História Arquitetura com imagens

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História Arquitetura com imagens
HISTÓRIA DA ARQUITECTURA MODERNA
Prof. João Vieira Caldas
17 de Setembro de 2010
RENASCIMENTO: Introdução histórica e cultural
O Renascimento é um fenómeno cultural e civilizacional – há na Europa uma
nova forma de encarar o mundo.
Esta mudança dá-se no séc. XV e XVI, com vanguarda em Itália. (Fig.1)
Fig.1-Os Estados Italianos durante o Renascimento
Nos princípios do séc. XV a Itália era composta por uma série heterogénea de ducados,
repúblicas e reinos que viviam num clima de permanente instabilidade política e competição
entre si, donde frequentemente resultavam conflitos armados. Os Estados Pontifícios ocupavam
a parte central da península. A norte vários ducados encontravam-se sob proteção dos duques de
Milão, da poderosa dinastia Sforza; já as muito prósperas repúblicas de Florença e Veneza eram
os estados mais fortes.
1
- Há também uma mudança fundamental na Arquitetura.
Acontecimentos, ao longo do Séc. XV, que contribuíram para a mudança do
entendimento do mundo:
. Descobrimentos – noção de que o mundo é muito maior do que o que se
pensava; percebe-se que existem novos continentes – perceção da geografia mundial e
da biologia e biodiversidade do mundo. (Fig.2)
Fig. 2- Gênova e Veneza, antigas Repúblicas Marítimas italianas,
dominaram as rotas comerciais do Mediterrâneo.
O contato com navegadores árabes legou tecnologias importantíssimas que permitiriam
aos navegadores portugueses e espanhóis navegar até o desconhecido „Novo Mundo‟ .
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-- Aprofundamento do conhecimento do universo e da esfera celeste (astronomia)
-- Descobertas sobre a relação da Terra – Cosmos
. Invenção da Imprensa – divulgação do conhecimento
Há também acontecimentos que precedem o séc. XV e que reuniram também as
condições para o renascimento:
. Humanismo (afastamento do pensamento teocêntrico) – fenómeno cultural –
na Idade Média a religião estava no centro da vida das pessoas (Teocentrismo) – agora o
Homem passa a estar no centro: há uma maior confiança na capacidade do Homem
(algo também potenciado pelos Descobrimentos) – centralização do interesse no
Homem
-- o Humanismo está muito ligado com a antiguidade, época em
que havia confiança nas capacidades do Homem ao contrário do que aconteceu na idade
média – os Humanistas investigam a Antiguidade Clássica
-- Começa a haver uma rejeição da Idade Média e da sua
maneira de pensar (Antiguidade: os Deuses são feitos à imagem do Homem; na Idade
Média, o Homem é feito à imagem de Deus) (Fig.3)
Fig.3- As proporções da figura Humana, a partir de O Homem de Vitrúvio,
Leonardo da Vinci, Galeria dell‟Academia, Veneza,1490.
Para Leonardo da Vinci, tal como para Vitrúvio, a forma do corpo humano encerra a
essência da “ forma ideal”- a geometria perfeita do círculo e do quadrado- e continha as relações
Ideais da proporcionalidade. Também os arquitetos renascentistas basearam os seus
projetos no círculo e no quadrado- as formas ideais simbolizando a perfeição do Ser Supremo- e
nas relações numéricas daí resultantes.
-- Interesse pelos textos antigos (Humanistas: Dante, Petrarca – autores italianos)
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. Pintura de Giotto – pintura mais realista e menos simbólica (como acontecia na
Idade Média).
ITÁLIA – onde surgiu o Humanismo devido a várias razões que
proporcionaram a vanguarda italiana:
. Em todo o território italiano havia muitos vestígios da Antiguidade
Clássica
. Localização geográfica central propícia ao comércio e à troca de ideias –
desenvolvimento da Economia e melhoria do nível de vida das pessoas – forma-se em
Itália um à vontade para as pessoas se dedicarem à cultura, ao conhecimento
. Era uma civilização muito requintada (em relação a muitas outras zonas
da Europa)
Estado de Florença (Toscana) – foi o estado pioneiro no aparecimento do
Renascimento
-- muito desenvolvido comercial e economicamente
-- Florença albergou vários sábios que fugiram de Constantinopla,
que estavam sob ameaça turca – trouxeram consigo vários manuscritos da Antiguidade.
-- resistência passiva de Florença à tentativa de união da Itália por
parte do duque de Milão – resistência através do argumento de que Florença era
herdeira da cultura romana, a herdeira cultural e que por isso jamais poderia ser
dominada por um Estado do norte.
Nesta época, ao contrário do que acontecia na Idade Média, há um prestígio dos
autores de obras de arte, assim como há um prestígio das pessoas (os “Mecenas”) que
patrocinam obras de arte. (Fig.4) A pintura, a escultura e a arquitetura passaram então a
ser artes maiores.
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Fig. 4 - Lourenço de Médicis, um Mecenas de Florença
Lourenço, o Magnífico (segundo pintura de Vasari), pertencia à poderosa família dos Médicis,
senhores
de Florença. Mecenas do Renascimento, fez da sua cidade um centro do humanismo e da arte
renascentista. Grande protector das letras, das artes e das ciências, fez de Florença, a capital
intelectual da Europa na 2.ª metade do século XV.
"Lourenço de Médicis tinha adornado os jardins da Praça de São Marcos com belas estátuas
antigas. (...) Favoreceu sempre os grandes génios, particularmente (...) aqueles que, demasiados
pobres, não tivessem podido consagrar-se ao estudo do desenho, assegurava os meios de vida e
vestuário e concedia grandes recompensas aos que entres eles realizavam os melhores trabalhos.
Giorgio Vasari, Vidas, 1555-1568
O Renascimento traz consigo a ideia de que é preciso esquecer a Idade Média e
recuperar os valores da Antiguidade Clássica – há um grande sentido pejorativo em
relação à Idade Média.
A Arquitetura Renascentista preocupa-se com as formas, com os volumes, com a
expressão de aspetos alusivos à Antiguidade.
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22 de Setembro de 2010
Florença e o círculo de Brunelleschi – o nascimento da Perspetiva
Valores Fundamentais do Renascimento:
. Humanismo – cultura baseada na confiança no poder intelectual e moral do
Homem: o antropocentrismo em oposição ao teocentrismo (o Homem é o centro)
. A descoberta do mundo – os Descobrimentos – olha-se para a Natureza com
um olhar científico
. A fé na Ciência
. O classicismo – a Antiguidade Clássica como fonte de cultura, civilização e
repertório (modelo cultural) devido à necessidade de renunciar a Idade Média, a idade
dos bárbaros (segundo os renascentistas).
O Renascimento é uma época cultural com consciência dela própria: há uma
recusa do passado – a inovação/progresso estabelece-se contra o passado – há uma
necessidade de se fazer algo novo: consciência da construção de uma nova era.
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FLORENÇA E A ARQUITECTURA DO RENASCIMENTO INICIAL
FILIPPO BRUNELLESCHI (1377-1446) – figura fundamental no início do
Renascimento (Fig.5)
Fig.5- Filippo Brunelleschi
Estátua de Brunelleschi próxima ao Duomo de Florença.
Nome completo: Filippo di ser Brunellesco di Lippo di Tura
Nascimento:
1377- República Florentina
Morte:15 de abril de 1446 (69 anos) - República Florentina
Nacionalidade: Florentino
Movimento:
Renascimento
Obras notáveis:Santa Maria del Fiore
Hospital dos Inocentes
Capela Pazzi (em parte)
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Fig.6- Florença, a cidade- berço do Renascimento (foto panorâmica da cidade
onde se destaca a cúpula da Catedral de Santa Maria das Flores e a Torre do Palácio da
Signoria, o Palazzo Vechio)
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Planta da Igreja de Santa Maria das Flores em Florença
Foi em Florença, no século XV, que nasceram e / ou se desenvolveram os maiores génios
artísticos do Renascimento, como Masaccio, Boticelli, Alberti, Donatello, Leonardo e Miguel
Ângelo entre outros. Esta coincidência explica-se pela precoce prosperidade económicofinanceira (indústrias de lã e tinturaria, comércio rico, desenvolvimento dos câmbios, bolsas e
bancos) que aí se desenvolveu e permitiu aos seus comerciantes financiar reis e imperadores em
toda a Europa. A boa situação económica garantiu a independência política da cidade.
Constituída como república livre, Florença criou um ambiente social único, aberto e
cosmopolita, propício ao desenvolvimento cultural que era amplamente favorecido pela política
dos burgueses que a governavam: os Médicis.
Florença ainda não tinha recuperado da peste de meados do séc. XIV e no início
do séc. XV começou a recuperar demograficamente – ainda não havia necessidade de
fazer grandes e novas construções.
No entanto, devido à propaganda de Florença como herdeira da cultura, trouxe a
necessidade de fazer obras novas (para dar uma ideia culta da cidade):
. Campanha para a conclusão de obras medievais inacabadas
. Encomendas iniciais feitas pelas corporações mais poderosas (devido à
necessidade de afirmação social das entidades com dinheiro; porque estavam numa
época de decadência, uma vez que ainda remontavam à Idade Média).
BRUNELLESCHI – a importância da sua intervenção (Fig. 5)
Atenção José : ver este power point porque acho bem feito.
http://marcosocosta.files.wordpress.com/2011/08/01-brunelleschi.pdf
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É o primeiro arquiteto do Renascimento, o primeiro arquiteto da modernidade.
Ações de Brunelleschi:
. Emancipação da Arquitetura e do Arquiteto (assim como da pintura e da
escultura): passaram a ser consideradas as artes maiores (ao contrário do que acontecia
na Idade Média)
. Reconhecimento das valências intelectuais e científicas destas artes – defesa
do estatuto social do artista e da afirmação do artista – indivíduo
. Reconhecimento do arquiteto como responsável pelo todo construído –
tentativa de clarificação das diferenças sociais e profissionais entre projetistas e
executantes (tentativa de identificação do arquiteto como a nova classe dirigente)
. Elaboração da perspetiva enquanto ciência de suporte das artes maiores
. Utilização de formas inspiradas na Antiguidade e recuperação de proporção e
cânone
. Utilização de formas geométricas elementares e relações numéricas simples
para o cânone
Brunelleschi era um filho da burguesia, com uma boa educação, teve início da
vida profissional como ourives e escultor; com interesse pela mecânica de relógios o
que contribuiu para o desenvolvimento do seu interesse pela ótica, geometria e
arquitetura.
Desenvolveu o seu interesse pela arquitetura após o concurso para a 2ª porta do
batistério de Florença (que se julgava ser uma obra Antiga e não românica). (Fig.7 e 8)
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Fig.7- O Baptistério de Florença (ou Baptistério de S. João em
italiano Battistero di San Giovanni)
Planta do Baptistério de Florença
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O Baptistério de Florença (ou Baptistério de S. João em italiano Battistero di San Giovanni) faz
parte do Complexo do Duomo de Florença que inclui a Catedral de Santa Maria del Fiore –
composta pela cúpula de Brunelleschi e pela escavação de Santa Reparata – o Batistério em si, o
Sino da Torre de Giotto e o Museo dell‟Opera del Duomo.
Fig.8 Porta do Paraíso- Batistério de Florença
Em 1329, Andrea Pisano, recomendado por Giotto, recebeu a encomenda de projetar as
primeiras portas (Portas Sul). A execução durou seis anos e foi finalizada em 1336. Consistem em
28 painéis quadrangulares, representando cenas da vida de São João Batista e as virtudes. Os
relevos foram adicionados por Lorenzo Ghiberti em 1452.Vincenzo Danti criou as estátuas acima
das portas em 1571.
Em 1401, uma competição foi anunciada para a execução das Portas Norte do Batistério.
Competiram sete escultores, entre eles Lorenzo Ghiberti, Filippo
Brunelleschi,Donatello e Jacopo della Quercia. Ghiberti, então com 21 anos, ganhou a
encomenda. Brunelleschi ficou tão desiludido com a perda da encomenda que partiu
para Roma para estudar arquitetura e nunca mais esculpiu. Ghiberti levou 21 anos para
finalizar as portas. São novamente 28 painéis, agora com cenas do Novo Testamento. Antonio
Paolucci as descreveu como o mais importante evento da história da arte de Florença no primeiro
quarto do século XV. As estátuas de bronze acima das portas norte foram feitas porFrancesco
Rustici, com assistência de Leonardo da Vinci.
Ghiberti tornou-se então uma celebridade e o artista máximo em seu campo. Em 1425 recebeu
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uma segunda encomenda: as Portas Leste, que ele executou com a ajuda deMichelozzo e Benozzo
Gozzoli. São dez painéis com cenas do Velho Testamento e que utilizaram a nova técnica
da perspectiva para que os painéis adquirissem profundidade.Michelangelo se referiu a essas
portas como As Portas do Paraíso, nome que permanece até hoje. A obra tem 5,20 metros de
altura por 3,10 de largura e 11 centímetros de espessura
A porta do paraíso foi colocada em local seguro em 1943, durante a II Guerra Mundial, e mais
tarde danificada pela grande inundação de 1966 1 .
As portas agora no Batistério são cópias dos originais que foram removidas em 1990 porque
estavam entrando em estado de deterioração. As portas originais estão no Museu Opera del
Duomo, preservadas em contêiners cheios de nitrogênio. No topo das Portas do Paraíso está um
grupo de estátuas que reproduzem O Batismo de Cristo, por Andrea Sansovino, e que foram
finalizadas por Vincenzo Danti e Innocenzo Spinazzi.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Batist%C3%A9rio_de_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o
O seu interesse por arquitetura levou-o a Roma para estudar as obras da
Antiguidade Clássica.
Brunelleschi afirma-se como arquiteto com o concurso para a cúpula da Catedral
de Florença, (Fig.6 e 9) que apresentava um problema essencialmente construtivo –
Brunelleschi teve que se basear em conhecimentos de construção gótica!
Fig.9 Cúpula da Catedral de Florença
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Outras obras importantes de Brunelleschi:
. Hospital dos Inocentes (Fig.10) – construído em torno de um claustro;
regularidade da fachada (característica típica do Renascimento) por composição prévia;
simetria, aspetos que remetem para a Antiguidade (frontões, arcos, utilização de ...
arquitetónicos nas colunas); os arcos assentam diretamente nas colunas (ao contrário do
que faziam os romanos); as abóbadas são meias esferas cortadas por 4 planos verticais
(abóbadas de vela); superfície rebocada e caiada em contraste com os elementos
estruturais; o “entablamento” faz de moldura.
Fig.10- Hospital dos Inocentes
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O hospital dos Inocentes, que era caracterizado pela sua proporção e pela repetição de
colunas, as quais constituíam o elemento de sustento e a sua planta ..
O hospital dos inocentes, de Filippo Brunelleschi, projetado em 1419 e construído em 1427 é
um significativo exemplar da arquitetura republicana e humanista como proposta por Alberti
no Quatroccento.
Brunelleschi conferiu ao projeto deste edifício hospitalar uma importância similar ou até
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superior à dada aos templos religiosos, pois assim como as igrejas que na visão albertiana protegiam a
cidade e combatiam a fortuna dos próprios homens, o hospital dos inocentes emana o valor
de virtù necessário para regular a sociedade. Ele representa um componente fundamental do espaço
urbano florentino.
A concepção da loggia foi desenvolvida em consonância com o contexto urbano, abrangendo o
projeto da Piazza Santissima Annuziata , onde se localiza, em sua totalidade. Esta foi a primeira praça
florentina concebida como uma estrutura unificada, desenvolvida por um único arquiteto. Sua
implantação transformou a via dei Servi, sua principal rua de acesso, em um eixo de grande
importância que a conecta ao Duomo de Santa Maria dei fiore.
A loggia compreende grande extensão da fachada do edifício, desenvolvendo oportunamente a
transição entre público e privado, de suma importância num edifício deste uso. Seu desenho é de
linhas claras e racionais, sua planta é organizada a partir de um eixo longitudinal que parte de um
pátio interno, conferindo grande funcionalidade a seus espaços internos.
Neste projeto a parcimônia do privado torna possível o esplendor público. Esta é a grande
diferença entre a ornamentação e o decoro. A loggia de Brunelleschi abandona a ostentação para
alcançar a dimensão pública. O fruidor deste espaço pode indubitavelmente atestar o seu esplendor.
http://www.arq.ufmg.br/ahr/artigos/edificionaPAU.html
. Igreja de S. Lourenço, Florença. (Fig.11) – encomenda dos Medici a
Brunelleschi (uma sacristia/capela funerária para a família Medici); utilização de formas
geométricas simples (quadrado) e relações numéricas simples (1:2); cúpula apoiada em
pendentes (cúpula de gomos com nervuras); inspirada no modelo das basílicas paleocristãs.
Fig.11- Igreja de S. Lourenço, Florença
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Igreja de S. Lourenço, Florença- São Lourenço: Cortes e esquemas de proporções
Igreja do início do Renascimento, concebida por um dos maiores arquitetos desta época, Filippo Br
unelleschi, sobre uma pequena igreja fundada por Santo Ambrósio no ano de 393. As obras forami
niciadas em 1419, com o patrocínio de Cosme, o Velho, Médici, e foram terminadas em 1460 por An
tonio Manetti, que respeitou fielmente o plano inicial.
Interiormente apresenta uma planta de cruz latina, dividida em três naves, separadas por colunas.
A central de cobertura é adintelada e as laterais são abobadadas. A decoração é da responsabilidad
ede Michelangelo Buonarroti. Na cabeceira da nave central estão depositados dois púlpitos de bron
ze do escultor Donatello (1460), as suas duas últimas obras. Na nave dianteira, sobre o segundo alta
r,podemos admirar os Esponsais de Maria do pintor Rosso Fiorentino e, ao fundo, um tabernáculo
de mármore esculpido por Desiderio da Settignano. O altar-
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mor é rematado por um crucifixo de mármorede Baccio da Montelupo e em frente ao altar está indi
cado o lugar da cripta onde foi sepultado Cosme de Médici.
Ao fundo do braço esquerdo do cruzeiro encontramos a sacristia velha de Brunelleschi (14201429), concebida como um cubo coroado por uma cúpula hemisférica. As esculturas de Donatello q
ue adecoram são: quatro medalhões de terracota com os Evangelistas, os relevos de bronze nas port
as e a arquitetura das mesmas. O sarcófago à esquerda da saída que guarda os restos mortais de Ju
an ePedro de Médicis é da autoria de Andrea del Verochio. Também no braço esquerdo do cruzeiro
, na capela de Martelli, está o monumento sepulcral de Donatello e sob o altar a Anunciação, de Fili
ppoLippi.
Através do claustro renascentista acedese à Biblioteca Laurenziana de Michelangelo, mandada construir em 1419 por Cosme, o Velho, e a
mpliada por Lourenço, o Magnífico (1460).
Está integrada no centro histórico de Florença, local classificado Património Mundial pela UNESC
O, juntamente com a catedral e os palácios Médici-Riccardi, Pitti e Uffizi.
http://www.infopedia.pt/$basilica-de-s.-lourenco-(florenca)
. Capela Pazzi (Fig.12)– encomenda dos Pazzi para uma capela funerária;
nartex (pequena galeria abobadada); pequena cúpula semi-esférica; pendentes com
conchas esculpidas.
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Fig.12- Capela Pazzi
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A Capela Pazzi é considerada uma das obras-primas da arquitetura do Renascimento italiano.
Está localizada no claustro da Basílica da Santa Cruz, em Florença.
Sua construção foi ordenada em torno de 1429 por Andrea Pazzi, membro de rica família de
banqueiros, mas as obras só começaram em torno de 1441, sendo completada na década de 1460.
Até há pouco tempo se pensou que era uma obra de Filippo Brunelleschi, mas hoje parece que
sua participação se resumiu na esquematização da planta-baixa e da fachada, enquanto que a
construção e o detalhamento do prédio ficou a cargo de um arquiteto desconhecido,
talvez Giuliano da Maiano ou Michelozzo. A fachada que se julga ele ter iniciado hoje está
parcialmente oculta por um pórtico, de construção posterior. No interior, na cúpula e no pórtico
há relevos em terracota de Luca della Robbia.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Capela_Pazzi
. Capela de Santa Maria deli Angeli (Fig. 13) – inspiração num batistério
paleocristão (antiguidade romana tardia); esta obra foi muito mexida posteriormente;
planta centralizada poligonal.
Fig.13- Capela de Santa Maria deli Angeli
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Planta da Capela de Santa Maria deli Angeli
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Santa Maria degli Angeli e dei Martiri é uma igreja perto do Quirinal e dos Banhos de Diocleciano.
Para satisfazer a demanda da população que crescia nessa parte de Roma, o imperador Maximiano, que
dividia o poder com Diocleciano, mandou construir um complexo de banhos entre 298 e 306, ao voltar
da África. Com quase 400 metros de lado, podia acomodar três mil pessoas.
Quando o papa Pio IV (pontificado de 1559 a 1565) deu o local aos monges de Santa Cruz em
Jerusalém, Michelangelo converteu o salão central dos banhos nesta igreja de Santa Maria dos Anjos.
O trabalho começou em 1563. Os dois eixos do piso, na forma de uma cruz grega, com quatro capelas
laterais, relacionam-se à antiga basílica com a piscina intitulada frigidarium, o caldarium e
o tepidarium dos banhos. O piso central foi erguido dois metros, para manter seco o interior, de modo
que parte das colunas desapareceu sob o piso sendo substituídos por outras estruturas.
Várias restaurações e uma renovação extensa em 1749 por Vanvitelli, quando transformou o salão
central num transepto, dificultam perceber hoje o conceito original de Michelangelo. Entretanto, as
colunas monolíticas de granito vermelho e a abóbada poderosa que se ergue sobre o atual transepto dão
alguma idéia de como os banhos eram na antiguidade.
Em 1576, sendo papa Gregório XIII (pontificado de 1572 a 1585), construiram-se os celerios, mais
tarde aumentados para o noroeste. A igreja redonda de São Bernardo nas Termas (San Bernardo alle
Terme) foi construída no século XVI em um dos quatro cantos da muralha.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Maria_degli_Angeli_e_dei_Martiri
. Igreja de Santo Spírito, Florença (Fig.14)– a única coisa que resta de
Brunelleschi são as janelas; é o aperfeiçoamento da Igreja de S. Lourenço (planta de
sucessivos quadrados).
Fig.14- Igreja de Santo Spírito, Florença
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Planta da Igreja de Santo Spírito, Florença
Artistas contemporâneos de Brunelleschi:
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. Lorenzo Ghiberti
. Nanni di Banco
. Donatello
. Masaccio
29 de setembro de 2010
Florença e o círculo de Brunelleschi (continuação). Alberti e a Teoria.
A época pós-Brunelleschiana e a teorização da obra de
Brunelleschi:
. O classicismo e as ordens arquitetónicas
. A geometria, a proporção e o número (recuperação do conceito de cânon)
. Formas geométricas simples e facilmente reconhecíveis
. Identificação da geometria com a música e a sua relação com a Natureza ( a
harmonia)
. Relações geométricas simples
- O princípio da harmonia procurado através do cálculo
. A importância da perspetiva:
-- na representação rigorosa do espaço tridimensional sobre a
bidimensionalidade do desenho
-- na mensurabilidade e descritibilidade do espaço (o espaço
cientificamente construído)
-- como expressão da consciência do eu, do individualismo, do ponto de
vista único
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-- como símbolo da união entre arte e ciência
. A fusão do artista e do cientista na mesma pessoa (tendência para a
universalidade)
Brunelleschi cria uma corrente arquitetónica (Arquitetura Brunelleschiana) e
muitos outros arquitetos seguem as características da sua arquitetura.
A ARQUITETURA COMO CIÊNCIA – não como um corpo de
conhecimentos práticos
. Requeria o domínio de várias disciplinas (desenho, geometria, restante
matemática, perspectiva, teoria das ordens arquitetónicas, etc)
. O arquiteto também reivindicava para si, entre outros temas, a reflexão:
-- sobre o programa, a escolha da implantação e a salubridade do sítio,
urbanismo, a organização da paisagem.
. A necessidade de uma aprendizagem livresca
1ª teoria da Arquitetura Moderna ( feita por Alberti) – devido à necessidade dos
renascentistas de teorizar tudo aquilo que faziam.
LEONE BATTISTA ALBERTI (1407 – 1472)
Foi o primeiro teórico de arquitetura do Renascimento.
Devido à curiosidade pelos textos antigos, foi encontrada uma cópia do “De
Arquitectura” de Vitrúvio, que foi divulgada (começaram-se a fazer cópias). Alberti
inspirou-se no tratado de Vitrúvio para escrever um tratado de arquitetura atualizado em
relação em relação ao séc. XV.
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Alberti não era arquiteto – era um verdadeiro humanista (vem de uma família
burguesa Florentina exilada em Génova, onde nasceu), formou-se em Direito mas sabia
imenso de uma série de áreas, era um intelectual viajado com muitos conhecimentos.
Em 1428 regressa a Florença e toma contacto com as personalidades do seu
tempo – contacto com o tratado de Vitrúvio. Também esteve em Roma, onde tomou
interesse pela aqrquitetura.
“De Architectura” – o texto que Alberti leu estava bastante alterado
relativamente ao original de Vitrúvio e estava sem imagens (porque era uma cópia)
-- muito do que estava escrito no texto de Vitrúvio já não correspondia
com os exemplares clássicos que existiam em Roma (o texto de Vitrúvio foi escrito no
início do Império Romano), por isso Alberti sentiu necessidade de o atualizar – com
respeito, corrige também o que é incoerente em Vitrúvio.
Alberti já tinha escrito outros tratados antes deste sobre arquitetura (chamado
“de Re Aedificatoria”): escreveu um tratado sobre escultura (“De Statua”), sobre pintura
(“De Pictura”: onde se teoriza a perspectiva introduzida por Brunelleschi).
“DE RE AEDIFICATORIA” – Alberti segue a estrutura do tratado de Vitrúvio
(em 10 livros) mas melhor organizado (organizou o tratado sobbre as 3 atividades mais
importantes da Arquitetura: estabilidade, utilidade e beleza)..
-- o tratado de Alberti estava concluído em meados do séc. XV e
começou a circular em cópia pela Itália e pela Europa – teve mais impacto entre os
humanistas intelectuais do que nos arquitetos (porque era escrito em Latim e porque ,
deliberadamente, não tinha figuras).
A partir de certa altura Alberti começou a ser chamado para ser consultor de
projetos. Algumas vezes foi mais longe e fez ele próprio projetos, executados depois por
arquitetos seus colaboradores.
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No entanto, não se encontram muitas correspondências entre a teoria e a prática
(devido à sua falta de experiência prática e a adaptação dos projetos pelos arquitetos que
levavam a cabo a obra).
Para Alberti – as igrejas deviam ter uma forma pura: planta circular centralizada
(a casa de Deus deve simbolizar a sua equidistância em relação a todos os homens) e
cúpula semi-esférica.
-- valorização dos números 1, 2, 3 e 4 (ponto, reta, plano e 3 dimensões)
-- cúpula semi-esférica ((simbolo da divindade e representação da esfera
celeste)
-- se não for possível fazer em círculo, que se faça em quadrado (sempre
com proposições ligadas aos números 1, 2, 3 e 4)
Obras arquitetónicas desenhadas/assistidas por Alberti:
TEMPLO MALATESTIANO, em Rimini ( Fig.15) – remodelação de uma
igreja gótica para servir de templo funerário para a família Malatista – obra que nunca
foi acabada
-- arcos de volta inteira e frontão (tipicamente romanos)
-- arcossólios (arcos onde ficam os túmulos das pessoas)
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Fig.15- TEMPLO MALATESTIANO, em Rimini
Planta do TEMPLO MALATESTIANO, em Rimini
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Fachada y Planta de la Iglesia de San Francisco (Rimini) - Alberti Templo
Malatestiano.
Fachada de Santa Maria Novella( Fig.16) – igreja de 3 naves com um novo
modelo de fachada com um novo elemento (aletas) para disfarçar a inclinação das naves
laterais da igreja.
Fig.16- Igreja de Santa Maria Novella
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Planta da Igreja de Santa Maria Novella
PALÁCIO RUCELLAI, em Florença ( Fig.17) – janelas alinhadas na vertical
e horizontal
-- divisão entre diferentes pisos muito marcada: a acentuação da
horizontalidade
-- inspirado no coliseu de Roma
-- ordens arquitetónicas gregas
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Fig.17- Palácio de Rucellai em Florença, corte e Planta
IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO, de Mântua (Fig.18) – resistência da Igreja
Católica às plantas centralizadas (porque identificava a igreja com um edifício pagão):
fez-se planta em cruz grega, forma próxima do quadrado (forma que Alberti não manda
fazer no seu tratado – dá preferência às plantas centralizadas circulares).
-- o quadrado é a forma mais perfeita a seguir ao círculo
-- inspiração num templo romano (utilização de um frontão na
fachada e entabelamento interrompido por uma janela)
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Fig.18-IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO, de Mântua
Planta da Igreja de S. Sebastião em Mântua
IGREJA DE SANTO ANDRÉ, em Mântua ( Fig.19) – está inserida num
quarteirão de edifícios (a cúpula é posterior); planta longitudinal em cruz latina; a
fachada assemelha-se a um arco do triunfo com 4 pilastras de ordem gigante
-- abóbada de beiço sobre nave retangular e abóbadas transversais
sobre capelas laterais intercomunicantes (é uma igreja de uma só nave)
-- inspiração na basílica romana de Constantino
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Fig.19- IGREJA DE SANTO ANDRÉ, em Mântua
Igreja de Santo André, em Mântua
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1 de outubro de 2010
AS NOVAS TIPOLOGIAS ARQUITETÓNICAS. O URBANISMO E A
CIDADE IDEAL
Neste momento temos 2 linhas importantes: Brunelleschi e Alberti. As
inovações de Brunelleschi foram mais seguidas (e Alberti também já é um pouco um
seguidor de Brunelleschi).
OS CONTINUADORES DE BRUNELLESCHI E A RENOVAÇÃO
TIPOLÓGICA DO RENASCIMENTO
Na arquitetura:
. Igreja de planta centralizada
. Divulgação da planta em cruz grega
. Palácios
. Casas de campo (casa de férias que fosse também um centro agrícola) com
jardins bem arranjados – recuperação do modelo das villas romanas
. Aparecimento de um novo espaço urbano: praça pública organizada/planeada –
tem forma geométrica e é desenhada coerentemente
. A nova fachada de igreja (que Alberti inventou) – modelo na fachada de Santa
Maria Novella (com aletas)
34
Seguidores de Brunelleschi:
1.MICHELOZZO – o renovador do palácio tipo e do espaço religioso e
das villas
. Palácio Médicis – Riccardi (Fig. 20)
Fig. 20 - Palácio Médicis – Riccardi
35
Planta e Corte do palácio
– palácio retangular com um pátio no meio; sem pilastras e sem
entablamento; marcação da horizontalidade; janelas ritmadas e alinhadas; o
acabamento com pedra vária de piso para piso (o de cima tem a pedra
36
completamente aparelhada, o de baixo tem a pedra rusticada, em estado bruto,
como se fazia nas pontes romanas, por exemplo); tem uma cornija muito saliente
. Igreja do convento de S. Annunziata, em Florença (Fig.21) –
regularidade
Fig.21- Igreja do convento de S. Annunziata, em Florença
. Vilas dos Médicis nos arredores de Florença:
-- reconversão da Villa Médicis (em Cafaggiolo) –
modernizou-a (ela ainda tinha um aspeto muito acastelado e medieval) ( Fig.22)
Fig.22- Villa Médicis (em Cafaggiolo)
37
-- Villa Médicis (em Fiesole)( Fig.23) – feita de raiz, no
cimo de um monte e há uma clara procura da regularidade
Fig.23- Villa Médicis em Fiesole
1.
GIULIANO DE SANGALLO – nasceu depois de Brunelleschi
ter morrido mas foi um grande seguidor seu.
. Palácio Struzzi (em Florença) ( Fig.24) – muito parecido com os de
Michelozzo (cornija saliente, horizontalidade marcada, janelas alinhadas, pedra
rústica)
-- as janelas ainda se aproximam das
janelas medievais (têm mural mas são de volta inteira, as medievais eram de
arcos quebrados)
38
Fig.24- Palácio Struzzi (em Florença)
39
. Sacristia da igreja de Santo Spirito (Florença) ( Fig.25) – começada
por Brunelleschi
-- sacristia de planta octogonal com cúpula, dentro da linha de Brunelleschi
Fig.25- Sacristia da igreja de Santo Spirito (Florença)
. Villa Médicis (em Poggio a Caiano)(
Fig.26)
– é uma villa
claramente Renascentista, com jardim e zona agrícola organizada e casa.
-- casa com planta e fachadas
regulares elevada sobre um pódio, com pórtico com colunas e frontão: há uma
simetria biaxial.
Fig.26- Villa Médicis em Poggio a Caiano
40
Planta
. Igreja de Santa Maria delle Caruti (em Prato) – planta em cruz grega,
2 pisos (ordem dórica em baixo e jónica em cima), cúpula igual à de
Brunelleschi
A planta em cruz grega teve um grande desenvolvimento, por exemplo: a
Igreja de S. Baggio (já no séc. XVI) feita por António de Sangallo, o velho. (
Fig.26)
Fig.26- Igreja de S. Baggio
41
6 de outubro de 2010
OS ESTADISTAS E A CIDADE IDEAL
Fig.27-A-Aspeto de uma cidade Ideal ( radiocentrica)
A CIDADE IDEAL( Fig.27)
Há uma intenção em relação à concepção global da cidade – lançada por
Alberti na teoria do séc. XV: inspirada diretamente no Vitrúvio – dá todos os
perceitos para o plano da cidade.
Esta necessidade de pensar a cidade como um todo é depois abraçada por
todos os tratadistas, que dão importância a:
. Distinção Albertiana entre a grande cidade de estrutura regular e a
pequena cidade de ruas turtuosas
. Ideal renascentista da perfeição formal e a cidade radiocentrica ( a
cidade perfeita é de planta centralizada) ( Figs.27-Ae 27-B)
Também estes tratadistas quiseram dizer como se fazia cidade: aparecem
mais tratados.
42
FILARETE (1400-1465) – pseudónimo de Antônio di Pietro Avelino –
tratadista
Fig.27-B- Ciudad imaginaria y en cierto modo mágica, Sforzinda,
bautizada así en honor del mecenas de Filarete.
. Originário de Florença, viveu em Roma, fixou-se em Milão onde foi
responsável pela construção (parcial) do Grande Hospital de Milão (é um
hospital novo com uma concepção regular em torno de pátios)
. Fez várias obras ao serviço do duque de Milão
. Fez o “Trattato de Architettura” ( Fig.28) – é um tratado com imagens
(ao contrário do tratado de Alberti), entrelaça várias histórias e é escrito em
italiano vulgar – organizado em 25 livros
-- no meio de todas as histórias entrelaçadas há uma história
principal em diálogo entre um arquiteto (que seria ele próprio) e um príncipe da
Renascença
-- descreve a cidade como uma planta em esltrela de 8
pontas, muralhada: cidade radiocentrica, ruas radiais, praça central
43
FRANCESCO DI GIORGIO MARTINI (1439-1501)
Fig. 28-Francesco di Giorgio, Trattato di architettura
. Natural de Siena, foi chamado a Milão por Eiangaleazzo Sforza
. “Trattato d`architectura civile e militare”: faz a compilação e reexame
de todos os conhecimentos arquitetónicos do 1º Renascimento
-- faz variantes tipológicas da cidade ideal, do palácio
-- renovação e desenvolvimento da arq. Militar – fortaleza
abaluartada (com baluartes)
. Autor da Igreja de Santa Maria del Calcinaio ( Fig.29) – planta em
cruz latina, frontão, arco de volta inteira. Ideias clássicas e renascentistas, fundo
branco e elementos estruturais cinzentos, cúpula octogonal sem nervuras
44
. Ideia de pensar a cidade no seu todo – a cidade é sempre regular, de
preferência com as proporções do corpo humano aplicadas, existência de uma
praça (ou mais)
. Apropriação do plano da cidade ao desenvolvimento de armas de fogo:
existência de baluartes (fortalezas militares salientes da muralha da cidade para
albergar a artilharia militar – armas de fogo, canhões – e fazer fogo cruzado).
Fig.29- Igreja de Santa Maria del Calcinaio
A cidade é pensada por estes dois tratadistas como uma coisa nova,
desenhada de raiz, o mais perfeito possível. Mas as cidades deste tipo não foram
construídas neste tempo porque não eram precisas: as cidades existentes ainda
não estavam lotadas e por isso não eram necessárias cidades novas.
Nesta altura, o que estava a ser cultivado não era a coletividade mas sim
o individualismo: em vez de cidades, construíam-se edifícios individuais. A
cidade ideal permanece apenas na teoria.
Por outro lado, a arq. Militar foi desenvolvida: foram construídas muitas
fortalezas abaluartadas.
45
8 de outubro de 2010
A DIFUSÃO DO RENASCIMENTO E AS PRIMEIRAS
REMODELAÇÕES URBANÍSTICAS
DIFUSÃO DO RENASCIMENTO NA PENÍNSULA ITÁLICA
Os pequenos estados itálicos e as respetivas famílias dominantes tiveram
uum importante papel na divulgação do Renascimento pela península itálica: os
Malatesta (em Rimini), os Gonzaga (em Mântua), os Este (em Ferrara), os
Montefeltro (em Urbino), os Sforza (em Milão) e os Médicis (em Florença).
AS INTERVENÇÕES PONTUAIS DAS PRIMEIRAS
EXPERIÊNCIAS URBANÍSTICAS
A partir do séc. XV surgem as primeiras remodelações/renovações
urbanísticas
PIENZA (Papa humanista e conhecedor da obra de Alberti – Pio II)
. Tanto os palácios como as igrejas tentam cumprir os princípios
renascentistas (igreja com fachada de templo; no palácio a fachada introduz as 3
ordens segundo o piso)
. Prenúncio das preocupações paisagísticas: a criação das Loggia –
varandas no palácio que foram construídas com o objetivo de gozar a paisagem
URBINO – Estado onde a arquitetura teve um desenvolvimento muito
grande
Político, humanista e arquiteto amador – Frederico de Montefeltro
. O palácio em renovação desde 1450 – existência das loggia
. São concebidas com os preceitos clássicos (considerado o primeiro
modelo de janela renascentista)
46
DIVULGAÇÃO DO RENASCIMENTO NA EUROPA
Na Europa, o Renascimento foi essencialmente entendido em termos de
decoração – a exportação do Renascimento não foi entendida com os seus
princípios construtivos, mas sim de uma forma muito superficial: aglomeração
de elementos clássicos de uma forma exaustiva (decoração gótica com
elementos clássicos). Há inclusivamente decoração renascentista sobre estruturas
góticas
Principais meios de divulgação das novas ideias e ideiais:
. Intercâmbio de artistas e de obras de arte
. Circulação de gravuras e dos tratados de arquitetura (mesmo em
cópias manuscritas)
Divulgação do Renascimento em França:
. Campanhas militares francesas no norte de Itália
. Artistas italianos em França
. Construtores franceses e “decoradores” italianos
A simbiose de medievalismo e renascentismo nos castelos do Loire:
Há cooperação entre o arquiteto francês (regia os conceitos medievais) e
o decorador italiano (revestia as fachadas com elementos clássicos)
São características a altura dos castelos, a irregularidade das janelas e as
escadas em caracol.
13 de outubro de 2010
O CINQUECENTO E O CASO PARTICULAR DE LEONARDO
DA VINCI
Enquanto o Renascimento se difunde pelo resto da Europa, no séc. XVI
continua a vanguarda italiana.
47
DADOS ADQUIRIDOS NO QUATTROCENTO – séc. XV
. Rutura com o Gótico e ir buscar influências clássicas – o modelo da
Antiguidade
. O modelo da Natureza
. Desenvolvimento de um certo cientifismo
. Humanismo
. Individualismo – diferença entre arquiteto e construtor
. A Perspetiva e a conquista da terceira dimensão
. Importância do número, da medida e da proporção
. A emancipação dos artistas e da atividade artística
. Os artistas abarcam um vasto leque de conhecimentos em diversas
áreas
Todo o séc. XV tem um caráter experimental e de afirmação de obras
arquitetónicas novas. No final do séc. XV estas experiências feitas ao longo do
séc. passam a ser dados adquiridos, que já não são apenas hipóteses mas sim
certezas – há um ponto de chegada.
Por esta altura, no final do séc. XV, a vanguarda deixa de estar em
Florença e passa a estar em Roma, a cidade papal – porque foi nesta altura que
se reunificou em Roma o papado novamente, e que a economia recuperou –
houve necessidade de fazer novas obras para reabilitar a cidade – Roma tornouse um centro tão atrativo como Florença tinha sido. Os arquitetos começam a ir a
Roma para participar na reabilitação da cidade.
É no início do séc. XVI que se ergue em Roma a nova Basílica de S.
Pedro.
ROMA – cidade da vanguarda cultural e artística:
. valorização da sede da cristandade
. a procura do antigo esplendor
. tentativa de superação dos antigos movimentos pagãos pelos
modernos movimentos cristãos
-- Começam a fazer-se grandes obras em Roma
48
NOVOS DADOS DO CINQUECENTO – SÉC. XVI – ALTO
RENASCIMENTO
. Consolidação e desenvolvimento dos dados adquiridos durante o séc.
XV (Quattrocento)
. Maior afirmação do Individualismo – culto da personalidade – o artista
é uma pessoa superior, é um génio soberano
. A idéia de “criação” – passa a considerar-se que a obra do artista é uma
obra de criação (enquanto anteriormente o único criador era Deus)
. A noção de perfeição nas obras do início do séc. XVI – a realização da
harmonia e da perfeição
. A exploração do efeito visual sobre o espectador (especialmente na
pintura/escultura)
. A separação da própria Antiguidade
Há então nesta época um leque de arquitetos importantes, considerados
“génios” do início do séc. XVI:
LEONARDO DA VINCI (1452-1519) – nascido em Florença, trabalhou
em Milão (discípulo de Verruchio), morreu em França. ( Fig.30)
49
Fig.30 Leonardo da Vinci – Vitruvian Man}. Heaven sometimes
sends us beings who represent not humanity alone but divinity itself, so that
taking them as our ...
Da Vinci é um caso particular porque não utiliza muitas destas ideias
novas do início do séc. XVI.
É um homem universal – levou ao limite a capacidade de interesse por
todas as disciplinas nos campos da arte, ciência e cultura mas apresentava-se
sobretudo como pintor e engenheiro militar.
Embora tentasse sempre atingir a perfeição e a harmonia, foge a algumas
“regras” do séc. XVI:
. Não foi em Roma que se tornou um artista importante
. Dá pouca atenção à Antiguidade
Nos outros aspetos, Da Vinci insere-se perfeitamente nas ideias do Alto
Renascimento. Dá importância às proporções (o homem perfeito inscrito num
círculo), ao equilíbrio e à harmonia, à ideia da perfeição.
CADERNOS DE DESENHOS – faz desenhos com igrejas de planta
centralizada com as mais variadas formas que refletem os problemas que se
punham no âmbito da planta centralizada no início do séc. XV – no entanto é
apenas uma reflexão: não se conhece nenhuma obra arquitetónica atribuída a
Leonardo da Vinci
. Será Da Vinci um teórico especulador que precede e influencia os
outros arquitetos do séc. XVI com as suas ideias? Ou será que pensa sobre o
trabalho por eles já realizado? Ou ambos?
. Fará Da Vinci a exploração teórica dos problemas que Bramante
enfrenta na prática?
50
15 de outubro de 2010
DONATO BRAMANTE (1444-1514) – nascido na região de Urbino,
ganhou fama como “arquiteto de interiores”
Bramante é considerado um homem do Alto Renascimento e torna-se
uma figura muito importante em Roma, onde faz obras típicas do séc. XVI.
Juntamente com Brunelleschi (para o séc. XV), Bramante (para o séc.
XVI – início) é o grande arquiteto impulsionador do Renascimento.
Aprendeu pintura com Piero della Francesca, viajou muito por Itália e
fixou-se em Milão onde acabou por se dedicar cada vez mais à pintura
arquitetónica (pintava arq. nos vãos cegos dos edifícios) – pintura ilusória.
Começa a dedicar-se a pouco e pouco à arquitetura, utilizando vários
aspetos que aprendeu enquanto viajou por Itália – junta a vanguarda com
algumas características da arq. do norte de Itália, que era uma arq. com muita
decoração artificial.
Faz uma síntese das tendências artísticas afetas aos lugares por onde
passou.
Uma das primeiras obras de Bramante foi a ampliação da IGREJA DE
S. MARIA PRESSO S. SATIRO (Milão):( Fig.31)
Fig.31- IGREJA DE S.
MARIA PRESSO S. SATIRO
51
. Utilização de óculos – janelas com circunferência
. Decoração superficial com elementos clássicos – pilastras
. Abóbada de berço com 3 naves
. Cúpula no cruzeiro
. A capela-mor não existe – foi pintada na parede (pintura ilusória
feita por Bramante)
Outras obras de Bramante:
Igreja de S. Maria delle Grazie (Milão) (Fig.32) – fez a cabeceira e o
claustro (o resto da igreja é gótica)
-- fez uma estrutura autónoma com uma volumetria simples
(estrutura quadrada com cúpula semi-esférica): aproximação a Brunelleschi –
proporções simples.
-- do exterior a cúpula não é semi-esférica.
-- reboco e tijolo com decoração arquitetónica à maneira do norte
de itália.
-- utilização de pilastas candelabro (colunelos decorativos).
-- colunas de ordem coríntia no claustro.
Fig.32- Igreja de S. Maria delle Grazie (Milão)
52
Basílica de S. Ambrósio (Milão)( Fig.33) – é uma basílica paleo-cristã
com obras da época românica – Bramante fez 2 claustros: o dórico e o jónico.
-- ainda acenta os arcos sobre as colunas (algo que os
romanos não faziam)
Fig.33 Basílica de S. Ambrósio (Milão)
53
Planta da Basílica de S. Ambrósio (Milão)
Quando os franceses conquistam Milão, Bramante vai para Roma
desenhar e estudar as ruínas romanas e começou a ser chamado para fazer
algumas obras:
Convento de Santa Maria della Pace (Roma)(Fig.34) – claustro em
quadrado – os arcos estão apoiados não em coluna, mas em pilares e sobrepôs
aos pilares uma pilasta com ordem arquitetónica (semelhante ao que os romanos
faziam).
-- utilização de proporções e geometria simples
Fig.34-Convento de Santa Maria della Pace (Roma)
54
Template de S. Pedro in Montório (Roma)( Fig.35) – Igreja de planta
centralizada circular (algo que ainda só existia como ideal e que ainda nunca
tinha sido feito)
-- cúpula semi-esférica
-- colunas com entabelamento dório em cima
Fig.35- Tempieto de S. Pedro in Montório (Roma)
55
Corte do Tempieto de S. Pedro in Montório
Palácio Caprini (Roma) ( Fig.36) – afirmação da verticabilidade do
piso superior (enquanto no séc. XV era a horizontalidade)
-- janelas com frontão
-- arcos de volta perfeita
-- aproximação aos romanos: piso inferior para lojas/comércio e
piso superior
56
Fig.36- Palácio Caprini (Roma)
Bramante começou a ganhar prestígio e foi chamado pelo Papa Júlio II
(que tentava unificar Itália e desenvolver Roma como centro da vida espiritual,
cultural e política) para ser arquiteto do Vaticano e urbanista de Roma:
Pátio de S. Dâmaso e Jardim de Belvedere (Vaticano) – acabado por
Rafael
-- arcos que acentam em pilares com pilastas decorativas
57
BASÍLICA DE S. PEDRO
Fig.37- Basílica de S. Pedro em Roma
O Papa queria que fosse uma obra que ultrapassasse todos os do seu
tempo e as da Antiguidade.
Para fazer esta nova basílica aconselha-se com Giuliano da Sangallo, Fra
Giocondo e Bramante: todos eles fazem um concurso para o projeto da basílica.
Giuliano da Sangallo convence o Papa a fazer uma basílica com planta
centralizada e cúpula.
Foi Bramante que fez o projeto centralizado para a basílica de S. Pedro:
. Um grande edifício em planta de cruz grega com várias miniaturas
acopuladas
. Várias cúpulas semi-esféricas
. O projeto de Bramante não foi totalmente construído porque
Bramante e o Papa morreram – ficou definida a estrutura da basílica mas a partir
daí outros arquitetos continuaram o projeto até que o novo Papa leão X atribuiu
a Rafael a direção das obras de S. Pedro (Rafael já havia colaborado com
Bramante)
58
Fig.38 Praça de S. Pedro em Roma
20 de Outubro de 2010
RAFAEL SANZIO (1483-1520)
Tal como Bramante, nasceu na zona de Urbino e era seu discípulo. Era
essencialmente pintor mas fazia um pouco de tudo e tinha uma grande
capacidade de dirigir equipas (e foi também por isso que foi escolhido para
continuar a obra de Bramante na basílica de S. Pedro).
Rafael acaba por ser mais importante para a arquitetura devido à
formação de discípulos do que propriamente a obras realizadas por ele – Rafael
dirigia as obras, essencialmente.
Trabalhou em Urbino; em Florença (ao mesmo tempo que Da Vinci e
Miguel Ângelo), onde se influenciou pelo contacto com as vanguardas; mas
acabou por se estabelecer em Roma, ajudado por Bramante.
59
Ficou conhecido como um pintor de Madonas (Nossa Senhora) e só
começou a dedicar-se à arquitetura quando a carreira de pintor já estava
amadurecida. Teve aulas de arquitetura com Fra Giocondo.
Rafael respondeu a um leque muito variado de solicitações e encomendas
mas fixou-se na idéia de perfeição (equilíbrio, serenidade, classicismo) e
harmonia, própria do Alto Renascimento.
Fez também pinturas arquitetónicas e frescos – equilíbrio total das
representações, figuras estáticas, composições em triângulo, o domínio da
perspectiva, a serenidade, a idéia de ausência de esforço.
Algumas obras de Rafael
. Capela Chigi( Fig.39) (na igreja de Santa Maria del Popolo)
-- capela funerária para a família Chigi
-- planta em quadrado com os cantos cortados: planta
centralizada
-- cúpula circular
Fig.39- Capela Chigi (na igreja de Santa Maria del Popolo)
60
Cúpula Capela Chigi (na igreja de Santa Maria del Popolo)
. Villa Madona ( Fig.40) -- a casa passa a ter um papel menor: o que
interessa é a zona verde
-- inspirada no modelo de villa romana (tanto a casa
como a organização do jardim)
-- loggia enorme que se abria para o jardim (inspirado
nas termas romanas)
Fig.40- Villa Madona
61
CRISE NO RENASCIMENTO
Com a morte de Rafael, desapareceu a idéia da existência de um ser
superior no meio das Artes. Para além disso, durante os anos 20 deu-se início à
Reforma Protestante: Lutero reivindicava a reforma da organização da Igreja e
surgem vários grupos religiosos, dividindo a Europa.
Em 1527 Carlos V invade Roma como forma de demonstrar o seu poder
face ao Papa – muitos artistas abandonam Roma, indo para outras zonas de
Itália.
Instala-se uma crise artística, religiosa e social – período de incertezas
que se estende desde os anos 20 até ao final do séc. XVI.
MANEIRISMO – período de crise artística que está entre o Alto
Renascimento e o Barroco.
-- apesar de se conhecer as regras clássicas e as idéias de perfeição,
começam-se a subverter os códigos existentes: ambiguidade e contradição no
conceito de Maneirismo
-- fazem-se experimentações
3 de novembro de 2010
Desde os anos 20 até ao final do séc. XVI com a crise religiosa e social a
acentuar a instabilidade, vem a crise artística, nomeadamente a crise do
Renascimento. Nesta época de transição do Alto Renascimento para o Barroco,
aparece o Maneirismo que, ao contrário dos primeiros dois, não é um estilo
global – não há uma época maneirista como há uma época renascentista e uma
época barroca. Apenas na pintura o Maneirismo pode ser considerado um estilo.
62
No que se refere a arquitetura o Maneirismo pode ser chamado de crise
renascentista.
MANEIRISMO/CRISE DO RENASCIMENTO – é um movimento
individual: cada um procura uma solução sua – uns rejeitam as regras anteriores
e outros renovam o interesse pelo início do Renascimento.
Este tempo de crise no Renascimento dá margem para vários fenómenos,
sendo que para a arquitetura o Maneirismo acaba por não ser muito importante.
MIGUEL ÂNGELO (1475-1564)
Miguel Ângelo aparece no período de transição do Alto Renascimento
para a época de Crise no Renascimento porque, embora tivesse sido sempre
uma figura de proa, tinha facilidade em subverter as regras clássicas.
Miguel Ângelo tinha uma personalidade instável: representa o protótipo
do génio solitário e incompreendido e por isso propício à experimentação da
crise do Renascimento.
Nasceu em Florença, fez pintura, escultura, arquitetura e poesia, mas
considerava-se um escultor.
Foi chamado a Roma por Júlio II, a conselho de Giuliano da Sangallo
mas regressa a Florença.
Estabeleceu-se definitivamente em Roma em 1534.Algumas obras
arquitetónicas de Miguel Ângelo:
Sacristia Nova de S. Lourenço (Florença) (Fig.41) – Brunelleschi já
havia feito uma sacristia nesta igreja mas a de Miguel Ângelo em muito difere
da de Brunelleschi: desproporção das portas (pequenas) e janelas (grandes);
ambiente de ccenário.
63
Fig.41- Sacristia Nova de S. Lourenço (Florença)
Biblioteca Laurenciana ou Mediceia (Florença)(Fig.42) – é um corpo
muito comprido em ligação com uma zona de entrada com um enorme pé direito
e uma escada cenográfica que praticamente enche todo o espaço de entrada
64
Fig.42- Biblioteca Laurenciana ou Mediceia (Florença)
Escadaria da Biblioteca Laurenciana
Planta da Biblioteca Laurenciana
65
ATITUDE SUBVERSIVA EM RELAÇÃO ÀS REGRAS – Miguel
Ângelo faz coisas que não são para o seu efeito funcional – as coisas são feitas
cenográficamente, para impressionar: a forma é tratada como um elemento de
cenário e não apenas funcional ou estrutural (como anteriormente).
Os elementos clássicos continuam a ser usados mas não da mesma
forma: são usados de uma forma plástica e cenográfica – SENTIDO
CENOGRÁFICO de Miguel ÂNGELO.
Praça do capitólio (Roma) (Fig.43) – tem a forma de um trapézio para
fazer cenário e causar uma impressão forte (anteriormente eram preferidas as
formas puras como o círculo ou o quadrado – o trapézio foge à regra). Junto da
praça há um edifício muito estreito (de função quase só cenográfica) com
pilastas a acuparem 2 andares (a ordem gigante) e com frontões curvos que não
acentam sobre as janelas (o frontão não é usado para proteger a janela: tem uma
função plástica)
Fig.43-Praça do capitólio (Roma)
66
Igreja de Santa Maria dos Anjos (Roma)( Fig.44) – adaptado das
termas de Diocleciano: Miguel Ângelo aproveitou o espaço existente – utiliza
formas cheias de imaginação e irregulares.
Fig.44-Igreja de Santa Maria dos Anjos (Roma)
Palácio Farnese (Roma) ( Fig.45) – Miguel Ângelo herdou as obras de
António Sangallo: planta retangular com um pátio quadrangular ao meio; pisos
bem marcados (como no séc. XV) com marcação de horizontabilidade mas as
janelas já são do séc. XVI.
Fig.45-Palácio Farnese (Roma)
67
Basílica de S. Pedro (Roma) Fig.46 – projeto inicial de Bramante
(planta centralizada), Rafael regressa à planta longitudinal; ao Rafael sucede
António daSangallo que introduz uma solução de compromisso (planta
centralizada com um aspeto longitudinal devido a uma fachada de 2 torres);
Miguel Ângelo volta à planta centralizada mas com algumas variantes e com o
perímetro da igreja um pouco reduzido para dar maior protagonismo à cúpula
apontada ao cenntro (inspirada na obra de Florença de brunelleschi muito tempo
antes).
Fig.46-Basílica de S. Pedro (Roma)
68
5 de novembro de 2010
A CRISE DO RENASCIMENTO NA ARQUITETURA
A crise do Renascimento na arquitetura manifestou-se de diferentes
formas:
. Experimentalismo erudito e anti-clássico nalguns autores – a
subversão e a renúncia das regras
. Mas também, e simultaneamente, o reforço do classicismo
nalguns autores
69
Não há então neste período uma única corrente arquitetónica.
Desenvolve-se também neste período de crise no Renascimento o
paisagismo: construção de villas com especial destaque para o jardim em
detrimento da casa – a regra intelectual imposta à Natureza e o gosto
cenográfico.
A situação na Arquitetura não coincide com a situação da Pintura. Na
pintura sim, podemos falar de um movimento Maneirista:
. a sensação de impasse a que conduziu a “perfeição” renascentista
. a fuga à perspetiva – ausência de profundidade, as personagens
apinhadas no 1º plano
. a fuga ao idealismo – as pinturas como construções cenográficas
. a indiferença pelo tema – a pintura como soma de efeitos
especiais (o tema é só um pretexto)
. a fuga à proporção e ao equilíbrio – a deformação, alongamento e
ondulação dos corpos
. procura da sensação de frieza nas cores – o tom geral do quadro é
frio
. o desequilíbrio das personagens no quadro (muitas vezes o
quadro até corta as pessoas)
. já não há a procura de representar as personagens de uma forma
estática
A Arquitetura não se enquadra numa corrente deste tipo devido à
componente de irrealismo e cenografia que existe no Maneirismo.
Nesta altura, os discípulos de Rafael tiveram uma grande importância e
assumiram vias diferentes.
BALDASSARE PERUZZI (1481-1536) é um desses discípulos:
. Villa Forresina (Roma) (Fig.47 )– séc. XVI, ainda parte do Alto
Renascimento – loggias, poucas estruturas habitacionais: o que importa é a
70
relação com o jardim; 2 pisos com divisão horizontal e pilastas; existência de
mezzanines em cada piso; entabelamento, elementos clássicos.
Fig.47- Villa Forresina (Roma)
.Palácio Massimo alle Colonne (Roma)(Fig.48) – séc. XVI, já parte
da época de crise do Renascimento – curvatura desnecessária da fachada (efeito
cenográfico); a separação dos pisos já não é tão evidente; loggia (o que não era
habitual nos palácios urbanos) de colunas emparelhadas; os 2 mezzanines
agrupados no piso de cima.
Fig.48-Palácio Massimo alle Colonne (Roma)
71
Nesta altura muitos arquitetos começaram a investir muito nos jardins –
PAISAGISMO:
.Villa Médicis (Roma) Fig.49 – loggia de colunas emparelhadas com
um arco axial: gerliana ou inutivo de Palládio
Fig.49.Villa Médicis (Roma)
72
Paisagismo e cenografia: a importância dos jardins, da paisagem – a casa
como um fundo de cenário para o jardim.
.Villa d`Este (Tivoli) (Fig.50)– Novamente a casa apenas como cenário
de fundo para jjardim – a casa é bastante simples, o que interessa são os jardins.
Fig.50-Villa d`Este (Tivoli)
73
. Villa Julia (Roma) (Fig.51) – Janelas com frontão separado da janela;
villa construida segundo um eixo, colunas com pedras rústicas (exagero
cenográfico); lloggia semi-ciircular; importância dos jardins.
Fig.51. Villa Julia (Roma)
Arquitetos que, sendo também pintores, fizeram uma arquitetura mais
próxima do Maneirismo:
74
GIULIO ROMANO (1492-1546) – arquiteto maneirista
. Palácio Ducal (Mântua) (Fig.52)
. Casa de Julio Romano (Mântua)–(Fig.53) não há elementos
canónicos, ambiguidade entre a cornija e o frontão.
75
. Pallazo del Té (Mântua) (fig.54) – pedra saliente (efeito
cenográfico); entabelamento com pedras desalinhadas: (efeito cenográfico e
decorativo) triglifos que parece que vão cair.
Fig.54 Pallazo del Té (Mântua)
BERNARDO BUONTALENTI
. Escadas na Igreja de S. Jacob Soprano (Florença) – efeito
plástico/cenográfico: são mais para ver do que para usar.
76
. Portas na Galeria dos Ofícios Fig.55 – frontão partido e invertido
– elemento clássico usado exclusivamente para decoração: brinca com os
elementos clássicos.
Fig.55- Portas na Galeria dos Ofícios
FREDERICO ZUCCARI
. Casa própria (Roma) (Fig.56) – brinca com os elementos clássicos
(caras esculpidas nas portas e janelas)
Fig.56-FACHADA DEL PALACIO ZUCCARI 1590-1598, FEDERICO ZUCCARI, ROMA
77
Estes dois últimos exemplos são brincadeiras com os elementos
clássicos: é o limite do exagero.
10 de novembro de 2010
TRATADISMO
Desde o início do séc. XVI começaram a ser feitas escavações
arqueológicas (chamadas de “antigualhas” ou antiguidades). O novo olhar para
as Antiguidades recupera o interesse pelo Classicismo, tal como tinha
acontecido no séc. XV. O novo interesse pela Antiguidade e pelas origens trouxe
também de novo o interesse pelo Tratado de Vitrúvio – há um novo olhar e uma
nova vontade de utilizar o Tratado de Vitrúvio como guia: foram feitas novas
edições (a primeira por Fra Giocondo) por toda a Europa.
Foi renovado o interesse pelas fontes da Antiguidade provocado pelas
descobertas arqueológicas das equipas dirigidas por Rafael – novo regresso à
origem.
Novas tentativas de compatibilização das normas de Vitrúvio com as
ruínas romanas: não se encontrou coincidência entre a teoria e a prática (tal
como tinha acontecido no séc. V).
Apareceram então novos tratados devidos também à necessidade de
apontar caminhos em época de crise e de codificar modelos e processos para
arquitetos menores e curiosos.
Características gerais dos tratados do séc. XVI (em comparação com
os do séc. XV):
.deixam de conceber a cidade como um todo (falam dos edifícios
individualmente)
.deixam de constituir um conjunto de normas aplicáveis a situações
concretas e passam a servir de compêndio com modelos copiáveis – os tratados
do séc. XVI são manuais para tirar idéias, os do séc. XV eram verdadeiras
teorias
78
. utilização de exemplos do próprio autor ou dos seus contemporâneos
(tentativas de reconstituições de edifícios da Antiguidade
. senações (“rankings”) de arquitetos cujo valor era aferido em relação
à Antiguidade e a Vitrúvio – o Tratado de Vitrúvio deixa de ter um valor
documental para se tornar um verdadeiro guia
Alguns tratados e autores fundamentais do “Cinquecento”:
SÉRLIO (1475-1555) – “Tutte l´o pere d´Architettura” (1537)
. Publicado várias vezes e de diferentes formas (em versões parciais)
até ao início do séc. XVII
. Não se conhecem obras arquitetónicas verdadeiramente construídas
atribuídas a Sérlio
. O Tratado de Sérlio foi o tratado mais utilizado no séc. XVI e XVII
mas depois começou a perder importância – nos séc. XVI e XVII foram
seguidos os 5 primeiros livros do Tratado (os últimos 2 só foram publicados no
séc. XX)
VIGNOLA (1507-1573) – “Regola delle Cinque Ordini d´Architectura”
(1562)
. Foi o que foi utilizado durante mais tempo em Portugal e até mais
tarde: era utilizado como um manual para aprender a fazer arquitetura
. O texto pouco mais é que as legendas das figuras
. É mais canónico que Sérlio
PALLADIO (1508-1580) – “I Quattro Libri dell´Architettura” (1570)
. O tratado mais equilibrado entre texto e imagem e o que tem menos
caris de manual: é o tratado mais consistente dos 3 – teve importância sobretudo
na zona anglosaxónica e em todo o norte da Europa e nos EUA até bastante
tarde
. Nasceu uma corrente chamada Palladianismo
. Tratado dividido em quatro livros
79
VASARI (1511-1574) – “Le Vite” (1550)
. É um livro, mas não é um tratado, sobre as vidas dos melhores
arquitetos, pintores e escultores até ao seu tempo – dá-nos informação biográfica
sobre uma quantidade imensa de autores
. É a primeira “História de Arte”
12 de novembro de 2010
PALLADIO E A ARQUITETURA DE VÉNETO NO SÉC. XVI
VÉNETO – Estado cuja capital é Veneza: esteve muito dedicado às
relações comerciais e a introdução do Alto Renascimento em Veneza foi tardia
devido à sua localização geográfica a norte e à sua ligação ainda forte com a
Arquitetura Gótica.
-- O saque de Roma (1527) produz um movimento de emigração
de artistas para Veneza e começa a dar-se mais importância à terra firme e em
consequência à Arquitetura.
Começam a construir-se villas no Véneto, em terra firme – eram centros
agrícolas (começou a dar-se mais importância à agricultura porque o comércio
marítimo começava a ser dominado por Portugal).
-- Com a necessidade de mais construção, a Arquitetura torna-se
mais importante no Véneto.
É neste contexto que emerge PALLADIO:
Começou como pedreiro mas era muito dotado e aprendeu muito com
Gianogorgio Trissino – a pouco e pouco foi-se tornando arquiteto. Fez viagens a
Roma mas estabeleceu-se em Veneza, no Véneto.
A sua obra mais conhecida foi o Tratado “L Qattro Libri
dell`Architettura”: que é o mais completo.
80
O Tratado de Palladio é o único que tem em conta o pensamento (e o
tratado) de Alberti, e não só o de Vitrúvio, como acontece com os outros
autores.
Em Palladio, a teoria tem uma grande correspondência com a sua própria
obra construída (exceto no caso das igrejas, que foram construídas depois do
tratado ter sido escrito). Em algumas villas a correspondência entre teoriaprática não é muito clara.
Principais características da Arquitetura de Palladio:
. Tentativa de ser o mais clássico possível: quis ser mais romano do
que os próprios romanos e acaba por fugir, inconscientemente, à norma clássica
– levou o Classicismo a um tal extremo que acabou por fazer coisas que os
romanos nunca fariam.
Exemplos da obra construída de Palladio:
. Villa La Malcontenta (Fig.57) – é uma casa com fachada de templo
(algo que os romanos nunca fariam) e no interior tem uma abóbada de berço e
com um pé direito maior do que as restantes divisões e tem uma janela termal (
usa a linguagem clássica em locais que os romanos não usariam). É uma obra
simétrica.
81
Fig. 57- Villa La Malcontenta
. Palazzo Chiericati. (Vicenza) (Fig.58) – pequeno palácio urbano com
loggias sem arcadas, ordem dórica no rés-do-chão, jónica no primeiro piso.
Fig.58- Palazzo Chiericati. (Vicenza)
82
. Loggia do Capitaniato (Vicenza) (Fig.59) – arcada pública de ordem
coríntia gigante; colunas de tijolo rebocadas por fora (algo que os romanos já
faziam).
Fig.59- Loggia do Capitaniato (Vicenza)
83
Basílica( Vicenza)(Fig.60) – arcada com
motivo de Palladio
constantemente repetido; ordem dórica no rés-do-chão; jónica no primeiro.
Fig.60. Basílica( Vicenza)
. Teatro Olímpico (Vicenza) (Fig.61) – tentativa de reconstituição
completa de um teatro romano mas tem algumas diferenças em relação aos
84
teatros romanos: tem cobertura (embora pintada com o céu); a zona da orquestra
não é um semi-círculo (e nos romanos era); é eliptico, assim como as bancadas.
Fig.61-Teatro Olímpico (Vicenza)
Os edifícios religiosos de Palladio são todos em Veneza e já tentam
corresponder à renovação litúrgica da Contra Reforma (a conceção do espaço
pretende-se mais unificada – a igreja quer chamar de volta os protestantes):
. S. Giorgio Maggiore (Vicenza) (Fig.62) – sobreposição de 2 fachadas
com frontões (o que os romanos não fariam) de proporções diferentes; 3 naves;
janelas termais; abóbadas de berço; cova dos frades por trás do altar-mor; espaço
unificado.
Fig.62. S. Giorgio Maggiore (Vicenza)
85
. Il Redentore (Vicenza)( Fig.63) -- mesma complexidade na fachada;
uma única nave (espaço unificado); altares laterais com janelas termais.
Fig.63- Il Redentore (Vicenza)
86
Corte de Il Redentori em Vicenza de Palladio
As Villas:
. Villa Godi (Vicenza) ( Fig.64) – ainda não tem o modelo do templo
urbano que vieram a ter as villas de Palladio.
Fig.64- Villa Godi (Vicenza)
87
. Villa Rotonda((Vicenza)( Fig.65) – a primeira casa particular com
uma cúpula.
Fig.65- Villa Rotonda((Vicenza)
17 de novembro de 2010
MEMORANDO SOBRE O RENASCIMENTO E A CRISE NA
EUROPA:
. Situação da Arquitetura no início do séc. XVI:
. Prolongamento do Gótico tardio em várias regiões (especialmente
na Alemanha e na Inglaterra)
. A decoração renascentista sobre estruturas góticas
. A importância do intercâmbio de obras e artistas na divulgação
do Renascimento
88
. A chegada tardia do Renascimento à Europa não italiana permitiu que
fosse divulgado, por vezes, em simultâneo com os aspetos de crise – é por isso
raro encontrar obras de Renascimento puro na Europa.
. Os grandes veículos de divulgação do Renascimento foram os tratados e
as gravuras – os tratados vão ser utilizados pelo séc. XVII fora e alguns até
bastante mais tarde. Os tratados, embora pretendam ser canónicos, por terem
sido escritos em época de crise no Renascimento, passam alguns modelos nãocanónicos – por isso na Europa ao longo do séc. XVI o canónico perde-se cada
vez mais e por isso é muito difícil separar aquilo que é Renascimento puro e
Renascimento da época de crise.
RENASCIMENTO E CRISE EM PORTUGAL:
. A lenta transformação do modo de entender a Arquitetura e a sua
realização – fazia-se Arquitetura por encomenda, ou “ao romano” (à maneira
clássica) ou “ao moderno” (à maneira gótica).
. A distinção gradual entre trabalho intelectual, próprio das artes liberais
e da Arquitetura, e o trabalho artesanal próprio das artes mecânicas.
. O aparecimento da figura do arquiteto.
. O desenvolvimento de um instrumento técnico – o projeto – apropriado
à comunicação entre o arquiteto e o executante – a Arquitetura como base de
atividade científica.
. O ambiente cultural português no séc. XV:
. a importância dos “Descobrimentos”
. as relações com a Flandres/Borgonha e com os estados italianos
. o “ecletismo” da arquitetura do final da Idade Média
. Valores renascentistas:
. prelados com missões em Itália
. figuras da nobreza em missões diplomáticas, seduzidas pela Itália
do Renascimento
. humanistas italianos contratados como professores dos filhos das
principais famílias portuguesas
. intercâmbio de artistas e encomenda de obras
89
. mobilidade dos mestres pedreiros
-- A Natureza decorativa das manifestações pré-renascentistas:
. Portal da Igreja Matriz de Caminha( Fig.66) – decorativo – é uma
igreja de Gótico tardio com elementos clássicos (entablamento no portal, friso e
cornija, arco de volta inteira) – elementos do tipo dos “grotescos” (fachadas
pintadas com motivos romanos)
Fig.66 . Portal da Igreja Matriz de Caminha
90
-- Os pedreiros “biscainhos” e a decoração “plateresca” (espanhóis que
vieram fazer arquitetura em Portugal e que contactaram e influenciaram os
arquitetos portugueses; vieram pelo norte de Portugal):
. Casa dos Lunas (Viana do Castelo)( Fig.67) A e B – uma típica casa
medieval com janelas e portas com alguns elementos renascentistas, embora a
conceção das fachadas ainda seja medieval e irregular – janelas com pilastras,
entablamento, mainel com capitel vagamente jónico.
Fig.67-A- Casa dos Lunas (Viana do Castelo)
Fig.67-B- Casa dos Lunas (Viana do Castelo)
91
-- Do Manuelino ao Renascimento:
. Portal Sul do Convento de Cristo (Tomar) ( Fig.68)– feito por João
de Castilho (e assinado), portal com decoração renascentista (embora o convento
seja gótico final)
Fig.68. Portal Sul do Convento de Cristo (Tomar)
92
. Empreitada no Mosteiro dos Jerónimos ( Fig.69) – decorações
“grotescas” de sabor renascentista (embora o edifício seja claramente do gótico
tardio) – também por João de Castilho.
Fig.69-Mosteiro dos Jerónimos
Tal como João Castilho, outros pedreiros evoluíram e atualizaram-se e
passaram a chamar-se arquitetos – introduziram o Renascimento em Portugal.
Outro grupo que também introduziu o Renascimento em Portugal foi o
dos escultores-arquitetos franceses, que se fixaram e fizeram escola em Coimbra
– a Renascença Coimbrã:
. Nicolau Chanterenne – Retábulo da igreja do Mosteiro de S.
Marcos ( Fig.70)(com formas típicas da arquitetura renascentista)
93
Fig.70-Nicolau Chanterenne – Retábulo da igreja do Mosteiro de S.
Marcos
-- Retábulo da capela do atual Palácio da Pena ( Fig.71) (com
colunas, entabelamento, arcos)
94
Fig.71-Retábulo da capela do atual Palácio da Pena
-- Túmulo de D. João de Noronha e D. Isabel de Sousa( Fig.72)
(com arco de volta inteira, pilastras e imagens com o realismo próprio do
Renascimento)
Fig.72-Túmulo de D. João de Noronha e D. Isabel de Sousa
95
-- Túmulo de D. Álvaro da Costa (Fig.73) (clareza, elementos
puros, pilastras, entablamento)
Fig.73-- Túmulo de D. Álvaro da Costa
. João de Ruão – Porta Especiosa da Sé Velha de Coimbra ( Fig.74) (
a sé é românica mas o portal lateral tem uma linguagem clássica, que não se
confunde com o Gótico nem com o Manuelino).
96
Fig.74- João de Ruão – Porta Especiosa da Sé Velha de Coimbra
Para além destes grupos de autores, há o caso dos mecenas locais, por
exemplo de D. Manuel da Silva que viajou por Itália e trouxe para Portugal um
arquiteto italiano (Francisco de Cremona):
. No Claustro da Sé de Viseu – de Francisco de Cremona (Fig.75) –
arco em cima da coluna (não estava muito atualizado!)
97
Fig.75- No Claustro da Sé de Viseu – de Francisco de Cremona
Pontualmente começam a aparecer pequenas obras por todo o país que mostram o
sentido Renascentista:
Fig.76 - . Paços do Concelho do Crato
98
Fig.77. Pátio no Palácio de Vila Viçosa
Fig.78. Porta no Palácio da Vila (Sintra)
99
Fig.79 . Janelas de casas comuns (Tomar)
Estas pequenas obras correspondem ao 1º Renascimento português e à
difusão do classicismo renascentista – Renascimento inicial.
100
No Algarve existiu também uma escola renascentista (regionalismo
algarvio):
Fig.80 . Portal da Igreja da Luz (Tavira) – com um frontão e
pilastras
Fig78.
Portal
da Igreja da
Misericórdia (Tavira)
– elementos
clássicos
101
Fig.79. Convento de N. S. da Assunção (Faro) – com telhados em
bico (telhados de tesouro típicos do Algarve), claustro próprio do 1º
Renascimento (tem 2 ordens, uma em baixo e uma no piso de cima; colunas
cilíndricas, sem entasis; capitel de sugestão dórico e de capitel jónico).
102
22 de novembro de 2010
RENASCIMENTO EM PORTUGAL
Primeira metade do séc. XVI:
Renascimento precário em Portugal – muitas vezes a técnica construtiva
era confundida com decoração e portanto não havia a idéia de Renascimento
puro porque era um Renascimento já bastante afastado do cânone.
Os efeitos da política cultural de D. João III – o progressismo cultural
(contribuiu muito para o desenvolvimento do Renascimento em Portugal)
D. Manuel – Gótico final, Manuelino
D. João III (filho de D. Manuel) – tinha uma perspetiva diferente do pai,
que o levou a acarinhar artistas estrangeiros e as novas correntes. D. João III
reflete uma educação Humanista e bastante intelectual (apesar de não ter sido
um aluno brilhante, o ambiente na corte era próprio à troca de ideias e à
valorização intelectual).
103
D. João III fez inúmeras reformas, nomeadamente a Universidade de
Coimbra, que tornam o acesso ao ensino superior muito restrito. Constroem-se
também vários colégios, onde se introduzem algumas novidades arquitetónicas.
A maior parte destes projetos foram executados por Diogo de Castilho,
que demonstrava forte contacto com as ideias renascentistas.
Tal como Diogo de Castilho, também o seu irmão João de Castilho
procurou de uma forma erudita, expressar os valores renascentistas nas suas
obras, ao utilizar planta centralizada e as ordens arquitetónicas, por exemplo.
Grandes obras de patrocínio real:
. Convento de Cristo( Fig.80) – é uma obra gótica: João Castilho fez um
portal que corresponde ao 1º Renascimento português e que, para além de ter
decoração grotesca, exibe também a sua assinatura.
-- 4 claustros em cruz (malha regular) que, ao encaixar na estrutura
gótica, formam um T: o modelo do claustro já é do pré-Renascimento
(nomeadamente em hospitais).
Fig.80-. Convento de Cristo
104
. Rua de Sofia (Fig.81)– Rua com vários colégios: veem-se motivos com
gerlianas, arquitraves, friso, entablamento e cornija, colunas com fuste com
entasis, capitéis claramente jónicos – nota-se um maior domínio da linguagem
renascentista.
105
Obras notáveis desta época (em Portugal):
. Igreja da Graça (Évora) ( Fig.82) – ordem dórica em baixo, ordem
jónica em cima, entablamento; tentativa de perspetivar na arquitetura ao
produzir duas pequenas colunas com o intuito de dar a sensação de
profundidade; sobreposição de frontão com um retângulo (falta de domínio da
linguagem renascentista).
Fig.82-Igreja da Graça (Évora)
Fig.83. Palácio de Salvaterra de Magos (capela) – combina a planta
centralizada com a planta longitudinal; colunas de ordem dórica/toscana; jogo de
planos, na nave octogonal, que remete para uma espécie de suriana.
106
Fig.83. Palácio de Salvaterra de Magos (capela)
. Capela das onze mil virgens (convento de Santo António) Fig.84) –
obra sóbria de linguagem renascentista: arcos de volta inteira, pendentes, capelamor pensada de forma centralizada com uma abóbada de caixotes muito leve (a
intenção em que a cúpula fosse translúcida)
Fig.84-Capela das onze mil virgens (convento de Santo António)
107
. Claustro da Manga (Coimbra): João de Ruão ( Fig.85) – templete
cum cúpula; planta quadrada e planta circular (preceitos do Renascimento);
transição para as plantas centralizadas.
Fig.85- Claustro da Manga (Coimbra): João de Ruão
108
. Capela de Santo Amaro (Lisboa)( Fig.86) – é uma planta centralizada
(que nunca vimos em exemplos italianos) circular com cúpulas semi-esféricas de
caixotões.
Fig.86-Capela de Santo Amaro (Lisboa)
. Capela do Bom Jesus de Valvesal (Évora) ( Fig.87) – capela muito
pequena com uma cruz grega feita da combinação de vários elementos; tudo
feito através de surlianas; cada elemento da planta octogonal corresponde a
abóbadas esféricas.
Fig.87- Capela do Bom Jesus de Valvesal (Évora)
109
. Capela da Conceição ( Fig.88) – obra final de João Castilho –
completamente renascentista: coroamento superior com arquitrave e cornija;
janelas com frontões; planta de 3 naves em cada uma tem uma abóbada de
berço.
Fig.88-Capela da Conceição
110
111
. Claustro Principal do Convento de Cristo( Fig.89) – claustro muito
erudito; colunas a suportar entablamento; colunas e pilares em diferentes planos
(complexidade).
Fig.89-. Claustro Principal do Convento de Cristo
26 de novembro de 2010
RENASCIMENTO EM PORTUGAL
O progressivíssimo cultural de D. João III contribuiu grandemente para o
desenvolvimento do Renascimento em Portugal. Nesta época já há obras com
muitas características renascentistas mas ainda têm um caráter bastante
experimental. Há um ambiente geral culto que possibilita este olhar para o
Renascimento.
112
Mas a crise religiosa, social e artística também chega a Portugal. Houve
grandes consequências no país devido à Contrarreforma (movimentação da
Igreja Católica com o intuito de recuperar os fieis e a força perdida).
A Contrarreforma surgiu com o Concílio de Trento, que reuniu bispos
que se dividiam entre duas posições:
. A compreensão dos motivos dos protestantes e a sensação de que
havia necessidade de um regresso aos valores iniciais da Igreja (a Igreja tinha
que sofrer alguma simplificação): posição para a qual tenderam os bispos
ibéricos.
. A necessidade de uma maior exuberância e de uma maior riqueza
para impressionar e chamar de volta os fiéis.
No séc. XVI foram criadas também novas ordens religiosas.
Em face a esta situação a Arquitetura muda. Em Portugal, em meados do
séc. XVI, assistimos então a uma viragem na Arquitetura, que não se deve
apenas à crise religiosa mas também a uma crise económica que se fazia sentir
devido a uma grande diminuição dos rendimentos provenientes dos
Descobrimentos, visto que países como a Inglaterra, a França e a Holanda se
chegavam à frente e reivindicavam a riqueza das novas terras descobertas por
Portugal e Espanha.
Com os ataques das potências estrangeiras às colónias portuguesas foi
necessário construir mais fortalezas militares, o que teve um grande impacto na
Arquitetura porque deu aso ao desenvolvimento da Arquitetura militar.
A Arquitetura militar acaba por influenciar muito a Arquitetura religiosa
e civil – começa a aparecer uma corrente arquitetónica chamada de
“ARQUITECTURA CHÔ (uma arquitetura simples, sóbria, puramente
funcional, que aplica na Arquitetura religiosa e civil o modo da Arquitetura
utilitária e militar).
113
A Arquitetura religiosa e civil passa a ser sóbria, clara e funcional,
despojada de decoração.
Características da Arquitetura Chã (a partir de meados do séc. XVI):
. Sobriedade, solidez, funcionalidade e simplicidade
. Clareza. Ordem, proporção
. Rigor geométrico
. O classicismo: as formas clássicas são usadas na sua forma mais
pura, mais simples – classicismo muito suave, muito ténue
. Baseada na simplicidade e na funcionalidade da Arquitetura
militar
. Recorre-se a um conhecimento já adquirido (de raiz medieval)
que se adapta à simplicidade, à funcionalidade (para também não se gastar mais
tempo e dinheiro) e ao classicismo suave – volta-se à planta longitudinal
As primeiras construções que se podem incluir nesta Arquitetura são
essencialmente religiosas devido à necessidade imposta pela Contrarreforma de
criar novas igrejas e catedrais:
. Sé de Leiria (Miguel de Arruda) ( Fig.90)– naves todas à mesma
altura (unificação do espaço característico da Contrarreforma) mas são 3
(característica da época medieval); pilares com pilastras toscanas muito sóbrias,
simples (presença de um classicismo muito suave); abóbadas (com um processo
construtivo próprio do Gótico) – expressão simples, sóbria, com algum
classicismo, muito sólida, militar
114
Fig.90- Sé de Leiria (Miguel de Arruda)
. Sé de Miranda do Douro (Miguel de Arruda)( Fig.91) – 2 torres,
fachada muito sóbria, militar, planta longitudinal
Fig.91. Sé de Miranda do Douro (Miguel de Arruda)
115
. Sé de Portalegre (Afonso Álvares) ( Fig.92) – muito estrutural (o
elemento engenheiro sobrepõem-se ao artístico: característica da Arquitetura
militar) – solidez construtiva: planta longitudinal com cruz latina disfarçada;
cúpula semiesférica (clássica).
Fig.92-Sé de Portalegre (Afonso Álvares)
-- A ação da Igreja não se ficou apenas pela construção de catedrais:
também aparecem muitas igrejas paroquiais novas, de planta longitudinal, com 3
naves à mesma altura (igrejas salão); colunas:
116
. S. Antão de Évora( Fig.93) – muito estrutural, com aberturas
militares, 3 naves à mesma altura; igreja salão; colunas (e não pilares, como nas
catedrais) simples.
Fig.93- S. Antão de Évora
. Matriz de Alcáçovas e Matriz de Vieiras( Fig.94) – mesmo
modelo de S. Antão.
117
-- Começam a fazer-se famílias de igrejas: todas seguem o mesmo
modelo.
-- Outra série, que também se fez na altura, aproxima-se mais do
Renascimento: são igrejas de planta quadrada:
. S. Maria do Castelo de Estremoz ( Fig.95)– simplicidade,
estrutural,
sólido,
4
colunas,
planta
118
quadrada
(proximidade
com
o
Renascimento)
. Matriz de Monsaraz ( Fig.96) – mesmo modelo da anterior
119
-- Há ainda outra série de igrejas com 3 naves mas com cobertura de
madeira (e não abobadada como as anteriores); e a procura de uma nova
fachada:
. S. Pedro de Palmela ( Fig.97) – colunas toscanas, arcos de volta
inteira, simplicidade, sobriedade, abóbada fingida de madeira na nave central.
Fig.97- S. Pedro de Palmela
120
. S. Maria da Atalaia ( Fig.98)– ar militar, muito estrutural,
serliana (uma marca arquitetónica no meio de tanta simplicidade militar),
estrutura muito marcada.
-- Há uma outra série que vai introduzir um espaço completamente novo
--- esta série é introduzida pela ordem dos Jesuítas, uma ordem religiosa criada
no âmbito da Contrarreforma. Sendo uma obra muito ligada à Contrarreforma,
naturalmente que estas igrejas pretendem seguir os preceitos da Contrarreforma.
O espaço contrarreformista é um espaço unificado ((a igreja deve ter uma
nave única, sem colunas, com púlpito a meio da nave) mas mantém-se as capelas
laterais (que funcionam sobretudo quando não está a haver cerimónia religiosa):
. Igreja do Espírito Santo (Évora)( Fig.99) – estrutura muito
marcada, simples, já não tem 2 torres, com aletas, ante-igreja (o que não é típico
destas igrejas).
Fig.99 -. Igreja do Espírito Santo (Évora)
121
. Igreja de S. Francisco (Évora)( Fig.100) – uma única nave, é
uma igreja medieval mas deu origem a esta série de igrejas.
122
. Igreja de S. Paulo (Braga)( Fig.101) – classicismo simplificada,
espaço unificado.
. Igreja de S. Roque (Lisboa)( Fig.102) – mesma solução do
Espírito Santo de Évora, espaço paralelepipédico unificado.
A Arquitetura Chã prolonga-se como estilo dominante desde meados do
séc. XVI pelo séc. XVII mas há algumas variações que se aproximam mais do
123
Maneirismo (uma atitude de brincar com as formas) e não têm nada a ver com a
Arquitetura Chã..
Estas variações próximas do Maneirismo revelam-nos uma Arquitetura
deferente da sobriedade e simplicidade da Arquitetura Chã mas são suas
contemporâneas (são as exceções ao estilo dominante).
3 de dezembro de 2010
A ÉPOCA BARROCA
A época Barroca é um período de unidade política, religiosa e artística –
é uma nova forma de entender o mundo.
Sendo um estilo que distorce as regras clássicas, o Barroco é entendido
como algo defeituoso pela corrente neoclássica (como sendo uma fase de
decadência do Renascimento).
O Barroco nasce em Roma como uma consequência da Contrarreforma:
nasce de uma comunhão entre a religião e a prática – manifestações barrocas
como exibição do poder religioso na tentativa de persuasão e encantamento dos
sentidos (adesão emocional) – emoção (Barroco) Vs. Razão (Renascimento).
Boa Sorte, José.
Muito sucesso
Adozinda
124
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