Texto Completo - Ministério da Agricultura
Transcrição
Texto Completo - Ministério da Agricultura
UFRJ Tese de Doutorado ADEQUAÇÃO DOS PROCESSOS DE DESTILAÇÃO E DE TROCA IÔNICA NA REDUÇÃO DOS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS PRODUZIDAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Sergio Nicolau Freire Bruno Orientador: Prof. Dr. Delmo Santiago Vaitsman Rio de Janeiro Dezembro/2006 UFRJ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS Tese de Doutorado ADEQUAÇÃO DOS PROCESSOS DE DESTILAÇÃO E DE TROCA IÔNICA NA REDUÇÃO DOS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS PRODUZIDAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Sergio Nicolau Freire Bruno Orientador: Prof. Dr. Delmo Santiago Vaitsman Rio de Janeiro Dezembro/2006 i UFRJ Sergio Nicolau Freire Bruno ADEQUAÇÃO DOS PROCESSOS DE DESTILAÇÃO E DE TROCA IÔNICA NA REDUÇÃO DOS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS PRODUZIDAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 1(um) volume Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Ciências. Orientador : Prof. Dr. Delmo Santiago Vaitsman Rio de Janeiro Dezembro/2006 ii Ficha Catalográfica BRUNO, Sergio Nicolau Freire Adequação dos Processos de Destilação e de Troca Iônica na Redução dos Teores de Carbamato de Etila em Cachaças Produzidas no Estado do Rio de Janeiro. –2006 238 f. : il. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, Rio de Janeiro, 2006. Referências : f. 202 -219 1. Cachaça. 2. Carbamato de etila. 3. Redução de contaminantes. 4. Resinas catiônicas. 5. GC-MS. 6. Análise sensorial 7. Análise físico-química. I. Vaitsman, Delmo Santiago (orientador). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Química, Programa de PósGraduação em Ciência de Alimentos. III. Título. iii ADEQUAÇÃO DOS PROCESSOS DE DESTILAÇÃO E DE TROCA IÔNICA NA REDUÇÃO DOS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS PRODUZIDAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SERGIO NICOLAU FREIRE BRUNO Tese de Doutorado submetida ao Programa de de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Ciências. Aprovada em: Comissão Julgadora: ______________________________________________ Delmo Santiago Vaitsman, D. Sc.(IQ/UFRJ) (Orientador) ______________________________________________ Jari Nóbrega Cardoso, D. Sc. (IQ/UFRJ) ______________________________________________ Ailton de Souza Gomes, Ph.D. (IMA/UFRJ) ______________________________________________ Joab Trajano da Silva, D. Sc.(IQ/UFRJ) ______________________________________________ Ricardo Moreira Chaloub , D. Sc.(IQ/UFRJ) Rio de Janeiro Dezembro/2006 iv AGRADECIMENTOS ____________________________________________________ Este trabalho foi realizado por contar com o apoio de muitas pessoas. Muitas já conhecia antes do seu início, sobretudo pela sua riqueza humana, empatia e dedicação. Outras, que considero da mesma forma, em etapa crucial, vieram a se incorporar ao meu dia a dia e, mesmo nos momentos mais difíceis, quando a alta ansiedade em nada contribuía para o desenvolvimento da presente tese, tiveram a compreensão suficiente para continuar sempre me apoiando e incentivando. - Ao meu orientador, Delmo Santiago Vaitsman, Professor Doutor do Instituto de Química da UFRJ, pela amizade, cultivada ao longo dos últimos anos, paciência e suporte imprescindível no planejamento, elaboração e revisão desta tese. - Ao apoio fundamental dos técnicos do LANOI/ INT: Mirian, Claudete (sempre “criando” um tempo adicional) e Marcos (sempre solícito e dedicado). - Ao imprescindível apoio dos técnicos do DQUIM/INMETRO: Wanderléa, Janaína e Walnei - pelo crédito, confiança e interesse depositado nos resultados deste trabalho - Tânia, sempre paciente, solícita e interessada, Sandra , Laura, Marcos, Rachel, Thiago e Vinícius. - Ao Dr. Fernando Valadares Novaes, pelo incentivo, apoio e sugestões às propostas desta Tese de Doutorado. - Ao Professor Doutor Paulo Bechara, do IQ-UFRJ, pelo auxílio no tratamento estatístico do Capítulo 6. - À Dra Mônica Queiroz de Freitas (Faculdade de Veterinária - UFF), pelo suporte fundamental no planejamento e desenvolvimento da análise sensorial. - À Lidmila Vokac (INT), pelo suporte, dedicação, serenidade e amizade. - Ao Superintendente da SFA/RJ, Pedro Cabral e ao Alfredo Morandini, Chefe do Laboratório Nacional Agropecuário (LANAGRO-RJ). v - Aos técnicos do LANAGRO : Márcia (sempre atenciosa e dedicada), Leitão e Hércules. - Aos funcionários do LaDa : Luciana, Flávia, Rafael e Cláudia. - Ao Ricardo Zaratini, engenheiro químico, pelo suporte técnico nos alambiques de Paraty. - Ao Prof. Joacy Macarini, pelo apoio da Central Analítica (UFF). - Ao Robson e à Mônica, pelas determinações de certos contaminantes inorgânicos realizadas na FIRJAN/RJ. - Ao Dr. João Alfredo de Medeiros, do IQ-UFRJ. - À Isabel Vasconcelos, pela paciência e compentência na revisão da tradução de textos. - Aos produtores de cachaça (participantes), cuja colaboração foi fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. - Ao meu sobrinho Guilherme, pelo lay-out do trocador catiônico industrial. - À minha esposa Jovina, pelo apoio, incentivo, sugestões, compreeensão, paciência (novamente), amor e carinho. - Aos meus filhos Saulo e Sergio Vitor, pelo carinho e suporte computacional. - A todos amigos que sempre me incentivaram. vi RESUMO ____________________________________________________ O carbamato de etila é uma substância potencialmente carcinogênica encontrada, principalmente, em certas bebidas fermento-destiladas, nas quais se incluem a aguardente de cana e a cachaça. Nestes produtos, o teor desse contaminante têm, freqüentemente, alcançado valor superior a 150 g/L, limite estabelecido pela legislação nacional, o qual constitui a barreira técnica de maior relevância na exportação de cachaça. Nesta tese, utilizando experimentos inéditos de coleta “in loco”, a partir de recém-destilados de cana-de-açúcar produzidos por 10 sistemas de destilação existentes em 9 estabelecimentos produtores do Estado do Rio de Janeiro, demonstrou-se que a utilização de resina catiônica comercial reduziu em cerca de 60% os níveis do carbamato de etila em cachaças. Para quantificação do carbamato de etila e análise dos congêneres utilizou-se a cromatografia em fase gasosa com detecção por espectrometria de massas (GCMS) e com detecção por ionização de chama (GC-FID). Quanto à avaliação sensorial dos destilados tratados e não tratados pela resina catiônica selecionada optou-se pela Análise Descritiva Quantitativa (QDA). Os teores de cobre e outros contaminantes metálicos foram determinados por Absorção Atômica com Chama (FAAS) e Espectrometria de Emissão Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP- OES). Nesta tese, foram estudados recém-destilados suplementares, recoletados nos sistemas selecionados, e amostras de cachaças ou recém-destilados provenientes de 21 estabelecimentos produtores fluminenses, perfazendo um total de 32 sistemas de destilação, os quais permitiram estabelecer a eficiência do refluxo como principal fator de influência nos teores do carbamato de etila em cachaças. Os estudos de adequação dos processos de destilação e da utilização da resina Dowex-Marathon C permitiram reduzir drasticamente os principais contaminantes em cachaças, sem prejuízo da sua qualidade sensorial, representando significativa contribuição para a melhoria de sua qualidade. vii ABSTRACT __________________________________________ Ethyl carbamate is a potentially carcinogenic compound found mainly in certain fermented-distilled beverages, such as sugar cane spirits. Frequently, the levels of the contaminant in these products are higher than 150 g/L, the limit value established by the Brazilian law, which represents the greatest technical barrier to export cachaça. In this thesis work, new in situ collecting methods of sugar cane fresh distillates produced by 10 distillation systems from nine producers in the Rio de Janeiro State were used. The use of a commercial cationic resin promoted a reduction of about 60% in ethyl carbamates levels in the cachaças. Ethyl carbamate levels and congeners were measured by gas chromatography and mass spectrometry (GC-MS) with a flame ionization detector (GC-FID). Quantitative descriptive analysis (QDA) was used for the sensorial evaluation of the distillates treated or not with the cationic resin. Levels of copper and other metallic contaminants were analyzed by flame atomic absorption spectroscopy (FAAS) and by inductively coupled plasma – optical emission spectroscopy (ICP- OES). In this research, supplementary fresh distillates recollected at the selected systems and the cachaças or fresh distillates samples of 21 producers from the Rio de Janeiro State were analyzed, adding up to 32 distillation systems. The reflux efficiency was established as the main factor of influence on the ethyl carbamate levels in the samples. These studies allowed the adjustment of the distillation processes and the optimum use of the Dowex-Marathon C resin to drastically reduce the levels of the main contaminants in the cachaças, without affecting the sensorial quality, and making a significant contribution to the improvement of the quality. viii LISTA DE SÍMBOLOS ____________________________________________________ m/m - massa/ massa v/v - volume/volume ppm - parte por milhão ppb - parte por bilhão °C - graus Celsius x = média aritmética da população µg - micrograma M+ - íon molecular m/z - massa/carga µ - micra gpm –galões por min s - desvio padrão - desvio padrão de uma população - soma ft -pé L - litro mL - mililitro µL – microlitro mV – milivolt min – minutos N - nº de pratos teóricos > - maior < - menor - maior ou igual - menor ou igual r - coeficiente de correlação - raiz quadrada t - t de Student eq/L – equivalente-grama por litro meq/L - miliequivalente-grama por litro mM - milimolar R - coeficiente de correlação ix LISTA DE ABREVIATURAS ____________________________________________________ ABRABE- Associação Brasileira de Bebidas AMPAQ - Associação Mineira de Produtores de Aguardente de Qualidade ANOVA - análise de variância ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária AOAC- Association Of Official Agricultural Chemists APACERJ - Associação dos Produtores e Amigos de Cachaça do Estado do Rio de Janeiro APHA - American Public Health Association ATP -trifosfato de adenosina BATF - Bureau of Alcohol, Tobacco and Fire Arms CEE - Comunidade Econômica Européia CV-AAS - Espectrometria de Absorção Atômica com Vapor a Frio CE - carbamato de etila DMS - dimetil sulfeto DQUIM - Divisão de Metrologia Química/INMETRO DVB - divinil-benzeno EPA - Environment Protection Agency EPH - epieterodendrina FAAS - Espectrometria de Absorção Atômica com Chama FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations FDA - Food and Drug Administration FENACA - Federação Nacional de Cachaça de Alambique GC-FID - Cromatografia a Gás com Detecção por Ionização de Chama GC-MS - Cromatografia a Gás acoplada à Espectrometria de Massas GC-O - Cromatografia a Gás-Olfatometria HG-AAS - Espectrometria de Absorção Atômica com Geração de Hidretos HPLC-FD - Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com Detecção por Fluorescência ICP OES - Espectrometria de Emissão Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado IPCS - International Programme on Chemical Safety IARC - International Agency for Research on Cancer INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial IN - Instrução Normativa INT - Instituto Nacional de Tecnologia LD - limite de detecção LD50 - dose letal x LQ - limite de quantificação MAPA -Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento n-CP – carbamato de n-propila. NPD - detector de nitrogênio e fósforo OIV - Organização Internacional da Vinha e do Vinho. PBDAC - Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça PCA - Análise de Componentes Principais PEAD - polietileno de alta densidade PI - padrão interno PIQs - Padrões de Identidade e Qualidade QDA - Análise Descritiva Quantitativa SCAN - espectro de massas total SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SIM - Monitoramento Seletivo de Íons S/N - sinal/ruído SPE - Extração em Fase Sólida. SPME - Microextração em Fase Sólida STD (ou CV) - desvio padrão relativo ou coeficiente de variação TCD -detector de condutividade térmica Tr - tempo de retenção TSD detector termiônico VC - vinil carbamato VCE - vinil carbamato epóxido WHO- World Health Organization xi LISTA DE FIGURAS ____________________________________________________ Figura 1. Estrutura do carbamato de etila. Figura 2. Produção da uréia durante a fermentação de mosto de uva. Figura 3. Formação do cianeto a partir da amidalina. 2+ Figura 4. Estrutura do complexo cianato – Cu . Figura 5. Sistema de destilação de brandies de frutas. Figura 6. Alambique de rum provido de coluna com pratos. Figura 7. Vias metabólicas do carbamato de etila. Figura 8. Formação da xantiluretana pela reação do 9-xantidrol e a uretana em meio ácido. Figura 9. Detector de massas com quadrupolo. Figura 10. Síntese polimérica de uma resina catiônica estireno-sulfônica ácida. Figura 11. Principais vias de formação de flavors durante a fermentação. Figura 12. Esquema de um alambique simples. Figura 13. Alambique de dois corpos (Duas Barras/RJ). Figura 14. Alambique de 3 corpos. Figura 15. Coluna de destilação de cachaça. Figura 16. Esquema de duas bandejas sobrepostas em uma coluna de destilação. Figura 17. Diagrama de fases do sistema etanol-água. Figura 18. Componentes do cerne do carvalho. Figura 19. Trocadores catiônicos experimentais. Figura 20. Trocadores catiônicos industriais. Figura 21. Cromatógrafo a gás acoplado a detector de massas. Figura 22. Ficha de avaliação das amostras para registro das intensidades de percepção dos atributos (QDA). Figura 23. Ficha de teste de preferência. Figura 24. Ficha de teste de aceitação. Figura 25. Mapeamento dos sistemas de destilação de cachaça do Estado do Rio de Janeiro. Figura 26. Curva de calibração do carbamato de etila (CE) pelo método de padronização externa empregando o procedimento A. Figura 27. Curva de calibração do carbamato de etila (CE) pelo método de padronização externa empregando o procedimento B. Figura 28. Curvas analítica e de adição de padrão em cachaça armazenada em tonel de ipê pelo método de padronização externa empregando o procedimento A. Figura 29. Cromatograma parcial de frações do recém-destilado VMC tratado e não tratado pela resina Dowex Marathon C. Figura 30. Teores de carbamato de etila em função de concentrações crescentes de cobre, em frações obtidas pela eluição do recém-destilado PCA em leitos de resina de diversas profundidades. xii Figura 31. Vista frontal e em corte do sistema industrial para redução do carbamato de etila e do cobre em cachaças. Figura 32. Sistema industrial para redução de carbamato de etila e cobre acoplado a filtro de polipropileno. Figura 33. Distribuição dos teores de carbamato de etila nos diferentes sistemas de destilação. Figura 34. Média dos teores de carbamato de etila em sistemas de destilação diferenciados (± intervalo de confiança da média). Figura 35. Alambique sem deflegmador EDF ( Paraty/RJ). Figura 36. Concentrações do carbamato de etila, grau alcoólico e teor de cobre, determinados do carbamato de etila ao longo de processos de destilação diferenciados. Figura 37. Representação esquemática de uma coluna de um alambique equipada com deflegmador apropriado a promover um refluxo eficiente. Figura 38. Coluna (à esquerda) com controle de temperatura no deflegmador (alambique JLG; Bemposta-RJ). Figura 39. Alambique SRV (Valença-RJ). Figura 40. Alambique de três corpos (CHV) com sistema de refrigeração na coluna tipo capelo. Figura 41. Detalhe do sistema de resfriamento no topo da coluna tipo capelo (CRD B, ParatyRJ). Figura 42. Dois alambiques de dois corpos com aquecimento por fogo direto (CQE A e CQE B, Paraty-RJ). Figura 43. Alambique com panela e serpentina em aço inox (Resende-RJ). Figura 44. Coluna de destilação VMC. Figura 45. Destilação em CQE (B) a partir de “vinho” obtido com cana-de-açúcar armazenada por 12 dias (“cana velha”). Figura 46. Cromatograma do destilado alcoólico de cana-de-açúcar BTB, usando 3-pentanol como padrão interno e detecção por ionização de chama (FID). Figura 47. Resultados da Análise de Componentes Principais (PCA) obtidos dos dados da QDA e da análise físico-química (A) dos seis destilados de cana-de-açúcar antes do tratamento (B). Figura 48. Resultados da Análise de Componentes Principais (PCA) obtidos dos dados da QDA e da análise físico-química (A) dos seis destilados de cana-de-açúcar depois do tratamento (B). xiii LISTA DE QUADROS ____________________________________________________ Quadro 1. PIQs para a graduação alcoólica e os componentes do coficiente de congêneres da cachaça e da aguardente de cana-de-acúcar. Quadro 2. Limites máximos para contaminantes em cachaça e aguardente de cana. Quadro 3 . Valores médios para as intensidades de percepção dos atributos sensoriais (QDA) e testes de aceitação dos destilados alcoólicos de cana-de-açúcar. xiv LISTA DE TABELAS ____________________________________________________ Tabela 1. Teores de carbamato de etila em vinhos consumidos nos EUA. Tabela 2. Teores de carbamato de etila em algumas bebidas consumidas nos EUA. Tabela 3. Propriedades da resina catiônica DOWEX MARATHON C. Tabela 4. Atributos, definições e referências de intensidades da análise descritiva quantitativa em destilados alcoólicos de cana-de-açúcar, antes e após tratamento para remoção de contaminantes. Tabela 5. Concentração de carbamato de etila (µg/L) em cachaça “in natura”, armazenada em tonel de madeira; ± desvio-padrão, n=3; e o teste da recuperação. Tabela 6. Comparação entre as médias dos teores de carbamato de etila (µg/L) obtidaspelos métodos A e B através do teste t em 3 amostras de destilados de cana-de-açúcar. Tabela 7. Teores de carbamato de etila e cobre em amostras de destilados alcoólicos de canade-açúcar tratados e não tratados com a resina Dowex Marathon C (± desvio padrão e RSD). Tabela 8. Redução dos teores de carbamato de etila (CE) e cobre em cachaça (SFJ) submetida à bidestilação (± desvio padrão ). Tabela 9. Teores de cobre ao fundo (“pé”) e na superfície (“cabeça”) de tonéis de madeira. Tabela 10. Teores de carbamato de etila e cobre e principais características dos sistemas de destilação avaliados. Tabela 11. Teores de congêneres e de contaminantes inorgânicos em destilados de cana-deaçúcar antes e após o tratamento por resina Dowex Marathon C. Tabela 12. Teores dos componentes do coeficiente de congêneres (n=5) e de cobre em cachaça armazenada em tonel de madeira, antes e após tratatamento por troca iônica. xv SUMÁRIO ____________________________________________________ 1 INTRODUÇÃO 1 2 REVISÃO DA LITERATURA 9 2.1 AS BEBIDAS FERMENTO-DESTILADAS 10 2.2 CACHAÇA E AGUARDENTE DE CANA 11 2.3 CACHAÇA, AGUARDENTE DE CANA E RUM: SIMILARIDADES E DIFERENÇAS 14 2.4 PERFIL DA PRODUÇÃO DE CACHAÇA 17 2.5 CONSUMO E EXPORTAÇÃO DA CACHAÇA 18 2.6 A PRESENÇA DE METAIS EM CACHAÇAS 19 2.6.1 Aspectos Gerais 19 2.6.2 Cobre: importância na qualidade da cachaça, essencialidade, fontes de 20 contaminação, medidas preventivas e toxicidade 2.6.3 Chumbo: fontes de contaminação e toxicidade 23 2.7 24 CARBAMATO DE ETILA 2.7.1 Estrutura, propriedades e aplicações 24 2.7.2 Ocorrência em bebidas e alimentos 25 2.7.3 Formação em vinhos e medidas preventivas 27 2.7.4 Formação em destilados alcoólicos: precursores, promotores e mecanismos propostos 29 2.7.5 Teores de carbamato de etila em cachaça e outras bebidas destiladas: influência dos 38 sistemas de produção e medidas preventivas 2.7.6 Toxicodinâmica, toxocinética e risco 45 2.7.7 Métodos para a determinação do carbamato de etila em bebidas alcoólicas 49 2.7.8 A determinação do carbamato de etila por GC-MS 52 2.8 55 RESINAS DE TROCA IÔNICA: SÍNTESE, ESTRUTURA, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES EM BEBIDAS ALCOÓLICAS 2.8.1 Síntese e estrutura 55 2.8.2 Propriedades Físicas e Químicas: capacidade, seletividade e cinética 56 2.8.3 Utilização de resinas de troca iônica em bebidas alcoólicas 58 3 PRODUÇÃO E QUALIDADE DE CACHAÇAS: O ESTADO DA ARTE 61 3.1 A CANA-DE- AÇÚCAR COMO MATÉRIA-PRIMA 62 3.2 EXTRAÇÃO DO CALDO DE CANA 62 3.3 CRESCIMENTO DO INÓCULO, FERMENTAÇÃO E FORMAÇÃO DE FLAVORS 63 E OFF-FLAVORS 3.3.1 Crescimento do Inóculo e Fermentação 63 3.3.2 Formação de flavors e off-flavors na fermentação 66 3.4 71 DESTILAÇÃO 3.4.1 Teoria da Destilação 71 3.4.2 Sistemas e Práticas de Destilação 73 xvi 3.4.3 Destilação Por Batelada ou Intermitente: Alambiques 74 3.4.4 Destilação Sistemática ou Contínua 79 3.4.5 Refluxo, Razão de Refluxo, Geometria da Coluna e Efeito sobre a Composição da 82 Cachaça. 3.4.6 Bidestilação ou Dupla Destilação 85 3.5 MATURAÇÃO E ENVELHECIMENTO 87 3.6 PADRÕES DE IDENTIDADE E QUALIDADE PARA A CACHAÇA:A LEGISLAÇÃO 89 ATUAL 3.7 LEGISLAÇÃO, COMPOSIÇÃO E QUALIDADE EM CACHAÇA 91 3.8. AVALIAÇÃO SENSORIAL: ANÁLISE DESCRITIVA QUANTITATIVA 94 3.9 AVANÇOS E PERSPECTIVAS NA PESQUISA EM QUALIDADE 94 4 MATERIAL E MÉTODOS 98 4.1 ESTABELECIMENTOS PRODUTORES DE CACHAÇA 99 4.2 CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DA RESINA CATIÔNICA UTILIZADA 99 4.3 TROCADORES CATIÔNICOS EXPERIMENTAIS E INDUSTRIAIS 100 4.4 AMOSTRAS E TRATAMENTO COM A RESINA CATIÔNICA SELECIONADA 102 4.5 DETERMINAÇÃO DO CARBAMATO DE ETILA 103 4.5.1 Parâmetros analíticos em (A) 104 4.5.2 Parâmetros analíticos em (B) 106 4.6 DETERMINAÇÃO DO GRAU ALCOÓLICO E DO pH 109 4.7 ANÁLISE DOS CONGÊNERES 109 4.8 ANÁLISE DE CONTAMINANTES METÁLICOS E OUTROS CÁTIONS 111 4.8.1 Métodos analíticos 111 4.8.2 Tratamentos prévios das amostras e curvas analíticas 112 4.9 113 TESTES ESTATÍSTICOS UTILIZADOS NOS ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS 4.10 CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO 114 4. 11 ANÁLISE SENSORIAL DESCRITIVA 114 4.11.1 Pré-seleção da equipe 114 4.11.2 Treinamento da equipe 115 4.11.3 Seleção dos julgadores 118 4.11.4 Avaliação das amostras 118 4.11.5 Teste de preferência sensorial 119 4.11.6 Teste de aceitação sensorial 119 4.11.7 Análises estatísticas 120 5 REDUÇÃO DOS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA E COBRE EM CACHAÇAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UTILIZANDO RESINAS CATIÔNICAS 122 5.1 A PRODUÇÃO DA CACHAÇA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 124 5.2 O PROGRAMA DE EXCELÊNCIA DA CACHAÇA E A AVALIAÇÃO DOS TEORES 126 DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 5.3 SELEÇÃO DA RESINA CATIÔNICA 128 xvii 5.4 SELEÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS PRODUTORES 128 5.5 FUNDAMENTAÇÃO DA VIABILIDADE DA UTILIZAÇÃO DE RESINAS CATIÔNICAS 129 PARA REMOÇÃO DO CARBAMATO DE ETILA E DO COBRE EM CACHAÇAS 5.6 CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO E CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO: CURVAS 130 ANALÍTICAS E DE ADIÇÃO PADRÃO 5.6.1 Linearidade 130 5.6.2 Sensibilidade 132 5.6.3 Seletividade e Exatidão 133 5.6.4 Precisão e Repetitividade 136 5.6.5 Estimativa dos limites de detecção e quantificação 138 5.7 139 A REDUÇÃO DO CARBAMATO DE ETILA E DO COBRE EM CACHAÇAS UTILIZANDO A RESINA CATIÔNICA SELECIONADA 5.7.1 Eficiência do processo experimental 139 5.7.2 Influência dos teores de cobre na formação do carbamato de etila 142 5.7.3 O sistema de troca iônica industrial 146 5.7.4 Comparação do processo proposto com a bidestilação 149 5.8 152 INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO SOBRE OS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS 5.9 EFEITO DO ARMAZENAMENTO EM TONÉIS DE MADEIRA SOBRE OS 153 TEORES DE COBRE EM CACHAÇAS 6 INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS DE DESTILAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NA FORMAÇÃO DO CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS 156 6.1 INFLUÊNCIA DOS SISTEMAS E PROCESSOS DE DESTILAÇÃO NOS TEORES DE 157 CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS 6.2 POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS DA MATÉRIA-PRIMA E DA FERMENTAÇÃO 175 6.3 MEDIDAS PREVENTIVAS E CORRETIVAS 178 7 AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE DESTILADOS DE CANA-DE-AÇÚCAR PRODUZIDOS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRATADOS E NÃO TRATADOS POR RESINA CATIÔNICA COMERCIAL 180 7.1 ANÁLISE SENSORIAL 181 7.2 ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA 184 7.3 OS TROCADORES CATIÔNICOS INDUSTRIAIS E OUTROS MÉTODOS PARA A 188 REDUÇÃO DO COBRE EM CACHAÇAS 7.4 ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS 191 8 CONCLUSÃO 197 9 REFERÊNCIAS 202 ANEXO : TRABALHOS 220 1 1 INTRODUÇÃO ____________________________________________________ 2 O carbamato de etila, também chamado de uretana, é o éster etílico do ácido carbâmico (C2H5OCONH2), substância potencialmente carcinogênica encontrada em produtos fermentados e fermento-destilados, como a cachaça. Nesses últimos, os níveis do carbamato de etila chegam a atingir valores na ordem de dezenas e até centenas de vezes dos produtos fermentados, como os vinhos, esses numa faixa de 10-30 ppb. Em 1985, baseado em padrões de consumo, o Canadá estabeleceu um limite máximo de 150 ppb para o carbamato de etila em bebidas destiladas. Ao lado das possíveis conseqüências oriundas da sua ingestão acima da dose diária tolerável, a presença do carbamato de etila, encontrada muito freqüentemente nas cachaças em níveis muito superiores ao limite de 150 ppb, tem-se constituído na principal barreira técnica às exportações desses produtos. No ano de 2000, com o objetivo de agregar valor à cachaça fluminense e incentivar o acesso à formalidade, o Serviço de Inspeção Vegetal do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) instituiu o Programa de Excelência da Cachaça, que já contemplava limites para o carbamato de etila e outros contaminantes. Entretanto, a infra-estrutura do MAPA no Rio de janeiro não permitia a implementação adequada do controle desses contaminantes, restringindo-se, inicialmente, aos teores de cobre e outros parâmetros constantes na legislação anterior. A importância econômico-estratégica do estudo e controle de contaminantes em cachaça, em especial o carbamato de etila, tem sido verificada pelos altos esforços e investimentos do governo e empresas privadas em infra-estrutura e programas de validação, acreditação e certificação. Esses programas começaram a ser implementados, no ano de 2004, pelo Instituto Nacional de Metrologia 3 (INMETRO, 2005, 2006a). A certificação de diversas entidades, proposta por essa instituição, visava suprimir as citadas barreiras técnicas à exportação, atribuídas à presença do carbamato de etila, cobre e metanol em cachaças (INMETRO, 2006b). No ano de 2005, a legislação brasileira passou a adotar o mesmo padrão do Canadá para controlar os teores de carbamato de etila em cachaças e aguardentes de cana-de-açúcar, estabelecendo um prazo de cinco anos para o setor produtivo se adequar (BRASIL, 2005a). Para o chumbo e o arsênio, contaminantes também não contemplados anteriormente, foram estabelecidos limites máximos de 200 e 100 µg/L, respectivamente, a serem atendidos num prazo de três anos. Nesse mesmo ano, os limites para os contaminantes e outros parâmetros de conformidade estabelecidos pelo MAPA foram imediatamente incorporados no Regulamento de Avaliação da Conformidade (RAC) do INMETRO (SEBRAE- SP, 2006). Haja vista a importância econômico-estratégica do controle dos teores do carbamato de etila em cachaças, um significativo número de trabalhos tem sido publicado. Contudo, como descrito por Andrade-Sobrinho et al. (2002), somente estudos a partir da coleta de amostras in loco assegurariam sua rastreabilidade e tornariam possível relacionar os teores de carbamato de etila com o processo de produção. Hoje, de um total estimado de 1,8 bilhão de litros de cachaça e aguardente-decana produzidos no Brasil, apenas cerca de 1% desse volume é exportado. A taxação excessiva e a falta de uma organização mais eficiente do setor produtivo são alguns dos vários fatores que contribuem para seu alto grau de informalidade, acompanhada pelo seu baixo valor agregado e a não conformidade de estabelecimentos e da própria cachaça produzida em face à legislação que regula o setor. 4 Um significativo volume de cachaça é obtido em colunas de destilação de médio porte, capazes de produzir diariamente de 10 a 20 vezes mais que um alambique de médio porte. Neste aspecto, o Estado do Rio de Janeiro é o sexto produtor nacional, à frente de Estados de maior extensão, como a Bahia, onde a produção de cachaça é praticamente toda proveniente de alambiques em cobre. Embora disponha de capacidade instalada para produzir em torno de 60 milhões de litros anuais, a produção atual no Rio de janeiro é de cerca de 30 milhões de litros, sendo que o consumo atinge 120 milhões de litros por ano. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), o Rio de Janeiro possuía, no ano de 2000, cerca de duzentas unidades produtoras de cachaça e aguardente. Como não há escritórios do SEBRAE em todos os municípios fluminenses, estima-se que hoje existam cerca de 300 estabelecimentos produtores. Desse total, somente um quinto possui registro oficial no MAPA, sem contar os cerca de 40 estandardizadores, que utilizam parte da produção de destilados de cana-de-açúcar do Estado para maturação, retificação, mistura ou diluição, e posterior engarrafamento. O processo mais utilizado para reduzir os teores de carbamato de etila e de cobre em cachaças tem sido a bidestilação ou dupla destilação (NOVAES, 1999). Contudo, este tipo de retificação geralmente pode provocar uma redução significativa do flavor, sem contar os custos adicionais de tempo e mão-de-obra. - Baseado no fato de o íon cianeto (CN ) ser considerado precursor do carbamato de etila, Andrade-Sobrinho et al. (2002), propuseram o enchimento da coluna dos alambiques com dispositivos em cobre (discos, anéis, etc.). Neste processo, seriam formados complexos cobre-cianeto nas partes ascendentes dos 5 aparelhos de destilação, o que evitaria a formação do carbamato de etila em suas partes descendentes. Os possíveis mecanismos de formação do carbamato de etila ainda não se encontram claramente estabelecidos, dificultando propostas de práticas alternativas na produção de cachaça, que evitem ou diminuam os seus níveis. Outro procedimento, o tratamento com resinas catiônicas, é baseado na supressão da ação catalítica do cobre na formação do carbamato de etila, em sua maior parte formada entre 1h e 48 h no recém pós-destilado (ARESTA et al.; BOSCOLO, 2001). Este processo não foi estudado e desenvolvido sob a alegação de altos custos e redução nos componentes do flavor, verificada por OLIVEIRA (1970), visando a redução dos teores de cobre em cachaças. O referido trabalho não apresentou nenhuma avaliação sensorial das cachaças estudadas, sempre provenientes de um único processo produtivo. Outros fatores a serem considerados são a maior estabilidade e uniformidade das microesferas das resinas hoje produzidas. Contudo, certas resinas catiônicas, geralmente de origem não declarada, vêm sendo utilizadas por vários estabelecimentos, especialmente em Minas Gerais, com o único de diminuir os teores de cobre em cachaças e o efeito desse tratamento não foi estudado até a presente tese. Numa primeira etapa do desenvolvimento deste trabalho de tese, as amostras iniciais consistiram de 10 recém-destilados coletados na saída do resfriador de distintos sistemas de destilação. Uma meia fração dessas amostras foi percolada numa resina catiônica Dowex Marathon C. As duas frações foram submetidas a análise físico-química, que abrangeu, primeiramente, as determinações do carbamato de etila, do cobre e do grau alcoólico. Estes procedimentos foram 6 necessários para estabelecer relações entre estes parâmetros, e verificar a redução dos níveis do carbamato de etila obtido pelo tratamento proposto nesta tese. A supressão do cobre, catalisador da formação do carbamato de etila, pode ser realizada, em escala de produção, através de um trocador catiônico acoplado à saída do resfriador do aparelho de destilação. De modo a melhor comprovar a eficácia do processo proposto e avaliar a qualidade dos respectivos produtos, as amostras tratadas (percoladas) e não tratadas de 6 estabelecimentos, foram, ainda, submetidas à Análise Descritiva Quantitativa (QDA) e a análise físico-química, que envolveu a determinação dos congêneres (acidez volátil, ésteres, álcoois superiores, etc.) e dos contaminantes metálicos. Numa segunda etapa, foram coletadas 24 amostras de cachaças ou aguardentes comerciais engarrafadas de 22 produtores, em sua maioria no local de produção. Dessas, uma cachaça envelhecida e uma bidestilada foram utilizadas em experimentos relativos à complementação da validação do método usado na determinação do carbamato de etila, empregando a técnica de Cromatografia a Gás acoplada à Espectrometria de Massas (GC-MS). A avaliação dos resultados das duas etapas permitiu estabelecer relações dos processos de destilação com os níveis de carbamato de etila formados. De modo inédito, comprovou-se que a eficiência do refluxo é o parâmetro crítico relacionado à presença desse contaminante em cachaças. 7 OBJETIVOS GERAL - Estudar e avaliar processos e propor procedimentos inovadores para reduzir os teores de carbamato de etila nas cachaças e aguardentes de cana produzidas no Estado do Rio de Janeiro. ESPECÍFICOS - Estabelecer relações dos processos de produção com os níveis de carbamato de etila formados. - Determinar os teores de carbamato de etila e outros contaminantes em cachaças, como o cobre e o chumbo. - Mostrar a viabilidade da redução dos níveis de carbamato de etila e contaminantes inorgânicos em cachaças e aguardentes de cana através de uma resina catiônica comercial específica, em sistemas de destilação diferenciados. - Projetar um filtro (ou trocador catiônico), a ser utilizado em escala de produção. - Avaliar a qualidade sensorial dos produtos percolados (tratados) na resina catiônica, utilizando destilados de cana-de-açúcar produzidos em 3 alambiques em cobre e 3 colunas de destilação. - Diagnosticar e avaliar o perfil dos teores de carbamato de etila em cachaças de diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro. - Ampliar o universo de dados e informações que possibilitem relacionar os teores de carbamato de etila com os sistemas e práticas de produção dos estabelecimentos de relevância comercial selecionados. 8 Os reflexos técnico-econômicos do presente trabalho de tese são evidentes, pois a adequação de determinados processos de produção tornam factível a seleção mais criteriosa de equipamentos e adoção de procedimentos eficazes que permitam reduzir os teores de carbamato de etila em cachaças a níveis que atendam a legislação nacional e internacional, contribuindo para a qualidade das cachaças produzidas no país. 9 2 REVISÃO DA LITERATURA ____________________________________________________ 10 2.1 AS BEBIDAS FERMENTO-DESTILADAS Embora, na Antigüidade, os chineses (3000 AC) e egípcios (2500 AC) conhecessem a destilação de certos líquidos fermentados (LÉAUTÉ, 1990, CACHAÇA, 2006a), apenas no século X Avicena - médico, astrônomo e filósofo árabe – reintroduziu, então, esse processo, obtendo um líquido composto em sua maior parte por álcool etílico. A palavra árabe Al Kuhul, que significa fina poeira, referindo-se ao sulfeto de antimônio, cosmético muito usado pelos egípcios, passou a designar qualquer essência alcoólica (CACHAÇA, 2006b). A posterior denominação álcool é atribuída a Paracelso, famoso alquimista (DISTILLED BEVERAGE, 2005). Foram os árabes que projetaram os primeiros aparelhos de destilação semelhantes aos que conhecemos hoje. Sua bebida mais popular, o Arac, é uma aguardente misturada com licores de anis (CACHAÇA, 2006b). No século XI (DC), eles invadem Europa, difundindo a técnica de destilação. Os alquimistas e os monges então aperfeiçoam essa técnica e equipamentos. Do grego Ambix, que os árabes transformaram em Al Ambic, originou a palavra alambique (LÉAUTÉ, 1990). A palavra aguardente tem origem na Grécia antiga, onde a história registra a obtenção da acqua ardens a partir do vapor resina de cedro, recolhido num pedaço de lã, assim extraindo um líquido ardente: acqua ardens, água ardente. Mais tarde, os alquimistas levaram a fórmula para a Europa, passando a prescrevê-la como elixir da longevidade por força da ação terapêutica do álcool: um cálice diário prolongaria a vida (CACHAÇA, 2006b, IBCA,2006). Posteriormente a acqua ardens foi obtida com um maior teor alcoólico e chamada de acqua vitae, do latim, eau de vie em francês, oriunda do vinho, e uisqe 11 beatha em irlandês, da cevada germinada (malte). A eau de vie passou a ser receitada como elixir da longevidade (CACHAÇA, 2006b). Na Europa, a maior parte das principais bebidas destiladas conhecidas, como o uísque e o conhaque, começaram a ser produzidas entre os séculos XV e XVI. Na América do Norte, a produção dos bourbons e uísques, a partir de cerais, teve início em torno de 1750 (LÉAUTÉ,1990). Como as diferenças encontradas na composição das bebidas destiladas e, por conseqüência, em sua qualidade, resultam de processos de produção bem diversificados, o conhecimento desses processos torna-se uma ferramenta imprescindível à sua associação com os teores de vários componentes presentes nessas bebidas, onde se incluem o carbamato de etila e os contaminantes minerais. Mais numerosos, aqueles responsáveis pelo seu flavor estão relacionados, primeiramente, à matéria-prima, incluindo a variedade selecionada, o seu grau de maturação, sua sanidade (MUTTON e MUTTON, 2005) e os inúmeros tratamentos prévios à fermentação (aquecimento, filtração, malteação, etc.). A composição e qualidade das bebidas destiladas estão, ainda, atreladas aos processos de fermentação, destilação, armazenamento, envelhecimento e, ainda, às práticas relacionadas à estandardização, como a adição de água potável, aromas, álcool potável de origem agrícola e caramelo. 2.2 CACHAÇA E AGUARDENTE DE CANA Datam de 1516 as primeiras iniciativas para o estabelecimento da indústria do açúcar no Brasil, na forma de "engenhos reais". No entanto, somente em 1532 foi noticiada a existência de engenhos estabelecidos em terras brasileiras, sendo o mais famoso deles o Engenho dos Erasmus, na Capitania de São Vicente, próximo a 12 Santos (SP) (PDBAC,2000). Num engenho dessa Capitania, entre 1532 e 1548, descobriu-se que o resíduo da borra do melaço fermentada, que ficava ao relento em cochos de madeiras para consumo dos escravos e animais, vinda dos tachos de rapadura, era uma bebida de qualidade razoável. Relata-se que, quando essa mistura era fervida, aparecia um “pescoço” ou “cachaço” no tacho, daí a origem do nome cachaça (CACHAÇA, 2006b). Contudo, muitos creditam a origem da palavra cachaça ao castelhano cachanza, nome dado, séculos atrás, a um tipo de vinho feito da borra de uva (COSTA; LAUS, 2006). Somente depois da metade do século XVI é que a cachaça passou a ser produzida em alambique de barro, posteriormente de cobre, sob o nome de aguardente. Nos engenhos do nordeste era costume dar cachaça aos escravos, a fim de que pudessem suportar melhor o trabalho árduo dos canaviais. Nos primeiros engenhos, o caldo de cana-de-açúcar era cozido em tachos de cobre para fabricação de melado, parte do qual era fermentado em cochos de madeira e destilado. A cachaça assim produzida era transferida para o nível mais baixo do engenho, para ser armazenada em tonéis de madeira. O alambique compunha-se da cucúrbita ou caldeira, um vaso bojudo de cobre com capacidade de 104 litros e uma boca com 70 cm de diâmetro, e do capitel ou capacete, feito em barro, de forma esférica inteiriça e ajustada na boca da caldeira. Na parte lateral do capitel era instalada a serpentina, um grosso tubo de barro. Sobre a serpentina e o capitel era lançada água para condensação da cachaça (CACHAÇA, 2006b). A cultura canavieira exigia cada vez mais mão de obra. A bebida, que já ganhava espaço na Europa e na África, foi usada como uma das principais moedas do tráfico de escravos, intensificando-se essa prática com a ocupação holandesa em Pernambuco por volta de 1630 (PDBAC, 2000). A popularização da cachaça fazia 13 concorrência com os vinhos e a bagaceira. Várias tentativas de proibir a produção foram feitas sem sucesso pela coroa portuguesa. O fracasso dessas medidas resultou em elevados tributos criados sobre o produto que, no século XVIII, ajudaram a reconstruir Lisboa, devastada pelo terremoto de 1755. As investidas da metrópole contra a bebida a tornaram um símbolo da resistência anticolonial (PDBAC, 2000; TONÉIS & CIA, 2006). Já depois da Segunda Guerra Mundial, o uísque começa a ter penetração nas camadas mais abastadas e a originalidade dos rótulos foi, em parte, substituída por lay-outs similares aos dos uísques (CARVALHO, 2000). Embora a cachaça fosse fabricada em todo o Brasil, Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, tornou-se sinônimo de boa cachaça, pela qualidade de seus produtos e dos mais de cem alambiques que chegaram lá a existir no século XVII (TONÉIS & CIA, 2006; CARVALHO, 2000). Contudo, no princípio da década passada sua produção ficou restrita a menos de 10 alambiques, alguns desses em processo de extinção. Os processos extremamente rudimentares de produção geravam produtos fora dos padrões e sem apelo comercial, exigindo uma mudança de mentalidade e iniciativas concretas. Para tal, de grande importância tem sido as iniciativas do SEBRAE que, juntamente ao MAPA-RJ e o engajamento de alguns produtores, vêm promovendo uma melhoria substancial na qualidade das cachaças de Paraty. Quanto à identidade e tipicidade, até 1997, a legislação brasileira diferenciava a cachaça da aguardente de cana ou caninha pelo tipo de matéria-prima utilizada na fermentação (BRASIL,1974). Assim, a cachaça ou aguardente de melaço era a bebida destilada obtida do destilado alcoólico simples do melaço ou da destilação do mosto fermentado de melaço originado da cana-de-açúcar (Saccharum oficinarum L.), sendo reservada à aguardente de cana ou caninha a cana-de-açúcar como 14 matéria-prima. A partir de 1997, todas essas matérias-primas passaram a contemplar, indiscriminadamente, a aguardente de cana, a cachaça e a caninha (BRASIL, 1997). Possivelmente, a postura oficial de valorizar a denominação cachaça, associando-a a um produto nobre, acompanhou sua progressiva aceitação popular ocorrida na última década, incrementada por expressivas estratégias de marketing, direcionadas a vários segmentos sociais. Apesar disso, os estigmas associados ao vocábulo cachaça perduram até hoje no linguajar corriqueiro. Com o propósito principal de proteger direitos de propriedade Intelectual relacionados ao Comércio, o Decreto Nº 4.062 definiu as expressões "cachaça", "Brasil" e "cachaça do Brasil" como indicações geográficas exclusivamente brasileiras (BRASIL, 2001). Contudo, entre os problemas decorrentes de embates comerciais (retaliações, etc.), o maior entrave se constituiu no governo dos Estados Unidos, que passou a classificar a cachaça como rum para efeitos de taxação e comercialização (OLIVEIRA et al., 2006; CACHAÇA, 2006a). 2.3 CACHAÇA, AGUARDENTE DE CANA E RUM: DEFINIÇÃO, SIMILARIDADES E DIFERENÇAS No ano de 2003, de modo a estabelecer maiores diferenças entre a cachaça, a aguardente de cana e o rum, o Decreto 4851 (BRASIL, 2003a) viria a definir esses produtos e diferenciar alguns aspectos de sua produção. Conforme esse Decreto Presidencial, cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de 38 a 48% vol, a 20°C, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até 6 g/L . Aguardente de cana é a 15 bebida com graduação alcoólica de 38 a 54% vol, a 20°C, obtida de destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até 6g/L. Rum é a bebida com a graduação alcoólica de 35 a 54% vol, a 20°C, obtida do destilado alcoólico simples de melaço, ou da mistura dos destilados de caldo de cana-de-açúcar e de melaço envelhecidos, total ou parcialmente, em recipiente de carvalho ou madeira equivalente, conservando suas características sensoriais peculiares. De modo a padronizar os textos seguintes, a denominação cachaça será utilizada, indiscriminadamente, para todo tipo de aguardente de cana produzida no Brasil. Os sistemas de produção do rum são mais diversificados que os da cachaça e característicos dos muitos países onde são fabricados, principalmente, a partir do melaço (rums industriais). Dependendo da matéria-prima, do “vinho”, do grau de retificação, das culturas de fermentos e das leveduras nativas, são produzidos desde os light rums, quando a fermentação dura cerca de 24 h, até heavy rums, cuja fermentação pode levar dias. Muito utilizado na obtenção desses últimos rums é o dunder, resíduo de uma fermentação anterior onde se desenvolveu uma elevada contaminação bacteriana. Além do tipo de fermentação, o sabor do produto final será influenciado pelo tipo de alambique usado na destilação (DIKTY, 2005; MURTAGH, 1999a; ALMEIDA LIMA, 2001). A característica do aroma da maioria dos rums provém da atuação de certas linhagens de leveduras na fermentação (Schizosaccharomyces pombe, etc.), bem como da atividade adicional de certas bactérias, saccharobutyricum (PAPINI, 1995; MURTAGH, 1999a). tais como Clostridium 16 Tradicionalmente, os países de língua francesa, como é o caso do Haiti e Martinica, usam o suco da cana-de-açúcar, às vezes adicionando o dunder, em alambiques do tipo pot, produzindo um rum mediamente encorpado considerado de alta qualidade (rums agrícolas). Entre os países do Caribe de língua inglesa, a Jamaica tem a tradição de produzir um bom rum, a partir do melaço de cana, bastante encorpado, utilizando o dunder, em alambiques do tipo pot (DIKTY, 2005; ALMEIDA LIMA, 2001), onde é baixo o grau de retificação. Desta forma, são produzidos os rums com os mais altos teores em congêneres. O conteúdo em ésteres dos rums da Jamaica e da Martinica grands aromes chegam a ser em torno de 10 a 20 vezes maiores que os dos rums de outros países (NYKÄNEN e SUOMALEINEN, 1983). Alguns rums são provenientes da mistura da produção em alambiques do tipo pot com rums produzidos em colunas de destilação, de modo similar à produção do Armagnac (DIKTY, 2005). Os rums mais encorpados são envelhecidos em tonéis de carvalho escuro por um período de dois a quinze anos (RUM, 2006). A Guiana produz seu próprio tipo de rum, chamado demerara, não muito encorpado, utilizando o melaço de cana e colunas de destilação; Barbados usa os dois sistemas de destilação e faz um rum suave; Trinidad produz um rum mais ou menos leve, em sistemas contínuos. Os países de idioma espanhol produzem rums leves, com o melaço (RUM, 2006) . Alguns desses rums são altamente retificados em colunas, ”cortados” e amadurecidos por poucos meses, ou filtrados em carvão ativo. Outros são produtos da infusão com especiarias e flavors de fruta (DIKTY, 2005). O corte com álcool potável, prática muito comum nesses produtos, não é permitido para a cachaça e caracteriza fraude. 17 2.4 PERFIL DA PRODUÇÃO DE CACHAÇA Devido à dinâmica do setor produtivo da cachaça, sua alta informalidade e extensão territorial da Federação, torna-se complexa a atualização dos dados sobre a produção em cada Estado. Tendo uma economia mais dinâmica, o Estado líder na produção de cachaça é São Paulo, respondendo por cerca de 44%. Em seguida vêm Minas Gerais, com 13 15 % ; Pernambuco, 12% ; Ceará , 12% ; Goiás e Rio de Janeiro, 11 - 12%, em proporção similar ; Paraná, 4%; Paraíba, 2%, e Bahia, 1,5% (JANZANTTI, 2004; FOLHA ON LINE, 2005; COOCACHAÇA, 2006; GONTIJO, 2002). Com mais de 5 mil marcas e 30 mil produtores no Brasil, gerando 400.000 empregos (ABRABE, 2005), estimativas atuais mais otimistas apontam para uma produção anual de 1,8 bilhão de litros (CAMPILLO, 2005; ELVAS e RIZZO, 2002). Deste volume, 1,3 bilhão de litros são produzidas em colunas de destilação, por processo contínuo, e 500 milhões de litros em alambiques, por processo em batelada (CAMPILLO, 2005). As colunas de destilação, geralmente, são capazes de produzir anualmente, em média, cerca de 30 vezes ou mais que os alambiques, o que explica a menor produção em certos Estados com grande dimensão territorial, como é o caso da Bahia, onde, praticamente, toda a cachaça é proveniente de alambiques. O Estado de Minas Gerais possui tradição como produtor de boa cachaça. A crença de que a maior parte de sua produção é elaborada de forma artesanal também é geral, embora sejam usadas várias colunas de destilação em algumas regiões. De fato, a tradição de produzir cachaças numa grande diversidade de alambiques inteiramente em cobre, aliada a uma estrutura razoável de fornecimento de equipamentos e tecnologia, resulta num expressivo número de cachaças de boa 18 qualidade. Entretanto, Minas Gerais tem o problema de possuir áreas com bolsões de isolamento técnico-científico, econômico e cultural, que geram um sem número de produtos de qualidade inferior, fato comprovado pelo seu alto índice de não conformidades (LABANCA, 2004). São Paulo, Pernambuco, Ceará e Rio de Janeiro produzem um considerável volume de cachaça usando colunas de destilação, que coexiste com uma produção bem inferior em alambiques, 2.5 CONSUMO E EXPORTAÇÃO DA CACHAÇA Para organizar e resgatar o valor histórico e cultural da cachaça foi criado, em 1997, o Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça (PBDAC, 2000). Com isso, tem-se concentrado esforços para criar condições de inseri-la no mercado internacional e disputar um espaço com destilados tradicionais consagrados mundialmente. A cachaça é a terceira bebida destilada mais consumida no mundo. Contudo, em um mercado de bebidas destiladas que movimenta mundialmente cerca de 15 bilhões de dólares (ELVAS e RIZZO, 2002), menos de 1% da produção de cachaça segue para o exterior. O Paraguai e a Alemanha, juntos, consomem cerca de 46% das exportações brasileiras, seguidos de Itália (9%), Portugal (6%), Bolívia (5%) e Chile (5%). Esta pequena fatia do mercado equivale a pouco mais de 15 milhões de litros ou US$ 16 milhões ao ano (NUNES, 2006), valores pouco significativos se comparados aos US$ 250 milhões da Tequila e aos cerca de US$ 4 bilhões do Scotch Whisky (COPPELO, 2004; CAMPILLO, 2005). Estimativas mais otimistas foram relatadas pela Federação Nacional de Cachaça de Alambique (FENACA), que estimou em 20 milhões de litros o volume de 19 cachaça exportado no ano de 2003, quando os produtos “artesanais” representaram apenas 2,5% desse total (CACHAÇA, 2006b). A princípio os números não parecem animadores, mas representam um crescimento de médio de 10% a partir dos US$ 7,3 milhões de 1999, quando o governo começou a promover a cachaça nos mercados estrangeiros (ABRABE,2005). 2.6 A PRESENÇA DE METAIS EM CACHAÇAS 2.6.1 Aspectos Gerais A presença dos íons metálicos Li, Na, K, Mg, Ca, Al, Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu, Zn, Pb, Cd e Hg em 74 cachaças de diversas regiões do Brasil foi investigada por Nascimento et al. (1999). As cachaças foram classificadas em 3 grupos: exportação (A), comerciais (B) e “artesanais” (C). Com exceção do cobre e chumbo (Pb), os teores desses metais encontraram-se em conformidade com os limites estabelecidos por padrões nacionais e internacionais. A legislação de alguns países não tolera mais que 2 mg/L de cobre nos destilados alcoólicos (CARDOSO et al., 2003a; NASCIMENTO et al.,1998a). Para a maioria das cachaças estudadas, o teor de cobre oscilou em torno de 4,70 mg/L, com uma média geral pouco menor que 4 mg/L. Os casos mais freqüentes de contaminações acima do limite permitido pela legislação brasileira (5 mg/L) foram oriundos das cachaças tipo A, com média de 5,01 mg/L. De modo distinto, em menor número, as contaminações causadas pelo chumbo, em níveis acima do limite máximo (200 µg/L), foram encontradas sempre em cachaças tipo A (<LD - 421µg/L) e B (< LD - 342 µg/L), muitas produzidas em escala industrial. 20 Labanca (2004) determinou os teores de cobre em 71 amostras de cachaças de várias macrorregiões de Minas Gerais, relatando uma média de 2,3 mg/L. Em torno de 7% dos produtos encontravam-se acima da concentração limite (5 mg/L), percentual similar ao descrito por Azevedo et al. (2003), utilizando 45 cachaças do mesmo Estado. 2.6.2 Cobre: importância na qualidade da cachaça, essencialidade, fontes de contaminação, medidas preventivas e toxicidade Os alambiques, em sua grande maioria, são construídos em cobre e as colunas de destilação em aço inoxidável. A escolha desse material para a construção das colunas de destilação deve-se à sua alta resistência à corrosão, o que evita problemas de manutenção (NOVAES,1993). Entretanto, os destilados provenientes de aparelhos construídos exclusivamente em aço inoxidável apresentam características sensoriais desagradáveis, principalmente devido aos teores de dimetil sulfeto (DMS), acima de 4,0-5,0 mg/L, liberado no processo, e que permanece no produto final. Com o de emprego de dispositivos em cobre no aparelho destilador, como a introdução de anéis desse metal na coluna do alambique, as propriedades organolépticas negativas são notadamente diminuídas (FARIA et al., 2003; ANDRADE-SOBRINHO et al., 2002). A contaminação pelo cobre ocorre durante o processo de destilação, no qual se forma o “azinhavre”, o carbonato básico de cobre [CuCO3Cu(OH)2] (AZEVEDO et al., 2003, BIZELLI et al., 2000), nas partes descendentes internas dos aparelhos de destilação, especialmente na serpentina. Esse composto é dissolvido pelos vapores alcoólicos ácidos, contaminando o destilado, principalmente com acetatos de cobre (LIMA NETO e FRANCO, 1994; AZEVEDO et al., 2003; BOZA e HORII, 2002a,b). 21 Além dos efeitos tóxicos, o cobre contribui para ressaltar o sabor ácido (CARDOSO et al., 2003a), adstringente e amargo na bebida (LAWLESS et al., 2004). Contrariamente aos polifenóis, substâncias de caráter redutor, os íons do cobre facilitam os processos oxidativos (CARDOSO et al., 2003a). Segundo Boza e Horii (2000a,b), a presença de cobre no “domo” do alambique favorece a oxidação do gás sulfídrico e das mercaptanas a sulfetos e dissulfetos, 2+ compostos de baixa solubilidade, catalisada pelo íon Cu (do azinhavre), reduzindo a concentração de compostos sulfurados nos destilados, conforme indicado a seguir: 2+ Cu + H2S → CuS + 2 H 2+ 4 R-SH + 2 Cu + + → 2Cu-SR + RS-SR + 4 H Conforme os mesmos autores, os sais de cobre durante a destilação mudam o perfil do destilado, pois alteram a composição de equilíbrio líquido-vapor, obtendo-se maior separação entre os componentes e através de seu efeito catalítico, aumenta a concentração de acetato de etila, com correspondente redução na concentração de acetaldeído. O cobre também reage com ácidos de odor desagradável, como o ácido butírico (suor, queijo), caprílico (ácido graxo, óleo vegetal) cáprico (cera, ranço, sabão) e láurico, formando compostos organo-cúpricos, insolúveis na fase líquida em destilação (BOZA e HORII, 2000a; OLIVEIRA, 2000). Já Cardoso et al. (2003a) atribuíram a menor presença do DMS em aparelhos em cobre à provável oxidação desse composto sulfurado a metil sulfeto e metanol . em meio aquoso por meio de radicais OH , gerados por fotólise. A análise de produtos provenientes de “vinhos” destilados a partir de alambiques com colunas experimentais recheadas com aço inoxidável, ao lado dos altos níveis de DMS (odor 22 a repolho), apresentou teores de acetato e caprilato de etila bem mais elevados do que aqueles provenientes de colunas recheadas com cobre. A medida preventiva mais utilizada para evitar a contaminação das cachaças pelo cobre consiste em “afogar” a serpentina com água durante a entressafra. Outras medidas para reduzir os teores de cobre consistem, principalmente, da bidestilação (NOVAES,1993,1999; BIZELLI et al., 2000), da utilização de resinas catiônicas (OLIVEIRA, 1970; BOSCOLO, 2001) e do emprego do carvão ativado (BOARI LIMA et al., 2006). Cavalheiro et al. (2003) constataram que o envelhecimento promoveu significativa redução no teor de cobre em cachaças submetidas ao armazenamento em pequenos tonéis de carvalho durante 6 meses. Estuda-se, ainda, a viabilidade de remoção do cobre a partir de filtro de briófitas (VIEIRA, 2005). O cobre é um dos principais metais presentes no corpo humano. Encontra-se distribuído praticamente em todo o organismo, mas em diferentes concentrações, o que indica seu papel funcional. As atividades protéicas, como a tirosinase, a citocromo oxidase e a ceruloplasmina, são basicamente regidas pelo cobre (AZEVEDO et al., 2003). Estima-se que, na dieta, são necessários de 2 a 5 mg de cobre por dia (SARGENTELLI et al., 1996). Apesar da sua essencialidade, o excesso de cobre no organismo é nocivo, pela interferência nas atividades catalíticas normais de algumas enzimas, devida à sua afinidade por grupos S-H (SARGENTELLI et al., 1996). Alterações excessivas podem provocar graves distúrbios e até doenças, que podem ser decorrentes tanto do excesso como também da falta de cobre, causando a hiper e hipocupremia, respectivamente. A mais conhecida enfermidade decorrente de distúrbios do 23 metabolismo do cobre é a degeneração hepato-lenticular ou doença de Wilson que, à primeira vista, parece tratar-se de um caso de hipercupremia (AZEVEDO et al., 2003). Segundo Bezerra (apud Azevedo et al., 2003), os sintomas da doença de Wilson caracterizam-se pela precipitação do metal nas córneas e pela destruição do fígado e do tecido nervoso. 2.6.3 Chumbo: fontes de contaminação e toxicidade As origens da contaminação em cachaças pelo chumbo ainda não se encontram devidamente estabelecidas. De fato, só recentemente a legislação nacional (BRASIL, 2005a) passou a incluir um limite máximo para o teor desse contaminante, o que poderia, parcialmente, explicar e escassez de dados sobre o tema. Em certos aspectos, as fontes de contaminação por chumbo em cachaça são semelhantes às relatadas para os vinhos, incluindo: material suspenso a partir do solo que se deposita nas plantas (BRUNO, 1993; CANUTO et al., 2004); tonéis de fermentação, onde devem ser considerados o desgaste mecânico, corrosão e superfícies ásperas (cimento, metal); tanques e plásticos contendo estearato de chumbo; encanamentos de chumbo; tintas; rolhas; tampas manufaturadas com ligas contendo chumbo; coadjuvantes utilizados na fermentação (BRUNO, 1993); soldas nos alambiques e em outros equipamentos e utensílios, como os frisos das moendas (CANUTO et al., 2004; CASIMIRO et al.,1998). Outra possível fonte de contaminação por chumbo é água usada na produção da cachaça (CANUTO et al., 2004). 24 O chumbo tem metabolismo semelhante ao cálcio, acumulando-se nos ossos e tecidos moles, particularmente no cérebro. Um efeito de grande importância toxicológica, produzido pela presença de chumbo nos tecidos moles, é a inibição de enzimas que atuam por intermédio dos grupos S-H, o que provoca inibição no processo de incorporação do ferro (Fe) na síntese da hemoglobina, que pode levar à anemia. O chumbo pode atuar causando perdas de aminoácidos, glicose e fosfatos, pela urina, em decorrência da danificação das células renais. Estes efeitos são característicos da intoxicação aguda por chumbo. São conhecidos também os efeitos fisiológicos crônicos como a nefrite, causada pela alteração do tecido renal; encefalopatia, mudanças subclínicas tóxicas na percepção sensorial e psicomotora; fadiga; insônia; síndromes hepáticas e do trato gastrintestinal; cólica, anorexia, diarréia e outros distúrbios dos órgãos endócrinos (tireóide, glândulas) (BRUNO, 1993). Estudos recentes indicam ainda o chumbo como um fator importante no aumento da tensão arterial e, conseqüentemente, responsável por doenças cardíacas em homens de meia idade (CHUMBO, 2006). 2.7 CARBAMATO DE ETILA 2.7.1 Estrutura, propriedades e aplicações O carbamato de etila (C2H5OCONH2) ocorre na forma de um cristal colunar incolor, inodoro, de sabor salino refrescante e levemente amargo, ou na forma de um pó branco granular (LABANCA, 2004; ETHYL carbamate, 2006a). Possui uma massa molecular de 89,09 u, ponto de fusão entre 48 e 50°C e ponto de ebulição entre 182 e 184°C (LABANCA, 2004). É solúvel em água, etanol, éter etílico e clorofórmio (URETHANE, 2006). 25 Figura 1 . Estrutura do carbamato de etila. Tratando-se de um composto biologicamente ativo, o carbamato de etila tem sido utilizado em seres humanos e animais de laboratório como hipnótico e anestésico (BOSCOLO, 2001; HOFFLER et al., 2003; VCU, 2005). Outros usos medicinais abrangem o tratamento de varicoses, leucemia crônica e mieloma múltiplo (HOFFLER et al., 2003), um câncer que se desenvolve na medula óssea (ABRALE, 2006). Ultimamente, a utilização do carbamato de etila com propósitos medicinais vem sendo limitada, devido aos efeitos pós-operativos adversos observados em animais e suspeita de risco à saúde em seres humanos (VCU, 2005). Comercialmente, o carbamato de etila tem sido empregado como intermediário em síntese orgânica, na produção de amino-resinas, como co-solvente para pesticidas e fumigantes, como intermediário na indústria farmacêutica (ETHYL CARBAMATE, 2006a) e em limpeza e secagem de peças de vestuário (HOFFLER et al., 2003). 2.7.2 Ocorrência em bebidas e alimentos A presença do carbamato de etila, em níveis traço (<10 ppb), é comum em diversos alimentos e bebidas onde ocorrem processos fermentativos, como os vinhos, iogurtes, queijos e cervejas (NOVAES,1997 ; RIFFKIN et al.,1989), pães e derivados da soja (ETHYL CARBAMATE, 2006a). Sua ocorrência nesses produtos dificilmente ultrapassa 10-20 ppb (NOVAES, 1997; RIFFKIN et al., 1989; ETHYL CARBAMATE, 2006b). 26 Em 1985, no Canadá, o Liquor Control Board of Ontario encontrou grandes quantidades (até acima de 13.400 mg/L) de carbamato de etila em sherries, vinhos licorosos e bebidas destiladas. Esse fato despertou atenção mundial em relação ao risco à saúde ocasionado pelo consumo dessas bebidas (ZIETSMAN, 2006). Em novembro do mesmo ano, o Health Protection Branch, do Departament of Health and Welfare Canada publicou os seguintes limites máximos para os teores de carbamato de etila em bebidas fermentadas e fermento-destiladas (ppb): vinhos (30); vinhos fortificados (liquorosos) (100); maior parte das bebidas destiladas (150); e liquores e brandies (aguardentes) de frutas (400). Esses valores foram baseados em padrões de consumo diferenciados conhecidos, e calculados considerando uma “Dose Diária Aceitável" (IDA) de 0,3 mg por kg de massa corpórea (humanos), que se tornaram referências utilizadas por todos os Liquor Boards desse país (RIFFKIN et al., 1989a). Nos Estados Unidos, a partir de 1989, a Food and Drug Administration (FDA) e o Bureau of Alcohol, Tobacco and Fire Arms (BATF) estabeleceram um acordo com os organismos representantes dos produtores de vinhos e bebidas destiladas, implementando programas voluntários, visando uma redução gradativa dos níveis do carbamato de etila, ocasião em que foram estabelecidos os seguintes limites máximos (ppb): uísques (125); vinhos de mesa (15); vinhos licorosos (60) (CANAS et al.,1994; ETHYL CARBAMATE, 2006b). Na Europa, a Suíça propôs, na mesma época, um limite máximo de 400 ppb para esse contaminante em bebidas destiladas (NOVAES,199- ; RIFFKIN et al.,1989). 27 2.7.3 Formação em vinhos e medidas preventivas Acredita-se que o precursor mais importante do carbamato de etila em vinhos seja a uréia, formada durante o metabolismo da arginina pela levedura Saccharomyces cerevisiae. A l-arginina é um dos aminoácidos predominantes no suco de uva, sendo degradada pelas leveduras gerando ornitina, NH3 e CO2 durante a fermentação, por meio da enzima arginase. A uréia é um produto intermediário que se acumula na célula da levedura e, sendo um agente desnaturante, seu excesso é excretado para o mosto. O etanol produzido na fermentação reage com a uréia, formando o carbamato de etila (ZIETSMAN, 2006 ; ETHYL CARBAMATE, 2006b). Figura 2. Produção da uréia durante a fermentação de mosto de uva (Fonte: ZIETSMAN, 2006). NH2CONH2 + C2H5OH → C2H5OCONH2 A uréia é freqüentemente formada durante o inicio ou no meio da fermentação, e a subseqüente geração de leveduras provoca sua metabolização durante os períodos finais. Os vinhos fortificados ou licorosos são, geralmente, produzidos pela interrupção da fermentação com álcool vínico. Altas concentrações de uréia serão formadas se a fermentação cessa no auge de sua extração máxima que, para muitas leveduras, ocorre na faixa de 12 to 16 °Brix; seguido da metabolização da arginina remanescente CARBAMATE, 2006b). e reabsorção da uréia (BUTZKE, 2006; ETHYL 28 Pelo exposto, como mostra a Tabela 1, os níveis do carbamato de etila em vinhos licorosos, de modo geral, atingem valores médios mais altos que os vinhos de mesa. Tabela 1. Teores de carbamato de etila em vinhos consumidos nos EUA. PRODUTO Carbamato de etila (ppb) Faixa Média Medi Vinhos norte-americanos Mesa Licorosos Sherry 0 – 102 7 – 254 18 – 209 10 93 82 Vinhos de outros países Mesa Porto Sherry 0 – 80 17 – 108 23 – 82 12 55 62 Mais recentemente,15 amostras de vinhos fortificados analisados apresentaram um teor médio de 32 µg/kg (FOOD STANDARDS AGENCY, 2005). Muitas linhagens de S. cerevisiae contêm um gene que codifica a enzima uréia amidolase, que degrada a uréia em NH2 e CO2. Entretanto, certas linhagens não metabolizam completamente a uréia durante a fermentação, o que resulta no aumento dos níveis de uréia no mosto, com conseqüente formação adicional de carbamato de etila. A deficiência da metabolização da uréia é, provavelmente, resultado da repressão do gene da uréia amidolase na presença de altos teores de fontes de nitrogênio, encontradas no suco de uva. Como resultado, a uréia amidolase não é produzida em quantidades suficientes para degradar a uréia (ETHYL CARBAMATE, 2006a). Outros precursores menos importantes do carbamato de etila são a citrulina e o carbamil fosfato e n-carbamil aminoácidos (ZIETSMAN, 2006; ETHYL CARBAMATE, 29 2006b). Certas bactérias láticas também podem se constituir em fonte de citrulina sob certas condições de vinificação (BUTZKE e BISSON, 1997). Considerando-se que altas concentrações de uréia e arginina, assim como elevadas temperaturas estão diretamente correlacionadas a altos teores de carbamato de etila em vinhos (ETHYL CARBAMATE, 2006a,b; FOULKE, 1993), várias ações preventivas foram propostas para sua redução, como: evitar excessivos teores de nitrogênio nos solos das vinhas e no mosto (uréia); atentar ao fato de que o uso de preparações a base de ureases não eliminam completamente a formação do carbamato de etila, pois não tem efeito sobre vários outros precursores nitrogenados e é limitado pela composição do mosto (pH, etc.) (ZIETSMAN,2006); evitar teores de arginina no suco de uva maiores que 1000 mg/L; selecionar linhagens de leveduras com baixa excreção de uréia; evitar exposição do vinho a temperaturas elevadas durante a armazenagem e transporte. No caso de vinhos fortificados recomenda-se realizar testes de fortificação em laboratório e analisar as concentrações de uréia nos produtos, assim como do carbamato de etila no álcool vínico ou outra bebida destilada de vinho utilizada (BUTZKE e BISSON, 1997). 2.7.4 Formação em destilados mecanismos propostos alcoólicos: precursores, promotores e Segundo Novaes (1997), quando as misturas resultantes da fermentação são destiladas, dão origem a produtos cujos teores em carbamato de etila variam de cerca de 20 a mais de 1500 ppb. Sua formação pode ocorrer antes, durante e depois do processo de destilação (BOSCOLO, 2001). Como o carbamato de etila tem baixa volatilidade em soluções hidroalcoólicas, a contribuição do vinho para as quantidades presentes em bebidas destiladas não é 30 significativa (RIFFKIN et al.,1989; NOVAES, 1997; LYONS,1999). Por isso, os níveis de carbamato de etila nesses produtos foram associados a precursores nitrogenados que aparecem durante a destilação (MACKENZIE et al., 1990; BUJAKE; TAKI et al., 1992; NOVAES, 199-, 1997; ARESTA et al., 2001). Segundo MCkenzie et al. (1990), a posterior formação do carbamato de etila em destilados foi, primeiramente, observada em brandies de frutas e atribuída a reações induzidas pela luz envolvendo o cianeto de hidrogênio, derivado da degradação da amidalina, um glicosídeo cianogênico, por ação da enzima - glicosidase e compostos dicarbonílicos, como o diacetil e o metil glioxal, como é mostrado a seguir: Figura 3. Formação do cianeto a partir da amidalina (Fonte: IPCS, 2004). Contudo, Riffkin et al. (1989), utilizando pequenos alambiques experimentais, um deles totalmente em cobre, mostraram que a formação do carbamato de etila em recém-destilados só ocorria na presença do cobre, numa reação tempo dependente, que se completa após cerca de 48 h. Em temperaturas elevadas sua formação era independente do tempo. Ao serem recolhidas outras frações dos recém-destilados no alambique em cobre verificou-se um decréscimo nos níveis de carbamato de etila ao longo da primeira destilação (low wines). As últimas frações (5ª a 8ª), de baixo grau alcoólico 31 (cerca de 10% vol), apresentaram teores cerca de 8 -10 vezes menores que a inicial (cerca de 50% vol), esta contendo em torno de 160 µg/L de carbamato de etila. Esse decréscimo foi acompanhado por uma redução do teor de cobre inicial, cerca de 4,5 - 5 ppm, para valores em torno de 1-1,5 ppm. Ao final de uma destilação, foram separadas 10 subamostras de um recém-destilado, cujo pH foi ajustado em vários valores com soluções de NaOH e HCl. A formação máxima do carbamato de etila ocorreu numa faixa de pH entre 4 e 6. Na mesma época, em outro estudo, Riffkin et al. (1989b) propuseram o envolvimento de complexos Cu 2+ – peptídeos/protéicos que, possivelmente, seriam formados no topo da coluna do alambique e em suas partes posteriores descendentes. A albumina de soro bovino foi utilizada para a complexação do cobre. A sua substituição por uma solução de aminoácidos não resultou em nenhuma formação de carbamato de etila adicional (pós-destilação). Por outro aspecto, segundo os autores, para que o aparecimento do carbamato de etila se tornasse possível a partir desses complexos, era requerida uma etapa de oxidação, que poderia explicar o grande tempo despendido para a sua formação “completa” após a destilação (RIFFKIN et al., 1989a). Estudos de Aylott et al. (1990) mostraram a formação adicional (pós-destilação) de carbamato de etila em amostras de recém-destilados de grain whisky escocês, produzidos em quatro diferentes destilarias. Quando 36 amostras foram armazenadas em barris de madeira de 500 litros por um período de 3 meses, os níveis de carbamato de etila aumentaram, em média, de 10 ppb para 32 ppb, com um máximo de 80 ppb. Contudo, as concentrações de carbamato de etila nas amostras armazenadas em ambientes escuros e analisadas num período de 24 h após a destilação, 32 apresentaram, geralmente, menores teores (cerca de 5 ppb ou menos até 20 ppb) que aquelas maturadas. Os níveis de carbamato de etila nos destilados expostos à luz natural e temperatura ambiente, variaram desde 5-20 ppb, quando analisados até 24 h depois da destilação, até 85-120 ppb, ao final de 21 dias. Algumas amostras sofreram acréscimos considerados relevantes após os primeiros 7 dias. Das amostras utilizadas, uma menor parte permaneceu com os níveis desse contaminante estáveis. A exposição em condições padronizadas de luz fluorescente intensa e aquecimento (43°C), por 3 dias, resultaram em teores de carbamato de etila acima de 160 ppb para algumas amostras, enquanto outras pouco aumentaram seus níveis iniciais (< 20 ppb). Simultaneamente, ao longo dos experimentos, o acréscimo nos teores de carbamato de etila foi relacionado ao decréscimo nos teores iniciais de possíveis precursores que incluíam o cianeto, cianeto de cobre, outros complexos Cu-cianeto aniônicos e isobutiraldeído cianoidrina, conjuntamente determinados como “cianeto mensurável” ou “MC” e, ainda, a lactonitrila e os ânions cianato e tiocianato. Dessa forma, quando os métodos desenvolvidos para a análise do “MC” foram utilizados nas amostras de recém-destilados, armazenados sob luz ambiente, por um período de 3 semanas, teores baixos e estáveis do “MC” foram detectados nas amostras em que os níveis de carbamato de etila continuaram estáveis. Os casos de elevadas concentrações iniciais do “MC” que, subseqüentemente, decresceram substancialmente, foram detectados em amostras que apresentaram um aumento nos níveis de carbamato de etila. 33 Nessa época, MacKenzie (AYLOTT et al.,1990), durante o desenvolvimento de metodologia para determinação do carbamil fosfato, postulou que o ácido ciânico era o precursor ativo, sendo formado pela decomposição térmica do primeiro e convertido em carbamato de etila. Por outro lado, os recém-destilados continham apenas traços de cianato (< 5ppb). Quando armazenados por uma semana em garrafas de vidro, os níveis chegaram a atingir 40 ppb. Portanto, a formação do cianato era dependente de precursor(es). A análise dos pratos da coluna mostrou a presença de uma gama de sais de cobre que incorporaram cianeto, cianato e tiocianato. É importante citar que os scotch grain whiskys são produzidos a partir da fermentação de vários cereais (geralmente trigo ou milho), junto com uma pequena quantidade de cevada malteada, seguida pela destilação em aparelhos contínuos (coffey ou patent stills) (BUJAKE,1992). Os aparelhos utilizados nos estudos de Aylott et al. (1990) consistiam de 2 colunas de destilação retangulares. A segunda coluna tem o papel de retificar o etanol produzido na primeira coluna (64% vol) para, aproximadamente, 94% vol. O destilado retificado é diluído com água até cerca de 64% vol e maturado em barris de carvalho por um período mínimo de 3 anos. O papel do cianeto como um importante precursor do carbamato de etila foi também demonstrado através da adição de 10 ppm de cianeto a um Scotch Whisky (40% vol), em seguida armazenado por 8 semanas em laboratório. Os resultados mostraram que o cianeto adicionado foi, parcialmente, convertido a carbamato de etila e íon amônio, com o prosseguimento da reação sob influência da luz e calor. Foi, então, postulado que o cianeto era, primeiramente, convertido a cianato, que então reagiria com água para formar o íon amônio, e etanol para formar o carbamato de etila (AYLOTT et al., 1990). 34 Baumann e Zimmerli (apud MCKENZIE et al., 1990) propuseram um mecanismo de formação do carbamato de etila também com base no cianeto e compostos dicarbonílicos, só que envolvendo a oxidação do ácido cianídrico a ácido ciânico (HOC N) pelo peróxido de diacetila. Uma vez formado, o ácido isociânico reagiria com o etanol, formando o carbamato de etila. Posteriormente, Beattie e Polyblank (1995) concluíram que essa oxidação é catalisada por complexos cobrecianeto. O mecanismo implica na formação inicial de cianogênio, através da redução do 2+ Cu a + Cu . O cianogênio é, então, hidrolisado, seguido de seu desproporcionamento a cianato e cianeto: 2Cu 2+ + 2CN - - (CN)2 + 2OH + 2 Cu + (CN)2 - - NCO + CN + H2O Os íons cianato por reação com etanol produzem o carbamato de etila (TAKI et al.,1992; ARESTA et al., 2001): - + NCO + C2H5OH + H C2H5OCONH2 Outro mecanismo é baseado na auto-oxidação de compostos insaturados presentes em bebidas alcoólicas pela ação da luz UV, gerando radicais livres que catalisam a oxidação do cianeto a cianato: Período de iniciação: –CH2CH CH– + O2 – CHCH CH– + HOO Período de propagação: CHCH CH– + O2 – ( OO)CHCH CH– Período de auto-oxidação: – ( OO)CHCH CH– + –CH2CH CH– – (HOO)CHCH CH + CHCH CH– 35 – (HOO)CHCH CH – ( O)CHCH CH + HO Hipótese para formação do carbamato de etila: HC N + HO – C N + H 2O HC N + HOO – C N + H2O2 H2O2 2 HO (3) – C N + HO HOC N HN=C=O + C2H5OH HN=C=O (cianato e isocianato) C2H5OCONH2 Tendo o cianeto como precursor, os fatores que influem na formação do carbamato de etila em bebidas destiladas são: pH, conteúdo em etanol (RIFFKIN et al.,1989; ARESTA et al., 2001), temperatura, proximidade de grupos carbonila em moléculas orgânicas, concentração dos íons Cu(II) (ARESTA et al., 2001) e incidência de luz UV (SCHEHL; LACHENMEIER et al., 2005). Outro mecanismo proposto envolve ácido ciânico diretamente liberado da decomposição térmica da uréia presente no “vinho” (BOURTON,1992). De fato, tanto o cianato quanto sua forma tautomérica, o isocianato, podem ser intermediários na formação do carbamato de etila, em reações do etanol com a uréia, ou originados do cianeto ou do carbamil fosfato. Entretanto, a hidrólise do isocianato em NH3 e CO2 e a formação paralela do carbamato de etila são reações cujas cinéticas foram descritas como de primeira ordem e ordem zero, respectivamente, indicando a ocorrência de uma reação intermediária na conversão do cianato em carbamato de etila. Além disso, praticamente “todo” o carbamato de etila é formado 24 - 48 h após a destilação. Aresta et al. (2001), com base nessas considerações e em vários experimentos, que incluíam a identificação de espécies no IV, verificaram que o 36 oxigênio dissolvido não contribuía significantemente para a oxidação do cianeto. Foi, então, proposto o seguinte mecanismo: - - 2+ - CN + 2OH + 2Cu - 2 N=CO + Cu(II) + CNO + 2Cu + H2O Cu(N=C=O)2 Cu(N=C=O)2 + 2 H2O Cu(OOCNH2)2 + 2 H2O (2) Cu(OOCNH2)2 Cu(OOCNH2)2 + C2H5 -OH (1) 2 C2H5OCONH2 Cu(OH)2 + NH3 + 2CO2 (3) (4) (5) A evolução de CO2 foi confirmada por cromatografia em fase gasosa com detecção por condutividade térmica (GC-TCD), num experimento em que quantidades crescentes de sulfato de cobre II (CuSO4) foram adicionadas a uma solução 6,7 mM de cianato de potássio (KOCN) . Essa mistura foi aquecida durante 4 h a 80°C. As concentrações de carbamato de etila formadas apresentaram uma relação linear com o Cu 2+ até cerca de 5 mM CuSO4 (pouco mais de 300 mg/L de cobre). Conforme estudos de Boscolo (2001), em trabalho de tese que gerou a maior parte desses resultados, adições de quantidades crescentes de CuSO4 não influíram na formação posterior do carbamato de etila, que se manteve estável mesmo em concentrações como 40 mM CuSO4. A estabilização ocorreu quando a relação - [Cu(II)] / [NCO ] tornou-se, aproximadamente, igual a 2. Para explicar esse efeito, considerou-se a coordenação do Cu 2+ pelo átomo de nitrogênio do cianato, formando uma estrutura bi-nuclear, conforme mostra a Figura 4, que favorece o ataque nucleofílico, em função de o carbono do cianato assumir uma carga parcial positiva mais intensa. 37 2+ Figura 4 . Estrutura do complexo cianato – Cu . POLASTRO et al. (2001), analisando 51 cachaças procedentes de vários Estados e 9 tiquiras (aguardentes de mandioca), encontraram um teor médio de 0,316 mmol/L de uréia, 0,093 mmol/L de aminoácidos e 0,013 mmol/L de amônia, o que foi associado a falhas no processo de produção, como o arraste durante a destilação ou contaminação posterior dos destilados. A presença de altas concentrações de uréia em tiquiras (1,447 mmol/L) foi relacionada aos altos teores de carbamato de etila freqüentemente encontrados nesses destilados de mandioca, em média 2,4 mg/L (ANDRADE-SOBRINHO et al., 2002). Contudo, utilizando 32 cachaças comerciais analisadas por Polastro et al. (1999), Boscolo (2001) não verificou a existência de correlações lineares aceitáveis entre os teores de carbamato de etila e os da uréia, aminoácidos e amônia. De outra forma, verificaram uma tendência a uma melhor correlação para os teores de carbamato de etila e os dos íons cianeto (R=0,5968) numa ampla faixa de concentrações desse ânion. Esses resultados os levaram a considerar o cianeto 38 como o principal precursor do carbamato de etila envolvido na etapa de pósdestilação. Em contraste, em estudos com brandies de frutas, Schehl (2005) encontrou uma correlação muito baixa entre o cianeto e o carbamato de etila. Apesar de a cana-de-açúcar ser considerada um vegetal cianogênico (ARESTA et al., 2001), a formação do cianeto, assim como outros possíveis precursores nitrogenados do carbamato de etila em cachaças não estão bem estabelecidos. Contudo, o papel central do cianato, independentemente da sua origem (uréia, cianeto ou compostos carbamílicos), tem sido proposto desde o inicio da década passada (MCKENZIE et al.,1990; BUJAKE,1992; FOULKE,1993) e enfatizado por estudos e relatos mais recentes (ARESTA et al., 2001). 2.7.5 Teores de carbamato de etila em cachaça e outras bebidas destiladas: influência dos sistemas de produção e medidas preventivas Como descrito em 2.7.4, os teores de carbamato de etila em bebidas destiladas dependem, principalmente, da matéria-prima de origem, das condições da fermentação, destilação (SEGAL, 1988) e armazenamento (LACHENMEIER et al., 2005). A Tabela 2 mostra o teor médio de carbamato de etila em algumas bebidas alcoólicas consumidas nos EUA. Segal (1988) cita a temperatura como um dos prováveis fatores que estão relacionados ao aumento dos níveis da carbamato de etila em bebidas destiladas. Relata, ainda, que os bourbons, “uísques” provenientes da fermentação de uma mistura de milho (60 ou 80%) a porções menores de cevada e centeio (RUM, 2006; RALPH, 1999), geralmente destilados em altas temperaturas, são os produtos norteamericanos que apresentam os maiores níveis desse contaminante. Seus teores 39 podem variar, significantemente, mesmo entre diferentes garrafas da mesma matéria prima ou do mesmo brandy (FOULKE,1993). Tabela 2 . Teores de carbamato de etila em algumas bebidas consumidas nos EUA. Produto Teor médio de carbamato de etila (ppb) 1991 Interno Importado brandye (uva) 40 10 45 brandies(frutas) 1200 5 255 bourbons 150 70 55 rums 20 2 5 licores 100 10 25 scotch whiskies 50 (*) 55 saquê(**) 300 55 60 * whisky escocês ; ** fermentado de arroz ; (Fonte: FOULKE, 1993) 1987 Todavia, as bebidas destiladas onde glicosídeos cianogênicos estão presentes, característicos da matéria-prima utilizada, são aquelas cujos teores de carbamato de etila atingem os valores mais elevados, como é o caso dos brandies de frutas com caroço (pêssego, ameixa, cereja, etc.) e da tiquira. Embora menos abrangentes, estudos mais recentes relataram variação desde níveis não detectáveis (2 amostras) até 6,13 mg/kg, encontrado num kirsch (destilado de cereja), num total de 6 amostras de brandies (FOOD STANDARDS AGENCY, 2005; ANDRADE-SOBRINHO et al., 2002). Segundo SCHEHL (2005), a grande faixa de concentrações do carbamato de etila em destilados de frutas refletem a influência da indução luminosa e da formação tempo-dependente subseqüente à destilação e ao armazenamento. As principais medidas preventivas para reduzir os níveis de carbamato de etila nesses produtos consistem em selecionar frutos sadios e sem contaminações bacterianas, e manter condições de higiene apropriadas durante a fermentação, destilação e armazenamento. 40 Figura 5. Sistema de destilação de brandies de frutas (Fonte: SCHEHL, 2005). O conteúdo em cianeto é maior em mostos de frutos infectados e danificados. Este fato foi confirmado em amostras cujos altos teores de carbamato de etila eram freqüentemente acompanhados por altas concentrações de n-propanol e secbutanol, indicativos de fermentações contaminadas por microrganismos indesejáveis (SCHEHL, 2005). Uma medida preventiva muito usual consiste em remover os caroços das frutas antes da fermentação. Contudo, este procedimento suprime o flavor amargo característico do benzaldeído. Outra medida consiste em usar catalisadores de cobre (Figura 5), que devem ser regularmente limpos. Os malt whiskys e os cognacs dificilmente apresentam teores de carbamato de etila superiores a 20 - 40 ppb. Esses baixos teores são devidos aos sistemas de destilação empregados em sua elaboração. 41 Assim, inicialmente destila-se o “vinho” em aparelhos tipo alambique (pot still). A formação do carbamato de etila ocorre, então, no decorrer e após a destilação, em função da ação catalítica do cobre sobre seus precursores nitrogenados (NOVAES,199- ; RIFFKIN et al.,1989). O produto resultante da primeira destilação (low wines para o whisky e broullis para o cognac) consiste de um destilado cujo teor alcoólico varia entre 19 a 27% vol que, ao ser redestilado também em alambique de cobre, sofrerá um fracionamento (cabeça, coração e cauda) durante o processo. A fração “coração” (65 a 68% vol), que dará origem ao whisky, será então envelhecida em barris de carvalho e, após alguns anos, padronizada e comercializada com um grau alcoólico em torno de 43% vol (NOVAES, 199-). Durante a segunda destilação apenas 1-2% do carbamato de etila será transferido para a fração “coração”. Cerca de 84% permanecerá no resíduo dessa destilação e cerca de 15% na “cauda” (NOVAES,199- ; RIFFKIN et al.,1989). Os raros teores de carbamato de etila encontrados em alguns uísques escoceses acima do limite máximo de 150 µg/L são, em muitos casos, atribuídos à presença da epieterodendrina (EPH), um glicosídeo cianogênico. Os Scotch whiskies, em sua maior parte, são blendeds dos Malt whiskies com os Grain whiskies. Estes últimos, a exemplo dos bourbons (América do Norte), são produtos da retificação em colunas de destilação. Nesses destilados, as principais medidas preventivas para evitar a formação do carbamato de etila consistem em: utilizar variedades de cevada com baixos teores de EPH; utilizar estratégias baseadas na baixa volatilidade do carbamato de etila (LYONS, 1999); controlar as condições da destilação, de modo a suprimir os precursores pela formação de compostos com o cobre nas partes ascendentes do aparelho de destilação; evitar o 42 arraste do carbamato de etila durante a destilação (FOULKE,1993); utilizar solução de soda caustica (5%) para limpeza dos aparatos de destilação, pelo menos duas vezes por semana (BUJAKE,1992); armazenar as garrafas em baixas temperaturas e na ausência de luz (ARESTA et al., 2001). Estudos realizados durante os anos de 1990 a 1999 com 205 amostras de Scotch whiskys mostraram que a média inicial, no início da pesquisa, de 45 - 54 µg/L, decresceu para 30 µg/L, ao seu final (FOOD STANDARDS AGENCY, 2000). Os rums mais pungentes (heavy rums) são produzidos em alambiques tradicionais. Já os aparelhos providos de colunas com cerca de 5 a 6 pratos, contendo um borbulhador em cada prato (column still, Figura 6), e as colunas de destilação com alto grau retificação são empregados na produção dos light rums (MURTAGH,1999a). Figura 6 . Alambique de rum provido de coluna com pratos (Fonte: Murtagh, 1999a). 43 Embora a literatura sobre o tema seja escassa, os alambiques column still têm sido considerados adequados à redução de precursores dos cianetos e do carbamato de etila (DISTILLING, 2006). Em estudo supracitado (FOOD STANDARDS AGENCY, 2005), duas amostras de rum apresentaram teores de carbamato de etila de 16 µg/kg e 72 µg/kg. Ainda mais retificados são os sistemas de produção de álcool potável, matéria-prima para a produção de gim e vodca (BRASIL,1997 ; MURTAGH, 1999b). Aylott et al. (1987) não detectaram a presença a de carbamato de etila (LD = 5 ppb) quando analisaram um total de 10 amostras dessas bebidas destiladas e matériasprimas. Embora os precursores do carbamato de etila em cachaças não estejam ainda bem definidos, seus níveis, na maior parte desses produtos, tem-se encontrado acima do limite máximo de 150 µg/L. Boscolo (2001) determinou os teores de carbamato de etila em 84 amostras de cachaças comerciais, coletadas em várias regiões do país, sendo relatada uma variação de 42 a 5689 µg/L, com valor médio de 904 µg/L. Apenas 13% das amostras apresentaram teores inferiores a 150 µg/L. Andrade-Sobrinho et al. (2002) relataram uma média nacional de 770 µg/L para 126 amostras, com teores de carbamato de etila variando de 13 a 5700 µg/L, e média 550 µg/L para seis cachaças fluminenses estudadas. Para as amostras de cachaças produzidas em colunas de destilação a média foi de 930 µg/L, e em alambiques de 630 µg/L. Os menores teores foram provenientes do Ceará (média de 440 µg/L) e os maiores de alambiques de Minas Gerais (média de 1000 µg/L). Do total de 71 amostras desse último Estado estudadas por LABANCA (2004), citadas em 2.6.1, somente 5 amostras (7%) encontraram-se abaixo da concentração limite, 44 sendo a média 893 µg/L. Não foram observadas diferenças significativas entre as macrorregiões estudadas. Segundo Novaes (199-, 2005), grande parte dos sistemas de destilação contínuos utilizados na produção de cachaça operam com capacidades nominais baseadas em L/h, acima daquelas para quais foram programadas, tendo como base as dimensões da coluna e um grau alcoólico do “vinho” em torno de 7,5% vol. Como os processos de embebição nesses sistemas de produção geralmente reduzem de modo significativo o teor de açúcares do mosto, o “vinho” resultante terá um grau alcoólico em torno de 5-6% vol, e não apresentará a quantidade de álcool suficiente para produzir, a cada hora, aquele volume de cachaça, a 47,5% vol, para o qual o aparelho foi dimensionado. Contudo, a fim de contornar esse problema, é prática comum aumentar significativamente o volume de “vinho” sendo introduzido, próximo ao topo da coluna, compensando assim aquele “déficit” alcoólico em seu interior. Por outro lado, esse maior volume de líquido introduzido na unidade de tempo irá exigir maior quantidade de vapor de água destinado ao seu aquecimento, o que é atingido com o aumento da vazão de vapor que alimenta a coluna em sua base. Em conseqüência, ocorrerá também um aumento na velocidade dos vapores hidroalcoólicos gerados, o que irá provocar arraste de precursores do carbamato de etila para as partes descendentes do sistema que, em contato com o cobre, irão formar maiores quantidades desse contaminante. Na produção de cachaça, as medidas preventivas mais recomendadas para evitar a interação do Cu 2+ com precursores do carbamato de etila, especialmente o cianeto, consistem em trocar as partes descendentes dos aparelhos de destilação, 45 em cobre, para aço inoxidável (ARESTA et al.; BOSCOLO, 2001; ANDRADESOBRINHO et al., 2002), e empacotar a coluna de destilação dos alambiques com dispositivos em cobre, cujos orifícios estejam fixados paralelamente à coluna, de modo a conferir um menor grau de retificação (ARESTA et al.,2001). A utilização de resinas catiônicas como alternativa para suprimir o efeito catalítico do cobre na formação do carbamato de etila em cachaças, embora citada (ARESTA et al., 2001; BOSCOLO, 2001), somente agora, na presente tese, foi implementada, conforme Pedido de Patente PI0307861-2 (BRUNO E VAITSMAN, 2003). 2.7.6 Toxicodinâmica, toxocinética e risco Nettleship et al. (apud HOFFLER et al.,2003) observaram a carcinogenicidade do carbamato de etila em 1943, quando detectaram tumores, em sua maior parte adenomas, nos pulmões de fêmeas de camundongos, num período de 2 a 3 meses, após 2 ou 3 injeções intraperitoniais de uma dose anestésica mínima (1mL/100 g). A dose letal (LD50) é a dose necessária para provocar a morte da metade dos membros de uma população. A LD50 do carbamato de etila em roedores é, aproximadamente, 2000 mg/kg. Após doses repetidas, administradas via água de beber por 13 semanas, ocorreu um aumento na mortalidade de ratos e camundongos que receberam doses de cerca de 500–600 mg/kg por dia. Nesses roedores, o carbamato de etila fornecido em doses 150 mg/kg por dia provocou redução no ganho de peso e efeitos nos pulmões, fígado, rim, coração, baço, nódulos linfáticos, timo, medula óssea e ovários. Tais efeitos não foram observados com doses de 50 mg/kg por dia (JOINT FAO/WHO, 2005). 46 Tratamentos similares produziram variados tumores em hamsters, porcos da Guiné e sapos (HOFFLER et al., 2003). Além disso, primatas não humanos submetidos a doses diárias (orais) de 250 mg/kg por 5 anos, durante um período de observação de até 22 anos, desenvolveram uma variedade de tumores semelhantes àqueles observados em roedores (incluindo adenocarcinoma do pulmão, adenoma e carcinoma hepatocelular, e hemangiosarcoma hepático). Quanto a observações em humanos, poucos dados foram disponibilizados e não reuniram qualificação suficiente para serem usados como parâmetros para avaliação de risco (JOINT FAO/WHO, 2005). Em função de várias pesquisas mostrarem a carcinogenicidade do carbamato de etila, recentemente, essa substância recebeu a classificação de possível carcinogênico para humanos, enquadrando-se no Grupo 2B pela International Agency for Research on Cancer (IARC), após análise de estudos de longo-prazo (ETHYL CARBAMATE, 2006a; JOINT FAO/WHO, 2005). Sob condições normais de dieta, excluindo o consumo de bebidas alcoólicas, a ingestão diária do carbamato de etila em adultos tem sido, aproximadamente, 20 ng/kg de massa corpórea, sendo o pão a principal fonte, dentre os alimentos fermentescíveis que geram teores ínfimos desse contaminante (JOINT FAO/ WHO, 2005). O carbamato de etila, sendo prontamente absorvido pelo trato gastrintestinal e pela pele, é rápido e uniformemente distribuído pelo organismo. Sua eliminação, acima de 90%, como CO2, também é rápida e ocorreu num período entre 6 e 24 h em camundongos e ratos, conforme relatado em diferentes estudos (JOINT FAO/WHO, 2005; HOFFLER et al., 2003). 47 A ativação metabólica é um pré-requisito para o desenvolvimento de tumores. Estudos recentes sugeriram que seu metabolismo ocorre através de duas vias principais. A primeira envolveria o metabolismo oxidativo, catalisado pelos citocromos P450 2E1, levando à formação do vinil carbamato (VC). Subseqüentemente, o VC pode sofrer oxidação, formando o vinil carbamato epóxido (VCE) (Figura 7). O VCE é considerado o principal agente carcinogênico, tendo em vista a formação de derivados resultantes de sua ligação a ácidos nucléicos, a proteínas, ao RNA (HOFFLER et al., 2003), e ao DNA, cujos compostos formados por substituições em seus pares de base tem sido relatados como os responsáveis pela formação de tumores (JOINT FAO/WHO, 2005). Figura 7. Vias metabólicas do carbamato de etila (Fonte: HOFFLER et al., 2003). 48 A segunda via metabólica do carbamato de etila envolve a catálise pela esterase e leva à formação de CO2, etanol e NH3 (Figura 7). O metabólito final, comum às duas vias, é o CO2 (HOFFLER et al., 2003). Diferentes quantidades de carbamato de etila e etanol, correspondentes a 0, 200, 500 e 1000 ppm, e 0,5 , 10 e 20% (v/v), respectivamente, foram adicionados à água consumida por fêmeas de camundongo por 12 semanas, ao final das quais os animais foram sacrificados (KRISTIANSEN et al., 1990). Todas possíveis combinações dessas concentrações de carbamato de etila e etanol foram testadas. O carbamato de etila induziu a formação adenomas primários nos pulmões de todos os camundongos tratados em função da dose administrada. Uma média de 71 ± 15 tumores/camundongo se formou após tratamento com 1000 ppm de carbamato de etila durante 2 semanas. A incidência de tumores foi reduzida em cerca de dois terços e pela metade, aproximadamente, quando do tratamento simultâneo com etanol a 20% e 10% v/v, respectivamente. Nesses casos, o efeito foi independente da dose de carbamato de etila. Contudo, em 5% de etanol, não houve redução de tumores estatisticamente significante. Já Stowensand et al. (1991) avaliaram a incidência de tumores em camundongos a partir duas diferentes dosagens de carbamato de etila (10 e 20 mg por kg de massa corpórea), adicionadas à água, a vinhos e a etanol em água (12% v/v). Verificou-se que os tratamentos com vinho e álcool provocaram uma menor incidência de tumores, quando comparados à solução aquosa. Uma hipótese para explicar esse fato sugere que a co-administração do carbamato de etila com etanol poderia inibir a ativação do Citocromo P45 2E1 e incrementar a eliminação pela esterase. 49 2.7.7 Métodos para a determinação do carbamato de etila em bebidas alcoólicas Vários métodos analíticos têm sido descritos para a determinação do carbamato de etila em bebidas alcoólicas. A sua maior parte envolve a técnica de cromatografia em fase gasosa (GC), associada a um número significativo de sistemas de detecção (ANDRADE-SOBRINHO et al., 2002; LABANCA, 2004) Dennis et al. (1986, 1990) determinaram os teores de carbamato de etila nessas matrizes, empregando diferentes padrões internos, processos de extração, purificação, separação e detecção. As separações foram realizadas em diversas colunas capilares, em sua maior parte contendo filme de polietilenoglicol estabilizado. Os detectores utilizados e comparados quanto à sua performance foram: detector de nitrogênio e fósforo (NPD); detector de condutividade térmica (TCD); detector termiônico (TSD); e detector de massas (MS). Os seis distintos métodos analíticos desenvolvidos, a partir de diferentes pré-tratamentos e detectores, não apresentaram diferenças significativas nos resultados e em suas sensibilidades (DENNIS e al.,1990). A pré-extração com solventes envolve, principalmente, a utilização do diclorometano. Éter de petróleo, n-hexano, n-pentano e acetona são, ainda, usados isoladamente ou em misturas com o diclorometano. Muitas vezes, soluções concentradas de NaCl ou KCl são previamente adicionadas às amostras para tornar mais efetiva a extração através da fase orgânica (DENNIS et al., 1990, LABANCA, 2004; AYLOTT et al.,1987). Materiais com alta capacidade de absorção de água (Extrelut, Celite 545) também têm sido muito utilizados na extração. Os procedimentos imediatamente anteriores à detecção consistem, basicamente, em purificar o extrato obtido por extração em fase sólida (DENNIS et al.,1990), e ou 50 concentra-lo em evaporador rotatório ou em fluxo de nitrogênio (AYLOTT et al.,1987, NAGATO et al., 2000). Aylott et al. (1987), utilizando 181 amostras de blended Scotch whiskies, 48 de Malt whiskies e outras bebidas com maior grau de retificação, relataram a viabilidade da determinação do carbamato de etila sem qualquer tratamento prévio em recémdestilados de malte e grain, assim como nos produtos maturados, com um LD em torno de 5 ppb, similar aos obtidos quando eram usados procedimentos de préextração. O carbamato de n-propila (n-CP) foi selecionado como padrão interno devido à sua eluição em um tempo de retenção onde o pico foi obtido livre de interferentes nos dois sistemas de detecção utilizados (TSD e MS). AndradeSobrinho (2002) relataram uma possível hidrólise desse éster em soluções alcoólicas. Dyer (1994), em estudo colaborativo, recomendou a utilização de método por cromatografia em fase gasosa com detecção por análise de energia térmica (GC-TEA) para a determinação do carbamato de etila em bebidas alcoólicas. Esse método passou a integrar o compêndio de métodos da Association Of Official Agricultural Chemists (AOAC, 1995) para bebidas destiladas, e indicado para teores na faixa de 57-407 ppb. Em outro estudo no mesmo ano, Canas et al. (1994), com a participação de 17 laboratórios e seguindo procedimentos descritos em manual da AOAC, procedeu à validação de método por GC-MS em modo seletivo de detecção de massas (MSD). A padronização interna, a partir de adições de quantidades conhecidas de n-CP a soluções analíticas e amostras foi utilizada, em conjunto com tratamento prévio em dispositivo ou coluna para extração em fase sólida (SPE) de terras diatomáceas (Chem Elut), separação em diclorometano e concentração em evaporador rotatório. 51 Segundo estudos descritos por vários autores (AYLOTT et al.,1987; NAGATO et al., 2000; ANDRADE-SOBRINHO et al., 2002), o carbamato de etila, salvo algumas exceções, pode ser determinado a partir das amostras in natura de uísques e cachaças. Hesford e Schneider (2001), em estudo colaborativo, mostraram ser possível a utilização das amostras in natura na determinação do carbamato de etila em brandies de frutas. Basicamente, esse método suprimia as etapas de pré-tratamento descritas por Canas et al. (1994). Entretanto, procedimentos de pré-tratamento são necessários em matrizes mais complexas, como vinhos, de modo a separar pigmentos e outros possíveis interferentes da matriz (OIV,1998, 2006; CANAS et al., 1994). A microextração em fase sólida (SPME) no headspace, com fibra de Carbowax-divinil benzeno, seguida de dessorção térmica e detecção por GC-MS (LD = 9,6 g/L), foi utilizada na determinação do carbamato de etila em vinhos (WHITON e ZOECKLEIN, 2002). Recentemente, o mesmo procedimento de microextração, seguido pela detecção por GC/MS/MS, usando um padrão interno deuterado, foi utilizado para quantificar o carbamato de etila em amostras de brandies de frutas (LACHENMEIER et al., 2006). Finalmente, Herbert et al. (2002) validaram um método por cromatografia líquida de alta eficiência com detecção por fluorescência (HPLC-FD), a partir da derivatização do carbamato de etila, que reage com 9-xantidrol para formar um composto fluorescente (Figura 8). A detecção se excitação e 600 nm para emissão. processou em 233 nm para 52 Figura 8. Formação da xantiluretana pela reação do 9-xantidrol e a uretana em meio ácido (Fonte: Herbert et al., 2002). O LD do método (4,2 µg/L) foi similar ao método oficial da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV,1994) por GC-MS. 2.7.8 A determinação do carbamato de etila por GC-MS O espectrômetro de massas é um instrumento projetado para separar íons em fase gasosa de acordo com sua relação massa/carga, a partir da aplicação de um campo magnético (LABANCA, 2004). O “coração” desse instrumento é o analisador de massas, cuja função é separar esses íons de modo adequado. O analisador de quadrupolo é o mais usado, devido à facilidade de operação, ao intervalo de massas abrangido, a boa linearidade na calibração, a resolução e a qualidade do espectro de massas, aliados a um custo relativamente acessível. O quadrupolo é composto de 2 pares de barras metálicas, que atuam como filtros de massas. Um par apresenta um potencial elétrico negativo e o outro um potencial negativo. Uma combinação de uma voltagem contínua (DC) e de corrente alternada ou rádio freqüência (RF) é aplicada em cada par A aplicação destas duas voltagens afeta a trajetória centralizada dos íons. Para uma dada amplitude dessas voltagens, somente íons com uma razão m/z determinada (íons ressonantes) irão atravessar o centro do quadrupolo, enquanto que os outros íons serão desestabilizados e desviados da trajetória central. O espectro de massas é obtido 53 em se fazendo variar as voltagens do quadrupolo, de maneira a se realizar uma varredura em toda a faixa de m/ z desejada (WATERS, 2006). . Figura 9. Detector de massas com quadrupolo (Fonte: WATERS, 2006). A eficiência do quadrupolo, uma medida da sua capacidade em separar duas massas adjacentes através do intervalo aplicável, depende da geometria das barras metálicas, da eletrônica, da capacidade de ajustar as voltagens e da qualidade de sua fabricação. O aumento da resolução significa que uma menor gama de íons alcançarão o detector, com conseqüente impacto na sensibilidade. O quadrupolo pode ser usado em dois modos: SIM (selected ion monitoring) ou SCAN (espectro de massas total ou em determinada faixa de massas). Em função de o sinal do analito ser distribuído através de uma série de diferentes canais de íons, a sensibilidade em cada um desses canais é menor em modo SCAN que no modo SIM. Neste último, as amplitudes das voltagens são ajustadas para monitorar 54 somente uma massa especificada ou uma seleção de massas. Isso resulta num drástico aumento da sensibilidade, quando são selecionados íons específicos, já que um menor tempo é gasto para processar cada massa. Assim, o aumento da sensibilidade, em cerca de duas ordens de magnitude, é conseqüência do ajuste do tempo de processamento (WATERS, 2006; LASATER, 2005; BARKER,1999). Na determinação do carbamato de etila, o fragmento de massa m/z 62, + (M – C2H3 ) , mais abundante é, quase sempre, o íon seletivo para a quantificação (CANAS et al., 1994; NAGATO et al., 2000). Esse íon é proveniente do rearranjo “Mac Lafferty + 1”, característico dos ésteres (LABANCA, 2004). A presença do carbamato de etila é confirmada quando os outros dois fragmentos, o íon molecular + (M) e (M – CH3 ) se encontram em uma abundãcia relativa em torno de 20% do sinal do padrão analítico do carbamato de etila (CANAS et al., 1994). O emprego da padronização interna é especialmente aconselhável quando alta precisão é necessária porque o padrão interno sofre as mesmas condições da substância de interesse durante a corrida cromatográfica. Pequenos desvios do tempo de retenção e na sensibilidade do detector que ocorrem entre corridas diferentes em um mesmo dia de trabalho são corrigidos. Reduz ainda os erros devido às variações no volume de injeção, o que representa um problema maior em cromatografia em fase gasosa (BONATO,1995; SOARES, 2001; RIBANI et al., 2004), pois poderia também diminuir a exatidão do ensaio (RIBANI et al., 2004). A seleção do padrão interno deve levar em consideração sua estabilidade nas condições de análise, a sua eluição da coluna adequadamente separado de todos os componentes da amostra e o mais próximo possível dos analitos de interesse. Esses 55 requisitos têm levado à utilização de isótopo deuterado do carbamato de etila como padrão interno (LACHENMEIER et al., 2006). 2.8 RESINAS DE TROCA IÔNICA: SÍNTESE, ESTRUTURA, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES EM BEBIDAS ALCOÓLICAS 2.8.1 Síntese e estrutura Baseada na copolimerização do estireno com o divinil benzeno (DVB), a primeira resina de troca iônica, na forma catiônica, foi sintetizada por D’Alelio, um pesquisador norte-americano, no ano de 1944. As resinas aniônicas só começaram a ser desenvolvidas em 1948. No caso da síntese dessa resina catiônica, o estireno e o DVB, inicialmente líquidos, são introduzidos em reator químico contendo uma mesma quantidade de água. Um surfactante ainda se faz necessário para evitar a dispersão. Com a agitação mecânica, a mistura começa a formar grandes glóbulos do material que, quando aumentada a velocidade de agitação, desdobram-se em pequenas esferas, até atingir um tamanho de cerca de 1 mm. Neste ponto, a reação de polimerização inicia-se pela adição de peróxido de benzoila, o que resulta em microesferas de propriedades plásticas (DeSILVA,1999). As resinas catiônicas fortemente ácidas são aquelas cuja dissociação do grupo funcional ocorre em quaisquer formas iônicas e pH (HARLAND,1994). Sua ativação química é realizada pelo tratamento com ácido sulfúrico (Figura 10), de modo a formar os grupos sulfônicos aniônicos através do interior das microesferas que constituem a resina. 56 Figura 10. Síntese polimérica de uma resina catiônica estireno-sulfônica ácida (Fonte: HARLAND,1994). 2.8.2 Propriedades Físicas e Químicas: capacidade, seletividade e cinética Geralmente na forma de géis, as resinas devem ser insolúveis nas condições de operação e resistentes a fraturas. As microesferas devem possuir dimensão uniforme. A proporção de divinil-benzeno (DVB) usada na síntese das microesferas determina a força relativa do leito de microesferas. Resinas padrão, fortemente ácidas, usadas na redução de constituintes metálicos (abrandamento) quase sempre contém 8% de DVB. Esta proporção de DVB tem-se mostrado a mais econômica, 57 em termos do valor da resina, eficiência e expectativa de tempo de operação (DeSILVA,1999). Hoje, conteúdos em DVB na faixa de 2 a 20% (m/m) ou mais são disponíveis. Altas proporções em DVB conferem à resina maior e resistência à oxidação e ao desgaste (DeSILVA,1999). A proporção de ligações cruzadas (crosslinking) também governa a extensão da dilatação da resina seca no processo de troca iônica. A excessiva polimerização diminui sua dilatação e absorção d’água (HARLAND,1994). Como resultado, a cinética é retardada, devido às microesferas do leito, mais rígidas, tornarem-se mais resistentes à contração e dilatação que ocorre durante a troca de íons de diferentes dimensões (DeSILVA ; LEINONEN,1999). Uma resina de troca iônica é um material insolúvel (R) que possui grupos ionogênicos, aos quais os íons trocáveis (contra-íons) da resina (A) podem estar ligados. Sendo C os íons na solução líquida, ocorre o equilíbrio: zc RA Za Zc + za C za RC Zc + zc A Za Cada resina de troca iônica possui uma quantidade máxima de sítios com carga por grama; este valor é chamado de Capacidade Específica Teórica(Q) [meq/g ou eq/L] (ION EXCHANGE, 2006; LEINONEN,1999). A capacidade tem valor idêntico ao da densidade de carga devida aos grupos + ionogênicos. Os ions Na podem ser trocados por uma carga equivalente de outros + íons para manter a neutralidade do polímero. Por exemplo, dois íons H por um íon 2+ Ca . O líquido cujos íons estão sendo trocados contém outros íons de carga oposta chamados de co-íons, tais como o Cl trocado (ION EXCHANGE, 2006). - + para uma solução de KCl, onde o K é 58 A seletividade ou afinidade das resinas de troca iônica define a preferência da resina por determinado íon em relação a outro, e é expressa pelo coeficiente de seletividade (KC/A ) : KC/A = [RC]Za [A]Zc [C]Za [RA]Zc Nas resinas catiônicas fortemente ácidas, para um determinado cátion, KC/A aumenta com: a carga e tamanho do cátion; o inverso do raio iônico hidratado; o grau de polarização; e inversamente com o grau de complexação em solução (ION EXCHANGE, 2006 ; LEINONEN; DeSILVA,1999). A velocidade de troca iônica, ou cinética, é governada por uma série de fatores e aumenta com: a concentração dos íons em solução; a porosidade das microesferas (menor proporção em DVB); o inverso do diâmetro das microesferas, em função da diminuição do percurso para ativar os sítios ativos em seu interior; a carga e a força do sítio ativo, dentre outros (DeSILVA,1999). A necessidade de preservar a eletroneutralidade durante a troca iônica exige a presença de um fluxo igual e oposto ao dos contra-íons. Portanto, o controle da velocidade pela transferência de massa na solução “externa” tem tratamento de uma “transferência de massa conjugada” através de uma camada de Nernst, circundante às partículas da resina, isto é, um mecanismo de difusão através de uma membrana (HARLAND,1994). 2.8.3 Utilização de resinas de troca iônica em bebidas alcoólicas O emprego de resinas para abrandamento de águas e outras matrizes de diversas áreas como a de alimentos, farmacêutica, petroquímica e ambiental, dentre 59 outras, tem sido uma prática muito difundida (ROHM AND HAAS, 2006; DOWEX resins, 2005). Na indústria de bebidas, a utilização de certas resinas catiônicas para redução dos constituintes metálicos de mostos de vinhos, anteriormente permitida na Itália e EUA, só foi regulamentada na Comunidade Econômica Européia (CEE,1984) na década de 80. Hoje, conforme normatização que pouco alterou a anterior (CEE, 2000), as resinas permutadoras de íons que podem ser utilizadas no setor vitivinícola da União Européia são copolímeros do estireno ou do DVB, contendo grupos ácido-sulfônico ou amônio. No Brasil, OLIVEIRA (1970) relatou pela primeira vez o emprego de resinas catiônicas para promover a redução dos teores de cobre em três amostras de cachaças oriundas de um produtor do Estado de São Paulo. Das seis resinas utilizadas, quatro (ácido forte) eram constituídas por copolímeros do estireno-DVB + + ligados a grupos sulfônicos nas formas sódica (Na ) e hidrogeniônica (H ), fabricadas pela Dow Chemical (Dowex 50W-X8) e pela Rohm and Haas (Amberlite + + IR-120, formas Na e H ) . As outras duas resinas (ácido fraco) eram constituídas por moléculas de DVB, polimerizadas com grupos carboxílicos (Amberlite IRC-50), + + também nas formas (Na ) e (H ). As quatro primeiras resinas foram eficientes para reduzir os teores de cobre para níveis não detectáveis pelo método colorimétrico do dietilditiocarbamato de sódio (ZOECKLEIN et al., 2001). OLIVEIRA (1970) verificou, ainda, ocorrer um decréscimo de cerca de 30% nas concentrações de álcoois superiores e ésteres quando as amostras foram percoladas nas resinas utilizadas. Em certas condições constatou, ainda, uma diminuição nos teores de acidez volátil, já observada em estudo anterior, relacionado com o tratamento de mostos de vinhos. 60 Estudos mais recentes com vinhos utilizaram uma resina quelante, em que iminodiacetato é o grupo ativo, e uma resina catiônica Dowex, na forma ácida. Essas resinas foram extremamente efetivas em reduzir o conteúdo metálico dos vinhos. Contudo, sua utilização alterou as características organolépticas dos vinhos, em função dos produtos tratados apresentarem menores perfis em seus conteúdos aromáticos e de componentes polifenólicos do que os vinhos não tratados (BENÍTEZ et al., 2002) Segundo Dharmadhikari (2002), os trocadores catiônicos usados no tratamento + + de vinhos podem conter a resina na forma Na ou H , ou uma mistura dessas duas + formas. Quando o vinho é tratado com a resina na forma Na , esses cátions são + 2+ trocados por K e outros cátions do vinho, como Ca e Mg 2+ . Isso resulta na formação do bitartarato de sódio, que é mais solúvel. Ocorre, então, uma ligeira redução na acidez. Quando o aumento no conteúdo em sódio nos vinhos torna-se + + indesejável, a forma mista Na e H pode ser usada, limitando os níveis desse metal. + Contudo, a acidez do vinho pode aumentar, a partir da troca do H da resina pelo K + do vinho. Esse fato, benéfico quando no tratamento de vinhos com baixa acidez foi estudado por Walker et al. (2003). O uso de uma resina catiônica Amberlite® IR120H (Rohm and Haas, Philadelphia, PA), com composição conforme Figura 10, não afetou de modo significativo o conteúdo em compostos fenólicos e a cor vermelha dos pigmentos dos vinhos tratados. 61 3 PRODUÇÃO E QUALIDADE DE CACHAÇAS : O ESTADO DA ARTE ____________________________________________________ 62 Embora a produção de cachaça envolva uma vasta gama de processos e procedimentos, muitos deles diferenciados, foram descritos, a seguir, aqueles mais utilizados. Devido à abordagem e aos objetivos deste trabalho de tese, um maior detalhamento foi reservado aos processos de destilação. 3.1 A CANA-DE- AÇÚCAR COMO MATÉRIA-PRIMA A cana-de-açúcar utilizada na produção de cachaça e aguardente de cana deve atingir o grau de maturação ideal, se encontrar em condições fitossanitárias adequadas e não apresentar nenhuma espécie de deterioração (FARIA et al., 2003). Deve ser moída num período ideal de até 24 h pós-colheita (MUTTON e MUTTON, 2005). 3.2 EXTRAÇÃO DO CALDO DE CANA O principal objetivo desta etapa é recuperar o açúcar contido no caldo que se acha nos tecidos de reserva dos colmos da cana-de-açúcar. Nas grandes unidades produtoras, a extração do caldo é feita por moenda de ternos múltiplos com embebição do bagaço para maior extração do açúcar. O rendimento na extração por essa técnica chega a 96% ou mais. Em unidades pequenas, onde a extração é efetuada a partir de um único terno, um bom rendimento está em torno de 75% (CASIMIRO et al.,1998). 63 3.3 CRESCIMENTO DO INÓCULO, FERMENTAÇÃO FLAVORS E OFF-FLAVORS E FORMAÇÃO DE 3.3.1 Crescimento do Inóculo e Fermentação As leveduras são fungos unicelulares de interesse industrial pertencentes à classe dos Ascomicetos, sendo a Saccharomyces cerevisae, sob o ponto de vista industrial, uma das espécies mais importantes. Nas regiões onde se desenvolvem processos fermentativos a presença de leveduras nativas ou selvagens é comum. Elas sobrevivem nas superfícies dos colmos da cana, nas folhas, no solo, nos maquinários e equipamentos utilizados durante o preparo do mosto e até no ar (MUTTON e MUTTON, 2005; ROSA, 2000). Por estarem ecologicamente adaptadas, são capazes de fermentar naturalmente. Entretanto, esta fermentação não controlada é inadequada, lenta e de baixo rendimento (MUTTON e MUTTON, 2005). Em adição à importância da formação do etanol, a fermentação é a maior responsável pelo elevado número de componentes presentes na cachaça. Por isso, além dos cuidados com seu controle, esta é a principal etapa do processo de produção da cachaça e de outras bebidas destiladas (JANZANTTI, 2004). A fermentação alcoólica é um processo bioquímico anaeróbico que consiste de reações em que o açúcar e outros compostos presentes no “vinho” (mosto fermentado) são transformados em etanol, CO2 e outros produtos que serão decisivos para a qualidade do produto. É um processo exotérmico e produz apenas 2 moléculas de ATP. Portanto, não é eficaz para a multiplicação celular, mas essencial para a produção de etanol. Ao seu final ocorre redução da atividade fermentativa, pela deficiência de açúcares, com conseqüente diminuição da temperatura (JANZANTTI, 2004; NOGUEIRA e VENTURINI FILHO, 2005; FARIA et al., 2003). 64 Ao lado da fermentação, a respiração também é um processo bioquímico no qual o açúcar é completamente oxidado a CO2 e H2O, produzindo 38 moléculas de trifosfato de adenosina (ATP). Dada sua elevada eficiência energética, o processo respiratório é imprescindível para a multiplicação celular no início da safra. Como a glicose e a frutose, em concentração elevada, reprimem a respiração da levedura, esta passa, preferencialmente, a fermentar. Portanto, a multiplicação celular (aeróbica) requer a presença de oxigênio e baixa concentração de açúcar (NOGUEIRA e VENTURINI FILHO, 2005). Na produção de cachaça são utilizados cinco tipos de fermento: natural, prensado, misto, seco e selecionado, sendo os dois primeiros de uso mais extensivo (JANZANTTI, 2004). Durante o processo conhecido como “artesanal”, os produtores preparam receitas próprias do fermento (natural) iniciador ou “pé-de-cuba”, principalmente adicionando ao caldo de cana, fubá de milho, farelo de arroz e caldo de limão ou laranja, de modo a acidificar o substrato. Essa mistura é deixada fermentar por 5 a 20 dias em recipientes separados, ou na própria dorna, com posterior adição do caldo de cana (14 °Brix) para o desenvolvimento da microbiota fermentadora (ROSA, 2000; PATARO, 2003). O processo fermentativo normalmente ocorre entre 20 e 36 h. Após este período, as leveduras sedimentam no fundo da dorna e o vinho é recolhido e destilado (PATARO, 2003). O fermento seco é constituído por um aglomerado de células de Saccharomyces cerevisae no estado sólido. Dispensa refrigeração e apresenta uma concentração em células três vezes maior que fermento prensado (MUTTON e MUTTON, 2005; NOVAES,1993). 65 O inóculo é preparado a partir da diluição de 20 a 50 g de fermento/L de mosto. No início do processo a concentração de açúcares deve ser baixa para favorecer a multiplicação do fermento. Normalmente, quando o °Brix do mosto em fermentação cai à metade do mosto de alimentação, dobra-se o volume, alimentando com mosto em concentrações crescentes, adotando-se procedimento semelhante até obter o volume final do “pé-de-cuba” desejado. Este, a seguir, é transferido para as dornas, as quais são alimentadas com mosto para prosseguir à fermentação. O processo fermentativo pode ser conduzido por várias linhagens de Saccharomyces cerevisae. Contudo, já foi observada a predominância da levedura Schizosaccharomyces pombe em algumas destilarias, embora outras espécies de leveduras tenham sido encontradas, em baixas concentrações. Assim, a cachaça produzida apresenta variações de qualidade ao longo da safra e entre safras diferentes. Para tentar evitar este problema têm sido utilizadas linhagens selecionadas de Saccharomyces cerevisae, isoladas da fermentação da cachaça, na preparação do fermento iniciador. Estas linhagens têm conseguido dominar a fermentação por um período de 20 a 30 dias (PATARO, 2003). As dornas mais comuns são geralmente de chapa de ferro, aduelas de madeira, aço inoxidável e alvenaria (ACESITA, 2006; CASIMIRO et al., 1998; NOVAES, 1993). A condução da fermentação pode ser realizada por sistemas contínuos, semicontínuos ou contínuos. A grande maioria dos produtores emprega sistemas descontínuos, que são os seguintes: processo de cortes, processo de decantação, processo Melle-Boinot e processo Melle-Boinot-Almeida (MUTTON e MUTTON, 2005; CASIMIRO et al., 1998). 66 No processo de cortes, o inóculo é adicionado a uma dorna (20% do volume útil) que é, então, alimentada com mosto em filete contínuo até o seu enchimento (MUTTON e MUTTON, 2005). Com o andamento da fermentação, quando o açúcar é reduzido em 50%, transfere-se a metade do líquido para uma segunda dorna vazia. A seguir ambas as dornas são “completadas” com o mosto a fermentar. A primeira dorna que sofreu o “corte” é deixada fermentar até o fim, enviando-se, em seguida, seu vinho para destilar. A segunda dorna é deixada fermentar até atingir 50% do açúcar inicial e, em seguida, feito o “corte” para uma terceira dorna. A adição de mosto para prosseguir a fermentação será efetuada na segunda e na terceira dorna e, assim sucessivamente. Esse ciclo é interrompido quando se observa o enfraquecimento do fermento ou contaminação bacteriana (CASIMIRO et al, 1998, MUTTON e MUTTON, 2005). A fermentação deve se processar num período de 12 a 24 h e numa faixa de temperatura entre 26 e 32°C. Temperaturas acima de 35°C favorecem contaminações bacterianas (MUTTON e MUTTON, 2005; NOGUEIRA e VENTURINI FILHO, 2005). 3.3.2 Formação de flavors e off-flavors na fermentação As sensações olfativas percebidas diretamente pela via nasal constituem o que conhecemos como aroma ou bouquet (PEYNAUD e BLOUIN, 1997). Duas espécies de quimioreceptores na boca produzem as percepções do gosto e das sensações tácteis. Neurônios receptores especializados, agrupados nas cavidades dentro de gomos gustativos, geram as percepções gustativas, notadamente os gostos doce, ácido, salgado e amargo. Terminações nervosas espalhadas através da cavidade oral geram as percepções táteis na boca de 67 adstringência, viscosidade, ardência, temperatura, corpo, “agulha” e dor (JACKSON, 2002). A liberação de compostos aromáticos que ingerimos pela boca penetram nas cavidades nasais até atingir o epitélio sensível, no topo do nariz. Ele contém células sensíveis dotadas de pêlos, que são as terminações dos neurônios olfativos, cuja conexão com o cérebro, através do bulbo olfativo, produz o que é conhecido como “olfação retronasal” ou “aroma de boca” (JACKSON, 2002; MELLO et al., 2004; PEYNAUD e BLOUIN,1997). A combinação da olfação retronasal com o gosto e as sensações táteis gera a percepção chamada flavor (JACKSON, 2002) ou sabor (MELLO et al.; JANZANTTI, 2004). Trata-se, assim, de uma sensação mais complexa que o gosto ou o aroma. De modo inverso, os off-flavors provocam defeitos (JACKSON, 2002), que podem chegar a descaracterizar completamente a cachaça. A maior parte dos ácidos, aldeídos, ésteres e álcoois superiores, de grande importância na formação do flavor, quando em concentrações acima dos thresholds, podem contribuir para a qualidade final e, dependendo dos seus teores, provocar sérios defeitos na cachaça. As principais vias de formação do maior grupo de flavors ao longo da fermentação são mostradas na Figura 11. A maior parte dos aldeídos é formada a partir de cetoácidos. Originariamente, a via de formação dos álcoois superiores era atribuída, primariamente, ao mecanismo de Ehrlich: oxidação dos aminoácidos a cetoácidos, descarboxilação e, finalmente, redução do aldeído ao correspondente álcool. Entretanto, depois se verificou que a via de Ehrlich é responsável por apenas uma fração dos álcoois superiores, sendo que sua maior parte provém da rota dos carboidratos. 68 Figura 11. Principais vias de formação de flavors durante a fermentação (Fonte: CASIMIRO et al., 1998). Outro mecanismo para a formação de álcoois superiores envolve a condensação dos alfa-cetoácidos com a acetyl-CoA para formar cetoácidos com um radical –CH2 na posição C-3 (OUGH e AMERINE,1988): o álcool isobutílico é formado em conexão com a valina, o n-propanol com a treonina e os álcoois isoamílicos com leucina e isoleucina (KORHOLA e LEHTONEN, 1988). Um terceiro mecanismo consiste na condensação com o piruvato ou o “aldeído ativo” (OUGH e AMERINE,1988). 69 O aumento dos teores dos álcoois superiores na fermentação pode ter origem, primariamente, em altos níveis do inóculo (KORHOLA e LEHTONEN, 1988) e na idade avançada do fermento (CASIMIRO et al., 1998). Em menor proporção (20 - 30%), o conteúdo em álcoois superiores tende a aumentar com a elevação da temperatura de fermentação (RANKINE,1967; GUTIERREZ, 1993). Diferentes linhagens de Saccharomyces cerevisae ocasionaram variações muito significativas nos níveis de n-propanol (RANKINE, 1967). O aumento de seus teores em cachaças foi atribuído a altas concentrações de treonina contidas em canjica utilizada no preparo do “pé-de-cuba” (BOZA e HORII, 1988). A formação dos ésteres nas células das leveduras pode tanto ser iniciada pela ativação de ácidos monocarboxilícos, quanto pela descarboxilação oxidativa de 2oxoácidos, quando a acil-CoA é formada. Em adição a essas reações, um mecanismo muito provável envolve uma fase similar intermediária, denominada síntese de ácidos graxos. O grau de esterificação do ácido acético com os álcoois superiores é favorecido pela alta concentração desses álcoois no mosto. Os níveis de alguns ésteres importantes para a formação do aroma são dependentes da presença de oxigênio. Como exemplo, foram obtidos níveis de hexanoato de etila cerca de 5 vezes maiores em vinhos resultantes de fermentações estritamente anaeróbicas (NYKÄNEN e NYKÄNEN, 1991). Quando a fermentação se desenvolve com predominância de leveduras do meio ou selecionadas, em condições adequadas de temperatura, higiene, concentração de açúcares e de outros nutrientes, os produtos finais são o etanol, o CO2 e os componentes secundários em proporções adequadas (MUTTON e 70 MUTTON, 2005, 2002; CASIMIRO et al, 1998). O resultado é uma fermentação conhecida como pura, apresentando odor agradável, lembrando o aroma de frutas. Entretanto, quando o processo ocorre na presença de infectantes, geralmente bactérias, estas características não são mantidas As condições adversas podem surgir da maturação incompleta da cana-de-açúcar, má conservação da matériaprima, deficiência na limpeza de moendas, tanques, tubulações e dornas, deficiência no preparo do inóculo e controle ineficiente da temperatura nas dornas de fermentação (CASIMIRO et al., 1998). O tempo de fermentação é maior, o cheiro exalado é desagradável, normalmente característico do metabolismo que está ocorrendo em paralelo. Assim, o cheiro de vinagre indica que está havendo uma fermentação acética (bactérias acéticas), enquanto que o de ranço é característico da fermentação butírica, causada por bactérias do gênero Clostridium. Também muito comuns são as fermentações lática (Lactobacillus) e dextrânica, cujo agente são as bactérias Leuconostoc mesenteroides. Esta infecção é caracterizada pela formação de aglomerados gelatinosos conhecidos como “cangica”, e tem como principal causa a cana queimada e ou armazenada por longos períodos (MUTTON e MUTTON, 2002). A acroleína (2-propenal) pode provocar gosto amargo e odor desagradável, sendo formada, provavelmente pela desidratação do glicerol, produto da fase inicial da fermentação, na presença de ácidos nas superfícies metálicas das colunas de destilação (NYKÄNEN e NYKÄNEN 1991). Também pode ser formada a partir de lactobacilus que podem converter o glicerol do mosto em ß-hidroxipropionaldeído, que é convertido à acroleína pelo aquecimento na destilação (KORHOLA e LEHTONEN, 1988). 71 O aumento dos teores dos álcoois n-butílico e sec-butílico, causados por bactérias, podem comprometer a qualidade da cachaça. O n-butanol pode ser produzido como co-produto da acetona e do etanol, pela fermentação de certos carboidratos pela bactéria anaeróbica Clostridium acetobutylicum (MURTAGH, 2006). O diacetil (2,3-butanodiona) é formado a partir da atividade de certas leveduras e bactérias, principalmente em altas temperaturas. Possui baixo threshold e aroma amanteigado agradável em baixas concentrações (0,02 mg/L). Em concentrações mais elevadas possui odor a ranço desagradável (NYKÄNEN e SUOMALEINEN, 1983; OUGH e AMERINE, 1988). O dimetil sulfeto (DMS), um off-flavor de importância em cachaça é, normalmente, produzido pela degradação da S-metil-metionina, induzida pelo calor (BJCP, 2006). 3.4 DESTILAÇÃO 3.4.1 Teoria da Destilação Destilação é a técnica utilizada para separar, selecionar e concentrar, pelo aquecimento, componentes voláteis específicos de uma “mistura líquida” (BOZA e HORII, 1988; LÉAUTÉ, 1990). Depois da fermentação, a destilação é o ponto determinante de maior importância na qualidade da bebida destilada (JANZANTTI, 2004; BOZA e HORII, 1988). A destilação também promove algumas reações químicas induzidas pelo calor (BOZA e HORII,1988), como a formação de acroleína (NYKÄNEN e NYKÄNEN, 1991) e outros compostos aromáticos heterocíclicos provenientes da reação de Maillard, como os furanos (furfural, etc.), pirazinas e piridinas (JANZANTTI, 2004); 72 LÉAUTÉ, 1990). Além disso, a destilação provoca a extração de certos ésteres de cadeia longa retidas nas células das leveduras ao final da fermentação, transferindoos aos destilados (NYKÄNEN e NYKÄNEN, 1991). O “vinho” possui uma composição bastante complexa, apresentando substâncias de natureza líquida, sólida e gasosa. Das líquidas, o etanol é o seu principal componente, representando 5 a 8% v/v, sendo a água o presente em maior quantidade, em torno de 89 a 92% v/v. Outros componentes líquidos se fazem presentes em menor proporção, como o glicerol, os ácidos lático e butírico, os componentes voláteis como ésteres, ácidos acético e propiônico , aldeídos, álcoois superiores, entre outros (NOVAES, 1999; CASIMIRO et al., 1998 ; NASCIMENTO et al., 1998b,c). Cada componente volátil será mais facilmente destilado de acordo com três critérios: solubilidade em álcool ou água, ponto de ebulição e variação do grau alcoólico no vapor durante a destilação (LÉAUTÉ,1990; JANZANTTI, 2004). No caso de uma mistura binária etanol - água, ao entrar em ebulição, contém uma maior proporção de etanol na fase vapor do que na fração líquida que lhe deu origem, pois o álcool é mais volátil que a água. Esta relação pode ser matematicamente expressa pela relação: P/Q < p/q Onde: P= quantidade de álcool no líquido; Q= quantidade de água no líquido; p= quantidade de álcool no vapor; q= quantidade de água no vapor. Para cada relação P/Q existe um ponto fixo de ebulição. A função do condensador é remover a parte gasosa (p/q) do sistema pela condensação em uma superfície fria. Para compensar esta retirada, mais componentes da parte líquida vão passar para a fase gasosa. Mas, como a quantidade de P que passa para a fase 73 gasosa é relativamente maior que Q para atender a demanda p/q, a concentração de P vai se tornado cada vez menor em relação a Q. À medida que a fração P vai diminuindo, o ponto de ebulição vai se aproximando cada vez mais do ponto de ebulição do componente Q puro. Isso representa o final do processo de destilação. O processo, dessa forma, nunca permite a obtenção de etanol em concentração acima de 97,2% vol, pois no sistema “álcool – água” forma-se uma mistura azeotrópica (97,2% vol), onde a temperatura de ebulição da mistura (78,15°C) é menor que a da água e do etanol puros (NOVAES, 1999; CASIMIRO et al., 1998). Com base no conhecimento da volatilidade das substâncias, pode-se separar aquelas voláteis (água, álcool etílico, congêneres, etc.), das não voláteis (sólidos em suspensão, sais minerais, células de leveduras, açúcares não fermentescíveis, proteínas, etc.), obtendo-se duas frações, a flegma e a vinhaça, resíduo da destilação do “vinho”. A flegma, produto principal da destilação, é uma mistura hidroalcoólica impura, cuja graduação depende do tipo de aparelho utilizado (MUTTON e MUTTON, 2005). 3.4.2 Sistemas e Práticas de Destilação Coexistem na produção de cachaça dois sistemas bem diferenciados: “contínuo” e “por bateladas”. No sistema contínuo tradicional emprega-se uma coluna de destilação, alimentada pelo “vinho” de forma ininterrupta. No sistema “por bateladas”, típico dos alambiques, todo o volume do “vinho” a ser destilado é transferido para a panela antes de ser iniciada a destilação (MAIA, 2000a). Os distintos sistemas de destilação são, freqüentemente, utilizados para diferenciar o tipo de cachaça e sua forma de produção. Assim, a cachaça industrial 74 seria aquela produzida a partir de colunas de destilação, de qualquer porte, por processo contínuo, e a cachaça de alambique a elaborada em alambiques em cobre, com volume limitado. Dentre as práticas não “enquadradas” nesse último processo, podem ser citadas a queima da cana-de-açúcar e a utilização de coadjuvantes químicos na fermentação (TONÉIS & CIA, 2005; AMPAQ, 2006). Verificou-se que, pela modificação da forma de destilar, “vinhos” iguais, destilados num mesmo aparelho, produzem destilados de qualidade diferente. A destilação mais lenta resulta num maior rendimento e no aumento dos teores de compostos aromáticos, como os ésteres. A destilação rápida, além de diminuir o rendimento, leva à obtenção de destilados mais ácidos e com excessivos teores em álcoois superiores (ALMEIDA LIMA, 2001; MUTTON e MUTTON, 2005). 3.4.3 Destilação Por Batelada ou Intermitente: Alambiques Como mostrado na Figura 12, o alambique simples emprega apenas uma panela, geralmente em cobre ou aço inox, onde o “vinho” é aquecido até a fervura e destilado. Esse equipamento, também chamado aparelho de destilação, comporta inúmeras variações quanto às características geométricas externas e retificadoras internas (existência de pratos, borbulhadores, etc.) da coluna, da alonga e do sistema de refrigeração (MAIA, 2000a,b ; PINTO, 1986). O aquecimento da caldeira (ou panela) de destilação pode ser realizado de modo direto ou a vapor. Esta operação deverá ser lenta e gradual, pois o aquecimento brusco do “vinho” poderá fazer com que o aparelho “vomite”. 75 Figura 12. Esquema de um alambique simples (Fonte : NOGUEIRA e VENTURINI FILHO, 2005). Além disto, o aumento gradativo da temperatura possibilita a produção de vapores que, alcançando o capitel, condensam-se parcialmente, retornando a cucúrbita. A parcela de vapores não condensada alcança a alonga e, encontrando uma superfície mais fria condensa-se parcialmente, atingindo neste estado a superfície do resfriador, onde a condensação é completada. O destilado apresenta elevada graduação alcoólica (65 - 70% vol) no início do processo, sendo recomendada a separação de 5 -10% do volume teórico total da aguardente a ser obtida pela destilação inicial. Esta é conhecida como destilado de “cabeça”, rica em aldeídos, acetato de etila, ácidos graxos, caprato e caprilato de etila (LÉAUTÉ, 1990; MUTTON e MUTTON, 2002; MAIA, 2000a), e outros compostos voláteis que tenham maior afinidade pelo etanol do que a água, fator de maior relevância que as temperaturas de ebulição individuais (MAIA, 2000b). 76 A seguir, separa-se a fração conhecida como “destilado de coração”, contendo menor proporção dos componentes da “cabeça”, como os ésteres, aldeídos, álcoois superiores, além do lactato de etila e da fração dos ácidos voláteis de cadeia longa e demais produtos secundários indesejáveis em concentrações mais elevadas que as preconizadas, formados na fermentação ou dentro do próprio alambique (JANZANTTI, 2004; LÉAUTÉ, 1990; MUTTON e MUTTON, 2005). O “coração” representa cerca de 80% do volume do destilado. Por apresentar menor quantidade de substâncias indesejáveis, constitui-se na sua melhor fração. Na prática, costuma-se controlar a graduação da flegma em torno de 45 - 50% vol na caixa de recepção, quando então se efetua o “corte”. Por último, são retirados os componentes com ponto de ebulição mais altos e com maior afinidade pela água. Esta fração (“cauda”) possui altos teores em furfural e outros menos desejados como o ácido acético e a fração mais “pesada” dos álcoois superiores, conhecida como “óleo fúsel” (MUTTON e MUTTON, 2005, NYKÄNEN e NYKÄNEN,1991). A “cauda”, também chamada de “água-fraca”, corresponde a 10% do volume total do destilado, sendo coletada desde a graduação alcoólica de 38% vol até, aproximadamente, 10% vol. As práticas de misturar a “cabeça” e ou “cauda” com o novo vinho (MUTTON e MUTTON, 2005; NOVAES, 1999) são extensivamente utilizadas, seja para recuperação do álcool, ou para possibilitar as reações entre os compostos das frações de “cabeça” (acetaldeído, acetato de etila) e “cauda” (ácido acético e lático) com o álcool do vinho, produzindo componentes aromáticos importantes para a qualidade da cachaça. Para tanto, a destilação deve ser bem conduzida, possibilitando a separação dos componentes indesejáveis e prejudiciais à saúde (MUTTON e MUTTON, 2002). 77 No Estado do Rio de Janeiro, além do alambique mostrado na Figura 12, são também encontrados os alambiques de dois e três corpos, que consistem de ajustes no alambique simples, de modo a economizar combustível, facilitar e acelerar o processo de destilação (MAIA, 2002a,b). A Figura 13 mostra uma versão do alambique com duas panelas. A panela à direita funciona como um trocador de calor, tanto para pré-aquecer o “vinho” (até cerca de 60°C) que vai ser destilado na segunda panela, como para o préresfriamento simultâneo dos vapores condensados emergentes da alonga. Figura 13. Alambique de dois corpos (Duas Barras/RJ). O sistema pode ser acrescido de mais uma caldeira ou panela, resultando no alambique de três corpos, mostrado na Figura 14. Nesse, a panela superior funciona como trocador de calor, como no alambique de dois corpos. O carregamento do aparelho é realizado através do aquecedor de “vinho” (5); sendo os três corpos interligados por canalizações e registros e, encontrando-se em níveis diferentes, o “vinho” desce por gravidade, indo se acumular no corpo mais inferior, a panela ou 78 caldeira de esgotamento (1). Atingido o seu nível de trabalho (75% do volume total), passa-se a acumular o vinho na panela de destilação (4). Completada sua carga operacional (75%), carrega-se, igualmente, o aquecedor de “vinho”. Figura 14. Alambique de 3 corpos (Fonte: MUTTON E MUTTON, 2005). Fechadas as válvulas dos três corpos, aquece-se com vapor ou fogo direto o vinho contido na panela de esgotamento. Os vapores hidroalcoólicos, contendo os componentes mais voláteis, gerados com seu aquecimento progressivo são, então, injetados dentro do “vinho” da panela central. Este, por sua vez, enriquecido e aquecido, vai gerar vapores hidroalcoólicos, cuja composição em álcool é mais rica do que aqueles vapores por ele recebidos na caldeira de esgotamento (NOVAES, 1999). Parte dos vapores, mais ricas em água, condensa-se na coluna e retorna ao “vinho” de onde se originou, ao passo que a fração mais rica em álcool atravessa essa zona de condensação sob a forma de vapor, alcançando a serpentina dentro do aquecedor de “vinho”, onde se condensa. O destilado recém-condensado segue, então, para a serpentina do resfriador (15), sendo coletado na caixa de recepção. 79 Quando o teor alcoólico do destilado coletado na caixa de recepção atinge valores entre 45 a 48% vol, interrompe-se o aquecimento e o ciclo da destilação. Esgota-se a vinhaça do terceiro corpo, que estará suprimida do álcool, e completa-se a mesma com o “vinho” da caldeira de destilação. Esta, por sua vez, é enchida com o “vinho” do pré-aquecedor, que será, em seguida, alimentado com novo “vinho”. Um novo ciclo de destilação é, então, iniciado com a introdução de vapor na caldeira de esgotamento (NOVAES, 1999 ; CASIMIRO et al., 1998). Com o prosseguimento da destilação, já poderá ser efetuada tanto a remoção dos gases não condensáveis bem como da futura fração “cabeça”, oriundos do “vinho” contido no aquecedor. Nesse caso, no próximo ciclo, não haverá mais necessidade de retirá-los. Também não existe a retirada da fração “cauda”, pois os vapores que iam produzi-la são aqueles gerados na caldeira de esgotamento, que irão se juntar ao “vinho” da panela de destilação (NOVAES, 1999). 3.4.4 Destilação Sistemática ou Contínua Muitas colunas de destilação foram simplesmente adaptadas das empregadas na produção de álcool etílico e produziam flegmas com alto grau alcoólico, gerando produtos pobres em aromas. Os aparelhos de destilação, que eram em cobre, passaram a ser fabricados em aço inoxidável, mais baratos. Os destilados passaram a apresentar odores estranhos, que desapareciam no tonel. Mas nem sempre o tempo de armazenamento (e de tonéis) era suficiente. Para eliminar esses inconvenientes as colunas de destilação foram redesenhadas para produzir flegmas de baixo grau, menos retificadas, contendo teor em congêneres suficiente para produzir um flavor mais propício à sua comercialização (ALMEIDA LIMA, 2001). 80 Como mostra a Figura 15, a coluna consiste de uma série de “pratos” ou ”bandejas” superpostas, que formam seu tronco. A reunião de dois pratos resulta num “gomo”. A comunicação entre duas bandejas é feita por intermédio de um sifão. Este, conforme a Figura 16, possui sua parte superior saliente, condicionando a formação de uma camada de líquido sobre a bandeja superior. água vinho R R1 Figura 15. Coluna de destilação de cachaça (Fonte: STUPIELLO,1992). A- Coluna de destilação; R - Aquecedor de “vinho”; R1 - Condensador Auxiliar; J - Resfriadeira ; V – Vinhaça; P - Proveta ; B - Registro de vapor, E - Prova de Esgotamento. Além do sifão, a bandeja apresenta um certo número de chaminés, munidas lateralmente de janelas ou fenestras, sobre as quais se assentam as calotas ou 81 chapéus. Estas calotas permanecem com seus bordos mergulhados no líquido, oferecendo resistência à passagem do vapor através do sifão. A introdução do “vinho” na coluna (15 a 20 pratos) é feita a partir do gomo superior, sendo que a serpentina de vapor, para o aquecimento, é introduzida no gomo inferior. Para começar o processo, introduz-se o “vinho” na coluna até atingir o nível desejado no gomo inferior. Inicia-se a refrigeração com água e a introdução do vapor na serpentina. O vapor formado no prato inferior alcança as chaminés do prato imediatamente superior, que o acumula em suas calotas. Com o aumento da pressão, o vapor começa a borbulhar no líquido do prato, causando o aquecimento e o enriquecimento do “vinho” desse último. Após certo tempo, o “vinho” do prato superior também entra em ebulição, passando a aquecer o prato seguinte e, em seguida, o “vinho” aí presente e, assim, sucessivamente, até atingir o último prato. Com a retirada da flegma, ocorrerá o empobrecimento alcoólico gradual nos pratos, com conseqüente aumento da temperatura no prato superior. Quando esta atinge cerca de 92°C, reinicia-se a alimentação da coluna com novo “vinho”, estabelecendo uma vazão contínua. O vapor formado neste prato será, então, condensado. A estabilidade do sistema é mantida pelo controle da entrada do vapor, do fluxo de “vinho” e da retirada da vinhaça. O uso de “vinho” de grau alcoólico baixo pode ser contornado, eficientemente, pelo controle da retrogradação dos condensadores e estabelecimento de condição seletiva mais adequada para o condensador final, de modo a ser obter uma cachaça de melhor qualidade. Algumas colunas de destilação compactas, com aquecedor de “vinho” instalado no topo da coluna, tornam o controle 82 da seletividade muito difícil, além de causar o arraste de ”vinho” para o destilado (NOVAES,1993 ; CASIMIRO et al., 1998). Figura 16. Esquema de duas bandejas sobrepostas em uma coluna de destilação (Fonte: NOVAES, 1993). 3.4.5 Refluxo, Razão de Refluxo, Geometria da Coluna e Efeito sobre a Composição da Cachaça A eficiência da destilação é controlada pelo detalhamento adequado da coluna. O projeto da coluna é fator determinante para o ajuste do refluxo, o qual consiste na ocorrência de recondensações e revaporizações sucessivas ao longo da coluna do alambique. Cada vez que os vapores condensam, formam um líquido com um teor alcoólico mais elevado e capaz, por sua vez, de gerar novos vapores, ainda mais ricos em etanol. Ao nível do mar, a água ferve a 100°C e o etanol a 78,5°C. A temperatura de ebulição resultante da mistura dos líquidos será mais próxima de 100°C quanto 83 menor for a proporção de etanol e, obviamente, mais próxima de 78,5°C quanto maior o teor de etanol. Um “vinho” contendo 8% v/v de etanol começa a ferver em torno de 94°C e, como o etanol é mais volátil que a água, os vapores formados serão mais ricos em etanol (45% v/v) do que a mistura do que lhe deu origem, conforme o diagrama de fases do sistema etanol-água, mostrado na Figura 17. Uma vez retornando ao estado líquido, a proporção de etanol será a mesma (45% v/v), mas a temperatura necessária para que evapore novamente será reduzida para cerca de 83,5°C. Este fenômeno permite que os vapores condensados dentro da coluna retornem à fase gasosa, mesmo que permaneçam numa posição, na coluna, na qual a temperatura seja permanentemente inferior a do líquido na panela. Este é o refluxo útil. Se os vapores condensados na coluna retornarem à panela, o refluxo terá sido inútil : seu efeito será apenas retardar a destilação (MAIA, 2000b). Além disso, junto a outros fatores, as colunas são mais eficientes em baixas vazões. Em tais circunstâncias, o tempo de residência na coluna é maior, resultando num melhor equilíbrio (PETERS et al.,1974). Portanto, a eficiência do alambique é, primariamente, uma função de seu desenho, da operação da coluna e do aparelho de refluxo associado em seu topo (MAIA, 2000b). Nesta parte, uma porção do condensado é retirada como pósdestilado (P), e a remanescente (L), que retorna à coluna como líquido de refluxo. A fração L/P é chamada Razão de Refluxo (RR) (PETERS et al., 1974; THAM, 2006). 84 Figura 17. Diagrama de fases do sistema etanol-água (Fonte: EVAPORATION & LIFE SCIENCE , 2002). Na destilação em alambique, o refluxo reflete o efeito conjugado de vários fatores: a) temperatura dos vapores, desde o momento em que entram em ebulição, até atingirem o ponto de acesso à alonga (gradiente de temperatura); b) geometria e comprimento da coluna; c) número e geometria dos pratos na coluna (MAIA, 2002b, CLAUS e BERGLUND, 2005; THAM, 2006); d) tipo de borbulhadores (THAM, 2006); e) presença e geometria do sistema de resfriamento no topo da coluna (deflegmador ou capelo); f) diâmetro e geometria da alonga; g) condução do processo (MAIA, 2002b). A eficiência da separação em colunas de destilação compreende um conjunto de variáveis, cuja complexidade torna o controle adequado do processo pouco acessível a maior parte dos médios produtores de cachaça. Vazões muito altas de vapor ou líquido podem provocar problemas como: arraste de líquido (entrainment), 85 inundação (flooding), formação de cones de vapor ou de excesso de espuma (foaming), dentre outros (KALID, 2002; THAM, 2006). O fluxo de vapor de entrada (Vin) é gerado na seção de esgotamento. Para controlar a qualidade do destilado podemos manipular a vazão de refluxo, equivalente a L, pois com o aumento do refluxo o destilado tende a ficar mais rico nos produtos mais leves. Analogamente, a composição do produto de fundo pode ficar mais rica em substâncias mais pesadas se for aumentada a vazão do fluido (vapor d’água) de aquecimento. Portanto, a vazão de refluxo é uma variável manipulada que controla a qualidade do destilado (variável controlada), enquanto Vin é outra variável manipulada associada com a qualidade do produto de fundo. Porém, a medição em linha da composição é uma tarefa complexa e cara. Como solução alternativa utiliza-se a temperatura para inferir a composição. Nestes casos, a variável controlada é a temperatura ou a diferença de temperatura entre dois pratos da coluna (KALID, 2002). 3.4.6 Bidestilação ou Dupla Destilação A bidestilação foi introduzida efetivamente no Brasil no ano de 1991, por Novaes (1996, 199-), com o objetivo de suprimir o carbamato de etila da cachaça produzida em uma unidade produtora em Nova Friburgo (RJ). O processo de dupla destilação em cachaça é baseado naqueles empregados na produção de uísque e de conhaque, através da destilação em alambiques em cobre (NOVAES, 199-). O encerramento da primeira etapa ocorre no momento em que o destilado no interior da caixa coletora atingir 27% vol, sendo similar a “água fraca”. A vinhaça é descartada. Esta destilação do “vinho” será realizada por três a 86 quatro vezes, até que o volume total de “água fraca” obtido seja igual àquele da carga de trabalho do alambique. Todas as frações desses destilados de baixa graduação alcoólica são armazenadas em recipiente de volume mínimo igual ao da carga do alambique, ali permanecendo até o momento de destilação posterior. Ao final da última destilação do “vinho” o alambique receberá a “água fraca” para sua destilação. O seu aquecimento deve ser lento e, inicialmente, serão liberados por uma canalização, existente no resfriador, os gases não passíveis de condensação, indesejáveis, que se perderão na atmosfera. Logo após, será recolhido um destilado a 77% vol, quando é aberto o registro de água do resfriador, assim mantido até o final do processo. Dessa destilação resultarão três frações: “cabeça”, 1,5% do volume de “água fraca” posto a destilar (72 a 75% vol); “coração”, recolhido em outro recipiente até a graduação alcoólica atingir 66-68% vol; e “cauda”, produzida até que seu volume na caixa receptora corresponda a 30% daquele da carga inicial da “água fraca”. “Cabeça” e “cauda” serão, por sua vez, misturadas, sendo o volume dessa mistura dividido em três partes, cada qual misturada a uma nova carga de “vinho”, e assim sucessivamente. O “coração” será armazenado em recipientes de acordo com o tipo de bebida desejada. Pode se destinar ao envelhecimento, “descansar” em tonéis apropriados por um período ou, simplesmente ser consumido in natura. O carbamato de etila é muito pouco volátil em soluções alcoólicas, devido à sua alta afinidade pela água e álcool. Uma vez que é formado pelo processo de destilação, ao ser realizada uma nova destilação, o produto obtido estará pobre em carbamato de etila que, em sua maior parte, fica retido no resíduo proveniente da primeira destilação (RIFFKIN et al., 1989; NOVAES., 1996, 199-). De forma similar, 87 as quantidades dos compostos responsáveis pelo arraste do cobre no interior das serpentinas (ácidos orgânicos) são muito diminuídas, o que resulta, ainda, na produção de cachaças com baixos teores de cobre e acidez volátil (BIZELLI et al., 2000). 3.5 MATURAÇÃO E ENVELHECIMENTO Durante a maturação da cachaça, em barris de madeira, uma série de interações físicas e químicas acontecem entre o barril, a atmosfera circundante e a cachaça em maturação, que transformam, sensivelmente, tanto o flavor quanto a composição da cachaça (MOSEDALE e PUECH, 1998). O tempo requerido para a maturação e os seus resultados são muito variados e influenciados por uma extensa gama de fatores, particularmente o tipo e a idade do barril usado (MOSEDALE e PUECH, 1998 ; BUJAKE, 1992). Uma vez que a madeira é semipermeável, ocorrem trocas com o meio ambiente, tais como a entrada de oxigênio e saída de álcool, água e outros compostos. Quando o armazenamento ocorre em ambiente cujo ar é seco, haverá tendência de perda d’água. Caso contrário, em alta umidade do ar, haverá perda de álcool, com conseqüente redução do grau alcoólico da cachaça (MUTTON e MUTTON , 2005; CASIMIRO et al., 1998). Maturação e envelhecimento são, freqüentemente, usados como sinônimos. No caso da cachaça, Maia (1994) atribui ao termo maturação o estágio, durante 1-2 meses, em tonel de madeira ou de aço. Segundo a legislação brasileira (BRASIL, 2005a), a cachaça envelhecida deve conter, no mínimo, 50% de cachaça envelhecida em recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxima de 700 litros, por um período não inferior a um ano. É permitido o uso de caramelo para padronização da cor da cachaça envelhecida. O armazenamento em tóneis de 88 volume superior não caracteriza envelhecimento, mas é necessário para o amaciamento da cachaça que, recém-destilada, apresenta sabor ardente e seco, devido à pungência de certos compostos, como os aldeídos (NYKÄNEN e NYKÄNEN, 1991; ALDEHYDES, 2006), que se transformarão em acetais, dentre outros, com características bem menos agressivas. Conseqüentemente, a maturação e o envelhecimento, se bem efetuados, constituem etapas de grande importância na produção da cachaça. Com o decorrer do envelhecimento, novas características sensoriais se desenvolvem, como flavor e aroma de madeira, doçura, aroma de baunilha, coloração âmbar e atenuação do impacto agressivo (CARDELLO e FARIA, 2000; JANZANTTI, 2004). Os aldeídos e ésteres aumentam linearmente com o processo de maturação, sendo que os ácidos aumentam mais rapidamente no início do processo (CASIMIRO et al., 1998). A Figura 18 mostra as vias pelas quais os compostos liberados pelo carvalho são incorporados às bebidas destiladas. Figura 18. Componentes do cerne do carvalho (Fonte: MOSEDALE e PUECH,1998). 89 A acroleína desaparece após 2 a 3 anos de envelhecimento, dando origem a um componente não agressivo. Os compostos sulfurados desaparecem ou têm sua concentração reduzida (CASIMIRO et al., 1998 ; NYKÄNEN e NYKÄNEN, 1991). De maior significância são aqueles relacionados com a degradação da lignina, pelo seu estreito relacionamento com o flavor. A queima dos barris é necessária para uma adequada extração da vanilina, siringaldeído, coniferaldeído, sinapaldeído, dentre outros compostos fenólicos originados da degradação da lignina. (CASIMIRO et al., 1998). A queima também é responsável pela produção de compostos da Reação de Maillard, tais como as piridinas (MOSEDALE e PUECH, 1998). As madeiras brasileiras amburana, jequitibá, bálsamo e ipê incorporaram à cachaça armazenada por seis meses em barris de 20 litros os mesmos compostos fenólicos presentes em bebidas envelhecidas em barris de carvalho, variando seus teores individuais (ácidos elágico e vanílico, sinapaldeído, coniferaldeído, ácido gálico, etc.) de acordo com o tipo de madeira utilizada (DIAS et al., 1998; JANZANTTI, 2004). Cachaças envelhecidas acima de 24 meses em tonel de carvalho de 200 litros obtiveram a preferência dos consumidores, em detrimento de aguardentes sem envelhecer, ou de aguardentes comerciais envelhecidas, que poderiam ser "cortadas" e ou ter sua cor corrigida (CARDELLO e FARIA, 2000). 3.6 PADRÕES DE IDENTIDADE E QUALIDADE PARA A CACHAÇA: A LEGISLAÇÃO ATUAL Ao compararmos os Padrões de Identidade e Qualidade (PIQs) para a cachaça estabelecidos em 1974 com aqueles constantes na mesma publicação oficial para os 90 uísques (BRASIL, 1974) nota-se uma estreita semelhança, o que poderia levar a supor que os padrões internacionais para uísque foram, na época, adaptados para a cachaça. Bem mais recente que os PIQs de 1974, o Decreto 2314 (BRASIL, 1997) pouco acrescentou aos padrões de identidade e praticamente nada aos de qualidade da cachaça. De todo modo, esse Decreto já previa a regulamentação dos PIQs da Aguardente de Cana. Recentemente, após consulta pública, foi publicada a Instrução Normativa N° 13 (BRASIL, 2005a), cujos requisitos de qualidade para a cachaça são mostrados nas Quadros 1 e 2. Quadro 1. PIQs para a graduação alcoólica e os componentes do coeficiente de congêneres da cachaça e da aguardente de cana-de-açúcar (Fonte: BRASIL, 2005a). Parâmetro/ unidade Limite(s) Grau alcoólico da cachaça (% vol) Grau alcoólico da aguardente de cana (% vol) Acidez volátil 1 (mg/100 mL aa) Ésteres totais, expressos em acetato de etíla2 (mg/100 mL aa) Aldeídos totais3 (mg/100 mL aa) Soma de Furfural e Hidroximetilfurfural 4(mg/100 mL aa) Soma dos álcoois isobutílico (2-metil propanol), isoamílicos (2-metil -1- butanol +3 metil-1-butanol) e npropílico (1-propanol) 5 Coeficiente de congêneres ( mg/100 mL aa) 38 e 48 38 e 54 150 200 30 5 200 O Coeficiente de Congêneres é a soma de 1, 2, 3 , 4 e 5; aa = álcool anidro. 360 e 650 Quadro 2. Limites máximos para contaminantes em cachaça e aguardente de cana (Fonte: BRASIL, 2005a). Contaminantes/unidade Limite Máximo Cobre (Cu), em mg/L 5 Chumbo (Pb), em µg/L 200 Arsênio ( As), em µg/L 100 Acroleína (2-propenal), em mg/100 mL de álcool anidro 5 Álcool metílico ( metanol) , em mg/100 mL de álcool anidro 20 Álcool sec- butílico (2-butanol), em mg / 100 mL de álcool anidro 10 Álcool n-butílico (1-butanol), em mg / 100 mL de álcool anidro 3 Carbamato de etila, em µg/L 150 * Os teores dos contaminantes têm prazo de 3 anos para adequação, com exceção do carbamato de etila, cujo prazo é de 5 anos. 91 Essa Instrução Normativa também estabeleceu designações para a cachaça: envelhecida (premium, extra etc.), conforme o tempo de envelhecimento; a armazenada em tonéis de madeiras apropriadas (ouro); armazenada ou não sem agregar cor (prata), dentre outras normatizações para as práticas de produção e o envelhecimento. Foi vedado, ainda, o uso da expressão “Artesanal” como designação, tipificação ou qualificação da cachaça, até que sejam fixados os critérios e procedimentos para produção e comercialização das cachaça artesanais. 3.7 LEGISLAÇÃO, COMPOSIÇÃO E QUALIDADE EM CACHAÇA Na maior parte dos blocos econômicos (CEE, Mercosul, etc.) ou países, onde se inclui o Brasil, os PIQs definidos pela legislação refletem o resultado de um consenso técnico-científico e político-econômico. Neste último aspecto, são decisivos para definir os parâmetros de qualquer regulamentação o poder de influência de setores corporativistas estruturados e sua abrangência com relação aos distintos processos de produção. Dentre os fatores científicos e técnicos limitantes podemos destacar a carência de dados para definir limites ainda não devidamente estabelecidos em estudos toxicológicos e sensoriais. Outros se relacionam à precariedade de boas práticas agrícolas industriais e analíticas, levando em conta as possibilidades tecnológicas das regiões (BRASIL, 1998). Uma maior abrangência para a qualidade da cachaça incluiria o estabelecimento de limites máximos para os seguintes componentes: dimetil sulfeto, off-flavor em concentrações acima de 5 mg/L (FARIA et al., 2003); diacetil e compostos aromáticos policíclicos (NOVAES, 199-); formaldeído, pois é nocivo à saúde em níveis superiores a 5 mg/L (NASCIMENTO et al., 1998b). A acroleína, 92 outro aldeído tóxico (ACROLEIN monitoring recommendation, 2005) e off-flavor (NYKÄNEN e NYKÄNEN, 1991), está com um limite máximo superestimado, tendo em vista que seus teores médios em cachaças estão abaixo de 1 mg/100 mL álcool anidro (FARIA et al., 2003). Por constituírem o flavor da grande maioria das bebidas destiladas (NYKÄNEN e SUOMALEINEN, 1983; MAIA, 1994) os ésteres poderiam ser contemplados com um limite mínimo. No relativo aos álcoois superiores, embora possa ser interpretado como uma flexibilização da conformidade da cachaça (MIRANDA, 2005), o limite máximo de 360 mg/100 mL aa, estabelecido pela legislação, é bem mais restritivo que o anterior, de 300 mg/100 mL aa, que não incluía o álcool n-propílico na soma dos álcoois superiores, o que hoje está previsto nos PIQs e na metodologia analítica por CG-FID, publicada recentemente pelo MAPA (2005). A quantificação pelo método anterior, colorimétrica (AOAC,1995), só é sensível aos álcoois superiores ramificados, no caso o álcool isobutílico e os isoamílicos que, somados, resultava num conteúdo em álcoois superiores excluindo o álcoon n-propílico. São conhecidos diversos ésteres e álcoois que contribuem para a formação do aroma das cachaças. Há que se considerar ainda que determinados componentes destas funções químicas quase sempre contribuem para gerar certos flavors, enquanto outros, dependendo de suas concentrações, podem constituir off-flavours, (MAIA, 1994; PEYNAUD e BLOUIN, 1997). O aroma dos ésteres é mais acentuado quando formado a partir de álcoois de menor massa molecular (MAIA, 1994). Vários ésteres estão relacionados com os aromas frutados (ESTERS, 2004; MAIA, 1994), como é o caso do acetato de etila, quando em baixas concentrações, e do acetato de butila (PEYNAUD e BLOUIN, 1997; MAIA, 1994; JACKSON, 2002). O butirato de amila e o acetato de isoamila 93 têm aroma de banana. Segundo Maia (1994), os acetatos de álcoois maiores têm aroma cítrico, porém menos intenso que os de álcoois menores. Lilly et al. (2000) relatam que os flavors frutados característicos da fermentação de mostos de vinhos são, primariamente, devidos a uma mistura de acetato de hexila, caproato de etila, caprilato de etila (aroma de maçã), acetato de isoamila e 2-feniletil acetato (frutado, flavor floral com nota de mel). Em concentrações mais elevadas, o acetato de etila, em conjunção com o ácido acético, provoca um odor irritante, que penetra pela garganta e nariz, denominado “pico acético” (PEYNAUD e BLOUIN, 1997). Nas bebidas destiladas, os álcoois constituem o maior grupo de compostos voláteis sob o aspecto quantitativo e influem, decisivamente, no flavor das bebidas alcoólicas (JANZANTTI, 2004; NYKÄNEN e NYKÄNEN, 1991). São, ainda, importantes devido à ação solvente sobre outras substâncias aromáticas, interferindo no grau de volatilidade e, por conseqüência, em seus thresholds. Conferem corpo à bebida, além de alguns esterificarem durante o envelhecimento, formando ésteres de aroma mais agradável (JANZANTTI, 2004). Teores de n-propanol em cachaças acima de cerca de 100 mg/100 mL podem causar um odor irritante ou “queimante” (BOZA e HORII, 1988). Citados em 3.3.2 como produtos de contaminações bacterianas, o sec-butanol e o n-butanol podem constituir off flavours. Esse último possui um threshold em torno de 0,17 mg/L ou mais e, em baixas concentrações, pode contribuir para a formação do flavor (frutado, ranço doce). Valores acima de cerca de 30 mg/L não são permitidos pela Comunidade Econômica Européia CEE em bebidas destiladas, pois conferem odor irritante (BUTANOLS; N-BUTYL ALCOHOL, 2006). Numa cachaça estudada por 94 Janzantti (2004), juntamente à ardência, odores irritantes também foram atribuídos a determinados fenóis e a presença de um alto teor de aldeído acético. Apesar de não ter contemplado a qualidade da cachaça em todos os seu aspectos, a legislação atual (BRASIL, 2005a) é mais restritiva e abrangente em relação a vários parâmetros da CEE (1989, 1990) para bebidas destiladas. A inclusão de limites para álcoois indesejáveis, como o álcool sec-butílico, e contaminantes como o Pb, a acroleína e o carbamato de etila, também representa um grande avanço em relação aos PIQs anteriores (BRASIL,1997, 1974). 3.8. AVALIAÇÃO SENSORIAL: ANÁLISE DESCRITIVA QUANTITATIVA A Análise Descritiva Quantitativa (QDA) é de grande aplicação na avaliação sensorial, pois permite traçar o perfil sensorial dos produtos a partir da descrição e quantificação de descritores sensoriais diferenciados. As etapas que envolvem a QDA são: pré-seleção dos provadores, levantamento dos termos descritores, treinamento e seleção dos provadores e avaliação das amostras. Os perfis sensoriais das diferentes amostras são estabelecidos após os dados obtidos serem submetidos à análise de variância (ANOVA), teste de Tukey e Análise de Componentes Principais (PCA). Esta é, particularmente, efetiva em visualizar correlações entre atributos. A disposição vetorial dos atributos nos quadrantes definidos pelas componentes principais I e II permite, por exemplo, mostrar que aromas cítricos, de pêssego e florais de um vinho branco são intimamente relacionados (percebidos similarmente), mas negativamente (raramente associados) a aromas de pimentão (JACKSON, 2002). correlacionados 95 3.9 AVANÇOS E PERSPECTIVAS NA PESQUISA EM QUALIDADE Embora certas diferenças no aroma de bebidas destiladas possam ser, ainda hoje, facilmente identificadas por meio de testes sensoriais, até meados da década passada, em muitos poucos casos a análise química discriminava essas diferenças. Um dos principais motivos era a limitação analítica de identificação e quantificação de certos componentes com grande influência na formação do flavor, de baixo threshold, alguns percebidos na faixa de unidades a dezenas de ppt, abaixo dos limites de detecção dos métodos analíticos disponíveis (SNIFFER 9000, 2006). Certamente, diferenças entre flavors são sempre causadas por diferenças em composições qualitativas ou alteradas pelas inter-relações dos componentes nas frações que constituem o flavor. A presença de um componente, excepcionalmente, em grandes quantidades, ou o aparecimento de um outro não comum, geralmente produz um off-flavor (NYKÄNEN e SUOMAILENEN, 1983). Embora alguns compostos sejam peculiares de uma bebida particular ou tipo de bebida, em geral, aqueles responsáveis pelos flavors característicos são bastante similares, independentemente do tipo de bebida. As diferenças, geralmente, resultam de suas variadas concentrações (JANZANTTI, 2004). Apesar de os estudos do aroma, inicialmente centrados na identificação exaustiva dos compostos químicos voláteis presentes nos alimentos, tenham conduzido, há pouco mais de duas décadas, à identificação de centenas de compostos em vinhos e várias bebidas destiladas (NYKÄNEN e SUOMALAINEN, 1983), até um passado recente, os ésteres, álcoois superiores, aldeídos e ácidos majoritários eram descritos, em vários artigos, como os principais componentes responsáveis pelo flavor das cachaças. Os congêneres majoritários, em níveis quase 96 sempre acima de 1-2 ppm, predominavam nas escassas associações estatísticas das análises físico-química e sensorial (BOZA e HORII,1988). Em estágio mais avançado, os estudos disponíveis na literatura de vinhos, uísques e brandies muitas vezes serviram como referencial (LÉAUTÉ, 1990, NYKÄNEN e SUOMAILENEN, 1983 ; WANIKAWA et al.; FITZGERALD et al., 2000). Em cachaças, a partir do final da década passada, verificou-se a identificação e quantificação de um grande número de componentes minoritários de importância para o flavor, como ésteres, álcoois (BOSCOLO et al., 2000, NÓBREGA, 2003), aldeídos, ácidos (NASCIMENTO et al.,1998a,b,c); cetonas, compostos fenólicos (BETTIN, 2001; CARDOSO et al., 2003b), terpenos, lactonas, furanos e pirazinas (JANZANTTI ,2004). Portanto, os componentes majoritários do coeficiente de congêneres não são suficientes para explicar a qualidade das bebidas destiladas, assim como a quantificação dos compostos voláteis não permite conhecer a sua efetiva contribuição para o aroma final (CALDEIRA et al., JANZANTTI, 2004). O recente desenvolvimento da conjugação de técnicas de análise química e sensorial tem permitido associar o os componentes presentes em uma extensa faixa de concentração a determinados flavors e off-flavors, assim como ao aroma final. Dentre outras ferramentas hoje disponíveis, a Cromatografia em Fase GasosaOlfatometria (GC-O) no qual o olfato humano assume o papel de detector, tem sido de grande utilidade no conhecimento dos aromas-chave que eluem de uma coluna cromatográfica. A associação desta técnica com a GC-MS tem permitido verificar a respectiva contribuição odorante individual para o aroma destas bebidas alcoólicas, em especial o importante papel de componentes com baixos limiares de percepção 97 olfativa (thresholds) encontrados em nível traço (ppb) e ultratraço (ppt) (JANZANTTI; CALDEIRA et al., 2004; WANIKAWA, et al., 2002). Estas técnicas diferem fundamentalmente na forma de avaliar o aroma, isto é, quanto ao número de provadores, no tipo de escala e no tipo de extratos utilizados, existindo métodos de diluição (Charm analysis, AEDA), métodos de freqüência de detecção, e métodos de tempo-intensidade (CALDEIRA et al., 2004). Todas as considerações apresentadas até o presente Capítulo são importantes para o conhecimento dos processos de produção da cachaça e outras bebidas destiladas, necessário a melhor compreensão da contribuição inédita deste trabalho de tese, que envolve, principalmente, a adequação de práticas de produção para a reduzir os teores de carbamato de etila e contaminantes inorgânicos em cachaças, sem prejuízo de sua qualidade sensorial. 98 4 MATERIAL E MÉTODOS ____________________________________________________ 99 Neste Capítulo, os equipamentos e outros materiais utilizados, assim como as condições de operação ou trabalho são discriminados de acordo com a determinação ou o procedimento experimental realizado. 4.1 ESTABELECIMENTOS PRODUTORES DE CACHAÇA. Os 30 estabelecimentos produtores de cachaça selecionados, perfazendo um total de 32 sistemas de destilação, foram sub-divididos em 5 grupos : I) com 7 colunas de destilação; II) abrangendo 18 alambiques inteiramente em cobre (2 produtores possuem 2 alambiques); III) 5 alambiques em aço inoxidável com as partes ascendentes em cobre; IV) 1 alambique em cobre, para produção de cachaça bidestilada; e V) 1 alambique totalmente em aço inoxidável. 4.2 CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DA RESINA CATIÔNICA UTILIZADA Na Tabela 3 são mostradas as propriedades da resina catiônica utilizada nos experimentos discriminados nos itens 4.3 e 4.4. Tabela 3. Propriedades da resina catiônica DOWEX MARATHON C Tipo Matriz Grupo Funcional/ Forma + Catiônica Fortemente Estireno-DVB, gel Ácido sulfônico / Na Ácida Especificações Capacidade total de troca, min. 2 eq/L Teor de Água (%) 42-48 Tamanho médio da partícula (µm) Esferas totalmente perfeitas (%) Variação do pH Total de lavagem requisitada Regenerante 585 ± 50 95-100 0-14 2-5 volumes de leito 8-12% NaCl 100 4.3 TROCADORES CATIÔNICOS EXPERIMENTAIS E INDUSTRIAIS Como mostrado na Figura 19, os experimentos de percolação dos recémdestilados alcoólicos foram efetuados através de uma ou duas colunas de vidro com 75 cm de leito (resina) e 2,5 cm de diâmetro interno, contendo, em sua parte inferior, uma placa de vidro sinterizado de alta porosidade para suporte da resina. A configuração destas colunas foi resultado da observação das condições típicas de operação para testes com resinas, descritos em manual da “Rohm and Haas”. Os experimentos, discriminados a seguir (ver 4.4), foram realizados, primeiramente, com finalidade de estudar o efeito da redução dos teores de cobre, utilizando essa resina catiônica, na formação do carbamato de etila. Figura 19. Trocadores catiônicos experimentais. 101 Foi, ainda, desenvolvida a avaliação sensorial e físico-química dos destilados tratados e não tratados pela resina. A remoção de excesso de componentes das resinas, necessária ao seu condicionamento adequado, foi efetuada através da percolação de cerca 15 litros de solução de etanol a 50% (v/v). Os trocadores catiônicos industriais são mostrados na Figura 20. As carcaças desses dispositivos ou “filtros” foram manufaturadas em polietileno de alta densidade (PEAD), com 2 cm de espessura e 80 cm de altura do leito, onde a fixação da resina catiônica (cerca de 4 litros em cada trocador) em seu interior foi efetuada através de rosqueamento de idênticas tampas, fabricadas com o mesmo material, sobre as partes superiores e inferiores dos cilindros. Figura 20. Trocadores catiônicos industriais (parte interna da tampa à direita). 102 A resina encontra-se recoberta, em cada uma das extremidades, por uma tela em aço inoxidável . Estes estão fixados, em um dos lados, pela tela e, no outro, pela superfície interna inferior da tampa, que possui um duto central cilíndrico inteiriço, e que possibilita a passagem do destilado através da resina. 4.4 AMOSTRAS E TRATAMENTO COM A RESINA CATIÔNICA SELECIONADA Para a avaliação do efeito do tratamento proposto nos teores de carbamato de etila, as amostras “não tratadas” (in natura), foram coletadas em frascos de vidro, imediatamente após à saída dos resfriadores dos sistemas de destilação. No mesmo instante, parte de cada uma destas amostras (cerca de 1 L) foi percolada na coluna descrita em 4.2 (Figura 19). As amostras percoladas (tratadas) também foram recolhidas em frascos de vidro sob refrigeração, num intervalo de tempo não superior a cerca de 1 h. Parte dessas amostras foi posteriormente dividida em duas frações, uma destinada à determinação do carbamato de etila e outra para a análise físico-química complementar (grau alcoólico, cobre, acidez, etc.), de modo a evitar possíveis contaminações pelo excessivo manuseio dos frascos. A vazão média nas duas colunas foi em torno de 17-20 mL/min. A descontaminação dos frascos utilizados consistiu de tratamento com solução de HNO3 com a 50% v/v, seguida de lavagem com água tridestilada e posterior rinsagem com os próprios recém-destilados durante sua coleta. As 12 amostras destinadas à avaliação sensorial e físico-química dos congêneres (capítulo 7), provenientes de 6 destilados de cana-de-açúcar, foram coletadas de modo similar e simultâneo ao procedimento anterior. Neste caso, três destilados foram provenientes da fração “coração” de alambiques inteiramente em 103 cobre, sendo dois da Região Sul e um do Centro-Sul do Estado do Rio de Janeiro. Os outros três destilados foram produzidos em colunas de destilação da Região Noroeste. Do volume total de cada destilado (cerca de 9 L), cerca da metade (4,5 L) foi mantidas] intacta. A outra metade foi percolada na resina e coletada como supracitado, num intervalo de tempo proporcional ao volume utilizado (cerca de 2,5 h), perfazendo um total de 6 pares de amostras para cada produto, também designadas por “tratadas” e “não tratadas”. Na pré-seleção dos panelistas (julgadores) para a análise sensorial foi utilizada uma amostra de cachaça a 39% vol. Outra amostra foi obtida pela adição de glicose anidra (3% m/v) à metade do volume deste destilado. 4.5 DETERMINAÇÃO DO CARBAMATO DE ETILA As determinações do carbamato de etila foram realizadas a partir de adaptações do método de Hesford e Schneider (2001). Neste, as amostras não sofrem qualquer tratamento prévio, no que se distingue, basicamente, do método de Canas et al. (1994). Foram utilizados 2 procedimentos em equipamentos distintos. O primeiro procedimento (A), desenvolvido com base no planejamento da presente tese, relaciona-se, de modo geral, com os resultados descritos no Capítulo 5. O segundo (B), desenvolvido posteriormente pela Divisão de Metrologia Química (DQUIM) do INMETRO (2004), está relacionado, em sua maior parte, com os resultados constantes no Capítulo 6. Os dois procedimentos são similares. Sua principal diferença é a utilização de diluições das soluções-estoque e amostras com micropipetas, em (A); enquanto em (B) o fracionamento das amostras e diluições se processam gravimetricamente. 104 Neste caso, o resultado obtido, em µg/kg, deve ser multiplicado pela densidade absoluta da amostra a 20°C (ALKOHOLTABELLE, 1991), de modo a ser obtido um resultado em µg/L, conforme norma vigente (BRASIL, 2005a). 4.5.1 Parâmetros analíticos em (A) Equipamento: Cromatógrafo a gás marca HP mod. 6890, acoplado a um espectrômetro de massas HP mod. 5973 (Figura 21). Figura 21. Cromatógrafo a gás acoplado a detector de massas (LANOI/ INT/RJ). Condições de Operação: Coluna capilar: HP INNOWax ; 30 m de comrprimento x 0,25 mm de diâmetro interno, recoberta com filme de polietileno glicol (PEG) de alta polaridade (0,25 µm de espessura). Modo de injeção: Split 5:1. Vazão (He) : 1,0 mL/min. Programação de temperatura do forno: 40°C até 185°C , em 10°C/min; 185°C até 230°C, em 30°C/min; 230°C durante 4 min. Injetor: 230°C. Detector (MS): 260°C. 105 Modo de aquisição : Monitoramento seletivo de íons (SIM) para os íons m/z 62 e 74, em baixa resolução. Solvent delay : 2,0 min ; TR (tempo de retenção) = 11,19 min carbamato de etila / 12,3 min carbamato de n-propila (padrão interno). Procedimento: a) Solução-estoque de carbamato de etila (CE); cerca de 250 mg/L: preparada a partir da dissolução de 12,5 mg de CE, pesados com resolução de 0,1mg, em etanol a 45% (v/v). A solução resultante foi transferida, quantitativamente, para balão volumétrico calibrado de 50 mL, avolumado com etanol a 45% vol. b) Solução-estoque de carbamato de n-propila (n-CP); cerca de 400 mg/L: preparada a partir da dissolução de 10 mg de n-CP, pesados com resolução de 0,1mg, em etanol a 45% (v/v). A solução resultante foi transferida, quantitativamente, para balão volumétrico calibrado de 25 mL, avolumado com etanol 45% (v/v). c) Soluções analíticas: Contendo cerca de 25; 50; 100; 150 e 200 µg/L de CE e 400 µg/L de n-CP. Preparadas, convenientemente, por diluição das solução-estoque (a) e solução-estoque (b) em etanol a 45% v/v . d) Preparação das amostras: transferiu-se 45 µL da solução estoque de n-CP para balão volumétrico de 50 mL, contendo cerca de 30 mL da amostra in natura. Completou-se o volume (50 mL) com cerca de 20 mL de amostra, misturando-se adequadamente. e) Injeção: injetou-se 1 µL de cada uma das amostras e soluções analíticas no cromatógrafo, em triplicata, depois de transferidas para distintos vials. 106 Determinação do CE: Efetuada a partir da inserção da razão dos sinais integrados medidos para a amostra e respectivo padrão interno na curva de regressão, relativa ao método por padronização interna (BONATO, 1995 ; RIBANI et al., 2004). Reagentes: - carbamato de etila Sigma Aldrich, mínimo 99% m/m (CAS: 51-79-6). - carbamato de n-propila (CAS: 627-12-3 . - etanol: Merck p.a. - diclorometano p.a. (Merck). - cloreto de sódio (Merck). Outros materiais: - balança analítica Sartorius CP 244 S, com resolução de 0,1 mg. - balões volumétricos de 10, 25, 50, 100, 200 e 250 mL. - vials de 1 e 2 mL. - micropipetas. 4.5.2 Parâmetros analíticos em (B) Equipamento: Cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massas Shimadzu, mod. GCMSQP2010. Condições de Operação: Coluna capilar: HP-FFAP; 50 m de comrprimento x 0,25 mm de diâmetro interno, recoberta filme polar de PEG esterificado (0,3 µm espessura). Modo de injeção: sem divisão de fluxo(splitless). Vazão (He): 1,2 mL/min. 107 Injetor: 250ºC. Programação de temperatura do forno: 90°C durante 1min; 90°C até 150°C, em 10°C /min; 150°C até 220°C em 30°C /min. Fonte: 220°C. Interface : 220°C. Modo de aquisição: SIM. Íons monitorados : m/z = 62 e 74. Tempo de aquisição dos íons: em intervalos de 0,2 s. Procedimento: a) Solução-estoque de CE (cerca de 7,0 mg/kg): preparada a partir da dissolução de 7,0 mg de CE em cerca de 1000 g de solução de etanol/H2O 40% (m/m), exatamente pesados. b) Solução-estoque de n-CP (cerca de 50 mg/kg): preparada a partir da dissolução de 5,0 mg de n-CP 1000 g de solução de etanol/H2O 40% (m/m), exatamente pesados. c) Soluções analíticas: contendo, aproximadamente, 10 ; 20; 50; 100; 200; 300; 400; 500 e 600 µg/kg de CE e cerca de 250 µg/kg de n-CP em cada solução. Preparadas a partir de diluições das soluções estoque (a) e (b) com a solução de etanol/H2O 40% (m/m), utilizando pipeta graduada de 5 mL. d) Preparação das Amostras: Adicionou-se 1g de cachaça a 1g da solução de padrão interno. A mistura foi homogeneizada em agitador tipo vórtex por 10 segundos e, a seguir, transferida para o vial. e) Injeção e determinação do CE: procedeu-se da mesma forma que em (A). 108 Obs: Quando se utilizou o carbamato de etila deuterado como padrão interno (cerca de 20 amostras), a solução-estoque foi preparada numa concentração de cerca de 5212 µg/kg. Aproximadamente 0,0053 g de carbamato de etila deuterado foi pesado e diluído em 101,310 g da solução de etanol 40% v/v. A seguir, esta solução foi diluída para obter a solução-trabalho cuja concentração final foi cerca de 407 µg/kg. Esta solução-trabalho do PI foi adicionada aos pontos da curva de calibração e as amostras de cachaça na proporção de 1g :1g. Reagentes: Com exceção da utilização adicional do carbamato de etila deuterado (ETHYL-D5, 98%, Cambridge Isotope Laboratories ; CAS:73962-07-9) os outros reagentes são os mesmos especificados no procedimento(A). Outros materiais: - frascos de 250 mL e 500 mL, com tampa. - frascos de vidro de 2, 10 e 125 mL. - balança METTLER TOLEDO XS 205. - balança METTLER TOLEDO PR 1203 (para pesagem dos frascos de 250 e 500 mL. - vials de 1 e 2 mL. - repipetador automático. - pipeta Pasteur. - pipeta graduada de 5 mL. - luvas próprias para pesagem. Observação: Nos dois procedimentos, reagentes e padrões foram dissolvidos em água proveniente de sistema Milli-Q. 109 4.6 DETERMINAÇÃO DO GRAU ALCOÓLICO E DO pH O grau alcoólico foi determinado pelo método densitométrico da AOAC 982.10 (1995), utilizando um densímetro ANTON PAAR DMA 48, em 20°C. Uma tabela oficial foi usada para transformar os resultados em densidade (20°C /20°C) para grau alcoólico (% vol) a 20°C (MAPA, 1986). As medidas do pH dos destilados foram efetuadas de acordo com método da OIV (1994). 4.7 ANÁLISE DOS CONGÊNERES O furfural foi determinado a partir do método 960.16 da AOAC (1995) por espectrofotometria no UV, em 277 nm, por meio de um espectrofotômetro de UVVIS VARIAN mod. 634. Os teores de acidez volátil foram medidos conforme método volumétrico oficial (neutralização com NaOH 0,1M) do MAPA (BRASIL, 2005b, 1986). A análise dos congêneres suplementares foi realizada de acordo com o método 968.09 da AOAC (1995), utilizando um cromatógrafo a gás HP 6890, com detecção por ionização de chama (FID). Transferiu-se 50 mL do destilado para um balão volumétrico de 50 mL, onde foi adicionado 25 mg de 3-pentanol (em triplicata). Do mesmo modo, este padrão interno foi também adicionado às soluções contendo concentrações conhecidas de aldeído acético, acetato de etila, álcoois n-propílico, isobutílico e isoamílicos. Estes analitos foram separados usando uma coluna capilar Carbowax 20M (50 m x 0.2 mm diâmetro interno x 0.2 m de espessura do filme). Condições de operação: - Vazão do hidrogênio (gás de arraste) na coluna: 0,7 mL/min. - Quantidade injetada: 1 µL. - Divisão: 1:10. 110 - Forno: A coluna foi mantida a 50°C por 10 min e, então, elevada em 5°C/min, até 130°C, onde foi mantida nesta temperatura por 15 min. - Detector de ionização de chama (FID): 160°C. - Injetor: 120°C. - Detector de ionização de chama (FID): 160°C. Soluções analíticas: Contendo 40 mg/L ou 80 mg/L de aldeído acético, acetato de etila, metanol, álcool n-propílico, álcool isoamílico e álcool isobutílico. - Padrão Interno: 3-pentanol. Obs. : Todos os padrões utilizados foram de grau analítico. As concentrações de acetato de etila, determinadas por GC-FID, foram ainda comparadas com o teor em ésteres totais, calculados pelo método colorimétrico 972.07 da AOAC (1995), de modo a verificar se o coeficiente de congêneres poderia ser significantemente alterado pela presença de outros ésteres. Neste método, os ésteres reagem quantitativamente com o cloridrato de hidroxilamina para formar o ácido hidroxâmico em solução alcalina que, após acidificação, forma um complexo 3+, colorido com os íons Fe cuja absorvância é medida em 525 nm. - Reagentes de grau analítico utilizados: cloreto férrico hexaidratado (FeCl3.6H2O); ácido clorídridrico (HCl); hidróxido de sódio (NaOH); cloridrato de hidroxilamina (H2NOH). 111 4.8 ANÁLISE DE CONTAMINANTES METÁLICOS E OUTROS CÁTIONS 4.8.1 Métodos analíticos Para a análise de Zn, Pb, Cd, Fe e Cu nas 12 amostras relativas à avaliação sensorial e físico-química dos destilados tratados e não tratados (seção 7), foi empregado o método 200.7 da Environment Protection Agency (EPA, 1994), por Espectrometria de Emissão Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP- OES), adaptado para a análise de matrizes alcoólicas, a partir de um instrumento Perkin Elmer Optima 4300 DV. Nas amostras suplementares, a determinação do cobre foi realizada, principalmente, conforme método da AOAC (1995), por Espectrometria de Absorção Atômica com Chama (FAAS), através de dois espectrômetros de absorção atômica (VARIAN modelo 1475 e PERKIN-ELMER modelo 3300). Em alguns casos, de modo a reduzir o LQ do cobre na cachaça, as amostras foram tratadas conforme descrito em 4.8.2. Um fotômetro de chama Micronal B262 foi usado na determinação do sódio (Na), de acordo com o método 26.1.16 da AOAC (1995), adaptado para o grau alcoólico e conteúdo em sódio das amostras. Os métodos da American Public Health Association (APHA,1995) por Espectrometria de Absorção Atômica com Geração de Hidretos (HG-AAS) foram empregados para a determinação de As e Se. Na determinação de Hg foi utilizado o método da APHA (1995) por Espectrometria de Absorção Atômica com Vapor a Frio (CV-AAS). 112 4.8.2 Tratamentos prévios das amostras e curvas analíticas Para as análises por ICP-OES foi utilizado um condensador de refluxo tipo “dedo-frio” para evaporar 20 mL das amostras de destilados alcoólicos de cana-deaçúcar até um volume de cerca de 3 mL, de modo a eliminar o efeito do etanol no plasma. Os extratos resultantes foram rediluídos a 20 mL com solução de HNO3 a 5% (v/v). Nos métodos por HG-AAS e CV-AAS, 50 mL das amostras e um branco, consistindo de 50 mL água desionizada, foram transferidos para frascos de digestão por microondas. A seguir, a cada um desses frascos foram adicionados 3 mL de HNO3 e 2 mL of HCl. A digestão processou-se conforme programa previamente selecionado. No método por Fotometria de Chama as amostras não sofreram nenhum tratamento prévio, e as soluções analíticas utilizadas na determinação de Na foram dissolvidas em solução de etanol (45% v/v) contendo 1; 5; 10; 15 e 20 mg Na/L . O método da AOAC (1995) para a determinação do cobre também não utilizou nenhum tratamento prévio, corrigindo-se o efeito da matriz através de soluções analíticas dissolvidas em etanol a 45% (v/v). Em alguns casos, este analito foi concentrado por vaporização, com o objetivo de eliminar a maior parte do etanol. O concentrado foi subseqüentemente tratado com HNO3 : H2O (1:1 v/v) and HCl: H2O (1:1 v/v), e o cobre determinado a partir de curvas analíticas preparadas a partir de soluções-padrão contendo 0,2; 0,5; 1,0; 2,0; e 4,0 mg/L de cobre, dissolvidos em HCl 0,5 M. Nos métodos por ICP-OES, HG-AAS e CV-AAS, as curvas analíticas foram construídas a partir de 5 concentrações conhecidas, num intervalo de concentrações 113 adequadas, preparadas através de diluições de uma solução-estoque contendo os analitos. Para todos os métodos descritos, os resultados foram obtidos através das respectivas equações de regressão e os coeficientes de correlação da curvas de calibração foram sempre superiores a 0,997. Obs: Todos os reagentes utilizados foram de grau analítico e os padrões de grau cromatográfico, espectrofotométrico ou analítico. 4.9 TESTES ESTATÍSTICOS UTILIZADOS NOS ENSAIOS FÍSICO-QUÍMICOS As curvas de calibração foram submetidas ao teste de Cochran para avaliar a homogeneidade das variâncias a um nível de significância de 5%. Quando o valor de Cochran calculado (Ccalc.) é menor que o valor tabelado (Ctab.), as variâncias permanecem homogêneas na faixa de concentrações utilizadas, caracterizando um comportamento homocedástico, pré-condição para construir a curva analítica através de um modelo de regressão linear (MASSART et al.,1997). Quando necessário, o teste de Grubbs foi utilizado para verificar a existência de valores aberrantes (outliers), principalmente nos ensaios relativos ao carbamato de etila (n 3). O teste F de Snedecor para comparação de desvios-padrão foi empregado para avaliar a homogeneidade das variâncias de resultados de diferentes métodos ou grupo de resultados. Esse teste determina a forma de calcular o valor de t quando duas médias são comparadas (MILLER e MILLER, 1993; INMETRO, 2003). O teste t pareado foi utilizado para avaliar os resultados obtidos a partir de amostras com composições diferentes ou para verificar a existência de diferença significativa entre 2 (dois) métodos (VOGEL, 2002). 114 4.10 CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO As características de desempenho utilizadas para verificar a qualidade dos resutados obtidos foram a Exatidão, a Precisão, a Sensibilidade, a Seletividade e os Limites de Detecção e Quantificação. Com o objetivo de melhor apresentar sua discussão, essas características e os critérios de aceitação foram definidos e discutidos no Capítulo 5. 4. 11 ANÁLISE SENSORIAL DESCRITIVA A Análise Descritiva Quantitativa (QDA) foi realizada de acordo com STONE et al. (1974). 4.11.1 Pré-seleção da equipe A etapa de pré-seleção foi realizada com 30 indivíduos, consumidores do produto e com disponibilidade de tempo, por meio da análise seqüencial de Wald (AMERINE et al., 1965). Foram utilizados testes triangulares de diferença com amostras de cachaça na sua formulação original e manipulada laboratorialmente com adição de glicose D, as quais apresentavam diferença significativa entre si ao nível de 0,01%. Para determinar o limiar de percepção da glicose D na cachaça comercial, 30 indivíduos testaram várias concentrações em teste pareado de diferença quanto ao gosto doce. Os testes estabeleceram em 3% m/v a menor concentração de glicose em que foi estabelecida diferença significativa de 0,01%. Na análise seqüencial de Wald (AMERINE et al., 1965), aplicada na pré-seleção dos julgadores, a amostra original e a contendo 3% de glicose foram empregados nos testes triangulares. Para aferir a habilidade foram utilizados os seguintes 115 valores : p0 = 0,45 (máxima inabilidade aceitável) e þ = 0,70 (mínima inabilidade aceitável). Para os riscos alfa e beta foi utilizado o valor de 0,05. 4.11.2 Treinamento da equipe Doze julgadores pré-selecionados foram utilizados para o levantamento dos atributos sensoriais, por meio do método de rede de Kelly, descrito por MOSKOWITZ (1983), em que os provadores receberam as amostras aos pares, envolvendo todas as combinações possíveis, e listaram em ficha apropriada as similaridades e as diferenças entre as amostras apresentadas, com relação à aparência, aroma, sabor e textura. Esta etapa requereu várias sessões de degustações individuais, familiarizando os julgadores potenciais com as amostras em estudo. Após o levantamento dos termos a equipe se reuniu e, por meio de debate aberto, foram escolhidos os termos apropriados para descrever as amostras, discriminados na Tabela 4, eliminando-se os termos redundantes e correlatos. Cada atributo foi colocado em escala de 15 cm, ancorada na extremidade esquerda pelo termo que correspondia a intensidade mínima e na direita pela intensidade máxima. Desta forma, foi produzida a ficha de avaliação das amostras. Foram realizadas doze sessões de treinamento em grupo até que o líder do painel considerasse as notas dos provadores coerentes. Nessas sessões foram apresentadas, além das amostras, os materiais de referência dos extremos das escalas contidos na ficha de avaliação, mostrada na Figura 22. Para o registro das intensidades de percepção dos atributos empregou-se a mesma ficha de avaliação das amostras, produzida na etapa de treinamento. 116 Tabela 4. Atributos, definições e referências de intensidades da análise descritiva quantitativa em destilados alcoólicos de cana-de-açúcar, antes e após tratamento para remoção de contaminantes. Atributo Aparência Cor âmbar Aroma Alcoólico inicial De melaço de cana Definição Coloração característica de aguardente envelhecida por pouco tempo, amarela translúcida. Referência Ausente: água destilada Intenso: 0,01g de amarelo de metacromo em 200mL de água destilada. Aroma característico de etanol. Fraco: etanol 35% (v/v) Intenso: etanol 70% (v/v) Aroma característico de melaço de cana ou de caldo de cana concentrado. Ausente: etanol a 40% (v/v) Intenso: 1g melado de cana-de-açúcar em 100mL etanol a 40% (v/v) Sabor Alcoólico inicial Sabor de álcool percebido no instante que a amostra entra em contado com a mucosa bucal. Fraco: etanol a 35% (v/v). Intenso: etanol a 70% (v/v). Melaço de cana Sabor característico de melaço de cana ou gosto doce percebido no caldo de cana concentrado. Ausente: etanol a 40% (v/v). Intenso: 1g de melado de cana-de-açúcar em 100mL de etanol a 40% (v/v). Agressividade Impacto inicial agressivo ou abrasivo, com sensação de pungência. Pouca: fermentado destilado, graduação alcoólica de 42% (v/v). Muita: etanol 45% (v/v) Alcoólico residual Sabor alcoólico percebido após a deglutição da amostra. Fraco: etanol 35% (v/v). Forte : etanol 70% (v/v). Sensação de secura na mucosa oral, semelhante àquela causada de forma intensa por certas frutas verdes, como o caqui e a banana. Pouca: etanol 40% (v/v) Resistência ao deslocamento de um líquido, percebido pelo grau de escorrimento da amostra no copo após ligeiro movimento circular do mesmo. Ausente: Água destilada. Intenso: 0,01g de amarelo de metacromo em 200 mL de água destilada Adstringência Textura Viscosidade visual Muita: 0,4 g de ácido tânico em 100mL de etanol a 40% (v/v). Nota: todos os reagentes utilizados no preparo das soluções de referência foram de grau analítico. 117 Nome: ___________________________________________ Código da Amostra: ________________ Por favor, faça um traço vertical na escala no ponto que melhor descreve a intensidade de cada característica da amostra. AROMA: 1) ALCOÓLICO |_________________________________________________________________________________________________________| FRACO FORTE 2) MELAÇO DE CANA |_________________________________________________________________________________________________________| FRACO FORTE SABOR: 1) ALCOÓLICO INICIAL |_________________________________________________________________________________________________________| FRACO FORTE 2) DE MELAÇO DE CANA |_________________________________________________________________________________________________________| AUSENTE INTENSO 3) AGRESSIVIDADE |_________________________________________________________________________________________________________| POUCA MUITA 4) ALCOÓLICO RESIDUAL |_________________________________________________________________________________________________________| FRACO FORTE 5) ADSTRINGÊNCIA |_________________________________________________________________________________________________________| POUCA MUITA TEXTURA: 1) VISCOSIDADE |_________________________________________________________________________________________________________| POUCA MUITA APARÊNCIA: “ESSA PARTE VOCE FAZ FORA DA CABINE” 1) COR ÂMBAR: |_________________________________________________________________________________________________________| AUSENTE INTENSO Observações: ________________________________________________________________________________________________ Figura 22. Ficha de avaliação das amostras para registro das intensidades de percepção dos atributos (QDA). 118 4.11.3 Seleção dos julgadores Os doze julgadores potenciais que participaram do treinamento foram testados quanto ao desempenho durante a etapa de seleção da equipe sensorial. As doze amostras foram aleatorizadas, em apresentadas de forma monádica, em quatro repetições laboratório com cabines individuais, servidas em cálices codificados e cobertos com vidro de relógio. Para o registro das intensidades de percepção dos atributos empregou-se a ficha de avaliação das amostras produzida na etapa de treinamento. Os julgadores foram selecionados com base no poder de discriminação entre amostras, reprodutibilidade e concordância entre provadores (DAMÁSIO e COSTEL, 1991). Para tanto, em cada atributo, foi realizada a análise de variância (ANOVA), com duas fontes de variação (amostra e repetição) por julgador. Foram selecionados os julgadores com base nos valores de Famostra significativo para p 0,30 e Frepetição significativo para p 0,05 e concordância das médias com as da equipe, em que os valores médios de cada provador se apresentavam na mesma ordem e próximos à média da equipe para cada atributo avaliado. 4.11.4 Avaliação das amostras Seis julgadores aprovados na etapa de seleção, três homens e três mulheres com idades variando entre 22 e 43 anos, participaram das avaliações das 12 amostras de destilados alcoólicos de cana-de-açúcar. As amostras foram servidas sob condições laboratoriais, em cabines individuais, em cálices incolores codificados com números de três dígitos e cobertos com vidros de relógio. 119 Todas as amostras foram apresentadas de forma monádica, com quatro repetições aleatorizadas por julgador, num total de 48 sessões distribuídas em 24 dias (STONE e SIDEL, 1993). 4.11.5 Teste de preferência sensorial Cada par de amostras, antes e após tratamento, foi testado quanto à preferência por 30 consumidores, totalizando 180 consumidores com idades variando entre 18 e 63 anos, sendo 59% do sexo masculino. Os testes foram realizados sob condições laboratoriais, empregando-se o método de comparação pareada conforme descrito por STONE e SIDEL (1993) e mostrado na Figura 23. Nome: _____________________________________ Sexo: _______ Idade:______ Por favor, prove as amostras da esquerda para direita e circule o código da amostra de sua PREFERÊNCIA. Coma o pão, enxágüe a boca entre as degustações e espere trinta segundos. 321 737 Comentários:____________________________________________________________ Figura 23. Ficha de teste de preferência 4.11.6 Teste de aceitação sensorial As cachaças antes e após tratamento foram testadas quanto à aceitação sensorial por 360 consumidores, 30 consumidores por amostra, com idades variando entre 20 e 56 anos, sendo 63% do sexo masculino. Os testes foram realizados sob condições laboratoriais, empregando-se a escala hedônica verbal 120 estruturada e a escala de atitude (FACT), ambas de nove pontos, preconizadas por STONE e SIDEL (1993) e mostradas na Figura 24. Nome: ......................................... ..............................Idade:.......... ....Sexo: M ( ) F ( ) Por favor, avalie a amostra e use a escala abaixo para indicar o quanto você gostou ou desgostou do produto. CÓDIGO DA AMOSTRA:.................... 9 - gostei muitíssimo 8 - gostei muito 7 - gostei moderadamente 6 - gostei ligeiramente 5 - nem gostei/nem desgostei 4 - desgostei ligeiramente 3 - desgostei moderadamente 2 - desgostei muito 1 - desgostei muitíssimo Por favor, avalie a amostra e use a escala abaixo para indicar o quanto você estaria disposto a consumir esse produto. 9 - beberia sempre que tivesse oportunidade 8 - beberia muito freqüentemente 7 - beberia freqüentemente 6 - gostei e beberia de vez em quando 5 - beberia se estivesse acessível, não me esforçaria para consegui-lo 4 - não gostei, mas beberia ocasionalmente 3 - raramente beberia 2 - só beberia se não pudesse escolher outra bebida 1 - só beberia se fosse forçado Comentários: Figura 24. Ficha de tese de aceitação 4.11.7 Análises estatísticas Os resultados obtidos na QDA, em cada par de amostras, antes e após tratamento, foram tratados estatisticamente pelo teste F da análise de variância ao 121 nível de 5% de significância. Empregou-se o modelo de delineamento em blocos casualizados com as seguintes fontes de variação: julgador (com cinco graus de liberdade); amostras (com um grau de liberdade); e interação julgador e amostra (com dez graus de liberdade). Os resultados do teste de aceitação foram avaliados com as amostras aos pares, antes e após tratamento, empregando-se o modelo de delineamento em blocos casualizados (julgadores), ao nível de 5% de significância. Os resultados do teste de preferência pareada das amostras, antes e após tratamento, foram avaliados segundo a tabela de ROESSLER et al. (1978) ao nível de 5% de significância. Os valores médios obtidos na QDA e nas análises físicoquímicas, exceto nas análises de íons metálicos, foram tratadas pela análise de componentes principais em matriz de correlação. Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa estatístico SAS (1989). 122 5 REDUÇÃO DOS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA E COBRE EM CACHAÇAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UTILIZANDO RESINAS CATIÔNICAS ____________________________________________________ 123 Até a publicação da Instrução Normativa N° 13 (BRASIL, 2005a), o controle e levantamento dos teores de carbamato de etila em cachaças vinham sendo restritos a determinadas regiões produtoras, principalmente, dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio de Janeiro. De modo geral, esse controle destinava-se, unicamente, à adequação desses produtos para atender o limite máximo de 150 µg/L, exigência de um grande número de importadores. Exceção expressiva, os Estados Unidos estabeleceram um teor máximo de 125 µg/L para esse contaminante nas bebidas destiladas procedentes de outros países. Como relatado detalhadamente em 2.7.5, as principais medidas preventivas para redução dos teores de carbamato de etila em cachaças vêm se consistindo na bidestilação e na utilização de artefatos em cobre nas partes ascendentes das colunas, com finalidade de retenção do cianeto, considerado um dos precursores do carbamato de etila. Este trabalho teve como objetivos: - Mostrar a viabilidade técnico-econômica da redução dos teores de carbamato de etila e cobre em cachaças, a partir de uma resina catiônica Dowex Marathon C, de modo a atender exigências do mercado externo e interno. - Otimizar/avaliar parâmetros analíticos que assegurem o adequado desempenho do método analítico utilizado na determinação do carbamato de etila em cachaças, incluindo experimentos suplementares relativos à revalidação da metodologia analítica por GC-MS nessas matrizes. - Estabelecer relação entre os teores de cobre (catalisador) e os de carbamato de etila em cachaças a partir de experimentos in loco. 124 5.1 A PRODUÇÃO DA CACHAÇA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Conforme dados disponibilizados pelo SEBRAE-RJ e por técnicos do MAPA, estima-se que o Estado do Rio de Janeiro possua cerca de 350 estabelecimentos produtores de cachaça e mais de 50 de estandardizadores dos mais variados perfis, considerando o aspecto legal, as práticas e os processos de produção. Como produtores são considerados apenas os que fermentam o caldo de cana e destilam. Desses, cerca de 20 - 25% encontram-se registrados no MAPA, os quais são denominados legais ou formais. Devido à fiscalização, os produtores informais encontram maiores dificuldades de comercializar sua produção, mas muitos optam por permanecer nessa condição, seja pela desinformação ou para evitar o aumento de encargos financeiros, como o pagamento de impostos e contratação de responsável técnico. A Figura 25 mostra o perfil dos sistemas de destilação fluminenses. Os sistemas em batelada (alambiques) estão distribuídos por todo o Estado. Contudo, os alambiques em cobre predominam nas regiões centro e sul, onde os alambiques em aço inoxidável ocorrem em menor número. As colunas de destilação estão localizadas, em sua grande maioria, nas regiões norte e noroeste, sendo responsáveis pela maior parte da produção total, estimada em cerca de 60 milhões de litros/ano. Como resultado da diversidade dos sistemas de produção, as cachaças apresentam aspectos sensoriais e de qualidade bem diferenciados. 125 126 5.2 O PROGRAMA DE EXCELÊNCIA DA CACHAÇA E A AVALIAÇÃO DOS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO As primeiras iniciativas para promover a avaliação dos teores de carbamato de etila em cachaças produzidas no Estado do Rio de Janeiro resultaram de iniciativas da Delegacia Federal de Agricultura no Rio de Janeiro (DFA/RJ/MAPA), hoje Superintendência Federal de Agricultura (SFA/RJ) que, em conjunto com a Associação dos Produtores e Amigos de Cachaça do Estado do Rio de Janeiro (APACERJ) e o SEBRAE, instituíram, no ano de 2000, o Programa de Excelência da Cachaça (APRESENTAÇÃO DFA/ RJ, 2000). Esse “Programa” foi criado com o objetivo principal de implementar um núcleo de conhecimento científico/tecnológico, dispondo de meios para promover o desenvolvimento de atividades propagadoras imprescindíveis à melhoria da qualidade das cachaças no Estado do Rio de Janeiro, de modo a atender padrões de qualidade internacional, objetivando o aumento da exportação e do consumo interno. Essas atividades incluíam a orientação e treinamento dos técnicos e produtores envolvidos, assim como o estabelecimento de uma base sólida entre produtores e entidades participantes, de modo a garantir a sua continuidade. Outro objetivo foi instituir um Selo de Qualidade, a exemplo de parâmetros de conformidade estabelecidos pela Associação Mineira de Produtores de Aguardente de Qualidade (AMPAQ). Quinze estabelecimentos produtores registrados participaram, efetivamente, do programa. Com o desenvolvimento do mesmo gerou-se, com base em dados decorrentes de visitas e de certificados de análise, um Relatório Preliminar que, principalmente, a exemplo de um trabalho realizado em Minas Gerais (VARGAS, E.A. e GLORIA, M.B, 1995), associou os teores em acidez volátil e cobre acima dos 127 limites estabelecidos, principais não conformidades com a legislação da época (BRASIL, 1974,1997), com deficiências na assepsia dos processos de fermentação e de falta de regularidade na limpeza das serpentinas dos alambiques. Devido a problemas de operacionalização, em parte decorrentes da não disponibilização de recursos suficientes, o Programa sofreu certa descontinuidade no ano de 2002. Contudo, já no final desse ano verificou-se uma razoável evolução das instalações dos estabelecimentos envolvidos, assim como do processo de produção das cachaças, o que resultou em significativa redução dos teores de acidez volátil e cobre. Conseqüentemente, ocorreu uma melhoria na qualidade dos produtos. Para atingir este ponto foi fundamental o maior acúmulo de conhecimentos técnicos adquiridos pela maioria dos produtores envolvidos. A adequação dos teores de carbamato de etila ao limite de 150 µg/L, assim como dos níveis de certos contaminantes metálicos a limites internacionais, foi uma das metas a serem alcançadas pelas cachaças a serem certificadas, as “Cachaças de Excelência”. Como não havia equipamentos disponíveis no MAPA/RJ para a adequada avaliação dos teores do carbamato de etila, suas determinações iniciais, realizadas em 2003, só se tornaram possíveis com o desenvolvimento do presente trabalho de tese no Instituto de Química da UFRJ, através do Laboratório de Desenvolvimento Analítico (Lada/IQ/UFRJ) e cooperação técnica do Laboratório de Análise Orgânica Instrumental, do Instituto Nacional de Tecnologia (LANOI/INT/RJ). Em 2004, o INMETRO (2005, 2006a,b) passou a concentrar esforços e investimentos altamente significativos em infra-estrutura, validação e acreditação e certificação de diversas entidades com o de objetivo de suprimir barreiras técnicas à exportação da cachaça. Essas barreiras se constituíam, principalmente, nos altos 128 teores de carbamato de etila e cobre. Na área laboratorial, incluindo o planejamento e implementação dos chamados “Ensaios de Proficiência da Cachaça”, esses trabalhos tiveram início e continuaram a ser desenvolvidos na Divisão de Metrologia Química (DQUIM). Nesse mesmo ano, durante o desenvolvimento de metodologia para determinação do carbamato de etila e, em função de problemas operacionais com o espectrômetro de massas do INT, a DQUIM também passou a colaborar na realização de ensaios complementares relativos ao carbamato de etila da presente tese, que se tornaram fundamentais para o seu desenvolvimento e conclusões. Após a publicação da IN 13, do MAPA, em 2005, o INMETRO passou, numa primeira fase, a produzir materiais de referência (cachaças) para cobre, carbamato de etila e metanol, assim como implementar a certificação de laboratórios para a realização dos ensaios relativos a esses analitos. 5.3 SELEÇÃO DA RESINA CATIÔNICA A escolha da resina catiônica Dowex Marathon C, um copolímero do estireno– DVB, grupo sulfônico (gel), na forma sódica, abrangeu as seguintes características: a) alta seletividade para o cobre; b) distribuição uniforme do tamanho das esferas, o que resulta numa rápida cinética de troca e regeneração mais eficaz; c) alta capacidade (DOWEX MARATHON C, 2006) ; d) alta relação custo/benefício; e) disponibilidade comercial . 5.4 SELEÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS PRODUTORES O principal critério para a seleção dos 11 estabelecimentos produtores fluminenses consistiu dos sistemas de destilação diferenciados. Foi, ainda, levado 129 em conta o interesse dos produtores, a relevância comercial, a tradição das cachaças e sua situação legal (registro no MAPA). 5.5 FUNDAMENTAÇÃO DA VIABILIDADE DA UTILIZAÇÃO DE RESINAS CATIÔNICAS PARA REMOÇÃO DO CARBAMATO DE ETILA E DO COBRE EM CACHAÇAS Descritos em 2.8.3, os estudos de Oliveira (1970), empregando resinas catiônicas para promover a redução do cobre em cachaças, mostraram um decréscimo em torno de 30% nos teores de ésteres e álcoois superiores, de importância fundamental no flavour das cachaças. Esse fato veio a desestimular os estudos relativos às aplicações dessas resinas nesses destilados, tanto para promover a redução de contaminantes metálicos, como para verificar o efeito da supressão catalítica do cobre na formação do carbamato de etila. Contudo, hoje são comercializadas, com alto valor agregado, inúmeras cachaças, envelhecidas ou não, com variados graus de retificação (bidestiladas, tridestiladas, multidestiladas, etc.). Algumas alcançaram uma notoriedade superior a tradicionais produtos “artesanais”. Por outro aspecto, os estudos de RIFFKIN et al. (1989), utilizando uma resina catiônica quelante de ácido fraco (carboxílico) e seu sal, de nome comercial Amberlite IRC 718, com razoável especificidade para a retenção do cobre, demonstraram, experimentalmente, a ocorrência da redução dos teores de carbamato de etila em recém-destilados de malt whiskies (low wines) percolados numa coluna contendo essa resina. O efeito da remoção do cobre a níveis não detectáveis tornava a formação do carbamato de etila independente do tempo. Desse modo, não ocorria aumento posterior dos níveis de carbamato de etila nos recém-destilados a partir da supressão do cobre. 130 Quando obtido na presença de 0,88 mg/L de cobre sem percolação na resina, este destilado, após 24 h, aumentou sua concentração inicial de carbamato de etila, de 15 µg/L, para 47 µg/L. Em outro experimento similar constatou-se que na presença de cobre e imediatamente após a destilação 1/6 (10 µg/L, cerca de 17%) do carbamato de etila total foi formado; 20% após 2h; 30% após 4 h; 57% após 8 h; 82% após 24 h; e após 48 h, 100% ( 60 µg/L). Embora não fosse estabelecida, experimentalmente, uma relação entre os teores de cobre e do carbamato de etila, cerca de 0,88 ppm de cobre, provenientes do sistema de destilação experimental utilizado, foram considerados suficientes para catalisar a completa formação do carbamato de etila. Quanto às aplicações na indústria de alimentos, como mencionado em 2.8.3, o emprego de resinas vem se constituindo em prática cada vez mais difundida. Além do mais, a resina selecionada no presente trabalho se apresenta como uma das duas estruturas químicas poliméricas autorizadas pela CEE (1984) para utilização no setor vitivinícola. 5.6 CARACTERÍSTICAS DE DESEMPENHO E CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO: CURVAS ANALÍTICAS E DE ADIÇÃO PADRÃO 5.6.1 Linearidade As regressões lineares foram expressas, conforme equações mostradas, a seguir, na Figuras 26, 27 e 28. A Figura 26 mostra os valores obtidos pelo método de padronização externa, relativa ao procedimento (A), e que apresentou um fator de correlação (R) igual a 0.99967. Todas as curvas analíticas utilizadas apresentaram um fator de correlação 131 superior a 0,9900. O valor de R2 (0,9986) revela que 99,86% dos pontos da curva estão alinhados. 25000 Área (CE) 20000 15000 10000 5000 y = 98,491x + 589,85 R2 = 0,9986 0 0 50 100 150 200 250 Carbamato de Etila ( g/L) Figura 26. Curva de calibração do carbamato de etila (CE) pelo método de padronização externa empregando o procedimento A. O cálculo das concentrações do carbamato de etila nas amostras utilizadas foi sempre realizado pelo método de padronização interna. Neste método, no eixo das ordenadas (y) estão dispostos os valores das razões entre as áreas dos picos medidas nas soluções analíticas contendo o carbamato de etila e o carbamato de npropila (padrão interno), sendo x a concentração (C) do carbamato de etila. A homocedasticidade das curvas de calibração por padronização externa e interna (curvas analíticas), uma premissa para o emprego da regressão linear, foi 132 confirmada pelo teste de Cochran, o que retrata a homogeneidade das variâncias na faixa de concentrações utilizada em sua construção. Figura 27. Curva de calibração do carbamato de etila (CE) pelo método de padronização externa empregando o procedimento B. 5.6.2 Sensibilidade A sensibilidade corresponde à mudança na resposta do sinal analítico dividida pela correspondente variação na concentração da inclinação da curva analítica (ou curva de calibração), representada pela sua inclinação (JOINT FAO/WHO, 2004). Como mostram a Figuras 26 e 27 , apesar de a sensibilidade aumentar com a utilização adicional do fragmento m/z 74 ao íon de m/z 62, este procedimento não resultou em diferenças significativas nos limites de quantificação calculados na presença ou na ausência desse íon adicional, como é descrito em 5.6.6. 133 5.6.3 Seletividade e Exatidão Um método é dito seletivo quando, sob condições estabelecidas do ensaio, produz resposta para vários analitos, sendo capaz de distinguir a resposta de um analito daquelas de outros componentes de comportamento (ou estrutura) similar, (JOINT FAO/WHO, 2004; EURACHEM Guide, 1998). Quanto à constatação da identidade do analito, como citado em 2.7.8, constitui processo de rotina verificar se os fragmentos de massa m/z 74 e 89 estão aparecem no tempo de retenção do carbamato de etila, sendo sua presença confirmada quando as percentagens relativas desses íons (m/z 74 e 79) constituem cerca de 20 % das frações de massas do padrão do carbamato de etila (CANAS et al.,1994). Uma alternativa para verificar a seletividade consiste traçar uma curva para cada grupo de amostras teste e comparar suas inclinações. A constatação de suas similaridades comprova que o método analítico é seletivo. Devido à limitação relativa ao elevado custo dos ensaios utilizando a GC-MS, para verificar a ausência de interferências da matriz foi utilizado o método de adição padrão em uma amostra de cachaça armazenada em tonel de ipê (5 m de altura), que foi filtrada antes das adições de 25,2 ; 50,4; 100,8 e 151,2 g/L de carbamato de etila, e 407 g/L de carbamato de n-propila. Como mostra a Figura 28, os coeficientes angulares similares da curva de adição padrão (b) (0,00153) e da curva analítica (a) (0,00151), indicam que o método é seletivo e adequado à quantificação do carbamato de etila nas amostras in natura, mesmo quando a cachaça é submetida ao armazenamento em tonéis de madeira. A exatidão expressa o grau de concordância entre o resultado obtido e o valor aceito como referência (JOINT FAO/WHO, 2004). Os processos mais utilizados para avaliar a exatidão de um método são: materiais de referência, comparação de 134 métodos; ensaios de recuperação; e adição padrão (RIBANI et al., 2004) como procedido neste trabalho e mostrado na Figura 28. Na ausência de amostras certificadas, a exatidão de um método analítico foi, ainda, avaliada pelo teste da recuperação (BRUNO, 1993; RIBANI et al., 2004). 0,7 y = 0,00153x + 0,41438 R = 0,9981 Razão de áreas (CE/CP) 0,6 0,5 Curva Analítica 0,4 Curva de adição 0,3 0,2 0,1 y = 0,00151x + 0,00615 R = 0,9996 0 0 50 100 150 200 250 CE (µg/L) Figura 28. Curvas analítica e de adição de padrão em cachaça armazenada em tonel de ipê pelo método de padronização interna empregando o procedimento A. Como quantidades conhecidas do analito foram adicionadas a uma cachaça “in natura” (Figura 28), o experimento utilizado para a construção da curva de adição padrão também permite estabelecer as porcentagens de recuperação (n=3) em diferentes níveis, a partir da extensão da curva analítica até 800 µg CE/L, sendo que a faixa linear alcança valores acima de 1500 µg/L (CANAS et al., 1994; OIV,1998). Como mostra a Tabela 5, as recuperações obtidas situaram-se na faixa de 100%. 135 Tabela 5 . Concentração de carbamato de etila (µg/L) em cachaça “in natura”, armazenada em tonel de madeira; ± desvio-padrão, n=3; e o teste da recuperação. Concentração inicial Concentração adicionada Concentração Recuperação (%) encontrada 269 ± 5 50 322 ± 5 106 269 ± 5 101 376 ± 4 106 269 ± 5 151 420 ± 6 100 A princípio, devido ao seu número significativo de diferenças, os procedimentos descritos como A e B possam caracterizar diferentes metodologias, consideramos que as mesmas resultam de adaptações do método de Hesford e Schneider (2001), pois todas são fundamentadas na determinação do carbamato de etila por GC-MS, em modo SIM, sem nenhum tratamento prévio das amostras. Dessa forma, para verificar se existem diferenças entre as médias dos teores de carbamato de etila, calculadas pelos 2 procedimentos, foi aplicado o teste t, de Student (MILLER e MILLER,1993), utilizando 3 amostras. Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 6. Tabela 6. Comparação entre as médias dos teores de carbamato de etila (µg/L) obtidas pelos métodos A e B através do teste t em 3 amostras de destilados de cana-de-açúcar. Amostra Método A x n Método B sA* s B* 2,65 tcalculado tcrítico 0.67 2,31 2,78 (nA= nB) CRD(B) tratadaa 62 66 3 VMC não tratadaa 351 355 3 9,70 3,05 0,21 3,1 VMC tratada a 122 119 9 2,30 4,15 2,0 2,1 *desvios-padrão. x = média (CE) 136 A Aplicação do teste G, de Grubbs, resultou na remoção de um total de 3 valores aberrantes. O teste F, de Snedecor, revelou que as variâncias não são homogêneas somente quando comparadas nas duas determinações relativas à segunda amostra (VMC não tratada). Como tcalculado foi menor que tcrítico nas 3 avaliações, podemos considerar que a hipótese nula (H0) é aceita, isto é, que as respostas (ou médias) dos dois procedimentos são iguais. Embora o teste t tenha sido utilizado para verificar a exatidão do método proposto, este teste é freqüentemente utilizado para avaliação da seletividade. Neste caso, recomenda-se que o número de amostras paralelas em cada nível de concentração seja maior ou igual a 7 (sete) para permitir o uso adequado dos modelos estatísticos (INMETRO, 2003). 5.6.4 Precisão e Repetitividade A precisão de um método analítico mede o grau de concordância entre os resultados individuais do ensaio quando o mesmo procedimento é aplicado repetitivamente a uma amostra homogênea. É geralmente expressa em termos do desvio padrão relativo (RSD), também chamado coeficiente de variação (CV). É, geralmente, dependente da concentração do analito, e pode ser estabelecida em função das condições em que é calculada: A Repetitividade é um tipo de precisão relacionada com condições repetitivas, como: mesmo analista; mesmo equipamento e laboratório em um curto espaço de tempo. 137 O critério de aceitação de resultados para a precisão varia com o nível de concentração do analito na amostra (SOARES, 2001). No caso dos teores de carbamato de etila em cachaças, seus teores se situam numa faixa muito variada, o que deve ser levado em conta. Segundo protocolo da ANVISA (BRASIL, 2003b) para avaliações intralaboratoriais, a repetitividade do método é verificada por, no mínimo, 9 (nove) determinações, contemplando o intervalo linear do método, ou seja, 3 (três) concentrações, baixa, média e alta, com 3 (três) réplicas cada ou mínimo de 6 (seis) determinações a 100% da concentração do teste. A repetitividade também pode ser calculada utilizando 10 replicatas de uma mesma amostra, depois de excluir os valores aberrantes (E. I. du PONT, 2005, AQUINO et al., 2006). Em muitos métodos cromatográficos, incluindo a análise de resíduos de pesticidas, cujas faixas de concentrações medidas para os analitos são similares ou até pouco mais elevadas que a faixa de concentração abrangida no presente trabalho, RSDs até 20% são considerados satisfatórios (RIBANI et al., 2004; BRITO et al., 2002). No procedimento A, na faixa de 15 - 30 µg/L, os RSDs (n=3, 5 e 10) variaram de cerca de 2 até 15%. Em concentrações acima dessa faixa os RSDs variaram de 0,5 até cerca de 7%. Esses resultados revelam uma melhor precisão do que os obtidos pelos três laboratórios envolvidos nas avaliações de Hesford e Schneider (2001), cujos RSDs variaram, individualmente, de 3,5 até em torno de 7 (n=8 ou n=9), relativos a uma faixa de concentrações de cerca de 500 e 100 µg/L, respectivamente. Considerado como referência, o procedimento do INMETRO (B), usado em mais de 40 amostras do presente trabalho, resultou, com algumas exceções, nos 138 menores RSDs para todas as faixas de concentrações abrangidas. Somente uma amostra, de concentração equivalente ao LQ, apresentou um RSD de 10%. De cerca de 15 até por volta de 30 µg/L, os RSDs (n=3 ou n=6) apresentaram uma média de 3,5% e, acima dessa concentração, em mais de 95% dos casos, foram inferiores a 3%. Em mais de cerca de 60% do total de resultados os RSDs foram menores que cerca de 1%. Quando calculados utilizando nove replicatas, excluídos os valores aberrantes, os procedimentos (A) e (B) apresentaram RSDs de 1,9 e 3,5, respectivamente. 5.6.5 Estimativa dos limites de detecção e quantificação O limite de detecção, de 3 µg/L, relativo ao procedimento (A), quando se utilizou um instrumento da Hewlett Packard, foi calculado om base em 3 vezes o desvio padrão (s) de 6 determinações independentes do carbamato de etila em uma amostra de cachaça bidestilada com concentração média de 13 µg/L (RSD = 8%), na faixa do limite de quantificação (11 µg/L). O teste de Cochran não revelou a presença de valores aberrantes (outliers). No mesmo instrumento, a estimativa do LD e do LQ com base na medida da concentração do analito que gerou uma relação sinal/ruído igual a 3.s e 10.s, respectivamente, resultou num mesmo LQ (11 µg/L). A coincidência das estimativas dos limites de detecção (LDs) por duas avaliações diferenciadas pode resultar da utilização de parâmetros que incluem a precisão do método utilizado, como é o caso dos áreas ou sinais corrigidos por padrão interno, não computados quando as avaliações dos LDs são baseadas, simplesmente, em desvios dos sinais ou concentrações oriundos de curvas de calibração por padrão externo, cujos maiores valores resultam de sua menor precisão e, ainda, são dependentes da seleção da menor concentração do analito 139 utilizada na construção da curva de calibração. Quando os LDs foram calculados a partir de avaliações que não incluíram essas correções ou eram dependentes dos valores e desvios de pontos da curva analítica pelo método do padrão externo, os resultados foram cerca de 2 a 3 vezes superiores aos primeiros. Por adição de quantidade suficiente de carbamato de etila a uma solução de etanol a 40% vol, de modo a gerar no instrumento GC-MS Shimadzu um sinal igual a 10.s, foi estimado um LQ similar, de 10 g/L. Esses resultados são similares ao de outros métodos por GC-MS encontrados na literatura (Riffkin et al., 1989). 5.7 REDUÇÃO DO CARBAMATO DE ETILA E DO COBRE EM CACHAÇAS UTILIZANDO A RESINA CATIÔNICA SELECIONADA 5.7.1 Eficiência do processo experimental Como mostra a Tabela 7, o tratamento com a resina catiônica Dowex Marathon C permitiu uma drástica remoção do cobre. Reduções dos teores do carbamato de etila na faixa 60 - 80% foram obtidas quando seus níveis nas amostras não tratadas foram superiores a cerca de 80 g/L. Para esses casos, se considerarmos uma redução média da ordem de 65 - 70% , pode-se considerar que o tratamento é eficaz para reduzir os níveis de carbamato de etila a valores inferiores à concentração limite (150 µg/L) para amostras (cachaças) que atingiriam valores de até cerca de 350 µg/L, na ausência do tratamento. Para teores originais menores que cerca de 60 g/L, as reduções foram menos significativas. Em média, as amostras foram analisadas após cerca de 45 dias de efetuada sua coleta. 140 Tabela 7. Teores de carbamato de etila e cobre em amostras de destilados alcoólicos de cana-de-açúcar tratados e não tratados com a resina Dowex Marathon C (± desvio padrão e RSD). Amostra/ Sistema de destilação CE (µg/L) PCA não tratada (1) CD PCA tratada(1) PCA bitratada(1) 714 ± 7 300 ± 5 239 ± 4 PCA não tratada (2) PCA bitratada(2) RSD (%) Redução estimada (%) Cu (mg/L) 0,93 1,58 1,74 58 67 5,00 0,18 0,16 456 ± 5 209 ± 4 1,54 1,89 54 2,01 0,22 BTB não tratada (1) CD BTB tratada (1) 39 ± 2 24 ± 2 7,15 10,07 38 2,50 0,01 BTB não tratada (2) CD BTB tratada (2) 61 ± 2 41 ± 2 3,39 3,76 34 2,40 0,01 VMC não tratada (CD) VMC tratada VMC bitratada 262 ± 6 42 ± 4 76 ± 2 2,13 9,55 2,28 84 71 5,04 0,02 0,01 CRD (A) não tratada 1(AC) CRD (A) não tratada 1(AC) 95 ± 6 26 ± 4 6,79 15,01 73 1,64 <LQ CRD (B) não tratada 1(AC) CRD (B) tratada 1(AC) 195 ± 6 50 ± 5 3,74 9,65 74 3,82 <LQ CQE (A) não tratada (AC) CQE (B) tratada 142 ± 1 48 ± 0 0,91 0,48 66 8,31 0,01 JLG não tratada (AC) JLG bitratada 73 ± 1 19 ± 3 1,43 11,40 75 1,54 <LQ PTJ não tratada - AC PTJ tratada 45 ± 3 33 ± 2 6,67 6,24 27 2,40 0,02 141 continuação: SBH não tratada (AIC) SBH tratada SBH bitratada 79 ± 2 36 ± 1 25 ± 3 2,08 1,15 10,58 54 68 7,55 0,01 < LQ PRI não tratada (AIC) PRI tratada PRI bitratada 35 ± 1 24 ± 1 24 ± 1 2,86 4,17 2,37 31 31 4,46 0,01 < LQ CD: coluna de destilação AC: alambique em cobre; AIC : alambique com panela em aço inox, parte ascendente interna e serpentina em cobre; (A) e (B): 1º e 2º alambiques de um mesmo produtor; (1) e (2) : 1ª e 2ª coletas num mesmo sistema de destilação em datas diferentes. O recém-destilado do alambique EDF (CE < LQ), não incluso na tabela anterior, ao ser eluído na resina permaneceu com um teor de carbamato de etila não detectável. Em alguns casos, o duplo tratamento em vazões mais baixas não provocou uma maior supressão do cobre. Em outros, como é o caso do primeiro destilado obtido em CQE, que possui alta acidez volátil (220 mg/ 100 mL de álcool absoluto), mesmo contendo alto teor de cobre (8,3 mg/L), verificou-se ser mais significativa a sua redução (0,01 mg/L) que em destilados como PCA (0,18 mg L), com teor inicial de cobre de 5 mg/L. Uma acidez relativamente mais alta (baixo pH) diminui a concentração do n- ligante L em solução, predominantemente íons acetato, o que evitaria sua 2+ complexação com o Cu , segundo o mecanismo: 2+ R-Cu + Cu n- +2L n R-Cu + CuL n- Em valores de pH mais elevados, aumenta a concentração dos ligantes L , como o acetato, ânions de espécies contendo nitrogênio e enxofre, dentre outros, 142 deslocando o equilíbrio para a direita e suprimindo a troca iônica, o que poderia explicar as diferenças entre os teores de cobre encontradas nos destilados tratados. Obviamente, há um limite para que a acidez favoreça a retenção do Cu 2+ na resina, pois concentrações ainda mais altas de ácidos acarretam uma competição + dos íons H com os íons Cu 2+ + durante troca iônica com o Na da resina. Outros fatores também podem resultar em diferenças na concentração do cobre nos destilados tratados, como a vazão, que se mostrou mais elevada em um dos trocadores experimentais, possivelmente em função de porosidades desiguais das placas de vidro sinterizado que fixam a resina. Adicionalmente, altos teores de cobre no destilado ocasionam uma redução mais prematura da capacidade, o que pode ser compensado pelo aumento da profundidade do leito, acoplando-se mais de um módulo (trocador catiônico industrial) à saída do resfriador. Neste caso, deve ser levada em consideração a maior perda de carga. 5.7.2 Influência dos teores de cobre na formação do carbamato de etila Sob determinadas condições de operação, a remoção do cobre é altamente dependente da profundidade do leito até cerca de 75 cm (DOWEX MARATHON C, 2006) que, nessa condição, mostrou-se adequado à redução do cobre a níveis abaixo de 0,1- 0,2 mg/L e, muitas vezes, abaixo de 0,01mg/L. A Figura 29 mostra o decréscimo na área do pico do carbamato de etila quando uma fração do recém-destilado de cana-de-açúcar do sistema VMC foi coletado na saída do resfriador e imediatamente tratado com a resina selecionada. Parte da amostra foi percolada por cerca de uma hora, de modo a ser obtido cerca de 1 litro do destilado tratado. Os teores de carbamato de etila nas duas frações 143 obtidas foram medidos e corresponderam a 262 e 42 g/L para a amostra não tratada e tratada, respectivamente, o que representou uma redução de cerca de 80%, a mais elevada obtida com a adequada supressão do cobre. Essa redução foi equivalente à descrita por Riffkin et al., (1989) em recém-destilados de uísques (low wines), obtida em alambique experimental, onde cerca de 20% do total do carbamato de etila foi produzido na primeira hora após a destilação, quando sua reação de formação foi igualmente interrompida pela remoção do cobre. Figura 29. Cromatograma parcial de frações do recém-destilado VMC tratado e não tratado pela resina Dowex Marathon C. A Figura 30 mostra a posterior formação do carbamato de etila, ocorrida após a destilação da cachaça, em função da concentração do cobre. Os valores foram obtidos pela análise das amostras resultantes da imediata percolação de um recém- 144 destilado coletado no condensador do sistema chamado PCA em leitos da resina de variadas profundidades, até o máximo de 75 cm. Desse modo, cada amostra corresponde a uma fração (aproximadamente 150 mL) obtida através da percolação de cerca de 1000 mL do recém-destilado PCA, em sucessivos aumentos da profundidade do leito, pela adição de quantidades crescentes da resina dentro da coluna de vidro. Nesse experimento, devido a fatores já discutidos em 5.7.1, não foi possível reduzir os teores de cobre a valores abaixo de 0,2 mg/L. Figura 30. Teores de carbamato de etila em função de concentrações crescentes de cobre, em frações obtidas pela eluição do recém-destilado PCA em leitos de resina de diversas profundidades. Como relatado em 5.7.1, reduções dos teores do carbamato de etila na faixa de 70% foram obtidas quando seus níveis nas amostras não tratadas foram superiores a cerca de 80 g/L. Desse modo, considerando a supressão do cobre a valores próximos ao LQ, pouco mais de 450 g/L de carbamato de etila do sistema PCA 145 poderiam ser reduzidos até cerca de 150 g/L, o menor valor disposto no eixo das ordenadas. Portanto, torna-se necessário reduzir os teores de cobre a valores em torno de 0,15 mg/L para suprimir adequadamente sua ação catalítica na formação do carbamato de etila. Concentrações de cobre acima de cerca de 0,7 mg/L foram suficientes para promover a completa formação do carbamato de etila e concentrações de cobre mais elevadas não mostraram nenhum efeito adicional. O progressivo decréscimo em seus teores, observado por Riffkin et al. (1989) em frações de destilados coletados ao longo de destilação em alambique experimental em cobre, que coincidiam com a diminuição do grau alcoólico e dos teores de cobre, medidos até cerca de 4,5 até 0,9 - 1 mg/L, de acordo com os experimentos aqui descritos, não pode ser atribuído à redução dos teores de cobre nessa faixa de concentração. Quantidades de cobre equivalentes ao teor mínimo gerado pelo alambique experimental utilizado por Riffkin et al. (1989), cerca de 0,86 mg/L, foram suficientes para catalisar a formação completa do carbamato de etila. Como descrito em 2.7.4, Boscolo (2001) mostrou uma dependência linear do cobre com o íon cianato na formação do carbamato de etila, que atingiu um máximo de cerca de 1,2 mM, na presença de pouco mais de 300 mg/L de Cu(II), quando uma solução hidroalcoólica de KOCN 6,7 mM foi aquecida com quantidades crescentes de CuSO4. Segundo Riffkin et al. (1989), a alta temperatura de aquecimento torna a reação independente do tempo e provoca acréscimo nos teores de carbamato de etila. No presente trabalho, em escala de produção, verificou-se também uma tendência similar na faixa de cerca de 0,2 a 0,7 mg/L de cobre, considerando-se a quantidade do carbamato de etila formado como função das 146 concentrações do íon cianato (precursor chave) e do cobre, numa reação tempo dependente pós-destilação. Acima desse limite superior, os níveis de carbamato de etila atingiram um máximo. 5.7.3 O sistema de troca iônica industrial A Figura 31 detalha o sistema industrial proposto para redução do carbamato de etila e do cobre em cachaças. Figura 31. Vista frontal e em corte do sistema industrial para redução do carbamato de etila e do cobre em cachaças. 147 Os módulos (trocadores), providos de carcaça em PEAD, têm se mostrado robustos, eficientes e adequados à redução do cobre aos níveis desejados (< 0,2 mg/L). Cerca de dez cachaças já estocadas em tonéis foram “filtradas” nesses trocadores, independente de sua concentração inicial, os teores de cobre iniciais foram reduzidos a valores sempre menores que 0,1 mg/L. A vantagem de serem utilizadas carcaças em PEAD reside na grande resistência à rupturas e estabilidade, ausência de contaminação química e facilidade de limpeza (PEAD, 2003), o que possibilita a garantia da inocuidade do tratamento. A geometria do sistema de troca iônica afeta a capacidade e a qualidade do destilado produzido, em termos do seu conteúdo em contaminantes metálicos. Um leito com 1 m profundidade é considerado ideal, mas pouca diferença ocorre na faixa 2 de 0,75 m a 2 m. Uma vazão de até 20-30 m/h (8-12 gpm/ft ) resulta numa melhor eficiência (DOWEX MARATHON C, 2006). Encontram-se em fase inicial os testes para comprovação de reduções dos teores de carbamato de etila, já obtidas com os trocadores experimentais. As partes superior e inferior do tubo (em PEAD) são fixadas por rosqueamento de tampas (2) idênticas, fabricadas com o mesmo material inerte. Nas tampas, pela parte interna, introduz-se uma tela em aço inox (3) para sustentação da resina e, sobre ela, dois feltros circulares (4), que ficarão comprimidos pelas tampas (5), para retenção de eventuais impurezas. Tais feltros e telas, para cada filtro, são fixados, em um dos lados pela tela (3) e, no outro, pela superfície interna do fundo da tampa (5), que possui um tubo central cilíndrico inteiriço (1), possibilitando a percolação do destilado através da resina (7), que preenche todo o 148 tubo. Quando se efetua o rosqueamento das tampas para vedação, a resina é imobilizada pelas telas fixadas sob as extremidades internas das mesmas tampa. O conduto (6), fixado sobre tampa (2) na extremidade externa do primeiro tubo (1), é acoplado ao resfriador através de uma mangueira (8) em material inerte (PVC, silicone, etc.). Nos sistemas de destilação contínuos é necessária a utilização de uma bomba de circulação (9), de modo a equiparar a vazão ao final dos trocadores com a vazão de saída do resfriador (10). A matéria-prima tratada (12) pelo conjunto de trocadores catiônicos é transferida para o armazenamento logo após passar pelo último filtro. De modo vantajoso, verificou-se que os feltros podem ser substuídos, por um filtro de polipropileno ou celulose acoplado à entrada do trocador, como mostra a Figura 32. Figura 32. Sistema industrial para redução de carbamato de etila e cobre acoplado a filtro de polipropileno. Nos alambiques, a vazão pode ser equiparada (ou regulada), simplesmente, por gravidade. O acoplamento dos módulos (filtros) pode, opcionalmente, ser feito por uma conexão rosqueada (11), também em PEAD. 149 Desse modo, a definição do número de módulos deve, principalmente, levar em consideração o teor de cobre do destilado, sua vazão e o efeito da matriz. De um modo mais prático, pode-se avaliar em que condições e em que período de tempo a redução do cobre permanece em níveis adequados para evitar o seu efeito catalítico na formação do carbamato de etila. Embora existam no mercado sistemas de remoção do cobre com resinas catiônicas, esses trocadores, geralmente, foram conectados a tanques de armazenamento ou a barris de madeira, quando o carbamato de etila já, praticamente, completou sua formação nas matérias-primas das cachaças. Esses sistemas não são configurados para promover uma redução drástica do cobre, necessária à supressão do(s) mecanismo(s) de formação do carbamato de etila em cachaças. No caso de maiores produções, como é o caso das colunas de destilação, pode-se dividir a vazão de saída do resfriador por intermédio de uma válvula com conexão em “T” e, desse modo, tratar o destilado em duas vias, através de um conjunto de dois ou mais filtros. A eficiência do processo pode ser verificada através de medidas regulares dos teores de cobre no produto obtido, que não devem ultrapassar cerca de 0,15 mg/L, como já discutido. 5.7.4 Comparação do processo proposto com a bidestilação Para efeito de comparação com o processo proposto, a Tabela 8 mostra a redução dos teores de carbamato de etila e cobre em uma cachaça de coluna (SFJ) submetida à bidestilação, freqüentemente monitorado e efetuado em alambique de uísque de grande dimensão, de modo a otimizar todo o processo. O produto 150 resultante, a cachaça denominada NFX, apresentou um teor de carbamato de etila (17 g/L) na faixa dos uísques com níveis mais baixos. Tabela 8. Redução dos teores de carbamato de etila (CE) e cobre em cachaça (SFJ) submetida à bidestilação (± desvio padrão). Amostra / Sistema de destilação CE ( g/L) Redução estimada (%) Cu (mg/L) SFJ (CD ) 234 ± 2 - 1.34 NFX(DC) 17 ± 3 93 0.02 Como já relatado, a baixa volatilidade do carbamato de etila em soluções hidroalcoólicas e o processo de bidestilação apropriado, o que inclui a constante remoção dos resíduos da destilação, permite que os teores desse contaminante sejam adequadamente reduzidos (cerca de 93%) e pouco variem produto final. Ao contrário de Estados como Minas Gerais e, principalmente, São Paulo, onde um número significativo de estabelecimentos emprega a bidestilação, esse processo não é difundido no Rio de Janeiro, sendo o sistema NFX uma exceção. Suas cachaças bidestiladas, envelhecidas ou não, têm alto valor agregado no mercado interno e a maior parte de sua significativa produção é exportada. Com relação à redução dos teores de cobre, o processo de bidestilação pode chegar a atingir valores tão significativamente baixos quanto os obtidos pelo tratamento proposto, desde que não sejam formados vapores ácidos que desloquem o cobre presente na serpentina, como é o caso do processo em NFX. A limpeza sistemática das partes descendentes dos aparelhos de destilação, principalmente da serpentina, também se faz necessária. Um recém-destilado de um pequeno produtor chegou a apresentar 60 mg/L de cobre na primeira destilação após a entressafra, quando uma quantidade significativa de azinhavre foi formada. Teores de cobre na 151 faixa de 0,5 - 1 mg/L foram encontrados em algumas cachaças bidestiladas do Estado de São Paulo analisadas durante o presente trabalho. Esses resultados são similares ao obtidos pelo tratamento em leitos de resinas comerciais com leito de baixa profundidade (cerca de 30 cm), também determinados após tratamento em “filtros” com essa característica dos estabelecimentos PCA e BTB. Em relação à bidestilação, as vantagens da utilização das resinas catiônicas são: Os reduzidos custos de aquisição e instalação do sistema, cerca de US$ 500,00 . A manutenção da resina de troca iônica, cuja regeneração é realizada simplesmente através da percolação com solução de cloreto de sódio a cerca de 10% (m/v), o que pode ser efetuado concomitantemente com a sanitização/limpeza de dornas,alambiques e/ou serpentinas. A troca da resina, devido à perda gradual de eficiência por processo de oxidação, tem custo muito baixo (cerca de US$ 30), e pode ocorrer somente após 5 anos de operação. A redução de gastos de tempo, mão de obra e energia. Uma menor retificação, o que se traduz em maior preservação de componentes que influem no flavour. Uma melhor garantia de supressão de outros contaminantes inorgânicos, como é o caso do cobre, do chumbo e do cádmio(Cd). Utilização apropriada para eliminação do cobre em destilados armazenados em barris ou envelhecidos, como é descrito no Capítulo 7. Já as vantagens da bidestilação, quando comparada ao processo proposto, consistem de: 152 Redução mais acentuada dos teores de carbamato de etila. Não há necessidade de constante monitoramento dos teores de cobre, necessário à redução do carbamato de etila em cachaças empregando resinas. Quando o processo é bem conduzido, uma redução expressiva da acidez volátil. 5.8 INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO SOBRE OS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS Com o objetivo de verificar o efeito do tempo de armazenamento sobre os teores de carbamato de etila, as amostras dos destilados CRD (B) não tratado, CRD (B) tratado, VMC não tratado e VMC bitratado foram mantidas em garrafas de vidro “transparente” durante cerca de 33 meses após serem calculados os primeiros teores (Tabela 6) . Verificou-se que os níveis do carbamato de etila no destilado CRD (B) tratado aumentaram de 50 para 62 µg/L; no CRD (B) não tratado de 195 para 300 µg/L; no VMC bitratado de 76 para 122 µg/L; e no VMC não tratado de 262 para 351 µg/L. Outras amostras, que foram reanalisadas após cerca de 8 meses, consistiram de 2 cachaças comerciais (SRV e BVS), discriminadas no Capítulo 6, cujos teores inicialmente medidos encontravam-se abaixo do LQ. Nesses casos, não foi observada nenhuma formação posterior do carbamato de etila. Apesar do reduzido número de amostras utilizadas, esses resultados mostram, primeiramente, que a formação adicional de carbamato de etila pode ocorrer mesmo após 1-2 meses de exposição à luz natural e temperaturas ambientes, observada nos estudos de Aylott et al. (1990) em amostras de grain whiskies durante 21 dias, e aumentada significativamente quando expostas à luz fluorescente e temperaturas mais elevadas (43°C), como descrito em 2.7.4. 153 De forma similar ao verificado por Aylott et al. (1990), os acréscimos nos níveis de carbamato de etila observados no presente estudo podem ser relacionados com a presença de precursores, isto é, são “precursores dependentes”. Adicionalmente, considerando que os teores de cobre presentes no destilado VMC bitratado não seriam suficientes para promover sua ação catalítica, condições mais severas de exposição à luz e ao calor poderiam, ainda, explicar a maior formação posterior de carbamato de etila em relação ao destilado CRD (B) tratado. 5.9 EFEITO DO ARMAZENAMENTO EM TONÉIS DE MADEIRA SOBRE OS TEORES DE COBRE EM CACHAÇAS O armazenamento de cachaças em barris de várias profundidades e volumes pode diminuir os teores de cobre em cachaças. Em análises efetuadas para fins de controle de qualidade, principalmente quando esses recipientes são novos, esse fato tem sido observado em análises de cachaças coletadas em barris de madeira e em tonéis de maior capacidade, ao longo do processo de envelhecimento e maturação. Na condição de serem usados barris novos ou devidamente tratados, essas considerações estão de acordo com o relatado por Cavalheiro et al. (2003) (ver 2.6.2). Contudo, recém-destilados com teores de cobre em torno de 3 - 4 mg/L podem atingir valores em torno de 10 mg/L ou mais quando os tonéis não são periodicamente tratados, o que foi verificado no presente trabalho. Desse modo, o cobre depositado nas paredes dos barris, ao atingir um limite definido pela diferença de potencial em relação ao cobre na fase líquida, passa a contaminar o destilado novo, aumentando os teores de cobre no produto final. 154 A Tabela 9 mostra os teores de cobre em amostras de cachaças armazenadas em tonéis de madeira, coletadas ao fundo e na sua parte superior, com profundidade superior a 4 m (tonéis PHM e VMC) e a 7 m (tonéis MAG). Tabela 9. Teores de cobre ao fundo (“pé”) e na superfície (“cabeça”) de tonéis de madeira. Amostra/ Sistema de produção Cobre (mg/L ) Pé Cabeça PHM 2002 11,49 11,10 PHM 2003 11,48 11,45 VMC tonel 1 3,88 3.96 VMC tonel tonel 2 11,43 11,74 VMC tonel 3 15,41 15,64 MAG tonel 1 8,19 7,54 MAG tonel 3 12,72 7,13 MAG tonel 4 13,18 9,08 MAG tonel 5 12,32 8,05 O teste t pareado (MILLER e MILLER, 1993) aplicado aos teores de cobre nas 5 primeiras amostras da Tabela 9, ausentes de floculação, não revelou diferenças significativas nos teores de cobre nas amostras coletadas no fundo (“pé”) dos e na parte superior de tonéis de madeira. Quando os produtos em maturação apresentavam floculação, verificada nas quatro amostras MAG/pé, coletadas no fundo dos barris de ipê (“pé”), as concentrações de cobre foram, em média, 1,5 vez maiores que aquelas coletadas parte superior (MAG/cabeça), onde não ocorreu nenhum tipo de precipitação. Esse fato poderia resultar da formação de compostos insolúveis ou quelatos do cobre, a partir de sua reação sua com tartaratos e oxalatos, ou complexação com compostos 155 polifenólicos ou polifenólicos-proteicos (ISIQUE et al., 1999), que poderiam flocular a partir de interações (atração iônica, etc.) que provocariam seu crescimento (MELLO, 1999). 156 6 INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS DE DESTILAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NA FORMAÇÃO DO CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS ____________________________________________________ 157 No presente trabalho, os teores de carbamato de etila foram avaliados em amostras de recém-destilados e produtos acabados, coletadas em 30 estabelecimentos produtores com sistemas de destilação diferenciados, em diversas regiões do Estado do Rio de Janeiro. Os resultados obtidos, usando a técnica de GC-MS, em modo SIM, mostraram que cerca de 40% dos produtos e matérias-primas encontravam-se acima do limite máximo permitido de 150 µg/L para o carbamato de etila, com uma média de 155 µg/L. Os menores níveis foram provenientes de alambiques que destilam em baixas temperaturas e com alta razão de refluxo. O presente estudo também evidencia o papel crítico do refluxo e das temperaturas de destilação na formação do carbamato de etila. 6.1 INFLUÊNCIA DOS SISTEMAS E PROCESSOS DE DESTILAÇÃO NOS TEORES DE CARBAMATO DE ETILA EM CACHAÇAS Como descrito em 3.4.5, a eficiência do sistema de destilação é, primariamente, uma função de seu design e da condução do processo, o que inclui as operações na caldeira, na panela ou na base das colunas de destilação (aquecimento) e na coluna dos sistemas em batelada ou contínuos, tão bem como no aparelho de refluxo associado ao seu topo. Devido às limitações operacionais dos sistemas de destilação, alguns valores numéricos de parâmetros críticos, como a razão de refluxo, não foram medidos. Contudo, a observação e avaliação in loco de vários fatores de influência (arraste, temperatura, etc.), em associação aos resultados experimentais, permitiu estabelecer relações entre os processos de destilação e os teores de carbamato de etila nas cachaças estudadas. 158 Como mostram a Tabela 10 e a Figura 33, somente uma das sete “colunas de destilação” de médio porte gerou teores de carbamato de etila abaixo do limite máximo de 150 g/L. Já 12 (doze) dos 18 (dezoito) alambiques em cobre (de 16 estabelecimentos) atenderam esse limite, e somente um único alambique de um total de cinco (5) alambiques em aço inoxidável com serpentina em cobre apresentou um teor acima do tolerado. Cerca 40% do total de cachaças e destilados de cana-de-açúcar excederam o limite máximo 150 g/L, com uma média de 155 ± 65 g/L. Tabela 10. Teores de carbamato de etila e cobre e principais características dos sistemas de destilação avaliados. Produtor / Tipo de amostra Sistema de destilação/ Aquecimento Carbamato de etila (µg/L) Cu (mg/L) Aparelhos adicionais acoplados Tipo de deflegmador EDF D AC/FD < LQ 2,82 * * PTJ D AC/FD 45 ± 3 2,40 * * PLK C AC/FD 214 ± 4 6,30 * * BRV C AC/FD 70 ± 1 1,70 * * JLG (1) D AC/FD 73 ± 1 1,52 Pré-aquecedor Tubular (Cu) JLG (2) D AC/FD 298 ± 4 5,54 Pré-aquecedor Tubular (Cu) CQE (A) D AC/FD 142 ± 1 8,31 Pré-aquecedor Capelo CQE (B) D AC/FD 156 ± 3 5,88 Pré-aquecedor Capelo CRD (A) D AC/FD 95 ± 6 1,64 Pré-aquecedor Capelo CRD (B) D AC/FD 195 ± 6 3,82 Pré-aquecedor Capelo PHM C AC/GV 89 ± 2 11,3 Pré-aquecedor Tubular (Cu) SLS C AC/GV 58 ± 1 1,12 Pré-aquecedor Tubular (Cu) BVS C AC/GV < LQ 5,77 Pré-aquecedor Tubular (Cu) SRV(1) C AC/GV < LQ 1,30 Pré-aquecedor Tubular (Cu) SRV (2) C AC/GV < LQ 0,39 Pré-aquecedor Tubular (Cu) 159 continuação RCL C AC/GV 30 ± 1 3,44 Pré-aquecedor Tubular (Cu) BAV C AC/GV 27 ± 2 2,30 Pré- aquecedor Tubular (Cu) RPN C AC/GV 30 ± 1 10,9 Pré- aquecedor * CHV C AC/GV 595 ± 4 6,23 Três corpos Capelo MAG C AC/GV 232 ± 5 12,72 Três corpos * SBH D AIC/GV 79 ± 2 4,46 Pré-aquecedor Tubular (AI) PRI C AIC/GV 35 ± 1 7,55 Pré-aquecedor Tubular (AI) CTS D AIC/GV 17 ± 2 1,78 Pré-aquecedor Tubular (AI) DNC D AIC/GV 215 ± 1 3,93 Pré-aquecedor Tubular (AI) CPT C AIC/GV 106 ± 3 3,56 Pré-aquecedor Tubular (AI) PCA (1) D CD/GV 714 ± 7 5,0 * * PCA (2) D CD/GV 456 ± 5 3,50 * * VMC (1) D CD/GV 262 ± 2 5,04 * * VMC (2) D CD/GV 155 ± 2 8,21 * * BTB (1) D CD/GV 40 ± 3 2,50 * * BTB (2) D CD/GV 61 ± 2 2,40 * * CAC (1) D CD/GV 323 ± 4 3,91 * * CAC (2) D CD/GV 529 ± 12 4,62 * * SFC C CD/GV 252 ± 2 1,34 * * VRI C CD/GV 216 ± 6 2,70 * * CAM C CD/GV 577 ± 2 3,74 * * SRR D AAI 11 ± 2 0,01 NFB C ACB 17 ± 3 0,02 Pré-aquecedor * * * AC : alambique em cobre; CD : coluna de destilação; AIC : Alambique em aço inox com serpentina em cobre AAI: Alambique inteiramente em aço inox; ACB: bidestilação em cobre; FD : aquecimento por fogo direto; GV: aquecimento através de vapor gerado por caldeira; 1 e 2: primeira e segunda coletas em datas diferentes; (A) e (B) : primeiro e segundo alambique de um mesmo produtor. 160 6 Freqüência 5 AAI AIC AC CD ACB 4 3 2 1 0 <11 11-50 51-100 101-150 151-300 301-600 Distribuição dos Teores de Carbamato de Etila ( g/L) Figura 33. Distribuição dos teores de carbamato de etila nos diferentes sistemas de destilação. Quanto aos teores de cobre, cerca de 30% das amostras analisadas encontraram-se acima da concentração limite (5 mg/L), com um valor médio de 3,94 mg/L, similar ao descrito por Nascimento et al. (1999) para cachaças de várias regiões do país. Conforme mostrado na Figura 34, a média dos teores de carbamato de etila em cachaças de alambiques foi significativamente menor que a média para as cachaças produzidas em colunas de destilação. Assim como para a média geral (155 ± 65 g/L), o desvio para os sistemas AC e CD foi expresso pelo intervalo de confiança da média (MILLER e MILLER,1993). Esses dados encontram-se, parcialmente, em acordo com aqueles relatados por Andrade-Sobrinho et al. (2002) para cachaças de vários Estados do Brasil. Entretanto, no presente trabalho, a média dos teores de carbamato de etila em 161 cachaças do Rio de Janeiro foi 5 (cinco) a 6 (seis) vezes menor que a descrita por Boscolo (2001) para 84 cachaças comerciais de vários Estados e cerca de 5 vezes menor que a média de 126 cachaças de várias regiões do Brasil. Em relação às cachaças fluminenses analisadas por Andrade-Sobrinho et al., (2002) a média obtida foi em torno de 3 vezes menor . Concentração Média de Carbamato de Etila ( g/L) 350 331± 254 300 250 200 150 9 0 ** 100 115 ± 86 50 11* 17* 0 AAI ACB A IC AC CD S is t e m a d e D e s t ila ç ã o Figura 34. Média dos teores de carbamato de etila em sistemas de destilação diferenciados (± intervalo de confiança da média); * uma amostra; ** distribuição não paramétrica. A princípio, os baixos níveis de carbamato de etila encontrados nos alambiques em cobre ou contendo dispositivos em cobre nas colunas, caso dos alambiques em aço inoxidável, poderia ser explicado pelas possíveis reações do cianeto com o cobre presente em suas partes ascendentes, produzindo complexos cobre-cianeto 162 não voláteis (Andrade-Sobrinho et al., 2002; Aresta et al. ; Boscolo, 2001). Todavia, dois (2) alambiques desprovidos de qualquer aparelho ou dispositivo fabricado em cobre no interior das colunas (EDF e PTJ), produziram quantidades de carbamato de etila consideradas muito baixas em cachaças (< 10 e 45 g/L). Esses alambiques se caracterizam pelo pequeno porte (“panela” com volume menor que 500 litros), condução da destilação em baixas temperaturas e vazões muito inferiores às obtidas nos outros sistemas. Outro alambique com características similares é BRV. Os alambiques restantes, por possuírem “panela” com volume igual ou superior a 500 litros, foram considerados como de médio porte. Figura 35. Alambique sem deflegmador EDF ( Paraty/RJ). 163 Adicionalmente, o aumento do refluxo pode ser favorecido pelas configurações dos alambiques ou design apropriados, o que depende de relações entre o volume da panela e o comprimento e diâmetro da coluna (MAIA, 2000a). Como descrito em 3.4.5, um “vinho” com um conteúdo em etanol de 8% (v/v) entra em ebulição por volta de 94°C. Nos processos em batelada (alambiques), com o decorrer da destilação, aumentam a temperatura do “vinho” e da fase vapor, mais rica em álcool, pelo progressivo decréscimo da concentração de álcool nas 2 fases. Contudo, é possível manter a temperatura do vapor em valores menores que 80°C no deflegmador aumentando-se a vazão de água de refrigeração que circula dentro deste dispositivo durante o processo de destilação. As Figuras 36 A e 36 B mostram que, em relação à primeira destilação (não controlada), os níveis do carbamato de etila foram drasticamente reduzidos, por meio desse método de controle, nas frações dos recém-destilados coletadas ao longo de uma segunda destilação em alambique em cobre denominado JLG. Nesse sistema, a inexistência do controle do refluxo resultava em temperaturas de destilação sempre acima de 90°C e um teor de carbamato de etila médio de 270 µg/L (Figura 36 A). Quando o processo de destilação foi conduzido controlando -se a vazão d’ água de refrigeração, de modo a manter a temperatura de destilação em valores em torno de 78°C, as quantidades de carbamato de etila formadas ao longo da destilação foram reduzidas cerca de 8-9 vezes (Figura 36 B). 164 JLG (1) 400 Concentração 350 300 250 200 150 100 50 0 0,6 1,2 2,4 Tempo de destilação (h) Figura 36 A. Concentração do carbamato de etila, grau alcoólico e teor de cobre, determinados em frações do destilado coletadas ao longo de destilação em JLG sem controle do refluxo. JLG (2) 70 Concentração 60 50 40 30 20 10 0 0,5 1 1,5 2 Tempo de destilação (h) Figura 36 B Concentração do carbamato de etila, grau alcoólico e teor de cobre, determinados em frações do destilado coletadas ao longo de destilação em JLG com controle do refluxo apropriado. 165 CQE 250 Concentração 200 150 100 50 0 0,8 2 2,5 3 Tempo de destilação (h) Figura 36 C. Concentração do carbamato de etila, grau alcoólico e teor de cobre, determinados em frações do destilado coletadas ao longo de destilação em alambique de CQE. CRD 140 Concentração 120 100 80 60 40 20 0 0,8 1,5 2 3 Tempo de destilação (h) Figura 36 D. Concentração do carbamato de etila, grau alcoólico e teor de cobre, determinados em frações do destilado coletadas ao longo de destilação em alambique de CRD. 166 PCA 450 400 Concentração 350 300 250 200 150 100 50 0 1 2 3 Tempo de destilação (h) Figura 36 E. Concentração do carbamato de etila grau alcoólico e teor de cobre, determinados em frações do destilado coletadas ao longo de destilação em coluna de PCA. VMC 160 Concentração 140 120 100 80 60 40 20 0 1 2 3 Tempo de destilação (h) Figura 36 F. Concentração do carbamato de etila, grau alcoólico e teor de cobre, determinados em frações do destilado coletadas ao longo de destilação em coluna de PCA. 167 Figura 36. Concentrações do carbamato de etila, grau alcoólico e teor de cobre, determinados em frações do destilado coletadas de destilação diferenciados. Carbamato de etila ( g/L) Grau alcoólico (% vol) Cobre (mg/L x 10) Ao lado de EDF e PTJ, que são desprovidos de deflegmadores, os outros cinco alambiques que produziram os menores teores de carbamato de etila (< LQ até cerca de 60 g/L) possuem o mesmo deflegmador tubular em cobre de JLG na parte interna superior interna da coluna. Como é mostrado na Figura 37, esses alambiques possuem, geralmente, dois pratos abaixo do deflegmador, com borbulhadores em aço inoxidável ou cobre, o que resulta em altas eficiências na separação (retificação). Figura 37. Representação esquemática de uma coluna de um alambique equipada com deflegmador apropriado a promover um refluxo eficiente (Fonte: desconhecida). 168 Figura 38. Coluna (à esquerda) com controle de temperatura por meio de deflegmador tubular (alambique JLG ; Bemposta-RJ). Desses sistemas, como mostrado na Figura 39, SRV se destaca como o de maior possibilidade de retificação, possuindo três pratos com quatro borbulhadores em cada prato, em aço inox, e um sistema razoável de controle do refluxo no deflegmador. Neste sistema, também não foi detectada a formação do carbamato de etila (< LQ), mesmo quando duas amostras de diferentes lotes foram analisadas (ver Tabela 10), o que é um indicativo da ausência de precursores nitrogenados em sistemas mais retificados. 169 Figura 39. Alambique SRV (Valença-RJ). Conforme mostram as Figuras 40, 41 e 42, nos alambiques onde o aparato de refluxo consiste na circulação d’ água numa jaqueta externa no topo da coluna, em forma de cuba, comumente chamada de capelo (CHV, CRD e CQE), geralmente, o controle do refluxo é menos apropriado, o que pode resultar em temperaturas dos vapores superiores a 90°C e ou acelerar o processo de destilação. 170 Figura 40. Alambique de três corpos (CHV) com sistema de refrigeração na coluna tipo capelo. Os mais elevados teores de carbamato de etila entre os alambiques foram encontrados em sistemas com três corpos, como é o caso da unidade CHV (595 µg/L), provida de um alambique de esgotamento do “vinho” na sua parte inferior, produzindo vapores alcoólicos que aquecem a caldeira de destilação. Esta última produz o destilado final. 171 Figura 41. Detalhe do sistema de resfriamento no topo da coluna tipo capelo (CRD B, Paraty-RJ). Figura 42. Dois alambiques de dois corpos com aquecimento por fogo direto (CQE A e CQE B, Paraty-RJ). 172 Observou-se que a presença de turvação era muito comum quando as temperaturas no topo das colunas ultrapassavam cerca 80 - 82°C. Como resultado do arraste (APV, 2005; NOVAES, 199-; THAM, 2006), ocorreu um enriquecimento dos vapores com componentes menos voláteis, tais como os compostos nitrogenados, para as partes descendentes dos alambiques (alonga, serpentina e resfriador), que, na presença do Cu 2+ e em temperaturas mais elevadas, poderia eventualmente promover as reações de decomposição ou oxidação responsáveis pelos níveis relativamente altos de carbamato de etila formados nesses sistemas. Essas considerações poderiam explicar os maiores teores de carbamato de etila encontrados no final do “coração” e na “cauda” dos alambiques em cobre do descrito como segundo alambique de CQE, chamado de CQE (B) (Figura 36 C) e de CRD (A) (Figura 36 D), respectivamente. A destilação em CRD (A) ocorre por volta de 77 – 78°C, enquanto em CRD (B), em temperaturas acima de 85°C. Observou-se que o capelo de CRD (B) tem um volume significativamente maior que o de CRD (A), o que resulta maior capacidade de refrigeração dos vapores. Como a excessiva vazão de água no interior do capelo de CRD (B) não é controlada durante a destilação, a capacidade de promover conseqüentemente, inconveniente, o refluxo inviabilizaria a aumenta destilação. demasiadamente Para o que, compensar este o aquecimento da “panela” é aumentado significativamente, provocando um desequilíbrio, o que provoca um maior arraste de precursores do carbamato de etila. A elevada formação de carbamato de etila no começo da destilação em JLG, quando o processo de destilação não foi devidamente controlado (Figura 173 36 A) poderia estar relacionada às altas temperaturas iniciais de destilação medidas (> 90°C), que também promoveriam o arraste e esgotamento precoce dos precursores nitrogenados do “vinho”. Este experimento, em parte, é similar ao reportado por Riffkin et al. (1989), quando níveis de carbamato de etila decrescentes foram observados nas frações recolhidas ao longo de destilação em alambique experimental, acompanhados pela diminuição do grau alcoólico e dos teores de cobre. Os resultados obtidos, associados às observações descritas, indicam que menores níveis de carbamato de etila foram provenientes de alambiques operando em altas razões de refluxo, baixas vazões e temperaturas de destilação não superiores a cerca de 80°C. Os mais altos teores desse contaminante foram medidos em alambiques com controle de refluxo inapropriado, enfatizando o papel crítico da razão do refluxo na sua formação. Portanto, a redução dos teores de carbamato de etila em cachaças verificada em sistemas onde foram inseridos dispositivos em cobre na coluna, como em RPN, é causada, principalmente, pelo efeito de aumentar o refluxo e não pela promoção de reações de complexação com o cianeto ou outros precursores, verificada em destilados produzidos a partir de matérias-primas que geram esses precursores. O baixo teor de carbamato de etila encontrado na amostra cachaça bidestilada (11 µg/L) foi discutido em 3.5.4. O único alambique fabricado inteiramente em aço inoxidável, mostrado na Figura 43, também produziu uma quantidade muito baixa (11 µg/L), encontrando-se em acordo com os resultados relatados por Boscolo (2001) e enfatizando a importância do cobre na formação do carbamato de etila. 174 Figura 43. Alambique com panela e serpentina em aço inox (Resende-RJ). Diferenças significativas nos teores de carbamato de etila foram também observadas em diferentes colunas de destilação. Retificações mal conduzidas, usualmente devido ao excesso de vapor e do “vinho” que alimentam as colunas (em vazões acima de sua capacidade nominal), com o objetivo de obter destilados com alto grau alcoólico (acima 45% vol) (NOVAES, 1994; KALID, 2002), podem explicar as altas concentrações de carbamato de etila encontradas na maior parte desses sistemas. Nesses casos, a “inundação” ou flooding (nos pratos) e o arraste (entrainment) podem ocorrer ao mesmo tempo (KALID, 2002; THAM, 2006; APV, 2005). 175 Figura 44. Coluna de destilação VMC (Bom Jesus do Itabapoana). Por outro lado, se comparados aos sistemas em batelada quanto à uniformidade dos teores de carbamato de etila nas frações dos destilados ao longo dos processos de destilação, foram observadas menores alterações nos sistemas contínuos (Figura 44), quando as temperaturas de destilação pouco variam. 6.2 POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS DA MATÉRIA-PRIMA E DA FERMENTAÇÃO Andrade-Sobrinho et al. (2001) relacionaram a presença de altas quantidades de uréia aos altos teores de carbamato de etila freqüentemente encontrados em tiquiras pelos mesmos autores e por Polastro et al. (2001). Entretanto, as tiquiras utilizam como matéria-prima diferentes variedades de mandioca e essas tuberosas contém níveis significativos de glicosídeos cianogênicos, como a linamarina -1 e a lotaustralina -2 (CAGNON et al., 2002; MUTTON e MUTTON, 2005), cuja existência pode explicar, nessas bebidas, a formação do carbamato de etila via cianeto. 176 Contudo, não há estudos suficientes para concluir como e quais compostos nitrogenados presentes no “vinho” podem contribuir, predominantemente pósdestilação, para a formação do carbamato de etila em cachaças. Pelo descrito ao longo desse trabalho, possivelmente esses compostos, ou sua maior parte, gerariam o íon cianato, precursor chave desse contaminante nos mecanismos viáveis propostos. Embora a formação do carbamato de etila em cachaças possa ser considerada uma função da configuração do sistema de destilação e da condução do próprio processo de destilação, o enriquecimento do “vinho” pela adição de matérias nitrogenadas fermentescíveis, dentre outros, pode resultar num excesso de compostos nitrogenados no meio e do inóculo. O aumento da lise celular por diferentes linhagens de leveduras (MARTÍNEZ-RODRIGUEZ et al., 2000) em vinhos não devidamente decantados, assim como infecções causadas por bactérias (SCHEHL, 2005), poderiam também contribuir para aumentar os níveis do carbamato de etila. A destilação em CQE (B) de um mosto fermentado a partir de cana-de-açúcar armazenada durante 15 dias, de modo a favorecer infecções por bactérias e fungos, resultou num acréscimo nos níveis de carbamato de etila. Todavia, conforme mostra a Figura 45, a dimensão desse acréscimo em relação à destilação anterior usual (cerca de 210 g/L) não pode ser considerada suficiente para concluir que uma matéria-prima sujeita a infecções influi na formação dos precursores do carbamato de etila em cachaças. Nesse experimento, as temperaturas de destilação aumentaram de 77°C, no início, até cerca de 87- 88°C, ao final do processo. O progressivo aumento da 177 acidez foi acompanhado pelo conseqüente aumento dos teores de cobre, conforme descrito em 2.6.2. 0 50 10 0 15 0 20 0 25 0 30 0 Concentração CQE 2 0,5 1 1,5 Carbamato de etila (µg/L) 2 2,5 3 Cobre (mg/L) x 10 3,5 3,7 Tempo de destilação (h) Grau alcoólico (%vol) Figura 45. Destilação em CQE (B) a partir de “ vinho” obtido com cana-de-açúcar armazenada por 12 dias (“ cana velha” ). Além disso, a cachaça RPN, que apresentou um alto teor em acidez volátil (330 mg/100 mL aa), resultante de uma fermentação conduzida em condições precárias e provavelmente contaminada por bactérias acéticas, apresentou um baixo teor de carbamato de etila (30 µg/L). Em destilação de certas aguardentes de frutas (brandies), “vinhos” muito ácidos, oriundos de frutas danificadas, contribuem para a hidrólise acida de glicosídeos cianogênicos, favorecendo a formação do HCN (SCHEHL, 2005). Entretanto, não há nenhuma constatação ou evidência evolução do cianeto a partir do “vinho” de cana-de-açúcar. da 178 Adicionalmente, a destilação da cachaça RPN é processada em uma coluna recheada com artefatos em cobre, o que aumenta o grau de retificação, realçando também o papel crítico da destilação. 6.3 MEDIDAS PREVENTIVAS E CORRETIVAS O tratamento com resinas catiônicas poderia ser considerado uma medida preventiva, pois evita a formação do carbamato de etila. Por outro lado, como se processa após a destilação, também poderia ser associado a uma medida corretiva. Como discutido em 5.7.1, em destilados que atingiriam valores de até cerca de 350 µg/L, na ausência do tratamento, esse processo se mostrou eficaz em reduzir os níveis de carbamato de etila a valores inferiores a 150 µg/L. Considerando-se apenas este aspecto, somente 14 -15% do total de produtos (Tabela 10) não se adequariam. Adicionalmente, medidas preventivas adicionais, discutidas neste Capítulo podem ser implementadas, tendo em vista que durante e após a destilação, a formação carbamato de etila em destilados de cana-de-açúcar parece ser favorecida pela presença de precursores nitrogenados, bem como pelas altas temperaturas, resultado de sistemas e procedimentos de destilação inadequados, que abrangem o design do alambique e sua operação em razões de refluxo inapropriadas. Após a destilação, pode ainda ocorrer um posterior incremento em seus níveis, favorecido pela exposição à radiação luminosa e temperaturas mais elevadas. Desse modo, as medidas preventivas consistem em evitar o arraste de precursores nitrogenados para os destilados. Nos sistemas equipados com deflegmadores tubulares, caso de muitos alambiques, deve-se manter a destilação em temperaturas inferiores a 80°C, controlando o refluxo pelo ajuste da vazão 179 d’água nestes aparelhos. O aquecimento da caldeira deve ser controlado e o equilíbrio do sistema deve observar as relações entre as dimensões das partes dos alambiques descritas na literatura (MAIA, 2002b; NOVAES, 1999). Em alambiques pequenos desprovidos de sistemas de refrigeração, mas com design apropriado, a destilação deve ser lenta, mantendo-se as temperaturas sempre abaixo de 80°C. No caso das colunas de destilação, uma solução seria acoplar um sistema de condensação (refluxo) ao topo da coluna, a exemplo dos sistemas de produção de álcool. Como a exposição à radiação luminosa pode aumentar os níveis de carbamato de etila nas cachaças, uma outra medida seria engarrafar esses produtos em frascos de porcelana, muito utilizados no mercado. 180 7 AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE DESTILADOS DE CANA-DE-AÇÚCAR PRODUZIDOS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRATADOS E NÃO TRATADOS POR RESINA CATIÔNICA COMERCIAL _________________________________________________ 181 O presente trabalho teve como objetivo demonstrar o efeito do tratamento para supressão de contaminantes, através da resina catiônica Dowex Marathon C, na qualidade de destilados alcoólicos de cana-de-açúcar, com base em avaliações sensoriais e físico-químicas. 7.1 ANÁLISE SENSORIAL Com finalidade de melhor adequação aos textos deste Capítulo, os termos “não tratado”, “tratado” e correlatos passaram a ser denominados como “antes” e “após tratamento”. Os valores médios das intensidades de percepção dos atributos sensoriais registrados pela equipe de seis julgadores nos seis pares de destilados alcoólicos de cana-de-açúcar, antes e após tratamento, estão discriminados no Quadro 3. A análise das variâncias (ANOVA) dos resultados da QDA revelou não terem ocorrido modificações significativas (p>0,05), em função do tratamento, dos atributos sabor de caldo de cana, adstringência e cor nos seis pares de amostras estudados. Em todos os pares de amostras ocorreu a redução da viscosidade, em 5 pares a redução do sabor alcoólico inicial, em quatro pares a redução da agressividade, em três pares a redução do sabor alcoólico residual e do aroma alcoólico, em somente uma amostra observou-se a redução do aroma de melaço de cana (p<0,05). A amostra 1 se destacou pelo aroma alcoólico, sabor alcoólico inicial, residual e agressividade altos que, após o tratamento para supressão de contaminantes, foram percebidos em intensidades mais baixas. A amostra 2 se destacou principalmente pelo aroma e sabor de melaço de cana, e pela cor mais escurecida, os quais não se modificaram após o tratamento, tendo sido observada a redução das intensidades de percepção do sabor alcoólico inicial e da agressividade. 182 Quadro 3. Valores médios para as intensidades de percepção dos atributos sensoriais (QDA) e testes de aceitação dos destilados alcoólicos de cana-de-açúcar. Amostras 1 Tratamento Antes Atributo pela QDA Cor Âmbar 1,50a (CA) Aroma 11,17a Alcoólico (AA) Aroma a 4,27a melaço de cana ( AMC) Sabor alcoólico inicial (SAI) Sabor de melaço cana (SMC) Agressividade (AGR) Alcoólico Residual (AR) Adstringência (ADST) Viscosidade (VISC) Testes de aceitação Escala Hedônica 2 Após Antes Após Antes 2,35a 9,27a 9,37a 7,68b 7,03a 1,38b 11,83a 3 Após Antes 2,15a 1,80a 6,43a 3,73a 8,00a 6,92a 4,20b 8,60a 2,27a 1,87a 11,63a 4 Após Antes 4,92a 5,02a 4,42a 10,55a 2,00a 2,05a 3,20b 8,65a 6,12a 5,78a 3,13b 7,48a 10,68a 4,28b 4,03a 5 6 Após Antes 1,90a 1,53a 4,10a 5,38b 6,90a 6,28a 10,95a 10,63a 1,61a 1,38a 0,72a 0,95a 2,43a 2,67a 6,83b 9,92a 4,20b 4,83a 4,22a 11,48a 9,15b 2,02a 1,72a 2,07a 1,73a 1,25a 1,47a 4,96a 4,87a 1,83b 2,75a 1,47a 4,05a 4,30a 8,87a 4,58b 9,68a 7,18b 8,13a 7,23a 7,96a 6,20b 8,75a 7,13b 4,15a 4,08a 11,12a 10,38a 3,53a 3,92a 3,45a 1,78a 2,40a 6,32a 6,05a 3,07a 2,93a 10,02a 9,93a 9,93a 2,92b 9,20a 5,62b 10,38a 4,43b 10,32a 9,15b 12,40a 10,53b 11,35a 9,58b 5,3a 5,9a 6,6a 6,1a 5,8a 6,2a 6,6a 5,8a 5,5a 6,5a 5,9a 4,7a Após 4,08a Escalas de 4,8a 4,9a 5,8a 5,5a 4,7a 5,2 5,1a 5,6a 5,6a 4,8a 3,8a 5,1a Atitude 1=VMC; 2=PCA; 3=CQE; 4=CRD; 5=BTB; 6=JLG. * Médias seguida pela mesma letra, para cada par de amostra, não diferiram significantemente ao nível de 5% pela ANOVA. A amostra 3 apresentou baixos valores (intensidades) de aroma alcoólico, agressividade e adstringência, tendo sido observado a redução do sabor alcoólico inicial e residual após o tratamento. A amostra 4 se destacou pelo aroma alcoólico, sabor alcoólico inicial e residual altos que, após o tratamento, se tornaram mais brandos. A amostra 5 se destacou pelos baixos valores de sabor alcoólico inicial e residual, que se mantiveram 183 constantes, porém com redução significativa da agressividade e viscosidade após o tratamento. A amostra 6 se destacou principalmente pelo aroma alcoólico, sabor alcoólico residual e adstringência altos, que não se modificaram após o tratamento, tendo sido observada a redução do sabor alcoólico inicial e agressividade. Tais resultados indicam que, de maneira geral o tratamento para supressão de contaminantes melhorou a qualidade sensorial das amostras estudadas. No teste de preferência realizado nos seis pares de amostras, antes e após tratamento, não se observou diferença significativa (p>0,05). Da mesma forma como ocorrido no teste de aceitação, os consumidores não treinados não foram capazes de perceber modificações na qualidade sensorial das amostras antes e após o tratamento para supressão de contaminantes nos seis pares de amostras, antes e após tratamento, não se observou diferença significativa (p>0,05). No teste de aceitação, a análise de variância (ANOVA) demonstrou não ocorrer modificação significativa (p>0,05) do status afetivo e da atitude em relação ao consumo das amostras antes e após o tratamento. A aceitação variou entre os termos hedônicos gostei moderadamente (7) e indiferente (5), e a atitude entre os termos gostei e beberia de vez em quando (6) e não gostei mas beberia ocasionalmente (4). A ANOVA dos resultados descritivos revelou não ocorrer modificação significativa (p>0,05) dos atributos sabor de melaço de cana, gosto amargo e cor, em todos os pares. Em 83% dos pares ocorreu redução do sabor alcoólico inicial, em 65% redução da agressividade, e em 33% redução do sabor alcoólico residual e do aroma alcoólico (p<0,05). 184 7.2 ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA A Figura 46 mostra o cromatograma, típico de uma cachaça, utilizado na determinação dos componentes secundários no destilado alcoólico de cana-deaçúcar BTB, conforme descrito em 4.7. Figura 46. Cromatograma do destilado alcoólico de cana-de-açúcar BTB, usando 3-pentanol como padrão interno e detecção por ionização de chama (FID). *Álcoois isoamílicos. 185 A Tabela 11 mostra os teores dos principais congêneres e contaminantes minerais, estes últimos determinados conforme descrito em encontrados nas amostras antes e após o tratamento proposto. Estes últimos forma determinados Observa-se que, com exceção da pouco expressiva redução verificada nos teores de aldeído acético e acetato de etila, não houve variação nos teores dos demais congêneres quando as amostras foram percoladas na resina catiônica. Isto pode, em parte, ser atribuído a perdas por volatilização. No geral, a ANOVA dos resultados físico-químicos não indicou mudança significativa (p>0,05) no grau alcoólico e nos componentes do coeficiente de congêneres das amostras antes e após o tratamento. Com um limite de quantificação (LQ) próximo a 1 g/L, não foram detectados os metais arsênio (As), selênio (Se), mercúrio (Hg ) e Ferro (Fe) nos destilados estudados. Por tal, esses analitos não foram incluídos na Tabela 11. Apenas uma amostra apresentou o cobre acima do limite máximo de 5 mg/L. Os contaminantes inorgânicos chumbo e cádmio encontraram-se em níveis menores que 19 e 2 g/L, respectivamente. Os baixos níveis de cádmio nos destilados alcoólicos analisados no presente trabalho encontram-se em acordo com os resultados relatados nas cachaças analisadas por Nascimento et al. (1999). Esses autores, em estudo para caracterizar o perfil mineral de vários tipos de bebidas destiladas do Brasil, relataram valores menores que 0,01 até 0,401 ppm para o chumbo em cachaças, sendo freqüentes valores na faixa 0,030 a 0,120 ppm, o que pode ser considerado como risco. Os resultados desse estudo justificaram a inclusão de uma concentração limite para o chumbo em cachaças na legislação brasileira. 186 Tabela 11. Teores de congêneres e de contaminantes inorgânicos em destilados de cana-deaçúcar antes e após o tratamento por resina Dowex Marathon C. Amostra/ 1 Tratamento Ensaio Antes Após Grau alcoólico 52,5 52,4 ± 0,1* Acidez volátil ± SD 36 0 31 1 2 3 4 5 6 Antes A pós Antes Após Antes Após Antes Após Antes Após 47,0 47,1 45,7 45,6 48,4 48,2 47,6 47,6 57,8 57,6 17 15 105 113 23 22 141 148 10 12 1 0 1 0 1 1 1 1 0 2 < 0,2 14,4 13,5 53,2 51,6 Aldeído < 0,2 acético ± SD - < 0,2 1,7 1,5 12,4 11,7 - 0,1 0,1 0,9 0,6 - - 0,4 0,3 0,5 0,6 Acetato de etila ± SD 11,9 10,4 9,9 8,9 54,1 52,2 3,4 2,8 34,6 31,0 48,0 48,1 0,1 0,6 0,1 0,2 1,5 0,3 0,3 0,1 0,5 0,6 0,4 0,5 Álcool npropílico ± SD 34,1 31,4 45,0 44,8 21,4 21,6 38,1 38,3 46,5 45,6 51,6 51,6 0,1 0,7 0,0 0,0 0,1 0,1 0,1 1,5 0,1 0,5 0,0 0,3 Álcool isobutílico ± SD 68,2 64,1 45,4 45,2 41,7 43,4 14,5 14,5 37,2 37,3 88,1 87,9 0,1 0,4 0,0 0,2 0,1 0,2 0,1 0,2 0,1 0,1 0,2 0,1 178,2 199,7 199,3 125,7 128,4 100,3 101,9 99,2 99,6 348,4 345,6 2,1 0,3 0,3 0,2 0,1 0,4 1,7 0,2 0,5 0,8 0,4 Álcoois 190,1 isoamílicos ± SD 1,2 < 0,2 Furfural 0,83 0,84 0,89 0,94 1,34 1,33 1,94 2,01 0,47 0,45 0,47 0,49 ± SD 0,03 0,02 0,02 0,03 0,01 0,02 0,04 0,03 0,02 0,01 0,02 0,01 pH 4,5 4,72 4,25 4,42 3,81 4,27 4,18 4,50 3,26 3,72 4,32 4,89 Cu 7,66 0,047 2,87 <0,01 4,62 <0,01 0,81 <0,01 1,48 0,94 0,056 Zn 721 <2 12 <2 15 <2 43 <2 21 <0,0 1 20 490 <2 Pb 10 8 10 23 18 <2 16 10 18 19 3 <2 Cd <1 <1 1 1 1 <1 1 1 2 <1 <1 <1 Na 2 13,2 2 5,5 0,36 4,96 <0,1 6,72 <0,1 17,26 1,35 4,28 1=VMC; 2=PCA; 3=CQE; 4=CRD; 5=BTB; 6=JLG. Grau alcoólico : em % vol. ; * = incerteza prevista para a determinação. Componentes do coeficiente de congêneres: em mg/100 mL álcool anidro( n=3) ; SD: desvio padrão . Cu e Na ( mg/L) ; Zn, Pb, Cd, ( g/L) : RSDs < 15%. 187 Em relação ao tratamento com a resina Dowex Marathon C, observa-se uma extrema mudança no perfil mineral das cachaças, e os resultados indicam que, além do cobre, teores como os de zinco e cádmio podem ser adequadamente reduzidos. Constatou-se, também, uma diminuição nos teores de chumbo em 4 das 6 amostras analisadas. Os teores de sódio encontrados nos destilados alcoólicos de cana-de-açúcar tratados estão abaixo dos limites estabelecidos para sódio em água potável (SALT INSTITUTE, 2002; ZIMBRES, 2005) e bebidas como vinhos (OUGH e AMERINE, 1988), sendo também um indicativo da estabilidade da resina utilizada e do grau de troca iônica. Peynaud e Blouin (1997) atribuem ao ácido acético na sua forma não dissociada a percepção do seu gosto ácido. Em adição, os íons H + constituem um parâmetro de importância na percepção da acidez e, para concentrações equivalentes de ácido acético, uma solução será menos ácida ao palato quanto mais + alto for o seu pH. Devido à retenção de parte dos íons H durante a percolação na resina (Tabela 11), ocorre ainda uma diminuição do número de moléculas de ácido acético não dissociadas. Em relação ao efeito da presença de certos contaminantes metálicos sobre a qualidade sensorial da cachaça, como descrito em 2.6.2, deve-se considerar que o cobre ressalta o seu sabor metálico. Adicionalmente, este metal e, em menor grau, o zinco, mesmo em soluções muito diluídas (0,3 mM), conferem sabor adstringente e amargo (LAWLESS et al., 2004). A redução na agressividade percebida nas amostras 1, 2, 5 e 6 após o tratamento podem, em parte, ser atribuídas às considerações supracitadas, 188 tornando evidente que o processo de troca iônica provocou um abrandamento sensorial dos destilados de cana-de-açúcar . A posterior determinação dos ésteres totais pelo método colorimétrico da hidroxilamina (AOAC, 1995) não mostrou diferenças significativas em relação ao teor de acetato de etila das amostras analisadas quando foi utilizado o teste t pareado, o que demonstra que a possível presença de outros ésteres, no caso das amostras estudadas, pouco alterou o coeficiente de congêneres. A equação de regressão, obtida em 525 nm, utilizando 50% etanol (v/v) como 2 solvente (y = 0,0176 x + 0,0252; R = 0,9998) foi similar à regressão calculada 2 quando se usou etanol 60% (v/v) (y = 0,0176x + 0,0259; R = 0,9994), e apresentou uma sensibilidade pouco inferior em graus alcoólicos mais baixos, como em solução 2 de etanol a 40% v/v (y = 0,0165x + 0,0379; R = 0,9996). 7.3 OS TROCADORES CATIÔNICOS INDUSTRIAIS E OUTROS MÉTODOS PARA A REDUÇÃO DO COBRE EM CACHAÇAS Mostrado em 5.7.3 (Figura 32), um trocador catiônico industrial foi utilizado com o propósito de suprimir o cobre da cachaça JLG (armazenada em tonéis de madeira). O resultados antes e após o tratamento para os teores de cobre e de componentes do coeficiente de congêneres encontram-se na Tabela 12. Como pode ser observado nesta tabela, não ocorreram diferenças significativas nos teores dos componentes majoritários do coeficiente de congêneres quando essa cachaça in natura, com alto teor de cobre, foi tratada pelo trocador iônico industrial, de modo similar ao ocorrido com as colunas experimentais (Tabela 11). 189 Tabela 12. Teores dos componentes do coeficiente de congêneres (n=5) e de cobre em cachaça armazenada em tonel de madeira, antes e após tratatamento por troca iônica. Amostra/ Tratamento Ensaio Grau alcoólico ± 0,1* Antes 47,3 JLG-3A Após 47,1 Acidez volátil ± SD 108 3 104 2 Aldeído acético ± SD 14,9 1,5 14,6 1,3 Acetato de etila ± SD 48,8 1,6 49,2 3,2 Álcool n-propílico ± SD 33,1 3,2 32,6 0,7 Álcool isobutílico ± SD 54,3 1,9 52,8 2,8 182,5 2,8 184,1 2,4 9,21 < 0,1 Álcoois isoamílicos ± SD Cobre (mg/L) Componentes do coficiente de congêneres: em mg/100 mL aa. Do mesmo modo, mesmo quando percolada através do trocador industrial, numa vazão superior a 300 L/h, os teores de cobre foram drasticamente reduzidos. As vantagens e desvantagens da bidestilação, em relação ao tratamento proposto nesta tese, foram discutidas no Capítulo 5. Além da bidestilação e da troca iônica, os processos (pós-destilação) para remoção do cobre em cachaças citados na literatura, discutidos a seguir, têm sido o tratamento com carvão ativado, o emprego de plantas aquática da família das briófitas, a utilização de derivados da 190 quitosana e, mais recente, a filtração em carbonato de cálcio ou magnésio, também um processo de troca iônica. Desses últimos processos, o tratamento com carvão ativado vem sendo utilizado para a remoção do cobre com alguma freqüência. Segundo BOARI LIMA et al. (2006), esse processo mostrou uma eficiência em torno de 80%. Contudo, a necessidade da agitação por um período de tempo prolongado o torna relativamente lento. Outras desvantagens são a expressiva redução no conteúdo em ésteres e álcoois superiores, em torno de 40 a 50%, e a quantidade de carvão ativado necessária. Segundo periódico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisadores dessa instituição vêm desenvolvendo um filtro de briófitas dentro a uma carcaça de policarbonato como alternativa ao “filtro” de troca iônica disponível no mercado, que teria custo proibitivo para produtores “artesanais” (VIEIRA, 2005). Hoje, contudo, esta afirmativa não retrata a realidade dos produtores formais do Estado do Rio de Janeiro e da maior parte de Minas Gerais. A utilização de derivados da quitosana (CARDENAS et al., 2003) e de compostos a base de carbonato de cálcio e magnésio são outras possíveis alternativas para a redução dos teores de cobre em cachaças (ANALYTICA, 2006). Todavia, a eficiência e praticidade desses processos são menores que o tratamento por resinas catiônicas e não há, ainda, um estudo sensorial publicado dos seus efeitos sobre as cachaças. O tratamento proposto neste trabalho de tese mostrou-se seletivo para os cátions metálicos, não interferindo significativamente no coeficiente de congêneres. Todavia, devem ser realizados estudos envolvendo possíveis alterações nos teores 191 de outros componentes responsáveis pelo flavor das cachaças, como álcoois e ésteres minoritários, terpenos e lactonas. 7.4 ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS O resultado da Análise de Componentes Principais (PCA), a partir dos dados da QDA e das análises físico-químicas das seis amostras de destilados alcoólicos de cana-de-açúcar, antes e pós tratamento, com exceção dos íons metálicos, estão apresentados graficamente, respectivamente, nas Figuras 47 e 48. Na PCA das amostras antes do tratamento o primeiro componente principal (PC1) demonstrou 49% e o segundo componente (PC2) 23% das variações ocorridas entre as amostras. Na Figura 47A estão apresentadas as correlações dos parâmetros sensoriais e físico-químicos com o PC1 e o PC2. Tais parâmetros são responsáveis pela discriminação das amostras demonstrada na Figura 47B. Destacaram-se no PC1 os parâmetros viscosidade sensorial, pH, aldeído acético, furfural e acetato de etila, com correlações positivas e negativas significativas e cargas com valores acima de 0,90. Os parâmetros grau alcoólico e aroma de melaço de cana se correlacionaram significativamente com o PC1, com cargas respectivas de 0,84 e 0,81. Correlacionaram-se significativamente com o PC2 somente os parâmetros sensoriais agressividade e adstringência com cargas, em ambos, de 0,77. Os demais parâmetros não se correlacionaram significativamente com os dois componentes principais 1 e 2. A configuração espacial das amostras no PC1 e no PC2 sugere que as mesmas se agruparam de acordo com as semelhanças entre elas em quatro grupos. 192 O primeiro grupo contendo as amostras 1 e 2, o segundo contendo as amostras 3 e 4, o terceiro com a amostra 5 e o quarto com a amostra 6. A B PC2 (23%) 5 6 -5 5 1 0 4 0 2 5 3 -5 PC1 (49%) Figura 47. Resultados da Análise de Componentes Principais (PCA) obtidos dos dados da QDA e da análise físico-química (A) dos seis destilados de cana-de-açúcar antes do tratamento (B). 193 AA: aroma alcoólico; ADS: adstringência; AMC: aroma a melaço de cana-de-açúcar ; AV: acidez volátil; CA: cor âmbar; SAI: sabor alcoólico inicial; SMC: sabor de melaço de cana-de-açúcar; AGR: agressividade; AR: alcoólico residual ; VISC : viscosidade ; GA: grau alcoólico ; ALDAC: aldeído acético; AE: acetato de etila , ANP : álcool n-propílico ; AIB : álcool isobutílico; AIA: álcool isoamílico; pH : potencial hidrogeniônico ; F : furfural. A B 5 PC2 (26%) 2 6 1 -5 0 3 4 0 5 5 -5 PC1 (51%) Figura 48. Resultados da Análise de Componentes Principais (PCA) obtidos dos dados da QDA e da análise físico-química (A) dos seis destilados de cana-de-açúcar depois do tratamento (B). Nota: Os atributos sensoriais e parâmetros físico-químicos estão representados pelas mesmos caracteres da Figura anterior (47). 194 As amostras do primeiro (1 e 2) e segundo grupo (3 e 4) se destacaram das amostras 5 e 6 principalmente pelos parâmetros viscosidade sensorial, pH, aldeído acético, furfural e acetato de etila. As amostras 5 e 6 apresentaram-se com os valores mais altos de viscosidade, aldeído acético e acetato de etila, e mais baixos de furfural quando comparadas com as demais amostras. A amostra 5 se destacou, principalmente, pelos altos valores de aldeído acético, furfural e acetato de etila, e a amostra 6 pela alta agressividade e adstringência. Na PCA das amostras depois do tratamento o primeiro componente principal (PC1) demonstrou 51% e o segundo componente (PC2) 26% da variação ocorrida entre as amostras. Na Figura 48A estão apresentadas as correlações dos parâmetros sensoriais e físico-químicos com o PC1 e o PC2. Tais parâmetros são responsáveis pela discriminação das amostras demonstrada na Figura 48B. Destacaram-se no PC1 os parâmetros álcool isobutílico, aldeído acético, álcoois isoamílicos, grau alcoólico, álcool n-propílico e agressividade sensorial com correlações positivas significativas e cargas com valores iguaia ou superiores a 0,90. Os parâmetros acetato de etila e viscosidade sensorial também se correlacionaram significativamente com o PC1, com cargas no valor, respectivamente, de 0,87 e 0,80. Correlacionaram-se significativamente com o PC2 somente os parâmetros sabor de melaço de cana e pH, com cargas, respectivamente, de 0,93 e 0,80. Os demais parâmetros não se correlacionaram significativamente com os componentes principais 1 e 2. 195 A configuração espacial das amostras no PC1 e no PC2 sugere que as mesmas se agruparam de acordo com as semelhanças entre elas em quatro grupos iguais aos observados antes do tratamento. Porém, as amostras do primeiro e segundo grupo (amostras 1, 2, 3 e 4) se destacaram das amostras 5 e 6 principalmente pelos parâmetros álcool isobutílico, aldeído acético, álcoois isoamílicos, grau alcoólico, álcool n-propílico, acetato de etila, agressividade e viscosidade. De modo geral, as amostras 5 e 6 apresentaram maiores valores em tais parâmetros. As amostras 1, 2 e 6 se destacaram das amostras 3, 4 e 5, principalmente, por apresentarem maiores valores dos parâmetros sabor de melaço de cana e pH. Das amostras 1, 2 e 6, posicionadas espacialmente nos quadrantes superiores, as duas primeiras foram produzidas em colunas de destilação e oriundas da região noroeste do Estado do Rio de Janeiro. A discriminação da amostra 5 em relação às amostras 1 e 2 pode ser atribuída, em parte, à alta acidez apresentada pela primeira. As amostras 3 e 4 foram produzidas em alambiques em cobre e oriundas da região Sul do Estado. A amostra 6 foi oriunda de um alambique em cobre da região centro-sul, e se diferenciou das demais amostras pelos altos teores de álcoois superiores e pelo maior grau alcoólico. Os resultados dessas análises sugerem que o tratamento imposto para a supressão de contaminantes metálicos, de maneira geral, não alterou as características sensoriais e físico-químicas dos destilados alcoólicos de cana-deaçúcar estudados a ponto de modificar sua separação espacial sobre o PC1 e PC2. Observou-se que no grupo de amostras tratadas os parâmetros físico-químicos se destacaram sobre os atributos sensoriais na dispersão das amostras, sugerindo que, neste caso, os parâmeros sensoriais não foram significativos para discriminar 196 as amostras, exceção feita aos atributos agressividade, viscosidade e sabor de melaço de cana. As avaliações realizadas, a partir das análises sensoriais e físico-químicas, comprovam que o processo de troca iônica, utilizado para supressão de contaminantes nos destilados alcoólicos de cana-de-açúcar, não reduziu significativamente o coeficiente de congêneres e a qualidade sensorial desses destilados, o que corrobora a viabilidade desse processo. 197 8 CONCLUSÃO _____________________________________________ 198 Os estudos teórico-experimentais, alguns inéditos, desenvolvidos na presente tese, comprovaram a viabilidade de se reduzir os teores de carbamato de etila em cachaças, na ordem de 60%, utilizando-se a troca iônica em resina catiônica comercial DOWEX MARATHON C. Para que o processo fosse eficaz, usou-se um leito de resina em torno de 75 cm, de modo a reduzir a concentração do cobre arrastado das partes descendentes para o destilado a valores inferiores a 0,2 mg/L, suprimindo sua ação catalítica na reação tempo dependente de formação do carbamato de etila. No mesmo experimento demonstrou-se, também, que teores de cobre superiores a 0,7 mg/L foram suficientes para a formação completa do carbamato de etila, não proporcionando efeito catalítico adicional. Os resultados dos experimentos utilizando a troca iônica mostraram que esse processo foi adequado para enquadrar os teores de carbamato de etila na concentração limite de 150 µg/L da maior parte dos destilados alcoólicos de cana-deaçúcar estudados, coletados em 10 sistemas de destilação de 9 estabelecimentos produtores fluminenses. Portanto, os resultados obtidos comprovaram que a utilização da resina selecionada constitui uma excelente alternativa, de baixo custo e alta eficiência para a redução do carbamato de etila e contaminantes metálicos, tais como o cobre, o chumbo e o zinco. Para a determinação do carbamato de etila nos destilados alcoólicos e produtos acabados (cachaças) utilizou-se a cromatografia em fase gasosa acoplada à detecção de massas, em modo SIM, sem nenhum tratamento prévio das amostras, que se mostrou rápida, eficiente, seletiva e adequada, permitindo a quantificação desse contaminante orgânico carcinogênico em concentrações pelo menos 10 vezes abaixo da concentração limite, de 150 µg/L. 199 Os resultados obtidos mostraram que cerca de 40% dos produtos e matériasprimas in natura apresentaram teores de carbamato de etila acima do limite máximo permitido, com uma média de 155 µg/L para os 30 estabelecimentos envolvidos. Os níveis menores foram provenientes de alambiques que destilam em baixas temperaturas e com alta razão de refluxo. Estes estudos são relevantes para o setor, pelo fato de ter sido, pela primeira vez, mostrado que a média dos teores de carbamato de etila das cachaças fluminenses é de 5 a 6 vezes menor que a média brasileira descrita na literatura. Durante processos distintos de destilação em alguns alambiques em cobre de diferentes regiões Estado do Rio de Janeiro, foi comprovado o papel crítico do refluxo e das temperaturas de destilação na formação do carbamato de etila em cachaças. Concluiu-se que o grau de arraste de precursores nitrogenados para os destilados correlacionou-se à configuração do sistema de destilação e à condução do próprio processo, sendo favorecido por temperaturas de destilação superiores a cerca de 80°C. A exposição dos destilados alcoólicos à luz natural e temperatura ambiente por um período de tempo acima de 33 meses após a primeira determinação, realizada cerca de 1-2 meses após a coleta no resfriador, provocou uma formação adicional do carbamato de etila, que variou significativamente entre os destilados, mesmo na ausência do cobre. Esses resultados também indicam que os precursores nitrogenados foram formados durante e após a destilação. Como medida preventiva prioritária para evitar a formação do carbamato de etila em cachaças é recomendável otimizar o refluxo nos sistemas de destilação. Neste aspecto, nos alambiques de médio porte, a utilização de deflegmadores tubulares mostrou-se mais adequada para controlar o refluxo, devendo-se manter a 200 destilação em temperaturas inferiores a 80°C, pelo ajuste da vazão d’água dentro desses aparelhos durante a destilação. Além disso, o aquecimento da “panela” deve ser controlado e o equilíbrio do sistema deve obedecer as relações entre as dimensões das partes dos alambiques descritas na literatura. Em alambiques de menor porte (volume da “panela” inferior a 500 litros), com design apropriado, mas desprovidos de sistemas de refrigeração na coluna, a destilação deve ser lenta, mantendo-se as temperaturas sempre abaixo de 80°C. Outra recomendação para a redução desse contaminante orgânico em cachaças, no caso das colunas de destilação, seria acoplar um sistema de condensação (refluxo) ao topo da coluna, a exemplo dos sistemas de produção de álcool. Como medida corretiva (pós-destilação), o trocador catiônico industrial desenvolvido mostrou várias vantagens em relação a outros processos para redução do carbamato de etila e supressão do cobre em cachaças. Dentre elas, sua praticidade, eficiência, baixo custo e, praticamente, nenhum acréscimo de tempo ao processo de produção. Apenas 4 produtos ou destilados, com teores acima de cerca 350 µg/L, correspondentes a 14 -15% do total estudado (relativo aos 30 estabelecimentos) exigiriam medidas preventivas ou corretivas adicionais para enquadrar os teores carbamato de etila no limite estabelecido . Foi também observado que o tratamento de seis destilados de cana-de-açúcar, empregando a resina catiônica Dowex-Marathon C para supressão de contaminantes não alterou a qualidade sensorial desses destilados nem reduziu, de modo significativo, os componentes do coeficiente de congêneres. Portanto, os estudos desenvolvidos na presente tese, tais como a revisão do estado da arte, a utilização de resinas catiônicas, as avaliações sensoriais e físico- 201 químicas e a comprovação do papel crítico do controle do refluxo na destilação representam uma significativa contribuição para a redução de contaminantes em cachaças, especialmente do carbamato de etila e do cobre, tornando possível a melhoria efetiva de sua qualidade e a adequação da maior parte das cachaças produzidas do Estado do Rio de Janeiro a parâmetros de conformidade nacionais e internacionais. 202 9 REFERÊNCIAS _________________________________________________ 203 ABRABE. A cachaça. Disponível em:< http://www.abrabe.org.br/cachaca.php>. Acesso em: 23 mar. 2005. ABRALE. Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia. Doenças e tratamentos. Mieloma múltiplo. Disponível em: <http:// www.abrale.org.br/doencas/mieloma>. Acesso em: 28 mar. 2006. ACESITA. Aço inox para a produção de aguardente. Disponível em: <htttp://www.acesita.com.br/download/ind_caso2.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2006. ACROLEIN Monitoring Recommendation. In: Use Information and Air Monitoring Recommendations for the Pesticide Active Ingredients , Acrolein, jan. 2005. Disponível em : <http://www.cdpr.ca.gov/docs/empm/pubs/tac/recomm/ acroleinrec 05.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2006. ALDEHYDES. Detection thresholds & molecular structures. In: LEFFINGWELL & ASSOCIATES. Disponível em: <http://www.leffingwell.com/ald.htm>. Acesso em: 03 jun. 2006. ALKOHOLTABELLE. Bier und alkoholfreies Bier. Schweiz, Lebensmittelbuch, Kapitel 32, Spirituosen, Apr. 1991. p.1-14. Disponível em : <http://www.gastrofacts. ch/support/ dokumente/hygiene/slmb/ 31_%20Bier.pdf>.Acesso em 04 nov. 2005. ALMEIDA LIMA, U Aguardentes. In: AQUARONE et al., BIOTECNOLOGIA NA PRODUÇAO DE ALIMENTOS, Série Biotecnologia Industrial, 1. ed., v. IV, São Paulo: Edgar Blucher, p.145-177, 2001. AMERINE, M.A.; PANGBORN, R.M.; ROESSLER, E.B. Principles of Sensory Evaluation of Food. New York: Academic Press, 1965. 602 p. AMPAQ. Etapas para produção da cachaça de Minas Gerais. Disponível em: <http://www.ampaq.com.br/arquivos/etapas_para_producao.pdf>. Acesso em : 21 fev. 2006. ANALYTICA. A Revista de instrumentação e controle de qualidade. São Paulo: Vox, p. 12 , ago./set. 2006. ANDRADE-SOBRINHO et al. Carbamato de etila em bebidas alcoólicas (cachaça, tiquira, uísque e grapa). Quim. Nova, v. 25, p.1074-1077,2002. AOAC. Official methods of analysis of AOAC International, 16th ed. Arlington, Virginia, USA, v.2, p.4-21, 1995. APHA. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and wastewater, 19th ed., Washington D.C.,1995.1000 p. APRESENTAÇÃO DFA/RJ. Delegacia Federal de Agricultura. Disponível em : <http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/url/ITEM/ CA5E9E7E798A0F47E0300801FD0A477F>. Acesso em : 29 out. 2005. 204 AQUINO, F. W. B. et al. Simultaneous determination of aging markers in sugar cane spirits. Food Chem., n. 98, p. 569–574, 2006. ARESTA, M.; BOSCOLO, M.; FRANCO, D.W. Copper (II) catalysis in cyanide convers. into ethyl carbamate in spirits and relev. reactions. J. Agric. Food Chem., v. 49, p. 2819 -2824, 2001. AYLOTT, R. I. et al. Ethyl carbamate in grain spirits. Part I : Post-distillation ethyl carbamate formation in maturing grain whisky. J. Inst. Brew., v. 96, p. 213-221, 1990. AYLOTT, R.I.; MCNEISH, A.S.; WALKER, D.A. Determination of ethyl carbamate in distilled spirits using nitrogen specific and MS detection. J. Inst. Brew., England, p. 382-386, Sept.-Oct. 1987. AZEVEDO et al. Levantamento da contaminação por cobre nas aguardentes de cana-de-açúcar produzidas em Minas Gerais. Ciênc. Agrotec., Lavras, v.27, n.3, p. 618-624, maio -jun., 2003. BARKER, J. Mass Spectroscopy. 2nd ed., UK : John Wiley & Sons, p. 79, 1999. BJCP. BEER JUDGE EXAM STUDY GUIDE. Disponível em <http://www.mv.com/ipusers/slack/bjcp/study.html>. Acesso em: 08 maio 2006. : BEATTIE, J. K.; POLYBLANK, G.A. Copper-catalyzed oxidation of cyanide by peroxide in alkaline aqueous solution. Australian Journal of Chemistry, v. 48 n. 4, p. 861 – 868, 1995. BENÍTEZ, P.; CASTRO, R.; BARROSO, C.G. Removal of iron, copper and manganese from white wines through ion exchange techniques: effects on their organoleptic characteristics and susceptibility to browning. Analytica Chimica Acta, v. 458, p. 197-202, Apr. 29, 2002. BETTIN, S. M. Da presença de cetonas, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) e compostos fenólicos em aguardente de cana por cromatografia. 2001. Tese (Doutorado em Química Analítica), Universidade de S. Carlos, USP, São Paulo. BIZELLI et al. Dupla destilação da aguardente de cana: teores de acidez total e de cobre. Scientia Agricola, São Paulo, v. 57, n. 4, p. 623-627, out.-dez., 2000. BOARI LIMA, A. J. B. et al. Emprego do carvão ativado para remoção de cobre em cachaça. Quim. Nova,, v. 29, n. 2, p. 247-250, 2006. BONATO, P. S. Cromatografia gasosa. Cap. VII. In:INTRODUÇÃO A MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS; Collins, C. H.; Braga, G. L.; Bonato, P. S., 6. ed., Campinas : Unicamp (Ed.), p. 171-172, 1995. 205 BOSCOLO, M. Tese de doutorado. Caramelo e carbamato de etila em aguardente de cana. Ocorrência e quantificação. 2001. USP, Instituto de Química de São Carlos, São Paulo. BOSCOLO, M. et al. Identification and dosage by HRGC of minor alcohols and esters in brazilian sugar cane spirits. J. Braz. Chem. Soc., v. 11, n. 1, p. 86-90, 2000. BOURTON, R. The formation of ethyl carbamate from isocyanate and ethanol at elevated temperatures. In: Elaboration et Connaissance des Spiriteux, Tec & Doc., Paris: Cantagrel, R., p. 339 - 343, 1992. BOZA, Y.; HORII, J. Influência do grau alcoólico e da acidez do destilado sobre o teor de cobre na aguardente. Ciênc. Tecnol. Aliment., v. 20, n. 3, Campinas. p. 279 -284, set./dez. 2000. ______. Influência do grau alcoólico e da acidez do destilado sobre o teor de cobre na aguardente de cana. B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 1, p. 85-94, jan./ jun. 2000. ______. Influência da destilação sobre composição e a qualidade sensorial da aguardente de cana-de-açúcar. Ciênc. Tecnol. Alim., v. 18, n. 4, p. 391-396, out./dez. 1988. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Instrução Normativa Nº 13, de 29 de junho de 2005. Regulamento técnico para fixação dos padrões de identidade e qualidade para aguardente de cana e para cachaça. Diário Oficial da República Federativa do Brasil Nº 124, 30 jun. 2005, seção 1, f. 3-4. ______. ______. Secretaria de Defesa Agropecuária, Instrução Normativa nº 24, de 8 de setembro de 2005. Publicado no Diário Oficial da União de 20/09/2005, seção 1, página 11, 2005. ______. Complementação de padrões de identidade e qualidade para destilados alcoólicos. Separata de: Portaria nº 371, Diário Oficial da República Federativa do Brasil, M. A., 18 set., 78 p., 1974. ______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Regulamento da Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, aprovado pelo Decreto nº 2.314 de 04 de setembro de 1997. Brasília, 1997. ______.______. Decreto nº 4062, de 21 de dezembro de 2001. Define as expressões "cachaça", "Brasil" e "cachaça do Brasil" como indicações geográficas e dá outras providências. Publicado no D.O.U. 26.12.2001. ______.______. Decreto nº 4851, de 02 de outubro de 2003. Altera dispositivos do Regulamento aprovado pelo Decreto nº 2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Publicação D.O.U. - Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 03 de outubro de 2003. 206 ______. Resolução RE nº 899 ANVISA, de 29 de maio de 2003 . "Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos, "pub. no D.O.U. de 02 de junho de 2003 . ______. Métodos analíticos oficiais para análise de bebidas e vinagres, M.A., Portaria 076 de 27/11/86, pub. no D.O.U. de 03/12/1986, Brasil, seção 1, p. 1815218159. BRITO, N. M. et al. Avaliação da exatidão e da precisão de métodos de análise de resíduos de pesticidas mediante ensaios de recuperação. Pesticidas: R. Ecotoxicol. e Meio Ambiente, Curitiba, v. 12, p. 155 -168, jan./dez. 2002. BRUNO, S.N.F. Determinação de As e Pb em Vinhos por Espectrometria de Absorção atômica no Forno de Grafite. jun.1993. 63 f. Tese (Mestrado em Química Analítica). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). BUJAKE, J. E. Beverage spirits, distilled, In: KIRK-OTHMER ENCYCLOPEDIA OF CHEMICAL TECHNOLOGY, v. 4, 4. ed., USA : John Wiley e Sons, Inc., 1992. BUTANOLS - Four Isomers (EHC 65, 1987) INCHEM – International Programme on Chemical Safety. Environmental Health Criteria. Disponível em: <http://www.inchem.org/documents/ehc/ehc/ehc65.htm>. Acesso em 14 jul. 2005. BUTZKE, C.E. Impact of juice nitrogen status on wine quality. Cooperative Extension Enologist University of California, Davis. Disponível em: <http://www.u-bourgogne.fr/IUVV/Butzke/Butzke.pdf>. Acesso em 30 ago. 2005. BUTZKE, C.E.; BISSON, L. F. Ethyl carbamate preventative action manual, Depart. of Viticulture & Enology, U. of CA, Davis, CA, for US FDA, 1997. Disponível em :< http://www.cfsan.fda.gov/~frf/ecaction.html >. Acesso em: 13 maio 2006. CACHAÇA. FURG. Disponível em: <http://www.furg.br/ portaldeembalagens/ quatro/ cachaca.htm>. Acesso em 12 mar. 2006. _________. Disponível em: <http://inventabrasilnet.t5.com.br/cachaca.htm>. Acesso em 12 mar. 2006. CAGNON, J.R., CEREDA, M.P., PANTARROTO, S. Glicosídeos cianogênicos da mandioca: biossíntese, distribuição, destoxificação e métodos de dosagem. In:CEREDA, M.P. (COORD.). AGRICULTURA: CULTURAS DE TUBEROSAS AMILÁCEAS LATINO AMERICANAS, SÉRIE TUBEROSAS AMILÁCEAS LATINO AMERICANAS. v. 2, cap.5, p.83-89, 2002. CALDEIRA, I. et al. Aplicação da cromatografia em fase gasosa - olfactometria no conhecimento dos odorantes - chave em vinhos e aguardentes. LIVRO DE ACTAS DO 6º SIMPÓSIO DE VITIVINICULTURA DO ALENTEJO, Portugal, p.114 -120, 2004. Disponível em: < http://www.iniap.pt/default.aspx?uni=7>. Acesso em 12 mar. 2006. 207 CAMPILLO, M. Cachaça artesanal busca espaço no exterior. Gazeta Mercantil. Disponível em : <http://www.michelcampillo.info/articles/Cachaca-artesanal-buscaespaco-no-exterior.php>. Acesso em 18 maio 2005. CLAUS, M. J. ; BERGLUND, K.A. Fruit brandy production by batch column distillation with reflux. Journal of Food Process Engineering, v. 28, p.53-67, 2005. CANAS, B.J. et al. Determination of ethyl carbamate in alcoholic beverages and soy sauce by gas chromatography with mass selective detection. Collaborative study. J. AOAC Int., v.77, n.6, p.1530-1536, nov.- dez. 1994. CANUTO, M. H., et al. Determination of aluminum, cadmium and lead in brazilian sugar cane spirit, cachaça, by electrothermal atomic absorption spectrometry, using matrix matching calibration. At. Spectr., USA. v. 25, n. 3, p. 140-144, 2004. CARDELLO, H.M.A.B.; FARIA, J. B. Análise da aceitação de aguardentes de cana por testes afetivos e mapa de preferência interno. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 20, n.1, abr., 2000. CARDENAS, G.; TABOADA, E.; BRAVO, A. . SEM-EDX studies of chitosan derivatives-metal adducts. J. Chil. Chem. Soc., v. 48, n. 4, p. 49 - 53, 2003. CARDOSO, D. R. et al. Influência do material do destilador na composição química das aguardentes cana. Quim. Nova, Parte II, v. 26, p. 165-169, 2003. ______. HPLC - DAD analysis of ketones as their 2,4 -dinitrophenylhidrazones in Brazilian sugar-cane spirits and rum. J. Food Compos. Anal., v. 16, p. 563-573, 2003. CARVALHO, M. Cachaça e história. In:ÍCARO BRASIL. Revista de bordo Varig, 195, p. 14-110, nov. 2000. n. CASIMIRO et al. Produção de aguardente de cana. Apostila de Curso, Ceará, FIEC/DAMPI., out. 1998, 92 p. CAVALHEIRO, S. F. L. et al. Influência do envelhecimento no teor de cobre em cachaças. B.CEPPA, Curitiba, v. 21, n. 1, p. 99-108, jan./jun. 2003. CEE . Regulamento nº 2394/84, revogado pelo Regulamento nº 1622/2000, da CONSLEG System of the Office for Official Publications of the European Communities (2000R1622 — 01/05/2004). Disponível em:< http://europa.eu.int/eurlex/en/consleg/pdf/2000/ en_2000R1622_do_001.pdf>. Acesso em: 23 maio 2005. ______. Resinas permutadoras de ions (Artigo 12). Regulamento (CE) 1622/2000 da comissão de 24 de Julho de 2000, que estabelece determinadas normas de execução do Regulamento (CE) n.o 1493/1999, que estabelece a organização comum do mercado vitivinícola, e constitui um código comunitário das práticas e tratamentos enológicos, JO L 194 de 31.7.2000, 8. 208 ______. Regulamento nº 1576/89 do Conselho, de 29 de Maio de 1989, que estabelece as regras gerais relativas à definição, designação e apresentação das bebidas espirituosas. Disponível em : < http://europa.eu.int/eur-lex/lex/LexUriServ/ LexUriServ.do?uri=CELEX:31989R1576:PT:HTML>. Acesso em: 24 jul.2005. ______. Regulamento nº 1014/90 da Comissão, de 24 de Abril de 1990, que estabelece as normas de aplicação para a definição, designação e apresentação das bebidas espirituosas, Jornal Oficial nº L 105 de 25/04/1990 p. 0009 – 0010. Disponível em : <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX: 31990R1014:PT:NOT>.Acesso em : 05 dez.2005. CHUMBO. Disponível em :<http://www2.ufp.pt/cemas/CEMAS_c_UFP_files/ CEMAS _ ensino_UFP_files/vciair/poluentes/chumbo.htm>. Acesso em: 12 abr. 2006. COOCACHAÇA. Cooperativa da Cachaça de Minas Gerais. Mercado Atual . Disponível em: <http://www.coocachaca.com/artesanal_mercado.html>. Acesso em: 07 jul. 2005. COPELLO M. A mais brasileira das bebidas. Gazeta Mercantil - Caderno Fim de Semana - 30/01/2004. Disponível em: <http://www.feiradacachaca.com.br/ atendimentoreportagens/_%20Colunas%20de%20Marcelo%20Copello.htm>. Acesso em: 05 jun. 2005. COSTA L. E. História da cachaça. Disponível em : <http://www.brasilcult.pro.br/ cachaca/historia.htm>. Acesso em 02 fev. 2006. DAMÁSIO, M.H.; COSTELL, E. Análisis sensorial descriptivo: Generación de descriptores y selección de catadores. Ver. Agroquim. Tecnol Aliment., v. 31, n. 2, p. 165-178, 1991. DENNIS, M. J. et al. Method for the analysis of ethyl carbamate in alcoholic beverages by capillary gas chromatography. J. Chromatogr., Amsterdam, Netherlands. n.1, p. 193-198, 1986. ______. Cooperative trial studies on the analysis of ethyl carbamate using capillary gas chromatography. J. High Resolut. Chromatogr., v. 13, Apr. 1990. DeSILVA, F.J. The essentials of ion exchange. In: THE 25TH ANNUAL WQA CONFERENCE, Mar. 1999. Disponível em :<http://www.resintech.com/Content/ TechArticles/ Essential%20of%20Ion%20Exchange.pdf>. Acesso em 15 fev. 2006. DHARMADHIKARI , M. Stabilization by Ion Exchange. In: METHODS OF COLD STABILIZATION VINEYARD AND VINTAGE VIEW. Oct./Nov./Dec., v. 18, n. 2. 2002. Disponível em : <http://mtngrv.missouristate.edu/GrapeNewsletter/v3-18-2.pdf>. Acesso em 01 mar. 2006. DIAS, S. ; MAIA, A.; NELSON, D. Efeito de diferentes madeiras sobre a composição da aguardente de cana envelhecida. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, ago./out ., v. 18, n. 3, p. 331-334, 1998. 209 DIKTY, A. Rum . Disponível em: <http://www.tastings.com/spirits/rum.htm>. Acesso em 03 jan. 2005. DISTILLED BEVERAGE. In: WIKIPEDIA, THE FREE ENCYCLOPEDIA. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Spirits>. Acesso em 12 mar. 2005 DISTILLING . TERMINOLOGY. BAVARIAN-HOLSTEIN PARTNERS. Disponível em : <http://www.probrewer.com/resources/distilling/terminology.php>. Acesso em : 12 jun. 2005. DOWEX MARATHON C. Ion Exchange Resin Engineering Information. Dow Liquid Separations. Disponível em : <http://www.dow.com/liquidseps/lit/prodei.htm>. Acesso em : 20 mar. 2006. DOWEX Resins . Ion Exchange Applications. Disponível em: <http://www.dow.com/ liquidseps/prod/ix_apps.htm>. Acesso em : 20 out. 2005. E. I. DU PONT de Nemours and company method No. A3674.160.01.ST Du Pont Crop Protection First Revision: Hexazinone (DPX-A3674). Determination of ethyl carbamate (IN-08387) in hexazinone technical headspace gas chromatographic (GC) trace level method. December 16, 2005. Disponível em: <http://www.fao.org/ag/agp/agpp/pesticid/specs/docs/pdf/new/ d+e/m_hexazinone.pdf#search=%22Determination%20of%20Ethyl%20Carbamate% 20in%20 Hexazinone %20Technical%22>. Acesso em 22 ago. 2006. ELVAS, I.; RIZZO, D. Bendita Cachaça. GULA, Abril. Edição114, 2002. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/gula/drinks_outros/02_04_10_bendita_cachaca.shtml> Acesso em: 22 jul. 2004. EPA. Environment Protection Agency. US-EPA Method 200.7. Determination of metals and trace elements in water and wastes by inductively coupled plasma atomic emission spectrometry. In: METHODS FOR THE DETERMINATION OF METALS IN ENVIRONMENTAL SAMPLES, Supplement I, EPA-600/R-94/111, Cincinnati, OH , 1994. ESTERS. Detection Thresholds & Molecular Structures . In: Odor Properties & Molecular Visualization, Leffingwell & Associates. Disponível em : <http://www. leffingwell.com/esters.htm>. Acesso em 22 jul. 2004. ETHYL CARBAMATE. FIRST VENTURE TECHNOLOGY. 2006. Disponível em : <http://www.firstventuretech.com/s/EthylCarbamate.asp> Acesso em : 22 jun. 2005. ______. Survey of ethyl carbamate levels (µg/L) in commercial wines. Department of Food Science and Technology. Virginia Tech. Disponível em : <http://www.fst.vt.edu/extension/enology/extonline/extethylcar.html>. Acesso em 20 mar. 2006. EURACHEM GUIDE. The Fitness for Purpose of Analytical Methods – A Laboratory Guide to Method Validation and Related Topics, Published by LGC UK, 1998. Disponível em: <http://www.eurachem.ul.pt/guides/valid.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2005. 210 EVAPORATION & LIFE SCIENCE. Rectification of a two component mixture of solvents using a rotary evaporator. Information Bulletim, 2002/15. Disponível em : <http://www.suntex.com.tw/images/e_learning/7.pdf >. Acesso em: 15 mar. 2005. FARIA, J. B. et al. Cachaça, pisco and tequila. In: LEA, A.G. H; PIGGOTT, J. R. (Org.). Fermented Beverage Production, 2nd ed., New York: Kluwer Academic/ Plenium Publishers, p. 335-363, 2003. FITZGERALD, G. et al. Characterisation of whiskeys using solid - phase microextraction with gas chromatography – mass spectrometry. J. Chromatogr., A , p. 351-359, out. 2000. FOLHA ON LINE. Bebida é a segunda mais consumida no país. Disponível em: <httpp://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/comida13.htm>. Acesso em: 01 set. 2005. FOOD STANDARDS AGENCY. UK. Survey of ethyl carbamate in food and beverages. Food Survey Information Sheet.,78/05, Oct. 25, 2005. Disponível em: <http://www.food.gov.uk/multimedia/pdfs/fsis7805.pdf>. Acesso em: 08 mar. 2006. ______.______ Survey of ethyl carbamate in whisky. Food survey information sheet, n. 02/00. May 01, 2000. Disponível em : <http://www.foodstandards.gov.uk/ science/ surveillance/fsis2000/2whisky>. Acesso em 22 set. 2005. FOULKE, J. Urethane in alcoholic beverages under investigation. U. S. Food and Drug Administration, 1993. Disponível em: http://www.cfsan.fda.gov/~frf/ fc0293ur. html>. Acesso em: 23 jul. 2005. GONTIJO, M. A branquinha em números . In: Boletim Informativo UFMG Nº 1348 Ano 28 - 09.05.2002 . Disponível em : <http//:www.ufmg.br/boletim/ bol1348/quinta. shtml>. Acesso em 01 ago. 2005. GUTIERREZ, L.E. Produção de álcoois superiores por linhagens de Saccharomyces durante a fermentação alcoólica. Sci. Agric., Piracicaba, out./dez, Piracicaba, Brasil, v. 50, n.3, 1993. HARLAND ,C.E. Ion exchange: Theory and practice. 2nd ed., UK, The Royal Society of Chemistry, 1994, 285 p. HERBERT, P. et al. New HPLC method to determine ethyl carbamate in alcoholic beverages using fluorescence detection. J. Food Science, v. 67, n. 5, p.1616 -1620, 2002 . HESFORD, F.; SCHNEIDER K. Validation of a simple method for the determination of ethyl carbamate in stone fruit brandies by GC-MS. Mitt. Lebensmitt.unters. Hyg., v. 92, n. 3, p. 250–259, 2001. HOFFLER, U. et al. Cytochrome P450 2E1 (CYP2E1) is the principal enzyme responsible for urethane metabolism: comparative studies using CYP2E1-null and 211 wild-type mice. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, v. 305, n. 2, p. 557-564, May 2003. INMETRO. Programa de Ensaios em Metrologia Científica e Industrial. Fórum para Discussão dos Resultados do Ensaio em Proficiência em Cachaça. Relatório. Rio de Janeiro , mar. 2005. ______.______. Relatório Preliminar do Ensaio em Proficiência em Cachaça. 2a rodada, Rio de Janeiro, maio 2006. ______. Expocachaça em Minas Gerais. Notícias e Eventos. maio, 2006. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/noticias/verNoticia.asp?seq_noticia =1937. b> . Acesso em 23 abr. 2006. ______. Orientações sobre validação de métodos de ensaios químicos. DOQCGCRE-008. Revisão, 36 p., 01 mar. 2003. IBCA. Instituto Brasileiro da Cachaça de Alambique. Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica do Arranjo Produtivo da Cachaça do Estado de Tocantins. Disponível em:<http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/DowContador?OpenAgent&un id=EBE934D872BC924903257219006FED01 - Resultado Adicional. Acesso em 12 out. 2006. ION EXCHANGE. Resin components. Disponível em : <http//: separationprocesses. com/Adsorption/AD _Chp04b.htm>. Acesso em 02 maio 2006. IPCS. International Programme on Chemical Safety. Hydrogen cyanide and cyanides: human health aspects, 2004. Disponível em: <http://www.inchem.org/ documents/cicads/cicads/cicad61.htm>. Acesso em: 07 ago. 2006. ISIQUE, W.D.; LIMA NETO, B.S.; FRANCO, D.W. The presence of polyphenols in flocs from sugar cane spirit. In: LIVRO DE RESUMOS. II BRAZILIAN MEETING ON CHEMISTRY OF FOOD AND BEVERAGES, Araraquara, SP, Brasil, p.2, dez. 1999. JACKSON, R.S. Wine Tasting: A Professional Handbook. UK : Academic Press., 1. ed., 2002. 295 p. JANZANTTI, N.S. Compostos voláteis e qualidade de sabor da cachaça. 2004. 179 f. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos). Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo. JOINT FAO/WHO. Ethyl carbamate. In: Expert Committee on Food Additives. Sixty-Fourth meeting, Food and Agriculture Organization of the United Nations. World Health Organization. Summary and Conclusions. Rome, Feb. 8 -17, 2005. Disponível em: <http://www.who.int/ipcs/food/jecfa/summaries/summary_report_64_ final.pdf>. Acesso em 09 out. 2005. ______. FOOD STANDARDS PROGRAMME CODEX ALIMENTARIUS COMMISSION, 2004, APPENDIX V- Proposed draft guidelines for evaluating 212 acceptable methods of analysis report of the twenty-fifth session of the codex committee on methods of analysis and sampling. Budapest, Hungary 8 – 12 Mar. 2004. Disponível em: <http//:www.ftp.fao.org/docrep/fao/meeting/008/j2291e.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2006. KALID,R.A. Controle de coluna de destilação. Apostila de curso. Laboratório de Controle e Otimização Industrial - Depto Engenharia Química, MAEQ, UFBA. 2002. KORHOLA, M.; HARJU, K.; LEHTONEN, M. Fermentation. In: THE SCIENCE AND TECHNOLOGY OF WHISKIES. [s.n.] , Cap. 4, p. 89 -113, 1998. KRISTIANSEN, E.; CLEMMENSEN, S.; MEYER, O. Chronic ethanol intake and reduction of lung tumours from urethane in strain A mice. Food Chem. Toxicol., v. 28 n.1, p. 35-38. Jan. 1990. LABANCA, R.A. Teores de carbamato de etila, cobre e grau alcoólico em aguardentes produzidas em Minas Gerais. 2004. 62 f. Tese (Mestrado em Ciência de Alimentos), Universidade Federal de Minas Gerais, MG. LACHENMEIER D. W. et al. Retrospective trends and current status of ethyl carbamate in German stone-fruit spirits. Food Additives and Contaminants. Taylor & Francis , v. 22, n. 5, p. 5397 - 5405, May 2005. LACHENMEIER, D.W.; UTA N. ; THOMAS K. Automated determination of ethyl carbamate in stone-fruit spirits using headspace solid-phase microextraction and gas chromatography–tandem mass spectrometry. J. Chromatogr., A, p. 116 -120, 2006. LASATER , M.A. Application of GC and MS for target analysis and quantitation. As published in LabPlus international – Oct. 2005. Disponível em: <http//:www.labplusinternational.com/ pdf/LPI%20Oct.2005_51003.pdf>. Acesso em: 03 fev. 2006. LAUS, E. A Cachaça na história do Brasil. Disponível em: <http://www.novomilenio. inf.br /sv/svh028d.htm>. Acesso em: 23 fev. 2006. LAWLESS, H. T. et al. Metallic taste and retronasal smell. Chemical Senses, v. 29, n.1, Oxford University Press, p.25–33, 2004. LÉAUTÉ, R. Distillation in alambic. Am. J. Enol. Viticult., v. 41, p. 90-103, 1990. LEINONEN, H. Removal of harmful metals from waste waters using selective ion exchangers metal plating. Report Series in Radiochemistry. Academic dissertation. Faculty of Science of the University of Helsinki, 1999. Disponível em: <http://www.ethesis.helsinki.fi/julkaisut/mat/kemia/vk/leinonen/removalo.pdf>. Acesso em 30 out. 2005. 213 LILLY, M.; LAMBRECHTS M. G.; PRETORIUS, I. S. Effect of increased yeast alcohol acetyltransferase activity on flavor profiles of wine and distillates. Appl. Environ. Microbiol. , v. 66 , n.2, p. 744 - 753, Feb.2000. LIMA NETO, B.S.; FRANCO, D.W. A aguardente e o controle químico de sua qualidade. Engarrafador Moderno. v. 33, n. 4, p. 5 - 8, 1994. LYONS, T.P. Production of Scotch and Irish whiskies: their history and evolution. In: The Alcohol Textbook. Alltech Inc., 3rd ed., 1999. Disponível em: <http://distillers.tastylime.net/library/Listings2.htm#Articles%20Listings>. Acesso em 30 jul. 2006. MACKENZIE, W. M.; A. H. CLYNE, L. S. MCDONALD. Ethyl carbamate formation in grain based spirits. Part II. The identification and determination of cyanide related species involved in ethyl carbamate formation in Scotch whisky. J. Inst. Brew. , v. 96, p. 223-232, 1990 MAIA, A. B. Componentes secundários da aguardente. STAB, Belo Horizonte, v. 12, n. 6, p. 29-33. jul./ago. 1994. ______. . Destilação da cachaça. In: PRODUÇÃO E QUALIDADE DA CACHAÇA (curso), Centro de Tecnologia para Produtos Alimentares, CETEC / SENAI, Vassouras - RJ, p. 18-22, set. 2000. ______. Tópicos especiais em destilação e envelhecimento. In: CURSO DE TECNOLOGIA DA CACHAÇA. MÓDULO III. Amarantina, MG: [s.n.], 22 p., 2000. MARTÍNEZ - RODRIGUEZ, A J; CARRASCOSA, A V; POLO, M C. Release of nitrogen compounds to the extracellular medium by three strains of Saccharomyces cerevisiae during induced autolysis in a model wine system. International Journal of Food Microbiology, v.68, p. 155 -160, Aug. 2001. MASSART, D.L. et al. Data handling in Science and technology. Handbook of Chemometrics and Qualimetrics, Part A, Elsevier Science, p. 130-135, 1997. MELLO, C.; FABIANA T.; LIMA, M. Aromatizantes/Anvisa. Seminário: Depto. de Tecnologia de Alimentos - Universidade Federal do Rio Grande Do Sul, 2004. Disponível em: <http:// www.ufrgs.br/Alimentus/ped/seminarios/2004/aroma.doc>. Acesso em 15 jan. 2006. MELLO, S.B.A. Levantamento hipotético de formação de precipitados. In: RELATÓRIO TÉCNICO. N.C. Indústria e Comércio de Bebidas. Anápolis, 10 p., set. 1999. MILLER, J.C., MILLER, J.N. Statistics for Analytical Chemistry. Horwood, 3rd ed., 1993. 233 p. MIRANDA, M. B. Avaliação físico-química de cachaças comerciais e estudo influência da radiação sobre a qualidade da bebida em tonéis de carvalho. ago. 214 2005. 70 f. Tese (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos), Escola Superior Luís de Queiroz, Piracicaba, SP. MOSEDALE, J. R.; PUECH , J. L. Wood maturation of distilled beverages. March Review. Trends in food science e technology, v. 9, p. 95-101, 1998. MOSKOWITZ, H.R. Product testing and sensory evaluation of foods. Marketing and R & D approaches. Food and Nutricion Press Inc., Westort, Conn., 1983. 605 p. MURTAGH, J.E. Feedstocks, fermentation and destillation for production of heavy and light rums.In: THE ALCOHOL TEXTBOOK:. 3rd ed., Alltech Inc., Cap.16, 1999. Disponível em: http://distillers.tastylime.net/library/ Listings2.htm. Acesso em: 12 dez. 2005. ______. Production of neutral spirits and preparation of gin and vodka. In: THE ALCOHOL TEXTBOOK, Alltech Inc, 3rd ed., Cap. 13, 1999. Disponível em : < http://distillers.tastylime.net/library/ Listings2.htm>. Acesso em 12 dez. 2005. ______. The Alcohol Glossary. Disponível em:<http://www.murtagh.com/alphab3.htm>. Acesso em: 24 mar. 2006. MUTTON, M. J. R.; MUTTON, M. A. Aguardente. In: TECNOLOGIA DE BEBIDAS. MATÉRIA-PRIMA, PROCESSAMENTO. BPF/APPCC, Legislação e Mercado. São Paulo: Edgar Blücher, 1. ed., p. 485-524, 2005. ______. Cachaça: orientações técnicas para produção. In: CURSO, ABRABE APEX - PBDAC. São Paulo, SP, BRASIL, 2002. p. 113. Em CD. NAGATO, L.A.F., et al. Quantitation of ethyl carbamate (EC) by gas chromatography and mass spectrometric detection in distilled spirits. Madrid, Alimentaria, n. 311, p. 31- 36, 2000. NASCIMENTO, R.F. et al. Influência do material do alambique na composição química das aguardentes de cana-de-açúcar . Quim. Nova , v. 21, n.6, p.735739, 1998 ______. Comparação dos métodos oficiais de análise e cromatográficos para a determinação dos teores de aldeídos e ácidos em bebidas alcoólicas. Ciênc. Tecnol. Alim., Campinas, ago/out., v. 18, n. 3, p. 350 - 355, 1998. ______. Determination of acids in brazilian sugar cane spirits and other alcoholic beverages by HRGC-SPE. Chromatographia, v. 48, n. 11/12. 1998. ______. Mineral profile of brazilian cachaças and other international spirits. J. Food Compos. Anal., Academic Press, v. 12, n. 1, p. 17-25, Mar. 1999. N-BUTYL ALCOHOL. CAS N°: 71-36-3. Unep Publications. Disponível em : <http://www.chem.unep.ch/irptc/sids/OECDSIDS/71363.pdf>. Acesso em: 29 set. 2005. 215 NÓBREGA, I.C.C. Análise dos compostos voláteis da aguardente de cana por concentração dinâmica do “Headspace” e cromatografia gasosa-espectrometria de massas. Ciênc. Tecnol. Alim, v. 23 , n. 2, p. 210-216, maio/ago. 2003. NOGUEIRA, M.P ; VENTURINI FILHO, W.G. Aguardente de cana. UNESP, Botucatu, SP, 2005. Disponível em : <http://www.fca.unesp.br/intranet/arquivos/ waldemar/Aguardente%20de%20Cana%20-Completo.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2005. NOVAES, F. V. Produção de aguardente de cana. In: CURSO DE TECNOLOGIA DE AGUARDENTE DE CANA. Delegacia Federal de Agricultura de Minas Gerais, maio, 1993. ______. Produção de aguardente de cana de alambique. In: PROGRAMA DE FORTALECIMENTO DO SETOR DE AGUARDENTE DE CANA DE AÇÚCAR E SEUS DERIVADOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Apostila. SEBRAE-FAERJAPACERJ, 45 p., 1999. ______. Carbamato de etila em aguardente de cana. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Dep. De Ciência e Tecn. Agroind Publ. Interna., 11 p., 1996. ______.______. Tópicos. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz., Dep. de Ciência e Tecn. Agroind. Publ. Interna, 7 p., [199-]. ______.______. Palestra. In: Wokshop sobre Contaminantes em Cachaça, MAPA Anexo, Brasília, DF, 30 ago. 2005. NYKÄNEN, L., NYKÄNEN, I. Distilled beverages. In: Volatile compounds in foods and beverages. New York: Marcel Dekker, Inc., MAARSE, H., p. 548-576, 1991. NYKÄNEN, L., SUOMALEINEN, H. Aroma of beer, wine and distilled alcoholic beverages. Alemanha: D. Reidel Publ. Company, 1983. 413 p. NUNES, M. Nossa cachaça não é mais aquela. Disponível em : <http://www. feiradacachaca.com.br/reportagens/FAAP%20-%20MBA%20-%20Luxo.htm>. Acesso em : 14 maio 2006. OIV. Organisation Internationale de la Vigne et du Vin. COMPENDIUM OF INTERNATIONAL METHODS OF ANALYSIS. Resolution Oeno 8/1998. Ethyl carbamate, 1998, 4p. Disponível em <http://news.reseau-concept.net/ images/ oiv_uk/Client/MA-E-AS315-04-CARETH.pdf>. Acesso em : 15 ago. 2006. ______.______. Compendium of International Methods of Wine And Must Analysis. ed. 2006 .v.2, Paris: OIV, 2006. 416 p. ______.______. Recueil des méthodes internationales d’analyse des boissons spiritueuses, des alcools et de la fraction arômatique des boissons, Paris : OIV,1994. 311 p. 216 OLIVEIRA, A. F. et al. Sistema agroindustrial da cachaça e potencialidades de expansão. Disponível em: <http//:www.fearp.usp.br/ egna/resumos/Oliveira.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2006. OLIVEIRA, A.J. Contribuição ao estudo da remoção do cobre da aguardente de cana-de-açúcar com resinas catiônicas. 1970. 60 f. Tese (Doutorado em Agronomia), Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, Universidade de São Paulo. OLIVEIRA, J. M. M. Aromas varietais e de fermentação determinantes da tipicidade das Castas Loureiro e Alvarinho. 2000. 267 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química e Biológica), Escola de Engenharia, Universidade do Minho, Portugal. OUGH, C. S. AND AMERINE, M. A. Methods for analysis of musts and wines. 2nd ed., New York: J. Wiley e Sons, 1988. 377 p. PAPINI, R.S. Rum. In: CURSO DE DE TECNOLOGIA DE BEBIDAS Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), Secretaria de Agricultura, SP, jun.1995. PATARO et al. Utilização de leveduras selecionadas na fabricação da cachaça de alambique. In: EXPOCACHAÇA 2003, Programação Técnico Científica e Resumo dos Trabalhos, Belo Horizonte, MG, p. 46, jul. 2003. PDBAC Informativo. Uma história do tamanho do Brasil. In: Boletim do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha ou Cachaça. Ano 1, São Paulo: Xamã, maio 2000, 4 p. Edição especial. PEYNAUD, É.; BLOUIN , J. O gosto do vinho. 3. ed. Lisboa : Litexa, 1997. 275 p. PEAD. Polietileno de Alta Densidade. In: Plásticos de Engenharia. Disponível em : <http://www.daybrasil.com.br>. Acesso em : 15 jul. 2003. PINTO, G. L. Fabricação de aguardente. Informe Técnico. Ano 7, n. 57, Universidade Federal de Viçosa, nov.1986. POLASTRO, L.R. et al. Compostos nitrogenados em bebidas destiladas: cachaça e tiquira. 78 Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v.21, n. 11, p. 78-81, jan./abr. 2001. POLASTRO, L. R. Análise de íons metálicos, amônio, uréia e aminoácidos em aguardente.1999. 55 f. Tese (Mestrado em Química Analítica), Instituto de Química da São Carlos (IQSC -USP). RALPH, R. Production of American Whiskies : Bourbon, Corn, Rye and Tennessee whiskies. In: THE ALCOHOL TEXTBOOK, 3rd ed., 1999. Disponível em < http://distillers.tastylime.net/library/Listings2.htm#Articles%20Listings>. Acesso em 30 jul. 2006. RANKINE, B. C. Formation of higher alcohols by wine yeasts, and relationship to taste thresholds. J. Sci. Food Agric., v. 18, p. 583-589, Dec. 1967. 217 RIBANI M. L. Validação em métodos cromatográficos e eletroforéticos. Revisão. Quim. Nova, v. 27, n. 5, p. 771-780, 2004. RIFFKIN, H. L. et al. Ethyl carbamate formation in the production. of pot still whisky. J. Inst. Brew., Edinburgh, v. 95, p.115 -119, Mar./Apr. 1989. RIFFKIN, H. L.; WILSON, R.; BRINGHURST, T. A. The possible involvement of Cu II peptide /protein complexes in the formation of ethyl carbamate. J. Inst. Brew., v. 95, p.121-122, 1989. ROESSLER, E.B. et al. Expanded statistical tables for estimating significance in paired-preference, paired-difference, duo/trio and triangle test. J. Food Sci., v. 43, n. 3, p. 940 - 943, 1978. ROSA ,C.A. Fermentação na produção de cachaça. In: CURSO DE TECNOLOGIA DE CONTROLE E PADRONIZAÇÃO APLICADA À PRODUÇÃO ARTESANAL DE CACHAÇA, Ouro Preto - MG. 15 -17 ago. 2000. ROHM AND HAAS. Ion exchange resins. Applications. Disponível em <http://www.rohmhaas. com/ionexchange/applicat.htm>. Acesso em 11 jul. 2006. : RUM. In : BEBIDAS de A a Z. Disponível em : <http://www.ukebeber. com.br>. Acesso em: 05 jan. 2006. SALT INSTITUTE. Supplementary Comments on the Preliminary Regulatory Determinations for Priority Contaminants on the Drinking Water Contaminant Candidate List (RIN 2040-AD61), 2002. Disponível em: <http://www.saltinstitute.org/ pubstat/ccl8-02suppl.html>. Acesso em: 27 ago. 2006. SARGENTELLI, V.; MAURO, A.E.; MASSABNI, A.C. Aspectos do metabolismo do cobre no homem. Quim. Nova, v. 19, n. 3, p. 290-293, 1996. SAS INSTITUTE SASR USER’S GUIDE 6. 4th Edition. SAS Institute Inc.,Cary, NC, USA. 1999. SEGAL, M. Too many drinks spiked with urethane. US Food and Drug Administration, Sept. 1988. Disponível em : <http://www.cfsan.fda.gov/~frf/ fc0488ur. html>. Acesso em: 12 abr. 2006. SCHEHL, B. Development of a genetically defined diploid yeast strain for the application in spirit production. dez. 2005. 148 f. Tese (Doutorado em Ciências Naturais), Universidade de Hohenheim, Stuttgart, Alemanha. Disponível em : <http//:www.uni-hohenheim.de/ub/opus/volltexte/2005/119/pdf/Dissertation_Schehl_ B.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2006. SEBRAE-SP. Cachaça brasileira terá certificação e selo do Inmetro. 2006. Disponível em : < http://www.sebraesp.com.br/principal/not%C3%ADcias/ arquivos/ 2005624/ntc3.wspx> .Acesso em 02 set. 2006. 218 SNIFFER 9000. The GC-olfactive measurement system. Instruction Manual. Disponível em: <http://www.bongil.com/paper/sniffer_eng.pdf#search=%22GC%20 olfactometry%20%2B%20low% 20odor%20thresholds%20% 2B%20beverages%22>. Acesso em: 12 ago. 2006. SOARES , L. M. V. Como obter resultados confiáveis em cromatografia. ARTIGO TÉCNICO. Rev. Inst. Adolfo Lutz, v. 60, n.1, p. 79-84, 2001. STONE, H. et al. Sensory evaluation by quantitative descriptive analysis. Food Technology , v. 28, n. 11, p. 24- 34, 1974. STONE, H. & SIDEL, J.L Sensory evaluation practices. 2nd ed., Academic Press, 1993. 337p. STUPIELLO, J. P. Destilação do vinho. In: MUTTON, M. J. R.; MUTTON, M. A. AGUARDENTE DE CANA: PRODUÇÃO E QUALIDADE. Jaboticabal, São Paulo : FUNESP/ UNESP, p. 67-78., 1992. TAKI, N. et al. Cyanate as a precursor of ethyl carbamate in alcoholic beverages. Jpn. J. Toxicol. Environ. Health, v. 38, n.6, p. 498-505, 1992. THAM, M.T. Distillation, an introduction. Disponível em : <http://lorien.ncl.ac.uk/ ming/distil/distil0.htm>. Acesso em 22 fev. 2006. TONÉIS & CIA . A História da cachaça. Disponível em : <http://www.toneis.com. br/modules.php? name=Newsefile=articleesid=56> Acesso em : 12 mar. 2006. TONÉIS & CIA . Cachaça: aguardentes industriais e artesanais. Disponível em : http://toneis.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=105. Acesso em : 11 out. 2005. VIEIRA, A. M. UFMG desenvolve inovações para melhorar qualidade da cachaça BOLETIM DA UFMG. Nº 1478 - Ano 31 - 7.4.2005. Disponível em: <http://www.ufmg.br/boletim/bol1478/quarta.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2005. WALKER T.L.et al. Control of Cynthiana wine attributes using ion exchange on different prefermentation treatments. Am. J. Enol. Vitic., v. 54, n. 1, p. 67-71, 2003. WANIKAWA, A.; HOSOI, K.; KATO, T. Conversion of unsaturated fatty acids to precursors of - lactones by lactic acid bacteria during the production of malt whisky. J. Am. Soc. Brew. Chem., v. 58, n. 2, p. 51-56, 2000. WANIKAWA et al. Identification of characteristic flavor compounds in malt whisky. AKIRA, Kenji Hosoi, Nobuaki Yamamoto and Kei-ichi Nakagawa, ASBC, American Society of Brewing Chemists Annual Meeting. Poster 23, June 8, 2002. Disponível em : <http://www.asbcnet.org/meetings/2002/posters_online.html> Acesso em : 29 maio 2006. WATERS Corporation - Mass Spectrometry. Disponível em: <http://www.waters.com/ WatersDivision/ContentD.asp?watersit=EGOO-66MNYR&WT.svl=1> Acesso em: 27 maio 2006. 219 WHITON, R.S; ZOECKLEIN B.W. Determination of ethyl carbamate in wine by solidphase microextraction and gas chromatography/mass spectrometry. Am. J. Enol. Vitic., v. 1, n. 53, p. 60-63, 2002. URETHANE Reagent (Chempac). Disponível em : <http://cgi.ebay.com/UrethaneReagent-125g-hempac_WOQQitemZ7595792423categoryZ104233QQcmdZViewI tem > . Acesso em : 15 abr. 2006. VCU. Virginia Commonwealth University. The Chemical/Biological Safety Section (CBSS) of the Office of Environmental Health and Safety: Working with Urethane. Rev. 16 nov. 2005 . Disponível em: <http://www.vcu.edu/oehs/chemical/biosafe/ urethane.pdf>. Acesso em : 25 jun. 2006. VOGEL, A.I. Análise Química Quantitativa. 6 ed. , Rio de Janeiro : Livros Técnicos e Científficos Editora S.A., p. 69 -71, 2002. ZIETSMAN et al. Preventing ethyl carbamate formation in wine. A Technical Guide for Wine Producers. Department of Microbiology, University of Stellenbosch. Disponível em : <http://www.wynboer.co.za/recentarticles/1200ethyl.php3>. Acesso em : 22 mar. 2006. ZIMBRES, E. Química da água subterrânea. 2005. Disponível em: <http://www. meioambiente.pro.br/agua/guia/aguasubterranea.htm> . Acesso em : 19 abr. 2006. ZOECKLEIN et al. Análisis y produccíon del vino. Zaragoza, Espanha: Editorial Acribia, p. 411- 413, 2001. 220 ANEXO:TRABALHOS __________________________________________________ 221 1. Avaliação Sensorial e Físico-Química de Destilados Alcoólicos de Cana-de-Açúcar Produzidos no Estado do Rio de Janeiro Antes e Após Tratamento por Resina Catiônica Comercial . In: XIV ENAAL (12 a 16/7/2005, Gioânia). Agraciado com Menção Honrosa por avaliação como melhor trabalho de Análise Sensorial. 2. Redução dos Teores de Carbamato de Etila (uretana) em Cachaças Fluminenses Empregando Resinas Catiônicas, durante o V Simpósio Latino Americano de Ciência de Alimentos , Campinas. Anais do V Slaca, 2003. 2. Utilização da Técnica de CG-EM para Monitorar os Teores de Carbamato de Etila em Cachaças do Rio de Janeiro. In: X Congesso Latino-Americano de Cromatografia e Técnicas Afins (COLACRO), Campos do Jordão; out. 2004 4, 5. Avaliação do Perfil dos Teores de Carbamato de Etila em Cachaças e Aguardentes de Cana Produzidas no Estado do Rio de Janeiro por CG-EM e Avaliação dos Teores de Contaminantes Metálicos em Cachaças Produzidas no Estado do Rio de Janeiro Tratadas e Não Tratadas por Resina Catiônica, apresentados no XIII Encontro Nacional de Química Analítica (ENQA). UFF, RJ, de 12 a 16/9/2005. Nota: O autor da presente tese participou sempre como primero autor em todos trabalhos supracitados. O Prof. Dr. Delmo Santigo Vaitsman (orientador) participou como segundo autor, exceção feita ao trabalho 1, que teve a colaboração valiosa da Dra Mônica Queiroz de Freitas, da UFF.