O TOUREIRO PANCHITO
Transcrição
O TOUREIRO PANCHITO
O Toureiro Panchito Havia um jovem menino que perdera seu pai, perdera sua mãe e fora adotado por um criador de miura, seu nome era Panchito. Panchito tinha os cabelos e os olhos negros, um sorriso perolado, rebelde como o vento que sopra na região da Espanha. E naquele convívio com os miuras, naquele convívio solitário pelos campos, quase sempre alguém tendo que agradecer e sendo lembrado disso todos os momentos, a benção que havia recebido de ter sido recolhido, alimentado, educado e talvez amado. Panchito crescia e seus maiores companheiros eram os touros miuras. Certa madrugada, o dono de todas aquelas terras, de todo aquele gado, porque os miuras não são feitos para alimentar, são feitos para lutar. E ele fornecia miuras para toda a região de Madri, de Málaga, Barcelona, Andaluzia, Zarabalguia, era símbolo de posses. Ele ouviu um enorme alarido, mas nem sabia que ruído era aquele. Abriu as janelas do seu solar e viu boquiaberto, Panchito com o seu lençol a entrar no curral com negrito, um dos miuras mais novo, que investia furiosamente contra ele, mas que ao chegar perto balançava a cabeça no solo, na verdade, era um miura criança, como Panchito criança. Mas ele viu naquele trejeito, naquela força de braço, naquele erguer a cabeça, que ali havia um grandioso futuro, e passou, então, a ver Panchito com olhos diferentes, ele não era apenas aquele que ele criava de favor, aquele menino tinha valor, aquele menino realmente, prometia um grande futuro, e se de suas terras saíam os melhores miuras da Espanha, com o melhor toureiro ele ficaria famoso. Panchito tinha doze anos, mas bem preparado, quem sabe, se com dezoito ou dezenove anos, ele já não entraria com as trombetas anunciando a sua grande estréia numa tarde de touros. Ele fechou a janela e recolheu-se para sonhar, sonhar com um belo futuro para Panchito. Os anos foram passando, Panchito com mais regalias, e realmente, tinha ânsia de entrar numa arena de touros e ver todas aquelas mulheres belas a jogar cravos na arena e todos os pobres em grande alarido a esperar na saída a carne prometida, porque o miura derrotado, servia para matar a fome dos pobres, mas jamais um miura de estirpe seria vendido para os matadouros. E Panchito foi crescendo e crescendo, desenvolvendo a sua capacidade, porque ele viera talhado para um destino que vamos chamar inglório, de matador de touros, mas que para eles é tão pouco, como matar qualquer ave para se alimentar. A cena não é tão dantesca como eu estou a descrever, porque o homem que mata o touro para alimentar as criaturas e que ao ser vendido nos seus açougues, pouquíssima diferença tem daqueles que numa tarde de touros também mata o touro, sendo que o touro das arenas é dado para os pobres e o outro é sacrificado para adquirir recursos. E eis que numa tarde brutal, toda região se engalana, Panchito vai ter sua estréia. O homem sentia a sua saúde um pouco alquebrada, mas aquela criança era o seu orgulho, muito mais de todos os filhos que tivera. Nenhum filho se parecia com ele, nenhuma filha lhe dava alegria, mas Panchito não, Panchito era diferente, Panchito era o seu orgulho. Ele não se lembrava dos primeiros anos de sua vida insignificante, mas agora não, ele era um rapaz guapo, um tipo valente, e realmente, merecia gastar com ele as melhores roupas e colocar nos pés da doce Virgem as melhores ofertas, La Macarena não se envergonharia jamais, porque ele ia doar grandes óbolos para os pobres, pela grande apresentação de Panchito. E eis que a tarde estava mais bela que qualquer tarde que já se vira em Madri trombetas por toda parte, jumentos enfeitados com flores a cair nas longas orelhas, tudo preparado, ele se sentia como o pai do grande toureiro no palanque principal e começam os banderileiros, touro feroz é solto na arena e com tal maestria, com tal garbor e com tal beleza, Panchito dá aquele espetáculo grandioso, nunca se vira toureiro como ele, três, quatro rodadas, rodadas fatais e ele enganava o touro que passava raspando pela região do seu umbigo seus chifres pontiagudos. E ele buscava orgulhoso o palanque principal para ver aquele que realmente, em alguns anos se transformara em autêntico pai. Quantas vezes lembrava dos abraços naquelas pernas enormes, altas? O pequenino procurava um afago na carência, essa carência nunca chegava, esse afago aquecia aquela cabecinha sofredora. Mas agora não, agora ele sentia amor nos olhos daquele homem, ele sentia orgulho nas suas palavras, ele realmente, sentia tanto amor, tanto amor por aquele único pai que ele conhecera, que ele queria dar tudo de si naquela tarde, e realmente, estava ali um grande espetáculo. E ele levantou a espada, olhou com olhos chamejantes para a grande tribuna e deu o último golpe. Mas ao dar o golpe mortal, a emoção do criador de miura foi tão grande que ele caiu debruçado no palanque. Panchito, ao ver que alguma coisa acontecia no palanque, ele queria retirar a orelha do touro para oferecer, ele queria com o maior orgulho, nenhuma dama por mais bela que fosse da sociedade madrilhenha, ou de toda a Espanha, merecia aquele prêmio supremo que era a orelha do touro, mas o homem que ele amava como pai, estava debruçado no palanque, alguma coisa de anormal acontecera. E ele correu em direção ao palanque e se esqueceu do touro, já havia desfechado o golpe mortal, ele vira o sangue borbulhando do coração perfurado, mas ele subestimara a força do touro, ele subestimara toda aquela ânsia de sobreviver, e ao correr em direção ao palanque buscando os olhos do pai, ele viu tão somente a expressão de horror e enorme impacto nas suas costas, o touro nos seus últimos estertores, encontrara força para perseguir aquele que o ferira, e o ferira mortalmente também. O criador de miuras não resistiu ao espetáculo, uma vitória somada em derrota. Panchito estertorou junto com aquele que o criara, e naquela tarde de touros, nunca se ouvira falar em Madri, em algo mais sangrento: um pai, um toureiro, um miura de alta estirpe. Todo aquele ensangüentar, toda a sociedade espanhola em luto. Assim, meus queridos companheiros, é a vida. Julgamos que às vezes, já vencemos, estamos certos que já desfechamos o golpe que vai nos colocar como vencedores, mas alguma coisa nos distrai a atenção, nos descuidamos das defesas e um golpe certeiro nos chega, e só nos fica a lembrança de olhares amigos, apavorados diante do golpe que se aproxima e que não podem deter. Queiram ou não, a vida que vocês vivem numa terra onde não se criam touros para se divertir o povo e alimentar o pobre, mas se cria touros para colocar na mesa de forma saborosa. As arenas são sempre as mesmas, as lutas são sempre glórias, existe sempre um touro para ferir, existe sempre um toureiro para agradecer, e existe sempre alguém que colocou apenas nas glórias do mundo, da terra, todas as suas realizações, todas as suas paixões. Vemos a cada dia nas arenas da vida, toureiros morrerem, miuras a serem sacrificados e grandes possuidores de terras ficarem sem uma terra no céu, porque tudo que tinha, deixou nas arenas ensangüentadas da vida, aonde os cravos enfeitam a morte, aonde as rendas e os clarins são os últimos acordes dos corações que morrem, morrem numa tarde festiva, morrem nas fantasias do mundo, morrem nas paixões enganosas. Ai daqueles que buscam nas arenas da vida os aplausos passageiros, vão ficar tão somente como muitos toureiros, com a arena vazia, com as roupas festivas encharcadas de sangue, com os olhos encharcados de pranto e as mãos vazias de glórias. Aí estamos nós aprendendo, como muitos Panchitos na vida... existirá sempre alguém que luta, alguém que vence, alguém que perde, alguém que é ferido. Mas que todas as arenas sejam um despertar para a luz. Podemos escolher sempre além do sacrifício, além da renúncia e do amor a abençoada arena dos cristãos, onde ninguém morre, porque só encontra a vida eterna, onde ninguém chora, porque existe a alegria de servir, onde ninguém perde porque ganhamos o troféu dos vencedores com o Cristo e onde as arenas nunca estão vazias, porque existe muito e muito trabalho para realizar nas tardes belas e quentes dos ventos terrenos. Margot Montez Mensagem recebida pela médium Shyrlene Soares Campos, no Núcleo Servos Maria de Nazaré, que é uma Instituição Filantrópica reconhecida como Utilidade Pública: *Municipal (Lei nº 4362 de 11/07/86), *Estadual (Lei nº 12.877 de 17/06/98) e *Federal (Lei nº 485 de 15/06/2000). Av. Dr. Arnaldo Godoy de Souza, 2275 – Caixa Postal 320, CEP 38412-970 Uberlândia-MG – Fone: (0xx34) 3238-4551.