Layout 1 (Page 1)
Transcrição
Layout 1 (Page 1)
01 << Rewind Músicas do Mundo Sudoeste Jazz em Agosto Paredes de Coura Maré de Agosto Noites Ritual Rock Avante! FIB outono 2005 trimestral 2 euros (IVA inc.) Forward >> Número Experimenta Design Gay e Lésbico Imago DocLisboa Cinanima Seixal Jazz Sitges Festival Temps d’Images www.festforward.com ISSN: 1646-3056 editorial Uma receita de sucesso Sobrevivemos ao Verão, a apaixonante saison erótico-festiva, onde a maioria preferiu descansar do descanso, espraiando-se na chaise longue, bebendo um daikiri e dançando ao som de um seleccionado tema de Reggaeton, enquanto o país esteve, uma vez mais, em brasa. Aos apreciadores de um bom gourmet, que souberam desfrutar das nossas sugestões culinárias durante a época estival, deixamos o nosso caloroso agradecimento. Foram tão ousados em ler esta publicação quanto nós o fomos em cozinhá-la. O segredo culinário? Muito miolo, pouca massa e demasiados tomates. Para continuarmos a servir pratos com um grafismo de excelência, fotos e textos bem condimentados, optámos por nos afastar dos chourições, marmelos e nabos que minam o caldeirão cultural, valorizando os verdadeiros profissionais. Em muitos casos, a credibilidade de um festival está, à partida, condenada pela ineficiência e falta de pimenta… Trocado por miúdos: a total ausência de planeamento, a médio ou longo prazo, da maioria dos festivais portugueses estorrica os planos a quem quer apresentar um cardápio como este. Quando é que aprendem a fazer as coisas bem feitas com os seus congéneres internacionais? Para os próximos três meses os pratos do dia apresentamse ricos e variados. A especialidade da casa é o Festival Temps d´Images, evento pluridisciplinar que se divide por diversos locais das cidades de Lisboa e Faro. Os novos projectos culturais continuam a polvilhar a agora denominada secção S. Martinho Apresenta e uma rigorosa selecção de festivais terá o seu habitual espaço de antevisão (Forward) e de reportagem (Rewind). Desta feita, o cinema, o teatro, o design e a BD assumem os lugares de destaque no menu, completado por um ponto de escuta e de visão sem espinhas (Stop) e uma agenda trimestral sem caroço (Play). Com a saída desta FEST FORWARD MAGAZINE n.º 1, só prometemos abrandar o lume quando toda a fruta for descascada, a mensagem bem passada e os festivais bem temperados. O prato está servido — sente-se e aprecie. • Fest Regards Director-adjunto Gonçalo Guedes Cardoso [email protected] Editores Ana Serafim [email protected] João Pedro Correia [email protected] Consultor de edição Luís P. Oeiras Fernandes Redactores Cátia Monteiro, Pedro Moreira Colaboram nesta edição Álvaro Áspera, Ana Baptista, Ana Duarte, Ana Isabel José, Ana Vieira, Bruno Ramos (fotografia), Catarina Medina, Filipe Araújo, João Paulo Gomes (fotografia), João Pedro Almeida, José Miguel Soares (fotografia), Jota Assis, Lino Ramos, Luís Bento (fotografia), Luis Santos Batista, Márcio Alfama, Ricardo Lourenço Nunes, Rui A. Cardoso (fotografia), Vitor Pinto Correspondentes Alexandre Nunes de Oliveira (Barcelona), Luís Mateus (Veneza) Design Gráfico e Paginação Filipa Lourenço LDI - Laboratório de Design Imaginativo www.ldi.pt Imagina Design www.imaginadesignlab.com Impressão MX3 Artes Gráficas Rua Alto do Forte, Sintra Comercial Park Fracção Q, n.º 16, Rio de Mouro Registo no ICS n.º 220 710 ISSN 1646-3056 Propriedade AIFPS Periodicidade Trimestral Distribuição AIFPS Contactos Fest Forward Magazine Rua do Cerrado do Zambujeiro, n.º 27, 2.º Frente 2610-036 Amadora Telf. 93 412 30 04 91 852 07 71 Email: [email protected] Internacionais Música Teatro Cinema . Video Dança Design BD . Ilustração Publicidade Telf. 91 908 38 88 [email protected] Pluridisciplinar 04 Director Filipe Pedro [email protected] Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais. Capa: Didon et Énée por Sasha Waltz — Festival Temps d’Images texto: Lino Ramos Director’s Label Pequenos filmes musicais Se pertence àquele grupo de atentos que guarda religiosamente as já defuntas VHS com gravações caseiras dos melhores telediscos que já passaram e ainda passam pela cada vez mais estranha MTV e afins, aqui fica um grande motivo de júbilo — há alguém que anda a fazer-lhe o trabalho de casa e que sabe o que faz. Entra em cena a Palm Pictures, uma editora americana que, à semelhança do que já fez há dois anos atrás com os trabalhos de Chris Cunningham, Michel Gondry e Spike Jonze, vem juntar mais quatro grandes nomes à sua colecção de excepcionais DVDs que apelidou de Director’s Label — são eles Mark Romanek, Jonathan Glazer, Anton Corbijn e Stephane Sednaoui. Seguro sinal dos tempos, é agora quase pré-requisito essencial que qualquer prometedor jovem realizador de longas-metragens tenha já realizado a sua conta de telediscos musicais e anúncios publicitários televisivos. E, como aperitivo, aqui ficam alguns dos títulos a serem incluídos na segunda fornada, com data de saída para este mês de Setembro — de Mark Romanek teremos “Hurt” (Johnny Cash), “Perfect Drug” (NiN), “Devil’s Haircut” (Beck), o director’s cut de “Closer” (mais uma vez dos NiN e é de referir que este videoclip tem a honra de pertencer à colecção permanente do Museum Of Modern Art de Nova Iorque); de Jonathan Glazer veremos os seus telediscos para os Blur (“The Universal”) e UNKLE (“Rabbit In Your Headlights”), entre muitos outros; Anton Corbijn, uma das grandes figuras do panorama visual dos nossos tempos, contribuirá por sua vez com os seus famosos videoclips criados para bandas como U2, Depeche Mode e Mercury Rev; e finalmente, do francês Stephane Sednaoui, dono de um impecável e alucinante sentido gráfico, veremos desfilar pequenas jóias como “Possibly Maybe” (Björk), “Sly” (Massive Attack) e “Give It Away” (Red Hot Chili Peppers), entre muitas outras. Ficou de apetite aguçado? E se lhe disser que a completar este fabuloso pacote serão incluídos documentários, entrevistas e áudio-comentários rematados com um cuidadosamente preparado booklet de 52 páginas para cada DVD? Perfeito, não? Faça um favor a si mesmo e invista num destes DVDs dignos de pertencerem a um arquivo. Garantolhe que passará horas de volta deles. • www.directorslabel.com 06 S. Martinho apresenta texto: Catarina Medina VideoDoc Casa do documentário Inaugurada a 30 de Março deste ano, a VideoDoc — Videoteca do Documentário é o mais recente espaço cinéfilo de Odivelas. A entrada é livre. Doze anos são sinónimo de quantidade, que o diga a VideoDoc, onde mais de três mil cópias de cinema internacional conhecem morada, no Centro Cultural da Malaposta, em Odivelas. Mais de uma década de programação da já extinta Amascultura, que entre Encontros Internacionais De Cinema Documental e o Festival Internacional De Cinema Científico, resultou na VideoDoc, está disponível para ver ou rever nesta nova casa do documentário. «Um espólio valiosíssimo de cinema internacional, composto por peças internacionais únicas» diz Ana Isabel Strindberg, responsável pela área de cinema no Centro Cultural da Malaposta e ex-assistente do realizador João César Monteiro. Inserido no projecto Odivelcultur — Gestão, Produção e Divulgação Cultural, criado em 2002, o VideoDoc objectiva a cultura enquanto resposta educacional e, claro está, de lazer. Aí todos estão convidados a conhecer o resultado do trabalho que contou com a colaboração da Apordoc — Associação pelo Documentário e da Videoteca de Lisboa, sejam grupos escolares, ou até os habituais espectadores da Cinemateca. «Estamos a ter uma excelente adesão e o público que frequenta esta casa é 08 S. Martinho apresenta distinto: jovens realizadores, estudantes universitários e até reformados, mas todos gostam de cinema documental», confirma a também directora da Apordoc. O visionamento pode ser feito de 2.ª a 6.ª das 14h30 às 17h30, enquanto atitude singular, ou, se preferir, pode ir aos pares, ou até mais, mas só com marcação prévia. O processo é simples, pois todos os filmes estão catalogados e é possível fazer uma busca informática por tema, o que permite um acesso fácil a todo o arquivo. Mas não se pense que esta videoteca do documentário se resume a mais de três mil fitas paradas à espera que algum precário bem disposto estado de espírito vá ao seu encontro. «Temos uma forte função pedagógica. Trabalhamos com escolas de Odivelas e da grande Lisboa organizando ciclos temáticos, onde é utilizado o vasto espólio da Malaposta», afirma Ana Isabel Strindberg. A VideoDoc não é mais uma entidade sossegada na sua imobilidade. Pelo contrário, esta casa do documentário desenvolve regularmente ciclos de filmes, debates, estreias e até oficinas de formação de cinema. Como irá acontecer no próximo mês de Novembro, em que terão lugar duas oficinas, uma sobre cinema de animação e outra de realização cinematográfica, ambas de inscrição online. • www.odivelcultur.com texto: Gonçalo Guedes Cardoso ilustração: Claúdia Guerreiro The Scope, Oioai e Linda Martini Os novos heróis do Rock alfacinha Coloque no mesmo armário onde mantém os esqueletos toda a música que ouviu até ao momento. Limpe o pó das prateleiras e prepare-as para o que vem a seguir. Sugiro-lhe uma viagem por novas sonoridades nascidas em Lisboa, cidade dinâmica e criativa, onde coabitam três representantes de um Rock que se avizinha, cativante e promissor. The Scope • Envoltos em nevoeiro, vislumbramos os Scope. Saídos de um universo sem datas, nomes, locais e influências, estes quatro guerreiros lutam pela supremacia de um Indie Rock mais Rock do que Indie. As armas sonoras escolhidas? A classe, um descontentamento sem ser fatalista e alguma agressividade, mas com toques delicados. A conquista prevê-se fácil, sem jogos sujos ou truques de magia. O requinte na composição, a mestria instrumental, a postura calculista e realista do terreno de batalha e um amplo trabalho de campo, faz deles grandes estrategas e perfeitos visionários. Comunicam em inglês e a sua determinação está a nu em “Second Nature”, o primeiro single, produzido em 2005 pelo grupo. www.welcometothescope.biz Oioai • Românticos por natureza, os fadistas do Rock, trazem um tom descomplexado e poético ao cancioneiro musical de uma cidade adormecida na 10 S. Martinho apresenta esquina da Europa. Foi nas vielas descalças e boémias do Cais do Sodré que durante vários meses conquistaram o coração de admiradoras capazes de sentir prazer na força sublime da Língua Portuguesa. Corajosos, libertários e irreverentes, transmitem paixão no poder da palavra de Pedro Puppe, nas armas em punho de João Neto e Dodi (Toranja) e no bater do coração de Fred (Yellow W Van). Admiram os espaços pequenos, onde são recebidos com afecto, mas desejam partir para maiores voos, onde o destino seja menos fatalista. O visto talvez lhes seja concedido mais cedo do que muitos prevêem. [email protected] Linda Martini • Músculo, tensão, pulsação, suor e cérebro. Nasceram da experimentação laboratorial, motivados pela necessidade de modificar o código genético do Indie Rock Português. No seu balão de ensaio, estes cinco cientistas misturaram rasgos de guitarras, um flow em estado de graça e uma dinâmica instrumental dopante sem contra indicações de maior. O resultado está disponível em cápsulas para administração por via auditiva, contendo 100 mg de energia para o corpo. A dose diária recomendada inclui “Este Mar” e “Amor Combate”. A fórmula completa será revelada, através do novo laboratório farmacêutico (Naked), em Abril de 2006. A overdose é permitida. www.lindamartini.tk • texto: João Pedro Correia Revista Jazz.pt Jazz disponível nas bancas Está para breve o terceiro número da Jazz.pt, a nova revista portuguesa sobre Jazz. De periodicidade bimestral, com um preço de capa de cinco euros, a Jazz.pt faz a viagem sobre o que acontece dentro e fora de portas, além de incluir uma rubrica de crítica a discos. A revista chega de norte a sul do país mediante uma selecta rede de distribuição. Propriedade do Jazz Ao Centro Clube (JACC), a Jazz.pt construiu-se após a suspensão da revista All Jazz — que não se edita há cerca de um ano —, sendo alguns dos seus colaboradores os mesmos que integravam aquela publicação. «Vamos lutar para não cometer os mesmos erros do passado mas aprender com eles», escreveu Pedro Costa no primeiro editorial, referindo que «as experiências anteriores foram batedoras eficazes» num terreno em que «existem pessoas interessadas em saber mais sobre o Jazz». Pedro Rocha Santos, director da Jazz.pt e presidente do JACC, revelou à FEST que a publicação está a deparar-se com dificuldades no seu financiamento, nomeadamente na captação de investimento publicitário. Isso explica as páginas de falsa publicidade, convites a anunciantes em forma de provocação, que têm sido publicadas na revista. Iniciativa realmente interessante e peculiar, no número um da Jazz.pt podia encontrar-se uma página com um risco em forma de sorriso e os dizeres «esta revista tem boa energia», escritos com um tipo de letra semelhante ao da empresa alvo: a EDP. Já no número dois podia lerse que «esta página é um convite e como tal encontrase reservada para uma das instituições bancárias que, para além da excelência nos serviços prestados aos seus clientes, tem também uma grande responsabilidade social», frase que destacava, com cor diferente, as letras que formam as siglas BES e CGD. No fundo, até ao momento, a Jazz.pt existe devido à «vontade de muita gente em fazer a revista e ao prazer que isso dá», confessou o director, que disse também não poder pagar a nenhum dos colaboradores. Uma dessas vontades parte da loja lisboeta especializada em Jazz, a Trem Azul, que anuncia na revista e a apoia desde o início. «Esperamos, sinceramente, que no número quatro tenhamos já algumas receitas», concluiu Pedro Rocha Santos. Com uma tiragem de três mil exemplares, a Jazz.pt está disponível na cadeia de lojas Fnac, nas Livraria Almedina espalhadas pelo país, além de outras livrarias e lojas de discos. • www.jacc.pt 12 S. Martinho apresenta texto: Ana Duarte Festival Temps D’Images 2005 É tempo de imaginar Lisboa e Faro 6 a 29 Out | www.tempsdimages-portugal.com O Festival Temps D’Images conta este ano com a sua quarta edição e promete ocupar Lisboa e Faro durante o mês de Outubro, com um programa diversificado e aliciante. Criado em 2002 pelo Canal ARTE, Ferme du Boisson e Scène Nationale Marne-la-Vallée, o Festival Temps D’Images é uma iniciativa que se propõe a divulgar espectáculos e artistas, mantendo sempre ligações entre artes cénicas e a arte da imagem. Tendo como objectivo central o incentivo aos encontros artísticos e à divulgação cultural, é hoje uma verdadeira rede europeia de circulação de obras e de experiências na esfera das artes. Entre os parceiros de diversos países europeus, Portugal vem participando há já três anos nesta iniciativa, cuja edição de 2005 terá lugar em duas cidades: de 6 Out (5.ª) a 16 (dom) em Lisboa, e de 15 (sáb) a 29 (sáb) do mesmo mês em Faro. O festival é uma co-produção do Centro Cultural de Belém (CCB), da Duplacena (Lisboa) e DeVir/CAPA (Faro). Entretanto e até 11 Dez (Dom), o Temps D’Images desdobra-se 14 Forward Pluridisciplinar pela Europa. A abertura do Festival, em Lisboa, dar-se-á com a exposição de William Kentridge, constituída por filmes e instalações. A obra de Kentridge oferece uma visão histórica da África do Sul e do legado do Apartheid. O trabalho do autor, conhecido pelas suas curtas-metragens realizadas a partir de desenhos a carvão, estará patente no Museu do Chiado de 6 Out (5.ª) a 31 Dez (sáb), naquilo que é uma estreia em solo português. No Teatro Nacional Dona Maria II, entre os dias 7 Out (6.ª) e 16 (dom), serão apresentadas as peças Respirações De Inês (no Salão Nobre) e Senso (na Sala Estúdio). Respirações De Inês é uma exploração estética baseada num tema histórico-literário. A peça conta com as interpretações de Eurico Lopes e Maria Emília Correia, que assina também a adaptação e encenação. Senso é antes um retrato de sociedade, a partir de uma novela de Boito, publicada em 1883 e considerada a obra mais importante do autor, que deu origem ao filme de Luchino Visconti. Carlos Pimenta parte do texto original e da película do italiano para encenar Senso, peça que conta com a interpretação de Mónica Calle. Na esfera da dança acontecerão várias performances durante o festival. No CCB destaca-se Metamorphis (de 8 Out [sáb] a 11 [3.ª], na Sala de Ensaio), um espectáculo dirigido por Alberto Lopes, em que é abordado o tema da transformação. Katafalk também se anuncia como uma boa escolha. O corpo real e as imagens projectadas mantêm uma relação estreita, tornando o espectáculo intenso. Será apresentado em ciclos de oito sessões de meia hora, cada uma para 80 espectadores, completando assim uma performance contínua de duas horas (apresentações a 8 Out [sáb] e 9 [dom]). Este espectáculo é apresentado por uma companhia belga e concebido por Nicole Mossoux. Na área da música destaca-se o concerto do trompetista norueguês Nils Petter Molvaer, que se movimenta na nova concepção do Jazz e que apresentará um espectáculo único, no dia 11 (3.ª), no Grande Auditório do CCB. O músico e sua banda partilharão o palco com Jan Martin Leager, que se deixará conduzir por uma linha de improvisação na construção da imagem. Descentralização cultural Em destaque na área do vídeo e com estreia mundial, será possível ver a projecção de Margem Atlântica, de Ariel de Bigault, na Sala Polivalente do CCB. Posteriormente, espera-se um ciclo de várias projecções, entre as quais Didon e Énée, com filme e coreografia de Sasha Waltz; Wolf, de Alain Platel; Geórgia, Le coeur volé, de Stephanie Thiersch; e Frankfurt Dance Cuts, de Lutz Gregor, um filme que apresenta coreografias de Prue Lang, entre outros. Mais direccionado para o público infanto-juvenil, será apresentado o espectáculo Bistouri, uma peça de teatro de marionetas pelo Tof/Théâtre, com encenação de Alain Moreau (Praça do Museu do CCB, 11 Out [3.ª] a 16 [dom]). Destinado a crianças maiores de oito anos, este espectáculo conta a história de Léon e Willy, duas marionetas reformadas, que voltam à profissão de cirurgião para operar a barriga de um doente, onde vão descobrir características humanas jamais exploradas. Uma iniciativa que não deixará ninguém indiferente será Sand Table, uma peça do puzzle Highway 101, um projecto de Meg Stuart e Damaged Gods. Sand Table é uma instalação viva, que passou pela Fundação de Serralves em Maio passado. Em Faro, cidade capital nacional da cultura no presente ano, serão repostos alguns espectáculos, entre os quais Sonho de Verão, a primeira criação de João Botelho para o palco, acessível no CAPA — Centro de Artes Performativas do Algarve. O desafio de colaborar com o Temps D’Images foi aceite pelo realizador, que este ano esteve no Festival de Veneza, e o resultado espera-se surpreendente. A peça conta com o desempenho de Suzana Borges. Este festival destaca-se pela sua diversidade. Os artistas exploram o espaço teatral, relacionam-se com os espectadores, reflectem e reflectem-se em projecções, projectam-se em imagens e ideias. Os bilhetes para os espectáculos custam entre três e 30 euros. O Temps D’Images O festival prolonga-se por vários países, como França, Portugal, Hungria, Bélgica, Itália e Alemanha, bem como em três dos mais recentes membros da UE, a Polónia, Letónia e Estónia. O núcleo que hoje torna possível um evento desta dimensão e pretensão é constituído por várias estruturas, como a francesa La Ferme du Buisson, a portuguesa Duplacena, a húngara Le Trafo, a belga Les Halles de Schaerbeek, o Festival Romaeuropa, a alemã Tanzhaus NRW, a polaca Zamek Ujazdowski, o New Theatre Institute Of Latvia, o Theater n.º 99, e o canal cultural ARTE. • ~ Programacao , para faro: CAPA – Centro de Artes Performativas do Algarve 15 Out (sáb) a 29 (sáb) Atlas, o antes de llegar a Barataria MAL PELO 15 Out (sáb), às 21h Senso, de Camillo Boito Carlos Pimenta, Luciana Fina, Mónica Calle 21 Out (6.ª) e 22 (sáb), às 21h Sonho de Verão João Botelho, com Suzana Borges 28 Out (6.ª) e 29 (sáb), 21h Bistouri, Tof Théâtre 19 Out (4.ª) a 22 (sáb), local e horário a anunciar Ciclo ARTE 15 Out (sáb) a 29 Out (sáb) Forward Pluridisciplinar 15 . texto: Ana Serafim 2.º Festival SONDA Perscrutar novas linguagens Caldas da Rainha 15 a 29 Out | www.festivalsonda.com/sonda.htm Outubro explora os contornos da produção artística nacional. As Caldas da Rainha recebem a segunda edição do SONDA, a propor a intersecção entre a música, o vídeo, a dança, o cinema, as artes plásticas e o design. Em 2004 o SONDA apresentou arrojadas propostas num programa pluridisciplinar, que contou com as participações de variados nomes, entre os quais Tânia Carvalho, Mónica Calle e a dupla Bullet/António Jorge Gonçalves. Foi possível ver, também, uma mostra dos filmes premiados no IndieLisboa, o lançamento do Prémio Nacional de Cerâmica Decorativa Frazarte, concertos, exposições e outras festas. Depois do sucesso de 2004, começa, a 15 Out (5.ª), a segunda edição do SONDA, que segue na linha de uma programação pluridisciplinar que abordará variadas linguagens artísticas, sob a perspectiva de definir um discurso construtor de uma identidade cultural. A programação dividir-se-á entre o cartaz principal, o SONDA, vocacionado para a mostra de projectos de produção nacional, e os Estaminais, projecto que apresentará, pela mão de estudantes da ESAD (Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha), performance, instalação, pintura e arte pública em vários locais determinados pelo seu uso e história, e determinantes para a fisionomia da própria cidade. No programa deste ano destacam-se os trabalhos de três criadores nacionais, Patrícia Portela, Filipe Viegas e Sérgio Cruz, bem como a retrospectiva de pintura de João Fonte Santa. • texto: Ana Baptista 6.º Número Festival — Festival Internacional De Multimédia, Filmes E Música Festival cerebral Lisboa 4 a 13 Nov | www.numerofestival.pt O Número é um festival que serve de ponto de encontro de experiências alternativas no panorama nacional e internacional, com música selecta a acompanhar. Jogos Neurológicos é o tema da edição deste ano. De momento estão agendadas as entregas do Prémio Multimédia, atribuído pelo ICAM, e do Prémio Alcatel Alarga A Tua Vida, para além das iniciativas criadas na edição de 2004 — o evento Games 4 Real II e um painel de conferências internacionais subordinadas ao tema Gazing At… Lisbon´s Cityscape. O lançamento da nova N_Número Magazine_Portugal será outro dos pontos altos de um evento que deverá contar com inúmeros concertos. Noutros anos passaram por lá artistas como Fischerspooner, Animal Colective, Pan Sonic, Aphex Twin, Chicks 16 Forward Pluridisciplinar On Speed, Bullet, Micro Audio Waves ou Loosers. Ciclos de cinema e vídeo experimental, apresentações de trabalhos e instalações serão outras apostas — como é, de resto, habitual — da organização. Esta será a sexta edição de um evento que arrancou em 2000 numa maratona de concertos e apresentações que durou 20 dias. O sucesso da primeira edição levou a que se criasse uma editora discográfica — a N_records — responsável pelo lançamento de No Waves, segundo álbum dos portugueses Micro Audio Waves; e uma editora de livros, a N_books. Em seis anos, o Número tornou-se uma referência nos eventos de época baixa a nível nacional e internacional — são as artes alternativas a tomar conta do Outono. Fiquem atentos, em breve já se saberá tudo o que é preciso. • texto: Ana Vieira Ilustrarte 2005 — Bienal Internacional De Ilustração Para A Infância Lugar às crianças Auditório Municipal Augusto Cabrita — Barreiro 1 Nov a 31 Dez | www.ilustrarte.web.pt Quando se é pequeno há sempre aquele livro que tem aqueles desenhos dos quais nos lembramos ainda hoje. São figuras que nos chamam a atenção, que se olham e tornam a olhar, se tocam com a mão pequena e suja de comida, e que mais tarde revisitamos com olhar de adulto. A Ver Pra Ler — associação para a ilustração de livros para a infância — compreende o poder mágico das imagens nos livros que se lêem quando somos pequenos e entende a ilustração de livros para crianças como uma forma de arte, uma conjugação de belas histórias com belos desenhos que nos transportam para o reino do delicioso. Formada em 2003 por Ju Godinho e Eduardo Filipe, mantém uma programação regular de exposições de originais de ilustração dos melhores autores portugueses e estrangeiros. O Ilustrarte é um encontro no Barreiro, de dois em dois anos, de ilustradores de livros para a infância, originais de ilustração, editores, coleccionadores e leitores, qualquer que seja a sua idade. É organizado pela Ver Pra Ler com o apoio da Câmara Municipal do Barreiro, sendo composto por um concurso — oportunidade para ilustradores nacionais e estrangeiros principiantes ou consagrados participarem nesta iniciativa, enviando três trabalhos originais, inéditos ou publicados há menos de um ano de modo a serem apreciados por um júri composto por importantes personalidades da arte e da ilustração nacional e mundial (as inscrições terminaram a 30 Jun) —, uma exposição dos trabalhos seleccionados e um catálogo de grande qualidade, registo e memória da bienal. Este ano o artista plástico João Vaz de Carvalho é o vencedor da segunda edição da Ilustrarte. O júri atribui ainda duas menções especiais à belga Isabelle Vandenabeele e ao português André Letria. A qualidade, inovação da técnica e composição plástica escolhida levaram o júri a atribuir o primeiro prémio a João Vaz de Carvalho. Concorreram 930 artistas oriundos de 50 países, tendo inicialmente sido seleccionados 50 ilustradores de 15 países diferentes (entre eles os portugueses Gémeo Luís e José Manuel Saraiva). São estes os trabalhos presentes na Ilustrarte 2005 de 1 Nov (3.ª) a 31 Dez (sáb). • Forward Ilustração 17 . texto: Álvaro Áspera e Luís P. Oeiras Fernandes Entrevista a Ricardo Ferrand O verdadeiro humor de Ricardo Ferrand 18 Rec BD foto: José Miguel Soares Durante o dia, é desenhador de uma marca de roupa. Ao cair da noite, este jovem multifacetado de 32 anos transfigura-se e faz banda desenhada. Por este duplo licenciado (em Engenharia do Ambiente e em Design Gráfico) ficamos a saber tudo sobre o verdadeiro papel histórico do obscuro Zé do Pipo e que Cristo (ou Jota Cristo), na realidade, vive em Lisboa. Personagem simpática e descontraída, que é impossível não tratar por tu, ele é o autor em destaque no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora de 2005 (FIBDA). Que imagem estás a pensar dar ao FIBDA deste ano? A imagem que estou a criar vem na sequência de um pedido, é quase uma ilustração editorial. Tive de seguir a linha do FIBDA deste ano, que é o sonho. O ponto de partida, de acordo com as directivas deste ano, é um cartaz que tenha uma cama a voar. Neste momento ainda estamos num processo de desenhos, de esboços e de troca de imagens e ideias, até chegarmos ao ponto ideal. Muitos dos teus trabalhos, como A Verdadeira História De Portugal, fazem uma relação constante entre o tempo histórico e o tempo actual. Porquê? Acho que a Verdadeira História De Portugal é um pouco o contrário de A Verdadeira História De Jota Cristo. O Jota Cristo baseia-se numa história antiga mas que transporto para os tempos de hoje. Ou seja, os elementos do cenário e do ambiente são dos nossos dias. Jota Cristo vive na Lisboa actual e, no entanto, a narrativa que é contada é a narrativa de há dois mil anos. A Verdadeira História De Portugal também se passa antigamente e o cenário da história é o antigo, mas as acções, as falas e até mesmo, a nível visual, alguns ícones que vão aparecendo, já são coisas actuais. E é essa transposição que tem piada e que é o absurdo da questão. O teu humor tem sempre um lado crítico muito forte... Tem. Esse é o meio que achei mais próprio para fazer a ponte entre o tempo dos acontecimentos históricos e a realidade. É um pouco a influência do Goscinny, tanto de Asterix como de Iznogoud, que têm muitas referências à época em que foram feitos. Referências da sociedade, da política, dos países por onde as personagens passam. Tudo isso é uma maneira de mostrar os acontecimentos históricos de tal forma que possam ser encarados com um sorriso. Muito do humor funciona disso, de desconstruir as coisas, colocando-as numa situação ridícula ou de pu- ros anacronismos, como as placas da GNR na Verdadeira História De Portugal. O ponto de partida da Verdadeira História De Portugal foi brincar com a maneira de ser do português. Já me perguntaram por que não a mostro a editoras estrangeiras. Mas acho que as pessoas lá de fora não iriam entender as piadas. É preciso conhecer a maneira de ser do português, ter sido mandado parar pela GNR, conhecer a função pública. Quando fazes BD tens a intenção de ser pedagógico? Ou só te preocupas com a vertente humorística? É mais o segundo caso. A pedagogia nunca foi a intenção. No entanto, elas acabam por ser pedagógicas. Notei isso sobretudo nas feiras do livro que visitava. Metade das pessoas que me vinham pedir para fazer um desenho eram miúdos, na casa dos 10, 13 anos. Muitos deles estavam a começar a ter contacto com a História de Portugal na escola e reconheciam os episódios. Os pais vinham-me dizer que aquilo tinha sido muito engraçado e importante porque os miúdos conseguiam aprender os acontecimentos, mas de uma maneira não tradicional. Nunca foi minha intenção dizer que foi o Zé do Pipo o responsável pela conquista de Santarém porque abriu a porta sem querer. Acho que os miúdos já têm maturidade intelectual suficiente para distinguir o que é uma brincadeira e o que não é. Esse humor do absurdo nasce de que leituras, de que referências? O meu gosto em BD é bastante vasto, mas situase sobretudo na tradição franco-belga. Os meus autores de referência, em termos de argumento de BD humorística, são o Greg e o Goscinny. Foram dois autores que me marcaram muito. Era o que lia em pequeno, eram essas histórias que na revista Tintin me chamavam mais a atenção e que ia sempre procurar. Na parte mais adulta, se se quiser chamar assim, não há dúvida de que me marcaram autores como Giraud e mais antigos, como o Edgar Pierre Jacobs. Em termos de argumentos, Jacobs marcou-me bastante porque eram obras bem feitas e que continuam actuais. Foi um autor que comecei a ler um pouco mais tarde (porque não é um miúdo de dez anos que lê Blake & Mortimer). Noutra esfera completamente diferente, o Hugo Pratt, toda aquela poesia, especialmente os livros a preto e branco, que acho fantásticos. Corto Maltese é uma referência. Quase todos eles na linha europeia de BD, na linha franco-belga. Tenho a BD europeia muito mais presente do que a norte-americana ou a japonesa. Confesso que nunca tive grande Rec BD 19 . apetência para o lado dos super-heróis. Identificas-te com o humor que se faz em Portugal? O humor português que se faz, do Herman José, dos Malucos Do Riso, é para a maioria. É um humor fácil, de piadinha, baseado nas anedotas, com um bocadinho de picante que é sempre muito bem aceite. Essas não são as minhas referências. Gosto principalmente do que vem do Reino Unido, tanto dos Monty Python como do Blackadder. Este último é uma grande referência, porque, tal como na Verdadeira História De Portugal, as épocas vão passando e as personagens mantêm-se. Mas é muito difícil fazer humor em Portugal, no dia a dia. Chego à Segurança Social, dizem-me que houve um erro e que devo duzentos contos. E eu digo: «A sério? Só? Isso é pouco, não posso pagar mais?». A pessoa que está no outro lado leva isso a sério... Uma pessoa que até admiro, em termos de humor, é o sr. Pinto da Costa, que consegue jogar muito bem com a ironia. É algo a que os portugueses não estão habituados e que funciona muito bem para desconstruir as coisas. Concordas que o teu humor também tem muito a ver com os Gato Fedorento? Talvez. Como vivi na Irlanda conheço mal. Gostaria de conhecê-los melhor. Vejo isso de outra maneira: os Gato Fedorento têm as mesmas referências que eu. Os Monty Python, por exemplo. Mesmo em termos físicos há imensas semelhanças entre eles. E quanto a autores portugueses? Quais os autores actuais teus preferidos? Em termos de influências, confesso que não ligava muito à BD que era feita em Portugal, as minhas referências são mesmo estrangeiras. No entanto, na sequência da revista Tintin foi determinante, sem dúvida, ler Fernando Relvas, que tive o gosto de conhecer pessoalmente na livraria Dr. Kartoon. Gostava muito do Espião Acácio, que julgo ser um dos melhores trabalhos feitos em Portugal e que inclusivamente foi publicado em revistas estrangeiras. Gosto muito dos trabalhos do José Carlos Fernandes e do Miguel Rocha. Do João Fazenda também, embora tenha pena que ele tenha passado mais para a área da ilustração. Como surgiu a ideia de fazer Que Grande Trabalheira, uma BD sem textos? Vem na sequência da maneira como encaro a BD: se puder dizer algo por imagens, não preciso de ter o 20 Rec BD texto. O que não quero nunca transmitir é uma coisa óbvia. Era uma ideia que já tinha desde há bastante tempo, chegar ao ponto extremo de fazer BD sem ser necessário o texto. Nesse aspecto, outra influência é o cinema mudo de Buster Keaton. Pela expressão dele, por todo o seu universo, que era muito mais absurdo do que o de Charles Chaplin. Mais recentemente temos o Mr. Bean, que nos primeiros episódios nem sequer dizia nada. Achava engraçado como ele conseguia transmitir ideias só pelas acções, pelas maneiras desengonçadas, pelo olhar, pela expressão. Daí ter surgido a BD Que Grande Trabalheira, publicada em 2003. Em que projectos estás a trabalhar actualmente? Durante o FIBDA deste ano sairá um novo livro sem texto, cuja personagem é um coelho. A personagem principal de Que Grande Trabalheira era uma galinha e era claramente dirigido a um público infantil. Este coelho já é mais direccionado para um público um pouco mais adulto Entretanto, não estou a trabalhar em nenhum projecto a tempo inteiro É algo que me está a criar um bocado de formigueiro na cabeça, porque tenho necessidade de criar coisas novas. Gostava de continuar a Verdadeira História De Portugal. A aceitação foi muito boa e tanto da minha parte como da editora há vontade de continuar. É difícil editar BD em Portugal? Tem sido difícil para ti? Relativamente. Tive uma sorte que a maioria dos autores não tem e que foi uma editora, a Witloof, ter apostado em mim desde o início. Primeiro, colaborei na revista da livraria Dr. Kartoon [ligada à Witloof], em que tinha A Lenda do Cavaleiro Guilhão. Era uma história em sequência, publicavam-se duas páginas em cada mês. Depois, editaram A Verdadeira História De Jota Cristo, O Homem Que Não Parava De Urinar, e A Criança Que Tinha Cem Anos. Também fizeste uma edição de autor, O Rei E O Louco. Sim, porque não perdi grande tempo à procura de editora. Foi um processo muito rápido. A ideia original era fazer umas tiras para apresentar a jornais, para fazer cartoons satíricos, políticos. As personagens são sempre um rei e um louco, o que muda é onde eles estão, que é ou no mar, ou numa ilha, ou a jogarem um jogo, enfim, nas mais variadas situações. São tão contraditórios que há sempre motivo para discussões e diálogos. O Rei representa a racionalidade e a rigidez da sociedade. Porém, o seu único súbdito é um louco. Não obedece a regras nenhumas, tem a sua lógica própria, está-se a borrifar para que o outro seja rei. As personagens são tão ricas naquilo que podem contar que surgiram as histórias e as quadras. Esta BD era muito pessoal e tinha de estar num formato pequeno, um formato quadrado. Queria fazer uma coisa muito minha e não queria interferências de nenhuma editora. Então assumi o carácter alternativo e resolvi fazer a edição de autor e pôr à venda no FIBDA 2003. Correu bem? Tão bem que esgotou logo. A edição era muito limitada, só 30 exemplares. Tenho uma lista de espera já de umas dez pessoas. Acho que sim. Já tive alguns contactos para isso. Ouves música enquanto desenhas? Oiço sempre. Tanto gosto do Rock dos anos 60 e 70 como de música alternativa, mais dos nossos dias. Não sei se ainda é alternativo, mas sempre gostei muito do Nick Cave. Os Suede quando aparecerem, no primeiro e segundo disco, eram muito bons, depois, creio que decaíram muito. Da mesma maneira, também oiço Bob Dylan e Jefferson Airplane dos anos 60. Em que festival de música gostarias de encontrar alguém a ler um livro teu? No Live 8 [risos]. Se alguém estivesse a ler o meu livro e fosse apanhado por uma câmara de televisão era bestial! [risos]. Vamos ver esse livro editado no mercado? texto: Luís P. Oeiras Fernandes Festival Internacional De Banda Desenhada Da Amadora Os pastéis da Amadora Amadora 21 Out a 6 Nov | www.amadorabd.com Se os pastéis são mesmo é em Belém e os livros em Frankfurt, por cá, a banda desenhada é na Amadora. No cartaz da 16.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA) pode ver-se uma cama voadora. Não é para menos: o tema deste ano é o sonho. A imagem é de Ricardo Ferrand, jovem desenhador que é, este ano, o autor em destaque (ver entrevista). Outra aposta desta edição é o já consagrado José Carlos Fernandes. Vencedor de inúmeros prémios em Portugal e alguns no estrangeiro, este é o autor da série A Pior Banda Do Mundo. Um grupo de amigos que todos os dias, desde há trinta anos, ensaia numa cave e dá liberdade à sua completa falta de talento e de ouvido musical, é a desculpa para conhecer algumas das mais sugestivas personagens da nossa BD. Desde clientes de um hotel que reclamam por terem tido sonhos de outros hóspedes durante a noite, até gente que acorda cansada por passar a noite a sonhar que tem insónias, há de tudo em A Grande Enciclopédia Do Conhecimento Obsoleto, quarto volume desta série. Na ordem do dia estará a comemoração dos cem anos de Little Nemo In Slumberland de Winsor McCay (que também assinou obras como Silas). Esta BD, publicada no New York Herald (hoje, Herald Tribune) entre 1905 e 1911, cujos episódios terminam sempre quando o pequeno Nemo acorda, é considerada um dos mais importantes marcos na História dos quadradinhos. Haverá ainda espaço para revisitar Neil Gaiman e a sua personagem, Sandman. O festival estará na estação de Metro Amadora Este entre 21 Out (6.ª) e 6 Nov (dom). O programa detalhado só será divulgado após o nosso fecho de edição, mas, com estas referências, de certeza que vale a pena dar um pulinho a Belém, quer dizer, à Amadora. • Forward BD 21 . texto: Ricardo Lourenço Nunes ExperimentaDesign 2005 O design ocupa Lisboa Lisboa 15 Set a 30 Out | www.experimentadesign.pt Com o objectivo de atrair milhares de visitantes, a quarta edição da ExperimentaDesign — Bienal de Lisboa decorre de 15 Set (5.ª) a 30 Out (dom), apresentando um programa multidisciplinar. Iniciada em 1999, esta bienal internacional concentra-se nas áreas da criatividade, experimentação e metodologia de projecto, tendo por base a disciplina do design. Promovendo a indústria e os criadores portugueses, a ExperimentaDesign (EXD) tem sido também um invulgar e bem sucedido espaço de apresentação e reflexão sobre os caminhos da produção cultural internacional. Conforme refere a organização, a principal diferença da EXD relativamente a eventos semelhantes na Europa «reside no facto de esta se estabelecer como evento de carácter experimental e não comercial», o que tem permitido que, desde a sua primeira edição, se concentre no âmbito do pensamento teórico e na elaboração de projectos inéditos, levando assim a um crescente interesse e impacto nacional e internacional. Depois de Intersecções do e no Design, em 1999, Modus Operandi, em 2001, e Para além do Consumo, em 2003, o tema para a edição de 2005 é O Meio é a Matéria. Fechando um ciclo, o tema para este ano foca os objectivos, as metodologias e os intervenientes presentes nos meios de comunicação e nos objectos comunicativos. Exposições, conferências, ciclos e debates promovem a reflexão sobre os meios e as matérias de comunicação e percepção, no intervalo entre o criador e o consumidor. 22 Forward Design Na semana inaugural concentra-se o programa de apresentações e inaugurações dos eventos, assim como a realização dos debates e conferências. Distribuída por vários espaços na cidade, a EXD dispõe ainda de um programa de visitas guiadas às exposições, um centro de informação permanente onde se pode obter informações e materiais específicos sobre todos os eventos e os seus protagonistas, bem como um espaço de encontro e convívio entre o público e os intervenientes, denominado Lounging Space. As exposições My World, New Crafts — Artesanato e autonomia no design contemporâneo pretende demonstrar a crescente união entre o artesanato e o design no início deste século. Esta exposição reúne trabalhos de Espanha, Suécia, Reino Unido e Portugal, decorrendo entre 18 Set (dom) e 30 Out (dom) na Estufa Fria. No Centro Cultural de Belém, de 16 Set (6.ª) a 27 Nov (dom), Catalysts! — O design de comunicação enquanto força cultural apresenta a importância do design de comunicação na expressão visual quotidiana, a sua relevância enquanto veículo de transmissão e ou propagação cultural, bem como o seu contributo para o carácter da sociedade e cultura contemporânea. Decorre entre 17 Set (sáb) e 30 Out (dom), no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, a exposição S*Cool Ibérica — Design de Portugal e Espanha. Tendo por base uma oficina sobre o tema O Meio é a Matéria, onde participaram 13 escolas portuguesas e A ExperimentaDesign espalha-se por sete locais diferentes. Saiba qual a melhor maneira de lá chegar, sem conduzir. Porque o petróleo está caro. E porque se utilizar os transportes públicos tem tempo para ler a FEST FORWARD MAGAZINE. Centro Cultural de Belém Praça do Império Autocarro: 14, 27, 28, 29, 43, 49, 51, 73 e 112 Eléctrico: 15 e 17 Cordoaria Nacional Avenida da Índia Autocarro: 14, 27, 28, 43, 49, 51 e 112 Eléctrico: 15 Culturgest Rua do Arco do Cego Autocarro: 1, 21, 27, 32, 36, 38, 44, 45, 47, 49, 56, 83, 90, 91 e 108 Metro: estação Campo Pequeno Estação do Rossio Praça D. João da Câmara Autocarro: 2, 9, 11, 32, 36, 39, 44, 46, 59, 90, 91, 205 e 207 Metro: estações Rossio e Restauradores Estufa Fria Parque Eduardo VII, Praça Marquês de Pombal Autocarro: 1, 2, 12, 18, 20, 31, 38, 41, 42, 46, 49 Metro: estações Marquês de Pombal, Parque e S. Sebastião Palácio de Santa Catarina Rua de Santa Catarina, n.º 1 Autocarro: 15 e 100 Eléctrico: 28 Elevador da Bica (à Calçada da Bica de Duarte Belo) Metro: estação Baixa-Chiado espanholas, a exposição apresenta uma selecção de 20 projectos, trabalhos gráficos e protótipos. A Casa Portuguesa — Novos conceitos para habitações locais expõe a reflexão de 12 ateliers de arquitectura nacionais sobre o espaço habitacional e doméstico contemporâneo. Com recurso a materiais reciclados e novas tecnologias, foram projectadas habitações, tendo em vista o desenvolvimento sustentável e as necessidades da vida contemporânea. Esta exposição decorre entre 17 Set (sáb) e 30 Out (dom) no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional. De 19 Set (2.ª) a 30 Out (dom), na estação do Rossio, [P] apresenta uma síntese do design industrial e do design de comunicação português. Mais de cem criadores nacionais demonstram as suas mais recentes reflexões e o porquê do crescente reconhecimento internacional. Outros eventos Previstas para 15 Set (5.ª), 16 (6.ª) e 17 (sáb), com o objectivo de estimular um debate aberto e informal, as Open Talks pretendem apresentar uma abordagem pluridisciplinar dos temas desta bienal. No Palácio Pombal, protagonistas nacionais e internacionais abordam os panoramas culturais que dominam disciplinas como o design de comunicação, o design industrial, a arquitectura ou o urbanismo. Durante os mesmos dias, no Centro Cultural de Belém, as Conferências de Lisboa pretendem ser um espaço de discussão e reflexão internacional sobre os Palácio Pombal Rua do Alecrim, n.º 70 Autocarro: 100 e 58 Metro: estação Baixa-Chiado cenários contemporâneos do design e das várias disciplinas focadas nesta bienal, contando com a presença de figuras como Philippe Starck, Massimiliano Fuksas, Stefan Sagmaister ou Eduardo Souto de Moura, entre outros. Na Culturgest, entre 24 Set (sáb) e 27 (3.ª), o ciclo de cinema intitulado Designmatography IV exibe obras dos cineastas Morgan Fisher, Bruce Conner, Thom Andersen e Owen Land sob o tema da bienal, onde é focado o cinema como disciplina de comunicação. Por último, os Projectos Tangenciais representam um conjunto de criações independentes que se reflectem no âmbito conceptual e inovador desta bienal. Estes projectos, de naturezas diferentes, exploram universos artísticos e experimentais, demonstram a vitalidade cultural do nosso país e podem ser vistos no Palácio de Santa Catarina e no Museu da Cidade a partir dos dias 15 Set (5.ª) e 16 (6.ª), respectivamente. Numa conjuntura global de crise na produtividade e no consumo, o design enquanto disciplina que procura soluções para as necessidades da sociedade contemporânea revela-se, cada vez mais, um importante meio na busca de novas dinâmicas económicas e de produção. Vamos poder confirmá-lo, brevemente, em Lisboa. • Forward Design 23 texto: Lino Ramos Cairo Calling 9.º Festival De Cinema Gay E Lésbico A cultura Queer Cinema Quarteto, Instituto Franco-Português - Lisboa 15 a 21 Set | www.lisbonfilmfest.org Certame seguramente a assinalar no panorama de festivais de cinema em Portugal, o Festival De Cinema Gay E Lésbico De Lisboa (FCGLL) dá este ano um grande passo em direcção à sua consolidação como um evento com uma cada vez mais crescente relevância social e sociológica. Uma das grandes novidades é a realização, pela primeira vez na história deste festival, de uma secção competitiva, iniciativa essa já há muito ambicionada tanto pelos organizadores do FCGLL como também pelos responsáveis da Associação Cultural Janela Indiscreta (ACJI). Com o claro objectivo de incutir uma maior dinâmica ao evento, assim como atingir uma maior projecção internacional, vão estar a concurso nada menos que oito longas-metragens, 15 documentários e 44 curtas-metragens. Vale a pena assinalar que este ano foram recebidos mais de duzentos filmes para programação, dos quais cerca de cem serão exibidos. O júri internacional é constituído por Carla Despineux (presidente), Margarida Cardoso, Brian Robinson e Cosimo Santoro, todos eles figuras importantes na defesa e divulgação da cultura gay e lésbica. Mas as novidades não se ficam por aqui — muito 24 Forward Cinema pelo contrário. Associando-se à Cassefaz, estreou no Teatro da Comuna, a 9 Set (6.ª), o espectáculo Gay Solo, escrito, encenado e interpretado por Luís Assis, primeira parte de uma proposta trilogia intitulada Sex Shop Trilogy. A iniciativa partiu da referida Cassefaz, que obteve do FCGLL uma pronta resposta positiva. Segundo o autor da peça, o Gay Solo «é um revolucionário guia para compreender o gay português em cinco fáceis lições. E, sobretudo, é uma crítica corrosiva (e, às vezes, bem humorada) sobre algumas ideias feitas acerca do que é ser gay num pequeno país que gostamos de chamar Portugal!». O que nos leva, por sua vez, ao tema central desta nona edição: a cultura Queer. Afirmando-se cada vez mais como o elemento abrangente e unificador de todas as sexualidades, procurou-se este ano uma cinematografia que represente o impacto desta cultura na sociedade, nos comportamentos, na criação artística, na sua articulação com a cultura mainstream. João Ferreira, director do festival, em entrevista à FEST explica: «Acho francamente redutor, e até desinteressante, pensar uma cultura específica como algo estanque, fechado. Agrada-me o carácter flutuante do conceito Queer e a verdade é que a própria cultura gay programa seleccionado: 15 Set — Cinema Quarteto 21h00 . Sala 2 . Abertura do FCGLL; Programa de curtas “De puta madre!” 16 Set — Cinema Quarteto 15h00 . Sala 4 . Not Straight Forward, de Jennifer Ting (76’, EUA, 2004) 19h15 . Sala 4 . El Sexo De Los Angeles, de Frank Toro (80’, Espanha, 2004) 21h45 . Sala 2 . Hilde’s Journey, de Christof Vorster 21h45 . Sala 2 . L’Ennemi Naturel, de Pierre Erwan Guillaume (97’, França, 2004) 2004) 17 Set — Cinema Quarteto 15h00 . Sala 4 . Comme Un Frère, de Bernard Alapetite e Cyril Legann (55’, França, 2005), Half A Life, de Claudia Laszczak e Kay Wishöth (55’, Alemanha, 2004) 17h15 . Sala 4 . Transazioni, de Mary Nicotra (29’, Itália, 2004), Trópico De Capricórnio, de Kika Nicolela (30’, Brasil, 2005), Enough Man, de Luke Woodward (61’, EUA, 2005) 19h30 . Sala 4 . Programa de curtas — “Laugh out loud” 21h30 . Sala 4 . Programa de curtas — “As hard as it gets” 23h30 . Sala 4 . Le Veau D’Or, de Stéphane Marti (30’, França, 2002), Mira Corpora, de Stéphane Marti (45’, França, 2004) 18 Set — Cinema Quarteto 15h30 . Sala 4 . Annie Sprinkle’s Amazing World Of Orgasm, de Annie Sprinkle e Sheila Malone (53’, EUA, 2004) 17h00 . Sala 2 . Lotta Libera, de Stefano Viali (15’, Itália, 2004), Juste Un Peu De Réconfort, de Armand Lameloise (43’, França, 2003) 19h00 . Sala 2 . Popular Music, de Reza Bagher (105’, Suécia, Finlândia, 2004) 21h30 . Sala 4 . Alemanha, 2004) (90’, Suiça, 2004) 17 Set — Auditório do Instituto Franco-Português 21h30 . L’Ennemi Naturel, de Pierre Erwan Guillaume (97’, França, 23h45 . Sala 4 . 19 Set — Cinema Quarteto 15h30 . Sala 4 . Yes, de Hervé Joseph Lebrun (6’, França, 2004), The Tasty Bust Reunion, de Stephen Maclean (52’, Austrália, 2004) 17h00 . Sala 4 . Programa de curtas “It’s a queer world” 19h30 . Sala 4 . City Of Happiness, de Michael Roes (85’, Argélia, Programa de curtas “Bad girls and sick boys” Mr. Leather, de Jason Garrett (70’, EUA, 2005) 19 Set — Auditório do Instituto Franco-Português 21h30 . Chérie, de Liova Jedlicki (12’, França, 2004), Maris À Tout Prix, de Jean-Michel Vennemani e Yves Jeuland (90’, França, 2004) — e em particular a cinematografia gay — está cada vez mais contaminada deste conceito.» No interesse disto mesmo, realizam-se, de 16 Set (6.ª) a 17 Set (sáb), no Instituto Franco-Português, colóquios de estudos G(ay), L(ésbicos) e Q(ueer), moderados por especialistas na matéria. A conferência de abertura será feita por Didier Eribon, filósofo e historiador das ideias. E é claro que um festival sem público não é festival. João Ferreira orgulha-se de contar, ano após ano, com «um conjunto significativo de espectadores fiéis» e acrescenta que «a mudança do FCGLL para o espaço do Cinema Quarteto veio retirar-lhe — e ainda bem — alguma conotação de gueto que ele pudesse ter». No entanto, ainda contam com algumas dificuldades. «Com a redução do subsídio do ICAM em mais de 60% em relação à edição anterior e a continuada recusa por parte da CML em nos dar um apoio financeiro directo, tal como o têm os outros importantes festivais 20 Set — Cinema Quarteto 15h30 . Sala 4 . Betty Ball Breaker Comes Home From Work, de Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2000), Lesbian Gymnasts In USSR, de Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2000), Red Dresses, de Tonje Gjevjon (3’, Noruega, 2001), As You Wish, de Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2004), Talking In Tongues, de Tonje Gjevjon (2’, Noruega, 2004), Annie Sprinkle’s Amazing World Of Orgasm, de Annie Sprinkle e Sheila Malone (53’, EUA, 2004) 17h00 . Sala 4 . Programa de curtas “Oh England my lionheart” 19h45 . Sala 4 . Kiki And Herb On The Rocks, de Mike Nicholls (75’, Reino Unido, 2005) 22h00 . Sala 4 . Montresor The Legacy Of Cain, de Luca Acito e Sebastiano (73’, Itália, 2005) 21 Set — Cinema Quarteto 15h30 . Sala 4 . Chérie, de Liova Jedlicki (12’, França, 2004), Maris À Tout Prix, de Jean-Michel Vennemani e Yves Jeuland (90’, França, 2004) B-Girl, de Emily Dell (15’, EUA, 2004), Five Card Stud, de Jo-Ann Gaudry (65’, Canadá, 2005) 19h00 . Sala 4 . Comme Un Frère, de Bernard Alapetite e Cyril Legann (55’, França, 2005), Half A Life, de Claudia Laszczak and Kay Wishöth (55’, Alemanha, 2004) 21h00 . Sala 2 . Atribuição dos Prémios da Secção Competitiva; Garçon Stupide, de Lionel Baier (94’, Suiça, 2004) 22h00 . Sala 4 . Harigata: The Alien Dildo That Turned Women Into Sex-Hungry Lesbos, de Szu Burgess (9’, EUA, 2003), Is Your Wife A Secret Lesbian?, de Szu Burgess (9’, EUA, 2002), Queer Factory Tales, de Vários Autores (69’, França, 2004), Acteur X Pour Vous Servir, de HPG (9’, França, 1997) 17h30 . Sala 4 . de cinema de Lisboa, fizeram da questão financeira a nossa maior luta deste ano». Com uma programação fortíssima e um leque atractivo de actividades paralelas, o FCGLL assumese este ano como paragem obrigatória para todos aqueles que procuram entender melhor as culturas marginais e marginalizadas da nossa sociedade actual. Dê por lá um salto. Vai ver que não se arrepende. E, como aperitivo, aqui fica uma recomendação do próprio director — chama-se Implicación e é uma curta-metragem do espanhol Julián Quintanilla que abrirá o Festival. «Não vou revelar muito do seu conteúdo, apenas que tem um desempenho memorável da Loles León e que trata de forma brutal o tema da homofobia. É um filme que entendo que todo o país deveria ver. Talvez um dia programá-lo nos quatro canais generalistas, às 20h, simultaneamente...». Fica dado o recado. • Forward Cinema 25 texto: Cátia Monteiro IMAGO 2005 - Festival Internacional De Cinema Jovem Imagens que se ouvem Fundão 1 a 8 Out | www.imagofilmfest.com É já em Outubro que o Fundão alberga mais uma edição do IMAGO, este ano com secções inéditas e convidados de diversos quadrantes artísticos. Na zona da sétima arte decorrem as secções competitivas Oficial Internacional e Docs In Shorts, apostadas numa variedade de proveniências, com cada vez mais países a apresentarem obras a concurso. Pode por isso esperar-se uma selecção aberta a diferentes vivências culturais e modos de reinventar em película. Enquanto a secção Oficial Internacional se debruça sobre a ficção, a animação e o experimental, o Docs In Shorts dedica-se exclusivamente ao documentário, como a designação deixa antever. Também em competição, mas no formato vídeo, estreia-se a secção Under 25. O programa conta com 21 curtas realizadas por jovens até aos 25 anos e que tenham recorrido a um baixo orçamento. O valor das recompensas a atribuir nas três secções ultrapassa os 10 mil euros, com a inclusão de um novo prémio, que levará alguns dos filmes para o pequeno ecrã no âmbito do programa Onda Curta, da 2:. Programação especial O realizador espanhol Jess Franco vai apresentar Snakewoman, deste ano, em ante-estreia mundial, inserido num programa que conta com duas outras obras, maioritariamente rodadas em Portugal. Para uma incursão teórica na restante obra do realizador, é possível a inscrição numa masterclass onde serão privilegiados o diálogo e o debate. Cut 26 Forward Cinema A problemática dos mixed media, com a crescente convergência dos suportes de imagem a desempenhar um papel fulcral na nova forma de encarar a arte visual em movimento, é focada no trabalho de Rosto. O holandês vai apresentar uma exposição apoiada em múltiplos suportes intitulada The World Of Mind My Gap, complementada por uma masterclass dedicada aos Mixed Media — Novas Fronteiras da Imagem. Terry Gilliam, nome projectado pelo culto estabelecido em torno dos Monty Phyton, vai ter alguns dos seus filmes exibidos na secção Early Years... Assinalam-se duas décadas passadas desde a conclusão de Brazil, com curtas e longas anteriores a 1975, onde se inclui o mítico Monty Phyton And The Holy Grail. Alargando a esfera temática e os géneros, desenham-se outros cardápios. Para assinalar os quatrocentos anos de D. Quixote De La Mancha criou-se um programa de curtas e longas-metragens com diferentes visões do clássico de Cervantes. Na área do experimental com rótulo europeu foi desenvolvido o programa Europe In Shorts. Para além disto, o Programa Escolas, este ano com a iniciativa original de integrar unicamente filmes de animação realizados por crianças. Totaliza 10 curtas de animação com proveniência nacional e da Bélgica. IMAGO musicado As noites do festival vão ser dinamizadas por actuações ao vivo e DJ sets num cartaz que dá pelo nome de Sound & Vision Experience. No dia de abertura chega da Noruega o espírito descontraído de Erlend Ears Have No Lids Øye, cujo carácter ecléctico transforma as pistas de dança num mote à reinvenção estilística. Mas desta vez os espectadores podem contar também com a apresentação de Unrest, editado à margem da dupla Kings Of Convenience. A abertura da noite cabe a Francisco Silva, que no formato Old Jerusalem lança notas Folk e Country em toadas calmas. A obra cinematográfica Entr’acte vai ser alvo de revisitação sonora, na forma de uma composição musical original apresentada por Kubik e pelo maestro Luís Cipriano, que para o efeito se reunem à Orquestra De Percussão da Associação Cultural da Beira Interior e ao Coro Misto da Covilhã. Um filme-concerto a ter lugar no Pavilhão Multiusos. Partindo igualmente da banda sonora dos filmes para uma reinterpretação ao vivo, os Norton preenchem o Casino Fundanense com invocações de momentos-chave de películas como Lost In Translation, de Sofia Coppola, onde abordam um tema dos My Bloody Valentine. Outras viagens a reboque dos Sonic Youth e diversos ícones da cultura Indie, agendadas para a noite de 4 Out (3.ª). Para aperitivo, os Musgo oferecem um live act, enquanto a dupla mascarada mais conhecida do DJing português fornece a ceia através de misturas improváveis de hits clássicos e contemporâneos, e de manipulações da agulha que impulsionam o ritmo da pista de dança. Uma noite com Dezperados no English Club para recordar que os DJs nunca são demais... Berlim fornece a performance de 6 Out (5.ª), na voz e no movimento do multi-facetado Namosh, que deixou a Turquia para se entregar à Electrónica da ca- City Paradise pital alemã. Em casa e a arrancar a noite, o projecto AnA apresenta um convite em formato electrónico. Sem as Chicks (On Speed) que a costumam acompanhar, mas com a atitude irreverente que caracteriza o trio, cabe a Alex Leslie-Murray a tarefa de finalizar a noite, atrás da mesa de mistura. O intervalo nocturno que se segue é tomado de assalto pela editora de Badly Drawn Boy e Andy Votel, num Twisted Nerve Showcase que apresenta os Toolshed em parceria com Malcom Mooney para uma série de revisitações de clássicos do cinema. No alinhamento prossegue a viagem sonora pelo filme de animação The Cybernetic Grandmother, liderada pelos Sirconical. A finalizar, Andy Votel reúne-se a Cherrystones numa homenagem a Jess Franco onde se prometem descobertas pelos meandros das raridades sonoras. A despedida adopta a designação de Kid Koala’s Short Attention Span Audio Theater, que incorpora a técnica do canadiano e dos convidados Jester e PLove numa performance cuja definição dificilmente se extingue no rótulo de DJ set. Num total de oito giradiscos, pretende-se simular os sons de uma banda, a que se juntam instrumentos reais e a voz de Ledrhosen Lucil, num cenário inusitado. Em paralelo será possível visitar a Red Bull Home Groove, onde actua Fernando Fadigaz, apoiado pelas projecções dos Dub Video Connection, ou ainda as diversas iniciativas no âmbito do Heineken Open Space, numa simbiose entre música e imagem, combinação que pauta toda a programação deste IMAGO 2005. • Toolshed Forward Cinema 27 texto: Catarina Medina El Cielo Gira DocLisboa 2005 A terceira parte Culturgest — Lisboa 15 a 23 Out | www.doclisboa.org «Em Outubro o mundo inteiro cabe em Lisboa». Era este o slogan que se fazia ouvir pelas salas da Culturgest durante o DocLisboa 2004, um dos maiores eventos cinematográficos desse ano. Agora o DocLisboa 2005 regressa e traz com ele a promessa de que o mundo inteiro volte a caber numa cidade, na terceira edição do Festival Internacional De Cinema Documental. Como diz o provérbio, o bom filho a casa torna e eis que de 15 Out (6.ª) a 23 (dom) regressa o DocLisboa, na Culturgest, o único festival de cinema português exclusivamente dedicado ao documentário. Mais uma vez organizado pela Apordoc (Associação pelo Documentário) em co-produção com a Culturgest, 28 Forward Cinema conta com os mesmos três nomes na direcção: Ana Isabel Strindberg, Sérgio Tréfaut e Nuno Sena, os responsáveis pela selecção dos filmes. Para esta edição o festival contou com um reforço do orçamento por parte do Ministério da Cultura e da Câmara Municipal de Lisboa. Sérgio Tréfaut, um dos directores do evento, suporta a importância do DocLisboa dizendo que este é um festival «de cinema exclusivamente dedicado ao documentário, que se interessa por novas formas de pensar, de ver o mundo e de comunicar». Integrado na Coordenação Europeia de Festivais de Cinema, teve quase 14 mil espectadores durante os nove dias de 2004, e agora esperam-se ainda mais, visto o número de candidaturas para competição ter duplicado. Darwin’s Nightmare Mas, como era de prever, o festival mudou… para melhor. Entre as principais novidades está a criação de uma nova secção competitiva chamada Investigações, ou seja, filmes sobre questões de actualidade, documentários de investigação. Nas secções paralelas, destaque para Nacionalismos, Identidades e Fronteiras, comissariado por Augusto M. Seabra; Documentário Russo PósSoviético, comissariado por Tue Steen Müller; e uma Mostra Rectrospectiva Ross McElwee — o documentarista norte-americano de 58 anos também terá honras de masterclass. A outra masterclass fica a cargo do fotógrafo e cineasta Raymond Depardon, de 63 anos. Estão ambas abertas ao público em geral e só é necessária inscrição prévia. Mas existem muitas outras actividades, como um atelier de realização de filmes com um minuto de duração, destinado a jovens, além de sessões escolares, fórum de debates e até uma videoteca para consulta livre. O motor do festival continua a ser a filmografia. Recomenda-se especial atenção para o premiado Darwin’s Nightmare, realizado por Hubert Sauper, um espelho da realidade política africana da região dos Grandes Lagos. DocLisboa 2004 A última semana de Outubro do ano passado conheceu o 2.º Festival Internacional De Cinema Documental De Lisboa. Os palcos desta iniciativa, que pretendeu «tirar o género do gueto», foram o pequeno e grande auditórios da Culturgest, tal como aconteceu na primeira edição. Durante oito dias foram exibidos 60 documentários, alguns deles inéditos em Portugal, vistos por cerca de 13.500 espectadores. Em competição estiveram filmes provenientes da Alemanha, Bélgica, Bielorússia, Brasil, Cambodja, China, Cuba, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Índia, Israel, Itália, Portugal, Rússia e Suíça. A história deste Festival remonta a 1989, ano dos foto: J. Kuldelka Encontros Internacionais de Cinema Documental da Malaposta, que aconteceram até 2001. No ano seguinte o Centro Cultural de Belém recebeu uma versão remodelada do festival, a primeira edição do DocLisboa — Festival Internacional De Cinema Documental, que veio preencher um espaço até então vazio no panorama cinematográfico português, divulgando o documentário enquanto forma de expressão visual, ainda pouco conhecida do grande público português, como reforça Nuno Sena: «lá fora vemos o documentário invadir os cinemas, as televisões e os festivais com uma nova intensidade, enquanto que em Portugal, não». Nessa primeira edição o festival dividiu-se em várias secções: a competição internacional, Para Onde Vai O Documentário Português, Como Entender O Médio Oriente, Foco Sobre Espanha e as Sessões Especiais. Da segunda edição guardam-se momentos como os presentes no documentário Ydessa, Les Ours Et Etc…, de Agnès Varda. Ou ainda Miguel Mendes, que sem qualquer tipo de apoio financeiro realizou Autografia, baseado na obra de Mário Cesarinny — este viria a ser o grande vencedor do prémio para o melhor documentário português. Ainda a destacar, o conjunto de filmes que retratou de forma próxima o conflito israelo-árabe, exemplo máximo foi o premiado Checkpoint, estranhamente financiado pelo Estado Israelita. E claro, não nos poderíamos esquecer da concorrida masterclass com o realizador de Être Et Avoir, Nicolas Philibert. Este ano esperam-se mais pessoas, filas de espera ainda mais longas, bilhetes laranjas e brancos rasgados pelo chão, como símbolos de que a Culturgest, durante uma semana no mês de Outubro, volte a servir de residencial fácil a todos os que desejarem por lá morar. • Forward Cinema 29 texto: Cátia Monteiro 6.ª Festa Do Cinema Francês Operação de charme Lisboa, Porto, Coimbra e Faro 6 Out a 3 Nov | www.ifp-lisboa.com Nova investida do cinema francês, que conta este ano com a presença de nomes firmados na sétima arte, como Michael Haneke, ou recém-chegados, como Jérôme Salle. O Instituto Franco-Português (IFP), em colaboração com a Embaixada de França, procura através da Festa Do Cinema Francês conseguir uma maior exposição da cinematografia francesa, com o objectivo final de alcançar o mercado de distribuição português. A 6 Out (5.ª) o Fórum Lisboa inaugura a Festa, chamemos-lhe assim, que ali permanece nos dois fins-desemana seguintes. Durante a semana, é na sede do IFP que se projectam os filmes. Posteriormente, e à semelhança dos anos anteriores, a Festa estende-se a outros pontos do país. Entre 13 Out (5.ª) e 16 Out (dom) no Rivoli e no Cinema Cidade do Porto, de onde parte para Coimbra, ocupando o cinema Millenium Avenida de 17 Out (2.ª) a 20 Out (5.ª). A cidade escolhida para o término dos feste- Cine’Eco — 11.º Festival Internacional De Cinema E Vídeo De Ambiente Da Serra Da Estrela Casa Municipal da Cultura — Seia 21 a 30 Out | www.cineeco.org Para além de uma secção competitiva, o festival contempla igualmente vários ciclos de cinema, além de um conjunto de outras iniciativas paralelas, como exposições, concertos e palestras. Foi ainda firmado um acordo de cooperação entre o Festival De Goiás (Brasil), o Cine’Eco e um festival de cinema no Mindelo, em Cabo Verde, que está a ser criado. Assim, o Cine’Eco contará com uma mostra de filmes goianos e outra de longas-metragens brasileiras do circuito comercial. Ovarvídeo Ovar 27 a 30 Out | www.ovarvideo.com Com o objectivo de promover o vídeo como forma de expressão artística, oferecendo um espaço para o surgimento de novos talentos e proporcionando um contacto estreito entre os autores e o público, nasceu em 1996 o Ovarvídeo, um festival de vídeo de âmbito 30 Forward Cinema os foi Faro, que entre 1 Nov (3.ª) e 3 Nov (5.ª) recebe uma selecção mais reduzida de filmes no Teatro Municipal. A programação é de carácter generalista, representando várias vertentes da escola cinematográfica francesa, com filmes de autores consagrados e algumas surpresas. O realizador de A Pianista regressa este ano com Caché, um drama que assenta nas interpretações de Juliette Binoche e Daniel Auteuil, onde o investimento estético e a força dos diálogos servem um enredo de tensão crescente. A acompanhar mais este filme de Michael Haneke está Jérôme Salle, que traz ao palco da Festa a sua segunda obra como realizador, intitulada Anthony Zimmer. Uma das Oito Mulheres de François Ozon é homenageada nesta sexta edição. Para o efeito a Cinemateca de Lisboa vai exibir um percurso alternativo da actriz Fanny Ardant. Ainda pensa ficar em casa? • nacional. Presentemente tem uma programação estruturada de onde se destacam as oficinas de formação e criação artística, as mostras internacionais, a competição nacional e as vídeo-instalações. 1.º Festival Internacional De Cinema Do Funchal Teatro Municipal Baltazar Dias — Funchal 5 a 13 Nov | www.funchalfilm.com O Festival Internacional De Cinema Do Funchal (FICF) contará com a secção oficial de competição dedicado ao Cinema Do Atlântico, com a secção de Panorama & Premiere, tendo por base os filmes já adquiridos para o mercado português e com a Animarte, uma secção dedicada aos mais novos. Conta ainda, com uma homenagem ao realizador madeirense António da Cunha Telles, uma retrospectiva de cinema espanhol, curtas metragens e projecções ao ar livre de filmes de culto, num total de 40 sessões de cinema. Paralelamente, o FICF organiza conferências e debates, exposições, animações de rua e festas nocturnas no café do teatro. A organização do FICF está a cargo da Plano XXI e da Cinema Novo (Fantasporto). • FP texto: Filipa Lourenço The Mysterious Geographic Explorations Of Jasper Morello Cinanima — Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho Animação sem fronteiras Centro Multimeios — Espinho 7 a 13 Nov | www.cinanima.pt Há 29 anos que o Cinanima contribui para a divulgação da animação em Portugal. Com a construção do Centro de Multimeios de Espinho, em 2000, o festival ganhou nova localização e outro ímpeto. Mais filmes e países a concurso fizeram superar as expectativas relativamente ao número de participações nesta edição. Um total de setecentas inscrições vindas dos quatro cantos do mundo, ocupando Portugal o terceiro lugar no ranking de participações com 61 obras. As 81 curtas-metragens da secção competitiva internacional integram The Mysterious Geographic Explorations Of Jasper Morello, do australiano Anthony Lucas, vencedor do grande prémio do Festival Internacional De Cinema De Animação De Annecy. Uma animação gótica de silhuetas passada num mundo de navios aéreos, sobre o desonrado na- vegador aéreo Jasper Morello, a quem é dada uma segunda oportunidade. Inserida na competição nacional Prémio Do Jovem Cineasta, a curta-metragem A Ovelha Azul, de Nelson Fernandes e Rodolfo Pimenta, foi realizada pela Cooperativa Cinema Jovem, em 2004. Participaram os alunos de oito escolas primárias do concelho do Fundão (Peroviseu, Salgueiro, Quintãs, Monte Leal, Capinha, Alpedrinha, Castelo Novo e Orca). Este ano, o Prémio António Maria será atribuído ao realizador Abi Feijó, fundador da Casa da Animação e da Filmógrafo, uma das principais produtoras na área da animação na década de 90. Algumas das suas obras, entre as quais se contam Os Salteadores, Fado Lusitano e Clandestino, são apontadas para integrar uma mostra no Cinanima 2005. O programa do festival inclui ainda sessões especiais, exposições, uma oficina sobre stop-motion e outras actividades. • Forward Cinema 31 . texto: João Pedro Correia Breakthrough 13.ª Quinzena De Dança De Almada Almada, a capital da dança Almada 28 Out a 13 Nov | www.cdanca-almada.pt De 28 Out (6.ª) a 13 Nov (dom) tem lugar a Quinzena De Dança De Almada (QDA), um dos principais eventos do género no país. O festival concentra espectáculos pela companhia de dança da cidade, diversas oficinas, ateliers e conferências, além da central plataforma coreográfica internacional. Os quatro primeiros dias da QDA estão a cargo do grupo da casa, que apresentará dois espectáculos diferentes, um de Guillermo Horta Betancourt e outro sob a direcção de Ana Macara, este «concebido com o objectivo de aproximar o público jovem da dança contemporânea», compondo-se de «várias peças curtas e interligadas, representativas de diversos estilos de dança», esclarece a Companhia De Dança De Almada. Em seguida é a vez de a companhia do Silesian Dance Theatre, da Polónia, apresentar a peça Glamour Of A Mundane — Dream From A Saint. Entre 10 Nov (5.ª) e 12 Nov (sáb), tem lugar a plataforma coreográfica internacional, cuja numerologia interessa realçar: três temas diferentes, ao longo de três dias, com trabalhos de 21 coreógrafos provenientes de 13 países (EUA, Suécia, Hungria, Irlanda, México, Inglaterra e Tailândia, só para citar alguns). As linhas temáticas são Ligações — Sonhos e Realidades, Natureza e Vida — Encontros e Desencontros e Híbridos — Linguagens, Géneros e Culturas. Além dos espectáculos, o festival oferece várias actividades paralelas. Será possível frequentar oficinas de dança contemporânea e dança Butoh, ateliers de dança para crianças e visionar uma mostra internacional de trabalhos de mais de 30 criadores. Os espectáculos têm lugar no auditório municipal. • PUB MX3 32 Forward Dança texto: Ana Duarte Histórias Mínimas 2.º Festival Pés No Palco 2.ª Ponto Pequeno — Encontro Das Marionetas Três meses de teatro e marionetas Vila do Conde 9 Set a 11 Out e 4 a 20 Nov | www.marionetasmandragora.com Vila do Conde é uma cidade encantadora, moldada entre pinhais e mar. Mas há mais razões para ir até lá. O Festival Pés No Palco subirá o pano já em Setembro, seguido do Festival Ponto Pequeno, em Novembro. Teatro e marionetas tomam conta da cidade. O Círculo Católico de Operários (CCO) de Vila do Conde, associação centenária, tem vindo a contribuir para o crescimento da esfera cultural desta cidade, assumindo-se cada vez mais como estrutura e espaço de apoio às artes. Por isso, e acompanhado pela Corifeu Artes e pela Companhia De Teatro E Marionetas De Mandrágora (CTMM), leva a palco várias companhias nos dois festivais que se propõe apresentar: Festival Pés no Palco a decorrer de 9 Set (6.ª) a 11 Out (3.ª); e Festival Ponto Pequeno a acontecer de 4 Nov (6.ª) a 20 (dom). Pés No Palco é uma mostra de teatro, que agenda para esta segunda edição um conjunto de espectáculos para um público adulto. O programa é diversificado e o espectador poderá assistir a espectáculos do teatro clássico (TIPAR apresenta Preconceito Vencido, de Marivaux, dia 30 Set [6.ª]), e mesmo de teatro contemporâneo. Exemplo disso é Histórias Mínimas, pela Oficina De Teatro Da Maia, em que se sente a transversalidade disciplinar e se tocam outras artes, como a dança ou o multimédia. Esta peça abrirá o festival, no dia 9 (6.ª), às 21h30. Nas manhãs de sábado abrangidas pelo festival terá lugar a oficina Fazer de Um Conto, organizado pela CTMM. A companhia regressará, aliás, em Novembro, trazendo a alegria das marionetas à cidade, no Festival Ponto Pequeno. Durante duas semanas, pequenotes e crescidos poderão deixar-se encantar pelos bonecos com alma. Várias companhias de marionetas levarão os seus espectáculos ao palco do CCO, destacandose a estreia da nova produção da companhia organizadora: Auto Da Barca Do Inferno, de Gil Vicente. Ateliers e exposições de marionetas completam o programa. Os bilhetes custam entre dois e cinco euros, um preço baixo que certamente é mais um incentivo para acorrer ao teatro, em Vila do Conde. • Forward Teatro 33 texto: Jota Assis Festival Marionetas Na Cidade As marionetas vieram para ficar Alcobaça 13 a 16 Out | www.samarionetas.com Em 1998, a companhia S. A. Marionetas — Teatro & Bonecos teve a ousadia de organizar, pela primeira vez, em Alcobaça, o Festival Marionetas Na Cidade. Este ano, na oitava edição, volta a cair o pano e os actores entram em cena. Aquando da sua criação, os objectivos da companhia eram, tal como ainda hoje são, amplos e nobres. Para além de procurarem abrir ao público português uma porta de entrada nesta arte pouco conhecida e mal divulgada e acordar a sociedade para o seu estado actual, os organizadores empenharam-se em motivar a criação e inovação artísticas das marionetas e apresentaram espectáculos novos, tanto estética como artisticamente. Em simultâneo, recuperaram e preservaram as formas tradicionais da arte bonecreira, com um programa composto por espectáculos de Robertos e Bonecos de Santo Aleixo, representantes de duas das mais antigas tradições de teatro popular de marionetas em Portugal. Continuando a experiência do ano anterior e em busca do formato ideal, o festival alargou-se para dez dias, em 1999, contando com seis espectáculos com uma programação específica para as escolas do concelho, um debate centrado no tema A Marioneta Em Portugal, uma exposição de artes plásticas com o tema A Marioneta, animação de rua, seis espectáculos para todos e o Primeiro Encontro De Teatro De Robertos. 00 Forward Teatro Nos quatro anos seguintes, o Marionetas Na Cidade teve uma taxa de sucesso elevado, atribuída em grande parte às oficinas de construção de marionetas, aos espectáculos inseridos na programação para as escolas e à animação de rua. As lotações esgotadas, uma afluência diversificada e a participação empenhada do público, deram novas esperanças aos artistas e criadores do projecto, que a partir de 2000 o dividiram por apenas quatro dias. Nesse mesmo ano houve ainda espaço para uma declaração de interesse cultural dada pelo então ministro da cultura dr. José Sasportes. Já em 2004, alargaram-se os espectáculos de rua para 10 e criou-se uma oficina de construção de marionetas, proporcionada pela Escola Adães Bermudes. Esta longevidade saudável prova que ao longo dos seus sete anos de vida, o Marionetas Na Cidade tem apresentado uma programação heterogénea, com espectáculos nacionais de grande qualidade e representantes de várias tendências, prosseguindo a filosofia de programação que o tem pautado desde o início do projecto. É hoje um festival consolidado no panorama nacional, tendo-se tornado uma referência e um ponto de encontro para as companhias de teatro de marionetas portuguesas. A edição de 2005, decorre de 13 Out (5.ª) a 16 (dom) na cidade de Alcobaça, prevendo-se um sucesso ainda maior que nos anos anteriores. • textos: Cátia Monteiro e Pedro Moreira Pequenos grandes festivais 2.º Festival Para Gente Sentada Santa Maria da Feira 30 Set e 1 Out | www.cm-feira.pt O público já não precisa de fazer o pino para conseguir ver determinados artistas em Portugal. A variedade tem crescido de forma considerável nos eventos de menores dimensões e exemplo disso é o recém-criado Festival Para Gente Sentada. A segunda edição chega ao Teatro António Lamoso a 30 Set (6.ª) e fica para o dia seguinte. Sondre Lerche, que entrega trocadilhos irónicos numa bandeja melodiosa servida com boa disposição, é um dos nomes confirmados. Na crista do hype chega Patrick Wolf, outro jovem multifacetado, que viu no segundo álbum “Wind In The Wires” a oportunidade de cativar um público surpreendido. Damien Jurado é outro dos nomes que figuram num cartaz que apela aos contadores de vidas e cantores de histórias. • Festival Barreiro Rocks Junto à Escola Alfredo da Silva, Barreiro 7 e 8 Out | www.barreirorocks.com O festival Rock de Portugal volta a marcar presença no início do Outono, depois de um interregno devido aos cortes orçamentais que atingiram toda a actividade cultural em 2004. O primeiro dia do Festival Barreiro Rocks é encabeçado pelo poeta Billy Childish, acompanhado por um dos seus muitos projectos, os The Buff Medways, ficando o cartaz completo com Black Lips, The Hells e Los Chicos. Apadrinhados por Jello Biafra, os The Flaming Stars serão os responsáveis pelo encerramento do festival, que conta ainda com a presença dos The DT’s, The Coyote Men e The Magnetix. Os bilhetes custam 10 euros, para um dia, ou 15 para os dois. • Phono’05 Fonoteca Municipal — Lisboa 22 a 26 Nov | www.cm-lisboa.pt/fonoteca A Fonoteca Municipal de Lisboa volta a apostar na promoção de novas bandas na quarta edição do Festival Phono, que culminará no lançamento de uma compilação com dois temas de cada uma das cinco bandas participantes. Criado em 2002, o Festival Phono tem vindo a realizar um trabalho importante na divulgação da música feita em Portugal e começa a ser um ponto de passagem obrigatório para bandas que auguram gravar o seu primeiro álbum. A Fonoteca proporciona assim uma oportunidade única para que bandas em início de carreira se possam mostrar aos diversos agentes musicais presentes no evento. Em 2005, tal como havia acontecido no ano anterior, o Phono verá editada uma compilação de forma a apoiar a divulgação do festival e a promoção das bandas presentes. De recordar que, desde a sua primeira edição, o festival é, em parte, responsável pelo sucesso de bandas como Old Jerusalem, Ashfield, The Ultimate Architects, Houdini Blues, My Tie, Wego e Post Hit, entre outros. Os concertos têm lugar na sala de audição, um compartimento da Fonoteca que se transforma num pequeno auditório com capacidade para cerca de 50 lugares, com início às 21h30 e entrada livre. • Festival Sons Em Trânsito Aveiro, Famalicão, Vila Real e Bragança 24 Nov a 3 Dez | www.set.com.pt O Festival Sons Em Trânsito esteve em risco de não se realizar, em 2004, devido a dificuldades orçamentais. Em 2005, embora as condições económicas continuem a ser adversas, o festival expande-se, levando o melhor do que se faz na World Music a outros cantos do país. Até à data de fecho desta edição somente foi possível confirmar a realização do festival e um dos nomes em cartaz: Kimmo Pohjonen estará presente, com o seu projecto Animator, no qual colabora Marita Liulia, também responsável pelo arrojado visual que preencherá todo o espectáculo. O Festival Sons Em Trânsito inclui cinema, documentários e exposições, e na edição passada o seu sucesso ficou a dever-se, em grande parte, aos norteamericanos Tuxedomoon. • Forward Música 35 texto: João Pedro Correia Miguel Zenón Festival Internacional Seixal Jazz 2005 Jazz regressa à baía do Tejo Seixal 20 a 22 e 27 a 29 Out | http://srvweb.com-seixal.pt/seixaljazz A julgar pelos músicos em cartaz, o regressado Seixal Jazz corre o sério risco de se revelar o melhor festival da temporada. É na segunda quinzena de Outubro que tem lugar o Seixal Jazz (SJ), este ano na sua oitava edição, a segunda após a passagem a evento bienal. Quatro quintetos, um sexteto e um quarteto compõem um cartaz que manterá a configuração a que o festival nos habitou: seis noites divididas por duas semanas, de 5.ª a sáb, com dois espectáculos por noite, às 21h30 e às 23h30. O cenário é o Auditório Municipal do Seixal, no cimo de uma colina com uma bela vista sobre a baía do Tejo. O SJ é o terceiro vértice do triângulo da oferta jazzística da área da grande Lisboa e sua margem-sul, a 36 Forward Música par com o Festival Do Estoril e o Jazz Em Agosto da Fundação Calouste Gulbenkian. Os três são esteticamente diferentes, com o Estoril — herdeiro do primeiro festival de Jazz português, o Cascais Jazz — mantendo e divulgando uma linhagem mais clássica, ao passo que o evento da Gulbenkian se caracteriza por propostas no extremo da vanguarda e fora do comum. Numa lógica de complementaridade não planeada, o SJ movimenta-se no meio. Essencialmente acústico — a fusão entre o Jazz e a música electrónica não tem lugar, como sucede na Gulbenkian — e privilegiando as novas tendências do Jazz norte-americano, o SJ tem procurado executantes inovadores e renovadores. Pelo menos a programação para a edição de 2005 é rica nisso mesmo. À excepção do Quinteto De Laurent Filipe, o úni- fotos: Mariah Wilkins.Miguel Zenon Jimmy Katz.Jeremy Pelt Jeremy Pelt co conjunto falante de Português e todo ele composto por músicos sobejamente conhecidos do Jazz nacional, tudo é novidade no Seixal. De tal forma que o director artístico do festival, Paulo Gil, confessou à FEST estar bastante expectante, «sobretudo para a segunda semana, que tem propostas extremamente inovadoras, três delas inéditas em Portugal e uma em especial pouquíssimo conhecida na Europa». Paulo Gil refere-se particularmente ao Quinteto De Mike Fahn E Mary Ann McSweeney, um casal de músicos norte-americanos, ele trombonista e ela contrabaixista. Praticamente desconhecido no circuito jazzístico europeu, Fahn destaca-se por manejar dois tipos diferentes de trombone, o de varas (mais vulgar) e o de válvulas, e alterná-los no mesmo tema, coisa rara de se ver e que Fahn fará no Seixal. Consigo vem o saxofonista Rick Margitza, músico lançado por Miles Davis no final da década de oitenta e com quem gravou três discos. Antes disso tocam Miguel Zenón e David Binney, «duas estéticas contemporâneas do saxofone-alto, dois músicos particularmente imaginativos», descreve Paulo Gil, acrescentando que «será particularmente interessante ver e ouvir estas duas propostas, em dias seguidos». Binney, que passou pelo Hot Clube de Lisboa ainda antes do Verão, é um músico bastante controverso. Priveligia linguagens vanguardistas, com as suas composições alternando duros improvisos com baladas melódicas e minimalistas. Por seu lado, Zenón oferece um Jazz algo latinizado, influenciado pelo ambiente da sua terra natal, Porto Rico. Do quinteto faz parte Luis Perdomo, excelente pianista, que deixou muito boas memórias a quem o viu actuar há um ano, em Oeiras. Antes desta competição no saxofone-alto sobe ao palco o grupo de Kurt Rosenwinkel, «um guitarrista fora do vulgar», nas palavras de Paulo Gil, que se faz acompanhar de um leque de músicos virtuosos. O baterista Ari Hoenig será o melhor exemplo: «um desconcertante fenómeno da bateria», escreveu a revista francesa Jazzman, acerca do seu álbum gravado a so- Luis Perdomo Wayne Escoffery lo. O saxofonista Chris Cheek é um músico «bastante interventivo, óptimo para estimular Rosenwinkel», explicou o director artístico do festival. A abertura do evento está a cargo do quinteto do jovem Wayne Escoffery, «muito provavelmente um dos mais talentosos saxofonistas que passaram pela Mingus Big Band nos últimos cinco anos», revelou Paulo Gil. Propostas alternativas O Seixal Jazz desdobra-se em várias actividades complementares, sendo a mais interessante a série de espectáculos intitulada Seixal Jazz Clube. Desde o dia 14 Out (6.ª) até ao final do festival, no edifício da exfábrica Mundet (recinto a cem metros do auditório municipal) e até cerca das duas da madrugada, actuam vários grupos portugueses, a Escola Moderna de Jazz do Seixal e o músico, compositor e director da reputadíssima Berklee School of Music (Boston, EUA), George Garzone — que vem ao Seixal também para leccionar uma oficina de saxofone. Outro acontecimento a reter é o lançamento do livro intitulado Jazz, da autoria de Rosa Reis, fotógrafa portuguesa que há já vários anos se dedica a registar o Seixal e a maioria dos festivais nacionais de Jazz. Os bilhetes para o festival custam 10 euros, sendo que para o Seixal Jazz Clube a entrada é gratuita. Ecos da crise O Festival Internacional Seixal Jazz nasceu em 1996, numa altura em que não existia qualquer oferta de relevo na cena jazzística nacional abaixo da grande Lisboa. A lotação esgotada foi uma tendência desde o primeiro ano e o festival rapidamente alcançou o estatuto de referência. Contudo, em 2002, o ano do célebre discurso da tanga, pelo então primeiro-ministro Durão Barroso, a redução do orçamento da autarquia para a cultura ditou que o SJ passasse a realizar-se ano-sim, ano-não, interrompendo-se logo nesse ano. • Forward Música 37 texto: Filipa Lourenço The London Design Festival 2005 Verdadeiramente britânico Londres, Reino Unido 15 a 30 Set | www.londondesignfestival.com Pelo terceiro ano consecutivo, Setembro é o mês do design em Londres. O pretexto: celebrar e promover a criatividade de artistas do Reino Unido. Abrangendo um vasto espectro na área do design, que vai desde o mobiliário à escrita criativa, a realização do London Design Festival resulta graças a um grupo de centena e meia de entidades, divididas entre parceiros, apoiantes e patrocinadores, com o único objectivo de promover e desenvolver a indústria criativa britânica. Segundo Will Knight, um dos responsáveis pelo evento, «o festival reflecte o que Londres é. Todo o trabalho a que as pessoas irão assistir dura as 52 semanas do ano, o festival é uma plataforma para o mostrar». A exibição de acontecimentos e actividades por toda a cidade possibilita a chegada a uma vasta e variada audiência desse mesmo trabalho. Sendo a maioria dos eventos gratuitos e à semelhança do que aconteceu em 2004, a organização avança com a previsão de 150 mil visitantes vindos de todo o mundo. Durante duas semanas as criações apropriam-se das principais artérias londrinas. A famosa Trafalgar Square assistirá à construção do maior banco do Reino Unido a 19 Set (2.ª), com cerca de cem metros, feito a partir de 12 mil vulgares elásticos azuis, uma obra do conceituado designer de produto Tom Dixon. Um dos eventos centrais é From Here To Here; Stories Inspired By The Circle Line, de 16 Set (6.ª) a 12 Out (4.ª), uma exposição, uma série de cartazes e um livro, inspirados pelos locais, histórias e arquitectura das 27 estações da linha amarela do metro londrino. O projecto resulta da colaboração criativa entre o grupo de escritores 26, estudantes de design do London College of Communication e o metropolitano da cidade. Para aqueles que não se puderem deslocar à capital britânica há sempre a hipótese de espreitar o projecto em www.fromheretohere.com. Após o crepúsculo e durante todo o período do festival será possível avistar nas ruas as Light Bikes, um conjunto de instalações luminosas móveis, rebocadas por bicicletas, que acompanharão os visitantes entre os acontecimentos mais importantes, ligando-os entre si. Este London Design Festival é, então, uma óptima desculpa para visitar as terras de sua majestade. • outros destaques: Design Mart: 22 Set (5.ª) a 25 (dom), Design Museum Jerwood Applied Arts Prize: 8 Set (5.ª) a 20 Nov (dom), The Crafts Council Gallery Import Export — Global Influences in Contemporary Design: 20 Set (3.ª) a 4 Dez (dom), V&A Cockpit Arts at The Great Eastern Hotel: 12 Set (2.ª) a 30 (6.ª), The Great Eastern Hotel Truly British: 5 Set (2.ª) a 15 Out (5.ª), Harrods Based Upon Design: 15 Set (5.ª) a 25 (dom), 97-99 Sclater Street Materialize . Afrodoti Krassa 38 Forward Internacional texto: Filipe Pedro 38.º Sitges — Festival Internacional De Cinema De Catalunya Tubarão ataca na Catalunha Sitges, Barcelona, Espanha 9 a 18 Out | www.cinemasitges.com Em 2005, o Festival De Sitges comemora a passagem de 30 anos sobre a estreia do filme Jaws (Tubarão), de Steven Spielberg. Anunciam-se projecções da totalidade da saga, uma exposição e a presença de convidados especiais. O realizador Álex de la Iglesia receberá o Prémio Máquina Do Tempo por uma filmografia de referência, que inclui obras como El Día De La Bestia (O Dia Da Besta) e Crimen Ferpecto (Crime Ferpeito). Por outro lado, o japonês workaholic Takashi Miike volta a competir em Sitges com uma nova realização, Yokai Daisenso, contando com Chiaki Kuriyama como protagonista (GoGo Yubari no filme Kill Bill, de Quentin Tarantino). Extra-concurso estão, entre outros, Corpse Bride, de Tim Burton — filme de animação que recupera o imaginário de Nightmare Before Christmas (O Estranho Mundo De Jack) e Edward Scissorhands (Eduardo Mãos De Tesoura), com Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Emily Watson nas vozes principais —, A History Of Violence, de David Cronenberg, Flightplan, de Robert Schwentke (com Jodie Foster) e Sympathy For The Lady Vengeance, de Park ChanWook (derradeiro filme da trilogia que inclui Old Boy e Sympathy For Mr. Vengeance). Sitges proclama-se o maior festival de cinema fantástico do mundo. O estatuto tem-lhe permitido receber a visita de estrelas como Quentin Tarantino, Anthony Hopkins, Wim Wenders, David Cronenberg ou Mira Sorvino. • Corpse Bride texto: Jota Assis 49.º London Film Festival Londres, esse grande cinema Londres, Reino Unido 19 Out a 3 Nov | www.lff.org.uk Nasceu em 1957 o London Film Festival, que este ano vai para a sua 49.ª edição. O festival transforma a capital inglesa num gigante ecrã de cinema, onde são projectadas, em média, mais de duas centenas de filmes, sempre oriundas de mais de 50 países. A edição do ano passado não fugiu à regra, tendo sido apresentados 283 projectos, incluindo 180 longas-metragens e 103 curtas. Contou ainda com um número de visitantes a rondar as 116 mil pessoas. Entre os filmes projectados em 2004, encontram-se obras como The Incredibles ou The Edukators, filme alemão que por estes dias vai passando por algumas salas portuguesas. Este ano, o festival abre a 19 Out (4.ª), com The Constant Gardener, do realizador brasileiro de Cidade de Deus, Fernando Meirelles. E fecha a 3 Nov (5.ª), com Good Night and Good Luck, o esperado filme de George Clooney. A directora do festival, Sandra Hebron, diz estar «deliciada com o facto de podermos abrir e fechar o festival deste ano com dois filmes tão fortes e distintos ao mesmo tempo, que honram o cinema de uma forma tão segura e imaginativa. Embora muito diferentes em forma e estilo, as películas partilham uma relevância social e uma visão progressiva do mundo, sendo determinados e inventivos na abordagem dos temas de que tratam.» O London Film Festival é, certamente, um pretexto digno de aproveitar as promoções das linhas aéreas e comprar um voo com destino a Londres. • Forward Internacional 39 texto: Luís P. Oeiras Fernandes Dublin Theatre Festival À maluca em todas as direcções Dublin, Irlanda 30 Set a 15 Out | www.dublinfestival.com Hamlet Política, paixão e traição são os temas desta edição de um dos mais antigos festivais de teatro da Europa. Uma das melhores épocas e desculpas para visitar Dublin. Escolhem-se seis encenadores e seis dramaturgos e juntam-se dois a dois, à sorte, antes de serem embarcados, de manhã cedo, no primeiro comboio. No regresso a Dublin, terão um conjunto de actores atribuídos aleatoriamente e exactamente cinco horas para pôr de pé o espectáculo. À noite, cada dupla tem de apresentar uma peça de cinco minutos com base no que viu e nas pessoas que conheceu durante a viagem. Este Madly Off In All Directions é um exemplo dos muitos eventos das Olimpíadas Do Teatro, uma das novidades do Dublin Theatre Festival (DTF) deste ano. As olimpíadas incluem debates, oficinas e ciclos de cinema. É também possível conhecer melhor dois verdadeiros patriarcas do teatro britânico contemporâneo. Harold Pinter (cuja Conferência De Imprensa E Outras Aldrabices foi recentemente encenada/adaptada pelos Artistas Unidos) tem um fim-desemana temático com filmes, debates e leituras (algumas pelo próprio). Peter Brook, famoso pelas suas inovadoras encenações shakespeareanas, é homenageado no seu 80.º aniversário com uma exposição re- 40 Forward Internacional trospectiva. Quanto ao programa principal, é aguardado o musical Some Girls Are Bigger Than Others, com músicas dos The Smiths. O espectáculo da Anonymous Society baseia-se nas relações entre quatro mulheres e dois homens. Tem sido descrito como uma mescla do espírito mais sombrio com a leveza que caracteriza esta banda de culto dos anos 80. Na temática política, a peça Bloody Sunday promete levantar polémica. O domingo sangrento de 1972, que inspirou a famosa canção dos U2 com o mesmo nome, é revivido em palco pela voz das vítimas que participavam na manifestação e dos soldados que dispararam contra elas. Mas falar dos três temas deste ano é, obviamente, falar de Shakespeare e ele chega-nos das maneiras mais surpreendentes. O Teatro Da Cidade De Vilnius apresenta-nos um Romeu e Julieta, em ambiente de pizaria, que mistura os pecados da gula e da lascívia. Esta produção altamente visual e exótica promete abrir todo o tipo de apetites a qualquer um. Como cereja no topo de cada dia, o DTF tem um bar nocturno com programação exclusiva. O The Sugar Club será cenário para comédias, concertos, filmes mudos com música ao vivo e outras iniciativas noite fora. Dezasseis dias (e respectivas noites) de grande teatro. • texto: Filipe Pedro Estranhos festivais de Outono Vegoose Las Vegas, EUA 28 a 31 Out | www.vegoose.com Só os americanos para se lembrarem de fazer um festival na época das bruxas, no Sam Boyd Stadium, em pleno deserto, próximo de Las Vegas. A organização não quer que ninguém deixe o disfarce ou a máscara em casa, afirmando ter encontrado inspiração na cidade dos casinos e no espírito do Halloween para criar uma experiência inesquecível, com performances interactivas, mostra de instalações e concertos. Dave Matthews, Beck, Arcade Fire, Flaming Lips, Sleater-Kinney, Digable Planets, Michael Franti & Spearhead e Devendra Banhart são algumas das propostas irrecusáveis. O bilhete para o Vegoose custa cerca de 105 euros (128,50 dólares). • actuações de Goldfrapp, Nitin Sawhney, Delta 72, Make Up ou Bobby Conn para pouco mais de duzentas pessoas. Paulo Furtado, o nosso compatriota Legendary Tigerman, deixou os franceses boquiabertos e a pedir dois encores, em 2003. Noutro caso, ter de optar entre os concertos simultâneos de Gotan Project, Nicola Conte ou Zero 7 não foi mesmo nada fácil. Na 25.ª edição, Ben Harper e Beth Gibbons ofereceram prendas especiais ao festival: o primeiro actuou sozinho em palco e segunda reuniu-se com os fran- 4.º Wintercase 2005 Barcelona, Valência, Madrid, Bilbao, Espanha Out e Nov | www.wintercase.com O nome deste festival soa-nos familiar. A proximidade geográfica e o facto de ser um festival itinerante de música independente ajuda. Em espaços citadinos como o magnífico Razzmatazz e o facto do cartaz incluir nomes como Ian Brown, Mercury Rev, The GoBetweens, Supergrass, Dirty Three, Kaiser Chiefs, I Am Kloot, Delays, soa ainda mais familiar. Melhor só mesmo as festas de promoção do Wintercase, onde Adam Green apresenta o álbum de 2005, Gemstones. Ora tomem nota: Barcelona (Razzmatazz, 12 Out [4.ª]), Valencia (Repvblica 2, 13 [5.ª]), Madrid (Arena, 14 [6.ª]), Bilbao (Antzokia, 15 [sáb]). • The Arcade Fire 27.º Rencontres Trans Musicales Rennes, França 8 a 10 Dez | www.letrans.com Apesar do nome pomposo, o Rencontres Trans Musicales (Trans), celebra-se desde 1979 e apresenta muito mais do que o que em Portugal entendemos por festival. Depois de um formato mais ou menos caseiro, o Trans teve um crescimento significativo na transição dos anos oitenta para os noventa. Massive Attack, Nirvana, Björk, Portishead, Beck ou Ben Harper, só para citar alguns, foram nomes dados a conhecer na Europa Continental por estes encontros especiais, chamemos-lhes assim. Guardamos com carinho as ceses Le Peuple De L'Herbe para interpretar temas de Dummy, álbum de estreia dos Portishead. E fizeramno sem cachet, agradecendo o empurrão inicial do festival. Em 2004 passaram pelo Trans nomes como Dizzee Rascal, Tali, Lars Horntveth, Beastie Boys, Republic of Loose, Wakal, Teddybears Sthlm, Swami ou Vitalic. A receita para 2005? Mais do mesmo. Pensem em artistas novos, com álbum de estreia a editar em breve e em meia dúzia de bandas independentes de culto. Jean-Louis Brossard, melómano inveterado e director de programação do Trans, já confessou fazer o mesmo. • Forward Internacional 41 . foto: Filipe Pedro texto: Luís Santos Batista 6.º Festival Do Tejo Rumo internacional Quinta da Marquesa, Azambuja 22 a 24 Jul O Festival Do Tejo conheceu este ano a sua 6.ª edição, apresentando uma série de novidades. Para além da mudança do festival para a Quinta da Marquesa na Azambuja, também abriu a hipótese de participações estrangeiras. Esta aposta acabou por incrementar alguma curiosidade em torno da nova apresentação do cartaz que incluía ainda um palco Blitz. Tornou-se, no entanto, evidente que os habituais frequentadores deste festival cedo reclamavam saudades da Valada, no Cartaxo. A Quinta da Marquesa revelou-se um local com características mais agrestes onde até as actividades paralelas ficaram um pouco aquém do que este festival nos habituou nas últimas edições. Porém, a disposição do espaço em formato anfiteatro beneficiava os espectadores em relação ao palco principal, acabando por se manifestar o trunfo mais considerável desta alteração de local. E foi neste contexto que entre 22 Jul (5.ª) e 24 (sáb) perto de sete mil pessoas passaram por este local para assistirem a uma rotatividade de acontecimentos e espectáculos. A abertura desta maratona coube aos Old Jerusalém, que, apesar da actuação um pouco tépida, conseguiram despertar a atenção do pouco público ainda presente. Nesse mesmo dia foi possível experimentar as texturas Funk Hip-Hop de Melo D e observar a dose habitual de Rock dos Bunnyranch. O aliciante desafio dos Terrakota levou-nos a viajar por sonoridades ora mais quentes, ora mais mornas, visando sempre o binómio musical África / América Latina. Os palcos deste primeiro dia fecharam com a irreverente sensualidade e veia criativa assumida pelos Micro Áudio Waves, seguindo-se os Xutos & Pontapés. O segundo dia, para além de estar generosamente mais composto, deixava antever alguma ansiedade em torno da visita dos Transglobal Underground e dos Asian Dub Foundation, as duas bandas estrangeiras que teriam direito a desfilar no palco principal e por onde passaram ainda os Blasted Mechanism. No palco Blitz e salpicados pelo forte aroma dos cachorros quentes, bifanas ou outras iguarias mais gulosas, ainda passaram os Vicious 5, Ölga e o DJ Nel’Assassin. Para fechar o festival foram recrutados sons mais pesados, ficando o terceiro dia totalmente vestido de negro e com um cartaz de luxo. Se os Temple mostraram o porquê de serem uma das maiores revelações do Metal nacional, os germânicos Kreator pura e simplesmente cilindraram o recinto com o seu esmagador Thrash Metal. Um best of… do seu repertório mais agressivo e corrosivo deixou o público de rastos mas com garra suficiente para receber os Moonspell, que, à semelhança do que têm feito ultimamente, apresentaram um novo refresh no alinhamento. Sob o signo da lua, banda e público congregaram energias num espectáculo intenso. Esperamos que no próximo ano algumas falhas possam ser polidas e que o festival consiga manter este cariz tão peculiar que o torna diferente dos outros. • Rewind Música 43 foto: Rui A. Cardoso texto: Vítor Pinto Festival Vilar De Mouros À procura do norte Vilar de Mouros, Caminhar 28 a 31 Jul | www.vilardemouros.com Peter Murphy A edição de 2005, para a qual se adivinhavam algumas mudanças no mais mediático festival nacional, até correu pela positiva, mesmo em tempo de vacas magras e de tanta oferta para tão poucos euros. Alargado para quatro dias, o festival do Alto Minho arrancou debaixo de chuva e com os barcelenses Oratory, que pouco cativaram a armada gótica galega que se apresentou no recinto. A primeira grande vibração do dia foram os Anathema, cujo Daniel Cavanagh prometeu um novo álbum para breve. No arranque do segundo dia, e depois de uns discretos Squeeze Theeze Pleeze, longa se tornou a espera até assistirmos ao regresso de Ian McCulloch e Will Sergeant dos Echo & The Bunnymen ao festival, 23 anos depois e a meio da gravação do novo disco. Saudaram-nos com “Lips Like Sugar” e em formato revivalista saltaram “Rescue”, “The Killing Moon” e “Seven Seas”. Muito aguardado foi também Peter Murphy, agora com novo visual e novo disco (Unshatered), mas com a mesma sensibilidade de sempre. Depois de “I’ll Fall With Your Knife” e “Deep Ocean Vast Sea”, Murphy puro e simples brindou-nos com “Strange Kind of Love”, em guitarra acústica. Seguiu-se-lhe um 44 Rewind Música encore, com o inevitável “Cuts You Up”, e ainda um novo regresso ao palco para uma dose de versões, do companheiro Iggy Pop e dos Joy Division. No fim, apetecia dizer: obrigado pelos doces, mas... então e Bauhaus? Uma desilusão e um desejo tornado realidade Lenda viva anunciada, Joe Cocker não surpreendeu. Por entre os clássicos “Summer in the City” e “Up Where We Belong”, versões de U2 e Nina Simone, ou ainda originais como “Unchain My Heart”, Cocker não chegou para aquecer. Já Joss Stone provocou a maior enchente do festival — a bonita menina goza de imensa popularidade por estes lados. Mas o ponto alto da edição de Vilar de Mouros foi a aparição dos Porcupine Tree, finalmente em Portugal. Após edição de mais de 10 discos, tivemos o prazer de ver e ouvir o Rock progressivo da banda de “Sound of Muzak” e “Blackest Eyes”. Nos temas mais recentes, houve projecções de videoclips oferecidos pelos britânicos ao público presente, que não os conseguiu aceitar de bom grado, provavelmente devido ao seu experimentalismo pouco melódico e por vezes demasiado excessivo, não compatível para todos os ouvidos. • texto: Ana Serafim foto: Bruno Ramos Fredoom Festival 2005 A liberdade morreu na praia Barragem do Caia, Elvas 18 a 21 Ago | www.freedom-festival.org Recebidos os campistas meio dia depois da hora de abertura prevista, o Freedom Festival já deixava antever algumas falhas de organização. Mas, na chegada à Barragem do Caia, ninguém pensava que ficasse tão longe. Em pleno e tórrido Agosto alentejano, ventos desconfortáveis e incalculados expuseram a pouca atenção da Crystal Matrix aos pormenores essenciais para a realização de um evento com a magnitude pretendida e anunciada. O público deparou-se com um recinto sinuoso, mal iluminado e muito pouco limpo, a oferecer um main floor ventoso, parcamente iluminado, virtualmente sem sombras e com sprinklers semi-mortos. Na verdade, até à noite de encerramento, o espaço mostrava um ambiente de festival em préarranque, com alternativas de decoração e projecção de vídeo fraquinhas, a aparecer pateticamente. Tudo uma tentativa de desculpar e encobrir a total desatenção a possíveis (senão prováveis) alterações climatéricas, enquanto se mitificava uma suposta portentosa decoração montada e, infelizmente, desmontada ainda antes da abertura. Quanto às projecções, um VJing pouco sedutor e reduzido a uma tela no palco, isto depois das telas laterais terem rompido e voado com o vento, logo na primeira noite. O Cartaz Haverá quem diga, com quota-parte de razão, que nem só de ambiente e infra-estruturas vive um festival. Relativamente mais cumpridor nesta matéria, o Freedom foi apresentando a espaços o line up de artistas, sempre só diário e sempre sujeito a potenciais alterações. O público sedento de dança lançou-se a três dias com pouco a assinalar, para além das boas actuações de Talamasca, no dia 19 Ago (6.ª), e dos Infected Mushroom, a 20 (sáb), para depois, já exausto, ser presenteado com um último dia de cabeças de cartaz consecutivos. 21 Ago (dom) nasceu para ver 1200 Mics, G.M.S., Raja Ram, Hallucinogen e Astrix, entre outros, sempre a dançar, ao calor e sem intervalos. Mais pontos para a tenda Chillout, cujo programa existia secretamente definido para os quatro dias, a apresentar propostas interessantes, quer de música, quer de vídeo. De realçar a prestação dos Spongle, que conduziram um vasto auditório numa viagem por ritmos étnicos e espirituais. Nesta primeira edição, abaixo da linha de água, o Freedom Festival apresentou-se como um evento com notório espaço e condições para crescer. Mas, até lá, mantém-se o compasso de espera entre Boom’s. • Rewind Música 45 texto: Filipe Pedro música e Gonçalo Guedes Cardoso ambiente 7.º Festival Músicas Do Mundo Globalização em Sines Sines 28 a 30 Jul | www.fmm.com.pt Astrid Hadad «Cantando espalharei por toda a parte, se a tanto me ajudar o engenho e a arte». Cantando, cantava Camões no seu Canto I dos Lusíadas, buscando um ritmo ondulatório semelhante ao que levou Vasco da Gama para além da Taprobana. Agora, em Sines, local de infância do navegador e cinco séculos após a sua epopeia, recolhem-se as amarras e recebem-se os novos conquistadores. Anualmente, no último fim-de-semana de Julho, atraca no Alentejo litoral aquele que pode já ser hoje considerado como o evento nacional mais significativo no território da World Music. Organizado pela Câmara Municipal de Sines desde 1999, a sétima edição do Festival Músicas Do Mundo (FMM) traduziu-se este ano num dos melhores exemplos de qualidade desta fisionomia de eventos no Portugal do séc. XXI. Durante os três dias de festa, o cenário histórico do Castelo de Sines (palco principal), alojou cerca de 18 mil espectadores, mostrando-se insuficiente para acolher outros milhares de pessoas que ficaram à porta, em vãs tentativas de conseguir bilhetes. Nos restantes cenários, a Avenida da Praia, a Capela da Misericórdia e o Largo Marquês de Pombal, em Porto Covo, marcaram presença um número incalculável de amantes da multiculturalidade, embriagados por um permanente aroma de hortelã no ar. Tamanha afluência de público justifica-se à luz de uma série de factores apreciáveis: o preço de cinco 46 Rewind Música euros por dia, muito acessível, para os concertos do castelo, a par da inexistência de custo nos restantes palcos, esteve entre os argumentos principais. Em complemento, destaca-se a qualidade e diversidade dos 15 conjuntos musicais, provenientes de vários pontos do globo. Um dos maiores louvores atribui-se à estrutura organizativa, assente num mecanismo de experiência, competência, rigor e profissionalismo pouco visto por estas bandas. Assegurado pelo Gabinete de Informação e Relações Públicas da autarquia da cidade, o serviço de apoio à imprensa durante a semana do festival disponibilizou as condições técnicas e logísticas mais do que essenciais ao desempenho das nossas funções e deve ser tido como um exemplo a seguir no nosso país. Como se estas não fossem já razões de sobra, o clima quente de Verão, a proximidade da praia, a energia positiva e harmoniosa no ar, bem como a diversidade cultural presente, deram à costa de Sines tesouros de valor incalculável. Ljiljana, Amadou & Mariam Tango pela voz do mestre da ironia, Alejandro Guyot, ao fim da tarde, no centro de Porto Covo, antes da chegada a um night clubezito. Os argentinos 34 Puñaladas foram uma das revelações do FMM. Chegados ao Castelo de Sines encontrámos em palco fotos: Filipe Pedro Astrid Hadad, Amadou & Mariam João Paulo Gomes KTU Amadou & Mariam KTU a Brigada Victor Jara com Cristina Branco e Segueme À Capela. Lusofonia pertinente, como raras vezes nos é sugerida. Os muçulmanos bósnios Mostar Sevdah Reunion honraram a canção tradicional — o sevdah — juntando o vocalista Llijaz Delic, em pose dandy, com a voz e presença de Ljiljana Buttler, mais genuína do que qualquer personagem de banda desenhada. Do Mali surgiu um peculiar casal de invisuais com imenso talento musical — Amadou & Mariam chegaram ao mundo pela mão de Manu Chao, que lhes produziu o fantástico Dimanche A Bamako. A festa continuou com os sons ciganos dos romenos Mahala Rai Banda, tocando instrumentos de cordas e de sopro, numa grande diversidade musical, com muita alegria e dança, tanto em palco como na assistência. Luís Rei e Raquel Bulha, em modo DJ, fecharam a noite com competência. A extraterrestre Hadad Infelizmente não pudemos testemunhar o concerto da portuguesa Lula Pena. A pequeníssima capela revelou-se um espaço totalmente inadequado para concertos, garantindo-nos a organização que será substituída pelo novo, cómodo e amplo Centro de Artes, no próximo ano. No castelo, o guitarrista Marc Ribot deu um concerto rico, acompanhado pelo baixista Jamaaladeen Tacuma, pelo baterista Calvin Weston e por Anthony Coleman nos teclados. Com sangue maia e libanês, Astrid Hadad chegou-nos do México com um conceito próprio de surrealismo e muita ironia social e política. A cada tema correspondeu uma mudança de indumentária, cada uma mais original que a precedente, num fabuloso desfilar teatral e show de cabaret. O brasileiro nordestino Hermeto Pascoal deu um concerto inesquecível em Sines, assente em trabalhos de voz experimentais, percussão em badalos e uso original de teclados. Quando alguém acidentalmente desligou a alimentação do seu teclado, o músico enraiveceu-se, chinelando as teclas com toda a sua força. Ninguém saiu ferido e a boa disposição vingou. Descemos à praia para assistir aos guineenses Ba Cissoko, tocadores de kora com efeitos e distorções de inspiração Rock, e percussões a cargo de Ibrahim Bah. A fechar, o Techno maliano de DJ Mo. Kem és TU? Os japoneses Samurai 4 deram em Sines um dos seus primeiros concertos. O destaque vai para os diálogos entre o tocador de shamisen (uma espécie de banjo de três cordas) Takemi Hirohara e o baterista Hiroshi Motofuji (tambor wadaiko). Após um enorme encore, com mais de 20 minutos, que incluiu We Will Rock You, a banda viu-se obrigada a sair do palco. Já no castelo, quatro mil anos de Master Musicians Of Jajouka fez dos marroquinos a mais idosa banda do mundo. Podemos considerar a sua música hipnótica ou monótona e, se adormecermos ao fim de alguns minutos, isso pode ser considerado terapêutico. Um dos melhores concertos do FMM 2005 deveuse a KTU — junção de Kluster (projecto do fabuloso acordeonista Kimmo Pohjonen e de Samuli Kosminen no sampler) com o duo TU (Trey Gunn na guitarra de 10 cordas Warr e Pat Mastelotto nas percussões). O resultado desta bizarra combinação sonora é de outro planeta. Em formato septeto, os Kíla trataram Sines por tu desde o primeiro minuto. No entanto, os irlandeses tiveram constantes dificuldades de munição de som e o vento acabou por arruinar parte da pirotecnia e efeitos reservados para o fim das festividades no castelo. Na praia, o concerto correu bem melhor aos Konono N.º 1, cujos instrumentos do it yourself intrigaram muitos dos espectadores. No final do FMM, Mário Dias e Vítor Junqueira animaram as hostes em modo DJ, com uma recomendável selecção musical. • Rewind Música 47 texto: Ana Baptista e João Pedro Almeida Festival Sudoeste TMN 2005 Sudoeste em boa forma Zambujeira do Mar 4 a 7 Ago | www.musicanocoracao.pt D3O Os destaques da edição deste ano vão direitinhos para os Humanos, Underworld, LCD Soundsystem, Internacional Noise Conspiracy e até para os Oasis, que finalmente actuaram no festival. O Sudoeste 2005 registou a maior afluência de sempre, com 30 mil espectadores na primeira noite e uma média de 50 mil por dia. Somente o campismo não esteve à altura, superlotado e desconfortável. Aparte isso, nota máxima para o palco Positive Vibes, sempre com muito público, e para o palco Planeta Sudoeste, pela diversidade musical e alternativa ao palco TMN. Patrice muito modesto A primeira noite de Sudoeste foi destinada à diversão e à dança, com o cabeça-de-cartaz Sean Paul a levar ao rubro o público com os seus ritmos quentes de forte tensão erótica. Antes, o palco TMN recebeu o alemão Patrice, cuja actuação se pautou por um SoftReggae afunkalhado e que raramente criou ondulações, e a Orquestra Imperial que apresentou um cocktail de estilos musicais, muito balanço e humor. O dia arrancou com os Júnior, projecto Hip-Hop vencedor do TMN Garage Sessions; Domingos António em 48 Rewind Música piano clássico e os Expensive Soul, que contaram com uma ajudinha de Virgul, dos Da Weasel. Na outra ponta do recinto, na tenda onde ficava o palco Planeta Sudoeste, após o desfile em regime best-of de sketches ao vivo dos Gato Fedorento e o cancelamento da actuação dos Fischerspooner, o público ficou com os sons escuros e hipnóticos dos Ladytron, a apresentar o seu novo trabalho Witching Hour. Oasis, do princípio ao fim Os primeiros acordes ouviram-se pelas 17h no palco Planeta Sudoeste, com os You Should Go Ahead, Klepht e Boite Zuleika. Mas o primeiro banho de multidão deu-se com o porta-estandarte do novo Folk americano, Devendra Banhart, que mostrou novas composições, além do seu repertório habitual. Mais tarde teve lugar o showcase da DFA Records, a editora de James Murphy, líder dos LCD Soundsystem e os primeiros a abrir as hostes. Arrebatadores, levaram uma multidão suada à loucura. Seguiram-se os Black Dice, que praticamente esvaziaram o recinto com sons pouco apropriados a públicos festivaleiros, e também os Hot Chip, The Juan MacLean e Delia & Gavin. fotos: Luís Bento Humanos Pelo palco TMN os grandes concertos tiveram início com os Da Weasel, a que se seguiram os Oasis. Estes apresentaram um espectáculo simples e coeso, e Portugal pôde ouvir os hits de há quase 10 anos atrás, entoá-los em coro e aplaudir euforicamente. A encerrar o palco principal estiveram os Kasabian, cujos temas ao vivo ganham outra sensualidade graças à simpática e enérgica presença do vocalista Tom Meighan. Ben Harper, mais uma vez O terceiro dia de festival foi o mais eclético de todos. No palco Planeta Sudoeste assistiu-se ao Hip Hop dos Factor Activo e de Sagas (membro dos Micro, agora a solo), ainda aos ambientes dos Hipnótica, ao Rock controlado de Sarah Bettens (a voz dos K´s Choice) e à Folk intimista de Louise Rhodes (a voz dos Lamb), até chegar a electrónica enfadonha de Mylo, o Electro-Rock de Peaches e o DJing dos Dezperados. Pelo meio, Josh Rouse e respectiva banda transformaram canções intimistas em temas quase épicos — para muitos foi o melhor concerto da noite, a par da prestação dos Humanos. A performance dos Thrills foi, à excepção do tema “Big Sur”, semelhante à de uma vulgar banda de pub, com um Conor Deasy de voz e postura demasiado colada a Rod Stewart e uma banda mais competente que esfusiante. Já Donavon Frankenreiter mostrou-se um surfista canastrão inspirado em Ben Harper e Jack Johnson, mas sem o carisma e talento do primeiro, nem a capacidade para escrever canções leves e despreocupadas do segundo. Ben Harper optou por uma actuação mais Rock Devendra Banhart Kasabian do que é habitual, com poucas incursões acústicas e raros desvios de estilo, com excepção para “Burn One Down” ou para a versão Reggae de “Excuse Me Mr.” A recta final Coube aos Vicious 5 abrir o último dia do festival. Infelizmente, a fraca qualidade do som tornou quase insuportável a audição. Já os D3O mostraram ter Rock na guelra. Acabadas as prestações nacionais, subiram ao palco os Internacional Noise Conspiracy — Punk e política juntaram-se numa energia e presença inimaginável, aliada a grandes temas. A fechar, já que depois a tenda ficava a cargo de DJs, a sexualidade musical e a luxúria forçosamente controlada dos The Kills, num excelente concerto, desgastante emocionalmente, que privilegiou o último álbum No Wow. Do outro lado, pelas 20h, os Athlete abriam o palco TMN de forma simpática mas sem grandes assomos de originalidade. Já os Doves foram impossíveis de ignorar — o som grandioso que caracteriza a banda esteve presente, causando arrepios na espinha. Os Dinosaur Jr. não perderam a dinâmica nem a potência que os caracterizava no passado, contudo a barragem sónica admirável não animou muito o público, que aguardava impacientemente a actuação dos Korn. Estes, apesar de ligeiramente ultrapassados, deram um concerto ao nível do já esperado (com muito pó pelo ar), chegando mesmo a apresentar novos temas. Por fim, os Basement Jaxx, que com um fabuloso jogo cénico e de luzes, vozes fortes e temas a puxar a dança foram a banda sonora ideal para abandonar o Sudoeste 2005. • Rewind Música 49 texto: João Pedro Correia Jazz Em Agosto 2005 Jazz europeu, inédito e atómico Lisboa 5 a 7 e 10 a 13 Ago | www.camjap.gulbenkian.org Atomic O Jazz Em Agosto é um festival a que se vai, não porque se goste, mas sim para ver se se gosta. Desde que foram inaugurados, em 1969, o edifício sede e jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que por lá passam diariamente estudantes, artistas de todos os ramos, pensadores, simples veraneantes e muitos turistas, asiáticos de máquina fotográfica ao pescoço e europeus de todos os cantos do continente. O que tem de especial a Gulbenkian? Tem muito — e tem Jazz, o Jazz Em Agosto (JA). Durante duas semanas passaram pelos três palcos da Fundação 17 propostas musicais, de oito nacionalidades diferentes, com especial relevância para a Europa, e praticamente todas elas inéditas em solo nacional. Porque «o Jazz europeu está muito mais interessante que o norte-americano» e também porque a tradição do festival é essa, mostrar coisas novas, «provocar, apelar à questionação, à exigência», esclareceu Rui Neves, director artístico do festival desde o ano 2000. A programação de 2005, de que a FEST só pôde acompanhar alguns espectáculos, por motivos de fecho de edição, não fugiu a essa regra. Os concertos, três por dia (15h30, 18h30 e 21h30) dividiram-se pela Sala Polivalente e Grande Auditório da Fundação, encerrando-se o dia no Auditório ao Ar Livre do Centro de Arte Moderna. As honras de abertura couberam à reputada 50 Rewind Música Globe Unity Orchestra, conjunto de 10 músicos alemães e um inglês, repartidos por um piano, duas baterias e restantes trombones, saxofones e clarinetes. O conjunto tocou uma única peça com cerca de 90 minutos, sempre em improvisação, sem pausas, sem líder, uma demonstração de Free Jazz na verdadeira acepção das palavras — 11 tipos tocando cada um para seu lado e a seu belo prazer. Destacaram-se Alexander von Schlippenbach, pianista e mentor da orquestra desde 1966, pela imaginação; e Rudi Mahal, um sujeito magro e muito alto, vestindo jeans apertados, meio calvo mas com duas longas patilhas ladeando as faces, que deu um espectáculo visualmente exuberante nos solos, pela forma como quase caía, além de que foi o melhor dos clarinetes-baixo. A noite quente sufocou, o auditório ao ar-livre esteve preenchido pela metade, o público bastante quieto e as palmas quase não apareceram, excepto no final. Das duas, uma: ou a prestação da Globe Unity Orchestra, de um fôlego, não deu espaço a manifestações ou a mescla de sons — e até ruídos — intimidou mesmo os mais experientes. Seja como tiver sido, o arranque do JA 2005 estava feito, sem bússola. Berliner original soundtrack Na noite seguinte o grupo do multi-instrumentista Gebhard Ullmann propôs algo diferente. O decateto berlinense — com todos os saxofones, incluindo o gigante barítono — interpretou vários temas da autoria de Ullmann, composições para bandas sonoras de filmes e documentários, sugerindo ambientes sombrios e Berlim debaixo de chuva. A dinâmica do grupo em palco foi interessante de se apreciar. Ullmann e o clarinetista Jurgen Kupke, dois líderes demarcados, conduziram o conjunto pelos longos temas em passo acelerado, abrindo espaço para diversos solos e agarrando as linhas para devolver o olho às complexas composições. O público gostou e mostrou-o, ganhando um regresso rápido, para um último tema. Energia atómica A fechar o terceiro dia do festival esteve o quinteto norueguês Atomic. Fulminante, o grupo entregou-se fotos: CAM — FC Gulbenkian totalmente, demonstrando ter pulmões dignos de velocistas. Foi particularmente agradável observar como o pianista Havard Wiik e o baterista Paal Nilssen-Love improvisaram sobre trechos ou solos em progressão, debaixo da batuta do saxofonista, clarinetista e líder Fredrik Ljungkvist, que gesticulava copiosamente a forma como deveriam entrar, enquanto também tocava. Não obstante, o grupo foi muito coeso, com espaço para todos brilharem — porque brilharam. O trompetista Magnus Broo bem se esforçou para arrancar os mais sinceros aplausos da noite nos seus solos. Nilssen-Love, na bateria, mostrou-se cheio de recursos, vassourando, riscando e manejando vários pratos. E lá atrás, quase escondido, o baixista Ingebrid HakerFlaten suou o bastante, irrepreensível. Os Atomic, a proposta mais mainstream da primeira semana deste JA — contudo, desconhecida quanto baste —, agradaram muito e conseguiram a maior e mais variada assistência (menos cabeleiras grisalhas). Quem não comprou o disco à saída, certamente se arrependeu — estas pérolas não encontram o caminho da Noruega até Portugal. O Jazz em Agosto Magnus Broo Ainda antes do início do JA, o director artístico do evento, Rui Neves, ajudou a FEST a conhecer melhor o festival de Jazz português que esteticamente não pode ser comparado com nenhum outro. «Não temos a pressão da bilheteira, como a maioria dos outros festivais. Por outro lado, somos o festival nacional [do género] com maior budget, apesar de não ser caro fazer um JA». Assim se explica a liberdade para construir cartazes como o deste ano, recheado de inéditos e de experimentalismo, quase numa lógica de: ao JA vai-se, não porque se goste, mas sim para ver se se gosta. O cartaz deste ano propõs um olhar sobre «a nova geração “branca” e europeia do Jazz, fruto de influências diferentes das do Jazz norte-americano», desenvolveu. Daí que na segunda semana do JA se vejam grupos que fazem uso de elementos electrónicos, como o de Jerry Granelli (EUA/Alemanha), os Wibutee (Noruega) — em substituição dos Jaga Jazzist — e o projecto Mephista (Suíça/Japão/EUA). Outro argumento para aferir a unicidade do JA é a sua política de divulgação. «O festival começa a ser divulgado no estrangeiro antes de o ser em Portugal», revelou Rui Neves, o que se traduz num público transnacional, situação a que também não é alheio o facto de a fundação, por si, figurar nos roteiros turísticos de quem visita Lisboa. Os espectáculos do JA registam uma média de ocupação na ordem dos 70 a 80 por cento. • (Atomic) Gebhard Ullmann Rewind Música 51 . Kaiser Chiefs (esq) Foo Fighters (dir) texto: Cátia Monteiro e Pedro Moreira Paredes De Coura 2005 Altos, baixos e muitas estreias Paredes De Coura 15 a 18 Ago | www.paredesdecoura.com Tal como era previsível, a 13.ª edição do Festival Paredes De Coura (FPC) foi um sucesso, chegando a superar as expectativas criadas, graças à qualidade do cartaz apresentado. Até o sol ajudou à festa. A aposta num cartaz virado para o Rock independente revelou-se inteligente, trazendo ao FPC algumas das bandas que mais vêm dando que falar nos últimos tempos (sendo a maioria estreante em Portugal), mobilizando milhares de pessoas, que encheram o recinto. Notou-se um esforço na melhoria das condições do acampamento e do recinto, das quais se destacam as duas enormes áreas de restauração, que só pecavam pela oferta limitada a meia dúzia de sandes. Na primeira noite do festival, o palco secundário recebeu a festa de recepção, marcada por um intenso 52 Rewind Música cheiro a hortelã, que, diz o povo, ajuda a revitalizar o corpo. A forma como o imenso público presente recebeu o Indie Rock dos escoceses Sons And Daughters, dançando e reagindo com alguma intensidade a cada grito da bela Adele Bethel, prova que o povo está certo. A dança prolongou-se noite dentro com Trailer Trash e Zig Zag Warriors. O duo Death From Above 1979 teve a responsabilidade de abrir o palco principal no segundo dia do festival e fê-lo de forma brutal. É impossível ficar indiferente ao espectáculo dos canadianos, apesar dos altos e baixos do álbum de estreia You're a Woman, I'm a Machine. Os !!! dilataram os minutos numa música dançável, ilustrada pelo ritmo estimulante e enérgico de Nic Offer, que não se poupou a formas de apelar ao público numa coreografia interactiva e de carregada fotos: Luís Bento alusão sexual — uma orgia musical a que a assistência não foi alheia. Enérgico estava a ser também o concerto dos Kaiser Chiefs até que, em “Everyday I Love You Less And Less”, o endiabrado vocalista Ricky Wilson teve o azar de cair mal após um salto, e magoar-se num pé. Já se sabe que é difícil sair desiludido de um concerto dos Foo Fighters. Em Paredes de Coura não foi diferente. Toda a actuação ficou marcada por momentos extasiantes, como na ode “In Your Honor”, ou o enorme meteoro que decidiu aparecer durante “My Hero”, ou, ainda, “Everlong” cantada em uníssono pela multidão presente e o final explosivo, com “Monkey Wrench”. Muito quente mas sem aquecer Ao terceiro dia caiu um anjo. Alasdair Roberts pareceu ser a calma em pessoa. Algumas das músicas tradicionais do Reino Unido que fazem parte do seu último álbum, No Earthly Man, foram apresentadas, acompanhadas por histórias interessantes, fazendo um delicioso início de tarde. Apesar da redundância calorífica do nome, os Hot Hot Heat não aqueceram o palco tanto quanto se esperava. Os temas do novo álbum, Elevator, ainda estão crus para uma audiência que só entra em ebulição com as pérolas de ritmos cruzados e electrizantes do disco anterior. O Funeral dos Arcade Fire é um daqueles em que os trajes negros e as lágrimas dão lugar a uma celebração da vida. Baquetas descontroladas que atingem capacetes, cabeças e costas, violinistas apaixonados e uma boneca de trapos que ataca um acordeão. Um espectáculo em crescendo que culminou com Win Butler a mergulhar com a guitarra num mar de público em êxtase. Apesar da versão de “Whole Lotta Love” e de outro pico para “The Seed” — aqui sem Cody Chesnutt — a actuação dos Roots não obteve grande entusiasmo do público. Alguns virtuosismos na guitarra não chegaram para abstrair do que foi um erro de casting neste festival. QOTSA e Pixies repetentes Lullabies to Paralyze foi o mote para mais um concerto dos Queens Of The Stone Age, o terceiro no FPC. O líder da banda, Josh Homme, ainda a recuperar de uma operação ao joelho, tentou fazer esquecer a falta do irreverente baixista Nick Oliveri apostando num concerto mais soturno que apenas pecou pela curta duração e pelo longo — e dispensável — solo com que fechou a actuação. Ainda só tinha passado um ano desde a última vinda dos Pixies a Portugal. A fome era por isso mais ligeira, o que não impediu a refeição de ser bem guarnecida. Uns pratos calóricos e mais conhecidos para entrada, com umas iguarias exóticas a pontuar o repasto. O último dia do festival começou com um atraso de uma hora, sendo os americanos The National a iniciar a ronda final de concertos. Matt Berninger sente profundamente tudo o que canta e isso transborda palco fora, influenciando o público e criando um ambiente bastante intimista. Em substituição dos Killing Joke, Woven Hand chegou ao palco principal na noite de Nick Cave e de lua cheia. Apontou o céu e fez cair o seu apelo. Uma substituição divina, em que David Edwards pareceu fazer convergir voz, música e gestos numa espécie de transe, que vai convertendo fiéis à medida que anoitece. Um espectáculo visualmente atraente, mesmo que pobre no campo musical — sempre é preferível a um que falhe ambos. Este podia ser um argumento favorável a Julliette And The Licks, que surgiram em palco como uma girl + boys band com ares Punk, mas que mantém os códigos de vestuário, os tiques sexy e os cabelos agitados no ar. Pode ter sido um argumento favorável, mas apenas para quem isso é suficiente para accionar o gatilho da abstracção auditiva. Vincent Gallo juntou em palco o cinéfilo ao melómano e o que daí resultou foi uma banda sonora delicada e inspiradora de divagações do espírito. Mas o local não era o mais apropriado para a capacidade de concentração do público, cujos pontuais assobios só foram acalmados pela versão contador de histórias, que Vincent encarnou nas pausas da meditação musical. No final da noite, de dedo em riste e com uma voz profunda e poderosa, Nick Cave assemelhou-se a um pregador que converteu o palco do FPC num púlpito de cânticos mais ou menos ortodoxos. O repertório é demasiado vasto para satisfazer todos os pedidos do público, mas o alinhamento contemplou a invocação de “Stagger Lee”, exemplo de uma lírica mórbida e sarcástica, que envolveu os convertidos numa adoração da figura de negro. • Rewind Música 53 texto e fotos: Filipe Pedro Festival Maré De Agosto Maré-alta nos Açores Santa Maria, Açores 18 a 21 Ago | www.maredeagosto.com Na Ilha de Santa Maria, em pleno Atlântico, há um festival que une a World dos Celtas Cortos, Manecas Costa e Kila, o Reggae dos Skatalites, o Blues de John Lee Hooker Jr, a Pop de Lúcia Moniz, o Punk Rock dos Fonzie, o Rock dos Pluto, o Free Jazz dos Underpressure e a Electrónica de Tânia Pascoal. Ecléctica é a definição possível para este evento peculiar, encaixado entre o mar e as montanhas, este ano sob a bênção de uma belíssima lua cheia. Com 21 edições, o resistente Maré De Agosto conta com um assinalável culto, claramente visível no público que, dos oito aos 80, dos jovens casais às famílias inteiras, se reúne para ver os conjuntos populares. O festival tem a particularidade de começar tarde (depois das 23h30) e a meio gás. Só depois da uma da manhã é que o recinto começa a ficar composto. Reza a história que os concertos chegam a durar quatro horas — como um famoso de Nuno Bettencourt, com a presença do ex-vocalista dos Extreme, Gary Cherone. A proximidade entre organização, artistas e público resulta do empenho da Associação Cultural Maré De Agosto em fazer do Maré, chamemos-lhe assim, um festival com um ambiente único. Até mesmo a música que se ouve entre concertos tem qualidade e actividades circenses com fogo divertem a audiência. Para muitos, uma rave Em dia zero saliente-se a perícia de Tânia Pascoal, exímia nas variações de tempo e gestão de graves e agudos ao longo de três horas bem medidas de Deep e Hard House, habilmente condimentados com Techno, onde não faltaram alguns clássicos da editora Kaos, nem um tema menos conhecido de Tiesto. Ainda assim, problemas técnicos com os gira-discos (controlo de pitch e agulhas) impediram a DJ portuense de tocar alguns vinis que trazia na mala. O piropo machista és tão boa ouve-se quando Tânia despe a tshirt e traja um top justo. No aquecimento da noite marcaram presença os DJs Johnny Big e Afonso. O legado dos Skatalites Na abertura da noite, os Fonzie deram um concerto muito animado, com constantes descargas de adrenalina por parte da banda e um crescendo de intensidade do público. Do álbum Wake Up Call ficam na memória os temas “Sorry, Gotta Get Away” e “Say Hello”, muito embora o primeiro disco Built To Rock não tenha ficado de fora do alinhamento. «Não me canso de dizer obrigada, não me canso de dizer que adoro os Açores», afirmou uma visivelmente emocionada Lúcia Moniz. Pela primeira vez no Kila 54 Rewind Música festival, a cantora açoriana mostrou o disco que lançou recentemente, Leva-me P’ra Casa, claramente mais pesado do que os álbuns anteriores Magnolia e 67. No final da actuação, os Fonzie juntaram-se à festa. O público pediu mais e Lúcia regressou para continuar. Os senhores que se seguiram chamam-se Skatalites — uma escola e um claro exemplo de longevidade —, já tocaram por todo o mundo e vem existindo com formações renovadas desde os anos sessenta. De regresso a Portugal, depois da passagem por Algés, em Abril, a banda viajou até Santa Maria, para deleite do público açoriano, ao rubro com os velhinhos temas dos percursores do Reggae, Ska e Rocksteady (e amigos), como “Sugar, Sugar”, “Can’t You See”, “Nice Time, Don’t Stay Away” ou “By The Rivers Of Babylon”. O ambiente em palco foi extremamente familiar, com constantes cumplicidades, entre sorrisos e boas vibrações, terminando a actuação quase às cinco da manhã. Dançar a música do mundo Tal como na véspera, a tardia chegada do público penalizou um pouco a actuação dos Pluto. Muito embora o vocalista Manel Cruz tenha estado pouco comunicativo, entre músicas e cervejas, o single “Só Mais Um Começo” obteve a reacção calorosa que se esperava. A actuação dos irlandeses Kíla no Maré não foi exactamente igual à de Sines, um mês antes. Este foi um concerto de raízes, irlandês na essência, mas com mais garra e improviso. Para além dos elogios pelo mar, montanhas e beleza natural do local onde decorre o Maré de Agosto, os Kíla aceleram na recta final da actuação, respondendo o público com danças frenéticas e algum pó no ar. Despediram-se com um Tânia Pascoal «obrigado e até sempre, é provável que a gente se veja a nadar por aí». Depois das energias gastas com os Kila, o público aproveitou para uma pausa de comes e bebes. Manecas Costas foi bastante penalizado com isso, uma vez que a audiência demorou algum tempo a sintonizar os sons quentes e dançáveis da Guiné-Bissau. Acompanhado por excelentes músicos, Manecas aguentou a festa madrugada fora. Sentir o calor do Blues Apesar do virtuosismo na guitarra, Pedro Madaleno concedeu espaço aos Underpressure para improvisos e solos de baixo (Miguel Amado), trompete (Lukas Frohlich) e bateria (Vicky). Momentos de cacofonia em excesso e alguns problemas com o volume dos instrumentos tornaram, a dada altura, a actuação demasiado longa, quase penosa. «Are you ready for the Blues?». Neste caso, filho de peixe é bom nadador, e com presença e voz de verdadeiro entertainer John Lee Hooker Jr. Entrou em palco para apresentar o álbum Blues With A Vengeance. «O Blues tem de atravessar a vossa espinha. É a única forma de o sentirem», disse. No final, um prolongadíssimo encore em modo festa, com “We’re Gonna Party All Night Long” e mais uma descida ao fosso para emoções fortes e transição directa para a sessão de autógrafos improvisada, sem passar pelo camarim. Inesquecível. Depois da passagem do furacão Hooker, qualquer concerto seria considerado um erro de casting. Mas a actuação dos espanhóis Celtas Cortos foi mesmo muita parra para pouca uva. Curto, a despachar e desinspirado. Nem o anunciado caldeirão de Ska, Celta e Rock se confirmou eficaz. Obviamente que às quatro da manhã o público já dança qualquer coisa que lhe dêem a escutar. In vino veritas. • John Lee Hooker Jr. Rewind Música 55 texto: Vitor Pinto Noites Ritual Rock A vitória lusa Porto 26 a 27 Ago | www.noitesritual.com Supernada Cool Hipnoise As Noites Ritual Rock, na sua 14.ª edição consecutiva, são a prova viva de que um sonho de vários jovens, apoiado numa revista cultural, se tornou numa realidade adulta, de onde todos saíram vencedores: o público, a organização exemplar, a música portuguesa e a muy nobre e invicta cidade do Porto. O arranque das festividades ficou marcado pelo cancelamento dos Complicado, permitindo aos Wordsong honras de abertura. Os jardins do Palácio de Cristal albergaram as palavras de Al Berto e Fernando Pessoa, associadas a imagens electrónicas vindas de alguns dos elementos dos Rádio Macau, deixando, porém, o encaixe de voz de Pedro d’Orey muito a desejar. O palco secundário, inaugurado pelos Ölga, permitiu-lhes mais uma excelente apresentação do álbum What Is, numa série de momentos alucinantes criados pelo baixo e duas baterias. À sua volta, formava-se uma enorme mancha de gente interessada em ver este projecto da Bor Land, marcado por um final explosivo com “Hassana” e “Money”. De volta ao palco principal, vimos entrar os Plaza num formato robótico, por entre as plumas brancas e muita alegria. “(Out) On The Radio” e “July The 1st 1984” revelaram-se os momentos mais dançantes, ambos retirados de Meeting Point, o álbum de estreia dos irmãos Praça. Em tom de festa houve ainda tempo para “Flow”, tocado pela primeira vez no Porto, e as versões “We Came Through”, de Scott Walker, e “Your 56 Rewind Música Life Is A Lie”, de Legendary Tiger Man, presente nos ecrãs. Findo o êxtase, foi tempo de descer até à concha acústica para presenciar outro projecto da editora Bor Land, os Alla Polacca. Num ambiente mais sereno do que os anteriores Ölga, o colectivo portuense manteve as ondas flutuantes de psicadelismo por entre as guitarras e as árvores do jardim. No encerramento da noite, o Funk dos Cool Hipnoise tomou conta dos corpos. Em cima da mesa colocaram o Best Of de uma carreira com 10 anos, onde naturalmente não faltaram os temas-chave, acompanhados por um imenso groove no ar: “Groove Junkie”, “Ponto Sem Retorno” o recente single “Brother Joe” e a versão “Come As You Are”. O grand final, em formato batucada, introduziu ritmos quentes com improvisos, ajudados por Ace e Presto, numa noite muito fria. A noite dos rockers vivos No início da segunda jornada, o público curvou-se com a actuação dos Gajos Baixos, o novo projecto nacional de Alexandre Mano e Edamir Costa, que por entre alguma estranheza de diálogo entre os dois instrumentos, levantaram a curiosidade e a promessa. De seguida houve espaço para outro projecto de Manel Cruz (mais um). Depois de Pluto, agora Supernada, em formato agradável de se ouvir. Foi um regresso às origens dos Ornatos Violeta, claramente vincados em “Irreal”, “O Preço Das Uvas” ou “O Pai fotos: Rui A. Cardoso Bunnyranch Durante o festival, a FEST FORWARD MAGAZINE aproximou-se de três feiticeiros do caldeirão musical português, roubando-lhes as fórmulas das noites Ritual Rock. Wraygunn Natal”. Mesmo debaixo de chuva, toda a gente se fixou na voz inconfundível de Cruz e no desempenho, sem espinhas, de uma banda fabulosa que o acompanhou. De volta ao palco dois, os Housanbass dispuseram-se a imprimir um ritmo mais dançante na noite marcadamente Rock & Roll. Nos pratos, avistouse um Dj Rui Reis em manobras House, sobre o acompanhamento algo despercebido do baixo de Alexandre Mano. Com ou sem chuva, estiveram os Bunnyranch, perante um recinto muito bem composto e com Kaló, sempre ele, no seu habitual destaque de baterista e front man, em formato one man show. Indispensáveis foram “Liar Alone” e “Hungry”, o tema imortalizado em 1966. Não faltou uma homenagem aos Mão Morta e no final deixaram o pássaro voar com “Litle Bird Get In Shape”. O Drum & Bass atmosférico de Alex FX musicou as imagens projectadas nas paredes da concha, com destaque neste live-act para um tema de Amália, aqui revisitada. A fechar mais um ano e pela primeira vez na condição de cabeças de cartaz, os Wraygunn provaram estar à altura do desígnio. Como já vem sendo habitual, o sempre enérgico e brilhante Paulo Soul Power Furtado esteve num nível superior, apoiado pelo acréscimo vocal bem colocado de um novo elemento feminino, Raquel Ralha. Em “There But For The Grace Of God Go I” e “Don’t You Know?”, esta provou ter sido uma aquisição valiosa. A noite de Paulo Furtado . Wraygunn É o único festival com esta longevidade e com grande afluência de público, apenas com bandas portuguesas. Acho que é uma iniciativa fantástica e um dos meus locais preferidos para tocar. Foi muito bom quando cá viemos pela primeira vez. Foi também a primeira vez que as pessoas deram mais valor aos Wraygunn. Esta edição marca uma estreia para nós como cabeças de cartaz num festival, o que não deixa de ser reconfortante, e acho que isso só poderia ter acontecido aqui, curiosamente. Kaló . Bunnyranch Fantástico…continuem! São 14 edições de glória. Eu falhei há 11 anos com os Tédio Boys por culpa própria, porque me portei mal e era um inconsciente desgraçado (risos). Mas são 14 anos consecutivos só com música portuguesa, com um impacto mediático, com as pessoas que traz todos os anos… Acho que só podem parar daqui a uns cem! Carlos Vieira . Organizador São 14 anos positivos. Isto começou como um sonho de uma associação de jovens (Associação Juvenil de Comunicação Social), que editou também uma revista, a “Revista Ritual”. Em 1988 propusemos ao pelouro de animação da autarquia tornar tudo isso num festival. Dois anos depois, tudo foi possível. Tudo se foi desenvolvendo e hoje é um marco da música portuguesa. Por isso o balanço será sempre positivo. chuva não furtou Paulo de se juntar à assistência, em “Speed Freak”, repetindo a audácia em “All Night Long”. Com direito a encore, o tema escolhido foi “My Generation”, dos lendários The Who. Num concerto captado para posterior edição em Inglaterra, a união entre os Wraygunn, o público, a chuva, a noite e os jardins do palácio, resultou na perfeição. De parabéns está a música Portuguesa, num evento exemplar. • Rewind Música 57 texto: Márcio Alfama fotos: Luís Bento Festival Lisboa Soundz Mini festival à solta Doca Pesca — Lisboa 29 Ago | www.musicanocoracao.pt Mogwai Se tudo o que desejava em Agosto era um festival de pequena dimensão, junto ao Tejo, a cinco minutos de Lisboa, com espaço para agitar o corpo, um ambiente sofisticado e urbano e um cartaz com atitude, lamentamos se não marcou presença no Lisboa Soundz. As cerca de três mil pessoas que se juntaram numa espécie de parque de estacionamento acabaram por se divertir, muito por culpa da fatal combinação entre cerveja para a bucha e música para os ouvidos. Os Bunnyranch deram início às festividades com um Rock plagiado às sonoridades arcaicas, típicas de um Rockabilly visto e ouvido demasiadas vezes. Realça-se, ainda assim, a sua disposição em palco, em especial de Kaló, o carismático vocalista / baterista, a constante animação e a interactividade com a assistência. Feito o warm up, seguiram-se-lhes os Jimmy Chamberlin Complex, o conjunto do homónimo exbaterista dos Smashing Pumpkins. Revelando-se uma agradável surpresa, fizeram o cruzamento, em termos sonoros, entre os God Speed You! Black Emperor e os Subarachnoid Space, ainda que com menor qualidade. Jimmy falou com o público, elogiou Portugal e encantou a audiência. É incontornável dizê-lo: os Mogwai foram os melhores da noite. Os pêlos arrepiaram-se, as cabeças 58 Rewind Música Franz Ferdinand balançaram e os punhos ergueram-se. Estiveram em uníssono: o público e a banda. Foram uma espécie de cântico divino, uma melodia que vem das estrelas, de um planeta distante e o que ouvimos encheu-nos de optimismo. O melhor? “Hunted By A Freak” (a abrir o concerto). O pior? Simplesmente não existiu. No cair do pano, os escoceses Franz Ferdinand agitaram as massas, ecoando a quase totalidade do primeiro álbum, completado com cinco temas do segundo registo. Num total de 14 canções, “Take Me Out”, “This Fire” e “Do You Want To” assumiram destaque. A meio da euforia instalada, houve quem preferisse sentar-se no chão, de costas para o palco, folheando a FEST FORWARD. Para além do elogio evidente à nossa publicação, a dúvida persiste se tal mais não foi que uma mensagem à actuação da banda escocesa. Para os que se mantiveram de pé, o evento traduziu-se num grande motivo de festa. Noite terminada, recolheram-se os copos, permaneceu no ar o cheiro do pão com chouriço, o som (demasiado alto) dos Franz Ferdinand deu lugar à passividade do Tejo e o frio tomou conta dos corpos. Haverá mais para o ano? Ainda é cedo para responder. Em caso afirmativo, espera-se que contemple mais público, maior variedade na restauração, maior prestação de serviços (Multibanco, tabaco), menos imposição policial e, se possível, que tenha mais ambiente de festival. • foto: Filipe Pedro texto: Pedro Moreira 29.ª Festa do Avante! Não há festa como esta Atalaia, Seixal 2 a 4 Set | www.pcp.pt/festa-do-avante Ljiljana Buttler & Mostar Sevdah Reunion Um dos maiores eventos cultural de Portugal voltou a ter lugar na quinta da Atalaia, no Seixal. Juntando milhares de pessoas de todas as gerações, a 29.ª Festa Do Avante! foi, certamente, a maior dos últimos 15 anos. Políticas à parte, a Festa Do Avante! será, porventura, a única iniciativa capaz de reunir um grande número de artistas de todas as áreas, com uma oferta gastronómica dos quatro cantos do mundo. A primeira noite serviu de aquecimento, com pouco público. Inserido nas comemorações dos 60 anos da queda do nazismo, o palco 25 de Abril recebeu a Orquestra Sinfonietta De Lisboa, dirigida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo, que apresentou o espectáculo Opus 1945, onde se ouviram composições de Ludwig van Beethoven, entre outros. Foi interessante verificar a afluência de público jovem a este tipo de espectáculo. Depois, no palco 1.º de Maio, soou o Reggae dos Kussondulola. Logo ao início da tarde de sábado chegou a grande enchente, para a recepção aos Primitive Reason. Dos galegos Skàrnio à bósnia Ljiljana Buttler, acompanhada dos Mostar Sevdah Reunion, passando pelos Telectu e sem esquecer o Festival De Blues, com a presença de Otis Grand, a oferta foi variadíssima. No entanto, o grande momento da tarde foi da responsabilidade da Brigada Vítor Jara, com a interpretação de “Ronda das Mafarricas”. De noite, o destaque foi para os Xutos & Pontapés e Clã. O dia de encerramento não podia ter começado de melhor maneira, com os contagiantes Terrakota. Inesperada (ou não) foi a surpresa Dazkarieh, onde a música tradicional, Rock e música erudita deram os braços. Depois do obrigatório comício de final de tarde, a música voltou ao palco 25 de Abril, com os Blasted Mechanism que, com algum espanto, recuperaram “Swinging With The Monkeys”. A despedida teve lugar com os almadenses Da Weasel e o aguardado fogo de artifício. Construída com o trabalho voluntário de membros e simpatizantes do Partido Comunista Português, a Festa Do Avante! realiza-se desde 1976. Actualmente ocupa toda a área da quinta da Atalaia e disponibiliza uma dezena de palcos destinados à música e teatro, diversos espaços para debates, feira do livro e do disco e um stand por cada distrito do país.• Rewind Música 59 texto: Filipe Pedro e Gonçalo Guedes Cardoso Kings of Convenience 11.º Festival Internacional De Benicàssim A invencível armada Benicàssim, Espanha 4 a 8 Ago | www.fiberfib.com Com o fantasma do 10.º aniversário a pairar sobre a cidade Mediterrânica de Benicàssim, os estrategas do Festival Internacional De Benicàssim (FIB) obrigaram-se a um esforço criativo para manterem aceso o estatuto há muito conseguido de festival mais caliente do Verão europeu. Recorrendo ao mercado anglófono de contratações, a organização do FIB 2005 habilmente assinou com os nomes mais sonantes da primeira divisão da música Pop Rock e Electrónica mundial. A juntar ao sol convidativo, a proximidade com a praia, os ares suaves do Mediterrâneo, a gastronomia aliciante e os preços acessíveis da cerveja e da paelha, cerca de 30 mil adeptos (10 mil britânicos) aceitaram o desafio, inundando o ambiente de cores, cheiros, sotaques e sons difusos. «La técnica es la técnica e sin técnica no hay técnica», afirmamos nós. Aqui jogou-se com toda a categoria: mais de uma centena de grupos divididos por cinco palcos, um auditório para curtas-metragens, uma tenda com desfiles de moda e um verdadeiro derby futebolístico, onde os músicos saíram humilhados, ante o show de bola dos jornalistas. Ficam os melhores momentos do festival: Toques polifónicos no FIBstart Quando a Pop dos Beach Boys ganha a dinâmica dos Flaming Lips, o resultado é Polyphonic Spree. Canções épicas e sentidas, distribuídas por 23 músicos em palco. De longe, o melhor momento do FIBstart. The Tears não são os Suede, mas usam e abusam do estatuto. Brett Andersen está habituado à ribalta e 60 Rewind Internacional acomodado à pose. Bernard Butler continua a ser um excelente guitarrista. E daí? As músicas são desinteressantes e a apatia chega a ser incómoda. Os Underworld mantêm vivo o espírito rave de outrora, embora nestas actuações festivaleiras o modo best of seja ritual obrigatório, escutando-se os incontornáveis “Rez” ou “Born Slippy”. O vocalista Karl Hyde preservou a elegância e o público manteve-se ao rubro, com as suas danças endiabradas. O Carnaval chegou à cidade Uma vez mais, prevaleceu a habitual química entre o casal Alison Mosshart e Jamie Hince num concerto enérgico dos Kills. A apresentação dos temas de No Wow ao vivo não podia ter resultado melhor. «Kills über alles», dizem a dada altura. Os Fischerspooner pisam o palco. O ambiente disco não engana, com direito a laser e a bola de espelhos. Infelizmente já não são os mesmos que trouxeram o álbum de estreia ao Número Festival em 2001. Perdeu-se grande parte da teatralidade, estética e imprevisibilidade, ganhando-se uma banda Rock, como tantas outras. Peaches, a nossa companheira de outras andanças, veste e despe roupa ao sabor do vento, toca guitarra, parte a loiça toda, toma e dá banho a uma audiência deliciada com as suas provocações, berros e descargas de adrenalina. A dupla Basement Jaxx, composta por Félix Buxton e Simon Ratcliffe, chega ao palco perseguida pelo macaco Adriano, com milhares de pessoas aos saltos. Uma carreira sólida com base nos álbuns Remedy, Rooty e Kish Kash celebra-se em festa permanente, com ambiente carnavalesco. fotos: Filipa Lourenço !!! Na Na Na Na Naa Devendra Banhart, aka o rapaz dos calções de praia retro, portou-se bem, tendo o seu Folk/Pop conquistado a audiência. Merecia ter tocado mais tarde no alinhamento e de preferência num auditório fechado. O vocalista Ricky Wilson torna os Kaiser Chiefs imparáveis e incontroláveis. Saltos constantes, três descidas ao público, uma escalada até ao topo da torre de luzes e muitos ingleses ao rubro com os instant classics de Employment, fizeram prever um motim. Apesar de não estar ao nível do fabuloso concerto no Primavera Sound 2004, a actuação dos !!! no FIB mostrou toda a garra do imparável vocalista Nic Offer. A troca constante de instrumentos pelos membros da banda demonstrou originalidade e um funkdelismo em alta. Jeans Team constituiu uma proposta alemã interessante, com base num bom VJ e em aproximações aos breakbeats, com samplers escolhidos a dedo. Apesar da negrura aparente do novo disco Witching Hour, os Ladytron apresentaram uma Pop escorreita e dançável, num ambiente propício à festa. O triunfo nova-iorquino Muitas influências nipónicas no som dos Pan Sonic (Flare, Cornelius) e outras europeias (LFO, Aphex Twin). Os trezentos corajosos que testemunharam o experimentalismo ciclónico, gozaram de uma excelente actuação — diversificada, criativa, poderosa. Com a temperatura já em alta, o calor australiano de Nick Cave & The Bad Seeds revelou-se um dos momentos-chave do FIB 2005. Com 22 anos de carreira e muito suor no corpo, Cave e as suas sementes plantaram em Espanha um nutriente elegante, charmo- so e refulgente de Rock, Blues, Funk, Soul e Gospel. A ex-Moloko Roisin Murphy confessa ao público do FIB que andou iludida uma série de anos. Acompanhada por excelentes músicos e com Ruby Blue, o recém-editado disco de estreia a solo, na bagagem, Roisin mostrou a fibra com que se cose. O concerto dos Oasis, o mais esperado pelos peregrinos (na sua maioria britânicos) foi marcado por um desfilar de union jacks, moças avantajadas, chapéus e t-shirts alusivas à banda e uso abusivo de álcool e calão. Destaca-se a dedicatória de "Rock & Roll Star" por parte de Liam ao falecido ex-ministro dos negócios estrangeiros britânico Robin Cook, não se sabe se séria ou irónica. O melhor de Kasabian foi o pior dos Oasis. A multidão excessiva deu lugar a um espaço amplo onde os verdadeiros fãs coabitaram com os simples curiosos, todos empenhados em festejar em tom de Pop atmosférico e psicadelismo electrónico um festival que se aproximava vertiginosamente do fim. Entretanto subimos à tenda das bandas realmente frescas, o palco Music Box, para escutarmos cinco chilenos com muita onda Funk e Rock. O nome a fixar é Panico e o notável disco de estreia tem o título Subliminal Kill. De volta ao palco principal, o ritmo impresso pelos LCD Soundsystem foi sabiamente pensado para não permitir que o público adormecesse. O último grande concerto do FIB presenciou um "Daft Punk Is Playing In My House" e outras pérolas em versão mais acelerada, mas sem perda de identidade. Ainda aos milhares, os resistentes permaneceram na tenda FIB Club madrugada fora, em espírito de festa, ao ritmo das batidas sincopadas dos grupos e DJs da DFA records. • Rewind Internacional 61 . Kubik Xiu Xiu Metamorphosia La Fôret Zounds Records Acuarela / Pop Stock Kubik propõe uma exploração caleidoscópica, dançável e divertida. Avança para citações que incluem a banda sonora de Get Smart no final de “Night And Fog: Ya!” e Hitchcock Apresenta em “Intro-middle: Hitch Song”. O tema “Driving With Your Fingers Crossed”, dos também portugueses Bypass, ganha nova designação na remistura “Sweet”, enquanto que um irreconhecível Francisco Silva (Old Jerusalem) vocaliza “I'm A Vampire, I'm Disgust”. Qual ciberpoeta demoníaco, Adolfo Luxúria Canibal é a escolha perfeita para a vocalização de “Era Chegado O Tempo”. A fechar o álbum escutam-se sinos, cães, gatos, desenhos animados e fogo de artifício... o insólito em formato canção-espírito-livre-ao-vento. Metamorphosia é tal e qual. Um espécime a preservar junto de outras raridades. • FP O cliché «primeiro estranha-se, depois entranha-se» serve que nem uma luva a La Fôret, o quarto disco de Xiu Xiu, depois de Knife Play (2002), A Promise (2003) e Fabulous Muscles (2004). Está escuro lá fora, o ambiente é soturno e inóspito (“Baby Captain”, “Dangerous You Shouldn't Be Here”). Há barulhos estranhos no ar (“Saturn”, “Mousey Toy”). Ian Curtis vive (“Pox”). A Björk por aqui (“Ale”)? Afinal isto é cinema (“Yellow Raspberry” e “Rose Of Sharon”). No fim, tudo não passa de um pesadelo do vocalista Jamie Stewart, que desperta, em sobressalto (“Muppet Face”, “Bog People”). Fecha os olhos e o sonho recomeça (“Clover”). A floresta é imensa e de tal modo misteriosa e viciante que não é fácil encontrar a saída. Quem tem medo do escuro? • FP www.kubik.com.pt www.xiuxiu.org Devendra Banhart Criple Crow Raum Young God / XL Recordings / Pop Stock Ninho de vespas / Trem Azul A proverbial hispanofilia dos texanos é amplamente reconhecida, porém Devendra Banhart pode tê-la levado um pouco mais além. O sucessor de Nino Rojo é a quarta viagem pelo amor, novos encontros, diferentes linguagens e uma espiritualidade adulta deste texano, que trocou os EUA pela Venezuela. Aqui, o talentoso cantor e compositor atravessa a poesia e a pintura, transportando na mala 22 pequenos e melódicos temas, temperados com uma reinvenção de Folk, Country, Blues, ritmos latinos e africanos, na maioria dos quais apenas acompanhado da sua guitarra acústica e percussão de mão. São canções autênticas, com enorme sensibilidade lírica e alguma ingenuidade, onde o poderio da sua voz é tal que a leitura da lista telefónica de Caracas bastaria para nos fazer pele de galinha. • GGC 62 Stop Cd’s 7 Pecados mortais A preguiça assume um tom vadio e desleixado e os instrumentos transmitem alguma indolência e prolongamento no tempo. O desejo ardente de posse revela uma ambição desmesurada e o Free Jazz liberta-se de preconceitos na cobiça. A riqueza melódica e glamour transporta-nos para um salão de festas, onde a luxúria impera. A vaidade convida à futilidade e imodéstia, traduzida num registo sonoro de inconstância. Num ritmo mais relaxado e sereno, chega-se às notas da avareza, marcado por uma série de falsas modéstias. A atracção irresistível por iguarias finas e sons arrojados toma forma na gula, que se transforma num crescendo sonoro pleno de sentimento, cólera e indignação através da ira. Se o Jazz pecou, este novo testamento é o seu acto de contrição. • GGC Sim, Sr. Ministro Manhattan Sydney Lotterby Woody Allen Prisvideo LNK A linha que separa a tragédia da comédia é ténue. Basta olhar para o universo cinzento e deprimente da política para percebê-lo. Quem disse, afinal, que uma campanha mal dirigida ou um enorme défice público não podem dar origem a um humor sofisticado e cortante? Se dúvidas restam, veja-se a forma como a BBC conseguiu canalizar as desventuras-tipo de um ministério britânico para as caricaturar numa das melhores pérolas da britcom. Lançado 25 anos depois da sua estreia em televisão, numa caixa com 21 episódios com cerca de uma hora cada, Sim, Sr. Ministro vive precisamente disso. Da inspiração que foi beber ao dia-a-dia do movimentado gabinete da Administração Interna, com um ministro instrumentalizado e um corpo de assessores pouco preocupados em fazer andar o país. De chorar por mais. • FA Their Law - The Singles 1990-2005 Na ressaca de uma inusitada crise de originalidade, de certa forma sentenciada pelas direcções dos grandes estúdios, sabe bem olhar para trás e constatar que, por mais que a realidade insista em contrariá-lo, a esperança é sempre a última a morrer. Dispondo de um pacote especial com sete clássicos de Woody Allen, é a LNK quem dá o empurrãozinho à viagem. E vale mesmo a pena ceder. De preferência, com uma primeira escala na ilhafetiche do realizador para o filme de tributo ao mais nobre palco de toda a sua cinematografia: Manhattan. Rodada em 1979, em película a preto e branco, esta ode ao amor fugaz, ao cosmopolitismo e ao espírito das relações modernas não só conta com um elenco de luxo, como sintetiza na perfeição o espírito do cineasta. • FA Sin City The Prodigy Robert Rodriguez & Frank Miller XL Recordings / Pop Stock Buena Vista Home Entertainment Quem marcou presença no 2.º SBSR, em 1996, jamais esquecerá o poder dos Prodigy ali testemunhado. Na altura tinham apenas dois álbuns editados Experience e Music For The Jilted Generation, e a promessa de um álbum que demoraria um ano a ser editado pela mão de Liam Howlett (o cérebro) e dos (pouco mais do que) dançarinos Maxim, Keith Flint e Leeroy Thornhill, The Fat Of The Land. Apesar dos regressos em 1997 (Imperial Ao Vivo) e 2005 (SBSR) serem muito inferiores à estreia, ficou patente um certo respeito pelos discos anteriores a Always Outnumbered, Never Outgunned. Em boa hora surge este DVD, que reúne excertos de concertos e telediscos inesquecíveis como “Firestarter”, “Breathe”, “Smack My Bitch Up”, “Poison”, “Voodoo People”, “Charly” e “No Good (Start The Dance)”. «Fuck'em And Their Law!» • FP Na cidade do pecado os heróis são assassinos, a corrupção é a lei e as mulheres são quase todas prostitutas ou strippers. Violentíssimo, Sin City é a melhor conversão de comics em cinema alguma vez feita. Com excelente edição e fotografia, Sin City foi filmado a preto e branco, cenários digitais e actores de carne e osso — basta referir Benicio Del Toro, Bruce Willis e Mickey Rourke. A edição especial de Sin City em duplo DVD inclui a versão que vimos em cinema e uma nova, de 147 minutos. Os bónus incluem comentários áudio do realizador Robert Rodriguez com Frank Miller e Quentin Tarantino, para além de uma imensidão de documentários como The Cars Of Sin City, Making The Monsters: Special Effects Make-Up, The Costumes Of Sin City ou Convincing Frank Miller To Make The Film. • FP www.prodigy.co.uk http://video.movies.go.com/sincity Stop Dvd’s 63 2005 Outubro BD, Cinema, Dança, Design, Música, Teatro, Video 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Festival Pés No Palco . www.marionetasmandragora.com Experimenta Design . www.experimentadesign.pt Festival Expresso Oriente . www.culturgest.pt 8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com 7.º Angrajazz . www.angrajazz.com Festival Para Gente Sentada . www.cm-feira.pt Dublin Theatre Festival . www.dublintheatrefestival.com IMAGO - Festival Internacional De Cinema Jovem . www.imagofilmfest.com Cosmopolis — Festival Internacional De Artes Electrónicas . www.magicmusic.info Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado Docúpolis - Festival Internacional Documental De Barcelona . www.docupolis.org Festival Temps d’Images . www.tempsdimages.org Festa Do Cinema Francês . www.ifp-lisboa.com Barreiro Rocks . www.barreirorocks.com Festival Internacional De Teatro Cómico Da Maia . http://sapp.telepac.pt/teatroartimagem Sitges 2005 — Festival Internacional Cinema Catalunya . www.cinemasitges.com 8.º Marionetas Na Cidade . www.samarionetas.com Doclisboa . www.doclisboa.org SONDA . www.festivalsonda.com/sonda.htm London Film Festival . www.lff.org.uk 11.º Cine’Eco . www.cineeco.org FIBDA — Festival Internacional De Banda Desenhada . www.amadorabd.com Seixal Jazz . http://srvweb.cm-seixal.pt/seixaljazz Ovarvideo 2005 . www.ovarvideo.com Festival O Gesto Orelhudo . www.dorfeu.com 12.ª Quinzena De Dança De Almada . www.cdanca-almada.pt 01 02 03 04 05 06 Música . Video 64 Play 07 08 09 10 Dança 11 12 13 14 Teatro 15 16 17 18 19 20 Design 21 22 23 24 Cinema 25 26 27 28 29 Fotografia 30 31 2005 Novembro BD, Cinema, Dança, Fotografia, Ilustração, Música, Teatro 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Ilustrarte 2005 — Bienal De Ilustração Para A Infância . www.ilustrarte.web.pt Jazz Ao Centro — II Parte . www.jacc.pt Número Festival . www.numerofestival.com 8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com Ponto Pequeno — 2.º Encontro Das Marionetas . www.marionetasmandragora.com/encontro Festival Internacional De Cinema do Funchal . www.funchalfilmfest.com Cinanima — 29.º Festival Internacional De Cinema De Animação De Espinho . www.cinanima.pt BAC! Barcelona Arte Contemporáneo . www.lasanta.org Festival Internacional De Humor De Lisboa . www.ccb.pt Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado Fade In Festival . www.fadeinfestival.com Festival De Jazz De Málaga . www.teatrocervantes.com Festa Do Cinema Francês . www.ifp-lisboa.com FIKE — Festival Internacional De Curtas-Metragens De Évora . www.fikeonline.net Phono’05 . www.cm-lisboa.pt/fonoteca 43.º Festival Internacional De Cine De Gijón . www.gijonfilmfestival.com Festival Sons Em Trânsito . www.set.com.pt 38.º Rugissants . 38rugissants.com IDFA — International Documentary Film Festival Amsterdam . www.idfa.nl London Film Festival . www.lff.org.uk Cinemad — Festival De cine Independiente Y De Culto . www.cinemad.org FIBDA — Festival Internacional De Banda Desenhada . www.amadorabd.com Cairo International Film Festival . www.cairofilmfestival.com Arona — Festival de Cortometrajes Playa De Las Americas . www.arona.org Festival O Gesto Orelhudo . www.dorfeu.com 12.ª Quinzena De Dança De Almada . www.cdanca-almada.pt 01 02 03 04 05 06 Pluridisciplinar 07 08 09 10 11 12 BD . Ilustração 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Internacionais Play 65 30 2005 Dezembro Cinema, Design, Fotografia, Ilustração, Música, Teatro 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 26 27 28 29 30 31 Ilustrarte 2005 — Bienal De Ilustração Para A Infância . www.ilustrarteweb.pt Seixal Metalfest 2005 . http://seixalmetalfest.pt.to 8.º Festival Beyond Media 05 . www.beyondmedia.it 8.º Outubro, Outono, Outonalidades . www.dorfeu.com FIDIS — Festival Internacional De Imagem Subacuática . www.videosub.org Festival Jovem Día De Navarra . www.inoutnavarra.com KOSMOPOLIS — Fiesta Internacional De La Literatura . www.cccb.org/kosmopolis BAC! Barcelona Arte Contemporáneo . www.lasanta.org Barcelona Hayride . www.bcnhayride.com Otoño Aficionado, Festival De Teatro No Professional . www.festivales.com/torrelavegaaficionado MAGMA— European Winter Meeting Tenerife 2005 . www.magmameeting.com Tirana Iternational Film Festival . www.tiranafilmfest.com Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano de la Habana . www.habanafilmfestival.com Purple Weekend . www.purpleweekend.com Rencontres Trans Musicales . www.lestrans.com 43.º Festival Internacional De Cine De Gijón . www.gijonfilmfestival.com Festival Sons Em Trânsito . www.set.com.pt 38.º Rugissants . 38rugissants.com IDFA — International Documentary Film Festival Amsterdam . www.idfa.nl Lesbian Festival . www.lesbianfestival.nl Cinemad — Festival De Cine Independiente Y De Culto . www.cinemad.org Fade In Festival . www.fadeinfestival.com Cairo International Film Festival . www.cairofilmfestival.com Arona — Festival De Cortometrajes Playa De Las Americas . www.arona.org BAF — Bellas Artes Festival . www.sala-apolo.com Tendencias FMI . www.tendenciasfmi.com 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 Informações para a secção Play devem ser enviadas para [email protected] 66 Play 18 19 20 21 22 23 24 25