Trabalho destilação

Transcrição

Trabalho destilação
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Escola de Engenharia de Lorena – EEL
Destilação
Grupo: Bruno Zaccaria
06B041
Daniella Ferreira Chinaglia
05I006
Isabel de Oliveira
07I068
Professor: Dr. Gilberto Garcia Cortez
Disciplina: Operações Unitárias Experimental II
Data: 12 de maio de 2009
Destilação
Sumário
1. Introdução........................................................................................................................3
2. Destilação Fracionada...................................................................................................10
3. Destilação Diferencial....................................................................................................13
4. Destilação por Arraste...................................................................................................17
5. Destilação por Equilíbrio................................................................................................21
6. Conclusão .....................................................................................................................23
7. Bibliografia.....................................................................................................................24
Operações Unitárias Experimental II - 2
Destilação
1. Introdução
Destilação é um processo de separação mais amplamente usado na indústria química.
Esse assunto tem grande aplicação na sociedade atual na extração de petróleo, essências,
óleos e bebidas. A criação e aperfeiçoamento desta técnica de separação vem para otimizar
esse processo, principalmente em escala industrial.
E sendo assim a revista Química Nova na Escola na edição de número 4, na coluna
História da Química, de novembro de 2006 trouxe a doutora Maria Helena contando a origem
e desenvolvimento através da história dessa técnica de separação tão utilizada hoje:
“Destilação a arte de “extrair virtudes”
Alambiques, retortas e fornos estão sempre presentes em imagens para caracterizar
alquimistas e químicos em seus laboratórios. Isso indica que tais instrumentos, utilizados no
processo de destilação, têm papel destacado no imaginário relativo tanto à alquimia quanto à
química. Essa idéia não deixa de ter fundamento, pois a destilação há muito tempo vem
sendo utilizada tanto nas artes que envolvem o tratamento e a transformação de materiais
quanto por estudiosos que buscavam afirmar ou elaborar idéias sobre a composição da
matéria.
Hoje em dia, a destilação, processo baseado nas diferenças entre os pontos de ebulição
das substâncias, é adequadamente explicada pela idéia de que a matéria é formada por
partículas que se movimentam e interagem. O fracionamento do petróleo, a obtenção de
álcoois e a extração de essências são apenas alguns exemplos de processos em que a
destilação é empregada na indústria. Além disso, a destilação é um dos principais métodos
de purificação de substâncias utilizados em laboratório. Assim, a importância desse processo
tão bem conhecido e claramente interpretado por meio de modelos sobre as partículas que
constituem a matéria justifica sua inclusão em qualquer curso de química de nível médio.
Entretanto, nem sempre a destilação foi considerada uma operação tão trivial. Desde suas
origens e durante um longo período, a destilação estaria ligada à preparação de poderosas
‘águas’ e à obtenção da ‘pedra filosofal’, do maravilhoso ‘elixir’ que promoveria a cura de
todas as doenças dos metais e dos homens.
Seria também por meio da destilação que os iniciados extrairiam as ‘quintessências’ de
vegetais, minerais e partes de animais, obtendo-se dessa forma puríssimos e poderosos
medicamentos.
•
Possíveis origens da arte da destilação
Pode-se considerar que a destilação foi um dos desenvolvimentos promovidos pelos
alquimistas alexandrinos nas técnicas de se operar sobre a matéria. Tal consideração baseiase nos estudos realizados sobre os textos produzidos na Antigüidade que chegaram até os
dias de hoje. Conforme tais estudos, termos como ambix, lopas ou cucurbita e mesmo
desenhos de alambiques estariam presentes apenas
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Destilação
nos escritos dos alquimistas alexandrinos1. De fato, nas principais fontes dos textos
alquímicos alexandrinos que sobreviveram até nossos dias em cópias manuscritas feitas
entre os séculos XI e XV, estão algumas figuras de instrumentos que os químicos de hoje
podem facilmente associar com aparatos destilatórios.
Entretanto, apesar das semelhanças observadas entre essas figuras e os instrumentos
atualmente utilizados, o processo de destilação era realizado naquela época num contexto
muito diferente do atual. A destilação era uma operação alquímica, relacionada, portanto a
um corpo conceitual originário de hibridizações entre idéias mágicas, religiosas e filosóficas,
associadas aos conhecimentos envolvidos nas práticas artesanais egípcias.
No laboratório, o alquimista
procurava operar sobre a matéria de
modo a aperfeiçoá-la, imitando o que se
acreditava ocorrer na natureza. Admitiase que os metais seriam originados no
interior da terra e se aperfeiçoariam por
um processo análogo à gestação. Assim,
a
transmutação
que
ocorreria
naturalmente, mas num tempo muito
longo, poderia ser acelerada pelas
operações alquímicas. Dessa forma,
admitia-se que os conhecimentos
alquímicos permitiam ao adepto controlar
as forças naturais. Por isso, esses
poderosos
conhecimentos
eram
considerados divinos e sagrados,
devendo, portanto ser mantidos em
segredo. Além disso, referências a um Figura 1 - Desenhos presentes no manuscrito Parisinus
momento de revelação em que o adepto graecus 2327 (séc. XV), conforme Marcellin Berthelot em
recebia esses conhecimentos podem ser seu Collection des Anciens Alchimistes Grecs. Paris: G.
notadas
em
muitos
dos
textos Steinheil, 1887-88, p. 163.
alquímicos.
Concepções filosóficas sobre a composição e as transformações da matéria também
faziam parte dos fundamentos da alquimia. A possibilidade de transmutar um metal em outro
podia ser justificada com base na idéia aristotélica de que a matéria fosse um ‘substrato
amorfo’ impregnado de qualidades. Assim, adequando-se as qualidades do metal de partida,
seria possível obter prata ou ouro. Uma forma de se fazer isso seria através da eliminação
das qualidades do metal comum para se obter aquele ‘substrato amorfo’, aquela matéria
primordial sobre a qual seriam então impressas as qualidades da prata ou do ouro. Para
realizar as operações necessárias, o alquimista contava com um grande acervo de
conhecimentos técnicos que tiveram sua origem nas práticas artesanais egípcias, mas aos
quais somaram-se os métodos desenvolvidos pelos próprios alquimistas, nos quais utilizavam
poderosas ‘águas’ e ‘espíritos’2.
O processo de destilação provavelmente foi concebido nesse contexto. A invenção
dessa técnica e dos instrumentos nela envolvidos é atribuída à alquimista Maria Judia, que
teria vivido no início da era cristã3. Entretanto, deve-se ressaltar que o termo destilação seria
empregado só muito tempo depois para identificar exclusivamente esse processo específico.
Mesmo no início da idade moderna, o termo destilar abrangia todos os processos em que se
observava gotejamento, incluindo, portanto, fusões e mesmo filtrações4.
Operações Unitárias Experimental II - 4
Destilação
Os aparatos destilatórios atribuídos a Maria Judia seriam naquela época empregados,
por exemplo, na obtenção de ‘águas sulfurosas’. Entre as ‘águas’ — termo durante muito
tempo empregado com referência a líquidos — destacava-se uma ‘Água Divina’,
provavelmente uma solução de polissulfetos que seria empregada no processo de imprimir as
propriedades do ouro, tais como a cor amarelada, ao material em transmutação. Também na
separação de ‘espíritos’ a partir de diferentes materiais, a destilação passaria a ser vista
como processo fundamental. Nota-se que aí já pode ser percebida a origem da idéia da
possibilidade de se preparar um agente capaz de transmutar qualquer metal em ouro, que
viria a ser chamado ‘pedra filosofal’, ‘tintura’ ou ‘elixir’ e cuja busca viria a caracterizar a
alquimia em todo o seu desenvolvimento.
•
Desenvolvimentos e empregos da destilação entre os árabes
As idéias e as práticas dos alquimistas alexandrinos seriam incorporadas e
transformadas na formulação da alquimia árabe, para a qual também contribuíram idéias
orientais tomadas diretamente de suas fontes originais.
Florescendo dentro de uma civilização em expansão, a alquimia árabe não seria uma simples
continuação das elaborações alexandrinas. Isso pode ser evidenciado pela introdução da
idéia de ‘elixir’, ausente naquelas fontes.
Essa idéia teria suas origens nas concepções chinesas sobre o equilíbrio da natureza.
O elixir seria um medicamento universal, um poderoso agente capaz de equilibrar as
qualidades dos corpos, tornando-os perfeitos.
Entretanto, em textos como os atribuídos a Razes e os pertencentes ao corpus
Jabiriano encontram-se referências a “elixires” específicos que seriam utilizados em
diferentes operações.
Na busca desses ‘elixires’, muitas vezes foram obtidos novos materiais, bem como
produtos que encontraram utilizações diferentes das pretendidas, inclusive como remédios.
Nos textos árabes também são freqüentemente mencionadas certas ‘águas agudas’, as quais
podem ser hoje relacionadas especialmente a reagentes de caráter básico. Entre as
poderosas ‘águas’ também se encontravam o vinagre e sucos de frutas destilados5.
A destilação também era utilizada em manufaturas, como por exemplo, na preparação
de perfumes, arte para a qual os árabes muito contribuíram. Havia grandes centros onde
eram extraídos os aromas de rosas, violetas, jasmins e de outros materiais. Para isso, as
flores eram maceradas em água e, em seguida, esse material era destilado. Tal processo não
era utilizado na Antigüidade, predominando então o método de extração de essências pela
infusão de flores em óleos ou gorduras6.
•
A aqua vitae e outras ‘águas’ medicinais
Transmitida ao ocidente medieval através das fronteiras árabes na Península Ibérica, a
alquimia teria novos desenvolvimentos. Os primeiros textos alquímicos foram traduzidos do
árabe para o latim a partir do século XII e, já no século seguinte, estudiosos europeus
escreviam textos relativos à “Grande Arte”. Pensadores renomados como Alberto Magno e
Roger Bacon dedicaram-se ao estudo da alquimia, embora tivessem visões divergentes
quanto à possibilidade de reproduzir, por meio dela, operações próprias da natureza — uma
discussão que, no mais, já estava presente no mundo árabe7.
Operações Unitárias Experimental II - 5
Destilação
Na alquimia medieval, a destilação também teria papel destacado, estando envolvida
particularmente na obtenção de ‘águas’ medicinais, entre as quais se encontra a aqua vitae.
Tal medicamento, obtido pela destilação do vinho, e que hoje seria considerado uma
bebida alcoólica, já estava em uso quando, ao final do século XIII, se passou a exaltar suas
virtudes, especialmente nas obras atribuídas a Arnaldo de Vilanova, Johannes de Rupescissa
e Raimundo Lulio8.
Nos textos atribuí dos a Raimundo Lulio, o produto obtido por sucessivas destilações
da aqua vitae era tido como um remédio tão poderoso que poderia ser considerado como um
análogo dos céus na terra. Esse remédio era chamado quintessência, numa alusão ao quinto
elemento aristotélico constituinte dos céus. Assim, essa quintessência era também
denominada “o céu dos filósofos”. Nesse ‘céu’ poderiam ainda ser fixadas ‘estrelas’, ou s eja,
as ‘virtudes’ que se acreditava fossem extraídas dos vegetais, minerais e partes de animais
considerados curativos9. Isso era feito destilando-se o material previamente macerado em
aqua vitae. Podia-se também obter as quintessências puras dos materiais fazendo com que
fossem inicialmente ‘putrificados’, ou seja, fermentados, e em seguida destilados.
Essa idéia de que cada
material teria uma ‘virtude’
passível de ser extraída por
destilação tem fundamento numa
concepção do universo como rede
de relações. A consideração de
que, na criação do mundo, Deus
teria deixado marcas em cada
coisa encontrada sobre a terra foi
bastante difundida a partir do
Renascimento.
Dentro
dessa
visão, caberia ao estudioso da
natureza saber como conhecer
essas marcas e relacioná-las por
meio de analogias. Assim, ao se
extrair as quintessências dos
diferentes materiais, procurava-se
uma aproximação com as marcas
Figura 2 - Uma das ilustrações do livro de destilação de Hieronymus
de origem divina.
Brunschwig, Das Buch zu Distilieren die zusamen gethonen ding:
Composita genant: durch die einzigen ding, vn das buch
Thesaurus pauperum genant... Strassburg: B. Grüninger, 1532.
•
Os livros de destilação
A arte da destilação viria a ser amplamente difundida pela nova arte da imprensa. Em
tratados de mineração e metalurgia, tais como Pirotechnia (1540), escrito por Vanoccio
Biringuccio e De re metallica (1556), de Georgius Agricola, encontram-se descrições de
instrumentos e métodos para se obter as “águas de partir” utilizadas por metalurgistas e
ourives. Mas seria especialmente nos chamados ‘livros de destilação’ — nos quais, além de
se descrever instrumentos e fornos destilatórios, se discorria sobre as virtudes das plantas,
minerais e partes de animais considerados curativos — que as vantagens da arte da
destilação viriam a ser enaltecidas.
Um dos mais difundidos livros de destilação foi o Liber de arte distillandi..., Escrito por
Hieronymus Brunschwig, cirurgião de Estrasburgo, e publicado pela primeira vez em 1500.
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Destilação
Brunschwig considerava que remédios
obtidos por destilação seriam mais eficientes que
as decocções tradicionalmente empregadas. De
acordo com ele, nos medicamentos destilados
estaria a parte mais pura do material de partida, já
que a destilação seria...
‘Simplesmente separar o impuro a partir do sutil e o
sutil a partir do impuro, cada qual separadamente
do outro, com o propósito de poder tornar o
corruptível incorruptível, e de fazer o material
imaterial, e de que o espírito vivo seja feito mais
vivaz, pois, pela virtude da grande bondade e da
força que nele é mergulhada e escondida, ele deve
penetrar rapidamente, para concepção de sua
saudável operação no corpo do homem10’.
Embora o Liber de arte distillandi... Possa
ser considerado como um “manual técnico”, a
concepção sobre destilação expressa no trecho
citado está relacionada com a idéia da extração das
virtudes do material, de sua pura quintessência.
Uma outra evidência da presença de concepções
alquímicas nos livros de destilação é obtida quando
se consideram as semelhanças entre a descrição
das virtudes da aqua vitae por descrições das
propriedades do ‘elixir’ apresentadas em textos
alquímicos. Assim, por mais ‘técnicos’ que esses
livros de destilação possam parecer aos nossos
olhos, as concepções que tinham por traz de si
estavam ligadas à idéia alquimíca da extração das
virtudes dos materiais, da separação de ‘espíritos’ a
partir de materiais impuros, e das idéias sobre o
‘elixir’.
•
Algumas reminiscências
A idéia da destilação como processo que
permite extrair as ‘virtudes’ dos materiais
parentemente continua a vigorar ainda hoje,
quando se fala, por Figura 3: exemplo, em ‘extrair
essências’. Mas essa expressão pode ser
considerada apenas um vestígio, uma
Figura 3: Trecho extraído da tradução inglesa
de 1530 do Liber de arte distillandi...de
Hieronymus Brunschwig, reproduzido a partir
da edição facsimilar citada.
remota lembrança que ficou dos ‘espíritos’, ‘virtudes’ ou ‘quintessências’ que faziam parte das
concepções alquímicas/químicas elaboradas no passado. Há ainda outros termos de uso
corrente que também trazem em si reminiscências de concepções hoje bandonadas.
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Destilação
Um exemplo é a palavra inglesa whisky, derivada de usquebaugh, que significa
literalmente ‘água da vida’, ou seja, aqua vitae.
Entretanto, a destilação, enquanto processo de laboratório, não é só uma
reminiscência. De fato, essa arte, talvez tão antiga quanto à própria alquimia, sobreviveu ao
abandono daquela forma ancestral de investigação da matéria, estando ainda hoje presente
em laboratórios e indústrias químicas.
Porém, a destilação foi incorporada pela química moderna apenas enquanto técnica e
passou a ser interpretada dentro de uma outra concepção de natureza e de ciência.”
Maria Helena Roxo Beltran é doutora em comunicação e semióticana área de História da Ciência pela
Pontifícia niversidade Católica de São Paulo e pesquisadora em regime de pós-doutoramento, com
apoio da FAPESP, junto ao CESIMA/PUC - SP vinculado ao recém-criado Programa de Estudos PósGraduados em História da Ciência. E-mail: [email protected]
Notas
1
O termo ambix designava a parte superior do aparato; a parte inferior era chamada inicialmente lopas,
nome grego dado a um tipo de vasilha; entretanto o termo cucurbita que, em latim, significa abóbora viria a
ser utilizado predominantemente para designar a parte inferior do aparato destilatório; a palavra “alambique”
só tempos depois é que viria a ser usada com referência a todo o conjunto. Uma interessante abordagem
sobre esses termos é dada por F. Sherwood Taylor em seu “The evolution of the still.”, Annals of Science, vol.
5, n. 3, p. 185-202, julho de 1945.
2
Um estudo detalhado sobre a formação da alquimia alexandrina encontra-se em Da Alquimia à Química de
Ana Maria Alfonso-Goldfarb, p. 50-68, que serviu de base para o resumo aqui apresentado.
3
Supõe-se que o “banho-maria” tenha recebido tal nome por ter sido outra das criações dessa alquimista.
4
R.J. Forbes, A short history of the art of distillation. Reimpresso, 1ª ed., 1948. Leiden: E.J. Brill, 1970. p. 15.
5
Sobre a composição e os desenvolvimentos da alquimia árabe ver A.M. Alfonso-Goldfarb, op. cit., p. 77109.
6
R. J. Forbes, op. cit., p. 48-52.
7
Sobre a introdução da alquimia no medievo europeu e, especialmente sobre as idéias de Roger Bacon, ver
A.M. Alfonso-Goldfarb, op. cit., p. 113- 156
8
Sobre a receita para obtenção do que hoje chamamos álcool, tida por muitos como a primeira, veja nossa
“Pitada de História da Química”: “Álcool: uma antiga receita guardada em Mappae clavicula”
em Boletim da SBQ, ano XIV, n. 9, p. 2, set. de 1996.
9
Sobre a idéia de quintessência nos textos lulianos ver F. Sherwood Taylor, “The Idea of the Quitessence”,
em Science, Medicine and History...”, org. por E.A. Underwood. Londres/ N. York, Oxford
Univerty Press/ Geoffrey Cumberlege, 1953, vol. 1, p. 247-265, especialmente p. 254-259.
10
Hieronymus Brunschwig, Book of Distillation. Edição facsimilar da tradução inglesa de Lawrence Andrew,
Londres, [1530]; organização e introdução de Harold J. Abrahams. Nova York/ Londres: Johnson Reprint
Corporation, 1971. p. 9.
Mas entendamos que destilação é um fenômeno natural, que pode ser observada
quando gotículas de água se condensam nas vidraças de janelas em dias frios. Também a
formação das chuvas constitui, de certa maneira, um processo natural de destilação.
Destilação é um processo caracterizado por uma dupla mudança de estado físico, em
que uma substância, inicialmente no estado líquido, é aquecida até atingir a temperatura de
ebulição, transformando-se em vapor, e novamente resfriada até que toda a massa retorne
ao estado líquido. O processo tem sido utilizado desde a antiguidade para a purificação de
substâncias e fabricação de essências e óleos. No caso da chuva, a vaporização se dá não
por ebulição, mas por evaporação a baixa temperatura.
A maioria dos métodos utilizados durante o processo de purificação de misturas
homogêneas baseia-se na destilação simples, que consiste na evaporação parcial da
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Destilação
mistura líquida, a fim de separar seus componentes. As substâncias mais voláteis, isto é, com
menor ponto de ebulição, vaporizam primeiro; ao passarem por um condensador, se
liquefazem, sendo finalmente recolhidas em um tanque. Esse procedimento é válido para a
purificação de líquidos com impurezas voláteis dissolvidas e para a separação de misturas
cujos componentes apresentam pontos de ebulição bem diferenciados.
Quando os pontos de ebulição dos componentes de uma mistura são muito próximos,
a destilação simples não permite uma boa separação, sendo necessário repetir o processo
várias vezes. Esse procedimento, denominado destilação fracionada, é muito utilizado no
controle do teor alcoólico de bebidas tipo aguardente, como uísque, rum, gim e cachaça.
Além disso, constitui o processo fundamental do refino de petróleo, para obtenção de
gasolina, querosene e demais derivados.
A destilação pode, também, ser realizada a seco, ou em ausência de vapor d'água,
para a produção de alcatrão e carvão vegetal a partir da madeira ou da hulha.
A obtenção de nitrogênio e oxigênio gasosos a partir do ar atmosférico realiza-se por
meio de destilação atmosférica. Nesse processo, o ar atmosférico é resfriado
progressivamente até a formação de uma fase líquida rica em oxigênio, que se condensa a
uma temperatura superior à do nitrogênio. A seguir, essa fase é levada à ebulição, através de
um aquecimento gradual com pressão constante, sendo o vapor assim obtido
proporcionalmente mais rico em nitrogênio que a mistura inicial. Se, durante a evaporação da
fase líquida, a quantidade de vapor em contato com essa fase for aumentada, impedindo que
o equilíbrio entre as duas fases seja atingido, a temperatura de ebulição cresce
progressivamente, enquanto o líquido se torna cada vez mais pobre em nitrogênio. Repetindo
essa operação algumas vezes, é possível obter-se um resíduo constituído de oxigênio
praticamente puro.
Neste trabalho serão abordados apenas alguns tipos de destilação como:
•
•
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•
Destilação Fracionada;
Destilação Diferencial;
Destilação por Arraste;
Destilação por Equilíbrio;
e suas diversas aplicações.
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Destilação
2. Destilação Fracionada
Destilação fracionada ou Destilação fraccionada é um processo de separação de misturas
homogêneas, onde se utiliza uma coluna de fracionamento na qual é possível efetuar a
separação de diferentes componentes (com diferentes pontos de ebulição) presentes em uma
mistura.
Esse tipo de destilação serve para realizar a separação em uma mistura de produtos,
utilizando uma propriedade física que é o ponto de ebulição. Ela é um processo de
aquecimento, separação e esfriamento dos produtos e é empregada quando a diferença
entre os pontos de
ebulição dos líquidos da
mistura é menor.
No
aparelho
de
destilação
fracionada
existe uma coluna de
fracionamento que gera
várias
regiões
de
equilíbrio
líquido-vapor,
enriquecendo a fração do
componente mais volátil
da mistura na fase de
vapor.
Neste
método
de
destilação, usa-se um
balão de destilação, uma
coluna de Vigreux (coluna
de destilação, quando em
indústria),
um
condensador
e
um
receptor. A mistura a ser
purificada é colocada no
balão de destilação, que
é aquecido. O calor
Figura 4 – Esquema de destilação Fracionada
quente gerado sobe pela
coluna, mas vai se resfriando ao longo dela e acaba por condensar-se. Com a condensação,
forma-se um líquido, que escorre para baixo pela coluna, em direção à fonte de calor.
Vapores sobem continuamente pela coluna e acabam por encontrar-se com o líquido. Parte
desse líquido rouba o calor do vapor ascendente e torna a vaporizar-se. A uma certa altura
um pouco acima da condensação anterior, o vapor torna a condensar-se e escorrer para
baixo. Esta seqüência é um ciclo que ocorre repetidas vezes por todo o comprimento da
coluna.
Os vários obstáculos instalados na coluna forçam o contato entre o vapor quente
ascendente e o líquido condensado descendente. A intenção desses obstáculos é promover
várias etapas de vaporização e condensação da matéria. Isto nada mais é do que uma
simulação de sucessivas destilações flash. Quanto maior a quantidade de estágios de
vaporização-condensação e quanto maior a área de contato entre o líquido e
Operações Unitárias Experimental II - 10
Destilação
o vapor no interior da coluna, mais completa é a separação e mais purificada é a matéria
final.
A cada salto de temperatura no termômetro, devem-se recolher os destilados
correspondentes.
Esse tipo de destilação é muito comum em refinarias de petróleo.
Figura 5 – Torre de destilação
É utilizada para extrair diversos tipos de compostos, como o asfalto, gasolina, gás de
cozinha entre outros. Nestas separações são empregadas colunas de aço de grande
diâmetro, compostas de pratos ou de seções recheadas. Os internos, sejam pratos, chicanas
ou recheios, tem como função colocar as fases vapor e líquido em contato, de modo a que
ocorra a transferência de massa entre elas. Ao longo da coluna, a fase vapor vai se
enriquecendo com os compostos mais voláteis, enquanto a fase líquida se concentra com os
compostos mais pesados de maior ponto de ebulição.
• Destilação Fracionada Industrial
Destilação Fracionada a tecnologia mais comum de separação usada no refino do
petróleo, petroquímica, plantas químicas e processamento do gás natural. Novas matériasprimas estão sempre sendo alimentadas na coluna de destilação e produtos estão sempre
sendo removidos. A menos que o processo seja perturbado devido a mudanças nas matérias
primas, calor, temperatura ambiente, ou condensação, a quantidade de matéria prima a ser
adicionada e o volume de produto a ser retirado são normalmente iguais.
A destilação industrial é tipicamente realizada em grandes colunas cilíndricas verticais
conhecidas "torres de destilação ou fracionamento" ou "colunas de destilação" com o
Operações Unitárias Experimental II - 11
Destilação
diâmetro variando entre 65 cm a até 6 metros e altura variando de 6 a 60 metros ou mais.
As torres de destilação tem escoadouros de líquidos a intervalos na coluna, os quais
permitem a retirada de diferentes frações ou produtos que possuem diferentes ponto de
ebulição. Os produtos mais leves (aqueles com pontos de ebulição mais baixo) saem do topo
da coluna e os produtos mais pesados (aqueles como o ponto de ebulição mais alto) saem da
parte inferior da coluna.
Por exemplo, a destilação fracionada usada nas
refinarias de petróleo para separar o óleo cru em diferentes
substâncias
(ou
frações)
úteis
tendo
diferentes
hidrocarbonetos de diferentes pontos de ebulição. As
frações de óleo cru com maior ponto de ebulição:
•
•
•
•
•
Tem mais átomos de carbono
Tem maior peso molecular
São mais escuros
São mais viscosos
São mais difíceis de se iniciar a combustão
Torres industriais de larga escala usam o refluxo para
atingir uma separação mais completa dos produtos. O
refluxo refere à porção do liquido condensado de uma torre
de fracionamento que é retorna para parte superior da torre
como mostrado no diagrama esquemático típico de uma
torre de destilação industrial de larga escala. Em dentro da
Figura 6 - Tipicas colunas de
torre, o liquido do refluxo descendo prove um resfriamento
destilação fracionada industrial
necessário para condensar o vapor que sobe, desta forma
aumentando a eficiência da torre de destilação.
A destilação fracionada é também usada na separação do ar, produzindo oxigênio líquido,
nitrogênio líquido. E argônio de alta pureza. A destilação de clorosilano também possibilita a
produção de silício de alta pureza usada como um semicondutor.
Em usos industriais, algumas vezes um material de embalagem é usado na coluna no
lugar das bandejas, especialmente quando a bolhas de baixa pressão ao longo da coluna são
necessárias, como quando a operação se da sob o vácuo.
Figura 8 - Diagrama de uma
típica torre de destilação
industrial
Operações Unitárias Experimental II - 12
Destilação
3. Destilação Diferencial
Também conhecida como Destilação simples ou destilação em batelada. é um processo
que permite a separação de um líquido de uma substância não volátil (tal como um sólido, por
exemplo), ou de outros líquidos que possuem uma diferença no ponto de ebulição maior do
que cerca de 80o C.
Este tipo de destilação consiste em apenas uma etapa de vaporização e condensação.
Utiliza-se quatro equipamentos aqui: um alambique (balão de destilação, quando em
laboratório; refervedor, quando em indústria), um condensador, um receptor (ou balão de
recolhimento) e um termômetro. A vaporização se dá pelo
aumento rápido da temperatura ou pela redução de pressão no alambique, onde a mistura
a ser purificada está inicialmente. O vapor gerado no alambique é imediatamente resfriado no
condensador. O líquido condensado, também chamado de destilado, é armazenado por fim
no receptor.
Observa-se atentamente o termômetro durante todo o processo. A temperatura tem a
tendência de estacionar inicialmente no ponto de ebulição da substância mais volátil.
Figura 6 – Esquema de destilação diferencial
Quando a temperatura voltar a aumentar, deve-se pausar o aquecimento e recolher o
conteúdo do receptor: o líquido obtido é a tal substância mais volátil, que se separou da
mistura original. Repete-se o processo para a obtenção da segunda substância mais volátil, a
terceira, etc., até conseguir separar cada um dos componentes da mistura. Cada um dos
destilados pode ser chamado de corte, porque o processo é como se "cortasse" partes da
mistura a cada temperatura.
Operações Unitárias Experimental II - 13
Destilação
Os destilados obtidos desta forma não estão 100% puros, apenas mais concentrados
do que a mistura original. Para obter graus de pureza cada vez maiores, pode-se fazer
sucessivas destilações do destilado. Como este processo é demorado e trabalhoso, utiliza-se
em seu lugar a destilação fracionada.
Figura 7 – Equipamento de destilação diferencial em Alambiques
Figura 8 – Equipamento de destilação diferencial em industria de
bebidas destiladas
Operações Unitárias Experimental II - 14
Destilação
• Destilação do bagaço para elaboração da graspa
O termo destilação, como já citado, corresponde a separação das substâncias voláteis
presentes no bagaço, inicialmente transformadas em vapor, e depois condensadas. A
operação é conseguida através do calor, necessário para evaporar, e do frio para condensar.
O princípio da destilação de bebidas se baseia na diferença entre o ponto de ebulição da
água (100°C) e do álcool (78,4°C). A mistura água e álcool, contida na solução de bagaço da
uva, apresenta ponto de ebulição variável em função do grau alcoólico. Assim, o ponto de
ebulição de uma solução hidroalcoólica é intermediário entre aquele da água e do álcool, e
será tanto mais próximo deste último, quanto maior o grau alcoólico da solução.
De modo geral, os alambiques utilizados para a elaboração da graspa na região vitícola da
Serra Gaúcha são do tipo "Charantais", e não estão equipados de colunas retificadoras ou de
deflagmadores, que permitem obter destilados com graduação alcoólica mais elevada. São
alambiques simples, a fogo direto, que operam com bagaço submerso, e que para obtenção
da graspa requerem duas destilações.
O processo de destilação inicia com a colocação do bagaço e de um determinado volume
de água, suficiente para submergí-lo na caldeira do alambique. A proporção de água
utilizada, normalmente, é de uma parte de bagaço, para uma parte de água. Deve-se ter o
cuidado para que o bagaço não fique em contato direto com o fundo do alambique. Nesse
sentido, pode-se usar uma grade de ferro, colocada no fundo da caldeira. Na prática é
utilizado, também, colocar no fundo da caldeira, uma camada de palha de trigo ou de milho
para a mesma finalidade. A seguir, o capitel deve ser colocado sobre a caldeira e acende-se
o fogo na fornalha. A chama deve ser mais intensa no início, até quando o destilado começa
a sair no condensador. Nesse momento, a intensidade da chama deve ser reduzida e a
destilação continuar até quando o alcoômetro assinalar 10°GL. Por motivos econômicos, não
convém extrair completamente o álcool da solução. Na falta de alcoômetro, pode-se
considerar a destilação concluída quando, a partir de 100 kg de bagaço de uva, tenha sido
extraído 20 L a 25 L de destilado. Esse destilado, designado corrente, que corresponde à
totalidade do álcool extraído do bagaço, apresenta entre 15°GL e 20°GL de álcool, e deverá
ser submetido a uma segunda destilação. O tempo gasto nessa primeira destilação é variável
em função do tamanho do alambique, da intensidade da chama e do teor alcoólico do
bagaço. O produto obtido na primeira destilação deve ser armazenado em recipiente
adequado, até que se obtenha um volume suficiente para efetuar a segunda destilação.
A segunda destilação deve ser feita lentamente, controlando a intensidade do fogo e,
conseqüentemente, a vazão do destilado. Nessa fase, para garantir a qualidade da graspa,
deve-se obrigatoriamente separar as diferentes partes do destilado - cabeça, corpo ou
coração e cauda - conforme o desenrolar do processo de destilação.
A cabeça é formada pela fração do destilado que sai por primeiro com graduação alcoólica
de 75°GL a 70°GL e representa entre 2% e 4% do volume total do líquido da caldeira. É
formada, principalmente, por compostos voláteis de ponto de ebulição inferior ao álcool
etílico. São componentes característicos da cabeça o aldeído acético e o acetato de etila.
O corpo ou coração do destilado representa a fração que sai do alambique a seguir, com
graduação alcoólica de 70°GL até 40°GL. Em volume, o coração representa entre 70% e 80%
do destilado. É formado por um conjunto de componentes, cujo ponto de
Operações Unitárias Experimental II - 15
Destilação
ebulição varia entre 78,4°C e 100°C. É a porção mais importante do destilado, pois apresenta
a maior quantidade de álcool etílico e a menor proporção de componentes secundários
(impurezas, componentes não álcoois, congêneres).
A cauda é formada por compostos voláteis cujo ponto de ebulição é superior a 100°C,
recolhidos no final da destilação. Entre os componentes característicos da cauda, destacamse o furfural e o lactato de etila. A passagem dos componentes da cauda para o destilado é
rápida quando a ebulição é mais intensa, uma vez que determinados constituintes são
arrastados. O volume correspondente à porção da cauda representa entre 10% e 20% do
volume total do destilado.
Concluída a destilação, a porção referente ao corpo ou coração é separada para receber
os tratamentos adequados até ser consumida na forma de graspa. As demais partes,
referentes à cabeça e à cauda, devem ser armazenadas conjuntamente e depois redestiladas
isoladamente, ou junto com a corrente. A graspa obtida da destilação da mistura, entre as
porções de cabeça e cauda, não apresenta a mesma qualidade daquela proveniente da
destilação normal.
De modo geral, 100 kg de uva originam entre 70 L e 75 L de mosto e 25 kg a 30 kg de
resíduos da fermentação, também denominado bagaço. O mesmo é formado pela película,
semente e ráquis.
O rendimento médio do bagaço, considerando o destilado a 50°GL, é de aproximadamente
10 L para 100 kg de bagaço. No entanto, o rendimento é variável em função do tipo de
bagaço e das condições de ensilagem. Considera-se, na prática, que a partir de 100 kg de
bagaço seja possível extrair tantos litros de destilado a 50°GL, quanto tenha sido o grau
alcoólico do vinho obtido a partir daquela uva.
O destilado alcoólico obtido a partir do bagaço da uva, geralmente, apresenta graduação
compreendida entre 50°GL e 60°GL. Quando a graspa é destinada à venda direta, sem
envelhecer, deve-se reduzir o grau alcoólico para 38°GL a 40°GL, através da adição de água.
A legislação brasileira estabelece que a graspa deve ter entre 38°GL e 54°GL de álcool.
Para reduzir o grau alcoólico da graspa, pode-se utilizar a seguinte fórmula:
X = 100 x (A - B) / B
onde:
X = quantidade em litros de água a adicionar em 100 L de graspa.
A = grau alcoólico inicial da graspa.
B = grau alcoólico desejado para a graspa.
A água utilizada para reduzir o grau alcoólico deve possuir baixo teor de sais,
especialmente de cálcio, que em meio alcoólico é pouco solúvel e causa problema de
turvação e depósito. Por isso recomenda-se utilizar água destilada. Caso a redução do grau
alcoólico provoque problemas de turvação, deve-se filtrar a graspa.
Operações Unitárias Experimental II - 16
Destilação
3. Destilação por arraste
As essências ou aromas das plantas devem-se principalmente aos óleos essenciais. Os
óleos essenciais são usados, principalmente por seus aromas agradáveis, em perfumes,
incenso, temperos e como agentes flavorizantes em alimentos. Alguns óleos essenciais são
também conhecidos por sua ação antibacteriana e antifúngica. Outros são usados na
medicina, como a cânfora e o eucalipto. Além dos ésteres, os óleos essenciais são
compostos por uma mistura complexa de hidrocarbonetos, álcoois e compostos carbonílicos,
geralmente pertencentes a um grupo de produtos naturais chamados terpenos. Muitos
componentes dos óleos essenciais são substâncias de alto ponto de ebulição e podem ser
isolados através de destilação por arraste a vapor.
A destilação por arraste de vapor é uma destilação de misturas imiscíveis de compostos
orgânicos e água (vapor). Misturas imiscíveis não se comportam como soluções. Os
componentes de uma mistura imiscível "fervem" a temperaturas menores do que os pontos
de ebulição dos componentes individuais. Assim, uma mistura de compostos de alto ponto de
ebulição e água pode ser destilada à temperatura menor que 100°C, que é o ponto de
ebulição da água.
A técnica da destilação por arraste de vapor envolve duas substâncias imiscíveis: a água
e a mistura a ser destilada. De acordo com a lei de Dalton, a pressão total de vapor acima de
uma mistura de duas fases é igual à soma da pressão de vapor dois componentes puros
individuais.
A destilação em corrente de vapor (ver figura 4) oferece, ainda, a grande vantagem da
seletividade porque algumas substâncias são arrastadas com o vapor e outras não, além
daquelas que são arrastadas tão lentamente que permitem a realização de boas separações
empregando esta técnica. Utilizando o vapor de água para fazer o arraste, à pressão
atmosférica, o resultado será a separação do componente de ponto de ebulição mais alto, a
uma temperatura inferior a 100ºC.
Se dois líquidos imiscíveis forem colocados em um mesmo recipiente cada um deles
exercerá pressão de vapor independentemente do outro, de tal modo que a pressão total
sobre o sistema, será a soma de suas pressões parciais. Este conceito pode ser expresso
por:
(l) p = pl + p2
onde:
p = pressão total do sistema e pl,p2 = pressões parciais dos componentes
Se esta mistura for destilada, o ponto de ebulição será a temperatura na qual a soma
das pressões de vapor é igual à pressão atmosférica, ou seja:
(2)
pl + p2 = p = patm
Operações Unitárias Experimental II - 17
Destilação
Figura 9 - Aparelhagem utilizada para destilação por arraste
a vapor, consta de: um balão de destilação comum (no qual
se introduz um longo tubo de segurança), um tubo de
desprendimento lateral que se comunica por uma tubulação
de vidro a um balão de duas bocas e este, por sua vez, a
um refrigerante de Leibig. Além da utilização de um
Erlenmeyer, utilizado para a coleta do produto.
Esta temperatura será menor do
que o ponto de ebulição do componente
mais volátil, porque é evidente pela
equação (2), que os dois líquidos
contribuirão para atingir a pressão
atmosférica (patm) e como conseqüência,
não ocorrerá uma destilação no sentido
comum do termo, com o líquido fervendo
à sua temperatura de ebulição, mas sim
um arraste a vapor.
Quando uma mistura de líquidos
imiscíveis for destilada, o ponto de
ebulição da mistura permanecerá
constante até que um dos componentes
tenha sido quase que completamente
destilado (desde que a pressão total
independa das quantidades relativas dos
dois líquidos), o ponto de ebulição então
se elevará até a temperatura de ebulição
do líquido contido no balão de
destilação.
• Métodos de Extração de Óleos e Essências
Os egípcios foram os primeiros a destilar plantas com o intuito de extrair os seus óleos
essenciais. Desde então, os métodos de extracção de óleos essenciais diversificaram-se e
foram aperfeiçoados.
Os óleos essenciais provêem de diferentes partes das plantas: pétalas, raízes, caule,
rebentos, sementes, seiva, folhas ou casca. Dependendo do tipo de planta em questão os
óleos concentram-se num local distinto, pelo que o método de extracção ideal também varia
em função da planta.
Os óleos essenciais caracterizam-se por serem extremamente voláteis, insolúveis na água
e evaporarem muito rapidamente logo que expostos ao ar. Assim, pode tornar-se deveras
complicado extrair os óleos essenciais antes de estes evaporarem. São vários os métodos de
extracção existentes. Os industriais encontram-se bastante sofisticados, no entanto, existem
diversos métodos de extracção caseiros que lhe permitirão obter as suas próprias essências.
Operações Unitárias Experimental II - 18
Destilação
Figura 10 – Equipamento de destilação por arraste,
Destilação: é, indubitavelmente, o mais fácil e menos dispendioso processo de extração,
utilizado pelas mais prestigiadas indústrias de perfume e de extração de óleos essenciais.
Converte os óleos essenciais em vapor (veja Destilação a Vapor) e depois volta a condensálos. Com um alambique ou alquitarra poderá produzir os seus óleos essenciais preferidos,
que impregnarão a sua mente e o seu corpo de aromas e energia positiva. Para esta tarefa
pode utilizar qualquer uma das unidades de destilação que se seguem:
Expressão a frio: trata-se de um método muito utilizado para a extração de citrinos (como
o limão, a laranja, a bergamota, a tangerina, a lima). Este método de extração apresenta a
vantagem de não submeter os óleos essenciais a temperaturas elevadas, porém estes
entram em contacto com a água, pelo que se dissipam importantes componentes
hidrossolúveis.Em casa pode simular este método, bastando para tal descascar os frutos e
reservar a parte externa da casca, local onde se acumulam as essências. Posteriormente,
corte as cascas em pedaços e coloque-as num pano de linho ou algodão. Depois, sobre uma
tábua, triture-as tanto quanto possível. Por último, colha o líquido que escorre no pano para
um pequeno frasco, que deve ser hermeticamente conservado e prontamente fechado para
evitar a evaporação dos óleos essenciais.
Extração com solventes: neste método são empregues solventes para extrair óleos
essenciais, sendo particularmente utilizados em matérias orgânicas. A extração com
solventes compreende os seguintes métodos:
-Maceração: Para extrair as suas próprias essências em casa, utilizando este método,
necessita de macerar num óleo as suas flores preferidas (jasmim, rosas, madressilva) até que
este fique totalmente impregnado com o aroma das flores e de escolher um óleo veicular.
Uma forma muito simples de o fazer consiste em colocar num recipiente de cobre 1 parte de
pétalas de flores e 2 partes de um óleo (óleo de amêndoa ou girassol). Posteriormente,
aquece-se esta infusão, lentamente, durante 3 horas. No final, filtram-se as flores,
Operações Unitárias Experimental II - 19
Destilação
espremendo-as energicamente e reserva-se a solução resultante num local fresco, afastada
do sol.
-Enfleurage: método tradicionalmente utilizado para extrair óleo essencial de flores
delicadas como o jasmim e a rosa, que consiste em colocar camadas de pétalas sobre um
vidro, cobertas com um óleo morno e muito gorduroso (antigamente utilizava-se banha de
porco ou cera). Os vidros onde se encontram as rosas são, posteriormente, sobrepostos. No
final de algumas semanas as flores começam a deteriorar-se, sendo substituídas por flores
frescas. A gordura que reveste as flores e absorve as suas essências é depois submetida a
uma lavagem com álcool para que lhe sejam removidas as essências absorvidas. Porém, o
álcool evapora-se, originando, deste modo, óleos essenciais muito concentrados, conhecidos
como absolutos. Este é um método que exige muita diligência e elevados custos, mas que é
bastante utilizado pelos produtores de perfumes.
-Extração com dióxido de carbono: trata-se de um método recente, que emprega
temperaturas mais baixas relativamente às da destilação, o que o torna num método menos
agressivo para as plantas. Consiste em colocar as plantas num tanque de aço inoxidável,
posteriormente injetado com dióxido de carbono, que aumenta a pressão do tanque. Quando
submetido a altas pressões, o dióxido de carbono liquidifica-se, atuando como um solvente
que permite extrair os óleos essenciais das plantas. Seguidamente, a pressão diminui e o
dióxido de carbono volta ao estado gasoso, não deixando, assim, quaisquer vestígios.
Operações Unitárias Experimental II - 20
Destilação
4. Destilação por equilíbrio
O caso mais simples de uma separação por destilação é a destilação por Equilíbrio ou
Destilação Flash.
Destilação flash é uma técnica de separação em um único estágio, sendo considerada
uma expansão isoentálpica. Como exemplo, uma alimentação de mistura líquida é bombeada
através de um aquecedor para aumentar a temperatura e entalpia da mistura. A alimentação
então flui através de uma válvula e a pressão é reduzida, causando a vaporização parcial do
líquido.
Normalmente, a corrente de alimentação (líquido) é aquecida num permutador de calor,
passando depois por um “flash” adiabático (despressurização rápida) que dá origem a duas
correntes saturadas, uma de líquido e outra de vapor, em equilíbrio. O tanque “flash” permite
facilmente a separação e remoção das duas fases.
Figura 11 – Esquema de destilação flash
Uma vez que a mistura entra com um volume grande o suficiente no vaso de flash, o
líquido e vapor se separam. Devido ao vapor e líquido estarem em contato antes da
destilação ocorrer, os produtos líquidos e vapores formados estão aproximadamente em
equilíbrio.
A Destilação “Flash” só permite um grau de separação razoável se a diferença de
volatilidade entre os dois compostos a separar (A e B) for elevada.
A Destilação Flash (comum nas refinarias de petróleo) usa-se, normalmente, para um
primeiro tratamento da mistura, sendo as duas correntes produzidas submetidas a
tratamentos de destilação subseqüentes.
Também nos sistemas de dessalinização da água se recorre a unidades sucessivas de
Destilação Flash. A água é aquecida e bombeada para um tanque a baixa pressão onde se
vaporiza repentinamente. O vapor que se forma é condensado e retirado como água pura. O
líquido não vaporizado segue para a unidade flash seguinte (ver Figura 12).
Operações Unitárias Experimental II - 21
Destilação
Figura 12 – Esquema da unidade de dessalinização da água do mar por destilação
Separações flash simples são muito comuns na indústria, particularmente no refino de
petróleo. Mesmo quando algum outro método de separação pode ser usado, não é incomum
se utilizar um “préflash” para reduzir a carga de separação que entra em uma coluna de
destilação.
Também são utilizadas na preparação de carga para outros processos como absorção,
extração, etc.
Cálculos em flash são muito comuns, talvez alguns dos cálculos mais comuns em
Engenharia Química.
• Utilização método flash em indústria de lubrificantes
Em industrias como o grupo Lwarts
lubrificantes utiliza o método de
destilação por Equilíbrio ou destilação
flash na produção dos seus produtos.
A atividade do rerrrefino é um processo
físico-químico onde são extraídos os
compostos
degradados
do
óleo
lubrificante usado, transformando-o em
óleo mineral básico rerrefinado.
Mas porque fazer o rerrefino?
Como a poluição gerada pelo descarte de
1 t/dia de óleo usado no solo ou cursos
d'água equivale ao esgoto doméstico de
40
mil
habitantes.
A
queima
Operações Unitárias Experimental II - 22
Destilação
indiscriminada do óleo lubrificante usado, sem tratamento prévio de desmetalização, gera
emissões significativas de óxidos metálicos, além de outros gases tóxicos, como a dioxina e
óxidos de enxofre.
A destinação correta para o descarte de óleo usado está fundamentada na Resolução
nº. 362, instituída pelo CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente. Esta resolução
considera que o rerrefino do óleo lubrificante usado ou contaminado é instrumento prioritário
para a gestão ambiental. Assim, todo o óleo lubrificante usado deve, obrigatoriamente, ser
recolhido e ter destinação adequada, de forma a não afetar negativamente o ambiente, sendo
proibidos quaisquer descartes em solos, águas superficiais, sistemas de esgoto ou
lançamento de águas residuais.
As portarias da ANP – Agência Nacional de Petróleo - registradas sob os números 125,
126, 127 e 128/99 ditam normas para o gerenciamento do recolhimento, coleta e destinação
final dos óleos lubrificantes usados. Segundo estas portarias, os produtores e os
importadores de óleos lubrificantes acabados são responsáveis pela coleta e destinação final
do óleo lubrificante usado ou contaminado, proporcionalmente ao volume de óleo acabado
que comercializam, podendo, para tanto, contratar empresas credenciadas e especializadas
para a atividade de coleta.
O processo Industrial do grupo Lwart é
o seguinte: O óleo desidratado é bombeado
para os fornos pré-destiladores, onde é
aquecido até uma temperatura de 280ºC.
Após o forno, o óleo entra no sistema de
vasos de flasheamento a autovácuo (20mbar),
onde são separadas as frações leves do óleo
usado, obtendo os óleos neutros médios e
leves e óleos spindles. Estes tipos de óleos
são elementos constituintes para a formulação
de óleos lubrificantes acabados, antiespumantes. etc.
Para que possam ser utilizadas, essas frações precisam de um tratamento final que é
efetuado através das seguintes etapas: Tratamento Químico, Neutralização/Clarificação e
Filtração.
Operações Unitárias Experimental II - 23
Destilação
5. Conclusão
Este trabalho teve o intuído de elucidar um pouco mais sobre os tipos de destilação
citados.
A grande importância do processo de destilação se deve à eficácia na separação das
mais diferentes misturas. Entretanto, a operação de colunas de destilação demanda grande
quantidade de energia, o que tem motivado pesquisas no sentido de reduzir este consumo
energético.
Foi, no entanto verificado que o processo de destilação fracionada é o mais utilizado na
industria por ser um processo que ajuda na obtenção de vários produtos com serventia no
dia-a-dia. Assim como a destilação diferencial é o método mais simples de todos, e muito
realizado em escala pequena como em laboratórios.
Neste trabalho, também, o grupo notou que a destilação, apesar de suas diversas
aplicações, é um processo antigo e bem abrangente.
Operações Unitárias Experimental II - 24
Destilação
6. Bibliografia
Kister, Henry Z. (1992). Distillation Design, 1st Edition, McGraw-Hill. ISBN 0-07034909-6.
ü
Perry, Robert H. and Green, Don W. (1984). Perry's Chemical Engineers' Handbook,
6th Edition, McGraw-Hill. ISBN 0-07-049479-7.
ü
ü
http://labvirtual.eq.uc.pt
ü
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/
ü
http://pt.wikipedia.org
ü
http://www.infoescola.com
ü
http://www.qmc.ufsc.br
ü
http://www.lwarcel.com.br
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