Uma companhia que educa
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Uma companhia que educa
organizado por LUISA COGO e GIORGIO CAPITANIO • UNA COMPAGNIA CHE EDUCA “Una compagnia che educa”, raccontando l’esperienza del progetto “Constituzione di una rete di scuole per l’infanzia” gestito da AVSI – Associazione Volontari per il Servizio Internazionale, finanziato dal MAE – Ministero degli Affari Esteri e dalla CEI – Conferenza Episcopale Italiana, attuato in Brasile dal Dicembre 2000 al Giugno 2004, dà spazio ai protagonisti dell’avventura educativa vissuta con più di 5000 minori e ne delinea le linee metodologiche di azione. UMA COMPANHIA QUE EDUCA UMA COMPANHIA QUE EDUCA “Uma companhia que educa”, relatando a experiência do projeto “Constituição de uma Rede de Escolas para a Infância”, gerido pela AVSI – Associação de Voluntários para o Serviço Internacional – financiado pelo MAE – Ministério das Relações Exteriores da Itália – e pela CEI – Conferência Episcopal Italiana –, desenvolvido no Brasil de dezembro de 2000 a junho de 2004, confere espaço ao protagonismo da aventura educativa vivida com mais de 5000 crianças e delineia uma linha metodológica de ação. UNA COMPAGNIA CHE EDUCA a cura di LUISA COGO e GIORGIO CAPITANIO Conferenza Episcopale Italiana UMA COMPANHIA QUE EDUCA UNA COMPAGNIA CHE EDUCA UMA COMPANHIA QUE EDUCA organizado por LUISA COGO e GIORGIO CAPITANIO UNA COMPAGNIA CHE EDUCA a cura di LUISA COGO e GIORGIO CAPITANIO UMA COMPANHIA QUE EDUCA - organizado por Luisa Cogo e Giorgio Capitanio UNA COMPAGNIA CHE EDUCA - a cura di Luisa Cogo e Giorgio Capitanio Tradução italiano/português: Taciana Innocente Revisão: Português – Paula de Carvalho Miranda e Eneida Maria Chaves Italiano – Luisa Cogo Projeto gráfico e produção gráfica: Juliana Vaz e Derval Braga Júnior Impresso no Brasil ISBN: 85–89391–03–5 Copyright © – AVSI – 2004 Este material, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. Uma companhia que educa / Una compagnia che educa / Luisa Cogo e Giorgio Capitanio, organizadores; Belo Horizonte: AVSI, 2004 128 p.; 14,6 x 21 cm. ISBN 85–89391–03–5 1. Educação. 2. Aspectos sociais - Brasil, I. Cogo, Luisa et al. II. Associação Voluntários para o Serviço Internacional. CDD 370 Editado com a colaboração de: Editora AVSI Rua Padre Marinho, 37 – 12° andar Santa Efigênia – Telefone: (31) 3238–2100 Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil Conferenza Episcopale Italiana SUMÁRIO INTRODUÇÃO 7 PRIMEIRA PARTE – AVSI E EDUCAÇÃO 9 Os cinco pontos do método AVSI na perspectiva educativa 1- Centralidade da pessoa 2- O positivo como ponto de partida 3- Fazer com 4- Desenvolvimento dos corpos intermediários e subsidiariedade 5- Parceria 9 10 12 13 14 16 SEGUNDA PARTE – LINHAS DE FUNDO DA AÇÃO EDUCATIVA 19 1- O reconhecimento do "ser pessoa" da criança e a importância do adulto como educador 2- O relacionamento com as famílias 3- O relacionamento entre as instituições, o bairro, as escolas "formais" 4- Constituição de uma rede e relação com as políticas públicas 29 33 TERCEIRA PARTE – A HISTÓRIA DE ALGUMAS EXPERIÊNCIAS 37 Padre Luigi Valentini Rosetta Brambilla Eliana Umbelino de Souza Albernaz Marina Bastos Guardo e Regina Nunes 37 39 41 43 QUARTA PARTE – UM CAMINHO QUE CONTINUA 47 Anotações da Videoconferência de 29 de junho de 2004 47 CONCLUSÃO (de Alberto Piatti, diretor da AVSI) 63 19 24 ANEXO - FICHA DAS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS DA REDE AVSI NO BRASIL INTRODUÇÃO Presente no Brasil desde 1982, a AVSI sempre realizou – através de projetos de redução da pobreza em diferentes Estados do país – programas de urbanização que tinham como objetivo a melhoria da vida dos habitantes de áreas informais privadas de qualquer tipo de serviço básico. Como testemunham inúmeros protagonistas dessa presença, encontrar a realidade e compartilhar as necessidades das pessoas inspiraram o caminho e o desenvolvimento de um percurso – que nasceu como uma tímida tentativa para assegurar condições de vida mais humanas para algumas pessoas – que, por sua vez, estimulou uma metodologia de trabalho integrada, com uma ampla visão das intervenções, e valorizou tudo o que encontrou. Pode ser observada dessa maneira – sem ser muito simplista – a ligação que a AVSI tem com mais de trinta obras educativas espalhadas no imenso território brasileiro, desde a Floresta Amazônica até as praias do Rio de Janeiro, passando pela grande metrópole de São Paulo e as regiões do interior do Mato Grosso. Até agora, a ação foi e é caracterizada por uma série de intervenções de apoio a escolas e centros socioeducativos, voltados para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, suas famílias e comunidades, em áreas urbanas informais. Em quase todos os locais, as parcerias permitiram compartilhar as necessidades e problemas não apenas pontuais, mas também amplamente ligados à temática educativa, na busca de respostas práticas às necessidades manifestadas pelos diversos centros. São obras que estão direta ou indiretamente ligadas à AVSI, porque ou foram construídas com projetos de financiamento internacional, ou, nasceram através de pequenas associações locais mas recebem contribuições do "Apoio 7 a Distância" ou de particulares. Isso, sem dúvida, permite a melhoria do serviço oferecido para mais de cinco mil menores na faixa etária que vai de poucos meses até 16–17 anos. Nos últimos anos, foi desenvolvido o projeto denominado "Constituição de uma Rede de Escolas para a Infância" (inicialmente com 12 centros, situados em cinco capitais brasileiras, em seguida com 17), para promover a cooperação em quatro áreas: educativa, social, sanitária e organizacional, co-financiado pelo Ministério das Relações Exteriores Italiano (MAE) e pela Conferência Episcopal Italiana (CEI), com duração de três anos (de dezembro de 2000 até dezembro de 2003, posteriormente prorrogado por seis meses). O objetivo foi contribuir com a qualidade de vida das crianças e famílias residentes nas favelas, através do reforço e melhoramento dos serviços oferecidos pelos centros e da elaboração e difusão de uma metodologia de intervenção, procurando influir nas políticas sociais a favor da infância. A proposta cultural e operacional de tais escolas – apoiada em sua elaboração e atuação pela AVSI – é baseada no reconhecimento de que a educação é o fator que define a modalidade de relação com a pessoa. Os serviços oferecidos podem ser caracterizados de diversos modos, segundo o contexto no qual estão inseridos: valorizando os aspectos da saúde, como no caso das crianças desnutridas, ou nas relações com as famílias, como no caso dos menores em situação de risco, mas sempre considerando como ponto de partida o fato de que tudo possui uma finalidade educativa, aquela de acompanhar a pessoa na introdução e na relação com a realidade através da valorização plena das suas potencialidades e capacidades humanas. 8 PRIMEIRA PARTE AVSI E EDUCAÇÃO Os cinco pontos do método AVSI na perspectiva educativa A AVSI (Associação de Voluntários para o Serviço Internacional) nasceu em 1972 e hoje está presente em 35 países da África, América Latina, Oriente Médio e Leste Europeu. Seu desenvolvimento não se deve a uma estratégia admi-nistrativa, mas a uma série de encontros com pessoas ou realidades que, acolhidas em seu pedido de ajuda, estão na origem da realização de 86 projetos nos setores de saúde e higiene, cuidados com a infância, educação, formação profissional, microempreendimentos, recuperação de áreas urbanas marginalizadas, agricultura e com intervenções de emergência. "Compartilhar as necessidades para compartilhar o sentido da vida" não é simplesmente um slogan criado nos últimos anos, mas a expressão que indica uma experiência cotidiana, testemunhada por voluntários que trabalham em todos os países nos quais a AVSI está presente, freqüentemente em condições de enorme dificuldade. Foi a realidade e não uma estratégia que indicou a resposta para as neces-sidades encontradas, uma resposta que, em seu desenvolvimento, respeitou alguns pontos de método impostos pela reflexão sobre as experiências realizadas. Queremos descrever essa experiência no campo educativo a partir desses pontos metodológicos, procurando mostrar de que forma guiaram as ações do Projeto e a vida dos Centros Educativos. 9 1- Centralidade da pessoa Como dissemos, a presença nasce de um encontro e o encontro acontece com uma ou mais pessoas que demonstram uma necessidade. Todos os Centros Educativos envolvidos no projeto nasceram pelo interesse diante da necessidade de uma mãe, como aquela que demonstrava o desejo de ter um lugar seguro para deixar seus filhos enquanto trabalhava, e foi encontrada por Rosetta (voluntária italiana que está no Brasil há 37 anos) num posto de saúde onde ela prestava serviços como enfermeira. A partir da resposta àquela necessidade, hoje existem em Belo Horizonte berçários, creches, centros de reforço escolar e orientação profissional e uma casa de acolhida para menores em situação de risco; em suma, são acolhidas cerca de 600 crianças e adolescentes. Outro caso emblemático é o do padre italiano Luigi Valentini, que morou durante vinte anos no Brasil, dividindo seu tempo entre a Pastoral Universitária e o trabalho nas favelas. Como ele mesmo conta, um fato "revolucionou" sua vida. "Três crianças foram queimadas vivas em seu barraco. Seus pais iam trabalhar e trancavam o barraco para que elas não passassem o dia perambulando pela rua. Tive uma idéia... comecei a construir um barraco de madeira e recebi umas cinqüenta crianças pequenas... com o passar do tempo o lugar cresceu, e foi reconstruído em alvenaria... até acolher 150 crianças durante o período em que os pais trabalhavam (das 6:30 às 15:30). Em 1990, voltei para a Itália e contei minha história, encontrei pessoas através das quais nasceu a segunda, a terceira... até a oitava obra. Uma na periferia de São Paulo (SP), cinco em Belo Horizonte (MG), uma em Salvador (BA) e uma em Samambaia (cidade satélite do Distrito Federal)1". Quando se encontra uma pessoa, imediatamente se realiza uma intervenção, aplicam-se todas as possibilidades e todos os instrumentos para responder adequadamente à necessidade e depois se procuram financiamentos, colaborações ou amigos que possam ajudar. Assim, mesmo tendo o objetivo de responder a uma necessidade em particular, a pessoa que é o "objeto de ajuda" é sempre colocada no centro da ação, com todas as suas exigências e recursos, sendo que o conjunto de relacionamentos no qual está envolvida é levado em consideração. 1 Testemunho recolhido no site http://www.donluigi.net 10 A criança e o adolescente são acolhidos na totalidade de sua pessoa. Os educadores e funcionários da área social cuidam de todos com intervenções adequadas para cada caso, tanto do ponto de vista da instrução e da formação humana e profissional quanto das condições de violência e carência, e também de suas identidades, suas relações familiares, traduzindo o princípio de centralidade da pessoa em um processo educativo fundamentado no pertencer recíproco entre o adulto e o jovem. Ter a pessoa como ponto de partida seria abstrato se a pessoa não fosse vista em suas relações primárias (a família) e secundárias (a comunidade local e a sociedade civil, na totalidade de suas dimensões). A formação da pessoa não ocorre apenas para expressar o direito à cidadania, certamente um direito importante e relevante dentro dos contextos nos quais as escolas trabalham, porém redutivo se considerado de maneira absoluta, porque é a própria pessoa que carrega consigo essa dimensão, e apenas uma pessoa educada em sua complexidade poderá ser também um ator social e civil. Especificamente, as ações do projeto foram orientadas pela hipótese que considera a educação uma ajuda para a pessoa introduzir-se na realidade total, com todos os fatores que a constituem e todos os aspectos nos quais a realidade se apresenta. Durante a primeira atividade do projeto – que foi o recolhimento dos dados sobre cada um dos Centros Educativos –, manifestou-se uma conscientização sobre suas naturezas: as dimensões que os compõem (social, educativa, atenção à saúde e administrativa), e que na redação inicial do projeto foram colocadas em um mesmo patamar, mas deveriam ser consideradas sob uma ótica diferente e de forma eficiente diante da dimensão educativa. Desde suas origens – respondendo às necessidades encontradas –, as várias escolas sempre tiveram como motivação um caminho educativo que, para responder da maneira mais adequada dentro de seu contexto, não poderia excluir uma atenção a aspectos como saúde ou condições socioeconômicas das famílias, aspectos que normalmente não fazem parte da área de interesse de uma escola. Por outro lado, em um contexto no qual situações de emergência e de necessidade sempre solicitam uma intervenção objetiva, é fácil oferecer ajuda nos aspectos elementares (como dar comida ou remédios, procurar emprego para as mães), uma posição que, se não pode ser evitada, certamente deve estar subordinada ao objetivo das escolas que, como foi dito, é predominantemente educativo. 11 A conscientização sobre o caminho educativo (que surge como conseqüência do colocar a pessoa no centro da própria ação) foi compartilhada com os responsáveis e todos os funcionários dos Centros Educativos através de vários momentos, como o Seminário "Educar-se para Educar" e os "Cursos de Formação para Educadores". Tais momentos tinham como objetivo uma formação integral e contínua, e não a formação para executar uma tarefa específica. 2- O positivo como ponto de partida Cada pessoa, cada comunidade, por mais pobre que seja, representa uma riqueza e apresenta um "patrimônio". Esse princípio metodológico valoriza e reforça o que as pessoas construíram, suas histórias, relações existentes, ou seja, o tecido social e aquele conjunto de experiências que constituem o patrimônio de suas vidas. Significa "trabalhar a partir do que existe, e não daquilo que falta". Trata-se de um ponto de trabalho fundamental, que nasce de uma abordagem positiva da realidade e que faz com que a pessoa compreenda seu valor e sua dignidade e, ao mesmo tempo, permite que assuma uma responsabilidade. A primeira área de atuação do projeto foi a fase de conhecimento da realidade. Não foi apenas uma fase preliminar da ação, mas uma ação em si mesma, pois identificar objetivos prioritários depende de como se "re-conhece" a realidade na qual o projeto quer intervir; a definição das metodologias e dos instrumentos de trabalho específicos deve surgir a partir da observação da realidade; o relacionamento entre todos os atores ou corpos intermediários presentes e operantes no território é um elemento fundamental no desenvolvimento do projeto. A coleta dos dados, além do objetivo de conhecer a realidade (necessário para o planejamento das atividades e o desenvolvimento do projeto), foi um auxílio para estabelecer um relacionamento que permitiu definir com os destinatários da ação os pontos positivos que deveriam ser considerados durante a realização de cada aspecto específico. Como resultado da fase cognoscitiva, foram obtidos os elementos característicos e particularmente significativos de cada escola, que depois se tornaram a base da intervenção seguinte, destinada a desenvolver esses aspectos, compartilhá-los e difundi-los. 12 3- Fazer com Um projeto que "vem de cima" corre o risco de ser violento, por não contar com a participação dos beneficiários, ou ineficaz, por ser apenas assistencial. A modalidade através da qual é proposto e realizado o projeto é a de "fazer com", trabalhar junto com as pessoas, ou seja, a partir da relação com aqueles aos quais o projeto é destinado, e construir a partir de passos dados em conjunto. A participação de todos os sujeitos envolvidos faz parte da natureza da intervenção e é a base da definição de "como, onde e quando" realizá-la. Em um projeto cujo objetivo é a sistematização e a difusão dos elementos de alta qualidade de diversas realidades, o nível de envolvimento das escolas é diferenciado conforme a contribuição que cada uma pode dar ou receber do trabalho em rede. Como as realidades educativas envolvidas no projeto estão espalhadas pelo território (Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), a modalidade mais útil para favorecer o "fazer com" foi envolver os coordenadores das diversas cidades no comitê de gestão do projeto, de forma tal que pudessem ser pontos de referência para todas as obras, informando-as do começo dos trabalhos, apresentando os objetivos, os resultados, as várias atividades previstas no cronograma e definindo em conjunto os critérios fundamentais para o desenvolvimento das diversas atividades a partir dos dados obtidos sobre as realidades pela análise cognoscitiva. Para que as ações fossem eficazes, era preciso considerar as características de cada escola, revelando pontos comuns e especificidades, pontos fortes e fragilidades, de tal modo que as atividades propostas pudessem ser aceitas e, conforme as necessidades, favorecer ao máximo o envolvimento das diversas realidades em seus vários níveis. Isso levando em conta a dinâmica de formação e ação sugerida pelo projeto, que previa o enfrentamento de um tema com a produção de instrumentos comuns, locais, recolhidos e avaliados para alcançar as diretrizes das ações. Todas as atividades propostas tinham como pressuposto o compartilhamento entre os participantes, porque apenas uma participação motivada e protagonista pode auxiliar na chegada ao objetivo do projeto, ou seja, reforçar a capacidade de cada Centro de responder com uma clara proposta educativa às necessidades encontradas. 13 4- Desenvolvimento subsidiariedade dos corpos intermediários e Desenvolver corpos intermediários e subsidiariedade significa favorecer e desenvolver possibilidades de agregação, ou seja, reconhecer, valorizar e favorecer a construção de corpos sociais intermediários e de um tecido social rico em participações e co-responsabilidade. O direito de cada pessoa à liberdade de associação e ação revela-se dentro da experiência como uma potente força de mudança, assim como o reforço dos atores sociais é uma condição que auxilia a continuidade do processo de desenvolvimento da comunidade em todos os seus aspectos. Com a aprovação em 1996 da Lei de Diretrizes e Bases – LDB2 (que lista os fundamentos do percurso educativo), a publicação dos Referenciais Curriculares3 e as sucessivas regulamentações elaboradas pelos governos federal e municipais, as creches que pertencem à Rede foram inseridas no âmbito do setor educativo, sendo que antes estavam situadas no âmbito do serviço social e assistencial. Essa passagem foi uma conquista, porque permitiu que as instituições deixassem de ser consideradas lugares nos quais as crianças ficavam durante um determinado período do dia para que suas mães pudessem trabalhar ou para que se afastassem de condições de risco social, para então serem consideradas lugares com objetivos educativos. Mas não se pode esquecer que a falta de quase 15 milhões de vagas na educação infantil brasileira foi suprida com muitas instituições mantidas pela iniciativa privada. É preciso sublinhar o papel das estruturas educativas de iniciativa privada dirigidas à infância e com caráter de utilidade pública, como as que constituíram a rede do projeto. Tais estruturas desenvolveram e ainda desenvolvem uma função específica na superação de alguns obstáculos do processo de ensino/aprendizagem que aparecem na primeira infância. É o caso da desnutrição e da falta de atenção, que tornam frágeis as relações afetivas entre pais e filhos, comprometendo o desenvolvimento afetivo e conseqüentemente a aprendizagem, ou mesmo a total inexistência de uma educação infantil completa que torne possível obter os pré-requisitos indispensáveis para a aprendizagem durante a vida escolar. 2 BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Instituída pela Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. 3 BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil, Brasília: MEC/SEF, 1998. 14 A inclusão dessas estruturas no sistema educativo representa um passo importante – porque obriga todas as instituições a oferecerem um percurso educativo-pedagógico específico, solicitando inclusive uma adequada preparação dos educadores – e o Estado não pode deixar de reconhecer o papel cumprido por esses sujeitos educativos, que no tempo desenvolveram uma sólida experiência capaz de fornecer um serviço qualificado e adequado às necessidades. O projeto também teve a intenção de contribuir para que fosse superada por parte do Estado uma visão assistencialista com relação aos serviços da rede complementar. Esses serviços não são apenas um complemento que responde a determinadas situações ou necessidades, mas carregam consigo uma responsabilidade diante da sociedade. Um dos frutos gerados foi a conscientização dos sujeitos envolvidos sobre a importância do serviço prestado, algo que, por um lado, ampliou as relações com outras instituições que desenvolviam a mesma tarefa; por outro lado, favoreceu um diálogo com as escolas freqüentadas pelos jovens (o que permitiu conhecer melhor o trabalho desenvolvido nas salas de aula e, assim, definir os conteúdos mais apropriados para atividades extra-classe) e com a administração pública para o reconhecimento do serviço oferecido, inclusive com convênios adequados. Nesse sentido, a oportunidade de intervenção para constituir uma rede entre as estruturas de Ensino Infantil foi motivada por algumas vantagens: • valorização de uma experiência feita pela iniciativa privada que amadureceu no tempo e obtém resultados eficientes, eficazes e que ultrapassam os obtidos pela intervenção pública, que justamente por ser pública deveria favorecer essas experiências e, segundo o princípio de subsidiariedade, agir como substituta apenas se necessário; • quando especificidades e elementos comuns são transformados em patrimônio e compartilhados, podem dar uma consistência maior a cada realidade e tornar o método transmissível, reproduzível, independente das pessoas que o criaram; • quando colocadas em rede as "experiências de alta qualidade", desenvolvidas por algumas escolas em setores específicos (saúde, social e pedagógico), podem ajudar outros a se desenvolverem, alcançando adequados padrões de qualidade; • uma massa crítica significativa pode obter economias de escala, além de vantagens do tipo qualitativo, especialmente em serviços e consultorias (por exemplo, jurídica e fiscal) e formação de pessoal. 15 5- Parceria A parceria deriva da aplicação da subsidiariedade. Significa ter como ponto de partida um sujeito que existe, é ativo em sua comunidade; envolve em suas ações – a partir de seus respectivos papéis – as administrações locais, as forças sociais e empreendedoras, as instituições internacionais, para que colaborem na resposta às necessidades com as quais se confronta, permitindo construir um "canal de acesso" da comunidade aos serviços da "cidade formal". São ainda muitos os problemas que afetam o sistema educativo no Brasil e que podem comprometer seriamente o alcance das metas previstas tanto no documento da Unesco, Educação para todos (Education for all)4, assinado pelo Governo Brasileiro, quanto no segundo objetivo do documento Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (Millennium Development Goals): "Atingir o ensino básico universal: garantir que todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino básico".5 Nos últimos anos, foram dados passos inegáveis na tentativa de que todos sejam inseridos na escola, especialmente no Ensino Fundamental, mas os indicadores demonstram que ainda não foi proporcionada uma educação de qualidade para todos e que a faixa da população mais penalizada é a que mora nas áreas de baixa renda das grandes metrópoles. As instituições socioeducativas não-estatais que possuem o título de utilidade pública, tanto no Ensino Infantil quanto no Ensino Fundamental e Médio (centros socioeducativos e de reforço escolar), exercem um papel decisivo para remover obstáculos de aprendizagem e para melhorar a qualidade do processo de educação-instrução de crianças e adolescentes. As creches desenvolvem uma função importante para remover obstáculos que surgem na primeira infância durante o processo de ensino/aprendizado. Sua recente inclusão no sistema educativo impôs novas exigências de requalificação em todos os níveis (só que o tema do custeio não foi enfrentado): da administração e gerenciamento dos recursos humanos, financeiros e estruturais, passando pela qualificação profissional dos funcionários (agora é exigida uma formação específica para os educadores), até metodologias e instrumentos pedagógicos adequados. 4 Declaração da Conferência Mundial de Educação para Todos (EPT), realizada em 1990 (Jomtien/Tailândia). 5 Millennium Development Goals, documento aprovado na Cúpula do Milênio – realizada de 6 a 8 de Setembro de 2000, em Nova York. 16 Já os Centros Socioeducativos e de Reforço Escolar acolhem crianças e adolescentes durante o período em que estão fora da escola, aumentando a jornada escolar (por isso, definimos como rede complementar de educação), propondo atividades de reforço, educativas, culturais e recreativas, colaborando com a aprendizagem e enriquecendo o processo de alfabetização e de educação de base, combatendo fenômenos, como evasão e repetência escolar, e tentando impedir o envolvimento dos jovens com atividades ilícitas, como o tráfico de drogas ou a violência urbana. São muitas as iniciativas para orientá-los, prepará-los para o trabalho e iniciá-los profissionalmente, através de laboratórios de qualificação ou convênios com empresas para estágios. Porém, no contexto das políticas públicas, tais serviços ainda são considerados serviços de assistência social e não são contemplados no sistema educativo. Por outro lado, nem sempre as instituições têm consciência da contribuição fundamental que dão à educação de qualidade para seus freqüentadores, correndo o risco de considerarem a si mesmas uma resposta a algumas necessidades parciais. A Rede de Ensino Infantil, que foi reforçada com o desenvolvimento do Projeto, representa um exemplo claro de parceria entre público e privado, local e internacional, através do envolvimento de sujeitos que, de diferentes formas, colaboraram de modo objetivo. Podemos citar o Ministério das Relações Exteriores e a Conferência Episcopal Italiana, que financiaram o Projeto; as famílias, pessoas e associações que através do "Apoio a Distância" contribuem para melhorar a vida das crianças acolhidas; as instituições locais e uma organização não-governamental que soube desenvolver a função de catalisador entre todos os sujeitos. Uma possibilidade de progresso real é gerada onde, como descreve o oitavo objetivo do já citado documento Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (Millennium Development Goals), "estabelece-se uma parceria mundial para o desenvolvimento", constituindo-se uma aliança entre vários sujeitos que tomam parte, ou seja, como sujeitos que participam ativamente do processo e não apenas de maneira formal. 17 SEGUNDA PARTE LINHAS DE FUNDO DA AÇÃO EDUCATIVA Depois de verificar os pontos da estratégia de intervenção da AVSI na vida das instituições do projeto e na condução das atividades desenvolvidas, agora examinaremos alguns conteúdos centrais que, mesmo sem esgotar a complexidade do percurso, certamente constituem um ponto de chegada compartilhado por todos os participantes da Rede. 1- O reconhecimento do "ser pessoa" da criança e a importância do adulto como educador Aquilo que demonstramos no primeiro ponto metodológico – a centralidade da pessoa – representa o ponto de partida de cada intervenção que diz respeito às crianças. Apenas seu reconhecimento como pessoa e, por isso, o reconhecimento de sua identidade ou da possibilidade de construir tal identidade, dá fundamento (mesmo em um contexto "difícil" como o das áreas nas quais estão os Centros que constituem a Rede) para uma intervenção caracterizada como educativa e não meramente assistencial. Lembramos que educativo significa acompanhar a pessoa na introdução e encontro com a realidade, através da valorização plena de suas potencialidades e capacidades humanas.1 1 Giussani, L. Educar é um risco, Bauru: Edusc, 2004, p 45–46. 19 Essa afirmação poderia parecer óbvia se não fossem conhecidas as difíceis condições de vida da maior parte das crianças e jovens que freqüentam os centros: suas primeiras necessidades são por vezes tão gritantes que pareceria suficiente responder à carência de alimentação, higiene e atenção. Essas necessidades, que são observadas e satisfeitas dentro dos Centros Educativos, são sempre vistas como parte de uma necessidade maior, própria de todo ser humano: ser reconhecido e afirmado como pessoa. “A resposta à necessidade nunca é dissociada da consideração da pessoa na sua inteireza, mas é global”.2 Nas creches e instituições de Ensino Infantil, dar banho nas crianças não é simplesmente resposta para a necessidade de limpeza, mas torna-se um momento de relacionamento pessoal entre a educadora e a criança, no qual o pequeno percebe-se mimado, tratado com doçura, podendo falar de si e ser ouvido; é um gesto de afeto exclusivo, através do qual a criança toma consciência de si e do próprio corpo, freqüentemente pela primeira vez. Durante o longo período no qual permanecem tanto nas creches quanto nas instituições de Ensino Infantil (das 7 da manhã, quando são levadas pelas mães antes do trabalho, até as 17, quando estas voltam para buscá-las), as crianças recebem cinco refeições, que não satisfazem apenas a necessidade de serem alimentadas: os menores recebem comida um de cada vez, permitindo que o tempo gasto faça com que cada um sinta-se "único". Para os maiores, o café da manhã e o almoço não representam apenas as únicas refeições com valor nutritivo significativo, mas também a idéia de ordem e das regras de vida. Todos os gestos cotidianos carregam uma intenção educativa, porque sempre comunicam qualquer coisa a mais do que aquilo que realizam; o ato de cuidar e a forma com a qual esse ato se realiza é como se dissesse para a criança: "você é importante para mim, você tem valor", ou seja, transmite que a vida vale a pena ser vivida. Um dos instrumentos utilizados no projeto para ajudar as pessoas envolvidas nos Centros Educativos a estarem sempre mais conscientes dessa dimensão foi o Seminário "Educar-se para Educar", no qual pode-se dizer que foi lançada a hipótese educativa do projeto, retomando os temas do texto Educar é um risco3, um importante ponto de referência. 2 Rossi, G. Educare il bambino, in famiglia, in comunità, nel mondo, Milano: AVSI, 2001, p.41. 3 Giussani, L. op. cit. 20 Esse momento de trabalho aconteceu em duas sedes (Belo Horizonte e Salvador) e teve a participação de todos os funcionários dos Centros (num total de 290 pessoas). As atas posteriormente publicadas4 tornaram-se um instrumento de reflexão nas diversas instituições e uma modalidade de diálogo com outros sujeitos envolvidos na mesma aventura educativa. A consciência de que educar é prerrogativa de todas as pessoas que trabalham em um Centro Educativo, e não apenas de quem tem responsabilidade direta com as crianças, é uma concepção um pouco revolucionária diante dos cânones normais, sobretudo no contexto brasileiro. No âmbito educativo, todas as pessoas que trabalham (do pessoal da limpeza ao da cozinha) colaboram para o crescimento e a educação das crianças e jovens, porque, através do modo com o qual desenvolvem a própria tarefa, manifestam o sentido daquilo que fazem; também uma ação repetitiva, como pode ser aquela de manter um ambiente limpo ou preparar o almoço, demonstra uma beleza e contribui para tornar um local acolhedor. O adulto desenvolve um papel fundamental para favorecer ou dificultar o processo de crescimento, em outras palavras, de formação da identidade da criança, especialmente através do cuidado: é um cuidado que se manifesta nos primeiros anos de vida como aquilo que assegura o bem-estar físico e psíquico e, nos períodos de crescimento, torna-se mais flexível, oferecendo uma proteção que apóia o jovem e o adolescente na conquista de autonomia. Esse cuidado é exercitado em primeiro lugar pelos pais, uma vez que a família é protagonista e primeira referência de educação, como exprime o documento da Unicef Um Mundo para as Crianças (A World Fit for Children)5 e como poderemos rever a seguir. Quando a família está presente, é apoiada para que possa desenvolver da melhor maneira possível sua específica tarefa educativa, de construção da personalidade de base; mas não podemos esquecer que, ao lado dela, outros adultos desenvolvem um papel fundamental, sobretudo em ambientes caracterizados por conflitos, abandono ou negligência. No curso de formação dos educadores, "Extensão em Educação Infantil", com cerca de 160 alunos pertencentes às instituições da Rede do Projeto e a outros Centros envolvidos, trabalhou-se muito sobre esse aspecto, porque é típico do relacionamento cotidiano com quem está diretamente ligado na 4 Cogo, L.; Carmo E. R. (Org.) Educar–se para educar, Belo Horizonte: CDM: AVSI, 2001. 5 Publicado no site http://www.unicef.org 21 atividade didática e que trabalha para despertar as potencialidades da criança, facilitando o crescimento e a tomada de consciência. São três os elementos que caracterizam a figura do educador6 e que foram aprofundados em suas implicações: “• Autoridade A consciência da realidade em sua inteireza torna possível que o educador desenvolva uma ação educativa não fragmentada e sensível aos desafios impostos cotidianamente pelos vários contextos sociais. Diante da comparação contínua com a presença do educador, que a valoriza constantemente, a criança cresce, percebe suas potencialidades e aprende a ter uma leitura crítica da situação na qual vive. Para alcançar esse objetivo, o primeiro passo educativo é uma atenção à bagagem de vida, de valores e de experiências que a história da criança carrega consigo (consciência da tradição). • Autoconsciência O educador é tal se não separa a própria função de si mesmo. O educador está consciente de que a verdadeira educação deriva de uma comunicação de si e que por isso o primeiro instrumento é o envolvimento sincero de si mesmo. Está sempre em jogo toda a liberdade do adulto no absoluto respeito da liberdade da criança. Essa postura indica um método que também permeia as técnicas empregadas. • Consciência da dimensão comunitária O fator comunitário é a dimensão que constitui cada ação educativa que se realiza contínua e cotidianamente em uma teia de relacionamentos capilares dentro da comunidade de referência”. Durante o curso7, que possuía um módulo teórico e um módulo com laboratórios e estágios, tratou-se dos aspectos implicados nessas afirmações; por razões de espaço, aqui nos limitamos a dar exemplos do trabalho desenvolvido sobre uma capacidade que deve ser aprendida e que facilita e aprofunda a relação entre adulto e criança: a observação. Parece algo fácil mas, na realidade, aprender a observar é algo complexo, porque a realidade – e a realidade de uma criança – não é facilmente perceptível na globalidade de seus fatores e porque a pessoa que 6 Rossi, G. op. cit. p. 40. 7 Cogo, L. Apostila do Curso de Extensão em Educação Infantil. Belo Horizonte: AVSI, 2002. 22 observa nunca é neutra, mas determinada por tudo que vive naquele momento. Para aprender a observar, o adulto deve colocar-se na humilde posição de quem não sabe tudo sobre uma criança ou um grupo de crianças; não se observa para comprovar a eficácia de uma hipótese elaborada com antecedência, ou para relatar a realidade dentro de um esquema, isso porque o outro se conhece na medida em que se revela, se faz conhecer. Então, torna-se uma característica fundamental do educador a curiosidade para conhecer e descobrir e, desse ponto de vista, todas as situações da vida cotidiana são interessantes desde que o adulto se coloque na condição de tentar entender o sentido daquilo que a criança está comunicando sobre si mesma. Por isso, a observação nunca é compreendida como um meio para buscar o que "não funciona" em uma criança, mas como possibilidade de encontrar uma modalidade para se relacionar com ela para poder desenvolver melhor a tarefa educativa. A observação foi um dos temas sobre os quais os educadores trabalharam no estágio, sempre com a supervisão de pedagogos que os acompanhavam no processo de aprendizagem, e, sem dúvida, foi um elemento que modificou profundamente a relação adulto-criança. Sublinhamos anteriormente a importância da co-responsabilidade de cada adulto, qualquer que seja a função desenvolvida nas escolas, para a educação dos sujeitos que as freqüentam. A tarefa educativa não é algo que pode ser desenvolvido de maneira individual. Existe um instrumento na vida das escolas que expressa de modo privilegiado essa co-responsabilidade: o Projeto Político Pedagógico. Antes do início de nosso projeto, nenhuma das escolas da Rede havia redigido uma versão desse instrumento, mas depois da aprovação da LDB, a elaboração do Projeto Político Pedagógico tornou-se uma necessidade, inclusive para participar dos convênios com as Secretarias Municipais de Educação. O trabalho com os pedagogos em um seminário dedicado ao aprofundamento dos aspectos peculiares do Projeto Político Pedagógico, o sucessivo acompanhamento das instituições durante a redação e a elaboração de uma ficha-guia foram registros muito interessantes para o uso desse instrumento não de forma burocrática, apenas com o propósito de cumprir a legislação, mas para comunicar a própria identidade, antes de tudo esclarecendo-a aos sujeitos responsáveis da escola (direção, professores, pessoal e pais como interlocutores privilegiados). 23 Desse modo, o Projeto Político Pedagógico não é simplesmente um documento técnico, mas a expressão de uma significativa proposta educativa que realmente revela o trabalho cotidiano; representa o instrumento de uma comunidade escolar que nasce da capacidade de delinear um caminho humanamente significativo, fundamentado do ponto de vista cultural e adequado do ponto de vista metodológico. 2- O relacionamento com as famílias As obras da Rede – situadas nas periferias das cidades – trabalham em sua maioria com famílias pobres que apresentam um contexto familiar frágil e muitas vezes desestruturado, devido a fatores como desemprego, alcoolismo e dependência de drogas. Freqüentemente, são famílias formadas apenas pela mãe e filhos, nascidos de uniões com companheiros diferentes, ou, ainda que a figura paterna esteja presente, são sustentadas e cuidadas pela mãe. Diante dessas premissas, é comum a tentação de realizar um trabalho assistencial, que é a forma de resposta mais imediata para uma necessidade: um trabalho "para" a família e não "com" a família, na pretensão de ser capaz de definir quais são suas carências. A partir da pesquisa qualitativa, realizada no início e durante o decorrer do projeto, emergiu um elemento comum em todas as instituições: o desejo de que a família fosse reconhecida como capaz de educar, como sujeito apto para formular as próprias prioridades, sem ser substituída por ninguém no seu papel educativo, nem mesmo pelo Centro, ainda que este seja visto como uma segunda casa, pela importância que tem em suas vidas e que comentaremos mais tarde. Esse elemento comum está baseado no reconhecimento de um dado objetivo: a criança nunca é um ser isolado, está sempre inserida em um contexto familiar que é rico em presenças significativas, mesmo sendo desestruturado em 80% dos casos. De fato, a criança pertence à sua família e isso merece ser levado em consideração não apenas porque o "direito" da família sobre a criança está garantido por razões biológicas, mas, sobretudo, porque ela representa o primeiro âmbito no qual a criança pode ser educada para a sua verdadeira humanidade e para ter uma relação construtiva com a realidade.8 8 Apenas para citar um exemplo da legislação brasileira, ver na lei n. 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional os artigos 2 e 29, nos quais é afirmado o dever da família na educação dos filhos e da complementaridade do Estado. Sobre a relação família-educação-introdução à realidade, observe-se Giussani, L. op. cit. e também Rossi, G. op.cit. 24 A família compõe uma rede de relacionamentos que definem o "rosto" com o qual cada um cotidianamente freqüenta diversos ambientes, com o qual encontra os outros. Pertencer aos próprios pais é uma questão decisiva para o desenvolvimento psicofísico da criança recém-nascida e, durante toda nossa existência, não poderemos prescindir desse pertencer a uma realidade maior do que nós mesmos.9 A família constitui um recurso fundamental para a pessoa: é no espaço familiar que ocorrem experiências humanas básicas como paternidade, maternidade, ser filho ou irmão, a relação entre gerações, a descoberta do nexo com a geração da vida e com a realidade da morte, experiências que perduram no tempo independentemente da própria vontade da pessoa e que estão destinadas a permanecer durante toda a existência. São essas relações vividas que impulsionam a pessoa na busca de um significado e, por isso, no processo de crescimento citado no primeiro ponto. Nascer, amar, gerar, trabalhar, adoecer, envelhecer e morrer são processos ligados às relações de parentesco que quase sempre fogem ao controle da pessoa e, por isso, exigem a busca de um sentido mais profundo. A pessoa entra com a totalidade de sua existência nos vínculos familiares: seu temperamento, suas capacidades e seus limites, diferente do que normalmente acontece nos outros âmbitos da vida nos quais se estabelecem relações parciais, que estão limitadas a capacidades específicas correspondentes às funções exercidas. A família também constitui um recurso para a sociedade, a partir do momento em que auxilia nas respostas aos problemas e necessidades cotidianas de seus membros. Através da proteção, da promoção, do acolhimento, da integração e das respostas às necessidades dos seus, a família favorece o desenvolvimento da sociedade. É o lugar fundamental da socialização e da educação das novas gerações, já que nas famílias não é transmitida apenas a vida, mas também seu significado, o conjunto dos valores e critérios de comportamento. Sabemos que uma criança é feliz quando começa a perceber que pertence a alguém e, só a partir desse ponto, pode brotar uma relação na qual a criança deseja crescer e tornar-se adulta. Quando essa relação é quebrada, frágil, vêem-se terríveis conseqüências na vida das crianças tanto no Brasil como na Itália. 9 Scola, A. Il mistero nuziale. Roma: Pul–Mursia, 2000, v.2. 25 Mas como fazer se o contexto familiar parece, conforme já dissemos, inexistente? Agora, mostraremos como o direito da família de educar seus próprios filhos, esse direito fundamental também proclamado nos Direitos Universais10, foi desenvolvido de forma operativa nas atividades da Rede. No Seminário "Família: primeiro sujeito educativo" (proposto a todos os funcionários das obras, com uma atenção particular aos mais envolvidos na relação com as famílias, ou seja, educadores, diretores e assistentes sociais), foram retomadas as concepções delineadas até o momento, para que se tornassem patrimônio de todos, e iniciou-se o trabalho sobre alguns pontos operativos, depois recuperados nos âmbitos locais para a aquisição dos instrumentos de trabalho mais adequados. O Seminário, que aconteceu em junho de 200311, serviu como contribuição para a construção de uma mentalidade que considera a família um recurso, na busca de tentativas originais para responder às necessidades encontradas no relacionamento cotidiano com crianças e famílias. Foi visto, por exemplo, como pode ser vencida a objeção daqueles que, mesmo compartilhando as posições expressas até agora, achavam impossível trabalhar "com" a família, uma vez que as famílias parecem não existir, devido às trágicas condições já citadas. No instante no qual os pais fazem a solicitação para inscrever o filho na creche ou na instituição de Ensino Infantil – ocasiões freqüentes, tendo em vista que as listas de espera quase sempre superam em três vezes o número de vagas disponíveis –, esse olhar diferente sobre a família e sua realidade ajuda a estabelecer um determinado tipo de relação, e não outro. Assim, um momento que poderia apenas representar um gesto formal, burocrático, para recolher alguns dados importantes, pode representar o primeiro instante de um relacionamento para olhar aquela mãe, aquela família, com o intuito de "conhecê-la". Pode-se usar o tempo disponível para falar, escutar e entender quem é essa família. Qual é sua história? Quais seus relacionamentos? Quais as necessidades dessa mulher, dessa família? Como vivem? E, assim, o momento da visita domiciliar (posterior à inscrição e freqüentemente determinante para dar prioridade na lista de espera) pode ser usado não para controlar a 10 Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948. 11 Cogo, L.; Chaves, C.C.C. (Org.). Família: primeiro sujeito educativo, Belo Horizonte: CDM–AVSI, 2003. 26 veracidade das informações fornecidas, mas como momento ulterior de conhecimento, que permite começar uma história de relacionamentos que também podem ajudar pessoas que até aquele instante eram desconhecidas. É preciso lembrar – também nos casos nos quais as figuras dos pais são julgadas inadequadas – que, para uma criança, aquele homem e aquela mulher são "seu pai, sua mãe, sua avó", e este "seu" é anterior à atribuição de qualquer adjetivo (bom, ruim, adequado, inadequado). Se a criança não percebe a confirmação dessa ligação de pertencer (uma vez que a maternidade e a paternidade são um dado ontológico que não pode ser cancelado nem quando, por graves razões, o pátrio poder é retirado do adulto), ela não é ajudada a viver sua situação, e sua insegurança aumenta. O ponto de partida para começar a compartilhar um projeto comum é olhar as famílias não como frágeis, desestruturadas, como algo que deve receber apoio, ajuda, e, sim, pelos recursos que representam, qualquer que seja a situação em que se encontrem. E esse movimento em conjunto por um projeto comum é a única modalidade na qual a tarefa de educar pode ser desenvolvida, pois, como dissemos, educar é algo que não se faz individualmente. Através da inscrição, os pais, ainda que inconscientes, estão pedindo mais do que um lugar para deixar o filho durante um certo número de horas: estão pedindo a colaboração na educação do filho, e isso é verdadeiro também quando a solicitação nasce de uma necessidade. O Centro Educativo representa para uma criança o primeiro ambiente externo à família, um ambiente predisposto e projetado intencionalmente para oferecer experiências que não seriam possíveis no núcleo familiar, e, para vencer a insegurança suscitada por esse desconhecido, a inserção deve ser bem preparada. No curso oferecido aos educadores e nos momentos de trabalho com os diretores dos Centros, aprofundou-se a preparação desse processo, a partir das premissas expostas até agora, e tendo presente o significado que isso possui na relação que se constrói com a família. O primeiro momento desse relacionamento é representado pelo instante no qual os pais se encaminham à instituição para pedir um lugar para o filho, e, depois, conforme comentamos, segue-se a entrevista entre o diretor e os pais. É a ocasião de escutar a família e conhecê-la através do diálogo, apresentar a escola, sua posição educativa, o caminho que será proposto, de tal forma que os pais possam adquirir confiança nos cuidados e na educação que serão dados para a criança. 27 Então, acontece a visita à família, na qual o diretor, acompanhado da assistente social ou de um educador (que já tenha uma certa familiaridade com a comunidade), tem a possibilidade de conhecer um pouco mais a realidade na qual vive a criança, para poder ajudar os educadores no momento da acolhida. Para a família, a visita dos funcionários da escola – excluindo a primeira, na qual devem ser vencidos o estranhamento e o receio de controle por parte da instituição – é sempre recebida como um gesto de estima e compartilhamento. No momento seguinte a essa visita, alguns dias antes de começar a adaptação, a criança e a mãe são convidadas a conhecer o ambiente da escola, as pessoas que nela trabalham e, de maneira especial, aqueles que tomarão conta da criança. A adaptação ocorre de forma gradual, permitindo que a mãe acompanhe as atividades durante algumas horas, e, se possível, sem que a criança permaneça o dia inteiro na sua primeira vez. Freqüentemente, o trabalho de acolhida, cuidado e educação da criança se reflete e age indiretamente na mãe e sua família, que percebem as experiências de ordem, beleza e afeto vividas pela criança dentro do Centro. No momento da saída, entregar a criança limpa e penteada para a mãe (inclusive se aquela chegou ao Centro pela manhã em evidente situação de desleixo) é a forma de comunicar uma mensagem importante: "Veja como seu filho é bonito!" E suscita uma pergunta: "Por que eles fazem isso?" Pouco a pouco, é desse modo que acontece o milagre de uma mudança, na qual também as mães mudam o olhar diante dos filhos e começam a cuidar deles. Entre todos os exemplos, é particularmente significativo o do CREN (Centro de Recuperação e Educação Nutricional) de São Paulo. Quem pergunta o segredo de um método tão eficaz para a recuperação nutricional descobre que o ponto de partida é o "compartilhamento", que se preocupa em encontrar o outro, sua realidade, acompanhando-o, vivendo com ele seu problema, e não observando externamente. Compartilhar a situação de uma pessoa não significa viver sua condição, fato que seria impossível, mas é possível oferecer uma companhia real, o que permite a essa pessoa assumir e penetrar em sua situação, de tal forma que possa encontrar os meios para olhar de frente os aspectos que causaram a desnutrição.12 12 Sawaya, A.L.; Solymos, G.M.B. Vencendo a desnutrição: na família e na comunidade, São Paulo: Salus Paulista, 2002. 28 Faz parte desse método a proposta feita às mães de ajudar as escolas através do trabalho voluntário durante algumas horas na semana e para atividades específicas. A mãe, participando do ambiente de vida da escola, pode se sentir parte e construtora da proposta educativa, aprendendo ao mesmo tempo uma disciplina e uma beleza no relacionamento com as pessoas e com as coisas que podem mudar seu próprio ambiente de vida. É só participando de uma experiência que se pode verdadeiramente mudar. Diz uma mãe de Belo Horizonte: "Hoje, eu tenho uma segunda casa para meus filhos. Na verdade, eu não consigo imaginar minha vida sem a creche, um lugar que me acolheu e acolheu meus filhos, que se preocupa com a minha vida e com a vida deles. Muitas vezes, eu precisei de alguém com quem conversar, porque na vida existem momentos e situações difíceis que nós não conseguimos superar. Aqui, eu encontrei amigos que me deram força e ajuda para seguir em frente, e pra mim isso tem um grande valor. Eu estou muito feliz e agradecida porque existe esse lugar, onde as pessoas amam meus filhos, e só isso já é suficiente para a minha felicidade". Em contextos de pobreza, a acolhida representa não apenas uma solução para crianças e casos difíceis, mas se traduz em uma experiência educativa que, restituindo para a mãe e para os adultos o sentido de dignidade da pessoa, com o tempo, estimula a dar novamente ao núcleo familiar uma identidade precisa e, então, uma solidez. 3- O relacionamento entre as instituições, o bairro, as escolas "formais" Com o tempo, na ação educativa dirigida às crianças e que envolve as famílias, os Centros Educativos se transformaram em sujeito ativo na comunidade, um sujeito capaz de construir relacionamentos com as pessoas e com as instituições presentes no ambiente. Os Centros Educativos são imediatamente reconhecíveis dentro do bairro e, de alguma forma, acabam se tornando seu centro, pela própria estrutura física que apresentam. Em sua simplicidade e essencialidade, são baseados num critério de beleza e de ordem que comunica imediatamente a experiência mais profunda que ali pode ser vivida e que é o fator que gera também um desenvolvimento. O trabalho socioeducativo tende a reforçar em torno da família uma rede de relacionamentos com pessoas, instituições e serviços sociais; ainda 29 tende a melhorar o acesso a estes, de modo que possam contribuir para a redução da vulnerabilidade social. Na ação desenvolvida pelos Centros – que se caracteriza como educativa e não assistencial – existe a intenção de não responder diretamente a todas as necessidades manifestadas pelas crianças, como no que diz respeito à saúde, e, sim, responsabilizar e acompanhar os pais, para que possam procurar as poucas estruturas públicas presentes no território. Esse estímulo à iniciativa dos adultos os ajuda a serem protagonistas e terem uma postura ativa também a respeito do que é oferecido pelas instituições. Em algumas situações, foram iniciadas – sem serem estipulados convênios formais – colaborações com entidades públicas e privadas para que possa ser fornecido um serviço especializado aos usuários dos Centros. Uma colaboração interessante foi a que começou em vários níveis com as escolas freqüentadas pelas crianças. Já acenamos sobre a progressiva ampliação do serviço oferecido pelos Centros Educativos, que começaram como creches e hoje acolhem quase sempre crianças até a adolescência, num horário complementar ao das escolas; essa foi uma exigência ditada por um relacionamento educativo que, ao cuidar do outro, o acompanha na relação com a realidade que encontra para que desenvolva plenamente suas potencialidades. O contexto socioeconômico no qual os Centros estão inseridos influencia o aprendizado das crianças e dos adolescentes: um baixo grau de escolaridade ou até o analfabetismo dos pais podem ser traduzidos em falta de ajuda e de valorização do percurso educativo do filho; uma alta taxa de desemprego familiar obriga os jovens – e às vezes até mesmo as crianças – a entrarem precocemente no mercado de trabalho para contribuir com a renda familiar, sendo, assim, uma das maiores causas da evasão escolar dos adolescentes. São dois os fatores que representam obstáculos para o aprendizado na infância (e nos períodos sucessivos caso não sejam enfrentados): a desnutrição, que interfere nos processos psicofísicos do desenvolvimento e ainda está muito presente, sobretudo nas áreas pobres, e representa um grave obstáculo para a formação das estruturas mentais que garantem o desenvolvimento harmônico do processo de aprendizagem; e o abandono (físico ou afetivo), que priva as crianças de uma ligação na qual fazem uma experiência de confiança e de pertencer para enfrentar toda a realidade a partir de um ponto de referência e que limita as condições psicológicas necessárias para aprender e, muitas vezes, para um desenvolvimento harmônico. 30 Ao acolher crianças pequenas e garantir um percurso educativo de qualidade no Ensino Infantil, as creches e escolas representam um ponto de força notável, que permite desenvolver melhor as habilidades intelectuais e de comportamento, necessárias para enfrentar e aprender também os conteúdos dos ciclos escolares sucessivos. Como afirmamos anteriormente, no projeto esse aspecto foi aprofundado durante o curso oferecido aos educadores do Ensino Infantil e em momentos temáticos de trabalho com diretores e pedagogos dos Centros, para realizar uma organização adequada dos espaços e dos períodos de desenvolvimento das atividades cotidianas. No momento no qual as crianças começam a freqüentar a escola (que tende a ser antecipado pela Legislação Brasileira, que, ao transferir a competência da Educação Infantil aos Municípios, institui pré-escolas para crianças dos quatro aos seis anos em estruturas de escolas de Ensino Fundamental), os centros socioeducativos da rede complementar desenvolvem uma função muito importante de ligação entre a escola e a família. No caso das crianças dos quatro aos seis anos, é irreal pensar que uma solução como a oferecida pela rede municipal ou estadual possa responder às exigências das famílias, sobretudo nos contextos mais pobres. De fato, uma freqüência escolar diária limitada a quatro horas traria graves problemas de custódia de menores às famílias que são obrigadas a trabalhar. Parece-nos significativa a experiência do Rio de Janeiro, onde, através de convênios entre o município e entidades privadas, está garantido que as crianças podem passar parte do dia no ambiente escolar e outra no Centro Educativo. Os Centros se propõem também como uma ajuda para os adolescentes, oferecendo atividades de apoio ao aprendizado, motivando-os ao estudo e ajudando a família a resgatar o interesse pela educação dos próprios filhos e a dialogar com os professores da escola formal. Esse despertar do desejo e do interesse é um fator fundamental para melhorar a qualidade do aprendizado, que certamente não está assegurada pelo nível de ensino muito baixo das escolas freqüentadas pelos jovens. No Brasil, 97% das crianças e dos adolescentes dos sete aos 14 anos estão matriculados nas escolas de Ensino Fundamental. Esse percentual é considerado excelente por órgãos internacionais como a Unesco e se aproxima dos índices registrados nos países desenvolvidos, ainda que o número dos que não têm acesso ao ensino seja muito alto: cerca de 800 mil crianças, segundo estimativas do Ministério da Educação (MEC). 31 Segundo os dados do Censo Escolar 2002 e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa em Educação), o acesso ao Ensino Fundamental aumentou 6,7% nos últimos cinco anos e o fluxo escolar melhorou, sendo que mais estudantes conseguem concluir o ciclo. A defasagem classe/idade é um dos problemas mais graves no Ensino Fundamental; em 2001, 39% dos alunos estudavam em classes que não correspondiam à sua idade, e a idade média dos estudantes que freqüentavam a 8ª série era de 15 anos, um a mais do que é considerado adequado. Uma proposta em curso e prevista pela LDB é a adoção do sistema de progressão continuada, também chamado de sistema dos ciclos, e da criação de classes de aceleração. Todavia, tais sistemas, se por um lado melhoram uma série de indicadores (número de matrículas, índices de repetência e evasão), ao mesmo tempo contribuem para piorar a qualidade de ensino, justamente por causa do mecanismo de progressão continuada, que garante a promoção automática também se o aluno não conseguiu a preparação mínima para freqüentar a série seguinte. Os jovens e os adolescentes provenientes das famílias de baixa renda que freqüentam o Ensino Médio enfrentam uma situação dupla: por um lado, a necessidade de abandonar os estudos para entrar no mercado de trabalho, com a intenção de aumentar a renda familiar, e, ao mesmo tempo, o desejo de continuar os estudos e investir na própria formação para aumentar a possibilidade de inserção no mercado de trabalho e obter salários melhores. Se o acesso à escola foi assegurado a todos, o problema que hoje se apresenta de forma preponderante é o da qualidade do serviço oferecido, para que possa garantir um nível adequado de preparação aos alunos e corrigir as distorções do sistema escolar brasileiro (evasão, formação incompleta, repetência e distorções idade/classe freqüentada). Para alcançar esse objetivo, foram lançados programas específicos, como o "Brasil alfabetizado", que promove a alfabetização de todos os maiores de 15 anos que apresentem problemas de analfabetismo estrutural ou funcional, ou ainda o programa "Toda criança aprendendo", lançado em 5 de junho de 2003 e que busca responder à dramática situação mostrada pelo SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). Também está sendo realizada uma política nacional de valorização e formação dos professores, que trata de forma conjunta os aspectos relativos a salário, carreira e formação. Os centros socioeducativos administrados por instituições comunitárias, filantrópicas ou de inspiração religiosa, ao oferecerem um apoio 32 escolar e um complemento das atividades pedagógicas, culturais e artísticorecreativas para crianças e adolescentes entre 6–17 anos, facilitam o aprendizado e enriquecem o processo de alfabetização e de educação de base contra fenômenos como evasão e repetência. O pessoal dos Centros Educativos procura manter o relacionamento com a escola, assegurar que as crianças estejam presentes e observar com os professores quais são as maiores necessidades para realizar intervenções individuais de recuperação. Nesse trabalho não se substitui a família, mas se colabora, envolvendo os pais para que se dirijam à escola pedindo notícias sobre o aproveitamento do filho, ou até mesmo acompanhando a visita, para que superem a desconfiança diante de um lugar que facilmente responsabiliza o contexto em que vivem pelas dificuldades dos jovens. São muitas as iniciativas dos Centros Educativos e Sociais para preparar profissionalmente os jovens, através de laboratórios de qualificação ou através de convênios com empresas para estágios com bolsas. É para essa faixa etária que estão surgindo iniciativas mais estruturadas, fruto da colaboração entre setor público e sociedade civil organizada, com o objetivo de dar o "primeiro emprego" a esses jovens. Um caso significativo é o do Centro Alvorada, de Belo Horizonte, que, através de convênio com um importante banco, já inseriu no mundo do trabalho um número significativo de adolescentes, acompanhando o processo de formação desses freqüentadores do Centro ou moradores do bairro. 4- Constituição de uma rede e relação com as políticas públicas O objetivo proposto pelo projeto foi o de reforçar os sujeitos existentes, especificando a peculiaridade de cada um, ajudando a sistematizar suas intervenções, valorizando as experiências de excelência de tal forma que os pontos de método pudessem ser definidos e passassem a fazer parte de um patrimônio comum. Ainda que fossem levados em conta os resultados mínimos a serem alcançados, as escolas não foram colocadas em um único patamar, porque as necessidades de desenvolvimento eram diferentes e era justo que fossem respeitadas, valorizando, dentro de uma perspectiva de crescimento, todos os 33 passos dados e que poderiam ser compartilhados com as outras experiências educativas. O caminho se concretizou com o acompanhamento muito de perto das escolas, através do contato realizado pelo Centro de Serviços para Educação, através dos coordenadores das cidades (cuja função unitária já acenamos anteriormente) e através de visitas realizadas pelo pessoal estrangeiro nas várias realidades para compartilhar algumas atividades. O Centro de Serviços, tendo à disposição um pólo de informática, tornou-se um ponto crucial: para a passagem das informações e para a coordenação das várias ações; para a produção, a elaboração e a distribuição dos documentos criados; para a coordenação da intervenção dos consultores tanto italianos quanto locais, que, em vários momentos, contribuíram para o desenvolvimento das atividades previstas; para o recolhimento e a sistematização das reflexões que se transformaram em pontos de método compartilhados. As ações desenvolvidas foram ordenadas segundo a lógica proposta pelo projeto: uma fase de conhecimento para especificar as bases comuns dos centros e as características distintas; a proposta (seja de mudanças estruturais, seja de formação do pessoal envolvido), a partir de uma hipótese educativa explícita que se esclareceu durante o primeiro ano do projeto, a sistematização e a disposição em rede de instrumentos e processos. Isso, por um lado, permitiu respeitar e valorizar a diversidade das situações existentes e, por outro, dar condições para integrar em uma rede os Centros Educativos, oferecendo um suporte de formação voltado para a melhoria da qualidade dos serviços para crianças e adolescentes inseridos em contextos de vulnerabilidade social. As tentativas de sistematização do método e construção de instrumentos nas várias áreas previstas tiveram resultado eficaz e útil num contexto mais amplo, como foi documentado pela demonstração de interesse de diversas realidades escolares e organismos culturais e públicos, sinal de que é possível incidir no âmbito social e político no qual as realidades escolares estão inseridas. De fato, no decorrer do projeto, o Centro de Serviços para Educação começou a desenvolver suas funções como apoio à rede das escolas envolvidas e recebeu solicitações de outras realidades que, em parte, foram inseridas diretamente nas iniciativas de formação previstas e, em parte, usufruíram dos materiais produzidos, como os textos dos seminários e as apostilas do "Curso para Educadores". Também foi oferecida uma consultoria para iniciativas de formação (ainda que não diretamente inseridas nas atividades do projeto), aumentando assim, a rede 34 das instituições que desenvolvem a educação complementar e que pela lei ainda são consideradas dentro do âmbito assistencial, e não no âmbito educativo, o que elimina a possibilidade de firmar convênios com órgãos do poder público. A sistematização e a difusão da metodologia de intervenção permitiram ampliar os relacionamentos com várias entidades, evidenciando o potencial de reprodução da iniciativa. Para citar alguns exemplos: • a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, é exigido um diploma reconhecido para a qualificação dos educadores de Ensino Infantil, o que permitiu realizar um convênio com a Faculdade Salesiana de Vitória (ES) para a formação dos professores, abrindo um espaço de colaboração com o Instituto Salesiano; • a colaboração com o Instituto Marista – já realizada em outros projetos da AVSI – permitiu que a proposta de intervenção fosse divulgada no campo educativo, suscitando um grande interesse pela metodologia empregada; • a difusão dos materiais produzidos pela AVSI alcançou outros centros educativos, particularmente em Belo Horizonte, graças ao trabalho do Centro de Serviços para Educação (produto do projeto), tecendo uma rede mais ampla de relacionamentos; • enfim, com a colaboração de algumas redes estruturadas de serviços educativos, como os Maristas e os Salesianos, foram apresentados ao Ministério da Educação o projeto do curso para educadores infantis e as apostilas redigidas. Hoje, existem relacionamentos com 30 Centros Educativos, muitos dos quais mantidos pela AVSI através do "Apoio a Distância", com a participação de mais de cinco mil menores na faixa etária de poucos meses aos 16-17 anos. Como afirmamos na primeira parte, os serviços que esses Centros Educativos fornecem são altamente qualificados, ainda que estejam situados em áreas de risco social e tenham poucos recursos financeiros. É surpreendente como o Estado não leva em consideração o fato de serem uma realidade que preenche uma carência do próprio Estado, e, sobretudo, não percebe como hoje esses Centros estão aptos a prestar um serviço absolutamente qualificado. É um exemplo excepcional o que aconteceu no Rio de Janeiro, onde a creche Tia Sônia, construída pelo Município dentro de um programa público, teve sua gestão confiada (com cobertura total de despesas) a uma entidade particular que já administrava o Centro Educativo Cantinho da Natureza, que fazia parte da Rede do projeto e que era 35 reconhecido pelos organismos competentes devido à sua capacidade de atuação em matéria de educação. Permanece o desafio de estimular uma vontade política mais clara e decidida no campo educativo, com conseqüente aplicação de recursos econômicos, continuando a promover uma colaboração real e efetiva com as formas organizadas da sociedade civil para alcançar a melhoria da qualidade da educação. Já expusemos que as creches atualmente são reconhecidas dentro do setor educativo e, portanto, espera-se um progressivo aumento dos investimentos de recursos públicos nesse setor (é nítida a preponderância da iniciativa privada). Já a rede complementar não está inserida nas políticas públicas de educação, ainda que considerada entre as políticas sociais. É importante sublinhar a função decisiva desses Centros no que diz respeito ao aprendizado, fortificar e aumentar sua visibilidade, trabalhando com profunda energia para que a visão do setor público mude, a ponto de reconhecer sua importância e integrá-los no sistema escolar formal. Se a perspectiva é de um ensino em período integral (daqui a 7/8 anos, segundo os objetivos do Governo Federal), e não havendo recursos para construir novas escolas (as escolas existentes já funcionam em dois ou três períodos), é muito provável que se estabeleçam convênios com as instituições da rede complementar. Nesse sentido, é interessante e exemplar – como já dissemos anteriormente – a experiência do Rio de Janeiro, na qual o município está garantindo o período integral para crianças e jovens em condições de vulnerabilidade e risco social, através de convênios com instituições educativas de utilidade pública já existentes (nem estaduais nem municipais) em contato estreito com as escolas formais freqüentadas pelos alunos, tentando assegurar um trabalho conjunto, segundo objetivos comuns. O desenvolvimento é gerado onde se constituem alianças entre vários sujeitos, públicos ou privados, nacionais e internacionais, ativamente envolvidos e em vários níveis, e nos parece que este seja um dos fatores que assegurou o alcance dos objetivos desse projeto. 36 TERCEIRA PARTE A HISTÓRIA DE ALGUMAS EXPERIÊNCIAS Ao percorrer as etapas e os conteúdos significativos do projeto, falamos sobre alguns protagonistas da aventura educativa, que é o verdadeiro tema deste trabalho. Como sublinhamos várias vezes, tudo nasce de alguém que, ao encontrar uma necessidade, dá um passo e responde. Com a certeza de omitir muitos que poderiam narrar suas experiências com distinção, passamos a palavra a alguns "atores": padre Luigi Valentini, que sustenta e está por trás de muitas das obras educativas que participam da Rede; Rosetta Bambrilla, incansável construtora e educadora que está no Brasil há 37 anos; Eliana Albernaz, que há pouco tempo, mas de maneira decisiva, é coordenadora das obras do Rio de Janeiro; e, por fim, Regina Nunes e Marina Bastos Guardo, que foram coordenadoras das atividades nas cidades de Salvador e São Paulo, respectivamente. Padre Luigi Valentini Estou no Brasil visitando as várias creches que o Senhor me fez construir. Já estive em Belo Horizonte, agora estou em Salvador e daqui parto para Brasília. Ficarei vários dias em São Paulo e depois vou à Argentina. Trata-se verdadeiramente de uma coisa excepcional. Cada vez que entro em uma creche que Ele me deu inspiração para construir e para a qual me fez encontrar os recursos, penso maravilhado: "Esta é a casa de Deus", porque foi Ele que colocou no coração das pessoas que encontrei um bom sentimento 37 em relação às crianças brasileiras e uma grande generosidade em dar dinheiro, às vezes muito, muito dinheiro, para realizar essas obras. Nestes dias, é ainda maior a maravilha de constatar que o Senhor não se deteve na construção dos locais para hospedar tantas crianças, mas também colocou à disposição tantos corações que amam suas existências. A maravilha aumenta ainda mais constatando que essas pessoas procuram os que têm mais necessidade de ajuda. Hoje mesmo, vi a foto de um menino desnutrido, só pele e ossos, que esses corações generosos acolheram, acudiram e vi também como está o menino agora: totalmente recuperado. A maravilha aumenta mais quando percebo que existe toda uma pesquisa para fornecer uma assistência especializada de uma nutricionista, uma psicóloga, uma assistente social, para que quem está nessas condições seja tratado de uma forma "científica" e sábia, dando a essas criaturas, crianças, mães e pais, um calor humano no qual, são recriados. Um calor humano que talvez nunca tenham experimentado em suas vidas. Lembro-me de que, há 24 anos atrás, quando trabalhava em uma favela de São Paulo, tentei, sem resultados, socorrer três crianças que, trancadas em casa pelos pais para que ficassem protegidas durante o período no qual eles trabalhavam, queimaram-se junto com o barraco. Ali, nasceu a idéia de construir uma creche. Hoje, penso maravilhado: quem poderia imaginar que nasceria tudo isso? Sete creches e escolas de ensino infantil, um centro de formação profissional, uma casa de acolhida para crianças abandonadas, uma obra para crianças em risco social, tantos centros educativos e de reforço escolar. Agora, existe o projeto de construção de uma outra creche em Belo Horizonte e a compra de um grande local para um centro educativo e de reforço escolar em São Paulo. Não possuo nenhum mérito. Em cada momento, foi o Senhor que sugeriu o que fazer, e eu simplesmente disse sim, obedeci às circunstâncias. Tenho certeza de que o Senhor me guia instante por instante. Para mim, esta é uma certeza absoluta. Pessoas, momentos, circunstâncias, encontros, tudo é dado por Ele. De fato, eu não tinha nenhum projeto, nunca tinha pensado nessas realizações: fui conduzido pela mão. Hoje, ver os olhos brilhantes das crianças em Salvador me faz pensar na Sua grande paternidade, da qual nos faz participar e, assim, a vida se torna verdadeiramente feliz. 38 É belo viver para essas crianças: a vida adquire seu verdadeiro sentido. Isso não significa que tudo corra bem, que não existam problemas, que a minha saúde sempre esteja ótima; porém, nunca faltam a serenidade e a felicidade íntimas e indizíveis. E se penso nas amizades encontradas, não tenho palavras para expressar como me ajudaram e enriqueceram. O Senhor que encontramos é verdadeiramente o Deus da maravilha e da contínua surpresa. Padre Luigi Valentini (conhecido no Brasil como Gigio). Rosetta Brambilla Estar no Brasil não tem nada de heróico, porque eu nunca fiz nenhum esforço para isso. Apenas disse sim a algo simples que encontrei, ao fascínio das pessoas que se fizeram encontrar na década de 60: um simples sim que me levou a trilhar um determinado caminho. Eu tenho vergonha quando, por exemplo, recebo um prêmio, porque não sou eu, é um Outro que faz: eu apenas digo um "sim" cotidiano e o resto o Senhor faz. Nunca em minha vida pensei – absolutamente nunca pensei – em sair em missão, fazer uma escola: se obedece apenas à realidade, desde quando somos pequenos e obedecemos ao que diz a mãe. Eu obedeci à realidade, ao fato de que meu pai havia morrido e eu tinha só quatro anos: realidade que uma pessoa gostaria de apagar porque é difícil aceitar. Quando eu era pequena, tinha dificuldade para entender essas coisas, mas, depois, uma pessoa intui que, em todas essas coisas – e é estranho dizer – existe uma ternura de Deus, inclusive quando nos dá essas situações aparentemente duras. O Senhor se serviu disso para me dizer: "Você é preciosa para mim" e basta. Durante muitos anos, trabalhei como empregada nas casas dos pobres nas favelas, lavando, passando, fazendo aquilo que qualquer mulher faz. Lembro que as pessoas percebiam que eram amadas e então me diziam: "Eu sou uma pessoa", se davam conta de que eram pessoas. Depois, sendo enfermeira e trabalhando como enfermeira, as mães vinham até o posto de saúde e carregavam dentro de si um pedido. Não diziam: "Ajude-me! Tenho crianças e não sei onde colocá-las". Não, elas vinham ali toda semana para conversar. Contavam sobre os relacionamentos 39 com os homens, as situações duríssimas; elas é que levavam a família adiante, com suas crianças que não sabiam onde deixar e por isso acabavam por trancá-las dentro de casa. Então, eu disse a mim mesma: "Devo fazer qualquer coisa por elas". Junto com as pessoas do Ambulatório, construímos uma sala de seis metros por seis, com um banheiro e uma cozinha. Para dizer a verdade, no começo era apenas um barraco. Eu não era educadora. Então, observava como havia sido educada em minha família e procurava comunicar o que eu havia aprendido com minha mãe, com minha professora da escola, com as freiras. Depois, como era uma "amadora", lia, pedia materiais aos meus amigos da Itália. Depois, comecei a procurar colaboradores, no começo as pessoas do posto, que eu ajudava através de instrumentos didáticos ou dizendo: "O importante é que vocês estejam aqui e que ao cuidar, ao acudir as crianças, vocês as observem como se fossem as únicas do mundo, porque cada criança é única". Assim, comecei, graças a tantos mantenedores. Para mim, é difícil fazer com que os mantenedores entendam o valor que têm para nós. Sem sua ajuda, não existiriam esses lugares tão preciosos para nossas crianças, para nossas mães: para eles as creches são como uma segunda casa. Eles não têm parentes. As professoras, a diretora, eu e outras pessoas somos o ponto de referência para essas mães que vêm e contam seus problemas, aprendem a fazer a experiência de serem amadas por aquilo que são. Em todos esses anos, desde 1977, quando nasceu a primeira creche, centenas e centenas de crianças passaram por aqui e fizeram a experiência de serem acolhidas e amadas. É como ver um povo que está nascendo, pequeno, mas ali tem um pedacinho de uma humanidade diferente a respeito da realidade da favela na qual vive. Por isso, dizer obrigada é pouco, porque esses mantenedores sustentam um lugar que, ainda que seja pequeno, é grande: é um lugar vivo, é um lugar que gera. E ser continuamente gerado para a vida é a necessidade de cada homem. 40 Eliana Umbelino de Souza Albernaz Há momentos, em nossa vida em que acontecem fatos inusitados, que mudam o rumo do que estamos fazendo e do que havíamos planejado para o nosso futuro. Assim aconteceu naquele dia de Cristo Rei, no ano de 2002, quando subi o morro dos Cabritos para participar da comemoração de inauguração do novo prédio Cantinho da Natureza. A creche funciona há vários anos e acabara de ser reformada. Ao olhar uma sala de aula, me veio à mente quanta coisa poderia ser feita ali. Poderíamos construir algo realmente novo. No dia seguinte, fui me entrevistar com Paola, responsável pela creche, e ela me indicou para a direção não daquela, mas de outra creche na mesma comunidade. A creche Tia Sônia Crispiniano abriga 120 crianças de 0 a 4 anos, todas oriundas da comunidade do Morro dos Cabritos em Copacabana. Ela foi construída pela Prefeitura do Rio de Janeiro, sendo gerenciada pela Obra Social da Paróquia Santa Cruz. A equipe que dirige a Obra Social é a mesma responsável pelo Cantinho da Natureza e é formada por amigos que, como eu, fazem a experiência do Movimento Comunhão e Libertação. O fato de vir trabalhar com amigos do Movimento, assim como aquela inspiração inusitada, foram os grandes responsáveis por minha nova opção. Na realidade, estava naquela ocasião trabalhando como Coordenadora Pedagógica de uma escola bilingüe que atende a crianças, filhas de empresários e altos funcionários da iniciativa pública e privada. Para mim se colocava a grande indagação de como enfrentar uma realidade tão diferente daquela que estava experimentando, duas concepções que vinha aprendendo no Movimento me sustentaram: primeira, em nada as crianças da creche são diferentes dos meus filhos e dos meus alunos, pois todos nós nascemos com o mesmo desejo no coração, como o desejo de verdade, de justiça e de beleza. Segunda, nosso trabalho não se traduziria nem se mediria por objetivos previamente estabelecidos, mas primordialmente seríamos uma presença naquele ambiente. Somos vasos de barro, mas em nós se encontra a grande presença do Mistério. Se assim não fosse, não seria possível enfrentar a realidade que passei a conhecer e com a qual comecei a conviver. O trabalho de direção da Creche Tia Sônia, realizado durante o ano de 2003, teve como objetivo formar uma equipe unida entre a direção da creche e as recreadoras, todas oriundas da comunidade, que recebesse e tratasse as crianças com a maior afeição possível. 41 Assim me perguntava: como passar uma afeição? Somente passamos algo que existe em nós. Que grande desafio! Entendi que deveria ouvir, respeitar e amar cada uma das recreadoras. Construir uma relação afetuosa é um trabalho sem fim, quantos altos e baixos experimentei, como precisei recorrer à companhia que me aceita como sou para aceitar os outros como eles são! Quanto ao aspecto essencialmente técnico-pedagógico, este foi direcionado por uma metodologia de livre expressão da criança com ênfase no desenho livre, na pintura com guache e na pintura a dedo, além das atividades de contar histórias e de cantar. O documento elaborado pela rede de creches foi uma grande ajuda para nós. No final do ano de 2003, fui chamada a trabalhar na Creche Cantinho da Natureza, deixando uma amiga na direção da Creche Tia Sônia. Nesta nova missão, a realidade era outra. Lá, todas as recreadoras tinham experiência e a equipe já estava formada. Logo, percebi que a influência que poderia exercer nesse grupo era menor e mais difícil e, portanto, mais desafiadora. Com relação às famílias das crianças da creche, procuramos consolidar um vínculo de amizade, pois para nós a família é o primeiro sujeito da educação. Certo dia, chamei, para conversar, uma mãe cujo filho de quatro anos estava dando muito trabalho. Ele era insubordinado e agressivo. Conversando com a mãe, soube que ela batia muito no filho, e, no final, ela me confessou que não sabia mais o que fazer. Nesse momento, percebi que ela me pedia ajuda. É através desse relacionamento que vamos trabalhar. Neste trabalho, quero com as recreadoras, com as crianças e com as famílias "partilhar as necessidades para partilhar o sentido da vida". Certo dia, cheguei ao morro e havia uma grande bandeira preta estendida na rua, aquela bandeira significava o luto da comunidade pela morte de um jovem ocorrida na noite anterior. Estávamos estudando na Escola de Comunidade o valor absoluto da vida, como Cristo foi o primeiro a falar sobre o total respeito pela vida, desde seus primeiros instantes até o seu último suspiro. Em oposição, aqui a vida nos parecia ser tratada com tanta banalidade... Perguntando à Paola como poderíamos transmitir o valor de cada vida humana à comunidade, ela me respondeu: "viva você esta riqueza valorizando cada vida que você encontra e eventualmente, quando oportuno, fale sobre isso com aqueles que puder". Partilhar o sentido da vida, o que seria mais importante do que isso? Assim, não há um só dia em que eu não agradeça ao Senhor a oportunidade de estar nessa realidade tão dramática. 42 Marina Bastos Guardo e Regina Nunes Tendo participado como coordenadoras das atividades nas cidades, respectivamente, de São Paulo e de Salvador, delineamos algumas considerações relativas ao percurso seguido e às novas possibilidades que surgiram. 1- Os seminários para formação de coordenadores pedagógicos e gestores escolares reunindo, em Belo Horizonte e em Salvador, todas as nossas obras contribuíram e influenciaram indubitavelmente na decisão de trabalhar em rede discutindo desde planejamento, rotinas, calendários, critérios de seleção de crianças assistidas, proposta pedagógica e identidade e missão da obra. Discutir juntos essas temáticas resultou em: • uma clareza na condução educativa da obra; • envolvimento maior de todos os funcionários na proposta pedagógica da obra; • criação de instrumentos mais operativos e eficazes de planejamento e avaliação pedagógica; • melhor organização administrativa e estrutural de nossas escolas e creches; • maior visibilidade do futuro e capacidade de decisão diante de demandas novas em cada realidade (zona de atuação da obra); • maior consciência do valor das obras educativas como resposta a necessidades sociais. Desses seminários, nasceu a publicação de Percurso Educativo em três volumes. Esses livros foram distribuídos para todos os funcionários das instituições que participaram do Projeto Constituição de uma Rede de Escolas para a Infância e significou um uso sistemático desses instrumentos em formação continuada de todos os funcionários (não só educadores), fazendo um verdadeiro percurso educativo: Educação; Identidade e missão da obra educativa, Família como sujeito educativo. 2- Através do Curso de Extensão em Educação Infantil elaborado e realizado no âmbito do Projeto Constituição de uma Rede de Escolas para a Infância, foi e está sendo possível (em dezembro será concluída a 5ª turma em Salvador) a formação de educadoras de creche, cujos resultados visíveis são: • apoio aos atores locais, públicos e privados (3º setor); • experiência de trabalho em rede: para educadores; 43 • valorização dos saberes das experiências numa prática reflexiva; • diminuição da distância entre teoria e prática pedagógica; • melhoria da qualidade da educação infantil; • motivação dos educadores a buscar formação em nível superior; • estabilidade maior do corpo docente e maior definição profissional; • intervenção educativa global: observação, conhecimento, diagnóstico, planejamento, prática e avaliação; • protagonismo na ação educativa cotidiana em creches; e • publicação da apostila do curso. O curso foi realizado em São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. O convênio com a Faculdade Salesiana de Vitória permitiu um certificado de extensão para monitoras. Um efeito desse trabalho em rede é que, em sabendo que o curso é certificado por uma faculdade (de porte como a Salesiana) e que este aconteceu em outras cidades importantes do Brasil, os beneficiados (alunos e instituições) dão mais valor à oportunidade que estão tendo e se sentem mais valorizados também. Nas cidades onde não foi possível realizar o curso completo, fizemo-lo sob a forma de seminário: em Parintins–AM e Macapá–AP, no período de recesso escolar. Fica bem ilustrar sobre a importância do curso com o depoimento feito por uma coordenadora pedagógica de uma instituição beneficiada pelo curso: "Nosso início de ano foi totalmente estruturado, o acolhimento das crianças teve um olhar da psicologia ecológica trazendo novas estruturas à organização dos espaços; outro aspecto bastante intenso tem sido o foco do olhar na observação, esta prática e seu registro têm se tornado importantíssimos". E outro de uma educadora que fez o curso: "Esta maneira de olhar a criança serve para olhar tudo da vida e solicita que a pessoa esteja muito atenta, inteira". Em São Paulo, a partir do curso para educadores, surgiram relacionamentos com alguns educadores que permanecem até hoje. Estamos trabalhando juntos Educar é um risco. Muitos educadores dessas obras que não pertencem ao projeto de rede, verificando a riqueza da experiência adquirida, solicitaram uma "formação para os gestores" com o desejo de que eles também pudessem aprofundar um olhar e a proposta do trabalho. A experiência desse trabalho de rede foi uma oportunidade para nos darmos mais conta da grandeza do método com o qual enfrentamos a realidade (o trabalho, a educação e as dificuldades) e, com isso, verificarmos 44 como ele se aplica no agir do nosso cotidiano. Encontrando com pessoas de diversas creches de lugares tão distintos do Brasil, como Parintins no Amazonas, ficou evidente que a posição educativa que carregamos desperta uma correspondência humana. 3- As publicações, tanto a apostila do curso de extensão quanto os livros do percurso educativo, passaram a se constituir numa modalidade atraente de apresentação de nosso trabalho: da metodologia, da fundamentação teórica, dos conteúdos e da avaliação. Além de instituições como creches e escolas, esses instrumentos foram apresentados a secretarias municipais e estaduais, a faculdades, em congressos de educação e de psicologia, e às mais diversas associações e fundações que se interessam pela educação de crianças e adolescentes e que nós, nestes anos, encontramos em várias localidades do Brasil. 4- Em Salvador, grande parte das instituições educativas, participantes do Projeto Constituição de uma Rede de Escolas para a Infância, estão localizadas no contexto do Programa Ribeira Azul – desenvolvido pela AVSI–Governo do Estado da Bahia com recursos do Banco Mundial – criado para a redução da pobreza urbana na região de Alagados, uma das importantes áreas de Salvador. A experiência de participar do Projeto Constituição de uma Rede de Escolas para a Infância possibilitou um suporte decisivo às estruturas educativas, que foram beneficiadas e que passaram a contribuir para a sustentação do programa em nível socioeducativo junto à população atendida. 5- A experiência de videoconferências, também tornada possível a tantas creches e reforços escolares no Brasil, tem nos ajudado sobretudo numa maneira de olhar a realidade da criança e do adolescente mais positiva. Outro ponto importante das videoconferências é a oportunidade que temos de continuar o relacionamento com coordenadores pedagógicos e diretores das instituições que encontramos nesses anos de trabalho, comunicando-lhes "uma perspectiva educativa global que envolve e abraça a dimensão profissional, considerada não como uma competência, mas como uma expressão da pessoa do educador". 45 QUARTA PARTE UM CAMINHO QUE CONTINUA No título deste projeto, falava-se de constituição de uma rede de escolas, um belo desafio se consideradas as distâncias entre os vários lugares no Brasil! Como já comentamos na segunda parte, as atividades desenvolvidas favoreceram uma série de relacionamentos, envolvendo outros sujeitos educativos além das escolas formalmente inseridas no projeto. A essas instituições de sete cidades do Brasil foi oferecida a oportunidade de participar de um encontro através de videoconferência com o Prof. Franco Nembrini, diretamente de Milão. Anotações da Videoconferência de 29 de junho de 2004 Sinto-me constrangido ao começar esta videoconferência com vocês, porque, quando participei do Meeting da Companhia das Obras (CdO) no Rio de Janeiro1, fiquei muito impressionado com as obras que vocês construíram e com a maneira inteligente com a qual vocês falaram sobre educação e por isso acredito que não tenho muito para ensinar. 1 A Companhia das Obras, associação sem fins lucrativos fundada na Itália em 1986, hoje com cerca de trinta mil sócios, tem por finalidade promover o espírito de colaboração entre profissionais e empresas e, apoiar a colocação de jovens e desempregados, em continuidade com a presença social dos católicos e à luz dos ensinamentos da Igreja. O encontro mencionado aconteceu no Rio de Janeiro em setembro de 2003, do qual participaram várias pessoas que trabalham em obras profit e não profit, dos vários países da América Latina e da Itália. 47 Por outro lado, na vida é preciso obedecer e eu obedeci voluntariamente a esse pedido que me fizeram, e que para mim é uma ocasião para aprender. 1) Dito isso, faço uma premissa: não sou um estudioso de pedagogia, um acadêmico da educação. Sou simplesmente um pai e um professor que, nestes trinta anos de experiência no ensino, procurou entender o que significa educação. A primeira coisa que entendi é que a educação não se aprende nos livros, mas se aprende quando se vê a ação, os gestos. Vou tentar contar os episódios da minha vida nos quais vi a ação educativa. O primeiro momento em que vi isso com clareza foi ao olhar meu pai durante os anos de minha infância. Eu sou o quarto de dez filhos e cresci em um ambiente simples, pobre. Era assim há 30 anos. Minha mãe era uma camponesa, meu pai era mecânico e, depois, se tornou bedel, porque foi atingido por uma grave doença. A imagem mais forte que tenho de educação é a de meu pai entrando no quartinho onde nós, meninos, dormíamos (somos 7 homens e 3 mulheres). Ele entrava para dar boa-noite e, ao invés de fazer recomendações, de dizer que era preciso rezar, se ajoelhava no meio do quarto e começava a recitar o Pai Nosso. Essa imagem do meu pai de joelhos que, em seu nome e no nosso – em nosso lugar, caso algum de nós já tivesse adormecido –, rezava o Pai Nosso, é a imagem mais clara que tenho de educação. Com o tempo, essa idéia se confirmou: toda a questão do relacionamento educativo se joga na certeza com a qual o adulto testemunha às crianças, aos filhos e aos alunos o conhecimento do valor da vida e das coisas. Meu pai, em sua fraqueza, em sua aparente fragilidade, era visto por nós como se fosse o senhor do mundo, porque se movia dentro das coisas, da vida – ainda que com dificuldades – com uma certeza e uma alegria sobre a qual podíamos nos apoiar. Essa idéia se confirmou em outro episódio que me marcou muito. Eu era professor e já tinha meus três primeiros filhos (tenho quatro, todos homens) e, durante uma tarde, estava corrigindo as lições quando, num certo momento, ao levantar a cabeça, me surpreendi com a presença de meu filho ao lado da mesa onde estava trabalhando. Ao cruzar com o olhar de meu filho, que na época tinha seis anos, uma idéia fulminante atravessou meu cérebro: meu filho estava observando seu pai, sem precisar pedir nada em particular (comer, dormir, nada de material), olhava seu pai no trabalho. 48 Era como se naquele olhar meu filho estivesse fazendo uma pergunta radical: "Papai, me assegure que vale a pena vir ao mundo". Depois, tantas vezes ensinando e encontrando jovens adolescentes (quase sempre ensinei jovens entre 13 e 18 anos), ao cruzar com seus olhares na sala de aula, eu percebi a mesma pergunta, a mesma necessidade. Parece que posso dizer que todo o segredo da educação esteja aqui: na gratuidade com a qual uma geração de adultos propõe a própria certeza a uma geração de crianças e jovens. Porque o delito que está sendo cometido, aqui e penso que também onde vocês estão, é que estamos privando uma geração de jovens do sentimento indubitável da positividade do real. Que uma criança possa olhar um adulto com a certeza da positividade do real, certa de que o real pode ser conhecido, amado e por isso pode ser objeto de trabalho, é a coisa grande de que eles têm necessidade. Acredito que posso dizer, também do ponto de vista psicológico, que ter diante de si um adulto com certeza sobre a realidade e sobre o valor da vida é aquilo que permite o crescimento saudável. Mas, ao invés disso, está aparecendo uma geração de crianças e jovens que está sempre na areia movediça, como se não soubesse onde apoiar o pé, sem certezas nas quais se agarrar. Toda a responsabilidade do adulto na educação está na possibilidade de responder para si mesmo: por que estou no mundo? Por que vale a pena se esforçar? Por que vivo? Quando converso sobre isso com meus amigos professores ou com outros pais, sempre dou este exemplo: se, ao começar a perguntar o porquê das coisas, uma criança com três anos perguntasse ao pai: "o que é aquilo que brilha no céu?" E o pai respondesse: "não sei, tenho dúvidas, não estou bem seguro..." Se o pai respondesse a todas as perguntas dessa forma, a criança cresceria em um clima de terrível dúvida com relação à realidade e a si mesma. Cresceria sem poder dizer nada de preciso sobre si mesma. É a terrível impressão que tive um dia na sala de aula, quando, raciocinando com um rapaz de 17 anos, desafiei-o durante um diálogo: "Digame o que você pensa sobre si mesmo" e ele me deu esta resposta (desculpem o palavrão): "Professor, não vamos enrolar, eu sou o resultado de uma trepada". Se nós estamos fazendo com que gerações de jovens cresçam com essa percepção de si mesmos, vocês entendem que este é o fim do mundo, que não existe esperança para a civilização? Porque um rapaz de 17 anos que tem 49 essa consciência de si experimenta um desespero, uma possibilidade de violência inacreditável. A nossa responsabilidade de adultos é a de representar uma esperança, uma possibilidade de certeza para essa geração de jovens. Para nós, educadores, isso estabelece um critério muito importante. Não devemos ter medo de errar, porque os nossos filhos e alunos nos perdoam muito mais do que nós os perdoamos, sem pedir que sejamos coerentes. E eles sabem bem que nós não somos perfeitos, da mesma forma que eles não são (como é patético e ridículo um adulto que procura se mostrar perfeito diante dos filhos e dos alunos!). Existe algo que nossos jovens não perdoarão: tê-los feito crescer naquela incerteza de areia movediça. Esse exemplo é a idéia de autoridade que aprendemos no texto Educar é um risco, de Pe. Luigi Giussani, que peço que vocês retomem e trabalhem muito, porque essa idéia é a condição necessária através da qual a educação pode acontecer. 2) Se é assim que as coisas estão, nós construímos a escola, instruímos, enfrentamos o conhecimento das matérias, da realidade, como uma estrada rumo à verdade que é a realização da única necessidade verdadeira, porque é isso que os jovens pedem: através do ensino, que as matérias transmitam um grande valor pelo qual valha a pena viver. Sempre me impressionou muito que os medievais chamassem as disciplinas – isto é, os diferentes modos de conhecer a realidade – de trivio e quadrivio, três caminhos e quatro caminhos; as formas do saber, os pontos de vista com os quais olhamos a realidade são estradas rumo ao significado. De fato, eles as chamavam de damas de companhia da teologia, serviam para chegar ao conhecimento de Deus e de si.2 É importante sublinhar outra conseqüência: se a educação é o que dissemos, ela acontece apenas dentro de um relacionamento amoroso, afetivo. Na vida, aprende-se apenas aquilo que de algum modo se ama. Não existe relacionamento educativo senão dentro de um relacionamento amoroso. É uma lei da dinâmica do conhecimento. As coisas que outra pessoa diz são guardadas por você na proporção do relacionamento que você vive com ela, quanto mais "cola" existir entre vocês. No relacionamento educativo, 2 Nas escolas medievais, as artes do trivio (gramática, retórica e dialética) junto com as do quadrivio (aritmética, geometria, astronomia e música) formavam as sete artes liberais que constituíam os estudos de preparação para a filosofia e para a teologia. (N. do T.). 50 essa cola é a intensidade da afeição que eu percebo que aquele outro tem para comigo. O jovem que parece ter dificuldade em uma matéria e mesmo que queira não consegue aprender, dentro de um relacionamento afetivo significativo aprende muito e rapidamente. Na Itália, existe dificuldade para aprender inglês, e meus filhos, por exemplo, parecem completamente bobos; mas quando escutam uma música em inglês de que gostam, logo aprendem. Isso significa que sabem inglês e podem aprendê-lo. A diferença é que, de um lado, está em jogo o interesse que eles têm pela realidade e, de outro, que não existe esse interesse. 3) Esta é a última coisa que desejo dizer. Um educador é tanto maior e mais eficaz quanto mais estiver livre de êxito. Enquanto é relativamente fácil fazer com que as crianças pequenas nos sigam, quanto mais elas crescem mais cresce sua liberdade. E aqui começa a verdadeira aventura, porque, quando se aposta na liberdade do outro, é necessário apostar até o fim. A liberdade do outro é dele, está nas mãos de Deus e nas dele, não nas nossas, e isso significa que não devemos julgar nem a nossa tentativa de educar nem a tentativa de nossos amigos a partir do êxito alcançado. Sobre isso, sempre me impressionou a leitura da parábola do Filho Pródigo. Pensamos sempre na parte final, ou seja, no momento no qual o filho arrependido volta para casa, e não pensamos em como começa a história, na terrível ruptura, na terrível ferida que aquele pai teve que suportar. Aquele pai deve ter feito todo o possível para que seus filhos crescessem bem e ouve o mais jovem – provavelmente o predileto – dizer: "Não me importo com nada daquilo que você me ensinou". E ainda pede sua parte na riqueza, na herança, para gastá-la da pior maneira possível. Aquele pai correu o risco educativo da liberdade do filho até as últimas conseqüências, porque deixou que ele fosse embora, deu sua parte nos bens como ele havia pedido e o deixou partir. Normalmente, somos tentados a fazer de maneira diferente, diante do filho ou do aluno que nos rejeita como se dissesse "vou embora". Temos a tendência de fechar todas as portas e janelas e falar: "daqui você não sai porque o mundo é ruim". Mas, desse modo, já perdemos o filho. O pai do filho pródigo corre o risco. Devemos imaginá-lo com lágrimas nos olhos abraçando esse filho que vai se perder. Devemos imaginar também esse pai, todos os dias, nas primeiras luzes do amanhecer, na janela mais alta da casa olhando o horizonte na esperança de ver o retorno do filho. 51 Essa é a figura do adulto educador, porque esse pai é tão pai do filho que ficou em casa quanto do filho que se foi. Aquele filho que foi embora, quando percebeu ao que tinha sido reduzido, pôde dizer: "estou arrependido, vou me levantar e voltar para a casa do meu pai", porque sabia que o pai estava esperando por ele. É como se tivesse ido embora de casa tendo em vista a casa de seu pai, sabendo que ali uma casa e uma família o esperavam. Isso é o que eu tentava dizer anteriormente; quando se arrependeu, a salvação para aquele filho foi esta: uma casa forte como uma rocha, que desafiava o tempo, a sua liberdade e todo o mal que ele quis experimentar. Aquele filho pôde voltar, porque sabia que o pai o perdoaria. Toda a educação está nesse olhar que o adulto tem para com a criança, o jovem, o adolescente. Quando fui a Serra Leoa visitar o Pe. Berton, fiquei muito impressionado com o relacionamento com os meninos-soldado, porque se via que a única coisa que esses meninos pediam era que alguém lhes dissesse: "eu te perdôo". E me impressionou muito quando voltei e ouvi meus filhos dizendo: "Papai, todos nós somos meninos-soldado, porque esta capacidade de mal que alguém possui é uma capacidade que nós também temos e a necessidade que eles têm de ser perdoados é a mesma que nós temos". A educação é um lugar onde esse perdão sempre é possível. Isso me dá a deixa para uma última coisa. Nas suas perguntas, vocês indagaram a relação entre os vários atores da educação: família, escola e alunos. Parece-me que o relacionamento entre adultos que trabalham nas diversas áreas da educação deve ser aquele sobre o qual acenei. Quando em março ocorreram os atentados de Madri, tive vontade de chorar ao abrir o jornal naquele dia, porque diante desses fatos temos a impressão de que o mal vence. Quem sabe quantas vezes vocês experimentaram o mesmo terror diante das situações que vivenciaram. Naquele dia, a única coisa que consegui fazer foi encontrar alguns amigos e ficar em casa, com meus filhos e minha mulher, aos quais perguntei: "pelo menos nesta casa o mal pode ser perdoado?" O mal de Madri, do terrorismo, é o meu mal: tem a mesma raiz e a mesma natureza; mas se este mal pode ser vencido ao redor da mesa da minha casa com meus filhos e minha mulher, então, estou pronto para combatê-lo em todo o mundo, porque existe um ponto no qual pode ser vencido. 52 Numa escola, a família e os professores – cada um em seu lugar: os professores fazendo bem seu trabalho, ensinando bem sua matéria, e os pais acompanhando o trabalho da escola – devem ser testemunhas entre eles e para eles desse lugar de misericórdia, de perdão. Isso é o que o Educar é um risco chama de função de coerência, porque os filhos nos colocam à prova, são como elásticos que se afastam e voltam para colocar à prova nossa firmeza e certeza. De outra forma, o papel dos pais e do professor é discutido, mas no máximo se descobre um tratado político das duas funções, um pouco como se o marido e a mulher tivessem que concordar sobre quem lava os pratos e, por fim, fizessem um acordo político sobre o que cada um deve fazer. Ao contrário, uma mulher e um homem que se amam percebem todo dia a necessidade do outro. Assim deveria acontecer na escola, não um tratado político, mas a "condivisão" de uma responsabilidade. Rio de Janeiro – O que significa apostar na liberdade dos jovens? Nembrini – Conto uma experiência que fiz com meus filhos. É preciso fundamentar mais na verdade do próprio testemunho do que na força das próprias convicções; eu sempre procurei fazer aquilo que aprendi com meu pai. O problema não é insistir nos discursos ou nos valores morais, que é a ilusão vivida pela escola na Itália hoje, tanto na laica quanto na católica. Parece que o mundo laico deve convencer os jovens da bondade dos valores da Constituição e o mundo católico, dos valores do Evangelho. Nos dois casos, os alunos reagem, defendendo-se da pretensão do mundo adulto de fazer suas cabeças. Existe um fragmento, o 6º capítulo do Deuteronômio do Antigo Testamento, que diz: "E quando teu filho amanhã te perguntar, dizendo: que querem dizer estas leis, e cerimônias e ordenações que o Senhor nosso Deus nos prescreveu? (quando implícita ou explicitamente nos perguntam: por que devo ser bom? Por que devo fazer sacrifícios? Por que devo dizer a verdade? Por que devo ser pobre?) Tu lhe dirás: nós estávamos escravos do faraó do Egito, e o Senhor tirou-nos do Egito com mão poderosa e à nossa vista fez no Egito milagres e grandes prodígios". 53 A criança e o adolescente não precisam ouvir: "você deve ser bom porque é a coisa justa, porque eu estou dizendo"; precisam entender que ser bom ou escutar certos conselhos lhes é conveniente, precisam poder olhar um adulto que é tão feliz em viver, que é interessante imitá-lo. Assim, você entende que não precisa convencê-lo sobre como certos valores são bons, pois essa posição é uma chantagem com você, porque você fica no meio de uma encruzilhada: ou o obriga a fazer certas coisas, ou desiste de pedir que faça. E isso é um engano, porque seu filho é mais esperto que você, mas se você pode contar com esse testemunho, na comunhão que pode viver com sua mulher ou seus amigos que ensinam na escola, a criança e o jovem que o olham se sentem acompanhados, mas também desafiados na sua liberdade, porque é deles a escolha daquilo que é bom para a vida, daquilo que é conveniente. Isso significa que o adulto assume o risco dessa estabilidade sobre a qual falávamos antes, conversando sobre o Filho Pródigo. Há quinze dias, eu discuti com meu filho de 20 anos, que queria ir para a praia com um grupo misto, rapazes e moças, e eu disse que não aprovava, porque é um modo errado de usar o tempo livre. Isso levou à discussão sobre por que a Igreja diz que não é justo ter relações sexuais antes do casamento. Eu não podia dizer que não se pode porque a Igreja diz, porque ele me diria que não lhe importava e teria razão. Nem podia dizer que não é uma coisa bonita, porque é uma coisa belíssima. Então, tive que desafiar sua liberdade, perguntando se lhe interessava crescer e poder viver um relacionamento com uma mulher como o que eu vivo com sua mãe. Desafiei sua liberdade, ele respondeu que sim. Então, me saí bem. Eu disse: "veja, para se tornar como sua mãe (deixemos de lado o meu exemplo, que é péssimo) é difícil, pede sacrifício, é preciso educar-se a isso. D. Giussani nos ensinou – recuperando aquilo que a Igreja diz – que viver as férias de um certo modo é um modo para educar-se a ser como sua mãe. Então, faça assim". Vocês entendem que dizer isso a um filho de 20 anos é verdadeiramente um risco educativo, primeiro para mim, porque tenho que colocar no prato da balança a verdade de cada palavra que digo e a verdade do relacionamento com minha mulher, correndo o risco de meu filho dizer: "não me interessa". Em tal caso, eu teria que responder: "Vá, não fico feliz, mas 54 vá assim mesmo" e ficaria em casa triste rezando para que Deus o reconquistasse. Isso é apostar na liberdade. Rio de Janeiro – E quando existe uma ausência das famílias, como acontece aqui? Nembrini – Nestes dois mil anos de história da Igreja, aconteceram períodos de barbárie nos quais foi destruída a própria idéia de pai. Talvez não da maneira radical e grave como na cultura moderna, porque no mundo inteiro se trabalhou para destruir o Pai Eterno e, portanto, o pai. A tradição da Igreja chama o sacerdote de padre (pai). Ainda hoje, nós chamamos um frade, um consagrado de padre. Chamamos as freiras de madre (mãe). Isso significa que a Igreja sempre percebeu a própria presença e, em particular, a presença de seus consagrados como a fonte de uma maternidade e uma paternidade possíveis. Desse ponto de vista, cada cristão é pai e mãe, mas ainda mais surpreendentemente são pais e mães aqueles que se consagram à verdade, ou seja, que se consagram a Cristo, em um mundo no qual os pais não existem mais. E isso é tragicamente verdadeiro entre nós, porque os pais pensam que são mais pais quando fazem o papel de amigos de seus filhos, como se o pai do filho pródigo tivesse dito: "Tudo bem, vamos fazer o seguinte, eu fecho tudo e vou embora com você. Assim, posso ficar de olho". O resultado seria que aquele filho, quando se arrependesse e quisesse voltar para a casa do pai, não poderia, porque não existiria mais a casa e o pai estaria ali, perdido como ele. Isso é a impossibilidade de educar, porque torna o perdão impossível, torna impossível voltar para casa. O papel que temos no mundo é ser uma casa onde existam um pai e uma mãe. Isso é tão verdadeiro que, a partir de um certo ponto da minha vida, D. Giussani foi mais meu pai do que meu pobre pai, ou melhor, o relacionamento com ele possibilitou que eu descobrisse e valorizasse o relacionamento com meu pai. Se vocês vivem em uma sociedade sem pais e mães, a única coisa que posso dizer é: "Sejam pais e mães de todos os seus jovens. As nossas escolas sejam casas onde essa paternidade pode ser vivida, e talvez isso também ensine aos adultos que vocês encontrarem a serem um pouco mais pais e mães". 55 Salvador – Como inserir a família na escola respeitando o papel de cada um, sendo que os pais deixaram para a escola a tarefa de comunicar os valores ao jovem? Nembrini – Se a escola procura ser um lugar de educação como descrevemos, é preciso aceitar essa família e a "procuração" que passa para a escola. Então, a escola se encarrega da instrução das crianças e também daquele nível de educação que hoje descrevemos. Isso com muito realismo, no sentido de que a escola possui modalidades, tempos e espaços de trabalho que são seus e não são aqueles da família. Quando se vive assim, a família depois se sente questionada e, acompanhada pela escola, reencontra seu papel educativo. Entre nós, também acontece que os pais trabalham e à noite querem manter a boa vida que tinham antes do casamento. Então, delegam as funções para a escola. Como escola, tentamos organizar as atividades de forma tal a dificultar isso e fixamos os horários das aulas durante a manhã, de modo que quem pode volta para casa à tarde. Por outro lado, os pais têm necessidade, precisam ser ajudados em sua tarefa, porque entre nós está surgindo a mania de que, para qualquer problema, é necessário um psicólogo. É preciso apoiar os pais e ao mesmo tempo responsabilizá-los, dizendo-lhes que são os melhores pais para seus filhos, correndo esse risco e ao mesmo tempo colocando em ação estratégias para ajudá-los, como a Escola para Pais que fazemos. Com o tempo, isso demonstrou ser muito útil e alguns pais nos disseram: "a experiência dessa escola foi mais importante para mim do que para meus filhos". Sempre com muito realismo, porque não somos nós que salvamos o mundo! Fazemos o que podemos e depois vamos dormir tranqüilos. São Francisco Xavier tinha como lema: "Zarpar mar afora, salvar uma alma e depois morrer": é suficiente! Madre Teresa de Calcutá, com o mar de necessidades que encontrava, diante da pergunta de um jornalista: "Se a senhora tivesse que escolher duas ou três coisas para mudar, o que mudaria?" Ela respondeu: "Pediria a mudança do meu coração e do seu". É a grandeza dos santos que sabem que quem faz as coisas não somos nós, e, sim, a Providência de Deus. Belo Horizonte – Quando o educador não fez a experiência de liberdade e não sabe valorizar essa experiência da criança, como ajudá-lo? 56 Nembrini – Acredito que só existe uma resposta para essa pergunta: o que dissemos sobre educação vale também no relacionamento entre adultos. Não se pode gerar se não se é gerado, e isso não vale uma única vez, mas está em jogo durante todos os instantes da vida. Significa que um grupo de professores ou uma comunidade de educadores se questiona, se julga, faz companhia. É válida a mesma regra que vale para as crianças: da mesma forma que não existe uma classe senão ao redor de um professor – porque um grupo de jovens deixado por conta própria não pode dar vida a um acontecimento educativo –, assim, um grupo de educadores não pode ficar sem uma referência que dê um juízo, faça uma companhia. Sob o ponto de vista existencial, vale aquilo que vale sob o ponto de vista da organização: para funcionar, a escola deve ser guiada por alguém, que dá forma e toma decisões. Assim é do ponto de vista existencial, existe sempre alguém para quem eu olho e que provoca e educa a minha liberdade. Se existem adultos que não viveram essa experiência, convidamos a fazê-la conosco. Se não existe ninguém que viva essa experiência, é melhor fechar a escola porque causa mais dano do que qualquer outra coisa. Belo Horizonte – Quando a escola é um lugar onde não se aprende nada, é difícil incentivar os jovens, inclusive, a freqüentá-la. Nembrini – Parece-me que não existem muitas alternativas: fazendo o que vocês fazem, eu penso que vocês tentam realizar o trabalho que não acontece na escola formal, acompanhando os jovens para que julguem a experiência que fazem pela manhã, valorizando o pouco que existe de bom e julgando o negativo. Depois, é necessário fazer todo o possível para que o centro educativo seja reconhecido como uma escola, evitando, dessa forma, a repetição das duas coisas, evitando desperdiçar o tempo e prejudicando a experiência da criança. Mas isso é algo que vocês devem avaliar a partir dos recursos que possuem. Brasília – Obrigada, porque entendi mais o trabalho que fazemos no Centro de Acolhida Edimar. Macapá – O educador é mais educador quanto menos estiver preocupado com o êxito. Gostaria de compreender melhor isso. 57 Nembrini – Isso tem a ver com o que dissemos antes sobre a liberdade, porque em nenhum lugar nós investimos todos os nossos desejos, projetos e pretensões como na educação. No relacionamento entre as pessoas é sempre difícil amar o outro por aquilo que ele é e não por aquilo que gostaríamos que fosse; por isso, o sinônimo da palavra educação é a palavra misericórdia. A educação é um ato de amor, exatamente como o amor começa quando você afirma o outro por aquilo que ele é e não por aquilo que corresponde às suas idéias, suas expectativas. Ser livre de êxito é que, ao olhar meu filho, a coisa que mais desejo é que corra em direção ao seu destino. Isso tem duas conseqüências. A forma do destino do outro não sou eu que determino (o profeta de Khalil Gibran: "Os vossos filhos não são vossos filhos"). Isso quer dizer que os filhos representam um mistério maior do que podemos imaginar, o destino deles pode se realizar segundo modalidades e tempos que não podemos determinar. Apreciar a liberdade deles é apreciar o que o destino lhes pede. Só que mais difícil do que isso é acolher e amar o outro quando sua liberdade contradiz e recusa nossa proposta. Ser livres de êxito é fazer como o pai que deixou o filho ir embora, e isso em um relacionamento permite que uma pessoa ofereça toda sua vida pelo bem do outro. Estou dando uma resposta pobre, mas me parece que a liberdade de êxito significa essa oferta, é um pouco o que fez Jesus, nos educou, isto é, nos salvou, dando a vida por nós no momento no qual o crucificávamos. Jesus viveu trinta e três anos, dos quais três para educar doze homens, isso quer dizer que Deus se fez carne para educar uma classe pequena de alunos. Acho que Ele também esperava que as coisas saíssem melhores, mas quando encontrou aquele que o traiu, o chamou de amigo e morreu também por ele. O nosso dever de educadores e de pais é um pouco assim: nós damos a vida e o resto está nas mãos de Deus e da liberdade de nossos alunos e nossos filhos. Estou convencido de que a nossa santidade irá salvar também aqueles com os quais a coisa aparentemente não teve êxito. Conto o episódio através do qual aprendi isso. Minha pobre mãe morreu com 60 anos e durante muito tempo carregou uma pesada cruz: o fato de que meu irmão mais velho saiu do seminário e se tornou um inimigo da Igreja: exatamente aquele que ela considerava como 58 sendo a coroação de sua ação educativa traía tudo o que ela tinha procurado ensinar, e isso a fez sofrer muito durante muitos anos. Quinze dias antes de morrer, eu vi que estava serena também com relação a essa questão e perguntei-lhe o que havia mudado. "Eu entendi uma coisa importante. Não se preocupe, porque eu vou levar esse seu irmão para o Paraíso, puxando-o pelos cabelos". Livres de êxito significa viver essa oferta no que diz respeito a qualquer escolha que os filhos possam fazer, se sacrificar por eles. Rio de Janeiro – Ao trabalhar sobre o texto Educar é um risco nasceu a necessidade de estudar as fases do desenvolvimento do adolescente para entender melhor quem são os nossos jovens. Como dar continuidade a esse trabalho? Nembrini – Trata-se de como a ação educativa descrita hoje entra no mérito de alguns instrumentos, de algumas competências que é preciso ter. É uma pergunta muito interessante, porque de outra maneira o que dissemos hoje correria o risco de permanecer como exortação genérica e, portanto, inútil. Tudo o que dissemos hoje, quando colocado em movimento, tem que tomar uma forma muito precisa, as afirmações feitas ou comunicadas só podem ser vividas dentro de formas muito precisas. Formas que devem permanecer como instrumentos, a respeito dos quais é preciso ser livre, julgálos, continuamente mudá-los, corrigi-los. É como ter que carregar água – da qual se precisa para viver – de um lugar para outro; para mudá-la de lugar, é necessário que tome uma forma, é preciso levá-la dentro de um recipiente; senão, no máximo, consigo carregar as poucas gotas que caíram em mim, só que não levo a água. Depois, evidentemente, ficarei melhor na experiência de encontrar os instrumentos mais eficazes. A primeira coisa a fazer é ter coragem de arriscar, tentando inventar instrumentos e modalidades com os quais aquilo que dissemos pode ser vivido e comunicado. Como outros já nos precederam, e se seu problema é traduzir o que dissemos em instrumentos adequados, competências adequadas, procurem observar se essas tentativas já não foram feitas. Parece-me que dois instrumentos já existem. 59 A rede que vocês vivem é o primeiro grande recurso sobre o qual se apoiar, o outro recurso é a Luisa, com a qual estamos tentando construir uma secretaria da Companhia das Obras para escolas, procurando recolher e oferecer experiências e instrumentos. É a idéia que nasceu com vocês, no encontro do CdO no Rio de Janeiro, a de que no mínimo existisse uma secretaria para facilitar a experiência em todo o mundo. Procurem a Luisa, faremos o que for possível para ajudar. Não se consegue nem copiar o que fazem os outros se não for para colaborar com aquilo que você faz; por isso, é preciso arriscar. Apenas copiar é muito perigoso, os relacionamentos se tornam rigorosos e violentos, e, ao contrário, a coisa mais interessante é olhar um exemplo e tentar reavivá-lo a partir da sua própria situação. Belo Horizonte – Como ajudar o jovem a ter interesse pela realidade quando ele não é perseverante? Nembrini – A perseverança não é uma qualidade da juventude, é o êxito da educação e a característica típica do adulto, por isso Pe. Giussani, em Educar é um risco, chama a função do adulto de "função de coerência", e também se poderia dizer perseverança. O jovem nunca é perseverante, é como um elástico que tenta posições diferentes e contraditórias para colocar à prova a solidez do adulto. Nesse sentido, educa-se a perseverança do jovem educando a própria; quanto mais o jovem está diante de um adulto firme, seguro e idealmente coerente, que percorre sua estrada sem incertezas, tanto mais é educado a viver a mesma estabilidade e perseverança. O critério da conveniência deve estar bem claro: é mais fácil ser perseverante em algo que convém do que a respeito de uma coisa que não nos interessa. O problema da perseverança dos jovens está na perseverança da proposta que o adulto faz, isto é, se o adulto consegue acompanhar o jovem na descoberta de que a proposta é bonita, conveniente para ele. Quando pedi ao meu filho que fizesse o sacrifício de não viajar, não poderia deixá-lo sozinho, tive que acompanhá-lo através de um constante diálogo, para que verificasse se era verdadeiro o que eu havia proposto; de outro jeito, ele não poderia perseverar na decisão que tomou. Você deve fazer de forma tal que sejam criadas condições para que a decisão tomada uma vez seja novamente tomada; portanto, deve oferecer um 60 relacionamento que torne isso possível. O importante é não considerar a falta de perseverança como um obstáculo, e, sim, o ponto de partida e o desafio a ser aceito, ou então você se deprime antes de começar. Belo Horizonte – São terríveis as situações de violência, do tráfico de drogas que dificulta o contato com a família e com a escola. O jovem é atraído pelo ganho fácil. Nembrini – Acredito que a miragem do ganho fácil e violento – ainda que não nas mesmas formas – seja vivida também aqui. Estamos na mesma situação! Existe a mesma possibilidade do mal; aí, talvez mais rude, evidente, malvada; aqui, com formas mais elegantes. Se pensarmos na taxa de violência entre os jovens nos estádios, nas taxas de suicídio, no fato que até os 16 anos parece que 90% já experimentaram alguma droga, vocês entendem que a situação também é dramática na Itália? Também aqui a família está desesperadamente sozinha e impotente para educar os filhos, tanto é que ou se renuncia à educação, ou se renuncia, a ter filhos. A queda do crescimento demográfico documenta este terror que o adulto tem de colocar filhos no mundo. A família sozinha não consegue, porque não consegue administrar o forte desafio da total falta de valores que está ao seu redor. Percebo que, se teve êxito a aventura educativa que fiz com meus filhos, é porque dentro da minha participação na comunidade cristã eles puderam ver não um modelo de família, mas uma vida de relacionamentos, de empenho político e missionário, que lhes permitiu ver um pedaço de mundo diferente daquele que está na frente deles. Com esses amigos (falo da companhia do Movimento Comunhão e Libertação), pude construir uma série de ocasiões fora do ambiente familiar que não contradiziam, e, sim, valorizavam aquilo que eles viviam em família. Isso foi possível graças ao risco, à liberdade e à criatividade destes adultos preocupados com seus filhos, e que, por isso, começaram a construir escolas, sociedades esportivas, possibilidades de assistir juntos a um filme... procurando construir um pedaço de mundo no qual nossos filhos pudessem dizer: "aquilo que os meus pais me ensinam é verdade". Isso é importante porque mostra um outro princípio da ação educativa: ou é totalizante, ou é ineficaz. Eles devem ver que aquilo que você procura 61 viver e aquilo que você lhes pede tem algo de interessante a dizer sobre todos os níveis da existência: a dor, o sexo, o amor e a política. O que vocês precisam tentar construir ali é a mesma coisa: um pedaço de mundo diferente. Também isso dentro de um realismo saudável; portanto, faz-se aquilo que se pode. Belo Horizonte – Qual é o peso do lúdico dentro do processo de ensino/aprendizagem? Nembrini – É uma pergunta muito técnica, à qual não sei responder, porque sempre dei aula para o Ensino Médio. A única coisa que me vem em mente quando ouço a palavra jogo é que eu me divirto muito ensinando, estando com os jovens, com meus filhos; se jogo é sinônimo de alegria, então certamente tem a ver com a educação, por aquilo que eu disse antes: o jovem percebe a conveniência da proposta feita por causa da alegria do adulto, um adulto triste nunca educará ninguém. Jesus ditou a fórmula da educação: "Eu vos disse estas coisas para que a vossa alegria seja plena". Essa é a pergunta que devemos nos fazer ao conversar e ensinar crianças e jovens. E se respondemos positivamente a essa pergunta, estamos no caminho certo. 62 CONCLUSÃO por Alberto Piatti, diretor da AVSI Na metade da década de 90, tive oportunidade de desenvolver uma missão de reconhecimento no Brasil, na qual visitei várias obras educativas com as quais a AVSI tinha uma relação mais ou menos consolidada, nas cidades de Manaus, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo. Eram centros educativos informais, destinados em sua maioria a crianças de zero até três anos. Nessa viagem, percebi que estas obras possuíam um valor decisivo para a vida das crianças e suas famílias, mas também para a comunidade na qual viviam, e pensei que o reforço dessas atividades geraria um grande benefício. Em cada uma dessas realidades, fiquei muito tocado com um insólito cuidado tanto em relação aos recém-nascidos quanto com as crianças do reforço escolar, com suas mães e famílias, um cuidado ao acolher e ensinar, na nutrição e na higiene. Um fio condutor inconsciente unia esses cuidados: o amor à criança como pessoa, amor que é "a fundamental e nata vocação de cada ser humano" (Familiaris consortio, 6). Essas quinze realidades tinham uma relação de conhecimento e estima recíproca, que desejavam aprofundar. Sobretudo, procuravam uma maneira para compartilhar a aventura em comum da educação, mas não possuíam recursos, desejavam crescer, mas tinham medo de não conseguir. E a AVSI estava ligada a elas porque compartilhava a mesma paixão pelo homem, sua dignidade, sua liberdade. Assim, nasceu o projeto "Constituição de uma Rede de Escolas para a Infância", iniciado no final de 2000. 63 Foram realizados seminários, cursos e encontros; pessoas especializadas contribuíram dando consultoria no setor educativo, organizativo, de gestão e de saúde. Locais foram reestruturados e escritórios foram equipados. Hoje, no final deste projeto, a Rede – que cresceu para além de 30 obras educativas – é uma realidade de sujeitos competentes, estruturados do ponto de vista instrumental e organizacional, capazes de dialogar com as instituições públicas e também com as comunidades e famílias, além de oferecer um serviço qualificado para 5.000 crianças e jovens de 0 a 16 anos. Portanto, são sujeitos maduros, expressão de uma sociedade civil "subsidiária". Sobretudo, são capazes de enfrentar o risco de educar. Educar homens, lembrando que "o verdadeiro objetivo de todo sistema econômico, social e político e de cada modelo de desenvolvimento é a promoção integral da pessoa humana" (discurso de João Paulo II na XXI sessão da conferência da FAO, 1981). 64 INDICE INTRODUZIONE 67 PRIMA PARTE – AVSI E EDUCAZIONE 69 I cinque punti del metodo AVSI nell'approccio educativo 1- Centralità della persona 2- Partire dal positivo 3- Fare con 4- Sviluppo dei corpi intermedi e sussidiarietà 5- Partnership 69 70 72 74 75 77 SECONDA PARTE – LINEE DI FONDO DELL'AZIONE EDUCATIVA 81 1- Il riconoscimento dell' "essere persona" del bambino e la decisività dell'adulto come educatore 2- Il rapporto con le famiglie 3- Il rapporto tra le istituzioni, il quartiere, le scuole "formali" 4- Costituzione di una rete e rapporto con le politiche pubbliche 81 86 92 96 TERZA PARTE – IL RACCONTO DI ALCUNE ESPERIENZE 101 Don Luigi Valentini Rosetta Brambilla Eliana Umbelino de Souza Albernaz Marina Bastos Guardo e Regina Nunes 101 103 104 107 QUARTA PARTE – UN CAMMINO CHE CONTINUA 111 Annotazioni dalla videoconferenza del 29 Giugno 2004 111 CONCLUSIONI (di Alberto Piatti, direttore di AVSI) 127 ALLEGATO – SCHEDA DELLE ISTITUZIONI EDUCATIVE DELLA RETE AVSI IN BRASILE 65 INTRODUZIONE AVSI, presente in Brasile dal 1982, ha sempre attuato – attraverso progetti di riduzione della povertà urbana in diversi stati della nazione, – programmi che, nella prospettiva dell'urbanizzazione, calati in contesti di aree cosiddette informali, prive di qualsiasi servizio elementare, avevano come obiettivo il miglioramento in senso lato della vita degli abitanti. Come raccontano i numerosi testimoni, protagonisti di questa presenza, l'incontro con la realtà e la condivisione dei bisogni delle persone hanno suggerito il cammino e lo sviluppo di tutto un percorso che, se da un lato ha teso a una metodologia di lavoro integrata, in una visione non settoriale degli interventi, dall'altro ha valorizzato tutto ciò che si è incontrato, nato magari come timido tentativo per assicurare una condizione di vita più umana ad alcune persone. Mi sembra che si possa leggere così, senza essere troppo semplicisti, il legame che Avsi ha con più di trenta opere educative sparse nell'immenso territorio brasiliano, dalla foresta amazzonica alle note spiagge di Rio, fino alla grande metropoli di San Paolo o le zone periferiche del Mato Grosso. L'azione è stata ed è tuttora caratterizzata da una serie di interventi di sostegno a scuole e centri socio-educativi, volti a favorire lo sviluppo integrale di bambini e adolescenti e delle loro famiglie e comunità, in aree urbane informali. I rapporti di partenariato instaurati hanno consentito quasi ovunque una condivisione di necessità e problemi, non solo puntuali, ma legati in senso ampio alla tematica educativa, nella ricerca di risposte pratiche a necessità comuni manifestate da diversi centri. Sono opere o direttamente legate ad Avsi, almeno nella loro origine perché sono state costruite con contributi provenienti da progetti con 67 finanziamenti internazionali o che, sorte per l'impegno di piccole associazioni presenti sul territorio, beneficiano oggi del contributo di donatori privati, attraverso la forma del Sostegno a Distanza, che senza dubbio permette un miglioramento del servizio offerto, per un numero complessivo di più di 5.000 minori nella fascia d'età che va dai pochi mesi fino ai 16–17 anni. Negli ultimi anni si è sviluppato, dapprima con 12 centri, situati in cinque città capitali del Brasile, poi nel corso del suo svolgimento con 17, il progetto denominato "Costituzione di una rete di scuole per l'infanzia per promuovere l'interaiuto in quattro aree: educativa, sociale, sanitaria e organizzativa-gestionale", co-finanziato dal MAE e dalla CEI con una durata triennale (dicembre 2000-dicembre 2003, prorogato poi di sei mesi). L'obiettivo è stato quello di contribuire al miglioramento della qualità di vita di bambini e famiglie residenti in favelas, attraverso il rafforzamento e il miglioramento della qualità dei servizi offerti dai centri, l'elaborazione e diffusione di una metodologia di intervento, cercando di influire sulle politiche sociali a favore dell'infanzia. La proposta culturale ed operativa di tali scuole, sostenuta nella sua elaborazione e attuazione da AVSI, è basata sul riconoscimento che l'educazione è il fattore che definisce la modalità di rapporto con la persona. I servizi offerti si possono caratterizzare in diversi modi, secondo il contesto in cui sono inseriti: valorizzando gli aspetti della salute, nel caso di bambini denutriti il rapporto con la famiglia, nel caso di minori a rischio, ma partendo sempre dalla considerazione che tutto possiede una finalità educativa, cioè quella di accompagnare la persona nell'introduzione e nell'affronto della realtà, attraverso la piena valorizzazione delle sue potenzialità e capacità umane. 68 PRIMA PARTE AVSI E EDUCAZIONE I cinque punti del metodo AVSI nell' approccio educativo Avsi (Associazione Volontari per il servizio Internazionale) nata nel 1972 e oggi presente in 35 paesi dell'Africa, dell'America Latina, del Medio Oriente e dell'Est Europa deve il suo sviluppo, non a una strategia pensata a tavolino, ma a una serie di incontri con persone o con realtà che, accolte nella loro richiesta di aiuto, sono all'origine della realizzazione di 86 progetti pluriennali nei settori sanità e igiene, cura dell'infanzia, educazione, formazione professionale, microimpenditorialità, recupero delle aree marginali urbane, agricoltura e con mirati interventi di emergenza. "Condividere il bisogno per condividere il senso della vita" non è semplicemente uno slogan sorto negli ultimi anni, ma l'espressione che indica un'esperienza quotidiana testimoniata dai volontari che operano in tutti i paesi in cui Avsi è presente, spesso in condizioni davvero difficili. La realtà, non una strategia, ha guidato la risposta ai bisogni incontrati, una risposta che nel suo sviluppo ha rispettato alcuni punti di metodo dettati anch'essi dalla riflessione sulle esperienze compiute. Vogliamo cominciare a descrivere questa esperienza, in campo educativo a partire da questi punti di metodo, tentando di mostrare come hanno guidato le azioni del Progetto e come guidano la vita dei centri educativi. 69 1- Centralità della persona La presenza nasce, abbiamo detto, da un incontro e l'incontro è eminentemente con una o più persone che manifestano un bisogno, una necessità. Tutti i centri educativi coinvolti nel progetto sono sorti così, dal prendere a cuore la necessità di una madre, che manifestava il desiderio di un luogo sicuro dove lasciare i figli quando si recava al lavoro, incontrata, per esempio, da Rosetta (una volontaria italiana presente in Brasile da 37 anni) nel "Posto di salute", dove svolgeva allora un servizio come infermiera. E a partire dalla risposta a quel bisogno, solo a Belo Horizonte sono presenti oggi asili nidi, scuole materne, centri di doposcuola e orientamento professionale, una casa di accoglienza per minori a rischio, insomma sono accolti circa 600 bambini e adolescenti. Un altro caso emblematico è quello di Don Luigi Valentini, un sacerdote marchigiano che ha vissuto per 20 anni in Brasile dividendo il suo tempo tra la Pastorale Universitaria e il lavoro nelle favelas. Un fatto accaduto ha, come racconta, "rivoluzionato" la sua vita. "Tre bambini sono arsi vivi nella loro baracca. I loro genitori andando al lavoro li chiudevano nella baracca per non farli vivere in strada. Mi è balenata l'idea…ho cominciato a costruire un baracca di legno e ho accolto una cinquantina di bimbi in tenera età.. poi con il passar del tempo il locale è stato ingrandito…. poi ricostruito in mattoni..… fino ad accogliere centocinquanta bimbi per il periodo di tempo in cui i genitori lavorano (6,30/15,30). Nel 1990 rientrato in Italia ho parlato della mia storia, ho trovato persone attraverso le quali…. è nata la seconda, la terza… fino alla ottava opera. Una nei sobborghi di San Paolo, cinque a Belo Horizonte, una a Salvador di Bahia e una a Samambaia (città satellite della capitale)."1 Quando si incontra una persona si interviene immediatamente, si mettono in moto tutte le possibilità e tutti gli strumenti utili per arrivare a dare una risposta adeguata al bisogno manifestato, poi si cercano i finanziamenti, le collaborazioni, gli amici che possano dare una mano. Così pur ponendosi l'obiettivo di rispondere a un bisogno particolare la persona "oggetto dell'aiuto" viene sempre posta al centro dell'azione con 1 Testimonianza presente sul sito htpp:// www.donluigi.net 70 tutte le sue esigenze, le sue risorse e tenendo conto dell'insieme delle relazioni in cui è coinvolta. Il bambino e l'adolescente vengono accolti nell'integralità della loro persona. Gli educatori e gli operatori sociali si prendono cura di loro, con interventi adeguati a ciascun caso, dal punto di vista dell'istruzione e della formazione umana e professionale, delle condizioni di violenza e disagio, ma anche della loro identità, dei rapporti famigliari, traducendo il principio della centralità della persona in un processo educativo, fondato sulla reciproca appartenenza fra l'adulto e il giovane. Partire dalla persona sarebbe infatti astratto, se la persona non fosse vista nelle sue relazioni primarie – la famiglia – e secondarie – la comunità locale e la società civile, nell'integralità delle sue dimensioni. Formazione della persona, insomma, non è solo formazione all'espressione del diritto della cittadinanza, diritto certamente importante e rilevante per i contesti in cui le scuole operano, ma riduttivo se considerato in modo assoluto perché è la persona che ha in sé questa dimensione e solo una persona educata nella sua complessità potrà essere anche un attore nel contesto civico. Nello specifico le azioni del progetto sono state guidate dall'ipotesi educativa che considera l'educazione come un aiuto alla persona per introdursi nella realtà totale, con tutti i fattori che la costituiscono e in tutti gli aspetti in cui la realtà si presenta. Infatti nella raccolta dati, caratterizzanti ciascuno dei centri educativi, che ha rappresentato la prima attività del Progetto, è emersa una presa di coscienza più consapevole della natura dei centri: le dimensioni che li compongono (sociale, educativa, di attenzione alla salute, amministrativagestionale), che erano state tenute su uno stesso piano nella stesura iniziale del progetto, erano da considerarsi secondo un'altra ottica e in modo funzionale rispetto alla dimensione educativa. La motivazione, all'origine delle varie scuole, rispondendo a chiare necessità incontrate, si é sempre connotata come una proposta di un cammino educativo che, per rispondere nel modo più adeguato possibile al contesto, non ha potuto escludere un'attenzione agli aspetti di salute o alle condizioni socioeconomiche delle famiglie, aspetti che normalmente non rientrano nelle aree di interesse di una scuola. D'altra parte, in un contesto in cui le situazioni di emergenza e le situazioni di necessità chiedono sempre un puntuale intervento, é facile che ci si metta in una posizione che tenti di offrire un aiuto negli aspetti più 71 basilari (quali il procurare cibo o medicine, cercare un lavoro per le mamme...) che, se non può non essere evitata, certamente deve essere subordinata e finalizzata allo scopo che le scuole hanno che, come si è detto, è prevalentemente educativo. La presa di coscienza del cammino educativo che deriva come conseguenza diretta dal porre la persona al centro della propria azione, è stata condivisa con i responsabili dei centri educativi e con tutti gli operatori attraverso vari momenti del Progetto, dal Seminario "Educarsi per educare" ai Corsi di Formazione per gli Educatori, che si sono posti come obiettivo non la formazione per lo svolgimento di un compito specifico, ma la necessità di una formazione integrale che si caratterizza come continua. 2- Partire dal positivo Ogni persona, ogni comunità, per quanto povera, rappresenta una ricchezza e presenta un "patrimonio". Questo principio di metodo tende a valorizzare e a rafforzare ciò che le persone hanno costruito, la loro storia, le relazioni esistenti, cioè quel tessuto sociale e quell'insieme di esperienze che costituiscono il loro patrimonio di vita. Significa "lavorare a partire dalle risorse piuttosto che dalle mancanze". Si tratta di un punto operativo fondamentale, che nasce da un approccio positivo alla realtà e che fa capire alla persona il suo valore, la sua dignità, e nel contempo l'aiuta ad assumere una responsabilità. In tal senso la fase di conoscenza della realtà, che è stata anche la prima azione di attuazione del progetto, non è stata una fase preliminare dell'azione, ma già un´azione: infatti, identificare obiettivi prioritari dipende da come si "ri-conosce" la realtà sulla quale il progetto vuole intervenire; la definizione delle metodologie e degli strumenti specifici di lavoro deve misurarsi con l'osservazione della realtà; il rapporto tra tutti gli attori o corpi intermedi presenti ed operanti su un territorio definito è un elemento fondamentale nello svolgimento del progetto. Nelle scuole coinvolte la raccolta dei dati, oltre allo scopo primario di conoscenza della realtà, necessaria per l'impostazione delle attività e lo svolgimento del progetto, ha facilitato l'instaurarsi di un rapporto che ha permesso di definire insieme ai diretti destinatari dell'azione, i punti positivi da tener presenti nell'attuazione di ogni specifico aspetto. 72 Dalla fase conoscitiva sono risultati quegli elementi caratteristici e particolarmente significativi di ogni scuola che sono stati poi alla base dell'intervento successivo, finalizzato a sviluppare tali aspetti, metterli in comune e diffonderli. Alcuni di questi elementi sono: • il valore dell'investimento affettivo e della cura integrale del bambino, in ciascuna delle realtà coinvolte, espressa nell'organizzazione complessiva dell'opera, con attività educative, sanitarie, cura dell'alimentazione, attenzione alla famiglia; • il valore educativo del rapporto con le mamme, evidente in ogni realtà ma soprattutto a Belo Horizonte; da un lavoro educativo con il bambino risulta evidente un riflesso sulla qualità della vita della mamma, non solo per la sua libertà di lavorare, ma anche nella valorizzazione della sua dignità di persona; • il valore della cura sanitaria del bambino, evidente soprattutto in realtà come quelle del centro Giovanni Paolo II di Salvador Bahia e il Cren di San Paolo, dove la cura della denutrizione e delle principali malattie dei bambini (affezioni respiratorie e parassitosi principalmente) viene gestita come cura complessiva della persona e non come trattamento di una malattia; • il valore della presenza delle opere all'interno della comunità, evidente in ciascuna città ma particolarmente forte a Brasilia e Rio de Janeiro, dove i centri educativi rappresentano un luogo di riferimento per le diverse espressioni della comunità. Un importante aspetto evidenziato dall'indagine conoscitiva è stato quello di un quadro estremamente mutevole e flessibile, definito proprio dal contenuto della realtà osservata, una realtà umana in continuo mutamento, che ha dettato anche nuovi passi organizzativi e nuovi sbocchi all'attività progettuale. Questo ha fatto emergere l'esigenza, per esempio, di una conoscenza del settore più nuovo di questi centri educativi che avevano nel frattempo ampliato i servizi offerti alla fascia dei preadolescenti ed adolescenti, almeno in alcune città. L'attività conoscitiva è continuata per la parte qualitativa nel corso di tutto il primo anno, utilizzando le visite, da parte del capoprogetto e di alcuni consulenti alle varie scuole allo scopo di conoscere più da vicino la realtà, sottolineando gli aspetti di eccellenza o le necessità che si evidenziavano, e monitorando e valutando le attività che a poco a poco si stavano affrontando per verificarne le ricadute a livello locale. 73 Ogni visita si poneva un particolare obiettivo, definito di volta in volta con il coordinatore di città e con i responsabili delle scuole e che, dovendo rispondere alle necessità che si evidenziavano, era necessariamente diverso per ogni scuola. Il lavoro svolto durante queste visite, a volte con tutto il gruppo degli operatori, a volte con i responsabili o con gli educatori, è stato un utile strumento di continua verifica del progetto e di possibilità di una progettualità, soprattutto per quello che riguarda le attività perché fossero più consone alle necessità evidenziate, pur rispondendo alle linee poste dal progetto. 3- Fare con Un progetto "calato dall'alto" rischia di essere violento perché non partecipato oppure inefficace in quanto solo assistenziale. La modalità con cui viene proposto il progetto e lo si attua è quella di fare assieme alle persone, cioè partire dal rapporto con la gente cui il progetto è rivolto e costruire sulla base dei passi che maturano con loro. La partecipazione di tutti i soggetti coinvolti fa parte della natura dell'intervento, ed è alla base della definizione di "come, dove e quando" intervenire. In modo particolare in un progetto in cui ci si ponga l'obiettivo della sistematizzazione e diffusione degli elementi di eccellenza individuati nelle diverse realtà, il livello di coinvolgimento delle scuole nel progetto è differenziato a seconda del contributo che ciascuno può dare o ricevere dal lavoro in rete. Essendo le realtà educative coinvolte nel progetto dislocate sul territorio (Belo Horizonte, Brasilia, Rio de Janeiro, Salvador, San Paolo), la modalità che è stata utile per favorire il "fare con" è stato il coinvolgimento, nel comitato di gestione del progetto, dei coordinatori delle diverse città, così che potessero essere punti di riferimento per tutte le opere per informarle dell'avvio dei lavori, per presentare gli obiettivi, i risultati e le varie attività previste nel cronogramma e per definire con loro i criteri fondamentali per lo svolgimento delle stesse, a partire dai dati emersi dall'analisi conoscitiva delle realtà. Era necessario cioè tener presente, per un'efficacia delle azioni, le caratteristiche di ogni scuola, rilevandone i punti comuni e le specificità, punti forti e debolezze, così da poter proporre le attività in modo tale che potessero essere recepite e, secondo le evidenti necessità di ciascuno, 74 puntare il più possibile ad un coinvolgimento delle diverse realtà a vari livelli. Questo tenendo conto della dinamica di formazione e azione suggerita dal progetto che prevedeva l´affronto di un tema con la produzione di strumenti comuni, locali, raccolti e valutati, per arrivare alla proposta di direttive di azione. Tutte le attività proposte avevano come presupposto la condivisione dei partecipanti perché solo una partecipazione motivata e protagonista può facilitare il raggiungimento dell'obiettivo del progetto, rafforzare cioè la capacità di ogni centro di rispondere alle necessità incontrate con una chiara proposta educativa. 4- Sviluppo dei corpi intermedi e sussidiarietà Significa favorire e sviluppare le possibilità di aggregazioni, cioè riconoscere, valorizzare e favorire il costruirsi di corpi sociali intermedi e di un tessuto sociale ricco di partecipazione e corresponsabilità. Il diritto di ogni persona alla libertà di associazione e di intrapresa si rivela, nell'esperienza, una forza potente di cambiamento, così come il rafforzamento degli attori sociali è una condizione che favorisce la continuità del processo di sviluppo della comunità in tutti i suoi aspetti. Solo l' approvazione nel 1996 della legge LDB (legge delle direttive e basi dell'educazione)2 che enuncia quelli che sono i principi fondamentali del percorso educativo e la pubblicazione dei Referenti curricolari,3 le successive regolamentazioni elaborate a livello federale e nei diversi municipi hanno collocato le scuole infantili appartenenti alla rete nell'ambito legislativo del settore educativo rispetto al servizio sociale e assistenziale in cui erano in precedenza situate. Tale passaggio è stato certamente una conquista perché ha permesso di passare dal considerare le scuole come luoghi in cui i bambini erano depositati per un certo numero di ore del giorno per permettere alle madri di lavorare o per sottrarli da condizioni di rischio, a luoghi con un'intenzionalità educativa, ma non si può dimenticare che la mancanza dei quasi 15 milioni 2 BRASILE. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, istituita con la Legge nº 9394, del 20 Dicembre 1996. 3 BRASILE Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil, Brasília, MEC/SEF, 1998. 75 di posti nell'educazione infantile nel Paese era stata sopperita con molti asili e scuole materne sorti per iniziativa privata. Occorre inoltre sottolineare, nella rete privata, il ruolo di quelle strutture educative rivolte all'infanzia che hanno un carattere di pubblica utilità, come quelle che hanno costituito la rete coinvolta nel progetto. Tali scuole hanno svolto e svolgono una funzione specifica nella rimozione di alcuni ostacoli del processo insegnamento/apprendimento che si pongono nella prima infanzia. È il caso della denutrizione e della mancanza di attenzioni, per cui si spezzano i rapporti affettivi tra genitori e figli piccoli, rischiando di compromettere lo sviluppo affettivo e di conseguenza l'apprendimento oppure la mancanza completa di un'educazione infantile che renda possibile la formazione dei pre-requisiti indispensabili all'apprendimento scolastico. Se l'inclusione delle scuole per l'infanzia nel sistema educativo rappresenta un passo importante perché obbliga tutte le istituzioni a offrire un percorso educativo-pedagogico specifico, chiedendo una preparazione adeguata anche per gli educatori, lo Stato non può non riconoscere il ruolo di questi soggetti educativi che hanno sviluppato un'esperienza solida nel tempo, capace di erogare un servizio qualificato e adeguato alla domanda. Il progetto ha inteso contribuire al superamento di una visione assistenzialista da parte dello stato verso i servizi della rete complementare di educazione che non sono, infatti, un complemento accessorio alle situazioni o ai bisogni, ma portano in sé una responsabilità propria davanti alla società. Uno dei frutti è stato proprio l'approfondimento da parte dei soggetti coinvolti della coscienza dell'importanza del servizio svolto che ha portato, da un lato, all'ampliamento dei rapporti con altre istituzioni che svolgevano lo stesso compito sul territorio e il confronto con queste e, dall'altro lato, a saper interloquire con le scuole formali frequentate dai ragazzi, in modo da poter conoscere meglio il lavoro svolto in classe e definire i contenuti più appropriati da sviluppare nelle attività extrascolastiche, e con l'amministrazione pubblica per un riconoscimento, anche con adeguate convenzioni, del servizio offerto. In questo senso l' opportunità di un intervento per la costituzione di una rete tra le scuole per l'infanzia è stata perciò motivata da alcuni ordini di vantaggi: • valorizzazione di un'esperienza maturata nel tempo da parte dell'iniziativa privata che ottiene risultati efficienti ed efficaci prima e al di là dell'intervento pubblico, il quale, proprio per questo, dovrebbe favorire 76 queste realtà e, secondo il principio di sussidiarietà, intervenire solo in supplenza se necessario; • specificità ed elementi comuni, trasformati in patrimonio condiviso, possono dare una maggior solidità a ciascuna realtà, rendere il metodo trasmissibile, riproducibile, indipendente dalle persone che lo hanno creato; • la messa in rete delle "esperienze di eccellenza" sviluppate da alcune scuole in uno dei settori specifici (sanitario, sociale, pedagogico) può aiutare le altre a svilupparsi attestandosi su standard adeguati di qualità; • una realtà con una massa critica significativa può ottenere anche economie di scala, oltre che vantaggi di tipo qualitativo, specie nel ricorso a servizi e consulenze (ad es. giuridiche, fiscali…) e alla formazione del personale. 5- Partnership La partnership deriva dall'applicazione della sussidiarietà. Significa partire da un soggetto esistente, attivo nella comunità, che coinvolge nell'azione le amministrazioni locali, le forze sociali e imprenditoriali, le istituzioni internazionali, nel cooperare, secondo i rispettivi ruoli, a rispondere al bisogno con cui ci si confronta, permettendo la costruzione di un "canale di accesso" della comunità ai servizi della "città formale". Molti sono i problemi che ancora affliggono il sistema educativo in Brasile e che rischiano seriamente di compromettere il raggiungimento delle mete previste nel documento dell'Unesco, Education for all,4 sottoscritto dal Governo Brasiliano, e nel secondo obiettivo dei "Millennium Development Goals". Assicurare l'istruzione primaria universale: assicurare che tutti i ragazzi e le ragazze portino a terminare un ciclo completo di istruzione primaria"5. Se negli ultimi anni si sono compiuti innegabili passi avanti per tentare di inserire tutti a scuola, specie nel livello scolastico fondamentale, gli indicatori evidenziano tuttavia come ancora non sia favorita una educazione di qualità per tutti e come, soprattutto quella fascia della popolazione 4 Dichiarazione della Conferenza Mondiale dell'Educazione per Tutti (EPT), realizzata nel 1990 (Jomtien/Tailândia). 5 Millennium Development Goals, documento approvato nella Cupola del Millennio realizzata dal 6 all'8 Settembre 2000, a New York. 77 che abita nelle aree a basso reddito delle grandi metropoli, sia in tal senso penalizzata. Un ruolo decisivo nella rimozione degli ostacoli all'apprendimento e nel miglioramento della qualità del processo di educazione-istruzione dei bambini e adolescenti più svantaggiati è svolto da istituzioni socio-educative non statali di pubblica utilità, sia nella prima infanzia (scuole per l'infanzia), sia nei livelli scolastici fondamentale e medio (centri socio-educativi e doposcuola). Le prime svolgono un'importante funzione nella rimozione di alcuni ostacoli del processo insegnamento/apprendimento che si pongono nella prima infanzia e la recente entrata a far parte del sistema educativo, pur non affrontando il tema dei necessari finanziamenti, ha posto loro nuove esigenze di riqualificazione a tutti i livelli: dalla gestione e amministrazione delle risorse umane e finanziarie e strutturali, alla qualificazione professionale dei propri operatori (si esige ora una formazione specifica per gli educatori), fino alle metodologie e strumenti pedagogici adeguati. Le seconde accolgono i bambini e gli adolescenti nel tempo in cui non stanno a scuola, ampliando la loro giornata scolastica (e che per questo definiamo come "rete complementare di educazione"), offrendo proposte costruttive come attività di sostegno scolastico, educative, culturali e ricreative, facilitando l'apprendimento e l'arricchimento del processo di alfabetizzazione ed educazione di base, contrastando fenomeni come l'evasione e la ripetenza scolastica e cercando di impedire il coinvolgimento in attività illecite, come lo spaccio di droga o la violenza urbana. Non sono rare inoltre le iniziative per orientare e preparare professionalmente i giovani ed avviarli al lavoro, attraverso laboratori di qualificazione o convenzioni con aziende per stages con borsa. Tali servizi, nel contesto delle politiche pubbliche, sono tuttavia ancora considerati come servizi di assistenza sociale, non contemplati nel sistema educativo; d'altra parte non sempre le istituzioni stesse sono coscienti del loro fondamentale contributo all'educazione di qualità degli utenti che le frequentano, rischiando di considerarsi solo come una risposta ad alcune necessità parziali. La rete delle scuole per l'infanzia che si è rafforzata con lo sviluppo del Progetto rappresenta un chiaro esempio di parternship tra pubblico e privato, locale e internazionale attraverso il coinvolgimento di soggetti che, a diverso titolo, hanno collaborato in modo fattivo. Possiamo citare il Ministero degli Affari Esteri e la Conferenza Episcopale Italiana finanziatori del Progetto, famiglie, persone singole e associazioni che attraverso il Sostegno a Distanza 78 contribuiscono al miglioramento della vita dei bambini accolti, le istituzioni locali e una organizzazione non governativa che ha saputo svolgere una funzione di raccordo tra tutti i soggetti. Una possibilità di miglioramento reale si genera proprio là dove, come cita l'ottavo obiettivo del documento menzionato dei Millennium Development Goals si "crei una partnership globale per lo sviluppo" costituendosi un'alleanza tra i tanti soggetti che vi partecipano, che entrano cioè come soggetti attivi del processo e non semplicemente in modo nominale. 79 SECONDA PARTE LINEE DI FONDO DELL'AZIONE EDUCATIVA Dopo aver esaminato i punti della strategia di intervento di AVSI nella vita delle istituzioni coinvolte nel Progetto e nella conduzione delle attività svolte, entreremo ora nell'esame di alcuni contenuti che sono emersi come centrali e che, pur non esaurendo la complessità del percorso, costituiscono certamente un punto di arrivo condiviso da tutti i partecipanti della rete. 1- Il riconoscimento dell' "essere persona" del bambino e la decisività dell'adulto come educatore Ciò che abbiamo espresso nel primo punto metodologico, la centralità della persona, rappresenta il punto di partenza di ogni intervento nei confronti dei bambini; solo il riconoscimento del loro essere persona e, perciò della loro identità o della possibilità di costruzione di tale identità, fonda, anche in un contesto "difficile" come quello delle aree in cui si trovano i centri che costituiscono la rete, un intervento che si caratterizzi come educativo e non meramente assistenziale. Educativo, lo ricordiamo, significa accompagnare la persona nell'introduzione e nell'affronto della realtà, attraverso la piena valorizzazione delle sue potenzialità e capacità umane.1 Questa affermazione potrebbe sembrare ovvia se non si conoscessero le condizioni difficili in cui vive la maggior parte dei bambini e dei ragazzi 1 Giussani, L. Il rischio educativo, Torino, SEI, 1995, p 19. 81 che frequenta i centri: i loro bisogni primari a volte sono così eclatanti che sembrerebbe già di far molto rispondendo alla necessità di cibo, di igiene, di attenzione. Questi bisogni, che pur sono considerati e soddisfatti dentro la realtà dei centri educativi, sempre sono guardati come parte di una necessità più grande che è propria di ciascun uomo: essere riconosciuto e affermato come persona. "La risposta al bisogno non è mai avulsa dalla considerazione della persona nella sua interezza, ma è globale"2 Negli asili nidi e nelle scuole materne, il modo in cui si fa il bagno ai bambini non risponde semplicemente a una necessità di pulizia, ma diventa il momento di un rapporto personalissimo tra educatrice e bambino, in cui il piccolo può percepirsi coccolato, trattato con dolcezza, può parlare di sé ed essere ascoltato; è un gesto di affetto esclusivo attraverso cui il bambino prende coscienza di sé e del proprio corpo spesso per la prima volta. Le refezioni, che sono ben cinque negli asili nidi e nelle scuole materne, durante la lunga giornata che si trascorre nel centro (dalle 7 del mattino quando le mamme li portano per poter arrivare a tempo al luogo di lavoro alle 17 quando li riprendono), non soddisfano semplicemente il bisogno che il bambino ha di essere alimentato: le educatrici infatti imboccano i più piccoli uno per volta, dando uno spazio di tempo a ciascuno così che il bambino possa sentirsi in qualche modo "unico". Per i più grandi la prima colazione e il pranzo rappresentano non solo l'unico nutrimento significativo, ma anche l'idea dell'ordine e delle regole di vita. I gesti del quotidiano sono tutti dentro un'intenzionalità educativa perché comunicano sempre qualcosa di più di quello che realizzano; nell'occuparsi di un bambino e nel modo in cui lo si fa, è come se gli si dicesse " tu sei importante per me, tu hai valore", si trasmette cioè che la vita vale la pena di essere vissuta. Uno degli strumenti utilizzati nel progetto per aiutare le persone coinvolte nei centri educativi ad essere sempre più consapevoli di questa dimensione è stato il Seminario Educar-se para educar in cui si può dire che sia stata lanciata l'ipotesi educativa del progetto, riprendendo le tematiche contenute nel testo Educar è um risco3, importante punto di riferimento. 2 Rossi, G. Educare il bambino, in famiglia, in comunità, nel mondo, Milano, AVSI, 2001, p.41. 3 Giussani, L. Educar é um risco, Bauru, Edusc, 2004, versione brasiliana del testo Il rischio educativo, op. cit. 82 A questo momento di lavoro, svolto in due sedi, a Belo Horizonte e a Salvador, hanno partecipato tutti i funzionari dei Centri (per un totale di 290 persone) e gli atti poi pubblicati4 sono diventati uno strumento di riflessione nelle singole istituzioni e una modalità per dialogare con altri soggetti coinvolti nella stessa avventura educativa. La consapevolezza che l'educare è prerogativa di tutte le persone che lavorano in un centro educativo, e non semplicemente di chi ha la diretta responsabilità dei bambini, è una concezione un po' rivoluzionaria dei canoni normali, soprattutto nel contesto brasiliano. In un ambito educativo, tutte le persone che vi lavorano (dal personale delle pulizie a quello della cucina) collaborano alla crescita e all'educazione dei bambini e dei ragazzi perché, attraverso il modo in cui svolgono il proprio compito, manifestano il senso di ciò che fanno; anche un'azione ripetitiva, come può essere il tener pulito un ambiente o il preparare il pranzo, mostra una bellezza e contribuisce a rendere un ambiente accogliente. L'adulto svolge un ruolo fondamentale nel favorire o contrastare il processo di crescita, cioè di formazione dell'identità del bambino, attraverso la cura; è una cura che si manifesta nei primi anni di vita come ciò che assicura il benessere fisico e psichico e nei passaggi di crescita diventa più flessibile offrendo una protezione che sostiene il ragazzo e l'adolescente nella conquista di un'autonomia. Questa cura è esercitata in primis dai genitori, poiché la famiglia è protagonista e referente primario dell'educazione come è espresso nel documento Unicef "A World Fit for Children"5 e come avremo modo di riprendere in seguito. Quando la famiglia è presente va sostenuta affinché possa svolgere al meglio il suo compito educativo specifico di costruzione della personalità di base, ma non possiamo dimenticare che, accanto a questa, altri adulti svolgono un ruolo fondamentale, soprattutto in ambienti caratterizzati da conflitto, abbandono, trascuratezza. Nel corso di formazione degli Educatori di "Specializzazione in Educazione Infantile" con gli alunni, circa 160, appartenenti alle istituzioni della rete del Progetto e agli altri centri coinvolti, si è lavorato molto su questo aspetto perché è proprio nel rapporto quotidiano con chi è 4 Cogo L.; Carmo E.R. (org.) Educar–se para educar, Belo Horizonte, CDM:AVSI, 2001. 5 Pubblicato nel sito http://www.unicef.org 83 direttamente implicato nell'attività didattica che si mette in moto una dinamica di risveglio delle potenzialità del bambino, facilitando la crescita e l'assunzione di consapevolezza. Sono tre gli elementi che caratterizzano la figura dell'educatore6 e che sono stati approfonditi nelle loro implicazioni: "• Autorevolezza La coscienza della realtà nella sua interezza rende possibile da parte dell'educatore sviluppare un'azione educativa non frammentata e sensibile alle sfide che i vari contesti societari impongono quotidianamente. Nel confronto continuo con la persona dell'educatore, che lo valorizza costantemente, il bambino cresce, verifica le sue potenzialità e impara a leggere criticamente la situazione in cui vive. Per raggiungere questo scopo il primo passo educativo è un'attenzione al bagaglio di vita, di valori e di esperienze che la storia da cui il bambino è originato porta con sé (consapevolezza della tradizione). • Autocoscienza L'educatore è tale se non separa sé dalla propria funzione. L'educatore è consapevole che la vera educazione scaturisce da una comunicazione di sé e che perciò il primo strumento è il coinvolgimento sincero di sé. E' sempre in gioco tutta la libertà dell'adulto nell'assoluto rispetto della libertà del bambino. Questa impostazione indica un metodo che permea anche le tecniche impiegate. • Consapevolezza della dimensione comunitaria Il fattore comunitario è dimensione costitutiva di ogni azione educativa che si realizza continuamente e quotidianamente in una trama di rapporti capillari all'interno della comunità di riferimento". Durante il corso,7 attuato con un modulo teorico, un modulo organizzato con laboratori e uno stage, si è entrati negli aspetti che queste affermazioni implicano; per ragioni di spazio, ci limitiamo qui ad esemplificare il lavoro svolto su una capacità che deve essere appresa e che facilita e approfondisce il rapporto tra adulto e bambino: l'osservazione. Sembrerebbe qualcosa di immediato, ma in realtà imparare a osservare è qualcosa di complesso perché la realtà, e la realtà di un bambino, non è percepibile facilmente nella globalità dei suoi fattori e perché la persona che 6 Rossi, G. op. cit, p. 40. 7 Cogo, L. Apostila do Curso de Extensão em Educação Infantil, Belo Horizonte, AVSI, 2002. 84 osserva non è mai neutra, ma è determinata da tutto ciò che vive in quel momento. Per imparare ad osservare l'adulto deve porsi nella posizione umile di chi non sa già tutto di un bambino e o di un gruppo di bambini; non si osserva per avvalorare l'efficacia di un'ipotesi elaborata in precedenza o per riportare la realtà dentro uno schema perché si conosce l'altro nella misura in cui egli si svela, si fa conoscere. Diventa allora una caratteristica fondamentale dell'educatore la curiosità di conoscere e di scoprire e, da questo punto di vista, tutte le situazioni della vita quotidiana sono interessanti, purché l'adulto si ponga nella condizione di cercare di capire il senso di ciò che il bambino sta comunicando di sé. Per questo l'osservazione non è mai intesa come un mezzo per ricercare ciò che "non funziona" in un bambino, ma come possibilità di incontrare una modalità per entrare in rapporto con lui per poter svolgere al meglio il proprio compito educativo. L'osservazione è stato uno dei temi su cui gli educatori hanno lavorato nello stage, sempre con la supervisione di pedagogisti che li accompagnavano nel processo di apprendimento, e senza dubbio è stato un elemento che ha profondamente modificato il rapporto adulto-bambini. Abbiamo precedentemente sottolineato l'importanza della corresponsabilità di ciascun adulto, qualunque sia la funzione svolta nelle scuole, all'educazione dei soggetti che le frequentano. Il compito educativo, infatti, non è qualcosa che possa essere svolto in modo individuale e c'è uno strumento nella vita delle scuole che esprime in modo privilegiato questa corresponsabilità: il Piano educativo (quello che viene indicato come Piano dell'Offerta Formativa, in portoghese Projeto Político Pedagógico). Nessuna delle scuole appartenenti alla Rete ne aveva redatto uno prima dell'inizio del Progetto, ma dopo l'approvazione della LDB l'elaborazione del Piano è diventata una necessità, anche per poter accedere alle Convenzioni con le Segreterie Municipali di Educazione. Il lavoro con i pedagogisti in un seminario dedicato all'approfondimento degli aspetti peculiari del piano, il successivo accompagnamento delle istituzioni alla stesura, l'elaborazione di una scheda-guida sono stati degli spunti molto interessanti per usare questo strumento non in modo burocratico teso solo all'adempimento di una legge, ma per comunicare la propria identità, chiarendola prima di tutto ai soggetti responsabili della 85 scuola (direzione, insegnanti, personale e genitori in quanto interlocutori privilegiati). In questo modo il Progetto pedagogico non è semplicemente un documento tecnico, ma l'espressione di una proposta educativa significativa che esprime realmente il lavoro quotidiano; rappresenta lo strumento di una comunità scolastica che nasce dalla capacità di delineare un cammino umanamente significativo, fondato dal punto di vista culturale e adeguato dal punto di vista metodologico. 2- Il rapporto con le famiglie Le opere della rete, essendo situate nelle zone periferiche delle città, lavorano in gran parte con famiglie povere che presentano un contesto familiare fragile e molte volte destrutturato, dovuto a fattori quali la disoccupazione, l'alcolismo, la dipendenza da droghe. Sono famiglie spesso formate solo dalla madre e dai figli, nati dall'unione con diversi compagni, o che si reggono, anche quando la figura paterna c'è, unicamente sulla responsabilità economica e di cura della mamma. E' facile con queste premesse essere tentati di attuare un lavoro assistenziale che è la forma più immediata di rispondere a una necessità: un lavoro "per" la famiglia e non "con" la famiglia, nella pretesa addirittura di essere in grado di definire le necessità che essa ha. Dall'indagine qualitativa svolta all'inizio e durante il percorso del progetto, è emerso un elemento caratteristico di tutte le istituzioni: il desiderio che la famiglia fosse riconosciuta come capace di educare, come soggetto in grado di saper formulare le proprie priorità, senza essere sostituita nel suo compito educativo da nessuno, neppure dal Centro educativo, pur riconosciuto dalle stesse famiglie come una seconda casa, per l'importanza che assume nella vita di ciascuna famiglia e che successivamente documenteremo. Questo elemento si fonda sul riconoscimento di un dato oggettivo: il bambino infatti non è mai un essere isolato, è sempre inserito in un contesto famigliare che, seppure destrutturato nell' 80% dei casi, è comunque ricco di presenze significative. Il bambino appartiene di fatto alla sua famiglia e questo merita di essere preso in considerazione non solo perché ragioni biologiche 86 garantiscono il "diritto" della famiglia sul bambino, ma soprattutto perché essa rappresenta il primo ambito nel quale il bambino può essere educato alla sua vera umanità e a un rapporto costruttivo con la realtà.8 La famiglia costituisce una rete di rapporti che definiscono il "volto" con il quale ciascuno partecipa poi dei diversi ambienti che quotidianamente frequenta, con il quale incontra le altre persone. E' evidente come per lo sviluppo psico-fisico del bambino appena nato l'appartenere ai propri genitori sia una questione decisiva, ma dello stesso tipo di relazione di appartenenza ad una realtà maggiore di quello che si è non si potrà prescindere per tutta la durata dell'esistenza.9 La famiglia costituisce una risorsa fondamentale per la persona: è nello spazio familiare che si attuano esperienze umane di base quali la paternità, la maternità, l'essere figlio, l'essere fratello, il rapporto tra generazioni, la scoperta del nesso con la generazione della vita e con la realtà della morte, esperienze che durano nel tempo indipendentemente dalla volontà stessa della persona e che sono destinate a permanere per tutta l'esistenza. Sono proprio queste relazioni vissute che spingono la persona alla ricerca di un significato e perciò a quel processo di crescita che abbiamo affrontato nel primo punto. Nascere, amare, generare, lavorare, ammalarsi, invecchiare, morire sono processi legati a relazioni di parentela che quasi sempre sfuggono dal controllo della persona ed esigono per questo la ricerca di un senso più profondo. Nei vincoli familiari la persona entra con la totalità della sua esistenza, del suo temperamento, delle sue capacità e dei suoi limiti, a differenza di quanto normalmente accade negli altri ambiti di vita nei quali si stabiliscono rapporti parziali, limitati a capacità specifiche, corrispondenti alle funzioni che si svolgono. La famiglia costituisce anche una risorsa per la società dal momento che facilita risposte ai problemi e ai bisogni quotidiani dei suoi membri. Attraverso la protezione, la promozione, l'accoglienza, l'integrazione e le risposte alle necessità dei suoi membri, la famiglia favorisce lo sviluppo della 8 Si veda, solo per citare un esempio legislativo brasiliano, la legge n. 9394/96 Legge delle direttive e basi dell'Educazione Nazionale agli artt.2 e 29 dove si afferma il dovere della famiglia all'educazione dei figli e della complementarietà dello Stato. Sul rapporto famiglia – educazione – introduzione alla realtà si veda Giussani, L. op. cit e anche Rossi,G. op. cit. 9 Scola A. Il mistero nuziale, Roma:Pul–Mursia,2000, vol.2. 87 società. E' il luogo fondamentale della socializzazione e dell'educazione delle nuove generazioni, dal momento che nelle famiglie non è solo trasmessa la vita, ma anche il suo significato, l'insieme dei valori e dei criteri di orientamento. Sappiamo che un bambino è felice quando comincia a percepire che appartiene a qualcuno, solo a questo punto può scattare la possibilità del rapporto in cui il bambino può manifestare il desiderio di crescere, di diventare adulto. Dove questo rapporto si rompe, si indebolisce, si vedono conseguenze terribili nella vita dei bambini, in Brasile come in Italia. Ma allora come fare se il contesto familiare sembrerebbe, come abbiamo detto, inesistente? Mostreremo ora come questo diritto fondamentale della famiglia ad educare i propri figli, proclamato anche nei Diritti Universali10, è stato sviluppato operativamente nelle attività della rete. Nel Seminario "Famìlia: primeiro sujeito educativo" proposto a tutti i funzionari delle opere, con una particolare attenzione a quelli più coinvolti nel rapporto con le famiglie, educatori, direttori e assistenti sociali, si sono riprese le concezioni che abbiamo finora esposto perché diventassero patrimonio condiviso da tutti e si è avviato il lavoro su alcuni punti operativi, ripreso poi negli ambiti locali per acquisire gli opportuni strumenti di lavoro. Il Seminario, attuato nel Giugno del 200311, si è posto come contributo per la costruzione di una mentalità che considera la famiglia come una risorsa, nella ricerca di tentativi originali di risposta alle necessità incontrate nel rapporto quotidiano con bambini e famiglie. Si è visto, per esempio, come può essere vinta l'obiezione di chi, condividendo le posizioni finora espresse, pensa impossibile lavorare "con" la famiglia quando sembrerebbero non esistere famiglie per quelle tragiche condizioni che abbiamo già elencato. Già nel momento in cui i genitori chiedono di poter iscrivere il proprio figlio all'asilo nido o alla scuola materna, occasione molto frequente dal momento che le liste di attese sono quasi sempre il triplo dei posti disponibili, questo diverso sguardo sulla famiglia e sulla sua realtà aiuta a stabilire un certo tipo di rapporto e non un altro. 10 Dichiarazione Universale dei Diritti Umani, 1948. 11 "Cogo L., Chaves C.C.C. (org.). Família: primeiro sujeito educativo, Belo Horizonte, CDM–AVSI, 2003. 88 Così un momento che potrebbe rappresentare solo un atto formale, burocratico per raccogliere alcuni dati importanti, può rappresentare il primo momento di un rapporto in cui guardare a quella madre, a quella famiglia per "conoscerla". Si può usare il tempo che si ha a disposizione per parlare, per ascoltare, per capire chi è questa famiglia. Qual è la sua storia? Quali i suoi rapporti? Quali i bisogni di questa donna, di questa famiglia? Come vive? E così si può usare il momento della visita domiciliare, successivo all'iscrizione e spesso discriminante per una priorità nella lista d'attesa, non per controllare la veridicità delle informazioni che sono state date, ma come ulteriore momento di conoscenza che permette di incominciare una storia di rapporti, un rapporto che può essere anche di aiuto tra persone fino a quel momento sconosciute. Occorre tener presente, anche nei casi in cui le figure parentali sono giudicate come inadeguate, che per un bambino quell'uomo e quella donna sono "suo padre, sua madre, la sua nonna" e questo "suo" viene prima dell'attribuzione di qualsiasi aggettivo (bravo, cattivo, adeguato, inadeguato...) Se il bambino non si sente confermato in questo legame d'appartenenza, dal momento che maternità e paternità sono un dato ontologico che non può essere cancellato anche quando, per ragioni gravi, si togliesse ad un adulto la patria potestà, non solo non lo si aiuta a vivere la sua situazione di vita, ma si aumenta la sua insicurezza. Guardare le famiglie non come fragili, destrutturate, perciò come qualcosa che deve ricevere un appoggio, un aiuto, ma per la risorsa che rappresentano, in qualsiasi situazione si trovino, è il punto di partenza per cominciare a condividere un progetto comune. E questo muoversi insieme per un progetto comune è l'unica modalità in cui si può svolgere il compito di educare, essendo, questo, come abbiamo detto, qualcosa che non può essere svolto individualmente. Attraverso l'iscrizione i genitori, pur inconsapevoli, stanno chiedendo più di un luogo dove lasciare il figlio per un certo numero di ore: chiedono la collaborazione nell'educazione del figlio e questo è vero anche quando la richiesta nasce da una necessità. Il centro educativo rappresenta per un bambino il primo ambiente esterno alla famiglia, un ambiente intenzionalmente predisposto e progettato per offrire esperienze che in famiglia non sarebbero possibili, ma per vincere l'insicurezza che questo naturalmente suscita, in quanto non conosciuto, l'inserimento deve essere ben preparato. 89 Nel Corso offerto agli Educatori e in momenti di lavoro con i Direttori dei Centri si è approfondita la preparazione di questo processo a partire dalle premesse finora esposte, tenendo presente la valenza che esso ha nel rapporto che si costruisce con la famiglia. Il primo momento di questo rapporto è rappresentato dal momento in cui i genitori si recano all'istituzione per chiedere un posto per il figlio, a questo segue poi, come già abbiamo accennato, il colloquio del direttore con i genitori. E' l'occasione di conoscere la famiglia attraverso il dialogo e l'ascolto e di presentare la scuola, la sua posizione educativa, il percorso che verrà proposto così che i genitori possano acquisire fiducia nella cura e nell'educazione che saranno date ai bambini. A questo segue poi la visita alla famiglia in cui il direttore, accompagnato dall'assistente sociale o da un educatore che già abbia una certa familiarità con la comunità, ha la possibilità di conoscere un po' di più la realtà in cui il bambino vive così da poter aiutare anche gli educatori nel momento dell'accoglienza a farsene carico. Per la famiglia la visita da parte dei funzionari delle scuole, ad esclusione forse della prima in cui devono essere vinti l'estraneità e il timore di un controllo da parte dell'istituzione, è sempre accolta come un gesto di stima e di condivisione. In un momento successivo alla visita, qualche giorno prima di cominciare l'effettivo inserimento nella scuola, il bambino e la madre sono invitati a conoscere l'ambiente della scuola, le persone che vi lavorano e in particolare coloro che si prenderanno cura del bambino. L'inserimento avverrà poi in modo graduale, permettendo alla madre di accompagnare le attività per alcune ore e, se le è possibile, non lasciando da subito per tutto il giorno il figlio. Il lavoro di accoglienza, cura ed educazione del bambino spesso si riflette e agisce indirettamente anche sulla mamma e sulla famiglia, che risentono dell'esperienza di ordine, bellezza, affetto vissute dal bambino al centro. Restituire alla madre, nel momento dell'uscita il bambino pulito e ben pettinato (anche quando é accolto al mattino in condizioni che non evidenziano neppure un minimo atteggiamento di cura) è la comunicazione di un messaggio importante:" Guarda com'è bello tuo figlio" e suscita una domanda: "Perché fanno questo?" E' in questo modo che accade a poco a poco il miracolo di un cambiamento in cui anche la madre, cambiando lo sguardo sul proprio figlio, comincia ad occuparsi di lui. 90 Tra tutti gli esempi, quello che offre il CREN (Centro di Recupero Nutrizionale) di San Paolo è particolarmente significativo. Chi si chiedesse il segreto di un metodo così efficace per il recupero della denutrizione, scoprirebbe che il punto di partenza fondamentale è "condivisione", ci si preoccupa di incontrare l'altro, la sua realtà, accompagnandolo e non osservandolo dall'esterno, vivendo con lui la sua problematica. Condividere la situazione di una persona non significa infatti vivere la sua stessa condizione, sarebbe impossibile, mentre è possibile fornire una reale compagnia che permetta di assumere e di penetrare nella propria situazione, così da essere accompagnati a incontrare i mezzi per guardare almeno in faccia quegli aspetti che sono stati in qualche modo la causa della denutrizione12. La proposta di un aiuto alla vita delle scuole che si attua attraverso il lavoro volontario proposto alle madri, per qualche ora la settimana e per qualche attività specifica, è parte di questo metodo. La mamma, partecipando dell'ambiente di vita della scuola, può sentirsi parte e costruttrice della proposta educativa, apprendendo nello stesso tempo un ordine e una bellezza del rapporto con le persone e con le cose che poi può mutare il suo stesso ambiente di vita. E' solo partecipando di un'esperienza che si può davvero cambiare. Così si esprime una mamma di Belo Horizonte: "Oggi io ho una seconda casa per i miei figli. Sinceramente io non riesco ad immaginare la mia vita senza l'asilo, un luogo che ha accolto me e i miei figli, che si preoccupa della mia e della loro vita. Molte volte io avevo bisogno di qualcuno con cui parlare perché ci sono momenti e situazioni difficili della vita che non riusciamo a superare. Qui io ho incontrato amici che mi hanno dato forza e aiuto per andare avanti, questo per me ha un valore molto grande. Io sono molto felice e grata del fatto che ci sia questo luogo dove le persone amano i miei figli e solo questo è sufficiente per la mia felicità". L'accoglienza in contesti caratterizzati da povertà rappresenta non solo una soluzione per bambini e casi difficili, ma si traduce in un'esperienza educativa che restituendo alla madre e agli adulti il senso della dignità della persona, spinge nel tempo a ridare al nucleo famigliare un'identità precisa e quindi una solidità. 12 Sawaya A.L.; Solymos G.M.B. Vencendo a desnutrição: na família e na comunidade, São Paulo, Salus Paulista, 2002. 91 3- Il rapporto tra le istituzioni, il quartiere, le scuole "formali" Nell'azione educativa diretta ai bambini e coinvolgente le famiglie, i centri educativi si sono trasformati nel tempo in un soggetto attivo nella comunità, un soggetto capace di costruire rapporti con le persone e con le istituzioni presenti nell'ambiente. I centri sono immediatamente riconoscibili all'interno del quartiere e in qualche modo ne diventano il centro, anche per la loro stessa struttura fisica. Nella loro semplicità ed essenzialità sono improntati infatti secondo un criterio di bellezza e di ordine che immediatamente comunica l'esperienza più profonda che lì può essere vissuta e che è il fattore generativo anche di uno sviluppo. Il lavoro socioeducativo tende a rafforzare, intorno alla famiglia, una rete di rapporti con persone, istituzioni, servizi sociali e a migliorare l'accesso ad essi in modo che possano contribuire alla riduzione della vulnerabilità. Nell'azione svolta dai centri, che si caratterizza come educativa e non assistenziale, c'è l'intento di non rispondere direttamente a tutte le necessità che i bambini manifestano, ad esempio rispetto alla salute, ma di responsabilizzare e accompagnare i genitori perché possano rivolgersi alle poche strutture pubbliche presenti sul territorio. Questo stimolare l'iniziativa degli adulti li aiuta a essere protagonisti e a porsi in modo attivo anche rispetto a ciò che le istituzioni offrono. In alcune situazioni si sono avviate, senza stipulare delle convenzioni vere e proprie, delle collaborazioni con entità pubbliche e private così che possa essere fornito un servizio specialistico agli utenti bisognosi dei centri. Una collaborazione interessante è quella che viene avviata a vari livelli con le scuole formali frequentate dai ragazzi. Abbiamo già accennato al progressivo ampliamento del servizio offerto dai Centri Educativi che originariamente erano solo scuole per l'infanzia e che oggi accolgono quasi sempre ragazzi fino all'adolescenza in un orario complementare a quello scolastico; è stata questa un'esigenza dettata dalle implicazioni poste dal rapporto educativo che tende, facendosi carico dell'altro, ad accompagnarlo nell'affronto della realtà che incontra per sviluppare appieno tutte le proprie potenzialità. Il contesto socio-economico in cui sono inseriti i centri influenza la qualità di apprendimento dei bambini e degli adolescenti: un basso grado di 92 scolarità dei genitori o perfino il loro analfabetismo possono tradursi in una mancanza di aiuto e di valorizzazione del percorso educativo del figlio; un alto tasso di disoccupazione in famiglia obbliga i giovani, e in alcuni casi perfino i bambini, a inserirsi precocemente nel mercato del lavoro al fine di contribuire all'aumento del reddito familiare, costituendo una delle maggiori cause dell'evasione scolastica riscontrate nel gruppo degli adolescenti. Nell'infanzia, e successivamente se non sono adeguatamente affrontati, due sono i fattori che rappresentano ostacoli per l'apprendimento: la denutrizione, che interferisce nei processi psico-fisici dello sviluppo e che è ancora molto presente soprattutto nelle aree povere, rappresenta un grave ostacolo alla formazione delle strutture mentali che garantiscono l'armonico svolgersi del processo di apprendimento; l'abbandono, fisico o affettivo, privando i bambini di un legame in cui fare un'esperienza di fiducia e di appartenenza, per affrontare tutta la realtà a partire da un punto di riferimento, limita le condizioni psicologiche necessarie per apprendere e, spesso, per svilupparsi armonicamente. Gli asili nidi e le scuole per l'infanzia, accogliendo bambini piccoli e garantendo un percorso educativo di qualità nell'insegnamento infantile, rappresentano un punto di forza notevole che permette di poter sviluppare meglio quelle abilità intellettuali e comportamentali necessarie per affrontare e fare propri anche i contenuti dei successivi stadi educativo-scolastici. Nel progetto questo aspetto è stato approfondito, come abbiamo già avuto modo di affermare, durante il Corso offerto agli Educatori Infantili e in momenti tematici di lavoro con i Direttori e i Pedagogisti dei centri per attuare un'adeguata organizzazione degli spazi e dei tempi di svolgimento delle attività quotidiane. Nel momento in cui i ragazzi cominciano a frequentare la scuola, un momento che tra l'altro tende ad essere anticipato dalla Legislazione Brasiliana che, trasferendo la competenza dell'educazione infantile ai Municipi, istituisce sezioni di prescuola per bambini dai quattro ai sei anni nelle strutture proprie della Scuola Primaria, i Centri socio-educativi della rete complementare svolgono una funzione molto importante di collegamento tra la scuola e la famiglia. Nel caso dei bambini dai 4 ai 6 anni di età è irrealistico pensare che una soluzione come quella offerta dalla rete Municipale o Statale possa rispondere alle esigenze delle famiglie soprattutto dei contesti più poveri, infatti una frequenza scolastica giornaliera limitata a quattro ore porrebbe poi gravi problemi di custodia dei minori alle famiglie costrette a 93 lavorare. Ci sembra significativa l'esperienza di Rio de Janeiro, dove attraverso convenzioni tra il Municipio e entità private è garantito ai piccoli di poter passare parte della giornata nell'ambiente scolastico e l'altra nel Centro educativo. I Centri si pongono di fatto come un aiuto per i ragazzi, offendo attività di supporto all'apprendimento e motivandoli allo studio, e per la famiglia, sostenendola a riscattare l'interesse per l'educazione dei propri figli e a dialogare con gli insegnanti della scuola formale. Questo risveglio del desiderio e dell'interesse è un fattore fondamentale per innalzare la qualità dell'apprendimento che certamente non è assicurata dal livello di insegnamento molto basso delle scuole frequentate dai ragazzi. Il 97% dei bambini e degli adolescenti brasiliani dai 7 ai 14 anni sono iscritti a scuole di insegnamento fondamentale (corrispondente alla scuola elementare e media inferiore italiana). Questa percentuale è considerata eccellente da organismi internazionali come l'Unesco, e si avvicina agli indici registrati nei paesi sviluppati, anche se il numero di coloro che non hanno accesso alla scuola è ancora molto alto, circa 800 mila bambini, secondo le stime del Ministero dell'Educazione (MEC). Secondo i dati del Censimento Scolastico 2002 e dell'Inep (Istituto Nazionale di Studi e Ricerche sull'Educazione), l'insegnamento fondamentale è aumentato del 6,7% negli ultimi 5 anni, è migliorato il flusso scolastico e più studenti riescono a concludere il ciclo. Lo sfasamento classe/età è uno dei problemi più gravi dell'insegnamento fondamentale; nel 2001, il 39% degli alunni studiava in una classe che non corrispondeva alla sua età e l'età media dei ragazzi che frequentavano l'ottava classe del ciclo era pari a 15 anni, un anno in più di quello adeguato. Una proposta in corso e prevista dalla LDB è l'adozione del sistema di progressione continuata, anche chiamato sistema dei cicli, e della creazione di classi di accelerazione. Tali sistemi, tuttavia, se da un lato hanno favorito il miglioramento di una serie di indicatori (numero di iscrizioni indici di ripetenza e evasione), allo stesso tempo hanno contribuito a peggiorare la qualità dell'insegnamento, a causa proprio del meccanismo di progressione continuata che garantisce la promozione automatica, anche se l'alunno non ha acquisito la preparazione minima per affrontare la classe successiva. I giovani e gli adolescenti provenienti da famiglie a basso reddito, che frequentano l'insegnamento medio, si trovano ad affrontare una duplice situazione: da un lato la necessità di abbandonare gli studi per inserirsi nel 94 mercato del lavoro, con l'intenzione di migliorare il reddito della famiglia e, allo stesso tempo, il desiderio di continuare gli studi e investire nella propria formazione per aumentare la possibilità di inserirsi nel mercato del lavoro e di ottenere migliori salari. Se è stato assicurato l'accesso di tutti a scuola, il problema che si pone oggi in maniera preponderante è la qualità del servizio offerto, che possa garantire un livello adeguato di preparazione degli alunni e migliorare le distorsioni insite nel sistema scolastico brasiliano (evasione, studi incompiuti, ripetenza, distorsione età-classe frequentata). A questo scopo sono stati lanciati programmi specifici, come ad esempio il Brasil alfabetizado, che promuove l'alfabetizzazione di tutti coloro che, maggiori di 15 anni, presentino problemi di analfabetismo strutturale e funzionale o il Programma Toda criança aprendendo che, lanciato il 5 giugno 2003 cerca di rispondere alla situazione drammatica mostrata dal SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). Si sta attuando anche una politica nazionale di valorizzazione e formazione dei professori che tratta in maniera congiunta e articolata gli aspetti relativi a salario, carriera e formazione dei professori. I centri socioeducativi gestiti da istituzioni comunitarie, filantropiche o di ispirazione religiosa, offrendo a bambini e adolescenti della fascia 6-17 anni un sostegno scolastico e un complemento di attività pedagogiche, culturali e ricreative/artistiche, facilitano l'apprendimento e arricchiscono il processo di alfabetizzazione e di educazione di base, contrastando i fenomeni come l'evasione e la ripetenza scolastica. Il personale dei centri educativi cerca di mantenere il rapporto con la scuola, di verificare che il bambino sia presente, di vedere con gli insegnanti quali siano i fronti su cui ha maggiore bisogno di aiuto per attuare interventi individualizzati di recupero delle difficoltà. In questo lavoro non ci si sostituisce, ma si collabora con la famiglia, coinvolgendo i genitori a recarsi a scuola per chiedere notizie del profitto del figlio o andando con loro per superare quella diffidenza che nasce per un ambiente che facilmente imputa le difficoltà dei ragazzi al contesto in cui vivono. Sono molte infine le iniziative di centri educativi e sociali per preparare professionalmente i giovani attraverso laboratori di qualificazione o attraverso convenzioni con aziende per stages retribuiti. È per questa fascia di età che stanno sorgendo iniziative più strutturate, frutto della collaborazione tra settore pubblico e società civile organizzata, dirette a favorire il "primo impiego" per questi giovani. 95 Un caso significativo è quello del Centro Alvorada di Belo Horizonte che attraverso la convenzione con un istituto bancario importante ha già inserito nel mondo del lavoro, accompagnandoli da vicino nel processo di formazione, un numero significativo di adolescenti frequentanti il Centro stesso o appartenenti al quartiere. 4- Costituzione di una rete e rapporto con le politiche pubbliche L'obiettivo che il progetto si è posto é stato quello di rafforzare dei soggetti esistenti, individuando la peculiarità di ciascuno, aiutandoli a sistematizzare i loro interventi, valorizzando le esperienze di eccellenza così che si potessero definire punti di metodo che entrassero a far parte di un patrimonio comune. Pur tenendo conto di risultati minimi da raggiungere, non si sono messe le scuole sullo stesso piano perché le necessità di sviluppo erano differenti ed era giusto che fossero rispettate, valorizzando in una prospettiva di crescita tutti i passi già fatti e che potevano essere messi in comune con le altre esperienze educative. Il cammino è stato attuato accompagnando le scuole da vicino, attraverso il contatto realizzato dal Centro Servizi per l'Educazione, attraverso i coordinatori di città, alla cui funzione di unitarietà abbiamo già accennato, attraverso le visite che il personale espatriato ha realizzato nelle varie realtà per condividere alcune attività. Il Centro Servizi avendo a disposizione un polo informatico, si è costituito come punto nodale per il passaggio delle informazioni e per il coordinamento delle varie azioni, per la produzione, elaborazione e distribuzione dei documenti prodotti, per coordinare l'intervento dei consulenti esterni, sia italiani sia locali, che in vari momenti hanno apportato il loro contributo nello svolgersi delle attività previste, per raccogliere e sistematizzare le riflessioni che si sono trasformate in punti condivisibili di metodo. Le azioni svolte sono state ordinate secondo la logica proposta dal progetto stesso: una fase di conoscenza per poter individuare le basi comuni dei centri e le caratteristiche distintive, la proposta (sia a livello di cambiamenti strutturali, sia a livello di formazione del personale coinvolto) a 96 partire da una ipotesi educativa esplicita che si è chiarita nel corso del primo anno del progetto, la sistematizzazione e messa in rete di strumenti e processi. Questo ha permesso da un lato di rispettare e valorizzare la diversità delle situazioni esistenti e dall'altro di porre le condizioni per integrare i Centri Educativi in una rete, offrendo un supporto formativo volto a migliorare la qualità dei servizi per bambini e adolescenti inseriti in contesti di vulnerabilità sociale. I tentativi fatti di sistematizzazione del metodo e di costruzione di strumenti nelle varie aree previste sono inoltre risultati efficaci e utili ad un contesto più ampio, come è stato documentato dall'interesse manifestato da diverse realtà scolastiche e organismi culturali e pubblici, segno di una possibilità di incidenza in un ambito sociale e politico in cui le realtà scolastiche sono inserite. Infatti nel corso del Progetto, il Centro Servizi per l'Educazione, avendo cominciato a svolgere le sue funzioni come appoggio alla rete delle scuole per l'infanzia coinvolte nel progetto, ha ricevuto delle sollecitazioni per l'apertura ad altre realtà che in parte sono state inserite direttamente nelle iniziative di formazione previste, in parte hanno usufruito dei materiali prodotti come i testi dei seminari e la dispensa del Corso per Educatori infantili. E' stata anche offerta una consulenza per iniziative di formazione che, pur esulando da quelle direttamente inserite nelle attività del progetto, ha allargato la rete delle istituzioni che svolgono l'educazione complementare a quella scolastica e che dalla legge sono ancora ritenute parte dell'ambito assistenziale e non di quello educativo, togliendo quindi la possibilità delle convenzioni con gli organismi del potere pubblico. La sistematizzazione e la diffusione della metodologia di intervento ha offerto la possibilità di ampliare i rapporti con vari enti esterni evidenziando il potenziale di replicabilità dell'iniziativa. Per citare alcuni esempi: • l'esigenza di qualificare gli educatori, a partire dalla legge di Direttive e Basi dell'Educazione Nazionale (LDB) del 1996, con una certificazione dei corsi per educatori infantili riconosciuta accademicamente, ha permesso di stipulare una convenzione con la Facoltà Salesiana di Vitória per la formazione degli insegnanti, aprendo uno spazio di collaborazione con l'Istituto Salesiano; • la collaborazione già in atto con l'Istituto Marista in altri progetti sviluppati da AVSI ha permesso che fosse conosciuta la proposta di intervento in campo educativo, suscitando un grande interesse per la metodologia impiegata; 97 • la diffusione di materiali prodotti da AVSI ha raggiunto altri centri educativi, in particolar modo a Belo Horizonte, anche grazie all'operatività del Centro di Servizi per l'Educazione (output del progetto), tessendo una rete di rapporti più ampia; • Infine, con la collaborazione di alcune reti strutturate di servizi educativi, come i Maristi e i Salesiani, è stato presentato al Ministero dell'Educazione il progetto del corso per educatori infantili e le dispense realizzate. Esistono oggi rapporti con 30 centri educativi, molti dei quali sostenuti da AVSI anche attraverso il "Sostegno a distanza", con un'utenza di oltre 5.000 minori nella fascia d'età che va dai pochi mesi fino ai 16-17 anni. Come già abbiamo avuto modo di affermare nella prima parte, il servizio che erogano questi centri educativi, pur essendo situati in aree vulnerabili e avendo a disposizione poche risorse, è altamente qualificato. Suscita davvero meraviglia come lo Stato non solo difficilmente prenda atto che rappresentano una realtà che ha sopperito ad una mancanza grave dello Stato stesso, ma soprattutto come oggi siano in grado di erogare un servizio di qualitá. Risulta davvero un esempio eccezionale quello accaduto a Rio De Janeiro, dove l'asilo Tia Sonia, una volta costruito dalla Municipalità, all'interno di un programma pubblico, sia stato poi affidato per la gestione, con la copertura totale delle spese, ad un soggetto privato che già gestiva il Centro Educativo Cantinho da Natureza, facente parte della rete del progetto, e che era riconosciuto anche dagli organismi competenti per la sua capacità di attuazione in materia educativa. La sfida che rimane aperta è quella di stimolare una più chiara e decisa volontà politica nel campo educativo, con conseguente allocazione di risorse, continuando a promuovere una reale ed effettiva collaborazione con le forme organizzate della società civile in vista del raggiungimento degli obiettivi di miglioramento della qualità dell'educazione. Si è già esposto in precedenza che, mentre le scuole per l'infanzia sono attualmente riconosciute nel settore educativo e quindi c'è da augurarsi e giocoforza attendersi un progressivo ampliamento dell'investimento delle politiche pubbliche in questo settore (l'iniziativa privata è nettamente preponderante), per quanto riguarda la rete complementare, essa non è attualmente inserita nelle politiche pubbliche di educazione, bensì considerata fra le politiche sociali. Facendo leva sulla loro funzione decisiva ai fini dell'apprendimento scolastico, rafforzandole ed aumentandone la visibilità, si può forse favorire 98 un cambiamento della visione istituzionale pubblica di questi centri ed un'evoluzione verso l'integrazione nel sistema scolastico formale. Se infatti la prospettiva è la giornata scolastica piena (tra circa 7/8 anni, secondo le mete poste dal Governo Federale), e non essendoci le risorse per costruire nuove scuole (le scuole esistenti funzionano già su 2 o 3 turni), è molto probabile che si vada verso forme di convenzione con le istituzioni della rete complementare. Interessante ed esemplificativa in tal senso è, come abbiamo già detto nel punto precedente, l'esperienza di Rio de Janeiro, in cui il municipio sta garantendo la giornata piena per bambini e ragazzi in condizioni di vulnerabilità e rischio attraverso convenzioni con istituzioni educative esistenti non statali/municipali di pubblica utilità, in stretto contatto con le scuole formali frequentate dagli alunni, cercando di assicurare un lavoro congiunto secondo obiettivi condivisi. Lo sviluppo si genera proprio là dove si costituiscono alleanze tra vari soggetti, pubblici e privati, nazionali e internazionali, coinvolti attivamente e a vario titolo; ci sembra questo uno dei fattori che ha assicurato il raggiungimento degli obiettivi di questo progetto. 99 100 TERZA PARTE IL RACCONTO DI ALCUNE ESPERIENZE Nel ripercorrere le tappe e i contenuti significativi del progetto abbiamo fatto cenno ad alcuni protagonisti dell'avventura educativa che è il vero tema di questo lavoro. Come più volte abbiamo sottolineato tutto nasce da qualcuno che, incontrando un bisogno, si mette in gioco e risponde. Certi di tralasciarne molti che a pieno titolo avrebbero potuto narrare la loro esperienza, diamo voce ora ad alcuni "attori”: don Luigi Valentini, il sostenitore che sta dietro a molte delle opere educative parte della rete, Rosetta Brambilla, presente in Brasile da 37 anni, infaticabile costruttrice ed educatrice, Eliana Albernaz da poco tempo, ma in modo decisivo, coordinatrice delle opere di Rio de Janeiro, infine Regina Nunes e Marina Bastos Guardo che sono state coinvolte come coordinatrici delle attività nelle città di Salvador e San Paolo. Don Luigi Valentini Mi trovo in questi giorni in Brasile visitando i vari asili che il Signore mi ha fatto costruire. Sono già stato a Belo Horizonte, in questo momento sono a Salvador, da qui partirò per Brasilia. Mi fermerò vari giorni a San Paulo e poi mi recherò in Argentina. Si tratta veramente di una cosa eccezionale. Ogni volta che entro in un asilo che Lui mi ha dato l'ispirazione di realizzare e per il quale mi ha fatto trovare le risorse, penso meravigliato: "Questa è la casa di Dio" perché è stato 101 Lui che ha messo nel cuore delle persone che ho incontrato un buon sentimento verso i bambini brasiliani ed una grande generosità per dare dei soldi, alcune molti, molti soldi, per realizzare queste opere. Ancora più grande è la meraviglia di questi giorni nel constatare che il Signore non si è fermato alla costruzione dei locali per ospitare tanti bambini, ma anche ha messo a disposizione di questi bambini tanti cuori amanti della loro esistenza. La meraviglia aumenta ancora di più costatando che queste persone vanno in cerca di quelli che hanno più bisogno di aiuto. Proprio oggi ho visto la foto di un bambino denutrito, pelle e ossa, che questi cuori generosi hanno accolto, hanno accudito ed ho anche visto come ora è questo bambino: recuperato totalmente. La meraviglia aumenta ancora quando mi accorgo che c'è tutta una ricerca per fornire una assistenza studiata da una dietologa, una psicologa, un'assistente sociale perché chi sta in queste condizioni sia curato in maniera "scientifica" e saggia, dando a queste creature, bambini, mamme e papà, un calore umano nel quale si ricreano. Un calore umano che forse non hanno mai sperimentato nella loro vita. Ripenso a 24 anni addietro quando, lavorando nella favela di San Paolo mi sono trovato a soccorrere, senza risultato, tre bambini che, chiusi in casa dai genitori per proteggerli durane le ore in cui erano occupati nel lavoro, ardevano insieme alla loro baracca. Da lì è nata la prima idea di costruire un asilo. Oggi penso meravigliato: chi avrebbe potuto immaginare allora che sarebbe nato tutto questo? Sette asili nidi e scuole materne, un centro professionale, una casa di accoglienza per bambini abbandonati, un'opera per bambini a rischio, tanti centri educativi di doposcuola. Ora in progetto c'è la costruzione di un altro asilo a Belo Horizonte e l'acquisto di un grande locale per un doposcuola a San Paolo. Non mi attribuisco nessun merito, il Signore mi ha suggerito momento per momento il da fare ed io ho detto semplicemente di sì, ho obbedito alle circostanze. Sono sicuro che il Signore ci guida momento per momento. Per me questa è una certezza assoluta. Persone, momenti, circostanze, incontri, tutto viene disposto da Lui. Non avevo fatto nessun progetto, non avevo pensato mai a queste realizzazioni: sono stato condotto per mano. Oggi vedere gli occhi brillanti dei bambini a Salvador mi ha fatto pensare alla Sua grande paternità della quale ci fa partecipare e così la vita diventa veramente felice. 102 E' bello vivere per questi bambini: la vita acquista il suo vero senso. Questo non significa che tutto vada bene, che non ci siano problemi, che la mia salute sia sempre ottima, però non vengono mai meno la serenità e la felicità cosi intime e indicibili. Se penso poi alle amicizie incontrate non ho parole per dire come mi hanno aiutato e arricchito. Il Signore che abbiamo incontrato è veramente il Dio della meraviglia e della sorpresa continua. Don Luigi Valentini è conosciuto in Brasile come Padre Gigio Rosetta Brambilla Nell'essere in Brasile non c'è niente di eroico, assolutamente, perché io non ho fatto alcuno sforzo per questo. Ho solo detto sì ad una cosa semplice che ho incontrato, al fascino delle persone che si erano fatte incontrare allora, negli anni 60: un semplice sì che mi ha portata a fare un certo cammino. Io mi vergogno, quando per esempio mi danno un premio, perché non sono io, è un Altro che fa: io dico solo un sì quotidiano e il resto lo fa il Signore. Io non ho mai pensato in vita mia, assolutamente mai, di andare in missione, di fare una scuola: si obbedisce solo alla realtà, da quando si è piccoli e si obbedisce a quello che la mamma ci dice. Ho obbedito alla realtà, al fatto che mio papà è morto ed io avevo solo 4 anni: una realtà che uno avrebbe tolto con la mano perché difficile da accettare. Quando ero piccola, facevo fatica a capire queste cose, ma poi uno intuisce che in tutte queste cose, è strano dirlo, ma c'è come una tenerezza di Dio quando dà anche queste realtà apparentemente dure. Il Signore si è servito di questo per dirmi: "Sei preziosa per me" e basta. Per molti anni ho lavorato come donna di servizio nelle case dei poveri, nelle favelas, lavando, stirando, facendo quello che fa qualsiasi donna. Io mi ricordo la gente che si accorgeva di essere amata e allora mi diceva: "Io sono una persona", si accorgevano di essere delle persone. Poi, essendo infermiera, lavorando come infermiera, venivano lì le mamme e portavano dentro di sé una domanda. Non mi dicevano: "Dai aiutami! Ho i bambini e non so dove metterli". No, venivano tutte le settimane lì per chiacchierare. Mi raccontavano i rapporti con l'uomo, le situazioni durissime, ed erano loro che portavano 103 avanti la famiglia, con i bambini che non sapevano dove metterli e così li chiudevano dentro casa. Allora mi sono detta: "Ma io devo fare qualcosa per loro". Assieme alla gente dell' Ambulatorio abbiamo costruito prima un salone di 6 metri per 6 con un bagno e una cucina. Per dire la verità, prima ancora era solo una tettoia. Non ero educatrice, per cui guardavo a come ero stata educata io in famiglia, cercavo di comunicare loro quello che avevo imparato da mia mamma, dalla mia maestra a scuola, dalle suore. Poi, pur ritenendomi un 'manovale', leggevo, chiedevo dei materiali ai miei amici in Italia. Ho cominciato poi a cercare collaboratori e all'inizio era la gente del posto, che io aiutavo sia attraverso strumenti didattici, sia dicendo loro: "L'importante è che voi siate qui e che nel curare, nell'accudire i bambini li guardiate come se fossero unici al mondo, perché ogni bambino è unico". Ho iniziato così, grazie a tanti sostenitori. Per me è difficile far capire ai sostenitori il valore che loro hanno per noi. Senza il loro aiuto non ci sarebbero questi luoghi così preziosi per i nostri bambini, per le nostre mamme: per loro gli asili sono come la seconda casa. Loro non hanno parenti e lì le maestre, la direttrice, io e altre persone, siamo il punto di riferimento per queste mamme che vengono e raccontano i loro problemi, imparano a fare l'esperienza di essere amate per quello che sono. In tutti questi anni, dal 1977 in cui è nato il primo asilo, sono passati centinaia e centinaia di bambini che hanno fatto l'esperienza di essere accolti e amati. È come vedere un popolo che sta nascendo, piccolo, ma lì c'è un pezzettino di umanità diversa rispetto alla realtà della favela in cui vivono. Per cui è poco dire grazie, ai sostenitori che rintane perché questi sostenitori sostengono un luogo, che pur essendo piccolo, è grande: è un luogo vivo, è un luogo che genera. Ed essere continuamente generato alla vita è il bisogno di ciascun uomo. Eliana Umbelino de Souza Albernaz Ci sono momenti nella vita in cui succedono fatti inusuali che mutano ciò che stavamo facendo e che avevamo pianificato per il nostro futuro. Così a me è successo in quel giorno di Cristo Re del 2002, quando sono salita al 104 Morro dos Cabritos per partecipare della cerimonia dell'inaugurazione del nuovo edificio del Cantinho da Natureza. La scuola funzionava da vari anni ed era stata ristrutturata, dando un'occhiata ad un'aula, mi vennero alla mente molte cose che avrebbero potuto essere fatte, costruendo davvero lì qualcosa di nuovo. Il giorno seguente Paola, responsabile della scuola, venne a propormi di assumere la direzione, ma non di quella, bensì di un altro asilo costruito nella stessa comunità. L’asilo Tia Sônia Crispiniano accoglie 120 bambini da 0 a 4 anni, tutti provenienti dalla Comunità del Morro dos Cabritos a Copacabana. E' stato costruito dal Comune di Rio de Janeiro ed è stato affidato per la gestione, attraverso una convenzione, alla Obra Social della Parrocchia Santa Cruz. L'equipe che dirige l'Obra Social è la stessa responsabile del Cantinho da Natureza ed é formata da amici che, come me, partecipano all'esperienza del Movimento di Comunione e Liberazione. Il fatto di poter lavorare con amici del Movimento, così come quell'insolita ispirazione, furono i grandi responsabili della mia scelta. In quel momento stavo lavorando come coordinatrice pedagogica in una scuola bilingue che accoglie bambini, figli di imprenditori e grandi funzionari dell'ambito pubblico e privato. Per me si poneva davvero la sfida di come affrontare una realtà così diversa da quella che stavo vivendo. Due cose imparate mi sostenevano: in nessuna cosa i bambini dell’asilo erano diversi dai miei figli e dai miei alunni poiché tutti nasciamo con lo stesso desiderio di verità, di giustizia, di bellezza. Inoltre il nostro lavoro non sarebbe stato misurato su obiettivi precedentemente stabiliti, ma saremmo stati soprattutto una presenza in quell'ambiente. Siamo vasi di argilla in cui si trova la grande presenza del Mistero. Se non fosse così, non sarebbe stato possibile affrontare la realtà che cominciai a conoscere e con la quale cominciai a convivere. Il lavoro di direzione dell'asilo Tia Sonia realizzato durante l'anno 2003 ebbe come obiettivo quello di formare un'equipe unita, formata dalla direzione e dal personale, tutto originario della comunità, perchè ricevesse e trattasse i bambini con il maggior affetto possibile. Mi chiedevo: come comunicare un'affezione? Solo comunicando qualcosa che esiste in noi. Che grande sfida! Ho capito che dovevo ascoltare, rispettare e amare ciascuna delle educatrici. Costruire un rapporto affettuoso è un lavoro senza fine, quanti alti e bassi ho sperimentato, quante volte è 105 stato necessario ricorrere a una compagnia di persone che mi accetta come sono per accettare gli altri così come sono! Per quanto riguarda l'aspetto pedagogico, è stato caratterizzato da una metodologia di libera espressione del bambino ponendo l'enfasi nel disegno libero, nella pittura con le tempere e con i colori a dita, oltre alla narrazione di storie e alle attività musicali. La dispensa elaborata nell'ambito del Progetto “Costituzione di una rete di scuole per l'infanzia” è stata di grande aiuto per noi. Alla fine del 2003, sono stata chiamata a lavorare presso il Centro Educativo Cantinho da Natureza, cedendo ad un'amica la direzione dell'asilo Tia Sonia. In questa nuova missione la realtà era un'altra. Lì tutte le educatrici avevano esperienza e l'equipe era già formata. Subito capii che l'influenza che potevo esercitare su questo gruppo era minore e più difficilmente avrei scalfito una modalità già conosciuta, pertanto era una sfida maggiore. Rispetto alle famiglie dei bambini abbiamo cercato di consolidare un vincolo di amicizia in quanto per noi la famiglia è il primo soggetto dell'educazione. Un giorno ho chiamato a colloquio una mamma il cui figlio di quattro anni era molto aggressivo e disobbediente. Parlando con lei scoprii che picchiava molto il bambino e, alla fine, mi confessò che non sapeva più cosa fare. In quel momento ho capito che mi stava chiedendo aiuto; è attraverso un rapporto che possiamo lavorare. In questo lavoro desidero con le educatrici, i bambini e le famiglie "condividere le necessità per condividere il senso della vita". Un giorno arrivando in comunità ho visto una grande bandiera nera stesa sulla strada, indicava il lutto della comunità per la morte di un giovane avvenuta la notte precedente. Stavamo affrontando nella Scuola di Comunità il valore assoluto della vita, di come fu Cristo il primo a parlare del rispetto totale della vita. Al contrario lì la vita sembrava trattata con tanta superficialità... Domandando a Paola come sarebbe stato possibile trasmettere il valore di ogni vita umana alle persone della comunità, lei mi rispose: "Vivi tu questa ricchezza valorizzando ogni persona che incontri e eventualmente, se è opportuno, parla di questo con chi puoi." Condividere il senso della vita, cos'è più importante di questo? Così non c'è giorno in cui io non ringrazi Dio dell'opportunità di stare in questa realtà così drammatica. 106 Marina Bastos Guardo e Regina Nunes Avendo partecipato alle attività come coordinatrici delle città di San Paolo e di Salvador, tracciamo alcune considerazioni relative al percorso seguito e alle possibilità sviluppate. 1- I seminari per la formazione di insegnanti, coordinatori pedagogici, direttori e gestori di scuole che hanno riunito a Belo Horizonte e a Salvador il personale di tutte le nostre opere educative, hanno contribuito a maturare la decisione di lavorare in rete, discutendo insieme piani di lavoro, calendario, criteri di ammissione dei bambini, proposta pedagogica fino all'identità e alla missione di ogni opera educativa. Discutere insieme queste tematiche ha favorito: • La chiarezza nella conduzione educativa dell'opera; • Il maggior coinvolgimento di tutto il personale nella proposta pedagogica; • L'elaborazione di strumenti più operativi ed efficaci nella pianificazione e valutazione pedagogica; • Una miglior organizzazione amministrativa e strutturale delle nostre scuole; • Una maggior capacità di decisione di fronte alle domande sorte nei diversi contesti; • Una maggior coscienza del valore delle opere educative come risposta alle necessità sociali. Dai seminari è nata la pubblicazione dei tre testi del Percorso Educativo che, distribuiti a tutti coloro che hanno partecipato al progetto, sono stati un utile strumento per la formazione permanente di tutto il personale (non solo degli educatori) rappresentando un vero percorso educativo: educazione, identità e missione dell'opera educativa, famiglia come soggetto educativo. 2- Attraverso il Corso di formazione in Educazione infantile è stata possibile (e continua ad esserlo dal momento che a Salvador si concluderà in Dicembre la quinta edizione) la formazione di educatori di scuole infantili e i risultati sono visibili: • L'appoggio ad attori locali, pubblici e privati del terzo settore; • L'esperienza di lavoro in rete per educatori e professori; • La valorizzazione dell'apprendimento acquisito nell'esperienza e approfondito in una riflessione; • La diminuzione della distanza tra teoria e pratica pedagogica; 107 • Il miglioramento della qualità dell'educazione infantile; • Il motivare i professori alla ricerca di una formazione a livello superiore; • La maggiore stabilità del corpo docente e una maggior definizione professionale; • Una capacità di intervento educativo da un punto di vista globale: osservazione, conoscenza, pianificazione, pratica e valutazione; • L'essere protagonisti nell'azione educativa quotidiana; • La disponibilità dei contenuti trattati nella pubblicazione della dispensa del corso. Il fatto, inoltre, che il corso sia stato certificato dalla Facoltà Salesiana di Vitória e che sia stato realizzato in diverse città del Brasile, ha avuto come esito che i beneficiari del corso (alunni e istituzioni) dessero un maggior valore a questa opportunità, sentendosi valorizzati per questa possibilità di partecipazione. In città, come Parintins nello stato di Amazonas e Macapá nello stato di Amapá, dove non è stato possibile realizzare il corso completo è stata offerta la possibilità di un lavoro seminariale nel periodo di vacanza scolastica. Una coordinatrice pedagogica di una scuola che ha partecipato al corso dà questa testimonianza: "Il nostro inizio d'anno è stato ben strutturato, l'accoglienza dei bambini, alla luce dei criteri imparati nella psicologia ecologica, è stata pensata secondo una nuova organizzazione degli spazi, inoltre la pratica dell'osservazione e la registrazione della stessa sono diventate importantissime." Un'educatrice che ha frequentato il corso: "Questo modo, imparato nel corso, di stare di fronte al bambino serve per stare di fronte a tutto nella vita ed esige che la persona sia molto attenta, intera". A San Paolo, a partire dal corso sono nati rapporti che permangono nel tempo. Stiamo lavorando insieme sul testo "Il Rischio educativo" e diversi educatori di opere che non appartengono alla rete del progetto ci hanno chiesto che venisse offerta una formazione anche ai gestori delle opere, con il desiderio che anch'essi potessero approfondire il modo di porsi e la proposta di lavoro. L'esperienza di questo lavoro di rete è stata un'opportunità per renderci conto della grandezza del metodo con cui affrontiamo il reale (il lavoro, l'educazione, le difficoltà) e di come questo metodo guida l'azione quotidiana. 108 Incontrando persone di diverse scuole in luoghi così lontani del Brasile come Parintins in Amazzonia, è stato evidente che la posizione educativa che proponiamo risveglia una corrispondenza umana. 3- Le pubblicazioni, sia la dispensa del corso che i libri del Percorso Educativo, si sono rivelate una modalità attraente per presentare il nostro lavoro: la metodologia, i fondamenti teorici, i contenuti e la valutazione. Oltre alle scuole, questi strumenti sono stati presentati a Segreterie Municipali e Statali, a Facoltà Universitarie, in Congressi di Educazione e Psicologia, a diverse Fondazioni e Associazioni che si interessano di educazione di bambini e adolescenti e che abbiamo incontrato in questi anni in diverse località brasiliane. 4- A Salvador le istituzioni educative partecipanti al Progetto "Costituzione di una rete di scuole per l'infanzia" sono localizzate nel contesto del Programma Ribeira Azul – gestito da AVSI e dal Governo dello Stato di Bahia con risorse della Banca Mondiale – creato per ridurre la povertà urbana nella regione di Alagados, una delle più importanti aree di Salvador. La partecipazione al Progetto citato ha offerto un supporto decisivo alle strutture educative che, ricevendo un beneficio, hanno cominciato a contribuire allo svolgimento del programma a livello socio-educativo insieme alla popolazione assistita. 5- L'esperienza di videoconferenze, resa possibile a tanti centri educativi localizzati in tutto il Brasile, è stata un aiuto perché ha favorito un modo più positivo di affrontare la realtà dei bambini e degli adolescenti. Ha costituito inoltre un'opportunità per continuare il rapporto con coordinatori pedagogici e direttori di diverse istituzioni incontrati in questi anni di lavoro comunicando loro "una prospettiva globale che coinvolge e abbraccia la dimensione professionale, considerata non come una competenza, ma come un'espressione della persona dell'educatore". 109 QUARTA PARTE UN CAMMINO CHE CONTINUA Nel titolo di questo progetto si parlava di costituzione di una rete di scuole, una bella sfida considerate le distanze brasiliane! Come abbiamo già evidenziato nella seconda parte, le attività svolte hanno favorito una serie di rapporti coinvolgendo altri soggetti educativi oltre le scuole inserite formalmente. A queste istituzioni di sette città del Brasile è stata offerta l'opportunità di partecipare in videoconferenza a un incontro con il professor Franco Nembrini, collegato da Milano. Annotazioni dalla Videoconferenza del 29 Giugno 2004 Mi sento molto a disagio, cominciando questa videoconferenza con voi, perché, quando ho partecipato al meeting della Compagnia delle Opere CdO a Rio de Janeiro1, sono rimasto molto impressionato dalle opere che avete messo in piedi e dall'intelligenza con cui ho sentito parlare di educazione tra voi e per questo credo di non avere molto da insegnarvi. 1 La Compagnia delle Opere, associazione senza fini di lucro fondata in Italia nel 1986, e oggi con circa trentamila soci, intende promuovere lo spirito di mutua collaborazione e assistenza tra i soci, singoli e imprese, e sostenere l'inserimento lavorativo di giovani e disoccupati, in continuità con la presenza sociale dei cattolici e alla luce degli insegnamenti della Chiesa. L'incontro menzionato si è svolto a Rio de Janeiro nel settembre 2003, a cui hanno partecipato varie persone appartenenti a opere profit e non profit provenienti da vari paesi dell'America Latina e dall'Italia. 111 D'altra parte nella vita bisogna anche obbedire e io ho obbedito volentieri a questa richiesta che mi è stata fatta e che per me è un'occasione per imparare. 1) Detto questo mi permetterei di fare una premessa: non sono uno studioso di pedagogia, un accademico di scienze dell'educazione. Sono semplicemente un padre e un insegnante che, in questi 30 anni di esperienza di insegnamento, ha cercato di capire cosa vuol dire educazione. La prima cosa che ho capito è che non la si impara dai libri, ma la si impara quando la si vede in azione, quando la si vede in atto. Cercherò perciò di raccontarvi gli episodi della mia vita in cui mi è parso di vedere l'educazione in atto. Il primo momento in cui ho visto questo con molta chiarezza è stato il guardare mio padre durante gli anni della mia infanzia. Sono il quarto di 10 figli, sono cresciuto in un ambiente semplice, povero, così almeno lo era 30 anni fa. Mia mamma era una contadina, mio padre meccanico, divenuto poi bidello perché colpito da una grave malattia. L'immagine più potente che ho di educazione è quando nella stanzetta dove dormivamo noi maschi (siamo 7 maschi e 3 femmine) entrava mio padre per darci la buona notte, invece di farci delle raccomandazioni, invece che dirci che bisognava pregare, si inginocchiava in mezzo alla stanza e cominciava a recitare il Padre Nostro. Quest'immagine di mio padre che, in ginocchio, a nome nostro e al nostro posto, nel caso che qualcuno si fosse già addormentato, recitava il Padre Nostro, è l'immagine più chiara che ho di educazione. Col tempo poi si è confermata questa idea: tutta la questione del rapporto educativo si gioca nella certezza con cui l'adulto testimonia ai bambini, ai figli e agli alunni di conoscere il valore della vita e delle cose. Mio padre nella sua debolezza, nella sua apparente fragilità era da noi guardato come se fosse il signore del mondo perché si muoveva dentro le cose, dentro la vita, pur dovendo fare molta fatica, con una certezza e una letizia su cui noi potevamo poggiare. Questa idea si è confermata in un altro episodio che mi ha segnato molto. Ero insegnante, avevo già avuto i primi tre figli (ora ne ho quattro, tutti maschi); un pomeriggio stavo correggendo i compiti e, a un certo punto, sollevando la testa, ho sorpreso la presenza di mio figlio a fianco del tavolo su cui stavo lavorando. Incrociando lo sguardo di mio figlio che allora aveva 112 sei anni, un'idea fulminante mi ha attraversato il cervello: mio figlio stava osservando suo padre, senza bisogno di chiedere nulla di particolare (da mangiare, da dormire, nulla di materiale), guardava suo padre al lavoro. In quello sguardo era come se mio figlio mi stesse ponendo una domanda radicale: "Papà assicurami che valeva la pena venire al mondo". Tante volte poi, insegnando e incontrando ragazzi adolescenti (ho insegnato quasi sempre a ragazzi tra i 13 e i 18 anni), incrociando il loro sguardo in classe ho risentito la stessa domanda, lo stesso bisogno. Mi sembra di poter dire che tutto il segreto dell'educazione stia in questo: nella gratuità con cui una generazione di adulti propone la propria certezza a una generazione di bambini e di giovani. Perché il delitto che si sta consumando, qui da noi ma penso che anche da voi sia lo stesso, è che stiamo privando una generazione di giovani del sentimento certo della positività del reale. Che un bambino possa guardare un adulto certo della positività del reale, certo che il reale possa essere conosciuto, amato e perciò che possa essere oggetto di un lavoro è la grande cosa di cui hanno bisogno. Credo di poter dire che, anche dal punto di vista psicologico, aver davanti un adulto certo della realtà e del valore della vita è ciò che può far crescere sani. Invece sta venendo avanti una generazione di ragazzi e di giovani che sta sempre sulle sabbie mobili, come se non sapesse dove poggiare il piede, non avendo certezze a cui aggrapparsi. Tutta la responsabilità dell'adulto nell'educazione sta in questo: nella possibilità di rispondere per se stesso alla domanda: perché sono al mondo? Perché vale la pena far fatica? Perché vivo? Quando parlo di questo con i miei amici insegnanti o con altri genitori, faccio sempre questo esempio: se a tre anni un bambino, quando comincia a chieder il perché delle cose, dovesse chiedere al papà cos'è quell'affare che brilla nel cielo? E il papà dovesse rispondere: non lo so, ho dei dubbi, non ne sono sicuro… E se il padre rispondesse così a tutte le domande, quel bambino crescerebbe in un clima di dubbio terribile rispetto alla realtà e a se stesso. Crescerebbe senza poter dire nulla di certo su se stesso. È l'impressione terribile che ho avuto in classe un giorno, ragionando con un ragazzo di 17 anni quando, dentro un dialogo, lo sfidai così: Dimmi cosa dici di te stesso e lui mi diede questa risposta, scusate la parolaccia: "Professore, non facciamo tante storie, io sono il risultato di una scopata". Se noi stiamo tirando su generazioni di ragazzi con questa percezione di se stessi, capite che questa è la fine del mondo, non c'è più speranza per 113 la civiltà. Perché un ragazzo di 17 anni che ha questa coscienza di sé prova una disperazione, una possibilità di violenza inaudita. La nostra responsabilità di adulti è quella di rappresentare per questa generazione di giovani una speranza, una possibilità di certezza. Questo stabilisce per noi educatori un criterio molto importante. Non dobbiamo avere paura di sbagliare, perché i nostri figli e i nostri alunni ci perdonano molto più di quanto noi perdoniamo loro, non ci chiedono di essere coerenti, sanno abbastanza presto che non lo siamo, esattamente come loro (anzi, com'è patetico e ridicolo un adulto che cerca di mostrarsi perfetto agli occhi dei figli o degli alunni!). C' è una cosa che i nostri giovani non ci perdoneranno: di averli fatti crescere su quell'incertezza da sabbie mobili. Questo che ho esemplificato è l'idea di autorità che abbiamo imparato nel Rischio Educativo di Don Giussani su cui vi chiedo di tornare e di lavorare molto perché questa idea è la condizione necessaria per cui l'educazione può avvenire. 2) Se le cose stanno così, noi facciamo scuola, istruzione, affrontiamo la conoscenza delle materie, della realtà, come strada alla verità che è la realizzazione dell'unico vero bisogno, perché i ragazzi chiedono questo: attraverso l'insegnamento, le materie, passi un valore grande per il quale vale la pena vivere. Mi ha sempre colpito molto che i medioevali chiamassero le discipline, cioè i diversi modi di conoscere la realtà trivio e quadrivio, tre vie e quattro vie; le forme del sapere, i punti di vista con cui guardiamo la realtà sono strade a questo significato, infatti le chiamavano ancelle della teologia, servivano ad arrivare alla conoscenza di Dio e di se stessi. L'altra conseguenza che mi sembra importante sottolineare è che, se l'educazione è ciò che abbiamo detto, avviene solo in un rapporto amoroso, affettivo. Si impara nella vita solo ciò che in qualche modo si ama già. Non c'è rapporto educativo se non dentro un rapporto amoroso. È proprio una legge della dinamica della conoscenza. Le cose che un altro ti dice ti restano attaccate, in proporzione del rapporto che vivi con lui, quanta più colla c'è. Nel rapporto educativo questa colla è l'intensità di bene che sento che l'altro nutre per me. Lo stesso ragazzo che sembra avere particolare difficoltà in una materia e anche volendo non la impara, dentro un rapporto affettivo significativo si scopre che apprende molto e velocemente. 114 In Italia si fa molta fatica a imparare l'inglese, i miei figli sembrano scemi completamente, ma quando ascoltano una canzone che gli piace, in inglese, la imparano la prima volta, questo vuol dire che l'inglese lo sanno e lo possono imparare. La differenza sta nel fatto che da una parte è in gioco il loro interesse per la realtà, dall'altra è stato escluso. 3) L'ultima cosa che voglio dire è questa. Un educatore è tanto più grande, tanto più efficace, quanto più è libero dall'esito. Mentre è relativamente facile farsi seguire da bambini piccoli, quanto più i bambini diventano grandi, tanto più cresce la loro libertà. E qui comincia l'avventura vera perché quando si scommette sulla libertà dell'altro, bisogna scommettervi fino in fondo. La libertà dell'altro è sua, è nelle mani di Dio e nelle sue, non nelle nostre, questo significa che non dobbiamo giudicare il nostro tentativo di educare e quello dei nostri amici dall'esito che può avere. A questo proposito mi ha sempre impressionato la lettura della Parabola del Figliol Prodigo. Noi pensiamo sempre alla parte finale, cioè al momento nel quale il figlio pentito torna a casa, non pensiamo a come comincia questa storia, al terribile strappo, alla terribile ferita che quel padre ha dovuto sopportare. Quel padre doveva aver fatto tutto il possibile per tirar grandi bene i propri figli, e si sente dire dal più giovane, probabilmente il prediletto: "Di tutto quello che mi hai insegnato non me ne frega niente". Anzi gli chiede di poter avere la sua parte di ricchezza, di eredità e di poterla spendere nel peggiore dei modi. Quel padre ha corso fino in fondo il rischio della libertà del figlio perché lo ha lasciato andare, gli ha dato la parte dei beni che gli aveva chiesto e lo ha lasciato partire. Noi spesso siamo tentati di fare diverso, di fronte al figlio o all'alunno che ci rifiuta che è come se dicesse "io me ne vado via", tendiamo a chiudere tutte le porte e le finestre e gli diciamo: " Da questa casa non vai via perché il mondo è cattivo". Ma in questo modo quel figlio lo abbiamo già perso. Il padre del figliol prodigo corre il rischio, dobbiamo immaginarlo con le lacrime agli occhi abbracciare questo figlio che sa che va a perdersi. Dobbiamo poi immaginare tutti i giorni questo padre, alle prime luci dell'alba, alle finestre più alte della casa, scrutare l'orizzonte nella speranza del ritorno del figlio. 115 Questa è la figura dell'adulto educatore perché questo padre è padre tanto del figlio che rimane in casa quanto del figlio che se ne va. Se quel figlio andato via, resosi conto di come si era ridotto ha potuto dire: "mi pento, mi alzerò e tornerò alla casa di mio padre" è perché sapeva che il padre lo stava aspettando. E' come se quel figlio fosse andato via da casa, tenendo d'occhio la casa di suo padre, sapendo che là lo aspettava una casa, una famiglia. Questo è ciò che cercavo di dirvi prima: per quel figlio la salvezza, quando si è pentito, è stata questa: una casa forte come una roccia, che sfidava il tempo, la sua libertà e tutto il male che aveva voluto provare. Quel figlio ha potuto tornare perché sapeva che il padre lo avrebbe perdonato. Tutta l'educazione sta in questo sguardo che l'adulto porta sul piccolo, sul ragazzo, sull'adolescente. Quando sono stato in Sierra Leone, da padre Berton, mi ha molto impressionato il rapporto con i bambini soldato, perché si vedeva che l'unica cosa che questi ragazzi chiedevano era che qualcuno dicesse loro: io ti perdono. Mi ha molto colpito poi sentirmi dire dai miei figli al ritorno questo: "Papà siamo tutti bambini soldato, perché questa capacità di male che uno ha è anche la nostra e il bisogno che hanno quei ragazzi di essere perdonati è anche il nostro." L'educazione è un luogo dove questo perdono è sempre possibile. Questo mi offre lo spunto per l'ultimissima cosa. Nelle vostre domande avete chiesto che relazione c'è tra i vari attori dell'educazione, famiglia, scuola, alunni. Mi sembra che il rapporto che debba esserci tra adulti che si occupano a diverso titolo dell'educazione debba essere quello a cui ho accennato prima. Quando ci sono stati gli attentati di Madrid, in marzo, quel giorno, aprendo il giornale, avevo voglia di piangere perché di fronte a questi fatti si ha l'impressione che il male vinca. Chissà quante volte anche nelle situazioni che vivete voi avete provato lo stesso terrore. L'unica cosa che sono riuscito a fare quel giorno è stato andare da alcuni amici e poi a casa mia, con i miei figli e mia moglie, ponendo loro questa domanda: almeno in questa casa il male può essere perdonato? Il male di Madrid, del terrorismo, è il mio male; ha la stessa radice e la stessa natura, ma se questo male può essere vinto attorno al tavolo di casa 116 mia, con i miei figli e con mia moglie, allora sono pronto a combattere il male in tutto il mondo perché c'è un punto in cui può essere vinto. In una scuola il ruolo della famiglia e degli insegnanti, ciascuno al loro posto, gli insegnanti, facendo bene il loro lavoro, insegnando bene la loro materia, e i genitori accompagnando il lavoro della scuola, devono testimoniare tra loro e per loro, questo luogo di misericordia, di perdono. Questo è ciò che il Rischio Educativo chiama funzione di coerenza perché i figli ci mettono alla prova, sono come elastici che si allontanano e ritornano per mettere alla prova la nostra solidità e certezza. Altrimenti si discute del ruolo del genitore e dell'insegnante, ma si riesce al massimo a trovare un compromesso politico sulle due funzioni, un po' come se il marito e la moglie dovessero accordarsi su chi lava i piatti e alla fine si accordassero politicamente su cosa deve fare ciascuno. Invece se una donna e un uomo si amano si rendono conto ogni giorno del bisogno dell'altro. Così dovrebbe avvenire nella scuola, non un compromesso politico ma la condivisione di una responsabilità. Rio de Janeiro – Cosa significa scommettere sulla libertà dei ragazzi? Nembrini – Ti racconto l'esperienza che ho fatto con i miei figli. Bisogna puntare più sulla verità della propria testimonianza che sulla forza delle proprie convinzioni; io ho sempre cercato di fare quello che ho imparato da mio padre. Il problema non è insistere su delle prediche o su dei valori morali che è l'illusione che sta vivendo la scuola in Italia, sia quella laica sia quella cattolica. Sembra che il mondo laico debba convincere i ragazzi della bontà dei valori della Costituzione e quello cattolico dei valori del Vangelo. Nell'uno e nell'altro caso gli alunni reagiscono difendendosi dalla pretesa del mondo adulto di fare loro la testa. C'è un brano, il 6°capitolo del Deuteronomio dell'Antico Testamento, che dice: "Quando tuo figlio ti domanderà cosa sono queste regole che il Tuo Dio ti ha dato (quando ci chiedono implicitamente o esplicitamente: perché devo essere buono? Perché devo fare i sacrifici? Perché devo dire la verità? Perché devo essere povero?) tu risponderai così: "Eravamo schiavi nel paese d'Egitto e Dio ci ha tratti di là con mano forte e potente perché fossimo felici come appunto siamo oggi" 117 Il bambino e l'adolescente non hanno bisogno di sentirsi dire: devi essere buono perché è giusto così, perché te lo dico io; bisogna che capiscano che essere buoni o ascoltare certi consigli è per una loro convenienza, devono poter guardare un adulto così felice di vivere da essere interessante l'imitarlo. Così capisci che non hai più la necessità di convincerlo della bontà di certi valori; questa posizione ti ricatterebbe sempre perché saresti sempre a metà strada tra l'obbligarlo a fare certe cose e rinunciare a chiedere. E questo ti frega perché tuo figlio è più furbo di te, ma se tu puoi contare su questa testimonianza, nella comunione che puoi vivere con tua moglie o con i tuoi amici insegnanti nella scuola, il bambino o il ragazzo che ti guardano si sentono accompagnati, ma anche sfidati nella loro libertà, perché tocca loro scegliere cosa è bene per la vita, cosa è conveniente. Questo vuol dire che l'adulto si assume il rischio di questa stabilità di cui parlavamo prima, parlando del Figliol Prodigo. Quindici giorni fa ho fatto una discussione con mio figlio di 20 anni che voleva andare in vacanza, al mare, con un gruppo misto di ragazzi e ragazze; gli ho detto che non ero d'accordo perché è un modo sbagliato di usare il tempo libero. Questo ha portato la discussione sul perché la Chiesa dica che non è giusto avere dei rapporti sessuali prima del matrimonio. Non potevo dirgli che non si può perché lo dice la Chiesa, perché mi avrebbe detto che non gliene importava nulla e avrebbe ragione, tanto meno che non è una cosa bella perché è una cosa bellissima, ho dovuto sfidare la sua libertà chiedendogli se gli interessava vivere da grande il rapporto con una donna come lo vivo io con la sua mamma. Ho sfidato la sua liberta, mi ha risposto di sì, quindi mi è andata bene. Allora gli ho detto: devi diventare come la mamma (lasciamo stare il mio esempio che è pessimo), ma diventare come la mamma è difficile, chiede sacrificio bisogna educarsi a questo. Don Giussani ci ha insegnato, recuperando quello che dice la Chiesa, che vivere le vacanze in un certo modo è un modo per educarsi a essere come la mamma, perciò fallo. Voi capite che dire così a un figlio di 20 anni è veramente un rischio educativo, primo per me, perché devo mettere sul piatto della bilancia la verità di ogni parola che dico e la verità del rapporto con mia moglie, dall'altra dovevo accettare il rischio che mio figlio dicesse "non mi interessa". In tal caso avrei dovuto dirgli: "Vai, non sono contento ma vai lo stesso" e 118 sarei rimasto a casa addolorato pregando Dio che lo riconquistasse. Questo è scommettere sulla libertà. Rio de Janeiro – E quando c'è come da noi una mancanza grave delle famiglie? Nembrini – In questi 2000 anni di storia della Chiesa ci sono stati altri periodi di barbarie in cui è stata distrutta l'idea stessa del padre. Forse non in modo così radicale e grave come nella cultura moderna perché nel mondo intero si è lavorato per distruggere il Padre Eterno e perciò il padre. In condizioni simili la tradizione della Chiesa ha pensato di chiamare padre il prete, ancora oggi un frate, un consacrato lo chiamiamo padre, chiamiamo madre le suore. Questo vuol dire che la Chiesa; ha sempre percepito la propria presenza e in particolare la presenza dei propri consacrati come la fonte di una possibile maternità e paternità. Da questo punto di vista ogni cristiano è padre e madre, ma in modo ancor più sorprendente lo è chi si consacra alla verità, cioè chi si consacra a Cristo, in un mondo in cui i padri non ci sono più. E questo anche da noi è tragicamente vero, perché i padri pensano di essere più padri giocando a fare gli amici dei loro figli, come se il padre del Figliol prodigo avesse detto: "Va bene facciamo così, chiudo baracca e burattini e vengo via con te, così ti tengo d'occhio da vicino". Col risultato che quel figlio, quando si fosse davvero ravveduto e avesse desiderato davvero tornare alla casa di suo padre, la casa non c'era più e il padre era lì, perduto come lui. Questa è l'impossibilità radicale dell'educazione perché rende impossibile il perdono, il ritorno a casa. Se è così, il ruolo che abbiamo nel mondo è essere una casa dove ci sono un padre e una madre. E' così vero che da un certo punto della mia vita è stato più padre alla mia vita Don Giussani che il mio povero padre, anzi il rapporto con lui è stata la possibilità che io scoprissi e valorizzassi il rapporto con mio padre. L'unica cosa che vi posso dire se vivete in una società senza padri e madri è "Siate voi padri e madri per tutti i vostri ragazzi. Le nostre scuole siano case dove questa paternità può esser vissuta, questo forse insegnerà anche agli adulti che incontrerete ad essere un po' più padri e madri". Salvador – Come inserire la famiglia a scuola rispettando i ruoli di ciascuno, dal momento che i genitori hanno delegato alla scuola il comunicare i valori al ragazzo? Nembrini – Se la scuola cerca di essere un luogo di educazione come abbiamo descritto, bisogna prendere atto della delega che la famiglia vive e allora la scuola si fa carico dell'istruzione dei bambini, ma anche di quel livello di educazione che abbiamo descritto oggi. Questo con molto realismo, nel senso che la scuola ha modalità, tempi e spazi di lavoro che sono suoi e non sono quelli della famiglia. Quando si vive così accade poi che la famiglia si sente interpellata nel suo ruolo e accompagnata dalla scuola ritrova il suo ruolo educativo. Anche da noi accade che i genitori, lavorando entrambi, poi alla sera volendo fare la bella vita che facevano prima del matrimonio, vivano una delega verso la scuola. Come scuola noi cerchiamo di impostare le attività in modo da non facilitare questo, per cui fissiamo l'orario scolastico solo al mattino in modo che chi può tornare a casa lo possa fare. D'altra parte i genitori sono sprovveduti e bisognosi di essere aiutati nel loro compito perché da noi sta venendo avanti la mania che sembra necessario l'aiuto dello psicologo per qualsiasi problema. Bisogna sostenere i genitori e nello stesso tempo responsabilizzarli dicendo loro che sono i migliori genitori per i loro figli, correndo questo rischio e, nello stesso tempo, mettendo in atto strategie che li aiutino, come è da noi la scuola per i genitori. Nel tempo questo si è dimostrato molto utile, ci hanno detto alcuni: "l'esperienza di questa scuola è stata più importante per me che per i miei figli". Sempre con molto realismo, non siamo noi a salvare il mondo! Facciamo quello che possiamo e poi andiamo a letto tranquilli. S. Francesco Saverio aveva come motto questo: "Salpare il mare, salvare un'anima e poi morire": ce n'è d'avanzo! M. Teresa di Calcutta, col mare di bisogno che incontrava quando un giornalista le chiese: "Se dovesse scegliere due o tre cose da cambiare, cosa cambierebbe?" Rispose: "Chiederei di cambiare il mio cuore e il suo". È la grandezza dei santi che sa che è la Provvidenza di Dio che fa le cose, non noi. Belo Horizonte – Quando l'educatore non ha fatto esperienza di libertà e non sa valorizzare neppure quella del bambino, come aiutarlo? Nembrini – Credo che a questa domanda si possa dare solo una risposta: quello che abbiamo detto sull'educazione vale anche nel rapporto tra 120 adulti. Non si può generare se non si è generati, e questo non vale una volta per sempre ma è in gioco ogni istante nella vita. Vuol dire che un collegio docenti o una comunità di educatori su questo si interroga, si giudica, si accompagna. Vale la stessa regola che vale per i bambini, come non esiste una classe se non intorno a un maestro, perché un gruppo di ragazzi lasciato a se stesso non può attivare un avvenimento educativo, così un gruppo di educatori non può non avere un riferimento che dia un giudizio, faccia una compagnia. Dal punto di vista esistenziale vale quello che vale dal punto di vista organizzativo: la scuola per funzionare deve essere guidata da qualcuno che dà forma alla scuola e prende le decisioni, così dal punto di vista esistenziale, c'è sempre uno, guardando il quale, la mia libertà è provocata e educata. Se ci sono gli adulti che non hanno vissuto questa esperienza li si invita a farla con noi. Se non c'è nessuno che viva questa esperienza è meglio chiudere la scuola perché fa più danno che altro. Belo Horizonte – Quando la scuola è un luogo dove non si impara nulla, è difficile incentivare i ragazzi anche alla frequenza Nembrini – Non mi sembra che ci siano molte alternative: facendo quel che fate io penso che voi cerchiate di fare il lavoro che non si fa a scuola, accompagnando i ragazzi a giudicare l'esperienza che vivono al mattino, valorizzando quel poco che c'è di buono e giudicando il negativo, dopodiché bisognerebbe fare tutto il possibile perché quella attività che si svolge nel centro educativo venga riconosciuta come una scuola, evitando così la ripetizione delle due cose, evitando perciò di buttar via il tempo con grave danno all'esperienza del bambino. Ma questa è una cosa che dovete valutare voi secondo le risorse che avete. Brasilia – Vi ringrazio perché ho capito di più il lavoro che facciamo nel Centro d'accoglienza Edimar Macapà – L'educatore è tanto più educatore quanto meno è preoccupato dell'esito. Vorrei capire di più Nembrini – C'entra con quello che abbiamo detto prima a proposito della libertà, perché non c'è nulla come l'educazione in cui noi investiamo i nostri desideri, i nostri progetti, tutte le nostre pretese. 121 E' sempre difficile nel rapporto tra uomini amare l'altro per quello che è e non per quello che si vorrebbe che fosse, per questo sinonimo della parola educazione è misericordia. L'educazione è un atto d'amore, esattamente come l'amore comincia quando tu affermi l'altro per quello che è e non per quello che corrisponde alle tue idee, alle tue aspettative. La libertà dall'esito è che quando guardo mio figlio, la cosa che più desidero è che corra verso il suo destino. Questo ha due conseguenze: La forma del destino dell'altro non sono io che la determino (il profeta Gibran: "I vostri figli non sono i vostri figli"). Questo vuol dire che i figli rappresentano un mistero più grande di quello che possiamo immaginare, il loro destino si può realizzare secondo modalità e tempi che non possiamo determinare. Stimare la loro libertà è stimare ciò che il destino chiede loro. Ma più difficile di questo è accogliere e amare l'altro quando la sua libertà gli fa contraddire e rifiutare ciò che noi gli abbiamo proposto. Essere liberi dall'esito è fare come il padre che ha lasciato andare il figlio, questo però in un rapporto di amore comporta che uno offra tutta la propria vita per il bene dell'altro. E' una risposta povera che sto dando ma mi pare che la libertà dall'esito voglia dire questa offerta, è un po' quello che ha fatto Gesù, ci ha educati, cioè ci ha salvati, dando la vita per noi nel momento in cui noi lo stavamo crocifiggendo. Gesù ha vissuto 30 anni e 3 anni di predicazione per educarne 12, vuol dire che Dio si è fatto carne per educare una piccola classe di alunni, anche Lui credo che sperasse che Gli andasse meglio, ma quando ha incontrato quello che lo aveva tradito, lo ha chiamato amico e è andato a morire anche per lui. Il nostro compito di educatori, di genitori è un po' così: a noi compete dare la vita e il resto è nelle mani di Dio e della libertà dei nostri alunni e dei nostri figli. Sono convinto che la nostra santità salverà anche quelli con cui apparentemente l'esito è andato male. Ti racconto l'episodio da cui ho imparato questa cosa. La mia povera mamma è morta a 60 anni e ha portato per molti anni una croce pesante: il fatto che il primo dei miei fratelli era uscito dal seminario ed era diventato nemico della Chiesa; proprio quello che lei considerava il coronamento della sua azione educativa, tradiva tutto quello 122 che lei aveva cercato di insegnargli, questo l'ha fatta soffrire molto per molti anni. Quindici giorni prima di morire, la vidi serena anche su questa questione e le chiesi cosa fosse cambiato. "Ho capito una cosa importante. Non preoccuparti perché questo tuo fratello lo porto io in Paradiso tirandolo su per i capelli." Liberi dall'esito vuol dire vivere questa offerta rispetto a qualsiasi scelta i figli possano fare, sacrificarci noi per loro. Rio de Janeiro – Lavorando sul Rischio Educativo è nata la necessità di studiare anche le fasi dello sviluppo dell'adolescente per capire di più chi sono i nostri ragazzi; come dare continuità a questo lavoro? Nembrini – Si tratta di come l'azione educativa descritta oggi entra nel merito di alcuni strumenti, di alcune competenze che bisogna avere. E' una domanda molto interessante perché altrimenti quello che abbiamo detto oggi rischierebbe di rimanere una generica esortazione, per questo inutile. Tutto quello che abbiamo detto oggi, quando viene messo in movimento, chiede di prendere una forma molto precisa, non c'è nessuna delle affermazioni fatte che possa essere vissuta, comunicata se non dentro forme precise. Forme che devono rimanere strumenti, rispetto ai quali bisogna essere liberi, giudicarli, cambiarli in continuazione, correggerli. E' un po' come dover portare da un posto all'altro acqua di cui c'è bisogno per vivere, per spostare dell'acqua bisogna che prenda una forma, bisogna porla dentro un recipiente, se no al massimo riesco a portarne poche gocce che mi restano addosso ma l'acqua non la sposto. Poi evidentemente diventerò più bravo nell'esperienza a trovare i migliori e efficaci strumenti. La prima cosa da fare è avere il coraggio di rischiare, provando a inventare strumenti e modalità con cui quello che abbiamo detto può essere vissuto e comunicato. Siccome altri ci hanno già preceduti, se il problema che hai è di tradurre in strumenti adeguati, competenze adeguate quello che abbiamo detto oggi, cerca di vedere se questi tentativi sono già stati fatti. Mi pare che due strumenti ci siano già: la rete che vivete tra voi, è la prima grande risorsa su cui dovete puntare; l'altra risorsa è Luisa con la quale stiamo tentando di costituire un ufficio scuola della Compagnia delle Opere, tentando di raccogliere esperienze e strumenti in modo da poterveli offrire, è 123 l'idea che è nata lì da voi, nel Meeting della CdO a Rio de Janeiro, che come minimo ci fosse un punto di segreteria per facilitare l'esperienza in tutto il mondo. Rivolgetevi a lei, faremo quello che potremo per aiutarvi. Non si riesce nemmeno a copiare quello che fanno altri se non come aiuto a un tentativo che fai tu, per questo bisogna davvero provare a rischiare. Copiare soltanto è pericolosissimo, si diventa rigidi e violenti nei rapporti, invece guardare un esempio e provare a riviverlo a partire dalla propria situazione, è la cosa più interessante. Belo Horizonte – Come aiutare il giovane a avere interesse per la realtà quando lui non è perseverante? Nembrini – La perseveranza non è una qualità della giovinezza, è l'esito dell'educazione ed è la caratteristica tipica dell'adulto, per questo Don Giussani chiama nel Rischio Educativo la funzione dell'adulto "funzione di coerenza", si potrebbe anche dire perseveranza. Il giovane non è mai perseverante, è come un elastico che prova atteggiamenti diversi e contradditori per mettere alla prova la solidità dell'adulto. In questo senso si educa la perseveranza del giovane educando la propria; quanto più il giovane ha di fronte un adulto solido, certo e idealmente coerente, che fa la sua strada senza incertezze, tanto più è educato a vivere la stessa stabilità e perseveranza. Deve essere il più chiaro possibile quel criterio della convenienza: è più facile essere perseveranti in una cosa che conviene, rispetto a una cosa che non ci interessa. Il problema della perseveranza dei giovani sta nella perseveranza della proposta che l'adulto fa, cioè se l'adulto riesce ad accompagnare il giovane a scoprire che la proposta è bella, conveniente per lui. Quando ho chiesto a mio figlio quel sacrificio della vacanza, non ho potuto abbandonarlo da solo, ho dovuto accompagnarlo per fargli vedere in un dialogo costante se era vero quello che gli avevo proposto, altrimenti non potrebbe perseverare nella decisione presa la prima volta. Devi fare in modo che si creino le condizioni per cui la decisione presa una volta sia ripresa, perciò devi offrire un rapporto che renda possibile questo. L'importante è non considerare la non perseveranza dei giovani un ostacolo, è la condizione di partenza ed è la sfida da raccogliere, se no ti deprimi prima di cominciare. 124 Belo Horizonte – Situazione terribile di violenza, del traffico di droga che rende difficile il contatto con la famiglia, la scuola. Il ragazzo è attratto dal guadagno facile Nembrini – Credo che questo miraggio del guadagno facile e violento, non in quelle forme, sia vissuto anche qui, siamo nella stessa situazione! C'è la stessa possibilità di male, lì forse più rozza, evidente, malvagia, qui con forme più garbate. Se pensiamo al tasso di violenza tra i giovani negli stadi, al tasso di suicidi, al fatto che entro i 16 anni sembra che il 90% abbia provato la droga, capite che la situazione è drammatica anche in Italia. Anche da noi la famiglia è disperatamente sola e impotente a educare i figli, tanto è che o si rinuncia all'educazione o addirittura a dare la vita. Il crollo demografico documenta questo terrore dell'adulto a mettere al mondo i figli in un ambiente così. Vale il fatto che la famiglia da sola non può farcela perché non regge la sfida dei disvalori così forti cha ha intorno. Mi rendo conto che se l'avventura educativa che ho corso con i miei figli ha avuto un esito positivo è perchè, nella mia partecipazione alla comunità cristiana, i miei figli hanno potuto vedere non un modello familiare, ma una vita sociale di rapporti, di impegno politico e missionario, che ha permesso loro di vedere un pezzo di mondo diverso da quello che hanno davanti. Con questi amici (sto parlando della compagnia del Movimento di Comunione e Liberazione) ho potuto costruire una serie di occasioni educative fuori dalla famiglia che, invece di contraddire quello che vivevano in famiglia, l'avvaloravano. Questo è stato possibile grazie al rischio, alla libertà e creatività di questi adulti preoccupati dei loro figli, per cui hanno cominciato a mettere in piedi scuole, società sportive, possibilità di vedere insieme dei film…si è cercato di costruire insieme un pezzo di mondo nel quale i nostri figli potessero dire: quello che mi insegnano i miei genitori è vero. Questo è importante perché dice un altro principio dell'azione educativa: o è totale o è inefficace, devono vedere che quello che gli chiedi e cerchi tu stesso di vivere, ha qualcosa di interessante da dire su tutti i livelli dell'esistenza, sul dolore, sul sesso, sull'amore, sulla politica. Quello che dovete cercare di costruire lì è la stessa cosa: un pezzo di mondo differente. 125 Anche questo dentro un sano realismo per cui si fa quel che si può. Belo Horizonte – Qual è il peso della ludicità nel processo di insegnamento-apprendimento. Nembrini – E' una domanda molto tecnica a cui non so rispondere avendo sempre insegnato alle superiori. L'unica cosa che mi viene in mente quando sento la parola gioco è che io mi diverto molto a insegnare, a stare con i ragazzi, con i miei figli; se gioco è sinonimo di letizia certamente ha a che vedere con l'educazione, ma per quello che ho detto prima: il giovane sospetta la convenienza della proposta fatta dalla letizia dell'adulto, un adulto triste non educherà mai nessuno. Gesù ha dettato la formula dell'educazione: "Vi ho detto queste cose perché la vostra gioia sia piena". E' questa la domanda che dobbiamo porci parlando e insegnando a bambini e ragazzi, se rispondiamo positivamente a questa domanda siamo sulla buona strada. 126 CONCLUSIONI di Alberto Piatti, direttore di AVSI Verso la metà degli anni '90, ho avuto occasione di svolgere una missione conoscitiva in Brasile, in cui ho visitato diverse opere educative con cui AVSI aveva un rapporto più o meno consolidato, a Manaus, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasilia, San Paolo. Si trattava di centri educativi informali destinati prevalentemente a bambini da 0 a 3 anni. Mi sono reso conto in questo viaggio che queste opere avevano un valore decisivo per la vita dei bambini e delle loro famiglie, ma anche per la comunità in cui vivevano, e ho pensato che il rafforzamento di queste realtà avrebbe generato un grande beneficio. Sono rimasto colpito in ciascuna di queste realtà da una insolita cura, per i neonati come per i ragazzi del doposcuola, per le loro mamme e le loro famiglie, cura nell'accogliere e nell'insegnare, nella nutrizione e nell'igiene. Un filo conduttore in modo del tutto inconsapevole le legava: l'amore al bambino come persona, amore che è "la fondamentale e nativa vocazione di ogni essere umano". (Familiaris consortio, 6). Queste quindici realtà avevano un rapporto di conoscenza e stima reciproca, che desideravano approfondire. Soprattutto cercavano il modo per condividere la comune avventura dell'educazione, ma non avevano risorse; volevano crescere ma temevano di non farcela. E AVSI era legata a loro perché condivideva la stessa passione per l'uomo, la sua dignità, la sua libertà. Così è nato il progetto "Costituzione di una rete di scuole per l'infanzia", avviato a fine 2000. 127 Sono stati realizzati seminari, corsi, incontri; personale specializzato ha dato un contributo consulenziale nei settori educativo, organizzativo e gestionale, sanitario. Sono stati ristrutturati locali e strumentati uffici. Oggi, al termine di questo progetto, la rete, cresciuta fino ad oltre 30 opere educative, è una realtà di soggetti competenti, strutturati dal punto di vista strumentale e organizzativo, capaci di interloquire con le istituzioni pubbliche, come con le comunità e le famiglie, oltre che offrire un servizio qualificato ad almeno 5.000 bambini e ragazzi da 0 a 16 anni. Sono quindi soggetti maturi, espressione di una società civile "sussidiaria". Soprattutto sono capaci di affrontare il rischio di educare. Educare uomini, ricordando che "il vero scopo di ogni sistema economico, sociale e politico e di ogni modello di sviluppo è la promozione integrale della persona umana" (discorso di Giovanni Paolo II alla XXI sessione della conferenza della FAO, 1981). 128
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