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Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital Nilsa Toyoko Azana*, Claudia Povoas Schmidt, Sonia Mayumi Kutiishi, Daniel Moutinho Pataca, Ivan Luiz Ricarte** O presente artigo apresenta a aplicação de uma metodologia de cenários prospectivos que determina quais são as questões envolvidas, durante uma tomada de decisão, na identificação dos requisitos fundamentais à criação de uma ferramenta de autoria para TV digital. Por meio do entendimento e da classificação das variáveis relevantes, bem como da análise e do posicionamento dos atores, são traçados os cenários possíveis e os riscos envolvidos na escolha de cada um desses cenários. A aplicação da metodologia resultou na identificação de quarenta cenários. A análise estratégica, realizada com o auxílio da árvore de decisão da ferramenta DecisionPro, indicou cenários para as plataformas de distribuição terrestre e de rede IP que apresentam conteúdos interativos – utilizando uma taxa média para troca de informações individualizadas entre servidor e usuário – e que suportam animação vetorial. A prática sistemática apresentada permite o entendimento de problemas por meio da classificação de ideias, de modo a viabilizar o mapeamento e o tratamento desses problemas, auxiliando, assim, na tomada de decisão. Essa prática possibilita vislumbrar os requisitos fundamentais para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital que atenda aos anseios dos atores envolvidos. Palavras-chave: Ferramenta de autoria. Avaliação estratégica. TV digital. Conteúdos multimídia. Tomada de decisão. Introdução Textos escritos ou falados, imagens fixas ou em movimento, músicas e ruídos são mídias que, combinadas, constroem uma forma de expressão do pensamento humano. Os avanços nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) trazem mudanças de paradigma na estruturação das mídias pois despertam nossos sentidos de forma integrada em um único meio e, ao mesmo tempo, alteram a percepção que o usuário tem do conteúdo digital. Assim, tais avanços abrem espaço para serviços que possibilitam a descentralização da produção e da distribuição de informações. Hughes e Lang (2006) citam a mutação das mídias digitais como característica fundamental para permitir a quebra da barreira entre o produtor e o consumidor de conteúdos digitais. Com o auxílio de ferramentas atuais que permitem a fácil manipulação de sons e imagens, está se formando uma nova cultura digital em que o consumidor passa a exercer um papel ativo, manipulando o conteúdo digital (recriando-o ou recontextualizando-o) para gerar novos conteúdos. Jenkis (2008) mostra exemplos do envolvimento dos usuários que usufruem de conteúdos digitais. Eles não se contentam com a observação passiva: geram o movimento que Jenkis denomina “cultura da convergência” e influenciam a construção de novos conteúdos. Diante desse mundo em transformação, onde existem várias ferramentas para manipulação de conteúdo digital, nosso desafio foi criar uma ferramenta de autoria para TV digital. Assim, buscamos o auxílio de métodos e técnicas para entendermos melhor como enfrentar esse desafio. Este artigo apresenta a identificação dos requisitos fundamentais para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital a partir da aplicação da metodologia de cenários prospectivos, visando uma tomada de decisão. 1 Metodologia aplicada A metodologia utilizada neste trabalho foi parcialmente aplicada em Azana, Pataca e Ricarte (2007). Trata-se de uma adaptação da metodologia apresentada originalmente por Godet (1994, 1997, 2000). Ela apresenta mecanismos sistemáticos para tratar as informações, permitindo que as avaliações subjetivas sejam guiadas pela compreensão lógica do problema, o que permite criar uma linguagem comum por meio da estruturação e do compartilhamento de ideias por um grupo de especialistas. A metodologia empregada é constituída de cinco etapas, descritas a seguir. 1.1 Etapa 1 – Delimitação do sistema Nesta etapa, são identificados os principais desafios do futuro e as principais ideias existentes sobre o assunto, com o objetivo de *Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected]. **Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação – Unicamp. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital determinar o conjunto de informações que caracterizam e individualizam o problema a ser resolvido. Ao final desta etapa, é possível entender o problema, e a equipe passa a estar munida com o conhecimento consciente do produto a ser analisado. 1.2.1 Setor 1 – Variáveis influentes ou dominantes 1.2 Etapa 2 – Identificação das variáveis-chave 1.2.2 O objetivo desta etapa é identificar as variáveis que influenciam significativamente o sistema. O método proposto é a análise estruturada, que possibilita a descrição do sistema por meio da estruturação do relacionamento entre as variáveis descritas na Matriz de Inter-Relacionamento das Variáveis (MIRV). Primeiramente, coletam-se as variáveis do sistema estudado de modo exaustivo. Explicita-se cada variável de modo a identificar as relações entre elas e preencher a MIRV, cujas linhas e colunas representam as variáveis identificadas. O valor de cada célula da linha representa a influência que a variável da linha exerce sobre a variável da coluna. O preenchimento da MIRV é um exercício qualitativo e realizado por meio de consenso de opiniões de especialistas (autores do artigo). A intensidade da influência que uma variável exerce sobre as outras é expressa em números que vão de 4 (influência muito forte) a 0 (nenhuma influência). A MIRV não é simétrica, pois a intensidade da influência que a variável exerce sobre as outras variáveis não é necessariamente igual à influência que essas variáveis exercem sobre a primeira. A soma das células de cada linha representa o nível de influência (NI) que a variável exerce no sistema estudado e a soma das células da coluna, o nível de dependência (ND) da variável em relação às outras variáveis do sistema. Para considerar uma possível cadeia de relacionamentos entre as variáveis, utilizamos o método Matriz de Impacto Cruzado – Multiplicação Aplicada à Classificação (MICMAC) descrito em Godet (1994), que consiste na multiplicação de matrizes aplicadas à MIRV para o estudo da difusão do impacto das influências indiretas, criando, assim, uma hierarquia entre as variáveis. A classificação das variáveis depende da influência que elas exercem e de quão dependentes são umas das outras. Assim, plota-se o nível de influência e o nível de dependência de cada variável em um gráfico, cujos eixos ortogonais representam o nível de influência e o nível de dependência. Ao traçarmos uma linha pelo ponto médio dos níveis de influência e dependência, podemos identificar cinco setores, os quais acomodam as variáveis segundo a classificação a seguir. 32 Exercem alto nível de influência e apresentam baixo nível de dependência. São elas que determinam as condições para o resto do sistema. Setor 2 – Variáveis instáveis Altamente influentes e altamente dependentes. Qualquer alteração nessas variáveis repercute nas outras variáveis, que, por sua vez, as alteram novamente. Nelas devemos focar maior atenção, de modo a entender ou combater seu caráter instável. 1.2.3 Setor 3 – Variáveis resultantes Exercem baixa influência e são altamente dependentes. São resultado das escolhas das características associadas às outras variáveis. 1.2.4 Setor 4 – Variáveis desconectadas Exercem baixa influência, são pouco dependentes e, assim, não influenciam as decisões do sistema. Portanto, podem ser excluídas da análise. 1.2.5 Setor 5 – Variáveis indefinidas Devem ser analisadas caso a caso. 1.3 Etapa 3 – Atores e questões estratégicas Cada ator do sistema tem um certo grau de liberdade para traçar suas estratégias na busca de seus objetivos. Para entender o relacionamento entre os atores, construímos uma matriz de influência entre eles. Nessa matriz, linhas e colunas representam os atores do sistema e células representam a influência que o ator representado pela linha exerce sobre o ator representado pela coluna. Essa influência é mapeada de 3 (forte influência) a 0 (não há influência). A soma das células da linha representa o nível de influência que o ator exerce no sistema e a soma das células da coluna representa o nível de dependência, ou seja, o quanto o ator está sujeito a pressões externas. A aplicação do método Matriz de Alianças e Conflitos – Táticas, Objetivos e Recomendações (MACTOR), descrito em Godet (1994), fornece a relação de poder entre os atores. A utilização de seis perguntas básicas – O quê? Quem? Onde? Quando? Por quê? e Como? – auxilia na criação de um checklist para o entendimento das variáveis-chave. As respostas a essas perguntas possibilitam a identificação das questões estratégicas, ou seja, identificam as questões que estão relacionadas às variáveis-chave e que devem ser analisadas para se ter uma visão dos possíveis cenários futuros. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital Com a identificação das questões estratégicas, monta-se uma matriz para determinar o posicionamento de cada ator em relação a elas, sendo que cada célula indica se o ator é favorável (+1), contrário (-1) ou neutro (0). A soma desses posicionamentos, multiplicada pelo poder relativo de cada ator, representa o grau de importância que a questão estratégica terá frente aos cenários analisados, cujos valores inteiros atuam como peso para a análise dos cenários. 1.4 Etapa 4 – Análise dos cenários Nesta etapa, identifica-se o conjunto de possíveis cenários futuros por meio do método de análise morfológica desenvolvido por Fritz Zwicky (GODET, 1994, 2000). O primeiro passo é a construção do espaço morfológico, por meio da decomposição do sistema estudado em subsistemas. Esses subsistemas são independentes, descrevem o sistema estudado como um todo e podem assumir várias configurações. O conjunto de combinações das diferentes configurações de cada subsistema gera o espaço morfológico ou o conjunto de cenários iniciais. O espaço morfológico, por sua vez, é construído com base nas variáveis-chave identificadas, e os cenários são descritos de modo a responder às questões estratégicas identificadas. Para a análise dos cenários, constrói-se uma matriz na qual cada linha representa um dos cenários possíveis, cada coluna representa uma das questões estratégicas e as células são preenchidas com valores qualitativos de 4 a 1, que representam o nível de contribuição do cenário para a questão estratégica. A soma das notas de cada cenário multiplicada pelo peso da questão estratégica fornece a classificação dos cenários. 1.5 Etapa 5 – Análise de riscos Considerando que os cenários desejados são criados a partir das visões de futuro, Godet alerta para a distinção entre os cenários prospectivos, que projetam os desejos e as angústias face ao futuro, e as opções estratégicas, que expressam as possíveis alterações do ambiente, distinguindo as incertezas mais ou menos acentuadas que pesam sobre os cenários. Assim, esta etapa consiste em identificar as opções estratégicas mais coerentes com a identidade da empresa e com os cenários mais prováveis. Para isso, utiliza-se o método da árvore de relevância, que identifica o desempenho tecnológico necessário para satisfazer as necessidades futuras, por meio de uma classificação em diferentes níveis de complexidade e hierarquia. O nó raiz da árvore representa o objetivo buscado e os ramos seguintes mapeiam todas as opções estudadas. Para cada um dos ramos, mapeiam-se novamente todas as suas opções, particularizando, cada vez mais, os cenários analisados, de modo que os nós do mesmo nível sejam independentes e não exista relacionamento direto entre os nós não adjacentes. Para cada ramo da árvore, estima-se um valor que represente o quanto esse ramo contribui para o nível imediatamente superior. Essa estimativa significa que, apesar de não conhecermos o futuro, temos uma expectativa dos possíveis desdobramentos e que essas informações devem ser utilizadas na busca pelas melhores opções. A árvore de relevância fornecerá a probabilidade condicional de ocorrência de cada um dos cenários estudados em razão das estimativas apresentadas. A probabilidade condicional de cada cenário, multiplicada pelos valores dos cenários obtidos na etapa de classificação, os reclassificará e enriquecerá com a visão estratégica de como o futuro é projetado. A seguir, serão apresentadas as etapa da metodologia para a análise dos requisitos relacionados à criação de uma ferramenta de autoria para TV digital. 2 Delimitação do sistema Conteúdos multimídia são conjuntos de diferentes tipos de mídias logicamente interligadas. Um conteúdo multimídia pode ser desenvolvido utilizando-se diretamente a linguagem de programação, o que exige conhecimentos computacionais específicos, cuja curva de aprendizagem é muito longa. Além disso, o processo de codificação dos elementos e das funções de um conteúdo pode ser longo e cansativo. As ferramentas de autoria podem facilitar todo esse trabalho, economizando tempo no desenvolvimento e na manutenção, além de permitir que usuários com diferentes graus de conhecimento computacional criem seus próprios conteúdos multimídia. A ferramenta de autoria multimídia integra, em um mesmo ambiente, os diversos formatos de apresentação das informações: texto, áudio, vídeo, imagens, gráficos, animações e interações que exploram os diferentes sentidos da percepção humana, enriquecendo a experiência do usuário ao agilizar e facilitar a apropriação da informação. Uma ferramenta de autoria multimídia facilita a criação e a edição de conteúdo, permitindo que cada inserção visual, sonora, textual ou interativa não seja simplesmente uma informação adicionada à narrativa, mas uma atração ao usuário. Através do ambiente de apresentação, a ferramenta proporciona diferentes leituras e Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 33 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital novas experiências ao consumidor do conteúdo. O contexto deste trabalho terá como foco a criação de uma ferramenta de autoria de conteúdo multimídia para distribuição em plataformas de TV digital no panorama brasileiro. 3 Identificação das variáveis-chave A rápida evolução tecnológica proporciona a convergência dos vários segmentos dos meios de comunicação, e essa alteração, migração ou retirada de fronteiras dificulta o entendimento de como, e para onde, caminha a evolução dos novos produtos e serviços, especialmente aqueles relacionados a conteúdos digitais. O método utilizado neste trabalho consiste em listar, por meio de pesquisa secundária, todas as variáveis que contemplam as dimensões tecnológicas, econômicas, políticas, regulatórias e sociais. As ferramentas de autoria distinguem-se tanto por suas funcionalidades como por suas características operacionais, que permeiam diversos ambientes de produção e exibição. Nesse contexto, as seguintes ferramentas foram analisadas: a) Adobe After Effects (ADOBE, 2010a); b) Adobe Flash (ADOBE, 2010b); c) Anime Studio (SMITH MICRO SOFTWARE, 2010); d) Blender (BLENDER FOUNDATION, 2010); e) Composer (PORTAL DO SOFTWARE BRASILEIRO, 2010); f) GIMP (THE GIMP TEAM, 2010); g) Inkscape (INKSCAPE, 2010); h) Ktoon (KTOON, 2010); i) NCL Eclipse (PUC-RIO, 2010); j) Synfig (THE SYNFIG TEAM, 2010); k) Wings3D (WINGS3D, 2010); l) LuaEdit (LUAEDIT, 2009); m) TextPad (HELIOS SOFTWARE SOLUTIONS, 2010); n) Sodipodi (GEEKNET, 2010); o) TVML Player (NHK, 2010); p) Pivot Stickfigure Animator (SOFTONIC INTERNATIONAL, 2010); q) Pencil (NAIDON, P.; CORRIERI, P., 2009); r) CrazyTalk (SOFTONIC INTERNATIONAL, 2010) e s) Stickman & Elemento (SVEN NILSEN, 2010). Para a criação de conteúdo multimídia, é necessária a escolha de uma linguagem apropriada e, segundo Burg (2009), os critérios para avaliação de um ambiente de autoria 34 multimídia devem considerar: os tipos de tarefas a serem realizadas (criar figuras, sons e vídeos ou somente importar mídias e realizar a composição); os tipos de mídias suportados (2D, 3D, bitmap, vetorial, áudio/vídeo codificado, interatividade); a interface (visual, integrada, linguagem de programação, padronizada); as características do conteúdo (tamanho, complexidade, meio de distribuição); e, também, o custo. A categorização proposta por Noll (2007) ressalta as dimensões significativas, descritas em Azana et al. (2008), para o desenvolvimento dos serviços de comunicação por meio da caracterização das mídias, do seu uso, de futuras utilizações e dos novos tipos de mídias. Noll cita que o usuário é muito sensível ao preço e que a variedade de opções aparece como a maior motivação para a compra em grande parte dos serviços. A velocidade da evolução tecnológica torna ainda mais difícil perceber e entender todas as tendências. Entretanto, existe o consenso de que a disponibilidade de largura de banda continuará crescendo e seu custo diminuindo, e as funcionalidades disponibilizadas também continuarão a aumentar. Entende-se que o consumidor é fator determinante no sucesso ou falha de produtos e serviços de comunicação (dessa forma, a observação das suas motivações ajuda a prognosticar as possibilidades de sucesso de um novo produto ou serviço de comunicação) e a tecnologia digital viabiliza a miniaturização dos dispositivos, bem como o aumento da capacidade de armazenamento e do poder de processamento, enquanto seu custo diminui. A partir da análise dos dados obtidos na pesquisa das fontes secundárias citadas, capturamos as variáveis relacionadas a uma ferramenta de autoria multimídia que agregam: as funcionalidades das ferramentas existentes no mercado e as características do ambiente operacional, bem como as tendências de evolução das mídias e de convergência das redes. Essas variáveis estão relacionadas na Tabela 1. A MIRV, representada na Tabela 2, foi preenchida mediante consenso dos especialistas autores deste artigo. Exemplo de preenchimento: a célula da linha 1 coluna 2 foi preenchida com o valor 4, indicando que o ambiente de execução exerce forte influência na variável nível de interatividade, pois pode inviabilizar ou dificultar a execução do conteúdo interativo por não atender ao tempo de resposta esperado e/ou apresentar baixa usabilidade na interface de entrada. Já a célula da linha 2 coluna 1 foi preenchida com 0, indicando que um conteúdo interativo não influencia o ambiente de execução. A aplicação do método MICMAC resultou na Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital classificação apresentada na Figura 1, na qual se identificam, no setor 1, as variáveis influentes ou dominantes: número de dimensões (4) e tipo de codificação (5) do conteúdo gerado pela ferramenta de autoria; no setor 2, as variáveis instáveis: ambiente de execução (1), animações (3) e API (7); no setor 3, as variáveis resultantes: quantidade de informações (6) e custo de desenvolvimento da ferramenta (10); no setor 4, as variáveis desconectadas: desenvolvedor do conteúdo (9) e controle de cópias (11) que, conforme metodologia, podem ser excluídas da análise. As variáveis nível de interatividade (2) e nível de controle do usuário (8) encontram-se em uma região de indefinição – o setor 5 – pois estão localizadas nos limiares entre dois setores. Nesse setor, a variável indefinida nível de interatividade (2) é classificada como variável instável. Já a variável nível de controle do usuário (8) será analisada com as interfaces de programação (Application Program Interface – API), por estar diretamente relacionada com interfaces disponibilizadas para a construção do conteúdo. As variáveis-chave são as variáveis classificadas como instáveis e deverão ser estudadas com maior profundidade, pois alterações nessas variáveis podem tornar o sistema instável. São variáveis-chave: ambiente de execução, tipo de animação, APIs e nível de interatividade. As variáveis determinantes definem o comportamento do sistema. São elas que caracterizam o sistema ferramenta de autoria. São variáveis determinantes: número de dimensões do conteúdo gerado e tipo de codificação. As variáveis resultantes são as que possuem alto grau de dependência em relação às variáveis-chave e às determinantes, sendo uma resultante da escolha das características dessas duas variáveis. Constituem variáveis resultantes: quantidade de informações dos conteúdos gerados pela ferramenta e custo de desenvolvimento da ferramenta de autoria. Tabela 1 Variáveis identificadas Variável Ambiente de execução Tipo de conteúdo final gerado pela ferramenta de autoria Características dos conteúdos Descrição No ambiente de televisão digital, o padrão utilizado para gerar o conteúdo está diretamente relacionado ao meio de distribuição desse conteúdo (por exemplo: ambiente Ginga para TV terrestre e OpenTV para TV a cabo) Os conteúdos podem ser altamente interativos, Alto como, por exemplo, jogos de ação Conteúdos com taxa de interatividade média, como, Nível de Médio por exemplo, mensagens de texto interatividade Conteúdos com pouca interatividade, como, por Baixo exemplo, votações e plebiscitos Sem animações Tipo de Conteúdos gerados pelo modo tradicional ( bitmaps ) animação Conteúdos gerados pelo modo vetorial Número de Conteúdos 2D ou 3D dimensões Formato utilizado para a codificação de diferentes mídias (por Tipo de exemplo, pode seguir normas pré-estabelecidas, incluir codificação normas opcionais ou influenciar a evolução das mesmas Quantidade de quantidade de dados gerados no produto final: grande, média informações ou pequena API (linguagem computacional) Li nguagem computacional utilizada no conteúdo interativo gerado pela ferramenta de autoria : NCL, LUA, HTML, Java, C, entre outras Nível de controle do usuário Capacitação do usuário desenvolvedor Custo de desenvolvimento da ferramenta Controle de retrocesso e avanço do vídeo/áudio; controle do layout de tela – tamanho e posição; entrada de dados: botões, lista, texto, entre outros Envolve, também, o custo de treinamento. O usuário desenvolvedor pode ser leigo, ter conhecimento computacional (ex. programação HTML) ou ter conhecimento especializado Controle de cópias Quantidade de esforço para implementar as características da ferramenta Identificação dos conteúdos gerados pela ferramenta de autoria através da introdução de sinalizações, tais como marca d´água, nos conteúdos gerados. Essa estratégia auxilia na criação de um modelo de negócios para a comercialização da ferramenta de autoria Tabela 2 Identificação do inter-relacionamento entre as variáveis Variáveis ambiente de execução nível interatividade tipo de animação tipo de conteúdo nº de dimensões tipo de codificação características dos conteúdos quantidade de informações APIs (linguagem computacional) nível de controle do usuário capacitação do usuário desenvolvedor custo de desenvolvimento ferramenta controle de cópias ND – Nível de Dependência 1 2 3 0 4 3 1 0 0 0 2 0 0 0 3 0 0 4 4 4 0 3 5 0 0 0 6 4 2 3 7 2 0 0 8 0 0 0 9 0 0 0 10 0 0 0 11 ND 10 6 13 NI – Nível de Influência Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 4 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 5 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 3 6 4 0 3 3 1 0 2 0 0 0 1 13 7 4 1 4 3 2 0 0 2 1 0 0 17 8 4 1 0 0 0 0 3 0 0 0 0 8 9 1 2 0 2 0 0 2 0 0 0 0 7 10 1 0 4 3 2 2 1 2 2 0 1 17 11 0 0 3 3 0 1 0 0 0 0 0 7 NI 23 4 14 15 8 2 13 4 3 0 2 35 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital Depende do meio de transmissão a ser utilizado, como, por exemplo: radiodifusão (concessionárias de televisão ou serviços de satélite); fios de cobre ou de fibra óptica (operadoras de telefonia fixa); cabos coaxiais ou satélites de órbita baixa (TV por assinatura); ou, ainda, rede celular (operadoras de telefonia móvel). TV por assinatura atuam em dois estágios: programação e distribuição. Os anunciantes adquirem espaço para inserir a divulgação de seus produtos nas grades de programação, especialmente nas emissoras comerciais. Segundo a OECD (2008), a digitalização total da produção e da pós-produção influi na cadeia de valor, apresentando novos tipos de oportunidade de negócios e desafios, em que: a) a produção de imagens de qualidade mais alta estimula o avanço da tecnologia de exibição, atingindo diretamente os fabricantes de receptores digitais; b) os formatos digitais permitem maior flexibilidade na manipulação, no armazenamento e na distribuição, estimulando a criação de novos ambientes de produção, inclusive para aplicações interativas para TV digital; c) os conteúdos digitais são distribuídos de modo eficiente em redes de banda larga, para vendas on-line para consumidores individuais ou para exibição comercial. As análises de Jääskeläinen (2001), OECD (2008), Rios, Pataca e Marques (2005) e Schwalb (2004) identificaram os seguintes atores: produtores de conteúdo, provedores de software, fabricantes de receptores de TV digital, anunciantes, emissoras comerciais abertas, emissoras públicas, operadores de TV por assinatura, provedores de serviço Internet Protocol Television (IPTV) e o usuário final do conteúdo. A matriz de influência direta entre os atores, representada pela Tabela 3, foi construída em consenso pelos especialistas autores do artigo. Exemplo de preenchimento: a célula da linha 1 coluna 2 foi preenchida com o valor 3, indicando que o produtor de conteúdo exerce forte influência sobre o provedor de software, pois as produtoras de conteúdo, como clientes, geram requisitos e melhorias nos produtos dos provedores de software. Já a célula da linha 2 coluna 1 foi preenchida com o valor 1, indicando que a disponibilização de ferramentas que auxiliam na autoria apresenta alternativas interessantes para a produção de conteúdo e pode facilitar o aparecimento de novos produtores de conteúdo. O poder relativo de cada ator é apresentado na Tabela 4. 4.1.4 4.2 Questões estratégicas Figura 1 Classificação das variáveis 4 Atores e questões estratégicas 4.1 Atores: identificação e poder relativo A cadeia de valor de serviços multimídia apresenta vários atores (JÄÄSKELÄINEN, 2001; RIOS, PATACA, MARQUES, 2005; SCHWALB, 2004). Essa cadeia compreende as quatro etapas citadas a seguir. 4.1.1 Produção conteúdo e pós-produção de Responsável pela geração de conteúdo. 4.1.2 Programação/empacotamento conteúdo do Envolve o mecanismo de disponibilização de conteúdo, com a identificação, o armazenamento e a localização do conteúdo. 4.1.3 Distribuição do conteúdo Consumo do conteúdo Usuários que acessam os conteúdos por meio de televisores integrados, set-top boxes ou terminais móveis e portáteis. Atualmente, as emissoras de radiodifusão, públicas ou comerciais, dominam os primeiros três estágios dessa cadeia: produção, programação e distribuição. Já as empresas de 36 As questões estratégicas foram identificadas e classificadas em quatro categorias. 4.2.1 Ambiente de execução do conteúdo gerado Questão 1: identificar a disponibilidade de ambientes apropriados para a execução dos Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital conteúdos gerados (dificuldade de se obter o ambiente: comprar, montar, criar parcerias, entre outros). Questão 2: identificar a possibilidade de inovação nos ambientes para a execução dos conteúdos gerados (necessidade/possibilidade de sugerir alterações ou incrementos). Questão 3: identificar a existência de padrões abertos e/ou mercado. 4.2.2 proprietários dominantes no APIs Questão 4: identificar se as interfaces (linguagens) a serem utilizadas apresentam funcionalidades adequadas para a criação dos conteúdos interativos. Tabela 3 Matriz de relacionamento dos atores Relacionamento de poder dos atores A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 Nível influência Prov.Conteúdo A1 0 3 1 1 0 0 0 0 0 5 Prov. Softtware A2 1 0 1 0 0 0 0 0 0 2 Fab.Recep. A3 2 2 0 0 0 0 0 0 0 4 Anunciantes A4 2 1 0 0 3 1 1 1 0 9 E.ComAberta A5 3 1 0 0 0 1 1 1 0 7 E.Públicas A6 2 1 0 0 1 0 1 0 0 5 Op.TVAssin. A7 2 1 2 0 2 0 0 1 0 8 Prov.IPTV A8 2 1 3 0 1 0 2 0 0 9 Usuário A9 2 2 2 3 3 1 3 3 0 19 16 12 9 4 10 3 8 6 0 Nível dependência Tabela 4 Poder de influência dos atores Nível de influência Indicador de influência Nível de dependência Inverso da dependência Poder de influência Poder de influência ponderado Prov.Conteúdo 19 0,05 102 0,16 0,008 0,099 Prov.SW 9 0,02 97 0,08 0,002 0,025 Fab.Recep. 14 0,04 62 0,18 0,007 0,086 Anunciantes 55 0,15 16 0,77 0,112 1,418 E.ComAberta 39 0,10 37 0,51 0,053 0,666 E.Públicas 27 0,07 14 0,66 0,047 0,592 Op.TVAssin. 43 0,11 29 0,60 0,068 0,855 Prov.IPTV 47 0,12 0,68 0,084 Usuário 126 0,33 22 0 1,00 0,332 1,065 4,193 Atores Tabela 5 Posicionamento resultante e peso Ambiente de execução Nível inter. APIs Animação Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 Prov.Conteúdo A1 0,10 Prov.SW A2 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 Fab.Recep. A3 0,09 -0,09 0,09 -0,09 0,00 0,00 -0,09 -0,09 Anunciantes A4 1,42 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 E.ComAberta A5 0,67 0,00 0,67 -0,67 -0,67 -0,67 0,00 0,00 E.Públicas A6 0,59 0,00 0,59 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Op.TVAssin. A7 0,85 0,00 0,85 0,00 0,00 -0,85 -0,85 -0,85 Prov.IPTV A8 1,07 0,00 1,07 0,00 0,00 -1,07 -1,07 -1,07 A9 Usuário 4,19 0,00 0,00 0,00 4,19 4,19 -4,19 -4,19 Total + 9,01 0,13 3,40 0,13 4,32 4,32 0,13 0,13 Total - 0,00 -0,09 0,00 -0,76 -0,67 -2,59 -6,20 -6,20 9,01 0,22 3,40 0,89 4,99 6,91 6,33 6,33 Posicionamento resultante Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 37 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital Questão 5: identificar a existência ou possibilidade de criar interfaces para interação com o usuário final (botões, lista, caixa de texto, entre outros). 4.2.3 Nível de interatividade Questão 6: classificar os recursos de interatividade necessários (artefatos especiais para entrada de dados e processamento). 4.2.4 Animação Questões 7 e 8: identificar as características de armazenamento, processamento e apresentação das animações. A matriz que representa o posicionamento dos atores em relação às questões estratégicas foi construída em consenso pelos especialistas autores do artigo. Esse posicionamento foi ponderado pelo poder de influência ponderado dos atores (Tabela 4), gerando a matriz ilustrada na Tabela 5. Na Tabela 5, as linhas Total + e Total representam, respectivamente, os posicionamentos favoráveis e os posicionamentos contrários já ponderados pelo poder que os atores exercem no sistema. A soma algébrica dos posicionamentos dos atores indica que: a) a questão 1 “Disponibilidade de ambiente” obteve resultado positivo e deverá receber uma avaliação melhor quanto maior for a facilidade para adquirir o ambiente; b) a questão 2 “Possibilidade de inovação” obteve resultado positivo e deverá receber uma avaliação melhor quanto maior for a facilidade para alterar o padrão; c) a questão 3 “Padrões estabelecidos” obteve resultado positivo e deverá receber uma avaliação melhor quanto maior for a maturidade do padrão aberto; d) a questão 4 “Inovação nas APIs” obteve resultado negativo e deverá receber uma avaliação melhor quanto maior for a aderência das APIs padronizadas às necessidades da ferramenta, ou seja, quanto maior for a necessidade de inovação nas APIs, menor será a nota; e) a questão 5 “Mecanismos de interação com o usuário” obteve resultado positivo, indicando que quanto maior o número de mecanismos ou funcionalidades (botões, lista, caixa de texto, entre outros) que facilitem a interação com o usuário final, melhor será a avaliação; f) a questão 6 “Recursos de interatividade” obteve resultado positivo, indicando que quanto maior a facilidade para suportar artefatos para a interatividade do usuário final, melhor será a avaliação; g) a questão 7 “Armazenamento” obteve resultado negativo e deverá receber uma avaliação melhor quanto menor for o volume de armazenamento necessário; h) a questão 8 “Processamento” obteve resultado negativo e deverá receber uma avaliação melhor quanto menor for a capacidade de processamento necessário. A linha “Posicionamento resultante” da Tabela 5 representa a soma modular dos posicionamentos dos atores, cujo valor inteiro (linha Peso) representa o peso das questões estratégicas na classificação dos cenários mais adequados para a ferramenta de autoria. 5 Análise dos cenários As variáveis-chave ambiente de execução, API, animação e nível de interatividade orientam a identificação dos subsistemas e das configurações ou opções tecnológicas. Os subsistemas identificados que descrevem o sistema ferramenta de autoria são: a) plataforma de distribuição – mecanismos utilizados para a distribuição de conteúdo de TV digital interativa; b) plataforma de execução dos conteúdos interativos – mecanismos que compõem o ambiente onde os conteúdos interativos são executados, os quais estão fortemente relacionados com os mecanismos de distribuição. A identificação dos cenários é realizada em duas etapas: na primeira, identificam-se os cenários possíveis segundo as plataformas de distribuição. A partir de cada um desses cenários; na segunda, são identificados os possíveis ambientes para as plataformas de execução, uma vez que, para o ambiente de TV digital, essas plataformas são fortemente conectadas. Menezes, Osório e Pataca (2008) identificam as seguintes plataformas de distribuição: terrestre, DTH (satélite), cabo, MMDS (micro-ondas) e IPTV. Com base no levantamento setorial de TV por assinatura, realizado pela Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) e pelo Sindicato Nacional das Empresas Operadoras de Sistemas de Televisão por Assinatura (SETA)1, restringiremos nossa análise às seguintes plataformas: plataforma de distribuição terrestre, ________________________________ 1 A base de assinantes por tecnologia apresenta a seguinte distribuição: cabo 62%, DTH 32% e MMDS 6%. O relatório do primeiro trimestre de 2008 aponta que a base total de assinantes de TV paga cresceu 13% e o número de usuários de Internet com conexão em banda larga cresceu 45%. 38 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital que congrega o maior número de usuários; plataforma de distribuição por cabo, que apresenta o maior número de usuários de televisão por assinatura; e plataforma de IPTV, que apresenta grande potencial de crescimento. As plataformas de execução, para a análise do sistema ferramenta de autoria, têm como característica básica a API a ser utilizada pelo conteúdo interativo. Essa interface permite que os conteúdos interativos independam das idiossincrasias do hardware e do software básico da plataforma de execução. O grau de interatividade dos conteúdos digitais depende da capacidade do ambiente de execução, da usabilidade dos mecanismos de interação e da existência de um canal de comunicação para troca de dados entre o usuário final e o provedor do serviço. Para a análise da ferramenta de autoria, temos os seguintes possíveis cenários interativos: conteúdos altamente interativos, como jogos de ação; conteúdos com taxa de interatividade média, como mensagens de texto; e conteúdos com pouca interatividade, como votações e plebiscitos. A possibilidade de construir animações apresenta as seguintes opções tecnológicas: não suportar animações; suportar animações tradicionais (bitmap); e suportar animações vetoriais. A seguir, analisaremos os cenários advindos das plataformas de distribuição selecionadas. 5.1 Plataforma de distribuição terrestre A transmissão de TV digital terrestre no Brasil é regida por normas especificadas pelo Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre e publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A plataforma de distribuição terrestre não possui canal de retorno inerente. Assim, aplicações interativas que utilizam comunicação do usuário final com o provedor de serviços necessitam de canais de comunicação externos. A codificação de dados é padronizada pela norma ABNT-NBR 15606. Essa norma preconiza a utilização de APIs nas seguintes linguagens: Java, NCL com scripts LUA, XHTML e ECMAScript (perfil básico do BML). As opções tecnológicas para plataformas de execução são o Ginga-NCL e o Ginga-J: a) o Ginga-NCL é uma plataforma para a apresentação de aplicações interativas baseada em interfaces padronizadas para as linguagens NCL, scripts LUA e XHTML; b) o Ginga-J é uma plataforma de execução de aplicações interativas baseada em interfaces padronizadas utilizando a linguagem Java. Além das bibliotecas-padrão da linguagem, incorpora o JavaTV e o JMF. 5.2 Plataforma de distribuição por cabo A plataforma de distribuição por cabo é o serviço de TV por assinatura mais utilizado no Brasil e é regida pela Lei do Cabo, que não padroniza a plataforma de execução. Nesse cenário, o aparelho receptor é de responsabilidade do provedor do serviço que “escolhe” a tecnologia a ser implantada. Na transmissão digitalizada, a comunicação bidirecional é inerente à tecnologia. A opção tecnológica, no mercado brasileiro, para a plataforma de execução é o OpenTV, um middleware proprietário. A linguagem de programação C-like é utilizada no desenvolvimento das aplicações. O ambiente de construção compila tais aplicações gerando códigos intermediários (bytecodes) que são interpretados pelo middleware OpenTV nos receptores. É uma solução fechada, que não disponibiliza a interface para a criação de novas aplicações fora do seu ambiente proprietário. 5.3 Plataforma de distribuição por IP (IPTV) A plataforma de distribuição de TV digital no Brasil é um serviço em fase inicial de implantação e essas iniciativas estão sendo comercialmente alavancadas por operadoras de telefonia. Essa tecnologia fornece conexão bidirecional, o que favorece a criação de aplicações interativas, uma vez que não apresenta restrições para troca de informações entre o usuário final e o provedor da aplicação. As plataformas IPTV para aplicações multimídia apresentam soluções proprietárias, cujas interfaces são também proprietárias (como, por exemplo, a da Microsoft), e soluções com interfaces abertas (como a da CISCO-ISDP). Existe um esforço da International Telecommunication Union (ITU) para a padronização dessa plataforma, mas esta ainda não foi consolidada. 5.4 Avaliação dos cenários Da combinação das opções tecnológicas, foram obtidos 40 cenários, como mostra a Tabela 6, nos quais os pesos de cada questão estratégica são os valores obtidos na Tabela 5. As células da Tabela 6 foram preenchidas em consenso pelos especialistas autores deste artigo. Exemplo de preenchimento: para o ambiente de execução, os cenários são analisados segundo a facilidade de se obter o ambiente de distribuição e de execução, por exemplo: trabalhar com padrões abertos, facilidade de aquisição no mercado, diferentes fabricantes, entre outros. Assim, os cenários de distribuição de TV digital terrestre, com interface para aplicações GingaNCL, receberam avaliação 4, por seguirem Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 39 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital padrões abertos publicados e ambiente de emulação disponível sem custo, enquanto os cenários com interface para aplicações Ginga-J receberam avaliação 2, por seguirem padrões abertos ainda não publicados. A Tabela 6 mostra ainda que os cenários com animação vetorial apresentaram melhor avaliação que os cenários com animação tradicional (bitmap) e que os cenários com níveis baixos e médios de interatividade não apresentaram diferenças significativas na avaliação. O cenário mais bem avaliado é o da plataforma de transmissão terrestre, que suporta conteúdos com níveis baixo e médio de interatividade e sem animações. A segunda melhor avaliação foi a do cenário de distribuição IPTV com níveis de interatividade baixo e médio e sem animações. Com os cenários classificados, devemos analisar as incertezas que envolvem cada um deles e, assim, identificar a melhor opção diante de nossas expectativas frente ao futuro. 6 Análise de riscos Nesta etapa utilizamos a ferramenta Vanguard DecisionPro 3.012 para a construção e análise da árvore de decisão. 6.1 Construção da árvore de decisão A Figura 2 representa a árvore de decisão para uma ferramenta de autoria para TV digital, em que os ramos da primeira hierarquia mapeiam as plataformas de distribuição analisadas, com as seguintes probabilidades: a) 50% para a distribuição terrestre, pois representa a rede de distribuição de televisão com maior poder de penetração; b) 35% para a distribuição IPTV, que apresenta um grande potencial de crescimento; e c) 15% para a distribuição por cabo, que apresenta uma taxa de crescimento baixa em relação às outras duas. Os ramos da segunda hierarquia mapeiam as plataformas de execução, com as seguintes probabilidades: a) plataforma de distribuição terrestre – 60% para o Ginga-NCL, por já ter norma publicada e produto disponível no mercado – 40% para o Ginga-J, por ainda estar na fase de normatização b) plataforma de distribuição por cabo – 100% para o OpenTV, por sua utilização em operadora brasileira com grande penetração na rede de televisão por cabo c) plataforma de distribuição por IP – 70% para a interface aberta, por permitir a participação de vários atores, potencializando sua utilização – 30% para interfaces proprietárias As hierarquias seguintes se desdobram de modo similar para todos os cenários analisados, com as seguintes probabilidades: a) grau de interatividade – 30% para conteúdos interativos que utilizam pouca largura de banda para troca de informações individualizadas – 60% para conteúdos interativos que utilizam largura de banda um pouco maior, apostando no fato de que a maioria das conexões já disponibilizarão dezenas de quilobytes por segundo – 10% para conteúdos interativos que utilizam largura de banda da ordem de megabytes por segundo Figura 2 Árvore de decisão ______________________________________ 2 Vanguard Software Corporation. DecisionPro 3.0. 40 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital b) tipo de animação – 20% para ferramentas sem animação, mapeando o risco da concorrência de ferramentas já existentes no mercado com esse perfil – 30% para animação bitmap, por não possibilitar a criação de animações totalmente interativas – 50% para animações vetoriais 6.2 Definição das opções estratégicas A partir da árvore de decisão construída, a ferramenta DecisionPro nos fornece a probabilidade de cada cenário analisado. O valor de cada cenário, obtido no item 5.4 e mostrado na Tabela 6, é multiplicado pela probabilidade calculada e o resultado é mostrado na Tabela 7, que apresenta os cenários classificados em ordem decrescente. A análise dos resultados mostra que as melhores opções estratégicas são: a) cenário A6: distribuição terrestre, utilizando plataforma de execução Ginga-NCL, conteúdos interativos com troca de informações individualizadas da ordem de dezenas de quilobytes por segundo e animação vetorial; b) cenário C6: distribuição por IP, utilizando plataforma de execução com interface aberta, conteúdos interativos com troca de informações individualizadas da ordem de dezenas de quilobytes por segundo e animação vetorial; Tabela 6 Opções estratégicas Tabela 7 Avaliação dos cenários O b je tiv o s 2 4 4 2 2 1 2 94 v e to r ia l A 3 4 4 3 2 2 4 1 105 124 A4 4 4 4 2 2 4 4 4 4 4 2 2 1 2 94 v e to r ia l A 6 4 4 3 2 2 4 1 105 b itm a p A 8 4 4 3 2 1 1 2 86 v e to r ia l A 9 4 4 3 2 1 4 1 98 s em A 10 2 2 4 4 2 4 4 110 80 b itm a p A 1 1 2 2 4 4 2 1 2 v e to r ia lA 1 2 2 2 4 4 2 4 1 92 s em A 13 2 2 4 4 2 4 4 110 b itm a p A 1 4 2 2 4 4 2 1 2 80 v e to r ia lA 1 5 2 2 4 4 2 4 1 92 b itm a p A 1 7 2 2 4 4 1 1 2 73 v e to r ia lA 1 8 2 2 4 4 1 4 1 85 B1 0 1 4 4 4 4 4 103 b itm a p B 2 0 1 4 4 4 1 2 73 v e to r ia l B 3 0 1 0 4 4 4 1 81 B4 0 1 4 4 4 4 4 103 baixa média alta b itm a p B 5 0 1 4 4 4 1 2 73 v e to r ia l B 6 0 1 0 4 4 4 1 81 b itm a p B 8 0 1 0 4 3 1 2 62 v e to r ia l B 9 0 1 0 4 3 4 1 74 C1 2 2 4 3 4 4 4 119 b itm a p C 2 2 2 4 3 4 1 2 89 v e to r ia l C 3 2 2 3 3 4 4 1 100 119 baixa média alta C4 2 2 4 3 4 4 4 b itm a p C 5 2 2 4 3 4 1 2 89 v e to r ia l C 6 2 2 3 3 4 4 1 100 b itm a p C 7 2 2 4 3 3 1 2 82 v e to r ia l C 8 2 2 3 3 3 4 1 93 0 1 4 3 4 4 4 98 b itm a p C 1 0 0 1 4 3 4 1 2 68 v e to r ia lC 1 1 0 1 0 3 4 4 1 76 C1 2 0 1 4 3 4 4 4 98 b itm a p C 1 3 0 1 4 3 4 1 2 68 v e to r ia lC 1 4 0 1 0 3 4 4 1 76 b itm a p C 1 5 0 1 0 3 3 1 2 57 v e to r ia lC 1 6 0 1 0 3 3 4 1 69 s em baixa 124 b itm a p A 5 s em s em média Total processamento 2 4 identificação dos cenários ambiente de execução padrões estabelecidos inovação nas APIs interação com usuário recurso de interatividade 4 4 s em alta 6 armazenamento baixa média baixa média alta GINGA-J OpenTV Aberta 6 4 s em Proprietária 7 4 s em alta GINGA- NCL Terrestre Cabo 5 4 s em Cenários 1 A1 s em IPTV 3 b itm a p A 2 animação plataforma de distribuição plataforma de execução nível de interatividade Pe s o 9 C9 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 Ce ná rios Ava lia çã o Proba bilida deCla ssifica çã o A6 105 9,0% 9,450 C6 100 7,3% 7,300 A 15 92 6,0% 5,520 A5 94 5,4% 5,076 A3 105 4,5% 4,725 A4 124 3,6% 4,464 C5 89 4,4% 3,916 B6 81 4,6% 3,726 C3 100 3,7% 3,700 C4 119 2,9% 3,451 A 14 80 3,6% 2,880 A 12 92 3,0% 2,760 A 13 110 2,4% 2,640 A2 94 2,7% 2,538 C14 76 3,1% 2,356 A1 124 1,8% 2,232 B5 73 2,7% 1,971 C2 89 2,2% 1,958 A9 98 1,9% 1,862 B4 103 1,8% 1,854 C1 119 1,5% 1,785 B3 81 2,2% 1,782 C8 93 1,6% 1,488 A 11 80 1,8% 1,440 A 10 110 1,2% 1,320 C13 68 1,9% 1,292 C12 98 1,3% 1,274 C11 76 1,6% 1,216 A 18 85 1,3% 1,105 B2 73 1,4% 1,022 A8 86 1,1% 0,946 B1 103 0,9% 0,927 B9 74 1,0% 0,740 C7 82 0,9% 0,738 C10 68 0,9% 0,612 C9 98 0,6% 0,588 A 17 73 0,7% 0,511 C16 69 0,7% 0,483 B8 62 0,5% 0,310 C15 57 0,4% 0,228 41 Avaliação estratégica para a criação de uma ferramenta de autoria para TV digital c) cenário A15: distribuição terrestre, com plataforma de execução Ginga-J, conteúdos interativos com troca de informações individualizadas da ordem de dezenas de quilobytes por segundo e animação vetorial. Conclusão Os mecanismos sistemáticos propostos pela metodologia permitiram que nossas avaliações subjetivas fossem compartilhadas. Com a atribuição de um valor numérico para o preenchimento das matrizes, transformamos a avaliação subjetiva em informação objetiva, de tal modo que, através de reflexão, discussão e consenso, foi possível construir uma compreensão lógica comum do valor a ser atribuído. A metodologia emprega uma estruturação de como abordar o problema, dos aspectos a serem analisados e dos mecanismos a serem utilizados. Essa estruturação orientou a troca de conhecimento, conceitos e ideias sobre o assunto avaliado e, com isso, permitiu a construção coerente de uma linguagem comum para a reflexão de como projetamos ou do que almejamos para o futuro. A aplicação da metodologia permitiu, por meio do entendimento e da classificação das variáveis relevantes, bem como da análise e do posicionamento dos atores, traçar cenários possíveis e avaliar os riscos na escolha de cada um deles. Além disso, por meio da classificação das ideias, foi possível entender o problema, mapear e tratar o conhecimento, de modo a auxiliar uma tomada de decisão. O cenário escolhido foi o da distribuição terrestre, e a plataforma de execução utilizada foi a GingaNCL, que suporta conteúdos interativos com troca de informações individualizadas da ordem de dezenas de quilobytes por segundo e animação vetorial. A partir dessa escolha, criamos um caminho de evolução (roadmap) para a ferramenta de autoria e sua especificação funcional. Referências ADOBE SYSTEMS INCORPORATED. Adobe After Effects CS5. 2010a. Disponível em: <http://www.adobe.com/br/products/aftereffects>. AZANA, N. T. et al. Ferramenta de Autoria – Visão do Contexto. PD.30.12.34A.0009A/RT01-AA. 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The strategic analysis, carried out by using the decision tree supported by DecisionPro application, has indicated the terrestrial platform distribution and IPTV, which support vectorial animation and presents interactive contents with average rate to exchange individualized data between the user and the server. Applying the presented methodology systematically allows to understand the problem by classifying the ideas in such a way that it enables its mapping and treatment. It helps indicate the main requirements to create an authoring tool that meets the actor's needs. Key words: Authoring tool. Strategic prospective. Digital television. Multimedia content. Decision making. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 6, n. 1, p. 31-44, jan./jun. 2010 43