estavam isoladas”, comemora Cláudio Soriano, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança (Cedca) de Alagoas e superintendente de Políticas para a Criança e o Adolescente da Secretaria de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos. Em 2013, a intenção é envolver nessa rede os novos prefeitos e os Conselhos de Direitos1 dos 102 municípios alagoanos. “O estado é um articulador, mas a política pública acontece efetivamente no município”, justifica Nelma Nunes, administradora estadual do 1 Formados por representantes do governo e da sociedade, os Conselhos de Direitos têm papel essencial nas políticas públicas para crianças e adolescentes. Eles têm poder de deliberação e dispõem de uma fonte de recursos para financiar políticas na área, os Fundos da Infância e da Adolescência. UMA REDE PELA PRIMEIRA INFÂNCIA S egundo o pedagogo Antonio Carlos Gomes 100 organizações compõem a RNPI, incluindo o da Costa (1949-2011), um dos formulado- UNICEF, buscando concretizar ações em vários res do Estatuto da Criança e do Adolescente, a âmbitos. Entre os objetivos da Rede estão, por criança nunca pode ser vista de forma isolada. exemplo, a formulação, o aprimoramento e a in- “Ela faz parte de uma família, de um país, de um tegração das políticas para a primeira infância, estado, de um município, de uma comunidade. monitorando-as e avaliando-as. Para olhar para ela de fato precisamos dessa integralidade”, dizia ele. Uma das principais estratégias adotadas para isso é o Plano Nacional pela Primeira Infância (PNPI), que Essa é, de forma simplificada, a missão da propõe uma política de promoção e defesa dos Rede Nacional Primeira Infância (RNPI). Mais de direitos fundamentais da criança desde o nasci- PRIORIDADES PARA OS PRÓXIMOS ANOS | 77 Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia)/Conselho Tutelar e secretária executiva do Cedca. Em articulação com o UNICEF, serão realizados 20 encontros, reunindo representantes de cinco cidades em cada um. O material utilizado é o Guia para a Elaboração de Planos Municipais pela Primeira Infância (veja mais no quadro Uma rede pela primeira infância) e a intenção é apoiar os Conselhos de Direitos na sua organização. De acordo com o artigo 7 º- do Estatuto da Criança e do Adolescente, “a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”. Essa é a meta e o desafio de Alagoas para os próximos anos. “Problemas complexos, como a mortalidade materna, infantil e fetal, requerem, porém, um cenário em que o governo partilhe responsabilidades com a sociedade em um movimento solidário, cooperativo e em rede”, diz Jane Santos, coordenadora do UNICEF nos estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Construir a sustentabilidade de uma política de Estado que sobreviva ao fim de um mandato deve ser prioridade hoje mento até os 6 anos de idade por meio de ações amplas e articuladas. Segundo o Guia para a Elaboração Reprodução para o futuro de Alagoas. cípios estabelecidos no PNPI, e ser construídos por meio de um amplo processo de partici- de Planos Municipais pela Primeira In- pação social, incluindo também fância, da RNPI, realizado com o apoio as crianças. do UNICEF, para mudar o panorama da A publicação está disponível infância brasileira é preciso enfrentar os para download no site da Rede desafios nas cinco regiões do país, em Nacional pela Primeira Infância cada estado e em cada município, res- (www.primeirainfancia.org.br), peitando as diversidades que se impõem em Acervo, e será utilizada ao em diferentes contextos. Os planos municipais longo de 2013, em Alagoas, como instrumento devem, portanto, estar de acordo com os prin- de fortalecimento dos Conselhos de Direitos. 78 | ANEXOS Bibliografia “Análise de Tendências Temporais na Mortalidade Infantil em Alagoas, 1999-2002.” César G. Victora e Elaine Tomasi, Universidade Federal de Pelotas e Universidade Católica de Pelotas, 2004. Busca Ativa de Óbitos e Nascimentos no Nordeste e na Amazônia Legal: Estimação da Mortalidade Infantil nos Municípios Brasileiros. In Saúde Brasil 2010: Uma Análise da Situação de Saúde e de Evidências Selecionadas de Impacto de Ações de Vigilância em Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde/MS. LIMA, Samarone. A Vitória da Vida: Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas 2000-2004. UNICEF, 2005 (Coleção Faz e Conta, vol II). Saúde Alagoas: Análise da Situação de Saúde. Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, Superintendência de Vigilância em Saúde, Diretoria de Análise da Situação de Saúde. Maceió: Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, 2011. Síntese de Indicadores Sociais 2002. IBGE, Departamento de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. Síntese de Indicadores Sociais 2010. IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. SORIANO, C. F. R.; MELO, A. M.; SOARES, F; SOARES, E. Nascer em Alagoas: Dilemas e Perspectivas. 1. ed. Maceió: Edufal – Editora da Universidade Federal de Alagoas, 2003. UNICEF. Situação Mundial da Infância 2009: Saúde Materna e Neonatal. UNICEF. Situação Mundial da Infância 2008: Sobrevivência Infantil. UNICEF. Situação Mundial da Infância 2008: Caderno Brasil. UNICEF. Situação da Infância Brasileira 2006: O Direito à Sobrevivência e ao Desenvolvimento. 79 Links úteis Informações sobre saúde – No relatório Saúde Alagoas 2010, da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, publicado em 2011, há uma série de dados estatísticos comentados sobre nascimentos, gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. A publicação está disponível em http://www. saude.al.gov.br/sites/default/files/ass_2010_parte_1_portal.pdf e http:// www.saude.al.gov.br/sites/default/files/ass_2010_parte_2_portal.pdf. Outra fonte importante de informações sobre saúde, com dados sobre mortalidade, morbidade e cobertura, é o Indicadores de Dados Básicos (IDB) 2011, publicado em novembro de 2012 pela Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa). As estatísticas (do Brasil todo e não apenas de Alagoas) estão disponíveis na internet em http://www.datasus.gov.br/idb. Materiais do Selo UNICEF – Além de uma série de informações sobre a iniciativa e os municípios participantes, o site do Selo UNICEF Município Aprovado (www.selounicef.org.br) disponibiliza, em Material do Selo, informativos, apresentações e publicações úteis para gestores, como Políticas Públicas – Dicas para Melhorar a Vida de Crianças e Adolescentes nos Municípios do Semiárido, Guia Metodológico, Guia EducaAvaliação da Gestão de Políticas Públicas, Como Trabalhar o HIV/aids no seu Município e Semiárido Livre da Rubéola – Subsídios para os Articuladores do Selo. Publicações úteis à gestão – No site do UNICEF (www.unicef.org.br), em Biblioteca, há outras referências para os gestores municipais, entre elas Como Realizar a Semana do Bebê em seu Município: 10 anos Priorizando a Primeira Infância em Canela, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – Orientações para a Implementação nos Reprodução ção para a Convivência com o Semiárido, Manual de 80 | ANEXOS Municípios, Como Prevenir a Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis no seu Município – Guia para Gestores e Como Prevenir a Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis no seu Município – Guia para Profissionais de Saúde. Orientações práticas – Além de artigos e informações sobre a instituição, o site da Pastoral da Criança tem uma versão eletrônica do Guia do Líder. Escrito por muitas mãos, o livro é referência para todos os trabalhos da Pastoral, com informações sobre cuidados com a criança desde a gestação e alimentação enriquecida. Reprodução A íntegra da publicação, de 2011, pode ser acessada em http://www.pastoraldacrianca.org.br/images/stories/ pdf/guia-2011-port-web.pdf. No site da Sociedade Alagoana de Pediatria (www.sapal.com.br) há Reprodução agenda de eventos, artigos, links e informativos da instituição, que é filiada à Sociedade Brasileira de Pediatria. Fotos: Lucas Cardim Avanços e Desafios – A Redução da Mortalidade Infantil em Alagoas traz um panorama das conquistas do estado nos últimos anos, com análises detalhadas do que motivou os progressos e do que ainda é preciso fazer para potencializá-los e avançar ainda mais na garantia do direito de sobrevivência e no desenvolvimento de milhares de meninos e meninas. Realização Articulação estratégica Apoio