Layout 1 (Page 1)

Transcrição

Layout 1 (Page 1)
01
<< Rewind
Músicas do Mundo
Sudoeste
Jazz em Agosto
Paredes de Coura
Maré de Agosto
Noites Ritual Rock
Avante!
FIB
outono 2005 trimestral 2 euros (IVA inc.)
Forward >>
Número
Experimenta Design
Gay e Lésbico
Imago
DocLisboa
Cinanima
Seixal Jazz
Sitges
Festival
Temps d’Images
www.festforward.com
ISSN: 1646-3056
editorial
Uma receita de sucesso
Sobrevivemos ao Verão, a apaixonante saison erótico-festiva,
onde a maioria preferiu descansar do descanso, espraiando-se
na chaise longue, bebendo um daikiri e dançando ao som de
um seleccionado tema de Reggaeton, enquanto o país esteve,
uma vez mais, em brasa.
Aos apreciadores de um bom gourmet, que souberam desfrutar das nossas sugestões culinárias durante a época estival,
deixamos o nosso caloroso agradecimento. Foram tão ousados
em ler esta publicação quanto nós o fomos em cozinhá-la. O
segredo culinário? Muito miolo, pouca massa e demasiados
tomates.
Para continuarmos a servir pratos com um grafismo de
excelência, fotos e textos bem condimentados, optámos por
nos afastar dos chourições, marmelos e nabos que minam o
caldeirão cultural, valorizando os verdadeiros profissionais. Em
muitos casos, a credibilidade de um festival está, à partida,
condenada pela ineficiência e falta de pimenta… Trocado por
miúdos: a total ausência de planeamento, a médio ou longo
prazo, da maioria dos festivais portugueses estorrica os planos
a quem quer apresentar um cardápio como este. Quando é que
aprendem a fazer as coisas bem feitas com os seus congéneres
internacionais?
Para os próximos três meses os pratos do dia apresentamse ricos e variados. A especialidade da casa é o Festival Temps
d´Images, evento pluridisciplinar que se divide por diversos
locais das cidades de Lisboa e Faro.
Os novos projectos culturais continuam a polvilhar a agora
denominada secção S. Martinho Apresenta e uma rigorosa
selecção de festivais terá o seu habitual espaço de antevisão
(Forward) e de reportagem (Rewind). Desta feita, o cinema, o
teatro, o design e a BD assumem os lugares de destaque no
menu, completado por um ponto de escuta e de visão sem
espinhas (Stop) e uma agenda trimestral sem caroço (Play).
Com a saída desta FEST FORWARD MAGAZINE n.º 1, só
prometemos abrandar o lume quando toda a fruta for descascada, a mensagem bem passada e os festivais bem temperados. O prato está servido — sente-se e aprecie. •
Fest Regards
Director-adjunto
Gonçalo Guedes Cardoso [email protected]
Editores
Ana Serafim [email protected]
João Pedro Correia [email protected]
Consultor de edição
Luís P. Oeiras Fernandes
Redactores
Cátia Monteiro, Pedro Moreira
Colaboram nesta edição
Álvaro Áspera, Ana Baptista, Ana Duarte, Ana Isabel José,
Ana Vieira, Bruno Ramos (fotografia), Catarina Medina, Filipe
Araújo, João Paulo Gomes (fotografia), João Pedro Almeida,
José Miguel Soares (fotografia), Jota Assis, Lino Ramos, Luís
Bento (fotografia), Luis Santos Batista, Márcio Alfama, Ricardo
Lourenço Nunes, Rui A. Cardoso (fotografia), Vitor Pinto
Correspondentes
Alexandre Nunes de Oliveira (Barcelona), Luís Mateus (Veneza)
Design Gráfico e Paginação
Filipa Lourenço
LDI - Laboratório de Design Imaginativo www.ldi.pt
Imagina Design www.imaginadesignlab.com
Impressão
MX3 Artes Gráficas
Rua Alto do Forte, Sintra Comercial Park Fracção Q, n.º 16,
Rio de Mouro
Registo no ICS
n.º 220 710
ISSN
1646-3056
Propriedade
AIFPS
Periodicidade
Trimestral
Distribuição
AIFPS
Contactos
Fest Forward Magazine
Rua do Cerrado do Zambujeiro, n.º 27, 2.º Frente
2610-036 Amadora
Telf. 93 412 30 04
91 852 07 71
Email: [email protected]
Internacionais
Música
Teatro
Cinema . Video
Dança
Design
BD . Ilustração
Publicidade
Telf. 91 908 38 88
[email protected]
Pluridisciplinar
04
Director
Filipe Pedro [email protected]
Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob
quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais.
Capa: Didon et Énée por Sasha Waltz — Festival Temps d’Images
texto: Lino Ramos
Director’s Label
Pequenos filmes musicais
Se pertence àquele grupo de atentos que guarda religiosamente as já defuntas VHS com gravações caseiras dos melhores telediscos que já passaram e ainda passam pela cada vez mais estranha MTV e afins, aqui fica um grande motivo de júbilo — há alguém que anda a fazer-lhe o trabalho
de casa e que sabe o que faz.
Entra em cena a Palm Pictures, uma editora americana que, à semelhança do que já fez há dois anos
atrás com os trabalhos de Chris Cunningham, Michel
Gondry e Spike Jonze, vem juntar mais quatro
grandes nomes à sua colecção de excepcionais DVDs
que apelidou de Director’s Label — são eles Mark
Romanek, Jonathan Glazer, Anton Corbijn e
Stephane Sednaoui.
Seguro sinal dos tempos, é agora quase pré-requisito essencial que qualquer prometedor jovem realizador de longas-metragens tenha já realizado a sua
conta de telediscos musicais e anúncios publicitários
televisivos. E, como aperitivo, aqui ficam alguns dos
títulos a serem incluídos na segunda fornada, com data de saída para este mês de Setembro — de Mark
Romanek teremos “Hurt” (Johnny Cash), “Perfect
Drug” (NiN), “Devil’s Haircut” (Beck), o director’s cut
de “Closer” (mais uma vez dos NiN e é de referir que
este videoclip tem a honra de pertencer à colecção
permanente do Museum Of Modern Art de Nova Iorque); de Jonathan Glazer veremos os seus telediscos
para os Blur (“The Universal”) e UNKLE (“Rabbit In
Your Headlights”), entre muitos outros; Anton
Corbijn, uma das grandes figuras do panorama visual
dos nossos tempos, contribuirá por sua vez com os
seus famosos videoclips criados para bandas como
U2, Depeche Mode e Mercury Rev; e finalmente, do
francês Stephane Sednaoui, dono de um impecável
e alucinante sentido gráfico, veremos desfilar pequenas jóias como “Possibly Maybe” (Björk), “Sly”
(Massive Attack) e “Give It Away” (Red Hot Chili
Peppers), entre muitas outras.
Ficou de apetite aguçado? E se lhe disser que a
completar este fabuloso pacote serão incluídos documentários, entrevistas e áudio-comentários rematados com um cuidadosamente preparado booklet de
52 páginas para cada DVD? Perfeito, não?
Faça um favor a si mesmo e invista num destes
DVDs dignos de pertencerem a um arquivo. Garantolhe que passará horas de volta deles. •
www.directorslabel.com
06 S. Martinho apresenta
texto: Catarina Medina
VideoDoc
Casa do documentário
Inaugurada a 30 de Março deste ano, a VideoDoc — Videoteca do Documentário é o mais recente espaço cinéfilo de Odivelas. A entrada é livre.
Doze anos são sinónimo de quantidade, que o diga a VideoDoc, onde mais de três mil cópias de cinema internacional conhecem morada, no Centro Cultural da Malaposta, em Odivelas. Mais de uma década
de programação da já extinta Amascultura, que entre
Encontros Internacionais De Cinema Documental e o
Festival Internacional De Cinema Científico, resultou
na VideoDoc, está disponível para ver ou rever nesta
nova casa do documentário.
«Um espólio valiosíssimo de cinema internacional,
composto por peças internacionais únicas» diz Ana
Isabel Strindberg, responsável pela área de cinema
no Centro Cultural da Malaposta e ex-assistente do
realizador João César Monteiro. Inserido no projecto
Odivelcultur — Gestão, Produção e Divulgação Cultural, criado em 2002, o VideoDoc objectiva a cultura
enquanto resposta educacional e, claro está, de lazer.
Aí todos estão convidados a conhecer o resultado do
trabalho que contou com a colaboração da Apordoc
— Associação pelo Documentário e da Videoteca de
Lisboa, sejam grupos escolares, ou até os habituais
espectadores da Cinemateca. «Estamos a ter uma excelente adesão e o público que frequenta esta casa é
08 S. Martinho apresenta
distinto: jovens realizadores, estudantes universitários
e até reformados, mas todos gostam de cinema documental», confirma a também directora da Apordoc.
O visionamento pode ser feito de 2.ª a 6.ª das
14h30 às 17h30, enquanto atitude singular, ou, se preferir, pode ir aos pares, ou até mais, mas só com marcação prévia. O processo é simples, pois todos os filmes estão catalogados e é possível fazer uma busca
informática por tema, o que permite um acesso fácil a
todo o arquivo.
Mas não se pense que esta videoteca do documentário se resume a mais de três mil fitas paradas à
espera que algum precário bem disposto estado de
espírito vá ao seu encontro. «Temos uma forte função
pedagógica. Trabalhamos com escolas de Odivelas e
da grande Lisboa organizando ciclos temáticos, onde
é utilizado o vasto espólio da Malaposta», afirma Ana
Isabel Strindberg.
A VideoDoc não é mais uma entidade sossegada
na sua imobilidade. Pelo contrário, esta casa do documentário desenvolve regularmente ciclos de filmes,
debates, estreias e até oficinas de formação de cinema. Como irá acontecer no próximo mês de Novembro, em que terão lugar duas oficinas, uma sobre cinema de animação e outra de realização cinematográfica, ambas de inscrição online. •
www.odivelcultur.com
texto: Gonçalo Guedes Cardoso
ilustração: Claúdia Guerreiro
The Scope, Oioai e Linda Martini
Os novos heróis do Rock alfacinha
Coloque no mesmo armário onde mantém os
esqueletos toda a música que ouviu até ao
momento. Limpe o pó das prateleiras e prepare-as
para o que vem a seguir.
Sugiro-lhe uma viagem por novas sonoridades
nascidas em Lisboa, cidade dinâmica e criativa, onde
coabitam três representantes de um Rock que se avizinha, cativante e promissor.
The Scope • Envoltos em nevoeiro, vislumbramos os Scope. Saídos de um universo sem datas,
nomes, locais e influências, estes quatro guerreiros
lutam pela supremacia de um Indie Rock mais Rock
do que Indie. As armas sonoras escolhidas? A classe,
um descontentamento sem ser fatalista e alguma
agressividade, mas com toques delicados. A conquista prevê-se fácil, sem jogos sujos ou truques de
magia. O requinte na composição, a mestria instrumental, a postura calculista e realista do terreno de
batalha e um amplo trabalho de campo, faz deles
grandes estrategas e perfeitos visionários. Comunicam em inglês e a sua determinação está a nu em
“Second Nature”, o primeiro single, produzido em
2005 pelo grupo. www.welcometothescope.biz
Oioai • Românticos por natureza, os fadistas do
Rock, trazem um tom descomplexado e poético ao
cancioneiro musical de uma cidade adormecida na
10 S. Martinho apresenta
esquina da Europa. Foi nas vielas descalças e boémias do Cais do Sodré que durante vários meses conquistaram o coração de admiradoras capazes de sentir prazer na força sublime da Língua Portuguesa. Corajosos, libertários e irreverentes, transmitem paixão
no poder da palavra de Pedro Puppe, nas armas em
punho de João Neto e Dodi (Toranja) e no bater do coração de Fred (Yellow W Van). Admiram os espaços
pequenos, onde são recebidos com afecto, mas desejam partir para maiores voos, onde o destino seja
menos fatalista. O visto talvez lhes seja concedido
mais cedo do que muitos prevêem. [email protected]
Linda Martini • Músculo, tensão, pulsação, suor e
cérebro. Nasceram da experimentação laboratorial,
motivados pela necessidade de modificar o código
genético do Indie Rock Português. No seu balão de
ensaio, estes cinco cientistas misturaram rasgos de
guitarras, um flow em estado de graça e uma dinâmica instrumental dopante sem contra indicações de
maior. O resultado está disponível em cápsulas para
administração por via auditiva, contendo 100 mg de
energia para o corpo. A dose diária recomendada
inclui “Este Mar” e “Amor Combate”. A fórmula completa será revelada, através do novo laboratório farmacêutico (Naked), em Abril de 2006. A overdose é
permitida. www.lindamartini.tk •
texto: João Pedro Correia
Revista Jazz.pt
Jazz disponível nas bancas
Está para breve o terceiro número da Jazz.pt, a
nova revista portuguesa sobre Jazz. De periodicidade bimestral, com um preço de capa de cinco
euros, a Jazz.pt faz a viagem sobre o que acontece
dentro e fora de portas, além de incluir uma rubrica
de crítica a discos. A revista chega de norte a sul do
país mediante uma selecta rede de distribuição.
Propriedade do Jazz Ao Centro Clube (JACC), a
Jazz.pt construiu-se após a suspensão da revista All
Jazz — que não se edita há cerca de um ano —, sendo
alguns dos seus colaboradores os mesmos que integravam aquela publicação. «Vamos lutar para não cometer os mesmos erros do passado mas aprender com
eles», escreveu Pedro Costa no primeiro editorial, referindo que «as experiências anteriores foram batedoras
eficazes» num terreno em que «existem pessoas interessadas em saber mais sobre o Jazz».
Pedro Rocha Santos, director da Jazz.pt e
presidente do JACC, revelou à FEST que a publicação
está a deparar-se com dificuldades no seu financiamento, nomeadamente na captação de investimento
publicitário. Isso explica as páginas de falsa publicidade, convites a anunciantes em forma de provocação, que têm sido publicadas na revista. Iniciativa
realmente interessante e peculiar, no número um da
Jazz.pt podia encontrar-se uma página com um risco
em forma de sorriso e os dizeres «esta revista tem boa
energia», escritos com um tipo de letra semelhante ao
da empresa alvo: a EDP. Já no número dois podia lerse que «esta página é um convite e como tal encontrase reservada para uma das instituições bancárias que,
para além da excelência nos serviços prestados aos
seus clientes, tem também uma grande responsabilidade social», frase que destacava, com cor diferente, as
letras que formam as siglas BES e CGD.
No fundo, até ao momento, a Jazz.pt existe devido
à «vontade de muita gente em fazer a revista e ao prazer que isso dá», confessou o director, que disse também não poder pagar a nenhum dos colaboradores.
Uma dessas vontades parte da loja lisboeta especializada em Jazz, a Trem Azul, que anuncia na revista e a
apoia desde o início. «Esperamos, sinceramente, que
no número quatro tenhamos já algumas receitas», concluiu Pedro Rocha Santos.
Com uma tiragem de três mil exemplares, a Jazz.pt
está disponível na cadeia de lojas Fnac, nas Livraria Almedina espalhadas pelo país, além de outras livrarias
e lojas de discos. •
www.jacc.pt
12 S. Martinho apresenta
texto: Ana Duarte
Festival Temps D’Images 2005
É tempo de imaginar
Lisboa e Faro
6 a 29 Out | www.tempsdimages-portugal.com
O Festival Temps D’Images conta este ano com
a sua quarta edição e promete ocupar Lisboa e
Faro durante o mês de Outubro, com um programa
diversificado e aliciante.
Criado em 2002 pelo Canal ARTE, Ferme du
Boisson e Scène Nationale Marne-la-Vallée, o Festival
Temps D’Images é uma iniciativa que se propõe a
divulgar espectáculos e artistas, mantendo sempre
ligações entre artes cénicas e a arte da imagem. Tendo
como objectivo central o incentivo aos encontros
artísticos e à divulgação cultural, é hoje uma
verdadeira rede europeia de circulação de obras e de
experiências na esfera das artes.
Entre os parceiros de diversos países europeus,
Portugal vem participando há já três anos nesta
iniciativa, cuja edição de 2005 terá lugar em duas
cidades: de 6 Out (5.ª) a 16 (dom) em Lisboa, e de 15
(sáb) a 29 (sáb) do mesmo mês em Faro. O festival é
uma co-produção do Centro Cultural de Belém (CCB),
da Duplacena (Lisboa) e DeVir/CAPA (Faro). Entretanto
e até 11 Dez (Dom), o Temps D’Images desdobra-se
14 Forward Pluridisciplinar
pela Europa.
A abertura do Festival, em Lisboa, dar-se-á com a
exposição de William Kentridge, constituída por
filmes e instalações. A obra de Kentridge oferece uma
visão histórica da África do Sul e do legado do
Apartheid. O trabalho do autor, conhecido pelas suas
curtas-metragens realizadas a partir de desenhos a
carvão, estará patente no Museu do Chiado de 6 Out
(5.ª) a 31 Dez (sáb), naquilo que é uma estreia em solo
português.
No Teatro Nacional Dona Maria II, entre os dias 7
Out (6.ª) e 16 (dom), serão apresentadas as peças
Respirações De Inês (no Salão Nobre) e Senso (na Sala
Estúdio). Respirações De Inês é uma exploração
estética baseada num tema histórico-literário. A peça
conta com as interpretações de Eurico Lopes e Maria
Emília Correia, que assina também a adaptação e
encenação. Senso é antes um retrato de sociedade, a
partir de uma novela de Boito, publicada em 1883 e
considerada a obra mais importante do autor, que deu
origem ao filme de Luchino Visconti. Carlos Pimenta
parte do texto original e da película do italiano para
encenar Senso, peça que conta com a interpretação
de Mónica Calle.
Na esfera da dança acontecerão várias
performances durante o festival. No CCB destaca-se
Metamorphis (de 8 Out [sáb] a 11 [3.ª], na Sala de
Ensaio), um espectáculo dirigido por Alberto Lopes,
em que é abordado o tema da transformação. Katafalk
também se anuncia como uma boa escolha. O corpo
real e as imagens projectadas mantêm uma relação
estreita, tornando o espectáculo intenso. Será
apresentado em ciclos de oito sessões de meia hora,
cada uma para 80 espectadores, completando assim
uma performance contínua de duas horas (apresentações a 8 Out [sáb] e 9 [dom]). Este espectáculo é
apresentado por uma companhia belga e concebido
por Nicole Mossoux.
Na área da música destaca-se o concerto do
trompetista norueguês Nils Petter Molvaer, que se
movimenta na nova concepção do Jazz e que
apresentará um espectáculo único, no dia 11 (3.ª), no
Grande Auditório do CCB. O músico e sua banda
partilharão o palco com Jan Martin Leager, que se
deixará conduzir por uma linha de improvisação na
construção da imagem.
Descentralização cultural
Em destaque na área do vídeo e com estreia
mundial, será possível ver a projecção de Margem
Atlântica, de Ariel de Bigault, na Sala Polivalente do
CCB. Posteriormente, espera-se um ciclo de várias
projecções, entre as quais Didon e Énée, com filme e
coreografia de Sasha Waltz; Wolf, de Alain Platel;
Geórgia, Le coeur volé, de Stephanie Thiersch; e
Frankfurt Dance Cuts, de Lutz Gregor, um filme que
apresenta coreografias de Prue Lang, entre outros.
Mais direccionado para o público infanto-juvenil,
será apresentado o espectáculo Bistouri, uma peça de
teatro de marionetas pelo Tof/Théâtre, com
encenação de Alain Moreau (Praça do Museu do
CCB, 11 Out [3.ª] a 16 [dom]). Destinado a crianças
maiores de oito anos, este espectáculo conta a
história de Léon e Willy, duas marionetas reformadas,
que voltam à profissão de cirurgião para operar a
barriga de um doente, onde vão descobrir
características humanas jamais exploradas.
Uma iniciativa que não deixará ninguém
indiferente será Sand Table, uma peça do puzzle
Highway 101, um projecto de Meg Stuart e Damaged
Gods. Sand Table é uma instalação viva, que passou
pela Fundação de Serralves em Maio passado.
Em Faro, cidade capital nacional da cultura no
presente ano, serão repostos alguns espectáculos,
entre os quais Sonho de Verão, a primeira criação de
João Botelho para o palco, acessível no CAPA —
Centro de Artes Performativas do Algarve. O desafio
de colaborar com o Temps D’Images foi aceite pelo
realizador, que este ano esteve no Festival de Veneza,
e o resultado espera-se surpreendente. A peça conta
com o desempenho de Suzana Borges.
Este festival destaca-se pela sua diversidade. Os
artistas exploram o espaço teatral, relacionam-se com
os espectadores, reflectem e reflectem-se em
projecções, projectam-se em imagens e ideias. Os
bilhetes para os espectáculos custam entre três e 30
euros.
O Temps D’Images
O festival prolonga-se por vários países, como
França, Portugal, Hungria, Bélgica, Itália e Alemanha,
bem como em três dos mais recentes membros da
UE, a Polónia, Letónia e Estónia.
O núcleo que hoje torna possível um evento desta
dimensão e pretensão é constituído por várias
estruturas, como a francesa La Ferme du Buisson, a
portuguesa Duplacena, a húngara Le Trafo, a belga
Les Halles de Schaerbeek, o Festival Romaeuropa, a
alemã Tanzhaus NRW, a polaca Zamek Ujazdowski, o
New Theatre Institute Of Latvia, o Theater n.º 99, e o
canal cultural ARTE. •
~
Programacao
, para faro:
CAPA – Centro de Artes Performativas do Algarve
15 Out (sáb) a 29 (sáb)
Atlas, o antes de llegar a Barataria
MAL PELO
15 Out (sáb), às 21h
Senso, de Camillo Boito
Carlos Pimenta, Luciana Fina, Mónica Calle
21 Out (6.ª) e 22 (sáb), às 21h
Sonho de Verão
João Botelho, com Suzana Borges
28 Out (6.ª) e 29 (sáb), 21h
Bistouri,
Tof Théâtre
19 Out (4.ª) a 22 (sáb), local e horário a anunciar
Ciclo ARTE
15 Out (sáb) a 29 Out (sáb)
Forward Pluridisciplinar 15
.
texto: Ana Serafim
2.º Festival SONDA
Perscrutar novas linguagens
Caldas da Rainha
15 a 29 Out | www.festivalsonda.com/sonda.htm
Outubro explora os contornos da produção artística nacional. As Caldas da Rainha recebem a
segunda edição do SONDA, a propor a intersecção
entre a música, o vídeo, a dança, o cinema, as
artes plásticas e o design.
Em 2004 o SONDA apresentou arrojadas propostas num programa pluridisciplinar, que contou com as
participações de variados nomes, entre os quais Tânia Carvalho, Mónica Calle e a dupla Bullet/António
Jorge Gonçalves. Foi possível ver, também, uma
mostra dos filmes premiados no IndieLisboa, o lançamento do Prémio Nacional de Cerâmica Decorativa
Frazarte, concertos, exposições e outras festas.
Depois do sucesso de 2004, começa, a 15 Out
(5.ª), a segunda edição do SONDA, que segue na linha
de uma programação pluridisciplinar que abordará variadas linguagens artísticas, sob a perspectiva de definir um discurso construtor de uma identidade cultural.
A programação dividir-se-á entre o cartaz principal, o SONDA, vocacionado para a mostra de projectos de produção nacional, e os Estaminais, projecto
que apresentará, pela mão de estudantes da ESAD
(Escola Superior de Artes e Design de Caldas da
Rainha), performance, instalação, pintura e arte
pública em vários locais determinados pelo seu uso e
história, e determinantes para a fisionomia da própria
cidade.
No programa deste ano destacam-se os trabalhos
de três criadores nacionais, Patrícia Portela, Filipe
Viegas e Sérgio Cruz, bem como a retrospectiva de
pintura de João Fonte Santa. •
texto: Ana Baptista
6.º Número Festival — Festival Internacional De Multimédia, Filmes E Música
Festival cerebral
Lisboa
4 a 13 Nov | www.numerofestival.pt
O Número é um festival que serve de ponto de
encontro de experiências alternativas no panorama nacional e internacional, com música selecta a
acompanhar. Jogos Neurológicos é o tema da edição deste ano.
De momento estão agendadas as entregas do
Prémio Multimédia, atribuído pelo ICAM, e do Prémio Alcatel Alarga A Tua Vida, para além das iniciativas criadas na edição de 2004 — o evento Games 4
Real II e um painel de conferências internacionais subordinadas ao tema Gazing At… Lisbon´s Cityscape.
O lançamento da nova N_Número Magazine_Portugal será outro dos pontos altos de um evento
que deverá contar com inúmeros concertos. Noutros
anos passaram por lá artistas como Fischerspooner,
Animal Colective, Pan Sonic, Aphex Twin, Chicks
16 Forward Pluridisciplinar
On Speed, Bullet, Micro Audio Waves ou Loosers.
Ciclos de cinema e vídeo experimental, apresentações
de trabalhos e instalações serão outras apostas — como é, de resto, habitual — da organização.
Esta será a sexta edição de um evento que arrancou em 2000 numa maratona de concertos e apresentações que durou 20 dias. O sucesso da primeira edição levou a que se criasse uma editora discográfica —
a N_records — responsável pelo lançamento de No
Waves, segundo álbum dos portugueses Micro Audio
Waves; e uma editora de livros, a N_books.
Em seis anos, o Número tornou-se uma referência
nos eventos de época baixa a nível nacional e internacional — são as artes alternativas a tomar conta do
Outono. Fiquem atentos, em breve já se saberá tudo o
que é preciso. •
texto: Ana Vieira
Ilustrarte 2005 — Bienal Internacional De Ilustração Para A Infância
Lugar às crianças
Auditório Municipal Augusto Cabrita — Barreiro
1 Nov a 31 Dez | www.ilustrarte.web.pt
Quando se é pequeno há sempre aquele livro
que tem aqueles desenhos dos quais nos lembramos ainda hoje. São figuras que nos chamam a
atenção, que se olham e tornam a olhar, se tocam
com a mão pequena e suja de comida, e que mais
tarde revisitamos com olhar de adulto.
A Ver Pra Ler — associação para a ilustração de livros para a infância — compreende o poder mágico
das imagens nos livros que se lêem quando somos
pequenos e entende a ilustração de livros para crianças como uma forma de arte, uma conjugação de belas histórias com belos desenhos que nos transportam
para o reino do delicioso. Formada em 2003 por Ju
Godinho e Eduardo Filipe, mantém uma programação
regular de exposições de originais de ilustração dos
melhores autores portugueses e estrangeiros.
O Ilustrarte é um encontro no Barreiro, de dois em
dois anos, de ilustradores de livros para a infância, originais de ilustração, editores, coleccionadores e
leitores, qualquer que seja a sua idade. É organizado
pela Ver Pra Ler com o apoio da Câmara Municipal do
Barreiro, sendo composto por um concurso — oportunidade para ilustradores nacionais e estrangeiros principiantes ou consagrados participarem nesta iniciativa, enviando três trabalhos originais, inéditos ou publicados há menos de um ano de modo a serem apreciados por um júri composto por importantes personalidades da arte e da ilustração nacional e mundial (as
inscrições terminaram a 30 Jun) —, uma exposição
dos trabalhos seleccionados e um catálogo de grande
qualidade, registo e memória da bienal.
Este ano o artista plástico João Vaz de Carvalho
é o vencedor da segunda edição da Ilustrarte. O júri
atribui ainda duas menções especiais à belga Isabelle
Vandenabeele e ao português André Letria. A qualidade, inovação da técnica e composição plástica escolhida levaram o júri a atribuir o primeiro prémio a
João Vaz de Carvalho. Concorreram 930 artistas
oriundos de 50 países, tendo inicialmente sido seleccionados 50 ilustradores de 15 países diferentes (entre
eles os portugueses Gémeo Luís e José Manuel
Saraiva). São estes os trabalhos presentes na
Ilustrarte 2005 de 1 Nov (3.ª) a 31 Dez (sáb). •
Forward Ilustração 17
.
texto: Álvaro Áspera e Luís P. Oeiras Fernandes
Entrevista a Ricardo Ferrand
O verdadeiro humor
de Ricardo Ferrand
18 Rec BD
foto: José Miguel Soares
Durante o dia, é desenhador de uma marca de
roupa. Ao cair da noite, este jovem multifacetado
de 32 anos transfigura-se e faz banda desenhada.
Por este duplo licenciado (em Engenharia do Ambiente e em Design Gráfico) ficamos a saber tudo
sobre o verdadeiro papel histórico do obscuro Zé
do Pipo e que Cristo (ou Jota Cristo), na realidade,
vive em Lisboa. Personagem simpática e descontraída, que é impossível não tratar por tu, ele é o
autor em destaque no Festival Internacional de
Banda Desenhada da Amadora de 2005 (FIBDA).
Que imagem estás a pensar dar ao FIBDA deste ano?
A imagem que estou a criar vem na sequência de
um pedido, é quase uma ilustração editorial. Tive de
seguir a linha do FIBDA deste ano, que é o sonho. O
ponto de partida, de acordo com as directivas deste
ano, é um cartaz que tenha uma cama a voar. Neste
momento ainda estamos num processo de desenhos,
de esboços e de troca de imagens e ideias, até chegarmos ao ponto ideal.
Muitos dos teus trabalhos, como A Verdadeira
História De Portugal, fazem uma relação constante
entre o tempo histórico e o tempo actual. Porquê?
Acho que a Verdadeira História De Portugal é um
pouco o contrário de A Verdadeira História De Jota
Cristo. O Jota Cristo baseia-se numa história antiga
mas que transporto para os tempos de hoje. Ou seja,
os elementos do cenário e do ambiente são dos nossos dias. Jota Cristo vive na Lisboa actual e, no entanto, a narrativa que é contada é a narrativa de há dois
mil anos. A Verdadeira História De Portugal também se
passa antigamente e o cenário da história é o antigo,
mas as acções, as falas e até mesmo, a nível visual,
alguns ícones que vão aparecendo, já são coisas actuais. E é essa transposição que tem piada e que é o
absurdo da questão.
O teu humor tem sempre um lado crítico muito
forte...
Tem. Esse é o meio que achei mais próprio para
fazer a ponte entre o tempo dos acontecimentos históricos e a realidade. É um pouco a influência do
Goscinny, tanto de Asterix como de Iznogoud, que
têm muitas referências à época em que foram feitos.
Referências da sociedade, da política, dos países por
onde as personagens passam. Tudo isso é uma maneira de mostrar os acontecimentos históricos de tal
forma que possam ser encarados com um sorriso.
Muito do humor funciona disso, de desconstruir as
coisas, colocando-as numa situação ridícula ou de pu-
ros anacronismos, como as placas da GNR na Verdadeira História De Portugal.
O ponto de partida da Verdadeira História De Portugal foi brincar com a maneira de ser do português.
Já me perguntaram por que não a mostro a editoras
estrangeiras. Mas acho que as pessoas lá de fora não
iriam entender as piadas. É preciso conhecer a maneira de ser do português, ter sido mandado parar pela
GNR, conhecer a função pública.
Quando fazes BD tens a intenção de ser pedagógico? Ou só te preocupas com a vertente humorística?
É mais o segundo caso. A pedagogia nunca foi a
intenção. No entanto, elas acabam por ser pedagógicas. Notei isso sobretudo nas feiras do livro que visitava. Metade das pessoas que me vinham pedir para
fazer um desenho eram miúdos, na casa dos 10, 13
anos. Muitos deles estavam a começar a ter contacto
com a História de Portugal na escola e reconheciam
os episódios. Os pais vinham-me dizer que aquilo tinha sido muito engraçado e importante porque os
miúdos conseguiam aprender os acontecimentos,
mas de uma maneira não tradicional.
Nunca foi minha intenção dizer que foi o Zé do
Pipo o responsável pela conquista de Santarém porque abriu a porta sem querer. Acho que os miúdos já
têm maturidade intelectual suficiente para distinguir o
que é uma brincadeira e o que não é.
Esse humor do absurdo nasce de que leituras,
de que referências?
O meu gosto em BD é bastante vasto, mas situase sobretudo na tradição franco-belga. Os meus autores de referência, em termos de argumento de BD humorística, são o Greg e o Goscinny. Foram dois autores que me marcaram muito. Era o que lia em pequeno, eram essas histórias que na revista Tintin me chamavam mais a atenção e que ia sempre procurar.
Na parte mais adulta, se se quiser chamar assim,
não há dúvida de que me marcaram autores como
Giraud e mais antigos, como o Edgar Pierre Jacobs.
Em termos de argumentos, Jacobs marcou-me bastante porque eram obras bem feitas e que continuam
actuais. Foi um autor que comecei a ler um pouco
mais tarde (porque não é um miúdo de dez anos que
lê Blake & Mortimer). Noutra esfera completamente diferente, o Hugo Pratt, toda aquela poesia, especialmente os livros a preto e branco, que acho fantásticos.
Corto Maltese é uma referência. Quase todos eles na
linha europeia de BD, na linha franco-belga. Tenho a
BD europeia muito mais presente do que a norte-americana ou a japonesa. Confesso que nunca tive grande
Rec BD 19 .
apetência para o lado dos super-heróis.
Identificas-te com o humor que se faz em
Portugal?
O humor português que se faz, do Herman José,
dos Malucos Do Riso, é para a maioria. É um humor
fácil, de piadinha, baseado nas anedotas, com um bocadinho de picante que é sempre muito bem aceite.
Essas não são as minhas referências. Gosto principalmente do que vem do Reino Unido, tanto dos Monty
Python como do Blackadder. Este último é uma grande referência, porque, tal como na Verdadeira História
De Portugal, as épocas vão passando e as personagens mantêm-se.
Mas é muito difícil fazer humor em Portugal, no dia
a dia. Chego à Segurança Social, dizem-me que houve um erro e que devo duzentos contos. E eu digo: «A
sério? Só? Isso é pouco, não posso pagar mais?». A
pessoa que está no outro lado leva isso a sério... Uma
pessoa que até admiro, em termos de humor, é o sr.
Pinto da Costa, que consegue jogar muito bem com a
ironia. É algo a que os portugueses não estão habituados e que funciona muito bem para desconstruir as
coisas.
Concordas que o teu humor também tem muito
a ver com os Gato Fedorento?
Talvez. Como vivi na Irlanda conheço mal. Gostaria de conhecê-los melhor. Vejo isso de outra maneira:
os Gato Fedorento têm as mesmas referências que
eu. Os Monty Python, por exemplo. Mesmo em termos físicos há imensas semelhanças entre eles.
E quanto a autores portugueses? Quais os autores actuais teus preferidos?
Em termos de influências, confesso que não ligava
muito à BD que era feita em Portugal, as minhas referências são mesmo estrangeiras. No entanto, na sequência da revista Tintin foi determinante, sem dúvida,
ler Fernando Relvas, que tive o gosto de conhecer
pessoalmente na livraria Dr. Kartoon. Gostava muito
do Espião Acácio, que julgo ser um dos melhores trabalhos feitos em Portugal e que inclusivamente foi publicado em revistas estrangeiras. Gosto muito dos trabalhos do José Carlos Fernandes e do Miguel
Rocha. Do João Fazenda também, embora tenha pena que ele tenha passado mais para a área da ilustração.
Como surgiu a ideia de fazer Que Grande
Trabalheira, uma BD sem textos?
Vem na sequência da maneira como encaro a BD:
se puder dizer algo por imagens, não preciso de ter o
20 Rec BD
texto. O que não quero nunca transmitir é uma coisa
óbvia. Era uma ideia que já tinha desde há bastante
tempo, chegar ao ponto extremo de fazer BD sem ser
necessário o texto.
Nesse aspecto, outra influência é o cinema mudo
de Buster Keaton. Pela expressão dele, por todo o
seu universo, que era muito mais absurdo do que o de
Charles Chaplin. Mais recentemente temos o Mr.
Bean, que nos primeiros episódios nem sequer dizia
nada. Achava engraçado como ele conseguia transmitir ideias só pelas acções, pelas maneiras desengonçadas, pelo olhar, pela expressão. Daí ter surgido a BD
Que Grande Trabalheira, publicada em 2003.
Em que projectos estás a trabalhar actualmente?
Durante o FIBDA deste ano sairá um novo livro
sem texto, cuja personagem é um coelho. A personagem principal de Que Grande Trabalheira era uma galinha e era claramente dirigido a um público infantil. Este coelho já é mais direccionado para um público um
pouco mais adulto
Entretanto, não estou a trabalhar em nenhum projecto a tempo inteiro É algo que me está a criar um bocado de formigueiro na cabeça, porque tenho necessidade de criar coisas novas.
Gostava de continuar a Verdadeira História De
Portugal. A aceitação foi muito boa e tanto da minha
parte como da editora há vontade de continuar.
É difícil editar BD em Portugal? Tem sido difícil
para ti?
Relativamente. Tive uma sorte que a maioria dos
autores não tem e que foi uma editora, a Witloof, ter
apostado em mim desde o início. Primeiro, colaborei
na revista da livraria Dr. Kartoon [ligada à Witloof], em
que tinha A Lenda do Cavaleiro Guilhão. Era uma
história em sequência, publicavam-se duas páginas
em cada mês. Depois, editaram A Verdadeira História
De Jota Cristo, O Homem Que Não Parava De Urinar,
e A Criança Que Tinha Cem Anos.
Também fizeste uma edição de autor, O Rei E O
Louco.
Sim, porque não perdi grande tempo à procura de
editora. Foi um processo muito rápido. A ideia original
era fazer umas tiras para apresentar a jornais, para fazer cartoons satíricos, políticos. As personagens são
sempre um rei e um louco, o que muda é onde eles estão, que é ou no mar, ou numa ilha, ou a jogarem um
jogo, enfim, nas mais variadas situações. São tão contraditórios que há sempre motivo para discussões e
diálogos. O Rei representa a racionalidade e a rigidez
da sociedade. Porém, o seu único súbdito é um louco.
Não obedece a regras nenhumas, tem a sua lógica
própria, está-se a borrifar para que o outro seja rei. As
personagens são tão ricas naquilo que podem contar
que surgiram as histórias e as quadras.
Esta BD era muito pessoal e tinha de estar num
formato pequeno, um formato quadrado. Queria fazer
uma coisa muito minha e não queria interferências de
nenhuma editora. Então assumi o carácter alternativo
e resolvi fazer a edição de autor e pôr à venda no
FIBDA 2003.
Correu bem?
Tão bem que esgotou logo. A edição era muito limitada, só 30 exemplares. Tenho uma lista de espera
já de umas dez pessoas.
Acho que sim. Já tive alguns contactos para isso.
Ouves música enquanto desenhas?
Oiço sempre. Tanto gosto do Rock dos anos 60 e
70 como de música alternativa, mais dos nossos dias.
Não sei se ainda é alternativo, mas sempre gostei muito do Nick Cave. Os Suede quando aparecerem, no
primeiro e segundo disco, eram muito bons, depois,
creio que decaíram muito. Da mesma maneira, também
oiço Bob Dylan e Jefferson Airplane dos anos 60.
Em que festival de música gostarias de encontrar alguém a ler um livro teu?
No Live 8 [risos]. Se alguém estivesse a ler o meu
livro e fosse apanhado por uma câmara de televisão
era bestial! [risos].
Vamos ver esse livro editado no mercado?
texto: Luís P. Oeiras Fernandes
Festival Internacional De Banda Desenhada Da Amadora
Os pastéis da Amadora
Amadora
21 Out a 6 Nov | www.amadorabd.com
Se os pastéis são mesmo é em Belém e os
livros em Frankfurt, por cá, a banda desenhada é na Amadora.
No cartaz da 16.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA)
pode ver-se uma cama voadora. Não é para menos: o tema deste ano é o sonho. A imagem é de
Ricardo Ferrand, jovem desenhador que é, este
ano, o autor em destaque (ver entrevista).
Outra aposta desta edição é o já consagrado
José Carlos Fernandes. Vencedor de inúmeros
prémios em Portugal e alguns no estrangeiro, este
é o autor da série A Pior Banda Do Mundo. Um
grupo de amigos que todos os dias, desde há
trinta anos, ensaia numa cave e dá liberdade à
sua completa falta de talento e de ouvido musical,
é a desculpa para conhecer algumas das mais
sugestivas personagens da nossa BD. Desde
clientes de um hotel que reclamam por terem tido
sonhos de outros hóspedes durante a noite, até
gente que acorda cansada por passar a noite a
sonhar que tem insónias, há de tudo em A Grande
Enciclopédia Do Conhecimento Obsoleto, quarto
volume desta série.
Na ordem do dia estará a comemoração dos
cem anos de Little Nemo In Slumberland de
Winsor McCay (que também assinou obras como
Silas). Esta BD, publicada no New York Herald
(hoje, Herald Tribune) entre 1905 e 1911, cujos
episódios terminam sempre quando o pequeno
Nemo acorda, é considerada um dos mais
importantes marcos na História dos quadradinhos. Haverá ainda espaço para revisitar Neil
Gaiman e a sua personagem, Sandman.
O festival estará na estação de Metro
Amadora Este entre 21 Out (6.ª) e 6 Nov (dom). O
programa detalhado só será divulgado após o
nosso fecho de edição, mas, com estas referências, de certeza que vale a pena dar um
pulinho a Belém, quer dizer, à Amadora. •
Forward BD 21 .
texto: Ricardo Lourenço Nunes
ExperimentaDesign 2005
O design ocupa Lisboa
Lisboa
15 Set a 30 Out | www.experimentadesign.pt
Com o objectivo de atrair milhares de visitantes, a quarta edição da ExperimentaDesign — Bienal de Lisboa decorre de 15 Set (5.ª) a 30 Out (dom),
apresentando um programa multidisciplinar.
Iniciada em 1999, esta bienal internacional concentra-se nas áreas da criatividade, experimentação e
metodologia de projecto, tendo por base a disciplina
do design. Promovendo a indústria e os criadores portugueses, a ExperimentaDesign (EXD) tem sido também um invulgar e bem sucedido espaço de apresentação e reflexão sobre os caminhos da produção cultural internacional.
Conforme refere a organização, a principal diferença da EXD relativamente a eventos semelhantes na
Europa «reside no facto de esta se estabelecer como
evento de carácter experimental e não comercial», o
que tem permitido que, desde a sua primeira edição,
se concentre no âmbito do pensamento teórico e na
elaboração de projectos inéditos, levando assim a um
crescente interesse e impacto nacional e internacional.
Depois de Intersecções do e no Design, em 1999,
Modus Operandi, em 2001, e Para além do Consumo,
em 2003, o tema para a edição de 2005 é O Meio é a
Matéria. Fechando um ciclo, o tema para este ano foca os objectivos, as metodologias e os intervenientes
presentes nos meios de comunicação e nos objectos
comunicativos. Exposições, conferências, ciclos e debates promovem a reflexão sobre os meios e as matérias de comunicação e percepção, no intervalo entre o
criador e o consumidor.
22 Forward Design
Na semana inaugural concentra-se o programa de
apresentações e inaugurações dos eventos, assim como a realização dos debates e conferências. Distribuída por vários espaços na cidade, a EXD dispõe ainda
de um programa de visitas guiadas às exposições, um
centro de informação permanente onde se pode obter
informações e materiais específicos sobre todos os
eventos e os seus protagonistas, bem como um espaço de encontro e convívio entre o público e os intervenientes, denominado Lounging Space.
As exposições
My World, New Crafts — Artesanato e autonomia no design contemporâneo pretende demonstrar
a crescente união entre o artesanato e o design no início deste século. Esta exposição reúne trabalhos de
Espanha, Suécia, Reino Unido e Portugal, decorrendo
entre 18 Set (dom) e 30 Out (dom) na Estufa Fria.
No Centro Cultural de Belém, de 16 Set (6.ª) a 27
Nov (dom), Catalysts! — O design de comunicação
enquanto força cultural apresenta a importância do
design de comunicação na expressão visual quotidiana,
a sua relevância enquanto veículo de transmissão e ou
propagação cultural, bem como o seu contributo para o
carácter da sociedade e cultura contemporânea.
Decorre entre 17 Set (sáb) e 30 Out (dom), no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, a exposição
S*Cool Ibérica — Design de Portugal e Espanha.
Tendo por base uma oficina sobre o tema O Meio é a
Matéria, onde participaram 13 escolas portuguesas e
A ExperimentaDesign espalha-se por sete locais
diferentes. Saiba qual a melhor maneira de lá chegar, sem
conduzir. Porque o petróleo está caro. E porque se utilizar
os transportes públicos tem tempo para ler a FEST
FORWARD MAGAZINE.
Centro Cultural de Belém Praça do Império
Autocarro: 14, 27, 28, 29, 43, 49, 51, 73 e 112
Eléctrico: 15 e 17
Cordoaria Nacional Avenida da Índia
Autocarro: 14, 27, 28, 43, 49, 51 e 112
Eléctrico: 15
Culturgest Rua do Arco do Cego
Autocarro: 1, 21, 27, 32, 36, 38, 44, 45, 47, 49, 56, 83,
90, 91 e 108
Metro: estação Campo Pequeno
Estação do Rossio Praça D. João da Câmara
Autocarro: 2, 9, 11, 32, 36, 39, 44, 46, 59, 90, 91, 205 e
207
Metro: estações Rossio e Restauradores
Estufa Fria Parque Eduardo VII, Praça Marquês de
Pombal
Autocarro: 1, 2, 12, 18, 20, 31, 38, 41, 42, 46, 49
Metro: estações Marquês de Pombal, Parque e S.
Sebastião
Palácio de Santa Catarina Rua de Santa Catarina, n.º 1
Autocarro: 15 e 100
Eléctrico: 28
Elevador da Bica (à Calçada da Bica de Duarte Belo)
Metro: estação Baixa-Chiado
espanholas, a exposição apresenta uma selecção de
20 projectos, trabalhos gráficos e protótipos.
A Casa Portuguesa — Novos conceitos para
habitações locais expõe a reflexão de 12 ateliers de
arquitectura nacionais sobre o espaço habitacional e
doméstico contemporâneo. Com recurso a materiais
reciclados e novas tecnologias, foram projectadas habitações, tendo em vista o desenvolvimento sustentável e as necessidades da vida contemporânea. Esta
exposição decorre entre 17 Set (sáb) e 30 Out (dom)
no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional.
De 19 Set (2.ª) a 30 Out (dom), na estação do Rossio, [P] apresenta uma síntese do design industrial e
do design de comunicação português. Mais de cem
criadores nacionais demonstram as suas mais recentes reflexões e o porquê do crescente reconhecimento
internacional.
Outros eventos
Previstas para 15 Set (5.ª), 16 (6.ª) e 17 (sáb), com
o objectivo de estimular um debate aberto e informal,
as Open Talks pretendem apresentar uma abordagem
pluridisciplinar dos temas desta bienal. No Palácio
Pombal, protagonistas nacionais e internacionais
abordam os panoramas culturais que dominam disciplinas como o design de comunicação, o design industrial, a arquitectura ou o urbanismo.
Durante os mesmos dias, no Centro Cultural de
Belém, as Conferências de Lisboa pretendem ser um
espaço de discussão e reflexão internacional sobre os
Palácio Pombal Rua do Alecrim, n.º 70
Autocarro: 100 e 58
Metro: estação Baixa-Chiado
cenários contemporâneos do design e das várias disciplinas focadas nesta bienal, contando com a presença de figuras como Philippe Starck, Massimiliano
Fuksas, Stefan Sagmaister ou Eduardo Souto de
Moura, entre outros.
Na Culturgest, entre 24 Set (sáb) e 27 (3.ª), o ciclo de
cinema intitulado Designmatography IV exibe obras
dos cineastas Morgan Fisher, Bruce Conner, Thom
Andersen e Owen Land sob o tema da bienal, onde é
focado o cinema como disciplina de comunicação.
Por último, os Projectos Tangenciais representam um conjunto de criações independentes que se
reflectem no âmbito conceptual e inovador desta
bienal. Estes projectos, de naturezas diferentes,
exploram universos artísticos e experimentais, demonstram a vitalidade cultural do nosso país e podem
ser vistos no Palácio de Santa Catarina e no Museu da
Cidade a partir dos dias 15 Set (5.ª) e 16 (6.ª), respectivamente.
Numa conjuntura global de crise na produtividade
e no consumo, o design enquanto disciplina que procura soluções para as necessidades da sociedade
contemporânea revela-se, cada vez mais, um importante meio na busca de novas dinâmicas económicas
e de produção. Vamos poder confirmá-lo, brevemente,
em Lisboa. •
Forward Design 23
texto: Lino Ramos
Cairo Calling
9.º Festival De Cinema Gay E Lésbico
A cultura Queer
Cinema Quarteto, Instituto Franco-Português - Lisboa
15 a 21 Set | www.lisbonfilmfest.org
Certame seguramente a assinalar no panorama
de festivais de cinema em Portugal, o Festival De
Cinema Gay E Lésbico De Lisboa (FCGLL) dá este
ano um grande passo em direcção à sua consolidação como um evento com uma cada vez mais
crescente relevância social e sociológica.
Uma das grandes novidades é a realização, pela
primeira vez na história deste festival, de uma secção
competitiva, iniciativa essa já há muito ambicionada
tanto pelos organizadores do FCGLL como também
pelos responsáveis da Associação Cultural Janela Indiscreta (ACJI). Com o claro objectivo de incutir uma
maior dinâmica ao evento, assim como atingir uma
maior projecção internacional, vão estar a concurso
nada menos que oito longas-metragens, 15 documentários e 44 curtas-metragens. Vale a pena assinalar
que este ano foram recebidos mais de duzentos filmes
para programação, dos quais cerca de cem serão exibidos. O júri internacional é constituído por Carla
Despineux (presidente), Margarida Cardoso, Brian
Robinson e Cosimo Santoro, todos eles figuras importantes na defesa e divulgação da cultura gay e lésbica.
Mas as novidades não se ficam por aqui — muito
24 Forward Cinema
pelo contrário. Associando-se à Cassefaz, estreou no
Teatro da Comuna, a 9 Set (6.ª), o espectáculo Gay
Solo, escrito, encenado e interpretado por Luís Assis,
primeira parte de uma proposta trilogia intitulada Sex
Shop Trilogy. A iniciativa partiu da referida Cassefaz,
que obteve do FCGLL uma pronta resposta positiva.
Segundo o autor da peça, o Gay Solo «é um revolucionário guia para compreender o gay português em cinco fáceis lições. E, sobretudo, é uma crítica corrosiva
(e, às vezes, bem humorada) sobre algumas ideias feitas acerca do que é ser gay num pequeno país que
gostamos de chamar Portugal!».
O que nos leva, por sua vez, ao tema central desta
nona edição: a cultura Queer. Afirmando-se cada vez
mais como o elemento abrangente e unificador de todas as sexualidades, procurou-se este ano uma cinematografia que represente o impacto desta cultura
na sociedade, nos comportamentos, na criação artística, na sua articulação com a cultura mainstream.
João Ferreira, director do festival, em entrevista à
FEST explica: «Acho francamente redutor, e até desinteressante, pensar uma cultura específica como algo
estanque, fechado. Agrada-me o carácter flutuante do
conceito Queer e a verdade é que a própria cultura gay
programa seleccionado:
15 Set — Cinema Quarteto
21h00 . Sala 2 . Abertura do FCGLL; Programa de curtas “De puta
madre!”
16 Set — Cinema Quarteto
15h00 . Sala 4 . Not Straight Forward, de Jennifer Ting (76’, EUA, 2004)
19h15 . Sala 4 . El Sexo De Los Angeles, de Frank Toro (80’, Espanha,
2004)
21h45 . Sala 2 .
Hilde’s Journey, de Christof Vorster
21h45 . Sala 2 .
L’Ennemi Naturel, de Pierre Erwan Guillaume
(97’,
França, 2004)
2004)
17 Set — Cinema Quarteto
15h00 . Sala 4 . Comme Un Frère, de Bernard Alapetite e Cyril
Legann (55’, França, 2005), Half A Life, de Claudia Laszczak e Kay
Wishöth (55’, Alemanha, 2004)
17h15 . Sala 4 . Transazioni, de Mary Nicotra (29’, Itália, 2004), Trópico
De Capricórnio, de Kika Nicolela (30’, Brasil, 2005), Enough Man, de
Luke Woodward (61’, EUA, 2005)
19h30 . Sala 4 . Programa de curtas — “Laugh out loud”
21h30 . Sala 4 . Programa de curtas — “As hard as it gets”
23h30 . Sala 4 . Le Veau D’Or, de Stéphane Marti (30’, França, 2002),
Mira Corpora, de Stéphane Marti (45’, França, 2004)
18 Set — Cinema Quarteto
15h30 . Sala 4 . Annie Sprinkle’s Amazing World Of Orgasm, de
Annie Sprinkle e Sheila Malone (53’, EUA, 2004)
17h00 . Sala 2 . Lotta Libera, de Stefano Viali (15’, Itália, 2004), Juste
Un Peu De Réconfort, de Armand Lameloise (43’, França, 2003)
19h00 . Sala 2 . Popular Music, de Reza Bagher (105’, Suécia, Finlândia,
2004)
21h30 . Sala 4 .
Alemanha, 2004)
(90’, Suiça, 2004)
17 Set — Auditório do Instituto Franco-Português
21h30 . L’Ennemi Naturel, de Pierre Erwan Guillaume (97’, França,
23h45 . Sala 4 .
19 Set — Cinema Quarteto
15h30 . Sala 4 . Yes, de Hervé Joseph Lebrun (6’, França, 2004), The
Tasty Bust Reunion, de Stephen Maclean (52’, Austrália, 2004)
17h00 . Sala 4 . Programa de curtas “It’s a queer world”
19h30 . Sala 4 . City Of Happiness, de Michael Roes (85’, Argélia,
Programa de curtas “Bad girls and sick boys”
Mr. Leather, de Jason Garrett (70’, EUA, 2005)
19 Set — Auditório do Instituto Franco-Português
21h30 . Chérie, de Liova Jedlicki (12’, França, 2004), Maris À Tout
Prix, de Jean-Michel Vennemani e Yves Jeuland (90’, França, 2004)
— e em particular a cinematografia gay — está cada
vez mais contaminada deste conceito.» No interesse
disto mesmo, realizam-se, de 16 Set (6.ª) a 17 Set
(sáb), no Instituto Franco-Português, colóquios de estudos G(ay), L(ésbicos) e Q(ueer), moderados por especialistas na matéria. A conferência de abertura será
feita por Didier Eribon, filósofo e historiador das ideias.
E é claro que um festival sem público não é festival. João Ferreira orgulha-se de contar, ano após ano,
com «um conjunto significativo de espectadores fiéis»
e acrescenta que «a mudança do FCGLL para o espaço do Cinema Quarteto veio retirar-lhe — e ainda bem
— alguma conotação de gueto que ele pudesse ter».
No entanto, ainda contam com algumas dificuldades.
«Com a redução do subsídio do ICAM em mais de
60% em relação à edição anterior e a continuada recusa por parte da CML em nos dar um apoio financeiro
directo, tal como o têm os outros importantes festivais
20 Set — Cinema Quarteto
15h30 . Sala 4 . Betty Ball Breaker Comes Home From Work, de
Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2000), Lesbian Gymnasts In USSR, de
Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2000), Red Dresses, de Tonje Gjevjon (3’,
Noruega, 2001), As You Wish, de Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2004),
Talking In Tongues, de Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2004), Annie
Sprinkle’s Amazing World Of Orgasm, de Annie Sprinkle e Sheila
Malone (53’, EUA, 2004)
17h00 . Sala 4 . Programa de curtas “Oh England my lionheart”
19h45 . Sala 4 . Kiki And Herb On The Rocks, de Mike Nicholls (75’,
Reino Unido, 2005)
22h00 . Sala 4 .
Montresor
The Legacy Of Cain, de Luca Acito e Sebastiano
(73’, Itália, 2005)
21 Set — Cinema Quarteto
15h30 . Sala 4 . Chérie, de Liova Jedlicki (12’, França, 2004), Maris À
Tout Prix, de Jean-Michel Vennemani e Yves Jeuland (90’, França,
2004)
B-Girl, de Emily Dell (15’, EUA, 2004), Five Card Stud,
de Jo-Ann Gaudry (65’, Canadá, 2005)
19h00 . Sala 4 . Comme Un Frère, de Bernard Alapetite e Cyril
Legann (55’, França, 2005), Half A Life, de Claudia Laszczak and
Kay Wishöth (55’, Alemanha, 2004)
21h00 . Sala 2 . Atribuição dos Prémios da Secção Competitiva;
Garçon Stupide, de Lionel Baier (94’, Suiça, 2004)
22h00 . Sala 4 . Harigata: The Alien Dildo That Turned Women Into
Sex-Hungry Lesbos, de Szu Burgess (9’, EUA, 2003), Is Your Wife
A Secret Lesbian?, de Szu Burgess (9’, EUA, 2002), Queer Factory
Tales, de Vários Autores (69’, França, 2004), Acteur X Pour Vous
Servir, de HPG (9’, França, 1997)
17h30 . Sala 4 .
de cinema de Lisboa, fizeram da questão financeira a
nossa maior luta deste ano».
Com uma programação fortíssima e um leque
atractivo de actividades paralelas, o FCGLL assumese este ano como paragem obrigatória para todos
aqueles que procuram entender melhor as culturas
marginais e marginalizadas da nossa sociedade actual. Dê por lá um salto. Vai ver que não se arrepende.
E, como aperitivo, aqui fica uma recomendação do
próprio director — chama-se Implicación e é uma
curta-metragem do espanhol Julián Quintanilla que
abrirá o Festival. «Não vou revelar muito do seu conteúdo, apenas que tem um desempenho memorável
da Loles León e que trata de forma brutal o tema da
homofobia. É um filme que entendo que todo o país
deveria ver. Talvez um dia programá-lo nos quatro canais generalistas, às 20h, simultaneamente...». Fica
dado o recado. •
Forward Cinema 25
texto: Cátia Monteiro
IMAGO 2005 - Festival Internacional De Cinema Jovem
Imagens que se ouvem
Fundão
1 a 8 Out | www.imagofilmfest.com
É já em Outubro que o Fundão alberga mais uma
edição do IMAGO, este ano com secções inéditas e
convidados de diversos quadrantes artísticos.
Na zona da sétima arte decorrem as secções
competitivas Oficial Internacional e Docs In Shorts,
apostadas numa variedade de proveniências, com cada vez mais países a apresentarem obras a concurso.
Pode por isso esperar-se uma selecção aberta a diferentes vivências culturais e modos de reinventar em
película. Enquanto a secção Oficial Internacional se
debruça sobre a ficção, a animação e o experimental,
o Docs In Shorts dedica-se exclusivamente ao documentário, como a designação deixa antever. Também
em competição, mas no formato vídeo, estreia-se a
secção Under 25. O programa conta com 21 curtas
realizadas por jovens até aos 25 anos e que tenham
recorrido a um baixo orçamento. O valor das recompensas a atribuir nas três secções ultrapassa os 10 mil
euros, com a inclusão de um novo prémio, que levará
alguns dos filmes para o pequeno ecrã no âmbito do
programa Onda Curta, da 2:.
Programação especial
O realizador espanhol Jess Franco vai apresentar
Snakewoman, deste ano, em ante-estreia mundial, inserido num programa que conta com duas outras
obras, maioritariamente rodadas em Portugal. Para
uma incursão teórica na restante obra do realizador, é
possível a inscrição numa masterclass onde serão privilegiados o diálogo e o debate.
Cut
26 Forward Cinema
A problemática dos mixed media, com a crescente
convergência dos suportes de imagem a desempenhar um papel fulcral na nova forma de encarar a arte
visual em movimento, é focada no trabalho de Rosto.
O holandês vai apresentar uma exposição apoiada em
múltiplos suportes intitulada The World Of Mind My
Gap, complementada por uma masterclass dedicada
aos Mixed Media — Novas Fronteiras da Imagem.
Terry Gilliam, nome projectado pelo culto estabelecido em torno dos Monty Phyton, vai ter alguns dos
seus filmes exibidos na secção Early Years... Assinalam-se duas décadas passadas desde a conclusão de
Brazil, com curtas e longas anteriores a 1975, onde se
inclui o mítico Monty Phyton And The Holy Grail.
Alargando a esfera temática e os géneros, desenham-se outros cardápios. Para assinalar os quatrocentos anos de D. Quixote De La Mancha criou-se um
programa de curtas e longas-metragens com diferentes visões do clássico de Cervantes. Na área do experimental com rótulo europeu foi desenvolvido o programa Europe In Shorts. Para além disto, o Programa
Escolas, este ano com a iniciativa original de integrar
unicamente filmes de animação realizados por
crianças. Totaliza 10 curtas de animação com
proveniência nacional e da Bélgica.
IMAGO musicado
As noites do festival vão ser dinamizadas por actuações ao vivo e DJ sets num cartaz que dá pelo nome de Sound & Vision Experience. No dia de abertura
chega da Noruega o espírito descontraído de Erlend
Ears Have No Lids
Øye, cujo carácter ecléctico transforma as pistas de
dança num mote à reinvenção estilística. Mas desta
vez os espectadores podem contar também com a
apresentação de Unrest, editado à margem da dupla
Kings Of Convenience. A abertura da noite cabe a
Francisco Silva, que no formato Old Jerusalem lança
notas Folk e Country em toadas calmas.
A obra cinematográfica Entr’acte vai ser alvo de
revisitação sonora, na forma de uma composição musical original apresentada por Kubik e pelo maestro
Luís Cipriano, que para o efeito se reunem à Orquestra De Percussão da Associação Cultural da Beira Interior e ao Coro Misto da Covilhã. Um filme-concerto
a ter lugar no Pavilhão Multiusos.
Partindo igualmente da banda sonora dos filmes
para uma reinterpretação ao vivo, os Norton preenchem o Casino Fundanense com invocações de momentos-chave de películas como Lost In Translation,
de Sofia Coppola, onde abordam um tema dos My
Bloody Valentine. Outras viagens a reboque dos Sonic
Youth e diversos ícones da cultura Indie, agendadas
para a noite de 4 Out (3.ª).
Para aperitivo, os Musgo oferecem um live act,
enquanto a dupla mascarada mais conhecida do
DJing português fornece a ceia através de misturas improváveis de hits clássicos e contemporâneos, e de
manipulações da agulha que impulsionam o ritmo da
pista de dança. Uma noite com Dezperados no English
Club para recordar que os DJs nunca são demais...
Berlim fornece a performance de 6 Out (5.ª), na
voz e no movimento do multi-facetado Namosh, que
deixou a Turquia para se entregar à Electrónica da ca-
City Paradise
pital alemã. Em casa e a arrancar a noite, o projecto
AnA apresenta um convite em formato electrónico.
Sem as Chicks (On Speed) que a costumam acompanhar, mas com a atitude irreverente que caracteriza o
trio, cabe a Alex Leslie-Murray a tarefa de finalizar a
noite, atrás da mesa de mistura.
O intervalo nocturno que se segue é tomado de
assalto pela editora de Badly Drawn Boy e Andy Votel,
num Twisted Nerve Showcase que apresenta os
Toolshed em parceria com Malcom Mooney para
uma série de revisitações de clássicos do cinema. No
alinhamento prossegue a viagem sonora pelo filme de
animação The Cybernetic Grandmother, liderada
pelos Sirconical. A finalizar, Andy Votel reúne-se a
Cherrystones numa homenagem a Jess Franco onde
se prometem descobertas pelos meandros das raridades sonoras.
A despedida adopta a designação de Kid Koala’s
Short Attention Span Audio Theater, que incorpora a
técnica do canadiano e dos convidados Jester e PLove numa performance cuja definição dificilmente se
extingue no rótulo de DJ set. Num total de oito giradiscos, pretende-se simular os sons de uma banda, a
que se juntam instrumentos reais e a voz de
Ledrhosen Lucil, num cenário inusitado.
Em paralelo será possível visitar a Red Bull Home
Groove, onde actua Fernando Fadigaz, apoiado pelas projecções dos Dub Video Connection, ou ainda
as diversas iniciativas no âmbito do Heineken Open
Space, numa simbiose entre música e imagem, combinação que pauta toda a programação deste IMAGO
2005. •
Toolshed
Forward Cinema 27
texto: Catarina Medina
El Cielo Gira
DocLisboa 2005
A terceira parte
Culturgest — Lisboa
15 a 23 Out | www.doclisboa.org
«Em Outubro o mundo inteiro cabe em Lisboa».
Era este o slogan que se fazia ouvir pelas salas da
Culturgest durante o DocLisboa 2004, um dos
maiores eventos cinematográficos desse ano.
Agora o DocLisboa 2005 regressa e traz com ele a
promessa de que o mundo inteiro volte a caber numa cidade, na terceira edição do Festival Internacional De Cinema Documental.
Como diz o provérbio, o bom filho a casa torna e
eis que de 15 Out (6.ª) a 23 (dom) regressa o DocLisboa, na Culturgest, o único festival de cinema português exclusivamente dedicado ao documentário. Mais
uma vez organizado pela Apordoc (Associação pelo
Documentário) em co-produção com a Culturgest,
28 Forward Cinema
conta com os mesmos três nomes na direcção: Ana
Isabel Strindberg, Sérgio Tréfaut e Nuno Sena, os responsáveis pela selecção dos filmes.
Para esta edição o festival contou com um reforço
do orçamento por parte do Ministério da Cultura e da
Câmara Municipal de Lisboa. Sérgio Tréfaut, um dos
directores do evento, suporta a importância do DocLisboa dizendo que este é um festival «de cinema exclusivamente dedicado ao documentário, que se interessa por novas formas de pensar, de ver o mundo e
de comunicar». Integrado na Coordenação Europeia
de Festivais de Cinema, teve quase 14 mil espectadores durante os nove dias de 2004, e agora esperam-se
ainda mais, visto o número de candidaturas para competição ter duplicado.
Darwin’s Nightmare
Mas, como era de prever, o festival
mudou… para melhor. Entre as principais novidades está a criação de
uma nova secção competitiva chamada Investigações, ou seja, filmes sobre
questões de actualidade, documentários de
investigação. Nas secções paralelas, destaque para
Nacionalismos, Identidades e Fronteiras, comissariado
por Augusto M. Seabra; Documentário Russo PósSoviético, comissariado por Tue Steen Müller; e uma
Mostra Rectrospectiva Ross McElwee — o documentarista norte-americano de 58 anos também terá honras de masterclass. A outra masterclass fica a cargo do
fotógrafo e cineasta Raymond Depardon, de 63 anos.
Estão ambas abertas ao público em geral e só é
necessária inscrição prévia.
Mas existem muitas outras actividades, como um
atelier de realização de filmes com um minuto de duração, destinado a jovens, além de sessões escolares, fórum de debates e até uma videoteca para
consulta livre.
O motor do festival continua a ser a filmografia.
Recomenda-se especial atenção para o premiado
Darwin’s Nightmare, realizado por Hubert Sauper, um
espelho da realidade política africana da região dos
Grandes Lagos.
DocLisboa 2004
A última semana de Outubro do ano passado conheceu o 2.º Festival Internacional De Cinema Documental De Lisboa. Os palcos desta iniciativa, que
pretendeu «tirar o género do gueto», foram o pequeno
e grande auditórios da Culturgest, tal como aconteceu
na primeira edição. Durante oito dias foram exibidos
60 documentários, alguns deles inéditos em Portugal,
vistos por cerca de 13.500 espectadores. Em competição estiveram filmes provenientes da Alemanha, Bélgica, Bielorússia, Brasil, Cambodja, China, Cuba, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda,
Índia, Israel, Itália, Portugal, Rússia e Suíça.
A história deste Festival remonta a 1989, ano dos
foto: J. Kuldelka
Encontros Internacionais de Cinema Documental
da Malaposta, que aconteceram até 2001. No ano seguinte o Centro Cultural de Belém recebeu uma versão
remodelada do festival, a primeira edição do DocLisboa — Festival Internacional De Cinema Documental,
que veio preencher um espaço até então vazio no panorama cinematográfico português, divulgando o documentário enquanto forma de expressão visual, ainda pouco conhecida do grande público português,
como reforça Nuno Sena: «lá fora vemos o documentário invadir os cinemas, as televisões e os festivais
com uma nova intensidade, enquanto que em Portugal, não».
Nessa primeira edição o festival dividiu-se em várias secções: a competição internacional, Para Onde
Vai O Documentário Português, Como Entender O
Médio Oriente, Foco Sobre Espanha e as Sessões Especiais.
Da segunda edição guardam-se momentos como
os presentes no documentário Ydessa, Les Ours Et
Etc…, de Agnès Varda. Ou ainda Miguel Mendes,
que sem qualquer tipo de apoio financeiro realizou Autografia, baseado na obra de Mário Cesarinny — este
viria a ser o grande vencedor do prémio para o melhor
documentário português.
Ainda a destacar, o conjunto de filmes que retratou
de forma próxima o conflito israelo-árabe, exemplo
máximo foi o premiado Checkpoint, estranhamente financiado pelo Estado Israelita. E claro, não nos poderíamos esquecer da concorrida masterclass com o
realizador de Être Et Avoir, Nicolas Philibert.
Este ano esperam-se mais pessoas, filas de espera ainda mais longas, bilhetes laranjas e brancos rasgados pelo chão, como símbolos de que a Culturgest,
durante uma semana no mês de Outubro, volte a servir
de residencial fácil a todos os que desejarem por lá
morar. •
Forward Cinema 29
texto: Cátia Monteiro
6.ª Festa Do Cinema Francês
Operação de charme
Lisboa, Porto, Coimbra e Faro
6 Out a 3 Nov | www.ifp-lisboa.com
Nova investida do cinema francês, que conta
este ano com a presença de nomes firmados na
sétima arte, como Michael Haneke, ou recém-chegados, como Jérôme Salle.
O Instituto Franco-Português (IFP), em colaboração com a Embaixada de França, procura através da
Festa Do Cinema Francês conseguir uma maior exposição da cinematografia francesa, com o objectivo final de alcançar o mercado de distribuição português.
A 6 Out (5.ª) o Fórum Lisboa inaugura a Festa, chamemos-lhe assim, que ali permanece nos dois fins-desemana seguintes. Durante a semana, é na sede do
IFP que se projectam os filmes.
Posteriormente, e à semelhança dos anos anteriores, a Festa estende-se a outros pontos do país. Entre
13 Out (5.ª) e 16 Out (dom) no Rivoli e no Cinema Cidade do Porto, de onde parte para Coimbra, ocupando o cinema Millenium Avenida de 17 Out (2.ª) a 20
Out (5.ª). A cidade escolhida para o término dos feste-
Cine’Eco — 11.º Festival Internacional
De Cinema E Vídeo De Ambiente
Da Serra Da Estrela
Casa Municipal da Cultura — Seia
21 a 30 Out | www.cineeco.org
Para além de uma secção competitiva, o festival
contempla igualmente vários ciclos de cinema, além
de um conjunto de outras iniciativas paralelas, como
exposições, concertos e palestras. Foi ainda firmado
um acordo de cooperação entre o Festival De Goiás
(Brasil), o Cine’Eco e um festival de cinema no Mindelo, em Cabo Verde, que está a ser criado. Assim, o
Cine’Eco contará com uma mostra de filmes goianos
e outra de longas-metragens brasileiras do circuito comercial.
Ovarvídeo
Ovar
27 a 30 Out | www.ovarvideo.com
Com o objectivo de promover o vídeo como forma
de expressão artística, oferecendo um espaço para o
surgimento de novos talentos e proporcionando um
contacto estreito entre os autores e o público, nasceu
em 1996 o Ovarvídeo, um festival de vídeo de âmbito
30 Forward Cinema
os foi Faro, que entre 1 Nov (3.ª) e 3 Nov (5.ª) recebe
uma selecção mais reduzida de filmes no Teatro Municipal.
A programação é de carácter generalista, representando várias vertentes da escola cinematográfica
francesa, com filmes de autores consagrados e algumas surpresas. O realizador de A Pianista regressa
este ano com Caché, um drama que assenta nas interpretações de Juliette Binoche e Daniel Auteuil, onde
o investimento estético e a força dos diálogos servem
um enredo de tensão crescente.
A acompanhar mais este filme de Michael
Haneke está Jérôme Salle, que traz ao palco da Festa a sua segunda obra como realizador, intitulada
Anthony Zimmer.
Uma das Oito Mulheres de François Ozon é homenageada nesta sexta edição. Para o efeito a Cinemateca de Lisboa vai exibir um percurso alternativo da
actriz Fanny Ardant. Ainda pensa ficar em casa? •
nacional. Presentemente tem uma programação estruturada de onde se destacam as oficinas de formação
e criação artística, as mostras internacionais, a competição nacional e as vídeo-instalações.
1.º Festival Internacional
De Cinema Do Funchal
Teatro Municipal Baltazar Dias — Funchal
5 a 13 Nov | www.funchalfilm.com
O Festival Internacional De Cinema Do Funchal
(FICF) contará com a secção oficial de competição dedicado ao Cinema Do Atlântico, com a secção de
Panorama & Premiere, tendo por base os filmes já adquiridos para o mercado português e com a Animarte,
uma secção dedicada aos mais novos. Conta ainda,
com uma homenagem ao realizador madeirense
António da Cunha Telles, uma retrospectiva de
cinema espanhol, curtas metragens e projecções ao ar
livre de filmes de culto, num total de 40 sessões de
cinema. Paralelamente, o FICF organiza conferências
e debates, exposições, animações de rua e festas
nocturnas no café do teatro. A organização do FICF
está a cargo da Plano XXI e da Cinema Novo
(Fantasporto). • FP
texto: Filipa Lourenço
The Mysterious Geographic Explorations Of Jasper Morello
Cinanima — Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho
Animação sem fronteiras
Centro Multimeios — Espinho
7 a 13 Nov | www.cinanima.pt
Há 29 anos que o Cinanima contribui para a
divulgação da animação em Portugal. Com a construção do Centro de Multimeios de Espinho, em
2000, o festival ganhou nova localização e outro
ímpeto.
Mais filmes e países a concurso fizeram superar as
expectativas relativamente ao número de participações nesta edição. Um total de setecentas inscrições
vindas dos quatro cantos do mundo, ocupando Portugal o terceiro lugar no ranking de participações com 61
obras.
As 81 curtas-metragens da secção competitiva
internacional integram The Mysterious Geographic
Explorations Of Jasper Morello, do australiano
Anthony Lucas, vencedor do grande prémio do
Festival Internacional De Cinema De Animação De
Annecy. Uma animação gótica de silhuetas passada
num mundo de navios aéreos, sobre o desonrado na-
vegador aéreo Jasper Morello, a quem é dada uma segunda oportunidade.
Inserida na competição nacional Prémio Do Jovem Cineasta, a curta-metragem A Ovelha Azul, de
Nelson Fernandes e Rodolfo Pimenta, foi realizada pela Cooperativa Cinema Jovem, em 2004. Participaram
os alunos de oito escolas primárias do concelho do
Fundão (Peroviseu, Salgueiro, Quintãs, Monte Leal,
Capinha, Alpedrinha, Castelo Novo e Orca).
Este ano, o Prémio António Maria será atribuído ao
realizador Abi Feijó, fundador da Casa da Animação e
da Filmógrafo, uma das principais produtoras na área
da animação na década de 90. Algumas das suas
obras, entre as quais se contam Os Salteadores, Fado
Lusitano e Clandestino, são apontadas para integrar
uma mostra no Cinanima 2005.
O programa do festival inclui ainda sessões especiais, exposições, uma oficina sobre stop-motion e
outras actividades. •
Forward Cinema 31 .
texto: João Pedro Correia
Breakthrough
13.ª Quinzena De Dança De Almada
Almada, a capital da dança
Almada
28 Out a 13 Nov | www.cdanca-almada.pt
De 28 Out (6.ª) a 13 Nov (dom) tem lugar a Quinzena De Dança De Almada (QDA), um dos principais eventos do género no país. O festival concentra espectáculos pela companhia de dança da cidade, diversas oficinas, ateliers e conferências,
além da central plataforma coreográfica internacional.
Os quatro primeiros dias da QDA estão a cargo do
grupo da casa, que apresentará dois espectáculos diferentes, um de Guillermo Horta Betancourt e outro
sob a direcção de Ana Macara, este «concebido com
o objectivo de aproximar o público jovem da dança
contemporânea», compondo-se de «várias peças curtas e interligadas, representativas de diversos estilos de
dança», esclarece a Companhia De Dança De Almada.
Em seguida é a vez de a companhia do Silesian
Dance Theatre, da Polónia, apresentar a peça
Glamour Of A Mundane — Dream From A Saint.
Entre 10 Nov (5.ª) e 12 Nov (sáb), tem lugar a
plataforma coreográfica internacional, cuja numerologia interessa realçar: três temas diferentes, ao longo
de três dias, com trabalhos de 21 coreógrafos provenientes de 13 países (EUA, Suécia, Hungria, Irlanda,
México, Inglaterra e Tailândia, só para citar alguns). As
linhas temáticas são Ligações — Sonhos e Realidades, Natureza e Vida — Encontros e Desencontros e
Híbridos — Linguagens, Géneros e Culturas.
Além dos espectáculos, o festival oferece várias
actividades paralelas. Será possível frequentar
oficinas de dança contemporânea e dança Butoh, ateliers de dança para crianças e visionar uma mostra internacional de trabalhos de mais de 30 criadores. Os
espectáculos têm lugar no auditório municipal. •
PUB
MX3
32 Forward Dança
texto: Ana Duarte
Histórias Mínimas
2.º Festival Pés No Palco
2.ª Ponto Pequeno — Encontro Das Marionetas
Três meses de teatro e marionetas
Vila do Conde
9 Set a 11 Out e 4 a 20 Nov | www.marionetasmandragora.com
Vila do Conde é uma cidade encantadora, moldada entre pinhais e mar. Mas há mais razões para
ir até lá. O Festival Pés No Palco subirá o pano já
em Setembro, seguido do Festival Ponto Pequeno,
em Novembro. Teatro e marionetas tomam conta
da cidade.
O Círculo Católico de Operários (CCO) de Vila do
Conde, associação centenária, tem vindo a contribuir
para o crescimento da esfera cultural desta cidade,
assumindo-se cada vez mais como estrutura e espaço
de apoio às artes. Por isso, e acompanhado pela Corifeu Artes e pela Companhia De Teatro E Marionetas
De Mandrágora (CTMM), leva a palco várias companhias nos dois festivais que se propõe apresentar:
Festival Pés no Palco a decorrer de 9 Set (6.ª) a 11
Out (3.ª); e Festival Ponto Pequeno a acontecer de 4
Nov (6.ª) a 20 (dom).
Pés No Palco é uma mostra de teatro, que agenda
para esta segunda edição um conjunto de espectáculos para um público adulto. O programa é diversificado e o espectador poderá assistir a espectáculos do
teatro clássico (TIPAR apresenta Preconceito Vencido,
de Marivaux, dia 30 Set [6.ª]), e mesmo de teatro contemporâneo. Exemplo disso é Histórias Mínimas, pela
Oficina De Teatro Da Maia, em que se sente a transversalidade disciplinar e se tocam outras artes, como
a dança ou o multimédia. Esta peça abrirá o festival,
no dia 9 (6.ª), às 21h30. Nas manhãs de sábado abrangidas pelo festival terá lugar a oficina Fazer de Um
Conto, organizado pela CTMM.
A companhia regressará, aliás, em Novembro, trazendo a alegria das marionetas à cidade, no Festival
Ponto Pequeno. Durante duas semanas, pequenotes e
crescidos poderão deixar-se encantar pelos bonecos
com alma. Várias companhias de marionetas levarão
os seus espectáculos ao palco do CCO, destacandose a estreia da nova produção da companhia organizadora: Auto Da Barca Do Inferno, de Gil Vicente.
Ateliers e exposições de marionetas completam o programa.
Os bilhetes custam entre dois e cinco euros, um
preço baixo que certamente é mais um incentivo para
acorrer ao teatro, em Vila do Conde. •
Forward Teatro 33
texto: Jota Assis
Festival Marionetas Na Cidade
As marionetas vieram para ficar
Alcobaça
13 a 16 Out | www.samarionetas.com
Em 1998, a companhia S. A. Marionetas —
Teatro & Bonecos teve a ousadia de organizar, pela
primeira vez, em Alcobaça, o Festival Marionetas
Na Cidade. Este ano, na oitava edição, volta a cair
o pano e os actores entram em cena.
Aquando da sua criação, os objectivos da companhia eram, tal como ainda hoje são, amplos e nobres.
Para além de procurarem abrir ao público português
uma porta de entrada nesta arte pouco conhecida e
mal divulgada e acordar a sociedade para o seu estado actual, os organizadores empenharam-se em motivar a criação e inovação artísticas das marionetas e
apresentaram espectáculos novos, tanto estética como artisticamente. Em simultâneo, recuperaram e preservaram as formas tradicionais da arte bonecreira,
com um programa composto por espectáculos de Robertos e Bonecos de Santo Aleixo, representantes de
duas das mais antigas tradições de teatro popular de
marionetas em Portugal.
Continuando a experiência do ano anterior e em
busca do formato ideal, o festival alargou-se para dez
dias, em 1999, contando com seis espectáculos com
uma programação específica para as escolas do concelho, um debate centrado no tema A Marioneta Em
Portugal, uma exposição de artes plásticas com o tema
A Marioneta, animação de rua, seis espectáculos para
todos e o Primeiro Encontro De Teatro De Robertos.
00 Forward Teatro
Nos quatro anos seguintes, o Marionetas Na
Cidade teve uma taxa de sucesso elevado, atribuída
em grande parte às oficinas de construção de marionetas, aos espectáculos inseridos na programação
para as escolas e à animação de rua.
As lotações esgotadas, uma afluência diversificada e a participação empenhada do público, deram novas esperanças aos artistas e criadores do projecto,
que a partir de 2000 o dividiram por apenas quatro
dias. Nesse mesmo ano houve ainda espaço para uma
declaração de interesse cultural dada pelo então ministro da cultura dr. José Sasportes.
Já em 2004, alargaram-se os espectáculos de rua
para 10 e criou-se uma oficina de construção de marionetas, proporcionada pela Escola Adães Bermudes.
Esta longevidade saudável prova que ao longo
dos seus sete anos de vida, o Marionetas Na Cidade
tem apresentado uma programação heterogénea, com
espectáculos nacionais de grande qualidade e representantes de várias tendências, prosseguindo a filosofia de programação que o tem pautado desde o início
do projecto. É hoje um festival consolidado no panorama nacional, tendo-se tornado uma referência e um
ponto de encontro para as companhias de teatro de
marionetas portuguesas.
A edição de 2005, decorre de 13 Out (5.ª) a 16
(dom) na cidade de Alcobaça, prevendo-se um sucesso ainda maior que nos anos anteriores. •
textos: Cátia Monteiro e Pedro Moreira
Pequenos grandes festivais
2.º Festival Para Gente Sentada
Santa Maria da Feira
30 Set e 1 Out | www.cm-feira.pt
O público já não precisa de fazer o pino para
conseguir ver determinados artistas em Portugal.
A variedade tem crescido de forma considerável
nos eventos de menores dimensões e exemplo disso é o recém-criado Festival Para Gente Sentada.
A segunda edição chega ao Teatro António
Lamoso a 30 Set (6.ª) e fica para o dia seguinte.
Sondre Lerche, que entrega trocadilhos irónicos numa bandeja melodiosa servida com boa disposição, é
um dos nomes confirmados. Na crista do hype chega
Patrick Wolf, outro jovem multifacetado, que viu no
segundo álbum “Wind In The Wires” a oportunidade
de cativar um público surpreendido. Damien Jurado é
outro dos nomes que figuram num cartaz que apela
aos contadores de vidas e cantores de histórias. •
Festival Barreiro Rocks
Junto à Escola Alfredo da Silva, Barreiro
7 e 8 Out | www.barreirorocks.com
O festival Rock de Portugal volta a marcar presença no início do Outono, depois de um interregno devido aos cortes orçamentais que atingiram toda a actividade cultural em 2004.
O primeiro dia do Festival Barreiro Rocks é encabeçado pelo poeta Billy Childish, acompanhado por
um dos seus muitos projectos, os The Buff Medways,
ficando o cartaz completo com Black Lips, The Hells
e Los Chicos.
Apadrinhados por Jello Biafra, os The Flaming
Stars serão os responsáveis pelo encerramento do
festival, que conta ainda com a presença dos The
DT’s, The Coyote Men e The Magnetix.
Os bilhetes custam 10 euros, para um dia, ou 15
para os dois. •
Phono’05
Fonoteca Municipal — Lisboa
22 a 26 Nov | www.cm-lisboa.pt/fonoteca
A Fonoteca Municipal de Lisboa volta a apostar
na promoção de novas bandas na quarta edição do
Festival Phono, que culminará no lançamento de
uma compilação com dois temas de cada uma das
cinco bandas participantes.
Criado em 2002, o Festival Phono tem vindo a realizar um trabalho importante na divulgação da música
feita em Portugal e começa a ser um ponto de passagem obrigatório para bandas que auguram gravar o
seu primeiro álbum. A Fonoteca proporciona assim
uma oportunidade única para que bandas em início de
carreira se possam mostrar aos diversos agentes musicais presentes no evento.
Em 2005, tal como havia acontecido no ano anterior, o Phono verá editada uma compilação de forma a
apoiar a divulgação do festival e a promoção das bandas presentes. De recordar que, desde a sua primeira
edição, o festival é, em parte, responsável pelo sucesso de bandas como Old Jerusalem, Ashfield, The
Ultimate Architects, Houdini Blues, My Tie, Wego e
Post Hit, entre outros.
Os concertos têm lugar na sala de audição, um
compartimento da Fonoteca que se transforma num
pequeno auditório com capacidade para cerca de 50
lugares, com início às 21h30 e entrada livre. •
Festival Sons Em Trânsito
Aveiro, Famalicão, Vila Real e Bragança
24 Nov a 3 Dez | www.set.com.pt
O Festival Sons Em Trânsito esteve em risco de
não se realizar, em 2004, devido a dificuldades
orçamentais. Em 2005, embora as condições económicas continuem a ser adversas, o festival expande-se, levando o melhor do que se faz na World
Music a outros cantos do país.
Até à data de fecho desta edição somente foi possível confirmar a realização do festival e um dos nomes em cartaz: Kimmo Pohjonen estará presente,
com o seu projecto Animator, no qual colabora Marita
Liulia, também responsável pelo arrojado visual que
preencherá todo o espectáculo.
O Festival Sons Em Trânsito inclui cinema, documentários e exposições, e na edição passada o seu
sucesso ficou a dever-se, em grande parte, aos norteamericanos Tuxedomoon. •
Forward Música 35
texto: João Pedro Correia
Miguel Zenón
Festival Internacional Seixal Jazz 2005
Jazz regressa à baía do Tejo
Seixal
20 a 22 e 27 a 29 Out | http://srvweb.com-seixal.pt/seixaljazz
A julgar pelos músicos em cartaz, o regressado
Seixal Jazz corre o sério risco de se revelar o melhor festival da temporada.
É na segunda quinzena de Outubro que tem lugar
o Seixal Jazz (SJ), este ano na sua oitava edição, a segunda após a passagem a evento bienal. Quatro quintetos, um sexteto e um quarteto compõem um cartaz
que manterá a configuração a que o festival nos habitou: seis noites divididas por duas semanas, de 5.ª a
sáb, com dois espectáculos por noite, às 21h30 e às
23h30. O cenário é o Auditório Municipal do Seixal, no
cimo de uma colina com uma bela vista sobre a baía
do Tejo.
O SJ é o terceiro vértice do triângulo da oferta jazzística da área da grande Lisboa e sua margem-sul, a
36 Forward Música
par com o Festival Do Estoril e o Jazz Em Agosto da
Fundação Calouste Gulbenkian. Os três são esteticamente diferentes, com o Estoril — herdeiro do primeiro
festival de Jazz português, o Cascais Jazz — mantendo e divulgando uma linhagem mais clássica, ao passo que o evento da Gulbenkian se caracteriza por propostas no extremo da vanguarda e fora do comum.
Numa lógica de complementaridade não planeada, o
SJ movimenta-se no meio.
Essencialmente acústico — a fusão entre o Jazz e
a música electrónica não tem lugar, como sucede na
Gulbenkian — e privilegiando as novas tendências do
Jazz norte-americano, o SJ tem procurado executantes inovadores e renovadores. Pelo menos a programação para a edição de 2005 é rica nisso mesmo.
À excepção do Quinteto De Laurent Filipe, o úni-
fotos: Mariah Wilkins.Miguel Zenon Jimmy Katz.Jeremy Pelt
Jeremy Pelt
co conjunto falante de Português e todo ele composto
por músicos sobejamente conhecidos do Jazz nacional, tudo é novidade no Seixal. De tal forma que o director artístico do festival, Paulo Gil, confessou à FEST
estar bastante expectante, «sobretudo para a segunda
semana, que tem propostas extremamente inovadoras,
três delas inéditas em Portugal e uma em especial
pouquíssimo conhecida na Europa».
Paulo Gil refere-se particularmente ao Quinteto
De Mike Fahn E Mary Ann McSweeney, um casal de
músicos norte-americanos, ele trombonista e ela contrabaixista. Praticamente desconhecido no circuito
jazzístico europeu, Fahn destaca-se por manejar dois
tipos diferentes de trombone, o de varas (mais vulgar)
e o de válvulas, e alterná-los no mesmo tema, coisa
rara de se ver e que Fahn fará no Seixal. Consigo vem
o saxofonista Rick Margitza, músico lançado por
Miles Davis no final da década de oitenta e com quem
gravou três discos.
Antes disso tocam Miguel Zenón e David Binney,
«duas estéticas contemporâneas do saxofone-alto,
dois músicos particularmente imaginativos», descreve
Paulo Gil, acrescentando que «será particularmente interessante ver e ouvir estas duas propostas, em dias
seguidos».
Binney, que passou pelo Hot Clube de Lisboa ainda antes do Verão, é um músico bastante controverso.
Priveligia linguagens vanguardistas, com as suas composições alternando duros improvisos com baladas
melódicas e minimalistas.
Por seu lado, Zenón oferece um Jazz algo latinizado, influenciado pelo ambiente da sua terra natal, Porto Rico. Do quinteto faz parte Luis Perdomo, excelente pianista, que deixou muito boas memórias a quem
o viu actuar há um ano, em Oeiras.
Antes desta competição no saxofone-alto sobe ao
palco o grupo de Kurt Rosenwinkel, «um guitarrista
fora do vulgar», nas palavras de Paulo Gil, que se faz
acompanhar de um leque de músicos virtuosos. O
baterista Ari Hoenig será o melhor exemplo: «um desconcertante fenómeno da bateria», escreveu a revista
francesa Jazzman, acerca do seu álbum gravado a so-
Luis Perdomo
Wayne Escoffery
lo. O saxofonista Chris Cheek é um músico «bastante
interventivo, óptimo para estimular Rosenwinkel», explicou o director artístico do festival.
A abertura do evento está a cargo do quinteto do
jovem Wayne Escoffery, «muito provavelmente um
dos mais talentosos saxofonistas que passaram pela
Mingus Big Band nos últimos cinco anos», revelou
Paulo Gil.
Propostas alternativas
O Seixal Jazz desdobra-se em várias actividades
complementares, sendo a mais interessante a série de
espectáculos intitulada Seixal Jazz Clube. Desde o dia
14 Out (6.ª) até ao final do festival, no edifício da exfábrica Mundet (recinto a cem metros do auditório
municipal) e até cerca das duas da madrugada,
actuam vários grupos portugueses, a Escola Moderna
de Jazz do Seixal e o músico, compositor e director da
reputadíssima Berklee School of Music (Boston, EUA),
George Garzone — que vem ao Seixal também para
leccionar uma oficina de saxofone.
Outro acontecimento a reter é o lançamento do livro intitulado Jazz, da autoria de Rosa Reis, fotógrafa
portuguesa que há já vários anos se dedica a registar
o Seixal e a maioria dos festivais nacionais de Jazz.
Os bilhetes para o festival custam 10 euros, sendo
que para o Seixal Jazz Clube a entrada é gratuita.
Ecos da crise
O Festival Internacional Seixal Jazz nasceu em
1996, numa altura em que não existia qualquer oferta
de relevo na cena jazzística nacional abaixo da grande
Lisboa. A lotação esgotada foi uma tendência desde o
primeiro ano e o festival rapidamente alcançou o estatuto de referência.
Contudo, em 2002, o ano do célebre discurso da
tanga, pelo então primeiro-ministro Durão Barroso, a
redução do orçamento da autarquia para a cultura ditou que o SJ passasse a realizar-se ano-sim, ano-não,
interrompendo-se logo nesse ano. •
Forward Música 37
texto: Filipa Lourenço
The London Design Festival 2005
Verdadeiramente britânico
Londres, Reino Unido
15 a 30 Set | www.londondesignfestival.com
Pelo terceiro ano consecutivo, Setembro é o
mês do design em Londres. O pretexto: celebrar e
promover a criatividade de artistas do Reino Unido.
Abrangendo um vasto espectro na área do design,
que vai desde o mobiliário à escrita criativa, a realização do London Design Festival resulta graças a um
grupo de centena e meia de entidades, divididas entre
parceiros, apoiantes e patrocinadores, com o único
objectivo de promover e desenvolver a indústria criativa britânica.
Segundo Will Knight, um dos responsáveis pelo
evento, «o festival reflecte o que Londres é. Todo o trabalho a que as pessoas irão assistir dura as 52 semanas do ano, o festival é uma plataforma para o mostrar».
A exibição de acontecimentos e actividades por
toda a cidade possibilita a chegada a uma vasta e variada audiência desse mesmo trabalho. Sendo a maioria dos eventos gratuitos e à semelhança do que aconteceu em 2004, a organização avança com a previsão
de 150 mil visitantes vindos de todo o mundo.
Durante duas semanas as criações apropriam-se
das principais artérias londrinas. A famosa Trafalgar
Square assistirá à construção do maior banco do Reino Unido a 19 Set (2.ª), com cerca de cem metros, feito a partir de 12 mil vulgares elásticos azuis, uma obra
do conceituado designer de produto Tom Dixon.
Um dos eventos centrais é From Here To Here;
Stories Inspired By The Circle Line, de 16 Set (6.ª) a
12 Out (4.ª), uma exposição, uma série de cartazes e
um livro, inspirados pelos locais, histórias e arquitectura das 27 estações da linha amarela do metro londrino. O projecto resulta da colaboração criativa entre o
grupo de escritores 26, estudantes de design do
London College of Communication e o metropolitano
da cidade. Para aqueles que não se puderem deslocar
à capital britânica há sempre a hipótese de espreitar o
projecto em www.fromheretohere.com.
Após o crepúsculo e durante todo o período do
festival será possível avistar nas ruas as Light Bikes,
um conjunto de instalações luminosas móveis, rebocadas por bicicletas, que acompanharão os visitantes
entre os acontecimentos mais importantes, ligando-os
entre si.
Este London Design Festival é, então, uma óptima
desculpa para visitar as terras de sua majestade. •
outros destaques:
Design Mart: 22 Set (5.ª) a 25 (dom), Design Museum
Jerwood Applied Arts Prize: 8 Set (5.ª) a 20 Nov (dom),
The Crafts Council Gallery
Import Export — Global Influences in Contemporary
Design: 20 Set (3.ª) a 4 Dez (dom), V&A
Cockpit Arts at The Great Eastern Hotel: 12 Set (2.ª) a
30 (6.ª), The Great Eastern Hotel
Truly British: 5 Set (2.ª) a 15 Out (5.ª), Harrods
Based Upon Design: 15 Set (5.ª) a 25 (dom), 97-99
Sclater Street
Materialize . Afrodoti Krassa
38 Forward Internacional
texto: Filipe Pedro
38.º Sitges — Festival Internacional De Cinema De Catalunya
Tubarão ataca na Catalunha
Sitges, Barcelona, Espanha
9 a 18 Out | www.cinemasitges.com
Em 2005, o Festival De Sitges comemora a
passagem de 30 anos sobre a estreia do filme
Jaws (Tubarão), de Steven Spielberg. Anunciam-se
projecções da totalidade da saga, uma exposição
e a presença de convidados especiais.
O realizador Álex de la Iglesia receberá o Prémio
Máquina Do Tempo por uma filmografia de referência,
que inclui obras como El Día De La Bestia (O Dia Da
Besta) e Crimen Ferpecto (Crime Ferpeito). Por outro
lado, o japonês workaholic Takashi Miike volta a
competir em Sitges com uma nova realização, Yokai
Daisenso, contando com Chiaki Kuriyama como protagonista (GoGo Yubari no filme Kill Bill, de Quentin
Tarantino).
Extra-concurso estão, entre outros, Corpse Bride,
de Tim Burton — filme de animação que recupera o
imaginário de Nightmare Before Christmas (O Estranho Mundo De Jack) e Edward Scissorhands (Eduardo
Mãos De Tesoura), com Johnny Depp, Helena
Bonham Carter e Emily Watson nas vozes principais
—, A History Of Violence, de David Cronenberg,
Flightplan, de Robert Schwentke (com Jodie Foster)
e Sympathy For The Lady Vengeance, de Park ChanWook (derradeiro filme da trilogia que inclui Old Boy e
Sympathy For Mr. Vengeance).
Sitges proclama-se o maior festival de cinema fantástico do mundo. O estatuto tem-lhe permitido receber a visita de estrelas como Quentin Tarantino, Anthony Hopkins, Wim Wenders, David Cronenberg ou
Mira Sorvino. •
Corpse Bride
texto: Jota Assis
49.º London Film Festival
Londres, esse grande cinema
Londres, Reino Unido
19 Out a 3 Nov | www.lff.org.uk
Nasceu em 1957 o London Film Festival, que
este ano vai para a sua 49.ª edição. O festival transforma a capital inglesa num gigante ecrã de cinema, onde são projectadas, em média, mais de duas
centenas de filmes, sempre oriundas de mais de 50
países.
A edição do ano passado não fugiu à regra, tendo
sido apresentados 283 projectos, incluindo 180 longas-metragens e 103 curtas. Contou ainda com um
número de visitantes a rondar as 116 mil pessoas.
Entre os filmes projectados em 2004, encontram-se
obras como The Incredibles ou The Edukators, filme
alemão que por estes dias vai passando por algumas
salas portuguesas.
Este ano, o festival abre a 19 Out (4.ª), com The
Constant Gardener, do realizador brasileiro de Cidade
de Deus, Fernando Meirelles. E fecha a 3 Nov (5.ª),
com Good Night and Good Luck, o esperado filme de
George Clooney.
A directora do festival, Sandra Hebron, diz estar
«deliciada com o facto de podermos abrir e fechar o
festival deste ano com dois filmes tão fortes e distintos
ao mesmo tempo, que honram o cinema de uma forma
tão segura e imaginativa. Embora muito diferentes em
forma e estilo, as películas partilham uma relevância
social e uma visão progressiva do mundo, sendo
determinados e inventivos na abordagem dos temas
de que tratam.»
O London Film Festival é, certamente, um pretexto
digno de aproveitar as promoções das linhas aéreas e
comprar um voo com destino a Londres. •
Forward Internacional 39
texto: Luís P. Oeiras Fernandes
Dublin Theatre Festival
À maluca em todas as direcções
Dublin, Irlanda
30 Set a 15 Out | www.dublinfestival.com
Hamlet
Política, paixão e traição são os temas desta
edição de um dos mais antigos festivais de teatro
da Europa. Uma das melhores épocas e desculpas
para visitar Dublin.
Escolhem-se seis encenadores e seis dramaturgos e juntam-se dois a dois, à sorte, antes de serem
embarcados, de manhã cedo, no primeiro comboio.
No regresso a Dublin, terão um conjunto de actores
atribuídos aleatoriamente e exactamente cinco horas
para pôr de pé o espectáculo. À noite, cada dupla tem
de apresentar uma peça de cinco minutos com base
no que viu e nas pessoas que conheceu durante a
viagem.
Este Madly Off In All Directions é um exemplo dos
muitos eventos das Olimpíadas Do Teatro, uma das
novidades do Dublin Theatre Festival (DTF) deste ano.
As olimpíadas incluem debates, oficinas e ciclos de
cinema. É também possível conhecer melhor dois
verdadeiros patriarcas do teatro britânico contemporâneo. Harold Pinter (cuja Conferência De Imprensa E Outras Aldrabices foi recentemente encenada/adaptada pelos Artistas Unidos) tem um fim-desemana temático com filmes, debates e leituras (algumas pelo próprio). Peter Brook, famoso pelas suas
inovadoras encenações shakespeareanas, é homenageado no seu 80.º aniversário com uma exposição re-
40 Forward Internacional
trospectiva.
Quanto ao programa principal, é aguardado o musical Some Girls Are Bigger Than Others, com músicas
dos The Smiths. O espectáculo da Anonymous Society baseia-se nas relações entre quatro mulheres e
dois homens. Tem sido descrito como uma mescla do
espírito mais sombrio com a leveza que caracteriza
esta banda de culto dos anos 80.
Na temática política, a peça Bloody Sunday
promete levantar polémica. O domingo sangrento de
1972, que inspirou a famosa canção dos U2 com o
mesmo nome, é revivido em palco pela voz das vítimas que participavam na manifestação e dos soldados que dispararam contra elas.
Mas falar dos três temas deste ano é, obviamente,
falar de Shakespeare e ele chega-nos das maneiras
mais surpreendentes. O Teatro Da Cidade De Vilnius
apresenta-nos um Romeu e Julieta, em ambiente de
pizaria, que mistura os pecados da gula e da lascívia.
Esta produção altamente visual e exótica promete
abrir todo o tipo de apetites a qualquer um.
Como cereja no topo de cada dia, o DTF tem um
bar nocturno com programação exclusiva. O The Sugar Club será cenário para comédias, concertos, filmes mudos com música ao vivo e outras iniciativas
noite fora. Dezasseis dias (e respectivas noites) de
grande teatro. •
texto: Filipe Pedro
Estranhos festivais de Outono
Vegoose
Las Vegas, EUA
28 a 31 Out | www.vegoose.com
Só os americanos para se lembrarem de fazer um
festival na época das bruxas, no Sam Boyd Stadium,
em pleno deserto, próximo de Las Vegas.
A organização não quer que ninguém deixe o disfarce ou a máscara em casa, afirmando ter encontrado
inspiração na cidade dos casinos e no espírito do
Halloween para criar uma experiência inesquecível,
com performances interactivas, mostra de instalações
e concertos. Dave Matthews, Beck, Arcade Fire, Flaming Lips, Sleater-Kinney, Digable Planets, Michael
Franti & Spearhead e Devendra Banhart são
algumas das propostas irrecusáveis. O bilhete para o
Vegoose custa cerca de 105 euros (128,50 dólares). •
actuações de Goldfrapp, Nitin Sawhney, Delta 72,
Make Up ou Bobby Conn para pouco mais de duzentas pessoas. Paulo Furtado, o nosso compatriota Legendary Tigerman, deixou os franceses boquiabertos
e a pedir dois encores, em 2003. Noutro caso, ter de
optar entre os concertos simultâneos de Gotan Project, Nicola Conte ou Zero 7 não foi mesmo nada fácil.
Na 25.ª edição, Ben Harper e Beth Gibbons ofereceram prendas especiais ao festival: o primeiro actuou
sozinho em palco e segunda reuniu-se com os fran-
4.º Wintercase 2005
Barcelona, Valência, Madrid, Bilbao, Espanha
Out e Nov | www.wintercase.com
O nome deste festival soa-nos familiar. A proximidade geográfica e o facto de ser um festival itinerante
de música independente ajuda. Em espaços citadinos
como o magnífico Razzmatazz e o facto do cartaz incluir nomes como Ian Brown, Mercury Rev, The GoBetweens, Supergrass, Dirty Three, Kaiser Chiefs, I
Am Kloot, Delays, soa ainda mais familiar. Melhor só
mesmo as festas de promoção do Wintercase, onde
Adam Green apresenta o álbum de 2005, Gemstones.
Ora tomem nota: Barcelona (Razzmatazz, 12 Out [4.ª]),
Valencia (Repvblica 2, 13 [5.ª]), Madrid (Arena, 14 [6.ª]),
Bilbao (Antzokia, 15 [sáb]). •
The Arcade Fire
27.º Rencontres Trans Musicales
Rennes, França
8 a 10 Dez | www.letrans.com
Apesar do nome pomposo, o Rencontres Trans
Musicales (Trans), celebra-se desde 1979 e apresenta
muito mais do que o que em Portugal entendemos por
festival. Depois de um formato mais ou menos caseiro,
o Trans teve um crescimento significativo na transição
dos anos oitenta para os noventa. Massive Attack,
Nirvana, Björk, Portishead, Beck ou Ben Harper, só
para citar alguns, foram nomes dados a conhecer na
Europa Continental por estes encontros especiais,
chamemos-lhes assim. Guardamos com carinho as
ceses Le Peuple De L'Herbe para interpretar temas de
Dummy, álbum de estreia dos Portishead. E fizeramno sem cachet, agradecendo o empurrão inicial do
festival. Em 2004 passaram pelo Trans nomes como
Dizzee Rascal, Tali, Lars Horntveth, Beastie Boys,
Republic of Loose, Wakal, Teddybears Sthlm, Swami
ou Vitalic. A receita para 2005? Mais do mesmo.
Pensem em artistas novos, com álbum de estreia a
editar em breve e em meia dúzia de bandas independentes de culto. Jean-Louis Brossard, melómano inveterado e director de programação do Trans, já confessou fazer o mesmo. •
Forward Internacional 41 .
foto: Filipe Pedro
texto: Luís Santos Batista
6.º Festival Do Tejo
Rumo internacional
Quinta da Marquesa, Azambuja
22 a 24 Jul
O Festival Do Tejo conheceu este ano a sua 6.ª
edição, apresentando uma série de novidades.
Para além da mudança do festival para a Quinta da
Marquesa na Azambuja, também abriu a hipótese
de participações estrangeiras.
Esta aposta acabou por incrementar alguma
curiosidade em torno da nova apresentação do cartaz
que incluía ainda um palco Blitz. Tornou-se, no
entanto, evidente que os habituais frequentadores
deste festival cedo reclamavam saudades da Valada,
no Cartaxo. A Quinta da Marquesa revelou-se um local
com características mais agrestes onde até as
actividades paralelas ficaram um pouco aquém do
que este festival nos habituou nas últimas edições.
Porém, a disposição do espaço em formato anfiteatro
beneficiava os espectadores em relação ao palco
principal, acabando por se manifestar o trunfo mais
considerável desta alteração de local.
E foi neste contexto que entre 22 Jul (5.ª) e 24
(sáb) perto de sete mil pessoas passaram por este
local para assistirem a uma rotatividade de
acontecimentos e espectáculos. A abertura desta
maratona coube aos Old Jerusalém, que, apesar da
actuação um pouco tépida, conseguiram despertar a
atenção do pouco público ainda presente. Nesse
mesmo dia foi possível experimentar as texturas Funk
Hip-Hop de Melo D e observar a dose habitual de
Rock dos Bunnyranch. O aliciante desafio dos
Terrakota levou-nos a viajar por sonoridades ora mais
quentes, ora mais mornas, visando sempre o binómio
musical África / América Latina. Os palcos deste
primeiro dia fecharam com a irreverente sensualidade
e veia criativa assumida pelos Micro Áudio Waves,
seguindo-se os Xutos & Pontapés.
O segundo dia, para além de estar generosamente
mais composto, deixava antever alguma ansiedade
em torno da visita dos Transglobal Underground e
dos Asian Dub Foundation, as duas bandas
estrangeiras que teriam direito a desfilar no palco
principal e por onde passaram ainda os Blasted
Mechanism. No palco Blitz e salpicados pelo forte
aroma dos cachorros quentes, bifanas ou outras
iguarias mais gulosas, ainda passaram os Vicious 5,
Ölga e o DJ Nel’Assassin.
Para fechar o festival foram recrutados sons mais
pesados, ficando o terceiro dia totalmente vestido de
negro e com um cartaz de luxo. Se os Temple
mostraram o porquê de serem uma das maiores
revelações do Metal nacional, os germânicos Kreator
pura e simplesmente cilindraram o recinto com o seu
esmagador Thrash Metal. Um best of… do seu
repertório mais agressivo e corrosivo deixou o público
de rastos mas com garra suficiente para receber os
Moonspell, que, à semelhança do que têm feito
ultimamente, apresentaram um novo refresh no
alinhamento. Sob o signo da lua, banda e público
congregaram energias num espectáculo intenso.
Esperamos que no próximo ano algumas falhas
possam ser polidas e que o festival consiga manter
este cariz tão peculiar que o torna diferente dos
outros. •
Rewind Música 43
foto: Rui A. Cardoso
texto: Vítor Pinto
Festival Vilar De Mouros
À procura do norte
Vilar de Mouros, Caminhar
28 a 31 Jul | www.vilardemouros.com
Peter Murphy
A edição de 2005, para a qual se adivinhavam
algumas mudanças no mais mediático festival nacional, até correu pela positiva, mesmo em tempo
de vacas magras e de tanta oferta para tão poucos
euros.
Alargado para quatro dias, o festival do Alto Minho
arrancou debaixo de chuva e com os barcelenses
Oratory, que pouco cativaram a armada gótica galega
que se apresentou no recinto. A primeira grande
vibração do dia foram os Anathema, cujo Daniel
Cavanagh prometeu um novo álbum para breve.
No arranque do segundo dia, e depois de uns
discretos Squeeze Theeze Pleeze, longa se tornou a
espera até assistirmos ao regresso de Ian McCulloch e
Will Sergeant dos Echo & The Bunnymen ao festival,
23 anos depois e a meio da gravação do novo disco.
Saudaram-nos com “Lips Like Sugar” e em formato
revivalista saltaram “Rescue”, “The Killing Moon” e
“Seven Seas”.
Muito aguardado foi também Peter Murphy,
agora com novo visual e novo disco (Unshatered), mas
com a mesma sensibilidade de sempre. Depois de “I’ll
Fall With Your Knife” e “Deep Ocean Vast Sea”,
Murphy puro e simples brindou-nos com “Strange
Kind of Love”, em guitarra acústica. Seguiu-se-lhe um
44 Rewind Música
encore, com o inevitável “Cuts You Up”, e ainda um
novo regresso ao palco para uma dose de versões, do
companheiro Iggy Pop e dos Joy Division. No fim,
apetecia dizer: obrigado pelos doces, mas... então e
Bauhaus?
Uma desilusão e um desejo tornado realidade
Lenda viva anunciada, Joe Cocker não
surpreendeu. Por entre os clássicos “Summer in the
City” e “Up Where We Belong”, versões de U2 e Nina
Simone, ou ainda originais como “Unchain My Heart”,
Cocker não chegou para aquecer. Já Joss Stone
provocou a maior enchente do festival — a bonita
menina goza de imensa popularidade por estes lados.
Mas o ponto alto da edição de Vilar de Mouros foi
a aparição dos Porcupine Tree, finalmente em
Portugal. Após edição de mais de 10 discos, tivemos
o prazer de ver e ouvir o Rock progressivo da banda
de “Sound of Muzak” e “Blackest Eyes”. Nos temas
mais recentes, houve projecções de videoclips
oferecidos pelos britânicos ao público presente, que
não os conseguiu aceitar de bom grado,
provavelmente devido ao seu experimentalismo pouco
melódico e por vezes demasiado excessivo, não
compatível para todos os ouvidos. •
texto: Ana Serafim
foto: Bruno Ramos
Fredoom Festival 2005
A liberdade morreu na praia
Barragem do Caia, Elvas
18 a 21 Ago | www.freedom-festival.org
Recebidos os campistas meio dia depois da
hora de abertura prevista, o Freedom Festival já
deixava antever algumas falhas de organização.
Mas, na chegada à Barragem do Caia, ninguém
pensava que ficasse tão longe.
Em pleno e tórrido Agosto alentejano, ventos desconfortáveis e incalculados expuseram a pouca atenção da Crystal Matrix aos pormenores essenciais para
a realização de um evento com a magnitude pretendida e anunciada. O público deparou-se com um recinto
sinuoso, mal iluminado e muito pouco limpo, a oferecer
um main floor ventoso, parcamente iluminado, virtualmente sem sombras e com sprinklers semi-mortos.
Na verdade, até à noite de encerramento, o
espaço mostrava um ambiente de festival em préarranque, com alternativas de decoração e projecção
de vídeo fraquinhas, a aparecer pateticamente. Tudo
uma tentativa de desculpar e encobrir a total
desatenção a possíveis (senão prováveis) alterações
climatéricas, enquanto se mitificava uma suposta
portentosa decoração montada e, infelizmente,
desmontada ainda antes da abertura.
Quanto às projecções, um VJing pouco sedutor e
reduzido a uma tela no palco, isto depois das telas laterais terem rompido e voado com o vento, logo na
primeira noite.
O Cartaz
Haverá quem diga, com quota-parte de razão, que
nem só de ambiente e infra-estruturas vive um festival.
Relativamente mais cumpridor nesta matéria, o
Freedom foi apresentando a espaços o line up de artistas, sempre só diário e sempre sujeito a potenciais
alterações.
O público sedento de dança lançou-se a três dias
com pouco a assinalar, para além das boas actuações
de Talamasca, no dia 19 Ago (6.ª), e dos Infected
Mushroom, a 20 (sáb), para depois, já exausto, ser
presenteado com um último dia de cabeças de cartaz
consecutivos. 21 Ago (dom) nasceu para ver 1200
Mics, G.M.S., Raja Ram, Hallucinogen e Astrix,
entre outros, sempre a dançar, ao calor e sem intervalos.
Mais pontos para a tenda Chillout, cujo programa
existia secretamente definido para os quatro dias, a
apresentar propostas interessantes, quer de música,
quer de vídeo. De realçar a prestação dos Spongle,
que conduziram um vasto auditório numa viagem por
ritmos étnicos e espirituais.
Nesta primeira edição, abaixo da linha de água, o
Freedom Festival apresentou-se como um evento com
notório espaço e condições para crescer. Mas, até lá,
mantém-se o compasso de espera entre Boom’s. •
Rewind Música 45
texto: Filipe Pedro música e Gonçalo Guedes Cardoso ambiente
7.º Festival Músicas Do Mundo
Globalização
em Sines
Sines
28 a 30 Jul | www.fmm.com.pt
Astrid Hadad
«Cantando espalharei por toda a parte, se a
tanto me ajudar o engenho e a arte». Cantando,
cantava Camões no seu Canto I dos Lusíadas,
buscando um ritmo ondulatório semelhante ao que
levou Vasco da Gama para além da Taprobana.
Agora, em Sines, local de infância do navegador e
cinco séculos após a sua epopeia, recolhem-se as
amarras e recebem-se os novos conquistadores.
Anualmente, no último fim-de-semana de Julho,
atraca no Alentejo litoral aquele que pode já ser hoje
considerado como o evento nacional mais significativo
no território da World Music. Organizado pela Câmara
Municipal de Sines desde 1999, a sétima edição do
Festival Músicas Do Mundo (FMM) traduziu-se este
ano num dos melhores exemplos de qualidade desta
fisionomia de eventos no Portugal do séc. XXI.
Durante os três dias de festa, o cenário histórico
do Castelo de Sines (palco principal), alojou cerca de
18 mil espectadores, mostrando-se insuficiente para
acolher outros milhares de pessoas que ficaram à
porta, em vãs tentativas de conseguir bilhetes. Nos
restantes cenários, a Avenida da Praia, a Capela da
Misericórdia e o Largo Marquês de Pombal, em Porto
Covo, marcaram presença um número incalculável de
amantes da multiculturalidade, embriagados por um
permanente aroma de hortelã no ar.
Tamanha afluência de público justifica-se à luz de
uma série de factores apreciáveis: o preço de cinco
46 Rewind Música
euros por dia, muito acessível, para os concertos do
castelo, a par da inexistência de custo nos restantes
palcos, esteve entre os argumentos principais. Em
complemento, destaca-se a qualidade e diversidade
dos 15 conjuntos musicais, provenientes de vários
pontos do globo.
Um dos maiores louvores atribui-se à estrutura
organizativa, assente num mecanismo de experiência,
competência, rigor e profissionalismo pouco visto por
estas bandas. Assegurado pelo Gabinete de
Informação e Relações Públicas da autarquia da
cidade, o serviço de apoio à imprensa durante a
semana do festival disponibilizou as condições
técnicas e logísticas mais do que essenciais ao
desempenho das nossas funções e deve ser tido
como um exemplo a seguir no nosso país.
Como se estas não fossem já razões de sobra, o
clima quente de Verão, a proximidade da praia, a
energia positiva e harmoniosa no ar, bem como a
diversidade cultural presente, deram à costa de Sines
tesouros de valor incalculável.
Ljiljana, Amadou & Mariam
Tango pela voz do mestre da ironia, Alejandro
Guyot, ao fim da tarde, no centro de Porto Covo, antes
da chegada a um night clubezito. Os argentinos 34
Puñaladas foram uma das revelações do FMM.
Chegados ao Castelo de Sines encontrámos em palco
fotos: Filipe Pedro Astrid Hadad, Amadou & Mariam João Paulo Gomes KTU
Amadou & Mariam
KTU
a Brigada Victor Jara com Cristina Branco e Segueme À Capela. Lusofonia pertinente, como raras vezes
nos é sugerida. Os muçulmanos bósnios Mostar
Sevdah Reunion honraram a canção tradicional — o
sevdah — juntando o vocalista Llijaz Delic, em pose
dandy, com a voz e presença de Ljiljana Buttler, mais
genuína do que qualquer personagem de banda
desenhada. Do Mali surgiu um peculiar casal de
invisuais com imenso talento musical — Amadou &
Mariam chegaram ao mundo pela mão de Manu
Chao, que lhes produziu o fantástico Dimanche A
Bamako. A festa continuou com os sons ciganos dos
romenos Mahala Rai Banda, tocando instrumentos
de cordas e de sopro, numa grande diversidade
musical, com muita alegria e dança, tanto em palco
como na assistência. Luís Rei e Raquel Bulha, em
modo DJ, fecharam a noite com competência.
A extraterrestre Hadad
Infelizmente não pudemos testemunhar o
concerto da portuguesa Lula Pena. A pequeníssima
capela revelou-se um espaço totalmente inadequado
para concertos, garantindo-nos a organização que
será substituída pelo novo, cómodo e amplo Centro
de Artes, no próximo ano.
No castelo, o guitarrista Marc Ribot deu um concerto rico, acompanhado pelo baixista Jamaaladeen
Tacuma, pelo baterista Calvin Weston e por Anthony
Coleman nos teclados. Com sangue maia e libanês,
Astrid Hadad chegou-nos do México com um
conceito próprio de surrealismo e muita ironia social e
política. A cada tema correspondeu uma mudança de
indumentária, cada uma mais original que a
precedente, num fabuloso desfilar teatral e show de
cabaret.
O brasileiro nordestino Hermeto Pascoal deu um
concerto inesquecível em Sines, assente em trabalhos
de voz experimentais, percussão em badalos e uso
original de teclados. Quando alguém acidentalmente
desligou a alimentação do seu teclado, o músico
enraiveceu-se, chinelando as teclas com toda a sua
força. Ninguém saiu ferido e a boa disposição vingou.
Descemos à praia para assistir aos guineenses Ba
Cissoko, tocadores de kora com efeitos e distorções
de inspiração Rock, e percussões a cargo de Ibrahim
Bah. A fechar, o Techno maliano de DJ Mo.
Kem és TU?
Os japoneses Samurai 4 deram em Sines um dos
seus primeiros concertos. O destaque vai para os
diálogos entre o tocador de shamisen (uma espécie de
banjo de três cordas) Takemi Hirohara e o baterista
Hiroshi Motofuji (tambor wadaiko). Após um enorme
encore, com mais de 20 minutos, que incluiu We Will
Rock You, a banda viu-se obrigada a sair do palco. Já
no castelo, quatro mil anos de Master Musicians Of
Jajouka fez dos marroquinos a mais idosa banda do
mundo. Podemos considerar a sua música hipnótica
ou monótona e, se adormecermos ao fim de alguns
minutos, isso pode ser considerado terapêutico.
Um dos melhores concertos do FMM 2005 deveuse a KTU — junção de Kluster (projecto do fabuloso
acordeonista Kimmo Pohjonen e de Samuli Kosminen
no sampler) com o duo TU (Trey Gunn na guitarra de
10 cordas Warr e Pat Mastelotto nas percussões). O
resultado desta bizarra combinação sonora é de outro
planeta. Em formato septeto, os Kíla trataram Sines
por tu desde o primeiro minuto. No entanto, os
irlandeses tiveram constantes dificuldades de
munição de som e o vento acabou por arruinar parte
da pirotecnia e efeitos reservados para o fim das
festividades no castelo. Na praia, o concerto correu
bem melhor aos Konono N.º 1, cujos instrumentos do
it yourself intrigaram muitos dos espectadores. No
final do FMM, Mário Dias e Vítor Junqueira
animaram as hostes em modo DJ, com uma
recomendável selecção musical. •
Rewind Música 47
texto: Ana Baptista e João Pedro Almeida
Festival Sudoeste TMN 2005
Sudoeste em boa forma
Zambujeira do Mar
4 a 7 Ago | www.musicanocoracao.pt
D3O
Os destaques da edição deste ano vão
direitinhos para os Humanos, Underworld, LCD
Soundsystem, Internacional Noise Conspiracy e
até para os Oasis, que finalmente actuaram no
festival.
O Sudoeste 2005 registou a maior afluência de
sempre, com 30 mil espectadores na primeira noite e
uma média de 50 mil por dia. Somente o campismo
não esteve à altura, superlotado e desconfortável.
Aparte isso, nota máxima para o palco Positive Vibes,
sempre com muito público, e para o palco Planeta
Sudoeste, pela diversidade musical e alternativa ao
palco TMN.
Patrice muito modesto
A primeira noite de Sudoeste foi destinada à diversão e à dança, com o cabeça-de-cartaz Sean Paul a
levar ao rubro o público com os seus ritmos quentes
de forte tensão erótica. Antes, o palco TMN recebeu o
alemão Patrice, cuja actuação se pautou por um SoftReggae afunkalhado e que raramente criou ondulações, e a Orquestra Imperial que apresentou um
cocktail de estilos musicais, muito balanço e humor. O
dia arrancou com os Júnior, projecto Hip-Hop vencedor do TMN Garage Sessions; Domingos António em
48 Rewind Música
piano clássico e os Expensive Soul, que contaram
com uma ajudinha de Virgul, dos Da Weasel.
Na outra ponta do recinto, na tenda onde ficava o
palco Planeta Sudoeste, após o desfile em regime
best-of de sketches ao vivo dos Gato Fedorento e o
cancelamento da actuação dos Fischerspooner, o público ficou com os sons escuros e hipnóticos dos
Ladytron, a apresentar o seu novo trabalho Witching
Hour.
Oasis, do princípio ao fim
Os primeiros acordes ouviram-se pelas 17h no
palco Planeta Sudoeste, com os You Should Go
Ahead, Klepht e Boite Zuleika. Mas o primeiro banho
de multidão deu-se com o porta-estandarte do novo
Folk americano, Devendra Banhart, que mostrou novas composições, além do seu repertório habitual.
Mais tarde teve lugar o showcase da DFA Records, a
editora de James Murphy, líder dos LCD Soundsystem
e os primeiros a abrir as hostes. Arrebatadores, levaram uma multidão suada à loucura. Seguiram-se os
Black Dice, que praticamente esvaziaram o recinto
com sons pouco apropriados a públicos festivaleiros,
e também os Hot Chip, The Juan MacLean e Delia &
Gavin.
fotos: Luís Bento
Humanos
Pelo palco TMN os grandes concertos tiveram início com os Da Weasel, a que se seguiram os Oasis.
Estes apresentaram um espectáculo simples e coeso, e
Portugal pôde ouvir os hits de há quase 10 anos atrás,
entoá-los em coro e aplaudir euforicamente. A encerrar
o palco principal estiveram os Kasabian, cujos temas
ao vivo ganham outra sensualidade graças à simpática
e enérgica presença do vocalista Tom Meighan.
Ben Harper, mais uma vez
O terceiro dia de festival foi o mais eclético de todos. No palco Planeta Sudoeste assistiu-se ao Hip
Hop dos Factor Activo e de Sagas (membro dos Micro, agora a solo), ainda aos ambientes dos Hipnótica, ao Rock controlado de Sarah Bettens (a voz dos
K´s Choice) e à Folk intimista de Louise Rhodes (a voz
dos Lamb), até chegar a electrónica enfadonha de
Mylo, o Electro-Rock de Peaches e o DJing dos Dezperados. Pelo meio, Josh Rouse e respectiva banda
transformaram canções intimistas em temas quase
épicos — para muitos foi o melhor concerto da noite,
a par da prestação dos Humanos.
A performance dos Thrills foi, à excepção do tema “Big Sur”, semelhante à de uma vulgar banda de
pub, com um Conor Deasy de voz e postura demasiado colada a Rod Stewart e uma banda mais competente que esfusiante.
Já Donavon Frankenreiter mostrou-se um surfista canastrão inspirado em Ben Harper e Jack Johnson, mas sem o carisma e talento do primeiro, nem a
capacidade para escrever canções leves e despreocupadas do segundo.
Ben Harper optou por uma actuação mais Rock
Devendra Banhart
Kasabian
do que é habitual, com poucas incursões acústicas e
raros desvios de estilo, com excepção para “Burn One
Down” ou para a versão Reggae de “Excuse Me Mr.”
A recta final
Coube aos Vicious 5 abrir o último dia do festival.
Infelizmente, a fraca qualidade do som tornou quase
insuportável a audição. Já os D3O mostraram ter
Rock na guelra.
Acabadas as prestações nacionais, subiram ao
palco os Internacional Noise Conspiracy — Punk e
política juntaram-se numa energia e presença inimaginável, aliada a grandes temas. A fechar, já que depois
a tenda ficava a cargo de DJs, a sexualidade musical
e a luxúria forçosamente controlada dos The Kills,
num excelente concerto, desgastante emocionalmente, que privilegiou o último álbum No Wow.
Do outro lado, pelas 20h, os Athlete abriam o
palco TMN de forma simpática mas sem grandes assomos de originalidade. Já os Doves foram impossíveis de ignorar — o som grandioso que caracteriza a
banda esteve presente, causando arrepios na espinha.
Os Dinosaur Jr. não perderam a dinâmica nem a potência que os caracterizava no passado, contudo a
barragem sónica admirável não animou muito o público, que aguardava impacientemente a actuação dos
Korn. Estes, apesar de ligeiramente ultrapassados,
deram um concerto ao nível do já esperado (com muito pó pelo ar), chegando mesmo a apresentar novos
temas. Por fim, os Basement Jaxx, que com um fabuloso jogo cénico e de luzes, vozes fortes e temas a puxar a dança foram a banda sonora ideal para abandonar o Sudoeste 2005. •
Rewind Música 49
texto: João Pedro Correia
Jazz Em Agosto 2005
Jazz europeu, inédito e atómico
Lisboa
5 a 7 e 10 a 13 Ago | www.camjap.gulbenkian.org
Atomic
O Jazz Em Agosto é um festival a que se vai,
não porque se goste, mas sim para ver se se gosta.
Desde que foram inaugurados, em 1969, o edifício
sede e jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, em
Lisboa, que por lá passam diariamente estudantes, artistas de todos os ramos, pensadores, simples veraneantes e muitos turistas, asiáticos de máquina fotográfica ao pescoço e europeus de todos os cantos do
continente. O que tem de especial a Gulbenkian? Tem
muito — e tem Jazz, o Jazz Em Agosto (JA).
Durante duas semanas passaram pelos três palcos da Fundação 17 propostas musicais, de oito nacionalidades diferentes, com especial relevância para
a Europa, e praticamente todas elas inéditas em solo
nacional. Porque «o Jazz europeu está muito mais interessante que o norte-americano» e também porque
a tradição do festival é essa, mostrar coisas novas,
«provocar, apelar à questionação, à exigência», esclareceu Rui Neves, director artístico do festival desde o
ano 2000.
A programação de 2005, de que a FEST só pôde
acompanhar alguns espectáculos, por motivos de fecho de edição, não fugiu a essa regra. Os concertos,
três por dia (15h30, 18h30 e 21h30) dividiram-se pela
Sala Polivalente e Grande Auditório da Fundação, encerrando-se o dia no Auditório ao Ar Livre do Centro
de Arte Moderna.
As honras de abertura couberam à reputada
50 Rewind Música
Globe Unity Orchestra, conjunto de 10 músicos alemães e um inglês, repartidos por um piano, duas baterias e restantes trombones, saxofones e clarinetes. O
conjunto tocou uma única peça com cerca de 90 minutos, sempre em improvisação, sem pausas, sem líder, uma demonstração de Free Jazz na verdadeira
acepção das palavras — 11 tipos tocando cada um
para seu lado e a seu belo prazer.
Destacaram-se Alexander von Schlippenbach,
pianista e mentor da orquestra desde 1966, pela imaginação; e Rudi Mahal, um sujeito magro e muito alto,
vestindo jeans apertados, meio calvo mas com duas
longas patilhas ladeando as faces, que deu um espectáculo visualmente exuberante nos solos, pela forma
como quase caía, além de que foi o melhor dos clarinetes-baixo.
A noite quente sufocou, o auditório ao ar-livre esteve preenchido pela metade, o público bastante quieto e as palmas quase não apareceram, excepto no final. Das duas, uma: ou a prestação da Globe Unity
Orchestra, de um fôlego, não deu espaço a manifestações ou a mescla de sons — e até ruídos — intimidou mesmo os mais experientes. Seja como tiver sido,
o arranque do JA 2005 estava feito, sem bússola.
Berliner original soundtrack
Na noite seguinte o grupo do multi-instrumentista
Gebhard Ullmann propôs algo diferente. O decateto
berlinense — com todos os saxofones, incluindo o gigante barítono — interpretou vários temas da autoria
de Ullmann, composições para bandas sonoras de filmes e documentários, sugerindo ambientes sombrios
e Berlim debaixo de chuva.
A dinâmica do grupo em palco foi interessante de
se apreciar. Ullmann e o clarinetista Jurgen Kupke,
dois líderes demarcados, conduziram o conjunto pelos
longos temas em passo acelerado, abrindo espaço
para diversos solos e agarrando as linhas para devolver o olho às complexas composições. O público gostou e mostrou-o, ganhando um regresso rápido, para
um último tema.
Energia atómica
A fechar o terceiro dia do festival esteve o quinteto
norueguês Atomic. Fulminante, o grupo entregou-se
fotos: CAM — FC Gulbenkian
totalmente, demonstrando ter pulmões dignos de velocistas.
Foi particularmente agradável observar como o pianista Havard
Wiik e o baterista Paal Nilssen-Love improvisaram sobre
trechos ou solos em progressão, debaixo da batuta do
saxofonista, clarinetista e líder Fredrik Ljungkvist, que
gesticulava copiosamente a forma como deveriam entrar,
enquanto também tocava.
Não obstante, o grupo foi muito coeso, com espaço para
todos brilharem — porque brilharam. O trompetista Magnus
Broo bem se esforçou para arrancar os mais sinceros aplausos
da noite nos seus solos. Nilssen-Love, na bateria, mostrou-se
cheio de recursos, vassourando, riscando e manejando vários
pratos. E lá atrás, quase escondido, o baixista Ingebrid HakerFlaten suou o bastante, irrepreensível.
Os Atomic, a proposta mais mainstream da primeira
semana deste JA — contudo, desconhecida quanto baste —,
agradaram muito e conseguiram a maior e mais variada
assistência (menos cabeleiras grisalhas). Quem não comprou o
disco à saída, certamente se arrependeu — estas pérolas não
encontram o caminho da Noruega até Portugal.
O Jazz em Agosto
Magnus Broo
Ainda antes do início do JA, o director artístico do evento,
Rui Neves, ajudou a FEST a conhecer melhor o festival de Jazz
português que esteticamente não pode ser comparado com nenhum outro. «Não temos a pressão da bilheteira, como a maioria
dos outros festivais. Por outro lado, somos o festival nacional
[do género] com maior budget, apesar de não ser caro fazer um
JA». Assim se explica a liberdade para construir cartazes como
o deste ano, recheado de inéditos e de experimentalismo, quase
numa lógica de: ao JA vai-se, não porque se goste, mas sim para
ver se se gosta.
O cartaz deste ano propõs um olhar sobre «a nova geração
“branca” e europeia do Jazz, fruto de influências diferentes das
do Jazz norte-americano», desenvolveu. Daí que na segunda
semana do JA se vejam grupos que fazem uso de elementos
electrónicos, como o de Jerry Granelli (EUA/Alemanha), os
Wibutee (Noruega) — em substituição dos Jaga Jazzist — e o
projecto Mephista (Suíça/Japão/EUA).
Outro argumento para aferir a unicidade do JA é a sua política de divulgação. «O festival começa a ser divulgado no estrangeiro antes de o ser em Portugal», revelou Rui Neves, o que se
traduz num público transnacional, situação a que também não é
alheio o facto de a fundação, por si, figurar nos roteiros turísticos
de quem visita Lisboa. Os espectáculos do JA registam uma
média de ocupação na ordem dos 70 a 80 por cento. •
(Atomic)
Gebhard Ullmann
Rewind Música 51 .
Kaiser Chiefs
(esq)
Foo Fighters
(dir)
texto: Cátia Monteiro e Pedro Moreira
Paredes De Coura 2005
Altos, baixos e muitas estreias
Paredes De Coura
15 a 18 Ago | www.paredesdecoura.com
Tal como era previsível, a 13.ª edição do
Festival Paredes De Coura (FPC) foi um sucesso,
chegando a superar as expectativas criadas,
graças à qualidade do cartaz apresentado. Até o
sol ajudou à festa.
A aposta num cartaz virado para o Rock
independente revelou-se inteligente, trazendo ao FPC
algumas das bandas que mais vêm dando que falar nos
últimos tempos (sendo a maioria estreante em Portugal),
mobilizando milhares de pessoas, que encheram o
recinto. Notou-se um esforço na melhoria das condições
do acampamento e do recinto, das quais se destacam
as duas enormes áreas de restauração, que só pecavam
pela oferta limitada a meia dúzia de sandes.
Na primeira noite do festival, o palco secundário
recebeu a festa de recepção, marcada por um intenso
52 Rewind Música
cheiro a hortelã, que, diz o povo, ajuda a revitalizar o
corpo. A forma como o imenso público presente
recebeu o Indie Rock dos escoceses Sons And
Daughters, dançando e reagindo com alguma
intensidade a cada grito da bela Adele Bethel, prova
que o povo está certo. A dança prolongou-se noite
dentro com Trailer Trash e Zig Zag Warriors.
O duo Death From Above 1979 teve a
responsabilidade de abrir o palco principal no
segundo dia do festival e fê-lo de forma brutal. É
impossível ficar indiferente ao espectáculo dos
canadianos, apesar dos altos e baixos do álbum de
estreia You're a Woman, I'm a Machine.
Os !!! dilataram os minutos numa música
dançável, ilustrada pelo ritmo estimulante e enérgico
de Nic Offer, que não se poupou a formas de apelar ao
público numa coreografia interactiva e de carregada
fotos: Luís Bento
alusão sexual — uma orgia musical a que a assistência
não foi alheia.
Enérgico estava a ser também o concerto dos
Kaiser Chiefs até que, em “Everyday I Love You Less
And Less”, o endiabrado vocalista Ricky Wilson teve o
azar de cair mal após um salto, e magoar-se num pé.
Já se sabe que é difícil sair desiludido de um
concerto dos Foo Fighters. Em Paredes de Coura não
foi diferente. Toda a actuação ficou marcada por
momentos extasiantes, como na ode “In Your Honor”,
ou o enorme meteoro que decidiu aparecer durante
“My Hero”, ou, ainda, “Everlong” cantada em uníssono
pela multidão presente e o final explosivo, com
“Monkey Wrench”.
Muito quente mas sem aquecer
Ao terceiro dia caiu um anjo. Alasdair Roberts
pareceu ser a calma em pessoa. Algumas das músicas
tradicionais do Reino Unido que fazem parte do seu
último álbum, No Earthly Man, foram apresentadas,
acompanhadas por histórias interessantes, fazendo
um delicioso início de tarde.
Apesar da redundância calorífica do nome, os Hot
Hot Heat não aqueceram o palco tanto quanto se
esperava. Os temas do novo álbum, Elevator, ainda
estão crus para uma audiência que só entra em
ebulição com as pérolas de ritmos cruzados e
electrizantes do disco anterior.
O Funeral dos Arcade Fire é um daqueles em que
os trajes negros e as lágrimas dão lugar a uma
celebração da vida. Baquetas descontroladas que
atingem capacetes, cabeças e costas, violinistas
apaixonados e uma boneca de trapos que ataca um
acordeão. Um espectáculo em crescendo que
culminou com Win Butler a mergulhar com a guitarra
num mar de público em êxtase.
Apesar da versão de “Whole Lotta Love” e de
outro pico para “The Seed” — aqui sem Cody
Chesnutt — a actuação dos Roots não obteve grande
entusiasmo do público. Alguns virtuosismos na
guitarra não chegaram para abstrair do que foi um erro
de casting neste festival.
QOTSA e Pixies repetentes
Lullabies to Paralyze foi o mote para mais um
concerto dos Queens Of The Stone Age, o terceiro
no FPC. O líder da banda, Josh Homme, ainda a
recuperar de uma operação ao joelho, tentou fazer
esquecer a falta do irreverente baixista Nick Oliveri
apostando num concerto mais soturno que apenas
pecou pela curta duração e pelo longo — e
dispensável — solo com que fechou a actuação.
Ainda só tinha passado um ano desde a última vinda
dos Pixies a Portugal. A fome era por isso mais ligeira,
o que não impediu a refeição de ser bem guarnecida.
Uns pratos calóricos e mais conhecidos para entrada,
com umas iguarias exóticas a pontuar o repasto.
O último dia do festival começou com um atraso
de uma hora, sendo os americanos The National a
iniciar a ronda final de concertos. Matt Berninger sente
profundamente tudo o que canta e isso transborda
palco fora, influenciando o público e criando um
ambiente bastante intimista.
Em substituição dos Killing Joke, Woven Hand
chegou ao palco principal na noite de Nick Cave e de
lua cheia. Apontou o céu e fez cair o seu apelo. Uma
substituição divina, em que David Edwards pareceu
fazer convergir voz, música e gestos numa espécie de
transe, que vai convertendo fiéis à medida que
anoitece. Um espectáculo visualmente atraente,
mesmo que pobre no campo musical — sempre é
preferível a um que falhe ambos.
Este podia ser um argumento favorável a Julliette
And The Licks, que surgiram em palco como uma girl
+ boys band com ares Punk, mas que mantém os
códigos de vestuário, os tiques sexy e os cabelos
agitados no ar. Pode ter sido um argumento favorável,
mas apenas para quem isso é suficiente para accionar
o gatilho da abstracção auditiva.
Vincent Gallo juntou em palco o cinéfilo ao
melómano e o que daí resultou foi uma banda sonora
delicada e inspiradora de divagações do espírito. Mas o
local não era o mais apropriado para a capacidade de
concentração do público, cujos pontuais assobios só
foram acalmados pela versão contador de histórias,
que Vincent encarnou nas pausas da meditação
musical. No final da noite, de dedo em riste e com uma
voz profunda e poderosa, Nick Cave assemelhou-se a
um pregador que converteu o palco do FPC num
púlpito de cânticos mais ou menos ortodoxos. O
repertório é demasiado vasto para satisfazer todos os
pedidos do público, mas o alinhamento contemplou a
invocação de “Stagger Lee”, exemplo de uma lírica
mórbida e sarcástica, que envolveu os convertidos
numa adoração da figura de negro. •
Rewind Música 53
texto e fotos: Filipe Pedro
Festival Maré De Agosto
Maré-alta nos Açores
Santa Maria, Açores
18 a 21 Ago | www.maredeagosto.com
Na Ilha de Santa Maria, em pleno Atlântico, há
um festival que une a World dos Celtas Cortos,
Manecas Costa e Kila, o Reggae dos Skatalites, o
Blues de John Lee Hooker Jr, a Pop de Lúcia Moniz, o Punk Rock dos Fonzie, o Rock dos Pluto, o
Free Jazz dos Underpressure e a Electrónica de
Tânia Pascoal.
Ecléctica é a definição possível para este evento
peculiar, encaixado entre o mar e as montanhas, este
ano sob a bênção de uma belíssima lua cheia. Com 21
edições, o resistente Maré De Agosto conta com um
assinalável culto, claramente visível no público que,
dos oito aos 80, dos jovens casais às famílias inteiras,
se reúne para ver os conjuntos populares. O festival
tem a particularidade de começar tarde (depois das
23h30) e a meio gás. Só depois da uma da manhã é
que o recinto começa a ficar composto. Reza a
história que os concertos chegam a durar quatro horas — como um famoso de Nuno Bettencourt, com a
presença do ex-vocalista dos Extreme, Gary Cherone.
A proximidade entre organização, artistas e público resulta do empenho da Associação Cultural Maré De
Agosto em fazer do Maré, chamemos-lhe assim, um
festival com um ambiente único. Até mesmo a música
que se ouve entre concertos tem qualidade e actividades circenses com fogo divertem a audiência.
Para muitos, uma rave
Em dia zero saliente-se a perícia de Tânia Pascoal, exímia nas variações de tempo e gestão de graves e agudos ao longo de três horas bem medidas de
Deep e Hard House, habilmente condimentados com
Techno, onde não faltaram alguns clássicos da editora
Kaos, nem um tema menos conhecido de Tiesto. Ainda assim, problemas técnicos com os gira-discos
(controlo de pitch e agulhas) impediram a DJ portuense de tocar alguns vinis que trazia na mala. O piropo
machista és tão boa ouve-se quando Tânia despe a tshirt e traja um top justo. No aquecimento da noite
marcaram presença os DJs Johnny Big e Afonso.
O legado dos Skatalites
Na abertura da noite, os Fonzie deram um concerto muito animado, com constantes descargas de adrenalina por parte da banda e um crescendo de intensidade do público. Do álbum Wake Up Call ficam na memória os temas “Sorry, Gotta Get Away” e “Say Hello”,
muito embora o primeiro disco Built To Rock não tenha
ficado de fora do alinhamento.
«Não me canso de dizer obrigada, não me canso
de dizer que adoro os Açores», afirmou uma visivelmente emocionada Lúcia Moniz. Pela primeira vez no
Kila
54 Rewind Música
festival, a cantora açoriana mostrou o disco que lançou recentemente, Leva-me P’ra Casa, claramente
mais pesado do que os álbuns anteriores Magnolia e
67. No final da actuação, os Fonzie juntaram-se à festa. O público pediu mais e Lúcia regressou para continuar.
Os senhores que se seguiram chamam-se Skatalites — uma escola e um claro exemplo de longevidade —, já tocaram por todo o mundo e vem existindo
com formações renovadas desde os anos sessenta.
De regresso a Portugal, depois da passagem por Algés, em Abril, a banda viajou até Santa Maria, para deleite do público açoriano, ao rubro com os velhinhos
temas dos percursores do Reggae, Ska e Rocksteady
(e amigos), como “Sugar, Sugar”, “Can’t You See”,
“Nice Time, Don’t Stay Away” ou “By The Rivers Of
Babylon”. O ambiente em palco foi extremamente
familiar, com constantes cumplicidades, entre sorrisos
e boas vibrações, terminando a actuação quase às
cinco da manhã.
Dançar a música do mundo
Tal como na véspera, a tardia chegada do público
penalizou um pouco a actuação dos Pluto. Muito embora o vocalista Manel Cruz tenha estado pouco comunicativo, entre músicas e cervejas, o single “Só
Mais Um Começo” obteve a reacção calorosa que se
esperava.
A actuação dos irlandeses Kíla no Maré não foi
exactamente igual à de Sines, um mês antes. Este foi
um concerto de raízes, irlandês na essência, mas com
mais garra e improviso. Para além dos elogios pelo
mar, montanhas e beleza natural do local onde decorre
o Maré de Agosto, os Kíla aceleram na recta final da
actuação, respondendo o público com danças frenéticas e algum pó no ar. Despediram-se com um
Tânia Pascoal
«obrigado e até sempre, é provável que a gente se veja
a nadar por aí». Depois das energias gastas com os
Kila, o público aproveitou para uma pausa de comes
e bebes. Manecas Costas foi bastante penalizado
com isso, uma vez que a audiência demorou algum
tempo a sintonizar os sons quentes e dançáveis da
Guiné-Bissau. Acompanhado por excelentes músicos,
Manecas aguentou a festa madrugada fora.
Sentir o calor do Blues
Apesar do virtuosismo na guitarra, Pedro Madaleno concedeu espaço aos Underpressure para improvisos e solos de baixo (Miguel Amado), trompete
(Lukas Frohlich) e bateria (Vicky). Momentos de cacofonia em excesso e alguns problemas com o volume
dos instrumentos tornaram, a dada altura, a actuação
demasiado longa, quase penosa.
«Are you ready for the Blues?». Neste caso, filho
de peixe é bom nadador, e com presença e voz de verdadeiro entertainer John Lee Hooker Jr. Entrou em
palco para apresentar o álbum Blues With A Vengeance. «O Blues tem de atravessar a vossa espinha. É a
única forma de o sentirem», disse. No final, um prolongadíssimo encore em modo festa, com “We’re Gonna
Party All Night Long” e mais uma descida ao fosso para emoções fortes e transição directa para a sessão de
autógrafos improvisada, sem passar pelo camarim.
Inesquecível.
Depois da passagem do furacão Hooker, qualquer
concerto seria considerado um erro de casting. Mas a
actuação dos espanhóis Celtas Cortos foi mesmo
muita parra para pouca uva. Curto, a despachar e desinspirado. Nem o anunciado caldeirão de Ska, Celta
e Rock se confirmou eficaz. Obviamente que às quatro
da manhã o público já dança qualquer coisa que lhe
dêem a escutar. In vino veritas. •
John Lee Hooker Jr.
Rewind Música 55
texto: Vitor Pinto
Noites Ritual Rock
A vitória lusa
Porto
26 a 27 Ago | www.noitesritual.com
Supernada
Cool Hipnoise
As Noites Ritual Rock, na sua 14.ª edição
consecutiva, são a prova viva de que um sonho de
vários jovens, apoiado numa revista cultural, se
tornou numa realidade adulta, de onde todos
saíram vencedores: o público, a organização
exemplar, a música portuguesa e a muy nobre e
invicta cidade do Porto.
O arranque das festividades ficou marcado pelo
cancelamento dos Complicado, permitindo aos
Wordsong honras de abertura. Os jardins do Palácio
de Cristal albergaram as palavras de Al Berto e
Fernando Pessoa, associadas a imagens electrónicas
vindas de alguns dos elementos dos Rádio Macau,
deixando, porém, o encaixe de voz de Pedro d’Orey
muito a desejar.
O palco secundário, inaugurado pelos Ölga,
permitiu-lhes mais uma excelente apresentação do
álbum What Is, numa série de momentos alucinantes
criados pelo baixo e duas baterias. À sua volta,
formava-se uma enorme mancha de gente interessada
em ver este projecto da Bor Land, marcado por um
final explosivo com “Hassana” e “Money”.
De volta ao palco principal, vimos entrar os Plaza
num formato robótico, por entre as plumas brancas e
muita alegria. “(Out) On The Radio” e “July The 1st
1984” revelaram-se os momentos mais dançantes,
ambos retirados de Meeting Point, o álbum de estreia
dos irmãos Praça. Em tom de festa houve ainda tempo
para “Flow”, tocado pela primeira vez no Porto, e as
versões “We Came Through”, de Scott Walker, e “Your
56 Rewind Música
Life Is A Lie”, de Legendary Tiger Man, presente nos
ecrãs.
Findo o êxtase, foi tempo de descer até à concha
acústica para presenciar outro projecto da editora Bor
Land, os Alla Polacca. Num ambiente mais sereno do
que os anteriores Ölga, o colectivo portuense manteve
as ondas flutuantes de psicadelismo por entre as
guitarras e as árvores do jardim.
No encerramento da noite, o Funk dos Cool
Hipnoise tomou conta dos corpos. Em cima da mesa
colocaram o Best Of de uma carreira com 10 anos,
onde naturalmente não faltaram os temas-chave,
acompanhados por um imenso groove no ar: “Groove
Junkie”, “Ponto Sem Retorno” o recente single
“Brother Joe” e a versão “Come As You Are”. O grand
final, em formato batucada, introduziu ritmos quentes
com improvisos, ajudados por Ace e Presto, numa
noite muito fria.
A noite dos rockers vivos
No início da segunda jornada, o público curvou-se
com a actuação dos Gajos Baixos, o novo projecto
nacional de Alexandre Mano e Edamir Costa, que por
entre alguma estranheza de diálogo entre os dois
instrumentos, levantaram a curiosidade e a promessa.
De seguida houve espaço para outro projecto de
Manel Cruz (mais um). Depois de Pluto, agora
Supernada, em formato agradável de se ouvir. Foi um
regresso às origens dos Ornatos Violeta, claramente
vincados em “Irreal”, “O Preço Das Uvas” ou “O Pai
fotos: Rui A. Cardoso
Bunnyranch
Durante o festival, a FEST FORWARD MAGAZINE aproximou-se de três feiticeiros do caldeirão musical português,
roubando-lhes as fórmulas das noites Ritual Rock.
Wraygunn
Natal”. Mesmo debaixo de chuva, toda a gente se
fixou na voz inconfundível de Cruz e no desempenho,
sem espinhas, de uma banda fabulosa que o
acompanhou.
De volta ao palco dois, os Housanbass
dispuseram-se a imprimir um ritmo mais dançante na
noite marcadamente Rock & Roll. Nos pratos, avistouse um Dj Rui Reis em manobras House, sobre o
acompanhamento algo despercebido do baixo de
Alexandre Mano.
Com ou sem chuva, estiveram os Bunnyranch,
perante um recinto muito bem composto e com Kaló,
sempre ele, no seu habitual destaque de baterista e
front man, em formato one man show. Indispensáveis
foram “Liar Alone” e “Hungry”, o tema imortalizado em
1966. Não faltou uma homenagem aos Mão Morta e
no final deixaram o pássaro voar com “Litle Bird Get In
Shape”.
O Drum & Bass atmosférico de Alex FX musicou
as imagens projectadas nas paredes da concha, com
destaque neste live-act para um tema de Amália, aqui
revisitada.
A fechar mais um ano e pela primeira vez na
condição de cabeças de cartaz, os Wraygunn
provaram estar à altura do desígnio. Como já vem
sendo habitual, o sempre enérgico e brilhante Paulo
Soul Power Furtado esteve num nível superior,
apoiado pelo acréscimo vocal bem colocado de um
novo elemento feminino, Raquel Ralha. Em “There But
For The Grace Of God Go I” e “Don’t You Know?”, esta
provou ter sido uma aquisição valiosa. A noite de
Paulo Furtado . Wraygunn
É o único festival com esta longevidade e com grande
afluência de público, apenas com bandas portuguesas.
Acho que é uma iniciativa fantástica e um dos meus locais
preferidos para tocar. Foi muito bom quando cá viemos
pela primeira vez. Foi também a primeira vez que as
pessoas deram mais valor aos Wraygunn. Esta edição
marca uma estreia para nós como cabeças de cartaz num
festival, o que não deixa de ser reconfortante, e acho que
isso só poderia ter acontecido aqui, curiosamente.
Kaló . Bunnyranch
Fantástico…continuem! São 14 edições de glória. Eu
falhei há 11 anos com os Tédio Boys por culpa própria,
porque me portei mal e era um inconsciente desgraçado
(risos). Mas são 14 anos consecutivos só com música
portuguesa, com um impacto mediático, com as pessoas
que traz todos os anos… Acho que só podem parar daqui
a uns cem!
Carlos Vieira . Organizador
São 14 anos positivos. Isto começou como um sonho de
uma associação de jovens (Associação Juvenil de
Comunicação Social), que editou também uma revista, a
“Revista Ritual”. Em 1988 propusemos ao pelouro de
animação da autarquia tornar tudo isso num festival. Dois
anos depois, tudo foi possível. Tudo se foi desenvolvendo
e hoje é um marco da música portuguesa. Por isso o
balanço será sempre positivo.
chuva não furtou Paulo de se juntar à assistência, em
“Speed Freak”, repetindo a audácia em “All Night
Long”. Com direito a encore, o tema escolhido foi “My
Generation”, dos lendários The Who. Num concerto
captado para posterior edição em Inglaterra, a união
entre os Wraygunn, o público, a chuva, a noite e os
jardins do palácio, resultou na perfeição.
De parabéns está a música Portuguesa, num
evento exemplar. •
Rewind Música 57
texto: Márcio Alfama
fotos: Luís Bento
Festival Lisboa Soundz
Mini festival à solta
Doca Pesca — Lisboa
29 Ago | www.musicanocoracao.pt
Mogwai
Se tudo o que desejava em Agosto era um
festival de pequena dimensão, junto ao Tejo, a
cinco minutos de Lisboa, com espaço para agitar o
corpo, um ambiente sofisticado e urbano e um
cartaz com atitude, lamentamos se não marcou
presença no Lisboa Soundz.
As cerca de três mil pessoas que se juntaram numa espécie de parque de estacionamento acabaram
por se divertir, muito por culpa da fatal combinação
entre cerveja para a bucha e música para os ouvidos.
Os Bunnyranch deram início às festividades com
um Rock plagiado às sonoridades arcaicas, típicas de
um Rockabilly visto e ouvido demasiadas vezes.
Realça-se, ainda assim, a sua disposição em palco,
em especial de Kaló, o carismático vocalista /
baterista, a constante animação e a interactividade
com a assistência.
Feito o warm up, seguiram-se-lhes os Jimmy
Chamberlin Complex, o conjunto do homónimo exbaterista dos Smashing Pumpkins. Revelando-se uma
agradável surpresa, fizeram o cruzamento, em termos
sonoros, entre os God Speed You! Black Emperor e os
Subarachnoid Space, ainda que com menor
qualidade. Jimmy falou com o público, elogiou
Portugal e encantou a audiência.
É incontornável dizê-lo: os Mogwai foram os melhores da noite. Os pêlos arrepiaram-se, as cabeças
58 Rewind Música
Franz Ferdinand
balançaram e os punhos ergueram-se. Estiveram em
uníssono: o público e a banda. Foram uma espécie de
cântico divino, uma melodia que vem das estrelas, de
um planeta distante e o que ouvimos encheu-nos de
optimismo. O melhor? “Hunted By A Freak” (a abrir o
concerto). O pior? Simplesmente não existiu.
No cair do pano, os escoceses Franz Ferdinand
agitaram as massas, ecoando a quase totalidade do
primeiro álbum, completado com cinco temas do
segundo registo. Num total de 14 canções, “Take Me
Out”, “This Fire” e “Do You Want To” assumiram destaque. A meio da euforia instalada, houve quem
preferisse sentar-se no chão, de costas para o palco,
folheando a FEST FORWARD. Para além do elogio
evidente à nossa publicação, a dúvida persiste se tal
mais não foi que uma mensagem à actuação da banda
escocesa. Para os que se mantiveram de pé, o evento
traduziu-se num grande motivo de festa.
Noite terminada, recolheram-se os copos,
permaneceu no ar o cheiro do pão com chouriço, o
som (demasiado alto) dos Franz Ferdinand deu lugar à
passividade do Tejo e o frio tomou conta dos corpos.
Haverá mais para o ano? Ainda é cedo para
responder. Em caso afirmativo, espera-se que contemple mais público, maior variedade na restauração,
maior prestação de serviços (Multibanco, tabaco),
menos imposição policial e, se possível, que tenha
mais ambiente de festival. •
foto: Filipe Pedro
texto: Pedro Moreira
29.ª Festa do Avante!
Não há festa
como esta
Atalaia, Seixal
2 a 4 Set | www.pcp.pt/festa-do-avante
Ljiljana Buttler & Mostar Sevdah Reunion
Um dos maiores eventos cultural de Portugal
voltou a ter lugar na quinta da Atalaia, no Seixal.
Juntando milhares de pessoas de todas as gerações, a 29.ª Festa Do Avante! foi, certamente, a
maior dos últimos 15 anos.
Políticas à parte, a Festa Do Avante! será, porventura, a única iniciativa capaz de reunir um grande número de artistas de todas as áreas, com uma oferta
gastronómica dos quatro cantos do mundo.
A primeira noite serviu de aquecimento, com pouco público. Inserido nas comemorações dos 60 anos
da queda do nazismo, o palco 25 de Abril recebeu a
Orquestra Sinfonietta De Lisboa, dirigida pelo maestro
Vasco Pearce de Azevedo, que apresentou o
espectáculo Opus 1945, onde se ouviram composições de Ludwig van Beethoven, entre outros. Foi
interessante verificar a afluência de público jovem a
este tipo de espectáculo. Depois, no palco 1.º de
Maio, soou o Reggae dos Kussondulola.
Logo ao início da tarde de sábado chegou a
grande enchente, para a recepção aos Primitive
Reason. Dos galegos Skàrnio à bósnia Ljiljana
Buttler, acompanhada dos Mostar Sevdah Reunion,
passando pelos Telectu e sem esquecer o Festival De
Blues, com a presença de Otis Grand, a oferta foi
variadíssima. No entanto, o grande momento da tarde
foi da responsabilidade da Brigada Vítor Jara, com a
interpretação de “Ronda das Mafarricas”. De noite, o
destaque foi para os Xutos & Pontapés e Clã.
O dia de encerramento não podia ter começado
de melhor maneira, com os contagiantes Terrakota.
Inesperada (ou não) foi a surpresa Dazkarieh, onde a
música tradicional, Rock e música erudita deram os
braços. Depois do obrigatório comício de final de
tarde, a música voltou ao palco 25 de Abril, com os
Blasted Mechanism que, com algum espanto,
recuperaram “Swinging With The Monkeys”. A
despedida teve lugar com os almadenses Da Weasel
e o aguardado fogo de artifício.
Construída com o trabalho voluntário de membros
e simpatizantes do Partido Comunista Português, a
Festa Do Avante! realiza-se desde 1976. Actualmente
ocupa toda a área da quinta da Atalaia e disponibiliza
uma dezena de palcos destinados à música e teatro,
diversos espaços para debates, feira do livro e do
disco e um stand por cada distrito do país.•
Rewind Música 59
texto: Filipe Pedro e Gonçalo Guedes Cardoso
Kings of Convenience
11.º Festival Internacional De Benicàssim
A invencível armada
Benicàssim, Espanha
4 a 8 Ago | www.fiberfib.com
Com o fantasma do 10.º aniversário a pairar sobre a cidade Mediterrânica de Benicàssim, os estrategas do Festival Internacional De Benicàssim
(FIB) obrigaram-se a um esforço criativo para manterem aceso o estatuto há muito conseguido de
festival mais caliente do Verão europeu.
Recorrendo ao mercado anglófono de contratações, a organização do FIB 2005 habilmente assinou
com os nomes mais sonantes da primeira divisão da
música Pop Rock e Electrónica mundial. A juntar ao
sol convidativo, a proximidade com a praia, os ares
suaves do Mediterrâneo, a gastronomia aliciante e os
preços acessíveis da cerveja e da paelha, cerca de 30
mil adeptos (10 mil britânicos) aceitaram o desafio,
inundando o ambiente de cores, cheiros, sotaques e
sons difusos.
«La técnica es la técnica e sin técnica no hay técnica», afirmamos nós. Aqui jogou-se com toda a categoria: mais de uma centena de grupos divididos por
cinco palcos, um auditório para curtas-metragens,
uma tenda com desfiles de moda e um verdadeiro
derby futebolístico, onde os músicos saíram humilhados, ante o show de bola dos jornalistas. Ficam os
melhores momentos do festival:
Toques polifónicos no FIBstart
Quando a Pop dos Beach Boys ganha a dinâmica
dos Flaming Lips, o resultado é Polyphonic Spree.
Canções épicas e sentidas, distribuídas por 23 músicos em palco. De longe, o melhor momento do
FIBstart.
The Tears não são os Suede, mas usam e abusam
do estatuto. Brett Andersen está habituado à ribalta e
60 Rewind Internacional
acomodado à pose. Bernard Butler continua a ser um
excelente guitarrista. E daí? As músicas são desinteressantes e a apatia chega a ser incómoda.
Os Underworld mantêm vivo o espírito rave de
outrora, embora nestas actuações festivaleiras o modo best of seja ritual obrigatório, escutando-se os incontornáveis “Rez” ou “Born Slippy”. O vocalista Karl
Hyde preservou a elegância e o público manteve-se
ao rubro, com as suas danças endiabradas.
O Carnaval chegou à cidade
Uma vez mais, prevaleceu a habitual química entre
o casal Alison Mosshart e Jamie Hince num concerto
enérgico dos Kills. A apresentação dos temas de No
Wow ao vivo não podia ter resultado melhor. «Kills
über alles», dizem a dada altura.
Os Fischerspooner pisam o palco. O ambiente
disco não engana, com direito a laser e a bola de espelhos. Infelizmente já não são os mesmos que trouxeram o álbum de estreia ao Número Festival em
2001. Perdeu-se grande parte da teatralidade, estética
e imprevisibilidade, ganhando-se uma banda Rock,
como tantas outras. Peaches, a nossa companheira
de outras andanças, veste e despe roupa ao sabor do
vento, toca guitarra, parte a loiça toda, toma e dá banho a uma audiência deliciada com as suas provocações, berros e descargas de adrenalina.
A dupla Basement Jaxx, composta por Félix
Buxton e Simon Ratcliffe, chega ao palco perseguida
pelo macaco Adriano, com milhares de pessoas aos
saltos. Uma carreira sólida com base nos álbuns
Remedy, Rooty e Kish Kash celebra-se em festa permanente, com ambiente carnavalesco.
fotos: Filipa Lourenço
!!!
Na Na Na Na Naa
Devendra Banhart, aka o rapaz dos calções de
praia retro, portou-se bem, tendo o seu Folk/Pop conquistado a audiência. Merecia ter tocado mais tarde no
alinhamento e de preferência num auditório fechado.
O vocalista Ricky Wilson torna os Kaiser Chiefs
imparáveis e incontroláveis. Saltos constantes, três
descidas ao público, uma escalada até ao topo da torre de luzes e muitos ingleses ao rubro com os instant
classics de Employment, fizeram prever um motim.
Apesar de não estar ao nível do fabuloso concerto no
Primavera Sound 2004, a actuação dos !!! no FIB mostrou toda a garra do imparável vocalista Nic Offer. A troca
constante de instrumentos pelos membros da banda
demonstrou originalidade e um funkdelismo em alta.
Jeans Team constituiu uma proposta alemã interessante, com base num bom VJ e em aproximações
aos breakbeats, com samplers escolhidos a dedo.
Apesar da negrura aparente do novo disco
Witching Hour, os Ladytron apresentaram uma Pop
escorreita e dançável, num ambiente propício à festa.
O triunfo nova-iorquino
Muitas influências nipónicas no som dos Pan Sonic
(Flare, Cornelius) e outras europeias (LFO, Aphex Twin).
Os trezentos corajosos que testemunharam o
experimentalismo ciclónico, gozaram de uma excelente
actuação — diversificada, criativa, poderosa.
Com a temperatura já em alta, o calor australiano
de Nick Cave & The Bad Seeds revelou-se um dos
momentos-chave do FIB 2005. Com 22 anos de carreira e muito suor no corpo, Cave e as suas sementes
plantaram em Espanha um nutriente elegante, charmo-
so e refulgente de Rock, Blues, Funk, Soul e Gospel.
A ex-Moloko Roisin Murphy confessa ao público
do FIB que andou iludida uma série de anos. Acompanhada por excelentes músicos e com Ruby Blue, o recém-editado disco de estreia a solo, na bagagem,
Roisin mostrou a fibra com que se cose. O concerto
dos Oasis, o mais esperado pelos peregrinos (na sua
maioria britânicos) foi marcado por um desfilar de
union jacks, moças avantajadas, chapéus e t-shirts
alusivas à banda e uso abusivo de álcool e calão. Destaca-se a dedicatória de "Rock & Roll Star" por parte
de Liam ao falecido ex-ministro dos negócios estrangeiros britânico Robin Cook, não se sabe se séria ou
irónica.
O melhor de Kasabian foi o pior dos Oasis. A multidão excessiva deu lugar a um espaço amplo onde os
verdadeiros fãs coabitaram com os simples curiosos,
todos empenhados em festejar em tom de Pop atmosférico e psicadelismo electrónico um festival que se
aproximava vertiginosamente do fim.
Entretanto subimos à tenda das bandas realmente
frescas, o palco Music Box, para escutarmos cinco
chilenos com muita onda Funk e Rock. O nome a fixar
é Panico e o notável disco de estreia tem o título
Subliminal Kill.
De volta ao palco principal, o ritmo impresso pelos
LCD Soundsystem foi sabiamente pensado para não
permitir que o público adormecesse. O último grande
concerto do FIB presenciou um "Daft Punk Is Playing
In My House" e outras pérolas em versão mais acelerada, mas sem perda de identidade.
Ainda aos milhares, os resistentes permaneceram
na tenda FIB Club madrugada fora, em espírito de festa, ao ritmo das batidas sincopadas dos grupos e DJs
da DFA records. •
Rewind Internacional 61 .
Kubik
Xiu Xiu
Metamorphosia
La Fôret
Zounds Records
Acuarela / Pop Stock
Kubik propõe uma exploração caleidoscópica, dançável
e divertida. Avança para citações que incluem a banda
sonora de Get Smart no final de “Night And Fog: Ya!” e
Hitchcock Apresenta em “Intro-middle: Hitch Song”. O
tema “Driving With Your Fingers Crossed”, dos também
portugueses Bypass, ganha nova designação na remistura “Sweet”, enquanto que um irreconhecível Francisco
Silva (Old Jerusalem) vocaliza “I'm A Vampire, I'm
Disgust”. Qual ciberpoeta demoníaco, Adolfo Luxúria
Canibal é a escolha perfeita para a vocalização de “Era
Chegado O Tempo”. A fechar o álbum escutam-se sinos,
cães, gatos, desenhos animados e fogo de artifício... o
insólito em formato canção-espírito-livre-ao-vento. Metamorphosia é tal e qual. Um espécime a preservar junto de
outras raridades. • FP
O cliché «primeiro estranha-se, depois entranha-se»
serve que nem uma luva a La Fôret, o quarto disco de Xiu
Xiu, depois de Knife Play (2002), A Promise (2003) e
Fabulous Muscles (2004). Está escuro lá fora, o ambiente
é soturno e inóspito (“Baby Captain”, “Dangerous You
Shouldn't Be Here”). Há barulhos estranhos no ar
(“Saturn”, “Mousey Toy”). Ian Curtis vive (“Pox”). A Björk
por aqui (“Ale”)? Afinal isto é cinema (“Yellow Raspberry”
e “Rose Of Sharon”). No fim, tudo não passa de um
pesadelo do vocalista Jamie Stewart, que desperta, em
sobressalto (“Muppet Face”, “Bog People”). Fecha os
olhos e o sonho recomeça (“Clover”). A floresta é imensa
e de tal modo misteriosa e viciante que não é fácil
encontrar a saída. Quem tem medo do escuro? • FP
www.kubik.com.pt
www.xiuxiu.org
Devendra Banhart
Criple Crow
Raum
Young God / XL Recordings /
Pop Stock
Ninho de vespas / Trem Azul
A proverbial hispanofilia dos texanos é amplamente reconhecida, porém Devendra Banhart pode tê-la levado um
pouco mais além. O sucessor de Nino Rojo é a quarta
viagem pelo amor, novos encontros, diferentes linguagens e uma espiritualidade adulta deste texano, que trocou os EUA pela Venezuela. Aqui, o talentoso cantor e
compositor atravessa a poesia e a pintura, transportando
na mala 22 pequenos e melódicos temas, temperados
com uma reinvenção de Folk, Country, Blues, ritmos latinos e africanos, na maioria dos quais apenas acompanhado da sua guitarra acústica e percussão de mão.
São canções autênticas, com enorme sensibilidade lírica
e alguma ingenuidade, onde o poderio da sua voz é tal
que a leitura da lista telefónica de Caracas bastaria para
nos fazer pele de galinha. • GGC
62 Stop Cd’s
7 Pecados mortais
A preguiça assume um tom vadio e desleixado e os
instrumentos transmitem alguma indolência e prolongamento no tempo. O desejo ardente de posse revela
uma ambição desmesurada e o Free Jazz liberta-se de
preconceitos na cobiça. A riqueza melódica e glamour
transporta-nos para um salão de festas, onde a luxúria
impera. A vaidade convida à futilidade e imodéstia,
traduzida num registo sonoro de inconstância. Num ritmo
mais relaxado e sereno, chega-se às notas da avareza,
marcado por uma série de falsas modéstias. A atracção
irresistível por iguarias finas e sons arrojados toma forma
na gula, que se transforma num crescendo sonoro pleno
de sentimento, cólera e indignação através da ira.
Se o Jazz pecou, este novo testamento é o seu acto de
contrição. • GGC
Sim, Sr. Ministro
Manhattan
Sydney Lotterby
Woody Allen
Prisvideo
LNK
A linha que separa a tragédia da comédia é ténue. Basta
olhar para o universo cinzento e deprimente da política
para percebê-lo. Quem disse, afinal, que uma campanha
mal dirigida ou um enorme défice público não podem dar
origem a um humor sofisticado e cortante? Se dúvidas
restam, veja-se a forma como a BBC conseguiu canalizar
as desventuras-tipo de um ministério britânico para as
caricaturar numa das melhores pérolas da britcom. Lançado 25 anos depois da sua estreia em televisão, numa
caixa com 21 episódios com cerca de uma hora cada,
Sim, Sr. Ministro vive precisamente disso. Da inspiração
que foi beber ao dia-a-dia do movimentado gabinete da
Administração Interna, com um ministro instrumentalizado e um corpo de assessores pouco preocupados em fazer andar o país. De chorar por mais. • FA
Their Law - The Singles
1990-2005
Na ressaca de uma inusitada crise de originalidade, de
certa forma sentenciada pelas direcções dos grandes estúdios, sabe bem olhar para trás e constatar que, por
mais que a realidade insista em contrariá-lo, a esperança
é sempre a última a morrer. Dispondo de um pacote especial com sete clássicos de Woody Allen, é a LNK quem
dá o empurrãozinho à viagem. E vale mesmo a pena
ceder. De preferência, com uma primeira escala na ilhafetiche do realizador para o filme de tributo ao mais nobre palco de toda a sua cinematografia: Manhattan.
Rodada em 1979, em película a preto e branco, esta ode
ao amor fugaz, ao cosmopolitismo e ao espírito das relações modernas não só conta com um elenco de luxo, como sintetiza na perfeição o espírito do cineasta. • FA
Sin City
The Prodigy
Robert Rodriguez
& Frank Miller
XL Recordings / Pop Stock
Buena Vista Home Entertainment
Quem marcou presença no 2.º SBSR, em 1996, jamais
esquecerá o poder dos Prodigy ali testemunhado. Na
altura tinham apenas dois álbuns editados Experience e
Music For The Jilted Generation, e a promessa de um
álbum que demoraria um ano a ser editado pela mão de
Liam Howlett (o cérebro) e dos (pouco mais do que)
dançarinos Maxim, Keith Flint e Leeroy Thornhill, The Fat
Of The Land. Apesar dos regressos em 1997 (Imperial Ao
Vivo) e 2005 (SBSR) serem muito inferiores à estreia, ficou
patente um certo respeito pelos discos anteriores a
Always Outnumbered, Never Outgunned. Em boa hora
surge este DVD, que reúne excertos de concertos e
telediscos inesquecíveis como “Firestarter”, “Breathe”,
“Smack My Bitch Up”, “Poison”, “Voodoo People”,
“Charly” e “No Good (Start The Dance)”. «Fuck'em And
Their Law!» • FP
Na cidade do pecado os heróis são assassinos, a corrupção é a lei e as mulheres são quase todas prostitutas ou
strippers. Violentíssimo, Sin City é a melhor conversão de
comics em cinema alguma vez feita. Com excelente edição e fotografia, Sin City foi filmado a preto e branco, cenários digitais e actores de carne e osso — basta referir
Benicio Del Toro, Bruce Willis e Mickey Rourke. A edição
especial de Sin City em duplo DVD inclui a versão que
vimos em cinema e uma nova, de 147 minutos. Os bónus
incluem comentários áudio do realizador Robert
Rodriguez com Frank Miller e Quentin Tarantino, para
além de uma imensidão de documentários como The
Cars Of Sin City, Making The Monsters: Special Effects
Make-Up, The Costumes Of Sin City ou Convincing Frank
Miller To Make The Film. • FP
www.prodigy.co.uk
http://video.movies.go.com/sincity
Stop Dvd’s 63
2005
Outubro
BD, Cinema, Dança, Design,
Música, Teatro, Video
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19 20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
Festival Pés No Palco . www.marionetasmandragora.com
Experimenta Design . www.experimentadesign.pt
Festival Expresso Oriente . www.culturgest.pt
8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com
7.º Angrajazz . www.angrajazz.com
Festival Para Gente Sentada . www.cm-feira.pt
Dublin Theatre Festival . www.dublintheatrefestival.com
IMAGO - Festival Internacional De Cinema Jovem . www.imagofilmfest.com
Cosmopolis — Festival Internacional De Artes Electrónicas . www.magicmusic.info
Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado
Docúpolis - Festival Internacional Documental De Barcelona . www.docupolis.org
Festival Temps d’Images . www.tempsdimages.org
Festa Do Cinema Francês . www.ifp-lisboa.com
Barreiro Rocks . www.barreirorocks.com
Festival Internacional De Teatro Cómico Da Maia . http://sapp.telepac.pt/teatroartimagem
Sitges 2005 — Festival Internacional Cinema Catalunya . www.cinemasitges.com
8.º Marionetas Na Cidade . www.samarionetas.com
Doclisboa . www.doclisboa.org
SONDA . www.festivalsonda.com/sonda.htm
London Film Festival . www.lff.org.uk
11.º Cine’Eco . www.cineeco.org
FIBDA — Festival Internacional De Banda Desenhada . www.amadorabd.com
Seixal Jazz . http://srvweb.cm-seixal.pt/seixaljazz
Ovarvideo 2005 . www.ovarvideo.com
Festival O Gesto Orelhudo . www.dorfeu.com
12.ª Quinzena De Dança De Almada . www.cdanca-almada.pt
01
02
03
04
05
06
Música . Video
64 Play
07
08
09
10
Dança
11
12
13
14
Teatro
15
16
17
18
19 20
Design
21
22
23
24
Cinema
25
26
27
28
29
Fotografia
30
31
2005
Novembro
BD, Cinema, Dança, Fotografia,
Ilustração, Música, Teatro
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
Ilustrarte 2005 — Bienal De Ilustração Para A Infância . www.ilustrarte.web.pt
Jazz Ao Centro — II Parte . www.jacc.pt
Número Festival . www.numerofestival.com
8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com
Ponto Pequeno — 2.º Encontro Das Marionetas . www.marionetasmandragora.com/encontro
Festival Internacional De Cinema do Funchal . www.funchalfilmfest.com
Cinanima — 29.º Festival Internacional De Cinema De Animação De Espinho . www.cinanima.pt
BAC! Barcelona Arte Contemporáneo . www.lasanta.org
Festival Internacional De Humor De Lisboa . www.ccb.pt
Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado
Fade In Festival . www.fadeinfestival.com
Festival De Jazz De Málaga . www.teatrocervantes.com
Festa Do Cinema Francês . www.ifp-lisboa.com
FIKE — Festival Internacional De Curtas-Metragens De Évora . www.fikeonline.net
Phono’05 . www.cm-lisboa.pt/fonoteca
43.º Festival Internacional De Cine De Gijón . www.gijonfilmfestival.com
Festival Sons Em Trânsito . www.set.com.pt
38.º Rugissants . 38rugissants.com
IDFA — International Documentary Film Festival Amsterdam . www.idfa.nl
London Film Festival . www.lff.org.uk
Cinemad — Festival De cine Independiente Y De Culto . www.cinemad.org
FIBDA — Festival Internacional De Banda Desenhada . www.amadorabd.com
Cairo International Film Festival . www.cairofilmfestival.com
Arona — Festival de Cortometrajes Playa De Las Americas . www.arona.org
Festival O Gesto Orelhudo . www.dorfeu.com
12.ª Quinzena De Dança De Almada . www.cdanca-almada.pt
01
02
03
04
05
06
Pluridisciplinar
07
08
09
10
11
12
BD . Ilustração
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
Internacionais
Play 65
30
2005
Dezembro
Cinema, Design, Fotografia,
Ilustração, Música, Teatro
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19 20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
26
27
28
29
30
31
Ilustrarte 2005 — Bienal De Ilustração Para A Infância . www.ilustrarteweb.pt
Seixal Metalfest 2005 . http://seixalmetalfest.pt.to
8.º Festival Beyond Media 05 . www.beyondmedia.it
8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com
FIDIS — Festival Internacional De Imagem Subacuática . www.videosub.org
Festival Jovem Día De Navarra . www.inoutnavarra.com
KOSMOPOLIS — Fiesta Internacional De La Literatura . www.cccb.org/kosmopolis
BAC! Barcelona Arte Contemporáneo . www.lasanta.org
Barcelona Hayride . www.bcnhayride.com
Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado
MAGMA— European Winter Meeting Tenerife 2005 . www.magmameeting.com
Tirana Iternational Film Festival . www.tiranafilmfest.com
Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano de la Habana . www.habanafilmfestival.com
Purple Weekend . www.purpleweekend.com
Rencontres Trans Musicales . www.lestrans.com
43.º Festival Internacional De Cine De Gijón . www.gijonfilmfestival.com
Festival Sons Em Trânsito . www.set.com.pt
38.º Rugissants . 38rugissants.com
IDFA — International Documentary Film Festival Amsterdam . www.idfa.nl
Lesbian Festival . www.lesbianfestival.nl
Cinemad — Festival De Cine Independiente Y De Culto . www.cinemad.org
Fade In Festival . www.fadeinfestival.com
Cairo International Film Festival . www.cairofilmfestival.com
Arona — Festival De Cortometrajes Playa De Las Americas . www.arona.org
BAF — Bellas Artes Festival . www.sala-apolo.com
Tendencias FMI . www.tendenciasfmi.com
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
Informações para a secção Play devem ser enviadas para [email protected]
66 Play
18
19 20
21
22
23
24
25

Documentos relacionados