janeiro/abril - Faculdade de Medicina de Jundiaí

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janeiro/abril - Faculdade de Medicina de Jundiaí
Revista da Faculdade de Medicina de Jundiaí - São Paulo - Brasil
ISSN 0100-2929
PERSPECTIVAS
MÉDICAS
Volume 24(1) - Janeiro / Junho 2013.
ISSN 0100-2929
PERSPECTIVAS
MÉDICAS
Periódico de publicação científica da Faculdade de Medicina de Jundiaí,
Estado de São Paulo, Brasil, indexada pelas Bases LATINDEX, REDALYC, BIREME/BVS,
IBICT, Qualis - CAPES, Periodica, Index Copernicus. Periodicidade semestral. DOI 10.6006
ÍNDICE ............................................................................................................................................................................1
Editorial ..............................................................................................................................................................................2
Normas de publicação .......................................................................................................................................................3
Artigos Originais
A comunicação explorada como recurso para o desenvolvimento social............................................................................5
Aruana Bentini de Souza, Juliana F. Cecato, Edna Dias de Pontes Silva
Automedicação em estudantes de medicina ......................................................................................................................10
Veronica Ozaki Gushiken, Monica Naomi Hayasida, José Fernando Amaral Meletti.
Utilização da força magnética para atrair objetos metálicos inseridos em ratos ...............................................................20
Flávio Maia Castilho, Marcus Vinícius Henriques de Carvalho, Ana Carolina Gandolpho, Evaldo Marchi.
Fatores relevantes no desempenho cognitivo de pacientes com doença de Parkinson:
dados de um instituto de geriatria e gerontologia de Jundiaí.............................................................................................24
Luciana Maria Pires dos Santos, Juliana Francisca Cecato, José Eduardo Martinelli.
Métodos de amenização do sofrimento provocado pela hospitalização infantil ...............................................................31
Aruana Bentini de Souza, Edna Dias de Pontes Silva.
Relato de Caso
Tuberculose pulmonar bacilífera em pré-escolar...............................................................................................................39
Eugênio Fernandes de Magalhães, Claudinei Leôncio Beraldo, Anna Luiza Pires Vieira, Pétrus Presses Teixeira, Pedro Caveanha.
Artigo de Revisão
Regulação nutricional e neuroendócrina da serotonina podem influenciar a síndrome pré menstrual ............................43
Maria Cristina Ritter Mazzini, Milena Grossi, Sônia Valéria Pinheiro Malheiros.
INDEXAÇÃO DA REVISTA PERSPECTIVAS MÉDICAS NAS BASES DE DADOS E NA BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE
1.
REDALYC – Rede de revistas científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal.
http://www.redalyc.org
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artigo tem um link.
2.
LATINDEX– Sistema Regional de Informação para Revistas Científicas da América latina, Caribe, Espanha e Portugal.
http://www.latindex.unam.mx - Digitar: Perspectivas médicas ou através do link :
http://www.latindex.unam.mx/buscador/ficRev.html?opcion=1&folio=1049
3.
BVS – Portal de revistas científicas em Ciências da Saúde (portal da BIREME)
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é livre e gratuito desde 1998, ou através do link: http://www.fmj.br/revista_online_revistas.asp
Volume 24(1)
jan. / jun. 2013
2
PERSPECTIVAS
MÉDICAS
Coeditor
EDITORIAL
IMPORTAR MÉDICOS? QUE PAÍS É ESTE?
Inadmissível postura assume agora nosso governo, diante das pressões populares
contra os desmandos e a corrupção em larga escala no Brasil, anunciando em cadeia nacional o
disparate de se comprometer a inundar o país com “milhares de médicos formados em outros
países”, isentos de um processo sério e confiável de revalidação do diploma de médico. O
atual sistema do Revalida foi criado pelo próprio Governo Federal em 2010. A saúde está
caótica, mas por falta de gestão e não por culpa ou insuficiência de médicos. A presidente
Dilma, em pronunciamento à nação, apontou isso de maneira insegura, pois sabe que isto
jamais solucionaria os problemas do SUS, mas tenta ludibriar os incautos. O fracasso dessa
possível ação é facilmente previsto, pois são necessários investimentos em infraestrutura, não
bastando um bom salário, que é o primeiro requisito, porém faltam materiais, medicamentos,
equipamentos, equipes de apoio multidisciplinares e até mesmo o reconhecimento
econômico, contudo não resolverá remunerar bem, sem disponibilizar o restante. Concursos
para certas áreas remotas do Brasil sequer preenchem suas vagas, devido à carência de
condições mínimas de trabalho no serviço de saúde, porque o médico se expõe, e a seus
pacientes, a maiores riscos, além do que alguns, são sumariamente demitidos. Grande é a
dificuldade de reciclagem profissional, pois há menos ofertas de estudo, lazer, consumo,
turismo e outras, desestimulando-o à fixação nesses locais. O acesso de médicos estrangeiros
na Canadá e na Inglaterra para clinicar, somente ocorre após minuciosos e criteriosos
processos de avaliação de competências. Segundo a OMS, no Brasil há 2 médicos por 1000
habitantes, enquanto na Suécia são 3,73 - na França 3,28 - na Espanha 3,71 e na Argentina
3,16. Os governos desses países com sistema semelhante ao SUS, investem muito mais em
saúde do que o Brasil. Na Inglaterra, a participação do Estado no gasto nacional em saúde é de
84%, enquanto na Suécia, França, Alemanha e Espanha oscila entre 74 e 81%, na Argentina é
de 66% e no Brasil, 44%.
E qual seria a solução para esse caos? Sugerem as entidades médicas, que seja criada
uma carreira de Estado com vínculo federal, incluindo remuneração digna, estabilidade,
progressão por tempo de serviço e por mérito, mobilidade e outras garantias. Nas periferias
das metrópoles e nas cidades de pequeno porte, sugerem a criação dos planos de carreira para
os servidores estaduais e municipais, com mecanismos para atender as realidades locais,
como a segurança. Que sejam aumentadas as vagas para Residências Médicas em programas
de excelência, com preceptores bem preparados e com toda a estrutura necessária. Médicos
generalistas têm pouco conhecimento e experiência e acabam fazendo uma triagem
ineficiente e gerando uma "superprocura" por especialistas. Não será abrindo novas escolas
médicas nem importando médicos sem qualificação e sem critérios de admissão definidos e
justos, que essa demanda será atendida.
Prof. Dr. EDMIR AMÉRICO LOURENÇO – Editor Chefe.
Perspectivas Médicas
v.24(1), jan. / jun. 2013
São Paulo, Faculdade de Medicina de Jundiaí.
21x28 cm
Periódico científico de áreas da Saúde da Faculdade de Medicina de Jundiaí,
Estado de São Paulo, Brasil.
ISSN 0100-2929
1. Medicina - Saúde - Periódicos
Richard W. Light Basic and Clin. Respirat. Research, Vanderbilt University, Nashville, EUA.
Rolando Ulloa Gutiérrez Medicine, Infectología Pediátrica, San José, Costa Rica.
Revista PERSPECTIVAS MÉDICAS
O Periódico Perspectivas Médicas é um órgão de publicação científica da Faculdade de
Medicina de Jundiaí (FMJ), com sede à Rua Francisco Telles, 250, Bairro Vila Arens - Jundiaí,
Estado de São Paulo, Brasil, CEP 13202-550. Fone/Fax: (0xx11) 4587-1095. A Revista não
aceita, em hipótese alguma, matéria científica paga em seu espaço editorial, embora aceite
colaborações financeiras para viabilizar a continuidade de sua publicação, cedendo
eventualmente espaços para anúncios relacionados à Saúde. O exemplar encontra-se na
íntegra no site www.fmj.br, disponível em http://www.fmj.br/revista_online.asp, clicar em
edições já publicadas, que estão disponíveis para downloads desde 1998. É proibida sua
reprodução, total ou parcial, para quaisquer finalidades, sem autorização escrita e assinada
pelo Editor. O conteúdo impresso é o mesmo disponibilizado online.
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Diagramação: Fabiane Souza - Gráfica Apollo
Jornalista responsável: Cláudia Mello - Mtb 28.835
Tiragem: 600 exemplares
Perspectivas Médicas, 24(1): 2, jan./jun. 2013
3
NORMAS DE PUBLICAÇÃO
A revista Perspectivas Médicas, periódico científico oficial da
Faculdade de Medicina de Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil,
tem como objetivo a publicação de trabalhos de qualidade na
área experimental básica e das áreas de saúde. Os trabalhos
poderão ser originais, revisões, artigos de atualização,
comunicações curtas, relatos de caso, cartas ao editor e outros.
Recebe artigos em fluxo contínuo, sendo editada entre janeiro e
junho, e entre julho e dezembro de cada ano, tendo periodicidade
semestral até a presente edição.
The Perspectivas Médicas (Perspect Med.) is the official
journal of the Jundiaí Medical School, São Paulo, Brazil. Its main
objective is to contribute for development of basic sciences and
clinical sciences by publishing high-quality scientific articles
produced by researchers all over the world. The works will be
able to be original papers, revisions, short comunications, case
reports, letters to the editor and others. The Journal receives
articles continuously, edited twice an year until this edition,
between January to June, and July to December.
Os trabalhos devem ser encaminhados ao Corpo Editorial
preferencialmente na forma eletrônica, após conferir todas as
normas editoriais através do endereço:
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acessando o item "Submissão", ou na forma impressa para o
endereço abaixo com cópia em CD:
As normas deverão ser obedecidas com rigor para que o
trabalho seja encaminhado para avaliação com vistas à sua
publicação. Os trabalhos devem ser inéditos, escritos
preferencialmente em português, podendo ser aceitos em
espanhol ou inglês, todos com aprovação em Comitê de Ética em
Pesquisa oficial da Instituição de origem, e ainda não publicados
de forma completa em outro veículo de comunicação científica
ou mesmo submetido simultaneamente a outro veículo de
publicação.
Artigos Originais: investigação experimental básica ou clínica,
contendo título (100 caracteres ou 20 palavras no máximo) e
palavras-chave (ambos em português e inglês), autor(es) máximo de seis (exceto para grandes trabalhos investigativos e
de campo ou pesquisa animal), principais titulações e
Departamentos, resumo (até 250 palavras), abstract,
introdução e objetivos, material e métodos, resultados, discussão
e conclusões, agradecimentos, suporte financeiro e referências
bibliográficas.
O autor e coautores
Escanear e enviar a cópia com:
- Resumo em português e Abstract em inglês contendo no
máximo 250 palavras, fazendo referência à essência do
assunto num único parágrafo incluindo Introdução,
Objetivo(s), Material ou Casuística e Métodos, Resultados,
Discussão e Conclusão(ões).
- Introdução e objetivos, Material ou Casuística e Métodos da
pesquisa científica ou do relato, Resultados, Discussão e
Conclusões, seguidos de agradecimentos, suporte financeiro e
referências bibliográficas. Todas as referências citadas no
corpo do texto deverão ser numeradas e sobrescritas, por
ordem de aparecimento no texto.
Perspectivas Médicas, 24(1): 3-4, jan./jun. 2013
4
Tese/Thesis:
Tannouri AJR. Campanha de prevenção do AVC: doença carotídea
extracerebral na população da grande Florianópolis. [Tese].
Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2005.
Artigo de periódico na Internet/ Journal article on the Intenet
Dunne N, Stratford J, Jones L, Sohampal J, Robertson R, Booth MI, et al.
Anatomical failure following laparoscopic antireflux surgery; does it
really matter? Ann R Coll Surg Engl [Internet]. 2010 [citado 2012 Fev
2 2 ] ; 9 2 : 1 3 1 - 5 .
D i s p o n í v e l
e m :
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3025249/pdf/rcse9
202-131.pdf
deverá
mesmas e próximo a elas,
Artigo com Digital object Identifier (DOI):
Zhang M, Holman CD, Price SD, Sanfilippo FM, Preen DB, Bulsara MK.
Comorbidity and repeat admission to hospital for adverse drug
reactions in older adults: retrospective cohort study. BMJ. 2009 Jan
7;338:a2752. doi: 10.1136/bmj.a2752.
como está
exemplificado abaixo:
Referências/References
As referências devem ser numeradas e apresentadas seguindo a ordem
de inclusão no texto, segundo Estilo Vancouver elaborado pelo
International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), com
adaptação da National Library of Medicine dos Estados Unidos da
A m é r i c a ( N L M ) .
D i s p o n í v e l
e m :
<http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html>. É
imprescindível ao enviar seu artigo conferir estas normas, sendo
sujeito ao não aceite de artigos sem a devida revisão. Os títulos de
periódicos devem ser abreviados segundo a abreviatura de
periódicos do Catálogo da NLM para MEDLINE, disponível em:
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=journals> ou,
a l t e r n a t i v a m e n t e
e m
< f t p : / /
nlmpubs.nlm.nih.gov/online/journals/ljiweb.pdf>, sendo que colocase um ponto após o título para separá-lo do ano. Para abreviatura de
títulos de periódicos nacionais e latino-americanos, consulte o
endereço: http://portal.revistas.bvs.br/, eliminado os pontos de
abreviatura com exceção do último ponto para separar do ano, e as
iniciais em letras maiúsculas. Todas as indicações de referências no
texto devem ser digitadas, separadas por vírgula sem espaço
(exemplo: 1,5,9) e sobrescritas no corpo do texto e se forem citadas
mais de duas referências em seqüência, apenas a primeira e a última
devem ser digitadas, sendo separadas por um traço (exemplo: 5-8). É
sugerido que as citações de livros, resumos e home page, devam ser
evitadas e juntas não ultrapassar a 10% do total das referências e
também utilizar revistas indexadas.
Exemplos/Examples:
Periódicos/Journals:
- Até seis autores/ up to six authors (citam-se todos).
1. Nordlander A, Uhlin M, Ringdén O, Kumlien G, Hauzenberger D,
Mattsson J. Immune modulation to prevent antibody-mediated
rejection after allogeneic hematopoietic stem cell transplantation.
Transpl Immunol. 2011 Sep;25(2-3):153-8.
- Mais de seis/ more than six (citam-se 6 autores seguidos de et al).
1. Rose ME, Huerbin MB, Melick J, Marion DW, Palmer AM, Schiding
JK, et al. Regulation of interstitial excitatory amino acid
concentrations after cortical contusion injury. Brain Res.
2002;935(1-2):40-6.
Programas e Órgãos/Programs and Organs:
1. Diabetes Prevention Program Research Group. Hypertension,
insulin, and proinsulin in participants with impaired glucose
tolerance. Hypertension. 2002;40(5):679-86.
Livros/Books:
1. Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical
microbiology. 4ª ed. St. Louis: Mosby; 2002.
Capítulo de Livro/Chapters:
1. Meltzer PS, Kallioniemi A, Trent JM. Chromosome alterations in
human solid tumors. In: Vogelstein B, Kinzler KW, editores. The genetic
basis of human cancer. New York: McGraw-Hill; 2002. p. 93-113.
Perspectivas Médicas, 24(1): 3-4, jan./jun. 2013
A revista detém todos os direitos, inclusive de tradução em
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jul./ dez. 2011 encontram-se disponíveis para acesso direto pelo
DOI (Digital Object Identifier) number 10.6006.
5
ARTIGO ORIGINAL
A comunicação explorada como recurso para o
desenvolvimento social.
The communication used as resource for
social development.
Palavras-chave: comunicação; psicologia social; relações interpessoais.
Key words: communication; psychology, social; interpersonal relations.
Aruana Bentini de Souza1
Juliana F. Cecato2
Edna Dias de Pontes Silva3
1
Aluna do curso de graduação em Psicologia da
Faculdade Anhanguera - Jundiaí, São Paulo,
Brasil.
2
Aluna do Mestrado Acadêmico em Ciências da
Saúde da Faculdade de Medicina de Jundiaí Jundiaí, São Paulo, Brasil.
3
Psicóloga e Professora da Faculdade Anhanguera Jundiaí, São Paulo, Brasil.
Endereço para correspondência:
Aruana Bentini de Souza. Rua Maestro Francisco
Farina - 55 bl b apto 105, Bairro Vila Progresso Jundiaí, São Paulo, Brasil. CEP: 13202-250.
email: [email protected] ou
[email protected]
Não há conflito de interesses.
Artigo ainda não publicado na íntegra.
Artigo recebido em: 02 de Julho de 2012.
Artigo aceito em: 01 de Março de 2013.
RESUMO
Introdução: A comunicação é o processo
realizado entre dois ou mais seres, que transmitem
informações através de códigos, mensagens ou
sinais em comum para o emissor ou o receptor. O
objetivo foi identificar as dificuldades relacionadas
à exposição de pensamentos e informações das mães
que fazem parte do Grupo de Orientação Familiar,
por meio da comunicação verbal e nãoverbal. O
estudo foi realizado em uma Organização
NãoGovernamental, na região de Jundiaí, São
Paulo, Brasil, no período de Fevereiro a Maio de
2012. Os sujeitos da pesquisa correspondiam ao
gênero feminino e que frequentavam aulas versando
sobre moral. Foram realizadas observações e
também aplicados testes dinâmicos. Os resultados
com as dinâmicas aplicadas mostram que quando a
resposta era agradável a voz ficava calma, o corpo
se inclinava para a frente, não havia cruzamento de
pernas ou braços e a expressão facial era leve,
normalmente com um sorriso no rosto e olhos
expressivos. Comparando as observações
realizadas no início e no término da pesquisa, foi
observado um avanço no uso da linguagem verbal e
maior confiança nas exposições de pensamentos e
opiniões. Pode-se concluir que, do ponto de vista
social, a pesquisa aponta para dados relevantes
quanto à importância em ser trabalhada a
comunicação de mães de uma comunidade carente.
Foi verificada, no término da pesquisa, a maior
interação durante a abordagem dos assuntos,
concluindo que foi obtido sucesso com os métodos
usados para maior socialização.
ABSTRACT
Communication is the process carried out
between two or more beings, that transmit
information through codes, messages or signals
common to the sender or receiver. This study aimed
to identify the difficulties related to the exhibition of
thoughts and information for mothers who are part
of the Family Guidance Group (FGG) a NonGovernmental Organization through verbal and
non-verbal communication. The study was
conducted in a non-governmental organization, in
Jundiaí, São Paulo, Brazil in the period from
February to May 2012. The research subjects
corresponded to females attending classes about
moral. It were made observations and also applied
dynamics. The results show that the dynamics
applied when the response was pleasant voice was
calm, his body leaned forward, there was no crossing
of legs or arms and facial expression was mild,
usually with a smile on his face and expressive eyes.
Perspectivas Médicas, 24(1): 5-9, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130101.2472041218
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A comunicação explorada como recurso para o desenvolvimento social. - Aruana Bentini de Souza e cols.
Comparing the observations made at the beginning
and end of the study, there was a breakthrough in the
use of verbal language and greater confidence in the
exhibition of thoughts and opinions. It can be
concluded that, from the standpoint of social
research as relevant data points to the importance of
communication by working mothers in a
disadvantaged community. It was found, at the end of
the survey, more interaction during the approach of
the issues, concluding that were obtained good
results using the methods for greater socialization.
INTRODUÇÃO
A comunicação é o processo realizado entre
dois ou mais seres que transmitem informações
através de códigos, mensagens ou sinais em comum
para o emissor ou o receptor1,2. A comunicação
verbal consiste no uso de palavras por meio da
linguagem ou da escrita, podendo ocorrer por
intermédio de e-mail, carta, telefone, telegrama,
relatório e outros2. A comunicação não verbal foi
composta por expressão facial e posicionamento
corporal, como inclinação das costas e cruzamento
dos braços. Essas expressões e gestos podem
substituir palavras ou completá-las com a leitura do
corpo, podendo isso ser alterado de acordo com o
contexto3.
Com a junção dos significados especificados
pelos autores, foi entendido que a comunicação
provém da troca de informações entre duas ou mais
pessoas que possuem algo em comum para a
transmissão, entendimento e resposta, podendo ser
através do dialeto, símbolos ou gestos. Para a
comunicação ocorrer perfeitamente, é necessário
promover a elaboração de uma ideia, codificar e
organizar a mensagem, ser capaz de transmiti-la, o
receptor ser capaz de recebê-la e decodificá-la3-7.
Além disso, o transmissor espera que essa
mensagem que foi codificada seja aceita ou
rejeitada pelo receptor, utilizar a informação (no
caso da aceitação) e ser capaz de promover um
3-7
feedback, ou seja, uma resposta ao receptor .
Segundo Davis e Newstron, como foi descrito no
3
trabalho de Barduchi , para a comunicação ocorrer
perfeitamente também deve se atentar aos fatores
externos que podem prejudicar o decorrer do
processo, criando barreiras para a comunicação.
Essas barreiras podem ser classificadas como:
- De ordem pessoal: distância psicológica entre
o emissor e o receptor ou o receptor entender
somente o que lhe convém de acordo com os seus
valores;
- Barreiras físicas: distância entre as pessoas
que estão se comunicando e a presença de ruídos;
- Barreiras semânticas: não conhecimento dos
símbolos, gestos ou palavras utilizadas para a
comunicação.
Para as observações do estágio serem
significativas, foi utilizada uma sala específica sem
ruídos externos, para não haver dificuldade de
compreensão, bem como a linguagem informal, para
todas as participantes compreenderem as dinâmicas
e rodas de conversa, as participantes e os
estagiários encontravam-se na mesma roda, para
que todos pudessem se ouvir e foram abordados
temas do cotidiano, para haver o interesse do grupo
e não haver a ruptura de valores3.
8
Os conceitos psicológicos citados por Melo
relatam que a comunicação bem utilizada pode ser
uma forma de modificar o comportamento de
pessoas, meio esse utilizado pelos seguidores da
abordagem comportamental como modelagem de
comportamentos, nomeado como estímulo-resposta.
Há a comunicação verbal e a não verbal. A
comunicação verbal consiste na comunicação do
uso de palavras por meio da linguagem ou escrita,
podendo ser abrangidos envios de e-mail, carta,
telefonema, telegrama, relatório e outros. Para
ocorrer as oito etapas citadas anteriormente, é
necessário o conhecimento do idioma escolhido, o
vocabulário necessário de acordo com o nível de
conversa e ressaltar se o objetivo da conversa é
formal (utilizada normalmente no trabalho, em
relatórios e e-mail) ou informal (utilizada entre
pessoas que possuem intimidade ou vínculo). Após a
escolha da comunicação formal ou não formal,
também é necessário entender se a situação exige
3,9
que a comunicação seja objetiva ou completa .
A comunicação não verbal é composta de
expressão facial, como o sorriso e a forma de olhar e
também de posicionamento corporal, como
inclinação das costas e cruzamento dos braços.
Essas expressões e gestos podem substituir palavras
ou completá-las com a leitura do corpo e isso se
altera de acordo com o contexto3,4,7.
Segundo Weil et al.10 espera-se que o ser
humano seja capaz de promover o discernimento de
situações do cotidiano, principalmente com respeito
aos símbolos e sinais. O presente trabalho aborda as
formas de comunicação e a exploração como
recurso de desenvolvimento social e descreve
métodos utilizados para a maior comunicação
Perspectivas Médicas, 24(1): 5-9, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130101.2472041218
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A comunicação explorada como recurso para o desenvolvimento social. - Aruana Bentini de Souza e cols.
grupal.
OBJETIVOS
Identificar as dificuldades relacionadas à
exposição de pensamentos e informações das mães
que fazem parte do Grupo de Orientação Familiar
(GOF) de uma Organização Não Governamental
por meio da comunicação verbal e não verbal.
Objetivo específico: elaborar métodos para gerar
maior comunicação e trocas de informações e
experiências.
MATERIAIS E MÉTODOS
Métodos
Antes do início do projeto, foi realizada uma
reunião com as mães do GOF e com a psicóloga da
Instituição para informar que seria realizado um
projeto pelos estagiários de psicologia e elas
desempenhariam influência direta no mesmo. Todas
as mães concordaram e uma vez por mês é realizada
uma reunião somente com a psicóloga e as mães que
frequentam a instituição, com a intenção de haver o
feedback para saber de que maneira as mães estão
absorvendo as atividades que os pesquisadores
estão propondo. A pesquisa foi realizada no período
de Fevereiro a Maio de 2012.
Foram desenvolvidas as seguintes atividades:
a) Aplicação das seguintes dinâmicas:
Dinâmica do Desafio, Dinâmica da Autorrevelação,
Dinâmica do Nó e Dinâmica do Nome.
b) Produção de rodas de diálogo (com
supervisão do psicólogo da Instituição) de acordo
com os seguintes temas: Dia Internacional da
Mulher, comunicação com a família e conhecidos;
c) Observação das mães durante o GOF;
d) Aplicação de atividades em grupo, como
dobradura e chaveiro.
Todas as observações foram relatadas em uma
ficha que continha as seguintes informações:
Objetivo da observação, duração da observação,
situação em que os observados encontravam-se no
momento, descrição do ambiente físico e relato. No
decorrer do trabalho ocorreu a comparação de
expressões faciais e corporais de todos os registros
para saber se as técnicas para comunicação em
grupo estavam surtindo efeito.
O objetivo de maior comunicação não verbal
também foi alcançado no decorrer do estágio por
meio de dinâmicas e muita conversa com as
participantes.
Quanto às participantes, as atividades do GOF
foram destinadas às mulheres que possuem filhos
com a idade de 16 a 63 anos, todas moradoras do
bairro Jardim São Camilo, em Jundiaí, Estado de
São Paulo, Brasil e que possuem uma baixa renda.
Entre as 21 participantes, 15 eram casadas ou
amasiadas. Todo este estudo foi realizado de acordo
com as normas éticas de experimentação humana e
com Termo de Consentimento.
Instrumentos
Foi aplicado um questionário com perguntas
referentes à apresentação pessoal, instrumento esse
que foi aplicado no primeiro dia de aula e essa
atividade foi realizada com o objetivo de conhecer o
perfil do grupo. Foi entregue o questionário para
cada participante do GOF e cada pessoa respondeu
verbalmente, com o intuito de facilitar e promover a
interação do grupo. No período inicial foram
aplicadas a Dinâmica do Desafio, que teve como
objetivo fazer com que as participantes notassem o
medo dos desafios, ressaltando que muitas vezes
surgem desafios durante a vida e no final de
determinados desafios podem realizar uma
avaliação e verificarem e aprenderem que em alguns
casos podem ocorrer perdas ou ganhos, através
dessa Dinâmica da Autorrevelação, cujo objetivo é a
interação e conhecimento dos participantes.
Posteriormente foi realizada a aplicação da
Dinâmica do Nó, com o intuito de desenvolver a
força, união e solidariedade em grupo.
A dinâmica dos nomes foi utilizada com o
objetivo de saber identificar qualidades das
participantes. Os serviços realizados na ONG são
cursos de alfabetização para adultos, artesanato,
bordado, corte e costura, futebol, Grupo de
Orientação Familiar, reforço escolar, informática;
doações de alimentos, roupas e materiais em geral,
atendimento médico, odontológico e psicológico.
RESULTADOS
A linguagem foi utilizada no decorrer da
pesquisa como meio de promover comunicação
entre as participantes para um avanço pessoal e
interpessoal. Foi notada em todos os encontros a
dificuldade de se expressar das participantes. Uma
participante, em particular, obteve um avanço
significante no decorrer do estágio, pois no início
ela relatou que sentia medo de falar, de se expressar
e também de participar das dinâmicas e rodas de
conversa, porém no decorrer dos encontros, ela se
sentia mais confiante em se posicionar. O avanço foi
explícito na Dinâmica do Nome, onde ela se
levantou, foi até o meio da roda de participantes
sentadas e falou inúmeras qualidades de outra
Perspectivas Médicas, 24(1): 5-9, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130101.2472041218
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A comunicação explorada como recurso para o desenvolvimento social. - Aruana Bentini de Souza e cols.
participante.
No final da dinâmica ela comentou que se sentia
mais confiante em se expressar do que antes das
dinâmicas e rodas de conversas serem aplicadas.
Pela dificuldade inicial das participantes em se
expressar verbalmente, foram utilizadas as técnicas
de observação corporal e também técnicas de
registro, para os pesquisadores chegarem a
conclusões referente ao estudo. Para a realização de
observação e estudo de expressões faciais não foi
interessante utilizar vocabulários não objetivos,
como "manhoso", "irritado", "nervoso" e outros.
Foi necessário, para um apanhado de gestos,
especificar cada parte do rosto e do corpo, como por
exemplo, "olhos voltados para cima", "boca aberta
sem exposição dos dentes", "canto dos lábios
voltado para cima" e "pernas cruzadas". A partir do
momento que os pesquisadores iniciaram a
linguagem não verbal, foi observada a feição das
participantes no decorrer do andamento das tarefas.
No início, a maioria das participantes encontravamse com o canto da boca inclinado para baixo, queixo
saliente, olhos abertos e voltados para baixo, cabeça
inclinada para baixo, ombros curvados, pernas e/ou
braços cruzados. Essas características foram
notadas principalmente quando foi solicitado a
alguma voluntária para falar sobre o assunto
abordado, ou iniciar a dinâmica proposta.
A Dinâmica da Autorrevelação mostrou
dificuldade das participantes em expor situações
vividas ou sonhos verbalmente, porém foi observado
que as mesmas conseguiam transparecer se estavam
pensando em respostas boas ou ruins, pela
expressão facial e do corpo. Quando a resposta não
era agradável a voz alterava, o corpo se inclinava
para trás, os braços se cruzavam e a expressão facial
ficava pesada. Quando a resposta era agradável a
voz ficava calma, o corpo se inclinava para frente e
não havia cruzamento de pernas ou braços e a
expressão facial era leve, normalmente com um
sorriso no rosto e olhos expressivos.
Na aula de moral foi lido um artigo pela
pesquisadora principal e após a leitura houve um
debate referente ao assunto "como nos tornar
pessoas do bem". No decorrer do debate foi
observada novamente a dificuldade de expressão
verbal, porém após o uso da técnica de perguntar
para cada participante o que ela pensava em relação
ao assunto, no final o grupo chegou a um consenso
que, para se tornar uma pessoa melhor, é necessário
fazer o bem aos outros, independente do afeto que se
tem à essa pessoa. Após a Dinâmica do Nó as
participantes se expressaram sobre a importância
do trabalho em grupo e a dificuldade de depender de
outras pessoas para a realização do objetivo.
Foi observada a dificuldade de interação do
grupo quando necessita da ajuda alheia. A
Dinâmica do Nome foi realizada com o grupo, com o
intento de identificar qualidades. Poucas
participantes do grupo apresentaram dificuldade em
identificar as qualidades, porém em geral, o grupo
apresentou participação maior do que todas as
dinâmicas já aplicadas. No último encontro do
trabalho foi realizada a Dinâmica das Seis Imagens.
As participantes receberam seis pedaços de papel
que utilizaram para responder perguntas realizadas
pelos estagiários através de símbolos ou desenhos.
Após a realização de todas as perguntas, as
participantes foram separadas em dois grupos e
cada participante explicou o significado de cada
desenho para o grupo. Foi aplicada essa dinâmica
no último dia de estágio, com a intenção de reflexão
da percepção da imagem do que são, do que
demonstram ser e como podem melhorar.
Com as observações antes e após as
intervenções, foi concluído que as participantes
ficavam inquietas antes da intervenção e aliviadas
depois. Nos últimos dias foi registrado, em geral,
que as participantes estavam com os ombros retos,
olhos abertos e voltados para a psicóloga e os
estagiários, boca fechada e com o canto curvado
para cima, bochechas salientes e cabeça inclinada
para cima.
DISCUSSÃO
Em geral, o grupo demonstrou avanço na
comunicação verbal interpessoal, principalmente
nas rodas de conversas. Nas primeiras rodas de
conversas poucas participantes se comunicaram e
falaram sobre o assunto abordado, porém a
psicóloga e os estagiários utilizaram o método de
perguntar a cada uma das participantes a opinião
sobre o assunto abordado naquele momento e após o
posicionamento de se expressar, relatando a sua
opinião. Assim, os estagiários elogiaram e falaram
sobre a importância da visão de cada uma delas.
Esse método ocasionou uma maior participação do
grupo.
Nas últimas rodas de conversas não era mais
necessário pedir para cada uma se comunicar, elas
já expunham a opinião de forma mais objetiva do
que no início dos encontros. Em todos os encontros
os pesquisadores conversaram com o grupo de
participantes sobre a importância de saber se
Perspectivas Médicas, 24(1): 5-9, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130101.2472041218
9
A comunicação explorada como recurso para o desenvolvimento social. - Aruana Bentini de Souza e cols.
comunicar socialmente, pois a partir da
comunicação social é que se consegue obter
informações importantes para a vida de cada um e
com todas as informações possíveis se pode escolher
quais delas são de acordo com os valores e
princípios individuais, e então formar opiniões
próprias. Este propósito está de acordo com o
descrito por Rodrigues et al.11 onde refere-se a
linguagem como modificadora do comportamento
das pessoas, seja esta linguagem direta ou indireta.
Cabe à pessoa que esteja transmitindo a mensagem,
ter competência suficiente para empregar técnicas
de persuasão para "convencer" o receptor11.
Analisando as observações, as atividades aplicadas
e o levantamento do estudo bibliográfico, foi notada
uma dificuldade das participantes em se comunicar.
Todas as atividades aplicadas foram estudadas e
escolhidas com o objetivo maior da comunicação
interpessoal. Comparando as observações
realizadas no início e no término da pesquisa, foi
observado um avanço no uso da linguagem verbal e
maior confiança nas exposições de pensamentos e
opiniões. Todos os assuntos abordados durante os
encontros tiveram o intuito de gerar o interesse das
participantes, pois tratava-se de assuntos do
cotidiano.
O método que mais influenciou as participantes
a interagir com as atividades foi o das perguntas
individualizadas e o elogio após o posicionamento.
Foi utilizado esse método durante todo o estágio
pelo estudo da comunicação não verbal, onde foi
o b s e r v a d o p e l a s e x p re s s õ e s f a c i a i s e
posicionamento corporal das participantes, o
interesse de ser elogiada.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que, do ponto de vista social, a
pesquisa aponta para dados relevantes quanto à
importância de ser trabalhada a comunicação
verbal e nãoverbal de mães que fazem parte do
Grupo de Orientação Familiar de uma comunidade
carente. Foi verificada ao término da pesquisa, a
maior interação durante a abordagem dos assuntos
e que os métodos para maior socialização surtiram
bons resultados. A experiência vivida no decorrer da
pesquisa foi construtiva pelas pessoas que fizeram
parte do grupo, pelas situações vivenciadas e pelos
temas de estudos abordados.
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Psicologia. [S.I.]: Plátano Editora, S.A., 1996.
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10
ARTIGO ORIGINAL
Automedicação em estudantes de medicina.
Self-medication in medical students.
Palavras-chave: automedicação; analgésico; estudantes de medicina.
Key words: self medication; analgesics; medical students.
Veronica Ozaki Gushiken1
Monica Naomi Hayashida2
José Fernando Amaral Meletti3
1
2
3
Aluna do quinto ano de graduação e bolsista do
programa PIBIC/CNPq da Faculdade de
Medicina de Jundiaí (FMJ), Jundiaí, São Paulo,
Brasil.
Médica em especialização do primeiro ano do
Centro de Ensino e Treinamento da Disciplina de
Anestesiologia da FMJ, Jundiaí, São Paulo,
Brasil.
Professor Adjunto e Responsável pela Disciplina
de Anestesiologia da FMJ, Jundiaí, São Paulo,
Brasil.
Endereço para correspondência:
Veronica Ozaki Gushiken - Rua Rubens do Amaral,
626 CEP: 06070-210 Osasco/Bela Vista – SP.
e-mail: [email protected]
Não há conflito de interesses.
Artigo ainda não publicado na íntegra.
Artigo recebido em: 05 de Agosto de 2012.
Artigo aceito em: 05 de Março de 2013.
RESUMO
A automedicação é uma forma comum de
terapêutica leiga, com o objetivo de tratar e/ou
aliviar sintomas de doenças ou ainda de promover o
bem-estar psíquico. O risco dessa prática está
relacionado com o grau de instrução dos potenciais
pacientes, bem como com sua exclusão ou inclusão
no sistema de saúde. O objetivo deste trabalho foi
avaliar a prática e os principais motivos da
automedicação entre os alunos do curso de medicina
da Faculdade de Medicina de Jundiaí. Esta pesquisa
foi realizada por meio de um estudo transversal,
quantitativo e descritivo dos alunos do curso de
medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí,
através de um questionário desenvolvido para tal.
Os questionários foram aplicados em 275
estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí,
após a assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido. Obteve-se o resultado de que 261
(94,9%) estudantes entrevistados fizeram uso de
medicamento sem prescrição médica. Os principais
medicamentos utilizados foram: analgésicos (252
estudantes), anti-inflamatórios não esteroides (240
estudantes) e antitérmicos (166 estudantes). Como
parece haver uma tendência mundial para maior
aceitação da automedicação, é necessário que a
sociedade se adapte, e que a população receba
maior informação científica sobre o uso de
medicamentos de "venda-livre", sem estímulo ao
consumo excessivo, relevando a importância que
uma consulta médica pode trazer em relação à
automedicação.
ABSTRACT
Self-medication is a common form of therapy lay,
in order to treat and / or relieve symptoms of disease
or to promote the psychological well-being. The risk
of this practice is related to the educational level of
potential patients, as well as the exclusion or
inclusion of them in the health system. Therefore, the
objective of this study was to evaluate the practice
and the main reasons of self-medication among
students of medicine of Medical School of Jundiai.
This research was conducted through a crosssectional study, quantitative and descriptive of
students of medicine, School of Medicine of Jundiai,
using a questionnaire developed for this one.
Questionnaires were administered to 275 students of
the Medical School of Jundiai, after signing an
Perspectivas Médicas, 24(1): 10-19, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130102.5468572371
11
Automedicação em estudantes de medicina. - Veronica Ozaki Gushiken e cols.
informed consent form. There was obtained as result
that 261 (94.9%) interviewed students had used
drugs without prescription. The main drugs used
were analgesics (252 students), NSAIDs (240
students) and antipyretics (166 students). There
seems to be a global trend towards greater
acceptance of self-medication. Thus, it is necessary
for society to adapt, and the population receives
more scientific information about the drug use of
"free-sale" without stimulating excessive
consumption, emphasizing the importance of a
medical appointment can bring in relation to selfmedication.
INTRODUÇÃO
A automedicação é a prática de ingerir drogas
sem o aconselhamento e/ou acompanhamento de um
profissional de saúde qualificado, com a finalidade
do tratamento de doenças ou alívio de sintomas1,2. As
formas de automedicação são variadas: adquirir
medicamentos sem receita, compartilhar remédios
com membros da família ou do círculo social,
desviar unidades de receitas destinadas a outra
terapêutica, reutilizar antigas prescrições e
descumprir orientação profissional, prolongando ou
interrompendo precocemente a posologia e o
período de tempo indicado na prescrição, ingerindo
a droga na dose e na hora que lhes for conveniente1-4.
Nesses casos, a eficiência terapêutica pode ser
comprometida devido a uma provável compressão
das bases fisiopatológicas da doença e do real
mecanismo de ação da droga por parte de leigos que
utilizam a automedicação1,2. Assim sendo, partindo
do princípio de que nenhuma substância
farmacologicamente ativa é inócua ao organismo, a
automedicação pode vir a ser prejudicial à saúde
individual e coletiva. Estudos têm demonstrado que
os medicamentos mais utilizados são analgésicos,
1,2,3
antitérmicos e anti-inflamatórios
. Os
analgésicos, por exemplo, normalmente
subestimados pela população no tocante aos riscos
inerentes à sua administração, podem gerar reações
de hiperssensibilidade, sangramento digestivo e
ainda mascarar a doença de base que, por sua vez,
1,2,3,4
poderá progredir .
Os anti-inflamatórios se tornaram no decorrer
do tempo, um grupo de medicamentos de rotina para
o combate de inflamações e dores lombares,
musculares, cefaleias, entre outras, proporcionando
um alívio imediato. Os anti-inflamatórios nãoesteroides (AINES) são medicamentos notoriamente
utilizados por toda a população mundial como
fármacos muito eficazes e seguros, todavia
ocasionam inúmeros tipos de reações adversas,
1,2
podendo até causar a morte . Os efeitos adversos
apresentados pelos AINES são: distúrbios gástricos,
úlceras gástricas e duodenais, podendo ser anotado
processo anêmico pela perda sistemática de sangue
devido às ulcerações, enquanto a hepatotoxicidade,
a asma, as erupções cutâneas e a nefrotoxicidade
1,2
ocorrem em menor frequência .
Os AINES possuem propriedades analgésica,
antitérmica, anti-inflamatória e antitrombótica. Sua
propriedade terapêutica redunda da ação sobre a
enzima cicloxigenase, que é dividida em:
constitutiva (COX-1) e indutiva (COX-2). A inibição
da COX-2 pelos AINES se dá de maneira vagarosa e
tempo-dependente. O efeito da inativação dessa
isoenzima, na realidade, processa-se de maneira
indireta, na medida em que as prostaglandinas, não
produzem hiperalgesia, mas sim sensibilizam
receptores situados no local lesado a diversos
neurotransmissores, como bradicinina, serotonina,
substância P, entre outros. Desta forma, pode-se
considerar os AINES mais como agentes antihiperalgésicos do que como propriamente
analgésicos.
A grande maioria dos AINES disponíveis não
apresenta especificidade em relação à COX-2,
bloqueando, por conseguinte, ambas as isoformas e
isso explica, em parte, seus efeitos colaterais.
Existem substâncias com atividade preferencial
sobre esta última, como o meloxicam e o nimesulide,
porém os únicos AINES com seletividade
reconhecidamente específica para a COX-2 são os
derivados coxib1,2. A aspirina, por exemplo, é o antiinflamatório mais bem estudado, entre os derivados
do ácido acetilsalicílico, pois foi introduzida na
prática clínica em 1899.1 Apesar de ser amplamente
utilizada no nosso meio, a aspirina tem sido cada vez
menos utilizada em outros países, desde que ficou
comprovada sua toxicidade para o trato
gastrointestinal e, em crianças, sua associação com
a síndrome de Reye1,2.
A dipirona, muito utilizada como antitérmico e
analgésico, está associada com aplasia medular,
Perspectivas Médicas, 24(1): 10-19, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130102.5468572371
12
Automedicação em estudantes de medicina. - Veronica Ozaki Gushiken e cols.
que fez com que esse fármaco fosse retirado do
mercado em diversos países. Apesar de ser um dos
analgésicos mais utilizados no Brasil, a dipirona
não está incluída na lista de medicamentos
considerados essenciais pela Organização Mundial
1-3
da Saúde .
O ibuprofeno é um dos derivados do ácido
propiônico e pode ser utilizado em crianças com alta
margem de segurança, sendo uma medicação com
maior tempo de ação e custo semelhante ao
paracetamol. Outros AINES derivados do ácido
propiônico (naproxeno e cetoprofeno) foram
aprovados para uso em adultos, nos Estados Unidos,
porém, ainda não estão aprovados para crianças
menores de 12 anos sem supervisão médica1,2. De
acordo com Loyola Filho1 e Barros1, existem
diversos fatores no âmbito econômico, político e
cultural que contribuem para o crescimento e
difusão da automedicação no mundo, tornando essa
prática um problema de saúde pública. A facilidade
de aquisição sem a prescrição médica, a
propaganda comercial maciça de alguns remédios, a
falta de orientação sobre os riscos inerentes, o
acesso rápido às informações sobre o fármaco na
internet ou em outros meios de comunicação são
alguns dos motivos que contribuem para o
crescimento e difusão dessa conduta1,2.
Segundo a Organização Mundial de Saúde e o
Ministério da Saúde, o mercado brasileiro dispõe de
mais de 32 mil medicamentos. No entanto, sabe-se
que, para tratar uma ampla gama de doenças, cerca
de 420 produtos seriam suficientes. No Brasil são
comercializados quase 2 bilhões de caixas, o que o
torna o quarto na lista dos países que mais
consomem produtos farmacêuticos, precedido pelos
Estados Unidos, França e Alemanha. Nesses países,
no entanto, o rígido controle estabelecido pelas
agências reguladoras e o crescente envolvimento
dos farmacêuticos para o desestímulo dessa prática,
tendem a tornar essa situação menos crítica1,2,3.
A venda indiscriminada de medicamentos no
Brasil, faz com que nosso país ocupe o quinto lugar
na listagem mundial de consumo de medicamentos e
1,2,3
o primeiro lugar na América Latina . A
automedicação no Brasil é praticada
principalmente por mulheres, entre 16 e 45 anos.
Entre os homens, essa prática é mais frequente nas
idades extremas. A escolha de medicamentos é
baseada principalmente na recomendação de
pessoas leigas (51,0%), sendo também relevante a
influência de prescrições anteriores (40,0%). Se for
levado em consideração o motivo do uso de
medicamentos pelos brasileiros, relacionando-o
com a idade, observa-se que: em menores de 15 anos
são mais frequentes os problemas de infecção
respiratória alta (27,0%), suposta carência
vitamínica (9,0%), infecção da pele (6,0%) e dor de
cabeça (5,0%); entre os 16 e 55 anos, infecção
respiratória alta (18,0%), dor de cabeça (13,0%) e
dispepsia/má digestão (9,0%); entre os maiores de
55 anos, problemas cardiovasculares (19,0%), dores
musculoesqueléticas (12,0%) e dor de cabeça
1,2,3,4
(10,0%) .
A Organização Mundial da Saúde - OMS define
a automedicação responsável como "a prática dos
indivíduos em tratar seus próprios sintomas e males
menores com medicamentos aprovados e
disponíveis sem a prescrição médica e que são
seguros e efetivos quando usados segundo as
instruções". Os riscos da automedicação
contrapõem-se com uma eventual necessidade desta
prática pela população, já que está diretamente
relacionada com a redução da demanda pela busca
do serviço de saúde, muitas vezes excessiva.
Partindo dessa consideração, a OMS recomenda
que os medicamentos para a prática da
automedicação responsável sejam acompanhados
1
por uma informação adequada ao consumidor . Vale
ainda enfatizar, no entanto, que esse conceito é
válido apenas para medicamentos isentos de
prescrição, chamados também "medicamentos de
venda livre" ou "medicamentos anódinos". Desta
forma, observamos que, apesar de haver um risco
intrínseco na administração de qualquer
medicamento, é de conhecimento comum a
conivência oficial ao uso pela população de
fármacos reconhecidamente considerados pouco
nocivos por parte das populações1,2,3. Estudos
indicam que um indivíduo hígido pode necessitar de
3 ou 4 caixas de medicamentos por ano, entretanto
os brasileiros estão consumindo, em média, 11
caixas de remédio, sendo 8 delas sem orientação
médica. De acordo com a OMS, mais de metade de
todos os medicamentos prescritos, vendidos ou
dispensados é utilizado incorretamente. Os dados
mencionados acima podem ter correlação com as 24
Perspectivas Médicas, 24(1): 10-19, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130102.5468572371
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Automedicação em estudantes de medicina. - Veronica Ozaki Gushiken e cols.
mil mortes anuais no Brasil por intoxicação
medicamentosa, conforme estimativa da Fundação
1,2,3
Oswaldo Cruz .
Existem estudos brasileiros que concluem que os
maiores adeptos da automedicação são aqueles que
dispõem de um maior grau de informação.
Demonstra-se que o acúmulo de conhecimento, seja
ele adquirido nas instituições educacionais ou em
experiências de vida, gera uma maior confiança
naqueles que se automedicam1,2,3. Os estudantes
universitários formam uma comunidade jovem e
potencialmente saudável, pelo que os seus
problemas de saúde e o tipo de medicamentos mais
consumidos não refletem os da população em geral.
No entanto, estes estão expostos a fatores de risco
específicos, tais como o estresse e o esforço
intelectual intenso, cujas repercussões na sua saúde
são de extrema relevância. Por outro lado, os
estudantes universitários são um grupo privilegiado
do ponto de vista socioeconômico e cultural,
supostamente informado relativamente à
problemática da saúde e ao uso adequado de
medicamentos e cada um assumirá como líder de
opinião nas comunidades onde estiver inserido após
a sua formação profissional.
Assim, a caracterização do padrão de consumo
de medicamentos neste grupo populacional poderá
contribuir não só para um melhor conhecimento
sobre a sua saúde, mas, também, para a elaboração
de programas que irão atingir o uso racional do
medicamento nesta comunidade e na população em
geral. Em relação aos médicos que cometeram
suicídio, a automedicação apresenta-se como uma
das hipóteses1,2,3,4. No Brasil, estudos de base
populacional sobre a prevalência e os fatores
associados à automedicação são raros.
OBJETIVOS
O presente trabalho realizou o levantamento da
prática da automedicação e dos seus principais
motivos entre os discentes do curso médico da
Faculdade de Medicina de Jundiaí.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa foi realizada por meio de um
estudo transversal, quantitativo e descritivo dos
alunos do curso de medicina da Faculdade de
Medicina de Jundiaí, através de um questionário
desenvolvido para a pesquisa (Anexo 1).
O questionário possuiu variáveis
sociodemográficas: gênero, idade, ano letivo. Os
estudantes foram arguidos sobre a presença ou
ausência do hábito de automedicar-se e avaliados
sobre as principais vias de administração desse
procedimento: obtenção de drogas por orientação
de farmacêuticos ou indicação de terceiros (leigos
ou não), uso de remédios por conta própria,
medicamentos prescritos para outras doenças e
compra sem indicação médica. Também foi avaliada
a procura ou não de orientação médica, assim como
a presença de sintomas nos últimos 12 meses, tais
como: dores de cabeça, gripe e/ou resfriado,
náuseas e/ou vômito, diarreia, dor e desconforto
abdominal, azia, dores musculares, cólica
menstrual, febre, dor de garganta, dor de ouvido e
processos alérgicos.
Foi ainda questionado quanto ao uso de
medicamentos e o prognóstico dos sinais e sintomas.
RESULTADOS
Os questionários foram aplicados em 275
estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí,
Estado de São Paulo, Brasil, que aceitaram
responder ao questionário, mediante a assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido. A idade
de maior incidência entre os estudantes do curso de
medicina foi de 22 anos, com idade mínima de 18
anos e máxima de 40 anos (desvio padrão=2,96). Na
amostra observada, a maior porcentagem foi do
gênero feminino (63,6%=175 estudantes),
comparando-se com o masculino (36,4%=100
estudantes) em todos os anos do curso de medicina.
Os alunos em cada ano do curso de medicina que
voluntariamente participaram da pesquisa foram 50
(18,2%) alunos do primeiro ano, 45 (16,4%) alunos
do segundo ano, 50 (18,2%) alunos do terceiro ano,
56 (20,4%) alunos do quarto ano, 61 (22,2%) alunos
do quinto ano, 13 (4,7%) alunos do sexto ano. Ao
serem questionados sobre o seu estado da saúde
geral atualmente, 62 (22,5%) estudantes
classificaram como excelente; 114 (41,5%)
estudantes como muito boa; 75 (27,3%) estudantes
como boa; 22 (8%) estudantes como razoável e 2
como ruim. (Tabela 1). Como pode ser visto na
Tabela 2, 261 (94,9%) estudantes entrevistados
fizeram uso de medicamento sem prescrição médica.
Desses estudantes, as principais causas da
Perspectivas Médicas, 24(1): 10-19, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130102.5468572371
14
Automedicação em estudantes de medicina. - Veronica Ozaki Gushiken e cols.
Anexo 1: Modelo de questionário utilizado.
PARTE I - Dados Básicos/ Gerais
1.Idade: em anos (
3. O(S) medicamento(S) utilizado(S) foi(RAM) (sem
prescrição médica):
)
2.Sexo: MASCULINO(
)
FEMININO(
( )ANALGÉSICO – Qual o medicamento (ESCREVER O
NOME)?_____________
( )ANTITÉRMICO - Qual o medicamento?_____________
( )ANTI-INFLAMATÓRIO NÃO-HORMONAL - Qual o
medicamento?___________________________________
( )ANTI-INFLAMATÓRIO ESTEROIDAL - Qual o
medicamento?___________________________________
(
)ANTIBIÓTICO –Qual o medicamento?
___________________________________
( )OUTROS,
QUAL?_______________________________
)
3.Ano que está cursando (Curso Medicina): (
)
PARTE II - Saúde Geral .
Agora, gostaria que respondesse algumas questões
sobre a sua saúde geral.
1.Em geral, acha que sua saúde, hoje está :
( )excelente; ( )muito boa; ( )boa;
( )razoável;
( )ruim
2. Teve problemas com sua saúde nos últimos doze meses
que te impediram de realizar suas atividades diárias
(Frequentar as aulas da faculdade)?
4. Houve melhora dos sintomas?
( )SIM
( )NÃO
SIM(
Se não, você continuou a automedicação com outro
medicamento?
)
NÃO(
)
Se sim, qual foi o problema?
(
(
___________________________________________
3. Quantas vezes você consultou algum médico nos últimos
12 meses?
( )NENHUMA
( )1 VEZ
( )2 a 4 VEZES
(
)MAIS de 4 VEZES
4. Qual foi o motivo da consulta?
_______________________________________
5. Você é tabagista?
SIM(
)
NÃO(
)
-
No. Cigarros_______/DIA
6. Você faz uso de bebida alcoólica? SIM(
Quantidade______/SEMANA
) NÃO(
)
PARTE III - Automedicação
Nesta terceira e última parte gostaria que desse suas
opiniões sobre algumas questões a respeito da prática de
automedicação.
1.Você já fez uso de algum medicamento sem prescrição
médica? SIM( )
NÃO( )
2. Assinale a(S) alternativa(S) que contêm(NHAM) a(S)
causa(S) de sua automedicação:
( )CEFALEIA
( )GRIPE/RESFRIADO
( )NÁUSEAS/VÔMITOS
( )DIARREIA
( )CONSTIPAÇÃO
( )CÓLICAS ABDOMINAIS/MENSTRUAIS
( )QUEIMAÇÃO no ESTÔMAGO
( )DORES MUSCULARES
( )FEBRE
( )DOR de GARGANTA
( )DOR de OUVIDO
( )PROCESSOS ALÉRGICOS
( )OUTROS,
QUAL?_______________________________
)NÃO
)SIM Qual medicamento? _____________________
5. A prática da automedicação, já causou efeitos colaterais?
(melhorou os sintomas iniciais, porém trouxe outros sintomas
indesejáveis)
( )NÃO
( )SIM Qual efeito colateral?____________________
6. Qual foi a via de administração do medicamento (sem
prescrição médica)?
( )ORAL
( )INTRAMUSCULAR
( )ENDOVENOSA
( )SUBCUTÂNEA
( )OUTRA, QUAL?_______________________________
7. Quem indicou o uso do medicamento sem prescrição
médica?
( )FARMACÊUTICO
( )Havia o medicamento em casa e foi prescrito em outra
situação.
( )Havia o medicamento em casa, mas foi comprado sem
indicação médica.
( )TERCEIROS (amigos ou outras pessoas do convívio
social indicaram o uso do medicamento)
( )OUTROS, QUEM?_____________________________
8. No período dos últimos 12 meses, qual a frequência de
automedicação?
( )NENHUMA
( )1 a 3 VEZES
( )4 a 7 VEZES
( )8 a 10VEZES
( )11 VEZES ou MAIS
9. Você já fez uso de alguma droga ilegal?
( )SIM
( )NÃO
Se sim, qual foi a droga utilizada?
_______________________________________________
Obrigada por sua cooperação.
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Automedicação em estudantes de medicina. - Veronica Ozaki Gushiken e cols.
a u t o m e d i c a ç ã o f o r a m : g r i p e / re s f r i a d o ,
212(77,1%); cefaleia, 198(72%); dores musculares,
154(56%); dor de garganta, 154(56%) - Tabela 3.
Os principais medicamentos usados para os
sintomas apresentados anteriormente foram:
analgésicos (252 estudantes - 91,6%), AINES (240
estudantes - 87,3%) e antitérmicos (166 estudantes 60,4%) - Tabela 4. Todos os estudantes que fizeram
uso de algum medicamento sem prescrição médica
relataram melhora dos sintomas iniciais.
Além disso, 89,5% (n=246) dos estudantes
que se automedicam afirmaram não apresentar
efeitos colaterais após uso do medicamento e apenas
5,5% (n=15) confirmaram ter tido efeitos colaterais
pelo seu uso. O medicamento usado pelo estudante
entrevistado foi indicado principalmente por:
"havia o medicamento em casa e foi prescrito em
outra situação", 94 estudantes (34,2%); "havia o
medicamento em casa, mas foi comprado sem
indicação médica", 76 estudantes (27,6%). A
frequência de uso da automedicação, nos últimos 12
meses, observada pela Tabela 5 é de 1 a 3 vezes para
a maioria dos estudantes entrevistados,
representado por 117 estudantes (42,5%).
Tabela 1: Classificação do estado de saúde geral dos estudantes da
Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo, Brasil, 2012 (n=275).
Classificação
Valor absoluto
Frequência (%)
Excelente
62
22,5
Muito boa
114
41,4
Boa
75
27,3
Razoável
22
8,0
Ruim
2
0,8
TOTAL
275
100,0
Tabela 2: Uso de medicamentos sem prescrição médica entre os
estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo, Brasil, 2012.
Tabela 3: As principais causas de automedicação entre os
estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo,
Brasil, 2012 (n=275).
Valor absoluto
Frequência (%)
Gripe/resfriado
212
77,1
Cefaleia
198
72,0
Dores musculares
154
56,0
Dor de garganta
154
56,0
Causas de
automedicação
Obs: Dentre os 275 estudantes que responderam o questionário,
houve estudantes que usaram mais de um medicamento para
diversos sintomas, justificando valor absoluto > 275 e frequência
> 100.
Tabela 4: Os principais medicamentos usados pelos estudantes
da Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo, Brasil, 2012
(n=275).
Medicamentos
Valor absoluto
Frequência (%)
Analgésicos
252
91,6
Anti-inflamatórios não-esteroidais
240
87,3
Antitérmicos
166
60,4
Antiácidos
65
23,6
Antiespasmódicos
52
18,9
Anti-inflamatórios esteroidais
21
7,6
Antieméticos
16
5,8
Obs: Dentre os 275 estudantes que responderam o questionário,
houve estudantes que usaram mais de um medicamento para
diversos sintomas, justificando valor absoluto > 275 e frequência
> 100.
Tabela 5: A frequência de uso de automedicação entre
estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo,
Brasil, nos últimos 12 meses (2012).
Frequência de uso de
automedicação
(nos últimos 12 meses)
Nenhuma
Valor absoluto
Frequência (%)
23
8,4
1 a 3 vezes
117
42,5
Uso de medicamentos
Valor absoluto
Frequência (%)
4 a 7 vezes
66
24,0
SIM
261
94,9
8 a 10 vezes
28
10,2
NÃO
14
5,1
Mais de 11 vezes
41
14,9
TOTAL
275
100,0
Total
275
100,0
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Automedicação em estudantes de medicina. - Veronica Ozaki Gushiken e cols.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
A automedicação é uma decisão
potencialmente nociva à saúde individual e coletiva.
Até mesmo um remédio utilizado de forma correta
em sua indicação, se administrado em altas doses,
pode causar sérios danos ao usuário. Em
contrapartida, a total obrigatoriedade da
prescrição para a aquisição de algum fármaco pode
eventualmente representar uma limitação da
liberdade pessoal de busca imediata do alívio da
sintomatologia, impedindo, por exemplo, que o
indivíduo faça preponderar sua própria experiência
e vontade1,2. A discussão dos resultados nos permitiu
traçar o perfil do estudante de medicina da
Faculdade de Medicina de Jundiaí e avaliar os
conhecimentos e práticas da automedicação no
meio acadêmico.
De acordo com a Tabela 2, 94,9% (n=261) dos
estudantes entrevistados automedicam-se, sendo
que 34,2% (n=94) dos entrevistados se
automedicam através da reutilização de receitas
médicas emitidas em outra ocasião. Assim, podemos
supor que o médico é o verdadeiro introdutor do
medicamento no âmbito familiar e, mesmo sem
querer, é o principal gerador do processo de
1,2
automedicação .
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINES)
constituem um grupo terapêutico de interesse, pois
têm propriedades analgésicas, antipiréticas e antiinflamatórias que os tornam muito atraentes, tanto
para os médicos quanto para os pacientes1. Esse fato
pode explicar a presença de 240 estudantes (87,3%)
em nossa pesquisa terem usado o medicamento
AINE. Os AINES estão entre as classes terapêuticas
mais consumidas no mundo5, sendo, em alguns
países, a mais consumida sem receita médica1.
Estima-se que mais de 30 milhões de pessoas tomem
1
AINES diariamente e, só nos Estados Unidos, são
vendidos, anualmente, mais de 30 bilhões de
1,2
comprimidos . Esses dados coincidem com o
resultado encontrado em nossa pesquisa, AINES
estão entre os medicamentos mais usados pelos
estudantes. Assim como outros medicamentos, os
AINES têm o potencial para causar reações
adversas, dada a sua toxicidade sobre vários
sistemas. Entre os efeitos mais importantes estão os
bem documentados danos gastrointestinais, que
podem ir do desconforto abdominal até a erosão da
mucosa, chegando ao sangramento e perfuração,
podendo levar ao óbito. Achados significativos
também foram encontrados com os analgésicos 252 estudantes (91,6%) e com os antitérmicos - 166
estudantes (60,4%).
Os AINES podem induzir ou agravar a
hipertensão arterial ou provocar insuficiência renal
síndrome nefrótica, necrose papilar e outras formas
de doença renal. São conhecidos os efeitos
hematológicos, que incluem agranulocitose,
neutropenia, anemia hemolítica ou aplástica. Eles
podem causar cefaleia, confusão mental, parestesia,
1
ou ainda hepatotoxicidade . Nesta pesquisa não
pudemos observar número significativo de
estudantes com tais efeitos colaterais descritos
anteriormente, talvez em decorrência da idade do
grupo estudado, grupo amostral muito jovem e
saudável, efeitos colaterais podem passar
imperceptíveis ou mesmo estarem ausentes. As
razões pelas quais as pessoas se automedicam são
inúmeras. A propaganda desenfreada e maciça de
determinados medicamentos contrasta com as
tímidas campanhas que tentam esclarecer os perigos
da automedicação. Com o objetivo de proteger o
consumidor, o controle da propaganda/
promoção/publicidade de medicamentos é regulado
no Brasil pela Resolução RDC nº 102 desde junho de
2001.
Além dos diversos motivos para
automedicação anteriormente mencionados,
podemos acrescentar a limitação do poder
prescritivo, atualmente restrito aos médicos; o
número excessivo de farmácias nos grandes centros;
a angústia e sofrimento desencadeados pelos
sintomas; a facilidade de acesso à informação na
internet em sites de busca; a falta de fiscalização em
relação à venda de remédios tarjados e a falta de
programas educativos a respeito dos efeitos muitas
1,2
vezes irreparáveis da automedicação . Não se pode
condenar o ato de se automedicar porque seria
socioeconomicamente inviável o atendimento por
um médico para a solução de todos os sintomas da
população. Parece haver uma tendência mundial
1
para maior aceitação da automedicação .
Assim, é necessário que a sociedade se adapte,
a população receba mais informação científica
sobre o uso de medicamentos de "venda-livre", sem
estímulo ao consumo excessivo, ao mesmo tempo em
Perspectivas Médicas, 24(1): 10-19, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130102.5468572371
17
Automedicação em estudantes de medicina. - Veronica Ozaki Gushiken e cols.
que haja incentivo à procura do profissional médico,
relevando a importância que uma consulta médica
pode trazer em relação à automedicação.
Agradecimentos e Suporte Financeiro:
CNPQ/PIBIC e a Faculdade de Medicina de
Jundiaí, FMJ.
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20
ARTIGO ORIGINAL
Utilização da força magnética para atrair objetos metálicos inseridos em ratos.
Using magnetic force to attract metal objects inserted in rats.
Palavras-chave: campos magnéticos; corpos estranhos; magnetoterapia; experimentação animal.
Key words: magnetic fields; foreign bodies; magnet therapy; animal experimentation.
Flávio Maia Castilho1
Marcus Vinícius Henrique de Carvalho2
Ana Carolina Gandolpho3
Evaldo Marchi4
1
2
3
4
Aluno do 6º ano do curso de graduação em
medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí
(FMJ), Jundiaí, São Paulo, Brasil.
Professor Adjunto da Disciplina de Técnica
Cirúrgica da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil.
Médica Residente Hospital Universitário da FMJ,
Jundiaí, São Paulo, Brasil.
Professor Associado da Disciplina de Cirurgia
Torácica da FMJ, Jundiaí, São Paulo, Brasil.
Endereço para correspondência:
Flávio Maia Castilho - Rua Francisco Telles, 250,
Vila Arens, Jundiaí, São Paulo, CEP 13202-550.
Telefone: (11) 4587-1095.
Não há conflito de interesses.
Artigo ainda não publicado na íntegra.
Artigo recebido em: 25 de Setembro de 2012.
Artigo aceito em: 17 de Março de 2013.
RESUMO
Os autores desenharam este estudo para
avaliar se a força de atração do campo magnético é
mantida dentro do organismo de ratos. Cada um dos
vinte ratos deste estudo foi submetido à inserção de
uma agulha de fio de polipropileno seis zeros e
também à inserção de um magneto a dois
centímetros de distância da agulha e em posição
mais alta em relação à agulha. A posição da agulha e
do magneto foi verificada através de exame
radiológico 30 dias após o procedimento. Quatro
animais foram excluídos do estudo, três porque
morreram antes de completar um mês do
procedimento e um animal porque houve migração
caudal do magneto. A atração da agulha pelo
magneto foi completa em 68,75% dos animais (11 em
16 ratos). Os resultados deste estudo sugerem que o
campo magnético permanece no meio orgânico e é
suficiente para atrair objetos metálicos. Estas
informações podem servir de subsidio para testar a
utilização da força magnética para atrair objetos
metálicos esquecidos em regiões do corpo humano
que ofereçam menor risco se comparado a um ato
cirúrgico para sua retirada.
ABSTRACT
The authors have drawn this study to evaluate if
the attraction force of the magnetic field is
maintained inside the organism of rats. Each one of
the twenty rats of this study was submitted to
insertion of a six zero propylene needle and also a
magnet two centimeters distant from the needle and
in a position more elevated than the needle. The
position of the needle and the magnet was checked
through a radiographic exam 30 days after the
procedure. Four animals were excluded of this study,
three of them died before completing one month from
the procedure and one animal was excluded due to a
caudal migration of the magnet. The needle
attraction by the magnet was integral in 68.75% of
the animals (11 out of 16 rats). The results of this
study suggest that the magnetic field is maintained in
organic medium and it is sufficient to attract metallic
objects. Such information can be an useful subsidy to
test the use of magnetic force to attract metallic
objects forgotten in to regions of the human body
which have lower risk comparing with surgical act to
extract it.
Perspectivas Médicas, 24(1): 20-23, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130103.4866412620
21
Utilização da força magnética para atrair objetos metálicos inseridos em ratos. - Flávio Maia Castilho e cols.
INTRODUÇÃO
O esquecimento de objetos dentro do corpo
durante operações é infrequente, mas é um erro
médico com potencial risco para o paciente e com
1
consequências jurídicas sérias . A literatura sobre o
assunto estima que em operações intra-abdominais
ocorra esquecimento de objetos estranhos na
proporção de 1:1000 a 1:1500 operações, embora a
maioria desses corpos estranhos seja de compressas
e gases, a segunda categoria mais frequente é a de
(1,2)
instrumentos metálicos . Além disso, há a
possibilidade de penetração de objetos metálicos no
corpo decorrente de acidentes ou por introdução
voluntária como no caso de crianças e pessoas com
distúrbios psiquiátricos. Na maioria desses casos, a
solução é a retirada do objeto estranho através de
operações quase sempre de grande porte3,4,5.
Existem poucos estudos demonstrando o uso da
força magnética em medicina e cirurgia. Diante
dessa situação, há interesse em se testar a hipótese
da retirada de corpos estranhos metálicos com o
auxílio da força magnética. Os autores desenharam
este estudo com o objetivo de avaliar a possibilidade
de atrair agulhas de fio cirúrgico inseridas no corpo
de ratos com o uso de magneto.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram utilizados 20 ratos adultos da linhagem
Wistar. Utilizou-se fragmentos magnéticos
N35/NdFeB/35MGOe, (Super-imãs, Jundiaí, SP).
Os fragmentos magnéticos são compostos do metal
Neodímio, medidas de 11,5 x 1,5mm e formato de
pastilhas cilíndricas. Foram usadas agulhas de fio
de polipropileno n. 6.0 (Prolene®
Johnson&Johnson, S. José dos Campos, SP)
inseridas na região do apêndice xifóide sob o
músculo reto abdominal e o magneto foi inserido
entre as lâminas dos músculos oblíquos na parede
abdominal, distante 20 mm do local de inserção da
agulha do fio de polipropileno. A escolha do local do
implante do magneto visou que ele ficasse em um
plano 10mm mais elevado do que a agulha de modo
que, para constatação da atração magnética, a
força magnética tivesse que vencer a força da
gravidade (Figura 1).
Figura 1: Representação esquemática mostrando o posicionamento da
agulha e do magneto a 20mm de distância da agulha e em uma posição
mais alta que a agulha (10mm); se a agulha fosse colocada em uma
posição mais alta que o magneto a aproximação com este poderia ser
influenciada pela força da gravidade.
Anestesia dos animais: Acepromazina 1%
(Acepran®, Univet, São Paulo), 10mg/ml, na dose
de 0,01ml/Kg intramuscular e tiletamina-zolazepan
(Zoletil®, Virbac, São Paulo) na dosagem de
10ml/Kg, intramuscular. Em seguida a tricotomia foi
realizada e a operação teve início. Procedimento
operatório: os animais foram posicionados em
decúbito lateral esquerdo e o procedimento foi
conduzido de maneira asséptica. Foi realizada uma
incisão de aproximadamente 5mm na região da
fúrcula esternal e por divulsão foi atingida a região
sob o músculo reto abdominal direito e foi inserida a
agulha nesse local. Outra incisão de 5mm foi
realizada na região do flanco esquerdo do animal e
por divulsão foi encontrado o espaço entre as
lâminas dos músculos oblíquos externo e interno,
onde foi inserido o magneto.
Controle da posição dos objetos metálicos:
Foram realizados exames radiológicos nos animais,
30 dias após o procedimento. Todos os exames
radiológicos foram feitos na posição de decúbito
dorsal e decúbito lateral esquerdo. A Figura 2
mostra o exame radiológico de um dos animais 30
dias após o procedimento de inserção de agulha e
magneto, demonstrando a atração da agulha.
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Utilização da força magnética para atrair objetos metálicos inseridos em ratos. - Flávio Maia Castilho e cols.
não foram excluídos e sim considerados como 'falha'
na atração da agulha pelo magneto.
A Tabela 1 mostra o resultado da atração entre
os objetos metálicos, baseada na comprovação
radiológica. Para análise da comprovação de
atração agulha-magneto foram, então, excluídos
quatro animais (três que morreram e um em que
houve uma migração caudal do magneto).
Tabela I – Resultado da atração entre os objetos.
Figura 2: Radiografia feita 30 dias após a inserção de agulha e magneto,
demonstrando atração da agulha pelo magneto.
Estatística: Os dados foram estudados através
de frequências absolutas (n) e relativas (%), média ±
desvio-padrão. Para a prevalência avaliada, foi
calculado valor p (quando diferente de zero foi
considerado significativo), através do teste Z para
proporções, e seu intervalo de confiança foi
considerado de 95%.
O software utilizado para análise foi o SAS
versão 9.2 e o nível de significância foi assumido em
5% (p < 0,05).
RESULTADOS
O peso médio dos ratos estudados foi de
344,7±43,2g. No período pós-operatório, três
animais morreram e em apenas um deles foi possível
verificar através de exploração operatória a
posição dos objetos metálicos, e neste caso, foi
constatado que a agulha foi atraída completamente
pelo magneto. Entretanto, este animal não foi
computado como pertencente ao grupo em que
houve atração da agulha pelo magneto, porque o
critério para inclusão neste grupo foi a constatação
radiológica. Em outro caso, houve migração do
magneto para a região caudal do animal, alterando
as condições para conclusões do experimento e
também foi excluído. Em dois animais, no exame
radiológico após 30 dias, ocorreu que a agulha não
foi visualizada, mas para análise estatística esses
n
%
ATRAIU TOTALMENTE
AGULHA NÃO FOI ATRAÍDA
OU NÃO FOI VISUALIZADA
11
5
68,75
31,25
TOTAL
16
100,00
Para análise estatística foram considerados,
então, 16 animais sobreviventes e nos quais se pode
ver radiologicamente, no mínimo, o magneto. Nesse
grupo de 16 animais, em dois deles não se pode ver a
agulha, mas ambos entraram como 'falha' na
atração. Assim, entre os 16 animais, houve
comprovação de atração da agulha pelo magneto
em 11 animais (68,75%), com comprovação por
significância estatística. Todo este estudo foi
realizado com as normas éticas do CEUA.
DISCUSSÃO
O esquecimento durante as operações de corpos
estranhos no interior do organismo são subrelatados. Além disso, há a ocorrência de objetos
metálicos que penetram no corpo devido a
acidentes. Usualmente, a presença de objetos
metálicos no corpo nem sempre causa
consequências clínicas imediatas, mas os objetos
podem migrar para estruturas nobres e causar dor,
compressão vascular, sintomas neurológicos,
abscessos estéreis, infecção e, por isso, necessitam
ser retirados7,8. Objetos metálicos deixados no
corpo humano podem migrar para estruturas
anatômicas nobres, como o canal medular e o
interior do aparelho cardiovascular4,8.
Dependendo da localização do objeto, podem
ser necessárias operações maiores, como
toracotomias7,8 e abordagem de regiões
anatômicas próximas a estruturas nobres4,8. A
utilização de magneto para atrair esses objetos de
áreas de risco poderia evitar operações maiores.
O uso do magneto em medicina não é inédito,
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Utilização da força magnética para atrair objetos metálicos inseridos em ratos. - Flávio Maia Castilho e cols.
tendo sido utilizado para retirada de corpos
metálicos do interior do aparelho digestivo com
sussesso9. Também o magneto já se mostrou muito
útil na localização de objetos metálicos no interior
do corpo humano10. Recentemente o magneto tem
sido usado para posicionamento mais rápido e
adequado de sonda nasoenteral em posição póspilórica11. Entretanto, a utilização da força
magnética para atrair objetos metálicos, exceto por
via endoscópica, ainda não foi relatada. Neste
estudo experimental, os autores tiveram que inserir
o magneto no corpo dos animais, mas,
hipoteticamente, no ser humano o magneto poderia
ser apenas atado externamente à superfície do corpo
para atrair o objeto metálico esquecido.
Os autores acreditam que podem ser usados
imãs para atrair corpos metálicos no interior do
organismo com o objetivo de retirá-los. Neste estudo
pode-se comprovar forte força de atração agulhamagneto, pois o formato côncavo da agulha,
certamente trouxe obstáculos à migração. Além
disso, o magneto foi colocado em uma posição 10mm
mais elevada do que a posição da agulha. Fica
demonstrado, assim, que o campo magnético é
mantido no espaço corporal dos ratos e que a força
magnética persiste no meio orgânico. Os resultados
obtidos neste estudo estimulam a novas pesquisas
neste assunto.
CONCLUSÃO
Houve atração magnética das agulhas
cirúrgicas, com significância estatística. Existe
portanto a possibilidade de atrair agulhas de fio
cirúrgico inseridas no corpo de ratos com o uso de
magneto.
Agradecimento: Fonte Financiadora; PIBIC/
CNPq- Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ).
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Perspectivas Médicas, 24(1): 20-23, jan./jun.. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130103.4866412620
24
ARTIGO ORIGINAL
Fatores relevantes no desempenho cognitivo
de pacientes com doença de Parkinson:
dados de um Instituto de Geriatria e Gerontologia de Jundiaí.
Relevant factors on cognitive performance in patients with Parkinson's Disease:
data of Jundiaí Institute of Geriatrics and Gerontology.
Palavras-chave: doença de Parkinson; testes neuropsicológicos; cognição.
Key-words: Parkinson's disease; neuropsychological tests; cognition.
Luciana Maria Pires dos Santos1
Juliana Francisca Cecato2
José Eduardo Martinelli3
1
Aluna do 5° ano do curso de graduação em
medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí
(FMJ), Jundiaí, São Paulo, Brasil.
2
Mestranda pela FMJ, curso de graduação em
Psicologia da Faculdade Anhanguera de Jundiaí,
estagiária do Ambulatório de Geriatria e
Gerontologia “Jundiaí 80+”, Jundiaí, São Paulo,
Brasil.
3
Professor Responsável pela Disciplina de
Geriatria e Gerontologia da FMJ e Médico
responsável pelo Instituto de Geriatria e
Gerontologia Comendador Hermenegildo
Martinelli, Jundiaí, São Paulo, Brasil.
Endereço para correspondência:
Luciana Maria Pires dos santos, Rua Castro Alves,
13, Edifício Castro Alves, Bl. 1, Apto 22. CEP:
13215-040. Vila Graff. Jundiaí, SP. Telefones:
(11)7720-7650; (15)9789-6505.
e-mail: [email protected]
Não há conflito de interesses.
Artigo ainda não publicado na íntegra.
Artigo recebido em: 19 de Dezembro de 2012.
Artigo aceito em: 23 de Fevereiro de 2013.
RESUMO
Introdução: A Doença de Parkinson(DP) vem
sendo cada vez mais considerada uma entidade
neuropsiquiátrica, tornando mais complexo o
quadro clínico e requerendo assim, maiores
cuidados. Há evidências de que os sintomas
cognitivos são frequentemente presentes no
momento do diagnóstico e contribuem fortemente
para a progressão mais rápida da doença. Objetivo:
Avaliar os aspectos cognitivos de idosos com
diagnóstico de DP. Metodologia: Estudo de corte
transversal incluindo 24 idosos com idade igual ou
superior a 56 anos, de ambos os gêneros e que
receberam diagnóstico de DP. Foram utilizados os
testes cognitivos Mini-Exame do Estado Mental
(MEEM) e o teste de linguagem por meio da
Fluência Verbal (FV), na versão animais, frutas e
palavras com a letra “M”. Foram realizadas
análises descritivas quanto à idade, gênero e
escolaridade. A correlação entre o gênero e a
escolaridade foi feita por meio do coeficiente de
Pearson. Resultados: Separando o grupo por níveis
de escolaridade, há evidências de uma influência
dos anos de estudo na pontuação dos testes
cognitivos. No grupo com menos de 4 anos de
escolaridade, a média no MEEM foi de 21 pontos,
enquanto a média do grupo com mais de 5 anos foi de
25 pontos. A mesma influência da escolaridade se
observou no teste de fluência verbal. Conclusão:
Pode-se concluir que na DP os pacientes
apresentaram, somados aos distúrbios motores,
alterações cognitivas especialmente nas funções
verbal, executiva, visuoespaciais e distúrbios de
atenção, sendo evidenciado maior
comprometimento em pacientes com baixa
escolaridade.
ABSTRACT
Introduction: Parkinson's disease(PD) is being
increasingly seen as an entity neuropsychiatric,
become more complex the clinical and requiring
additional care. There is evidence that cognitive
symptoms are often present at diagnosis and greatly
contribute to more rapid progression of the disease.
Objective: To evaluate the cognitive aspects of
Perspectivas Médicas, 24(1): 24-30, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130104.6100673662
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Fatores relevantes no desempenho cognitivo de pacientes com doença de Parkinson... - Luciana Maria Pires dos Santos e cols.
elderly people diagnosed with PD. Methods: Crosssectional study with 24 elderly, aged 56 years and
up, of both sexes, who received a diagnosis of PD.
Cognitive tests were used Mini-Mental State
Examination (MMSE) test and the language through
Verbal Fluency (VF) version animals, fruits and
words with the letter "M". Descriptive analyzes were
performed for age, gender and education. The
correlation between gender and schooling was done
through the Pearson coefficient. Results: Separating
the group by level of education, the results show an
influence of years of study in cognitive test scores. In
the group with less than 4 years of study, the average
MMSE was 21 points, with an average group with
over 5 years, equal to 25 points. The same influence
of schooling was observed in verbal fluency test.
Conclusion: We can conclude that in PD patients it
was added to motor disturbances, cognitive
functions, especially in verbal, executive,
visuospatial and attention disorders, as evidenced
greater impairment in patients with low schooling.
INTRODUÇÃO
Devido ao aumento da expectativa de vida da
população mundial, as doenças que acometem os
idosos tornam-se cada vez mais frequentes e dessa
forma recebem maior atenção da comunidade
científica, tanto na área clínica como na área
experimental. A Doença de Parkinson (DP) é a
segunda doença neurodegenerativa mais comum
que acomete o Sistema Nervoso Central (SNC),
depois da Doença de Alzheimer, e tem como
principal fator de risco o envelhecimento. Afeta mais
de 1% da população idosa e pode chegar a 50% dos
indivíduos acima de 85 anos, que exibem algum sinal
sugestivo da doença1,2.
A DP é uma enfermidade idiopática,
degenerativa e progressiva do SNC que acomete
principalmente os idosos acima de 50 anos. Ocorre
por degeneração do neurônio dopaminérgico
situado na Substância Negra do mesencéfalo rostral,
que resulta na diminuição da produção de
dopamina. Em consequência disso, ocorre a
alteração na transmissão de informações simpáticas
no circuito córtico-basal-tálamo-cortical e assim,
desencadeia alterações das funções motoras como
bradicinesia e hipocinesia, que podem ser vistas
frequentemente na marcha. Além disso, pode haver
congelamento motor, rigidez, tremor em repouso,
instabilidade postural, incoordenação motora e
dificuldade de fala e de deglutição. Somado a isso,
existem ainda as disfunções não motoras, como as
alterações nas funções cognitivas, representadas
pela incapacidade de tomar decisões e de controle
da atenção, particularmente para execução entre
d u a s t a re f a s , b e m c o m o n a s f u n ç õ e s
comportamentais, retratadas por alterações no
1-3
controle da motivação, ansiedade e depressão .
Há evidências de que os sintomas cognitivos
estão frequentemente presentes no momento do
diagnóstico e contribuem fortemente para a
progressão mais rápida da doença. De acordo com
estudos recentes, o prejuízo cognitivo pode variar
desde um declínio cognitivo leve até a demência,
sendo o segundo amplamente reconhecido e
justificado em parte pela melhor compreensão da
demência e, portanto, pelo diagnóstico mais
frequente desta doença, mas também devido à
sobrevida maior dos pacientes portadores de DP.
Esses prejuízos juntos afetam cerca de 40% dos
pacientes com DP e isso equivale a uma incidência
seis vezes maior do que em indivíduos saudáveis,
1-4
sendo cumulativa com o avançar da idade .
Neste contexto, indivíduos com DP não
dementes apresentam um relativo déficit executivo
(“síndrome disexecutivo” ou “disfunção do lobo
frontal”) e alterações cognitivas secundárias em
outros domínios, como memória, linguagem e
5-7
habilidades visuoespaciais .
Portanto, a necessidade de compreensão das
modificações provocadas em decorrência da DP,
que diferem de uma população de idosos saudáveis,
é de fundamental importância para abrir a
possibilidade de amplificação dos recursos
diagnósticos e terapêuticos, visto que, apesar dos
avanços no tratamento farmacológico e cirúrgico,
os distúrbios cognitivos aumentam a carga de
cuidados e da frequência de institucionalização,
além de reduzir a qualidade de vida dos pacientes,
familiares e cuidadores8.
OBJETIVOS
Avaliar os aspectos cognitivos de idosos com
diagnóstico de Doença de Parkinson.
Perspectivas Médicas, 24(1): 24-30, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130104.6100673662
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Fatores relevantes no desempenho cognitivo de pacientes com doença de Parkinson... - Luciana Maria Pires dos Santos e cols.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa foi realizada no período de agosto
de 2011 a agosto de 2012, no Instituto de Geriatria e
Gerontologia, no município de Jundiaí, Estado de
São Paulo, Brasil. O estudo foi de corte transversal
incluindo 24 idosos, com idade igual ou superior a
56 anos, de ambos os gêneros e que receberam
diagnóstico de DP pelos critérios do DSM-IV9,
Critérios de diagnósticos da Doença de Parkinson
pelo Banco de Cérebros Reino Unido e representado
como G20.0 no CID - 10 (Classificação
Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde).
De acordo com o Banco de Cérebros do Reino
Unido, são necessárias três etapas para o
diagnóstico de DP. Na primeira, é necessária a
presença de bradicinesia e pelo menos um dos
seguintes (rigidez muscular, tremor de 4-6hz ou
instabilidade postural), para que haja o diagnóstico
de parkisonismo. Na segunda etapa devem ser
excluídas as características a seguir como causa de
parkinsonismo: histórias repetidas de AVC com
progressão lenta de sinais parkinsonianos; história
de lesões repetidas de cabeça; história de encefalite;
tratamento com neurolépticos no início dos
sintomas; mais de um parente afetado; remissão
sustentada; características estritamente unilaterais
após 3 anos; paralisia supranuclear do nervo
oculomotor; sinais cerebelares; compromisso grave
do sistema autônomo; demência grave precoce com
distúrbios de linguagem, memória e práxis; sinal de
Babinski presente; presença de tumor cerebral ou
hidrocefalia comunicante na tomografia
computadorizada (TC); resposta negativa a grandes
doses de levodopa (excluir a possibilidade de mal
absorção) e exposição a 1-metil-4-fenil-1,2,3,6tetrahidropiridina (MPTP). Finalmente, na terceira
etapa, faz-se necessária a presença de três ou mais
dos seguintes itens para que se estabeleça o
diagnóstico definitivo: comprometimento
unilateral; presença de tremor de repouso; doença
progressiva; persistência da assimetria; excelente
resposta (70-100%) com uso de levodopa; resposta
ao uso de levodopa por mais de 5 anos; coréia grave
induzida por levodopa e curso clínico de 10 anos ou
mais10.
Os pacientes passaram por anamnese clínica
detalhada e foram submetidos aos testes cognitivos
Mini-Exame do Estado Mental (MMSE)11 e o teste de
linguagem por meio da Fluência Verbal (FV), na
versão animais, frutas e palavras com a letra “M”12.
Os sintomas depressivos dos pacientes foram
avaliados por meio da Escala de Depressão
Geriátrica (EDG) abreviada com 15 itens13. Como
critérios de exclusão, não participaram da pesquisa
os pacientes com menos de 55 anos de idade, com
dificuldade visual e motora que comprometessem o
desempenho nos testes cognitivos, com história de
acidente vascular cerebral ou outra condição
clínica que preenchesse os critérios diagnósticos
para outras comorbidades. O parecer de aprovação
da Comissão de Ética em Pesquisa recebeu o
número 54/11.
Para analisar o desempenho dos pacientes nos
testes cognitivos, foi utilizado o programa SPSS
(15.0). Foram realizadas análises descritivas
quanto à idade, gênero e escolaridade. A correlação
entre o gênero e a escolaridade foi feita por meio do
coeficiente de Pearson.
RESULTADOS
Pode-se observar que a média de idade do grupo
foi de 74,17 anos (mínimo = 57; máximo = 90;
desvio padrão [dp] = 7,56). Com relação ao gênero,
13 (54,2%) eram do feminino e 11 (45,8%) do
masculino. Quanto à escolaridade, foi observada
maior frequência de pacientes com baixa
escolaridade, ou seja, 16 (66,7%) pacientes tinham
menos de 4 anos de estudo e 8 (33,3%) tinham mais
de 5 anos de estudo.
Em relação aos testes cognitivos, pode-se
verificar que a média no MEEM foi igual a 22,33
pontos. Separando o grupo por níveis de
escolaridade, os resultados evidenciam uma
influência dos anos de estudo na pontuação dos
testes cognitivos. No grupo com menos de 4 anos de
estudo, a média do MEEM foi de 21 pontos
(mínimo= 14; máximo = 28; desvio padrão [dp] =
4,21), a da FV animais foi de 8,44 (mínimo= 5;
máximo = 14; dp = 2,92), FV frutas foi igual a 7,90
pontos (mínimo= 5; máximo = 10; dp = 1,79) e FV
letras “M” foi de 6,60 (mínimo= 2; máximo = 12; dp
= 6,60). O grupo com mais de 5 anos de estudo
apresentou média no MEEM de 25 pontos (mínimo=
17; máximo = 30; dp = 4,50), FV animais foi de
10,88 (mínimo= 6; máximo = 16; dp = 3,56), FV
Perspectivas Médicas, 24(1): 24-30, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130104.6100673662
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Fatores relevantes no desempenho cognitivo de pacientes com doença de Parkinson... - Luciana Maria Pires dos Santos e cols.
frutas foi de 9,50 pontos (mínimo= 8; máximo = 12;
dp = 1,64) e FV letras “M” foi de 7,83 (mínimo= 4;
máximo = 16; dp = 4,31), como mostra a Tabela 1.
A média de idade observada no grupo com mais
tempo de estudo foi de 77,50 (mínimo = 66; máximo
= 90; dp = 6,76), sendo encontrado o mesmo número
de homens e mulheres (50%). Já no grupo com
menos de 4 anos de escolaridade verificou-se uma
média de idade inferior (média = 72,38; mínimo =
57; máximo = 83; dp = 7,49). Em relação à
pontuação na EDG, verificou-se uma média de 6,50
pontos (mínimo = 5; máximo = 10; dp = 1,77) no
grupo com mais de 5 anos de escolaridade, média
semelhante à encontrada no grupo com menos anos
de estudo (média = 6,85; mínimo = 2; máximo = 12;
dp = 3,48).
O coeficiente de correlação de Pearson
evidenciou que as variáveis idade, gênero e
escolaridade não apresentaram correlação entre os
testes cognitivos. Apenas a escolaridade e o MEEM
(r= 0,42; p= 0,043) mostrou uma correlação
positiva, moderada e significativa, como mostra a
Tabela 2. A correlação entre escolaridade e as
fluências versão animais (r= 0,36; p= 0,087) e
frutas (r= 0,43; p= 0,097) mostraram uma
tendência a correlações moderadas.
Tabela 1: Valores dos testes MEEM, fluência verbal animais, frutas e
palavras com a letra “M” entre os grupos de escolaridade. Med = média;
dp = desvio padrão.
< 4 anos de escolaridade
> 5 anos de escolaridade
Med (dp)
Med (dp)
MEEM
21 (4,21)
25 (4,50)
FV animais
8,44 (2,92)
10,88 (3,56)
FV frutas
7,90 (1,79)
9,50 (1,64)
FV “M”
6,60 (6,60)
7,83 (4,31)
Testes
Tabela 2: Análises de correlação entre os testes cognitivos e as variáveis
idade, gênero e escolaridade. r = correlação de Pearson; p = x2.
Variáveis
Idade
Gênero
FV
FV
Animais
Frutas
MEEM
FV “M”
EDG
r
-0,30
0,02
-0,09
-0,35
-0,23
p
0,889
0,935
0,739
0,188
0,309
r
0,23
0,16
-0,14
0,35
-0,17
p
0,285
0,448
0,609
0,182
0,453
0,42
0,36
0,43
0,18
-0,06
0,043
0,087
0,097
0,513
0,798
Escolaridade r
p
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Este estudo buscou avaliar e descrever os
aspectos cognitivos de pacientes com doença de
Parkinson por meio de testes neuropsicológicos,
combinados com outros instrumentos que podem ser
úteis e maximizar a acurácia diagnóstica de
declínio cognitivo14. A princípio, observou-se nessa
amostra uma incidência mais elevada de indivíduos
do gênero feminino, no entanto estudos dizem que os
homens apresentam uma vez e meia maior risco de
desenvolver Doença de Parkinson15. E isso se deve
possivelmente a maior exposição a substâncias
tóxicas, traumas cranianos, neuroproteção pelo
estrógeno nas mulheres ou ainda por herança
16
genética ligada ao X .
Essa divergência pode ser explicada pelo fato de
que as mulheres se cuidam mais e que o cuidado não
é visto como uma prática masculina, pois ser homem
seria associado à invulnerabilidade, força e
vitalidade; dessa forma, o diagnóstico da doença é
constituído com maior frequência no gênero
feminino, aliado ao fato de que a expectativa de vida
entre elas ainda é superior comparada à dos
homens17, provocando a falsa impressão de que é
mais prevalente entre as mulheres.
Pode ser visto que a média de idade, nessa
amostra, encontra-se aos 74 anos. Segundo a
literatura, a idade é o único fator de risco
confirmado, ou seja, é rara antes dos 40 anos e
aumenta após os 50 anos, sendo máxima a partir dos
70 anos, embora esteja descrito um ligeiro
decréscimo no grupo etário superior aos 80 anos,
sugere dessa forma que neste estudo, os indivíduos
se encontram no máximo risco de desenvolver
Parkinson.
Foi observado também que a maioria dos idosos
que compõe esse estudo apresenta baixa
escolaridade e esse dado é relevante para a análise
dos testes neuropsicológicos. Embora existam
estudos que questionem a associação entre perda
cognitiva e escolaridade18, há evidências de que os
efeitos da educação estejam relacionados à
aprendizagem de conhecimentos e habilidades
específicas, desenvolvimento de certas atitudes, ao
aumento da eficiência no processamento das
informações e aumento da “reserva cerebral”,
sendo assim, a educação pode mudar a organização
cerebral da cognição, o que estabelece uma
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Fatores relevantes no desempenho cognitivo de pacientes com doença de Parkinson... - Luciana Maria Pires dos Santos e cols.
associação positiva entre o nível de escolaridade e
12,14,19,20
um teste cognitivo
.
Em relação aos testes cognitivos propriamente
ditos, para o MEEM utilizou-se o ponto de corte
preconizado por Brucki et al, 2003 e a partir disso,
observou-se que o grupo com escolaridade de até
quatro anos apresenta-se abaixo do ponto de corte,
sendo que o esperado seria de 25 pontos, e foi
encontrada uma média de 21 pontos. Em relação ao
grupo com escolaridade acima de quatro anos,
encontrou-se uma média de 25 pontos, enquanto que
a nota de corte é de 26 considerando 5 a 8 anos de
estudos (Tabela1).
Os resultados se encontram em concordância
com a literatura, que preconiza um grau de
comprometimento em torno de 20 a 40%. Esperavase encontrar um maior declínio cognitivo do grupo
de maior idade, devido ao próprio processo de
envelhecimento21 e tempo transcorrido de doença,
no entanto observou-se o inverso. Isso pode ser
explicado pelo fato de que esse grupo é representado
pelos indivíduos de maior escolaridade, reforçando
ainda mais a relação de efeito entre idade e
escolaridade. Esses resultados estão em ampla
concordância com a literatura, tanto nacional
quanto internacional, sendo que esse déficit
cognitivo geralmente explica porque pacientes
parkinsonianos apresentam maiores dificuldades no
12,15, 22
sete seriado, no desenho ou na repetição
.
Em relação à FV, ao utilizar o ponto de corte
preconizado por Brucki et al, 2003, onde a melhor
acurácia estabelece 12 pontos para o grupo de baixa
escolaridade (1 a 4 anos), o grupo pesquisado
apresentou a média 8,44 para animais, 7,90 para
frutas e 6,6 pontos em FV com a letra “M”; em
relação ao grupo com média escolaridade (5 a 8
anos) a nota de corte estabelece 12 pontos, sendo
que o grupo estudado apresentou uma média de 10,
88 animais, 9,50 frutas e 7,83 pontos em FV com a
letra “M”. Embora a literatura apresente resultados
similares ao encontrado nesse estudo, ou seja, queda
de todos os índices de FV ao longo do tempo de
22
doença , novamente pode-se perceber o maior
declínio entre os indivíduos com menor
escolaridade, evidenciando a intensa influência da
variável sociodemográfica no desempenho
cognitivo23 (Tabela 1).
A respeito da EDG, ambos os grupos
apresentaram índices similares, média 6,5 e 6,85
para o grupo de menor e maior escolaridade
respectivamente. Embora Prado et al, 2008
apresente 70% da amostra de indivíduos portadores
de DP com algum grau de depressão, outros estudos
preconizam o acometimento de cerca de 40% dos
pacientes24,25, no entanto essa afirmativa não se
aplica ao presente estudo. Existe ainda, na
literatura, grande dicotomia em relação ao papel da
depressão como fator de risco para o
desenvolvimento da demência em pacientes com DP.
Os dados evidenciados pela análise de Pearson
(Tabela 2) revelam que os valores encontrados nesta
pesquisa são confiáveis, já que as áreas sob a curva
indicam uma capacidade moderada de relação entre
escolaridade e as fluências versão animais (r= 0,36;
p= 0,087) e frutas (r= 0,43; p= 0,097),
principalmente quando se trata de escolaridade e o
MEEM (r= 0,42; p= 0,043) que mostrou uma
correlação positiva, moderada e significativa.
Talvez com um número maior de participantes se
possa encontrar correlações significativas nestas
duas variáveis.
Um fator limitante deste estudo é o número
reduzido de participantes de uma amostra específica
do município de Jundiaí e este aspecto pode não ser
representativo da população em geral. Por isso, um
número maior de indivíduos é necessário para
entender os reais aspectos cognitivos nos idosos com
DP.
Pode-se concluir que as complicações
neuropsiquiátricas na DP começaram a ser melhor
reconhecidas e valorizadas recentemente, e por isso,
faz-se necessário maior número de estudos na área,
já que o desenvolvimento de complicações
neuropsiquiátricas nos doentes parkinsoniamos
constitui uma causa importante de
institucionalização e mau prognóstico. Além disso,
este estudo sugere que na DP os pacientes
apresentem, somados aos distúrbios motores,
alterações cognitivas especialmente nas funções
verbal, executiva, visuoespacial e distúrbios de
atenção, sendo evidenciado maior
comprometimento em pacientes com baixa
escolaridade.
Perspectivas Médicas, 24(1): 24-30, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130104.6100673662
29
Fatores relevantes no desempenho cognitivo de pacientes com doença de Parkinson... - Luciana Maria Pires dos Santos e cols.
Agradecimento: Agradeço a todos aqueles que, de
forma direta ou indireta, colaboraram para a
viabilização deste estudo, em especial ao Dr. José
Eduardo Martinelli e à Srta. Juliana Francisca
Cecato, por me cederem espaço, condições e meios
para que este trabalho fosse concretizado.
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31
ARTIGO ORIGINAL
Métodos de amenização do sofrimento provocado
pela hospitalização infantil.
Methods for reducing the suffering caused by infant hospitalization.
Palavras-chave: hospitalização; ludoterapia; criança.
Key words: hospitalization; play therapy; child.
Aruana Bentini de Souza1
Edna Dias de Pontes Silva2
1
Aluna de graduação em Psicologia pela Faculdade
Anhanguera de Jundiaí, Jundiaí, São Paulo, Brasil.
2
Psicóloga e Professora da Faculdade Anhanguera
de Jundiaí, Jundiaí, São Paulo, Brasil.
Endereço para correspondência:
Aruana Bentini de Souza - Rua Maestro Francisco
Farina - 55 bl b apto 105, Vila Progresso - Jundiaí
CEP: 13202-250. email: [email protected]
Não há conflito de interesses.
Artigo ainda não publicado na íntegra.
Artigo recebido em: 07 de Janeiro de 2013.
Artigo aceito em: 23 de Abril de 2013.
RESUMO
Os atendimentos psicoterapêuticos no âmbito
hospitalar vêm crescendo nos últimos tempos no
Brasil, promovendo atendimento em todas as
clínicas para o paciente, família do paciente e
equipe multiprofissional. O objetivo foi estudar e
colocar em prática métodos para amenizar os
processos gerados pela hospitalização infantil. Para
a realização dos atendimentos na pediatria no
Hospital Universitário, em Jundiaí, São Paulo,
Brasil, foi estudado cada paciente individualmente,
trabalhando suas necessidades imediatas diante da
hospitalização. Os métodos foram técnicas de
relaxamento e o brincar. As técnicas aplicadas
foram atividades lúdicas, com o intuito de entender,
amenizar, explicar para a criança que a
hospitalização será temporária e ajudá-la na
aceitação das sequelas decorrentes da doença. Foi
realizada orientação para a família e acompanhante
do paciente, tirando dúvidas do processo de
internação e incentivando o familiar a brincar e
transmitir confiança para a criança. A orientação
com a equipe multiprofissional é a realização dos
procedimentos com calma e transmitindo confiança
para a criança, pois é importante, para que os
processos realizados no decorrer da hospitalização
sejam o menos invasores possíveis. Pode-se concluir
que os atendimentos psicológicos são importantes
para todos que trabalham, visitam e são internados,
pois auxiliam na compreensão e aceitação em
harmonia, sem sequelas ou traumas psicológicos.
ABSTRACT
The psychotherapeutic care in hospitals have
been growing in recent years in Brazil, promoting
attendance at all clinics to the patient, patient's
family and multidisciplinary team. The aim was to
study and put into practice methods to mitigate the
processes generated by child hospitalization. For the
realization of care in pediatrics at University
Hospital, at Jundiaí, São Paulo, Brasil, each patient
was studied individually, working their immediate
needs before hospitalization. The methods were play
therapy and relaxation techniques. The techniques
were applied recreational activities, in order to
understand, mitigate, explain to the child that
hospitalization will be temporary and help her
acceptance of the trauma resulting from pathology.
Orientation was held for patient's family, taking
questions from the admission process and
encouraging the family to play and to pass trust to
the child. The orientation with the multidisciplinary
team is carrying out the procedures calmly and
Perspectivas Médicas, 24(1): 31-38, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130105.6100343115
32
Métodos de amenização do sofrimento provocado pela hospitalização infantil. - Aruana Bentini de Souza e col.
transmitting confidence to the child, it is important
for the processes performed during hospitalization
are less possible invaders. It can be concluded that
the psychological treatment are important for all
who work, visit and are admitted because it helps in
understanding and acceptance in harmony without
psychological trauma.
INTRODUÇÃO
Os atendimentos psicoterapêuticos realizados
em hospitais têm como principal objetivo a
minimização do sofrimento causado pela
hospitalização e sequelas emocionais. O
atendimento para amenizar os sofrimentos da
hospitalização pode ser realizado de diversas
maneiras, variando de acordo com a necessidade do
paciente, porém a finalidade de todos é a mesma1. No
caso do atendimento de crianças, é importante o
estudo diferenciado de cada paciente, pois os efeitos
causados pela hospitalização diferem de acordo com
a idade e desenvolvimento do paciente. Cada
criança defronta a doença, sua repercussão e a
hospitalização de maneira distinta, porém podendo
ser entendida de acordo com a fase de
desenvolvimento2.
O psicólogo pode se especializar em diversas
áreas, e uma delas é a atuação hospitalar, realizando
atendimento com o paciente, família ou responsável
pelo paciente e a equipe multiprofissional3. Promove
atendimentos e atividades individuais ou em grupo
com o objetivo principal de proporcionar bem estar
emocional e físico ao paciente, além da mediação
entre paciente, médico, equipe e família, auxiliando
no entendimento e aceitação da doença, das
consequências e limitações causadas por ela,
promove métodos para minimizar os processos
causados pela hospitalização e auxiliam nas
repercussões emocionais emergentes3. Segundo
3
Castro e Bornhold as tarefas do psicólogo no
âmbito hospitalar são divididas da seguinte
maneira: Coordenação (relaciona as atividades
com os funcionários do hospital); Ajuda e adaptação
(realiza intervenções com o objetivo de maior
qualidade no processo de recuperação e adaptação
do paciente); Interconsulta (auxilia a equipe
multiprofissional a lidar da melhor maneira com o
paciente); Enlace (intervenções junto à equipe
m u l t i p ro f i s s i o n a l , p a r a i n s t a l a ç ã o d e
comportamentos adequados do paciente);
Assistencial direta (interage diretamente com o
paciente) e Gestão de recursos humanos (auxilia no
aprimoramento dos profissionais organizacionais.
1
De acordo com Trucharte a principal função e
objetivo psicológico no hospital é amenizar o
sofrimento decorrente da hospitalização.
Por não possuir "setting" terapêutico, o
atendimento realizado em hospitais possui
características distintas e adaptadas para a
realização do atendimento com sucesso. O
atendimento do psicólogo é realizado na maioria
das vezes no próprio leito do paciente, a equipe
multiprofissional pode interromper o psicólogo no
decorrer do atendimento para a aplicação de
medicamentos, banho ou realização de exames no
mesmo; a duração do atendimento realizado não é
restrita, varia de acordo com a necessidade do
paciente no momento da realização do atendimento1.
Em realização à hospitalização, pode-se dizer que o
paciente adulto possui conflitos imaginários
emergentes, o imaginário interage com o real
buscando o próprio sentido da situação, coloca que
a hospitalização gerada pela doença irá alterar o
2
equilíbrio e status adquiridos anteriormente . Além
disso, na hospitalização adulta, diferente da
pediátrica, o paciente possui a sensação de que tudo
2
o que foi construído não será mantido . O sentimento
de medo é ativo e a falta de informação e explicação
da doença existente auxilia na imaginação
pensando nas causas e consequências que poderá
afetar o cotidiano, alterar o decorrer do dia e as
2
facilidades e responsabilidades que possui . A
internação do adulto também implica em momentos
sem acompanhante, pois existe um horário
específico para visita e isso pode prejudicar o
paciente, se não estiver psicologicamente estável e
com todas as informações da internação necessárias
para se sentir tranquilo e saber que a hospitalização
2
é temporária .
A hospitalização pediátrica é diferente da adulta
e pode resultar em diversos efeitos, manifestações e
sensações de acordo com a idade de cada criança2.
2
De acordo com Chiattone , nas crianças de 0 a 18
Perspectivas Médicas, 24(1): 31-38, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130105.6100343115
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Métodos de amenização do sofrimento provocado pela hospitalização infantil. - Aruana Bentini de Souza e col.
meses, as principais características dos efeitos da
hospitalização são a necessidade de
afeto/segurança, figura materna como primordial,
dependência/proteção e busca de satisfação de
necessidades. Nessa faixa etária os efeitos
encontrados pela hospitalização são: sensação de
abandono, depressão anaclítica, tensão, agitação e
insegurança. Já em crianças mais maduras, com
idade entre 6 e 12 anos, é comum encontrar com a
hospitalização, preocupação com as faltas
escolares, insegurança e ansiedade, aumento de
queixas físicas, diminuição de habilidades
cognitivas, diminuição da capacidade de
2
concentração e frustração de sonhos e projetos .
Quanto ao brincar, segundo Oliveira4 a puerícia é
uma fase marcada por intensa atividade física,
porém quando é acompanhada de hospitalização
causa a impossibilidade da realização de
brincadeiras, entretenimento com os amigos e
ausência escolar, alterando totalmente a rotina da
criança.
O ambiente hospitalar é um local desconhecido
pela criança, com regras e horários diferentes do
cotidiano, sem privacidade, com horários
diferenciados, utilização de roupas não familiares,
cama diferente, banheiro comunitário e
procedimentos dolorosos e repetitivos.
Todas essas mudanças, quando não são
adaptadas, podem dificultar no enfrentamento da
doença4. Outros fatores que podem alterar as
consequências da hospitalização são:
personalidade, idade, relação pais-filho, tempo de
hospitalização, informações que a criança possui,
diagnóstico médico, aceitação dos pais com relação
à doença do filho, estratégias de enfrentamento
4
utilizadas pela família e pela criança . O brincar
funciona como um dos métodos para a amenização
das consequências causadas pela hospitalização4.
4
De acordo com o descrito por Oliveira , é
comprovado que o brincar durante o processo de
hospitalização torna o atendimento mais
humanizado, estimulando o desenvolvimento
neuropsicomotor da criança e ao mesmo tempo
promove o bem estar e a saúde mental do paciente.
Em 2005 foi implantada uma lei que estabeleceu
que todos os hospitais que realizam atendimento
pediátrico são obrigados a implantar a
brinquedoteca, possuindo diversos brinquedos e
jogos para estimular as crianças e os
acompanhantes a brincar. Essa nova técnica
possibilita a realização de atividades lúdicas,
minimização do ambiente desconhecido,
entendimento da doença e consequências da mesma
a partir de brincadeiras e melhora no quadro
4
5
clínico . Segundo Romano o brincar exige
preocupação e supervisão para disponibilizar os
brinquedos adequados a cada idade, observar se a
criança possui alguma restrição referente à doença,
limpeza dos objetos a serem utilizados e higiene.
É importante no decorrer da escolha da
brincadeira o psicólogo permitir que o paciente
escolha qual o brinquedo ou jogo que gostaria de
manusear, estar sempre atento à capacidade física
da criança e se ocorre alguma modificação que
necessite de atenção maior, como o choro, cansaço,
5
sono . Quando a criança está impossibilitada de sair
do leito, o psicólogo conversa com a criança sobre o
que ela gostaria de brincar, seleciona alguns
brinquedos de acordo com a idade e realiza a
atividade lúdica no leito, estando presente no
momento da atividade5.
No decorrer da hospitalização, a utilização das
atividades lúdicas com finalidade terapêutica é
importante, pois a criança poderá utilizar o
imaginativo relacionado com a realidade
vivenciada, expressar suas fantasias, medos,
sentimentos e conflitos, tendo a oportunidade de
5
diminuir a ansiedade . O psicólogo, durante as
atividades lúdicas, poderá observar o brincar da
criança para o melhor esclarecimento de
diagnóstico, ao entender o que a criança está
transmitindo a partir da brincadeira, podendo
ajudá-la a entender o motivo da internação, o que
está acontecendo naquele momento e reduzindo
5
assim os medos e dúvidas .
6
Nesse contexto, Mitre argumenta sobre a
importância da atividade lúdica como um
contraponto às experiências desagradáveis, ao
desconforto da hospitalização e ao conjunto de
sofrimento mental para a criança que precisa ser
hospitalizada. O ato de brincar proporciona para a
criança internada a oportunidade de expressar, de
Perspectivas Médicas, 24(1): 31-38, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130105.6100343115
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Métodos de amenização do sofrimento provocado pela hospitalização infantil. - Aruana Bentini de Souza e col.
tirar todas as dúvidas, compartilhar medos, desenho
e sonhos. Para o psicólogo é gratificante o resultado
obtido com as atividades lúdicas, pois é através
delas que são obtidas as informações necessárias
para entender a necessidade momentânea do
6
paciente e acessá-la através de brincadeiras . O
relaxamento utilizado no âmbito hospitalar, assim
como em qualquer outro local, é definido como um
esforço para a diminuição da apreensão intensa do
organismo.
Existem diversas técnicas de relaxamento
utilizando a respiração diafragmática, relaxamento
muscular progressivo, imagem mental relaxante,
7
dentre outros . A técnica de relaxamento
proporcionado pelo contato físico entre mãe e bebê,
mais utilizada em hospitais, é a Shantala, que
consiste na massagem nas seguintes partes do corpo
do bebê: peito, tronco, ombros, mãos, braços,
abdome, quadril, pernas, pés, costas, testa, nariz e
queixo. A realização da Shantala proporciona
benefícios como ação relaxante, atua no
desenvolvimento psicomotor, contribui para o
contato efetivo, auxilia os bebês prematuros a
ganhar até 47% mais de peso, auxilia a respiração,
favorecendo o organismo a expelir toxinas, previne
cólicas, prisão de ventre e insônia, além de
proporcionar evolução e organizar a postura
através da pele8.
Dentre as técnicas de relaxamento utilizadas em
criança, a mais conhecida é a de Leon Michaux.
Para a realização dessa técnica de relaxamento, é
necessário colocar a criança deitada sobre um
colchonete, colchão ou tapete de espuma
confortável, com os olhos fechados9. O local
escolhido para a realização do relaxamento deve ser
tranquilo e sem muitos ruídos que possam atrair a
atenção da criança. Pode ser realizado no leito do
paciente nos momentos em que não haja
i n t e r r u p ç õ e s p a r a p ro c e d i m e n t o s c o m o
8-9
alimentação, banho e medicamento . É importante
ressaltar que o relaxamento, em hospitais, não é
muito utilizado, por não haver um local adequado e
9
calmo para aplicação .
OBJETIVOS
Realizar atendimentos de psicoterapia em
pacientes de pediatria hospitalizados,
proporcionando para a criança, a família e a equipe
multiprofissional, um maior entendimento dos
sentimentos atuais de cada paciente e suas
necessidades imediatas, para o melhor
acompanhamento e tranquilidade.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo descritivo aborda formas de
amenizar consequências decorrentes da
hospitalização infantil e descreve atendimentos
realizados em um Hospital Universitário no
município de Jundiaí, Estado de São Paulo, Brasil. A
coleta de dados foi realizada todas as sextas-feiras
durante os meses de Agosto a Dezembro de 2012. A
amostra foi selecionada de acordo com a ordem de
chegada dos pacientes ao hospital.
Como critérios de inclusão tivemos pacientes
entre 1 e 12 anos de idade, de ambos os gêneros,
acompanhadas de pais ou cuidadores familiares e
que estavam hospitalizadas. Como critérios de
exclusão, não participaram da pesquisa pacientes
com idade superior a 13 anos. Os dados referem-se a
um corte transversal com 7 pacientes, de ambos os
gêneros, com idades entre 1 e 12 anos de idade
(média = 4,43; desvio padrão [dp] = 4,39).
Após a intervenção com cada paciente, os
estudos de caso foram apresentados para a
psicóloga supervisora. Para a realização do
trabalho foram utilizados livros, artigos científicos,
atividades lúdicas (de acordo com a necessidade de
cada paciente) e observações científicas. Todo este
estudo foi realizado de acordo com as normas éticas
de pesquisa e com Termo de Consentimento
Informado.
RESULTADOS
F.O.S., do gênero feminino, 9 anos, atendida na
clínica pediátrica sem diagnóstico definido. Foi
realizada atividade lúdica com a paciente na
brinquedoteca do hospital. Primeiramente foi
entregue à criança diversos lápis de cor com
tonalidades diferentes e após ela organizá-los da
forma desejada, foi colocada em sua frente o
desenho de uma menina segurando um balão de ar,
no local do rosto um espaço em branco e também um
balão de pensamento em branco. Antes da criança
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Métodos de amenização do sofrimento provocado pela hospitalização infantil. - Aruana Bentini de Souza e col.
iniciar a pintura, foi explicado à criança "A menina
ganhou um balão de ar da sua mãe, e esse era o seu
brinquedo favorito. O que está faltando no desenho?
Vamos desenhar? O que será que a menina está
pensando? Vamos desenhar? A criança desenhou no
rosto da menina uma expressão de felicidade e no
balão de pensamento, desenhou a menina brincando
com balão de ar (Figura 1).
Figura 2: Desenho 2-F.O.S.
Figura 1: Desenho 1-F.O.S.
Após o término do desenho, foi retirada a folha e
colocado na frente da paciente uma folha com o
desenho que continha a mesma menina do desenho
anterior novamente com o rosto em branco
segurando o balão estourado e um balão de
pensamento também vazio. Foi explicado à paciente
"A menina do desenho anterior estava brincando
com o seu balão e então um carro passou e fez voar
uma pedrinha no seu balão, e ele estourou”.
“Como será que ela está se sentindo? Vamos
desenhar como ela está? E o que ela está pensando
no momento? Vamos desenhar?". Foi desenhado no
rosto da menina uma expressão de tristeza e choro e
no balão de pensamento, a menina pedindo para a
mãe outro balão para poder brincar (Figura 2).
Assim, foram colocados os dois desenhos diante
de F.O.S. e pedido para identificar como ela estava
naquele momento; ela apontou para a criança feliz e
explicou que estava contente por não estar no quarto
e estar podendo brincar. Foi perguntado como ela
irá ficar quando voltar para o quarto, e falou que
ficará triste, igual à menina que estava com o balão
estourado, porém em seguida relatou que logo iria
voltar a ficar feliz, pois iria poder brincar
novamente. Essa brincadeira realizada com a
paciente foi importante para que a mesma pudesse
saber que por mais que esteja passando por um
momento ruim no hospital, será passageiro e logo
poderá fazer novamente o que gosta.
A paciente E.G.S., sexo feminino, com um ano e
seis meses, foi atendida na clínica cirúrgica com o
quadro de gengivoestomatite herpética e suspeita de
infecção urinária. No momento do atendimento a
paciente estava inquieta, não falava e não se
alimentava corretamente decorrente da dor causada
pelas feridas bucais. Para amenizar o choro e a
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Métodos de amenização do sofrimento provocado pela hospitalização infantil. - Aruana Bentini de Souza e col.
inquietação da paciente, foram utilizadas peças
coloridas do brinquedo Lego®, que chamaram a
atenção da paciente pelas cores vivas e houve o
término do choro.
Foi indicado para a mãe realizar brincadeiras
com a criança. L.F.S.A., de um ano de idade, gênero
masculino, atendido na clínica cirúrgica com o
quadro clínico de pneumonia e bronquiolite.
Paciente estava dormindo no momento do
atendimento. Foi realizado atendimento com a mãe
do paciente, que relatou que estava bem orientada e
conformada com a doença do filho, porém estava
preocupada com o seu emprego, pois queria que a
empresa a demitisse para poder cuidar
pessoalmente do filho, pois quando o mesmo não
estava internado, os cuidados eram realizados por
uma vizinha.
A única paciente atendida na UTI infantil foi a
K.L.R.B., gênero feminino, de 12 anos de idade. A
internação foi realizada devida a uma crise de
diabetes. Paciente apresentava dúvidas sobre o
tratamento, problemas familiares decorrentes de
uma família desestruturada. Relata que o pai mora
em outro estado e a mãe não a visita todos os dias,
somente a tia que realiza as visitas regularmente.
K.L.R.B. entende o motivo da internação, porém não
aceita a doença e as limitações da alimentação.
Relatou que não se conforma e não acha justo a sua
alimentação ser diferenciada da alimentação dos
outros irmãos que possui. Durante o atendimento foi
realizada a orientação do quadro clínico e
realizadas pinturas de desenhos, que a paciente
relatou que gostava muito de fazer.
V.E.P., gênero masculino, 3 anos de idade e com
diagnóstico de leucemia, no momento do
atendimento estava recebendo reposição de
plaquetas no colo da avó. A avó do paciente relatou
que possui problemas familiares, e por isso os
cuidadores do paciente eram ela e o esposo, que no
momento estava trabalhando, porém passa todas as
noites acompanhando V.E.P. A avó do paciente
estava deprimida pelo diagnóstico do neto e sem
muita informação do tratamento. No atendimento foi
realizada orientação do quadro clínico do V.E.P. e
consequências decorrentes do tratamento.
M.C.F., gênero feminino, 4 anos de idade, foi
internada na pediatria por abscesso cervical. No
momento do atendimento quem estava
acompanhando-a era a tia, que não soube responder
nenhuma pergunta realizada decorrente da
internação da criança. A paciente se encontrava
chorona e não receptiva ao atendimento. Foi tentada
diversas vezes a aproximação com a criança, porém
não houve êxito. Antes de finalizar o atendimento, foi
deixado no leito da criança um papel e diversos giz
de cera e explicado à criança que ficariam ali para
quando ela sentisse vontade de brincar.
O último atendimento foi realizado com a N.G.F.,
gênero feminino, de um ano e dois meses, internada
por duas paradas respiratórias consecutivas. A
criança apresentava-se chorona por estar
recebendo medicamento.
A mãe da paciente relatou que morava em outra
cidade e estava sozinha em Jundiaí para cuidar da
filha. Relatou que estava aliviada por ter a
oportunidade de cuidar da filha. No atendimento, foi
orientada quanto à importância de cuidar da filha,
porém também descansar. A mesma relatou que iria
falar com a sua mãe pra poder revezar o
acompanhamento da N.G.F. no hospital.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Analisando as descrições dos atendimentos
realizados, levantamento e estudo bibliográfico,
verificou-se a importância do atendimento do
psicólogo no ambiente hospitalar 1 0 - 1 3 . Os
atendimentos realizados na pediatria tiveram como
objetivo o bem estar da criança internada por meio
do brincar e de relaxamento. Foi demonstrado para
o acompanhante da criança que, com as
brincadeiras realizadas, o paciente ficava mais
tranquilo, amenizando o sentimento de estar em um
local desconhecido, limitado e sem amigos, dados
que corroboram com informações encontradas na
10,13,14
literatura
. Foi observado que, além das
brincadeiras e atendimentos realizados pelo
psicólogo, também é importante à equipe
multiprofissional ter paciência e calma para a
realização dos atendimentos, pois a criança
hospitalizada está com medo e receosa por estar em
um local diferente, com rotatividade de pessoas
desconhecidas diariamente e a realização de
15,16
procedimentos dolorosos . Quando houver
necessidade da realização dos procedimentos,
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Métodos de amenização do sofrimento provocado pela hospitalização infantil. - Aruana Bentini de Souza e col.
sugere-se explicar para a criança o que está
acontecendo, para que ela possa permitir o processo
naturalmente, para não ser realizado à força, pois o
medo da criança ao ver qualquer desconhecido pode
aumentar, podendo se tornar um trauma.
O apoio ao familiar e acompanhante também é
muito importante, pois explicando a doença, suas
limitações e cuidados, o familiar estará mais seguro
e tranquilo, transmitindo para a criança confiança e
conforto17,18. Com esta pesquisa e os estudos
realizados, foi ressaltada a importância do apoio
psicológico para o paciente, família e equipe. Há
importância de todos os pacientes passarem por
atendimento do psicólogo para amenização dos
sentimentos que possuem no decorrer da internação.
É importante também que a equipe esteja ciente das
técnicas utilizadas para a realização do trabalho
harmonioso com o paciente, atendendo à
necessidade diferenciada de cada um.
Assim, o trabalho realizado em um hospital
universitário foi extremamente rico em informações,
pelo contato direto com os pacientes, as doenças, as
limitações, os medos, as angústias e todos os
sentimentos causados pela hospitalização. As
experiências vividas no hospital são desafiadoras,
permitindo o aprendizado junto com o paciente, pais
e a equipe multiprofissional sobre as doenças ou
situações que o paciente está vivenciando, com a
possibilidade de estudar e conhecer mais sobre
algumas doenças e principalmente estabelecer um
contato direto com os pacientes.
Pode-se concluir que os atendimentos
psicológicos, a importante relação terapeutapaciente são importantes aspectos para o
tratamento e acolhimento das angústias e medos dos
pacientes hospitalizados, pois auxilia na
compreensão e aceitação em harmonia, sem
sequelas ou traumas psicológicos.
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filho. Rev Latino-Am Enfermagem, 2005;
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Perspectivas Médicas, 24(1): 31-38, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130105.6100343115
39
RELATO DE CASO
Tuberculose pulmonar bacilífera em pré-escolar.
Pulmonary tuberculosis bacillus in pre-school child.
Palavras-chave: tuberculose; pulmonar; pré-escolar.
Key words: tuberculosis; pulmonary; preschool.
Eugênio Fernandes de Magalhães1
Claudinei Leôncio Beraldo2
Anna Luiza Pires Vieira 3
Pétrus Presses Teixeira 4
Pedro Caveanha4
1
Mestre em Pediatria pela Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo - SP. Professor
Auxiliar da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade do Vale do Sapucaí/UNIVÁS - Pouso
Alegre – MG.
2
Doutor e Mestre em Pneumologia pela
Universidade Federal de São Paulo, Brasil.
Professor Titular da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade do Vale do Sapucaí/UNIVÁS Pouso Alegre – MG.
3
Doutor e Mestre em Pediatria pela Universidade
Federal de São Paulo, Brasil. Professora Auxiliar da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do
Vale do Sapucaí/UNIVÁS - Pouso Alegre – MG.
4
Alunos do curso de graduação em medicina da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do
Vale do Sapucaí/UNIVÁS - Pouso Alegre – MG.
Endereço para correespondência:
Eugênio Fernandes de Magalhães - Rua Roberto
Gonçalves Campos, 481. Pouso Alegre – MG. CEP –
37550-000 Fones: (35) 3449-2500, (35) 3425-0421
e fax (35) 3449-2566. email: [email protected]
Não existe conflito de interesses.
Artigo ainda não publicado na íntegra.
Artigo recebido em: 21 de Novembro de 2012.
Artigo Aceito em: 13 de Fevereiro de 2013.
RESUMO
Introdução: A tuberculose é uma doença
infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium
tuberculosis, também chamado de “bacilo de Koch
(BK)”. É tida como um problema de saúde
prioritário no Brasil, juntamente com outros 21
países em desenvolvimento, albergando 80% dos
casos mundiais da doença. Apresenta várias
definições clínicas, sendo que a forma bacilífera é
rara em crianças até 10 anos de idade, devido à sua
característica paucibacilar. Descrição: é relatado
aqui um paciente pré-escolar, portador de Síndrome
de Down, que apresentava quadro insidioso de tosse,
perda de peso, não acompanhado de febre. A
radiografia de tórax era normal e o teste
tuberculínico não reator. Na baciloscopia de escarro
foi encontrado o BK em uma das amostras,
diagnosticando definitivamente um caso de
tuberculose pulmonar bacilífera. Discussão: Os
autores discutem a soberania da clínica para dar
continuidade na investigação de um provável caso
de tuberculose e o pedido de um exame que muitas
vezes não é solicitado devido à característica
paucibacilar dos pacientes desta faixa etária, sendo
encontrado um desfecho pouco frequente neste
relato.
ABSTRACT
Introduction: Tuberculosis is an infectious
disease caused by Mycobacterium tuberculosis, also
called "Koch's bacillus (BK)." It is seen as a priority
health problem in Brazil, along with 21 other
developing countries, harboring 80% of cases of
disease worldwide. It presents various clinical
settings, and the bacillary form is rare in children
under 10 years old, due to its characteristic
paucibacillary. Description: We report the case of a
pre-school child, carrying Down syndrome, who
presented insidious cough, weight loss, not
accompanied by fever. Chest radiography was
Perspectivas Médicas, 24(1): 39-42, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130106.145672899
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Tuberculose pulmonar bacilífera em pré-escolar. - Eugênio Fernandes de Magalhães e cols.
normal and non-reactive tuberculin skin test.
Sputum smear was found in a sample BK, definitively
diagnosing a case of pulmonary tuberculosis.
Discussion: The authors discuss the domination of
the clinic to continue the investigation of a probable
case of tuberculosis and the request for an
examination that is often not required because of the
paucibacillary characteristic of patients in this age
group, found an uncommon outcome in this report.
INTRODUÇÃO
A t u b e rc u l o s e ( T B ) é u m a d o e n ç a
infectocontagiosa, de evolução crônica, causada
pelo Mycobacterium tuberculosis (Mtb) ou bacilo de
Koch, com comprometimento pulmonar e/ou
extrapulmonar. É um problema de saúde
significativo no Brasil, país que foi classificado
como um dos vinte países do mundo com as maiores
taxas de incidência da doença. Em 2009, o
Programa Nacional de Controle à Tuberculose
relatou 85.000 casos de TB (aproximadamente 45
casos por 100.000 habitantes) à Organização
Mundial da Saúde (OMS)1.
No Brasil, 7% dos casos relatados afetaram
2
crianças ou adolescentes (0-14 anos de idade) ; na
cidade de Pouso Alegre – MG, foram 31 casos no
ano de 20113. A tuberculose na infância difere da
forma do adulto, pois costuma ser abacilífera, isto é,
negativa ao exame bacteriológico, pelo reduzido
número de bacilos nas lesões. Além disso crianças,
em geral, não são capazes de expectorar. Em
adolescentes (10 anos ou mais), encontram-se
formas semelhantes às encontradas em adultos
(tuberculose do tipo adulto)4. Devido à dificuldade
em demonstrar o Mtb nos espécimes clínicos da
criança, o diagnóstico da TB doença é
fundamentado em bases clínicas, epidemiológicas e
radiológicas, associadas à interpretação do teste
tuberculínico (TT) cutâneo, embora a confirmação
do agente infeccioso deva ser feita sempre que
possível5.
A TB pulmonar bacilífera em crianças é rara.
Apresentamos aqui achados laboratoriais,
radiológicos e clínicos de um caso de TB em uma
criança de 4 anos de idade.
RELATO DE CASO
Pré-escolar de 5 anos de idade, portador de
Síndrome de Down, chegou ao ambulatório
acompanhado por sua mãe, a qual relatava que seu
filho estava apresentando quadro de tosse produtiva
com expectoração esbranquiçada, coriza,
inapetência, e com perda progressiva de peso nos
últimos meses, não acompanhado de febre ou outra
sintomatologia. Recebeu medicamentos
sintomáticos. O quadro de arrastou e os sintomas
respiratórios se mantiveram. Questionado quanto a
doenças prévias, teve quatro episódios de
pneumonia, sendo a primeira no ano de 2009 e a
última em fevereiro deste ano, recebendo
antibioticoterapia. Familiares saudáveis sem
qualquer sintomatologia. Calendário vacinal em
dia.
Ao exame físico o menor estava em regular
estado geral, afebril, hidratado, hipocorado.
Propedêutica pulmonar com murmúrio vesicular
diminuído em lobo superior direito. Diante deste
quadro clínico insidioso, solicitou-se radiografia de
tórax e teste tuberculínico (TT). O primeiro não
apresentava alterações radiológicas (Figura 1) e o
TT não era reator. Uma tomografia de tórax
evidenciou áreas de consolidação parenquimatosa e
adenomegalia hilar (Figura 2). Foi realizada então
a baciloscopia de escarro, sendo constatado bacilo
de Koch em uma das amostras, sendo então
concluído o diagnóstico de TB. Atualmente, está em
tratamento antibacteriano e em acompanhamento
ambulatorial com boa evolução clínica.
Figura 1: Imagem radiográfica de tórax sem alterações aparentes (5x).
Perspectivas Médicas, 24(1): 39-42, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130106.145672899
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Tuberculose pulmonar bacilífera em pré-escolar. - Eugênio Fernandes de Magalhães e cols.
Figura 2: Imagem tomográfica de tórax demonstrando áreas de
consolidação parenquimatosa e adenomegalia peri-hilar (5x).
DISCUSSÃO
No Brasil estima-se que, do total dos casos
notificados, 15% sejam de TB em menores de 15
anos. Os sinais e sintomas da TB na infância são
inespecíficos, o que dificulta a suspeição clínica e
retarda o diagnóstico da doença. Em resposta à
dificuldade em diagnosticar a TB, o Ministério da
Saúde aprovou o uso de um sistema de pontuação
para facilitar a identificação e o tratamento de
possíveis casos6,7.
Quando a pontuação for inferior a 30, a criança
deverá continuar a ser investigada e deve ser
considerada a possibilidade de se tratar de TB
latente. Nesse caso, deverá ser feito o diagnóstico
diferencial com outras doenças pulmonares, e
podem ser empregados métodos complementares de
diagnóstico, como o lavado gástrico, a
broncoscopia, o escarro induzido, punções e
métodos rápidos, quando pertinentes7. Acima de 30
pontos, há o provável diagnóstico de TB4.
O diagnóstico em crianças, devido à sua
característica paucibacilar, deve ser realizado
através de critérios epidemiológicos e clínicoradiológicos, baseando-se em quatro pilares: a
clínica do paciente, o contágio com algum grupo de
risco, a radiografia de tórax e o TT; estando
presentes três destes critérios, pode-se confirmar o
diagnóstico2,5. Porém alguns casos, como este
apresentado, não apresentam as devidas
características diagnósticas, sendo suspeitado
apenas pela história clínica, e raramente encontrase baciloscopia de escarro positiva para M.
tuberculosis nesta faixa etária, sendo muitas vezes
nem solicitada. Nosso relato se assemelha ao caso
apresentado por alguns autores em 2005, que
8
também relataram um caso de TB nessa faixa etária .
Sabe-se que as crianças com Síndrome de Down
têm um número incomum de infecções,
particularmente da árvore respiratória. Possuem
também número de leucócitos e linfócitos reduzidos,
o que afeta a imunidade celular e humoral. Talvez
mais relevante à questão do aumento das doenças
respiratórias, seja o achado de deficiências de
subclasses de imunoglobulinas, Ig 2 e Ig 4. Estas
desempenham importante papel nas defesas do
h o s p e d e i ro c o n t r a a g e n t e s p a t o g ê n i c o s
respiratórios9,10.
O tratamento é feito com o esquema rifampicina,
isoniazida e pirazinamida, tendo um bom
prognóstico, dependendo da forma clínica da
doença e de seu diagnóstico precoce.
Agradecimentos: Agradecemos à bibliotecária
Lucilene Marques, pela revisão bibliográfica.
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43
ARTIGO DE REVISÃO
Regulação nutricional e neuroendócrina da serotonina
podem influenciar a síndrome pré menstrual.
Nutritional and neuroendocrine serotonin regulation
can affect pre menstrual syndrome.
Palavras-chave: serotonina; tensão pré menstrual; hormônios sexuais.
Key words: serotonin; pré menstrual syndrome; sexual hormones.
Maria Cristina Ritter Mazzini1
Milena Grossi 1
Sônia Valéria Pinheiro Malheiros2
1
Nutricionista, São Paulo-SP.
Professora Adjunta do Departamento de Biologia e
Fisiologia, Bioquímica, Faculdade de Medicina de
Jundiaí- FMJ, Jundiaí - São Paulo, Brasil.
Professora da Universidade São Francisco - USF,
Bragança Paulista, São Paulo, Brasil e
Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP,
Piracicaba, São Paulo, Brasil.
2
Endereço para correspondência:
Sônia Valéria Pinheiro Malheiros - Disciplina de
Bioquímica - Departamento de Biologia e
Fisiologia, Faculdade de Medicina de Jundiaí – Rua
Francisco Telles, 250, Vila Arens - C.P. 1295,
Jundiaí, SP, CEP: 13202-550.
e-mail: [email protected]
Não há conflito de interesses.
Artigo ainda não publicado na íntegra.
Artigo recebido em: 07de Novembro de 2012.
Artigo aceito em: 26 de Março de 2013.
RESUMO
Embora a etiologia da síndrome pré-menstrual
(SPM) ainda não tenha sido totalmente elucidada,
inúmeros estudos têm associado que as flutuações
hormonais do ciclo menstrual podem acarretar
diminuição da neurotransmissão serotoninérgica, o
que poderia justificar os efeitos da SPM. Estudos
sugerem que nutrientes presentes na biossíntese de
serotonina tais como triptofano, vitamina B6,
magnésio e carboidratos integrais, podem melhorar
sintomas da SPM. Por outro lado, a interação de
hormônios como cortisol, melatonina e insulina com
a serotonina parece influenciar a ocorrência dos
sintomas da SPM. Este trabalho visa descrever os
fatores nutricionais e neuroendócrinos relacionados
à secreção de serotonina e suas implicações na SPM,
o que pode resultar numa melhor compreensão da
mesma e dos possíveis alvos terapêuticos para seu
tratamento.
ABSTRACT
Although the etiology of premenstrual syndrome
(PMS) has not yet been fully elucidated, numerous
studies have linked that hormonal fluctuations of the
menstrual cycle can cause a decrease of serotonergic
neurotransmission, which may explain the effects of
PMS. Studies suggest that nutrients present in
biosynthesis of serotonin such as tryptophan,
vitamin B6, magnesium and carbohydrates integrals
can improve symptoms of PMS. On the other hand,
the interaction of hormones such as cortisol,
melatonin and serotonin with insulin seems to
influence the occurrence of symptoms of PMS. This
work aims to describe the nutritional factors and
serotonin related neuroendocrine secretion, and its
implications in the SPM, which can result in a better
understanding of this syndrome and in possible
therapeutic targets for their treatment.
INTRODUCTION
Milhares de mulheres no mundo todo sofrem,
principalmente no período que antecede a
menstruação, com diversos sintomas que
prejudicam sua qualidade de vida e produtividade
no trabalho1. A síndrome pré-menstrual (SPM),
também conhecida como tensão pré-menstrual
(TPM), é representada por um conjunto de sintomas
Perspectivas Médicas, 24(1): 43-50, jan./jun. 2013. DOI: 10.6006/perspectmed.20130107.235678199
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Regulação nutricional e neuroendócrina da serotonina podem influenciar... - Maria Cristina Ritter Mazzini e cols.
físicos, emocionais e comportamentais, que
apresentam caráter cíclico e recorrente, iniciandose na semana anterior à menstruação e que aliviam
com o início do fluxo menstrual2. Os sintomas mais
comuns da SPM são irritabilidade, ansiedade,
depressão, dores, edemas, mas também dificuldade
de concentração, esquecimento, sonolência ou
insônia, crises de choro e descontrole emocional,
3,4,5
aumento do apetite e da ingestão calórica .
A SPM está relacionada com as alterações
hormonais do ciclo reprodutor da mulher, que é
marcado por flutuações nos hormônios sexuais
preparando o organismo feminino à concepção de
uma nova vida. Cada hormônio apresenta uma
função específica neste ciclo e tem-se buscado
compreender como se dá a interferência dos mesmos
no comportamento de algumas mulheres, que
apresentam respostas diferenciadas nas diversas
3,5
fases do ciclo menstrual . O ciclo reprodutor
feminino ou ciclo menstrual inicia-se quando a
hipófise libera o hormônio folículo estimulante
(FSH) e o luteinizante (LH) e juntos fazem com que
um dos folículos ovarianos cresça até liberar seu
ovócito o que acontece cerca de 14 dias após o
primeiro dia da menstruação. Neste período, os
ovários produzem outro hormônio, o estrógeno, que
prepara o útero para uma possível gestação.
Quando o pico de secreção do estrógeno acontece,
FSH e LH reduzem para logo a seguir, subirem
rapidamente, produzindo a ovulação. Após ser
liberado, o ovócito apresenta um corpo residual
chamado de corpo lúteo que secreta progesterona,
hormônio que aumenta ainda mais a espessura do
endométrio. Com o aumento da progesterona no
sangue, os hormônios FSH e LH reduzem sua ação e,
sem fecundação, ocorre a descamação do
endométrio, a menstruação. Pode-se dividir
didaticamente o ciclo menstrual em duas fases: a
folicular - do primeiro dia da menstruação à
ovulação e a fase lútea - da ovulação ao
3
sangramento .
Embora haja uma coincidência entre o
aparecimento da SPM com a fase lútea do ciclo
ovulatório feminino, não há evidências consistentes
entre excesso de estrógeno, déficit de progesterona
ou qualquer alteração em sua proporção como
indutores do problema, apenas fica sugerido que as
oscilações normais do ciclo menstrual afetam os
receptores serotonérgicos nas mulheres mais
susceptíveis2,6,7. Especula-se que, os hormônios
gonadais reduzam a transcrição dos receptores para
8
serotonina . Além disso, os hormônios sexuais
ovarianos modulam a expressão e os efeitos
farmacológicos do receptor do ácido gamaaminobutírico (GABA), o qual é considerado um
regulador primário de afeto e do funcionamento
2
cognitivo .
A serotonina (5-hidroxitriptamina 5-HT) é um
dos neurotransmissores do sistema nervoso central
(SNC) sintetizada a partir do aminoácido essencial
triptofano. Assim como todos os neurotransmissores
do tipo amina, a serotonina é ativada no SNC e seu
receptor, também no SNC, é do tipo serotonérgico,
com no mínimo 14 subtipos diferentes como 5-HT1A
ou 5-HT49,10.
A serotonina tem relação com os estados de
humor, sono, atividade motora, termorregulação,
atividade sexual, grau de agressividade,
alimentação, aprendizado e memória. Também se
relaciona com estados depressivos, manias,
esquizofrenia, crises de ansiedade e enxaqueca,
sensibilidade à dor, alcoolismo, bulimia e Mal de
9
Alzheimer . Embora nem todas as relações sejam
bem compreendidas, a serotonina influencia quase
todas as funções cerebrais pela inibição direta ou
estimulação do sistema GABA 10 . Na SPM,
encontrou-se redução da quantidade de serotonina e
observou-se que se houver deficiência de seu
precursor, o aminoácido triptofano, os sintomas se
7,8
ampliam . De qualquer forma, sabe-se da relação
da serotonina com estados compulsivos e que estes
tendem a se agravar no período que antecede a
menstruação11. Drogas que promovem recaptação
da serotonina têm sido utilizadas como tratamento
de primeira linha na redução dos sintomas da SPM
12,13
severa , mostrando que há uma relação causal
entre redução da serotonina e o estabelecimento da
SPM.
OBJETIVOS
Este trabalho tem por objetivo descrever os
fatores nutricionais e neuroendócrinos que
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Regulação nutricional e neuroendócrina da serotonina podem influenciar... - Maria Cristina Ritter Mazzini e cols.
influenciam a secreção de serotonina e a relação dos
mesmos com a SPM.
MATERIAIS E MÉTODOS
Realizou-se um levantamento de dados nas
bases SCIELO, BIREME e MEDLINE, através da
via de acesso internet, como também em livros
didáticos utilizando as seguintes palavras-chave:
síndrome pré menstrual, serotonina cruzando-as
com hormônios sexuais, melatonina, cortisol. O
levantamento bibliográfico priorizou artigos de
revisão publicados nos últimos 12 anos, embora
tenham sido incluídos alguns artigos anteriores a
este período quando contivessem informações
relevantes para este trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fatores Nutricionais que Influenciam a
Produção de Serotonina
Tem-se descrito na literatura que fatores
nutricionais podem favorecer a síntese de
serotonina. Como a serotonina é derivada do
aminoácido triptofano, esta conversão metabólica é
dependente não somente da oferta de substrato, mas
das enzimas necessárias para esta conversão, bem
como de suas coenzimas. A Figura 1 descreve a via
de conversão do triptofano em serotonina, a partir
da qual se pode definir que os principais fatores
nutricionais que influenciam a síntese de serotonina
são:
5
- ingestão de alimentos ricos em triptofano ;
- ingestão de carboidratos integrais, que
possibilitam a manutenção da glicemia e
insulinemia, a qual é necessária para a travessia de
triptofano pela barreira hematoencefálica,
garantindo a disponibilidade central deste
aminoácido. A ação da insulina, neste caso, é a de
reduzir a concentração dos aminoácidos valina,
leucina, tirosina, isoleucina e fenilalanina,
competidores pelo mesmo sítio transportador no
acesso ao SNC5;
- ingestão de alimentos fontes de vitamina B6,
coenzima da enzima descarboxilase dos
aminoácidos aromáticos, necessária à síntese de
serotonina11;
- ingestão de alimentos ricos em magnésio, por
estar presente em diferentes vias metabólicas de
formação de neurotransmissores, inclusive da
5
serotonina .
Figura 1: Via metabólica de síntese de serotonina.
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Regulação nutricional e neuroendócrina da serotonina podem influenciar... - Maria Cristina Ritter Mazzini e cols.
O Quadro 1 resume os fatores nutricionais que podem influenciar esta via metabólica.
FONTES DE TRIPTOFANO
FONTES DE MAGNÉSIO
FONTES DE VITAMINA B6
- leite e derivados
- frutas e hortaliças
- leite e derivados
- soja e produtos à base de
- grãos, nozes e sementes
- levedura
soja
- cereais integrais
- hortaliças (batata, milho)
- chocolate
- nozes e feijões
- cereais integrais
- frutas (banana)
Fontes: Paschoal e Fonseca (2007)5 ; Galante et al (2007)14;Moreira (2007)15
Quadro 1: Principais fontes alimentares de triptofano, magnésio e vitamina B6.
A utilização da vitamina B6 na redução dos
16
sintomas da SPM vem sendo descrita desde 1970 , e
justifica-se por um aumento no nível sérico de
progesterona no período médio-luteal, com
2,17,18
influência sobre os níveis de serotonina . Doll et
al. (1989)17 suplementaram 32 mulheres com
piridoxina 50 mg/dia, por 7 meses e observaram
redução dos sintomas emocionais sem efeito sobre
16
os físicos. Wyatt et al. (1999)
analisaram 21
trabalhos que utilizaram suplementação com
vitamina B6 para redução dos sintomas de SPM, os
resultados sugerem que doses de vitamina B6
menores que 100mg/dia podem promover melhora
nos sintomas da SPM, principalmente na depressão.
Embora trabalhos descrevam a diminuição dos
sintomas, principalmente dos psíquicos, com
suplementação de vitamina B6, em comparação ao
placebo, estes estudos têm sido criticados por
apresentarem baixa qualidade metodológica, sendo
ainda necessária a existência de estudos com melhor
delineamento metodológico para consagrar a
recomendação de vitamina B6 como alvo
terapêutico para a SPM2,16. Observa-se que o
aumento da ingestão de proteínas provoca um
decréscimo da vitamina B6, provavelmente por ser
5
bastante requisitada no metabolismo protéico ,
assim a redução do consumo protéico pode ser
potencial alvo terapêutico visando à diminuição dos
sintomas de SPM.
Níveis reduzidos de magnésio têm sido
observados em mulheres com SPM, o que pode se
relacionar ao estresse deste período. Sugere-se que
o estresse a que as mulheres são submetidas nesse
período possa estimular a secreção de
mineralocorticóides e glicocorticóides que, além de
aumentar a excreção do magnésio, reduzem sua
absorção no intestino19. Estudos correlacionando o
uso do magnésio e sintomas pré-menstruais têm
o
sugerido que sua suplementação do 15 dia ao início
do fluxo menstrual representa tratamento eficaz no
2,20
alívio dos sintomas da SPM . Por outro lado, a
biodisponibilidade de magnésio sofre interferência
do tipo de dieta: dietas hiperproteicas consomem
mais magnésio pelo mineral ser cofator de várias
enzimas proteolíticas; as hiperlipídicas inibem sua
absorção, enquanto as hiperglicídicas facilitam14
na .
Apesar das evidências, de que nutrientes possam
minimizar os sintomas da SPM, são poucos os
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Regulação nutricional e neuroendócrina da serotonina podem influenciar... - Maria Cristina Ritter Mazzini e cols.
trabalhos de literatura que utilizam modificações do
padrão alimentar para minimizar os efeitos da SPM.
21
Wurtman et al. (1989) descreveram que o aumento
de carboidratos e a redução de proteínas na dieta,
não teve efeito no humor de 9 mulheres sem sintomas
da SPM, enquanto aliviou os transtornos
psicológicos da síndrome em 25 mulheres
22
internadas. Pereira et al. (2008) em estudo com
suínos encontraram que as fêmeas apresentavam
maior suscetibilidade à redução de triptofano
quanto ao aumento da ingestão voluntária de
alimentos na dieta em relação a machos castrados.
É interessante ressaltar que em diversas
espécies de animais, o aumento da oferta de
precursores de serotonina reduz a ingestão de
carboidratos e modula o apetite por proteínas, em
humanos percebe-se que há maior saciedade e
controle da ingestão de açúcares10. Dentre as
inúmeras manifestações comportamentais que
ocorrem na SPM está o aumento do apetite e do
consumo energético o que deve ser levado em conta
na adesão à reeducação alimentar no caso de
mulheres que buscam reduzir o peso corporal 3,5.
Fatores Neuroendócrinos que Influenciam a
Secreção de Serotonina
Assim como a síntese de serotonina pode ser
influenciada por fatores nutricionais pode também
ser modulada por fatores neuroendócrinos. Dentre
as diversas correlações hormonais que podem
influenciar a disponibilidade de serotonina, pode-se
citar as que envolvem hormônios glicocorticóides,
sexuais, insulina, melatonina, as quais serão
descritos a seguir.
Glicocorticoides x melatonina x serotonina
O organismo humano sob a ação de qualquer
elemento que comprometa sua homeostasia produz
os glicocorticoides (GC), cortisol e sua forma
inativa cortisona, com o intuito de se defender do
23,24
agente estressor . Cada indivíduo responde de
maneira diferenciada ao elemento estressante
segundo suas características fisiológicas,
24
cognitivas e comportamentais .
A produção dos GC é deflagrada pelo eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), no qual uma
mensagem chega ao hipotálamo que libera o
hormônio liberador de corticotrofina (CRH),
vasopressina e outros neuropeptídeos; o CRH
estimula a secreção do hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH) que chega às
glândulas suprarrenais que ativadas, liberam o
24
GC . Por sua vez, o aumento do cortisol reduz a
produção de ACTH e de CRH25. Normalmente, 75%
do cortisol é transportado pela transcortina, 15%
pela albumina e o restante fica livre no plasma;
enquanto ligado à transcortina, o cortisol fica
inativo. A transcortina é sintetizada no fígado e essa
proteína sofre a influência dos estrógenos que, em
consequência, aumentam sua concentração no
plasma; embora se tenha mais cortisol ligado à
proteína, esse fato não reflete, por si, um aumento da
23
produção de cortisol pelas adrenais . Entretanto
existe a observação de que a variação hormonal
cíclica fisiológica do ciclo menstrual provoca, pelo
contrário, um aumento dos níveis do cortisol, por
estimulação do eixo HHA, possivelmente pelo
8
aumento da progesterona .
A produção de serotonina e cortisol apresentam
um vínculo direto, de tal forma que o aumento de um
tem implicações no aumento do outro; assim, nos
primeiros momentos do estresse há maior produção
de serotonina. Entretanto, se o fator estressor for
contínuo, provocará a depleção de serotonina por
excesso de produção ocasionado por um
9,23
desequilíbrio entre sua síntese e degradação .
Quando ocorre uma alta concentração de cortisol, o
triptofano, no fígado, é utilizado para a via da
cinurinina, de modo que a maior produção desta,
diminui a oferta de triptofano para a síntese de
serotonina e ainda, a triptofano hidroxilase, enzima
responsável pela síntese da serotonina, é inibida25.
Por outro lado, também foi descrito que o aumento
na concentração de cortisol reduz a concentração de
26
triptofano . Observa-se que a atividade da
serotonina pode melhorar a adaptação ao estresse,
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Regulação nutricional e neuroendócrina da serotonina podem influenciar... - Maria Cristina Ritter Mazzini e cols.
contribuindo para a redução do cortisol como
9
quando há aumento na concentração de triptofano .
A privação alimentar por mais de 3 horas estimula a
liberação do hormônio liberador de corticotropina
(CRH), que aumenta os níveis de cortisol,
desregulando a ação da serotonina e favorecendo o
aumento do consumo de calorias, lipídeos e doces.
Esse fato corrobora a importância do fracionamento
27
das refeições em intervalos de 3 em 3 horas .
O CRH é liberado não somente em situações de
estresse, mas também segundo o ritmo circadiano,
da mesma maneira que a serotonina, com picos
máximos de produção pela manhã, com decréscimo
durante o dia e menor taxa no início da noite. Altas
concentrações de CRH estão relacionadas à menor
quantidade de melatonina, hormônio do sono e
regulador dos ritmos biológicos cujo precursor é a
serotonina (via bioquímica que começa com o
triptofano passando por 5-hidroxitriptofano, Nacetilserotonina e, finalmente, melatonina)23. Por
outro lado, indivíduos com sono leve, poucas horas
de sono ou insônia apresentam níveis elevados de
cortisol25. Se como dito anteriormente, no aumento
de cortisol, há redução da serotonina, essa, como
precursora da melatonina, irá produzir menores
quantias desse hormônio regulador dos ritmos
biológicos. Markus et al. (2000)28, em trabalho
utilizando 58 indivíduos, metade dos quais
vulneráveis ao estresse agudo e suplementados com
α-lactoalbumina e caseína bovina, observaram um
aumento do triptofano plasmático, com redução de
sintomas depressivos e níveis de cortisol, sendo que
a α-lactoalbumina provocou maior aumento,
provavelmente por induzir maior produção de
serotonina, demonstrando portanto, que a oferta de
precursores de serotonina, podem reduzir níveis de
cortisol e de depressão associados à situações de
estresse.
Melatonina x gonadotrofinas x estrógeno x
insulina
A melatonina apresenta aumento de
concentração durante o período noturno em todos os
animais, independentemente de terem hábitos
29
diurnos ou noturnos . Além de sofrer a ação do
CRH, dependendo da espécie do animal, a
melatonina interfere de forma diferente sobre a ação
dos hormônios gonadais. No caso dos humanos, a
melatonina tem ação antigonadotrófica, reduzindo
os pulsos de secreção do hormônio liberador de
gonadotrofinas que regula o FSH e o LH.
Recentemente, foi descrita a presença de receptores
para melatonina (MT1 e MT2) em ovário humano e,
ainda, que a concentração de melatonina
plasmática, em mulheres, varia de acordo com o
ciclo menstrual (níveis baixos durante a ovulação
que crescem à medida que se aproxima a
menstruação) 29,30.
Em situações de estresse físico ou psicológico o
CRH (hormônio liberador de corticotrofina) inibe a
liberação de GnRH (hormônio produzido pelo
hipotálamo que estimula a hipófise a liberar FSH e
LH), sendo comum alterar as funções reprodutoras
30
tanto em mulheres como em homens . Observa-se
que nas mulheres em idade fértil, a afinidade dos
receptores de insulina varia conforme a fase do ciclo
menstrual. Assim os estrógenos aumentam sua
sensibilidade. Já durante a fase lútea há resistência
à insulina, ocasionada pela produção da
progesterona com consequente hiperinsulinemia e
aumento da glicemia 31. Estas relações deram
sustentação à hipótese de que a hipoglicemia
consequente à potencialização da sensibilidade à
insulina, possa ser um fator que ocasione os
sintomas da SPM23.
CONCLUSÃO
Considerando que a serotonina é um
neurotransmissor chave no estabelecimento da
SPM, para uma adequada compreensão desta
síndrome e de seus possíveis alvos terapêuticos, é
fundamental a compreensão da imbricada rede de
relações nutricionais e neuroendócrinas que
modulam a disponibilidade de serotonina. Este
trabalho permitiu identificar a relação entre
diversos nutrientes (triptofano, vitamina B6,
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magnésio e carboidratos integrais) e a biossíntese
de serotonina, bem como inúmeras interrelações
hormonais que afetam ou são influenciadas pela
mesma via.
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