eva maria schwengers
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UnP - UNIVERSIDADE POTIGUAR ALQUIMY ART Pró - Reitoria de Pesquisa e Pós - Graduação Lato Sensu Curso de Especialização em Arteterapia A TRANSFORMAÇÃO DA ARTISTA PLÁSTICA EM ARTETERAPEUTA EVA MARIA SCHWENGERS São Paulo 2004 EVA MARIA SCHWENGERS A TRANSFORMAÇÃO DA ARTISTA PLÁSTICA EM ARTETERAPEUTA Monografia apresentada à Universidade Potiguar, RN, e ao Alquimy Art, SP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Arteterapia. Orientadora: Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini São Paulo 2004 SCHWENGERS, Eva Maria A Transformação da Artista Plástica em Arteterapeuta. / Eva Maria Schwengers. São Paulo, [s.n.], 2004. 55p. Orientadora: Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini. Monografia: (Especialização em Arteterapia) UnP/ Universidade Potiguar –(RN) Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Lato Sensu e Alquimy Art (SP), 2004. 1. Arteterapia 2.Escultura 3.Antroposofia UnP – UNIVERSIDADE POTIGUAR ALQUIMY ART Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Lato Sensu A TRANSFORMAÇÃO DA ARTISTA PLÁSTICA EM ARTETERAPEUTA Monografia apresentada pela aluna Eva Maria Schwengers ao Curso de Especialização em Arteterapia em __/__/____ e recebendo a avaliação da Banca Examinadora constituída pelos Professores: Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Orientadora e Coordenadora da Especialização. Prof. Mestra Deolinda Florim Fabietti, Coordenadora da Especialização. Dedico ao meu amigo Willy, por nosso encontro ter propiciado tantos resgates pendentes, vividos entre revelações e tentações, crescendo em meio a muita integridade, responsabilidade e criatividade, sempre permeadas por uma amorosidade espiritual. Agradecimentos Aos meus filhos, Oswaldo, Alexandre e Roberta, pela ajuda técnica. À minha orientadora, Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini, por sua paciência com minhas dificuldades. A Consuelo por me trazer de volta a mim mesma, lembrando-me “quem eu sou”. À minha revisora, Margaret por me ajudar neste meu desafio: “a escrita”. Ao Cláudio pelo seu incentivo sempre tão amoroso. À minha supervisora profissional, Prof. Deolinda Florim Fabietti, pelas suas palavras: “confie mais em você, vá em frente”. E, principalmente, ao Dr. K., “terapeuta – paciente – terapeuta e amigo” que me deu o primeiro impulso nesta transformação, confirmando e acreditando em meu trabalho. Resumo SCHWENGERS, Eva Maria. A Transformação da Artista Plástica em Arteterapeuta. 55p. Monografia (Pós - Graduação Lato Sensu) UnP- Universidade Potiguar (RN) e Alquimy Art (SP). São Paulo, 2004. Esta monografia traz a história da autora, uma artista plástica, em busca de seu autoconhecimento. Ela descreve os cursos de diferentes linhas filosóficas dos quais participou e o que cada um trouxe de benefício para seu processo de ampliação de consciência e para busca do Ser interior, até que sua busca levou-a à Arteterapia. Na Arteterapia ela relata como encontra os fundamentos teóricos que lhe dão a base necessária para a sua prática e também para sua técnica como escultora. Ao mesmo tempo em que aprofunda seu conhecimento no curso de Arteterapia, relata um trabalho arteterapêutico de modelagem em argila, desenvolvido com seu ex-terapeuta, a pedido deste, onde descreve como foi o processo de estabelecer os limites da relação “pacienteterapeuta-paciente”. Conclui que a Arteterapia propiciou a segurança e a confiança necessárias que serviram de base para as vivências sendo fundamental para a distinção entre um trabalho arteterapêutico e um trabalho artístico em modelagem no barro. Abstract Schwengers, Eva Maria. The transformation of an artist into an Art Therapist.. 55p. Monograph (Post Graduation Certificate) UnPUniversidade Potiguar (RN) (Potiguar University of Rio Grande do Norte), Alquimy Art Learning Research Center in São Paulo. São Paulo, 2004. This monograph introduces the story of the author, who is an artist, searching for self-acknowledge. She describes courses from different philosophic beliefs she has attended and what each one of them contributed to her process of enhancing conscience and her inner self. And then she got to know Art Therapy. In Art Therapy she reports how she has found the theoretical foundations that gave her the required support for her practice and her technique as a sculptor. At the same time she went further into Art Therapy, she reports an art therapeutic work in modeling clay, that she has developed with her former therapist (at his request). She describes how the limits of relationship “patienttherapist- patient were established. She concludes that Art Therapy provided her the certainty and the confidence she needed and was the basis for the experience and also very important to tell the difference between an art therapeutic work from an artistic work in modeling clay. Sumário Agradecimentos.......................................................................... Resumo........................................................................................ Abstract........................................................................................ 1. Introdução................................................................................ 2. Formando o Caminho da Vida................................................ 2.1. Sincronicidade............................................................................................ 3. A Trajetória Artística............................................................... 3.1. Os cursos: descobertas e decisões......................................................... 4. Terapia Artística...................................................................... 5. Vivências em sala de aula...................................................... 5.1. A Argila........................................................................................................ 5.1.1. Percepções das sincronicidades e suas relações com a vida......... 5.2. A Madeira.................................................................................................... 5.3. A Pedra........................................................................................................ 6. A Transformação da artista plástica em arteterapeuta........ 6.1. A relação “paciente- terapeuta – paciente”............................................. 6.2. A Transformação........................................................................................ 6.3. A Prática...................................................................................................... 6.4. Momentos Difíceis...................................................................................... 7. Considerações Finais............................................................. 8. Referências Bibliográficas..................................................... 10 1- Introdução Venho iniciando minha monografia, lendo e relendo inúmeras primeiras páginas, escritas por mim sem sucesso. Minha esperança era que, ao término deste momento de crise atual em que me encontro, conseguisse escrever de uma forma mais objetiva, mais tranqüila e mais certeira. Mas, enquanto fazia um exercício de Kum Nye1 no qual procurava me centrar por meio de respirações e movimentos corporais, percebi que essa espera era mais uma ilusão. Era preciso ir em frente exatamente como me encontrava: no “entre”, sem raízes, mudando minha vida, terminando uma etapa e iniciando outra. E em todas as áreas da minha vida: a afetiva, a profissional, a corporal, a financeira e até mudando de cidade, sentindo medo e insegurança. Algo morre em mim, mas me sinto mais viva do que nunca, vivenciando momentos de grande lucidez e sensibilidade, tendo insights muito mais significativos e coerentes com meus atuais valores e metas. Acredito e confirmo, ao longo do meu trabalho como arteterapeuta, que um verdadeiro terapeuta (ou profissional da cura) precisa primeiramente “ser um bom terapeuta de si mesmo”. Claro que é necessário a ajuda de alguns mestres externos, como algumas terapias, relacionamentos profundos, muito conhecimento, e muita consciência nas vivências significativas ao longo da vida. Mas nada disso faz sentido se você não está aberto para o novo, para o mundo do inconsciente, e principalmente, para a ajuda sempre presente do mundo espiritual indicando o próximo caminho a ser conquistado. 1 Exercícios de respiração e diferentes tipos de movimentos que fazem parte dos ensinamentos da meditação Budista criados por Tarthang Tulku. 11 Pretendo relatar aqui, os acontecimentos ligados ao meu processo de transformação, da Escultora em Arteterapeuta, por meio de vários percursos, por entre diversos cursos, experiências autodidatas, e o meu aprofundamento durante minhas terapias. Senti a necessidade em desenvolver alguns temas concomitantes em minha monografia, pois eles se relacionam, se cruzam e se completam, adquirindo sentido entre si. 12 2. Formando o caminho da vida Inicio contando um pouco do meu histórico pessoal e artístico. O que me impulsionou a largar um trabalho bem sucedido como ourives e designer de jóias, para seguir novos caminhos em busca de respostas a algumas perguntas ansiosas, respostas que pudessem preencher um pouco a minha alma. O que eu consegui realizar até agora? O que deixei para trás em aptidões, talentos que agora posso e quero realizar? É preciso mudar meus caminhos para que isso seja possível? Ainda hoje, tenho tentado escutar todas essas perguntas e as novas que me chegam de fora. Será que tenho condições de atender a essas novas solicitações da minha vida? Relato também, o meu processo de transformação, onde o relacionamento conduz, fortalece e confirma o trabalho feito entre “paciente - terapeuta - paciente”, que se iniciou em 1987, ao ir em busca do meu autoconhecimento com o psiquiatra antroposófico2 Dr. K. (assim o chamarei para manter sua privacidade). Naquele ano acreditava que na terapia conseguiria apagar por completo o ser que tinha tantos pesadelos, medos e dependências. Desconhecia totalmente o meu potencial interno, minhas virtudes e minhas aptidões. Após sete anos em terapia, fui em busca de novos caminhos no processo de autoconhecimento. Caminhos que me levaram a um aprofundamento espiritual, pois tive sempre um desejo apaixonado em compreender qual o significado e o propósito de eu estar aqui. 2 Ciência Espiritual Antroposófica ou Antroposofia, fundada e estruturada pelo filósofo Rudolf Steiner (18611925). 13 Assim, procurei uma nova abordagem terapêutica, onde pude vivenciar experiências por meio de regressões espontâneas. Passaram-se mais quatro anos quando fui surpreendida por um telefonema do Dr. K., convidando-me a lhe dar aulas de escultura - por indicação de um médico antroposófico -, pois sua saúde não se encontrava bem. Sabia dos meus estudos e da minha formação como escultora na escola antroposófica, e da força formadora proporcionada pelo trabalho feito com argila. Não se torna um escultor, apoiando-se em tradições, - como é comum hoje, mesmo a artistas completamente desenvolvidos; tornase um escultor resgatando, com plena consciência, as forças formadoras que uma vez levaram o homem às Artes Plásticas. Devese adquirir sentimentos cósmicos; deve-se ser outra vez capaz de sentir o universo e ver no homem um microcosmo – um mundo em miniatura. Não se trabalha por mera imitação, copiando um modelo, mas recria-se mergulhando nesta força pela qual a própria Natureza criou e deu forma ao homem. Forma-se como a própria Natureza formou. Mas, então todo o modo de sentir, em cognição e expressão artística, deve ser capaz de adaptar-se a isso. (STEINER, 1922, p.8) Assim, em 2001 estava dando aulas ao meu primeiro terapeuta, com quem ainda sentia um vínculo profundo. Iria me sentir como paciente eternamente? Teria capacidade em atender uma pessoa que considerava exigente, e com tanto conhecimento? Fui em busca de mais conhecimentos que me dessem maior segurança nos atendimentos com o Dr. K., e iniciei um curso de Pós-Graduação em Especialização em Arteterapia que me oferecesse uma base teórica, fundamentando o uso da arte como terapia. 14 Segundo Andrade “A arte passa a ser um instrumento, técnico e conceitual de um método de trabalho ao combinar o fazer arte, o uso de materiais plásticos e outras formas de expressão a um objetivo educacional ou terapêutico” (1995, p.92). Rememorando o que passou, vejo que em toda minha vida estive em busca de compreensão e de verdade. Ao longo desses anos, tive momentos em que pude constatar que meus caminhos eram guiados por uma direção maior que chamarei de “Meu Anjo”, o qual pude sentir e observar, colocando muitas vezes obstáculos em determinadas direções, e abrindo novos caminhos em outras direções, de uma forma surpreendente. Podemos ter acesso ao saber que está dentro de cada um de nós, através do que normalmente chamamos de intuição. Aprendendo a entrar em contato, a escutar e a agir em sintonia com a intuição, estaremos ligados diretamente com a força superior do universo, permitindo que ela se torne a nossa força orientadora. (GAWAIN; KING, 1986, p.13) Passei a ficar mais atenta e agradecida com os novos acontecimentos fossem eles bons ou não tão bons, pois sabia que mais tarde iria compreendê-los. Sintonizando na intuição e permitindo que ela se torne a força orientadora de nossas vidas, permitiremos que o maestro tome o seu lugar de direito como líder da orquestra. Em vez de perdermos nossa liberdade individual, receberemos o apoio que precisamos para efetivamente expressar a nossa individualidade. Alem do mais, gozaremos a experiência de ser parte de um canal criativo mais amplo. (GAWAIN; KING, 1986, p.13) Eis-me, aqui, tecendo relações. 15 2.1. Sincronicidade Durante todo o processo em tornar-me arteterapeuta ocorreram algumas sincronicidades (JUNG apud PROGOFF, 1973), ou posso chamar de “sinais”, dos quais, ao longo do trabalho, venho obtendo mais respostas, mais confiança e principalmente a confirmação de estar trilhando o caminho certo. Quando dois ou mais eventos ocorrem num dado momento do tempo sem que um deles tenha causado o outro, embora haja uma relação nitidamente significativa entre eles que ultrapassa as possibilidades de coincidência, essa situação contém os elementos básicos da sincronicidade. Eventos desse tipo em geral envolvem indivíduos ou grupos diferentes. Pensamos ser estes o caso nas ocorrências sincronísticas que se verificam nas relações interpessoais e, ainda mais notadamente, nos acontecimentos históricos. (PROGOFF, 1973, p.119) As formas plásticas vão surgindo, durante o modelar, em partes que seguem uma seqüência cuja coerência só poderá ser notada com o trabalho concluído, observando-se o todo. Em relação aos estudos antroposóficos desenvolvidos na escultura, percebi que a arte é curadora por si só, principalmente quando temos consciência suficiente para fazer a relação das partes, no processo artístico ocorrido na matéria - no meu caso o barro - com o momento de vida atual. Nesse sentido, [...] o princípio de sincronicidade se apresenta como um possível método de trabalho para o campo dos estudos científicos em geral e também como um princípio condutor para os vários níveis de experiência da psicologia profunda. (PROGOFF, 1973, p. 57) Por meio da manipulação do material artístico o que é modelado fora, é também modelado internamente, ou seja, a pessoa reconhece-se na matéria. Assim, 16 facilidades e dificuldades tornam-se conscientes e terapeuta e paciente podem elaborar o próximo caminho a ser seguido, ajudados também pelas percepções intuitivas. 17 3. A Trajetória Artística Ao relatar minha trajetória artística, sou levada novamente por essa retrospectiva biográfica a uma visão e a uma confirmação de como ocorreram minhas mudanças. Percebo os novos paradigmas (FERGUSON, 1995) que vêm se instalando mais e mais em minha alma, surpreendendo-me a cada nova atuação nos momentos de minha vida. Após me formar e trabalhar como ourives e designer de jóias durante seis anos, senti que esse trabalho não me realizava mais. Em meados de 1992, iniciei uma busca frenética, a procura de novas e mais profundas experiências, onde algo mais verdadeiro pudesse emergir do meu ser. Tinha uma vontade de ajudar e cuidar de outras pessoas e acreditava que com isso me sentiria mais realizada, menos vítima, e menos culpada, por tudo e por nada; buscava algo que indicasse a existência de um caminho para dentro, em direção a um conhecimento maior, mais consciente e mais amoroso. Creio que todos os homens e mulheres nascem com talentos. No entanto, a verdade é que houve pouca descrição dos hábitos e das vidas psicológicas de mulheres talentosas, criativas, brilhantes. Muito foi escrito, porém, a respeito das fraquezas e defeitos dos seres humanos em geral e das mulheres em particular. No caso do arquétipo da Mulher Selvagem, para vislumbrá-la, captá-la e utilizar o que ela oferece, precisamos nos interessar mais pelos pensamentos, sentimentos e esforços que fortalecem as mulheres e computar corretamente os fatores íntimos e culturais que as debilitam. Em geral, quando compreendemos a natureza selvagem como um ser autônomo, que anima e dá forma à vida mais profunda da mulher, podemos começar a nos desenvolver de um modo jamais considerado possível. Uma psicologia que ignore esse ser espiritual inato, central à psicologia feminina, trai as mulheres, suas filhas, netas e tidas as suas descendentes futuras. (ESTES, 1994, p.24) 18 Nos anos que se seguiram passei a ler mais, e a freqüentar alguns cursos. Em 1993 resolvi freqüentar paralelamente dois cursos básicos por não saber qual deles iria me aprofundar; o de “Bioenergética” e o de “Ciência e Arte”, que foi meu primeiro contato com a Antroposofia. 3.1. Os cursos: descobertas e decisões Durante um ano no curso de Bioenergética que fiz com Theda Bassos, pude descobrir novas maneiras de olhar meu corpo, identificando e compreendendo onde e por que determinadas partes eram tensas e rígidas. A Bioenergética é uma técnica terapêutica que ajuda o indivíduo a reencontrar-se com o seu corpo, e a tirar o mais alto grau de proveito possível da vida que há nela. É baseada no trabalho de Wilhem Reich, [...] onde fazia referência à identidade funcional do caráter de uma pessoa com sua atitude corporal ou couraça muscular. Esta couraça se refere ao padrão geral das tensões musculares crônicas do corpo. São assim definidas pois servem para proteger o indivíduo contra experiências emocionais dolorosas e ameaçadoras. (ALEXANDER, 1984, p.13) Mas após algumas vivências mais profundas minhas e de minhas colegas, comecei a comparar este trabalho com outras experiências corporais vividas paralelamente por meio dos exercícios budistas de Kum Nye. Comecei a me identificar mais com os exercícios budistas por serem mais sutis e profundos, abrangendo também o espírito. Por outro lado, algumas vezes, sentia-me mal ao realizar alguns exercícios, os quais considerei um pouco agressivos. 19 Neste mesmo ano iniciei o curso de Ciência e Arte onde pude experimentar no barro e na aquarela noções básicas da Antroposofia. Para a Antroposofia [...] temos o mundo físico conhecido, objeto de nossos sentidos e das ciências; é o mundo em que vivemos. De outro lado sentimos que existe um domínio não-físico, impalpável, mas cuja existência sentimos com uma certeza, por assim dizer, direta, inata [...] conhecer algo desse outro mundo, [...] investigá-lo consciente e cientificamente, por meios adequados, conservando a consciência, o espírito crítico, o raciocínio [...] em outras palavras: estender o campo da pesquisa conscientemente para esse back-ground espiritual do nosso mundo sensível (LANZ, 1994, p.13). Esta é a via por que segue os estudos antroposóficos, “sendo uma ciência do Cosmo, tendo por centro e ponto de apoio o homem [...] começando o estudo por uma análise do ser humano” (LANZ, 1994, p.14). Fiquei encantada pelos estudos desta ciência espiritual e principalmente por aprender e compreender mais de mim mesmo por meio da arte. A arte para Goethe era uma das manifestações da lei fundamental do Universo; a outra era a ciência. Arte e Ciência emanam, para ele, de uma mesma fonte. Enquanto o pesquisador mergulha nas profundezas da realidade para lhe vazar as forças atuantes em conceitos, o artista procura incorporar essas mesmas forças atuantes ao seu material. „Penso que se poderia chamar a ciência de conhecimento do geral, de saber abstrato; a arte seria então ciência usada para a ação: a ciência seria razão, e a arte, seu mecanismo. O que o cientista enuncia como idéia (teorema) a arte deve gravá-lo na matéria‟. (STEINER, 1984, p.81) No final deste mesmo ano de 1994, pude confirmar mais uma vez a sincronicidade dos fatos se manifestando a meu favor, mostrando o caminho a ser seguido. Não fui escolhida para continuar o restante dos módulos na Bioenergética, por ter opiniões divergentes ao curso, e fiquei extremamente frustrada e me sentindo impotente. Mas no dia seguinte, coincidentemente recebi um telefonema da escola Antroposófica 20 Centrarte oferecendo vagas para o curso de Terapia Artística e dei início à minha formação, por cinco anos letivos, com muito entusiasmo. Durante esse tempo também participei de diversos seminários, palestras e workshops os quais descrevo a seguir, em linhas gerais, pois todos contribuíram para meu trajeto rumo ao autoconhecimento. No Seminário de Tantra e Renascimento, com Ronald Fuchs, formado em Rebirthing na Inglaterra, aprendi que, De acordo com Tantra, o Universo nasce da união cósmica dos princípios feminino e masculino, e o amor é a expressão desta união ao nível Humano. Origina-se do período pré-clássico da Índia. Tantra é a arte de conhecer-se a si mesmo através do outro. É a expressão do amor consciente, a Energia Pura, amorosa e espiritual que através do som, do movimento, da respiração e do relaxamento abre o coração à experiência máxima do Amor. 3 No Workshop em Aura- Soma – que propõe a cura pelas cores, aprendi que, Wall aprendeu os princípios alquímicos para misturar essências que se reestruturam de modo a criar um efeito vivo. Teve uma brilhante revelação e nasceram os óleos balanceados Aura-Soma. A palavra “chakra” em sânscrito significa literalmente roda ou círculo. Imagine então 7 chakras vitais, localizados exatamente na parte frontal da coluna vertebral. Eles são a essência da aura, e para garantir que as energias flutuem em harmonia, que a totalidade do ser-mente, corpo, espírito esteja “em sintonia”, cada chakra deve estar completamente aberto e em equilíbrio. O trabalho da Aura-Soma começa aqui. (WALL, 1995, p.115) Tornei-me mestre em Reiky, o que me auxilia até hoje nos momentos em que preciso me conectar, me perceber, e então me alinhar, Reiky significa “Energia Universal de Vida”. É a energia fonte de nossa vida. É um método de cura muito antigo, redescoberto por um monge japones cristão Dr. Mikao Usui, no século findo, propagandose por todo o ocidente. Sua essência está tão viva hoje como estava há centenas de anos atrás, na época em que foi registrada nos 3 Texto retirado do folheto explicativo do Seminário sobre Renascimento- Rebirthing- e as Bases do Tantra realizado em São Paulo em novembro de 1998. 21 Sutras. Não é religião, nem culto, nem filosofia. Não se utiliza da energia do terapeuta, mas da energia cósmica que tudo circunda e flui por seu intermédio, através do toque das mãos para nós mesmos, para outros, para plantas, animais, podendo ser transmitido também à distancia. Age em todos os níveis, restabelecendo e fortificando a harmonia física, emocional, mental e espiritual. (HOSSE4 ) Aprofundei-me durante seis anos nos exercícios Kum Nye de meditação Budista Tibetana: A tradição escrita do Kum Nye está contida nos textos médicos tibetanos, bem como nos antigos textos Vinaya do Budismo que focalizam o viver de acordo com leis físicas e universais e incluem extensas descrições de práticas de tratamento. O Kum Nye faz parte, portanto, da linhagem de teorias e práticas espirituais e médicas que ligam a medicina tibetana às medicinas indianas e chinesas. Essa linhagem deu origem a um sem-número de disciplinas, incluindo o yoga e a acupuntura. Inclui exercícios de respiração, automassagem e diferentes tipos de movimentos. (TULKU, 1995, p.2) Aprofundei-me no conhecimento Antroposófico freqüentando o curso de Medicina Antroposófica para profissionais da área terapêutica na Clínica Tobias: Iniciada por Rudolf Steiner e Ita Wegman, a medicina Antroposófica vê o ser humano, no caso o paciente, como um ser espiritual em desenvolvimento. Para tal, considera além dos sintomas físicos, a qualidade vital, a vida emocional e a biografia. Somente assim podemos atingir as causas reais dos desequilibro (doenças) e atuar terapeuticamente a partir de medicamentos no caso médico, além de outras terapias auxiliares, como Euritmia Curativa, Terapia Artística, Massagem Ritmica, entre outras.(Sociedade Brasileira de Medicina Antroposófica5) Todos esses cursos participam, até hoje, de minha formação como um todo, auxiliando-me nos momentos em que devo tomar decisões importantes em minha vida. 4 Trecho retirado de folheto explicativo editado por Ângela H. Hosse, membro ativo da Reiky Alliance e divulgadora do Reiky em território nacional por meio de cursos de especialização desde 1992. 5 Trecho retirado do Boletim informativo trimestral da Sociedade Antroposófica no Brasil em 1998. 22 4. Terapia Artística O curso de formação em Terapia Artística é fundamentado na Ciência Espiritual Antroposófica fundada por Rudolf Steiner. Trago, aqui, duas questões que me parecem relevantes. O que é Antroposofia e qual é seu objeto de pesquisa? A Antroposofia se entende como uma ciência espiritual, como uma ciência do espírito, assim como a ciência natural se entende como uma ciência da Natureza. Da mesma forma como esta dirige sua visão ao mundo sensorial e aplica um método definido de pesquisa experimental, a ciência espiritual dirige sua visão ao mundo de fatos supra-sensíveis, aquilo que se expressa como essência espiritual no sensorial visível, e utiliza para isso um método correspondente de pesquisa. (MIKLOS; KLETT, 2000, p.223) O que é Terapia Artística ? A Terapia Artística, disciplina complementar à Medicina Antroposófica, foi desenvolvida a partir de um trabalho iniciado em redor de 1925 no instituto Clínico-terapêutico de Arlesheim ( Suíça) pela Dra. Margarethe Hauschka. Abrangendo basicamente a pintura, o desenho e a modelagem, mas reconhecendo a necessidade de se desenvolver terapias em todos os campos da Arte. (VON DER HEIDE, 1987, contra capa). Estava cheia de expectativas, sentia que havia encontrado o caminho certo. Estudávamos o lado científico antroposófico lendo um livro por ano: Teoria do Conhecimento, Teosofia, Filosofia da Liberdade, Ciência Oculta, e aprofundávamos nas vivências artísticas: Arte da Fala, Pintura, Escultura e Euritmia. Estava realmente envolvida tanto com os professores e os alunos, como com os novos conhecimentos que adquiria. Sentia-me como se estivesse fazendo uma faculdade: todos os dias, durante 5 horas, por 5 anos consecutivos. 23 Mudava, gradativamente, meu ritmo, meus amigos, meus pensamentos, minhas leituras, até meu modo de vestir, pois sentia pela primeira vez que meu interior era muito mais rico e interessante que o meu visual externo, o qual vinha cultuando há algum tempo. Iria me formar em Terapia Artística e estava unindo as três coisas que mais gostava: a arte em si, os estudos de uma ciência espiritual e a arte como curadora. No segundo ano foi nos comunicado, que não teríamos mais o diploma de Terapia Artística, mas ele viria no meu caso, como “Formação em Escultura”, novas normas do Gotheanum, sede da Sociedade Antroposófica em Donach (Suíça). A partir desse momento não teríamos mais aulas de medicina nem terapia. Minhas dúvidas teriam que ser respondidas com minhas próprias anotações, ou seja, o significado obtido das relações feitas nas formas escultóricas com minhas sensações internas, eu teria que descobrir por meio das experiências em sala de aula, dos estudos antroposóficos e com muita, muita observação. Dessa forma, iniciei o meu trabalho anotando didaticamente cada processo em que vivenciei internamente a arte como curadora. Este é o momento oportuno para fazer compreender a quem começa qualquer tarefa, como é importante o nosso esforço. E como esse esforço é recompensado, a maioria das vezes, pela ajuda de forças superiores que costumamos chamar de “inspiração”. A arte como a inspiração máxima da sensibilidade humana, não como uma mera diversão ou passatempo, um luxo do qual podemos prescindir. (JUNOY, 1987, p.29) Fui percebendo que alguns alunos também tinham seus conflitos internos ao longo do aprofundamento no trabalho, mas, para alguns, o interesse era focado nas artes e nos estudos, portanto questões internas passavam a ser subjetivas, não necessitando de um aprofundamento maior. Sabia o quanto essa área me fascinava, 24 e procurava tirar o máximo proveito das novas informações, pois os nossos professores tinham um vasto conhecimento artístico antroposófico, além das experiências que traziam devido a seus estudos e aulas ministradas em outros países. A troca era extremamente rica, havendo sempre novos contatos, tanto com palestrantes como com alunos estrangeiros, trazendo novidades para a escola. 25 5. Vivências em sala de aula A seguir, apresento algumas vivências que se tornaram importantes no decorrer de meu processo de transformação, em que trabalhei com os materiais argila, madeira e pedra. Relato, aqui, aspectos desse processo que aconteceu enquanto trabalhava com um grupo de formação em Escultura. 5.1. A Argila Iniciamos o trabalho com a argila, lentamente, colocando pequenos pedaços de barro, deixando que uma esfera crescesse em nossas mãos até chegar ao máximo do tamanho possível (30 a 50 cm de diâmetro). Durante o trabalho pude sentir que a vontade, o entusiasmo, a euforia e o meu calor interno aumentavam com o trabalho na esfera. Sentia-me parte dela. Mas após o seu crescimento percebi que ela já não pertencia mais a mim, mas ao mundo. Depois de muito esforço, e já com a peça praticamente pronta me senti orgulhosa e satisfeita quando pude observá-la à distância. Mas no dia seguinte, ela estava rachada. Senti raiva e frustração pelo excesso de apego que pude ver tão escancarado em mim. Iniciei-a novamente, irritada e frustrada. Depois mais feliz, pela capacidade e vontade que reapareceram com a retomada. Contudo, ao chegar em casa estava nitidamente irritada, com uma sensação de solidão, sentindo-me tremendamente só nesse caminho para dentro, pois pude constatar que esses momentos são 26 vivenciados na solidão e que dificilmente podem ser compreendidos, e compartilhados em sua verdadeira dimensão. Os obstáculos que surgiam e as reações que ocorriam durante o processo, tanto as minhas internas, como as do grupo, surpreendiam-me: quando uma peça já grande rachava a ponto de se quebrar, todos ajudavam como num mutirão, a fim de recuperá-la novamente, como no caso da minha esfera, coisa que nem sempre era possível. Nesses momentos difíceis, tínhamos de lidar com as nossas frustrações, impotências e apegos. Muitos sentiam a raiva crescer, pois já haviam chegado em seu limite. Outros tinham vontade de chorar. Outras vezes ficávamos horas sem conversar, cada um permanecendo no seu canto em silêncio, totalmente concentrados cada qual em seu trabalho, suportando dúvidas e tensões, sabendo que as respostas não viriam de imediato. Figura 1 – Minha peça “a Esfera” quando rachou ao meio. 27 Percebi que todos os dias eu era obrigada, quisesse ou não, a trabalhar algo novo em mim e que quando você conquista algo com sua experiência, isso passa a fazer parte de você, fica para sempre impregnado dentro da sua alma. 5.1.1. Percepções das sincronicidades e suas relações com a vida As relações do trabalho feito no barro e meu estado durante esse dia foram se confirmando, eu não podia negar essa experiência. O barro passou a ser o meu instrumento de autopercepção. Quanto mais entrava fundo na matéria (barro) mais me reconhecia, quanto mais superava obstáculos, mais força sentia em minhas ações na vida. Podia perceber o mesmo acontecendo com meus colegas de aula. Continuamos dando um passo à frente. Com a esfera agora já grande, o objetivo era, com os punhos fechados, entrar no barro formando um grande côncavo. Esta era a força de “fora” atuando na matéria. Conforme ia atravessando a esfera, podia perceber que, do lado oposto, surgia uma forma convexa, mostrando claramente a força de “dentro” atuando na matéria para fora, onde podia sentir o contato direto da minha mão forçando o barro para frente e a resistência existente da matéria. 28 Figura 2- Vivência no barro: côncavo e convexo e suas ligações. Pude fazer algumas relações durante essa experiência, mas vou citar aquela que me veio de imediato. Encontramos ao longo do caminho algumas resistências quando tomamos atitudes baseadas em decisões, que acreditamos serem verdadeiras para nós, e muitas vezes, é preciso ter força e persistência para não desistir daquilo que é precioso em nossa vida, mesmo sabendo que estamos sozinhos e, muitas vezes, lutando contra a existência de forças contrárias. Para finalizar teríamos que fazer as ligações entre as partes côncavas e convexas, nada mais que procurar o caminho tão desejado por todos que buscam o equilíbrio: “O Caminho do Meio”. Sentia que todos estavam lutando, oscilando entre várias 29 alternativas; alguns mais pacientes, outros mais nervosos, mas todos aprendendo muito sobre a arte de modelar no barro e em si mesmo. Após três meses de trabalhos diários terminamos essa peça, superando algumas dificuldades e aprendendo a aceitar aquelas que não nos foi possível a transformação. Figura 3 – A “Esfera” pronta. O nosso professor, Gean Algarotti, no decorrer do processo foi estabelecendo relações, dizendo que o espaço de paz interno, o calor que se dá com a formação inicial da esfera é a semente, onde ocorre o início da vida. 30 Também houve o aparecimento das forças primitivas relacionadas com os quatro elementos: Água - usada para umedecer o barro. Terra - o material escolhido, o barro. Ar - o espaço à nossa volta de trabalho e a nossa respiração. Fogo - a vontade que nos movimenta para trabalhar. São forças de vida que apareceram com o trabalho, onde cada um pôde perceber seu ritmo, a necessidade de retomar o próprio eixo, exercitar o olhar de longe necessário para ver o todo e o olhar de perto para ver as partes. : Desenvolvíamos essas novas percepções internamente de uma forma espontânea, conforme o conhecimento adquirido com o barro. Os processos de transformação continuaram mais intensos por meio dos trabalhos feitos com a madeira e com a pedra. 5.2. A Madeira Cada pessoa do grupo levou seu próprio bloco de madeira para o próximo trabalho. Escolhi a cerejeira pela sua cor e pelo seu cheiro, Na madeira a experiência era nova, usava não só as mãos para sentir a superfície mas as ferramentas entravam para auxiliar nos cortes, e o cuidado era maior pois aquilo que se cortava não se repunha mais, como no barro, era preciso mais força, mais certeza no ato de esculpir. Fui descobrindo que cada madeira tinha um cheiro 31 característico, seus veios tinham que ser cortados do lado certo, pois lascavam estragando muitas vezes o trabalho feito anteriormente, ou seja, o cuidado era maior. A cada mudança feita na madeira havia sempre uma resposta, diferente do barro que tudo aceitava. Figura 4 – O bloco de madeira “cerejeira” no início do trabalho. Quando me deparei com um pedaço relativamente grande da madeira cerejeira, esculpia lentamente com medo de lascar. Mais tarde fui percebendo que tinha que 32 confiar e colocar mais força no braço. No final do trabalho saía suada e cansada, mas me sentindo mais forte e confiante. Figura 5 – Escultura em madeira depois de pronta. 33 5.3. A Pedra O mesmo acorreu no trabalho com a pedra-sabão. Cada um levou seu pedaço, de tamanhos variados. A pedra era um pouco mais dura que a madeira, portanto precisava de mais ferramentas: goivas, grosas e lixa, muita lixa. O trabalho era mais demorado e difícil. Porém no final, as cores na pedra iam surgindo lentamente trazendo uma nova visão do trabalho, na composição dos movimentos, com as cores da pedra. Se na madeira precisava usar mais força, na pedra, ainda mais. Reconhecia minha força crescer tanto fora nos movimentos com o braço, como internamente nas minhas sensações. Passei a ver o meu trabalhar como um desafio. Queria descobrir como dar leveza a um material tão duro como a pedra. Trabalhei durante seis meses, sempre buscando de que lado, em que movimento, ou em que cor encontraria a leveza na pedra, podia fazer relação constantemente desse trabalho com a minha vida: “Como adquirir leveza quando se deve tomar atitudes duras na vida? Como encarar momentos duros, de sofrimento, com mais leveza? Como “Pegar Leve” quando nos sentimos machucados? Ou seja como adquirir leveza nos momentos mais difíceis na vida?” 34 Figura 7 – Lado mais trabalhado em busca dos elementos que dão leveza. Foi só no final do trabalho que algumas respostas vieram naturalmente. Enquanto esculpia um lado da pedra que considerava mais leve, pude perceber que do outro lado que já havia trabalhado antes, as formas eram harmônicas trazendo uma leveza natural, só que eu estava tão preocupada em esculpir coisas leves que não percebi que a leveza já existia naturalmente nos movimentos suaves do outro lado da pedra. Mais uma vez constatava o quanto podemos descobrir, se estivermos abertos e preparados para as novas visões que se apresentam surpreendentemente num trabalho artístico. 35 Figura 8 – A leveza que pude perceber mais tarde, já existente em seus movimentos. Nosso professor de escultura, “Gean Algarotti”, teceu algumas idéias no final do nosso trabalho. Transcrevo, aqui, suas reflexões: “A formação traz no início as forças vivas de crescimento, expansão, contração, volume, espaço, movimento, ritmo e equilíbrio. Por meio de exercícios com a argila, experimentamos esses elementos fundamentais da escultura. Duas forças constantes no mundo são trabalhadas sendo a primeira, a força interna vital (de crescimento) e a segunda, a força externa. Elas se interligam, mostrando-se como movimento dentro da escultura entre cavidades e convexidades. Essas polaridades, presentes no ser humano, apresentam-se diariamente através de sentimentos de simpatia e antipatia, agrado e desagrado, dificultando a conscientização do equilíbrio dessas forças. No contato com a argila, essas polaridades possibilitam uma flexibilização, que propicia modificações. Nesse momento começa o trabalho interno de cada aluno, que desenvolve, ao mesmo tempo, suas forças anímicas. 36 No processo de formação, focaliza-se não só a reestruturação anímica, mas uma nova consciência de forças e elementos que atuam nas representações diárias. O processo artístico supera as ilusões e encaminha ao essencial. Num segundo momento, aplica-se todo o aprendizado em um novo material: madeira. O aluno progride da característica altruística da argila, para esse material mais rígido. A madeira traz qualidades próprias, como estrutura, dureza, cor e cheiro. É preciso criar um respeito pelo material. O desenvolvimento dos sentidos descortinará um novo mundo. O aluno se vê mais acordado e sensível. Isso pode ser incômodo, pois ele se torna mais alerta e sensível não somente ao trabalho artístico, mas também à vida agitada das grandes cidades. O estudante deve aprender a lidar com essas impressões por ele assimiladas. Nesse ponto, a vivencia artística propicia uma nova postura, mais criativa e atuante perante a realidade. No trabalho subseqüente com a pedra, a confrontação com a matéria e consigo mesmo torna-se mais clara e forte. O aluno é colocado diante de uma situação de decisão e resolução própria no trabalho artístico. É o momento em que acontece um novo elemento: a independência. É preciso desenvolver a capacidade de dar um direcionamento ao seu trabalho”.6 [...] é essa autonomia do espírito humano que se revela na opinião goethiana de que o artista desenvolve uma capacidade instintiva de perceber idéias ou „arquétipos‟ – os quais, segundo Steiner, nada mais são além de forças que impulsionam por detrás dos fenômenos. Afirmando que a idéia se manifesta no todo, e não nas partes, e que cada exemplar da Natureza é uma tentativa de realização do arquétipo, Goethe credencia à arte o mérito de unificar realidade e ciência, acrescentando ao factual da primeira e ao racional da segunda o ingrediente do belo, pois „o belo é a manifestação de leis ocultas da Natureza, as quais continuariam ocultas sem a Arte‟. Sendo assim, o papel do artista é revelar as intenções subjacentes à realidade comum, transmitindo em sua ficção, „ através da aparência, a ilusão de uma realidade superior‟. (1994)7 Surge a pergunta: será que eu, como artista estou transformando minha própria expressão artística num espelho da minha vida interior? 6 Relato oral do Professor Algarotti e anotado durante a aula. Trecho retirado da orelha do livro “Arte Estética segundo Goethe” de Rudolf Steiner, Editora Antroposófica, 1994. 7 37 Quando essa experiência acontece, traz alegria e entusiasmo para continuar o trabalho artístico. Essa é a meta: não formar somente artistas, mas acima de tudo, cultivar a vontade para continuar o trabalho artístico por si só. 38 6. A Transformação da Artista Plástica em Arteterapeuta 6.1. A Relação “Paciente-Terapeuta-Paciente” No final do ano de 2001, estava inteiramente envolvida com exposições com escultura e outros trabalhos artesanais, quando fui surpreendida pelo convite de meu primeiro terapeuta, como já relatei anteriormente, sugerindo que fizéssemos uma experiência, onde eu lhe daria aulas de escultura, por recomendação de um médico antroposófico. Hoje, procuro relembrar o que senti: Temerosa? Insegura? Cheia de dúvidas, com certeza, porém entusiasmada com essa nova proposta de trabalho. Sabia do profundo conhecimento do Dr. K. tanto como médico antroposófico como psicanalista, pois havia feito terapia com ele por sete anos seguidos. Iniciei uma busca a fim de confirmar como andavam meus conhecimentos nos estudos como escultora antroposófica, relendo meus cadernos e minhas anotações autodidatas. Senti que deveria procurar mais informações e fui em busca de cursos que pudessem me acrescentar mais a respeito da Arte como curadora. Para Navarro “o pior terapeuta é o terapeuta morto, portanto, o principal e mais importante paciente de qualquer terapeuta é ele próprio” (apud BASSO; PUSTILNIK, p.19). Iniciei o curso de Especialização em Arteterapia, e uma supervisão profissional, paralelamente, sentindo-me dessa forma, mais apoiada nos atendimentos com o Dr. K., em sua clínica durante os dois anos seguintes. 39 Arte Terapia surge, no Brasil, em resposta a uma demanda cada vez maior de se relacionar expressão verbal e não verbal com os processos de transformação no desenvolvimento humano. A intenção é produzir qualidade de vida, em dinâmicas em que a Arte é reconhecida como terapêutica e condutora de novas aprendizagens. (ALLESSANDRINI; FABIETTI, 2000)8 Segundo Saadé em “Arteterapia evocamos o valor e a abrangência que a Arte tem sobre o ser Humano: pensante, formador, construtor, sensível, consciente e intuitivo” (apud ALLESSANDRINI, 1999, p.24). A importância do curso e da supervisão reside no fato de “que muitas vezes o profissional [que] não tem oportunidade de presenciar o seu próprio processo de criação” que lhe permite trabalhar seu próprio desenvolvimento, autoconhecimento “poderá sentir dificuldades em entender o processo de criação do outro” [ao passo que aquele que] “trabalha com o seu próprio desenvolvimento e com o seu autoconhecimento é estimulado à compreensão de sua experiência” [e terá] “maior segurança no arriscar-se durante as intervenções [...] arteterapêuticas em direção ao que antes pareciam apenas possibilidades”. (ALLESSANDRINI, 1999, p.24) 6.2. A Transformação Encontrava-me em 2002 num momento de turbulência, iniciando minha separação após 25 anos de casamento, sentindo-me muito vulnerável e insegura, buscando soluções externas e internas; nas minhas relações, nos meus cursos e em minha terapia. 8 Trecho retirado do folheto explicativo do Curso de Especialização em Arteterapia do Alquimy Art, São Paulo, 2000. 40 Sem saber exatamente de onde viriam as respostas, trabalhava intensamente toda essa minha transformação, que vinha se desenrolando mais profundamente há alguns anos pelos meus conteúdos vividos durante os processos artísticos em Arteterapia, onde pude associar novas formas conquistadas no barro com atitudes novas na vida, o que confirmava ainda mais a força terapêutica da arte. Sabemos muito bem lá no fundo, que há somente uma única magia, um único poder, uma única salvação, e que se chama AMOR. Pois então que se ame o próprio sofrimento. Não resistamos, não fujamos. Entreguemo-nos a ele. O que nos fere é nossa aversão, nada mais. Conflito, dor, tensão, medo, paradoxos... São transformações em processo. Uma vez que as enfrentemos, a evolução interna tem início. Os que descobrem esse fenômeno, seja por pesquisa ou de modo acidental, percebem gradualmente que a recompensa vale as aflições de uma vida não anestesiada. Na mudança de paradigma percebemos, que nossas opiniões anteriores eram apenas parte do quadro – e aquilo que sabemos hoje é apenas parte do que iremos saber amanhã. A mudança não é uma ameaça. Ela absorve, amplia, enriquece. O desconhecido é um território amigo e interessante. Cada percepção torna a estrada mais ampla, fazendo com que a próxima etapa, a próxima abertura, seja mais fácil. (FERGUSON, 1995, p. 68 e 73) Em outubro de 2001, iniciamos nosso trabalho: Dr. K. e eu. Durante um mês daria aulas de modelagem em argila em sua clínica, como experiência para ambos. Era exatamente assim que me sentia, experimentando: Experimentando a relação com uma pessoa com quem ainda tinha laços estreitos. Não sabendo quem iria atender quem? E o que daria? Aulas de Escultura ou Atelier de Arteterapia? Posso e devo dizer que foi uma das experiências mais ricas e profundas que tive, durante nossas sessões semanais que muitas vezes duravam mais que duas horas. 41 Só após dois anos pude confirmar pela minha experiência e pelo próprio Dr. K. minhas capacidades como Arteterapeuta, obtendo a confiança do Dr. K. quando ele passou a encaminhar seus pacientes para mim. Pude aprender imensamente com nossas trocas no trabalho, com ele como o ser humano especial que é, e com o nosso trabalho feito em parceria com seus pacientes. 6.3. A Prática Iniciei as aulas trabalhando no barro com aquilo que mais conhecia; - os elementos da escultura, suas formas, e o sentimento gerado durante o processo de modelagem; Volume, equilíbrio, côncavos e convexos, estrutura, movimento, contração expansão, peso e leveza, a superfície e o centro, e suas respectivas sensações. O barro é um material flexível aceita qualquer ato seu, sem crítica nem elogio, apenas aceita, você pode experimentar o que quiser. É de suma importância tratarmos já, desde o começo, o barro como um material, não só essencial para o nosso trabalho de modelagem, como um elemento “sagrado”, ousaria dizer, já que representa tudo o que existe na própria natureza visível. No barro estão os nossos ancestrais, o mundo mineral, o vegetal, o animal...Tudo se torna pó, como nos mesmos seremos um dia. Tudo esta compreendida nesta preciosa porção de argila, (dócil e humilde) que seguramos na mão disposta a nos ajudar nos mais loucos sonhos e quimeras de artista. (MONSE, 1987, p. 32) E conclui Gouveia: 42 Ao amassar e moldar, a pessoa é impelida pela enorme plasticidade do material e por sua conotação simbólica, torna consciente as imagens que existem por detrás das emoções. Formas vindas do inconsciente afloram e se manifestam concretamente, liberando a pressão que tranca o conteúdo escondido. O calor das mãos se entrega a esse convite de profundidade e modela o que capta para além das aparências, ultrapassando uma inércia psíquica. (1989, apud ZALUAR, 1997, p.13) Figura 9 – Surgem as formas metamorfoseadas e a procura por uma base que desse equilíbrio à verticalidade. Ao final desse trabalho, Dr. K. disse: “Preciso levar o coração para meus pés”. Durante o primeiro mês, explorávamos, experimentávamos; ele no barro elaborando e sentindo as transformações da metamorfose que se iniciou com a esfera de perfeitas linhas curvas, indo para o quadrado com superfícies retas estruturadas, representando o reino mineral. Passando para o reino vegetal com mais elementos, 43 desmanchando-o a seguir para entrar no reino animal, trazendo mais vida ao trabalho. Seguindo para o último desafio à figura abstrata, onde aflora a espiritualidade, a fantasia, e a criatividade. Tentava ser a mais neutra possível, sem influenciar ou direcionar sua modelagem, deixando-o mais livre. Fui percebendo, durante o processo, a tendência do Dr. K. em falar, interpretar e dar logo forma, afinal, como bom psicanalista, procurava logo compreender o que as mãos experimentavam como forma de expressão. Passei a me preocupar mais em dar elementos para que ele pudesse explorar mais os sentimentos através dos sentidos sem se fixar em coisas pré-estabelecidas ou patinar sempre no seu campo conhecido, ou seja “A Fala”. Parecia que evitava as sensações, o ficar no desconhecido, o “Nada”, evitando com isso que a própria forma mostrasse qual seria o próximo passo a ser dado. Reconheço bem essa dificuldade, pois o ser humano normalmente tem medo do novo e do sentimento que este pode acarretar, desconhecendo muitas vezes que é exatamente no desconhecido, no “Nada” em que grandes surpresas podem se apresentar. Propus um trabalho de diálogo com o barro em que o lúdico prevalecia sobre a “fala” onde eu realizava interferências em sua produção provocando um elemento surpresa, alterando o pré-estabelecido, desconsertando, assim, sua mania de perfeição. Ao final do processo, Dr. K. disse: “Preciso perder a mania do perfeito e brincar com o imperfeito, o lúdico”. Ao que eu respondi: “Não no barro”. 44 Figura 10 – Proposta de dialogar só com o barro, sem a fala, interagindo paciente e terapeuta. Segundo Steiner, Schiller, o poeta da liberdade, vê na Arte apenas um jogo do homem num nível superior e exclama com entusiasmo: „ O homem só é integralmente homem quando brinca... e só brinca quando é verdadeiramente homem‟. O impulso que subjas à arte, Schiller o denomina „ impulso lúdico‟. (1994, p.23) Por outro lado, muitas vezes, eu tinha vontade de compartilhar meus momentos difíceis que passava, e chorar desabafando minhas angustias, pois via nele ainda um terapeuta. Tinha que me conter usando todas as ferramentas que possuía. Nesse momento percebi que poderia usar meus conhecimentos internos e colocá-los em prática, podendo comprovar muitas vezes sua eficácia. Comecei a chegar quinze minutos antes das sessões, para respirar fundo, fechar os olhos e me conectar, pedindo ajuda ao meu anjo que me mostrasse o caminho certo. Hoje, relendo aquilo que escrevi durante as sessões percebo a mudança que se iniciou a partir dessa atitude: mais serenidade, mais confiança, como se eu fosse só 45 um instrumento, e se conseguisse dar o melhor de mim as coisas fluiriam naturalmente. Somos não apenas profissionais da cura, mas, acima de tudo, discípulos da Vontade Divina. Dentro da visão esotérica de Torkon Saraydarin, encontramos uma serie de responsabilidades, regras e deveres a serem cultivados por aqueles que almejam o pleno desenvolvimento de seu potencial humano, de forma que estejam alinhando-se e sincronizando-se com a “Fonte de Luz”. Quando estamos dentro deste alinhamento, estamos em contato com aquilo que somos, mais do que com aquilo que sabemos fazer como profissionais. (BASSO; PUSTILNIK, 2000, p.134 ) Aprendi a ficar atenta aos sinais para fazer as ligações com os exercícios a serem aplicados, e o que ele trazia em sua fala ou atitude, encaminhando melhor o trabalho em sua modelagem. Aprendi a aceitar quando nada de novo acontecia, ficando admirada com as sincronicidades que vinham ocorrendo cada vez mais. A partir desses indicativos, os processos de modelagem seguiam de uma forma seqüencial, ou seja, ao término de uma peça sabíamos o que ele deveria trabalhar como desafio na próxima peça. O seu entusiasmo era uma grande demonstração que ele estava no caminho certo. Ele sabia que as frustrações e dificuldades com determinadas formas lhe eram necessárias para seu desenvolvimento e ampliação de sua consciência. Enquanto ele modelava, permanecíamos às vezes em silencio, outras eu modelava alguma pequena peça também. Meus pensamentos, sua fala e as peças que criávamos tinham quase sempre ligação. Muitas vezes saia emocionada e agradecida com o que ocorria, sentia que estava aprendendo a fazer exatamente o que mais gostava: Arte como percepção de um caminho maior de cura, e os sinais como indicativos para esse caminho. Uma das experiências mais fortes que pudemos compartilhar e confirmar, na matéria, nossa sincronicidade foi quando ao brincar com um pedaço de argila entre 46 minhas mãos, vi surgir uma figura singela a qual tinha uma aparência angelical; senti-me preenchida por uma atmosfera de serenidade e amor. Qual não foi minha surpresa ao verificar que o Dr. K. havia modelado na argila uma peça representando ele mesmo, quando criança, rezando diante do seu anjo da guarda. Ficamos os dois admirados e preenchidos dessa atmosfera amorosa. Figura 11 – À esquerda o menino rezando para seu anjo. ao fundo o anjo feito espontaneamente por mim e à direita, segundo Dr. K. “o velho sábio”. 47 Ao finalizar, Dr. K. disse: “O menino ajoelhado chorando e rezando aos cinco anos, hoje é o velho sábio”. “Criança em prece, confiante e tranqüila, triste e solitária por Deus e pelos anjos acompanhada e protegida”. Atualmente, Jung ao nos dar uma contribuição especial, por meio da hipótese de sincronicidade por ele desenvolvida, torne possível incluir a causalidade no contexto de uma visão mais abrangente do universo. Segundo Jung, as experiências sincrônicas exemplificam uma dimensão da experiência humana que fica além do âmbito explicado pelo racional convencional de causa e efeito. A sincronicidade acontece, quando a condição interior psíquica da pessoa e um evento externo ocorrem simultaneamente de um modo significativo. (apud PROGOFF, 1973, p.47) 6.4. Momentos Difíceis Numa manhã, Dr. K. reconheceu em sua peça uma parte sombria, sentia-se frustrado, solicitando assim minha opinião. Concordei com sua frustração apontando ao meu ver, o lado da peça correspondente ao que ele havia reconhecido como sua dificuldade. Ao ouvir minha opinião sua irritação aumentou, vendo em minhas palavras um espelho de seus sentimentos, disse: “Eva você é apenas uma professora de escultura e não uma terapeuta!” Senti-me chocada, mas permaneci quieta. Algumas sessões posteriores, ele se aproximou dizendo que reconhecia claramente meu lado terapeuta, agradecendo-me pelo que foi dito naquela sessão. 48 Muitas vezes também ele dizia que não entendia minhas explicações quando falava, pois eu era “artista demais, e me comunicava melhor através da argila”. Continuamos nossas sessões, mas com um novo momento: mais profundo. Percebi que ele estava nitidamente se aprofundando num núcleo dolorido que envolvia vida morte – vida. São momentos em nosso percurso de vida em que sentimos que algo em nós morre – momento esse necessário para que algo novo possa nascer. Na figura abaixo podemos identificar a seqüência de um novo renascimento. Figura 12 – A partir de um ovo, feito espontaneamente com os olhos fechados, surgiu a figura de um feto (primeira à esquerda);mostrando na seqüência um nascimento: bebê recém-nascido e a seguir um bebê sentado. Surgindo posteriormente a figura do menino rezando, já mostrada anteriormente. 49 Após a realização das peças, Dr. K. ditou-me o seguinte texto: “O ovo da Fênix surgindo Entre as cinzas da morte Assumida no fogo solar. Renascimento a partir do nada. Nada que contém tudo Ovo primordial. Paz – Poder – Sabedoria Infinita beleza Morrer – Nascer – Ser”. No término do ano de 2003, final de nosso trabalho, após a seqüência de várias construções e vivências concomitantes, no barro e na vida - algumas bastante difíceis -, surgem três figuras mostrando um novo momento: mais solto, mais livre, mais espontâneo, comprovando mais uma vez a ocorrência de fatos sincronísticos. Figura 12- Os três Reis Magos. 50 Dr. K. ainda envolvido neste processo disse: “Do filho do homem os três Reis Magos irão receber as dádivas da condição do homem: pensar, sentir, querer. Eu decido, preciso e quero criar, gerar um novo homem, filho de Mim Mesmo, do meu espírito. Presenteio-o com os dons da consciência, alegria e da força”. Os trabalhos aqui expostos e comentados são significativos em termos de atuação arteterapêutica e escolhidos tendo em vista preservar e respeitar a intimidade do processo do Dr. K. Finalizo com um texto poético escrito por ele em sua vivência de renascimento: “Os dois lados Perfeito – nada, o vazio Caminho estreito da experiência De repente do nada surge algo em desenvolvimento Vir a ser Estar se tornando „A senda que leva ao sendo‟ Evolução Desenvolvimento Transformação Crescimento Inspiração, expiração, piração Experiência da surpresa diante da criação Que nasce da minha mão, Me dá a sensação de confiança, esperança, A uma salvação, „a partir da criação que nasce do meu coração‟”. 51 7. Considerações Finais O que permanece? Quais foram minhas aprendizagens? Aprendi que é preciso ter paciência, com o tempo, com o jeito e com o momento de cada ser humano. Com essas experiências, fiquei mais uma vez agradecida por ter confirmado que um aprendizado vivido é mais profundo do que um aprendizado teórico, pois este fica impregnado na alma. Avaliar os níveis de projeção que estão presentes e discriminar sentimentos muitas vezes nebulosos pode colaborar para o crescimento de ambos: terapeuta e cliente. Afinal, Em todas as áreas de nossa atuação, quaisquer que sejam as técnicas que utilizemos, devemos nos lembrar de que a cura dá-se através do vínculo. Onde há vínculo saudável, há expansão. Mas também, onde há vínculo pode haver conflito. Onde há conflito a energia encontra resistência para fazer sua livre circulação. Por isto, é tão importante que estejamos atentos à nossa responsabilidade com nosso próprio desenvolvimento. Na ânsia de cuidar do outro, não podemos e não devemos descuidar de nós mesmos. (BASSOS; PULSTILNIK, data, p. 137 e 144) A disciplina em manter um diário e tirar fotos a cada atendimento serviu-me para acumular um registro prático e verdadeiro das experiências com o Dr K. e com outros clientes. Isso possibilitou a confirmação dos acontecimentos de sincronicidade, além de perceber as diferenças entre dar aulas de escultura e atender em atelier de arteterapia, o que me foi de grande utilidade nos atendimentos. O maior reconhecimento e confirmação de minha capacidade como arteterapeuta veio quando fui solicitada pelo Dr. K. a participar de uma reunião com todos seus terapeutas e médicos, em sua residência. Isso aconteceu logo após o término de 52 nossos encontros. Mostramos as peças feitas por ele durante os dois anos que trabalhamos juntos e pude ouvir a opinião de sua psicoterapeuta, que acabou estabelecendo relações importantes entre as peças modeladas em argila e a suas sessões de psicoterapia. O que mais posso dizer? Tanta coisa já foi dita. Transformações, desafios, temores e sinais que, só hoje, posso confirmar como sendo fatos sincronísticos reais e não meras fantasias ilusórias. Não quero subestimar a mente racional ao afirmar que a nossa consciência intuitiva é a força orientadora de nossas vidas. O intelecto é um instrumento muito poderoso e é muito bem aproveitado quando o usamos para dar apoio e expressão à nossa sabedoria intuitiva, e não para reprimi-la. Podemos, assim, descobrir um sentimento de grande vivacidade e energia, abrindo portas para que novas oportunidades possam surgir. Trouxe, aqui, relatos vividos, sentidos, concretizados na tridimensionalidade escultórica. Um novo passo foi dado diante da possibilidade de efetivação de novos momentos em meu percurso como arteterapeuta que, hoje, sinto que sou. 53 8. Referências Bibliográficas ALLESSANDRINI, C. D. (ORG.) Tramas Criadoras na construção de ser si mesmo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. ANDRADE, Q. A. Linhas Teóricas em Arte-Terapia. In: A Arte Cura? Recursos artísticos em psicoterapia. CARVALHO, M. M. (Coord.). Campinas (SP): Editorial PSY II, 1995. BASSOS, T.; PUSTILNIK, A. 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