C:\Users\Antonio Pereira\Desktop\Montagem do Mare
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Departamento Cultural do Clube Naval - Círculo Literário - Mare Nostrum - Ano XIV - Nº 60 - Junho 2013 Homenagem a Cruz e Souza, o Poeta do Simbolismo! Do imenso Mar maravilhoso, amargos, Marulhosos murmurem compungentes, Cânticos virgens de emoções latentes. Do sol nos mornos, mórbidos letargos... 1 Clube Naval Presidente VAlte Paulo Frederico Soriano Dobbin Diretor Cultural CF (Ref. - IM) Osmar Boavista da Cunha Junior Assessor do Diretor Cultural CMG (T-RM1) Adão Chagas de Rezende Departamento Cultural Tel.: 2112-2418 Tel/Fax.: (21) 2262-1873 site:www.clubenaval.org.br Av. Rio Branco, 180 - Centro - RJ [email protected] Coordenador CMG (Ref) Egberto Raymundo da Silva Filho Conselho Editorial CMG (Ref) Egberto Raymundo da Silva Filho CMG (EN-Ref) Felicissimo J. da Silva Fº CF (RM1) Gilberto Rodrigues Machado CMG (Ref.) Paulo Roberto Gotaç Sócios Fundadores CMG (Ref) Colbert Demaria Boiteux CMG (IM-Ref) Nelio Ronchini Lima CMG (RM1)Agnaldo Xavier Furtado CMG (Ref) Carlos A. de A. Pereira da Silva Ilustrações CMG (IM-Ref) Vinício Ruiz CMG (Ref.) Júlio Sérgio Vidal Pessôa (In memoriam) Jornalista Responsável Prof. Antonio de Oliveira Pereira RJ13609JP Atenção: A responsabilidade pelo conteúdo das matérias é exclusiva dos autores, que declaram, por escrito, ao final delas, a cessão de seus Direitos Autorais. As colaborações enviadas serão publicadas após aprovação do Conselho Editorial e não serão devolvidas. Nossa Capa Mare Nostrum Nº LX 2 EDITORIAL Muda mas permanece O Clube Naval acaba de empossar sua nova diretoria. Mudam as pessoas mas permanece o mesmo espírito de dedicação e vontade de evoluir. Tem-se a clara noção de que essa evolução vai na direção dos nossos sócios, de trazê-los com suas famílias para o convívio de nosso clube. É evidente que uma das formas mais eficazes e agradáveis é acolhê-los na prática das atividades culturais, as quais, atualmente, se consolidam no bom número de Grupos de Interesse que prosperam sob o apoio do nosso Departamento, como é o caso do Círculo Literário, de cuja atividade se extrai esta publicação. Aguardamos a sua presença em nossas atividades de forma altamente receptiva às suas propostas e sugestões. A casa é totalmente sua, caros sócios e familiares. Osmar Boavista da Cunha Junior CF (Ref.- IM) Diretor Cultural Sérgio Vianna Os pés do peregrino Pés umedecidos, cansados Caminham por estradas tortuosas, Ladeiras íngremes, terras longínquas. Pisaram caminhos pedregosos, Solo fértil, solo árido. Cruzaram rios. Por vezes corriam, lépidos. Em outros momentos iam lentamente, Acompanhando O meditar do peregrino, Envolto no milagre da própria existência. Pés cansados, Umedecidos, Poeirentos, Chegam ao destino. Pés descalços, feridos, crucificados. Sacrifício menor, Ínfimo, Quando, olhando o céu, O peregrino vislumbra a grandeza da CRUZ. 3 CMG (Ref) Paulo Roberto Gotaç Após uma sexta-feira árdua, fim de semana despontando, o bem sucedido Dr. Rodrigo, advogado, isolado no escritório ligeiramente escurecido, sintonizou uma FM bem baixinho, preparou um uísque e, com as pernas sobre sua imensa mesa, entregou-se a seus pensamentos. Não os discriminava, deixava todos passarem diante de sua mente. Inevitável a eclosão de recordações, algumas recentes, outras já meio desvanecidas, felizes, tristes, de todo tipo. Lembrou-se da sua turma da Faculdade de Direito, final da década de 80, século passado. Estranha a evocação de fase da vida ocorrida em outro século. Nada que contrarie a cronologia ou a aritmética. Mas uma coisa é dizer que algo ocorreu no ano passado ou até mesmo na última década. Mas no século passado, tinha um peso psicológico maior. 4 A turma, pequena, 26 formados, 18 rapazes e 8 moças. Nunca mais os vira. Só alguns contactos rápidos pelo celular, de uso corrente já em meados da década de 90. Algumas notícias esparsas, umas tristes, outras alegres. Soube até de um falecimento. Fluxo da vida. Houve uma tentativa mal sucedida de encontro para comemorar os dez anos de formatura. Não pôde comparecer. Soube que poucos foram. Ali na penumbra daquela sexta-feira decidiu tomar a iniciativa de coordenar um encontro que reunisse o maior número possível daquele grupo, de tão boas recordações. Afinal, fazia mais de 20 anos desde a formatura. De celular em punho, começou a contatar os que constavam de sua lista de contatos, pedindo-lhes, se fosse possível, que propagassem a ideia. Na semana seguinte, dedicou alguns minutos por dia arrematando o encontro. Finalmente, fechou a relação, marcando definitivamente local e hora. Conseguira a confirmação de 22 dos 26 da turma original. Um falecido, duas impossibilitadas por estarem morando no exterior e outro que não foi localizado. Optaram por uma espécie de chá às 16:00h em confeitaria sofisticada. Em cima da hora marcada, foram chegando. Muita emoção, abraços efusivos e gritinhos em meio a algumas barrigas e calvícies indisfarçáveis nos homens. Nas mulheres transparecia a luta contra as rugas, contra a permanente e inexorável ação da maldita gravidade e contra os furtivos cabelos brancos. Lindas e maduras louras pelo efeito de uma boa tintura. Afinal, todos haviam chegado além dos quarenta e muitos. Eram pessoas que há muito não se viam. Após mais ou menos uma hora de encontro já com o lanche em andamento, a euforia meio amortecida deu lugar a conversas mais rarefeitas. Tinham agora quase nada em comum. Amizade é algo que só se sustenta através de um delicado balanço envolvendo distância versus tempo sem contato. Instabilizando-se a equação, a amizade pode não desaparecer mas murcha. Terminado o chá, quando Rodrigo esperava que o "papo" corresse mais descontraído, pouco se falavam. Foi quando um deles tirou do bolso o celular. Não que tivesse tocado. Limitou-se a acompanhar algo na tela pequenininha. Lentamente, quase todos os outros foram fazendo o mesmo. Após mais ou menos duas horas de encontro, pouco se falavam, cada um com o olhar fixo no respectivo aparelho. Foi aí que Rodrigo concluiu que o tempo havia desfigurado irreversivelmente o grupo, como que aleijando-o. - "Ainda bem", pensou Rodrigo, "que a tecnologia veio em socorro, fornecendo as muletas, sob a forma de celulares". CF (RM1) Gilberto Machado Pelas diáfanas manhãs azuis Transitam pensamentos de paixão Pela mulher amada, A poesia amada ... Ao ritmo suave de uma canção, Alheios ao burburinho dos passantes, imperceptíveis, Fazem o seu caminho pela estrada sem fim... Nada os faz mudar de direção E, assim, seguem impassíveis, Ele e a vívida presença dela, Pelas artes do pensamento... Porque das flores, na benfazeja visão, É que se fez sentir a música Que, delicadamente, tocou-lhe a sensibilidade... Música de sublime melodia, De perfeita harmonia! O poeta ficou feliz porque a captou... A música de fundo era ela, a sua Musa, Na trilha sonora pelo amor composta! É que a amada, no mistério da invisibilidade, Ao pensar no seu amado a ele se unia E, sendo etérea a inspiração, De tal modo com a música se confundia... Não saberia o poeta dizer se era o som, Se a brisa agradável que ali soprava, Ou se a fluida presença dela Que do seu pensamento foi transfiguração... 5 Alte Oscar Moreira da Silva Na esteira da vida Deixamos os amores Em viagens perdidas Junto aos dissabores. No porto do destino Encontramos novo amor E o mesmo desatino Quando partimos em dor. Esteira da saudade De tristezas sem fim, Espumas de maldade Que se atritam em mim. No porto tudo é festa E muita novidade, Novo amor e seresta, Pouco importa a idade. Data do nascimento da poetisa Zuleide de Caldas Barbosa, avó paterna da autora. Patrícia Moraes Ribeiro dos Santos1 Hoje, o Céu deve estar em festa.... seria o aniversário de uma mulher que admirei por toda a minha existência. Minha avó querida, exemplo de mulher que batalhou pela sua independência, construiu, sustentou, amou, sofreu e guardou em seu coração coisas que somente uma mulher de verdade pode entender. Amo gente assim. Quando lembro de minha avó, recordo de um buquê de rosas vermelhas, que nunca faltava em seu aniversário. Coloquei um ... numa jarrinha simples de cristal, em sua intenção, quando vim morar aqui, na casa dela. Ela era 1 A autora é filha do CMG (RM1-FN) Ubiratan B. R. dos Santos. 6 cheirosa, atraente, perfumada e encantadora. Em sua homenagem.... querida avó Zuleide..... não só hoje... como em cada dia de minha vida.... ofereço-me ser igualzinha a você..... trabalho incansavelmente..... não tenho vergonha de amar.... de sofrer...... e dedico toda a minha felicidade ao amor e à admiração que tivemos uma pela outra aqui na Terra. Devoto também a você.... o início de um grande projeto que tenho em minha vida.... espero poder concluílo com sucesso e mostrar ao mundo a realização de um grande sonho. Solidão empobrece o espírito do ser. Ela traz amargor que intrinca qualquer carma, Mas traz tempo demais para o íntimo se ver E ler que solidão é a mente que arma. CMG (EN-Ref.) Felicíssimo J. da Silva Fº Às vezes, eu mais forte, o choro evitar tento E evito se, nesta hora, acender-me fulgente Chama, interior, da alma, espoucando rebento De esperança num sol, num riso permanente. Então eu me transformo e, apurando a destreza, Arranco por um tempo urtigas do caminho, Aliviando a dor e empurrando a tristeza. Nestas gotas de luz eu seguirei sozinho Até que a amada volte, emitindo beleza, Povoando meu céu, meu ser e este meu ninho. Rio de Janeiro, 09/08/2011 7 * José Mesquita Nogueira Ayres Cristina é uma cidade localizada no sul do estado de Minas Gerais. *Texto publicado em 10/4/1960 De vez em quando, papai assumia uns ares de Manuel Bandeira em revolta e assegurava: "Eu vou-me embora para Crístina!" Cristina é a Pasárgada do pessoal lá de casa. Creio que todas as famílias têm (ou se não têm deveriam ter) um lugar assim: como a Pasárgada do poeta, onde a gente pode dormir com a mulher que gosta na cama que escolher, ou andar de bicicleta, ou tomar sorvete com creme de chantilly... Bem, o que fazer em tal lugar já é questão de gosto e cada um terá o seu. Mas que todos deveriam ter sua Pasárgada, isto deveriam!... A nossa passa de pai para filho e agora, quando há revolução em Niterói, greve de lotação, aumento de leite ou qualquer coisa assim, quem afirma sou 8 eu; "Vou-me embora pra Pasárgada", ou ... quero dizer, pra Cristina, que é a mesma coisa. Em Cristina há garotas bonitas e ternas; há leite sem água, não há chofer de lotações (nem os respectivos), não há filas bobas em cinemas e, sobretudo, um rio escorre livre pela montanha, o pé da gente pisa o vermelho do barro, não é preciso engraxar sapatos e a noite é convidativamente fria... Vou-me embora pra Cristina e, tal como lá em casa no meu tempo de criança, ninguém vai dormir na véspera; vamos ficar todos arrumando malas, fazendo embrulhos, preparando “matulas”, com grossas fatias de carne assada e também, como antigamente, a correia da mala há de rebentar, nós iremos esquecer de guardar alguma coisa e alguém (que tenha o peso de minha mãe) há de colocar a "inteligência" em beneficio da comunidade, sentando-se estrategicamente sobre a tampa da mala, enquanto o resto do pessoal tenta imobilizar as valises grávidas de roupas e encomendas. Como nos velhos tempos, sairemos de casa noite alta, em estranha procissão noturna, depois de colocar trancas e panelas atrás das portas e entregar o cachorro para o vizinho; com embrulhos, malas e alegria, acompanhando as estrelas do céu. Tal como nos velhos tempos, alguém ficará em dúvida se a porta da entrada ficou trancada e eu, imitando meu pai, dissertarei sobre o céu diferente de Cristina, sobre o tempo que leva o trem para atravessar o túnel de "Coronel Fulgêncio" e qual a altitude da terra onde tudo é bom. Eu vou-me embora pra Cristina! Também chegarei às quatro horas da manhã à estação (mineiro não perde trem) e aguardarei o rápido que sai às oito horas. Novamente verei chegar os primeiros viajantes (os mais precavidos) às seis horas da manhã e lhes perdoarei a "displicência" com o horário. Eu vou-me embora pra Cristina! E quando o trem passar por Cascadura, já estarei desembrulhando a "matula", já sonharemos com os requeijões de Vassouras, já teremos feito amizade com o fazendeiro que se destina a Passa Quatro e, com certeza, algum filho meu já estará com os olhos arregalados, vendo os dormentes e pedras do leito da estrada passarem céleres sob seu improvisado assento branco frio e sacolejante ... Eu vou-me embora pra Cristina, e chegaremos a tempo de ver o frio começar a envolver as serras e a lua abrir um sorriso branco no meio da cara preta da noite. Um cumprimento me esperará, amável, na estação: "Você não mudou nada!" E eu me sentirei mais moço e ensinarei às crianças onde fica o rio ... Eu vou-me embora para Cristina, e verei a mesma cesta de ovos guardada com carinho por Siá Davina, o mesmo saco de milho no canto da sala grande e ouvirei o mesmo mugido triste no matadouro em frente. Eu vou-me embora pra Cristina! Somente, já não terei mais os olhos de criança para olhar as coisas e não terei mais a capacidade infantil e gostosa como saia de garota bonita levantada pelo vento, de esquecer o que ficou na cidade grande e serei obrigado a forçar meus filhos, que me olharão sem compreender, a deixar nossa Pasárgada... Mas um dia, eu juro, vou-me embora pra "Pasárgada", e pra ficar! Talvez quando morrer ... CMG Lucimar Luciano Em algum lugar deste mundo, procuro um refugio onde ficar e, contrito, imergir no mistério das horas, ao compasso dos sinos, ao pôr do sol. Lá, onde sejamos puros e felizes, pés descalços percorrendo a margem límpida do mar, pássaros marinhos mergulhantes de abismos, na vertigem súbita de encontros e descobertas. Lá, onde sejamos afinal apenas o que somos, definitivamente humanos, todos nós, indissoluvelmente solidários. 9 Aurea Stela Será que o Hubble, o Discovery, dentre outros satélites, ônibus, sondas, naves e afins, enviados ao espaço, não poderiam ser uma versão muito, muito evoluída de Santa Maria, Pinta e Nina? Será possível traçar um paralelo entre o período das grandes descobertas astronômicas dos séculos XX e XXI e as conquistas realizadas com as grandes navegações dos séculos XV e XVI, quando "da ocidental praia Lusitana" já se lançavam ao mar os portugueses para explorar novas terras e caminhos? Em relação às inumeráveis galáxias descobertas a cada dia, poderia a Terra, antes considerada centro do Universo, ser comparada ao velho mundo europeu, de onde partiam exploradores e onde nem se imaginava existirem outras terras habitadas no planeta? Sem falar em tempos mais recuados ainda em que se discutia seu formato ou se ele se movia. Cabeças rolaram! Com a descoberta do novo mundo, muitos dos europeus que passaram a aqui viver esperavam três, quatro, às vezes, seis meses para receber uma missiva d'além mar. Hoje é possível apertar um botão e falar com astronautas que navegam pelo espaço sem fim. Com tanta evolução será que o Hubble, o Discovery e congêneres seriam as caravelas espaciais do nosso século a 10 descobrirem muitos outros novos mundos? Os anos, as décadas vão fazendo o seu trabalho lento, mas nada sonolento. À medida que passa o tempo, seus rumores alardeiam até os menos crentes. De conquistadores de mares e terras nem tão, tão distantes assim, tornamo-nos conquistadores do espaço cheio de enigmáticas esferas brilhantes que rodopiam sobre nossas cabeças, viajando bem para lá de onde a imaginação pode chegar. Mas a pergunta para a qual busco incessantemente resposta é: onde nos encaixamos entre mares e estrelas no correr dos séculos e de exorbitantes órbitas indescritíveis descritas por sóis descomunais frente aos quais a Terra desaparece feito poeirinha invisível no ar? Em meio a tantas descobertas, diante de toda esta turbulenta travessia, vou daqui, muitas vezes a duras penas, na minha pequenez, tentando conquistar o meu espaço. O interessante é que no meu espaço coabitam caravelas, espaçonaves, terras, mares e estrelas ofuscantes, mas, apesar disso, constato que as conquistas íntimas ainda são muito mais difíceis. Eu navego mares de um século em que sedutoras revoluções tecnológicas conduzem a infinitas distâncias cada vez mais reduzidas, embora, em termos interpessoais, elas pareçam estar infinitamente mais alargadas. A lua, que já foi deusa inatingível, fica logo ali na esquina, o meu vizinho de porta, nem sei quem é e muitos de nossos filhos moram num planeta que é só deles, a portas fechadas, não raro, de dificílimo acesso. Navego por mares nunca dantes navegados na "infomaré", explorando e fazendo incríveis descobertas. Mas, apesar disso, ainda não consegui conquistar a minha esfera e nela incluindo a que fica bem sobre o meu pescoço, o meu planeta íntimo, os meus desejos, anseios, ambições e pensamentos. Será que, para tanto, precisarei mandar construir naves e navios e contratar cientistas, astrônomos e exploradores? Os últimos não precisam ser contratados, aparecem voluntariamente. É preciso ter cuidado! Penso que o trabalho individual é muito mais dificil! Isso acontece porque é preciso seguir a lei inteligente que revela a universalidade do indivíduo, mas essa é uma árdua conquista da humanidade. Por enquanto orbitamos em volta do próprio umbigo. Apesar das conquistas realizadas desde as grandes navegações até as incessantes descobertas do espaço sideral, ainda encontramos dificuldades em conquistar a galáxia familiar e as cabeças que, como a minha, por ela orbitam. Existe uma correlação poderosa entre o que foi e o que virá a ser mas, como individuos, em meio a tudo isso, muitos de nós ainda somos náufragos, buscando uma tábua de salvação porque ainda não conseguimos entender e muito menos conquistar o que somos em essência. Antes navegando horizontalmente mares desconhecidos, hoje lançandonos verticalmente ao espaço infinito, ainda nos encontramos acuados naquele cantinho que marca o encontro exato entre a Terra e o Céu, sem saber exatamente onde nos situamos. Eu também procuro sair da órbita do próprio umbigo e fazer alguma coisa não só pelo meu planeta íntimo, mas também, ainda que timidamente, pelo meu planeta morada. Enquanto naves, sondas e foguetes rasgam os céus, para lá e para cá, em busca de não se sabe ao certo o quê. Em terras nem tão, tão distantes assim, seres esquálidos, com a cabeça que parece um planeta gigante, olhos encovados, esqueleto à mostra, verdadeiros ETs, nem suspeitam ter o Homem chegado à lua. Talvez estes seres ainda nutram (e é até engraçado usar o verbo nutrir neste caso) alguma esperança de serem encontrados por alguma caravela, possivelmente Santa Maria, Pinta ou Nina, ainda tão, tão distante, que nem se consegue vislumbrar no horizonte. As grandes conquistas tecnológicas entre a Terra e o Céu me parecem de suma importância, mas completamente contraditórias diante das misérias do mundo. Em face de tanta evolução e progresso que remontam o fogo, a roda, a pólvora, a bússola, até a conquista do espaço, é dificil encontrar alguma tecnologia ou grande descoberta que explique o porquê da grande fúria do mundo. Ferreira Barbosa Ninguém me ouve Não me escuta Não liga para meus anseios Ninguém... Por que este vazio? Por que estou tão sózinho? Vozes do silêncio... Caladas, omissas, covardes! Vejam-me, por favor, desencantem! Tragam-me um alento de amor Ou o alguém não existe? Já foi dito: «Amai-vos uns aos outros» E eu... ? 11 CC (CD-R1) Paulo Afonso de Paiva O que me chamou a atenção logo que a vi no palco, fazendo par a um dançarino de flamengo, foram os olhos negros e os lábios convidativos. A tez morena mostrava a herança que os árabes legaram a muitas espanholas e os cabelos castanhos - chegando quase a cintura - eram lisos e brilhantes. Quando o show terminou fui até seu camarim. Me recebeu com simplicidade, rindo muito do meu espanhol. Perguntei se aceitava tomar um copo de vinho em minha mesa. Demorou um pouco para dizer que sim. Conversamos muito e quando disse que teria que ir embora perguntei se podia acompanhá-Ia. Concordou. Ao chegarmos em sua casa nos despedimos, marcando encontro para o dia seguinte. Meu navio deveria ficar dois dias na cidade, mas graças a uma peça do hélice que precisava de um reparo, ficamos por uma semana. Foram dias esfuziantes e noites esplendidas. Me chamava de mio morenito guapo e cravava as unhas nas minhas costas na hora do amor. Esqueci de dizer que eu era moço e inconseqüente como todos os jovens. Por isso me senti vaidoso quando ela chorou no cais, na partida do navio. Recebi algumas cartas dela, que foram rareando, até que pararam de vez. Nunca mais a vi. De tudo isso só há alguns senões: nunca conheci uma moura, nem estive em Valladolid, que aliás, nem mar tem. Rafael Leoni Meus encantos Seus encantos Nossos encantos Afinal, o que são encantos? Beleza Esperteza Pureza São encantos? 12 Pudera eu dizer o que eles são Mas não posso Por sempre viver a razão Razão esta que me alucina Me corrói Me fulmina Me impede de sentir As emoções E os encantos CF (FN-RRM) Sylvio Ferreira da Silva O sol ainda tarda pra nascer. Lá vão eles em grupos rumo ao mar. Esperam um cardume aparecer, Nas suas velhas redes de pescar. Em pequenas equipes vão chegando, Nos barcos de madeira na areia. No céu as mesmas garças vão voando, É hora de encarar a maré cheia... Enfim, partem alegres confiantes Mar adentro aos gritos triunfantes, Sonhando com as tainhas que virão. Na volta os semblantes já são outros. Nos cestos de coleta são bem poucos, Os peixes pra servir com o pirão. 13 Angela Guerra Vento forte, tu assobias, sem parar e com vigor... Tu balanças esquadrias; trazes medo, dás pavor... Na penumbra do crepúsculo, teu beijo... Fiquei sem ar!... Não quis mover nem um músculo, com medo de te assustar... Ternura que desabrocha, como uma rosa em botão, aquece como uma tocha corpo, alma e coração... Chorinho, ritmo gostoso, brasileiro na raiz, tocado sempre com gozo; quem ouve só pede bis!... Ser" gay" nem era aceitável; agora ficou bonito... No futuro, seja amável, trate-os bem ou estás frito!!! És o sol da minha vida; Minha fonte de prazer; te guardo, minha querida, no âmago do meu ser... Menino de alma risonha, que recebi, tão feliz, do bico de uma cegonha", Chegaste... - tudo que eu quis!... Destino brinca com a gente; viramos gato e sapato; sofremos dente por dente... - um impiedoso nato... 14 2T (AA) Alexandre Evangelista de Souza Branco impecável, ginásio da Base, Marinheiros sonhadores a esperar. As horas passam e alguns perguntam: Em que navio irei navegar? Já para outros, ainda não é hora, Demandam a Ponte, rumo ao Arsenal. Nesse estaleiro, alguém orienta: Peguem o túnel, sigam até o final. Todos cansados, e o mais antigo: Sentido! À Bandeira, faz-se o cerimonial. A noite chega e um cinza anuncia: Parabéns, boy! É a Fragata "Liberal". Caminhada longa, o terceiro da linha, Em um tal de "Cais Norte", é chegado o local. Uma prancha, mais uma. Um devaneio? Um suspiro. Enfim, a tão sonhada "Liberal". Lona azul ao ombro, Ao longo do cais, a romaria começa. Pouco a pouco, cada um no seu barco. A turma diminui, dispersa. 15 CMG (RM1) Luiz Ramos Silva Prático a bordo, rebocadores a postos Do cais o navio se aproxima lentamente Logo deparo-me com uma multidão de gente Com a avidez estampada em seus rostos Quarto-d'alva, a proa no clarão da cidade A toda força o navio as distâncias devora E o que é lusco-fusco vira aos poucos claridade Poucas luzes resistem acesas até agora Difícil mesmo é conter a ansiedade De ver chegada a tão esperada hora Vislumbro ao longe uma senhora com um bebê ao colo Protegida do sol por uma sombrinha Heroína, curtiu a gravidez sozinha Apresso-me então para pisar o solo Percebo que ganhei o maior presente da vida Abraço as duas com emoção incontida E a Deus me volto, palavras não meço Foi Ele quem guiou-me a comissão inteira Agradeço-lhe por um feliz regresso E por ter-me dado um'alma marinheira CT(IM-RNR) Rubem Alves de Sá Freire Por conselho médico, já há mais de vinte anos, adquiri o hábito de jogar tenis três manhãs por semana, então, por causa disso, tenho que arranjar parceiros, para jogar no Clube Naval, ou jogar contra um paredão, no clube ou, praticar o "training", que consiste, numa bola de tenis, amarrada por um elástico de uns três metros, a um peso, que coloco no centro de uma pequena área, próxima à minha residência, que existe para a garotada mais tarde, praticar patinação (Lagoa, à direita da saída do Túnel Rebouças) e, lá fico uns 30 a 40 minutos, batendo bola, e ela, vai e volta, como se fosse um jogo com um parceiro invisível. Numa manhã dessas, eu já estava batendo bola há uns vinte minutos, quando percebi movimentos muito próximos, logo atrás de mim, parei de rebater, e, então, a bola quicou rolando preguiçosamente, mostrando então aquele elástico preto. Olhei para trás e vi, aquele mendigo magro e alto, acabando de arriar uma caixa que trazia na cabeça, olhando admirado para a bola, que pulava para lá e para cá .. , e que, agora, estava ali, parada. O mendigo me olhou com olhos arregalados, e exclamou: - "Ah! ah! a danada tá amarrada né?" Faltava um par de óculos ao mendigo. 16 Roberto Continentino Ribeiro VI TEUS LÁBIOS CASTOS, EMBORA QUE PREMENTES QUASE INDIGENTES, DAQUELE BEIJO DESEJADO PELA VEZ PRIMEIRA, EU, APENAS TOLO ADOLESCENTE ACHEI-ME PRESO E FREMENTE, ANTE AS TEIAS DO PECADO FOI ONDA SEMPRE BENVINDA, NO MAR DE NOSSAS VIDAS UM NO CORAÇÃO DO OUTRO NA PROTEÇÃO E GUARIDA DIANTE DAS TORMENTAS, QUE VIMOS E ENFRENTAMOS VIAGEM NÃO ATERRADA, ONDE JUNTOS INDA ESTAMOS Beto Cunha NÃO ME IMPORTA MAIS SE UM DIA VOU MORRER SE EM TE CONHECER, SENTI A BELEZA DE VIVER. OS FILHOS PREENCHERAM TODOS OS ESPAÇOS. CORRER BRINCANDO COM ELES NUNCA ME DEU CANSAÇO POIS SABIA QUE UM DIA IRIA PARAR, E ATRAVÉS DE MEUS OLHOS SEGUIR TODOS OS TEUS PASSOS. NÃO ME IMPORTA SE ESTOU VELHO POIS MINHA VIDA É UM BELO ESPETÁCULO MEUS PÉS DANÇARAM TANTOS BOLEROS MEU CORAÇÃO PALPITOU DE EMOÇÕES E MEUS OUVIDOS TROUXERAM-ME AS MAIS LINDAS CANÇÕES. MINHAS MÃOS ENRUGADAS DERAM TANTOS ACENOS E TANTOS AFAGOS MEU SORRISO AINDA TRANSMITE A ALEGRIA DE UM RAPAZ APAIXONADO. E EM MEUS BRAÇOS AINDA CABE O TEU CORPO JÁ CANSADO O TEU BEIJO ACANHADO OS TEUS OLHOS MAREJADOS E A SAUDADE QUE SINTO DO PASSADO QUE PRA MIM ESTÁ LOGO ALI DO OUTRO LADO AO CONSULTAR A LEMBRANÇA VIVO TODO ESTE ENCANTO QUE É SER TEU CÚMPLICE DE FATO E TER A CERTEZA QUE SEMPRE ESTAREI MELGULHADO NA TUA VIDA NO TEU SER TÃO POR MIM AMADO 17 CMG(RM1-Med) Djalma Mendonça Naquele canto de luz Dentro daquele jardim Existe um berço vazio Onde o encanto se dá Foi onde nasceu a menina Também cresceu a bonina Onde namora o castor E também brota a flor A noite, a estrela ilumina De dia, o sol lhes faz aquecer Criando laços profundos Desde o alvorecer E assim renovando o ciclo Com seus laços de amor Cria encantos profundos Nesse berço encantador Onde nasceu a menina Cresceu também a bonina Namorou o castor E floresceu uma flor 18 Abilio Kac Amizade? Quem por ela não chora Movida pela força da emoção, Tendo apreço, sentindo a qualquer hora, Que na vida ganhou mais um irmão. É sentimento puro que se adora Já que não tendo lei, possui razão, Que se entranha no nosso peito e mora, Ouvindo sempre a voz do coração. Amizade é feliz afinidade, Uma forte junção, duplicidade, São passos que caminham mais além... Amizade é conquista de um amigo, É como transformar os grãos de trigo Em nutritivos pães que nos mantém! Geraldo Bibas André Pullig Privou-me a vida Ver o mundo Sentir a fundo O brilho dos olhos teus Não privou-me a emoção Pois na minha pouca razão Posso sentir-te.encantada Doce flor do alvorecer Linda como o amanhecer! E com a pureza de um menino Posso ver-te querida, vindo Tu me chamas e não sei de onde vem tua voz. Tu me chamas entre Norte e Sul. Tu me chamas para aonde, para quê? Tocar meu pobre coração Cel Aluízio da Cunha Garcia Que inspiração devo ter Se a vida é de lembranças Em que canto vou rever Passado de bonanças. Melhor jogar olhar ao céu Que sentir perdidos tempos Retirar dos olhos o véu E ver luzes que contemplo Sentir tutela do coração E ter paz que comove Procurar n'alma o perdão É abençoar fé que me envolve Sou voz que a Deus pede Caminho belo do bem humilde Sou alma que recebe Bênçãos tantas de amor sublime. Não vejo-te por fora Contemplo-te agora Como o som da mais bela canção Que toca minh'alma Que tanto me acalma Tu me chamas e não sei te escutar. Tu me chamas acredito para seguir outros caminhos. Tu me chamas, me responde: és a Morte? Que me faz assim... Desejar-te mais lnda não sei de que jeito Esse amor que trago no peito Pode ser mais que um amor ambíguo, Mais que um amor amigo; Pode ser um amor-perfeito. 19 CMG Agnaldo Xavier Furtado Dos oceanos, de Santos / Rio, em Resgate de Alto-Mar! Salve! Salve! Joca Franscico, Fênix-X com Solimar! Neusa em mar de ventos, Carlos Alberto no oceano, oh! Faina de resgate com Welber e José Manoel, Marzão! Um comandante do Petroleiro outro Mestre do Pesqueiro. "A Oeste", Santos Lucena, ao Sul, Francisco Severino! Nós, outros, somos do Rio de Janeiro! Dezoito, data de Alexandre, Manoel, Roberto, Moraes! Todos eles juntos no mês de fevereiro! Noruegueses, com Agnaldo no mar, e Oscar com os Vikings da Noruega, se dispõe a salvar, com um excelente lancheiro! Bons homens são navegadores, americanos como o Sobrinho? Todos eles juntos, são desbravadores! Siem Rubi, a boreste, Moisés Almir, a bombordo! Mais ajuda de Bourbon Liberty! Olhos de Neusa nos óleos do resgate, nossa vista! Avisto "ÓLIDO", Valdeci! Vinte um tripulantes, vidas Epaminondas! Maré avante! Vinte e quatro graus, latitude, de Ribamar! Maré do navegante! Alagamento com Leandro, avaria grave proa e popa! “Amarrante!” 20 Viva homem do mar, doar, sem desgraça? Nobre errante! Boia quatro, Campos e Felipe estão na bacia! Navio do Dantas, vejo meu lar! Asssim junto estória do Luiz Fernando, Com tristeza do Geraldo sem errar! Desta mistura de nomes e pessoas ninguém vai entender! Mais o "MAN" que lá no Mar estava vai compreender! No repentismo, nuvem vira poeira pra voar e no fim olhar! Corre Comandante, e na popa, ordens sempre dá! Todo o Mundo, "se vira", pra poder ver navio não afundar! Sete e trinta começou a história. Vieira, Serejo, não deixaram parar! Momentos do tira água, que não para de entrar! Não chove, não molha, todos juntos! Com Wilhian, Eduardo fazem tentar! Pro Fênix que chamam de «X» com Tarede e De Paula tentam tanta água retirar! Nas Profundezas! No mangote com Oziane e Marivaldo, olhando o óleo de Neuza, Nascimento na Maré Avante; é sempre olhar do Navegante. 21 CAlte (RMI-FN) Jorge Mendes Bentinho Conheci o Paulo Roberto Marcos Quintão em 1960, quando, aos oito anos, entrei para 1ª série primária do Instituto ABEL2 em Niterói. Ele estava um ano à minha frente, portanto, nunca estudamos na mesma turma de aula, mas nos encontrávamos sempre naqueles pátios e corredores. Apesar do contato ser um tanto quanto à distância, sempre tivemos um pelo outro uma simpatia absolutamente sincera. E assim fomos progredindo, primário, admissão e ginásio, eu na esteira dele. Ao final do ginásio, em dezembro de 1968, com as minhas possibilidades de bolsista esgotadas, optei por abraçar a carreira militar, ingressando no Colégio Naval (CN) em 1969, enquanto o Quintão prosseguia os estudos do Curso Científico no ABEL. Depois do curso no CN, a turma foi para a Escola Naval (EN) em 1971 e, para nossa surpresa e felicidade, o Quintão havia sido aprovado no concurso para a EN. Assim, cursamos juntos o primeiro ano, o que fez estreitar os nossos laços de amizade. Durante aquele ano, vez em quando ele era meu pombo correio, a levar uma mensagem para a minha futura esposa Alcina, que trabalhava na Loja Central, do tio dele, Ênio Quintão. Adveio a desventura de tropeçar em uma disciplina mais dificil e ser reprovado no final do ano. O grupo de Niterói e mais alguns amigos fomos em socorro do Quintão. Insistimos para que repetisse o primeiro ano e continuasse o curso, nós o ajudaríamos, não queríamos perdê-lo. Mas ele desistiu, para nossa tristeza. Certamente não quis nos dar uma faina extra. Perdemos o contato, o tempo passou, ele cursou História (era um humanista de quatro costados...) e foi exitoso no concurso para o Quadro Complementar do Corpo de Fuzileiros Navais, passando a integrar o QC-FN. Que bom tê-lo de volta às nossas fileiras em 1977... O fato de ter pertencido à nossa turma facilitou a sua inserção na Marinha, mas não fosse por isso, assim mesmo ele teria vencido, porque sempre teve luz própria. Oficial dedicado, comprometido com a instituição, altamente ilustrado, por onde passou a todos conquistou, com seu jeito simples e educado: Afável e sorridente, era de uma alegria radiante. Soube aliar proficiência e gentileza. Dentre os inúmeros trabalhos que desenvolveu, o mais notável foi organizar o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais, a partir de março de 1990. Reformulou a metodologia empregada na historiografia da corporação, definiu uma nova roupagem para a exposição do acervo, buscou ampliar a captação de recursos destinados ao Museu e conseguiu sua inclusão no calendário cultural da cidade do Rio de Janeiro, mediante a criação do Salão de Artes Plásticas do CFN. Popularizou a imagem do Museu, por meio do Projeto Museu Itinerante, e publicou inúmeros artigos que descortinaram a história do Corpo de Fuzileiros Navais. Em sua sala, recebia a todos com a mesma atenção e, entre um copo d'água e uma xícara de cappuccino, falava sobre a História como se dela houvesse participado, tamanho o conhecimento e o entusiasmo pela ciência de Heródoto. Exerceu a função de Encarregado do Museu até fevereiro de 2004. Embora nunca tivéssemos servido juntos numa mesma organização militar, encontramo-nos várias vezes ao longo de nossas carreiras, em atividades de serviço e sociais, o que contribuiu para fortalecer mais ainda a amizade e o respeito mútuo. Sempre tive nele um grande incentivador. Dizia-me que eu era o seu irmão crioulo. Após anos de missão bem cumprida no serviço ativo, passou à reserva e assumiu o honroso cargo de Prior da Arquiconfraria de Nossa Senhora da Conceição. Católico fervoroso e devoto da Santa, dedicou considerável parte do seu tempo a cuidar dos patrimônios tangível e intangível da Igreja, com o mesmo amor e zelo que dedicou à família e à Marinha do Brasil. Infelizmente, em novembro de 2012, foi diagnosticado ser portador de um câncer agressivo. O Quintão deveria ter sido proibido de morrer, mas, por desígnios de Deus, seu tempo terreno estava prestes a expirar. Mais uma vez, como era do seu feitio, não quis dar trabalho, tampouco compartilhar tristezas, razão pela qual escondeu dos familiares e amigos a grave situação. Sucumbiu em 23 de março de 2013. No dia seguinte, um Domingo de Ramos, sob as bênçãos de Nossa Senhora da Conceição, seu corpo baixou ao jazigo 421, algarismos de soma 7, o número perfeito. A propósito, ali jaz um dos homens mais próximos da perfeição que conheci em toda a minha vida. Bom filho, religioso de coração solidário, amigo cativante, excelente oficial de Marinha e ótimo pai de família. Seu espírito agregador fez com que, mesmo nesses momentos tristes, amigos que não se viam há tempos pudessem se reencontrar, confraternizar e agradecer ao Criador pela sua profícua existência. Deus, permita que seja recebido por um coro de anjos, a agitar os ramos do domingo, para trilhar um caminho ladeado de flores brancas e lindas como as damas da noite, elevando sua alma em direção à luz da ressurreição que emana das alvas faces de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sentiremos saudades das suas palavras de carinho, do seu sorriso franco, do seu abraço caloroso. Não apenas a família sente a sua falta. Seus amigos, somos todos um pouco Órfãos de você. Mas a sua memória é para sempre. 1. Abreviação de "Requiescat In Pace", expressão em latim que significa "Descanse em Paz", em português. 2. Associação Brasileira de Educadores Lassalistas. . 22 Siga em paz, meu irmão louro. Descanse em paz, amigo Quintão. Agostinho Fortes Cantarei com o rouxinol, Faça chuva, faça sol, Em noite clara ou sem lua. Só de imaginar, me esbanjo Te abraçando como um banjo, Te dedilhando tão nua. Serei poeta do amor, Vou prosar com cada flor Bater papo com o luar. Sobre a noite que perfuma, Sobre o mar que deita escuma Minha voz há de cantar. Vou em busca da donzela Que debruça na janela Para ouvir esta viola. Vou procurar minha amada Que aparece na sacada, Vestida de camisola. E direi das minhas glórias, Podem ser até estórias E, quem sabe, até mentira. Mas também verdades Sobre o amor, sobre saudades Criadas na minha lira. Vou por aí, vou à toa Levando esta vida boa, Vou fazendo o meu papel. Quero te ouvir, vez em quando Me dizer que estás me amando Que sou eu teu menestrel. Já agora peregrina Minh'alma nesta neblina De sonhos. E deixa rastros O verso que então se esfuma E as rimas vão uma a uma Bailando por entre os astros. E com todo o meu afeto Me entregarei por completo Aos males do coração. Serei poeta da vida Da chegada e da partida Dos que ficam, dos que vão. Myriam Guanaes Com surpresa, certo dia Senti a eternidade Eu vi as asas dos arcanjos Escutei os cânticos dos anjos Bailei ao som de harpas mágicas Na plenitude do céu Perdi o chão Ganhei o espaço Segurei estrelas, em minhas mãos Tive a experiência, dos que, ao eterno vão A lua com raios para o mar Namorava o sol, prestes a apagar Ao doce impulso, de nuvens e sonhos Debrucei-me à beira dos pensamentos Lavei minh' alma, senti o amor Voltei à vida O encantamento quebrou Senti a falta do amor vivido Tenho saudades dos tempos idos Que lembra a vida Que palpita e chama 23 DIA MUNDIAL DO LIVRO CF (RM1) Gilberto Machado No dia 23 de abril, comemorou-se o DIA MUNDIAL DO LIVRO, por resolução da XXVIII Conferência Geral da UNESCO, ocorrida em 1995, na sede daquele organismo, na França. A escolha dessa data recaiu sobre o dia em que, coincidentemente, faleceram, no ano de 1616, do mês de abril, os escritores Miguel de Cervantes Saavedra (1547 - 1616) e William Shakespeare (1564 - 1616). Essa foi uma forma de reconhecimento à importância para as letras de seus respectivos países, a saber, a Espanha (que já comemorava o DIA DO LIVRO, em memória ao seu ilustre filho), e a Inglaterra. (1) É, portanto, oportuno citar uma frase do Pe. Antonio Vieira, como forma de dar relevância a essa data, por nós do Mare Nostrum, um baluarte em defesa da literatura, no nosso País. Com esta iniciativa queremos despertar em nossos leitores o hábito salutar da leitura e incentivar a valorização do livro na formação de um povo. Antes, porém, cabe esclarecer que o contexto no qual aparece essa acurada definição para LIVRO, no seu Sermão de Nossa Senhora de Penha de França, permite-nos dar abrangência ampla, abarcando todos os livros. Eis, portanto, o seu teor: ( ... ) "Todas as propriedades de um livro o Sacramento [do Altar] tem: é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive". ( ... ). (2) e (3). . Fontes: (1) http://pt.wikipedia.org, em 09/6/2013. (2) http;/Ibooks.google.com.br, em 05/6/2013. (3) Vieira, Antonio. Sermões, Vol. 1, Edições Loyola, S.P., 2008, em 05/6/2013. SONATA Cruz e Souza Do imenso Mar maravilhoso, amargos, Marulhosos murmurem compungentes, Cânticos virgens de emoções latentes. Do sol nos mornos, mórbidos letargos... Canções, leves canções de gondoleiros, Canções do Amor, nostálgicas baladas, Cantai com o Mar, com as ondas esverdeadas, De lânguidos e trêmulos nevoeiros! Tristões marinhos, belos deuses, rudes, Divindades dos tártaros abismos Vibrai, com os verdes e acres eletrismos Das vagas, flautas e harpas e alaúdes! Ó mar supremo, de fragrância crua, De pomposas e de ásperas realezas, Cantai, cantai os tédios e as tristezas Que erram nas frias solidões da Lua... OBS: Este poema foi extraído da Antologia "NOSSOS CLÁSSICOS", nº 4, CRUZ E SOUZA, por Tasso da Silveira, 6ª Edição, 1982, Livraria AGIR Editora, Rio de Janeiro Acesse o Mare Nostrum, na internet, pelo site: www.clubenaval.org.br 24
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