C:\Users\Antonio Pereira\Desktop\Montagem do Mare

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C:\Users\Antonio Pereira\Desktop\Montagem do Mare
Departamento Cultural do Clube Naval - Círculo Literário - Mare Nostrum - Ano XIV - Nº 60 - Junho 2013
Homenagem a Cruz e Souza, o Poeta do Simbolismo!
Do imenso Mar maravilhoso, amargos,
Marulhosos murmurem compungentes,
Cânticos virgens de emoções latentes.
Do sol nos mornos, mórbidos letargos...
1
Clube Naval
Presidente
VAlte Paulo Frederico Soriano Dobbin
Diretor Cultural
CF (Ref. - IM)
Osmar Boavista da Cunha Junior
Assessor do Diretor Cultural
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Conselho Editorial
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Sócios Fundadores
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Ilustrações
CMG (IM-Ref) Vinício Ruiz
CMG (Ref.) Júlio Sérgio Vidal Pessôa
(In memoriam)
Jornalista Responsável
Prof. Antonio de Oliveira Pereira RJ13609JP
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A responsabilidade pelo conteúdo das
matérias é exclusiva dos autores, que declaram, por
escrito, ao final delas, a cessão de seus Direitos
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As colaborações enviadas serão publicadas
após aprovação do Conselho Editorial e não serão
devolvidas.
Nossa Capa
Mare Nostrum Nº LX
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EDITORIAL
Muda mas permanece
O Clube Naval acaba de empossar sua nova
diretoria. Mudam as pessoas mas
permanece o mesmo espírito de
dedicação e vontade de evoluir.
Tem-se a clara noção de que essa
evolução vai na direção dos nossos sócios, de
trazê-los com suas famílias para o convívio de
nosso clube.
É evidente que uma das formas mais
eficazes e agradáveis é acolhê-los na
prática das atividades culturais, as quais,
atualmente, se consolidam no bom número
de Grupos de Interesse que prosperam sob
o apoio do nosso Departamento, como é o
caso do Círculo Literário, de cuja atividade
se extrai esta publicação.
Aguardamos a sua presença em nossas
atividades de forma altamente receptiva às suas
propostas e sugestões. A casa é totalmente sua, caros
sócios e familiares.
Osmar Boavista da Cunha Junior
CF (Ref.- IM)
Diretor Cultural
Sérgio Vianna
Os pés do peregrino
Pés umedecidos, cansados
Caminham por estradas tortuosas,
Ladeiras íngremes, terras longínquas.
Pisaram caminhos pedregosos,
Solo fértil, solo árido.
Cruzaram rios.
Por vezes corriam, lépidos.
Em outros momentos iam lentamente,
Acompanhando
O meditar do peregrino,
Envolto no milagre da própria existência.
Pés cansados,
Umedecidos,
Poeirentos,
Chegam ao destino.
Pés descalços, feridos, crucificados.
Sacrifício menor,
Ínfimo,
Quando, olhando o céu,
O peregrino vislumbra a grandeza da CRUZ.
3
CMG (Ref) Paulo Roberto Gotaç
Após uma sexta-feira árdua, fim de
semana despontando, o bem sucedido
Dr. Rodrigo, advogado, isolado no
escritório ligeiramente escurecido,
sintonizou uma FM bem baixinho,
preparou um uísque e, com as pernas
sobre sua imensa mesa, entregou-se a
seus pensamentos. Não os discriminava,
deixava todos passarem diante de sua
mente. Inevitável a eclosão de
recordações, algumas recentes, outras já
meio desvanecidas, felizes, tristes, de todo
tipo.
Lembrou-se da sua turma da
Faculdade de Direito, final da década de
80, século passado. Estranha a evocação
de fase da vida ocorrida em outro século.
Nada que contrarie a cronologia ou a
aritmética. Mas uma coisa é dizer que algo
ocorreu no ano passado ou até mesmo
na última década. Mas no século
passado, tinha um peso psicológico maior.
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A turma, pequena, 26 formados, 18
rapazes e 8 moças. Nunca mais os vira.
Só alguns contactos rápidos pelo celular,
de uso corrente já em meados da década
de 90. Algumas notícias esparsas, umas
tristes, outras alegres. Soube até de um
falecimento. Fluxo da vida. Houve uma
tentativa mal sucedida de encontro para
comemorar os dez anos de formatura.
Não pôde comparecer. Soube que
poucos foram.
Ali na penumbra daquela sexta-feira
decidiu tomar a iniciativa de coordenar
um encontro que reunisse o maior número
possível daquele grupo, de tão boas
recordações. Afinal, fazia mais de 20 anos
desde a formatura. De celular em punho,
começou a contatar os que constavam
de sua lista de contatos, pedindo-lhes, se
fosse possível, que propagassem a ideia.
Na semana seguinte, dedicou alguns
minutos por dia arrematando o encontro.
Finalmente, fechou a relação, marcando
definitivamente local e hora. Conseguira
a confirmação de 22 dos 26 da turma
original. Um falecido, duas
impossibilitadas por estarem morando no
exterior e outro que não foi localizado.
Optaram por uma espécie de chá
às 16:00h em confeitaria sofisticada. Em
cima da hora marcada, foram chegando.
Muita emoção, abraços efusivos e
gritinhos em meio a algumas barrigas e
calvícies indisfarçáveis nos homens. Nas
mulheres transparecia a luta contra as
rugas, contra a permanente e inexorável
ação da maldita gravidade e contra os
furtivos cabelos brancos. Lindas e
maduras louras pelo efeito de uma boa
tintura. Afinal, todos haviam chegado além
dos quarenta e muitos. Eram pessoas que
há muito não se viam. Após mais ou
menos uma hora de encontro já com o
lanche em andamento, a euforia meio
amortecida deu lugar a conversas mais
rarefeitas. Tinham agora quase nada em
comum. Amizade é algo que só se
sustenta através de um delicado balanço
envolvendo distância versus tempo sem
contato. Instabilizando-se a equação, a
amizade pode não desaparecer mas
murcha.
Terminado o chá, quando Rodrigo
esperava que o "papo" corresse mais
descontraído, pouco se falavam. Foi
quando um deles tirou do bolso o celular.
Não que tivesse tocado. Limitou-se a
acompanhar algo na tela pequenininha.
Lentamente, quase todos os outros foram
fazendo o mesmo. Após mais ou menos
duas horas de encontro, pouco se
falavam, cada um com o olhar fixo no
respectivo aparelho. Foi aí que Rodrigo
concluiu que o tempo havia desfigurado
irreversivelmente o grupo, como que
aleijando-o.
- "Ainda bem", pensou Rodrigo,
"que a tecnologia veio em socorro,
fornecendo as muletas, sob a forma de
celulares".
CF (RM1) Gilberto Machado
Pelas diáfanas manhãs azuis
Transitam pensamentos de paixão
Pela mulher amada,
A poesia amada ...
Ao ritmo suave de uma canção,
Alheios ao burburinho dos passantes, imperceptíveis,
Fazem o seu caminho pela estrada sem fim...
Nada os faz mudar de direção
E, assim, seguem impassíveis,
Ele e a vívida presença dela,
Pelas artes do pensamento...
Porque das flores, na benfazeja visão,
É que se fez sentir a música
Que, delicadamente, tocou-lhe a sensibilidade...
Música de sublime melodia,
De perfeita harmonia!
O poeta ficou feliz porque a captou...
A música de fundo era ela, a sua Musa,
Na trilha sonora pelo amor composta!
É que a amada, no mistério da invisibilidade,
Ao pensar no seu amado a ele se unia
E, sendo etérea a inspiração,
De tal modo com a música se confundia...
Não saberia o poeta dizer se era o som,
Se a brisa agradável que ali soprava,
Ou se a fluida presença dela
Que do seu pensamento foi transfiguração...
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Alte Oscar Moreira da Silva
Na esteira da vida
Deixamos os amores
Em viagens perdidas
Junto aos dissabores.
No porto do destino
Encontramos novo amor
E o mesmo desatino
Quando partimos em dor.
Esteira da saudade
De tristezas sem fim,
Espumas de maldade
Que se atritam em mim.
No porto tudo é festa
E muita novidade,
Novo amor e seresta,
Pouco importa a idade.
Data do nascimento da poetisa Zuleide de Caldas Barbosa, avó paterna da autora.
Patrícia Moraes Ribeiro dos Santos1
Hoje, o Céu deve estar em festa.... seria o aniversário
de uma mulher que admirei por toda a minha existência.
Minha avó querida, exemplo de mulher que batalhou pela
sua independência, construiu, sustentou, amou, sofreu e
guardou em seu coração coisas que somente uma mulher
de verdade pode entender.
Amo gente assim.
Quando lembro de minha avó, recordo de um buquê
de rosas vermelhas, que nunca faltava em seu aniversário.
Coloquei um ... numa jarrinha simples de cristal, em sua
intenção, quando vim morar aqui, na casa dela. Ela era
1
A autora é filha do CMG (RM1-FN) Ubiratan B. R. dos Santos.
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cheirosa, atraente, perfumada e encantadora.
Em sua homenagem.... querida avó Zuleide..... não
só hoje... como em cada dia de minha vida.... ofereço-me
ser igualzinha a você..... trabalho incansavelmente..... não
tenho vergonha de amar.... de sofrer...... e dedico toda a
minha felicidade ao amor e à admiração que tivemos uma
pela outra aqui na Terra.
Devoto também a você.... o início de um grande
projeto que tenho em minha vida.... espero poder concluílo com sucesso e mostrar ao mundo a realização de um
grande sonho.
Solidão empobrece o espírito do ser.
Ela traz amargor que intrinca qualquer carma,
Mas traz tempo demais para o íntimo se ver
E ler que solidão é a mente que arma.
CMG (EN-Ref.) Felicíssimo J. da Silva Fº
Às vezes, eu mais forte, o choro evitar tento
E evito se, nesta hora, acender-me fulgente
Chama, interior, da alma, espoucando rebento
De esperança num sol, num riso permanente.
Então eu me transformo e, apurando a destreza,
Arranco por um tempo urtigas do caminho,
Aliviando a dor e empurrando a tristeza.
Nestas gotas de luz eu seguirei sozinho
Até que a amada volte, emitindo beleza,
Povoando meu céu, meu ser e este meu ninho.
Rio de Janeiro, 09/08/2011
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*
José Mesquita Nogueira Ayres
Cristina é uma cidade localizada no sul do estado de Minas Gerais.
*Texto publicado em 10/4/1960
De vez em quando, papai assumia
uns ares de Manuel Bandeira em revolta
e assegurava: "Eu vou-me embora para
Crístina!" Cristina é a Pasárgada do
pessoal lá de casa. Creio que todas as
famílias têm (ou se não têm deveriam ter)
um lugar assim: como a Pasárgada do
poeta, onde a gente pode dormir com a
mulher que gosta na cama que escolher,
ou andar de bicicleta, ou tomar sorvete
com creme de chantilly... Bem, o que
fazer em tal lugar já é questão de gosto e
cada um terá o seu. Mas que todos
deveriam ter sua Pasárgada, isto
deveriam!...
A nossa passa de pai para filho e
agora, quando há revolução em Niterói,
greve de lotação, aumento de leite ou
qualquer coisa assim, quem afirma sou
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eu; "Vou-me embora pra Pasárgada", ou
... quero dizer, pra Cristina, que é a mesma
coisa.
Em Cristina há garotas bonitas e
ternas; há leite sem água, não há chofer
de lotações (nem os respectivos), não há
filas bobas em cinemas e, sobretudo, um
rio escorre livre pela montanha, o pé da
gente pisa o vermelho do barro, não é
preciso engraxar sapatos e a noite é
convidativamente fria...
Vou-me embora pra Cristina e, tal
como lá em casa no meu tempo de
criança, ninguém vai dormir na véspera;
vamos ficar todos arrumando malas,
fazendo embrulhos, preparando
“matulas”, com grossas fatias de carne
assada e também, como antigamente, a
correia da mala há de rebentar, nós iremos
esquecer de guardar alguma coisa e
alguém (que tenha o peso de minha mãe)
há de colocar a "inteligência" em beneficio
da
comunidade,
sentando-se
estrategicamente sobre a tampa da mala,
enquanto o resto do pessoal tenta
imobilizar as valises grávidas de roupas e
encomendas.
Como nos velhos tempos, sairemos
de casa noite alta, em estranha procissão
noturna, depois de colocar trancas e
panelas atrás das portas e entregar o
cachorro para o vizinho; com embrulhos,
malas e alegria, acompanhando as estrelas
do céu. Tal como nos velhos tempos,
alguém ficará em dúvida se a porta da
entrada ficou trancada e eu, imitando meu
pai, dissertarei sobre o céu diferente de
Cristina, sobre o tempo que leva o trem
para atravessar o túnel de "Coronel
Fulgêncio" e qual a altitude da terra onde
tudo é bom.
Eu vou-me embora pra Cristina!
Também chegarei às quatro horas da
manhã à estação (mineiro não perde trem)
e aguardarei o rápido que sai às oito
horas. Novamente verei chegar os
primeiros viajantes (os mais precavidos)
às seis horas da manhã e lhes perdoarei a
"displicência" com o horário.
Eu vou-me embora pra Cristina! E
quando o trem passar por Cascadura, já
estarei desembrulhando a "matula", já
sonharemos com os requeijões de
Vassouras, já teremos feito amizade com
o fazendeiro que se destina a Passa
Quatro e, com certeza, algum filho meu
já estará com os olhos arregalados, vendo
os dormentes e pedras do leito da estrada
passarem céleres sob seu improvisado
assento branco frio e sacolejante ...
Eu vou-me embora pra Cristina, e
chegaremos a tempo de ver o frio
começar a envolver as serras e a lua abrir
um sorriso branco no meio da cara preta
da noite. Um cumprimento me esperará,
amável, na estação: "Você não mudou
nada!" E eu me sentirei mais moço e
ensinarei às crianças onde fica o rio ...
Eu vou-me embora para Cristina, e
verei a mesma cesta de ovos guardada
com carinho por Siá Davina, o mesmo
saco de milho no canto da sala grande e
ouvirei o mesmo mugido triste no
matadouro em frente.
Eu vou-me embora pra Cristina!
Somente, já não terei mais os olhos
de criança para olhar as coisas e não terei
mais a capacidade infantil e gostosa como
saia de garota bonita levantada pelo vento,
de esquecer o que ficou na cidade grande
e serei obrigado a forçar meus filhos, que
me olharão sem compreender, a deixar
nossa Pasárgada... Mas um dia, eu juro,
vou-me embora pra "Pasárgada", e pra
ficar! Talvez quando morrer ...
CMG Lucimar Luciano
Em algum lugar deste mundo, procuro um refugio
onde ficar
e, contrito, imergir no mistério das horas,
ao compasso dos sinos, ao pôr do sol.
Lá, onde sejamos puros e felizes,
pés descalços percorrendo a margem límpida do mar,
pássaros marinhos mergulhantes de abismos,
na vertigem súbita de encontros e descobertas.
Lá, onde sejamos afinal apenas o que somos,
definitivamente humanos, todos nós,
indissoluvelmente solidários.
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Aurea Stela
Será que o Hubble, o Discovery,
dentre outros satélites, ônibus, sondas,
naves e afins, enviados ao espaço, não
poderiam ser uma versão muito, muito
evoluída de Santa Maria, Pinta e Nina?
Será possível traçar um paralelo
entre o período das grandes descobertas
astronômicas dos séculos XX e XXI e
as conquistas realizadas com as grandes
navegações dos séculos XV e XVI,
quando "da ocidental praia Lusitana" já
se lançavam ao mar os portugueses para
explorar novas terras e caminhos?
Em relação às inumeráveis galáxias
descobertas a cada dia, poderia a Terra,
antes considerada centro do Universo,
ser comparada ao velho mundo europeu,
de onde partiam exploradores e onde nem
se imaginava existirem outras terras
habitadas no planeta? Sem falar em
tempos mais recuados ainda em que se
discutia seu formato ou se ele se movia.
Cabeças rolaram!
Com a descoberta do novo mundo,
muitos dos europeus que passaram a aqui
viver esperavam três, quatro, às vezes,
seis meses para receber uma missiva
d'além mar. Hoje é possível apertar um
botão e falar com astronautas que
navegam pelo espaço sem fim.
Com tanta evolução será que o
Hubble, o Discovery e congêneres seriam
as caravelas espaciais do nosso século a
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descobrirem muitos outros novos
mundos?
Os anos, as décadas vão fazendo o
seu trabalho lento, mas nada sonolento.
À medida que passa o tempo, seus
rumores alardeiam até os menos crentes.
De conquistadores de mares e terras nem
tão, tão distantes assim, tornamo-nos
conquistadores do espaço cheio de
enigmáticas esferas brilhantes que
rodopiam sobre nossas cabeças, viajando
bem para lá de onde a imaginação pode
chegar.
Mas a pergunta para a qual busco
incessantemente resposta é: onde nos
encaixamos entre mares e estrelas no
correr dos séculos e de exorbitantes
órbitas indescritíveis descritas por sóis
descomunais frente aos quais a Terra
desaparece feito poeirinha invisível no ar?
Em meio a tantas descobertas,
diante de toda esta turbulenta travessia,
vou daqui, muitas vezes a duras penas,
na minha pequenez, tentando conquistar
o meu espaço.
O interessante é que no meu espaço
coabitam caravelas, espaçonaves, terras,
mares e estrelas ofuscantes, mas, apesar
disso, constato que as conquistas íntimas
ainda são muito mais difíceis.
Eu navego mares de um século em
que sedutoras revoluções tecnológicas
conduzem a infinitas distâncias cada vez
mais reduzidas, embora, em termos
interpessoais, elas pareçam estar
infinitamente mais alargadas.
A lua, que já foi deusa inatingível,
fica logo ali na esquina, o meu vizinho de
porta, nem sei quem é e muitos de nossos
filhos moram num planeta que é só deles,
a portas fechadas, não raro, de dificílimo
acesso.
Navego por mares nunca dantes
navegados na "infomaré", explorando e
fazendo incríveis descobertas. Mas,
apesar disso, ainda não consegui
conquistar a minha esfera e nela incluindo
a que fica bem sobre o meu pescoço, o
meu planeta íntimo, os meus desejos,
anseios, ambições e pensamentos.
Será que, para tanto, precisarei mandar
construir naves e navios e contratar
cientistas, astrônomos e exploradores?
Os últimos não precisam ser contratados,
aparecem voluntariamente. É preciso ter
cuidado!
Penso que o trabalho individual é
muito mais dificil!
Isso acontece porque é preciso
seguir a lei inteligente que revela a
universalidade do indivíduo, mas essa
é uma árdua conquista da humanidade.
Por enquanto orbitamos em volta do
próprio umbigo.
Apesar das conquistas realizadas
desde as grandes navegações até as
incessantes descobertas do espaço
sideral, ainda encontramos dificuldades
em conquistar a galáxia familiar e as
cabeças que, como a minha, por ela
orbitam.
Existe uma correlação poderosa
entre o que foi e o que virá a ser mas,
como individuos, em meio a tudo isso,
muitos de nós ainda somos náufragos,
buscando uma tábua de salvação
porque ainda não conseguimos
entender e muito menos conquistar o
que somos em essência.
Antes navegando horizontalmente
mares desconhecidos, hoje lançandonos verticalmente ao espaço infinito,
ainda nos encontramos acuados
naquele cantinho que marca o encontro
exato entre a Terra e o Céu, sem saber
exatamente onde nos situamos.
Eu também procuro sair da órbita
do próprio umbigo e fazer alguma coisa
não só pelo meu planeta íntimo, mas
também, ainda que timidamente, pelo
meu planeta morada.
Enquanto naves, sondas e
foguetes rasgam os céus, para lá e para
cá, em busca de não se sabe ao certo
o quê. Em terras nem tão, tão distantes
assim, seres esquálidos, com a cabeça
que parece um planeta gigante, olhos
encovados, esqueleto à mostra,
verdadeiros ETs, nem suspeitam ter o
Homem chegado à lua. Talvez estes
seres ainda nutram (e é até engraçado
usar o verbo nutrir neste caso) alguma
esperança de serem encontrados por
alguma caravela, possivelmente Santa
Maria, Pinta ou Nina, ainda tão, tão
distante, que nem se consegue
vislumbrar no horizonte.
As grandes conquistas tecnológicas
entre a Terra e o Céu me parecem de
suma importância, mas completamente
contraditórias diante das misérias do
mundo.
Em face de tanta evolução e
progresso que remontam o fogo, a
roda, a pólvora, a bússola, até a
conquista do espaço, é dificil encontrar
alguma tecnologia ou grande
descoberta que explique o porquê da
grande fúria do mundo.
Ferreira Barbosa
Ninguém me ouve
Não me escuta
Não liga para meus anseios
Ninguém...
Por que este vazio?
Por que estou tão sózinho?
Vozes do silêncio...
Caladas, omissas, covardes!
Vejam-me, por favor, desencantem!
Tragam-me um alento de amor
Ou o alguém não existe?
Já foi dito:
«Amai-vos uns aos outros»
E eu... ?
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CC (CD-R1) Paulo Afonso de Paiva
O que me chamou a atenção logo
que a vi no palco, fazendo par a um
dançarino de flamengo, foram os olhos
negros e os lábios convidativos. A tez
morena mostrava a herança que os
árabes legaram a muitas espanholas e
os cabelos castanhos - chegando quase
a cintura - eram lisos e brilhantes.
Quando o show terminou fui até
seu camarim. Me recebeu com
simplicidade, rindo muito do meu
espanhol. Perguntei se aceitava tomar
um copo de vinho em minha mesa.
Demorou um pouco para dizer que sim.
Conversamos muito e quando
disse que teria que ir embora perguntei
se podia acompanhá-Ia.
Concordou. Ao chegarmos em
sua casa nos despedimos, marcando
encontro para o dia seguinte.
Meu navio deveria ficar dois dias
na cidade, mas graças a uma peça do
hélice que precisava de um reparo,
ficamos por uma semana. Foram dias
esfuziantes e noites esplendidas. Me
chamava de mio morenito guapo e
cravava as unhas nas minhas costas na
hora do amor. Esqueci de dizer que eu
era moço e inconseqüente como todos
os jovens. Por isso me senti vaidoso
quando ela chorou no cais, na partida
do navio.
Recebi algumas cartas dela, que
foram rareando, até que pararam de
vez. Nunca mais a vi.
De tudo isso só há alguns senões:
nunca conheci uma moura, nem estive
em Valladolid, que aliás, nem mar tem.
Rafael Leoni
Meus encantos
Seus encantos
Nossos encantos
Afinal, o que são encantos?
Beleza
Esperteza
Pureza
São encantos?
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Pudera eu dizer o que eles são
Mas não posso
Por sempre viver a razão
Razão esta que me alucina
Me corrói
Me fulmina
Me impede de sentir
As emoções
E os encantos
CF (FN-RRM) Sylvio Ferreira da Silva
O sol ainda tarda pra nascer.
Lá vão eles em grupos rumo ao mar.
Esperam um cardume aparecer,
Nas suas velhas redes de pescar.
Em pequenas equipes vão chegando,
Nos barcos de madeira na areia.
No céu as mesmas garças vão voando,
É hora de encarar a maré cheia...
Enfim, partem alegres confiantes
Mar adentro aos gritos triunfantes,
Sonhando com as tainhas que virão.
Na volta os semblantes já são outros.
Nos cestos de coleta são bem poucos,
Os peixes pra servir com o pirão.
13
Angela Guerra
Vento forte, tu assobias,
sem parar e com vigor...
Tu balanças esquadrias;
trazes medo, dás pavor...
Na penumbra do crepúsculo,
teu beijo... Fiquei sem ar!...
Não quis mover nem um músculo,
com medo de te assustar...
Ternura que desabrocha,
como uma rosa em botão,
aquece como uma tocha
corpo, alma e coração...
Chorinho, ritmo gostoso,
brasileiro na raiz,
tocado sempre com gozo;
quem ouve só pede bis!...
Ser" gay" nem era aceitável;
agora ficou bonito...
No futuro, seja amável,
trate-os bem ou estás frito!!!
És o sol da minha vida;
Minha fonte de prazer;
te guardo, minha querida,
no âmago do meu ser...
Menino de alma risonha,
que recebi, tão feliz,
do bico de uma cegonha",
Chegaste... - tudo que eu quis!...
Destino brinca com a gente;
viramos gato e sapato;
sofremos dente por dente...
- um impiedoso nato...
14
2T (AA) Alexandre Evangelista de Souza
Branco impecável, ginásio da Base,
Marinheiros sonhadores a esperar.
As horas passam e alguns perguntam:
Em que navio irei navegar?
Já para outros, ainda não é hora,
Demandam a Ponte, rumo ao Arsenal.
Nesse estaleiro, alguém orienta:
Peguem o túnel, sigam até o final.
Todos cansados, e o mais antigo: Sentido!
À Bandeira, faz-se o cerimonial.
A noite chega e um cinza anuncia:
Parabéns, boy! É a Fragata "Liberal".
Caminhada longa, o terceiro da linha,
Em um tal de "Cais Norte", é chegado o local.
Uma prancha, mais uma. Um devaneio? Um suspiro.
Enfim, a tão sonhada "Liberal".
Lona azul ao ombro,
Ao longo do cais, a romaria começa.
Pouco a pouco, cada um no seu barco.
A turma diminui, dispersa.
15
CMG (RM1) Luiz Ramos Silva
Prático a bordo, rebocadores a postos
Do cais o navio se aproxima lentamente
Logo deparo-me com uma multidão de gente
Com a avidez estampada em seus rostos
Quarto-d'alva, a proa no clarão da cidade
A toda força o navio as distâncias devora
E o que é lusco-fusco vira aos poucos claridade
Poucas luzes resistem acesas até agora
Difícil mesmo é conter a ansiedade
De ver chegada a tão esperada hora
Vislumbro ao longe uma senhora com um bebê ao colo
Protegida do sol por uma sombrinha
Heroína, curtiu a gravidez sozinha
Apresso-me então para pisar o solo
Percebo que ganhei o maior presente da vida
Abraço as duas com emoção incontida
E a Deus me volto, palavras não meço
Foi Ele quem guiou-me a comissão inteira
Agradeço-lhe por um feliz regresso
E por ter-me dado um'alma marinheira
CT(IM-RNR) Rubem Alves de Sá Freire
Por conselho médico, já há mais de vinte anos, adquiri
o hábito de jogar tenis três manhãs por semana, então, por
causa disso, tenho que arranjar parceiros, para jogar no Clube
Naval, ou jogar contra um paredão, no clube ou, praticar o
"training", que consiste, numa bola de tenis, amarrada por
um elástico de uns três metros, a um peso, que coloco no
centro de uma pequena área, próxima à minha residência,
que existe para a garotada mais tarde, praticar patinação
(Lagoa, à direita da saída do Túnel Rebouças) e, lá fico uns
30 a 40 minutos, batendo bola, e ela, vai e volta, como se
fosse um jogo com um parceiro invisível.
Numa manhã dessas, eu já estava batendo bola há uns
vinte minutos, quando percebi movimentos muito próximos,
logo atrás de mim, parei de rebater, e, então, a bola quicou
rolando preguiçosamente, mostrando então aquele elástico
preto.
Olhei para trás e vi, aquele mendigo magro e alto,
acabando de arriar uma caixa que trazia na cabeça, olhando
admirado para a bola, que pulava para lá e para cá .. , e que,
agora, estava ali, parada. O mendigo me olhou com olhos
arregalados, e exclamou:
- "Ah! ah! a danada tá amarrada né?"
Faltava um par de óculos ao mendigo.
16
Roberto Continentino Ribeiro
VI TEUS LÁBIOS CASTOS, EMBORA QUE PREMENTES
QUASE INDIGENTES, DAQUELE BEIJO DESEJADO
PELA VEZ PRIMEIRA, EU, APENAS TOLO ADOLESCENTE
ACHEI-ME PRESO E FREMENTE, ANTE AS TEIAS DO PECADO
FOI ONDA SEMPRE BENVINDA, NO MAR DE NOSSAS VIDAS
UM NO CORAÇÃO DO OUTRO NA PROTEÇÃO E GUARIDA
DIANTE DAS TORMENTAS, QUE VIMOS E ENFRENTAMOS
VIAGEM NÃO ATERRADA, ONDE JUNTOS INDA ESTAMOS
Beto Cunha
NÃO ME IMPORTA MAIS
SE UM DIA VOU MORRER
SE EM TE CONHECER,
SENTI A BELEZA DE VIVER.
OS FILHOS PREENCHERAM
TODOS OS ESPAÇOS.
CORRER BRINCANDO COM ELES NUNCA ME DEU CANSAÇO
POIS SABIA QUE UM DIA IRIA PARAR,
E ATRAVÉS DE MEUS OLHOS SEGUIR TODOS OS TEUS PASSOS.
NÃO ME IMPORTA SE ESTOU VELHO
POIS MINHA VIDA É UM BELO ESPETÁCULO
MEUS PÉS DANÇARAM TANTOS BOLEROS
MEU CORAÇÃO PALPITOU DE EMOÇÕES
E MEUS OUVIDOS TROUXERAM-ME AS MAIS LINDAS CANÇÕES.
MINHAS MÃOS ENRUGADAS
DERAM TANTOS ACENOS E TANTOS AFAGOS
MEU SORRISO AINDA TRANSMITE A ALEGRIA
DE UM RAPAZ APAIXONADO.
E EM MEUS BRAÇOS AINDA CABE
O TEU CORPO JÁ CANSADO
O TEU BEIJO ACANHADO
OS TEUS OLHOS MAREJADOS
E A SAUDADE QUE SINTO DO PASSADO
QUE PRA MIM ESTÁ LOGO ALI DO OUTRO LADO
AO CONSULTAR A LEMBRANÇA
VIVO TODO ESTE ENCANTO
QUE É SER TEU CÚMPLICE DE FATO
E TER A CERTEZA
QUE SEMPRE ESTAREI MELGULHADO
NA TUA VIDA
NO TEU SER TÃO POR MIM AMADO
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CMG(RM1-Med) Djalma Mendonça
Naquele canto de luz
Dentro daquele jardim
Existe um berço vazio
Onde o encanto se dá
Foi onde nasceu a menina
Também cresceu a bonina
Onde namora o castor
E também brota a flor
A noite, a estrela ilumina
De dia, o sol lhes faz aquecer
Criando laços profundos
Desde o alvorecer
E assim renovando o ciclo
Com seus laços de amor
Cria encantos profundos
Nesse berço encantador
Onde nasceu a menina
Cresceu também a bonina
Namorou o castor
E floresceu uma flor
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Abilio Kac
Amizade? Quem por ela não chora
Movida pela força da emoção,
Tendo apreço, sentindo a qualquer hora,
Que na vida ganhou mais um irmão.
É sentimento puro que se adora
Já que não tendo lei, possui razão,
Que se entranha no nosso peito e mora,
Ouvindo sempre a voz do coração.
Amizade é feliz afinidade,
Uma forte junção, duplicidade,
São passos que caminham mais além...
Amizade é conquista de um amigo,
É como transformar os grãos de trigo
Em nutritivos pães que nos mantém!
Geraldo Bibas
André Pullig
Privou-me a vida
Ver o mundo
Sentir a fundo
O brilho dos olhos teus
Não privou-me a emoção
Pois na minha pouca razão
Posso sentir-te.encantada Doce flor do alvorecer Linda como o amanhecer!
E com a pureza de um menino
Posso ver-te querida, vindo
Tu me chamas
e não sei
de onde vem tua voz.
Tu me chamas
entre Norte e Sul.
Tu me chamas
para aonde, para quê?
Tocar meu pobre coração
Cel Aluízio da Cunha Garcia
Que inspiração devo ter
Se a vida é de lembranças
Em que canto vou rever
Passado de bonanças.
Melhor jogar olhar ao céu
Que sentir perdidos tempos
Retirar dos olhos o véu
E ver luzes que contemplo
Sentir tutela do coração
E ter paz que comove
Procurar n'alma o perdão
É abençoar fé que me envolve
Sou voz que a Deus pede
Caminho belo do bem humilde
Sou alma que recebe
Bênçãos tantas de amor sublime.
Não vejo-te por fora
Contemplo-te agora
Como o som da mais bela canção
Que toca minh'alma
Que tanto me acalma
Tu me chamas
e não sei te escutar.
Tu me chamas
acredito
para seguir outros caminhos.
Tu me chamas,
me responde:
és a Morte?
Que me faz assim...
Desejar-te mais
lnda não sei de que jeito
Esse amor que trago no peito
Pode ser mais que um amor ambíguo,
Mais que um amor amigo;
Pode ser um amor-perfeito.
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CMG Agnaldo Xavier Furtado
Dos oceanos, de Santos / Rio, em Resgate de Alto-Mar!
Salve! Salve! Joca Franscico, Fênix-X com Solimar!
Neusa em mar de ventos, Carlos Alberto no oceano, oh!
Faina de resgate com Welber e José Manoel, Marzão!
Um comandante do Petroleiro outro Mestre do Pesqueiro.
"A Oeste", Santos Lucena, ao Sul, Francisco Severino!
Nós, outros, somos do Rio de Janeiro!
Dezoito, data de Alexandre, Manoel, Roberto, Moraes!
Todos eles juntos no mês de fevereiro!
Noruegueses, com Agnaldo no mar, e Oscar com os Vikings
da Noruega, se dispõe a salvar, com um excelente lancheiro!
Bons homens são navegadores, americanos como o Sobrinho?
Todos eles juntos, são desbravadores!
Siem Rubi, a boreste, Moisés Almir, a bombordo!
Mais ajuda de Bourbon Liberty!
Olhos de Neusa nos óleos do resgate,
nossa vista! Avisto "ÓLIDO", Valdeci!
Vinte um tripulantes, vidas Epaminondas!
Maré avante!
Vinte e quatro graus, latitude, de Ribamar!
Maré do navegante!
Alagamento com Leandro, avaria grave proa e popa!
“Amarrante!”
20
Viva homem do mar, doar, sem desgraça?
Nobre errante!
Boia quatro, Campos e Felipe estão na bacia!
Navio do Dantas, vejo meu lar!
Asssim junto estória do Luiz Fernando,
Com tristeza do Geraldo sem errar!
Desta mistura de nomes e pessoas
ninguém vai entender!
Mais o "MAN" que lá no Mar estava
vai compreender!
No repentismo, nuvem vira poeira
pra voar
e
no fim olhar!
Corre Comandante, e na popa, ordens sempre dá!
Todo o Mundo, "se vira", pra poder ver navio
não afundar!
Sete e trinta começou a história.
Vieira, Serejo, não deixaram parar!
Momentos do tira água, que não para de entrar!
Não chove, não molha, todos juntos!
Com Wilhian, Eduardo
fazem tentar!
Pro Fênix que chamam de «X»
com Tarede e De Paula
tentam tanta água retirar!
Nas Profundezas!
No mangote com Oziane e Marivaldo,
olhando o óleo de Neuza,
Nascimento na Maré Avante; é sempre
olhar do Navegante.
21
CAlte (RMI-FN) Jorge Mendes Bentinho
Conheci o Paulo Roberto Marcos Quintão em 1960, quando,
aos oito anos, entrei para 1ª série primária do Instituto ABEL2 em
Niterói. Ele estava um ano à minha frente, portanto, nunca estudamos
na mesma turma de aula, mas nos encontrávamos sempre naqueles
pátios e corredores.
Apesar do contato ser um tanto quanto à distância, sempre
tivemos um pelo outro uma simpatia absolutamente sincera. E assim
fomos progredindo, primário, admissão e ginásio, eu na esteira dele.
Ao final do ginásio, em dezembro de 1968, com as minhas
possibilidades de bolsista esgotadas, optei por abraçar a carreira militar,
ingressando no Colégio Naval (CN) em 1969, enquanto o Quintão
prosseguia os estudos do Curso Científico no ABEL.
Depois do curso no CN, a turma foi para a Escola Naval (EN) em
1971 e, para nossa surpresa e felicidade, o Quintão havia sido aprovado
no concurso para a EN. Assim, cursamos juntos o primeiro ano, o que
fez estreitar os nossos laços de amizade. Durante
aquele ano, vez em quando ele era meu pombo correio,
a levar uma mensagem para a minha futura esposa
Alcina, que trabalhava na Loja Central, do tio dele,
Ênio Quintão.
Adveio a desventura de tropeçar em uma
disciplina mais dificil e ser reprovado no final do ano.
O grupo de Niterói e mais alguns amigos fomos em
socorro do Quintão. Insistimos para que repetisse o
primeiro ano e continuasse o curso, nós o ajudaríamos,
não queríamos perdê-lo. Mas ele desistiu, para nossa
tristeza. Certamente não quis nos dar uma faina extra.
Perdemos o contato, o tempo passou, ele cursou
História (era um humanista de quatro costados...) e
foi exitoso no concurso para o Quadro Complementar
do Corpo de Fuzileiros Navais, passando a integrar o
QC-FN. Que bom tê-lo de volta às nossas fileiras em
1977...
O fato de ter pertencido à nossa turma facilitou a sua inserção na
Marinha, mas não fosse por isso, assim mesmo ele teria vencido, porque
sempre teve luz própria. Oficial dedicado, comprometido com a
instituição, altamente ilustrado, por onde passou a todos conquistou,
com seu jeito simples e educado: Afável e sorridente, era de uma
alegria radiante. Soube aliar proficiência e gentileza.
Dentre os inúmeros trabalhos que desenvolveu, o mais notável
foi organizar o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais, a partir de março
de 1990.
Reformulou a metodologia empregada na historiografia da
corporação, definiu uma nova roupagem para a exposição do acervo,
buscou ampliar a captação de recursos destinados ao Museu e conseguiu
sua inclusão no calendário cultural da cidade do Rio de Janeiro, mediante
a criação do Salão de Artes Plásticas do CFN.
Popularizou a imagem do Museu, por meio do Projeto Museu
Itinerante, e publicou inúmeros artigos que descortinaram a história
do Corpo de Fuzileiros Navais.
Em sua sala, recebia a todos com a mesma atenção e, entre um
copo d'água e uma xícara de cappuccino, falava sobre a História como
se dela houvesse participado, tamanho o conhecimento e o entusiasmo
pela ciência de Heródoto. Exerceu a função de Encarregado do Museu
até fevereiro de 2004.
Embora nunca tivéssemos servido juntos numa mesma
organização militar, encontramo-nos várias vezes ao longo de nossas
carreiras, em atividades de serviço e sociais, o que contribuiu para
fortalecer mais ainda a amizade e o respeito mútuo. Sempre tive nele
um grande incentivador. Dizia-me que eu era o seu irmão crioulo.
Após anos de missão bem cumprida no serviço ativo, passou à
reserva e assumiu o honroso cargo de Prior da
Arquiconfraria de Nossa Senhora da Conceição. Católico
fervoroso e devoto da Santa, dedicou considerável parte
do seu tempo a cuidar dos patrimônios tangível e
intangível da Igreja, com o mesmo amor e zelo que
dedicou à família e à Marinha do Brasil.
Infelizmente, em novembro de 2012, foi
diagnosticado ser portador de um câncer agressivo. O
Quintão deveria ter sido proibido de morrer, mas, por
desígnios de Deus, seu tempo terreno estava prestes a
expirar. Mais uma vez, como era do seu feitio, não quis
dar trabalho, tampouco compartilhar tristezas, razão pela
qual escondeu dos familiares e amigos a grave situação.
Sucumbiu em 23 de março de 2013. No dia seguinte,
um Domingo de Ramos, sob as bênçãos de Nossa
Senhora da Conceição, seu corpo baixou ao jazigo 421,
algarismos de soma 7, o número perfeito. A propósito,
ali jaz um dos homens mais próximos da perfeição que conheci em
toda a minha vida. Bom filho, religioso de coração solidário, amigo
cativante, excelente oficial de Marinha e ótimo pai de família.
Seu espírito agregador fez com que, mesmo nesses momentos
tristes, amigos que não se viam há tempos pudessem se reencontrar,
confraternizar e agradecer ao Criador pela sua profícua existência.
Deus, permita que seja recebido por um coro de anjos, a agitar
os ramos do domingo, para trilhar um caminho ladeado de flores brancas
e lindas como as damas da noite, elevando sua alma em direção à luz da
ressurreição que emana das alvas faces de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sentiremos saudades das suas palavras de carinho, do seu sorriso
franco, do seu abraço caloroso.
Não apenas a família sente a sua falta. Seus amigos, somos todos
um pouco Órfãos de você. Mas a sua memória é para sempre.
1. Abreviação de "Requiescat In Pace", expressão em latim que significa "Descanse em Paz", em português.
2. Associação Brasileira de Educadores Lassalistas.
.
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Siga em paz, meu irmão louro.
Descanse em paz, amigo Quintão.
Agostinho Fortes
Cantarei com o rouxinol,
Faça chuva, faça sol,
Em noite clara ou sem lua.
Só de imaginar, me esbanjo
Te abraçando como um banjo,
Te dedilhando tão nua.
Serei poeta do amor,
Vou prosar com cada flor
Bater papo com o luar.
Sobre a noite que perfuma,
Sobre o mar que deita escuma
Minha voz há de cantar.
Vou em busca da donzela
Que debruça na janela
Para ouvir esta viola.
Vou procurar minha amada
Que aparece na sacada,
Vestida de camisola.
E direi das minhas glórias,
Podem ser até estórias
E, quem sabe, até mentira.
Mas também verdades
Sobre o amor, sobre saudades
Criadas na minha lira.
Vou por aí, vou à toa
Levando esta vida boa,
Vou fazendo o meu papel.
Quero te ouvir, vez em quando
Me dizer que estás me amando
Que sou eu teu menestrel.
Já agora peregrina
Minh'alma nesta neblina
De sonhos. E deixa rastros
O verso que então se esfuma
E as rimas vão uma a uma
Bailando por entre os astros.
E com todo o meu afeto
Me entregarei por completo
Aos males do coração.
Serei poeta da vida
Da chegada e da partida
Dos que ficam, dos que vão.
Myriam Guanaes
Com surpresa, certo dia
Senti a eternidade
Eu vi as asas dos arcanjos
Escutei os cânticos dos anjos
Bailei ao som de harpas mágicas
Na plenitude do céu
Perdi o chão
Ganhei o espaço
Segurei estrelas, em minhas mãos
Tive a experiência, dos que, ao eterno vão
A lua com raios para o mar
Namorava o sol, prestes a apagar
Ao doce impulso, de nuvens e sonhos
Debrucei-me à beira dos pensamentos
Lavei minh' alma, senti o amor
Voltei à vida
O encantamento quebrou
Senti a falta do amor vivido
Tenho saudades dos tempos idos
Que lembra a vida
Que palpita e chama
23
DIA MUNDIAL DO LIVRO
CF (RM1) Gilberto Machado
No dia 23 de abril, comemorou-se o DIA MUNDIAL DO LIVRO, por resolução da XXVIII
Conferência Geral da UNESCO, ocorrida em 1995, na sede daquele organismo, na França. A
escolha dessa data recaiu sobre o dia em que, coincidentemente, faleceram, no ano de 1616, do
mês de abril, os escritores Miguel de Cervantes Saavedra (1547 - 1616) e William Shakespeare
(1564 - 1616). Essa foi uma forma de reconhecimento à importância para as letras de seus
respectivos países, a saber, a Espanha (que já comemorava o DIA DO LIVRO, em memória ao seu ilustre filho), e a Inglaterra. (1)
É, portanto, oportuno citar uma frase do Pe. Antonio Vieira, como forma de dar relevância a essa data, por nós do Mare
Nostrum, um baluarte em defesa da literatura, no nosso País. Com esta iniciativa queremos despertar em nossos leitores o hábito
salutar da leitura e incentivar a valorização do livro na formação de um povo. Antes, porém, cabe esclarecer que o contexto no qual
aparece essa acurada definição para LIVRO, no seu Sermão de Nossa Senhora de Penha de França, permite-nos dar abrangência
ampla, abarcando todos os livros. Eis, portanto, o seu teor: ( ... ) "Todas as propriedades de um livro o Sacramento [do Altar] tem: é
um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive". ( ... ). (2) e (3).
.
Fontes: (1) http://pt.wikipedia.org, em 09/6/2013. (2) http;/Ibooks.google.com.br, em 05/6/2013. (3) Vieira, Antonio. Sermões, Vol. 1, Edições Loyola, S.P., 2008, em 05/6/2013.
SONATA
Cruz e Souza
Do imenso Mar maravilhoso, amargos,
Marulhosos murmurem compungentes,
Cânticos virgens de emoções latentes.
Do sol nos mornos, mórbidos letargos...
Canções, leves canções de gondoleiros,
Canções do Amor, nostálgicas baladas,
Cantai com o Mar, com as ondas esverdeadas,
De lânguidos e trêmulos nevoeiros!
Tristões marinhos, belos deuses, rudes,
Divindades dos tártaros abismos
Vibrai, com os verdes e acres eletrismos
Das vagas, flautas e harpas e alaúdes!
Ó mar supremo, de fragrância crua,
De pomposas e de ásperas realezas,
Cantai, cantai os tédios e as tristezas
Que erram nas frias solidões da Lua...
OBS: Este poema foi extraído da Antologia "NOSSOS CLÁSSICOS", nº 4, CRUZ E SOUZA, por Tasso da Silveira, 6ª Edição, 1982, Livraria AGIR Editora, Rio de Janeiro
Acesse o Mare Nostrum, na internet, pelo site: www.clubenaval.org.br
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