Dosedupla - franthiesco ballerini

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Dosedupla - franthiesco ballerini
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Domingo 1
Janeiro de 2012
ValeViver
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Fotos: divulgação
Cinema
Dosedupla
O diretor Steven Spielberg chega aos cinemas neste
mês com dois longas completamente diferentes;
um verte lágrimas e o outro derrama tecnologia
Franthiesco Ballerini
São Paulo
S
teven Spielberg aparece nas
telas como diretor com muito
menos frequência do que os
novatos gananciosos por um
espaço glorioso em Hollywood.
Foi “Indiana Jones e o Reino da
Caveira de Cristal”, em 2008, a última aparição nas telas do autor de clássicos como
“Tubarão”, “E.T. O Extraterrestre”, “A Lista
de Schindler” e “Munique”.
No entanto, neste início de ano, chegam
às telas não um, mas dois filmes dirigidos
por Spielberg, devidamente separados em
suas estreias para não competirem entre
si. O primeiro, “Cavalo de Guerra”, chega
à telona dia 6. Dois finais de semana depois
é a vez de “As Aventuras de TinTin”. Dois
filmes completamente distintos assinados
pelo mesmo diretor. E vale a pena esta overdose de Spielberg nas férias?
Bem, comecemos com “Cavalo de
Guerra”, mais um filme dele ambientado em
um conflito mundial, desta vez, na Primeira
Guerra, quando um cavalo chamado Joey e
CAVALO de Guerra
A história entre o homem e
seu animal ‘envolveu a alma’
do diretor Steven Spielberg
seu dono, o garoto Albert, se separam, pois o
exército britânico compra forçadamente todos os cavalos do país para usar na batalha.
O cavalo se desloca no meio da guerra num
lindíssimo cenário rural do Reino Unido,
inspirando a vida de todos que o conhecem,
até de soldados alemães. Spielberg, que apesar de não saber andar a cavalo, é dono de
oito deles, pois sua filha Mikaela, de 15 anos,
é campeã de salto e sua esposa, Kate, também uma fera na montaria.
Foi por isso que decidiu adaptar a peça
homônima baseada em livro de Michael
Morpurgo. Spielberg assistiu ao espetáculo
nos intervalos das filmagens de Tintin, em
Londres, e ficou encantado. “Me envolveu
a alma”, disse durante as filmagens. O filme
é o oposto de Tintin, pois praticamente não
tem efeitos especiais, tudo filmado no Reino
Unido. “Só usamos efeitos especiais em cenas em que achávamos que os cavalos iriam
se machucar, mas não vou contar quais são”,
comentou o diretor. O espetáculo chegou a
Broadway, onde ganhou cinco prêmios Tony
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A PAISAGEM,
O CÉU AZUL E AS
Domingo 1
Janeiro de 2012
ValeViver
ÁRVORES SÃO DE
FAZENDA.
MAS O CHEIRINHO
É DE PÃO DE QUEIJO.
Quando você está na estrada, nada melhor
que uma boa parada para esticar as pernas
e dar uma relaxada. Pois no caminho de
Campos do Jordão você já tem o lugar
ideal: Leite na Pista. Paz, tranqüilidade
e boa comida em um ambiente agradável
cercado de muito verde e céu azul, onde
você pode descansar à beira do lago
e saborear um extenso e variado cardápio
de quitutes preparados com todo
o cuidado, qualidade e rapidez.
Dê uma passada por aqui na próxima vez
TIN TIN
que pegar o caminho da serra. Garantimos
As aventuras do repórter belga
estão na primeira animação
dirigida por Spielberg
que você vai voltar muitas vezes.
Rodovia Floriano R. Pinheiro
SP 123 • Km 10 • Tremembé-SP
Tel. (12) 3686 1880
pelos efeitos especiais com os cavalos de madeira, bem como o uso de slow-motion.
Se por um lado a história não conta com
nenhum grande astro do cinema, exceto
Emily Watson, e sua trama –a amizade de
um cavalo com um garoto– não é assim um
apelo automático para ir ao cinema, por outro lado uma parte dos espectadores e da crítica internacional está considerando este um
grande retorno do velho estilo do diretor de
contar histórias que envolvam o coração do
público, num estilo que lembra uma mistura
de “E.T” e “O Resgate do Soldado Ryan”.
Ao passar pelas mãos de alemães e virar presente para uma menina que está morrendo, o
cavalo mostra, indiretamente, as perdas desnecessárias de vida durante uma guerra. Sim,
as perdas, conflitos e atos heróicos –sempre
para o lado dos Aliados, claro– estão todos lá,
exatamente como nos outros filmes de guerra
do diretor. E ele segue à risca sua fórmula de
maior sucesso: explorar o horror através do
olhar inocente, seja de um garoto, seja de um
cavalo. Os produtores de “Cavalo de Guerra”
mostraram algumas sequências para soldados que estavam voltando feridos do Afeganistão e todos ficaram bastante emocionados
–o sinal que eles precisavam para saber que
estavam no caminho certo com relação à edição do filme, um bom candidato a algumas
indicações ao Oscar deste ano.
Dos quadrinhos para o 3D
Já “As Aventuras de Tintin” tem um conteúdo que remete a emoções semelhantes,
porém seu formato é totalmente diferente.
A história, criada pelo autor belga Hergé em
1929, ganha uma roupagem tecnológica, ao
estilo que anda fascinando muito diretor de
Hollywood. Spielberg fez tudo por computador, com a ajuda de Peter Jackson (“O Senhor dos Anéis”), que assina como produtor.
O filme utiliza a tecnologia da Captura de
Movimento (Performance Capture), usada
pela primeira vez em “O Expresso Polar”.
Trata-se de uma técnica que coloca vários
pontos no rosto dos atores, que atuam em
frente a telas verdes e suas expressões são
captadas pelo computador e depois incorporadas em qualquer personagem –humano
ou animal– na pós-produção. Foi assim que
Tom Hanks conseguiu interpretar diversos
personagens em “O Expresso Polar”, por
exemplo. Quem faz Tintin é Jamie Bell e Red
Rackham é vivido por Daniel Craig.
É a primeira animação dirigida por Steven
Spielberg e também sua primeira adaptação
de histórias em quadrinhos. E, claro, o filme
só saiu do papel com a promessa de inundar
as salas 3D de cinema do mundo inteiro nas
férias. Ele se tornou grande fã da franquia
quando um crítico comparou “Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida” (1981)
com Tintim, que estreou exatamente 30
anos depois deste Indiana Jones nos Estados Unidos. Em 1983, Spielberg comprou
todos os direitos do personagem. Spielberg
dirigiu sua parte do filme nos primeiros
32 dias, em março de 2009, depois todo o
resto foi supervisionado por Peter Jackson,
que irá dirigir o segundo filme todo –sim, já
existe uma franquia aprovada.
O filme conta a história do aventureiro Tintim, que compra de um amigo um modelo de
galeão antigo, coincidentemente uma réplica
de um navio do cavaleiro Hadoque. O modelo
é roubado e a casa de Tintim revirada. É quando
o garoto descobre que o navio real estava repleto de tesouros e naufragou. Tintim então
decide, com os amigos e o fiel cão, procurar as
três partes do mapa para achar o tesouro, tendo
que driblar uma perigosa quadrilha.
Ao contrário de “O Expresso Polar”, onde
o rosto dos personagens soavam falso –ou
cheio de botox pois não se moviam– aqui a
tecnologia melhorou e muito, sem falar nos
detalhes do movimento de água, areia e plantas. Ainda não chega a confundir o espectador –seria humano ou digital?– mas está
quase lá. Além disso, outra virtude de Tintin
são as cenas repletas de ação. Não há descanso em nenhum momento, talvez para o
espectador não se sentir enfadado com uma
trama que já inspirou diversos outros filmes
ao longo de mais de 100 anos. Se tivesse sido
feito com atores reais, o filme correria o
risco de ficar muito parecido com “A Lenda
do Tesouro Perdido” ou a franquia “Piratas
do Caribe”, ou quem sabe até Indiana Jones.
Ao contrário, Spielberg resolveu apostar
todas suas fichas na tecnologia –que de
tão aprimorada é capaz de mostrar o nariz
dos personagens com detalhes que vão de
pintas, rugas a pelos. Mas ao final do filme,
sente-se um vazio. O vazio de ter visto
um espetáculo tecnológico em personagens que não tocam a alma do espectador
em quase nada. Neste sentido, “Cavalo de
Guerra” vai muito além, o que mostra que
a tecnologia talvez não seja capaz de verter
lágrimas ou imortalizar filmes, mesmo nas
mãos de gênios como Spielberg. •

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