Revista Aprendizes 2012

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Revista Aprendizes 2012
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PON
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ARTIGOS
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
ENTREVISTA COM MARCO ANTONIO FETTER
SEMEC
Secretaria Municipal de Educação e Cultura
www.ivoti.rs.gov.br
Realização | Prefeitura Municipal de Ivoti 2009-2012
Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Comissão Editorial | Adriana Cristina Ahlert, Carla Isabel Haupenthal, Flávio
Adolfo Tietze, Iricelda Inês Welter Weber, Juliana Petry, Julici L. Lippert Altenhofen e Raquel Dilly Konrath
Revisão Ortográfica | Flávio Adolfo Tietze
Capa, Editoração e Revisão | Alphaville Serviços Computadorizados
Tel. 51 3563.1095 • [email protected] • www.alphavillepublicidade.com.br
SUMÁRIO
EDITORIAL |
ENTREVISTA
Entrevista com Marco Antonio Fetter | 5
ARTIGOS
1. Educação Integral nas Escolas do Campo de Ivoti | 16
2. Atividade física = Qualidade de vida | 18
3. Professor gestor? | 20
4. Dialogando sobre aquisição de linguagem e surdocegueira | 22
5. Família na Atualidade | 25
6. Alterações da Fala ou Alterações da Linguagem? Conhecendo para prevenir na Educação Infantil | 27
7. Sobre o aprender/ensinar em nosso tempo – diferentes modos de olhar | 30
8. Família e escola: práticas educativas para conquistar a aproximação entre ambos e os reflexos na
aprendizagem do educando | 32
9. Gestão Democrática e a Gestão Escolar | 34
10. Dança e aprendizagem: experiências de pais e alunos do Programa Lazer Unindo Gerações – PLUG | 36
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
1. Concerto Didático: Uma Aula de Apreciação e de Vivências Musicais | 39
2. O Espetáculo na Infância | 41
3. Afinal, qual foi “A Invenção de Hugo Cabret?” | 43
SUMÁRIO
Sumário
SUMÁRIO
SUMÁRIO
Sumário
4. Tesouro Verde: Um olhar sobre a educação a partir da Amazônia | 46
5. “Descobrindo a Arte que está mim!” Projeto dos primeiros anos | 49
6. A árvore que dava dinheiro e rendeu frutos | 52
7. Atendimento Educacional Especializado: Recursos e Serviços que Promovem a Inclusão Escolar | 54
8. Meu Lixo, Teu Lixo, Nosso Lixo! | 56
9. As Formas da Reforma | 58
10. Arte + Geografia = Um Novo País | 60
11. DAVI: Como é Bom Estar Contigo! | 62
12. Projeto: E, no Castelo... | 64
13. Projeto: De volta para casa | 66
14. O brincar e a elaboração de projetos na Educação Infantil | 68
15. Mascote Noelzinho | 70
16. Projeto Adolescer | 73
17. Docência Compartilhada ou Bidocência – Um novo desafio! | 75
18. A agricultura de subsistência e as sementes crioulas | 77
19. Uma Escola com Jardim Suspenso na Cidade das Flores | 79
20. Competição Escolar por Outro Olhar | 81
21. Empreendedorismo Rural: Turismo Rural Pedagógico | 83
22. Descobrindo Formas de Escrever | 85
23. Nossa História Produzida em Detalhes | 87
24. Softwares Educativos JClic e Hot Potatoes: Como Auxiliam no Processo de Ensino e Aprendizagem
na Educação Infantil | 89
ENTREVISTA
Entrevista com
1. A partir das diversas mudanças na formação familiar, qual seria o atual conceito de
“família”? De que forma essas diferentes constituições familiares estão sendo vistas na sociedade atual?
A Família é a principal instituição da sociedade. É assim no Ocidente como no Oriente. Sem
a Família, qualquer outro tipo de organização,
poder, identidade e propriedade teriam que ser reconsiderados de maneira profunda. As famílias são
grupos de pessoas que decidem sobre suas vidas
cotidianas de maneiras muito diferentes e amplas.
Ela é a máxima instituição pública do cotidiano e
também a instituição mais instável.
A Família, tradicionalmente, se caracteriza
desde enfoques filiais, de parentesco, generacionais ou de constituição, desde os quais se reconhece a família nuclear (mãe, pai e filhos) e a família extensa (parentes sanguíneos e consanguíneos).
A Família brasileira – de uns tempos até hoje
–, está cada vez mais distante do modelo clássico:
pai todo-poderoso, mãe dona-de-casa e muitos filhos. Organizações consideradas até pouco tempo
“incomuns”, envolvem hoje milhões de brasileiros: mães solteiras, pai solteiro que criam seus
filhos sozinhos, aqueles que criam seus filhos nas
casas dos pais, mulheres e homens sós – ou juntos
– criando filhos... E assim segue.
Pessoalmente, fundamento meus trabalhos
Sociólogo, Doutor em Sociologia da Família,
Consultor da ONU para o Brasil em Assuntos
de Família
definindo Família como – em sentido estrito – uma
constelação de pessoas interdependentes convivendo juntas e repartindo entre si o acesso a um
campo afetivo comum.
É necessário reconhecer que, mesmo assim,
novas formas de organizações familiares existem
e se efetivam: aquelas famílias em que existem
várias gerações, e em cada uma delas, é possível
reconhecer níveis de chefia, por exemplo, a mãe
ou a avó.
Existe uma discussão importante no significado de vincular a palavra Família com Democracia. Se existe Democracia como forma de governo,
também existe a Democracia como uma forma de
vida, como um estilo de vida. Quem sabe, como
uma Família Cooperativada.
Nossas raízes religiosas nos impossibilitam
olhares diversos, e apesar das mudanças e movimentos na constituição das famílias, prevalece um
modelo único que pressiona para outras famílias
distantes a esse modelo único ou radicado no imaginário coletivo. Esse modelo que temos de Família – mãe, pai e filhos – é o modelo de pressão social
para outros tipos de famílias. Logo, a Família Brasileira não é única, mas múltipla. Transformações
sociais e culturais que se processaram nas últimas
décadas reacomodaram as maneiras como as pessoas costumam se agrupar sob um mesmo teto.
Para isso, basta abrir as portas e janelas de
muitas de nossas casas!
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Marco Antonio Fetter
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2. Na sua opinião, as diferentes configurações de famílias existentes na sociedade interferem no desenvolvimento integral dos filhos?
Será sempre na nossa casa – na nossa comunidade familiar – que o ser humano aprende a oferecer o bem comum que pode, e deve, receber o
que necessita para a sua realização. Vivendo juntos
na mesma casa, pais e filhos, temos a oportunidade
de exercitar uma relação profunda de plena reciprocidade com as pessoas que amamos. Com todas
elas.
Para nossos filhos, nós, pais, sempre seremos os seus principais modelos de conduta perante
a vida, independentemente de qualquer configuração de Família existente. Sendo assim, a melhor
maneira existente para o desenvolvimento integral
dos nossos filhos, é de um aprender com o outro e
vivenciar com intensidade e emoção o cotidiano
da vida em Família, o dia a dia de uma casa com
os seus fatos e os seus atos. De cada um.
O que sempre disse, e vou continuar dizendo,
é que temos a obrigação de tentar cada vez mais
e com mais intensidade buscar a felicidade com
as pessoas que amamos. Na verdade, e pensando
bem, o que interfere no desenvolvimento integral
dos filhos é que somos capazes de indicar o caminho para eles seguirem e nós, seguirmos outro!
3. Crianças que possuem relações afetivas
“tumultuadas”, com pouca demonstração de
carinho, amor, afeto, normalmente, mostramse mais carentes, inseguras, e apresentam, algumas vezes, atitudes agressivas, brigam, sentemse rejeitadas. Como trabalhar e lidar com isso
na sala de aula, a fim de que, futuramente,
elas possam acreditar na família, oferecendo
a seus filhos segurança e amor para que todos
os membros da família tenham uma vida emocional boa?
Neste nosso mundo imediatista, a melhor
maneira de auxiliar uma criança, um aluno, um filho, é nunca desistir de acreditar nele. Não desistir
de uma criança jamais, e acreditar em todas elas.
Este é o melhor caminho. Constata-se que, pelo
comportamento e relacionamento dos próprios pais
e adultos responsáveis, as crianças poderão ou não
acreditar no amor e na vida. Se não vivenciaram
as qualidades éticas e morais, como poderão sentilas, vivenciá-las e reproduzi-las em sua vida?
Precisamos convencer-nos que os sentimentos de carinho, amor, bondade, solidariedade,
gratidão e respeito formarão a base sobre a qual se
desenvolverá a autoestima e a autoconfiança, sem
os quais não existirá um ser humano equilibrado,
crítico, autônomo, responsável e livre para amar a
vida em si e no outro.
As crianças, todas elas, necessitam de “alguém” seguro que as oriente, mostrando-lhes uma
direção com firmeza e ternura. Amanhã, certamente, serão persistentes em continuar um mundo
humano e justo, porque o amor e a alegria de viver
transformaram-se numa experiência de vida inesquecível!
4. Por que, na medida que os filhos
crescem, muitos pais não demonstram o mesmo
interesse pela vida escolar dos filhos como faziam quando eles eram menores? Como trazêlos de volta?
A Família e a Escola: é um sonho possível?
Sim, mas é preciso querer. Os novos contextos familiares existentes geram, muitas vezes – para os
filhos –, uma sensação de abandono, pois a ideia
de um pai e de uma mãe “cuidadores” dá lugar a
diferentes mães e pais “gerenciadores” de filhos
que nem sempre são seus.
Além disso, essa sociedade tem exigido,
por diferentes motivos, que pais e mães assumam
posições cada vez mais competitivas no mercado
de trabalho. Dessa forma, os seus filhos são “cuidados” por parentes (avós...), estranhos (empregados...), e só encontram seus pais à noite.
Muitos pais, em razão da sua vida no mercado de trabalho, delegam a responsabilidade à escola, mas não aceitam com tranquilidade quando,
essa mesma escola, exerce o papel que deveria ser
deles. Quando os pais colocam a educação de seus
5. Qual o limite da atuação da escola em
assuntos familiares, mas que interferem no desenvolvimento da criança?
É claro que educar os filhos nunca foi tarefa
fácil. Mas ela se torna um pouco menos complexa
se os pais “forem educados para educar os filhos”.
Por definição, a Família deveria conservar
sua função educativa para o bem da sociedade. A
sociedade, por sua vez, tem que oferecer a Família
a possibilidade de educar os seus filhos.
É precisamente aí que encontro uma das
principais funções/oportunidades da Escola: a função/oportunidade de educar os pais para educar os
seus filhos! Com isso, a Escola interfere decidida,
forte e significativamente no processo de desenvolvimento integral da criança. Para melhor!
A sociedade atual tenta preencher nossos
vazios, especialmente os do coração, e a insatisfação pessoal, pela ausência de ideais com a ilusão
do consumo, voltado para o ter, o poder e o prazer
na ilusão de ser. Com isso, gera-se cada vez mais
individualismo e isolamento. Se somos seres essencialmente de convivência, e somente por meio
dela sabemos quem somos e assim nos realizamos,
explica-se o porquê do teor explosivo das relações
interpessoais.
Se tudo isso afeta os adultos, muito mais as
crianças, submetidas a esse imaginário poderoso
e foco principal do sistema, pois as crianças induzem os pais ao consumo, conforme estudos realizados de tempos em tempos. É possível reverter
esse processo. Sim, é possível, até porque não
sendo, geraria um sentimento de impotência que
seria prejudicial à constituição de famílias fortes e
felizes, base para uma sociedade verdadeiramente
humana.
Dessa maneira, acredito que:
- Devemos ter bem claros os valores que
consideramos como essenciais para nossa vida
em Família e como seres humanos. Mostrar com
atitudes que esses valores fazem parte do nosso
modo de agir;
- Precisamos fortalecer, sempre, a autoestima da criança, elogiando suas qualidades pessoais,
e nunca elogiar somente pela roupa que ela usa ou
possua. A criança deve se sentir “acreditada” por
aquilo que ela é. Uma criança que é amada e aceita
por aquilo que é, não vai precisar de coisas para ser
reconhecida como alguém muito especial, valorizada e amada;
- Os nossos filhos/alunos precisam sentir-se
amados de forma incondicional, assim como eles
são, e que errar faz parte da vida. Ao corrigir um
erro, deixar muito clara a diferença entre criticar o
erro e amar a pessoa. Ajudar o filho a se colocar no
ENTREVISTA
6. Como fica o desafio de educar, em tempos contemporâneos, diante de tantas pedagogias culturais que ensinam modos de ser e estão
além das instituições escolar e familiar?
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filhos como prioridade, tudo pode ser diferente.
A Família e a Escola são as grandes educadoras das crianças, mas não basta que cada um
cumpra o seu papel. É necessário que ambas assumam juntas essa tarefa, que se torna cada vez
mais desafiadora frente às dimensões do mundo
globalizado, em que os pais têm cada vez menos
tempo para convivência com seus filhos.
A Escola, ao poder contar com os pais, sempre, no processo educativo, é fundamental, já que a
Escola tem o papel de continuar o trabalho educativo, iniciado na Família. Quando Família e Escola
andam juntas, quem ganha são os alunos, pois se
criam laços afetivos e muita confiança.
Aos pais, é necessário entender que a Escola
não serve só para transmitir conhecimentos: ela
tem a função de aprender a aprender, aprender a
se relacionar, aprender a viver em um mundo cada
vez mais complexo. É necessário entender que a
Escola é, para os nossos filhos, um fator essencial
para a inserção social dos mesmos.
Sendo assim, aos pais compete entender que,
quanto mais eles fizerem parte e contribuírem para
a educação dos filhos, mais oportunidades os filhos terão nos caminhos que escolherem trilhar.
Para sempre, seja um pai interessado na educação de seu filho!
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ENTREVISTA
lugar do outro e da situação em questão;
- Devemos priorizar a qualidade do tempo
com os filhos e a Família;
- É fundamental a Escola ter entendimento
e conhecimento do mundo atual e tudo o que ele
representa para cada um de nós e para cada aluno/
criança em partiular.
Assim sendo, o desafio de educar torna-se
uma oportunidade para todos!
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7. O senhor afirma que os pais são os pilares básicos, os responsáveis pelo processo de
desenvolvimento humano dos seus filhos. Como
a escola pode proceder com alunos que, flagrantemente, não possuem esses “pilares” tão
sólidos?
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Espero nunca dizer que é fácil ter um filho e
viver em Família. Pelo contrário, é muito difícil.
O que disse, e vou continuar dizendo, é que temos
a obrigação de tentar cada vez mais – e com mais
intensidade – buscar a felicidade com as pessoas
que amamos.
Porém, nunca abrir mão da autoridade serena e segura, e ser capaz de dizer não quando é preciso dizer não. Também é importante, ao apontar
uma dificuldade qualquer, perguntar: o que você
acha disso? Sempre, mas sempre mesmo, ajudar a
criança a se colocar no lugar do outro!
Quanto mais – e cada vez mais – nos reunimos para trocar ideias sobre questões que envolvem alunos, pais e escola, sobre questões que
envolvem vida em Família, educação dos filhos,
construção da felicidade, mais segurança e firmeza
teremos para resolver os problemas e conflitos que
aparecem.
Lembrando – claro e lógico – que o desenvolvimento humano é sempre resultado de interações. É precisamente nessas interações que compete a Educação atuar, interagir.
8. O senhor aponta que é na família que os
pais transmitem de forma deliberada, verbal e
não verbal, a seus filhos, ideias, crenças, valores,
sentimentos e condutas. Conforme o senhor acertadamente também aponta, a sociedade vem
sofrendo grandes transformações. O ter prevalecendo sobre o ser, a competição extrema, uma
quase desvalorização do ser humano. Enquanto
escola, lutamos para contribuir com uma formação – na contramão dessa atual tendência –
mais humana; mas somos surpreendidos com
afirmações de figuras importantes no cenário
nacional, que, amparados por poderosos meios
de comunicação, acusam a escola e os professores de ativismo social e de usar as crianças em
prol de “uma causa” que, na visão deles, nada
tem a ver com educação, uma vez que deveríamos nos preocupar apenas em “transmitir”
conteúdos. E agora, o que fazemos?
A criança é recebida pela primeira vez na
Família. Ela nasce na Família como um elemento
socialmente virgem, maleável, como jamais voltará a ser. Para uma criança, a Família é o fator
mais persistente na sua vida e, por isso, é a sua influência mais profunda. Para ela, criança, a Família está vinculada com a satisfação de todas as suas
necessidades, desde materiais até espirituais, destacando-se por ser o lugar para as relações afetivas, onde se dá e recebe amor.
Desse modo, o fato de que seja a primeira instituição, a mais persistente, a mais íntima e a mais
completa que trata com a criança, explica porque a
Família é tão essencial para a formação da personalidade. Proporciona um sentimento de segurança
essencial para a saúde mental. Por isso, a Família
desempenha um papel tão importante no equilíbrio
e no desequilíbrio mental.
Os meios de comunicação social promovem
– através da maioria dos seus programas e mensagens – os valores e antivalores de um determinado
tipo de poder: o poder exclusivo do ter, que contribui, certamente, para anular o verdadeiro sentido da Família.
Em uma sociedade onde tudo está valorizado
através do prisma da economia, há muito pouco espaço para valores e realidades que aparentemente
não são muito lucrativos: os idosos e os doentes
são um problema, as crianças e os deficientes um
9. Em que momento perderam os limites, e como retomá-los? Há alguma explicação
histórica? O que o senhor, com toda a sua experiência, tem como sugestão para pais e educadores encontrarem o equilíbrio entre Liberdade e Limite?
A Escola – assim como a Vida – deve ser
percebida como um lugar de todos, e não, o contrário, um espaço de ninguém. Mas com seus direitos e deveres. Para todos.
Penso que nos encontramos ainda numa
época onde a autoridade dos pais, muitas vezes, é
exercida pela força, pelo autoritarismo, e não pelo
amor. Os limites, sim, e todos eles, devem ser exercidos pela autoridade dos pais dentro de casa. Não
sendo assim, vamos sentir e ver nossos filhos per-
ENTREVISTA
Por falar em promessas de dias melhores e
de novos tempos, foi o que a Família sempre ouviu da classe empresarial, que a usa como material
de produção e consumo; dos políticos, que sempre
usaram as famílias para os seus objetivos eleitorais; de grupos de poder religiosos, que continuam elaborando teses e tratados como se a Família
fosse alguma propriedade divina; e o Estado, com
a sua capacidade de alimentar ilusões, continua iludindo famílias com a promessa de que o amanhã
será outro e tudo será diferente.
A Família cansou. Ela deseja ser o seu próprio centro, e pede que os empresários, os políticos, as Igrejas e o Estado “não se preocupem tanto
assim com ela” e deixem a Família em paz. Ela
sabe o que quer. É pouca coisa, mas que seja de
verdade!
A Escola, os professores – depois da Família
–, é o que de mais importante existe na vida de
uma criança. Por isso, a Educação é necessária todos os dias, porque todos os dias nascem crianças.
Quando me perguntam o que fazer, digo: é
preciso acreditar em todas as Famílias, em todas
as Escolas, em todos os professores, em todos os
alunos, em todos os filhos e em todas as crianças,
até porque não existe ninguém mais humano que
o outro.
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entrave, e os que não são rentáveis tornam-se uma
carga para os demais.
Em verdade, desde muito tempo, a Família
tem sido alvo por parte de grupos de poder político, de religiosos, de empresários e do próprio Estado, com a finalidade de exercer sobre a mesma,
exercícios de tutela e de chancela. Sempre quiseram, continuam querendo e vão querer exercer sobre a Família uma autoridade que não possuem e
um direito que não existe.
Ninguém possui direito algum sobre a
Família, e muito menos poder para falar em seu
nome, porque a Família é uma comunidade natural
e é mais antiga que a mesma Humanidade.
O caminho mais curto para minimizar o significado da Família para uma sociedade é afirmar
que ela encontra-se em uma profunda crise e que
merece ser salva para que seja melhor. Puro engano e outro engano. Esquecem, no entanto, todos aqueles que pensam assim, que a verdadeira
“crise” que a Instituição Família atravessa é uma
“crise transformadora”.
O que está sendo transformado, em verdade,
é o modelo de Família em que o pai é o responsável pelo sustento familiar e a mãe, além de cuidar
da casa, é a responsável pela preservação da moral
familiar. Ainda bem, porque a Família está mudando para melhor, mais sólida e mais forte.
A Família vai continuar sendo insubstituível,
agora mais do que nunca, tanto para as crianças
como para os adultos e idosos. Continuará sendo
insubstituível para o desenvolvimento, a humanização e a realização das pessoas e da sociedade.
Para sempre, caberá à Família tornar humano cada
membro que nasce, e nada vai substituir a Família na execução de suas funções de amar, cuidar e
educar.
Logo, o lugar da Família deve ser sempre a
de protagonista da história, da vida cotidiana e da
existência. Sem chefes. Ela não precisa – para existir e ser feliz – de nenhuma garantia. Não precisa da tutela de ninguém, nem de alguém que lhe
diga palavras bonitas e repletas de significados
simbólicos que não interessam para nada, a não
ser para continuar enganando-a com promessas de
dias melhores e de novos tempos.
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ENTREVISTA
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didos e inseguros em relação aos limites da vida.
Na Família, os pais que não sabem o que querem
ou aonde querem chegar, jamais conseguirão que
seus filhos tenham limites, porque os pais os perderam há tempos.
A Família e a Escola, exercitando o ato de
educar em um ambiente democrático, são capazes
de substituir o controle, pela atenção e cuidado;
substituir os atos de fiscalização, pelo cuidado
com amor, promovendo espaços e momentos de
diálogo franco e verdadeiro, sobretudo saber ouvir
e não nutrir pré-julgamentos e nem ressentimentos.
Especialistas, notadamente os de comportamento, dizem que um dos maiores erros dos pais
é considerarem-se responsáveis pela felicidade
dos filhos. Na verdade, o verdadeiro papel dos
pais, é dar e exigir responsabilidades para que os
filhos – e alunos – assumam os erros, e assim experimentem o enfrentamento com as frustrações.
Assim, tornam-se cidadãos livres e responsáveis,
com senso de competência.
Importante repensarmos a tendência que temos em superproteger os nossos filhos como atitude de amor. É importante a segurança dos pais
quando necessitamos da construção de regras disciplinares em nossa casa, quando necessitamos
dizer não e colocar limites – sem, no entanto, o
autoritarismo dos pais, mas com amor, carinho e
compreensão para criar envolvimento.
Quem sabe, pensar e refletir se não podemos
deixar para nossos filhos – e alunos:
- A necessidade de “raízes” para que desenvolvam um sentido de identidade, um compromisso social e prudência;
- A necessidade de “asas”, ou liberdade de
espírito, para que consigam ser independentes,
livres e criativos.
O ato de proibir nunca deve ter domínio sobre o filho/aluno, mas sim orientação para o seu
desenvolvimento, deixando-os receptíveis ao não
e às possíveis frustrações que fatalmente surgirão
pela vida. O excesso de “mandos”, o abuso da
autoridade sobre os nossos filhos/alunos, enfim,
a falta de habilidade dos adultos gerará o ato da
desobediência.
A melhor maneira de se conseguir limites,
ainda é o de explicar o real motivo do porquê queremos que a criança execute tal tarefa, ou que ela
faça de forma diferente do que estiver fazendo, e
não simplesmente interrompê-la.
Autoridade excessiva, ordens a todo o momento, castigos constantes não são formas para se
conseguir a obediência de um filho ou aluno, mas
sim, de suscitar maiores resistências.
O fundamental, penso eu, para pais e professores, ainda é conversar e respeitar as opiniões dos
filhos/alunos, e, certamente, buscar o equilíbrio
entre Liberdade e Limite. Sendo compreendidos
e amados, eles saberão retribuir compreendendo,
amando e respeitando.
Mas – e sempre existe um mas – todos nós
sabemos, e muito bem, que isto não é assim tão
fácil. Pelo contrário!
10. A sociedade atual, que é extremamente
competitiva, pode ter causado algum tipo de
crise entre mães e pais em relação à educação
de seus filhos?
De um ponto de vista mais geral, dois fatores ligados igualmente de modo básico à civilização contemporânea, conduzem ao fenômeno
sociológico que foi chamado de “desagregação ou
desajustamento da Família”, que foram: a industrialização; e a passagem da economia da fase rural
à fase urbana.
É possível afirmar que a industrialização e a
urbanização intensiva começaram na Europa Ocidental há dois séculos, ganhando terreno e espaço
em todo o mundo. Sua incidência sobre o comportamento familiar não pode ser desprezada, desconhecida e, muito menos, deixar de ser levada em
consideração. Ela é fundamental, e é ao compasso dessa revolução industrial e urbana que se vai
colocando o aspecto social do problema familiar
contemporâneo.
Se tomarmos o problema dos efeitos das novas estruturas econômicas e sociais, de um ponto
de vista global e em seu resultado atual, verificamos que a civilização industrial e urbana tende a
ENTREVISTA
adaptada à nova sociedade; mas, por outro, suficientemente sólida e capaz de contrabalançar as
influências negativas da mesma sociedade e da
nova cultura.
Este novo modelo de Família não nascerá de
uma geração espontânea. Requer tempo, espaço e
recursos. Não existem soluções mágicas. É possível, no entanto, oferecer algumas possíveis alternativas de solução. Cito, entre tantas, uma (a que
mais acredito): a educação integral básica.
Necessitamos de uma mudança radical em
nosso sistema educativo. O grande problema,
hoje, não é obter a informação, mas sim, o que
fazer com ela. Até agora a nossa educação preocupou-se basicamente na transmissão da informação. Em uma sociedade primitiva, a informação
é fundamental e necessária. Na sociedade atual, a
informação está disponível: os meios de comunicação nos oferecem diariamente uma quantidade
de dados, e as redes de informática nos conectam
com as principais fontes de informação do mundo
inteiro. Os problemas da Humanidade já não são
de ordem técnica ou científica, senão de ordem
moral. Do ponto de vista científico e tecnológico,
já não deveria haver fome no mundo... Quase todos os problemas do homem de hoje são problemas morais, das justas relações entre o homem e
a natureza, entre o homem e seus semelhantes, e,
principalmente, entre os povos.
A educação deve dedicar-se a preparar o ser
humano a pensar e a tomar decisões criticamente
e por si mesmo, levando em consideração o bem
comum. Até hoje, e quase sempre, foram os outros que tomaram as decisões em nosso nome. As
ciências e as disciplinas devem estar dirigidas para
o homem como princípio e como fim. A promoção
do ser humano, antes do poder, do dinheiro e do
sistema, deve estar no centro da preocupação.
A educação deve prestar uma atenção especial à promoção e a valorização das realidades que
nem sempre são quantificáveis, mas que dão sentido à vida. Pela educação devemos um equilíbrio
entre os direitos e os deveres, entre a liberdade e a
responsabilidade. Quando educamos para os direitos, devemos também educar para cumprir com os
deveres. Não existe direito sem dever, e tampouco
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criar um novo tipo de Família, bem diferente do
antigo. A Família perde, antes de qualquer coisa,
sua função econômica. Em uma economia artesanal, a Família é a base não apenas da estrutura
social, mas da estrutura econômica. A Família é,
então, unidade de produção e de consumo: vive de
modo total, sobre si mesma, consumindo diretamente o que produz pelo trabalho de seus membros. Em uma economia industrial, ao contrário,
a Família deixa de ser uma unidade econômica de
produção e mesmo de consumo.
A sociedade dos nossos dias ultrapassa,
em muito, o quadro da Família. Os membros da
Família vão trabalhar fora, cada um por seu lado.
Efetiva-se uma verdadeira dispersão profissional
da Família, e os membros da Família muitas vezes
passam o dia longe uns dos outros, ocasionando,
como resultado desse fato, o esfacelamento da
Família. A Família, além disso, perde a sua função
de centro de segurança, de instrução e de educação.
Fruto dessas transformações nasce um novo
tipo de Família: a Família moderna, de características novas e bem determinadas, fundamentalmente,
nas seguintes características:
- Ela é restrita em suas dimensões;
- Individualista quanto a sua constituição e
funcionamento;
- Despojada de muitas funções que antes lhe
pertenciam.
Hoje, cada membro da Família trabalha em
um local diferente, muitas vezes longe de casa e
em turnos diferentes. Os membros da Família
pouco se encontram, e a casa quase é um hotel.
Assim, observa-se a existência de uma “crise” entre os pais, relacionada à educação dos filhos. Os
filhos, no passado, iam juntos à Escola, e seus pais
conheciam os professores, que estavam em contato permanente com eles.
Se essa sociedade, tal como a vemos hoje,
proporciona “dificuldades” em suas relações e vínculos, proporciona, certamente, oportunidade de
alguma coisa diferente e, quem sabe, para muitos,
melhor.
O que necessitamos, sem dúvida alguma, é
uma Família com um novo tipo de interação entre
seus membros, que seja: por um lado, integrada e
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ENTREVISTA
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liberdade sem responsabilidade.
Pela educação – com certeza e com plena
convicção – é que acredito que teremos melhores
condições para fortalecer as relações diárias entre
os membros da Família.
11. Conhecendo a função das instituições
escola e família, e toda a crise vivida por elas
atualmente, que possibilidades existem de efetivar a parceria entre elas, pensando no processo
de ensino e aprendizagem dos alunos?
A prática, nos nossos tempos, nos revela que
o vínculo professor-aluno encontra-se em crescente empobrecimento; a Escola vive um mal-estar no seu interior, e a Família não sabe o que fazer
com tudo isso.
Alguns sentimentos, todos importantes,
merecem ser citados como integrantes nesta realidade vincular: o deboche no lugar da admiração,
a intriga no lugar da discussão, a agressividade no
lugar do diálogo, a “culpa” no lugar da responsabilidade, e, principalmente, o medo ocupando a
função do respeito.
Entendo que um dos mais relevantes problemas no sistema educacional hoje é o mal-estar
do corpo docente. Seu sofrimento é muito maior
do que o baixo salário; sua dor não é só física, é
moral.
Um espaço só é escolar, porque ali existe
ao menos um professor. Do contrário, seria só um
prédio que se presta para qualquer atividade. É
necessário redefinir o espaço escolar – assim como
o da Família – como a instituição que representa
a força de trabalho do professor. Nessa lógica, a
melhor Escola seria, antes de tudo, aquela que tem
os melhores professores. Mas a realidade, hoje, é
diferente.
O fato, hoje, é que a Escola está vazia, sem
força institucional, sem respeito e reconhecimento
social. A Escola está sofrendo, e sua carência é de
identidade, na medida em que vem se garantindo
mais na infraestrutura, e não no profissional que
lhe dá o sentido de existir: o professor.
Quando falo professor, refiro-me não só à
pessoa que toma para si a possibilidade de ter por
trabalho a docência, mas do sentido que a palavra professor tem, diante da responsabilidade ética
de ensinar. Ensinar implica “um destinar”, “fazer
sina”, que é mais que apresentar um conjunto de
conhecimentos. Ensinar é transmitir o valor que
estes conhecimentos têm no contexto cultural e na
trajetória da formação que propõe.
Que o aluno aprende e o professor ensina,
já sabemos. Mas, refletir como é que o professor
realiza esse ato, requer estar disposto a viver com
intensidade o valor da experiência. Em meu entender, só um ensino é possível: aquele que visa
a educar – e não a doutrinar – os sentidos de uma
criança, pois:
- Não se trata só de conhecimentos, mas o
que visamos obter com estes;
- Não se trata exclusivamente de uma reforma curricular, mas de repensarmos o que estamos
fazendo com nossa espécie, nossa forma de vida,
nossos semelhantes. É dizer, quando ensinamos,
o que é que ensinamos. E para o professor, qual
é a real lição que aprendeu com o conhecimento
que se propõe a ensinar. Por quem – e não só para
quem – é, realmente, que o professor ensina.
Como compreender, por outro lado, o desrespeito, a desconsideração que o estamento político
mantém com a Escola? E como essa problemática
– entre Escola e Família – reanima o distanciamento da Família em relação à Escola?
Há muito tempo sustento uma ideia de que
o Estado, ao negligenciar com o valor real da Escola, produz, inevitavelmente, um ambiente problemático para o vínculo profissional do sujeito
e a sua função de professor. Ou seja, a chamada
profissionalização do professor. Essa inadequação
entre o sujeito e a função do professor constitui um
elemento forte para tornar cada vez mais instável
o processo ensino-aprendizagem, que, por sua vez,
intensifica as tensões e atritos nas demais formas
de vínculo que se produzem na Escola: professoraluno, professor-escola, professor-família, aluno-aluno e, principalmente, professor-professor.
Então, o que é de responsabilidade da Família e o que é de responsabilidade da Escola?
Em uma forma muito particular, acredito
Algumas considerações...
Em definitivo, o mundo da Família é uma
fantástica Escola que nos mostra, a cada dia, a
diversidade de interesses no interior da mesma.
Mostra, ainda, a dificuldade de se conseguir acordos entre as regras, atitudes e valores familiares, e
o que cada um acredita que seja o adequado para
si.
“Todos os lugares” e “todos os dias”, essas
expressões, muito mais que palavras, revelam, em
seu sentido mais amplo, o espírito científico e inovador da intenção e nos interesses de oferecer essas palavras que são voltadas, desde as suas raízes,
para a necessidade de pensar na possibilidade de
uma Democracia que deve construir-se conjuntamente, em nossas relações de todos os lugares e
em todos os dias: na Família, na Escola, nas organizações comunitárias de que participamos, em
lugares que trabalhamos e cidades que vivemos.
A Família, assim como a Escola, não consegue mais viver fechada em si mesma. Ela vive
com a mídia, com a propaganda, com a educação
ou deseducação das crianças, com a globalização e
com um mundo on-line. Vivem no mundo do controle remoto. Os novos seres que vêm ao mundo,
já não se encontram limitados às quatro paredes
do lar. Seus olhos abertos os levam para além delas. Seus olhos os levam para o mundo das imagens, da percepção, da indústria da cultura e para
o mundo da informação. Aos pais, em meio a tudo
isso, resta a tarefa de amar, criar e educar. Resta
aos pais – e isto é fantástico! – promover a vida
em Família, promover o diálogo e fazer com que
a Família continue sendo o lugar onde podemos,
todos nós, desenvolver o amor seguro e mútuo.
O mundo marcha à frente e é para lá que temos que ir. Há uma evolução natural das coisas,
dos atos e dos fatos. Todos evoluímos, ao menos
essa é uma das propostas mais sinceras da nossa
espécie. Aprender, evoluir e ser melhor em nossa
vida profissional, mas, também não podemos descuidar de nossas vidas pessoais.
Todas essas mudanças que estamos presenciando carregam consigo um preço. A Família –
como instituição humanizadora da sociedade – é
a principal atingida, uma vez que ela é a caixa de
ressonância da sociedade. É na Família que vemos
o mundo como ele se apresenta: por um lado, ele é
cheio de contradições, conflitos e frustrações. De
outro, está impregnado de amor, solidariedade e
significativas vivências diárias e sonhos.
Em uma sociedade onde prevalecem burocracia e a tecnologia, como é a do nosso país,
com a imposição de seus valores quantitativos é
necessário – e urgente – reforçar a formação humanista de nossas crianças. É necessário ainda,
que nessa mesma sociedade, existam modelos de
“mulheres e homens” que efetivem, em sua vida
diária, um novo estilo de vida que inspire e motive
os demais. Afinal, é de se perguntar: por que devemos acreditar que a Família é importante?
Quem sabe, é porque acreditamos que é na
Família que criamos e solidificamos os nossos vínculos de carinho e de amor mais duráveis?
Quem sabe, é na Família que as crianças
aprendem valores, sentimentos e atitudes do que é
certo e do que é errado?
Quem sabe, nos damos conta de que mulheres e homens numa Família são iguais e a condição humana é a mesma. A origem é a mesma e o
destino final também é o mesmo.
É preciso acreditar na função humanizadora
da Família e na humanização da sociedade, em
seus valores e nos seus princípios de liberdade e
dignidade da pessoa humana. No mútuo e inteli-
ENTREVISTA
- À Família, compete educar o seu filho,
porque tem um amor individual pelo mesmo. Mas,
como a Família não foi educada para educar o seu
filho, ela deve procurar a Escola para ser ensinada
a educar o seu filho;
- À Escola, compete ensinar todos os alunos,
porque tem um amor pela função que desempenha.
Logo, colocamos os nossos filhos na Escola,
para que aprendam coisas diferentes do que aprendem na Família.
Por isso, a Família tem que continuar tendo a
sua função de humanizar os seus filhos e a Escola
o seu papel, entre outros, de socializar os seus alunos! Ainda bem...
| julho 2012
que:
13
ENTREVISTA
| julho 2012
14
gente respeito pelo outro. É possível acreditar na
amizade, no afeto, na diversidade, na solidariedade e nas pequenas coisas.
Fique sempre do lado de quem você ama,
procure entender um pouco melhor o mundo
mágico dos seus filhos, busque a felicidade nas
pequenas coisas, tenha paz na vida e viva em paz,
preserve os seus valores, instintos e convicções e
sonhe! Acredite no sonho de um mundo de pessoas
que dizem não às drogas, às injustiças sociais e à
corrupção.
Pode acreditar que o século XXI será o século da comunicação e da Família, porque através
da comunicação sempre haverá informação e entretenimento e um lugar para as famílias no processo educativo. E, isso tudo, sem sair de casa.
Claro, e lógico, que devemos renegociar os
contratos do casal, as relações paternas e maternas,
os vínculos dos filhos com os pais e a distribuição
de responsabilidades e direitos na vida familiar.
Pense que a autorrealização é um mito. Ninguém
tem condições de se realizar sozinho. Ainda não
temos uma ideia do que a associação de uma mulher e um homem pode realizar. E produzir!
Ninguém precisa sair de si para encontrar o
outro. Todo e qualquer relacionamento com um
“outro” começa dentro das pessoas. Começa com
um ato de amor. Não há lei, nem cálculo racional,
por mais sábio que pareça, que tenha o poder de
suprir a falta de amor. Sendo assim, o futuro da
humanidade vai depender, cada vez mais, do que
mulheres e homens decidirem realizar juntos e em
conjunto e não um contra o outro.
Tudo isso, no entanto, só é possível na
Família que, mesmo em constante transformação,
ainda lhe cabe tornar humano cada membro que
nasce. A experiência se dá na Família. Enquanto
o indivíduo, por intermédio da ciência, brinca de
ser Deus, nada substitui a Família na execução de
amar, cuidar e educar. Cuidar da Família, de todas
elas e elas todas, é vital para o indivíduo, para a
sociedade e para a vida.
Claro que, para cuidar da Família, é preciso entender a Família. Para entender a Família, é
necessário aprofundar o conhecimento da pessoa
humana, sua natureza e seu dinamismo. Somente
entendendo a pessoa, se pode entender a Família e
finalmente a Sociedade.
Logo, para cuidar da Família, não basta um
Dia da Família, nem um Mês da Família e tampouco um Ano da Família. Necessita-se uma Vida
Toda.
É sábio quem pensa que o futuro da Família
independe de qualquer espécie de movimento de
massas. É uma ilusão pensar que melhores leis e
leis mais severas estão fazendo falta.
Quem acha – ou acredita – que é preciso
reconstruir a Família, para que tudo volte a funcionar como antes “Não vê que o doente não é a
Família, mas o seu núcleo central, que é o casal!”.
É importante saber que o mundo não pode
ser dominado por tecnocratas dum lado e teocratas de outro. Uns falam em nome do progresso e
os outros em nome da salvação da humanidade.
Sempre vai valer a pena existir o equilíbrio entre
um e outro.
Não haverá à disposição de ninguém um
modelo de Família pronto para consumo. Como
não se constrói uma cidade com os restos de um
terremoto, do mesmo modo seria irracional reconstruir a Família com que dela sobrou. Existem
erros, fracassos, equívocos, injustiças, mas a nossa função no mundo é contribuir para efetivar a
justiça numa sociedade de todos e para todos.
Este, acredito, é um objetivo que nunca se
concluirá, mas do qual não podemos abrir mão e
nem desistir. Se o fracasso bater na sua porta, não
abaixe a cabeça demais. Se o sucesso chegar, não
a levante muito.
Por isso, é urgente dizer aos nossos filhos e
crianças que podemos ser melhores do que estamos sendo. Tente! Seja feliz!
ARTIGOS
ARTIGOS
ARTIGOS
1
Educação Integral nas
Escolas do Campo de Ivoti
Carine Vanderléa Dörr
Pós-Graduada em Gestão na Escola
Coordenadora Pedagógica nas Escolas do Campo
| julho 2012
Resumo: No cenário de reflexões sobre professor e aluno,
sujeitos inseridos numa sociedade contemporânea trazem-se possibilidades de “dar sentido” à escola que temos por
meio da educação integral. Ressalta-se que as discussões
sobre a educação integral, não se limitam à ampliação da
carga horária de permanência do aluno na escola, mas sim,
à concepção que se tem de aluno como um sujeito inteiro,
concebendo suas vivências e experiências.
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A
sociedade atual vem sofrendo grandes
transformações. A escola, indubitavelmente, não foge à regra, pois ela também
vem se modificando. O estudante de hoje, em sua
grande maioria, possui uma identidade que tem
íntima relação com a cultura tecnomidiática. A
partir desses meios, o aluno pode exercer sua autonomia, buscando as informações que necessita.
Consequentemente, o perfil de professor também
se modificou, pois precisa ajudar o educando a selecionar as informações de que precisa, refletindo
sobre sua veracidade e credibilidade, além de ensinar conceitos que possam contribuir no reconhecimento dessas informações.
Vindo ao encontro das atuais necessidades de
remodelação da escola, como instituição de ensino
e aprendizagem, o Ministério da Educação propõe
a ampliação da carga horária de permanência dos
alunos nas escolas. Dessa forma, caracteriza-se a
educação integral pelo reconhecimento da necessidade de ampliar e qualificar o tempo escolar, superando o caráter parcial e limitado que as poucas
horas diárias proporcionam, em estreita associação
com o reconhecimento das múltiplas dimensões
que caracterizam os seres humanos.
Nesse cenário, há uma tendência nacional
das Escolas do Campo de ampliarem a jornada
escolar, pois acreditam que a Educação Integral
vem ao encontro dos interesses, das vivências, das
linguagens, das curiosidades e das singularidades
dos alunos, para que tenham espaço, tempo e oportunidade de se associar ao processo de ensino e
aprendizagem. Estudos realizados pelo Ministério da Educação sinalizam para a necessidade de
se criar uma Escola do Campo viva, pulsante, em
contato com o seu entorno e em diálogo com os
seus estudantes.
Sabe-se que a educação não é somente função da escola, mas sim de toda a comunidade. Por
isso, faz-se necessário que os diferentes segmentos
que compõem a comunidade escolar estejam em
sintonia. A família e a escola precisam dialogar,
Em relação ao contexto em que as Escolas
do Campo estão inseridas, é necessário ressaltar
que muitos alunos vivem em uma realidade rural,
trazendo conhecimentos relacionados a esse local.
A partir dessas intervenções do professor,
é possível formarmos cidadãos questionadores,
participativos, críticos, conscientes não só de seus
direitos, mas também de seus deveres; que aprendam a buscar o conhecimento; que possuam bons
valores e que contribuam para a melhoria do meio
em que vivem. Concorda-se com Freire (2004,
p.54), quando diz: “Afinal minha presença no mundo não é a de quem se adapta, mas a de quem nele
se insere. E a posição de quem luta para não ser
apenas objeto, mas sujeito também da história.”.
Nessa perspectiva, enquanto profissionais da educação das Escolas do Campo, destacamos no Projeto Político-Pedagógico nossas expectativas em
relação aos nossos alunos, isto é, queremos que
eles sejam cidadãos ativos na sociedade, que contribuam positivamente para seu crescimento.
Nós, seres humanos, não só somos seres inacabados e incompletos como temos consciência disso. Por isso, precisamos aprender
“com”. Aprendemos “com” porque precisamos do outro, fazendo-nos na relação com o
outro, mediados pelo mundo, pela realidade
em que vivemos. (GADOTTI, 2003, p. 47).
Ensinar e aprender são ações que precisam
acontecer a partir da interação com o outro, na
vivência e troca de experiências, e não na trans-
ARTIGOS
Além do conhecimento trabalhado em sala de
aula, fundamentado no currículo e no plano
de estudos, cada educando traz consigo os
conhecimentos e a cultura da realidade em
que se insere. Tais conhecimentos devem ser
considerados em sala de aula, especialmente,
porque “quem ensina aprende ao ensinar e
quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE,
2004, p. 23).
missão de conhecimentos prontos. O aprender não
é acumular conhecimento, e sim compartilhar –
partilhar, construindo uma nova forma de pensar,
de entender e de se reconhecer dentro do contexto.
A aprendizagem vai além dos conteúdos
básicos. Integra, principalmente, o contexto social,
histórico, político e econômico da sociedade em
que estamos inseridos. O que aprendemos precisa
significar para nós; caso contrário, não tem sentido
nenhum estarmos aprendendo. Precisamos aprender para a vida. O aprender precisa extrapolar a
sala de aula, ir além das quatro paredes, buscando
interagir com o mundo.
Referências Bibliográficas:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. 30° ed. São Paulo | Paz e
Terra, 2004.
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho. Novo Hamburgo | Feevale, 2003.
| julho 2012
pois só assim os valores e princípios trabalhados
por uma das partes coincidirão com os da outra.
Através do diálogo entre família e escola, é possível observar o progresso dos educandos e objetivar um futuro melhor para eles.
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ARTIGOS
2
Atividade Física =
Qualidade de Vida
Débora Cristina Bork
Graduada em Educação Física pela Unisinos
Coordenadora de Eventos do Programa “Lazer Unindo
Gerações” – PLUG
| julho 2012
Resumo: Através desta pesquisa, ressalto a importância
da atividade física no cotidiano das pessoas, tendo como
objetivo a adesão da população e o reconhecimento da importância da atividade física e dos Profissionais da Educação Física, melhorando a qualidade de vida e evitando o
sedentarismo.
18
M
uitas vezes deixamos as atividades físicas de lado, por termos outros afazeres.
Porém, não podemos deixar de nos exercitar. A atividade física, seja ela qual for, é um bom
caminho para nos livrar do sedentarismo e ajudar a
manter a forma, além de melhorar o humor, regular o apetite e aliviar a tensão.
O envelhecimento é uma sucessão de mudanças naturais que ocorrem nos indivíduos
a partir do nascimento, de forma progressiva
e irreversível, acompanhando-os até a morte
(MAZO, LOPES e BENEDETTI, 2004).
Este processo é muito dinâmico, instalando-se nas pessoas de maneira muito individualizada.
Por isso, Nahas (2003) destaca a existência da
idade cronológica e da idade biológica. A idade
cronológica determina a quantidade de anos que
a pessoa viveu até a data atual; a idade biológica
caracteriza as condições de saúde e a forma como
as pessoas vivem.
Através de diversas modalidades, pessoas
de várias faixas etárias melhoram seu bem-estar
físico, mental, emocional e psicológico. Com a
idade, geralmente ocorre um decréscimo da massa
muscular e, consequentemente, da força muscular.
Este quadro pode ser acelerado pela inatividade, ou
seja, pelo desuso do sistema muscular esquelético,
provocando a atrofia muscular. Com isso, idosos
ficam mais susceptíveis às quedas e fraturas, além
de perderem gradativamente a capacidade de executar as tarefas do dia a dia, ocorrendo, assim,
uma diminuição na capacidade funcional; por isso,
a importância da atividade física ser realizada durante toda a vida.
Alguns benefícios individuais podem ser notados quando há a prática da atividade física, como,
por exemplo, benefícios fisiológicos: controle de
níveis de glicose, melhorias na qualidade do sono e
na capacidade cardiorrespiratória, manutenção da
força, resistência, flexibilidade, equilíbrio, coordenação e velocidade dos movimentos, diminuindo
Referências Bibliográficas
ARTIGOS
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assim, o risco de lesões. Também podem ser notados benefícios psicológicos: redução nos níveis
de ansiedade, estresse e depressão, melhorias no
estado de espírito, bem-estar geral e melhorias
cognitivas. E, não menos importantes, benefícios
sociais: integração na comunidade, na rede social
e cultural.
O alongamento e a mobilidade articular são
indispensáveis na fase de aquecimento, devendo
ser realizados antes de iniciar a sessão de exercícios, ao término da sessão, deve ser realizado o alongamento e gradativa volta à calma. Barbosa (2000)
destaca alguns benefícios que o alongamento pode
gerar. Conforme a autora, o alongamento proporciona melhoras na coordenação motora e alívio de
tensões musculares e emocionais, além de ampliar
os movimentos e ativar a circulação sanguínea.
Dessa forma, concluímos que é possível
adiar os efeitos do envelhecimento, preservando
a autonomia, através da manutenção de atividades
físicas, pois torna-se clara a associação entre um
estilo de vida fisicamente ativo e a qualidade de
vida. Como benefícios, temos a redução do custo
com cuidados de saúde e atendimento social, melhorando a participação e a produtividade dos praticantes em atividades comunitárias.
Em função disso, nós, educadores, devemos, indiferentemente da nossa área de atuação,
pensar em nós mesmos, “arrumando” tempo e não
desculpas para não cuidarmos da própria saúde,
aliviando, assim, as tensões do dia a dia de educador, que muitas vezes são desgastantes, mas muito
gratificantes.
BARBOSA, Rita Maria dos Santos Puga. Educação Física
Gerontológica: Saúde e qualidade de vida na terceira
idade. Rio de Janeiro | Sprint, 2000.
MAZO, G.Z; LOPES, M. A; BENEDETTI, T. B. Atividades
físicas e o idoso: concepção gerontológica. 2° ed. Porto
Alegre | Sulina, 2004.
NAHAS, Markus V. Atividade física, saúde e qualidade de
vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo.
3° ed. Londrina | Midiograf, 2003.
19
ARTIGOS
3
Professor Gestor?
Deizi Daiane Habitzreiter
Graduada em Letras / Pós-graduanda em Aprendizagem
na Língua Alemã
Professora da E.M.E.I. Pedacinho do Céu
| julho 2012
Resumo: A instituição escolar é formada por inúmeros indivíduos com funções específicas. Delega-se à equipe gestora
a tarefa de conduzir a escola. Atualmente, as equipes gestoras mostram-se mais abertas ao diálogo, já que compreendem todos os sujeitos que as constituem como colaboradores. Nessa perspectiva, todos podem contribuir com suas
potencialidades para o aperfeiçoamento do espaço escolar.
O professor tem funções semelhantes em seu espaço de trabalho, podendo ser considerado também um gestor da sala
de aula.
20
S
abemos que a escola é constituída por diversos segmentos, entre eles há professores, funcionários, direção, alunos, conselho escolar,
pais e responsáveis, orientação e supervisão escolar. A parte essencial, contudo, é o aluno. É por ele,
e para ele, que pensamos a Educação. Como nos
demais âmbitos da sociedade, na escola também
há uma hierarquia de poderes, na qual a coordenação, a direção e a supervisão estão no topo. Elas
detêm o poder para tomar as decisões referentes a
cada realidade escolar.
Atualmente, as equipes gestoras têm se
mostrado mais abertas ao diálogo com os demais
componentes da comunidade escolar. Todos os
elementos constituintes de uma escola são considerados colaboradores da escola de sua comunidade. Sovienski e Stigar (2008, p. 53) acrescentam
que “a gestão de pessoas visa à valorização dos
profissionais e do ser humano, diferentemente do
setor de Recursos Humanos que visava à técnica e
o mecanicismo profissional”.
Consoante Fagundes (2009), há três fatores
básicos para ocorrer a gestão democrática: os
poderes da humildade, da aceitabilidade e da delegabilidade. Sendo humildes, os gestores reconhecem que há pessoas capazes de contribuírem
para o sucesso de uma instituição, utilizando suas
habilidades pessoais. Paralelamente a essa qualidade, é importante que o gestor seja capaz de aceitar sugestões dos sujeitos envolvidos. Por final, é
imprescindível que o gestor delegue tarefas para
seus colaboradores, pois dessa forma ele demonstra confiança neles. Além disso, a partir dessas
atitudes da equipe gestora ou do gestor, os colaboradores desenvolverão um sentimento de participação e de trabalho em equipe. As capacidades
intra e interpessoais de um gestor são necessárias
para que ele motive os profissionais da escola a
serem seres ativos na instituição. Colaboradores
ARTIGOS
pessoas_e_RH.pdf> – Acesso em 23.05.2012.
STEDILE, Maria Inez. O professor como gestor da sala de
aula. Maringá : Universidade Estadual de Maringá, 2009.
Fonte: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/
arquivos/2145-8.pdf> – Acesso em 23.05.2012.
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são mais ativos e autônomos, cooperam e interagem nas decisões com seus gestores; enfim, participam ativamente de sua escola. Na gestão participativa, somam-se as diferentes habilidades de
seus colaboradores, a fim de atingir um objetivo
em comum. Percebe-se isso na seguinte citação de
Fagundes (2009, p. 15): “(...) o ser humano nunca
tomou nenhuma decisão sozinho e alcançou plenamente os seus objetivos”.
Essa perspectiva de gestão, valorizando as
potencialidades de cada indivíduo, é adaptável à
sala de aula pelo professor. Dessa forma, compreende-se o professor como um gestor da sala
de aula. Quanto a isso, Stedile (2009, p. 5) acrescenta: “(...) a gestão em sala de aula, como um
prolongamento da gestão escolar, pressupõe um
espaço onde, com a orientação do professor, possam ser produzidos, manifestados e experimentados comportamentos democráticos”. Partindo
desse ponto de vista, as características mencionadas como necessárias para o gestor escolar, são
também imprescindíveis para um bom trabalho do
professor em sala de aula. Há uma redefinição do
papel do professor. Logicamente, parte-se de uma
visão macro para uma perspectiva micro; contudo,
as funções voltadas à gestão de pessoas são semelhantes. Por isso, podemos dizer que o professor
também é um gestor.
Face ao exposto, o professor gestor – ou o
gestor – tem a tarefa de despertar o interesse dos
diferentes componentes relativos à escola a participarem da vida escolar e se sentir parte integrante
da mesma, contribuindo e interagindo juntos para
se obter um bem comum. Dessa maneira, estaremos exercendo a democracia.
Referências Bibliográficas:
FAGUNDES, Antonio Ribeiro. Gestão Democrática: Uma
análise a partir de elementos da obra pedagógica de Paulo Freire. Dissertação de Mestrado. 63 páginas. São Leopoldo | Escola Superior de Teologia, 2009.
SOVIENSKI, Fernanda; STIGAR, Robson. Recursos Humanos X Gestão de Pessoas. Gestão – Revista Científica
de Administração, v. 10, n. 10, jan/jun 2008. Fonte: <http://
www.opet.com.br/artigos/pdf-pg-artigos/Gestao_de_
21
ARTIGOS
4
Dialogando Sobre
Aquisição de Linguagem
e Surdocegueira
Fernanda Cristina Falkoski
Tradutora/intérprete de Língua de Sinais
Graduanda em Letras pela Unisinos e em Educação
Especial pela UFSM
[email protected]
Resumo: Compreende-se que a linguagem é um dos requisitos fundamentais para estabelecer a comunicação entre as
pessoas, que ela é própria dos seres humanos e pode ser
manifestada de diversas formas.
| julho 2012
A
22
inda hoje, ao se falar sobre o aluno com deficiência, a maioria das pessoas para para
pensar e se questionar sobre como se dá o
processo de ensino e aprendizagem desse sujeito;
como desenvolver um trabalho para incluí-lo na
sociedade e oferecer-lhe oportunidades de acordo
com as suas especificidades. Um problema que faz
com que o trabalho seja mais difícil é a escassez
de conhecimentos acerca desse assunto, bem como
a falta de preparo dos profissionais que trabalham
na área. Assim, acontece com a especificidade do
aluno surdocego. Algo que deve ainda ser levado
em consideração é se esse aluno for um surdocego
pré-linguístico. O que fazer? Como fazer?
Talvez a primeira pergunta, e mais importante, a ser respondida seja: O que é um surdocego
pré-linguístico?
Parece necessário iniciar com uma definição
mais completa de surdocegueira:
Uma deficiência única que apresenta a perda
da audição e visão de tal forma que a combinação das duas deficiências impossibilita o uso
dos sentidos de distância, cria necessidades
especiais de comunicação, causa extrema dificuldade na conquista de metas educacionais,
vocacionais, recreativas, sociais, para acessar
informações e compreender o mundo que o
cerca. (AGAPASM, 2011)
Há duas distinções importantes a serem esclarecidas sobre a surdocegueira, dividida em pré-linguística e pós-linguística. É fundamental compreender essa diferença, pois é a partir disso que o
trabalho será moldado, de acordo com o sujeito a
ser atendido. O surdocego pré-linguístico é aquele
que nasce já com a deficiência ou que a adquire
nos primeiros anos de vida, antes do processo de
aquisição de uma língua – seja ela oral ou visual. A
surdocegueira pós-linguística, por sua vez, é aquela que o indivíduo adquire ao longo da vida, depois
de já ter uma língua estruturada, ou seja, depois
de ter adquirido todos os componentes da língua e
utilizá-la em situações cotidianas na interação com
se definirmos o pensamento como atividade
mental consciente, podemos primeiramente
observar que pensamento ou pelo menos cer-
Nesse exemplo, é possível perceber o pensamento sem a linguagem. Essa música poderia
ser expressa através de uma melodia, um ritmo,
sem o uso de uma única palavra, e sem que fosse
necessário ativar recursos linguageiros para compreendê-la.
Portanto, a discussão sobre essa relação,
pensamento e linguagem, traz uma situação interessante: o momento em que uma pessoa quer dizer algo, expressar uma ideia, mas não sabe como,
que palavras usar. Nesse momento, poderíamos
comprovar que o pensamento pode existir sem a
linguagem, pois o indivíduo está pensando, mas
não está usando uma linguagem.
De acordo com esses questionamentos e conceitos relatados, exemplifico, na prática, como se
dá o processo de aquisição de linguagem de um sujeito surdocego pré-linguístico, com base em quais
evidências posso comprovar que esse indivíduo
possui linguagem. A partir da organização de um
trabalho bem específico para o desenvolvimento
da linguagem, com o uso de objetos de referência,
sinais e atividades adaptadas, consigo estabelecer
alguns indícios de uma comunicação com determinado aluno.
Esses objetos de referência servem para antecipar ao aluno o que irá acontecer em seguida; ou
seja, antes de ir ao banheiro, o sujeito precisa ser
informado que isso acontecerá, e como isso poderá
ser feito se não posso usar nem a fala, nem a imagem visual? Através do tato, apresentando-lhe um
objeto que foi convencionado para referenciar
aquele momento – no caso, uma toalha.
Esse é um exemplo de atividade a ser desenvolvida com esse sujeito, lembrando que o mais
importante a ser pensado nesse trabalho é como
antecipar ao aluno o que acontecerá. No momento
em que ele compreender e antecipar o que acontecerá, poderei dizer que ele tem linguagem, que
ele pensa e que ele se comunica.
ARTIGOS
tos tipos de pensamento podem existir completamente independentes da linguagem. O
exemplo mais simples é a música. (1980, p.
45)
| julho 2012
seus pares.
Depois de conceituar algumas das propriedades da deficiência a ser pensada, trago reflexões
acerca da teoria a ser confrontada com a prática.
Discutiremos sobre as propriedades da linguagem
e o que ela implica no desenvolvimento do ser humano.
A linguagem é um dos constituintes básicos
para que se tenha uma língua. Um questionamento
que sempre me fiz em relação à linguagem, é se a
pessoa deve ter a língua e a linguagem paralelamente. E assim me deparei com a seguinte teoria:
uma pessoa que tem linguagem não precisa, necessariamente, ter uma língua, mas no momento em
que ela tem uma língua, obrigatoriamente precisa
da linguagem para compreendê-la.
Outro fator que deve ser discutido é a comunicação, que pode ocorrer de formas distintas, mas
que sempre terá a mesma finalidade, informar algo
a alguém, e será sempre estabelecida através da
linguagem. Também é importante ressaltar que a
linguagem está associada ao pensamento, ou seja,
uma pessoa só possui linguagem se pensar, só usa
desse mecanismo, a linguagem, no momento em
que consegue pensar o porquê, o para quem e o
como vai se comunicar. Assim, também se conclui
que o pensamento pode existir sem a linguagem,
mas a linguagem necessariamente precisa do pensamento para existir.
O pensamento sempre ocorre a partir de uma
motivação, seja ela qual for, por exemplo: fome,
sede, dor, necessidades fisiológicas – enfim, a pessoa pensa por causa de alguma coisa. Com base
nessa afirmação, o seguinte questionamento se faz
necessário: Como saber se uma pessoa que não
fala, não ouve e não vê, pensa? A partir de quais
reações posso comprovar que existem o pensamento, a linguagem e a comunicação? Quando e como
saber se existe uma comunicação entre a pessoa e
as que a rodeiam?
Assim, devemos nos questionar sobre a linguagem e o pensamento, se existe relação entre
ambos. Segundo Langacker,
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ARTIGOS
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Referências Bibliográficas:
GARCIA, Alex. Multideficiente/Surdocego. Disponível
em: http://www.agapasm.com.br/multideficiente.asp Acesso
em 05.03.2012.
GARCIA, Alex. Surdocegueira Empírica e Científica.
(s/d)
LANGACKER, Ronald W. A linguagem e sua estrutura.
Rio de Janeiro | Vozes, 1980.
ARTIGOS
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Família na Atualidade
Resumo: Os pais da atualidade têm pouco tempo para ficar
com seus filhos, e quando estão com eles, demonstram não
estar preocupados em educar e sim em desfrutar com os filhos momentos de prazer. E a quem acaba ficando a tarefa
de educar? Acaba ficando para a escola. A família pós-moderna busca na escola uma “parceira” na educação de seus
filhos, que passam mais tempo em atividades escolares do
que com suas famílias.
Palavras-Chave: Família. Escola. Educação.
“F
amília: núcleo parental formado por
pai, mãe e filhos. Pessoa do mesmo
sangue; parentela. Linhagem; estirpe.”
(LUFT, p. 321). Segundo Anthony Giddens (2000,
p. 67), só uma minoria vive hoje no que poderia ser
chamado de “a família padrão da década de 1950”,
ambos os pais morando juntos com os filhos nascidos de seu casamento, sendo a mãe uma dona de
casa em tempo integral e o pai assegurando o sustento. O que existe hoje é uma diversidade de formas de famílias; a maior parte da vida familiar foi
transformada pelo surgimento do casal informal
e da união informal. Segundo o autor, estatisticamente o casamento ainda é condição normal, mas
para a maioria das pessoas seu significado se transformou completamente. O casamento significa que
um casal está vivendo uma relação estável, e pode
na verdade promover essa estabilidade, uma vez
que envolve uma declaração pública de compromisso. No entanto, ele não é mais a principal base
definidora da união.
E como ficam as crianças que vivem em meio
as mais diversas e variadas formas de relações familiares, com padrastos/madrastas, meio-irmãos
(biológicos ou adotivos)?
As mudanças não estão apenas na configuração e na estrutura familiar; o que também preocupa muito são as práticas educativas familiares.
As famílias deixam de ter formas claras de educar seus filhos; a autoridade e a hierarquia não são
mais respeitadas.
Segundo Giddens (2000), valorizamos tanto as crianças hoje porque elas se tornaram mais
raras, e em parte porque a decisão de ter um filho é
agora muito diferente do que foi para gerações anteriores. Na família tradicional, os filhos eram uma
vantagem econômica. Enquanto hoje, nos países
ocidentais, um filho, ao contrário, representa um
grande esforço financeiro para os pais.
As mães também passaram a ter uma partici-
| julho 2012
Julici Lúcia Lippert Altenhofen
Licenciada em Letras pela Unisinos
Coordenadora Pedagógica da E. M. E. F. 25 de Julho
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ARTIGOS
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pação mais efetiva na sociedade, na política (até
uma presidenta elegemos) e no mercado de trabalho. Ficando assim a educação dos filhos para
terceiros (tias, creches, avós...). Os pais da atualidade têm pouco tempo para ficar com seus filhos,
e quando estão com eles, demonstram não estar
preocupados em educar e sim em desfrutar com os
filhos momentos de prazer. E a quem acaba ficando a tarefa de educar? Acaba ficando para a escola.
A família pós-moderna busca na escola uma “parceira” na educação de seus filhos, que passam a
maior parte de seu tempo em atividades escolares,
e não mais com suas famílias.
A educação dessas novas gerações é um
tema que preocupa as instituições de ensino, que
têm como função não apenas a transmissão de
conhecimentos, mas a veiculação de uma determinada filosofia de vida. A família busca na escola
respostas para a educação e para o mundo seu e de
seus filhos. A escola precisa estar atenta: não basta
construir conhecimento, é preciso viabilizar que o
aluno construa sua identidade, sua autonomia, com
responsabilidade e cidadania. Isso só é possível se
a família e a escola andarem juntas, sendo, ambas,
sujeitos do processo educativo. Com essa parceria
todos ganham, e juntos passam a ser sujeitos da
educação.
Sabe-se que é na família que se forma o
caráter. A escola depende da participação familiar,
em alguns momentos apenas para incentivar, em
outros para participar da forma efetiva no aprendizado, ajudando a pesquisar, refletindo com o filho
temas/assuntos que o filho traz da escola.
Uma escola, por mais bem preparada que esteja, nunca irá suprir uma família ausente. A família (pai, mãe, avó ou avô, tios, ou quem quer que
tenha responsabilidade pela educação da criança)
deve acompanhar de perto o que acontece na escola. Não resta dúvida de que a escola é um lugar
privilegiado; porém, não é só na escola que se dá a
educação: a educação se dá na vida e para a vida.
Referências Bibliográficas:
GIDDENS, Antony. Mundo em Descontrole: O que a globalização está fazendo de nós? Rio de Janeiro | Record,
2000.
LUFT, Celso Pedro. Minidicionário da Língua Portuguesa. 22° ed. São Paulo | Ática, 2009.
ARTIGOS
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Alterações da Fala ou
Alterações da Linguagem?
Conhecendo para Prevenir
na Educação Infantil
Marliese Christine Simador Godoflite
Especialista em Reabilitação em Fonoaudiologia
com ênfase em Linguagem
Especialista em Atendimento Clínico com ênfase
em Psicopedagogia
Coordenadora Geral do PLUG
A
habilidade de falar é tão importante que
se torna difícil conceber a vida sem linguagem. Antes de discorrermos sobre a
linguagem, é interessante fazermos uma diferenciação entre fala, voz e linguagem.
Por fala, compreende-se a exteriorização
do pensamento abstrato, feita através do uso sistemático de emissões ou expressões de símbolos
verbais ou palavras contidas no código de uma
língua. Assim, consideramos que a fala é a articulação e a emissão dos fonemas de uma língua. Por
voz, entende-se o som produzido pelo homem, que
o identifica, quanto a sua idade, sexo, tipo físico,
raça, procedência, característica de personalidade
e estado emocional. E finalmente, por linguagem,
concebemos o todo necessário para comunicação
de nossos pensamentos e ideias.
Sendo entendida como algo interior, a linguagem pode ser tanto verbal quanto não-verbal. A linguagem é verbal quando expressada por intermédio da fala. A linguagem
não-verbal é aquela que envolve o uso de gestos indicativos e/ou representativos, expressão
corporal e facial, manifestados através de
qualidades e características vocais específicas
(FREIRE, 1997).
Alterações da fala ou alterações da linguagem
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Resumo: A habilidade de falar é tão importante que se torna
difícil conceber a vida sem linguagem. Diferenciação entre
fala, voz e linguagem. Alterações da fala ou da linguagem.
A comunicação, além de satisfazer uma necessidade básica
do ser humano, é um dos mais penetrantes, complexos e importantes aglomerados de seu comportamento social. Nossas vidas cotidianas são afetadas seriamente pelas nossas
comunicações com os outros, e é na educação infantil que
muitas alterações podem ser prevenidas e/ou tratadas.
Segundo Zorzi (2002), pensamentos, ideias
e desejos vão se transformando em palavras de
acordo com condições pragmáticas, morfossintáticas e semânticas que os usos e a normas da língua
determinam. Estamos falando da etapa de processamento simbólico ou de planejamento. Porém,
para que estes símbolos, que ainda se encontram
no interior de nossa mente, possam chegar até nos-
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ARTIGOS
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sos interlocutores, há necessidade de transformá-los em sons (no caso da palavra falada), ou em
letras (no caso da palavra escrita). Estamos, agora,
referindo-nos ao aspecto da execução ou da realização motora das palavras. Mas, antes que as
palavras sejam pronunciadas, deve ocorrer uma
programação dos movimentos que os órgãos envolvidos na produção da fala deverão realizar para
produzir os fonemas que compõem as palavras, assim como há necessidade de que seja programada
a velocidade dos movimentos e a intensidade com
que os sons serão produzidos.
Distúrbios da Linguagem: Dificuldades ou
alterações que podem compreender o uso da linguagem com fins comunicativos, a capacidade de
produzir e compreender enunciados gramaticalmente estruturados e/ou semanticamente apropriados. Ou seja, distúrbios que prejudicam aspectos
ligados à fase do planejamento, assim como da
própria compreensão da linguagem.
Distúrbios da Fala: Correspondem às alterações que afetam os padrões de pronúncia ou de
produção dos sons da língua. Tais distúrbios estão
ligados, principalmente, às fases de programação
e/ou execução neuromotora. Tipos de alterações
mais comuns:
• Adição ou inserção de sons que não deveriam estar presentes na palavra.
• Distorção, ou pronúncia aproximada de um
fonema, permitindo sua identificação com o fonema padrão.
• Imprecisão articulatória, que corresponde
às produções pouco diferenciadas, ou com pouca
clareza, dos sons, dificultando a identificação deles com o que deveria ser padrão.
• Omissão ou ausência de fonemas que deveriam fazer parte da palavra.
• Substituições de um som da fala por outro.
Alterações de Origem Músculo-Esqueletais ou Anomalias Orofaciais: Correspondem aos distúrbios causados por problemas nas
estruturas ósseas e musculares envolvidas na
produção da fala. Fazendo parte deste grupo, encontramos as fissuras, as lesões ou remoções de
partes ósseas ou musculares, e alterações de forma
ou de tamanho dessas mesmas estruturas.
Desvios Fonológicos: Correspondem a dificuldades que dizem respeito ao domínio do padrão fonêmico da língua, na ausência de alterações
orgânicas detectáveis como perdas auditivas e
anormalidades anatômicas ou neurofisiológicas. O
termo, de uso muito difundido até hoje, originalmente empregado para definir esse tipo de desvio
tem sido “distúrbio articulatório funcional”. Nessa
terminologia, a palavra “funcional” refere-se, precisamente, ao fato de não serem encontradas alterações nas estruturas responsáveis pelo ato da fala.
Também tem sido empregado, para fazer referência a esse tipo de alteração, o termo “dislalia”.
Aqui podemos fazer uma distinção entre
desvios fonéticos e desvios fonológicos. Os distúrbios neurogênicos e os distúrbios de origem músculo-esqueletais podem ser considerados como
alterações fonéticas, uma vez que dizem respeito
a comprometimento nas estruturas envolvidas na
produção de fala propriamente dita: centros nervosos da fala, vias e terminações nervosas, músculos e ossos.
Por outro lado, os desvios fonológicos ocorrem na ausência de tais comprometimentos, assim
como de comprometimentos auditivos, correspondendo a problemas de aquisição de traços fonêmicos, como se fosse uma falha na aprendizagem de
regras de combinação de traços distintivos. Não
se observa uma inabilidade articulatória propriamente dita, mas uma organização falha do sistema
dos sons da língua.
A comunicação, além de satisfazer uma necessidade básica do ser humano, é um dos mais
penetrantes, complexos e importantes aglomerados de seu comportamento social. Nossas vidas
cotidianas são afetadas seriamente pelas nossas
comunicações com os outros, e é na educação infantil que muitas alterações podem ser prevenidas
e/ou tratadas.
Referências Bibliográficas:
FREIRE, Regina Maria. A Linguagem como Processo Terapêutico. São Paulo | Plexus, 1997.
GERBER, Adele. Problemas de Aprendizagem Relacio-
ARTIGOS
| julho 2012
nados à Linguagem: Sua Natureza e Tratamento. Porto
Alegre | Artes Médicas, 1996.
VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. 3° ed. São
Paulo | Ícone, 1991.
ZORZI, Jaime Luiz. Aquisição da Linguagem Infantil:
Desenvolvimento, Alterações, Terapia. São Paulo | Pancast, 1993.
ZORZI, Jaime Luiz. A Intervenção Fonoaudiológica nas
Alterações da Linguagem Infantil. 2° ed. Rio de Janeiro |
Revinter, 2002.
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ARTIGOS
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Sobre o Aprender/Ensinar
em Nosso Tempo – Diferentes Modos de Olhar
Queli Wagner
Psicopedagoga do Núcleo de Apoio a Inclusão – NAI
“Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes.”
Paulo Freire
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Resumo: A partir de um movimento de ideias sobre o aprender/ensinar em nosso tempo, busco fazer algumas aproximações dos diferentes modos de olhar sobre o processo de
ensino e aprendizagem, articulando algumas reflexões acerca do ato de educar na atualidade.
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F
rente ao novo alvorecer da Escola, somos
conduzidos incessantemente para um olhar mais heterogêneo sobre o sujeito e suas
relações.
Surge, assim, a constante reflexão de que a
escola não pode ser apenas transmissora de conhecimento, assumindo a necessidade emergente
da ressignificação do processo de aprendizagem
dos sujeitos envolvidos: o papel do educador, configurando uma postura mediadora do processo, e a
figura do aluno, desconstruindo o papel de receptor e delineando uma postura criadora, assumindose protagonista do seu conhecimento.
Conforme Vygotsky, o educando é sujeito
de sua própria aprendizagem, processo no qual o
professor potencializa seu trabalho na sala de aula,
promovendo atividades produtivas e desafiadoras,
colocando à tona todas as experiências e hipóteses do aluno e estimulando a interação com seus
pares. O conhecer, nesse enfoque, supõe a experimentação, remetendo-se ao movimento de provar,
mexer, pensar, refletir, em um constante processo
de (re)criar.
Deste modo, alçar o sujeito a apropriar-se de
novas formas de aprender e de relacionar-se com
o conhecimento, torna-se tarefa primordial da educação e um grande desafio a ser enfrentado pelo
sistema educacional.
Como afirma Esteves (2004), vivemos um
período singular no processo educacional, onde a
educação passa a ser, não mais apenas um direito
de ingresso, mas de permanência com qualidade.
Onde se busca que o aluno recebido na escola,
participe efetivamente do processo de ensino e
aprendizagem, e que se instrumentalize para participar ativamente da sociedade.
E será por meio desse novo olhar, acerca do
sujeito que aprende, permeado por suas singularidades funcionais, orgânicas ou sintomáticas, que
a escola delineará sua prática, buscando na essência da diversidade, promover possibilidades de
ARTIGOS
aprendizagem.
Nesse contexto, as dificuldades de aprendizagem colocam-se não enquanto fracasso, mas
como consignas que fazem parte do próprio processo, inferindo a desacomodação em busca da
condição humana, em olhar individualmente para
o sujeito dessa relação.
Pois, conforme Fernández (2001), tampouco
podemos aprender se não abrimos espaço ao não
saber.
A escola é palco para a conjunção destas
possibilidades, onde as necessidades do sujeito são
plausíveis, promovendo o interdiscurso e lendo as
entrelinhas, analisando as fraturas e compreendendo as especificidades dos indivíduos. Frente a essa
modalidade, a avaliação confere-se a uma etapa
onde professor e aluno possam, juntos, se avaliar,
na perspectiva de um (re)olhar sobre o processo e
a metodologia, buscando novos métodos e novos
caminhos no processo ensino-aprendizagem contínuo e processual.
Encaminha-se, assim, rumo a uma educação
permanente, com a renovação constante do conhecimento, onde a aprendizagem passa a ser vista
num processo de “aprender a aprender”, cuja ação
vem transformar a prática educacional.
ESTEVE, J. M. A terceira revolução educacional: a educação na sociedade do conhecimento. São Paulo | Moderna, 2004.
FERNÁNDEZ, Alicia. Os Idiomas do Aprendente. Porto
Alegre | Artmed, 2001.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4° ed.
São Paulo | Martins Fontes, 1991.
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Referências Bibliográficas:
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ARTIGOS
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Família e escola: práticas educativas
para conquistar a aproximação entre
ambos e os reflexos na aprendizagem
do educando
Roseli dos Santos Barella
Técnica em Informática Educativa, cursando
Pedagogia (ISEI)
Supervisora de Serviços Administrativos do PLUG
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Resumo: Sabemos a importância da presença da família no
ambiente escolar do educando. No presente artigo, serão
apresentadas ações educativas que pais e instituição, juntos, podem realizar para auxiliar no desenvolvimento do
educando, como também conquistar a aproximação entre
ambos, contribuindo assim para o planejamento e desenvolvimento de uma educação saudável, onde possa haver
momentos de trocas, entre a escola e a família.
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A
tualmente, discute-se muito a importância
da presença da família no âmbito escolar
do educando. Há diversas questões referentes a esse assunto que podem ser analisadas.
Dentre elas, podemos destacar: quais ações as escolas podem adotar para aproximar os pais, quais
influências essa aproximação pode causar, e também se esses pais se sentem preparados para auxiliar seus filhos nas tarefas escolares.
Apresentar o espaço físico e os funcionários
que a integram, explicar qual a função de cada
um, especialmente o grupo gestor que coordena
a instituição, realizar uma entrevista com os pais
e os alunos, são ações que podem auxiliar nestas
questões e, acima de tudo, mostrar que a escola
está comprometida com a aprendizagem.
Quando o assunto é aprendizagem, o papel
de cada um está bem claro – da escola, ensinar, e dos pais, acompanhar e fazer sugestões.
Porém, se o tema é comportamento, as ações
exigem cumplicidade redobrada. Ao perceber
que existem problemas pessoais que se refletem em atitudes que atrapalham o desempenho
em sala de aula, os pais devem ser chamados
e ouvidos, e as soluções, construídas em conjunto, sem julgamento ou atribuições de culpa.
[…] (REVISTA NOVA ESCOLA – GESTÃO
ESCOLAR, 2009, p. 26)
O espaço familiar pode ser de afeto, felicidades e segurança, mas pode ser também de medos,
rejeições e violência. Realizar visitas às famílias
dos alunos nas suas casas é muito importante, pois
é uma maneira de estreitar os laços e conquistar
a aproximação, uma vez que conhecer o âmbito
familiar é um ponto essencial para entendermos os
comportamentos da criança, e isto pode servir de
suporte ao planejamento das tarefas escolares.
Quando abordamos esse assunto, precisamos
estar cientes da realidade de muitas famílias, que
por sua vez nos revelam questões que precisam
ser reavaliadas. Há, de fato, aquelas que possuem
[...] Educar, portanto, não é uma tarefa fácil,
exige muito esforço, paciência e tranquilidade. Exige saber ouvir, mas também fazer
calar quando é preciso educar. O medo de magoar ou decepcionar deve ser substituído pela
certeza de que o amor também se demonstra
sendo firme no estabelecimento de limites e
responsabilidades. [...] (REVISTA ESCOLA
DE PAIS DO BRASIL, 2010, p. 15)
Entretanto, muitas vezes, a falta de tempo
para conviver com os filhos torna a tarefa de muitos pais um pouco mais difícil. Porém, eles devem
estar cientes de que sua participação na educação
dos mesmos pode se realizar através de praticas
simples: estimulá-los a serem bons estudantes e
incentivá-los a irem para a escola já é um grande
começo. Ou ainda: estar presentes na vida educacional das crianças, demonstrar interesse, buscar
saber o que os filhos estão aprendendo, ter e dar
tempo aos filhos, falar com eles, ouvi-los, ajudá-los nas lições escolares, oferecer um espaço tranquilo e harmonioso em casa para que eles realizem
as tarefas.
Ao refletir sobre o tema proposto nesse artigo, concluímos que a presença da família, no
âmbito escolar do educando, é fundamental, e faz
toda a diferença na aprendizagem do mesmo. Pais
e mães precisam “tirar” um tempo para seus filhos,
acompanhar e auxiliar nas tarefas escolares, assim
como participar das programações propostas pelas
escolas, colaborando e apresentando sugestões. A
escola, por sua vez, precisa estar de portas abertas
para acolher esses pais e filhos, oferecendo suporte
ARTIGOS
e mostrando que, sim, é possível essa parceria dar
certo.
Escola e família precisam caminhar juntas,
em busca de um objetivo comum, contribuindo
para a formação de indivíduos críticos e com opinião própria, resultado de uma educação saudável
e de uma relação construtiva entre a instituição e
os pais.
Referências Bibliográficas:
Revista Escola de Pais do Brasil. Família e Escola – Um
sonho possível... Basta querer!!! São Paulo | 2010. pp.14
e 15.
Revista Nova Escola – Gestão Escolar. A Escola da Família. Abril, 2009. p. 24.
SZYMANSKI, Heloisa. Práticas educativas familiares: a
família como foco de atenção psicoeducacional. Estudos
Psicológicos [on line]. Campinas : 2004. Vol. 21, n. 2, pp.
5-16.
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pouco ou nenhum grau de escolaridade, sendo esta,
muitas vezes, a razão para que se sintam impossibilitadas de auxiliar os filhos na aprendizagem.
Também há questões estruturais, que influenciam
na transmissão dos valores.
Pode-se perceber que, ao longo dos anos,
a família, por força das circunstâncias já citadas,
transfere para a escola a tarefa de formar e educar. Por esse motivo, é preciso trazer a família para
dentro da escola, para que ela passe a colaborar
no processo educativo de forma efetiva, compartilhando assim as responsabilidades, e não as transferindo.
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ARTIGOS
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Gestão Democrática
e a Gestão Escolar
Sibele Roesler Nikititz
Especialista em Gestão Escolar, licenciada em Matemática
Diretora da EMEI Jardim dos Sonhos
Presidente da Associação dos Professores Municipais
de Ivoti
Resumo: Investigação sobre a gestão democrática como um
motivador do grupo de professores de educação infantil, expressando resultado de trabalho de conclusão de Especialização em Gestão Escolar.
| julho 2012
E
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m meu trabalho de conclusão de Especialização em Gestão Escolar, tive o objetivo de
investigar a gestão democrática como um
motivador do grupo de professores de educação
infantil, resgatando a história da mesma e, também, fazendo uma análise de entrevistas realizadas
com uma amostra deste corpo docente, onde pude
traçar algumas conclusões importantes.
Um dos principais objetivos da gestão
democrática é a construção coletiva de suas
propostas de trabalho. No passado, a maneira
como as instituições eram administradas estava baseada em um modelo ultrapassado de gestão, agindo de forma controladora, gerando um quadro de
verdadeira fobia em perderem seu juízo de valor,
de conseguirem fazer valer o seu poder. A gestão,
por mais que devesse ser democrática, ainda não
o era, estava em transição; porém, as falas diziam
ser democráticas, quando, na verdade, o que acontecia era uma falsa democracia, e esta demagogia
trazia maior desmotivação para os professores de
educação infantil.
Percebo que, no geral, as equipes gestoras
já estão mudando seu pensamento sobre gestão
democrática, estão buscando envolver todos nos
processos que norteiam a escola, além da construção dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP).
Estão buscando um planejamento democrático,
entendendo que os desafios (crise) que enfrentam,
não são empecilhos que ameaçam, pois é na crise
que conseguimos abrir nossa mente para um novo
olhar da situação, onde refletimos buscando a melhor solução e o melhor caminho a trilhar para
apreciar a vida organizacional.
Além disso, pensa-se em uma gestão
democrática, que vai muito além do nome, segundo Lück (2007, p. 53):
[...] a utilização do termo gestão não corresponde a simples substituição terminológica,
baseada em considerações semânticas. Trata-se, sim, da proposição de um novo entendimento de organização educacional e de seus
LÜCK, Heloísa. Gestão educacional: uma questão paradigmática. 3° ed. Petrópolis | Vozes, 2007.
ARTIGOS
Nessa direção, buscando alternativas e melhorias que pudessem contribuir para as mudanças
necessárias, ao encontro de um ambiente acolhedor
e motivador, alinhado com um aprendizado satisfatório dos alunos da escola, é que lancei bases de
uma investigação onde pude concluir que uma das
alternativas que poderiam melhorar nessa questão,
é o gestor estar junto do seu grupo docente, vivenciando suas rotinas, suas práticas, seus projetos,
suas ideias e suas dificuldades diárias.
Também percebi o PPP como um aliado da
escola, se pensado de forma democrática; pois, se
pensado apenas para cumprir a lei, como em outras
épocas, não traz sustentação para a escola. O PPP
deve trazer a “cara” da escola, sendo construído
de forma que todos estejam envolvidos nesta construção, pensando e dando forma a ele, mostrando
o modo como a maioria da escola pensa, e não somente a maneira que a equipe gestora pensa, pois
ela é apenas um mediador desta construção. O PPP
é a vida da escola, e a vida que pulsa dentro da
escola é a comunidade escolar, ou seja, são os alunos, pais, professores e funcionários.
Assim, como considerações finais do meu
trabalho, pude afirmar que um bom gestor é aquele
que consegue perceber, nas pessoas com quem trabalha, aqueles líderes naturais, os quais às vezes
empurram o grupo para cima, ou que às vezes também são justamente aqueles que estão puxando o
grupo para baixo. Neste momento, ele deve ensinar
que tudo é possível, mesmo quando há descrédito,
extraindo o melhor do seu docente, desafiando-o
e acompanhando-o passo a passo, pois os outros
professores percebem isso naturalmente, sem ser
necessário chamar a atenção e mostrar que é possível ir além.
Um bom gestor gera líderes capazes, e sabe
conquistar o seu coração. Ser um bom gestor é
saber dar o exemplo e tomar atitudes motivacionais com a dose certa de fé, persistência, moral e
coragem.
Referência Bibliográfica:
| julho 2012
processos e, para além disso, das relações da
educação com a sociedade e das pessoas dentro do sistema de ensino e da escola.
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ARTIGOS
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Dança e Aprendizagem: Experiências de Pais e Alunos do Programa
Lazer Unindo Gerações – PLUG
| julho 2012
Talita Camargo Raimundo
Graduanda em Educação Física – Universidade Feevale
Coordenadora de Projetos Esportivos do PLUG
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Resumo: A dança é uma forma de integração e expressão,
tanto individual, quanto coletiva, e é um meio viável para
o desenvolvimento integral dos educandos, possibilitando
uma vivência diferenciada que auxilie na construção de uma
nova cultura, que valorize as diferenças e oportunize experiências tanto corporais como sociais. O presente artigo
busca analisar um melhor entendimento sobre a motivação
que leva as pessoas (pesquisa feita com algumas alunas do
PLUG e seus responsáveis) a procurarem as aulas de dança
e se manterem nelas, como também analisar as percepções
dos pais dessas alunas em relação ao desenvolvimento dos
filhos, tanto em relação às possíveis contribuições da dança
para a vida das praticantes, quanto como se dá o envolvimento dos pais nestas atividades. Refletindo sobre isso,
compreende-se que a dança contribui no que se refere aos
aspectos físicos, comportamentais e sociais.
“Em cada passo percorremos diversos caminhos, em cada
giro viajamos o mundo, em cada olhar transmitimos desejos, em cada toque multiplicamos sensações, em cada queda
transcendemos a emoção, em cada dança sonhamos; com os
pés no chão.”
Rinaldo Donizete de Freitas
A
dança, dentre vários aspectos, é uma forma
de expressão, sendo uma das mais significativas, pois através dela é possível co-
nhecer os hábitos e os costumes de uma sociedade.
Por isso, devemos dar uma maior importância ao
desenvolvimento da dança, em qualquer que seja
a área de atuação (RANGEL, 2002). A dança deve
servir como um dos meios de desenvolver os aspectos relacionais do educando, utilizando o movimento como meio expressivo.
Para que possamos utilizar mais a dança nos
ambientes de aprendizagem, é importante termos
consciência de alguns de seus benefícios, como
destaca Rangel (2002), quando descreve que,
quando deixamos fluir do aluno suas emoções, anseios e desejos, através de movimentos, que não
precisam ser técnicos, permitimos que ele revele-se e desperte para o mundo, numa boa relação
consigo e com os outros.
Os benefícios que a dança pode trazer para
o desenvolvimento das crianças, se executada de
forma correta, segundo as autoras Santos, Lucarevsky e Silva (2005), são a facilitação nos
relacionamentos interpessoais, na autoestima, no
senso de responsabilidade e no desenvolvimento
do potencial criativo e imaginativo do educando.
Mais do que isso, a dança proporciona uma melhora nos aspectos físicos, como aumento da resistência corporal, melhor postura e flexibilidade. Além
Você me diz que seus pais não te entendem,
mas você não entende seus pais. Você culpa
seus pais por tudo, isso é absurdo. São crianças
como você, o que você vai ser quando você
crescer? (Legião Urbana)
Os pais transmitem aos seus filhos, verbal
ou não verbalmente, ideias, crenças, valores, sentimentos e condutas que eles esperam deles. Mesmo
que em alguns casos os próprios pais não saibam o
que esperar – pois, como coloca Calligaris (2000),
eles aparentemente não sabem –, a partir daí a adolescência passa a assumir a tarefa de interpretar o
desejo inconsciente, ou simplesmente esquecido,
dos adultos. O adolescente é ótimo intérprete do
desejo adulto, ele acaba reproduzindo estes ideais
reprimidos.
Durante a pesquisa realizada, houve exemplos bem claros de que os pais possuem muitas
influências sobre as adolescentes, como o cuidado
em cobrar delas a organização, mostrar interesse
no que elas estão produzindo (vendo ou ouvindo),
e valorizar o que elas tanto gostam de fazer. Às
vezes, julgamos que adolescentes são rudes e não
se importam com o que os pais pensam; porém,
diante desta pesquisa, foi provado o contrário, o
quanto para o desenvolvimento delas esse vínculo
é importante.
ARTIGOS
Ao identificar os principais motivos que as
levaram a escolher a prática da dança, elas pontuaram o fato de terem afinidade com a dança desde
a infância, muitas vezes influenciada, direta ou indiretamente, pelos pais. As principais justificativas
da permanência delas nas aulas foram os benefícios físicos que esta prática traz a elas, o convívio
social entre as alunas e a professora, e a constante
motivação por parte da professora na suas aulas.
Além dos benefícios físicos, a dança também trouxe a essas meninas os benefícios comportamentais: elas se sentem mais alegres, desinibidas, confiantes; e os aspectos sociais: a amizade e
o companheirismo foram das questões mais apontadas. A cumplicidade entre elas e a criação de um
grupo com as mesmas afinidades, também foi algo
descrito pelos pais como ponto positivo.
Referências Bibliográficas:
CALLIGARIS, Contardo. A adolescência. São Paulo | Publifolha, 2000.
FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família.
Porto Alegre | Artmed, 1991.
RANGEL, Nilda Barbosa Cavalcante. Dança, Educação,
Educação Física: propostas de ensino da dança e o universo da Educação Física. Jundiaí | Fontoura, 2002.
SANTOS, Josiane; LUCAREVSKY, Juliana; SILVA, Renata. Dança na escola: benefícios e contribuições na fase
pré-escolar. Trabalho de Conclusão do curso de Pedagogia.
Londrina | Universidade UniFil, 2005.
| julho 2012
dos aspectos físicos, a dança deve possibilitar o
desenvolvimento de um sujeito, para que ele possa
ter consciência do seu papel como criador da sua
história e conhecedor do seu próprio corpo.
Mas de que forma isso ocorre? Com relação
à transmissão do conhecimento, Fernández (1991)
coloca que não se transmite o conhecimento, mas,
sim, sinais desse conhecimento, para que possa
ser transformado pelo sujeito e reproduzido, pois
o conhecimento é do outro. Somente aprendemos daquelas pessoas que conhecemos e sentimos
confiança. Toda aprendizagem passa pelo corpo,
fazendo uma relação direta com o prazer, pois o
corpo coordena, e a coordenação resulta em prazer,
o prazer do domínio, ou seja, o organismo bem estruturado é uma boa base para a aprendizagem, e
as perturbações que possa sofrer condicionam dificuldades nesse processo.
37
RELATOS
RELATOS
DE EXPERIÊNCIA
DE EXPERIÊNCIA
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
1
Concerto Didático:
Uma Aula de Apreciação
e de Vivências Musicais
O
educando traz vivências musicais de seu
convívio familiar e extraescolar, porém
sem um discernimento ou ouvido crítico.
Assim, é importante promover uma vivência de
escuta sensível e crítica, onde haja a compreensão
de que apreciar vai muito além de ouvir, tornando
o aluno um ouvinte ativo, intérprete, compositor e
improvisador da prática musical.
A aprendizagem precisa ser significativa e
atraente e, por isso, a Comunidade Aprendente de
Música, formada pelos professores de Música da
Rede Municipal de Ensino de Ivoti, organizou e
elaborou a proposta pedagógica de um CONCERTO DIDÁTICO, com apoio da SEMEC e do Instituto de Educação Ivoti, onde os alunos do 4° e 5°
Anos podem assistir à Orquestra Sinfônica Jovem
Ivoti, para apreciar diversas peças musicais eruditas, populares e do folclore brasileiro.
Segundo Souza (2000, p.164), “a aula de
música só pode obter êxito se transformada numa
ação significativa, o que pressupõe uma permanente abertura para o novo e o confronto com a realidade”. Desse modo, os processos de ensino e de
aprendizagem se tornam mais significativos, e fica
mais fácil “promover experiências com possibilidades de expressão musical e introduzir conteúdos
e as diversas funções da música na sociedade sob
condições atuais e históricas” (ibid., p. 176).
A ideia de Concerto Didático é válida em
outros âmbitos. Ela possibilita aprendizagens mais
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Aline Bühler
Licenciada em Música, Escola 25 de Julho
Ângela Dilly Graeff
Licencianda em Música, Escola Engº Ildo Meneghetti
Daniel Kich
Licenciando em Música, Escolas Aroni Aloísio Mossmann
e Guilhermina Mertins
Luis Rodrigo Flesch
Licenciando em Música, Escola Engº Ildo Meneghetti
Mariana Valim Samaniêgo
Licenciada em Pedagogia, Escola Engº Ildo Meneghetti
Marina Bencke
Licenciada em Letras, Escola Concórdia
39
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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40
profundas do que a apresentação da orquestra em
si, pois são trabalhadas também a origem de cada
instrumento, regras de convivência e etiqueta, bem
como a regência e a expressão musical.
Dos bastidores ao palco
Os professores, em sala de aula, preparam os
alunos para o Concerto, trabalhando os seguintes
aspectos: família, naipes e disposição dos instrumentos da orquestra, função do maestro, peças
com dois ou mais movimentos, protocolos de comportamento, a importância de cada músico na harmonia do grupo e o estilo de música apresentado.
As escolas recebem o programa do Concerto previamente, para que possam apreciá-lo juntamente
com os alunos, familiarizando-os com as melodias
a serem executadas. Sendo assim, quando chegam
ao Concerto, entendem, reconhecem e aproveitam
melhor a programação.
O Concerto Didático tornou-se um evento anual; em 2012, estará ocorrendo sua terceira
edição, onde participam, em média, 450 alunos,
envolvendo as escolas Aroni Aloísio Mossmann,
Concórdia, Engº Ildo Meneghetti, Guilhermina
Mertins, Jardim Panorâmico, Nicolau Fridolino
Kunrath e 25 de Julho.
As edições ocorrem no auditório do Instituto de Educação Ivoti, geralmente divididas em
quatro apresentações, para que os músicos e alunos consigam interagir, pois a proposta didática
do concerto é que haja uma breve explanação de
cada instrumento, seu timbre, e o funcionamento
da orquestra.
Novas possibilidades
A partir dessa experiência, constatou-se a
importância deste momento, muitas vezes único,
na vida das crianças. Cada rosto que se volta para
a orquestra, com interesse e encantamento, é o resultado de muito empenho de todos os envolvidos,
pois a concretização do Concerto Didático só foi
possível por haver profissionais envolvidos e com
o desejo da valorização da educação musical, podendo contar também com o apoio e a parceria da
SEMEC e do Instituto de Educação Ivoti.
Acreditamos que “a música ensina os homens a ver com o seu ouvido e a ouvir com seu
coração” (Gibran), pois percebemos o crescimento
e o discernimento adquiridos após essa rica aula de
vivências, auxiliando o aluno na descoberta da sua
identidade musical.
Referências Bibliográficas:
GIBRAN, Khalil. A divina música.
SOUZA, Jusamara (org.). Música, cotidiano e educação.
Porto Alegre | Programa de Pós-Graduação em Música do
Instituto de Artes da UFRGS, 2000.
O Espetáculo na Infância
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
2
Aline Brito de Oliveira
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Feevale
Raiama Trenckel
Acadêmica do curso de Licenciatura em Dança da Universidade Luterana do Brasil/RS
Nascendo a Dança
por barreiras e fronteiras entre o individual e o
coletivo, o humano e o inumano, etc. O devir que
deve ser entendido como movimento, “processualidade”, trajetos, como forças intensivas.
No ritmo da infância
A criança necessita de experiências de expressão e comunicação que possibilitem o desenvolvimento de sua sensibilidade, criatividade e interpretatividade. Atividades da Dança fluirão tanto
como alegria no aspecto lúdico de movimentar-se
livre, como poderão retratar o seu humor na força
dos movimentos, emoções à flor da pele liberadas
em outra dimensão contida no inconsciente. Uma
maneira de extrapolar expressões de alegria, tristeza, euforia, fará vazar sentimentos reprimidos,
contidos no seu mundo interior.
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A
Escola Municipal Guilhermina Mertins,
por meio de sua equipe gestora – composta
pela diretora Andréia Schilling, a coordenadora pedagógica Carla Haupenthal e a estagiária
de Psicologia Aline Brito de Oliveira –, oferece
uma proposta de formação voltada para o desenvolvimento da integralidade e consciência sociocultural dos alunos. A equipe acredita na infância,
vendo esses alunos como atores sociais, e apostando em suas competências de ação e intervenção
em seus mundos. E acredita que, oferecendo-se
como modelo de identificação, os educadores têm
a tarefa de cuidar da criança em sua integridade
física, emocional e social, conforme cita Oliveira
(2009).
Trabalhando com crianças, sabe-se que há
sempre algo em devir¹, que nada tem a ver com
um vir-a-ser adulto, mas sim, um devir criança. Há
crianças que conseguem realizar o seu devir, outras não. O devir como uma capacidade de trans-
41
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
O sucesso, a alegria, a realização que as crianças experimentam a partir da Dança, permitirão às mesmas fortalecer seu autoconhecimento, sua autoestima, sua autoconfiança e
sua autoimagem, sentimentos tão fundamentais para a estruturação de sua personalidade
(NANNI, 2003).
A Dança permite imaginar, fantasiar, criar
um mundo mágico, onde a cada batida da música
uma nova emoção surge. A fantasia deve ser presente a cada segundo da infância, pois através dela
as crianças encontram expressão para seu mundo
interno, facilitando sua integração com o mundo
externo. Oliveira (2009) traz essa ideia, quando
compreende os contos de fada na infância, dando
importância e fundamento à vivência da fantasia
infantil. Sendo capaz de imaginar e fantasiar durante a infância, é possível para a criança compreender seu mundo psíquico de forma simples e
dar sentido aos seus conflitos internos.
ta pela professora para ser vivenciada pelas turmas
de 2º e 3º anos. Esta modalidade tem como essência as faculdades imaginativas e sensíveis que geram os movimentos, gestos, expressões inspiradas
nos poderes intuitivos dos dançarinos. Criar e não
reproduzir é a base principal dessa dança.
Nas turmas de 4º e 5º anos, o interesse foi
pela Dança de Salão (HAAS, 2006), conhecida
também por Dança Social, que é praticada por diversão, integração em bailes e festejos. É considerada uma das mais relaxantes formas de exercitar
o corpo, favorecendo uma boa postura e tonificando-o. Confirmando que esses alunos já despertam
olhares para a adolescência, essa modalidade foi
aceita de forma imediata pela turma.
¹ “Devir é jamais imitar, nem fazer como, nem ajustar-se a um modelo, seja
ele de justiça ou de verdade. Não há um termo de onde se parte, nem um
ao qual se chega ou se deve chegar. Tampouco dois termos que se trocam.
A questão ‘o que você está se tornando’? é particularmente estúpida. Pois
à medida que alguém se torna, o que ele se torna muda tanto quanto ele
próprio.” (DELEUZE; PARNET. 1998, p. 10)
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A coreografia final
42
Dançar é movimentar-se pelo espaço, é sentir
o corpo livre, é comunicar-se consigo mesmo, é
desfrutar, liberar-se... Convidar para dançar é animar a quebrar preconceitos, medos, vergonhas...
(HAAS, 2006)
A aula de Dança, coordenada semanalmente
pela professora Raiama Trenckel, é dirigida a alunos da Educação Infantil ao 5º ano, durante 50
minutos em cada turma.
Somente ao conhecer o ritmo, o sentido, as
características de cada aluno e de cada turma, a
professora pode saber a dança que mais desperta
aquele grupo, pois cada classe tem sua própria personalidade e funcionamento.
A Educação Infantil e o 1º ano desenvolvem
Danças Folclóricas (HAAS, 2006), que permeiam
o lúdico, sendo realizadas pelo divertimento, integração dos dançarinos, perpetuando as características, costumes e lendas da região. Trabalham valores familiares, culturais e tradições, ensinadas de
geração para geração.
A Dança Criativa (HAAS, 2006) foi propos-
Referências Bibliográficas:
DELEUZE, Gilles; PARNET, C. Diálogos. Trad Eloísa
Araújo Ribeiro. São Paulo | Escuta, 1998. 179 pp.
HAAS, Aline Nogueira. Ritmo e Dança. 2° ed. Canoas | Ed.
ULBRA, 2006.
NANNI, Dionísia. Dança – Educação: pré escola à universidade. 4° ed. Rio de Janeiro | Sprint, 2003.
OLIVEIRA, M. L. (org.) (Im)pertinências da educação: o
trabalho educativo em pesquisa [on line]. São Paulo | Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
3
Afinal, qual foi “A Invenção
de Hugo Cabret”?
“Ele frequentemente imaginava que sua própria cabeça
era repleta de engrenagens, como uma máquina, e sentia
uma conexão com qualquer mecanismo que o tocasse.”
(SELZNICK, 2007. p. 126)
A
proprio-me da metáfora das engrenagens
para socializar uma das experiências mais
significativas que já tive no cinema, falando também da minha tentativa de sensibilizar
outros educadores a assistirem o filme que tanto
me impactou: “A invenção de Hugo Cabret”. Por
um bom tempo, dias até, podia sentir as rodas e engrenagens da minha cabeça rodopiando em todas
as direções, procurando fazer links com diferentes
possibilidades educativas, pois esta produção cinematográfica de Martin Scorsese, mesmo voltada
a uma temática infantil, constitui-se em uma carta
de amor à sétima arte. Conforme o jornalista Marcos Rolim (25/03/2012), este célebre diretor de
cinema oferece a todos uma obra-prima com este
seu último filme, que, baseado no livro homônimo
de Brian Selznick, apresenta uma poesia de imagens em cada detalhe, trazendo à tona uma questão
fundamental: “O que é a vida que vale a pena ser
vivida?”
Esclareço que eu não me sentira atraída pelo
título do filme, mas o fato de estar na mídia em
virtude das 11 indicações ao Oscar, destacando-se
nas categorias de arte, animou-me um pouco mais.
Passei a perceber a abrangência desta produção,
ao ler algumas reportagens salientando a riqueza
do enredo, voltado a narrar a história fictícia de
um menino órfão (Hugo, interpretado por Asa Butterfield), que vive sozinho em uma estação de trem
parisiense, e que se esforça sobremaneira para
manter os relógios da estação funcionando; e, ao
mesmo tempo, ressignificando a história de vida
do mágico George Méliès, um dos precursores do
cinema, pai dos efeitos especiais, que com muita
ousadia aplicava truques na montagem dos filmes,
feitos a partir de cenários fantásticos criados por
ele.
Assim, ao me inteirar do enredo, de imediato
pensei nas suas possibilidades de trabalho em sala
de aula, já que o estudo do cinema faz parte do
conteúdo listado nos Planos de Estudos de Arte no
Ensino Fundamental, e foi com certeza isso que me
motivou a assisti-lo. Foi um momento de grande
imersão e encantamento; saí da sala de cinema
com a convicção de oportunizar essa atividade a
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Andréa Cristina Baum Schneck
Mestre em Educação (UFRGS)
[email protected]
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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todos os meus alunos, considerando que a narrativa era de fácil entendimento, a técnica em 3D
maravilhosa, e a abordagem profunda e humanizante. Alguns colegas foram ver o filme, e apesar
de diferentes impressões, comungávamos de que
não poderíamos perder a oportunidade de problematizar a respeito em sala de aula. Refletindo
com a equipe diretiva e a coordenação pedagógica
sobre os objetivos que poderiam justificar a ida ao
cinema, avaliando necessidades e interesses dos
alunos, optamos por construir um projeto interdisciplinar voltado às turmas da 7ª série.
Agendamos uma sessão especial para o dia
05/03/2012. Era grande a expectativa diante do estímulo que havíamos dado às três turmas, 71, 72
e 73, levando em conta que, para muitos desses
alunos, essa ainda seria a primeira ou segunda ida
ao cinema. No retorno, era nítida a satisfação de
todos, pois o filme de fato surpreendera, mobilizando uma infinidade de emoções. Muitos alunos e professores haviam feito registros durante
a sessão, frases e cenas que consideravam importante discutir em sala, o que foi fundamental para
iniciarmos a construção do projeto propriamente
dito.
Uma multiplicidade de olhares e sugestões
permitiu uma rica troca de ideias, envolvendo
as áreas da Arte, Português, Língua Inglesa e
Matemática, resultando no “Projeto de Cinema”,
tendo como objetivo geral despertar possibilidades de leituras e releituras das diferentes linguagens a partir da narrativa fílmica. Somente depois
que já tínhamos iniciado o projeto, descobri que
o diretor se baseara num livro e que, provavelmente, deve ter se deleitado nessa trama literária
tão cativante, pois a própria escrita e ilustração do
livro convidam o leitor a, antes de virar a página,
imaginar-se sentado no escuro, como no início de
um filme. “Na tela, o sol logo vai nascer, e você
será levado em zoom até uma estação de trem no
meio da cidade [...]” (SELZNICK, 2007, p.1) O
livro antecipa as cenas do filme, que teve poucas
modificações no seu texto. Entretanto, o que mais
me fascinou foram as belíssimas imagens a grafite,
feitas pelo próprio escritor, que por si só permitem
uma leitura imagética intensa, aproximando o es-
pectador dos planos de filmagem necessários para
se obter um bom filme, agregando além dos desenhos sobre o enredo, fotografias dos primeiros
filmes, bem como esboços das inventividades de
Méliès (figurinos, cenários, alegorias).
Retomando..., cada professor elencou seus
objetivos específicos, conectando-os com os outros conteúdos pré-estabelecidos para essa série,
tendo como norte todo o universo dessa narrativa, e como meta a valorização das invenções dos
próprios alunos, culminando com a criação de um
curta-metragem, utilizando a dinâmica de grupos
para a maioria das propostas.
Em Arte, os alunos foram sensibilizados
a uma imersão ainda maior na história assistida.
criando um banco de dados sobre ele. Focados na
história de George Méliés, eles apreciaram esteticamente alguns dos filmes por ele produzidos,
realizaram pesquisas sobre a história do cinema,
compreendendo as características dos produtos
de cada tempo, desde o cinema mudo ao contemporâneo, e atentando para as imagens em movimento representadas na arte rupestre, que são tidas
como precursoras do cinema. Investiu-se tempo
na análise de outras imagens, fotografias do filme,
obras de arte com representações similares, comparações entre as imagens do livro e as do filme,
imagens publicitárias, observação de engrenagens,
desenhos explorando técnicas de grafite, e outras
releituras. Na tentativa de agregar novas informações sobre cinema, introduzir discussões sobre
planos de filmagem e linguagem cinematográfica,
e ampliar conhecimentos, organizou-se um Seminário de Cinema, em parceria com o Grupo BisSTOP, do IEI, que desenvolve um projeto de cinema desde 2011, tendo na sequência uma aula
de enquadramento e uma prática sobre planos de
filmagem, com o professor Edmar Galiza. Voltaram-se, finalmente, à produção de seus filmes, integrando todas as disciplinas participantes do projeto e versando sobre vários assuntos.
Em Português, o trabalho iniciou com uma
produção textual sobre o primeiro filme que haviam assistido no cinema, e depois direcionou-se
para criação de um diário de bordo coletivo que
deveria ser usado para registrar tudo o que fossem
Referências Bibliográficas:
Reportagens do Correio do Povo e Zero Hora.
ROLIM, Marcos. A Invenção de Hugo Cabret. Reportagem na Zero Hora. 25/03/2012.
SCORSESE, Martin. A Invenção de Hugo Cabret [filme].
SELZNICK, Brian. A Invenção de Hugo Cabret. São Paulo
| Edições SM, 2007.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
Equipe de professores em planejamento inicial
Seminário de Cinema no IEI
Desenho de observação de engrenagens
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fazendo. Assistiram ao filme “Tempos Modernos”,
de Charles Chaplin, contextualizando-o com outros temas; aprenderam a construir uma ficha técnica e uma narrativa de cinema, conhecimentos
que utilizaram ao construírem a sua proposta de
vídeo. Em Língua Inglesa, produziram frases curtas a partir das cenas gravadas nos vídeos, utilizando o verbo to be (ser/estar) e o present continuous tense (presente contínuo). Em Matemática,
puderam conhecer outras engrenagens, tipos de
relógios, formas geométricas, trabalhar noções de
volume e sólidos.
Saliento que todas essas áreas deram suporte
para que os alunos desenvolvessem seus filmes,
contando ainda com o apoio do setor de Informática, por meio do professor Lucas Breunig, especialmente durante as filmagens e a edição dos vídeos.
Cada professor comprometeu-se com alguns grupos, o que permitiu, de fato, um trabalho coletivo
e de muita aprendizagem. Partiu-se, então, para a
criação de folhetos e cartazes de cada produção, e
que, neste exato momento antecipam: “Em breve
nos cinemas, as produções inéditas dos alunos da
Ildo Meneghetti!”.
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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Tesouro Verde: Um
Olhar Sobre a Educação
a Partir da Amazônia
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Andréa Mignoni (org.)
Licenciada em Letras: Português/Inglês
Andréa Cristina Baum Schneck
Mestre em História da Educação
Danielle Kayser Sauter
Mestre em Educação em Ciências e Matemática
Elisa Feilstrecker Fortes
Mestre em Metodologia do Ensino de 1º Grau
Miriam Bonilha de Vargas Abadie
Licenciada em Ciências Físicas e Biológicas
E. M. E. F. Eng.º Ildo Meneghetti
46
N
o mês de março de 2012, nós, professores
da 6ª série da Escola Municipal Engº Ildo
Meneghetti, tínhamos como meta desenvolver um projeto significativo com essas turmas,
pois todo trabalho com projetos desencadeia saberes interligados, de forma dinâmica e prazerosa.
Segundo Hernández (1998), a função de um projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares relativos ao
tratamento da informação, a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus
conhecimentos, e a transformação da informação
procedente dos diferentes saberes disciplinares em
conhecimento próprio.
Mangás Japoneses (acervo da Irmã Teruko
Takada)
Assim, as professoras das disciplinas de
Arte, Ciências, Geografia, Matemática e Língua
Portuguesa se reuniram para planejar esse projeto,
que surgiu a partir do diagnóstico inicial realizado
nas aulas de Arte e a partir do gibi da Turma da
Mônica Jovem: “Tesouro Verde”. Percebeu-se que
o interesse dos discentes estava voltado para um
trabalho com histórias em quadrinhos, em estilo
mangá. Convém destacar que este achado foi o
ponto culminante para um trabalho em conjunto, e
com a leitura do texto “Análise Sociológica e Estética Midiática: Reflexões sobre a Aparência e os
Impactos das Histórias em Quadrinhos Japonesas”,
foi possível sustentar teoricamente essa proposta
interdisciplinar voltada à arte dos mangás.
Momento da leitura do gibi na aula de Língua
Portuguesa
Já nas aulas de Língua Portuguesa, antes
da leitura do gibi, a professora trouxe o vídeo da
música “Amazônia”, de Roberto Carlos, como
atividade de sensibilização perante os problemas
enfrentados pelo meio ambiente. Após, ocorreu uma explosão de ideias a partir das imagens
e da mensagem que a música deixou para os estudantes. Em seguida, foi realizada a leitura da revista em aula, fazendo um link com o conteúdo e
com as cenas da música. Também foram observados, durante a leitura, alguns aspectos estruturais
de uma HQ (conteúdo da história, personagens,
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
De acordo com essas informações, nas aulas
de Arte, o enfoque recaiu sobre as diferenças entre
os mangás e as HQs produzidas no Brasil e em
todo o ocidente. Através da apreciação de várias
revistas (japonesas e brasileiras), os estudantes
verificaram que os mangás têm características
próprias. Em seguida, ocorreram pesquisas na internet sobre o tema mangá e sobre a relação de
Maurício de Souza e Ozamu Tezuka, “Pai do Mangá.” Com a leitura do gibi já realizada nas aulas
de Língua Portuguesa, os alunos partiram para as
suas criações, inventando seus próprios personagens a partir de técnicas específicas desenvolvidas
na área de Arte.
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Professoras envolvidas no projeto, em momento de planejamento
cenários, tipos de balões, tipo de letra, o uso frequente das onomatopeias, entre outros). A partir
dessas observações, serão produzidas tirinhas sobre a temática do projeto, utilizando o site “Toondoo”, além da produção de um gibi, envolvendo
as disciplinas de Arte e de Língua Portuguesa,
como produto final deste projeto. Conforme Koch
& Vilela (2001), a linguística do texto/discurso se
ocupa das manifestações culturais produzidas pelos falantes de uma língua em situações concretas,
sob determinadas situações de produção.
Por outro lado, nas aulas de Matemática foi
realizado o cálculo de área de quadrados e retângulos, usando a multiplicação de números decimais.
Após estabelecer o conceito de área, foi possível
definir e compreender o significado da palavra
“hectare”, presente ao longo da história.
Através de leituras, pesquisas, análises de
mapas e gráficos, os estudantes conheceram, nas
aulas de Geografia, o relevo, a hidrografia e o
clima da Amazônia como determinantes de sua
exuberante vegetação. Também foram coletados
dados referentes à sua ocupação e integração com
outras regiões, além de programas que o Governo
Federal incentiva no sentido de implantar um desenvolvimento sustentável. As comunidades tradicionais (indígenas) e o inevitável confronto com
empresas exploradoras da atualidade foram assuntos abordados.
O tema gerador do projeto “Amazônia”
foi trabalhado com o propósito de conhecer para
preservar, nas aulas de Ciências. Foi possível exercitar conteúdos básicos para a série, como,
por exemplo, nomenclatura científica de espécies
amazônicas, até o uso sustentável dos recursos
naturais do bioma. Através do projeto, a biodiversidade da Amazônia pôde ser analisada pelo
exercício da pesquisa e debate. Assim, os alunos puderam registrar suas expectativas quanto à
preservação do bioma, mas, principalmente, produziram práticas para proteção do próprio ambiente.
Com certeza, este é um projeto que vem
oportunizando aos discentes conhecimentos variados, todos interligados pelas diferentes disciplinas envolvidas. Ao longo do desenvolvimento do
47
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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mesmo, vem percebendo-se a dedicação e o envolvimento de todos, e, muitas vezes, ainda um
desafio para nós docentes, principalmente no que
diz respeito ao trabalho interdisciplinar.
Referências Bibliográficas:
BRAGA JÚNIOR, Amaro Xavier. Análise sociológica e
estética midiática: Reflexões sobre a aparência e os impactos das histórias em quadrinhos japonesas. História,
imagem e narrativas. Nº 12, abril/2011 - ISSN 1808-9895
- http://www.historiaimagem.com.br
HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto
Alegre | Artmed, 1998.
KOCH, I.; VILELA, M. Gramática da língua portuguesa.
Coimbra | Almedina, 2001.
SOUSA, Maurício de. Turma da Mônica Jovem: Tesouro
Verde. Edição 43. Panini Comics, 2012.
Projeto dos Primeiros Anos
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
5
“Descobrindo a
Arte que Está Mim!”
“Arte é vida. Arte é liberdade. Arte é uma manifestação do
meu desejo. As coisas que eu imagino se realizam no meu
trabalho. O conjunto disso tudo entra na história da arte.
A arte são fábulas, mitos [...]. É um caminho, UMA DAS
FORMAS DE VIDA EXISTENTES.” (LEONILSON, 2003 –
artista plástico contemporâneo)
Q
ue maravilha poder falar da arte dessa maneira! Vida, liberdade, desejo, imaginação,
caminho... Não qualquer caminho, mas
um caminho fascinante e colorido, em que se pode
ressignificar a cada nova forma, textura ou cor, um
modo singular de existir, descobrindo que a arte
esta em mim, em nós!
É nessa perspectiva que nos autorizamos a
falar de um Projeto de Arte que inauguramos este
ano na Escola Municipal Engº Ildo Meneghetti, no
âmbito do 1º ano. O projeto, denominado “Descobrindo a Arte que está mim!”, é desenvolvido
desde março, sob a coordenação da arte-educadora
Andréa Schneck, que semanalmente se encontra
com as professoras Eliandra Silva e Sandra Klein,
titulares das turmas, para planejamentos conjuntos que incluem estudos teóricos, troca de idéias e
vivências de arte. E uma vez por mês, é desenvolvida alguma atividade de sensibilização, apreciação e produção em arte com os alunos das três
turmas envolvidas no Projeto.
Os encontros realizados até agora, são sempre momentos muito aguardados por todos. A partir de uma reflexão inicial, optamos por priorizar
atividades voltadas ao desenho, que, juntamente
com a pintura, é o meio pelo qual as crianças registram conceitos, sentimentos e percepções do
meio. O projeto fundamenta-se na importância da
arte como um dos componentes essenciais do desenvolvimento integral da criança, não em busca
de mudar aspectos externos dos desenhos, mas
em compreender o processo total de criação, conforme Victor Lowenfeld (1977). A expressão artística da criança é um registro de sua personalidade,
é um ato de inteligência, uma forma de apropriar-se do mundo e do espaço em que está inserido,
como bem lembra Aurora Ferreira (2010). Assim,
decorre pensar que a arte não está fora da gente; de
| julho 2012
Andréa Cristina Baum Schneck (org.)
Mestre em Educação
Eliandra Goreti de Almeida Silva
Normal Superior – Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Sandra Regina Klein
Pós-Graduação em Educação Infantil e Anos Iniciais
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
fato somos o conteúdo essencial da arte, materializado em nossas expressões artísticas.
Iniciamos o primeiro encontro de cada turma explorando a noção de desenho, concebendo-o
como “marcas”, descobrindo inicialmente os desenhos que estão em nossas digitais, no corpo, que
estão na natureza, nas roupas, nas nossas coisas,
enfim, há desenhos em tudo, basta aguçarmos o
olhar para ver.
Os alunos têm sido motivados a realizar essas atividades a partir do reconhecimento do
próprio corpo e dos sentidos que nos conectam
a este mundo. Partimos de observações e explorações pelo pátio da escola, verificamos
que em tudo há possibilidades de desenho,
as britas do pátio podem formar desenho, na
areia podemos registrar linhas, traçados, experimentar texturas. (Eliandra Silva)
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Descobrimos que podemos desenhar de
várias formas e em vários suportes, até mesmo
com papéis de seda coloridos, que soltam tinta ao
serem molhados e deixam suas marcas depois de
secos – uma técnica que muitas vezes aplicamos
somente em casquinhas de ovos, mas os papéis
também ficam maravilhosos!
50
Os alunos ficaram encantados e surpresos! A
atividade nesta turma conectou-se com um trabalho já iniciado neste período em que estávamos refletindo sobre os preparativos para Páscoa a partir de várias histórias: “O Galinheiro
do Bartolomeu”, em que fizeram uma releitura
de uma parte do livro, fazendo um link com
a obra “Chicken Power”, de Flávio Scholles;
“Páscoa no Galinheiro”, “A Vaca que Botou
um Ovo”[...] Estavam, portanto, motivados
para novas descobertas e relações. (Sandra
Klein)
No segundo encontro, focamos o olhar sobre o desenho do corpo e suas partes, cantando,
inicialmente, a música “Cabeça, Ombro, Joelho e
Pé”, explorando gestos e movimentos corporais,
atentos às expressões uns dos outros. Cada aluno
desenhou seu corpo na folha colorida produzida
no primeiro encontro, procurando registrar cuidadosamente cada parte, sendo auxiliados através de
exercícios de lembrar.
Foi possível perceber que os desenhos ficaram
mais ricos em detalhes em função das intervenções da professora durante o trabalho, lembrando-os das partes do corpo várias vezes.
(Sandra Klein)
Empolgamo-nos riscando os contornos uns
dos outros sobre grandes folhas de papel pardo.
Conversamos um pouco sobre a atividade realizada e percebemos que somos diferentes, assunto
este abordado constantemente durante as aulas,
buscando a valorização e o respeito por cada um.
Segundo Sandra, no livro “A Galinha Preta”, os
alunos puderam refletir sobre o respeito às diferenças e a importância da inclusão. Posteriormente, os desenhos/contornos foram recheados de
simbolismos ligados a sentimentos os mais diversos, como: alegria, tristeza, medo, fé, paz, raiva,
amizade. Descobrimos que há coisas que vemos e
outras que só sentimos, e que podemos desenhar
tudo isso, cada um do seu jeito.
Estava trabalhando a história “Olhos para ver
as coisas que Deus faz” com meus alunos, que
traz esta questão dos sentimentos, e por isso a
atividade tornou-se bastante significativa. [...]
Trabalhamos essas primeiras experiências do
conhecimento de si através de muitas outras
histórias: “O tamanho da gente”, “O pintor”,
“Os olhos mágicos do João”. (Eliandra Silva)
Percebemos que cada professor seguiu com
atividades bem singulares, e que as “conversas-trocas” entre as professoras permitiram fazer as
amarrações também com o corpus teórico da área
da arte. O projeto está em andamento e tem se
fortificado a cada novo encontro, confirmando a
importância da arte como caminho para o ser e o
fazer, tanto dos docentes quanto dos seus alunos.
Está sendo uma experiência muito positiva,
pois assim, é possível integrar as atividades
de arte com o conteúdo trabalhado em sala de
aula, tendo liberdade de organizar e dar continuidade. É gratificante ver o que os alunos
comentam e o que recordam dos encontros.
(Sandra Klein)
O autoconhecimento e a representação do que
vemos e sentimos têm sido um elo fundamen-
A arte possibilita experiências relacionais
de intensa vibração, afetividade, prazer, ressignificação! Não está desconectada da vida e do conhecimento que construímos a cada novo dia, à medida que surgem nova problemáticas.
Ser educador envolve muitos desafios [...]
a responsabilidade de iniciar as crianças ao
mundo letrado é muito grande, envolve desejo
e prazer. O projeto com as artes não é diferente [...] Assim como nas primeiras produções
de escrita espontânea, o aluno diz não saber
escrever, diz também “não sei desenhar”.
Mais que ensinar a ler, a escrever, a desenhar, é necessário despertar na criança a visão
de mundo, motivando-a a olhar para si, ver
para se apropriar, ler a realidade, percebê-la e
transformá-la, isso é aprendizagem! (Eliandra
Silva)
Fontes, 2000.
HIRATSUKA, Lúcia. Páscoa no galinheiro. São Paulo |
Paulinas.
LOWENFELD, Victor. Desenvolvimento da capacidade
criadora. São Paulo | Mestre Jou, 1977.
ROCHA, Ruth. O coelhinho que não era de Páscoa. São
Paulo | Salamandra, 1994.
RODARI, Gianni. O pintor. São Paulo | Berlendis e Vertecchia, 2010.
RUSSEL, Ayto. A vaca que botou um ovo. São Paulo | Salamandra.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
tal para o desenvolvimento desse trabalho. Já
podemos constatar, através das falas dos alunos e dos objetos trazidos para a sala de aula,
que eles estão atentos e motivados pelo que
tem sido realizado a cada encontro, com a professora Andréa. Um exemplo disso foi o fato
de uma aluna, na véspera do Dia das Mães,
ter coletado uma pedra num passeio realizado
pela escola dizendo que a daria a sua mãe,
porém não era uma pedra qualquer, ela tinha a
forma de um coração! (Eliandra Silva)
Referências Bibliográficas:
ATIHE, Eliana. Olhos para ver as coisas que Deus faz. São
Paulo | Paulinas, 1992.
BARBIERI, Marô. Os olhos mágicos de João. Porto Alegre
| MB Empreendimentos/INNOVA, 2005.
CISALPINO, Murilo. O tamanho da gente. Belo Horizonte
| Autêntica, 2009.
DIAS, Cristina. O galinheiro do Bartolomeu. São Paulo |
Nova América, 2005.
FERREIRA, Aurora. Arte, Escola, Inclusão. Petrópolis |
Vozes, 2010.
GIDER, Iskender. A galinha preta. São Paulo | Martins
| julho 2012
Com o desenrolar do trabalho é possível constatar a importância do trabalho integrado e a
troca entre nós, professoras de anos iniciais e
professora de arte, engajadas no projeto. (Sandra Klein)
51
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
6
A Árvore que Dava
Dinheiro e Rendeu Frutos
Angela Windmöller
Especialista em Educação Especial
Janine Boll
Graduada em Letras/Português-Inglês
E. M. E. F. Eng.º Ildo Meneghetti
| julho 2012
O
52
foco maior de toda ação docente é o
“aprender” significativo do aluno. Para
isso ocorrer, é necessário que o próprio
indivíduo construa seu conhecimento. Segundo
Ausubel (1988), a aprendizagem é muito mais significativa à medida que o conteúdo é incorporado
às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele a partir da relação com
seu conhecimento próprio.
Atualmente, as estratégias de ensino mais
utilizadas para o desenvolvimento de um trabalho
pedagógico interdisciplinar são os projetos. Por
meio desses, os professores podem introduzir o estudo de temas que não pertencem a uma disciplina
específica, mas que envolvem outras. Os projetos
são feitos com o propósito de construir boas situações de aprendizagem, nas quais se evite compartimentalizar o conhecimento, e dar aos alunos um
sentido do esforço de aprender.
Com intuito de abrir novas possibilidades de
aprendizagem aos estudantes da 8ª série da Escola
Municipal Eng.º Ildo Meneghetti, as disciplinas
de Língua Portuguesa e Arte desenvolveram um
trabalho à luz da leitura do livro de Domingos Pellegrini “A árvore que dava dinheiro”. Aproveitamos a oportunidade da presença do autor na 30ª
Feira Municipal do Livro para conhecer sua obra.
É uma narrativa alegórica, em que o autor parte de
um fato fantástico – uma árvore que produz dinheiro –, para traçar uma análise bastante realista
dos tempos em que vivemos hoje. Por isso, através
da leitura realizada em aula, assuntos como consumismo, crise, inflação, ganância foram constantemente debatidos e discutidos. Com a intervenção
da professora de Língua Portuguesa, os alunos
foram instigados a observar as diferentes etapas
que a cidade de Felicidade atravessava no desenrolar da trama, as semelhanças e as diferenças entre as narrativas do livro e as fábulas tradicionais,
os elementos reconhecíveis da realidade cotidiana
que se misturavam aos elementos fantásticos na
narrativa e as ilustrações do livro, procurando estabelecer a relação entre texto e imagens.
Após a leitura e as reflexões, os discentes
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
projetos de trabalho. Porto Alegre | Artmed, 1998.
MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: Novos
desafios e como chegar lá. Campinas | Papirus, 2007.
NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: uma
jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das
múltiplas inteligências. São Paulo | Érica, 2007.
PELLEGRINI, Domingos. A árvore que dava dinheiro.
São Paulo | Moderna, 2002.
SANTOS, Júlio César Furtados. Aprendizagem significativa: modalidade de aprendizagem e o papel do professor.
Porto Alegre | Mediação, 2008.
| julho 2012
participaram de um bate-papo com o escritor Domingos Pellegrini, podendo confrontar suas percepções e dúvidas sobre o livro com as colocações
do autor. Pellegrini tratou dos temas discutidos em
aula e trouxe a fábula para a realidade dos jovens.
Ao nos aproximarmos do final da história,
os leitores perceberam que da euforia consumista
que se espalhava pela cidade devido a essa árvore
de flores extraordinárias, passaram à descoberta
da depressão: as notas, tão perfeitas, tão novinhas,
esfarelavam-se completamente quando alguém as
levava para além da ponte que delimitava a fronteira do município. Mas não tardaria até a televisão
e os jornais descobrirem essa árvore prodigiosa,
fazendo com que a cidade voltasse a se encher de
dinheiro, mas dinheiro de verdade, dinheiro que
não se esfarelava, dinheiro trazido pela profusão
de turistas ansiosos. Entretanto, outros problemas
surgiram e os munícipes continuavam tristes, apesar da riqueza.
A partir do debate diante das atitudes das
pessoas da cidade, surge a proposta às turmas de
uma atividade interdisciplinar, incentivando os
alunos a construírem relações entre os diferentes
conteúdos presentes nessas disciplinas. Os alunos
precisaram criar sua própria árvore, utilizando
material alternativo e de sucata. Percebe-se, neste
momento, a habilidade individual de cada aluno, o
envolvimento para o exercício da criação e o quanto a interação entre as diferentes áreas do conhecimento facilitou o resultado final do trabalho. Era
necessária, além da criatividade, a reflexão do que
realmente importava em suas vidas. O exercício
era chegar a um consenso e defender seus valores.
Cada dupla apresentou sua árvore aos colegas, explicando o material utilizado e justificando a escolha das palavras.
Bela aula de cidadania e, dessa forma, nosso
projeto começava a contemplar outras áreas...
Referências Bibliográficas:
AUSUBEL, David et al. Psicologia educativa: un punto de
vista cognoscitivo. Cidade do México | Trillas, 1988.
HERNÁNDEZ, Fernando. A organização do currículo por
53
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
7
Atendimento Educacional Especializado: Recursos e Serviços que Promovem
a Inclusão Escolar
| julho 2012
Ângela Windmöller
Especialista em Educação Especial – SRMF da E. M. E. F.
Eng.º Ildo Meneghetti
Rejane Patro
Pós-Graduação em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva (em curso)
SRMF da E. M. E. F. Jardim Panorâmico
Sheila Poliana Berghan
Especialista em Educação Especial – SRMF da E. M. E. F.
Jardim Panorâmico
Sidione Alice Schöninger Metz
Pós-Graduação em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva (em curso)
SRMF da E. M. E. F. Eng.º Ildo Meneghetti e E. M. E. F.
Aroni Aloísio Mossmann
[...] para os defensores da inclusão escolar é indispensável
que os estabelecimentos de ensino eliminem barreiras arquitetônicas e adotem práticas de ensino adequadas às
diferenças dos alunos em geral, oferecendo alternativas que
contemplem a diversidade, além de recursos de ensino e equipamentos especializados que atendam a todas as necessidades educacionais dos educandos com ou sem deficiência,
mas sem discriminações. (MANTOAN, 1999, p. 42-3)
S
54
egundo a Resolução CNE/CEB 04/2009,
os sistemas de ensino devem matricular os
alunos com deficiências, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (AH/SD) nas classes comuns do ensino
regular e no Atendimento Educacional Especiali-
zado (AEE). Conforme o Ministério da Educação
(MEC), entende-se por deficiência os alunos que
têm algum impedimento, como: cegueira, baixa
visão, surdez, deficiência auditiva, surdocegueira,
deficiência física, deficiência intelectual, deficiência múltipla, transtornos globais do desenvolvimento (TGD) e AH/SD, os quais, em interação
com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas.
A Política Nacional da Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva define a educação especial como uma modalidade de ensino
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
que disponibiliza recursos e serviços e realiza o
AEE de forma complementar ou suplementar ao
Referências Bibliográficas:
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
possibilita aos alunos com AH/SD o enriquecimento curricular, através de projetos e estudos que
estimulem suas habilidades. O professor deve ter
formação inicial que o habilite para o exercício da
docência e formação específica em Educação Especial.
São objetivos do AEE:
• Identificar as habilidades e necessidades educacionais específicas dos alunos, a definição e a organização das estratégias, serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade;
• Produzir materiais didáticos e pedagógicos acessíveis; a partir dos objetivos e das atividades propostas no currículo;
• Estabelecer a articulação com os professores da
sala de aula comum e com os demais profissionais
da escola, visando à disponibilidade dos serviços e
recursos e ao desenvolvimento de atividades para
a participação e aprendizagem dos alunos nas atividades escolares;
• Estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais,
na elaboração de estratégias e na disponibilidade
de recursos de acessibilidade;
• Orientar os demais professores e as famílias sobre
os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno, de forma a ampliar suas habilidades, promovendo sua autonomia e participação.
Deste modo, a educação especial afirma o direito à
igualdade de acesso e permanência na escola, oferecendo recursos e serviços de apoio, considerando as necessidades específicas de cada sujeito.
| julho 2012
espaço da sala de aula. Esse deve integrar a proposta pedagógica da escola, contemplar a participação
da família e ser realizado em articulação com as
demais políticas públicas. Os alunos identificados,
no Censo Escolar, com alguma deficiência, TGD
e/ou AH/SD receberão, quando necessário, adaptação curricular, proporcionando a flexibilização
de conteúdos, objetivos, metodologias, avaliações
e tempos diferenciados para o desenvolvimento de
suas atividades.
O AEE pode ser ofertado em salas de recursos multifuncionais (SRMF) da própria escola ou
de outra de ensino regular, em centros de atendimento educacional especializado da rede pública
ou em instituições comunitárias, confessionais
ou filantrópicas sem fins lucrativos conveniadas
com a Secretaria de Educação, preferencialmente
em turno inverso ao horário em que os alunos frequentam a classe regular. O cronograma de trabalho variará de acordo com cada aluno, podendo
ter o atendimento individual ou em pequenos grupos; e ainda, em alguns casos, o acompanhamento
poderá ocorrer somente com interferências na sala
de aula. Não cabe ao AEE escolarizar. As atividades desenvolvidas neste espaço diferenciam-se
daquelas realizadas em sala de aula comum, não
sendo substitutivas à escolarização.
As SRMF são de natureza pedagógica, dispõem de recursos de tecnologia assistiva e de
acessibilidade, material didático e mobiliário específicos. Realiza-se neste espaço atividades que
estimulem o desenvolvimento dos processos mentais: atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação, criatividade, linguagem, entre outros;
proporcionando ao aluno o conhecimento de seu
corpo, levando-o a usá-lo como instrumento de
expressão consciente na busca de sua independência e na satisfação de suas necessidades. Também
Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.
Resolução Nº 4, de 2 de outubro de 2009.
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial.
Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/
SEESP, 1994.
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial.
Decreto Nº 6.571, de 17 de setembro de 2008.
MANTOAN, Maria Teresa Égler. Inclusão escolar: O que
é? Por quê? E como fazer? São Paulo | Moderna, 2003.
55
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
8
Meu Lixo, Teu Lixo,
Nosso Lixo!
Caroline dos Santos dos Santos
Kátia Andrea Reinheimer
Professoras do 4º ano na EMEF Engº Ildo Meneghetti
P
| julho 2012
artindo do pressuposto de que todos devem
tomar consciência dos males causados à
natureza e ao meio ambiente pela não separação e reciclagem adequada do lixo, buscamos
desenvolver um projeto com ideias simples e possíveis para amenizar este problema sério (que vem
atingindo o mundo todo), não só na escola, mas na
comunidade local.
56
Ao longo da história, o homem transformou-se pela modificação do meio ambiente, criou
cultura, estabeleceu relações econômicas, modos de comunicação com a natureza e com
os outros. Mas é preciso refletir sobre como
devem ser essas relações socioeconômicas e
ambientais, para se tomar decisões adequadas
a cada passo, na direção das metas desejadas
por todos: o crescimento cultural, a qualidade
de vida e o equilíbrio ambiental. (SCHWINN:
2011)
Segundo Marilene Sant’Ana Schwinn, professora e supervisora escolar de Gravataí/RS,
autora de matéria publicada na “Revista do Professor”, em abril/julho de 2011, é fundamental en-
tender que não precisamos ser super-heróis para
podermos ser agentes transformadores de um
mundo melhor, mas que podemos realizar pequenos gestos e ações, às vezes mais eficazes que
grandes obras, desde que partam de um grupo com
o mesmo objetivo: melhorar o ambiente em que
vivemos.
O embasamento teórico para que isso acontecesse, encontramos na formação para o trabalho
com projetos, ministrada pela professora Zuleica
Rangel, onde todos os professores de séries/anos
elaboraram metas de trabalho para com seus alunos sobre essa temática, visando a desenvolver a
cidadania conforme os PCNs, o respeito e a responsabilidade sobre um espaço que não é só meu,
teu ou nosso, mas sim um espaço que nos foi emprestado e que temos obrigação de devolver nas
mesmas condições que o encontramos, ou até melhor.
Para isso, nosso objetivo geral foi retomar a
separação de lixo em nossa escola, conforme artigos 25 e 26, do capítulo III da Política Ambiental
Municipal, encontrada no Plano Diretor do Município de Ivoti, mantendo um programa contínuo
Não jogue lixo no chão
Ele é meu ganha-pão
Sou catador de papelão
Latinha é na minha mão
Você que separa o lixo, você é um cidadão.
Esse nosso compromisso, reconstrói uma nação.
Pra onde vai esse lixo seco? Reciclagem
Pra onde vai esse outro lixo? Compostagem.
A natureza agradece!
(Música do CD Escolinha do Pimpolho.)
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
Rap da reciclagem – cantado e dançado pelos alunos do 4º ano
Referências bibliográficas:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília |
1997. p. 25-7.
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro081.pdf
Município de Ivoti. Lei Municipal nº 2260, de 10 de outubro
de 2006.
REVISTA DO PROFESSOR. Ano 2011, n° 106, abril/junho
de 2011. p. 23-9.
| julho 2012
de sensibilização quanto à redução e a produção
desnecessária de lixo. Um exemplo que nos foi
trazido pelos alunos do 4º ano, depois de analisarem o lixo da escola, e que repercutiu entre as
famílias, foi o consumo muito grande de alimentos
aglutinados em várias embalagens, que ao final somam um amontoado de lixo.
Com esse trabalho atingimos as diversas
áreas do conhecimento: trabalhos artísticos com
sucata, música e dança tiveram o seu espaço garantido, mostrando, mais uma vez, que a união faz
a grande diferença, quando se opta em trabalhar
por projetos.
Nossos alunos ficaram realmente muito curiosos em saber o destino final do lixo produzido por
eles (usina de triagem em Lindolfo Collor e aterro
sanitário em Minas do Leão), e chocados ao terem
ciência dos valores gastos para esse fim pelo Município. Gráficos nos auxiliaram na apresentação
dessas informações, assim como aquelas por eles
trazidas de casa, mostrando a quantidade em quilos de lixo produzido pelas famílias. Contribuíram
com muitas informações sobre a reciclagem de latinhas, garrafas e papelão, sendo este movimento
já feito pelas famílias ou conhecidos.
Outros recursos, como desenho animado,
literatura, pesquisas, também foram usados para
ilustrar, de diferentes ângulos, questões acerca
do desperdício, coleta seletiva, tempo de decomposição, reciclagem e reutilização. No decorrer
das aulas, muitas ideias foram discutidas, mas a
conscientização do papel de cada ser no meio ambiente e, especialmente, a importância da própria
postura frente a essas questões, é que nos motivaram a compartilhar a experiência.
Fez-se pouco daquilo que ainda se quer
fazer, mas o pouco já feito é muito diante de um
nada começado. Para 2012, o projeto continua...
Lembrando que, com motivação e criatividade,
podemos atingir o alvo desejado: pessoas cada vez
mais conscientes dos seus atos, preocupadas com
o bem-estar social e, principalmente, engajadas
nas questões ambientais.
57
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
9
As Formas da Reforma
Cecília Luiza Etzberger
Pós-graduada em Arte-Educação pela Universidade Feevale
Professora de Arte na E. M. E. F. 25 de Julho e na
E. M. E. I. Bem Querer
| julho 2012
O
58
ano letivo de 2012 iniciou com a concretização de um sonho: a tão esperada ampliação da Escola 25 de Julho. Com uma
grande expectativa em relação a esse processo,
pus-me a pensar como poderia relacionar este fato
tão importante na Escola com o ensino de arte.
Martins (2005, p. 52) traz que “é necessário reconhecer que em todos os campos do conhecimento
existe o inesperado, o fato novo que traz a desordem e um novo processo de reorganização por
meio da criação”. Poderia a construção em questão
ser objeto de ensino e aprendizagem?
Após perceber que este poderia ser um tema
rico para o desenvolvimento de um projeto, iniciei
minha pesquisa por quais relações poderiam ser
estabelecidas entre os objetivos traçados para o
grupo de alunos e as provocações artísticas trazidas pela reforma.
Uma das expectativas maiores era em
relação ao som da obra e de sua interferência nas
aulas. As primeiras aulas das turmas do sexto
ano, então, foram destinadas a “ouvir” a reforma.
Partindo desta escuta, os alunos anotaram os sons
que ouviram e foram desafiados a criar imagens
que pudessem representá-los.
Passado o momento do registro no papel, os
alunos fizeram gravações destes sons. Posteriormente, os alunos criaram pequenas composições
sonoras partindo das gravações feitas, utilizando
o programa Audacity. Nesta etapa, os alunos, juntamente com os professores, descobriram algumas
das possibilidades do programa. Os resultados
foram satisfatórios, entretanto, percebeu-se que há
mais a ser descoberto neste recurso tecnológico.
A reforma da escola está ocorrendo no espaço onde anteriormente havia a sala de arte.
Quando a obra estava na etapa da demolição desta
sala, questionei os alunos acerca de que materiais
sobravam deste momento da reforma. Eles elencaram diversos itens, entre eles a madeira. Na
semana seguinte, munidos de pregos e martelos,
cada aluno escolheu um pedaço de madeira – que
antes formava a sala de arte – e, partindo dele, criou uma escultura.
Diante do constante uso do prego e do martelo e da sonoridade oriunda do uso destas ferra-
[...] quando um estudante realiza uma atividade vinculada ao conhecimento artístico, a
pesquisa evidenciou algo que, por óbvio, muitos esquecem: que não só potencia uma habilidade manual, desenvolve um dos sentidos
(...) ou expande sua mente, mas também, e sobretudo, delineia e fortalece sua identidade em
relação às capacidades de discernir, valorizar,
interpretar, compreender, representar, imaginar, etc., o que o cerca e também a si mesmo.
A reforma da Escola continua, e o projeto
“As Formas da Reforma” também. Muita arte
ainda está por ser feita, muitos objetivos a serem
alcançados. Quando a reforma estiver pronta, perceberemos que não se construiu apenas um novo
prédio, mas também novos conhecimentos, através
de criativas e significativas vivências.
HERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e
projeto de trabalho. Porto Alegre | Artmed, 2000.
MARTINS, Miriam Celeste (org.) Mediação: provocações
estéticas. 1° ed. São Paulo | Instituto de Artes/Unesp. Pósgraduação, 2005.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
Referências Bibliográficas:
| julho 2012
mentas estarem presentes nas aulas, apresentei aos
alunos as obras de Jorge Macchi “Gnocturno” e
“Shadows Theatre”, que nos fazem refletir sobre
a relação entre som e imagem. Diante da provocação do artista, os alunos fizeram um trabalho
utilizando uma placa de madeira como base. Cada
um criou uma pintura e acrescentou a ela pregos,
que serviram como pontos para a amarração de
fios de diversas cores e espessuras, material com o
qual os alunos formaram diferentes imagens.
Decorrente dessa produção, está em desenvolvimento uma nova pesquisa envolvendo a criação sonora. Os alunos estão criando sons, partindo de marteladas em pregos e manipulando-os no
já referido programa. Este trabalho está ainda em
andamento, mas já traz indícios de boa qualidade.
Próximo do final de cada trabalho, foi realizado um momento de avaliação conjunta, em que
os alunos apreciaram todos as criações e fizeram
comentários buscando destacar pontos positivos e
a melhorar acerca das mesmas. Após esta parada,
cada aluno teve a oportunidade de enriquecer sua
produção durante mais uma aula, aprimorando,
assim, seu trabalho. Ao refletir sobre a prática de
atividades artísticas, Fernando Hernández (2000,
p. 42) diz que:
59
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
10
Arte + Geografia =
Um Novo País
Cecília Luiza Etzberger
Pós-graduada em Arte-Educação pela Universidade Feevale
Professora de Arte na E. M. E. F. 25 de Julho e na
E. M. E. I. Bem Querer
Inês Maria Leichtweis
Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Santa Maria
Professora de Geografia na E. M. E. F. 25 de Julho
| julho 2012
D
60
iante das provocações lançadas pela 8ª Bienal do Mercosul, realizada no segundo
semestre de 2011, foi desenvolvido um
projeto de estudos unindo as áreas de Arte e Geografia.
Nas obras expostas, notou-se a presença de
elementos que traziam informações sobre países,
como bandeiras e mapas. Tais obras provocaram
a reflexão sobre questões relacionadas à territorialidade e fronteiras, entre outros aspectos sociais.
Partindo da apreciação da mostra presente
na Bienal sobre o país de Sealand, uma micronação fundada em 1967 e que conta com apenas
500m2 de território, foi proposto aos alunos refletir acerca da possibilidade de invenção de um país.
O que um país precisa ter para ser um bom local
para se viver? E seu sistema político, como deve
funcionar?
Após estas e outras provocações terem sido
feitas, tendo como base o material educativo for-
necido pela Bienal do Mercosul, no curso voltado
aos professores ministrado pelos organizadores da
mostra, foi lançado aos alunos da sétima série da
Escola 25 de Julho o projeto “Arte + Geografia =
Um novo país”. Foi solicitado aos alunos que, organizados em duplas, pensassem como seria um
país inventado por eles. Após as trocas de ideias
iniciais, foram entregues orientações acerca do que
cada dupla deveria considerar ao criar o seu país,
juntamente com um cronograma para a realização
do trabalho. Dentre os itens a serem considerados
na criação do país estavam: nome do país, capital,
líder, língua, localização, área, bandeira, sistema
político, economia, população, fatos históricos importantes e aspectos culturais.
Paralelamente à criação do país, cada dupla desenvolveu um estudo acerca de um país real
situado na América do Sul, considerando os mesmos critérios. Este estudo paralelo possibilitou aos
Referência Bibliográfica:
HERNÁNDEZ, F.; VENTURA, Montserrat. A organização
do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é
um caleidoscópio. 5° ed. Porto Alegre | Artmed, 1998.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
alização de atividades interdisciplinares favorece
o trabalho em sala de aula, tornando os alunos autores de sua aprendizagem.
Mapa de Hárfia
Visita à Bienal 2011
Mapa de Hárfia
| julho 2012
alunos compreenderem um país como um todo,
percebendo as relações entre suas diferentes áreas.
Desta forma, os dados criados para o país inventado, apesar de poderem ser irreverentes e curiosos,
deveriam ter relações lógicas entre si.
Durante o processo de criação, foram feitas
leituras de obras de Mayana Redin, em que a artista criou mapas fictícios partindo do traçado de
mapas reais. Após, os alunos criaram os mapas de
seus países partindo de recortes de mapas reais,
assemelhando-se à estratégia utilizada pela artista.
O desenvolvimento do projeto demandou
sete encontros de dois períodos cada um, indo
além do tempo previsto inicialmente. Ao final, foi
feita a socialização das criações, e os resultados
foram surpreendentes. Surgiram os mais variados
países. Alguns bastante jovens, outros mais antigos. Surgiram inúmeras ilhas, países de grande
áreas em contraponto a países muito pequenos.
Houve países localizados na Coordenada Geográfica zero, enquanto outros estavam próximo do
Polo Norte. Diferentes foram os sistemas políticos
e econômicos elaborados, cada um com aspectos
muito peculiares.
Próximo da finalização do trabalho, os alunos tiveram a oportunidade de visitar a 8ª Bienal do Mercosul e ver as obras, já conhecidas por
reproduções. Este momento foi de extrema importância para o crescimento dos alunos, uma vez
que os colocou em contato com exemplares da arte
contemporânea.
Neste trabalho, Arte e Geografia andaram
juntas de tal maneira que, por diversos momentos,
não foi possível dizer qual disciplina estava em
destaque. Hernández e Ventura (1998, p. 61) nos
trazem que a realização de projetos de forma interdisciplinar está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado e relacional (...). Ao criar uma
bandeira com materiais recicláveis, por exemplo,
está se pensando mais na visualidade do trabalho
ou nos elementos que compõem a bandeira e que
se representam o país?
Ao final do projeto, percebeu-se grande
crescimento nos alunos, uma vez que o percurso
desenvolvido caracterizou-se por constantes trocas e pesquisas. Este trabalho mostrou que a re-
61
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
11
DAVI: Como é Bom
Estar Contigo!
Cíntia Dexheimer
Fonoaudióloga do NAI
Nara Jaqueline Gallon
Psicóloga do NAI
Queli Wagner
Psicopedagoga do NAI
Rejane Patro
Professora do AEE
| julho 2012
E
62
ra um menino muito engraçado, 12 anos de
idade, não sabia quem era, nem onde estava. Mas, o olhar brilhava, a boca pedia e o
corpo falava.
Assim começa nossa trajetória com DAVI,
um entre tantos e todos os meninos e meninas atendidos no NAI – Núcleo de Apoio à Inclusão, do
Município de Ivoti, RS. Uma história complexa,
estimulante e emocionante de um sujeito que, ao
chegar para os primeiros encontros, perguntava se
era ele ou o irmão quem estava ali presente. DAVI
coloca-nos lá no início de tudo, quando a relação
com o Outro não inscreve marca e não convoca
adequadamente, com a devida intensidade para a
vida.
[...] a saúde mental, portanto, é produto de
um cuidado incessante que possibilita a continuidade do crescimento emocional [...] os
distúrbios que podem ser reconhecidos e clas-
sificados como psicóticos têm sua origem no
desenvolvimento emocional anterior à fase em
que a criança já se tornou visivelmente uma
pessoa total, em condições de relacionar-se
por inteiro com pessoas totais. (WINNICOTT,
2000, p. 306-7)
O protagonista deste texto tem, ainda hoje,
comportamentos de autorreconhecimento e fortalecimento de autoestima. Busca com muita força,
e empenho, aprender, e quer estar no mundo como
sujeito atuante. O entendimento da passagem do
tempo vem de coisas do cotidiano, acompanhadas de questionamentos e destaque para o antes e
depois, e com a rotina diária registrada de forma
visual. A falta de convívio social e atividades motoras resultaram em dificuldades na participação
nas aulas de Educação Física, recreios e outras
atividades proporcionadas a ele na escola. A falta
de vivência do corpo e do “eu” também se refletia
[...] o objetivo [...] é proporcionar condições
e liberdade para que o aluno com deficiência
intelectual possa construir sua inteligência,
dentro do quadro de recursos intelectuais que
lhe é disponível, tornando-se agente capaz
de produzir significado/conhecimento. (MEC,
2007, p. 25)
Seu tema atual de interesse são as águas-vivas, que “queimam”, que impõem limite ao contato do humano, o contato com o outro, ao que ele
consegue significar: eu não sou assim.
Assim, para concluir, reportamo-nos a Jerusalinsky, quando coloca que o primeiro trabalho
a ser feito é deslocar esse sujeito de um rótulo e
dar lugar ao indizível; mais do que dar respostas, aprendemos a ouvir as perguntas, conjugando
novos questionamentos, pois o avanço não está
nas respostas dadas, mas na busca de novos questionamentos, pois são neles que reside a reflexão.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
com o olhar a confirmação das suas capacidades.
*DAVI é um nome fictício.
Referências Bibliográficas:
Ministério da Educação. Atendimento Educacional Especializado – Deficiência Mental. Brasília | MEC, 2007.
DOLTO, Françoise. As etapas decisivas da infância. São
Paulo | Martins Fontes, 2007.
FERNANDEZ, Alícia. O saber em jogo: a psicopedagogia
propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre | Artmed, 2001.
PAÍN, Sara. A função da ignorância. Porto Alegre | Artes
Médicas, 1999.
WINNICOTT. Da pediatria à psicanálise: obras escolhidas por Donald Woods. Rio de Janeiro | Imago, 2000.
| julho 2012
nos desenhos de Davi. Vários personagens, todos
iguais, olhos sem expressão. “Quantos dedos tem?
Que cor são seus olhos?”
“[...] a inteligência, os mecanismos cognitivos, objetivantes, trabalham sobre a dramática
do sujeito com o suporte das significações.” (FERNANDEZ, 2001, p. 41)
Para além do diagnóstico psicológico e/ou
comorbidade com este, DAVI tem um déficit cognitivo importante, o que faz com que a aprendizagem seja um grande desafio. Confirmando, assim, que a escola, atendendo-o, aprende muito e
pode valer-se dessa experiência para tantos outros
alunos, com dificuldades de aprendizagem ou não.
Aprender pela experimentação, repetição, significado, o que é para todos importante, para DAVI
é imprescindível, é a busca do que na vida vai
ajudar-lhe a ser “alguém” (leia-se alguém, como
uma pessoa habilitada a estar e se sair bem no social, no afetivo, na vida. Que possa trabalhar, circular autonomamente, constituir relacionamentos
amorosos, ter amigos, saber de seus direitos e deveres).
Desde o princípio dos atendimentos a esse
menino, observamos como era necessário que ele
pudesse ter resgatado/restituído ou constituído
seu lugar como sujeito, para que pudesse aprender. Buscamos, assim, estabelecer um espaço de
construção de possibilidades para ele se inscrever
numa sociedade que respeite seus limites e valorize seu potencial. Ressignificando primeiramente
o seu processo de aprendizagem, criando espaços
para fazer um deslocamento daquilo que DAVI
trazia em seu sintoma, para, a partir disso, criar
maneiras de marcar a realidade e instrumentalizar
sua construção. E é nessa direção que temos trabalhado incansavelmente, com estudo, empenho,
afeto e disposição. Nós, NAI e ESCOLA.
Hoje ele manifesta claramente o que quer,
sabe quem é, sabe que é diferente, e outro em
relação ao irmão, sorri, está aprendendo a fazer
carinho, relata o que aprende na escola, gosta de
estar com os colegas. Vem descortinando suas possibilidades, buscando construir algo em tudo que
vai anunciando – repete e processa; vai e vem. Ensaia a leitura de palavras e frases, buscando sempre
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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Projeto: E, no Castelo...
Denise Beatris Holler Führ
Rosane Würzius
E. M. E. I. Pedacinho do Céu
| julho 2012
A
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s rodas cantadas fizeram parte da nossa infância e continuam alegrando a garotada
até os dias de hoje. Foi, a partir de uma
dessas brincadeiras, que surgiu o nosso projeto “E,
no Castelo...”, no ano de 2011. Após cantarmos e
dramatizarmos a cantiga de roda “A linda Rosa Juvenil”, as crianças pediram que a fizéssemos várias
vezes, pois queriam ser, pelo menos uma vez, cada
um dos personagens que aparecem nela (bruxa, rei
e Linda Rosa). Segundo Moyles, esse momento de
brincar oportuniza as crianças a praticarem habilidades físicas e mentais, repetindo-as quantas vezes
acharem necessário.
Tínhamos como objetivo proporcionar a todos que fossem príncipes e princesas, possibilitando que desenvolvessem a imaginação, criassem as
suas regras para a brincadeira e entrassem nesse
mundo mágico e encantado. Esse tipo de jogo
propicia um maior desenvolvimento da criança.
Através do faz-de-conta a criança pode,
também, reviver situações que lhe causam
excitação, alegria, medo, tristeza, raiva ou
ansiedade. Elas podem, nesse jogo mágico,
expressar e trabalhar as fortes emoções muitas
vezes difíceis de suportar. É a partir de suas
ações nas brincadeiras que elas exploram as
diferentes representações que têm destas situações difíceis. (CRAIDY, 2001, p. 106)
Além dessa brincadeira de roda, exploramos
outras histórias que falassem de príncipes, princesas e castelos. Realizamos diversas atividades
(interpretação, compreensão, desenhos, pinturas,
jogos, construção de castelos...) baseadas nelas.
Também criamos um salão de beleza, trouxemos
roupas especiais e outros acessórios, a fim de que
se caracterizassem. Conforme o Referencial Curricular Nacional:
Educar significa, portanto, propiciar situações
de cuidados, brincadeiras e aprendizagens
orientadas de forma integrada e que possam
contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e
estar com os outros em uma atitude básica de
aceitação, respeito e confiança [...] (RCNEI,
v.1, p. 23)
Durante o andamento do projeto, os pais
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
também foram envolvidos. Cada família deveria criar um livro contando a história de vida do
seu príncipe ou da sua princesa, o que possibilitou que conhecêssemos um pouco mais sobre a
vida de cada um dos nossos alunos. Todos os pais
participaram e foram bastante criativos na elaboração dos livros, os quais ficaram muito bonitos
e interessantes. Segundo Shores e Grace (2008),
“torna-se fundamental que professores e demais
educadores envolvam os pais como parceiros nos
programas de educação infantil (...)”
Assim, com a participação e comprometimento de todos, tivemos aprendizagens significativas e superamos grandes desafios através da ludicidade e do faz-de-conta.
Referências Bibliográficas:
| julho 2012
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília | 1998.
CRAIDY, Carmen; KAERCHER, Gládis. Educação infantil pra que te quero? Porto Alegre | Artmed, 2001.
MOYLES, Janet. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre | Artmed, 2002.
SHORES, Elizabeth; GRACE, Cathy. Manual de portfólio:
um guia passo a passo para o professor. Porto Alegre | Artmed, 2008.
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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Projeto:
De volta para casa
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Dirce Stumm Reiter
Licenciatura em Letras Português/Alemão – Unisinos
Especialização em Língua e Literatura Alemã pelo
Instituto Goethe, Alemanha
Professora de Língua Alemã na E. M. E. F. Engº
Ildo Meneghetti
Elisa Feilstrecker Fortes
Mestrado em Metodologia do Ensino de 1º Grau
Professora de Ensino Religioso, Geografia e História na
E. M. E. F. Engº Ildo Meneghetti
Elisângela Schorn Holler
Especialista em Gestão na Escola
Professora de Língua Portuguesa na E. M. E. F. Engº
Ildo Meneghetti
66
C
om o objetivo de incentivar a leitura, foi
adotada a obra “O Mágico de Oz” para
todas as turmas de 6º Ano da Escola Municipal Engº Ildo Meneghetti. Lendo o livro, refletindo sobre projetos e percebendo a realidade
dos alunos, professores, coordenação pedagógica
e direção pensaram em criar um projeto a partir da
obra literária citada.
Um projeto “é, a princípio, uma irrealidade
que vai se tornando real, conforme começa a ganhar corpo a partir da realização de ações e, consequentemente, as articulações destas” (NOGUEIRA, 2003, p. 90). Além disso, “todas as coisas
podem ser ensinadas por meio de projetos, basta
Teatro de Fantoches
que se tenha uma dúvida inicial e que se comece
a pesquisar e buscar evidências sobre o assunto”
(HERNANDEZ, 2000, p.198).
Sendo assim, o projeto “De volta para
casa” surgiu para ampliar o conhecimento de si e
do mundo, valorizando suas experiências e vivências por meio das diferentes áreas do conhecimento, através de aprendizagens significativas, decorrentes do clássico literário “O Mágico de Oz”.
Este projeto ainda está em andamento. Nas
aulas de Língua Portuguesa foi realizada a leitura
do livro, sendo cada capítulo distribuído para um
grupo de alunos, que foi responsável por apresentar de alguma forma o conteúdo/a informação do
capítulo para os demais colegas. Os alunos logo se
empenharam nesta tarefa e foram muito criativos
na apresentação.
Enquanto isso, na Língua Alemã, a partir da
pergunta “Dorothy mora com seus tios. Por quê?”,
os alunos fizeram sua árvore genealógica, pesquisando a história de cada família. A descoberta
de familiares adotados ou também criados e educados por tios ou avós, os fez perceber que na linha
Dinâmica realizada na reunião de pais do 6º
Ano 2, a partir da ideia do coração, do cérebro, da coragem e do caminho necessários
para que os filhos aprendam e sejam felizes
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
da apreciação da obra literária, inicialmente pela
própria professora Andréa Schneck: “A cada página um elemento novo, uma cor, uma textura,
uma forma, um sentimento, uma ideia criativa”.
Seguiu-se um mergulho muito singular na obra,
associando materiais, técnicas e temáticas do interesse dos alunos, adequadas a suas reais necessidades. Desenhos a grafite, maquetes do ciclone,
pesquisas virtuais de algumas imagens e ilustrações, o primeiro filme de Oz de 1925, o musical
de 1939, outras montagens teatrais e cinematográficas, a confecção dos personagens, a introdução
de outros personagens ligados às nossas raízes indígenas e seus mitos, pinturas de cenários, fotografias monocromáticas, exploração das sonoridades,
ritmos e estilos também da música tema “Além
do Arco-Íris”, dentre outras coisas, foram alguns
dos “tijolos multicores” percorridos nas aulas de
Arte em suas múltiplas linguagens. Sonhos, fantasias, alegorias, inventividades, surpresas, busca de
soluções criativas frente aos muitos desafios, possibilitaram uma dinâmica e prazerosa construção
do conhecimento em Arte.
Para finalizar, nas aulas de Língua Portuguesa está previsto que cada grupo crie um novo
capítulo para o livro, no qual terão que integrar a
personagem inventada na aula de Arte.
| julho 2012
do tempo de cada família também acontecem fatos
parecidos com os do livro, e assim muda o conceito de família “de sangue” para a “família grupo
de acolhimento e pertencimento”. Os alunos perceberam a importância dessa pesquisa como valor
histórico, uma vez que os registros ficam guardados como documento. Esta parte do trabalho não
está concluída, uma vez que muitos alunos precisam voltar às suas cidades de origem para poder
terminá-la.
Essas informações também serão usadas na
Língua Portuguesa, para criar um álbum da família, no qual constarão fotos, fatos e descrição detalhada de cada parte abordada pelo aluno na sua
família.
Em Geografia, “Quem teve a ideia de dar
vida a um espantalho e a um homem de lata?
Será que a bruxa Malvada e a Bruxa Boa são pessoas da vivência do autor? A pessoa que escreveu
a história já morreu?” – estas e inúmeras outras
indagações inspiraram os alunos a conhecerem a
história da pessoa que deu vida a personagens tão
inusitados. Então organizaram os fatos mais marcantes da vida de Lyman Frank Baum, através de
uma linha do tempo.
Também nas aulas de Geografia, o fenômeno natural que provoca o início das aventuras
de Dorothy foi objeto de pesquisa e investigação.
Assim, os alunos descobriram o que provoca os
ciclones, em que lugares do Planeta ocorrem com
maior frequência, os danos que causam e outras
curiosidades.
Referências Bibliográficas:
Maquete sobre o ciclone realizada em Arte
Na área da Arte, o projeto permitiu tecer
muitas relações sensíveis com conteúdos previstos no Plano de Estudos do 6º ano, ressignificando
a história e sua estética, especialmente a partir
BAUM, L. Frank. O Mágico de Oz. 3° ed. São Paulo | Ática,
2000.
HERNÁNDEZ, F. Cultura Visual, Mudança Educativa e
Projeto de Trabalho. 1° ed. Porto Alegre | Artmed, 2000.
NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos Projetos: uma
jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das
múltiplas inteligências. 3° ed. São Paulo | Érica, 2001.
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
14
O Brincar e a Elaboração de Projetos na
Educação Infantil
Helena Maria de Marichal
Licenciada em Pedagogia (UFRGS)
Professora na E. M. E. I. Bem Querer
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É necessário que o educador insira o brincar em
um projeto educativo, o que supõe intencionalidade, ou seja, ter objetivos e consciência da importância de sua ação em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem infantis. (FORTUNA,
2003/2004, p. 9)
68
A
credito que os projetos devem ser pensados a partir dos interesses e necessidades
da turma, ser adequados à faixa etária das
crianças e pressupor atividades planejadas, que se
relacionem aos conhecimentos com os quais pretendemos trabalhar. Embasada nesses pressupostos e nos Planos de Estudos da Rede Municipal de
Ensino de Ivoti, desenvolvi no Maternal 2B, com
a colaboração das demais professoras da turma,
um projeto no qual se inseriu o brincar. Através
do projeto “Contos e brincadeiras de ontem e de
hoje”, realizado no segundo semestre de 2011,
foram abordados contos de fadas, fábulas, cantigas de roda, brincadeiras e brinquedos tradicionais
e demais elementos do folclore brasileiro.
Histórias, vídeos e dinâmicas referentes aos
temas do projeto foram pontos de partida para
ampliarmos a compreensão, a identificação e as
características de seus enredos e personagens. Os
alunos tiveram livros a sua disposição para que
manuseassem e pudessem solicitar a leitura de algum deles ou fazer sua própria leitura. Por meio de
trava-línguas desenvolvemos a articulação das palavras, o conhecimento de novos vocábulos e seus
significados. A letra inicial do nome de cada criança foi associada à de elementos ou personagens
dos contos de fadas abordados.
Na Semana Farroupilha, a turma vivenciou
costumes dos gaúchos, como tomar chimarrão,
comer carreteiro e churrasco, usar roupas típicas,
cantar e dançar músicas gauchescas. Conheceu
também as bandeiras do Brasil e do Rio Grande do
Sul, o Hino Rio-Grandense, a lenda da erva-mate
e a peteca – os dois últimos, de origem indígena.
Referências Bibliográficas:
FORTUNA, Tânia Ramos. O Brincar na Educação Infantil. Pátio Educação Infantil, n° 3, dez. 2003/mar. 2004, p.
6-9.
GOULART, Iris Barbosa. Piaget: experiências básicas
para utilização pelo professor. Petrópolis | Vozes, 2008.
IVOTI. Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Planos
de Estudos da Rede Municipal de Ensino. 2011.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
da Educação Infantil e de outros níveis de ensino.
Como afirma Fortuna (2003/2004), o brincar pode
também ser intencional e fazer parte de um projeto
educativo. Para tanto, cabe ao professor pensá-lo
previamente, tendo em vista o que será proposto,
como e com que finalidade.
Contação da lenda de origem africana da
boneca Abayomi
Fazendo sapatinhos da Cinderela com argila
O faz-de-conta na brinquedoteca da escola
| julho 2012
Durante uma semana, igualmente, lembramos a
cultura africana e afrobrasileira, contando a lenda
da boneca de pano Abayomi e distribuindo uma
para cada aluno.
A sequência lógica das histórias foi retomada através de suas ilustrações. Ampliamos a identificação das cores presentes nos ambientes da escola e nos pertences das crianças. Contagens orais
e representações de quantidades até dez foram
introduzidas, utilizando músicas e parlendas (“A
galinha do vizinho”, “Um, dois, feijão com arroz”,
etc.).
O brincar livre e o dirigido com elementos
de faz-de-conta e a representação de ideias por
meio de diferentes formas de linguagem simbólica
– oral, musical, gráfica e dramática – foram enfatizados. Introduzimos alguns jogos de regras, como
o bingo, o jogo da memória e o jogo da velha, com
personagens das histórias lidas em aula. Da mesma forma, foi proposta a reversibilidade de ações
concretas, através de percursos de ida e volta, ou
colocando e tirando algum elemento do cenário.
A participação das famílias no projeto foi
muito importante. Cada uma confeccionou um
brinquedo tradicional para seus filhos brincarem
na escola. Além disso, os livros de história escolhidos semanalmente para leitura em casa também
foram integrados a sua temática.
No decorrer do projeto “Contos e brincadeiras de ontem e de hoje” foi possível perceber que se
manteve a motivação das crianças em ouvir e contar o que já sabiam sobre as histórias conhecidas e
em escutar novas histórias. Além do mais, como
as temáticas eram bastante abrangentes, o projeto
que, a princípio, teria dois meses de duração, se
estendeu por quatro meses. Vários pais relataram
que seus filhos estavam mais interessados em contar e nomear as cores dos objetos que observavam
em casa, em narrar atividades e contos trabalhados em aula. As crianças traziam garrafas de água,
chinelos e mochilas com personagens de contos de
fadas para mostrar às professoras e aos colegas.
Ao final do projeto, a maioria da turma ampliou
sua capacidade de recontar histórias corretamente.
Portanto, ressalto a potencialidade que o
brincar desempenha na aprendizagem dos alunos
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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Mascote Noelzinho
Juliana Irene Kissmann
Graduada em Pedagogia
Professora do Pré B da E. M. E. F. Jardim Panorâmico
| julho 2012
E
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m meio às nossas conversas sobre a proximidade do Natal, na rodinha, a turma do
Pré B pensou em ter um companheiro cotidianamente. Então, elencou em novembro de 2011
um mascote natalino. Este boneco foi confeccionado artesanalmente pela mãe da professora, que
o tricotou e preencheu com fibra, para que ficasse
fofinho, sendo batizado carinhosamente como o
“filho do Papai Noel”, o Noelzinho.
Segundo Weffort (1995), “só podemos olhar
o outro, e sua história, se temos conosco mesmo
uma abertura de aprendiz que se observa, se estuda, em sua própria história (...). Na ação de se
perguntar sobre o que vemos é que rompemos com
as insuficiências”.
Junto à brincadeira, Noelzinho, nosso fiel escudeiro, passando de mão em mão foi embalado,
mimado e aconchegado por entre panos. Percorreu
diferentes caminhos por entre os blocos de madeira, viajando nos caminhões e carrinhos, degustou
uma infinidade de pratos nos restaurantes, e neles teve que usar babador para não sujar sua bela
roupa natalina, fez atividades nos grupos de trabalho, jogou memória e quebra-cabeça. Até caiu da
cadeira e “chorou”, mas foi socorrido, acalentado
e enfaixado, parecendo uma múmia!
Reconhecemos a brincadeira quando se estabelece a conjugação do inesperado, a combinação do diverso, a articulação da disparidade.
É essa possibilidade de surpreender que faz o
batimento cardíaco do brincar: surpreender a
mim mesmo e em primeiríssimo lugar! E surpreender ao outro por mera consequência. Para
a brincadeira acontecer precisamos apenas de
um olhar. (DIAS E NICOLAU, 2003, p. 41)
Enquanto arrumávamos nosso galho natalino
e trabalhos referentes a esta festa, fazíamos a escuta de muitas músicas natalinas, principalmente
de Wilson Paim, como “Papai Noel”. Surgiu, também, como a predileta, entoada e dançada pela turminha, de braços dados com Noelzinho, “Ursinho
Pimpão”. Com este breve trecho para relembrar:
Vem meu ursinho querido
Meu companheirinho
Ursinho Pimpão
Vamos sonhar aventuras
[...] É ainda um verbo recíproco: legitima o
outro porque a comunicação é um dos modos
fundamentais de dar forma ao pensamento, e
o ato comunicativo que se realiza através da
escuta produz significativas e recíprocas mudanças, seguramente enriquecedoras, para os
participantes dessa forma de troca. (RINALDI, apud OSTETTO, 2000, p. 194)
Todas as famílias participaram e se dedicaram incansavelmente ao projeto do mascote. Den-
“Hoje fomos congratulados com a presença
de um rapaz muito lindo, o Noelzinho.” (Família
da aluna Pietra Prieb)
“Enquanto almoçávamos houve um incidente, Bob, nosso cãozinho quase abocanhou o
filho do Papai Noel.” (Família do aluno Vinícius
Eduardo Caruccio)
“Antes de dormir, oramos ao Papai do Céu
pedindo proteção a nossa família, a dos nossos colegas e a do mascote.” (Família da aluna Vitória
Casagrande Pfeifer)
“Olhamos bem juntinhos o jogo do Internacional e não é que ele foi pé quente! Nosso time
venceu!” (Família do aluno Eduardo Rafael Sörensen)
“Pedi para minha mãe e também para o Papai Noel um Noelzinho de presente, igual a esse!”
(Família da aluna Vitória Caneppele Geroldi)
“Estávamos ansiosos para a tão esperada chegada do mascote. E finalmente chegou!”
(Família do aluno Gabriel Alceu Broering Vogel)
“Poder fazer parte de uma corrente do bem
foi ser presenteado com a oportunidade de deixar
uma mensagem aos vizinhos, amigos e até desconhecidos deixando-nos felizes e agradecidos.”
(Família da aluna Ana Clara Clauss)
“Andando de carro, nós dois com o cinto de
segurança, já cansados de tanto brincar, adormecemos.” (Família da aluna Ágatha de Castilhos
Weber)
“Eu, minha mana e Noelzinho, após a almoço, fomos tirar aquela soneca.” (Família da
aluna Tayná Stefany Pereira da Costa)
“Ele chegou justo no dia da faxina da minha
casa, então ajudou na arrumação de meu quarto.”
(Família da aluna Tauana Melissa da Silva)
“Hoje foi um dos dias mais felizes do ano
porque aguardávamos ansiosos essa visita.”
(Família do aluno Pedro Henrique Batista)
“Enfim chegou à minha casa. Agora vai nos
ajudar a montar a árvore de Natal!” (Família do
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
Essa companhia e a possibilidade de dar
“asas” a nossa imaginação suscitaram um compartilhamento dessa magia e alegria com nossa
família. E assim, ao findar de cada aula, Noelzinho
e seu diário de bordo percorreram o lar de cada um
de nossos colegas, ou seja, vinte e seis residências.
O aguardo em levá-lo gerava uma grande expectativa até nos pais que, no portão da escola, pediam
a visita do filho do Papai Noel.
No dia posterior líamos o relato feito pela
família, e também ouvíamos a criança contar as
suas peripécias com o mascote. Era difícil a despedida e a entrega para o colega seguinte, dando
mais um abraço, um beijo, um colinho... Junto ao
diário de bordo, as famílias puderam também expressar, através da escrita e de imagem, o significado do Natal.
Conforme o artista Oliver Sacks, “o ato de
ver, de olhar, não é só olhar para o que é visível,
mas olhar também para o invisível. De certa forma, é isso que quer dizer imaginação” (DIAS E
NICOLAU, 2003, p. 236).
Nos relatos em evidência surgiram inúmeras
vivências com o filho do Papai Noel, como a
premissa que dentre os símbolos natalinos essa
figura causou euforia, emoção, alegria, risos,
choro, companhia, cuidado, proteção, reencontro
familiar, partilha nas refeições, diálogo, reflexão
sobre as dádivas recebidas no ano transcorrido,
afetividade, passeio, diversão e o maior de todos
os desejos para si e para aos demais, o imensurável
AMOR.
tre muitos depoimentos registrados no diário de
bordo, faço o recorte de algumas situações que geraram diversão, convivência e inúmeras aprendizagens. Alguns fragmentos:
| julho 2012
co)
Voar nas alturas
Da imaginação... (A Turma do Balão Mági-
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
| julho 2012
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Gabriel Luis Teixeira)
“Recebemos em nossa casa uma visita ilustre.” (Família do aluno Matheus Luiz Kopper)
“Dia feliz, um privilégio estar em sua companhia.” (Família do aluno Vitor Hugo Costa)
“Participou até do banho, sentado ao lado do
box.” (Família da aluna Jenifer Camile Mota dos
Santos)
“Quando a mamãe chegou e viu ele foi uma
alegria só!” (Família do Itor Paulo Müller)
“Ele pode conhecer meus avós e fazer uma
refeição em família.” (Família da aluna Mariana
Breier Schilling)
“Corremos com ele nos braços para mostrar
ao papai.” (Família da aluna Ana Laura Ramires
Schuster)
“Essa visita trouxe muita diversão à minha
casa.” (Família do aluno Gustavo Hermann)
“Foi muito legal ensinar ele a andar de bicicleta.” (Família do aluno Matheus Augusto Teixeira)
“Apresentei meu quarto ao mascote e também minha coleção de desenhos.” (Família do
aluno Gean Darlei Bombardelli)
“No mesmo dia: conheceu minha dinda e
nosso pinheirinho.” (Família do aluno Felipe Menezes Welzbacher)
“Levei ele num passeio numa outra cidade,
Presidente Lucena, lá conheceu o “verdadeiro” Papai Noel.” (Família do aluno Artur Luís Hausmann
Esswein)
“Não aguentei mais de sono e adormeci
abraçadinho nele.” (Família do aluno Henrique
Matias Miotti Hanauer)
“Em boa companhia, eu, meus manos e Noelzinho assistimos as aventuras do desenho animado do Pica Pau.” (Família do aluno Arthur Telesca
Rocha)
“Eu, minha família e o mascote percorremos
vários lugares na cidade de Ivoti e muitas pessoas
queriam conhecê-lo.” (Família da aluna Tainara
Taís Conchy)
Referências Bibliográficas:
A TURMA DO BALÃO MÁGICO. Ursinho Pimpão. CD.
Sony Music.
DIAS, Marina Célia Moraes; NICOLAU, Marieta Lúcia
Machado (orgs). Oficinas de sonho e realidade na formação do educador da infância. Campinas | Papirus, 2003.
OSTETTO, Luciana Esmeralda (org.). Encontros e encantamentos na educação infantil: partilhando experiências de
estágios. Campinas | Papirus, 2000.
PAIM, Wilson. Natal gaúcho. CD. Usa Discos, 1996.
WEFFORT, Madalena Freire. Observação, registro, reflexão: instrumentos Metodológicos I. São Paulo | Espaço
Pedagógico, 1995.
Juliana Petry
Pós-graduada em Gestão Escolar
Miriam Bonilha de Vargas Abadie
Graduada em Ciências Físicas e Biológicas
Rodrigo Mestriner Fernandes
Graduando em Psicologia
Úrsula Miotti
Graduada em Psicologia
E. M. E. F. Engº Ildo Meneghetti
A
sexualidade tem seu desenvolvimento
desde o nascimento do sujeito, porém é na
adolescência que ela se mostra marcante e
desafiadora. O adolescente, além das muitas tarefas que tem quanto ao seu desenvolvimento integral, precisa se deparar com um corpo novo, repleto de sensações e sentimentos. Poder lidar com
a sexualidade com confiança e responsabilidade é
uma dessas grandes tarefas.
O tema sexualidade é amplo o bastante para
traduzir preocupações de todo o País, sendo atualmente um dos temas transversais que compõem os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), enquanto aspecto indispensável para construção da
cidadania. Presente nos espaços escolares, ultrapassa fronteiras disciplinares e de gênero, permeia
conversas entre meninos e meninas e é assunto a
ser abordado na sala de aula pelos diferentes especialistas da escola; é tema de capítulos de livros
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
Projeto Adolescer
Grupo de alunas da 8ª série durante encontro
didáticos, bem como de músicas, danças e brincadeiras que animam recreios e festas.
Todavia, além de estar em pauta nas diversas
disciplinas escolares, foi percebida a necessidade
de um espaço específico na Escola Municipal de
Ensino Fundamental Engenheiro Ildo Meneghetti,
como atividade extraclasse, para tratar da questão
da sexualidade, de acordo com o interesse e disponibilidade dos alunos para tal. Ligar a informação, o entendimento dos aspectos biológicos,
com o aspecto afetivo, emocional do desenvolvimento dessa fase, é fundamental.
Os adolescentes, do 6º ano à 8ª série, foram
convidados a participar de um espaço, coordenado
pela professora de Ciências e pelo setor de Psicologia, destinado à discussão da sexualidade na adolescência. Desde o início deste ano letivo, semanalmente e em turno contrário, esses grupos, quatro
no total, divididos por séries e gênero, reúnem-se e
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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discutem informações sobre os sistemas reprodutivos, DSTs, métodos contraceptivos, gravidez na
adolescência, drogas, além de terem um espaço
para falar de suas próprias experiências, sentimentos e expectativas. Trabalhamos com foco no
plano de vida enquanto via para construção de um
jovem e adulto com responsabilidade, autonomia e
satisfação pessoal. “Entendemos que esse jovem,
assim constituído, será capaz de um desenvolvimento saudável, porque será agente de escolhas,
sujeito de projetos, de ações, de transformação.”
(Liebesny e Ozella, 2002)
Na concepção do projeto, houve um cuidado
especial em oferecer aos adolescentes atividades
estimulantes e atuais de aprendizagens: dinâmicas,
debates, filmes, documentários, cartazes, visualização de materiais – como, por exemplo, os contraceptivos –, além de jogos didáticos específicos
sobre sexualidade e adolescência.
Com a mediação dos profissionais e o uso
dos diversos recursos, está sendo possível facilitar o desenvolvimento de um melhor pensamento
e aprendizagem dos assuntos pertinentes à adolescência. Durante os encontros, o grupo percebe
e discute situações com mais clareza e maior profundidade, permitindo, assim, que, no futuro, com
o conhecimento adquirido, e a articulação dos saberes, possam tomar decisões com maior propriedade.
Referências Bibliográficas:
LIEBESNY, B.; OZELLA S. Projeto de vida na promoção
de saúde. In: Adolescência e Psicologia: concepções,
práticas e reflexões críticas. Brasília | Conselho Federal de
Psicologia, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – Orientação Sexual. Brasília | MEC/SEF, 1997.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
17
Docência Compartilhada ou Bidocência – Um
novo desafio!
“E
u... Tu... Nós... Construindo aprendizagens significativas” é o tema deste
ano letivo na Escola Municipal Engº
Ildo Meneghetti. Este lema busca uma maior integração e coletividade de toda a comunidade escolar, e que juntos possamos todos compartilhar
estas construções. Mas qual é o conceito de compartilhar? No dicionário Aurélio (2001, p. 167),
compartilhar é o mesmo que “ter ou tomar parte
em, participar de, partilhar, compartir”.
Esse tema está sendo visto como chave fundamental em nossa turma de 4º ano, onde há bidocência ou docência compartilhada. Uma turma
composta por 24 alunos, incluindo um aluno com
Síndrome de Down, o que demanda dois docentes:
o professor titular e o auxiliar. Sem dúvidas, é um
grande desafio para ambos os profissionais, pois
partilhar ideias, preparar atividades, aplicá-las e
refletir sobre a prática pedagógica em parceria não
é algo fácil de fazer, principalmente quando este
espaço somente é ocupado por um profissional.
Cabe aqui destacar fala de Hardy e Platone
(2004, p. 15-18): “ninguém ensina sozinho”. O fato
de estar acompanhado de outro docente na sala de
aula, não significa que o professor vá perder a sua
autonomia, iniciativa e individualidade, pois em
muitos momentos ele deverá dar conta, sozinho,
do ensino e da aprendizagem de seus alunos.
Para nós duas, a bidocência é uma experiência nova, e a cada dia aprendemos com nossos
acertos e tropeços, refletindo juntas sobre as decisões tomadas, as quais precisamos definir para
dar continuidade ao nosso trabalho. Claro que nossas reflexões e indagações sempre são amparadas
e apoiadas pela equipe pedagógica da escola e pelo
NAI, a partir da perspectiva de Titton e Fernandes
(2008), onde uma pessoa sozinha pode aprender,
mas o aprendizado realizado coletivamente é mais
rentável.
Segundo Mittler (2003), o ideal seria que o
professor auxiliar pudesse trabalhar com a turma
toda, enquanto o professor titular passasse por
períodos de interação individual com este aluno,
trabalhando assim em uma meta de um plano edu-
| julho 2012
Kátia Andréa Reinheimer
Magistério, Professora na E. M. E. F. Engº Ildo Meneghetti
Monique Larissa Wolf Arnhold
Graduanda em Pedagogia, Professora auxiliar na E. M. E. F.
Engº Ildo Meneghetti
75
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
cacional individual e, então, os papéis seriam invertidos. Seguindo essa fala de Mittler, estamos
oportunizando essa troca, unindo a teoria à prática.
Compartilhar a docência vem a ser, então,
beneficiar-se dos diferentes estilos de ensino, da
colaboração entre profissionais e da utilização de
alternativas de ensino. O ensino compartilhado
traz muitos benefícios ao rendimento dos alunos.
Esses benefícios podem estar relacionados às trocas de informações, conhecimentos e técnicas de
ensino que os professores têm condições de por
em prática nesta metodologia, ampliando, assim,
os horizontes da aprendizagem.
Quando falamos em interdisciplinaridade e
multidisciplinaridade no âmbito educacional, essa
metodologia de ensino compartilhado vem ao encontro de tudo que vem sendo ressaltado por alguns
estudiosos da educação: interação, reciprocidade e
trabalho em equipe, é a receita para alcançarmos
os melhores resultados na aprendizagem de nossos
alunos.
| julho 2012
Referências Bibliográficas:
76
FERNANDES, Denise Armani Nery; TITTON, Maria Beatriz Pauperio. Docência Compartilhada: o desafio de
compartilhar. Disponível em: http://rc-sp.forums-free.com/
docencia-compartilhada-o-desafio-de-compartilhar-t11.html
. Acesso em: 20 maio 2012.
FERREIRA, Marina Baird; ANJOS, Margarida dos. Mini
Aurélio Século XXI Escolar: o minidicionário da língua
Portuguesa. 4° ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro | Nova Fronteira, 2001.
MITTLER, Peter. Educação Inclusiva: contextos sociais.
Trad. Windyz Brazão Ferreira. Porto Alegre | Artmed, 2003.
PLATONE, Françoise; HARDY, Marianne (org.). Ninguém
ensina sozinho: responsabilidade coletiva na creche, no
ensino fundamental e no ensino médio. Porto Alegre : Artmed, 2004.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
18
A agricultura de
subsistência e as
sementes crioulas
Márcia Cristina Licodiedoff
Engenheira Agrônoma – Escolas do Campo
Mônica Pilger Feilstrecker
Licenciada em Matemática – Escolas do Campo
é um sistema de produção agrícola que visa a
sobrevivência do agricultor e de sua família.
É caracterizada pela utilização de recursos
técnicos pouco desenvolvidos. Os instrumen-
tos agrícolas mais usados são: enxada, foice
e arado. Raramente são utilizados tratores ou
outro tipo de máquina. A produção é baixa em
comparação às grandes propriedades rurais
mecanizadas.
(http://www.suapesquisa.com/o_que_e/agricultura_subsistencia.htm )
O que nossas famílias – assim como a maioria
das que trabalham com a agricultura de subsistência – produzem são hortaliças, arroz, feijão, batata,
mandioca, milho, pipoca... As sobras da produção
são vendidas ou trocadas por outros produtos que
não existem na propriedade. É desta forma que
as famílias proporcionam a sua autossuficiência.
Segundo dados da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), 70% dos alimentos que chegam
à mesa dos brasileiros são provenientes da agricultura familiar, a saber: mandioca (83,9%); feijão
(67,2%); leite de vaca (52,1%); suínos (58,5%);
milho (48,6%); arroz (30,9%); café (25,5%); soja
(31,6%), entre outros. (KLUTHCOUSKI, 2012)
| julho 2012
N
as Escolas do Campo, no componente
curricular de Empreendedorismo Rural,
com os alunos de 7ª e 8ª séries, estávamos
estudando a forma de germinação das leguminosas
e de algumas gramíneas. Surgiu então a ideia de
fazermos um resgate das sementes e mudas cultivadas antigamente, as quais hoje praticamente
não encontramos mais. Passamos a chamar estas
de “crioulas”. Também tivemos o cuidado de saber
um pouco da história da planta: quem a forneceu,
de onde a pessoa conseguiu a muda, qual é o período em que deve ser plantada... A partir daí, os alunos passaram a rotular, pesquisar, registrar e armazenar os materiais, para posteriormente cultivá-los
na área da escola, para com elas promovermos
uma tarde de campo com a comunidade.
Nas comunidades das Escolas do Campo
muitas famílias ainda trabalham com a agricultura
de subsistência, que
77
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
| julho 2012
Desta forma, conseguimos atingir não só as
famílias dos alunos das escolas, mas as três comunidades do campo como um todo, pois os alunos
foram em busca de mudas e sementes na comunidade. Conseguimos trazer a família para dentro
da escola, com os pais de alunos fazendo canteiros, auxiliando na preparação do solo e na sua
drenagem.
Esse trabalho permite desenvolver no
aluno diferentes aspectos, os quais já começamos
a instigar, e serão nossos objetivos de estudo no
decorrer do ano:
•Estimular o aluno a trabalhar em sua propriedade, com a família, e a produzir parte das frutas e hortaliças, bem como grãos e carnes para seu
sustento;
•Vender o excedente de sua produção, para
contribuir com a renda familiar;
•Incentivar o cultivo de uma horta e um
pomar, observando os tipos de frutas e hortaliças
mais adaptados a nossa região;
•Conhecer formas de plantio, adubação,
capina, poda e controle de pragas e doenças;
•Desenvolver boas práticas de colheita e
manipulação de alimentos (desde o ponto de colheita, limpeza dos alimentos e utensílios, até o
ambiente a ser usado para processar os alimentos);
•Realizar beneficiamento de frutas e hortaliças, visando ao aproveitamento das frutas e verduras na forma de doces, schmiers, compotas e
conservas.
A forma de avaliação dos alunos é a sua
participação nas aulas práticas e teóricas, suas
posturas e opiniões nos assuntos que estão sendo
abordados.
Usamos como recursos a área da escola onde
se encontram o pomar e a horta, utensílios agrícolas, visitas, pesquisas na internet, a comunidade,
entre outros.
Referências Bibliográficas:
78
<http://www.suapesquisa.com/o_que_e/agricultura_subsistencia.htm> Acesso em: 23 maio 2012.
KLUTHCOUSKI, João. Revista DBO Agrotecnologia.
Abril/Maio 2012.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
19
Uma Escola com
Jardim Suspenso na
Cidade das Flores
V
ivemos em Ivoti, Cidade das Flores. Muitos são os jardins floridos que já deram à
nossa cidade o título de cidade mais florida, com belos jardins – porém simples.
Conforme Diogo Ricou (2009), o uso que
atribuímos ao jardim é que pode torná-lo diferente
e mais ou menos importante – para um biólogo ou
ornitólogo um jardim pode ser uma fonte de estudo;
já para um escritor ou pintor, o mesmo poderá ser
uma fonte de inspiração; para outros, apenas contemplação, descanso, lazer, etc. O jardim poderá
ser usado para mostrar riqueza, impressionar, ou
como fonte de subsistência.
Em 2011, alunos e professores da Escola
Municipal Nicolau Fridolino Kunrath foram visitar a Feira das Flores e se encantaram com os jardins que viram; mas um, em especial, chamou
a nossa atenção – o Jardim Suspenso, feito com
caixas de verduras. Talvez tenha sido este o mais
atraente, por estarmos ali com alunos da área rural,
onde essas caixas servem para transportar frutas e
verduras – mas lá viram que elas podem ter outro
destino, e muito belo!
Em 2012, iniciamos o ano planejando as
atividades dos componentes curriculares da Escola Integral e a organização do jardim da Escola. Lembramo-nos daquele jardim e decidimos
que iríamos colocá-lo em prática. Assim, com os
alunos do turno regular da Escola Nicolau, juntamente com as turmas de 7ª e 8ª séries (nas aulas de
Práticas Agroecológicas) e dos 3º ao 5° anos (nas
aulas de Empreendedorismo Rural) que vêm para
essa Escola nas segundas-feiras à tarde, resolvemos desenvolver essa ideia original.
Inicialmente, propusemos aos alunos que
tivessem caixas de verduras de madeira, e que pudessem doar, as trouxessem para a escola. Paralelamente, solicitamos para participar de uma Oficina
no Centro de Educação Ambiental do Município
de Ivoti (CEAMI), onde plantamos gerânios, lisimáquias e maringás. Lá tivemos uma aula prática
de preparação da terra para o plantio e aprendemos
a fazer a estaquia para a obtenção da muda.
As mudas ficaram no local, onde as man-
| julho 2012
Mônica Pilger Feilstrecker
Licenciada em Matemática
Roberta Konrath Schallenberger
Licenciada em Pedagogia
E. M. E. F. Nicolau Fridolino Kunrath
79
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
tiveram na sombrite até que estivessem próprias
para o transplante. Já na Escola, as mudas foram
transplantadas pelos alunos, usando o composto
orgânico, ali produzido, com restos das cascas que
sobravam da merenda escolar.
Junto com o professor de Educação Física,
prendemos as caixas na parte externa da escola, organizamos as plantas e continuaremos, no decorrer
do ano, tomando os cuidados necessários, como:
regar, transplantar, podar...
Os jardins da nossa cidade são, ou deveriam ser, o local de encontro das crianças, e o início do aprendizado sobre a beleza e a conservação
da natureza. Na nossa Escola estamos plantando a
semente. Esse espaço abre a possibilidade de observar diversas formas, cores, flores, texturas, aromas, e ainda pequenos animais como borboletas,
beija-flores, tucanos e demais aves atraídas ao local.
Oportunizaremos a visitação deste espaço
às crianças que nasceram e cresceram em grandes
cidades, fazendo uso da função pedagógica do jardim como objeto de estudo de diferentes temas da
sala de aula no decorrer do ano.
Referências Bibliográficas:
| julho 2012
LAMAR, Ramon. A importância dos jardins. Blog do
Ramon Lamar, 2011. Disponível em: <http://ramonlamar.
blogspot.com.br/2011/06/importancia-dos-jardins.html> .
Acesso em: 22 maio 2012.
80
RICOU, Diogo. A importância do Jardim. Revista: Tudo
sobre jardins, 2009. Disponível em: <http://www.portaldojardim.com/pdj/2009/03/02/a-importancia-do-jardim/>.
Acesso em: 22 maio 2012.
8 maneiras de fazer um jardim vertical. Revista Natureza. Disponível em: <http://www.ciclovivo.com.br/noticia.php/3302/8_maneiras_de_fazer_um_jardim_vertical/>
acesso em 22 maio 2012.
Alunos preparando as mudas no CEAMI
Alunos transplantando as mudas
Alunas arrumando as mudas nas caixas
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
20
Competição Escolar
por Outro Olhar
N
os últimos anos, a educação física escolar
vem quebrando paradigmas. Há poucas
décadas atrás, tínhamos no Brasil uma educação física escolar baseada no desenvolvimento da aptidão física para o desporto competitivo,
na formação de atletas e na busca do gesto motor
perfeito para as práticas desportivas tradicionais:
voleibol, futebol, basquete. Para esta metodologia
da educação física deu-se o nome de tecnicista. O
governo brasileiro assegurou este papel da escola
na Lei N° 6.251/75, que determinava os objetivos
da educação física em âmbito nacional, assegurando seu caráter de aprimoramento técnico desportivo da população.
Entretanto, novas correntes metodológicas,
os Parâmetros Curriculares Nacionais e as novas
legislações trouxeram à tona uma mudança nessa
visão de desporto escolar, prevendo que o mesmo
deveria desenvolver os alunos nas aptidões físicas
para desporto rendimento, mas também deveria
dar conta de aspectos cooperativos, sociais, integracionistas (CASTELLANI F°,1998) e de práticas desportivas diferentes das usuais, tais como
esportes de aventura, danças, lutas, etc.
Nesse contexto, alguns desafios se apresentam na hora de elaborar projetos e planos para essa
disciplina. Uma das principais indagações, é como
trabalhar a competição (caracterização do desporto de rendimento e elemento essencial na construção da personalidade do sujeito) sem que essa
seja o principal foco da atividade. E, ainda, que
os demais objetivos da prática (integração, união,
trabalho em equipe), também fundamentais na formação do sujeito, não fiquem menosprezados.
Na busca por essa integração de objetivos,
organizei em duas escolas em que leciono, no município de Ivoti, um “Festival de Goleirinha”. Uma
turma de cada escola participou da proposta, sendo
ambas multisseriadas de 4° e 5° ano. Esse evento
foi constituído por várias etapas, sendo o marco
final uma competição entre times formados dentro
da mesma turma, para disputa de um torneio de
futebol utilizando goleiras pequenas.
Primeiramente, precisávamos elaborar o
regulamento do campeonato. Esse foi feito em
conjunto com cada turma. Todos tiveram que re-
| julho 2012
Pablo Silveira
Graduado em Educação Física – Feevale
Professor das Escolas do Campo e da Escola
Guilhermina Mertins
81
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
| julho 2012
82
digir uma cópia. Nesse quesito, minha intervenção
foi criar critérios de pontuação para chegarmos
ao campeão do festival. O importante no festival
não seria ganhar o jogo, mas que mais integrantes
do time fizessem gols. Um time em que 3 alunos
tivessem feito gols, mesmo perdendo a partida,
ganharia mais pontos do que aquele em que apenas um tivesse feito gols. O que tiraria pontos de
um time seriam brigas, desrespeito com seus próprios colegas de time, com os adversários ou com
o árbitro. As equipes foram formadas por sorteio e
compostas por três ou quatro alunos.
Outro aspecto que precisaríamos contornar
era a falta de goleirinhas e de uniformes. Para
tanto, os alunos confeccionaram com madeiras as
duas goleirinhas, serrando, martelando, medindo
e calculando. Como uniforme, todos trouxeram
camisetas velhas e, juntamente com a professora
titular, foi confeccionado com tinta de tecido um
uniforme para cada time, com o nome do jogador
e do time nas costas.
Com o intuito de trabalhar a organização e
a responsabilidade pelo evento que estavam criando, a arbitragem do festival foi feita pelos próprios alunos; para isso, também foi necessário que a
turma aprendesse a preencher uma súmula. Além
dos árbitros, os alunos foram incumbidos de escolher um câmera e um narrador. Estes tiveram a
responsabilidade de gravar e narrar os jogos, de
forma que fosse feito um DVD com os jogos, para
que cada aluno pudesse levar a filmagem do campeonato para casa.
Ao final do evento houve times vencedores
e perdedores. Alguns tiveram que lidar com a frustração da derrota, e outros precisaram controlar
a ânsia de vangloriar-se em excesso pela vitória.
Porém, este foi apenas um aspecto de uma grande
construção. O ganho em outros aspectos superou
o chute ruim do futebol, o erro do gol, a marcação
errada do juiz. Todos queriam e lutaram para ganhar, mas até ali já tinham ganhado conhecimento,
organização, cooperação e integração.
Ah... E o prêmio? O prêmio foi a possibilidade de ajudar o próximo, pois todos os alunos
trouxeram algum alimento não perecível como inscrição no campeonato, e a equipe vencedora pode
entregar pessoalmente estes alimentos a uma entidade carente do município de Ivoti.
Referências Bibliográficas:
BRASIL. Decreto N° 69.450, de1° de novembro de 1971.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D69450.htm>. Acesso em: 23 de maio de 2012.
BRASIL. Lei N° 6.251, de 8 de outubro de 1975. Disponível
em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/
LEIS/1970-1979/L6251.htm>. Acesso em: 23 de maio de
2012.
CASTELLANI F°, Lino. Política Educacional e Educação
Física. Campinas | Autores Associados, 1998.
MATA, Dinalba F. A Educação Física no Brasil: com uma
visão transformadora na educação básica, transpirando
menos e pensando mais. Lato & Senso, Belém, v. 2, n° 3, p.
30-3, julho 2001. Disponível em: <http://www.nead.unama.
br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/52.pdf>. Acesso em:
22 de maio de 2012.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
21
Empreendedorismo
Rural: Turismo Rural
Pedagógico
A
atividade de turismo no ambiente rural
deve estar em harmonia com os seguintes
interesses: da comunidade local, do turismo, e do meio ambiente. A harmonização desses
elementos significa garantir a sustentabilidade da
atividade através dos três elementos básicos: culturais/antrópicos, ecológicos e econômicos (ZIMMERMANN, 1998). Pensando nisso, surgiu a disciplina de Empreendedorismo Rural nas Escolas
do Campo de Ivoti.
Dentro de uma proposta de Educação Integral, desenvolve-se a disciplina de Empreendedorismo Rural, com alunos do 6° Ano e da 6ª Série.
Ela é coordenada por dois professores, de Ciências
e de Informática, e as atividades que ocorrem são
interdisciplinares.
Como proposta inicial, a atividade que está
sendo desenvolvida denomina-se “Turismo Rural
Pedagógico”. Assim, os alunos foram reunidos
em grupos, e cada um criou um Roteiro Rural Pedagógico, envolvendo potenciais pontos turísticos
nas localidades em que estão inseridas as escolas:
Escola Nelda Julieta Schneck (Nova Vila), Escola
Olavo Bilac (Picada Feijão) e Escola Nicolau Fridolino Kunrath (Picada 48 Alta).
Os objetivos são: proporcionar aos educandos atividades que despertem o espírito empreendedor, para que atuem e explorem sustentavelmente os potenciais turísticos do campo;
desenvolver atividades que promovam o autossustento das famílias do campo; executar projetos
inovadores para o desenvolvimento sustentável no
meio rural.
As atividades desenvolvidas até este momento foram: levantamento dos potenciais turísticos existentes nas três localidades, criação de um
Roteiro Pedagógico, construção do mapa desse
roteiro; pesquisa sobre o histórico dos potenciais
turísticos; passeio de estudo.
Primeiramente, os alunos, reunidos em grupos, pesquisaram as potencialidades existentes.
Foram citados potenciais turísticos já existentes e
apareceram alguns novos, como as propriedades
rurais dos próprios familiares dos alunos. Em
| julho 2012
Patrícia Fries
Mestre em Educação em Ciências e Matemática
Janete Politowski
Técnica em Informática Educativa
Escolas do Campo de Ivoti
83
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
| julho 2012
84
seguida, os alunos organizaram o roteiro observando o espaço geográfico e a sequência lógica.
Organizaram as visitas aos espaços determinados,
delimitando o tempo e o objetivo de cada visita.
Sequencialmente, os educandos organizaram o
roteiro em um mapa escrito, e posteriormente passaram para o programa KolourPaint, de acordo
com as aprendizagens e sob coordenação da professora de Informática. Após, apresentaram e explicaram os roteiros para os colegas e decidiram,
em grupo, qual deles seria realizado por todos os
alunos. Num primeiro momento, faremos apenas
o roteiro escolhido coletivamente, para posterior
reflexão e avaliação, dando continuidade aos trabalhos. Logo, elaboraram a proposta de roteiro no
BrOffice Impress, com imagens dos pontos a serem visitados, o histórico de cada um, aprendendo
a criar os links e hiperlinks.
Pretende-se tornar os Roteiros uma fonte
alternativa de conhecimento, desenvolvimento e
rendimento sustentável. Futuramente, viabiliza-se
a ocorrência do Turismo Rural Pedagógico como
uma prática pedagógica contínua nas Escolas do
Campo. O Turismo Rural Pedagógico indica uma
direção na busca da redução das desigualdades regionais e a expansão de desenvolvimento, com a
implementação na economia local e uma melhoria na qualidade de vida, tão desejada por todos,
visando ao desenvolvimento local sustentável e ao
espírito empreendedor.
Referência Bibliográfica:
ZIMMERMANN, A. Planejamento e organização do turismo rural no Brasil. In
ALMEIDA, J. A.; RIEDLY, M.; FROEHLICH, J. M. (org.).
Turismo Rural e Desenvolvimento Sustentável. Santa Maria | Universidade Federal de Santa Maria, 1998.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
22
Descobrindo
Formas de Escrever
Introdução
D
esde o início do ano letivo de 2011, foi
possível perceber que a turma do 5º ano da
Escola Nicolau Fridolino Kunrath apresentava dificuldades na área de português, ou seja,
na maneira de se expressar em sala de aula, na construção de textos, na leitura oral e na interpretação
de perguntas simples relacionadas a textos lidos.
Para esses alunos, era muito difícil realizar
tarefas como participar de um simples jogo de
“stop”. Percebi que, para eles, escrever um texto
era fazer um amontoado de frases que, muitas
vezes, não tinham sentido entre si. Apresentavam
dificuldades em ordenar suas ideias, em descrever
uma simples jogada com coerência, e o espaço
destinado na folha com linhas era muito grande
para ser preenchido com escritas próprias.
Como o Projeto foi Construído
Foi pensada uma proposta pedagógica que
fizesse com que esses alunos pudessem progredir
em suas construções textuais, melhorar sua leitura,
perceber a escrita correta das palavras, conseguir
ordenar suas ideias com mais facilidade. Como
profissional da educação, não pude fechar os olhos
frente às dificuldades enfrentadas pelos alunos,
pois, mesmo já estando eles numa série mais avançada, ainda não havia sido possível superar algumas dificuldades.
Para Jolibert (1994, p. 36),
[...] não se ensina uma criança a escrever, é ela
quem ensina a si mesma (com a nossa ajuda e
de seus pares). Cada criança possui seu caminho próprio; é preciso que ela viva as situações
de aprendizagem que lhe permitam ao mesmo
tempo ter referenciais constantes e construir
suas próprias competências.
Objetivos
•Desenvolver a expressão oral e escrita,
considerando a leitura e a escrita em diferentes
textos.
•Empregar corretamente a pontuação na es-
| julho 2012
Roberta Konrath Schallenberger
Graduada em Pedagogia
E. M. E. F. Nicolau Fridolino Kunrath
85
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
| julho 2012
86
crita e na leitura.
•Ler, analisar e formar a própria opinião sobre notícias de jornal.
•Interpretar e construir textos com coerência.
a história da Chapeuzinho Vermelho, em diversas versões: na visão do lobo, da vovó, da própria
Chapeuzinho, em forma de poema, como história
em quadrinhos, e o filme “Deu a louca na Chapeuzinho”.
Procedimentos
Conclusão
A primeira atitude tomada para desenvolver
mais segurança ao aluno na hora de escrever foi
diminuir o número de linhas na folha e acrescentar
um espaço para a ilustração.
Com esse processo em desenvolvimento, foi
agregado o projeto “Jornal NH na Sala de Aula”,
e também a retirada, na biblioteca, de livros com
conteúdo maior. Para auxiliar na ordenação das ideias, todos os jogos precisavam ser descritos por
escrito para um colega.
Inventamos muitos personagens e depois
criamos histórias onde eles apareciam, usando
como “cola” um cartaz construído na sala que
mostrava os diversos passos a serem seguidos:
Quem? Onde? Como? Quando? O quê?
Escolhemos, para trabalhar, o livro “Casa
Botão”, de Hermes Bernardo Junior, autor presente na Feira do Livro do município. A partir de
sua leitura, fomos lendo e escrevendo diversos poemas, aventurando-nos nos mais variados assuntos. Durante esse período letivo, também contamos com a grande ajuda da escritora Marcia Funke
Dieter, que vinha regularmente à escola contar
histórias e ler poemas.
Nas aulas de Informática, tivemos ajuda da
professora Janete Politowski, numa pesquisa sobre as diversas raças de cães. Exploramos diversos filmes onde “eles” eram os astros, incluindo
“Sempre ao seu lado”, sendo explorada a sequência didática e a reescrita da história, criando um
outro final.
“Apareceu” na sala uma caixa-surpresa,
contendo gibis, e através deles estudamos os tipos
de textos empregados nesse material, a constituição dos balões, a sequência das histórias, o tipo de
pintura usada em cada personagem.
Desenvolvemos algumas atividades usando
O crescimento apresentado pelos alunos foi
visível e podia ser notado todos os dias. No final do
ano, já era possível ler textos grandes, repletos de
informações. A interpretação da turma melhorou
significativamente, assim como a leitura. A leitura
quase diária do jornal trouxe uma nova visão de
mundo para os alunos, que tinham muita dificuldade de ter acesso à informação, pois poucos tinham acesso à internet, a revistas e a bons livros.
Precisamos enfrentar um dia após o outro;
temos ainda uma longa caminhada, mas todo esforço dedicado a esses alunos, com certeza fará
uma enorme diferença na vida de cada um.
Referências Bibliográficas:
JOLIBERT, Josette. Formando crianças produtoras de
texto. Porto Alegre | Artmed, 1994.
REVISTA NOVA ESCOLA. São Paulo | Abril, ago. 2007, n.
204. Ano XXII.
São Paulo : Abril, set. 2011, n. 245. Ano XXVI.
REVISTA PÁTIO – Educação Infantil. Porto Alegre | Artmed, jul/set. 2010, n. 24. Ano VII.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
23
Nossa História Produzida em Detalhes
Roberta Konrath Schallenberger
Graduada em Pedagogia
Silvane Horst Karling
Graduada em Língua Alemã e Graduanda em Licenciatura
em Educação do Campo
E. M. E. F. Nicolau Fridolino Kunrath
Q
uem sou eu? De onde vim? “São perguntas
que palpitam (...) no subconsciente infantil.” (SILVA, 2008, p. 56)
Muitas respostas podem ser encontradas
no resgate das histórias dos antepassados, das
tradições e dos costumes. O tema da identidade,
a busca das próprias origens, o lugar e o modo de
viver, ajudam a criança a se conhecer melhor.
Justamente, indo ao encontro dessas ideias,
começamos o ano de 2011 com o projeto “Sei
Quem Sou e Onde Estou?” Segundo Silva (2008,
p. 58), a preservação dos costumes e das tradições
de fiar, tecer, coser e bordar, apreciar comidas e
danças típicas, e principalmente a língua materna, são manifestações culturais que asseguram a
identidade de cada indivíduo.
Objetivos
•Conhecer e valorizar as diferentes variações linguísticas faladas e escritas, analisando-as
criticamente.
•Ler, compreender, interpretar e dialogar a
partir de diferentes textos, assim, estimulando a
escrita.
| julho 2012
Justificativa
Aluna do 4º ano
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RELATOS DE EXPERIÊNCIA
•Resgatar e valorizar o patrimônio histórico, social e cultural, percebendo-se como sujeito
ativo da história de sua comunidade.
Juntamos a esses propósitos, a necessidade
de fazer com que os alunos do 4º e do 5º anos escrevessem mais e com mais qualidade, e para isso
escolhemos o gênero poesia para dar início às atividades.
Durante os trabalhos deste projeto, surgiu a
oportunidade de explorar o livro “Casa Botão”, de
Alunos do 5º ano
Hermes Bernardi Jr., uma vez que no mês de maio
ocorreu a 29ª Feira do Livro de Ivoti, com a presença desse autor.
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“Criança gosta de poesia?”
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Desde bebê, ou talvez já muito antes, a criança escuta sua mãe cantando, dizendo versinhos,
e quando entra na escola ela já traz um repertório
com ela, sejam adivinhas, cantigas de roda, versinhos que ela já escutou de algum familiar: avô,
avó, tio, tia, babá...
Formar crianças [...] letrados é dar-lhes instrumentos para obter informações, atualizar-se, lutar por um emprego, conhecer o ponto
de vista de pessoas próximas ou distantes, e
ainda viver as emoções narradas pelos autores
de obras literárias. (CARVALHO, 2010, p. 18)
O poema chave usado foi “O buraco do
tatu”, de Sergio Caparelli, que oportunizou aos
alunos interagirem e criarem novos versos. Além
dele, trabalhamos com poemas de outros autores,
como Cecília Meireles e Mario Quintana.
A forma proposta para o registro dessas cri-
ações foi uma colcha de retalhos, construída para
registrar tudo aquilo que foi criado pelo aluno e
que fosse importante para ele. Registramos também a tradição da Páscoa, e outras tradições oriundas da imigração relacionadas aos alunos, trabalhando com músicas, versinhos em português e
versinhos em alemão.
“Produzir bons leitores é um desafio para a
escola em todas as partes do mundo.” (CARVALHO, 2010, p. 9)
Colcha
Referências Bibliográficas:
CARVALHO, Marlene. Guia prático do alfabetizador. 1°
ed. São Paulo | Ática, 2010.
BERNARDI JR., Hermes. Casa Botão. 1° ed. São Paulo |
DCL, 2007.
SILVA, Vera Maria Tietzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e promotores de leitura. 1°
ed. Goiânia | Cânone, 2009.
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
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Softwares Educativos
JClic e Hot Potatoes: Como
Auxiliam no Processo de
Ensino e Aprendizagem na
Educação Infantil
O
presente trabalho objetivou analisar como
as crianças interagem com as atividades
digitais proporcionadas, em especial, as realizadas através dos softwares educacionais JClic
e Hot Potatoes. O foco da análise seria quanto à
atratividade e ao envolvimento dos alunos, verificando como essas práticas podem, ou não, auxiliar no desenvolvimento de habilidades e na construção de novos conhecimentos e aprendizagens.
Segundo Viccari (1996, p. 13),
Software Educacional é um programa que visa
atender necessidades e possui (ou deve possuir) objetivos pedagógicos. Todo software
pode ser considerado educacional, desde que
sua utilização esteja inserida num contexto e
numa situação de ensino-aprendizagem, onde
existe uma metodologia que oriente o processo.
Porém, vale lembrar que a principal qualidade de um software educativo não é a sua caracterização, mas sim, a maneira com que ele consegue
favorecer os processos de ensino e aprendizagem.
Deve oportunizar ao aluno construir conhecimentos, relacionando-os com o conteúdo aplicado em
sua disciplina.
A turma analisada nas aulas de Informática
foi a do Nível 4 da E. M. E. I. Bem Querer, em Ivoti, com crianças na faixa etária de 4 a 5 anos, e com
a qual eu atuava, no ano de 2010. A observação
da prática em sala de aula, com a utilização dos
softwares educativos JClic e Hot Potatoes, aconteceu no Laboratório de Informática da E. M. E. F.
25 de Julho, no mesmo município. A proposta de
atividades nessas práticas educativas, com a utilização dos softwares, fundamenta-se na criação de
desafios (através de jogos) voltados para essa faixa
etária.
Muitas vezes, havia me chamado a atenção,
o interesse da maioria das crianças dessa turma em
participar dessas aulas, e comecei a me questionar
o porquê de tanto interesse. Todos os dias perguntavam ou exclamavam:
- Professora, hoje é dia de informática?
- Quantos dias faltam para a aula de informática?
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Tania Maria Gnatta
Graduada em História/Unisinos
Especialista em Mídias na Educação/UFRGS
Professora da E. M. E. I. Bem Querer
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- Oba! Hoje tem informática!
Também percebia-se a frustração deles
quando, por algum motivo, não teriam aula de informática. Ouvia-se muito:
ca!
- Que pena, hoje não tem aula de informáti-
- Quando vamos ter aula de informática de
novo?
- Hoje de novo não tem aula de informática?
Conforme Kenski (2004),
as novas tecnologias de comunicação e informação trouxeram mudanças consideráveis
e positivas para a educação. Vídeos, programas educativos na televisão e no computador,
sites educacionais, softwares diferenciados
transformam a realidade da aula tradicional,
dinamizam o espaço de ensino-aprendizagem,
onde, anteriormente, predominava a lousa, o
giz, o livro e a voz do professor.
As aulas de informática ocorreram todas as
quintas-feiras, no período da tarde, com duração
de trinta minutos. A turma era composta por vinte
alunos, os quais todos participavam das aulas.
Muitas atividades e jogos eram desenvolvidos
utilizando os softwares educacionais JClic e Hot
Potatoes. Dentre as diversas atividades possíveis,
cito as mais utilizadas para os alunos da Educação
Infantil: jogo da memória, quebra-cabeças, encaixes, pinturas, desenhos, ligar as imagens, etc.
Nessas atividades, ficou evidente o que
muitos autores abordam, entre os quais Assunção
(2003, apud SILVA): “os softwares infantis devem
ser de forma simples, os jogos devem ser atrativos,
coloridos, com movimentos, muitas figuras para
envolver os alunos no processo”. Neste caso, as
imagens utilizadas eram muito coloridas e interessantes para eles, e isso fez com que as crianças
realizassem as atividades com determinação e entusiasmo, ou seja, divertindo-se.
Analisando as aulas de informática e o envolvimento dos alunos, pudemos constatar que a
interatividade da maioria dos alunos com os jogos
digitais é fascinante: jogam, falam, gritam, vibram,
comemoraram, trocam ideias consigo mesmos e
com os colegas ao lado... Assim, através dessas
trocas construtivas, vão adquirindo e construindo
novos conhecimentos e aprendizagens. Na maioria das atividades apresentadas, percebia-se o interesse em começar logo e concluir a atividade com
êxito.
Percebemos, também, que o importante, para
que essas trocas aconteçam, não é ter uma enorme
quantidade de jogos e atividades digitais, e sim, ter
professores que saibam selecionar, construir com
seus alunos e utilizar esses recursos de forma e na
faixa etária adequada, oportunizando descoberta e
exploração.
Os softwares JClic e Hot Potatoes, assim
como outros existentes no mercado, demonstraram
ser ferramentas importantes para desenvolver
atividades educacionais de acordo com as faixas
etárias e assuntos estudados em sala. Possibilitam
também a criação de exercícios que apoiam diversas habilidades, entre elas a motora e a intelectual; aquisição de novos conhecimentos, com troca
de informação entre os pares; e principalmente a
interatividade entre o sujeito (aluno) e o objeto
(jogo), além do relacionamento social e ajuda mútua.
Os jogos desenvolvidos tiveram como objetivos principais desenvolver habilidades e aprendizagens voltadas à identificação, classificação, atenção, concentração, coordenação visomotora e
levantamento de hipóteses. Além de propor jogos
que desenvolvem algumas potencialidades, o uso
dos softwares analisados também permite que os
professores criem atividades adequadas e contextualizadas, conforme a realidade e a expectativa da
turma. Dessa forma, é possível gerar trabalhos e
projetos significativos, reconhecendo os softwares
educativos JClic e Hot Potatoes como recursos
didáticos que podem enriquecer a prática pedagógica, desde a Educação Infantil.
Assim, podemos concluir que os jogos educacionais podem aumentar a possibilidade de
aprendizagem em qualquer disciplina, pois os
aprendizes se envolvem na trama do jogo, fazendo
o possível para vencer determinados desafios. Em
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e
a distância. 4° ed. Campinas | Papirus, 2004.
SILVA, Maria José L. da. Projetos: A informática na educação escolar como instrumento de inclusão e ampliação
dos conhecimentos dos educandos com necessidades educativas especiais. Disponível em: <http://www.slideshare.
net/ mariajoselpoes/projetos-de-informitica>. Acesso em: 18
dez 2010.
VICCARI, Rosa Maria; Giraffa, L. Sistemas tutores inteligentes: abordagem tradicional X abordagem de agentes.
XIII SBIA, Curitiba, 1996.
Quebra-cabeça: personagens Disney (Hot Potatoes)
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Referências Bibliográficas:
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consequência, aprendem os conteúdos inseridos no
jogo e em outras atividades. Acabam levantando
hipóteses na tentativa de compreender os problemas que lhes são propostos, tentando resolvê-los e
obtendo êxito em cada etapa, aprendendo de forma
divertida e prazerosa. Os jogos também podem estimular a autoaprendizagem, a descoberta, além de
despertar a curiosidade, incorporar a fantasia e o
desafio.
Jogo da memória: esportes (JClic)
Jogo de ligar as imagens (JClic)
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