teologia e arte a terminante proibição da utilização de imagens nas
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teologia e arte a terminante proibição da utilização de imagens nas
SEMINÁRIO TEOLÓGICO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE BATISTA DO RIO DE JANEIRO CURSO DE BACHAREL EM TEOLOGIA TEOLOGIA E ARTE A TERMINANTE PROIBIÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE IMAGENS NAS IGREJAS PÓS-REFORMA RIO DE JANEIRO 2008 2 TEOLOGIA E ARTE: A TERMINANTE PROIBIÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE IMAGENS NAS IGREJAS PÓS-REFORMA SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DO SUL DO BRASIL 2008 3 TEOLOGIA E ARTE: A TERMINANTE PROIBIÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE IMAGENS NAS IGREJAS PÓS-REFORMA _______________________________________________ Autor: Hudson Pereira da Silva _______________________________________________ Orientador de Conteúdo: Profa. Dra. Naara Lúcia de Albuquerque Luna _______________________________________________ Orientadora de Forma: Profª. Maria Celeste de Castro Machado Rio de Janeiro – 2008 4 Aos Mestres Naara Lúcia de Albuquerque Luna Maria Celeste de Castro Machado Reconhecimento Especial Ao pastor Carlos César Peff Novaes, escultor de mensagens, garimpador de palavras e forte referência na busca de diálogo entre Teologia e Cultura À Marília, mais do que esposa. Companheira, amiga e parceira. Ao meu filho Matheus que é a denúncia constante da Graça de Deus sobre mim. 5 A Arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente. (ERNST FISCHER) Sabemos que a música é odiada pelos diabos, que a não podem suportar e, segundo a Teologia, não há outra arte que se lhe possa igualar. E tanto assim é, que a música pode, como a Teologia, sossegar o ânimo e alegrá-lo. Por isso, o diabo, causador de tristes cuidados e pensamentos inquietos, foge tanto da música como das palavras da Teologia. (MARTINHO LUTERO) Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor. (WOLFGANG AMADEUS MOZART) 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...............................................................................................7 2 O CONTEXTO HISTÓRICO, POLÍTICO E SOCIAL DO SÉCULO XVI................................................................................................................15 2.1 O HUMANISMO E O NATURALISMO.......................................................15 2.2 O RENACIMENTO NA ITÁLIA...................................................................17 2.3 O RENACIMENTO NA ALEMANHA E NO RESTANTE DA EUROPA......................................................................................................20 3 A INFLUÊNCIA DO CONCEITO DE IMAGEM SAGRADA........................23 3.1 ARTE E RELIGIÃO....................................................................................24 3.2 ÍDOLO OU IMAGEM?.................................................................................26 3.3 OS ICONOCLASTAS..................................................................................28 4 A REFORMA E AS ARTES NA ALEMANHA NO SÉCULO XVI E XVII..............................................................................................................31 4.1 AS ARTES VISUAIS SE DESLOCAM.........................................................33 4.2 A PINTURA VOLTA SOB UM NOVO CONCEITO.....................................36 4.3 AS ARTES MUSICAIS SE DESENVOLVEM MAIS DO QUE AS ARTES PLÁSTICAS.................................................................................................39 5 CONCLUSÃO ............................................................................................43 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................45 RESUMO.....................................................................................................46 7 1. INTRODUÇÃO Teologia e Arte O tema escolhido para esta pesquisa tem acompanhado as raízes da história do ser humano e, em especial, de todo estudante de Teologia, ainda que esse não se dê conta disso. O ser humano pensa. Pensa para dentro de si, quando deseja responder suas mais íntimas questões existenciais. Pensa também para fora de si, quando procura encontrar sentido nos elementos da natureza. E ainda pensa para além de si, quando se dedica a desvendar os misteriosos fenômenos que transcendem ao palpável e ao inteligível. É para domar o transcendental e confortar a mente especulativa e fértil que nós precisamos da Teologia e das Artes. Entendemos ser imprescindível numa sociedade caracteristicamente pósmoderna, mergulhada que vive num mundo de imagens, e repleta de estímulos sensitivos, desvendarmos a trajetória histórica de nossas igrejas no que diz respeito às leituras artísticas, especialmente, nessa pesquisa, a pictórica. Para a academia, o valor desse estudo se alicerça na interdisciplinaridade das áreas selecionadas e na valorização do indivíduo como um ser multifacetado e ao mesmo tempo integral. Em virtude de ter uma área de abrangência tão grande, encontramos certa dificuldade em delimitar o espaço a ser vasculhado academicamente. Isso porque, em certo sentido, o tema se confunde com outras áreas do conhecimento humano. Assim, depois de razoável esforço intelectual, selecionamos o período histórico imediatamente posterior à Reforma Protestante, nos meados do século XVI. Com as teses sugeridas por Lutero e, mais tarde fundamentadas por Calvino, implementando a não utilização das imagens através dos neo-iconoclastas nas igrejas reformadas houve conseqüências para subjetivação do discurso religioso. Neste trabalho, observamos o gradativo crescimento e investimento artístico canalizado principalmente para área musical nas igrejas da Alemanha daquele período. O protestantismo, apesar do seu caráter de contestação do catolicismo e de suas ocasionais tendências iconoclastas, também apresentou em sua fase inicial, extraordinárias manifestações de arte religiosa que encontraram sua expressão suprema na pintura. Alguns nomes famosos são os dos pintores alemães Albrecht 8 Dürer1, Lucas Cranach2 e Hans Holbein3, e o holandês Rembrandt van Rijn4. Este último foi o grande artista do discipulado cristão diário, fora da Itália que era o centro das artes. Rembrandt representa a vida de Jesus de um modo que atrai o espectador para uma auto-identificação com o Cristo. Um exemplo é o seu “A ceia em Emaús5”. Assim, esses artistas davam expressão às suas novas convicções, “pregando” com a sua arte. Durante os séculos, nas catacumbas, pequenas capelas ou grandiosas catedrais, utilizando-se de murais, afrescos, mosaicos, vitrais, telas, marfim, mármore, metal, tecido ou esculturas, o ser humano tem expressado as suas convicções a respeito do ser divino e a sua devoção a Ele. Pretendemos investigar o processo histórico que resultou na exploração somente de um dos sentidos do ser humano – a audição – quando vivemos num mundo onde a visão é supervalorizada e a imagem é dotada de enorme potencial sedutor para comunicar e ensinar o evangelho. Pretendemos investigar o processo pelo qual a expressividade artística, durante a Reforma, teve que ser desviada do elemento visual para o sonoro. Haveria uma relação entre banir imagens religiosas e estimular a ilusão, a contextualização e a poesia dos textos canônicos? Desejamos também verificar se a retirada das imagens das igrejas valorizou o ser humano e ainda averiguar se existe relação entre a formação da burguesia e a nova postura em relação às imagens. Escolhemos esta proposta de pesquisa pela proximidade que temos com a cadeira de artes visuais. Razoável conhecimento foi acrescentado na formação acadêmica nesta área. Também catalogamos, ao longo do espaço de tempo dedicado a este estudo, rico material de História da Arte que pode ser analisado em paralelo com as informações colhidas nesse curso de Teologia, especialmente nas matérias de História da Igreja, Filosofia e Antropologia. Nossa intenção primária é fazer uma varredura do momento político-histórico cruzando estas informações com a produção artística da época e do local indicados, a fim de que esses subsídios emitam luz sobre o problema que se instalou com a proibição da utilização das obras de arte nas igrejas da Reforma. Gostaríamos muitíssimo de ter espaço para aprofundar o estudo das técnicas e do êxodo de alguns outros artistas europeus influenciados pelas idéias implantadas na Reforma. No entanto, este desvio de foco, ainda que enriqueça as 9 informações em torno do assunto, poderia nos seduzir a pender mais para o ramo das artes plásticas do que para o da Teologia. Fica aberto, portanto, esse caminho, entendendo que a pesquisa é deveras importante, mas pode, pela sua profundidade e riqueza de elementos, desviarem nosso foco de estudo. 1. Albrecht Dürer (1471-1528). Imperador Maximilianus (1518) por Dürer 10 2. Lucas Cranach (1472-1553). Martinho Lutero e sua esposa (1472-1553) por Lucas Cranach 3. Hans Holbein, o jovem (1497 – 1543). Retrato de Henry VIII (1540) por Hans Holbein, o Jovem 11 4. Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669). A Ceia em Emaús (1648) por Rembrandt. 2. O CONTEXTO HISTÓRICO, POLÍTICO E SOCIAL DO SÉCULO XVI Neste capítulo procuramos descrever a fundamentação filosófica, as tensões naturais de uma gradativa adaptação aos novos tempos e diferença de implementação desses novos conceitos em cada grupo social. O objetivo é reconstruir, ainda que de forma sintetizada, o ambiente e as relações sociais que serviram de base para as mudanças tão difundidas desse que é chamado de período do Renascimento cultural. Uma ebulição de descobertas, de novos conhecimentos de adaptações e influências que, sem dúvida, estimulam o surgimento de grandes ícones da história. Procuramos separar para efeitos didáticos o Renascimento que ocorre na Itália o grande centro do poder e o restante do antigo império que está de pulverizando e estruturando no que virá a ser os países. Dedicarmos-nos a 12 investigar esse período nos capacita a ampliar os limites da curiosidade e fundamentar a certeza de que cada período histórico tem em si mesmo uma multifacetada riqueza de detalhes. Essas informações são tão ricas e tão múltiplas que é imprescindível selecionar a área e a dimensão desse estudo monográfico a fim de atingirmos o foco desta pesquisa. A divisão de períodos históricos não são tão bem pontuados como os gráficos de linha histórica apresentam. Não há como definir, mesmo numa leitura superficial, que a partir de determinado episódio se inicia um novo período que dura até que ocorre um novo momento. A História é o estudo da ação humana ao longo do tempo e esta ação nunca é uni linear. É na superposição e conflitos de conceitos, nas ações e questionamentos dessas práticas do dia a dia que são preservados alguns valores, adaptados outros e apresentadas novas propostas de construção de estruturas sociais. É exatamente nessa dialética e pluralidade que os períodos históricos se desenvolvem. A história passaria a ter um caráter muito místico se os 'acasos' não desempenhassem nenhum papel. Como é natural, os acasos tomam parte do curso geral do desenvolvimento e são compensados por outros acasos. Mas a aceleração ou o retardamento do desenvolvimento dependem em grau considerável, desses acasos, entre os quais figura o 'acaso' relativo ao caráter dos homens que dirigem o movimento em sua fase inicial” (MARX e ENGELS,1963, p.264) Assim também acontece com o conceito de Renascença. Arnold Hauser, ao tratar do assunto registra que: Talvez seja preferível situar a linha divisória crucial entre a primeira e a segunda metade da Idade Média, ou seja, no final do século XII, quando a economia monetária é ressuscitada, novas cidades surgem e a moderna classe média adquire pela primeira vez características que a distinguem; seria inteiramente errado situá-la no século XV, no qual, é verdade, ocorreu a realização de muitas coisas, mas absolutamente nada começou. (HAUSER, 1995, p.273). Segundo Hauser, podemos afirmar que foi o nominalismo medieval que primeiro inspirou a nova direção do pensamento chamado Renascentista1. São vários os pensadores, rotulados de medievais, que contribuem para a construção do pensamento Renascentista. Santo Anselmo usa a lógica das escolas 1 “Nossa concepção naturalista científica de mundo é, por certo, em seus aspectos essenciais, uma criação da Renascença, mas foi o nominalismo medieval que primeiro inspirou a nova concepção do mundo tem origem”. (273) 13 filosóficas para o enfrentamento da especulação teológica no escolasticismo2. São Tomás de Aquino faz a exposição sistemática da fé, apresentada em sua Suma Teológica, fundamentada na filosofia aristotélica3 procurando através dessa sistematização um diálogo com o pensamento científico. O conhecimento geográfico medieval foi inflacionado de forma marcante em função das descobertas de Colombo e de outros exploradores que ao desenvolverem novas técnicas de navegação transformaram os oceanos nas novas estradas do mundo. Os horizontes também foram ampliados no campo político. O conceito medieval de um estado universal dava dando lugar ao novo conceito de nação. Os estados logo passaram a se organizar em bases nacionais. Mesmo hoje, a Renascença ainda é celebrada por ambos os campos como a grande guerra de libertação da Razão e como trunfo do individualismo, ao passo que, na realidade, a idéia de “livre pesquisa” não foi uma realização da Renascença, nem a idéia de personalidade absolutamente estranha à Idade Média; o individualismo da Renascença era novo somente como programa consciente, como uma arma e um grito de guerra, não como um fenômeno em si. (HAUSER, 1995, p.275). “Estas nações-estados, com poder central e governos fortes, servidas por uma força militar e civil, eram nacionalistas, opondo-se ao domínio de um governo religioso universal” (CAIRNS, 1995, p.222). Estabeleceu-se o poder central dessas nações-estado que equipadas de uma força militar e civil, eram nacionalistas e opunham-se ao domínio de um governo religioso universal. A descentralização feudal do mundo medieval foi paulatinamente sendo substituída por uma Europa fundada sobre estados-nações centralizados. A área econômica é também influenciada pela ebulição desses conceitos filosóficos e de maneira muito direta pelas novas descobertas. Durante um longo período da Idade Média, o grande legado estava na terra e o que se fazia dela, sendo, portanto, o produto do solo, a base da riqueza. Com o ressurgimento das cidades, a abertura de novos mercados e o potencial observado de novas matériasprimas surgidas das recentes descobertas, o comércio passou a ser a nova 2 O Escolasticismo ou Escolástica é uma linha dentro da filosofia medieval, de acentos notadamente cristãos. Ela surgiu da necessidade de responder às questões da fé, ensinadas pela Igreja 3 São basicamente três fundamentos do sistema da filosofia aristotélica: observação fiel da natureza , rigor no método e unidade do conjunto. 14 referência econômica. Uma nova categoria social passa a ser observada. Em conseqüência disso, a estrutura social se flexibiliza e, em contexto no qual a expectativa era praticamente nula de ascensão social, surge a possibilidade de subir de uma classe para outra. Isso poderia ocorrer quase que naturalmente pela força dos negócios e da comercialização, formada especialmente por proprietários livres, da pequena nobreza da cidade. Renascimento é, portanto, o rótulo desse rico e vasto movimento de mudanças que tem início na Idade Média. Movimento esse, que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental, mais especificamente entre os séculos XIV e XVI. Essa ebulição cultural caracterizou-se pela tentativa de fazer ressurgir valores, propostos na cultura greco-romana O movimento chamado Renascentista é um título dessa nova concepção de vida adotada por uma parcela da sociedade extremamente interessada na descentralização do poder e no questionamento de conceitos místicos impostos sem a utilização da chamada lógica científica. A concepção de que Deus é o centro do universo, teocentrismo, é gradativamente substituída pelo pensamento que considera que tudo deve ser avaliado a partir do ser humano, antropocentrismo. E o poder incondicional do clero, clericalismo, é substituído paulatinamente pelo secularismo que é atitude de se afastar dos conceitos puramente religiosos. Apesar de recuperar os valores da cultura clássica, o Renascimento não foi uma mera reprodução. Embora tenha se utilizado dos mesmos conceitos, estes foram aplicados de uma nova maneira a uma nova realidade. O homem é a medida de todas as coisas4, mas o conceito de ser humano é diferente do que se entendia na Grécia antiga. Acentua-se igualmente o racionalismo, com a convicção de que tudo pode ser explicado pela razão humana e pela ciência. Há recusa, portanto, em acreditar em qualquer coisa que não tenha sido provada. Essa premissa estimula o experimentalismo e a ciência tão defendidos na Renascença. 4 Protágoras de Abdera (Abdera, 480 a.C. - Sicília, 410 a.C.) foi quem cunhou a frase o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são. 15 2.1 O HUMANISMO E O NATURALISMO O Humanismo5 se caracteriza pela produção literária no final da Idade Média e início da Idade Moderna. Essa produção literária é marcada por uma nova visão que o homem tem de Deus e de si mesmo. Essa nova visão é fruto de uma busca das chamadas “belas artes”, em particular da literatura. Aliado a isso, uma forte mudança estava ocorrendo no contexto social com o enfraquecimento da estrutura feudal – nobres, clero e povo. É justamente nessa época que surge uma nova classe social fundamentada nos valores do burgo6, a burguesia. Esses, assim rotulados, burgueses, não se encaixavam nem na categoria de povo, nem dos nobres e nem, muito menos, do clero. Com o surgimento dessa nova classe social foram aparecendo as cidades e muitos homens que moravam no campo se transferiram para os novos centros comerciais, como conseqüência do enfraquecimento do regime feudal. Essa nova perspectiva social e econômica estimulou o surgimento de novas leis, novos costumes, novas referências. Assim, gradativamente foram se esvaziando o “status” e os títulos de nobreza adquiridos em função do “status” econômico. É também nesse período que surgem as Grandes Navegações. A invenção da bússola7 deu segurança a essas expedições marítimas e incrementou o desenvolvimento da indústria naval. Assim com o desenvolvimento do comércio e a substituição da economia de subsistência, levando a agricultura a se tornar mais intensiva e regular, estimulou-se o crescimento urbano, especialmente das cidades portuárias e o florescimento de pequenas indústrias valorizando o Mercantilismo8 e dando ainda mais força à nova burguesia. Essas novas descobertas unidas ao pensamento humanista, e ao desenvolvimento econômico acelerado trouxeram ao ser humano uma confiança em sua capacidade, sua vontade de conhecer, de descobrir e dominar o mundo. 5 Humanismo é o nome que se dá à produção escrita histórica literária do final da Idade Média e início da Moderna , ou seja , parte do século XV e início do XVI , mais precisamente , de 1434 a 1527 . 6 O termo Burgo remonta à Idade Média, em que era o nome dado a cidades que eram protegidas por fortalezas. Dessa palavra procede o adjetivo "burguês", também usado como substantivo e que designava o habitante do burgo. 7 A Bússola foi introduzida na Europa pelos árabes, e foi Flávio Gioia que introduziu também o desenho da rosa-dos-ventos na bússola. 8 O Mercantilismo é uma etapa inicial do que vem a se consolidar como modo de produção capitalista. A ênfase naquela fase é no aumento da circulação de mercadorias, isto é, no comércio. 16 Alguns desses humanistas eram diretamente ligados à igreja, outros eram artistas ou historiadores independentes protegidos por mecenas9. Esses estudiosos desempenharam um grande papel ao divulgarem de forma sistematizada os antigos filósofos e historiadores, tendo como referência, especialmente, os clássicos da Roma antiga e da Grécia. O conceito comum difundido era que o homem deveria ser o senhor do seu próprio destino e, sobretudo o homem percebe-se capaz, importante e agente. A doutrina do “livre arbítrio” passa a ter força e é vista como a capacidade do ser humano decidir sobre sua própria existência e não mais ser “controlado” pela Igreja. É o início de uma transferência conceitual de uma postura religiosa e mística para uma posição mais próxima do racionalismo. Todo esse desabrochar cultural e essa ebulição de novas idéias tiveram seu apogeu no Renascimento. O Humanismo se apresenta como um veículo de transição entre duas posturas uma mais espiritualista (teocêntrica) e outra mais terrena (antropocêntrica). O poder religioso começou a enfraquecer e o Teocentrismo começou gradativamente a ceder espaço ao Antropocentrismo. O ser humano tomou o lugar como centro de todas as coisas, antes ocupado por Deus. Ele se vê agora como um indivíduo completo e não apenas como a “imagem e semelhança” de Deus. Os artistas começaram a produzir suas obras musicais, poéticas e teatrais fundamentadas nesses valores. Isso não significa que os conceitos religiosos estavam acabando, mas o que ocorre é que eles deixam de ser o centro da produção intelectual e artística. Além disso, os artistas passam a se aproximar mais da ciência em seu exercício de fazer. Ao se aproximar mais de um diálogo com as ciências exatas e mergulhar no domínio da perspectiva e da anatomia, a fim de apreenderem e controlarem as reproduções feitas a ponto de idealizarem e “divinizarem” suas obras os artistas estavam tornando concreto o desejo de atingirem um “status” acima do ofício de artesãos. Esse interesse pelo conhecimento clássico antigo estimula os pintores, escultores e arquitetos a buscarem inspiração na arte rotulada de “pagã” da antiguidade. H. W. Janson afirma que “os humanistas, por grande que fosse o seu entusiasmo pela filosófica greco-romana, não se tornaram pagãos, antes se 9 Patrocinador generoso, protetor das letras, ciências e artes, ou dos artistas e sábios. (Dicionário Aurélio) 17 esforçavam, de todos os modos, por harmonizar o legado dos pensadores antigos com a mensagem do Cristianismo” (1977, p350). A invenção da imprensa foi outra aliada na difusão dessas novas idéias de resgate dos textos clássicos a ponto do grande volume de produção impressa serem reedições de obras da antiguidade compostas em latim ou em grego. Em um primeiro momento essas idéias estavam confinadas à aristocracia intelectual. Foi somente com o advento da Reforma Protestante que a imprensa começou a ser usada como um meio de comunicação com as massas para divulgar as idéias teológicas e filosóficas nascidas nesse novo cenário. O Naturalismo teve seu crescimento em várias áreas do conhecimento humano. Nas artes plásticas ele diz respeito à representação realista da natureza. Na Filosofia ela é uma “doutrina segundo a qual todo conjunto de fenômenos pode ser reduzido, por um encadeamento mecânico, a fatos do mundo concreto material sem a intervenção de nenhuma causa transcendente.” Como afirma Hauser, citando Burckhardt10 ao comentar o naturalismo Renascentista afirma: o fato verdadeiramente notável a respeito da Renascença não era o artista ter se tornado um observador da natureza, mas o de ter-se a obra de arte convertido num “estudo da natureza”. (Burckhardt, apud Hauser, 1996, p. 274). Arnold Hauser ainda afirma que “toda realidade se converteu num substrato de uma experiência artística, e a própria vida numa obra de arte, na qual todo e qualquer elemento era meramente um estímulo dos sentidos” (1994, p.284). 2.2 O RENASCIMENTO NA ITÁLIA Florença, na Itália, é sem dúvida “o berço do Renascimento artístico”. O orgulho patriótico e o apelo à grandeza implícitos na imagem de Florença como a “Nova Atenas” é notório. Isso fruto de uma forte ameaça à independência do Estado florentino promovida pelo Duque de Milão que tentava dominar toda Itália. Florença venceu a batalha e proclamou-se a “defensora da liberdade contra a tirania sem 10 Jacob Burckhardt foi historiador e crítico de arte suíço. A partir de 1844 é professor de História Geral e de História de Arte da Universidade de Basileia, posto que abandona entre 1855 e 1858 para ensinar História de Arte na Escola Politécnica de Zurique e, em algumas épocas, para visitar a Itália. 18 freios”. Novamente os humanistas aparecem em cena, com escritos tais como “Louvor da cidade de Florença”(1420-3) de Leonardo Bruni, Eles vieram pôr de novo em foco o ideal de um renascimento clássico de uma república livre. E, como afirma Janson “as artes foram tidas por essenciais para o ressurgimento da alma florentina” (1977, p.379). Não foi por acaso que a primeira declaração explícita a reclamar para as artes visuais a honra de serem incluídas entre as chamadas artes liberais se deu justamente em Florença, através de Filipo Villani11 (c.1400). Era fundamental que isso fosse feito, porque desde Platão as “artes liberais” eram compostas das disciplinas relacionadas entre as necessárias à formação de um homem culto. Fazem parte da relação de matérias científicas a Matemática, incluindo a teoria musical, a Dialética, a Gramática, a Retórica e a Filosofia. As belas artes estavam inseridas nos trabalhos manuais e lhes faltava uma base teórica, tornando-se assim inferiores dentro desse conceito. Desde que o artista passou a ser incluído nesse clã de intelectuais, tornou-se fundamental definir seu vocabulário artístico e as matérias de seu estudo, agora elevado a categoria acadêmica. Escultores como Donatello, Ghiberti, Andrés Del Verrocchio, e pintores como Masaccio, Fra Angélico, Giovanni Bellini, além dos arquitetos Filippo Brunelleschi, Michelozzo e Leone Battista Alberti, sem dúvida, prepararam o terreno para o áureo período do Renascimento pleno da Itália. O trabalho deles e a fundamentação humanista asseguraram ao artista a visão social de um gênio soberano, um intelectual, um cientista experimentando a natureza e o domínio das técnicas de representação e não apenas a de um artífice dedicado. O conceito plantado nessa época foi extraído dos escritos do próprio Platão – “o espírito assenhorando-se do poeta e levando-o a compor um delírio divino”. A Itália vivia esse momento exuberante nas artes em função dos extraordinários recursos financeiros. Justo Gonzáles registra que “os nobres e os grandes burgueses tinham meios para suprir o custo de uma arte tão dedicada, não para glória do céu, mas do mecenas, que custeava o empreendimento. A arte, portanto, até então produzida quase exclusivamente para o ensino religioso e para a glória de Deus, passou a se ocupar do esplendor humano.”(1978, p. 146). Personagens com Miguel Ângelo e Leonardo da Vinci, ilustram com muita clareza e maestria essa busca do ideal renascentista do “homem universal”. Obras 11 Filippo Villani humanista florentino (1325-1405) 19 como a parte do afresco12 da Capela Sistina que retrata a criação do mundo, produzidas por Miguel Ângelo, e esculturas como as de Moisés13 e David14 não deixam dúvida do conceito de genialidade mascarada como inspiração divina que na realidade enche de poder a idéia desse novo homem que domina a técnica da representação e a ciência em prol do seu próprio desejo. Essa visão do ser humano e da sua capacidade sem limites é encarnada e exemplificada na figura de Leonardo da Vinci. “Poucas são as atividades humanas em que esse gênio da Renascença não interveio ou tentou mostrar sua maestria”, diz Gonzáles. Leonardo pode ser catalogado como pesquisador nas áreas que se relacionam à Matemática, Engenharia, Botânica, Química, Anatomia, Escultura, Pintura entre outras. Sobre a aglutinação entre arte e ciência em Leonardo da Vinci Janson, diz o seguinte: Na idade avançada, Leonardo dedicou-se cada vez mais aos seus interesses científicos. A arte e a ciência, recordemo-lo, foram unidas pela primeira vez na descoberta feita por Brunelleschi, da perspectiva sistemática; a obra de Leonardo representa o auge desta tendência. O artista em seu entender, não só devia conhecer as regras da perspectiva, mas também todas as leis da Natureza, sendo os olhos o instrumento perfeito para adquirir tal conhecimento. (JANSON, 1977, P.422) As artes produzidas obtinham prestígio e patrocínio junto aos mecenas. O papa Julio II foi, como a maioria dos outros papas da época, um grande patrocinador das artes. Foi durante seu pontificado que Miguel Ângelo terminou de pintar o teto da Capela Sistina, e Rafael decorou o Vaticano com seus afrescos. Julio II se ocupava também da guerra e de habilidade política. Ele, além de reorganizar a guarda papal, assumiu o comando do exército lançando-se ao campo de batalha com o propósito de conquistar a unidade italiana. Por fim, com sua morte em 1513, recebeu o título de “O Terrível”. Seu sucessor foi igualmente um apaixonado pelas artes, que procurou consolidar as conquistas de Julio II. João de Médicis, ou Leão X, como decidiu ser nomeado, era filho de Lourenço, o Magnífico, de Florença. A paixão pelas artes se sobrepôs a todo interesse religioso ou sacerdotal. Em nome da realização de seu sonho de completar a Basílica de São Pedro estava disposto a qualquer coisa. 12 Afresco é a técnica de pintura aplicada em paredes e tetos que consiste em pintar sobre camada de revestimento recente, fresco, de nata de cal, gesso ou outro material apropriado ainda úmido, de modo que possibilite o embebimento da tinta. 13 Miguel Ângelo. Moisés. 1513-5. Mármore: altura do corpo 2.35m. Pietro in Vincoli, Roma 14 Miguel Ângelo. Davi 20 2.3 O RENASCIMENTO NA ALEMANHA E NO RESTANTE DA EUROPA As concepções estéticas Italianas de valorização da cultura greco-romana começaram a atingir outros países europeus. Foi comum o conflito, também nas artes, entre as tendências nacionais e as novas formas artísticas vindas da Itália. Esse embate se cristalizou com a “nacionalização” das idéias italianas. Essa releitura da proposta italiana pode ser observada através das artes. O que ocorre é na realidade, o impacto do pensamento humanista. A emancipação da classe média urbana acontece primeiro ali na Itália e se espalha por toda Europa. A livre competição está em oposição clara ao ideal corporativista da Idade Média. Na Alemanha, o nacionalismo toma força junto com o ambiente da Reforma. Esse processo de nacionalização se afinou com a ideologia da Reforma, que influenciou até a força tradicional encontrada na região. Numa Alemanha carente de organização política o nacionalismo se estabeleceu com o fim de criar e intensificar o poder do Estado. Nas expressões visuais Albercht Dürer, de origem húngara, estudou na Itália e chegou a ser nomeado pintor oficial da corte de Maximiliano I da Germânia. Vale pontuar o espírito humanista de Dürer e seus estudos nas áreas da matemática, geografia, arquitetura e geometriase destaca como o primeiro artista alemão produzir arte como uma representação fiel da realidade. Ele ficou conhecido na história da pintura como retratista de personalidades políticas financeiras e intelectuais da Inglaterra e dos países baixos. Dentre as figuras retratadas por Dürer é bastante conhecido o de Erasmo de Rotterdam. Dürer considerava que “arte deverá basear-se na ciência - em particular na matemática, como a mais exacta, lógica e impressionantemente construtiva das ciências”15 Erasmo de Rotterdã16 encarnou a erudição humanista na Literatura. Encontrou e publicou em 1505 as Adnotationes in Novum Testamentum (Notas sobre o Novo Testamento) de Lorenzo Valla, começando assim a ciência da crítica dos textos 15 Albrecht Dürer, expressou as suas teorias da proporção no livro "The Four Books on Human Proportions", publicado em 1528. 16 Desiderius Erasmus Roterodamus, conhecido como Erasmo de Rotterdam, teólogo e um humanista holandês. 21 bíblicos. Sua grande obra foi Elogio da Loucura17.Quando esteve na Inglaterra, preparou uma nova tradução do Novo Testamento para o latim e essa edição publicada por Froben de Basiléia em 1516, foi a base da maioria dos estudos científicos da Bíblia durante o período da Reforma. A marca registrada dos artistas do norte da Europa era, sem dúvida, o incrível talento para retratar a natureza nos mínimos detalhes. Hubert van Eyck e a nova arte de pintar retratos. Dentre os artistas relacionamos ainda Bosch, e Brugel. O primeiro foi autor de imagens grotescas, meio humanas, meio animais denunciando que a sociedade estava se corrompendo para o mal. Bruegel da região dos Flandres revela a visão humanista e os ideais renascentistas de fragmentação política, retratando as pequenas aldeias que ainda conservavam a estrutura medieval. Na Suíça de Zwínglio, o humanismo e o sentido patriótico se transformaram num programa de reforma religiosa, intelectual e política. Podemos observar a construção ideológica de tamanha magnitude que o que estava ocorrendo na Alemanha com Lutero era o mesmo vinha ocorrendo na Suíça com a mensagem de Zwinglio. Este reformador também questionava o poder de Roma fundamentando-se nas Escrituras. Mas, existia também uma grande diferença entre a proposta original de Lutero e a de Zwinglio. O alemão propunha manter todas as práticas tradicionais da igreja, exceto aquelas que divergissem das Escrituras, enquanto o suíço sustentava a idéia que tudo que não fosse encontrado de forma explícita nas escrituras deveria ser eliminado das práticas da Igreja. Exemplo disso era o discurso de eliminar o uso de órgãos musicais na igreja pois se tratava de um instrumento que não estava relacionado na Bíblia. Observamos que os princípios do Renascimento floresceram também fora da Itália e que esse movimento que se desenvolvia na busca da cientificidade se espalhou por toda a Europa, ainda que ficassem marcadas as peculiaridades de cada contexto em que esses princípios eram implantados. A busca de elementos 17 O Elogio da Loucura é considerado um dos mais influentes livros da civilização ocidental e um dos catalisadores da Reforma Protestante. O livro começa com um aspecto satírico dos abusos supersticiosos da doutrina e das práticas corruptas da Igreja Católica Romana. 22 científicos estimulou os estudantes de teologia à leitura dos textos bíblicos sob o prisma da investigação e a gradual separação entre o que era a tradição e o que se apresentava texto bíblico. 5. Jan van Eyck (1395-1441) O Casal Arnolfini, (1434) por Van Eyck 23 3. A INFLUÊNCIA DO CONCEITO DE IMAGEM SAGRADA Entendemos que a busca de um conceito do que seria a imagem sagrada durante o período imediatamente após o estopim da Reforma pode nos ajudar a perceber as fontes e o interesse político desse conceito impregnado na estrutura social. Para que essa busca ocorresse de forma sistematizada optamos pelo caminho da definição etimológica dos termos que circulam em torno dessa chamada imagem sagrada. Procuramos marcar a diferença entre arte sacra de arte religiosa e ídolo de imagem. Igualmente desafiador é desvendar a raiz da readaptação de uma postura avessa aos ícones. A trilha percorrida na busca da construção desse cenário que envolvia o período da Reforma Protestante foi retornar ao grande cisma da igreja ainda no período Bizantino, especificamente no início da chamada Idade Média. A definição etimológica da palavra imagem, ou representação visual de um objeto tem raiz no latim imago, no grego antigo corresponde ao termo eidos, donde surge o conceito de idéia. A imagem pode ser vista como uma projeção da mente ou simplesmente uma valorização dos sentidos. O que se observa é que ao longo da história esse conceito de imagem vai se adaptando à leitura que o ser humano faz de seu contexto social, político ou religioso. É necessário fazer distinção entre arte religiosa e arte sacra. Esse balizamento se faz necessário porque a diferença não está ligada ao material, à técnica utilizada ou a inspiração de cada uma delas. A arte sacra de acordo com Janson, é aquela arte que segue uma temática religiosa e tem o destino litúrgico, isto é, aquela que se ocupa com o culto, a vida ritualística dos fiéis. Já a arte religiosa é aquela que denuncia a vida devocional do artista. A virtude da religião tende a produzir no ser humano atitudes de submissão, fé, esperança e adoração. A arte religiosa se subordina à religião. Toda arte sacra é necessariamente religiosa, mas nem toda arte religiosa é sacra. A Igreja se considerou sempre, com razão, como árbitro das mesmas, discernindo, entre as obras dos artistas aquelas que estavam de acordo com a fé, a piedade e as leis religiosas tradicionais e que eram consideradas aptas para o uso sagrado (Concílio Vaticano II, Const.. Sacrosanctum Concilium, 122) 24 A imagem sagrada está ligada à liturgia e por isso mesmo ela é subordinada aos responsáveis eclesiásticos que cuidam da cerimônia. A imagem sagrada está ligada ao poder e a normas eclesiásticas. 3.1 ARTE E RELIGIÃO Desde os primórdios da história do ser humano a religião, a ciência e a arte eram combinadas, fundidas numa forma primitiva de magia. O domínio do seu entorno através da representação fez do artista um sábio. Assim também ocorre em relação ao conceito do sagrado que diferencia o sacerdote do ser humano comum, num saber metafísico. Já vimos que foi especialmente no período da Renascença, que o artista reconquista o status de cientista. Ao mesmo tempo devemos recordar que ainda vigora durante esse período, com muita força, o conceito teocêntrico, sob o poder inquestionável da igreja. A arte na Idade Média está a serviço da religião, enquanto instituição é paulatinamente deslocada, na Renascença, para o indivíduo. Tanto arte quanto religião surgem como reflexo da estrutura de uma sociedade. Arte e religião estão historicamente condicionadas ao seu tempo, exercendo sobre os observadores de seu tempo o fascínio como que se estivessem diante de um espelho a refletir o que já se conhece. toda arte é condicionada pelo seu tempo e representa a humanidade em consonância com as idéias e aspirações, as necessidades e as esperanças de uma situação histórica peculiar (FISCHER, 1981, p.17) Nesse período foi acentuada a importância do estudo da natureza e essa busca estimulou o espírito de observação do ser humano. A idéia de que o ser humano não estava apenas numa posição passiva em relação ao mundo, mas ele era o agente, o catalisador das possibilidades nesse mundo. Foi mergulhado nesse contexto que os artistas, agora cientistas, elaboram os cânones, o estudo da proporção, a geometria, a iniciação nas pesquisas anatômicas e a cientificidade da busca das cores. Não raro podemos observar o artista renascentista optando por se intitular como cientista, e se utilizando das habilidades de seu ofício para aprofundar 25 seus estudos. Hauser inclusive afirma que a concepção científica da arte é iniciada com Leon Battista Alberti. Ele é o primeiro a expressar a idéia de que a matemática é a base comum entre a arte e as ciências. E Alberti afirma isto porque observa que a teoria das proporções e perspectivas são matérias comuns tanto à matemática quanto Às artes. “Todo desenvolvimento artístico passa a ser parte do processo total de racionalização. O irracional deixa de causar qualquer impressão mais profunda.”18 Mas, mesmo com toda a promoção que havia recebido como intelectuais, o artista no início do Renascimento ainda era visto como gente do povo. Eles são considerados como artesãos de um grau superior, e realmente suas origens sociais não os fazem em nada diferentes dos pequenos burgueses. Eles recebem os nomes das ocupações de seus pais, dos lugares onde nasceram, ou de seus mestres. Basta observar os exemplos como Leonardo que carrega a origem de usa família. Vindo de Vinci, por isso Leonardo da Vinci. Ou Dürer que é uma corruptela da palavra alemã Tür que significa porta. Este era o sobrenome original do pai de Dürer. O ateliê do artista, no começo da Renascença ainda preserva o espírito comunitário da pequena oficina. É na busca de criar uma identidade e produzir uma arte mais próxima da ciência que o individualismo humanista aparece através da obra assinada. Vale pontuar que essa ascensão do artista ocorreu durante um longo processo de consolidação dos novos valores e da aproximação dessa categoria como os humanistas, especialmente os poetas. O mecenato19 se tornou fundamental para o desenvolvimento da produção intelectual e artística durante o Renascimento. Esse saber até então estava exclusivamente vinculado a Igreja. Esse investimento nas artes e na ciência visava ao crescimento do prestígio social desses mecenas e contribuía quase que naturalmente, na divulgação de atividades de sua empresa ou na crescente respeitabilidade de seu nome. Figuras ligadas especialmente à burguesia se utilizavam desse artifício, mas alguns nobres e mesmo a Igreja, na figura do Papa Júlio II podem ser relacionados entre os financiadores dessa produção intelectual artística. A nova estrutura social sentia a pressão das altas taxas alfandegárias de 18 19 HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura, p285. O mecenato é a prática de proteção aos escritores e artistas. 26 um feudo para o outro, de um comércio crescente que se opunha a igreja que proibia a usura e o lucro e ainda da exigência de impostos e dízimos. As encomendas artísticas feitas pela classe média consistiam principalmente, de início, em presentes para igrejas e mosteiros; somente em meados do século foram encomendadas em maior quantidade obras seculares e obras destinadas a fins particulares. (HAUSER,1995, p.309) Esses presentes eram um método adotado para garantir fama eterna e tentar apaziguar o conflito entre a devoção e o comércio. Essa mentalidade individualista também contribuiu para alicerçar palavras como prestígio, poder, ciência no meio eclesiástico. Hauser pontua que os humanistas e escritores foram acolhidos na Cúria com escritores e secretários. Nicolau V (1447-1455) transformou a pequena biblioteca pontifícia em uma grande coleção de manuscritos gregos e latinos. Iniciou a reconstrução da Basílica de São Pedro, que tinha sofrido um grande incêndio. Pio II (1468-1464) foi o elegante douto humanista e historiador. O Papa Sixto IV (14711484) decidiu transformar a monarquia papal em grande potência italiana. Mandou construir a Capela Magna, que acabou levou seu nome, Sixtina, contratando os mais proeminentes artistas de sua época. Julio II (1464-1471) contratou Bramante para o primeiro projeto da Basílica de São Pedro e ainda Leão X (1513-1521) protegeu ardentemente as artes. 3.2 ÍDOLO OU IMAGEM? Usando a definição do dicionário Aurélio, imagem é um reflexo de algo real, como diante de um espelho. Essa representação do real pode ser obtida por meio de vários tipos de suporte, como papel no desenho, um mármore para uma escultura ou ainda um retábulo20 de madeira para a gravura. Imagem é, portanto a reprodução física de algo concreto ou de uma idéia. Um ídolo é uma figura bi ou mesmo tridimensional que representa uma divindade e que é objeto de adoração. Ídolo pode ainda ser encarnado em uma pessoa. Imagem então não é o mesmo que ídolo. 20 Um retábulo é uma construção normalmente de madeira, mas pode ser encontrado de outro material, com lavores, que fica por trás e/ou acima do altar e que, normalmente apresenta ou mais painéis pintados. 27 Nesse trabalho focamos atenção nas imagens. Nas representações artísticas sem o objetivo de ser objeto de adoração. Imagens muito mais próximas ao adorno, à função didática e ao embelezamento do lugar onde estão inseridas. Esta questão da diferença entre imagem e ídolo é amplamente discutida nos ambientes eclesiásticos. A interpretação que é apresentada denuncia com facilidade a linha doutrinária a que ela se subordina. A polêmica está na definição de imagem. Todos concordam que a idolatria consiste em apontar que determinada divindade está em uma imagem tridimensional, por exemplo: esta escultura substitui o próprio Deus. Há fácil concordância na leitura de Habacuque 2.19: “Ai daquele que diz ao pau: Acorda, e a pedra muda: Desperta”. O choque é encontrado na interpretação do que venha a ser imagem. O mesmo livro do Antigo Testamento, que proíbe que sejam feitas imagens, orienta que esculturas de querubins de ouro, portanto imagens sejam colocadas sobre a Arca da Aliança. Em vários textos observamos orientações quanto à utilização de imagens como palmas, flores, leões e entalhes artísticos21. Nesse contexto Renascentista em que a estrutura social era distanciada da instrução e da leitura, e que as escolas estavam sob o domínio da igreja, o que se proliferava normalmente eram analfabetos. Dentro dessa realidade as imagens vistas pelos fieis, por dentro e por fora da igreja, é que transmitiam e repetiam as lições da teologia cristã. A arte do fim da idade média está bem próxima da propaganda e da educação. Essa produção de imagens não guardava em si mesma nenhuma realidade concreta do cotidiano daquelas pessoas. A arte assumia uma função didática, subordinada a uma política clerical, que apresentava uma perspectiva escatológica e uma esperança de solução num mundo por vir. Assim essas imagens serviam de inspiração e convite para a entrada num mundo espiritual e perfeito e uma desilusão e desligamento da realidade que cercava aquela sociedade. As representações pictóricas anteriores ao período renascentista não valorizavam a perspectiva o volume e a cor. De uma maneira geral além de usa temática religiosa eram figuras assumidamente bidimensionais. Essas imagens eram 21 Ex 25, 17-22; 1Rs 6, 23-28; 1 Rs 6, 29s; Nm 21, 4-9; 1Rs 7, 23-26; 1 Rs 7, 28s 28 construídas com grandes blocos chapados conta o fundo, quase suprimindo a idéia de espaço. Na última fase do período medieval surge o gótico, arte de raiz germânica que influencia o restante da Europa. Janson registra que o Gótico apresenta uma leveza e uma delicadeza, um reencontro com a técnica e a cor. A rigidez inicial começa a ser quebrada e estimula à implementação popular desses novos conceitos. O Renascimento é um momento rico na proliferação de imagens. Se imagem é um reflexo de algo real, se uma imagem procura ser o a representação como que diante de um espelho, e a referência da produção deste período é o ser humano, então o que vemos é o ser humano como o centro dessa expressão. O ser humano é o centro de todas as coisas. O antropocentrismo é o conceito que fundamenta e percorre a construção cultural daqueles tempos, imagem é um reflexo de algo real, como diante de um espelho. Mesmo que o tema das pinturas esteja se desprendendo dos ensinamentos apenas da igreja, ela vai se utilizar de cânones humanos, de modelos humanos e de proporções mais próximas ao ser humano para se comunicar com essa sociedade humanista. É natural que as pinturas tenham causado tanto espanto e tanta admiração para classe em ascensão e também para o clero. A busca de uma precisão fotográfica nas pinturas trazia os elementos bíblicos para a realidade do dia a dia, dignificava ainda mais os conceitos humanistas ao mesmo tempo em que incomodavam os mais radicais simpatizantes da iconoclastia. 3.3 OS ICONOCLASTAS Iconoclastia é a junção de duas palavras derivadas do grego eikon (ícone), e klastein (quebrar). Ao longo da história é o nome assumido pela doutrina que se opõem ao culto de ícones religiosos e outras obras, geralmente por motivos políticos ou hermenêuticos. Esses princípios de interpretação são firmados fundamentalmente no texto de Êxodo 20. 4 e 5 Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima dos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor teu Deus, 29 Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira geração daqueles que me aborrecem. Mas, o princípio hermenêutico da interpretação oficial é selecionado em consonância, ou pelo menos o mais próximo possível dos interesses definidos pelo poder vigente. Na opinião dos primeiros tempos da Idade Média, a arte seria supérflua se todos pudessem ler e acompanhar uma cadeira abstrata de raciocínios; a arte era vista originalmente como uma simples concessão feita às massas ignorantes que tão facilmente são influenciadas por impressões dos sentidos. (HAUSER, 1995, p.129) São vários os movimentos do iconoclasmo ao longo da história da igreja. O mais difundido deles foi o que ocorreu durante o Império Bizantino, quando a produção e a disseminação e o culto das imagens foram proibidos. Nesse período os adeptos da iconofilia e iconolatria foram perseguidos e executados, além de terem suas obras queimadas em praça pública. Hauser afirma que o iconolasmo não foi realmente um movimento inimigo da arte. Esse movimento não perseguia a arte como tal, mas apenas um gênero especial de arte. A luta se contornou apenas contra as imagens de conteúdo religioso ligadas à liturgia. A destruição e perseguição iconosclasta era portanto focada na arte sacra, e mesmo no período de maior perseguição a pintura decorativa ainda era tolerada. O autor ainda continua desenvolvendo o raciocínio provando que a campanha de perseguição tinha como pano de fundo não apenas as questões ligadas à religiosidade, mas a força real era política. O estilo bizantino só foi capaz de firmar-se onde havia a arte cristã, porque a igreja Católica do Ocidente desejava chamar a si o poder que o imperador já tinha em Bizâncio. O objetivo artístico era o mesmo em ambos os casos: essa arte devia ser a expressão de uma autoridade absoluta, de grandeza sobrehumana e mística inacessibilidade. (HAUSER, 1995, p.135) 30 Clemente de Alexandria22, no segundo século, já sublinhava que o segundo mandamento é dirigido contra as representações pictóricas de toda e qualquer espécie e que esse é o critério da Igreja primitiva e dos patriarcas. No século III Eusébio descrevia a representação pictórica de Cristo como idólatra e contrária às Escrituras. Durante o papado de Leão III o problema da proibição do culto às imagens tomou força em função de pelo menos três frentes: Um lampejo do desejo de uma “reforma”, através de um grupo rotulado de paulicianos que questionava o controle sacramental da igreja a penetração militar dos árabes em áreas do antigo Império, esses vitoriosos guerreiros que não tinham em sua religião o culto às imagens naturalmente influenciavam os “modismos” em terras Bizantinas e finalmente a luta que os imperadores estavam travando com o crescente poder do monasticismo.23 Os mosteiros converteram-se em locais de peregrinação aonde o povo acudia com suas dúvidas, preocupações e pedidos, e também aonde levavam seus presentes e oferendas. A maior atração dos mosteiros eram os ícones milagrosos. Possuir uma imagem famosa de um santo tornou-se fonte inexaurível de fama e de riqueza para um mosteiro. (HAUSER, 1995, p.142) O iconoclasmo foi decretado como doutrina oficial pelo imperador Leão III, em 730. Essa atitude retirou dos mosteiros seus meios mais eficazes de propaganda. O historiador Hauser afirma que Leão III tinha planos de fundar um poderoso exército, mas os jovens estavam optando por uma vida monástica. Isso não apenas enfraquecia a força militar, mas também a agricultura e o serviço civil. Reproduzindo Hauser, o iconoclasmo não foi de modo nenhum um movimento puritano, platônico ou dirigido conta a arte, mas se utilizou da arte para deslocar ou perpetuar o poder. A aplicação tenaz ocorreu com Constantino V, Contantino VI e Leão V. A polêmica foi tão acirrada que provocou a guerra civil que só terminou em 843 com a restauração do culto aos ícones, em Constantinopla, na catedral de Santa Sofia. Os bispos ortodoxos reagiram a favor das imagens até que o papa Gregório II condenou a iconoclastia de Leão III. O imperador prosseguiu sua luta contra as imagens e 22 Tito Flávio Clemente, ou Clemente de Alexandria foi um, escritor grego, teólogo. Defensor da rebelião contra a opressão, que levou ao conceito de guerra justa. Clemente é considerado o fundador da escola de teologia de Alexandria. 23 Monasticismo é a prática da abdicação da vida em sociedade em prol da prática religiosa. Esses indivíduos ascetas são classificados como monges, podem ser referidos como monásticos. 31 seus fabricantes. No Concílio Romano de 731, o Papa Gregório III condenou os profanadores de imagens e confirmou seu culto. A Reforma Protestante, sobretudo a de Calvino, representa uma nova ruptura iconoclasta que combaterá a estética da imagem e a extensão do sacrilégio do culto aos santos. O iconoclasmo novamente se ocupa das destruições de estátuas e dos quadros. Este iconoclasmo, no meio protestante, no sentido de “destruição de imagens”, diminui de intensidade com o culto às Escrituras e também à música A posição de Lutero quanto às representações religiosas pode ser identificada através de um trecho de uma carta intitulada: Outra vez os profetas divinos das imagens e sacramentos diz: É melhor que se pinte nas paredes, como Deus criou o mundo, como Noé construiu a Arca, e outras belas histórias, do que quaisquer outras mundanamente vulgares. Ah, quisera Deus que soubesse convencer os senhores e ricos para que pintassem a Bíblia inteira por dentro e por fora das casas, para que todos pudessem ver. Isso seria uma obra fielmente 24 cristã. 24 Obs.: Cit. por DREBES, In A educação na dimensão do Reino de Deus desvelada em obra pictórica de Lucas Cranach, p.46. Dissertação inédita de Mestrado, São Leopoldo, EST, 2000. 32 4. A REFORMA E AS ARTES NA ALEMANHA NOS SÉCULOS XVI E XVII A Reforma ocorreu, como já vimos, num momento de grande efervescência artística, mesmo fora da Itália que era sem dúvida o maior centro cultural desse período. O berço do Renascimento se fixou basicamente nas cidades italianas que viviam do comércio. Cidades como Veneza, Pisa, Gênova e principalmente Florença. Figuras indiscutivelmente marcantes em toda história Ocidental como Leonardo Da Vinci, Botticeli, Michelangelo Buonarroti e Rafael circulavam pela região da Itália em alguns casos, no mesmo período. A arte, especialmente nessa época, podia ser vista em quase todas as igrejas, edifícios públicos, praças e até mesmo nas casas dos grandes burgueses. Nosso desafio neste capítulo é desvendar a forma que os artistas vão encontrar para adaptarem os antigos conceitos vindos da Itália diante da proposta das noventa e cinco teses de Lutero afixadas na porta da igreja do Castelo de Wittenberg. Após a Reforma, não só deixaram de existir quaisquer bons católicos que não estivessem convencidos da corrupção da Igreja e da necessidade de sua purificação, mas a influência das idéias originadas na Alemanha foi muito mais profunda: as pessoas adquiriram consciência da perda da natureza essencialmente espiritual, da qualidade transcendente e intransigente da fé cristã, e sentiam um desejo insaciável de que essas características fossem recuperadas. (HAUSER, 1995, p.384) A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domínios se localizavam as margens do Reno e eram chamadas de “caminho do clero”, eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à igreja. A igreja para o senso comum era sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a igreja como inimiga. Os anseios dessa burguesia eram por uma igreja que cobrasse menos impostos, que gastasse menos e principalmente, que não condenasse a prática de ganhar dinheiro. Os pobres identificavam a igreja com o sistema que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos. 33 4.1 AS ARTES VISUAIS SE DESLOCAM Num ambiente conturbado, repleto de conflitos e lutas a arte e a ciência da Renascença ficam em segundo plano. As questões políticas e religiosas estavam em evidência sob o prisma do humanismo. Ainda não há nesse primeiro momento da Reforma resistência à utilização das obras de arte nem mesmo a arte sacra. Tanto é assim que Lutero mantinha amizade com Lucas Cranach. Esse artista que ficou conhecido como artista da Reforma, pinta o retrato de Lutero, de seus pais, da esposa e dos primeiros reformadores da Alemanha como Filipe Melanchton. Além disso, Cranach produziu várias cenas religiosas que ilustram a primeira edição do Novo Testamento traduzido por Lutero em 1522. As lutas religiosas e políticas poderiam ter tido conseqüências catastróficas para a arte, mas, surpreendentemente, tal não aconteceu. É verdade que a pintura nos Países Baixos do século XVI não igualou em brilho a do século XV, nem produziu precursores do Renascimento comparáveis a Dürer e Holbein. (JANSON, 1995, p.476) 6. Lucas Cranach (1472-1553) Retrato de Melanchton por Lucas Cranach Lucas – Wittenberg O deslocamento das artes, especialmente na Alemanha, vai ocorrendo na direção da imprensa. Paulo Heirtlinger em seu livro Tipografia, tratando dos primórdios da imprensa, afirma que a rápida reprodução de textos com tipos móveis levados ao prelo foi um acelerador decisivo para a difusão das idéias do 34 Humanismo, da Renascença, e também do Protestantismo, ajudando a decretar o fim do período chamado de Idade Média e do monopólio cultural da Igreja Católica. Heirtlinger acrescenta que panfletos e bulas utilizados para a propaganda religiosa foram os primeiros meios de comunicação de massas que saíram dos prelos de Gutenberg e seus sócios. Essas bulas ajudaram a disceminar os princípios basilares da Reforma como somente a escritura, somente Cristo, somente a graça, somente a fé e gloria destinada somente a Deus. Mas logo apareceria a primeira obra-mestra tipográfica, o primeiro livro impresso na Europa - A Bíblia. Uma série de outros livros foi publicada como os textos de Tomás de Aquino, um manual de cirurgia, tratados de Matemática e Geometria, além da Vulgata. Além de tudo isso, fortalecia-se o ideal da independência financeira imposta por Roma e o patriotismo caracterizado através da língua falada e agora também escrita. Todo povo poderia ler em sua língua o texto que estimulou Lutero a enfrentar o poder papal. Reprodução de uma página da Bíblia de 42 linhas, o primeiro livro europeu impresso por processo industrial na oficina de Gutemberg. Este exemplar foi impresso a duas cores, negro e rubro, o que não aconteceu com todos os exemplares (1534) 35 A aproximação das artes com a nova invenção – a imprensa de Gutemberg – estimulou o espírito científico de artistas como Dürer a desenvolverem temas geométricos e sua aplicação na construção não apenas de colunas, mas também de letras. Polêmicas começaram a se apresentar quanto a utilização desta ou daquela forma gráfica de desenho da letra. Como registra Bettenson no livro Documentos da Igreja Cristã o enfrentamento de Lutero e a segurança que ele demonstrou estavam firmados nos textos das Escrituras. E assim, pela misericórdia de Deus, peço a Vossa Majestade Imperial e a Vossas ilustres senhorias, ou a qualquer um de qualquer posição, dar testemunho, derrubar os meus erros, derrotá-los pelos escritos dos profetas ou pelos Evangelhos, pois estarei inteiramente pronto, quando melhor instruído, a retratar-me de qualquer erro, e eu serei o primeiro a atirar meus escritos no fogo. (BETTENSON, 2001, p304) O texto não apenas passou a ter valor para divulgar as informações encontradas de obras antigas, mas também para propagar as novas idéias. As artes visuais que apresentavam uma função didática e sustentavam a dependência do poder da igreja na Idade média especialmente na região da Itália, na Alemanha vai sendo conduzida à categoria de ilustração. As próprias convicções de Dürer eram, no fundo, as do Humanismo Cristão, e por essa via se tornou um dos primeiros e mais entusiásticos adeptos de Martim Lutero, embora, tal como Grümewald, não deixasse de trabalhar para clientes católicos. (Janson, p464.) Avançadas técnicas de gravura começaram a ser desenvolvidas para reproduzir iluminuras25 e ilustrações junto com as obras gráficas. As grandes obras de Dürer, o maior expoente da arte renascentista na Alemanha, são ligadas à gravura e não a pintura. As obras de Cranach mais respeitadas ilustram o Novo Testamento traduzido por Lutero. A literatura toma a frente das artes plásticas em função da letra escrita. As artes gráficas se oferecem como um meio de expansão, não apenas literário, mas também artístico. 25 Iluminura era um tipo de desenho decorativo, frequentemente empreendido nas letras capitulares que iniciam capítulos em determinados livros, especialmente os produzidos nos conventos e abadias 36 A gravura surge intimamente ligada à escrita, como forma de ilustração, na tentativa de substituir as iluminuras que apareciam nos escritos medievais. A forma característica da criação artística alemã foi à gravura sobre metal ou madeira. Dürer teve um pai ourives, era apaixonado pela arte italiana, onde foi estudar e manteve contato com Erasmo de Roterdã. Seu espírito humanista é denunciado pelo estudo das ciências em inúmeros campos como a matemática, a geografia, a arquitetura, a tipografia, a geometria e a fortificação. 7. Albrecht Dürer (1471-1528) Melancolia - gravura, (1514) por Albrecht Dürer 4.2 A PINTURA VOLTA SOB UM NOVO CONCEITO A gravura passa a influenciar os grandes artistas europeus dos séculos XV a XVII com Rembrandt, Francisco Goya e Albrecht Dürer. A fama internacional desses artistas, na época em que viveram, veio principalmente de suas gravuras, que eram mais populares que suas pinturas. 37 Toda a questão técnica da tipografia, as discussões e pesquisas sobre a apresentação do livro impresso não escravizaram a arte e muito menos anularam as expressões do ser humano daquela época. Hauser diz que “a arte está longe de tornar-se uma serva da ciência, no sentido em que era a “serva da teologia”26. Os grandes artistas desse executavam trabalhos com a técnica da gravura e nem por isso deixavam de pintar seus quadros à óleo. Dentro desse cenário conturbado e rico em questionamentos, cenário em que ricos comerciantes e banqueiros estimulavam o consumo e ao mesmo tempo financiavam a produção de obras de arte e literatura o que observamos é a obra de arte começar a refletir esse contexto dramático. Exatamente nesse período encontramos a pintura de Bruegel registra cenas da vida cotidiana, retratando o estilo de vida da classe burguesa em ascensão. Bruegel foi apelidado de “camponês Bruegel”, e as pessoas caíram no erro de imaginar que uma arte que retrata a vida de gente simples destina-se também a pessoas simples, quando, na realidade, ocorre o oposto. Usualmente, só as camadas da sociedade que pensam e sentem de modo conservador buscam na arte uma imagem de seu próprio modo de vida, o retrato de seu próprio ambiente social. (HAUSER, 1995, p412) 8. Bruegel (1525-1569) O Cego guiando os cegos. 1568) 26 HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura, p343. 38 Ao retratar a paisagem, o cenário, a maneira de viver dessa época os artistas do renascimento são chamados de maneiristas27. Hauser registra que “o maneirismo começa, portanto, como um protesto contra a arte da Renascença, e as pessoas da época estão tão perfeitamente conscientes da ruptura que desse modo ocorre no desenvolvimento da arte.” O maneirismo está cronologicamente mais perto da Contra-Reforma, e o austero enfoque espiritualista da época tridentina expressa-se mais puramente no maneirismo do que no voluptuoso barroco. Mas o programa artístico da Contra-Reforma, a propagação do catolicismo é realizada primeiramente pelo barroco. (HAUSER, 1995, p.395) É com a ascensão da burguesia e essa valorização do ser humano que surgem os retratos, as cenas de família. Outro nítido deslocamento da arte a serviço da igreja, mas é claro que produção pictórica de caráter religioso continua sendo produzida, particularmente na Itália. Nos chamados Países Baixos o que prolifera é a arte do retrato. A reprodução da figura humana não mais idealizado como ocorria no período clássico, mas o retrato. A figura realista, a personificação, a individualidade em sua expressão máxima. Todos os temas seculares que tão largamente figuram na pintura holandesa e flamenga do período barroco – paisagem, natureza-morta e genro (cenas da vida diária) – foram definidos pela primeira vez entre 1500 e 1600. O processo foi gradual e menos influenciado pelos talentos dos artistas que pela necessidade de satisfazer o gosto popular, pois eram cada vez mais raras as encomendas para as igrejas. O furor iconolástico dos protestantes espantou-se largamente nestas regiões. (JANSON, 1995, p.476). A pressão ideológica sofrida pelo artista dos locais dominados pela Reforma Protestante, estimulou a arte da pintura a procurar outros temas uma nova visão do mundo e do meio que o circulava. A necessidade de satisfazer os clientes cada vez mais prósperos economicamente, sem agredir os conceitos implantados nos círculos sociais, dessa área reformada, fez com que o tema das pinturas circulasse bem distante do tema religioso que dominava a arte durante o período renascentista. A 27 O dicionário Aurélio define maneirismo como a tendência estética surgida no séc. XVI que se caracteriza pela interpretação requintada da maneira de certos artistas do Renascimento, com ênfase na movimentação estilizada das formas, na elegância, na dramaticidade, o que iria configurar uma arte própria de uma minoria intelectual cortesã, marcada pelo individualismo. Ainda no séc. XVI, o maneirismo já prenuncia o Barroco. 39 dramaticidade do barroco, o claro-escuro, é como afirma Hauser uma denuncia desses contrastes sociais e ideológicos que procuram encontrar harmonia. 4.3 AS ARTES MUSICAIS SE DESENVOLVEM MAIS DO QUE AS ARTES PLÁSTICAS As manifestações artísticas estavam se acomodando à nova idéia de Igreja. Hauser afirma que a arte da pintura “está sumamente interessada nos bens e haveres do indivíduo, na família, na comunidade e na nação: aposentos e pátios, a cidade e seus arredores, a paisagem local e os campos libertados e recuperados”. A Reforma Protestante, como o próprio nome diz, não estava fundamentada numa proposta de outra igreja, mas na reforma da igreja que já existia. Mas o resultado dos questionamentos dos reformadores foi, na realidade, uma cisão. Bettenson comenta que a Confissão de Augsburgo de 1530 surgiu como resultado do colóquio de Marburgo em que Lutero tentou uma reunião de reconciliação com Zwinglio. Quando a conferência falhou, Lutero elaborou quinze artigos que foram transformados na Confissão de Augsburgo, escrita por Melachton. Essa Confissão foi aceita pelos protestantes como uma declaração de fé que compreendia que a Reforma não deveria exercer outra influência além da que procede das Escrituras. Na igreja de Roma as imagens sagradas voltaram a ter força, e força ainda maior após o Concílio de Tento e a Contra-Reforma. A grande diferença litúrgica residia na forma de interpretação do texto bíblico. É justamente dessa diferença que vai brotar o marco do rito cúltico. As novas igrejas estavam se “despindo” de imagens. A liturgia era centralizada no estudo e na interpretação das Escrituras. Nesse contexto eclesiástico a música tinha um papel significativo no pensamento de diversos reformadores. A música substituía a função didática anteriormente ocupada pela pintura. João Calvino, reformador no séc. XVI, nos deixou uma série de recomendações a respeito da importância da música no culto, ao escrever o prefácio do primeiro 40 Saltério28 Genebrino, publicado em 1565. A música esteve próxima da educação e fortaleciam a teologia reformada. Com a nova teologia surgia também uma nova estética de adoração e esta nova forma irá marcar a música como instrumento de propagação dos ideais da Reforma. Tanto Calvino como Lutero afinam nessa direção de se utilizar da música para proclamação do evangelho e difundir os novos conceitos doutrinários que revolucionaram o mundo do século XVI. Figuras de expressão musical Barroca como Hendel pela igreja Anglicana e Bach, pela igreja Luterana, são expoentes dessa “centralidade do culto” e afirmação do individualismo não apenas do texto bíblico em sua própria língua como também dos hinos. Os matizes da pintura são transferidos para expressão musical com hinos cantados pelo coro e vez por outra acompanhados por versos e a inserção de participações de solistas e outros instrumentos. O que se via no deslocamento da expressão pictórica final com Bruegel e a dramaticidade do Barroco, com o envolvimento não apenas no clero vê-se agora na forma e no repertório musical. Segundo o livro Obras Selecionadas de Martinho Lutero, em seu volume sobre a educação, o povo deveria aprender as doutrinas bíblicas cantando melodias simples relacionadas ao seu dia a dia. E essa estratégia foi extremamente importante para o sucesso e popularização da Reforma. Numa carta escrita a Spalatinus, secretário de Frederick I, o grande reformador apresenta seu projeto educacional: o “plano é seguir o exemplo dos profetas e os pais antigos da igreja e compor salmos para as pessoas no vernáculo... de forma que a Palavra de Deus também possa estar entre as pessoas em forma de música”. Martinho Lutero prefaciando ao hinário Wittenberguense de 1524 acentua bem o valor que ele dava as artes, especialmente a música. Ele inicia este texto fundamentando que “o próprio S. Paulo o institui em I Co 14[26] e ordena aos colossenses que cantem com vontade ao Senhor hinos sacros e salmos.” Lutero assume, neste prefácio, o trabalho que desenvolveu reunindo “alguns hinos sacros a 28 O saltério era um hinário contendo salmos em forma de poesia. Esses salmos haviam sido musicados por Claude Goudimel a pedido de Calvino, porque ele queria que os salmos voltassem a ser usados nos cultos. 41 fim de propagar e dar impulso ao santo Evangelho que ora voltou a brotar pela graça de Deus” E ainda acrescenta: Além disso, foram arranjados a quatro vozes por nenhuma outra razão senão o meu desejo de que a juventude, a qual afinal de contas deve e precisa ser educada na música e em outras artes dignas, tenha algo com que se livre das canções de amor e dos cantos carnais para, em lugar destes, aprender algo sadio, de modo que o bem seja assimilado com vontade pelos jovens, como lhes compete. Também não sou da opinião de que, pelo Evangelho, todas as artes devam ser massacradas e 29 desaparecer, como pretendem alguns pseudo-espirituais. (LUTERO, 2000, P.481) Ainda que houvesse divergências entre a forma de se utilizar a música entre a posição de Lutero e Calvino, ambos se utilizaram dela. Calvino mantinha sua posição mais ortodoxa e afirma ele nas “As institutas da religião cristão”, volume II, que “As Escrituras nos dizem que todas as nossas obras são maculadas, e, portanto, não podem suportar o escrutínio de Deus”. Talvez por isso, diz Carpeaux, Calvino não utilizasse instrumentos para acompanhar o canto que deveria ser feito “à capela”.30. Lutero desenvolveu particular apreço pela música desde a sua infância. Em seu período de vida monástica conheceu e aprendeu o canto gregoriano, além de tocar alaúde e ser compositor. Martim Lutero registraria em carta de outubro de 1530 a Ludwig Senfl: “Pois sabemos que os demônios odeiam e não suportam a música. Dou minha opinião bem franca e não hesito em afirmar que, depois da teologia, é a música que consegue uma coisa que no mais só a teologia proporciona: um coração tranqüilo e alegre. Uma prova muito clara disto é que o diabo, o causador de tristes preocupações e de tumultos perturbadores, foge do som da música quase tanto como da palavra da teologia. É por isso que os profetas de nenhuma arte se serviram como da música. Sua teologia eles não a expressaram pela geometria, nem pela aritmética ou astronomia, mas pela música, ligando, portanto, estreitamente teologia e música e dizendo a verdade em salmos e hinos.” (CARPEAUX, 2001). Essa inclinação para arte da música foi tão pontual para as igrejas reformadas, especialmente para Lutero, que o próprio reformador empenhou-se para requisitar que os compositores de língua alemã o ajudassem nessa tarefa. O envolvimento do povo com o canto de hinos congregacionais era algo muito inovador e “enchiam o 29 Obs.: Obras selecionadas de Martinho Lutero, Sinodal, p 481 - Die Vorrade dês Wittenberg Gesangbuches von 1524 – Vorrede Martini Luther, WA 35,474s. Tradução: Ilson Kayser. 30 Aurélio define como polifonia sem acompanhamento instrumental: coro a capela. 42 templo” criando um contraste com as paredes, agora limpas, dos templos da igreja reformada. 43 CONCLUSÃO O tema que selecionamos para este estudo se mostrou rico em minúcias e detalhes históricos. Acumulamos uma visão panorâmica desse período imediatamente posterior a Reforma, e por isso mesmo, distanciada dos conflitos inerentes à trama desse tecido social. Reconstruir a complexidade das relações de poder, da convivência com novas idéias, das novas descobertas, dos questionamentos e das implantações práticas de teologias e filosofias propostas anos a fio, é um exercício extraordinário para quem está tão distante dos elementos que cercam determinada convivência social. O ser humano que viveu no período da Reforma, das grandes descobertas renascentistas é um cidadão, ainda que não desejasse impactado brutalmente pelos conflitos e pela turbulência do momento. O humanismo e o naturalismo formam o alicerce e referência de todas as relações daquele período. O Renascimento floresceu sobre este solo do humanismo, antropocentrismo e naturalismo. O deslocamento do foco central do teocentrismo para o antropocentrismo foi se estabelecendo gradualmente e se propagando infectar os representantes sacerdotais. O contexto histórico, político e social do século XVI, tanto na Itália – centro intelectual do Renascimento – até todo restante da Europa são marcados por essa efervescência científica, humanística que estimulam o questionamento da antiga estrutura medieval. Estas interdisciplinaridades relacionadas à política, a filosofia e a história desenham um indivíduo multifacetado, por isso mesmo chamado de moderno. Este é o momento em que se estabelece a dicotomia entre o místico e o científico, o plural e o individual o impessoal ao personalizado. Diante do que foi exposto, surpreendemo-nos encontrar tantos Renascimentos dentro do Renascimento. Princípios gerais que são pulverizados por todos os lados da Europa, mas que têm cada um deles suas peculiaridades próprias. O conceito de imagem sagrada se apresentou como um elo entre princípios antigos da iconoclastia, muito anteriores ao período da Reforma, e as novas resistências a expressão pictórica. A diferença que nos parecia inicialmente tênue entre arte sacra e arte religiosa se houve muito mais abrangente e profunda do que imaginávamos. 44 Sem dúvida, a investigação e a elaboração do capítulo quatro enriqueceram muito a reconstrução do cenário que estávamos procurando reconstituir. O deslocamento do foco das artes visuais para as artes gráficas se mostrou como um tesouro de informações se abrindo. Neste momento tivemos que, fundamentados na disciplina, foca bem o campo de estudo dessa pesquisa para não ampliarmos ainda mais a abrangência do tema. Esta relação do desenho dos tipos móveis, sua nomenclatura e a cientificidade das artes fora da Itália deixa aberto como um caminho para uma nova pesquisa. O retorno da pintura como retrato do ambiente e dos personagens pareceu pontuar o raciocino e o princípio anteriormente estudado do antropocentrismo e do humanismo ainda fundamentados somente na teoria. A concretização da idéia, ou como diz Hauser “a arte como espelho da sociedade”. Uma vez firmado o princípio da não utilização das artes nos templos das igrejas reformadas, e não sem acirrada luta, as artes pareciam encontrar um epílogo nos ambientes eclesiásticos da Reforma. Surpreende-nos descobrir a imediata abertura e estímulos deixados para as músicas. Essa boa vontade para a utilização da música como um elemento didático num primeiro momento, vai se aperfeiçoar até as grandes obras musicais barrocas. O Catolicismo mantém pintura sacra como sua expressão e identidade enquanto a nova igreja reformada assume a música como elemento de educação e envolvimento popular de seus adeptos. O que nasceu de uma intenção de adaptação de novos conceitos – as 95 teses de Lutero - se revelou como um problema com a proibição da utilização das obras de arte nas igrejas da Reforma e posteriormente uma identificação de cada uma das partes distanciadas. Finalmente, a utilização de reproduções de quadros, neste trabalho, elucidou a riqueza dos ambientes e personagens, em alguns momentos estimulou curiosidade e a investigação e ainda emoldurou o contexto do período tão rico na produção de obras clássicas como a Renascença. 45 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LIVROS ALLMEN, J. J. von. O Culto Cristão : Teologia e Prática. São Paulo: Aste, 1968. BESANÇON, Alain. A imagem proibida: uma história intelectual da iconoclastia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. BETTENSON, Henri. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 2001 BÍBLIA. Português. Tradução Ecumênica .Trad. Grupo Ecumênico do Brasil. São Paulo: Edições Loyola e Paulinas, 2002. CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. 2ª ed. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1995. CALVINO, João. As institutas ou tratado da religião cristã. São Paulo: Casa editora Presbiteriana, S/C, 1985. CARPEAUX, Otto Maria. O Livro de Ouro da História da Música. Rio de janeiro: Ediouro. 2001. CUNHA, Geraldo Antônio da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira, 2001 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. 6 ed. Ver. Amp. Curitiba: Posigraf, 2004. FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. 9 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto Cristão. São Paulo: Editora Sinodal. 1999. GONZÁLEZ, Justo L. Vol6. Uma História Ilustrada do Cristianismo – A era dos Reformadores. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1981. HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1995 HEITLINGER, Paulo. Tipografia – Origens, formas e uso das letras. Portugal: Dinalivro, 1994. LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas – Vol 7- Vida em comunidade. Editora Sinodal, São Leopoldo e Concórdia Editora, Porto Alegre. 2000 ARTIGOS DREBES, In A educação na dimensão do Reino de Deus desvelada em obra pictórica de Lucas Cranach, p.46. Dissertação inédita de Mestrado, São Leopoldo, EST, 2000. 46 Protestantismo em Revista - ISSN 1678 6408 - Ano IV - Número 02, mai-ago 2005. Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 - Ano III - Número 03 - Abril de 2005. 7. RESUMO Este trabalho circula em torno da investigação do contexto histórico, social e político do momento em que se decide retirar as pinturas dos templos da igreja reformada. Para atingir este objetivo a pesquisa reúne alguns dos princípios norteadores da filosofia humanista e dos conceitos renascentistas que caracterizaram a época em questão. O que se revela ao longo do trabalho é a maneira progressiva como a liderança da igreja protestante vai se inclinando para a área da música como suporte didático e deixando a pintura, que era identificada como a propaganda da igreja católica do período medieval. Esta pesquisa também apresenta material ilustrativo – reprodução de obras de arte do período estudado – que ajudam o leitor a percorrer e se familiarizar ao caminho sugerido de desenvolvimento do ambiente estudado.